Adilton Pereira Ribeiro Universidade Federal Do Pará
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Adilton Pereira Ribeiro Universidade Federal do Pará - UFPA Programa de Pós-Graduação em Geografia - PPGEO Rua Augusto Corrêa, 01 – Guamá, CEP: 66075-110, Caixa Postal 479, Belém-Pará [email protected] REDE URBANA E TRANSPORTE FLUVIAL NA AMAZÔNIA: UMA ANÁLISE DA IMPORTÂNCIA DOS RIOS NA PORÇÃO LESTE DA ILHA DE MARAJÓ, PARÁ. 1 INTRODUÇÃO Estudar a cidade e o urbano não é uma tarefa simples, principalmente quando se trata da dinâmica urbana de uma região tão complexa e distinta: a Amazônia. Nesta região, as cidades e o urbano apresentam outros contornos, fluxos e conexões. Em grande parte do espaço regional, como na Amazônia ocidental e na porção leste da Ilha de Marajó, a ligação com os rios e com a floresta marca a dinâmica das cidades aí localizadas. Portanto, entender o urbano na Amazônia, que muitas vezes, não apresenta uma clara distinção do rural, perpassa pela consideração de toda esta heterogeneidade. Desse modo, compreender a forma como as cidades estão organizadas na Amazônia e as relações que estabelecem na rede urbana em diferentes escalas, principalmente após a década de 1960, período em que a região começa a passar por um processo de modernização do território e de inserção efetiva da racionalidade capitalista, requer a consideração de que a rede urbana amazônica é complexa, pois, segundo Ribeiro (1998), há uma simultaneidade de redes, na qual cada centro desempenha múltiplos papéis, de forma fragmentada e articulada, definindo diferentes fluxos. Apesar das mudanças na dinâmica da região, ainda podemos afirmar que em boa parte da Amazônia predomina o padrão espacial rio-várzea-floresta (PORTO-GONÇALVES, 2008), principalmente na Amazônia ocidental e na região da Ilha de Marajó, por exemplo. Nessas porções do espaço regional os rios representam a possibilidade do ir e vir, ligando essas cidades entre si e com o mundo. A Ilha do Marajó, localizada no extremo norte do Estado do Pará, fazendo limites com o Estado do Amapá, Oceano Atlântico, rio Pará e Baía do Marajó, possui doze núcleos urbanos caracterizados como pequenas cidades, onde os barcos são os promotores da circulação entre as cidades e destas com os maiores núcleos urbanos da região: Belém (PA) e Macapá (AP). Nessa fração do espaço o rio assume importância fundamental, viabilizando o fluxo de pessoas, mercadorias e serviços. Os rios foram a porta de entrada do povoamento da região e onde surgiram os primeiros núcleos urbanos da região. O recorte empírico adotado compreende a porção leste da Ilha, ilustrado no mapa a seguir, formado pelos seguintes municípios: Soure, Salvaterra, Cachoeira do Arari, Santa Cruz do Arari, Ponta de Pedras, Curralinho, São Sebastião da Boa Vista e Muaná. A opção por esse recorte se explica pelo fato de que a porção leste da ilha é área de influência imediata da cidade de Belém. Isto se deve, em grande parte, pela proximidade desses núcleos urbanos com a metrópole paraense. Não estamos querendo dizer com isso que Belém não exerça influência sobre os demais núcleos urbanos da região. Pelo contrário, na atual organização espacial ocorre cada vez mais um complexo de redes e de fluxos acelerados, fazendo com que alguns lugares se tornem próximos a lugares distantes e que lugares próximos se tornem distantes, pelas poucas relações entre si (AMARAL, 2010). Sem desconsiderar esses elementos, podemos dizer a priori que nesta fração de espaço os fluxos e conexões materiais da rede urbana com a cidade de Belém possuem como elemento de articulação fundamental o rio e, neste caso, acreditamos que a distância é uma variável que deve ser considerada. A distância entre as cidades da porção leste da Ilha em relação a Belém varia de 41,42 km (Ponta de Pedras, cidade mais próxima) a 148,81 km (Curralinho, cidade mais distante). Do ponto de vista urbano, a ilha de Marajó possui pequenas cidades, com população inferior a 50 mil habitantes (IBGE, 2010). Na porção oriental da Ilha, encontramos cidades com população urbana entre 3.000 e 22.000 habitantes. 2 OBJETIVOS O presente trabalho tem por objetivo analisar as articulações, os fluxos e conexões das cidades que fazem parte da rede urbana da porção leste da Ilha de Marajó e destas com a cidade de Belém, bem como a importância dos rios nesse processo. Este objetivo, por sua vez, desdobra-se em três objetivos específicos: identificar e analisar o papel dos rios na estruturação da rede urbana da porção leste da Ilha de Marajó; caracterizar os fluxos de mercadorias, bens, serviços e pessoas entre as cidades da porção leste da Ilha e destas com a cidade de Belém; identificar e analisar os papéis e/ou funções desempenhadas pelos pequenos núcleos urbanos que integram a rede urbana da porção leste da Ilha de Marajó. 3 METODOLOGIAS A metodologia adotada envolveu um levantamento de caráter bibliográfico acerca das produções acadêmicas sobre o tema. No segundo momento, procedeu-se ao levantamento documental de dados secundários. No terceiro momento foi feita a observação de campo sobre a importância do rio para a circulação de produtos, serviços e pessoas. Em seguida será feito o levantamento empírico de dados primários sobre aspectos da rede urbana, principalmente relacionados ao fluxo de pessoas, mercadorias e serviços entre as cidades e a importância dos rios nesse processo. Como procedimento de campo faremos o uso do formulário como instrumento de coleta de dados. Após a coleta de dados documentais e de campo e com o fichamento das informações bibliográficas sobre o tema, passaremos a análise, discussão e elaboração da redação final que constitui esta pesquisa. 4 RESULTADOS PRELIMINARES A rede urbana na Amazônia se constituiu, naturalmente, ao longo dos rios da região. Aliás, os rios, desde o processo de ocupação do território, sempre se caracterizaram como os principais eixos de transportes e acesso aos lugares. Segundo Nunes (2004), essa importância dos rios caracterizou o padrão histórico de ocupação da região. Os núcleos urbanos localizados na Ilha de Marajó são expressão de uma urbanodiversidade regional (TRINDADE JR., 2010), pois apesar de estarem localizados na sub- região do arco da embocadura, macrorregião do povoamento consolidado (BECKER, 2007), onde se encontram as maiores densidades demográficas e a maior acessibilidade proporcionada pelas redes de infraestrutura, de informação, de capitais, observamos nesta sub-região a existência de pequenas cidades que apresentam uma localização ribeirinha, caracterizando um padrão espacial dendrítico (CORRÊA, 2006). A articulação dessas cidades é garantida pelos rios que levam e trazem mercadorias, bens, serviços, pessoas. Neste processo, verificamos a importância que Belém e Macapá assumem na dinâmica espacial da rede urbana da região. Nas cidades que fazem parte da Ilha de Marajó, onde as estradas são praticamente inexistentes, os rios assumem papel fundamental. O sistema de transporte predominante é o fluvial. O transporte empregado, tanto para a condução dos moradores quanto para o escoamento da produção, é feito pelos rios, utilizando-se como veículos os barcos, navios, lanchas, canoas etc. Os rios, portanto, possibilitam a articulação entre as cidades da Ilha e destas com os centros maiores: Belém e Macapá. Os rios garantem, assim, a ocorrência dos fluxos de mercadorias, bens, serviços e pessoas. Apesar da Ilha de Marajó poder ser acessada através do transporte aéreo, a forma mais utilizada para se chegar às cidades da Ilha é o transporte fluvial. Todos os dias, de diferentes portos localizados na orla de Belém, partem barcos desbravando baías e rios em direção às cidades do Marajó (FIG. 1). Para algumas cidades, como Muaná, Cachoeira do Ararí e Curralinho, as saídas de Belém são à noite. Para outras cidades, por sua vez, as viagens ocorrem pelo período diurno. É o caso de Ponta de Pedras, Salvaterra e Soure, por exemplo. O tempo de viagem obedece ao ritmo do rio e depende, dentre outros fatores, da velocidade da embarcação e da distância percorrida. Para Ponta de Pedras, Salvaterra e Soure, cidades mais próximas a Belém, o tempo de viagem gira em torno de três a quatro horas. Já para Curralinho, distante 148 km de Belém, demora, em média, de 8 a 9 horas de viagem. Figura 1: Imagem mostrando barco utilizado para o transporte de passageiros de Belém para a cidade de Ponta de Pedras-PA. Fonte: Adilton Ribeiro, jul./2013. Em estudo sobre a rede urbana do estado do Amazonas, Schor, Costa e Oliveira (2009) destacam que a região congrega tempos e espaços diferenciados e desiguais, sendo que alguns desses espaços se inserem plenamente na modernidade globalizada enquanto outros se perpetuam na dinâmica local. As distâncias, física e social, estão desconectadas, ou seja, locais longínquos, via produtos oriundos da floresta, inserem-se em redes de proximidade internacionais. Neste contexto, a rede urbana se pluraliza sem perder a dinâmica relacionada aos rios e as florestas. Na ilha de Marajó, observamos, ainda que em outras proporções, a coexistência de tempos e ritmos diferenciados e desiguais, bem como a inserção de algumas frações do espaço em lógicas mais modernas. Contudo, a dependência ao rio e à floresta ainda é uma constante, caracterizando uma rede urbana simples do tipo dendrítica, conforme expõe Corrêa (2006), onde os pequenos núcleos urbanos estão localizados junto aos rios. Assim, só poderemos entender o urbano nesta região e, consequentemente, sua rede urbana se olharmos os rios como o elemento que viabiliza a ligação entre as cidades. As cidades da porção oriental da ilha de Marajó quando avistadas de longe possuem paisagens muito parecidas. Os objetos geográficos presentes nestes espaços evidenciam que o rio é o elemento primordial na vida e nas relações dessas cidades. A orla, os barcos, os trapiches são objetos comuns a todas elas (FIG. 2 e 3). Além disso, o barulho dos motores e o vai e vem de canoas, barcos, lanchas comprovam que o rio é o promotor da circulação entre as cidades e o seu entorno, bem como com as outras cidades.