EXPEDIENTE Edição 14 Anderson Oliveira [email protected] COMO LE GUSTA GUARDIÕES DA GALÁXIA FUNK Digramação 46 ENTREVISTA: LABIRINTO Anderson Oliveira JENNIFER 25 BATTEN Programação ENTREVISTA Anderson Oliveira 32 KAROL CONKA 20 08 ENTREVISTA PAPISA Para sugestões, críticas e mais 16 UNIVERSO KASSIN informações, fale conosco: KATY PERRY [email protected] UMA DÉCADA DA ETERNA ADOLESCENTE MATÉRIA PRINCIPAL O RENASCIMENTO DO JAZZ INGLÊS 26 MAGIC 56 10 DIPLO www.revistasom.com.br ENTREVISTA 38 COADJUVANTE facebook.com/revistasom LETRUX DE LUXO 19 twitter.com/revistasom DISCO LIVRO instagram.com/revistasom ESTRANHO 54 SE NÃO EU, QUEM VAI FAZER VOCÊ FELIZ?

A gente gosta de falar de música! 04 50 MEMÓRIA: SURRENDER 42 CHEMICAL BROTHERS LANÇAMENTO - FALCÃO TEDESCHI TRUCKS BAND

02 03 Créditos: Divulgação

por Anderson Oliveira

Foram mais 5 milhões de álbuns vendidos e Bem além disso e disposto a seguir firme com dez álbuns lançados, números que fizeram sua carreira, Marcelo Falcão disponibilizou d´ uma das bandas mais queridas recentemente seu primeiro álbum solo do país nos últimos anos. após a bem-sucedida colaboração com a bombástica IZA, preparando o cenário Mesmo com clássicos que nunca sairão de perfeito para o lançamento de “Viver (mais cena, o grupo encerrou suas atividades em leve que o ar), disco que foi produzido em 2018 de forma tumultuada, mas maior que parceria com Felipe Rodarte e que conta isso, escancaraou através de entrevistas com um line up impressionante. Entre os de seus integrantes todos os problemas nomes que dão forma ao primeiro trabalho que culminaram no encerramento das suas solo de Falcão estão nada menos que João atividades, surpreendendo a um público que Fera (teclados), dos Paralamas, o maestro via no grupo um papel que ia muito além da Arthur Verocai, o produtor Zegon (efeitos), música que ouvia. além do DJ Negralha (scratches e efeitos).

04 05 De repertório extenso e produção refinada,Viver já bem definida, apresentando uma fusão de palavras ao vento que se perdem ao longo do (mais leve que o ar) diz muito, mas – diferente elementos que iam do rock ao dub e do disco. da época de banda – soa tão desconexo da ao ragga-muffin em faixas como Reza a Vela e realidade e artificial que nasce condenado a cair Rolo Cotidiano. Foi esse o disco que fez d´O Definitivo para o rock nacional a partir dos anos no esquecimento em pouco tempo. E explicar Rappa uma banda realmente gigante em solo 90, Falcão paga o preço de nunca ter escolhido essa superficialidade vai muito além das letras do brasileiro. um lado no processo de desintegração de sua disco, compostas ainda durante o tempo em que ex-banda. Ou melhor, talvez tenha escolhido Falcão realizava os últimos shows com O Rappa. Em seu disco solo Falcão tenta aplicar um, o seu. E ainda que isso soe correto para praticamente tudo de bom que construiu na sua sequência profissional, parece ter percebido Banda que estabeleceu um elo único entre carreira, mas é nítido que, mesmo diante de tarde demais que construiu ao longo de sua todas as classes sociais do país, o grupo tamanha grandiosidade dos integrantes de seu história um elo que não é fácil de ser quebrado. carioca sempre se mostrou afiado para cantar a grupo solo, o público não está diante de uma realidade da periferia sem soar demagogo frente banda, o que acaba enfraquecendo o trabalho O risco disso se reflete em seu primeiro trabalho às classes mais altas. De forma sutil, nunca do vocalista e criando um certo distanciamento. solo, quando soa distante demais da periferia e assumiu um lado político após a demissão demagogo ao tentar conversar com um público de Marcelo Yuka, caminhando na linha tênue Essa noção da carreira solo de Falcão não chega a que espera apenas por entretenimento. E em onde valorizava a realidade da maioria do povo soar como algo falso, mas ainda é muito distante, Viver (mais leve que o ar) Falcão aprende, assim, brasileiro sem ir de encontro com quem sempre o que é uma pena. Faixas como Mais leve que que tudo o que fez nunca foi apenas música. • garantiu seu status no mainstream nacional. Em o ar e Viver, essa que conta com a participação Capa do primeiro álbum solo de Marcelo Falcão, Viver de Lula Queiroga, são bons exemplos de como outras palavras, mesmo ao perder seu principal (mais leve que o ar) conta com um line up formado por e engajado compositor, O Rappa conseguiu se alguns dos maiores músicos do país e foi gravado na Toca desperdiçar tamanho potencial. mostrar eficiente ao cantar contra as injustiças do Bandido, Rio de Janeirp - Créditos: Divulgação e assim criar verdadeiros hinos que abordavam Porém, daí em diante fica difícil defender faixas como I Don´t Wanna Be King ou Diz de forma inteligente questões raciais, religiosas E logo de cara, Viver (mais leve que o ar) vai Aí, que exageram ao tentar dizer muito e se e políticas sem apontar o dedo de forma tão na contramão disso. Hoje eu Decidi e Quando perderem musicalmente enquanto soam longas incisiva. Você Olhar pra Mim soam muito mais como um e arrastadas. O discurso engajado até dá as desabafo de seu vocalista do que propriamente caras e está lá, mas soa distante e desconexo o uma extensão d’O Rappa sem o restante dos suficiente para passar em branco, algo que não integrantes. De encher os olhos, a produção acontece somente em Eu quero Ver o Mar, outra do disco realmente impressiona pela riqueza que se salva em meio a um emaranhado de de detalhes, especialmente quando somada à elementos capazes de cansar o ouvinte muito paixão do vocalista por vertentes como dub, mas antes do fim do disco. ao fim de cada faixa tudo parece simplesmente música pop descartável, como se tudo dito Já na reta final, Me Entende ainda merece soasse interessasse somente ao seu vocalista atenção e deixa para Senhor Fazei de Mim a e mais ninguém, o que de certa forma é uma responsabilidade de encerrar um disco que não verdade inconveniente. vai deixar saudade. Com essa versão da Oração de São Francisco, Viver (mais leve que o ar) Só em Voar, flutuar, a terceira faixa do disco, que mostra um Falcão distante do público, ao menos temos lampejos que possam justificar tamanha da forma que acreditávamos estar ligado. Mais aposta na carreira solo de Marcelo Falcão. que isso, é um trabalho que soa distante da Com um refrão pegajoso e uma levada que em realidade que pregava nos tempos de O Rappa, nada deve aos melhores momentos d´O Rappa, o que pode indicar um caminho bem diferente carrega um discurso cheio de metáforas e que daquele que rendeu fama ao vocalista. Um risco tem tudo para funcionar, especialmente ao vivo. que ninguém acredita que Falcão está disposto E é só. a correr. Responsável por um dos melhores momentos do primeiro álbum solo de Marcelo Falcão, Lula Queiroga Disco que é considerado definitivo para O Ao lado da cantora IZA, sensação do último ano, Marcelo Funcionando como uma amálgama que funde colabora em Viver, que é um dos carros-chefe do Rappa, O Silêncio Q Precede o Esporro tinha Falcão indicou os caminhos que viria a utilizar em sua suas paixões pessoais com a história de seu ex- disco e teve seu videoclipe lançado - Créditos: naquele momento o tecladista Marcelo Lobato carreira solo, como a paixão pelo dub - Créditos: Divulgação grupo, o vocalista diz muito, mas com palavras Divulgação assumindo as baquetas e a identidade da banda

06 07 por Anderson Oliveira

Se a música fosse um sistema solar, vários repertório, Relax serve como anestésico elementos teriam o mesmo nome na música musical, um trunfo muitas vezes confundido e brasileira: Alexandre Kassin. Talvez você não interpretado como marasmo, mas nesse caso saiba exatamente quem ele é, mas certamente pendendo somente para o lado bom. Créditos: Divulgação já ouviu algo feito por ele. Amparado por singles como Seria o donut?, Responsável por uma gama incontável de com Clarice Falcão, além da faixa-título do produções de sucesso nos últimos anos, disco, o novo trabalho de Kassin nasce fadado Alexandre Kassin produziu de a não alcançar a badalação de seus trabalhos a Los Hermanos, de a Mallu realizados como produtor, mas nem pede Magalhães. Realizou diversos projetos como o isso. Para um artista que soube como poucos ótimo Domenico +2, ao lado de Moreno Veloso manusear a música brasileira, produzir um disco e Domenico Lancelotti, e retomou em 2018 sua com total autonomia é a chance enveredar por carreira solo após quase uma década com um um novo universo, mesmo que ele já tenha sido álbum de inéditas, o primeiro desde 2005. renegado pelo público no passado.

Relax, como o próprio nome diz, é um mergulho Nessa tendência mezzo eletrônica mezzo por constelações e camadas de ritmos que só orgânica, Kassin se diverte a todo o tempo alguém capaz de manipular tudo com tamanha enquanto nos preocupamos em dar algum serenidade poderia construir. Embalado por sentido para seu novo trabalho. Ele existe, uma atmosfera à la João Donato, soa atemporal, mas certamente não cabe a nós esperar de um unindo-se a um seleto grupo de artistas de onde produtor com tamanho know-how a fusão de a música parece brotar junto com a respiração. tudo aquilo que já colocou a mão. Composto por 14 faixas, o disco transcorre em poucos E Relax é realmente um álbum dotado de rara segundos ou muitas horas, dependendo de seu beleza. Na maior parte do tempo suave, às estado de espírito, afinal, o tempo é diferente em vezes quase dançante. Dando aquela sensação cada sistema solar. de que fora extraído de uma versão brazuca de algum disco da série Cafe del Mar, mas sem se Tão pesado liricamente quanto leve perder na capacidade de criar composições que musicalmente, Relax tem a marca de Kassin sobrepõem o excelente trabalho instrumental de em um mundo tão efêmero, mostrando que Kassin. Um disco para ser ouvido, na essência mesmo para quem conhece o universo da mais plena da palavra. música como poucos, se enveredar por novos sistemas enquanto brinca com o risco é sempre Explorando um clima de letargia em de seu necessário. • 08 09 entrevista Créditos: Natalia Arjones Quando Letícia surgiu no mundo da música, o país a viu como uma das metades do ótimo duo Letuce, que ainda tinha o parceiro multi-instrumentista e compositor Lucas Vasconcellos. Naquele momento estávamos diante de uma MPB sem paredes, construída a partir de elementos de lounge music, indie rock e pop.

Essa história durou até 2016, quando Letícia e Lucas já não formavam mais um casal e o grupo encerrava a turnê de divulgação de seu terceiro e último álbum, Estilhaça, lançado um ano antes.

A vida seguiu e Letícia e Luca seguiram parceiros, ao menos nos estúdios. E dessa afinidade nasceu o primeiro álbum solo de sua carreira,Letrux Em Noite de Climão, que foi considerado um dos mais inovadores trabalhos lançados no país nos últimos anos.

Atriz, escritora, cantora, compositora e instrumentista, Letrux se mostrou tão completa que não é possível somente ouvir sua música, mas sentir, dançar, imaginar... ver!

E em meio a essas cores e ritmos, sentimentos e beats, a Revista Som tem a honra de conversar com Letícia Novaes, a LETRUX, naquele que pode ser considerado o momento mais empolgante de sua carreira, com direito a protesto na ótima apresentação realizada no Lollapalooza e o vislumbre de uma longa estrada que ainda começa a ser percorrida! por Anderson Oliveira

10 11 O feedback positivo do disco “Em noite de A experiência completa de “Em noite de Ser artista em tempos de conservadorismo O papel da grande mídia em relação à música climão” climão” e a luta contra o dinamismo da música Letrux: Isso me causa espanto e preguiça, nos dias atuais Letrux: Me surpreende até hoje, cada cidade com e a queda de qualidade da música pop principalmente. Desde que sou criança, o Letrux: Os grandes canais ainda ajudam de certa muitas pessoas cantando juntas, sendo tocadas Letrux: Eu sou de 82, então minha vida sempre noticiário é sempre o mesmo “a guerra contra forma sim. Quando eu apareci no Amor & Sexo, por essas composições, é uma sensação muito foi ouvir um álbum inteiro, seja no LP ou na fita e as drogas”, a guerra na Faixa de Gaza... nada ou no Experimente, tem sempre alguém que não emocionante de se viver! depois no CD. Uma ou outra música eu pulava, muda, nada mudou. te conhecia e te manda mensagem ou te marca mas era raro, eu ia até o fim das coisas, ainda e fala “nossa, que descoberta”... é um número Uma disco com ares multimídia e que vai sou assim. Já estou com 37 anos e tivemos algumas grande sim. Também rola isso com uma matéria além da música conquistas, mas é muito pouco dentro do macro num blog, claro, mas é um número menor, Letrux: Olha, eu acho que sempre fui assim, Não sei se o dinamismo de singles e streamings horror que vivemos. Não me censuro em nada, infelizmente. Não sei o que significa sucesso, desde criança tenho barato com literatura, é o responsável pela queda de qualidade da principalmente no palco, estou cada dia mais acho que é paz de espírito pra mim. Não consigo teatro e música, é minha pirâmide da paixão. música pop. Acho que a falta de incentivo a liberta, apenas na vida cotidiana que ando envolver só dinheiro, reconhecimento nessa Nos outros trabalhos eu também já era assim, o cultura é bem mais. Eu tive aula de música no mais medrosa... um amigo outro dia pegou um palavra não. Isso não basta. Já tive dias de luxo que acho só que aconteceu foi que eu envelheci colégio, só até os 13 anos, mas tive. E isso me motorista de Uber armado. Ainda mais por ser com grandes perturbações anímicas e dias de e envelhecer, pra quem se cuida, significa marcou profundamente, sabe? Essa cisma que mulher, não entro nesses carros com homens miojo e lata de sardinha com o coração em paz. maturidade. uma grade escolar deve ser feita por mil horas e puxo papo, e se eles puxam, infelizmente de matemática, química e física, fórmulas que concordo, por medo. Não queria que fosse A crítica do passado alegando que Letrux Eu amadureci minhas ideias, meus desejos e nem lembro, que assumo que decorei e colei assim, mas tem sido. não sairia de uma “bolha de amigos e a nova minhas vontades e coloquei tudo no “Em noite muito pra passar de ano, isso é loucura. mídia musical de climão”. Foi um disco que estive mais perto “Em noite de climão” e sua capacidade Letrux: Esse crítico que falou isso é o mais mofado da produção também, nada passou sem meu A vida também é feita de música, e mesmo que multimídia do mercado, coitado. Tenho até pena dele, rola dedo. Tive maior controle de tudo. um aluno ou aluna não queiram seguir esse Letrux: A gente não teve essa ideia antes de um desespero. Rola bastante resistência de caminho, aprender qualquer teoria musical lançar o disco “Ah, vamos fazer clipe de tudo”, uma galera mais velha, que só ouve o mesmo A prateleira de “Em noite de climão” pode te estimular a ter um ouvido bom, uma sabe? Lançamos e aos poucos, muitos amigues disco há 20, 30 anos. E tem também uma galera Letrux: Gosto de saber que é impossível rotular noção maior, enfim, estímulos importantes. cineastas foram pedindo pra fazer vídeos e eu mais novinha que ouve muita música gringa, lota o disco, me sinto assim como ser humano Todo colégio deveria ser obrigatório ter aula de fui adorando a ideia. Claro que debatemos o shows de gringos (já fui em alguns e bocejei, também, gavetas e formas não me interessam. música até o final, até no ano do vestibular. que queremos mostrar, passar, é um processo sério) e tem dificuldade de ouvir trampos atuais criativo bem legal. brasileiros. Claro que também temos público O repertório abraça muitos estilos porque mais velho e novinhos maravilhosos, engajados, eu e abanda somos assim, múltiplos, nos Não sei exatamente citar uma influência espalhando meu disco por aí, e sou muito grata, interessamos por vários tipos de música, claro específica, mas gostei muito dos vídeos da St. mas rola uma galera fechada ao novo totalmente. que temos nossos horrores (trance, por exemplo, Vincent recentemente. risos), mas somos abertos. Não faço ideia em O circuito musical de hoje qual prateleira Letrux entra... Nova Música O papel do disco físico em tempos atuais Letrux: Existe um circuito underground bem Popular Brasileira, talvez? Não sei. Letrux: Ah, é um fetiche. E tudo bem, cada um fascinante hoje em dia, temos feitos muitos tem seu fetiche. Achei maravilhoso porque eu festivais e fico muito feliz, é uma chance de ir As influências e a formação de um público de mesma amo vinil, não sou colecionadora nem numa cidade que você ainda não foi. Poderiam diversas faixas etárias nada, mas amo. haver muito mais, claro, mas estamos falando Letrux: Sem dúvida fui influenciada por artistas de Brasil, pouco incentivo à cultura, lástima... como Rita Lee e outras mulheres magnânimas, Fiquei muito feliz com essa parceria com a revista mas o que elas me causaram não foi sensação Noize, um sonho ouvir minha voz em vinil. Esses grandes festivais são sonhos sim, sem de fazer igual e sim de “olha, acho que posso dúvida, mais gente que ainda não conhece seu inventar aqui um lance...”. O passado com Lucas, no Lutuce trampo e que pode ser tocado ali naquela uma Letrux: O Lucas ainda é um grande parceiro hora de apresentação sua. A inspiração não serve pra cópia e sim pra te musical, nos meus futuros discos sempre despertar para algo no seu próprio caminho. terão músicas com ele, sem dúvida, ele é um Letrux daqui pra frente Um dos grandes discos lançados em 2017, “Em Noite Meu público tem avó e o netinho, é uma coisa produtor e músico fenomenal. Claro que separar Letrux: Ainda vamos passear muito com nosso de Climão” é o primeiro álbum solo de Letrux, que absurda de tão linda! Fico feliz com isso, não (casamento e banda) envolve uma tristeza, show. Deve rolar um EP de remixes do disco explora o silêncio e a pista de dança em faixas onde faço música pensando num nicho, faço música abre o coração e faz de um álbum com unidade e que e questionamentos. Choramos, mas somos também e acho que no final do ano entramos pela emoção de compor e todos são possíveis funciona como uma extensão de seus todos os seus adultos, superamos, nosso amor é maior que o em estúdio pra compor o próximo disco. É isso, de sentir essa emoção, em qualquer idade. sentimentos - Créditos: Divulgação casamento ou uma banda. estou bem animada! •

12 13 Eles se vestem como verdadeiros super-heróis, verdadeira avalanche de discos que vão além do dançam e cantam na mesma intensidade em que próprio FCLG. resgatam clássicos do funk nacional dispostos a criar seus próprios clássicos, que são muitos. Sobreviver a tudo isso ao longo de duas décadas Com uma formação atípica, de dez músicos, talvez seja o primeiro ato de heroísmo da banda. os paulistas do Funk Como Le Gusta são hoje Ainda na época da da MTV, a faixa-título de um verdadeiro organismo vivo em formato de SOS, do segundo trabalho do grupo, FCLG, big band que soube como poucos se adaptar conseguiu destaque na programação, mas nem ao passar dos anos e se transformar em uma mesmo a celebração registrada em projetos das maiores referências da classe artística como o ousado DVD Funk “Ao Vivo” Como Le contemporânea, se tornando uma verdadeira Gusta mantiveram em evidência o excelente referência do funk nacional. trabalho realizado pelo grupo, que sempre teve seus integrantes envolvidos em inúmeros outros Atualmente emEm turnê seu de seu mergulho quarto trabalho definitivode projetos. no mundo do samba, por Anderson Oliveira estúdio, o impressionante A Nave-Mãe segue Viagem, o FCLGMaria se mostra Rita ainda dá mais corpo sólido e a umaVocê provavelmente carreira jáque encontrou há otempos saxofonista entrosado do que nunca. Celebrando seu atual Hugo Hori ao lado de Chico Cesar, Skank ou do lançamento seagora afasta em vinil doe revivendo universo uma criadosaudoso Karnakpela (quemãe, também Elis teve Regina. o baterista época que cada um de seus integrantes ouvia Kuki Stolarski). O peso-pesado Reginaldo 16 seus ídolos através desse mesmo formato, o com o também incrível Clube do Balanço... grupo paulistaSaindo lançou explorou da zona nesse disco de seu conforto Emerson eVillani acertando no início de emcarreira cheio com a trabalho mais cru e ousado, mostrando que sua Patife Band e por tantas estradas que levaram o história semprecom foi umaseu verdadeira novo celebração lançamento, grupo a ser a criadocantora para realizar paulista um trabalho se tão e isso pode ser traduzido ao vivo, com shows autêntico. comparáveisconsolida à verdadeiras festas. como uma das melhores da atualidade e reafirma o que todosE hoje, queriam com visual deouvir... grupo de osuper-heróis samba E para essa celebração não faltam motivos. tupiniquins, o Funk Como Le Gusta bebe da Diferente deestá um caminho mais tradicional, vivo do o FCLG que nunca!soul music e do funk americano com tamanha não funciona a partir de uma única mente ou maestria que fundir tudo issopor Andersonao samba Oliveiraparece parte de seu line up, mas como um organismo coisa de quem pretende um dia juntar seus ondeQuando cada surgiu membro para é tãoo mundo fundamental da música, a ponto em de instrumentosestúdio, o ótimo e formar Amor um e Música grande. robôExaltando gigante, de dividirmeados seu de protagonismo 2003, Maria emRita ritmo era de“apenas” big band. a igualforma a aindaum seriado mais clara japonês. seu mergulhoMas Funk no Como samba, Le Efilha essa de dinâmica Elis Regina garante respaldada um entrosamento por um mar cada de Gustamostra é quebrasileiro. há tempos E nas omãos gênero do nãogrupo, vivia muito um veztalento mais que impactante revolucionou ao vivo. a música brasileira. alémmomento dos ritmos,tão prolífico o que quantose combina nos últimossão todos dois Não era pouco, mas também não fazia jus ao essesanos. sentimentos de devoção ao gênero que Nometalento ligadoda cantora intimamente paulista, àque artistas acertou como em ajudaram a pavimentar no Brasil. • Sandracheio um de público Sá, Fernanda que clamava Abreu, por Dj Humuma músicae Paula Reforçando sua parceria com o bamba Lima,de qualidade. o FCLG faz de seu último trabalho uma Pretinho da Serrinha, Maria Rita apostou em viagem entre seu passado e presente disposto composições que vão de nomes como Davi aSem trilhar abusar novos da caminhos sombra quepara a um cobria, futuro, mostrou não só Moraes, que assina boa parte das faixas do seu,em seumas dodisco gênero de queestreia se propôsum confortável explorar. e disco como Chama de Saudade, Nos Passos revitalizado voo pela MPB e a bossa-nova da emoção, Amor e Música, Cara e Coragem Tudocom ao segurançaque aconteceu de uma nesse veterana. período E nãoassim foi e Cutuca, a Zeca Pagodinho, em Nem por um fácil.consolidou-se Vertente marginalizadade vez como Maria no mainstream Rita. da Segundo. música brasileira nos últimos anos, o funk – soul –Quinze samba-rock anos nãopassaram-se frequentou egrandes nesse canaisperíodo da Embora siga uma tendência, xiste algo mídiasurgiram ou maismarcou quatro espaço discos em degrandes inéditas, festivais que diferente no samba de Maria Rita. Tal qual comosomados o Rock a dois in Rioao ouvivo Lollapalooza. e inúmeros Eprojetos mesmo Criolo desempenhou em Espiral de Ilusão, tendotransformaram em sua história Maria Rita gênios em umacomo das João principais Donato disco brilhante lançado em 2016, há uma Créditos: Divulgação eartistas Lincoln do Olivetti, país. oE soul/funk é nessa nacional condição deixou que dea Capavivacidade de A Nave nas Mãe interpretações Segue Viagem, da discocantora que que foi habitarcantora aspaulista paradas lança de sucessoseu sexto ignorando registro umade lançadoimpressiona. em 2018 É em como LP - Créditos:se cada Divulgaçãofaixa do disco

14 15 Créditos: Divulgação

Quando I Kissed a Girl, foi lançado, em abril de 2008, a música pop nunca mais foi a mesma. Em 2009 veio a consagração, quando Katy Perry foi premiada como a maior artista feminina do planeta. Repleta de cores e de discurso bem definido, a cantora americana atingiu o auge redefinindo a estética da música pop e atingindo em cheio toda uma geração! por Anderson Oliveira Faz uma década que Katy Perry “chocou” o mundo ao cantar aos quatro cantos que havia beijado outra garota (e gostado).

Passados pouco mais dez anos desde que I Kissed a Girl foi lançada, a cantora americana se consolidou como um dos maiores fenômenos da indústria fonográfica e segue até hoje definitiva para sua geração, tudo isso sem abandonar um ar de ingenuidade que fez do seu trabalho a gênese tão procurada pela indústria pop. Um caminho bem desenhado e cheio de personalidade que define bem a relação entre empoderamento e a magia da música.

16 17 Diferente de outras divas do pop como Madonna flertes que iam do hip hop à música eletrônica. e Beyoncé, Katy Perry não é adepta do atrito. disco estranho Mesmo depois de tocar na ferida e brincar com Responsável pelo Halftime Show da temporada por Anderson Oliveira um tabu para a época, não demorou para que 2014/2015 da Liga de Futebol Americano, a a imagem de boa garota permeasse uma das NFL, apresentou seu show de cores e hits a uma A concepção da indústria fonográfica americana é simples e bizarra. Embora amplo demais, tudo carreiras mais bem-sucedidas dos últimos anos. audiência estrondosa, mostrando ter se tornado aquilo que vai além de seu território é simplesmente world music. Estranho de compreender, mas com Tudo isso com muita, muita cor. uma das peças mais importantes do pop atual. um leque fabuloso para se aprender sobre música. Seja da bossa à música francesa, tudo é world music. E se isso mergulha pelos ritmos étnicos, mais ainda, tudo é simplesmente world music. Revelada nos primórdios da mesma onda que Diferente do status de diva intocável, Katy Perry fez de cantoras como Lily Allen e Katy Nash é hoje, pouco mais de dez anos depois de Baseado nisso, o “deu de cara” com alguns fenômenos nos últimos anos, caso do guitarrista uma sensação na época, Katy se apoiou em seu primeiro hit, a mesma mulher que parece Bombino, tuaregue da região de Agadez, no Níger, e do Tinariwen, formado por músicos tuaregues do faixas como Hot n Cold e Waking Up in Vegas descobrir a cada dia as frustrações da vida e deserto do Saara, no norte do Mali. Ambos reconhecidos mundialmente após receberem nomeações para estourar de vez. Em suas letras, uma dose como superar cada uma delas. Não são poucos do Grammy como artistas de... World Music. cavalar de sinceridade, do direito de se divertir e os sucessos que trazem frases de efeito como ser ouvida. Eram outros tempos comparados aos O que se percebeu nesse processo, que culminou com a conquista do Tinariwen em 2012 e até anos 90, mas a avalanche de cantoras lutando hoje rende destaque para ambos artistas, é que não sabemos praticamente nada desses músicos por isso em muito se assemelhava com o boom que podem revolucionar a música com uma estrutura praticamente amadora. Donos de sonoridades das Spice Girls nos anos 90. A música pop tinha peculiares, a cultura desses tuaregues revela a cada ano nomes com décadas de história que novamente um discurso relevante depois de um caminham alheios ao mainstream com o mínimo de recursos, tendo em comum somente o amor pela hiato criativo. música. Um deles é o Tartit, que lançou recentemente o lindíssimo Tartit Amankor The Exile.

A consolidação definitiva de Katy Perry veio Nascido no início da década de 90 em Tombouctou, no Mali, o grupo é formado por cinco mulheres e no disco seguinte, Teenage Dream, quando a quatro homens, todos tuaregues falantes de Tamasheq, um idioma falado especificamente nas tribos imagem de boa garota da cantora americana do deserto do Saara. Com álbum lançado pela Juno Records, Tartit Amankor The Exile é um disco de soube caminhar em meio a unicórnios e muito pura e sincera reflexão. Fala sobre a vida no deserto, esperança e frustrações. algodão-doce. Com outros três álbuns lançados, o Tartit se ampara em uma diversidade vocal que impressiona. E Mais que sua beleza (muito bem explorada em em suas 12 faixas exala beleza e provoca reflexão, mesmo para quem não tem a menor ideia do que todas as fotos de promoção do disco), Katy é dito. Há uma dose de melancolia de sorriso agridoce que caminha por um trabalho de percussão e Perry soube seguir sempre sendo a garota em cordas que foge a tudo que ouvimos no dia a dia. Mais do que música, é uma experiência. E é nesse busca de diversão, mas dessa vez evocando momento que percebemos o verdadeiro poder de uma música que nasce sem a interferência de nada muitos outros sentimentos. Inspirada no sucesso que não seja a realidade que cerca seus músicos. da banda sueca The Cardigans (famosa pelo hit Lovefool, trilha do reboot de Romeu e Julieta) e Agora descobertos, não é difícil conferir entrevistas com algum dos 9 músicos do grupo pela internet. nos hitmakers do Ace of Base, botou seu público Não há deslumbre em nenhum momento, mas gratidão, tal qual o exemplo dos citados Bombino e Tinariwen. Disco para várias audições, Tartit Amankor The Exile é belo e intrigante. É novo, apesar de pra dançar ao som de uma gama considerável de mensagens de positividade, acertando de ser de uma música que parece ser antiga. E certamente deve aparecer em diversas listas ao fim de Katy Perry no palco do Half Time Show de 2015, quanod 2019, provavelmente de World Music. vez na estrada que decidiu seguir. levou para uma audiência arrebatadora o seu universo de cores e diversão, além de uma verdadeira avalanche de Vieram sucessos (muitos) e parcerias com alguns hits - Créditos: Divulgação dos maiores nomes da música. Vieram também as comparações com artistas como Lady Gaga, em Roar , “You held me down, but I got up devido ao figurino, e Taylor Swift, essa última com Already brushing off the dust” (Você me segurou, quem chegou-se a criar uma rivalidade devido mas eu me levantei já tirando a poeira) e, claro, ao fato de ambas terem assumido um namoro em Fireworks, seguramente seu maior hit. com John Mayer em épocas diferentes, mas o fato é que Katy Perry nunca se desvencilhou da E enquanto uma sociedade cada vez mais

imagem inocente e divertida que construiu ao complexa parece buscar envelhecer rapidamente Créditos: Divulgação longo de seus dois discos seguintes, Prism (2013) enquanto tenta engolir seus problemas, a diva e Witness (2017), onde abusou de sua imagem pop anda na contramão dando uma lição de e ousou com clipes cada vez mais insinuantes e empoderamento e, principalmente, diversão. •

18 entrevista Créditos: Divulgação

O nome dela é Rita Oliva, mas pode chamar de PAPISA. Se você pensou na carta do tarô que tem como referência a Suma Sacerdotisa, é exatamente isso que precisa ter em mente para compreender o som de uma artista que já é conhecida na cena alternativa de São Paulo com uma criatividade que não tem fronteiras.

De voz adocicada amparada por camadas de beats e acordes milimetricamente desenhados, a música de Papisa extrapola sentimentos. Soa psicodélica sem apelar para clichês e se apresenta atual o suficiente para estimular sentidos, algo que é perceptível ainda mais quando está no palco. Também integrante do grupo Cabana Café, Papisa promove com sua música uma leva de sentimentos que fazem do ouvinte parte real da estrutura de seu trabalho.

Seu primeiro EP, Pressão, expõe lados diferente de uma mesma artista; mas mais que isso, apresenta um universo sonoro incomum até mesmo para a cena alternativa. O processo de produção de suas novas faixas vai ainda mais profundo nessa questão ao promover encontros onde direções são adotadas e sonoridades exploradas.

É diante desse universo sem fronteiras repleto de cores e música que a Revista Som conversou com Rita, a Papisa, em uma entrevista não menos que magnífica. Uma artista que tem a música muito além do seu coração, mas no ar que respira. por Anderson Oliveira

20 21 A identidade musical dos sentidos, das percepções, está relacionada um complemento a todas as outras coisas Papisa: Quando estou criando música penso à lisergia e acho que é por aí que acabo me que estão sendo feitas diariamente para que a muito no ambiente e em como a gente aproximando um pouco dessa ideia, apesar de música se desenvolva e chegue até as pessoas. experimenta esse ambiente. Gosto de ver o hoje em dia não ter interesse em droga recreativa Acho interessante, por exemplo, viajar para uma espaço onde a música acontece como um lugar pra alcançar estados mentais alterados. cidade e fazer uma entrevista na TV para divulgar sagrado, onde é possível se conectar, então levo o show, ou gravar um programa para falar de um isso como intenção central, no estúdio ou no Busco induzir a experiência estimulando outros disco, de uma turnê, se isso pode levar minha palco. A partir dessa ideia, testei muitas formas sentidos pra que seja possível sentir a música música para um público maior. diferentes de tocar minhas músicas e, ao vivo, de forma mais sinestésica. Para criar essa sempre considero onde vai ser a apresentação e atmosfera usamos aromas específicos, tanto Minha sensação é de que na cena independente qual a melhor forma de estar naquele ambiente. da sálvia quanto de misturas de óleos, criadas a música sempre se moveu sozinha. Sempre Isso me fez explorar muitas possibilidades especialmente para o show, e pensando também acreditei no trabalho diário, na construção tijolo para as músicas em cada show, seja com som na luz, no estímulo visual. Também tocamos a tijolo do que quero criar, no contato direto eletrônico, mais orgânico, pedal de loop, diversas sons específicos marcando início e final da com o público, que ficou ainda mais intenso formações com banda, variando instrumentos e apresentação, como um ritual, e levamos cristais, nos últimos anos, e acho que isso desmistifica arranjos. Isso foi muito rico para a concepção que influenciam planos mais sutis, cuidando a ideia de que o artista, para dar certo, seja lá o do som como ele é hoje e também está muito tanto do ambiente visível quanto do invisível. que isso significar, precisa estar em programa X Rita Oliva em foto de divulgação do projeto PAPISA - refletido no disco. ou tocar na rádio Y. Claro que a exposição ajuda, Créditos: papisabrisa.bandcamp.com A rapidez de tudo mas a informação está muito mais pulverizada Influências Papisa: A rapidez da informação mudou a do que já foi. Isso é um grande desafio e também exemplo disso. Mas ainda há muito a ser feito Papisa: O silêncio tem um papel muito primordial dinâmica do mercado da música e não vou oportunidade para quem faz música. para democratizar os ambientes e criar mais pra mim, é como uma tela vazia onde posso negar que, como artista, sinto sim ansiedade oportunidades de crescimento. criar. Dito isso, também sinto a influência das pela cobrança de acompanhar esse ritmo mais Papisa em outras plataformas vivências que participei nos últimos anos, em acelerado. Por outro lado tenho aprendido Papisa: Normalmente as músicas surgem de Iniciativas como o Dia da Música, que organizam que a música serve como uma ponte para o cada vez mais a valorizar o processo artístico, forma bem intuitiva pra mim, pelo menos no shows gratuitos e estimulam a criação de mundo interior, pra encontrar outras camadas entendendo que o tempo de maturação da obra momento inicial em que busco traduzir sensações palcos em espaços inusitados, são importantes de percepção. Isso também acabou refletido precisa ser respeitado. Gosto muito da ideia da e imagens internas; e quando encontro uma porque trazem relevância e visibilidade para o tanto nas composições quanto na forma de mudança de paradigma de ‘tempo é dinheiro’ forma de exteriorizar isso é muito gratificante. Pra trabalho autoral. Também sinto que é necessário apresentar as músicas, nos elementos que uso para ‘tempo é arte’. mim a música é um canal muito poderoso nesse estabelecer de uma vez por todas a consciência no palco. sentido, tanto para retratar o subjetivo quanto de que a música é um ofício como outro qualquer Pensando nisso, abri o processo criativo do meu como inspiração para outras linguagens. Desde e para isso precisamos cada vez mais encarar Para a produção do disco novo me inspirei em disco antes de ele estar pronto, em uma série de que surgiu a Papisa tenho buscado a expressão todas as etapas de forma profissional e séria, texturas e sensações. Gosto de criar com a encontros, e foi muito interessante propor essa das ideias da forma mais honesta possível, e respeitar horários, saber se comunicar direito subjetividade, e alguns artistas que me inspiram forma de experimentar a arte, tanto pra mim isso começou de uma forma muito íntima, já para facilitar a vida de todos os envolvidos e isso são Brian Eno, Trentemøller, Low, Suuns, quanto para o público. que gravei grande parte do EP em casa, tirei as evitar desgaste desnecessário. Floating Points, mas também os sons da fotos, fiz a capa. Então ela já surgiu, de certa natureza, dos elementos, o cheiro da defumação Sinto que a música é uma ferramenta de conexão forma com essa ideia mais ampla, indo além da Ainda faltam fronteiras entre as funções de cada com sálvia que faço na maioria dos ambientes e a mentalidade do consumo desenfreado não música em si. Pensando em outros formatos, profissional na música, normalmente são poucas onde trabalho. Jorge Amado, Hilda Hilst, a combina com isso porque se baseia em uma gostaria muito de fazer uma instalação, de criar pessoas fazendo o trabalho de muitas, e isso Astrologia, o Fonte da Vida do Darren Aronofsky carência, em uma ânsia por sempre querer algo um ambiente completamente moldado que vá também é complicado porque deixa lacunas. e minha busca constante pela ancestralidade e que não temos. Agora, pensando no impacto da além da audição, olfato e visão, mexendo com Não sei exatamente a solução para isso, mas por uma espiritualidade mais conectada na terra arte, se aquilo vai tocar ou não, se vai ser uma tato, paladar, com todos os sentidos mesmo. penso que precisamos buscar formas de e no corpo. Diria que faço um som brasileiro, experiência super efêmera ou não, depende da Também amo a ideia de fazer trilha sonora, tanto distribuir melhor os recursos e tornar o ambiente que conversa com rock alternativo, dream disposição de cada um de parar para contemplar, de filme como de teatro, de dança. mais organizado. pop, e também com um universo mais místico, para ouvir, e daí vem também a questão de se ritualístico e sensorial. identificar com o que está sendo feito. Sinto que Música autoral no Brasil Uma artista feminista em tempos sombrios para quem cria é sempre uma incógnita se as Papisa: Sinto que melhorou, mas ainda está em Papisa: Sinto que o que estamos vivendo agora A psicodelia de Papisa no palco pessoas vão se conectar ou não. construção. Sem dúvida tivemos uma grande nas diferentes vertentes do feminismo é um Papisa: Eu não me vejo muito conectada na evolução nos últimos anos com o underground amadurecimento do que já aconteceu lá atrás, psicodelia como movimento estético, no sentido Os grandes canais de comunicação se estruturando, se reunindo para pensar junto, sob uma nova ótica, com novos desafios. Me do estilo, do visual. No entanto, a exploração Papisa: Eu encaro a veiculação na mídia como como no caso da SIM SP, que é um grande parece que hoje a opressão pode estar mais

22 23 velada, travestida de “bons modos”, disseminada por “gente de bem” e pelo costume que temos de não encarar nossas sombras e as projetarmos nos outros.

Quando isso chega na esfera política, onde se misturam valores religiosos (e seletivos) com direitos humanos, é realmente assustador e revoltante. Nesse caso, “o pessoal é político” nunca foi tão atual numa sociedade onde a cultura do estupro ainda existe, onde mulheres são agredidas e julgadas todos os dias, onde o presidente eleito é fã confesso de um torturador, inclusive de mulheres grávidas, ao mesmo tempo que sustenta o raciocínio de que o estado deve interferir na escolha de uma mulher levar em frente a gravidez ou não, quando sabemos que casais simplesmente abortam e aqueles com poder aquisitivo o fazem em segurança por Capa do primeiro EP do projeto Papisa, Pressão, que baixo do pano e mulheres sem recursos morrem apresenta um indie-psicodélico com eletrônico e foi lançado pelo PWR Records, selo que reúne bandas ou têm sequelas para a vida toda. nacionais com pelo menos uma integrante do sexo feminino.- Créditos: Divulgação Diante de um cenário tão contraditório e por Anderson Oliveira autoritário, sustentar espontaneidade com sensibilidade, da expressão, da criatividade, autoconhecimento e do autocuidado pode do questionamento, na contramão de uma Dentro do universo da música pesada existe uma realidade alheia a tudo o que acontece no chamado se tornar um desafio. Por isso é estimulante e sociedade que prioriza excessivamente a mainstream. Muito além das turnês de Iron Maiden ou Helloween, essa cena esconde movimentos inspirador perceber a quantidade de mulheres produtividade, os valores materiais e os padrões que vem ascendendo em silêncio para a mídia, mas com muito, muito peso e criatividade, caso do que assumem o protagonismo da suas vidas, pré-estabelecidos. post-metal. E é impossível pensar nisso sem enaltecer o trabalho do Labirinto. que se expressam com sua arte, seja ela como for, que evidenciam e se posicionam contra os Em tempos realmente sombrios, onde muitas Representante maior dessa vertente no Brasil, o grupo paulista conquistou uma base sólida de fãs, o padrões que foram determinados para nossos vezes parecemos anestesiados e conformados que rapidamente o elevou a um dos pilares do gênero por aqui e fez com que essa cena, tão notável em relação a injustiças, exaustos por seguir corpos e que trazem questões que eu mesma no exterior, logo reconhecesse seu potencial. Com uma discografia sólida, de mais de quatro álbuns, ideais distantes da nossa natureza íntima, desconheço, todos os dias. A minha percepção além de EPs, o Labirinto lançou recentemente Divino Afflante Spiritu, disco produzido por Magnus apegados a ideias que podem e devem ser disso é que o feminismo está cada vez mais Lindberg (Cult of Luna), que também mixou e masterizou o álbum em seus estúdios, na Suécia. repensadas, eu sinto que a música é de certa plural e isso é muito necessário pra que a gente forma, para mim, uma válvula de escape, um Instrumental, a música do Labirinto sempre teve muito a dizer. Apoiado por imagens e performances possa levar o empoderamento para todas, sem canal de comunicação onde consigo por pra exceção. avassaladoras, sempre conseguiu sempre se manter atento a tudo o que acontece em ao seu redor, fora o que às vezes fica preso na garganta. Em estabelecendo uma conexão que vai muito além do que ouve. uma outra perspectiva, também vejo bastante A música como entretenimento, fuga de sentido em me colocar a serviço da música, de realidade ou agente de mudança Contando com seis integrantes em seu line up, a avalanche sonora do grupo contou pela primeira contribuir para que ela chegue em mais lugares, vez com linhas vocais em toda a carreira, em Agnus Day, primeiro single de Divino Afflante Spiritu, Papisa: Eu penso que música só é uma fuga toque mais pessoas, e possa talvez inspirar a da realidade se ela for percebida como mero cque teve a presença de Elaine Campos, vocalista da banda punk Rastilho. E dentro dessa atmosfera sensação de pertencimento e de coletivo de caótica do Labirinto que se encontram elementos que vão do jazz ao sludge e do caos às crenças entretenimento, como um produto vazio de alguma forma. significado. Mas se de alguma forma desperta tribais. Alheio do mainstream, o novo lançamento do grupo o aproxima ainda mais dos expoentes maiores do post metal mundial, como o Neurosis. a sensibilidade, ela já se torna um instrumento Papisa daqui pra frente de transformação, mesmo que seja apenas por Papisa: Teremos disco novo, e o plano é circular Em início de turnê de divlgação de Divino Afflante Spiritu, o Labirinto está pronto para mais uma tour lembrar as pessoas desse ponto sensível. bastante, não só com o show novo, mas também europeia, onde terá se apresentará no Pelagic Fest, na Bélgica,, mostrando que muito além dos solos com os encontros que venho desenvolvendo há uma mensagem clara a ser passada. E aproveitando o crescimento do público dedicado à música Pra mim, a arte é resistência justamente no sobre processo criativo, produção musical e experimental no Brasil, se consolida ainda mais como fio condutor de uma música que soa obscura sentido de elevar e exaltar a importância da autoconhecimento. • o suficiente para não desejar tão cedo ver a luz do sol.• 24 25 principal Créditos: Divulgação

por Anderson Oliveira

26 27 Muito antes do jazz ser jazz década do século XX, quando não se tinha a O jazz adota o Reino Unido Louis Armstrong e Duke Ellington, a cena Quando nasceu, no fim do século XIX, o jazz era menor ideia do que seriam vertentes como o Tal qual o jazz brasileiro (ou o Brazilian Jazz, floresceu de forma mais autêntica, especialmente “simplesmente” um derivado do swing do que bebop e o fusion, ou até mesmo como seria a como passou a ser definido pela influência de através de solistas que viriam a estabelecer a fruto de uma genialidade quase inacessível de expansão do gênero que dominaria as paradas samba e até confundido com a bossa-nova) identidade do gênero através jams que dariam músicos que dominam seus instrumentos com com Benny Goodman nos anos 30 e o fenômeno ou o jazz francês (que no período pós-guerra forma ao gênero. uma maestria além da compreensão humana. Sing, Sing, Sing. desenvolveu uma cena realmente contundente), Fazia-se jazz para dançar e ponto final. o jazz inglês teve um caminho diferente, ainda Já visto como uma vertente sofisticada em Por isso estudar o jazz desde então é um que seu principal objetivo fosse similar ao seus primeiros anos em território inglês, muitos Estávamos falando da cultura de New Orleans, estudo antropológico. O furacão Miles Davis, a realizado em New Orleans. Independente da músicos como Ken “Snakehips” Johnson e nos Estados Unidos, um dos epicentros da espiritualidade de John Coltrane... muita água vontade de se desenvolver como uma linguagem Leslie Thompson, ambos oriundos de território geração escravocrata americana, e não a toa passou por baixo dessa ponte chamada jazz, popular, o que se buscava com o que viria a se africano, fizeram fama na noite inglesa. Servindo a cidade mais “mal-assombrada” do mundo. O essencialmente nos Estados Unidos. Mas e na tornar o jazz era apenas dançar. E por isso não de atração em bares e restaurantes enquanto resultado disso é até hoje sentida na presença Europa, especificamente no Reino Unido, como é exagero dizer que Fred Elizalde foi o primeiro exploravam temas clássicos do jazz americano de personagens que a história se recusa a tudo aconteceu? grande jazzista de todo Reino Unido. com maestria seus instrumentos, escreveram esquecer e que acabaram se misturando com seu nome na história através do trompete. Foi a cultura local, formada essencialmente por Se pegando de relance, quantos músicos de jazz Somente no período após a I Guerra Mundial, dali que nasceu a The Emperors of Jazz, que por franceses e espanhóis. Basta alguns minutos de do Reino Unido você conhece em um primeiro com a chegada de músicos americanos como sua vez acabou sendo uma das mais populares Google e é possível ter uma noção sobre todo o momento? Ronnie Scotts talvez? Afinal, no bar referências do país dessa vertente que acabou “Ghost Tour” existente na cidade localizada na que leva seu nome artistas do calibre de Jeff se tornando o jazz. Louisiana. Beck já gravaram DVDs. Conhece Pete King? Já é mais difícil... Fato é que o jazz inglês, Fato é que o jazz, quando nasceu, absorveu notavelmente derivado do americano, nunca em sua espinha dorsal diversos elementos de conseguiu alcançar uma representatividade ritmos étnicos e do ragtime, uma espécie de similar ao rock, especialmente nos anos 60, música típica de New Orleans. Tudo isso se que teve em seu “cast” bandas como Rolling transformava em uma música rica e dançante e Stones e Beatles, que por seu lado tinham já era o suficiente até a virada do século e seus primeiros anos. devoção total ao blues e fizeram de artistas como Muddy Waters e Little Walter verdadeiros Isso permaneceu dessa forma até a primeira ícones ao pisar em território britânico.

Ao lado de Ken Johnson, Leslie Thompson foi outro pilar da era do swing, onde integrou o The Emperors of Jazz - Créditos: Divulgação

Mas o jazz inglês só começou a se descobrir de forma informal, através das famosas jams, palavra tão comum no vocabulário de fãs de música e que nada mais era que a possibilidade desses músicos, seja nos Estados Unidos ou no Reino Unido, tinham de tocar seus instrumentos Vindo da Jamaica, Ken “Snakehips” Johnson fez história no enquanto resgatavam suas origens étnicas Terceiro da esquerda para a direita, o pianista, compositor, maestro e bandleader Fred Elizalde, que ao lado de seu jazz inglês ao lado de Leslie Thompson, com quem formou em músicas que poderiam simplesmente não Hot Music embalou os pubs do Reino Unido naquela que foi considerada a primeira onda do jazz inglês. Nascido nas o The Emperors of Jazz, na fase posterior à explosão do agradar os clientes dos estabelecimentos onde Fillipinas, na época colonizada pela Espanha, Fred foi referência da “British Dance Era” - Créditos: Divulgação swing - Créditos: Divulgação tocavam. Isso acontecia normalmente após a 28 29 meia-noite, fechamento dos estabelecimentos, que proporcionou ao sacro jazz inglês uma É catalisando essa sua montanha de influências Distante do glamour do Carnegie Hall ou dos daí a expressão Jazz After Midnight, ou como fusão com ritmos caribenhos, fazendo história que o SEED Ensemble levanta sua bandeira, bares franceses, o jazz inglês resgata os valores você e todo mundo no planeta passou a no Reino Unido. explora a luta contra injustiças e questiona históricos que lhe deram forma e cumpre conhecer como a famosa JAM. abertamente questões sociais, raciais e a luta novamente seu papel social nesse século XXI. Até o fim da década de 70 grandes músicos pela diversidade em uma obra extremamente E de repente aconteceu, mas a chamada surgiram no Reino Unido devotos de um jazz empolgante e atemporal. geração de ouro do jazz inglês só surgiria após o sem fronteiras, caso de Courtney Pine, Gary fim da II Guerra Mundial, graças ao intercâmbio Crosby, Julian Joseph, Cleveland Watkiss, Contando com outras mulheres em sua linha de músicos americanos e a reconstrução de um Orphy Robinson, Soweto Kinch e muitos outros de frente, caso de Sheila Maurice-Grey, com país arrasado pelas tropas de Hitler. Foi nesse que formaram a última onda relevante do jazz quem Cassie divide o protagonismo no grupo período que artistas como Ronnie Scotts e John inglês, há pelo menos duas décadas. de afrobeat Kokoroko, o SEED é um pilar de Dankworth estabeleceram o que teve forma empoderamento em um gênero que pouco abriu como “jazz moderno” inglês. Outros artistas Hoje espaço para mulheres em suas páginas escritas que se destacariam na mesma época seriam Tudo isso que você leu se faz necessário para no Reino Unido. George Webb, Humphrey Lyttelton e Ken Colyer, entender o valor do SEED Ensemble, que lançou que alcançaram relevância em solo americano, recentemente seu primeiro álbum, o inovador E essa ascensão do jazz inglês capitaneado admirados por artistas de renome como o Driftglass. Além de uma música intrigante, o que por imigrantes e mulheres em pleno 2019 vai saxofonista Art Pepper. leva-se em conta é o fato de que o grupo puxa a de encontro a uma onda de conservadorismo fila de uma tendência dos últimos anos no Reino que assola o globo pelos quatro cantos. É a O tempero do jazz britânico só deu as caras pra Unido. Depois de imigrantes, especialmente antítese de um gênero que parecia condenado Referência do jazz inglês na atualidade, a saxofonista do valer nos anos 60, muito graças aos êxodo de africanos, darem o tom no fim dos anos 70, a se pasteurizar e se elitizar em detrimento de SEED Ensemble, Cassie Kinoshi - Crédito: Divulgação músicos nascidos em territórios colonizados agora o jazz inglês renasce sob a imagem de sua origem. pelos ingleses. Foi assim que artistas como o mulheres como Cassie Kinoshi. Florescendo através do talento de artistas saxofonista jamaicano Joe Harriott começaram Nessa esteira nomes como a trombonista Rosie como Cassie Kinoshi, o jazz inglês vive hoje um a escrever sua história no país. Ao lado dele Saxofonista e bandleader do SEED Ensemble, Tourton também são destaque em um ano momento tão seminal quanto a expansão do rock havia nomes como Shake Keane, poeta e músico Cassie não é a primeira da fila que joga um novo onde o jazz inglês deu as caras com ótimos nos anos 60. Aberto a novas influências e mais nascido nas ilhas de São Vicente e Granadinas, holofote ao jazz inglês, mas sua ousadia dá lançamentos, caso da dupla Binker and Moses, democrático do que nunca, o novo jazz é pop, clara margem para um gênero que hoje explora a saxofonista Camilla George e o grupo Maisha, mas dispensa a presença nos maiores palcos elementos de afrobeat e hip hop à medida em que uma porção de nomes que tem tudo para abrir do mundo para inspirar toda uma geração no esbanja muito mais coragem que no passado. espaço na cena nos próximos anos. underground. • Diferente de uma vertente estereotipada, o jazz inglês de hoje é engajado, caótico, bem tocado e feito especialmente para jovens!

Maior nome da história do jazz inglês, o saxofonista Ronnie Scott se destacou ao longo da década de década de 60 e 70, influenciando toda uma geração- Créditos: Divulgação Capa de Drifglass, do SEED Ensemble - Crédito: Divulgação Liderado pela saxofonista Cassie Kinoshi, SEED Ensemble segue em turnê do álbum Drifglass - Créditos: Divulgação

30 31 entrevista Almanegrot Créditos:

Uma das maiores realidades da música brasileira, Karol Conka é mais que uma artista, mas porta-voz de um momento especial não só para ela, como também para todas as mulheres que vem se destacando na música brasileira. Com seu novo álbum, Ambulante, a colorida Karol é rap, é funk... é a mais pura expressão do pop!

A Revista Som se orgulha de apresentar uma incrível entrevista com Karol Conka, destaque dessa edição! por Anderson Oliveira

32 33 O estética do álbum Ambulante tem contatos com pessoas maravilhosas e que Protagonismo feminino Karol Conka: Eu posso dizer que com o conhecem ótimas artistas isso fica muito mais Karol Conka: Eu não acredito que existe esse lançamento desse álbum eu estou muito feliz fácil. Nós já conseguimos trabalhar de uma retrocesso como algumas pessoas vem falando e realizada. Estou cercada de pessoas que me forma mais tranquila. desde o ano passado porque a força da mulher é ajudaram a deixar esse disco como eu gostaria, muito maior do que qualquer um pode imaginar. são pessoas muito dispostas e que deram essa Eu sempre trabalhei com DJ durante a carreira, É só olhar para o passado, tudo aquilo que o qualidade para o disco. Até por essa tranquilidade por isso começar a trabalhar com banda era feminismo conquistou, isso não vai ficar para para trabalhar com o disco eu tive a liberdade um desafio. O formato é diferente e eu nunca trás. de trabalhar também essa parte visual. Acredito havia trabalhado assim, então quando a banda que nesse processo eu também me tornei uma apareceu foi uma experiência muito gostosa, Sabemos que no dia a dia presenciamos cenas artista mais madura, o que acabou permitindo onde eu estava realizando realmente um sonho. que são deprimentes e manifestações machistas, um mergulho meu em minha essência como mas o retrocesso só poderia acontecer por um artista, algo que eu ainda não explorava. Isso O impacto político em Ambulante reflexo de ignorância, algo que não funcionaria fez com que eu trabalhasse melhor esse lado de Karol Conka: Eu fiquei bastante chateada na nos dias de hoje com tanto acesso à informação. produtora no meu trabalho. época da produção do disco, que acabou sendo Quem acredita nesse possível retrocesso e que realizada em praticamente uma semana na sala ocupa seu papel de opressor acaba vendo que A condição de porta-voz de uma causa com o da minha casa, porque sentíamos um desânimo do outro lado existem pessoas que sabem do lançamento de Ambulante em alguns momentos em virtude de tudo o que tamanho de sua força, que ganharam voz e Karol Conka: Produzir um álbum em um momento estava acontecendo (N.E.: o disco teve seu direitos e isso as faz fortalecidas por estarem em que as pessoas te olham como referência processo de produção realizado durante as próximas de outras pessoas que pensam como é algo mais complicado sim. Quando você prévias das eleições de 2018). elas. se torna uma referência para alguém em sua carreira é natural que exista uma necessidade As notícias, comportamento na internet, as Medo é a última coisa que temos que ter agora. de se pensar com cuidado com suas posições. coisas acontecendo com tantas brigas entre A palavra agora é coragem para enfrentar a vida as pessoas... isso de alguma forma acabava que segue, sempre mostrando muita força! Com tudo isso que acontece e esse feedback influenciando de algumas formas em alguma tão rápido eu não tenho como medir a potência música. Por exemplo em os temas de cada A força da TV na carreira do artista daquilo que meu posicionamento e minhas canção, sabíamos em dias assim que era mais Karol Conka: É possível construir uma carreira letras podem alcançar e conseguir com as pesado trabalhar com temas como o desapego sem a força de um grande veículo, o underground pessoas. Por isso eu tenho muito respeito por de coisas essenciais em suas vidas, foi assim está muito mais próximo do mainstream e isso esse reconhecimento que as pessoas têm por que gravamos a faixa chamada Desapego, que pode ser sentido com mais clareza no rap, que mim, isso tento sempre me blindar de algumas faz parte do tracklist do disco. Aquela sensação tem grandes nomes na atividade e que estão aí coisas e sempre me nutrir de informações e horrível de ver as pessoas falarem e ninguém sempre lotando shows, com feedback absurdo cultura, me cercar de pessoas admiráveis para ouvir, de como é complicado as pessoas do público em redes sociais e que nunca que isso possa proporcionar uma troca ainda perderem a empatia. apareceram na grande mídia, seja porque não há mais incrível com o público. Houveram alguns amigos mais próximos que, A fascinante arte de Ambulante inclusive, aconselharam a gente a não lançar Karol Conka: Quem fez a capa de meu disco foi o álbum Ambulante no fim do ano porque as uma artista muito talentosa que é do Rio Grande coisas estariam muito estranhas e tensas. do Sul, mas mora em São Paulo chamada Almanegrot. Tudo foi feito de uma forma muito Rolavam muitos questionamentos nesse sentido, orgânica, natural e espontânea. É uma pessoa mas eu decidi que ele precisava nascer naquele que recebe um destaque muito grande porque período, até para que as pessoas pudessem fez tudo isso ficar incrível. ouvi-lo ainda em 2018 algo sobre conforto. Eu queria que as pessoas sentissem algo bom com Ambulante no palco e o repertório atual o disco, nele eu falo de coisas que se encaixam Karol Conka: Não foi difícil construir esse show. perfeitamente na vida de qualquer pessoa, como O mais difícil na verdade foi encontrar mulheres sentimentos, sensações, angústias e vitórias, em massa para escolhermos e formar uma é um disco que traz soluções para quem está banda nova, só de meninas. Mas como a gente buscando algo.

34 35 interesse ou até porque não há espaço para um tive a chance de entrar em uma gravadora que estilo como esse, mas seria muito legal darmos eu mesma escolhi, apresentei o disco e me senti valor para o reconhecimento cru dos artistas. muito “Dona de Mim”, como diria a IZA. Que a pessoa cria seu perfil, sua base de fãs e estoura de forma natural. Eu tive a chance de escolher a direção musical, a capa, produzir o disco em casa e trabalhar com Eu sou uma grande fã de grandes veículos porque a Sony foi algo muito especial. Foi um grande existem nesses canais muita pessoas sérias e momento e virão e tenho certeza que virão que tem sempre como objetivo disseminar muita muitos outros. informação de qualidade. Esse processo dá uma credibilidade muito grande ao artista e até por Empoderamento e tabus em tempos de esse fluxo de informação ser reduzido muitos patrulha virtual bons nomes acabam ficando fora do radar do Karol Conka: Lidar com haters de internet público nesse processo. É possível fazer uma não é fácil, mas com o tempo aprendemos a carreira sem eles, mas veículos especializados relevar tudo isso. A internet mostra pessoas fazem muita falta porque levam grandes artistas que parecem se dedicar integralmente a atacar ao público. outras, a atacar você, e eu tenho muita pena de todas elas. O crescimento profissional Karol Conka: Ter lançado meu disco novo Haters são pessoas que não tiveram outra com uma gravadora foi uma realização muito afinidade ou ter a sabedoria de entender a razão grande porque foi a primeira vez que fiz algo delas estarem nesse mundo, de perceber que desse porte. Esse momento me trouxe uma isso tudo é uma lei de atração. tranquilidade muito grande para trabalhar porque passamos por muita coisa durante os A internet muitas vezes simboliza uma bolha de anos em que começamos a carreira. E, poxa, eu frustração para muita gente e acaba não sendo vista como a ferramenta de estudo e trabalho que serve para muita coisa boa, especialmente a classe artística.

Eu sei que, mesmo sendo extremamente transparente com meus fãs, sempre haverá aquela parcela ínfima dedicada a me atacar.

Hoje se isso acontece eu realmente relevo porque sei que tenho três vidas, que são aquela que eu tenho, a que cuidam e a que inventam. Então quando estão falando algo que não é real eu simplesmente coloco uma música e desligo dali porque eu sei que aquilo ali não é real.

A pessoa que é um hater seu muitas vezes tem traumas e problemas muito maiores do que imagina. Ele tem problemas muito sérios e precisa externar isso, e pessoas públicas se tornam alvo porque criou-se a ideia de que ter essa condição é um privilégio de mão única. Não a ideia de que ali também existe uma vida com Karol Conka em foto de divulgação do álbum Ambulante. prós e contras, por isso temos que levar tudo Disco é o primeiro da cantora com auma grande gravadora com muito amor e empatia. Haters são apenas - Créditos: Almanegrot pessoas precisando de ajuda.•

36 37 Febre nos quatro cantos do planeta, a zumba é hoje uma das modalidades mais praticadas por todos que buscam a junçãoCom seu de músicanovo projeto, com saúde. LSD, Arealizado Revista Somao lado mostra do inglêsagora aLabrinth história ede descolada Beto Perez, , o colombianoo norte-americano que revolucionou Diplo se otornou conceito uma de das dança principais e aeróbica referências no século da músicaXXI. pop ao estabelecer o fio que vai do underground ao mainstream sem a necessidade de ser o protagonista de seupor Anderson trabalho. Oliveira por Anderson Oliveira Seja pela preocupação com a saúde ou pelo Apaixonado pelo ritmo, venceu um dos calor de ritmos como salsa, merengue, mambo mais importantes concursos do país, sendo Quem observa atentamente a aclamada – e que separa o underground e o mainstream da e até o hip hop, uma coisa é inegável. Todo aceito posteriormente em uma das principais polêmica – lista anual da DJ Mag, com os 100 música pop. mundo conhece alguém que pratica a zumba academias de música de Cali. Foi ali que melhores DJs do mundo, normalmente não vai depois do trabalho ou mesmo nos finais de desenvolveu de forma técnica seu talento até além das 10, 15 primeiras posições. Estão lá Figura presente em praticamente todos os semana! Modalidade que se tornou febre nos embarcar em 1999 para a terra do Tio Sam em nomes como Martin Garrix, Armin van Buuren, grandes festivais dos últimos anos, o mundo se últimos anos, a atividade que funde aeróbica busca do sonho americano. comChainsmokers, música se David tornou Guetta revolucionária e tantos outrospelas acostumou a ver Thomas Wesley Pentz ora como que nos acostumamos a encontrar arrastando Diplo, ora como Major Lazer, sua alcunha em mãos (e braços, pernas e o largo sorriso) do Trabalhando em academias como professor multidões mundo afora. projetos que normalmente envolvem vertentes colombiano Beto Perez. de ginástica aeróbica, Beto Perez certo dia como o dancehall. esqueceu em casa suas fitas cassetes com Mais atrás, na modesta posição 25, Diplo ocupa Nascido em Cali e hoje com 47 anos, Beto o repertório cheio de batidas que dava ritmo uma posição mais modesta, especialmente se Figura poderosa no mainstream, o produtor Perez sempre foi apaixonado por música. Filho ao seu trabalho e acabou fazendo uso de pensarmos no tamanho de sua relevância dentro californiano sacou desde cedo que abrir o de mãe solteira, trabalhava em três empregos músicas que ouvia para lembrar de sua paixão do mundo da música nos últimos anos. Muito leque de influência o levaria a um patamar mais aos 14 anos para sustentar a família e não tinha na Colômbia, explorando ritmos caribenhos, mais coadjuvante que protagonista, o DJ norte- alto que o normal, ainda que não lhe desse a condições de fazer aulas de dança, o que não tal qual a lambada e a salsa. Deu certo. Não americano estabelece com seu novo projeto, visibilidade que um “Superstar DJ” poderia ter o afastou dos ritmos quentes do continente e demorou muito para o instrutor se tornasse o poderoso e elogiado LSD, a ponte definitiva em tempos atuais. Fez isso e acertou! Créditos: Divulgação o fez aprender de forma autodidata a lambada. um dos nomes mais requisitados em Miami, 38 39 38 39 de Hooked on Hollertronix. O apelido de Diplo Distante do topo da DJ Mag, Diplo mostra que o só nasceria posteriormente, fruto da paixão do significado do sucesso não passa pela posição DJ por paleontologia. Diplo é a abreviação de em que figura dentro de listas de votação Diplodocus, uma espécie de dinossauro. pública, em especial a de revistas que se tornam parâmetro para a divulgação de line ups mundo Sucesso por onde passava, ganhou contatos afora e servem de parâmetro para o aumento de suficientes para se firmar como sensação dentro cachês. da bombada Miami, onde viria a construir seu próprio estúdio, o The Mausoleum, onde ao Nome desejado pelas grandes estrelas da longo dos últimos anos nomes como Christina música pop e por funkeiros das mais longínquas Aguilera, Shakira, a própria MIA., Santigold, comunidades, levou a música eletrônica para Spank Rock e tantos outros gravaram. dentro dos bailes funk mais undergrounds de favelas do Rio de Janeiro para depois mostrar E ainda que tenha um reconhecimentoque como que as mais caras baladas de Miami bebiam do astronômico, Diplo pouco aparece quando mesmo ritmo que aprendeu a unir. Fez M CBin comparado a uma parceria do calibre David Laden chegar ao Lollapalooza e Justin Bieber ao Ao lado de SIA e Labirinth, Diplo formou o LSD, projeto mais um projeto de sucesso na carreira - Créditos: Divulgação Guetta/Rihanna. Não é o pivô de projetos que primeiro lugar das paradas. levam vertentes pelo qual é apaixonado a um De fato Diplo é o gatilho por trás de diversas Sempre atuando como um notável coadjuvante, novo patamar. Como um bom amigo, parece E como bom coadjuvante, um luxuoso atrações fundamentais da música pop. parece tomar uma cuidado extra para não ofuscar dirigir seus parceiros disposto a tirar de cada um coadjuvante, se transformou na ponte que levou Catapultou a cantora senegalesa MIA, trabalhou toda parceria que parece alçar seu trabalho a o melhor, mesmo que a genialidade dos mesmos a música para todas as classes com o simples em faixas de gente do calibre de Gwen Stefani, um patamar ainda mais alto. Diplo parece muito pareça ter alcançado um nível inimaginável. objetivo de fazer dançar. o descoladíssimo Die Antwoord, Britney Spears, mais se divertir do que propriamente pensar em • Shakira, Beyoncé, Justin Bieber, Usher, Snoop atingir cifras milionárias em seus projetos. Ao lado de Skrillex com o consagrado projeto Jack Ü, por onde conseguiu ganhar dois Grammys, sendo um Dogg e até Madonna, em Rebel Heart, disco deles como Melhor Álbum Dance e outro como Melhor Gravação Dance, com o single de Where Are Ü Now, lançado em 2015 e responsável por uma nova Mesmo tendo sacado a onda do dubstep nos em 2016 - Créditos: Divulgação guinada musical da Rainha do Pop. primórdios da ascensão do gênero, foi sombra de Skrillex no projeto Jack Ü, por onde lançou um Completamente apaixonado pela música álbum que se tornou referência no gênero e lhe brasileira, Diplo também aproximou o Rio de rendeu até mesmo um Grammy. Recentemente, Janeiro da ensolarada Califórnia em sequentes reforçando seu acesso ao estrelado universo trabalhos ao lado de nomes emergentes do funk pop, formou outro projeto de impacto, o LSD, nacional. que ao lado do inglês Labrinth e a exótica Sia tem tudo vem causando impacto considerável Os mais recentes, ao lado de Anitta e Pabblo na música pop. O primeiro single lançado Vittar, são marcantes pela ascensão de ambas, pelo grupo, Audio, é mais uma aula de quem mas basta alguns minutos de busca no Google sempre soube se ambientar aos mais diversos para encontrar o produtor americano com ambientes, sempre sem perder a identidade. fotos nos morros do Rio de Janeiro, menções a algumas das muitas letras que impregnam o Diferente de nomes expressivos dos últimos cotidiano brasileiro e reproduzindo gírias locais. anos, caso do consagrado produtor Timbaland, Diplo sempre esteve entre as pick ups e o Seu mergulho na música brasileira foi tamanho estúdio, o que lhe deu a capacidade de dar que rendeu o interessantíssimo documentário forma real a tudo o que pode – e não pode – Favela Blast, onde ao lado do produtor brasileiro funcionar nas pistas. Suas primeiras mixtapes, Leandro HBL sobe o morro e traça um paralelo lançadas logo após sua temporada de estudos entre os bailes funk realizados nas favelas na Temple University, na Filadélfia, lhe gabaritou cariocas e todo o glamour que envolve a cena a lançar trabalhos como Never Scared, que Bass de Miami. Não a toa, parte do elenco do se tornou em poucas semanas uma das mais projeto teve a chance de sair ao lado do DJ em elogiadas mixtapes do país, conforme definiu festas no exterior. E o resultado disso não foi o New York Times em 2003. Uma fusão entre menos do que genial. Björk e Busta Rhymes ainda sob pseudônimo 40 41 memória

por Anderson Oliveira Créditos: KAte Gibb

42 43 “Superstar DJs... Here We Go!” rock ao redor do mundo. Porém, mesmo com uma quantidade reduzida Na época vivendo o auge da MTV, os clipes de samples, o que fez a diferença em Surrender do Chemical Brothers também indicariam essa Se você leu a frase acima e não começou a Nessa época o Chemical Brothers já colecionava foi o sample de The Roof Is on Fire, do Rock tendência multimídia que a música eletrônica se sentir uma vontade incontrolável de dançar o em sua rede de amigos gente como Noel Master Scott & the Dynamic Three’s, um dos tornaria nos anos seguintes, porém, no caso da hit de maior sucesso da história do Chemical Gallagher, talvez um de seus maiores fãs e pioneiros do hip hop americano. Foi assim que dupla inglesa, essa capacidade de gerar uma Brothers, você provavelmente não viveu os colaboradores, a cantora Beth Orton e Simon nasceu Hey Boy Hey Girl, seguramente um dos música tão psicodélica e intensa frente a um anos 90. Lançado no álbum Surrender, um dos Phillips, lendário baterista de jazz. Todos já três maiores hits da história da música eletrônica. mar de luzes e imagens elevaria seu patamar maiores clássicos dos anos 90, Hey Boy Hey haviam participado das gravações de Dig Your no mainstream a uma espécie de Pink Floyd Girl completou 20 anos junto com o álbum que Own Hole e estar ao lado de Tom Rowlands e Ed Vivendo o auge da carreira com o Oasis, Noel eletrônico. Não a toa, durante a primeira turnê estabeleceu o ponto mais alto de uma vertente Simmons era certamente ser cool na Inglaterra. Gallagher surgiu novamente na vida do Chemical da dupla para um show em estádio no Brasil, a que hoje goza de uma popularidade quase Bobby Gillespie, do Primal Scream, e Bernand Brothers, dessa vez com Let Forever Be, faixa indagação de que estimulavam o uso de LSD ao surreal comparado ao momento em que foi Summer, do New Order, sabiam disso. E foi que ganhou um dos melhores clipes da carreira público foi repetida em praticamente todas as lançado, o que por si só foi um choque em todo diante desse cenário que nasceu Surrender, o da dupla. Hope Sandoval, vocalista do Mazzy coletivas de imprensa. mundo da música. disco que revolucionou de vez a obra da dupla Star, também daria o ar de sua doce voz no inglesa e a história da música eletrônica. disco, em Asleep from Day. Falar sobre Surrender envolve falar sobre uma avalanche de elementos que culminariam na Artisticamente também era um período de E assim aconteceu. O sucesso do disco foi explosão do Chemical Brothers nos anos 90. ebulição em toda a Europa. A Street Art ganhava instantâneo e estima-se que Surrender tenha Além de dois álbuns de grande impacto, Exit adeptos aos quatro cantos do continente Planet Dust (1995) e Dig Your Own Hole (1997), europeu e nomes como os dos americanos John Fekner e Jacek Tylicki influenciavam uma nova geração de novos artistas. Na Inglaterra, em específico, um dos destaques era a ilustradora Kate Gibb, que desenvolveu em sua carreira uma prática muito única de serigrafia. Convidada por Ed e Tom, desenvolveu a arte de Surrender, o resultado da capa tornaria a artista parceira da dupla inglesa no disco seguinte, Come with Us (2002), e, posteriormente, em We Are the Night (2007).

Gravado em paralelo à queda da house music de Chicago, que influenciou diretamente o duo Cena do videoclipe de Hey Boy Hey Girl, faixa que se em Dig Your Own Hole, Surrender precisava tornou emblemática na carreira do Chemical Brothers trazer algo novo até mesmo para a música e reforçou a aproximação da dupla com o hip hop em de quem naquela época ganhava as arenas seus lançamentos futuros - Créditos: VEVO e abandonava de vez a cena rave inglesa. Diferente das colagens de samples que fizeram Não eram só eles. Além do Chemical Brothers, de seus primeiros discos um caos tão dançante, Daft Punk, Basement Jaxx, Cassius, Crystal Ed e Tom agora apostariam em uma linha mais Dona de um estilo único de serigrafia, a artista Kate Method e tantos outros indicavam que no fim do A dupla inglesa Chemical Brothers, formada por Ed melódica, apostando em nomes expressivos Gibb se tornou parceira do Chemical Brothers nos século era a hora de dançar. O termo “Superstar Simmons e Tom Rowlands em foto de divulgação de e uma musicalidade que encaixaria de vez em anos seguintes após o lançamento de Surrender - DJs” da dupla inglesa não foi só a chave de seu Créditos: Divulgação 1999 - Créditos: Divugação seu repertório. Reflexo disso é a própria Out of maior sucesso, mas o retrato de uma geração que moldou praticamente tudo o que envolveria Control, que com os vocais de Bernard Sumner, vendido até hoje mais de 3 milhões de cópias em o mainstream nos anos seguintes, inclusive o quando fez do big beat a chave de seu sucesso, a do New Order. todo mundo, mas se impacto na cena eletrônica rock, mas aí é outra história para um outro texto. dupla formada por Ed Simmons e Tom Rowlands e até na carreira do Chemical Brothers pode ser ganhava respeito justamente por proporcionar Para se ter ideia, essa “humanização do medido de diversas formas. A primeira delas Era a vez deles, por isso tudo fez sentido a partir essa aproximação de sua música com o rock, Chemical Brothers foi sentida na quantidade de sem dúvida acontece na aproximação da dupla de Surrender. especialmente após o sucesso de Block Rockin’ samplesutilizados no disco todo, incluindo aí com o hip hop, que tornou-se cada vez mais Beats, lançada dois anos antes e responsável nomes como a cantora de soul Nicole Wray e o clara nos anos seguintes e até hoje dá vida aos Superstar DJs... Here We Go! por conquistar (e até enganar) muitas rádios lendário produtor e pai do ambient, Brian Eno. hits da dupla. •

44 45 entrevista Créditos: Divulgação

46 47 A colaboração recente com o virtuoso extremamente prolífico, onde eu acho que isso é algo muito mais popular, mas quebrar a A possibilidade de novo álbum solo guitarrista Sven Kuehbauch e a chegada de melodias e proezas vocais eram reverenciadas barreira no início foi um processo complicado, Jennifer Batten: Meu último álbum solo foi novos guitarristas mais do que hoje, com vocalistas como Chaka havia uma rejeição que esses caras ajudaram a lançado em 2007. Produzir um novo álbum é Jennifer Batten: Sven me mandou um e-mail há Khan e Steven Tyler. quebrar. complicado. É caro fazer um CD e, quando muito tempo. Eu acho que na verdade faz mais você vê que as pessoas se recusam a pagar de 2 anos entre o primeiro contato e quando eu A experiência de ter tocado com Jeff Beck e Michael Jackson teve uma enorme influência por ele e só se interessam quando podem fiz a sessão de gravação para a faixa Rainbow Michael Jackson nesse processo, mas Prince já havia feito isso baixar gratuitamente você vê músicos perderem Rocket Ride, agora em 2018. Ele queria que eu Jennifer Batten: Trabalhar com esses dois com a presença de Wendy e Lisa. Ainda assim dinheiro, por isso perdi a motivação. Tenho fosse ao seu estúdio, mas isso nunca funcionou gênios da música foi uma verdadeira benção na eu considero minha experiência com Michael muitas ideias que gostaria de gravar, mas hoje com meu horário, então gravei de casa mesmo. minha vida, algo simplesmente sensacional, mas indescritível, Foi emocionante trabalhar com em dia expresso criatividade de várias formas Foi algo prático de ser feito. trabalhar com Jeff Beck estava mais perto do ele porque eu já era fã de sua música há muitos diferentes; gosto muito de realizar colaborações meu coração como guitarrista porque o admiro anos. com outros artistas para performances ao vivo O mundo da guitarra está cheio de grandes há décadas e ainda o faço! e trabalhar com artes visuais, produzindo meus guitarristas jovens chegando. Eles geralmente próprios vídeos. avançam muito cedo, em parte devido à internet. Não há como explicar tecnicamente, você está Os recursos disponíveis agora são incríveis ao lado dele e simplesmente sente que ele está comparados a quando eu era adolescente! em um patamar acima de qualquer coisa que tenha visto e ouvido na vida. A produção de Battlezone ao lado de músicos como Marc Scherer (Lovecraft) e Jim Peterik Mulheres em bandas de rock (Survivor) e o auge do hard rock Jennifer Batten: As mulheres no rock são Jennifer Batten: Foi super inspirador e uma fase extremamente importantes porque a música muito produtiva que tive no estúdio de Jim. Eles precisa ser tão equilibrada quanto a própria vida. inicialmente me quiseram por algumas faixas, mas continuaram me pedindo mais, então eu Conquistar esse espaço não foi fácil. É graças a me tornei uma grande parte do CD no final. Eles caras como Michael Jackson, Prince e Jeff Beck são músicos da década de 80, um momento que o mundo se abriu para a possibilidade. Hoje

No palco ao lado de outra lenda, Slash, do Guns N Roses - Créditos: Divulgação No palco ao lado do ídolo Jeff Beck. Ao lado do guitarrista, Batten excursionou nas turnês dos álbus Who Else! e You A realização como profissional e novos planos Had It Coming - Créditos: Divulgação Jennifer Batten: Eu tenho planos de formar novas bandas diferentes para apresentações ao Ao lado de Michael Jackson eu tive um dos vivo em um futuro próximo. Também continuo grandes momentos da minha vida, que é, sem fazendo videoclipes para meus shows solo dúvida, o Super Bowl de 1993, que foi transmitido e aprendendo novas técnicas de edição. para 1,5 bilhão de pessoas em 80 países. Foi o Meu objetivo é continuar melhorando. É uma maior público de TV da história. perseguição vitalícia.

Influências Não posso reclamar da minha vida. Eu tive a Jennifer Batten: Minhas influências mudaram chance de tocar com tanta gente maravilhosa... ao longo dos anos. Quando eu comecei aos 8 Michael Jackson e Jeff Beck são especiais para anos eram os Beatles. Na minha adolescência mim, mas cada um de um jeito diferente. Queria foi Led Zeppelin e depois Jeff Beck. Eu também ter tido a oportunidade de tocar com Jaco fui influenciada por diferentes estilos, sempre Pastorius, nós chegamos a nos conhecer, mas Jennifer Batten ao lado de Michael Jackson durante uma das várias turnês que realizou ao longo de uma década ao lado por músicos que eu considero genais, de Charlie foram apenas contatos rápidos, queria ter tido a do Rei do Pop. Sua presença se tornou marcante nos shows de Michael Jackson - Créditos: Divulgação Parker a Steve Morse e Van Halen. chance de dividir um palco com ele. • 48 49 Em seu terceiro trabalho, a banda liderada por Derek Trucks e Susan Tedeschi rompe de vez com o passado de seu guitarrista, enterra o Southern Rock e mergulha de vez no soul, se consolidando como uma das principais bandas da atualidade. por Anderson Oliveira

Quando Derek Trucks anunciou ao lado de Warren Haynes a saída da Allman Brothers Band, em 2014, muita se lamentou no mundo da música. Bastião maior do chamado Southern Rock, o grupo liderado pelo lendário Gregg Allman encerrava ali uma trajetória de mais de quatro décadas encantando os amantes de música ao levar a um nível extraordinário as influências musicais do Sul dos Estados Unidos.

Ao seguir com seu Gov´t Mule, o guitarrista Warren Haynes escolheu uma certa zona de conforto, ainda que tenha aberto com sua banda um leque de possibilidades, lançando álbuns ousados onde tocaria de Pink Floyd a AC/DC enquanto seguia prestando homenagens a lendários Bluesman da história. Ainda assim o guitarrista manteve sua banda dentro da mesma atmosfera que o consagrou.

Por outro lado, Derek Trucks parece ter decidido a recomeçar do zero. E o resultado disso foi levar a Tedeschi Trucks Band ao posto de uma das principais bandas da atualidade com o lançamento do terceiro álbum de estúdio do grupo, Signs, que reescreve a condição de sinônimo de boa música sem nenhum vínculo com seu passado. Créditos: Divulgação

50 51 Investindo em um mergulho cada vez mais Apostando em uma música que parece contar Impensável até mesmo para uma jam band, rótulo profundo na soul music, Derek apresenta ao lado com menos solos e em uma constante harmonia, que também se distancia consideravelmente a da esposa, Susan Tedeschi, e uma banda com Signs supera em muito o já ótimo Made Up Mind, Tedeschi Trucks Band, faixas como The Ending nove integrantes uma experiência que extrapola lançado em 2013, e até mesmo o impressionante e Strengthen What Remains deixam para Susan o sensorial. Mais do que um tributo ao que há Revelator, de 2011 e dono de uma das faixas a condição de fio condutor para a identidade do de mais belo na música, o que se vê nas curtas mais lindas da última década, Midnight in grupo, que se faz mais grupo em Still Your Mind, faixas de Signs é a certeza de quem foi capaz de Harlem. Nessa época o primeiro lançamento da a melhor faixa de Signs. abrir mão de sua marca registrada em tempos banda ainda soava como um projeto paralelo de de Allman Brothers, a técnica de Slide guitar/ Derek ao trabalho com a Allman Brothers. Bottleneck guitar, para explorar a sutileza de um estilo que vai muito além do que se canta. De lá para cá, em menos de uma década de história, a Tedeschi Trucks Band apresenta Ainda que os traços tão marcantes de Derek uma solidez tão impressionante que é capaz Trucks estejam presentes em They Don´t Shine, de ignorar todo o passado de seus integrantes, Walk Through This Life e I´m Gonna Be There, algo que nem em sonhos poderia ser previsto tudo é muito mais tímido comparado até mesmo após a dissolução do lendário grupo de Macon, ao primeiro trabalho do grupo, lançado poucos no estado da Geórgia. meses após a saída de seu ex-grupo. Capa de Signs, terceiro trabalho de inéditas da TEdeschi Trucks Band. Com repertório mais curto, disco conta com Protagonista do disco, Susan também colhe De talento sobrenatural e vivendo sempre à 11 faixas - Créditos: Divulgação os frutos de uma vida dedicada ao blues e ao sombra de Duane Allman, a quem substituiu soul. Responsável pela última turnê da carreira na banda quando ainda era adolescente, Derek Tracklist: de Sharon Jones e seu The Dap-Kings, apontou agora parece ter atingido o auge de sua forma 01 – Signs, High Times 07 – Hard Case a direção para o qual a Tedeschi Truks Band 02 – I’m Gonna Be There 08 – Shame ao se reinventar com a Tedeschi Trucks Band. E 03 – When Will I Begin 09 – All The World deveria navegar e acertou de vez ao trazer para afirmar isso depois de anos ao lado da Allman 04 – Wlak Through This Life 10 – They Don’t Shine o som do grupo uma dose extra de corais e Brothers Band é ousado em um nível que beira 05 – Strengthen What Remains 11 – The Ending instrumentos de sopro. o surreal. 06 – Still Your Mind Dessa forma a música da banda, que já extrapolava a todos os padrões de beleza, em Signs ganhou alma, mais do que nunca!

No palco, ainda um às do slide guitar, mas sem exageros, Derek Trucks em turnê de divulgação do álbum Signs - Créditos: Larry Marano/REX/Shutterstock

E dentro de seu universo particular, o grupo que nasceu com raízes da sagrada Jacksonville vai muito além do sul dos Estados Unidos. Explora o soul do Harlem, em Nova York, caminha por pelo folk de San Francisco e redefine a estética do que pode ser considerado o que de mais bonito é produzido hoje na música mundial. Ao ignorar de vez a estética do Southern Rock, a Tedeschi Trucks Band hoje se tornou um grupo Susan Tedeschi ao lado da amiga, Sharon Jones, com Com onze integrantes, formação atual da Tedeschi Trucks Band aposta em um mergulho profundo nas raízes da soul quem excursionou até a morte da cantora - Créditos: de “música americana”. E o resto do mundo music enquanto se consolida como uma das principais bandas da atualidade - Créditos: Divulgação Susan J Weiand agradece. •

52 53 Para quem viveu de perto a história do rock torna extremamente agradável ao leitor entender leitura a partir dos anos 90, se torna praticamente de onde nasceram faixas que redefiniram o rock impossível não ter cruzado sua vivência em nacional. shows com a trajetória do Charlie Brown Jr, grupo formado em Santos e seguramente um Episódios polêmicos como a fatídica briga dos mais influentes nomes do país desde então. com os integrantes do Los Hermanos, o fim Por isso, abrir a primeira página de “Se não eu, da formação original da banda e a mudança quem vai fazer você feliz? Minha história de amor de gravadora são abordados a partir do olhar com Chorão”, lançado em 2018 pela Editora de Grazon, que consegue narrar os fatos com Paralela, é uma experiência tão intrigante que uma isenção razoável, pintando as qualidades parece ir muito além da emocionante narrativa e defeitos de Chorão sem qualquer risco de de Graziela Gonçalves, esposa de Chorão que deturpar a história. acompanhou toda a trajetória do grupo até a morte do vocalista, em março de 2013. E ainda que em raros momentos pareça exagerar nos elogios ao ex-marido, o livro soa Narrado em primeira pessoa por Graziela surpreendente ao revelar um Chorão que o Gonçalves, a Grazon, o livro é o mais próximo público não conhecia, especialmente na questão de uma biografia oficial de uma das bandas espiritual. E assim torna-se claro o seu papel na mais influentes da música brasileira, mas vai história do vocalista e como sua presença foi muito além, narrando de perto o despertar de crucial para a sequência da banda. um sonho, sua maturação até um auge digno de um conto de fadas e seu triste fim. Sempre bastante direto em toda sua narrativa, o livro passa por momentos fundamentais da O que torna experiência de Grazon tão única história do rock nacional sem tentar pintar em “Se não eu, quem vai fazer você feliz? Minha um artista que sempre foi notável por sua história de amor com Chorão” é que, diferente personalidade forte. Erros são apontados da de uma biografia do Led Zeppelin ou do The mesma forma que qualidades são exaltadas. Doors, onde lidamos com momentos que Episódios nebulosos para os fãs são esclarecidos. gostaríamos de ter estado presente, todos os Em capítulos curtos, pontos soltos da história episódios narrados cruzam-se com a história de do rock nacional são amarrados sem nenhuma seus leitores. cerimônia, inclusive no que compreende a reta final da história, que todos sabem o final. Foi o ano do Ghost! Com seu último álbum, Prequelle, Muitos dos momentos narrados envolvem shows que cada fã carrega na memória, episódios Sem cerimônias, com muita coragem e em paz os suecos se elevam a um patamar mais alto tudo e polêmicos nunca esclarecidos e os bastidores consigo, Grazon abre o jogo quanto ao vício do de uma banda que criou ao longo de sua história vocalista e como esse processo culminou em capitalizamNão é uma tudo biografia que envolve do Charlie os bastidores Brown Jr, da banda, uma verdadeira família sempre inspirado no sua morte, em março de 2013. servindo de contraponto para uma performance cada amor pela música. mas bem que poderia ser. Narrado por Capítulos mais pesados do livro, com uma vez mais vibrante e menos teatral, consolidando a banda De leitura rápida, a história não tem como foco riqueza impressionante de detalhes se torna Graziela Gonçalves, esposa de Chorão, o principal somente a banda, mas a trajetória impossível não sofrer junto com a protagonista como umados principais do rock na atualidade. pessoal de Grazon durante todo período da obra enquanto páginas se viram. É, sem livro conta como nasceu - e se encerrou - de ascensão do Charlie Brown Jr, o que dúvidas, o ápice de uma obra que não passa uma das páginas mais importantes do rockpor Anderson Oliveira envolve detalhes familiares e como eles eram em branco frente a todos que viveram os anos influenciados diretamente pela presença de 90. Mais do que uma biografia que envolve um Perto de umanacional década de história, das poucasduas vezes últimas o Ghost conseguiudécadas. tanta atenção da mídia como Chorão, que desde o início a transforma em dos nomes mais influentes do rock nacional das nos momentos que antecederam Prequelle, seu quarto álbum de estúdio lançado em 2018. Depois musa inspiradora de praticamente todos os últimas duas décadas, “Se não eu, quem vai fazer por Anderson Oliveira de uma turnê bem-sucedida – e que incluiu o Brasil – com o álbum Meliora (2015), a banda liderada sucessos do grupo. você feliz? Minha história de amor com Chorão” pelo recém-descoberto Tobias Forge fez de seu apelo visual o mote para uma nova fase da banda, mostra que muito além do palco existem vidas atingindo finalmente a maturidade de um projeto iniciado com relativa timidez durante o lançamento Nesse caminho praticamente todas as principais que nunca mais serão as mesmas, incluindo a de seu primeiro trabalho, Opus Eponymous (2010). letras da banda ganham luz de forma que se do próprio leitor.

• Créditos: Divulgação

54 55 Com produção executiva assinada pelo lendário soulman , surge no Netflix como uma opção para crianças, mas com todos os olhos voltados para os pais.

Divertida e inocente, a animação infantil se destaca por proporcionar um caminho divertido e colorido de se conhecer toda a magia da lendária gravadora americana!

por Anderson Oliveira

56 57 Quem acompanhou ao longo das últimas duas Motown, graças ao intenso uso de cores aplicado como versão 2.0 de “O Fantástico Mundo de Hitsville, a série usa o mesmo padrão de décadas tantas animações da Disney Pixar e nos mais de 20 episódios disponibilizados na Bobby”, visto que muitas das situações da referências, só que com canções dos Beatles. Dreamworks já deve ter percebido que 90% do primeira temporada da série. Inevitavelmente, sua série brotam da imaginação de Ben, amparado material lançado por ambos pode até ter sido exibição também acaba dando aos pais aquela por alguns de seus amigos. Dando vida à Ao melhor estilo “Vida de Inseto”, feito com foco para as crianças, mas por entre sensação de estar diante de um entretenimento arte existente em Motown, o protagonista da apresenta citações que foram imortalizadas sorrisos e cores sempre existiu uma história com ares de educativo, especialmente no que animação cativa ao longo dos episódios por através da obra de John, Paul, George e Ringo, mais profunda e complexa voltada para o tange a questão musical. seu carisma e pela quantidade de referências mostrando que tais produções podem servir público adulto. Por isso não é exagero dizer que que brotam de sua família, composta por como porta de entrada de muitas crianças no Motown Magic, animação que teve sua primeira Sem ter a intenção de parecer um retrato da personagens dotados de algum dote musical. mundo da música, principalmente para a alegria temporada disponibilizada no Netflix no fim de gravadora, a série acaba mais atraente para as dos pais. 2018 cumpra essa função com maestria. crianças do que para adultos, porém não deixa Com média de 12 e 15 minutos por episódio, de intrigar a quem pretende assistir a série ao Motown Magic apresenta mais de 50 clássicos Abusando da inocência, Motown Magic é feita Idealizada por Josh Wakely, um aficionado por lado dos filhos disposto a contar a história de da gravadora que são apresentados em sob medida para os filhos de quem sempre música responsável por produções relacionadas cada cena apresentada. E talvez seja esse o real regravações mais do que aceitáveis, todas procurou uma forma de apresentar seus maiores ao catálogo de artistas como Beatles e Bob objetivo dado por Josh e Smokey Robinson. cantadas pelos personagens. Isso dá a cada pai ídolos sem parecer algo impositivo ou maçante. Dylan, Motown Magic conta com a curadoria a oportunidade de apresentar um novo universo Muito além das cores e do roteiro, está lá a musical de nada menos que o soulman Smokey Focada especialmente nos valores humanos, a aos filhos, nascido a partir de uma animação. classe de Smokey Robinson em saber escolher Robinson, que assina a produção musical da série reforça em segundo plano o que acabou o momento perfeito de apresentar a obra de série, ambientada na cidade de Motown. fazendo da Motown uma verdadeira fábrica Fadada a se tornar referência para pais e filhos, e tantos outros, sempre sem deixar de clássicos nos anos 60 e 70, que foi a a fórmula usada em Motown Magic segue o de lado a inocência infantil e a magia de cada Com foco para o público infantil, Motown Magic cumplicidade e talento de todos os protagonistas sucesso de Beat Bugs, também disponível no single lançado gravadora, e isso por si só já conta a história do inocente Ben, um garoto de de sua história. Àqueles que conhecem de perto Netflix e criada por Josh Wakely. Ao invés da serve de garantia para investir na série.• olhos arregalados que no auge de seus 8 anos a história de músicos como e Abusando das cores e das referências, a arte de Motown Magic é um espetáculo por si só. Sempre dialogando de idade tem a oportunidade de fazer uso de um Michael Jackson, por exemplo, não vai ser difícil com o público infantil, a animação teve seus mais de vinte episódios disponibilizados no Netflix e é garantia de pincel mágico capaz de dar cores e vida para identificar ao longo dos episódios elementos diversão para pais e filhos - Créditos: Netflix sua vizinhança, tudo isso com muito boa música. que fazem referencia à trajetória deles e muitos A partir desse mote tudo acontece em ritmo de outros artistas, sempre com uma linguagem aventura e com versões inspiradas de clássicos suave e ingênua, voltada exclusivamente para o da Motown que passam por nomes como Stevie público infantil. Wonder, e tantos outros. Aos mais velhos, não estranhe, para quem Voltada para o público infantil, Motown Magic acompanhou uma parcela dos desenhos tem tudo para hipnotizar aos filhos de fãs da lançados na década de 90, Motown Magic famosa Hitsville, como era chamada a gravadora acaba parecendo em algumas momentos como

Em posse de seu pincel mágico, Ben e seus amigos passarão a dar muito mais vida e música para a cidade de Motown, sempre tendo como pano de fundo alguns dos maiores artistas da história - Créditos: Netflix

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