Mobilidade Pendular Na Metrópole Paulista
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VALMIR ARANHA MOBILIDADE PENDULAR NA METRÓPOLE PAULISTA VALMIR ARANHA Resumo: O trabalho identifica, na Região Metropolitana de São Paulo, as principais tendências dos deslo- camentos de pessoas que residem em um município e trabalham ou estudam em outro. Destaca o Município de São Paulo como principal área de destino dos deslocamentos metropolitanos e faz o mapeamento de cinco subáreas de deslocamentos pendulares nos demais municípios metropolitanos. Palavras-chave: Demografia. Deslocamentos populacionais. Acessibilidade. Urbanização. Abstract: The work identifies, in the Metropolitan Region of São Paulo, the main trends of the mobility of people who inhabit in a city and work or study in another one. It detaches the City of São Paulo as main area of destination of the displacements metropolitans and makes the mapping of five sub-areas of commuting in the too much cities metropolitans. Key words: Demography. Population mobility. Accessibility. Urbanization. s deslocamentos diários da população ocorrem Bureau do Censo para definir áreas metropolitanas nas mais variadas direções e são orientados por (U.S.CENSUSBUREAU, s.d.). O diversos motivos: trabalho, estudo, saúde, con- Do ponto de vista demográfico, os deslocamentos sumo, lazer, negócios, etc. Esse ir-e-vir constitui elemento pendulares modificam provisoriamente o volume popu- integrante da realidade das grandes cidades e reflete, por- lacional do município e aumentam ou diminuem seu tama- tanto, suas desigualdades sociais e espaciais. Mensurar nho dependendo das características de cada área. Assim, volume, sentido e direção desses deslocamentos é indi- se o município for mais concentrador ou mais dispersor, cativo não apenas das trajetórias que as pessoas realizam os deslocamentos podem gerar maior ou menor demanda no espaço, mas também das oportunidades e/ou dos obs- por serviços ou bens ou aumentar sua oferta para a popu- táculos existentes nessas cidades. lação residente. Os dados do Censo Demográfico 2000 registraram que, O objetivo deste artigo é retratar as tendências dos no Brasil, mais de 7,4 milhões de pessoas trabalham ou deslocamentos pendulares na Região Metropolitana de São estudam em municípios diferentes daqueles onde residem. Paulo – RMSP a partir de informações recentes. A fonte Em alguns países, esse processo também é bastante pre- de dados utilizada para tanto são os microdados da amos- sente, sendo que nos Estados Unidos o commuting, por tra do Censo Demográfico 2000. Essa pesquisa define des- ser considerado um bom indicador de relacionamento en- locamento como o “trajeto dos indivíduos que trabalham tre as cidades, constitui um dos critérios utilizados pelo ou estudam em um município diferente daquele em que 96 SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 4, p. 96-109, out./dez. 2005 MOBILIDADE PENDULAR NA METRÓPOLE PAULISTA residem”. A abordagem utilizada tem como foco os indiví- o principal local de destino dos seus ex-residentes que para duos com 15 anos ou mais que realizaram deslocamentos aí continuavam se deslocando para trabalhar. no âmbito intermunicipal e intrametropolitano. Morar em Suas principais observações são que: em 1/3 dos muni- um município e trabalhar ou estudar em outro – em sínte- cípios da RMSP, mais da metade da população migrante se, é do que trata esse artigo. cuja residência anterior foi a capital continuava trabalhan- do ou estudando em São Paulo; muitos desses municípios DESLOCAMENTOS PENDULARES NA RMSP receberam os maiores contingentes populacionais da ca- pital nos anos 70; a mobilidade pendular dependia não Vários estudos têm mostrado o impacto dos desloca- apenas das características socioeconômicas dos municí- mentos pendulares no mercado de trabalho, suas relações pios de residência, mas também da distância até a capital; com as tendências migratórias e como eles contribuem para os deslocamentos pendulares estavam menos presentes a estruturação do espaço metropolitano. Bógus e outros nos municípios agrícolas e nos industrializados, enquan- (1990) vincularam os deslocamentos pendulares com os to que nos de industrialização crescente e nos caracteriza- processos de Metropolização/Periferização da RMSP ca- dos nitidamente como “dormitórios” os índices eram mais racterizando-os como um dos mais importantes processos elevados. na dinâmica populacional da metrópole. Observou-se que, Ântico (2004) abordou os deslocamentos pendulares em quase 1/3 dos municípios que compunham a RMSP, para a RMSP em diferentes recortes espaciais e também mais da metade da população economicamente ativa (PEA) apontou o Município de São Paulo, e principalmente sua trabalhava em local diferente daquele em que residia. Essa área central, como o principal destino dos deslocamentos. mobilidade era mais intensa nos municípios caracterizados Detectou também o crescimento do número de deslocamen- como “dormitórios”, com PEA ocupada em atividades in- tos intra-regionais nos demais municípios da metrópole, dustriais; de modo intermediário, nos industrializados, in- revelando a importância e a consolidação de subcentros dependentemente da inserção da PEA; e, menos significa- regionais. tiva para os “agrícolas”. Esses trabalhos fazem um bom retrato dos deslocamen- Em outro estudo, Cunha (1993) relaciona os deslo- tos populacionais e da discussão sobre os processos ocor- camentos pendulares com os movimentos migratórios ridos na RMSP nas décadas anteriores. Entretanto, o Cen- intrametropolitanos e mostra como o Município de São so Demográfico 2000 apresenta novas informações, que Paulo constituiu simultaneamente a principal de origem dos serão destacadas a seguir. movimentos migratórios rumo aos demais municípios metropolitanos e a principal área de destino dos desloca- TENDÊNCIAS RECENTES mentos pendulares ocorridos no interior da RMSP. Dessa forma, São Paulo tinha um duplo papel na mobilidade Os resultados do Censo de 2000 revelam que, na RMSP, populacional metropolitana. Se por um lado o município cerca de 1 milhão de pessoas trabalham ou estudam em um expulsava parcela de sua população em direção aos município diferente daquele que residem – o que representa municípios do entorno metropolitano contribuindo para a 12,2% do total dos residentes na Metrópole (Tabela 1). Esse intensificação do processo de periferização e de cresci- volume populacional que se movimenta diariamente na mento da metrópole, por outro, São Paulo permanecia como metrópole paulista é extremamente significativo e equivale TABELA 1 Pessoas com 15 Anos ou Mais, segundo Local de Trabalho ou Estudo Região Metropolitana de São Paulo – 2000 Local de Trabalho ou Estudo Números Absolutos % Total 8.330.261 100,0 Trabalham ou Estudam no Município de Residência 7.315.039 87,8 Trabalham ou Estudam em Município Diferente do de Residência 1.015.222 12,2 Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2000 (tabulações especiais). SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 4, p. 96-109, out./dez. 2005 97 VALMIR ARANHA TABELA 2 Pessoas com 15 Anos ou Mais, que Entram e Saem nos Municípios de Trabalho ou Estudo Região Metropolitana de São Paulo – 2000 Entradas Saídas Trabalham ou Residem no Diferença Municípios Estudam no Município % Município e Trabalham % (a-b) e Residem em Outro ou Estudam em Outro (a) (b) RMSP 1.015.221 100,0 1.015.221 100,0 - Arujá 4.921 0,5 7.240 0,7 -2.319 Barueri 43.018 4,2 20.981 2,1 22.037 Biritiba Mirim 342 0,0 1.695 0,2 -1.353 Caieiras 3.412 0,3 11.562 1,1 -8.150 Cajamar 2.062 0,2 2.118 0,2 -56 Carapicuíba 6.111 0,6 63.908 6,3 -57.797 Cotia 10.781 1,1 14.820 1,5 -4.039 Diadema 28.093 2,8 43.382 4,3 -15.289 Embu 4.886 0,5 29.189 2,9 -24.303 Embu-Guaçu 623 0,1 4.192 0,4 -3.569 Ferraz de Vasconcelos 4.235 0,4 26.074 2,6 -21.838 Francisco Morato 1.114 0,1 25.230 2,5 -24.116 Franco da Rocha 3.842 0,4 16.069 1,6 -12.227 Guararema 287 0,0 897 0,1 -610 Guarulhos 31.644 3,1 82.916 8,2 -51.272 Itapecerica da Serra 2.977 0,3 17.017 1,7 -14.040 Itapevi 3.270 0,3 25.765 2,5 -22.495 Itaquaquecetuba 7.268 0,7 38.353 3,8 -31.085 Jandira 4.923 0,5 18.295 1,8 -13.372 Juquitiba 338 0,0 718 0,1 -380 Mairipora 746 0,1 5.280 0,5 -4.534 Mauá 12.515 1,2 56.617 5,6 -44.103 Mogi das Cruzes 11.893 1,2 16.839 1,7 -4.946 Osasco 35.113 3,5 102.600 10,1 -67.487 Pirapora do Bom Jesus 140 0,0 1.412 0,1 -1.272 Poá 4.159 0,4 17.967 1,8 -13.809 Ribeirão Pires 7.092 0,7 15.380 1,5 -8.288 Rio Grande da Serra 804 0,1 6.831 0,7 -6.027 Salesópolis 315 0,0 642 0,1 -327 Santa Isabel 739 0,1 1.862 0,2 -1.123 Santana de Parnaíba 4.319 0,4 10.533 1,0 -6.214 Santo André 51.282 5,1 85.340 8,4 -34.059 São Bernardo do Campo 70.824 7,0 72.856 7,2 -2.032 São Caetano do Sul 38.244 3,8 26.215 2,6 12.029 São Lourenço da Serra 108 0,0 643 0,1 -535 São Paulo 591.042 58,2 82.415 8,1 508.627 Suzano 12.356 1,2 20.840 2,1 -8.484 Taboão da Serra 8.646 0,9 37.485 3,7 -28.838 Vargem Grande Paulista 737 0,1 3.044 0,3 -2.308 Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2000 (tabulações especiais). 98 SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 4, p. 96-109, out./dez. 2005 MOBILIDADE PENDULAR NA METRÓPOLE PAULISTA ao conjunto da população de Campinas, que é o maior serviços bastante moderno, localizado nos empreen- município do interior do Estado de São Paulo.