Filosofia E Poesia
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FILOSOFIA E POESIA Congresso Internacional de Língua Portuguesa Porto, 2016 FILOSOFIA E POESIA Congresso Internacional de Língua Portuguesa Organização de Celeste Natário Nuno Júdice Paulo Motta Renato Epifânio PORTO, 2016 FILOSOFIA E POESIA Congresso Internacional de Língua Portuguesa 1 Reúnem-se aqui os textos apresentados no Congresso FILOSOFIA E POESIA que se realizou, em 2014-2015, entre o Brasil (Universidade de São Paulo) e Portugal (Universidade do Porto e Universidade Nova de Lisboa), por iniciativa do Grupo de Investigação “Raízes e Horizontes da Filosofia e da Cultura em Portugal”, do Gabinete de Filosofia Moderna e Contemporânea do Instituto de Filosofia de Filosofia da Universidade do Porto, em parceria com a Universidade de São Paulo e a Universidade Nova de Lisboa 2 Ficha técnica Título: Filosofia e Poesia: Congresso Internacional de Língua Portuguesa Organização: Celeste Natário, Nuno Júdice, Paulo Motta e Renato Epifânio Editor: Universidade do Porto. Faculdade de Letras Local: Porto Ano de Publicação: 2016 ISBN 978-989-8648-73-0 URL http://ler.letras.up.pt/site/default.aspx?qry=id022id1490&sum=sim O presente livro é uma publicação no âmbito do Grupo de Investigação “Raízes e Horizontes da Filosofia e da Cultura em Portugal”, subsidiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e levado a cabo pelo Gabinete de Filosofia Moderna e Contemporânea do Instituto de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Esta publicação é financiada por Fundos FEDER através do Programa Operacional Factores de Competitividade – COMPETE e por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do projeto «PEst-C/FIL/UI0502/2013» (FCOMP-01-0124- FEDER-037301) 3 SUMÁRIO António Braz Teixeira | A SAUDADE NA POESIA DE RUI KNOPFLI………………… 6 Ana Catarina Milhazes | DIALÉCTICA DA DISTÂNCIA — NOÇÕES DE LINGUAGEM EM LEONARDO COIMBRA………………………………………………………………… 19 Annabela Rita | EMERGÊNCIA DA ‘HORA’ PESSOANA………………………………… 28 Anne Ventura e Maria Manuel Baptista | TANTO MAIS FILOSÓFICO QUANTO MAIS POÉTICO: SOBRE HABITAR POETICAMENTE O MUNDO, DE HEIDEGGER A LOURENÇO……………………………………………………………………………………… 47 Carlos Mota | TEIXEIRA DE PASCOAES E «O PENITENTE (CAMILO CASTELO BRANCO)» ……………………………………………………………………………………… 53 Christina Ramalho | CAMINHOS DE QUANDO E ALÉM, DE HELENA PARENTE CUNHA: O MISTICISMO COMO FILOSOFIA………………………………………… 59 Constança Marcondes César | CONTEMPLAÇÃO E SABEDORIA NOS CÂNTICOS DE CECÍLIA MEIRELES…………………………………………………………………………… 80 Egídia Souto | A PINTURA DE PAISAGEM NA POESIA DE NUNO JÚDICE: PARA UMA LEITURA GNÓSTICA E GEOPOÉTICA DO MUNDO………………………………. 93 Elter Manuel Carlos | UMA FILOSOFIA DO AMOR NA POESIA DE EUGÉNIO TAVARES………………………………………………………………………………………… 103 Fernanda Bernardo | ECOS DO SILÊNCIO: O PENSAMENTO DO POEMA DE DERRIDA E O MERIDIANO PO-ÉTICO DE CELAN (CELAN – HEIDEGGER – ADORNO DERRIDA)………………………………………………………………………….. 115 Fernando Guimarães | SER, UM PROBLEMA FILOSÓFICO-POÉTICO?...................... 130 Gilvan José da Silva Filho | “EU NÃO TENHO FILOSOFIA: TENHO SENTIDOS...”: FENOMENOLOGIA E SENSACIONISMO EM ALBERTO CAEIRO…………….. 137 Herder Garmes e Duarte Braga | UMA DUPLA LEITURA DO CROMATISMO DE “BRANCO E VERMELHO”, DE CAMILO PESSANHA……………………………... 148 Julia Alonso Diéguez | FILOSOFÍA Y POESÍA: DE PARMÉNIDES A MARÍA ZAMBRANO……………………………………………………………………………………… 160 Luís Garcia Soto | LISPECTOR-BARTHES: POTESTAS DA LITERATURA, AUCTORITAS DA FILOSOFIA……………………………………………………………… 190 Luís Lóia | DIVERGÊNCIAS E CONVERGÊNCIAS ENTRE POESIA, TEOGONIA E FILOSOFIA, SEGUNDO EUDORO DE SOUSA………………………………………… 201 Luís Manuel Bernardo | ALGUNS ASPECTOS DA RELAÇÃO ENTRE FILOSOFIA E POESIA NA OBRA DE JOSÉ ENES…………………………………………………………. 207 Luísa Malato e Celeste Natário | O MARÃO DE PASCOAES E AS METAMORFOSES DE OVÍDIO ……………………………………………………………………………………………… 230 Manuel Lázaro | “NA MÃO DE DEUS”: QUENTAL E UNAMUNO……………………….. 241 Maria Manuela Brito Martins | A POÉTICA FILOSÓFICA OU A FILOSOFIA POÉTICA?DE SOPHIA A JORGE DE SENA ……………………………………………. 250 Maria João Carvalho | O POEMAR COMO CONSTRUÇÃO E TRANSFIGURAÇÃO DA REALIDADE………………………………………………………………………………………. 274 Maria Lúcia Dal Farra | O CISNE E SEU CANTO: LEITURA DOS POEMAS DE FIAMA POR ADÍLIA LOPES OU FIAMA NA LETRA DE ADÍLIA………………………….. 283 Nuno Júdice | FILOSOFIA, UM CAMINHO PARA A POESIA………………………………. 307 Patrícia Calvário | ESPIRITUALIDADE-FILOSOFIA-POESIA EM ”TEMPO DE INDIGÊNCIA”……………………………………………………………………………………… 318 Paulo Ferreira da Cunha | LETRAS & VIRTUDES: CRÍTICA E AUTOGNOSE LITERÁRIAS E ÉTICA PÚBLICA…………………………………………………………… 324 Paulo Motta Oliveira | UM CAMILO METAFÍSICO: O PENITENTE DE TEIXEIRA DE PASCOAES…………………………………………………………………………………………. 338 Renato Epifânio | NO CENTENÁRIO DE “ORPHEU”, SEM ESQUECER “A ÁGUIA”: ENTRE FERNANDO PESSOA E TEIXEIRA DE PASCOAES……………………… 350 Samuel Dimas | A LUZ NOTURNA DA RAZÃO POÉTICA NA OBRA «LAMENTAIS VÓS AS SOMBRAS» DE JOSÉ CARLOS FRANCISCO PEREIRA………………………. 358 Salvato Trigo | DO MYTHOS AO LOGOS OU DO SÍMBOLO AO SIGNO, NA POESIA HETERÓNIMA DE FERNANDO PESSOA……………………………………………… 368 A SAUDADE NA POESIA DE RUI KNOPFLI1 António Braz Teixeira Instituto de Filosofia Luso-Brasileira Palácio da Independência, Largo de S. Domingos, 11, 1150-320 Lisboa (351) 213241470 | [email protected] Neste texto, procuraremos verificar o modo como o sentimento saudoso se exprimiu na poesia de Rui Knopfli, um dos autores moçambicanos em que achou mais funda e significativa presença. Palavras-chave: Rui Knopfli, filosofia da saudade. In this paper we will try to verify how the wistful feeling was expressed in the poetry of rui knopfli, one of the Mozambican authors found that deeper and significant presence. Keywords: rui knopfli, philosophy of longing. 1 Artigo igualmente publicado na Revista NOVA ÁGUIA (www.novaaguia.blogspot.com): nº 16, 2º Semestre de 2015, pp. 201-206. 6 “Os seus traços seus gestos o seu rictus – uma viagem insólita entre detalhes e o abstracto. A íntima convicção de que no fundo a morte se viesse, quando viesse, viria, canto de libertação” Virgílio de Lemos, primeira Ode a Rui Knopfli 1. A publicação, na última década e meia, da obra poética, em boa parte dispersa ou inédita, de autores como Rui de Noronha, João Fonseca Amaral, José Craveirinha, Noémia de Sousa, Glória de Sant’Anna, Rui Knopfli ou Virgílio de Lemos possibilita, hoje, uma visão do valor relativo de cada uma delas e esboçar um quadro da poesia moçambicana da segunda metade de Novecentos diverso e mais compreensivo do que aqueles que prevaleceram ou foram aceites até há algum tempo. Com efeito, se continua intocado o significado e o alto valor da obra lírica de Reinaldo Ferreira, José Craveirinha ou João Pedro Grabato Dias, em contrapartida, afigura-se, hoje, menos relevante a poesia de Fonseca Amaral ou Noémia de Sousa, ao mesmo tempo que reclama nova compreensão e diversa avaliação o labor poético de Rui de Noronha e avultam como figuras maiores autores como Glória de Sant’Anna, Rui Knopfli ou Virgílio de Lemos, até há pouco incompletamente atendidos e valorizados na sua singular originalidade e superior qualidade literária. Por outro lado, a investigação que, há alguns anos, venho realizando acerca da saudade, primeiro na sua dimensão especulativa, em Portugal, na Galiza e no Brasil2 e, mais recentemente, na sua expressão poética nas literaturas lusófonas africanas3, tem-me permitido confirmar o relevante lugar que a expressão do sentimento saudoso nelas ocupa, bem como a diversidade de modos de vivenciá-lo e de exprimi- lo que tem revelado ou assumido em cada uma delas. 2. Lembre-se, a este propósito que, relativamente à saudade, tanto em Portugal como na Galiza ou no Brasil, a expressão poética precedeu, em muito, a sua consideração reflexiva e a constituição de uma filosofia da saudade. 2 A Filosofia da Saudade, Lisboa, QuidNovi, 2006 e “Da possibilidade de pensar a saudade a partir da filosofia espanhola contemporânea” Actas do IV Colóquio Luso-Galaico sobre a Saudade, Sintra, Zéfiro, 2012, pp. 268-280. 3 “Expressão e sentido da saudade na poesia angolana” Viana do Castelo, II Colóquio Português sobre a Saudade, 2002, pp. 99-111, “Expressão e sentido da saudade na poesia moçambicana contemporânea, Actas do III Colóquio Luso-Galaico sobre a Saudade, Sintra, Zéfiro, 2008, pp. 41-62 e “A saudade na poesia da ‘Claridade’ “, Nova Águia, nº 9, 1º semestre, 2012, pp. 164-167. 7 Com efeito, entre nós, as duas linhas especulativas fundamentais que caracterizam e definem essa filosofia – a que se centra na análise dos elementos constitutivos do sentimento saudoso e a que busca apreender e compreender a sua dimensão ontológica e metafísica – surgiram, respectivamente, com el-rei D. Duarte, no início do séc. XV e com D. Francisco Manuel de Melo, em meados do séc. XVII, após a sua expressão lírica, nos cancioneiros medievais, a primeira, e depois da sua expressão cósmica, mítica e transcendente, em Camões, António Ferreira, Bernardim e Agostinho da Cruz, a segunda. Por seu turno, na Galiza, o lugar central e decisivo que a saudade encontrou no renascimento do galego como língua literária, levado a cabo por poetas como Rosalia, Curros, Poudal, Carrajal ou Noriega Varela, na segunda metade de Oitocentos, só à volta de 1920, em Ramón Cabanillas, veio a achar o primeiro equivalente especulativo, para, depois, a partir de 1950, dar origem a uma verdadeira filosofia galega da saudade, no pensamento e na obra de Ramón Piñeiro, Rof Carballo, Garcia Sabell, Daniel Cortezón, Torres Queirruga ou Garcia Soto. De igual modo, o Brasil, não obstante o grande