O povo indígena -Karo de Rondônia: cenários históricos e a colonização na Amazônia Brasileira The Arara-Karo etnic indigenous people from Rondônia: historical scenarios and the Brasilian Amazon colonizaƟ on Maria Isabel Alonso Alves* Heitor Queiroz de Medeiros*

DOI: http://dx.doi.org/10.20435/2318-1982-2016-v.21-n.43(11)

Resumo Trata-se de um desdobramento de pesquisa em desenvolvimento no âmbito do Programa de Pós- Graduação em Educação da Universidade Católica Dom Bosco (PPGE/UCDB) que obje va verifi car a produção das iden dades/diferenças das mulheres/professoras/indígenas da etnia indígena Arara-Karo localizada no município de Ji-Paraná, Estado de Rondônia, Brasil. Este texto apresenta um breve cenário histórico sobre a cons tuição do povo Arara-Karo e sua relação com o processo de colonização da Amazônia brasileira. São refl exões que buscam se aproximar das questões ligadas à colonização da região amazônica. Assim, o argumento principal do texto refere-se à ideia de que os deslocamentos e ressignifi cações nos modos de organização, no contexto social ou cultural das populações indígenas, especifi camente os Arara-Karo foi intensifi cado com o processo de coloniza- ção. A produção de dados desta pesquisa se cons tui a par r de revisões bibliográfi cas a respeito do processo de colonização amazônica, considerando a colonização na cons tuição recente do povo Arara-Karo, bem como entrevista narra va com uma professora Arara-Karo. Palavras-chave Colonização; Amazônia brasileira; povo Arara-Karo.

Abstract This is a research unfolding development in the Postgraduate Diploma in Catholic University of Educa on Program Dom Bosco (PPGE/UCDB) which aims to verify the produc on of iden es/diff e- rences of women/teachers/indigenous ethnic Arara-Karo located in the city of Ji-Paraná, Rondônia, . This paper presents a brief historical background on the establishment of the Arara-Karo people, and its rela on to the process of coloniza on of the Brazilian Amazon. Refl ec ons are seeking to approach the issues coloniza on of the Amazon region. Thus the text of the main argu- ment refers to the idea that the displacement and reinterpreta on in the organiza on modes are social or cultural context of indigenous peoples, specifi cally the Arara-Karo was intensifi ed with the process of coloniza on. The produc on data of this research is cons tuted from literature reviews about the Amazon coloniza on process, considering the coloniza on in the recent cons tu on of the Arara-Karo people, as well as narra ve interview with a Arara-Karo teacher. Key words Coloniza on; brazilian Amazon; people Arara-Karo.

* Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Campo Grande, do Sul, Brasil.

Série-Estudos, Campo Grande, MS, v. 21, n. 43, p. 193-211, set./dez. 2016 Maria Isabel Alonso ALVES; Heitor Queiroz de MEDEIROS

1 INTRODUÇÃO 2 AS IMPLICAÇÕES DA COLONIZA ÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DA AMAZÔNIA O texto em questão apresenta LEGAL BRASILEIRA possibilidades de entender a relação do processo de colonização Amazônica no A origem do sistema-mundo ca- Brasil com a história e cons tuição do pitalista foi produzida pela competên- povo Arara-Karo, especifi camente fatos cia econômica interimperial entre os históricos que compõem possíveis deslo- europeus no final do XV, a partir da camentos ( sicos e culturais) dessa etnia expansão colonial europeia a fim da indígena. Como estratégia de pesquisa, necessidade de encontrar mais rotas destacamos a utilização de estudos para o comércio com o Oriente o que, bibliográfi cos que representam a possi- na perspec va eurocêntrica, levou ao bilidade de revifi car alguns argumentos chamado descobrimento da Américas, disponíveis sobre a história regional que produzido pela colonização espanhola contempla a história dos povos indígenas e portuguesa (GROSFOGUEL, 2007). Na presentes na Amazônia legal brasileira, mesma perspec va de pensar a coloni- dentre os quais destacamos Becker zação, Castro-Gómez e Grosfoguel (2007, (2005), Neves (2009), Fonseca (2008) e p. 14) afi rmam que “a maioria das análi- outros. Também destacamos a entrevista ses do sistema-mundo enfocam a divisão narra va segundo as abordagens meto- internacional do trabalho e das lutas ge- dológicas apontadas por Andrade (2012, opolí cas cons tu vas dos processos de p. 174) a qual afi rma que a “produção do acumulação capitalista mundialmente”. sujeito se dá no âmbito da linguagem, O conceito de sistema-mundo na relação com as forças discursivas que aqui u lizado é no sen do de referir-se, o nomeiam e governam, [...] no qual se assim como Castro-Gomes e Grosfoguel produz e se nomeia o sujeito”. Tendo em (2007), às ideologias globais de desen- vista a possibilidade do estudo sobre o volvimento, cujo centro está no poder povo indígena Arara-Karo, os cenários colonial articulado a uma hierarquia e a colonização amazônica, u lizamos racial/étnica global e suas classifi cações conceitos que buscam inferir sobre os binárias, em que aparecem tais hierar- processos de colonização da Amazônia quias (superior/inferior; desenvolvido/ levando em consideração os povos indí- subdesenvolvido; civilizado/selvagem genas presentes. Assim, o texto em ques- e outras). tão aborda, de forma breve, a história da Os apontamentos de Grosfoguel colonização Amazônica, do povoamento (2007) e Castro-Gomes e Grosfoguel não indígena e da localização atual onde (2007) dão pistas de que, na perspec va se encontra a cidade de Ji-paraná, além de atender as prerroga vas postas pela de buscar discorrer sobre os modos de ocidentalidade (necessidades mercan s vida Arara-Karo de Rondônia. das coroas europeias), deram-se os pri-

194 Série-Estudos, Campo Grande, MS, v. 21, n. 43, p. 193-211, set./dez. 2016 O povo indígena Arara-Karo de Rondônia: cenários históricos e a colonização na Amazônia Brasileira meiros avanços às fronteiras amazônicas o período de reconhecimento e descri- que, a par r de então, passou a ser consi- ção do universo fantás co a par r do derada como o eldorado brasileiro, onde século XVI; o período de integração em os desejos de dominação local, econômi- fi ns do século XIX e o período de colo- co e cultural da ocidentalidade puderam nização e expropriação desencadeado a se tornar realidades. A Amazônia, além par r da segunda metade do século XX de ser vista como um local paradisíaco (BENTES, 2006). capaz de fazer prosperar em riquezas O período fantás co correspon- e poder, sa sfazia às necessidades do de às primeiras imagens da Amazônia, hipotético sistema-mundo idealizado considerada um suposto paraíso terreno pelos colonizadores europeus. Densos descrito por aventureiros europeus que argumentos da geógrafa brasileira Berta acreditavam ter localizado o paraíso Becker (2005, p. 72) mostram que na terra, “um lugar fantás co, ou ain- A Amazônia, o Brasil, e os de- da, a entrada principal do jardim do mais países la no-americanos Éden” (GONDIM, 2006). A esse respeito são as mais an gas periferias Gondim (2006, p. 52) aponta que, do sistema mundial capitalista. O fascínio da visão inaugural Seu povoamento e desenvol- completa-se com o prodígio vimento foram fundados de da terra e a temperança do ar. acordo com o paradigma de Terras e céus – o alto e o baixo relação sociedade-natureza, – se encontram na diversidade que Kenneth Boulding deno- do espetáculo novo e se unem mina de economia de fronteira, significando com isso que o em um todo harmonioso de va- crescimento econômico é visto les, rios, montes, selvas, fontes, como linear e infi nito, e base- colinas, distribuídos em espa- ado na con nua incorporação ços ilimitados, ocupados por de terra e de recursos naturais, homens, feras, raízes cura vas que são também percebidos e alimen cias, mares piscosos, como infi nitos. Esse paradig- árvores fru feras, ouro, péro- ma da economia de fronteira las. A ante-sala do Éden tem realmente caracteriza toda a sua an tese no Velho Mundo. formação la no-americana. As descrições fantás cas a respei- A história da colonização amazôni- to da Amazônia e dos potenciais eco- ca, como também mostra Bentes (2006), nômicos igualmente fantás cos desses infere que o processo de ocupação da espaços, trouxeram um contingente Amazônia, especifi camente a Amazônia substancial de pessoas a esta parte do brasileira, está arraigado a diferentes Brasil. Sobre a existência e passagens de momentos, sendo cons tuídos de três Europeus pelos territórios amazônicos períodos, sendo estes conhecidos como Holanda (2000, p. 31), descreve que,

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Foi às beiradas daquele riomar, ao desenfreado povoamento de pessoas porém e quando pela primeira não indígenas na Amazônia brasileira. vez na História um bando de es- Cabe salientar que a borracha é um po panhóis o cursou em sua maior de goma elás ca extraída da seringuei- extensão até chegar a em boca- ra, árvore na va da região amazônica, dura, que elas vieram a ganhar também conhecida cientificamente corpo. Tendo saído do Quito em 1541 rumo ao imaginário de Hevea brasiliensis. A seiva que a país da Canela, Francisco de seringueira produz é a matéria prima Orellana e seus companheiros, da borracha, denominada látex ou se- antes de alcançar o Maxifaro e ringa (FONSECA, 2008). O extra vismo a terra dos Omagoa, foram avis- descomedido do látex amazônico fi cou tados pelo velho cacique Aparia conhecido como “primeiro e segundo de que, águas abaixo, no grande ciclos da borracha” (FONSECA, 2008). rio, se achava Amazonas. O primeiro ciclo aconteceu no Também Bentes (2006), com rela- início do século XIX, período em que ção às primeiras imagens da ocupação a extração da borracha fazia parte da da Amazônia brasileira, afi rma que “a economia da região, sendo considerada primeira tenta va de penetrar no inte- uma “a vidade artesanal, e secundá- rior da atual Amazônia foi feita pela ex- ria, na economia da região, que era a pedição de Alonso Mercadillo, em 1538, produção de ar gos de borracha para a com o obje vo de conquistar as riquezas exportação” (FONSECA, 2008, p. 62). Era que se imaginava exis r nos territórios um importante produto artesanal extra- dos índios Chupacho e Iscaicinga, nas ído no Brasil e comercializado em outras vertentes orientais dos Andes” (BENTES, partes do mundo, sendo a matéria prima 2006, p. 9). As descrições e afi rma vas para fabricação de artefatos de exporta- postas mostram que o processo histórico ção, tais como, botas, seringas e outros da colonização amazônica, a princípio, produtos impermeáveis, entretanto, sua deu-se com o obje vo de exploração co- qualidade ainda era baixa, pois amolecia mercial e territorial que pudesse alimen- com o calor e endurecia com o frio, que- tar as ambições mercan s da Europa. brando facilmente, o que prejudicava a As primeiras visões da Amazônia foram comercialização do produto. marcadas pelas descrições fantás cas e Com o passar do tempo, já no da comparação dos espaços observados considerado segundo ciclo da borracha, o látex extraído passou a ser vulcaniza- ao paraíso historicamente descrito nas 1 narra vas literárias Europeias. do , e isso incorreu no aprimoramento O período de integração em fi ns 1 do século XIX refere-se, entre outros Vulcanizar é combinar a borracha com o en- xofre para torná-la mais resistente ao calor e momentos, ao chamado ciclo da borra- ao frio, mantendo sua elas cidade (FONSECA, cha. A produção da borracha deu início 2008, p. 62).

196 Série-Estudos, Campo Grande, MS, v. 21, n. 43, p. 193-211, set./dez. 2016 O povo indígena Arara-Karo de Rondônia: cenários históricos e a colonização na Amazônia Brasileira do produto. A borracha passou a ser fornecimento; Pelo sistema dominante; utilizada na fabricação de “pneus de De crédito e aviamento” (BRANDÃO, carros e bicicletas; mangueiras de água 2000, p. 31). e capeamento de fi os elétricos, além os O trecho do poema de Doca tradicionais impermeáveis” (FONSECA, Brandão dá pistas de como o processo 2008, p. 62). A borracha aparece no de colonização da Amazônia brasileira cenário brasileiro como um fator de foi intenso, principalmente com relação economia muito forte, entretanto sua à exploração da mão de obra dos traba- produção foi controlada e monopolizada lhadores nos seringais. pelo capital estrangeiro que viabilizava A colonização das áreas ocupadas desde o con ngente humano – os serin- por seringais não ocorreu de forma pa- gueiros que faziam a extração do látex na cífi ca, tendo em vista que a maioria das fl oresta e a comercialização do produto terras onde se localizavam as fl orestas para as grandes indústrias nacionais e exploradas pertencia a grupos indígenas. internacionais. À medida que os seringais avançavam A partir do que expõe Castro- em busca da borracha, ocorria expro- Gómez e Grosfoguel (2007, p. 14), en- priação dos povos originários, que, ou tendemos que a maioria das análises fi cavam desalojados de suas terras, ou do sistema-mundo enfoca a divisão subme am-se ao trabalho nos seringais. internacional do trabalho e das lutas ge- Os grupos que recusavam abandonar opolí cas cons tu vas dos processos de as terras ou servir de mão de obra nos acumulação capitalista mundialmente; seringais entravam em confl itos com os nessa perspec va, a exploração econô- seringueiros. Foi assim que “os indígenas mica e cultural da Amazônia brasileira ilegalmente escravizados, ou semiescra- foi um dos aportes do consumo gerado vizados, passaram a ocupar os seringais” pelo sistema-mundo. (FONSECA, 2008, p. 65) para servir de A manifestação da colonização mão de obra na extração da seringa. vinculada ao sistema-mundo pode ser Fonseca (2008) mostra que os indígenas observada no trecho da obra literária foram importantes para a formação dos – poesia de cordel intitulada O can- ciclos de exploração da borracha, pois cioneiro do Vale do Madeira do poeta eram conhecedores das matas e sabiam portovelhense Doca Brandão. Na obra, a exata localização das árvores. o poeta, ao retratar épocas dos serin- Se de um lado, o processo de gais, mostra a forma de exploração do ocupação e exploração da borracha sistema-mundo em vários aspectos. amazônica se cons tuiu com profundos Assim declama: “E a borracha aparece; impactos sobre as populações na vas, é No cenário brasileiro; Mas sua produção possível dizer que do outro, ou seja, da é controlada; Pelo capital estrangeiro; captura e seleção de mão de obra para Que tudo monopoliza; Da colheita ao o suposto enfrentamento da fl oresta,

Série-Estudos, Campo Grande, MS, v. 21, n. 43, p. 193-211, set./dez. 2016 197 Maria Isabel Alonso ALVES; Heitor Queiroz de MEDEIROS não foi diferente. Narra vas produzidas nacional, principalmente com a criação a respeito do tema inferem que da comissão que tinha o objetivo de Os nordes nos arregimentados desbravar, percorrer e integrar a região não nham a menor ideia do Amazônica ao restante do país. “Durante que era o trabalho nos se- o ciclo da borracha, todo o vale do rio ringais. Adoeciam e morriam Madeira e parte do vale do Guaporé com facilidade. Demoravam formaram colônias de estabelecimentos a se acostumar à solidão e à rurais des nados à coleta da seringa, os lei da mata. O alfaiate João seringais” (FONSECA, 2008, p. 65). Rodrigues Amaro, 72 anos, se O estudo sobre a localização das arrependeu antes de chegar. terras indígenas do Estado de Rondônia, Mas já era tarde demais. Aos 17 realizado por Santos (2014a) mostra que anos ele deixou Sobral só com a Rondônia está situada ao norte do Brasil, passagem de ida. A Campanha especifi camente na área pertencente à da Borracha uniu o ú l ao ú l. Amazônia Legal. Seus limites geográfi - Em um ano de seca, encontrou no Nordeste um exército de cos estão entre norte e a oeste com os fl agelados pronto para par r, Estados do Amazonas e , bem como ou melhor, fugir. Nos postos a leste com o Estado do Mato Grosso, de arregimentação, um exame fazendo divisa ao sul com a República sico e uma fi cha selavam o da Bolívia, possuindo uma área de compromisso. Para abrigar tan- 237.590,543 (km²) (SANTOS, 2014a). ta gente – às vezes mil em um O Estado possui 52 municípios, único dia –, o jeito foi construir sendo capital a cidade de Porto alojamentos, como a hospeda- Velho. A população em 2010 era ria modelo, de nome Getúlio 1.562.409 habitantes, 12.015 Vargas, em Fortaleza. Lá, eles indígenas (IBGE, 2010). No ano passavam a viver até o dia da de 2013 a população es mada viagem, sob um forte regime foi de 1.728.214 habitantes, militar. (ARAÚJO, 2008, p. 02). não sendo iden fi cadas es ma- Em meio à ação colonizatória da vas para o número de indíge- Amazônia Legal brasileira, o processo de nas. (SANTOS, 2014a, p. 37-38). ocupação do estado de Rondônia – antes Tais dados encontram-se atuali- Território Federal do Guaporé, espaço zados em 2015, sendo comprovado um pertencente à Amazônia brasileira, não aumento signifi cante em sua população foi diferente dos outros contextos de demográfi ca. Consta em 2015 uma es - ocupação; entretanto esses processos ma va de 1.768.204 habitantes (IBGE, podem ser considerados ainda mais 2015). intensos com a chegada das frentes de O grande fl uxo migratório de ou- exploração do território pelo governo tras regiões do país, em decorrência da

198 Série-Estudos, Campo Grande, MS, v. 21, n. 43, p. 193-211, set./dez. 2016 O povo indígena Arara-Karo de Rondônia: cenários históricos e a colonização na Amazônia Brasileira extração da borracha e posteriormente, capital. (SOUZA; PESSOA, 2009, na década de 1970, com vistas na ocu- p. 02). pação da Amazônia, acabou gerando As a vidades econômicas marca- confl itos em decorrência das disputas das pela exploração/extração da bor- pelos espaços entre grupos indígenas racha na região amazônica provocou que disputavam territórios entre si e grande fl uxo migratório de outras regi- isoladamente, ou em conjunto, contra ões do Brasil. No Estado de Rondônia, a ocupação e apropriação dos não indí- “destacam-se os seringais como a vida- genas sobre suas terras. De acordo com de econômica que marcou um período Santos, (2014a, p. 43) de intensas movimentações de não indí- [...] a ocupação de Rondônia genas” (SANTOS, 2014a, p. 34) na região. foi marcada por confl itos en- A colonização do Estado de tre modos diferentes de or- Rondônia desencadeou processos de ganização social da vida e de expropriação territorial e cultural dos apropriação sobre os recursos povos originários, habitantes da região. naturais entre indígenas e não Os indígenas serviram de mão de obra indígenas. Antes do contato, escrava nos seringais e, quando se re- os povos indígenas viviam seus cusavam, eram expulsos de suas terras, confl itos interétnicos com pou- forçados a migrar para os territórios de ca interferência sobre o meio onde abundava as florestas outros grupos indígenas, o que causou densas. confl itos e tensões entre alguns grupos étnicos amazônicos. A esse respeito, M. Registros produzidos por Souza e Arara (2015) relata que “o seringal fi cava Pessoa (2009), inferem que do lado dos índios e, em troca da mão A produção do espaço amazô- de obra, estes recebiam dinheiro, tecido, nico e, especifi camente, do es- gado e cachaça. Os Arara trabalhavam tado de Rondônia, apresentou mais com o Firmino, o maior seringal era como caracterís cas fundantes o Santa”. Também é o caso dos Gavião- a expropriação e a violência. Ikolén que, ao se verem expulsos de Para o território rondoniense, seus territórios pelos colonizadores/se- em especial, a Marcha para ringueiros e seringalistas, adentraram o Oeste foi sinônimo de degrada- espaço territorial dos Arara-Karo. Assim ção do homem e do meio natu- ral. Os grupos indígenas, que já conta M. Arara (2015): vinham sendo grada vamente Os Gavião vieram recuados exterminados, a par r da déca- do Mato Grosso, os brancos da de 1960, com a colonização entraram na terra deles e não agrícola, passam a sofrer um quiseram mais devolver, eles impacto potencializado da vieram para cá e lutaram com relação com a Civilização do os Arara para fi car na terra dos

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Arara. [...] há pouco tempo que dígenas na região Amazônica facilitou a gente conversa, depois que a ocupação das áreas indígenas, o que nós vemos um pouco de es- impulsionou o intenso fl uxo migratório tudo, nós, eu e o Sebas ão co- das populações advindas das diversas nhecemos a história e falamos regiões do Brasil, ocorrendo, assim, para a comunidade, não vamos mais ataques e novas chacinas contra fi car o resto da vida brigando, as comunidades indígenas, já bastantes vocês acolheram eles e vamos pequenas. Nesse sen do, as populações ficar os dois povos na terra, então para que fi car lembrando indígenas foram ví mas de grileiros, pos- uma coisa que já foi [...], agora seiros, garimpeiros e seringueiros, que, esta tudo em. com ameaças e ataques, afugentavam os indígenas para outros locais, ocupando Devido ao processo de coloni- assim suas terras. zação, as duas etnias disputaram os Independente da época, o fato mesmos espaços territoriais, sendo é que o contato provocou a quase que, atualmente Arara-Karo e Gavião- dizimação das etnias aqui existentes, Ikolén dividem e habitam a mesma Terra pois, além dos confl itos pela posse das Indígena – T.I Igarapé Lourdes. Ao des- terras, houve a propagação de doenças crever parte da história de ocupação do entre essas populações. Assim relata M. espaço Amazônico, chama-se a atenção Arara (2015): “Na época quando eles (os para o fato de que essas ocupações se mais velhos indígenas) veram contato deram em territórios anteriormente com os brancos, eles sofreram muito, ocupados por grupos indígenas. foi o tempo que chegaram as doenças A conquista territorial na Amazônia e eles não eram acostumados. Para eles desencadeou um processo de amansa- aquilo era uma coisa nova. Para curar mento indígena, embora essas popu- as doenças era só o pajé, nesse tempo lações pudessem sen r-se livres, essa adoeciam dois, três de uma vez só, assim liberdade representava apenas certa eles foram morrendo”. Assim, “Os Arara formalidade convencional, pois não passaram a viver em regime de semi- passava de condições impostas pelos co- -escravidão, trabalhando nos seringais, lonizadores. Nessa perspec va, [...] todo o que provocou o total desaldeamento o processo de ocupação da Amazônia daquele povo” (PAULA, 2008, p. 27). Esses tem representado uma usurpação dos acontecimentos ressignifi caram os mo- territórios [...] indígenas, [...] era e é a dos de vida da etnia em questão. estratégia geopolí ca do confi sco su- Fatos como os mencionados ocor- mário pela força desses territórios [...] reram com a maioria das populações (OLIVEIRA, 1990, p. 103). indígenas que ocupavam as margens De acordo com Teixeira e Fonseca do Rio Machado. A chegada da Linha (2001), a exploração dos territórios in- Telegráfi ca contribuiu para com o po-

200 Série-Estudos, Campo Grande, MS, v. 21, n. 43, p. 193-211, set./dez. 2016 O povo indígena Arara-Karo de Rondônia: cenários históricos e a colonização na Amazônia Brasileira voamento não indígena em Rondônia laram nessa região dando-lhe o nome e provocou o afastamento de algumas de Urupá em função da etnia indígena populações indígenas que se migraram Urupá que habitava o atual município para outras localidades. No contexto de de Ji-Paraná (NEVES, 2009). Registros Ji-Paraná, os povos que mais sofreram históricos indicam que no dia “13 de com o processo de colonização foram Novembro de 1908, chegou o grupo de os Arara-Karo e os Gavião-Ikolen. Neves Rondon ao cruzamento do paralelo 11 e (2009, p. 25) explica que “Os Arara-Karo meridiano 20. Pelas cartas deviam estar e Gavião-Ikolen são sobreviventes des- próximo a cabeceira do Jacyparaná [...] ses tempos, testemunhas das situações neste trecho da expedição, encontraram di ceis, confusas e violentas pelos quais Miguel Sanka empregado nos seringais passaram e que ainda são relembradas de Urupá, no rio Machado ou Ji-Paraná nas narra vas orais”. [...]” (FRANCO; LACOMBE, 2001, p. 96). Como mostra Franco e Lacombe (2001), 3 A CONTRIBUIÇÃO DA COMISSÃO a comi va Rondon chegou à região onde RONDON NO SURGIMENTO atualmente se localiza o município de DO MUNICÍPIO DE JIͳPARANÁ, Ji-Paraná, estado de Rondônia, local RONDÔNIA antes habitado por indígenas, inclusive os Arara. Conforme mencionado, a proposta A afi rmação de que havia presença dessa discussão é pensar a respeito do de não indígenas – seringueiros na lo- processo de colonização da Amazônia calização da atual cidade de Ji-Paraná já brasileira em consonância com a história no século XIX é mostrada por Teixeira e e cons tuição do povo Arara-Karo. Tendo Fonseca (2001, p. 103) quando afi rmam em vista os aspectos demográficos e que históricos da região amazônica, aborda- [...] a partir de meados do mos a história a par r dos avanços da século XIX e durante todo o Comissão Rondon, em 1908, período primeiro ciclo da borracha, em que foi dado início à construção a oportunidade de coloniza- da linha telegráfi ca que cortava todo o ção permanente da região do estado de Rondônia, permi ndo então, Guaporé e do Madeira viria a abertura da BR-364, que favoreceu o concretizar-se e as margens fl uxo migratório para Rondônia o resul- dos rios Madeira, Ji-Paraná, tou no povoamento não indígena nesse Machado, Mamoré e Guaporé território. que foram ocupadas por gru- O surgimento da cidade de Ji- pos isolados de seringueiros. Paraná começou em 1879, com pessoas Isidoro (2006) afirma que os advindas da região do Nordeste brasi- Arara-Karo habitavam o local onde leiro, que, ao fugirem da seca, se insta- hoje se encontram instalados: Museu,

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teatro Dominguinhos, Matriz de São A comissão Rondon veio contribuir com João Bosco; os Bancos – Bradesco, HSBC, o processo de ocupação não indígena no Brasil e Itaú, além de comércios e praças Estado de Rondônia. que fazem parte do centro da cidade de Com a chegada da rede telegrá- Ji-Paraná. Para Isidoro (2006, p. 16) as fi ca, a cidade passou a ser chamada de terras tradicionais dos Arara-Karo Afonso Pena, em homenagem ao presi- [...] correspondem a quase dente da época, posteriormente, passou todo o território do Município a ser chamada de Vila de Rondônia, por de Ji-Paraná, no Estado de úl mo Ji-Paraná em homenagem ao rio Rondônia. Segundo esses indí- Ji-Paraná, posteriormente o mesmo rio genas, havia uma grande malo- passou a ser denominado Rio Machado, ca que se localizava no centro nome atual. Diante das demarcações, da atual cidade de Ji-Paraná, principalmente dos pontos telegráfi cos onde hoje se encontra uma das – obje vo da Comissão Rondon, foram primeiras construções ofi ciais surgindo diversos povoados que se tor- do município. Tal construção naram atualmente amplos espaços urba- serviu de posto telegráfi co e nos, entre estes, a cidade de Ji-paraná, de alojamento para Marechal que se urbanizou intensamente a par r Cândido Rondon e sua comi va no início do século XX. Nos dias da instalação de um posto telegráfi co, atuais, funciona um museu que ocupando territórios antes habitados recebeu o nome de Marechal por indígenas, inclusive os Arara-Karo, Cândido Rondon. etnia sobre a qual buscaremos discorrer. Outro documento importante 4 “NÓS ARARA”: OS KAROͳRAP DE sobre o processo ocupacional da re- RONDÔNIA gião por não indígenas é descrito por Roque e-Pinto (1935), para quem, no A partir do campo teórico dos início do século XX, a comissão Rondon Estudos Culturais, o conceito de iden- “chegava às margens de um rio que se dade tem nos inspirado a perceber as pensava ser o Jaci-Paraná, onde deve- diversas formas nas quais os sujeitos se riam encontrar uma expedição enviada enredam, produzem e transitam para para esperá-lo. Mas, um erro existente representação e iden dade. Trata-se de nas melhores cartas, nha-o feito chegar uma visão que busca ver as várias for- ao Jamari [...] todavia já caminhavam em mas da “produção não daquilo que nós zona de Seringueiros: havia recursos” somos, mas daquilo que nós nos torna- (ROQUETTE-PINTO 1935, p. 56-57). Os mos” (HALL, 2013, p. 109) no decorrer documentos assinalam que, durante os da nossa história. Também com aporte séculos XIX e XX, havia indícios de que al- em Bauman (2005), entendemos que a guns seringueiros já habitavam a região. iden dade é algo que afeta as estruturas

202 Série-Estudos, Campo Grande, MS, v. 21, n. 43, p. 193-211, set./dez. 2016 O povo indígena Arara-Karo de Rondônia: cenários históricos e a colonização na Amazônia Brasileira da sociedade. As estruturas às quais através de pequenas listas de palavras Bauman (2005, p. 11) se refere, envol- apenas. vem a “produção cultural, a vida co dia- O registro e sistema zação fonoló- na e as relações entre o eu e o outro”. gica da língua Karo foi efetuado, somente Esse pensamento se dá “precisamente em 1989, por Gabas. Pelo que afi rma porque as iden dades são construídas Gabas (1989), os estudos referentes dentro e não fora do discurso [...]. Além a esse grupo étnico pelos etnógrafos disso, elas emergem no interior do jogo acima citados eram voltados aos fato- de modalidades específi cas de poder e res sociais, econômicos, culturais, de são, assim, mais o produto da marcação localização dentre outros, do ponto de da diferença [...]” (HALL, 2013, p. 109). vista da modernidade. Em tais estudos, a Os autores apontam que as iden- língua Karo aparecia mais na forma oral, dades não são um fato concluído, mas contudo o primeiro registro fonológico uma produção inacabada, que pode ser da língua Karo foi no ano de 1989, rea- (re)negociada sempre dentro, e não fora lizado por Gabas, linguista pesquisador das representações discursivas. Nesse da Universidade Estadual de Campinas sen do, entendemos, assim como Hall (UNICAMP). Vale ressaltar que, assim (2013) e Bauman (2005), que a iden da- como Gabas, os autores por ele explici- de não pode ser vista de forma inteiriça, tados não são da região onde se localiza fi xa, mas sim como algo que se produz, a etnia Arara, mas de outras localidades se modifica nos contextos sociais e do Brasil e até mesmo da Europa. culturais e que vão sendo assumidas Posterior à pesquisa de Gabas no decorrer da história de vida de cada (1989) sobre a fonologia da língua Karo, sujeito. Nesse modo de pensar, cabe- outros estudos realizados por pesquisa- -nos descrever a produção iden tária do dores locais foram fundamentais para a povo Arara-Karo ou Karo-Rap/Nós-Arara, compreensão da história do povo Arara- como preferem ser chamados. Karo. No ano de 2006, Isidoro buscou Nas últimas décadas, algumas verifi car a situação sociolinguís ca da pesquisas etnográfi cas foram desenvol- etnia em questão e aponta a língua Karo vidas junto ao povo Arara-Karo; desses como forma de interação social e afi r- estudos, alguns consis ram em entender mação iden tária dos Arara-Karo, além e registrar a fonologia da língua Karo de mostrar algumas relações sociais e (GABAS, 1989). O idioma Karo até 1898 econômicas que infl uenciam na cons - ainda não havia sido registrado, como tuição linguís ca desse povo. Em 2009, assegura Gabas (1989, p. 8), sendo que Neves, outra pesquisadora local, produ- os pesquisadores Nimuendaju (1925), ziu dados empíricos a respeito da cultura Rondon (1948), Lévi-Strauss (1950) e escrita no contexto indígena na terra Schultz (1955) foram os primeiros etnó- Indígena Igarapé Lourdes, local onde re- logos a documentarem o idioma Karo sidem os Arara-Karo e os Gavião-Ikolen.

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Tal pesquisa documentou e inves gou depois todos os outros. Fomos o processo de aquisição da cultura es- chamados de Arara porque crita junto às etnias citadas. Nas duas usamos muito urucum no cor- pesquisas locais, aparece a localização, po durante as festas. Os não in- o contexto histórico de colonização, dígenas nos achavam parecidos com a cor das penas de arara e bem como a relação do povo Arara-Karo assim passaram a nos chamar. com a língua materna, o idioma Karo da família Rararáma de tronco tupi, entre O Arara-Karo é um povo falante do outros elementos fundamentais que nos idioma Karo, preza pela manutenção da mostram os Arara-Karo de Rondônia. língua materna. É provável que o idio- Os estudos aqui mencionados ma Karo seja o único idioma da família sobre os Arara-Karo de Rondônia trou- linguís ca Ramaráma de tronco Tupi no xeram elementos importantes cons - Brasil, pois, como afi rma Gabas (1989, p. tu vos da história do povo Arara-Karo. 8) “[...], o Karo e o Itogapúk são os únicos De modo geral, aparecem importantes membros sobreviventes, uma vez que os informações a respeito do grupo pesqui- Urumi e o Ramaráma já desapareceram”. sado e nos ajudam a conhecer a história Para Gabas (1989), a comunicação entre do povo em questão, possibilitando-nos os Arara-Karo no contexto da etnia (em novos olhares, novas interpretações. As reuniões do grupo, conversas entre os pesquisas citadas nos auxiliam conhecer pares Arara e outros momentos) é feita a cons tuição iden tária do povo Arara- exclusivamente na língua Karo, fi cando Karo em meio ao processo da coloniza- a língua portuguesa para a comunicação ção ocidental da Amazônia, foco neste fora do contexto Arara ou em conversas excerto. com não indígenas. Mesmo em rodas Os Arara-Karo de Rondônia tam- de conversas em que estão presentes os bém são autodenominados como Karo- Arara-Karo e não indígenas, a comunica- Rap, que signifi ca Nós Arara (ISIDORO, ção entre os pares ocorre na língua Karo 2006). Sobre a constituição do povo e, em português, com os demais (GABAS, Arara-Karo, Sebas ão Kara’yã Péw Arara 1989). Assim afi rma: Gavião, ao ser entrevistado por Neves Com relação à situação linguís- (2009, p. 2) narra: ca dos Arara, pude constatar Somos um povo indígena, cada que ela é bastante homogê- um de nós tem um nome dife- nea: na comunicação entre rente. Nossa autodenominação eles é usado exclusivamente é “Karo Rap” que significa o idioma Karo. Apenas nas Povo Arara. Surgimos de uma situações de interação com o pedra re rada na beira do rio. branco (chefe do posto, encar- De dentro da pedra surgiu o regado da FUNAI, comerciantes primeiro ser humano (Arara) e de Ji-Paraná, etc.) a língua é

204 Série-Estudos, Campo Grande, MS, v. 21, n. 43, p. 193-211, set./dez. 2016 O povo indígena Arara-Karo de Rondônia: cenários históricos e a colonização na Amazônia Brasileira

falada em português, sendo os Santos (2014b, p. 156) ainda afi r- homens seus únicos falantes ma que a aldeia Paygap é menor, habita- usuários – embora as mulheres da pela família (pais, irmãos e irmãs da entendam bem o português, esposa) do cacique da aldeia, senhor P. elas não a falam. (GABAS, 1989, Arara2, entretanto a organização nucle- p. 10). ar das famílias ocorre da mesma forma Buscamos em Lopes (2010) a afi r- que a Iterap, onde o “[...] esquema de mação de que as iden dades se cons- residência em casas compostas por fa- troem (ou são assumidas) por meio do mílias nucleares se repete, mas as casas processo de construção dos signifi cados são bem mais próximas umas às outras linguís cos, de modo que os indivíduos e, embora os descendentes do cacique vão se produzindo, vão construindo suas sejam maioria e ocupem mais casas, o iden dades. Os Arara de Rondônia, ao discurso de que ali vive uma só família se assumirem Karo-Rap ou Nós Arara, é bem difundido”. afi rmam suas iden dades étnicas, lo- De acordo com Paula et al. (2010), cais, territoriais, linguísticas e outras os integrantes da aldeia Pajgap se des- iden dades. locaram da aldeia Iterap como forma Os Arara-Karo habitam a Terra de proteção à terra indígena “das cons- indígena (TI) Igarapé Lourdes, localizada tantes invasões dos migrantes que se na região do Município de Ji-Paraná, dirigiam para Rondônia na década de Rondônia, e se divide em duas aldeias, 1980” (PAULA et al., 2010, p. 1). Era Iterap e Paygap. Na aldeia Iterap, uma estratégia para não serem atacados [...] as pessoas estão distribuí- todos de uma única vez, dando-lhes a das em pequenos núcleos, dis- chance de proteção. Nas duas aldeias, tantes entre 300 e 800 metros vive em média uma população de pouco uns dos outros, compostos por mais de trezentas e quarenta e seis pes- várias casas que contém, cada soas3, sendo cento e oitenta mulheres e uma, uma família nuclear que compartilha com as demais um terreiro e uma cozinha. 2 P. Arara é cacique da aldeia Paygap, “Há cerca Cada núcleo comporta um de dois anos, os diversos núcleos residenciais casal mais idoso, seus fi lhos e de Iterap solicitaram à FUNAI o reconhecimen- fi lhas solteiros, fi lhos recém- to como aldeias independentes e “elegeram”, -casados com suas esposas e cada um, um cacique”, conforme afi rma Santos (2014b, p. 139, 156), Atualmente os caciques são fi lhos e, mais raramente, fi lhas P. Arara cacique da Paygap e M. Arara da Iterap. recém-casadas, confi gurando 3 Informações fornecidas pela Cacique M. Arara uma família extensa distribuí- em conversa no dia 22 de abril de 2015, na sala da em várias casas con guas. do Grupo de Pesquisa em Educação na Amazônia (SANTOS, 2014b, p. 155, grifo (GPEA) no âmbito da Universidade Federal de da autora). Rondônia (UNIR).

Série-Estudos, Campo Grande, MS, v. 21, n. 43, p. 193-211, set./dez. 2016 205 Maria Isabel Alonso ALVES; Heitor Queiroz de MEDEIROS cento e sessenta e seis homens, além de Os Arara vivem, juntamen- quatorze crianças na faixa etária de nove te com os Gavião e alguns anos e quarenta e nove crianças entre Zoró, na área indígena Igarapé dez e quatorze anos. As demais faixas Lourdes, na região centro-leste etárias não foram informadas. de Rondônia. A área compreen- de três aldeias dis ntas: a do De acordo com Ins tuto Socioam- Lourdes, onde vivem apenas biental (ISA, s.d.), dois terços dessa índios Gavião, a de Nova Colina população vivem na aldeia Iterap e os (ou Ikolén), onde vivem Gavião, demais na aldeia Paygap. A cidade mais Zoró e apenas um Arara; e a al- próxima das duas aldeias é Ji-Paraná, deia da Triangulina (ou Iterap), que se encontra cerca de setenta km onde vivem os Arara. de distância, por rodovia, da aldeia Gabas (1989) denomina de aldeia mais distante – a Iterap, ou três horas Triangulina a aldeia Itepap, local onde de barco descendo pelo Rio Machado residem parte dos Arara-Karo. Vale res- e subseguindo pelo Rio Prainha (que saltar que Triangulina foi uma empresa deságua no Machado). Para a aldeia (rede de supermercados que não existe Paygap, o acesso é por terra e fi ca aproxi- mais) em Ji-Paraná e demais municípios madamente a cinquenta km de distância de Rondônia na década de 1980. Seus da cidade. donos possuíam, além do comércio, Vale ressaltar que a T.I. Igarapé grandes áreas de terras (fazendas) nas Lourdes também é ocupada pela etnia redondezas de Ji-Paraná, portanto, suas Gavião, com quem os Arara mantém terras cercavam a aldeia Iterap que fi cou relações instáveis (SANTOS, 2014b, p. conhecida como aldeia da Triangulina. 147), sendo que as duas etnias – Arara Conforme explica Gabas (1989), e Gavião dividem o mesmo território. A aldeia da Triangulina é for- Santos (2014b, p. 138) afi rma que “[...] mada por duas sub-aldeias os Arara habitam desde tempos imemo- dis ntas: a do “centro” – de- riais a bacia do Rio Machado, afl uente nominação do chefe do posto e da margem direita do Rio Madeira, no dos próprios índios – localizada estado de Rondônia, e compar lham mais ao centro da área, d onde com os Gavião a Terra Indígena Igarapé os Arara extraem os principais Lourdes, no município de Ji-Paraná]. produtos (borracha, caucho e A área total da TI Igarapé Lourdes castanha) que comercializam tem aproximadamente 190.000 hm2 de na cidade de Ji-Paraná; e a al- extensão, e cerca de um terço dessa área deia do “posto” localizada o sul da área, próximo à desembo- pertence aos Arara-Karo. A respeito da cadura do Igarapé Prainha no localização das terras indígenas perten- rio Machado (ou rio Ji-Paraná), centes aos Arara-Karo na década de 80, onde se localiza o posto da al- Gabas (1989, p. 8) assim descreve: deia. (GABAS, 1989, p. 9).

206 Série-Estudos, Campo Grande, MS, v. 21, n. 43, p. 193-211, set./dez. 2016 O povo indígena Arara-Karo de Rondônia: cenários históricos e a colonização na Amazônia Brasileira

A respeito da localização do povo Lourdes, especificamente à Arara na atualidade, M. Arara (2015), aldeia Iterap é restrito. Parte da em uma de suas narra vas, conta que Terra Indígena Igarapé Lourdes somam nove aldeias distribuídas em é cercada por várias fazendas. torno da aldeia central, a Iterap 1: Entre as fazendas, há uma gran- de área de terra conhecida pelo Hoje nós temos aqui um to- nome de seu proprietário M. tal de nove aldeias Araras. P. A fazenda M. P. cerca parte Aqui onde estamos é a al- das Terras Indígenas (TI) do deia e Iterap1, no alicate é a Igarapé Lourdes. Há cercas de aldeia Iterap 2, tem a aldeia arame liso e farpado com várias do Chapinha que é a Prainha, porteiras de madeira e arame tem aldeia do Pelado, aldeia que broqueiam o caminho, Cafezinho, a aldeia Patuasal, mas não estão trancadas [...]. aldeia Cachoeirinha, aldeia (ALVES, 20155). Pos nho e a aldeia Galhada. A única aldeia que tem uma es- Com relação à descrição acima, colinha é a Prainha, de todas as M. Arara relata que as porteiras fi cavam outras, as crianças vem estudar trancadas com cadeados e, para o acesso aqui na Iterap 1. à Terra Indígena, era preciso se deslocar a pé até a sede da fazenda para re rar A descrição do espaço onde se as chaves das porteiras com o capataz e localizam as aldeias do povo Arara- devolvê-las em seguida, o que causava Karo, realizada no ano de 1989, leva à transtornos aos indígenas e demais pes- compreensão de que, possivelmente, o soas que transitavam na região. M. Arara que o autor chama de Triangulina pode afi rma que isso ocorreu por muito tem- ser uma das fazendas pertencentes ao po, até que houve um desentendimento dono da rede de supermercados na entre um indígena Arara e o capataz da época, podendo ser considerada hoje a fazenda por conta da insa sfação do in- mesma fazenda M. P.4, que cerca parte dígena com tal situação. Nessa ocasião, das T.I do Igarapé Lourdes, especifi ca- o indígena Arara foi assassinado pelo mente a aldeia Iterap, onde vivem parte capataz da fazenda, o que causou revolta dos Arara-Karo, conforme observado e na comunidade. A par r de então, as registrado no caderno em campo, em porteiras passaram a fi car escancaradas dezembro de 2015: ou apenas encostadas, sem necessidade O acesso via estrada de chão de chaves para abri-las. O relato de M. às Terras Indígenas Igarapé

5 Trata-se de resultados parciais (ainda não divul- 4 M. P. refere-se às iniciais do nome do proprie- gados) da pesquisa de doutorado em andamento tário da fazenda que cerca a T.I Igarapé Lourdes. no Programa de Pós-Graduação em Educação da A fazenda tem o nome do dono. Universidade Católica Dom Bosco – PPGE/UCDB.

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Arara nos conta um pouco de suas angús- va parado em um canto. É por as como mulher e liderança indígena isso que esses meninos que frente à situação de tomada das terras eram criados com o branco de seu povo. foram largados, não é que os A respeito das implicâncias da parentes não gostavam, mas estavam eles correndo perigo colonização ocidental no contexto do e largavam as crianças. [...] povo Arara-Karo, M. Arara relata que Aprendi muito com a minha foi um processo de muito sofrimento. mãe, todo tempo fui curiosa, Assim narra: eu perguntava: Como que era Os não indígenas mataram isso? Porque matavam crianças nossos parentes e os que so- que nasceram defi cientes? Ela braram contam essa história me respondia que an gamente de sobrevivência, os velhos eles estavam sempre fugindo contam que sofreram muito, e, às vezes, largavam às crian- andaram muito. Até na minha ças que estavam doentes. De época mesmo, nós vivíamos repente vinha um invasor que andando, não era como hoje. os atacava e eles nham que Nós moramos muito tempo no fugir. De todo jeito as crian- seringal, nossos pais cortavam ças iam morrer e quando a seringa depois de muito tem- mãe morria, eles (os parentes po é que nós viemos para cá. indígenas) matavam as crian- ças porque não nham como (ARARA, 2015). cuidar. Algumas crianças que Segundo M. Arara, no processo de escaparam foram adotadas por colonização ocidental na Amazônia bra- alguns seringueiros. (ARARA, sileira as mulheres Arara-Karo sofriam 2015). nos/com os confl itos. Os homens iam Os relatos de M. Arara narram suas para as frentes de batalha em defesa angús as de mulher indígena que busca das terras e das vidas Arara-Karo e as compreender a história do seu povo mulheres que fi cavam nas aldeias eram em meio ao processo de colonização na violentadas pelos não indígenas. Muitas Amazônia. Fatos como os narrados pos- crianças, na época dos confl itos por ter- sibilitam a compreensão de que as lutas ras, fi caram órfãs ou foram deixadas para pelas terras foram um dos movimentos trás nas fugas, sendo que muitas delas marcantes para a cons tuição iden tária acabaram sendo adotadas, criadas pelos do povo Arara-Karo. Assim entendemos não indígenas seringueiros da região. que o território Arara é muito mais que Às vezes, a pessoa adoecia e apenas terras onde re ram alimentos eles (os parentes) largavam ou recursos para subsistência, mas um para trás, se escapar, escapou, local de cultura, de afi rmação iden tária então era assim, ninguém fi ca- e cons tuição do próprio povo Arara.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS étnicas, de gênero e outras, contra a su- premacia branca europeia podem servir Este estudo mostra que o norte se para unifi car os povos contra o inimigo apropriou das riquezas dos países do sul comum: o sistema-mundo. por meio da exploração e dominação. No Com relação ao processo de co- caso da Amazônia brasileira, isso pode lonização da Amazônia brasileira e suas ser observado com relação à tenta va de implicações na constituição do povo extermínio dos povos indígenas a par r Arara-Karo, é possível perceber que a da expropriação territorial e cultural dos intensifi cação e o interesse pela região mesmos no período de colonização. Os Amazônica se deram não apenas em autores da modernidade/colonialidade função das demarcações de limites, nos dão pistas de que a colonialidade mas, sobretudo, na intenção de tornar global ainda permanece e não pode ser o espaço amazônico produtivo para vista ou reduzida à presença ou ausência alimentar o mercado de capitais. Com de administradores coloniais. referência a esse processo integracionis- A eliminação das administrações ta, destacaram-se as diversas missões e não elimina a descolonização do mundo, expedições sobre o território amazônico, inclusive dos povos indígenas. Ou seja, como, por exemplo, a comissão Rondon, acreditar em um mundo pós-colonial que, no início do século XX, percorreu signifi ca dizer que já não ocorrem pro- grande parte do Norte Brasileiro na cessos colonizatórios, porém as múl - tenta va de viabilizar a comunicação, plas e heterogêneas estruturas de poder e o deslocamento de pessoas e produ- relacionadas aos mais de 500 anos de tos extraídos da Amazônia, como, por história do Brasil não se evaporam com exemplo, a borracha. Em meio ao pro- a não presença dos administradores co- cesso colonizatório, os Arara-Karo foram loniais. As lutas contra as novas formas ressignifi cando seus modos de vida e de colonização e as lutas an rracistas, reorganizando seus espaços.

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Sobre os autores: Maria Isabel Alonso Alves: Aluna do Programa de Pós-Graduação (doutorado) em Educação do PPGE/UCDB. E-mail: [email protected] Heitor Queiroz de Medeiros: Doutorado em Ciências - Ecologia e Recursos Naturais. Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE/UCDB. E-mail: [email protected]

Recebido em janeiro de 2016. Aprovado em abril de 2016.

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