Notas Taxonômicas Para Euphorbiaceae S.L. Do Nordeste Do Brasil1
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Hoehnea 37(1): 71-85, 3 fig., 2010 71 Notas taxonômicas para Euphorbiaceae s.l. do Nordeste do Brasil1 Maria de Fátima de Araújo Lucena2,3 e Marccus Alves2 Recebido: 09.10.2008; aceito: 28.01.2010 ABSTRACT - (Taxonomic notes for Euphorbiaceae s.l. from Northeastern Brazil). Recent taxonomic studies carried out in Euphorbiaceae from the Caatinga, including field collections and surveys of 14 herbaria, have revealed 29 taxa to be added to the previously published checklist of the family in the Northeast. The taxa are presented with information on synonymy, type material and voucher specimens. Comments related to geographical distribution, habitats and diagnostic characters are also given. The study increases the diversity of species of this important family in the semi-arid region of Brazil and points out the importance of intensive sampling in new areas, as well as the analysis of botanical collections already available. Key words: Biodiversity, dry forest, floristic, Rain Forest RESUMO – (Notas taxonômicas para Euphorbiaceae s.l. do Nordeste do Brasil). Recentes estudos taxonômicos desenvolvidos na Caatinga, sobre Euphorbiaceae, incluindo coletas e levantamentos em 14 herbários revelaram o acréscimo de 29 táxons ao cheklist anteriormente conhecido para a família na região. Os táxons são apresentados acompanhados de alguns sinônimos, material tipo e espécimes de referência. São também apresentados comentários sobre distribuição geográfica, ambientes de ocorrência e caracteres diagnósticos. O estudo amplia a diversidade de Euphorbiaceae para o semi- árido do Brasil e ressalta a importância de coletas intensivas em novas áreas, assim como a análise minuciosa dos acervos botânicos já disponíveis. Palavras-chave: Biodiversidade, florística, Floresta Atlântica, semi-árido Introdução 2006). Trabalho desenvolvido por Cordeiro & Car- neiro-Torres (2006) indica a ocorrência de 211 espé- Euphorbiaceae s.l. merece destaque entre as An- cies e 45 gêneros para a região Nordeste do Brasil. giospermas por abrigar 6.300 espécies reunidas em Euphorbiaceae s.l. compreende um grupo de 245 gêneros (Govaerts et al. 2000), distribuídas prin- plantas reunidas por Webster (1994) em cinco subfa- cipalmente nas regiões tropical e subtropical, espe- mílias, reunindo táxons uniovulados e biovulados: cialmente nos continentes americano e africano, com Phyllanthoideae, Oldfieldioideae, Acalyphoideae, exceção para poucos gêneros extratropicais (Webs- Crotonoideae e Euphorbioideae. Chase et al. (2002), ter 1994). Compreende um dos grupos taxonômicos APG (2003), Wurdack et al. (2005) e Kathriarachchi mais complexos e morfologicamente diversos entre et al. (2005) sugerem a segregação de alguns repre- as Eudicotiledôneas (Judd et al. 1999, Soltis et al. sentantes em outras famílias: Phyllantaceae, Picro- 2005, Simpson 2006). dendraceae, Peraceae e Putranjivaceae, reunindo No Brasil, estima-se a ocorrência de 1.100 espé- nestas todos os táxons biovulados. cies e 72 gêneros, habitando os mais diferentes tipos Registrada como importante grupo de plantas do vegetacionais (Barroso et al. 1991, Souza & Lorenzi semi-árido nordestino (Araújo et al. 1995, Alcofora- 1. Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor no Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, Universidade Federal de Per- nambuco 2. Universidade Federal de Pernambuco, Laboratório de Morfo-taxonomia Vegetal, Av. Prof. Moraes Rego s/n, Cidade Universitária, 50670-590 Recife, PE, Brasil 3. Autor para correspondência: [email protected] 72 Hoehnea 71(1): 71-85, 3 fig., 2010 do Filho et al. 2003, Andrade et al. 2004, Sátiro & spp.) e Savia Willd. (1 sp.). Assim, uma importante Roque 2008), Euphorbiaceae s.l. foi recentemente in- contribuição é dada à flora local acompanhada da ventariada por Lucena (2009) em áreas selecionadas atualização das identificações dos acervos regionais. como prioritárias para conservação do Bioma Caatin- Entre as 29 espécies aqui apresentadas, seis ga (MMA 2002). Este trabalho é parte do inventário são restritas à vegetação de caatinga (Cnidoscolus realizado e objetiva contribuir com o conhecimento byssinus Fdez. Casas, C. hamosus Pohl, C. infestus da família na região, através da atualização do núme- Pax & K. Hoffm., Croton acradenius Pax & K. ro de táxons. Hoffm., C. laceratoglandulosus Caruzo & Cordeiro, C. lachnocladus Mart. ex Müll. Arg., Dalechampia Material e métodos fernandesii G.L. Webster e Jatropha hastifolia Fdez. Casas), duas ocorrem em áreas de caatinga e cerrado Este estudo foi realizado principalmente com (Croton tenuifolius Pax & K. Hoffm. e Euphorbia base em visitas a populações naturais e consultas lycioides Boiss.), uma em áreas de caatinga e aos principais herbários da região Nordeste (ASE, brejos de altitude (Croton pulegioides Müll. Arg.) e CEPEC, EAC, EAN, HST, HUEFS, IPA, JPB, MAC, apenas Cnidoscolus halteris Fdez. Casas e Meinekia MOSS, PEUFR, TEPB, UFRN, UFP) e do exterior neogranatensis (Müll. Arg.) G.L. Webster são (M, P, K) - siglas de acordo com Thiers (2009). encontradas exclusivamente em áreas de brejos Coletas botânicas foram realizadas entre de altitude. As demais espécies são exclusivas da março de 2006 e maio de 2008, no Parque Nacional Floresta Atlântica e Floresta Amazônica. Serra da Capivara (PI), Parque Nacional Serra das Treze espécies são endêmicas da região Nordeste Confusões (PI), Parque Nacional Serra de Itabaiana do Brasil (Cnidoscolus byssinus, C. halteris, C. (SE), Cariris paraibanos (PB), e municípios de infestus, Croton acradenius, C. laceratoglandulosus Mirandiba e Serra Talhada (PE) e Porto da Folha Caruzo & Cordeiro, C. lachnocladus, C. pulegioides, (SE), totalizando 22 expedições. C. tenuifolius, C. parodianus Croizat, Dalechampia A identificação dos táxons foi realizada fernandesii, Discocarpus pedicellatus Fiaschi & através de bibliografia especializada e análise de Cordeiro e Jatropha hastifolia). material-tipo. Os comentários apresentados foram Quatorze táxons podem ser considerados raros, elaborados com base nos dados contidos nas por apresentarem baixa ocorrência nos acervos etiquetas das exsicatas, bibliografia e, especialmente, locais, coletas restritas a poucas localidades, ou observações de campo. Foram relacionados, quando ainda, coletas antigas como: Cnidoscolus byssinus, C. possível, os basiônimos e/ou os principais sinônimos. halteris, C. hamosus, C. infestus, Croton acradenius, Os materiais de referência correspondem a exemplares C. lachnocladus, C. parodianus, Discocarpus examinados ou disponíveis em bibliografia de pedicellatus, Euphorbia lycioides, Flueggea referência para o grupo taxonômico. Pelo intuito de schuechiana (Müll. Arg.) G.L. Webster, Jatropha atualizar o número de táxons, na região Nordeste, hastifolia, Meineckia neogranatensis, Podocalyx tendo como base a lista apresentada por Cordeiro & loranthoides Klotzsch e Tragia friesii Pax & K. Carneiro-Torres (2006), adotou-se Webster (1994) Hoffm. para classificação da família. Acalypha amblyodonta (Müll. Arg.) Müll. Arg., Actinostemon klotzschii (Didr.) Pax, Bernardia Resultados e Discussão celastrinea (Baill.) Müll. Arg., B. micrantha Pax & K. Hoffm., B. scabra Müll. Arg., B. similis Pax O estudo acrescenta à listagem apresentada por & K. Hoffm., Dalechampia fernandesii, Flueggea Cordeiro & Carneiro-Torres (2006), 29 espécies e schuechiana, Meineckia neogranatensis, Podocalyx cinco gêneros à região Nordeste: Acalypha L. (1 sp.), loranthoides e Tragia lessertiana (Baill.) Müll. Arg., Actinostemon Mart. ex Klotzsch (2 spp.), Bernardia conhecidas até então para apenas uma localidade, Houst. ex Mill. (5 spp.), Cnidoscolus Pohl (4 spp.), têm agora a distribuição geográfica ampliada. Croton L. (6 spp.), Dalechampia Plum. ex L. (1 Croton sapiifolius Müll. Arg. e Discocarpus sp.), Discocarpus Klotzsch (1 sp.), Euphorbia L. pedicellatus são restritas, até o momento, à região do (1 sp.), Flueggea Willd. (1 sp.), Jatropha L. (1 sp.), sul da Bahia. Meineckia Baill. (1 sp.), Philyra Klotzsch (1 sp.), Segundo Melo (2005), Sebastiania Spreng. Podocalyx Klotzsch (1 sp.), Tragia Plum. ex L. (2 no nordeste está representado por apenas cinco Lucena & Alves - Notas taxonômicas Euphorbiaceae 73 espécies a saber: Sebastiania jacobinensis (Müll. 181. 1841. Tipo: BRASIL. s. loc., s.d., Hagendorf Arg.) Müll. Arg., S. macrocarpa Müll. Arg. ex 1347 (holótipo B, possivelmente destruído). Müll. Arg., S. trinervia (Müll. Arg.) Müll. Arg., = Actinostemon concepcionis (Chodat & Hassl.) S. brevifolia (Klotzsch ex Müll. Arg.) Müll. Hochr., Archiv fur Naturgeschichte 7(1): 181. Arg. e S. riparia Klotzsch ex Schrad. As demais 1841. espécies anteriormente listadas para a região = Actinostemon lasiocarpus (Müll. Arg.) Baill., Nordeste foram alocadas em Microstachys A. Juss. Adansonia 5: 334.1865. Esser (1994), ao revisar Mabea Aubl. ajustou o = Actinostemon communis (Müll. Arg.) Pax in número de espécies ocorrentes na região. Este autor H.G.A.Engler, Pflanzenr., IV-147-V:65. 1912. informou que Mabea occidentalis Benth., comumente = Actinostemon lundianus (Didr.) Pax in citada em acervos e listagens florísticas para a região H.G.A.Engler, Pflanzenr., IV, 147, V:70 1912 Nordeste, ocorre desde o México até oeste do Brasil. ≡ Dactilostemon lundianus Didr., Vidensk. Para a região, o autor indicou a ocorrência apenas de Meddel. Naturhist. Foren. Kjøbenhavn 1857: Mabea glaziovii Pax & K. Hoffm., M. piriri Aubl. e 126. 1857. M. fistulifera Mart. Material de referência: BRASIL. Ceará: Mulungu, Desta maneira, a família Euphorbiaceae para o Sítio Jardim, 14-II-2003, A.P. Silveira