ANAISANAIS DODO VIVI SIMBIOMA:SIMBIOMA: SIMPÓSIOSIMPÓSIO SOBRESOBRE AA BIODIVERSIDADEBIODIVERSIDADE DADA MATAMATA ATLÂNTICAATLÂNTICA

Editoração Tema: Lacunas de conhecimento Alexander Tamanini Mônico em um bioma megadiverso e Joelcio Freitas ameaçado Maridiesse Morais Lopes Rafael Silva Cipriano Santa Teresa, Espírito Santo Renan Luxinger Betzel Thaís de Assis Volpi 08 a 11 de junho de 2017 Thiago Gechel Kloss Thiago Silva Soares

ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO MUSEU DE BIOLOGIA PROFESSOR MELLO LEITÃO

VI SIMBIOMA SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA

Alexander Tamanini Mônico, Joelcio Freitas, Maridiesse Morais Lopes, Rafael Silva Cipriano, Renan Luxinger Betzel, Thaís de Assis Volpi, Thiago Gechel Kloss & Thiago Silva Soares

SANTA TERESA – ES SAMBIO 2017 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – SIMBIOMA (2017: Santa Teresa, ES).

Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica (SIMBIOMA), “Lacunas de conhecimento em um bioma megadiverso e ameaçado”, 08 a 11 de junho, 2017, Santa Teresa, ES, Brasil. e-book. ISBN: 978-85-67438-06-1 432 folhas. Evento realizado pela Associação de Amigos do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão – SAMBIO, Santa Teresa, ES.

1.Mata Atlântica. 2. Biodiversidade. 3.Conservação. 4.Meio ambiente.

ii Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

VI SIMBIOMA Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica Tema: Lacunas de conhecimento em um bioma megadiverso e ameaçado

Presidente da Associação de Amigos do Museu de Biologia Mello Leitão (SAMBIO) Arlindo Serpa Filho

Comissão Organizadora Alexander Tamanini Mônico Leonardo Merçon Arlindo Serpa Filho Lorena Tonini Cintia Corsini Fernandes Maria Margareth Cancian Roldi Claudia Brum Maridiesse Morais Lopes Claudio Nicolleti de Fraga Rafael Silva Cipriano Fernanda Cristina Lirio Ferreira Raphael Becalli Soares Francieli Loss Pugnal Renan Luxinger Betzel Gildo de Castro Moraes Robson Zanoni Helio de Queiroz Boudet Fernandes Thaís de Assis Volpi Joelcio Freitas Thiago Gechel Kloss Juliana Paulo da Silva Thiago Silva Soares Kêmilly Betânia Silva de Paula

Comissão Científica e Editorial Alexander Tamanini Mônico Renan Luxinger Betzel Joelcio Freitas Thaís de Assis Volpi Maridiesse Morais Lopes Thiago Gechel Kloss Rafael Silva Cipriano Thiago Silva Soares

Comissão Avaliadora Amélia Carlos Tuler Fabio Müller R. S. Pupo Marcelo Ribeiro Pereira Ana Paula Gelli de Faria Felipe Zamborlini Saiter Marco O. Oliveira Pellegrini Ana Teresa Galvagne Loss Fernanda Satori Petrongari Maria Cristina Gaglianone Anderson Lopes Peçanha Fernando Henrique S. Moura Maria Fabris Colodete André Luiz da Costa Moreira Fernando Moreira Flores Marlei Rosa dos Santos Andre Moreira Assis Flávio Ricardo da Silva Cruz Nelson Silva Pinto Andressa Gatti Francisco Braz Daleprane Paola Maia Lo Sardo Antônio Campos Rocha Neto Gabriel Lobregat de Oliveira Poliana Beatriz Arantes Augusto Giaretta de Oliveira Hiulana Pereira Arrivabene Rafaela Duda Paes Barbara de Sá Haiad Joelcio Freitas Sandor Christiano Buys Bruno Corrêa Barbosa José Augusto Martins Roxinol Thairine Mendes Pereira Cecilia Waichert Juliana Hipólito Thais Cardinali Rebouças Daniela Santos Silva Juliane Barros da Silva Thais de Assis Volpi Diego Galvão de Pádua Lais Gonçalves da Costa Thalita G. Zimmermann Diego Rafael Gonzaga Leandro Lacerda Giacomin Thiago Gechel Kloss Ednaldo Miranda de Oliveira Leonardo Luiz Calado Valéria S. Sampaio Edson Zambon Montes Lorena Contarini Machado Walace P. Kiffer Junior Elias Terra Werner Luisa Maria Sarmento-Soares Walter de Oliveira Có Elidiomar Ribeiro da Silva Luiz Fernando Duboc Elvis Pantaleao Ferreira Marcelo Ribeiro de Britto

iii Sumário

APRESENTAÇÃO ...... 12

PROGRAMAÇÃO ...... 13

PALESTRAS ...... 15

POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA: UMA FERRAMENTA PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE ...... 16

A EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA COMO RESPONSABILIDADE E COMPROMISSO COM O FUTURO ...... 18

CONHECIMENTO DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O CONHECIMENTO CIENTÍFICO ...... 19

BIOLACUNAS DO CONHECIMENTO: AMBIENTE AQUÁTICO ...... 20

AMBIENTES VULNERÁVEIS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, OS DESAFIOS E IMPORTÂNCIA DESTES AMBIENTES PARA O ECOSSISTEMA CAPIXABA ...... 21

NORDESTE, RIOS, PAISAGENS E ECORREGIÕES: UM INSTITUTO NACIONAL DA MATA ATLÂNTICA CONECTANDO PESSOAS E PAISAGENS ...... 23

CONHECIMENTO CIENTÍFICO: COMO INSERIR A POPULAÇÃO NESTE UNIVERSO? ...... 29

LACUNAS DE CONHECIMENTO EM UM BIOMA MEGADIVERSO E AMEAÇADO ...... 30

ANÁLISE TEMPORAL DA VEGETAÇÃO NA BACIA HIDROGRÁGICA DO RIO DOCE ENTRE 2001 E 2016 ...... 31

INVENTÁRIOS, AMOSTRAGEM E ALFA-TAXONOMIA: QUAIS SEUS EFEITOS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE? QUAIS OS NOVOS DESAFIOS? ...... 36

RESUMOS ACEITOS ...... 37

Subárea: Biogeografia ...... 38 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

TESTANDO A REGRA NEO-BERGMANNIANA EM AKODON CURSOR (RODENTIA: SIGMODONTINAE) DA MATA ATLÂNTICA ...... 38

Subárea: Botânica ...... 46

OCORRÊNCIA, QUALIDADE E SANIDADE DE Actinostemon klotzschii EM FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL ...... 46

LEVANTAMENTO DE ESPÉCIES DE JUSS EM REGÊNCIA, LINHARES –ES ...... 52

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byles &G.D. Rowley EM ZONAS DE ELEVADAS TEMPERATURAS, BRASIL ...... 55

MÉTODOS PARA SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM SEMENTES DE Cassia ferruginea ...... 59

SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM SEMENTES DE Cassia grandis L. (FABACEAE) ...... 62

TRATAMENTOS PRÉ-GERMINATIVOS PARA SUPERAÇÃO DA DORMÊNCIA DE SEMENTES DE Ormosia arborea (Vell.) Harms ...... 65

DIVERSIDADE E IMPORTÂNCIA DO BANCO ATIVO DE GERMOPLASMA (BAG) DO GÊNERO Piper (PIPERACEAE) NO INCAPER ...... 68

DISPERSÃO DE Vriesea neoglutinosa MEZ (BROMELIACEAE) EM RESTINGA E MUSSUNUNGA ...... 71

FITO SOCIOLOGIA DE UM POVOAMENTO ARTIFICIAL DE ESPÉCIES ARBÓREAS DE MATA CILIAR NO RIO SANTA MARIA DO DOCE ...... 74

VISITANTES FLORAIS DA MANGUEIRAS NO IFES CAMPUS SANTA TERESA ...... 79

VISITANTES FLORAIS DA GOIABEIRA NO IFES CAMPUS SANTA TERESA ...... 84

ARMAZENAMENTO E GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE CACAU ...... 88

GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE IPÊ AMARELO EM DIFERENTES SUBSTRATOS ...... 93

GERMINAÇÃO EM SEMENTES DE CAJÁ ...... 97

vi Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

VISITANTES FLORAIS DO MARACUJAZEIRO NO IFES CAMPUS SANTA TERESA ...... 102

PRODUÇÃO DE MUDAS DE MARACUJAZEIRO AMARELO (Passiflora edulis Sims) EM SUBSTRATO COM HÚMUS ...... 107

VEGETAIS RUDERAIS INVASORES EM CAMPOS DE FUTEBOL ...... 113

AMARYLLIDACEAE J. ST.-HIL. NO ESPÍRITO SANTO, BRASIL: RESULTADOS PRELIMINARES ...... 117

COMMELINACEAE MIRB. NO ESPÍRITO SANTO, BRASIL: DADOS PRELIMINARES ...... 123

ANGIOSPERMAS NAS FLORESTAS ESTACIONAIS DA APA PEDRA DO ELEFANTE, ESPÍRITO SANTO-BRASIL: DADOS PRELIMINARES ...... 128

PROPOSTA DE UM MODELO DIDÁTICO DE ANATOMIA VEGETAL PARA PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL...... 143

CONVOLVULACEAE Juss. NO PARQUE ESTADUAL DE ITAÚNAS, ESPÍRITO SANTO, BRASIL ...... 150

SOLANACEAE Juss. NO PARQUE ESTADUAL DE ITAÚNAS, ESPIRITO SANTO, BRASIL: DADOS PRELIMINARES ...... 156

NOVOS REGISTROS DE ANGIOSPERMAS PARA O PARQUE ESTADUAL DE ITAÚNAS, ESPÍRITO SANTO, BRASIL ...... 161

O BOTÂNICO FREDERICO CARLOS HOEHNE: IMPORTÂNCIA PARA O ESTUDO DAS ARISTOLOCHIACEAE BRASILEIRAS ...... 169

USO DE MODELOS DIDÁTICOS DE RAÍZES PARA O ENSINO- APRENDIZAGEM DE BOTÂNICA ...... 175

GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE CACAU PRÉ-EMBEBIDAS COM SUBSTÂNCIAS ANTIOXIDANTES ...... 181

EFEITOS DA INTENSIDADE LUMINOSA SOBRE A HISTOQUÍMICA DE RAÍZES DE Cattleya guttata Lindl. (ORCHIDACEAE) ...... 185

Subárea: Ecologia ...... 192

vii Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

PLANO DE MONITORAMENTO DE DEPOSIÇÃO DE MATERIAL PARTICULADO SEDIMENTÁVEL NA REGIÃO DA GRANDE VITÓRIA – ES ...... 192

CONSUMO DE Dimorphandra jorgei POR Tapirus terrestris EM REMANESCENTE DE MATA ATLÂNTICA DE TABULEIRO NO SUDESTE DO BRASIL ...... 198

COMMUNITY AND -LEVEL RESPONSES TO EUTROPHICATION IN STREAMS OF THE ATLANTIC FOREST ...... 204

ARDUINO NO DESENVOLVIMENTO DE PESQUISAS EM BIOLOGIA EXPERIMENTAL: UMA REVISÃO ...... 212

DIETA ALIMENTAR INSETÍVORA EM Guira guira (GMELIN 1788) E Crotophaga ani (LINNAEUS 1758) (CUCULIFORMES: CUCULIDAE) NO SUDESTE DO BRAZIL ...... 220

AS ESPÉCIES DA ORDEM ODONATA (INSECTA) UTILIZADAS EM PROGRAMAS DE BIOMONITORAMENTO: INVENTÁRIO BIBLIOGRÁFICO ...... 226

GATILHOS LIGADOS À ATIVIDADE REPRODUTIVA DE Rhamdioglanis transfasciatus MIRANDA RIBEIRO, 1908, BAGRE ENDÊMICO DE RIACHOS COSTEIROS DE MATA ATLÂNTICA ...... 231

COMO ANDA A QUALIDADE DO AR QUE RESPIRAMOS NA SEGUNDA CIDADE COM MELHOR QUALIDADE DE VIDA? ...... 240

Subárea: Educação Ambiental ...... 244

PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO PROGRAMA DE COLETA SELETIVA DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO MUNICÍPIO DE SANTA TERESA, ES ...... 244

ELABORAÇÃO DE UMA EXPOSIÇÃO ENTOMOLÓGICA COMO FERRAMENTA DE DIVULGAÇÃO CIENTIFICA ...... 250

JOGOS DE TABULEIRO COMO FERRAMENTA PARA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA ...... 255

viii Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

JOVENS EDUCANDO JOVENS: A POPULARIZAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO PARA A SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL EM UMA COMUNIDADE ESCOLAR ...... 261

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA FERRAMENTA DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA ...... 267

ESTRATÉGIAS E FERRAMENTAS PARA POPULARIZAÇÃO DA ORNITOLOGIA DENTRO DO INSTITUTO NACIONAL DA MATA ATLÂNTICA – INMA ...... 275

PROJETO CAÇA-ARANHA: AÇÃO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO INSTITUTO NACIONAL DA MATA ATLÂNTICA ...... 281

Subárea: Etnobiologia ...... 289

PERCEPÇÕES DE UMA FAMÍLIA LINHARENSE SOBRE OS INSETOS A PARTIR DE SUAS HISTÓRIAS E EXPERIÊNCIAS DE VIDA ...... 289

ETNOZOOLOGIA DE MORCEGOS EM SANTA TERESA – ES ...... 294

PERCEPÇÕES DOS MORADORES DO ENTORNO DA RESERVA BIOLÓGICA AUGUSTO RUSCHI EM RELAÇÃO AOS ANFÍBIOS ANUROS ...... 301

Subárea: Gestão Ambiental ...... 309

O USO DE CHIRONOMIDAE (INSECTA: DIPTERA) COMO BIOINDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL AQUÁTICA: UM LEVANTAMENTO SOBRE OS TRABALHOS REALIZADOS NO BRASIL . 309

ADUBO ORGÂNICO COMO ALTERNATIVA NA ADUBAÇÃO NITROGENADA DO MILHO E AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE ECONÔMICA ...... 315

AVALIAÇÃO DA DEGRADAÇÃO DOS RECURSOS AMBIENTAIS: UM ESTUDO DE CASO NO INTERIOR DE SANTA TERESA - ES ...... 321

Subárea: Zoologia ...... 326

AVES OBSERVADAS NO IFES SANTA TERESA ...... 326

LIBÉLULAS (INSECTA, ODONATA) COMO BIOINDICADORES DE POLUIÇÃO QUÍMICA DO CÓRREGO SÃO SILVANO, COLATINA-ES ..... 330

ix Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

A FÊMEA DE Peregrinus maidis (ASHMEAD, 1890) EM ITATIAIA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (INSECTA: HEMIPTERA: DELPHACIDAE)...... 336

PRIMEIRO REGISTRO DE Neoperkinsiella MUIR, 1926 NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: DESCRIÇÃO DA FÊMEA DE N. testacea (FOWLER, 1905) (INSECTA: HEMIPTERA: DELPHACIDAE) ...... 343

BIODIVERSIDADE DE TYPHLOCYBINAE (INSECTA: HEMIPERA: CICADELLIDAE) NO DISTRITO DE ITAIPAVA (PETRÓPOLIS, RJ), COM BASE NO RECOLHIMENTO DE EXEMPLARES ATRAÍDOS POR ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL ...... 348

PREFERÊNCIA ALIMENTAR DE FORMIGAS Camponotus spp...... 353

ESTADO DA ARTE DA PESQUISA EM SISTEMÁTICA DO CLADO Nemuroglanis (SILURIFORMES: ) ...... 359

LEVANTAMENTO DA AVIFAUNA DA POUSADA SÍTIO CANAÃ, SANTA TERESA – ESPÍRITO SANTO ...... 372

INVENTÁRIO PRELIMINAR DA AVIFAUNA DO MUNICÍPIO DE COLATINA – ES ...... 384

DIVERSIDADE DE NÁIADES DE ODONATA EM TRECHOS COM DIFERENTES COBERTURAS DE DOSSEL EM UM RIACHO PRESERVADO DE MATA ATLÂNTICA ...... 392

CURCULIONÍDEOS (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE) DEPOSITADOS NA COLEÇÃO ENTOMOLÓGICA DO INSTITUTO NACIONAL DA MATA ATLÂNTICA ...... 399

CONTRIBUÇÃO PARA UMA BIBLIOTECA CARIOTÍPICA VIRTUAL DE MAMÍFEROS TERRESTRES DO BRASIL ...... 403

USO DE ARMADILHAS E SOLUÇÕES ATRATIVAS PARA O MONITORAMENTO DE ADULTOS DE MOSCAS-DAS-FRUTAS EM POMAR DE GOIABEIRA...... 407

DISTINÇÃO ENTRE ESPÉCIES DO GÊNERO Trichomycterus (: TRICHOMYCTERIDAE) NAS BACIAS DOS RIOS JEQUITINHONHA E PARDO UTILIZANDO ANÁLISES DE MORFOMETRIA GEOMÉTRICA ...... 413

x Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

OS Trichomycterus (SILURIFORMES: TRICHOMYCTERIDAE) DA BACIA DO RIO JEQUITINHONHA ...... 419

MODIFICAÇÃO COMPORTAMENTAL DE Cryptachaea migrans (ARANEAE, THERIDIIDAE) PELA VESPA PARASITOIDE Zatypota alborhombarta (HYMENOPTERA, ICHNEUMONIDAE) ...... 432

xi Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

APRESENTAÇÃO

O Simpósio sobre Biodiversidade da Mata Atlântica – SIMBIOMA é um evento científico realizado pela Associação de Amigos do Museu de Biologia Mello Leitão – SAMBIO e o Instituto Nacional da Mata Atlântica – INMA em parceria com diversas instituições públicas e privadas, como instrumento para divulgação das pesquisas relacionadas ao Bioma Mata Atlântica, propiciando momentos de incentivo a pesquisa, difusão e discussão de trabalhos científicos, relatos de experiência, além de avaliar o impacto atual das pesquisas realizadas.

Ano após ano, o evento vem se consolidando no cenário estadual e até nacional, como palco de discussões importantes envolvendo este Bioma tão ameaçado. O Simbioma visa a cada nova edição, levantar questões pertinentes sobre a conservação deste bioma, com a participação de pesquisadores de inúmeros estados da Mata Atlântica brasileira.

Esta 6ª edição do SIMBIOMA, realizada de 08 a 11 de junho de 2017, com o tema: “Lacunas de conhecimento em um bioma megadiverso e ameaçado”, contou com 155 inscritos, de instituições de ensino e pesquisa de diferentes estados. Durante o evento foram apresentadas 16 palestras/mesas-redondas por pesquisadores de 8 instituições. Além disso, a participação dos congressistas foi um sucesso, com a submissão de 69 trabalhos à avaliação da comissão do evento, dentre estes, cinco apresentações orais.

O Simpósio visa criar um ambiente para a promoção do estado da arte e debate dos principais desafios, estratégias de ensino, perspectivas e avanços científicos na área de no que tange à biodiversidade da Mata Atlântica. Em nome da Comissão Organizadora, somos gratos a SAMBIO e ao INMA, pelo compromisso institucional de realizar este evento e pelo reconhecimento da importância em divulgar as pesquisas com a Mata Atlântica. É com imensa satisfação que apresentamos os resultados do encontro, contidos neste volume dos Anais do VI SIMBIOMA. Agradecemos ainda a presença de todos os participantes que contribuíram para o sucesso desta sexta edição do SIMBIOMA. Esperamos que os textos aqui disponibilizados possam ser apreciados e utilizados por você leitor. Com nossas melhores saudações, Comissão Científica e Editorial do VI SIMBIOMA

12 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

PROGRAMAÇÃO 08/06/2017 – Quinta-feira 8 – 17h – Credenciamento e entrega do material. 8 – 17h – Minicursos – Estratégias de divulgação científica – Biólogo Raphael Becalli Soares (INMA). – Ecologia “Aranhas e Seus Inimigos Naturais” – Dr. Thiago Gechel Kloss (UFES/CCENS). – Iniciação em Entomologia: “Princípios básicos para organização de uma coleção entomológica” – Dr. Arlindo Serpa Filho (INMA) e Celso Godinho. – Montagem de pranchas fotográficas para trabalhos científicos – MSc. Joelcio Freitas (UEFS). – Práticas em Análises Filogenéticas – MSc. Diego Barbosa (UFES). – Delineamento experimental aplicado à estudos Ecológicos – Dr. Francisco Cândido Cardoso Barreto (UFES) 18h – Mesa de abertura. Palestrante: Msc. Thais Volpi (SIMBIOMA), Dr. Arlindo Serpa Filho (SAMBIO), Hélio Boudet de Queiroz Fernandes (INMA). 18h30 min – Espécie símbolo: Alouatta guariba e a febre amarela. Palestrante: Dr. Sergio Lucena Mendes (UFES). 19h – Tema da Palestra Magna: Lacunas de conhecimento em um bioma megadiverso e ameaçado. Palestrante: Dra. Marinez Ferreira de Siqueira (JBRJ).

09/06/2017 – Sexta-feira 7h30min – Credenciamento e entrega do material. 8h – Início das Atividades – Dia 2 – Tema da Palestra: Amostragem biológica, inventários e alfa-taxonomia: quais seus efeitos para a conservação da biodiversidade? Quais os novos desafios? Palestrante: Dra. Valquíria Ferreira Dutra (UFES). – Apresentação Oral 1 – Apresentação de painéis. – Apresentação Oral 2 – Tema da Palestra: Importância da biodiversidade para a saúde humana: uma perspectiva ecológica. Palestrante: Dra. Marcia Chame (FIOCRUZ). – Almoço (1 hora de intervalo). – Tema da Mesa-redonda: Difusão do conhecimento científico e tecnológico no Brasil: a formação de cidadãos engajados. Moderador: Dr. Arlindo Serpa Filho (INMA). – Conhecimento científico: como inserir a população neste universo? Palestrante: Dra. Maria Isabel Pinto Ferreira Landim (MUZUSP).

13 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

– Popularização da Ciência: uma ferramenta para a conservação da biodiversidade. Palestrante: MSc. Cintia Corsini (INMA). – Difusão e divulgação científica: qual seu papel e quais seus efeitos para a sociedade? Palestrante: Dra. Cristina Araripe (FIOCRUZ). – Apresentação Oral 3 – Apresentação de painéis. – Tema da Palestra: Conhecimento das comunidades tradicionais e sua contribuição para o conhecimento científico. Palestrante: Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto (UEFS). – Tema da Palestra: A Mata Atlântica e as Ecorregiões. Palestrante: Dra. Luisa Maria Sarmento Soares (INMA).

10/06/2017 – Sábado 8h – Início das Atividades – Dia 3 – Tema da Palestra: Análise temporal da vegetação na bacia do Rio Doce de 2001 a 2016. Palestrante: Msc. Mileidi Holanda Formigoni ( UFES) – Apresentação Oral 4 – Apresentação de painéis. – Tema da Palestra: Ambientes vulneráveis do estado do Espírito Santo, os desafios e importância destes ambientes para o ecossistema capixaba. Palestrante: MSc. José Nilton da Silva (INMA). – Almoço (1 hora de intervalo). – Tema da Mesa-redonda: Biolacunas do conhecimento. Moderador: Dr. Thiago Silva Soares (INMA). – Ambiente aquático. Palestrante: Dr. Frederico Falcão Salles (CEUNES/UFES). – Lacunas no conhecimento de vertebrados da Mata Atlântica. Palestrante: Dr. Thiago Silva Soares (INMA). – Lacunas no conhecimento para a flora capixaba. Palestrante: Dr. Claudio Nicoletti de Fraga (INMA). – Apresentação de painéis. – Apresentação Oral 5 – Tema da Palestra: Epidemiologia e Entomologia da Febre Amarela Silvestre no Espírito Santo. Palestrante: Dr. Aloísio Falqueto (UFES). – Tema da Palestra de encerramento: Como os institutos de pesquisa contribuem no preenchimento de lacunas do conhecimento da Mata Atlântica? Palestrante: Dr. Fabio Rubio Scarano.

11/06/2017 – Domingo 8 – 17h – Minicurso de Fotografia de natureza – Leonardo Merçon (Instituto Últimos Refúgios) e Fabricio Vasconcelos Costa (Expedicionários).

14 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

PALESTRAS

15 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA: UMA FERRAMENTA PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

Cintia Corsini Fernandes

Instituto Nacional da Mata Atlântica - INMA, Programa de Capacitação Institucional

A sociedade em geral ainda não compreendeu devidamente o valor da biodiversidade, definida como a variabilidade entre organismos vivos de todas as origens, compreendendo a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas. O mau uso dos recursos naturais está gerando um novo ciclo de extinção sem precedentes na história geológica do planeta e as principais causas da perda de biodiversidade são a destruição e diminuição dos habitats naturais, a introdução de espécies exóticas e invasoras, a exploração excessiva das espécies, caça e pesca sem critérios, tráfico da fauna e flora silvestres, a poluição do solo, água e atmosfera, a ampliação desordenada das fronteiras agropecuárias dentro de áreas nativas e os incêndios criminosos que provocam mudanças climáticas e aquecimento global. Portanto, conservar a biodiversidade implica em melhorar a qualidade de vida humana, evitando uma queda no suprimento de alimentos, manutenção da saúde, diminuição da vulnerabilidade aos desastres naturais, aumento da oferta e distribuição de água potável, diminuição de doenças e epidemias e estabilidade social, política e econômica, entre outros. A conservação da biodiversidade está sempre confrontada com duas questões- chave: onde a conservação é prioritária e como viabilizar essa conservação. E para responder essas questões são necessários estudos de longo prazo e medidas para solucionar questões ambientais que envolvem a interferência da população. O grande desafio encontrado é o conhecimento precário das pessoas sobre a diversidade e equilíbrio das espécies e ecossistemas. As ciências e a tecnologia assumem um papel fundamental para o desenvolvimento social e econômico, sendo estratégias que favorecem a compreensão da complexidade do mundo, bem como os interesses e as influências de determinados grupos sociais dentro de um contexto político e social. Desta forma, desenvolver ciência e difundi-la ser prioridade para reverter a crise ambiental contemporânea, seja por meio da educação científica – que possibilita aos cidadãos um reconhecimento da ciência como parte integrante da cultura humana – ou popularização científica – que utiliza uma linguagem mais explicativa e busca a socialização de informações científicas e tecnológicas – realizadas dentro de espaços formais e não formais, visando incluir a população no compartilhamento de conhecimentos. A difusão científica fortalece a cultura científica no país através de um processo coletivo de pesquisa e popularização. Diversos segmentos da sociedade são envolvidos: instituições de pesquisa, universidades, museus, sociedade científica, governo, comunicadores, educadores e comunidades. E todos esses atores produzem agentes multiplicadores de informações que contribuem para a valorização pública da ciência, com apoio social para as medidas de proteção aos ecossistemas nativos. Assim, devem ser consideradas as peculiaridades de cada região, atentando-se ao modo de interação dos humanos com a natureza, por meio de suas relações sociais, do trabalho, da ciência, da arte e da tecnologia, para que a comunicação para a popularização científica possa atuar no processo de formação da cidadania.

16 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

O setor de conservação da biodiversidade desenvolvido no INMA realiza atividades envolvendo a popularização científica focada no tema “biodiversidade da Mata Atlântica”, o qual contribui para incentivar o interesse científico de jovens para o estudo e conservação da biodiversidade além de enfocar os aspectos regionais, favorecendo o engajamento e maior participação da sociedade.

17 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

A EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA COMO RESPONSABILIDADE E COMPROMISSO COM O FUTURO

Cristina Araripe Ferreira

Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ (RJ)

A responsabilidade social dos cientistas tem sido objeto de muitos pensadores da contemporaneidade. Em 1939,J. D. Bernal publicou o livro “A função social da ciência”que trouxe, pela primeira vez para o campo da história das ciências, uma reflexão ampla e profunda sobre a relação entre o mundo do trabalho dos cientistas e o desenvolvimento social, econômico e político das sociedades modernas. A partir deste momento, mais do que uma advertência fundada na expectativa e no medo das devastadoras ameaças da II Guerra Mundial, houve por parte de diversas sociedadescontemporâneas uma efetiva e concreta atenção, principalmente, por parte dos próprios cientistas, em relação aos processos de participação dos cidadãos na construção social da ciência. De simples espectadores aos sábios “conselheiros do rei”, todo um conjunto de atores sociais interessados em ciência e tecnologia tem sido, desde então, mobilizado para que não se restrinja aos debates sobre os processos de escolha (objetos, temas e finalidades) e decisórios (instâncias econômicas e política) a participação dos cidadãos na produção do conhecimento científico. As ideias e os objetivos que têm norteado as discussões sobre a ciência cidadã é um bom exemplo de como opapel da ciência tem se transformado ao longo das últimas 8 décadas, passando de uma questão de uma ciência engajada (pós-guerra) à necessidade premente e permanente de mais diálogo entre ciência e sociedade. A discussão crucial sobre o papel do cientista na sociedade tem sido, paralelamente, revisitada por muitos pensadores, entre eles, Karl Popper e Thomas Kuhn que protagonizaram alguns dos mais interessantes debates sobre a importância da educação e do acesso ao conhecimento como alicerces fundamentais para que a ciência continue aespraiar o seu poder de sedução e de forte aderência aos modelos realistas de interpretação da natureza e do mundo social. O compromisso com o futuro e a reprodutibilidade do modelo de ação do cientista sintetizam aqui o momento de inflexão pelo qual passamos, mas ainda não nos afixamos sob pena de desesperança numa ciência melhor para todos os cidadãos.

18 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

CONHECIMENTO DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Eraldo Medeiros Costa Neto

Universidade Estadual de Feira de Santa – UEFS (BA)

Estudos etnobiológicos têm revelado que as culturas nativas possuem modelos cognitivos de manipulação dos recursos naturais, o que pode indicar caminhos para um uso alternativo do ambiente. Quando conhecimento tradicional e conhecimento científico são usados de modo apropriado e complementar, ambos os sistemas fornecem uma ferramenta poderosa para manejar recursos naturais e alcançar o desenvolvimento sustentável. A importância e contribuição da Etnobiologia e áreas afins, no sentido de fortalecer o vínculo entre acadêmicos e população local mediante o apoio científico a novas ideias tendentes a reorientar a política ecológica em uma emergente que seja socialmente responsável e gere pesquisas orientadas a argumentar em favor da salvaguarda das populações tradicionais (indígenas e não-indígenas), de seus territórios e do ambiente em geral. O saber tradicional é sempre situacional, variável e mutável. Pode variar qualitativa e quantitativamente de acordo com: gênero (♀ / ♂), idade (crianças/idosos), status social e nível de interação com o “objeto”. O corpus etnobiológico (repertório total de símbolos, conceitos, percepções e comportamentos sobre os elementos biológicos) é transmitido de geração a geração principalmente por meio da tradição oral, a qual é um veículo importante para a difusão de informações biológicas. Não podemos esquecer que os projetos participativos em aproveitamento e manejo de fauna  tanto silvestre quanto doméstica  só têm êxito real e aplicado quando os cientistas e os moradores locais têm a capacidade de se comunicarem horizontalmente. Estudos sobre usos regionais da fauna silvestre (e de zoocria) contribuem para que esta seja devidamente valorizada não apenas desde o ponto de vista ecológico, mas também econômico, social e cultural, promovendo e garantindo estratégias e apoios para a gestão ambiental, manejo, conservação e/ou reintrodução das espécies (sobretudo cinegéticas) e os ecossistemas onde habitam, contextualizado em uma determinada realidade sociocultural. Neste sentido, a pesquisa etnozoológica se torna bastante valiosa quando se estudam as interações entre seres humanos e animais de uma determinada região. As pesquisas em Etnobiologia abrangem um processo educativo mútuo que permeia a troca de saberes e extrapola a mera busca de informações. Sem esse comprometimento recíproco em todas as etapas da pesquisa não há resultados compartilhados e o trabalho tende a fracassar.

19 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

BIOLACUNAS DO CONHECIMENTO: AMBIENTE AQUÁTICO

Frederico Falcão Salles

Centro Universitário Norte do Espírito Santo - CEUNES/UFES

A Mata Atlântica, provavelmente, é o bioma mais estudado no que se refere à taxonomia e ecologia de insetos aquáticos. Algumas áreas, contudo, foram historicamente negligenciadas e apenas recentemente começaram a receber a devida atenção. É o caso, por exemplo, de toda a porção da Mata Atlântica inserida na Região Nordeste do Brasil e também no Espírito Santo. A partir de uma análise acerca da riqueza, composição e distribuição dos insetos aquáticos no Espírito Santo, eu abordei o status do conhecimento atual do grupo no estado e, com base nestes dados, discuti as principais lacunas existentes. Por fim, discuti suas implicações para a conservação dos ambientes dulçaquícolas e apontei algumas medidas que poderiam ser tomadas para mitigar tais lacunas em áreas de Mata Atlântica.

20 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

AMBIENTES VULNERÁVEIS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, OS DESAFIOS E IMPORTÂNCIA DESTES AMBIENTES PARA O ECOSSISTEMA CAPIXABA

José Nilton da Silva

Instituto Nacional da Mata Atlântica - INMA, Programa de Capacitação Institucional

O estado do Espírito Santo tem em seu território uma predominância de 100% de mata atlântica. No entanto, nos tempos atuais não existe mais do que 8% de floresta nativa do seu perfil original, sendo que este percentual encontra-se em um padrão de mosaico, de formas isoladas, possuindo apenas alguns corredores com distancias menores entre os fragmentos. Nos últimos séculos após a colonização do Brasil o estado do ES tem crescido de forma exponencial no quesito populacional. É alarmante que mesmo no cenário que estão os ecossistemas capixabas o Espírito Santo está entre os estados com maior quantidade de desmatamento no ultimo relatório da S.O.S MATA ATLÂNTICA, com mais de 116% de matas desmatadas. Dai surge a questão: se só temos 8% do que tínhamos na colonização, então desmatar mais o que? Este questionamento é um viés para discussões conservacionistas, pois existem vários projetos de recuperações e de reflorestamento, mas se não conseguimos preservar o que temos como queremos reflorestar mais? Precisamos blindar o que ainda nos restas de remanescentes florestais e ai sim após isso caçarmos meios e formas de reflorestar e ampliar as áreas florestadas. Nos ecossistemas capixabas temos restinga, mangues, florestas ombrófilas, florestas montanas, matas de encostas, matas ciliares, florestas de tabuleiro, ambientes de alagados, lagoas, rios, ambientes rupícolas e ambientes costeiros, todos estes ecossistemas estão ameaçados por ações antrópicas, seja extrativista, degradatórias ou de poluição. Então o que está vulnerável dentro dos ecossistemas capixabas? Em uma opinião mais científica diríamos que tudo está vulnerável, mas podemos enfatizar quais destes ecossistemas são prioridades, então chegaríamos aos ecossistemas aquáticos que tem como um protagonista atual o Rio Doce, este que sofreu o maior impacto ambiental da história do Brasil. Nestes impactos tudo está em questão, desde micro fauna até a macro fauna, desde a micro flora até a macro flora, desde impactos imediatos observáveis até impactos que só perceberemos daqui a décadas. O que fazer para conservar e fazer com que nossas pesquisas tenham peso e importância na conservação? Responderemos da seguinte maneira: o que sua pesquisa tem falado para você? O quão importante sua área e pesquisa é para a população, o quanto ela permeia nos periódicos? Tudo isso tem um peso e uma questão a ser levantada. Porém o mais visível entre os pesquisadores é o “egoísmo cientifico” onde cada um só defende seu peixe, só defende sua área de atuação. Concordo plenamente com isso, porém porque não se preocupar com outras áreas? O ecossistema é como se fosse um emaranhado de engrenagens, onde cada uma depende da outra, se focarmos apenas em uma engrenagem e esquecermos-nos da outra mais cedo ou mais tarde nossa engrenagem parará também. Desta forma, é importante criar-se redes que contribuam de forma coletiva para a preservação de um ecossistema, nenhum órgão de fomento olhará com apreciação para um projeto que defenda apenas uma área de pesquisa (isso não quer dizer que tais projetos não sejam aprovados), porém projetos com uma visão mais coletiva de pesquisa, podendo agrupar vários colaboradores e pesquisadores de distintas áreas têm

21 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 um potencial maior de respostas para questões ambientais, taxonômicas ecológicas e paisagísticas de um ecossistema estudado em questão. Assim, vale ressaltar que boa parte dos ecossistemas que estão vulneráveis no estado do Espírito Santo muitas vezes estão vulneráveis porque os pesquisadores deixaram de olhar como um coletivo, e singularizaram muitas áreas. Porém ainda é tempo de preservar o que temos cronogramar o que queremos e por em prática o que pensamos.

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NORDESTE, RIOS, PAISAGENS E ECORREGIÕES: UM INSTITUTO NACIONAL DA MATA ATLÂNTICA CONECTANDO PESSOAS E PAISAGENS

Luisa Maria Sarmento-Soares1,2 & Ronaldo Fernando Martins-Pinheiro1

1Instituto Nacional da Mata Atlântica - INMA , Programa de Capacitação Institucional 2Universidade Federal do Espírito Santo - UFES

Cada vez mais pessoas começam a entender que a acumulação material, mecanicista e interminável, assumida como progresso, não tem futuro. Esta preocupação é crescente, pois os limites da vida estão severamente ameaçados por uma visão antropocêntrica do progresso, cuja essência é devastadora. Alberto Acosta

INTRODUÇÃO

A América Latina e o Caribe tiveram, nos últimos anos, mais de 40% de suas florestas desmatadas ou degradadas, em uma área equivalente a 650 milhões de hectares, especialmente em função de avanços da agricultura e da urbanização (Moraes, 2016). A perda de áreas florestadas modifica o ciclo hídrico, alterando o microclima regional com consequente redução da umidade e aumento de temperatura ambiente. A Mata Atlântica é entrecortada por uma intrincada rede hidrográfica. Os rios, córregos e lagos que compõem tais bacias estão em grande parte ameaçados pelo desmatamento das matas ripárias e conseqüente assoreamento dos mananciais. A falta de metodologia adequada para lidar com os recursos hídricos resulta na poluição da água por agrotóxicos, dejetos e esgoto. O desflorestamento contribui para a redução da disponibilidade hídrica superficial resultando na construção de represas e barramentos para captação de água. Sabe-se que a restauração de paisagens e florestas, além de neutralizar emissões de carbono locais, propicia benefícios diretos como a preservação da biodiversidade, proteção das bacias hidrográficas, segurança alimentar, conservação de solos e salvaguarda dos povos indígenas (Moraes, 2016). Na Mata Atlântica Nordeste encontram-se as Florestas de Tabuleiros, nome alusivo ao relevo plano ou suave ondulado, característicos da paisagem. Os tabuleiros ainda que ocupando faixa estreita ao sul do Espírito Santo, na altura de Anchieta e Guarapari, se ampliam largamente entre o norte do Espírito Santo, a partir do vale do rio Doce, até o sul da Bahia, na altura de Ilhéus. Nesta extensa paisagem contínua de Mata de Tabuleiro encontra-se o vale fluvial do rio Itaúnas. No passado densamente povoado pela floresta ombrófila densa entremeada por alagadiços, muçunungas, culminando em restingas e manguezais, o vale do Itaúnas nos dias de hoje encontra-se seco, com sua vegetação largamente substituída por capoeira, pasto, agricultura e eucalipto. A degradação ambiental assolou o vale, a ponto da região hoje apresentar características típicas do Semiárido nordestino, onde o escoamento das águas é esparso ou intermitente. A nós pesquisadores cabe não apenas apontar os problemas, mas também indicar possibilidades e caminhos para solucioná-los. Assim, a presente contribuição conduz a uma reflexão quanto a questão da água doce no vale do rio Itaúnas e as políticas

23 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 públicas para recuperação de áreas degradadas (Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro, 2017).

ÁREA DE ESTUDO

A bacia do rio Itaúnas tem suas nascentes principais no extremo noroeste do Espírito Santo, entre os limites de três estados brasileiros: Espírito Santo em Ponto Belo e Mucurici (córrego Itaúnas Grande e Ribeirão Itauninhas); Minas Gerais em Nanuque (Córrego Barreado) e Bahia em Mucuri (córrego Taquara e Dourado).

Figura 1. Bacia do rio Itaúnas e áreas protegidas. Quadriculado indica a Zona de Amortecimento (ZA) definida no Plano de Manejo.

As áreas florestadas estão concentradas nas unidades de conservação ao longo da bacia do Rio Itaúnas, como a Floresta Nacional do Rio Preto (28,4260 km²), a Reserva Biológica de Córrego Grande (15,0613 km²), a Reserva Biológica do Córrego do Veado (23,7470 km²) e o Parque Estadual de Itaúnas (32,3923 km²) que juntas, correspondem a 100 km², aproximadamente 2,3% dos 4.314 km2 da bacia no Espírito Santo. (Figura 1).

Figura 2. Nascente do rio Itaúnas em Ponto Belo (ES).

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Sua nascente mais alta encontra-se a 370 m de altitude, em Mucurici, próximo à divisa estadual com Minas Gerais. Com relevo baixo e fácil acesso, o vale do rio Itaúnas foi intensamente desflorestado durante a segunda metade do século XX. O desmatamento é uma das ações regionais mais impactantes, e a deficiência hídrica pode estar relacionada com a devastação ambiental (Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro, 2012). Ainda no trecho superior o rio Itaúnas mostra-se degradado, com nascentes em áreas arrasadas e sujeitas a erosão, como mostra Figura 2.

Caminhos para a recuperação de áreas degradadas. Enquanto cidadãos preocupados com a crise hídrica, o desafio de nossa geração consiste em agir para reverter o quadro desta situação. Está ao nosso alcance lidar com a seca que assola o Espírito Santo, em especial a região norte e noroeste.

As atuais políticas públicas. Ações de larga escala no campo da restauração florestal incluem o desafio 20 x 20, um esforço proposto por países da América Latina e Caribe de recuperar vinte milhões de hectares de terras degradadas até 2020, proposto na COP- 20, realizada em 2014 no Peru. Este esforço está em consonância com de restauração de 150 milhões de hectares globais até 2020, definida durante uma mesa redonda em Bonn, na Alemanha, em setembro de 2011. O acordo determinava que a recuperação poderia ocorrer com espécies nativas ou exóticas, com restauração assistida ou natural, e seu objetivo final é o de resgatar a funcionalidade ecológica e promover a restauração da paisagem. O governo do estado do Espírito Santo assumiu o compromisso de restaurar e/ou evitar o desmatamento de pelo menos 80 mil hectares. O anúncio aconteceu durante o Fórum Global de Crescimento Sustentável, realizado no Chile. O compromisso assumido pelo Espírito Santo junto ao Desafio 20 x 20 deverá ser honrado por meio de ações desenvolvidas no âmbito do Programa Florestar (Programa de Conservação e Recuperação Florestal) que deverá gerar benefícios diretos, como a preservação e a recuperação de serviços ambientais, relacionados à água, ao solo e à biodiversidade. Outra iniciativa de restauração é o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, lançado em 2009, como um movimento social, inspirado pela urgência em salvar o bioma (Rodrigues et al., 2009). Inovações em políticas públicas ambientais, como a aplicação do mecanismo de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) utilizando royalties de petróleo e gás, podem ser concedidos em reconhecimento aos serviços ambientais fornecidos pela mata nativa conservada e/ou em recuperação (SEAMA 2015). Nesta linha o Projeto Produtores de Água voltava-se à conservação florestal de áreas estratégicas para os recursos hídricos (Iema, 2009). O projeto reconheceu, por meio de pagamentos por serviços ambientais- PSA, os proprietários rurais que conservavam florestas às margens de rios, córregos e nascentes, contribuindo para o combate à erosão, ao assoreamento e facilitando à infiltração de água no solo (Sossai, 2016). Acreditava-se que os valores oferecidos estimulariam os produtores rurais a recuperar novas áreas, de forma a torná- las aptas ao recebimento do PSA (um benefício anual da ordem de aproximadamente R$ 260,00 por hectare (Sossai, 2016). Mas apesar de ter permitido um acúmulo de experiências específicas, os altos custos associados à restauração e à falta de perspectiva em conciliar a recuperação dos serviços ambientais com geração de renda ao produtor rural, não contribuíram de forma positiva ao aumento da cobertura florestal (Sossai, op. cit.). O Programa Reflorestar tenta viabilizar a recuperação da cobertura florestal em escala e sob uma nova abordagem conceitual, pautada na restauração de paisagens florestais, conciliando a conservação e a recuperação dos recursos naturais com a

25 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 geração de renda ao produtor rural (Espírito Santo, 2011). O investimento contínuo em planejamento e gestão realizado pelo Reflorestar, além de simplificar seu próprio gerenciamento, também tem se mostrado atrativo para o estabelecimento de promissoras parcerias com os diversos segmentos da sociedade, tais como agência de águas e o setor privado. Iniciativas públicas existem. Mas quais destes investimentos oriundos de fundos de financiamento recuperaram áreas no vale do Itaúnas? São muitas propostas e poucos resultados...

Uma outra visão. Qualquer estratégia de recuperação de áreas degradadas precisa incluir as comunidades envolvidas com a produção agrícola. Dentro da linha que vem sendo adotada de proteção da biodiversidade por áreas protegidas, um próximo passo pode ser uma política que estimule a prática com sistemas agroflorestais na área das bacias hidrográficas que banham estas Unidades. Estes sistemas precisam ser estabelecidos em primeiro lugar respeitando uma característica fundamental da Mata Atlântica – a diversidade biológica. Os sistemas de monocultura são apropriados para o clima europeu e tem graves consequências quando praticados em larga escala nas regiões tropicais. Para que estas ações de produção agroflorestal tenham êxito devem ser conduzidas por gestão participativa, com atividades de assistência técnica; capacitação e intercâmbio de conhecimento; pesquisa, capacitação e fomento à produção agroflorestal e investigação para o aprimoramento das agroflorestas e para conservação da Mata Atlântica.

Os peixes como bioindicadores. A dinâmica da destruição da Mata Atlântica foi mais acentuada durante as últimas três décadas do século XX, resultando em alterações severas para os ecossistemas que compõem o bioma, especialmente pela alta fragmentação do habitat, com conseqüente redução e pressão sobre sua biodiversidade (Pinto et al., 2006). Por isso a vasta maioria dos animais e plantas ameaçadas de extinção do Brasil são formas representadas na Mata Atlântica, sendo que o bioma lidera a contagem de espécies consideradas extintas na natureza (Rodrigues et al. 2009). A Mata Atlântica significa também abrigo para várias populações tradicionais e garantia de abastecimento de água para mais de 122 milhões de pessoas, mais da metade da população brasileira. As comunidades de peixes estão sendo profundamente afetadas pela perturbação antrópica em rios da Mata Atlântica ao norte do Espírito Santo. Cabe um outro olhar quanto à conservação de espécies aquáticas na região do vale do rio Itaúnas. A identificação de espécies e comunidades de peixes bioindicadoras se revela uma importante ferramenta para a elaboração de planos de manejo de bacias hidrográficas, informando indiretamente as condições atuais do ecossistema lótico. Estes bioindicadores podem ser úteis nas atividades de biomonitoramento de sistemas lóticos, permitindo aos gestores ambientais avaliar a dinâmica do ecossistema em função da frequência de ocorrência e abundância dos bioindicadores típicos das mais diversas condições ambientais reconhecidas (Carvalho, 2015).

CONCLUSÃO

A recuperação e conservação dos ambientes naturais passam necessariamente como uma mudança de paradigma de progresso. Submeter a Natureza a economia como fazemos atualmente é ignorar que ela é quem estabelece os limites e alcances de

26 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 sustentabilidade. As atividades produtivas dependem destes limites e se são ultrapassados destroem a base da própria economia (Acosta, 2016). Mas é possível buscar soluções de conservação e recuperação ambiental se considerarmos que estas soluções devam estar acompanhadas da melhoria na condição de vida das comunidades nas áreas definidas como prioritárias para estas ações. As áreas nas bacias conectadas as unidades de conservação pode constituir-se em um critério importante neste processo. O envolvimento das comunidades com sistemas de produção agroflorestais, desde que implementados com gestão participativa, e apoio da pesquisa na identificação das dificuldades e capacitação para sua superação podem ser um caminho para conservação e recuperação da Mata Atlântica. As comunidades de peixes de água doce constituem um excelente indicador para sinalizar as melhores escolhas durante este processo. Como dizia o poeta espanhol Antônio Machado: “Caminante no hay camino, se hace camino al andar”.

LITERATURA CITADA

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Carvalho, L. de. Bioindicadores da assembleia de peixes de riachos submetidos a diferentes condições de conservação na região metropolitana do município de Londrina (PR) [Internet] [Trabalho de conclusão de curso]. [Londrina, PR]: Universidade Tecnológica Federal do Paraná; 2015 [citado 25 de junho de 2017]. Disponível em: http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/5349/1/LD_COEAM_2015 _1_11.pdf

Espírito Santo. 2011. Planejamento Estratégico Reflorestar. Vitória: Secretaria de Estado de Economia e Planejamento.

Moraes, M. A. Restauração de florestas e paisagens no Brasil [Internet]. IUCN, Brasília, Brazil; 2016. Disponível em: https://www.iucn.org/sites/dev/files/content/documents/2016/livro_restauracao_ paisagens_07-06-16.pdf (acesso em 25 jun 2017).

Rodrigues, R.R., Brancalion, P.H.S. & Isernhagen, I (Orgs.). 2009. Pacto pela restauração da Mata Atlântica: referencial dos conceitos e ações de restauração florestal. São Paulo: LERF/ESALQ : Instituto BioAtlântica. Disponível em http://docs.wixstatic.com/ugd/5da841_f47ee6a4872540ee8c532166fbb7e7b0.pdf (acesso em 25 jun 2017).

Sarmento-Soares, L.M. & R.F. Martins-Pinheiro. 2012. A fauna de peixes nas bacias do norte do Espírito Santo, Brasil. Sitientibus série Ciências Biológicas 12(1): 27– 52.

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Sarmento-Soares, L.M. & R.F. Martins-Pinheiro. 2013. A fauna de peixes na REBIO Córrego Grande e seu entorno direto, Espírito Santo, Brasil. Bol. Mus. Biol. Mello Leitão, 31: 25-57.

Sarmento-Soares, L.M. & R.F. Martins-Pinheiro. 2017. Água e Conservação - um outro olhar. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, 121: 12-15.

SEAMA- Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. 2016. Reflorestar é referência na restauração em larga escala. Disponível em https://seama.es.gov.br/reflorestar-e-referencia-na-restauracao-em-la (acesso em 24 jun 2017).

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CONHECIMENTO CIENTÍFICO: COMO INSERIR A POPULAÇÃO NESTE UNIVERSO?

Maria Isabel Pinto Ferreira Landim

Universidade de São Paulo, Museu de Zoologia da USP, Departamento de Zoologia

Os Museus de História Natural abrigam acervo e desenvolvem pesquisa e ensino sobre a biodiversidade. Além disto, promovem uma relação com o público em geral que prescinde de intermediários. Suas coleções forneceram as principais evidências para a formulação de teoria da evolução no século XIX. Qual é o papel destas instituições no século XXI? Assim, foram salientados alguns dos desafios enfrentados pelos museus na era da "pós-verdade".

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LACUNAS DE CONHECIMENTO EM UM BIOMA MEGADIVERSO E AMEAÇADO

Marinez Ferreira de SIQUEIRA

Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do rio de Janeiro

O bioma Mata Atlântica é reconhecidamente um hotspot de biodiversidade e também um dos mais ameaçados biomas do planeta devido ao avançado desmatamento sofrido historicamente. Atualmente estima-se que reste apenas 100mil Km2 (cerca de 8,3%) de vegetação original, em uma paisagem fragmentada, das quais cerca de 22mil (cerca de 1,8%) protegidas em unidades de conservação de preservação integral. Em relação ao conhecimento acumulado sobre este Bioma, podemos destacar dois tipos de déficit (shorfalls) que podem ameaçar ainda mais o desenvolvimento de sínteses e análises do conhecimento para a produção de boas políticas públicas de conservação, são eles: o déficit linneano, o qual postula que a maioria das espécies podem ainda não estar catalogadas pela ciência, conceito que pode ser estendido para espécies já extintas; e o déficit wallaceano, que postula que o conhecimento sobre a distribuição geográfica das espécies ainda é incompleto, ou seja insuficiente em todas as escalas, na maior parte do tempo. Ao levantarmos informação sobre o que existe disponível nas grandes redes de dados do Brasil (rede splink, jabot, e dados do GBIF-Brasil) vemos que para a nossa flora e fauna, iniciativas como os programas Refora e Refauna colocam o Brasil na vanguarda do desenvolvimento do conhecimento em relação ao déficit linneano, que é considerado o mais básico, e sobre o qual todos os demais déficit estão relacionados. Em relação à Flora, são atualmente catalogadas 46.403 espécies e para a fauna 116.996. No entanto, ainda temos um déficit nesta categoria, uma vez que as estimativas mínimas e máximas para espécies de flora variam de 60.000 a 70.000 espécies. Já para o déficit wallaceano, a situação é um pouco mais complexa. Em relação especificamente ao grupo de Angiospermas, mais de 50% das espécies são conhecidas por menos de 20 registros (coletas) no Brasil. Se removermos os erros e os registros duplicados, este número sobe para 65%. Para melhorar este quadro, existem disponíveis ferramentas para tratar ambos os déficits. Análises de espacialização de dados baseadas em modelagem de nicho ecológico e distribuição de espécies, tendo por objetivo a identificação de lacunas de conhecimento, são uma alternativa importante para não só contornar o déficit wallaceano, mas também para diminuir sua influência nas sínteses de conhecimento. Outra importante ferramenta é a disponibilização de ambientes computacionais para a limpeza de dados para especialistas no conhecimento dessas espécies. Por fim, todas essas iniciativas seriam praticamente inócuas, em grande escala, se não houver a preocupação de que todos os esforços neste sentido sejam disponibilizados tanto para as coleções que abrigam os dados quanto para o público em geral. Apenas desta forma, atuando de forma cooperativa, acredito que teremos um conjunto de dados de qualidade, capaz de gerar informação realmente útil para a tomada de decisão acerca das melhores estratégias de conservação para o Bioma Mata Atlântica.

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ANÁLISE TEMPORAL DA VEGETAÇÃO NA BACIA HIDROGRÁGICA DO RIO DOCE ENTRE 2001 E 2016

Mileide de Holanda FORMIGONI

Universidade Federal do Espírito Santo

As florestas possuem grande importância ambiental, principalmente no que diz respeito aos ecossistemas, pois possibilitam a manutenção de diversas espécies da fauna e da flora, contribuindo para a qualidade dos recursos hídricos e do solo. O conhecimento da realidade relacionada, principalmente, ao desenvolvimento da agricultura e da pastagem em áreas de florestas e/ou em áreas com potencial para recuperação ambiental, torna-se relevante pelo fato de envolver as conexões entre as esferas ambiental, econômica e social. Nesse contexto, surge a necessidade de estudos e análises relacionadas ao comportamento da vegetação florestal no processo de mudanças em seu desenvolvimento. Sistemas de Informações Geográficas (SIG) envolvem estudos relacionados ao espaço terrestre, sendo formado por um conjunto de programas computacionais que integra informações geográficas, equipamentos e pessoas para coletar, armazenar, recuperar, manipular, visualizar e analisar dados espaciais referenciados a um sistema de coordenadas conhecido (FITZ, 2008). Dentre as ferramentas de SIG mais modernas e úteis para esta finalidade está o sensoriamento remoto, definido como o conjunto de atividades que visam caracterizar as propriedades dos alvos na superfície terrestre, através da detecção, registro e análise de fluxo de energia, refletido ou emitido pelos mesmos (NOVO, 1989). Dados de sensoriamento remoto têm sido utilizados em estudos temporais de análise das mudanças da cobertura e uso do solo (GÓMEZ et al 2011). Nessas aplicações o principal interesse é caracterizar diferentes ambientes biológicos e compreender as mudanças ocorridas na paisagem ao longo do tempo (KUPLICH, et al. 2013; COUTO JUNIOR, et al, 2011; FENSHOLT, et al., 2009). O Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS) é um dos principais sensores a bordo do satélite Terra, projeto Earth Observing System (EOS), lançado em dezembro de 1999, e do satélite Aqua, lançado em 2002 (NASA, 2015). O produto MOD13Q1 apresenta-se consistente para análises temporais das condições da vegetação, devido a sua resolução temporal, podendo ser utilizado para monitorar a atividade fotossintética da vegetação e interpretações da fenologia (ANDERSON, 2005). O produto possui dois índices de vegetação EVI (Enhanced Vegetation Index) e o NDVI (Normalized Difference Vegetation Index), que se complementam em estudos da vegetação e fornecem informações consistentes sobre a detecção de mudanças vegetais e parâmetros biofísicos do dossel. Pelo fato de refletirem o estado da vegetação, o EVI e o NDVI podem ser utilizados para estudos que caracterizam sua dinâmica, auxiliando na identificação e classificação de coberturas vegetais (ANDERSON, et al., 2005), na detecção de mudanças da cobertura vegetal (CARVALHO JUNIOR et al., 2009), no mapeamento e estudo da expansão de áreas agrícolas (VICTORIA et

31 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 al., 2012; LUNETTA et al., 2010) e no mapeamento de áreas suscetíveis a alagamentos (SHIMABUKURO e FORMAGGIO, 2007). O objetivo desse estudo é realizar a análise temporal de tendências do comportamento da vegetação envolvendo o conjunto de observações dos Índices de Vegetação do sensor MODIS, produto MOD13Q1, na bacia hidrográfica do rio Doce, durante o período de janeiro de 2001 à dezembro de 2016. A bacia hidrográfica do rio Doce (Figura 1) localiza-se no sudeste do Brasil, entre os Estados de Minas Gerais (MG) e Espírito Santo (ES), mais precisamente nos paralelos 17°45’ e 21°15’ de latitude sul e os meridianos 39°55’ e 43°45’ de longitude oeste (Figura 1). Com uma extensão de 853 km e uma área de drenagem de 86.715 km², desde a nascente até o oceano Atlântico, correspondidos entre os Estados de MG (aproximadamente 65%), e ES. Na Figura 2 é possível visualizar a classificação dos usos do solo na bacia, observando a grande expansão das atividades de agricultura e pastagem na porção que envolve o estado do ES.

Figura 1. Localização da bacia hidrográfica do rio Doce. Fonte. A autora

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Figura 2. Classificação dos usos no solo na bacia hidrográfica do rio Doce Fonte. A autora

As tendências podem ser entendida como o aumento ou a diminuição gradual nos valores da série ao longo do período. Nesse contexto, as etapas necessárias ao processamento e à análise das tendências de comportamento dos índices de vegetação, foram realizadas no módulo Earth Trends Modeler (ETM), do software TerrSet. A elaboração do ETM deu-se, especialmente, para a realização das análises de tendências e características dinâmicas dos fenômenos ambientais à partir de séries temporais determinadas. A tendência monotônica de Mann-Kendall (MANN, 1945; KENDALL, 1975) é um indicador de tendência não linear, capaz de inferir o grau em que uma tendência é crescente ou decrescente. Na prática, varia de -1 a +1, sendo que o valor de +1 indica uma tendência crescente e que nunca diminui, e -1 indica uma tendência decrescente e que nunca aumenta. A tendência de Mann-Kendall para a área de estudo, é apresentada na Figura 3, sendo possível inferir que apesar de possuir áreas em que a série tende a ser decrescente, na maior parte da área a série apresenta um comportamento crescente, representado pelos tons de azul e verde nos mapas. Os menores valores correspondem à área de pastagem e agricultura, ou seja, é a área onde os valores têm sofrido maior alteração, no sentido de decréscimo.

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Figura 3. Tendência monotônica de Mann-Kendall para NDVI e EVI. Fonte. A autora.

Portanto, é possível concluir que apesar de positiva em sua maioria, a tendência mostrou que a vegetação natural na bacia encontra-se alterada por pastagens e agricultura, sendo possível afirmar que esse cenário pode ser melhorado à partir de intervenções que visem recuperar parte da vegetação nativa e consequentemente melhorar a qualidade e quantidade dos recursos hídricos, havendo também, a necessidade de reverter o quadro resultante do ocorrido em 2015 por meio de mapeamento com identificação de áreas prioritárias para a recuperação e a produção de água na bacia. Os resultados desse estudo levam às perspectivas de haver maior interação com os dados biológicos, utilizando esses resultados como plano de fundo, para auxiliar na tomada de decisão das ações futuras prioritárias da bacia.

Referências

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INVENTÁRIOS, AMOSTRAGEM E ALFA-TAXONOMIA: QUAIS SEUS EFEITOS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE? QUAIS OS NOVOS DESAFIOS?

Valquíria Ferreira DUTRA

Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Espírito Santo. *Valquí[email protected].

Os inventários são procedimentos utilizados para identificar as espécies que ocorrem em um determinado local e podem ser realizados em vários níveis (p.ex. local, regional). Podem ser qualitativos, quando são amostrados todos os indivíduos encontrados na área de estudo, obtendo-se apenas informações sobre as espécies, como no método de caminhamento; ou quantitativos, quando amostra-se, em uma área delimitada, todos os indivíduos com determinado DAP e ao final obtém-se informações sobre a estrutura horizontal dos indivíduos na área, como no método de parcelas. Os inventários da flora no Brasil iniciaram em 1790, com a Flora Fluminense de Velloso. Desde então diversas iniciativas foram realizadas a fim de se inventariar a flora brasileira, a última delas, o projeto Flora do Brasil 2020, que já possui mais de 33.000 espécies inventariadas e que deverão estar monografadas até 2020. O Espírito Santo possui elevada diversidade vegetal e é o 7º estado brasileiro em riqueza de espécies, com mais de 6.200 angiospermas conhecidas, o que corresponde a 19,3% das espécies citadas para o Brasil e 32% da Floresta Atlântica. Iniciativas de se conhecer sua flora vêm sendo realizadas desde 2007 e o Projeto Flora do Espírito Santo iniciou-se em 2010. O Estado é considerado bem amostrado, em se tratando do registro de sua flora, pois a relação entre número de espécies e densidade de coletas é de cerca de 2,6 exsicatas/km2, uma relação alta quando comparada ao Brasil (cerca de 0,6 exsicatas/km2). Porém a maioria dos espécimes coletados está restrita a 13 municípios do Estado (16% do total) e 24 dos municípios possuem menos de 20 exsicatas coletadas, formando uma lacuna de conhecimento da flora especialmente no noroeste do Estado. Além disso, o conhecimento é desigual quando se trata de famílias. As mais amostradas nos herbários do Estado são: Fabaceae, Myrtaceae, Orchidaceae, Melastomataceae e Rubiaceae. Quais os desafios para a conservação dessa biodiversidade? Os principais desafios que precisamos enfrentar são: [1] falta de recursos humanos, especialmente do número de taxonomistas para inventariar toda essa diversidade; [2] maiores investimentos nas coleções, capacitação e ampliação do quadro de técnicos de herbários, investimentos perenes para os sistemas de informação, para a digitalização das coleções e para os prédios e demais infraestruturas das coleções, e melhoria na qualidade dos bancos de dados; e [3] aumentar o esforço amostral, com ampliação da base amostral das coleções, definir áreas prioritárias e grupos taxonômicos que necessitam de esforço amostral direcionado, promover de expedições de coletas em áreas apontadas como lacunas do conhecimento e capacitar os alunos em técnicas de coleta para diferentes estudos. Quais os efeitos para a conservação da biodiversidade? O aumento na realização dos inventários e consequentemente da amostragem, especialmente em áreas de lacunas do conhecimento, aumenta o conhecimento da biodiversidade, um exemplo é o grande número de espécies novas publicadas nos últimos anos para o Espírito Santo. Além disso, esse conhecimento é essencial para o avanço da biologia da conservação.

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RESUMOS ACEITOS

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Subárea: Biogeografia

TESTANDO A REGRA NEO-BERGMANNIANA EM AKODON CURSOR (RODENTIA: SIGMODONTINAE) DA MATA ATLÂNTICA

Matheus do Nascimento DALBEM1*, Ana Carolina LOSS1

1Universidade Federal do Espírito Santo *[email protected]

INTRODUÇÃO

Em sua versão alemã original, traduzida por James para o inglês em 1970, a regra de Bergmann apresenta três pontos principais: (i) a temperatura constante de um organismo homeotérmico é mantida por um balanço entre a produção de calor dentro do volume de um e a perda de calor de sua superfície. (ii) A limitação da relação de superfície corpórea para seu volume é um dos fatores que determina o tamanho da espécie, e (iii) quando outros fatores são constantes, as menores espécies em um gênero estarão nas maiores temperaturas (Bergmann, 1847; James, 1970). Bergmann afirmava existir uma correlação negativa entre temperatura e tamanho corpóreo em um nível interespecífico. Porém, Mayr (1963) altera profundamente a proposta original, promovendo o uso de variação intraespecífica para testar esta regra. Essa mudança promove uma nova perspectiva para os estudos dessa regra, que passa a ser conhecida então como regra Neo-Bergmanniana (James,1970). Em 1954 há uma nova mudança para a regra de Bergmann, sugerindo o efeito da latitude como preditor da temperatura, devido a observações em aves do gênero Parus. Estas aves apresentavam o comprimento de asa maior nas latitudes mais altas e menor em latitudes mais baixas (Snow, 1954). Alguns estudos sugerem que pequenos mamíferos não estão em conformidade com a regra de Bergmann, pela circunstância de seu tamanho corporal decrescer com o aumento da latitude (e.g. Ochocińska & Taylor, 2003; Yom-Tow & Yom-Tow, 2005; Balčiauskas et al., 2014). Akodon cursor é um pequeno roedor Sigmodontinae, com peso médio de 54 g para machos e 43 g para fêmeas, de pelagem homogênea que varia do negro para o marrom e endêmico do Brasil, sendo o roedor nativo mais comum da Mata Atlântica (Geise, 2012). No Espírito Santo, estão distribuídos por aproximadamente metade de todo o gradiente altitudinal, variando desde o nível do mar até cerca de 1.252 m de altitude na Serra do Caparaó. A Mata Atlântica apresenta um dos maiores gradientes altitudinais e de temperaturas do Brasil, fundamentais para produzir diferenças na distribuição e diversidade das espécies, sendo considerada uma das áreas mais ricas em diversidade do planeta. O objetivo do presente trabalho foi testar a validade da regra Neo- Bergmanniana, utilizando temperatura e altitude como variáveis ambientais, em populações de Akodon cursor na Mata Atlântica do Espírito Santo.

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MATERIAL E MÉTODOS

Locais de coleta e dados ambientais Dados de altitude e temperatura mínima foram extraídos de camadas raster com resolução espacial de 30 arco-segundos disponíveis no banco de dados do Worldclim (Hijmans et al., 2005). Os espécimes de Akodon cursor utilizados são exemplares tombados na Coleção de Mamíferos da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES-MAM), coletados em 13 municípios do Espírito Santo ao longo da distribuição altitudinal da espécie.

Figura 1 – Localização geográfica dos pontos de amostragem de Akodon cursor na Mata Atlântica do estado do Espírito Santo e gradiente de altitude correspondente. Altitudes mais baixas estão representadas por tons de verde, enquanto que altitudes mais elevadas, por tons de roxo. A região verde-clara no mapa de localização representa a Mata Atlântica brasileiro, enquanto a verde escura representa o estado do Espírito Santo.

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Amostras e variáveis morfológicas O levantamento de dados reuniu medidas corpóreas, cranianas e mandibulares de 94 espécimes, aferidas com base em trabalhos anteriores com os Sigmodontinae Neomys e Akodon (Balčiauskas et al., 2014; Geise et al., 2005). Seguindo classificação de Tribe (1996), os espécimes de Akodon cursor foram agrupadas por idade, variando de 0 a 5, em que 0 representa o indivíduo recém-nascido, sem o terceiro molar erodido e 5 o indivíduo com todo os molares erodidos e bem gastos. Foram aferidas 17 medidas morfométricas em milímetros (mm), sendo 12 de morfometria interna (crânio e mandíbula), obtidas com paquímetro graduado e 5 externas, obtidas das etiquetas de identificação dos espécimes.

Nomenclatura das variáveis morfológicas As 17 medidas morfométricas foram: comprimento angular da mandíbula (CAM), comprimento cabeça-corpo (CCC), comprimento condilobasal (CC), comprimento da cauda (CAUDA), comprimento da orelha (CO), comprimento do pé (PE), comprimento palatal (CP), fileira de dentes da mandíbula com incisivo (FCIM), fileira de dentes da mandíbula (FM), fileira de dentes da maxila (FMX), fileira de dentes da maxila com incisivo (FMXI), largura do crânio (LC), largura do teto craniano (LTC), largura entre as bulas auditivas (LIBA), largura interorbital (LI), largura zigomática (LZ) e massa corpórea (PESO).

Seleção das variáveis morfológicas Bergmann se refere a superfície corporal e volume como medidas de “tamanho” que poderiam ser correlacionadas com as variações da temperatura para testar sua regra. Comprimento corpóreo e peso são as principais variáveis utilizadas para representar tamanho nos trabalhos que testam a regra de Bergmann (e.g. Ashton & Feldman, 2003; Meiri & Dayan, 2003; Adams & Church, 2007), por serem consideradas medidas diretas de superfície corpórea e volume, respectivamente. Para testar quais outras medidas morfológicas poderiam ser utilizadas para representar a variável “tamanho” como proposta por Bergmann, foi realizado um teste de correlação de Pearson entre todas as variáveis com a massa corpórea (PESO) e com o comprimento total do corpo (CCC). As variáveis que mostraram coeficiente de correlação positivo e acima de moderada (>0,5) (Mukaka, 2012) foram consideradas preditivas da regra de Bergmann e selecionadas para os testes posteriores. É necessário que se utilize somente adultos com crescimento estabilizado em testes da regra de Bergmann para evitar erros nos resultados (Adams & Church, 2007; Nunes et al., 2016). Para verificar a partir de qual classe etária de Tribe ocorre estabilização do crescimento, foi realizado um teste de MANOVA, seguido pelo teste TUKEY post-hoc para averiguar diferenças significativas nas medidas entre as classes etárias (Matias et al., 2011), para todas as variáveis selecionadas no passo anterior. As classes etárias que não mostraram diferença significativa entre os valores das variáveis, foram consideradas adultos e, portanto, apenas indivíduos destas classes foram utilizados para teste posterior da regra de Bergman. Um teste MANOVA foi realizado para observar a variância entre as classes sexuais, buscando verificar a presença de dimorfismo sexual na amostra. Para testar a premissa da regra de Bergmann, foi realizado um teste de correlação de Pearson entre as variáveis morfológicas e ambientais. Sendo que foram considerados em conformidade com a regra Neo-Bergmanniana (Adams & Church, 2007), aquelas

40 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 variáveis com coeficiente de correlação () positivo e acima de 0,5 e significância menor que (p<0,5).

RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 1 mostra os resultados da correlação de Pearson entre todas as variáveis medidas, com peso corporal e tamanho. Dentre as 17 medidas, 7 foram pré- selecionadas para testar a regra de Neo-Bergmanniana (CC, CAM, FCIM, LIBA, LC, FCIMI, CP) por estarem positivamente correlacionados com o comprimento cabeça- corpo (CCC) e massa corpórea (PESO). Tabela 1. Valores de correlação de Pearson () positiva para variáveis morfológicas de Akodon cursor com o comprimento cabeça-corpo (CCC) e massa corpórea (PESO). As variáveis que não mostraram correlação positiva e/ou significativa não foram mostradas. O valor de significância de todos os testes foi p < 0,001. VARIÁVEL CORRELAÇÃO VARIÁVEL FATOR FATOR CORRELAÇÃO () MORFOLÓGICA () MORFOLÓGICA CCC CC 0,78 PESO CC 0,87 CAM 0,61 CAM 0,65 FCIM 0,65 FCIM 0,84 LC 0,61 LC 0,82 LIBA 0,61 LIBA 0,64 FMXI 0,68 FMXI 0,88 CP 0,75 CP 0,75

Foram realizados dois testes após a correlação de Pearson: (i) teste de MANOVA seguido do (ii) teste de TUKEY para as variáveis previamente selecionadas, indicando que a maioria das variáveis apresenta diferença significativa quanto ao sexo, exceto CAM e LC, com valores de (p > 0,05), resultados semelhantes ao trabalho de Geise (2012) para dimorfismo sexual. Portanto, fêmeas e machos foram tratados separadamente. O teste de TUKEY apresentou os indivíduos das classes etárias 3, 4 e 5 como adultos de crescimento indeterminado, porém estabilizado, corroborando Gentile et al. (2000), sem diferenças significativas (p<0,05) entre as classes, enquanto indivíduos das classes 0, 1 e 2 foram tratados como jovens. Com base nesses resultados, foram utilizadas as variáveis LIBA, LC, CP, CCC, PESO e CCC. As demais variáveis (CAM, FM, FCIM, LI, LZ, FMX, FMXI, LTC, CAUDA, PE, CO) foram descartadas da análise, pois se mostraram constantes independente da classe etária e, portanto, inadequadas como variáveis resposta de mudança no tamanho corporal. A Tabela 2 mostra a correlação entre as variáveis morfológicas selecionadas para testar a regra Neo-Bergmanniana (CC, LIBA, LC, CP, CCC e PESO) e as variáveis ambientais (altitude e temperatura mínima). Quanto à temperatura mínima para as fêmeas, as variáveis CC, LIBA, LC e PESO não mostraram valores significativos de correlação, enquanto CCC e CP mostraram valores significativos. Portanto, para as fêmeas de Akodon cursor, a temperatura mínima não fornece robustez para determinar que estas estão de acordo com a regra de Bergmann. Porém, as tendências de regressão de CCC e CP indicam uma concordância com a regra: quanto menor a temperatura, maior o tamanho corpóreo. Quanto à altitude, nenhuma variável mostrou valor significativo na correlação das fêmeas, embora a variável CCC novamente mostre uma tendência para que esteja de acordo com a regra: aumento do tamanho em maiores altitudes.

Tabela 2. Correlação () e significância (valor de p) entre variáveis morfológicas de fêmeas de Akodon cursor com temperatura mínima e altitude. As variáveis que

41 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 apresentaram melhores valores de correlação e mostraram tendência para que estejam de acordo com a regra Neo-Bergmanniana estão indicadas em negrito. TEMPERATURA MÍNIMA ALTITUDE CORRELAÇÃO VALOR CORRELAÇÃO VALOR DE SEXO VARIÁVEL VARIÁVEL () DE P () P FÊMEAS PESO -0,14 0,43 PESO 0,16 0,36 CCC -0,39 0,02 CCC 0,44 0,08 CP -0,38 0,01 CP 0,39 0,15 LC -0,13 0,47 LC 0,15 0,42 LIBA -0,21 0,20 LIBA 0,22 0,17 CC -0,27 0,09 CC 0,29 0,08

A Tabela 3 mostra os resultados dos machos, onde apenas a variável LIBA, das seis variáveis mostrou valor significativo de correlação, tanto para temperatura mínima quanto para altitude. Os resultados gerais não sugerem congruência dos machos com a regra de Bergmann. Apenas a variável LIBA mostrou valor significativo de correlação e uma tendência de regressão para categorizar-se como variável que esteja em congruência com a regra.

Tabela 3. Correlação () e significância (valor de p) entre variáveis morfológicas de machos de Akodon cursor com temperatura mínima e a altitude. As variáveis que apresentaram melhores valores de correlação e mostraram tendência para que estejam de acordo com a regra Neo-Bergmanniana estão indicadas em negrito.

TEMPERATURA MÍNIMA ALTITUDE VALOR VALOR SEXO VARIÁVEL CORRELAÇÃO () VARIÁVEL CORRELAÇÃO () DE P DE p MACHOS PESO 0,04 0,8 PESO -0,14 0,42 CCC -0,16 0,84 CCC 0,10 0,57 CP -0,12 0,41 CP 0,05 0,75 LC 0,06 0,74 LC -0,13 0,45 LIBA -0,30 0,04 LIBA 0,30 0,05 CC -0,03 0,84 CC 0,29 0,89

Apesar de algumas variáveis preditoras de tamanho terem apresentado valores significativos de correlação inversa com a temperatura e altitude nos dados analisados de Akodon cursor, não foi observado no presente estudo uma tendência geral desses roedores estarem de acordo com a regra de Bergmann. Segundo Maestri et al. (2016), a assembleia de mamíferos da América do Sul é dominada por uma impressionante fauna de roedores com baixas massas corpóreas, portanto, a ausência de um gradiente de tamanho corporal em concordância com as expectativas de Bergmann parece ser um resultado esperado. Os roedores mostram que processos históricos ligados à distribuição de suas linhagens pela América do Sul afetaram o padrão de variação geográfica e as variáveis ecológicas, apresentando padrões de massa corpórea altamente dependentes de relações filogenéticas entre assembleias de roedores Neotropicais. Dessa forma, a ausência do efeito esperado pela regra de Bergmann pode também ser resultado de uma diferença de distribuição biogeográfica pela América do Sul. Clados contendo espécies com maiores pesos médios podem ser parte da mesma comunidade, simplesmente devido a processos históricos, como dispersão e vicariância. Depois da obra de James (1970), e dois séculos da postulação de Bergmann (1847), uma difusão para estudos para vários níveis taxonômicos ocorreu, inclusive para animais ectotérmicos (e.g. Ashton, 2002; Ashton & Feldman, 2003; Adams & Church, 2007; Geraghty et al., 2007). Os anuros do gênero Brachycephalus, por exemplo, estão distribuídos ao longo da Mata Atlântica e mostraram relação oposta à regra de Bergmann (Firkowsk, 2011). Os resultados encontrados no presente estudo não

42 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 corroboram o mesmo padrão: Akodon cursor, que está distribuído por toda a Mata Atlântica, como os anuros Brachycephalus, não apresentam padrão de conformidade ou oposição à regra de Bergmann. Parece que a regra também não é seguida dentro do gênero Akodon – Akodon montensis exibe, em geral, menores medidas morfométricas e está situado em maiores latitude e altitude e enfrenta menores temperaturas do que Akodon cursor (Geise et al., 2005). Os resultados deste trabalho assemelham-se ao trabalho de Meiri & Dayan (2003) que propõem que a regra de Bergmann é válida para pássaros e mamíferos em 30 diferentes níveis taxonômicos, embora linhagens de roedores e outros mamíferos que pesem entre 4 e 500 g não estariam em conformidade com a regra de Bergmann.

CONCLUSÃO

Os dados não foram significativos para que Akodon cursor esteja em conformidade com a regra Neo-Bergmanniana. Em geral, os resultados obtidos neste trabalho sugerem que temperatura mínima e altitude não são fatores determinantes para tamanho corporal, peso e suas variáveis correlacionadas (CP, LC, LIBA, CC) em Akodon cursor e provavelmente o fator filogenético é o que melhor explica o tamanho corporal no grupo. Porém, as variáveis CCC e CP para as fêmeas com a temperatura mínima, a variável LIBA com a altitude para machos e fêmeas através de seus valores de correlação, de significância, bem como a tendência de regressão não podem ser descartadas como variáveis que estejam em congruência com regra de Bergmann, uma vez que exibem decréscimo com a temperatura e aumento com a altitude, respectivamente. Estudos que investiguem a aplicação da regra de Bergmann em diferentes níveis taxonômicos – nível intraespecífico ou interespecífico – que utilizem essas combinações de variáveis ambientais são importantes, pois, podem fornecer resultados mais robustos, que ajudem a compreender à conformidade da regra de Bergmann para diferentes táxons.

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Subárea: Botânica

OCORRÊNCIA, QUALIDADE E SANIDADE DE Actinostemon klotzschii EM FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL

Telma Machado de Oliveira PELUZIO1*, Karla Maria Pedra de ABREU1, Quênia Glória FERREIRA1, João Batista Esteves PELUZIO1 & Alexandre Rosa dos SANTOS2

1Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Espírito Santo – Campus de Alegre 2Universidade Federal do Espírito Santo *[email protected]

INTRODUÇÃO

A Mata Atlântica, rica pela sua alta biodiversidade (Perotto, 2007), teve sua área de ocorrência reduzida drasticamente desde descobrimento do Brasil até a atualidade, de tal forma que se encontram poucas regiões preservadas, transformando-se num dos biomas mais ameaçados de extinção (Neves, 2006; Galindo-Leal & Câmara, 2005; Ribeiro et al., 2009). Sua vegetação remanescente é representada por pequenos fragmentos isolados (Lima et al., 2003). Sendo preponderante o conhecimento e recuperação dos seus remanescentes florestais para a manutenção desse bioma (Pirovani et al., 2014). Dentre as várias existentes na Mata Atlântica encontra-se Euphorbiaceae, que segundo Souza & Lorenzi (2005) possuem distribuição predominantemente tropical, incluindo cerca de 250 gêneros e 6300 espécies (APG III, 2009). No Brasil ocorrem cerca de 63 gêneros e 909 espécies, representando uma das principais famílias da flora brasileira e uma das mais complexas do ponto de vista taxonômico (Cordeiro et al., 2012). Dentre as espécies de Euphorbiaceae ocorrentes na Mata Atlântica, Actinostemon klotzschii pode ser utilizado na recomposição de mata ciliar e restauração ecológica. Segundo Esser (2001) e Eymael, (2012), possui alta complexidade morfológica em decorrência da pouca variabilidade vegetativa e reprodutiva. Considerando que o estudo da estrutura arbórea busca contribuir com informações sobre o desenvolvimento, o grau de perturbação, estágios de desenvolvimento e sucessão em que a comunidade florestal se encontra (Alves Júnior et al., 2007), o presente estudo objetivou determinar o número de indivíduos, a qualidade e sanidade do fuste de Actinostemon klotzschii em parcelas amostrais, localizadas em um fragmento de floresta estacional semidecidual no sul do Espírito Santo, de forma a adequar o seu plano de manejo, para adoção de medidas de proteção e conservação da espécie.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido na Floresta Nacional de Pacotuba (FLONA), localizada em Cachoeiro de Itapemirim, Estado do Espírito Santo, entre as coordenadas geográficas 20º44’ e 20º45’ S e 41º16’ e 41°18’31” O (Figura 1), com uma área total de 450 ha. Segundo a classificação internacional de Köppen, o clima da região é do tipo “Am”, ou seja, clima tropical com inverno seco e verão quente, a estação seca ocorre

46 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 entre os meses de abril e outubro, sendo que os meses de junho, julho e agosto com menor precipitação pluviométrica. A temperatura média da região é 23,1º C (INCAPER, 2016) e a precipitação anual média é de 1.293 mm (INMET, 2016). Foram amostrados todos os indivíduos arbóreos com Diâmetro a Altura do Peito (DAP) ≥ 5 cm encontrados em 25 parcelas de 20 x 20 m (área amostral total de1 ha) distribuídas sistematicamente a cada 200 m. Posteriormente as espécies foram identificadas e circunscritas nas respectivas famílias botânicas, e para tal foi adotado o sistema de classificação “Angiosperm Phylogeny Group” (APG III, 2009). Após a identificação, as espécies foram separadas em três grupos distintos: Actinostemon klotzschii, Euphorbiaceae e outras espécies. Para avaliar a Sanidade do Fuste (SF) foi utilizado um código numérico correspondente a situação fitossanitária, sendo: 1, sadio; 2, estágio inicial de deterioração; 3, estágio avançado de deterioração; e 4, árvore morta. A avaliação da Qualidade do Fuste (QF) considerou as seguintes categorias: 1, reto, cilíndrico; 2, ligeiramente torto, porém cilíndrico e desprovido de ramificações; 3, forte tortuosidade; e 4) quebrado, rachado (SFB, 2016). Posteriormente os dados de qualidade e sanidade foram submetidos à análise de estatística descritiva e pelo teste Qui-quadrado.

Figura 1. Localização da área de estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A distribuição dos indivíduos identificados por parcela de Actinostemon klotzschii, Euphorbiaceae e outras espécies na área de estudo encontram-se na Tabela 1. Na Tabela 2 a análise da estatística descritiva da distribuição dos valores médios de DAP, QF e SF. O total de indivíduos de Actinostemon klotzschii, corresponde a 41,18% dos indivíduos de Euphorbiaceae e 19,70% do total de indivíduos amostrados no fragmento.

47 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

As outras espécies de Euphorbiaceae correspondem a 47,84% e as demais espécies a 32,46% do total de indivíduos da FLONA de Pacotuba.

Tabela 1. Distribuição dos indivíduos identificados por parcela de Actinostemon klotzschii, Euphorbiaceae e outras espécies na FLONA de Pacotuba. Actinostemon Outras Outras Número total de Parcela klotzschii Euphorbiaceae espécies indivíduos 1 31 48 15 94 2 9 34 21 64 3 10 22 21 53 4 21 29 27 77 5 31 59 21 111 6 18 11 27 56 7 16 30 20 66 8 15 1 18 34 9 23 13 28 64 10 32 2 39 73 11 1 66 14 81 12 37 31 21 89 13 0 33 31 64 14 0 54 22 76 15 0 50 16 66 16 1 72 15 88 17 0 78 11 89 18 12 40 17 69 19 23 17 25 65 20 8 12 18 38 21 23 43 16 82 22 9 0 55 64 23 7 59 23 89 24 14 24 27 65 25 0 0 20 20 Total 341 828 562 1.731

Tabela 2. Valores médios de Diâmetro a Altura do Peito (DAP), Qualidade do Fuste (QF), Sanidade do Fuste (SF) e desvio padrão de Actinostemon klotzschii encontrados nas parcelas. Variável Mínimo Média Máximo DP CV (%)

DAP (cm) 2,1 7,09 12,5 2,01 29,58 QF (Adim) 2,2 2,7 3 0,25 9,07 SF (Adim) 1,7 2,36 3 0,37 15,78

DP: Desvio Padrão; CV: Coeficiente de Variação.

48 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Os indivíduos de Actinostemon klotzschii apresentaram um DAP, QF e SF pouco variável quando comparados às parcelas, confirmado pelo resultado do teste Qui- quadrado. Apresentando um estágio intermediário tanto de QF e SF de acordo com a SFB (2014). Esta condição pode estar sendo influenciada por condições ambientais, apesar dessa espécie se apresentar resistentes à alta radiação e baixa umidade (Vaccaro et al., 2003). Dentre todos os indivíduos analisados, a parcela 5 possui o maior quantitativo de indivíduos, entretanto na parcela 6 encontra-se os com melhores condições de sanidade e qualidade do fuste. Não foi encontrado nenhum trabalho que discorresse sobre a QF e SF em Actinostemon klotzschii, de tal forma, que as inferências aqui discutidas tratam-se de estudos em outras espécies de Euphorbiaceae. Segundo Herrera (2009) a qualidade e sanidade do fuste em valores intermediários denotam a necessidade de adoção de estratégias de manejo, de forma a espécie, caso contrário poderá haver a infestação de organismos biodeteriorantes de fuste e cupins de solo (Brazolin, 2006). Estes resultados fornecem uma base para outros estudos sobre a variação interespecífica e intraespecífica de espécies lenhosas, mecanismos de aclimatação, e sobrevivência na Mata Atlântica.

CONCLUSÃO

A presença de Actinostemon klotzschii corresponde a 19,70% do total de indivíduos arbóreos identificados na FLONA de Pacotuba, entretanto a qualidade e sanidade do fuste, na qual a espécie se encontra, denota um estado intermediário, que dependendo das condições ecológicas naturais e antrópicas as quais for submetida, poderá haver um novo rearranjo das espécies no fragmento florestal.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Espírito Santo/campus de Alegre. A Universidade Federal do Espírito Santo. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo. Ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade / FLONA de Pacotuba.

LITERATURA CITADA

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51 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

LEVANTAMENTO DE ESPÉCIES DE BROMELIACEAE JUSS EM REGÊNCIA, LINHARES –ES

Basílio CERRI NETO1*, Daniele Freisleben LAVANHOLE1 & Thayanne Rangel FERREIRA2.

1Laboratório de Fisiologia Vegetal e Pós-Colheita-Incaper 2Instituição Federal do Espiríto Santo (IFES) - Campus Santa Teresa. *[email protected]

INTRODUÇÃO

A região costeira é uma das mais alteradas do Brasil, sendo o resultado de aproximadamente 500 anos de exploração (ROCHA et al., 2003). As restingas, especialmente, têm sido descaracterizadas pela ação antrópica e especulação imobiliária (FREITAS, 2006). Neste contexto, os levantamentos florísticos são de extrema importância para o conhecimento da vegetação de uma área ou região, por fornecem dados para estudos taxônomicos, fenológicos, fitossociológicos e ecológicos e por subsidiarem a elaboração de planos de conservação e preservação da biodiversidade. Segundo Paula & Silva (2004), estima-se que a família Bromeliaceae exista a mais de 36 milhões de anos, considerando a idade do fóssil a ela relacionado, denominado Karatophillum bromelioides e encontrado na Costa Rica. A família possui distribuição essencialmente neotropical (com uma única espécie ocorrente no paleotrópico) e conta atualmente com aproximadamente 3.172 espécies distribuídas em 58 gêneros (LEME, 1997; LUTHER, 2008). Nosso objetivo foi levantar as espécies de bromélias existentes na Trilha das Bromélias de Cacimbas, Regência, Linhares-ES.

MATERIAL E MÉTODOS

O levantamento foi realizado na Trilha das Bromélias de Cacimbas, localizada no Sítio Belas Ondas, em Linhares (ES), entre as coordenadas 19°39’326’’ - 19°39’657’’S e 39°52’617’’ - 39° 52’624’’W. A trilha possui extensão de 1.950 metros e largura de um metro. Foram feitas incursões, ao longo da trilha, penetrando até dois metros a partir dos seus limites laterais. As coletas, observações e registros fotográficos foram realizados durante cinco visitas à área, entre os meses de junho e agosto de 2015. A identificação do material coletado foi feita por especialista e de acordo com literatura especifica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram coletados 143 espécimes, pertencentes a seis espécies subordinadas a quatro gêneros e duas subfamílias ( e Tillandsioideae) (Tabela 1). Ferreira et al. (2007), estudando a composição florística de uma ilha ao sul do Espírito Santo, encontraram sete espécies subordinadas a seis gêneros de Bromeliaceae, segunda família com maior abundância de espécies na região. Neste estudo, foram identificadas Aechmea lingulata L, Neoregelia pascoaliana Smith, Vriesea procera Wittm, Bromelia antiacantha Bertol, e Tillandsia stricta Sol. As duas últimas espécies mencionadas também ocorrem na Trilha das Bromélias de Cacimbas.

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Tabela 1. Subfamilias e espécies de Bromeliaceae, presentes na Trilha das Bromélias de Cacimbas, Sítio Belas Ondas, Linhares (ES). Subfamília Espécie Aechmea blanchetiana Baker Aechmea maasii Gouda & W. Till Bromelioideae Aechmea lamarchei Mez Bromelia antiacantha Bertol Tillandsia stricta Sol Tillandsioideae Vriesea neoglutinosa Mez

Já no levantamento feito por Assis et al. (2004), no Parque Estadual Paulo César Vinho (Guarapari, ES), uma Unidade de Conservação que abrange áreas mais amplas, florestais e de restinga de formação pós praia, a quantidade de espécies foi bem maior: quinze espécies subordinadas a nove gêneros. Bromelia antiacantha Bertol e Tillandsia stricta Sol, foram as espécies comuns a este Parque e à Trilha das Bromélias de Cacimbas.

CONCLUSÃO

Ao final do levantamento na Trilha das Bromélias de Cacimbas foram identificadas seis espécies (Aechmea blanchetiana, Aechmea maasii, Aechmea lamarchei, Bromelia antiacantha, Tillandsia stricta e Vriesea neoglutinosa) subordinadas a quatro gêneros (Aechmea, Bromelia, Tillandsia e Vriesea) e a duas subfamílias (Bromelioideae e Tillandsioideae) de Bromeliaceae. Considerando o padrão de ocorrência de Bromeliaceae na restinga do estado do ES, teve-se um número considerável de espécies, sendo um total de 143.

LITERATURA CITADA

Assis, A. M.; Thomaz, L. D.; Pereira, O. J. 2004. Floristica de um trecho de floresta de restinga no município de Guarapari, Espírito Santo, Brasil. Acta Botânica Brasilica. Rio de Janeiro, 18(1):191-201.

Ferreira, A. L.; Coutinho, R. C.; Pinheiro, H. T. & Thomaz, L. D. 2007. Composição florística e formações vegetais da Ilha dos Franceses, Espírito Santo. Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão, 22:25-44.

Freitas, A. F. N. 2006. Bromeliaceae da restinga da Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul: composição, abundância e similaridade da comunidade. Acta botânica brasílica. Rio de Janeiro, 20(3):709-717.

Leme, E. M. C. 1997. Canistrum: Bromélias da Mata Atlântica. Ed. Salamandra, 107 p.

Luther, H.E. 2008. An alphabetic list of Bromeliad Binominals.The Marie Slby Botanical Gardens.10th ed. BromeliadSocietyInternational. Sarasota, p 337-351.

Paula, C.C.; Silva, H.M.P. 2004. Cultivo Prático de Bromélias. 3ª ed, v 106. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa.

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Rocha, C. F. D.; H. G. Bergallo; M. A. S. Alves & M. V. Sluys. 2003. A biodiversidade nos grandes remanescentes florestais do Estado do Rio de Janeiro e nas restingas da Mata Atlântica. Rima Editora, São Carlos, 163 p.

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DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byles &G.D. Rowley EM ZONAS DE ELEVADAS TEMPERATURAS, BRASIL

Jéssika Cardoso LOSS2, Jeane CRASQUE1, Basílio CERRI NETO1*, Sabrina Soares SIMON2

1Laboratório de Fisiologia Vegetal e Pós-Colheita-Incaper, 2Graduação em Ciências Biológicas, Faculdade Pitágoras de Linhares. *[email protected]

INTRODUÇÃO

Pilosocereus arrabidae (Byles&G.D.Rowley) é um cacto endêmico dos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Bahia (Arbo-gallas, 2012).É frequentemente visto com distribuição geográfica em neossolosquartzarênicos sobre planícies costeirasoriundos das sucessivas transgressões do nível dos oceanos e depósito de sedimentos marinhos (Suguio&Tessler, 1984). Esta espécie, conhecida popularmente como “facheiro da praia” é um cactocolunar de raízes adventíciascom cladódios medianos, aréolas relativamente curtas e frutos globulares cujas sementes são consumidas por pássaros, lagartos e morcegos (Zappi, 1994). Suas flores se abrem à noite e são polinizadas por morcegos (Taylor &Zappi, 2004). Além disso, esta espécie apresenta alto grau de endemismo devido ao fato de ser encontrada preponderantemente em áreas litorâneas dos estados supracitados, sob luz de efeito positivo e germinação das sementes em elevadas temperaturas. O presente estudo visa analisar a distribuição geográfica de P.arrabidaecom base em dados bibliográficos, em decorrência do risco que este organismo vem sofrendo, bem como elencar a distribuição sob a hipótese de endemismo, atentando ao fato de ser fotoblástica positiva e possuir sementes que germinam apenas em altas temperaturas.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi realizado com base em revisão de literatura pela busca de artigos, dissertações e teses com as palavras chaves “Pilosocereusarrabidae” “Cereusmacrogonus” “Cereuswarmingii” “biogeografia” “levantamento florístico em restingas”, após isso, foram colhidos dados de localização no SpeciesLink. Também foi executada uma consulta ao Herbário Virtual Reflora buscando a espécie por meio do nome de catalogação. Esses dados de localização foram utilizados na elaboração de um mapa de distribuição geográfica no programa Diva-Gis (Hijmanset al. 2012) no qual adicionou- se dados climáticos do WorldClim com intervalos de temperatura preestabelecidos (Figura 1). Também foram feitos registros fotográficos desta espécie de cacto na área da Reserva Biológica de Comboios entre as coordenadas geográficas de 19º 38’ a 19º 45’ Sul e 39º 45’ a 39º 55’ Oeste.

55 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram registrados 47coordenadas geográficas de P. arrabidaeno SpeciesLinkque se mostram em 35 pontos no mapa (Figura 1). Conforme o mapa a espécie se distribuiu ao longo da zona costeira, nas áreas de restinga dos Estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia (Zappi et al., 2012). A espécie possui maior quantidade de registros de ocorrência nos Estados do RJ e ES, em áreas com elevadas temperaturas (entre 30º C e 34º C) conforme pode ser verificado no mapa e confirmado pelo Herbário Virtual Reflora. Além do mais, a temperatura influência sua ocorrência, tendo em vista que a temperatura de 20º C a 25º C aproximadamente é vista como a mais apropriada para germinação e vigor das sementes (Martins et al., 1997) relacionada a rápida absorção da água e das reações químicas (Marcos filho, 2005).

Figura 1. Distribuição geográfica da espécie Pilosocereus arrabidae em relação à temperatura média anual.

Por sua vez, há registros de sete espécies do gênero Pilosocereus no Livro Vermelho da Flora do Brasil de Martinelli et al (2013), estando elas em situação de perigo representado pela sigla internacional (EN), como P. aurisetus subsp. aurilanatus, P. floccosus subsp. quadricostatus, P. fulvilanatus, P. magnificus, P. multicostatus, apresentando status vulnerável (VU) dentre elas, P. glaucochrous e criticamente em perigo (CR) assim como P. azulensis, o que significa que se não manter áreas restritas em unidades de conservação (UCs), haverá perdas drásticas de diversidade no futuro. Mesmo havendo nos estados de ocorrência de P. arrabidae presença destas áreas de uso sustentável e preservação, ainda assim, não se garante estabilidade na situação de

56 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 conservação da espécie. A restinga ocupa terrenos sedimentares pleistocênicos e holocênicos de origem marinha em toda zona costeira (Araújo, 1992). De modo geral, a vegetação de restinga dos estados do Rio de janeiro e Espírito Santo apresenta um índice significativo de endemismo de espécies, com uma vegetação remanescente dos períodos glaciais do Pleistoceno (Ab’Sáber, 1992). Esses fatores podem estar relacionados à distribuição de P. arrabidae, tendo em vista as oscilações climáticas globais durante o Pleistocênico. Neste período, os polos estabeleceram grande quantidade de água sob a forma de gelo, resultando na redução do nível dos mares e deixando expostas grandes faixas de terras de climas secos, antes ocupadas pela água do mar, faixas estas propícias à proliferação da vegetação em tela (Viadana, 2002). A perda de umidade foi a maior alteração climática durante o período da ultima glaciação (Haffer & Prance, 2002). Assim, a Floresta Atlântica, considerada como possível centro de origem do ancestral de P. arrabidae, teve uma grande modificação, com fragmentação do centro de origem de espécies e isolamento de uma parte da biota em refúgios, resultando na diferenciação ao nível de novas espécies (Mayr, 1942, 1963). Provavelmente, a espécie Cereus fernambucensis e P. arrabidae compartilham um ancestral em comum advindo de algum momento da história evolutiva. Hoje, sabe- se que resultado dessa diferenciação é a diversificação biológica dosgêneros Cereus e Pilosocereus, ambos surgindo durante o Período Quaternário. O C. fernambucensis é considerado endêmico do bioma Mata Atlântica, e possivelmente, (Arbo-Gallas, 2012). Conservada em refúgios florestais, a espécie pode ter se dispersado até se estabelecer na restinga e, posteriormente, sob as influências das condições de clima e relevo do período quaternário (Araújo, 1992).

CONCLUSÃO

O estudo acerca do P. arrabidae foi de grande relevância, de modo que explanou a sua biogeografia, características abióticas como temperatura, luminosidade e peculiares, o que permitiu o avanço do estudo da espécie, e das formas de evitar sua extinção, embora, de acordo com a IUCN (International Union for ConservationofNature), a espécie mostra-se segura. Assim, conclui-se que a preponderância da espécie estudada em áreas de temperatura elevada e sob efeito de luz intensa é revelada a necessidade de considerar a origem e a história do P. arrabidae para que possa haver conservação.

LITERATURA CITADA

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MÉTODOS PARA SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM SEMENTES DE Cassia ferruginea

Basílio CERRI NETO1*, Daniele Freisleben LAVANHOLE1, Thayanne Rangel FERREIRA2, Lúcio de Oliveira ARANTES3 & Sara Dousseau ARANTES3

1Laboratório de Fisiologia Vegetal e Pós-Colheita - Incaper 2Graduanda em Ciências Biológicas da Instituição Federal do Espiríto Santo - Campus Santa Teresa 3Pesquisadores do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural *[email protected]

INTRODUÇÃO

Cassia ferruginea pertencente à família Fabaceae, ocorre do nordeste ao sul do Brasil. É muito utilizada em projetos de ornamentação urbana, além disso, sua madeira é muito utilizada em indústrias moveleiras? (Lorenzi, 2014). Sementes de espécies do gênero Cassia tem alta taxa de dormência tegumentar, impedindo a entrada de água, ocasionado a não propulsão radicular, dormência tegumentar é uma característica muito comum em espécies da família Fabaceae (Martins et al., 2012). A dormência em sementes nativas é um grande problema para os produtores de mudas, pois gera um atraso na produção de mudas e desuniformidade na emergência. (Popinigis, 1985). O processo da germinação inicia com a retomada do crescimento pelo embrião das sementes, desenvolvendo-se até o ponto em que forma uma nova planta com plenas condições de nutrir-se por si só, tornando-se independente (Ferreira & Borghetti, 2004). Com isso o presente trabalho tem como objetivo estudar métodos para a superação da dormência de C. ferruginea.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Fisiologia vegetal, do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), Linhares, ES, no mês de fevereiro de 2017. Foram utilizadas sementes coletadas de nove árvores em uma propriedade particular em Linhares, após a coleta das sementes, estas foram homogeneizadas e tratadas com hipoclorito de sódio por 15 minutos, em seguida foram lavadas em água corrente. Após a desinfestação as sementes foram escarificadas tanto quimicamente quanto fisicamente. A escarificação ácida foi realizada com imersão em acido sulfúrico 98% PA por 5, 10,15 e 20 minutos. E a escarificação mecânica foi realizada manualmente utilizando lixa nº 150 para remoção do tegumento no lado oposto ao hilo. Após a realização de todos os tratamentos as sementes foram semeadas em caixas de areia com 50 sementes cada. As caixas foram mantidas em viveiro que pertence ao laboratório. As avaliações foram realizadas diariamente, obtendo-se o IVE (Índice de Velocidade de Emergência), calculado segundo Maguire (1962), pelo período de 15 dias e ao final do experimento obteve-se a porcentagem de germinação e primeira contagem. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste Tukey (p<0,05).

59 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As sementes escarificadas mecanicamente tiveram maior germinação na primeira contagem que foi realizada no quinto dia após a montagem do ensaio, seguido do tratamento H₂SO₄ por 20 minutos, os tratamentos H₂SO₄ por 5,10 e 15 minutos não apresentaram diferenças estatísticas (Tabela 1). Ribeiro et al. (2011), ao estudarem sementes de Adenanthera pavonina , concluiram que as sementes escarificadas com lixa apresentam maior número de sementes germinadas na primeira contagem. Para a variável porcentagem de germinação os tratamentos H₂SO₄ por 20 minutos e escarificação mecânica foram os que apresentaram mais sementes germinadas ao fim do experimento, seguido dos tratamentos H₂SO₄ por 10 e 15 minutos que não diferiram-se estatisticamente entre si.A porcentagem de germinação na escarificação ácida por 5 minutos foi de 65,5%, porém esse valor é baixo quando comparado a escarificação ácida por 20 minutos e escarificação mecânica (98,5 e 97,5%). De acorodo com o trabalho realizado por Escobar et al., (2010), as sementes de Acacia caven escarificadas com lixa tiveram melhor desempenho em porcentagem de germinação, enquanto, Araújo et al., (2012) obteve em seu estudo com A. pavonina maior porcentagem de germinação com o tratamento H₂SO₄ por 20 minutos. Para o IVE os tratamentos H₂SO₄ por 20 minutos e lixa apresentaram maior desempenho em vista dos outro, H₂SO₄ por 5,10 e 15 minutos não se diferenciaram estaticamente.

Tabela 1. Primeira contagem, porcentagem de germinação e Índice de Velocidade de emergência (IVE) de sementes de C. ferrugínea submetidas a tratamentos de superação de dormência. Tratamento 1ª contagem Germinação % IVE Controle 0 d 11,5 d 0,61 c H₂SO₄ 5 min 7,25 c 65,5 c 11,93 b H₂SO₄ 10 min 7,25 c 75 b 12,88 b H₂SO₄ 15 min 9,5 c 83 b 15,01 b H₂SO₄ 20 min 14,25 b 98,5 a 22,73 a Escarificação mecânica 19,75 a 97,5 a 25,19 a Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).

CONCLUSÃO

Tendo em vista os resultados obtidos, sementes de C. ferrugínea apresentam uma forte dormência tegumentar, onde os tratamentos de escarificação ácida com H₂SO₄ por 20 minutos e escarificação mecânica foram os que proporcionaram maior porcentagem de germinação e índice de Velocidade de emergência das sementes.

LITERATURA CITADA

Araújo Neto, A., Medeiros, J. G. F., Silva, B. B., Leite, R. P., Araújo, P. C., & Oliveira, J. J. F. 2012. Ácido sulfúrico na superação da dormência de sementes de Adenanthera pavonina L. Scientia Plena, 8(4).

Escobar, T. A., Pedroso, V. M., Bonow, R. N., & Schwengber, E. B. 2010. Superação de dormência e temperaturas para germinação de sementes de Acacia caven (Mol.) Mol.(ESPINILHO). Revista Brasileira de Sementes, 32(2):124-130.

60 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Ferreira, A.G. BORGHETTI, F. 2004. Germinação: do básico ao aplicado. Porto Alegre: Artmed, 323p. Lorenzi, H. 2014. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Instituto Plantarum, Nova Odessa, vol. 1, 6ªed. 384 p.

Maguire, J. D. 1962. Speed of germination-aid in selection and evaluation for seedling emergence and vigour. Crop Science, Madson, v. 2, n. 1, p. 176-177, Jan./Feb.

Martins, C. C., Machado, C. G., Martinelli-Seneme, A., & Zucareli, C. 2012. Método de colheita e superação de dormência na qualidade fisiológica de sementes de Cassia ferruginea. Semina: Ciências Agrárias, 491-498.

Popinigis, F. 1985. Fisiologia da Semente. Brasília, Ministério da Agricultura/AGRIPLAN. 209p.

Ribeiro, V. V., Braz, M. D. S. S., & de Brito, N. M. 2011. Tratamentos para superar a dormência de sementes de tento. Biotemas, 22(4):25-32.

61 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM SEMENTES DE Cassia grandis L. (FABACEAE)

Basílio CERRI NETO1*, Daniele Freisleben LAVANHOLE1, Lúcio de Oliveira ARANTES2& Sara DOUSSEAU Arantes2

1Laboratório de Fisiologia Vegetal e Pós-Colheita-Incaper 2Pesquisadores do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, Linhares-ES, Brasil *[email protected]

INTRODUÇÃO

Cassia grandis (Fabaceae) pode atingir até 30 metros de altura, dentro do gênero Cassiaé a espécie que atinge o maior porte. C. grandisocorre em matas secundárias e florestas primárias (Bezerraet al., 2012) . Tem uma grande importância econômica e ecológica, pois sua madeira, sementes, flores e frutos são utilizados na indústria além de atrair muitos polinizadores com suas chamativas flores rosas (Carvalho, 2006). Dormência tegumentar é comum na maioria das espécies da família Fabaceae,este fatorprotege as sementes de predação e ficam viáveis por um longo período de tempo(Bezerraet al., 2012). Para Melo&Rodolfo Júnior (2006) dormência tegumentar é uma paralização temporária do crescimento vegetativo visível. Metodologiasadequadas para análise de sementes florestais tem papel fundamental na pesquisa científica, pois o conhecimento dos processos envolvidos na germinação de espécies nativas é de grande valor para a conservação de espécies ameaçadas e propagação dessas ajudando também as pesquisas relacionadas ao reflorestamento (Alves et al., 2004) Por isso o presente trabalho tem como objetivo realizar tratamentos pré-germinativos para superar a dormência de C. grandis.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Fisiologia vegetal, do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), Linhares, ES, no mês de janeiro de 2017. Foram utilizadas sementes coletadas de três arvores em uma propriedade particular em Linhares, após a coleta as sementes foram homogeneizadas e tratadas com hipoclorito de sódio por 15 minutos, em seguida foram lavadas em água corrente. Após a desinfestação as sementes foram escarificadas tanto quimicamente quanto fisicamente. A escarificação ácida foi realizada com imersão em acido sulfúrico 98% PA por 10,15, 20 e 25 minutos. E a escarificação mecânica foi realizada manualmente utilizando lixa nº 150 para remoção do tegumentono lado oposto ao hilo. Após a realização de todos os tratamentos as sementes foram semeadas em caixas de areia,cada tratamento com 4 repetições de 50 sementes cada, sendo posteriormente levadas para o viveiro. As avaliações foram realizadas diariamente, obtendo-se o IVE (Índice de Velocidade de Emergência) pelo período de 30 dias e ao final do experimento obteve-se a porcentagem de germinação e primeira contagem. Foi realizada a análise de variância e as médias comparadas pelo teste Tukey (p<0,05).

62 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As sementes que foram escarificadas quimicamente com H₂SO₄ por 25 minutos foram as que apresentaram maioresnúmeros de sementes germinadas na primeira contagem, (tabela 1) que foi realizada no decimo dia após a montagem do experimento, seguidas pelas sementes que foram escarificadas mecanicamente, os tratamentos H₂SO₄ 10,15 e 20 minutos não apresentaram diferença estatística entre si.Para as sementes usadas como controle não houve germinação na primeira contagem.No trabalho realizado por Melo& Rodolfo Júnior (2006) com C. grandis, a variável primeira contagem no tratamento H₂SO₄ por 30 minutos foi o que apresentou maior número de sementes germinadas.De acordo com Bezerra et al. (2012), o tratamento de escarificação mecânica foi o que apresentou o maior IVE, porém no presente trabalho o tratamento que mais se destacou nessa variável foi H₂SO₄ por 25 minutos, seguido pelas sementes que foram lixadas, não houve diferença significativa para as sementes escarificadas com H₂SO₄ por 10,15 e 20 minutos.Quanto a porcentagem de germinação o resultado obtido na variável escarificação mecânica se iguala ao resultado encontrado para C. grandispor Lopeset al. (1998). Neste estudo as sementes que foram escarificadas mecanicamente tiveram maior porcentagem de germinação, seguidopor H₂SO₄ por 25 minutos, não houve diferença entre os tempos 15 e 20 minutos de H₂SO₄, por fim as sementes utilizadas como controle apresentaram baixa porcentagem de germinação, confirmando a necessidade do uso de tratamentos pré-germinativos em C. grandis.

Tabela 1.Primeira contagem, índice de Velocidade de emergência (IVE) e porcentagem de germinação de sementes de C. grandissubmetidas a tratamentos de superação de dormência. Tratamento IVE PrimeiraContagem Germinação % Controle 0,94 d 0 d 7,6 e Escarificação mecânica 20,04 b 17,98 b 97,8 a H₂SO₄ 10 min 12,47 c 8,36 c 68,5 d H₂SO₄ 15 min 14,01 c 8,87 c 72,04 c H₂SO₄ 20 min 14,43 c 16,9 b 71 c H₂SO₄ 25 min 24,16 a 20,32 a 93,6 b Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05)

CONCLUSÃO

H₂SO₄ por 25 e Escarificação mecânica foram os tratamentos que desempenharam as melhores taxas de germinação e onde as sementes de C. grandis germinaram com maior rapidez e vigor.

LITERATURA CITADA

Alves, A. U., DORNELAS, C. S. M., BRUNO, R. D. L. A., ANDRADE, L. A. D., & ALVES, E. U. 2004. Superação da dormência em sementes de Bauhiniadivaricata L. Acta BotanicaBrasilica, 18(4):p 871-879.

Bezerra, F. T. C., DE ANDRADE, L. A., BEZERRA, M. A. F., PEREIRA, W. E., & RICARDO, J. 2012. Biometria de frutos e sementes e tratamentos pré-

63 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

germinativos em Cassia grandis L. f.(Fabaceae) Biometryoffruitsandseedsandpre-germinationtreatments in Cassia grandis L. f.(Fabaceae). Semina: Ciências Agrárias, Londrina, 33(suplemento 1), p 2863- 2876.

Carvalho, P. E. R. 2006. Cássia-Rósea, 8p.

Lopes, J. C.; CAPUCHO, M. T.; KROHLING, B.; ZANOTTI, P. 1998. Germinação de sementes de espécies florestais de Caesalpineaferrea Mart. exTul. Var. leiostachyaBenth., Cassia grandis L. E Samaneasaman Merrill, após tratamento para superar a dormência. Revista Brasileira de Sementes, 20(1):p 80-86.

Melo, R. R., & RODOLFO JÚNIOR, F. 2006. Superação de dormência em sementes e desenvolvimento inicial de canafístula (Cassia grandis LF). Revista Científica Eletrônica de Engenharia Florestal, 7p.

64 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

TRATAMENTOS PRÉ-GERMINATIVOS PARA SUPERAÇÃO DA DORMÊNCIA DE SEMENTES DE Ormosia arborea (Vell.) Harms

Basílio CERRI NETO1*, Daniele Freisleben LAVANHOLE1, Thayanne Rangel FERREIRA2, Lúcio De Oliveira ARANTES1,Sara DOUSSEAU Arantes1

1Laboratório de Fisiologia Vegetal e Pós-Colheita-Incaper, 2Graduação em Ciências Biológicas, Instituto Federal do Espiríto Santo - Campus Santa Teresa – ES. *[email protected]

INTRODUÇÃO

Ormosia arborea é uma árvore nativa do Brasil, presenta altura entre 15 a 20 m, e copa entre 6 a 8 m, tronco com tamanho entre 50 e 70 cm (Lorenzi, 2014). Encontrada, principalmente, na floresta pluvial atlântica e latifoliada semidecídua(Marqueset al.,2004).Ecologicamente O. arborea é uma planta semidecídua que tem uma grande e descontínua dispersão, porém com pouca frequência, mas produz um número grande de sementes viáveis anualmente (Lorenzi, 2014). Para que a germinação ocorra é preciso que as sementes sejam expostas a condições ideais, como temperatura adequada, água e oxigênio (Baskin&Baskin,2014). No entanto a maioria das sementes de espécies nativas apresenta dormência tegumentar, essa dormência pode ser decorrente de uma função mecânica da espécie contra predadores(Teixeira el al.,2011). Desse modo o presente trabalho teve como objetivo investigar métodos para superar a dormência tegumentar de O. arborea.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Fisiologia vegetal, do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), Linhares, ES, no mês de janeiro de 2017. Foram utilizadas sementes coletadas de cinco árvores espaçadas uma da outra em aproximadamente 7 m, em uma propriedade particular na Bahia, após a coleta as sementes foram homogeneizadas e tratadas com hipoclorito de sódio por 15 minutos, em seguida foram lavadas em água corrente. Após a desinfestação as sementes foram escarificadas, sendo os tratamentos: Imersão em acido sulfúrico 98% PA por 5, 10,15 e 20 minutos, sementes foram Escarificadas mecanicamente com lixa nº 150 no lado oposto ao hilo e sementes sem nem um tratamento foram utilizadas como controle. Após a realização de todos os tratamentos as sementes foram semeadas em caixas de areia com 50 sementes cada. As caixas foram mantidas em viveiro que pertence ao laboratório. As avaliações foram realizadas diariamente, obtendo-se o IVE (Índice de Velocidade de Emergencia) pelo período de 30 dias e ao final do experimento obteve-se a porcentagem de germinação e primeira contagem. Foi realizada a análise de variância e as médias comparadas pelo teste Tukey (p<0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os tratamentos H2SO4 por 20 minutos e lixa tiveram o maior número de sementes germinadas parta variável primeira contagem (Tabela 1), foi realizada no

65 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 décimo sexto dia após a semeadura, não houve diferença significativa entre ostratamentos H2SO4 por 5, 10 e 15 minutos. Para a variável IVE não houve diferença estatística entre os tratamentos H2SO4 por 20 minutos e lixa que apresentaram as maiores médias. Entre os tratamentos H2SO4 por 5, 10 e 15 minutos não houve diferença significativa estatisticamente. Teixeira et al., (2011) realizou estudo de superação de dormência com O. arborea onde os tratamentos com H2SO4 e lixa desempenharam o melhor Índice de velocidade de germinação, mesmo resultados obtidos no trabalho.

Tabela1: Primeira contagem, Índice de Velocidade de emergência (IVE) e porcentagem de germinação de sementes de O. arborea submetidas a tratamentos de superação de dormência. Tratamento 1ª contagem IVE Germinação % CONTROLE 0 c 0 c 0 d Escarificação mecânica 20,18 a 21,15 a 98,1 a

H2SO4 5 MIN 13,45 b 14,99 b 73,3 c H2SO4 10 MIN 11,02 b 15,87 b 84 b H2SO4 15 MIN 12,5 b 16,11 b 86 b H2SO4 20 MIN 21,01 a 23,58 a 99,3 a Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05)

De acordo com trabalho de Curiel & Moraes (2011), o tratamento que melhor desempenhou aporcentagem de germinação de O. arborea foi H2SO4 por 10 minutos, já no presente trabalho H2SO4 por 20 minutos e lixa foram os que apresentaram a maior porcentagem de germinação, essa diferença entre o resultado encontrado para o citado pode se dar por dois fatores, a qualidade do H2SO4 usado ou pela qualidade das sementes utilizadas, seguidos por H2SO4 10 e 15 minutos que não se diferenciaram estatisticamente, as sementes que foram usadas como controle não apresentaram germinação.

CONCLUSÃO

Tanto a escarificação com H2SO4 por 20 minutos a escarificação mecânica mostraram eficiência na superação da dormência de sementes de O. arborea.Pela facilidade se recomenda a escarificação mecânica, devido à dificuldade encontrada para a aquisição do H2SO4, que é um produto de uso controlado.

LITERATURA CITADA

Baskin CC, Baskin JM. 2014. Seeds: ecology, biogeography, and evolution of dormancy and germination, 2nd edn. San Diego:Elsevier/Academic Press.

Curiel, A. C., & de Moraes, C. P. (2011). Germinação de Ormosiaarborea (Vell.) Harms submetida a diferentes períodos de exposição e concentração de GA3 pós escarificação mecânica. Scientia Plena, 7(12).

Lorenzi, H. 2014. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Instituto Plantarum, Nova Odessa, vol. 1, 6ªed. 384 p.

66 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Marques, M. A.; Rodrigues, T. de J. D.; Paula, R. C. 2004. Germinação de sementes de Ormosiaarborea (Vell.) Harms submetidas a diferentes tratamentos pré- germinativos. Científica, Jaboticabal, 32(2): 141-146.

Teixeira FW, Fagan EB, Casaroli D, Canedo SC e Barbosa KA. 2011. Avaliação de métodos para superação de dormência na germinação de Ormosia arborea (Vell.) Harms. Biotemas, 24(4): 25-29.

67 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

DIVERSIDADE E IMPORTÂNCIA DO BANCO ATIVO DE GERMOPLASMA (BAG) DO GÊNERO Piper (PIPERACEAE) NO INCAPER

Basílio CERRI NETO1*, Daniele Freisleben LAVANHOLE1, Lúcio de Oliveira ARANTES2, Sara Dousseau ARANTES2, Mikaelle Franco dos SANTOS1 & Jeane CRASQUE1

1Laboratório de Fisiologia Vegetal e Pós-Colheita - Incaper 2Pesquisadores do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural *[email protected]

INTRODUÇÃO

Segundo Melo et al. (2014) cerca de 3600 espécies ocorrem na família Piperaceae, que se divide em 5 gêneros: Piper, Peperomia, Manekia, Zippelia, Verhuellia (Yuncker, 1972). Atualmente no Brasil são encontrados 4 gêneros: Manekia, Ottonia, Peperomia e Piper, em um número de 463 espécies, sendo Piper o gênero com maior numero de espécies 291 (Guimarães et al., 2017). Devido ao potencial econômico de espécies do gênero Piper é muito importante se obter estratégias para a montagem de um banco ativo de germoplasma (BAG), para que haja a conservação da espécie e de suas características genéticas (Siviero, 2015). O banco ativo de germoplasma (BAG) tem como principais objetivos preservar a biodiversidade e manter a variabilidade genética para futuros trabalhos de melhoramento. Por isso o presente trabalho tem como objetivo montar um banco ativo de germoplasma de espécies do gênero Piper, visando à conservação e futuros trabalhos de melhoramento genético.

MATERIAL E MÉTODOS

O BAG se encontra na fazenda experimental do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) de Linhares, LAT -19.417665S, LON: - 40.080557W, o município está localizado a uma latitude sul de 19º23'48'' e uma longitude oeste de Greenwich de 40º03'42''W, numa região conhecida como "Baixo Rio Doce". O clima pela classificação de Koppen-Geiger é Af, sendo um clima do tipo tropical quente úmido com chuvas no verão e inverno seco. O índice pluviométrico de 1.193 mm/ano e a temperatura média é de 23,4 ºC, sendo a máxima de 32ºC e a mínima de 19,6ºC (Espírito Santo, 1999). O BAG começou a ser implantado em 2014, com sementes de três espécies doadas pelo pesquisador Amauri Siviero da Embrapa Acre, mais três espécies foram obtidas na Reserva Biológica de Sooretama e na reserva da Vale entre 2015 e 2016. Ramos vegetativos foram coletados e posteriormente propagados . No momento, o BAG contem sete espécies de Piper: Piper turberculatum Jacq, Piper hispidum Sw, Piper marginatum Jacq, Piper molicomo Kunth, Piper arboreum Aubl, Piper aduncun L e Piper umbellatum L. As espécies foram identificadas com o auxílio da pesquisadora Elsie Franklin Guimarães do Jardim Botânico - Rio de Janeiro, do herbário, além da literatura especifica. No período de produção das espécies, frutos maduros foram colhidos todos os dias. Após a colheita esses frutos foram beneficiados com fricção em peneira de malha fina sob jato de água no Laboratório de fisiologia vegetal e pós-colheita (LFVPC) do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).

68 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Posteriormente ao beneficiamento, as sementes foram secadas sobre uma bancada no período de três dias, em seguida foram guardadas em potes de vidro na geladeira a 10ºC. Essas sementes que foram armazenadas são utilizadas para diversos estudos, como processo de germinação, citogenética e também para propagação e renovação do BAG.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As espécies e seu respectivo número de indivíduos estão listados na Tabela 1, onde Piper mollicomum tem o maior numero de indivíduos. Todos os dias o BAG é visitado para realizar coleta de frutos, capina e controle de pragas, segundo Siviero (2015), a preservação do BAG evita a erosão genética e disponibiliza material para estudos em varias áreas, principalmente melhoramento genético, fisiologia e ecologia. Um dos maiores bancos ativos de germoplasma de Piper pertence à Embrapa Acre, onde várias espécies são mantidas para fins de estudos de melhoramento genético e adaptação (Nunes, 2007). Algumas espécies do gênero Piper, nativas da Amazônia e Mata atlântica, vem mostrando resistência à fusariose, sendo elas: Piper aduncum, P. colubrinum, P. tuberculatum, P. hispidinervium, e P. hispidum. Estas espécies podem ser utilizadas no processo de se obter resistência a fusariose para Piper nigrum por meio do melhoramento genético (Lemos et al., 2011).

Tabela 1. Lista de espécies de Piper mantidas no BAG do Incaper.

Espécies Número de Indivíduos Piper tuberculatum 126 Piper hispidum 48 Piper marginatum 33 Piper mollicomum 971 Piper arboreum 63 Piper aduncun 63 Piper umbellatum 5

CONCLUSÃO

Por fim a implantação e manutenção de um banco ativo de germoplasma tem grande valor genético, econômico e ecológico.

LITERATURA CITADA

Espírito Santo, EMCAPA/NEPUT. Zonas Naturais do Espirito Santo: uma regionalização do Estado, das microrregiões e dos municípios. Vitória: SEPLAN, 1999. 95 p.

Guimarães, E. F.; Carvalho-Silva, M.; Monteiro, D.; Medeiros, E. S.; Queiroz, G. A. Piperaceae in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB12735 (03/03/2017).

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Lemos, O. F. de; Poltronieri, M. C.; Rodrigues, S. de M.; Menezes, I. C. de M.; Mondin, M. 2011. Conservação e melhoramento genético da pimenteira-do- reino (Piper nigrum L.) associado às técnicas de biotecnologia. Belém, PA: Embrapa Amazônia Oriental, 45 p. (Embrapa Amazônia Oriental. Documentos, 375).

Melo, A.; Guimarães, E. F.; Alves, M. 2014. Piperaceae do Parque Nacional do Viruá, Caracarí, Roraima, Brasil. Rodriguésia, v 65(2): p 455-470.

Nunes, J. D., Torres, G. A., Davide, L. C.; Salgado, C. C. 2007. Citogenética de Piper hispidinervum e Piper aduncum. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 42(7): p 1049-1052.

Siviero, A.; Dousseau, S.; Fazolin, M.; Bergo, C. L. 2015. A contribuição de espécies do gênero Piper para a agroecologia no Acre. In: Rosana Cavalcante dos Santos; Amauri Siviero. (Org.). Agroecologia no Acre. 1ed. Rio Branco: IFAC, p. 303-344.

Yuncker, T. G. 1972. The piperaceae of Brasil I – Piper: Group I, II, III, IV.Hoehnea v 2, p 19-366.

70 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

DISPERSÃO DE Vriesea neoglutinosa MEZ (BROMELIACEAE) EM RESTINGA E MUSSUNUNGA

Basílio CERRI NETO1*, Mikaelle Franco dos SANTOS1, Edlaine Lacerda ARAUJO2, Joyce Ribeiro NUNES2 & Sabrina Soares SIMON3

1Laboratório de Fisiologia Vegetal e Pós-Colheita-Incaper 2Laboratorio de sementes- Incaper 3 Professora no curso de Ciências Biológicas da Faculdade Pitágoras de Linhares *[email protected]

INTRODUÇÃO

Segundo Oliveira, (2010) Vriesea neoglutinosa, apresenta forte tendência a se estabelecer no solo em moitas adensadas. Suas características têm fortes ligações com suas adaptações reprodutivas, com presença de cápsulas fusiformes, 3 cm de comprimento e com sementes aladas e pequenas. A espécie é encontrada na Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, na restinga, um ambiente característico do bioma da Mata Atlântica e esta localizada nas áreas de baixadas litorâneas, sendo constituídas de dunas e cordões arenosos formados no Quaternário (Teixeira et al.,1986). Entretanto existe a mussununga, uma formação vegetal presente no bioma Mata Atlântica, encontrada sobre as matas de tabuleiros no norte do Espírito Santo e sul da Bahia. Esta vegetação ocorre sobre manchas de solos de areia branca em meio a florestas e possui fisionomias similares às das restingas (Lacerda, 2012). O ecossistema Restinga por sua vez compreende o conjunto de comunidades vegetais florística e fitofisionomicamente variadas, situadas em terrenos predominantemente arenosos formados, principalmente, durante as regressões e transgressões no nível do mar (Araujo & Henriques, 1984). Com essas informações podemos suportar as hipóteses de que a espécie V. neoglutinosa prosperou-se inicialmente na mussununga, e depois se estabeleceu na restinga usando campos nativos como Stepping Stones, ilhas de habitat que permitem passagem para outros locais. O presente trabalho abrange a área de conhecimento de biogeografia e ecologia, e teve por objetivo investigar a dispersão da espécie V. neoglutinosa.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para realizar este trabalho foi feita uma visita em vários pontos da restinga na região de Regência no município de Linhares, Espírito Santo, no sudeste do Brasil. Após a visita em campo a espécie V. neoglutinosa foi escolhida como modelo de estudo de dispersão, os dados da distribuição geográfica (latitude e longitude) foram obtidos por meio de revisão bibliográfica, artigos, dissertações e teses por meio de busca com as seguintes palavras chaves no google acadêmico: “dispersão de V. neoglutinosa”, “biogeografia de V. neoglutinosa”, “levantamento florístico em restinga e mussununga”. Posteriormente foi feito o mapa para marcar as áreas de ocorrência e de possíveis locais de dispersão da espécie com o software DIVA-GIS.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

A semelhança florística das mussunungas com as restingas pode estar diretamente ligada ao processo de formação do solo, decorrentes de sua textura arenosa, que impõe restrições hídricas e nutricionais, como a baixa capacidade de retenção de água do solo associada às altas temperaturas, pobreza extrema de nutrientes e a acidez do solo (Saporetti Junior, 2009). V. neoglutinosa, assim como outras espécies das restingas e mussunungas têm um longo ciclo de vida e estruturas que dificultam a perda de água. Conforme o mapa de distribuição geográfica da espécie (Figura 1) há apenas um registro de V. neoglutinosa em mussununga, dado em Caravelas no sul da Bahia (Sarcinelli, 2010), sugerindo preferência por ambientes com maior incidência de luz e características de solo semelhante, reforçando a hipótese da dispersão, onde há fixação de indivíduos de uma espécie num local diferente. E possível que V. neoglutinosa tenha usado os campos nativos como Stepping Stones. A restinga tem origem Quaternária, ou seja, é recente em relação à floresta atlântica e às mussunungas que tem origem Terciaria. As mata de tabuleiros estão justapostos à restinga ao longo da costa do Espirito Santo, principalmente a partir de Vitória para o norte, é esperado que o ecossistema sobre o Terciário fosse o principal contribuinte para a composição florística da restinga (Pereira, 2007).

Figura 1. Distribuição geográfica de Vriesea neoglutinosa Mez.

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CONCLUSÃO

Mesmo com a dificuldade imposta pelo vento a semente pode ter usado o Stepping Stones para chegar à restinga e se estabeleceu, no litoral do ES e RJ. Entretanto, a falta de dados florísticos nas mussunungas dificultam o entendimento detalhado desse processo.

LITERATURA CITADA

Araújo, D.S.D. & Henriques, R.P.B. 1984. Análise florística das restingas do Estado do Rio de Janeiro. Restingas, Origem, Estrutura e Processos. Niterói: Centro Editorial da Universidade Federal Fluminense. p. 327-342.

Lacerda, V.D. 2012. Estrutura e composição da vegetação de uma mussununga herbáceo-arbustiva no sul da Bahia, Brasil. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, BA: UESC. 97 p.

Oliveira, W. F. 2010. Estrutura da taxocenose de Bromeliaceae em duas áreas de restinga da Ilha da Marambaia, Baía de Sepetiba, RJ. Dissertação (mestrado em Ciências Ambientais e Florestais) Universidade federal rural do rio de janeiro instituto de florestas. 98 p.

Pereira, O. J. Diversidade e conservação das restingas do Espirito Santo. In: MENEZES, L. F. T, PIRES, F.R. e PEREIRA. O. J. 2007. Ecossistemas costeiros do Espírito Santo: conservação e restauração. Vitória: EDUFES, p. 33- 44.

Saporetti Junior, A.W. 2009. Vegetação e solos de Muçununga em Caravelas, Bahia. Tese de Doutorado – Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, MG: UFV. 127 p.

Sarcinelli, T.S. 2010. Muçunungas: enclaves de vegetação arenícola na floresta atlântica de tabuleiros. Tese (doutorado em solo e nutrição de plantas). Viçosa, Universidade Federal de Viçosa.

Teixeira, M. B.; Coura Neto, A. B.; Pastore, U.; Rangel filho, A. L. R. 1986. As regiões fitoecológicas, sua natureza e seus recursos econômicos – Estudo fitogeográfico. In: Levantamento de recursos naturais. v.33. Porto Alegre: IBGE.

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FITO SOCIOLOGIA DE UM POVOAMENTO ARTIFICIAL DE ESPÉCIES ARBÓREAS DE MATA CILIAR NO RIO SANTA MARIA DO DOCE

Helio Pena de Faria JUNIOR1*, Marcus Vinicius Sandoval PAIXÃO1, Gleides Pulcheira PAIXÃO1, Marcelo BOZETI1, Polyana Pulcheira PAIXÃO2

1Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa, 2 Climev *email: [email protected]

INTRODUÇÃO

O processo histórico de ocupação das terras capixabas foi marcado pelo desmatamento das florestas existentes em seu território, o qual visava abrir terras para atender às necessidades da expansão urbana e agropecuária. No passado recente, a exploração madeireira, com o declínio do café, tornou-se alternativa econômica segura, passando a ter destaque na economia estadual, especialmente na região norte do Estado (Lopes, 2002), tornando-se o Espírito Santo grande fornecedor de madeira para os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. As matas ciliares possuem grandes funções ecológicas, hidrológica e social numa bacia hidrográfica. Apesar de ser tão importante, sua destruição é cada vez mais eminente quando as ações humanas, como desmatamento, mau uso do solo, queimadas são efetuadas de forma indiscriminada sem nenhum critério (Garcia e Moraes, 1999). Hoje mais do que nunca a conservação dos rios e das matas são necessários para um perfeito equilíbrio do homem com o meio ambiente, porque as matas ciliares atuam na regularização dos fluxos de água e, através do sistema radicular e da copa do conjunto das plantas, constituem a proteção mais eficiente dos solos que revestem. Oliveira Franco (2005) cita que as matas ciliares apresentam inquestionável importância em relação aos mais diversos fatores ambientais, devido a suas características peculiares, sempre associadas aos cursos de água e por situarem-se, de maneira geral, em regiões ecologicamente muito sensíveis e importantes da paisagem. Do ponto de vista socioambiental, as matas ciliares oferecem outros benefícios, permitindo a sua utilização que seja na alimentação humana através de frutos e palmitos, ou mesmo pelo uso das inúmeras espécies de plantas medicinais encontradas nesse ecossistema. Permite ainda o desenvolvimento de atividades produtivas, como a apicultura, alem de servir de refúgio natural de animais e pássaros que dispersam sementes e que fazem o controle biológico de pragas e doenças. Servem ainda como bancos de sementes para viveiristas que produzem mudas de espécies nativas para comercialização, pois nos últimos anos, segundo Márquez (2005) a procura por mudas tem aumentado devido à necessidade crescente de revegetar áreas que foram desmatadas, pois nesses locais a composição florística em condições naturais é bastante diversificada. O objetivo deste trabalho foi identificar e catalogar as espécies arbóreas encontradas no povoamento florestal artificial localizado a margem do Rio Santa Maria do Doce, em São João de Petrópolis na fazenda do IFES, Santa Teresa, ES.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi realizado no ano de 2015 em um povoamento florestal artificial de 0,8 ha localizado a margem esquerda do Rio Santa Maria do Doce, em São

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João de Petrópolis na fazenda do IFES, Campus Santa Teresa, ES, localizado na meso região Central Espírito-Santense, coordenadas geográficas 19º56’12”S e 40º35’28”W, com altitude de 155 m. O clima da região caracteriza-se como Cwa, mesotérmico, com estação seca no inverno e forte pluviosidade no verão (classificação de Köppen), com precipitação anual média de 1.404,2 mm e temperatura média anual de 19,9 °C, com máxima de 32,8 °C e mínima de 10,6 °C (INCAPER, 2011). O povoamento florestal foi implantado há aproximadamente 10 anos pelos alunos do curso de técnico em agropecuária na disciplina de silvicultura, dentro do projeto Mata ciliar, algumas plantas foram sendo introduzidas posteriormente devido a morte de algumas árvores, pois a área está sujeita a inundações periódicas no período das chuvas que se concentra nos meses de novembro a março. Trabalhos de condução do povoamento como a desrama tem sido efetuados ao longo dos anos pelos alunos do curso técnico em agropecuária e pelos alunos do curso de agronomia na disciplina de silvicultura. O sistema de plantio foi efetuado com as árvores em linha, o que possibilitou o caminhamento de linha em linha, facilitando a identificação das espécies lá encontradas, marcadores com fitas coloridas foram fixadas às árvores para marcar aquelas já identificadas. Todo o trabalho de marcação é feito manualmente e as espécies identificadas são catalogadas para o arquivo da Instituição.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após o caminhamento por toda a área do povoamento foram identificadas um total de 92 árvores de várias espécies diferentes, sendo a maioria nativas da mata atlântica e uma minoria de outras regiões. Das 92 árvores encontradas 66 são plantas nativas da mata atlântica e adaptadas a região, sendo elas: Angico Vermelho, Carne de vaca, Ipê rosa (figura 4), Ipê amarelo (figura 2), Jatobá mirim, Louro, Pau d’alho, Pau Brasil (figura 1), Pitanga, Pau ferro (figura 3), Sibipiruna, Cerejeira (figura 6), Unha de vaca, e 26 plantas foram trazidas de outras localidades, inclusive de outros países como o nim indiano da índia, Flamboyant (figura 6) e Spatodia (figura 5) que são africanas, a Amoreira da Ásia, Jambolão, Jenipapo e Acácia que são de outras regiões do Brasil e que foram introduzidas pelo plantio de suas mudas, conforme tabela 1.

Tabela 1. Árvores catalogadas no povoamento florestal da fazenda do IFES. Nome Vulgar Nome científico Família Nº de exemplares Acacia mimosa Acacia podalyriifolia A. Fabaceae 6 Cunn ex G. Don.; Angico vermelho Parapiptadenia rigida Leguminosae 10 Carne de vaca Pterogyne nitens Leguminosae 9 Cerejeira Amburana cearensis Leguminosae 4 Ipê rosa Tabebuia róseo-alba Bignoniaceae 5 Ipê amarelo Tabebuia alba Bignoniaceae 6 Jatobá mirim Hymenaea coubaril Leguminosae 3 Jambolão Syzygium jambolanum Myrtaceae 2 Amoreira Morus nigra Moraceae 5 jenipapo Genipa americana Rubiaceae 5 Louro Cordia trichotoma Boraginaceae 3 Flamboyant Delonix regia Fabaceae 1 Nim indiano Azadirachta a.juss Meliaceae 1 Pau d’alho Gallesia integrifólia Phytolaccaceae 3

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Pau ferro Caesalpinia ferrea Leguminosae 6 Pau Brasil Caesalpinia echinata Leguminosae 5 Pitanga Eugenia uniflora Myrtaceae 6 Sibipiruna Caesalpinia peltophoroide Leguminosae 5 Spatodia Spathodea campanulata Bignoniaceae 4 Unha de vaca Bauhinia forficata Leguminosae 3 Fonte: Dados do autor

Figura 1. Pau Brasil. Figura 2. Ipê amarelo. Figura 3. Pau ferro.

Figura 4. Ipê rosa Figura 5. Spatódea com vista parcial da área do povoamento florestal.

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Figura 6. Flamboyant e Cerejeira com vista parcial da área do povoamento florestal.

As espécies encontradas no povoamento apresentam-se como de grande importância para a instituição e alunos que desenvolvem projetos desta natureza, que pode atuar como fator de preservação e como instrumento didático para esta e outras gerações. Leite e Coradin (2011) citam que diversos recursos vegetais nativos são considerados de grande importância atual e potencial e podem ser utilizados como fontes de renda alternativa. Com a possibilidade de ampliação das opções de uso das nossas espécies nativas, esta iniciativa favorecerá a abertura de novas oportunidades de aprendizado e com isso o desenvolvimento de novos projetos, tanto no que tange à pesquisa e desenvolvimento quanto ao conhecimento das espécies com potencial de preservação. A ampliação e o avanço de pesquisas com as espécies citadas neste projeto, conforme cita Rodriguez-Amaya et al. (2008) sobre espécies florestais, podem ser alvo de estudos do valor nutricional das espécies de valor alimentício, cujos benefícios à saúde despertam, cada vez mais, o interesse da comunidade científica.

CONCLUSÃO

A área estudada apresenta-se como um povoamento que possui grande importância para a instituição, pois além de apresentar-se como uma gleba de função ecológica e de preservação, pode fornecer sementes para produção de mudas e material didático para alunos do IFES e demais escolas vizinhas.

LITERATURA CITADA

Garcia, A & Moraes, M. 1999. Manual de operações técnicas revegetação de matas ciliares. Vitória: AEFES,

Incaper. 2011. Planejamento e programação de ações para Santa Teresa. Programa de assistência técnica e extensão rural PROATER, Secretaria de Agricultura.

Leite, L.L. & Coradin, L. 2011. Espécies Nativas da Flora Brasileira de Valor Econômico Atual ou Potencial. Ministério do Meio Ambiente – MMA, Brasília – DF.

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Lopes, W.P. 2002. A importância e o valor das florestas na propriedade rural: Associação dos engenheiros florestais do Espírito Santo, (Série Técnica, 2) 28p.

Marquez, F.P.R. 2005. Manual de colheita de sementes florestais. Rio de Janeiro.

Oliveira Franco, J. G. 2005. Direito Ambiental Matas-Ciliares. Curitiba: Juruá Editora.

Rodriguez-Amaya, D. B.; Kimura, M. & Amaya-Farfan, J. 2008. Fontes brasileiras de carotenóides: tabela brasileira de composição de carotenóides em alimentos. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Biodiversidade e Florestas, 100p.

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VISITANTES FLORAIS DA MANGUEIRAS NO IFES CAMPUS SANTA TERESA

Marcus Vinicius Sandoval PAIXÃO1*, Mariana Zandomênico MANGEIRO1, Mikaela Bruna MATTEDI1, Gleides Pulcheira PAIXÃO1, Leidiane ZINGUER1 & Liz Santos NASCIMENTOS1

1Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa *[email protected]

INTRODUÇÃO

A manga é uma planta originária da Ásia, que foi introduzida em quase todas as regiões tropicais e subtropicais da África e da América, aportando no Brasil no começo do século XVIII, trazida pelos colonos portugueses (Carvalho et al., 2004). A mangueira se aclimatou de maneira admirável no Brasil, tanto que hoje encontramos mais de 600 variedades, sua família compreende cerca de 79 gêneros, distribuídos pelo mundo (Carvalho et al., 2004). Essa espécie apresenta inflorescências em panículas com flores pequeninas, hermafroditas ou de sexo separado, dispostas em cachos, com cores que variam do alvacento ao amarelo-esverdeado e apresentam seis pétalas lanceoladas, um estame fértil e cinco rudimentares (Free, 1993). Pouco conhecimento se tem sobre os agentes polinizadores na cultura da manga (Mangifera indica L.) (Malerbo-Souza & Halak, 2009). Muitas ordens e espécies de insetos foram observadas nas flores da mangueira por diferentes pesquisadores (Carvalho et al., 2004; Kiill, 2008; Siqueira et al., 2008; Viana, 2008), sendo a mangueira considerada uma planta generalista quanto à polinização, se for efetivamente polinizada por diversas ordens de insetos. A transferência de pólen pode ser através de fatores bióticos, ou seja, com auxílio de seres vivos, ou abióticos, através de fatores ambientais, sendo que a mangueira apresenta maior frutificação e menor taxa de aborto dos frutos quando há polinização cruzada (Free, 1993). A polinização entomófila faz-se com o concurso dos insetos e ocorre na maioria das Angiospermas. Os insetos são atraídos pelos nectários que produzem o néctar, pelos aromas os mais diversos, pela coloração viva das flores. Durante a visita as flores, os insetos ao roçarem involuntariamente os estames, se cobrem de pólen e buscando outras flores, tocam o estígma, deixando aí o pólen. Os grãos de pólen entomófilos são grandes, providos de asperesas e poucos abundantes quando comparados aos pólen anemófilos. A estrutura floral de algumas plantas parece ter sido desenhada para o melhor aproveitamento da visita dos insetos. Dentre os insetos polinizadores, destaca-se pela sua frequência, a abelha, que poliniza especialmente as plantas frutíferas, como a laranjeira, o melão, abacateiro e outras plantas de valor econômico, como a (Medicago sativa) alfafa, cafeeiro, (Crotalaria sp.) crotalária, e orquídeas. Para as abelhas, os nectários tem cor da luz ultravioleta, que atrai especialmente. Por outro lado, as moscas, as mariposas e outros insetos visitam assiduamente as flores de (Glycine hispida) soja, e da sempre viva. Conhecida é a polinização dos figos por vespinhas do gênero Blastophaga, que se desenvolve no interior da inflorescência do tipo sícono (Biomania, 2015).

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Um dos aspectos de mais relevância relacionados com a produtividade de uma cultura é a polinização, que garante a fecundação dos óvulos e a boa formação do fruto. Em plantas cítricas, pode ocorrer tanto a autopolinização quanto a polinização cruzada, onde o pólen é transportado por entomofilia ou anemofilia (Reuther et al., 1968; Lim, 2001). Segundo Gullan (2007), os agentes polinizadores mais abundantes em angiospermas são os insetos. Afirma o autor que ocorre nessa interação uma relação mutualística, onde há benefício para ambas as espécies. Pode-se dizer que há um “jogo de interesse”, as plantas efetivam sua reprodução com mais eficiência enquanto os insetos polinizadores retiram dos vegetais o seu alimento: o néctar e o pólen. O néctar é composto de açúcares em especial a glicose, frutose e sacarose e o pólen possui proteínas, açúcar, amido gorduras, traços de vitaminas e sais inorgânicos. Desse modo, o autor ressalta que a polinização por isentos traz uma séries de benefícios: Aumento na eficiência da polinização, incluindo a redução de desperdício de pólen; A polinização bem-sucedida sob condições não adequadas para a polinização por ventos; Maximização do número de espécies de plantas em uma dada área (já que mesmo plantas raras podem receber polens da mesma espécie, carregados por insetos dentro de uma área). O objetivo da pesquisa foi identificar os insetos visitantes florais de mangueiras localizadas no Ifes Campus Santa Teresa.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no campus do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES-Campus Santa Teresa), no período de agosto de 2015 a julho de 2016, localizado na meso região Central Espírito-Santense, município de Santa Teresa-ES, coordenadas geográficas 19º56’12”S e 40º35’28”W, com altitude de 155 m. O clima da região caracteriza-se como Cwa, mesotérmico, com estação seca no inverno e forte pluviosidade no verão (classificação de Köppen), com precipitação anual média de 1.404,2 mm e temperatura média anual de 19,9 °C, com máxima de 32,8 °C e mínima de 10,6 °C (Incaper, 2011). A pesquisa foi feita na área de fruticultura do campo de produção, onde foi catalogado durante todo o período do projeto, através de visitas diárias, fotografado e coletado espécies polinizadoras de mangueira. Foram separadas 10 plantas para verificação diária, onde as visitas foram feitas sempre às 8 horas, 12 horas e 16 horas, permanecendo no local por uma hora. Cada coleta foi feita com coletor de rede, e armazenada em sacolas plásticas, sendo o inseto encaminhado vivo para o laboratório de biologia do Campus Santa Teresa para identificação e sistematização dos dados, identificando a taxonomia. A identificação foi feita pelo professor especialista da área Após 10 meses de visitas às plantas existente no Campus, todos os dados foram catalogados e ordenados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As flores de manga ficam abertas ao longo de todo dia, abrindo por volta das 7:30h e fechando ao entardecer, recebendo uma variedade de visitantes ao longo do dia. Essa grande variedade de insetos visitantes se dá pela mangueira ser uma planta generalista quanto á polinização, podendo ser visitada por diversas ordens de insetos, mas nem todos os insetos visitantes são polinizadores.

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Os insetos que apresentaram uma maior frequência de visitas na Manga foram Dípteras, das famílias Tachinidae (figura 1), Calliphoridae (figura 3), Stratiomydae e Asilidae , seguido de Hymenopteros, das famílias Vespidae (figura 2), Apidae e Coleoptera da família Coccinelidae (Tabela 1). Tabela 1. Insetos visitantes florais na mangueira e o tempo médio de visita de cada inseto Insetos Visitantes Tempo médio de visita (seg.) Tachnidae (Diptera) 22 Calliphoridae (Diptera) 21 Stratiomydae (Diptera) 15 Asilidae (Diptera) 3 Vespidae (Hymenoptera) 22 Odonata 85 Apidae (Hymenoptera) 13 Coccinelidae (Coleoptera) 60

De acordo com Malerbo-Souza et al. (2008), há possibilidade de insetos da ordem Díptera serem polinizadores muito mais efetivos que indivíduos de outras ordens, isso se dá devido as flores terem anteras e estigmas expostos, pétalas e sépalas com cores claras e odores perceptíveis. Borboletas, vespas, abelhas e besouros também costumam visitar essas flores. Viana (2006) observou, em estudo realizado no município de Juazeiro, estado da Bahia, frequências de 67,5% para dípteros e de 17,5% para himenópteros e que as diferenças nas frequências em diferentes trabalhos poderiam estar relacionadas com a fauna disponível no entorno da cultura, a sazonalidade dos visitantes e o próprio manejo da cultura. Jirón & Hedström (1985) observaram que, entre os insetos da ordem Diptera, representantes das famílias Syrphidae, Calliphoridae e Tachinidae carregavam muitos grãos de pólen nas pernas e superfícies ventrais da cabeça, tórax e abdome, atuando como potenciais polinizadores. A morfologia das flores de manga favorecem os insetos da ordem Diptera, devido as suas flores pequenas e odor perceptível e agradável a estes insetos. Os órgãos reprodutivos são expostos, facilitando a polinização por Dipteras, visto que elas possuem o aparelho bucal curto. Apesar de sua morfologia privilegiar os insetos da ordem Diptera, não impede outros visitantes de se alimentarem do néctar, o que inclui moscas de tamanho reduzido (Malerbo-Souza & Halak, 2009).

Figura 1. Tachinidae Figura 2. Vespa Figura 3. Calliopharidae Fotos do autor

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CONCLUSÃO

Os visitantes florais catalogados no Ifes Campus Santa Teresa na mangueira estão de acordo com o que diversos autores constataram em outras regiões, com alta frequência de dípteras, sendo estes considerados bons polinizadores para mangueira.

LITERATURA CITADA

Biomania. 2015. Polinização das flores, Disponível em: http://www.biomania.com.br/bio/conteudo.asp?

Carvalho, C. R. L.; Rossetto, C. J.; Mantovani, D. M. B.; Morgano, M. A.; Castro, J. V.; Bortoletto, N. 2004. Avaliação de cultivares de mangueira selecionadas pelo Instituto Agronômico de Campinas comparadas a outras de importância comercial. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 26, n. 2, p. 264-271.

Free, J. B. 1993. Insect pollination of crops. New York: Academic Press.

Gullan, P. J. 2007. Os insetos: um resumo de entomologia. São Paulo: Roca, p.440.

Incaper. 2001. Planejamento e programação de ações para Santa Teresa. Programa de assistência técnica e extensão rural PROATER, Secretaria de Agricultura.

Jirón, L. F.; Hedström, I. 1985. Pollination ecology of mango (Mangifera indica L.) (Anacardiaceae) in the neotropical region. Turrialba, v. 35, n. 3, p. 269-277.

Kiill, L. H. P. 2008. Assessment of mango (Mangifera indica L., Anacardiaceae) and passion fruit (Passiflora edulis f. flavicarpa Deg., Passifloraceae) pollinators in the San Francisco Valley, Northeastern, Brazil. In: POLLINATORS management in Brazil. Brasília: Ministry of the Environment, p. 36-37.

Lim, A.L. 2001. Citrus and citroids: Recent biological findings. Malayan-Nature Journal, Kuala Lumpur, v.55 p.221-229.

Malerbo-Souza, D. T.; Toledo, V. A. A.; Pinto, A. S. 2008. Ecologia da polinização. Piracicaba: CP2.

Malerbo-Souza, D. T. & Halak, A. L. 2009. Comportamento de forrageamento de abelhas e outros insetos nas panículas da mangueira (Mangifera indica L.) e produção de frutos L.) e produção de frutos. Acta Scientiarum. Animal Sciences Maringá, v. 31, n. 3, p. 335-341.

Reuther, W.; Batchelor, L.; Webber, H. 1968. The citrus industry. v.2, Berkeley: University of California Press, 398p.

Siqueira, K. M. M.; Kiill, L. H. P.; Martins, C. F.; Lemos, I. B.; Monteiro, S. P.; Feitoza, E. A. 2008. Estudo comparativo da polinização de Mangifera indica L. em cultivo convencional e orgânico na região do Vale do Submédio do São Francisco. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 30, n. 2, p. 303-310.

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Viana, B. F. 2006. Plano de manejo para polinizadores: a mangueira e seus potenciais polinizadores no Vale Médio São Francisco, Juazeiro, BA. Salvador: Probio.

Viana, B. F. 2008. Management plans for fruit crop pollinators in the states of Bahia and Pernambuco, Northeastern, Brazil. In: POLLINATORS management in Brazil. Brasília: Ministry of the Environment, p. 38-40.

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VISITANTES FLORAIS DA GOIABEIRA NO IFES CAMPUS SANTA TERESA

Mariana Zandomênico MANGEIRO2, Gleides Pulcheira PAIXÃO2, Marcus Vinicius Sandoval PAIXÃO1*, Mikaela Bruna MATTEDI2 & Jacimar Berti BOTI2

1, 2Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa *[email protected]

INTRODUÇÃO

A goiabeira (Psidium guajava L) é uma planta de grande importância econômica para o Brasil, (Francisco et al. 2017), porém pouco se sabe sobre as necessidades de polinização da goiabeira e de possíveis perdas de produtividade devido à falta de polinização adequada das flores (Alves & Freitas, 2006). A goiabeira pertence à família Myrtaceae, que compreende cerca de 133 gêneros e, aproximadamente, 3.800 espécies distribuídas nas diversas regiões tropicais e subtropicais do mundo, principalmente na América e na Austrália (Wilson et al., 2001). Possui inflorescência do tipo dicásio, trifloro; em alguns ramos foram observadas inflorescências com uma ou duas flores. As flores são hermafroditas, actinomorfas e com cerca de 3,5 cm de diâmetro. O cálice é composto de cinco sépalas oblongo-ovadas, de coloração verde na face inferior e branca na face superior. A corola possui cinco pétalas brancas, ovais, com cerca de 2 cm de comprimento. O androceu é constituído, em média, de 380 estames (N=10). Os filetes são brancos; os filetes próximos às pétalas são maiores, medindo cerca de 1,3 cm de comprimento e os filetes próximos ao estilete são menores, medindo em torno de 0,5 cm. As anteras possuem duas tecas rimosas de coloração branca com aproximadamente 2 mm de comprimento. Os grãos de pólen são amarelos. O gineceu possui estigma subcapitado de coloração esverdeada e estilete terminal; o estigma posiciona-se cerca de 2 mm acima dos estames maiores. O ovário é ínfero, pentalocular, com muitos óvulos (Boti, 2001). Considerando a receptividade do estigma, trabalhos encontrados na literatura são muito divergentes. Enquanto Singh & Sehgal (1968) afirmam que o estigma já se torna receptivo dois dias antes da antese, Boti (2001) sugere que ele fica receptivo na pré- antese e assim permanece por 30 horas. Soubihe Sobrinho (1951) cita que a receptividade do estigma inicia-se no momento da antese, enquanto Dasarathy (1951) e Balasubrahmanyan (1959) afirmam que esta só acontece 2 a 3 horas após a abertura da flor. Polinização é o ato da transferência dos grãos de pólen, para o receptor feminino de outra flor (da mesma espécie), ou para o seu próprio estigma. Podemos dizer que a polinização é como se fosse o ato sexual das plantas espermatófitas, pois é através deste processo que o gameta masculino alcança o gameta feminino ocorrendo assim a fecundação. A transferência de pólen pode ser através de fatores bióticos, ou seja, com auxílio de seres vivos, ou abióticos, através de fatores ambientais. A polinização entomófila, faz-se com o concurso dos insetos e ocorre na maioria das Angiospermas. Durante a visita as flores, os insetos ao tocarem involuntariamente os estames, se cobrem de pólen e buscando outras flores, tocam o estígma, deixando aí o pólen. Os grãos de pólen entomófilos são grandes, providos de asperezas e pouco abundantes quando comparados aos pólen anemófilo. A estrutura floral de algumas plantas parece ter sido desenhada para o melhor aproveitamento da visita dos insetos. Dentre os insetos polinizadores, destaca-se pela sua frequência, as abelhas, que poliniza

84 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 especialmente as plantas frutíferas, como a laranjeira, o melão, cafeeiro, abacateiro e outras plantas de valor econômico (Biomania, 2015). Um dos aspectos de mais relevância relacionados com a produtividade de uma cultura é a polinização, que garante a fecundação dos óvulos e a boa formação do fruto. Paulino (2005) menciona que insetos e plantas constituem seres vivos essenciais para a manutenção da vida no planeta. As plantas além de fornecer oxigênio, são os principais produtores de matéria orgânica, que direta e indiretamente nutrem diversos ecossistemas da terra. Segundo Gullan (2007), os agentes polinizadores mais abundantes em angiospermas são os insetos. Afirma o autor que ocorre nessa interação uma relação mutualística, onde há benefício para ambas as espécies. Pode-se dizer que há um “jogo de interesse”, as plantas efetivam sua reprodução com mais eficiência enquanto os insetos polinizadores retiram dos vegetais o seu alimento. O Objetivo da pesquisa foi identificar os visitantes florais da goiabeira, correlacionando-os às diversas pesquisas já realizadas sobre esta fruteira, quais destes realizam a polinização e o tempo de visita de cada inseto.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no campus do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES-Campus Santa Teresa), no período de agosto de 2015 a julho de 2016, localizado na meso região Central Espírito-Santense, município de Santa Teresa-ES, coordenadas geográficas 19º56’12”S e 40º35’28”W, com altitude de 155 m. O clima da região caracteriza-se como Cwa, mesotérmico, com estação seca no inverno e forte pluviosidade no verão (classificação de Köppen), com precipitação anual média de 1.404,2 mm e temperatura média anual de 19,9 °C, com máxima de 32,8 °C e mínima de 10,6 °C (Incaper, 2011). A pesquisa foi realizada na área de fruticultura do campo de produção do Ifes, onde foi catalogado durante todo o período do projeto, através de visitas diárias ao pomar, quando foi fotografado e coletado os espécimes, visitantes florais e polinizadores da goiabeira. As visitas foram feitas sempre às 8 horas, 12 horas e 16 horas. Cada coleta foi armazenada em vidros e sacolas plásticas, após esse procedimento, o material coletado foi encaminhado ao laboratório de biologia do Campus Santa Teresa para identificação e sistematização dos dados, identificando taxonomicamente os insetos coletados. Após 10 meses de visitas no pomar, todos os dados foram catalogados e ordenados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com o observado em campo, os insetos que possuem a maior frequência de visitas nas flores, são da família Apidae, e das ordens Coleoptera, Diptera e Thysanoptera (Tabela 1). A Trigona spinipes, entre todos da família Apidae, foi o que permaneceu o maior tempo médio na flor, seguido pela família Muscidae, da ordem Diptera. Acredita- se que o aparecimento de moscas, se dá pelo odor pútrido, exalado pela flor (Tabela 1). A goiabeira apresenta maior frequência de visitantes florais na parte da manhã, na parte da tarde as visitas foram mais escassas.

85 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Diversos foram os visitantes florais encontrados na goiabeira, porém, só podemos considerar como polinizadores os seguintes visitantes florais encontrados: Appis Melifera, Jataí, Trigona sp. e Melipona Rufiventris, os outros insetos são apenas visitantes florais. Podemos observar na tabela 1 que o Tripes, moscas e diversos coleópteras apresentam o maior tempo médio de visitação às flores da goiabeira, porém estes insetos não atuam como polinizador, apenas faz a visitação para coletar pólen e outros alimentos. Considerando que a goiabeira possui autopolinização, e que a polinização cruzada pode atuar como fator para aumento de produção, as abelhas citadas podem ser consideradas como as verdadeiras polinizadoras, atuando no aumento da produção de frutos e sementes. Boti (2001) constatou que pomares de goiabeiras localizados próximos a fragmentos de mata, apresentam maior variedade e abundância de abelhas, como é o caso do local do experimento. As flores da goiabeira são muito atrativas aos visitantes florais, sendo as abelhas Apis melliferas são os visitantes mais frequentes, porém, abelhas nativas do gênero Mellipona, Xylocopa, Partamona e Trigona também foram registradas em outros trabalhos (Freitas & Alves, 2008).

Tabela 1. Insetos visitantes florais da goiabeira e o tempo médio de visita nas flores no Ifes Campus Santa Teresa.

Insetos Visitantes/Ordem Tempo médio de visita (seg.) Appis melifera (Apidae) 38 Calliphoridae (Diptera) 23 Cerambycidae (Coleoptera) 129 Coleopteras (outros) 276 Muscidae (Diptera) 169 Jataí (Apidae) 34 Melipona (Apidae) 52 Tabanidae (Diptera) 90 Trigona sp.(Apidae) 85 Melipona rufiventris (Apidae) 69 Trigona spinipes (Apidae) 99 Tripes (Thysanoptera) 440

CONCLUSÃO

Concluímos que os visitantes florais da goiabeira catalogados na região do Campus Santa Teresa aparece em grande abundancia no pomar estudado e está de acordo com os diversos autores que estudaram insetos visitantes florais em outras regiões.

LITERATURA CITADA

Alves, J. E. & Freitas B. M. 2006. Comportamento de pastejo e eficiência de polinização de cinco espécies de abelhas em flores de goiabeira. (Psidium guajava L.). Ciência Agronômica. v.37, n.2, p.216-220.

86 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Balasubrahmanyan, V.R. 1959. Studies on blossom biology of guava. Indian Journal of Horticulture, v.16, p.69-75.

Biomania, 2015. Polinização das flores, Disponível em: http://www.biomania.com. br/bio/conteudo.asp?cod=1286.

Boti, J. B. 2001. Polinização entomófila da goiabeira (Psidium guajava L., Myrtaceae): Influência da distância de fragmentos florestais em Santa Teresa, Espírito Santo. 57f. Dissertação (Mestrado em Entomologia) - Universidade Federal de Viçosa.

Dasarathy, T.B. 1951. The guava. Madras Agriculture Journal, v.38, p.521-527.

Francisco, V.L.F. dos S. et al. 2017. A cultura da goiabeira em São Paulo. Capturado em 25 março 2017. Online. Disponível na internet: http://www.iea.sp.gov.br/out/ verTexto.php?codtexto=1902.

Freitas, B.M. & Alves, J.E. 2008. Efeito do número de visitas florais de abelha melífera (Apis mellifera L.) na polinização de goiabeira (Psidium guajava L.) cv. Paluma. Rev. Ciên. Agron., Fortaleza, v. 34, n. 01, p. 148-154.

Gullan, P. J. 2007. Os insetos: um resumo de entomologia. São Paulo: Roca, p.440.

Incaper. 2011. Planejamento e programação de ações para Santa Teresa. Programa de assistência técnica e extensão rural PROATER, Secretaria de Agricultura.

Paulino, W. R. 2005. Biologia - seres vivos/ fisiologia. São Paulo: Ática, v.2.

Singh, R.; & Sehgal, O.P. 1968. Studies on the blossom biology of Psidium guajava L. (guava); 2, Pollen studies stigmatal receptivity pollination and fruit set. Indian Journal of Horticulture, v.25, p.52-59.

Soubihe Sobrinho, J. 1951. Estudos básicos para o melhoramento da goiabeira (Psidium guajava L). 166f. Tese (Doutorado em Fitotecnia) – ESALQ.

Wilson, G. W.; O’brien, M. M.; Gadek, P. A.; Quinn, C. J. 2001. Myrtaceae revisited: A reassessment of intrafamilial groups. American Journal of Botany, Bronx, v. 88 , n. 11, p. 2013-2025.

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ARMAZENAMENTO E GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE CACAU

Edno Ferreira dos SANTOS1, Débora Moro Soela1, Henrique Venturini Angeli1, Marcus Vinicius Sandoval PAIXÃO1*, Milena Monteiro SANTOS1, Leidiane ZINGUER1

1Instituto Federal do Espírito Santo - campus Santa Teresa * [email protected]

INTRODUÇÃO

O cacaueiro (Theobroma cacao L.) é uma planta pertencente à família Malvaceae, provavelmente originada da Bacia Amazônica e cultivada nas regiões tropicais do mundo. O interesse de cultivo desta espécie está no aproveitamento de suas sementes para produção de derivados de cacau (Alves, 2002). Do seu fruto do cacaueiro se extraem sementes que, após sofrerem fermentação, transformam-se em amêndoas, das quais são produzidos o cacau em pó e a manteiga de cacau. Em fase posterior do processamento, obtém-se o chocolate, produto alimentício de alto valor energético (Iac, 1998). A germinação de sementes é uma das fases críticas para o estabelecimento das plantas em condições naturais. Fisiologicamente, a germinação inicia-se com a embebição de água pela semente, seguida da retomada do crescimento do embrião quiescente e terminando com a protrusão de alguma parte deste por meio do tegumento. Na maioria dos casos, o primeiro órgão a emergir é a raiz primária. O processo de germinação inicia-se com o ressurgimento das atividades metabólicas que foram quase que paralisadas após a maturação da semente (Bewley & Black, 1982). O conhecimento das condições ideais para a germinação de sementes de uma espécie é de fundamental importância, principalmente, pelas respostas diferenciadas que ela pode apresentar em função de diversos fatores, como viabilidade, dormência, condições de ambiente, envolvendo água, luz, temperatura, oxigênio e ausência de agentes patogênicos, associados ao tipo de substrato para sua germinação (Carvalho & Nakagawa, 2000). Na maioria das espécies vegetais de importância econômica, a viabilidade e vigor das sementes podem ser conservadas pela redução do seu teor de água e da temperatura ambiente. As sementes de cacau, não toleram armazenamento sob baixas temperaturas, dificultando sua conservação por períodos prolongados (Hong & Ellis, 1996). Considerando que sua longevidade é relativamente pequena, variando de poucos dias a poucos meses, dependendo da espécie, as sementes recalcitrantes podem ser classificadas como microbióticas ou de vida curta. A curta longevidade restringe o prazo de utilização das sementes, sendo necessário realizar a semeadura logo após sua extração dos frutos (Stubsgaard, 1990). O desenvolvimento das sementes recalcitrantes difere do desenvolvimento das sementes ortodoxas por não apresentar a fase de desidratação (Farrant et al., 1988), ou seja, no ponto de maturidade fisiológica ocorre um declínio do teor de água das sementes, sendo, entretanto, não significativo quando comparado à fase de desidratação, propriamente dita, das sementes ortodoxas (Kikuti, 2000). Certamente, a conservação de sementes recalcitrantes, por longos períodos, não é alcançada com processos similares aos utilizados para as sementes ortodoxas,

88 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 mormente a secagem. Sem a possibilidade de secagem para a maioria das sementes recalcitrantes, os pesquisadores brasileiros têm mantido elevado o teor de água das sementes através do seu acondicionamento em embalagens herméticas, sob baixas temperaturas (Cicero et al., 1986). O presente trabalho teve como objetivo avaliar a germinação das sementes de cacau armazenadas em ambiente úmido e temperatura reduzida.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no laboratório de sementes do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) Campus Santa Teresa. Foram utilizadas 900 sementes de cacau retiradas dos frutos in natura variedade clonal PS-1319 adquiridas na fazenda experimental da CEPLAC, localizada no município de Linhares, a partir de frutos colhidos naquela empresa. Cada unidade experimental foi composta por 100 sementes armazenadas em 4 bandeja (4 tratamentos de 100 sementes), e a testemunha composta por 100 sementes. O delineamento experimental adotado foi em blocos inteiramente casualizados (DBC), composto de 5 tratamentos, 4 repetições e 25 sementes por parcela. Os tratamentos foram constituídos de: dois tratamentos em ambiente de temperatura reduzida (5ºC) utilizando uma geladeira, dois tratamentos em ambiente natural (28°C, bandejas dentro do laboratório) e testemunha sem tratamento. Os tratamentos foram T1- Testemunha sem armazenamento, T2- Sementes armazenadas em geladeira 5°C com um recipiente de água localizado dentro do contêiner com as sementes, T3- Sementes armazenadas em geladeira 5°C sem recipiente de água, T4- Sementes armazenadas em ambiente natural com recipiente de água localizado dentro do contêiner com as sementes, e T5- Sementes armazenadas em ambiente natural sem recipiente com água. A testemunha foi colocado para germinar em papel germitest e após 15 dias de armazenamento, um lote de 100 sementes de cada tratamento foi preparado para ser colocado para germinar em papel germitest em câmara BOD 25°C. O segundo lote de 400 sementes foi preparado para aos 30 dias de armazenamento, ser colocado para teste de germinação nas mesmas condições em que foi preparado o primeiro lote. As contagens foram efetuadas diariamente e tiveram inicio com o surgimento das primeiras radículas em conformidade com as regras de análise de sementes (Brasil, 2009). A velocidade de germinação (IVG) foi avaliada através de um índice determinado pela fórmula de Maguire (1962), e o tempo médio de germinação (TMG) foi calculado segundo Laboriau & Valadares (1976). Os dados experimentais foram submetidos aos testes de Shapiro-Wilks (p>0,05), para verificação da normalidade e à análise de variância, sendo as médias de cada característica comparadas pelo teste de Tuckey em nível de 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As sementes de cacau apresentaram dificuldade de serem armazenadas após a colheita para serem propagadas. Isso ocorreu devido ao fato de se tratarem de sementes recalcitrantes, evidenciado pelos tratamentos utilizados, onde durante o tempo de armazenamento, as sementes germinaram em grande quantidade.

89 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

As sementes armazenadas em ambiente, sem a condição do recipiente de água (T5), apresentaram resultados positivos comparados à testemunha (T1). As sementes de cacau colhidas dos frutos selecionados na fazenda experimental da CEPLAC vieram com uma carga genética para germinação muito boa, onde podemos observar uma germinação de 100% na testemunha, provando a qualidade das sementes colhidas em frutos daquela empresa (Tabela 1).

Tabela 1. Médias dos tratamentos para germinação em sementes de cacau armazenadas G= Germinação (%), IVG= Índice de Velocidade de Germinação, TMG= Tempo Médio de Germinação. T1- Testemunha, T2- Sementes armazenadas em geladeira 5°C com um recipiente de água no contêiner, T3- Sementes armazenadas em geladeira 5°C sem recipiente de água, T4- Sementes armazenadas em ambiente natural com recipiente de água, T5- Sementes armazenadas em ambiente natural sem recipiente com água. Tratamentos G (%) IVG TMG T1 100 a 6,967 a 4,640 a T2 0 0 0 T3 0 0 0 T4 x x x T5 93 a 6,232 a 4,242 b Médias seguidas das mesmas letras não se diferem estatisticamente pelo teste Tuckey em 5 % de probabilidade.

A porcentagem de germinação e o IVG do T5, não diferiram estatisticamente da testemunha (T1), sendo observada apenas diferença significativa no tempo médio de germinação (TMG). Considerando o resultado obtido, podemos sugerir que as sementes de cacau, podem ser armazenadas em ambiente natural (28°C), durante o período de 15 dias, não alterando sua longevidade e seu poder germinativo. Neste tratamento proposto a recalcitrância das sementes de cacau não foi afetada, visto que ocorreu germinação satisfatória (93%), não diferindo estatisticamente da testemunha (T1) (Tabela 1). O tratamento em que foi colocado um recipiente de água ao centro do container para manter a umidade local (T4), ocorreu à germinação das sementes antes do tempo previsto para o teste de germinação e tornaram impossibilitados de serem colocados para germinar, pois durante seu armazenamento, das 200 sementes armazenadas, 188 germinaram antes de serem utilizadas. A alta taxa de germinação desses tratamentos está relacionada à umidade do ar que proporcionaram um ambiente favorável para a germinação. Cícero (2000) cita que a germinação nessas condições, pode levar a um estresse hídrico que causaria danos oxidativos pela ação de radicais livres, fato não observado nesta pesquisa. Estes tratamentos não foram utilizados como lote no teste de germinação. As sementes recalcitrantes apresentam maiores dificuldades no armazenamento comparado às sementes ortodoxas. Isso se deve a uma alta suscetibilidade à perda de água, o que faz com que seja necessário o armazenamento em elevado grau de umidade. Essa alta umidade, porém, favorece o desenvolvimento de microrganismos e a germinação durante o armazenamento. O armazenamento de sementes constitui-se em um conjunto de procedimentos voltados à preservação de sua qualidade, atuando como instrumento para a formação de estoques reguladores e à manutenção de recursos genéticos por meio de bancos de germoplasma (Aguiar et al., 1993).

90 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Os tratamentos T2 e T3 não apresentaram germinação. A partir dos dados obtidos para estes tratamentos, podemos inferir que o condicionamento das sementes em geladeira a 5°C, pode ter ocasionado a morte do embrião, fazendo com que as sementes não germinassem nestes tratamentos. Segundo Fonseca & Freire (2003), sementes de cacau, não podem ser armazenadas a frio, pois não resistem a esse processo, e sua longevidade é limitada quando submetida. Esse fato, corrobora com os dados obtidos na pesquisa, onde as sementes apresentaram resultados negativos quanto à germinação. As pesquisas científicas, obtidas a respeito da conservação de sementes recalcitrantes, ainda são pouco evidenciados. Farrant et al. (1988) citam que as sementes “altamente” e “moderadamente” recalcitrantes apresentam maior tolerância a baixas temperaturas, porém nunca igual ou inferior a 0 °C; temperaturas iguais ou inferiores a 15°C não são favoráveis ao armazenamento de sementes de cacau (Fonseca & Freire, 2003), evidenciando os resultados obtidos.

CONCLUSÃO

O armazenamento das sementes da cacau à temperatura de 5°C tornou as sementes inviáveis para germinação. A alta umidade do ar pode acelerar a germinação das sementes de cacau armazenadas, podendo inviabilizar o armazenamento destas sementes. Sementes de cacau podem ser armazenada em ambiente natural por um período de 15 dias.

LITERATURA CITADA

Aguiar, I. B.; Pina-Rodrigues, F. C. M.; Figliolia, M. B. 1993. Sementes florestais tropicais. Brasília: ABRATES, 350p.

Alves, S. A. M. 2002. Epidemiologia da Vassoura-de-Bruxa (Crinipellis Perniciosa (STAHEL) SINGER) em Cacaueiros Enxertados em Uruçuca, BA. 2002. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – ESALQ, Universidade de São Paulo, Piracicaba.

Bewley, J. D. & Black, M. 1982. Physiology and biochemistry of seeds, v.2., Berlin: Springer-Verlag.

Brasil. 2009. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes. Brasília, 398 p.

Carvalho, N. M. & Nakagawa, J. 2000. Sementes: ciência, tecnologia e produção. 4.ed. Jaboticabal: FUNEP, 588p.

Cicero, S. M.; Marcos Filho, J.; Toledo, F. F. 1986. Efeitos do tratamento fungicida e de três ambientes de armazenamento sobre a conservação de seringueira. Anais da ESALQ, Piracicaba, 43(2): 763-787.

Cicero, S. M. 2000. Efeitos do tratamento fungicida e de três ambientes de armazenamento sobre a conservação de seringueira. Anais da ESALQ, Piracicaba, 43(2):763-787.

91 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Farrant, J. M.; Pammenter, N. W.; Berjak, P. 1988. Recalcitrance: a current assessment. Seed Science and Technology, Zurich, 16: 155-166.

Fonseca, S. C. L. & Freire, H. B. 2003. Sementes recalcitrantes: problemas na pós- colheita. Bragantia, 62(2): 297-303.

Hong, T. D. & Ellis, R. H. 1996. A protocol to determine seed storage behavior. In: Engels, J.M.M; Toll, J. Rome: IPGRI, 62p.

Iac, 1998. Instituto Agronômico de Campinas, Cacau, Boletim IAC, Campinas.

Kikuti, A.L.P. 2000. Aplicação de antioxidantes em sementes de cafeeiro visando à preservação da qualidade. 72f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Lavras.

Labouriau, L.G. & Valadares, M.E.B. 1976. On the germination of seeds Calotropis procera (Ait.) Ait.f. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 48(2): 263-284.

Maguire, J.D. 2009. Speeds of germination-aid in selection and evaluation for seedling emergence and vigor. Crop Science, 2(2): 176-177.

Stubsgaard, F. 1990. Seed moisture. Humlebaek: DFSC, 30p.

92 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE IPÊ AMARELO EM DIFERENTES SUBSTRATOS

Hérica CHISTÉ2, Livia Barbosa DUMMER2, Paulo Cesar PIMENTA2, Marcus Vinicius Sandoval PAIXÃO1*, Milena Monteiro SANTOS2 & Leidiane ZINGUER2

1, 2Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa *[email protected]

INTRODUÇÃO

Tabebuia chrysotricha (Mart. ex DC.) Standl, conhecida como ipê-amarelo- cascudo, ipê-do-morro, ipê, ipê-amarelo, aipé, ipê-tabaco. Segundo Lorenzi (2002) é uma espécie florestal nativa do Brasil, encontrado nos Estados do Espírito Santo até Santa Catarina. É uma planta decídua e heliófita. Sua dispersão é descontínua e irregular, geralmente ocorrendo em baixa freqüência. Produz anualmente grande quantidade de sementes. É uma espécie que apresenta uma madeira moderadamente pesada, resistente, de grande durabilidade mesmo em condições adversas. É própria para obras externas e internas em construção civil. A árvore é extremamente ornamental, sendo muito utilizada para arborização em praças e ruas, devido ao seu pequeno porte. Floresce durante os meses de agosto e setembro, geralmente com a planta totalmente despida de folhagem. Os frutos amadurecem a partir do final de setembro a meados de outubro. Uma das dificuldades enfrentadas por quem trabalha com a produção de mudas de espécies florestais nativas é o crescimento lento de muitas delas, particularmente daquelas classificadas como tardias. Em face disso, é de fundamental importância a definição de estratégias que favoreçam a produção de mudas com qualidade, em menor espaço de tempo possível e em condições acessíveis aos médios e pequenos produtores rurais (Cunha et al., 2005), por ser esse o público com maiores limitações financeiras para a restauração florestal (Engel, 2007). Essas características atribuem ao ipê amarelo (Tabebuia chrysotricha), um alto valor econômico, o que justifica estudos que visem uma melhor produção de sementes e mudas de qualidade. A germinação de sementes é uma das fases críticas para o estabelecimento das plantas em condições naturais. Fisiologicamente, a germinação inicia-se com a embebição de água pela semente, seguida da retomada do crescimento do embrião quiescente e terminando com a protrusão de alguma parte deste por meio do tegumento. Na maioria dos casos, o primeiro órgão a emergir é a raiz primária. O processo de germinação inicia-se com o ressurgimento das atividades metabólicas que foram quase que paralisadas após a maturação da semente (Bewley & Black, 1982). Durante a germinação das sementes, o substrato utilizado também pode influenciar a porcentagem final de germinação devido à sua estrutura, aeração, capacidade de retenção de água e facilidade de infestação por patógenos, o que pode variar, dependendo do tipo de material utilizado (Scalon, 1992; Eschiapatia-Ferreira & Perez, 1997; Jeller & Perez, 1999). Para a espécie Tabebuia serratifolia (Vahl.) o substrato areia se mostra melhor para a germinação (Souza et al.,2003). O objetivo da pesquisa foi avaliar a germinação/emergência de sementes de ipê amarelo (Tabebuia chrysotricha) em diferentes substratos.

93 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no viveiro de produção de mudas, tela de poliolefina com 50% de sombreamento, setor de viveiricultura do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES-Campus Santa Teresa), no período de outubro a dezembro de 2015, localizado na meso região Central Espírito-Santense, cidade de Santa Teresa-ES, coordenadas geográficas 19º56’12”S e 40º35’28”W, com altitude de 155 m. O clima da região caracteriza-se como Cwa, mesotérmico, com estação seca no inverno e forte pluviosidade no verão (classificação de Köppen), com precipitação anual média de 1.404,2 mm e temperatura média anual de 19,9 °C, com máxima de 32,8 °C e mínima de 10,6 °C (Incaper, 2011). Os tratamentos foram compostos por diferentes tipos de substratos para avaliar a germinação a partir da emergência das plântulas. Os substratos utilizados foram areia, terra, vermiculita, bioplant® e mistura (areia+terra+esterco bovino [2:2:1] ). As sementes de Tabebuia chrysotricha foram coletadas no mês de Outubro de 2015, de uma única matriz, em mata do município de Santa Maria de Jetibá - ES, onde foram selecionadas sementes no mesmo ponto de maturação. Os substratos foram acondicionados em tubetes pretos perfurados N-3, e ficaram em repouso por 24 horas, para um maior acondicionamento do substrato nos recipientes. Passado o período de repouso, foi semeado 1 semente em cada tubete, a uma profundidade de 2 cm. Após a instalação do experimento em casa de vegetação, foi feito irrigação diariamente. O delineamento experimental adotado foi em blocos inteiramente casualizados (DBC), composto de 5 tratamentos, 4 repetições e 25 tubetes por parcela, totalizando 500 mudas, sendo a unidade experimental composta por 25 tubetes. Trinta dias após início de emergência, ocorrido sete dias após a semeadura foi avaliado a porcentagem de emergência, índice de velocidade de emergência (IVE) e tempo médio de emergência (TME). As contagens foram efetuadas diariamente e tiveram inicio com o surgimento das primeiras plântulas. A velocidade de emergência foi avaliada através de um índice determinado pela fórmula de Maguire (1962), e o tempo médio de emergência foi calculado segundo Laboriau & Valadares (1976). Os dados experimentais foram submetidos aos testes de Shapiro-Wilks (p>0,05), para verificação da normalidade e à análise de variância, sendo as médias de cada característica comparadas pelo teste de Tuckey em nível de 5% de probabilidade.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1, apresentamos os resultados das análises estatísticas a partir dos dados das sementes germinadas/emergidas onde constatamos diferença significativa entre os tratamentos. Tabela 1. Valor médio de percentagem de germinação (G%), índice de velocidade de germinação (IVG) e tempo médio de germinação (TMG). Substratos E %) IVE TME Areia 67,25 b 0,87307 abc 2,18395 ab Bioplant 88,50 a 1,17746 ab 2,26895 ab Vermiculita 94,00 a 1,45682 a 2,91045 a Mistura 69,00 b 0,51970 bc 1,57938 b Terra 52,00 c 0,14706 c 0,25000 c

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Médias seguidas pelas mesmas letras na coluna não diferem significativamente entre si pelo teste de tukey em 5% de probabilidade.

Com relação aos substratos, os melhores resultados foram obtidos utilizando vermiculita para os parâmetros de porcentagem de emergência e velocidade de emergência. Corroboram com o encontrado, Figliolia et al. (2006), estudando os efeitos do substrato na germinação de sementes de cedro-rosa (Cedrela fissilis), constataram que a vermiculita foi um substrato eficiente promovendo uma ótima germinação e elevados valores de IVG, assim como Rêgo (2004) que avaliou o efeito de diferentes substratos sobre a emergência e o vigor de sementes de jequitibá-rosa (Cariniana legalis) e também verificou a eficácia da emergência com o substrato vermiculita. Com aplicação do teste tukey a 5% de probabilidade verificou-se que os substratos vermiculita e bioplant® não diferem entre si para a porcentagem de emergência de sementes, possuindo assim as melhores médias neste quesito, porém podemos observar que a vermiculita atingiu melhores resultados (Tabela 1). Para a semeadura em terra houve grande redução da porcentagem e da velocidade de emergência. Nessa condição, ocorreu a protrusão da raiz primária e o início do desenvolvimento das plântulas sob a terra, mas as plântulas tiveram dificuldade em romper a camada do substrato. Assim, consideramos que a quantidade de argila presente neste substrato restringiu a emergência das plântulas, reduzindo os valores dos parâmetros avaliados. Uma provável explicação para a dificuldade de superação da camada de substrato pode estar associada às características deste substrato em presença de água, com a formação de uma camada seladora em sua superfície. Com um comportamento oposto a superioridade apresentada nos outros parâmetros, a vermiculita apresentou menor tempo médio de emergência, caracterizando a rápida emergência. Para este parâmetro a mistura de solo, apresentou a maior média, com maior tempo para ocorrer a germinação/emergência das plântulas.

CONCLUSÃO

Dentre os substratos avaliados, a vermiculita apresentou os melhores resultados para germinação de sementes/emergência de plântulas de ipê amarelo, podendo ser recomendado para produção de mudas de ipê amarelo.

LITERATURA CITADA

Bewley, J. D. & Black, M. 1982. Physiology and biochemistry of seeds, v.2., Berlin: Springer-Verlag.

Cunha, A. O. et al. 2005. Efeitos de substratos e das dimensões dos recipientes na qualidade das mudas de Tabebuia impetiginosa (Mart. Ex D.C.) Standl. Revista Árvore, v.29, n.4, p.507-516

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Eschiapatia-Ferreira, M. S. & Perez, S. C. J. A. 1997. Tratamento para superar a dormência de semente de Senna macranthera (Collad.) Irwing et Bran.

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Figliolia, M. B.; Aguiar, I. B. & Silva, A. 2006. Germinação de sementes de Lafoensia glyptocarpa koehne (mirindiba-rosa), Myroxylon peruiferum l. f. (cabreúva- vermelha) e Cedrela fi ssilis vell. (cedro-rosa). Rev. Inst. Flor., São Paulo, v. 18, n. único, p. 49-58, dez.

Incaper. 2011. Planejamento e programação de ações para Santa Teresa. Programa de assistência técnica e extensão rural PROATER, Secretaria de Agricultura.

Jeller, H. & Perez, S. C. J. A. 1999. Estudo da superação da dormência e da temperatura de semente de Cassia excelsa. Revista Brasileira de Sementes, v.21, n.1, p.32- 40.

Lorenzi, H. 2002. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 384p.

Labouriau, L.G. & Valadares, M.E.B. 1976. On the germination of seeds Calotropis procera (Ait.) Ait.f. Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, v.48, n.2, p.263-284.

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Rêgo, G. M. & Possamai, E. 2004. Efeito do substrato e da temperatura sobre a germinação e vigor de sementes do jequitibá-rosa (Cariniana legalis). Colombo: Embrapa Florestas, (Embrapa Florestas, Comunicado técnico 127).

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96 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

GERMINAÇÃO EM SEMENTES DE CAJÁ

Liz Santos NASCIMENTOS, Millena Monteiro dos SANTOS, Eduardo France OZA, Marcus Vinicius Sandoval PAIXÃO*, Gustavo Bregonci FERNANDES, Edno Ferreira dos SANTOS

Instituto Federal do Espírito Santo - campus Santa Teresa * [email protected]

INTRODUÇÃO

Cajazeira (Spondias mombis L.), é uma espécie frutífera pertencente á família Anacardiaceae, possui fruto tipo drupa, globosa, com casca fina e de coloração amarela quando maduro, fruto pequeno de forma elíptica com 3-4 cm de comprimento (Silva Jr. et al., 2004). O Brasil é considerado um dos maiores produtores de frutas, logo após a China e Índia com produção de aproximadamente 43 milhões de toneladas e área de 2,179 milhões de hectares (Poll et al., 2011), sendo uma das frutas mais consumidas na região semi-árida do nordeste e norte do Brasil, além das regiões tropicais da América e da África. O cajá pode ser consumido de diversas formas, tendo destaque nos consumos in natura e polpa, cujo rendimento varia entre 55 a 65%. Quando industrializado, o fruto da cajazeira é muito apreciado em sorvetes, sucos e néctares (Lima et al., 2002). Diversas partes da planta cajazeira são utilizadas para diversos fins. Moody & Hamann (2009) destacam inúmeros princípios ativos como ação antibacteriana, antivirais e antibióticas. De acordo com Sacramento & Souza (2000) o processo de fecundação de amadurecimento do fruto ocorre por volta de 4 a 5 meses, ocorrendo por fecundação cruzada. A propagação dessa planta pode ser por estacas plantadas em campo, porém vários estudos afirmam que a utilização de mudas como porta-enxerto pode acelerar o pegamento propiciando alto índice de sobrevivência (Santos et al., 2002; Bastos, 2010; Reis et al., 2010). A germinação de sementes é uma das fases críticas para o estabelecimento das plantas em condições naturais. Fisiologicamente, a germinação inicia-se com a embebição de água pela semente, seguida da retomada do crescimento do embrião quiescente e terminando com a protrusão de alguma parte deste por meio do tegumento. Na maioria dos casos, o primeiro órgão a emergir é a raiz primária. O processo de germinação inicia-se com o ressurgimento das atividades metabólicas que foram quase que paralisadas após a maturação da semente (Bewley & Black, 1982). A estrutura usada na propagação sexuada do caja corresponde ao endocarpo contendo sementes, também conhecido como "caroço". Ensaios de germinação com sementes mostraram baixas percentagens e velocidades de germinação, confirmando a lenta, a errática e a desuniforme germinação da espécie (Azevedo et al., 2004). Carvalho et al. (1998) referem-se ao baixo poder germinativo das sementes de cajá como fator dificultador de sua utilização no processo de propagação sexuada. Souza et al. (2000) citam que o endocarpo do cajá é do tipo Spondias, o qual é composto de um conjunto de células fortemente lignificado e irregularmente orientado em esclerênquima. Objetivou-se com esse trabalho avaliar a poliembrionia e germinação em relação à massa específica de sementes de cajá.

97 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no viveiro de produção de mudas, tela de poliolefina com 50% de sombreamento, setor de viveiricultura do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES - Campus Santa Teresa), no período de outubro a dezembro de 2015, localizado na meso região Central Espírito-Santense, cidade de Santa Teresa-ES, coordenadas geográficas 19º56’12”S e 40º35’28”W, com altitude de 155 m. O clima da região caracteriza-se como Cwa, mesotérmico, com estação seca no inverno e forte pluviosidade no verão (classificação de Köppen), com precipitação anual média de 1.404,2 mm e temperatura média anual de 19,9 °C, com máxima de 32,8 °C e mínima de 10,6 °C (Incaper, 2011). Foram coletados manualmente frutos de plantas localizadas no setor de fruticultura do Campus. A retirada de suas polpas ocorreu manualmente em água corrente para obtenção das sementes nuas, tomando os devidos cuidados para não ocorrer nenhum dano às mesmas. Em seguida, as sementes foram postas para secagem à sombra por 24 h. No laboratório de Sementes do campus, as sementes foram pesadas com balança semi-analítica com precisão de 0,001 g e divididas em 4 tratamentos em função da suas respectivas massas onde: T1 sementes com massa de 0 a < 3 g; T2 sementes de ≥ 3 a < 6 g; T3 de ≥ 6 a < 9; T4 ≥ 9 g, cada unidade experimental continha de 25 sementes em 4 repetições, totalizando 400 sementes, com delineamento em blocos casualizados (DBC). A semeadura foi realizada em sacolas plásticas 12x25x0,07 cm, preparadas com substrato produzido a partir de uma mistura de três partes de terra de subsolo peneirada com uma parte de esterco bovino curtido e peneirado (quatro mash) e uma parte de areia (3:1:1). As avaliações de emergência obedeceu os parâmetros contidos nas regras para Análise de Sementes (Brasil, 2009), a partir da emergência das plântulas após a semeadura (DAS). O índice de velocidade de emergência (IVE) foi avaliado conforme fórmula de Maguire (1962), e o tempo médio de emergência (TME) foi calculado segundo Laboriau & Valadares (1976), e o potencial de poliembriônia (PP) realizadas aos 90 DAS. Os dados experimentais foram submetidos aos testes de Shapiro-Wilks (p>0,05), para verificação da normalidade e à análise de variância, sendo as médias de cada característica comparadas pelo teste de Tuckey em nível de 5% de probabilidade

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A emergência das plântulas iniciou 28 dias após a semeadura (DAS) para todos os tratamentos, exceto para o tratamento 2 (T2) que apresentou maior retardo (2 dias) para iniciar a germinação. A porcentagem de emergência não apresentou diferenças estatísticas entre os tratamentos, onde a massa das sementes não influenciou na taxa germinativa. Esses dados corroboram com resultados encontrados por Carvalho & Nakagawa (2000) e Ferreira & Torres (2000), que descrevem que o tamanho das sementes não tem influência sobre a germinação, apenas resultam no menor vigor e desenvolvimento das plântulas, dependendo das condições de campo. Entretanto, conforme Rodo et al. (2001), o tamanho da semente é um dos fatores que podem influenciar a germinação, sendo que sementes maiores potencialmente apresentam maior poder germinativo em relação às menores.

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Todos os tratamentos apresentaram valores de emergência muito baixos, observa-se que o percentual de emergência variou de 32 a 46 %, estando todos abaixo de 50%. Esse fato pode estar relacionado devido às sementes de cajá apresentarem poliembrionia, que pode ser influenciado por fatores bióticos e abióticos, como polinização e clima. Segundo Ramos et al., (2006) quanto maior o número de embriões em uma semente, menor será a taxa de germinação destas sementes (Tabela 1). Segundo a Carvalho et al. (1998) germinação é lenta, errática e desuniforme. Isso de dá devido a dois mecanismos de dormência que regulam a germinação das sementes dessa espécie. O primeiro, imposto pelo tegumento, que atua como fator limitante, promovendo resistência mecânica à expansão do embrião, como também às trocas gasosas, o segundo de natureza fisiológica. Para os valores do Índice de Velocidade de emergência não houve diferença estatística entre as médias dos tratamentos submetidas ao teste de médias, indicando que a massa respectiva a cada semente não influência na velocidade de germinação (Tabela 1). Rzyzanowski et al. (1999) observaram que sementes menores, possuem pouca reserva e necessitam mais de água em relação à sementes maiores, por isso precisam germinar precocemente. Entretanto, em sementes de Macadamia integrifolia (Rêgo et al., 1991) e de Acacia senegal (L.) de Willd (Ferreira & Torres, 2000), o IVE não foi afetado pelo tamanho das sementes. As médias dos valores do Tempo Médio de emergência (TME) também não apresentaram diferenças estatísticas. Todos os tratamentos apresentaram valores próximos (28,765 a 30,909) o que indica bons valores e ampla uniformidade em relação ao tempo de semeadura e emergência de plântula (Tabela 1).

Tabela 1 – Dados de emergência em sementes de cajá. Médias das Variáveis Tratamentos % E IVE TME T1 (0 a < 3 g) 38,54 a 0,303 a 30,140 a T2 (≥ 3 a < 6 g) 46,87 a 0,369 a 28,765 a T3 (≥ 6 a < 9) 37,49 a 0,299 a 30,729 a T4 (T4 ≥ 9 g) 32,29 a 0,240 a 30,909 a Médias seguidas das mesmas letras não se diferem estatisticamente pelo teste Tuckey em 5 % de probabilidade. E= Emergência (%), IVE= Índice de Velocidade de Emergência, TME= Tempo Médio de Emergência.

Embora não tenha ocorrido diferenças estatísticas entre % Germinação, IVE e TME, o tratamento onde as sementes possuíam massa entre ≥ 3 a < 6 g apresentou os melhores resultados. Soares Filho et.al (2000) salientam que a quantidade de embriões em uma sementes podem favorecer a taxa de germinação, vigor e IVE, desde que esse número seja pequeno, caso contrário, a alta taxa de poliembrionia pode reduzir esses parâmetros. Os resultados obtidos por esse trabalho podem auxiliar viveiristas que desejam ter maior rendimento de portas-enxerto a melhorarem a produção, simplesmente pela seleção de sementes.

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CONCLUSÃO

A massa específica das sementes de Cajá não influencia na Germinação.

LITERATURA CITADA

Azevedo, D. M.; Mendes, A. M. & Figueiredo, A. F. 2004. Característica da germinação e morfologia do endocarpo e plântula de taperebá (SpondiasmombinL.) – Anarcadiaceae. Revista Brasileira de Fruticultura, 26: 534-537.

Bastos, D. C.; Pio, R.; Scarpare Filho, J. A.; Almeida, L. F. P.; Entelmann, F. A. & Alves, A. S. R. 2010. Tipo de estaca e concentração de ácido indolbutírico na propagação de lichieira. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, 30(1): 97-102,

Bewley, J. D. & Black, M. 1982. Physiology and biochemistry of seeds, v.2., Berlin: Springer-Verlag.

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Labouriau, L.G. & Valadares, M.E.B. 1976. On the germination of seeds Calotropis procera (Ait.) Ait.f. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 48(2): 263-284.

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100 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

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101 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

VISITANTES FLORAIS DO MARACUJAZEIRO NO IFES CAMPUS SANTA TERESA

Gleides Pulcheira PAIXÃO2, Mariana Zandomênico MANGEIRO2, Mikaela Bruna MATTEDI2, Marcus Vinicius Sandoval PAIXÃO1*, Jacimar Berti BOTI2 & Eduardo France OZA2

1, 2Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa *[email protected]

INTRODUÇÃO

A produção de frutos do maracujazeiro-amarelo (Passiflora edulis Sims) depende do tipo e da qualidade da polinização. Embora a espécie tenha flor completa, a planta apresenta complexo sistema de autoincompatibilidade (Suassuna et al., 2003), e a polinização cruzada é necessária para a produção de frutos, seja pela presença de um polinizador eficiente, seja pela prática da polinização artificial (Yamamoto et al., 2010). Um dos aspectos de maior relevância relacionados com a produtividade de uma cultura é a polinização, que garante a fecundação dos óvulos e a boa formação do fruto. Em plantas cítricas, pode ocorrer tanto a autopolinização quanto a polinização cruzada, onde o pólen é transportado por entomofilia ou anemofilia (Reuther et al., 1968; Lim, 2001). As flores do maracujá possuem anteras grandes, com um elevado número de grãos de pólen, esses grãos são pesados, o que dificulta a polinização pelo vento. As mamangavas são geralmente reconhecidas como os mais efetivos agentes polinizadores naturais do maracujá, porém, como nem sempre a presença de mamangavas é suficiente, outros animais contribuem com essa polinização (Fischer & Leal, 2006). De acordo com Freitas & Oliveira Filho (2003), essa polinização permite um índice de vingamento de frutos em torno 13%. Estudos mostram que a proximidade a fragmentos de mata pode proporcionar maior diversidade de agentes polinizadores em áreas de cultivo e aumento na eficiência da polinização de espécies cultivadas, podendo assim esses resultados ajudar a aliar a conservação de fragmentos florestais a agricultura (Kevan & Imperatriz, 2002; Kremen et al., 2004; Chacoff & Aizen, 2006; Klein et al., 2007; Garibaldi et al., 2011). Paulino (2005) menciona que insetos e plantas constituem seres vivos essenciais para a manutenção da vida no planeta. As plantas além de fornecer oxigênio, são os principais produtores de matéria orgânica, que direta e indiretamente nutrem diversos ecossistemas da terra. Devido à imobilidade das plantas, a polinização envolve obrigatoriamente um vetor para o pólen, e necessariamente passará por três fases: remoção do pólen das anteras, transporte e depósito dos pólen no estigma receptivo (Harder, 1997 apud Santos, 1998). Segundo Gullan (2007), os agentes polinizadores mais abundantes em angiospermas são os insetos. Afirma o autor que ocorre nessa interação uma relação mutualística, onde há benefício para ambas as espécies. Pode-se dizer que há um “jogo de interesse”, as plantas efetivam sua reprodução com mais eficiência enquanto os insetos polinizadores retiram dos vegetais o seu alimento: o néctar e o pólen. O néctar é composto de açúcares em especial a glicose, frutose e sacarose e o pólen possui proteínas, açúcar, amido gorduras, traços de vitaminas e sais inorgânicos. Desse modo, o autor ressalta que a polinização por isentos traz uma séries de benefícios: aumento na eficiência da polinização, incluindo a redução de desperdício de pólen; a polinização

102 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 bem-sucedida sob condições não adequadas para a polinização por ventos; maximização do número de espécies de plantas em uma dada área (já que mesmo plantas raras podem receber polens da mesma espécie, carregados por insetos dentro de uma área). A frutificação do maracujá depende inteiramente da polinização cruzada, em virtude de ser uma planta que apresenta autoincompatibilidade, dependendo de agentes polinizadores e visitantes florais. De acordo com Cobert & Willmer (1980), as flores do maracujá se abrem após o meio dia e fecham-se ao anoitecer, algumas permanecem abertas até o outro dia de manhã. O objetivo da pesquisa foi identificar os visitantes florais do maracujazeiro, no Ifes Campus Santa Teresa.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no campus do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES-Campus Santa Teresa), no período de agosto de 2015 a julho de 2016, localizado na meso região Central Espírito-Santense, município de Santa Teresa-ES, coordenadas geográficas 19º56’12”S e 40º35’28”W, com altitude de 155 m. O clima da região caracteriza-se como Cwa, mesotérmico, com estação seca no inverno e forte pluviosidade no verão (classificação de Köppen), com precipitação anual média de 1.404,2 mm e temperatura média anual de 19,9 °C, com máxima de 32,8 °C e mínima de 10,6 °C (Incaper, 2011). O estudo foi feito na área de fruticultura do campo de produção, onde os visitantes florais de maracujazeiro foram catalogados durante todo o período do projeto, através de visitas diárias, fotografado e coletado. As capturas foram feitas sempre às 8 horas, 12 horas e 16 horas. Cada coleta foi armazenada em sacolas plásticas e encaminhada para o laboratório de biologia do Campus Santa Teresa para identificação taxonômica e sistematização dos dados coletados. Após 10 meses de visitas à fruteira existente no pomar do Campus Santa Teresa, todos os dados foram catalogados e ordenados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na observação em campo, os visitantes florais na cultura do maracujá, foram os seguintes: Mamangava, A. melífera (figura 2), T. spinipes, Melipona mandaçaia, tripes e coleópteras (figura 1). Os tripes e os coleópteros, permaneciam na mesma flor, não ocorria a mudança de uma botão floral para outra (Tabela 1). Na área do pomar, havia a presença de muitas A. mellifera, o que é prejudicial, pois segundo Siqueira et al. (2009) a presença dessa espécie nas flores inibe a aproximação da mamangava, T. spinipes também causa danos a frutífera, devido ao seu hábito de danificar os brotos a fim de conseguir fibras para a construção do seu ninho, e também por perfurar a câmara nectarífera retirando o néctar, cuja flor deixa de ser atrativa para a mamangava, reduzindo assim o tempo e a frequência de visita deste polinizador ao maracujazeiro (Sazima & Sazima, 1989). Há relatos de abelhas sem ferrão (Apidae, Meliponini) expulsando os polinizadores e fazendo com que eles evitem se aproximar das flores, simplesmente pela proximidade de Meliponini das flores (Santos & Absy, 2010).

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Tabela 1. Insetos visitantes florais no maracujá e o tempo médio de cada visita Insetos Visitantes/Ordem Tempo médio de visita (s) Mamangava (Hymenoptera) 18 Apis mellifera (Hymenoptera) 21 Trigona spinipes (Hymenoptera) 26 Jataí (Hymenoptera) 29 Melipona mandaçaia (Hymenoptera) 33 Tripes (Thysanoptera) Constante Coleopteras diversos Constante

Apesar de muitas das características florais serem associadas à atração de visitantes, e a visitação floral ser comumente associada à polinização, nem todos os visitantes são polinizadores, o que pode fazer pensar que todo inseto que visita a flor faz polinização. Os visitantes que são capazes de obter néctar, pólen ou outro recurso floral sem realizar a transferência de pólen entre as flores são também chamados de pilhadores (Inouye, 1980). O néctar em Passiflora é secretado por glândulas que se localizam numa câmara nectarífera no interior da flor. Desta maneira, o visitante que busca a secreção e possui porte suficiente para polinização normalmente entra em contato com as anteras e os estigmas. Desta forma, é importante verificar o volume e a concentração de néctar em Passiflora, pois a variação da produção de néctar pode afetar a visitação das flores pelos polinizadores (Benevides; Gaglianone & Hoffmann, 2009, Fischer & Leal, 2006). Dentre os insetos coletados, de acordo com o citado na literatura sobre polinizadores do maracujazeiro, podemos considerar que apenas a mamangava aparece como polinizador, sendo que as outras espécies observadas como Apis mellifera, Trigona spinipes, Jataí, Melipona mandaçaia, Tripes e os Coleopteras diversos atuavam como pilhadoras nesta frutífera. Oliveira (2013) constatou que nove espécies de insetos visitaram as flores de Passiflora edulis, das quais três espécies de abelhas apresentaram comportamento de polinizador. Conforme o autor, das espécies polinizadoras, a mais frequente foi Tetragona sp. com 77% das visitas efetivas e Xylocopa sp. e entre as espécies que apresentaram o comportamento de pilhagem foi observado Apis mellifera, Coleoptera, Hymenopteras e Trigona spinipes.

Figura 1. Coleoptera em flor maracujá Figura 2. Apis mellifera em flor de maracujá Fotos do autor

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CONCLUSÃO

Os polinizadores do maracujazeiro catalogados na região do Campus Santa Teresa estão de acordo com o que diversos autores constataram em outras regiões, com uma diversidade de insetos visitantes no maracujazeiro, sendo que, de acordo com a literatura apenas o mamangava apareceu como inseto polinizador da espécie.

LITERATURA CITADA

Benevides, C. R.; Gaglianone, M. C.; Hoffmann, M. 2009. Visitantes florais do maracujá-amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa Deg. Passifloraceae) em áreas de cultivo com diferentes proximidades a fragmentos florestais na região Norte Fluminense, RJ. Revista Brasileira de entomologia, São Paulo, v. 53, n.3, p. 415–421.

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PRODUÇÃO DE MUDAS DE MARACUJAZEIRO AMARELO (Passiflora edulis Sims) EM SUBSTRATO COM HÚMUS

Rafaela Barreto CAZAROTO1, Diego Pedruzzi DRAGO1, Iago Luke FABRI1, Hérica CHISTÉ1, Leidiane ZINGUER1 & Marcus Vinicius Sandoval PAIXÃO1*

1Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa *email: [email protected]

INTRODUÇÃO

O maracujazeiro (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Degener) é uma planta cujo fruto tem grande importância econômica, alimentícia e social, sendo cultivado principalmente nos países tropicais (Bernacci, 2015). Os pomares de maracujazeiro são renovados a cada duas safras, gerando, assim, uma elevada demanda por mudas de boa qualidade, definindo uma boa produtividade à lavoura a ser implantada (Meletti, 2010). A propagação do maracujazeiro é feita normalmente por sementes (Oliveira et al., 1984), os quais originam plantas mais vigorosas e precoces que aquelas provenientes de enxertia (Maldonado, 1991). Para a produção de mudas de maracujá, recomenda que sejam utilizadas sementes novas, uma vez que o poder germinativo desta espécie decai rapidamente, passando de cerca de 90%, logo após a produção, para menos de 20%, 6 meses depois (Silva, 1998). A germinação da semente do maracujazeiro é influenciada negativamente pela ação de substâncias reguladoras de crescimento presentes no arilo que envolve as sementes; aliado ao fato de contribuir para uma germinação desuniforme, o arilo deve ser adequadamente retirado visando, além da obtenção da máxima germinação, a emergência rápida das plântulas (Pereira & Dias, 2000). A germinação de sementes é uma das fases críticas para o estabelecimento das plantas em condições naturais e fisiologicamente inicia-se com a embebição de água pela semente, seguida da retomada do crescimento do embrião quiescente e terminando com a protrusão de alguma parte deste por meio do tegumento. Na maioria dos casos, o primeiro órgão a emergir é a raiz primária. O processo de germinação inicia-se com o ressurgimento das atividades metabólicas que foram quase que paralisadas após a maturação da semente (Bewley & Black, 1982). Durante a germinação, o substrato utilizado também pode influenciar na porcentagem final de germinação devido à sua estrutura, aeração, capacidade de retenção de água e facilidade de infestação por patógenos, o que pode variar, dependendo do tipo de material utilizado (Scalon, 1992; Eschiapatia-Ferreira & Perez, 1997; Jeller & Perez, 1999). Os substratos mais utilizados compõem-se basicamente de solo mineral e matéria orgânica (Backes, 1988), uma vez que as condições ideais de um substrato dependem da faixa exigência das espécies cultivadas, dificilmente se encontra um material que por si só supre todas as condições para o crescimento destas plantas (Grolli, 1991). Além de que, os materiais disponíveis apresentam uma serie de problemas para as plantas e características muito diversas (Bordas et al., 1988), sendo por isso preferível a mistura de dois ou mais componentes para a obtenção de um substrato adequado (Backes et al., 1988), sendo que, os materiais adicionado em proporções inferiores ou iguais a 50% do volume total, são denominado condicionadores (Belle, 1990).

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É praticamente impossível encontrar um substrato com todas as características desejáveis, sendo, portanto, necessário misturar vários materiais para se conseguir um substrato próximo ao ideal (Araújo - Neto et al., 2009). O húmus de minhoca pode ser uma ótima alternativa de incremento para o substrato comercial em sistema de produção orgânico por ser rico em fósforo, cálcio e potássio. Também constitui um excelente fertilizante orgânico capaz de melhorar atributos físicos e biológicos do solo, podendo ser utilizado para a produção de mudas (Aquino & Loureiro, 2004). O objetivo da pesquisa foi avaliar a produção de mudas de maracujazeiro amarelo germinação/emergência de sementes de maracujá amarelo (P. edulis) e desenvolvimento inicial das plântulas maracujá amarelo (P. edulis) utilizando diferentes dosagens de húmus misturadaso a terra.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no viveiro de produção de mudas, sob tela de poliolefina com 50% de sombreamento, setor de viveiricultura do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES - Campus Santa Teresa), no período de outubro a dezembro de 2015, localizado na mesor região Central Espírito-Santense, cidade de Santa Teresa-ES, coordenadas geográficas 19º56’12”S e 40º35’28”W, com altitude de 155 m. O clima da região caracteriza-se como Cwa, mesotérmico, com estação seca no inverno e forte pluviosidade no verão (classificação de Köppen), com precipitação anual média de 1.404,2 mm e temperatura média anual de 19,9 °C, com máxima de 32,8 °C e mínima de 10,6 °C (Incaper, 2011). O delineamento experimental adotado foi em blocos casualizados (DBC), composto de 4 tratamentos, 4 repetições e 25 tubetes por parcela, totalizando 400 mudas. Os tratamentos foram compostos por diferentes tipos de substratos, a saber: T1 - Terra pura (testemunha100%); T2 -- Terra (90%) + húmus (10%); T3 -- Terra (80%) + húmus (20%); T4 -- Terra (70%) + húmus (30%). Os substratos foram acondicionados em tubetes pretos perfurados N-3, os quais e ficaram em repouso por 24 horas, para permitir um maior acondicionamento do substrato nos recipientes. Passado o período de repouso, as sementes foram retiradas dos frutos e lavadas para remoção da mucilagem, sendo a semeadura realizada com uma sementes por tubete, a uma profundidade de dois centímetros. Após a instalação do experimento em casa de vegetação, foi feita irrigação diariamente. Foram avaliadas as seguintes características: porcentagem de emergência (E) - as contagens foram efetuadas diariamente e tiveram inicio com o surgimento das primeiras plântulas; índice de velocidade de emergência (IVE) - foi avaliada através de um índice determinado pela fórmula de Maguire (1962); e o tempo médio de emergência (TME) - calculado segundo Labouriau & Valadares (1976). Passados 60 dias da emergência foram avaliados: comprimento da raiz (CR) (cm), comprimento da parte aérea (CPA) (cm), número de folhas (NF), massa verde de raízes (MVR) e da parte aérea (MVPA) e massa seca das de raízes (MSR) e da parte aérea (MSPA) (g). Os dados experimentais coletados foram submetidos ao teste de Shapiro-Wilks (p>0,05), para verificar a normalidade e à análise de variância, sendo as médias de cada característica comparadas pelo teste de Tuckey em nível de 5% de probabilidade.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os tratamentos utilizados não interferiram na emergência das plântulas de maracujazeiro amarelo (P. edulis), não houve diferenças estatísticas entre as médias para as características porcentagem de emergência (E), índice de velocidade (IVE) e tempo médio de emergência (TME) (Tabela 1). Os resultados obtidos para a emergência de plântulas de maracujazeiro amarelo (P. edulis), os quais variaram de 84,68 a 92,30%, estão próximos dos citados por Silva (1998), os quais relataram que, os substratos não interferem na emergência de plântulas quando a semente utilizada é de qualidade. Os mesmos autores destacaram que, normalmente, a emergência das plântulas ocorre entre 8 e 25 dias após o semeio, num percentual que varia de 50 a 90%, necessitando, pois, de desbaste e que este deve ocorrer o mais rápido possível, podendo ser feito por arranquio ou corte, tomando-se os devidos cuidados para que não ocorram danos ao sistema radicular da muda escolhida. Silva & Oliveira (2000), também não observaram diferenças significativas entre os substratos em todas as variáveis analisadas, mostrando que a semente de maracujazeiro não apresentou dificuldade para germinação e posterior emergência de plântulas.

Tabela 1. Emergência de plântulas de maracujazeiro amarelo (Passiflora edulis) Tratamentos E IVE TME (dias) Terra pura (100%) 84,68 a 2,21 a 14,53 a Terra (90%) + húmus (10%) 92,30 a 2,56 a 13,29 a Terra (80%) + húmus (20%) 88,85 a 2,46 a 13,27 a Terra (70%) + húmus (30%) 89,55 a 2,43 a 13,52 a Médias dos tratamentos seguidos da mesma letra em cada coluna, não diferem estatisticamente em nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tuckey. Em que: E = porcentagem de emergência; IVE = índice de velocidade de emergência; TME = tempo médio de emergência.

Na Tabela 2 estão presentes os valores médios do comprimento, massa verde e seca bem como número de folhas de plantas de maracujazeiro amarelo (P. edulis). O comprimento da parte aérea foi favorecido nos tratamentos que possuem húmus em sua composição, apresentando melhores resultados com 30% de húmus misturados a 70 % de terra. Quanto ao comprimento das raízes, não foi verificado diferenças significativas, provavelmente porque as mesmas alcançaram o limite inferior do recipiente utilizado devido ao longo período estipulado para avaliação. Assim, todos os tratamentos forneceram boas condições de crescimento radicular da muda. Quanto ao número de folhas por plântula observou-se médias semelhantes entre os tratamentos contendo de húmus, os quais se sobressaíram numericamente em relação à testemunha, entretanto não diferiram estatisticamente desta, sendo as melhores médias para o tratamento Terra (70%) + húmus (30%), com diferença significativa para a testemunha que apresentou menor número de folhas (Tabela 2). Quanto às massas do sistema radicular, estas apresentaram diferenças estatísticas tanto para massa verde quanto para massa seca, destacando-se como melhor o substrato o que contendo continha 30% de húmus (Tabela 2).

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Os maiores valores médios para as massas verde e seca da parte aérea foram obtidos na mistura terra (70%) + húmus (30%), porém sem diferenças significativas entre todos os tratamentos. Já para a massa seca a média obtida no referido substrato diferiu estatisticamente para do substrato com terra (90%) + húmus (10%) e da testemunha, sugerindo que o húmus atuou diretamente na formação e desenvolvimento da parte aérea da planta. Os resultados corroboram com os encontrados por Araújo et al. (2013), os quais verificaram que uso de substrato composto por terra e húmus na proporção 3:1 proporcionou os maiores valores de crescimento inicial em mamoeiro. Santos et al. (2014) obtiveram bons resultados com a utilização de substratos com 100% de húmus e com 10% de casca de arroz carbonizada mais 90% de húmus de minhoca na produção de mudas de maracujazeiro.

Tabela 2. Crescimento inicial de mudas de maracujazeiro amarelo (Passiflora edulis).

Tratamentos CPA CR NF MVR MVPA MSR MSPA Terra pura (100%) 11,52 b 20,08 a 4,95 b 1,19 c 2,44 b 0,22 c 0,77 c Terra (90%) + húmus (10%) 13,61 ab 20,22 a 5,60 b 1,51 bc 3,30 ab 0,35 bc 0,89 bc Terra (80%)+ húmus (20%) 14,25 ab 20,17 a 5,40ab 1,84 bc 3,74 ab 0,39 abc 1,16 ab Terra (70%)+ húmus (30%) 14,28 ab 20,23 a 5,95 ab 2,78 a 4,12 ab 0,56 a 1,23 a Médias dos tratamentos seguidos da mesma letra em cada coluna, não diferem estatisticamente em nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tuckey. CPA = comprimento da parte aérea (cm); CR= comprimento da raiz (cm); NF = número de folhas; MVR = massa verde da raiz (g); MVPA =massa verde da parte aérea (g); MVSR =massa seca da raiz (g); MSPA = massa seca da parte aérea (g).

CONCLUSÃO

O substrato composto por terra 70% + húmus 30%, pode ser utilizado indicado para a produção de mudas de maracujazeiro amarelo (P. edulis).

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VEGETAIS RUDERAIS INVASORES EM CAMPOS DE FUTEBOL

Jacimar Berti BOTI1*, Diogo Rocha BOTI2 & Fernando Zanotti MADALON3

1 Professor aposentado do Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa 2Professor do Estado -Vitória-ES 3Mestrando em produção Vegetal Ufes *[email protected]

INTRODUÇÃO

Vegetais ruderais ou plantas invasoras, daninhas ou mato, são vegetais que recebem as mais diferentes terminologias mencionadas por vários autores. Quando estas plantas crescem juntas de plantas cultivadas, podem competir com estas por: água, luz e nutrientes, reduzindo-lhes a produtividade, tendo alta interferência no desenvolvimento de gramados, e em alguns casos, exercendo inibição química, causando prejuízos consideráveis (Albuquerque, 2009; Lorenzi, 2008). Em campos de futebol, as plantas invasoras, daninhas ou ruderais são consideradas impertinentes, por deixar a gramado com aspecto de abandono ou campo mau cuidado. Os diferentes campos de futebol possuem determinadas características, como a espécie de grama utilizada, a constante manutenção e as técnicas de cuidados adotadas (Godoy et al, 2012). Os gramados onde se pratica o futebol necessitam estar com bom aspecto, ser lisos, macios e bem nivelados, para permitir uma boa condição para a prática do futebol, pois os jogadores precisam ter segurança em todos os seus movimentos dentro das quatro linhas do jogo, diminuindo com isso, o risco de quedas e algumas lesões (informação pessoal). Entre as espécies de gramas mais cultivadas nos gramados brasileiros, destacam- se: Batatais ou Bahia (Paspalum notatum), São Carlos (Axonopus compressus), Santo Agostinho (Stenotaphrum secundatum) e Esmeralda (Zoysia japonica). Essa última, trata-se de uma grama mais macia (Pimenta, 2003) A grama precisa ser uniforme, apresentando também um aspecto visual agradável aos olhos dos torcedores, estando bem distribuída, sem falhas e devidamente enraizada com um crescimento nivelado, porém sem estar danificada em determinados pontos, pois pode ocorrer o risco de segurar a chuteira do jogador e causando uma torção no joelho do atleta (Godoy et al., 2006; Silva,2007). Atualmente, existem uma revolução técnica que vem acontecendo com diversos gramados cultivados, sendo crescente o interesse pelas técnicas modernas de produção, implantação e manutenção desses gramados, evitando assim a proliferação de plantas invasoras (Souza, 2012). Identificar as plantas invasoras e conhecer sua biologia, tem uma importância fundamental para o manejo dessas plantas, principalmente, conhecendo o tipo de solo, local onde esta se desenvolve, para os seus respectivos controles (Albuquerque, 2009). Atualmente, as práticas mais conhecidas para o controle das plantas invasoras em campos de futebol são: o arranquio manual, a capina e o controle químico (informação pessoal). O presente trabalho teve como objetivo identificar as plantas invasoras em quatro campos de futebol, sendo três com grama batatais (Paspalum notatum L.) e um menor com grama esmeralda (Zoysia japonica Steud).

113 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi conduzido em quatro campos de futebol, durante o mês de setembro de 2010. Sendo três deles localizados no Campus do IFES Santa Teresa (19 48’36”S e 40 40’33”W), e outro campo localizado na comunidade de São João de Petrópolis, distrito de Santa Teresa-ES (19.48’37”S e 40 34’46”W), três com medidas oficiais de 90m/110m e um menor, medindo 15m/22m As plantas foram localizadas nos respectivos campos de futebol, coletadas, acondicionadas em folhas de jornais, prensadas e com auxílio de livros técnicos e chaves botânica, a grande maioria foi identificada no laboratório de Biologia do Ifes Santa Teresa, outras foram identificadas no Herbário da Universidade Federal de Viçosa-MG.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram coletados 76 espécimes, identificando-se 59 espécies, dentre elas, as mais freqüentes foram: carrapicho-beiço de boi (Desmodium incanum D.C.) encontrada em todos os campos amostrados (Figura 1); capim braquiária (Brachiaria decumbens Stapf) encontrada nos três campos de maior dimensão; capim marmelada (Brachiaria plantaginea Link) encontrada em apenas um dos campos com maior dimensão; capim carrapicho (Cenchrus echinatus L.) encontrada em dois campos maiores; grama seda (Cynodon dactylon L.) também encontrada em todos os campos amostrados; capim mão de sapo (Dactyloctenium aegyptium L.); capim colchão (Digitaria horizontalis Willd.); capim pé de galinha (Eleusine indica L.) ambos encontrados no campo de menor dimenssão; capim amargoso (Digitaria insularis L.); capim colonião (Panicum maximum Jacq); capim quicuio (Pennisetum clandestinum Hochst.) encontrados em um dos campos com maior dimensão; capim natal (Rhynchelytrum repens Willd.) encontrado somente no campo menor; tiririca (Cyperus rotundus L.) encontrado em dois campos de futebol maiores, e picão preto (Bidens pilosa L.) foi amostrado somente no campo menor.

Figura 1. carrapicho-beiço de boi Desmodium incanum D.C.

A grama batatais (P. notatum) é muito rústica e mais espessa que a grama esmeralda, acreditamos que essa espécie oferece mais resistência às plantas invasoras, sendo que foi encontrado um menor número de espécimes ruderais nesses campos de futebol. A batatais é menos comercializada no Brasil e encontra-se em diversos campos

114 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 de futebol (Gurgel, 2003). A grama esmeralda e a mais cultivada no Brasil por ser mais lisa, macia e menos rústica (Zanon & Pires, 2010). Devido a essas características e oferecer também mais umidade ao terreno, observamos que pode ocorrer nesses gramados um ambiente propício ao desenvolvimento de plantas invasoras, pois foi o que constatamos nesse estudo, com um maior número de espécimes coletados (23) no campo com grama esmeralda, pois reforçamos esses argumentos em (Albuquerque, 2009) relatando que as espécies daninhas tem alta interferência nos gramados, sendo que a infestação destas pode até mesmo destruir o gramado completamente. Segundo Paula (1999), entre 20 e 30% da produção nacional de grama é perdida, devido à infestação de plantas daninhas. Diante do exposto, há relatos de que as plantas invasoras, uma vez instaladas, podem reproduzir-se mais rápido do que as gramas, aumentando sua população e dominando o local (Nordi & Landgraf, 2009). Para se ter um bom gramado, é de suma importância o combate às plantas invasoras, dentre eles, o controle preventivo, controle cultural, mecânico e manual (Albuquerque, 2009).

CONCLUSÃO

Essas espécies de plantas ruderais invasoras em campos de futebol são facilmente observadas em diversos gramados, principalmente carrapicho-beiço de boi (Desmodium incanum) que foi o mais encontrado nesse estudo. Acreditamos que os produtores possam fazer um manejo mais eficiente na produção dessas gramas para o combate a essas espécies invasoras. Esperamos que esse levantamento das espécies invasoras em campos de futebol possa ajudar aos futuros pesquisadores para que se tenha um mapeamento regional dessas espécies, possibilitando assim, um controle mais adequado.

LITERATURA CITADA

Albuquerque, B.C. 2009 Estudo da viabilidade técnica do cultivo de gramas Esmeralda (Zoysia japônica) na região de Formosa GO. Boletim Técnico das Faculdades Integradas Departamento de Agronomia, Planaltina, DF, 24p.

Godoy, L.J.G.; Villas Bôas, R.L.; Bull, L.T. 2006 O gramado encobre segredos. Agrianual São Paulo, Instituto FNP, 432p.

Godoy, L.J.G.; Villa Bôas, R.L.; Backes, C.; Lima, C.P. Santos, A. J. M. 2012. Nutrição, adubação e calagem para produção de gramas. Botucatu: FEPAF. 146 p.

Gurgel, R. G. A. 2003 Principais variedades e espécies de gramas. In: Simpósio Sobre Gramados. Botucatu. Anais. Universidade Estadual Paulista, 1 CD-ROM.

Lorenzi, H. 2008 Plantas daninhas do Brasil: terrestres, aquáticas, parasitas e tóxicas. 4. ed. Nova Odessa: Plantarum,.640p.

Nordi, J. C.; Landgraf, P. R. C. 2009 Composição florística e fitossociologia da comunidade infestante em gramado de Paspalum notatum Flügge no laboratório de botânica da Universidade de Taubaté, SP. Revista Biociências, Unitau, v.15, n.2.

115 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Pimenta, C.H. 2003. Produção de gramas. In: I Sigra – “Simpósio sobre gramados – produção, implantação e manutenção”, Botucatu. Anais. FCA/Unesp. Silva, A. A. 2007 Tópicos em manejo de plantas daninhas. 1a ed. Viçosa, MG, Editora UFV, 367p.

Souza, L. A. 2012. Deposição do herbicida 2,4-D amina com diferentes volumes e pontas de pulverização em plantas infestantes. Rev. Ciênc. Agron. v. 43, n. 1, p. 78-85.

Zanon, M. E.; Pires, E. C. 2010. Situação atual e perspectivas do mercado de gramas no Brasil. In: Godoy, L. J. G. et al. Tópicos atuais em gramados II. Botucatu: Unesp, Faculdade de Ciências Agronômicas, 205 p.

116 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

AMARYLLIDACEAE J. ST.-HIL. NO ESPÍRITO SANTO, BRASIL: RESULTADOS PRELIMINARES

Renara Nichio AMARAL1,3* & Anderson ALVES-ARAÚJO2,3

1Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS, Programa de Pós Graduação em Botânica - PPGBot 2Universidade Federal do Espírito Santo – UFES/CEUNES 3Laboratório de Sistemática e Genética Vegetal *[email protected] INTRODUÇÃO

Amaryllidaceae J. St.-Hil. é uma família de monocotiledôneas que se encontra inserida na ordem Asparagales juntamente com famílias como Orchidaceae, Asparagaceae e Iridaceae (APG IV, 2016). Muitas espécies da família possuem potencial ornamental e alguns dos gêneros mais frequentemente utilizados são AmaryllisL., Narcissus L., Zephyranthes Herb.e Hippeastrum Herb. A família possui 73 gêneros e 1.605 espécies com ampla distribuição geográfica, porém são principalmente tropicais e subtropicais com centros de diversidade na América do Sul, África do Sul e a zona mediterrânea da Europa e da África (Arroyo &Cutler, 1984; Meerow, 2004). Amaryllidaceae está dividida em três subfamílias monofiléticas baseadas em caracteres morfológicos, moleculares e bioquímicos: Amaryllidoideae, Allioideae e Agapanthoideae (APG IV, 2016; Meerow & Snijman, 1998; Meerow et al.,1999). Os representantes americanos de Amaryllidaceae são ervas bulbosas com folhas simples, sésseis ou pseudo-pecioladas, dísticas ou rosuladas, com inflorescências umbeliformes uni a multifloras, protegidas por brácteas espatais terminais, que podem ser livres ou conadas; flores vistosas e bissexuais, eretas ou declinadas, com três sépalas, três pétalas e seis estames, mais raramente cinco, declinados ou eretos, distribuídos em dois verticilos, subiguais ou de tamanhos diferentes, os filetes estão inseridos na fauce e as anteras são geralmente dorsifixas, raramente basefixas, com deiscência longitudinal. O estilete é filiforme e apresenta estigma quepode ser capitado, trilobado ou trífido (Merrow & Snijman, 1998; Merrow, 2004). No Brasil são registrados 18 gêneros, quatro deles são exclusivamente brasileiros: Cearanthes Ravenna, GriffiniaKer Gawl., Tocantinia Ravenna, Worsleya Traub e 139 espécies (BFG, 2015). O Espírito Santo, considerado o sétimo estado mais rico do Brasil em termos de espécies de angiospermas (Dutra et al., 2015), representando cerca de 16,5% da riqueza total de espécies no Brasil (BFG, 2015),está incluído no Corredor Central da Mata Atlântica (Aguiar et al., 2005), uma das principais regiões de endemismo de plantas no Brasil (IPEMA, 2005). Entre as espécies de angiospermas ocorrentes no estado, muitas são restritas e atualmente classificadas como ameaçadas (BFG, 2015; Martinelli & Moraes, 2013). O gênero Griffinia, endêmico do Brasil com ocorrência para o Espírito Santo, possui muitas espécies categorizadas como em perigo ou criticamente em perigo (Martinelli & Moraes, 2013). Informações taxonômicas com chaves de identificação para as espécies da família ocorrentes no Brasil são relativamente escassas, onde se pode citar os trabalhos realizados por Dutilh (1987), Dutilh (1996), Alves-Araújo et al. (2009), Oliveira et al. (2010), Oliveira et al. (2013) e Amaral-Lopes & Cavalcanti (2015). E dificuldades na interpretação e utilização de caracteres vegetativos de Amaryllidaceae são comumente relatadas e ditas como pouco informativas à taxonomia da família. Desta forma, diante

117 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 do exposto e das escassas informações disponíveis acerca das espécies de Amaryllidaceae no Brasil e, especialmente, das espécies ocorrentes no Espírito Santo, o presente estudo se propôs a realizar o tratamento taxonômico das espécies da família nativas do estado.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O Espírito Santo possui área de aproximadamente 46.078 km2equivalente a 0,53% da área do Brasil. Localizado na porção oriental da Região Sudeste, limitando-se ao norte com o Estado da Bahia, a leste com o Oceano Atlântico, ao sul com o Estado do Rio de Janeiro e a oeste com o Estado de Minas Gerais.Situado na região tropical, apresentando um clima quente e chuvoso, com temperaturas médias anuais de 20° e 25° C e volume de precipitação superior a 1.400 mm por ano, especialmente concentrada no verão (Antongiovanni & Coelho, 2005; Governo do Estado, 2010). Coletas e herborização Expedições de coleta direcionadas estão sendo realizadas buscando inventariar as espécies da família no Espírito Santo. As amostras estão sendo coletadas e herborizadas de acordo com os procedimentos usuais de trabalhos de campo e de herborização (Bridson & Forman, 1998) e são acompanhadas de seus respectivos registros fotográficos e dados de coordenadas geográficas por meio do aparelho de GPS (Global Positioning System)como forma de obtenção de informações sobre a distribuição geográfica e aspectos ecológicos das espécies estudadas. Quando necessário, amostras adicionais foram coletadas e acondicionadas em recipientes adequados e preservadas em álcool etílico 70%, para estudos morfológicos e posterior identificação. Dada a peculiaridade morfológica do grupo taxonômico em questão, indivíduos encontrados em campo em estádio vegetativo foram levados para a Universidade Federal do Espírito Santo e serão mantidos sob cultivo. As coleções botânicas VIES (Universidade Federal do Espírito Santo), MBML (Museu de Biologia Profº Mello Leitão), CVRD (Herbário da Reserva Natural Vale) estão sendo visitadas e consultadas de modo a auxiliar na busca e compreensão de materiais provenientes da área de estudo.

Análise de dados

A identificação dos táxons está sendo realizadaa partir de bibliografias especializadas, por meio do método comparativo de vouchers e consultas aos tipos nomenclaturais. A caracterização dos táxons baseia-se no material examinado. O conjunto de características observadas é organizado em uma matriz de caracteres morfológicos que será utilizada para a descrição de cada táxon.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir de levantamento de espécies de Amaryllidaceae realizado através de consulta a Flora do Brasil (BFG, 2015), a Lista do Espírito Santo (Dutra et al., 2015), das espécies registradas em herbários indexados ao speciesLink/CRIA e de espécies

118 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 coletadas em expedições a campo obteve-se, até o momento, um total de 17 táxons da família, tanto nativos quanto naturalizados, registrados para o Espírito Santo (Tabela 1 e Figura 1).

Hippeastrum é o gênero mais representativo até o momento com nove espécies, representando 53% da riqueza de espécies de Amaryllidaceae registradas para o estado, seguido de Griffinia com seis espécies.

Figura 1. A -Hippeastrum aulicumHerb. (mantido sob cultivo); B e C-Griffinia liboniana C. Morren; D - Hippeastrum puniceum(Lam.) Kuntze; E-Hippeastrum reticulatum Herb.;F - Hippeastrum glaucescens(Mart.) Herb.; G – Crinum americanum L.

119 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Tabela 1. Lista de Espécies de Amaryllidaceae ocorrentes no Espírito Santo. Gênero Espécie Crinum americanum L. scabrumHerb. Griffinia colatinensis Ravenna concinna (Mart. ex Schult. & Schult.f.) Ravenna espiritensis Ravenna hyacinthina Ker Gawl. liboniana C. Morren parviflora Ker Gawl. Hippeastrum aulicum Herb. brasilianum (Traub & J.L.Doran) Dutilh calyptratum Herb. correiense(Bury) Worsley glaucescens (Mart.) Herb. puniceum (Lam.) Kuntze reginae(L.) Herb. reticulatum Herb. striatum (Lam.) Moore

Segundo CNCFlora (2017), Griffinia colatinensis e G. parviflora estão categorizadas como criticamente em perigo (CR), enquanto G. espiritensis, G. hyacinthina, G. liboniana, Hippeastrum brasilianum, H. reginae e H. striatum encontram-se categorizadas como em perigo (EN). As demais espécies não tiveram suas categorias de ameaça definidas até o momento. Estes dados evidenciam a importância de estudos como este para maior compreensão das espécies da família, fornecendo assim conhecimento necessário para que estratégias de conservação para as espécies ameaçadas possam ser desenvolvidas.

CONCLUSÃO

Embora os resultados sejam preliminares, a diversidade taxonômica da família deve-se à grande variedade de hábitats em que as espécies de Amaryllidaceae são encontradas no estado. Este número tende a crescer, uma vez que os esforços de coleta estão sendo direcionados. Tais dados reforçam a importância de estudos taxonômicos para o conhecimento da flora do Estado,e, além disso, contribuem para a conservação e manejo das Unidades de Conservação reconhecidas no Espírito Santo.

5. LITERATURA CITADA

Aguiar, A.P.; Chiarello, A.G.; Mendes, S.L. & Matos, E.N. 2005. Os Corredores Central e da Serra do Mar na Mata Atlântica brasileira. In: Galindo-Leal, C. & Câmara, I.G. (eds.). Mata Atlântica: biodiversidade, ameaças e perspectivas. Fundação SOS Mata Atlântica, Conservação Internacional e Centro de Ciências Aplicadas à Biodiversidade, Belo Horizonte. Pp. 119-132.

Alves-Araújo, A.; Dutilh, J. H. A. & Alves, M. 2009. Amaryllidaceae s.s e Alliaceae s.s no Nordeste Brasileiro. Rodriguésia60 (2): 311-331.

120 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Amaral-Lopes, A. C. &Cavalcanti, T. B. 2015. Habranthus (Amaryllidaceae) do Brasil. Rodriguésia 66 (1): 203-220.

Antongiovanni, L.L. & Coelho, A.L.N. 2005. Panorama de desertificação do estado do Espírito Santo. MMA. p. 20-26.

APG IV (The Angiosperm Phylogeny Group). 2016. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG IV. Botanical Journal of the Linnean Society 181: 1–20.

Arroyo, S.C. & Cutler, D.F. 1984. Evolutionary and taxonomic aspects of the internal morphology in the Amaryllidaceae from South American and Southern Africa. Kew Bulletin 39: 467-498.

BFG 2015. The Brazil Flora Group. Growing knowledge: an overview of Seed Plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66 (4): 1085-1113.

Bridson, D. & Forman, L. 1998. The Herbarium Handbook.Richmond: Royal Botanical Garden, Lubrecht & Cramer Ltd., p. 348.

CNCFlora. in Lista Vermelha da flora brasileira versão 2012.2 Centro Nacional de Conservação da Flora. Disponível em . Acesso em 23 de abril 2017.

CRIA (Centro de Referência e Informação Ambiental). 2011. Specieslink - simple search. Disponível em http://www.splink.org.br/index, Acesso em 24/04/2017.

Dutilh, J. H. A. 1987. Investigações citotaxonônicasem Populações Brasileiras de Hippeastrum Herb. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas.

Dutilh, J. H. A. 1996. Biossistematica de quatro especies de Hippeastrum (Amaryllidaceae). Tese de Doutorado. Universidade de Campinas.

Dutra, V. F.; Alves-Araújo, A. & Carrijo, T. T. 2015. Angiosperm Checklist of Espírito Santo: using electronic tools to improve the knowledge of an AtlanticForest biodiversity hotspot. Rodriguésia 66 (4): 1145-1152.

Governo do Estado do Espírito Santo. 2010. Disponível em: Acesso em: 29 junho 2016.

IPEMA-Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica. 2005. Conservação da Mata Atlântica no Espírito Santo: cobertura florestal e unidades de conservação. IPEMA, Conservação Internacional, Vitória. 142p.

Martinelli, G. & Moraes, M.A. (orgs.). 2013. Livro vermelho da flora do Brasil. Andrea Jakobsson / Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 1100p.

121 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Meerow, A.W. 2004. Amaryllidaceae (Amaryllis family). In: N. Smith, S.A. Mori, A. Henderson, D.Wm. Stevenson & S.V. Heald (eds.). Flowering plants of the Neotropics. Princeton and Oxford, New York, p.410-412.

Meerow, A. W.; Fay, M. F.; Guy, C. L.; Li, Q.; Zaman, F. Q. & Chase, M. W. 1999. Systematics of Amaryllidaceae based on cladistic analysis of plastid rbcL and trnL-F sequence data. American Journal of Botany 86 (9):1325-1345. Meerow, A. W. & Snijman, D. A. 1998. Amaryllidaceae. In: K. Kubitzki, H. Huber, P. J. Rudall, P. S. Stevens, T. Stüzel, & K. Kubitzki (Ed.), The families and genera of vascular plants. Vol. III. Flowering plants, : Lilianae (except Orchidaceae). pp. 83-110. Springer. Berlin.

Oliveira, R. S., Dutilh, J.H.A.& Sano, P. T. 2010. Habranthus (Amaryllidaceae) da Cadeia do Espinhaço, Minas Gerais e Bahia, Brasil. Rodriguésia, 61 (3): 491- 503.

Oliveira, R.S; Semir J. & Dutilh. J. H. A. 2013. Four new endemic species of Hippeastrum (Amaryllidaceae) from Serra da Canastra, Minas Gerais State, Brazil. Phytotaxa 145 (1): 38–46.

122 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

COMMELINACEAE MIRB. NO ESPÍRITO SANTO, BRASIL: DADOS PRELIMINARES

Quélita dos Santos MORAES1*, RenaraNichio AMARAL2 & Anderson ALVES- ARAÚJO3

1Programa de Pós Graduação em Biodiversidade Tropical – PPGBT, Universidade Federal do Espírito Santo – UFES / Laboratório de Sistemática e Genética Vegetal - SGV 2Programa de Pós Graduação em Botânica – PPGBot, UniversidadeEstadual de Feira de Santana – UEFS 3Universidade Federal do Espírito Santo – UFES/CEUNES *[email protected]

INTRODUÇÃO

Commelinaceae Mirb. (Commelinales) (APG IV, 2016) é dividida duas subfamílias: Cartonematoideae (Cartonema R. Br., com 11 espécies australianas, e Triceratella Brenan, gênero monotípico ocorrente na África do Sul) e Commelinoideae, com 39 gêneros e aproximadamente 630 espécies, amplamente distribuída nas regiões tropicais e temperadas, sendo o gênero mais representativo Commelina L., com ca. 230 espécies (Faden & Hunt, 1991). Para o Brasil, 98 táxons são citados, dos quais 52 são endêmicos (BFG, 2015). No Espírito Santo, 29 espécies organizadas em 10 gêneros são registradas, sendo Dichorisandra J.C. Mikan o gênero mais rico com 13 espécies, seguido por Commelina L. (cinco spp.), e Tradescantia L. (três spp.) (BFG, 2015). Os representantes da família são ervas eretas ou decumbentes, às vezes trepadeiras, geralmente suculentas, terrestres, rupícolas, aquáticas, raro epífitas. Folhas alternas, dísticas ou espiraladas, raramente pecioladas (geralmente a lâmina apresentando um estreitamento na base, chamado de pseudopecíolo), com bainha fechada. Inflorescências tirsóides, terminais e/ou axilares ou basais, compostas por poucos ou numerosos cincinos, subtendidas por brácteas foliáceas ou envolvidas por brácteas espatáceas. Flores trímeras, actinomorfas ou zigomorfas; fruto cápsula loculicida, raramente indeiscentes, e sementes com uma caliptra por onde germina o embrião (denominada embrioteca) (Faden, 1998). A família exibe variação morfológica notável, principalmente nas flores e na inflorescência. Essa variação morfológica gerou interpretações discrepantes das relações e das classificações para a família (Evans et al., 2003). Além disso, as informações a respeito da caracterização taxonômica para as espécies de Commelinaceae existentes no Espírito Santo ainda são bastante escassas. Nesse contexto, com o propósito de contribuir com o estudo da família no estado, a presente proposta visa realizar o tratamento taxonômico das espécies capixabas para delimitação de gêneros e determinação das espécies e determinar a diversidade de Commelinaceae no Espírito Santo, Brasil, designando os caracteres morfológicos diagnósticos para as espécies de Commelinaceae ocorrentes no Espírito Santo, bem como elaborar chaves de identificação, ilustrações e mapas de distribuição geográfica.

123 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estado do Espírito Santo possui área de 46.008,12 km² e encontra-se integralmente no bioma Mata Atlântica (IESB, 2007). Localizado na porção oriental da Região Sudeste, limitando-se ao norte com o Estado da Bahia, a leste com o Oceano Atlântico, ao sul com o Estado do Rio de Janeiro e a oeste com o Estado de Minas Gerais. Situado na região tropical, apresentando um clima quente e chuvoso, com temperaturas médias anuais de 20° e 25° C e volume de precipitação superior a 1.400 mm por ano, especialmente concentrada no verão (Antongiovanni & Coelho, 2005).

Coleta de dados

A coleta do material botânico está sendo realizada de maneira exploratória, desde fevereiro/2017 até março/2018, priorizando as áreas de conservação do Estado. As amostras coletadas são submetidas às técnicas usuais em taxonomia vegetal (Bridson & Forman, 1998) e depositadas, prioritariamente, no Herbário VIES, com duplicatas para o RB sempre que possível [acrônimo de acordo com Thiers (2016)]. Visitas às principais coleções botânicas (VIES, CVRD, MBML e RB) estão sendo realizadas.

Análise de dados

A identificação dos táxons está sendo realizada por consulta às bibliografias específicas e tipos nomenclaturais, além do método comparativo de vouchers depositados nas principais coleções nacionais e internacionais. Os nomes dos autores seguirão o proposto pelo IPNI (2016). Os táxons ameaçados foram reconhecidos com base na “Lista de Espécies Ameaçadas do Brasil” (MMA, 2000) e, quando possível, classificados segundo critérios da IUCN (2017).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base no levantamento de dados disponíveis no SpeciesLink (2017), consulta a Flora do Brasil (BFG, 2015), na lista de angiospermas do estado do Espírito Santo (Dutra et al. 2015) e por identificações taxonômicas, oriundas de expedições de coletas já realizadas, 29 espécies foram registradas para o Espírito Santo até o momento (Tabela 1, Figura 1), sendo o gênero Dichorisandra J.C. Mikan o mais representativo (13 spp), seguido por Commelina L. (5 spp), Tradescantia L. (3 spp), Tripogadra Raf. (2 spp) e Aneilema R. Br., Callisia Loefl., Floscopa Lour., Gibasis Raf., Siderasis Raf. e Tinantia Scheidw. com apenas uma espécie cada. Das 36 espécies citadas, 10 estão de alguma forma categorizadas: Commelina benghalensis L., Commelina diffusa Burm.f., Commelina erecta L., e Tinantia erecta (Jacq.) Fenzl como pouco preocupante (LC); Tripogandra warmingiana (Seub.) Handlos como vulnerável (VU); Dichorisandra acaulis Cogn. e Siderasis fuscata (Lodd.) H. E. Moore como em perigo (EN) e Dichorisandra neglecta Brade categorizada como criticamente ameaçada (CR) (CNCFlora, 2017; IUCN, 2017).De acordo com BFG (2015), Dichorisandra acaulis Cogn., Dichorisandra neglecta Brade, Dichorisandra nutabilis Aona & M. C. E. Amaral, Dichorisandra velutina Aona & M. C. E. Amaral e Siderasis albofasciata M. Pell. são espécies com distribuição conhecida restrita ao Espírito Santo, evidenciando a importância de estudo com o grupo e

124 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 consequentemente a conservação das mesmas, visto que algumas espécies foram encontradas fora de unidades de conservação.

Tabela 1. Espécies de Commelinaceae Mirb. listadas para o Espírito Santo, Brasil.

Gêneros Espécies Aneilema brasiliense C.B.Clarke Callisia repens (Jacq.) L. Commelina benghalensis L. diffusa Burm.f. subsp. diffusa erecta L. obliqua Vahl rufipes Seub. var. rufipes Dichorisandra acaulis Cogn. albomarginata Lindenex Regel glabrescens (Seub.) Aona & M.C.E.Amaral hexandra (Aubl.) C.B.Clarke incurva Mart. ex Schult.f. neglecta Brade nutabilis Aona & M.C.E.Amaral . paranaësis D.Maia et al penduliflora Kunth procera Mart. ex Schult & Schult.f. pubescens Mart. ex Schult & Schult.f. tejucensis Mart. ex Schult & Schult.f. velutina Aona & M.C.E. Amaral Floscopa glabrata (Kunth) Hassk. var. glabrata Gibasis geniculata (Jacq.) Rohweder Siderasis albofasciata M. Pell. Tinantia erecta (Jacq.) Fenzl Tradescantia fluminensis Vell. zanonia (L.) Sw. zebrina Bosse Tripogandra diuretica (Mart.) Handlos warmingiana (Seub.) Handlos

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Figura 1.A. Aneilema brasiliense C.B.Clarke; B. Commelina benghalensis L.; C. e D. Dichorisandra nutabilis Aona & M.C.E. Amaral; E. Dichorisandra velutina Aona & M.C.E.Amaral; F. Tripogandra diuretica (Mart.) Handlos (Fotos A, B, e E: Moraes, Q.S.; foto C e D: Freitas, J.; foto F: Hollunder, R.K.).

CONCLUSÃO

Embora preliminares, a diversidade taxonômica de Commelinaceae deve-se à grande variedade de hábitats em que as espécies são encontradas no estado. Aproximadamente um terço das espécies ocorrentes no Brasil são registradas para o Espírito Santo e algumas delas restritas. Tais dados reforçam a importância de estudos taxonômicos para o conhecimento da flora do Estado, contribuindo para a conservação e manejo dentro e fora das áreas de conservação presentes no Espírito Santo.

LITERATURA CITADA

Antongiovanni, L.L. & Coelho, A.L.N. 2005. Panorama de desertificação do estado do Espírito Santo. MMA. 20-26 p.

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Evans T.M.; Sytsma, K.J.; Faden, R.B.; Givnish,T.J. 2003. Phylogenetic Relationships in the Commelinaceae: II. A Cladistic Analysis of rbcL Sequences and Morphology. Systematic Botany, 28(2): 270-292 p.

Faden, R. B. 1998. Commelinaceae. – In: Kubitzki, K. (ed.), he families and genera of vascular plants. Vol. 4. – Springer, pp. 109–128.

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127 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

ANGIOSPERMAS NAS FLORESTAS ESTACIONAIS DA APA PEDRA DO ELEFANTE, ESPÍRITO SANTO-BRASIL: DADOS PRELIMINARES

Jackson GURTLER1*, Renara Nichio AMARAL1, 2, Anderson ALVES-ARAÚJO1 & André Márcio AMORIM3

1 Centro Universitário Norte do Espírito Santo, CEUNES/UFES, Laboratório de Sistemática e Genética Vegetal - SGV 2 Universidade Estadual de Feira de Santana, UEFS, Programa de Pós Graduação em Botânica – PPGBot 3 Universidade Estadual de Santa Cruz, UESC, Herbário Centro Pesquisas do Cacau - CEPEC *[email protected]

INTRODUÇÃO

Segundo Ministério do Meio Ambiente, a Mata Atlântica é formada por um conjunto de formações florestais, onde se destacam as florestas ombrófila densa, ombrófila mista, estacional semidecidual, estacional decidual e ombrófila aberta, além de apresentar ecossistemas associados como as restingas, manguezais e campos de altitude. Atualmente os remanescentes desta formação vegetacional nativa estão reduzidos a cerca de 22% de sua cobertura original e encontra-se em diferentes estágios de regeneração, e destes apenas cerca de 7% estão bem conservados em fragmentos acima de 100 hectares. (MMA, 2017) Este bioma possui importância vital para aproximadamente 120 milhões de brasileiros que vivem em seu domínio, onde é gerado aproximadamente 70% do PIB brasileiro, e ainda presta importantes serviços ambientais. Como regular o fluxo dos mananciais hídricos, assegurar a fertilidade do solo, regula o equilíbrio climático e protege escarpas e encostas das serras, além de preservar um patrimônio histórico e cultural imenso, bem como belezas cênicas (MMA, 2017). As áreas protegidas avançaram expressivamente ao longo dos últimos anos, com a contribuição dos governos federais, estaduais e mais recentemente dos governos municipais além da iniciativa privada. Porém, a maior parte dos remanescentes de vegetação nativa permanece sem proteção. (MMA, 2017) Segundo Ribas et al., 2003, os esforços em inventariar a flora, somado a estudos de ecologia, são considerados fundamentais e prévios para embasar quaisquer atividades de uso, manejo, recuperação e conservação. Desta forma, os levantamentos são necessários, pois indicam a presença de espécies em um determinado tempo e espaço, permitindo assim às futuras gerações dados confiáveis de ocorrência e riqueza. Nesse sentido, o presente estudo visa realizar o levantamento florístico das angiospermas da floresta estacional semidecidual na APA Pedra do Elefante, Nova Venécia - ES para aumentar o conhecimento sobre a composição florística desta fisionomia, com intuito de auxiliar ações de conservação e recuperação ambiental no estado do Espírito Santo.

MATERIAL E MÉTODOS

O inventário das angiospermas da floresta estacional semidecidual da APA Pedra do Elefante foi realizado por meio de consulta as coleções de herbários indexados aos projetos speciesLink/CRIA, 2011 e Jabot, 2005 isso permitiu a elaboração de uma lista de angiospermas organizadas por famílias e gêneros conforme APG III, 2009, tal lista evidencia ainda o endemismo e o status de conservação das espécies inventariadas,

128 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 que de acordo com a classificação do “Projeto Lista Vermelha” temos os seguintes graus de ameaça, e que respectivamente significam: CR (Criticamente em Perigo) compreende espécies que estão enfrentando um risco extremamente elevado de extinção na natureza. DD (Dados insuficientes) Espécies que não possuem informações suficientes para sua categorização de risco de extinção baseada na distribuição e/ou status populacional mesmo esta sendo bem estudada, porém possui deficiência de dados de abundância e/ou distribuição. EN (Em perigo) São espécies que enfrentam um risco muito elevado de extinção na natureza. LC (Menos preocupante) Espécies que no momento não se qualificam como ameaçadas, inclui-se nesta categoria espécies abundantes e amplamente distribuídas. NE (Não avaliada) espécies que por algum motivo não receberam uma classificação, podendo estar em alguma outra classificação. NT (Quase ameaçada) Espécies que no momento não se qualificam como ameaçadas, mas estão perto ou suscetíveis de serem qualificadas em uma categoria de ameaça num futuro próximo e VU (Vulnerável) São espécies que enfrentam um risco de extinção elevado na natureza. Consultaram-se as coleções de 23 herbários, dos quais podemos destacar devido ao alto número de amostras o MBML (Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, Santa Teresa), MBM (Museu Botânico Municipal de Curitiba, Curitiba), CEPEC (Herbário do Centro de Pesquisas do Cacau, Itabuna), UPCB (Herbário da Universidade Federal do Paraná, Curitiba) VIES (Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória), NY (The New York Botanical Garden, Bronx) RB (Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Jardim Botânico).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao todo foram levantados 1.637 registros indexados aos projetos speciesLink/CRIA, 2011 e JABOT, 2005, porém após a exclusão dos registros duplicados bem como os taxa não identificados em nível específico, apurou-se 376 registros distribuidos em 84 famílias e todos os epitetos foram conferidos e corrigidos quando necessário de acordo com a Flora do Brasil 2020, que além de fornecer o nome correto e aceito, permitiu levantar o grau de ameaça de alguns registros de acordo com o “Projeto Lista Vermelha” do Centro Nacional de Conservação da Flora que em parceria com a rede de especialistas botânicos avaliam o grau de risco de extinção para as famílias das espécies que já foram avaliadas, bem como se o mesmo é endêmico ou não do Brasil, permitindo a elaboração da lista presente na Tabela 1.

Tabela 1. Lista das Espécies indexadas nos projetos speciesLink/CRIA, 2011 e JABOT, 2005, graus de ameaça CR (Criticamente em Perigo); DD (Dados insuficientes); EN (Em perigo); LC (Menos preocupante); NE (Não avaliada); NT (Quase ameaçada) e VU (Vulnerável), para o endemismo temos: Desc. (Desconhecido); End (Endêmica do Brasil); N End (Não Endêmica do Brasil). Taxon Ameaça Endemismo Acanthaceae Ruellia sceptrum-marianum (Vell.) Stearn NE Desc. Ruellia villosa (Nees) Lindau NE End Achariaceae Carpotroche brasiliensis (Raddi) A Gray NE End Amaranthaceae

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Hebanthe eriantha (Poir.) Pedersen LC N End Anacardiaceae Astronium glaziovii Mattick NE End Spondias mombin L. NE N End Spondias venulosa (Engl.) Engl. NE End Tapirira guianensis Aubl. NE N End Annonaceae Guatteria australis A.St.-Hil. LC End Apocynaceae Mandevilla fistulosa M.F.Sales et al. NE End Mandevilla grazielae M.F.Sales et al. NE End Mandevilla microphylla (Stadelm.) M.F.Sales & Kin.-Gouv. NE End Marsdenia fontellana Morillo & Carnevali DD End Marsdenia loniceroides (Hook.) E.Fourn. NE End Marsdenia macrophylla (Humb. & Bonpl. ex Schult.) E.Fourn. NE N End Oxypetalum pilosum Gardner NE End Prestonia coalita (Vell.) Woodson NE N End Tabernaemontana salzmannii A.DC. NE End Araceae Anthurium cleistanthum G.M.Barroso NE End Anthurium comtum Schott NE End Anthurium gomesianum Nadruz NE End Anthurium ianthinopodum (Schott ex Engl.) Nadruz & Mayo NT End Anthurium longifolium (Hoffmanns.) G.Don LC End Anthurium parasiticum (Vell.) Stellfeld LC End Anthurium scandens (Aubl.) Engl. NE N End Anthurium solitarium Schott NE End Heteropsis salicifolia Kunth NE End Monstera adansonii Schott NE N End Philodendron edmundoi G.M.Barroso NE End Philodendron stenolobum E.G.Gonç. NE End Syngonium vellozianum Schott NE N End Araliaceae Schefflera macrocarpa (Cham. & Schltdl.) Frodin NE End Arecaceae Allagoptera arenaria (Gomes) Kuntze LC End Astrocaryum aculeatissimum (Schott) Burret LC End Attalea humilis Mart. NE End Syagrus ruschiana (Bondar) Glassman VU End Aristolochiaceae Aristolochia gracilipedunculata F.González NE End Asparagaceae Herreria glaziovii Lecomte NE N End Herreria salsaparilha Mart. NE End Asteraceae

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Austroeupatorium inulaefolium (Kunth) R.M.King & H.Rob. NE N End Baccharis serrulata (Lam.) Pers. NE End Blainvillea acmella (L.) Philipson NE N End Cololobus rupestris (Gardner) H.Rob. E N End Conocliniopsis prasiifolia (DC.) R.M.King & H.Rob. LC End Cyrtocymura scorpioides (Lam.) H.Rob. NE End Elephantopus mollis Kunth NE N End Hebeclinium macrophyllum (L.) DC. NE N End Lepidaploa cotoneaster (Willd. ex Spreng.) H.Rob. LC N End Lepidaploa sororia (DC.) H.Rob. NE End Porophyllum ruderale (Jacq.) Cass. NE N End Praxelis clematidea (Griseb.) R.M.King & H.Rob. NE N End Praxelis pauciflora (Kunth) R.M.King & H.Rob. NE N End Tridax procumbens L. NE N End Begoniaceae Begonia bahiensis A.DC. E N End Begonia fischeri Schrank NE N End Begonia ibitiocensis E.L.Jacques & Mamede E N End Begonia lossiae L. Kollmann NE End Bignonia sciuripabulum (K.Schum.) L.G.Lohmann NE N End Bignoniaceae Jacaranda puberula Cham. LC End Adenocalymma subsessilifolium DC. NE End Adenocalymma validum (K. Schum.) L.G. Lohmann NE N End Fridericia conjugata (Vell.) L.G.Lohmann NE N End Fridericia subincana (Mart.) L.G.Lohmann NE End Mansoa difficilis (Cham.) Bureau & K.Schum. NE N End Sparattosperma leucanthum (Vell.) K.Schum. NE N End Boraginaceae Varronia curassavica Jacq. NE N End Bromeliaceae Aechmea maasii Gouda & W.Till NT End Aechmea phanerophlebia Baker NE End Aechmea ramosa Mart. ex Schult. & Schult.f. NE End Alcantarea trepida Versieux & Wand. NE End Billbergia amoena (Lodd.) Lindl. NE End Bromelia antiacantha Bertol. NE N End Cryptanthus venecianus Leme & L.Kollmann NE End Encholirium horridum L.B.Sm. E N End Hohenbergia augusta (Vell.) E.Morren LC End Orthophytum foliosum L.B.Sm. VU End Pitcairnia suaveolens Lindl. NE End Pseudananas sagenarius (Arruda) Camargo NE End Pseudananas sagenarius (Arruda) Camargo NE End Tillandsia recurvata (L.) L. NE N End Tillandsia stricta Sol. NE N End

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Tillandsia tenuifolia L. LC N End Tillandsia usneoides (L.) L. LC N End Vriesea appariciana E.Pereira & Reitz DD End Vriesea procera (Mart. ex Schult. & Schult.f.) Wittm. DD N End Burmanniaceae Burmannia capitata (Walter ex J.F.Gmel.) Mart. NE N End Cactaceae Brasiliopuntia brasiliensis (Willd.) A.Berger LC N End Coleocephalocereus fluminensis (Miq.) Backeb. E N End Lepismium cruciforme (Vell.) Miq. LC N End Pereskia aculeata Mill. LC N End Rhipsalis floccosa Salm-Dyck ex Pfeiff. LC N End Rhipsalis teres (Vell.) Steud. NE End Calophyllaceae Kielmeyera rupestris Duarte CR End Cannabaceae Trema micrantha (L.) Blume NE N End Cannaceae Canna indica L. NE N End Capparaceae Capparidastrum frondosum (Jacq.) Cornejo & Iltis NE N End Crateva tapia L. NE N End Celastraceae Hippocratea volubilis L. NE N End Cleomaceae Cleome dendroides Schult. & Schult.f. NE End Cleome microcarpa Ule NE End Cleome rosea Vahl ex DC. NE End Clusiaceae Clusia criuva Cambess. LC End Clusia nemorosa G.Mey. NE N End Combretaceae Terminalia mameluco Pickel NT End Commelinaceae Aneilema brasiliense C.B.Clarke NE N End Commelina benghalensis L. NE N End Commelina erecta L. NE N End Commelina obliqua Vahl NE N End Dichorisandra nutabilis Aona & M.C.E.Amaral NE End Gibasis geniculata (Jacq.) Rohweder NE N End Convolvulaceae Bonamia agrostopolis (Vell.) Hallier f. NE N End Jacquemontia martii Choisy NE End Merremia macrocalyx (Ruiz & Pav.) O'Donell NE N End Costaceae Costus spiralis (Jacq.) Roscoe NE N End

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Costus spiralis (Jacq.) Roscoe var. spiralis NE N End Cucurbitaceae Cayaponia tayuya (Vell.) Cogn. NE End Gurania tricuspidata Cogn. NE End Psiguria umbrosa (Kunth) C.Jeffrey NE N End Wilbrandia verticillata (Vell.) Cogn. NE End Cyperaceae Rhynchospora tenuis Link LC N End Bulbostylis truncata (Nees) M.T.Strong NE N End Cyperus coriifolius Boeckeler NE N End Cyperus dichromeniformis Kunth NE End Cyperus hermaphroditus (Jacq.) Standl. NE N End Cyperus luzulae (L.) Retz. NE N End Cyperus meyenianus Kunth NE N End Cyperus simplex Kunth NE N End Eleocharis interstincta (Vahl) Roem. & Schult. NE N End Trilepis lhotzkiana Nees ex Arn. NE N End Dilleniaceae Davilla latifolia Casar. NE End Dioscoreaceae Dioscorea cinnamomifolia Hook. NE End Dioscorea dodecaneura Vell. NE N End Dioscorea monadelpha (Kunth) Griseb. NE End Dioscorea multiflora Mart. ex Griseb. NE N End Dioscorea ovata Vell. NE N End Dioscorea piperifolia Humb. & Bonpl. ex Willd. NE N End Dioscorea polygonoides Humb. & Bonpl. ex Willd. NE Desc. Dioscorea pseudomacrocapsa G.M.Barroso et al. E N End Dioscorea sincorensis R.Knuth NE End Dioscorea stegelmanniana R.Knuth LC End Eriocaulaceae Actinocephalus polyanthus (Bong.) Sano NE End Erythroxylaceae Erythroxylum affine A.St.-Hil. NE End Erythroxylum columbinum Mart. NE End Erythroxylum nummularia Peyr. NE End Erythroxylum passerinum Mart. LC End Erythroxylum subrotundum A.St.-Hil. NE End Erythroxylum vacciniifolium Mart. NE N End Euphorbiaceae Acalypha brasiliensis Müll.Arg. NE N End Acalypha communis Müll.Arg. NE N End Cnidoscolus oligandrus (Müll.Arg.) Pax NE End Cnidoscolus urens (L.) Arthur NE N End Croton lundianus (Didr.) Müll.Arg. NE N End Croton triqueter Lam. NE N End

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Croton urticifolius Lam. NE N End Dalechampia brasiliensis Lam. NE End Euphorbia heterophylla L. NE N End Euphorbia hyssopifolia L. NE N End Manihot pohlii Wawra NE End Manihot tripartita (Spreng.) Müll.Arg. NE End Sapium glandulosum (L.) Morong NE N End Stillingia argutedentata Jabl. NE End Stillingia dichotoma Müll.Arg. NE End Fabaceae Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F.Macbr. LC N End Albizia polycephala (Benth.) Killip ex Record NE End Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan NE End Barnebydendron riedelii (Tul.) J.H.Kirkbr. NE N End Bauhinia forficata Link NE N End Bauhinia ovata (Bong.) Vogel NE End Canavalia parviflora Benth. NE End Centrosema arenarium Benth. NE End Chamaecrista desvauxii (Collad.) Killip NE N End Chamaecrista ensiformis (Vell.) H.S.Irwin & Barneby NE N End Chamaecrista flexuosa (L.) Greene NE N End Chamaecrista rotundifolia (Pers.) Greene NE N End Chamaecrista rotundifolia (Pers.) Greene var. rotundifolia NE N End Dalbergia frutescens (Vell.) Britton NE N End Dalbergia miscolobium Benth. NE End Deguelia costata (Benth.) A.M.G.Azevedo & R.A.Camargo NE End Dioclea violacea Mart. ex Benth. NE N End Inga striata Benth. NE N End Inga subnuda Salzm. ex Benth. NE End Inga subnuda subsp. luschnathiana (Benth.) T.D.Penn. NE End Machaerium lanceolatum (Vell.) J.F.Macbr. NE End Machaerium uncinatum (Vell.) Benth. NE End Parapiptadenia pterosperma (Benth.) Brenan NE End Rhynchosia phaseoloides (Sw.) DC. NE N End Senegalia tenuifolia (L.) Britton & Rose NE N End Senna neglecta (Vogel) H.S.Irwin & Barneby NE N End Gesneriaceae Paliavana prasinata (Ker Gawl.) Benth. NE End Sinningia brasiliensis (Regel & Schmidt) Wiehler & Chautems LC End Heliconiaceae Heliconia psittacorum L.f. NE N End Heliconia spathocircinata Aristeg. NE N End Icacinaceae Leretia cordata Vell. NE End Lamiaceae

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Aegiphila integrifolia (Jacq.) Moldenke NE N End Marsypianthes chamaedrys (Vahl) Kuntze NE N End Vitex polygama Cham. NE End Lentibulariaceae Utricularia subulata L. NE N End Loasaceae Aosa parviflora (Schrad. ex DC.) Weigend LC End Loranthaceae Struthanthus andersonii Kuijt NE End Lythraceae Cuphea carthagenensis (Jacq.) J.Macbr. NE N End Malpighiaceae Amorimia maritima (A.Juss.) W.R.Anderson NE End Amorimia rigida (A.Juss.) W.R.Anderson NE End Byrsonima coccolobifolia Kunth LC N End Byrsonima crassifolia (L.) Kunth NE N End Byrsonima intermedia A.Juss. NE End Byrsonima nitidifolia A.Juss. NE End Byrsonima pachyphylla A.Juss. NE N End Byrsonima vacciniifolia A.Juss. NE End Byrsonima variabilis A.Juss. LC End Heteropterys bahiensis Nied. CR End Heteropterys conformis W.R.Anderson CR End Heteropterys leschenaultiana A.Juss. NE End Hiraea fagifolia (DC.) A.Juss. NE N End Lophopterys floribunda W.R.Anderson & C.C.Davis LC End Niedenzuella acutifolia (Cav.) W.R.Anderson NE N End Niedenzuella glabra (Spreng.) W.R.Anderson NE End Stigmaphyllon auriculatum (Cav.) A.Juss. NE End Stigmaphyllon mikanifolium R.F.Almeida & Amorim NE End Tetrapterys crispa A.Juss. NE End Tetrapterys discolor (G.Mey.) DC. NE N End Tetrapterys phlomoides (Spreng.) Nied. NE N End Malvaceae Cavanillesia umbellata Ruiz & Pav. LC N End Gaya pilosa K.Schum. LC N End Pavonia multiflora A.St.-Hil. LC End Sida cerradoensis Krapov. NE End Sida rhombifolia L. NE N End Sida spinosa L. NE N End Triumfetta rhomboidea Jacq. NE N End Wissadula hernandioides (L.Hér.) Garcke NE N End Marantaceae Goeppertia brasiliensis (Körn.) Borchs. & S. Suárez LC End Goeppertia cylindrica (Roscoe) Borchs. & S.Suárez LC End Goeppertia singularis (H.Kenn.) Borchs. & S.Suárez DD End

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Maranta divaricata Roscoe NE End Maranta incrassata L.Andersson NE N End Myrosma cannifolia L.f. NE N End Melastomataceae Clidemia hirta (L.) D.Don NE N End Merianthera burlemarxii Wurdack E N End Merianthera parvifolia R.Goldenb., Fraga & A.P.Fontana NE End Miconia calvescens DC. NE N End Miconia latecrenata (DC.) Naudin NE End Miconia prasina (Sw.) DC. NE N End Pleroma fissinervia Schrank et Mart. ex DC. NE End Pleroma heteromalla D. Don (D.Don) NE End Pleroma marinana P.J.F. Guim. & Fraga NE End Meliaceae Cedrela odorata L. VU N End Moraceae Clarisia ilicifolia (Spreng.) Lanj. & Rossberg NE N End Dorstenia bonijesu Carauta & C.Valente LC End Dorstenia elata Hook. LC End Ficus clusiifolia Schott NE End Ficus eximia Schott LC End Ficus gomelleira Kunth NE N End Helicostylis tomentosa (Poepp. & Endl.) Rusby LC N End Sorocea hilarii Gaudich. NE End Myrtaceae Calyptranthes grandifolia O.Berg NE End Campomanesia adamantium (Cambess.) O.Berg NE N End Campomanesia eugenioides (Cambess.) D.Legrand ex Landrum LC End Eugenia florida DC. LC End Eugenia oblongata O.Berg NE End Eugenia sobraliana Giaretta & Fraga NE End Marlierea racemosa (Vell.) Kiaersk. NE End Myrcia eumecephylla (O.Berg) Nied. E N End Myrciaria delicatula (DC.) O.Berg NE N End Myrciaria tenella (DC.) O.Berg DD N End Plinia rivularis (Cambess.) Rotma NE N End Psidium brownianum Mart. ex DC. NE End Nyctaginaceae Guapira opposita (Vell.) Reitz NE N End Bougainvillea spectabilis Willd. NE End Ramisia brasiliensis Oliv. NE End Olacaceae Heisteria perianthomega (Vell.) Sleumer NE End Onagraceae Ludwigia erecta (L.) H.Hara NE N End

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Ludwigia octovalvis (Jacq.) P.H.Raven NE N End Orchidaceae Pseudolaelia citrina Pabst E N End Acianthera auriculata (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase LC N End Acianthera prolifera (Herb. ex Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase NE N End Anathallis sclerophylla (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase NE End Campylocentrum labiakii E. Pessoa & M . Alves NE End Eltroplectris triloba (Lindl.) Pabst NE N End Epidendrum campaccii Hágsater & L.Sánchez NE End Jacquiniella globosa (Jacq.) Schltr. LC N End Oncidium baueri Lindl. NE N End Prescottia plantaginifolia Lindl. ex Hook. NE End Prosthechea fragrans (Sw.) W.E.Higgins NE N End Sobralia sessilis Lindl. NE End Zygopetalum maculatum (Kunth) Garay LC N End Oxalidaceae Oxalis neuwiedii Zucc. LC End Passifloraceae Passiflora alata Curtis NE End Passiflora malacophylla Mast. LC End Passiflora misera Kunth NE N End Passiflora mucronata Lam. NE End Phyllanthaceae Phyllanthus caroliniensis Walter NE N End Phyllanthus subemarginatus Müll.Arg. VU End Phytolaccaceae Seguieria langsdorffii Moq. LC End Piperaceae Peperomia arifolia Miq. NE N End Peperomia ciliato-caespitosa Carv. -Silva & E.F.Guim. NE N End Peperomia rubricaulis (Nees) A.Dietr. NE N End Peperomia trinervis Ruiz & Pav. LC N End Piper aduncum L. NE N End Piper amalago L. NE N End Piper amalago var. medium (Jacq.) Yunck. NE N End Piper arboreum Aubl. NE N End Piper arboreum var. hirtellum Yunck. NE N End Piper boucheanum C.DC. NE N End Piper corcovadensis (Miq.) C.DC. NE End Piper divaricatum G.Mey. NE N End Piper umbellatum L. NE N End Plantaginaceae Achetaria crenata (Ronse & Philcox) V.C.Souza NE End Plumbaginaceae Plumbago scandens L. NE N End

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Poaceae Aulonemia amplissima (Nees) McClure NE End Chusquea ramosissima Lindm. NE N End Ichnanthus bambusiflorus (Trin.) Döll LC N End Ichnanthus grandifolius (Döll) Zuloaga & Soderstr. NE End Olyra latifolia L. NE N End Oplismenus hirtellus (L.) P.Beauv. NE N End Pharus latifolius L. LC N End Polygalaceae Bredemeyera floribunda Willd. NE N End Portulacaceae Portulaca hirsutissima Cambess. NE N End Talinum paniculatum (Jacq.) Gaertn. NE N End Talinum triangulare (Jacq.) Willd. NE N End Primulaceae Clavija spinosa (Vell.) Mez NE End Myrsine guianensis (Aubl.) Kuntze NE N End Rubiaceae Alseis floribunda Schott NE N End Borreria latifolia (Aubl.) K.Schum. NE N End Borreria verticillata (L.) G.Mey. NE N End Borreria verticillata (L.) G.Mey. NE N End Faramea martiana Müll.Arg. NE End Faramea truncata (Vell.) Müll.Arg. NE End Geophila repens (L.) I.M.Johnst. NE N End Guettarda pohliana Müll.Arg. NE N End Hexasepalum teres (Walter) J.H. Kirkbr. NE N End Margaritopsis astrellantha (Wernham) L.Andersson NE N End Psychotria deflexa DC. NE N End Rudgea jasminoides (Cham.) Müll.Arg. VU N End Sabicea brasiliensis Wernham NE N End Simira sampaioana (Standl.) Steyerm. NE End Rutaceae Almeidea rubra A.St.-Hil. NE N End Conchocarpus macrocarpus (Engl.) Kallunki & Pirani NE End Conchocarpus macrophyllus J.C.Mikan NE End Erythrochiton brasiliensis Nees & Mart. NE N End Neoraputia alba (Nees & Mart.) Emmerich ex Kallunki NE End Salicaceae Casearia sylvestris Sw. NE N End Santalaceae Phoradendron crassifolium (Pohl ex DC.) Eichler NE N End Sapindaceae Allophylus dioicus (Nees & Mart.) Radlk. NE End Allophylus racemosus Sw. NE N End Allophylus semidentatus (Miq.) Radlk. LC N End

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Paullinia revoluta Radlk. VU End Serjania caracasana (Jacq.) Willd. NE N End Serjania confertiflora Radlk. NE N End Thinouia scandens Triana & Planch. NE End Sapotaceae Chrysophyllum gonocarpum (Mart. & Eichler ex Miq.) Engl. NE N End Chrysophyllum splendens Spreng. NT End Simaroubaceae Simaba floribunda A.St.-Hil. LC End Siparunaceae Siparuna guianensis Aubl. NE N End Metternichia princeps J.C.Mikan NE End Nicotiana glauca Graham NE N End americanum Mill. NE N End Solanum didymum Dunal. NE N End Solanum hexandrum Vell. NE End Solanum insidiosum Mart. NE End Solanum pseudoquina A.St.-Hil. LC N End Solanum sycocarpum Mart. & Sendtn. NT End Turneraceae Turnera rubrobracteata Arbo NE End Ulmaceae Ampelocera glabra Kuhlm. NE End Urticaceae Cecropia pachystachya Trécul NE N End Pilea microphylla (L.) Liebm. NE N End Velloziaceae Vellozia candida J.C.Mikan NE End Vellozia variegata Goethart & Henrard NE End Verbenaceae Lantana camara L. NE N End Stachytarpheta crassifolia Schrad. NE End Stachytarpheta gesnerioides Cham. NE N End Violaceae Anchietea ballardii Paula-Souza NE End Vitaceae Cissus erosa Rich. NE End Cissus verticillata (L.) Nicolson & C.E.Jarvis NE N End Cissus verticillata (L.) Nicolson & C.E.Jarvis subsp. verticillata NE N End Clematicissus simsiana (Schult. & Schult.f.) Lombardi NE N End Vochysiaceae Vochysia oppugnata (Vell.) Warm. NE End

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As famílias botânicas com maior representatividade foram Fabaceae Lindl. (26 spp.); Malpighiaceae Juss. (21 spp.); Bromeliaceae A.Juss. (19 spp.); Euphorbiaceae Juss. (15 spp.); Asteraceae Bercht. & J.Presl e Rubiaceae Juss. (14 spp.); Orchidaceae A.Juss. e Piperaceae Giseke (13 spp.); Araceae Juss. e Myrtaceae Juss. (12 spp.); corroborando em parte com as observações de Oliveira-Filho & Fontes, 2000, que citam algumas dessas famílias como as mais ricas em espécies arbóreas para as Florestas Estacionais Semideciduais do domínio Atlântico. Das espécies levantadas, (Figura 2) segundo o grau de ameaça, a categoria VU, detém cerca de 1,58% das espécies, CR 0,78%, já LC detém 12,92 %, podendo indicar as espécies ruderais ou de ampla ocorrência que se encontram em um “status” pouco preocupante, no entanto 79,52% está classificadas como NE, ou seja, que cerca de 80% das plantas ocorrentes na Floresta Estacional Semidecidual não foram avaliadas, isso é preocupante pois a avaliação destas pode aumentar e muito a quantidade de espécies nas categorias de maior grau de ameaça (VU,CR), pois a maior parte destas formações florestais encontram-se em áres de solo férteis sendo as primeiras a sucumbir com a necessidade de expansão das fronteiras agrícolas, segundo DURIGAN et al., 2000.

Figura 1. Distribuição das espécies de acordo com o grau de ameaça das mesmas. CR (Criticamente em Perigo) compreende 3spp. NT (Quase ameaçada) e DD (Dados insuficientes) - 5 spp. cada, VU (Vulnerável) - 6 spp., EN (Em perigo) - 9 spp., LC (Menos preocupante) – 49 spp. e NE (Não avaliada) – 299 spp.

CONCLUSÃO

Como o conhecimento da flora de uma determinada região é considerado o passo inicial de qualquer ação de conservação, as coleções botânicas construídas a partir de coletas sistematizadas em uma mesma área ou região são ferramentas imprescindíveis, pois documentam a existência de espécies em um determinado tempo e espaço, registram elementos da flora de áreas preservadas e de áreas perturbadas e oferecem dados acerca da fenologia e da posição ecológica das espécies, Barbosa & Peixoto, 2003. Tal levantamento é um primeiro esforço buscando conhecer a flora da APA Pedra do Elefante, indicando a importância das coleções depositadas em herbários bem como sua

140 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 digitalização para compor bancos de dados acessíveis em diversos locais, de acordo com o grau de ameaça podemos explanar que tal formação ainda se encontra carente de estudos, pois a maiora das espécies levantadas encontram-se na categoria não avaliada, indicando que muito provavelmente as categorias mais preocupantes de ameaça podem estar subamostradas e seus verdadeiros valores sejam superiores aos aqui apresentados.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a CAPES pelo apoio financeiro a UFES Campus São Mateus, pela oportunidade, aos colegas de Laboratório, em especial agradeço ao meu orientador Anderson Alves-Araújo e meu co-orientador André Márcio Amorim, pelo tempo e paciência dispensados em minha orientação, aos meus pais, sobrinhos e irmãos e a todos que contribuíram de forma direta ou indireta na realização deste trabalho.

LITERATURA CITADA

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142 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

PROPOSTA DE UM MODELO DIDÁTICO DE ANATOMIA VEGETAL PARA PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL

Mateus Cruz LOSS1*, Niumaique Gonçalves da SILVA1, Jéssica Cristina DELCARRO1 & Elisa Mitsuko AOYAMA1

1Univerdidade Federal do Espírito Santo - Centro Universitário Norte do Espírito Santo *[email protected]

INTRODUÇÃO

A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino vêm ocupando, cada vez mais, um espaço significativo nas discussões docentes no contexto brasileiro. Amparado e fomentado pela legislação no inciso III do Art. 208 da Constituição Brasileira (Brasil, 1988) que se refere ao atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência “preferencialmente na rede regular de ensino” e pela Política Nacional de Educação Especial (Brasil, 1994), foi posteriormente alicerçada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n°. 9.394/96) e nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (Brasil, 2001). Numa abordagem de uma escola inclusiva como modelo de escola de qualidade, busca-se que essa promova permanência, acesso, sucesso no aprendizado e garantia do direito constitucional de todos os alunos, independentemente de suas necessidades. A escola inclusiva tem por finalidade formar o cidadão, “dando a ele a oportunidade de obter e manter um nível aceitável de aprendizagem” (Salamanca, 1994), de modo que a inclusão efetive. Para tal, formar o professor é muito mais que informar e repassar conceitos; é prepara-lo para um outro modo de educar, que altere sua relação com os conteúdos disciplinares e com o educando (Almeida, 2007). Na concepção histórico-crítica o professor é peça chave nesse processo de inclusão, uma vez que, ele é o mediador do processo ensino/aprendizagem (Saviani, 2001). Por outro lado, as escolas da rede de ensino regular não apresentam condições de trabalho favoráveis à inclusão, implicando no trabalho do professor quanto à escassez de materiais didáticos, móveis inadequados, salas de aulas superlotadas e ausência de recursos tecnológicos. Embora o acesso ao ensino regular e adequação as necessidades educativas sejam sanadas, os alunos com necessidades educacionais ainda enfrentam muitos obstáculos, principalmente com a falta de materiais adaptados (Vaz et al., 2012). Em se tratar da inclusão de alunos com deficiência visual, a falta de equipamentos em bom estado e de materiais adaptados para os alunos com baixa visão ou cegueira (Sá et al., 2007) encontram-se no ensino de biologia, devido ao conteúdo estar amplamente inserido no mundo microscópico (Maia et al., 2008), exigindo assim uma imensa capacidade de abstração do conteúdo por parte dos alunos e um trabalho docente dedicado e esclarecedor (Pires e Jorge, 2014). A produção e uso de modelos como metodologias alternativas para o ensino de deficientes visuais geram a criatividade, imaginação, estudo em grupos e habilidades manuais abrangendo alunos desde o nível fundamental até o superior, facilitando a integração aluno-aluno e aluno-professor (Oliveira et al., 2015), de forma que a representação das estruturas biológicas tridimensionais proporciona a facilitação

143 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 do aprendizado, relacionando o conteúdo escrito e figuras planas de livros didáticos (Orlando et al., 2009). Contudo, para obter um projeto inclusivo mudanças são necessárias nas propostas educacionais da maioria das escolas, uma nova organização curricular idealizada e executada pelos seus professores, diretores, pais, alunos e todos os que se interessam pela educação na comunidade onde está a escola (Mantoan, 2005). Neste sentido, o trabalho teve por objetivo construir um modelo histológico de anatomia vegetal a partir de um corte transversal de raiz de eudicotiledônea em crescimento secundário adaptado para deficientes visuais que possa ser usado na rede de ensino regular. Pois ao estudar a anatomia interna e externa da planta no ensino fundamental 2 e no ensino médio da rede pública (Brasil, 1998), a morfologia vegetal trás aspectos importantes das eudicotiledôneas ligado ao cultivo, processamento e consumo de alimentos que estão inseridos no cotidiano do aluno. Como exemplo, a cenoura, um modelo clássico de raiz de eudicotiledônea em crescimento secundário, caracterizado pelo elevado acúmulo de reserva de nutrientes, compondo uma raiz tuberosa presente na alimentação dos brasileiros.

MATERIAL E MÉTODOS

Para a produção do modelo histológico de anatomia vegetal, foi utilizado um esquema (Figura 1) de corte transversal de raiz de Daucus carota L. (cenoura) disponível no site do Laboratório de Anatomia Vegetal da Universidade Federal de Santa Catarina.

Figura 1. Esquema de corte transversal da raiz de cenoura disponibilizado pelo Laboratório de Anatomia Vegetal da UFSC e utilizado no presente estudo.

Os materiais elencados para a produção do modelo (Figura 2) foram escolhidos com base em dois critérios: viabilidade financeira e/ou durabilidade. São eles:  01 folha de isopor.  01 folha de EVA de qualquer cor.  2kg de massa de biscuit industrializada ou caseira.

144 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

 01 tinta para tecido de cor: marrom, preta, amarela, azul, verde, rosa e vermelha.  01 cola PVA (cola-branca).  Barbante de algodão.  01 cartolina preta.  01 corante para tecido: azul, vermelho e roxo.  01 folha de papel cartão.  01 reglete e punção.  02 colheres de sopa de areia.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com a escolha dos materiais, foi possível a produção do modelo da seguinte maneira:

1 – Corte da folha de isopor ao meio. Uma parte foi utilizada como base de fixação, de formato quadrangular e encapada com a cartolina. A outra parte foi cortada no formato do molde e encapada com a folha de EVA para evitar deformidades com o biscuit, esta segunda parte foi o “corte da raiz”.

2 – Cobertura do “corte da raiz” com uma camada de biscuit sem coloração. Esperou-se 24h para secagem completa.

3 – Produção das células individuais que compõem os tecidos vegetais e colagem no molde. Seguindo da camada exterior para a camada interior dos tecidos, foram dispostas: duas camadas de células retangulares de cor marrom (súber); duas camadas de células retangulares de cor cinza com espessura menor que a anterior (felogênio); duas camadas de células retangulares com bordas arredondadas de cor marrom escuro (feloderme); várias camadas de células ovais de cor amarela (parênquima); várias camadas de células circulares vazadas azuis (floema); uma camada de células retangulares verdes (câmbio vascular); várias camadas de células circulares rosa e algumas células circulares grandes vermelhas (xilema).

4 – Tintura e preparação dos barbantes: os barbantes foram tingidos e colados a fim de separar os conjuntos celulares. A extremidade pode oferecer ao usuário diferenças explícitas em sua estrutura da seguinte forma: o primeiro barbante foi colado entre a periderme e o córtex, sua extremidade conteve 2 nós e a ponta desfiada, cor azul. O segundo barbante foi colado entre o córtex e o floema, sua extremidade conteve 1 nó e ponta desfiada, cor vermelha. O terceiro barbante foi colado entre o floema e o câmbio vascular, com 2 nós e a ponta não conteve nós, sem cor. O último barbante foi colado entre o câmbio vascular e o xilema, sua extremidade conteve um nó e a ponta não foi desfiada, cor roxa.

5 – Deve ser feita uma mistura de cola, areia e tinta marrom para simulação do substrato ao qual a raiz está submetida. 6 – Produção de legendas em braile: com auxílio da reglete foram produzidas as legendas, estas foram coladas sobre as estruturas no modelo.

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Figura 2. Modelo produzido adaptado para alunos cegos ou com baixa visão. Lado esquerdo: modelo completo. Lado direito: foco na diferença entre as extremidades dos barbantes.

O uso do biscuit tem sido amplamente difundido para fins de construção de modelos como uma maneira eficaz de molde de estruturas (Pires e Jorge, 2014; Oliveira et al., 2015; Chaves et a.l, 2011; Orlando et al., 2009; Paulino et al., 2011). Esta massa resistente quando seca, é bastante maleável quando fresca e passível de coloração. Após a secagem, se torna um material resistente para uso em sala de aula, podendo ser manipulado facilmente pelos alunos. A escolha das cores permite certa facilidade na observação do modelo por alunos com baixa visão, visto o contraste de cores estabelecido que acompanham a variedade de tecidos vegetais no seguinte modelo. Assim, acompanha-se a coloração dos barbantes. Em detalhe na figura 2, os nós facilitam a diferenciação no conjunto de tecidos quando o toque nas células não é suficiente, assim como as legendas em braile. A utilização de barbantes e diversas cores e formatos para cada tecido através da massa de biscuit pode ser utilizada para as diversas áreas da histologia, cabendo a adaptação para cada especificidade. Em um estudo realizado por Oliveira et al., (2008), onde buscou-se dentre outros objetivos identificar os itens que compõem o consumo de legumes e verduras, foi identificado que a cenoura é o item de maior consumo nessa classe de alimento nas residências de alunos de escolas públicas. Fridrich (2015) e Rodrigues et al. (2015), relatam que a cultura de cenouras em hortas escolares é a cultura que demonstra melhor resultado para trabalho com os alunos, e que as hortas podem ser metodologias de ensino de agroecologia e educação ambiental.

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Estes importantes dados sobre a cenoura no meio escolar, demonstram a praticidade deste modelo em contextualizar o conteúdo com o cotidiano do aluno, facilitando a assimilação do conteúdo científico com o dia a dia em sociedade. Assim como afirmam Kato e Kawasaki (2007), o tratamento contextualizado de conteúdos facilita a aprendizagem visto a interação que ocorre entre o conhecimento, sujeito, objeto teoria e prática. Em perspectivas futuras, espera-se a aplicação do modelo em uma turma de ensino regular com algum aluno cego ou com baixa visão. Já que as metodologias empregadas foram embasadas em predições de situações e experiências pessoais dos autores.

CONCLUSÃO

Aceito a importância dos recursos didáticos como ferramenta de ensino para as escolas da rede regular quanto a sua estratégia didático-pedagógica para deficientes visuais, o modelo histológico tridimensional de anatomia vegetal apresenta texturas, cores contraste e tamanho que para os alunos de baixa visão e cegos são critérios importantes para a percepção tátil e visual na utilização do modelo como uma alternativa inclusiva eficaz no processo de ensino aprendizagem para aluno com necessidades especiais. Em contra partida, a disponibilidade de material didático que atenda os deficientes visuais e que mantenha a fidelidade na representação em relação ao modelo original são atividades que quando bem exploradas, oportunizam a interlocuções de saberes, a socialização e o desenvolvimento pessoal, social, psicológico e cognitivo (Santana, 2012). Dessa forma, conclui-se que metodologias alternativas são necessárias para incorporar o projeto educacional inclusivo, pois a pouca disponibilidade de material didático adaptado para alunos com deficiência visual (Pires et al., 2014), principalmente aqueles relacionados a histologia.

LITERATURA CITADA

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CONVOLVULACEAE Juss. NO PARQUE ESTADUAL DE ITAÚNAS, ESPÍRITO SANTO, BRASIL

Marianna Rigoni RODRIGUES*, Anderson ALVES-ARAÚJO

Centro Universitário Norte do Espírito Santo, Universidade Federal do Espirito Santo, Departamento de Ciências Agrarias e Biológicas (DCAB) * [email protected] INTRODUÇÃO Convolvulaceae Juss. possui distribuição cosmopolita e está claramente inserida na ordem Juss. Ex Bercht.&J.Pres.(APG IV, 2016) É monofiletica fortemente apoiada mudança estrutural no genoma do cloroplasto desta família. Um Intron normalmente encontrado no gene rpl2 de angiospermas é suprimido em todas as Convolvulaceae, incluindo Humbertia e Cuscuta (Steafanovic et al., 2002) e está dividida em duas subfamílias, Humbertioideae e Colvolvuloideae (Ferreira, 2009). Comumente herbáceas, arbustivas, frequentemente trepadeiras, ocasionalmente árvores,ou ainda holoparasitas (Cuscuta L.), sendo anuais ou perenes a grande maioria das espécies da família exibe folhas simples e alternas, sem estípulas, com inflorescências cimosase, às vezes reduzidas a uma única flor. As flores são dialissépalas ou raramente gamossépalas, gamopétalas, plicadas, rotáceas, campanuladas, hipocrateriformes ou infundibuliformes, com nervuras mesopétalas geralmente proeminentes, cinco estames, epipétalos, ovário súpero e frutos capsulares (Staples et al., 2012, Austin, 2004). Assim como vários outros grupos de plantas trepadeiras, as Convolvulaceae são reconhecidas pelos seus exemplos de polimorfismo morfológico, o que dificulta a delimitação específica (Austin, 2004; Austin et al., 2015). Utilizadas para diversos fins, como a medicina, culinária e ornamentação, a família possui espécies que se destacam em sua comercialização, uma delas é Ipomoeabatatas L. (batata doce) devido seu uso amplamente difundido tanto na medicina quanto na alimentação. Outra espécie difundida com fins medicinais é Ipomoea pes-caprae (L.) R.Br. indicada para problemas no estomago e no fígado. Além de espécies de Ipomoea L. Outrosgêneros como: Convolvulus L., Evolvulus L., Poranopsis Robertye Turbina Raf. São cultivadas como ornamentais (Meira et al., 2012; Ferreira, 2009). Para o Brasil, estão listados 22 gêneros e 403 espécies, ocorrendo em todos os domínios fitogeográficos brasileiros, destas dois gêneros são (Daustinia eKeraunea)e 180 espécies são endêmicas para o país (BFG - The Brazil Flora Group, 2015), sendo Ipomoea L. é o gênero mais representativo em número de espécie, com cerca de 600- 700, sendo que aproximadamente 148 destas ocorrem no Brasil sendo que 54 destas são endêmicas (BFG, 2015; Austin & Huáman,1996), seguidas de Evolvulus L.(100 spp.) (Ferreira et al., 2014), Jacquemontia Choisy(42spp.) (Buril, 2013) e Merremia Dennst.ex Endl (14spp.) (Bianchini & Ferreira, 2012; Buril, 2013). No Espírito Santo são registrados 12gêneros e 67 espécies (Dutra et al. 2015), dentre elas, Keraunea capixaba Lombardi, que é a única endêmica para o estado (Lombardi, 2014). Contudo, o conhecimento a respeito das espécies ocorrentes no Espírito Santo ainda é limitado, sendo o trabalho realizado por Falcão &Falcão (1981) o

150 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 primeiro registrado para família no estado com a listagem de seis gêneros e 22 espécies, atualmente o site Flora Do Brasil conta com 12 gêneros e 66 espécies para o estado. Atualmente o Parque Estadual de Itaúnas (PEI) cerca de 3.481 ha e encontra-se no extremo norte no estado do Espírito Santo, no município de Conceição da Barra, caracterizado por pertencer a fitofisionomia de restinga. Até o momento para a área há listado oito espécies para família segundo Souza et al.(2016),este trabalho buscou a atualização e o tratamento taxonômico das espécies de Convolvulaceae para o PEI este está incluso em um projeto maior sobre Flora do Espírito Santo.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo O Parque Estadual de Itaúnas (PEI) (Figura 1) possui cerca de 3.481 ha e encontra-se no extremo norte no estado do Espírito Santo, no município de Conceição da Barra. O PEI abriga uma grande diversidade de ambientes como as restingas, manguezais e fragmentos florestais de mata de tabuleiro. Apresenta relevo plano, com grande parte de seu solo arenoso, precipitação média anual, é de 83,3mm, e temperatura 20,7-27,1 C° (CEPEMAR, 2004).

Figura 1. Mapa de localização do Parque Estadual de Itaúnas (Fonte:SEAMA/IEMA, adaptado).

Possui ambientes terrestres, como a Mata de Tabuleiro, fragmento florestal em extinção no Espírito Santo, ambientes costeiros na faixa de cordão arenoso formador das restingas e dunas, ambientes estuarinos de mangues, uma extensão expressiva do rio Itaúnas e a mais representativa região de alagados do Estado (CEPEMAR, 2004)

Coleta de material

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As coletas de material botânico foram efetuadas entre Agosto/2015 a Abril/2016, quinzenalmente nos caminhos e trilhas existentes no PEI, de modo a abranger a maior área possível e amostrar todas as fisionomias encontradas no PEI. As amostras foram acompanhadas de seus respectivos registros fotográficos e seguiu-se os procedimentos usuais de trabalho de campo e de herborização (Bridoson & Forman, 1998). Quando possível, flores e frutos foram armazenados em álcool 70% para auxiliar nos processos de identificação e descrição do material coletado.

Tratamento Taxonômico As espécies foram identificadas através de bibliografias especializadas e por meio do método comparativo de vouchers e tipos nomenclaturais depositados nos principais herbários nacionais e internacionais, como o VIES, MBML RB CVRD (siglas de acordo com Thiers). Destes apenas o VIES foi visitado durante analise do material. O material foi descrito através de amostras coletadas e armazenadas em álcool 70% ou através de material de herbário (VIES), quando possível utilizou-se literatura especifica para identificação e descrição das espécies. Quando possível, táxons ameaçados foram identificados com base na Lista de Espécies Ameaçadas do Brasil (MMA,2000) e classificados segundo critérios da IUCN (2015).

RESULTADOS E DISCUSSÃO Dentre os 12 gêneros ocorrentes no estado, seis foram registrados para o Parque Estadual de Itaúnas com um total de 12 espécies, sendo os gêneros mais representativos Ipomoea (5spp.), Evolvulus (2spp.) e Merremia (2spp.). Os resultados aqui apresentados revelaram três novos registros a nível genérico para o PEI: Aniseia choisy, Daustinia Buril & A.R. Simões, Jacquemontia; e cinco novos registros a nível específico: Aniseia martinicensis (Jacq.) Choisyvar martinicensis, Daustinia Montana Buril & A.R. Simões, Ipomoea carnea subsp. fistulosa (Mart. ex Choisy) D.F. Austin, Merremia dissecta (Jacq.) Hallier f. var. endenata,, e Jacquemontia mucrunifera (Choisy) Hallier f. sendo que, a última citada é um novo registro para o estado do Espírito Santo(Dutra et al.2015). Além disso, destas três são endêmicas para Brasil, (BFG, 2015) tais quais, Daustinia montana, Jacquemontia mucronifera, Evolvulus imbricatus Mart. Ex Colla foram registradas para o PEI. Dentre as espécies de Convolvulaceae já listadas para o PEI por Souza et al., 2016, Bonamia sp. E Ipomoea fimbriossepala Choisy foram identificadas erroneamente, as mesmas foram reidentificadas em Aniseia martinisensis e Ipomoea aff bahiensis respectivamente, assim atualizando lista para o PEI quanto a nomenclatura e ao número de espécies contidas na lista. Das espécies aqui citadas todas estão classificadas na categoria de não avaliadas quanto a ameaça –NE (IUCN).

Chave de identificação das espécies de Convolvulaceae ocorrentes no Parque Estadual de Itaúnas, ES, Brasil.

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1Plantas eretas...... 2 2 Arbusto latescente, ramos fistulosos, estames inclusos, estigma globoso...... Ipomoea carnea subs. fistulosa 2’ Subarbustos não latescentes, não fistulosos estames exertos, estigmas filiformes...... 3 3 Plantas vilosas, folhas sésseis...... Evolvulus imbricatus Mart. ex Choisy 3’ Plantas pilosa-hirsutas, folhas subsésseis a pecioladas...... Evolvulus tenuis 1’ Plantas trepadeiras ou prostadas...... 4 4 Halófitas ...... 5 5 Plantas com glândulas no ápice do pecíolo, corola roxa, sementes pubescentes...... Ipomoea pes-caprae 5’ Planta sem glândulas no ápice do pecíolo, corola alva com fauce amarela, sementes lanosas...... Ipomoea imperati 4’Não halofitas...... 6 6 Plantas latescentes...... 7 6 Plantas não latexcente...... 10 7Plantas com pseudoestipula...... Ipomoea cairica 7’ Plantas sem pseudoestipula...... 8 8Lamina foliar composta, flores alvas, tecas arroxeadas...... Merremia cissoides 8’ Lamina foliar inteira,...... 9 9 Trepadeira, folhas sagitadas glabras, flores infundebuliformes, Inflorescência dicásio lilás com interior mais escuro...... Ipomoea aff. bahiensis 9’Prostada, com folhas palmatipartidas, pentalobadas lanuginosas, inflorescência 3- 5 flora cimeira umbeliforme flores campanulada, corola amarela...... Daustinia montana 10 Folha pamatipartida 5-7 segmentos lancelo-elipiticos , Inflorescência cimeira, 1– 6 floras, laxa...... Merremia dissecta 10Folha Ovalo/elipitica ou lanceolada inflorescência monocásio á dicásio ou corimbiforme...... 11 11.Folha lanceolada , glabra; Inflorencencia em monocásio Flores, campanulada, alva 1,3cm pilosa, (na face externa). Fruto capsula septícida, tetravalvar subgloboso-adpresso, glabro , 4-sementes 4–4,5×4-5mm ovoides pubescente nas margens...... Aniseia martinisensis

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11’Folhas inteira, ovaladas-elípticas, pubescente á velutina. Inflorecencia tipo cimeira umbeliforme 3-4 flora; Fruto 3x3mm, capsula septícida , 8-valvar, glabro; 2-Sementes 2x2mm, ovoide , glabro- escamosa...... Jacquemontia mucronifera

CONCLUSÃO O estudo se mostrou de grande valia para a família no Parque, já que originalmente haviam apenas 8 espécies na lista, destas duas identificadas erroneamente, e após este trabalho o parque tem hoje 12 espécies para família 5 delas novos registros para área e um para o estado do Espírito Santo, assim os resultados colaboram tanto para atualização da lista do PEI quanto para a flora do Espírito Santo.

AGRADECIMENTOS Ao CNPq pelo apoio financeiro, ao IEMA pela concessão da autorização de coleta, à Universidade Federal do Espírito Santo-UFES, pelas instalações e fornecimento do transporte para realização das coletas e ao Parque Estadual de Itaúnas pela colaboração e disponibilidade.

LITERATURA CITADA APG IV. 2016. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG IV. Botanical Journal of the Linnean Society 181: 1-20. Austin, D.F., Mori, S.A., Henderson, A., Stevenson, D. W.,& Heald, S.V. 2004. Flowering plants of the Neotropics. New York Botanical Garden, Princeton University Press, Princeton. pp. 113-115. Austin, D.F., Staples, G., Simão-Bianchini, R. 2015.A synopsis Ipomoea (Convolvulaceae) in theAmericas Taxon. 64(3): 625–633 Bridson, D.& Forman, L .1998. The Herbarium Handbook . Richmond: Royal Botanical Garden, Lubrecht & Cramer Ltd., 348p. Buril, M.T. 2013. Sistemática e Filogenia de Jacquemontia(Choisy) Convolvulaceae. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Pernambuco, Recife. Cepemar - Serviços de Consultoria em Meio Ambiente (CEPEMAR). 2004. Plano de Manejo do Parque Estadual de Itaúnas. CEPEMAR, Vitória, 17 p. Dutra,V.F., Alves-Araújo, A.,& Carrijo, T .T. 2015. Angiosperm Checklist of Espírito Santo: using electronic tools to improve the knowledge of an Atlantic Forest biodiversity hotspot. Disponível em: . Acesso em: 23 Mar 2016.

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Falcão, W.F.A & Falcão, J.I.A. 1981. Contribuição nos Estudos de Convolvulaceae para o Espírito Santo. Rodriguésia 56: 101-115. Ferreira, P.P.A. 2009. O gênero Ipomoea para o estado do Rio Grande do Sul. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 24p- 145. Ferreira, P.P.A., Simão-Bianchini, R., & Miotto, S.T.F. 2014. O gênero Evolvulus L. (Convolvulaceae) na Região Sul do Brasil, Instituto de Botânica. IUCN. IUCN Red List of Threatened Species. Disponível em http://www.iucnredlist.org. Acesso em 20 maio 2017. BFG. 2015. Growing knowledge: an overview of Seed Plant diversity in Brazil. Rodriguésia. 66(4): 1085-1113. Lombardi, J.A. 2014. The Second Known Species of the Recently Described Genus Keraunea (Convolvulaceae). Phytotaxa, 181(1): 054-058. MMA. 2000. Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica e Campos sulinos. 40p. Brasília: MMA/SBF. Meira, M., Silva, E.P., David, J.M. & David,J.P. 2011. Review of the genus Ipomoea: traditional uses, chemistry and biological activities. Revista Brasileira de Farmacognosia. Brazilian Journal of Pharmacognosy, 22(3): 682-713. Simão-Bianchini, R. & Ferreira, P.P.A. 2012. Merremia. In: Forzza, RC. et al. (eds.). Lista de espécies da flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em . Acesso em 10 Abril 2017. Staples, G.W. 2012. Convolvulaceae Unlimited. Disponível em . Acesso em 02 maio 2015. Souza, W.O., Machado, J.O., Tognella, M.M., & Alves-Araújo, A. 2016. Checklist de angiospermas do Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil. Rodriguésia, 67(3): 571-581. Stefanovic, S. Krueger, L.& Olmstead,R.G.2002Monophyly of the Convolvulaceae and circumscription of their major lineages based on DNA sequences of multiple chloroplast loci. American Journal of Botany, 89: 1510-1522.

155 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

SOLANACEAE Juss. NO PARQUE ESTADUAL DE ITAÚNAS, ESPIRITO SANTO, BRASIL: DADOS PRELIMINARES

Marianna Rigoni RODRIGUES¹* & Anderson ALVES-ARAÚJO¹

¹Universidade Federal do Espirito Santo, Centro Universitário Norte do Espírito Santo [email protected]

INTRODUÇÃO

Solanaceae Juss. Compreende 85 gêneros e cerca de 2.800 espécies (Nee,2007). Tem seu centro de diversidade nas Américas Central e do Sul, sendo que na América do Sul são encontrados 50 gêneros endêmicos (Carvalho & Costa, 2005). A família é de considerável importância econômica como culturas alimentares, fontes de alcalóides e venenos (Bohs, 1994). Os representantes de Solanaceae são caracterizados por serem plantas herbáceas, arbustivas ou arbóreas, inermes ou armadas, com folhas simples, inteiras, lobadas ou pinatissectas, pecioladas ou sésseis, sem estípulas. Inflorescências cimosas, uni ou plurifloras, pedunculadas ou não. Flores pentâmeras, diclamídeas, heteroclamídeas, monoclinas, pediceladas ou sésseis. Cálice pentâmero, gamossépalo, actinomorfo ou levemente zigomorfo, acrescente ou não após antese. Corola pentâmera, gamopétala, actinomorfa ou zigomorfa. Androceu tetrâmero ou pentâmero, estames epipétalos e alternipétalos; anteras com deiscência longitudinal, poricida ou poricida e tardiamente longitudinal. Gineceu gamocarpelar; ovário súpero, bicarpelar, rudimentos seminais geralmente numerosos de placentação axial, disco nectarífero presente ou não. Fruto baga ou cápsula. (Agra et al., 2009;Soares et al. 2008). No Brasil atualmente são registrados 33 gêneros e 471 espécies distribuídas por todas as fitofisionomias brasileiras, sendo que dessas quatro gêneros e 223 espécies consideradas endêmicas para o país de acordo com Flora do Brasil(http://floradobrasil.jbrj.gov.br). Segundo Dutra et al. (2015), são registrados para o Espírito Santo 16 gêneros e 139 espécies, das quais três: Solanum caelicolum Giacomin & Stehmann, Solanum filirachis Giacomin & Stehmann e Solanum igniferum Gouvêa & Stehmann são consideradas endêmicas para o estado. Muitas espécies da família têm grande potencial comercial seja ele alimentício, paisagístico ou até mesmo medicamentoso, alguns exemplos seriam tomate (Solanum lycopersicum L.) pimentão, (Capsicum annuum L.) berinjela (Solanum melongena L.) e tabaco (Nicotiana tabacum L.), que são plantas exploradas comercialmente , entre outras espécies que são intensamente exploradas comercialmente família que possuem potencial alimentício (Agra el al.2009). Por todos esses motivos aqui citados esse estudo tem grande importância, contudo os dados que hoje temos para o Parque Estadual De Itaúnas (PEI) , Espirito Santo ,Brasil, e para o estado necessitam ser atualizados em relação à abordagens mais atuais pois quase não há estudos para a família no estado, e quanto ao status de ameaça das espécies. Sendo assim o presente trabalho é parte integrante do Projeto Flora do Espírito Santo e visa analisar taxonomicamente , ou seja se propõe a descrever e criar uma futura chave de identificação paras as espécies de Solanaceae no Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil, ampliando o conhecimento desta no Estado.

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MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O Parque Estadual de Itaúnas (PEI) possui cerca de 3.481 ha de área e encontra- se entre as coordenadas 18º20’/18º25’S 39º40’/39º42’W, no município de Conceição da Barra, Espírito Santo. O PEI abriga uma grande diversidade de ambientes como as restingas, manguezais e fragmentos florestais de mata de tabuleiro. Apresenta relevo plano, precipitação média anual de 83,3mm(dados referentes ao período de 1996 à 2002) e temperatura absolutas para Conceição da Barra/ES varia de 20,4 -35,1 °C (dados referentes ao período 1931 à 1960;CEPEMAR, 2004).

Coleta de material

As coletas de material botânico estão sendo efetuadas desde janeiro/2016, com periodicidade mensal nos caminhos e trilhas pré-existentes no Parque Estadual de Itaúnas (Figura 1), de modo a abranger a maior área possível e amostrar todas as fitofisionomias encontradas. As amostras são acompanhadas de seus respectivos registros fotográficos e segue-se os procedimentos usuais de trabalho de campo e de herborização (Bridson & Forman, 1998).

Tratamento taxonômico

A identificação das espécies foi realizada através de literatura específica e por comparação com material identificado em herbário e imagens de tipos nomenclaturais disponíveis na internet. Os nome de autores de espécies segue o apresentado pela Flora do Brasil (http://floradobrasil.jbrj.gov.br/) e The International Plant Names Index (IPNI; http://www.ipni.org/). Os espécimes férteis (com flores e/ou frutos) estão sendo incorporados à coleção do Herbário VIES da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Quando necessário, amostras adicionais serão coletadas e acondicionadas em recipientes adequados e preservadas em álcool etílico 70%, para estudos morfológicos e posterior identificação e identificação tendo como base literatura especifica. Os táxons serão classificados quanto ao grau de ameaça segundo os critérios da IUCN (2012).

Figura 1. Mapa do Parque Estadual de Itaúnas-PEI. (Fonte:SEAMA/IEMA, adaptado).

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Embora preliminares, os resultados aqui apresentados corroboram o apresentado em Souza, et al. (2016). Atualmente no Parque são encontrados quatro gêneros e oito espécies (Figuras 2 e 3). As espécies registradas são encontradas predominantemente em bordas ou clareiras de matas, com hábito variando desde ervas delgadas como em Schwenckia americana D.Royen ex L. até arvoretas de aproximadamente 4 m de altura em Cestrum sp. A maior parte das espécies pertence ao Solanum subgênero Leptostemonum (Dunal) Bitter, no qual se encaixam todas as plantas com acúleos pertencentes a Solanum. Até o presente momento há três novos registros o PEI S. paludosum Moric., S. torvum Sw. e S. aff. caelicolum Giacomin & Stehmann, sendo que das plantas amostradas, Schwenckia americana, Solanum cordifolium Dunal, e S. thomasiifolium Sendtn. são mais facilmente encontradas. Ao contrário de Solanum aff. caelicolum Giacomin & Stehmann que possui apenas um material coletado.

Espécie Tribo Habito Voucher Aureliana fasciculata (Vell.) Solaneae Arbusto Olivera,J.-49 Sendtn Cestrum sp. Cestraeae Arvoreta Souza,W.-195 Schwenckia americana L. Schwenkieae Erva Rodrigues,M.R.-35 Solanum aff. caelicolum Solaneae Arbusto Amaral,R.-74 Giacomin & Stehmann

Solanum cordifolium Dunal Solaneae Arbusto Rodrigues,M.R.-61 Solanum thomasiifolium Sendtn Solaneae Arbusto Rodrigues,M.R.-83 Solanum torvum Sw Solaneae Arbusto Rodrigues,M.R.-43 Solanum paludosum Sendtn Solaneae Arbusto Rodrigues,M.R.38

Figura 2. A-Solanum torvum Sw., ; B-Solanum thomasiifolium Sendtn ;C- Solanum cordifolium Dunal.

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Figura 3. D-Solanum paludosum Sendtn; E-Aureliana fasciculata (Vell.) Sendtn.; F- Schwenckia americana D.Royen ex L. H-Parque Estadual de Itaúnas

CONCLUSÃO

Uma vez que os dados apresentados são preliminares, acredita-se que a riqueza das espécies de Solanaceae no PEI possa aumentar devido ao atual direcionamento das coletas. O projeto encontra-se em fase de andamento e tem previsão de mais seis meses de atividades de pesquisa e, certamente, contribuirá para o conhecimento da flora do norte do Espírito Santo.

LITERATURA CITADA

Agra, M.F., Nurit-Silva,K., & Berger, R.L. 2009 Flora da Paraíba, Brasil: Solanum L. (Solanaceae). Acta botânica . Brasílica 23(3): 826-842.

Bohs, L. 1994. Cyphomandra (Solanaceae). Flora Neotropica Monograph 63. New York, The New York Botanical Garden. Bridson, D. & Forman, L. The Herbarium Handbook. Richmond: Royal Botanical Garden, Lubrecht & Cramer Ltd., 1998. 348p.

Carvalho, L.A.F. & Costa, L.H.P. 2005. Diversidade Taxonômica e Distribuição Geográfica de Solanaceae (Cestroideae e Solanoideae) no Sudeste Brasileiro. Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Centro de Referência em Informação Ambiental –. 2017. Specieslink. Disponível em: http://www.splink.org.br/. (10/03/2017).

Cepemar - Serviços de Consultoria em Meio Ambiente (CEPEMAR). 2004. Plano de Manejo do Parque Estadual de Itaúnas. CEPEMAR, Vitória, 17 p.

Dutra, V.F., Alves-Araújo, A., & Carrijo,T.T. 2015. Angiosperm Checklist of Espírito Santo: using electronic tools to improve the knowledge of an Atlantic Forestbiodiversity hotspot. Rodriguésia 66(4): 1145-1152. 2015.

159 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Growing knowledge: an overview of Seed Plant diversity in Brazil ,BFG. 2015. Rodriguésia 66: 1085-111.

Hunziker, A.T. 2001. Genera Solanacearum. The genera of Solanaceae illustrated, arranged according to a new system. Ruggell, A.R.G. Gantner Verlag.

IUCN. IUCN Red List of Threatened Species. Disponível em http://www.iucnredlist.org. Acesso em 20 maio. 2012.

Nee,M.2007 Flora da Reserva Ducke,Amazonas, Brasil: Solanaceae. Rodriguésia 58 (3): 695-702.

Soares, E.L.C., Silva,,M.V., Vendruscolo,G.S, Thode, V.A., Silva, J.A. & Lilian Auler Mentz,L.A..2008. A família Solanaceae no Parque Estadual de Itapuã,Viamão, Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Biociencias.

Souza, W.O.; Machado, J.O; Tognella, M.M. & Alves-Araújo, A. 2016. Checklist de angiospermas do Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil. Rodriguésia 67(3): 571-581.

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NOVOS REGISTROS DE ANGIOSPERMAS PARA O PARQUE ESTADUAL DE ITAÚNAS, ESPÍRITO SANTO, BRASIL

Quélita dos Santos MORAES1*, Renara Nichio AMARAL2, Victor Santos MIRANDA3, Marianna Rigoni RODRIGUES3, Bianca Santana MENDES3, Samara Azevedo de Jesus MARTINS3 & Anderson ALVES-ARAÚJO3

1Programa de Pós Graduação em Biodiversidade Tropical – PPGBT, Universidade Federal do Espírito Santo 2Programa de Pós Graduação em Botânica – PPGBot, Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS 3Universidade Federal do Espírito Santo – UFES *[email protected] INTRODUÇÃO

O estado do Espírito Santo possui área de 46.008,12 km² e encontra-se integralmente no bioma Mata Atlântica (IESB, 2007). Apesar de ser considerada um dos principais hotspots mundiais para a conservação, devido aos seus altos índices de diversidade e endemismo (Myers et al., 2000), a Mata Atlântica foi reduzida a 9% da original (Myers et al., 2000) e encontra-se altamente fragmentada. As restingas, inseridas no domínio da Mata Atlântica, apresentam um conjunto diversificado de comunidades biológicas (Sampaio, 2005). A vegetação tem grande importância para o equilíbrio do substrato, amenizando a ação dos agentes erosivos sobre o ecossistema, protegendo, principalmente, da ação dos ventos (Assumpção e Nascimento, 2000). No entanto, apresenta elevado nível de fragilidade devido aos altos impactos e desmatamento causado por ações antrópicas (Santos-Filho, 2009). Neste contexto, o Parque Estadual de Itaúnas (PEI), situado ao norte do Espírito Santo, representa uma amostra significativa de ecossistemas intrinsecamente ligados à bacia do Rio Itaúnas e à região costeira do Espírito Santo. O PEI abrange uma grande diversidade de espécies que ocorrem em diferentes ambientes como mata de tabuleiro, ambientes costeiros na faixa de cordão arenoso formador das restingas e dunas, ambientes estuarinos de manguezal e a mais representativa região de alagados do Espírito Santo (Cepemar, 2004). Apesar da elevada importância ecológica, os esforços para documentar a flora do PEI são bastante recentes (Souza et al., 2016; Souza et al., in press). Souza et al. (2016) indicaram a ocorrência de 562 spp. de angiospermas encontradas do PEI e apontou a área como de grande biodiversidade e de extrema relevância para a flora do estado. No entanto, com a continuidade dos esforços de coleta na área, vários táxons foram coletados posteriormente à publicação e não foram incluídos pelos autores. Sendo assim, o presente estudo propõe-se a atualizar o checklist disponibilizado por Souza et al. (2016) para as angiospermas ocorrentes no PEI.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O Parque Estadual de Itaúnas (PEI) situa-se entre as coordenadas 18º20’/18º25’S 39º40’/39º42’W no município de Conceição da Barra no Espírito Santo. A Temperatura média é de 23,8 ºC no PEI (CEPEMAR, 2004, p. 10), em uma área abrangendo 3.481 ha com relevo composto por planícies e as seguintes unidades geomorfológicas: Terraços arenosos, Planície fluvial e Planície flúvio-marinha.

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Coleta de material

As coletas foram realizadas de maneira exploratória de agosto/2015 a janeiro/2017, abrangendo a maior área possível do PEI, buscando inventariar o maior número de táxons. As amostras foram coletadas através de procedimentos usuais de trabalho de campo e de herborização (Bridson & Forman, 1998). A listagem de espécies seguiu proposta do APG IV (2016) e as identificações foram realizadas através de literatura específica, métodos comparativos de vouchers e tipos nomenclaturais depositados nos principais herbários estaduais e nacionais (CVRD, VIES, MBML, RB e SPF) e internacionais (K, MO, NY). O nome dos autores está de acordo com o apresentado pela “The International Plant Names Index” (www.ipni.org). Os táxons ameaçados foram reconhecidos com base na “Lista de Espécies Ameaçadas do Brasil” (MMA, 2000) e, quando possível, classificados segundo critérios da IUCN (2017).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Um total de 82 espécies distribuídas em 27 famílias (Tabela 1) foram acrescentadas à lista florística do PEI realizada por Souza et. al (2016), das quais cinco famílias ainda não haviam sido registradas para a área: Nymphaeaceae Salisb., Onagraceae Juss., Pontederiaceae Kunth, Typhaceae Juss. e Xyridaceae C.Agardh, contribuindo para o aumento do conhecimento florístico do Parque. Atualmente, há um total de 644 espécies registradas para Parque Estadual de Itaúnas. Das 27 famílias encontradas, três apresentaram maior riqueza: Cyperaceae Juss. (13 spp), Asteraceae Bercht. & J.Presl (12 spp) e Rubiaceae Juss. (9 spp). As três famílias juntas possuem um total de 34 espécies, representando 41,5% do total das espécies apresentadas neste trabalho. De acordo com Souza et al.(2016) Cyperaceae e Rubiaceae, já se encontravam entre as dez famílias mais ricas em número de espécies (26 e 22 spp respectivamente), enquanto Asteraceae, com apenas oito espécies registradas, atualmente se encontra entre as famílias mais representativas do PEI (20 spp.). Estas famílias também estão comumente presentes entre as mais representativas em estudos florísticos nas restingas, como pode ser evidenciado por Santos-Filho et al. (2011) e Gomes & Guedes (2014). As plantas mais comuns entre as espécies encontradas no presente estudo foram as aquáticas, representadas por 34 espécies, divididas em macrófitas emersas ou com folhas flutuantes. Também estão representadas plantas arbustivas à subarbustivas, com um total de 22 espécies. A predominância destas formas de vida pode estar relacionada à grande representatividade de áreas de restinga aberta com composição herbáceo- arbustiva predominante associadas a grandes áreas alagáveis presentes no PEI. Comparado a outras áreas, o PEI possui grande riqueza já que o número de famílias e espécies é considerável quando comparado a outros estudos de composição florística de restinga no Espírito Santo (Pereira & Assis, 2000; Assis et al. 2004; Colodete & Pereira, 2007; Braz et al., 2013). Além disso, de acordo com a IUCN (2017), algumas espécies estão categorizadas como quase ameaçada (Aechmea maasii Gouda & W.Till) e outras como pouco preocupante (Varronia polycephala Lam.; Aniseia martinicensis (Jacq.) Choisy; Fuirena umbellata Rottb.; Rhynchospora corymbosa (L.) Britton; Tonina fluviatilis Aubl.; Utricularia gibba L.; Utricularia subulata L.; Ludwigia hyssopifolia (G.Don) Exell; Polygala glochidiata Kunth; Typha angustifolia L.) evidenciando a importância destes estudos para a conservação de áreas

162 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

como o Parque Estadual de Itaúnas, e, consequentemente, preservação dessas espécies e das demais que não estão atualmente categorizadas quanto ao seu grau de ameaça.

Tabela 1: Lista de novos registros de espécies para o Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil. NE: espécie não categorizada quanto ao grau de ameaça; LC: pouco preocupante; NT: quase ameaçada. Família Espécies Voucher Hábito Stat us

Apocynaceae Condylocarpon intermedium Müll. Miranda, S.V. 46 Trepadeira NE Arg.

Marsdenia sp. Miranda, S.V. 63 Liana NE

Matelea orthosioides (E. Fourn.) Miranda, S.V. 29 Liana NE Fontella

Asteraceae Ageratum aff. fastigiatum L.F.T. Menezes et Subarbusto NE (Gardner) R.M.King & H.Rob. al.290 (VIES) (27161)

Ageratum conyzoides L. Amaral, R.N 65 Subarbusto NE

Baccharis calvescens DC. Souza, W.O 360 Arbusto NE

Bahianthus viscosus (Spreng.) Amaral, R.N 17 Arbusto NE R.M.King & H.Rob.

Bidens subalternans DC. Amaral, R.N 68 Subarbusto NE

Chromolaena maximilianii Amaral, R.N 03 Subarbusto NE (Schrad. e DC.) R.M. King & H. Rob.

Erechtites hieracifolius (L.) Raf. Amaral, R.N 57 Erva NE ex DC.

Lepidaploa araripensis (Gardner) Amaral, R.N 05 Subarbusto NE H.Rob.

Lepidaploa sororia (DC.) H. Rob Amaral, R.N 36; Subarbusto NE 37; 85; 49;

Porophyllum ruderale (Jacq.) Amaral, R.N 56 Subarbusto NE Cass.

Praxelis pauciflora (Kunth) Amaral, R.N 69 Subarbusto NE R.M.King & H.Rob.

Tridax procumbens L. Amaral, R.N 63 Subarbusto NE procumbente

Boraginaceae Varronia polycephala Lam. Rodrigues,M.R.59 Subarbusto LC

Bromeliaceae Aechmea maasii Gouda & W.Till Maciel, J.R. 1892 Epífita NT

Convolvulace Aniseia martinicensis (Jacq.) Rodrigues,M.R 63 Trepadeira LC

163 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 ae Choisy (VIES)

Daustinia montana (Moric.) Buril Rodrigues,M.R 20 Erva NE & A.R. Simões (VIES)

Ipomoea aff bahiensis Willd. ex Rodrigues,M.R 37 Trepadeira NE Roem. & Schult (VIES)

Ipomoea carnea subsp. fistulosa Rodrigues,M.R 18 Arbusto NE (Mart. ex Choisy) D.F.Austin (VIES)

Jacquemontia mucronifera Rodrigues,M.R. 69 Trepadeira NE (Choisy) Hallier f. (VIES)

Merremia dissecta (Jacq.) Hallier Machado, J. 238 Trepadeira NE f. (VIES)

Cucurbitaceae Momordica charantia L. Machado, J.O 168 Trepadeira NE

Cyperaceae Abildgaardia baeothryon A.St.- Souza, W.O. et al. Anfibia NE Hil. 345

Bulbostylis cf. consanguinea Machado, J.O. et Anfibia NE (Kunth) C.B.Clarke al.180

Cyperus haspan L. Souza, W.O. et al. Anfibia NE 173

Cyperus hermaphroditus (Jacq.) Machado, J.O. et Anfibia NE Standl. al. 43

Cyperus rigens J.Presl & C.Presl Machado, J.O. et Anfibia NE al. 43

Eleocharis interstincta (Vahl) Souza, W.O. et al. Emergente NE Roem. & Schult. 222

Eleocharis nana Kunth Souza, W.O. et al. Emergente NE 310

Eleocharis plicarhachis (Griseb.) Machado, J.O. et Emergente NE Svenson al. 32

Fuirena umbellata Rottb. Souza, W.O. et al. Anfibia NE 159

Kyllinga odorata Vahl Souza, W.O. et al. Anfibia NE 219

Rhynchospora corymbosa (L.) Souza, W.O. et al. Emergente LC Britton 172

Rhynchospora tenuis Link Machado, J.O. et Emergente NE al. 92

Scleria gaertneri Raddi Machado, J.O. et Anfibia NE al. 94

164 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Eriocaulaceae Actinocephalus bongardii (A.St.- Caetano, A.P.21 Erva NE Hil.) Sano

Syngonanthus cf. gracilis (Bong.) Souza, W.O. et al. Anfíbia NE Ruhland 340

Tonina fluviatilis Aubl. Souza, W.O. et al. Submersa- LC 308 fixa

Euphorbiacea Microstachys corniculata (Vahl) Amorim, B.S. Subarbusto NE e Griseb. 1957

Fabacaeae Sesbania herbacea (Mill.) Souza, W.O. et al. Anfibia NE McVaugh 177

Swartzia apetala var. glabra Moraes, Q.S. 73 Árvore NE (Vogel) R.S.Cowan

Gentianaceae Voyria tenella Guilding ex. Hook. Souza, W.O. 445 Erva NE micoheterótro fa

Haloragaceae Laurembergia tetrandra (Schott) Souza, W.O. et al. Anfibia NE Kanitz 09

Lentibulariace Utricularia foliosa L. Souza, W.O. et al. Flutuante- NE ae 289 livre

Utricularia gibba L. Souza, W.O. et al. Anfíbia LC 237

Utricularia subulata L. Souza, W.O. et al. Emergente LC 224

Malvaceae Talipariti pernambucense (Arruda) Souza, W.O. et al. Anfibia NE Bovini 156

Melastomatac Comolia ovalifolia (DC.) Triana Machado, J.O 86 Subarbusto NE eae

Miconia minutiflora (Bonpl.) DC. Amorim, B.S. Arbusto NE 1958

Tibouchina macrochiton (Mart. ex Amaral, R.N. 24 Arbusto/Arvo NE DC.) Cogn. reta

Nymphaeacea Nymphaea caerulea Savigny Souza, W.O. et al. Flutuante-fixa NE e 209

Nymphaea pulchella DC. Souza, W.O. et al. Flutuante-fixa NE 198

Nymphaea rudgeana G.Mey Souza, W.O. et al. Flutuante-fixa NE 169

Olacaceae Ximenia americana L. Alves-Araújo, A. Arbusto/Arvo NE 1645 re

165 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Onagraceae Ludwigia cf. filiformis (Micheli) Machado, J.O. et Anfibia NE Ramamoorthy al. 160

Ludwigia hyssopifolia (G.Don) Souza, W.O. et al. Anfibia LC Exell 208

Poaceae Andropogon bicornis L. Souza, W.O. et al. Anfibia NE 183

Eragrostis pilosa (L.) P.Beauv. Maciel, J.R. 1895 Erva NE

Eragrostis tenella (L.) P.Beauv. ex Maciel, J.R. 1878 Trepadeira NE Roem. & Schult.

Ichnanthus nemoralis (Schrad.) Erva NE decumbente

Paspalum repens P.J.Bergius Souza, W.O. et al. Emergente NE 296

Polygalaceae Polygala glochidiata Kunth Machado, J.O. et Anfibia LC al. 270

Polygonaceae Polygonum acuminatum Kunth Souza, W.O. et al. Anfibia NE 175

Pontederiacea Eichhornia azurea (Sw.) Kunth Souza, W.O. et al. Flutuanta- NE e 295 livre

Eichhornia crassipes (Mart.) Souza, W.O. et al. Flutuanta- NE Solms 293 livre

Rubiaceae Borreria capitata (Ruiz & Pav.) Moraes, Q.S. 09 Erva NE DC.

Borreria latifolia (Aubl.) K. Moraes, Q.S. 69 Subarbusto NE Schum

Borreria verticillata (L.) G. Mey Moraes, Q.S. 10 Subarbusto NE

Borreria virgata Cham. & Schltdl. Moraes, Q.S. 49 Subarbusto NE

Emmeorhiza umbellata K.Schum. Moraes, Q.S. 132 Erva NE Escandente

Hexasepalum apiculatum (Willd.) Moraes, Q.S. 31 Erva NE Delprete & J.H. Kirkbr.

Mitracarpus polygonifolius (A. Martins, S.A.J. 06 Erva NE St.-Hil.) R.M. Salas & E.B. Souza

Mitracarpus strigosus (Thunb.) Moraes, Q.S. 67 Erva NE P.L.R. Moraes, De Smedt & Hjertson

Psychotria hoffmannseggiana Moraes,Q.S. 13 Subarbusto NE (Schult.) Müll. Arg.

166 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Smilacaceae Smilax quinquenervia Vell Freitas, J. 234 Trepadeira NE

Smilax remotinervis Hand.-Mazz. Amorim, B.S. Trepadeira NE 1956

Smilax spicata Vell. Souza, W.O. 281 Trepadeira NE

Typhaceae Typha angustifolia L. Souza, W.O. et al. Emergente LC 157

Vitaceae Cissus stipulata Vell. Maciel,J.R.1900 Trepadeira NE

Xyridaceae Xyris jupicai Rich. Souza, W.O. et al. Emergente NE 338

CONCLUSÃO

Os estudos apontam o aumento do número de taxa ocorrentes no Parque Estadual de Itaúnas, corroborando com o estimado por Souza et al. (2016) e também, a elevada diversidade taxonômica da área com grande importância para a composição florística do norte do Espírito Santo. Contudo há muito o que se descobrir, por isso coletas rotineiras e estudos taxonômicos continuam sendo realizados na área.

LITERATURA CITADA

APG IV - An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG IV, 2016.

Assis, A.M.; Pereira, O.J. & Thomaz, L.D. 2004. Fitossociologia de uma floresta de restinga no Parque Estadual Paulo César Vinha, Setiba, município de Guarapari (ES). Revista Brasileira de Botânica 27: 349-361p.

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Santos-Filho, F.S.; Almeida Jr., E.B.; Bezerra, L.F.M.; Lima, L.F.; Zickel, C.S. 2011. Magnoliophyta, restinga vegetation, state of Ceará, Brazil. Check List, v.7.

Souza, W.O.; Machado, J.O; Tognella, M.M. & Alves-Araújo, A. 2016. Checklist de angiospermas do Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil. Rodriguésia 67(3): 571-581.

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168 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

O BOTÂNICO FREDERICO CARLOS HOEHNE: IMPORTÂNCIA PARA O ESTUDO DAS ARISTOLOCHIACEAE BRASILEIRAS

Joelcio FREITAS1*, Elton John de LÍRIO2, Favio GONZÁLEZ3, Valderes Bento SARNAGLIA JÚNIOR2, Anderson ALVES-ARAÚJO4

1 Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS 2 Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro – JBRJ 3 Universidad Nacional de Colombia 4 Universidade Federal do Espírito Santo – UFES. * [email protected]

INTRODUÇÃO

Aristolochia compreende cerca de 500 espécies, sendo o maior gênero da família Aristolochiaceae (González, 2011), com distribuição pantropical, mas ocorrendo especialmente nos Neotrópicos, onde é extremamente diversificado (González, 2000). No Brasil, são registradas 92 espécies de Aristolochia e o país é um dos mais diversos do mundo para o gênero (BFG, 2015). Além de ter representantes muito ornamentais, várias espécies de Aristolochia são usadas na medicina tradicional por muitas culturas especialmente nas Américas e na Ásia (Hoehne, 1942b; González, 1990). Entre eles o tratamento de picadas de cobra, distúrbios digestivos e indução de aborto (Hoehne, 1942b; González, 1990). No entanto, numerosos efeitos colaterais, incluindo câncer, nefropatia e danos hepáticos em mamíferos, foram relatados em função das propriedades tóxicas de alguns de seus componentes químicos (Hoehne, 1942b;WHO, 2004). O gênero Aristolochia foi estudado em grande detalhe pelo botânico brasileiro Frederico Carlos Hoehne (1876-1959), que contribuiu significativamente para o conhecimento de vários grupos taxonômicos da flora brasileira. O presente trabalho trata da contribuição dada pelo autor ao conhecimento da família Aristolochiaceae e traz um panorama atual do status taxonômico das espécies descritas por ele ao longo de sua obra.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho baseia-se no exame da literatura relevante para a família Aristolochiaceae e de estudo de espécimes depositados nos herbários (acrônimosde acordo com Thiers, 2016): A, BM, COL, F, G, GB, GH, MG, MO, NY, P, R, RB, S, SP, SPF, US e W. Também foram examinados os espécimes tipo dos herbários: BM, G, HBG, K, MEDEL, P e SI disponíveis no website do JSTOR (http://plants.jstor.org).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Biografia e contribuições com a família Aristolochiaceae Frederico Carlos Hoehne (1876-1959) teve início na sua carreira como botânico em 1907, quando foi nomeado jardineiro-chefe no Museu Nacional do Rio de Janeiro (Herbário R). Foi um dos cientistas que realizaram importantes expedições científicas como Rondon em 1908, 1910 e 1912, e Roosevelt-Rondon em 1913 (Franco &

169 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Drummond, 2005), que se destinavam a conectar as linhas telegráficas na região norte do Brasil. Nestas expedições ele foi responsável pelos estudos botânicos (Sá et al., 2008) e a maioria dos materiais coletados está alojada no herbário R (Franco & Drummond, 2005). Muitos desses espécimes eram materiais originais de várias espécies novas descritas (espécimes-tipo). Em 1917, Hoehne começou a trabalhar na seção de Botânica do Instituto Butantan (atualmente, Instituto de Botânica de São Paulo, Herbário SP) (Franco & Drummond, 2005). Sua produção bibliográfica foi uma das maiores em Língua Portuguesa sobre a flora brasileira (Teixeira, 1962). A obra científica de maior destaque, concebida e organizada por Hoehne, foi a Flora Brasilica, que pretendia ser a versão atualizada da Flora brasiliensis organizada por Martius (Franco & Drummond, 2005). Oito dos doze volumes foram escritos pelo próprio Hoehne (quatro deles por outros autores). Durante sua nomeação no Instituto Butantan, Hoehne publicou duas importantes obras para o estudo de Aristolochia: "Monografia das Aristolochiaceas brasileiras" (Hoehne, 1927), que era uma versão preliminar de sua obra mais notória na família, a Flora Brasilica (Hoehne,1942b). No entanto, os novos táxons de Hoehnede Aristolochia remontam a 1910 e durou mesmo depois de suas contribuições de 1942 (Hoehne, 1910; 1914; 1915; 1925; 1927; 1939; 1942a; 1942b; 1944; 1947; 1952).

Taxonomia Numa extensa revisão dos nomes publicados por Hoehneverificou-se que a maioria não apresenta designação formal de tipos na publicação original (holótipos), uma prática comum para a época, onde designavam vários materiais tipos, e que hoje, de acordo com o Código Internacional de Nomenclatura para Algas, Fungos e Plantas (CINAFP)(McNeillet al., 2012) são considerados síntipos. A partir destes, deve haver uma designação formal de um lectótipo, que trata-se de um voucherou ilustração ao qual o nome fica permanentemente ligado. Hoehne descreveu 29 espécies e seis variedades/subespécies. Atualmente 15 destes nomes propostos por ele são consideradas espécies aceitas (Tabela 1). Do total de espécies descritas ou combinadas, 13 delas (trêsa nível subespecífico) necessitam ser formalmente tipificadas de acordo com o CINAFP (McNeillet al., 2012):

Tabela 1. Espécies de Aristolochia descritas ou combinados por Hoehne. Espécie Status atual Nome aceito Material tipo designado AristolochiaallemaniiHoehne Sinônimo A. birostris Duchartre Síntipos AristolochiaargyroneuraHoehneex Uribe-Uribe Sinônimo A. leuconeura Linden Síntipos AristolochiaceresensisKuntzevar.acuminataHoehInválido - - ne A. ceresensis Kuntze var. jorgensenii (Hauman) Sinônimo A. ceresensis Kuntze Lectótipo Hoehne A. ceresensisKuntzevar.lingua(Malme) Hoehne Sinônimo A. ceresensis Kuntze Lectótipo Aristolochia chamissonis(Klotz.) Duch.var. Sinônimo A. chamissonis (Klotz.) Síntipos paulistanaHoehne Duch. A. claussenii Duchartre subsp. pyrenea (Taub.) Sinônimo A. claussenii Duch. Síntipos Hoehne Aristolochia colossifolia Hoehne Aceito - Holótipo Aristolochia compta Hoehne Aceito - Holótipo Aristolochia decursive-bracteata Hoehne Sinônimo A. urbaniana Taubert Holótipo Aristolochia droseroides Hoehne Sinônimo A. ridicula Brown Síntipos Aristolochia dubia Hoehne Sinônimo A. mossii Moore Holótipo

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Aristolochia eggersii Hoehne Sinônimo A. pilosa Kunth Holótipo Aristolochia ernestulei Hoehne Sinônimo A. pilosa Kunth Holótipo Aristolochia gehrtii Hoehne Aceito - Holótipo Aristolochia gibertii Hookervar. paulistana Inválido - - Hoehne Aristolochia haughtiana Hoehne Sinônimo A. pilosa Kunth Holótipo Aristolochia jauruensis Hoehne Sinônimo A. weddellii Duch. Síntipos Aristolochia lagesiana Ulevar. intermedia Inválido - - Hoehne Aristolochia limai Hoehne Aceito - Síntipos Aristolochia loefgrenii Hoehne Sinônimo A. esperanzae Kunt. Síntipos Aristolochia malmeana Hoehne Aceito - Síntipos Aristolochia macrorrhyncha Hoehne Sinônimo A. labiata Willdenow Holótipo Aristolochia medellinensis Hoehne Sinônimo A. pilosa Kunth Holótipo Aristolochia nevesarmondiana Hoehne Aceito - Síntipos Aristolochia odoratissima L.var. pandurata Sinônimo A. odoratissima L. Lectótipo (Jacq.) Hoehne Aristolochia pannosoides Hoehne Aceito - Holótipo Aristolochia paulistana Hoehne Aceito - Síntipos Aristolochia peltato-deltoidea Hoehne Aceito - Holótipo Aristolochia peltibractea Hoehne Sinônimo A. burelaeHerzog Holótipo Aristolochia rodriguesii Hoehne Sinônimo A. dydima Moore Lectótipo Aristolochia saxicola Hoehne Sinônimo A. smilacina (Klotz.)Holótipo Duch. Aristolochia schmidtiana Hoehne Aceito - Lectótipo Aristolochia schubertioides Hoehne Sinônimo A. pilosa Kunth Holótipo Aristolochia stomachoides Hoehne Aceito - Síntipos Aristolochia urupaensis Hoehne Aceito - Síntipos Aristolochia weddellii Duch. subsp. Duckeana Aceito - Síntipos Hoehne Aristolochia weddellii Duch. subsp. rondoniana Aceito - Lectótipo Hoehne Aristolochia wendeliana Hoehne Aceito - Holótipo

Das espécies descritas, A.ceresensis Kuntze var. acuminata Hoehne, A. gibertii Hookervar. paulistana Hoehne e A. lagesiana Ule var. intermédia Hoehne, são inválidas devido à falta dedescrição formal na publicação, ou diagnose/descrição em latim (uma exigência para a época que foram publicadas) (McNeill et al., 2012). Dentre os nomes descritos por Hoehneque são aceitos atualmente, inúmeros se apresentam com um grande potencial ornamental (Figura 1), o que pode ser um agravante, haja vista que algumas delas têm distribuição restrita e/ou são conhecidas por poucas coletas, como A. nevesarmondiana (Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo) e A. wendeliana (Paraná e São Paulo) e podem sofrer algum grau de ameaça no futuro, sendo que a maior parte das espécies ainda carece de avaliação de risco (Brasil, 2014; São Paulo, 2016), sendo necessária uma atenção especial para elas em próximas avaliações de risco para as floras estaduais e nacional.

CONCLUSÃO

A revisão das Aristolochia publicadas por Hoehne se fez muito importante, principalmente pela confirmação dos materiais tipo que devem ser designados. Com o grande potencial ornamental que muitas das espécies descritas por ele possuem, é preciso que as que têm uma distribuição mais restrita, recebam uma atenção especial nas próximas avaliações das listas estaduais e nacionais da flora ameaçada de extinção.

171 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 1. Espécies de Aristolochia atualmente aceitas descritas por Hoehne. A) Aristolochia gehrtii; B e C) A. nevesarmondiana; D) A. paulistana; E) A. stomachoides; F) A. urupaensis. G) A. wendeliana. Fotos: A, D e E (Mauro Peixoto); B e C (Joelcio Freitas); F (Juliana Cristina Holzbach); G (Alexandre Gibau Lima).

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem aos curadores dos herbários consultados: Ruy J. V. Alves (R) Rafaela C. Forzza (RB) e Maria C. H. Mamede (SP). À Mauro Peixoto, Juliana Cristina Holzbach e Alexandre Gibau Lima, pelo autorização de uso das imagens. O primeiro autor agradece ao Programa de Pós-Graduação em Botânica (PPPGBot / UEFS) e ao Conselho

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Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); e o segundo autor agradece à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelas bolsas de doutorado concedidas.

LITERATURA CITADA

BFG (Brazil Flora Group). 2015. Growing knowledge: an overview of Seed Plant diversity in Brazil. Rodriguésia, 66:1085–1113.

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USO DE MODELOS DIDÁTICOS DE RAÍZES PARA O ENSINO- APRENDIZAGEM DE BOTÂNICA

Ludmila de SOUZA1*, Gabrielle Christini Costa SANTANNA1 & Elisa Mitsuko AOYAMA1

1Universidade Federal do Espírito Santo/Centro Universitário Norte do Espírito Santo/ Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas *[email protected]

INTRODUÇÃO

O ensino de Botânica nas escolas públicas é por vezes precário, pois não existem muitas alternativas didáticas para a transmissão do conhecimento do mesmo, onde geralmente faltam materiais didáticos para o ensino de Ciências e Biologia. Com isso, o professorfica impossibilitado de ministrar uma aula dinâmica ou diferenciada para as suas turmas (Krasilchick, 2008). Em relação ao ensino de ciências e biologia, e mais especificamente em relação ao ensino de botânica, muito se investe na elaboração e utilização de livros didáticos cada vez mais atraentes e ilustrados, o que muitas vezes não é proporcional ao investimento em sua qualidade e conteúdo. Usando como único recurso, o livro acaba por impedir o professor de planejar sua aula de acordo com os interesses e habilidades dos alunos, além de prejudicar o incentivo para que pensem. É evidente, ainda, que a observação direta dos vegetais contribui muito para a aprendizagem do que a simples observação de suas ilustrações em livros didáticos (Neto & Fracalanza, 2003). Desta forma, a utilização de materiais diversos, como modelos didáticos que buscam facilitar o ensino-aprendizagem dos alunos, proporciona a eles uma visão mais próxima de sua realidade, ajudando-os então nesse processo. Os modelos didáticos devem ser um dos recursos mais empregados nas aulas de Ciências e Biologia para demonstrar objetos ou estruturas em três dimensões (Krasilchik, 2004), melhorando a capacidade de adquirir e guardar informações em comparação com os métodos tradicionais (Almeida, 2003). Para Zabala (1998) a escolha dos conteúdos, ou seja, do que ensinar deve englobar conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, os quais têm extrema importância para a ocorrência de uma aprendizagem significativa. Segundo Piletti (2006) os recursos de ensino são componentes do ambiente da aprendizagem, que dão origem a estimulação do aluno e a quem está no comando de uma sala de aula, este que sabe como é difícil despertar e manter o interesse do ouvinte. Atualmente, um dos principais desafios do professor é planejar aulas estimulantes e motivadoras, nesse sentido, a utilização de diferentes recursos didáticos propiciará ao aluno a melhor compreensão dos conteúdos. O objetivo deste trabalho é propor a confecção e utilização de modelos didáticos de raízescomo alternativa educacional para o ensino de Morfologia Vegetal, acarretando assim, maior interação e consequentemente, maior aprendizado do aluno com o conteúdo ministrado, já que as raízes apresentam diversas formas e funções que vão desde a sustentação até a nutrição da planta e são de extrema importância para a alimentação do ser humano, fornecendo quantidades significativas de vitaminas. O estudo teórico envolvendo o tema dos modelos foi adquirido inicialmente nas aulas da disciplina de verão Morfologia Vegetal, como optativa do curso de Licenciatura em

175 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Ciências Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo, Centro Universitário Norte do Espírito Santo.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram confeccionados quatro modelos didáticos tridimensionais de raízes conhecidas e presentes no cotidiano da maioria das pessoas: aguapé – Eichhornia crassipes (raiz aquática fasciculada), feijão – Phaseolus vulgaris (raiz subterrânea pivotante ou axial), milho – Zea mays (raiz adventícia) e cenoura – Daucus carota (raiz subterrânea tuberosa axial). Essas espécies foram selecionadas devido à importância e a presença delas no dia a dia dos alunos que muitas vezes consomem ou conhecem as espécies, mas não sabem que elas são raízes e/ou como são cultivadas. Os modelos foram confeccionados no período de cinco dias e os mesmos foram aplicados em uma turma de licenciatura em Ciências Biológicas de diversos períodos da disciplina de verão/2016 (Morfologia Vegetal) do Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Ceunes). Para a confecção dos modelos didáticos tridimensionais citados acima, foram utilizados os seguintes materiais: caixas de sapato, isopor, biscuit, tinta para tecido verde, laranja, marrom e branca, verniz para biscuit, cola branca, cola para isopor, tesoura, faca, arame liso, linha para bordar marrom e laranja, fita adesiva transparente, palito de churrasco, papel camurça marrom, cartolina verde, terra, folhas artificiais (plástico) e folhas de papel A4 com os nomes de cada espécie e o tipo de raiz representado. Os modelos foram baseados no livro Introdução à Botânica: morfologia / Vinícius Castro Souza, Thiago Bevilacqua Flores, Harri Lorenzi. – São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2013.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Confecção da raiz de aguapé Eichhornia crassipes (Figura 1): foi feita a raiz principal com biscuit em formato cilíndrico, na cor marrom, com aproximadamente 16,5cm, onde a região lisa ou de distensão foi feita na cor branca. A região de ramificação também foi feita com biscuit na cor marrom, em formato cilíndrico, porém com diâmetro e tamanho menores. Na região pilífera ou de absorção foram inseridos pequenos pedaços de linha de bordar marrom. O modelo foi fixado com fita adesiva transparente em uma tampa de caixa de sapato encapada com papel camurça marrom e cada estrutura foi identifica com uma etiqueta impressa em papel A4.

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Figura 1. Modelo da raiz de aguapé – Eichhornia crassipes Confecção da raiz de feijão – Phaseolus vulgaris (Figura 2): foi utilizado um pedaço de isopor de aproximadamente 10,5cm de comprimento, 10,5cm largura e 7,0cm de altura, encapado com biscuit marrom na parte da frente e com as laterais pintadas com tinta de tecido marrom. As raízes foram feitas com biscuit branco em formato cilíndrico e fixadas no biscuit marrom (na parte da frente do isopor). O caule foi feito com arame liso de aproximadamente 8,5cm e pintado com tinta para tecido verde. As folhas foram feitas com biscuit verde e os cotilédones foram feitos de biscuit verde e marrom.

Figura 2. Modelo da raiz de feijão – Phaseolus vulgaris

Confecção da raiz de milho – Zeamays (Figura 3): foi utilizado um pedaço de isopor de aproximadamente 13,5cm de comprimento, 14,5cm largura e 3,5cm de altura, pintado com tinta para tecido marrom e na parte superior foi passado cola para isopor e colocado um pouco de terra. O caule foi feito com biscuit verde em formato cilíndrico de aproximadamente 18,0cm de comprimento e 3,5cm de diâmetro e fixado na parte

177 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 superior do isopor com um palito de churrasco. A folha foi feita com biscuit verde e as raízes com biscuit branco em formato cilíndrico, sendo fixadas na parte basal do caule.

Figura 3. Modelo da raiz de milho – Zea mays

Confecção da raiz de cenoura – Daucus carota (Figura 4): foi utilizada uma caixa de sapato com a parte superior cortada e depois encapada com papel camurça marrom. Um pedaço de isopor, com umacircunferência de aproximadamente 5,0cm de diâmetro no centro foi encapado com papel camurça marrom e o mesmo foi encaixado dentro da caixa de sapato. A raiz foi feita com biscuit laranja, com aproximadamente 13cm e nela foram fixados pedaços pequenos de linha de bordar laranja (representando os pelos absorventes). As folhas foram artificiais com aproximadamente 12,5cm e encaixadas na parte superior da raiz. Depois de pronta, a cenoura foi encaixada dentro da caixa, através da circunferência feita no isopor.

Figura 4. Modelo da raiz de cenoura – Daucus carota.

Todos os modelos foram identificados com uma placa feita com cartolina verde, papel impresso em folha A4 com nome popular, científico e tipo de raízes das espéciese fixados na base de cada modelo com um palito de churrasco. O ensino da Botânica é, em geral, tradicional, centralizando-se na simples memorização e repetição de nomes e funções, geralmente desvinculados do dia-a-dia e da realidade em que os alunos se encontram. A Botânica, nessa situação, torna-se muitas

178 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 vezes uma disciplina maçante e monótona, fazendo com que os próprios estudantes questionem o motivo pelo qual ela lhes é ensinada. Por outro lado, quando o estudo da Botânica apresenta a relação entre os organismos e a natureza e aproxima do cotidiano, ressaltando a importância dessa área de estudo, o estudante passa a ter um maior interesse pelo assunto, quando lhes são dadas condições de perceber e discutir situações relacionadas ao conteúdo. Desta forma, os modelos didáticos de raízes foram confeccionados para preencher essa lacuna existente no conteúdo relacionado. Durante uma aula da disciplina de verão Morfologia Vegetal, os quatros modelos de raízes foram expostos em uma mesa no centro da sala e cada estrutura foi devidamente demonstrada e explicada pela aluna Ludmila de Souza, onde os licenciandos foram apresentados aos modelos didáticos e puderam visualizar os diferentes tipos de raízes que existem e que estão presentes no dia a dia. Primeiramente foi apresentado o modelo de raiz de aguapé, seguido pelos modelos de feijão, milho e cenoura. Ao mostrar o modelo para os alunos, foi explicada a raiz representada, juntamente com suas estruturas e características. Foi discutido também o fato do material ser de fácil acesso, de fácil manuseio, de baixo custo e com uma boa durabilidade. Os alunos foram positivos em relação à simplicidade e ao mesmo tempo com a forma que os modelos foram representados, buscando sempre assimilar com o modelo real. Segundo a grade curricular do Espírito Santo (Brasil, 1998), esses modelos confeccionados além de poderem ser utilizados na disciplina de Morfologia Vegetal, podem ser também utilizados pelos professores para explicações da disciplina de Angiospermas no Ensino Fundamental e Médio. Ao trabalhar com recursos didáticos torna-se possível observar o entusiasmo do aluno sobre a nova maneira de aprender. A maioria dos alunos prefere uma aula que utilize um recurso didático do que uma aula com base no modelo tradicional bancário (Freire, 1997), mesmo não tendo conhecimento sobre esse modelo. Assim, o uso de modelos didáticos corresponde a uma forma de concretizar o conteúdo abordado, de uma maneira divertida e prazerosa, caracterizando-se como uma das formas mais efetivas de ensino, podendo ser utilizado como estratégia para aperfeiçoar o desempenho dos alunos em conteúdos mais complexos (Miranda, 2001).

CONCLUSÃO

Com efeito, a atividade desenvolvida na produção e aplicação de modelos didáticos para estudantes em formação, a partir de conteúdos de Botânica permitiu a interação dos estudantes com o saber científico articulado com o saber pedagógico, ambos de grande importância para a formação profissional. Ainda mais, proporcionou intensificar a busca por referenciais teóricos que fundamentassem a proposta de trabalho, bem como a reflexão em torno da sua futura prática docente no que se refere a uma nova concepção de ensino de Ciências e Biologia. A aproximação, proporcionada pelos modelos didáticos, entre aluno e as temáticas cientificas, permitirá ao aluno apreender o que lhe é proposto de forma prazerosa e alegre. Dessa maneira, haverá uma construção de valores e conhecimentos para toda sua vida, não apenas uma memorização momentânea. A utilização dos modelos didáticos contribui para o aprendizado da Botânica, pois facilita a compreensão por utilizar o lúdico e ao mesmo tempo relacioná-lo com o cotidiano e a realidade.

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos a professora doutora Elisa Mitsuko Aoyama por ter ministrado a disciplina de verão Morfologia Vegetal e por nos auxiliar na elaboração deste resumo.

LITERATURA CITADA

Almeida, J. M. S. 2003. Construindo a célula animal em sala de aula. In: Anais II Encontro Regional de Ensino de Biologia, Niterói, 2003.

Brasil. 1998. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais / Secretaria de Educação Fundamental – Brasília.

Freire, P. 1997. Educação "bancária" e educação libertadora. MHS Patto, Introdução à Psicologia Escolar, p. 61-78.

Krasilchik, M. 2004. Prática de Ensino de Biologia. EDUSP, São Paulo, 200 p.

Krasilchik, M. 2008. Prática de Ensino de Biologia. 6.ed. São Paulo: Edusp.

Miranda, S. 2001. No Fascínio do jogo, a alegria de aprender. Ciência Hoje, v.28, p. 64- 66.

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Zabala, A. 1998. A prática educativa: como ensinar. Artmed, Porto Alegre, 224p.

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GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE CACAU PRÉ-EMBEBIDAS COM SUBSTÂNCIAS ANTIOXIDANTES

Maiara Dadalto de OLIVEIRA1*, Leidiane ZINGER1, Marcus Vinicius Sandoval PAIXÃO2, Suzane ZINGER3, Ana Paula Venturini DEMUNER1 & Samantha Fadini TOREZANI1

1Estudante, Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa, 2Professor/Orientador, Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa 3Engenheira Agrônoma *email: [email protected]

INTRODUÇÃO

O cacaueiro (Theobroma cacao L.) é uma planta pertencente à família Malvaceae, provavelmente originada da Bacia Amazônica e cultivada nas regiões tropicais do mundo. O interesse de cultivo desta espécie está no aproveitamento de suas sementes para produção de derivados de cacau (Alves, 2002). Do seu fruto do cacaueiro se extraem sementes que, após sofrerem fermentação, transformam-se em amêndoas, das quais são produzidos o cacau em pó e a manteiga de cacau. Em fase posterior do processamento, obtém-se o chocolate, produto alimentício de alto valor energético (Iac, 1998). O cacau vem se tornando uma cultura que ganha grande ocupação no mercado, e para a produção do estado do Espirito Santo. Além do uso de suas sementes como matéria prima para a indústria alimentícia, são utilizadas também, comumente para a propagação da cultura. A germinação de sementes é uma das fases críticas para o estabelecimento das plantas em condições naturais. Fisiologicamente, a germinação inicia-se com a embebição de água pela semente, seguida da retomada do crescimento do embrião quiescente e terminando com a protrusão de alguma parte deste por meio do tegumento. Na maioria dos casos, o primeiro órgão a emergir é a raiz primária. O processo de germinação inicia-se com o ressurgimento das atividades metabólicas que foram quase que paralisadas após a maturação da semente (Bewley & Black, 1982). O conhecimento das condições ideais para a germinação de sementes de uma espécie é de fundamental importância, principalmente, pelas respostas diferenciadas que ela pode apresentar em função de diversos fatores, como viabilidade, dormência, condições de ambiente, envolvendo água, luz, temperatura, oxigênio e ausência de agentes patogênicos, associados ao tipo de substrato para sua germinação (Carvalho & Nakagawa, 2000). As substâncias antioxidantes são capazes de atrasar ou inibir a oxidação de um substrato oxidável, protegendo as células sadias contra a ação oxidante dos radicais livres (Ipiranga, 2016). Dentre as principais substâncias antioxidantes, temos: o ômega 3, ácido ascórbico, tocoferol e retinol. Não há estudos realizados quanto à ação dessas substâncias na germinação de sementes a fim de melhorar seu vigor. Objetivou- se avaliar a ação de substâncias antioxidantes no vigor das sementes de cacau.

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MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Sementes do Instituto Federal do Espírito Santo campus Santa Teresa. As sementes de cacau da variedade clonal PS- 1319 foram adquiridas a partir de frutos colhidos na fazenda experimental da CEPLAC, localizada no município de Linhares. O preparo do ensaio experimental procedeu-se 48 horas após a colheita dos frutos. Inicialmente foi feita a retirada da mucilagem com o auxílio de pó de serra em água, e as sementes limpas foram levadas ao laboratório de produção de sementes. Procedeu-se com o tratamento das sementes com fungicida comercial Dithaner (2g.100ml-1). Após o tratamento preparou- se as 5 bandejas com 1 L de água e a diluição de 200 mgL¹ de cada antioxidante (tocoferol, ômega 3, retinol e ácido ascórbico) e uma testemunha em água pura. Em cada bandeja foram adicionadas 100 sementes, que constituíram as 4 repetições de 25 sementes para cada tratamento, estas ficaram embebidas por 6 horas. Passado o tempo, procedeu- se com a montagem dos tratamentos. Os tratamentos foram feitos em papel germitest onde os mesmos foram pesados, e o valor do peso multiplicado por 2,5 resultou no valor em ml de água destilada a umedecer as folhas. Sobre a mesa previamente esterilizada com álcool 70%, colocou duas folhas de papel germitest e posicionou-se as 25 sementes e sobre estas colocou- se mais uma folha de papel germitest, sendo montados os rolos com as sementes. O mesmo procedimento foi realizado para todas as repetições. Os 4 rolos de cada tratamento foram acondicionados em sacola plástica transparente e levados para BOD à 25ºC. As avaliações de germinação conforme Regras para Análise de Sementes (Brasil, 2009). IVG determinado pela fórmula de Maguire (1962) e TMG calculado segundo Laboriau & Valadares (1976), começaram 3 dias após a montagem do experimento. As contagens foram efetuadas diariamente e tiveram inicio com o surgimento das primeiras radículas. Os dados experimentais foram submetidos aos testes de Shapiro-Wilks (p>0,05), para verificação da normalidade e à análise de variância, sendo as médias de cada característica comparadas pelo teste de Tuckey em nível de 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os tratamentos não afetaram as características relacionadas à germinação (IVG, TMG e germinação), e o tempo e as concentrações utilizadas podem não ter sido suficientes para desempenhar a atividade antioxidativas ou até como substrato respiratório nas primeiras etapas de uso das reservas, germinação e desenvolvimento da plântula (Tabela 1). As sementes de cacau obtidas a partir de frutos selecionados na fazenda experimental da CEPLAC trouxeram uma carga genética muito boa, o que proporcionou uma germinação de 100% na testemunha, provando a qualidade das sementes colhidas em frutos daquela empresa. Comparando com os tratamentos utilizados, podemos observar que os antioxidantes não tiveram atuação positiva na germinação das sementes. O tratamento com ômega 3 se destacou dos demais tratamentos, por se tratar de uma substância com valor calórico superior ao dos carboidratos, seus efeitos repercutiram com uma germinação semelhante à testemunha (Tabela 1).

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Tabela 1. Médias dos tratamentos para vigor em sementes de cacau Trat G IVG TMG 1 100 a 15,256 a 34,26 a 2 95 a 14,654 a 32,25 a 3 95 a 15,285 a 31,98 a 4 95 a 15,544 a 32,95 a 5 99 a 13,492 a 32,40 a Médias dos tratamentos para germinação, seguidas de mesma letra na coluna para cada variável, não diferem entre si pelo teste de Tukey em 5% de probabilidade. G = Germinação, em %; IVG = Índice de Velocidade de Germinação; TMG = Tempo Médio de Germinação; Trat. 1= Testemunha; Trat. 2= Tocoferol; Trat. 3= Ácido Ascórbico; Trat. 4= Retinol; Trat. 5= Ômega 3.

Foi observado diferença na germinação, porém, os tratamentos não apresentaram diferença significativa, pela concentração das substâncias utilizadas, bem como o tempo de embebição que foram submetidas. Corroborando com a pesquisa, Melo et al. (2001) também não obteve resultados significativos em embriões de guarirobeira, trabalhando com cultura in vitro. Poucas são as informações obtidas na literatura relacionadas a sementes recalcitrantes tratadas com antioxidantes, principalmente com sementes de cacau e não existem trabalhos que fazem referência ao uso de substâncias antitioxidantes com influência nas atividades fisiológicas da planta. Apesar das recomendações encontradas na literatura como uma das medidas para equacionar o problema da oxidação (Grattapaglia & Machado, 1998). Pode-se considerar como uma medida complementar para promover a reidratação mais rápida do embrião em culturas que sofrem oxidação em suas sementes (Melo et al., 2001).

CONCLUSÃO

O tratamento com antioxidantes não afetou a germinação de sementes de cacau, sendo necessário avaliar novas concentrações, tempo de imersão e uso de compostos que veiculem com maior eficiência as substâncias testadas.

LITERATURA CITADA

Alves, S. A. M. 2002. Epidemiologia da Vassoura-de-Bruxa (Crinipellis Perniciosa (STAHEL) SINGER) em Cacaueiros Enxertados em Uruçuca, BA. 2002. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba.

Bewley, J. D. & Black, M. 1982. Physiology and biochemistry of seeds, v.2., Berlin: Springer-Verlag.

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Grattapaglia, D. & Machado, M. A. Micropropagação. In: Torres, A. C.; Caldas, L. S.; Buso, J.A. (eds). 1998. Cultura de tecidos e transformação genética de plantas. p.183-260. Brasília: EMBRAPA-CNPH.

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EFEITOS DA INTENSIDADE LUMINOSA SOBRE A HISTOQUÍMICA DE RAÍZES DE Cattleya guttata Lindl. (ORCHIDACEAE)

Samira LEITE*, Antelmo Ralph FALQUETO, Elisa Mitsuko AOYAMA

UFES/CEUNES - Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas, Universidade Federal do Espírito Santo, Centro Universitário Norte do Espírito Santo * [email protected]

INTRODUÇÃO

Orchidaceae apresenta distribuição cosmopolita, incluindo cerca de 850 gêneros e 20.000 espécies, sendo a maior família de Angiospermas em número de espécies (Souza & Lorenzi, 2005). Morfologicamente, a família pode ser reconhecida por suas raízes fasciculadas envolvidas por velame (espécies epífitas e rupícolas), ou ser tuberoides em algumas espécies terrícolas (Piazza, 2013). De acordo com Barros et al. (2015), constam no território brasileiro 2.553 espécies de orquídeas, distribuídas em 238 gêneros, dos quais 33 são endêmicos. O gênero Cattleya é um dos mais importantes da família Orchidaceae devido ao elevado valor ornamental e por isso, muitas espécies tem sido coletadas intensamente na natureza para o cultivo. A elevada frequência com a qual vem ocorrendo essa procura tem levado a uma redução e desaparecimento de várias populações e consequentemente, várias dessas espécies apresentam-se ameaçadas a extinção (Cruz et al., 2003). Para as orquídeas e demais plantas a luz é um recurso crítico que se recebida em escassez ou em demasia pode limitar o seu crescimento e a sua reprodução. A relação entre a radiação e as propriedades fotossintéticas ocorridas na folha fornece valiosa informação sobre as adaptações da planta ao ambiente (Taiz & Zeiger, 2013). Segundo Carvalho et al. (2006), as modificações nos níveis de luminosidade a que uma espécie está adaptada podem acarretar diferentes respostas em suas características fisiológicas; bioquímicas; de crescimento; e anatômicas. Dessa maneira, é fundamental uma melhor compreensão da interferência do ambiente de luz no cultivo de orquídeas. Uma vez que C. guttata possui um grande potencial econômico, faz-se necessário à realização de trabalhos que permitam comparar a histoquímica de raízes em ambiente de baixa e alta luminosidade com o intuito de adquirir maior conhecimento sobre a espécie.

MATERIAL E MÉTODOS

Cattleya guttata Lindl. (Figuras 1 A e B) é uma espécie ocorrente na Mata Atlântica nos estados da Bahia, Goiás, Mato Grosso e na faixa litorânea em áreas de restinga. A espécie tem como suas principais ameaças a fragmentação do habitat, onde ocorre e a pressão de coleta predatória pelo seu valor ornamental. Diante do exposto, C. guttata está classificada como vulnerável (Menini Neto et al., 2013).

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Figura 1. A) Morfologia de Cattleya guttata Lindl., cultivadas em diferentes condições de luminosidade no orquidário do CEUNES/UFES; B) Detalhe floral da espécie Cattleya guttata Lindl.

Plantas adultas de orquídeas Cattleya guttata Lindl. foram adquiridas em orquidário particular do município de João Neiva/ES com recursos oriundos da FAPES/CNPq. Neste orquidário, as plantas cresciam sobre densidade de fluxo de fótons de 200 a 300 µmol m-2 s-1, temperatura média de30/25 °C (dia/noite) e umidade relativa do ar em torno de 85%. Em março de 2013, as plantas foram conduzidas para o orquidário do CEUNES/UFES, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical, onde permaneceram durante três meses nas mesmas condições descritas acima até o início das atividades. Trimestralmente as plantas foram fertilizadas periodicamente com a aplicação de 1,6 g l-1 de fertilizante à base de amônia; nitrato; ureia orgânica; ácido fosfórico; e carbonato de potássio, seguindo as recomendações técnicas de cultivo do produtor. Para avaliar os efeitos da exposição prolongada à luz, em junho de 2013, sete plantas foram transferidas para ambientes com 12% de luminosidade (baixa luz) e 100% de luminosidade (alta luz), onde a maior intensidade luminosa foi obtida no interior do orquidário aproximadamente 2000 µmol m-2 s-1 foi considerada como sendo 100% de radiação fotossinteticamente ativa (RFA). O nível de 12% de RFA foi obtido por meio de telas de sombreamento, conforme especificações do fabricante. A RFA foi confirmada utilizando-se um sensor quântico (LI-250A, LI-COR, USA). As plantas permaneceram nas condições descritas até dezembro de 2014, totalizando 18 meses de tratamento a exposição à luz tempo suficiente para a emissão de raízes novas. Para as análises histoquímicas utilizou-se o material vegetal fixado em FAA (formaldeído: ácido acético: álcool etílico 50%, 2:1:18, v/v), de acordo com Johansen (1940), mantidas por 48 horas e posteriormente transferidas e armazenadas em etanol 70%.

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Foram realizadas secções transversais da região mediana e as imagens obtidas em microscópio Leica DM 750, acoplada à câmera fotográfica Leica ICC50, com projeção de escalas micrométricas. Foram utilizadas secções como controle para fim de comparação com os testes realizados. Os reagentes utilizados foram Solução de lugol para amido JENSEN, 1962); Floroglucina clorídrica para evidenciar lignina (Oliveira & Saito, 1991); ácido acético; e ácido clorídrico para verificação da composição química em cristais conforme sugerido por Chamberlain, 1932 apud Kraus; Arduin, 1997.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As raízes de Cattleya guttata Lindl apresentaram reação positiva para amido somente no tratamento de 12% de luminosidade (Figura 2 A), sendo observados na parte central do córtex. Provavelmente isso ocorreu pelo fato das raízes do tratamento de 100% de luminosidade (Figura 2 B) utilizarem o amido como fonte de energia e não armazená-lo. De acordo com Walter; Silva e Emanuelli (2005) o amido apresenta grande importância nutricional e industrial, e é amplamente distribuído em diversas espécies vegetais, como carboidrato de reserva, sendo abundantes em grãos de cereais; raízes; e tubérculos. Silva et al.,(2010) em um estudo sobre a anatomia de raízes de espécies de Orchidaceae do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro em Minas Gerais observou a presença de grãos de amido nas células corticais das espécies Epidendrum secundum Jacq., Epidendrum xanthinum Lindl., Habenaria hydrophila Barb. Rodr., Habenaria janeirensis Kraenzl., , Oncidium barbaceniae Lindl., Oncidium blanchetii Rchb. f., Pleurothallis montana Lindl., Pleurothallis teres Lindl.

Figura 2. Secções transversais da região mediana de raízes de Cattleya guttata Lindl. submetidas ao teste de lugol para a detecção de amido. A) Tratamento de 12% (baixa luz) evidenciando reação positiva (seta); B) Tratamento de 100% (alta luz) evidenciando reação negativa.

No teste para detecção de lignina a reação foi positiva no tratamento de 12% (Figuras 3 A e C), e 100% de luminosidade (Figuras 3 B e D), pelo qual foi possível observara presença de lignina levemente presente no velame de forma aleatória; na exoderme; na endoderme; nas fibras; e na medula. Resultados semelhantes foram observados nas raízes de Mormodes sinuata RCHB. F. & WARM. (Moraes et al., 2013). De acordo com Saliba et al. (2001 a lignina é uma substância amorfa, de natureza aromática e muito complexa que faz parte da parede celular e da lamela média dos vegetais. A função da lignina nas plantas é auxiliar na sustentação, possibilitando o

187 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 crescimento ascendente e permitindo a condução através do xilema sob pressão negativa, além disso. A lignina tem funções defensivas importantes, tais como a proteção contra a ação de microrganismos; a resistência mecânica; o transporte de nutrientes; a água; e os metabólitos (TAIZ & ZEIGER, 2013).

Figura 3. Secções transversais da região mediana de raízes de Cattleya guttata Lindl. submetidas ao teste de floroglucina para a detecção de lignina. A e C) Tratamento de 12% (baixa luz) com reação positiva (seta). B e D) Tratamento de 100% (alta luz) com reação positiva (seta).

Os cristais de ráfides presentes nas raízes de Cattleya guttata nos tratamentos de 12% (Figura 4 A e B) e 100% de luminosidade (Figura 4 C e D), são de oxalato de cálcio. Isso pode ser justificado pela dissolução em ácido clorídrico por uma reação positiva enquanto em ácido acético a reação foi negativa no tratamento de 12% (Figura 5 A e B) e 100% de luminosidade (Figuras 5 C e D). Os cristais de oxalato de cálcio são formados no metabolismo vegetal e armazenados no vacúolo das células onde as plantas absorvem os nutrientes do solo (Scardelato et al., 2013). Entre as inclusões citoplasmáticas inorgânicas, a inclusão de oxalato de cálcio é a mais comum e provém da combinação do ácido oxálico resultante do metabolismo da planta com sais de cálcio extraídos do solo pelo vegetal (Oliveira & Akisue, 2009). As ráfides são encontradas principalmente nas monocotiledôneas. A baunilha pertencente à família Orchidaceae é um exemplo de monocotiledônea portadora de cristais de oxalato de cálcio, em suas células parenquimáticas do mesocarpo (Oliveira & Akisue, 2009). Segundo Pereira (2009), cristais ráfides de oxalato de cálcio também

188 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 foram observados em folhas de algumas epífitas sendo esses cristais, muito comuns em Orchidaceae.

Figura 4: Secções transversais da região mediana de raízes de Cattleya guttata Lindl. submetidas ao teste de ácido clorídrico para verificação de composição química dos cristais de ráfides. A e B) Tratamento de 12% de luminosidade com reação positiva; C e D) Tratamento de 100% de luminosidade com reação positiva.

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Figura 5: Secções transversais da região mediana de raízes de Cattleya guttata Lindl. submetidas ao teste de ácido acético para verificação de composição química dos cristais de ráfides. A e B) Tratamento de 12% de luminosidade com reação negativa. C e D) Tratamento de 100% de luminosidade com reação negativa.

CONCLUSÃO A partir do estudo realizado foi possível comparar a histoquímica de raízes de Cattleya guttata Lindl. em ambiente de baixa e alta luminosidade, a fim de gerar dados que irão contribuir para o conhecimento biológico desta espécie.

5. LITERATURA CITADA

Barros, F.; Vinhos, F.; Rodrigues, V.T.; Barberena, F. F.V. A.; Fraga, C. N.; Pessoa, E.M.; Forster, W.; Menini Neto, L.; Furtado, S.G.; Nardy, C.; Azevedo, C.O. & Guimarães, L.R.S. 2015. Orchidaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil: Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: .

Carvalho, N. O. S.; Pelacani, C. R.; Rodrigues, M. O. R. & Crepaldi, I. C. 2006. Crescimento inicial de plantas de licuri (Syagrus coronata (Mart.) Becc.) em diferentes níveis de luminosidade: Revista Árvore, 30(3): 1-357.

Cruz, D, T.; Borba, E. L.; Berg, C. V. D. O. 2003. Gênero Cattleya LINDL. (Orchidaceae) no Estado da Bahia, Brasil: Revista Sitientibus, série: Ciências Biológicas, 3(1): 26-34.

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Kraus, J. E.; Arduin, M. 1997. Manual básico de métodos em morfologia vegetal. Soropédica, Rio de Janeiro: EDUR.

Menini Neto, L.; Barros, F.; Vinhos, F.; Furtado, S. G.; Judice, D. M.; Fernandez, E. P.; Sfair, J. C.; Barros, F. S. M.; Prieto, P. V.; Kutchenko, D. M.; Moraes, M. A.; Zanata, M. R. V. & Santos, L. A. F. 2013. Orchidaceae. In: Martinelli, G. & Moraes, M. A. Livro vermelho da flora do Brasil: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: 1 Edição, p. 49-828.

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Oliveira, F.; Akissue, G. 1989. Fundamentos de farmacobotânica. Editora Atheneu 3° Edição, São Paulo, 216 p.

Oliveira, F.; Saito, M. L. 1991. Práticas de morfologia vegetal. Livraria Atheneu editora, São Paulo, 115p.

190 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Pereira, J. D. 2009. Aspectos ecológicos e anatômicos de epífitas vasculares da trilha do Muriqui, Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, Araponga, Minas Gerais. Dissertação de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Botânica, Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais.

Piazza, L. D. 2013. Evolução dos caracteres anatômicos dos órgãos vegetativos de espécies de Bulbophyllum Thouars (Orchidaceae, Epidendroindeae) neotropicais. Dissertação de Mestrado. Curitiba.

Saliba, E. O. S.; Rodriguez, N. M.; Morais, S. A. L.; Piló-Veloso, D. 2001. Ligninas – Métodos de obtenção e caracterização química: Revista Ciência Rural, Santa Maria, 31(5): 917-928.

Scardelato, J. A.; Legramandi, V. H. P. & Do Sacramento, L. V. S. 2013. Ocorrência de cristais em plantas medicinais utilizadas no tratamento da nefrolitíase: paradoxo? Revista de Ciências Farmacêutica Básica e Aplicada. 34(2): 161-168.

Silva, I.V.; Meira, R.M.S.A.; Azevedo, A.A. 2010.Anatomia de raízes de espécies de Orchidaceae do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, Minas Gerai: Revista. Hoehnea, 37(1): 147-161.

Souza, V.C.; Lorenzi, H. 2005. Botânica Sistemática: guia ilustrado para identificação das famílias de Angiospermas da flora brasileira, baseado em APGII. Instituto Plantarum, Nova Odessa, 640 p.

Taiz, L.; Zeiger, E. 2013. Fisiologia Vegetal. Artmed, Porto Alegre, 918 p.

Walter, M.; Silva, L. P. & Emanuelli, T. 2005. Amido resistente: características físico- químicas, propriedades fisiológicas e metodologias de quantificação: Revista Ciência Rural, Santa Maria, 35(4): 974-980.

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Subárea: Ecologia

PLANO DE MONITORAMENTO DE DEPOSIÇÃO DE MATERIAL PARTICULADO SEDIMENTÁVEL NA REGIÃO DA GRANDE VITÓRIA – ES

Paula Lopes GONÇALVES1* & Francisco Cândido Cardoso BARRETO1.

1Universidade Federal do Espírito Santo – UFES. *[email protected]

INTRODUÇÃO

A Região da Grande Vitória, composta pelos municípios de Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e Viana, é um dos principais pólos de desenvolvimento urbano e industrial do Espírito Santo e concentra cerca de 55 a 65% das atividades industriais potencialmente poluidoras instaladas no estado, tais como: siderurgia, pelotização, pedreira, cimenteira, indústria alimentícia, usina de asfalto, etc (IEMA, 2011). A Grande Vitória sofre com a deposição contínua do pó preto, ou material particulado sedimentável (em inglês PTS) produzido por duas empresas conforme constatado na CPI do Pó Preto realizado em 2015. O PTS é formado por partículas finas que podem causar diversos tipos de problemas respiratórios nas pessoas expostas a ela continuamente (Leveque, 2015). Como os problemas são cumulativos, ou seja, as pessoas se acostumam com a poeira presente e simplesmente adotam novos hábitos para esse convívio como os procedimentos de fechar varandas, janelas e aumentar a frequência de limpeza de suas residências. No entanto, com o passar dos anos e exposição recorrente, esse malefícios podem servir de percursor para doenças ou agravar as já existentes, como: hipertensão arterial, depressão, problemas cardíacos (Buonanno et al., 2013). A poeira sedimentável é, portanto, uma potencial fonte de incômodo à população da Região da Grande Vitória, o que implica na necessidade de implementar normas que visem o controle desse poluente. O enfadonho gerado pelo material particulado sedimentável no ar atmosférico dificilmente haverá uma redução desse problema em curto prazo. No entanto, se for possível detectar picos na emissão desse material, o cidadão poderá entrar em contato rapidamente com a prefeitura e órgãos competentes no qual tomará providências como, por exemplo, uma notificação às empresas responsáveis. Na atualidade, cada vez mais se pode encontrar com mais frequência o uso de sistemas especializados que são construídos e programados para realizar e facilitar tarefas diversas. Um dos grandes desafios impostos neste cenário é a integração de diferentes sistemas embarcados. Isto é, quando surgem soluções que vão desde a construção de dispositivos para algoritmos em desenvolvimento, a fim de realizar essa integração. No entanto, cada sistema incorporado separadamente teve grande evolução e isso pode ser evidenciado em vários projetos e protótipos que foram construídos a partir destes micros controladores. Neste contexto, o presente trabalho busca realizar uma forma de monitoramento autônomo de material particulado sedimentável por meio da instalação de micro controladores e sensores, em diversas localidades da Região da Grande Vitória. Estes micros controladores e sensores, construídos e programados especificamente para esse fim são capazes de interceptar as partículas de material particulado sedimentável a fim de controlar e avaliar a qualidade do ar atmosférico.

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Para melhor controle e avaliação, os dados coletados da poeira de material particulado sedimentável são comparados com os Padrões Nacionais de Qualidade do Ar (Resolução CONAMA nº 3 de 28/06/1990).

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi desenvolvido com uso da placa de prototipagem Arduino UNO (Banzi et al, 2005) (Figura 1.) com o objetivo de elaborar um dispositivo que fosse ao mesmo tempo barato, funcional e fácil de programar, sendo dessa forma acessível a estudantes e projetistas amadores. Além disso, foi adotado o conceito de hardware livre, o que significa que qualquer um pode montar, modificar, melhorar e personalizar o Arduino, partindo do mesmo hardware básico (D'ausilio, 2012).

Figura 1. Placa de prototipagem Arduino Uno e o cabo USB. Fonte: Fotografia autoral, 2017.

Assim, foi criada uma placa composta por um microcontrolador Atmel, circuitos de entrada/saída e que pode ser facilmente conectada à um computador e programada via IDE (Ambiente de Desenvolvimento Integrado) utilizando uma linguagem baseada em C/C++, sem a necessidade de equipamentos extras além de um cabo USB (Kim and Sup, 2015). Depois de programado, o micro controlador Arduino pode ser configurado de infinitas formas para gerar uma grande gama de dispositivos capazes de automatizar funções (Chandra et al., 2013), o resgistro de dados utilizados foram registrados por meio do Sensor GP2Y1010AU0F (Sharp Corporation, 2006), Figura 2., é um sensor optico de qualidade do ar desenvolvido para detectar partículas de poeira. Um diodo emisor de infravermelhos e um fototransistor estão arranjados diagonalmente para permitir o monitoramento da luz refletida por partículas em suspenção. É especialmente efetivo na detecção de partículas muito finas como fumaça de cigarros e é normalmente utilizado em sistemas de purificação.

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Figura 2. Kit do Sensor GP2Y1010AU0F. Fonte: Fotografia autoral, 2017.

Os pontos de amostragem pretendidos, para coleta de dados foram os bairros: Jardim Camburi, Enseada do Suá, Praia do Canto e Ilha do Boi, cujos bairros obtiveram altos índices de emissão de material particulado sedimentável (IEMA, outubro/2015).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como proposto no presente trabalho, a placa de prototipagem Arduino UNO, foi montada, programada e instalada com o Sensor GP2Y1010AU0F como mostrado na Figura 3, com a proposta de coletar dados a partir do mês de maio de 2017 com picos de meia e meia hora para média do dia/mês (como realizado no IEMA), e comparar com dados conforme os Padrões Nacionais de Qualidade do Ar (Resolução CONAMA nº 3 de 28/06/1990), Tabela 1, e com os dados das coletas realizadas pelas empresas envolvidas pela CPI do Pó Preto que afirmam estarem qualificados entre as faixas “Bom” e “Regular”.

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Figura 3. Placa de prototipagem Arduino UNO conectado com o Sensor P2Y1010AU0F. Fonte: Fotografia autoral, 2017.

Tabela 1. Faixa de concentrações dos poluentes para o cálculo do IQA. Classificação PTS e Média Faixas do IQA* (24h) µg/m³** Bom 0-80 Regular*** 81-240 Inadequada 241-375 Má 376-625 Péssima 626-875 Crítica 876 e acima

*Índice de Qualidade do Ar. **microgramas por metro quadrado. *** Os índices até a classificação (Regular), atende o Padrões de Qualidade do Ar. Fonte: Resolução CONAMA nº03 de 1990 (Padrão CONAMA).

CONCLUSÃO

Com os dados coletados e comparados, poderá ser afirmado a veracidade dos dados coletados pelas empresas envolvidas na CPI do Pó Preto. Cujo relato consta, nas normas enquadradas pelos Padrões Nacionais de Qualidade do Ar (Resolução CONAMA nº 3 de 28/06/1990). Após compração e contestamento de ambos os dados, espera-se que os dados coletados de acordo com o presente trabalho leve em consideração a realidade ao atual problema enfrentado pela população da Região da Grande Vitória. Pois dados relatados

195 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 como “Bom” não se enquadram com os graves problemas respiratório e psicológicos que os cidadãos estão confrontando.

LITERATURA CITADA

Banzi, M. et al. Site Arduino. 2005. Disponível em: http://www.arduino.cc. (26/03/2017).

Buonanno, G. Et al. Health effects of daily airborne particle dose in children: Direct association between personal dose and respiratory health effects. Environmental Pollution, v. 180, p. 246–250, 2013.

Chandra, A. A. Et al. Review on Sensor Cloud and its Integration with Arduino based Sensor Network: 2013 International Conference on It Convergence and Security (Icitcs), 2013.1

D'ausilio, A. Arduino: A low-cost multipurpose lab equipment: Behavior Research Methods, v. 44, p. 305-313, 2012.

Fuzari, S. Et al. Avaliação do incômodo à população da Região da Grande Vitória por partículas sedimentáveis: um estudo de inter-relações entre níveis de incômodo e seus fatores determinantes. Departamento de Engenharia Ambiente. Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, 2012.

Kim, S. Et al. The Improvement of Interactive Prototyping Contents for Designers: Focused on Effective Applications of Arduino Prototyping: Journal of Integrated Design Research, v. 14, p. 73-86, 2015.

Leveque, A. Outdoor Particulate Matter (Pm) and Associated Cardiovascular Diseases in the Middle East. v. 28, n. 4, p. 641–661, 2015.

Mora, D. R. S. Et al. Integración de los sistemas embebidos Raspberry Pi y Arduino para el manejo de un brazo robótico mediante una aplicación Android. Épsilon, n. 25, p. 69-96, 2015.

Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente. 2014. Revisão da Resolução CONAMA nº 03/1990 – Padrões de Qualidade do Ar. Disponível em: http://www.qualidade.iema.es.gov.br/scripts/sea0512.asp (15/03/2017).

Multilógica-Shop. Sensor óptico de poeira Sharp GP2Y1010AU0F. 2017. Disponível em: https://multilogica-shop.com/sensor-%C3%B3ptico-de-poeira-sharp- gp2y1010au0f (10/03/2017).

Século Diário. Arcelor Mittal e vale lançam 38 mil toneladas todo mês na Grande Vitória. 2017. Disponível em: http://seculodiario.com.br/22173/10/arcelormittal- e-vale-lancam-38-mil-toneladas-de-poluentes-todo-mes-sobre-a-grande-vitoria-1 (08/04/2017).

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Secretaria do Estado de Meio Ambiente e de Recursos Hídricos. Qualidade Iema – Rede comunitária de percepção de poeira. 2003. http://www.qualidade.iema.es.gov.br/scripts/sea0512.asp (08/04/2017).

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CONSUMO DE Dimorphandra jorgei POR Tapirus terrestris EM REMANESCENTE DE MATA ATLÂNTICA DE TABULEIRO NO SUDESTE DO BRASIL

Cristina Jaques da CUNHA1*, Geovane Souza SIQUEIRA2 & Ana Carolina SRBEK- ARAUJO1,3

1Laboratório de Ecologia e Conservação de Biodiversidade, Programa de Pós-graduação em Ecologia de Ecossistemas, Universidade Vila Velha. 2Reserva Natural Vale, Vale S.A. 3Instituto SerraDiCal de Pesquisa e Conservação. * [email protected]

INTRODUÇÃO

A Família Fabaceae está amplamente distribuída nos biomas brasileiros e seus representantes caracterizam-se por possuir fruto tipo legume, sâmara ou drupa, podendo ser secos ou carnosos. No Brasil, há registro de aproximadamente 2.826 espécies de Fabaceae, distribuídas em 222 gêneros, abrangendo variadas formas de vida, as quais incluem arbustos, árvores, ervas e lianas (Lima et al., 2012). Essa família possui grande importância ecológica e econômica. Em função de sua associação simbiótica com fungos fixadores de nitrogênio (micorrizas), algumas espécies dessa família contribuem para o aumento dos níveis de nitrogênio no solo, beneficiando o processo de regeneração natural (Franco et al., 1995; Franco & Faria, 1997), como Acacia mangium (acácia), Leucaena leucocephala (leucena) (Franco et al., 1995) e Dimorphandra jorgei (pau-para-tudo) (Lorenzi, 2009). Além disso, algumas espécies possuem alto valor terapêutico (uso medicinal), a exemplo de Dimorphandra mollis (faveira), Dimorphandra gardneriana (fava-d'anta) (Landim & Costa, 2012) e Melilotus officinalis (trevo-amarelo) (Pleşca‐Manea et al., 2002). Outras espécies, por sua vez, são utilizadas em ornamentação e urbanização, como Senna siamea (cássia- amarela) e Adenanthera pavonina (cássia-Brasil) (Dantas & Souza, 2004). Este trabalho reporta a presença de sementes de uma espécie de Fabaceae arbórea, Dimorphandra jorgei (pau-para-tudo), em amostra fecal de Tapirus terrestris (anta), em um remanescente de Mata Atlântica de Tabuleiro no sudeste do Brasil. A anta é uma espécie de grande porte que atua como dispersora de sementes (Fragoso & Huffman, 2000; Galetti et al., 2001; Tófoli, 2006; Tobler et al., 2010), destacando-se pela dispersão de estruturas de maior tamanho e por deslocar-se a grandes distâncias (O'Farrill et al., 2013).

MATERIAL E MÉTODOS

O registro foi obtido na Reserva Natural Vale (RNV), localizada no município de Linhares, porção norte do estado do Espírito Santo. A RNV, juntamente com a Reserva Biológica de Sooretama e outras áreas protegidas adjacentes, compõe o maior remanescente florestal do estado: o Bloco Linhares-Sooretama (BLS; ~50 mil ha). A amostra fecal de T. terrestris foi detectada no dia 22 de agosto de 2016, durante caminhada em estrada não pavimentada localizada na porção oeste da RNV (19° 08' 17"S, 40° 03' 38"W). A amostra estava fresca (recém-depositada) e havia grande número de pequenas sementes intactas em sua superfície externa e interior. A

198 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 amostra fecal foi fotografada e uma amostra das sementes foi coletada para posterior identificação em laboratório.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As sementes foram identificadas como sendo da espécie Dimorphandra jorgei (Figura 1), popularmente conhecida como pau-para-tudo. É uma espécie endêmica da Mata Atlântica, ocorrendo do sul da Bahia ao norte do Espírito Santo (Thomas et al., 2003). Está frequentemente presente em áreas de floresta próximas à costa e em áreas de restinga (Lorenzi, 2009). É considerada uma espécie secundária de fases iniciais de regeneração, sendo recomendada para uso em projetos de reflorestamento ambiental (Lorenzi, 2009). Seu fruto é do tipo legume, seco, deiscente (Lorenzi, 2009) e de revestimento duro, apresentando dormência morfológica (Clifton-Cardoso et al., 2008).

Figura 1. Semente de pau-para-tudo (Dimorphandra jorgei) em fezes de anta (Tapirus terrestres) na Reserva Natural Vale (Linhares / Espírito Santo).

A anta habita vários ambientes, ocorrendo principalmente em florestas associadas a corpos d’água (Medici, 2010). Possui dieta herbívora e desloca-se a grandes distâncias em busca de alimento (Fragoso et al., 2003), dispersando as sementes que consome em diferentes ambientes (Fragoso & Huffman, 2000; Galetti et al., 2001; Tobler et al., 2010; Seibert, 2015). Com isso, elas contribuem nos processos de germinação, sobrevivência e recrutamento de plantas (Galetti et al., 2001; Tobler et al., 2010; O'Farrill et al., 2013), influenciando nos padrões de distribuição das espécies e na estruturação das comunidades vegetais (Willson & Traveset, 2000; Howe & Miriti, 2004). O potencial de dispersão por antas tem sido demonstrado em diferentes estudos, havendo uma grande variedade de espécies cujos frutos são dispersos pela espécie (e.g. Fragoso & Huffman, 2000; Galetti et al., 2001; Tófoli, 2006; Tobler et al., 2010). Apesar disso, o consumo de D. jorgei por antas havia sido registrado em apenas outras duas áreas: na Reserva Biológica do Córrego do Veado e na Reserva Particular do Patrimônio Natural Recanto das Antas (Seibert, 2015), ambas localizadas na porção

199 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 norte do Espírito Santo. Ressalta-se que a segunda reserva é adjacente à RNV, representando uma das áreas que compõe o BLS. O registro de sementes de D. jorgei em fezes de anta, na RNV, foi obtido na estação seca, de forma semelhante ao registrado por Seibert (2015). O autor sugere que as antas possivelmente necessitem complementar sua dieta durante períodos com baixa disponibilidade de frutos com pericarpo suculento (Seibert, 2015), o que poderia explicar o consumo, na estação seca, de frutos considerados não atrativos para mamíferos com base em suas características morfológicas. No Cerrado, as antas são as principais dispersoras de Dimorphandra mollis (Bizerril et al., 2005), não havendo outras informações disponíveis para D. jorgei na literatura científica. Os dados obtidos no presente trabalho, associados aos registros de Seibert (2015), evidenciam que a anta é um potencial dispersor de D. jorgei na Mata Atlântica, podendo ser um dos principais dispersores desta espécie na região amostrada. A amostra fecal contendo sementes de D. jorgei foi depositada em estrada não pavimentada, localizada entre a borda florestal e uma área em processo de reflorestamento com espécies nativas. Isso indica que a contribuição das antas no processo de recuperação florestal pode ser potencializada pelo fato de depositarem fezes contendo sementes em áreas em processo de regeneração, o que é otimizado pela dispersão de espécies que podem formar associações com micorrizas. A anta é classificada como Em Perigo na Mata Atlântica (Medici et al., 2012) e é considerada extinta em quase todo Espírito Santo (Flesher & Gatti, 2010). Atualmente, a espécie ocorre em poucas áreas protegidas na região norte do estado, havendo apenas uma população viável da espécie em todo Espírito Santo, a qual corresponde ao BLS (Flesher & Gatti, 2010). Uma vez que os frutos de D. jorgei não são morfologicamente atrativos para a fauna de vertebrados em geral, mas podem ser dispersos por antas, considera-se que a extinção local das populações de antas pode comprometer a dispersão de sementes de pau-para-tudo a longas distâncias. Neste sentido, ressalta-se que a mortalidade de sementes próximo à planta-mãe tende a ser maior, uma vez que esta possui resposta dependente de densidade, sendo a dispersão pela fauna um dos elementos que contribui para a sobrevivência das sementes e para o estabelecimento das plântulas (Janzen, 1970; Howe & Miriti, 2004). Recomenda-se que o efeito da remoção das antas sobre os padrões de dispersão e distribuição de D. jorgei, bem como de outras espécies cuja dispersão é dependente ou principalmente realizada pela espécie, seja investigado em estudos futuros.

CONCLUSÃO

Este registro confirma o consumo de D. jorgei por anta também na RNV, indicando que esta espécie pode ser um importante item complementar na dieta desse grande mamífero. Adicionalmente, sugere-se que a anta possa ser um dos principais dispersores de D. jorgei na Mata Atlântica, o que também pode se aplicar a outras espécies cujos frutos são morfologicamente considerados não atrativos para mamíferos. O fato da amostra fecal com sementes de pau-para-tudo ter sido encontrada próximo a uma área em reflorestamento reforça o papel ecológico das antas como dispersoras, contribuindo também para a regeneração natural de ambientes em processo de recuperação.

200 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

AGRADECIMENTOS

CJC agradece à CAPES pela bolsa de estudos concedida. ACSA agradece à UVV e à FAPES (0607/2015) pelo apoio financeiro ao desenvolvimento das atividades do Laboratório de Ecologia e Conservação de Biodiversidade.

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203 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

COMMUNITY AND SPECIES-LEVEL RESPONSES TO EUTROPHICATION IN STREAMS OF THE ATLANTIC FOREST

Bruno Eleres SOARES1*, Rafael de Oliveira MARQUES1, Daíza LIMA1, Renato RIEBOLDT2, Cláudio MARINHO3, Miriam Pilz ALBRECHT1 & Érica Pellegrini CARAMASCHI1

1Laboratório de Ecologia de Peixes - Universidade Federal do Rio de Janeiro 2IBAMA/RJ 3Laboratório de Limnologia – Universidade Federal do Rio de Janeiro *[email protected]

INTRODUCTION

Increasing human development leads to environmental modifications and diversity erosion both in local and regional scales through niche-related processes. In general, species have different responses to land use mediated by their functional traits. Ribeiro et al. (2016) show, for example, that siltation of small streams has great effect on specialist fish species, but it favors generalist ones. Thus, it is expected that more urban sites hold poorer communities than pristine sites, and that they are composed by a few generalist species favored by new conditions. One of the main threats to streams in the Atlantic Forest is water pollution by agriculture and domestic and/or industrial discharge of untreated sewage (Abilhoa et al., 2011). The enrichment of water by the nutrients input coming from sewage (mainly nitrogen and phosphorous) may lead to eutrophication of the streams, a complex process that may deeply alter physicochemical conditions and productivity (Dodds & Smith, 2016), as well as invertebrate and fish communities (Wang et al., 2007; Evans-White et al., 2009). Strong eutrophication commonly leads to species’ loss in freshwaters (Tammi et al., 1999; Jeppesen et al., 2000), while smaller levels of eutrophication may increase species richness (Chase & Leibold, 2002; Dodds & Smith, 2016). Several studies also show turnover in community composition in response to nutrients input, which could lead to increasing gamma diversity (Heino, 2012). These changes in the structure of communities may have feedback responses to eutrophication patterns – i.e. the proportion of grazers directly affects nutrients accumulation in the surface water through grazing rates (Jäger et al., 2017). Considering that biotic interactions affect ecosystem properties and nutrients pathways, management and conservation planning in response to eutrophication require not only the evaluation of nutrients input, but also the evaluation of how biological communities shift in these eutrophic environments. In order to analyze the responses of fishes of the Piabanha River basin to eutrophication, we: (i) described community-level responses to abiotic gradients through multivariate techniques; and (ii) generated thresholds for indicator species and for the regional-level assemblage to nutrient input (dissolved nitrogen and phosphorous).

MATERIAL AND METHODS

We sampled fish assemblages from nine localities in the Piabanha River basin. The Piabanha River basin has a drainage area of 2.065 km², being an important tributary of the Paraíba do Sul River. Sampling sites encompasses first order streams of rocky

204 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 substrates (LeValon), channelized streams (Garagem and Liceu), and larger rivers with varying degrees of urbanization (e.g. Pedro do Rio stream is located within an urban frame and directly receives domestic sewage water). We carried out four expeditions between August/2012 and March/2014 for fish sampling. Sampling techniques were specific to each site due physical limitations (e.g. smaller streams as LeValon were sampled by electrofishing and sometimes with complementary methods). Sampled individuals were fixed and identified in the Fish Ecology Lab of the Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) following the Catalog of Fishes. We measured the following environmental characteristics during the ichthyological surveys: dissolved nutrients (phosphorous and nitrogen - µM), pH and dissolved oxygen (mg/L). We characterized differences in the environmental characteristics of the streams by Principal Component Analysis (PCA) and determined which abiotic conditions were the most important to observed dissimilarities. We used the broken-stick model as stopping rule and interpreted the most correlated environmental characteristics with each selected axis (Pearson r). We also selected the most important environmental characteristics to analyze species-specific responses to urbanization. General traits related to the taxonomic structure of the assemblage samples were calculated (richness and Shannon’s diversity) for temporal and spatial comparisons. In addition, a Non-Metric Multidimensional Scaling (NMDS) and the Analysis of Similarity (ANOSIM) were performed to evaluate the dissimilarity in the fish fauna composition among samples and sites. We used the Jaccard index as dissimilarity measure, because our sampling design encompassed different methods, thus discouraging direct comparisons of abundance among sites. We also performed a Canonical Correspondence Analysis (CCA) to evaluate the changes in the fish communities along the environmental gradients. We analyzed the abundance patterns of species along the dissolved nitrogen and phosphorous gradients in order to identify indicator species and their thresholds to eutrophication using the Threshold Indicator Analysis (TITAN; Baker & King, 2010). TITAN identifies change points in the response of the species and of the entire community along an environmental gradient. The analysis takes into account the fidelity of species occurrences and the relative abundances of the species along the observed gradient. We used a 0.7 cut-off of purity and reliability in selecting indicator species.

RESULTS AND DISCUSSION

PCA showed that major differences in the abiotic characteristics of the streams were mostly temporal (Figure 1), and they were related to differences in the phosphorous and nitrogen input in the water. Only one axis of explanation was selected (43.06% of explained variance), and sampled with lower values in this axis exhibited higher values of dissolved nutrients. All of those samples were from the same sampling period (dry season), and it highlights that seasonal and year-to-year variation in rainfall interacts with land use in controlling limnological characteristics.

205 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figure 1. Principal Component Analysis for five limnological variables sampled in ten streams of the Piabanha River basin between August/2012 and March/2014.

We may observe a trophic gradient among samples. During the dry season of 2013, five sites exhibited the extreme values of dissolved nitrogen and phosphorous. These sites include both large (e.g. Parque) and small streams (e.g. LeValon). Despite the great variation in dissolved nutrients, only one stream exhibits low values of dissolved nutrients to be considered as mesotrophic (LeValon; mean PD < 0,5 µM and mean ND < 20 µM). We sampled 4,590 fishes distributed in 51 species, 17 families and six taxonomic orders. A total of 12% of these are non-native species and some of them represent recent introductions (e.g. Apareiodon piracicabae [Eigenmann, 1907] has original distribution in the Tietê River and its invasion is related to ornamental aquaculture). Some species sampled in a study performed near one of the studied streams (Moura-Brasil downstream) highlights the absence of some species in the streams studied herein: Brycon opalinus (Cuvier, 1819), Brycon insignis Steindachner, 1877, Leporinus conirostris (Steindachner, 1875), Steindachneridion parahybae (Steindachner, 1877), Hypomasticus mormyrops (Steindachner, 1875), Loricariichthys castaneus (Castelnau, 1855). Larger streams exhibited higher richness, which is commonly expected if we consider the species-area relationship (Ney-Nifle & Mangel, 2000). In addition, larger streams also exhibited higher Shannon’s diversity. Both results must not be hold as final, since there was difference in sampling methods among streams, which generated different sampling effort. Nonetheless, sampling methods aimed to have the broader possible assessment of the fish diversity in each stream, since standardize sampling

206 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 would be ineffective in streams with different physical characteristics (e.g. width, depth). NMDS showed that spatial-temporal processes regulate species composition in the basin (Figure 2; R² = 0.12; p = 0.03). Garagem and Liceu exhibited similar fish communities due to the dominance of Poecilia reticulata Peters, 1859 and Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758), but with temporal variation observed in the second axis of the NMDS. LeValon exhibited a community dominated by Trichomycterus spp., and in a single event (March/2013) Trichomycterus spp. dominated the fish community in Poço do Ferreira, allowing a similarity between this sample and LeValon. Generally, we observed a strong spatial variation in the fish composition along the Piabanha River basin, but the CCA showed the relationship between P. reticulata and sites with high nitrogen input, and also highlighted that a cluster of sensible species occurred in sites with lower nitrogen levels (Trichomycterus spp., Scleromystax barbatus [Quoy & Gaimard, 1824] and Gymnotus pantherinus [Steindachner, 1908]).

Figure 2. Non-Metric Multidimensional Scaling (NMDS) for fish species sampled in ten streams of the Piabanha River basin between August/2012 and March/2014. Distances were calculated by Jaccard dissimilarity.

Considering that nitrogen input is related to land use and due to its importance to the fish fauna composition, we described a threshold for indicator species responses to the dissolved nitrogen in these streams (Figure 3). TITAN confirmed that Trichomycterus spp. and S. barbatus are species with low tolerance for dissolved nitrogen increase (along with Astyanax intermedius Eigenmann, 1908 and Neoplecostomus microps [Steindachner, 1877]). Those species are negatively affected

207 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 by the increase of dissolved nitrogen below 100 µM concentration, but S. barbatus has a higher threshold (between 150 and 200 µM). The threshold for the regional diversity was even lower than for indicator species (Figure 3b; 63.14 µM). Seven species exhibited positive responses to dissolved nitrogen (Figure 3a). Some of them were rather sensitive to the dissolved nitrogen increase: Phalloceros harpagos Lucinda, 2008, Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824), Hypostomus punctatus Valenciennes, 1840 and Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824), which exhibited positive responses to nitrogen input between 20 and 90 µM. Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758), P. reticulata and Gymnotus gr. carapo Linnaeus, 1758 thresholds occurred only after higher increases of dissolved nitrogen (starting from 180 µM). Thus, positive responses in the regional assemblage were more asynchronous along the dissolved nitrogen gradient (Figure 3), and a mean threshold for the regional assemblage is not representative for overall response of indicator species.

Figure 3. Threshold Indicator Analysis (TITAN) for species and community-level responses to the dissolved nitrogen gradient (µM). Codes: z- represents negative responses; z+ represents positive responses.

208 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figure 4. Threshold Indicator Analysis (TITAN) for species and community-level responses to the dissolved phosphorous gradient (µM). Codes: z- represents negative responses; z+ represents positive responses.

Fewer species were sensible to dissolved phosphorous variation (Figure 4). General patterns were similar: Trichomycterus spp. and Astyanax gr. bimaculatus exhibited negative responses to dissolved phosphorous, while Poecilia reticulata exhibited positive responses; and the community threshold for negative responses is lower (1.62 µM) than the threshold for positive responses (7.09 µM). The relative roles of nitrogen and phosphorous in the eutrophication of freshwaters are controversial in the scientific literature, primarily due to a notion that phosphorous limits productivity in freshwaters and nitrogen limits it in marine environments (Hecky & Kilham, 1988; Dodds & Smith, 2016). Nevertheless, there is strong evidence for the co-limitation by nitrogen and phosphorous in algal biomass in freshwater systems (Elser et al., 2007; Dodds & Smith, 2016), attributing importance for the input of both nutrients in eutrophication processes. Considering that the trophic state of waterbodies affect the entire ecosystem, our data supports that both nitrogen and phosphorous are important factors shaping fish communities in small streams of the Atlantic Forest.

CONCLUSION

Biodiversity responses to land use are rather diversified, but urbanization in the Piabanha River basin affected the dissolved nitrogen and phosphorous in the streams leading to eutrophication. Generally, increasing dissolved nitrogen and phosphorous led to fish faunas dominated by few species. We also observed a high number of indicator species, being Trichomycterus spp. and Astyanax spp. sensitive species to increasing nutrients input in the streams, while Poecilia reticulata was favored in high concentrations of dissolved nitrogen and phosphorous. Overall, we observed that fish

209 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 communities are strongly shaped by eutrophication in small streams of the Atlantic Forest due to different species-specific responses to nutrients input. In addition, we provide thresholds for species and for fish communities that should be considered for future conservation planning.

ACKNOWLEDGEMENTS

We are grateful to COPPETEC/UFRJ for the financial support through the project 01.11.0101.000 (“Hidrograma ecológico e modelagem quali-quantitativa de bacias”) coordinated by José Paulo Soares de Azevedo. We are also thankful to Renata Bartolette, Pedro Hollanda de Carvalho, Fernando Kilessi, Karina Ferreira, Axel Katz and Igor Cavalcanti for the help with fish identification.

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ARDUINO NO DESENVOLVIMENTO DE PESQUISAS EM BIOLOGIA EXPERIMENTAL: UMA REVISÃO

Marcos MARTINELLI

Universidade Federal do Espírito Santo. [email protected] INTRODUÇÃO

Inovações tecnológicas como computadores com alto processamento e novos modelos matemáticos, tem proporcionado grandes progressos na área da biologia (Aderem, 2005). Além disso, o compartilhamento da informação biológica, está lentamente se tornando uma prática frequente nas instituições científicas durante as últimas décadas (Michener, 2015). Consequentemente, ocorre a criação de canais de comunicação de livre acesso à informação, como plataformas de compartilhamento de dados, algumas não se restringindo ao meio acadêmico, mas também destinadas para o público em geral. Sendo assim, guiado por um número cada vez maior de cientistas, o pensamento de que a informação e as tecnologias devem ser livres de qualquer barreira que impeça sua difusão, abriu espaço para o surgimento de filosofias mais liberais nas instituições. Nesse âmbito, duas vertentes que estão intimamente relacionadas, a filosofia de Código-aberto e a comunidade ‘Faça-Você-Mesmo’. Primeiramente a filosofia de Código-Aberto (em inglês Open-Source) tem como princípio que programadores e organizações de diferentes partes do mundo compartilhem seus códigos e como consequência ocorra o refinamento dos mesmos através de trabalhos colaborativos (Lerner & Tirole, 2002). Ou seja, os autores de um dado estudo permitem a livre utilização e modificação daquele conteúdo publicado. Já a comunidade Faça-Você-Mesmo, do inglês, Do-it-yourself (DIY), em paralelo ao pensamento da comunidade de Código-aberto, é um método de construção de tecnologias a partir de uma matéria primária simples que reduz os custos de sua construção (Kuznetsov et al., 2015). Por exemplo, a construção de termocicladores (e.g. Wong et al., 2015), sensores de pH (e.g. Yang et al., 2014) e equipamentos de coleta de dados em ecologia (Baker, 2014; Gandra et al., 2015) e em estudos de comportamento animal (Kuusela & Lämsä, 2016). Com a filosofia Código-Aberto e DIY estes equipamentos além de possuírem menor preço, são compartilhados com a comunidade através de artigos científicos com as informações sobre sua construção e seu funcionamento. Há também uma comunidade Faça-Você-Mesmo especificamente para área biológica, denominada DIY biology (DIYbio) possuindo um grande número de seguidores e com grandes perspectivas para solucionar problemas relacionados ao monitoramento ambiental assim como em áreas ligadas à biotecnologia (Landrain et al., 2013). Em meio a esse cenário, uma plataforma física de prototipagem de Código- aberto chamada Arduino foi desenvolvida por estudantes e professores do Instituto Ivrea de Interação e Design na Itália em 2005 (Buechley & Hill, 2010). Inicialmente, o Arduino foi criado para facilitar a utilização de eletrônicos para trabalhos de artistas e designers facilitando a utilização de um microcontrolador para esses profissionais. Com isso, o Arduino garantia a esses profissionais alcançar maior foco nos objetivos do seu trabalho, sem necessidade de entrar a fundo em detalhes técnicos sobre a utilização dessa ferramenta (Barragán, 2004). Por ser uma plataforma de prototipagem, o Arduino é capaz de receber comandos (ditos através de uma linguagem computacional) e aplica- los de acordo com a programação específica. Além disso, pode ser aplicado em diversos

212 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 contextos como na construção de equipamentos para monitoramento ambiental (Baker, 2014; Gandra et al., 2015) e em pesquisas envolvendo comportamento animal (Rizzi et al., 2016; Doyle et al., 2017). Tais características proporcionaram a esta plataforma a criar um novo nicho na área de eletrônica, em que várias áreas do conhecimento começaram a buscar uma abordagem interdisciplinar através de trabalhos científicos ou não (Grasel & Vonnegut, 2010). Na biologia experimental, o Arduino permitiu o desenvolvimento de experimentos científicos automatizados (Duarte et al., 2015), criação de equipamentos laboratoriais (Pearce, 2012; Baden et al., 2015), além de uma grande variedade de sensores (Gertz & Di Justo, 2012; Baker, 2014) e aplicações na área da educação com uma abordagem interdisciplinar na biologia (Grasel et al., 2010; Cira et al., 2015). Sendo assim, o Arduino possibilita pesquisadores adaptarem e desenvolverem tecnologias para seu próprio interesse ao criar um ambiente que permite aos pesquisadores materializar suas ideias de projetos e pesquisa, antes limitados pelo desconhecimento tecnológico. A presente revisão tem o propósito de compilar trabalhos já publicados que utilizam a plataforma Arduino para estudos nas áreas biológicas. Também, serão destacadas as áreas onde as aplicações tiveram mais sucesso e quais suas perspectivas para o futuro.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta revisão não buscou ranquear ou estabelecer um critério de classificação (e.g. QUALIS) ou nenhum outro parâmetro entre os artigos científicos utilizados, de forma a coletar um volume maior de bibliografias. Foi utilizado em maior parte o mecanismo de busca do Google acadêmico, mas também foram buscadas nas plataformas ELSEVIER, PlosOne, Pubmed, Scielo, pelo Portal de Periódicos da CAPES/MEC e Web of Science. As palavras-chave utilizadas foram: Arduino, Biologia, Experimentos, Educação, Microcontrolador, Ciência, Vantagens e Desvantagens, Código-Aberto e DIY, tanto em português quanto em inglês. Os artigos apresentados foram coletados do período de julho de 2016 até maio de 2017. O critério de inclusão para essa revisão foram artigos que utilizaram a plataforma Arduino para pesquisas na área da biologia. Além disso, pesquisas em áreas relacionadas à biologia como medicina, geografia, física e engenharia que abordaram a utilização dessa ferramenta também foram inclusas. Devido à grande quantidade de bibliografias coletadas, foi criado um arquivo online com as tabelas inseridas (Link para download: https://docs.google.com/spreadsheets/d/1oWUvSxTQLoynNi5pqpyvxYeSsBRYXsyHq 8DuBOWsm3U/pub?output=pdf). Para melhor observação dos dados foi elaborado um quadro geral (Tabela 1) mostrando todos artigos coletados juntamente com o contexto no qual Arduino foi utilizado durante a pesquisa na coluna ‘Função Atribuída’. Na mesma tabela estão incluídas também as referências, as áreas do conhecimento de cada pesquisa e o tipo de documento (artigo ou livro). Na seção dos metadados, se encontra um quadro dos sites complementares consultados que foram utilizados durante a revisão (Tabelas 2) e também uma legenda para termos utilizados durante a construção da Tabela 1 (Tabela 3).

RESULTADOS E DISCUSSÃO Um total de 53 referências foram utilizadas dentre elas artigos e livros as quais foram separadas por áreas dentro da biologia geral e apresentadas na Tabela 1.

213 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Sumarizando os dados, facilitou a visualização de padrões em sua aplicação assim como a área da biologia (Tabela 1). Em relação as áreas do conhecimento onde o Arduino foi utilizado, algumas receberam maior atenção, como Ecologia quantitativa, Comportamento animal, Educação e Biomedicina (Saúde). Entretando foram registradas muitas outras áreas dentro da biologia como Oceanografia, Biomimética, Microbiologia, Agricultura, Biologia Marinha e Robótica. Foi observado que o Arduino fornece uma gama de funcionalidades e aplicações nas ciências biológicas, dentre elas a criação de equipamentos laboratoriais (D’Ausilio, 2012; Pearce, 2012) e a automatização de experimentos científicos (Ravignani et al., 2013; Duarte et al., 2015) com poucos recursos, ou seja, com baixo custo no mercado quando comparado com equipamentos já existentes. A redução do custo de um experimento construído a partir dessa plataforma possui grande impacto principalmente para instituições que possuem poucos recursos para investir em suas pesquisas e em infraestrutura, que consequentemente impedem ou limitam o desenvolvimento e manutenção das mesmas. Sendo assim, o Arduino permite que idéias que não conseguiam ser materializadas, terem a oportunidade de se construírem, dependendo apenas do entusiasmo dos idealizadores em aprender a trabalhar com essas tecnologias. Em outra situação, o Arduino se demonstrou um grande aliado para pesquisadores que possuem procedimentos experimentais que demandam grande esforço amostral. Sendo um microcontrolador, o Arduino possui capacidade de armazenar comandos e executa-los na ordem e tempo pré-determinados pelo usuário (Gertz & Di Justo, 2012). Também, possui baixo consumo de energia e pequeno porte (Baker, 2014). Com esses atributos, possibilita por exemplo, a construção de sensores capazes de coletar dados ambientais em tempo real por um grande período de tempo (Lee et al., 2014). Isso é muito importante para questões envolvendo monitoramento ambiental de fauna e flora, já que é possível criar uma rede de estações multissensoriais para monitoramento em tempo real dessas áreas (ver Arzberger, 2004; Porter et al., 2005; Hamilton et al. 2007). Como consequência, o monitoramento e manejo dessas áreas podem ser feitas de forma muito mais eficiente e rápida, produzindo uma quantidade grande de dados em uma escala de tempo muito maior do que pesquisas normalmente são feitas para avaliar as condições de um dado ambiente (Hamilton, 2004). Há também iniciativas como as de Gertz & Di Justo (2012) com a obra “Environmental monitoring with Arduino” assim como Premeaux et al. (2011) com “Arduino projects to save the world”. Livros como esses possuem uma abordagem mais simples de um tema técnico que é a eletrônica, aplicando para estudos sobre o meio ambiente através da coleta e análise de dados ambientais com o intuito de solucionar problemas atuais relacionados ao meio ambiente. Como sugestão, talvez futuramente empresas privadas também auxiliem o processo de coleta e compartilhamento de dados ambientais em suas propriedades. Sendo assim, é criado um ambiente colaborativo entre instituições privada e pública, visando na preservação ambiental local e também, produzindo grandes quantidades de dados que, quando compartilhados, podem contribuir para outros projetos de pesquisa. Além disso, essas dados são importantes para tomada de decisões mais eficazes do governo com a população e seu meio ambiente (Michener, 2015). Da mesma forma que análises ecológicas necessitam de grandes quantidades de dados em amplas escalas temporais para identificar e prever irregularidades no padrão de um fenômeno, a área de comportamento animal também. Na área comportamental, o Arduino foi utilizado em diferentes contextos, como na automatização de experimentos de ecotoxicologia marinha (Duarte et al., 2015) e estudos envolvendo comportamento

214 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 de gatos (Oh & Fitch, 2016), abelhas (Kuusela & Lämsä, 2016), roedores (Rizzi et al., 2016) e peixe-zebra (Doyle et al., 2017). Também foi visto a construção de ferramentas específicas de pesquisa como armadilhas para controle de praga em Citrus sp (Mankin et al., 2013), equipamento para estudo de padrões acústicos em primatas (Ravignani et al., 2013) e na construção de protótipos para estudos comportamentais (Landgraf et al., 2013; Doyle et al., 2017). Aplicando essa tecnologia em estudos comportamentais reduz vieses experimentais relacionado ao manuseio humano e condicionamento desses animais (Kuusela & Lämsä, 2016). Além de utilizados com propósitos acadêmicos, sua utilização em ambientes de sala de aula como ferramenta didática mostrou auxiliar no processo de ensino- aprendizagem, muitas vezes colocando o aluno como produtor do conhecimento (Cira et al., 2015). Grasel et al. (2015) propõe uma metodologia para três projetos abordando diferentes tópicos da biologia, como co-evolução de predador e presa, quimiotaxia microbioana e movimentação flagelar de bactérias. Esses temas são abordados em sala de aula através da construção de robôs programados, criados pelos próprios alunos utilizando o Arduino simulando diferentes tipos de comportamentos de organismos. Outro exemplo, em Cira et al. (2015), é o desenvolvimento de um jogo que unifica e relaciona temas como programação, análise de imagem, microbiologia, eletrônica a partir da manipulação de luz em uma matriz onde se encontram microorganismos fotossensíveis. No Brasil, foi encontrado até agora apenas uma proposta de estudo publicada utilizando o Arduino. Neste projeto, foram criadas estações meteorológicas de Código-aberto, onde alunos coletaram e compartilharam dados meteorológicos e ambientais em microclimas (Silva et al., 2015). Apesar de estar mais relacionado ao ensino de física, há temas no currículo da biologia no Brasil que podem aproveitar dessas abordagens como ciclos biogeoquímicos, ciclo da água e microclimas. O Arduino é compatível com a maioria dos sistemas operacionais e possui baixo custo sendo acessível às escolas com poucos recursos disponíveis. Inovando métodos de se passar um conteúdo é possível direcionar uma nova perspectiva de como são abordados temas relacionados à biologia, de forma mais interdisciplinar. Além disso, utilização do Arduino em ambientes de aprendizagem requer que seja abordado lógica de programação, sendo necessário para a comunicação do computador com a plataforma física. A abordagem lógica em sala de aula é demonstrada como positiva para o exercício de atividades relacionadas a resolução de problemas (Bastos et al., 2015), que no contexto da biologia, são atividades essenciais para estudos sobre o meio ambiente e ecologia (Lavoie, 1993). Na área de biomédicas, observou-se a aplicação da plataforma em estudos envolvendo também a construção de equipamentos laboratoriais com baixo custo (Savazzi, 2011; Chiu & Urban, 2015; Prabhala et al., 2016; Muckley, 2016) e parte do desenvolvimento de sistemas automatizados de procedimentos experimentais como extração de DNA (Kim et al., 2016) e sistemas de culturas celulares de algas (Kim & Song, 2016) e células animais (Mathupala et al., 2016). Além disso, foram encontrados projetos com análises na qualidade da água com sensores que detectam presença de bactérias (Kim and Myung, 2015) e plataformas para testes de colorimetria (para demanda química e bioquímica de oxigênio) e nefelométria (para turbidez) (Wijnen et al., 2014) com sensibilidades semelhantes a equipamentos já existentes no mercado. É considerado que as construções desses equipamentos de baixo custo com livre divulgação podem mudar o cenário atual em países onde pesquisas clínicas recebem muito pouco auxílio financeiro e contribuir assim com a melhoria da saúde pública mundial (Lang, T., 2011).

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Outras observações também foram feitas em relação aos aspectos que envolvem o universo do Arduino. Este possui uma comunidade em todo o globo com membros ativos para colaborarem e auxiliar o processo de criação e inovação tendo entre eles cientistas, artistas, designers, estudantes, entusiastas, e muitas outras atividades profissionais. Em relação às desvantagens em sua utilização, apenas um artigo mencionou problemas em seu desempenho como microcontrolador. Em Savazzi et al., 2011, limitações envolvendo o sistema de correção de erros (chamado ‘Debug’) foram identificadas. Mesmo assim, esse problema foi solucionado a partir do emparelhamento do microcontrolador com computadores de melhor desempenho. Foi observado também que, apesar de existirem muitas bibliografias extremamente didáticas, ainda há um grande número de documentações sobre o Arduino que possuem caráter tecnicista, difícil de ser compreendida por uma pessoa sem conhecimentos técnicos de eletrônica (Hribernik et al., 2011).

CONCLUSÃO

O Arduino é empregado em diferentes situações e em diferentes momentos de um projeto. Na maior parte foram desenvolvidas ferramentas visando a redução de custos e também a criação de metodologias inovadoras assim como a melhoria das existentes com aplicação de recursos mais modernos disponíveis no mercado. Também, experimentos automatizados, em qualquer grau, proporcionaram melhorias na qualidade e na quantidade nos dados coletados, que promovem interpretações mais concisas dos resultados de uma pesquisa. A partir dessa revisão, espero incentivar a criação de projetos que coloquem em prática essa plataforma visando principalmente o desenvolvimento de metodologias e equipamentos nos estudos ecológicos e de monitoramento ambiental. Por fim, discussões envolvendo as temáticas sobre o pensamento empregado pela filosofia do Código-aberto são encorajados, já que seu propósito é reduzir barreiras na comunicação entre instituições e o desenvolvimento tecnologias mais acessíveis para toda comunidade científica e também para o público geral.

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219 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

DIETA ALIMENTAR INSETÍVORA EM Guira guira (GMELIN 1788) E Crotophaga ani (LINNAEUS 1758) (CUCULIFORMES: CUCULIDAE) NO SUDESTE DO BRAZIL

José Nilton da SILVA¹* & Arlindo SERPA-FILHO¹

¹Instituto Nacional da Mata Atlântica – INMA *[email protected]

INTRODUÇÃO

A classe das aves possui diversas famílias e espécies que se alimentam de artrópodes, dentre estas estão às espécies cosmopolitas da família Cuculidae onde se encontram as espécies, as espécies desta família são cosmopolitas, destas as espécies C. ani (anu-preto) e G. guira (anu-branco) são consideradas comuns em termos de ocorrência no território brasileiro (Sick, 1997, Repenning et al. 2009, Sigrist 2014). As duas espécies podem ser avistadas em ambientes abertos, antropizados ou em florestas de fitofisionomias arbustiva (Mesquita, 2009; Repenning et al. 2009). As duas espécies possuem uma dieta bastante similar, este fato pode estar relacionado ao também similar hábito de vida das espécies, estas que vivem em bandos e em ambientes abertos, antropizados ou bordas de florestas, assim os recursos alimentares disponíveis para ambas as espécies são praticamente os mesmos, cabendo a elas apenas a seleção destes para sua alimentação (Mesquita 2009, Repenning et at. 2009, Souza 1995). Mesmo assim alguns itens da dieta de C. ani e G. guira são distintos, como por exemplo: a espécie G. guira alimenta-se não só de artrópodes, como também de pequenos vertebrados (anfíbios, répteis e pequenos mamíferos), (Beltzer 1995, Sick 1997, Kokubum & Zacca 2003; Soave et al. 2008; Mesquita 2009, Repenning et al. 2009). Segundo Repenning et al. (2009), assim a espécie G. guira é mais generalista do que as espécie C. ani, assim podendo existir itens mais inusitados na dieta da espécie G. guira quando comparada com a dieta de C. ani. Geralmente as espécies de aves que se alimentam de insetos ou pequenos vertebrados são adaptados a habitats abertos, de sub-bosque ou de dossel (Sick 1997). No caso das espécies de G. guira e C. ani as espécies o ambiente em que se associam esta ecologicamente relacionada com a sua dieta (Sick 1997, Sigrist 2014). A maior parte da dieta de C. ani e G. guira é composta por artrópodes, sobretudo insetos da ordem Ortóptera (Beltzer 1995, Sick 1997, Kokubum & Zacca 2003, Mesquita 2009). Entretanto, para se observar detalhadamente os diferentes táxons de artrópodes que compõem a dieta dos cuculídeos requerem conhecimentos e grandes investidas a campo observando as espécies, ou coletar os conteúdos estomacais para a posteriormente serem analisados, como o caso do presente estudo, que tem como principal objetivo analisar quais táxons compõem a dieta de duas espécies de Cuculidae (C. ani e G. guira) em uma área de restinga no sudeste do Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS

Os conteúdos estomacais foram obtidos de aves atropeladas, estas foram cedidas pelos técnicos da Rodovia do Sol (Rodosol) ou rodovia ES – 060, sendo os pontos de coletas dos espécimes atropelados nos quilômetros localizados nas coordenadas geográficas (20º 34’ 10” S e 40º 23’ 59” W). Os materiais foram cedidos ao setor de

220 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 zoologia do Museu de Biologia Mello Leitão – MBML, hoje atual Instituto Nacional da Mata Atlântica – INMA, onde foram alocados nos freezers da instituição com o propósito de incorpora estes materiais às coleções científicas, entretanto devido ao estado não adequado para este fim os materiais foram apenas triados para analises do conteúdo estomacal. Todos os indivíduos de Guira guira e Crotophaga ani tiveram seus estômagos coletados, após esta coleta foram realocados em recipientes para uma lavagem e melhor visualização e manuseio dos materiais contidos em seus respectivos estômagos. O conteúdo estomacal de todos os indivíduos foi alocado separadamente e submetido a um processo de secagem em estufas, após isso foram analisados com auxílio de lupas tendo objetivo de chegar a identificação taxonômica mais próxima possível. Após as análises dos conteúdos os mesmos eram fotografados e descartados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram analisados 46 estômagos de Crotophaga ani e 17 de Guira guira destes mais de 95% do conteúdo estomacal analisado foram de artrópodes da classe dos insetos, os demais conteúdos foram compreendidos entre aracnídeos, sementes e até pequenos vertebrados (tabela1). Das ordens da classe Insecta a mais representativa em números de indivíduos foi à ordem Coleóptera com n= 142, Ortóptera n= 96, Hemíptera n= 61, Himenóptera n= 15, Díptera n= 10, Lepidóptera n= 06, Odonata e Phasmatodea n=02; a classe aracnídea teve n= 5, foi constatado também n=5 pequenos vertebrados (pequenos répteis). Desta forma na tabela 1 Podemos observar a quantidade e a porcentagem de cada ordem encontrada no estomago as espécie Crotophaga ani e Guira guira.

Tabela 1. Quantidade de indivíduos de cada ordem de artrópodes encontrados nos estômagos analisados de Crotophaga ani e Guira guira, e as respectivas porcentagens de cada família de artrópodes nos conteúdos estomacais analisados de cada uma das espécies de aves, encontradas mortas na ES-062. Crotophaga ani Guira guira Conteúdo Quantidade %/indivíduos Quantidade %/indivíduos Coleóptera 73 39,24% 69 41,56% Ortóptera 71 38,17% 25 15,06% Hemíptera 17 9,13% 44 25,5% Himenóptera 11 5,91% 4 2,40% Díptera 4 2,15% 6 3,61% Phasmatodea 2 1,07% 2 1,2% Odonata 2 1,07% 3 1,80% Aracnídea 1 0,53% 4 2,40% Vertebrada 0 0 5 3,01% Sementes 5 2,68% 4 2,40%

Podemos observar que a ordem Coleóptera, Ortóptera e Hemíptera foram as mais representativas na dieta tanto do Anu-preto quanto do Anu-branco. Tendo a ordem

221 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Coleóptera e Ortóptera uma representatividade de mais de 100% na dieta de Crotophaga ani, por outro lado as ordens Coleóptera, Ortóptera e Hemíptera são encontradas em mais de 100% em Guira guira. As figuras abaixo expressam com mais precisão a quantidade de indivíduos por ordem artrópode encontrados nos estômagos das duas espécies de aves.

80 70 60

por ordem por 50

40

Quantidade Quantidade 30

20 indivíduos 10 0

Figura 1. Quantidade de artrópodes por ordens encontrados nos estômagos de

Crotophaga ani.

80 70

60

por ordem por

50 40 30 20 10

0 Quantidade indivíduosQuantidade

Figura 2. Quantidade de artrópodes por ordens encontrados nos estômagos de Guira guira. Foi constatado que as espécies de aves C. ani e G. guira tem uma preferência alimentar pelos artrópodes das ordens: Coleóptera e Ortóptera. Provavelmente pelo próprio volume e tamanho dos artrópodes, visto que a maioria dos indivíduos das duas ordens encontrada nos estômagos das espécies de aves era de tamanho expressivo em comparação ao tamanho dos estômagos das duas espécies. Geralmente ambas as

222 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 espécies de aves são seletas quanto ao volume energético (tamanho do alimento) que o alimento ingerido, selecionado os itens maiores (Sick 1997). As figuras 2 e 3 expressam a quantidade de indivíduos de cada ordem e classe taxonômica encontrados nos estômagos das duas espécies de aves, sendo possível observar uma diferença significativa comparando as ordens Coleóptera, Ortóptera e Hemíptera em relação as demais ordens encontradas nos estômagos das espécies de cuculídeos. Também foi possível constatar nos conteúdos estomacais de G. guira a presença de vertebrados da classe reptila (Torpidurus torquatus e Ameivula nativo) sendo este conteúdo encontrado em apenas um indivíduo de G. guira, o mesmo foi descrito em uma nota cientifica por Silva et al., (2016). Esta diversidade na dieta dos cuculídeos é proveniente de seus próprios hábitos de vida, sempre andando em bandos e fazendo buscas de forrageamento em grupos (Souza 1995, Sick 1997). Embora ambas as espécies apresente hábitos parecidos e vivam em ambientes abertos existe algumas diferenças nas preferências alimentares (figura 2 e 3), tendo as duas unanimidade pela preferência de artrópodes coleópteros e ortópteros, porém a espécie G. guira demonstrou uma maior preferência por artrópodes da ordem Hemíptera. Há relatos de coexistência contínua de ambas as espécies em mesmos ambientes (Souza 1995, Sick 1997, Sigrist 2014), porém não há estudos que comprovem competição por alimento entre as espécies. Segundo Souza (1995) a simpatria entre as espécies existe devido a diferenciada forma de forrageio, pois a espécie G. guira geralmente forrageia em grupos com indivíduos próximos uns dos outros, diferente da espécie C. ani que forrageiam de forma mais espaçadas entre os indivíduos. Mesmo com bastante similaridade nas dietas de ambas as espécies de cuculídeos ainda assim há distinções para as mesmas quanto aos conteúdos estomacais, pois a espécie G. guira tem em sua dieta a inclusão de pequenos vertebrados com maior frequência (Souza 1995). Por outro lado devemos dar enfoque aos artrópodes que compuseram mais de 90% da dieta do G. guira e C. ani. Os artrópodes possuem a maior diversidade de táxons do planeta (Brusca & Brusca 2007), sendo muitos destes terrestres e servindo de alimentos para diversas classes de vertebrados principalmente as aves (Brusca & Brusca, 2007; Sick 1997). Desta forma, expressiva quantidade de artrópodes encontrados na dieta de C. ani e G. guira corrobora que a alta diversidade e abundancia de artrópodes favorecem a sobrevivência de muitos vertebrados em diferentes tipos de ambientes, uma vez que os artrópodes sobrevivem em locais desde antropizados até os mais conservados. Além disso, as espécies de cuculídeos são consideradas onívoras (Sick 1997), porém no trabalho constatamos que apesar de serem consideradas espécies onívoras observou-se que ambas as espécies possuem uma preferência alimentar por artrópodes, isso pode ser devido à escassez de alguns recursos alimentares diferenciados e a existência abundante dos artrópodes. Outra importante hipótese a se considerar é a de que os insetos são atraídos por luminosidades (Silva & Martinelli 2012) assim sendo atraídos para ambientes viários local onde foram encontrados todos os indivíduos das duas espécies, estes chegando a morte por colisões com veículos.

CONCLUSÃO

Ainda existem lacunas acerca da alimentação insetívora em G. guira e C. ani. Pois ainda são feitas novas descobertas sobre a alimentação destes cuculídeos. Além disso, Estudos sobre a dieta de aves insetívoras e onívoras têm se concentrado em descrever e quantificar os itens alimentares (Ralph et al. 1985, Blake & Rougès 1997, Piratelli & Pereira 2002), mas ainda são poucos os trabalhos que investigam as relações

223 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 da dieta com a disponibilidade e distribuição de suas presas e identificação destes itens encontrados nos estômagos analisados (Manhães & Dias 2008). Tais estudos são fundamentais porque constituem a base do conhecimento de como as espécies exploram os recursos no ambiente e como podem sobreviver e coexistir com outras espécies.

AGRADECIMENTOS

Aos técnicos da Rodosol por terem fornecido os materiais zoológicos para a realização dos trabalhos. Ao Instituto Nacional da Mata Atlântica – INMA por ceder o espaço para as análises dos conteúdos estomacais.

LITERATURA CITADA

Beltzer, A. H. 1995. Biología alimentaria del pirincho Guira guira (Aves: Cuculidae) en el valle alluvial del río Paraná Medio, Argentina. Revista de Ecología Latinoamericana, 2: 13-18.

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Brusca G.J. & Brusca R. C. (2007) Artrópodes in: Invertebrados. 2ª ed. Editora Guanabara Koogan, 888p.

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Manhães, M.A. & Dias, M.M. 2008. Diet and feeding preference of the Plain Antvireo (Dysithamnus mentalis) in an area of Brazilian Atlantic forest. Ornitol. Neotrop. 19(3):419-426.

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Piratelli, A. & Pereira, M.R. 2002. Dieta de aves na região lestede Mato Grosso do Sul. Ararajuba. 10(2):131-139.

Ralph, C.P., Nagata, S.E. & Ralph, C.J. 1985. Analysis of droppingsto describe diets of small birds. J. Field Ornithol. 6(2):165-174.

Repenning, M., Basso, H. C., Rossoni, J. R., Krügel, M. M. & Fontana, C. S. 2009. Análise comparativa da dieta de quatro espécies de cucos (Aves: Cuculidae), no sul do Brasil. Zoologia, 26: 443-453.

Sick, H. 1997. Ornitologia brasileira: uma introdução. Editora nova fronteira. Rio de Janeiro, 912p.

Sigrist, T. 2014. Avifauna brasileira. Editora Avisbrasilis. São Paulo, 608p.

224 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Silva J.N & Martinelli M.M. (2012). Analise de conteúdo estomacal de aves atropeladas da espécie Hydropsalis albicollis (Aves: Caprimulgidae) no estado do Espirito Santo, Sudeste do Brasil. Anais do Simpósio Sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica SIMBIOMA, Santa Teresa –ES.

Silva J.N., Silva-Soares T. & Azevedo C.S. (2016). Predation of Ameivula nativo and Tropidurus torquatus (Squamata: Teiidae/Tropiduridae) by Guira cuckoo Guira guira (Aves: Cuculidae) in a restinga area of southeastern Brazil. Herpetological review, 47(4).

Soave, G. E., Darrieu, C. A., Aribalzaga, M. E., Camperi, A. R., Lucía, M., WilliamS, J. & Juarez, M. 2008. Dieta del pirincho (Guira guira) en el nordeste de la provincia de Buenos Aires, Argentina (Cuculiformes: Cuculidae). Revista de Biologia Tropical, 56: 1883-1892.

Souza, F.L. 1995. A study of group structure and home range size of Crotophaga ani and Guira guira in São Paulo, Brasil (Cuculiformes: Cuculidae), Ararajuba. 3:72- 74.

225 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

AS ESPÉCIES DA ORDEM ODONATA (INSECTA) UTILIZADAS EM PROGRAMAS DE BIOMONITORAMENTO: INVENTÁRIO BIBLIOGRÁFICO

Jane Peter Egert BUSS¹, Glauciomar BUSS² & Arlindo SERPA-FILHO³*

¹Pós-Graduando em Planejamento e Conservação Ambiental, Santa Teresa, ES – ESFA ²Pós-Gradução em Engenharia Ambiental, Colatina, ES – FUNCAB ³Pesquisador do Instituto Nacional da Mata Atlântica no Programa de Capacitaçao Institucional *[email protected]

INTRODUÇÃO

Devido a desequilíbrios dos ambientes ocasionados por ação antrópica, os estudos de biomonitoramento são de grande relevância, pois podem ajudar na avalição e na conservação dos ecossistemas aquáticos. Dentre os organismos comumente usados, a escolha dos macroinvertebrados bentônicos como bioindicadores de qualidade de água e saúde de ecossistemas deve-se ao fato de possuírem algumas características peculiares que os tornam eficientes para este fim (Silveira 2004). Pela exposição prolongada a todas as variações ambientais, a comunidade de bentônicos fornece dados mais específicos e verídicos sobre a da qualidade da água (Silveira, 2004). Os insetos da ordem Odonata são utilizados tanto em estudos de impacto ambiental quanto de conservação, onde algumas espécies necessitam de condições restritas para sua fixação em um ambiente. Da mesma forma, podem ser caracterizados como grupos de organismos tolerantes a mudanças no seu hábitat. Outras espécies são sensíveis às mudanças ambientais (Silva, 2011; Baptista et al., 2010). Segundo Carle (1979): (1) os indivíduos habitam qualquer tipo de habitat aquático dulcícola; (2) as larvas possuem uma grande habilidade de tolerar distúrbios ambientais, além de serem relativamente sedentárias; (3) a maioria dos adultos pode ser identificada até espécie; (4) os adultos possuem uma elevada capacidade de dispersão e estabelecimento rápido em habitats adequados e (5) os adultos são facilmente observados em função do comportamento de patrulha e defesa territorial realizado nos ambientes aquáticos. Monteiro-Junior (2014) diz que os adultos de Odonata podem ser utilizados como uma ferramenta rápida, eficiente e de baixo custo para avaliação do ambiente. Essas características tornam essa ordem de insetos uma forte ferramenta para estudos sobre priorização de conservação (Juen & De Marco, 2012). Segundo Hornung & Rice (2003) e outros autores, as libélulas são excelentes indicadores de ambientes terrestres e aquáticos devido ao seu valor como indicadores biológicos e podem atuar como espécies bandeira ou espécies guarda-chuva. Neste estudo reunimos informações extraídas de trabalhos realizados com espécies de odonatas que foram utilizadas em programas de biomonitoramento e posteriormente usadas para estudos de conservação ambiental. O objetivo deste trabalho foi relacionar quais são as espécies ou gêneros de odonatas neotropicais brasileiras que podem ser utilizadas como bioindicadores em programas de biomonitoramento em geral. As informações levantadas neste estudo poderão proporcionar um direcionamento em programas de biomonitoramento que utilizam a ordem Odonata para avaliação da qualidade e preservação dos ecossistemas aquáticos e suas adjacências.

226 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo é um inventário bibliográfico que envolveu trabalhos realizados em regiões neotropicais brasileiras realizados em um período de 20 anos (1995 – 2015) sobre biomonitoramento utilizando espécies da Ordem Odonata como bioindicador de qualidade ambiental. A pesquisa deu-se por base de dados on-line (Capes, Zootaxa, INPA, Scielo, Acta Amazonica, Elsevier). Esses artigos passaram por uma triagem de acordo com os seguintes critérios: selecionaram-se artigos que citam espécies de Odonata utilizadas em programas de biomonitoramento; e também foram usados artigos que realizaram levamento de espécies relacionadas a qualidade ambiental. As espécies foram classificadas de acordo com o ambiente encontrado: Ambientes preservados (ambiente íntegro); ambientes alterados (ambiente com pouca intervenção humana) e ambientes degradados (ambiente com muita intervenção humana).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste estudo foram selecionados, no total, 24 artigos. De acordo com os artigos analisados, a subordem Anisoptera teve um maior número, com 154 espécies descritas e a subordem Zygoptera teve 141 espécies. No total, 295 espécies estão descritas pelos autores nos seus trabalhos. Os Anisopteras estiveram presentes, em sua maioria, em áreas degradadas e alteradas. Desta forma, certas espécies pertencentes a esta subordem podem ser indicadoras de ambientes alterados/degradados, pois optam por essas áreas devido à necessidade de incidência solar para iniciar suas atividades. E Zygoptera teve maior representabilidade em ambientes preservados, onde a maioria das espécies desta subordem pode ser indicadora ambiental dessas áreas, pois de acordo com Juen et. al. (2014) Zygoptera tem preferência por ambientes preservados, e Juen & De Marco (2011) confima que elas necessitam de ambientes mais sombreados. Com relação às famílias, foram encontradas 13 representantes: Libellulidae (121 espécies), Coenagrionidae (66 espécies), Protoneuridae (28 espécies), Calopterygidae (21 espécies), Gomphidae (20 espécies), Megapodagrionidae (10 espécies), Aeshnidae (10 espécies), Lestidae (cinco espécies), Pseudostigmatidae (quatro espécies), Corduliidae (três espécies), Perilestidae (três espécies), Polythoridae (duas espécies) e Dicteriadidae (duas espécies). A família Libellulidae teve melhor representação em áreas degradadas e alteradas, correspondendo ao que afirma Batista et. al. (2006): áreas abertas favorecem a ocorrência de espécies com o maior tamanho corporal, pois esses indivíduos têm capacidade de realizar termorregulação mais eficiente em locais com maior incidência solar porque a capacidade de troca de calor por irradiação aumenta com o tamanho do corpo. A família Coenagrionidae tem preferência por ambientes preservados ou áreas alteradas com pouca vegetação em torno do corpo hídrico, onde necessita de água e vegetação para sua oviposição. Batista et al., (2010) confirma que essa família tem restrições quanto ao tipo de hábitat e justifica o fato de ser a única família com melhor resposta ao tipo de alteração do ambiente. Os gêneros que foram mais representados pelos autores nos artigos listados são: Argia (Rambur, 1842) que se apresentou em cinco artigos; Heteragrion (Selys, 1862) em seis artigos; Hetaerina (Selys, 1853) cinco artigos e Progomphus (Selys, 1854) cinco artigos. Estes gêneros estiveram presentes em todos os ambientes (preservado/alterado/degradado). O gênero Heteragrion (Selys, 1862), foi mais bem representado em ambientes preservados. Ferreira-Peruquetti & De Marco (2002) discutem que esse gênero é mais dependente de vegetação ciliar, possivelmente pela sua

227 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 especialidade de uso de locais de oviposição, comparadas com algumas espécies de Hetaerina que chegam a aumentar de abundância em áreas alteradas. Segundo Ferreira- Peruquetti & Fonseca-Gessner (2003) o gênero Argia tem preferência em ambientes degradados, tornando-a importante para o monitoramento de qualidade ambiental. O gênero Heteragrion também pode ser utilizado em monitoramento de qualidade ambiental, porém para áreas preservadas. As espécies Erythrodiplax fusca (Rambur, 1842) foi descrita em 12 artigos; Hetaerina rosea (Selys, 1853) em 10 artigos; Erythrodiplax umbrata (Linnaeus, 1758) em sete artigos; Ischnura capreolus (Hagen, 1861) em oito artigos; Erythrodiplax basalis (Kirby, 1897) em seis artigos, apresentaram-se em todos os ambientes, mas ocorreram na maior parte em ambientes degradados. De acordo com os artigos apresentados, a espécie Erythrodiplax fusca foi registrada tanto nas áreas degradadas quanto nas alteradas, podendo ser classificada como um bom bioindicador para esses tipos de ambientes. Segundo Ferreira-Peruquetti (2002), Hetaerina rosea tem prefêrencia por áreas degradadas pelo fato de serem mais produtivas do que áreas com mata. Por isso, essa espécie é comum em áreas de degradação, podendo ser utilizada em programas de biomonitoramento. A espécie Orthemis discolor (Burmeister, 1839) foi citada em nove artigos, Perithemis mooma (Kirby, 1889) em seis artigos e Erythrodiplax juliana (Ris, 1911) em cinco artigos. Estas três espécies foram citadas pelos autores somente em ambientes degradados/alterados. Algumas espécies de Odonata podem ser classificadas em dois grupos: espécies especialistas e generalistas. Segundo McCauley (2007) as espécies generalistas de habitat se dispersam em grandes distâncias em relação às especialistas, podendo colonizar novos locais. Já as especialistas são limitadas pela baixa capacidade de dispersão. Monteiro-Junior et. al., (2012) diz que os ambientes com alta integridade favorecem espécies especialistas e a situação inversa, para as espécies generalistas. Segundo Dutra & De Marco (2011) as espécies Erythrodiplax fusca e Erythrodiplax juliana (Ris, 1911) também são consideradas generalistas, por estarem presentes em todos os tipos de ambientes demonstrados neste trabalho. Além dessas espécies, foi notado em nosso trabalho que a Hetaerina rosea ocorreu em todos ambientes e talvez possa ser considerada generalista. As seguintes espécies estão em destaque de acordo com alguns autores: Oligoclada walkeri (Geijskes, 1931), encontrada em quatro artigos; Telebasis willinki (Fraser, 1948), Protoneura tenuis (Selys, 1860), Psaironeura tenuissima, (Selys, 1886) e Dicterias atrosanguinea (Selys, 1853) citadas em três artigos e presentes somente em ambientes preservados, podendo ser indicadoras ambientais. Segundo Oertli (2008) as espécies de Odonata estão associadas ao grau de integridade dos ecossistemas aquáticos, corroborando a hipótese de que estas podem ser utilizadas como indicadoras de qualidade ambiental. Segundo Bedê & Machado (2002) e Monteiro-Junior et. al., (2014), os gêneros Hetaerina sp, Heteragrion sp e Argia sp. possuem um grande potencial para indicação de qualidade ambiental. As espécies que sofrem um estresse por meio da mudança do seu ambiente demostram mudanças comportamentais. Isso indica que algumas espécies são resistentes a um ambiente que sofreu alterações e que elas continuam habitando essas áreas. Desta forma, torna-se cada vez mais frequente a utilização do grupo como indicador de mudanças ambientais (Ferreira-Peruquetti & De Marco, 2002). As libélulas listadas podem ajudar nos programas de biomonitoramento ambiental e dessa forma, podem ser elaborados projetos para a criação de unidades de conservação ambiental observando-se os hábitos destes animais.

228 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

CONCLUSÃO

Em um período de 20 anos, os resultados indicam que a ordem Odonata possui grande potencial para bioindicação. Ela pode constituir uma importante ferramenta para avaliação e monitoramento de ambientes e corpos hídricos. Além disso, não foram encontradas até o momento informações ou dados que exponham Odonata apresentando baixo potencial para bioindicação. Desta forma é necessário que se realizem novos estudos para verificar se realmente esta ordem possui baixo potencial bioindicativo. Alguns gêneros podem ser utilizados como indicadores ambientais: a Hetaerina para ambientes degradados e Heteragrion para ambientes preservados. Algumas espécies podem ser bioindicadores: Orthemis discolor e Perithemis mooma para ambientes degradados e as espécies Oligoclada walkeri, Telebasis willinki, Protoneura tenuis e Psaironeura tenuissima para ambientes preservados. De acordo com os dados encontrados em nosso trabalho, elas são as mais indicadas para os programas de biomonitoramento e podem servir como ferramenta para que se proponha um planejamento ou programa para a criação de unidades de conservação.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a toda equipe do INMA envolvida nessas atividades, bem como a todos que dedicaram um instante do seu tempo para apoiar a pesquisa.

LITERATURA CITADA

Baptista, D.F. et al. 2010. Manual de identificação de macroinvertebrados aquáticos do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Technical Books. 176 p.

Batista, J.D. et al. 2006. Distribuição longitudinal de adultos de Odonata em riachos no cerrado: uma hipótese ecofisiológica. Minas Gerais. Dissertação (mestrado) em Entomologia na Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais.

Bedê L.C. & Machado Â.B.M. 2002. Diagnóstico da condição ambiental em ambientes úmidos na região do Parque Nacional da Serra da Canastra-MG utilizando libélulas como indicadores ecológicos. Instituto Terra Brasilis De Desenvolvimento Sócio-Ambiental, 38 p.

Carle, F.L. 1979. Environmental monitoring potential of the Odonata, with a list of rare and endangered Anisoptera of Virginia, United States. Odonatologica 8: 319-323 p.

Dutra, S.L. & De Marco Jr., P. 2011. Bionomia de Odonata: Implicações ecológicas na distribuição de riqueza, na diversidade beta e no uso como indicadores ambientais. Góias. Tese (doutorado em ecologia e evolução), Universidade Federal de Góias. 119 p.

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Hornung, J.P. & Rice, C.L. 2003. Odonata and wetland quality in southern Alberta, Canada: a preliminary study, Odonatologica 32: 119-129 p.

Juen, L. & De Marco Jr., P. 2011. Grandes rios e a distribuiçãode Odonatana Amazônia: similaridade de composição, limitação à dispersão e endemismo. Tese de Doutorado não publicada, Programa de Pós-Graduação em ecologia e evolução, Universidade Federal de Góias, Goiânia-GO. 201 p.

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McCauley, S.J. 2007. The role of local and regional processes in structuring larval dragonfly distributions across habitat gradients. Oikos, 116: 121- 133.

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Monteiro-Junior, C.S. et. al. 2012. Efeitos da alteração ambiental causada pela urbanização na cidade de Manaus (AM) sobre a comunidade de adultos de libélulas (Insecta: Odonata). Manaus. Disertação (mestrado) não publicada, Programa de Pós-Graduação em Entomologia, INPA, Manaus. 75 p.

Oertli, B. 2008. The use of dragonflies in the assessment and monitoring of aquatic habitats. In: Cordoba-Aguilar, A. (Ed.), Model Organisms for Ecological and Evolutionary Research. Oxford University Press, Oxford, pp. 79–95.

Silva, C.C. 2011. Caracterização das comunidades de imaturos de Odonata (Insecta) em cinco córregos da Estação Biológica de Santa Lúcia, Espírito Santo, Brasil. 57 f. Dissertação - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Biologia, Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal.

Silveira, M.P. 2004. Aplicação do biomonitoramento para avaliação da qualidade da água em rios. Jaguariúna: Embrapa Meio. Documentos, 68 p.

230 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

GATILHOS LIGADOS À ATIVIDADE REPRODUTIVA DE Rhamdioglanis transfasciatus MIRANDA RIBEIRO, 1908, BAGRE ENDÊMICO DE RIACHOS COSTEIROS DE MATA ATLÂNTICA

Thiago Fonseca de BARROS1,2 * & Érica Pellegrini CARAMASCHI1,2

1Laboratório de Ecologia de Peixes – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 2Programa de Pós-Graduação em Ecologia – Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGE/UFRJ) *[email protected]

INTRODUÇÃO

Riachos tropicais em regiões montanhosas frequentemente sofrem forte variação sazonal da descarga fluvial durante a estação chuvosa, como enchentes e cabeças d’água (Winemiller et al., 2008), gerando assim épocas de relativa maior estabilidade ambiental no período seco, bem como épocas de relativa maior instabilidade no período chuvoso. Tais variações cíclicas podem gerar estratégias de história de vida diferenciadas em peixes de riacho (e.g. Menezes & Caramaschi, 1994; Menezes & Caramaschi, 2000; Mazzoni et al., 2002; Mazzoni et al., 2004; Rondineli et al., 2011; Brito et al., 2016). Devido a essas diferenciações, foi proposto um modelo com contínuo trilateral de estratégias de história de vida para peixes (Winemiller, 1989; Winemiller, 1992). Essas estratégias são mensuradas a partir de métricas relacionadas aos aspectos populacionais e reprodutivos das espécies (Winemiller, 1989). Por fim, demandas conflitantes entre o investimento energético na reprodução ou no crescimento determinam a alocação da energia disponível no organismo. Conforme a demanda de energia para a reprodução aumenta, diminui a disponibilidade para o crescimento (Poizat et al., 1999). As relações energéticas de um organismo em diferentes etapas de sua vida podem levar indivíduos de ambos os sexos à maturidade reprodutiva em diferentes estágios de crescimento. Machos e fêmeas de peixes geralmente atingem a maturidade sexual com tamanhos diferentes (e.g. Barbieri, 1995; Barbieri et al., 2001). Fêmeas geralmente desenvolvem gônadas maiores que as dos machos o que, dentre outros fatores, demanda que uma maior quantidade de energia seja deslocada de compartimentos somáticos para as gônadas (Santos et al., 2010). Dessa forma, pode-se esperar que elas atinjam sua primeira maturação com um tamanho menor que os machos. O conhecimento dos ciclos reprodutivos, de estratégias de história de vida e dos gatilhos associados à reprodução de peixes de riachos de Mata Atlântica ainda é uma lacuna de conhecimento importante a ser preenchida, uma vez que ainda faltam informações básicas sobre espécies endêmicas. Rhamdioglanis transfasciatus (Figura 1) é um bagre endêmico de riachos costeiros de Mata Atlântica, pertencente à família Heptapteridae, com distribuição conhecida desde o Rio de Janeiro até Santa Catarina (Eschmeyer et al., 2017; Froese & Pauly, 2017). Alimenta-se principalmente de larvas de insetos aquáticos (Brazil-Souza et al., 2009) e existem evidências de que sua reprodução ocorra nos meses de menor pluviosidade (Brito, 2007). Este trabalho consiste de uma investigação dos gatilhos ligados à dinâmica reprodutiva de R. transfasciatus. O mesmo, por ser uma espécie de riachos suscetíveis a cabeças d’água, mais frequentes no período chuvoso, deveria possuir atividade reprodutiva sincrônica

231 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 nos meses de menor pluviosidade. Sendo assim, suas características populacionais, reprodutivas e de história de vida estariam associadas à vida neste ambiente.

Figura 1. Rhamdioglanis transfasciatus capturado no riacho do Mineiro-Branco (22°25'18,26"S, 42°44'20,90"O), bacia do rio Guapiaçu, na Reserva Ecológica do Guapiaçu (REGUA); aproximadamente 18 cm de comprimento padrão. Fotografia: Axel Katz.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

A bacia do rio Guapiaçu localiza-se na transição da região serrana com a região de baixada nos municípios de Cachoeiras de Macacu e Guapimirim, estado do Rio de Janeiro. A precipitação anual média na região é de cerca de 2.080 mm/ano, podendo chegar a quase 3.000 mm acumulados nos anos mais chuvosos (Agência Nacional de Águas, 2016).

Coleta dos exemplares

Foram realizadas coletas mensais de abril de 2015 a março de 2016 em três principais afluentes do rio Guapiaçu (Figura 2). As mesmas foram realizadas utilizando a técnica de pesca elétrica com auxílio de um gerador de corrente alternada (Honda EU10i, 1.000 W, 220 V, 4,1 A). Os indivíduos de R. transfasciatus capturados eram anestesiados, e após total anestesia eram sacrificados por seccionamento da coluna vertebral. Tal procedimento é aceito pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA/MCTI, 2013). Os exemplares foram mantidos em gelo para transporte até o laboratório.

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Figura 2. Pontos amostrados na área de estudo; bacia do rio Guapiaçu, no município de Cachoeiras de Macacu (RJ).

Foram medidas as condições físicas e químicas no trecho de rio amostrado [temperatura da água (°C), oxigênio dissolvido (mg/L), saturação de oxigênio (%), condutividade (μS/cm), pH, vazão (L/s)]. Dados diários de pluviosidade da estação Fazenda do Carmo (Código Pluviométrico da Estação: 02242013) foram obtidos junto ao banco nacional de dados hidrológicos (Agência Nacional de Águas, 2016).

Dados biométricos e dissecção dos exemplares

Foram obtidos dados biométricos de comprimento e peso de cada exemplar. Em seguida, cada espécime foi dissecado ainda fresco e teve suas gônadas retiradas e pesadas em balança de precisão 0,01g. O sexo e estádio de maturação gonadal foram definidos visualmente. Os índices biológicos foram calculados separadamente para machos e fêmeas (Vazzoler, 1996). Foi calculada a relação gonadossomática (RGS) que é uma relação percentual do peso da gônada (Pg) em relação ao peso total (Pt) do espécime, através da equação RGS=Pg/Pt x 100.

Análise de dados

Sempre que necessário, os dados que não corresponderam a distribuições normais foram transformados (Log+1, tratado ao longo do texto apenas como Log), de forma a sempre respeitar os pressupostos das análises posteriores. O nível de significância adotado em todos os testes foi p < 0,05. Foram verificadas as proporções dos estádios de maturação gonadal ao longo dos meses. Foi também verificada a variação da média de RGS de machos e fêmeas ao longo dos meses. A flutuação das proporções dos estádios maduros de machos (M2, M3 e M4) e de fêmeas (F2a, F2b, F3 e F4), junto com a variação da RGS ao longo do ano, foram utilizadas para definir a época de reprodução da espécie. Para definir se a reprodução da espécie está associada às variáveis abióticas medidas nos eventos de coleta dos exemplares, foram realizados testes de correlação do Log da relação gonadossomática (Log RGS) com o Log das variáveis físicas e químicas

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(temperatura da água, o pH, o oxigênio dissolvido e a condutividade da água a que os peixes estavam submetidos em sua localidade de origem). Da mesma forma, para definir se a reprodução da espécie está associada de alguma forma à pluviosidade, foram realizados testes de correlação do Log da RGS com o Log da pluviosidade acumulada no mês de cada coleta, da pluviosidade acumulada dos últimos dez dias, da pluviosidade média do mês de cada coleta, da pluviosidade média histórica do mês de coleta de cada exemplar e da vazão fluvial medida no riacho quando do evento de coleta dos exemplares.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi capturado um total de 337 exemplares de R. transfasciatus, em que 160 eram fêmeas, com média de CP de 9,6 cm. A amplitude de tamanhos das fêmeas variou de 4,8 a 15,9 cm de CP. Foram capturados 164 machos e a média de CP deles foi de 11, 5 cm. A amplitude de tamanhos dos machos variou de 4,8 a 20,6 cm de CP. 13 exemplares foram classificados como “sexo indeterminado”. Fêmeas imaturas (F1) foram capturadas durante todos os meses de estudo, porém em maior frequência no meses de abril e agosto de 2015, nos quais constituíram o único estádio de maturação amostrado. Fêmeas em maturação inicial (F2a) e em maturação avançada (F2b) foram observadas a partir do mês de maio de 2016, e foram capturadas junto com fêmeas maduras (F3) em todos os meses de junho a novembro de 2015, exceto agosto. As primeiras fêmeas desovadas (F4) foram encontradas em setembro de 2015, pouco após a captura das primeiras fêmeas maduras, e continuaram a ser capturadas até o mês de março de 2016 (Figura 3a). Machos imaturos (M1) foram capturados em todos os meses de estudo, porém com maiores frequências em junho e dezembro de 2015 e fevereiro de 2016; a menor frequência de machos imaturos foi no mês de agosto de 2015. Machos em maturação (M2) foram amostrados em quase todos os meses de estudo, exceto dezembro de 2015; a maior frequência de machos neste estádio foi no mês de agosto de 2015. Machos maduros (M3) também foram encontrados em quase todos os meses de estudo, exceto junho de 2015. As maiores frequências somadas de machos em maturação e maduros (M2 + M3) ocorreram nos meses de agosto e setembro de 2015, coincidindo parcialmente com os meses em que fêmeas em maturação avançada e maduras (F2b + F3) tiveram suas maiores frequências somadas. As frequências somadas de machos em maturação e maduros (M2 + M3) foram próximas ou maiores que 50% da população em quase todos os meses. Machos espermiados (M4) foram encontrados apenas nos meses de junho e novembro de 2015, em baixa frequência (Figura 3b).

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Figura 3. Frequência de estádios de maturação gonadal de (a) fêmeas e (b) machos de Rhamdioglanis transfasciatus ao longo de um ciclo anual em riachos da bacia do rio Guapiaçu (RJ). Números indicam quantidade de exemplares capturados em cada mês.

A RGS de fêmeas variou ao longo do ciclo anual (Figura 4a), com os menores valores nos meses mais próximos do verão ou nos quais só foram capturadas F1, tendo alcançado assim, os maiores valores nos meses mais próximos do inverno. O valor mínimo da média de RGS de fêmeas foi de zero% em abril e agosto de 2015 (meses com somente F1) e o valor máximo da média de RGS foi de 3,60% no mês de outubro de 2015. O maior valor de RGS de fêmeas atingido na população foi de 6,30% em novembro de 2015, por uma fêmea de 13,2 cm de CP. A RGS de machos também variou ao longo do ciclo anual (Figura 4b), alcançando os maiores valores em meses próximos aos picos de RGS das fêmeas. O valor mínimo da média de RGS de machos foi de zero% em junho e julho de 2015 e março de 2016, e o valor máximo da média de RGS foi de 0,19% no mês de outubro de 2015. O maior valor de RGS atingido na população foi de 0,41%, também em outubro de 2015, por um macho de 14,4 cm de CP. O Log da RGS de fêmeas foi negativamente correlacionado com o Log do pH (R = -0,2869; p < 0,05; Tabela 1), positivamente correlacionado com o Log do oxigênio dissolvido (R = 0,2603; p < 0,05; Tabela 1), com o Log da condutividade (R = 0,3169; p < 0,05; Tabela 1) e foi negativamente correlacionado com o Log da pluviosidade mensal histórica (R = -0,1583; p < 0,05; Tabela 1).

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a b

Figura 4. Variação da relação gonadossomática (RGS) (a) de fêmeas e (b) de machos de Rhamdioglanis transfasciatus ao longo de um ciclo anual. Pontos indicam a média e barras indicam média ± erro padrão.

Tabela 1. Correlações entre o Log da relação gonadossomática de fêmeas de Rhamdioglanis transfasciatus com dados pluviométricos, fluviométricos e abióticos de riachos da bacia do rio Guapiaçu (RJ). Valores de p em negrito indicam relações significativas. Modelo t R p

Log RGS ~ Log temperatura da água -0,7566 -0,0620 0,4505 Log RGS ~ Log pH -3,6448 -0,2869 < 0,05 Log RGS ~ Log oxigênio dissolvido 3,2807 0,2603 < 0,05 Log RSG ~ Log Condutividade 3,3589 0,3169 < 0,05 Log RGS ~ Log Pluviosidade acumulada mensal -16,727 -0,1319 0,0963

Log RGS ~ Log Pluviosidade média mensal -18,493 -0,1455 0,0662

Log RGS ~ Log Pluviosidade mensal histórica -20,152 -0,1583 < 0,05

Log RGS ~ Log Pluviosidade acumulada de dez dias -0,1865 -0,0148 0,8523

Log RGS ~ Log Vazão local -0,5480 -0,0435 0,5844

O Log da relação gonadossomática (RGS) de machos foi significativamente e negativamente correlacionado com o Log da pluviosidade acumulada em dez dias (R = - 0,2513; p < 0,05; Tabela 2) e com o Log da vazão local no ponto de coleta (R = - 0,1772; p < 0,05; Tabela 2).

Tabela 2. Modelos de correlações entre o Log da relação gonadossomática de machos de Rhamdioglanis transfasciatus com dados pluviométricos, fluviométricos e abióticos de riachos da bacia do rio Guapiaçu (RJ). Valores de p em negrito indicam relações significativas. Modelo t R p

Log RGS ~ Log temperatura da água 1,5518 0,1256 0,1228 Log RGS ~ Log pH 0,4520 0,0368 0,6519 Log RGS ~ Log oxigênio dissolvido -1,5985 -0,1294 0,1120 Log RSG ~ Log Condutividade -0,1213 -0,0125 0,9037 Log RGS ~ Log Pluviosidade acumulada mensal 0,2425 0,0191 0,8087

Log RGS ~ Log Pluviosidade média mensal 0,4189 0,0330 0,6758

Log RGS ~ Log Pluviosidade mensal histórica 16,191 0,1265 0,1074

Log RGS ~ Log Pluviosidade acumulada de dez dias -32,948 -0,2513 < 0,05

Log RGS ~ Log Vazão local (L/s) -22,847 -0,1772 < 0,05

O crescimento das gônadas implica em um aumento da RGS (Vazzoler, 1996). Fêmeas tiveram dois picos de RGS, nos meses de julho e outubro de 2015; o maior pico

236 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 de RGS de machos foi no mês de outubro de 2015, coincidindo com um dos picos das fêmeas. As proporções de indivíduos maduros de ambos os sexos (F2a, F2b, F3, F4, M2, M3 e M4) coincidiram com os meses de maiores valores de RGS, indicando um período reprodutivo longo (aproximadamente de junho a novembro), que começa nos meses de menor pluviosidade e segue decrescendo até os meses de maior pluviosidade. Outras espécies de riacho também seguem esse padrão [como em Duboc (2003), Amaral et al. (1999) e Mazzoni et al. (2002)]. É comum que peixes de riachos, suscetíveis a fortes instabilidades ambientais, desenvolvam estratégias reprodutivas diferenciadas para aumentar a sobrevivência da prole (e.g. Menezes & Caramaschi, 1994; Amaral et al., 1999; Mazzoni et al., 2002). Em pequenos riachos da Serra do Mar (onde R. transfasciatus são encontrados), cabeças d’água (i.e. rápido aumento na descarga fluvial) nos meses mais chuvosos podem ser prejudiciais à prole. Desta forma é comum que espécies destes ambientes desenvolvam sua reprodução em períodos secos (Winemiller et al., 2008) ou mesmo possuam períodos reprodutivos mais longos, como observado para o congênere R. frenatus (Duboc, 2003) e para o também Heptapteridae Pimelodella pappenheimi (Amaral et al., 1999). O aumento da RGS de fêmeas de R. transfasciatus respondeu significativamente tanto a fatores de maior escala (e.g. pluviosidade média histórica), quanto às condições abióticas locais (e.g. pH, oxigênio dissolvido e condutividade). Nos machos por outro lado, o aumento do RGS respondeu significativamente somente a fatores de maior escala (e.g. pluviosidade acumulada em dez dias e vazão local). Condições abióticas locais como temperatura da água, pH, oxigênio dissolvido e condutividade, podem ser correlacionados entre si e também com fatores de maior escala como a pluviosidade, e em última instância estão relacionados com a à estação do ano. Uma vez que a atividade reprodutiva das fêmeas responde melhor à pluviosidade histórica e não à pluviosidade do ano de estudo, é possível que o gatilho para reprodução nas mesmas esteja relacionado a fatores mais previsíveis, ligados à estação do ano, ou mesmo outros fatores ambientais primários ligados a ciclos mais previsíveis como o fotoperíodo. Vlaming (1972) em revisão sobre o controle dos ciclos reprodutivos em teleósteos, verificou que o fotoperíodo é um dos fatores exógenos mais importantes para a determinação do período reprodutivo; porém também verificou que o mesmo pode ser superestimado, pois os efeitos dos fatores exógenos variam com as estações (Vlaming, 1972). No caso dos machos, o gatilho para a reprodução pode ser diferente, e uma vez que as condições se tornam favoráveis, os mesmos permanecem maduros por tempo suficiente para garantir a reprodução.

CONCLUSÃO

R. transfasciatus possui um ciclo reprodutivo anual, com período de maior atividade reprodutiva nos meses correspondentes ao inverno e primavera (de junho a novembro). Sugerimos que o gatilho reprodutivo para as fêmeas está ligado a eventos de maior escala espacial e temporal (pluviosidade média histórica, temperatura, condições físico-químicas), enquanto que nos machos o gatilho está ligado a eventos de escalas mais locais (pluviosidade acumulada em dez dias, vazão local). A concentração da reprodução nos meses secos provavelmente protege a prole de R. transfasciatus da instabilidade ambiental gerada pelas cabeças d’água mais frequentes nos meses chuvosos.

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AGRADECIMENTOS

T. Barros recebeu apoio financeiro da CAPES em forma de bolsa de estudo para obtenção do título de mestre em ecologia. Agradecemos às mais de 40 pessoas que ajudaram durante as expedições de coleta e dissecção dos exemplares em laboratório. Também agradecemos a Rachel Patron Locke, Nicholas John Locke, Jorge Bizarro e toda a equipe da Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA) que sempre nos receberam com generosidade e entusiasmo.

LITERATURA CITADA

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239 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

COMO ANDA A QUALIDADE DO AR QUE RESPIRAMOS NA SEGUNDA CIDADE COM MELHOR QUALIDADE DE VIDA?

Luara Cardoso BRANDÃO1, Francisco Candido Cardoso BARRETO2*

1 Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Espírito Santo 2 Professor adjunto, Universidade Federal do Espírito Santo *[email protected]

INTRODUÇÃO

Segundo levantamento realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, com base em dados obtidos pelo Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Vitória é considerada a segunda melhor cidade para se viver. Os critérios avaliados foram educação, renda e expectativa de vida. Todavia, existem outros critérios mais relevantes para avaliar a qualidade de vida de uma população como, por exemplo, o padrão de qualidade do ar. O número crescente da circulação de veículos no mundo e as atividades industriais são fatores que contribuem fortemente para a poluição da atmosfera (Cesar et al, 2013). Segundo dados obtidos, em 2015, pelo Departamento de Trânsito (DETRAN) só em 2015, Vitória tinha uma frota veicular de 12.568 automóveis. A Grande Vitória conta também com duas das maiores indústrias siderúrgicas do país, a Companhia Vale do Rio Doce e Arcelor Mittal. Tanto veículos quanto empresas siderúrgicas são grandes fontes antrópicas na emissão do monóxido de carbono (CO), 60% do CO encontrado na troposfera é proveniente desse tipo de fonte (Zhu et al. 2002). De acordo com o Instituto de Energia e Meio Ambiente (citado por Dapper, 2016): "Além de provocarem efeitos na saúde da população, os problemas causados pela poluição do ar também geram impactos negativos no que se refere à perspectiva econômica e social. A queda da produtividade agrícola, aumento de custos dos sistemas de saúde associado ao fato de que há uma maior vulnerabilidade dos cidadãos carentes em uma população podem ser vistas como exemplos de problemas relacionados à contaminação do ar." Estudos sobre a poluição atmosférica e os efeitos na saúde da população têm demonstrado que, mesmo quando os poluentes se encontram abaixo dos níveis determinados pela legislação, estes são capazes de provocar efeitos na saúde das pessoas (Dapper, 2016). Se levarmos em consideração o padrão do ar atmosférico como critério para avaliação da qualidade de vida de uma população, será que Vitória, ainda assim, seria considerada a segunda melhor cidade para se viver? O monóxido de carbono é um gás incolor, inflamável e inodoro. Como explicado por Coelho-Zanotti (2006) o CO é capaz de inibir a troca de oxigênio do sangue com tecidos do corpo, devido à sua grande afinidade com a hemoglobina, causando desta forma diversos problemas de saúde, afetando principalmente o sistema cardiovascular e nervoso. Em concentrações elevadas esse gás pode até levar a morte por asfixia, como observado por Paulo Enio Garcia em seu livro Medicina Legal e Criminalística (2010).

MATERIAL E MÉTODOS

Como a finalidade deste trabalho é analisar e mensurar monóxido de carbono ao nvel dos pedestres, o local escolhido para fazer esta mensuração foi a Orla de Camburi

240 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 em Vitória, pois é um local com bastante tráfego veicular, perto do Porto de Tubarão e onde um grande número de pessoas usam local para praticarem atividades físicas em busca de melhorias na qualidade da saúde. Porém, a realização de exercícios próximos a vias de tráfego intenso aumenta os níveis de carboxi-hemoglobina (30 min de corrida pode elevar os níveis desta ao equivalente ao consumo de 10 cigarros/dia) (Arbex et al., 2012). Para a aferição dos níveis de monóxido de carbono, foram desenvolvidas unidades autônomas baseadas em Arduino (Sánchez, V. et al., 2015) munidas com sensores específicos para CO (modelo MQ-7) com sensibilidade mínima de 20 ppm, sensores de umidade e temperatura (modelo DHT22) e módulos de Real Time Clock (modelo DS3231). A programação destes sensores foi realizada em linguagem C# no próprio programa do Arduino. Para uma melhor precisão nos dados obtidos, programamos o sensor MQ-7 e o DHT22 para captar informações a cada minuto. Essas informações são enviadas para um micro SD que também está acoplado a placa de Arduino. Como o MQ-7 só detecta níveis acima de 20 ppm, quando o ambiente está abaixo deste valor ele não consegue detectar dado algum, logo não envia a informação para o micro SD. Ou seja, só porque não foi enviado valores ao micro SD, isso não exclui a possiblidade deste gás estar presente no ambiente, apenas que ele esta abaixo do limite mínimo de detecção do sensor.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A resolução do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) publicada em 22 de agosto de 1990 estabeleceu os Níveis de Qualidade do Ar visando a elaboração de um plano de emergência para eventos críticos de poluição atmosférica, visando providências a serem tomadas pelos órgãos competentes, entidades privadas e a própria população. Foram estabelecidos níveis de Atenção, onde a concentração de CO em uma média de 8 horas é de 15 ppm por metro cúbico. O nível de Alerta ficou definido em 30 ppm por metro cúbico em uma média de 8 horas, bem como o nível de Emergência que ficou estabelecido em 40 ppm. Todavia, a exposição diária de determinados gases atmosféricos, mesmo quando em pequenas concentrações, pode acarretar problemas a saúde da população a longo prazo. Estudos sobre a poluição atmosférica e os efeitos na saúde da população têm demonstrado que, mesmo quando os poluentes se encontram abaixo dos níveis determinados pela legislação, esses são capazes de provocar efeitos na saúde das pessoas (Dapper et al. 2016). Como observado por Arbex et. al. (2012), a exposição aos poluentes do ar é um fator de risco para os seres humanos desde a gestação. Em um estudo realizado na cidade São Paulo, foi demonstrado que o aumento na concentração de 1 ppm de CO associou-se à redução de peso da criança ao nascer. Como observado na tabela 1, os sensores 1 e 2 apresentam a menor média de tempo com níveis de CO acima de 20 ppm. Isso se dá devido ao fato de que estas unidades foram expostas a horários que apresentam maior tráfego veicular, os chamados horários de ‘’pico’’, que também são os mais escolhidos pela população para a realização de atividades físicas na Orla de Camburi. Como observado por Arbex et. al (2012), durante a realização de exercícios, o ar inspirado penetra nas vias aéreas, preferencialmente pela boca, sendo maiores o volume/minuto e a capacidade de sua difusão, facilitando desta forma a penetração de poluentes atmosféricos no organismo, como também a quantidade de partículas ultrafinas que se depositam no trato respiratório enquanto se realiza estes exercícios é maior quanto menor for o tamanho das partículas, cerca de cinco vezes superior quando comparado se está em repouso. Foi

241 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 recomendado pela American Heart Association que seja evitado a realização de exercícios intensos em locais onde a qualidade do ar é insatisfatória.

Tabela 1. Resultados prévios por sensor dispostos na Orla de Camburi. Tempo Temperatura Umidade Sensor CO Local Horário (minutos) (°C) (%) 1 > 20 ppm 4,3 25~ 30 54~ 68 20°16'51,57"S e 16:00 até 40°17'17,76"O 20:00 2 > 20 ppm 4,8 28~ 30 56~ 68 20°16'30,43"S e 08:00 até 40°16'56,54"O 12:00 3 > 20 ppm 5,4 26~ 30 54~ 68 20°16'07,45"S e 08:00 até 40°16'22,74"O 20:00

O sensor 3 apresentou a maior média de tempo, provavelmente devido ao período de ‘’repouso’’ a que ficou exposto, quando o trânsito está sem grande fluxo veicular entre o horário de 13h até as 15h30. Segundo os dados obtidos esses horários seriam os mais satisfatórios para a realização de atividades físicas, visto que foi sugerido em uma declaração da American Heart Association recomendando que seja evitada a prática de atividades físicas em ambientes onde a qualidade do ar está insatisfatória. Porém, vale ressaltar que níveis acima de 20 ppm já requer um estado de atenção para a nossa saúde.

CONCLUSÃO

O projeto ainda está em andamento e está previsto a construção e instalação de 7 novas unidades autônomas para mensurar o CO, de forma independente, ao longo da Orla de Camburi, para uma maior cobertura e precisão nos dados obtidos. Desenvolvimentos futuros deste projeto envolvem a abordagem de IoT (internet das coisas) para conexão dos sensores à redes de telefonia celular e construção de um site dedicado para visualização em tempo real das concentrações de CO atmosférico na área para permitir que o cidadão escolha o melhor horário para exercício de suas atividades físicas com menor prejuízo à sua saúde.

LITERATURA CITADA

American Heart Association. Recommendations for Physical Activity in Adults. Disponível em: < http://www.heart.org >. Acesso em: 17 de maio de 2017.

Arbex, M. A. et al. 2012. A poluição do ar e o sistema respiratório. Jornal Brasileiro de Pneumologia, 38(5): 643–655.

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Dapper, S. N.; Spohr, C.; Zanini, R.R. 2016. Poluição do ar como fator de risco para a saúde: uma revisão sistemática no estado de São Paulo. Estud. av., São Paulo, 30(86): 83-97.

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243 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Subárea: Educação Ambiental

PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO PROGRAMA DE COLETA SELETIVA DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO MUNICÍPIO DE SANTA TERESA, ES

Michel Trarbach BLEIDORN1*, José Matias GOMES1, Edilson Sarter BRAUM1 & Maycon Patrício de HOLLANDA2

1 Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária – Faculdade da Região Serrana, FARESE 2Mestre em Produção Vegetal pelo Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo, Docente na Faculdade da Região Serrana, FARESE. *[email protected]

INTRODUÇÃO

Os resíduos sólidos gerados nas cidades brasileiras, assim como em localidades de diferentes países, ainda são um problema. Em países mais ricos, que geram maiores quantidades de resíduos, existe mais capacidade de equacionamento da gestão, devido um somatório de fatores que incluem recursos econômicos, preocupação ambiental da população e desenvolvimento tecnológico (Jacobi & Besen, 2011). A sociedade moderna tem a maior concentração de pessoas em áreas urbanas e produz cada vez mais resíduo. A geração de resíduos sólidos urbanos no Brasil cresceu 4,1% de 2012 para 2013, enquanto que a taxa de crescimento populacional urbano foi de 3,7% no mesmo período (ABRELPE, 2014). O manejo inadequado desses resíduos gera problemas socioambientais, econômicos e de saúde pública. A busca de soluções para a destinação final dos resíduos tem constituído expressivo desafio, sobretudo no que se refere à prevenção à poluição do solo, do ar e dos recursos hídricos (Oliveira e Galvão Júnior, 2016). A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, Lei 12.305/2010) (Brasil, 2010) visa estimular mudanças consideráveis na forma de gerenciar resíduos sólidos no Brasil. Dentre vários desafios, a PNRS estipulou o envio obrigatório de resíduos para reciclagem e compostagem. Aterros sanitários passaram a constituir a forma legalmente adequada de disposição final somente para rejeitos, resíduos que depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos viáveis não possuem outra possibilidade que não a disposição final (Siqueira & Assad, 2015). Na PNRS, a coleta seletiva é instrumento‐chave para a implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, além de ser fundamental para viabilizar a hierarquização no gerenciamento dos resíduos e a inclusão socioeconômica dos catadores. Nesse sentido, a diretriz da PNRS estabelece que a coleta seletiva deve ser amplamente considerada nos planos de gerenciamento de resíduos, inclusive em âmbito municipal, devendo ser criados instrumentos econômicos para sua viabilização (Oliveira e Galvão Júnior, 2016). De acordo com o IBGE (2017), 84,5% dos resíduos sólidos produzidos pela população de Santa Teresa são coletados diretamente pelo serviço de limpeza pública. O restante é queimado, enterrado ou dado outro destino. De acordo com a Prefeitura Municipal de Santa Teresa (2017), o montante coletado varia entre 300 e 380 mil quilos por mês. O programa de coleta seletiva no município ocorre nos bairros Centro, Recanto

244 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 do Vale e Canaã, sendo realizada de duas maneiras: coleta porta a porta e através de pontos de entrega voluntária (PEV’s). Os resíduos sólidos coletados no município são encaminhados para a Usina de Triagem e Compostagem de Resíduos Sólidos Urbanos, para que seja realizada a separação de todo material reciclado através da Cooperativa de Agentes Ambientais de Santa Teresa, COOPAAST (PMST, 2017). Após segregação e triagem cerca de 20 mil quilos são comercializados para empresas de reciclagem localizada no Município de Aracruz, ES, enquanto o restante do material é rejeitado e encaminhado para uma empresa de gerenciamento integrado de resíduos na cidade de Cariacica, ES. Segundo Bringhenti e Günther (2011), a efetividade de programas e iniciativas de coleta seletiva requer necessariamente o envolvimento dos cidadãos, considerados os geradores dos resíduos sólidos. Para tanto, se faz necessário um programa de coleta seletiva (PCS) que invista de ações educativas, no sentido de informar a população atendida para que a mesma consiga participar de forma efetiva e responsável junto aos programas das municipalidades. É possível que a falta de um efetivo processo educativo, venha a minimizar ou então anular a eficiência do PCS. Assim, estudos que buscam investigar aspectos sobre informação e conhecimento da população sobre o PCS do município, podem ser relevantes para a tomada de decisão dos gestores municipais e a melhoria contínua do processo de gerenciamento integrado dos resíduos sólidos municipais (Silva et al, 2017). Considerando que a análise da participação social nos programas de coleta seletiva pode ser utilizada para avaliar a problemática das questões ambientais e direcionar possíveis estratégias de educação ambiental, objetivou-se com essa pesquisa investigar a participação dos moradores dos bairros, Centro, Recanto do Vale e Canaã na coleta seletiva do município de Santa Teresa, Espírito Santo.

MATERIAL E MÉTODOS

De acordo com o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o município de Santa Teresa abriga 21.823 habitantes, com 54% de sua população em área urbana e 46% em zona rural, com uma área territorial de aproximadamente 683,157 km², correspondente a 1,51% do território estadual (IBGE, 2017). Localizado na região serrana do estado do Espírito Santo, com cerca de 40% de seu território coberto por Mata Atlântica preservada, o município é o maior produtor de uva e vinho do Espírito Santo, representando 80% da produção estadual (PMST, 2017). O Município de Santa Teresa possui duas regiões climáticas distintas. Uma região mais elevada, onde está localizada a Sede do Município, de clima frio e úmido, relevo montanhoso com picos que ultrapassam os 1.000 metros de altitude e outra região baixa, clima quente e seco (Bacia do Rio Doce), abaixo dos 400 metros de altitude, com relevo plano ondulado. A precipitação média anual fica em torno de 1300mm e temperatura média anual entre 20 e 23°C (INCAPER, 2011). A execução da pesquisa se deu através da aplicação de um questionário, durante o mês de março de 2017, aos moradores dos bairros Centro, Recanto do Vale e Canaã (Figura 1), devido os mesmos serem abrangidos pelo programa de coleta seletiva.

245 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 1. Bairros abrangidos pelo programa de coleta seletiva em Santa Teresa, ES. Fonte: dos Autores

O questionário utilizado na coleta de dados foi composto de seis questões objetivas, cuja aplicação se deu através da abordagem aleatória de 60 moradores dos três bairros. Através das perguntas do questionário, buscou-se extrair informações do conhecimento e da preocupação dos entrevistados quanto à geração e a destinação de resíduos sólidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A primeira questão abordou o conhecimento acerca da existência da coleta seletiva: “Você sabe da existência da coleta seletiva em seu bairro?” 35% dos entrevistados afirmaram que sim e 65% declaram não saber sobre a existência. No estudo de Colares et al., (2016) sobre o programa de coleta seletiva de resíduos sólidos do município de Pelotas, RS, constataram que uma das principais carências identificadas reside na conscientização da população assim como na divulgação do programa. O município até executou algumas ações voltadas à sensibilização da população, porém as mesmas foram em sua maioria realizadas de forma isolada e de caráter pontual, ou seja, dificilmente resultarão em uma mudança de comportamento por parte da população. Souza (2014) recomenda a utilização de diversas mídias para a divulgação periódica do programa, tais como programas de rádio, televisão, internet, jornal, entre outros. É importante salientar que quanto mais se investe na divulgação do PCS, mais barato o mesmo se torna, uma vez que dessa maneira serão aumentadas a quantidade e a qualidade dos resíduos recicláveis coletados (D'Almeida & Vilhena, 2010). Na segunda pergunta: “Você sabe onde estão localizados os Pontos de Entrega Voluntária (PEV)?” 80% afirmaram desconhecer e apenas 20% disseram que sim. Semelhança apontada pelo estudo feito por Rocha (2012), no município de Teixeira de Freitas, BA, no qual constatou que apenas 14% dos entrevistados conheciam o que é um PEV e 26% dos entrevistados afirmaram que já haviam feito à segregação dos resíduos gerados em suas residências e tinham depositado em um PEV.

246 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

A terceira pergunta aborda o conhecimento acerca do processo de segregação dos resíduos gerados na residência do entrevistado: “Você possui conhecimento sobre a segregação dos resíduos sólidos?” 83% dos entrevistados relataram possuir conhecimento sobre a segregação e 17% afirmaram não possuir. Entretanto, a fim de investigar sobre o ato de segregação, foi feita a quarta pergunta: “Você faz a segregação dos resíduos gerados em sua residência?” Apenas 37% afirmaram fazer tal atividade, enquanto a maioria, 63% não a realiza. Percebe-se que existem divergências nas respostas dos entrevistados. 83% afirmaram possuir conhecimento sobre a segregação, e mesmo assim, apenas 37% relatam que fazem tal atividade. Pode-se observar também uma relação da primeira pergunta com a quarta pergunta, pois a quantidade de pessoas que tem o conhecimento sobre a coleta seletiva é próxima à quantidade de pessoas que realiza a segregação. Sidique et al., (2010) afirmam que o sucesso de um programa de coleta seletiva depende da participação das famílias nas atividades de segregação dos resíduos, sendo, portanto, imprescindível que a população detenha o esclarecimento de todo o processo da gestão dos resíduos, inclusive a sua classificação. Segundo Bernado (2006), no município de Santo Agostinho, PE, apenas 33% dos entrevistados separam os resíduos gerados em sua residência. Ressalta-se que a baixa adesão da coleta seletiva é responsável por perdas socioambientais como o aumento do volume de resíduos sólidos destinados ao aterro, diminuindo assim a vida útil deste, e a perda da promoção da inclusão social por meio de emprego e renda para a população menos favorecida. A quinta pergunta aborda o interesse dos entrevistados no programa de coleta seletiva: “Você tem interesse em participar da coleta seletiva?” 85% dos entrevistados afirmaram ter interesse em participar, 8% não possuem interesse e apenas 7% relataram que já participam. Estudo feito por Bringhenti e Günther (2011), com relação à participação na coleta seletiva no município de Vitória, ES, foram identificados três grupos: um grupo que participa (25%); os que estariam dispostos a participar (46%) e os que não participam (29%). Uma das hipóteses da baixa participação refere-se ao fato de que mesmo segregando os resíduos nas residências, o indivíduo pode acabar misturando-os com outros resíduos, no ato de acondicionamento, principalmente pela falta de conhecimento dos moradores sobre o acondicionamento correto nos recipientes e o horário que a coleta é realizada. Na sexta pergunta: “Você possui conhecimento sobre os benefícios ambientais e sociais proporcionados pelo programa de coleta seletiva?” 75% afirmam saber dos benefícios causados pelo programa enquanto 25% desconhecem. Tal resultado converge com o encontrado por Corrêa et al. (2015), na área central do município de Pelotas, RS, no qual verificaram que 87,6% dos entrevistados disseram que o programa de coleta seletiva tem efeito positivo, considerando que o serviço contribui em prol da qualidade de vida da população e do meio ambiente. De acordo com Prestes (2012), a coleta seletiva no município de Sapucaia do Sul, RS, embora exista parcialmente, não é gerenciada satisfatoriamente pelos gestores municipais e, não abrange toda a comunidade. Para obter eficiência no trato das questões referentes ao lixo, é de suma importância que a administração pública e a população trabalhem de forma articulada.

CONCLUSÃO

De acordo com as análises das respostas dos sessenta moradores, percebe-se que existe uma falha na divulgação, pois os entrevistados mostram estar desinformados sobre o programa de coleta seletiva e localização dos PEV’s. Nota-se que os

247 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 entrevistados têm o interesse em participar da coleta e afirmam ter conhecimento sobre o processo de separação de resíduos e seus benefícios. Considera-se que a participação voluntária da população nos programas de coleta seletiva é baixa, mas que pode aumentar em longo prazo e que a participação tende a crescer gradativamente na medida em que também se incrementem ações mobilizadoras. A divulgação, a acomodação e o desinteresse da população, são considerados aspectos impeditivos ou que dificultam a participação da população. Diante do exposto, recomenda-se a implantação de mecanismos adicionais para sensibilização e mobilização social, principalmente a educação ambiental, acreditando-se que estas ações, quando aplicadas de forma permanente e adequadas, irão aumentar efetivamente a participação social. Seria interessante também uma parceria juntamente com outros agentes públicos, principalmente os que visitam as residências dos moradores, tais como agentes sanitários ou agentes de saúde, para que estes divulguem o programa, esclareçam dúvidas e ainda distribuam folder para informar o morador dos programas realizados na cidade.

LITERATURA CITADA

Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais - ABRELPE. (2014). Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2013. São Paulo, 2014. 112 p.

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PNRS___. Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei nº. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília: Câmara dos Deputados, n. 81.

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Colares, Gustavo Stolzenberg et al. 2016. Avaliação do programa de coleta seletiva de resíduos sólidos do município de Pelotas - RS. Monografias Ambientais, v. 15, n. 1, p. 141-153.

Corrêa, Luciara Bilhalva et al (2015). Análise social de um programa de coleta seletiva de resíduos sólidos domiciliares. Monografias Ambientais, 2015.

D'Almeida, M.; Vilhena, A. 2010. Lixo municipal: manual de gerenciamento integrado. 3 ed. São Paulo: IPT/CEMPRE, 2010.

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249 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

ELABORAÇÃO DE UMA EXPOSIÇÃO ENTOMOLÓGICA COMO FERRAMENTA DE DIVULGAÇÃO CIENTIFICA

Arlindo SERPA-FILHO*, Raphael Becalli SOARES

Instituto Nacional da Mata Atlântica/Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, Programa de Capacitação Institucional *[email protected] INTRODUÇÃO

No processo para a popularização da Ciência, existe a possibilidade em fundar uma ponte entre os processos científicos e seus episódios com o cotidiano, de forma lúdica, criativa e interativa, fazendo parte de um conjunto de ações que podem atrair o público e mitigar os problemas que encontramos. Nos dias atuais, onde a informação é concebida em tempo real, é possível ainda nos depararmos com situações em que a população carece de dados que possam esclarecer dúvidas do cotidiano sobre a Ciência e como se comportar diante dela. E muito estranha é a atitude que se toma diante de alguns fatos e o longo caminho que se percorre para atingir uma informação que, às vezes, não tem qualquer respaldo científico. Muitas são as dúvidas na compreensão das ciências e, por exemplo, na área da Entomologia (estudo dos insetos), na qual nos deparamos todos os dias com perguntas sem respostas da população, com indagações que se perpetuam por respostas que se seguem pelo senso comum, virando réplicas que caem no lendário popular, e se mistificam a ponto de se tornarem verdades absolutas, e aprofundando de uma maneira efetiva a aversão ou endeusamento de um determinado fato. O tema deste trabalho, os insetos, são animais extremamente bem-sucedidos e, apesar do seu pequeno tamanho, estão associados a diversos aspectos da vida do ser humano. Todos os tipos de ecossistemas naturais e modificados, terrestres e aquáticos, apresentam comunidades de insetos, que possuem grande variedade de estilos de vida, formas e funções (Gullan & Cranston, 2008). Esses organismos desempenham importante papel na natureza, tendo na Entomologia a ciência que os estuda sob todos os aspectos, estabelecendo as relações com os seres humanos, plantas e animais (Gallo et al., 2002; Ruppert et al., 2005). O estudo dos insetos é parte do conteúdo abordado em diversas disciplinas presentes na matriz curricular dos cursos de ensino fundamental, médio e superior em diversos países. Além disso, têm sido utilizados como organismos- modelo para atender a um espectro de disciplinas da biologia, incluindo evolução, ecologia, comportamento, anatomia, fisiologia, bioquímica e genética (Gullan & Cranston, 2008). Segundo Costa Neto (2000), o fascínio provocado pelos insetos nos seres humanos influencia, de formas variadas, no seu cotidiano, como: música, literatura, linguagem, teatro, cinema, alimentação (entomofagia), medicina (entomofobia e entomoterapia), artes plásticas, artes gráficas, entretenimento, sexualidade, filosofia, crendices populares, folclore e medicina popular. No entanto, a maioria das escolas apresenta escassez de material biológico para realização de aulas práticas e falta de estrutura laboratorial. Na tentativa se diminuir essa lacuna, este projeto utiliza a divulgação cientifica para alcançar maior público, informando sobre as peculiaridades dos grupos de insetos, abrangendo diversos públicos, com variadas idades, padrões culturais, sociais e econômicos. A proposta não elimina aulas nem professores. Ao contrário, acredita-se que aulas e discussão extraclasse são complementares para um ensino efetivo e os resultados mostram que estudantes demonstram em seguida melhor interação quando submetidos às avaliações. Segundo Cruz et al. (1996), uma disciplina não pode ser desenvolvida apenas de forma teórica e

250 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 sim apoiada em um conjunto de aulas práticas que contribuam para aprimorar os conhecimentos. Entretanto, na maioria das escolas é observada uma escassez de material biológico para realização de aulas práticas e os modelos didáticos podem ser uma das ferramentas adotadas para suprir tal lacuna. Especula-se que os visitantes do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), Santa Teresa, ES, tenham pouco conhecimento sobre a biologia dos insetos da região, pois, mesmo com os trabalhos científicos desenvolvidos, nem sempre tal material desperta o interesse da população em geral. Portanto, além do conhecimento científico, é preciso estimular o “pensar cientifico”. Chassot (2006, p. 38) considerou a alfabetização científica como “[...] o conjunto de conhecimentos que facilitam aos homens e mulheres fazer uma leitura do mundo onde vivem”. Dessa forma a exposição deve, além de disponibilizar informações científicas, possibilitar o entendimento e compreensão dos termos, processos e suas aplicações para sociedade. Partindo do ponto que a Ciência é uma forma de cultura, o presente trabalho relata a importância de pensar na interação entre o público e a divulgação cultural por meio de uma exposição cientifica, nesse caso a exposição “O mundo fascinante dos insetos”, proposta enquanto um produto cultural, que pode ser somado às práticas de ensino. Com isso, pretende-se completar de forma contextualizada a construção do saber.

MATERIAL E MÉTODOS

A concepção dessa exposição se deu pela inquietação dos autores acerca da falta de visibilidade que a área de Entomologia tem por parte dos visitantes do instituto e também por possuir uma frágil linha e pesquisa dentro da instituição. Nessa construção se pensou em uma abordagem que tocasse os visitantes pelas formas de vida dos insetos e como durante milhares de anos os humanos vêm se apropriando de suas diversas habilidades para construir as suas necessidades e benfeitorias. Cada espaço da exposição, que foi intitulada “O mundo fascinante dos insetos”, preocupou-se em mostrar o lado “benéfico” dos insetos, tentando desmistificar as crendices e informações que levam as pessoas à entomofobia (medo de insetos). A exposição foi organizada com ilustrações que reforçaram toda a informação contida tanto na pergunta quanto na resposta. Foram elaboradas algumas perguntas que favoreceram a construção da ação e que se constituíram conforme segue abaixo. Perguntas: “Os pêlos das asas da borboleta e das mariposas podem cegar uma pessoa? O contato com uma jetiquiranabóia pode matar uma pessoa? Pulgas voam? Mariposas só podem ser encontradas de noite? Como eu diferencio uma borboleta de uma mariposa? A lêndea é a fêmea do piolho? Besouros podem me causar alguma doença? As moscas se alimentam? Quais os maiores insetos que existem?”. Essas perguntam são observadas e feitas no dia a dia pelos visitantes. Foram utilizados exemplares obtidos da coleção didática da instituição, que serviram na preparação de caixas entomológicas, representando as ordens dos insetos para exemplificar e classificar a entomofauna da região. Além disso, houve a preocupação em se mostrar uma caixa com exemplares de animais não insetos, que são facilmente confundidos com eles, como uma forma de esclarecer os visitantes sobre a morfologia dos insetos. Foram confeccionados cinco dioramas que explanam os diferentes habitats e nichos dos insetos, utilizando exemplares conservados da coleção didática; libélulas, besouros rola-bosta, insetos necrófagos, besouros serra-pau e borboletas. Três tipos de construções onde se encontram insetos sociais (cupinzeiro, formigueiro e vespeiro) foram expostos para mostrar a diversidade de formatos e estratégias em construir suas “moradias”. Uma “bancada lúdica” foi organizada para apresentar como os insetos podem ser trabalhados no prisma da Entomologia cultural.

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Nessa bancada foram expostos produtos confeccionados e outros de forma comercial para tal temática, mostrando insetos de plástico, de arame, montáveis em formato de quebra-cabeça 3D, livros, exemplares de insetos comestíveis e jogo de cartas). Uma cortina de borboletas da Mata Atlântica foi instalada dentro do pavilhão, com o intuito de simular uma revoada destes lepidópteros. Ainda como uma forma de estimular a cultura popular e a inserção dos insetos no mundo dos humanos, foi disponibilizado um repertório de músicas que falam de insetos, cantadas e encantadas por vários intérpretes e compositores da Música Popular Brasileira. Um televisor disponibilizou um “quiz” entomógico automático, onde os visitantes poderiam testar seus conhecimentos e aprender sobre o mundo fascinante dos insetos. Em uma sala anexa ao pavilhão foi preparado um momento especial, onde os visitantes podiam mergulhar em tarefas lúdicas, participando de atividades de pintura, desenho, dois jogos de tabuleiro (o jogo de damas, com formigas, abelhas, marimbondos e cupins, e o de dominó entomológico, com borboletas e besouros de grãos armazenados). Nesse espaço foi organizado um varal de pintura e desenhos, onde os autores depois da visita à exposição poderiam levar sua “obra de arte entomológica”. Vale ressaltar que cada item da exposição foi pensado para facilitar a comunicação. E a utilização de músicas, imagens e vídeos foi organizada de forma a provocar uma reflexão sobre os conhecimentos de hábitos e bionomia dos artrópodes, principalmente insetos, por meio da ludicidade. A exposição buscou aproximar o público do universo dos insetos, sendo as informações biológicas disponibilizadas em um caráter que lembra exposições de museus, com subtítulos grandes, possibilitando ao visitante se aproximar e ler apenas o que era de seu interesse. A leitura completa das informações foi recomendada apenas aos mediadores, a fim de esclarecer a população sobre questões óbvias que cercam o mundo dos insetos, por meio de explicações plausíveis e com embasamento científico. Uma preocupação dos autores em relação às informações foi quanto à distorção das informações no processo de torná- las acessíveis ao público com diversos níveis de formação escolar, o que fatalmente acontece quando essa “tradução” não é feita por alguém inserido no contexto. Vale ressaltar que a concepção dessa exposição, não esgotou tudo sobre insetos e suas peculiaridades, mas tenta diminuir a lacuna que existe por causa da falta de informações, que leva a população em geral a classificar os insetos sempre como asquerosos ou prejudiciais, nunca lembrando a sua função como um dos elos da teia alimentar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Wagensber (2008, p.70) disse que o museu se torna mais apropriado para provocar estímulos nos jovens para aprender e não deve competir com as escolas e sim somar no processo de construção do conhecimento, e ressalta ainda que o museu deve ser visto hoje como um instrumento de mudança social; deve-se não permitindo que o visitante saia com as mesmas convicções que entrou. Uma barreira vencida primeiramente pelos autores foi pensar uma exposição cultural sobre insetos com diversas formas de abordar as informações saindo do padrão colegial, o que também provocou mudança no olhar do público, que esperava uma exposição de ciência e encontrou no espaço um viés cultural, lúdico e mais leve do que se espera em um ambiente escolar. Ao contrário da escola, que tem como foco a transmissão de conhecimento, a exposição foi concebida como uma provocação para aproveitar um momento prazeroso e informativo, com várias descobertas para os mais jovens e cheio de resgates de memória para os mais idosos. Vale ressaltar que a relevância dos espaços de divulgação e popularização científica se relaciona também com o despertar de

252 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 vocações, da curiosidade e da motivação. Alguns visitantes se identificaram com a história pessoal de Augusto Ruschi, apresentada em um dos painéis, que relata seu fascínio desde jovem pelos insetos.

CONCLUSÃO

Essa gratificante experiência se mostrou um desafio aos autores e colaboradores, por provocar a saída da zona de conforto em busca de uma linguagem para apresentar o conhecimento sobre os insetos como algo cultural, de forma abrangente e inserido no contexto social, considerando que a divulgação científica pode influenciar na formação do indivíduo e nas suas escolhas ao tomar decisões. A observação do público na visita à exposição “O mundo fascinante dos insetos” foi gratificante por possibilitar várias descobertas para os mais jovens e o resgate de memória para os mais idosos. Ao se recordarem do contato com os exemplares de insetos expostos, vários “causos” surgiram à memória e as conversas fluíam sobre o tema, só que agora com informações cientificas para serem consultadas, o que possibilitava que os mesmos se corrigissem quando necessário. A exposição se mostrou mais eficiente que o esperado na divulgação científica, foi possível visualizar a relação entre ciência e cultura apenas observando o comportamento dos visitantes. Esse formato possibilita divulgar saberes científicos de diversos grupos biológicos para públicos distintos, pois quanto maior a diversidade de linguagem abordada, maiores são as chances de identificação por parte do público, minimizando as desigualdades econômicas e culturais na sociedade.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a toda equipe do Instituto Nacional da Mata Atlântica envolvida nessas atividades, bem como a todos que dedicaram um instante do seu tempo para participar ou apreciar nossas ações.

LITERATURA CITADA

Chassot, A. Alfabetização Científica: questões e desafios para a educação. 2006. 4. ed. Ijuí: Ed. Unijuí.

Costa Neto, E. M. 2000. Introdução à etnoentomologia: considerações metodológicas e estudo de casos. UEFS, Feira de Santana, Brasil, 131 pp.

Cruz R, Leite S, Orecchio L.A. 1996. Experimentos de ciências em microescala. São Paulo: Scipione.

253 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Gallo, D. et al. 2002. Manual de Entomologia Agrícola. São Paulo: Agronômica Ceres, 531p.

Gullan, P.J.; Cranston, P.S. 2008. Os insetos: um resumo de entomologia. 3 ed. São Paulo: Roca, 440p.

Ruppert E.E., Barnes, R.D. & Fox, R. S. 2005. Zoologia dos Invertebrados: Uma Abordagem Funcional-Evolutiva. 7 ed. Editora Roca. Rio de Janeiro: p. 1168.

Wagensber, J. 2008. Museu para a criança ver (e sentir, tocar, ouvir, cheirar e conversar): Jorge Wagensberg. In: Ciência e criança: a divulgação científica para o público infanto-juvenil. Massarani, L. (ed.) Rio de Janeiro: Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.

254 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

JOGOS DE TABULEIRO COMO FERRAMENTA PARA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

Raphael Becalli SOARES*, Arlindo SERPA-FILHO

Instituto Nacional da Mata Atlântica / Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, Programa de Capacitação Institucional. *[email protected] INTRODUÇÃO

O jogo é uma das atividades mais antigas e de fato acompanha a trajetória de evolução e a própria civilização humana. No jogo há algo que ultrapassa as simples necessidades da vida e dá sentido a ação. Piaget escreve a respeito do papel dos jogos na infância para formação do adulto, segundo ele: “O jogo constitui o polo extremo da assimilação da realidade do ego, tendo relação com a imaginação criativa que será fonte de todo pensamento e raciocínio posterior” (Piaget, 1962). A relevância do jogo é apontada ora pela ação livre e espontânea da criança ora pela ação orientada por adultos, incluindo materiais como bola, cilindro e cubo, entre outros. Todos os jogos da linha froebeliana envolvem movimentação das crianças. Segundo o autor, o jogo quando desenvolvido livremente pela criança, tem efeitos positivos na esfera cognitiva, social e moral. Quando organizados pelo professor, com a manipulação de objetos como tijolinhos, possibilitam o desenvolvimento de habilidades sensório – motoras (Kishimoto, 1993). Os jogos didáticos de tabuleiros tendem ampliar as possibilidades de desenvolvimento das funções psicológicas superiores, as quais são fundamentais no processo de ensino e de aprendizagem. No prisma da educação inclusiva, ao aluno com deficiência visual, um jogo também se constitui em um importante recurso para a internalização de signos auxiliares externos, permitindo estimulações que nem sempre seriam possíveis apenas pelo ensino dos conteúdos científicos. A constante defesa da utilização do jogo por pesquisadores da Educação e seus fundamentos apresentados por autores consagrados, como citados acima, torna evidente a importância desse recurso no processo de aprendizagem, assim como no desenvolvimento de habilidades cognitivas e corporais da criança, indicando sua aplicação como recurso didático pedagógico. O jogo é utilizado para alcançar determinados objetivos pedagógicos, além de ser uma escolha com vistas ao melhoramento do desempenho dos estudantes em certos conteúdos de complexa aprendizagem (Gomes et al., 2001). Nesta perspectiva, o jogo se traduz, não no fim, mas no eixo que dirige a um conteúdo didático particular, procedendo na cessão da ação lúdica para a aquisição de conhecimentos (Kishimoto, 1996). Este trabalho apresenta dois jogos, o dominó e a dama. No primeiro, como apresentado por Menino & Barbosa (2002) tem a origem de seu nome dividida entre a expressão do latim, “Benedicamus Domino” (“Bendigamos ao Senhor”) e o “Domino Gratias” (“Graças ao Senhor”) que os eclesiásticos usavam ao realizar uma boa jogada. Já o jogo de damas traz desde seu aprendizado todos os benefícios citados acima inerentes às atividades lúdicas, porém nota-se no estudo de sua complexidade diversos outros exercícios de ordem cognitiva, principalmente no que diz respeito à estratégia, concentração e raciocínio lógico. Numa partida o jogador deve preparar o movimento de suas peças imaginando imediatamente as respostas possíveis de seu adversário e reagir prontamente às escolhas alheias, exercitando a reversibilidade e a autonomia ao tomar as decisões por si mesmo. É lugar comum que uma das grandes dificuldades na resolução de problemas

255 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 matemáticos estabelece-se na incapacidade de entender e analisar sua proposta. Ao buscar a melhor combinação de lances o aluno aprende a pensar no problema de forma geral, aprendendo a analisar os diferentes pontos e a encontrar o melhor caminho para sua atenção. Ambos os jogos trazem a visão de brinquedos para relações sociais e para estimular atividades intelectuais, segundo Micheletti, 1992 se apresentando como jogos de estratégia, observação e reflexão. Diante dessa perspectiva, essa proposta busca explorar o conteúdo de entomologia em uma forma lúdica, por meio desses jogos como uma ferramenta para divulgação científica para aproximar as pessoas do mundo dos insetos aproveitando a possibilidade de ensino-aprendizagem acerca da biodiversidade e valorização da entomologia.

MATERIAL E MÉTODOS

Para desenvolver esse trabalho foram necessários adaptar os jogos de dominó e dama ao tema proposto, nesse caso a entomologia, cada jogo foi estudado a fim de entender sua lógica para ajusta-los ao conteúdo sem interferir nas regras de cada jogo, no jogo de dominó foi possível perceber que é formado por um conjunto de sete imagens diferentes, nesse caso dos arranjos de zero a seis. Na confecção dos protótipos do jogo de dominó (Figura 1) foram utilizadas imagens de insetos para substituir os números do dominó convencional, as imagens foram impressas e coladas nas peças de isopor com tamanho de 10 centímetros de comprimento e cinco centímetros de largura (mantendo a proporção de duas peças na horizontal para encaixarem em uma na vertical). No verso de cada peça foi inserido um papel de fundo, igualmente para todas as peças de cada conjunto e no final todas as peças foram plastificadas com plástico adesivo transparente para proteger as peças aumentando sua durabilidade. Os dominós de insetos foram confeccionados com imagens de dois grupos as borboletas (ordem Lepidóptera) com as imagens do “Guia de identificação de tribos de borboletas frugívoras” (SANTOS, et al 2014) e os besouros considerados pragas dos grãos (ordem Coleóptera) com as imagens do “Guia de Pragas dos Grãos” (EMBRAPA, 2011).

A B

A

D

C D

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Figura 1. A) Jogo de dominó convencional; B) Imagens dos dominós de besouros e borboletas C) Jogo de Dominó das Borboletas D) Jogo de Dominó dos insetos pragas dos grãos.

Na confecção dos protótipos do jogo de dama foram selecionados quatro grupos de insetos que vivem em relação ecológica - insetos sociais, como exemplo: as abelhas, formigas e marimbondos (ordem Hymenoptera) e cupins (Isoptera). As imagens foram obtidas por meio de registros fotográficos, no parque do Instituto Nacional da Mata Atlântica – INMA, de animais livres. Cada uma das 12 imagens de cada time foi impressa, recortada e colada em uma tampinha de garrafa pet, sendo que cada time foi representado por uma cor (verde/vermelho) (Figura 2).

A B

A

Figura 2. A) Jogo de Dama; B) Imagens dos times do jogo de dama.

A avaliação dos protótipos com o público ocorreu na inauguração da exposição desenvolvida pela equipe de Difusão Cientifica do Instituto Nacional da Mata Atlântica- INMA, denominada “O mundo fascinante dos insetos” que aconteceu em 12 de outubro de 2016, “Dia das crianças”, na própria Instituição. Este momento produziu uma oficina lúdica composta por diversas atividades, como por exemplo, vídeos-documentários sobre a vida dos insetos, gincanas, atividades de passatempo e os jogos de dominó e dama. Durante os jogos o mediador que apresentava as regras de cada jogo, teve a oportunidade de estabelecer um diálogo para expor e debater os saberes entomológicos. Como forma de avaliar a proposta dos jogos, os autores acompanharam o momento de teste dos protótipos registrando as reações dos jogadores e observando os critérios estabelecidos, clareza do jogo, entendimento das imagens, interesse dos jogadores, exposição de conhecimentos entomológicos expressos nas falas, e se por meio dos jogos surgiriam discussões sobre insetos. Essa observação não estruturada, também é denominada assistemática, simples, espontânea, informal ou não planificada e conduz a função do pesquisador atuando como instrutor e observador (RAMPAZZO, 2015). Os jogos foram apresentados para aproximadamente 100 jogadores, sendo que cada partida de domino era brincada com quatro pessoas e a dama com duas pessoas ou com duas duplas. Os jogadores com perfis e idades diferentes, visitantes do instituto que compareceram a abertura da exposição e se dispuseram a testar os jogos.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante os jogos os participantes demonstraram interesse durante todo o jogo, conferindo as imagens, os nomes científicos e as regras. Muitos se interessaram pelas características morfológicas de cada espécie bem como pela investigação dos nomes, no entanto, poucos jogadores conheciam o nome cientifico. Tal percepção demonstra que a utilização de jogos didáticos, pode ser uma alternativa viável e interessante, por meio de trabalho em grupo socializando conhecimentos prévios e utilizando-os para a construção de conhecimentos novos e mais elaborados (Gomes et al., 2001; Miranda, 2001; Brasil, 2002; Knechtel & Brancalhão, 2008). Durante as observações o que sugeriu que os jogos despertaram o interesse dos jogadores foi o fato de que nenhuma partida foi abandonada sem ser concluída, e muitos jogaram repetidas vezes. Durante os momentos de teste as perguntas “quantas vezes podemos jogar?”, “posso ficar aqui jogando?” e “tem desse jogo pra levar pra casa?” foram perguntas que indicaram que o jogo foi bem aceito. Frases como “porque insetos?”, “nossa o jogo é legal pena que é com inseto” apontam a necessidade de intensificar o contato das pessoas com esse grupo de animais e melhorar as informações possibilitando uma aproximação a partir da desmistificação relacionada aos riscos à saúde que alguns insetos não apresentam. Outras frases como: “que legal são borboletas”, “quero aquele de borboleta” e “o jogo de borboleta é mais fácil que besouros”, sugerem que no jogo de dominó as borboletas se apresentaram mais carismático que os besouros, uma hipótese é que isso esteja relacionado à escolha das imagens, pois as borboletas são coloridas e os besouros em tons escuros de cor, outra hipótese é que na representação cultural das borboletas está relacionada às coisas boas. No jogo de dama, houve uma disputa inicial para utilizar as peças das formigas, ficando o segundo com as abelhas, o que provocou uma atenção com esses animais e foram apresentadas culturalmente, algumas justificativas dos jogadores: “a formiga trabalha mais”, “abelha machuca as pessoas”, “as formigas são mais fortes”. Essas falas apontam falta de conhecimento relacionada às características bionômicas desses animais. E nesta perspectiva, o jogo não é o fim, mas o eixo que conduz a um conteúdo didático específico, resultando em um empréstimo da ação lúdica para a aquisição de informações (Kishimoto, 2001). O tamanho maior das peças em relação às peças usuais se mostrou um chamativo para atrair os jogadores, possibilitou uma boa observação das imagens. A característica que incomodou durante o jogo, a falta de peso das peças do dominó, provavelmente devido ao isopor e uma sugestão dos jogadores foi de confeccionar as peças em forma de cartas, o que possibilitaria elaborar uma prancha com as peças picotadas para destacar e jogar. Foi possível enxergar que os jogadores expressaram para o jogo de damas: aprendizado do jogo, a imaginação, atenção e a concentração, que contribui para formar o espírito de investigação, além de promover o próprio desenvolvimento da criatividade e da memória. Quanto ao jogo de dominó, notou-se diante dessa perspectiva, que a proposta estimulou a exploração sobre conteúdo de entomologia em uma forma lúdica, e aproximou as pessoas do mundo dos insetos aproveitando a possibilidade de aprendizagem e valorização da biodiversidade.

CONCLUSÃO

O uso dos jogos como forma de transmitir informações e incentivar o aprendizado faz com que aprender torne-se algo descontraído e interessante deixando de lado a monotonia do cotidiano. Porém os se destacaram nessa função como material

258 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 provocador, o jogo possibilitou “conversas” relacionadas ao hábito alimentar dos insetos, a nomenclatura popular e cientifica, e também classificação biológica. Percebeu-se que a apropriação do conhecimento é facilitada quando tomam a forma aparente de atividade lúdica, pois os participantes ficam entusiasmados quando recebem a proposta de aprender de maneira mais interativa e divertida, resultando em uma aprendizagem prazerosa. Trabalharam-se na proposta do jogo também questões de relações interpessoais como regras de convívio social e questões ético-morais, na condução do jogo. O uso dessas ações lúdicas em uma tendência natural motivou o indivíduo a participar espontaneamente e se tornou uma ferramenta para desenvolver a cooperação, as relações afetivas e possibilitar a construção do conhecimento.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Projeto de Capacitação Institucional do Instituto Nacional da Mata Atlântica pela bolsa que nos permitiu desenvolver esse trabalho bem como a equipe do Instituto envolvida nessas atividades, e ainda a todos que dedicaram um instante do seu tempo para participar dos nossos jogos e agora apreciar nosso trabalho.

LITERATURA CITADA

BRASIL. 2002. PCN+ Ensino Médio: Orientações Educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias./ Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Brasília: MEC: SEMTEC, 144p.

Embrapa - GUIA DE PRAGAS DOS GRÃOS - ICI BRASIL S.A.) 2011. Disponível em: . Acesso em 23/02/2017.

Gomes, R. R.; Friedrich, M. 2001. A Contribuição dos jogos didáticos na aprendizagem de conteúdos de Ciências e Biologia. In: EREBIO,1, Rio de Janeiro, 2001, Anais..., Rio de Janeiro, p.389-92.

Knechtel, C.; Brancalhão, R. 2008. Estratégias lúdicas no ensino de ciências. Acesso em 13/04/2017.

Kishimoto, T. M. 1996. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. Cortez, São Paulo.

Kishimoto, M.T. 2001. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. Cortez editora. 5ºed São Paulo.

Kishimoto, Tizuko M. 1993. Jogos infantis: o jogo, a criança e a educação. Petrópolis, RJ: Vozes.

Menino, F.S.; Barbosa, R.M. 2002. Uma seleção de atividades lúdicas usando dominós. Revista de Educação Matemática, 6(7): 15-21.

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Micheletti, A. 1992. Classificação de Jogos e Brinquedos: a classificação ICCP – in Friedmann, Adriana – O direito de brincar: A brinquedoteca – E. Scritta – São Paulo.

Miranda, S. 2001. No Fascínio do jogo, a alegria de aprender. In: Ciência Hoje, 28: 64- 66.

Piaget, J. 1962. A Relação da afetividade com a inteligência no desenvolvimento mental da criança, 26(3).

Rampazzo, L. 2015. Metodologia Científica para alunos de Graduação e Pós-graduação. 6. ed. Edições Loyola.

Santos, J.P.; Freitas, A.V.L.; Constantino, P.A.L.; Uehara-Prado, M. 2014. Guia de identificação de tribos de borboletas frugívoras. Mata Atlântica-Norte. In: Pereira, A.B.; Constantino, P.A.L.; (Eds). Monitoramento da Biodiversidade: (Guia de Monitoramento), ICMBio/GIZ.

Vygotsky, L. S. 1989. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes.

260 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

JOVENS EDUCANDO JOVENS: A POPULARIZAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO PARA A SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL EM UMA COMUNIDADE ESCOLAR

Cintia F. CORSINI1*, Maristela CICHELERO2, Caroline Angeli SANCIO3, Lucinelda Lauvers DETTMANN3, Beatriz RAASCH3, Carolaine BOLDT3, Jordane BERNARDES3, Kátia Haese LINHAUS3, Katiele K. LENKE3, Keronlaine Kuster NASCIMENTO3, Letícia LICHTENHELD3, Silvia KOSANKE3, Soéllen SCHWARZ3 & Thaimiris LAHASS3

1Programa de Capacitação Institucional, Instituto Nacional da Mata Atlântica ²Programa de Iniciação Científica Júnior - Pesquisador do Futuro, Universidade Federal do Espírito Santo 3Programa de Iniciação Científica Júnior - Pesquisador do Futuro, Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professor Hermann Berger *[email protected] INTRODUÇÃO

As questões que afetam a vida humana e de outros seres devem ser tratadas dentro das escolas, tomadas como consciência e praticada na vida cotidiana (Abreu & Rodrigues, 2013). A Mata Atlântica é considerada um hotspot de biodiversidade: esta floresta possui grande riqueza de espécies, alto grau de endemismo e está sob forte ameaça pela fragmentação, sendo reduzida a pequenos remanescentes florestais (Myers et al., 2000). Ainda assim, a Mata Atlântica tem um importante papel como prestadora de serviços ambientais e uma imensa importância biológica, onde a maioria das espécies brasileiras ameaçadas de extinção encontra-se nesse bioma, muitas das quais no estado do Espírito Santo (IPEMA, 2004). Santa Maria de Jetibá, localizada na região centro-serrana do estado do Espírito Santo, foi colonizada a partir do final do século XIX por imigrantes europeus oriundos da antiga Pomerânia, que implantaram um sistema agrícola familiar em pequenas propriedades rurais. O histórico de ocupação e o relevo acidentado favoreceu a permanência de muitos fragmentos parcialmente conectados, que ainda permitem um razoável fluxo biológico entre eles. É estimado que o município ainda possua 36% de sua superfície coberta por florestas nativas em estágio médio e avançado de sucessão (Centoducatte, 2011). Face à relevância nacional e internacional a necessidade de ações imediatas visando à sua conservação e recuperação, a Mata Atlântica tem sido objeto de vários programas públicos em diferentes esferas governamentais. O modo de interação do ser humano com a natureza, por meio de suas relações sociais, do trabalho, da ciência, da arte e da tecnologia devem ser considerados nos espaços escolares, levando em consideração as peculiaridades de cada região e que a educação possa atuar no processo de formação da cidadania (Abreu & Rodrigues, 2013). A ciência é popularizada quando é utilizada uma linguagem mais explicativa, que traduza a para um público leigo em geral, chamada de divulgação científica (Albagli, 1996). A divulgação científica realizada dentro do ambiente escolar fortalece a cultura científica no país através de um processo coletivo que envolve diversos segmentos da sociedade, como: instituições de pesquisa, universidades, sociedade científica, governo, comunicadores, educadores e estudantes (Boa-Esperança et al, 2014). Segundo Gouvêa (2000), ela deve ser estudada como um fenômeno comunicacional que pressupõe interação entre pesquisadores, mediadores e não-

261 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 especialistas, e que está contido nas diferentes práticas da educação científica e tecnológica, seja nas práticas sociais realizadas nos espaços formais de educação (sistema de ensino formal-escola), ou nos espaços não formais de educação. Deste modo, um projeto que envolva popularização científica focado no tema “biodiversidade da Mata Atlântica” contribui para a valorização pública e apoio social para as medidas de proteção aos ecossistemas nativos e, para incentivar o interesse científico de jovens para o estudo e conservação da biodiversidade. Assim, este trabalho teve como objetivo gerar agentes multiplicadores de conhecimento, por intermédio dos bolsistas de Iniciação Científica Júnior da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professor Hermann Berger, para promover a divulgação científica e incentivar as boas práticas ambientais para a conservação da biodiversidade local.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O projeto

O presente projeto nasceu do convênio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Fundo Municipal de Ciência e Tecnologia do município da Serra (FACITEC) com o “Programa de Iniciação Científica Júnior (Pesquisador do Futuro)”, que concedeu dez bolsas de Iniciação Científica Júnior a estudantes dos ensinos fundamental e médio da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professor Hermann Berger, para a participação neste projeto de pesquisa, com a possibilidade de vivenciar a realidade do ambiente universitário, e despertar o interesse em dar continuidade aos estudos e futuramente o ingresso no ensino superior. Também estão inseridas uma monitora, estudante do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), e uma tutora, que é professora da mesma Escola, para auxiliar na execução das atividades do projeto e na atualização do conhecimento teórico a respeito do tema desenvolvido, além de contar com um coordenador pesquisador da UFES e uma coordenadora executora do Instituto Nacional da Mata Atlântica.

Metodologia

O trabalho retrata uma das atividades do Projeto “Da escola para a mata: observando a natureza e popularizando a ciência” realizada por 3 educadores e 10 alunos bolsistas de iniciação científica júnior (ICJr) da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Prof. Hermann Berger. Como o projeto visa a popularização científica focada no tema “animais ameaçados” para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica, os bolsistas ICJr participaram de duas oficinas de capacitação no Instituto Nacional da Mata Atlântica sobre “Identificação de aves da região Centro-Serrana do Espírito Santo”, ministrada pelo Msc. José Nilton Silva no dia 24 de fevereiro de 2016, e “Identificação de mamíferos da região Centro-Serrana do Espírito Santo”, ministrada pelo Msc. Arthur Machado Gonçalves no dia 04 de março de 2016, onde adquiriram conhecimento sobre esses grupos e seus status de ameaça tanto na lista brasileira quanto na lista internacional de fauna ameaçada de extinção. Para ambas as oficinas, a educadora Maristela Cichelero desenvolveu apostilas com informações complementares aos temas e a lista de espécies de aves e mamíferos ameaçados de extinção encontrados na região Centro-Serrana do Espírito Santo.

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Após a aprendizagem teórica, o conteúdo utilizado para o embasamento teórico para a montagem da palestra sobre “Aves e Mamíferos ameaçados de extinção da região Centro-Serrana do Espírito Santo” foi retirado de pesquisas sobre os animais destacados nas oficinas e para dar suporte visual para a palestra foram realizadas pesquisas online de vídeos e imagens. A palestra foi montada no editor de apresentações da Microsoft, em arquivo padrão do Microsoft PowerPoint, e formatada em duas versões: uma voltada para os alunos do Ensino Fundamental I, com uma linguagem mais acessível e de fácil compreensão, e outra para alunos do Ensino Fundamental II e Médio da escola com uma linguagem mais elaborada, buscando apresentar termos científicos para a popularização da informação científica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A palestra foi realizada no dia 30 de março de 2016 e todas as turmas da EEEFM Prof. Hermann Berger foram atendidas. Os alunos de iniciação científica júnior buscaram o conhecimento sobre as espécies da fauna ameaçada de extinção além das aulas de capacitação concedidas. Deste modo, a construção do conhecimento foi fundamenta pela abordagem científica e transformada para uma abordagem participativa no sentido de traduzir conceitos científicos para uma linguagem mais acessível e esclarecedora para a comunidade estudantil. Ao ministrar as palestras, obtiveram sucesso ao repassar todos os conhecimentos sobre as espécies ameaçadas de extinção na região centro-serrana do Espírito Santo de forma bem diversificada para atender todas as turmas da escola, de acordo com a faixa etária do público atendido. Assim, cumpriu- se a meta de popularização do conhecimento científico dentro da escola. De acordo com Cumplido & Prieto (2009), é necessário desenvolver uma metodologia onde tanto o educador quanto o educando possam construir um conhecimento direcionado. Ao buscar a abordagem crítica da Educação Ambiental é necessária a implantação de uma alfabetização ecológica incluindo o estudo da ecologia sobre o qual o educando deve ter claro os conceitos de natureza e da relação homem- natureza. Além disso, ele deve reconhecer valores diante de sua responsabilidade para que possa elaborar discursos e saberes a partir da realidade conhecida. Como o número de espécies ameaçadas de extinção vem crescendo, é importante saber as causas para que também se possa atuar na conservação das mesmas. As causas são muitas, desde caça e biopirataria até a destruição de habitats e exploração descontrolada dos recursos (Primack & Rodrigues, 2001). Os estudantes do ICJr relataram a importância do conhecimento sobre as espécies ameaçadas de extinção e replicar essas informações aos demais. Foi importante para todos os alunos que participaram do ciclo de palestras aprenderem sobre o assunto e percebeu-se uma maior mobilização e comoção sobre o referido tema após as palestras parte da comunidade escolar. Se os alunos forem sensibilizados a respeito das causas e quais animais estão ameaçados de extinção, irão difundir a informação não só no espaço escolar, mas também dentro da comunidade social, atingindo um maior alcance de sensibilização. Após assistir à palestra e ver os resultados gerados com a reação dos estudantes ao absorver conhecimento, uma professora da escola deu o seu depoimento: “O professor de Ciências e Biologia pode não ter tanto contato com a fauna e a flora de certa forma, mas tem o prazer de trabalhar com a educação ambiental, desconstruir muitos conhecimentos errados sobre o meio ambiente. Ele pode fazer com que os alunos passem a pensar diferente e o melhor: ver e colocarem em prática tudo que foi ensinado”.

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A percepção ambiental abrange toda maneira de olhar o ambiente – em como o ser humano compreende as leis que o rege – que é resultante de conhecimentos, experiências, crenças, emoções, cultura e ações. Ainda assim, existe uma discrepância entre as imagens culturais da natureza, como a sociedade a enxerga, e a organização real da mesma. Desta forma, o ser humano age no meio ambiente de acordo com a sua percepção, que em geral é inadequada, gerando diversos problemas ambientais (da Silva & Leite, 2008). Em todo o mundo se faz necessário medidas urgentes para uma conscientização da sociedade. Novos conceitos sobre a importância da preservação do meio ambiente no dia-dia devem ser difundidos, e a educação ambiental é uma ferramenta que contribuirá significativamente neste processo de conscientização (Medeiros et al., 2011). Chassot (2003) fala que a alfabetização científica terá sido alcançada quando a compreensão de conhecimentos, procedimentos e valores gerados pelo ensino da ciência contribuírem para tomada de decisões. Fica evidente a importância de sensibilizar pessoas para que sejam atores responsáveis e com consciência ambiental, conservando o ambiente saudável no presente e para o futuro (Effting, 2007). Após a palestra direcionada para os alunos do Ensino Fundamental I da EEEFM Prof. Hermann Berger, uma mãe fez o seguinte comentário sobre a atividade: “Uma ótima iniciativa! E a recompensa é grandiosa... meu filho do primeiro ano veio da escola me falando tudo o que aprendeu. E uma das explicações foi: mãe, você sabia que não se pode jamais matar um porco espinho? Não vou deixar ninguém fazer isso, ele está ameaçado!”. Mesmo que a criança não tenha aprendido o nome científico do “porco espinho” (Chaetomys subspinosus) por exemplo, a popularização da informação científica realizou o objetivo de transmitir a informação sobre a biologia do animal (que não joga seus “espinhos” nas pessoas) e por isto não se deve matá-la por medo ou falta de conhecimento. Considerando a importância da temática ambiental e a visão integrada do mundo, no tempo e no espaço, Effting (2007) acredita que esse processo de sensibilização da comunidade escolar pode fomentar iniciativas que transcendam o ambiente escolar, atingindo tanto o bairro no qual a escola está inserida como comunidades mais afastadas nas quais residam alunos, professores e funcionários. A sensibilização, em todos os âmbitos, é de extrema importância por abordar espécies que eles já possuem certo contato e convívio. E com esse projeto, passando essas informações, os alunos tendem a discutir mais sobre os assuntos de conservação. Tal fato foi observado pelos estudantes do ICJr observaram uma maior sensibilização por parte dos alunos ao discutir esse assunto.

CONCLUSÃO

O resultado do trabalho é positivo uma vez que durante as palestras e logo após, no diálogo domiciliar aqui compartilhado, já se podia notar o grau de sensibilização acerca dos animais ameaçados de extinção da região centro-serrana do Espírito Santo, por parte dos alunos da EEEFM Professor Hermann Berger. Os estudantes bolsistas de ICJr participaram ativamente da sensibilização por meio do diálogo e da interação com a comunidade escolar, seja outros alunos, professores ou pais, e puderam fazê-los refletir a respeito do que pensavam e faziam para a conservação da biodiversidade, mudando atitudes relacionadas ao ambiente que fazem parte e agregando conhecimento extraescolar em prol da conservação da natureza.

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Fundo Municipal de Ciência e Tecnologia do município da Serra (FACITEC) pelas bolsas de Iniciação Científica Júnior, Monitoria e Tutoria e pelo apoio financeiro ao projeto. À Universidade Federal do Espírito Santo pela execução do projeto junto ao Instituto Nacional da Mata Atlântica e apoio dos pesquisadores destas instituições na capacitação dos bolsistas ICJr. Aos ex-bolsistas do projeto Fernando Vesper Neimeg, Jonas Vesper e Stefany Pereira dos Santos pelo empenho e participação nas atividades de Educação Ambiental.

LITERATURA CITADA

Abreu, G. G. & Rodrigues, M. A. 2013. O tratamento de educação ambiental nas escolas públicas e privadas: um estudo de caso nas escolas do ensino fundamental da cidade de Uruçuí-PI. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer, Goiânia, 9(16): 2371-2384.

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Boa-Esperança, T. C. R.; Filomeno, C. E. S. & Lage, D. A. 2014. Divulgação científica no ambiente escolar: uma proposta a partir do uso de mídias digitais. Revista da SBEnBIO, 7: 1582-1591.

Centoducatte, L.A. 2011. Fragmentação da Mata Atlântica e Conservação do muriqui- do-norte, Brachyteles hypoxanthus (Primates, Atelidae). Dissertação de Mestrado não publicada, Programa de Pós-graduação em Biologia Animal, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória.

Chassot, A. 2003. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação, 22: 89-100.

Cumplido, D. C. O. & Prieto, N. G. 2009. Educação Ambiental Escolar: um processo contínuo na formação do cidadão consciente. Coleciona, V: 9-12. da Silva, M. M. P. & Leite, V. D. 2008. Estratégias para realização de educação ambiental em Escolas do ensino fundamental. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, 20: 372-392.

Effting, T. R. 2007. Educação ambiental nas escolas públicas: realidade e desafios. Trabalho de conclusão de curso, Especialização Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Marechal Cândido Rondon. 78p.

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Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica – IPEMA. 2004. Conservação da Mata Atlântica no Estado do Espírito Santo: Cobertura florestal, unidades de conservação e fauna ameaçada. Programa Centros para a Conservação da Biodiversidade – Conservação Internacional do Brasil, Vitória, 112p.

Medeiros, M. C. S., Ribeiro, M. D. C. M., & FERREIRA, C. M. D. A. 2011. Meio ambiente e educação ambiental nas escolas públicas. mbito Jurídico, Rio Grande, XIV, (92). Disponível em: http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?artigo_id=10267&n_link=revista_artigos_leitura. Myers, N., Mittermeier, R. A., Mittermeier, C. G., Fonseca, G. A. B. & Kent, J. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature, 403: 853-845.

Primack, R. B. & Rodrigues, E. 2001. Biologia da conservação. Editora Planta, Londrina, 328 p.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA FERRAMENTA DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

Cintia F. CORSINI1*, Raphael Becalli SOARES1, Maristela CICHELERO2

1Programa de Capacitação Institucional, Instituto Nacional da Mata Atlântica ² Programa de Iniciação Científica Júnior - Pesquisador do Futuro, Universidade Federal do Espírito Santo *[email protected] INTRODUÇÃO

A natureza é explorada como se fosse um recurso inesgotável, vista de forma fragmentada, sem a preocupação e o respeito com as relações dinâmicas do equilíbrio ecológico e sua capacidade de suportar os impactos sobre ela, o que resulta nos problemas ambientais da atualidade (Guimarães, 2007). Uma medida adotada para minimizar esses danos e aumentar a preocupação sobre conservação da natureza é a educação ambiental. Definida como uma educação cidadã, implica a revisão de conceitos e posturas do sujeito para superar a apatia diante dos problemas fundamentais da humanidade e perceber-se como parte desses problemas e como responsável pelas suas possíveis soluções (Silva, 2007). Como a educação é um processo na formação do cidadão que pode transformar conceitos, a escola deve ser o ambiente social e o local onde o professor tem a oportunidade de dar sequência ao processo de aprendizagem dos alunos na fixação de suas convicções no convívio com a sociedade e na percepção do certo e do errado em relação ao meio ambiente (Abreu & Rodrigues, 2013). Em seu artigo, Cumplido & Prieto (2009) discutem que ao trabalhar Educação Ambiental na escola é necessário promover a cidadania utilizando metodologias críticas e participativas, com interação entre todos os atores sociais (professores, alunos e comunidade), para a transmissão de conhecimentos ecologicamente corretos e a sensibilização do educando com a causa ambiental. A Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Art. 3º, inciso II, determina “às instituições educativas, promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem” e a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, Art. 2º completa ao citar que, “a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal”. É preciso enxergar a crise ambiental como resultado de um processo de esgotamento, de uma civilização que compreendeu o progresso como um processo de dominação e controle do meio ambiente e principalmente estar consciente que este caminho deve ser revisto e adequado. Nesse sentido os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), apontam que é fundamental para a escola uma abordagem que considere questões relacionadas à manutenção da vida dos seres vivos num geral e dos seres humanos, e que trabalhe essa interação por meio de suas relações sociais. Tais debates devem ser conduzidos em ambiente escolar, por ser um espaço de formação de cidadãos, e o meio ambiente deve ser um tema transversal considerando as peculiaridades de cada região, pois a educação capacita os estudantes para lidar com questões do cotidiano, possibilitando adquirirem novos valores e conhecimentos ao tomarem decisões. O município de Santa Maria de Jetibá, localizado na região Centro Serrana do Estado do Espírito Santo, com sede nas coordenadas 20° 02’ 0,85” S e 40° 41’ 58,55” W, possui 18.703 hectares de Mata Atlântica do domínio fitogeográfico de

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Floresta Ombrófila Densa Montana distribuídos em diversos fragmentos de grande importância para a conservação da biodiversidade, o que representa 25,43 % da Mata Atlântica original no município (Fundação SOS Mata Atlântica, 2015; Santos et al, 2012). É uma região que foi colonizada a partir do final do século XIX, em sua maioria, por imigrantes europeus da antiga Pomerânia, que implantaram um sistema agrícola de pequenas propriedades familiares rurais, desenvolvendo principalmente olericultura e avicultura (Santos et al, 2012). Para tal, foi praticado o desmatamento e incêndios de florestas para abertura de áreas agricultáveis, corte de árvores para construção de casas e lenha e caça para alimentação (Crepaldi, 2015). Visando a educação ambiental para a conservação da natureza, este trabalho buscou proporcionar uma vivência e questionamentos aos alunos que serão multiplicadores de conhecimento e formadores de opiniões para sensibilização de crianças e jovens na escola.

MATERIAL E MÉTODOS

O histórico da educação ambiental na escola

A Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professor Hermann Berger iniciou o trabalho com educação ambiental e difusão científica em 2005, a partir do “Projeto Mata Viva”, que teve por finalidade sensibilizar a comunidade escolar, além de reflorestar uma área de três hectares, onde anteriormente era uma área de pastagem. Com sucesso deste projeto, e a partir do apoio do Projeto Muriqui - ES (TFCA/FUNBIO) em 2007, a escola continuou a investir em projetos relacionados à preservação, onde participou na formação do Núcleo de Observadores da Natureza (NONA), objetivando estimular o interesse de jovens pela conservação da biodiversidade na Mata Atlântica. Dando continuidade às atividades de educação ambiental e aproveitando um espaço no pátio da escola, foi construído o “Jardim Sustentável”, para o desenvolvimento de atividades pedagógicas e práticas de cunho ambiental, utilizando materiais reciclados, doados pela comunidade local. Em 2014, uma parceria com o Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) também foi firmada para a continuação da capacitação de jovens, uma vez que esta instituição desempenha um papel importante na conservação da biodiversidade, desenvolvendo ações de educação ambiental e atividades de difusão científica voltadas para o público escolar e comunidade em geral.

O projeto

O presente projeto nasceu do convênio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Fundo Municipal de Ciência e Tecnologia do município da Serra (FACITEC) com o “Programa de Iniciação Científica Júnior (Pesquisador do Futuro)”, que concedeu dez bolsas de Iniciação Científica Júnior a estudantes dos ensinos fundamental e médio da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professor Hermann Berger, para a participação neste projeto de pesquisa, com a possibilidade de vivenciar a realidade do ambiente universitário, e despertar o interesse em dar continuidade aos estudos e futuramente o ingresso no ensino superior. Também estão inseridas uma monitora, estudante do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), e uma tutora, que é professora da mesma Escola, para auxiliar na execução das atividades do projeto e na

268 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 atualização do conhecimento teórico a respeito do tema desenvolvido, além de contar com um coordenador pesquisador da UFES e uma coordenadora executora do INMA.

Metodologia

O trabalho retrata uma das atividades do Projeto “Da escola para a mata: observando a natureza e popularizando a ciência” realizada no período de fevereiro de 2016 a abril de 2017 com 4 educadores e 10 alunos bolsistas de iniciação científica júnior (ICJr) da EEEFM Prof. Hermann Berger. Como o projeto visa o desenvolvimento de atividades de educação ambiental voltadas para sensibilização sobre combate à poluição no meio rural e a importância de ações educativas para a conservação da biodiversidade, os bolsistas ICJr participaram de uma oficina de capacitação sob a orientação do professor de biologia convidado, Raphael Becalli Soares, e também foi desenvolvida pela monitora do projeto uma apostila sobre o tema Educação Ambiental que abordou a questão do crescimento dos movimentos ambientalistas, os quais promoveram um avanço tecnológico e científico, mas não o suficiente para conter o processo de degradação em curso. Adicionalmente, foi salientado o comportamento da sociedade no meio rural, que faz uso indiscriminado de agrotóxicos e afeta a cadeia dos organismos que fazem parte desse meio. A oficina aconteceu em 17 de fevereiro de 2016, e foi dividida em dois momentos. O momento teórico contou com a apresentação de três conceitos de educação ambiental: o primeiro da Política Nacional de Educação Ambiental - Lei nº 9795/1999, Art 1º - "Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade" (Brasil, 1999); o segundo dos Parâmetros Curriculares Nacionais – meio ambiente, saúde, Art. 2° - “A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental” (Brasil, 1997); e o terceiro do autor Mousinho (2003) "Processo em que se busca despertar a preocupação individual e coletiva para a questão ambiental, garantindo o acesso à informação em linguagem adequada, contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência crítica e estimulando o enfrentamento das questões ambientais e sociais. Desenvolve-se num contexto de complexidade, procurando trabalhar não apenas a mudança cultural, mas também a transformação social, assumindo a crise ambiental como uma questão ética e política". Os conceitos foram analisados junto com os alunos para apresentar a preocupação que existe em relação ao tema. Em seguida o conceito de Mousinho (2003) foi confrontado com o projeto ICJr da escola para destacar as partes que ajudariam no projeto para a elaboração de como aplicá-las. Após estudar as definições de educação ambiental e os objetivos dos projetos foi lançada uma provocação: “Existe algo para mudar no planeta em prol do meio ambiente?”. Com essa provocação o ministrante teve como objetivo ouvir a opinião dos alunos em relação às ações sociedade-meio ambiente. Após essa provocação o gargalo da pergunta foi estreitando para o que é preciso mudar no país, na cidade, na escola, na casa de cada um e por fim nas ações do cotidiano, ou seja a preocupação individual para as questões ambientais. Baseado nas diretrizes do projeto, os alunos foram direcionados a voltar o debate para o ambiente escolar: “Como despertar a preocupação individual e coletiva para questões ambientais, garantindo o

269 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 acesso a informação em linguagem adequada, estimulando uma consciência crítica para mudar questões culturais (costumes) e adequar questões éticas (atos) dentro da escola?”. Então surgiu a necessidade de eleger um plano de fundo (motivo, causa, provocação) forte o suficiente para gerar uma mobilização e apresentar atrativos para divulgar, envolver e executar as ações. O plano de fundo escolhido pelos alunos do projeto foi a revitalização do jardim da escola com restauração e inclusão de elementos reutilizados (o próprio termo “reutilizados” foi fruto de um diálogo diferenciando reduzir, reciclar e reutilizar) além das plantas, para tornar o ambiente mais vivo, alegre e atrativo, objetivando despertar nos alunos o afeto pelo ambiente que auxiliam no cuidado. Para elaborar um roteiro de ações algumas questões foram debatidas pelo ministrante junto aos alunos, questões referentes a logística, como por exemplo, escolha do local, como conseguir o material, quem vai executar, como agregar pessoas e quem precisa autorizar para que essas ações aconteçam no ambiente escolar. Enfim chega o momento prático, ao divulgar essas ações para envolver a comunidade escolar. Os bolsistas ICJr elegeram o método de mural justificando que todos as turmas de todos os períodos e níveis de ensino teriam acesso. Para isso foi desenvolvido um treinamento para elaboração de cartazes: preocupações com enquadramento, tamanho e tipo da letra, ilustrações, e tipo de informações foram repassadas aos estudantes em conjunto com a monitora, professora e a coordenadora do projeto. Para finalizar a oficina os alunos apresentaram seus cartazes uns para os outros para serem averiguados e possivelmente readequados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram realizados aproximadamente 30 encontros com frequência semanal e no decorrer foram construídos conceitos e delineadas estratégias de revitalização e manutenção do “Jardim Sustentável”. A cada encontro o grupo analisava o jardim e fazia um levantamento das demandas: se precisava regar, se faltava terra, mudas, recipientes, etc., baseando-se nos 3Rs – reduzir, reutilizar e reciclar. Então, como a escola havia sido reformada a pouco tempo, foram disponibilizados os materiais inutilizados para os ICJr reaproveitarem no jardim. Suportes de lâmpadas viraram jardineiras, botas se transformaram em recipientes, bicicletas velhas agora são decoração, pneus foram modificados em canteiros. Trajber (2007) avalia que para garantir qualidade de vida para a nossa e para as futuras gerações, precisamos mudar valores e atitudes individuais e coletivas, a começar por viver com o planeta em mente. Com o passar dos anos a tendência é a população aumentar e, consequentemente, o consumo e a geração de resíduos sólidos, devido à maior demanda por alimentos e utensílios domésticos (Abreu & Rodrigues, 2013). Os alunos se envolveram, dividiram tarefas e cada etapa foi um aprendizado, desde o contato com a terra até o preparo de um canteiro. Essas atividades de jardinagem serviram para valorizar o trabalho em equipe e demonstraram que a unidade escolar com flores e plantas bem regadas e cuidadas, é também uma maneira de preservar a escola. A partir do cotidiano de vida da escola e da sociedade, a Educação Ambiental deve promover o desenvolvimento de hábitos e atitudes sadios de conservação ambiental e respeito à natureza (Loureiro et al, 2009). É importante que a educação contemple no ambiente escolar a necessidade de conscientizar alunos e sociedade para a reutilização e o reaproveitamento dos resíduos sólidos (Abreu & Rodrigues, 2013). Trajber (2007) acredita que um pensamento crítico mais responsável e solidário, por ser comprometido com o coletivo, e voltado para a simplicidade, por ser menos

270 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 individualista, consumista e competitivo, pode nos levar, e aos nossos jovens estudantes, a uma postura que permita um presente e um futuro sustentável. A comunidade escolar sempre se dispôs a ajudar. As mudas das plantas que compuseram o jardim foram doadas pelos pais dos alunos e vizinhos da escola. Ao ver o jardim já bem estruturado, com as plantas crescendo e já com flores, os alunos se mostram satisfeitos e passaram a observar mais o local, mesmo fora do dia em que as atividades são realizadas na escola, demonstrando o sentimento de cuidado. Guimarães (2007) expõe que um caminho que pode ser trilhado pela perspectiva crítica da educação ambiental é o da ampliação do ambiente educativo para além da escola superando a fragmentação e a dualidade que tradicionalmente não se complementam entre educação formal (escolar) e não-formal. As ações de educadores ambientais devem propor a criação e promover a ocupação de espaços possíveis, onde os princípios participativos possam se expressar na perspectiva construtivista de novos saberes e práticas que estimulem a organização coletiva e espaços colaborativos. Trazer a realidade de fora da escola para dentro e retornando com ações educativas na comunidade é um processo educativo instigador para o desenvolvimento de uma educação ambiental em seu caráter crítico, que se inicia na escola, mas se realiza para além de seus domínios. As ações têm despertado nos alunos de Iniciação Científica Júnior um exercício de transformação no espaço escolar, não só externo como no jardim, mas também nos corredores da escola, onde a sensibilização ambiental foi realizada com a confecção de cartazes sobre os temas: Terra, água, fauna, flora e saúde, salientando a problemática da poluição ambiental em meio rural, envolvendo as espécies ameaçadas de extinção, e as possíveis soluções. Durante as atividades de confecção dos cartazes, os alunos da ICJr discutiram a importância da educação ambiental para formação de cidadãos engajados na transformação das relações da natureza com a sociedade, com um ambiente mais limpo. De acordo com Abreu & Rodrigues (2013), os avanços da educação ambiental são um importante meio para frear as irracionalidades praticadas com o meio ambiente e representam progresso nos esforços de escolas, sociedade e governo no sentido de melhorar a qualidade de vida no planeta. A educação ambiental inserida nas práticas escolares pode significar a inserção da escola e dos saberes que se processam em seu interior num movimento de análise e reflexão profunda do sentido de estar no mundo, vendo-o como potência e possibilidade (Silva, 2007). Esse tipo de trabalho é de suma importância, pois a construção da educação ambiental crítica é fundamentada dentro da reflexão individual e das atitudes coletivas dos alunos de ICJr e dessa forma, a mensagem transmitida aos estudantes irá gerar incentivos para manter a escola sempre limpa e ainda influenciar a comunidade escolar a cuidar do ambiente. Deste modo, Guimarães (2007) corrobora afirmando que a educação ambiental deve ser crítica, que compreende a sociedade numa perspectiva complexa, em que cada indivíduo possui influência, mas ao mesmo tempo a sociedade, os padrões sociais influenciam os indivíduos, promovendo mudanças recíprocas. Nessa relação se constrói o processo de uma educação política que forma atores conscientes, aptos a atuarem coletivamente no processo de transformações sociais, em busca de uma nova sociedade ambientalmente sustentável. A partir das atividades de educação ambiental no Jardim Sustentável e com os cartazes exibidos no espaço escolar, os alunos da ICJr observaram a percepção dos estudantes sobre as temáticas ambientais trabalhadas e notaram que as crianças são as mais sensíveis à informação: “É um trabalho de formiguinha. Aos poucos vamos obtendo resultados. As crianças são as que mais observam e interagem relatando o que vivenciam nas suas casas, se eles economizam água, se é separado o lixo, etc”. (J.B.)

271 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

“Pelo meu ver houve mais aproveitamento das crianças. Ouvi algumas opiniões dos meus colegas dizendo que os cartazes não ficaram legais espalhados pela escola. Muitos também nem devem ter lido as informações”. (B.H.) De acordo com Guimarães (2007), problemas socioambientais não são solucionados por mudanças comportamentais de cada indivíduo. Eles podem se constituir em temas geradores que questionam e problematizam a realidade para compreendê-la por sujeitos em processo de conscientização. Além de alertar ao indivíduo sobre a problemática ambiental, torna-se oportuno também questionar o porquê essa sociedade gera tanto problema e disso promover toda uma discussão do seu modo de produção e consumo para saber como agir. Os alunos ICJr também perceberam que a disponibilização da informação afeta toda a comunidade escolar, como os funcionários ali inseridos: “Eu acredito que os murais são importantes, os alunos podem não comentar, mas eles prestam atenção no que está exposto. Os funcionários da escola ficam informados sobre os assuntos abordados”. (L.D.) De forma contrária à educação tradicional, essa é uma educação voltada para uma ação-reflexiva, coletiva, para a relação interativa em que seu conteúdo está para além dos livros, está na realidade socioambiental ultrapassando os muros das escolas (Guimarães, 2007). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – (LDB), em seu Artigo 1º, relata que a educação considera a formação do indivíduo no ambiente familiar, na sociedade, na formação escolar nos movimentos sociais e nas manifestações culturais (Brasil, 1996). Nesse sentido o avanço da Educação ambiental é importante para que com o passar do tempo os alunos tenham conhecimento para criar alternativas que erradique práticas incoerentes e prejudiciais ao meio ambiente.

CONCLUSÃO

Ao orientar os alunos de ICJr no desenvolvimento de atividades de educação ambiental dentro de suas escolas, eles passaram a exercer o papel de replicadores, atingindo um público mais amplo, e difundindo a relevância da conservação da natureza, atingindo também o núcleo familiar que nem sempre têm acesso aos espaços onde o tema é debatido. Por este motivo acredita-se que o desenvolvimento deste trabalho contribuiu para formar esses alunos como modelos para comunidade em geral, preocupados em conservar os recursos naturais e buscar adesão de mais pessoas através da sensibilização por meio de divulgação de informações e alternativas que buscam melhorar a relação homem-natureza no caminho para o desenvolvimento sustentável.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio financeiro ao projeto pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Fundo Municipal de Ciência e Tecnologia do município da Serra (FACITEC). À Universidade Federal do Espírito Santo pela execução do projeto junto ao Instituto Nacional da Mata Atlântica e apoio dos pesquisadores destas instituições na capacitação dos bolsistas ICJr. À diretora da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professor Hermann Berger, Lucinelda Lauvers Dettmann e à professora tutora Caroline Angeli Sancio pelo espaço, apoio e aprendizado junto aos alunos de iniciação científica Beatriz Raasch, Carolaine Boldt, Fernando Vesper Neimeg, Jonas Vesper, Jordane Bernardes, Kátia Haese Linhaus,

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Katiele Lenke Kosanke, Keronlaine Kuster Nascimento, Letícia Lichtenheld, Silvia Kosanke, Soéllen Schwarz, Stefany Pereira dos Santos e Thaimiris Lahass.

LITERATURA CITADA

Abreu, G. G. & Rodrigues, M. A. 2013. O tratamento de educação ambiental nas escolas públicas e privadas: um estudo de caso nas escolas do ensino fundamental da cidade de Uruçuí-PI. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer, Goiânia, 9(16): 2371 – 2384.

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Brasil. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf (18/04/2017).

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274 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

ESTRATÉGIAS E FERRAMENTAS PARA POPULARIZAÇÃO DA ORNITOLOGIA DENTRO DO INSTITUTO NACIONAL DA MATA ATLÂNTICA – INMA

José Nilton da SILVA¹* & Arlindo SERPA-FILHO¹

¹Instituto Nacional da Mata Atlântica – INMA *[email protected]

INTRODUÇÃO

A difusão científica ou popularização da ciência é a capacidade de falar de ciência de forma lúdica e de aprendizado com a população, estas linguagens podem ser apresentadas de diversos meios sejam impressos, digitalizados, formais, redes sociais, comunicação e por provocação a este aprendizado difusor (Porto, 2009). Sendo assim é importante abordar temas que facilitem o entendimento da população e a facilidade dedivulgá-los, se este tema já for de algum conhecimento da população isso torna as estratégias de difusão ainda mais efetivas (Albigli, 2003; Porto 2009). A ornitologia é uma das áreas mais amplas dentro da área da zoologia e do ramo das ciências naturais e do meio ambiente, sendo a mesma muito visada por pesquisadores ou mesmo por curiosos e simpatizantes das aves. O significado da palavra Ornitologia vem do grego Ornito= aves e logia=estudo, sendo assim estudo das aves. Na história da ornitologia Aristóteles foi um dos primeiros a escrever relatos sobre as aves em sua obra Sobre a história dos animais, continuada em Roma, mais de três séculos depois, por Plínio, o Velho. Várias obras da Idade Média e do início da era moderna registram observações pessoais relevantes sobre aves (Sick, 1997, Sigrist, 2014). As observações ornitológicas no Brasil iniciaram-se nos período da colonização e entre as referências mais antigas feitas à avifauna brasileira, destacam-se as que se encontram no livro do Arcabuzeiro do alemão Hans Staden, que foi prisioneiro dos índios por volta de 1553. A essa fonte somam-se as informações esparsas nas obras de dois franceses, o franciscano André Thevet e o calvinista Jean de Léry, bem como nas de outros religiosos e viajantes. O estudo das aves indígenas figura como um dos capítulos mais importantes da História naturalis Brasiliae (1648), do naturalista holandês Georg Marcgrave. Dentre a história da ornitologia destaca-se também o estudioso Alfred Russel Wallace que realizara muitos estudos ornitológicos importantes e de grande valia na ornitologia brasileira, assim como o Catalogue of the Birds in the British Museum (1874-1875) Catálogo de aves do Museu Britânico, que marcou época e até hoje constitui obra indispensável aos estudiosos. Dentre os principais estudos da ornitologia brasileira destacam-se os trabalhos realizados no Museu Nacional, no Rio de Janeiro; no Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém do Pará; e no Museu Paulista, que em 1907 publicou um catálogo das aves do Brasil, seguido por edições ampliadas. Outras obras fundamentais de referência são As aves do Brasil (1894-1900), de Emílio Goeldi, e Catálogo das aves amazônicas (1914), de Emilie Snethlage. No entanto, a obra Ornitologia Brasileira feita por Hemult Sick em 1997 é considerada a obra mais completa e melhor detalhada da ornitologia no Brasil. No estado do Espírito Santo a Ornitologia teve seu destaque e pioneirismo com o padre José de Anchieta e com o estudioso e pesquisador Augusto Ruschi nas décadas de 60 a 80 e logo após sua morte seus trabalhos foram referências e guias para novos

275 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 pesquisadores e estudiosos das aves no estado do Espírito Santo. Augusto Ruschi e fundou o Museu de Biologia Professor Mello Leitão, hoje atual instituto Nacional da Mata Atlântica – INMA. Uma área muito importante para o MBML hoje atual INMA foi por muitos anos a área da zoologia com ênfase maior para a ornitologia, entretanto, com o falecimento do pesquisador Augusto Ruschi em 1986, esta área passou a ter uma menor abordagem na instituição que agora passará a focar em áreas ambientais diversas, como todos os grupos zoológicos além de botânica. Assim, após estes acontecimentos surgiu-se um carências na área dentro da instituição principalmente na questão de estudos e difusão da ornitologia e da coleção ornitológica da instituição e em acréscimo a isto, a falta de informações adequadas e construtivas a respeito das aves, principalmente para os visitantes da instituição, assim tendo necessidades de maiores informações sobre as aves para o publico visitante do INMA. No INMA, durante visitas de leigos ocorrem perguntas diversas sobre as aves do parque do INMA, ou mesmo sobre aves que se encontram taxidermizadas em exposição. Observa-se que as ferramentas ornitológicas que o INMA oferece, têm um inestimável valor para a difusão científica dentro e fora da instituição, embora não sejam explorados mais detalhadamente e com as devidas estratégias, estes materiais ornitológicos do INMA podem se tronar uma grande ferramenta para a difusão científica do INMA. Desta forma o trabalho tem como objetivos apresentar produtos de difusão em ornitologia, demonstrando o potencial da área para popularização da ciência e da difusão científica no INMA.

MATERIAL E MÉTODOS

Os trabalhos foram realizados dentro do Instituto Nacional da Mata Atlântica - INMA, localizado no município da Santa Teresa, região serrana do estado do Espírito Santo. Onde foram feitos registros fotográficos das espécies de avifauna do parque, após tais esforços e registros fotográficos os registros foram trabalhados em programas de edição fotográfica como Photoscape e Adobe Photoshop. Deu-se início a produção e confecção do guia pratico das aves do parque do INMA tendo informações taxonômicas, ecológicas e curiosidades sobre cada espécie e de outros materiais derivados e de apoio com cunho de popularização e difusão científica da Ornitologia dentro da instituição. Os critérios para a seleção das imagens foram à qualidade da imagem e a relevância da espécie quanto a sua raridade e facilidade de avistamento dentro do parque do INMA. Concomitantes aos procedimentos de tratamentos das imagens foram trabalhados textos informativos sobre as espécies selecionadas, tendo nestes textos informações taxonômicas, geográficas, ecológicas e curiosidades. Além disso, textos sobre a importância da área florestada do INMA para a conservação das espécies de aves foram elaborados. Foram observados locais estratégicos dentro do parque da instituição, nestes locais estratégicos seriam colocadas sinalizações com imagens das aves que são mais facilmente observadas no mesmo, dessa forma facilitando a interação dos visitantes com o guia das espécies e com a identificação das mesmas. Tais produtos tiveram detalhes em suas confecções o que tornaria a visitação ao parque do INMA mais dinâmica e como um aprendizado sobre as aves dentro da instituição INMA. Ao final de cada visita seria proposto ao visitante responder um questionário avaliativo sobre o potencial de aprendizado em ornitologia que os produtos ofereceram.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram confeccionados produtos e materiais com informações sobre as espécies de aves que ocorrem dentro do parque do INMA. Tendo o guia prático uma quantia de 24 espécies com informações ecológicas, taxonômicas, geográficas e curiosidades (figura 1). Neste mesmo guia existem detalhes interativos onde os visitantes podem assinalar as espécies que foram avistadas durante seu passeio no parque. Nesta mesma dinâmica foram confeccionados banners (figura 2) com espécies de possível facilidade de observação e nestes com informações sobre as mesmas. O jogo de tabuleiro (quebra- cabeça) foi produzido tendo cada quebra-cabeça à imagem de uma espécie de ave assim como informações sobre a mesma (figura 3). Um pequeno folder informativo foi elaborado tendo este uma visão mais resumida do que pode ser observado das aves, tendo uma função de “cartão de visita” para atividades ornitológicas (figura 4). Os materiais produzidos tornam os passeios dentro do parque do INMA uma verdadeira interação com a ornitologia, pois além da aprendizagem sobre as aves o visitante poderá tornar sua visita mais interativa e dinâmica dentro do parque zoobotânico do INMA.

Figura 1. Guia prático das aves do parque do INMA, capa e uma das páginas do conteúdo do produto, ao lado da caixa de informação os quadrados em azul são os espaços para serem assinalados pelos para cada espécie observada.

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Figura 2. Sinalizações (Banner) a serem alocadas em pontos estratégicos do INMA.

Figura 3. Jogo de tabuleiro (quebra-cabeça) com uma espécie bastante observada dentro do parque do INMA.

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Figura 4. Folder informativo com uma visão geral das aves e da ornitologia dentro do INMA, sendo este uma espécie de “cartão de visita”.

A alfabetização científica encontra seu significado ampliado no contexto da sociedade atual, na qual os sujeitos obtêm de forma rápida informações acerca das mais variadas áreas, inclusive sobre o desenvolvimento da ciência. Os meios de comunicação de massa exercem grande presença na vida cotidiana, trazendo para perto o que parecia estar tão longe. Porém, estar informado não é o bastante para criar cidadãos capazes de se posicionarem criticamente perante o mundo, é preciso oferecer subsídios para que os indivíduos possam compreender essa gama de informações, e possam lidar com elas de forma sábia e consciente (Porto, 2009). Estes métodos de divulgação e popularização da ciência através da interação provocam os leigos para o conhecimento sobre o determinado assunto abordado (Albagli, 1996). A capacidade de popularizar e divulgar determinado assunto estão diretamente relacionados aos meios nos quais estes são apresentados ao publico (Albagli, 1996; Loureiro, 2003; Porto, 2009). Segundo Sick (1997) as aves são espécimes que atraem a atenção do homem, não só pelas suas colorações, mas também pelo vasto repertório sonoro que estas podem apresentar durante suas vocalizações. Desta forma, utilizar estes espécimes para a divulgação científica torna-se uma estratégia promissora. Entretanto os meios que proporcionam a interação das pessoas com estes seres tornam aas estratégias de difusão científica da ornitologia no INMA ainda com proporções mais otimistas.

CONCLUSÃO

Os materiais produzidos para a difusão da ornitologia no INMA são de grande importância para popularizar o assunto e também hastear o nome do INMA perante as demais instituições. Desta forma, é de grande importânciao potencial que os produtos apresentados possuem para divulgar a ornitologia dentro do INMA, assim podendo tornar as visitas cada vez mais dinâmicas dento da instituição.

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AGRADECIMENTOS

Ao graduando Renan Betzel por ceder algumas imagens das aves, ao setor de difusão por apoiar o trabalho, ao biólogo Raphael Becalli por sugestões de grande valia nos produtos apresentados. Ao senhor Rosemberg Ferreira Martins (in memorian) por proporcionar métodos de trabalhar as imagens, além de ter cedido programas para a edição das mesmas.

LITERATURA CITADA

Albagli, S. 1996. Difusão científica: informação científica para a cidadania? Ci. Inf., Brasília, v. 25, n3. 396-404p.

Loureiro, M.M. 2003. Museu de ciência, divulgação e hegemonia. Ci. Inf., Brasília, v. 32, n. 1, 88-95p.

Porto, C. M. 2009. Difusão e cultura científica: alguns recortes. EDUFBA, 230 p, Salvador – BA.

Sick, H. 1997. Ornitologia brasileira: uma introdução. Editora nova fronteira. Rio de Janeiro, 912p.

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PROJETO CAÇA-ARANHA: AÇÃO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO INSTITUTO NACIONAL DA MATA ATLÂNTICA

Antonio Marcos COELHO1*, Sâmela da Silva RECLA1, Luiza Monique CORRÊA1, André Poça SUAVE1, Thayna da Silva RAYMUNDO2, Wesley Dondoni COLOMBO2, Cecilia WAICHERT2 & Isabel De Conte Carvalho de ALENCAR1

1Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Santa Teresa 2Universidade Federal do Espírito Santo - Campus Goiabeiras *[email protected] INTRODUÇÃO

O conhecimento científico, embora crescente, muitas vezes não chega à sociedade. O mundo atual exige novas formas de pensar, agir e sentir, as quais seriam favorecidas por uma aproximação entre o conhecimento científico e o Ensino de Ciências e Biologia (comunicação pessoal). Experiências vivenciadas no curso de licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) Campus Santa Teresa (leituras, reflexões, discussões, estágios) têm trazido diversas discussões sobre a formação docente em prol de uma sociedade cientificamente informada e consciente. Neste contexto, constata-se a necessidade de preparar os futuros professores de Ciências e de Biologia para serem mediadores das produções científicas para a comunidade, promovendo a divulgação científica na escola e em espaços de educação não formais. No Espírito Santo, um dos espaços não formais que mais merecem destaque é o Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), antigo Museu de Biologia Mello Leitão (MBML), localizado no município de Santa Teresa. O MBML foi fundado por Augusto Ruschi em 1949, sendo uma organização não governamental por 34 anos e incorporado ao Governo Federal em 1983 através da Fundação Nacional Pró-Memória, hoje Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, do Ministério da Cultura (Mendes & Padovan, 2000). Entretanto, em 2014 o antigo MBML alterou sua denominação para INMA através da Lei 12.954. O Ifes Campus Santa Teresa tem explorado pouco a proximidade com o INMA na formação de futuros docentes. O espaço do INMA poderia permitir experiências de pesquisa e extensão, promovendo a atuação do licenciando em atividades de planejamento e execução para a popularização científica. Museus e centros de ciências são locais de possível articulação entre espaços não formais e a formação docente, possibilitando atuação futura dos licenciados nesses espaços (Ovigli, 2011). Ainda, para Sabbatini (2003): “Os museus e os centros de ciências se destacam na atual discussão sobre a criação de uma cultura científica generalizada para toda a sociedade, como instituições capazes de conectar os avanços e as questões relacionados com a ciência e a tecnologia aos interesses do cidadão comum”. Em museus, a diversidade dos invertebrados usualmente é pobremente explorada e portanto, de pouco acesso ao público não-científico (comunicação pessoal). Dentre os invertebrados, os insetos habitam a Terra a cerca de 479 milhões de anos e são os organismos mais abundantes no planeta (Misof et al., 2014). Os himenópteros (abelhas, vespas e formigas) são insetos amplamente conhecidos pelo público em geral, especialmente as abelhas, como agentes polinizadores e pela produção de mel; e as formigas, como insetos sociais abundantes e que, assim como algumas abelhas, podem

281 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 causar injúrias ao homem. As vespas, porém, também se destacam como agentes polinizadores e de interesse médico por sua picada dolorosa e injeção de veneno. As vespas são predadores e parasitoides de outros artrópodes, incluindo pragas agrícolas, sendo imprescindíveis para a manutenção do equilíbrio ecológico de populações (LaSalle & Gauld, 1993). Os micro-himenópteros, ou microvespas, são os mais diversos e abundantes himenópteros (LaSalle & Gauld, 1993). Dentre as vespas de maior tamanho corporal estão as caça-aranhas também popularmente conhecidas como cavalo do cão (Hymenoptera, Pompilidae). Pompilídeos variam de <2mm, ex. Ageniella Banks (Waichert & Pitts, 2012) a 65 mm, como em Pepsis Fabricius (Vardy, 2000). Elas são frequentemente registradas devido ao seu tamanho e pelo seu comportamento de caçar aranhas em trilhas e estradas (Wasbauer, 1995). A diversidade de cores assemelha-se a das borboletas (Vardy, 2000), aguçando a curiosidade do público. Todas as caça-aranhas predam aranhas, as quais paralisam e depositam um ovo; ao eclodir, a larva consome a aranha (Wasbauer, 1995). Essas vespas possuem diversidade 1) comportamental, variando de solitárias a parasociais (fêmeas irmãs que nidificam juntas); e 2) arquitetônica de ninhos, os quais podem ser escavados em solo, cavidades preexistentes e ninhos de barro construídos pela fêmea (Waichert et al., 2015). As vespas caça-aranhas são também importantes para a polinização de algumas plantas (Shuttleworth & Johnson, 2009). É frequente e popular a publicação de vídeos de caça-aranhas predando tarântulas em redes sociais e em sites de compartilhamento de vídeos. Por fim, essas características fazem dessas vespas organismos interessantes para a comunidade não-científica, principalmente porque são táxons com grandes chances de gerar empatia ao público, portanto, são um excelente modelo para trabalhos de divulgação científica de vespas com ferrão. Por fim, propomos este presente trabalho na perspectiva de estreitar laços entre Ifes e INMA bem como possibilitar a formação mais abrangente para o licenciado em Ciências Biológicas e oferecer atividades de divulgação científica a comunidades preconizadas nos projetos de pesquisas desenvolvidas pelas duas instituições. Além disso, o projeto busca consolidar parceria já existente do Ifes com a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). A atividade de extensão “Projeto Caça-Aranha” visa divulgar conhecimento científico sobre insetos e, mais especificamente, das vespas com ferrão da família Pompilidae (Hymenoptera, Aculeata). O presente trabalho busca compartilhar e analisar as atividades desenvolvidas até o momento pelo “Projeto Caça-Aranha” através de um relato de experiência. As atividades realizadas objetivaram uma abordagem qualitativa sob a ótica do papel ambiental das vespas caça-aranhas a partir de exposições dinâmicas e interativas com o público visitante no INMA, contribuindo com o acesso às informações de boa qualidade para a formação do cidadão e também do futuro docente em formação pelo Ifes.

MATERIAL E MÉTODOS

As atividades do projeto foram desenvolvidas no INMA. No dia das crianças (12 de outubro de 2016), o INMA promoveu uma exposição intitulada “O mundo fascinante dos insetos”, a qual permaneceu por um mês. A exposição ofereceu como programação de abertura diversas atividades como: filmes e documentários sobre insetos; atividades lúdicas com a temática insetos; jogos como o “entomoquiz” e rodas de capoeira, nos períodos matutino e vespertino. Diversos modelos didáticos sobre insetos, coleções entomológicas, representação de insetos em maquetes entre outros foram expostos durante este período.

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As atividades do “Projeto Caça-Aranha” fizeram parte da programação de abertura dessa exposição, e foram abertas para todo o público, porém, o público alvo eram crianças a partir de cinco anos de idade. As atividades foram ofertadas durante o dia inteiro, tendo sido realizada em cada turno (matutino e vespertino) em três etapas: (1) mapa conceitual com uso de figuras (obtidas através da internet, veja Apêndice I); (2) trilha caça-aranha e (3) atividades de pinturas e quebra-cabeças foram planejadas principalmente para crianças e mediadas pelos membros da equipe do projeto. O mapa conceitual imagético foi utilizado para análise do conhecimento prévio e desmistificação de conhecimentos errôneos, muitas vezes passados de geração em geração, através das figuras disponibilizadas. Os participantes foram incentivados a compartilhar histórias, lembranças e fatos que sabiam sobre as vespas de forma geral e para isso, utilizamos 15 imagens selecionadas previamente que pudessem ser relacionadas às vespas. Destacamos que no turno matutino o mapa conceitual imagético foi realizado em ambiente fechado, porém com o maior movimento de visitação no INMA no período vespertino a mesma atividade foi realizada ao ar livre. Para a trilha caça-aranha, foram escondidos cerca de 10 modelos de aranhas em uma área externa do INMA, para que as crianças pudessem procurá-las na trilha (Figuras 1A-B). Os modelos de aranhas foram confeccionados com material de baixo custo e fácil acesso como: isopor, EVA, jornal, cola, arames e tintas guache. O intuito dessa atividade foi fazer as crianças atuaram como se fossem vespas a procura de aranhas, simulando como essa interação ocorreria na natureza. As atividades extras foram entregues às crianças, como quebra-cabeças para serem montados e um desenho para que elas pudessem colorir e levar para as suas casas como uma lembrança da oficina, ou poderiam deixar os seus desenhos expostos em um mural no INMA (Figuras 2A-B).

A B

Figuras 1 (A-B). Atividade de trilha interativa. A. Crianças procurando aranhas no jardim rupestre do INMA. B. Detalhe de uma aranha confeccionada com isopor, papel, cola e tinta guache. (INMA, 12/10/2016).

A B

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Figuras 2 (A-B). Crianças realizando as atividades extras. A. Jogo quebra-cabeça. B. Desenho da vespa caça-aranha para colorir. (INMA, 12/10/2016).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em cada turno, as imagens foram compartilhadas e o público procurava relacioná-las organizando um mapa conceitual imagético. Conforme os participantes expressavam suas opiniões sobre o assunto, os mediadores compartilhavam uma sequência de novos conhecimentos, com o propósito de desmistificar e reconstruir alguns conhecimentos relacionados às vespas. A maior parte dos relatos associavam as vespas ao perigo, demonstrando que a maioria tem muito medo das mesmas, devido, principalmente as suas "picadas". Segundo Buzzi (2010), estes insetos são temidos pelas suas doloridas picadas. No entanto, alguns participantes conseguiram relacionar as vespas à polinização o que demonstra um conhecimento prévio mais elaborado ou, pelo menos, uma melhor observação do ambiente. Essa observação foi interessante, pois os principais polinizadores são as abelhas e secundariamente outros insetos como as vespas (Buzzi, 2010). No final, os mediadores aproveitaram as colocações dos participantes e introduziram com maiores detalhes informações sobre as vespas caça-aranhas que, embora sejam facilmente reconhecidas, são pouco difundidas. Abordar a família Pompilidae, deixou o público surpreso e curioso, principalmente pelo seu comportamento de capturar aranhas para servirem de hospedeiras para suas crias. Na segunda atividade, as crianças foram conduzidas ao jardim rupestre (veja as Figuras 1A-B) do INMA, onde participaram de uma atividade denominada "Caça a aranha". Dez modelos de aranhas foram espalhados por diversos locais simulando nichos ocupados pelas mesmas. Durante a realização desta atividade, as crianças ficaram bastante empolgadas, solicitando que a mesma fosse realizada várias vezes. Foi observado que muitas trabalharam em grupos, onde até os responsáveis pelos participantes ajudaram na caça às aranhas. Rau (2011) sugere que as brincadeiras de faz de contas são partes integrantes do mundo social das crianças, o qual inclui a família, além disso, interações com colegas trazem diferentes aspectos do cotidiano de cada um, os quais se inter-relacionam e ampliam a socialização. Esta foi a atividade mais apreciada pelo público. A realidade interna do jogo (a forma que cada um absorve e entende o jogo) predomina sobre a externa (a forma que o jogo é realizado, uma mesma realidade para todos), colocando a imaginação em ação; há prazer e alegria, as crianças ficam mais dispostas a buscar novas ideias em jogos do que em outras atividades não recreativas (Rau, 2011). Neste momento foi observada a interação entre as crianças que participavam da oficina, e também foi possível notar que, novamente os responsáveis por elas participaram, demonstrando grande interesse pelo que estava sendo realizado. Devemos ressaltar que nem todos os participantes se interessaram pelas atividades propostas no terceiro momento, reforçando que a função lúdica do jogo, expressa a ideia de que sua vivência propicia a diversão (Rau, 2011). Embora algumas crianças tenham trabalhado em grupo, observamos que outras competiram, esquecendo-se do objetivo principal que era simular o comportamento das vespas. Segundo Brandão (2015), quando os jogos se tornam competitivos, somente alguns participantes se divertem, pois os outros saem com sentimento de derrota. A ludicidade tem como característica lidar com as emoções e por isso traz à tona sentimentos de alegria, companheirismo e cooperação, mas também evoca sentimentos de frustração (Rau, 2011). A frustração foi observada durante a atividade “caça a aranha” quando as crianças não encontravam os modelos de aranhas.

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Atividades como estas visam ampliar a perspectiva didática do licenciado em Ciências Biológicas, trazendo novas ideias e experiências para sua futura docência. A sala de aula e laboratório ainda são os ambientes onde transcorrem a maior parte das atividades de um curso de Biologia. No entanto, esses lugares por si só não permitem que os licenciandos atinjam formação plena se não forem também incluídas atividades extraclasses, como aulas de campo e atividades em espaços não formais de ensino, proporcionando contato direto com a realidade de um professor. Em outras palavras, quanto mais as experiências educativas se assemelharem às futuras situações em que os futuros professores aplicarão seus conhecimentos, mais fácil se tornará a transferência do aprendizado ao educando (Krasilchik, 2004). Para que ocorra essa interação é importante que haja um vínculo forte entre a instituição de ensino e os espaços não formais considerando que mesmo com a presença de Museus e outros espaços próximos à escola. O desconhecimento dos professores quanto a esses espaços limitam o aproveitamento dos potenciais pedagógicos das coleções (Marandino et al., 2008). O papel educacional dessas instituições tem sido ampliado nas últimas décadas, o que reflete nas formas pelas quais esses espaços participam da educação científica, além de experiências de inclusão da perspectiva da mediação na formação inicial do professor nos cursos de licenciatura (Ovigli, 2011).

CONCLUSÃO

O público geral associa vespas ao perigo e secundariamente a polinização. O uso didático da divulgação científica associado ao mapa imagético e modelos interativos como ferramentas pedagógicas proporcionou mudanças no ambiente de aprendizagem, favorecendo a construção do conhecimento científico e da capacidade crítica do educando, além de servir como modelo que pode ser replicado para o ensino de outros temas. Embora os museus existam há muito tempo, hoje, como resultado da ampliação do processo de divulgação científica e da tendência a expandir o escopo da educação escolar, essas instituições têm cada vez mais um papel na educação e no ensino de biologia (Krasilchik, 2004). É relevante verificar as oportunidades educacionais que o INMA oferece, pois em conjunto com o Ifes, isso amplia as possibilidades da realização de atividades fora da sala de aula e de laboratórios. De acordo com Krasilchik (2004) por mais que a organização do trabalho fora da escola seja difícil, os resultados são promissores para a formação tanto do docente quanto para o discente.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio da equipe de Zoologia do INMA durante o planejamento e a execução das atividades do projeto; a CAPES pela bolsa de doutorado de Wesley D Colombo; FAPES/Profix #71026436 pela bolsa de pós-doutorado de Cecilia Waichert e apoio financeiro; Juliete Ferreira da Costa, Rayane Veríssimo da Silva e Francyne Machado da Silva pelas colaborações durante a execução das atividades do projeto.

LITERATURA CITADA

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Apêndice I

Imagens usadas nas atividades de divulgação científica no INMA. Imagem quebra-cabeças: http://vignette4.wikia.nocookie.net/pokepediabr/images/6/61/015Beedrill.png/revision/l atest?cb=20161215011234&path-prefix=pt-br

Imagens mapa imagético:

a) Pompilidae: a. https://c2.staticflickr.com/6/5591/15119991216_d4f44bf420_b.jpg b. http://alfredocolon.zenfolio.com/img/s/v-3/p45258233-3.jpg c. https://photos.smugmug.com/Members-only/Countries- Pro/Madagascar/i- JHBsV3Q/0/80bcab72/X2/Tarantula%20hawk%20%28Pompilidae%29 %20with%20spider%20prey%20%283%29-X2.jpg d. http://www.wci.colostate.edu/Assets/jpeg/Hymenoptera/Pepsis.prob.ang ustimarginataIMG_9324.JPG b) Flor: a. http://flores.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/margarida- 1/margarida-3.jpg c) Borboleta: a. http://insectos.mundoentrepatas.com/imagenes/corpo-das- borboletas.jpg?phpMyAdmin=PfqG0iessiXP%2C5Zcan9pxZp0nv2 d) Super-herói: a. http://3.bp.blogspot.com/- sLYQW1CUyf0/UByF1MxfRoI/AAAAAAAABpY/R8w67jrq8cw/s160 0/vespa.jpg e) Injúrias: a. http://saudesos.com/wp-content/uploads/bfi_thumb/boca-inchada- 33pvl1i3q0g90kwnkot6ve.jpeg

287 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

b. http://www.mdsaude.com/wp-content/uploads/picada-abelha.jpg c. http://www.dedetizacaoinsetan.com.br/prevencoes/picadas-de-insetos- como-prevenir/ f) Mel: a. https://static.tuasaude.com/media/article/32/02/beneficios-do- mel_11170_l.jpg g) Polinização: a. https://static.independent.co.uk/s3fs- public/styles/article_small/public/thumbnails/image/2013/06/05/18/web- bees-epa.jpg b. http://4.bp.blogspot.com/-lDOhct- GsV8/VOlYzSroUII/AAAAAAAAGH0/u6ht7MFKQrM/s1600/Covered .jpg h) Seringas: a. https://assets.xtechcommerce.com/uploads/images/medium/176e28889d 1d80f0bcfd8848bb9f9431.jpg i) Abelhas: a. http://photos.demandstudios.com/getty/article/251/56/89791800.jpg

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Subárea: Etnobiologia

PERCEPÇÕES DE UMA FAMÍLIA LINHARENSE SOBRE OS INSETOS A PARTIR DE SUAS HISTÓRIAS E EXPERIÊNCIAS DE VIDA

Évellin F. dos SANTOS¹*, Karina S. FURIERI, Marcos C. TEIXEIRA 1Pós-Graduação em Educação Ambiental - FVC *[email protected]

INTRODUÇÃO

A cultura é um agente de identificação pessoal e social, que se caracteriza por um somatório de costumes, tradições e valores, o que leva ao sentimento de pertencer a um lugar, fé ou povo (RODRIGUES, 2008). As manifestações culturais são importantes por resgatarem a cidadania. Dentre essas manifestações têm-se as tradições herdadas, que são conhecimentos adquiridos dos velhos para os mais novos por intermédio de mitos e símbolos (DIEGUES & ARRUDA, 2001). Frequentemente os personagens desses mitos são ligados aos animais, que assumem diferentes papéis. Nesse aspecto os insetos ganham destaque por serem e terem características bastante variadas e grande diversidade. No mundo, já foram registradas mais de 751.000 espécies de insetos vivas descritas pelos cientistas (WILSON, 1992). Esses animais vêm influenciando a cultura humana desde muito tempo (COSTA NETO, 2000). Essa influência é evidenciada nas diferentes formas de expressão cultural, aparecendo na literatura, música, cantigas de roda, lendas, medicina e culinária popular dentre outros em diferentes partes do mundo (LENKO e PAPAVERO, 1996). Estão associados a acontecimentos benéficos, maléficos e previsões do tempo (COSTA NETO, 2003). Esses conhecimentos etnoentomológicos são importantes fontes de conhecimento sobre a vida de algumas espécies (BLAKE e WAGNER, 1987), havendo registros de controles de pragas fitossanitárias realizados a partir dos mesmos (LIMA, 2000). Os insetos apresentam uma enorme diversidade de espécies nos trópicos e possuem um importante papel nos estudos aplicados em biologia tropical, diversidade de comunidades e conservação de habitats (BORROR e TRIPLEHRON, 1989). Neste estudo objetivou-se analisar as percepções de uma família linharense sobre os insetos a partir de suas experiências vivenciadas com esses animais.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta é uma pesquisa qualitativa do tipo etnográfica. A técnica de coleta de dados utilizada foi a entrevista semiestruturada. Para encontrar os entrevistados foi utilizada a técnica “Bola de Neve” (GOODMAN, 1961). No caso dessas entrevistas, os primeiros entrevistados não apenas indicando, mas participando de novas entrevistas. Foram considerados “insetos” todos os organismos citados pelos entrevistados como pertencentes ao grupo, mesmo não estando sistematicamente relacionados ao grupo taxonômico insetos. Para o registro das entrevistas foi utilizado um gravador de áudio quando autorizado pelos participantes. O presente estudo constitui um recorte para uma pesquisa mais ampla, ainda em desenvolvimento, cuja área de estudo é a região do Mosaico da Foz do Rio Doce. O Mosaico abrange três municípios, Linhares, Sooretama e Aracruz. Como projeto piloto,

289 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 foi feito um recorte para o município de Linhares, pois este possui a maior representatividade das Unidades de Conservação do Mosaico. A maioria dos entrevistados descende de italianos e moram ou moraram há pelo menos 20 anos no município de Linhares-ES. Todos eles passaram parte da infância ou toda ela na roça. Foram entrevistadas 12 pessoas com idades variadas de 80 a 27 anos, em seis encontros realizados de abril a maio de 2016. Após as gravações e transcrição das entrevistas, as informações foram analisadas através da Análise de Conteúdo (BARDIN, 1977).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram coletadas 101 histórias. Predominaram elementos factuais (76) e, em menor frequência, conhecimento popular (25), sendo que os mitos e lendas foram incluídos nessa categoria. Foram registradas 46 etnoespécies. A palavra “inseto” também designou outros animais como minhoca, lesma, caracol, aranha, escorpião, morcego. Outros animais citados como insetos também foram registrados por Costa Neto e Carvalho (2000) e Costa Neto (1999). Os significados dados pelos entrevistados às etnoespécies foram: Diversão, Crendice, Nojo, Perigo e Medo, podendo estar em mais de uma categoria. Esse padrão de classificação etnozoológico foi explicado por Costa Neto (1999) a partir da hipótese da ambivalência entomoprojetiva, na qual o ser humano tende a projetar sentimentos de nocividade, periculosidade, repugnância e menosprezo a animais não-insetos, agrupando-os nessa categoria culturalmente determinada. A ambivalência é empregada no sentido da sociologia, se referindo à atitude de oscilar entre valores diversos e antagônicos. Os organismos citados como insetos nas histórias também ganham significados de diversão, sendo utilizado por muitos entrevistados para substituir os brinquedos que não tinham na infância, como: “É, joaninha a gente brincava direto mesmo”. As atividades lúdicas com os insetos também foram encontradas por Lenko e Papavero (1996) e Lima (2000b) onde as borboletas, besouros, gafanhotos, dentre outros, foram registrados sendo utilizados como brinquedos. O costume de se espetar um palito na tanajura para brincar também foi registrado por Lima et al. (1999) e Veiga (2000). As histórias estão ligadas principalmente à infância dos entrevistados, fase em que ocorrem os primeiros contatos com insetos (LOPES et al, 2013). A infância é um período mais fácil para se aprender coisas novas e desenvolver empatias e simpatias (WILSOM, 1993). A relação dos entrevistados com os insetos e não-insetos citados e reunidos na categoria “diversão” expõe as consequências de uma cultura herdada que foi historicamente construída com base na superioridade humana sobre as demais espécies (SHELDRAKE, 1991; GONÇALVES, 2008). Ainda que não se possa atribuir à prática de enfiar palitos em tanajuras, por exemplo, uma característica de crueldade intencional, essas práticas referendam a história humana construída a partir da ideia de que a natureza foi criada para o prazer e utilidade humana (SHELDRAKE, 1991; GONÇALVES, 2008). Por outro lado, o uso dos insetos e não-insetos para fins lúdicos, como no caso de: “Também gostamos muito de brincar correndo atrás de borboletas”, nos proporciona uma reflexão acerca dos processos biofílicos que envolvem a história da relação humana com a natureza. Assim, as narrativas dos entrevistados expõem o lado negativo da relação homem-natureza presente na brincadeira inocente da criança que faz do inseto o helicóptero, o soldado ou a lanterna de brinquedo. A manutenção dessa cultura de não reconhecimento do valor intrínseco das demais espécies ainda se mantém na sociedade e no seio familiar. Essa cultura se contrapõe às possibilidades de exploração dos aspectos biofílicos dificultando a inauguração de outras percepções

290 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 sobre a natureza. Já a biofobia é evidenciada principalmente nas reações de medo podendo estar ligada as reações de perigo e nojo, como: “Asha, se ta lá mexendo em alguma coisa que eu não quero, eu falo assim: eu vi uma barata aí. Ah!”. Alguns relatos apresentaram algumas simpatias, crendices e conhecimento popular, provenientes da observação de certas espécies e passadas de pais para filhos, sendo agrupadas na categoria Crendices, como: “O marimbondo perta-goela quando ele pica a gente aí num dói, dói é na garganta, tem que correr e beber agua logo se não fecha ne.”. Ao longo das entrevistas fica evidenciado a cultura atrelada aos conhecimentos biológicos tradicionais, resultado ao longo de gerações de experiências acumuladas, experimentação e troca de experiência (ELLEN, 1997). Esses conhecimentos tradicionais são utilizados no senso comum para interpretação do comportamento de determinados insetos relacionando-os a fenômenos naturais, como, por exemplo, a previsão de condições meteorológicas (COSTA NETO, 2004). A esses insetos alguns autores conferem a condição de entomoindicadores entre os quais se situam a cigarra (COSTA NETO, 2003) e as formigas (LUCENA et al., 2002; ROSATO, 1984). Em algumas situações, a entomoindicação encontra sustentação cientifica, pois, a ausência ou presença de determinado inseto pode indicar as condições do ambiente (POSEY, 1987). A crença de que a lagartixa, considerada inseto pelos entrevistados, passa cobreiro também foi observada por Costa Neto e Silva (2004). Muitos organismos aparecem tanto na categoria “Medo” quanto na categoria “nojo”. A sensação de nojo é expressa por todas as comunidades humanas, porém variam dentre as culturas (ROZIN et al., 1984). Essa sensibilidade está bastante correlacionada com o medo (MATCHETT & DAVEY, 1991). Porém, alguns entrevistados ao longo das entrevistas fizeram questão de frisar que sentem apenas nojo, não chegando ao medo. Assim como em Costa Neto e Silva (2004), a expressão “inseto” é frequentemente associada a animais de aparência desagradável que provocam nojo, sensação de perigo, nocividade, repugnância ou transmissores de doenças (COSTA NETO, 1999; COSTA NETO & PACHECO, 2004; COSTA NETO & CARVALHO, 2000; COSTA NETO & SILVA, 2004). O sentimento de nojo possivelmente é transmitido cultural e socialmente (DAVEY, 1994). Sentimentos semelhantes relacionados aos mesmos etnoinsetos indicam que a família é importante na manutenção ou modificação das percepções sobre as formas de relação com a natureza. Dessa forma, a educação familiar pode abrir ou dificultar o caminho para a Educação Ambiental tanto formal quanto não-formal, considerando que a educação acontece como parte da ação humana de transformar a natureza (CARVALHO, 2004) e está presente no dia a dia de todos.

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ETNOZOOLOGIA DE MORCEGOS EM SANTA TERESA – ES

Ronald Rodrigues VIEIRA¹*, Gabrielly Benaducci TOLENTINO¹, Lucas do Carmo MOTTA¹ & Sílvia Ramira LOPES¹

1Escola Superior São Francisco de Assis (ESFA) *[email protected] INTRODUÇÃO

O conhecimento da população sobre determinado grupo de animal é de extrema importância para a aplicação de planos para a conservação, tornando a etnozoologia uma ferramenta complementar ao conhecimento científico (Pinto, 2011). Os morcegos são animais com importância do ponto de vista ecológico, econômico e médico sanitário. São excelentes dispersores de sementes, atuando na regeneração de áreas degradadas e no controle de insetos, embora também estejam incluídos no ciclo da raiva. Trabalhos que possuem objetivos de avaliar o conhecimento de pessoas sobre determinado grupo tornam-se necessários a fim de desmitificar crendices que podem por em risco algumas espécies, gerando medidas efetivas para a conservação, atribuindo à importância ecológica que outros morcegos possuem e os reais perigos médicos- sanitários que os envolvem, principalmente, os morcegos hematófagos (Rocha-Mendes et al. 2005; Scavroni et al., 2008; Pinto 2011). Assim, o presente estudo teve como objetivo analisar qual o conhecimento sobre mitos, crenças, percepção, promover popularização do conhecimento com os turistas que visitam a Casa Lambert sobre os morcegos e informar aos visitantes a importância desse grupo para o meio ambiente.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado na Casa Lambert, uma das primeiras construções do município de Santa Teresa (19º56’12" S, 40º35’28" W), cidade que fica à 80 km da capital, localizado na área Central Serrana do Estado de Espírito Santo (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, 2011). Os visitantes foram recepcionados pelo guia da Casa Lambert (funcionário da prefeitura) e conduzidos para observação dos artefatos que contam a história da família. Após a visitação, os participantes maiores de 18 anos foram convidados a participar desta pesquisa e os que aceitaram, foram instruídos a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento. Logo em seguida, receberam um questionário contendo perguntas que abordaram temas sobre quirópteros envolvendo a biologia e o conhecimento dos turistas para tal grupo. As questões também investigaram as relações culturais, crenças, aspectos cinegéticos locais, repúdio, reverência ou desprezo. Na sequência foi observada a reação das pessoas mediante aos animais taxidermizados (emprestados pelo Museu de Biologia Mello Leitão - INMA), e foram inseridos alguns morcegos de pelúcia presos no teto, despertando o interesse e atenção dos visitantes, em uma tentativa de sensibilização afim de retirar dúvidas a respeito desses animais. No final da pesquisa, os turistas receberam um folder informativo sobre a importância dos morcegos para o meio ambiente. Para obtenção dos resultados foi realizada uma análise qualiquantitativa dos questionários. A obtenção dos dados ocorreu no período de fevereiro a setembro de

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2016, totalizando 134 questionários, sendo aplicados nos dias de funcionamento da Casa Lambert.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os inquiridos eram de 31 cidades diferentes do Brasil e 1 da Espanha, prevalecendo cidades do estado do Espírito Santo, com maior participação de mulheres (n=76) do que homens (n=57), sendo que (n=1) não respondeu. Em relação à zona de moradia dos entrevistados prevaleceu a zona urbana (n= 114), em detrimento à rural (n=15), e 5 pessoas não responderam. As idades dos entrevistados foram agrupadas em escalas, considerando 10 grupos, agrupados de 5 em 5 anos cuja média de idade foi de 36 anos (menor idade 18 anos, maior idade 67 anos). Verificou-se que dos participantes com idades entre 18 – 22 anos (n=22), 55% desconheciam a importância dos morcegos para o meio ambiente e 45% desse grupo sabiam da relevância desses animais. Na pergunta sobre a classificação dos quirópteros, quando questionado sobre a que grupo taxonômico os morcegos pertencem, 86% das pessoas responderam corretamente, classificando-os como mamíferos (sendo que 1% dos entrevistados mencionou que morcego é um rato), 2% dos entrevistados relacionaram morcegos com insetos, 1% citou como vampiro, enquanto 3% fizeram associações com as aves. Somente 7% dos entrevistados não souberam classifica-los e 1% não respondeu. Entre os entrevistados que classificaram os morcegos como mamíferos, 60% tinham ensino superior completo, 22% estavam cursando o ensino superior, 12% haviam concluído o ensino médio, 3% ensino fundamental completo e 1% não tinha concluído o ensino fundamental e 2% dos que responderam não relatou sua escolaridade. Segundo o estudo de Gomes (2015), que comparou zonas e escolaridade, mesmo os entrevistados que estavam cursando ou já haviam cursado o ensino superior, não deram respostas condizentes às informações científicas da espécie, enquanto de forma geral no presente estudo, pessoas de diferentes graus de escolaridade souberam classificar os morcegos dentro dos mamíferos, mostrando conhecimento sobre as informações básicas desses animais. A confusão dos quirópteros com insetos (n=3) e aves (n=4) no presente estudo, pode ser considerada comum, uma vez que os morcegos são os únicos mamíferos com capacidade fisiológica de voo, além disso, esses animais possuem hábitos de voarem a noite e muitas vezes são considerados estranhos (Feijão- Paiva, 2010; Gomes, 2015). As respostas que remeteram aos mitos e crendices populares foram de baixa expressividade, tendo como resposta vampiro 1% e Molossidae 1%. A associação dos morcegos com os vampiros vem dos primórdios, devido ao fato da criação do personagem Drácula conhecido mundialmente (Ribeiro, 2015). Ainda hoje existem comparações dos quirópteros com ratos, isso acontece pela semelhança desses animais com a família Molossidae, encontrada facilmente nas casas, além da crença que morcegos são cegos, existem mitos antigos em que os ratos velhos poderiam se transformar em morcegos (Gomes, 2015). Além disso o nome morcego, foi criado a partir das palavras em latim muris (rato) e coecus (cego), reforçando os mitos e preconceitos que esses animais sofrem (Reis et al., 2007). Essa correlação com rato também foi constatada no atual estudo, sendo que o participante que marcou esta opção tinha ensino médio completo. Ainda hoje existem comparações dos quirópteros com ratos, isso acontece pela semelhança desses animais com a família Molossidae, encontrada facilmente nas casas,

295 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 além da crença que morcegos são cegos, existem mitos antigos em que os ratos velhos poderiam se transformar em morcegos (Gomes, 2015). No questionário foram abordados temas como: biologia, comportamento, mitos e importância da espécie para o meio ambiente. De todos participantes apenas 3 relataram nunca terem visto um morcego. Quanto aos locais de visualização os mais citados foram: casa (n=81), rua (n=72), sítio (n=59), livros/revistas (n=49), mídia (n=48) e não responderam (n=1). Ter a casa como principal local de visualização era esperado. Segundo Bruno e Kraemer (2010), muitos morcegos entram nas residências, a procura de frutos ou soluções adocicadas que são oferecidas aos beija-flores. Além disso, a família Molossidae possui como um dos seus habitats forros e telhados de casa, facilitando assim a visualização dentro das residências. A principal espécie relatada como já vista foi a Artibeus lituratus, espécie sinantrópica e plástica que se adapta bem as cidades. A mesma foi reconhecida pelos visitantes quando o visualizaram taxidermizado devido presença das listras faciais brancas que são bem proeminentes, caracter taxonômico de fácil de identificação. O segundo local de visualização mais citado foi rua (n=72), e isso pode ser explicado devido a presença de árvores como Piper sp. que compõem o meio urbano e muitas vezes fornecem alimento e refúgio a esses animais que estão fora dos ambientes florestais (Bianconi et al., 2004; Passos e Graciolli, 2004; Evangelista, 2009;). Outro local de visualização significante foi sítio (n=59), já que na zona rural existem fragmentos florestais, árvores frutíferas, maiores oportunidades para observação e conhecimento da história natural e características morfológicas de seres vivos (Bianconi et al., 2004; Passos e Graciolli, 2004; Evangelista, 2009;). No que diz respeito a opção livros/revistas (n=49), no presente trabalho houve uma quantidade expressiva de pessoas que afirmaram já terem tido contato através deste meio de informação. Spiassi (2008), afirmou em seu estudo a importância dos livros na formação dos alunos, no estudo de Candotti (1999), foi relatado o valor da divulgação dos trabalhos em revistas especializadas; podemos atribuir o grande número de acertos em relação a classificação dos morcegos (n=115) à informações desses animais contidas em livros e revistas. Mídia (novelas/filmes) (n=48) também foi uma das opções para a pergunta sobre visualização, muitos temas da biologia e importância do animal podem ser abordados em documentários, já em novelas e filmes, esses animais podem ser retratados de forma equivocada, alimentando o imaginário popular, remetendo o lado vampiresco e ganhando uma reputação ainda mais negativa, tendo como exemplo as novelas brasileiras Vamp e o Beijo do Vampiro que retratou de forma errônea esses animais. Também foram levantados dados sobre a sensação das pessoas ao avistarem um morcego, dentre os quais se destacou: medo (n=71), nojo (n=39), indiferença (n=9), alegria (n=13), afeto (n=8) e outros (n=14). Das respostas, medo (n=71) foi a que mais se destacou, dentre eles 68% dos participantes eram mulheres, 31% homens e 1 % não relatou o sexo. O fato de mulheres sentirem mais medo do que os homens também foi constatado no trabalho de (Feijão-Paiva, 2010). Esse sentimento de medo pode estar ligado a associação dos morcegos com criaturas misteriosas, ato de se alimentar de sangue, hábitos noturnos e ser lembrado como vampiro (Bernard, 2005). Muitos também demonstraram sentimento a nojo (n=39). Segundo Gomes (2015), as relações das pessoas com os morcegos, tendem a mudar de acordo com as regiões e diversidade cultural, muita das vezes sendo expressados sentimentos de felicidade quando se vê algum animal nas proximidades das residências. Com intuito de descobrir se a população conhece as guildas tróficas desses animais, a maior parte dos entrevistados disseram saber do que eles se alimentam

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(n=114), mas boa parte dos participantes não sabiam do que os morcegos se alimentavam (n=20). Dentre os que responderam saber, a opção que mais se destacou foi frutas (n=104), seguida por sangue (n=50), insetos (n=42), néctar (n=32), carne (n=3) e (n=2) pessoas marcaram saber mais não marcou nenhuma opção. A resposta mais citada foi frutas (n=106), pode ser justificada pelo fato de que muitas árvores frutíferas compõem o paisagismo urbano, tornando fácil a visualização desses animais nessas árvores e fazendo assim a correlação de frutas como habito alimentar (Gomes, 2015). Sangue (n=50) foi a segunda mais mencionada, de todos os hábitos alimentares, é a que mais gera polêmica, pelas lendas e mitos que os norteiam, mas de acordo com o estudo de Bernard (2005) somente 3 de aproximadamente 1000 espécies de morcegos são hematófagas e estão distribuídas pela América Latina. Os insetos também foram relatados pelos turistas (n=42) como pertencente à cadeia alimentar dos morcegos. Do total de morcegos existentes 70% deles são insetívoros, comuns em áreas antrópicas e fácil visualização, possuem um alto valor ecológico e econômico (Drummond, 2004). Outro hábito alimentar ponderado foi néctar (n=32), muitas residências possuem plantas, que em épocas de floração e esses animais as visitam extraindo o pólen como alimento. Morcegos com esses hábitos alimentares acabam desempenhando um importantíssimo papel de polinização destas espécies (Gomes, 2015). Quando perguntados sobre qual a reação ao encontrar um morcego, a maior parte dos entrevistados disseram que apenas observam (n=98), relacionando esse número de respostas com o sentimento de medo (n=71) e que o maior local de visualização desses animais foi em casas (n=81), é possível constatar que apesar dos sentimentos negativos, as pessoas respeitam esses animais e não agem de forma prejudicial aos quirópteros. Alguns participantes disseram ter reações de pânico (n=30) ao avistarem esses animais, Bernard (2005) afirma em seu trabalho que morcegos sempre despertam algum tipo de reação nas pessoas, na maioria das vezes, pode provocar sentimentos de repúdio explicado pela má percepção que a população possui em relação a esses animais. Uma pequena parte dos entrevistados disseram que tentam capturar para depois soltar (n=6) enquanto outros chamam autoridades competentes e a opção de matar o animal, totalizando respectivamente (n=4). Com relação à utilização desses animais na alimentação, 92% das pessoas não acham que os morcegos servem para serem comidos, enquanto 7% acham que sim e apenas 1% diz não saber. No que diz respeito a essa questão, notamos uma má compreensão dos participantes quanto à forma que a pergunta foi elaborada, quando foi perguntado “os morcegos servem de alimento? ” Houveram dúvidas se essa alimentação estava relacionada a um enfoque predatório, de outros animais para com os morcegos, ou humano, mesmo possuindo uma segunda parte que perguntava: “se sim, conhece alguém que já comeu? ”, mesmo diante as dúvidas, a pergunta foi considerada, visto que quando mal compreendida, havia o real entendimento do participante na segunda parte. Dos que responderam sim foi baixo o número de resposta a respeito de conhecer alguém que já havia se alimentado de morcegos (n=1), enquanto (n=8) disseram não conhecer. Diante da pergunta se os morcegos desempenham funções importantes para o ser humano e para natureza, a maior parte dos entrevistados demonstraram saber de sua importância (n=97), enquanto outros marcaram não ter nenhum tipo de importância (n=36) e diz não saber (n=1). Foram citados diversos benefícios que esses animais desempenham, dentre eles: dispersores de sementes (n=33). No trabalho de Althoff (2007) foram citadas algumas espécies como dispersores eficientes, atuando para regeneração vegetal de novas áreas. As respostas que remetiam a predação de animais pelos morcegos ou ainda que eles serviam de alimento para outros animais foram

297 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 agrupadas em um único quesito - cadeia alimentar (n=16), de acordo com Drummond (2004) os morcegos se alimentam de pequenos carnívoros e alguns insetos realizando manutenção populacional e equilíbrio do ecossistema (n=28) outra resposta citada pelos turistas, realizando também o controle de pragas (n=9), mencionada pelos entrevistados como forma de contribuição para o meio ambiente. Uma pequena quantidade dos inquiridos relataram saber que eles desempenham um papel importante na polinização das plantas (n=9). Houve pessoas que marcaram que os morcegos possuem importância, mas não sabia explicar quais seriam (n=19). Sobre a crendice popular que os morcegos atacam pessoas, poucos entrevistados responderam sim (n=8) e só quando ameaçados (n=12), a maior quantidade de respostas foram: não (n=55) e depende da espécie (n=43), ainda houve um número significativo de participantes que diziam não saber (n=20). Observou-se que uma minoria teve a percepção que os morcegos atacam pessoas e grande parte dos entrevistados disseram que os morcegos não atacam as pessoas e/ou que depende da espécie. Ao perguntar: na sua opinião qual é o motivo pelo qual os morcegos estão ocorrendo com frequência nas cidades, os visitantes demonstraram conhecimento sobre a evasão dos morcegos, assinalando desmatamento (n=110), como resposta mais citada. Segundo, Althoff (2007) com o avanço das práticas econômicas, houve o aumento exorbitante do desmatamento da floresta Atlântica, e estudos comprovaram que o desmatamento acarreta na diminuição drástica da riqueza de morcegos. Com a perda do seu habitat natural, os morcegos procuram ambientes antropizados, sendo assim a opção procura de abrigo (n=26) foi uma das respostas mais citadas pelos participantes da pesquisa, mostrando que eles sabem que os morcegos utilizam construções civis (forro de casa). Com a destruição do seu habitat os seus alimentos se tornam escassos, os obrigando procura-los nas cidades, onde se tem uma abundância de alimentos como insetos e árvores frutíferas, Carneiro et al. (2009), n=34 concordaram com esta opção e n=5 demonstraram desconhecimento da sua frequência na cidade. No que diz respeito à transmissão de doenças por esses animais aos seres humanos, a maior parte das respostas associaram a algum tipo de doença (n=103), parte dos entrevistados disseram que não são transmissores (n=21), enquanto disseram não saber (n=7) e não responderam (n=3). A raiva foi a mais citada (n=53), seguida por um número de pessoas que sabiam que os morcegos podem transmitir doenças, mas não souberam classifica-las (n=31), não responderam (n=14), ainda houveram outras respostas menos expressiva como: alergia (n=1), ebola (n=2), leptospirose (n=1), virose (n=1) e histoplasmose (1). Segundo o trabalho de Carneiro et al., (2009) raiva é causada por um vírus da família Rhabdoviridae, que ataca o sistema nervoso central, levando a morte do paciente e os quirópteros estão entre os principais transmissores desta doença, perdendo somente pelo cão. Entretanto, existe um número relevante de pessoas que sabem que eles transmitem alguma doença, mas não correlaciona com nenhuma (n=45).

CONCLUSÃO

A maioria dos participantes deram respostas condizentes à biologia, comportamento e importância da espécie para o meio ambiente Os resultados das análises demonstraram que a maioria dos entrevistados encaram os morcegos com medo. Este julgamento baseia-se na aparência e no hábito alimentar dos hematófagos, amplamente divulgado na mídia e na cultura implementada na própria região dos participantes. Uma das soluções para esses conflitos seria o

298 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 aumento de trabalhos que envolvam a educação ambiental e que permitam um contato mais próximo e benéfico com os quirópteros. Manuseando exemplares conservados em álcool os turistas puderam reconhecer as características fundamentais do grupo, com as amostras dos crânios e suas respectivas dentições bastante variáveis, enfatizando a importância de hábitos alimentares, cuja diversidade resulta em dispersão de sementes, controle de populações de insetos e polinização. Dessa forma, o conhecimento deixou de ser memorístico, para ser um conhecimento significativo.

LITERATURA CITADA

Althoff, S.L. 2007. A comunidade de quirópteros, sua biologia e ecologia no Parque Natural Municipal Nascentes do Garcia, Estado de Santa Catarina, Brasil. Tese de Doutorado. Curso de Pós-Graduação em Biologia Animal, Intituto de Biocências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, 131 f.

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300 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

PERCEPÇÕES DOS MORADORES DO ENTORNO DA RESERVA BIOLÓGICA AUGUSTO RUSCHI EM RELAÇÃO AOS ANFÍBIOS ANUROS

Fernanda Cristina Ferreira LIRIO1,2*, Rodrigo Barbosa FERREIRA³

¹Graduação em Ciências Biológicas - Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Espírito Santo ² Programa de Capacitação Interna – Instituto Nacional da Mata Atlântica / INMA ³Departamento de Zoologia / Universidade Vila Velha - UVV *[email protected]

INTRODUÇÃO

A aplicação da etnobiologia permite verificar o entendimento de determinada sociedade sobre o conhecimento e conceituações acerca da biologia (Posey, 1986). Dentro da etnobiologia, temos a etnozoologia, que é o estudo da tradição humana e a sua relação com a fauna local, analisando suas práticas e visões (Posey, 1987; Begossi et al., 2002). Pesquisas envolvendo grupos humanos e o seu conhecimento tradicional permite uma visão de interação, consequentemente a conservação de determinado grupo biológico. Segundo Maroti et al., (2000), investigar a percepção ambiental nos grupos socioculturais devem fazer parte de projetos que tratam da relação entre homem e meio ambiente. Dessa forma, quando a percepção é colocada em questão pelo ser humano, possibilita sua avaliação, causando assim a reflexão sobre sua atuação no ambiente em que vive (Marin et al., 2003). As comunidades do entorno de unidades de conservação (UC) é um grupo fundamental para proteção e manejo da biodiversidade, pois estes interagem com as áreas naturais a partir de suas propriedades particulares. Por exemplo, as práticas agrícolas, extrativistas e de urbanização, que afetam negativamente a biodiversidade local. Alguns grupos faunísticos são mais sensíveis a estas alterações, como é o caso dos anfíbios. A maioria dos anfíbios anuros (sapo, perereca e rã) depende de ambientes florestais e aquáticos para manutenção do ciclo de vida. Estudos voltados ao conhecimento popular sobre anfíbios anuros ainda são escassos, provocando ausência de conhecimentos que poderiam contribuir para a conservação deste grupo taxonômico e, consequentemente, do ecossistema como um todo (Alves et al., 2010). O município de Santa Teresa, localizado no estado do Espírito Santo, região sudeste do Brasil, detém de elevada biodiversidade (Rödder et al., 2007; Almeida et al., 2011). Por apresentar muitos fragmentos remanescentes do bioma Mata Atlântica, é uma das localidades mais bem investigadas do Espírito Santo quanto à composição de anfíbios anuros, sendo classificada como uma área de extrema importância biológica para a conservação deste grupo de vertebrados no Brasil (Rödder et al., 2007). A Reserva Biológica Augusto Ruschi (RBAR) é um dos maiores remanescentes da Mata Atlântica no Espírito Santo. Por meio de entrevistas, o presente estudo objetivou investigar a percepção dos moradores do entorno da RBAR sobre os anfíbios anuros, na tentativa de delinear um perfil do entendimento, das crenças e juízos que as pessoas fazem destes animais. Para Hanazaki (2003) o contato-diálogo com as comunidades, e toda informação advinda desta, permite planejar estratégias de intervenção para fins conservacionistas. Assim, como trabalhos que avaliam a percepção ambiental da pessoa podem ser utilizados como ferramentas para educação e sensibilização (Santos et al. 2000).

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MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo O estudo ocorreu na comunidade de Alto Santo Antônio, no entorno da Reserva Biológica Augusto Ruschi – RBAR (Figura 1).

Figura 1. Localização da Reserva Biológica Augusto Ruschi, Santa Teresa, Espírito Santo, Brasil.

As entrevistas aconteceram entre os dias 17 de 18 de junho de 2016. Inicialmente, através de visitas às residências foram expostos as intenções e os objetivos deste estudo aos moradores e líderes comunitários. Uma cartilha com as informações a respeito do projeto, dos anfíbios, e da RBAR foi entregue aos participantes. Cada entrevistado assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) quando adulto, e Termo de Assentimento (TA) quando menor de idade. Com a devida autorização dos participantes os diálogos foram gravados, e posteriormente transcritos para melhor entendimento e obtenção dos dados.

Coleta de dados Os participantes responderam o questionário individualmente e sem um tempo pré-determinado. Primeiro foi levantado a característica dos entrevistados com as seguintes informações: nome, idade, sexo, religião, escolaridade, ocupação, tempo de habitação e o uso do ambiente natural para subsistência. Também foi verificada a percepção do morador quanto a existência da Reserva Biológica Augusto Ruschi. As metodologias utilizadas para a coleta de dados foram 1) entrevista não-estruturadas e 2) entrevista semi-estruturadas. Segundo Bernard (1996) o primeiro método consiste em realizar uma entrevista através de diálogo agradável, mas que se tenha o mínimo de controle das informações obtidas. O segundo método, também descrito por Bernard (1996) se baseia em uma lista de questionamentos ou tópicos pré-escolhidos. Após as entrevistas, foi organizado um evento de popularização da ciência no qual foram expostos os resultados parciais deste estudo, fotografias dos anfíbios, seu ciclo de vida, terrários com espécimes vivos, além de atividades interativas com adultos e crianças. Com autorização das pessoas entrevistadas, as imagens das entrevistas, bem como de algumas espécies de anfíbios que os próprios participantes nos enviaram pelo celular,

302 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 também foram expostas neste evento. Esse movimento ocorreu no centro comunitário, da comunidade de Alto Santo Antônio, entorno da RBAR. Este evento foi uma proposta de retorno para as pessoas que fazem parte das comunidades do entorno da RBAR, tendo o intuito de difundir a importância e conservação os anfíbios e deste Unidade de Conservação.

Análise de dados Para organização inicial, as entrevistas foram gravadas, posteriormente transcritas e planilhadas para tabulação dos dados e análises simples de percentagem. Todas as informações obtidas das entrevistas não-estruturadas e semi-estruturadas foram analisadas, segundo Hays (1976), por meio do modelo de união das diversas competências individuais, todas as informações transmitidas pelos participantes foram consideradas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO.

Características dos entrevistados Ao total foram entrevistadas dezoito pessoas, sendo 67% (N=12) mulheres e 33% (N=06) homens. A idade média das mulheres foi de 43 anos (15 a 71 anos). Em relação aos homens, obteve-se percentual com idade variável de 29 a 76 anos, e média de 59 anos. Este mesmo padrão entre o sexo feminino e masculino foi registrado por Lucena (2011), onde 77% dos entrevistados em seu estudo foram mulheres, com média de 44 anos, e os homens com média de 55 anos. Sobre o tempo de moradia, registramos que 33% dos entrevistados residem a mais de 50 anos na localidade, o restante se divide entre cinco e quarenta e nove anos de habitação. Podemos observar que pessoas mais velhas e nascidas em zona rural fixam residência nestes lugares até seu falecimento; o contrário acontece quando se trata dos filhos desses moradores, pois surgindo a oportunidade de estudo e emprego não hesitam viver em áreas urbanas; além de que muitas das pessoas com pouco tempo de residência, são as que migraram de outras cidades (Lucena, 2011). Sobre o grau de instrução dos entrevistados, as mulheres (N=12) apresentaram escolaridade maior, quando comparada aos homens (N=6). Destes, dez mulheres e cinco homens não concluíram o ensino fundamental; um homem possui ensino médio completo; uma mulher possui curso superior completo, sendo esta professora de uma escola primária local; e uma mulher possui curso técnico em administração. Lucena (2011) também observou em seus estudos que 33% dos seus entrevistados não possuem o ensino fundamental completo. Dentre a ocupação profissional dos entrevistados a que se destacou foi a de agricultor, com 56%; seguida de aposentado com 17% e estudante com 11%; as ocupações de dona do lar, professor e operador de tratamento de esgoto ficaram com 1% cada. Lucena (2011) em estudos etnológicos registrou 39% dos entrevistados tendo a agricultora como fonte de renda.

Experiência A respeito da avaliação de experiência dos moradores com os anfíbios anuros, a primeira questão foi: conhece sapo, perereca e rã? E 100% dos entrevistados responderam que conhecem esses animais. Apesar de a maioria dos entrevistados terem pouco conhecimento ecológico sobre esses animais, os anfíbios anuros são notados e reconhecidos pelos moradores (Oliveira & Freire, 2015). Seger et al., (2011) observaram que a maioria dos participantes (N=40) conhecia parte ou todos os indivíduos de anfíbios anuros apresentados. Sobre o sentimento dos entrevistados em relação aos anfíbios, a grande maioria (N%= 38) disse ser indiferente. Contudo o

303 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 sentimento de medo vem em seguida (N%=22), sendo esta a resposta de todas as mulheres. No gráfico abaixo é possível visualizar as diferentes percepções obtidas (figura 2).

8

7

6 5 4 3

2 Número de entrevistados Número 1 0 Nojo Medo Indiferente Gosta Feliz Rejeição

Figura 2. Respostas sobre qual o sentimento que cada entrevistado tem a respeito dos anfíbios.

Acreditamos que este resultado está diretamente relacionado com a área habitada e o estilo de vida que estas pessoas levam. Como a maioria reside e trabalha em zona rural, o contato com os anfíbios anuros se torna rotineiro, uma vez que Santa Teresa, apesar das atividades agrícolas ameaçarem sua biodiversidade, ainda é um município com muitos remanescentes florestais, logo proporciona ambientes ideais para ocorrência desses animais. Consequentemente proporciona ao morador de entorno de unidade de conservação um maior contato e tolerância com os anuros. Sobre os mitos e lendas envolvendo os anfíbios (tabela 1), das dezoitos pessoas entrevistadas, metade (N=9) disseram se lembrarem justamente dos pais alertando-as para terem cuidados e não pegar o sapo na mão. A outra metade (N=9) não sabem ou não se lembraram de histórias. Contudo, são comuns relatos sobre estes animais provocarem repulsa por serem considerados venenosos e nojentos, acarretando crueldades, e até sua morte (Alves et al., 2010; Moura et al., 2011).

Tabela 1. Respostas sobre a pergunta: você conhece alguma história sobre os anfíbios?

“Não, só falavam que os que soltam leite são venenosos, não pode mexer.”

“Única coisa que minha mãe falava esses de preferência que fica perto de casa, que dá mas não é muito não. Evitar, deixar o bicho quieto, porque quando urina voa dentro do olho da pessoa.”

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“Eu sei que Augusto Ruschi morreu pelo sapo, né?”

“Não, não. Só essa mesmo de que não era bom ficar brincando com eles, pra não fazer xixi no olho, mas nem sei se é verdade. Dizem que se cair no olho cega, então eu tenho o maior medo de acontecer com os meninos.”

Os anfíbios sempre foram discriminados e muitos dos motivos das pessoas terem esse sentimento é por seus pais fantasiarem essas histórias para protegê-los; essa justificativa foi citada por uma entrevistada. É possível enxergar uma relação estreita entre estes dois últimos questionamentos, quando praticamente metade das pessoas se posicionou neutra ao serem indagadas sobre seus sentimentos e metade das respostas foi negativa quando questionados sobre a ciência ou lembrança de histórias envolvendo anfíbios. Desta forma, isso pode indicar que em zona rural os anfíbios não se apresentam como uma ameaça de fato aos moradores, uma vez que suas atividades diárias permitem maior contato com estes animais. Oliveira & Freire (2015), citam que a presença de anfíbios em áreas agrícolas foi mencionada por 79% dos participantes. Como parte dos entrevistados deste estudo trabalha em áreas agrícolas, consequentemente há um maior contato com os anfíbios anuros em áreas como plantações de café e áreas úmidas, justificando assim maior tolerância com os anfíbios. Quando questionados sobre a existência desses animais próximos as suas residências, todos responderam que há anfíbios em suas propriedades. Ao especificarmos sobre o local onde os anfíbios foram avistados, a maioria (N=8) respondeu no terreiro (área externa a residência). Quatro dos entrevistados responderam que encontram com esses animais na lavoura de café e em corpos d'água (lagoa, rio, poço) (Figura 3).

Figura 3. Resposta sobre o local onde os entrevistados viram anfíbios.

305 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

A maioria dos entrevistados disse visualizar os anfíbios em volta (terreiro) de suas residências. Este resultado está diretamente relacionado às respostas da questão sobre o que estes animais comem. Quinze entrevistados apontaram os insetos como principal alimento dos anfíbios anuros. Podemos observar que o fato dos anuros, principalmente os sapos, se exporem mais durante a noite em buscas de invertebrados, que por sua vez são atraídos pelas luzes das residências, proporciona este contato com as pessoas. Estes resultados também foram registrados por Oliveira & Freire (2015), em estudo realizado em áreas agrícolas do semiárido brasileiro, onde a maioria dos entrevistados (N=48%) disse haver um controle populacional dos insetos por eles serem fonte de alimento para o sapo-cururu. Para obter informações sobre o período de atividade dos anfibios, fizemos a seguinte pergunta: você vê mais sapo, rã e perereca de dia ou de noite? Entre os dezoitos participantes, dezesseis responderam que veêm esses animais mais no período noturno, e complementaram dizendo que eles frequentam os quintais e varandas a noite, rodeando luzes das casas e postes em busca de alimentos. Duas pessoas responderam que veêm os anfíbios durante dia, e complementam dizendo que esse contato visual ocorreu durante a “panha” do café, pois segundo estes participantes “algumas pererecas esverdeadas e brancas ficam escondidas dormindo nas folhas do café”. Estas respostas tem relação com a seguinte pergunta: o que os anfíbios comem? Do total dos participantes (N=18), quinze responderam que os anfibios anuros comem moscas e borboletas, se remetendo à algumas lembranças de cenas vistas de sapos embaixo de postes a espreita de insetos para se alimentarem; uma pessoa disse que comem minhocas e larvas e duas não souberam responder. Quando questionados se já mataram algum anfíbio e como, de todos os entrevistados (N=18), quatorze pessoas (N=77%) disseram nunca ter matado ou ferido algum anfíbio. Das quatro pessoas restantes, duas mulheres afirmaram ter matado uma vez algum desses animais; duas mulheres disseram ter jogado sal em um individuo de anfíbio para espantá-lo. Percebe- se que para esta questão os homens se mostraram mais tolerantes aos anuros em relação as mulheres, que por sua vez tiverem atitudes enérgicas ao se sentirem ameaçadas por estes animais. Podemos observar mais um fator favorável aos anfíbios quando obtemos as seguintes respostas do questionamento: qual sua atitude quando se depararam com sapo, perereca ou rã. Metade (N=9) dos entrevistados disse não fazer nada, seguido de uma pessoa que disse proteger os anfíbios; seis entrevistados disseram espantar com a vassoura quando percebem a presença de sapos e pererecas dentro de suas residências; uma pessoa disse jogar sal; e outra disse jogar água nos sapos quando eles se aproximam de sua varanda, pois, segunda este participante, os sapos gostam de água. Quando questinados sobre a utilidade/importância dos anfibios, 12 entrevistados afirmaram que estes animais tem utilidade na cadeia alimentar e controle de insetos. Na tabela 2 é apresentado algumas respostas.

Tabela 2. Respostas sobre a pergunta: você sabe se sapo, perereca e rã tem alguma utilidade para o ser humano? “Controla os insetos” “Cadeia alimentar, um vai comendo o outro. Mas pra mim não. fora a rã q come, não sei.” “Acho q sim, controla os insetos que prejudicam as lavouras” “Cadeia alimentar, um vai comendo o outro. Mas pra mim não. fora a rã q come, não sei.”

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“Acredito que naturalmente serve pra controlar praga, brocas, os bichos que destroem a lavoura. A rã eles aproveitam.”

A princípio, quando questionados, de forma geral, se é possivel utilizar os anfibios para alimentação humana, todos os entrevistado afirmaram que humanos não podem comer anfíbios. Porém, com o decorrer da conversar 83% especificaram que poderiam comer somente a rã. Em contra partida, 17% das respostas afirmaram que anfibio nenhum é comestível. Onze pessoas afirmaram que os anfibios não podem ser pegos na mão, quando indagadas se sapo, rã ou perereca pode pegar na mão? Cinco pessoas disseram que podem sim ser pegos na mão; apenas uma pessoa disse não saber e uma disse que só a rã pode ser pega. Quando questionadas sobre o motivo dessa resposta, as pessoas responderam que os anfibios podem dar cobreiro, micoses ou mesmo não pegam por medo e nojo. Este resultado também foi encontrado em Seger e colaboradores (2011). Isso evidencia a falta de conhecimento acerca da ecologia dos anfibios, demonstrando que há uma lacuna de ações de educação ambiental em ambientes não formais. Desta forma isso sustenta os mitos e lendas a repeito dos anfibios.

CONCLUSÃO

Percebe-se que a maioria dos participantes tem a percepção da existência dos anfíbios, e se mostraram tolerantes a esses animais. Sobre a ecologia dos anfíbios os entrevistados também mostraram conhecimento sobre as informações básicas, como: alimentação, reprodução, onde vivem e importância e utilidade. É provável que a ação para popularização da ciência promovida pelos autores deste estudo, resulte em maior conhecimento e conservação dos anfíbios por meio dos moradores do entorno da RBAR, visando assim a relevância e importância deste e outros grupos faunísticos.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Projeto Bromeligenous pelo suporte logístico.

LITERATURA CITADA

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308 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Subárea: Gestão Ambiental

O USO DE CHIRONOMIDAE (INSECTA: DIPTERA) COMO BIOINDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL AQUÁTICA: UM LEVANTAMENTO SOBRE OS TRABALHOS REALIZADOS NO BRASIL

Aurélio Castro SCHMITTEL1* & Arlindo SERPA-FILHO2

1Escola Superior São Francisco de Assis (ESFA) 2Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) *e-mail: [email protected].

INTRODUÇÃO

Os estudos de biomonitoramento fazem uso de resposta (alterações) que organismos indicadores demonstram, apresentando-se de maneira importante para a avaliação dos ambientes que se encontram alterados tanto por ações antrópicas, quanto para alterações biológicas (Allan et. al, 1997; Allan & Johnson, 1997). Callisto et al., (2005) diz que os insetos aquáticos, são classificados como macroinvertebrados bentônicos e são amplamente utilizados como bioindicadores de qualidade da água e saúde de um ecossistema por apresentarem as características de: ciclo de vida longo, chegando a viver em torno de semanas, meses ou até mesmo mais de um ano; organismos grandes (maiores de 125mm ou 250mm); sésseis ou de baixa mobilidade, sendo quase sedentários, assim, são mais fáceis de serem amostrados. Geralmente encontra-se uma alta riqueza dos grupos de diversos macroinvertebrados, mas, apenas um tem a possibilidade, na classificação de insetos, em persistir em ambientes com alto grau de alteração antrópica ou que tem liberação de efluentes industriais, os Chironomidae. Eles podem indicar que o ambiente possui altos valores de matéria orgânica, pois dentre suas características, apresenta baixa mobilidade motora e que contribui como um fator importante no grupo macroinvertebrados bentônicos, pois, se tornam os organismos mais distribuídos e abundantes nos ecossistemas de água doce (Epler, 2001, da Silva et al. 2008). Estudos com macroinvertebrados aquáticos tem buscado estabelecer fatores da diversidade e distribuição dos insetos aquáticos. O qual tem ganhado espaço na literatura, principalmente, ao permitir a comparação da fauna dos insetos aquáticos com a ação antrópica com a qual esperada sem esta perturbação (Cardoso-Leite & Bispo, 2010). Representado por organismos resistentes, as larvas da família Chironomidae, pertencente à ordem Diptera, são capazes de viver em lugares sem oxigênio. São detritívoras e sua alimentação é de matéria orgânica (sedimentos), o que favorece sua adaptação a diversos ambientes. Assim como os Oligochaeta, os Chironomidae possuem o hábito de viver na faixa bentônica, mas também podendo viver em qualquer outro habitat (da Silva et al., 2008). Os insetos da família Chironomidae, Macquart, (1838), possuem ampla distribuição biogeográfica demonstrando alta diversidade de espécies. Os imaturos podem ser encontrados tanto no Ártico quanto na Antártica, em zonas abissais das mais profundas coleções de ambientes dulcícolas do mundo, assim como em áreas montanhosas, poças de água, água com alta concentração de material orgânico em decomposição, rios, riachos, lagos, lagoas, nas regiões marinhas onde os imaturos colonizam o bento do litoral marinho e em fitotelmas (Ashe, 1983; Reiss, 1982; Ashe et al., 1987; Armitage et al. 1995). O presente estudo buscou reunir artigos que trouxessem informações sobre Chironomidae,

309 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 utilizando como palavras chave principais “biomonitores”, “índices biológicos” associadas ao termo “Chironomidae” As informações foram extraídas de artigos que relatam o tema publicados nos últimos 15 anos no Brasil. Com isso foi possível observar as lacunas que ainda existem em torno do assunto e assim verificar possíveis ações que possam preenche-las.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta pesquisa foi realizada, através de um levantamento bibliográfico, objetivando gerar novos conhecimentos teóricos úteis e gerar subsídios ao avanço científico sobre as questões referentes aos temas biomonitoramento e sobre a família Chironomidae, sem obrigação de realizar uma pesquisa de caráter prático. Esta pesquisa é classificada como exploratória, pois, visa conhecer fatos e fenômenos relacionados ao tema, através de um levantamento bibliográfico e descritivo, realizado pela internet de artigos publicados no Brasil no período de 15 anos entre 2000 e 2015, em que referenciam a família Chironomidae e trabalhos de biomonitoramento. Acessando os sites do Google Acadêmico (scholar.google.com.br), Scielo (scielo.br), Dialnet (dialnet.unirioja.es), Periódico Capes (periódicos.capes), Associação Brasileira de Limnologia (ablimno.org.br), Web of Science (webofknowledge.com) e Fórum Ambiental da Alta Paulista (amigosdanatureza.org.br), foram utilizadas as palavras chaves: Chironomidae, biomonitoramento e índices biológicos, também usados de formas compostas: Chironomidae e índices biológicos e Brasil ou Chironomidae e biomonitoramento e Brasil. Os trabalhos buscados foram organizados de acordo com a ordem cronológica, elaborando uma tabela contendo as seguintes informações: título, autor/ano, comentário e o estado em que foi desenvolvido. Após o termino da elaboração da tabela, foi possível analisar e classificar os trabalhos como sendo: “sobre levantamento”, “uso de índices”, e “alterações morfológicas”, com essa classificação podemos analisar os artigos de acordo com o uso dos Chironomidae para o diagnóstico ambiental das áreas, abordando qual é a forma mais utilizada e a menos utilizada pelos pesquisadores atuais, formando assim uma lista onde contém a citação do trabalho. Foi possível realizar um levantamento da distribuição dos trabalhos já publicados de acordo com seus respectivos estados brasileiros, apresentando o valor relativo ou valor absoluto em cada um dos estados em cada região, gerando gráficos de números de artigos/estado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram localizados 50 artigos (Tabela 1*) que referenciaram a família em trabalhos de biomonitoramento, todos preenchendo os pré-requisitos. A busca dos artigos foi efetuada via internet e estes foram sistematizados em tabela.

Tabela 1. Organização e sistematização dos artigos encontrados. * está tabela é um esboço da tabela final da organização dos artigos localizados. Área de Título do artigo Autores/ano Descrição do artigo estudo

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Foi observado nesse artigo, que fazem uso dos chironomidae como bioindicadores em pontos no rio e Organismos bentônicos também no reservatório de Sobradinho, bioindicadores da Queiroz et. onde que no rio foi detectada uma qualidade das águas da Bahia (BA) al. (2000) espécie que costuma ser encontrada em bacia do médio São locais eutrofizados, o estudo trouxe a Francisco necessidade de se fazer estudos mais detalhados no rio desde sua cabeceira à sua foz. Neste artigo os autores fizeram uso das Using Chironomus larvas de Chironomus para detectar a (Chironomidae: diptera) Kuhlmann presença das alterações no aparelho São Paulo mentum deformities in et. al, (2000) bucal como ferramenta para o (SP) environmental assessment. biomonitoramento de ambientes aquáticos.

Deformities in larval Neste trabalho os autores estudaram a Chironomus (diptera, ocorrência das anomalias no gênero Callisto et. São Paulo Chironomidae) from the Chironomus, associando com a al, (2000) (SP) Piracicaba river, southeast presença de metais pesados na coluna brazil. d’água.

Estes posteriormente foram classificados de acordo com o uso da referida família, indicando as palavras-chave usadas nos trabalhos e separando-as em três tópicos conforme abaixo na tabela 2.

Tabela 2. Listagens dos artigos localizados e separados pela metodologia aplicada em seus estudos.

Abílio et. al, (2005); Abílio et. al, (2007); Aburaya & Callil (2007); Amorim & Castillo (2009); Amorim et. al, (2004); Batista et. al, (2010); Biasi et. al, (2010); “Levantamento” Galdean et. al, (2000); Giulliati & Carvalho (2009); Leal et. al, (2004); Peiró & Alves (2006); Queiroz et. al, (2000); Rosin & Takeda (2007); Sanserverino & Nessimian (2008); Silveira et. al, (2006); Trivinho-Strixino & Strixino (2005).

Anjos et. al, (2011); Baptista et. al, (2013); Barbola et. al, (2011); Barrili et. al, (2012); Callisto et. al, (2001); Copatti et. al, (2010); Copatti et. al, (2014); Couceiro et. al, (2012); Da Silva et. al, (2007); Da Silva et. al, (2008)¹; Da Silva et. al, (2008)²; Da Silva et. al, (2011); Dornifeld et. al, (2005); Ferreira et. al, (2012); Hepp et. al, (2008); Kleine & Trivinho-Strixino (2005); Konig et. al, (2008); Mazzoni et. “Uso de índices” al, (2014); Milesi et. al, (2008); Monteiro et. al, (2008); Morais et. al, (2010); Nascimento et. al, (2011); Nunes et. al, (2014); Oliveira & Callisto (2010); Piedras et. al, (2006); Resende & Takeda (2007); Rocha et. al, (2012); Santana et. al, (2009); Silva et. al, (2007); Suriano & Fonseca-gessner (2004); Taniwaki & Smith, (2011); Teles et. al, (2013).

“Alterações Biasi & Restello, (2010); Callisto et. al, (2000); Kuhlmann et. al, (2000). morfológicas”

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Algo notado em todos os trabalhos referentes ao tema, é que todas as metodologias foram acompanhadas de analises físico-químicas dos ambientes aquáticos estudados. Dos artigos lidos e buscados cerca de 31 (64 %) dos artigos já publicados são feitos com uso de índices para obtenção dos resultados, e 16 artigos (32 %) fazem uso do levantamento e 3 artigos (4 %) fazem uso das alterações morfológicas para o diagnóstico ambiental das áreas. Dos trabalhos pesquisados cerca de 44% (22 artigos) se encontram na região sudeste, e cerca de 30% (15 artigos) na região sul, já a região nordeste contribuiu com 6 artigos, cerca de 12 %, a região centro-oeste contribuiu com 5 artigos, cerca de 10% e a região norte foram encontrados 4% (2 artigos) (Gráfico 1).

4% 10% Sul 30% Sudeste 12% Nordeste Norte Centro -Oeste 44%

Figura 1. Distribuição dos artigos localizados por macrorregiões brasileira em %

Quando conduzimos a pesquisa sobre os estados, podemos observar a predominância dos estado de São Paulo (SP), com 13 artigos, cerca de 26%, seguido pelos estados do Rio Grande do Sul com 10 (20%), seguido por Paraná (PR) e Minas gerais (MG) com 5 artigos respectivamente cerca de 10%, Rio de Janeiro (RJ) aparece com 4 artigos, cerca de 8% cada, Paraíba (PB) e Mato Grosso do Sul (MS) possuem 3 artigos respectivamente cerca de 6% e os estados que contribuíram com 1 artigo, cerca de 2% cada, sendo eles os estados de Sergipe (SE), Goiás (GO), Amazonas (AM), Bahia (BA), Rio Grande do Norte (RN), Pará (PA) e Mato Grosso (MT) (Gráfico 2*).

15

10

5

0

BA SE RN PA AM GO MT MS PB RJ MG PR RS SP

Figura 2. Distribuição dos artigos localizados por estados brasileiros. * Os estados não presentes ou ausentes no gráfico não possuíam dados sobre o tema.

Adentrando às macrorregiões brasileiras (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul Sudeste) podemos observar diversas lacunas que ainda precisam ser preenchidas com estudos, como na região sul podemos notar uma superioridade do Rio Grande do Sul, o

312 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 que pode estar ligado com a presença de instituições de pesquisas da região, e a ausência de artigos produzidos e publicados referente ao tema estudado no estado de Santa Catarina, podendo estar relacionado pela falta de incentivo a trabalhos desse tema ou pela falta de interesse dos pesquisadores na região no estado. Na Região Sudeste, observamos a superioridade do estado de São Paulo em relação aos outros estados, observando também a ausência de artigos no estado do Espirito Santo, Isso ocorre não só pelos centros de pesquisa, mas, também pelo apoio financeiro e incentivo à realização dos trabalhos. Outro fator a ser apresentado como uma possível justificativa seria o fato desta ser uma região mais impactada, com bastante poluição antrópica. Na Região Centro-Oeste, pode-se observar que Mato Grosso é o estado com mais artigos publicados sobre o tema estudado, onde o Distrito Federal não possui, podemos dizer assim que isso se dá pelo fato da região sul mato-grossense se localizar próximo dos laboratórios de pesquisa de SP e Paraná, onde que pesquisadores vão ao estado fazer essas pesquisas, ou então, pode-se ter um maior incentivo financeiro nessa região do que nas demais. Na região Nordeste, a Paraíba é o estado com maior quantidade de artigos, sendo observado também que os estados de Alagoas, Ceará, Maranhão, Pernambuco e Piauí, não possuem artigos publicados, visto que quase todos os estados próximos ao litoral e com presença da Mata Atlântica já tiveram estudos sobre o tema, podendo ser justificativa para uma maior dominância nessas áreas, o fato da Paraíba ser dominante na região, pode se dar pela riqueza de espécies encontradas na área e por possuir laboratórios de pesquisas. Na Região Norte, observa-se que os estados de Amazonas e Pará possuem um artigo cada e os demais estados da região não possuem, o que é bem negativo já que possuem ainda os maiores remanescentes de Floresta Amazônica, o que demonstra uma possível lacuna na divulgação dos artigos ou de interesse da comunidade cientifica em trabalhar com a questão do biomonitoramento.

CONCLUSÃO

Com este trabalho foi possível observar as lacunas que ainda existem em torno do tema e assim poderá ser tomada as devidas ações que possam preenchê-las. Dos artigos localizados, mais da metade faz referência ao uso da família com índices para avaliação ambiental, e a forma menos utilizada é a análise das deformidades de algumas espécies, já que é muito complicado chegar ao conhecimento de qual espécie encontra- se no ambiente estudado, A macrorregião brasileira com maior quantidade de trabalhos localizados foi a região sudeste, tendo o estado de São Paulo com a maior quantidade de artigos localizados, sendo explicado por possuir regiões degradadas necessitando o acompanhamento de sua qualidade, possuir instituições de pesquisa e apoio financeiro.

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ADUBO ORGÂNICO COMO ALTERNATIVA NA ADUBAÇÃO NITROGENADA DO MILHO E AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE ECONÔMICA

Alexandre Morais BORGES1*, Milson de Oliveira LOPES1, Lázaro Brito BORGES2

1Instituto Federal do Espírito Santo – campus Santa Teresa 2Escola Família Agrícola de Chapadinha *[email protected] INTRODUÇÃO

O milho (Zea mays L.) é uma das espécies mais cultivadas no Brasil, sendo que a cultura é de grande importância para o agronegócio nacional, além de servir como base de sustentação para as pequenas propriedades (Oliveira et al, 2009). Anualmente, são cultivados aproximadamente quinze milhões de hectares, os quais são responsáveis por cerca de 78 milhões de toneladas de grãos (IBGE, 2015). No entanto, para que a cultura possa alcançar um bom desempenho produtivo, é necessário que as suas demandas nutricionais sejam atendidas, para isso se faz necessário realizar práticas, como de adubação. Entre as práticas de fertilização recomendadas para a cultura do milho, a adubação nitrogenada é considerada a mais importante. Segundo Meira et al. (2009) o nitrogênio é o nutriente mineral mais exigido pelo milho, podendo se tornar um fator limitante no desenvolvimento da cultura, sendo necessário o uso de adubação nitrogenada para complementar a quantidade fornecida pelo solo. O manejo da adubação nitrogenada é um dos mais complexos, devido a fatores relacionados ao custo dos fertilizantes nitrogenados em decorrência de problemas na eficiência de algumas fontes (Menezes, 2004) e ao seu potencial poluente, tanto para as águas de superfície quanto subterrâneas. As transformações e perdas características desse nutriente ocorrem por processos de mineralização e imobilização, nitrificação e desnitrificação, lixiviação e volatização (Bono et al, 2008) Algumas fontes são utilizadas para atender às exigências de nitrogênio, dentre elas a ureia, que se destaca no Brasil por apresentar alta concentração de nitrogênio (44% de N) na forma de amina, porém apresenta expressivas perdas por volatilização de NH3 e perdas por lixiviação (Civardi et al., 2011). A quantidade de N perdida por volatilização, após a aplicação de ureia sobre a superfície do solo, pode atingir valores extremos de até 78 % do N aplicado (Cabezas et al., 1997). Várias estratégias estão sendo adotadas para minimizar as perdas no emprego de fertilizantes nitrogenados solúveis como a ureia, entre elas a utilização de nitrogenados com liberação controlada. Esses fertilizantes possuem a característica de serem envolvidos por partículas menos hidrossolúveis, que dificultam a ação imediata de enzimas como a uréase, consequentemente, os mesmos são disponibilizados de forma gradativa para as plantas. Segundo Cantarella (2008), experimentos conduzidos nos EUA mostraram maior eficiência no uso de nitrogênio da ureia protegida em relação à ureia normal (sem revestimento), principalmente em solos arenosos. Por outro lado, a utilização de fontes orgânicas de nitrogênio, tais como o esterco de galinha, vem se tornando uma alternativa interessante para os produtores da região serrana do estado do Espírito Santo, o que tem sido favorecido pela alta concentração de granjas. Além de melhorar os atributos físicos do solo, o esterco de galinha possui Nitrogênio na sua composição química. Entretanto, os efeitos são

315 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 altamente dependentes da quantidade de esterco aplicada por unidade de área, haja vista que a concentração de Nitrogênio é uma das principais dificuldades que limita integralmente a utilização do esterco de aves como fonte de nitrogênio. Diante do potencial de produção de esterco de galinha no estado do Espírito Santo associado à escassez de estudos sobre a sua viabilidade econômica em culturas, o presente estudo objetivou avaliar comparativamente o esterco de galinha com outras fontes de adubação nitrogenada a fim de verificar o seu desempenho agronômico e o retorno econômico em relação ao custo/benefício.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado no setor de culturas anuais do Instituto Federal do Espirito Santo, campus Santa Teresa, com altitude média de 130 m, em solo classificado como Latossolo Amarelo Eutrofico, textura argilosa. O delineamento experimental foi em blocos casualizados (DBC) com sete tratamentos e quatro repetições, totalizando 28 unidades experimentais. Os tratamentos (T) utilizados foram: T1: ureia comum; T2: ureia protegida; T3: esterco de galinha; T4: mistura de ureia comum (25%) + esterco de galinha (75%); T5: mistura de ureia comum (50%) + esterco de galinha (50%); T6: mistura de ureia comum (75%) + esterco de galinha (25%), T7: testemunha, sem aplicação de nitrogênio. A dosagem de Nitrogênio utilizada nos tratamentos foi de 100 kg/ha, o qual está de acordo com o Manual de Recomendação de Calagem e Adubação para o Estado do Espirito Santo (Prezotti et. al. 2007). O plantio foi realizado em janeiro de 2016, com o espaçamento de 0,80 cm e com densidade de plantio de 4 plantas/metro (Figuras 1 e 2). Cada unidade experimental foi composta por quatro linhas de cultivo com cinco metros de comprimento, das quais foram avaliadas como área útil, as duas linhas centrais, desprezando-se 0,5 metros em ambas as extremidades. As irrigações foram realizadas utilizando-se um pivô central. Ao longo do desenvolvimento da cultura vivenciou uma escassez hídrica, contudo os resultados foram bastante satisfatórios (Figuras 3 e 4).

Figuras 1 e 2. Sulcos utilizados para semeio (esquerda) e plantas de milho com 30 dias de idade (direita).

316 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 3 e 4. Milho recém-adubado com ureia comum (direita) e milho seco com 110 dias após o plantio (esquerda).

Os dados foram coletados em maio de 2016, sendo avaliados os seguintes parâmetros: número médio de fileiras de grãos por espiga; número médio de grãos por fileiras; massa de 1000 grãos e produtividade de grãos com 13% de umidade. Foi realizada análise estatística, baseada em teste Tukey a 5%, para a melhor visualização dos resultados obtidos. Para cada tratamento, em função das fontes de nitrogênio, foi calculada a receita obtida com a produção de milho. Além disso, considerando os valores dos custos das fontes nitrogenadas foi calculada a fonte que obteve o maior retorno econômico. Cabe ressaltar que não foram calculados os custos de frete e mão de obra utilizada para distribuir os insumos, visto que esses valores podem variar de acordo com a região.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos para o número de fileiras de grãos e número de grãos por fileira encontram-se expressos na Tabela 1. Observa-se que, exceto a testemunha (T7), os demais tratamentos não apresentaram diferenças significativas. Esse comportamento pode ser explicado pelo fato de fatores genéticos interferirem de maneira mais significativa para essas variáveis analisadas. Entretanto, o tratamento que não foi utilizada nenhuma adubação nitrogenada apresentou diferença estatística pelo teste tukey a 5%, o qual salienta que mesmo que fatores do genótipo interno sejam fundamentais para determinar o incremento de número de fileiras e de grãos por fileira a ausência de adubação nitrogenada interfere de forma negativa nessas variáveis.

Tabela 1. Números de fileiras e número de grãos de milho por fileira em função do tratamento. Número de grãos por Tratamentos Número de Fileiras fileira T1 15,15 a 31,55 a T2 15,17 a 31,17 a T3 15,35 a 32,68 a T4 15,32 a 32,47 a T5 15,20 a 31,20 a T6 15,15 a 31,15 a T7 14,75 b 27,50 b As médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

A tabela 2 apresenta os resultados da massa em gramas de 1000 grãos a 13 % de umidade e a produtividade em toneladas por hectare. Observa-se que houve diferença significativa entre os tratamentos, sendo que no tratamento que utilizou somente esterco de galinha (T3) como fonte de nitrogênio, a média de 1000 grãos foi maior que as demais. O comportamento do esterco de galinha provavelmente foi decorrente dos benefícios complementares da matéria orgânica que melhora as propriedades do solo, resultando em maior crescimento e desenvolvimento das plantas, especialmente pela

317 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 maioria dos solos brasileiros apresenta baixa disponibilidade de fósforo que é potencializada pela acidez (Durigon et al., 2002).

Tabela 2. Massa de 1000 grãos de milho a 13 % de umidade em função do tratamento. Tratamentos Massa (g) de 1000 grãos Produtividade ton.ha-1 T1 212,8 c 5,063 cd T2 209,5 c 5,075 cd T3 227,7 a 5,660 a T4 217,6 b 5,370 b T5 214,2 bc 5,130 c T6 213,5 bc 4,900 d T7 180,0 d 3,640 e As médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

Observa-se, ainda, que o tratamento composto de adubação integral de esterco de galinha apresentou a maior produtividade por hectare. Os tratamentos de ureia comum e protegida não apresentaram diferença estatística, já os tratamentos que utilizaram diferentes percentuais de esterco de galinha e ureia comum apresentaram diferença significativa, porém ficaram com produções inferiores ao tratamento que utilizou somente esterco de galinha como fonte nitrogenada. Segundo Brady (1989) embora certa fração da matéria orgânica dos estercos seja decomposta e liberada em curto período após sua aplicação, outra fração é transformada em húmus, que é mais estável; sob esta forma, os elementos são liberados lentamente. Assim, os componentes do esterco, convertidos em húmus, exercerão influência nos solos, de maneira persistente e duradoura. Ao comparar os resultados de produtividade obtidos nesse trabalho, constata-se uma divergência em relação aos resultados encontrados por Meira (2006), que realizou trabalho com milho utilizando diferentes fontes de N convencionais e especiais e não observou diferença significativa para as variáveis de produtividade. Por outro lado, todas as médias de produtividade de milho estimadas no trabalho, em todos os tratamentos, foram superiores à média do Estado. Apesar do esterco de galinha ter proporcionado a maior produtividade, deve-se salientar que o modelo de produção que utilize somente a adubação orgânica como fonte de N possui como fator limitante a operacionalidade do processo, principalmente em lavouras de grande extensão de área, uma vez que a distribuição do esterco de galinha é um dos principais empecilhos. No entanto, o modelo de produção que utilize apenas matéria orgânica pode se tornar uma medida bastante interessante para pequenas propriedades. Assim, o ideal é que se busque o equilíbrio entre a utilização de fontes químicas e orgânicas, haja vista que os tratamentos que utilizaram respectivamente, 75% e 50% de ureia e 25% e 50% de esterco de galinha, para atender a demanda de N, apresentaram produtividade que não difere estatisticamente pelo teste Tukey a 5% de probabilidade dos tratamentos que utilizaram integralmente apenas ureia comum e ureia protegida. A partir dos dados de produção, calculou-se o custo em função de cada fonte de nitrogênio utilizada para se obter o respectivo retorno financeiro do investimento (tabela 3). Observa-se que o tratamento que utilizou somente esterco de galinha como fonte nitrogenada apresentou a maior lucratividade, cerca de R$ 6.952,48. No entanto, os

318 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 tratamentos que utilizaram esterco de galinha tanto integralmente ou parcialmente podem apresentar custos adicionais dependendo da região onde se localiza a propriedade, haja vista que o frete é um dos principais fatores que onera o custo de aquisição dessas fontes, e o seu valor é variável de acordo com a região. Cabe ressaltar que o tratamento que não utilizou adubação nitrogenada apresentou menor produtividade e menor retorno financeiro do investimento, o que justifica a viabilidade do uso da adubação nitrogenada. De acordo com Veloso et al. (2012) a utilização de nitrogênio na adubação de cobertura do milho reflete nos processos bioquímicos da planta, melhorando a constituição de proteínas, enzimas, coenzimas, ácidos nucléicos e clorofila, contribuindo para elevar a produtividade do milho devido ao aumento da taxa fotossintética da planta, produzindo e acumulando mais fotoassimilados nos grãos.

Tabela 3. Análise dos de custos em função da fonte nitrogenada aplicada e retorno financeiro do investimento em função do tratamento. Investimento Produção Faturamento com a Fonte Retorno Tratamentos (kg.ha-1) (R$.ha-1)* Nitrogenada (R$.ha-1) (R$) T1 5063 6480,64 266,4, 6214,24 T2 5075 6496,00 310,00 6186,00 T3 5666 7252,48 300,00 6952,48 T4 5370 6873,60 291,00 6582,60 T5 5130 6566,40 281,94 6284,46 T6 4900 6272,00 279,47 5992,53 T7 3640 4659,20 - 4659,20 *Preço da saca de (50kg) de milho, comercializada em Vitória, ES, R$ 64,00. Levantamento realizado 10/2016.

CONCLUSÃO

A ureia comum e a ureia protegida não apresentaram diferença estatística de produtividade pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. Em relação ao retorno econômico financeiro, a ureia comum apresentou maior taxa de lucratividade quando comparada com a ureia protegida. O tratamento que utilizou integralmente esterco de galinha como fonte nitrogenada apresentou a maior produtividade, 5666 kg.ha-1 e o maior retorno econômico R$ 6952,48.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Federal do Espírito Santo, campus Santa Teresa, pelo apoio na realização deste estudo.

LITERATURA CITADA

Bono, J. A. M. Rodrigues, A. P. A. C.; Manuad, M.; Albuquerque,J. C.; Yamamoto, C. R.; Chermouth, K. S.; Freitas, M. E. 2008. Modo de aplicação de fertilizantes nitrogenados na qualidade fisiológica de sementes de milho. Agrarian, 1 (2): .91- 102.

319 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Brady, N. C. 1989. Natureza e propriedades dos solos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 879p.

Cantarella, H. 2008. Fontes alternativas de nitrogênio para a cultura do milho. Informações Agronômicas. N° 12, Viçosa.

Civardi, E. A.; Silveira Neto, A. N.; Ragagnin, V. A.; Godoy, E. R.; Brod, E. 2011. Ureia de liberação lenta aplicada superficialmente e ureia comum incorporada ao solo no rendimento do milho. Revista Agropecuária Tropical, 41:52-59.

Durigon, R.; Cerettta, C. A.; Basso, C. J.; Barcellos, L. A. R.; Pavinato, P. S. 2002. Produção de forragem em pastagem natural com o uso de esterco líquido de suínos. Revista Brasileira de Ciência do Solo. 26:983-992.

Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE): Levantamento Sistemático da Produção Agrícola. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/lspa/defaultta b.shtm (28/03/2015).

Lara Cabezas, W. A. R.; Korndörfer, G. H.; Motta, S. A. 1997. Volatilização de N-NH3 na cultura de milho: II. Avaliação de fontes sólidas e fluidas em sistema de plantio direto e convencional. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, 21: 489-496.

Meira, F. A. Fontes e modos de aplicação do nitrogênio na cultura do milho. 2006. 52 f. Tese (Doutorado em Agronomia) - Faculdade de Engenharia do Campus de Ilha Solteira, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Ilha Solteira.

Meira, F. A.; Buzetti, S.; Andreotti, M.; Arf, O.; Sá, M. C.; Andrade, J. A. C. 2009. Fontes e épocas de aplicação do nitrogênio na cultura do milho irrigado. Semina: Ciências agrárias, 30: 275-284.

Menezes, M. J. T. 2004. Eficiência agronômica de fontes nitrogenadas e de associações de fertilizantes no processo de diferimento de Brachiaria brizanta cv. Marandu. 113 f. Dissertação (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba.

Oliveira, F. A.; Cavalcante, L. F.; Silva, I. F.; Pereira, W. E.; Oliveira, J. C.; Filho, J. F. C. Crescimento do Milho Adubado com Nitrogênio e Fósforo em um Latossolo Amarelo. Rev. Bras. De Ciências Agrárias. Recife – PE, 4 (3): 238-244, jul.-set., 2009

Prezotti, l. C.; Gomes, J. A.; Dadalto, G. G.; oliveira, J. A. de. Manual de Recomendação de Calagem e Adubação para o Estado do Espirito Santo – 5ª aproximação. Vitória, ES, SEEA/INCAPER/CEADAGRO, 2007. 305p.

Veloso, M. E. C.; Duarte, S. N.; Neto, D. D; Silva, E. C.; Pereria, C. R. 2012. Teor de nitrogênio, índices de área foliar de fungicidas. Bioscience Journal, 20 (1): 25- 33.

320 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

AVALIAÇÃO DA DEGRADAÇÃO DOS RECURSOS AMBIENTAIS: UM ESTUDO DE CASO NO INTERIOR DE SANTA TERESA - ES

Alexandre Morais BORGES*, Francisco Braz DALEPRANE; Raylander Bregonci COLOMBO, Duarte Frederico HELL & André Lucas Reboli PAGOTO

Instituto Federal do Espírito Santo – campus Santa Teresa *[email protected]

INTRODUÇÃO

Segundo Silva et al. (2016), os estudos sobre a temática ambiental vêm ganhando importância para diversos segmentos da sociedade, tornando-se o foco de estudantes, pesquisadores e órgãos públicos. O desenvolvimento e os avanços dos meios tecnológicos ligados à falta de sensibilização por parte do ser humano diante dos recursos ambientais estão ocasionando desequilíbrio e aumento nos índices de degradação do meio ambiente (Silva et al., 2016). A degradação ambiental quando chega aos níveis mais graves provoca impactos sociais, econômicos, culturais, políticos e principalmente ao ambiente. Essa degradação vem se intensificando ao longo dos anos, o que tem reduzindo a fauna e a flora silvestre, proporcionando severas perdas econômicas na agricultura (Sousa et al., 2007). Assim, a ação antrópica negativa ocasiona perda da biodiversidade e da qualidade de vida da população, seja rural ou urbana (Silva et al., 2015). Atualmente o processo produtivo na agricultura é altamente dependente de produtos e técnicas que degradam o meio ambiente, o uso abusivo de agrotóxicos e adubos químicos, cultivos em áreas inapropriadas como topos de morros, uso intensivo de maquinários agrícolas pesados, entre outros, contribuem de forma direta para a degradação dos solos, assoreamento dos rios e poluição do solo e d´água. Segundo dados da FAO (2015), 30% das terras agricultáveis do mundo apresentam algum estádio de degradação, com percas anuais de aproximadamente 24 bilhões de toneladas de solos férteis, o que influencia diretamente nos aspectos de produção animal, vegetal e alimentação humana, com dados alarmantes de uma população com aproximadamente dois milhões de desnutridos (Roberts & Ryan, 2015). Por outro lado, a conservação do solo e da água caracteriza um conjunto de medidas capazes de manter ou recuperar as condições físicas, químicas e biológicas do solo, estabelecendo critérios para seu uso e manejo de forma a não comprometer sua capacidade produtiva. Estas medidas visam proteger o solo, prevenindo-o dos efeitos danosos da erosão, da compactação e da contaminação, dentre outros problemas, aumentando a disponibilidade de água e nutrientes e a atividade biológica do solo, criando condições adequadas ao desenvolvimento das plantas (Paiva & Araújo, 2012). O município de Santa Teresa está localizado na região serrana do estado do Espirito Santo. Caracteriza-se por possuir pequenos agricultores que utilizam a atividade cafeeira, pecuária e olericultura como principal fonte de renda. Nesse sentido, com o objetivo de conhecer as situações atuais de degradação/conservação ambiental na região, realizou-se um estudo observacional ao longo de um trecho do curso do rio Santa Maria do Doce.

321 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo observacional foi realizado em agosto de 2015, sendo o ponto inicial de observação consistiu no distrito de Várzea Alegre (Santa Teresa) até a divisa do município de Santa Teresa e Itarana. Ao longo do percurso foram observadas as seguintes variáveis: a) Cultivos em áreas improprias; b) Preparo do solo inadequado; c) Plantios no sentido da vertente topográfica; d) Plantio em curvas de nível; e) Consórcio de culturas; f) Uso de cobertura morta; g) Uso de capina intensiva; h) Prática de queimada; i) Presença de terraços. Utilizou-se uma escala de 0 a 5 para quantificar o peso das observações das variáveis no decorrer do percurso. Sendo, a nota 0 atribuída quando a variável avaliada foi observada acima de quatro vezes; a nota 1 quando observada quatro vezes; nota 2 quando observada três vezes; nota 3 quando observada duas vezes; nota 4 quando observada um vez e a nota 5 quando não foi observada a presença da variável no percurso realizado. Cada uma das variáveis expostas acima foi avaliada para ambos os lados da estrada. Os dados obtidos foram quantificados a partir das notas atribuídas para as variáveis observadas. Para uma melhor visualização e interpretação dos resultados foram elaborados gráficos de teia com os dados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas figuras 1 e 2 estão indicados que os dados coletados apresentaram diferentes notas para as variáveis observadas no decorrer da área de estudo. As letras (A-I) se referem às variáveis, e os números (1-6) se referem às escalas. A análise é feita observando a posição da letra com o número, tendo como referencial o centro do gráfico, nesse sentindo as linhas o gráfico de teia representa o nível de intensidade para cada variável avaliada. Abaixo é fornecida uma discussão das variáveis.

Figura 1. Distribuição das notas de avaliação das variáveis (referente à margem direita da rodovia que liga Várzea Alegre a Itarana).

Figura 2: Distribuição das notas de avaliação das variáveis (referente à margem esquerda da rodovia que liga Várzea Alegre a Itarana).

322 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Sendo: a) Cultivos em áreas improprias: a região serrana situada entre Santa Teresa e Itarana se caracteriza por ser uma área com declividade bastante acentuada. Diante disso, os processos de cultivos nessas áreas devem ser tratados com bastante cautela, haja vista que a utilização sem critérios pode acelerar e favorecer o processo de erosão. No entanto, atualmente, observou-se cultivos de larga escala em áreas inapropriadas, tais como a presença de lavouras de café em topos de morros e cultivos em áreas com declividade superior a 45%. Sendo observados com maior frequência em ambos os lados das margens da rodovia. b) Preparo do solo inadequado: o preparo de solo nessa região se caracteriza por ser bastante tradicional, ou seja, os produtores utilizam da aração e gradagem para o preparo dos seus terrenos. Porém, observa-se que essas técnicas são empregadas de forma inadequada, haja vista a alta incidência de áreas que são aradas de morro abaixo. Ao fazer aração e gradagem em sentido vertente à topografia do terreno o produtor aumenta os índices de erodibilidade do solo. Acredita-se que o principal motivo para ser utilizar tal método está relacionado com a sua facilidade operacional, porém, sabe-se que esta técnica contribui para a degradação do solo e sua utilização não é mais recomendada. c) Plantios no sentido da vertente topográfica: observou-se que o uso de plantio de culturas no sentido da vertente topográfica é bastante comum pelos os produtores, plantios de café e eucalipto se destacam neste quesito na referida avaliação. Logo, isto acaba favorecendo a erosão do solo e a consequente perda de fertilidade da área, haja vista que utilizando esse método de distribuição espacial de plantas, os processos erosivos são favorecidos. Acredita-se que a adoção dessa prática é devido a falta de uma assistência técnica para a maioria dos produtores da região avaliada. d) Plantio em curvas de nível: a utilização de linhas em curvas de nível é bastante frequente na região. Utilizadas principalmente em culturas como o café, em que a

323 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 mesma possui a função de diminuir a força das enxuradas, minimizando a erosão, aumentam a umidade do solo, ao impedir a descida rápida da água e aumentam a produção da lavoura, pois as substâncias nutritivas não são perdidas pelo processo de erosivo. e) Consórcio de culturas: observou-se a utilização de consórcios entre culturas de café x banana. No decorrer do trecho não houve a incidência de utilização de leguminosas a fim de melhorar as condições físicas e químicas do solo. Os produtores também não utilizam cordões vegetativos e quebra ventos. Isso pode ser explicado pela falta de conhecimento dos benefícios que os mesmos podem proporcionar ao solo. f) Uso de cobertura morta: no decorrer de todo percurso foi observada somente seis vezes a utilização de cobertura morta, acredita-se que isso está relacionado com intensa utilização de herbicidas, que por sua vez dificulta a manutenção da cobertura morta. Sabe-se que a cobertura morta é uma prática essencial para a conservação de água no solo e para a prevenção de possíveis erosões provocadas pelo o impacto da gota da chuva no solo. g) Uso de capina intensiva: os sinais do uso da capina intensiva foram observados por diversas vezes, caracterizando uma técnica extremamente difundida na região. O emprego da mesma vem a favorecer a erosão, culminado na perda de potencial produtivo do solo. Observou-se capinas intensivas nas culturas de café, pimenta do reino, tomate e mamão. Durante a avaliação percebeu-se que foram utilizados métodos químicos (herbicidas) ou manuais (enxadas) para o controle das ervas daninhas presentes nas lavouras. Sendo assim, podemos afirmar que se faz necessário um apoio técnico por parte de empresas privadas e públicas com o objetivo de disseminar práticas que visam a conservação do solo. h) Prática de queimada: a prática de queimada é bastante comum em áreas de pastagem na região, a mesma é utilizada com intuito de fornecer matéria orgânica prontamente disponível para as gramíneas, favorecendo a rebrota da mesma após as chuvas. Porém, em contra partida, a mesma danifica as propriedades microbiológicas do solo e favorece a impacto direto da chuva no solo, o que pode culminar em processos erosivos (Araújo & Paiva, 2003). i) Presença de terraços: observou-se a presença de terraço, que possibilita a contenção da água da chuva, favorecendo a infiltração da água no solo, diminuindo os efeitos de enxurradas causadas pela água das chuvas, que, consequentemente, reflete no menor assoreamento dos rios. Sendo que há uma predominância de terraços do tipo nível, os quais foram construídos devido as características fisio-química dos solos de Santa Teresa-ES favorecerem o processo de infiltração da água no solo.

CONCLUSÃO

A região que liga Várzea Alegre x Itarana apresentou indicativos de degradação altíssimos, principalmente nos quesitos: cultivos em áreas impróprias, preparo do solo inadequado e uso de capina intensiva, no qual podemos afirma que através destes parâmetros a região se encontra bastante degrada, principalmente nas beiras de córregos e topos de morros, locais esses que são essências estarem conservados e protegidos para condicionar uma agricultura sustentável. Por outro lado, o uso de práticas

324 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 conservacionistas também foi observado, como o plantio em curvas de nível e plantio em consórcio. Estudos como este, sobre a avaliação da degradação ambiental, são importantes para servi de base para a elaboração de projetos de recuperação de áreas degradas contribuindo para a gestão ambiental dos recursos.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Federal do Espírito Santo, campus Santa Teresa, pelo apoio na realização deste estudo.

LITERATURA CITADA

Araújo, Q. R. & Paiva, A. Q. 2003. Aspectos básicos de manejo e conservação do solo na região Caucaeira In: 25ª Semana do Fazendeiro, Uruçucuca, Bahia Agenda Técnica da 25ª semana do Fazendeiro. Ilhéus, Bahia: CEPLAC/CEPEC/SIDOC.

FAO – Organização das Nações unidas para Agricultura e Alimentação. Segurança alimentar: a luta para garantir terra fértil a futuras gerações. Disponível em: https://www.fao.org.br/FAOsRrgps.asp. Acesso em 10 de abril de 2017.

Paiva, A. Q. & Araújo, Q. R. 2012. Fundamentos do manejo e da conservação dos solos na região produtora de cacau da Bahia, Ilhéus-BA, 115-134.

Roberts, T. L. & Ryan, J. 2015. Solo e Segurança Alimentar. Piracicaba: International Plant Nutrition, Informações agronômicas, 150: 3p.

Silva, P. L. F., Cavalcante, A. C. P. & Silva, A. G. 2016. Avaliação da degradação dos recursos ambientais: um estudo de caso em uma propriedade rural de Pilõezinhos-PB. Revista Monografias Ambientais – REMOA, 15 (1): 132-140.

Silva, D. D. E.; Felizmino, F. T. A. & Oliveira, M. G. 2015. Avaliação da degradação ambiental a partir da prática da cultura do feijão no município de Tavares-PB. Holos, 8: 148-165.

Sousa. R. F.; Barbosa, M. P.; Sousa Júnior, S. P.; Guimarães, C. L. 2007. Estudo da degradação das terras do município de São Domingos do Cariri, Estado da Paraíba. Caminhos da Geografia, 8 (22): 130-136.

325 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Subárea: Zoologia

AVES OBSERVADAS NO IFES SANTA TERESA

Helio Pena de Faria JUNIOR1*, Marcus Vinicius Sandoval PAIXÃO1, Gleides Pulcheira PAIXÃO1, Marcelo BOZETI1 & Polyana Pulcheira PAIXÃO2

1Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa ²Climev – Vitória *[email protected]

INTRODUÇÃO

No Brasil existem cerca de 1.800 espécies de aves, nos diversos biomas, da Amazônia à Caatinga, do Cerrado à Mata Atlântica, do Pantanal aos pampas (Dalgas, 2005), não é a toa que a sabiá laranjeira foi eleita como a ave símbolo do Brasil, sendo que a maioria das espécies endêmicas do Brasil é encontrada na Mata Atlântica, especialmente nas terras baixas do litoral sudeste e no nordeste. Espécies que necessitam de habitat e alimentação específicos são mais diversas e abundantes em ambientes bem preservados, enquanto fragmentos e áreas cuja vegetação tenha sofrido algum tipo de alteração tendem a perder tais espécies (Gray et al. 2007, O’Dea & Whittaker, 2007). As aves desempenham importantes tarefas na natureza, segundo Dalgas (2005) onde tem aves, tem qualidade de vida e tem negócios valorizados. Elas têm a força para conduzir investimentos num condomínio bem planejado ou até para conseguir votos para administradores bem intencionados. Uma cidade com parques, jardins, bela arborização e muitas flores consegue atrair sabiás, canarinhos, bigodinhos, periquitos, beija-flores, um sem números de pássaros. O objetivo da pesquisa foi catalogar as aves observadas no Campus do IFES Santa Teresa.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido ao longo do ano de 2015 na fazenda do IFES Campus Santa Teresa, ES, com área de 620 ha, localizado na meso região Central Espírito-Santense, coordenadas geográficas 19º48’59”S e 40º40’39”W, com altitude de 135 m. O clima da região caracteriza-se como Cwa, mesotérmico, com estação seca no inverno e forte pluviosidade no verão (classificação de Köppen), com precipitação anual média de 1.404,2 mm e temperatura média anual de 19,9 °C, com máxima de 32,8 °C e mínima de 10,6 °C (Incaper, 2011). A coleta de dados foi realizada sempre no período diurno, nas primeiras horas da manhã quando as aves saem a procura de alimento, com uma câmera fotográfica Canon EOS Rebel xsi, contando ainda com uma lente objetiva com um zoom de 300 mm. Caminhos eram percorridos, visitando árvores frutíferas como mamoeiros, castanheiras e outras, que eram monitorados e observados, prédios e construções eram vigiadas, setores como bovino, caprino, pocilga foram percorridos na expectativa de fazer o maior registro de aves que fosse possível, fazendo assim uma representação do maior número de espécies.

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As fotos registradas foram armazenadas e catalogadas pelo nome vulgar e nome científico das espécies para registro de forma digital.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram registradas 560 fotos diversas das espécies que habitam a área estuda, onde pode-se afirmar que a avifauna da área de estudo é muito rica e diversificada. Um total de 49 aves foram registradas nesse trabalho, encontraram-se ainda algumas espécies que pelo medo do ser humano, se tornaram ariscas e arredias e não foram registrados, mas suas presenças foram verificadas. As áreas de pomar foram as que apresentaram o maior número de registro de espécies, seguidos do entorno das áreas de mata e em terceiro lugar as áreas onde se localizam os prédios do Campus. De acordo com a Tabela 1, apresenta-se as espécies catalogadas na área estudada e os nomes científicos de acordo com Dalgas (2005) e Venturini (1996). Tabela 1. Aves catalogadas no Campus do IFES.

Nome Vulgar Nome científico Alma de gato Piaya cayana Amola faca ou aracuã Ortalis guttata aracuan Anu branco Guira guira Anum coroia Crotofaga major Araçari de bico branco Pteroglossus aracari Ararimba de calda ruiva Galbula ruficauda Beija- flor tesourão Eupetomena macroura Beija-flor do rabo branco Phaethornis pretrei Bem te vi Pitangus sulfuratus Bem te vi rajado Myodynastes maculatus solitarius Canario da terra Sicalis flaveola Cardeal do nordeste Paroaria dominicana Coleiro Sporophila caerulescens Coruja buraqueira Speotito cunicularia (Fig. 1) Falcão quiri-quiri Falco (tinnunculus) sparverius (Fig. 3) Frango d’agua azul Porphyrio (porphyula) martinicus (Fig.4) Garça Casmerodius albus Garcinha branca Egreta (garzetta) thula Garrincha Troglodytes aedon Guaxe Cacicus haemorrhous Gavião carijó Buteo (Rupornis) magnirostris (Fig. 8) Jacupemba Penelope superciliares João de barro Furnaris rufus Periquitão maracanã Aratinga leucophthalmus (Fig. 2) Periquito rei ou Jandaia de testa amarela Aratinga (solstitialis) auricapila Pica pau de topete vermelho Campephilus melanoleucos Pica pau do campo Colaptes campestris Pomba amargosa Columba plumbea Quero quero Vanellus chilensis Rolinha comum Columbina talpacoti Rolinha fogo apagou Columbina (Scardafella) squammata Sabiá do campo Minus saturninus

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Sabiá do peito branco Mimus gilvus Sabiá laranjeira Turdus rufiventris Saíra Dacnis cayana Saíra azul Dacnis cayana Saíra de sete cores Tangara seledon Sanhaço azul Thraupis episcopus Sanhaço de encontro amarelo Thraupis ornata Saracura do brejo Aramides saracura (Fig. 6) Seriema Cariama cristata (Fig. 5) Siriri Tyannus melancholicus Sofrê Icterus jamacaii (Fig. 7) Tiriba de testa vermelha Pyrrhura (frontalis) frontalis Tiziu Volatinia jacarina Trinca ferro Saltator maximus Urubu Coragyps atratus Urubu de cabeça vermelha Cathartes aura Viuvinha Arundinicola leucocephala

Figura 1. Coruja buraqueira Figura 2. Periquitão maracanã

Figura 3. Falcão quiri-quiri Figura 4. Frango d’agua

Figura 5. Seriema Figura 6. Saracura

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Figura 7. Sofrê Figura 8. Gavião carijó Para manter as aves devemos também manter e preservar a natureza, pois aves e árvores estão intimamente relacionadas, um depende diretamente do outro, as árvores disponibilizam seus frutos para as aves saciar a fome e as aves dispersam as sementes para a perpetuação das árvores. CONCLUSÃO Foi observada uma grande diversidade de aves no campus estudado, mostrando que o local apresenta-se como um ambiente favorável ao desenvolvimento das espécies catalogadas, pelas características que apresenta a área como local de preservação e diversidade de plantas que atuam como fonte de alimento. LITERATURA CITADA Dalgas, J. f. 2005. Aves Brasileiras e plantas que as atraem. 3ª ed. São Paulo: Dalgas ecotec. 480p. Gray, M. A., Baldauf, S. L., Mayhew, P. J. & Hill, J. H. 2007. The response of avian feeding guilds to tropical forest disturbance. Conservation Biology, 21: 133- 141. Incaper. 2011. Planejamento e programação de ações para Santa Teresa. Programa de assistência técnica e extensão rural PROATER, Secretaria de Agricultura. O’Dea, N. & Whittaker, R. J. 2007. How resilient are Andean montane forest bird communities to habitat degradation? Biodiversity Conservation, 16: 1131- 1159. Venturini, A. C.; Ofranti, A. M. S.; Varejão, J. B. M. & Paz, P. R. 1996. Aves e Mamímeros na restinga: Parque estadual Paulo Cesar Vinha. Guarapari: Gráfica Espírito Santo.

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LIBÉLULAS (INSECTA, ODONATA) COMO BIOINDICADORES DE POLUIÇÃO QUÍMICA DO CÓRREGO SÃO SILVANO, COLATINA-ES

Jacimar Berti BOTI1, Diogo Rocha BOTI2 1Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa, 2Professor de Química, Vitória-ES * [email protected]

INTRODUÇÃO

Atualmente, devido ao crescimento da população das cidades, principalmente da população ribeirinha de diversos mananciais aquáticos, tem se observado um aumento das atividades antrópicas sobre os recursos naturais. O córrego São Silvano é um manancial que outrora foi água potável (informação pessoal) e, atualmente, é extremamente poluído, apresentando largura de 2 a 5 m, profundidade de 0,20 m a 0,90 m, é formado pela junção das águas do Córrego Estrela e Córrego do Ouro. A junção dessas águas ocorre próximo ao SESI/SENAI, no bairro Carlos Germano Naumann, Colatina-ES e percorre todo o bairro urbano de São Silvano que é o maior bairro da cidade de Colatina-ES. Nos últimos anos, na área urbana de seu percurso, tem se observado uma acentuada agressão antrópica com lançamento de efluentes domésticos, resíduos químicos de postos de combustíveis ribeirinhos, óleo diesel, graxa e outros resíduos químicos de oficinas mecânicas, fábricas de móveis, ferro velhos e lixo doméstico, que vem assoreando o seu leito, trazendo graves conseqüências aos moradores ribeirinhos desse pequeno manancial. Sabe-se, porém, que ecossistemas aquáticos têm sofrido muito com diversos tipos de poluentes que vem alterando os nichos ecológicos de maneira significativa, causando múltiplos impactos ambientais negativos resultantes de atividades de lançamento de efluentes domésticos e industriais não tratados (Goulart & Callisto, 2003). Além disso, as comunidades biológicas refletem a integridade ecológica total dos ecossistemas e apresentam limites de tolerância a diferentes alterações das mesmas (Alba-Tercedor, 1996). Os bioindicadores são espécies, ou grupo de espécies, cuja presença e distribuição indicam características de impactos ambientais em um ecossistema aquático (Callisto & Gonçalves, 2002). Portanto, o monitoramento ecológico de espécies aquáticas bioindicadoras, constitui uma ferramenta de extrema importância para avaliar o comportamento dessas espécies em ecossistemas que sofreram intensa ação antrópica com dejetos químicos. As libélulas são insetos predadores que habitam os ecossistemas de água doce e estão associadas às plantas aquáticas e ao fundo dos corpos d’água, podendo ser utilizados como bioindicadores da qualidade ambiental, principalmente para o monitoramento de bacias hidrográficas (De Marco Jr. 1998; Ferreira-Romero 1998). Esses insetos são considerados importantes em monitoramento da qualidade ambiental dos ecossistemas porque, principalmente os indivíduos adultos, são facilmente identificados em espécies (Carle, 1999) e podem ser sensíveis ou tolerantes a contaminantes da água (Watson et. al, 1982). O estudo desses insetos em relação aos ambientes aquáticos é de suma importância, pois (Peruquetti & De Marco Jr. 2002) relataram que a ação de impactos antrópicos sobre a comunidade de Odonata é pouco estudada no Brasil.

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Diante dos fatos analisados, os objetivos do presente estudo foram verificar a abundância de indivíduos e a riqueza de espécies da ordem Odonata que podem apresentar-se como potenciais indicadores da poluição química no Córrego São Silvano.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado no córrego São Silvano, centro urbano do município de Colatina-ES, bairro de São Silvano, nos meses de janeiro e fevereiro de 2013. Colatina encontra-se em uma região de clima extremamente quente durante o verão, com média de temperaturas máxima 38ºC e mínima de 26ºC (Clima Tempo, 2016). Para monitorar os insetos, foram marcados seis pontos de coletas e observações, sendo dois pontos com ambientes moderadamente degradados (AMD), isto é, com pouca ação antrópica e localizados no início da formação desse córrego. Os outros quatro pontos são acentuadamente degradados (AAD), com grande ação antrópica, localizados na área central do bairro S. Silvano. O ponto 1 (AMD) (19º 32’20”S e 40º 38’29”W), lótico e lêntico, localizou-se no Córrego Estrela, a 600 m da junção das águas com o Córrego São Silvano, com profundidade de 0,40 m e largura de 1,5 m, com fundo argiloso, água com pequena quantidade de resíduos urbanos, presença de pequenas árvores (mangueiras, embaúbas, assa-peixes) e gramíneas na vegetação ribeirinha em ambas as margens. O comprimento amostrado foi de 50 m. O ponto 2 (AMD) (19º 31’23”S e 40º 36’28”W) lótico, com 0,30 m de profundidade, largura de 2,0 m, fundo argiloso, com efluentes domiciliares e resíduos urbanos, localizou-se na junção das águas do córrego estrela com o córrego do ouro, com presença de gramíneas em suas margens e algumas árvores frutíferas (mangueiras, cajueiros, abacateiros e jaqueiras), o comprimento amostrado foi de 50 m. O ponto 3 (AAD) (19º 30’21”S e 40º 37’28”W), lótico e lêntico, formando-se alguns pequenos lagos, localizado a 400m, após o encontro das águas, no córrego S. Silvano, com presença de efluentes domiciliares e resíduos urbanos apresentando gramíneas em suas margens, com 0,40 m de profundidade, largura de 3,0 m, e fundo argiloso e arenoso, o comprimento amostrado foi de 40 m. O ponto 4 (AAD) (19º 32’23”S e 40º 36’29”W), localizado a 800m do ponto 3, no centro do bairro S. Silvano, lótico, com presença de efluentes domiciliares e resíduos urbanos de óleos lubrificantes e óleo diesel queimado na água, com fundo argiloso e 0,30 m de profundidade, largura de 2 m, com vegetais herbáceos em suas margens e a distância amostrada foi de 40m. (Figura 1) O ponto 5 (AAD), (19º 29’24”S e 40º 35’27”W), localizado a 800m do ponto 4, lótico com fundo argiloso e 0,40m de profundidade com largura de 2,0 m e presença de efluentes domiciliares e resíduos urbanos de óleos lubrificantes queimado e óleo diesel na água (Figura 2), com vegetação de gramíneas e pequenas árvores em suas margens, a área amostrada foi de 40 m.

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Figura 1. Ponto 4, com seus contaminantes químicos na água e a espécie Perithemis mooma pousada (Fotos do autor).

Figura 2. Ponto 5, mostrando os poluentes químicos na água (Fotos do autor).

O ponto 6 (AAD), (19º 31’26”S e 40º 33’29”W), lótico, localizado na foz com o rio doce, com fundo argiloso e arenoso, 0,40 m de profundidade e largura de 3,0 m, com presença de efluentes domésticos e resíduos químicos de oficinas mecânicas com vegetação de gramíneas e algumas árvores de porte médio em uma das margens. A área amostrada foi de 50 m. Em todos os pontos amostrados, a temperatura foi registrada, utilizando-se termômetro de máxima e mínima, bem como, com auxílio de GPS as coordenadas geográficas foram anotadas. Em cada ponto amostrado, foram feitas seis observações e coletas, com duração de uma hora, as coletas foram realizadas em dias ensolarados com temperaturas variando entre 28 e 39 °C, e intervalo de observação entre 9 e 12 horas e entre 13 e 15 horas, totalizando-se 36 horas. As libélulas foram coletadas com auxílio de rede entomológica e depositadas em vidros etiquetados, contendo algodão com éter, e posteriormente acomodados em envelopes de papel. Em laboratório as libélulas foram analisados em estereomicroscópio para a identificação em famílias e gêneros; alguns exemplares foram conduzidos ao Museu de entomologia da Universidade Federal de Viçosa para a identificação em espécies.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram coletados 43 espécimes de libélulas nos seis pontos amostrados, e dentre estes, foram identificados 08 espécies, distribuídas em 03 famílias (Libellulidae, Calopterygidae e Coenagrionidae) sendo que os pontos 1 e 2 foram mais abundantes, com amostragem de 17 e 12 indivíduos respectivamente, bem como o ponto 6, com 9 indivíduos, apresentando nesses pontos maior abundância de indivíduos e maior riqueza de espécies (tabela 1). A maior abundância de indivíduos foram observados no período entre 13 e 15 h, com exceção dos pontos 4 e 5, onde foi amostrado uma única espécie no período entre 9 e 12 h. Libellulidae foi a família com maior representatividade nesse estudo.

Tabela 1. Espécies, famílias e número de indivíduos de libélulas amostrados nos respectivos pontos (P1, P2, P3, P4, P5 e P6) do Córrego S. Silvano – Colatina-ES. Espécies de Libélulas Famílias P1 P2 P3 P4 P5 P6 Erythrodiplax fusca Libellulidae 02 03 01 03 (Rambur,1842) Hetaerina rosa Selys, 1857 Calopterygidae 03 02 02 Ischnura capreola Selys,1876 Coenagrionidae 01 Ischnura fluviatilis Selys, 1876 Coenagrionidae 04 03 Micrathyria sp. Libellulidae 02 Orthemis discolor (Burmeister, Libellulidae 01 1839) Pantala flavescens (Fabricius, Libellulidae 02 02 01 1798) Perithemis mooma Kirby, 1889 Libellulidae 02 02 03 03 02 03 Pontos amostrados (P1, P2, P3, P4, P5 e P6)

Acreditamos que a maior abundância de indivíduos e riqueza de espécies que foram amostradas nos pontos 1 e 2 possa estar relacionadas ao ambiente lótico, com fundo argiloso e vegetação em suas margens que servem de poleiro para as espécies de Odonata, pois a vegetação ciliar é um importante componente para os ecossistemas lóticos, essa vegetação serve de dispersão para muitos animais, contribuindo assim, para a riqueza em espécies (Naiman et al., 1993), entretanto, Richards et. al. (1996) relataram que as condições ecológicas locais do percurso d’água tem uma enorme influência na riqueza de espécies de Odonata. A presença de Hetaerina rosa nos pontos 1, 2 e 6 pode ser explicado pelo extrato argiloso das margens do córrego para reprodução e presença de gramíneas, que servem de pouso para esses insetos. Em estudos realizados por Peruquetti & De Marco Jr, (2002) mostrando os efeitos da alteração ambiental sobre comunidades de Odonata, relataram que essa espécie esteve presente em dois ambientes com vegetação ciliar e em ausência de vegetação ciliar, porém, relataram ainda, que a preferência dessa espécie foi, em maior número, nos ambientes sem vegetação ciliar. Ischnura fluviatilis foi bem amostrada nos pontos 1 e 2 (Tabela 1), pois nesses pontos, apresentando vegetação de gramíneas em ambas as margens, ambiente moderadamente degradados e fundo argiloso, existem condições ecológicas favoráveis à reprodução dessa espécie Peruquetti & Gessner (2003). Esses autores também encontraram essa espécie somente em ambientes com essas características ecológicas.

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Pantala flavescens foi encontrada patrulhando nos pontos 1, 2 e 6 (Tabela 1). Esses ambientes oferecem também condições reprodutivas propícias para essa espécie, tais como: vegetação ciliar, oferecendo campo de pouso, com ambiente lótico, margens e fundo argiloso. Corbet (1999) relatou que os machos dessa espécie são frequentemente encontrados defendendo territórios próximos de corpos d’água, mencionou ainda, que é comum ocorrer a oviposição realizado pelas fêmeas de P. flavescens em poças d’água. Erythrodiplax fusca foi encontrada pousada próximo das margens do córrego, nos pontos 1, 2, 3 e 6 ocorrendo maior abundância de indivíduos nos pontos 2 e 6 (Tabela 1). A contaminação da água nesses pontos não é tão agressiva como em outros pontos relatados nesse estudo e, por tanto, E. fusca foi ausente nos pontos 4 e 5, que são extremamente poluídos com produtos químicos (óleo diesel, graxa, óleo combustível queimado) e efluentes domésticos na água, tanto nas margens quanto no fundo d’água (Figura 4 e 5). Watson et. al. (1982) encontraram, em riachos que recebem efluentes domésticos, uma diminuição na abundância de espécies de Odonata, quando destacaram que a maioria das espécies podem ser sensível aos contaminantes da água. Perithemis mooma foi amostrado em todos os pontos, com 15 indivíduos (Tabela 1), essa espécie foi a única encontrada nos pontos mais poluídos por produtos químicos na água (P4 e P5). Juen et. al. (2014) também encontraram maior número de indivíduos de P. mooma em ambientes altamente poluídos. Gorham & Vodopich (1992) e Ferreras- Romero (1998) relataram que algumas espécies são sensíveis e outras tolerantes a alterações físico-químicas da água.

CONCLUSÃO

Diante dos resultados encontrados nesse estudo, acreditamos que P. mooma pode ser uma dessas espécies de Odonata altamente resistente a poluição, principalmente no que se refere à poluição química, o que foi observado nesses pontos amostrados do córrego S. Silvano.

LITERATURA CITADA

Alba-Tercedor J. 1996. Macroinvertebrados acuáticos y calidad de las aguas de los ríos. IV Siaga, Almeria, vol. II: 203-213.

Callisto, M. & Gonçalves, J. F. Jr. 2002. A vida nas águas das montanhas. Ciência Hoje 31 (182): 68-71.

Carle, F. L. 1999. Environmental monitoring potential of the Odonata, with a list of rare and endangered Anisoptera of Virginia. United States. Odonatologica 8(3): 319- 323.

Clima Tempo. Disponível em: http://www.climatempo.com.br/cidade/colatina-es, (16/7/2016).

Corbet, P. S. 1999. Dragonflies: behavior and ecology of Odonata. Comstock, Ithaca/NY, 829 p.

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De Marco P. Jr. 1998. The Amazonian Campina dragonfly assemblage: patterns un microhabitat use and behaviour in a foraging habitat (Anisoptera). Odonatologica 27 (2): 239-248.

Ferreira-Romero 1998 New data on the ecological tolerance of some Rheophilous Odonata in Mediterranean Europe (Sierra Morena, Southern Spain). Odonatologica 17 (2): 121-126.

Gorham,C.& Vodopich, D. 1992. Effects of acidic pH on predation rates and surviorship of damselfly nymphs. Hydrobiologia 242: 51-62.

Goulart, M.D. & Callisto, M. 2003. Bioindicadores de qualidade de água como ferramenta em estudos de impacto ambiental. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, 6(1): 71-82.

Juen, L., Oliveira, J. M. B., Junior, Y., Schimano, T., Mendes, T. P., Cabette, H. S. R. 2014. Composição e Riqueza de Odonata (Insecta) em riachos com diferentes níveis de conservação em um ecótone Cerrado Floresta Amazônica. Rev. Acta Amazônica, 44(2): 175-184.

Naiman, R.J.; Decamps & M. Pollock. 1993. The role of riparian corridors in maintaining regional biodiversity. Ecol. Appl. 3(2): 209-212.

Peruquetti P. S. & Gessner A. A. F. 2003. Comunidade de Odonata (Insecta) em areas naturais de cerrado e monocultura no nordeste do estado de São Paulo, Brasil: relação entre o uso do solo e riqueza faunística. Rev. Bras. Zool. 20:(2).

Peruquetti P. S. & De Marco P. Jr. 2002. Efeito da alteração ambiental sobre comunidades de odonata em riachos de Mata Atlântica de Minas Gerais, Brasil. Rev. Bras. de Zool. 19(2): 317-327.

Richards, C. L. B., Johnson, G. & Host, G. E. 1996. Landscape-scale influences on stream habitats and biota Canadian Journal of Aquatic Science, Ottawa, 53: 295- 311.

Watson, J.; Arthington A. & Conrick D. 1982 Effect of sewage effluent on dragonflies (Odonata) of Bulimba Creek, Brisbane. Aust. Jour. Mar. Freshw. Res. 33: 517- 528.

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A FÊMEA DE Peregrinus maidis (ASHMEAD, 1890) EM ITATIAIA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (INSECTA: HEMIPTERA: DELPHACIDAE)

Elidiomar Ribeiro DA-SILVA1*, Virgínia CODÁ1, Diego Paschoa TRINDADE1 & Luci Boa Nova COELHO2

1Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, IBIO, UNIRIO. 2Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, UFRJ. *[email protected]. INTRODUÇÃO

Peregrinus maidis, originalmente descrita como Delphax maidis Ashmead, 1890, é uma cigarrinha da família Delphacidae com distribuição cosmopolita, mais prevalente em áreas tropicais e subtropicais da África, América, Ásia, Austrália, Índia, ilhas dos oceanos Atlântico e Pacífico (Singh & Seetharama, 2008). Costa et al. (1971), Waquil (1997), Casela et al. (1998) e Singh & Seetharama (2008) referem-se à P. maidis como importante vetor de patógenos em milho, Zea mays Linnaeus (: Poaceae). A ligação com o milho é tão efetiva que à espécie foi conferido o nome comum “corn planthopper” por parte da Entomological Society of America (Singh & Seetharama, 2008). Já foi sugerido que sua introdução na América Central contribuiu para o colapso da civilização maia (Brewbaker, 1979; Tsai & Wilson, 1986). Em que pese sua importância como praga do milho, P. maidis também ocorre em muitas outras espécies vegetais, como o sorgo, Sorghum sp. (Poales: Poaceae) (Singh & Seetharama, 2008). Por conta de sua importância econômica, P. maidis é uma das espécies mais intensamente estudadas de Delphacidae. Segundo Tsai & Wilson (1986), os adultos de P. maidis são bem conhecidos. Porém, como detalhes da morfologia descritiva da fêmea (Figura 1) ainda não foram suficientemente abordados, especialmente ao que se refere à genitália, a mesma é presentemente redescrita, com base em exemplares procedentes do município de Itatiaia, Estado do Rio de Janeiro.

Figura 1. Peregrinus maidis (Ashmead, 1890), fêmea, vista lateral.

MATERIAL E MÉTODOS

Os exemplares foram obtidos quando estavam aprisionados em dois lustres, em uma edificação no distrito de Penedo, município de Itatiaia, Estado do Rio de Janeiro (Figuras 2-3). Cada lustre é iluminado por uma lâmpada fluorescente branca, com potência 15 watts. Como muitos grupos de insetos são fototropicamente positivos (Dadmal & Khadakkar, 2014), tal procedimento de coleta se mostra eficiente tanto para

336 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 inventários entomofaunísticos como em estudos de biologia populacional (Da-Silva et al., 2016). Os lustres são inspecionados mensalmente, o que garante o bom estado de preservação dos exemplares. Após o recolhimento, os insetos são triados e identificados. Os exemplares estudados estão depositados no Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural (LABEUC), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), e na Coleção Entomológica José Alfredo Pinheiro Dutra (IBRJ), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ. O local de coletas, embora situado em uma área urbana, está bem próximo a pequenos trechos preservados de Mata Atlântica. O distrito de Penedo ainda apresenta remanescentes naturais entremeados ao núcleo urbano principal (Santos & Teixeira, 2010).

Figura 2. Imagem do Google Maps do ponto de coletas (assinalado), Penedo, Itatiaia, RJ.

Figura 3. Vista da área externa ao ponto de coletas, Penedo, Itatiaia, RJ. Detalhe: retirada de insetos acumulados em lustre.

A parte final do abdome dos exemplares foi destacada e imersa em hidróxido de potássio, em banho-maria, para diafanização das peças genitais (Oman, 1949; Da-Silva

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& Coelho, 2015). Essas estão acondicionadas em micro tubo com glicerina, montado em alfinete, junto ao exemplar. As fotografias dos exemplares foram obtidas com o uso de Windows Phone de lente Zeiss acoplado à ocular de microscópio estereoscópico Physis e microscópio óptico Taimin, posteriormente automontadas por meio do uso do programa Combine ZP®. Como são raros os casos em que detalhes do ovipositor de Delphacidae são descritos, utilizou-se presentemente a terminologia corriqueira em um outro grupo de Auchenorrhyncha, os Cicadellidae (Mejdalani, 1993; Da-Silva & Coelho, 2015; Silva et al., 2017).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Redescrição

Peregrinus maidis (Ashmead, 1890) - fêmea (Figuras 1, 4-16). Tamanho corporal de cerca de 4 mm. Coloração geral bege com manchas castanho-escuras; cabeça, em vista dorsal, com carenas esbranquiçadas; pronoto e mesonoto com faixas longitudinais contínuas, sendo três faixas esbranquiçadas na região central e uma castanha nas laterais, todas entremeadas por faixas amarelas. Antenas (Figuras 5-9) castanho-amareladas, escurecidas no ápice dos artículos; olhos negros; carena mediana da face bifurcada aproximadamente à altura do ponto de inserção das antenas; face preponderantemente castanho-escura, parte superior mais clara (Figuras 7-8). Esporão tibial das pernas posteriores com diminutos espinhos negros na margem externa (Figura 10). Asas anteriores (Figuras 1, 4, 11) preponderantemente translúcidas, com marcações castanho-escuras; margem anal com mancha alongada na região mediana do clavo; região apical com faixa semicircular partindo da área central, na altura do ápice do clavo, até pouco além da região mediana das células a3, a4 e a5 e se estendendo também por cada veia até a margem da asa; veias de a1 com manchas alongadas na parte apical; margem costal com mancha ovalada, em ponto oposto ao ápice do clavo.

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Figuras 4-6. Peregrinus maidis (Ashmead, 1890), fêmea: 4, vista dorsal; 5, cabeça e pronoto; 6, cabeça e tórax, vista dorsolateral.

339 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figuras 7-11. Peregrinus maidis (Ashmead, 1890), fêmea: 7, cabeça e tórax, vista ventral; 8, cabeça, vista laterofrontal; 9, antena; 10, ápice e esporão da tíbia posterior; 11, asa anterior.

Válvulas do ovipositor (Figuras 12-16) alongadas; válvulas I (Figuras 12-13) com comprimento aproximadamente 15 vezes a altura máxima, ranhuras transversais na parte apical, mais efetivas na margem dorsal, expansão ventral na área subapical membranosa; válvulas II (Figuras 14-15) fortemente fusionadas, comprimento aproximadamente 10 vezes a altura máxima, margem dorsal com conspícua fileira de dentes assimétricos, cada um deles com elevação suave proximal e abrupta distal; válvulas III (Figura 16) cerca de 8 vezes mais longa que alta, suavemente curvada apicalmente. Um dos poucos artigos com ênfase na descrição das peças genitais de fêmeas de Delphacidae, especialmente as válvulas do ovipositor, é o de Heady & Wilson (1990). Nele, foram descritos a morfologia das peças, embora sem muito detalhamento, e o comportamento copulatório de espécies do gênero Prokelisia Osborn, 1902 (Delphacinae), que é da mesma subfamília de Peregrinus Kirkaldy, 1904. Em termos comparativos, as válvulas são igualmente alongadas em ambos os gêneros, sendo a válvula I aparentemente menos delgada em Peregrinus maidis e com a expansão

340 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 membranosa ventral mais desenvolvida. Na válvula II, os dentes da margem dorsal de P. maidis são bem desenvolvidos, lembrando os de Prokelisia crocea (Van Duzee, 1897) e Prokelisia carolae Wilson, 1982 (Heady & Wilson, 1990). A válvula III, pouco caracterizada por Heady & Wilson (1990), é aparentemente mais curvada apicalmente em P. maidis em relação ao que ocorre em Prokelisia.

Figuras 12-16. Peregrinus maidis (Ashmead, 1890), fêmea – válvulas do ovipositor: 12, válvulas I; 13, ápice da válvula I; 14, válvulas II; 15, ápice das válvulas II; 16, válvula III.

CONCLUSÃO

Peregrinus maidis é uma espécie introduzida no Novo Mundo e, graças à sua grande potencialidade dispersiva e ao fator econômico, tem preocupado muito as autoridades fitossanitárias. Sua ocorrência em áreas afastadas de grandes plantações agrícolas, associada à marcante polifagia, indicam que as áreas naturais podem abrigar estoques da espécie Com as descrições taxonômicas abarcando também detalhes da genitália das fêmeas, coisa ainda incipiente para o grupo, novas características diagnósticas devem vir a ser incorporadas, contribuindo para a melhor compreensão das relações interespecíficas.

AGRADECIMENTOS

Aos revisores anônimos, cujas críticas foram fundamentais para o incremento do manuscrito. As atividades de campo foram parcialmente custeadas pelo grupo “Entomólogos Estradeiros” (https://www.facebook.com/EntomologosEstradeiros/).

LITERATURA CITADA

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342 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

PRIMEIRO REGISTRO DE Neoperkinsiella MUIR, 1926 NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: DESCRIÇÃO DA FÊMEA DE N. testacea (FOWLER, 1905) (INSECTA: HEMIPTERA: DELPHACIDAE)

Elidiomar Ribeiro DA-SILVA¹*, Luci Boa Nova COELHO2, Diego Paschoa TRINDADE1

1Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, IBIO, UNIRIO. 2Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, UFRJ. *[email protected]. INTRODUÇÃO

O gênero neotropical Neoperkinsiella Muir, 1926 (Delphacinae: Delphacini) é composto por duas espécies válidas: N. guaduae Muir, 1926, do Equador, e N. testacea (Fowler, 1905), com ocorrências registradas no Equador, na Guatemala e no Panamá. A espécie-tipo do gênero, por designação original, é N. williamsi Muir, 1926 (sinônimo júnior de N. testacea) (Bartlett, 2011). Perkinsiella bulli Fennah, 1979, da Papua Nova Guiné (Fennah, 1979), é considerada por alguns autores como pertencente à Neoperkinsiella, posicionamento que carece de confirmação. Poucos são os registros do gênero na literatura, fazendo com que o mesmo seja considerado raro. Contrariando o que acontece com muitos Delphacidae, a importância econômica do grupo parece ser limitada. O único registro de planta-hospedeira é relativo à ocorrência de N. guaduae no bambu Guadua sp. (Poales: Poaceae), perto do vilarejo de Mera, no Equador (Muir, 1926). Do ponto de vista taxonômico, Neoperkinsiella é similar à Stobaera Stal, 1859, por apresentar antenas achatadas e pelo padrão de coloração das asas anteriores (Kramer, 1973). Embora o gênero não esteja formalmente registrado no Brasil, a página Discover Life (2017) lista três exemplares machos de N. testacea, procedentes de Nova Teutônia, Estado de Santa Catarina, depositados na North Carolina State University, Estados Unidos. No presente trabalho, é apresentado o registro bibliográfico formal do gênero e da espécie no Brasil, com base na descrição de um exemplar fêmea Figura 1. Neoperkinsiella testacea (Figura 1). (Fowler, 1905), fêmea, vista lateral.

MATERIAL E MÉTODOS

A partir de coletas com aspiradores manuais, realizadas em novembro de 2016 na Vila da Fumaça, Resende, foi obtido um exemplar fêmea, caracterizando o primeiro registro do gênero no Estado do Rio de Janeiro. O sítio de coletas (22,285 S, 44,275 W) (Figuras 2-3) é uma pequena mancha florestada residual na margem da Estrada Falcão- Fumaça (RJ-151), com elementos de Mata Atlântica secundária, capoeirões e gramíneas.

343 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

O exemplar em questão está depositado no Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural (LABEUC) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. A parte final do abdome foi destacada e imersa em hidróxido de potássio, em banho-maria, para diafanização das peças genitais (Oman, 1949; Da- Silva & Coelho, 2015). Essas estão acondicionadas em microtubo com glicerina, espetado junto ao exemplar. As fotografias do exemplar foram obtidas com o uso de Windows Phone de lente Zeiss acoplado à ocular de microscópio estereoscópico Physis, posteriormente automontadas usando-se o programa Combine ZP®. A espécie foi determinada com base em Fowler (1905) e Bartlett (2011).

Figura 2. Imagem do Google Maps do ponto de coleta (A), Estrada Falcão-Fumaça, Resende, RJ.

Figura 3. Aspectos do ponto de coleta, Estrada Falcão-Fumaça, Resende, RJ.

RESULTADOS

Descrição: Neoperkinsiella testacea (Fowler, 1905) - fêmea (Figuras 4-9).

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Tamanho corporal de cerca de 6 mm. Coloração geral ocrácea, com manchas castanhas (Figuras 4-5). Antenas castanhas, cada artículo escurecido apicalmente; olhos negros; face castanha, com uma faixa transversal clara entre as bases das antenas e outra na região da sutura clipeal; duas outras faixas transversais claras, mais estreitas e pouco nítidas, uma entre as faixas mais largas anteriormente descritas e outra entre os olhos (Figuras 6-7).

Figuras 4-9. Neoperkinsiella testacea (Fowler, 1905), fêmea: 4, vista dorsal; 5, vista ventral; 6, cabeça, vista frontal; 7, cabeça, vista látero-frontal; 8, metade apical da asa anterior; 9, ápice da tíbia posterior, esporão tibial e tarso posterior.

Pronoto e mesonoto com faixas longitudinais laterais castanhas (Figura 4). Asas anteriores (Figuras 4, 8) com veias pontuadas de castanho-escuro; pequena mancha castanha, na margem interna, próxima ao ápice do ramo comum das veias anais; região apical com três faixas curvas castanhas difusas. Fêmures, tíbias e tarsos com faixas transversais castanho-escuras interrompidas; espinhos da margem externa do esporão tibial negros (Figura 9).

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Esternitos (Figura 5) com grupos de cerdas e manchas castanho-escuras arredondadas. Ovipositor não ultrapassando o ápice do abdome; válvulas do ovipositor alongadas; válvula I com margem dorsal levemente sinuosa a partir da base do terço mediano, culminando no ápice agudo; válvulas II fortemente fusionadas pela margem dorsal; válvula III de mesma espessura ao longo de sua extensão, ápice estreitamente arredondado.

Material estudado BRASIL, Estado do Rio de Janeiro, município de Resende, distrito de Vila da Fumaça, Estrada Falcão-Fumaça (RJ-151), 1 ♀, 07-xi-2016, D.P. Trindade & M.S. Barbosa col. (LABEUC).

DISCUSSÃO

O gênero Neoperkinsiella está bibliograficamente registrado na América Central e no norte da América do Sul (Fowler, 1905; Bartlett, 2011). O encontro de um exemplar, a primeira fêmea conhecida do gênero, de N. testacea no Estado do Rio de Janeiro, além dos três exemplares da espécie registrados pela internet para o Estado de Santa Catarina, são indicadores de uma ampla distribuição ao longo da Região Neotropical. O baixo número de exemplares conhecidos do grupo evidencia a necessidade de realização de coletas adicionais e inventários entomofaunísticos, especialmente nos biomas em risco de redução de área, como a Mata Atlântica.

CONCLUSÃO

Levando-se em conta que os estudos taxonômicos gerais e as determinações específicas em Delphacidae são quase que completamente baseados em machos, a descrição de detalhes da genitália das fêmeas, inclusive os internos, pode trazer novas possibilidades para as investigações de parentesco interespecífico. Também é interessante ressaltar que mesmo áreas naturais residuais, periféricas a ambientes urbanizados, devem ter a sua entomofauna inventariada, estratégia que se mostra eficiente para o preenchimento das lacunas do conhecimento da distribuição das espécies. Em assim procedendo, certamente muitos registros novos serão revelados.

AGRADECIMENTOS

As atividades de campo foram parcialmente custeadas pelo grupo “Entomólogos Estradeiros” (https://www.facebook.com/EntomologosEstradeiros/).

LITERATURA CITADA

Bartlett, C. R. 2011. List of the Delphacidae of the New World. Disponível em: https://ag.udel.edu/research/delphacid/pdf/new%20world%20delphacidae%20fe b%201%202011.pdf (08/04/2017).

Da-Silva, E. R. & Coelho, L. B. N. 2015. Descrição da fêmea de Curtara (Labata) ushima Coelho & Da-Silva, 2012 (Insecta: Hemiptera: Cicadellidae). Enciclopédia Biosfera, 11(21): 2157-2166.

346 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Discover Life. 2017. Neoperkinsiella testacea. Disponível em: http://www.discoverlife.org/mp/20m?kind=Neoperkinsiella+testacea (08/04/2017).

Fennah, R. G. 1979. New species and new records of Perkinsiella (Hemiptera: Delphacidae) from Papua New Guinea. Bulletin of Entomological Research, 69:507-517.

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Oman, P. W. 1949. The Nearctic leafhoppers (Homoptera: Cicadellidae). A generic classification and check list. Memoirs of the Entomological Society of Washington, 3:1–253.

347 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

BIODIVERSIDADE DE TYPHLOCYBINAE (INSECTA: HEMIPERA: CICADELLIDAE) NO DISTRITO DE ITAIPAVA (PETRÓPOLIS, RJ), COM BASE NO RECOLHIMENTO DE EXEMPLARES ATRAÍDOS POR ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL

Luci Boa Nova COELHO1* & Elidiomar Ribeiro DA-SILVA2

1Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, UFRJ 2Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, IBIO, UNIRIO *[email protected]. INTRODUÇÃO

A ordem Hemiptera é a mais numerosa dentre os insetos hemimetábolos, estando dividida em quatro subordens: Sternorrhyncha, Auchenorrhyncha (anteriormente enquadradas em uma ordem à parte, Homoptera), Heteroptera e Coleorrhyncha (Carver et al., 1991). Auchenorrhyncha representa um grupo diversificado de insetos fitófagos, ocorrendo em uma variedade de ecossistemas, podendo ocorrer em árvores, arbustos, herbáceas e gramíneas. Sua distribuição é regida pela distribuição das plantas hospedeiras, explorando uma ampla variedade de espécies. Muitas se estabeleceram em plantas não relacionadas às hospedeiras originais e até se tornaram pragas de importância econômica. Várias espécies são abundantes em diferentes cultivos vegetais e podem causar danos significativos, alimentando-se da seiva e, assim, transmitir patógenos (Nielson, 1985; Giustolin et al., 2009). Os Cicadellidae (Hemiptera: Auchenorrhyncha), comumente conhecidos como cigarrinhas, formam um grupo cosmopolita, com altos índices de abundância de indivíduos e de riqueza de espécies (Coelho, 1997). Apesar de ser um grupo de grande diversidade taxonômica e reconhecida importância econômica para agricultura (Evans, 1946), a fauna de Cicadellidae em nosso país é ainda pouco conhecida (Zanol & Menezes, 1982; Coelho, 1997). Typhlocybinae é a segunda maior subfamília de Cicadellidae e, segundo as classificações mais atuais, está dividida em cinco tribos, com um total aproximado de 6.000 espécies descritas, muitas das quais podendo colonizar ambientes urbanos. O ambiente urbano é resultado das interações de fatores ambientais, biológicos e socioeconômicos, em um espaço construído por homens e predominando sobre o ambiente natural, causando grandes mudanças (Brun et al., 2007). Apesar de ser pouco estudada em comparação a ecossistemas preservados (Coelho & Da-Silva, 2015), os ambientes urbanos abrigam uma grande quantidade de animais, incluindo insetos. Por causa da urbanização, tais ambientes têm fragmentos de diferentes tipos de vegetação, com diferentes tamanhos e formas, geralmente compostas por espécies de plantas oportunistas ou exóticas (parques, praças, lagos, jardins e edifícios de uma cidade). Muitos desses locais são usados como abrigo por uma variedade de animais, permitindo até mesmo a colonização por novas espécies, que se adaptarama tais habitats urbanizados (Brun et al., 2007). O presente trabalho teve como objetivo inventariar os gêneros e espécies de Typhlocybinae ocorrentes em uma localidade dentro do perímetro urbano do distrito de Itaipava, 3º distrito de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro.

348 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

As coletas foram realizadas em um estabelecimento comercial (22.405703S, 43.142737W; altitude 750m) às margens da Rodovia Washington Luís (BR-040), em Itaipava, que dista cerca de 5 quilômetros da Reserva Biológica de Araras (Figura 1). O ponto de coletas foi escolhido visando preencher lacunas de registros de espécies, abordando ambientes normalmente negligenciados em estudos sobre o grupo. Os exemplares foram obtidos por meio do recolhimento mensal dos insetos aprisionados em duas luminárias de teto do tipo plafon (Figura 2), com lâmpadas fluorescentes compactadas de 20W, que funcionam como substitutos das armadilhas convencionais, mostrando-se um procedimento adequado não só para inventários, mas também para estudos ecológicos (Da-Silva et al., 2016). Respeitando-se devidamente o intervalo entre as datas de coleta, o material obtido passa a ser utilizável em estudos de biologia populacional e sazonalidade. Além disso, nosso trabalho prioriza o aproveitamento científico de insetos já mortos que, de outro modo, seriam descartados.

Figura 1. Mapa mostrando o ponto de coletas (seta) e parte da Reserva Biológica de Araras, ambiente de Mata Atlântica, em Petrópolis, RJ.

349 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 2. Recolhimento dos insetos aprisionados em lustre, em Itaipava, Petrópolis, RJ. A identificação das espécies se dá, principalmente, mediante observação da genitália do macho. Para o estudo da morfologia das estruturas genitais masculinas, fundamental para a taxonomia, e também das estruturas femininas, foram empregadas as técnicas de Coelho & Nessimian (2009) e Mejdalani (1998), respectivamente. Os exemplares obtidos estão depositados na Coleção Entomológica José Alfredo Pinheiro Dutra, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observamos a ocorrência de 27 espécies, pertencentes aos gêneros Alconeura Ball & DeLong, 1925, Dikrella Oman, 1949, Dikrellidia Oman, 1928, Empoasca Walsh, 1826, Kunzeana Oman, 1949, Joruma McAtee, 1924, Omegalebra Young, 1957, Parallaxis McAtee, 1926 (Figura 3), Protalebrella Young, 1952 (Figura 4), Rhabdotalebra Young, 1952 (Figura 5), Solanasca Ghauri, 1974 e Typhlocybella Baker, 1903 (Figura 6). Dentre elas, várias representam novas ocorrências para o Brasil e/ou Rio de Janeiro, e outras são espécies até então desconhecidas para a Ciência. Quando comparados a um levantamento similar, realizado no município de Piraí, RJ, onde foram registradas 13 espécies (Coelho & Da-Silva, 2015), tais números demonstram a importância do presente estudo e justificam sua continuidade, ampliando para outras localidades do município e diversificando os métodos de coleta. O município de Petrópolis conta com apenas 19 espécies de cigarrinhas registradas, nenhuma pertencente à subfamília Typhlocybinae.

350 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 3. Parallaxis vacillans McAtee, 1926. Figura 4. Protalebrella brasiliensis (Baker, 1899).

.

Figura 5. Rhabdotalebra hambletoni Young, 1957. Figura 6. Typhlocybella minima Baker, 1903.

CONCLUSÃO

Com base em material coletado, é possível perceber a importância e eficiência do método de coleta, visando um maior conhecimento sobre a diversidade, riqueza e biologia das espécies. Foram assim obtidas 27 espécies de Typhlocybinae em Itaipava, número bem superior ao obtido em um inventário similar, realizado por Coelho & Da- Silva (2015), que obtiveram 19 espécies em Piraí. Como etapa subsequente ao trabalho, pretende-se implementar o estudo da comparação de ocorrência de espécies em locais urbanizados com aquelas de áreas protegidas, de maior diversidade botânica.

AGRADECIMENTOS

Aos gestores e funcionários do Posto Capivari, Itaipava, Petrópolis, RJ. As atividades de campo foram parcialmente custeadas pelo grupo “Entomólogos Estradeiros” (https://www.facebook.com/EntomologosEstradeiros/).

LITERATURA CITADA

Brun, F. G. K.; Link, D. & Brun, E. J. 2007. O emprego da arborização na manutenção da biodiversidade de fauna em áreas urbanas. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, 2(1):117-127.

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352 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

PREFERÊNCIA ALIMENTAR DE FORMIGAS Camponotus spp. Veronica Loureiro BRIDI1*, Bruna Pereira SILVESTRE1, Bárbara Rohr Decothé FONSECA1, Elias Reis DOS ANJOS1 & Thayanne RANGEL1

1Instituição Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, campus Santa Teresa. *e-mail: [email protected]

INTRODUÇÃO

As formigas ocupam o planeta há cerca de 50 milhões de anos e correspondem a um dos grupos de indivíduos mais abundante, possuindo entre 18 e 20 mil espécies, e resistente no mundo (Holldobler, Wilson, 1990). Estima-se que das espécies existentes, aproximadamente 2.000 ocorrem em território brasileiro (Bueno, 2003; Bueno, Campos-Farinha, 1999). As formigas são artrópodes da Classe Insecta, Ordem Hymenoptera, juntamente com as vespas e abelhas, sendo constituídas de uma única família – Formicidae. São insetos eussociais (assim como os cupins), ou seja, formam uma sociedade com níveis avançados de organização – castas - (Holldobler, Wilson, 1990). Tal característica se deve ao fato destes indivíduos terem desenvolvimento polimorfismo, ou seja, várias formas corporais. As formigas são conhecidas, também, por apresentarem divisão de trabalho entre seus indivíduos, os quais podem apresentar uma estimativa de vida que varia dos 4 aos 15 anos de idade (Robinson, 1996). Além disso, constituíram o primeiro grupo de predadores eussociais a viver e forragear solos e material vegetal apodrecido no chão, desenvolvendo secundariamente a vida arborícola – como ocorreu em algumas das espécies do gênero Camponotus (Holldobler, Wilson, 1990), instrumento de investigação do trabalho em questão. As formigas do gênero Camponotus são conhecidas popularmente por formigas carpinteiras, devido ao seu hábito de cavar a madeira para nidificar (Yamamoto, 2004). Além disso, estabelecem-se em um ou vários ninhos (monodômicos e polidômicos, respectivamemte) podendo formar, inclusive, o que se conhece por ninhos satélites, os quais são apêndices do ninho principal (Zorzenon, 2009). Amplamente encontradas em regiões tropicais e temperadas (Robinson, 1996) espécies de Camponotus ocorrem abundantemente no continente americano, correspondendo a cerca de 1.500 espécies encontradas no mundo, entre as quais, cinco ocorrem no território brasileiro: Camponotus rufipes, Camponotus atriceps, Camponotus arboreus, Camponotus fuscocinctus e Camponotus crassus (Zorzenon, 2009). Outra característica importante é que tais formigas são generalistas, ou seja, vivem bem em quase todos os ambientes, o que também reflete na sua dieta alimentar, uma vez que são onívoras (Solis et al., 2009). Visto isso, o trabalho foi desenvolvido com o objetivo de identificar a preferência alimentar das formigas do gênero Camponotus, a partir da escolha aleatória de três ninhos desta e a disposição de alimentos próximos aos ninhos. O trabalho se faz relevante, pois ao se identificar a preferência alimentar destas formigas, torna-se possível realizar controle biológico das mesmas, uma vez que são consideradas “pragas”, pois podem construir seus ninhos em mudas e plantas, no geral, além de invadirem residências..

MATERIAL E MÉTODOS

Tal trabalho foi desenvolvido em 3 etapas: experimento em campo, análise laboratorial e levantamento bibliográfico. O campo de estudos foi o Instituto Federal do Espírito Santo, campus Santa Teresa, localizado no distrito de São João de Petrópolis,

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Estado do Espírito Santo, onde foram selecionados três ninhos em pontos distintos. Para as atividades em campo, levaram-se os seguintes alimentos: refrigerante à base de cola, banana, maçã, óleo de soja, carne de frango cozida, amido de milho, doce industrializado (pirulito), folha de abacateiro, pão, os quais foram dispostos em ordem e posição distintas, como pode ser observado nas figuras 1, 2 e 3 a seguir:

Figura 1. Registro do primeiro formigueiro analisado bem como a disposição dos alimentos empregados.

Figura 2. Registro do segundo formigueiro utilizado para o experimento e os alimentos utilizados no mesmo. A ordem de disposição foi: óleo, refrigerante, carne, pirulito, amido de milho, folha de abacateiro, maçã, banana e pão.

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Figura 3. Terceiro e último formigueiro das espécies do gênero Camponotus e alimentos utilizados que foram dispostos na seguinte ordem: óleo, refrigerante, carne, maçã, pirulito e pão foram colocados ao mesmo tempo e folha de abacateiro e banana colocados por último. Obs: neste caso, o amido não foi utilizado uma vez que não foi visitado nos demais. Como observado, nos três casos (figuras 1, 2 e 3), os alimentos foram todos dispostos próximos à entrada do formigueiro, para que as formigas fossem de fato atraídas por eles. Para posterior análise em laboratório (utilizando lupas), objetivando visualização das estruturas morfológicas das formigas, coletou-se um indivíduo de cada espécie nos respectivos pontos. O levantamento bibliográfico se fez necessário para identificação das formigas estudadas e, também, com a finalidade de comparar os resultados aqui encontrados sobre sua preferência alimentar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A priori, foram identificados dois morfotipos do gênero, denominadas, aqui, de Espécie 1 e Espécie 2. Ambas se diferenciam pelo padrão de cores: a E1 é marrom, com o abdome preto e a E2 é preta, com listras branco-amareladas no abdome. Além disso, as formigas apresentavam uma diferença quanto ao tamanho: a E1 era consideravelmente maior do que a E2 (cerca de dois a três milímetros). Quanto à preferência alimentar, as formigas apresentaram o mesmo tipo de comportamento no que concerne aos alimentos dispostos. Tais comportamentos são analisados a seguir. O primeiro fato observado foi de que as formigas estudadas preferiram o pão e a carne , conforme observado nas figura 4.

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Figura 4. Formigas carregando migalhas de pão, à esquerda, e migalhas de carne, à direita.

Tal característica foi confirmada por Longino (2002), o qual diz que estas formigas procuram “[...] particularmente por carboidratos e proteínas, sendo observadas frequentemente visitando nectários extraflorais”. Tesch et al (2014) também concordam com isso, destacando que as formigas da fase adulta, principalmente, buscam por alimentos ricos em carboidratos, sobretudo os líquidos, pois necessitam de mais energia do que as formigas das fases mais jovens, devido às suas atividades desempenhadas. A carne, por sua vez, também foi bastante visitada, como observado na figura 4, isso porque o gênero Camponotus, em si, é bastante atraído por proteína animal (Zorzenon, 2009) já que se alimentam, inclusive, de restos de insetos. Além disso, esta é bastante requisitada pelas formigas quando em fase larval (Tesch et al, 2014), sendo necessária, indiretamente, para formação e crescimento das larvas. Neste caso, em específico, uma sugestão é de que a proteína pode ser aproveitada para a formação de fungos no ninho, os quais servirão para posterior nutrição dos fungos. Quanto ao pirulito, o refrigerante (figura 6), a maçã e a banana (figura 7) também foram observados “visitantes”, porém em menor frequência, o que pode ser observado mais à frente na tabela 1:

Figura 6. Formiga da Espécie 1 se alimentando do pirulito, à esquerda, e do refrigerante à base de cola, à direita.

Tabela 1. Relação entre tipo de alimento e quantidade de formigas. Alimento Quantidade de formigas em cada ninho

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Ninho 1 Ninho 2 Ninho 3 Pão 21 15 13 Carne 20 23 14 Doce 2 1 2 Refrigerante 1 1 2 Maçã 0 1 1 Banana 2 1 6

No caso do pirulito, o que pode ser explicado é o fato de tais formigas não preferirem açúcares invertidos (xarope quimicamente produzido a partir do açúcar comum – sacarose) para a sua dieta ou a concentração do mesmo é ínfimo, não sendo tão atrativo (Solis et al., 2009). Além disso, pode ser de difícil assimilação pelas formigas, mesmo após o fracionamento, pois o aparelho digestivo das mesmas é adaptado a alimentos preferencialmente líquidos. Quanto ao refrigerante, o fato de possuir outros ingredientes pode interferir tal experiência e, mesmo sendo um líquido, pode não ter sido tão visitado por não ser passível de carregamento até o ninho. Em relação às frutas, como observado na figura 7, as formigas Camponotus (Solis et al., 2009) apresentaram comportamento intrigante: poucas formigas se alimentaram delas.

Figura 7. À esquerda, única formiga (espécie 2) se alimentando da maçã e, à direita, formigas da espécie 1 se alimentando da banana.

Isso, possivelmente devido ao grau de consistência das frutas, uma vez que, no último ninho, a banana que se apresentava mais amolecida teve um grau de atratividade maior do que aquelas que estavam mais consistentes. Segundo Cannon (1998), tais formigas possuem preferência por frutose (entre outros açúcares comuns), o que explicaria o fato de elas serem atraídas por frutas mais maduras e, por conseguinte, mais amassadas. A folha do abacateiro, o amido de milho e o óleo, por sua vez, não foram utilizados pelas formigas. Isso porque as mesmas não se alimentam de partes vegetais, por não digerirem a celulose (no caso da folha). Quanto ao amido e o óleo, a explicação plausível é que não apresentam nenhum grau de atratividade (odor, sabor). Tal resultado também foi constatado em outro trabalho (Solis et al., 2009), cuja explicação se baseou no estado físico em que os alimentos gordurosos se encontravam: aqueles que estavam em estado sólido eram mais atrativos do que aqueles em estado líquido.

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CONCLUSÃO

Podemos inferir que as formigas do gênero Camponotus observadas, conseguem distinguir as fontes alimentícias. Constatou-se também, quanto à preferência alimentar, que tais formigas têm uma maior predileção por alimentos ricos em carboidratos e proteínas (neste caso, pão e carne), não sendo fortemente atraídas por alimentos açucarados industrializados (como era esperado). A partir da obtenção de tais dados, é importante ressaltar que alguns cuidados devem ser tomados como evitar que tais alimentos, sobretudo proteínas, carboidratos e açúcares, fiquem à disposição destas formigas na natureza - uma vez que o gênero Camponotus é reconhecido por nidificar madeira, o que pode acarretar prejuízos em lavouras - mas também dentro das residências, visto que buscam construir seus ninhos em mobílias, gerando prejuízos.

LITERATURA CITADA

Bueno, O.C. 2003. Formigas na área urbana. Biológico, São Paulo, v.65, n.1/2, p.93-94, jan./dez., 2003.~

Bueno, O.C. & Campos-Farinha, A.E. DE C. As formigas domésticas. In: Mariconi, F.A.M. (Ed.). Insetos e outros invasores de residências. Piracicaba: FEALQ. 1999

Cannon, C.A. 1998. Nutritional Ecology of the Carpenter Ant Camponotus pennsylvanicus (De Geer): Macronutrient Preference and Particle Consumption. Dissertation submitted to the Faculty of the Virginia Polytechnic Institute and State University. Blacksburg, Virginia, Junho de 1998.

Holldobler, B. & Wilson, E.O. 1990. The ants. Harvard University Press, 1990. Cap. 2, p. 4 – 83.

Robinson, W.H. 1996. Urban entomology: insect and mite pests in the human environment. Chapman & Hall, 1996.

Solis, D.R., Bueno, O.C. & Moretti, T.C. 2009. Preferência Alimentar Da Formiga Urbana Camponotus Vittatus Forel (Hymenoptera: Formicidae). Arquivos de Instituto Biológico, São Paulo, v.76, n.4, p.755-759, out./dez., 2009.

Tesch, J.A., Brunelli W.A. & Srbek-Araújo, A.C. 2014. Preferência alimentar de um morfotipo de formiga com forrageio diurno numa área de Mata Atlântica sobre a Formação Barreiras. Revista Natureza online, n 12, p. 254 e 255, 2014.

Yamamoto, M. 2004. Ecologia e comportamento da formiga Camponotus sericeiventris Guérin, 1838 (Formicinae, Camponotini) no cerrado. Dissertação de Mestrado em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais. Universidade Federal de Uberlândia, MG, 2004.

Zorzenon, F.J. 2009. Levantamento, dimensionamento de danos e manejo de cupins subterrâneos e formigas carpinteiras em arborização urbana. Instituto Biológico, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, São Paulo, 2009.

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ESTADO DA ARTE DA PESQUISA EM SISTEMÁTICA DO CLADO Nemuroglanis (SILURIFORMES: HEPTAPTERIDAE)

Maridiesse Morais LOPES1,2 & Luisa Maria SARMENTO SOARES1,2

1 Instituto Nacional da Mata Atlântica – INMA 2 Universidade Federal do Espírito Santo – UFES *[email protected]

INTRODUÇÃO

A família neotropical Heptapteridae Gill, 1861 é um grupo monofilético sustentado com base em cinco sinapomorfias (Lundberg & McDade, 1986; Ferraris, 1988; Lundberg et al., 1991) composto por bagres de pequeno e médio porte que tipicamente habitam riachos com águas turbulentas (Bockmann & Guazzelli, 2003). Atualmente, com 208 espécies válidas (Eschmeyer & Fong, 2017), alocadas em 24 gêneros (Shibatta, 2003; Ferraris, 2007; Ortega-Lara, 2012). Compreende desde espécies troglomórficas, exemplificada por Rhamdiopsis krugi Bockmann & Castro, 2010 conhecida para ambientes subterrâneos no alto rio Paraguaçu, na Chapada Diamantina, estado da Bahia, até espécies em miniatura (menos do que 20 mm no comprimento padrão), como Horiomyzon retropinnatus Stewart, 1986 do Alto Amazonas (Sarmento-Soares et al., 2016). Pouco mais da metade dos gêneros em Heptapteridae pertence a um grupo monofilético reconhecido com base em 16 sinapomorfias, denominado como clado Nemuroglanis (Ferraris, 1988; Bockmann, 1994). A saber: Acentronichthys Eigenmann & Eigenmann 1889, Cetopsorhamdia Eigenmann & Fisher 1916, Chasmocranus Eigenmann 1912, Heptapterus Bleeker 1858, Horiomyzon Stewart 1986, Imparfinis Eigenmann & Norris 1900, Mastiglanis Bockmann 1994, Nannoglanis Boulenger 1847, Nemuroglanis Eigenmann & Eigenmann 1889 (atualmente Imparales e Medemichthys como sinônimos juniores, de acordo com Bockmann & Ferraris, 2005), Pariolius Cope 1872, Phenacorhamdia Dahl 1961, Rhamdioglanis Ihering 1907, Rhamdiopsis Haseman 1911 e Taunayia Eigenmann & Norris 1900 (Lundberg & McDade 1986; Bockmann & Ferraris 2005; Bockmann & Castro 2010). Phreatobius Goeldi, considerado por alguns autores como membro do clado Nemuroglanis, recentemente foi reconhecido como um clado separado dentro da superfamília Pimelodoidea (Sarmento-Soares et al., 2016). Apesar de sua morfologia altamente distinta as características em Phreatobius não permitem sua alocação em uma família em separado (Sullivan et al., 2013). O conjunto do clado Nemuroglanis atualmente é composto por 75 espécies válidas (Eschmeyer & Fong, 2017), alocadas desde gêneros com representantes amplamente distribuídos pela região neotropical, como Imparfinis, que com 21 espécies representa quase um terço do clado, até gêneros monotípicos, a saber: Mastiglanis, Taunayia, Acentronichthys, Horiomyzon, Nannoglanis e Pariolius, restritos a determinadas regiões. O início do século XXI corresponde ao período mais produtivo da história da ictiologia brasileira, com o número de espécies descritas superior àquele do início do Século XX, até então com o maior número de contribuições (Buckup et al., 2007; Langeani et al., 2007a). Os peixes constituem o grupo mais diversificado entre os vertebrados e a real grandeza dessa diversidade está longe de ser conhecida (Galves et al., 2009). No caso do clado Nemuroglanis, há ainda o agravante da própria história problemática da sistemática de Heptapteridae. Segundo Bockmann & Guazzelli (2003),

359 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 apesar de ser um clado altamente distinto, a família permaneceu não diagnosticada por muito tempo e alguns de seus gêneros foram até mesmo historicamente associados a membros de diferentes famílias, como Trichomycteridae, Doradidae e Auchenipteridae. Assim, muitos gêneros de Heptapteridae carecem de estudos revisivos (Aguilera et al., 2010). Inventários do estado da arte têm por objetivo realizar levantamentos do que se conhece sobre um determinado assunto a partir das pesquisas realizadas em uma determinada área (Brandão et al., 1986). Nesse sentido, apresenta-se o estado da arte sobre as pesquisas em sistemática do clado Nemuroglanis, com ênfase nos avanços do conhecimento das duas últimas décadas, breve histórico de cada gênero e lacunas para um melhor entendimento, além de comentários sobre a sistemática das espécies distribuídas na Mata Atlântica.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho constitui-se de uma revisão da literatura especializada sobre a sistemática do clado Nemuroglanis, com ênfase nos estudos publicados nas duas últimas décadas (janeiro/1997 a abril/2017). O levantamento da literatura foi realizado durante os meses de março e abril de 2017. Foram consultadas publicações sobre o tema disponibilizadas nas bases de dados do portal de periódicos da Capes e das plataformas Researchgate e Scielo. Os descritores utilizados nas buscas foram: “Heptapteridae”, “clado Nemuroglanis” e o nome de todos os gêneros do clado, separadamente. Dentre os resultados das buscas apenas foram selecionados e analisados os trabalhos que tratam da sistemática do grupo. Embora o clado tenha sido proposto por Ferraris (1988) e corroborado por Bockmann (1994) os gêneros que o compõe são mais antigos e carregam sua própria trajetória. Assim, um breve histórico da sistemática de cada um deles também é fornecido.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados vinte artigos científicos versando sobre a sistemática do clado Nemuroglanis publicados nas duas últimas décadas, a figura 1 mostra a categorização por assunto. Nas sessões abaixo são apresentadas 1) as contribuições desses estudos para o avanço do conhecimento da sistemática do grupo, 2) breve histórico de cada gênero e lacunas atuais para o seu melhor entendimento, com imagens de representantes do grupo (figuras 2-15) e 3) comentários acerca da sistemática das espécies distribuídas na Mata Atlântica, um bioma megadiverso e ameaçado.

360 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 1. Categorização por assunto dos estudos publicados entre janeiro de 1997 a abril de 2017, sobre a sistemática do clado Nemuroglanis.

Contribuições das duas últimas décadas para o avanço do conhecimento

Descrições de espécies. Nas duas últimas décadas foram descritas oito espécies pertencentes ao clado Nemuroglanis, sendo: Phenacorhamdia provenzanoi e Phenacorhamdia taphorni, ambas descritas por DoNascimiento & Milani (2008); Rhamdiopsis krugi Bockmann & Castro, 2010; Heptapterus qenqo Aguilera, Mirande & Azpelicueta, 2010; Heptapterus mbya Azpelicueta, Aguilera & Mirande, 2011; Imparfinis timana e Imparfinis usmai, ambas descritas por Ortega-Lara, Milani, DoNascimiento, Villa-Navarro & Maldonado-Ocampo (2011) e Nemuroglanis furcatus Ribeiro, Pedroza & Rapp Py-Daniel, 2011.

Redescrições de espécies. Duas espécies foram redescritas nesse período. Cetopsorhamdia nasus Eigenmann e Fisher, 1916 por Ortega-Lara (2012), que compreende a espécie tipo do gênero. Cabe ressaltar que esse trabalho fornece uma descrição detalhada da osteologia da espécie e poderá servir de base para futuras revisões a fim de aclarar a diagnose do grupo e Phenacorhamdia anisura (Mees, 1987) por DoNascimiento & Milani (2008), restrita à bacia do Alto rio Apure, Venezuela.

Mudanças taxonômicas. Atualmente Imparales e Medemichthys são sinônimos juniores de Nemuroglanis (ver Bockmann & Ferraris, 2005). E Phreatobius, considerado por alguns autores como membro do clado Nemuroglanis, foi reconhecido por Sullivan et al., (2013) como um clado separado dentro da superfamília Pimelodoidea, como exposto acima.

Novos registros. Foram encontrados três estudos sobre novos registros de espécies, um ampliando a distribuição de Imparfinis borodini para a bacia do rio de Contas, no nordeste do Brasil (ver Sarmento-Soares et al., 2016), outro ampliando o limite norte da distribuição de Imparfinis mishky para ao sul da província de Misiones, na Argentina (ver Bogan et al., 2015) e outro registrando Phenacorhamdia tenebrosa para a bacia do rio Paraná na Argentina (ver Giorgis et al., 2012).

Estudos citogenéticos. Algumas espécies do clado Nemuroglanis foram caracterizadas citogeneticamente, como Cetopsorhamdia iheringi, Rhamdiopsis microcephala (ver Kantek et al., 2015), Imparfinis mirini, Imparfinis minutus (ver Ferreira et al., 2014), Heptapterus mustelinus (ver Yano & Margarido, 2012), Imparfinis cf. schubarti, Taunaya bifasciata e Phenacorhamdia tenebrosa (ver Borba et al., 2011). Segundo Kantek et al., (2015) mais estudos envolvendo Heptapteridae podem auxiliar na elucidação da citotaxonomia e evolução cromossômica da família.

Breve histórico dos gêneros e lacunas de conhecimento

Nemuroglanis Eigenmann & Eigenmann 1889. Estabelecido como gênero tipo para o clado por Bockmann (1994). Atualmente, com 4 espécies válidas (Eschmeyer & Fong, 2017), distribuídas no sistema do rio Orinoco na Colômbia, curso superior do sistema do rio Negro no Brasil e na Venezuela e afluentes superiores do sistema do rio Amazonas no Brasil, Equador e Peru (Bockmann & Ferraris, 2005). Apesar de ser antigo, o monofiletismo de Nemuroglanis foi corroborado por Bockmann e Ferraris

361 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 apenas em 2005. Sustentado com base em nove sinapomorfias, os referidos autores fornecem uma diagnose para o gênero que, até então, estava baseada em uma combinação de caracteres.

Figura 2. Nemuroglanis lanceolatus. MCZ 8169. Holótipo. Imagem: All Catfish Species Inventory. Fotógrafo: MCZ staff.

Cetopsorhamdia Eigenmann & Fisher 1916. Atualmente, com 9 espécies válidas (Ortega-Lara, 2012; Eschmeyer & Fong, 2017) distribuídas em riachos de pequeno e médio porte dos sistemas dos rios Magdalena, curso superior do rio Paraná, sistemas dos rios Amazonas, Orinoco e São Francisco e sistema do lago Maracaibo (Bockmann, 1998). Bockmann (1998) em tese não publicada, ressalta o não monofiletismo do gênero Cetopsorhamdia em sua composição. Ruiz & Román-Valencia (2006) descreveram alguns aspectos taxonômicos de C. nasus e C. boquillae e forneceram um diagnóstico para as espécies, sem aprofundar no diagnóstico do gênero e sua posição filogenética. O gênero permanece indefinido, entretanto, Ortega-Lara (2012) se propõe a futuras revisões taxonômicas e estudos filogenéticos.

Figura 3. Cetopsorhamdia iheringii. MCNIP s/no. Imagem: Tiago Pessali.

Chasmocranus Eigenmann 1912. Com 9 espécies válidas (Eschmeyer & Fong, 2017), distribuídas em riachos de pequeno porte do sistema de drenagens costeiras da região das Guianas, do sistema do rio Orinoco, e do sistema do rio Amazonas, nas bacias dos rios Negro, Xingú e Tocantins (Bockmann, 1998). A validade de Chasmocranus foi corroborada por Bockmann (1998), que forneceu alguns caracteres considerados apomórficos para o reconhecimento genérico. Desde então, nenhum outro estudo foi realizado.

Figura 4. Chasmocranus longior. FMNH 53208. Holótipo. Imagem: All Catfish Species Inventory. Fotógrafo: Mike W. Litmann.

362 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Heptapterus Bleeker 1858. Com 11 espécies válidas (Eschmeyer & Fong, 2017), distribuídas na América do Sul, do Suriname a Buenos Aires e ao longo da região andina da Argentina, Bolívia e Peru (Aguilera et al., 2010). Permanece insatisfatoriamente diagnosticado, com necessidade de uma revisão filogenética (Aguilera et al., 2010).

Figura 5. Heptapterus mustellinus. MCP 11249. Imagem: Bockmann (1998). Fotografia: R.M.C. Castro.

Imparfinis Eigenmann & Norris 1900. Atualmente, com 21 espécies válidas (Eschmeyer & Fong, 2017), distribuídas da Costa Rica a Argentina (Ortega-Lara et al., 2011). Ao final do século XX uma tentativa de diagnosticar filogeneticamente Imparfinis foi realizada por Bockmann (1998), sugerindo o gênero como válido e fornecendo uma diagnose por combinação de quatro caracteres considerados apomórficos. Atualmente, Imparfinis permanece incipientemente diagnosticado (Ortega-Lara et al., 2011; Sarmento-Soares et al., 2016), desde a sua descrição, nenhum carácter exclusivo foi oferecido para seu reconhecimento (Ortega-Lara et al., 2011).

Figura 6. Imparfinis minitus. MBML 7751. Imagem: Leydiane Rodrigues.

Phenacorhamdia Dahl 1961. Com 10 espécies válidas (Eschmeyer & Fong, 2017), distribuídas em pequenos riachos dos sistemas dos rios Orinoco, Amazonas, Paraná- Paraguai e São Francisco e sistemas de drenagens costeiras da região das Guianas (Bockmann, 1998). Britski (1993) forneceu alguns comentários sobre a validade de Phenacorhamdia, com base em características morfológicas externas como potencialmente diagnósticas para o gênero. Bockmann (1998) confirmou a validade do grupo, corroborando alguns dos caracteres previamente propostos por Britski (1993). DoNascimiento & Milani (2008) comentaram sobre evidências de relações entre espécies.

Figura 7. Phenacorhamdia tenebrosa. MBML 7953. Imagem: Luisa Sarmento.

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Rhamdioglanis Ihering 1907. Atualmente, com 2 espécies válidas (Eschmeyer & Fong, 2017), distribuídas em drenagens costeiras da Mata Atlântica, do Rio de Janeiro a Santa Catarina (Bockmann & Guazzelli, 2003). Historicamente, alguns autores apontaram o gênero como sinônimo-júnior de Imparfinis. Bockmann (1998) reconheceu o gênero como válido e forneceu uma diagnose baseada em uma combinação de caracteres. Ambas as espécies do gênero carecem de estudos revisivos.

Figura 8. Rhamdioglanis frenatus. Rio Vermelho, SP. Imagem: Luciano Lazzarini Wolff. Disponível em Fishbase.

Rhamdiopsis Haseman 1911. Atualmente, com 3 espécies válidas (Eschmeyer & Fong, 2017), a última descrita foi o bagre troglóbio Rhamdiopsis krugi Bockmann & Castro 2010, para cavernas da Chapada Diamantina, Bahia, Nordeste do Brasil. O gênero está sendo estudado e estão sendo preparadas publicações de potenciais espécies novas (Bockmann & Guazzelli, 2003). Uma potencial espécie nova de bagrinho, Rhamdiopsis sp., compreende populações endêmicas da caverna Toca do Gonçalo, no município de Campo Formoso, semi-árido da Bahia, em estudos em andamento por F. A. Bockmann e M. E. Bichuette.

Figura 9. Rhamdiopsis microcephala. Rio das Velhas. Imagem: Reproduzido de Lütken (2010).

Monotípicos. Atualmente, o clado Nemuroglanis aloca 6 gêneros monotípicos, comentados brevemente abaixo. A saber: Acentronichthys, Horiomyzon, Mastiglanis, Nannoglanis, Pariolius e Taunayia. Historicamente, assim como os demais gêneros do clado, alguns apresentam uma taxonomia confusa.

Acentronichthys Eigenmann & Eigenmann, 1889. Estabelecido para alocar uma única espécie, Acentronichthys leptos, cuja localidade-tipo é o município de São Mateus, norte do Estado do Espírito Santo. A espécie é distribuída em córregos costeiros do Rio de Janeiro a Santa Catarina, no Espírito Santo é conhecida apenas da sua localidade de tipo (Bockmann & Guazzelli, 2003). Ferraris (1988) considerou como membro do clado Nemuroglanis, posteriormente, essa posição foi confirmada por Bockmann (1994). Apesar de atualmente este ser um gênero monotípico, historicamente já foi sugerido como sinônimo júnior de Heptapterus e chegou a alocar, no passado, até três espécies.

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Figura 10. Acentronichthys leptos. MBML 1458. Rio do Peixe Grande, na ponte da fazenda da portuguesa, Cumuruxatiba, Prado- BA. Imagem: Luisa Sarmento. Horiomyzon Stewart, 1986. Estabelecido para alocar uma única espécie, Horiomyzon retropinnatus, originalmente designada como sua espécie-tipo, distribuída nas bacias do rio Amazonas e Napo (Bockmann & Guazzelli, 2003). Em 1998, era considerado o membro mais raro em Heptaperidae, visto que apenas o holótipo da sua espécie tipo era conhecido (ver Bockmann, 1998). Recentemente, uma potencial nova espécie foi registrada para o rio Madeira e está em processo de descrição por Flávio A. Bockmann (LIRP), John G. Lundberg (ANSP) e Willian Ohara (UFRO).

Figura 11. Horiomyzon retropinnatus. FMNH 96553. Holótipo. Imagem: All Catfish Species Inventory. Fotógrafo: Mike W. Litmann.

Mastiglanis Bockmann, 1994. Estabelecido por Bockmann (1994) para Mastiglanis asopos, sendo esta, espécie tipo por monotipia, distribuída nas bacias dos rios Amazonas, Capim e Orinoco (Bockmann & Guazzelli, 2003). Neste mesmo trabalho, o autor sugere Mastiglanis como membro do clado Nemuroglanis e o considera como sendo o seu gênero mais basal. Segundo Bockmann (1998), Mastiglanis é, ao lado de Gladioglanis, o único gênero diagnosticado através da análise cladística de seus caracteres.

Figura 12. Mastiglanis asopos. ZUEC 5932. Amazonas. Imagem: Ivan Sazima. Disponível em Fishbase.

Nannoglanis Boulenger, 1887. Descrito para alocar Nannoglanis fasciatus, espécie tipo por monotipia, conhecida para a bacia do rio Napo (Bockmann & Guazzelli, 2003). Originalmente, o gênero foi atribuído à Trichomycteridae, sendo reconhecido como membro de Heptapteridae em 1991 (Lundberg et al., 1991). Historicamente,

365 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 considerado como sinônimo de Pariolius por Gosline (1940) e de Heptapterus por Mees (1974).

Figura 13. Nannoglanis fasciatus. BMNH 1880.12.5.149-150. Síntipo. Imagem: All Catfish Species Inventory. Fotógrafo: Mark Allen. Pariolius Cope, 1872. Estabelecido por Cope em 1974 para incluir uma única espécie, Pariolius armillatus, espécie tipo por monotipia, distribuída no Alto Rio Amazonas, Brasil e Peru (Bockmann & Guazzelli, 2003). Segundo Bockmann (1998) foi mantido por muito tempo na família Trichomycteridae, devido, por um lado, a referência original de Cope sobre sua íntima relação com Trichomycterus.

Figura 14. Pariolius armillatus. Imagem: All Catfish Species Inventory. Fotógrafo: Mark Sabaj Pérez.

Taunayia Eigenmann & Norris, 1900. O gênero Taunayia foi estabelecido originalmente por Ribeiro em 1918 para uma única espécie, Taunayia marginata, distribuída nas drenagens do Alto Paraíba do Sul e Tietê (Bockmann & Guazzelli, 2003). Historicamente, o gênero foi tratado como um membro de Auchenipteridae (ver Jordan, 1923) e Pimelodidae (ver Britski, 1972). Segundo Bockmann (1998) a origem do equívoco da sua posição familiar remonta desde sua descrição, em que não foi especificada a família que pertencia. Taunayia marginata foi considerada sinônimo de Taunayia bifasciata (Eigenmann & Norris 1900) e redescrita por Oliveira & Britski (2000).

Figura 15. Taunayia bifasciata. Imagem: Kátia Freire. Disponível em Fishbase.

Sistemática das espécies na Mata Atlântica

O traço marcante da ictiofauna de Mata Atlântica é seu grau de endemismo, resultante do processo de evolução histórica das espécies em área geomorfologicamente isolada das demais bacias hidrográficas brasileiras (MMA, 2000). Na Mata Atlântica ocorrem dez espécies pertencentes ao clado Nemuroglanis, alocadas nos gêneros Acentronichthys, Rhamdioglanis, Imparfinis e Rhamdiopsis. Os gêneros Acentronichthys (com 1 espécie, A. leptos) e Rhamdioglanis (com 2 espécies, R.

366 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 frenatus e R. transfasciatus) são endêmicos do bioma Mata Atlântica. O gênero Imparfinis é amplamente distribuído pela região neotropical, contando com 5 espécies com distribuição conhecida para a Mata Atlântica, I. piperatus, espécie-tipo do gênero, descrita para o estado de São Paulo, Sudeste do Brasil, I. borodini, descrita para a bacia do rio Paraná, porém com distribuição ampliada recentemente para o rio de Contas, Nordeste do Brasil (Sarmento-Soares et al., 2016), I. mirini, conhecida para a bacia do rio Paraná e I. hollandi e I. mishky, ocorrentes em drenagens do sul do país. Historicamente, Imparfinis foi considerado como um sinônimo sênior de Rhamdioglanis e mesmo atualmente a distinção entre esses dois gêneros é confusa. Quanto à Rhamdiopsis, como exposto acima, o gênero está sendo revisado e com potenciais novas espécies sendo estudadas.

CONCLUSÃO

Nas duas últimas décadas ocorreram relativamente poucos avanços no conhecimento da sistemática do clado Nemuroglanis. Este fato pode estar relacionado com a pouca representatividade das espécies em coleções científicas, associado ao limitado número de taxonomistas trabalhando com o grupo. Futuros estudos envolvendo abordagens em taxonomia integrativa, a exemplo de estudos citogenéticos e análises moleculares em Sistemática, bem como de outras fontes de caracteres como dados provenientes de miologia ou neuroanatomia, podem contribuir para elucidar as lacunas de conhecimento mencionadas, principalmente para os gêneros pobremente diagnosticados e representantes distribuídos na Mata Atlântica que carecem de estudos revisivos. Dessa maneira, espera-se que, no futuro, tenhamos melhor entendimento sobre esses diversificados e endêmicos peixes de riachos.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) pelo apoio. À Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo – FAPES, pela bolsa de doutorado concedida (MML) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, pela bolsa PCI-DA (LMSS). A Maria Elina Bichuette pelas informações sobre a potencial nova espécie de Rhamdiopsis da Toca do Gonçalo. Pela cessão das imagens agradecemos a Leydiane Nunes Rodrigues, Tiago Pessali e ao banco de imagens do Fishbase e do All Catfish Species Inventory Project.

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LEVANTAMENTO DA AVIFAUNA DA POUSADA SÍTIO CANAÃ, SANTA TERESA – ESPÍRITO SANTO

Renan Luxinger BETZEL1*, Francieli Loss PUGNAL1, Charles Gladstone Duca SOARES2 & Sílvia Ramira LOPES 1

1Escola Superior São Francisco de Assis (ESFA) 2Universidade Vila Velha (UVV) *[email protected]

INTRODUÇÃO

O Brasil é um dos países com maior biodiversidade do mundo, possuindo cerca de 8.291 espécies de vertebrados, das quais 1.919 são espécies de aves conhecidas (Piacentini et al., 2015), sendo assim o segundo grupo de vertebrados mais abundante em todo o País. Neste sentido, estudos de levantamento de espécies são cada vez mais importantes para que se tenha conhecimento desta imensa biodiversidade e são um dos pilares que embasam a tomada de decisões a respeito de empreendimentos que vão impactar o meio ambiente (Silveira et al., 2010). A partir de levantamentos faunísticos é possível descobrir grande parte da diversidade de espécies que existem na região, sendo possível assim criar subsídios para o seu manejo e conservação (Dias & Mikich, 2006). O bioma da Mata Atlântica abrangia praticamente todo o ambiente costeiro do Brasil, que hoje encontra-se devastado e mesmo assim ainda possui a segunda maior riqueza de espécies da fauna e da flora do País (Santos, 2010). Além da perda natural de seu habitat, a expansão da agricultura e o uso de agrotóxicos podem levar a morte das aves (Valdes, 2007). Por esses motivos um elevado número de espécies corre risco de extinção, onde segundo Marini & Garcia (2005), a Mata Atlântica possui um total de 112 espécies ameaçadas, sendo que destas 54 são endêmicas. No estado do Espírito Santo 85 espécies de aves são consideradas ameaçadas de extinção, sendo que 26 são categorizadas como vulnerável, 17 em perigo e 38 criticamente em perigo e 4 já estão regionalmente extintas (Simon, 2009). A perda e fragmentação de habitat também é um problema para a conservação da biodiversidade no município de Santa Teresa, sendo um dos maiores problemas enfrentados pelas espécies da fauna e flora local. Mesmo com a presença de relevantes unidades de conservação, o município sofre com a fragmentação de habitats pela exploração imobiliária, expansão da agricultura e uso de agrotóxicos, fatos associados à fragmentação florestal e que causam alterações no tamanho, na dinâmica, na composição e nas interações tróficas das populações de aves do local (Laurance & Vasconcelos, 2009). Estes dados confirmam que este bioma necessita de ações voltadas para a conservação de suas espécies que correm sério risco de extinção (Santos, 2010). Dessa forma, esse trabalho visa conhecer a riqueza de espécies de aves que ocorrem em uma área de Mata Atlântica localizada na Pousada Sítio Canaã, o que favorece a formulação de ações que visam à conservação das mesmas.

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MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

A Pousada Sítio Canaã está localizada as coordenadas 19º55’11”S e 40º38’41”O, a aproximadamente 6 km do Centro da cidade de Santa Teresa e está a uma altitude de 900 metros. É caracterizada por possuir em seus domínios a Mata Atlântica. A pousada possui uma área de aproximadamente 85 hectares, sendo que deste total cerca de 75% ainda é recoberto por mata nativa bem preservada, onde a fitofisionomia predominante é a de Floresta Ombrófila Densa. Dentro da pousada é possível se observar áreas com vegetação primária, locais em regeneração e alguns lugares mais abertos com água abundante, possuindo assim uma grande variedade de ambientes.

Coleta de dados

A coleta dos dados ocorreu de duas formas principais, por meio de pontos fixos e o deslocamento em transectos, que segue a metodologia proposta por Aleixo & Vielliard (1995), Develey (2003) e Ribon (1998). O método de pontos fixos visa registrar as espécies presentes em um determinado local em função de um tempo pré-estabelecido. No presente trabalho foram demarcados um total de 16 pontos distintos, sendo que destes, 6 encontram-se localizados em áreas abertas e 10 estão compreendidos em ambientes florestais. Cada ponto foi demarcado a uma distância de pelo menos 200 metros entre um ponto e outro. Nestes pontos a observação das espécies foi feita durante 10 minutos, anotando as espécies e o número de indivíduos de cada espécie encontradas em planilhas de campo, tendo o cuidado de não registrar o mesmo indivíduo mais de uma vez no mesmo ponto. As condições climáticas e físicas do ambiente também foram anotadas. O outro método utilizado foi o de transectos que consiste em caminhadas por trilhas dentro da pousada, que objetiva registrar as espécies presentes nestas trilhas. Este método foi utilizado apenas para a análise qualitativa das espécies, pois a área percorrida é maior do que a amostrada nos pontos fixos, o que aumenta as chances de se registrar o mesmo indivíduo mais de uma vez. O deslocamento nestes transectos foi feito em uma velocidade constante, evitando-se andar muito rapidamente e evitando ao máximo a produção de ruídos nas trilhas, o que propicia uma boa observação das espécies, além de não afugentar as mesmas. Foram delimitadas 6 trilhas na pousada, onde 2 destas compreendem áreas abertas e as outras 4 são no interior da mata, incluindo assim todos os ambientes encontrados na área de estudo. A amostragem em campo ocorreu durante 8 meses (agosto de 2016 a março de 2017) abrangendo períodos de épocas mais quentes e outras com temperaturas mais amenas. As incursões à campo foram realizadas a cada 15 dias, durante todo o final de semana (2 dias) e nestes dias as observações foram feitas no período da manhã das 06:00 às 11:00 horas, e no período da tarde, das 16:00 às 18:00 horas. A identificação das espécies encontradas ocorreu por meio de contato visual e/ou auditivo. Foram utilizados dois binóculos 8x40 e um Guia de Campo da Avifauna Brasileira (Sigrist, 2014) para a identificação das espécies em campo. Além do registro visual, também foram realizadas gravações das vocalizações das espécies, o que auxiliou na identificação das mesmas. A nomenclatura e a classificação taxonômica utilizada no trabalho seguiu Piacentini et al. (2015).

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o período estudado foi possível observar um total de 190 espécies na Pousada Sítio Canaã (Tabela 1), demonstrando desta forma um alto número de espécies de aves no local. Foram realizadas um total de 19 incursões à campo o que totalizou 133 horas de observação. Dentre os passeriformes a família com maior riqueza específica foi Tyrannidae com 21 espécies, seguida de Thraupidae com 20 espécies e, entre os não- passeriformes as famílias que merecem destaque são Trochilidae com 15 espécies, seguida de Accipitridae com 8 espécies. No trabalho foi possível detectar algumas espécies ameaçadas de extinção a nível estadual como Penelope obscura (Vulnerável), Spizaetus melanoleucus (Vulnerável), Touit melanonotus (Em Perigo), Touit surdus (Em Perigo) (Simon et al., 2007) e outras 3 espécies ameaçadas a nível nacional, Touit melanonotus (Vulnerável), Amazona rhodocorytha (Em Perigo), Grallaria varia (Vulnerável) (Silveira & Straube, 2008), o que demonstra a importância da Pousada Sítio Canaã como um refúgio para estas espécies.

Tabela 1. Lista das espécies encontradas na Pousada Sítio Canaã. Tinamidae Crypturellus obsoletus inambuguaçu Crypturellus tataupa inambu-chinta

Anatidae Amazonetta brasiliensis ananai

Cracidae Penelope obscura jacuguaçu Ortalis araucuan aracuã-de-barriga-branca

Cathartidae Cathartes aura urubu-de-cabeça-vermelha Cathartes burrovianus urubu-de-cabeça-amarela Coragyps atratus urubu

Accipitridae Elanoides forficatus gavião-tesoura Ictinia plumbea sovi Geranospiza caerulescens gavião-pernilongo Rupornis magnirostris gavião-carijó Geranoaetus albicaudatus gavião-de-rabo-branco Buteo brachyurus gavião-de-cauda-curta Buteo albonotatus gavião-urubu Spizaetus melanoleucus gavião-pato

Rallidae Aramides saracura saracura-do-mato Pardirallus nigricans saracura-sanã Gallinula galeata galinha-d’água

Charadriidae

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Vanellus chilensis quero-quero

Columbidae Columbina talpacoti rolinha-roxa Patagioenas picazuro asa-branca Patagioenas plumbea pomba-amargosa Leptotila verreauxi juriti-pupu Leptotila rufaxilla juriti-de-testa-branca Geotrygon montana pariri

Cuculidae Piaya cayana alma-de-gato

Strigidae Pulsatrix koeniswaldiana murucututu-de-barriga-amarela

Caprimulgidae Nyctidromus albicollis bacurau

Apodidae Chaetura cinereiventris andorinhao-de-sobre-cinzento Chaetura meridionalis andorinhao-do-temporal

Trochilidae Phaethornis squalidus rabo-branco-pequeno Phaethornis pretrei rabo-branco-acanelado Phaethornis eurynome rabo-branco-de-garganta-rajada Eupetomena macroura beija-flor-tesoura Aphantochroa cirrochloris beija-flor-cinza Florisuga fusca beija-flor-preto Colibri serrirostris beija-flor-de-orelha-violeta Lophornis magnificus topetinho-vermelho; Chlorostilbon lucidus besourinho-de-bico-vermelho Thalurania glaucopis beija-flor-de-fronte-violeta Leucochloris albicollis beija-flor-de-papo-branco Amazilia versicolor beija-flor-de-banda-branca Amazilia lactea beija-flor-de-peito-azul Heliodoxa rubricauda beija-flor-rubi Calliphlox amethystina estrelinha-ametista

Trogonidae Trogon viridis surucuá-de-barriga-amarela Trogon surrucura surucuá-variado Trogon rufus surucuá-dourado

Alcedinidae Megaceryle torquata martim-pescador-grande Chloroceryle americana martim-pescador-pequeno

Galbulidae

375 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Galbula ruficauda ariramba

Bucconidae Malacoptila striata barbudo-rajado

Ramphastidae Ramphastos vitellinus tucano-de-bico-preto Selenidera maculirostris araçari-poca Pteroglossus bailloni araçari-banana Pteroglossus aracari araçari-de-bico-branco

Picidae Picumnus cirratus picapauzinho-barrado Veniliornis maculifrons picapauzinho-de-testa-pintada Piculus aurulentus pica-pau-dourado Colaptes melanochloros pica-pau-verde-barrado Celeus flavescens pica-pau-de-cabeça-amarela Dryocopus lineatus pica-pau-de-banda-branca Campephilus robustus pica-pau-rei

Cariamidae Cariama cristata seriema

Falconidae Caracara plancus carcará Milvago chimachima carrapateiro Herpetotheres cachinnans acauã Micrastur ruficollis falcão-caburé Falco rufigularis cauré

Psittacidae Pyrrhura frontalis tiriba Touit melanonotus apuim-de-costas-pretas Touit surdus apuim-de-cauda-amarela Pionus maximiliani maitaca Amazona rhodocorytha chauá

Thamnophilidae Terenura maculata zidedê Dysithamnus stictothorax choquinha-de-peito-pintado Dysithamnus mentalis choquinha-lisa Thamnophilus palliatus choca-listrada Thamnophilus caerulescens choca-da-mata Myrmoderus loricatus formigueiro-assobiador Pyriglena leucoptera papa-taoca-do-sul Drymophila ferruginea trovoada

Conopophagidae Conopophaga lineata chupa-dente

376 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Grallariidae Grallaria varia tovacuçu

Formicariidae Chamaeza meruloides tovaca-cantadora

Dendrocolaptidae Dendrocincla turdina arapaçu-liso Sittasomus griseicapillus arapaçu-verde Xiphorhynchus fuscus arapaçu-rajado Campylorhamphus falcularius arapaçu-de-bico-torto Lepidocolaptes squamatus arapaçu-escamoso Dendrocolaptes platyrostris arapaçu-grande Xiphocolaptes albicollis arapaçu-de-garganta-branca

Xenopidae Xenops rutilans bico-virado-carijó

Furnariidae Furnarius figulus casaca-de-couro-da-lama Furnarius rufus joão-de-barro Lochmias nematura joão-porca Automolus leucophthalmus barranqueiro-de-olho-branco Anabazenops fuscus trepador-coleira Philydor rufum limpa-folha-de-testa-baia Phacellodomus rufifrons joão-de-pau Certhiaxis cinnamomeus curutié Synallaxis ruficapilla pichororé Cranioleuca pallida arredio-pálido

Pipridae Manacus manacus rendeira Ilicura militaris tangarazinho Chiroxiphia caudata tangará

Oxyruncidae Oxyruncus cristatus araponga-do-horto

Onychorhynchidae Myiobius barbatus assanhadinho Myiobius atricaudus assanhadinho-de-cauda-preta

Tityridae Schiffornis virescens flautim Pachyramphus castaneus caneleiro

Cotingidae Carpornis cucullata corocoxó Procnias nudicollis araponga

377 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Platyrinchidae Platyrinchus mystaceus patinho

Rhynchocyclidae Mionectes rufiventris abre-asa-de-cabeça-cinza Leptopogon amaurocephalus cabeçudo Tolmomyias sulphurescens bico-chato-de-orelha-preta Todirostrum poliocephalum teque-teque Poecilotriccus plumbeiceps tororó Myiornis auricularis miudinho Hemitriccus diops olho-falso Hemitriccus nidipendulus tachuri-campainha

Tyrannidae Hirundinea ferruginea gibão-de-couro Camptostoma obsoletum risadinha Elaenia flavogaster guaracava-de-barriga-amarela Elaenia mesoleuca tuque Phyllomyias fasciatus piolhinho Phyllomyias griseocapilla piolhinho-serrano Attila rufus capitão-de-saíra Myiarchus tuberculifer maria-cavaleira-pequena Myiarchus swainsoni irré Myiarchus ferox maria-cavaleira Sirystes sibilator gritador Rhytipterna simplex vissiá Pitangus sulphuratus bem-te-vi Myiodynastes maculatus bem-te-vi-rajado Megarynchus pitanguá neinei Myiozetetes similis bentevizinho-de-penacho- vermelho Tyrannus melancholicus suiriri Empidonomus varius peitica Colonia colonus viuvinha Fluvicola nengeta lavadeira-mascarada Lathrotriccus euleri enferrujado

Vireonidae Cyclarhis gujanensis pitiguari Hylophilus poicilotis verdinho-coroado

Hirundinidae Pygochelidon cyanoleuca andorinha-pequena-de-casa Stelgidopteryx ruficollis andorinha-serradora Progne tapera andorinha-do-campo Progne chalybea andorinha-grande

Troglodytidae Troglodytes musculus corruíra Pheugopedius genibarbis garrinchão-pai-avô

378 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Turdidae Turdus flavipes sabiá-una Turdus leucomelas sabiá-branco Turdus rufiventris sabiá-laranjeira Turdus amaurochalinus sabiá-poca Turdus albicollis sabiá-coleira

Mimidae Mimus saturninus sabiá-do-campo

Passerellidae Zonotrichia capensis tico-tico

Parulidae Setophaga pitiayumi mariquita Basileuterus culicivorus pula-pula

Icteridae Cacicus haemorrhous guaxe Icterus jamacaii corrupião Gnorimopsar chopi pássaro-preto Molothrus bonariensis chupim

Thraupidae Schistochlamys ruficapillus bico-de-veludo Tangara cyanoventris saíra-douradinha Tangara sayaca sanhaço-cinzento Tangara cyanoptera sanhaço-de-encontro-azul Tangara palmarum sanhaço-do-coqueiro Tangara ornata sanhaço-de-encontro-amarelo Tangara cayana saíra-amarela Sicalis flaveola canário-da-terra Haplospiza unicolor cigarra-bambu Chlorophanes spiza saí-verde Hemithraupis ruficapilla saíra-ferrugem Volatinia jacarina tiziu Trichothraupis melanops tiê-de-topete Lanio cristatus tiê-galo Tachyphonus coronatus tiê-preto Dacnis cayana saí-azul Coereba flaveola cambacica Sporophila caerulescens coleirinho Saltator maximus tempera-viola Saltator similis trinca-ferro

Cardinalidae Caryothraustes canadensis furriel

Fringillidae

379 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Euphonia chlorotica fim-fim Euphonia violácea gaturamo Euphonia pectoralis ferro-velho

Passeridae Passer domesticus pardal

A avifauna local é distribuída pelos diversos microhabitats disponíveis dentro da pousada, desde áreas abertas com água disponível até ambientes de mata densa e fechada, o que propicia vários nichos ecológicos para as espécies presentes no local e consecutivamente uma maior diversidade de espécies. O município de Santa Teresa possui 3 Unidades de Conservação (UCs), a Estação Biológica de Santa Lúcia, a Reserva Biológica Augusto Ruschi e o Parque Natural Municipal de São Lourenço, sendo que todos estes já possuem trabalhos que objetivaram realizar o levantamento de sua avifauna. O município também possui alguns outros trabalhos realizados fora destas UCs com o mesmo objetivo. Dentre os trabalhos já realizados no município pode-se destacar os das UCs: Estação Biológica de Santa Lucia com 302 espécies (Ruschi, 1977) e 248 espécies (Simon, 2000); Reserva Biológica Augusto Ruschi com 256 espécies (Novaes et al., 2016); Parque Natural Municipal de São Lourenço com 176 espécies (Prefeitura Municipal de Santa Teresa, 2009), além de outros realizados fora destas UCs como, por exemplo, na região urbana do município com 93 espécies (Silva & Martinelli, 2011) e outro realizado por Willis & Oniki (2002), que analisaram as partes altas e baixas do município e constataram um total de 405 espécies na região. Todos estes levantamentos demonstram que o município de Santa Teresa possui uma enorme variedade de espécies de aves, e também a Pousada Sítio Canaã, sendo que o presente estudo apresentou mais espécies do que o Parque de São Lourenço e a região urbana do município. Este levantamento feito na pousada apresentou menos espécies do que os levantamentos feitos nas outras UCs do município, fato que pode estar relacionado de que essas UCs possuem uma extensão muito maior do que a pousada e possuem um maior grau de preservação, o que possibilita que espécies crípticas com alta sensibilidade a ambientes alterados habitem somente estes locais como Santa Lúcia e a ReBio Augusto Ruschi. Em relação à curva de rarefação (Figura 1), pode-se observar que esta ainda não se estabilizou, demonstrando assim que caso haja um número maior de amostragens, provavelmente mais espécies seriam detectadas para a área de estudo.

380 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 1. Curva de rarefação das espécies encontradas na Pousada Sítio Canaã.

Os dados encontrados pelo presente trabalho evidenciaram que a Pousada Sítio Canaã oferece habitats para inúmeras espécies, incluindo espécies ameaçadas de extinção e por isso a manutenção de suas áreas é importante para preservação destas espécies. A riqueza de avifauna registrada pode ser um atrativo para Pousada fazendo dela um ponto de observação, sendo explorada como ecoturismo. O ecoturismo se efetuado de forma sustentável, pode auxiliar na preservação de áreas como da Pousada Sítio Canaã e também de algumas unidades de conservação, pois este traz benefícios financeiros para o local, que podem ser revertidos em ações que visam a conservação e preservação destas áreas. Porém, é essencial que a prática do ecoturismo tenha um planejamento crítico, para que desta forma auxilie na conservação e não se torne inviável financeiramente (Zaú, 2014). Um dos ramos do ecoturismo é a observação de aves (birdwatching) que cada vez mais vem ganhando adeptos no território nacional (Valadares, 2015). Ainda segundo este autor, a observação de aves vem movimentando o mercado do ecoturismo nacional, pois já existem vários grupos que viajam o país com o objetivo de observar e/ou fotografar aves. O município de Santa Teresa possui um grande potencial para a observação de Aves, pois como já dito acima, o município possui um elevado número de espécies que podem ser observadas, além de manter boa parte de seu território ainda bem preservado, fatores que podem ser explorados para atrair os observadores de aves e desta forma, obter recursos financeiros e consecutivamente auxiliar na preservação destas espécies.

CONCLUSÃO

Com esse trabalho, pode-se verificar que a Pousada Sítio Canaã abriga um elevado número de espécies, sendo algumas destas ameaçadas de extinção, demonstrando assim que a preservação das áreas nativas da Pousada é importante para auxiliar na preservação e manutenção destas espécies de aves, já que áreas preservadas se tornam cada vez mais escassas no domínio da Mata Atlântica.

AGRADECIMENTOS

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Agradecemos ao proprietário e a todos os funcionários da Pousada Sítio Canaã. E a ESFA pela concessão de bolsa.

LITERATURA CITADA

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Betzel, R. L.; Pugnal, F. L.; Caldara, V. Jr. & Lopes, S. R. 2016. Efeito de borda sobre pássaros em uma área de conservação no município de Santa Teresa, ES, p. 187- 192. In: Lírio, E. J.; Freitas, J.; Lopes, M. M.; Volpi, T. A. & Silva-Soares, T. (Orgs.). Anais do V SIMBIOMA: Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica. Santa Teresa. 703p.

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Piacentini, V. Q.; Aleixo, A.; Agne, C. E.; Maurício, G. N.; Pacheco, J. F.; Bravo, G. A.; Brito, G. R. R.; Naka, L. N. Olmos, F.; Posso, S.; Silveira, L. F.; Betini, G. S.; Carrano, E.; Frans, I.; Lees, A. C.; Lima, L. M.; Pioli, D.; Schunck, F.; Amaral, F. R.; Bencke, G. A.; Cohn-Haft, M.; Figueiredo, L. F. A.; Straube, F. C. & Cesari, E. 2015. Lista comentada das aves do Brasil pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. Revista Brasileira de Ornitologia, 23(2): 91-298.

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382 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

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Silveira, L. F.; Beisiegel, B. M.; Curcio, F. F.; Valdujo, P. H.; Dixo, M.; Verdade, V. K.; Mattox, G. M. T. & Cunningham, P. T. M. 2010. Para que servem os inventários de fauna? Estudos Avançados, 24(68): 173-178.

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Simon, J. E.; Antas, P. T. Z.; Pacheco, J. F.; Efé, M. A.; Ribon, R.; Raposo, M. A.; Laps, R. R.; Musso, C.; Passamani, J. A. & Paccagnella, S. G. 2007. As aves ameaçadas de extinção no Estado do Espírito Santo, p. 47-59. In: Passamani, M. & Mendes, S. L. (Orgs.). Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo. Vitória: Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica. 280 p.

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Zaú, A. S. 2014. A conservação de áreas naturais e o ecoturismo. Revista Brasileira de Ecoturismo. São Pulo, 7(2): 290-321.

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INVENTÁRIO PRELIMINAR DA AVIFAUNA DO MUNICÍPIO DE COLATINA – ES

Renan Luxinger BETZEL

Escola Superior São Francisco de Assis (ESFA) [email protected] INTRODUÇÃO

O município de Colatina está localizado na região noroeste do estado do Espírito Santo, o qual era originalmente recoberto pela Mata Atlântica. No entanto, este bioma está altamente fragmentado no estado, restando apenas cerca de 12,6% de sua cobertura natural (SOS Mata Atlântica, 2016). Este aspecto, igualmente, pode ser observado no município em questão, o qual possui poucos locais com vegetação nativa, uma vez que a maior parte de seu território compreende áreas com plantios e ambientes urbanizados. Este processo de fragmentação, que é observado em toda a Mata Atlântica, afeta os organismos que vivem nestes locais, inclusive a avifauna. Ferreira (2009) afirma que algumas espécies são prejudicadas pela diminuição de seu habitat, declínio de um recurso alimentar ou a perda de uma relação ecológica importante, fatores que são influenciados pela fragmentação florestal. Algumas espécies de aves respondem rapidamente a alterações feitas no meio em que vivem, podendo desaparecer do local ou terem suas populações reduzidas, o que faz destas espécies bons bioindicadores da qualidade daquele determinado ambiente (Argel-de-Oliveira, 1993). Sendo assim, levantamentos faunísticos, quando bem executados, se tornam importantes para auxiliar na tomada de decisões que visam a conservação destas espécies e também do meio em que estão inseridas (Silveira et al., 2010). No mundo, atualmente, existem mais de 13.000 espécies de aves (BirdLife International, 2016), distribuídas em todos os continentes. O Brasil possui um considerável número de espécies, tendo em seu território um total de 1.919 espécies de aves (Piacentini et al., 2015), o que o coloca entre os países mais biodiversos, em relação a este grupo. A Mata Atlântica tem grande contribuição para a quantidade de espécies que ocorrem no Brasil, já que este bioma abriga grande riqueza faunística, podendo ser encontradas 891 espécies de aves (Moreira-Lima, 2013). Ainda sobre a Mata Atlântica, um estado que merece destaque em relação à diversidade de Aves é o Espírito Santo, pois mesmo não tendo grandes dimensões, cerca de 46.089 km² (Governo do Estado do Espírito Santo, 2017), este reúne 654 espécies de Aves (Simon, 2009). Colatina ainda não possui nenhum trabalho que apresente um inventário de espécies de aves, que ocorrem dentro de seus domínios, desta forma, o presente trabalho tem como objetivo principal apresentar uma lista preliminar de espécies que possuem ocorrência no município em questão.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

O município de Colatina se localiza na região noroeste do estado do Espírito Santo, possui uma área de 1.416 Km² e apresenta uma temperatura média anual de 28°C

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(IBGE, 2017). Segundo o IBGE (2004) a cobertura vegetal de Colatina é composta basicamente por vegetação secundária e atividades agrárias, sendo que a maior parte do município pertence à tipologia vegetal Floresta Estacional Semidecidual e pela Floresta Ombrófila Densa em algumas outras regiões do município. A cidade é cortada pelo Rio Doce, sendo este e seus afluentes as principais fontes de água de toda cidade. Sua economia é baseada principalmente na indústria têxtil, no comércio e na agricultura, fatores que favorecem que o município tenha poucas áreas florestadas, e as que ainda persistem, estejam muito fragmentadas. O estudo se desenvolveu basicamente em três localidades do município, são elas: Córrego do Almoço (19°28'9.01"S e 40°45'15.23"O), São João Grande (19°27'37.36"S e 40°49'58.05"O) e Córrego Cascatinha (19°28'24.49"S e 40°42'20.30"O). Adicionalmente, registros ocasionais feitos fora destas localidades, porém dentro dos limites do município, também foram considerados.

Coleta de dados

Os registros foram obtidos por meio de caminhadas dentro e fora de fragmentos florestais e deslocamentos em áreas rurais das três localidades citadas acima, e registros ocasionais na área urbana do município também foram considerados. Estas caminhadas foram realizadas em horários variados durante o dia, principalmente durante a manhã, normalmente entre as 06:00 e 12:00 horas e no final da tarde, de 15:30 até o sol se pôr, que são os horários mais propícios para observação de aves, além de algumas amostragens realizadas à noite, entre 18:00 e 22:00 horas, com o intuito de se observar aves com hábitos noturnos. As observações começaram no mês de janeiro de 2015 e se estenderam até abril de 2017, com campanhas em todos os meses desse período. As identificações ocorreram por meio de contato visual e/ou auditivo com as espécies, tendo o auxílio de um guia de campo (Sigrist, 2014) e, em alguns casos onde se era possível, foram feitos registros fotográficos e/ou sonoros para posterior análise e identificação das espécies. Estes registros encontram-se depositados em sítio eletrônico (Wikiaves, 2017). As definições do grau de ameaça de extinção de cada espécie seguiu a Lista das Aves Ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo (Simon et al., 2007), para nível estadual, MMA (2014) para nível nacional e, para nível mundial, seguiu a IUCN (2016). Toda a ordem e classificação taxonômica do presente trabalho segue Piacentini et al. (2015).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi possível verificar elevado número de espécies no município de Colatina. No total, foram anotadas 217 espécies de aves (Tabela 1), o que equivale a cerca de 33% de todas as aves com ocorrência confirmada para o estado do Espírito Santo. As espécies encontram-se distribuídas em 57 Famílias distintas, dentre os não-passeriformes as Famílias mais abundantes foram Trochilidae com 11 espécies, seguido de Ardeidae e Accipitridae com 10 espécies cada, e, em relação aos passeriformes, as Famílias que merecem destaque são Tyrannidae com 23 espécies e Thraupidae com 19 espécies. Embora tenha sido verificada elevada riqueza para o município, é possível que este número seja ainda maior, uma vez que, mesmo nos últimos meses de amostragem foram anotados novos registros. Tal fato poderá ser confirmado a partir de novos estudos, ampliando-se os locais de amostragens e empregando-se técnicas complementares, como redes de neblina. Este trabalho demonstra sua importância por ser um dos

385 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 primeiros realizados no município, em especial, por produzir a primeira lista de espécies de aves feita em Colatina.

Tabela 1. Lista das espécies de Aves encontradas no município de Colatina/ES. Tinamidae Ictinia plumbea Crotophaga major Crypturellus parvirostris Geranospiza caerulescens Crotophaga ani Crypturellus tataupa Heterospizias meridionalis Guira guira Rhynchotus rufescens Rupornis magnirostris Tapera naevia Geranoaetus albicaudatus Anhimidae Pseudastur polionotus Tytonidae Anhima cornuta Buteo brachyurus Tyto furcata Buteo albonotatus Anatidae Strigidae Dendrocygna viduata Aramidae Megascops choliba Dendrocygna autumnalis Aramus guarauna Pulsatrix koeniswaldiana Cairina moschata Strix virgata Amazonetta brasiliensis Rallidae Glaucidium brasilianum Aramides saracura Athene cunicularia Cracidae Pardirallus nigricans Asio clamator Penelope superciliaris Gallinula galeata Ortalis araucuan Porphyrio martinicus Nyctibiidae Nyctibius griseus Podicipedidae Charadriidae Tachybaptus dominicus Vanellus cayanus Caprimulgidae Vanellus chilensis Nyctidromus albicollis Phalacrocoracidae Nyctidromus hirundinaceus Nannopterum brasilianus Recurvirostridae Hydropsalis parvula Himantopus mexicanus Hydropsalis torquata Ardeidae Himantopus melanurus Tigrisoma lineatum Apodidae Nycticorax nycticorax Scolopacidae Streptoprocne biscutata Butorides striata Tringa solitaria Chaetura cinereiventris Bubulcus ibis Chaetura meridionalis Ardea cocoi Jacanidae Ardea alba Jacana jacana Trochilidae Syrigma sibilatrix Phaethornis idaliae Pilherodius pileatus Rynchopidae Phaethornis pretrei Egretta thula Rynchops niger Eupetomena macroura Egretta caerulea Aphantochroa cirrochloris Columbidae Florisuga fusca Cathartidae Columbina talpacoti Chrysolampis mosquitus Cathartes aura Columbina squammata Chlorostilbon lucidus Cathartes burrovianus Columbina picui Hylocharis cyanus Coragyps atratus Columba livia Amazilia versicolor Patagioenas picazuro Amazilia lactea Pandionidae Zenaida auriculata Heliomaster squamosus Pandion haliaetus Leptotila verreauxi Trogonidae Accipitridae Cuculidae Trogon viridis

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Elanoides forficatus Piaya cayana Harpagus diodon Coccyzus melacoryphus Alcedinidae Megaceryle torquata Thamnophilidae Tyrannus savana Chloroceryle amazona Myrmotherula axillaris Empidonomus varius Chloroceryle americana Formicivora serrana Myiophobus fasciatus Formicivora rufa Fluvicola nengeta Galbulidae Herpsilochmus Arundinicola leucocephala rufimarginatus Galbula ruficauda Thamnophilus palliatus Gubernetes yetapa Thamnophilus ambiguus Satrapa icterophrys Bucconidae Taraba major Xolmis velatus Malacoptila striata Xolmis irupero Xenopidae Ramphastidae Xenops rutilans Vireonidae Ramphastos vitellinus Vireo chivi Pteroglossus aracari Furnariidae Furnarius figulus Corvidae Picidae Furnarius rufus Cyanocorax cristatellus Picumnus cirratus Phacellodomus rufifrons Melanerpes candidus Certhiaxis cinnamomeus Hirundinidae Veniliornis maculifrons Synallaxis frontalis Pygochelidon cyanoleuca Colaptes melanochloros Stelgidopteryx ruficollis Colaptes campestris Pipridae Progne tapera Celeus flavescens Manacus manacus Progne chalybea Dryocopus lineatus Tachycineta albiventer Campephilus robustus Tityridae Tachycineta leucorrhoa Pachyramphus polychopterus Cariamidae Troglodytidae Cariama cristata Rhynchocyclidae Troglodytes musculus Tolmomyias sulphurescens Pheugopedius genibarbis Falconidae Tolmomyias poliocephalus Caracara plancus Tolmomyias flaviventris Donacobiidae Milvago chimachima Todirostrum poliocephalum Donacobius atricapilla Herpetotheres Todirostrum cinereum cachinnans Micrastur semitorquatus Myiornis auricularis Tudidae Falco sparverius Turdus leucomelas Falco rufigularis Tyrannidae Turdus rufiventris Falco femoralis Camptostoma obsoletum Turdus amaurochalinus Falco peregrinus Elaenia flavogaster Capsiempis flaveola Mimidae Psittacidae Myiarchus swainsoni Mimus saturninus Primolius maracana Myiarchus ferox Psittacara Myiarchus tyrannulus Motacillidae leucophthalmus Eupsittula aurea Pitangus sulphuratus Anthus lutescens Forpus xanthopterygius Philohydor lictor Pionus maximiliani Machetornis rixosa Passerellidae

387 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Amazona vinacea Myiodynastes maculatus Zonotrichia capensis Amazona farinosa Megarynchus pitangua Ammodramus humeralis Amazona amazonica Myiozetetes cayanensis Amazona rhodocorytha Myiozetetes similis Parulidae Tyrannus melancholicus Setophaga pitiayumi Icteridae Tangara cayana Cardinalidae Psarocolius decumanus Nemosia pileata Caryothraustes canadensis Cacicus haemorrhous Conirostrum speciosum Cyanoloxia brissonii Icterus jamacaii Sicalis flaveola Gnorimopsar chopi Volatinia jacarina Fringillidae Chrysomus ruficapillus Coryphospingus pileatus Euphonia chlorotica Molothrus oryzivorus Dacnis cayana Euphonia violacea Molothrus bonariensis Coereba flaveola Sturnella superciliaris Sporophila lineola Estrildidae Sporophila nigricollis Estrilda astrild Thraupidae Sporophila ardesiaca Schistochlamys Sporophila caerulescens Passeridae ruficapillus Paroaria dominicana Sporophila leucoptera Passer domesticus Tangara sayaca Emberizoides herbicola Tangara palmarum Saltator maximus

Dentre as espécies que ocorrem em Colatina, cinco constam na lista de espécies ameaçadas do estado do Espírito Santo, são elas: Pseudastur polionotus (VU), Nyctidromus hirundinaceus (CR), Amazona vinacea (CR), Amazona farinosa (CR) e Cyanoloxia brissonii (CR). Além disso, apenas Amazona rhodocorytha e Amazona vinacea são ameaçados em nível nacional, ambos classificados como “Vulnerável” (VU), sendo que estas mesmas duas espécies são classificadas globalmente como “Em perigo”, o que totaliza seis espécies ameaçadas de extinção no território do município de Colatina. Em relação a essas espécies, somente Amazona rhodocorytha ocorre de forma abundante no município, sendo registrada em diversas oportunidades, ao longo do estudo. As demais espécies ameaçadas contaram com pouquíssimos registros, sendo P. polionotus, N. hirundinaceus e C. brissonii observados apenas uma vez nas áreas estudadas. As regiões norte e noroeste do Estado contam com poucos trabalhos que visam inventariar as espécies ali presentes, sendo o município de Linhares um dos poucos que contam com este tipo de trabalho. Srbek-Araujo et al. (2014) realizou o levantamento das espécies de aves que ocorrem na Reserva da Natural da Vale, encontrando um total de 391 espécies. Outros municípios situados na região serrana do estado possuem trabalhos deste tipo em seu território, como por exemplo, Santa Maria de Jetibá com 196 e Itarana com 198 espécies (Venturini et al., 2000), Santa Teresa com 405 espécies no total (Willis & Oniki, 2002), sendo que este município apresenta duas grandes unidades de conservação, a Estação Biológica de Santa Lucia, que possui cerca de 248 espécies (Simon, 2000) e a Reserva Biológica Augusto Ruchi, com aproximadamente 256 espécies (Novaes et al., 2016). Por fim, na porção sul do estado do Espírito Santo, há dois trabalhos, sendo um no município de Anchieta, que conta com 168 espécies (Dario, 2010) e outro, que engloba grande parte da região sul, que identificou 513 espécies distintas (Bauer, 1999). Colatina se comparado com outras cidades do estado como, por exemplo, Santa Teresa ou Linhares, apresenta um número muito menor de espécies, porém esta situação

388 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 pode estar ligada ao fato de que tais municípios preservam boa parte de suas florestas nativas, já que possuem grandes unidades de conservação e consequentemente, propiciam maior diversidade da ornitofauna nestes locais. Fato contrário ao observado no município de Colatina que, possui poucas Unidades de Conservação da natureza (UC) e praticamente toda vegetação que ainda resta na cidade é composta por florestas secundárias, que se encontram extremamente fragmentadas, acarretando no empobrecimento das comunidades avifaunísticas destes locais. Segundo Laurance & Vasconcelos (2009), fragmentos pequenos possuem menor riqueza e densidade de espécies, se comparados com fragmentos maiores ou com florestas contínuas.

CONCLUSÃO

Com a execução do presente estudo, pôde-se observar que, o município de Colatina ainda abriga considerável riqueza de espécies, mesmo tendo grande parte de seu território composto por áreas abertas e urbanas, e com sua vegetação fragmentada e degradada. Foi possível verificar que o local possui espécies de difícil detectabilidade e algumas ameaçadas de extinção a nível estadual, nacional e global, fatores que evidenciam que o município estudado necessita ampliar áreas naturais e criar novas UCs, com a finalidade de à proteção e preservação da avifauna, bem como de demais elementos da biodiversidade.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos meus amigos e familiares pelo auxílio e incentivo na execução deste trabalho.

LITERATURA CITADA

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391 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

DIVERSIDADE DE NÁIADES DE ODONATA EM TRECHOS COM DIFERENTES COBERTURAS DE DOSSEL EM UM RIACHO PRESERVADO DE MATA ATLÂNTICA

Natália Resende de SOUZA1,2*, Bruna Maria SILVA2,3, Thiago Fonseca de BARROS2,4 & Jorge Luiz NESSIMIAN2,3,4

1UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Programa de Pós-graduação em Ecologia e Evolução – PPGEE. 2UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. IB – Instituto de Biologia 3UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Programa de Pós-graduação em Zoologia - PPGZ 4UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Programa de Pós-graduação em Ecologia - PPGE

*[email protected]

INTRODUÇÃO Baseado no comportamento de termorregulação, as libélulas adultas podem ser classificadas em espécies “voadoras” (fliers), que se mantém voando a maior parte do tempo, e espécies “pousadoras” (perchers), que ficam mais frequentemente pousadas (Corbet 1962). Os voadores são considerados endotérmicos (espécies de maiores tamanhos), já as espécies pousadoras podem regular sua temperatura por meio de irradiação solar (heliotérmicos), possuindo tamanho médio, ou são conformadores termais (troca de calor entre o animal e o meio) como por exemplo aquelas de pequeno porte (Osses, 2004). As diferenças de mecanismos termorreguladores entre as espécies podem exercer influências nos horários de atividade e sobre os habitats utilizados pelas libélulas (De Marco, 1998). Portanto, maior luminosidade em um ambiente pode ser um dos fatores que determinam a riqueza de espécies em Odonata (Ward, 1982). Existem indicativos de que espécies na fase adulta da subordem Zygoptera apresentam maior abundância em áreas de sub-bosque do que em áreas abertas e as espécies da subordem Anisoptera demonstraram maior abundância em áreas abertas do que em áreas fechadas (Scoss et al., 2001). Esse padrão pode ser explicado com base na relação entre o tamanho do corpo das espécies analisadas e sua fisiologia. Em áreas de mata fechada, as espécies contam principalmente com a temperatura do ambiente para termorregulação. Já em áreas abertas o aquecimento por irradiação direta se torna tão ou mais importante que a convecção para manter o animal em atividade. Sendo assim, o maior tamanho das espécies das áreas abertas, pertencentes à subordem Anisoptera, pode ser explicado pela maior dificuldade de atingirem o limiar de temperatura necessário ao início de sua atividade. Isso provavelmente explicaria o investimento em habitar uma área aberta, onde ganhariam calor mais rapidamente por irradiação. Em sua fase larval, odonatas são aquáticas e ocupam habitats que variam pelo tipo de substrato, velocidade de correnteza, tempo de duração e de acordo com características químicas e físicas da água (Cardoso, 2011). Porém até o momento não foi avaliada a influência da incidência de luz solar em sistemas lóticos sobre a composição de náiades de Odonata. Desta forma, trabalhamos com a hipótese de que o número de indivíduos de náiades (fase larval) da subordem Zygoptera seja maior em trechos de riacho com maior

392 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 cobertura de dossel, enquanto a subordem Anisoptera seja mais abundante em trechos de riacho com menor cobertura de dossel. O objetivo deste trabalho é avaliar se a distribuição de adultos demonstrada por Scoss et al. (2001) pode ser também atribuída às náiades da ordem Odonata.

MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo

As coletas foram realizadas na cabeceira da bacia hidrográfica do Rio Paquequer, município de Teresópolis (Figura 1), dentro do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PARNASO). Este parque está situado na região serrana do Rio de Janeiro, cuja área abrange 20.024 ha nos municípios de Petrópolis (43,0%), Guapimirim (25,9%), Magé (17,7%) e Teresópolis (13,4%) (Guimarães et al., 2009; PARNA-ICMBIO, 2016).

Figura 1. Localização do Parque Nacional da Serra dos Órgãos no Estado do Rio de Janeiro. Retirado de http://www.icmbio.gov.br/portal/images.

Caracterização do habitat O rio Paquequer apresentou um grau de impedimento de simetria bem elevada, pois se encontrava bem seco e com muitos matacões formando ilhas e delimitando trechos de água corrente e remansos. Em áreas mais abertas, com menor cobertura de dossel houve predominância de mata ciliar fechada secundária. Substratos predominantes foram matacões, folhiço e pouca areia.

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Coleta de espécimes As coletas foram realizadas no período das 9:00 às 12:00 e de 14:00 às 17:00 ao longo de dois dias em 2016. Os animais foram coletados com redes do tipo Brundin e D-net, triados manualmente, identificados em microscópio estereoscópico e por fim devolvidos ao ambiente. A coleta foi realizada em cinco transectos transversais ao riacho, separados por, no mínimo, 10 metros de distância. Dentro de cada transecto foram amostrados pelo menos cinco subamostras. A caracterização do substrato, mata ciliar e cobertura de dossel foram realizados por estimativa indireta, por percepção visual. As áreas estudadas foram categorizadas entre áreas fechadas (cobertura de dossel superior a 55%) e áreas abertas (cobertura de dossel igual ou menor que 55%).

Cálculo do percentual de frequência de substratos Dentro de cada transecto, o substrato de pelo menos cinco subamostras foi registrado. Posteriormente foi realizado o cálculo do percentual de cada substrato nas subamostras, e por fim calculada a média de cada substrato para cada área.Um teste Qui-quadrado foi realizado para verificar se as ocorrências das famílias de odonatas diferem entre as áreas. Para verificar possíveis relações entre as variáveis abióticas e a presença dos grupos taxonômicos nas áreas estudadas, foi realizada uma Análise de Correspondência Canônica (ACC). A ACC possibilita uma ordenação direta de gradientes, explicando a distribuição das espécies em relação às variáveis ambientais (Ter Braak, 1987; 1995).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diversidade e abundância de táxons por áreas A média de cobertura de dossel das áreas fechadas foi de 67% e de 25% em áreas abertas. A largura média das áreas sombreadas foi de 9,34 m e de 11,29 m nas áreas abertas.Em ambas as áreas, Zygoptera foram mais numerosos com 62 indivíduos (85%) em áreas abertas e 29 indivíduos (59%) em áreas fechadas. Já os Anisoptera capturados foram 31(15%) em áreas abertas e 20(41%) em áreas fechadas. A Família mais abundante em áreas abertas foi Coenagrionidae (n = 33), esta não ocorrendo em áreas fechadas. As famílias Libellulidae e Calopterygidae, foram mais abundantes em áreas abertas (n = 22, n = 24), do que em áreas fechadas, (n = 8, n = 11). Já as famílias Aeshnidae e Gomphidae apresentaram abundâncias semelhantes tanto em áreas abertas (n = 9, n = 3) quanto nas fechadas (n = 6, n = 3) (Figuras 2 e 3). Os resultados não corroboraram com a hipótese, na qual ocorreria uma abundância maior de Zygoptera em trechos mais sombreados, visto que os mesmos foram mais abundantes em ambas as áreas. Este resultado vai de encontro ao predito por De Marco, 2005, em que ratifica que a subordem Zygoptera ocupa geralmente habitats em interior de matas, como a mata ciliar observada nas margens do rio Paquequer. De acordo com o resultado do teste Qui-quadrado as distribuições das Famílias de todas as amostras entre as áreas, foram similares (aberta p>0,05 e fechada p=0,99). As maiores

394 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 riqueza e abundância encontradas em áreas abertas podem ser explicadas pela maior largura destes trechos e, portanto, maior entrada de luz solar nos mesmos. Desta forma, espécies maiores (que dependem de maior incidência solar para termorregulação) também ocupam estes mesmos locais. Outras variáveis não trabalhadas, como a diferença entre profundidades e variação no fluxo da água entre os pontos coletados, também poderiam explicar as diferenças na composição das náiades.

Figura 2. Abundância de náiades de Odonata coletados por subordem e famílias em áreas fechadas.

Figura 3. Abundância de náiades de Odonata coletados por subordem e famílias em áreas abertas.

Ordenação de dados abióticos e bióticos por amostra (microhabitat)

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Os autovalores dos dois primeiros eixos de ordenação canônica foram respectivamente 0.303 e 0.167, com o primeiro eixo de variação da ACC explicando cerca de 46% da variação total e o segundo eixo explicando cerca de 25%. A ordenação das Famílias em relação às variáveis abióticas (Figura 4) demostrou no primeiro eixo, que as variáveis dossel e substrato de cascalho explicaram melhor a presença das náiades da Família Megapodagrionidae. Tal resultado corrobora com Carvalho & Nessimian (1998) que demostraram a preferência da família Megapodagrionidae por microhabitat similar. Já o substrato pedra (muitas vezes coberto por epiliton) explica melhor a presença de náiades da Família Coenagrionidae (Tabela 1).

Figura 4. Diagrama de ordenação das parcelas produzido pela ACC, baseada na distribuição das famílias em 50 pontos amostrados (25 em área aberta e 25 em área fechada) e variáveis abióticas (Dossel, Substratos e Largura) dos mesmos. As Famílias são representadas por nomes e as variáveis abióticas por vetores.

Tabela 1. Coeficiente de Correlação entre as variáveis abióticas e os dois primeiros eixos de ordenação da ACC.

Variáveis Eixo 1 Eixo 2 Abióticas Folhiço -0.1889 0.8531 Cascalho -0.7053 -0.4433

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Pedra 0.7787 -0.1866 Areia -0.0338 0.2670 Dossel -0.6553 -0.3193 Largura 0.0623 0.0239

CONCLUSÃO As variáveis abióticas medidas não foram importantes para determinar a distribuição das Famílias nas áreas amostradas. Por outro lado, a abundância e riqueza encontradas caracterizaram a composição e distribuição de Náiades de Odonata em um ambiente de riacho de Mata Atlântica. Outro fator poderia melhor explicar a distribuição observada: a presença de troncos de árvores caídos dentro do rio, possibilitando uma maior separação no uso dos recursos disponíveis no ambiente e a coexistência de uma quantidade maior de grupos taxonômicos. Além disso, outros fatores podem afetar a distribuição dos imaturos, tendo em vista que, após a oviposição, estes se distribuem no corpo d’água procurando satisfazer requisitos como respiração, alimentação e refúgio.

AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Professor Jorge Nessimian pela prazerosa e produtiva disciplina de Ecologia de Insetos Aquáticos, ao PARNASO por disponibilizar o espaço, à parceria de trabalho prático e escrito das integrantes e pelas contribuições de Thiago Barros nas análises e texto.

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CURCULIONÍDEOS (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE) DEPOSITADOS NA COLEÇÃO ENTOMOLÓGICA DO INSTITUTO NACIONAL DA MATA ATLÂNTICA

Arlindo SERPA-FILHO1*, Diego Vinicius BRAUN2 & Silvia Ramira Lopes CALDARA2

1Instituto Nacional da Mata Atlântica, Programa de Capacitação Institucional 2 Graduação em Ciências Biológicas, Escola Superior São Francisco de Assis *[email protected]

INTRODUÇÃO

As coleções biológicas constituem um patrimônio memorial da biodiversidade, essencial para o desenvolvimento científico, tecnológico e também para a segurança nacional (Camargo et al., 2015).O Instituto Nacional da Mata Atlântica – INMA, onde está inserido o Museu de Biologia Professor Mello Leitão é uma das instituições que abriga coleções biológicas representativas do bioma da mata atlântica. Erguida pelo mesmo fundador da instituição, Augusto Ruschi, a coleção entomológica, foi iniciada por volta de 1934 e abriga variados grupos de insetos, coletados principalmente no estado do Espírito Santo. A coleçãoseapresentam fora dos padrões de curadoria entomológica e não há um inventário das espécies ali acondicionadas. Entre os grupos mais representativos deste acervo está a ordem Coleoptera, com mais de 900 exemplares..,A ordem Coleoptera, se apresenta como uma das ordens mais diversas da classe Insecta, principalmente a família Curculionidae, que possui cerca de 40.000 espécies, representando um total de 5% das espécies animais descritas, e possuindo sozinha mais espécies que qualquer outro filo animal de não artrópodes(Brusca & Brusca,2007). A característica principal para identificação da família é a cabeça alongada em um rostro geralmente alongado e cilíndrico voltado para baixo, podendo ser reto ou curvo. Em sua extremidade se encontra o aparelho bucal mastigador, e possuem antenas genículo-capitadas ou genículo-clavadas articuladas na parte mediana do rostro(Galloet al., 2002). Neste trabalho são apresentadas as atividades de curadoria na coleção de Curculionidae do Instituto Nacional da Mata Atlântica, que permitiram restaurar, organizar, identificar e inventariar os exemplares contidos neste acervo, tornando-o ativo e disponível para estudos diversos.Este acervo, até o ano de 2015 encontrava-se fora dos padrões convencionais de curadoria e devido a isto vêm sendo realizadas atividades buscando sua restauração e organização.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado no acervo entomológico do Instituto Nacional da Mata Atlântica entre janeiro de 2016 a fevereiro de 2017. O acervo está acondicionado em uma sala climatizada por ar condicionado e umidade controlada por desumidificador. Os exemplares estão dispostos em gavetas de madeira, com fundo de isopor, ou em pequenas caixas de compartimentalização dentro das gavetas, que estão distribuídas em três armários, totalizando 66 gavetas entomológicas. Este grupo taxonômico foi avaliado, buscando conhecer seu estado de conservação eo manejo adequado a ser utilizado durante o processo de curadoria.

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Durante a organização dos exemplares, os mesmos foram dispostos em caixas de polipropileno, permitindo compartimentar as gavetas e separar os exemplares de acordo com o gênero ou espécie. Estas caixas de compartimentalização foram identificadas e organizadas em ordem alfabética, conforme o grupo taxonômico acondicionado, permitido a fácil localização dos exemplares de interesse. Os espécimes sujos de poeira foram limpos com uso de pincel umedecido com álcool, e os espécimes que apresentavam tagmas quebrados foram restaurados através da fixação com uso de cola (acetato de polivalina) a base d’água. Como medida preventiva ao ataque de fungos e insetos pragas de coleções foi feita a aplicação de paraformaldeído no interior de cada gaveta.A identificação foi realizada a partir da consulta ao especialista Celso Lima Godinho Jr,comparação com o acervo virtual da ESALQ/USP, e através do material de Lima (1950); Barbosa et al. (2011) e Godinho-Jr (2011).Visando o tombamento destes espécimes na instituição, cada exemplar recebeu uma etiqueta correspondente ao seu número-tombo, entre os números MBML 941 e MBML 987. Estas etiquetas foram dispostas paralelas ao inseto e às etiquetas com informações dos espécimes. Todas as informações contidas nas etiquetas foram relacionadas em uma planilha contendo dados como o número de tombo, classificação taxonômica, dados da coleta (coletor, data, localidade, método), determinador, entre outros dados relevantes disponíveis.Os dados sobre cada exemplar foram disponibilizados no banco de dados onlineSpeciesLink, assim como as outras coleções do INMA, permitindo seu acesso a qualquer interessado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No quesito de avaliação do estado de conservação, foi verificada a infestação de fungos em 13,33% (n=6) dos exemplares e apenas em 2,22% (n=1) houve a necessidade de fazer a restauração a partir da fixação de tagma com acetato de polivalina. Após os tratamentos, os exemplares foram reincorporados à coleção, sem apresentar mais sinais de infestação até a finalização do trabalho. Não foram encontrados holótipos ou parátipos no acervo. Os exemplares foram dispostos em um total de 29 caixas de compartimentalização, depositadas em duas gavetas entomológicas.Foram identificados 45 exemplares, sendo 19 identificados em nível de gênero, e 26 identificados em nível de espécie, correspondendo, pelo menos, 29 espécies distintas. Há a representatividade de cinco subfamílias na coleção de Curculionidae, sendo elas: Baridinae (3), Conoderinae (2), Dryophtorinae (9), Entiminae (18), e Molitynae (13). Quanto à procedência dos exemplares, constatou-se que a grande maioria,91,11% (n=41), é proveniente de coletas no estado do Espírito Santo apresentando coletas também de Minas Gerais (4,44% n=2), e São Paulo (4,44% n=2). Entre as coletas no Espírito Santo, observou-se que a maior parte é proveniente do município de Santa Teresa (48,78% n=20), seguida de Cariacica (31,70% n=13), Linhares (12,19% n=5), Barra de São Francisco (4,87% n=2), e Itapemirim (2,43% n=1). Observa-se que as coletas são provenientes, em sua maioria, de Unidades de Conservação: Estação Biológica de Santa Lúcia, Parque Municipal de São Lourenço (Santa Teresa); Reserva Biológica de Duas Bocas (Cariacica); Reserva Biológica de Sooretama (Linhares); Parque Municipal Natural Sombra da Tarde (Barra de São Francisco).Vale ressaltar que dentro do acervo de coleópteros, a família Curculionidae é uma das que reúne uma quantidadeconsiderável de exemplares e espécies.O conhecimento e divulgação dos dados de procedência permite conhecer a biogeografia de espécies, gerando novos registros de ocorrência, e orientandoos especialistas para áreas estratégicas para compreender a biodiversidade da entomofauna brasileira, a partir do aumento da quantidade e qualidade de amostragens (Menezes et al. 2012).O resgate e

400 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 disponibilização de informações, principalmente de coleções biológicas antigas, possibilita conhecermos a fauna coletada em ambientes que ainda conservavam suas características originais e, a partir disto, buscar alternativas para a conservação ambiental (Siewertet al. 2010).Ressalta-se que até o ano de 2015, este acervo encontrava-se fora dos padrões convencionais de curadoria e devido a isto vêm sendo realizadas atividades buscando sua restauração e organização. O inventário dos curculionídeos do INMA ajudará a compreender a diversidade e distribuição deste grupo, especialmente para o estado do Espírito Santo, que possui poucos estudos relacionados à família Curculionidae, e mais amplamente, para o bioma da Mata Atlântica.Mantida conforme as regras convencionais de curadoria entomológica, esta parte do acerco está preservada e disponível, permitindo seu estudo, crescimento e constante atualização.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Escola Superior São Francisco de Assis, pela concessão de bolsa de Iniciação Científica; ao Instituto Nacional da Mata Atlântica por viabilizaro estudo na coleção entomológica e para o professorCelso Lima Godinho Jr.pelo auxílio na identificação dos exemplares.

LITERATURA CITADA

Barbosa, M.L.L., I.A. Ferreira, C.R.V. Fonseca & F.B.P. Gouveia, 2011. Cholini (Coleoptera: Curculionidae: Molytinae) housed in theInvertebrateCollectionofthe Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, Brazil. Acta Amaz, 41: 401-408.

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Menezes, E.C., A.M. Silva-Neto, F.E.L. Nascimento & F.R. Bravo,2012. Lista dos Cerambycidae, incluindo 12 Holótipos, presentes no Museu de Zoologia da Universidade Estadual de Feira de Santana e o Primeiro Registro da espécie ChrysoprasisairiNapp& Martins para o Brasil. EntomoBrasilis, 5: 49-58.

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401 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Universidade Católica de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. EntomoBrasilis, 3: 77-84.

402 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

CONTRIBUÇÃO PARA UMA BIBLIOTECA CARIOTÍPICA VIRTUAL DE MAMÍFEROS TERRESTRES DO BRASIL

Núbia Rodrigues dos SANTOS1* & Roberta PARESQUE2

1Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas, Centro Universitário Norte do Espírito Santo, Universidade Federal do Espírito Santo 2Departamento de Ciências da Saúde, Centro Universitário Norte do Espírito Santo, Universidade Federal do Espírito Santo *[email protected]

INTRODUÇÃO

No Brasil, a classe Mammalia está dividida em 12 ordens (Paglia et al., 2012), sendo 7 delas pertencentes aos mamíferos terrestres de médio e grande porte. São estas: Artiodactyla (10 espécies); Carnivora (33 espécies); Cingulata (11 espécies); Lagomorpha (1 espécie); Perissodactyla (1 espécie); Pilosa (8 espécies); Primates (118 espécies). Em geral, a diversidade de espécies de mamíferos em cada bioma brasileiro é diferente entre estes grupos (Paglia et al., 2012). Com a grande diversidade da fauna brasileira, estudos com dados de citogenética são importantes para diferenciação e caracterização das espécies, determinação cromossômica das espécies, definição do papel funcional da heterocromatina constitutiva, origem dos rearranjos cromossômicos, significado adaptativo dos polimorfismos cromossômicos, diferenças citogenéticas entre espécies relacionadas e variabilidade cromossômica quanto à dinâmica das populações (Yonenaga, 1977; Reig, 1984). Além disso, esse tipo de informação é de extrema importância para os estudos de taxonomia e sistemática, por esclarecer problemas taxonômicos por meio do estabelecimento dos cariótipos das espécies (Paresque et al., 2004). Cada espécie é caracterizada por um cariótipo, que pode haver diferenças onde espécies que sejam de uma mesma família ou gênero, apresentem variação no número diplóide como no caso do gênero Mazama, que apresenta uma ampla distribuição geográfica pelo país (Varela et al., 2010) e um padrão de polimorfismo cariotípico muito complexo com variação tanto no número diplóide (2n), quanto no número de braços autossômicos (NA) (Abril et al., 2010). Frente a este cenário, reunir informações cariotípicas em um único guia virtual, frequentemente atualizado, contribuirá como uma ferramenta confiável, para auxiliar pesquisadores na consulta de dados citogenéticos para estudos na área de sistemática, evolução e taxonomia.

MATERIAL E MÉTODOS

Para reunir os dados sobre os cariótipos das espécies, foi feito um levantamento de dados citogenéticos disponíveis na literatura através de publicações científicas. Foi realizada a construção de uma planilha geral apresentando informações como: 2n (número diploide), NA (número de braços autossômicos), forma dos cromossomos sexuais, além de referência bibliográfica. A partir dessas informações, foram gerados arquivos Portable Document File (PDF) para cada espécie contendo: nome, autor e ano de publicação, além das informações cariotípicas, imagens dos cariótipos em coloração, referência bibliográfica

403 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 e link para download do arquivo, que em breve estarão disponíveis na biblioteca virtual (http://www.nupea.saomateus.ufes.br/) para consulta.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram reunidos dados citogenéticos de 41 espécies de mamíferos terrestres do Brasil pertencentes a 6 ordens, sendo 10 espécies da ordem Artiodactyla, 12 espécies da ordem Carnivora, 9 espécies da ordem Cingulata, 1 espécie da ordem Lagomorpha, 1 espécie da ordem Perissodactyla e 8 espécies da ordem Pilosa (Tabela 1). A partir dos resultados obtidos, foi possível observar uma ampla variação cariotípica na ordem Artiodactyla com número diploide que variou de 2n=26 e NA=46 em Tayassu pecari (Andrea et al., 2001; Adega et al., 2007) até 2n=70 e NA=70 em Mazama gouazoubira (Neitzel 1979). Ainda, Mazama americana apresentou maior variação cariotípica, com 2n= 42 a 53 e NA= 48 a 56 (Cursino et al., 2014). Sugere-se que esse complexo padrão de polimorfismo cariotípico é devido aos rearranjos cromossômicos ocorridos em ancestrais comuns (Almeida et al., 2001).

CONCLUSÃO

A partir dos dados observados, é possível concluir que ainda é necessária uma maior busca bibliográfica de estudos de cariótipos, visto que algumas espécies ainda não possuem seus dados citogenéticos apresentados, como é o caso de representantes da ordem Primates. Além disso, há espécies que ainda não possuem o cariótipo descrito, como a espécie Cabassous chacoensis, pertencente à ordem Cingulata (Jacintho et al., 2009).

Tabela 1. Compilação dos dados obtidos. A lista conta com os nomes das espécies, nome popular e informações cariotípicas como: 2n, NA, forma dos cromossomos X e Y e as respectivas referências.

404 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Ordem Artiodactyla N spp Família Cervidae Nome popular 2n NA Referência X Y 1 Blastocerus dichotomus Cervo-do-Pantanal 66 74 Duarte & Giannoni 1995 Metacêntrico grandeSubmetacêntrico pequeno 2 Mazama americana Veado-mateiro 42 a 53 48 a 56 Cursino et al. 2014 Submetacêntrico Metacêntrico 3 Mazama bororo Veado-bororó-de-São-Paulo 32 a 34 46 Duarte & Jorge 2003 4 Mazama gouazoubira Veado-catingueiro 70 70 Neitzel 1979 Acrocêntrico grande Acrocêntrico pequeno 5 Mazama nana Veado-bororó-do-sul 36 a 40 56 a 60 Abril & Duarte 2008 Metacêntrico médio Metacêntrico pequeno 6 Mazama nemorivaga Veado-da-Amazônia 68-69 70 Fiorillo et al. 2013 Submetacêntrico médioMetacêntrico pequeno 7 Odocoileus virginianus Veado-da-cara-branca 70 74 Wurster & Benirschke, 1967 Submetacêntrico grandeMetacêntrico pequeno 8 Ozotoceros bezoarticus Veado-campeiro 68 74 Duarte & Giannoni 1995 Metacêntrico grandeMetacêntrico pequeno N spp Família Tayassuidae Nome popular 2n NA Referência X Y 9 Pecari tajacu Cateto, caititu 30 46 Lima et al 2004 Acrocêntrico médio Acrocêntrico pequeno 10 Tayassu pecari Queixada, porco-do-mato 26 46 M. Andrea et al. 2001;F. Adega etAcrocêntrico al. 2007 médio Acrocêntrico pequeno Ordem Carnivora N spp Família Canidae Nome popular 2n NA Referência X Y 11 Atelocynus microtis Cachorro-do-mato-de-orelha-curta74-76 76 Wurster & Benirschke 1968 Submetacêntrico Submetacêntrico 12 Cerdocyon thous Cachorro-do-mato 74 106 Hatanaka et al. 1998 Submetacêntrico grandeAcrocêntrico pequeno 13 Chrysocyon brachyurus Lobo-guará 76 78 A. Pieńkowska-Schelling et al. 2008Submetacêntrico grandeAcrocêntrico médio 14 Lycalopex gymnocercus Raposa-do-campo 74 76 Brum-Zorrilla & Langguth Submetacêntrico Acrocêntrico 15 Lycalopex vetulus Raposinha 74 76 Wurster and Benirschke 1968 Metacêntrico Metacêntrico 16 Speothos venaticus Cachorro-vinagre 74 Carvalho et al. 2009 Submetacêntrico grandeAcrocêntrico pequeno N spp Família Felidae Nome popular 2n NA Referência X Y 17 Leopardus geoffroyi Gato-do-mato-grande 38 72 Wurster and Benirschke 1968 Metacêntrico médio Submetacêntrico pequeno 18 Panthera onca Onça-pintada 38 72 Ledesma et al. 2004 Submetacêntrico médioSubmetacêntrico pequeno 19 Puma yagouaroundi Gato-mourisco 38 76 Wurster and Benirschke 1968 Submetacêntrico médio ? N spp Família Mustelidae Nome popular 2n NA Referência X Y 20 Eira barbara Irara 38 68 Wurster and Benirschke 1968 Submetacêntrico médio ? N spp Família Procyonidae Nome popular 2n NA Referência X Y 21 Bassaricyon alleni Olingo 38 68 Wurster and Benirschke (1967,1968)Submetacêntrico médioSubacrocêntrico pequeno 22 Nasua nasua Quati 38 68 Wurster and Benirschke 1968 Submetacêntrico médioSubacrocêntrico pequeno Ordem Cingulata N spp Família Dasypodidae Nome popular 2n NA Referência X Y 23 Cabassous chacoensis Tatu-de-rabo-mole-pequeno AINDA NÃO DESCRITA (Jacintho et al. 2009) 24 Cabassous tatouay Tatu-de-rabo-mole-grande 50 68 Barroso and Seuánez 1991 Metacêntrico pequenoAcrocêntrico 25 Cabassous unicinctus Tatu-de-rabo-mole 46 Jacintho et al. 2009 Submetacêntrico médioAcrocêntrico pequeno 26 Dasypus hybridus Tatu-mulita 64 81 Saez et al. 1964 Submetacêntrico Acrocêntrico 27 Dasypus kappleri Tatu-de-quinze-quilos 64 Redi et al, 2005 28 Dasypus novemcinctus Tatu-galinha 64 78 Beath et al. 1962, Bernirschke etMetacêntrico al. 1969, Jorge grande et al. Acrocêntrico1977 pequeno 29 Dasypus septemcinctus Tatuí 64 76 Barroso and Seuánez 1991 Submetacentrico Acrocentrico 30 Euphractus sexcinctus Tatu-peba 58 Jorge et al. 1977, Barroso and SeuánezSubmeta/Acro 1991 Submeta/acro 31 Priodontes maximus Tatu-canastra 50 Bernirschke and Wurster 1969 Submetacêntrico Metacêntrico 32 Tolypeutes matacus Tatu-bola 38 Jorge et al. 1977 Metacêntrico Acrocêntrico Ordem Lagomorpha N spp Família Leporidae Nome popular 2n NA Referência X Y 33 Sylvilagus brasiliensis Tapeti 40 68 Langguth & Sousa, 2003 Submetacêntrico grandeSubmetacêntrico pequeno Ordem Perissodactyla N spp Família Tapiriidae Nome popular 2n NA Referência X Y 34 Tapirus terrestris Anta 80 80 Houck et al. 2000 Submetacêntrico grandeAcrocêntrico pequeno Ordem Pilosa N spp Família Bradypodidae Nome popular 2n NA Referência X Y 35 Bradypus torquatus Preguiça-de-coleira 50 64 Azevedo et al. 2012 Submetacêntrico Metacêntrico 36 Bradypus tridactylus Preguiça-de-três-dedos 52 56 G. Dobigny et al. 2005 Metacêntrico Metacêntrico 37 Bradypus variegatus Bicho-preguiça 54 Azevedo et al. 2012 N spp Família Cyclopodidae Nome popular 2n NA Referência X Y 38 Cyclopes didactylus Tamanduá 64 100 Jorge et al. 1985; Jorge 2000 Submetacêntrico pequeno N spp Família Megalonychidae Nome popular 2n NA Referência X Y 39 Choloepus didactylus Preguiça-real 65 G. Dobigny et al. 2005 40 Choloepus hoffmanni Preguiça-real 49 61 J. Corin-Frederic 1969 Metacêntrico N spp Família Myrmecophagidae Nome popular 2n NA Referência X Y 41 Myrmecophaga tridactyla Tamanduá-bandeira 60 108 Pereira Júnior et al. 2004 Metacêntrico grandeAcrocêntrico pequeno 42 Tamandua tetradactyla Tamanduá-mirim 54 108 G. Dobigny et al. 2005 Metacêntrico grandeAcrocêntrico pequeno

LITERATURA CITADA

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406 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

USO DE ARMADILHAS E SOLUÇÕES ATRATIVAS PARA O MONITORAMENTO DE ADULTOS DE MOSCAS-DAS-FRUTAS EM POMAR DE GOIABEIRA

Alexandre Morais BORGES1* & Daniele Steiner SCHIMILDT1

1Instituto Federal do Espírito Santo – campus Santa Teresa *[email protected] INTRODUÇÃO

As moscas-das-frutas são as pragas de maior expressão econômica na fruticultura mundial. Sua importância está relacionada diretamente aos danos que causam aos frutos, aos elevados custos necessários ao seu controle e aos prejuízos, que advêm com as restrições fitossanitárias impostas nas relações comerciais internacionais de frutos in natura. No mundo anualmente são perdidos aproximadamente 1 bilhão de dólares devido aos danos causados por essas pragas (Godoy et al., 2011). A fora os danos diretos, são pragas quarentenárias que limitam o comércio de frutas entre os países (Carey & Dowel, 1989; Aluja, 1994). No Brasil, as espécies de moscas-das-frutas de importância econômica pertencem a quatro gêneros: Anastrepha Schiner, Ceratitis Macleay, Bactrocera Macquart e Rhagoletis Loew (Zucchi, 2000). O controle das mosca-das-frutas pode ser realizado com inseticidas sintéticos, os quais, se utilizados excessivamente, podem causar contaminação ambiental e afetar a saúde humana (Monteiro et al., 2007). Neste contexto, o monitoramento por meio de armadilhas que contenham atrativos alimentares é um dos métodos mais prático de confirmar a incidência das moscas em pomares (Salles, 2003), fornecendo informações sobre o momento adequado para adoção de medidas de controle (Nascimento et al., 2000). Entre as principais demandas do programa nacional de controle de moscas-das- frutas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estão os estudos sobre detecção, monitoramento e distribuição de espécies de Tephritidae de importância econômica (Raga et al., 2006). A eficácia do controle das moscas-das-frutas é dependente da disponibilidade de bons atrativos e armadilhas (Salles, 1999; Nascimento et al., 2000), tanto para os sistemas de monitoramento como para o emprego de iscas tóxicas (Calkins & Malavasi, 1995). As armadilhas McPhail têm sido amplamente utilizadas para monitoramento de moscas-das-frutas em várias partes do mundo, especialmente para as espécies de Anastrepha e Bactrocera, para as quais não existem atraentes sexuais produzidos em escala comercial (Aluja et al., 1989). Porém, a eficácia deste método está intimamente ligada à disponibilidade de bons atrativos para esse tipo de armadilha. Em muitos casos, o emprego de atrativos ineficazes podem comprometer os resultados do monitoramento, devido à falta de padrão de qualidade e consequente baixa eficácia de captura desses insetos (Raga et al., 2006). Sendo o custo um fator importante a ser considerado quando se trabalha em programas de monitoramento e/ou controle de pragas, especialmente quando envolve produtores com baixa renda, as armadilhas confeccionadas com material alternativo podem ser uma opção viável para avaliar a população da praga visando racionalizar o controle, a exemplo do que foi observado por Bressan & Teles (1991) e Salles (1999), que também avaliaram Anastrepha spp. Essas armadilhas alternativas, por serem de material barato, de fácil disponibilidade, reutilizável, desinteressante para furto e de

407 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 fácil confecção pelos usuários, podem ser utilizadas pelos pequenos e médios produtores no controle das moscas-das-frutas, sem trazer ônus adicionais na produção (Azevedo et al., 2012). Neste sentido, o objetivo do presente estudo foi avaliar a eficácia de armadilhas alternativas e atrativos alimentares no monitoramento das moscas-das-frutas em pomar de goiabeira.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em uma área de 0,5 hectare de cultivo de goiaba, no Setor de Culturas Perenes do Instituto Federal do Espírito Santo - Campus Santa Teresa, durante o mês de Abril de 2015. Utilizou-se um delineamento em blocos ao acaso no esquema fatorial 3 x 3 (atrativos x armadilhas), com quatro repetições, as quais foram para atrativos: 1) solução de água + proteína hidrolisada (5%), 2) solução de água + vinagre de banana (10%); 3) solução de água + suco industrializado de goiaba (10%) e para armadilhas: 1) MC Phail (figura 1), 2) garrafa PET de 2000 mL (figura 2) e 3) garrafa PET de 600 mL (figura 3), pintadas de amarelo até aproximadamente 1/3 da altura, com o intuito de aumentar a atratividade, sendo que logo acima da parte colorida foram feitos orifícios com cerca de 2 cm de diâmetro, onde realizou-se 4 orifícios equidistantes nas garrafas de 600 mL, e 6 orifícios equidistantes nas garrafas de 2000 mL, para a disseminação do odor da solução e entrada dos insetos. As armadilhas (n=81) foram instaladas em uma área de 0,3 hectares de goiaba, onde foram dispostas nas plantas do pomar a cerca de 1,5 m de altura, sendo tais plantas escolhidas ao acaso. Não foi instalada mais de uma armadilha na mesma planta. Uma semana após a montagem do experimento as armadilhas foram recolhidas para a contagem do número de capturas de moscas-das-frutas, tal levantamento foi realizado com auxílio de lupa estereoscópica. Os valores médios de moscas-das-frutas coletados nas repetições de cada tratamento foram submetidos à análise estatística pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.

Figura 1. Armadilha padrão tipo MCPhail.

408 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figuras 2 e 3. Armadilha confeccionada com garrafa PET de 2000mL e 600mL, respectivamente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram capturadas moscas das frutas apenas da espécie Ceratitis Capitata. Os valores das médias de captura, assim como os resultados da análise estatística, estão expressos na tabela 1.

Tabela 1. Médias de moscas das frutas capturadas em diferentes armadilhas e atrativos alimentares em pomar de goiaba. Atrativos Alimentares Armadilhas Proteína Hidrolisada* Vinagre Suco de Goiaba McPhail 734,1 Aa 89,7 Ab 127,1 Ab PET 2000 mL 105,7 Ba 5,9 Bb 7,0 Bb PET 600 mL 73,7 Ba 6,7Bb 13,4 Bb *Médias seguidas da mesma letra maiúscula na coluna e minúscula na linha não diferem estatisticamente entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.

A armadilha do tipo McPhail apresentou o melhor resultado em relação à eficiência de captura de moscas das frutas. O que corrobora com o estudo feito por Barelli & Galli (1998), em pomares de goiabeira localizados em Jaboticabal-SP, em que a armadilha McPhail capturou mais moscas das frutas, sendo 68% superior às outras armadilhas testadas. Estes resultados podem ser explicados pelo fato do diâmetro de abertura do orifício desta armadilha ser maior que as demais armadilhas testadas no experimento, facilitando a entrada do inseto. Acredita-se que provavelmente o diâmetro de abertura da armadilha pode ter interferido no processo de dispersão do odor do atrativo utilizado, haja vista que fisicamente quanto maior for a abertura do orifício maior será a dispersão do odor do atrativo para o meio. As duas armadilhas de garrafas PET não apresentaram diferenças significativas entre si, podemos afirmar que o tamanho da garrafa, juntamente com a quantidade de orifícios utilizados, não interferiu na eficiência das armadilhas. Ao compararmos esses resultados com a armadilha MCPhail fica nítido que o tamanho do orifício de abertura

409 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 presente nas armadilhas testadas possui maior fator de interferência em relação ao número de orifícios das mesmas. Por outro lado, Lorenzato (1984) verificou que as armadilhas de garrafa PET são mais práticas para o monitoramento dos tefritídeos que o modelo McPhail, por ser de fácil aquisição, adequação, reposição, uso específico em pomares e oferecer perspectiva promissoras para uso extensivo no meio rural. As garrafas PET se mostraram capazes de capturar moscas das frutas, podendo ser recomendadas para o monitoramento desses insetos em pequenas propriedades com recursos financeiros escassos, ademais, esse tipo de armadilha reduz o passivo ambiental causado pelas garrafas PET. No que se refere a sua utilização em grandes lavouras, se faz necessário maiores estudos. Dentre os atrativos testados, independente do tipo de armadilha utilizada, a proteína hidrolisada apresentou a melhor eficiência em atrair as moscas-das-frutas. Isso é explicado pelo fato da proteína hidrolisada ser um atrativo desenvolvido em condições laboratoriais, a qual foi desenvolvida exclusivamente para o propósito de atrair moscas das frutas. Já os atrativos “suco de goiaba” e “vinagre”, quando utilizados em armadilhas de garrafas PET apresentaram resultados semelhantes, logo se pode afirmar que se torna necessário realizar mais estudos em relação à concentração desses atrativos. Em todos os atrativos alimentares utilizadas no experimento ocorreu captura de insetos de outras ordens. Entretanto, futuros estudos podem esclarecer se os insetos capturados são outras pragas da plantação ou inimigos naturais das moscas-das-frutas. Ademais, a captura dos inimigos naturais facilita a propagação das moscas e consequentemente acarreta o seu aumento populacional.

CONCLUSÃO

As armadilhas do tipo Mcphail demonstraram maior eficiência em capturar moscas-das-frutas em relação às armadilhas do tipo garrafa PET, independente do atrativo utilizado. Em relação aos atrativos, a proteína hidrolisada apresentou melhor média na captura de moscas-das-frutas para todas as armadilhas testadas.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Federal do Espírito Santo, campus Santa Teresa, pelo apoio na realização deste estudo.

LITERATURA CITADA

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412 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

DISTINÇÃO ENTRE ESPÉCIES DO GÊNERO Trichomycterus (ACTINOPTERYGII: TRICHOMYCTERIDAE) NAS BACIAS DOS RIOS JEQUITINHONHA E PARDO UTILIZANDO ANÁLISES DE MORFOMETRIA GEOMÉTRICA

Lorena TONINI1*, Juliana Paulo da SILVA1, Silvia Britto BARRETO2, Luísa Maria SARMENTO-SOARES1,3

1 Instituto Nacional da Mata Atlântica, Programa de Capacitação Institucional 2 Universidade Federal da Bahia – UFBA 3 Universidade Federal do Espírito Santo – UFES * [email protected]

INTRODUÇÃO

Os peixes de água doce da família Trichomycteridae constituem um grupo diversificado, com cerca de 41 gêneros e 200 espécies distribuídas em oito subfamílias (de Pinna, 1998; de Pinna & Wosiacki, 2003). Conhecidos popularmente como cambevas, os representantes desta família são peixes de pequeno porte (de Pinna, 1998) e se distribuem pelas Américas do Sul e Central (de Pinna & Wosiacki, 2003). Dentro deste grupo, destaca-se o gênero Trichomycterus, cujas espécies são caracterizadas pela presença de um par de barbilhões nas extremidades da boca e ausência de espinhos nas nadadeiras. Esses peixes também possuem odontódeos fora da cavidade oral que constituem placas na região opercular (de Pinna & Wosiacki, 2003), o que permite que ancorem e se movam em substratos mais consolidados. Estas adaptações os tornam capazes de resistir a fortes correntezas e ocupar as cabeceiras de rios (de Pinna, 1998). Além disso, o grupo tem sido caracterizado com uma dieta variada, composta principalmente por itens de origem animal (Ribeiro & Menin, 1996). Em Trichomycterus, o conhecimento sobre os padrões de distribuição das espécies e endemismos regionais é limitado. Isso gera muitas incertezas taxonômicas e dificulta a obtenção de estimativas mais precisas sobre a real diversidade do grupo. Nesse contexto, abordagens como a morfometria geométrica podem ser aplicadas para fins taxonômicos, pois permite identificar até mesmo as variações sutis na forma por meio da utilização de marcos anatômicos (Rohlf, 1993; Rohlf, 1999). Diante disso, nos propomos a desenvolver o presente estudo, focando em avaliar, por meio da morfometria geométrica, diferentes morfotipos de Trichomycterus encontrados nas bacias dos rios Jequitinhonha e Pardo. A bacia do rio Jequitinhonha nasce na Serra do Espinhaço, no município do Serro/MG, a uma altitude aproximada de 1.300 m. Seu curso percorre 920 km até a foz no oceano Atlântico, junto à cidade de Belmonte, atravessando o território mineiro em uma extensão de 760 km, sendo os últimos 160 km percorridos no estado da Bahia. Ao norte, faz limite com a bacia do rio Pardo, ao sul com a bacia do rio Doce, ao sudeste com a bacia do Mucuri e com várias outras pequenas bacias independentes (Sucuruçu, Itanhém, Buranhém e Peruípe) e a oeste com a bacia do rio São Francisco, desaguando no oceano Atlântico a leste (Ferreira & Silva, 2012). A bacia do rio Pardo, por sua vez, percorre uma extensão de 565 km na região hidrográfica mineira do Atlântico Leste, mesorregião Norte de Minas e do Sul Baiano, onde abrange quase 30 municípios. Limita-se ao sul com a bacia do rio Jequitinhonha, ao norte com a bacia do rio de Contas e do rio Colônia, a oeste com a bacia do rio São

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Francisco e a leste com o oceano Atlântico, onde deságua a 18 km a norte da foz do rio Jequitinhonha. Seus principais afluentes são, pela margem esquerda, os ribeirões Salitre, Ribeirão e Vereda e os rios São João do Paraíso e Catolé Grande. Pela margem direita, destacam-se os rios Mosquito, Macarani e Maiquinique (CEMIG, 2017). As bacias dos rios Jequitinhonha e Pardo compartilham várias espécies, sendo a maioria considerada endêmica destas drenagens (Camelier & Zanata, 2014). Assim, o trabalho tem como objetivo avaliar a distinção entre morfotipos de Trichomycterus das bacias dos rios Jequitinhonha e Pardo por meio da morfometria geométrica.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram avaliados 72 indivíduos provenientes de diferentes localidades, sendo 58 da bacia do rio Jequitinhonha, nomeados em morfotipos, a saber: (Trichomycterus aff. trefauti [07], T. jequitinhonhae [11], T. tete [10] e Trichomycterus sp. “araçuaí” [30]), e 14 da bacia do rio Pardo, considerado um único morfotipo: T. bahianus. O material analisado é proveniente das coleções do Instituto Nacional da Mata Atlântica (MBML) e do Museu de Zoologia da Universidade Estadual de Londrina (MZUEL). Para as análises morfométricas, foram obtidas imagens da vista lateral esquerda dos espécimes, com escala métrica, utilizando uma câmera digital Canon SX50. Com o software TpsDig2 versão 2.16 (Rohlf, 2010), foram inseridos nas imagens 7 marcos anatômicos: (1) região interorbital; (2) região posterior da nadadeira peitoral; (3) região anterior da nadadeira pélvica; (4) região anterior e (5) posterior da nadadeira dorsal; (6) região posterior e (7) anterior da nadadeira anal; e 11 semimarcos, totalizando 18 pontos (Figura 1). Posteriormente, todos os pontos foram alinhados por meio da sobreposição de Procrustes no MorphoJ versão 1.06 (Klingenberg, 2011). Com este mesmo software, foi realizada a Análise de Variáveis Canônicas (AVC), a fim de verificar as diferenças na forma do corpo entre os diferentes morfotipos/espécies. Também foi realizada uma Análise de Validação Cruzada para verificar a precisão dos dados. Para verificar as semelhanças da forma do corpo entre os morfotipos, foi realizada uma análise de agrupamento utilizando o método UPGMA com 10.000 permutações no software PAST 2.17c com base nas distâncias morfométricas médias (Hammer et al., 2001). Adicionalmente, foi executada uma análise de variância (ANOVA) para verificar se as diferenças no tamanho do centroide entre os morfotipos foram significativas ou não, e as médias foram comparadas por meio do teste de Tukey a 1%.

Figura 1. Vista lateral esquerda de um exemplar de Trichomycterus jequitinhonhae evidenciando os marcos e semimarcos anatômicos utilizados para as análises (marcos de 1 a 7; semimarcos de 8 a 18).

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da AVC indicaram diferenças significativas (p<0,05) quanto a forma do corpo entre os morfotipos avaliados, sendo que as três primeiras variáveis explicaram 88,05% da variação total. Por meio da validação cruzada (entre os cinco morfotipos e grupos par-a-par), 41% foram classificados corretamente dentro de cada grupo. Dentre os morfotipos, T. bahianus apresentou uma separação mais clara dos demais táxons (Figura 2 [A]). Alguns morfotipos dentro da bacia do rio Jequitinhonha, como T. tete e Trichomycterus sp. “araçuaí”, também apresentaram-se separados. Embora ambos ocorram na mesma bacia, suas distribuições são distintas, uma vez que T. tete pode ser encontrado na região central da Bahia (no município de Mulungu do Morro), enquanto Trichomycterus sp. “araçuaí” é conhecido para o nordeste de Minas Gerais, nos municípios de Setubinha e Itamarandiba (mais próximos da região central do estado). Isso pode indicar uma clara diferenciação na forma do corpo decorrente do isolamento geográfico. Como observado nas grades de deformação, as regiões que mais contribuíram para a separação dos morfotipos foram a região da narina (ponto 8) e a do pedúnculo caudal (ponto 14). Os pontos 10, 11 e 12 da região dorsal e 16, 17 e 18 da ventral também apresentaram uma pequena variação (Figura 2 [B-D]), o que pode estar relacionado a uma variação na altura do corpo entre os morfotipos.

Figura 2. Análise de Variáveis Canônicas (AVC) para espécies de Trichomycterus das bacias dos rios Jequitinhonha e Pardo. (A). Grades de deformação para os dois

415 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 primeiros eixos das Variáveis Canônicas (B e C para AVC1; D e E para AVC2). Os escores negativos estão dispostos no lado esquerdo, e os positivos à direita do gráfico.

A análise de agrupamento pelo método UPGMA e com correlação cofenética de 60% evidenciou dois grupos com alto valor de suporte (100%): o primeiro formado por T. aff. trefaut e T. bahianus, e o segundo formado por T. jequitinhonhae, T. “araçuaí” e T. tete, sendo esta última a espécie mais divergente dentro do segundo grupo.

Figura 3. Análise de agrupamento pelo método UPGMA mostrando as distâncias morfométricas médias entre a forma do corpo de espécies de Trichomycterus das bacias dos rios Jequitinhonha e Pardo.

As diferenças no tamanho do centroide entre as espécies foram significativas (p < 0,01) (Figura 4) e, considerando a média dos valores, os indivíduos de T. tete foram significativamente maiores do que os indivíduos de T. jequitinhonhae e T. “araçuaí”.

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Figura 4. Box-plot demonstrando a variação do tamanho do centroide em espécies de Trichomycterus para as bacias dos rios Jequitinhonha e Pardo. As barras mostram os valores médios ± desvio padrão. Letras diferentes representam valores médios significativamente diferentes de acordo com o teste de Tukey a 1%.

CONCLUSÃO

O estudo de morfometria geométrica aplicado a espécies de Trichomycterus das bacias dos rios Jequitinhonha e Pardo apresentou, até o momento, resultados satisfatórios, permitindo diferenciar morfotipos com base na forma do corpo e no tamanho generalizado dos indivíduos (tamanho do centroide). Para morfotipos com sobreposição, sugere-se a análise de mais indivíduos, o que pode resultar em uma melhor diferenciação. Adicionalmente, os resultados da morfometria geométrica aqui obtidos, quando avaliados conjuntamente com dados morfológicos e moleculares, auxiliarão na resolução de incertezas taxonômicas em Trichomycterus das bacias dos rios Jequitinhonha e Pardo à luz da taxonomia integrativa, contribuindo para um conhecimento mais robusto acerca da diversidade de espécies para este gênero na região.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), ao CNPq pelas bolsas PCI-DD concedidas às duas primeiras autoras e PCI-DA à quarta autora, a Joelcio Freitas pelo auxílio nas análises morfométricas e aos colegas da equipe do setor de Zoologia do INMA.

LITERATURA CITADA

Camelier, P. & A. M. Zanata. 2014. Biogeography of freshwater fishes from the Northeastern Mata Atlântica freshwater ecoregion: distribution, endemism, and area relationships. Neotropical Ichthyology, 12: 683-698.

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OS Trichomycterus (SILURIFORMES: TRICHOMYCTERIDAE) DA BACIA DO RIO JEQUITINHONHA

Juliana Paulo da SILVA1,2*, Lorena TONINI1,2 & Luisa Maria SARMENTO- SOARES1,2

1 Instituto Nacional da Mata Atlântica - INMA 2 Bolsista CNPq do Programa de Capacitação Institucional PCI/MCTI *[email protected]

INTRODUÇÃO

O nome Jequitinhonha, de origem indígena, é composto pelo prefixo Jequi, que significa armadilha para apanhar peixes, e Tinhonha rio largo, é considerado um rio com alto grau de endemismo e um alto número de espécies ameaçadas (Rosa & Lima, 2008). No século XIX a bacia do rio Jequitinhonha recebeu os naturalistas Auguste Saint-Hilaire (1816 – 1817), Von Martius e Von Spix (1817 - 1820), além de expedições científicas como a Thayer Expedition (1865 – 1866) (Feio e Caramaschi 1995). Trichomycteridae é a segunda família mais rica em espécies de água doce dentre os Loricarioidea, com 280 espécies em 41 gêneros e oito subfamílias (de Pinna, 1998; Eschmeyer & Fong, 2014). Inclui peixes de pequeno porte, que não chegam a ultrapassar 100 mm de comprimento padrão e costumam enterrar-se no substrato onde se alimentam de pequenos invertebrados (Machado & Sazima, 1983, de Pinna & Wosiacki, 2003; Fernández & Schaefer, 2009). As três espécies de Trichomycterus conhecidas para a bacia do rio Jequitinhonha foram formalmente descritas em 2004, quando foi também atribuída uma nova ocorrência de T. alternatus para o trecho médio da bacia do Jequitinhonha, uma espécie até então citada apenas para a bacia do rio Doce (Triques & Vono 2004). Os terços superior e médio do rio Jequitinhonha foram os mais explorados do ponto de vista ictiológico. Apesar de diversos naturalistas e pesquisadores terem contribuído de forma significativa para o conhecimento da ictiofauna, o conhecimento sobre o gênero Trichomycterus ainda é incipiente para a bacia, tornando-se necessárias revisões taxonômicas, para uma melhor compreensão morfotipos do gênero Diante das dificuldades em identificar as espécies de Trichomycterus para a bacia do rio Jequitinhonha, o presente estudo pretende investigar as três espécies descritas e mais a citada para a bacia, na tentativa de entender a diversidade de espécies deste gênero na bacia, bem como averiguar ainda a possibilidade de novos táxons. Na presente proposta, pretendemos reunir os dados morfométricos e morfológicos conferindo uma diagnose para cada uma das espécies que facilite seu reconhecimento com base em morfologia externa.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

A bacia do rio Jequitinhonha compreende uma área de mais de 70.000 km², tendo mais de 60.000 no nordeste do estado de Minas Gerais km² e uma pequena parte no sudeste do estado da Bahia. (Cemig, 2017) (Figura 1).

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A bacia do rio Jequitinhonha é atravessada por três diferentes biomas característicos. O bioma predominante para a bacia é o cerrado, estando presente no médio para o alto curso, próximo aos municípios de Grão Mongol, Botumirim e Turmalina. Já o bioma Caatinga está presente no médio e alto curso, próximos aos municípios de Araçuaí, Coronel Murta e Salinas (Feio & Caramaschi 1995). Por fim, o bioma Mata Atlântica está presente no médio baixo curso da bacia do Jequitinhonha no estado da Bahia e em pequena parte do estado de Minas Gerais. Os principais contribuintes para a bacia pela margem direita são os rios Araçuaí (principal contribuinte), Rubim do Sul, Piauí e Pinheiros. Já pela margem esquerda, os principais contribuintes são os rios Itacambiruçu, Macaúbas, Tabatinga, Vacaria, Salinas, Itinga, São Francisco e Rubim do Norte, destacando-se, em função do seu potencial hídrico, as sub-bacias dos rios Itacambiruçu e Salinas. A Ecorregião Mata Atlântica Nordeste é composta pelos sistemas fluviais que drenam as encostas orientais da Serra da Mantiqueira e do Espinhaço até a costa Atlântica, entrecorta os estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia e Sergipe (Sarmento-Soares, 2014). Na Serra do Espinhaço, região onde nasce o rio Jequitinhonha, a vegetação é bem diversificada, predominando amplas chapadas, vegetação de cerrado e manchas de floresta estacional. No Médio Jequitinhonha, estendendo-se do município de Araçuaí até o extremo na jusante da parte mineira da bacia, na divisa com o estado da Bahia, em ambas as margens predomina vegetação de caatinga e florestas estacionais. O relevo fortemente ondulado e os solos muito susceptíveis à erosão são características presentes em todas as unidades de paisagem. (Ferreira, 2011).

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Figura 1. Bacia hidrográfica do rio Jequitinhonha com indicação dos registros de espécies de Trichomycterus reconhecidas no presente estudo.

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Foram realizadas avaliações morfométricas, merísticas e morfológicas externas em 77 exemplares. O material examinado e os respectivos dados de coleção de cada um estão indicados ao final da breve diagnose de cada espécie. Para as medições foi utilizado paquímetro digital Mitutoyo de 200 mm, com precisão de décimos de milímetro. As contagens e medidas tradicionalmente utilizadas para identificação das espécies dos grupos se basearam nos trabalhos de Tchernavin (1944), complementado em Trajano & de Pinna (1996). Ao todo, 77 exemplares foram contados, medidos e/ou analisados para fins de identificação. Uma breve diagnose das espécies é apresentada a seguir. Assim, para assegurar a identidade das espécies e conferir os respectivos padrões de distribuição regional, foram reunidas informações de cunho morfológico e morfométrico, para reconhecimento das espécies e inferência dos respectivos limites de distribuição. Para a realização do presente estudo, foi examinado o material depositado na coleções ictiológicas do Instituto Nacional da Mata Atlântica (MBML Peixes); Museu de Zoologia da Universidade Estadual de Londrina (MZUEL); Museu de Ciências da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (MCNIP) e Museu Nacional/ UFRJ (MNRJ).

RESULTADOS

O gênero Trichomycterus é o mais especioso da família Trichomycteridae, com 161 conhecidas para a região Neotropical, na América Central e do Sul, desde a Costa Rica até a Patagônia. Deste conjunto, dezesseis destas espécies ocorrem na Mata Atlântica Nordeste, a saber: T. landinga Triques & Vono, 2004, T. itacambirussu Triques & Vono, 2004, T. jequitinhonhae Triques & Vono, 2004, descritas para o rio Jequitinhonha em Minas Gerais, T. bahianus Costa, 1992, descrita para o rio Una, na Bahia, T. pradensis Sarmento-Soares, Martins-Pinheiro, Aranda & Chamon, 2005, descrita para o extremo sul da Bahia, T. tete Barbosa & Costa 2011, T. payaya Sarmento-Soares, Zanata & Martins-Pinheiro 2011 também descritas da Bahia. No Espírito Santo temos as descrições de T. caudofasciatus Alencar & Costa, 2004, T. mimosensis Barbosa, 2013, T. pantherinus Alencar & Costa, 2004, T. longibarbatus Costa, 1992, T. gasparinii Barbosa 2013, e para Minas Gerais foram descritas Trichomycterus brunoi Barbosa & Costa, 2010, do alto rio Itabapoana, em Alto Caparaó, e ainda T. alternatus (Eigenmann, 1917) e T. argos Lezama, Triques & Santos, 2012 do baixo rio Doce e sub-bacia do rio Casca respectivamente. Trichomycterus immaculatus (Eigenmann & Eigenmann 1889), ainda que descrita a partir de material do rio Paraibuna, bacia do rio Paraíba do Sul, foi registrada para o sul do Espírito Santo e, portanto também ocorre na Mata Atlântica Nordeste (Sarmento-Soares & Martins- Pinheiro. Ainda que as espécies em Trichomycterus não representem um grupo monofilético, estas podem ser reconhecidas por uma combinação de caracteres como a presença de barbilhões nasais, junto à narina anterior, barbilhões rictais, junto ao canto da boca, ausência de espinhos nas nadadeiras, e placas de odontóides sobre o opérculo e interopérculo (De Pinna & Wosiacki, 2003). Apesar de Trichomycterus ser facilmente distinguido dos demais Siluriformes que habitam os rios da Mata Atlântica, a distinção entre as espécies é dificultada diante dos muitos nomes disponíveis e ainda pelo fato da separação entre elas, baseada principalmente em colorido, ser confusa.

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Para facilitar o reconhecimento das espécies na bacia com base em morfologia externa, fornecemos a seguir uma diagnose das espécies descritas e os morfotipos reconhecidos por nós para a área de estudo.

Trichomycterus landinga Triques and Vono, 2004

Figura 2. Trichomycterus landinga. Holótipo MZUSP 58496. Vistas dorsal, lateral e ventral. Foto: Osvaldo T. Oyakawa. Diagnose: Distância da origem da dorsal ao meio da base dos raios caudais 1.5 na distância predorsal. Cabeça larga, quadrada. Primeiro raio de peitoral prolongando em filamento (Fig.2). Colorido: Manchas pequenas (menor ou igual ao tamanho da órbita ocular), nas partes látero-dorsais do corpo tendendo a diminuir no sentido do ventre. Indivíduos menores que 40 mm CP tem manchas alinhadas formando uma faixa intermitente. Comparação: espécie descrita a partir de exemplar único da localidade tipo, e assinalada para trechos do médio Jequitinhonha. Triques & Vono (2004) diagnosticaram Trichomycterus landinga a partir de detalhes do colorido, como a presença de uma série de pequenas máculas escuras (menores que o diâmetro ocular), cujas pintas tornam-se esparsas em direção ao ventre. Outra característica mencionada na descrição original é o primeiro raio da nadadeira peitoral prolongado em filamento curto, menor que o comprimento do focinho (Triques & Vono, 2004). Em uma comparação com a congênere Trichomycterus pradensis, que ocorre ao sul do sistema do rio jequitinhonha, observamos diferenças quanto ao número de raios ramificados na nadadeira peitoral, com 7 raios (vs. 8 em T. pradensis). Distribuição Geográfica: Médio Jequitinhonha. Material examinado: Minas Gerais, bacia do rio Jequitinhonha: MCNIP 29, 1 (50.3 mm CP), ribeirão Escura, sub-bacia Itacambiruçu, mun. Itacambira- MG. MCNIP s/n°, 5, 30- 55 mm CP, Ribeirão Ventania afluente do Rio Itacambiruçu, mun. Grão Mongol- MG.

Trichomycterus itacambirussu Triques and Vono, 2004

Figura 3. Trichomycterus itacambirussu. MCNIP s/no.

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Diagnose: Distância da origem da dorsal ao meio da base dos raios caudais 1.5 na distância predorsal. Cabeça larga e quadrada. Nadadeira dorsal com sete raios ramificados; nadadeira peitoral com seis a sete raios ramificados; nadadeira anal com cinco raios ramificados. Primeiro raio de peitoral prolongando em filamento. Colorido: Manchas pequenas (menor ou igual ao tamanho da órbita ocular), nas partes látero-dorsais do corpo tendendo a diminuir no sentido do ventre. Comparação: espécie conhecida para a localidade-tipo, e assinalada para trechos do médio e baixo Jequitinhonha (citada em Sarmento-Soares, 2008). A comparação com a congênere T. landinga indicou ampla sobreposição dos dados morfométricos e merísticos, o que sugere a necessidade de maiores investigações quanto a distinção entre ambas espécies. Distribuição Geográfica: Médio Jequitinhonha. Material Examinado: Minas Gerais, bacia do rio Jequitinhonha: MCNIP s/no., 3, 20- 45 mm CP, estrada de terra entre Grão Mongol e Josenópolis. Mun. Josenópolis -MG. (Fig.3).

Trichomycterus jequitinhonhae Triques & Vono 2004

Figura 4. Trichomycterus jequitinhonhae. MZUEL 7342.

Figura 5. Trichomycterus jequitinhonhae. MCNIP s/no. Foto: Tiago C. Pessali.

Diagnose: Cabeça reta, não deprimida, triangular. Olho grande. Olhos pequenos, 11- 12% no comprimento da cabeça; filamento peitoral curto a moderado. pedúnculo caudal baixo. Nadadeira dorsal com 6-7 raios ramificados; nadadeira peitoral com 7 raios ramificados; nadadeira anal com 5 raios ramificados. nadadeiras pélvicas separadas entre si. caudal truncada. Barbilhão maxilar atinge a base do opérculo. Barbilhões nasal e rictal longos, alcançando a placa opercular. Colorido: O padrão de colorido mais comum em indivíduos desta espécie é a presença de manchas circulares grandes e escuras no corpo (Fig. 4). Em alguns indivíduos, tais manchas tendem a formar uma faixa descontínua no meio do corpo (lembrando tabletes retangulares- Fig. 5), sendo estas maiores e sequenciais no flanco e próximas ao dorso.

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Indivíduos menores com uma faixa lateral nítida, interrompida ou contínua, ao longo da linha lateral. Comparação: espécie conhecida para a localidade-tipo, e assinalada para outros pontos da bacia em estudos recentes (e.g. Andrade Neto, 2010). Morfologicamente muito semelhante a Trichomycterus bahianus, o que requer maiores investigações. Distribuição Geográfica: Médio Jequitinhonha. Material Examinado: Minas Gerais, bacia do rio Jequitinhonha: MZUEL 7141, 4 ex. (42.5 – 60.1 mm CP) Córrego Casa Nova, Bocaiuva; MZUEL 7236, 2 (40.5 – 43.0 mm CP) estrada de terra Itamarandiba; MZUEL 7342, 7 ex. (36.5 – 52.9 mm CP). Caminho para Posses, Leme Do Prado. Bahia, bacia do rio Jequitinhonha: MNRJ 32128, 6 (51.1 – 57.8 mm CP), MNRJ 31971, 1 (44.9 mm CP) Rio Ribeira, próximo nascente em União Baiana- BA.

Trichomycterus bahianus

Figura 6. Trichomycterus bahianus. MBML 2116.

Diagnose: Cabeça deprimida, larga (79-83% CC), com formato triangular ou quadrado. Olhos pequenos (13-15% CC). Barbilhão maxilar atinge a base do opérculo. Barbilhões nasal e rictal curtos, não alcançando a placa opercular. Filamento peitoral curto a moderado (6-10% no comprimento do primeiro raio ramificado). Pedúnculo caudal moderado a alto (8-10% no CP). Nadadeira dorsal com 6-7 raios ramificados; nadadeira peitoral com 6-7 raios ramificados; nadadeira anal com 5 raios ramificados. Nadadeira caudal levemente emarginada. Colorido: Colorido com manchas arredondadas grandes (maiores que o diâmetro orbital) sobre as laterais do corpo. Em exemplares menores (CP inferior a 40 mm) uma faixa lateral pálida, interrompida ou contínua, pode estar presente ao longo da linha lateral (como ilustra a Fig.6). Comparação: Espécie descrita a partir de material do rio Una, e registrada para contribuintes do rio Pardo- BA (Cetra et al., 2010). Aqui pela primeira vez assinalada para o baixo rio Jequitinhonha. Distribuição Geográfica: Rio Una, rio Pardo e baixo rio jequitinhonha. Material Examinado: Minas Gerais- Bacia do rio Jequitinhonha: MBML 2561, 1 c&s (49.4 mm CP), Jacinto, tributário do córrego Areia, próximo a Jaguarão. MNRJ 32128, 9; MBML 1495:10, MBML 2116:2. MBML 1495, 9 (42.6 – 63.9 mm CP) afluente do Córrego da Areia logo após a cidade de Jaguarão, no sentido de Jacinto. MG; MBML 1504, 1 ex. (82.23 mm CP) Córrego Areinha próximo a Salto da Divisa. Jacinto; MBML 1508, 2 ex. (50.57 – 52.16 mm CP) Córrego do Empedrado próximo à Santo Maria do Salto; MBML 2116, 2 (39.5 di&co – 45.8 mm CP). Afluente do Córrego da Areia logo após a cidade de Jaguarão, no sentido de Jacinto, mun. Jacinto. Bahia- Bacia do rio Pardo: Bahia: MBML 1579, 2 (57.6 - 60.9 mm CP), Wenceslau Guimarães, córrego da Piaba, Reserva Biológica Wenceslau Guimarães; MBML 1580

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(48.3 - 64.7 mm CP), Boa Nova, tributary of rio Urubu, near Valentim Village; MBML 1585, 10 (51.2 - 110.0 mm CP), Boa Nova, riacho Timorante, near Valentim Village; MBML 1587, 2 (45.8 - 51.9 mm CP), Boa Nova, tributary of rio Valentim; MBML 1592, 6 (45.0 - 75.3 mm CP), Afluente do Rio Valentim, abaixo da Cachoeira Sete de Setembro, Boa Nova; MBML 1595, 14 (71.4 - 76.1 mm CP), Rio Panelinha no povoado de Biscó. Camacan; MBML 1598, 2 (53.3 – 56.9 mm CP), Rio Panelinha no povoado de Biscó, mun. Camacan; MBML 1604, 1 (84.6 mm CP), Afluente do Ribeirão Água Preta. Jussari. MBML 1609, 4 (71.1 – 95.6 mm CP), Afluente do Rio Colonia. Jussari. MBML 2142, 2 c&s (52.5- 57.5 mm CP), Rio Panelinha no povoado de Biscó, mun. Camacan. MNRJ 31935, 2 (47.5 – 55.5 mm CP). MNRJ 32022, 7 ex., Rio Panelinha no povoado de Biscó- Camacã. MNRJ 32029, 2 (36.2 – 37.9 mm CP); MNRJ 31941, 2 (45.0 – 50.4 mm CP); MNRJ 32243, 80 ex. 23.4- 69.0 mm CP), Rio Panelinha no povoado de Biscó- Camacan; MNRJ 32246, 2 (63.6 – 65.2 mm CP); MNRJ 31932, 1 (66.8 mm CP); MNRJ 32244, 3 (57.2 – 69.5 mm CP). Bahia- Bacia do rio Cachoeira: MNRJ 31935, 3 ex., Afluente do Ribeirão Água Preta tributário do Rio Colonia, Jussari- BA. Bahia- Bacia rio Una: MNRJ 31932, 2 ex., Afluente do Rio Aliança na RPPN Serra do Teimoso, Jussari- BA

Trichomycterus sp. “araçuaí”

Figura 7. Trichomycterus sp. araçuaí. MZUEL 7279, 62.2 mm CP, afluente do rio Itamarandiba, mun. Itamarandiba- MG.

Diagnose: Cabeça deprimida, baixa, quadrada em vista dorsal. Olho pequeno (12-15% CC). Filamento peitoral curto. Pedúnculo caudal alto, em continuidade com a nadadeira caudal. Nadadeira dorsal com 6-7 raios ramificados; nadadeira peitoral com 7-8 raios ramificados; nadadeira anal com 5 raios ramificados; nadadeiras pélvicas separadas; caudal truncada ou levemente arredondada. Barbilhão maxilar alcança a base do opérculo. Barbilhões nasal e rictal longos, ultrapassando a vertical da órbita ocular. Colorido: colorido reticulado, com manchas grandes, em alguns indivíduos formando uma faixa lateral interrompida ao longo da linha lateral (Fig.7). Nadadeiras com manchas escuras esparsas. Comparação: Em rótulo de coleções associado a T. landinga, possivelmente por causa da cabeça baixa e faixa lateral escura intermitente. Distribuição Geográfica: Aparentemente endêmico da sub-bacia do rio Araçuaí, um dos principais contribuintes do rio Jequitinhonha. Material Examinado – Minas Gerais, bacia do rio Jequitinhonha: MZUEL 10713, 4 (54.1 – 75.8 mm CP) Afluente do rio Itamarandiba. Veredinha – MG; MZUEL 7216, 9 (31.3 – 56.6 mm CP) Córrego Itacarambi. Itamarandiba - MG; MZUEL 7236, 2 ex. (40.6 – 45.3 mm CP) Ribeirão Itanguá, estrada de terra. Mun. Itamarandiba; MZUEL 7272, 3 (54.1 – 76.7 mm CP) Córrego Retiro da Serra, afluente do Itamarandiba. Itamarandiba; MZUEL 7279, 4 (43.64 – 63.27 mm CP) Afluente do Itamarandiba. Itamarandiba; MZUEL 7979, 4 (40.5 – 62.2 mm CP) afluente do Itamarandiba.

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Itamarandiba. MZUEL 10736, 4 ex. (43.8 – 61.9 mm CP). Afluente do rio Setubal. Sub bacia do rio Araçuaí. Setubinha; MNRJ 32122, 1 (63.2 mm CP).

Trichomycterus sp. aff. T. trefauti

Figura 5. Trichomycterus sp. aff. T. trefauti. MZUEL 7077, 84.1 mm CP, Córrego Pedraria. Mun. Diamantina- MG.

Diagnose: Nadadeira anal na vertical da porção anterior da nadadeira dorsal. Pedúnculo caudal alto, entre 15-25% CP (vs. 10-12% nas espécies congêneres examinadas). Mancha elíptica sobre a base da nadadeira caudal. Corpo em colorido reticulado. Nadadeira dorsal com sete raios ramificados; nadadeira peitoral com seis raios ramificados; nadadeira anal com cinco raios ramificados; olhos bem pequenos, 11- 12% no comprimento da cabeça; nadadeiras com manchas escuras; nadadeiras pélvicas separadas; Placa opercular de odontóides escura. O barbilhão maxilar atinge a base do opérculo. Barbilhões nasal e rictal longos, ultrapassando a vertical da órbita e chegando a alcançar a placa opercular. Nadadeira caudal truncada. Colorido: Corpo com manchas pequenas escuras (menores ou iguais ao diâmetro orbital). Nadadeiras ímpares com manchas escuras. (Fig.5). Comparação: Assinalada para as cabeceiras fluviais em Diamantina e Olhos d’água respectivamente, esta espécie é morfologicamente semelhante a Trichomycterus trefauti, Wosiacki, 2004, descrita da bacia do rio das Velhas, contribuinte do rio São Francisco, com a qual compartilha a posse de uma mancha elíptica sobre a base da nadadeira caudal. O pedúnculo caudal hipertrofiado, mais alto que o restante do corpo, e o pequeno tamanho do olho são características não compartilhadas com os demais Trichomycterus na bacia do rio Jequitinhonha. O número de 6 raios ramificados na peitoral difere ligeiramente do encontrado para as demais espécies presentes na bacia do Jequitinhonha (com 6-7 raios). Necessário ainda confrontar os indivíduos de Trichomycterus sp. aff. T. trefauti com Trichomycterus brasiliensis Lütken, 1874, espécie originalmente descrita da foz do rio das Velhas, bacia do rio São Francisco, em Minas Gerais. O complexo T. brasiliensis tem distribuição assinalada para o alto rio São Francisco no estado de Minas Gerais e pequenas bacias adjacentes no sudeste do Brasil (Mehanna, 2014). Maiores estudos se fazem necessários para assegurar sua identidade. Distribuição Geográfica: Alto rio Jequitinhonha, nos contrafortes da Serra do Espinhaço. Material Examinado: Minas Gerais, bacia do rio Jequitinhonha: MZUEL 7077, 2 (64.6 – 84.1 mm CP), Córrego Pedraria. Diamantina. MZUEL 7097, 4 (41.35 – 52.27 mm CP), Córrego Carambola. Olhos D’água.

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Tabela 1. Medidas morfométricas das espécies de Trichomycterus e morfotipos assinalados para a bacia do rio Jequitinhonha. Trichomycterus Trichomycterus Trichomycterus Trichomycterus Trichomycterus Medidas landinga jequitinhonha bahianus sp.araçuaí sp.aff. T. trefauti Amplitude- Min- Amplitude- Min- Amplitude- Min- Max Média Amplitude- Min- Max Média Max Média Amplitude- Min- Max Média Max Média Comprimento padrão 50.3 – 50.3 50.3 72.7 – 24.7 50.7 82.2 - 39.5 54.5 84.1 - 26.4 47.4 84.1 - 26.4 47.4 Comprimento total 56.5 – 56.5 56.5 84,6 28,7 58.5 93.6 - 46.5 61.8 96.8 - 29.2 54.1 96.8 – 29.2 54.1 13.4 - 3.3 Alt. do corpo 5.6 - 5.6 5.6 13.2 - 3.2 7.9 12.6 – 5.1 6.9 13.4 - 3.3 6.4 6.4 Lar. do corpo 7.2 – 7.2 7.2 6,9 - 4,3 5.9 13.5 - 4.8 6.6 10.8 - 2.9 5.9 10.8 - 2.9 5.9 Filamento da peitoral 4.3 – 4.3 4.3 11.6 – 8.3 10.1 15.3 - 8.1 10.8 12.3 - 6.3 9.0 12.3 – 6.3 9.0 Comp.dos raios da peitoral 10.6 – 10.6 10.6 8.1 – 5.9 6.8 11.4 - 7.0 8.5 8.6 - 5.1 6.7 8.6 - 5.1 6.7 Alt. do pedunculo caudal 31.4 – 31.4 31.4 10.4-2.8 6.4 9.0 - 3.6 5.0 9.4 - 3.1 5.0 9.4 - 3.1 5.0 Comp.do pedunculo caudal 35.5 – 35.5 35.5 16.2 – 4.5 10.5 18.3 - 7.9 12.1 17.4 - 8.5 11.8 17.4 - 8.5 11.8 Compr. Pré-dorsal 27.7 – 27.7 27.7 48.5 – 15.4 32.8 51.8 - 24.8 34.0 56.2 - 25.1 32.5 56.2 - 25.1 32.5 Não foi Compr. Pré-anal Não foi medido medido 51.9 – 16.5 36.0 59.6 – 27.9 37.8 64.9 – 26.6 37.5 64.9 - 26.6 37.5 Não foi Compr. Pré-pelvica Não foi medido medido 45.4 – 13.7 29.3 45.4 – 22.0 29.1 51.6 - 21.7 29.7 51.6 – 21.7 29.7 Compr. Base da nadadeira Não foi dorsal Não foi medido medido 7.3 – 2.9 5.1 9.1 - 4.5 6.1 8.5 - 3.1 5.1 8.5 – 3.1 5.1 Compr. Base da nadadeira Não foi anal Não foi medido medido 5.6 – 1.8 3.8 6.3 – 3.9 5.0 6.1 - 2.3 3.7 6.1 - 2.3 3.7 Não foi 7.1 Compr. Barbilhão nasal Não foi medido medido 7.3 – 3.5 5.5 10.6 - 5. 7.0 11,7 - 4,5 7.1 11.7 - 4.5 Não foi Compr. Barbilhão maxilar Não foi medido medido 8.2 – 6.2 6.8 13.7 – 5.5 7.6 10.4 – 4.8 7.4 10.4 - 4.8 7.4 Não foi 9.7 - 4.1 Compr. Barbilhão rictal Não foi medido medido 6.8 – 3.9 4.9 10.5 - 4.5 6.8 9.7 - 4.1 6.2 6.2 Não foi Compr. Da cabeça Não foi medido medido 10.5 – 1.4 6.7 17.9 – 8.7 10.9 14.8 – 7.5 9.8 14.8 7.5 9.8

428

DISCUSSÃO

Existem três espécies nominais de Trichomycterus para a bacia do Jequitinhonha, todas descritas em Triques & Vono (2004) para a sub-bacia do rio Itacambiruçu. Ao avaliarmos a composição da ictiofauna no conjunto da bacia, foi possível observar a presença de dois morfotipos adicionais para a bacia. Ressaltamos que o padrão de colorido não é diagnóstico para nenhuma das espécies avaliadas, muito pelo contrário. Polimorfismos são observados. Ainda que três espécies tenham sido descritas para o rio Jequitinhonha, todas elas pertencem a uma mesma microregião. No presente estudo reconhecemos similaridades entre duas das três espécies de Trichomycterus descritas para a bacia do rio Jequitinhonha. A diversidade de formas nos contrafortes serranos da Serra do Espinhaço e a diversidade no baixo curso fluvial entrecortando a Bahia merecem ser mais bem investigadas. A dificuldade em separar Trichomycterus landinga e T. itacambirussu nas amostras avaliadas é um indicativo que os estudos com a bacia precisam seguir em continuidade. A avaliação de material do rio jequitinhonha na Bahia sugere que a ictiofauna de Trichomycterus na bacia não seja endêmica, havendo compartilhamento de T. bahianus, uma espécie até então conhecida dos rios Una e Pardo, bacias hidrográficas ao norte do rio Jequitinhonha. Trichomycterus tete, descrita para a bacia do rio de Contas, difere de T. bahianus pelo olho maior e cabeça triangular, e aparentemente não ocorre na área de estudo. Ainda que Trichomycterus alternatus tenha sido referenciado como presente na bacia por Triques & Vono (2004), nossos resultados indicam que tal espécie não ocorre na bacia, sendo endêmica da bacia do rio Doce. A maioria dos indivíduos de Trichomycterus alternatus possui um padrão de colorido uniforme, sem pintas ou vermiculações, e uma nadadeira caudal mais escura que o corpo. Variação entre os padrões de colorido é comum ser observado em espécies de Trichomycterus, onde há indivíduos com máculas e outros com colorido uniforme. As populações do rio Jequitinhonha também apresentam variação na pigmentação. Estudos em taxonomia integrativa visam aclarar as dificuldades no reconhecimento das espécies com complexidade (Dayat. 2005), e consideramos que este seja um caminho importante para resolução do problema de identificação das espécies presentes na bacia do rio Jequitinhonha.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq pela bolsa PCI- DA (LMSS) e bolsa PCI-DD (JPS e LT). A Ronaldo Pinheiro pela organização do mapa da bacia do rio Jequitinhonha. A Tiago Pessali pela cessão de uso de imagens de Trichomycterus. Aos colegas do Museu Nacional/UFRJ, pela hospitalidade durante visitas para exame de material comparativo (LMSS). Aos colegas do setor de Zoologia, INMA, pelo apoio. Ao colega Osvaldo Takeshi Oyakawa do MZUSP, por ceder às imagens do holótipo de T. landinga.

LITERATURA CITADA

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Material comparativo:

Trichomycterus alternatus: Espírito Santo: MBML 636, 3 (71,2-103.3 mm CP), Itaguaçu, Fazenda Coser. MBML 765, 1 (94,1 mm CP), rio Santa Joana. MBML 2602, 1 c&s (44.0 mm CP), Santa Teresa, rio Santa Maria do Rio Doce, na Cachoeira do Rúdio.

Trichomycterus brasiliensis: MNRJ 11346, 1, paralectótipo, Rio de Janeiro: Itatiaia, Mont Serrat, ribeirão da Tapera. MNRJ 11347, 1, paralectótipo, Rio de Janeiro: Itatiaia, Mont Serrat, ribeirão da Tapera. MNRJ 21425, 1, Minas Gerais: rio Paraopeba, em Cristiano Otoni, próximo a ponte velha. MNRJ 21554, 1, Minas Gerais: tributário do rio Ouro Branco, bacia do rio Paraopeba na estrada Ouro Branco-Santa Rita do Ouro Preto.

Trichomycterus pradensis: Médio Peruípe- MNRJ 28485, 6 ex.; Médio Itanhém- MNRJ 28491, 1 ex.; Alto Itanhém- MNRJ 28492, 1 ex. MNRJ 28490:16; Médio Jucuruçu- MNRJ 28486, 1 ex. MNRJ 28487, 9 ex. MNRJ 28483, 20 ex.; Alto Jucuruçu- MNRJ 28489, 2 ex. MNRJ 28488, 12 ex.; Médio Frades- MNRJ 32085,1 ex.; Alto Frades- MNRJ 32066:1 MNRJ 31993,4 ex. e MBML 1474:4; Baixo Buranhém- MNRJ 31950, 1 ex. MNRJ 32071:9 e MBML 1520, 9 ex.; Médio Buranhém- MNRJ 32050, 25 ex. e MBML 1480,10 ex.; Alto Buranhém- MNRJ 32101, 4 ex.; Alto Buranhém- MNRJ 32034, 16 ex. MNRJ 32102, 34 ex. e MBML 1489, 8 ex. Córrego Dezoito, bacia do rio Itaúnas; MNRJ 17263, 1 ex. (43.6 mm CP), MNRJ 17265, 1 ex. (45.6 mm CP), MNRJ 21429, 1 ex. (70.6 mm CP), rio Itauninhas, bacia rio Itaúnas. Bahia: MBML 1474, 4 ex. (30.9- 34.6 mm CP), Itabela, rio São Gonçalo na estrada Itabela a Guaratinga; MBML 1480, 10 ex. (45.1- 50.8 mm CP), Guaratinga, córrego Itu na estrada Guaratinga a Buranhém; MBML 1520, 9 ex. (36.3- 57.5 mm CP), Santa Cruz de Cabrália, rio Santo Antônio próximo a Barrolândia. MNRJ 28491, 1 ex. parátipo (35.1 mm CP), Medeiros Neto, córrego Água Fria.

Trichomycterus tete: MBML 7201, 2 ex. (47.0-83.9 mm CP). Afluente do rio Brumado, Rio de Contas- BA; MBML 7207, 1 ex., (65.0 mm CP). Nascente do rio de Contas, Rio de Contas- BA.

Trichomycterus aff. trefauti: MZUSP 36966, 2 parátipos, (36.6-54.2 mm CP) tributário do rio das Velhas, bacia São Francisco, mun. Trinta Réis, Minas Gerais.

431 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MODIFICAÇÃO COMPORTAMENTAL DE Cryptachaea migrans (ARANEAE, THERIDIIDAE) PELA VESPA PARASITOIDE Zatypota alborhombarta (HYMENOPTERA, ICHNEUMONIDAE)

Stéfany dos Santos de ALMEIDA¹*, Fabrícia Gonçalves LACERDA², Marcelo Oliveira GONZAGA3 & Thiago Gechel KLOSS ²

¹ Graduanda em Ciências Biológicas na instituição ESFA- Escola São Francisco de Assis ² Departamento de Biologia, Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde, Universidade Federal do Espírito Santo 3Instituto de Biologia, Universidade Federal de Uberlândia *[email protected]

INTRODUÇÃO

Diversos parasitas são capazes de induzir modificações comportamentais em seus hospedeiros. Essas alterações nos hospedeiros parasitados podem ser apenas modificações não-adaptativas (sub-produtos da infecção), adaptações dos hospedeiros para reduzir os danos promovidos pelo parasita ou manipulações comportamentais, que facilitam a transmissão a outros hospedeiros ou promovem um incremento na probabilidade de sobrevivência do parasita ou parasitoide em um período específico de seu ciclo de vida (Levri, 1999; Poulin, 2010; Schmid-Hempel, 2011). Um dos exemplos mais conhecidos de manipulação comportamental é a interação entre aranhas e vespas parasitoides da subfamília Pimplinae (Hymenoptera, Ichneumonidae), pertencentes ao grupo de gêneros Polysphincta (sensu Wahl & Gauld, 1998). Esse grupo é composto por 23 gêneros (Gauld & Dubois, 2006; Palacio et al., 2007; Matsumoto, 2016) e mais de 230 espécies, sendo que todas são exclusivamente ectoparasitoides de aranhas (Gauld & Dubois, 2006). As fêmeas adultas paralisam as aranhas hospedeiras por meio da inoculação de substâncias químicas e posteriormente, depositam um ovo no cefalotórax ou abdômen da aranha. A larva que eclode desse ovo se alimenta da hemolinfa das aranhas fazendo pequenos furos em seu tegumento. Geralmente, no estágio final de desenvolvimento larval, as aranhas modificam a arquitetura de suas teias e em seguida são mortas pelas larvas, que as consomem completamente e utilizam as teias modificadas como suporte para fixarem seus casulos. As teias modificadas são estruturas mais estáveis e resistentes, sendo ineficientes para interceptar insetos (Eberhard, 2000a; Eberhard, 2000b; Gonzaga & Sobczak, 2007; Weng & Barrantes, 2007). A construção consiste na expressão de rotinas repetidas do comportamento normal de construção de teia (Eberhard, 2010), na redução do número de componentes da teia, responsáveis para interceptar insetos (Gonzaga et al., 2010; Kloss et al., 2016a) e, algumas vezes, na construção de partes da teia que são normalmente construídos somente por indivíduos juvenis (Gonzaga et al., 2015). Para a compreensão dos aspectos evolutivos dessas interações, ainda são necessários muitos estudos sobre história natural dos organismos envolvidos, o que demanda investigações detalhadas de campo. O objetivo do presente estudo foi investigar a relação de parasitismo entre a aranha Cryptachaea migrans (Keyserling 1884) (Theridiidae) e a vespa Zatypota alborhombarta (Davis, 1895) (Ichneumonidae). Os indivíduos de Z. alborhombarta parasitam as aranhas C. migrans dentro dos abrigos construídos pelas aranhas. As larvas se alimentam da hemolinfa das aranhas e só as matam

432 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 após atingirem o terceiro estágio de desenvolvimento. No final do desenvolvimento, as larvas consomem completamente as aranhas e constroem seus casulos no interior dos abrigos, eclodindo desses casulos após 14 dias (T. G. Kloss, observação pessoal). No presente estudo nós avaliamos a porcentagem de parasitismo de uma população de C. migrans e verificamos se as aranhas parasitadas alteram o comportamento de construção das teias ao longo do desenvolvimento larval de Z. alborhombarta.

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de estudo

O trabalho foi conduzido na Estação Biológica de Santa Lúcia (EBSL), uma unidade de pesquisa e conservação da Mata Atlântica com aproximadamente 440 ha, localizada no município de Santa Teresa, Espírito Santo, Brasil (19° 56’ 10” S; 40° 36’ 06” O). A EBSL apresenta uma vegetação do tipo ombrófila densa, com clima subtropical. Os meses de janeiro e fevereiro são os mais quentes e úmidos e os meses de junho e julho são os mais frios e secos (Mendes & Padovan, 2000).

Espécies de estudo

A aranha Cryptachaea migrans, ocorre na Venezuela, Peru e Brasil, sendo portanto, uma espécie com distribuição exclusivamente Neotropical (World Spider Catalog, 2017). Os indivíduos dessa espécie constroem suas teias em locais úmidos. As teias são constituídas por uma estrutura tridimensional de fios não adesivos, posicionada ao redor de um abrigo composto por uma folha seca com bordas unidas por fios. Esse abrigo é suspenso por um espesso fio de sustentação. Da estrutura irregular central da teia partem diversos fios com sapatas adesivas e fios de sustentação com ramificações em sua porção terminal, permitindo a fixação em vários pontos do substrato. (T. G. Kloss, observação pessoal). Zatypota alborhombarta é conhecida para o Brasil, Costa Rica, México e Estados Unidos, sendo observada no Brasil parasitando Achaearanea tingo Levi, 1963 (Theridiidae) na Mata Atlântica (Yu et al. 2012; Gonzaga et al. 2016). No estado do Espírito Santo, o parasitoide Z. alborhombarta já foi observado no Parque Estadual de Itaúnas (Conceição da Barra), Parque Estadual da Pedra Azul (Domingos Martins), Reserva Biológica Augusto Ruschi (Santa Teresa) e Reserva Biológica de Duas Bocas (Cariacica) (T. G. Kloss, observação pessoal).

Avaliação da frequência de parasitismo

A frequência de parasitismo foi avaliada entre os meses de julho de 2016 a março de 2017. As avaliações foram realizadas mensalmente nas trilhas do Túmulo (extensão 1900 m) e em uma porção da margem esquerda do rio Timbuí (extensão 1000 m). As amostragens foram realizadas mensalmente em cada trilha, no período diurno, com esforço amostral médio de 3 horas por trilha. Com o objetivo de verificar a ocorrência de aranhas parasitadas, foram realizadas buscas ativas pelos abrigos das teias de C. migrans presentes nas trilhas analisadas. Após a detecção de um abrigo, nós verificamos a presença de ovos ou larvas do parasitoide no abdômen da aranha que estava no interior do abrigo. Todas os abrigos presentes nas trilhas foram inspecionados. A porcentagem de parasitismo foi obtida por meio do cálculo (número de aranhas com a presença de ovos ou larvas*100/número total de aranhas).

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Descrição da modificação da estrutura da teia

Com o objetivo de verificar se o comportamento de construção das teias é alterado de acordo com o estágio de desenvolvimento larval, coletamos 29 aranhas e dividimos em três grupos: (i) 10 aranhas não parasitadas, (ii) 10 aranhas parasitadas por larva de segundo instar e (iii) 09 aranhas parasitadas por larva de terceiro instar. As aranhas parasitadas foram coletadas durante as amostragens para avaliar a porcentagem de parasitismo. A classificação das larvas foi baseada na morfologia externa dos parasitoides, sendo consideradas como larva de segundo estágio aquelas que apresentaram o corpo segmentado, e como larvas de terceiro estágio aquelas que apresentaram tubérculos dorsais (seguindo Eberhard, 2000a; Kloss et al. 2016b). As aranhas foram coletadas juntamente com o seu abrigo e com o fio de sustentação do abrigo. Foram então acondicionadas em tubos plásticos e conduzidas ao laboratório da EBSL. No laboratório, os indivíduos foram inseridos em uma estrutura com a forma de triângulo, confeccionada com palitos de madeira (20 cm) inseridos em uma base de isopor e encapada com papel camurça preto. No topo dessa estrutura, uma linha de algodão foi amarrada para permitir a fixação do fio de sustentação da folha. Para a fixação do abrigo, a aranha foi previamente removida e acondicionada no mesmo tubo no qual foi transportada. A fixação do abrigo ocorreu por meio do processo de enrolar o fio de seda que naturalmente sustenta o abrigo na linha de algodão previamente instalada na estrutura. Dessa forma, o abrigo ficou suspenso a uma altura de 15 cm em relação à base da estrutura. Após a fixação do abrigo, a aranha foi novamente transferida para o seu interior com o auxílio de uma pinça. As aranhas com larvas de segundo estágio foram alimentadas a cada dois dias com uma formiga. Após a construção da teia, pulverizamos as teias com amido de milho e contabilizamos em cada teia: o número de fios verticais ligados ao substrato (Figura 1A), o número de fios com sapatas adesiva (Figura 1B), o número de fios com a porção terminal ramificada (Figura 1C) e a presença de fios de reforço na conexão entre o abrigo e o seu respectivo fio de sustentação (Figura 1D,E). Realizamos uma análise de variância one-way para comparar cada uma das diferentes características das teias (número de fios verticais ligados ao substrato, número de fios com sapatas adesivas, número de fios com a porção terminal ramificada) entre as aranhas parasitadas por larvas de segundo instar, aranhas parasitadas por larvas de terceiro instar e aranhas não parasitadas. Consideramos cada uma das características das teias, como variável resposta e os diferentes grupos de aranhas como variável categórica. Ajustamos modelos lineares generalizados, utilizando distribuição Gamma.

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Figura 1. Teias de Cryptachaea migrans. (A) Fios verticais conectados ao solo; (B) Fio ramificado na porção terminal conectada ao substrato; (C) Base dos fios verticais mostrando as sapatas adesivas (seta); (D e E) Fios de reforço na ligação entre o abrigo e o seu respectivo fio de sustentação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Entre os meses de julho de 2016 a março de 2017 nós inspecionamos 343 indivíduos de C. migrans, sendo que 19 estavam parasitados por larvas de Z. alborhombarta, totalizando 5.53% da população amostrada. O número de aranhas parasitadas em cada mês variou entre 0 e 5, sendo setembro o mês com a maior porcentagem de parasitismo (20%) (Figura 2). A porcentagem de parasitismo média (5.53%) observada para C. migrans foi inferior ao observado para Cyclosa fililineata (12.2%) e Cyclosa morretes (13.7%), parasitadas respectivamente por Polysphincta sp. nr. purcelli e Polysphincta janzeni na mesma localidade (Kloss et al. 2016b). O fato do parasitoide Z. alborhombarta também parasitar Cryptachaea rioensis na EBSL pode ser um dos fatores que explicam a baixa incidência de parasitismo em C. migrans, entretanto os fatores que determinam o parasitoidismo em C. migrans ainda necessitam de maiores investigações.

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Total Parasitados 101

50 44 33 34 23 18 20 20 5 Número de indivíduos de Número 2 4 0 0 1 4 0 3 JUL/16 AGO/16 SET/16 OUT/16 NOV/16 DEZ/16 JAN/17 FEV/17 MAR/17

Figura 2. Parasitismo de C. migrans por Z. alborhombarta na Estação Biológica de Santa Lúcia, Santa Teresa, ES. Valores em azul representam o número total de indivíduos de C. migras inspecionados em cada mês e os valores em vermelho representam o número de indivíduos parasitados em cada mês.

As teias de indivíduos não parasitados de C. migrans apresentaram em média 33,8 (±9,1) fios verticais, sendo que destes, 26,8 (±7,8) apresentaram sapatas adesivas e apenas 1 fio (±0,3) possuía ramificações na extremidade conectadas ao substrato. Já as teias de aranhas parasitadas por larvas de segundo e terceiro estágio, apresentaram 10,3 (±4,2), 16,6 (±7,5) fios verticais, respectivamente, onde 6,8 (±4) e 12,3 (±6,7) possuíam sapatas adesivas e 2,1 (±0,82) e 3,2 (±0,86) eram ramificados na extremidade conectada ao substrato. Não houve diferença entre as teias de aranhas não parasitadas, parasitadas por larvas de segundo estágio e parasitadas por larva de terceiro estágio, em relação ao número total de fios verticais (F1,25=29,2, p=0,11, Figura 3A), número de fios com sapatas adesivas (F1,25=49,6, p=0,17, Figura 3B) e número de fios com ramificações na extremidade conectada ao substrato (F1,25=10,9, p=0,08, Figura 3C). A única diferença registrada entre os diferentes grupos de teias foi em relação ao abrigo. Observamos que em 66,6% das teias de aranhas parasitadas por larvas de terceiro instar, houve a inserção de fios na parte superior do abrigo, aumentando o número de conexões entre o abrigo e o seu fio de sustentação. A presença desses fios ocorreu somente em 20% das teias de aranhas parasitadas por larvas de segundo instar e esteve ausente nas teias de aranhas não parasitadas (Figura 1D). É conhecido que os indivíduos de C. migrans também são parasitados por Zatypota morsei (Kloss et al. 2015). Entretanto, as modificações observadas nesses indivíduos diferem das modificações observadas para os indivíduos de C. migrans parasitados por Z. alborhombarta. Nas teias modificadas de indivíduos parasitados por Z. morsei, o número de fios conectados ao solo é reduzido, e as sapatas adesivas não são observadas. Além disso, é possível verificar a presença de fios conectados lateralmente à vegetação próxima à teia, que são ausentes nas teias de aranhas não parasitadas (Kloss et al., 2015). A observação da estrutura das teias em laboratório evidenciou que a modificação induzida nas aranhas é caracterizada pelo reforço na estrutura de sustentação do abrigo e ocorre em maior frequência quando a larva atinge o último estágio de desenvolvimento. Como a larva de Z. alborhombarta constrói a pupa no interior desses abrigos, o fato da modificação envolver o reforço da estrutura que os sustenta, sugere que a modificação comportamental do hospedeiro deve ter como resultado a redução do risco do abrigo cair no solo, o que deixaria a pupa vulnerável à predadores.

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Em diversos casos de alterações comportamentais de aranhas, ocorre uma redução no número de fios adesivos, responsáveis pela retenção das presas nas teias (Eberhard, 2010; Takasuka et al. 2015; Kloss et al. 2016a). Isso possivelmente constitui uma adaptação que reduz o risco de ruptura da estrutura utilizada pelo parasitoide para manter a pupa suspensa até a emersão do adulto. Neste caso, entretanto, não observamos uma redução desse tipo, assim como não observamos reduções no número de fios verticais conectados ao substrato e no número de fios com a extremidade ramificada. Esse fato pode estar relacionado com o mecanismo de retenção de presas nas teias de C. migrans. Observamos que os fios conectados ao solo se desconectam facilmente quando presas (especialmente formigas) ficam retidas ou tocam em suas extremidades. Nesse processo, a presa tenta se livrar do fio ao qual está presa, começa a caminhar no solo e vai tocando em diversos outros fios adesivos. Os fios vão se desconectando do substrato quando tensionados. A presa, então, fica retida e suspensa na teia, mas não promove nenhum risco de ruptura da estrutura de sustentação do abrigo. Essa característica faz com que não haja uma pressão seletiva favorecendo alterações comportamentais que alterem as características arquiteturais das teias ligadas à captura. É interessante ressaltar, entretanto, que o mesmo parasitoide promove uma redução drástica em teias irregulares similares tecidas por Achaearanea tingo (Theridiidae) (Gonzaga et al., 2016). As teias normais de A. tingo possuem semelhanças com as teias de C. migrans. As teias possuem um abrigo e são constituídas por uma região central composta por uma rede tridimensional de fios não adesivos, de onde saem diversos fios verticais com sapatas adesivas, que são conectados no substrato. Entretanto, a teia modificada difere completamente das teias modificadas de C. migrans, sendo constituídas por apenas dois fios, que saem da folha utilizada como abrigo e são conectados no substrato. Esses dois fios são constituídos por diversos fios e são conectados na vegetação por diversos pontos. Essa diferença nas teias desses hospedeiros de Z. alborhombarta pode indicar que o efeito da inoculação das substâncias responsáveis pela manipulação depende também de características intrínsecas de cada hospedeiro e que a mesma substância pode promover efeitos distintos de acordo com essas características.

Figura 3. Diferenças nas estruturas das teias de C. migrans parasitadas por larvas de terceiro estágio, larvas de segundo estágio e aranhas não parasitadas. (A) Diferença no

437 Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017 número de fios verticais conectados ao substrato; (B) número de fios com sapatas adesivas e (C) número de fios com a extremidade ramificada. Barras representam médias e os intervalos representam os erros padrão da média. Diferentes letras minúsculas correspondem a diferenças significativas (P <0.05) entre as teias dos diferentes grupos de aranhas.

CONCLUSÃO

Nesse trabalho nós constatamos que a vespa Z. alborhombarta apresenta uma baixa frequência de parasitismo, mas é capaz de induzir alterações comportamentais em C. migrans. As modificações são constituídas pelo reforço no número de fios na parte superior do abrigo, na conexão entre o abrigo e o seu fio de sustentação. Sugerimos que essa alteração comportamental pode reduzir a probabilidade de queda do abrigo, diminuindo, assim, a probabilidade de morte da pupa do parasitoide por predação.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (TO 1020/2015, Processo 71277560/2015) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Processo 300295/2016-2). Agradecemos também ao Instituto Nacional da Mata Atlântica, Universidade Federal do Rio de Janeiro e Associação Amigos do Museu Nacional pelo acesso à Estação Biológica de Santa Lúcia.

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ASSOCIA ÇÃO DE AMIGOS DO MUSEU DE BIOLOGIA MELLO LEIT ÃO – SAMBIO

Foto da capa: Primeiro lugar no concurso fotográfico do VI SIMBIOMA categoria “Máquina Fotográfica” de Alexander Tamanini Mônico

Foto contra-capa: Segundo lugar no concurso fotográfico do VI SIMBIOMA categoria “Aparelho Celular”de Gabrielly Benaducci Tolentino