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Potencial de Terras para Irrigação na Bacia do Tucano-BA

José Coelho de Araújo Filho(1); Davi Ferreira da Silva(2); Eudmar Alves da Silva(3) & Tony Jarbas Ferreira Cunha(4)

(1) Pesquisador da Embrapa Solos UEP Recife, Rua Antônio Falcão 402, Boa Viagem, Recife – PE , CEP 51020-240, [email protected] (apresentador do trabalho); (2) Assistente da Embrapa Solos UEP Recife, Rua Antônio Falcão 402, Boa Viagem, Recife – PE , CEP 51020-240, [email protected]; (3) Estagiário da Embrapa Solos UEP Recife, Rua Antônio Falcão 402, Boa Viagem, Recife – PE , CEP 51020-240, [email protected]; (4) Pesquisador da Embrapa Semi-Árido BR 428, Km 152, Zona Rural - Caixa Postal 23, Petrolina, PE - Brasil - CEP 56302-970 [email protected].

RESUMO: O objetivo deste estudo foi avaliar o textura média a argilosa, principalmente Latossolos e potencial de terras para irrigação numa área de Argissolos. Neste contexto, estudou-se uma área de aproximadamente 26.162 km2 na Bacia do Tucano, 26.162,27 km2, com o objetivo de avaliar o potencial Estado da . A base das interpretações foi o de terras para irrigação. levantamento de solos realizado pela Embrapa na escala de 1:1.000.000. A metodologia utilizada foi a MATERIAL E MÉTODOS do “Bureau of Reclamation” (BUREC) com A partir do Levantamento Exploratório- simplificações. As terras consideradas irrigáveis Reconhecimento de solos da Margem direita do Rio foram enquadradas nas classes 2 e 3. As da classe 2 São Francisco (Embrapa, 1977), procedeu-se a ocupam 641,39 km2, isto é, cerca de 2,46 % da área avaliação do potencial de terras para irrigação na total. Nesta classe são encontrados principalmente Bacia do Tucano, Estado da Bahia, tomando-se por Cambissolos e Vertissolos. As terras da classe 3 base o sistema de classificação de terras para ocupam 9.180,97 km2, cerca de 35,08 % da área irrigação do “Bureau of Reclamation” (BUREC) que total. Estão representadas principalmente por consta em Carter (1993) e Cavalcanti et al. (1994). Latossolos e Argissolos. A maior parte das terras Foram considerados também, critérios especificados são consideradas não irrigáveis (classe 6) e ocupam pela Codevasf (Batista et al., 2002) para manejo 16.339,91 km2, cerca de 62,46 % da área total. irrigado por aspersão ou irrigação localizada.

Palavras -chave: solos, sedimentos, Bahia . RESULTADOS E DISCUSSÃO

INTRODUÇÃO As classes de terra para irrigação estão quantificadas na tabela 1 e apresentadas De todas as regiões brasileiras, a região Nordeste espacialmente no mapa da figura 1. Em é que mais se destaca na necessidade de utilização conformidade com as classes do BUREC, foram da irrigação e, desta forma, a avaliação do potencial reconhecidas na área de estudo terras das classes 2 de terras para irrigação reveste-se de grande (terras aráveis, com moderada aptidão para importância, sobretudo devido à escassez de terras agricultura irrigada), 3 (terras aráveis de aptidão irrigáveis na Região. A Bacia Sedimentar do Tucano, restrita para agricultura irrigada) e 6 (terras Estado da Bahia, objeto de estudo nesse trabalho, é consideradas inadequadas para irrigação). dividida em três sub-bacias: Tucano Sul, Central e Norte, separadas entre si pelos cursos dos rios Para cada uma das classes foram definidas e Vaza Barris, respectivamente. A bacia subclasses de acordo com suas características e estende-se, no sentido norte-sul, desde o Recôncavo fatores limitantes relativos ao solo (s), topografia (t) Baiano até o rio São Francisco, entre os municípios e drenagem (d). Para a representação das de e Glória. particularidades referentes a cada um dos fatores limitantes foram utilizados os seguintes símbolos: y – Na bacia como um todo, verificam-se grandes fertilidade natural baixa; b – pequena profundidade áreas com relevo plano a suave ondulado e áreas para rocha ou substrato impermeável; k – pequena com relevo ondulado ou mais movimentado. A profundidade para calhaus ou concreções; v – altitude predomina de 200 a 600 metros. Na parte textura grossa na faixa arenosa; p – redução de norte destacam-se grandes domínios de solos permeabilidade em profundidades; e g – gradiente ou arenosos, sobretudo Neossolos Quartzarênicos. Na declividade acentuada (> 8%). parte centro-sul, são predominantes solos com 2

As classes indicativas do potencial de terras para irrigação foram representadas por meio de uma CONCLUSÕES fórmula simplificada, com no exemplo abaixo: Onde: As terras consideradas irrigáveis, em sua maior 3st kg 3 = representa a classe de terra. parcela, pertencem à classe 3, e uma pequena s = subclasse solo. porção, à classe 2. As principais limitações estão t = subclasse topografia. relacionadas à fertilidade natural baixa, textura k = representa a limitação do solo devido arenosa superficial, deficiência de permeabilidade e à presença de concreções e calhaus. relevo pouco movimentado. Ocupam 9.822,36 km2, g = representa a limitação da topografia representando 37,54 % da área estudada. O restante devido à declividade acentuada. da área compreende terras que se enquadram na Para a representação das classes de terra na classe 6, sendo, portanto, consideradas não irrigáveis unidade de mapeamento, estas foram agrupadas de por métodos convencionais. Essas terras ocupam 2 acordo com as classes de solos componentes, como 16.339,91 km o que representa 62,46 % da área pode ser visto no exemplo abaixo. Neste exemplo, total. As limitações para manejos irrigados parte da unidade de mapeamento de solo apresenta relacionam-se à pequena profundidade efetiva, potencial para irrigação na classe 3 e parte na classe drenagem deficiente, textura arenosa e relevo 6, com suas correspondentes limitações. movimentado.

3st kg + 6st yv REFERÊNCIAS BATISTA, M. J.; NOVAES, F.; SANTOS, D. G. &

Para a quantificação das classes de terra para SUGUINO, H. H. Drenagem como instrumento irrigação na área da unidade de mapeamento (Tabela de dessalinização e prevenção da salinização de 1), foram consideradas as proporções de cada classe solos. 2.ed., rev. ampl. Brasília, Codevasf. 2002. de solos na referida unidade. 216p. (Série Informes Técnicos). Neste estudo, as terras consideradas irrigáveis enquadram-se nas classes 2 e 3. As da classe 2 CARTER, VAL H. Classificação de terras para ocupam 641,39 km2, representando apenas 2,46 % irrigação. Brasília, Secretaria de Irrigação,1993. da área total. Na região, os solos mais 208p. (Manual de Irrigação, v.2). representativos dessa classe são, principalmente, Cambissolos e Vertissolos. São solos com alta CAVALCANTI, A C.; RIBEIRO, M.R.; ARAUJO fertilidade natural, mas os Vertissolos apresentam FILHO, J. C. & SILVA, F. B. R. Avaliação do restrições drásticas de permeabilidade. As terras da potencial das terras para irrigação no Nordeste classe 3 ocupam 9.180,97 km2 o que representa (para compatibilização com os recursos hídricos). 35,08 % da área total. Os solos representativos Brasília, Embrapa-SPI. 1994. 38p. 1 mapa color dessa classe são, principalmente, Latossolos e (escala 1:2.000.000). Argissolos. As limitações mais importantes para o manejo irrigado desses solos incluem a fertilidade EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e natural baixa, a textura arenosa superficial e, por Conservação de Solos. Levantamento vezes, o relevo movimentado. Vale ressaltar que a exploratório-reconhecimento de solos da maior parte das terras estudadas é considerada margem direita do rio São Francisco, Estado da inapropriada para manejos irrigados convencionais Bahia. Recife, 1977. v.1. (EMBRAPA SNLCS. (classe 6). Ocupam uma área de 16.339,91 km2 o Boletin Técnico, 52. SUDENE-DRN. Série que representa 62,46 % da área total (Figura 1). Recursos de Solo, 10). Estas terras englobam solos com problemas de drenagem (Planossolos), solos arenosos (Neossolos Quartzarênicos), solos com problemas relacionados à profundidade efetiva (Neossolos Litólicos), além de afloramentos rochosos. 3

Tabela 1. Quantitativos das classes de terras para irrigação na Bacia do Tucano - BA

Porcentagem dos Área Classe de terra componentes para irrigação nas unidades de (km2) (%) mapeamento

2s y 100 177,12 0,68 2s p + 6sd p 60 + 40 238,50 0,91

2s p + 3st yg 70 + 30 458,64 1,75

3s y + 6s yv 60+40 594,03 2,27

3 s yv 100 979,38 3,74 3st yg + 3st yv 70+30 729,86 2,79

3st kg + 3st kv 80+20 2.103,14 8,04

3s yv + 6s yv 55+45 4.061,93 15,53

3st yg + 6s t 60+40 153,54 0,59

3st yv + 6s yv 75+25 721,96 2,76

3st yv + 6st yv 65+35 1.172,64 4,48

6s yv 100 9.218,69 35,24 6s yv + 3s yv 70+30 3.345,58 12,79

6sd p + 3s yv 60+40 602,60 2,30

6sd p + 6s b 70+30 78,41 0,30

6s yv + 6st yb 70+30 1.093,16 4,18

6sdt pg 100 207,89 0,79 6st bg 100 148,15 0,57 6st vg 100 76,85 0,29 Total 26.162,27 100,00

4

39°0'0"W 38°0'0"W 37°0'0"W !

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE TERRAS PARA IRRIGAÇÃO ! 6s yv + 6st yb NA BACIA DE TUCANO - BA ( PARA COMPATIBILIZAÇÃO COM OS RECURSOS HÍDRICOS) ESCALA 1:700.000 9°0'0"S 9°0'0"S

Macururé

!

2s y

Paulo Afonso

! R I O S ALAGOAS Ã O

F R A N 6s yv C I S C O Santa Brígida !

Uauá !

Canudos ! 6s yv + 3s yv 6s yv + 6st yb

10°0'0"S 10°0'0"S

Jeremoabo !

6s yv Coronel João Sá !

Monte Santo !

Euclides da Cunha ! 3st yv + 6s yv

6s yv + 3s yv Cícero Dantas 3st yg + 6st ! 3st yg + 6st 3st yv + 6s yv Cansanção

! 6s yv + 3s yv 6sdt pg SERGIPE ! Poço Verde Simão Dias 3s yv + 6s yv 6s yv + 3s yv ! 3st yv + 6s yv 6s yv + 3s yv 6sdt pg !

!. Tucano ! 11°0'0"S Quantitativos da área mapeada 11°0'0"S Unidade de Área Total da área 6s yv + 3s yv Mapeamento km² % Cipó 2s y 177,12 0,68 ! 2s p + 6sd p 238,70 0,91 2s p + 3st yg 458,64 1,75 Tobias Barreto ! 3s y 594,03 2,27 3s yv 979,38 3,74 6st bg ! 3st yg + 3st yv 729,86 2,79 6sd p + 3s yv 3st kg + 3st kv 2103,14 8,04 3s yv + 6s yv 4061,93 15,53 6s yv + 3s yv ! 3s yv + 6s yv 3st yg + 6st 153,54 0,59 ! 3st yv + 6s yv 721,96 2,76 3s yv + 6s yv

3st yv + 6st yv 1172,64 4,48 6s yv 9218,69 35,24 6s yv + 3s yv 3345,58 12,79 6s yv + 3s yv 6sd p + 3s yv 602,60 2,30 Crisópolis ! O

6sd p + 6s b 78,41 0,30 Conceição do Coité Jandaíra C 6s yv + 6st yb 1093,16 4,18 ! Sátiro Dias ! I 6sdtNova pg Fátima 207,89 0,79 ! 3s yv ! ! 3s y T 6st bg 148,15 0,57 2s p + 6sd p 6st vg 76,85 0,29 N ! TOTAL 26162,28 100,00 Â 3s yv L 3s yv T LOCALIZAÇÃO DA BACIA DO TOCANO NO ESTADO A 46°0'0"W 44°0'0"W 42°0'0"W 40°0'0"W 38°0'0"W ! 6sd p + 6s b ! PARAÍBA PERNAMBUCO 3s yv + 6s yv O MARANHÃO PIAUÍ N ALAGOAS A

Entre Rios E 10°0'0"S SERGIPE 10°0'0"S Santa Bárbara TOCANTINS ! ! C O 12°0'0"S Ouriçangas 12°0'0"S Santanópolis ! ! Irará 12°0'0"S BAHIA 12°0'0"S ! !. Salvador 3st yv + 6st yv O GOIÁS Pedrão Ipirá C !

14°0'0"S I 14°0'0"S ! ! T

N

 Araças

L DISTRITO FEDERAL ! T A 16°0'0"S MINAS GERAIS 16°0'0"S ! O ! 3st kg + 3st kv

GOIÁS LEGENDA DAS CLASSES E SUBCLASSES DE N

A TERRA PARA IRRIGAÇÃO

E (Diretrizes do Bureau of Reclamation)

C ESPÍRITO SANTO ! 18°0'0"S O 18°0'0"S Terra Nova ! A - Classes de Terras para Irrigação 46°0'0"W 44°0'0"W 42°0'0"W 40°0'0"W 38°0'0"W 1 - Terras aráveis com alta aptidão para agricultura irrigada. ! 2 - Terras aráveis com média aptidão para agricultura irrigada. CONVENÇÕES 2s p + 3st yg 3st yg + 3st yv 3 - Terras aráveis com baixa aptidão para agricultura irrigada. !. CAPITAL ! Mata de São João São Sebastião do Passé 4 - Terras aráveis de uso especial. ! ! Cidade 5 - Terras não aravéis provisoriamente nas condições naturais. Estrada de ferro 6 - Terras não aravéis. Estrada sem asfalto 3st yg + 3st yv B - Subclasses de Terras para Irrigação Rodovia asfaltada ! s = solos. Rios e riachos t = topografia. Limite da bacia d = drenagem. Limite da estadual 6st vg Simões Filho C - Fatores Limitantes ! Deficiência de solo D - Representação cartográfica simplificada. y = fertilidade natural baixa. b = pequena profundidade para rocha ou substrato impermeável. ! z = pequena profundidade para rocha calcárea permeável.

1 - Fórmula representativa de uma classe de terra: k = pequena profundidade para calhaus ou concreções.

x = pedregosidade superficial abundante. Presença de congreções v = textura grosa (arenosa). e/ou calhaus !. SALVADOR p = permeabilidade baixa. 13°0'0"S Classe de terra 3 s t k g 13°0'0"S a = sodicidade e/ou salinidade. Deficiência de solo Declividade acentuada Deficiência de ESCALA GRÁFICA Deficiência de topografia g = gradiente ou declividade acentuala. topografia 0 5 10 20 30 40 r = cobertura de pedras. 2 - Representação das classes de terras na unidade Km de mapeamento. CORDENADA GEOGRÁFICA Deficiência de drenagem SAD - 69 f = risco de inundação. 3st yv + 6st yv w = lençol freático elevado.

Base Cartográfica: LABORATÓRIO DE GEOPROCESSAMENTO - EMBRAPA SOLOS - 39°0'0"WUep/Recife 38°0'0"W 37°0'0"W EMBRAPA, Levantamento exploratório-reconhecimento de solos da margem direita do Rio São Francisco Estado da Bahia. Recife: EMBRAPA-SNLCS/SUDENE-DRN, 1977/79. 2v. Boletim Técnico, 52 SUDENE. Série Recursos de Solos, 10.

Figura 1. Mapa do potencial de terras para irrigação na Bacia do Tucano – BA