UNIVERSIDADE DO ESTADO DO – UERN FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL – FASSO DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL – DESSO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL E DIREITOS SOCIAIS – PPGSS

REGIMES PRÓPRIOS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DE MUNICÍPIOS DO RIO GRANDE DO NORTE: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL

DORISÂNGELA MARIA DE OLIVEIRA LIMA MARTINS

MOSSORÓ-RN FEVEREIRO/2020

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL – FASSO DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL – DESSO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL E DIREITOS SOCIAIS – PPGSS

DORISÂNGELA MARIA DE OLIVEIRA LIMA MARTINS

REGIMES PRÓPRIOS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DE MUNICÍPIOS DO RIO GRANDE DO NORTE: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Direitos Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do título de mestre em Serviço Social.

Orientadora: Doutora Rivânia Lucia Moura de Assis

MOSSORÓ-RN FEVEREIRO/2020

© Todos os direitos estão reservados a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. O conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade do(a) autor(a), sendo o mesmo, passível de sanções administrativas ou penais, caso sejam infringidas as leis que regulamentam a Propriedade Intelectual, respectivamente, Patentes: Lei n° 9.279/1996 e Direitos Autorais: Lei n° 9.610/1998. A mesma poderá servir de base literária para novas pesquisas, desde que a obra e seu(a) respectivo(a) autor(a) sejam devidamente citados e mencionados os seus créditos bibliográcos.

Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

M386r MARTINS, DORISÂNGELA MARIA DE OLIVEIRA LIMA REGIMES PRÓPRIOS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DE MUNICÍPIOS DO RIO GRANDE DO NORTE: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL. / DORISÂNGELA MARIA DE OLIVEIRA LIMA MARTINS. - Mossoró-RN, 2020. 149p.

Orientador(a): Profa. Dra. Rivânia Lúcia Moura de Assis. Dissertação (Mestrado em Programa de Pós- Graduação em Serviço Social e Direitos Sociais). Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

1. Serviço Social. 2. Previdência Social. 3. RPPS. 4. Atribuições. I. Assis, Rivânia Lúcia Moura de. II. Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. III. Título.

O serviço de Geração Automática de Ficha Catalográca para Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC´s) foi desenvolvido pela Diretoria de Informatização (DINF), sob orientação dos bibliotecários do SIB-UERN, para ser adaptado às necessidades da comunidade acadêmica UERN.

DORISÂNGELA MARIA DE OLIVEIRA LIMA MARTINS

REGIMES PRÓPRIOS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DE MUNICÍPIOS DO RIO GRANDE DO NORTE: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Direitos Sociais da Faculdade de Serviço Social (FASSO), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Serviço Social.

Aprovada em ___/___/2020.

BANCA EXAMINADORA

______Prof.ª Dr.ª Rivânia Lúcia Moura de Assis (Orientadora – UERN)

______Prof.ª Dr.ª Iana Vasconcelos Moreira Rosado (UERN)

______Prof. Dr. Francisco Henrique da Costa Rozendo (UFF)

MOSSORÓ - RN 2020

Dedico ao meu avô, meu eterno Mané - Manoel Tavares de Oliveira (In memoriam), que tanto demonstrava paixão pelo Rio Grande do Norte. Foi exemplo diário de um admirador dos livros e da literatura, professor e incansável escritor. Como eu gostaria de dizer, olhando nos seus olhos: meu vô, esse sonho realizado é nosso!

Dedico à Socorro Rodrigues (In memoriam) a quem, em vida, pude agradecer pela inspiração profissional e pessoal que representa em minha formação. Sem dúvidas, seus ensinamentos, postura, dedicação e luta por uma previdência social pública e de qualidade foram cruciais para despertar em mim o desejo de seguir esta caminhada. Essa conquista tem muito de você!

AGRADECIMENTOS

• Acredito que quase tudo na vida tem origem nas nossas raízes. Sem elas não teríamos a resiliência necessária para enfrentar as intempéries, não seria fácil se levantar após tantas quedas e, tampouco, encontrar forças para continuar as caminhadas em terrenos tortuosos rumo aos horizontes desejados. Assim, o agradecimento primeiro é para as minhas raízes mais profundas, aquelas que representam minha essência, a minha Família!

De modo especial, agradeço a Mainha (Rosângela Maria) e Painho (Dorgival Morais), que sempre lutaram incansavelmente para que eu e meus irmãos pudéssemos ter uma vida com desafios mais brandos que os enfrentados por eles. Esforço-me para ser motivo de olharem para trás e sentirem que valeu a pena. Ao meu irmão (Dorgival Jr.), que foi e é fonte de inspiração para mim. Desde cedo, desbravando lugares desconhecidos para consolidar a sua missão de ser professor. Quanto orgulho doce sinto de você. Gratidão também por me presentear com João Davi e com Marina, esperanças para me motivar na luta por um mundo melhor. À minha irmã (Débora Lima) por me agraciar com Maria Luiza, luz em minha vida e razão de tantos sorrisos meus, mesmo nos dias mais nublados. Às “Marias” guerreiras – Rosilene, Rosenilda e Rosânia, que nas suas rotinas desafiadoras me mostram que é preciso não fraquejar, mas seguir em frente e jamais deixar seus laços ficaram atrás. O passo pode ser mais lento, mas só o damos se formos todos juntos.

• A Fídias Martins, que passou a ocupar um patamar afetivo ainda mais elevado em minha existência, transcendendo a condição de marido para a de pai da vida que gero dentro de mim! Gratidão pela colaboração inestimável na elaboração de gráficos e estatísticas, por sempre acreditar, torcer e me fazer sentir capaz de realizar meus sonhos. Eu e Dante te amamos.

• A cada um da turma de Mestrado: Iury Natasha, Luciene Araújo, Savana Tomaz, Anna Paula Teixeira, Ciro Menezes, Emmanoel Antas, Giulia Jenelle, Lucia Helena Barbalho, Alex Andrade e Paula Gurgel. Nossos “cafés revolucionários e afetivos”, assim como, os tantos debates enriquecedores ficarão eternizados em minhas doces memórias.

• Agradeço a todos que fazem o Mestrado da UERN, nas pessoas da Profa. Mirla Cisne, que consegue falar sobre Marx com uma poesia e paixão como jamais havia visto antes; às Profas. Gisele Anselmo e Fernanda Marques, que ensinaram sobre Metodologia de um modo tão fascinante, que nos envolviam por completo; às Profas. Suzaneide Ferreira e Gilcélia Góis, pelas contribuições respeitosas e imensamente valiosas; à Profa. Aione Sousa e ao Prof. Ricardo Silveira, por tantas reflexões e provocações acerca do cotidiano e da ética.

• À gentil e comprometida Audrey Suelen Brito Mila, que mesmo não mais assumindo a missão de Presidente da ANORPREV (Associação Norte Riograndense de Regimes Próprios de Previdência Social) não poupou esforços em colaborar, mostrar caminhos e esclarecer dúvidas sobre os RPPS do RN. Minha imensa gratidão!

• Ao prestativo Murillo Machado, que com todo a sua vivência no TCERN, demonstrou disponibilidade em compartilhar informações públicas capazes de ampliar a

compreensão desta temática ainda pouco explorada, embora de grande relevância, que é o Regime Próprio de Previdência Social no RN. Gratidão!

• Às Assistentes Sociais: Rose Silva (NATALPREV); Juliana Campos (IPREVGOIANINHA); Angra Almeida e Samilis Saionara (CORONELPREV); Márcia Medeiros, Carla Lago e Laura Pollyanna (PREVI-MOSSORÓ), pelo compromisso em contribuir com a pesquisa, pela partilha de desejo de ampliar o reconhecimento do Serviço Social em RPPS Municipais e pelo trabalho cotidiano em prol da melhoria da política pública previdenciária. Minha gratidão!

• Agradeço ainda a Flávia Claudjane, pelo interesse em manter o contato e a informação acerca do ingresso da Assistente Social no RPPS de Campo Redondo. Com a mesma empolgação, estendo o agradecimento a todos os Diretores/Presidentes dos demais RPPS do RN, que prontamente me concederam feedback acerca das informações solicitadas para a pesquisa.

• Gratidão aos componentes da Banca Examinadora, que mesclam sentimentos de admiração e afeto, que fazem parte de minha trajetória da FASSO/UERN capaz de deixar marcas tão significativas que acredito mantê-las por toda a vida: Profa. Dra. Iana Vasconcelos e Prof. Dr. Henrique Rozendo. De modo peculiar, à Profa. Dra. Rivânia Lúcia Moura de Assis, esta que serei eternamente grata pela presença em todas as minhas mais marcantes conquistas acadêmicas, sendo referência de militância, perseverança e sensibilidade. Com sua maneira singular de apontar o que precisava ser aperfeiçoado com firmeza e ternura. A vida foi generosa comigo ao me permitir tantos reencontros, aprendizados e laços com você. Minha eterna Rívanis!

• Agradeço a todas as amigas que direta ou indiretamente foram sinônimos de leveza ou inspiração de superação durante toda a formação academia e também fora deste âmbito. Especialmente no processo de decisão, aprovação e vivência do Mestrado, destaco Vivi (Virgínia Barreto), amiga desde a infância, que enfrentou seus fantasmas buscando seus sonhos e, assim, me encorajou, ainda mais, a fazer o mesmo.

• Ao meu QG, composto pelo diverso coletivo de Amigas e Assistentes Sociais – Ellen Kristhian, Diana Paula, Priscilla Martins, Clarissa Cavalcante e Janaína Holanda. Foram inúmeros os momentos em que me fortaleceram e me incentivaram, além daqueles em que foram colo ou brisa leve. De modo peculiar, retribuo em palavras escritas e eternizada, o gesto lindo e também eterno em minha memória, de Jana indo me entregar uma flor e um abraço, no exato dia da prova para tentar o mestrado... Gratidão!

• Às Flores com quem aprendo todos os dias no PREVI e que não pouparam esforços para manter a mesma qualidade do trabalho quando minha ausência se fez necessária, pela torcida no antes e durante, pelas palavras e mensagens de incentivo, por acreditarem tanto em mim... Márcia Medeiros, Ianna Lise, Carla Lago, Neide Sousa, Nethy Malta, Aluska Bezerra, Wesla Honorato, Laura Pollyanna, Danísia Freitas e Mariana Rosado. Esta última, marcou a decisão de tentar este sonho em uma conversa com café e emoção, em que ela me motivou na luta por este desejo antes da maternidade ainda incerta. Não sabíamos nós, que Deus nos reservava, que ambos viriam juntos!

• Agradeço a todos os Estagiários e Extensionistas que viveram o Serviço Social no PREVI ao meu lado, nas pessoas de Léo (Leonardo Silva), Tatá (Thaís Mabelly), Sasá

(Sabrina Saldanha), Clarinha (Ana Clara), Jojó (Joselha Maia), que me surpreenderam e me cativaram no relação teoria e prática, superando as esferas profissionais e permanecendo com laços de amizade. Recordo-me, emocionada, do cartão, da mensagem e dos chocolates que vocês, incluindo Marcinha, me enviaram em uma das primeiras aulas do Mestrado... Sim, eu sei... Essa conquista é nossa!

• Agradeço a todos que fazem o PREVI Mossoró, representados pelos Gestores, Elviro do Carmo Rebouças (Presidente do PREVI), João Batista Chaves (Diretor Financeiro e Administrativo) e Maria Lúcia Ferreira (Diretora de Previdência), que acreditaram e apoiaram o Mestrado, mesmo quando eu precisava compensar os dias de aula em horários de trabalho diferentes. O trabalho desempenhado pelos servidores que compõem este Instituto é inspirador e me faz acreditar, ainda mais, no potencial transformador que a política previdenciária possui. Sigamos fazendo o nosso melhor!

• Por fim, agradeço à cada servidor municipal, aposentado e pensionista que demanda os serviços e benefícios do PREVI Mossoró e reflete, seja pelas necessidades, seja pelos direitos adquiridos/mediados por intermédio do Instituto, o quanto este trabalho é importante, o quanto esta política deve ser ampliada, valorizada, reconhecida e, assim, continuar transformando a vida de mais pessoas!

RESUMO

A Previdência Social no Brasil tem seu desenvolvimento marcado por lutas e conquistas da classe trabalhadora. Esta política pública é formada por dois regimes jurídicos públicos, o Regime Geral de Previdência Social (RGPS), reconhecido pelo INSS, e os Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS), presentes na União, Distrito Federal, Estados e Municípios. No Rio Grande do Norte existem 39 RPPS Municipais, e destes, em 04 há Assistentes Sociais no quadro de servidores. Esse trabalho tem como objetivo analisar o labor de Assistentes Sociais nestes RPPS Municipais, por meio da identificação dos desafios, das possibilidades de intervenção, e das principais atribuições profissionais neste espaço sócio-ocupacional. Para tanto, são tecidas considerações acerca da política previdenciária no país, das contrarreformas que impactam tanto no RGPS quanto nos RPPSs, até afunilar para a realidade do RN. A trajetória do Serviço Social na Previdência Social é abordada permitindo melhor compreensão da atuação nos RPPS, reconhecidos como potenciais espaços sócio-ocupacional para Assistentes Sociais na perspectiva da garantia de direitos aos usuários. Os procedimentos metodológicos contemplam pesquisa exploratória nos 39 RPPS dos Municípios do RN, pesquisa bibliográfica e documental, além de pesquisa de campo, por meio de aplicação de questionário à 07 Assistentes Sociais, identificadas em 04 RPPS. Os resultados revelaram as principais atribuições desempenhadas por estas Assistentes Sociais nas Previdências Municipais do RN, assim como, os desafios enfrentados e as possibilidades encontradas para fortalecer o trabalho na direção da garantia de direitos. Anseia-se inserir este tema na agenda de lutas locais, estimular estudos, e motivar socialização de vivências e estratégias de atuação coletiva. Consequentemente, difundir os RPPS Municipais não apenas como espaço de atuação profissional do Assistente Social, mas também, contribuir com o fortalecimento da política previdenciária pública, democrática e garantidora de direitos.

Palavras-chave: Serviço Social. Previdência Social. RPPS. Atribuições.

ABSTRACT

The Social Security in has its development marked by struggles and achievements of the working class. This public policy is formed by two public legal regimes, the General Social Security Regime (RGPS in Portuguese), recognized by the INSS, and the Own Social Security Regimes (RPPS in Portuguese), present in the Federal Government, Federal District, States and Municipalities. In the State of Rio Grande do Norte there are 39 municipalities with RPPS, and in 04 of them there are Social Workers in the staff. This work aims to analyze the duties of Social Workers in these Municipal RPPS, by identifying the challenges, the possibilities of intervention, and the main professional attributions in this socio-occupational space. For this purpose, considerations are made about the social security policy in Brazil, the counter-reforms that impact both the RGPS and the RPPS, and the reality of the RN. The trajectory of Social Work in Social Security is addressed allowing a better understanding of the performance in the RPPS, recognized as potential socio-occupational spaces for Social Workers in the perspective of guaranteeing the rights of users. The methodological procedures include exploratory research in the 39 RPPS of the Municipalities of RN, bibliographic and documentary research, in addition to field research, through the application of a questionnaire to 07 Social Workers, identified in 04 RPPS. The results revealed the main attributions performed by these Social Workers in Municipals Social Security of the State of RN, as well as the challenges faced and the possibilities found to strengthen the work towards guaranteeing rights. We hope to contribute to inserting this theme on the agenda of local struggles, stimulate studies, and motivate socialization of experiences and strategies for collective action. Consequently, to disseminate the Municipal RPPS not only as a space for professional action by the Social Worker, but also to contribute to the strengthening of the public social security, democratic and rights guarantee policy.

Keywords: Social Work, Social Security, RPPS, Attributions.

LISTA DE SIGLAS

ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social ANORPREV Associação Norte Riograndense de Regimes Próprios de Previdência Social EC Emenda Constitucional BM Banco Mundial BPC Benefício de Prestação Continuada CAPs Caixas de Aposentadorias e Pensões CLT Consolidação das Leis do Trabalho CF Constituição Federal DRU Desvinculação de Recursos da União FMI Fundo Monetário Internacional IAPs Instituto de Aposentadorias e Pensões IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INSS Instituto Nacional do Seguro Social INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social INPS Instituto Nacional de Previdência Social ISSB Instituto de Serviço Social do Brasil LBA Legião Brasileira de Assistência LOPS Lei Orgânica da Previdência Social MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MP Medida Provisória MPAS Ministério da Previdência e Assistência Social MPS Ministério da Previdência Social OMS Organizações Mundial de Saúde OIT Organização Internacional do Trabalho PEC Proposta de Emenda Constitucional PEP Programa de Educação Previdenciária PNAD Pesquisa Nacional de Amostra em Domicílio RGPS Regime Geral de Previdência Social RPPS Regime Próprio de Previdência Social SESI Serviço Social da Indústria SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio os Micros e Pequenas Empresas SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SINPAS Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social TCERN Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Porte dos Municípios do RN com RPPS e RGPS...... 67

Gráfico 2 Total de Habitantes nos Municípios do RN ...... 68

Gráfico 3 Faixa Etária das Assistentes Sociais ...... 102

Gráfico 4 Formação Profissional das Assistentes Sociais ...... 102

Gráfico 5 Ano de Conclusão do Curso de Serviço Social ...... 103

Gráfico 6 Universidade Onde se Formou ...... 103

Gráfico 7 Jornada de Trabalho ...... 104

Gráfico 8 Tempo de Trabalho no RPPS Municipal ...... 104

Gráfico 9 Vínculo Empregatício ...... 106

Gráfico 10 Setor de Trabalho no RPPS Municipal ...... 109

Gráfico 11 Função Exercida no RPPS Municipal ...... 110

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Mapa do Brasil com Localização do RN ...... 62

Figura 2 Mapa do RN – Municípios com RPPS e com RGPS ...... 63

Figura 3 RPPS por Mesorregiões ...... 63

Figura 4 RPPS Municipais do RN com Assistentes Sociais ...... 69

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 RPPS Municipais do RN e Nomes dos Institutos ...... 64

Tabela 2 Mapa RPPS do RN com Assistentes Sociais ...... 78

Tabela 3 Ações, Atribuições e/ou Competências das Assistentes Sociais

no RPPS...... 118

Tabela 4 Principais Desafios Destacados Pelas Assistentes Sociais no

no RPPS ...... 126

Tabela 5 Principais Possibilidades Destacadas Pelas Assistentes Sociais

no RPPS ...... 128

SUMÁRIO

1 INDRODUÇÃO ...... 13

2 A POLÍTICA DE PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: REGIME GERAL E REGIME PRÓPRIO ...... 18 2.1 Regime Geral de Previdência Social: História e Contrarreformas ...... 22 2.2 Regimes Próprios de Previdência Social: Surgimento e Especificidades ...... 48 2.2.1 RPPS nos Municípios do RN...... 62

3 PREVIDÊNCIA SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL ...... 77 3.1. RPPS Como Espaço Sócio-Ocupacional do Assistente Social ...... 78 3.2. Principais Atribuições e Competências dos Assistentes Sociais nos RPPS ...... 101 3.3. Desafios e Possibilidades de Intervenção Profissional ...... 123

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 131 REFERÊNCIAS ...... 134 APÊNDICES ...... 142

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1 INDRODUÇÃO

Analisar as políticas sociais e as possibilidades de garantia de direitos no contexto de mundialização do capital configura-se tarefa desafiadora, embora necessária. Especialmente quando se trata do Serviço Social, profissão que atua com as expressões da questão social e sente os rebatimentos da reestruturação produtiva em seus espaços sócio-ocupacionais, demandas, atribuições e formação. No contexto atual essa análise torna-se mais desafiadora ainda, pois se vivencia um momento de profundo ataque ao Serviço Social na Previdência do Regimento Geral, intensificado com a Medida Provisória 905/2019 que prevê, dentre outras mudanças, a extinção do Serviço Social no INSS. Essa Medida Provisória embora esteja direcionada ao Regime Geral de Previdência Social traz implicações para a profissão Serviço Social e, consequentemente, para analisar o trabalho dos Assistentes Sociais nos Regimes Próprios de Previdência Social. O Brasil vivencia um momento de desmonte dos direitos sociais e trabalhistas que foram arduamente conquistados por décadas de lutas e resistência dos trabalhadores. A Constituição Federal de 1988, fruto de intensa reivindicação da classe trabalhadora, resultou na conquista de direitos, ampliou o debate sobre as políticas públicas, com destaque para a Seguridade Social, formada pelo tripé – Saúde, Assistência Social e Previdência Social – esta última será tratada com maior relevo neste trabalho. Porém, o sistema de Seguridade Social encontra-se ameaçado, em sua essência, por uma política econômica pautada no neoliberalismo que prevê a diminuição dos recursos do Estado para as políticas sociais e a ampla transformação dessas políticas em mercadoria. A Previdência Social tem sido umas das políticas mais atingidas, pois a partir da década de 1990 vem sendo desmontada com várias contrarreformas que têm no seu cerne a diminuição do seu caráter público. É inegável que a previdência tem uma importância significativa na vida dos trabalhadores, uma vez que esta política, intrinsecamente ligada ao trabalho, garante a subsistência em situações de riscos sociais, quando a capacidade laboral cessa, seja temporária ou permanentemente, em casos de nascimento, doença, acidente, velhice ou morte. É importante antecipar que o trabalho do Assistente Social no Regime Geral de Previdência Social se inicia junto aos Institutos de Aposentadorias e Pensões, por meio da Portaria nº 25 de 6 de abril de 1944, do Conselho Nacional do Trabalho (CNT). Portanto, a história do Serviço Social no Regime Geral de Previdência Social já conta com uma longa trajetória e acúmulo de forças e experiências que foram se modificando concomitante a própria

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história do Serviço Social no Brasil. Porém, a inserção de Assistentes Sociais nos Regimes Próprios de Previdência Social é algo recente e, portanto, necessita de maiores investigações, estudos e análises. Por reconhecer o pilar social que a Previdência Social representa para a vida de trabalhadores, a presente pesquisa tem como objetivo geral analisar o trabalho do Assistente Social nos Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) de Municípios do Rio Grande do Norte (RN), que possuem estes profissionais no quadro de servidores. Para tal, como objetivos específicos se faz necessário: Identificar os desafios postos à prática profissional das Assistentes Sociais no Regime Próprio de Previdência Social onde trabalham; Investigar as possibilidades e estratégias de intervenção para as Assistentes Sociais nos RPPS e; Conhecer as principais atribuições profissionais no trabalho de Assistentes Sociais nos RPPS Municipais do RN. O interesse pela temática tem raízes na graduação em Serviço Social na UERN, por meio do Estágio Supervisionado realizado no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), na Gerência Executiva de Mossoró/RN, em 2004/2005, em que a prática profissional da Supervisora de Campo despertou admiração e compromisso com a política pública de previdência social. Em 2012, mediante concurso público assume-se a função de Assistente Social na Prefeitura Municipal de Mossoró, especificamente na Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Durante a trajetória profissional na política de saúde no ano de 2015 surge um convite para elaborar e coordenar um projeto social voltado aos aposentados e pensionistas do Instituto Municipal de Previdência Social dos Servidores de Mossoró (PREVI/MOSSORÓ). Em 2015, por meio de cessão requerida pelo Presidente do PREVI, iniciamos o trabalho nesta autarquia. A princípio, foi possível conciliar metade da carga horária na SMS e a outra metade no PREVI. No entanto, o mencionado projeto foi se ampliando, assim como algumas ações do Serviço Social no Instituto e, a partir de 2018, a carga horária ficou totalmente direcionada para este órgão. A partir desta experiência, a motivação e curiosidade de aprofundar conhecimentos nesta área, culminam-se no Mestrado, com a possibilidade de desenvolver pesquisas e análises sobre o trabalho que os Assistentes Sociais desenvolvem nas previdências municipais do RN. Portanto, tem-se o seguinte problema a ser investigado: Quais os principais desafios, possibilidades de intervenção e atribuições do Assistente Social em Regimes Próprios de Previdência Social de Municípios Potiguares? A partir desta pesquisa, acredita-se que foi possível a análise do trabalho do Assistente Social nos referidos espaços, considerando a identificação dos desafios, possibilidades de

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intervenção postos aos Assistentes Sociais, bem como, conhecer as principais atribuições profissionais no trabalho de Assistentes Sociais nos RPPS municipais. Pretendeu-se, também, fomentar outras pesquisas, aprofundar produções bibliográficas e socializar informações, no tocante às possiblidades de atuação do Serviço Social em Regimes Próprios de Previdência Social, seja em Municípios ou Estados, campo potente para ser mais explorado na literatura e no trabalho profissional. Deste modo, a pesquisa contribuirá tanto para compartilhar conhecimentos com a categoria profissional, imprimir este tema na agenda de lutas locais, como também instigar novas reflexões, estudos e estratégias de atuação coletiva. O percurso metodológico utilizou-se da pesquisa qualitativa, que trabalha “com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis” (MINAYO, 2001 apud SILVEIRA e CÓRDOVA, 2009, p.32), contemplará também dados estatísticos fruto dos questionários aplicados, que concederam maior legitimidade às análises e afirmações apresentadas neste estudo. Para melhor apreensão do objeto de estudo, foi realizada pesquisa bibliográfica, que de acordo com Oliveira (2007, p. 69), é um “estudo direto em fontes científicas, sem precisar recorrer diretamente aos fatos/fenômenos da realidade empírica”, compreende como uma modalidade de estudo e análise de documentos de domínio científico, tais como livros, periódicos, enciclopédias, ensaios críticos, dicionários e artigos científicos. Essencial para a análise acerca da conjuntura e contrarreformas foram as leituras de Behring (2002, 2007, 2009, 2018), Iamamoto (2005, 2006, 2012), Mota (2015, 2016) e Paulani (2008) que adensaram o debate acerca do cenário contemporâneo. Além destes, destaca-se Silva (2012, 2015, 2018) e Boschetti (2007) com profundas reflexões sobre a previdência social, Braga e Cabral (2007), Guerra (2009, 2011, 2017) e Raichelis (2018) com análises sobre o trabalho do Assistente Social. Acerca dos Regimes Próprios de Previdência Social, a literatura foi encontrada em fontes essencialmente do Direito, destacando-se Spechoto (2015), Oliveira (2013) e Guerreiro (2016), os quais, em comum, possuem teor crítico em suas análises. Outros autores utilizados para fortalecer a discussão foram, Coutinho (1997), Cisne (2009), Moura (2018), Ramos e Santos (2016) e Rozendo (2018). No decurso da pesquisa documental algumas informações foram colhidas por meio de legislações e documentos dos Institutos (publicação em Jornal Oficial, Leis de Criação), além de matérias publicadas em sites dos municípios a que os RPPS pesquisados pertencem; dados do IBGE (2010, 2012, 2019); normas e regulamentos que tratam sobre os regimes de

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previdência, tais como Emendas Constitucionais, Leis Complementares e Decretos. Referência necessária deve ser feita à Lei de Regulamentação da Profissão (1993) e ao Código de Ética Profissional (1993) do Assistente Social. O processo de investigação e análise foi norteado pelo método dialético, devido este nortear uma perspectiva de totalidade na apreensão da realidade pesquisada, considerando o contexto em que a problemática está inserida, bem como, aspectos políticos, econômicos, culturais e sociais, não restringindo, portanto, o estudo ao imediato, ao aparente, mas, reconhecendo que a realidade não é apenas a simples soma de partes, mas um complexo construído de diferentes partes. “Investigar é um labor científico e não apenas um tecnicismo. A dialética entre técnica e criatividade é o tempero da boa pesquisa” (MINAYO, 2007, p. 199) Com relação à pesquisa exploratória, esta teve início no período de outubro a dezembro de 2018. Nesta fase, foi possível identificar que no universo de 371 Regimes Próprios de Previdências Municipais, no Rio Grande do Norte, em 03 destes havia Assistentes Sociais no corpo de funcionários - CORONELPREV – Coronel João Pessoa, NATALPREV – Natal, PREVI/MOSSORÓ e, em 02 - IPREV – Goianinha e CAMPOPREV - Campo Redondo, foi relatado pelos Gestores o processo de contratação deste profissional. Destarte, a pesquisa exploratória identificou, em um primeiro momento 05 RPPS no RN com Assistentes Sociais ou aguardando contratação, sendo que dentre os 03 RPPS que já detinham o referido profissional no quadro de servidores, 02 (CORONELPREV e PREVI/MOSSORÓ), possuíam, respectivamente, 02 e 04 Assistentes Sociais. No caso do PREVI/MOSSORÓ apenas 03 participariam da pesquisa, uma vez que uma das profissionais ocupa a posição de pesquisadora. Na pesquisa de campo, já em 2019, contemplou 04 RPPS do RN: CORONELPREV, NATALPREV PREVI/MOSSORÓ e IPREV GOIANINHA, totalizando 07 Assistentes Sociais nestes espaços sócio-ocupacionais. Ressalta-se que os contatos dos Gestores de cada RPPS foram concedidos pela então Presidente da Associação Norte Riograndense de Regimes Próprios de Previdência Social (ANORPREV), que colaborou sobremaneira para a execução da etapa exploratória. Nesta etapa foi enviado um e-mail com breve Questionário contendo 02 perguntas: 1ª – A Instituição possui Assistente Social em seu quadro de servidores? 2ª – Se sim. Em qual setor o/a Assistente Social trabalha? Nesta, eram apresentadas as opções: Setor de Perícia Médica; Setor de Benefícios; Setor de Serviço Social e Outros. Todos os gestores dos RPPS Municipais com Assistentes

1 Este número sofre alteração em 2019, passando a 39 RPPS, de acordo com dados da Secretaria de Previdência Social, Ministério da Economia.

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Sociais responderam a este questionário, com uma observação apenas para CampoPREVI e IPREV Goianinha, os quais, como dito acima, estavam em fase de contratação e ainda sem precisão do setor onde a profissional assumiria. No desiderato de ir além do aparente, após o recorte feito na pesquisa exploratória, já em 2019, aplicou-se um segundo Questionário2, este mais complexo, contendo 27 perguntas, sendo 19 objetivas (mas com possibilidade de justificativa das respostas marcadas) e 06 subjetivas, com as Assistentes Sociais dos RPPS supracitados. Participaram da pesquisa tanto as Assistentes Sociais concursadas, como aquelas contratadas e que exercem outras funções. O questionário mencionado contém perguntas de informações pessoais e profissionais, que consistem em traçar um perfil das Assistentes Sociais e perguntas relativas ao trabalho profissional englobando condições éticas, técnicas e materiais de trabalho, formas de contratação, autonomia profissional, qualificação e formação continuada. Por fim, investigamos características do trabalho da Assistente Social, tais como, demanda atendida, usuários, atribuições cotidianas no RPPS, desafios enfrentados, estratégias de intervenção profissional e avaliação da política previdenciária. As informações colhidas foram organizadas e analisadas por meio de uma intercalação e articulação entre a fala dos sujeitos e as reflexões teóricas resultantes das pesquisas bibliográfica e documental, alicerçada no marco teórico e conceitual escolhido. Para melhor organização destas informações, a dissertação estrutura-se em quatro partes. Após a introdução, o segundo capítulo aborda A POLÍTICA DE PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: REGIME GERAL E REGIME PRÓPRIO e se propõe a fazer um recorte sobre a história e significado da Previdência Social neste país, abordando as sucessivas ameaças por meio das contrarreformas do Estado e os impactos nesta política pública, bem como, um pouco do histórico do Regime Geral de Previdência Social e dos Regimes Próprios, nestes, com destaque para a origem, particularidades e normativas específicas. Após esta explanação adentra na realidade do estado do Rio Grande do Norte e os RPPS municipais existentes. O terceiro capítulo versa sobre a PREVIDÊNCIA SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL, traz marcos da trajetória do Serviço Social no RGPS, alicerce para o reconhecimento dos RPPS como espaços sócio-ocupacionais para o Assistente Social. Neste, será apresentado o resultado da pesquisa concretizada com 07 (sete) Assistentes Sociais que

2 Modelos dos Questionários 1 e 2 nos Apêndices.

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trabalham nos 04 (quatro) institutos de previdência municipais, revelando as principais atribuições, desafios e possibilidades de intervenção. Nas considerações finais, ratifica-se que a pesquisa revela como se dá o trabalho dos Assistentes Sociais em RPPS Municipais, permitindo dar visibilidade a este espaço como potente para o Serviço Social e para a mediação de direitos. A partir dos desafios e possibilidades apontadas será possível traçar alternativas de respostas profissionais e fortalecimento da luta coletiva pela política pública de Previdência Social. Além disso, acredita- se que despertará reflexões e sugestões de temas e atribuições que podem ser conquistadas e/ou reconhecidas pelo Assistente Social como fortes frentes de trabalho a serem abraçadas pela categoria.

2 A POLÍTICA DE PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: REGIME GERAL E REGIME PRÓPRIO

A Previdência Social é uma política intrinsecamente ligada ao trabalho em todo o mundo e que objetiva proteger o trabalhador, bem como sua família, em situações de incapacidade laborativa, sejam temporárias ou perenes, tais como doença, maternidade, idade avançada, prisão, morte ou invalidez. Compreender esta política no Brasil requer, mesmo que de modo suscinto, um olhar para sua gênese, que tem na luta de classes um ponto crucial para provocar as decisões do Estado na garantia dos direitos. Demanda também reconhecer que esta política, capaz de acarretar impactos diretos na redução das desigualdades sociais, desenvolveu-se e continua a sofrer alterações de modo diferente em vários países, dependendo do contexto e dos interesses políticos, econômicos e sociais, assim como, da resistência e mobilização da classe trabalhadora. A ideia de Previdência apresenta algumas raízes na Alemanha3 e na Inglaterra4, por meio de modelos que repercutiram em outros países e mantém características que podem ser identificadas, até os dias atuais, naqueles países que instituíram modelos de previdência social.

3 Em 1883, por iniciativa do chanceler Otto von Bismarck, tem no modelo bismarckiano, o primeiro ordenamento legal, marco inaugural da proteção social sob a interferência do Estado (CAMPOS, 2017, p. 28). 4 A Inglaterra também tem marcos relevantes na história da Previdência Social. Em 1942, por meio do Plano Beveridge, criado por Willian Beveridge, difunde-se a ideia de Seguridade Social ampliando para todos os trabalhadores (GUERREIRO, 2016).

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No caso do Brasil, a Previdência Social, especialmente com a Constituição Federal de 1988, apresenta um misto tanto do modelo beveridgiano5 como também do modelo bismarckiano6 no tocante, especialmente, ao caráter contributivo, que é condição para o acesso/direito aos benefícios, especialmente, os previdenciários. É fato que o Brasil não possui o legado do Estado de Bem Estar Social7, como outras nações citadas, mas traz em sua história marcas de lutas e conquistas no campo da Seguridade Social, que ganharam relevo após longo período ditatorial (1964-1985) vivido por este país, marcado pela censura, repressão, tortura, prisões, limitação de direitos civis e políticos. Este período mobilizou lutas e reivindicações para sua superação e culminou com a Constituição Federal de 1988, que agregou direitos de cidadania e o conceito ampliado de Seguridade Social. Conforme rememora Silva (2018, p. 132) foi neste ano em que “a ascensão das lutas sociais pressionou os deputados e senadores que compunham o Congresso Nacional Constituinte a incorporar, na nova Constituição Federal, o sistema de Seguridade Social”, baseada em princípios como a universalidade, solidariedade e equidade. A partir deste momento, a Seguridade Social passa a ter fontes de financiamento diversificadas com “contribuição da sociedade de forma direta e indireta por meio do pagamento de impostos, concursos de prognósticos e orçamento dos municípios, estados e da União” (MOURA, 2018, p. 101). Aqui vale destacar a existência dessas diferentes formas para financiar a Seguridade Social, uma vez que na atualidade muitos discursos desconsideram a existência e investimento destas, com o propósito claro de justificar um irreal déficit da Previdência Social.

5 O modelo beveridgiano traz características diferenças, no tocante à compreensão da Seguridade Social. Acerca deste modelo, Rêgo (2018, p. 789) assinala que constituiu uma reorganização de recomposição de medidas dispersas de proteção social já existentes na Inglaterra, acrescidas de medidas direcionadas para a ampliação e consolidação dos planos de seguro social e da uniformização de benefícios e da criação de novos benefícios de auxílio. Os novos benefícios criados foram o seguro acidente de trabalho, o abono família e o seguro desemprego. Os auxílios sociais criados foram: auxílio-funeral, auxílio maternidade, abono nupcial, benefícios para esposas abandonadas, assistência às donas de casa enfermas e auxílio-treinamento para os que trabalhavam por conta própria. 6 Analisando a característica do modelo bismarckiano, Rêgo (2018, p. 787) coloca que a principal característica é seu caráter seletivo ou corporativo e seu propósito explícito de pacificar os operários industriais, minar a organização trabalhista e promover a paz social por meio dos seguros sociais. Esta característica que teve origem ainda nas fases embrionárias da Previdência Social parece ganhar novos contornos na contemporaneidade, mesmo após os avanços no campo da Universalidade contidos em lei, os critérios de seletividade, de fragmentação da classe trabalhadora parecem cada vez mais atuais. 7 Segundo Mishra (1995, p. 113) citado por Behring (2007) os princípios que estruturam o Welfare State são: responsabilidade estatal na manutenção das condições de vida dos cidadãos, por meio de um conjunto de ações de regulação da economia de mercado a fim de manter elevado o nível de emprego; prestação pública de serviços sociais universais, como educação, segurança social, assistência médica e habitação; conjunto de serviços sociais pessoais; universalidade dos serviços sociais; rede de segurança de serviços de assistência social.

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O significado da Seguridade Social é peculiar no processo de conquistas sociais, como assevera Rozendo (2018, p. 91), “as alterações mais significativas desta concepção dizem respeito à defesa do direito do cidadão e do dever do Estado, reconhecendo a seguridade como um direito inerente à condição de cidadania”. Somando-se a este pensamento, Silva (2012) coloca que a Seguridade Social se constitui um campo de luta permanente dos trabalhadores. Ela atua no âmbito da redução das desigualdades sociais e, nesta condição, é a espinha dorsal do sistema de proteção social. Corroborando com Boschetti (2007, p. 80), no que se refere à década de 1990 e início do século XX, no Brasil há uma “conjuntura econômica regressiva, fundada em princípios neoliberais que vêm redirecionando as tendências previstas na Constituição de 1988”. Assim, o período que marca a redemocratização brasileira, os ganhos democráticos e cidadãos com a referida Carta Magna, contraditoriamente, é seguido por momentos de contrarreformas do Estado, com controle de gastos públicos, ajuste fiscal, ameaças e perdas dos direitos conquistados. Ao analisar as mudanças ocorridas na Seguridade Social, Mota (2015, p. 133) afirma que estas “ganham destaque no conjunto das reformas, de cunho liberal, surgidas nos anos 1980 e 1990, tendo como principais formuladores os organismos financeiros internacionais, os empresários vinculados ao grande capital e a burocracia estatal a eles associada”. Nesta década identifica-se a ofensiva do capital, que sob a face neoliberal aprofunda a exploração da classe trabalhadora, o desemprego, as novas formas de trabalho precarizado, agravando a desigualdade. Nesta seara, Barroco (2011) reflete que a ideologia neoliberal pós- moderna declara o “fracasso” dos projetos emancipatórios, das orientações éticas pautadas em valores universais, havendo um estímulo à vivência centrada no presente, no individualismo. Neste período, logo após valorosas conquistas cidadãs, especialmente no campo da Seguridade Social, contraditoriamente, já inicia a difusão da existência de uma crise fiscal, que motivou e justificou as sucessivas contrarreformas do Estado. Estas, que ocorrem em governos diferentes e em períodos históricos peculiares, trouxeram notórias mudanças nas regras previdenciárias, as quais passaram a ser unificadas do setor público e privado, desenvolvendo, em paralelo vários mecanismos de incentivo à previdência privada. Estas ditas “reformas”, que no presente trabalho serão denominadas contrarreformas8, considerando o entendimento de Behring (2003), pois acarretam retrocessos no campo dos

8 Expressão gestada por Elaine Behring, na obra “Brasil em Contrarreforma: Desestruturação do Estado e Perda de Direitos”, 2003. A categoria contrarreforma remete à uma crítica às medidas conservadoras e regressivas

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direitos dos trabalhadores, desvelando uma corrosão do significado de Seguridade Social previsto na Constituição Federal de 1988. Nas palavras de Silva (2018), há a redução do espaço da previdência pública e a ampliação do espaço da previdência privada. Este palco já marcado pelo padrão de acumulação flexível, capaz de gerar o desemprego prolongado, precarização do trabalho e queda da renda média mensal dos trabalhadores, amplia as barreiras para a universalização da cobertura da previdência social. Quanto ao papel do Estado diante deste cenário, Rozendo (2018, p. 84) reflete que “a relação de emprego, desemprego e acesso à seguridade social, não trazem consigo uma significativa mudança no quadro desigual que há anos se forma”. No Brasil, somente após a Constituição de 1988, pôde se falar em uma tentativa de Estado Social Democrático de Direito, na perspectiva do reconhecimento legal dos direitos civis, políticos e sociais para toda população. Mesmo assim, não significa dizer que os direitos estabelecidos constitucionalmente são assegurados cotidianamente aos cidadãos. As ameaças de retrocedê-los são constantes, como também devem ser as estratégias de resistência da classe trabalhadora. Entre os argumentos que defendem a existência da crise fiscal, o real envelhecimento da população é um deles. É inquestionável que vem se processando uma mudança na pirâmide etária da população brasileira. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o envelhecimento da população brasileira cresce 3,2% ao ano. Em termos absolutos, o Brasil já é o sexto país mais velho do mundo. Em relatório da Divisão de População das Nações Unidas revela que a idade média dos brasileiros em 2050 será de 40 anos (SPECHOTO, 2015). As pessoas com mais de 60 anos representam 9,6% da população. Isso equivale a um contingente de 16,7 milhões de idosos sendo que, em 1950, eram apenas 2 milhões. (SPECHOTO, 2015). Há uma tendência real e progressiva de famílias menores, com um ou dois filhos, o controle da taxa de natalidade e o desenvolvimento da medicina que garante maior longevidade. No entanto, a alternativa privatizante e inexoravelmente pautada em preceitos mercadológicos não é encarada aqui como a solução para as inúmeras problemáticas enfrentadas pelo país, entre uma das maiores, a desigualdade social. Esta, pelo teor das propostas apresentadas nas contrarreformas, não parece diminuir e sim aumentar. As propostas de desmonte trazidas com as contrarreformas desde os anos 1990 escancaram o incentivo aos contratos temporários, à terceirização, ao empreendedorismo, às revestidas por uma ideologia de reforma, mas que, na verdade, representam a relação com a política econômica, de privatização e desresponsabilização do Estado.

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variadas formas de trabalho inseguro, precário e desprotegido, como alternativa de driblar a dívida. Destaca-se que estas opções retiram, em sua maioria, a possibilidade dos trabalhadores terem acesso aos benefícios previdenciários. Estas questões, embora de relevância singular, não serão tratadas com profundidade neste trabalho, o qual pretende estreitar a análise para o fazer profissional de Assistentes Sociais que atuam em Regimes Próprios de Previdência Social, compreendendo que este arsenal de ocorrências impacta no trabalho deste profissional. No Brasil, segundo dados da Secretaria de Previdência Social (2019), Estatísticas e Informações dos RPPS, em 16 de maio de 2019, no país constatam-se 2138 RPPS. No Rio Grande do Norte (RN) este número é de 39, considerando que 01 está em processo de extinção - o Instituto Municipal de Previdência Social dos Servidores de Felipe Guerra (FGPREVI) - do município de Felipe Guerra. Ressalta-se que o RN possui um montante de 167 municípios. A ampliação destes Regimes Próprios é um processo em curso e, mesmo apresentando inúmeras questões que geram inquietações no tocante ao funcionamento, financiamento, estratégias políticas na implementação, sustentabilidade, entre outros, a proposta é focar, como já dito, no trabalho do Serviço Social nestes espaços sócio-ocupacionais que, embora de abrangência imensuravelmente menor do que o RGPS, conseguem mediar e garantir direitos a parcela significativa de trabalhadores de diferentes entes Federativos. De acordo com Moreira e Severiano (2018), analisar o trabalho do Assistente Social na Previdência exige recorrer às particularidades da conjuntura brasileira e da política de Seguridade Social/Previdência Social na contemporaneidade. É preciso reconhecer os novos tempos, os desafios expressos no cotidiano profissional, considerando o direcionamento ético- político e técnico da categoria. A partir destes fatos, pretende-se adentrar mais profundamente no contexto histórico e significado da política de Previdência Social, afunilando em seguida para as particularidades dos RPPS, os desafios enfrentados para a garantia de direitos, diante de um cenário de progressiva fragilização da Seguridade Social no país, o qual reflete na prática profissional de Assistentes Sociais que trabalham nestes espaços.

2.1 Regime Geral de Previdência Social: História e Contrarreformas

A Previdência Social despontou em períodos e formatos diferentes ao redor do mundo, assumindo contornos peculiares no Brasil, sob a marca da desigualdade social, dos impactos sociais, políticos e dos interesses econômicos.

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Relevante se faz apontar algumas particularidades do desenvolvimento no Brasil, para melhor compreender as razões pelas quais esta nação traz como marca a supracitada desigualdade social, uma vez que, desde sua colonização (1530) foi vítima de exploração e exportação de suas riquezas naturais, posteriormente, com a industrialização (1930) e início da dominação capitalista, a relação de dependência e subalternidade é notória. Esta relação, como reflete Paulani (2008), foi crucial para a inserção do Brasil na programação da financeirização, mais notadamente em 1990. O país passa a ser encarado como um “território-empresa”, como denomina a referida autora, cujo governo extrai parcelas descomunais de renda real de suas populações, transferindo-as para a esfera da valorização financeira. No Brasil, entre os primeiros documentos oficiais em que são identificadas formas de proteção aos trabalhadores, a Constituição Imperial, de 1824, previa a garantia de socorros públicos, no art. 179. Segundo Guerreiro (2016, p. 49) visava garantir assistência à população carente, mas especificamente, a saúde.

Inspirados no Plano Beveridge, em 1835 criou-se o Mongeral, que seria um Montepio dos servidores do estado, por meio do qual, inúmeras pessoas, visando estarem acobertadas dos riscos sociais, contribuíam financeiramente em forma de cotas. De forma consciente, a ideia de promoção e proteção aos riscos sociais se alastrava por entre as categorias, tal como os trabalhadores das estradas de ferro e para os funcionários do Ministério da Fazenda.

A Constituição Republicana de 1891 já previa em seu art. 75 a aposentadoria por invalidez concedida aos funcionários públicos no serviço da Nação. Este marco demonstra o pioneirismo de protoformas da Previdência Social dos servidores públicos. Rozendo (2018, p. 85) agrega destacando que “os problemas de ordem social, neste período de forte incursão do liberalismo econômico, eram tratados de maneira repressiva, os movimentos das classes populares, também, eram vistos como baderna ou desordem pelo governo”. Neste cenário, cabe destacar que o movimento sindical tem como principais bandeiras de luta: a diminuição da jornada de trabalho; direitos trabalhistas e previdenciários. Mesmo considerando as iniciativas apresentadas, é a partir da Lei Eloy Chaves que se convenciona o marco da Previdência Social no Brasil. Publicada por meio do Decreto nº 4.682, de 24/01/1923, período conhecido como da Velha República, implantou a Previdência Social por meio da instituição das Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs) para a categoria dos ferroviários, no âmbito nacional. Rozendo (2018) complementa avaliando que se estabelece, pela primeira vez, um sistema baseado na lógica do seguro e na proteção ao mundo do trabalho. Como se pode observar, as Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs) abrangiam parcela

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restrita dos trabalhadores assalariados, concedendo proteção exclusivamente para categorias específicas, vinculadas ao desenvolvimento do capital interno. Aqui, destaca-se a ausência do Estado no custeio e gestão previdenciária. As arrecadações repassadas pelas empresas eram conduzidas pelas próprias CAPs, ou seja, não havia responsabilidade estatal no âmbito administrativo nem financeiro. Conforme cita Campos (2017) o Estado participou do processo com a imposição legal, mas não interferindo na gestão administrativa e financeira das Caixas de Aposentadorias e Pensões. Complementando esta informação, Batich (2004, p. 33) traz que:

As CAPs expandiram-se para outras categorias funcionais assalariadas, chegando a serem instaladas cerca de 180 Caixas de Aposentadorias no Brasil. A ordem de criação deste tipo de instituição previdenciária sempre foi determinada pela capacidade de mobilização e reivindicação dos trabalhadores por melhores condições de trabalho.

Em 1930, durante o governo de Getúlio Vargas, com a expansão da industrialização no país e maior presença da classe assalariada urbana reivindicando melhores condições de vida, levou o Estado a iniciar um processo de interferências nas relações trabalhistas, na tentativa de conciliar conflitos entre capital e trabalho (BATICH, 2004). Assim, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, pelo Decreto nº 19.433 e, em 1932 a Carteira de Trabalho e Previdência Social9 (CTPS), a qual representa uma conquista para a classe trabalhadora. De acordo com Silva (2007, p 19) “A Previdência passa a ter crescente importância na burocracia estatal, como expressão da ofensiva do governo autoritário, populista e corporativo no desenho de um amplo arcabouço legal-institucional regulador e gestor das relações de trabalho”. Foi a partir de 1933 que foram criados os Institutos de Aposentadorias e Pensão (IAPs), substituindo as CAPs, abarcando agora trabalhadores por categoria profissional e não somente por empresa específica. Neste ponto, Rozendo (2018) contribui explicando que o financiamento dos IAPs incorporava, agora, a contribuição do Estado10, que, administrativamente, participava do seu controle, introduzindo em suas gestões representantes do aparelho estatal nomeados pelo Presidente da República. Complementando este pensamento, Moura (2018, p. 88) afirma que

9 Segundo Behring & Boschetti (2006, p. 106), a CTPS passará a ser o documento da cidadania no Brasil, uma vez que “eram portadores de alguns direitos àqueles que dispunham do emprego registrado em carteira”, o que contraria a perspectiva de universalização de inspiração Beveridgiana. 10 Batich (2004) traz que o Estado instituiu, pela primeira vez na história do seu orçamento de custeio, recursos necessários para desempenhar as novas tarefas, tornando necessária e legítima sua intervenção sobre os mecanismos de arrecadação e gestão das entidades previdenciárias.

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nos IAPs o “financiamento tripartite – trabalhadores, empresas e Estado – possibilitou rápida e expansiva arrecadação de dinheiro a ser administrado pelo Estado”. Ainda sobre os IAPs, Batich (2004) acrescenta que os tipos e valores dos benefícios previdenciários dos IAPs não eram uniformes, ou seja, cada categoria de atividade os estabelecia livremente e dependiam do percentual de contribuição que os participantes pagavam ao instituto durante a vida ativa. Ressalta-se que os recursos dos IAPs eram capitalizados pelo governo. Estes foram largamente utilizados “para aplicação em investimentos diretos em vários setores da economia, beneficiando empreendimentos industriais11 com tamanha amplitude” (BATICH, 2004, p. 34). Na Constituição de 1934, em seu art. 121, inciso 1º, h, já havia previsão de assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, e a instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte. Já em 1937, a Constituição além de inserir o seguro de acidente de trabalho, invalidez, velhice e vida, empregou o termo seguro social, vindo a utilizar a expressão previdência social apenas em 1946. O acesso às políticas sociais da época só era proporcionado aos trabalhadores urbanos, encontrando-se em posição de maior exclusão os trabalhadores rurais. A Assistência Social, até esse momento, não possuía qualquer visibilidade, inexistindo no campo de atuação governamental, não sendo, ainda, reconhecida como política pública, fato que só veio a ocorrer com a Constituição Federal de 1988. Na Constituição de 1946, a Previdência Social é tratada de forma autônoma em relação ao Direito do Trabalho, na ótica de Campos (2017). No art. 157 desta Constituição, inciso XVI, consta que a previdência será garantida mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, em favor da maternidade e contra as consequências da doença, da velhice, da invalidez e da morte. Merece destaque o fato de que a Constituição de 1946, utiliza o termo “Previdência Social” e a especificação na lei que visa melhorar a condições de vida dos trabalhadores. Esta Constituição também tornou compulsório o seguro contra acidentes de trabalho a ser recolhido do empregador. Decorrido este período, em 1960 publica-se a Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), Lei Nº 3.807/60, após 14 anos de discussão no Congresso Nacional. A referida Lei

11 Segundo Batich (2004, p.34) “vários decretos governamentais impuseram aos IAPs a subscrição de ações preferenciais de empresas, como a Companhia Siderúrgica Nacional (CNS), a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), a Companhia Nacional de Álcalis (CNA) e a Fábrica Nacional de Motores (FNM)”.

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institui um sistema previdenciário único para todos os trabalhadores do setor privado, por meio da unificação da legislação que regia os IAPs e da eliminação das disparidades quanto ao valor e tipos de benefícios (BATICH, 2004). Sob a luz do art. 1º da Lei supracitada:

Organizada na forma desta lei, tem por fim assegurar aos seus beneficiários os meios indispensáveis de manutenção, por motivo de idade avançada, incapacidade, tempo de serviço, prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente, bem como a prestação de serviços que visem à proteção de sua saúde e concorram para o seu bem-estar.

Ainda neste dispositivo legal, no capítulo XV, art. 52, tem-se, no tocante à assistência complementar que esta “compreenderá a ação pessoal junto aos beneficiários, quer individualmente, quer em grupo, por meio da técnica do Serviço Social, visando à melhoria de suas condições de vida”. Aqui já se insere a presença de um profissional, o Assistente Social, no trabalho individual ou em grupo. Mesmo que esta inserção apareça de modo embrionário, é válido destacar esta conquista de espaço na política previdenciária, por parte da categoria e, com ela, a possibilidade de mediação de direitos para os cidadãos. Em 1966 consolida-se o processo de unificação do sistema previdenciário, por meio da criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), agregando todos os IAPs. Nesta época, assim como na Constituição de 1967, destaca-se que o Brasil enfrentou um governo autocrático, que perdurou até 1985. Além da censura, cerceamento de direitos civis, sociais e políticos, retaliação a movimentos sociais, restrição da liberdade de expressão. Necessário frisar que, durante a ditadura, como tão bem rememora Faleiros (2007, p. 64-65) buscou-se:

Não só desmontar as bases das organizações populares, tais como sindicatos urbanos, sindicatos rurais, ligas camponesas, organizações de bairro, organizações estudantis e militares de resistência, com a prisão de seus líderes, como também mobilizar a população contra o comunismo, apelando para as manifestações de massa, com apoio da Igreja Católica e até mesmo para doações de joias e ouro ‘para o bem do Brasil’.

Importante destaque o referido autor faz ao afirmar que a Previdência Social brasileira, no período de ditadura, configurava-se como seguro social e não como seguridade social, uma vez que se baseava nas relações salariais, fundos públicos e privados para a cobertura de riscos referentes aos acidentes, doença, velhice, invalidez e morte (FALEIROS, 2007). Em 1974, foi criado o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), um avanço para o reconhecimento destas políticas. Em 1977, ocorre a criação do Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS), por meio da Lei n.º 6.434/77, composto pelo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), Instituto Nacional de Assistência Médica da

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Previdência Social (INAMPS), Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS), além da empresa de processamento de dados da Previdência Social (DATAPREV). Rozendo (2018, p. 88) explica a formação do SINPAS, informando que a este se incorpora também:

a Legião Brasileira de Assistência Social (LBA) – responsável pela assistência social a nível nacional - criada em 1942, a Fundação do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) – responsável pela política de assistência a criança e adolescentes - criada em 1964 e a Central de Medicamentos (CEME) criada em 1977.

De acordo com Faleiros (2007, p. 64) a criação do SINPAS, no final dos anos 1970 representa a “culminância de desmonte dos antigos Institutos de Previdência da Era Vargas e a estruturação de um modelo de seguro social tecnocrático/assistencial, embasado em fundos salariais para os integrados no sistema produtivo”. Sobre a LBA, Faleiros (2007, p. 71) acrescenta que “o assalariamento era a base do fundo público, ficando no âmbito da LBA os ‘sem trabalho’ e os ‘sem recursos’ para contribuir para a Previdência. Os ‘menores marginalizados e marginais’ inseriam-se no âmbito da FUNABEM”. Aqui fica exposto as diferentes iniciativas do Estado diante das particularidades da classe trabalhadora, contemplando uma parcela que se encontrava fora do mercado de trabalho, sendo um passo para as posteriores políticas públicas de caráter universalizante contidas na Carta Magna de 1988. Ainda sobre a década de 1970 vale lembrar, conforme destaca Batich (2004), que foram instituídos novos benefícios previdenciários, tais como o salário família e o salário maternidade. O sistema passou a incluir também categorias até então excluídas do mesmo: jogador de futebol profissional, trabalhadores autônomos e temporários, empregada doméstica e trabalhador rural. Sobre este último é importante esclarecer que “passou a ter direito de receber o benefício mesmo sem ter contribuído para o sistema, quebrando-se o padrão vigente que garantia a cobertura previdenciária somente para quem fosse contribuinte” (BATICH, 2004, p. 35). Esse direito era concedido apenas se comprovada uma série de critérios e condições por parte do trabalhador rural. É ainda nesta década que se cria o benefício assistencial, o Benefício de Prestação Continuada12 (BPC).

12 O Benefício de Prestação Continuada (BPC) é um benefício de renda no valor de um salário mínimo para pessoas com deficiência de qualquer idade ou para idosos com idade de 65 anos ou mais que apresentam impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial e que, por isso, apresentam dificuldades para a participação e interação plena na sociedade. Para a concessão deste benefício, é exigido que a renda familiar mensal seja de até ¼ de salário mínimo por pessoa.

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Após esse caminho permeado por conflitos de interesses envolvendo os trabalhadores, o Estado e o mercado, a década de 1980 foi marco de muitas ebulições sociais, crise econômica agravada, insatisfação popular e intensa mobilização dos trabalhadores, estudantes e diferentes segmentos da sociedade, que se organizaram pleiteando a Redemocratização do país. A Constituição de 1988 trouxe, de modo inédito na história do Brasil diversas conquistas democráticas, entre elas a Seguridade Social. Esta Constituição conhecida como Cidadã, inova com a proposta de descentralização política-administrativa e de participação da sociedade civil no controle social e no que tange à elaboração e execução das políticas públicas de cunho social. Nas palavras de Silva (2012, p. 185) “um sistema [...] com capacidade de reduzir a pobreza e as desigualdades sociais, alargando as bases para a cidadania e, consequentemente, para o aprofundamento da democracia no país”. A Seguridade Social representa um avanço singular no âmbito das políticas sociais e compreende “um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade destinado a assegurar os direitos relativos à Saúde, à Previdência Social e à Assistência Social” (Art.194, CF de1988). De acordo com Zelia Pierdona citada por Guerreiro (2016, p. 50), a Seguridade Social é:

Sistema de proteção social previsto na CF/88 que tem por objetivo a proteção de todos, nas situações geradoras de necessidades, por meio de ações de saúde, previdência e assistência social, constituindo-se no principal instrumento criado pela atual Constituição para a implementação dos objetivos do Estado brasileiro, em especial, a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais. Sua efetivação tem como base o princípio da solidariedade, uma vez que o financiamento do referido sistema está à cargo de toda a sociedade.

A autora traz elementos relevantes que estarão presentes em todo o percurso da pesquisa, uma vez que compreende as políticas formadoras da Seguridade Social como essenciais para a redução das desigualdades sociais e para o suprimento das necessidades da população. Ratifica, também, que a solidariedade é princípio não apenas da Seguridade Social, mas do próprio Estado brasileiro. Princípio este que vem sendo ameaçado e descumprido por meio da implantação de contrarreformas que ao invés de promover a redistribuição de renda e uma redução da desigualdade social agudizam as existentes. A regulamentação geral da Seguridade Social deu-se a partir da Lei nº 8.212/1991, que estabelece a organização desta política e o plano de custeio, da Lei nº 8.213/1991, que versa sobre o plano de benefícios. Com este respaldo legal foi possível garantir recursos próprios para as políticas de saúde, previdência e assistência social.

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A Saúde, de acordo com a Constituição Federal de 1988 é definida no art. 196:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

A Assistência Social, defina no art. 203, é compreendida como:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V- a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

E a Previdência Social é definida na Carta Magna, no art. 201 como:

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; II - proteção à maternidade, especialmente à gestante; III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes.

A Previdência Social entra em cena com maior visibilidade, quando há demanda de substituição da renda do segurado contribuinte, em virtude da perda de sua capacidade de trabalhar, por motivos alheios à vontade do trabalhador. Os beneficiários desse seguro social são os segurados e seus dependentes. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu dois regimes públicos básicos pelos quais as pessoas podem receber, mediante contribuição prévia, um leque de benefícios previdenciários, sendo eles, o Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e o Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), além dos regimes complementares privados. No tocante a estes Regimes de Previdência, Guerreiro (2016, p. 54) expõe que:

O Regime Geral de Previdência Social é o principal regime previdenciário no Ordenamento Jurídico, abarcando de forma obrigatória, todos os trabalhadores da

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iniciativa privada, os que possuem relação de emprego regida pela Consolidação das Leis do Trabalho, bem assim os empregados rurais, domésticos, trabalhadores autônomo, empresários e trabalhadores avulsos. (...) Contempla também alguns servidores públicos efetivos, desde que os mesmos não se encontrem amparados por Regime Próprios, e que haja o exercício da atividade remunerada.

Complementando alguns aspectos do pensamento de Guerreiro, Donadon (2007, p. 156) afirma que o sistema previdenciário brasileiro é constituído por:

Um regime geral de previdência social, público, de abrangência nacional e de filiação obrigatória, destinado aos trabalhadores do setor privado, urbanos e rurais; regimes próprios de previdência, destinados aos servidores públicos federais, estaduais e municipais, de filiação obrigatória, mas de abrangência restrita aos servidores dos respectivos níveis de governo instituidores.

O RPPS é regulamentado pela Constituição Federal (CF) de 1988, nos seguintes termos do art. 40:

Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservam o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.

Destarte, a Previdência Social Brasileira está organizada em dois regimes jurídicos, de natureza pública, previstos nos art. 201 e 40 da Constituição de 1988, respectivamente: 1º - Regime Geral da Previdência Social (RGPS), cuja gestão é efetuada pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), para os trabalhadores do setor privado, sob Regime das Leis Trabalhistas, e demais modalidades previstas na Lei Nº 8.212/1991; 2º - Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), para titulares de cargos efetivos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, incluídas as autarquias e fundações (Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003). O Regime Geral de Previdência Social (RGPS) contempla a maioria dos trabalhadores brasileiros, ou seja, empregados formais, profissionais liberais etc. e é administrado pelo INSS, autarquia federal vinculada ao Ministério da Previdência Social (MPS), hoje Secretaria de Previdência Social, que antes era vinculada ao Ministério da Economia. Este fato é considerado um retrocesso espantoso. O sistema de financiamento desse regime para as aposentadorias programadas é o de repartição simples que prevê a cooperação entre as gerações, sob o princípio da solidariedade. O Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) é destinado aos servidores públicos titulares de cargo de provimento efetivo, vinculados a cada ente federativo, de regime

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estatutário13. Este se encontrar sujeito à orientação, supervisão, controle e fiscalização do então Ministério da Economia. Por meio da legitimação dos RPPS, a Constituição Federal de 1988 reforçou a característica federativa do Estado brasileiro, de modo que, em seu art. 18, ficou expressamente estabelecida a autonomia da União, dos Estados-membros, do Distrito Federal e dos Municípios, para impor a disciplina administrativa e previdenciária que lhes for conveniente e oportuna, no que tange aos seus respectivos servidores públicos, observados os preceitos da Lei Fundamental. Este breve histórico almeja contextualizar as conquistas paulatinas relativas à política de Previdência Social no Brasil, com direitos para os trabalhadores, demonstrando como foi lento e ao, mesmo tempo, essencial no tocante à proteção social de grande parte da população brasileira que necessita vender sua força de trabalho para buscar suas condições materiais de reprodução. A partir da década de 1990, inicia-se uma sucessiva onda de ataques e tentativas de desmonte dos direitos advindos com a Carta Magna. Estas ofensivas, revestidas sob o manto de “reformas salvadoras da pátria”, solução para a crise fiscal do Estado, para o déficit das contas públicas, tem na política de Previdência Social um alvo certeiro. A Previdência Social, como destaca Moura (2018, p. 107) “põe-se como um achado do capital para movimentar o mundo das finanças” e encontra nas contrarreformas uma porta larga para atingir tal finalidade. Sob o manto da cultura de crise (MOTA, 2015) o caráter público da previdência vem sendo substituído pela ótica privatista. Os antagonismos do momento pós Constituição Federal de 1988 são nítidos com a hegemonia neoliberal que, como enfatiza Behring (2007) não foi capaz de resolver a crise do capitalismo nem alterou os índices de recessão e baixo crescimento econômico, conforme prometia. Contrariamente, trouxe efeitos deletérios para as condições de vida da classe trabalhadora, uma vez que provocaram aumento do desemprego, destruição de postos de trabalho, redução de salários e de investimentos com as políticas sociais. A Previdência Social, de maneira peculiar, vem sendo vitimada por repetidos ataques, em diferentes contextos e governos, inclusive aqueles de esquerda, que, assim como os demais, deixaram-se imbuir pela lógica neoliberal, arquitetada pelo mercado financeiro.

13 Conforme elucida Guerreiro (2016) como o âmbito subjetivo de proteção do Regime próprio é o servidor de cargo efetivo, importa que o ente político, sobretudo o município, deverá adotar o regime jurídico estatutário, porque este regime é o mais aplicável no caso de cargo público.

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Estas ofensivas revelam o caráter contraditório do Estado Social, que, conforme analisa Boschetti e Behring (2018, p. 77), como fenômeno capitalista pode, em determinadas circunstâncias, atender às reivindicações da classe trabalhadora, mas é, essencialmente, um elemento constitutivo da sociedade capitalista. Nas contínuas tentativas de desmonte da política previdenciária, os rebatimentos afetam não apenas o Regime Geral de Previdência Social (RGPS), mas também o Regime Próprio de Previdência Social (RPPS). A partir de dezembro de 1998, tem-se um marco no início das contrarreformas na previdência alterando suas regras e uma das primeiras mudanças é a exigência de uma idade mínima para a aposentadoria, tanto para homens como mulheres; o estabelecimento de um teto para as aposentadorias e a mudança de tempo de contribuição para tempo de serviço. Desde então, são várias as tentativas de desmonte da previdência social que dificultam o acesso dos trabalhadores aos direitos previdenciários. Conforme análise, Duriguetto e Montãno (2010, p. 244) adjetivam as políticas neste palco assinalado pelo neoliberalismo, marcantemente no Brasil, a partir dos anos 1990:

As políticas de ajuste neoliberais implicaram um desmonte do Estado por meio da redução de sua atividade regulatória e produtiva – privatizações, abertura comercial e financeira – ampliação do espaço privado no campo dos direitos sociais e redução dos investimentos públicos na área social. (...) Na realidade nacional formam o acirramento das desigualdades, da desregulamentação dos direitos sociais e trabalhistas e do agravamento da questão social.

Percebe-se, como denota Guerra (2011, p. 32), “que o neoliberalismo, e sua política de ajustes econômicos visando à estabilização, é incompatível com o padrão de política social amplo, universal, de qualidade e gratuito proposto na Constituição Brasileira”. Compactuando com este pensamento, Navarro (1998) citado por Behring & Boschetti (2007, p.126), acrescenta que “os neoliberais defendem uma programática em que o Estado não deve intervir na regulação do comércio exterior nem na regulação de mercados financeiros, pois o livre movimento de capitais garantirá maior eficiência na redistribuição de recursos internacionais”. Diante disto, alastrou-se, ao longo dos anos 1990, tanto na mídia falada como escrita brasileira uma avassaladora campanha em torno das contrarreformas. Acerca das motivações para o desencadeamento destas, pode-se considerar, conforme analisa Moura (2018, p. 88):

O Estado exerce um papel fundamental na regulamentação e destinação dos recursos da previdência social. É por meio do Estado que se operacionaliza: a arrecadação da

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contribuição dos trabalhadores e das empresas, os benefícios dos segurados e a destinação do fundo previdenciário para potencializar a acumulação capitalista.

A arrecadação obrigatória feita de parte dos salários dos trabalhadores, entre outras fontes, fica sob domínio do Estado. Desconsiderando esta afirmativa, entre os principais argumentos para a implementação de contrarreformas em países da América Latina e Europa está a denominada crise fiscal do Estado. Além desta, a questão do envelhecimento populacional, encarada como uma causa que contribuiu na contrarreforma de sistemas previdenciários, mais marcante em países desenvolvidos. Oliveira (2013, p. 55) destaca ainda que, nos países em subdesenvolvimento, as deficiências na estrutura e gestão dos sistemas previdenciários é que costumam ser apontadas como principal causa das “reformas”. No Brasil, todos estes aspectos são apontados. Além destes, na exposição de motivos das emendas constitucionais foi apresentada, na visão do referido autor “uma comparação entre o custo do regime previdenciário do servidor público perante o regime previdenciários dos trabalhadores da iniciativa privada, insinuando-se que o primeiro seria por demais oneroso ao país”. Os organismos internacionais incentivam à privatização, à adesão do modelo de capitalização14 pelos regimes de previdência, assim como de previdência complementar, com o objetivo de gerar capital adicional, em contrapartida, com um discurso de “resolver” a crise do Estado. Estas mudanças representariam um rompimento do pacto intergeracional contido no atual modelo de concessão de benefícios. Nesta seara, pode-se afirmar que os organismos internacionais Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial estimularam as contrarreformas de sistemas previdenciários dos países da América Latina de forma indireta - estabelecendo como condição, em acordos internacionais, a realização de tais contrarreformas e direta - financiando a realização destas (OLIVEIRA, 2013). Salta aos olhos e perturba a mente imaginar até que ponto essas contrarreformas verdadeiramente são idealizadas e impetradas pensando no desenvolvimento da sociedade? No bem-estar dos cidadãos? Na garantia de um mínimo de dignidade neste sistema essencialmente arbitrário? Estas perguntas com respostas desanimadoras, remetem a uma ideia já trazida por Engels (1984, p. 199),

14 De modo sintético, o regime de capitalização está baseado na ideia de poupança individual. Cada segurado realiza contribuições que são depositadas numa conta específica e acumuladas ao longo da vida ativa do trabalhador (BRASIL, 2004). Esclarecimentos mais detalhados serão tecidos posteriormente.

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a civilização realizou coisas pondo em movimento os impulsos e paixões mais vis do homem e em detrimento das suas melhores disposições. A ambição mais vulgar tem sido a força motriz da civilização. Seu objetivo determinante é a riqueza, e sempre a riqueza – mas não a da sociedade, e sim de tal ou qual mesquinho.

Constata-se que os conflitos entre capital e trabalho, os antagonismos gerados deste conflito são inconciliáveis. E, neste palco, desenham-se as tentativas de redução do papel do Estado para com o social, o usufruto do fundo público para finalidades relacionados à reprodução do capital e o progressivo desmonte dos direitos sociais, por meio das contrarreformas do Estado. Estas contrarreformas efetivaram-se em diversas políticas e, de modo incisivo são sentidas na Previdência Social, que será melhor detalhada, por meio das transformações e redução de direitos previdenciários advindos com as Emendas Constitucionais 20/1988, 41/2003 e 47/2005 já instauradas. Apenas uma década após entrar em vigência a Constituição Cidadã, de 1988, foi aprovada a EC 20/1998, de 15 de dezembro, que desde 1995 havia sido apresentada como proposta e sofrido grande resistência pelos partidos de oposição. Em 1998, durante o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), encontra solo fértil para ser impetrada. Foi durante este governo que se realizou a contrarreforma previdenciária, por meio da EC 20/1998, trazendo mudanças e retrocessos. Guerreiro (2016) enfatiza que esta Emenda Constitucional modificou o caput do art. 40 instituindo o regime previdenciário, caráter contributivo, para os titulares de cargos efetivos das entidades federativas (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), suas autarquias e fundações. Ainda sobre a gestão de Fernando Henrique vale trazer as contribuições de Silva (2018, p. 136) ao afirmar que esse governo impulsionou a reestruturação produtiva com leis que restringiram os direitos trabalhistas, como a do contrato de trabalho por tempo determinado, das terceirizações, do incentivo às demissões dos servidores públicos pelo Programa de Demissão Voluntária (PDV). Além disso, a autora ainda destaca que tal governo:

realizou amplo processo de contrarreforma do Estado e de seu aparelho, privatizando empresas estatais, introduzindo na administração pública modelos gerenciais de bases mercadológicas, legalizando as transferências orçamentárias para as Organizações Sociais de Interesse Público (OSCIP), imprimindo a tônica mercadológica à educação e inaugurando o movimento de contrarreforma na Seguridade Social, com ataques à Saúde e à Previdência Social (SILVA, 2018, p. 136).

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Destarte, todos os entes federativos passariam a poder criar seus próprios RPPS e, consequentemente, os servidores vinculados a cada ente se tornariam segurados obrigatórios dos correspondentes Regimes Previdenciários. Guerreiro (2016, p. 80) destaca ainda que:

No Brasil, a União tem regime próprio para os seus servidores e os Estados também. Já em relação aos municípios, existem muitos que não instituíram regimes próprios. Dessa forma, os servidores titulares de cargos efetivos Municipais que não optaram por um Regime Próprio, são vinculados obrigatórios do Regime Geral de Previdência Social (INSS).

A referida Emenda atacou o Regime Geral e o Regime Próprio. Oliveira (2013, p. 71) detalha as principais mudanças promovidas pela EC 20/1998 no RGPS, as quais podem ser resumidas:

a) supressão do teto de dez salários-mínimos para os proventos de aposentadoria por tempo de serviço; b) supressão da regra de cálculo de tal aposentadoria como uma média dos últimos 36 (trinta e seis) meses de contribuição; c) a substituição do tempo de serviço pelo tempo de contribuição.

A redução no teto dos proventos, assim como, das regras nos cálculos da média das contribuições para a aposentadoria são reflexos que, nas entrelinhas, indicam perdas para os trabalhadores, ao mesmo passo que sinalizam a alternativa de previdência privada para complementar a renda, uma vez que com estas contrarreformas, a previdência pública reduz o valor a ser pago nos benefícios concedidos. Quanto a este governo é importante relembrar, como enfatiza Paulani (2008) que o processo brasileiro de privatização começa em 1990 e teve seu pico exatamente com FHC, assinalado também pela estabilidade monetária, álibi para abertura comercial desordenada às privatizações financiadas com dinheiro público, de inaceitável sobrevalorização da moeda. Ainda sobre as alterações promovidas pela EC 20/1998 no Regime Geral, Guerreiro (2016, p. 81) aponta:

Limitação do salário-família e do auxílio-reclusão aos dependentes dos trabalhadores de baixa renda; Restrição da aposentadoria especial às atividades que prejudiquem a saúde ou a integridade física; Limitação da aposentadoria especial dos professores aos que exerçam funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio, com a sua extinção para os professores universitários; Extinção da aposentadoria proporcional por tempo de serviço; Constitucionalização do regime de previdência privada complementar, com a definição de seus parâmetros básicos.

Vale registrar a visão de Moura (2018, p. 111) acerca da previdência privada quando esta afirma que a “previdência privada é uma nova forma de investimento do capital que

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depende do aprofundamento da expropriação do trabalho necessário, com altas taxas de exploração e lucro”. Percebe-se assim, uma nítida predileção pela redução dos investimentos públicos em prol da ampliação do capital privado e não dos direitos. No tocante aos RPPS, as modificações promovidas pela EC 20/1998 obrigaram à Previdência a se organizar com base em critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema. Segundo análise de Oliveira (2013, p. 72 e 73), tais alterações incluem:

a) Substituição do conceito de tempo de serviço pelo tempo de contribuição; b) Extinção da aposentadoria proporcional conforme as regras anteriores, tendo sido adotadas regras de transição similares às do RGPS; c) Introdução do limite de idade para a aposentadoria por tempo de contribuição; d) Introdução do limite de idade para a aposentadoria do professor do ensino fundamental e médio; e) Estabelecimento de carência de 10 (dez) anos de serviço público e 5 (cinco) anos no cargo em que se dará a aposentadoria; f) Proibição de aposentadorias com o valor dos proventos superior à remuneração recebida pelo servidor na atividade; g) Vedação da acumulação de aposentadorias e remunerações em atividade; h) Restrição do número de benefícios do regime, pela previsão da exclusividade aos ocupantes de cargo efetivo; i) Possibilidade de organização de fundos financeiros, compostos por ativos do poder público, para o financiamento da previdência dos servidores; j) Uniformização das regras aplicáveis aos regimes próprios de todos os níveis da federação; k) Possibilidade de adoção do teto dos proventos do RGPS, desde que introduzida a previdência complementar para os servidores públicos.

De acordo com Campos (2017, p. 397), a referida Emenda permitiu aos entes federativos constituir fundos integrados para bens, direitos e ativos objetivando assegurar o pagamento de proventos de aposentadorias e de pensões. O próprio autor também reflete acerca do temor diante do risco real que existe do fundo quebrar. Ainda no leque de mudanças nos RPPS advindas com a EC 20/1998, Guerreiro (2016, p. 82) pontua:

Definição dos seguintes critérios cumulativos para aposentadoria voluntária: tempo mínimo de 10 anos no serviço público, 5 anos no cargo efetivo, 60 anos de idade e 35 anos de contribuição, se homem, e 55 anos de idade e 30 anos de contribuição, se mulher. Limitação dos proventos de aposentadoria e das pensões à remuneração do cargo efetivo, mantendo a integralidade com a remuneração do cargo e a paridade de reajustamento com os servidores ativos.

Válido externar, conforme avalia Paulani (2008), que a Reforma da Previdência contribui de forma decisiva para o Brasil se tornar uma plataforma internacional de valorização financeira, uma vez que o sistema previdenciário, nos moldes solidário e de repartição simples,

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não é compatível com os interesses do mercado, nesta fase em que impera a expansão do capital financeiro. Ainda em 1998 é criado o Departamento de Previdência para Estados e Municípios (DEPEM), atual Departamento dos Regimes de Previdência no Serviço Público (DRPSP) e o Certificado de Regularidade Previdenciária15 (CRP). São desenvolvidos sistemas de acompanhamento e controle dos RPPS e formação de banco de dados (GUERREIRO, 2016). Com o CRP, criado por meio do Decreto nº 3.788/2001, ainda na Presidência de Fernando Henrique Cardoso (FHC), os entes federados comprovam a regularidade fiscal e podem receber os recursos do Fundo de Participação. Após alguns anos, a presidência do país é assumida por Luiz Inácio Lula da Silva (2003 - 2011) que pelo histórico de luta em prol da classe trabalhadora gerou uma expectativa de ampliação de direitos sociais a qual, em alguns aspectos foi frustrada, como no caso da Previdência Social. A proposta da contrarreforma da previdência lançada neste governo surpreendeu por seu teor conservador e por levantar pontos não aprovados em tentativas anteriores. Vale destacar, sobre este governo, conforme analisa Silva (2018, p. 138):

Quando assumiu o governo, o Produto Interno Bruto (PIB) naquele ano correspondeu a US$ 560.155,4 milhões e o país estava na décima quinta posição entre as maiores economias do mundo. Quando deixou o governo, em 2011, o país ocupava a sexta posição entre as maiores economias, com o PIB de US$ 2.613 bilhões. Quanto ao trabalho, durante o seu governo, houve elevação do valor real do salário mínimo, redução do tempo de procura de trabalho, porém ocorreu o aumento da rotatividade e dos trabalhos precários.

Ainda acerca deste período, Iamamoto (2018, p. 74) nos traz dados interessantes:

Segundo dados do IPEA, a desigualdade de renda no Brasil caiu continuamente entre 2001 e 2011, a renda per capta dos 10% mais ricos teve um aumento acumulado de 16,6%, enquanto a dos mais pobres cresceu 91,2% no período. Ou seja, a renda dos mais pobres cresceu 550% mais rápido que a dos 10% mais ricos. A inédita redução da desigualdade de renda – e não da concentração da propriedade e de capital – teve como fontes: o trabalho (58%), a previdência (19%), o Programa Bolsa Família (13%), o Benefício de Prestação Continuada (4%) e outras rendas – como aluguéis e juros (6%).

A partir da análise de Guerreiro (2016) a EC 41/2003, no tocante ao RGPS, limitou-se a elevar o limite máximo dos benefícios para R$ 2.400,00 e a prever um sistema de inclusão

15 Documento que o Ministério da Previdência Social passou a emitir para que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios pudessem comprovar, junto aos órgãos e entidades da Administração Pública Federal, a regularidade de seus RPPSs em relação aos critérios e exigências estabelecidos pela Lei nº 9.717/1998 (GUERREIRO, 2016).

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previdenciária para trabalhadores de baixa renda, com benefícios no valor igual ao salário- mínimo. Para além destas alterações, as demais focaram nos RPPS. Conforme Pietro citada por Oliveira (2013, p. 79-80) na tentativa de possibilitar a implantação da nova sistemática, a EC 41/2003, mantém basicamente, os mesmos objetivos já definidos na EC 20/1998, com algumas inovações:

a) Obrigatoriedade da instituição do regime previdenciário de caráter contributivo para todos os níveis do governo (redação dada ao art. 149, parágrafo 1º); b) Menção expressa ao caráter solidário do regime previdenciário (art. 40, caput), com o que se pretendeu dar fundamento à contribuição dos inativos e pensionistas; c) Indicação das fontes de custeio, incluindo contribuição do ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas (art. 40, caput); d) Definição de critérios para fixação, em lei, do valor da pensão dos dependentes do servidor falecido (art. 40) e) Extinção, respeitados os direitos adquiridos, da paridade entre, de um lado, os proventos e pensões e, de outro, o valor real, conforme critérios a serem estabelecidos em lei; f) Previsão de garantia de reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios a serem estabelecidos em lei; g) Extinção do direito a proventos integrais, com a previsão de que o cálculo dos proventos de aposentadoria levará em consideração a remuneração utilizada como base para as contribuições do servidor ao regime de previdência social a que estiver vinculado.

A obrigatoriedade da instituição de Regime de Previdência para todos os níveis do governo foi um forte estímulo à criação de RPPS por Estados e Municípios; o acréscimo do caráter solidário é algo que merece atenção; a nova maneira de cálculo dos proventos, que não mais leva em conta a totalidade da remuneração atual, mas todas as remunerações do servidor o que, inegavelmente, predispõe a uma redução no valor do benefício. Ainda no que tange às mudanças no RPPSs, vale destacar algumas pontuações de Guerreiro (2016, p. 84):

Definição de nova forma de cálculo da pensão por morte, equivalendo à totalidade dos proventos ou da remuneração do servidor apenas até o limite dos benefícios do RGPS, acrescido de 70% da parcela que exceder esse limite; Incidência de contribuição sobre os proventos de aposentadorias e as pensões concedidas pelos RPPSs que superem o limite máximo dos benefícios do RGPS, com percentual igual ao estabelecido para os servidores ativos.

Há um nítido ordenamento às contribuições de servidores já inativos e pensionistas, além da fixação do valor das pensões a serem concedidas aos dependentes. Outro aspecto relevante, citado por Guerreiro (2016, p. 95) é que:

antes da EC 41/2003, a aposentadoria dos servidores era tida como uma retribuição como reconhecimento pelos anos de serviço prestados ao Estado, não havia

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contrapartida, ou seja, não havia contribuição previdenciária. Com o advento de referida Emenda Constitucional, a relação que antes tinha natureza administrativa, hoje é estritamente previdenciária, de caráter contributivo e solidário, pois hoje exige- se o custeio do regime próprio de previdência mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas.

Desperta atenção aqui, a participação da imprensa que difundiu a ideia de déficit previdenciário e publicizou informações equivocadas acerca do financiamento da Previdência Social, gerando confusão e até adesão à esta ideia por grande parte da sociedade. É fundamental esclarecer, que o cálculo apresentado para justificar o déficit previdenciário, o qual mostra gastos maiores do que os recursos arrecadados pelo sistema previdenciário, conforme analisado por Moura (2018, p. 103):

é feito de forma que leva em consideração somente como receitas, as contribuições dos trabalhadores, do empregador e os recursos próprios da previdência; as despesas incluem as aposentadorias e benefícios pagos aos segurados. Nesse cálculo o desequilíbrio é evidente, porém existe uma receita não contabilizada que se constitui de impostos destinados ao fundo da seguridade social.

É irresponsável apresentar um déficit que considera apenas parte da receita arrecadada para a política de Previdência Social, uma vez que descumpre inclusive o que é preconizado na Constituição Federal de 1988, quando trata da variedade de fontes de custeio para as políticas da Seguridade Social. Complementa Salvador (2017, p. 432):

Essas fontes são as contribuições sociais: Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Contribuição Social do PIS/Pasep e a contribuição de empregados e empregadores para a seguridade social. Além dos recursos dos concursos de prognósticos.

Em matéria sobre fontes de custeio para o Regime de Previdência dos Servidores Públicos, registra-se o art. 40, da Constituição Federal de 1988 que dispõe que o RPPS será custeado mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas. Acerca disto, Campos (2018, p. 159) expõe:

O art. 249, da referida Carta Magna e o art. 6º da Lei 9.717/1998 preveem a possibilidade de as unidades federadas criarem fundos integrados pelos recursos provenientes de contribuições e por bens, direitos e ativos de qualquer natureza, com o objetivo de assegurar recursos para o pagamento de proventos de aposentadoria e pensões concedidas aos respectivos servidores e seus dependentes, em adição aos recursos dos respectivos tesouros.

Vale lembrar que a legislação específica de cada unidade federada deverá prever as fontes de custeio do RPPS, além da contribuição previdenciária do ente público, bem como dos

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servidores ativos, inativos e pensionistas. No tocante à transparência no uso dos recursos do RPPS, Campos (2018, p. 166) destaca ainda que:

as contribuições previdenciárias do RPPS são aquelas cujos recursos só podem se destinar ao custeio de despesas dos benefícios previdenciários dos respectivos regimes dos Estados, Municípios e Distrito Federal (CF, art. 149, § 1º), sendo vedada a destinação para fins diversos, ressalvando apenas as despesas administrativas destes regimes (Lei. 9.717/1998, art. 1º, III).

Acerca das fontes de financiamento do RPPS, Guerreiro (2016, p. 107) elenca:

a) contribuições do ente federativo, dos segurados ativos, inativos e pensionistas; b) receitas decorrentes de investimentos e patrimoniais; c) valores recebidos a título de compensação financeira, em razão do inciso 9º do art. 201, da CF 1988; d) valores aportados pelo ente federativo; e) demais dotações previstas no orçamento federal, estadual, distrital e municipal; e f) outros bens, direitos e ativos com finalidade previdenciária.

Relevante ratificar que o RPPS terá caráter contributivo e solidário, conforme já dito, assim, deverá possuir:

previsão expressa, em texto legal, das alíquotas de contribuição do ente federativo e dos segurados ativos, inativos e pensionistas; repasse mensal e integral dos valores das contribuições à unidade gestora do RPPS; a retenção, pela unidade gestora do RPPS, dos valores devidos pelos segurados ativos, dos segurados inativos e dos pensionistas, relativos aos benefícios e remunerações cujo pagamento esteja sob sua responsabilidade; pagamento à unidade gestora do RPPS dos valores relativos a débitos de contribuições parceladas mediante acordo (GUERREIRO, 2016, p. 163).

Estes critérios visam preservar o equilíbrio financeiro e atuarial do RPPS dificultando o risco de que o mesmo entre em colapso e necessite ser extinto. Adentrando nas explicações acerca da EC 47/2005 esta continuou à sequência de alterações nos direitos previdenciários e antecipou a possibilidade de um subteto único, previsto na Constituição Estadual ou na Lei Orgânica do Município. Em relação ao Regime Geral, estabeleceu a possibilidade de regras diferenciadas para os segurados que exercem atividades exclusivamente sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física e, principalmente, das pessoas com deficiência, e previu que lei disporá sobre um sistema especial de inclusão previdenciária para atender os domésticos e trabalhadores sem vínculo empregatício (OLIVEIRA, 2013). É notório, como enfatiza Moura (2018, p. 111) que o processo em curso visa “tornar a previdência social cada vez mais reduzida aos baixos salários e fortalece, em contrapartida, o avanço do capital”.

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Diante das propostas e reduções paulatinas nos direitos previdenciários, como adverte Behring (2018, p. 67) “nada se falou sobre a dívida ativa e a conhecida sonegação empresarial da previdência”. Pautou-se a elevação da idade mínima para a aposentadoria quando a média de vida em alguns estados brasileiros é de 66 a 68 anos, especialmente em alguns estados do Nordeste. Exatamente os grupos que mais se beneficiam da previdência, no sentido de não contribuírem para a mesma, são os que não foram sequer citados nas propostas de Emendas Constitucionais, permanecendo os privilégios ao invés de acabar com estes, como se veicula incessantemente na mídia. Ainda sobre os argumentos infundados para a efetivação da contrarreforma da previdência, a utilização da Desvinculação de Recursos da União (DRU)16 é um dos, uma vez que eleva a liberdade do governo em seu usufruto e compactuou para o cumprimento dos compromissos do superávit primário e pagamento dos juros da dívida pública. Estes acontecimentos, intensificados no Governo da Presidenta Dilma Rousseff (2011- 2016) trouxeram algumas marcas, como mostra Silva (2018, p. 142):

em abril de 2012 foi autorizada a criação da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal (FUNPRESP), para gerir planos de benefícios para os servidores dos três poderes, e o valor do teto de aposentadoria dos servidores públicos passou a ser igual ao teto do RGPS.

Ainda neste Governo, não se pode olvidar:

Em dezembro de 2014 as Medidas Provisórias nº 664 e 665, convertidas respectivamente nas leis nº 13.135 e 13.134, de junho de 2015, modificaram a pensão por morte, o auxílio-doença, a aposentadoria por invalidez, o auxílio-reclusão, o abono salarial, o seguro-desemprego, seguindo a mesma lógica restrita usada em outros momentos desse movimento de contrarreforma (SILVA, 2018, p. 142).

Percebe-se que, mesmo em governos com características mais democráticas, ocorreram graves golpes no campo dos direitos. Segundo Campos (2017), a DRU foi instituída por meio da EC 27/2000, durante a gestão do Presidente FHC, com a inclusão do art. 76, alterado pelas EC 42/2003, 56/2007, 68/2011 e recentemente pela EC 93/2016, já na gestão da Presidente Dilma. A EC 93/2016 prorroga a

16 Moura (2018, p. 104) explica que “a DRU permite que parte dos recursos do Fundo da Seguridade Social seja deslocada para o Fundo Fiscal e passe a ser utilizada para pagamento dos juros da dívida pública. (...) Os recursos que deveriam ir para as políticas de saúde, assistência e previdência social estão direcionados para o capital que porta juros”.

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Desvinculação de Receitas da União (DRU) e estabelece também a possibilidade de desvinculação de receitas dos Estados, Distrito Federal e municípios. Assim, aumentou a alíquota de 20% da DRU para 30%, até 2023, da desvinculação da arrecadação da União relativa às contribuições sociais. De acordo com informações da Associação Nacional de Auditores Fiscais da Receita Federal (ANFIP), em 2019, levantamento dos consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira do Congresso Nacional identificou que, desde 2008 a DRU reduziu as contas da Seguridade Social em mais de R$ 500 bilhões. O dado de 2016, registra que foram retirados R$ 92 bilhões. A Secretaria de Previdência, na época, ligada ao Ministério da Fazenda, divulgou que o déficit da Previdência em 2017 foi de quase R$ 270 bilhões, o equivalente a mais de 4% do PIB. Ainda enaltecendo os argumentos contrários sobre a existência do déficit da previdência, segundo informações apresentadas por Moura (2018), somadas às estatísticas da ANFIP, com base nos dados referentes às receitas e despesas da Previdência Social, demonstra que o déficit é artificial, é manipulado e que o sistema é, na verdade, superavitário. Esse superávit garante o repasse de recursos da seguridade social para os capitais, ao passo que se reduz o investimento com as políticas públicas basilares da seguridade social. Esta decisão concede ao Governo Federal maleabilidade para se apropriar dos recursos, o que parece inconstitucional, conforme previsto no art. 195 da CF de 1988, que versa sobre as contribuições sociais que financiam a Seguridade Social, vedando a utilização de recursos provenientes destas contribuições para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do RGPS. Como apontam Behring & Boschetti (2007, p. 166) “esse mecanismo de manipulação orçamentária que transfere recursos da seguridade para o orçamento fiscal, tem sido nefasto, pois permite a transferência de recursos públicos crescentes para o mercado financeiro, por meio do pagamento de serviços da dívida pública”. Como justificar a aprovação de uma medida que autoriza o governo a desvincular receitas da previdência para pagamento de outros compromissos em plena difusão por parte do próprio governo, da existência de uma crise, de um déficit enfrentado por esta política? A Previdência Social apresenta-se como uma fonte de recursos atrativa para canalizar vultuosa quantia de capital, manter o superávit primário e o pagamento da dívida pública. Estas medidas impopulares das contrarreformas tiveram nas ruas demonstrações de insatisfação e descontentamento diante da retirada de direitos e garantia de maiores

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possibilidades de lucro para o capital, servindo aos anseios dos organismos internacionais. Como enfatiza Oliveira (2013, p. 49):

O modelo do Banco Mundial, interpretado como uma proposta de privatização dos sistemas previdenciários públicos pela instalação de três pilares: um de benefício definido financiado; um de contribuição definida, mandatória, de gerenciamento privado e, um pilar privado voluntário.

Acerca da privatização, Behring & Boschetti (2007, p. 159) acrescentam que esta “gera uma dualidade discriminatória entre os que podem e os que não podem pagar pelos serviços, no mesmo passo em que propicia um nicho lucrativo para o capital”. Complementando o raciocínio, Ianni (2004, p. 28) afirma que “neste jogo, o Brasil foi pensado como base de operações e não como uma economia independente e autônoma”. Neste circuito, a dependência econômica brasileira cresce, assim como as desigualdades sociais que afetam sobremaneira a classe trabalhadora. No tocante à esta situação de dependência que o Brasil vivencia, Paulani (2008) define como “servidão financeira”, aquela que extrapola a condição de subalternidade. Ainda, referindo-se aos impactos e influências de outras nações, Behring (2018, p. 62) aponta que:

as exigências do ambiente internacional de imensa liquidez de capitais buscando nichos de valorização e em que a disputa geopolítica acirrada pela recuperação das taxas de lucro promove uma ofensiva desenfreada sobre os trabalhadores, colocando em xeque os direitos, as políticas públicas que se materializam, e a própria democracia.

Neste quesito, é prudente trazer a reflexão de Behring (2018) neste ambiente neoliberal, quando analisa que as políticas sociais vêm sendo pensadas para compensar a intensificação da exploração, que implica em processos de pauperização, considerando o desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo, repercutindo na crescente dimensão assistencial destas. É nítida a simbiose identificada entre a compreensão de política social como função estatal e a disputa do fundo público17. É emblemático e necessário registrar o agravamento da crise política a qual desencadeou o golpe e consequente impeachment da presidenta Dilma, em agosto de 201618. Neste mesmo

17 Para mais esclarecimentos sobre fundo público, sugere-se o artigo “O desmonte do financiamento da seguridade social em contexto de ajuste fiscal”, de Evilasio da Silva Salvador, contido na Revista Serviço Social e Sociedade, nº 130, 2017. 18 Outro aspecto percebido no governo Dilma, a partir da Previdência Social e que favoreceu o capital financeiro, diz respeito à política de transferência de recursos monetários aos bancos, através do incentivo aos empréstimos consignados realizados pelos aposentados. Este tema pode ser aprofundado na obra de Moura (2016).

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ano a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 287/2016, apresentada no Governo do Presidente Temer (2016-2019), argumentava que, a partir desta, seria possível economizar cerca de 1 trilhão de reais em 10 anos. Acerca dos desmontes contidos nesta proposta, Rozendo (2018, p. 96) esclarece:

As principais mudanças contidas naquela Proposta de Emenda à Constituição dizem respeito: 1) ao estabelecimento da idade mínima para aposentadoria aos 65 de idade, para homens e mulheres com exigência de, no mínimo, 25 anos de contribuição; 2) necessidade dos estados e municípios aprovarem planos de previdência complementar; 3) aperfeiçoamento dos regimes próprios de previdência social; 4) contribuição do trabalhador rural ao regime de previdência, com a contribuição mensal ainda a ser definida por Lei; e 5) a desindexação ao salário mínimo do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o aumento da idade de 65 para 70 anos.

Referente a este passado recente, Silva (2018) ressalta que o governo Michel Temer intensifica ao extremo a política de austeridade fiscal. Explicitamente demonstra redução de investimentos em políticas públicas para elevação do superávit primário e, assim, a garantia dos compromissos em torno da dívida pública independente da garantia de melhores condições de vida para os brasileiros. A PEC n° 95/2016, também conhecida como PEC do Teto dos Gastos para alguns e, PEC do fim do mundo para muitos, congela os limites constitucionais para as despesas primárias da administração pública federal (aquelas que não envolvem juros — Saúde, Educação, Assistência Social, Defensoria Pública etc.) por vinte anos (SILVA, 2018). Pertinente fazer referência a uma medida destruidora de políticas públicas fundamentais, tomada pelo governo Temer. Por meio da Emenda Constitucional n° 95/2016, com o argumento desleal de garantir a sustentabilidade fiscal no Brasil, atinge na veia as políticas públicas, reduz escandalosamente o investimento com o gasto público, mas aumenta no setor financeiro, limita o papel do Estado e, consequentemente, dos direitos. Esta redução pode ser limpidamente percebida. No governo Temer, embora não tenha se concretizado a contrarreforma da Previdência, o descaso com esta política pública foi tão nítido que, uma das primeiras medidas foi a extinção do Ministério da Previdência Social e Trabalho. Fato que teve continuidade e maior esfacelamento com o governo de Jair Bolsonaro (2019). Seguindo a lógica do desmonte da previdência pública, o Congresso Nacional recebeu, no dia 20 de fevereiro de 2019, a proposta da nova contrarreforma da Previdência liderada pela equipe econômica do então Presidente Jair Bolsonaro, a PEC nº 06/2019. Esta trouxe mudanças através de emenda à redação da PEC nº 287/16, que abordava a contrarreforma da Previdência

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no governo Temer. No fatídico dia 22 de outubro de 2019, foi aprovado por 75% dos senadores, a contrarreforma da Previdência Social, sendo implantada por meio da Emenda Constitucional nº 103/2019. Documento do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), publicado em 28 de outubro de 2019, trata sobre “Os impactos da ‘Reforma’ da Previdência na classe trabalhadora”, esclarecendo sobre os retrocessos advindos com esta “reforma”, entre os quais enfatiza: a exigência da idade mínima para se aposentar; aumento de tempo de contribuição somado à idade mínima avançada para ter direito a aposentadoria com valor integral; redução do valor do cálculo do salário benefício, redução do valor de aposentadoria por incapacidade. Esta proposta expande as barreiras ao acesso a benefícios e serviços previdenciários. Em contrapartida favorece o empresariado e os bancos. É importante lembrar que todos os trabalhadores e suas famílias são impactadas direta ou indiretamente pela Previdência Social. Considera-se a promulgação desta “Reforma” uma derrota para o campo dos direitos, de modo peculiar, dos previdenciários. Percebe-se, de maneira preocupante e estarrecedora, que:

As estratégias para responder à desigualdade têm sido tensionadas por projetos político-institucionais distintos, cujas propostas convivem em tensão: a defesa dos direitos sociais universais e a mercantilização e refilantropização do atendimento às necessidades sociais, as quais têm efetiva implicação nas condições e relações de trabalho do assistente social (IAMAMOTO, 2018, p. 78).

Gera grande inquietação o fato de não se identificar resistências fortes e mobilizações populares de grande repercussão diante desta proposta, bem como, após a oficialização da mesma. Destaca-se, que não se identifica na referida PEC detalhes de como serão as arrecadações das empresas, das isenções e das dívidas das empresas. O que verdadeiramente move esta “reforma” não é a falta de recursos, mas para onde são destinados esses recursos. Como tão bem acrescenta Silva (2018) a alegação do déficit da Previdência Social tem sido usada para reduzí-la. Porém, não existe um orçamento da Previdência, mas um orçamento da Seguridade Social, o qual tem sido superavitário, apesar das renúncias fiscais e dos desvios de recursos para outros fins. Behring & Boschetti (2007) apontam que a tendência geral de restrição e redução de direitos sob a justificativa da crise fiscal do Estado vem transformando as políticas sociais em ações pontuais e compensatórias direcionadas para os efeitos mais perversos da crise, adjetivadas pela privatização, focalização e descentralização.

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Não é necessário demasiado esforço para identificar o incentivo à privatização da Previdência Social, que de modo escancarado traz nas últimas ECs implementadas o direcionamento para incorporação de previdência privada. A luta pela manutenção dos direitos é contínua, muitas foram as tentativas de desmonte ao longo destes mais de 70 anos em que o Serviço Social escreve história na Previdência19 e, nos primeiros passos de 2019, as ameaças da “contrarreforma” são reais e iminentes, com grande apelo à ampliação dos fundos de pensão públicos e privados, que atendem a outros interesses de acumulação do capital. Conforme destaca Iamamoto (2018, p. 73) “expande-se a compra e venda de bens e serviços, alvo de investimentos empresariais capitalistas – os seguros de saúde, o ‘negócio da educação’, os fundos de pensão etc., que transformam as políticas públicas e serviços correspondentes em nichos de lucratividade”. No tocante à profissão, a Medida Provisória 905/19, editada pelo governo federal, veio como um golpe cruel, não só para Assistentes Sociais (ao extinguir o Serviço Social do INSS), como para todos os trabalhadores do país. De acordo com o CFESS20, a referida MP constitui mais um ataque às conquistas históricas da classe trabalhadora, ao extinguir ou reduzir direitos trabalhistas, ampliando e aprofundando a contrarreforma trabalhista de 2017, com a revogação de dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), dentre outras leis, atingindo de forma certeira as relações de trabalho e aumentando a desproteção social. Faz-se premente um adendo acerca da contrarreforma trabalhista21, aprovada durante o governo ilegítimo de Michel Temer, a qual elevou a possibilidade de empresas terceirizarem todos os setores de atividade, incluindo atividades-fim. Esta medida fomenta, mais intensamente, a precarização das condições de trabalho, o rebaixamento de salários, potencializando a redução de contratados com carteira de trabalho assinada por terceirizados. Como consequências, além de acarretar impactos negativos no recolhimento da previdência

19 Vale rememorar que o sistema público de previdência começou com os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), que se expandem na década de 1930, cobrindo riscos ligados à perda da capacidade laborativa (velhice, morte, invalidez, doença) (BEHRING, 2007, p. 106). 20 De imediato o CFESS lançou uma Nota “Serviço Social no INSS – Um direito seu para todos os outros direitos”, explicando os impactos da MP. E, em 04 de dezembro de 2019, o participou de ato em defesa do Serviço Social do INSS e contra a Medida Provisória 905/19. O ato ocorreu no Auditório 333 do Edifício Reitor Bandeira de Melo da PUC-SP, na rua Ministro Godói, 969 – Perdizes, em São Paulo (SP). 21 O CFESS lança em 12 de julho de 2017, manifesto contra a “reforma” trabalhista, destacando o quanto esta “permite a predominância do Negociado sobre o Legislado em relação a vários direitos do trabalho já estabelecidos (jornada de trabalho, salário, contrato de trabalho, dispensa e descanso, etc.), flexibilizando as margens de negociação para todos esses itens, sob o pretexto de que, ao figurarem no acordo coletivo de trabalho, em tese, os/as trabalhadores/as necessariamente concordam com a pactuação flexível”.

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tem-se uma classe trabalhadora com parcos direitos trabalhistas e previdenciários. Os Assistentes Sociais, que também vendem sua força de trabalho, também sofrem com as diversas formas de precarização. Este retrocesso atinge gravemente a profissão, considerando o número abrangente de Assistentes Sociais que trabalham nesta política, bem como, os trabalhadores que tinham como um dos únicos atendimentos presenciais na Previdência Social, o Serviço Social. Assim, dificulta-se o acesso a informações, esclarecimentos e orientações acerca dos direitos previdenciárias fragilizando, ainda mais, a forma de acessá-los. Mesmo neste mar de contradições, Silva (2016, p. 115) destaca reflexões acerca da vitalidade ao projeto profissional, fortalecendo a categoria como:

sujeitos profissionais, no sentido de atuarmos para além das políticas institucionais, tensionando seus limites, a precariedade do acesso aos direitos dos trabalhadores e as estratégias de apassivamento e controle dos sujeitos coletivos. Essas perspectivas nos sintonizam com o universo das lutas, das resistências e das organizações da classe trabalhadora.

Como enfatiza Mészáros (2011, p. 132) “as contradições não podem ser jogadas para debaixo do tapete indefinidamente, porque o carpete, agora, está se tornando uma montanha, então, que possamos fazer nascer um novo tempo”. Neste sentido, é pertinente considerar que a consolidação da Seguridade Social brasileira está intimamente ligada aos processos de reestruturação do modelo econômico, com investimentos no crescimento da economia, geração de empregos estáveis com carteira assinada, fortalecimento das relações formais de trabalho, redução do desemprego, forte combate à precarização, o que, consequentemente, produzirá ampliação de contribuições e das receitas da Seguridade Social e, sobretudo, acesso aos direitos sociais (BEHRING & BOSCHETTI, 2007, p. 173). Lamentavelmente, o que desponta no atual quadro é o contrário disto, o desemprego alcança patamares inéditos. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), no trimestre de setembro a novembro de 2019, havia aproximadamente 11,9 milhões de pessoas desocupadas no Brasil; O quantitativo de pessoas ocupadas foi estimado em aproximadamente 94,4 milhões neste trimestre; O contingente fora da força de trabalho foi estimado em 65,1 milhões de pessoas e o número de desalentados foi estimado em 4,7 milhões período citado. Os trabalhos terceirizados, precários e informais que, ainda de acordo com a PNAD/IBGE 2019, totalizam 38.806 milhões de informais, ou seja, 41% dos ocupados, revela

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números assustadores. Trabalhadores sem carteira assinada crescem e as relações de trabalho são fragilizadas, aumento da desigualdade e miserabilidade. É utópico falar em universalidade diante deste palco, que clama, de toda a sociedade, resistência. Ressalta-se a ênfase na necessidade de resistir e lutar, trazida pelo CFESS (2018, p. 13):

Só a luta muda a vida, move a história, incide sobre as contradições e sobre a dialética entre a emancipação política – campo circunscrito à sociedade burguesa, em que se inscrevem os direitos sociais e de seguridade – e a emancipação humana, que só é possível com a superação do capitalismo como modo de produção e reprodução social, hoje em sua fase madura e destrutiva.

É imprescindível uma resistência hercúlea e luta constante para mudar o rumo da história, crer que as contradições que a dialética reconhece podem levar a um novo tempo, em que os direitos sociais, trabalhistas e previdenciários, em que a emancipação humana seja não apenas um ideal, mas uma realidade.

2.2 Regimes Próprios de Previdência Social: Surgimento e Especificidades

A previdência dos servidores públicos possui origens e tratamento específico atribuído por cada ente federativo, em concordância com a autonomia legitimada na CF de 1988. Há um destaque para o funcionalismo público federal e os dos estados no tocante à origem e desenvolvimento da previdência para seus servidores22. Segundo Campos (2017, p. 33):

a aposentadoria, foi o benefício de seguridade (previdenciário) pioneiro, sempre a cargo do Tesouro, da unidade da federação, enquanto os demais benefícios (pensão, pecúlio, auxílio funeral, benefícios assistenciais), que posteriormente vieram integrar o elenco da seguridade, ficavam a cargo das Caixas ou de Institutos de Aposentadoria e Pensões.

É inegável o potencial de organização histórica dos servidores públicos que pressionaram o Estado para que este oferecesse benefícios aos seus empregados. Por esta razão, os servidores públicos são reconhecidamente pioneiros na instituição de seus sistemas de previdência social (CAMPOS, 2017). Respaldado, como já mencionado, no art. 40 da Constituição Federal de 1988, os Regimes Próprios de Previdência Social, embora tenham sido registrados como tal nesta Carta

22 Ao analisar a origem do termo servidor, Campos (2017) coloca que “servidor” vem da relação entre o servo e o soberano feudal, caracterizada pela dependência em troca de proteção.

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Magna, houve inciativas autônomas, algumas de modo privado, anteriores a este período, no tocante à proteção social dos servidores públicos. Corroborando com esta afirmativa, Guerreiro (2016, p. 65) acrescenta que “a proteção previdenciária dos servidores públicos brasileiros foi anterior ao surgimento da proteção previdenciária dos trabalhadores em geral”. De acordo com Guerreiro (2016), o primeiro documento legislativo a tratar sobre Previdência Social no Brasil foi a Constituição de 1824, a qual garantia aos cidadãos o direito aos “socorros públicos”. O autor ressalta a não elegibilidade deste dispositivo, embora considere o valor histórico deste fato. Complementa ainda:

A criação de montepios também chegou a favorecer algumas categorias específicas de servidores públicos: Montepios da Fazenda e Montepio Geral da Economia. Foram criados em 1827 e 1835. Outras categorias foram beneficiadas pela proteção previdenciária do Estado: servidores do Ministério da Fazenda, servidores civis do Ministério da Guerra, servidores da Imprensa Nacional, operários efetivos do Arsenal da Marinha da Capital Federal, funcionários da Estrada de Ferro Central do Brasil etc. (...) As primeiras categorias de servidores contempladas com a proteção previdenciária foram as categorias até hoje denominadas carreiras típicas de Estado: magistratura, polícia, diplomacia e tributária (GUERREIRO, 2016, p. 65).

O pioneirismo dos servidores públicos já foi mencionado quando disposto o conteúdo da Constituição Federal de 1891, que tratou da aposentadoria em caso de invalidez para estes servidores. Acerca desta Constituição, Guerreiro (2016) destaca que os art. 5º e art. 75, dispunha, respectivamente, que há obrigação da União prestar socorro aos Estados em calamidade pública, se tal Estado solicitasse e, o outro, tratava da aposentadoria por invalidez dos servidores públicos. Merece sublinhar, como lembra o referido autor que, “a aposentadoria concedida aos funcionários públicos que viessem a ficar inválidos, não dependia de qualquer contribuição por parte do trabalhador, sendo completamente custeada pelo Estado” Guerreiro (2016, p. 59). Na Constituição Federal de 1934 são trazidas regras para as aposentadorias dos funcionários públicos. Considerando os esclarecimentos de Guerreiro (2016, p. 60) esta “Constituição foi a primeira no Brasil a prever que o trabalhador, o empregador e o Estado deveriam contribuir para o financiamento da Previdência Social”. O que se conhece por sistema tripartite de financiamento e, à época, representou grande avanço. A Constituição Federal de 1937, de cunho essencialmente autoritário, traz a particularidade de se referir à Previdência Social como “seguro social”. Esta Carta, em seu art. 137, alínea “m”, instituiu seguros em decorrência de acidente de trabalho, sendo eles o seguro de vida, de invalidez e de velhice (GUERREIRO, 2016).

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O mencionado autor alude diversos documentos que foram editados sob a égide da Constituição de 1937, o Decreto Lei nº 288, o qual data de 23 de fevereiro de 1938, foi o responsável pela criação do Instituto de Previdência Social e Assistência dos Servidores do Estado (IPASE)23, em que foram unificados os montepio e instituições menores de diversas categorias de funcionários públicos federais.

Logo depois foi editado, em 26 de agosto, o Decreto Lei nº 651, o qual transformou as Caixas de Aposentadoria e Pensão em Transporte e Cargas. Já em 1939, o Decreto Lei nº 1142, que foi responsável pela filiação dos condutores de veículos o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas. Ainda em 1939, o Decreto Lei nº 1355, de 19 de junho, instituiu o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Operários Estivadores. O Decreto Lei nº 1469, de 1º de agosto de 1939, criou o Serviço Central de Alimentação do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (GUERREIRO, 2016, p. 60).

Vale destacar que, a partir da década de 1930, os Estados começam a constituir os seus próprios Institutos de Previdência, tendo como modelo o IPASE, objetivando oferecer aos funcionários públicos e dependentes benefícios (GUERREIRO, 2016). O autor relaciona os Institutos de Previdência estaduais que foram criados durante a década de 1930:

Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (Decreto nº 4842/1931); Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Pernambuco (Decreto nº124/1938); Instituto de Previdência do Estado do Maranhão (Decreto-Lei nº114/1938); Instituto de Previdência do Estado do Ceará (Decreto nº 390/1939); Instituto de Previdência do Estado de São Paulo (Decreto nº 10.291/1939). São exemplos mais remotos de instituições de previdência voltadas aos funcionários públicos estaduais os Montepios dos Funcionários Públicos dos Estados da Bahia (Lei nº 116/1895), do Pará (Lei nº414/1896), de Santa Catarina (Lei nº 825/1909) e a Caixa Beneficente dos Funcionários Públicos do Estado de Minas Gerais (Lei nº 588/1912).

Dando continuidade às edições normativas nesta década, o Decreto Lei nº 2122/1940 dispunha sobre o regime de filiação de comerciantes ao sistema de Previdência Social, incluindo esta categoria. Pouco antes da promulgação da Constituição Federal de 1946, foi editado o Decreto Lei nº 8742, que criou o Departamento Nacional de Previdência Social (GUERREIRO, 2016). Na Constituição de 1946, o termo “Seguro Social” é substituído por Previdência Social. Segundo Guerreiro (2016, p. 69) “em seu Título VIII, sobre previdência dos funcionários

23 Segundo Campos (2017, p. 36), o IPASE foi instituído pelo Decreto 288, de 23.02.1938, congregava um grupo heterogêneo com servidores integrantes de três poderes do âmbito federal.

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públicos, estabelecendo aposentadoria compulsória aos 70 anos de idade, e dando direito à aposentadoria por invalidez, bem como à aposentadoria voluntária aos 35 anos de serviço”. O referido autor traz uma informação relevante acerca das décadas de 1950 e 1960, quando:

alguns municípios aprovaram seus próprios Estatutos dos funcionários públicos e uns poucos chegaram a criar institutos ou fundos de previdência, em moldes semelhantes aos adotados para os Institutos de Previdência dos Estados, destinados ao pagamento dos “benefícios de família” (GUERREIRO, 2016, p. 69).

Foi na vigência desta Carta Magna que se editou a Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), Lei nº 3.807/1960, a qual, segundo Guerreiro (2016, p. 61) “teve o condão de unificar todos os dispositivos infraconstitucionais relativos à Previdência Social que até então existiam”. Esta Lei representa significativo avanço para o que mais adiante se constituirá a Seguridade Social. No transcurso da Constituição de 1967, instituída durante o regime militar foram identificadas diversos Decretos e Lei Complementares no âmbito da Previdência24, porém, não se pode desconsiderar o momento de censura, tortura e cerceamento da liberdade que foi enfrentado. No início da década de 1970, Guerreiro (2016) anota que a maioria dos municípios editou leis destinadas a disciplinar os Estatutos dos funcionários públicos, porém manteve a contratação dos servidores públicos prioritariamente pelo regime da Consolidação das Leis Trabalhistas. Esta sequência de fatos históricos relativos à Previdência Social e à conquista de direitos previdenciários por parte dos trabalhadores, entre estes, os servidores públicos, reflete o lento e contínuo processo de lutas, de interesses envolvidos para a ampliação e reconhecimento legal da proteção social no Brasil.

24 Em 14 de setembro de 1967 foi editada a Lei nº 5316, a qual passou a incluir na Previdência Social o seguro acidentes de trabalho. Em 1º de maio de 1969 foi editado o Decreto Lei nº 564, o qual passou a contemplar o trabalhador rural a Previdência Social. Em 7 de setembro de 1970 foi editada a Lei Complementar (LC) nº 7, responsável pela criação do Programa de Integração Social (PIS) e a LC nº 8, que foi responsável pela criação do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP). Em 1971, a LC nº 11, 25 de maio, substituiu o plano básico de Previdência Social Rural pelo Programa de Assistência ao Trabalhador Rural (PRÓ-RURAL). Em 1972, a Lei nº 5859, 11 de dezembro, foi a responsável pela inclusão, na Previdência Social, dos empregados domésticos. Em 1º de maio de 1974 foi editada a Lei nº 6036, a qual desmembrou o Ministério do Trabalho e Previdência Social, dando origem ao Ministério da Previdência e Assistência Social. Em 4 de novembro de 1974, a Lei nº 6125 teve o poder de autorizar a criação, pelo Poder Executivo, da Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social (DATAPREV). Em 24 de janeiro de 1976 o Decreto nº 77.077, institui a Consolidação das Leis da Previdência Social (GUERREIRO, 2016).

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A Constituição Federal de 1988, como já fora dito, marca a retomada de um Estado democrático de direito no país, em que há a garantia de direitos fundamentais, entre estes, a Previdência Social. Acerca não apenas da Previdência, mas da Seguridade Social na CF de 1988, Guerreiro (2016, p. 77) alerta que:

A previdência social foi mantida como modalidade de seguro social na natureza contributiva. Porém, os outros dois ramos da seguridade social, a saúde e a assistência, foram desvinculados do mercado de trabalho formal, tornando-se direitos de acesso universal, vinculado à cidadania, e não mais direito exclusivo dos trabalhadores com “carteira assinada”.

Vale ressaltar que, enquanto direito fundamental, possui uma proteção diferenciada na referida Constituição, constituindo-se cláusulas pétreas. Guerreiro (2016, p. 62) esclarece que por força do disposto no art. 60, inciso 4º25, II da CF de 1988, tais direitos não podem ser suprimidos nem mesmo por meio de emenda constitucional. Contrariando o disposto, as contrarreformas analisadas anteriormente, as quais advieram após a Constituição Federal de 1988, apresentam uma tendência retrógrada diante dos direitos fundamentais, com artifícios e alterações que limitam, cada vez mais o acesso dos mesmos às garantias relativas à dignidade humana. Conforme analisa Iamamoto (2018, p. 73):

De um lado, a privatização do Estado, o desmonte das políticas públicas e a mercantilização dos serviços, a chamada flexibilização da legislação protetora do trabalho, que fragiliza as formas de organização dos trabalhadores e sua resistência. Ela combina-se com a desigual distribuição de renda e a menor tributação de rendas altas, fazendo com que a carga de impostos recaia sobre a maioria dos trabalhadores.

Retomando alguns conceitos, assim como o RGPS, vale lembrar que o RPPS é regulamentado pela Constituição Federal (CF) de 1988, nos seguintes termos do art. 40, já mencionado, o qual conclama este regime como nitidamente público, em que conforme mandamento constitucional, a filiação de seus segurados, servidores públicos é obrigatória, sendo estes titulares de cargo efetivo e possui o caráter contributivo (OLIVEIRA, 2013). No Brasil, de acordo com Guerreiro (2016) a União tem regime próprio para os seus servidores federais, assim como também os estados. Já em relação aos municípios, existem muitos que não instituíram regimes próprios de previdência. Este fato se deve à gama de critérios exigidos - seja pela Secretaria de Previdência Social, pelo Tribunal de Contas do

25 Constituição Federal de 1988 - Subseção II - Da Emenda à Constituição: Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais.

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Estado entre outros - os quais, por vezes, impedem ou limitam a implantação de RPPS em municípios. A Lei nº 9.717, de 27/11/1998, Lei Geral dos Regimes Próprios de Previdência Social dispõe as regras gerais para a organização e o funcionamento destes, seja dos servidores da União, Estados, Distrito Federal e Município. De acordo com esta Lei, art. 5º, Guerreiro (2016, p. 96) complementa que:

Os Regimes Próprios de Previdência Social dos servidores públicos (...) não poderão conceder benefícios distintos dos previstos no Regime Geral de Previdência Social, de que trata a Lei nº 8213, de 24 de julho de 1991, salvo disposição em contrário da Constituição Federal. Portanto, os RPPS apenas poderão oferecer os seguintes benefícios: I – Quanto ao servidor: Aposentadoria por invalidez; Aposentadoria compulsória; Aposentadoria voluntária por idade e tempo de contribuição; Aposentadoria voluntária por idade; Aposentadoria especial; Auxílio doença; Salário maternidade e Salário família. II – Quanto aos dependentes: Pensão por morte; Auxílio reclusão.

A Lei nº 9.796/1999, Lei de Compensação Financeira, tem relevância por tratar sobre esta matéria entre o Regime Geral de Previdência Social e os Regimes de Previdência dos Servidores Públicos dos diferentes entes federados. Antes da normatização do RPPS estabelecida pela referida Lei nº 9.717/98, as aposentadorias dos servidores públicos vinculados aos RPPS eram custeadas pelo orçamento do próprio ente federativo, ou seja, as aposentadorias faziam parte da folha de pagamento (MYRRHA; OJIMA, 2016). Atualmente, os RPPS só podem ser criados se comprovado o equilíbrio financeiro e atuarial e contam com a contribuição dos funcionários públicos. Para tanto, de acordo com Guerreiro (2016, p. 105) a fim de constatar este equilíbrio:

Utilizam-se projeções futuras que levam em consideração (...) a expectativa de vida, entrada em invalidez, taxa de juros, taxa de rotatividade, taxa de crescimento salarial, dentre outros incidentes sobre a população de segurados e seus correspondentes direitos previdenciários. De outro turno, as alíquotas de contribuição – suficientes para a manutenção dos futuros benefícios do sistema – são resultantes da aplicação de metodologias de financiamento reguladas em lei e universalmente convencionadas.

O objetivo deste equilíbrio é garantir que haverá recursos no RPPS capaz de honrar os pagamentos dos benefícios previdenciários em curto e longo prazo, ou seja, que existe sustentabilidade do regime previdenciário em questão. Na ótica de Oliveira (2013), a Portaria nº 777, de 10 de julho de 2002, prevê o conceito de Regime Próprio de Previdência Social:

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Entende-se por regime próprio de previdência social o que assegura por lei, inclusive constituição estadual ou lei orgânica distrital ou municipal, o servidor público titular de cargo efetivo, pelo menos as aposentadorias e a pensão por morte previstas no Art. 40 da CF.

De acordo com esse conceito, cabe aqui esclarecer que, cargo efetivo26, de acordo com o Art. 37, Inciso II, da Constituição Federal de 1988, corresponde “a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração”. Spechoto (2015) reafirma:

A previdência do servidor público trata das questões relacionadas às normas previdenciárias aplicáveis aos servidores públicos titulares de cargos efetivos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. É o regime próprio dos servidores, próprio no sentido de exclusivo, separado dos demais servidores e trabalhadores em geral (SPECHOTO, 2015, p. 25).

Referindo-se à existência de normas jurídicas unificadoras da Previdência Social dos servidores públicos, constata-se que coube sempre às Constituições Federais o papel de estabelecer um núcleo fundamental de direitos previdenciários aos servidores públicos (OLIVEIRA, 2013). Dito isto, é importante identificar o Estado na execução de políticas públicas e garantia de direitos, exercendo um papel conflitante, resultado das contradições existentes entre as classes inconciliáveis, como já analisou Engels (1984), na obra “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”27. Para um melhor entendimento das particularidades dos RPPS, estes só podem ser instituídos por pessoa jurídica de direito público, ou seja, por Entes da Federação – União, Estados, Distrito Federal e Municípios e, só podem ser criados por lei. Possuem filiação compulsória e descontos de contribuição direto na folha de pagamento. Ressalta-se que, caso a

26 Em virtude do Princípio da Contributividade, o servidor quando aprovado em Concurso Público, automaticamente passa a contribuir para a Previdência Social, o que garante o gozo dos seus benefícios, independentemente de estar em período de estágio probatório ou já ultrapassado o mesmo. O estágio interfere tão somente no tocante a estabilidade funcional, não possuindo interferência nos benefícios previdenciários. 27 O Estado não é um poder que se impôs à sociedade de fora para dentro (...). É antes um produto da sociedade, quando chega a um determinado grau de desenvolvimento; confissão de que esta sociedade se enredou numa irremediável contradição com ela própria e está dividida em antagonismos irreconciliáveis. Mas, para que essas classes não se devorem e não consumam a sociedade numa luta estéril, faz-se necessário um poder colocado aparentemente por cima, chamado a amortecer o choque e a mantê-los em “ordem”. Esse poder é o Estado (ENGELS, 1984, p. 191)

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unidade federada não tenha implantado o Regime Próprio28, os servidores serão vinculados ao INSS, estando, portanto, sob as regras do Regime Geral. Neste quesito, é válido explicar que em casos em que o segurado tenha contribuído para o RGPS e o RPPS, este poderá computar a soma dos seus tempos de contribuição exercidos nos regimes referidos. Na análise de Campos (2018) o exercício da contagem recíproca de tempo de contribuição depende da Certidão de Tempo de Contribuição29 (CTC) pelo regime de origem e a averbação desse tempo no regime que irá instituir o benefício. A Lei nº 9.717/1998 é direta em proibir a utilização do Fundo Previdenciário e das contribuições de segurados ativos, inativos e pensionistas para pagamento de qualquer despesa que não esteja relacionada aos benefícios previdenciários do referido regime. Esse quesito demanda uma atenção particular para a Taxa Administrativa, que se refere a um valor, estabelecido em lei, para custear as despesas relacionadas à organização e administração do RPPS. Ainda sobre a Taxa Administrativa esta não pode ultrapassar 2% do valor total das remunerações, proventos e pensões dos segurados vinculado ao RPPS. (GUERREIRO, 2016). Spechoto (2013, p. 88) completa esclarecendo que “a receita do RPPS também pode vir da taxa de administração, contudo, essa receita tem outra vinculação, não é para pagar benefícios previdenciários, e sim, custear as despesas administrativas do RPPS e devem, por isso, ficar em conta separada”. No tocante a algumas especificidades, ressalta-se que os benefícios assegurados pelo RPPS são os mesmos garantidos pelo RGPS, conforme dispõe o art. 3º da Lei nº 9.717, de 27 de novembro de 1998, que aborda as regras gerais de organização e funcionamento do RPPS. Contudo, os Entes da Federação não têm a obrigação de conceder todo o rol de benefícios do RGPS. Os RPPS devem conceder, no mínimo, os benefícios de aposentadoria e pensão (SPECHOTO, 2015). Deste modo, um RPPS pode ser implementado ofertando, inicialmente, apenas estes dois benefícios previdenciários.

28 Merece aqui um esclarecimento acerca dos casos de extinção do Regime Próprio. Nestes casos, Campos (2018) coloca que, segundo o disposto no art. 10 da Lei 9.717/1998, no caso de extinção, a União, o Distrito Federal e os Municípios assumirão integralmente a responsabilidade pelo pagamento dos benefícios concedidos durante a sua vigência, bem como o daqueles benefícios cujos requisitos necessários à sua concessão foram implantados antes da extinção. 29 É o documento que permite ao servidor público que contribuiu para o Regime Geral de Previdência Social levar o tempo de contribuição do INSS para o Regime Próprio de Previdência Social do órgão onde ele trabalha atualmente (Instituto Nacional do Seguro Social – Ministério da Economia).

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Curiosidade interessante é que, nos termos da referida Lei, especificamente de acordo com o parágrafo 20, do art. 40, da CF é vedada a existência de mais de um RPPS para servidor público titular de cargo efetivo por ente federativo. No que tange às propriedades dos RPPS um apanhado interessante é feito por Campos (2017, p. 75) quando destaca que este tipo de Regime tem como características ser “próprio, básico, solidário, de filiação obrigatória, estatal, contributivo, fechado, de equilíbrio financeiro e atuarial, de contribuição definida e com unidade de gestão”. O autor detalha cada uma destas qualidades e aqui se destaca a de ser público e estatal, pois os benefícios e serviços prestados referem-se à atividade tipicamente do ente federativo (CAMPOS, 2017). Este Regime possui filiação obrigatória pelo fato de que, assumindo o cargo público, mediante concurso com vínculo em cargo efetivo, o servidor automaticamente passa a integrar o RPPS do ente da federação do qual passa a fazer parte. Ressalta-se que é previsto em Lei o equilíbrio financeiro dos Regimes Próprios de Previdência Social, o qual compreende a garantia de equivalência entre as receitas auferidas e as obrigações do RPPS (SPECHOTO, 2015). Este equilíbrio refere-se à relação estabelecida entre as receitas e despesas que o RPPS possui. Este até pode arrecadar mais do que gasta, mas não o contrário. Segundo Campos (2017, p. 71) “equilíbrio financeiro significa que as contribuições são suficientes para cobrir os compromissos em um exercício financeiro. Equilíbrio atuarial significa que o total dos recursos é capaz de saldar os compromissos assumidos a médio e longo prazo”. No que concerne à comparação entre as alíquotas pagas no RGPS e no RPPS tem-se: a alíquota (percentual do tributo) destinada à Previdência dos trabalhadores do RGPS era de 8% a 11%, dependendo do salário, e passa para 7,5% a 14%, distribuídas em uma maior faixa salarial. Os novos percentuais das alíquotas de contribuição30 estão previstos para serem aplicados sobre o salário de março de 2020 Ressalta-se que, com a aprovação da nova “Reforma” da Previdência (Emenda à Constituição 103/2019), a ser melhor explicada posteriormente, ocorre mudanças nestas alíquotas: Na iniciativa privada, a alíquota poderá variar de 7,5% até 14%. Para os servidores

30 Segundo a Agência Senado (11/2019), “no caso dos servidores federais, a alíquota atual é de 11%. Quem aderiu à Funpresp, a Previdência complementar, ou ingressou no funcionalismo público depois de 2013 recolhe os mesmos 11%, mas sobre o teto do INSS (R$ 5.839.45). Para receber mais na hora de se aposentar, esse servidor pode optar por contribuir para o fundo complementar. Porém, para os servidores que continuarem ligados ao RPPS, as alíquotas para vão variar de 7,5% a 22%”.

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públicos, começará em 7,5%, podendo chegar a 22% sobre o que ultrapassar o teto constitucional do serviço público. Vale um destaque diante destas particularidades dos RPPS, o que é exposto no Relatório de Indicador de Situação Previdenciária (ISP) dos Regimes Próprios de Previdência Social do Estado do Rio Grande do Norte (2017), quanto às dificuldades que podem ser enfrentadas por Previdências Municipais:

Para os municípios, a dificuldade é que o mesmo passará a se responsabilizar por todos os benefícios de seus servidores e, por isso, deverá cumprir a extensa normatização da Secretária da Previdência e atender às exigências do Tribunal de Contas do Estado, uma vez que não cumpridas as citadas normas, poderá ser penalizado com o corte de benefícios e transferências concedidas pelo Governo Federal (RELATÓRIO DE ISP, 2017, p. 08).

Os RPPS, assim como o RGPS e a Previdência Complementar, podem ter dois tipos de regimes financeiros, quais sejam, o de capitalização e/ou o de repartição simples. No regime de capitalização, conforme explicita Oliveira (2007, p. 86):

A gestão dos recursos financeiros deverá ser feita por instituição diversa da estrutura administrativa do ente público, o que também pode não ser de interesse dos administradores públicos, que deixaram de ter a disponibilidade daquelas vultosas receitas.

Na compreensão aqui considerada, na capitalização, verifica-se um retrocesso, quando a Previdência Social tinha nas Caixas de Aposentadoria e Pensão, feitas por categoria profissional, formas excludentes e particulares de arrecadação de parte do salário dos trabalhadores para devolvê-los, posteriormente, em forma de benefícios, não existindo a figura do Estado como corresponsável na concessão de mínimos sociais. O regime de repartição simples, também é chamado de solidário uma vez que preconiza que os trabalhadores inseridos no mercado de trabalho atualmente, contribuem mensalmente para aqueles que não mais trabalham, seja temporariamente ou permanentemente. Ressalta-se que a solidariedade consta nos objetivos da República Federativa do Brasil, no art. 3º, I, da CF de 1988. Sendo um princípio da Seguridade Social, além de ser previsto também para os RPPS no art. 40, caput, da referida Carta Magna. “O sistema de repartição simples está fundamentado num modelo em que os recursos recolhidos dos contribuintes atuais são destinados a cobrir os gastos com os aposentados de hoje. É um pacto social entre gerações, em que os ativos financiam os inativos” (BRASIL, 2004, p. 46).

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Destarte, no sistema de repartição simples, o trabalhador contribui para a aposentadoria dos que já estão aposentados e, no futuro, quem irá pagar a sua aposentadoria serão os que estarão trabalhando. No caso do regime de capitalização desconsidera-se completamente o princípio de solidariedade e impera o individualismo. Em outras palavras, cada pessoa é responsável pela sua própria renda, que poderá formar um montante e ser usufruída na fase de idade avançada ou outro risco. Isso significa que o trabalhador irá contribuir mensalmente e o valor estará em uma aplicação financeira rendendo para que, no futuro, ele possa resgatar. Incentiva uma “previdência” individual, administrada por uma instituição financeira e privada. Aqui, merece destaque, também, o risco de falência destas empresas, visto que são movidas pelas oscilações do mercado. Análise interessante é feita por Rozendo (2018, p. 55) acerca do regime de capitalização:

A geração do benefício, baseado na capacidade de contribuição individual, passa a ser disponibilizada para aplicação financeira em renda fixa (títulos da dívida) ou variável (ações de empresas), como forma de fazer movimentar os recursos imobilizados, na ilusória e fictícia aparência de que dinheiro poderia gerar mais dinheiro. Aposta-se, assim, nas altas taxas de juros dos títulos da dívida e na ampliação da extração de mais-valia, presente e futura, que faz alimentar a sagacidade do mercado acionário e do capital fictício.

O regime financeiro do RGPS é o de repartição simples, assim como, de grande parte dos RPPS. No entanto, é notório o incentivo à adesão e crescimento do regime de capitalização, uma vez que este atende mais fortemente aos interesses do capital. Neste ponto, vale citar Moura (2018, p. 88), ao ressaltar que “os recursos da previdência assim como a configuração dos direitos previdenciários são atravessados pela luta de classes”. Perante este esclarecimento é fundamental referenciar a argumentação de Ianni (2004), na obra “Estado e Capitalismo”, na qual analisa o Estado como órgão que media as relações de acumulação e exerce interferência direta na capitalização do excedente econômico, sendo, no caso brasileiro, uma instituição básica para o desenvolvimento industrial, mediando as medidas fiscais, cambiais e monetárias, além das poupanças e investimentos31.

31 De acordo com Rozendo (2018, p. 47) “No Brasil, as opções de investimento com a finalidade de assegurar uma renda complementar aos indivíduos no período futuro, tornou-se um ramo ainda mais atrativo para o mercado de capitais. Dentre tais opções, a que ganha cada vez mais destaque é a previdência privada, aberta e fechada, haja vista a robustez desse mercado no país”. O autor traz reflexões instigantes acerca de Entidades de Previdência Privada Abertas e Fechadas que, embora não sejam da análise feita neste trabalho são pontos importantes na compreensão do processo.

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Todos estes ingredientes tem impacto direito na correlação de forças e interesses existentes entre Estado, capital e classe trabalhadora. Como afirma Boschetti (2007, p. 77) “os princípios estabelecidos pela Constituição de 1988 merecem ser relembrados, pois revelam o sentido da Seguridade Social então pretendida e, simultaneamente, denunciam sua não operacionalização nas últimas décadas”. Este não cumprimento do que é preconizado na mencionada Constituição pôde ser identificado na análise que antecedeu este tópico acerca das contrarreformas que o Estado implementou nas últimas décadas, as quais desconstruíram ideais de proteção social e articulação entre as políticas públicas na garantia de direitos, na incessante batalha pelo fortalecimento da Seguridade Social. Um ponto que fomenta muitas discussões diz respeito ao custeio dos RPPS. Sobre isto, o art. 249 da CF de 1988 e o art. 6º da Lei 9717/98 preveem a possibilidade de as unidades federadas criarem fundos integrados pelos recursos provenientes de contribuições e por bens, direitos e ativos de qualquer natureza (CAMPOS, 2017). Com a Constituição Federal de 1988 foram implantadas substanciais mudanças nos regimes de previdência dos servidores públicos, como foi visto, especialmente com as Emendas Constitucionais nº 20/1998, nº 41/2003, nº 47/2005. No tocante ao respaldo legal dos municípios e estados de criar seus RPPS, é válida a reflexão de Campos (2017, p. 64) ao afirmar que “todos os entes federativos tem igual importância, pois detêm autonomia e auto ordenação, por leis próprias, e auto-organização, do pontos de vista tributário, financeiro, administrativo e de seguridade para seus servidores”. Isto é expresso na CF de 1988, em seu art. 18, que concede autonomia da União, Estados, Distrito Federal e Municípios no que se refere aos servidores públicos, em matéria de disciplina administrativa e previdência. Dispõe sobre tal o Art. 24, XII e §§ 1º e 2º da CF de 1988, compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

(...); XII – previdência social, proteção e defesa da saúde; (...); §1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limita-se a estabelecer normas gerais; §2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.

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Analisando a história do Regime Próprio de Previdência Social, diante da capacidade limitada do Estado de conceder reajustes salariais ou promover políticas de pessoal expressivas, Campos (2017) cita que:

Os benefícios previdenciários dos servidores públicos sempre foram tratados como uma compensação pela ausência de políticas remuneratórias e de carreira. Impossibilitados de conceder benefícios na atividade do servidor, os governos postergaram a concessão de benefícios.

A permanente luta pela manutenção destes direitos é necessária, especialmente neste palco em que costumam vencer os interesses capitalistas e mercadológicos. Relevante reflexão é trazida por Campos (2017), no tocante ao conhecimento acerca da evolução do Regime Próprio de Previdência dos Servidores Públicos para melhor situar os argumentos apontados pelas reformas previdenciárias. O autor expõe:

As questões relativas ao teto remuneratório, ao limite de valor de benefícios, à natureza estritamente previdenciária do sistema, ao caráter contributivo, ao equilíbrio financeiro e atuarial, ao caráter solidário, à contribuição dos inativos e pensionistas, à paridade entre proventos, pensões e aposentadorias, dentre outras, são melhor compreendidas se também entendida a evolução histórica do regime sob análise Campos (2017, p. 43).

Vale esclarecer no tocante à contribuição de aposentados e pensionistas que continuam pagando contribuições previdenciárias sobre os proventos e pensões que, constitucionalmente, só é permitida quando a parcela exceda ao teto do RGPS. Argumenta-se tal autorização com base no princípio da solidariedade. Guerreiro (2016) complementa que os beneficiários de aposentadorias e pensões do RPPS cuja renda não ultrapasse o teto do salário de contribuição do RGPS têm imunidade ao pagamento dos referidos tributos. Há que se considerar pontos fortes e pontos de melhoria acerca da normatização de RPPS, uma vez que conta a favor destes a existência de regras mais favoráveis para a concessão de benefícios individuais quando comparado às regras do RGPS, ou seja, a ausência de teto salarial, de carência, de fator previdenciário, bem como, condições mais favoráveis para as pensões por morte. Acerca do fator previdenciário, Campos (2018, p. 94) cita que “no RPPS não existe fator previdenciário e os proventos, pela regra geral, têm como limite a última remuneração do cargo efetivo em que se deu a aposentadoria (art. 40, § 2º, da Constituição de 1988)”. No entanto, os riscos também precisam ser destacados, uma vez que a unidade que gere o RPPS precisa ter minimamente a rentabilidade prevista nas avaliações atuariais, o equilíbrio

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financeiro e atuarial, para evitar déficits financeiros e até mesmo entrar em extinção, o que acarretaria grandes danos aos servidores inscritos em tal Regime Previdenciário. As contrarreformas instituídas e já especificadas anteriormente, além das mudanças provocadas nos direitos previdenciários concedidos tanto no RGPS como nos RPPS, foram acompanhadas por um crescimento vertiginoso destes. Com alicerce nas informações até então expostas, na aproximação sobre o funcionamento dos RPPS, a discussão, a partir deste ponto, especificará a realidade do Estado do Rio Grande do Norte, base da pesquisa realizada nos RPPS municipais, aprofundando-se um pouco mais naqueles com Assistentes Sociais no quadro de servidores da Previdência. Resguardadas as devidas particularidades do Estado do Rio Grande do Norte, com seus índices inferiores no tocante à quantidade de RPPS do Brasil, também se identificou um aumento na implantação de novos Regimes de Previdência, conforme será visto a seguir. O cenário macroeconômico, marcado pela mundialização financeira e seus consequentes impactos em diferentes campos da vida social, resvala no mundo do trabalho e, logo, nos processos de formação e atuação do Assistente Social. Sobre a mundialização, Chesnais (1996) citado por Rozendo (2018, p. 41) explana que a expressão mundialização financeira:

designa as estreitas interligações entre os sistemas monetários e os mercados financeiros nacionais, que resultaram das medidas de liberalização e de desregulamentação adaptadas em primeiro lugar pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido entre 1979 e 1982, e nos anos que se seguiram pelos principais países industrializados.

É plausível acrescer, segundo Behring & Boschetti (2007, p. 124) que se refere a:

uma reformulação das estratégias empresariais e dos países no âmbito do mercado mundial de mercadorias e capitais, que implica uma redivisão social e internacional do trabalho e uma relação centro/periferia diferenciados do período anterior, combinada ao processo de financeirização.

O Assistente Social não está imune às ondas conservadoras marcadas por retorcesses no campos dos direitos, e, em meio a estas contradições “é chamado a implementar e viabilizar direitos sociais e os meios de exercê-los, vê-se tolhido em suas ações que dependem de recursos, condições e meios de trabalho cada vez mais escassos para operar as políticas sociais” (IAMAMOTO, 2012, p. 149). O entendimento é que, assim como a política pública previdenciária, o Serviço Social, enquanto profissão, inscrita na divisão social e técnica do trabalho nesta sociedade capitalista,

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está exposto às contradições e antagonismos intrínsecos à esta, enfrentando embates e interesses divergentes, no processo de formação e transformação desta sociabilidade.

2.2.1 RPPS nos Municípios do RN

O estado do Rio Grande do Norte (RN) situado na Região Nordeste do Brasil conta com uma população de 3.168.027 de acordo com o censo do IBGE (2010). O RN32 possui 167 Municípios, incluindo a capital Natal e, destes, 39 possuem Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) reconhecidos pela Secretaria de Previdência Social e, 12833 municípios tem a previdência do RGPS.

Figura 1: Mapa do Brasil com localização do Rio Grande do Norte

32 No Nordeste, ele fica na 6ª colocação, em termos de quantitativo populacional, atrás da Bahia (15.344.447), Pernambuco (9.473.266), Ceará (9.020.460), Maranhão (7.000.229) e Paraíba (4.025.558). 33 Municípios do RN vinculados ao RGPS: Acari, Afonso Bezerra, Água Nova, Almino Afonso, Alto do Rodrigues, Angicos, Antônio Martins, Apodi, Areia Branca, Arez, Assú, Baía Formosa, Baraúna, Barcelona, Bento Fernandes, Bodó, Brejinho, Caiçara do Norte, Caiçara do Rio do Vento, Caicó, Campo Grande (Antigo Augusto Severo), Canguaretama, Caraúbas, Caraúbas dos Dantas, Carnaubais, Cerro Corá, Coronel Ezequiel, Currais Novos, Encanto, Equador, Espírito Santo, Fernando Pedroza, Florânia, Francisco Dantas, Frutuoso Gomes, Galinhos, Governador Dix-Sept Rosado, Grossos, Guamaré, Ielmo Marinho, Ipanguaçu, Ipueira, Itajá, Jaçanã, Jandaíra, Janduís, Japi, Jardim de Angicos, Jardim de Piranhas, Jardim do Seridó, João Câmara, João Dias, José da Penha, Jundiá, Lagoa d’Anta, Lagoa de Pedras, Lagoa de Velhos, Lagoa Nova, Lagoa Salgada, Lucrécia, Luiz Gomes, Major Sales, Marcelino Vieira, Martins, Maxaranguape, Montanhas, Monte das Gameleiras, Nísia Floresta, Nova Cruz, Paraná, Paraú, Parazinho, Parelhas, Parnamirim, Passagem, Pau dos Ferros, Pedra Grande, Pedra Preta, Pedro Avelino, Pedro Velho, Pendências, Pilões, Poço Branco, Porto do Mangue, Pureza, Rafael Fernandes, Rafael Godeiro, Riacho da Cruz, Riacho de Santana, Rio do Fogo, Ruy Barbosa, Santa Cruz, Santa Maria, Santana do Matos, Santana do Seridó, Santo Antônio, São Bento do Norte, São Bento do Trairí, São Fernando, São Francisco do Oeste, São José do Sabugi, São José do Mipibu, São José do Campestre, São Miguel do Gostoso, São Pedro, São Rafael, Senador Georgiano Avelino, Serra de São Bento, Serra do Mel, Serra Negra do Norte, Serrinha, Serrinha dos Pintos, Severiano Melo, Sítio Novo, Taboleiro Grande, Taipu, Tenente Laurentino Cruz, Tibau, Tibau do Sul, Timbaúba dos Batistas, Touros, Triunfo Potiguar, Umarizal, Upanema, Várzea, Venha Ver, Viçosa, Vila Flor (Secretaria de Previdência, Ministério da Economia - Extração realizada do banco de relatórios dos CADPREV no dia 27/08/2019)

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Fonte: IBGE (2010).

Figura 2: Mapa do RN - Municípios com RPPS e com RGPS

Fonte: Secretaria de Previdência Social e ANORPREV. Elaboração Própria.

O Rio Grande do Norte se apresentou com a menor percentagem de municípios que possuem RPPS em nível de Brasil, menos de 4% (Secretaria de Previdência, Ministério da Economia - Extração realizada do banco de relatórios dos CADPREV no dia 27/08/2019). Com base na Figura 2 e 3 é possível identificar que, a maioria dos RPPS localizam-se na Mesorregião Oeste Potiguar.

Figura 3: RPPS por Mesorregião

Oeste Potiguar Agreste Potiguar Central Potiguar Leste Potiguar

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Fonte: Relatório TCERN 2017.

Ainda de acordo com dados colhidos da Secretaria de Previdência Social (2019) somados as informações da Associação Norte Riograndense de Regimes Próprios de Previdência Social (ANORPREV) e ao Relatório do Tribunal de Conta do Estado do RN (2017), bem como, por meio de pesquisa documental elaborou-se a Tabela 1, que condensa as seguintes informações: nome do município, data de fundação do RPPS do RN e o nome dos institutos de previdência.

Tabela 1: RPPS Municipais do RN e Nome dos Institutos

Município Data de Nome do RPPS34 Implantação do RPPS 1 Alexandria 1998 Instituto de Previdência Municipal de Alexandria (IPAMA) 2 Boa Saúde 2013 Instituto de Previdência dos Servidores Municipais de Boa Saúde (IPBS) 3 Bom Jesus 2017 Instituto de Previdência Social do Município de Bom Jesus (BJPREV) 4 Campo Redondo 2016 Instituto de Previdência dos Servidores Públicos do município de Campo Redondo (CAMPOPREV) 5 Ceará Mirim 2013 Instituto de Previdência Municipal de Ceará – Mirim (CEARÁ MIRIM PREVI) 6 Coronel João Pessoa 2011 Instituto de Previdência do Município de Coronel João Pessoa (CORONELPREV) 7 Cruzeta 2013 Instituto de Previdência do Município de Cruzeta (Cruzeta PREV) 8 Doutor Severiano 2006 Fundo de Previdência dos Servidores Municipais de Doutor Severiano (FUNPREV) 9 Extremoz 2019 Instituto de Previdência dos Servidores Públicos de Extremoz (EXTREMOZ - PREV)

34 É válido esclarecer que algumas denominações dos Institutos de Previdências Municípios do RN foram encontradas em sites da Prefeitura local ou dos próprios Regimes Próprios, bem como, em Leis Municipais.

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10 Felipe Guerra Instituiu em Instituto Municipal de Previdência 2012 e Social dos Servidores de Felipe revogou em Guerra (FGPREVI) 2014 Em Processo de Extinção 11 Goianinha 2013 Instituto de Previdência Social do Município de Goianinha (IPREV GOIANINHA) 12 Itaú 2012 Instituto de Previdência de Itaú (ItaúPREV) 13 Jucurutu 2016 Instituto Municipal de Previdência Social dos Servidores de Jucurutu (PREVI-Jucurutu) 14 Lages 2013 Fundo de Previdência Social do Município de Lajes (PREVLajes) 15 Lages Pintadas 2014 Instituto de Previdência Social do Município de Lages Pintadas (IPLAP) 16 Macaíba 2012 Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Macaíba (MacaíbaPREV) 17 Macau 1994 Fundo de Seguridade social de Macau (Macau PREV) 18 Messias Targino 2015 Fundo de Previdência Própria dos Servidores Públicos Municipal (Messias PREV) 19 Monte Alegre 2014 Monte PREV 20 Mossoró 2011 Instituto Municipal de Previdência Social dos Servidores de Mossoró (PREVI-MOSSORÓ) 21 Natal 1955 Instituto de Previdência Social dos Servidores do Município de Natal (NATALPREV) 22 Olho D’água dos 2013 Instituto de Previdência Social dos Borges Servidores Municipais de Olho D´água dos Borges (IPSS) 23 Ouro Branco 2013 Instituto de Previdência do Município de Ouro Branco (OURO BRANCO PREV) 24 Passa e Fica 2013 Fundo de Previdência Social do Município de Passa e Fica (PREVFICA) 25 Patu 2012 Fundo de Previdência Social (PREVI-PATU) 26 Portalegre 2014 Instituto de Previdência Social do Município de Portalegre (IPREV) 27 Riachuelo 2013 Instituto de Previdência dos Servidores Municipais de Riachuelo (IPR)

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28 Rodolfo Fernandes 2011 Instituto de Previdência do Município de Rodolfo Fernandes (Rodolfo PREV) 29 São Gonçalo do 2009 Instituto de Previdência do Servidor Amarante Municipal (IPREV-SGA) 30 São José do Seridó 2014 Instituto de Previdência do Município de São Jose do Seridó (IPREVSJS) 31 São Miguel 2014 Instituto de Previdência dos Servidores Públicos de São Miguel (IPSAM) 32 São Paulo do Potengi 2014 Instituto de Previdência dos Servidores Municipais (IPREVSAPP) 33 São Tomé 2012 Instituto de Previdência dos Servidores Municipais de São Tomé/RN (IPSAT) 34 São Vicente 2013 Instituto de Previdência dos Servidores Municipais de São Vicente (IPSV) 35 Senador Elói de Souza 2015 Fundo de Previdência de Senador Elói de Souza (SouzaPREV) 36 2013 Instituto de Previdência dos Servidores de Serra Caiada/RN (IPRESC) 37 Tangará 2014 Instituto de Previdência de Tangará – (TANGARÁPREV) 38 Tenente Ananias 2014 Instituto de Previdência dos Servidores de Tenente Ananias (IPSTA) 39 Vera Cruz 2015 Fundo de Previdência de Vera Cruz (VeraPREV)

Fonte: Secretaria da Previdência Social; ANORPREV. Elaboração Própria.

Percebe-se que, com exceção de Natal (1955), Macau (1994) e Alexandria (1998), todos os demais municípios do RN criaram seus RPPS a partir dos anos 2000, especialmente, após as progressivas publicações de Emendas Constitucionais - EC nº 20/98; EC nº 41/2003; EC nº 47/2005, que impetraram contrarreformas na Previdência Social e, de modo peculiar, nos RPPS, conforme já elucidado. Vale ressaltar a instituição do NATALPREV que ocorre em 1955, antes mesmo da Constituição Federal de 1988, o que comprova o pioneirismo dos servidores públicos no tocante à busca pelo reconhecimento dos direitos previdenciários também na Região Nordeste. Informações adquiridas por meio da ANORPREV revelaram que o número significativo de criação de RPPS no RN em 2013/2014 deu-se ao fato da influência do então Ministro da

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Previdência, Garibaldi Alves Filho35, o qual fomentou essa criação de RPPS no estado, juntamente com a Federação dos Municípios do Estado do Rio Grande do Norte (FEMURN). Acerca deste aumento no surgimento de RPPS no RN, o qual também se deu em nível de Brasil, o Relatório do TCERN (2017, p. 08) traz importante colocação:

O Governo Federal investiu em ações no sentido de incentivar a criação de RPPS nos municípios, no entanto, a crise do pacto federativo, a ausência de qualificação técnica e a fragmentação das políticas de longo prazo nesses níveis federados, associado à capacidade institucional e financeira dos mesmos em gerenciar e manter um RPPS de maneira segura para os seus contribuintes, se tornou um grande problema para gestão dos regimes previdenciários.

Ainda segundo dados do Relatório do TCERN (2017), no que se refere ao porte dos municípios, quando se compara número de habitantes e divisão geográfica do estado, é possível evidenciar o seguinte:

Gráfico 1: Porte dos Municípios do RN

Fonte: Relatório do TCERN (2017).

35 Político do Rio Grande do Norte, que exerceu mandato de Deputado Estadual do RN por três vezes. Além do cargo de Prefeito de Natal, Senador e por duas vezes Governador de Natal. Durante o Governo da Presidente Dilma Rousseff foi Ministro da Previdência Social do Brasil de 01 de 2011 até dezembro de 2015 e era um defensor da reforma. Ressalta-se que este político votou, em 2016, a favor da PEC do Teto dos Gastos Públicos e, em 2017 a favor da reforma trabalhista, o que retrata sua visão conservadora.

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Gráfico 2: Total de Habitantes nos Municípios do RN com RPPS e RGPS

Fonte: Relatório do TCERN (2017).

Considerando o elevado número de municípios de pequeno porte que possuem RPPS no RN, é relevante destacar, conforme mencionado no Relatório, que:

A má gestão de um RPPS, sobretudo em municípios de pequeno porte, pode provocar o colapso dos cofres públicos do próprio município, visto que o mesmo é o único responsável por garantir o pagamento dos benefícios previdenciários de seus servidores públicos, comprometendo serviços essenciais que afetam diretamente a vida de todos os cidadãos e direitos como educação, saúde, segurança, assistência social, pavimentação, limpeza urbana e iluminação pública (Relatório TCERN, 2017, p. 09).

Vislumbrando um montante de 39 RPPS nos municípios potiguares, espaços que representam a implementação da política previdenciária, é inevitável a reflexão acerca da possibilidade de, no mínimo, um Assistente Social em cada Instituto de Previdência, já que se insere no campo das políticas públicas e que as atribuições deste profissional contribuiriam nos processos de trabalho, esclarecimentos e orientações de informações e direitos previdenciários aos usuários. As informações obtidas por meio da ANORPREV, possibilitaram contato com os gestores de cada um dos Regimes Previdenciários do estado do RN para levantamento daqueles que possuíam ou não Assistentes Sociais entre os seus servidores. Este percurso fez parte da pesquisa exploratória, fundamental para a delimitação dos RPPS a serem melhor detalhados considerando a presença de Assistente Social.

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O levantamento ocorreu em 2018, obtendo resposta de praticamente todos os gestores36 por e-mail ou telefone. Em seguida, foi estabelecido o contato com as Assistentes Sociais que trabalham nestes espaços sócio-ocupacionais, diálogos que ocorreram durante o ano de 2019. Ressalta-se que, no primeiro momento foram levantados os seguintes RPPS com Assistentes Sociais ou com a perspectiva real de que este profissional assumiria cargo no referido órgão em curto espaço de tempo: CAMPOPREV (Campo Redondo); CORONELPREV (Coronel João Pessoa); NATALPREV (Natal); PREVI/MOSSORÓ (Mossoró); IPREV GOIANINHA (Goianinha). Destes Institutos de Previdência e respectivos municípios de origem, CAMPOPREV e IPREV GOIANINHA estavam em processo de contratação de Assistentes Sociais, apenas aguardando estas profissionais assumirem a função. Ao longo da pesquisa, já em 2019, o IPREV GOIANINHA passou a contar com Assistente Social em seu quadro de servidores. O mesmo não ocorreu, até a data de aplicação dos questionários referentes à pesquisa (meses de setembro e novembro de 2019), com o CAMPOPREV, fato que o exclui das análises relativas ao trabalho do Assistente Social. Destarte, a pesquisa com Assistentes Sociais foi concretizada considerando os RPPS de CORONELPREV, NATALPREV, PREVI/MOSSORÓ e IPREV GOIANINHA.

Figura 4: RPPS Municipais do RN com Assistentes Sociais

Fonte: Elaboração própria.

36 O único RPPS que não foi possível contactar foi Tenente Ananias, pois os telefones e e-mails não funcionaram.

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Uma curiosidade é que, apenas 04 (quatro) RPPS possuam Assistentes Sociais em suas equipes, no entanto, nos que possuem, apenas em 01 (um) RPPS há somente 01 (uma) profissional, nos demais têm entre 02 (duas) e (04) quatro. Fato que provoca reflexão acerca da necessidade social deste profissional quando consegue conquistar o espaço sócio ocupacional e será melhor detalhado posteriormente. A partir da identificação dos RPPS Municipais com Assistentes Sociais iniciou-se, em paralelo às tentativas de contato com estas profissionais, pesquisa sobre as especificidades de cada uma das Previdências Municipais onde estas profissionais trabalham.

• CORONELPREV

Coronel João Pessoa está localizado no interior do estado do Rio Grande do Norte, na região do Alto Oeste Potiguar e na microrregião da Serra de Miguel. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), elaborado no ano de 2010, a população de Coronel João Pessoa é estimada em 4.772 habitantes. O Instituto de Previdência do Município de Coronel Joao Pessoa (CORONELPREV) foi criado pela Lei Municipal nº 39, de 1 de outubro de 2010. Inicialmente o Fundo de Previdência estava ligado à Administração Direta do Município, quando, em 8 de janeiro de 2014 foi publicada a Lei Municipal nº 85, transformando o Fundo de Previdência em Autarquia Municipal, criando o Instituto de Previdência do Município de Coronel João Pessoa (CORONELPREV). De acordo com o Art. 2 da Lei nº 39/2010, o RPPS visa dar cobertura aos riscos a que estão sujeitos os beneficiários e compreende um conjunto de benefícios que atendem essas finalidades: I – garantir meios de subsistência nos eventos de invalidez, doença, acidente em serviço, idade avançada, reclusão e morte e; II – proteção à maternidade e à família. O CORONELPREVI é responsável pela concessão e administração dos benefícios previdenciários a seguir descritos, devidos aos servidores públicos efetivos do Município de Coronel e seus dependentes: Benefícios concedidos ao segurado: • Aposentadoria Compulsória; • Aposentadoria Voluntária por Idade; • Aposentadoria Voluntária por Idade e Tempo de Contribuição;

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• Aposentadoria Especial de Professor; • Aposentadoria por invalidez; • Auxílio Doença; • Salário-Família; • Salário-Maternidade; Benefícios concedidos aos dependentes: • Pensão por Morte; • Auxílio-Reclusão. CORONELPREV é a entidade única de gestão do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) do Município de Coronel João Pessoa, de natureza autárquica, com autonomia financeira, patrimonial e orçamentária. Apresenta como missão arrecadar e administrar os recursos financeiros das contribuições previdenciárias para conceder e assegurar aos segurados e a seus dependentes os benefícios previdenciários, buscando sempre o equilíbrio financeiro e atuarial para a perpetuação do Fundo de Previdência do Município de Coronel João Pessoa. Dados da Secretaria de Previdência (02/05/2019) mostram que Coronel João Pessoa possuía em 2014, 242 servidores, 18 aposentados e apenas 1 pensionista. Em 2018, este número passa a ser de 171 servidores, 51 aposentados e 7 pensionistas. Esses dados revelam um aumento considerável no quantitativo de aposentados e, em contrapartida, uma redução do número de servidores na ativa o que, certamente, causa o impacto na qualidade dos serviços públicos prestados e na própria previdência social. CORONELPREV tem sua sede localizada à Rua João Rufino, 285, Centro, Coronel João Pessoa-RN. No tocante à Estrutura Administrativa do CORONELPREV, esta é composta por um Presidente; uma Diretoria Financeira e uma Diretoria Administrativa. Além do Conselhos Administrativo e Fiscal do RPPS. Consta, neste RPPS Municipal a existência de duas Assistentes Sociais no quadro de funcionários. Entretanto, embora possuam esta formação, reconhecida como relevante no processo de contratação, ambas exercem os cargos de Diretora Administrativa e Diretora Financeira.

• NATALPREVI

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A cidade de Natal, capital do Estado do Rio Grande do Norte, foi fundada em 1599 e conta com uma população de 884.122 habitantes, de acordo com estimativas do IBGE, de 2019. A Previdência dos Servidores Municipais de Natal passou por diversas atualizações ao longo dos anos. Como já exposto, Natal foi o primeiro município deste estado a implementar Previdência Social para seus servidores. No dia 31 de janeiro de 1955 foi criado o Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Natal, denominado posteriormente de Instituto de Previdência dos Servidores do Natal (IPREVINAT). Este tem como finalidade, de acordo com o Art. 2 da Lei nº 2.145, de 20 de junho de 1973: “Ser o órgão de previdência e assistência dos servidores municipais de Natal, bem como de seus dependentes, concentrando todas as operações necessárias ao cumprimento desta finalidade”. Nesta época, incluíam-se nesta Previdência diferentes modalidades de servidores, uma vez que ainda não havia a obrigatoriedade legal para ingresso do funcionalismo público mediante concurso público, fato que só adveio com a Constituição de 1988. Entre os benefícios, serviços e auxílios da Lei nº 2.145/1973, havia não apenas pensão, auxílio natalidade e reclusão, até hoje conhecidos, mas também abono educação, assistência odontológica, médico-hospitalar e social, atualmente, contemplados por outras políticas públicas. A Lei Complementar nº 063, de 11 de outubro de 2005, reorganiza o Regime Próprio de Previdência dos Servidores Públicos do Município do Natal. No art. 2º dessa Lei, o RPPS Natal visa assegurar aos seus beneficiários, definidos no art. 4º desta Lei, o gozo dos benefícios previdenciários, em caso de contingências que interrompam, depreciem ou façam cessar a possibilidade de garantir seus meios de subsistência, conforme previsto nesta Lei. Entre os princípios elencados pela Lei Complementar nº 063/2005, destaca-se o inciso II, do art. 3º, que versa sobre o “provimento de um sistema previdenciário público, autônomo, solidário e equilibrado, com a participação de seus segurados”. Benefícios concedidos ao segurado: • Aposentadoria por invalidez; • Aposentadoria compulsória; • Aposentadoria voluntária por tempo de contribuição e idade; • Aposentadoria voluntária por idade; • Aposentadoria especial; • Salário-família

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Benefícios concedidos ao dependente: • Pensão previdenciária; • Auxílio-reclusão. Por não se considerar objeto primeiro desta pesquisa, não serão descritas as especificidades de cada benefício, seja para segurados ou seus dependentes, no entanto, vale ressaltar a importância da mediação, orientação e esclarecimentos aos segurados no tocante à estes benefícios e aos critérios de concessão. O Instituto de Previdência Social dos Servidores do Município do Natal (NATALPREV) foi criado pela Lei Complementar nº 110, de 24 de junho de 2009, que o define como órgão gestor do Regime Próprio de Previdência Social dos Servidores Públicos do Município do Natal (RPPS/NATAL), de natureza autárquica, com autonomia administrativa e financeira, vinculada à Secretaria Municipal de Administração (SEMAD), nos termos da Lei Complementar N° 141, de 28 de agosto de 2014. Dados apresentados pela Secretaria de Previdência (02/05/2019), quanto ao número de servidores e aposentados pela Prefeitura de Natal revelam que, em 2014, o município contava com 11.458 servidores, 515 aposentados e 96 pensionistas. Já em 2017 (os dados não apresentam o ano de 2018), este número passa a ser de 11.484 servidores, 676 aposentados e 101 pensionistas. É válido registrar que há, neste RPPS, apenas uma Assistente Social em seu quadro de funcionários. Este fato remete a inúmeras reflexões, uma vez que o NATALPREV é o maior RPPS do RN, no entanto, possui apenas uma profissional.

• IPREV GOIANINHA

Goianinha localiza-se na Zona Litorânea do Rio Grande do Norte e possui uma área de aproximadamente 192,279 km2. O Município possui 26.328 mil habitantes, população estimada pelo IBGE (2019). Criado pela Lei Municipal nº 1525, de 06 de Dezembro de 2013, inicialmente com o nome de GOIANINHAPREV, a Previdência Municipal versa, em lei que o principal objetivo é oferecer aos Servidores Públicos uma melhor qualidade em seus benefícios, garantindo à eles proteção legal, por meio da aposentadoria por tempo de serviço e/ou contribuição ou auxílio

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maternidade, e amparando sua família, em caso de doença que o impossibilite no desenvolvimento de atividades trabalhistas37. Em 2018, o Instituto passa por mudanças e tem a sua nomenclatura alterada passando a se denominar Instituto de Previdência Social do Município de Goianinha (IPREV GOIANINHA). De acordo com a Lei nº. 1.525/2013: Benefícios concedidos ao segurado: • Aposentadoria por invalidez; • Aposentadoria compulsória; • Aposentadoria voluntária por idade e tempo de contribuição; • Aposentadoria voluntária por idade; • Aposentadoria especial do professor; • Auxilio doença; • Salário-maternidade; • Salário família. Benefícios concedidos ao dependente: • Pensão por morte; Dados da Secretaria de Previdência, em 02/05/2019 revelam que Goianinha possuía em 2014, 811 servidores e 1 aposentados. Em 2018, este número passa a ser de 816 servidores, 63 aposentados e 8 pensionistas. Aqui também revela um aumento no quantitativo de aposentados. Vale registrar que a Prefeitura Municipal de Goianinha realizou concurso público para provimento de diversos cargos de nível fundamental, médio/técnico e superior, em 2013, incluindo nestes, vaga para Assistente Social. O referido concurso teve validade por dois anos sendo prorrogável por igual período, fato que pode evidenciar o aumento do número de servidores ativos na comparação apresentada acima, entre os anos de 2014 e 2018. Neste Instituto, o ingresso de Assistente Social ocorreu em 2019, especificamente no mês de julho.

• PREVI-MOSSORÓ

O Instituto Municipal de Previdência Social dos Servidores de Mossoró (PREVI- MOSSORÓ) é uma Autarquia Municipal, criada pela Lei Complementar nº 060, de 09 de

37 Informações do site: http://goianinha.rn.gov.br/fundo-de-previdencia-propria-de-goianinha-passara-por- reestruturacao/.

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dezembro de 2011, regido pelo RPPS, de conformidade com a Lei nº 9717, art. 40 da Constituição Federal. O PREVI MOSSORÓ tem como missão arrecadar e administrar os recursos financeiros oriundos das contribuições previdenciárias para garantir e conceder aos seus segurados e dependentes, os benefícios previdenciários assegurados pela lei, bem como, buscar sempre o equilíbrio financeiro e atuarial para perpetuação do Fundo de Previdência do Município de Mossoró. O Instituto garante aos assegurados e dependentes os seguintes benefícios previdenciários. • Benefícios concedidos ao segurado: • Aposentadoria Compulsória; • Aposentadoria Voluntária por Idade; • Aposentadoria Voluntária por Idade e Tempo de Contribuição; • Aposentadoria Especial de Professor; • Aposentadoria por invalidez; • Auxílio Doença; • Salário-Família; • Salário-Maternidade. Benefícios concedidos ao dependente: • Pensão por morte; • Auxílio reclusão. Ressalta-se que esses benefícios não estão sujeitos ao teto dos benefícios do INSS ou ao fator previdenciário previsto na Legislação Federal (Lei Nº 9.876, de 26.11.1999), todavia, não podem ser superiores ao valor da última base de contribuição do servidor. Em 02 de maio de 2019, dados apresentados pela Secretaria de Previdência, no tocante ao número de servidores e aposentados pela Prefeitura de Mossoró mostraram que, em 2014, o município contava com 4149 servidores, 293 aposentados e 21 pensionistas. Já em 2018, este número passa a ser de 3867 servidores, 634 aposentados e 48 pensionistas. Informações obtidas por meio do Sistema Previdenciário de Gestão de Regimes Públicos de Previdência Social (SIPREV)38, do PREVI-MOSSORÓ, revelam que em 2019, o Instituto continuou com elevado quantitativo de servidores pleiteando e oficializando a

38 Ferramenta de gestão que possibilita alimentar e acompanhar quantitativos dos servidores aposentados e pensionistas, entre outros assuntos.

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aposentadoria, cerca de 100. Estes fatos não podem ser analisados desconectados dos impactos causados pelas contrarreformas, a insegurança que causam nos servidores e o receio de terem seus direitos desconstruídos. Considerando o significativo número de servidores aposentados, o PREVI, além da concessão dos benefícios previdenciários, desenvolve Projeto Social voltado para o público de aposentados e pensionistas. Este Projeto é denominado de Viver Melhor e tem como objetivo desenvolver ações de saúde e qualidade de vida, de geração de renda, de fortalecimento de relações interpessoais e familiares, abrangendo aspectos ligados à autoestima, auto aceitação, automotivação, possibilitando a criação de novos projetos de vida para aposentados e pensionistas vinculados ao PREVI MOSSORÓ. Em 16 de dezembro de 2015, o Projeto foi aprovado na Câmara Municipal dos Vereadores, tornando-se Lei Complementar nº 123, publicada no Jornal Oficial do Município de Mossoró (JOM), em 26 de fevereiro de 2016. O PREVI MOSSORÓ ampliou sua missão passando a ser uma instituição que, além de realizar o recolhimento, gestão, aplicações das contribuições previdenciárias e concessão de benefícios, agrega na vida de seus servidores ativos e inativos iniciativas que contribuam com a melhor qualidade de vida, como o Projeto Viver Melhor, desde 2015 e o PREVI Educa, a partir de 2018. Este último tem como objetivo disseminar, informar e esclarecer aos servidores municipais sobre os direitos, deveres, serviços, benefícios e projetos em relação ao PREVI, aproximando-os do Instituto, bem como, garantindo maiores conhecimentos acerca do mesmo. O Serviço Social surge no PREVI MOSSORÓ em 2011, o qual se insere no Setor da Junta Médica, cerca de dois meses após a criação do Instituto. Até o momento da pesquisa, o Instituto era comporto por 35 servidores e destes, 04 são Assistentes Sociais, no entanto, apenas 02 são efetivas, sendo as demais contratadas com outra função (uma Assistente Administrativa e outra Assistente Previdenciária). Deste montante de profissionais, 03 participaram da pesquisa. A partir do reconhecimento de algumas particularidades destes RPPS do RN, o que possibilitou identificar a localização, quantidade de servidores aposentados e pensionistas, benefícios concedidos e número de Assistentes Sociais nestes espaços sócio-ocupacionais. A partir de agora, será tecido um histórico da trajetória do Serviço Social na Previdência Social, abordando fatos vivenciados pela categoria no processo de conquista de espaço e manutenção nesta política desde o Regime Geral de Previdência Social, até focar a análise para os Regimes Próprios de Previdência Social de Coronel João Pessoa, Natal, Mossoró e Goianinha, quando serão apresentados as principais atribuições, desafios e possibilidades de intervenção experienciadas no cotidiano do trabalho das Assistentes Sociais.

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3. PREVIDÊNCIA SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL

O trabalho é uma questão vital para a construção da vida em sociedade, já alerta Ricardo Antunes em sua vasta obra sobre esta categoria. O referido autor nos desvela as configurações atuais do trabalho, num contexto atual de hegemonia do capital financeiro que impõe aos países o desmonte dos direitos sociais e trabalhistas. As metamorfoses no mundo do trabalho afetam diretamente o Serviço Social, inserido na divisão social e técnica do trabalho que enfrenta processos e vínculos de trabalho fragilizados, terceirizados, comissionados, além de contratação com outras funções. Em paralelo a estas análises destaca-se o reconhecimento de espaços sócio ocupacionais que podem ser melhor desbravados pelos Assistentes Sociais, enxergando nestes as possibilidades de atuação fundamentada no projeto ético político profissional e na garantia de direitos, na contramão da fase ultra neoliberal que solapa cotidianamente os direitos conquistados. Será realizada análise de alguns dos principais momentos da trajetória do Serviço Social na política de Previdência Social, com ênfase no Regime Geral, uma vez que grande parte das obras sobre esta política pública, assim como, de Assistentes Sociais que nela trabalham, vivenciam seus cotidianos neste Regime. Reconhecer o trajeto percorrido, com as devidas “pontes” e “nós” que se assemelham aos enfrentados no Regime Próprio de Previdência Social, fazem-se essenciais para melhor compreender as nuances que envolvem a atuação profissional nas esferas dos Institutos de Previdência Social Municipais, objeto de análise nesta pesquisa, de modo a contextualizar e historicizar o trabalho de Assistentes Sociais na política previdenciária até especificar as atribuições, desafios, possibilidades nos RPPS de Municípios do RN. A fim de preservar a identidade das Assistentes Sociais pesquisadas serão utilizados nomes de escritoras brasileiras para identificar as falas analisadas, com base nos questionários respondidos. Antes de entrar em cena com o trabalho do Assistente Social nos Regimes Próprios de Previdência Social de Municípios do RN, considera-se necessário especificar os Institutos de Previdência Municipal em que trabalham e a quantidade de profissionais do Serviço Social que participaram da pesquisa:

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Tabela 2: RPPS do RN com Assistente Social

Instituto Municipal de Previdência Assistente Social Assistente Social Social que trabalha no que participou da RPPS Pesquisa 1 CORONELPREV 02 02 2 IPREV GOIANINHA 01 01 3 NATALPREVI 01 01 4 PREVI/MOSSORÓ 04 03 TOTAL ASSISTENTES SOCIAIS: 08 07

Fonte: Elaboração Própria.

Em item anterior foi abordado a criação dos RPPS no RN, os quais, com raras exceções, deram-se de modo recente. Assim, considera-se importante identificar quando o trabalho do Assistente Social nestes espaços teve início, uma vez que esta informação pode demonstrar além da percepção dos gestores acerca da relevância deste profissional no quadro de funcionários do Instituto, também a vivência de Assistentes Sociais no RN, neste espaço sócio ocupacional recente. Esta questão será melhor trabalhada quando analisadas as respostas das profissionais pesquisadas. Compreender as principais atribuições, os desafios e as possibilidades de intervenção profissional a partir dos relatos de Assistentes Sociais que atuam nestes espaços no Rio Grande do Norte contribuirá para um melhor conhecimento e visibilidade deste campo e do trabalho nele concretizado pelo Serviço Social.

3.1. RPPS Como Espaço Sócio-Ocupacional do Assistente Social

Há uma conexão histórica, teórica e prática entre o Serviço Social e os direitos sociais e humanos, porém, é nítido que esta vinculação se firma mais expressivamente, no contexto brasileiro, a partir de 1990, com as conquistas advindas com a Constituição de 1988 e no contexto em que se inscreve o projeto ético político do Serviço Social. Enquanto profissão que tem nas expressões da questão social o seu objeto de intervenção, o Serviço Social está intimamente vinculado à luta pela consolidação dos direitos sociais e de cidadania, entre eles a Previdência Social.

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Como já revelado, a Previdência Social ocupou-se, desde seus primórdios, de um programa de crescente intervenção no processo de reprodução da vida social, com um arco de benefícios e serviços de ampla cobertura. Da maternidade ao funeral, na forma condicionada pelo contexto histórico brasileiro e latino-americano, o princípio do Estado do Bem-Estar Social democrático que se desenvolveu no Norte da Europa quanto ao dever da sociedade em assegurar proteção social aos seus membros em face de risco (SILVA, 2011). O trabalho do Assistente Social na Previdência no Brasil inicia-se na década de 1940 nos IAPs. O Serviço Social vivenciou períodos com ações de caráter burocrático, normativo e busca por consenso dos beneficiários, demonstrando em alguns momentos, influência do modelo psicossocial e da matriz funcionalista. Essa concepção de profissão foi sendo ultrapassada, o que não significa totalmente extinta, com o processo de renovação do Serviço Social exatamente a partir dos anos 1970. Como corrobora Neves; Silva (2007, p. 94) “o exercício profissional do assistente social no campo previdenciário, teve início na década de 1940, em um contexto de afirmação e expansão dos institutos de seguro social”. É neste tempo que se demarca a institucionalização da profissão nesta política. Na Previdência, o Serviço Social surgiu legalmente através da Portaria nº 25 de 6 de abril de 1944, do Conselho Nacional do Trabalho (CNT), na expansão previdenciária dos IAPs, ambos surgidos desde 1943, e paralelamente à criação de grandes Instituições como Fundação Legião Brasileira de Assistência39(LBA), Serviço Social da Indústria (SESI), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Ministérios do Trabalho, Indústria e Comércio (BRASIL, MPAS, 1994). Com a unificação dos IAPs, em 1966, e criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) até o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS), em 1970, há uma afirmação profissional no interior da instituição previdenciária. Segundo Rozendo (2009) a profissão tem sua atuação ampliada em diversos espaços da Instituição: planejamento, supervisão e execução. Neste momento, a prática é normatizada por meio do Plano Básico de Ação (PBA), de 07 de fevereiro de 1972, com influência do modelo psicossocial e da matriz funcionalista.

39 A Legião Brasileira de Assistência (LBA) foi um órgão assistencial público brasileiro, fundado em 28 de agosto de 1942, pela então primeira-dama Darcy Vargas, com o objetivo de ajudar as famílias dos soldados enviados à Segunda Guerra Mundial, contando com o apoio da Federação das Associações Comerciais e da Confederação Nacional da Indústria.

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Ressalta-se que neste período, o Brasil é assolado por um governo ditatorial, como enfatiza Abreu e Lopes (2007) acerca do Plano Básico de Ação do Serviço Social (1978) na Previdência, no âmbito do INPS, expressa o projeto modernizador do Serviço Social cujos fundamentos de sua constituição avançam no Brasil na primeira fase de institucionalização do Estado de Segurança Nacional. Análise feita por Neves; Silva (2007, p. 95) acerca desta instrumentalidade no período referenciado acima, mostra que “até 1994, destacam-se três importantes documentos- parâmetros de ação profissional do assistente social na Previdência: os Planos Básicos de Ação, de 1972 e 1978 e a Matriz Teórico-Metodológica do Serviço Social na Previdência Social, de 1994”. Faleiros (2007, p. 77) explicita que o PBA se situa em uma confluência de um modelo de proteção social embasado no assalariamento, num Estado autoritário e tecnocrático, mas cuja política começava a mostrar profundas rachaduras. O autor destaca ainda, sobre o papel do Serviço Social na previdência, expresso na Consolidação das Leis da Previdência Social (Decreto nº 77.077/1976):

Em seu art. 71º: a assistência complementar compreenderá ação junto aos beneficiários, quer individualmente quer em grupo, por meio de técnica do serviço social, visando a melhoria de suas condições de vida. Continua: a assistência complementar será prestada diretamente ou mediante convênio com entidades especializadas. O art. 72 trata da assistência reeducativa e de readaptação profissional, que também poderá ser prestada pela Associação Beneficente de Reabilitação por instituições congêneres.

O Assistente Social nesse contexto desempenha, fundamentalmente, um papel educativo, ouvindo as queixas, esclarecendo e reconfortando o associado. O Assistente Social deveria estar junto aos departamentos médicos, hospitais, ambulatórios, atuando sobre os aspectos sociais e morais da doença, na educação social quanto aos princípios básicos de higiene e puericultura e, principalmente, na readaptação à vida familiar e reintegração a produção (IAMAMOTO e CARVALHO, 2006). O caráter técnico-operativo contido nestas atribuições demonstra traços de conservadorismo e, também, de atualidade, uma vez que diversas demandas contempladas neste período continuam fazendo parte do cotidiano de trabalho de Assistentes Sociais que atuam na política previdenciária, inclusive nos Regimes Próprios de Previdência Social municipais pesquisados. O Serviço Social também atua junto a assistência médica, em sua contribuição para abreviar a readaptação e reintegração dos trabalhadores ao trabalho. Junto ao setor de pensões

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e aposentadorias, tendo por finalidade, também, prolongar a permanência em algum tipo de trabalho remunerado que possa complementar o montante irrisório das pensões (SIMÕES, 2012). Percebe-se, desde este recorte histórico, o quanto a profissão já se afinava com os processos de acompanhamento e concessão de benefícios previdenciários, atribuição que até os dias atuais é desempenhada, como será visto posteriormente na realidade de Assistentes Sociais que trabalham em RPPS de municípios do Rio Grande do Norte. Como aponta Yazbek (2008, p.120):

Trata-se de um contexto em que o Estado busca legitimar-se incorporando, parte das reivindicações dos trabalhadores, e o Serviço Social rompe com o estreito quadro de sua origem para se tornar uma atividade institucionalizada e legitimada pelo Estado, ampliando seu processo de profissionalização junto a setores do proletariado, pela mediação de políticas sociais e assistências.

Estas releituras permitem identificar elementos tradicionais e contemporâneos que se mesclam no trabalho dos assistentes sociais. Frentes de atuação na assistência médica ou setor de perícia médica, como também, junto ao setor de benefícios e readaptação profissional já eram vivenciadas por Assistentes Sociais nos primeiros passos da política de previdência e muitas permanecem e/ou se alargaram na atualidade, com as novas configurações da política previdenciária e novos espaços sócio-ocupacionais. O que se constata, nesse sentido, é que as instituições previdenciárias, desde a década de 1940, demonstram a necessidade de um funcionário especializado para o trato direto com os usuários. Chegam a desenvolver, dentro do seu próprio quadro funcional, a figura do “informante-habilitador”, para a qual procuram selecionar pessoas “especialmente dotadas” a partir de suas qualidades humanas e o conhecimento de legislação (IAMAMOTO e CARVALHO, 2006). Para uma melhor compreensão da configuração do Serviço Social na política previdenciária, o trabalho tecerá uma trajetória pela história desta profissão na Previdência Social, considerando, especialmente, as experiências a partir de 1970, quando já se instaurava no seio da profissão a necessidade de reinvenção, superação do conservadorismo e sua importância no processo de acesso aos direitos, tanto nos marcos legais, com dispositivos normativos, como também nos movimentos da categoria e nos espaços de atuação profissional. Vale relembrar aqui, conforme destaca Neves e Silva (2007) que após a implantação do SINPAS (1977) o Serviço Social passou a integrar a estrutura da Secretaria de Serviços

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Previdenciários, juntamente com a Perícia Médica e a Reabilitação Profissional. Complementando a análise as autoras acrescentam:

Com a reorganização institucional, o trabalho do assistente social passou a ser exercido junto às agências, postos de benefícios e grupamentos médico-periciais, cujas estruturas organizacionais não previam essa atividade profissional. Assim distribuídos, os assistentes sociais passaram ainda a responder administrativamente às chefias daquelas unidades, foco constante de tensionamento e divergências quanto as suas atribuições e competências (NEVES e SILVA, 2007, p. 99).

Esta nova configuração do trabalho do Assistente Social em diferentes frentes de atuação na Previdência Social trouxe à tona diversos desafios, mas também maior afirmação e legitimidade desses profissionais. Conforme rememora Barroco (2004, p. 28), a crise da ditadura brasileira, no final da década de 1970 e as lutas democráticas, a reorganização política da classe trabalhadora e movimentos populares, partidos, sindicatos, em 1980, foram base para a intensificação da oposição ao conservadorismo profissional. Este solo apresentou-se fértil para o Movimento de Reconceituação da Profissão, marco da renovação ético-política da categoria e do fortalecimento do novo projeto profissional. No Brasil, no final da década de 1970, houve uma revitalização do sindicalismo40, o que incentivou o processo de organização da categoria. Segundo Duriguetto e Marro (2016, p. 101) “é a partir dos anos de 1970 e no decorrer da década de 1980 que, no cenário nacional, a relação do Serviço Social com as organizações, movimentos e projetos societários dos trabalhadores se substantiva de forma mais orgânica”. Complementa o pensamento Raichelis (2018, p. 27) ao analisar que “o Serviço Social mobiliza esforços teóricos e políticos para conferir maior legitimidade social à sua intervenção junto aos sujeitos do trabalho profissional, aliando-se ao movimento de ampliação dos direitos dos grupos e classes subalternas”. Estes acontecimentos foram cruciais no desenrolar do III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, conhecido como Congresso da Virada (1979), marco do projeto de ruptura com a prática conservadora. (BARROCO, 2004). Este Congresso, que em 2019 completou exatos 40 anos, marca a construção de um novo projeto profissional. Imersa na análise deste processo, Ramos (2009, p.42) acrescenta que neste se apresentavam:

40 Este período é marcado pela presença de movimento populares e sindicais urbanos e rurais, setores progressistas da igreja vinculados à teologia da libertação e organizações político-partidárias revolucionárias. Deságua, posteriormente, na criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em 1983 e, no campo partidário, destaca- se a criação do Partido dos Trabalhadores, em 1980 (SILVA, 2016).

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Condições objetivas favoráveis, pois outros sujeitos coletivos estavam na luta por democracia e tensionavam e inspiravam vários profissionais e estudantes. Ou seja, nas contradições de um período nefasto, como a ditadura, encontramos o solo para descobrir, elaborar e aglutinar anseios coletivos para uma nova fase de apreender a sociedade e a profissão.

Na aliança entre este momento ímpar para a categoria de Assistentes Sociais e a política previdenciária, Duriguetto e Marro (2016, p. 85) destaca “no seio do movimento de renovação do Serviço Social brasileiro, no final dos anos 1970, o Serviço Social da previdência também procurou renovar-se”. A maturidade teórica do projeto ético-político profissional, com destaque para a produção teórica, a capacidade crítica e a interlocução respeitosa com outras áreas do conhecimento, o desenvolvimento de cursos de pós-graduação e de pesquisa em Serviço Social, são notórios nos anos 1980. Barroco (2004) destaca ainda o compromisso com a classe trabalhadora como valor ético político central da categoria. Neste momento, a organização dos sujeitos coletivos e suas reivindicações na defesa dos direitos se faz premente e, no caso do Serviço Social, exige-se um posicionamento profissional consonante com a afirmação dos direitos sociais como fundamentais à efetividade da cidadania (MTMSS, BRASIL, 1994). Com o processo de reconceituação a profissão passou a incorporar o referencial marxista, o qual possibilita a construção de um perfil profissional crítico, pautado no compromisso com os setores populares, objetivando a transformação social, numa perspectiva de emancipação humana. No tocante ao amadurecimento teórico do Serviço Social, no campo da ética, conforme destaca Barroco (2004), desenvolve-se a partir dos anos de 1990, sob o solo da vertente marxista, que consegue abarcar a dimensão histórica das expressões da questão social, os conflitos existentes e as implicações destes na prática profissional. Neste sentido, Ramos (2008, p. 6) explica que “a ruptura teórica e política com o conservadorismo e o tradicionalismo e as demandas sociais colocadas à profissão engendraram a reconstrução das bases ético-normativas e jurídico-legais profissionais”. Nas décadas de 1980 e 1990, evidencia-se a expressão de novas práticas profissionais, no empenho dos Assistentes Sociais aproximarem-se das fontes de conhecimento da Universidade, participando de cursos de pós-graduação e congressos. Tecendo um paralelo deste tempo histórico com os RPPS, espaços sócio-ocupacionais trabalhados nesta pesquisa, vale ressaltar que estes ganham maior ênfase em 1998, quando

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regulamentados na Constituição de 1988, passando a compor a política previdenciária no Brasil e, consequentemente, podendo ser reconhecido como um terreno fértil para o trabalho do Assistente Social. Durante o Governo Collor (1990-1992), são instituídas propostas de modernização administrativa do INSS, por meio do Modelo Conceitual de Benefícios e Serviços Previdenciários, denominado Projeto 24, o qual incluía as linhas de ação dos Benefícios, Perícia Médica, Reabilitação Profissional e Serviço Social (Neves e Silva, 2007). Neste documento, o Serviço Social teve sua competência definida pela Lei nº 8213, que Regulamenta o Plano de Benefícios e Custeio da Previdência, de 1991, artigo 88, que especificou a profissão no campo do esclarecimento dos direitos sociais e meios de exercê-los. Demarca neste contexto histórico, permeado de tensões, a busca coletiva dos Assistentes Sociais em realizarem uma análise crítica da real situação do Serviço Social, discutindo possibilidades (BRASIL, 1995). O Serviço Social redefine-se e legitima-se na ótica do interesse do usuário, com o objetivo de viabilizar o acesso aos serviços e benefícios previdenciários e garantir as demandas e reivindicações da população, bem como, contribuir para a formação de uma consciência coletiva de proteção ao trabalho no âmbito da Previdência Pública. Considera-se que o referido art. 88 permanece como referência para o exercício profissional do Assistente Social na política de previdência pública, seja ela no RGPS ou no RPPS, pois o esclarecimento aos direitos sociais e o atendimento às necessidades dos usuários fazem parte das atribuições consubstanciadas também na Lei de Regulamentação da Profissão (Lei nº 8662/1993) e no Código de Ética (1993). É vivo na aludida Lei, que a ação prioritária do Serviço Social está voltada a assegurar o direito, quer pelo acesso aos benefícios e serviços previdenciários, quer na contribuição para a formação de uma consciência de proteção social ao trabalho com a responsabilidade do Poder Público. De acordo com Silva (2016) ao longo da década de 1980, ocorre uma alteração na condução política do, então, conjunto Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e Conselho Regional de Assistentes Sociais (CRAS), que passa a ser denominado Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e Conselho Regional de Serviço Social (CRESS). Estes, ao lado da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) e do movimento estudantil foram cruciais para a elaboração e aprovação do novo Código de Ética e da nova Lei de Regulamentação da Profissão, ambos em 1993, que arraigaram um perfil profissional mais crítico e comprometido com os interesses da classe trabalhadora.

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Imprescindível destacar os Princípios Fundamentais do Código de Ética (1993), os quais deixam evidente a relação entre o projeto profissional com o projeto social almejado pela categoria.

I. Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; II. Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo; III. Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras; IV. Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida; V. Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática; VI. Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças; VII. Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento intelectual; VIII. Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação, exploração de classe, etnia e gênero; IX. Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos/as trabalhadores/as; X. Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;

Estes princípios possibilitam analisar a ética como pressuposto teórico-político capaz de avigorar o enfrentamento das contradições postas à profissão, a partir de uma visão crítica e pautada teoricamente, das derivações ético-políticas do agir profissional. Ainda sobre estas normativas valorosas para a qualidade da formação profissional é válido referenciar as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Serviço Social (1996), que reconhecem o perfil do Assistente Social como “Profissional que atua nas expressões da questão social, formulando e implementando propostas para seu enfrentamento, por meio de políticas sociais públicas, empresariais, de organizações da sociedade civil e movimentos sociais”. Estas Diretrizes trazem, entre as competências e habilidades a serem viabilizadas, a “capacitação teórico-metodológica e ético-política, como requisito fundamental para o exercício de atividades técnico-operativas, com vistas à apreensão crítica dos processos sociais numa perspectiva de totalidade”.

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Todos estes processos de lutas e conquistas são relevantes para desvelar a prática de hoje, os desafios iminentes e as possibilidades que pairam, considerando as condições concretas, objetivas e subjetivas de trabalho na Previdência, afunilando para a Previdência de Servidores Públicos de Municípios do RN. Todos estes acontecimentos, segundo Neves e Silva (2007) representaram a arrancada para fazer avançar e socializar a crítica à prática exercida até então. Isto culminou, mais à frente, com a Matriz Teórico-Metodológica do Serviço Social (MTMSS) datada de 1994 e publicada pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). Este documento é uma referência na busca por novos balizamentos e direcionamento do trabalho do Serviço Social na Previdência Social (YAZBEK, 2008). Cronologicamente é relevante esclarecer, como nos lembra Neves e Silva (2007, p. 108) que: Com a definição de uma nova competência para o Serviço Social no INSS e as reflexões e encaminhamentos acumulados com a elaboração do Projeto/24, desqualificou-se o PBA/78 enquanto balizador da prática do assistente social na Instituição. Em 1992, o PBA/78 é suprimido, com as ações profissionais sendo pautadas em outro dispositivo normativo.

É neste cenário que ganha força a MTMSS, como estratégia para a qualificação e definição da direção política da categoria. De acordo com Moreira e Severiano (2018) a Matriz valorizou a concepção de Seguridade Social garantida no Título VIII da Constituição Federal de 1988, que prevê um modelo de Previdência público, universal, descentralizado e democrático, associado ao conjunto integrado de ações relativas à saúde e assistência social. O pioneirismo de algumas profissionais inseridas na produção de conhecimentos da academia, bem como militantes, fez tomar forma a Matriz Teórico-Metodológica do Serviço Social na Previdência Social (MTMSS), em 1994, adotando a concepção de política pública e controle social por parte dos trabalhadores. Neste sentido, Rozendo (2009) afirma que a proposta defendida insere os Assistentes Sociais, no movimento efervescente vivenciado pela profissão desde a década de 1970, buscando alicerçar o fazer profissional aos pilares fundamentais do Código de Ética de 1993, bem como na intrínseca relação deste novo trabalho com o Projeto Ético-Político. A referida Matriz, publicada pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) revela uma opção explícita e fundamentada pelos princípios democráticos, que buscam recuperar e resgatar o exercício da cidadania e do direito, reafirmando a busca por novos balizamentos e direcionamento do Serviço Social. Conforme expresso no referido documento:

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os assistentes sociais do Instituto Nacional do Seguro Social-INSS, constituindo-se como sujeitos históricos repensam sua prática e a reconstroem, contribuindo para garantir um novo estatuto de cidadania da população usuária, ao posicionar-se não como meras peças burocráticas da Instituição, mas construtores de uma proposta histórica (BRASIL, 1995, p. 6).

Em total sintonia com os princípios do Código de Ética Profissional, a MTMSS afirma o seu caráter público, de real universalidade, descentralizado, democrático, redistributivo da Previdência Social, capaz de garantir a manutenção digna do trabalhador e de sua família, sob o controle dos usuários (BRASIL, 1995). Neste sentido, a Matriz Teórico-Metodológica do Serviço Social na Previdência Social, veio postular e enraizar, no trabalho do Assistente Social, o direcionamento com o Projeto Ético-Político, sendo alicerçada sobre suas bases uma concepção de política social pública de proteção e de direitos sociais (ROZENDO, 2009). As Estratégias do Serviço Social na Previdência são encaradas como um conjunto de diretrizes fundamentais para viabilizar a realização desta Matriz. Entre elas pode-se destacar: - Capacitar permanentemente o profissional de Serviço Social; - Buscar a participação em cursos promovidos pelas universidades, órgãos da categoria e fóruns técnicos específicos; - Conhecer as condições objetivas e cotidianas da população usuária, identificando suas demandas com vistas a implantação das ações do Serviço Social; - Conhecer as demandas e reivindicações previdenciárias dos movimentos populares organizados através da aproximação com os mesmos; - Conhecer os mecanismos da instituição compreendendo legislação, normas e rotinas previdenciárias; - Estabelecer programas e projetos estaduais com base na realidade regional a fim de definir as prioridades de ação profissional; - Articular junto aos setores institucionais e aos movimentos sociais organizados da sociedade, através da identificação de alianças e estabelecimento de relações que possibilitem a construção de objetivos estratégicos (BRASIL, 1994). Analisar, refletir e levar em consideração estas estratégias do Serviço Social na Previdência em outros espaços que também compõem esta política, tais como, os RPPS de Municípios, apresenta-se como fato inquestionável, resguardando as devidas particularidades do Regime Geral de Previdência Social e dos Regimes Próprios. Tais estratégias são compreendidas como norteadoras para um exercício profissional que prime pela qualidade no serviço público, pela democratização de informações e acesso aos benefícios e serviços.

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Além das Estratégias supracitadas, a Matriz traz as Ações Profissionais que materializam, por meio de instrumentos e técnicas, calcados nas proposições teórico- metodológicas e éticas, o fazer profissional dos Assistentes Sociais na Previdência. Compreendem as Ações Profissionais: - A Socialização das Informações Previdenciárias que, como trabalho específico do Serviço Social, ultrapassa a mera orientação previdenciária, é uma informação de qualidade diferenciada, de caráter democrático e político, respaldada na ótica do direito social e da proteção ao trabalho; particulariza os sujeitos individuais e coletivos considerando a totalidade; estabelece-se numa relação horizontal - saber do Assistente Social e o saber do usuário, expresso em suas demandas e reivindicações; e exige a construção de espaço de discussão, debate, análise e proposições que possibilitem reflexão e critica (BRASIL, 1994). Assim como as estratégias de ação, as ações profissionais sinalizam para Assistentes Sociais que atuam em RPPS o percurso para se desenvolver um trabalho calcado em valores democráticos, que reconheça as especificidades dos sujeitos e primem pela proteção social. Sob estes alicerces, moveu-se, hegemonicamente, o Serviço Social na Previdência, até meados dos anos 2000, não esquecendo das diversas tentativas de extinção da profissão nesta política pública. O Serviço Social na Previdência sofreu tentativas de extinção, em 1998, em meio à contrarreforma e os desmontes advindos com a EC nº 20, o Art. 22, da Medida Provisória nº 1729/1998, a qual suprimia o art. 88, da Lei nº 8213. A mobilização nacional da categoria, contando com o apoio de diversas entidades de trabalhadores41 e do CFESS impediu a concretização desta medida. Outra armadilha posta à categoria impetrou-se por meio do Decreto nº 3081/1999, que aprovou a nova estrutura do INSS, a qual rebaixava o Serviço Social à uma atividade, quando na Lei nº 8213, permanecia como serviço e o retirava de vários cargos de chefia. Esta, também demandou intensa mobilização de profissionais de diferentes espaços políticos, do CFESS42 e dos trabalhadores brasileiros. Após uma série de Reuniões, Encontros e Seminários promovidos pelo CFESS/CRESS, no sentido de mobilizar a categoria diante dos sucessivos desmontes e garantir a permanência do Serviço Social no INSS. Pode-se afirmar que a organização da categoria conseguiu provocar

41 De acordo com SILVA citada pelo CFESS (2015, p. 89), em apenas dois dias, mais de 220 organizações da sociedade manifestaram-se contrárias à medida, entre elas: a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Seguridade Social (CNTSS), a Federação Nacional de Sindicatos dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (FENASPS), a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (FETAG), a Confederação Nacional de Aposentados e Pensionistas, entre outras. 42 O Conselho impetrou uma Ação Cível Pública, junto ao Supremo Tribunal Federal, 2000, afirmando a ilegalidade das medidas de exclusão administrativa do Serviço Social, sustentando argumento de violação dos direitos dos usuários (CARTAXO e CABRAL, 2007).

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uma série de movimentos sociais e organizações dos trabalhadores em defesa do Serviço Social o que concretizou não somente a permanência, mas, em especial, a ampliação da profissão na política previdenciária. Os Assistentes Sociais prosseguiram na luta em defesa do Serviço Social na Previdência, bem como na defesa desta como política pública, sob as diretrizes da MTMSS para garantir o que preconiza o art. 88 da Lei 8.213/1991:

Compete ao Serviço Social esclarecer junto aos beneficiários seus direitos sociais e os meios de exercê-los e estabelecer conjuntamente com eles o processo de solução dos problemas que emergirem da sua relação com a Previdência Social, tanto no âmbito interno da Instituição como na dinâmica da sociedade (Artigo 88 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991).

Conforme ressalta Cartaxo e Cabral (2007, p. 159), a Matriz “permitiu dar um outro Norte ao Serviço Social da Previdência. Sua emergência deu-se em um contexto de tensão entre o tradicional e o novo no interior da categoria”. É importante destacar, como afirma Moreira e Severiano (2018) que para analisar o trabalho do Serviço Social na Previdência é preciso compreender as particularidades da conjuntura brasileira e da Seguridade Social, decifrar os desafios, as demandas específicas, os processos sociais que se apresentam no cotidiano e que revelam ou negam o direcionamento ético-político e técnico que impulsiona a luta da categoria. No campo profissional mais amplo, registra-se, como já citado, a Lei Nº 8662/1993, que dispõe sobre o exercício profissional, suas competências, suas atribuições privativas e os fóruns que objetivam disciplinar e defender o exercício da profissão, bem como, o Código de Ética (1993) pela resolução do CFESS Nº 273/93 que define para o Assistente Social seus princípios éticos fundamentais, também apresentando deveres e impedimentos ético-legais do trabalho cotidiano. Segundo o CFESS (2015, p. 87):

Pode-se dizer que, sustentado pela busca de um “novo pensar e um novo fazer profissional”, na segunda metade da década de 1990, ainda que na contramão da forte onda neoliberal que marcou aquela década, o Serviço Social da previdência social assume, de forma generalizada, uma perspectiva crítica, baseada em valores éticos e compromissos políticos que sustentam o projeto ético-político do Serviço Social brasileiro.

Como sabiamente relembra Silva (2015) o período de 1995 a 1999 foi de desafios para a implantação da MTMSS, uma vez que o capitalismo, por meio de suas estratégias de reestruturação produtiva, financeirização do capital, acarreta, entre outros problemas, a regressividade de direitos, privatização de estatais e desmantelamento dos serviços públicos. Inúmeras foram as tentativas de abalo e até extinção do Serviço Social neste campo, sendo

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necessário garantir a mobilização, articulação e resistência da categoria para o porvir. Como bem recorda Silva (2015):

Ao final da década de 1990, no ápice da mais agressiva contrarreforma da previdência social, em que vários direitos dos trabalhadores foram retirados da Constituição Federal pela EC nº 20, aconteceu a mais grave delas: o artigo 22 da Medida Provisória (MP) nº 1729, 3 dez 1998, suprimia o artigo 88 da Lei 8213/1991, que dispõe sobre o Serviço Social. Porém a mobilização da categoria (...) impediu a concretização desta extinção.

Observação relevante é feita por Neves e Silva (2007) no tocante à afirmação da profissão na Previdência Social, expondo que este processo teve o seu ápice com a afirmação do Documento-Matriz e apresentou sinais de esgotamento ainda na década de 1990, em face das dificuldades e limites socioinstitucionais postos a necessidade de ampliação dessa experiência. Nesse contexto regressivo, marcado pelo neoliberalismo, o Serviço Social na Previdência permanece com a atuação voltada para a garantia de direitos da classe trabalhadora. De acordo com Silva (2015, p. 83), o Serviço Social na Previdência:

Nos últimos 20 anos, as ações, projetos e atividades desenvolvidas por esse serviço voltaram-se, fundamentalmente, para assegurar o direito, seja por meio do acesso aos benefícios administrados e serviços ofertados pela previdência social ou pela contribuição para a formação de uma consciência cidadã de proteção social ao trabalho, que desperte, nos indivíduos, sindicatos, entidades de classes e movimentos sociais, o interesse de participar da implementação da política de previdência social como uma política de seguridade social.

O trabalho do Assistente Social passou a ser materializado com estratégias que se destacavam por viabilização de demandas dos trabalhadores rurais, de acesso aos direitos previdenciários; saúde do trabalhador; projetos voltados aos contribuintes individuais e participação na implementação de Benefício de Prestação Continuada (BPC). Entretanto, em meio às conjunturas adversas, as contrarreformas foram sendo impostas, não sem resistência, mas conseguiram recuar em vários aspectos os direitos sociais. Ao analisar o desmonte vigente nas políticas públicas, com ênfase na Previdência Social, Boschetti (2007) afirma:

O primeiro caminho do desmonte é o da desconfiguração dos direitos previstos constitucionalmente. Estes não foram nem uniformizados e nem universalizados. As contrarreformas da previdência de 1998, 2002 e 2003, sendo as duas primeiras no governo Fernando Henrique Cardoso e a outra no governo Lula, restringiram direitos, reforçaram a lógica do seguro, reduziram o valor de benefícios, abriram caminho para a privatização e expansão de planos privados (BOSCHETTI, 2007, p. 87).

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No desenrolar dos anos 2000 percebe-se uma tendência de a Previdência Social assumir, cada vez mais, características de um seguro social, distante dos objetivos da seguridade social, que favoreça o capital em detrimento da proteção ao trabalho (SILVA, 2018). A falseada ideia de déficit da previdência vem sendo usada como bandeira para justificar as contrarreformas. Percebendo a gravidade deste cenário e na constante tentativa de demonstrar que o Serviço Social na Previdência se fundamenta na concepção de Seguridade Social, a Carta de Maceió43 traz válidas diretrizes e reflexões sobre isto, mostra o compromisso do Serviço Social brasileiro com a defesa da seguridade social pública, gratuita e universal (CFESS, 2018). Como expõe Antunes (2018, p.370):

O Serviço Social no INSS fundamenta-se na concepção de seguridade social das diretrizes da Carta de Maceió (CFESS, 2000), entendida como proteção social mais ampla e de qualidade, advinda da articulação das políticas de previdência social, saúde, assistência social, educação, habitação e outras políticas setoriais e pela luta em favor da universalização do acesso a bens e serviços socialmente produzidos pela classe trabalhadora.

Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e parte do Governo Lula, o Serviço Social do INSS passou fortemente por um processo de desorganização e tentativa de desmantelamento, com reflexo negativo inclusive no quantitativo de assistentes sociais no INSS, que decresceu consideravelmente e, em contrapartida, houve o acúmulo de função na Reabilitação Profissional e Recursos Humanos (CFESS, 2018). É válido citar que em 2007, cria-se um Grupo de Trabalho, por meio da Portaria nº 1, de 28 de março de 2007, com representantes do Serviço Social de todo o país e que realizou importantes feitos, dos quais será dada ênfase à elaboração do Manual Técnico do Serviço Social. O Grupo composto por representantes do Ministério da Previdência Social (MPS), Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), INSS e do CFESS, trouxe relevantes contribuições referentes às atribuições e competências dos Assistentes Sociais e do Serviço Social no âmbito da Previdência Social. Em 2009, voltou-se a investir na reposição de profissionais e novas contratações de Assistentes Sociais ocorrem na Previdência, mediante concurso público.

Após concurso público, voltou-se a investir na reposição do quadro de assistentes sociais no INSS e, segundo Jorge Og Vasconcelos , em 2015, o INSS contava com 1404 assistentes sociais no INSS, sendo que, desses, 762 atuavam exclusivamente no Seso/INSS e 642 dividiam sua jornada de trabalho com Seso/INSS e outros setores institucionais, como Reabilitação Profissional, Serviço Integrado de Atenção à Saúde

43 Documento/posicionamento escrito em 2000, com um forte caráter programático e estratégico, no qual afirmávamos que a seguridade social pública é possível no Brasil, inspiradas/os no mote do Fórum Social Mundial: um outro mundo é possível (CFESS, 2018).

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do Servidor (SIASS), Saúde e qualidade de vida e trabalho (SQVT) e Programa de Educação Previdenciária (PEP) (CFESS, 2018).

É necessário realçar o papel do Programa de Educação Previdenciária44 (PEP) na disseminação e socialização de informações previdenciárias pelos Assistentes Sociais no INSS junto à população. Este Programa traz em sua essência a potencialidade de incluir e esclarecer aos cidadãos, por meio de ações educacionais com o propósito de informar acerca dos direitos e deveres, fomentando a proteção social. Ressalta-se que a constituição de parcerias com instituições da sociedade civil (sindicatos, associações de classe, cooperativas, entidades educacionais, ONG’s, entre outras) é imprescindível para que o PEP obtenha melhores resultados. Ainda de acordo com o CFESS (2018) com a alteração na legislação do BPC, incluindo a avaliação social da pessoa com deficiência, parte do corpo técnico do Serviço Social no INSS foi reposto. Neste ano, segundo Silva (2015, p. 91) “o Serviço Social da Previdência Social reuniu condições para rearticular-se e expandir o seu alcance social”. Construído em 2011, o Manual Técnico do Serviço Social adveio em um momento de reestruturação do quadro de Assistentes Sociais no INSS, considerando a participação na avaliação do BPC. Este Manual foi fundamentado na MTMSS e apresentou uma metodologia interventiva, com três ações prioritárias: a socialização das informações previdenciárias e assistenciais em atendimentos individuais e coletivos; o fortalecimento do coletivo; e a ação de consultoria/assessoria (SEVERIANO e MOREIRA, 2018). O referido Manual concluído em 2012 possui uma metodologia dividida em Linhas de Ação, define as ações profissionais a serem desenvolvidas e estabelece os procedimentos técnicos necessários à sua realização, nos diferentes espaços institucionais existentes na Previdência Social. Este documento traz a definição das ações, das rotinas de trabalho, dos instrumentos e procedimentos técnicos utilizados pelo assistente social do INSS, tendo como objetivo possibilitar uma atuação qualificada e a compreensão abrangente sobre o exercício profissional (BRASIL, 2012). O III Princípio do Código de Ética Profissional do Serviço Social versa sobre a ampliação e consolidação da cidadania, como tarefa primordial de toda sociedade, com vistas

44 Registra-se que, em 2004/2005, o Projeto de Intervenção, no Estágio Supervisionado vivenciado no INSS/Gerência Mossoró, pela Pesquisadora e seu grupo de estágio na época, foi acerca do PEP, tendo como tema “A Educação Previdenciária como Potencializadora da Inclusão Social” e como objetivo: Desenvolver ações de cunho educativo e informativo (objetivos do PEP), capazes de divulgar e ampliar os conhecimentos acerca da Previdência Social e de como se efetiva a Assistência Social no âmbito previdenciário na APS/GEX-MOS, pautando-se no princípio da inclusão social para todos aqueles que se encontram à margem da sociedade (trabalhadores de baixa renda, deficientes, idosos).

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à garantia dos direitos civis sociais e políticos da classe trabalhadora. Neste sentido, Mészáros (1993) reconhece que enquanto estivermos neste modelo que não reconhecer o livre desenvolvimento das individualidades, a realização dos direitos humanos é uma questão de alta relevância. Ressalta-se que, assim como a Matriz, o Manual Técnico do Serviço Social preconiza que as atividades profissionais realizadas pelos assistentes sociais favorecem o acesso aos direitos sociais. É preciso ampliar a referência desses documentos no processo de trabalho, construindo conhecimento sobre política social, seguridade social, previdência social, direito e benefício social e o fortalecimento do coletivo (CFESS, 2018). O Código de Ética Profissional prima pelo compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, um desafio posto à categoria considerando que às condições concretas para o trabalho profissional estão cada vez mais tensionadas pela ampliação de serviços e de demandas, mas sem a correspondente designação de recursos materiais, financeiros e humanos necessários à manutenção da qualidade do que é prestado à população usuária. Isso impacta nas condições para o exercício profissional, pois as instituições sociais são mediações fundamentais para a participação do Serviço Social no atendimento das demandas incorporadas pelas políticas sociais (CFESS, 2012). É válido sublinhar que as ações e atendimentos técnicos do Serviço Social são realizados nas Agências da Previdência Social, no âmbito externo da Instituição e nos organismos da sociedade civil e entidades públicas e privadas. Assim, o Manual Técnico contempla uma série de normativas que especificam as atribuições do Assistente Social em cada uma destas frentes e em diferentes cargos e funções: Coordenação-Geral de Serviços Previdenciários e Assistenciais, Divisão do Serviço Social, além de detalhar as atribuições de Assistente Social e Analista do Seguro Social com formação em Serviço Social no INSS, do Representante Técnico do Serviço Social na Superintendência Regional, Responsável Técnico do Serviço Social na Gerência Executiva. O referido Manual também rememora as ações profissionais já especificadas na MTMSS, ressaltando a sua interligação e o objetivo de proporcionar a elaboração de propostas de mudanças quando a realidade exigir, tendo como referência as demandas sociais dirigidas ao INSS, as demandas institucionais. De acordo com o Manual Técnico do Serviço Social, a intervenção profissional é definida nacionalmente por meio das Linhas de Ação que são formuladas a partir das principais demandas postas ao Serviço Social, em conformidade com a missão e os objetivos estratégicos do plano de ação institucional. Estas linhas são concretizadas por meio de planos, programas e

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projetos a serem desenvolvidos no âmbito das Superintendências Regionais, Gerências Executivas e Agências da Previdência Social (BRASIL, 2012). Este documento, em conjunto com a Matriz refletem um arcabouço teórico, ético, metodológico e técnico que possibilita aos Assistentes Sociais atuarem em diferentes frentes na Previdência Social e, como já exposto, são indispensáveis no direcionamento do trabalho de Assistentes Sociais em RPPS, as quais, inclusive podem se basear nestes documentos para construir suas próprias estratégias de ação, atribuições e competências alinhadas às demandas do RPPS específico. Destarte, somando-se à MTMSS (BRASIL, 1994), o Manual Técnico do Serviço Social (BRASIL, 2012) e os instrumentos técnico operativos dos Assistentes Sociais na luta para garantir direitos, as 03 principais Linhas de Ação são: “Ampliação e consolidação do acesso à previdência social, Segurança e saúde do trabalhador e Direitos da pessoa com deficiência e das pessoas idosas” (CFESS, 2018). Detalhando melhor essas Linhas de Ação: - Ampliação e consolidação do acesso à previdência social (incluindo categorias profissionais e ocupacionais, segmentos de trabalhadores e grupos sociais com dificuldades de obtenção dos benefícios e serviços ofertados pela Previdência Social); - Segurança e saúde do trabalhador (busca contribuir para o aperfeiçoamento do processo de reconhecimento do direito aos benefícios por incapacidade e favorecer a prevenção, promoção e proteção da saúde e segurança do trabalhador); - Direitos das pessoas com deficiência e das pessoas idosas (contribui para o fortalecimento desses segmentos populacionais no âmbito da política de Seguridade Social) (BRASIL, 2012). É crucial destacar que a MTMSS e o Manual Técnico são verdadeiras bússolas ao exercício do Assistente Social no INSS, como também, são capazes de respaldar o trabalho nos RPPS. Outras políticas, tais como: Assistência Social possui os Parâmetros de Atuação de Assistentes Sociais na Política de Assistência Social (2011); política de Saúde, Parâmetros de Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde (2010); política de Educação, há Subsídios para a atuação de assistentes sociais na política de educação (2012). Na política de Previdência Social, tanto a Matriz Teórico-Metodológica do Serviço Social na Previdência Social quanto o Manual Técnico do Serviço Social contemplam uma gama de atribuições e competências, linhas de atuação fruto da experiência de Assistentes Sociais que corroboraram com o fazer profissional neste espaço sócio-ocupacional.

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Destarte, mesmo contento peculiaridades postas ao trabalho no INSS, os documentos trazem imensuráveis contribuições para Assistentes Sociais que atuam na seara dos RPPS, em Institutos de Previdência Estaduais ou Municipais. Esta pesquisa prima por contribuir para a análise da atuação profissional em Regimes Próprios de Previdência Sociais Municipais do Rio Grande do Norte, que possuem profissionais do Serviço Social em seus quadros, e reconhece que os documentos citados são essenciais em todos os espaços sócio-ocupacionais que se inserem estes profissionais na política de previdência pública. Sobre o desafio constante de efetivar os direitos, Coutinho (1997, p. 156) alerta que “se coloca como tarefa fundamental no que se refere aos direitos sociais não é, muitas vezes, o simples reconhecimento legal-positivo dos mesmos, mas a luta para torná-los efetivos”. É justamente nesta luta, árdua, contínua, que o Serviço Social na Previdência Social tenta consolidar seu compromisso, suas atribuições, enfrentando fortes tentativas de interrupção, mas se mantendo atento às alternativas de resistência. O CFESS (2018) sintetiza o período de 2010 a 2015, ressaltando que a direção política e ideológica das representações técnica foi esvaziada de maneira autoritária e a Direção Nacional do Serviço Social no INSS passou a reproduzir a mensagem de um trabalho profissional burocrático e tarefeiro, destinando-se mais ao controle informacional e operacional do trabalho profissional. Em cenário mais contemporâneo, após o golpe de 2016, Moreira e Severiano (2018) reafirmam que se assevera um projeto que prioriza a redução de custos com a força de trabalho e com o redirecionamento dos recursos do fundo público para atender às demandas do grande capital. Neste palco, há um delineamento novo do caráter interventivo do Estado brasileiro, marcado, ainda mais fortemente, pela “minimização estatal em relação ao patamar de proteção social e de efetivação de direitos”. Em meio a estes antagonismos, Moreira e Severiano (2018) chamam atenção para o impacto que esta conjuntura acarreta nos espaços sócio-ocupacionais, em meio ao novo delineamento do caráter interventivo do Estado brasileiro, marcado pela minimização em relação ao patamar de proteção social e de efetivação de direitos. Neste sentido, corrobora Rozendo (2018)

na atualidade, é prática corrente as privatizações dos serviços públicos, altamente atrativos aos capitalistas, bem como os serviços sociais, sobre a premissa de incapacidade do Estado em geri-los. Nota-se, assim, uma grande dualidade na sociedade, entre os que podem pagar os serviços de melhor qualidade e àqueles que ficam à mercê da restrita acessibilidade as políticas sociais.

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O Serviço Social do INSS é um serviço previdenciário e direito do trabalhador brasileiro, sua extinção neste espaço prejudicaria, não apenas a categoria profissional, mas, especialmente, os trabalhadores que necessitam de esclarecimentos e orientações previdenciárias, essenciais na busca e aquisição de seus direitos. O ano de 2019, traz novos e ainda mais densos desafios para a profissão. Diante das vastas ameaças, pronunciamentos do então Presidente Jair Bolsonaro e do Ministro da Economia Paulo Guedes acerca da privatização da Previdência Social, bem como, das pressões realizadas pelos gestores do INSS a partir de tais posturas, o CFESS realizou ao longo daquele ano diversas notas, campanhas e tentativas de mobilização contrária à contrarreforma proposta para a previdência pública. Vale esclarecer que estas pressões são sentidas de diversas maneiras, entre elas, para Assistentes Sociais realizarem atividades/ações/procedimentos operacionais incompatíveis e estranhos às suas atribuições profissionais, quanto a alterações nos seus atendimentos, que impactam diretamente na qualidade técnica e condição ética de seu trabalho profissional, embarreirando, em certa medida, o direito de acesso do usuário ao Serviço Social do INSS (CFESS, 2019). Em 22 de março de 2019, o CFESS divulga Nota Técnica45 em defesa do trabalho do Assistente Social no INSS e da qualidade dos serviços prestados, como uma tentativa de alerta aos desmontes nas políticas públicas que se intensificaram com o ingresso do atual governo. Ressalta-se que em 22 de março de 2019, a população que se coloca contra a “Reforma” da Previdência Social ocupou as ruas, demonstrando sua indignação diante dos retrocessos contidos no documento Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 06/2019. Sobressaindo-se os interesses do mercado às necessidades da grande massa da população, no dia 12 de novembro de 2019 a PEC 06/2019, que trata da “Reforma” da Previdência Social46 foi promulgada pelo Congresso Nacional, sendo transformada em Emenda Constitucional 103/2019.

45 Em resumo, a nota técnica aponta que tais determinações não só ferem a Lei de Regulamentação Profissional (Lei 8.662/1993), como também prejudicam a realização de um Serviço Social crítico e interventivo no âmbito do INSS, impactando na qualidade do atendimento e na restrição de direitos para o usuário ou usuária do serviço social do INSS (CFESS, 2019). 46 Algumas mudanças instituídas: a idade mínima para aposentadoria será de 62 anos para mulheres e 65 anos para os homens, 15 anos de tempo de contribuição para mulheres e 20 para homens. Assim, além da idade mínima, os trabalhadores precisarão de um tempo mínimo, dificultando ainda mais a aposentadoria. Importante salientar que a regra de cálculo fica ainda mais cruel, usa-se todos os salários de contribuição para se definir a aposentadoria, antes eram utilizados apenas os 80% maiores como média. Esta alteração predispõe uma redução significativa no valor das aposentadorias. Para servidores públicos federais serão necessários 25 de tempo de contribuição, 10 anos do serviço público e 05 anos no cargo que pretende se aposentar. Outra mudança trazida são as complexas regras de transição.

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Foram quase nove meses após o Governo Federal entregar a proposta ao Legislativo, as manifestações ocorridas não foram suficientes para barrar esse desmonte da previdência social que afeta a maioria dos trabalhadores brasileiros, por meio da adoção de uma idade mínima de aposentadoria, tanto para trabalhadores da iniciativa privada como para servidores públicos, mudança nas regras de cálculo para o valor do benefício, instituição de normas de transição para os trabalhadores da ativa e alteração no sistema de pensões, de modo tão profundo como jamais visto. A PEC 133/2019, conhecida como PEC Paralela47, inclui como ponto principal a permissão de estados, Distrito Federal e municípios adotarem em seus regimes próprios as mesmas regras da União, para a aposentadoria dos servidores federais. Esta proposta foi apresentada ao Congresso e este tópico foi excluído do texto ainda na Câmara dos Deputados, mesmo antes de chegar ao Senado. Em concordância com Silva (2012, p. 208):

o avanço rumo à universalização da seguridade social e de suas políticas constitutivas exige que algumas condições objetivas sejam asseguradas, como a plena execução do modelo de financiamento previsto constitucionalmente. Contudo, para que isso se estabeleça, é preciso maior grau de pressão dos trabalhadores e dos movimentos sociais.

Dando sequência às atrocidades advindas com as contrarreformas, ocorre a publicação da Medida Provisória (MP) nº 905/2019. Esta MP retira uma série de direitos e benefícios sociais da classe trabalhadora desse país, a exemplo do reconhecimento do auxílio-acidente em situações ocorridas no deslocamento entre residência e trabalho. A MP 905/2019 extingue o Serviço Social do INSS, espaço onde trabalha significativo número de Assistentes Sociais e que atualmente é um dos únicos atendimentos presenciais que os usuários têm acesso na autarquia, sendo um direito conquistado desde a década de 1940. A medida possibilita também a transferência destes servidores do INSS, o que gerará ainda mais espera e demora no processo de reconhecimento de direitos previdenciários (CFESS, 2019). Mantendo o foco nas incontáveis tentativas de desmontes na Previdência Social, em 14 de janeiro de 2020, o Presidente Jair Bolsonaro faz um pronunciamento polêmico e autoritário.

47 Até o momento desta pesquisa, as novas regras não valerão para os servidores estaduais e dos municípios com Regime Próprio de Previdência, uma vez que, conforme explicitado, o projeto aprovado pela Comissão Especial excluiu estes entes. A Agência Senado informou que já no dia 02 de janeiro de 2020 a Câmara recebeu a Proposta de Emenda à Constituição 133/2019 e o desenrolar desta causará metamorfoses drásticas nos Estados e Municípios, incluindo os pesquisados.

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Pressionado pela população em virtude das filas de espera e atraso na concessão de diversos benefícios previdenciários, o Presidente aponta como alternativa recrutar 07 mil militares da reserva para integrar a força-tarefa que atuará na redução da fila de espera por benefícios do INSS. A fala do então Presidente gerou, de imediato, demonstrações de insatisfação e contrariedade. O intuito, nitidamente, não é primar pela qualidade do trabalho prestado no INSS pelos seus servidores públicos, garantindo os direitos dos segurados. Diante desta proposta, o CFESS emitiu uma Nota de Repúdio48, em 20 de janeiro de 2020, posicionando-se contrário ao recrutamento de militares da reserva para atendimento à população no INSS e apresentando argumentos para tal postura. Em meio às mudanças na ordem social capitalista surgem novas demandas profissionais, ampliam-se os espaços sócio ocupacionais do Assistente Social, modificando as suas condições de trabalho e exigindo sólidos fundamentos para adensar a prática profissional (MOTA, 2016). Adverte-se aqui, que esta ampliação não vem de mãos dadas com a segurança e garantia de direitos trabalhistas/previdenciários. Há, um crescimento vertiginoso de postos de trabalho precarizados. Estas transformações no mundo do trabalho e nas condições de vida do trabalhador provocam, consequentemente, novas manifestações da questão social e, portanto, demandam mudanças no fazer profissional de Assistentes Sociais. Assim, estes profissionais são atingidos, de modo objetivo e subjetivo, nas condições materiais de trabalho e nas relações em que se desenvolve a sua prática. Os Regimes Próprios de Previdência Social são reconhecidos aqui como um dos novos espaços postos à categoria. Kuck (2014) cita que os RPPS surgem, em consequência do tensionamento dos servidores públicos por direitos previdenciários consolidados, de forma a possuírem garantia de recursos para a aposentadoria integral, pensão, entre outros. O trabalho se debruçará nos RPPS dos municípios potiguares com Assistentes Sociais no rol de funcionários, uma vez que este espaço é encarado como uma possibilidade de garantia

48 Em favor do capital e contra a universalização do acesso à Previdência Social e a qualidade do trabalho prestado nessa política, o Governo Bolsonaro faz nova tentativa de desmonte aos direitos dos trabalhadores. “O projeto do INSS Digital, somado ao déficit de servidores/as públicos, (re)produz uma explícita restrição de cobertura da proteção social: além de milhões de pessoas não conseguirem solicitar seu pedido por benefícios e serviços nas plataformas digitais e por telefone (canais remotos), hoje, mais de dois milhões de processos, ou melhor, de pedidos de pessoas, aguardam por proteção social pública, em infinita espera de fila eletrônica para análise do reconhecimento de direito a benefícios e serviços. Apesar de várias recomendações para a realização de concurso público e pela garantia do atendimento presencial às pessoas sem inclusão digital nas agências, já anunciadas por órgãos como TCU, MPF, DPU e PDFC, o atual governo insiste em se desresponsabilizar pelos impasses no acesso aos benefícios e serviços operacionalizados no INSS” (CFESS, 2020).

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de direitos previdenciários aos servidores públicos, gerando, assim, uma nova frente de trabalho para Assistentes Sociais. Como ressalta Kuck (2014, p. 8):

Concomitantemente com a reestruturação das políticas de proteção social e a exigência dos trabalhadores em garantir direitos previdenciários sólidos, surgem os Regimes Próprios de Previdência Social imprimindo novas estratégias governamentais sob a forma de direitos previdenciários e dando espaço para uma nova inserção sócio ocupacional de Assistentes Sociais nesta política.

É possível identificar que vários serviços e programas sociais, vinculados a diferentes políticas sociais, preveem em seu ordenamento a participação de Assistentes Sociais em equipes ou mesmo executando serviços e benefícios específicos. Mais recentemente, várias normatizações de políticas, serviços e programas sociais, definem atribuições para os Assistentes Sociais nos ordenamentos legais, o que precisa ser analisado e interpretado à luz das prerrogativas profissionais. São parâmetros institucionais que, se forem incorporados como atribuições profissionais, podem empobrecer a contribuição do Serviço Social para a conquista e efetivação de direitos sob o ponto de vista das classes trabalhadoras. No Rio Grande do Norte, segundo dados do Ministério da Economia – Secretaria de Previdência, no tocante às Estatísticas e Informações do RPPS (2019), há 39 Regimes Próprios de Previdência Social. Este número pode sinalizar uma potencial expansão de espaços de atuação profissional, mediação e garantia de direitos sociais, uma vez que havendo o devido reconhecimento da profissão nestes espaços, a utilidade social e capacidade de negociar projetos e dar respostas às expressões da questão social, poderia ser incluída na agenda de lutas da categoria, a existência de Assistente Social nas Previdências de Municípios e Estados. Nas palavras de Coutinho (1997, p. 155) “os direitos sociais são os que permitem ao cidadão uma participação mínima na riqueza material e espiritual criada pela coletividade”. Nesta breve conceituação é possível estabelecer a conexão direta com o papel do Serviço Social. Corroborando com o autor, Guerra (2011, p. 44) afirma que “os direitos sociais – como conquista da classe trabalhadora – têm nas políticas sociais os instrumentos pelos quais se materializam”. Entretanto, alerta Boschetti (2007, p. 75), é válido relembrar que “isso não significa dizer que os direitos estabelecidos constitucionalmente são assegurados cotidianamente aos cidadãos”. No que concerne aos desafios enfrentados pela categoria de Assistentes Sociais, estes são intensos e seguem a tendência temerosa dos entraves nacionais no universo das políticas públicas, como cita Silva (2007, p. 34):

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Os direitos sociais dão lugar a produtos ofertados através de um portfólio de instituições financeiras e seguradoras, o critério de universalização do acesso é desqualificado pela abordagem seletiva e focalizada das demandas sociais. Em lugar do cidadão titular de direitos comparece o cliente-consumidor com maior ou menor poder aquisitivo e a solidariedade intergeracional é suplantada pela perspectiva de capitalização individual.

Na contramão desta tendência de retrocesso e negação dos direitos, o processo permanente de construção dos direitos democráticos que caracteriza a modernidade termina por se chocar com a lógica do capital (COUTINHO, 1997). Nesta seara, o Serviço Social sofre os rebatimentos diretamente e continua a ousar na Previdência Social, seguindo rumo aos horizontes apontados pelo projeto ético-político profissional, numa trajetória comprometida em vincular o fazer profissional na política previdenciária com a luta para assegurar direitos aos usuários. O Código de Ética Profissional do Assistente Social (1993), aponta que:

é dever do profissional nas suas relações com os/as usuários/as democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos/as usuários/as; como também, contribuir para a criação de mecanismos que venham desburocratizar a relação com os/as usuários/as, no sentido de agilizar e melhorar os serviços prestados.

Destarte, tanto a Matriz Teórico-Metodológica do Serviço Social quanto o Manual Técnico do Serviço Social, somadas à Lei nº 8662 e o Código de Ética, são imprescindíveis para indicar a estrada, pavimentada por valores éticos, a ser percorrida pelos Assistentes Sociais na política de Previdência Social, mesmo neste cenário contraditório, incompatível com a garantia de direitos, o que reflete na “fragilização cada vez mais recorrente dos trabalhadores e suas formas de organização, com a regressão em termos dos direitos sociais, a luta pelo seu reconhecimento e sua afirmação torna-se condição necessária” (GUERRA, 2011, p. 33). É necessário a articulação entre as dimensões ético-política, técnico-operativa e teórico- metodológica, complementares e capazes de direcionar o trabalho nos Regimes Próprios de Previdência Social Municipais do RN, balizado pelo projeto ético político do Serviço Social que conduz o fazer profissional para posturas compatíveis com a democracia e direitos sociais. Sobre estas dimensões, Guerra (2017, p. 50) aponta que “apesar do reconhecimento de que as dimensões só existem em relação umas às outras, a dimensão técnico-operativa é a forma de aparecer da profissão, pela qual é conhecida e reconhecida”.

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Nas próximas linhas serão problematizadas as principais atribuições de Assistentes Sociais que trabalham nos RPPS de Municípios do RN, os desafios e as possibilidades de intervenção, por meio da intercalação entre as falas das profissionais pesquisadas e as análises de autores.

3.2. Principais Atribuições e Competências dos Assistentes Sociais nos RPPS

De modo mais direto, agora será analisado o conteúdo adquirido por meio dos questionários aplicados com as 07 Assistentes Sociais, que participaram da pesquisa de campo. Conforme já citado, como forma de preservar a identidade das profissionais, serão utilizados nomes de escritoras brasileiras, assim, tem-se: Elisa Lucinda49, Cora Coralina50, Cecília Meireles51, Adélia Prado52, Pagu53, Auta de Souza54 e Nísia Floresta55. Como em alguns municípios alvo da pesquisa há apenas uma Assistente Social, optou- se por também não identificar de qual RPPS Municipal cada profissional pertence, deste modo, as Previdências Municipais de CORONELPREV, IPREV GOIANINHA, NATALPREVI e PREVI/MOSSORÓ não serão abordados nesta exata ordem, nem com esta nomenclatura, apenas sendo identificado como RPPS Municipal. Registra-se ainda que, desde o momento em que a pesquisadora teve acesso aos contatos de telefone ou e-mail das Assistentes Sociais de cada RPPS Municipal do RN, já iniciou o trabalho de pesquisa. Primeiramente, foi enviado e-mail com Declaração comprovando a vinculação ao Mestrado, informações sobre a pesquisa, sobre o desejo de contar com cada Assistente Social contactada e a relevância do trabalho para a categoria. No mês de setembro

49 Nasceu em Vitória no Espírito Santo. É poetisa, jornalista, cantora e atriz brasileira. Idealizadora e fundadora da Casa Poema, a artista tem seu foco de atuação na arte-educação. 50 Poetisa brasileira nascida em Goiás, Cora é conhecida como a "escritora das coisas simples". Além de poemas, ela escreveu contos e obras de literatura infantil. Sua poesia tem como grande característica os temas cotidianos. 51 Poetisa brasileira carioca, Cecília é uma das primeiras mulheres a ter grande destaque na literatura brasileira. Foi escritora da segunda fase do modernismo no Brasil. Suas poesias apresentam caráter intimista com forte influência da psicanálise e da temática social. 52 Poetisa mineira, é uma escritora da literatura brasileira contemporânea. Além de poesias, escreveu romances e contos onde explora, em grande parte, o tema da mulher. 53 Poetisa, escritora, tradutora, desenhista, diretora de teatro, jornalista e militante, Patrícia Galvão lutou pela participação política da mulher na sociedade brasileira e foi figura essencial no movimento modernista. Publicou seu primeiro romance, Parque Industrial, em 1933. Primeira mulher a se tornar presa política no país, foi torturada durante muitos períodos em sua vida. 54 Nascida em Macaíba, 12 de setembro de 1876 foi uma poetisa brasileira da segunda geração romântica (ultrarromântica, byroniana ou Mal do Século), autora de Horto. Escrevia poemas românticos com alguma influência simbolista, e de alto valor estético. 55 Nísia Floresta nasceu em 12 de outubro de 1810, pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto. Sua cidade natal, Papari, no Rio Grande do Norte, agora leva seu nome. A educadora, escritora e poetisa viveu ainda em diferentes estados brasileiros e na Europa e é considerada a primeira feminista brasileira.

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de 2019 foram enviados os questionários via e-mail e as respostas foram obtidas entre setembro e novembro do ano citado. Para melhor traçar um perfil destas profissionais, identificou-se que apenas 01 das Assistentes Sociais possui idade entre 26 a 30 anos, 05 delas possui idade entre 31 a 40 e apenas 01 a partir de 41 anos. Gráfico 3: Faixa Etária das Assistentes Sociais

Fonte: Elaboração Própria.

O que denota que já vivenciaram a fase mais recente de expansão da profissão, bem como, de incontestáveis desmontes na política previdenciária. Todas são mulheres, corroborando com a pesquisa “Assistentes Sociais no Brasil”, realizada em 2005 pelo CFESS, a qual mostrou que a profissão é composta majoritariamente por mulheres (pouco mais de 90%). Quanto à formação das profissionais, constatou-se que 04 possuem Especialização e 03 apontaram apenas a Graduação.

Gráfico 4: Formação Profissional

Fonte: Elaboração Própria.

No tocante ao ano em que se formaram, nota-se que todas concluíram a partir dos anos 2000: 01 concluiu em 2000; 01 em 2002; 01 em 2008; 02 em 2012; 01 em 2015 e 01 em 2017.

Gráfico 5: Ano de Conclusão do Curso

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Fonte: Elaboração Própria.

Vale ressaltar que 04 relataram cursar a faculdade em Universidades Privadas e 03 em Universidades Públicas. Esta realidade mostra o cenário de ampla mercantilização da educação e, de modo mais impactante para a categoria, do consequente aumento de cursos privados de Serviço Social.

Gráfico 6: Universidade Onde se Formou

Fonte: Elaboração Própria.

Sobre tal questão, afere-se oportuno citar Mota (2016, p. 44) que afirma “a avassaladora expansão dos ensinos privados e na modalidade à distância, que formam uma nova geração de assistentes sociais que se afasta, cada vez mais, das diretrizes curriculares da profissão”. Não raro, nestas modalidades de ensino, os princípios contidos nas Diretrizes Curriculares não são cumpridos, com destaque para a indissociabilidade nas dimensões de ensino, pesquisa e extensão; estágio e supervisão acadêmica e profissional. Em contrapartida, é necessário reconhecer os desafios enfrentados pelas Universidades Públicas, com parcos investimentos, o que acarreta limitações na quantidade de vagas, horários e condições nos Cursos de Serviço Social oferecidos. Quando questionadas sobre a jornada de trabalho, as repostas foram as seguintes: 04 das Assistentes Sociais pesquisadas trabalham até 30 horas semanais e 02 até 40 horas semanais.

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Mesmo com a existência da Lei das 30h56, uma conquista inquestionável, embora ainda se encontre na luta por sua implementação, é necessário antecipar aqui que, algumas destas profissionais não são contratadas como Assistentes Sociais, fato que será melhor detalhados a frente. Algumas instituições não se veem obrigadas de cumpri a Lei que garante as 30h semanais, sem redução de salário, uma vez que as profissionais nem sempre assumem cargos compatíveis com sua formação.

Gráfico 7: Jornada de Trabalho

Fonte: Elaboração Própria.

A fim de identificar o tempo de trabalho destas profissionais nos RPPS municipais, de fato, obteve-se as respostas: 04 Assistentes Sociais trabalham entre 02 a 05 anos no RPPS; 01 trabalha até 01 ano e 01, entre 05 e 10 anos. Destarte, confirma-se a hipótese inicialmente levantada de que a ocupação deste espaço pelos profissionais do Serviço Social apresenta-se como recente.

Gráfico 8: Tempo que Trabalha no RPPS

56 A jornada semanal de trabalho da assistente social deve ser de, no máximo, 30 horas, de acordo com a Lei 8.662/1993. A Lei nº 12.317, de 26 de agosto de 2010, acrescentou dispositivo à Lei no 8.662 para dispor sobre a duração do trabalho do Assistente Social, vedada a redução salarial.

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Fonte: Elaboração Própria.

Faz-se mister ressaltar o resgate da relevância e do conteúdo contido na Matriz Teórico Metodológica do Serviço Social na Previdência e do Manual Técnico que se deram por considerar estes documentos como setas indicadoras do trabalho dos assistentes sociais na política previdenciária. Estes, somados à Lei de Regulamentação da Profissão (Lei nº 8662/1993) e ao Código de Ética (Resolução CFESS nº 273/1993) podem respaldar o trabalho das Assistentes Sociais nas Previdências Municipais. Entre as principais ações desenvolvidas pelo Serviço Social na Previdência, citadas nos documentos previdenciários mencionados estão a socialização das informações previdenciárias e assistenciais aos usuários dos atendimentos na previdência social; assessoria/consultoria principalmente a órgãos e entidades públicas e organizações sociais; fortalecimento do coletivo, principalmente de organização dos trabalhadores. Para compreender as peculiaridades do trabalho destes profissionais nos Regimes Próprios de Previdência Social Municipais pesquisados, questões materiais precisam também ser consideradas. Uma delas refere-se às formas de contratações ofertadas para as Assistentes Sociais. Percebe-se as diferentes formas de contratação de Assistentes Sociais, as quais não fogem às atuais regras do jogo do mercado, no contínuo processo de precarização do trabalho. De acordo com Antunes (1999) citado por Raichelis (2018, p. 47):

A sociedade do capital, em sua busca incessante de realização do valor, precisa cada vez menos de trabalho estável e cada vez mais de trabalhadores improdutivos que valorizem o capital, bem como de combinadas formas de trabalho parcial, terceirizado, part time para realizar seu ciclo reprodutivo.

A pesquisa revela que das 07 Assistentes Sociais que trabalham nos RPPS de Municípios do RN, 02 são concursadas (sendo 01 cedida de outros órgãos), 01 vinculada à empresa terceirizada57 e 04 cargos comissionados58.

57 Com base no Art. 37, XXI, da Constituição de 1988, há o entendimento da possibilidade de terceirização no serviço público, por meio de processo licitatório: “XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações”. 58 Guerreiro (2016, p. 38) esclarece que “os cargos de provimento em comissão são aqueles vocacionados para serem ocupados em caráter transitório por pessoa de confiança da autoridade competente para preenche-los, a qual pode exonera-los por sua vontade”.

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Estes dois últimos expõem às profissionais, mais densamente, às oscilações políticas no tocante à permanência ou saída do trabalho, fragilizam o potencial de negociação e reivindicação enquanto classe trabalhadora, acrescem a probabilidade de redução salarial, além de deixá-las à margem de cobertura de alguns direitos trabalhistas e previdenciários.

Gráfico 9: Vínculo Empregatício

Fonte: Elaboração Própria.

Ainda acerca desta questão, Raichelis (2018, p. 51) analisa que:

Assiste-se a importantes deslocamentos nos modos de gestão e contratação de trabalhadores/as através da terceirização de serviços públicos por meio da subcontratação de empresas e instituições intermediadoras, que após a aprovação da Lei que regulamenta a terceirização das atividades meio e das atividades fim no Brasil (Lei nº 13.429/2017) tende a se ampliar e se diversificar enormemente para todas as atividades laborais.

Assim, Assistentes Sociais, como parte da classe trabalhadora, sofrem os impactos diretos dessas formas precarizadas de contratação, o que amplia a insegurança no trabalho, o oferecimento de baixos salários, o trabalho sem proteção das leis trabalhistas e direitos previdenciários, enfim, aspectos que afetam outras condições da vida desses trabalhadores. Outra constatação que mostra aspectos de precarização das relações de trabalho refere- se à média salarial. A pesquisa revela, de modo estarrecedor, que todas as Assistentes Sociais participantes da pesquisa tem rendimentos que variam de 01 a 03 salários mínimos, percentual mais baixo entre as opções apontadas. Esta constatação demonstra não só uma realidade do RN, mas de todo o país. Dados oficiais do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), no período de 05/2019 até 12/2019, mostram que um Assistente Social ganha em média R$ 2.774,76 no mercado de trabalho brasileiro para uma jornada de trabalho de 32 horas semanais, de acordo com pesquisa do “salario.com.br” junto a com um

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total de 8.388 salários. A faixa salarial do Assistente Social CBO 2516-05 fica entre R$ 2.532,50 (média do piso salarial 2020 de acordos, convenções coletivas e dissídios), R$ 2.561,00 (salário mediana da pesquisa) e o teto salarial de R$ 5.849,42, levando em conta profissionais com carteira assinada em regime CLT de todo o Brasil. Cabe destacar as especificidades da categoria, formada, em sua maioria, por mulheres, fato que carrega as questões relacionadas ao gênero e, consequentemente, às relações de poder que perpassam o mesmo. Acerca desta reflexão, cabe mencionar Cisne (2014), quando dialoga sobre gênero, raça e etnia, desvelando o preconceito e a discriminação que marca esta tríade. A autora adverte sobre o aprofundamento da desigualdade entre os sexos na atualidade, revelando que este é expresso também, no maior número de mulheres nos trabalhos em tempo parcial e marcados pela informalidade dos laços empregatícios. Esta constatação traz à tona a urgência da mobilização e luta da categoria em prol da aprovação do PL 5278/200959, que trata do piso salarial para Assistentes Sociais, entendendo este quesito como defesa das condições de trabalho destes profissionais, o que significa qualidade dos serviços prestados à população usuária. Como analisa Raichelis (2018, p. 26) o reconhecimento do Serviço Social como profissão e a profissionalização dos seus agentes na sociedade brasileira decorrem de complexas interações entre processos institucionais e lutas sociais frente às expressões da questão social. Destarte, identificar a utilidade social do trabalho de Assistentes Sociais nos espaços sócio-ocupacionais, no caso, nos RPPS Municipais é um processo que demanda o enfrentamento das problemáticas sociais e oferecimento de respostas pelo profissional, assim como, a percepção dos gestores acerca da importância deste trabalho na instituição. Outros pontos que merecem ser sublinhados são trazidos por Raichelis (2018, p. 37):

Como profissionais assalariados/as, em grande parte pelas instituições do aparelho do Estado nas três esferas do poder, notadamente em âmbito municipal, mas também por organizações não governamentais e empresariais, a força de trabalho de assistentes sociais transformada em mercadoria só pode entrar em ação através dos meios e instrumentos de trabalho que, não sendo propriedade desses/as trabalhadores/as, devem ser colocados à disposição pelos empregadores institucionais públicos ou privados: infraestrutura humana, material e financeira para o desenvolvimento de programas, projetos, serviços, benefícios e um conjunto de outros requisitos necessários à execução direta de serviços sociais para amplos segmentos da classe trabalhadoras ou para o desenvolvimento de funções em nível de gestão e gerenciamento institucional.

59 Este PL foi alvo de grande mobilização da categoria em 2019 e sofreu movimentação na Câmara dos Deputados, O Projeto estabelece um piso salarial de R$ 3.720,00 para a carga horária de 30 horas semanais. O valor seria reajustado anualmente pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

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Assim sendo, não se subestima aqui os limites existentes à prática profissional, ao mesmo passo que se reconhece as possibilidades existentes, a serem desveladas pelos Assistentes Sociais na concretização das intervenções que visam a garantia de direitos aos trabalhadores. A fala da autora contempla também a ocupação, por parte de Assistentes Sociais, de cargos em nível de gestão. Este fato, é presenciado com nitidez na pesquisa junto às profissionais dos RPPS Municipais, considerando que algumas delas assumem cargos ou executam funções relacionadas à gestão. Diante da ocupação de Assistentes Sociais nas funções gerenciais, Santos, Backx e Guerra (2017, p. 40) ressaltam que é preciso “pensa-la de modo mais sistemático e coerente com os princípios do Serviço Social, no contexto da reforma e contrarreforma do Estado, bem como seu significado na gestão pública brasileira”. Com a finalidade de entender a percepção das Assistentes Sociais diante das diferenças e semelhanças existentes entre o Regime Geral de Previdência Social e o Regime Próprio de Previdência Social, do qual fazem parte, houve uma indagação acerca desta temática. Algumas Assistentes Sociais discorreram:

RGPS é gerenciado pelo Instituto Nacional do Seguro Social e foi criado para beneficiar os trabalhadores geridos pela CLT. Regime Próprio de Previdência Social é estabelecido por entidade de caráter público, como fundos previdenciários e institutos de previdência, e atendem os servidores públicos (Adélia Prado).

O Regime Geral de Previdência Social (RGPS) é gerenciado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Essa é a opção de filiação de todos os trabalhadores que estão ligados ao INSS através da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT). O RPPS é voltado ao servidor público quem possui cargo efetivo no Estado, no Distrito Federal, no Município ou na União. Esse regime foi estabelecido por entidade de caráter público, como fundos previdenciários e institutos de previdência. A filiação dos trabalhadores nesse caso também é obrigatória (Cora Coralina).

O Regime Geral de Previdência Social (RGPS) é uma entidade pública de caráter obrigatório para os trabalhadores regidos pela CLT, que contribuem para o INSS. O RPPS é o regime previdenciário próprio de cada ente federativo, de filiação obrigatória para os servidores públicos titulares de cargo efetivo. Os dois precisam das contribuições dos ativos para manter os já aposentados e pensionistas (Elisa Lucinda).

RPPS – É o Regime Previdenciário Próprios, no qual, quando inserido no meio público é obrigatório a todo servidor de cargo efetivo. RGPS – É um regime de Previdência de caráter também obrigatório para todos os trabalhadores, controlado pela CLT (Cecília Meireles).

Destaques relevantes podem ser apontados nas falas das Assistentes Sociais. Primeiramente, as apreensões de Adélia Prado, Cora Coralina, Elisa Lucinda e Cecília Meireles

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mostram a compreensão reducionista de algumas características e definições de cada um dos Regimes Previdenciários, não transcendendo à esfera do conceito para a da vivência. Na fala a seguir, a Assistente Social aponta elementos diferenciados para a compreensão mais ampla da relevância dos RPPS.

Na garantia de direitos são semelhantes, porém o RPPS como tem uma abrangência local, consegue desenvolver suas atividades com mais proximidade aos usuários impactando assim na diminuição de burocracia. Já o RGPS, com um público maior e mais complexo norteia os regimes próprios. Porém, vale ressaltar que enquanto o RGPS tem um público maior mais rotativo de usuários, o RPPS necessita estar mais atento ao equilíbrio financeiro em virtude da pouca rotatividade e ingresso de novos contribuintes (Nísia Floresta).

No caso de Nísia Floresta, ela enfatiza a garantia de direitos como algo comum em ambos os Regimes Previdenciários, grifa a possibilidade de aproximação maior com os usuários no caso do RPPS, fato que pode abrir um leque de possibilidades de intervenções. Na percepção da Assistente Social há uma redução da burocracia neste regime, além do papel essencial do RGPS de nortear as previdências municipais e estaduais, do mesmo modo que, chama a atenção para o equilíbrio financeiro. Quando investigado em qual setor a Assistente Social trabalha no RPPS, as respostas revelaram que: 02 trabalham no Setor de Benefícios, 03 no Setor de Perícia Médica, 03 no Setor de Serviço Social e 01 marcou a opção “Outros”, especificando Projetos Sociais. Aqui, a soma dará superior ao número de profissionais pesquisadas, porque a questão permitia marcar mais de uma opção e 03 profissionais destacaram o trabalho em mais de um Setor, sendo elas: Elisa Lucinda, que assinalou o Setor de Serviço Social e o de Perícia Médica; Cecília Meireles que marcou o Setor de Serviço Social e o Setor de Benefícios; Nísia Floresta, que marcou o Setor de Perícia Médica e de Projetos Sociais.

Gráfico 10: Setor de Trabalho no RPPS Municipal

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Fonte: Elaboração Própria.

Nesta questão chama atenção os casos de 03 Assistentes Sociais registrarem o trabalho do Setor de Serviço Social, o que revela a existência de um espaço específico para a categoria. O fato de 03 profissionais assinalarem o trabalho em mais de um Setor, incita a reflexão acerca da possibilidade de mais Assistentes Sociais nos outros setores que demandam o trabalho deste profissional, do mesmo modo que, presumem uma sobrecarga de atribuições. Seguindo o raciocínio desta questão, quando indagadas se foram contratadas com a finalidade de atuar na área de sua formação ou em outra função, as respostas trouxeram a seguinte realidade: 03 afirmaram ter sido contratadas para trabalhar na área de formação, ou seja, como Assistentes Sociais, porém, 04 profissionais externaram ter sido contratas com outras funções e 03 as especificaram: Auta de Souza - Diretora Financeira; Elisa Lucinda - Auxiliar Administrativa e Pagu - Diretora Administrativa.

Gráfico 11: Função Exercida no RPPS

GRÁFICO 9: Finalidade da contratação

Fonte: Elaboração Própria.

Aqui merece a conexão destas falas com a análise de Iamamoto (1999)

Os Assistentes Sociais funcionários públicos vêm sofrendo os efeitos deletérios da reforma do Estado na órbita do emprego e da precarização das relações de trabalho [...]. A flexibilização dos contratos já mostra uma tendência real [...]. A flexibilização do trabalho atinge a estrutura produtiva e o processo de trabalho do Assistente Social [...]. Também a terceirização na contratação de Assistentes Sociais registra incidência nas Cooperativas, Fundações e Entidades Filantrópicas e ocasionalmente Conselhos Tutelares e Conselhos Municipais (IAMAMOTO, 1999, p.119).

A fim de identificar como se expressam as condições de trabalho postas às Assistentes Sociais pesquisadas, questionou-se se eram favoráveis ou não ao exercício do trabalho e o

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porquê. As respostas foram: 06 apontaram possuir condições favoráveis de trabalho e apenas 01 não favoráveis à realização do trabalho. Esta questão obteve, diante das respostas assinaladas pelas profissionais, algumas explicações interessantes: No caso de Nísia Floresta, que destacou não ter condições favoráveis, esta descreveu “Atua em um setor que necessita de profissionais com atribuição e demanda para o Serviço Social, tenho formação e qualificação na área, mas não tenho atribuição em virtude da falta de concurso público dispondo o cargo no quadro de servidores do Instituto”. A fala da Assistente Social traz uma importante questão à tona, sobre a falta de concurso público e a necessidade deste para que a demanda do Serviço Social possa ser contemplada por profissionais da área. Neste sentido, Iamamoto (2012, p. 107) elucida

Como partícipe do trabalho coletivo, inscrito na divisão sociotécnica do trabalho, o Serviço Social é expressão de necessidades sociais criadas no movimento das relações entre o Estado e a sociedade civil, das relações entre as classes, suas frações e as instituições por elas criadas no enfrentamento da questão social.

Outra fala instigante foi da Assistente Social Elisa Lucinda,

Infelizmente, o profissional está determinado por sua condição de trabalhador inserido na reestruturação dos processos de trabalho, e estão sujeitos a aceitar contratações temporárias, terceirização, baixos salários, entre outros. Isso se deve à falta de financiamento das políticas públicas brasileiras, sujeitando o profissional a aceitar propostas indesejáveis, mas, necessárias para o seu sustento.

A profissional externa sua condição de classe trabalhadora e as várias corrosões sofridas pelo trabalho precarizado, com direitos sendo estraçalhados e a insegurança que paira no cotidiano do trabalhador. Conforme enfatiza Raichelis (2018, p. 30) “embora o Serviço Social tenha sido regulamentado como profissão liberal no Brasil, o/a assistente social exerce seu trabalho majoritariamente como assalariado de instituições públicas ou privadas que operacionalizam políticas e serviços sociais”. A citação da autora articula-se à fala de Elisa Lucinda, no que concerne à necessidade de reprodução e subsistência do trabalhador diante de um cenário de minimalismo de propostas de trabalho desejáveis, com a garantia de condições e direitos trabalhistas. Pagu, Cora Coralina e Auta de Souza não argumentaram suas respostas. Cecília Meireles complementou afirmando que as condições são “adequadas para o desenvolvimento das funções específicas” e Adélia Prado, disse ainda que “tem o necessário”.

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Registrar estas condições e a repercussão delas no fazer profissional pode ser encarado como uma possibilidade ou desafio enfrentado pelas Assistentes Sociais. Neste ponto, torna-se fundamental citar a Resolução nº 493/2006, do CFESS, que trata das Condições Éticas e Técnicas do Exercício Profissional do Assistente Social. Na linha das condições éticas e técnicas do trabalho do Assistente Social, a pesquisa indagou sobre se o ambiente de trabalho do profissional possibilita a garantia do sigilo profissional. Aqui, todas apontaram que sim, o que coaduna com a referida Resolução, em seu art. 3º, que afirma “O atendimento efetuado pelo assistente social deve ser feito com portas fechadas, de forma a garantir o sigilo”. É preocupante, portanto, o fato de algumas profissionais serem contratadas com outros cargos e funções, o que dificulta a própria atuação do Conselho da categoria, no sentido de fiscalizar e dialogar com a instituição empregadora sobre as condições de trabalho versadas na Resolução nº 493/2006. Quando indagadas sobre a relação da Assistente Social com outros profissionais da instituição, obteve como respostas que todas as Assistentes Sociais consideram essa relação como favorável. Adélia Prado ressaltou que “sempre dialogamos acerca dos casos”. Cecília Meireles argumentou que “tudo transcorre bem”. Nísia Floresta afirmou que “observa-se que um maior entrosamento e articulação dos demais setores poderia contribuir ainda mais com a equipe” e Elisa Lucinda descreveu que “os profissionais das outras áreas reconhecem o trabalho do Assistente Social”. Auta de Souza, Pagu e Cora Coralina, também assinalaram a opção favorável, embora não tenham justificado a resposta. No Capítulo III, do Código de Ética do Assistente Social, que trata Das Relações com Assistentes Sociais e outros/as Profissionais, em seu art. 10, consta como um dos deveres do Assistente Social “incentivar, sempre que possível, a prática profissional interdisciplinar”. Constata-se, nas falas das Assistentes Sociais pesquisadas o direcionamento da prática profissional respaldada no que prega o Código de Ética da categoria. Acrescendo à esta análise, Santos; Backx; Guerra (2017, p. 25) grifam a necessidade de se “pensar e, preferencialmente, discutir, com o conjunto de profissionais da organização, o trabalho sistematicamente realizado, pois pensar o trabalho faz parte da busca de superação do instituído no cotidiano profissional”. As Assistentes Sociais foram questionadas se no RPPS Municipal onde trabalham avaliam que possuem ou não autonomia profissional. Todas registraram que sim, possuem autonomia profissional. Apenas 02 justificaram as respostas, sendo elas, Cecília Meireles que

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acrescentou “o profissional é respeitado quanto as atividades afins” e Adélia Prado, que complementou “no que se refere às suas competências e atribuições”. Vale lembrar a autonomia relativa destes profissionais, ao mesmo passo que se deve considerar as condições materiais, estrutura e equipamentos concedidos pelo empregador, para que os Assistentes Sociais possam desenvolver o trabalho e apresentar propostas diante das problemáticas postas. Ainda sobre esta matéria Iamamoto (2018, p. 81) acrescenta:

A possibilidade de imprimir uma direção social ao exercício – moldando o seu conteúdo e o modo de operá-lo – decorre da relativa autonomia de que dispõe o assistente social resguardado pela legislação profissional e passível de reclamação judicial. Essa autonomia é dependente da correlação de forças econômica, política e cultural em nível societário e se expressa, de forma particular, nos distintos espaços ocupacionais construídos na relação com sujeitos sociais determinados.

Diante dos limites institucionais, em que a ação profissional demanda meios e instrumentos de trabalho que não são propriedade destes trabalhadores, mas sim dos empregadores, Raichelis (2018, p. 37) enfatiza que

o assistente social, enquanto profissional qualificado, dispõe de relativa autonomia em seu campo de trabalho, para realizar um trabalho social e complexo, saturado de conteúdos políticos e intelectuais e das competências teóricas e técnicas requeridas para formular propostas e negociar com os contratantes institucionais.

Indispensável abordar questões acerca da qualificação profissional. Assim, indagou-se às Assistentes Sociais se estas se consideram capacitadas para atuar na área de RPPS. As respostas trouxeram à superfície diversas reflexões, uma vez que 06 afirmaram se sentir capacitadas e apenas 01 não. Destas 06, apenas Elisa Lucinda alegou que “somos preparados durante toda a graduação a enfrentar desafios no meio profissional. Portanto, é importante se sentir sempre preparado para a atuação nas diversas áreas, desde que, nunca deixe de se qualificar constantemente”. Adélia Prato respondeu que não se sente capacitada e expôs “no que se refere ao fazer profissional na área da previdência é uma área nova e para tanto estou tentando me capacitar com intuito de realizar as atribuições e garantir os direitos”. A fala da profissional afirma o reconhecimento de que necessita de maior qualificação na área onde atua, como sua iniciativa de buscar formas de adquirir estes conhecimentos e melhor desenvolver seu trabalho. Registra-se a importância de abordar o tema dos RPPS já nas academias, durante a Graduação em Serviço Social; realizar Seminários ou outros eventos que, ao analisarem a Previdência Social incluam não apenas o RGPS, mas também o RPPS. De modo mais

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específico, emerge a indagação sobre a possibilidade de articulação entre estas profissionais no estado do Rio Grande do Norte e a troca de vivências, experiências e conhecimentos entre estas, podendo, posteriormente, dilatar para outras localidades. Este ponto, inclusive, é uma das contribuições que esta pesquisa poderá instigar. Costurada à questão anterior, veio a investigação se as Assistentes Sociais participam de eventos profissionais, cursos promovidos pelas Universidades, Órgãos da Categoria e Fóruns Técnicos. As respostas foram positivas por parte de 06 Assistentes Sociais. Destas, Elisa Lucinda explicou que “é preciso de qualificação constantemente”. Apenas Adélia Prado respondeu que não participa, no entanto, esta explicou que “até o momento não, o que realizei foi via EAD”. A resposta desta Assistente Social demanda reflexão quando se articula a não participação em espaços de qualificação e a fala anterior, em que a mesma relata não se sentir capacitada para atuar na política previdenciária. Reforça-se aqui, a relevância do aprimoramento profissional contínuo para o trabalho cotidiano do Assistente Social. Outras possibilidades devem ser consideradas diante deste relato, como as alternativas de espaços de qualificação profissional no município, o apoio institucional para que a Assistente Social participe destes espaços, fatos que podem ser dificultadores no processo de formação continuada. Por outro lado, é animador o quantitativo de profissionais que respondeu de acordo com o que está previsto no Código de Ética Profissional, o qual em seu princípio X, reafirma o “Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional”. Ainda nesta normativa, no Título II - Dos Direitos e das Responsabilidades Gerais do/a Assistente Social, no art. 2º, consta que “Constituem direitos do/a assistente social, o aprimoramento profissional de forma contínua, colocando-o a serviço dos princípios deste Código”. Contudo, o fato de não haver maiores especificações de quais são os espaços de formação onde as profissionais se qualificam, impossibilita a constatação se são vinculados às academias, aos órgãos públicos ou privados, ou à órgãos de representação da categoria. Indagadas se há programas e/ou projetos desenvolvidos pelo RPPS, Pagu, Auta de Souza e Adélia Prado assinalaram que não. As demais Assistentes Sociais descreveram que sim. Nísia Floresta narrou que:

há dois projetos sociais desenvolvidos, uma com a proposta de Educação Previdenciária, voltado aos servidores na ativa, órgãos e instituições ligados às secretarias do município, e o segundo, voltado aos servidores aposentados e

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pensionistas, sob proposta de fomento a qualidade de vida e saúde considerando seu amplo conceito.

A explanação da Assistente Social compactua com o Código de Ética, que em seu art. 8º, traz como um dos deveres do/a assistente social: “d - empenhar-se na viabilização dos direitos sociais dos/as usuários/as, através dos programas e políticas sociais”. Elisa Lucinda especificou que há “projetos voltados à qualidade de vida dos aposentados e pensionistas do Instituto. À preocupação do bem-estar para aqueles que estão na iminência de se aposentar e o Projeto sobre Educação Previdenciária”. Ainda no Código de Ética profissional, no Título II - Dos Direitos e das Responsabilidades Gerais do/a Assistente Social, registra-se a “participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na formulação e implementação de programas sociais”. Assim, as profissionais estão pautando suas atuações nos relevantes direcionamentos desta normativa da categoria. Cecília Meireles detalhou que “há um projeto que visa a qualidade de vida dos beneficiários pensionistas e aposentados, mas, não foi executado ainda”. Somando à resposta da profissional, a Lei nº 8662/1993, que Regulamenta a Profissão, em seu art. 4º, versa sobre as competências do Assistente Social, traz que: “II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil”. Outrossim, quando questionadas se participam de programas e projetos realizados pelo RPPS, 04 responderam que sim, 01 respondeu que “Não ativamente como gostaria, em razão de outras demandas” (Cora Coralina) e 01 não respondeu. Elementos importantes para repensar a prática profissional são trazidos por Iamamoto (2005), quando ressalta que “[...] o exercício da profissão exige um sujeito profissional que tenha competência para propor, para negociar com a instituição os seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e atribuições profissionais”. Tecidas estas análises acerca do perfil das Assistentes Sociais pesquisadas e das condições éticas e técnicas de trabalho a que são expostas nos RPPS Municipais, a partir de então, serão elucidadas as respostas diante de questões relativas ao trabalho desenvolvido pelas assistentes sociais. Perguntadas sobre as principais demandas que chegam dos usuários ao Serviço Social, obtiveram como respostas:

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“Atendimentos na Junta Médica (Benefícios), à procura pelas ações do Projeto pelo tempo ocioso pós aposentadoria e a procura de servidores ativos e instituições pelo Projeto de Educação Previdenciária” (Elisa Lucinda). No tocante aos atendimentos realizados e demandas postas ao Assistente Social, reflexão relevante é trazida por Iamamoto (2018, p. 82):

No seu trabalho cotidiano, o assistente social lida com situações singulares vividas por indivíduos e suas famílias, grupos e segmentos populacionais, que são atravessadas por determinações coletivas. Somos desafiados a desentranhar da vida dos sujeitos singulares os fios que integram o singular ao coletivo, como condição de transitar suas necessidades sociais da esfera privada para a luta por direitos na cena pública (...). Isso requer competência teórico-metodológica para ler a realidade e conhecimento do modo de vida, de trabalho e expressões culturais desses sujeitos sociais, além da sensibilidade e vontade políticas que movem a ação.

Na fala das Assistentes Sociais, Nísia Floresta e Cora Coralina também é perceptível a realização do trabalho em rede e demais políticas sociais, com relevo para a saúde mental.

Encaminhamentos à saúde, com maior direcionamento para saúde mental, sempre em articulação com a rede; Orientação sobre direitos dos usuários, bem como acesso à serviços e benefícios sociais; Agravos sociais ocasionados pelo processo de aposentadoria e encaminhamento para ações de Assistência Social (Nísia Floresta).

Servidores públicos municipais com solicitação para concessão de benefícios previdenciários, desprovidos de informações necessárias para fazer jus a seus direitos enquanto contribuintes contribuindo para a formação de cidadãos conscientes acerca da proteção ao trabalho e da ampliação do acesso às políticas de Seguridade Social. Servidores necessitando de aparato quanto a articulações junto a rede de serviços público, em especial a rede de saúde mental (Cora Coralina).

Nas demandas expostas pela Assistente Social Cecília Meireles, nota-se o trabalho com outros setores e a variedade de tarefas, inclusive a dimensão pedagógica da prática.

Questões decorrentes de benefícios solicitados pelos próprios servidores e/ou pelo próprio instituto, tais como: Licença para acompanhar pessoa da família (Junta Médica); Pensão para filho maior inválido (Assessoria Jurídica) e, outros benefícios ou interesses de cunho administrativo, referente a concessão de documentos pendentes (tipo: Declarações do INSS e/ou IPERN e/ou Certidão de Óbito), bem como, para orientações a respeito de devoluções de valores devidamente repassados pelo instituto a seus beneficiários e, em alguns casos, possivelmente, terem sido apropriados indevidamente, quando o instituto ainda não tenha conhecimento acerca do óbito (Cecília Meireles).

No sentido de alinhar os objetivos da profissão às demandas postas na busca pela ampliação e manutenção de direitos, vale destacar que a Lei Nº 8662/1993, em seu Art. 4º, define como competência do Assistente Social a defesa de direitos. Esta é enaltecida no Código

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de Ética Profissional (1993), enfaticamente, nos princípios “II. Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo” e “III. Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade”, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras. A profissional Adélia Prado citou o “acompanhamento de readaptados”, já Pagu e Auta de Souza não responderam à questão. O Manual Técnico do Serviço Social (2012), já referenciado como documento norteador do trabalho do Assistente Social no INSS, traz que, nas Agências de Previdência Social, o profissional deve, entre outras tarefas: prestar atendimento técnico individual e coletivo aos usuários, esclarecendo-os quanto ao acesso aos direitos previdenciários e assistenciais, e sobre os meios de exercê-los; socializar as informações previdenciárias e assistenciais tanto em âmbito interno quanto externo à instituição; promover articulação com entidades públicas e da sociedade civil para conhecimento da rede de recursos sociais; propor, elaborar e executar programas, projetos e ações em consonância com as demandas dos usuários e o plano de ação nacional do Serviço Social; desenvolver ações conjuntas com as áreas de Perícia Médica. Diante disso é possível observar uma semelhança entre as atribuições preconizadas para as Assistentes Sociais nas Agências de Previdência do RGPS e as ações desenvolvidas nos RPPS Municipais, de acordo com as profissionais pesquisadas. Questionadas sobre a quantidade de usuários atendidos pela Assistente Social no mês, observou-se: Adélia Prado, respondeu em média 20 funcionários; Cora Coralina, entre 60 e 80 usuários; Cecília Meireles expôs que “é relativo, pois varia e por esta razão não dá para precisar”. Auta de Souza e Pagu não responderam. Nísia Floresta colocou que “no setor de projetos sociais são acompanhados sistematicamente por diferentes ações uma média de 100 (cem) servidores aposentados e pensionistas, e cerca de 20 (vinte) servidores no processo de aposentadoria”. Elisa Lucinda relatou aproximadamente 200, entre atendimento de benefícios e ações realizadas no mês pelos projetos. Percebe-se a diversidade no quantitativo de usuários atendidos pelo Assistente Social, nos diferentes RPPS. De acordo com Raichelis (2018, p. 27) o profissional mobiliza esforços teóricos e políticos para conferir legitimidade social à sua intervenção junto aos sujeitos do trabalho, aliando-se ao movimento de ampliação dos direitos dos grupos e classes subalternas.

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Somando-se a esta reflexão, Mota (2016, p. 31) diz que “a profissão tem sido instada, permanentemente, a redefinir suas estratégias e táticas para enfrentar as problemáticas emergentes”. Com o objetivo de identificar as principais atribuições realizadas pelas Assistentes Sociais nos RPPS Municipais que fazem parte, foi elaborada uma questão de múltipla escolha, baseada em ações, atribuições e competências contidas na Lei nº 8662/1993, na Matriz Teórico- Metodológica do Serviço Social na Previdência Social (1994) e no Manual Técnico do Serviço Social (2012). Para melhor exposição das respostas obtidas, criou-se a tabela 3 que contém as atribuições em uma coluna, quantidade de afirmações positivas em outra e, ainda uma coluna para aquelas que não responderam.

Tabela 3: Ações, Atribuições e/ou Competências de Assistentes Sociais nos RPPS de Municípios do RN

Ações, Atribuições e/ou Competências Sim Não Respondeu 1 Socialização de informações previdenciárias e assistenciais 5 2 2 Realizar visitas técnicas domiciliares e/ou institucionais 5 2 3 Realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, 4 3 informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social 4 Treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de 2 5 Serviço Social 5 Elaboração, coordenação, execução e avaliação de planos, 3 4 programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social 6 Encaminhar providências e prestar orientações sociais a 5 2 indivíduos, grupos e à população 7 Orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais 5 2 no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de direitos 8 Planejar, organizar e administrar benefícios e serviços 4 3 sociais 9 Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir 4 3 para a análise da realidade socia e subsidiar ações profissionais 10 Prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em 2 5 matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade 11 Ações de fortalecimento do coletivo 4 3

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12 Colaborar na realização de ações de capacitação profissional 4 3 13 Realizar estudos e pesquisas sobre a realidade social, na qual 4 3 se inserem os usuários da previdência e sua família, com vistas a subsidiar ações no âmbito da política previdenciária 14 Emitir parecer social com objetivo de fornecer elementos 5 2 para o reconhecimento de direitos, manutenção e recurso de benefícios e decisão médico-pericial 15 Promover articulação com entidades públicas e da sociedade 4 3 civil para conhecimento e acesso à rede de serviços 16 Contribuir para a formação de cidadãos conscientes acerca 5 2 da proteção ao trabalho e da ampliação do acesso às políticas de Seguridade Social 17 Outras 0 7

Fonte: Elaboração Própria.

Na possibilidade apresentada às profissionais de externarem outras atividades realizadas e que, não foram contempladas nas especificações, nenhuma das Assistentes Sociais respondeu. • A socialização de informações previdenciárias e assistenciais foi sinalizada pela maioria das Assistentes Sociais. Esta é compreendida aqui, para além da tarefa em si, necessita estar vinculada com

o desafio de tornar os espaços de trabalho do assistente social, espaços de fato públicos, alargando os canais de interferência da população na coisa pública, de modo a permitir maior controle por parte da sociedade nas decisões que lhes dizem respeito. Isto é viabilizado através da socialização de informações; da ampliação do conhecimento de direitos e interesses em jogo; do acesso às regras que conduzem à negociação dos interesses atribuindo-lhes transparência; da abertura e / ou alargamento de canais que permitem o acompanhamento da implementação das decisões por parte da coletividade; da ampliação de fóruns de debate e de representações etc. (IAMAMOTO, 1999, p.124).

• Realizar visitas técnicas domiciliares e/ou institucionais também foi marcada por 05 profissionais entrevistadas, sendo reconhecida como atribuição cotidiana no campo dos RPPS Municipais. • Realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social foi registrada por 04 profissionais. • O Treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social foi marcado apenas por 02 profissionais, fato que merece atenção, uma vez que o processo de formação profissional está intrinsecamente ligado ao estágio.

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A Supervisão de Estágio consta nas atribuições privativas dos Assistentes Sociais (Lei nº 8662/1993). Deste modo, a primeira impressão é de estranhamento diante do pequeno número de profissionais que acusaram receber Estagiários. Porém, para o cumprimento desta atribuição o CFESS regulamenta que apenas profissionais devidamente cadastradas nos Conselhos Regionais podem cumpri-la, assim sendo, no caso das Assistentes Sociais que foram contratadas com outras funções e cargos, ou seja, que não estão em pleno gozo dos direitos profissionais, não devem supervisionar estagiários. • A Elaboração, coordenação, execução e avaliação de planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social, atribuição contida no art. 4º, da Lei de Regulamentação da Profissão, foi registrada apenas por 03 Assistentes Sociais. Verifica-se a necessidade de maior empenho na qualificação dos profissionais, no tocante aos processos relacionados ao planejamento. Assim como, um levantamento acerca dos objetivos destes projetos, públicos alvos contemplados, resultados almejados no sentido de garantia de direitos e condições concretas fornecidas pelos RPPS para a execução destes trabalhos. • A atribuição de Encaminhar providências e prestar orientações sociais a indivíduos, grupos e à população foi sinalizada por 05 profissionais. Esta, conecta-se diretamente com a dimensão pedagógica do fazer profissional e com o estímulo ao funcionamento da rede. • Orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de direitos, reconhecidamente realizada nos mais diversos espaços sócio-ocupacionais do Assistente Social, foi confirmada por 05 profissionais. Para a materialização desta atribuição, se faz premente, como aborda Iamamoto (1999, p. 124) “(...) o conhecimento da normatização institucional e legislação respectiva é condição para socializar informações na ótica dos direitos dos usuários”. • Planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais e Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e subsidiar ações profissionais foram marcadas por 04 profissionais. Fortalecer estas ações requer:

postura crítica norteada pelos valores que embasam o projeto ético-político do Serviço Social. O desempenho profissional requer capacitação para atuar em equipes interdisciplinares, para realizar pesquisas sobre temas da realidade regional, para informar projetos de trabalho (IAMAMOTO, 1999, p.124).

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• Prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade teve afirmativa de apenas 02 profissionais. Esta atribuição é prescrita na Lei de Regulamentação da Profissão (1993), tanto no art. 4º quanto no art. 5ª e, o fato de ser pouco desenvolvida pode indicar a programação de espaços de formação da categoria sobre este tema, que vislumbra a qualificação de profissionais e usuários. • Ações de fortalecimento do coletivo, tiveram apenas 04 Assistentes Sociais afirmando realizar. Ressalta-se que demandam, como norteia Iamamoto (1999, p. 124):

Um profissional informado, crítico e propositivo, que aposte no protagonismo dos sujeitos sociais. Mas, também, (...) versado no instrumental técnico-operativo, capaz de realizar as ações profissionais, nos níveis de assessoria, planejamento, negociação, pesquisa e ação direta, estimuladores da participação dos usuários na formulação, gestão e avaliação de programas e serviços sociais de qualidade.

• Número considerado pequeno de profissionais, apenas 04, marcou Colaborar na realização de ações de capacitação profissional. • Realizar estudos e pesquisas sobre a realidade social, na qual se inserem os usuários da previdência e sua família, com vistas a subsidiar ações no âmbito da política previdenciária. Com apenas 04 respostas afirmativas, demanda enaltecer a função da pesquisa, tal como expõe Guerra (2009, p.702):

A pesquisa assume, assim, um papel decisivo na conquista de um estatuto acadêmico que possibilita aliar formação com capacitação, condições indispensáveis tanto a uma intervenção profissional qualificada, quanto à ampliação do patrimônio intelectual e bibliográfico da profissão, que vem sendo produzido especialmente, mas não exclusivamente, no âmbito da pós-graduação stricto senso.

• Das 07 pesquisadas, 05 confirmaram Emitir parecer social com objetivo de fornecer elementos para o reconhecimento de direitos, manutenção e recurso de benefícios e decisão médico-pericial. Questão que imbrica os instrumentais técnico operativos com a dimensão ético-política da categoria, no sentido da garantia de direitos. Chama atenção o fato de nem todas as profissionais serem contratadas como Assistente Social, o que, consequentemente, limita a realização de atribuições privativas e, de acordo com a Lei nº 8662/1993, que regulamenta a profissão, a emissão de parecer social é uma destas. • Apenas 04 profissionais destacaram Promover articulação com entidades públicas e da sociedade civil para conhecimento e acesso à rede de serviços. Provoca

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inquietação esta quantidade de afirmativas, uma vez que tal ação é postulada em praticamente todos os documentos basilares da categoria, sendo essencial para o trabalho em rede, com outras políticas públicas garantidoras de direitos, para a redução da burocracia nos encaminhamentos dos usuários para outros serviços e benefícios, enfim, para o fortalecimento do trabalho articulado com Assistentes Sociais e outras categorias profissionais de instituições diversas. • Diante da competência de Contribuir para a formação de cidadãos conscientes acerca da proteção ao trabalho e da ampliação do acesso às políticas de Seguridade Social, 05 Assistentes Sociais reafirmaram desempenhar. Sobre tal ação, cabe somar com as análises de Guerra (2017, p. 75) “é necessário investir em estratégias e táticas socioeducativas de organização e mobilização dos sujeitos com os quais trabalhados na perspectiva de que eles se organizem como sujeitos coletivos”. Destarte, frente às atribuições e ações mencionadas por documentos técnicos do Serviço Social na Previdência Social e normativos da categoria, percebe-se que as profissionais não identificaram “outras atribuições”. Ademais, as ações com menor número de marcações pelas Assistentes Sociais foi: “Treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social” e “Prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade”. Por outro lado, complementaram nas respostas subjetivas outras possibilidades de ações, atribuições e/ou competências, tais como: • Execução de projetos sobre educação previdenciária; • Realização de atividades com servidores na iminência da aposentadoria, ou seja, ainda na ativa, visando a preparação para a aposentadoria; • Desenvolvimento de ações de qualidade de vida para servidores aposentados e pensionistas; • Acompanhamento aos servidores readaptados. É fato que em meio às características das Assistentes Sociais pesquisadas, aos quesitos relativos ao trabalho, relações estabelecidas com demais profissionais e usuários, autonomia relativa e atribuições, já foram expostas algumas pelejas e potencialidades profissionais que, de modo transversal, atravessam essas questões. No entanto, o tópico a seguir abordará com mais detalhes os desafios e possibilidades do trabalho de Assistentes Sociais nos RPPS de Municípios do RN, a partir das falas das profissionais. Acredita-se que “o ponto de partida é, pois, que a história é fonte de nossos

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problemas e chave de suas soluções” (IAMAMOTO, 2012, p. 108), assim, desvendar os ‘muros’ e as ‘pontes’ do trabalho nestes espaços pode trazer à tona novas alternativas e respostas para a categoria e para a sociedade.

3.3. Desafios e Possibilidades de Intervenção Profissional

É fato que a “legitimidade social de uma profissão encontra-se nas respostas que ela dá às necessidades histórico-sociais num determinado tempo e espaço” (GUERRA, 2017, p. 51). Inquestionável reconhecer que estas respostas são atravessadas por desafios e possibilidades materiais e subjetivas, as quais se agudizam no processo de minimização do papel do Estado para com as necessidades dos trabalhadores. Como ressalta Raichelis (2018, p. 54) diante das contrarreformas adotadas e as consequências para a classe trabalhadora:

As mudanças que têm sido adotadas visam reduzir drasticamente os direitos dos/as servidores/as do Estado, no contexto da contrarreforma neoliberal, com a justificativa de cortes de gastos e pagamentos dos juros da dívida pública, dispositivo do Estado que dilapida o fundo público e transfere parte da riqueza socialmente produzida para o capital financeiro.

Destarte, o Assistente Social sofre os impactos direto destas mudanças, que acarretam a intensificações nos desafios intrínsecos à profissão, bem como, criam novos desafios. Como afirma Iamamoto (2012, p. 108):

se a história estabelece limites e abre possibilidades para as ações dos sujeitos, aqueles limites e possibilidades só se transformam em alternativas profissionais, quando apropriadas pela categoria profissional e traduzias em propostas por ela construídas na esfera da pesquisa, da formação e da prática do Serviço Social.

A categoria precisa se apropriar das condições objetivas de trabalho e fortalecimento do coletivo, de formação consistente e ética para, a partir de então, lançar propostas que tragam mudanças na realidade dos sujeitos e consigam, neste terreno árido germinar direitos. Entre os principais desafios enfrentados pelas Assistentes Sociais nos RPPS Municipais foram destacados: “Desmistificar o fazer profissional na previdência; Esclarecer os direitos e deveres; Realizar estudos e pesquisas sobre a realidade social na qual se inserem os usuários da previdência e sua família, com vistas a subsidiar ações no âmbito da política previdenciária”

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(Adélia Prado). A compreensão deste relato é de que a Assistente Social considera que o seu papel precisa ser melhor compreendido. Cora Coralina registrou:

Articulação com a rede de serviços públicos para garantia de acesso e direitos dos usuários atendidos junto à perícia médica; Articulação e obtenção de informações junto ao regime geral; articular os limites e possibilidades direcionando sua ação para os interesses dos usuários, buscando expandir seu campo de trabalho através de suas possibilidades e competências técnico-operativa, respondendo as demandas de forma ética e política, efetivando sua atuação na direção social e política do projeto profissional; Obtenção de informações de usuários que encontram-se internados, junto a rede de saúde pública e privada de forma a subsidiar no preenchimento de prontuário e relatórios.

Diversos elementos são identificados na fala da Assistente Social Cora Coralina, que retratam diferentes frentes de atuação profissional. A articulação com a rede, novamente citada, demonstra a necessidade de uma maior aproximação entre as políticas públicas. As informações necessárias do Regime Geral de Previdência Social abrem a possibilidade de se criar pontes entre as profissionais que atuam nestas diferentes instituições da política previdenciária. Corroborando com a fala de Cora Coralina, Guerra (2009, p. 712) reafirma:

O assistente social lida com múltiplas expressões das relações sociais da vida cotidiana, o que permite dispor de um acervo privilegiado de dados e informações sobre várias formas de manifestação das desigualdades e da exclusão social em sua vivência pelos sujeitos, de modo que a ele é facultado conhecer a realidade de maneira direta: a partir da intervenção na realidade, das investigações que realiza, visando responder esta realidade.

A Assistente Social, Cecília Meireles, enalteceu como desafios:

Por em prática o Programa direcionado aos ex-servidores aposentados e pensionistas; Por em prática um programa direcionado aos servidores do Instituto, no que diz respeito a qualidade de vida e relacionamento interpessoal; Rever outros assuntos pertinentes ao serviço social, que diz respeito a abrangência destes quanto ao atendimento aos usuários deste instituto.

Pela ótica da profissional alguns programas já planejados e em fase de implementação, os quais visam contemplar aposentados, pensionistas e também servidores do RPPS enfrentam entraves para sua concretização. Acredita-se que, com estas intervenções, o Serviço Social não só poderá alargar as possibilidades e mediações de direitos para estes públicos, como também sua legitimidade e utilidade social na instituição. Nísia Floresta registrou como principais desafios a:

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necessidade de Concurso Público com vagas suficientes destinadas aos setores que demanda profissional do Serviço Social; Articulação com o Setor de Perícia Médica, fundamental para identificar demandas que surgem através dos resultados dos benefícios (ex.: índice de servidores afastados por determinada doença; levantamento de quantitativo de aposentadoria por invalidez, tipo de doença).

Pertinente questão é tocada pela Assistente Social Nísia Floresta, que dá relevo à necessidade de concurso público, carência em todo o território nacional, de modo ímpar no atual governo federal que verbalizou a necessidade de enxugamento da máquina pública. É merecedor de precaução o fato de que uma profissional desenvolve funções que já apresentam volume e complexidade que requer mais profissionais. No que se refere à demanda por concurso público, destacada por várias Assistentes Sociais pesquisadas, vale registrar, com indignação, a fala do atual Ministro da Economia, Paulo Guedes, no dia 07 de fevereiro de 2020, quando, em pronunciamento em defesa da reforma administrativa comparou os servidores públicos a parasitas e o Estado como hospedeiro. O referido Ministro verbalizou: “O hospedeiro está morrendo, o cara virou um parasita, o dinheiro não chega no povo e ele quer aumento automático, não dá mais”. Não apenas a fala causa revolta, mas as atitudes do atual Governo refletem o descaso com a coisa pública e a primazia pela valorização do mercado e da privatização do patrimônio nacional. O cenário é turvo para conquistas cidadãs, no entanto, se faz urgente resistir. Desperta curiosidade o registro de que se faz necessária maior articulação com a Perícia Médica, novas alternativas de intervenções se mostram iminentes, tais como o levantamento de tipos de doenças que acarretam afastamento e de aposentadorias antecipadas. Estes dados poderão servir como base para outras políticas e projetos. No registro da Assistente Social Elisa Lucinda, os desafios foram “a falta de carro para visitas aos usuários constantemente; a contratação de profissionais do Serviço Social com outros cargos por falta de Concurso Público; Salário baixo”. Sobre algumas condições de trabalho precárias citadas por Elisa Lucinda, típicas das armadilhas da lógica neoliberal que faz com que o Estado ganhe contornos mais privados do que públicos, Raichelis (2018, p. 53) nos traz uma excelente e preocupante análise:

o que se observa na administração pública brasileira é que grande parte dos serviços públicos é realizada não mais pelo servidor público, profissional concursado cujas relações de trabalho são regidas por regime jurídico próprio, mas pelos mais diferentes tipos de trabalhadores, em geral empregados de forma precária, com contratos temporários, sem os mesmos direitos do funcionalismo estatutário, com salários mais baixos e expostos a maiores riscos e inseguranças – constituindo novas hierarquias entre os próprios trabalhadores.

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As Assistentes Sociais Auta de Souza e Pagu não descreveram os desafios, nem as possibilidades de intervenção profissional. Portanto, temos como principais desafios referenciados pelas profissionais do Serviço Social nos RPPS Municipais:

Tabela 4: Principais Desafios Destacados pelas Assistentes Sociais nos RPPS Municipais do RN 1 Melhor compreensão do trabalho na Previdência Social; 2 Realização de estudos e pesquisas sobre a realidade dos usuários; 3 Articulação com a rede e garantia de acesso aos usuários; 4 Obtenção de informações junto ao RGPS; 5 Execução de programas para servidores do RPPS (qualidade de vida e relações interpessoais); 6 Desenvolvimento de programas voltados aos aposentados e pensionistas; 7 Formas de contratação (Necessidade de concurso público); 8 Realização de intervenções com usuários da perícia médica (identificar a doença que mais causa afastamento, o que mais gera aposentadoria por invalidez); 9 Abrangência do número de usuários; 10 Consecução de informações complementares de usuários do Instituto, na rede de saúde para documentos relatórios/prontuários;

Fonte: Elaboração Própria.

Neste interim, constata-se que a corriqueira dificuldade de articulação com a rede e com outras políticas públicas, desvelada por várias Assistentes Sociais na pesquisa, desponta uma alternativa de potenciais encontros e/ou reuniões sistemáticas com representantes das políticas e instituições mais demandadas pelos usuários atendidos, de modo a estreitar os laços e desvendar os nós existentes, catalisando a descoberta de alternativas e respostas às principais expressões da questão social presente em cada RPPS. A possibilidade de conexão entre as profissionais em nível estadual é algo que se pretende instigar com este trabalho, assim como, em outras fronteiras territoriais. O fato da Assistente Social Cecília Meireles ter externado o anseio de implantar programas para o público de aposentados e pensionistas, como também de servidores do RPPS Municipal somado à fala das Assistentes Sociais, Nísia Floresta e Elisa Lucinda, que já desenvolvem projetos sociais com tais públicos, mostra-se potente para troca de vivências e informações.

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Após questionadas a socializar os obstáculos acima expostos, as Assistentes Sociais puderam elencar as principais possibilidades de intervenção profissional encontradas e desenvolvidas por elas, no RPPS Municipal. Afirma Mota (2016, p. 38) que, diante deste palco contraditório e desafiador, há na categoria “uma tentativa de busca permanente de novas condições de operar a atividade profissional em face da necessidade de estabelecer meios e formas de lidar com as ‘insistentes’ e expressivas manifestações da questão social”. A Assistente Social Adélia Prado enfatizou como possibilidades profissionais “realizar atividade de socialização no dia da realização da perícia médica; Realizar visitas institucionais para apresentar o Serviço Social no Instituto; Participar de eventos da rede municipal para apresentar o Instituto60 e o Serviço Social (reunião, conferência)”. Na fala de Cora Coralina, identifica-se:

buscar estratégias de intervenção profissional que se traduzem no fortalecimento dos trabalhadores na busca dos direitos sociais; Realização de abordagem social, visitas domiciliares e hospitalares, de forma a garantir acesso dos servidores ao atendimento pela Junta Médica e acesso a benefícios previdenciários, conforme regulamentação em lei; Orientações e encaminhamento de benefícios previdenciários.

Em outra fala observou-se:

Esclarecimento dos direitos sociais, dos meios de exercê-los e do estabelecimento conjunto com os beneficiários quanto a solução de problemas, tanto na sua relação com a instituição, como também na dinâmica da sociedade; Garantir o acesso ao direito previdenciário, através de orientações aos benefícios pertinentes a cada caso, tais como: pensão por morte, auxílio funeral, licença para acompanhar pessoa da família, dentre outros; Por fim, a intervenção profissional é realizada na busca dos direitos sociais dos usuários em conformidade com o direito previdenciário abrangido pelo RPPS (Cecília Meireles).

Mesmo diante deste cenário desafiador que se forjam as relações de trabalho, o Assistente Social peleja, cotidianamente, para realizar uma prática calcada no projeto ético político profissional, apresentar respostas, vislumbrando um horizonte em que o poder público possa cumprir o seu real papel e garantir direitos. Assim, como denota Guerra (2017, p. 51):

Pela forma de inserção socioprofissional na divisão social e técnica do trabalho, o espaço reservado ao Serviço Social, como um ramo de especialização do trabalho coletivo, é o de dar respostas, buscar prontamente soluções à pluralidade de questões

60 O nome do Instituto citado pela Assistente Social foi substituído pela autora, como forma de preservar a identidade da profissional.

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que lhe são colocadas, para o que necessita de fundamentos teórico-metodológicos, conhecimentos e saberes interventivos, habilidades técnica-profissionais, procedimentos teórico-metodológicos e de uma perspectiva ética com clara orientação estratégica.

A Assistente Social Nísia Floresta, ressaltou como possibilidades de intervenção profissional “sala de espera educativa; visita domiciliar e encaminhamentos institucionais”. Elisa Lucinda deu visibilidade à “proteção social; garantia de direitos e articulação com as redes socioassistenciais”. Deste modo, conforme alerta e provoca Iamamoto (2018, p. 83) o exercício da profissão:

Requer ir além das rotinas institucionais para buscar apreender, no movimento da realidade e na aproximação às forças vivas de nosso tempo, tendências e possibilidades aí presentes, passíveis de serem apropriadas pelo profissional e transformadas em projetos de trabalho.

Sem dúvidas, não é uma tarefa fácil sair das tarefas rotineiras e, por vezes, automáticas, estar junto aos usuários, conhecer suas queixas e necessidades, negociar com a instituição e gestão são desafios necessários para a construção de uma sociabilidade menos desigual, especialmente neste período da história do Brasil em que tem se tornado natural o retrocesso aos direitos.

Tabela 5: Principais Possibilidades de Intervenção Identificadas pelas Assistentes Sociais nos RPPS do RN

1 Socialização de informações previdenciárias e sobre direitos; 2 Abordagem social; 3 Participação em eventos para apresentar o Instituto; 4 Realização de visitas institucionais/hospitalares; 5 Visitas domiciliares; 6 Estratégias de fortalecimento dos trabalhadores na busca dos direitos sociais; 7 Orientações e encaminhamento de benefícios previdenciários e direitos sociais; 8 Busca pela garantia de acesso aos direitos sociais e previdenciários; 9 Articulação com a rede;

Fonte: Elaboração Própria.

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Nos últimos anos, a política previdenciária vem sofrendo ataques sequenciados, como já analisado, a mais recente contrarreforma já iniciada no ano 2019, mantem em 2020 as tentativas de implementar novas mudanças que reverberarão diretamente em estados e municípios, assim sendo, a pesquisa incluiu uma questão sobre como as Assistentes Sociais avaliam a política de previdência. Dentre as respostas obtidas, Adélia Prado destacou “A política de previdência social ao longo do contexto histórico vem vivenciando inúmeras alterações as quais tem apresentado a fragmentação dos direitos dos cidadãos e requerendo maiores contribuições”. A Assistente Social Cora Coralina expôs um “conceito” da política Previdência Social é um seguro público, coletivo e compulsório inserido no sistema de Seguridade Social. É um seguro social para a pessoa que contribui. Na fala de Cecília Meireles, a Previdência Social foi avaliada como “um tipo de seguro social destinado para quem contribui. Entende-se ainda como uma instituição, a qual, objetiva reconhecer e conceder os direitos dos seus segurados”. A avaliação de Nísia Floresta, ressalta:

Extremamente necessária para a seguridade social, atualmente sofre ataques que podem impactar diretamente nas vidas dos trabalhadores, e o serviço social concentra-se nessa linha tênue de ‘agente de proteção de direitos, quando se propõe a atuar na promoção dessa garantia ao mesmo tempo que é classe trabalhadora tal qual aos que sofrerão com os ataques’.

Assim como na fala de Adélia Prado, na de Nísia Floresta também se identifica o reconhecimento da fragilização dos direitos e do quanto estes desmontes repercutem na classe trabalhadora e, consequentemente, nas Assistentes Sociais. Por fim, Elisa Lucinda argumentou que a Previdência Social é “provedora de benefícios e instrumentos de política pública de renda, se tornando um fator de desenvolvimento socioeconômico dos municípios brasileiros”. Adverte a profissional o potencial de impactar na redistribuição de renda que a referida política possui, na capacidade de contribuir com um desenvolvimento menos desigual no país. As Assistentes Sociais Pagu e Auta de Souza não registraram suas avaliações. No que tange ao seu compromisso ético-político, segundo o CFESS (2018, p. 372) “o Serviço Social está voltado para assegurar o direito tanto pela ampliação do acesso aos benefícios e serviços previdenciários, quanto na contribuição para a formação de uma consciência de proteção social ao trabalho com a responsabilidade do Poder Público”.

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Longe de exaurir este debate e as tantas vertentes que o mesmo provoca, pensar no trabalho do Assistente Social neste palco de acontecimentos, afunilar para o espaço sócio- ocupacional de RPPS Municipais demanda um esforço de buscar estratégias de resistência, de organização coletiva, de qualificação profissional, de compreensão acerca das políticas públicas e seu papel essencial na construção de uma sociedade menos desigual, em que se possa florescer ideias de emancipação humana.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As ameaças que o capital impõe, com o acirramento da política neoliberal em que a financeirização mantém o reinado, são imensas. As fortes pressões do capital para redução da parcela do fundo público destinada as políticas sociais aliadas ao incentivo à privatização é uma realidade escancarada e preocupante, tornando urgente o esforço dos trabalhadores na luta constante pelas políticas públicas. A paisagem é embaçada e provoca inquietações individuais e coletivas. No entanto, a resistência para não se limitar à realização de rotinas burocráticas, automáticas e apenas cumpridoras de metas institucionais deve ser cotidiana, o esforço diário de colaborar na construção de políticas universalizantes, pautadas na efetivação dos direitos sociais e da cidadania, sob a luz do projeto ético político da profissão é o horizonte que motiva pesquisa como esta que se apresenta. Não há a pretensão de esgotar os detalhes e questões que perpassaram o trabalho de Assistentes Sociais em Regimes Próprios de Previdência Social de Municípios do Rio Grande do Norte, o trabalho realizou um convite para uma aproximação, reflexão e análise sobre esta temática, trazendo questões consideradas relevantes para o exercício profissional que perpassam aspectos subjetivos e, também, materiais. Reconhecer tais questões, demandou antes, mapear todos os 39 Municípios do RN que possuem RPPS, em seguida, explorar aqueles 04 que possuem Assistentes Sociais e, a partir de então, identificar o perfil destas profissionais, as condições de trabalho, relações com outros profissionais, tempo na instituição, usuários atendidos, bem como os principais desafios e possibilidades de intervenção nestes espaços sócio-ocupacionais. Considera-se que o objetivo da pesquisa foi alcançado, sendo possível desvelar os principais desafios, as possibilidades de intervenção postos aos Assistentes Sociais e principais atribuições neste incipiente e, ao mesmo tempo, potente espaço sócio-ocupacional. Alguns “muros” e algumas “pontes” referenciadas pelas profissionais foram comuns, assim, instigar momentos de aproximação e trocas intermunicipal entre estas Assistentes Socias, podendo, em seguida, extrapolar para outras regiões, pode ser um fator fortalecedor do trabalho, da política pública previdenciária e das propostas de garantida de direitos por parte da categoria. A pesquisa trouxe à tona a quantidade tímida de Assistentes Sociais que trabalham em RPPS, considerando um universo de 39 Previdências Municipais, 35 não possuem este profissional e apenas 04 dispõem do mesmo. Ao mesmo tempo, revela a possibilidade de

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abranger a profissão para os demais RPPS, considerando as inquestionáveis frentes de trabalho que o mesmo desempenha neste espaço sócio-ocupacional. As principais atribuições sublinhadas pelas Assistentes Sociais na pesquisa, revelam elementos “tradicionais”, contidos em documentos normativos existentes no INSS, direcionamentos das legislações específicas da categoria, como também “novas” estratégias e possibilidades de intervenção, na direção de ampliação e consolidação dos direitos previdenciários, ainda que neste palco assolado por obstáculos imensos. Ações direcionadas aos aposentados, pensionistas, aos servidores que estão na iminência da aposentadoria, além da identificação das causas que levam à requisição de afastamentos do trabalho e aposentadorias por invalidez e, ainda, colaborar nos processos de formação profissional dos servidores dos próprios Institutos são reconhecidos como demandas postas à profissão. De tal modo, os Regimes Próprios de Previdência Social dos Municípios do RN poderão ter sua missão institucional, bem como seu impacto social ampliado com o trabalho deste profissional somado aos processos já consolidados nestes espaços de concessão de benefícios previdenciários. Acredita-se que os RPPS Municipais com Assistente Social podem apresentar mais aproximação, articulação com outras instituições da rede, esclarecimentos e respostas às problemáticas sociais enfrentadas pelos usuários. Identificar os desafios afins também foi crucial, pois revelaram semelhanças entre diversas dificuldades enfrentadas, em contrapartida, também mostraram o quanto uma articulação entre as profissionais de diferentes Municípios do RN poderá catalisar esforços e alternativas no enfrentamento dos obstáculos. Estas questões revelam-se contrárias ao que vem ocorrendo na atualidade, ou seja, uma tentativa de exclusão do Serviço Social na Previdência Social, perda que é nitidamente drástica para a classe trabalhadora, para as conquistas de direitos sociais e para uma sociedade com menos desigualdade social. A junção de forças entre Assistentes Sociais que atuam no RGPS e aquelas dos RPPS pode representar novas alternativas de luta e resistência para manter a profissão nesta política. Assim, os RPPS Municipais, reconhecidos neste trabalho como espaços potentes para o Serviço Social, para o fortalecimento da política previdenciária pública, mostraram que de fato o são, por meio das experiências profissionais aqui partilhadas e analisadas. Acredita-se que este pequeno passo, acerca deste campo de estudo, possa fomentar outras pesquisas, curiosidades e maior conquista, por parte de Assistentes Sociais, nestes espaços sócio- ocupacionais.

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Persiste, entretanto, o desejo somado ao compromisso de socializar estes resultados com todos os gestores dos RPPS do RN, assim como, com as Assistentes Sociais que somaram para a concretização dos mesmos. Almeja-se que eventos de porte estadual sejam promovidos, no sentido de provocar a articulação entre as profissionais que trabalham nos RPPS em diferentes municípios. Há o real e profundo anseio de que o trabalho instigue outras pesquisas acerca desta temática tão cara e relevante para a categoria de Assistentes Sociais e toda a classe trabalhadora. A necessidade de mais trabalhos, registro de informações acerca do papel de Assistentes Sociais na Previdência nos RPPS em Municípios e Estados, os impactos causados por seu fazer profissional, as barreiras trazidas com as contrarreformas no Estado neoliberal, com a contrarreforma trabalhista e previdenciária, as demandas por qualificação profissional, os principais instrumentais de trabalho, enfim, uma gama de assuntos relativos à este campo de atuação e interesse. Por fim, que a bravura da categoria seja renovada diariamente, mesmo em tempos tão hostis e que se possa continuar a luta por uma sociabilidade mais justa e igualitária, iniciando pela efetivação de políticas públicas universalizantes, gratuitas e com qualidade, garantindo a cidadania e dignidade de todas as pessoas. Sem dúvidas, soa utópico, mas pequenas transformações são possíveis nos micro espaços onde nos inserimos. Assim, que em cada RPPS onde há Assistente Social, seja em qual unidade da Federação este se localize, que esta profissional possa somar forças com outras e com outros profissionais para construir uma política previdenciária mais democrática e abrangente.

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GOIANINHA. LEI Nº. 1.525 /2013. Institui o Regime Próprio de Previdência Social do Município de Goianinha, Estado do Rio Grande do Norte, Cria e Organiza o Fundo de Previdência Social do Município de Goianinha – GoianinhaPrev e dá outras providências. 05 de dezembro de 2013.

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MOSSORÓ. LEI COMPLEMENTAR Nº 061, DE 9 DE DEZEMBRO DE 2011. Institui o Plano de Carreiras, de Servidores Públicos e Sistema Retribuitório para os servidores do PREVI-MOSSORÓ, e dá providências correlatas. Mossoró (RN), 21 de dezembro de 2011.

MOSSORÓ. LEI COMPLEMENTAR Nº 123, DE 16 DE DEZEMBRO DE 2015. Dispõe sobre o Programa “Viver Melhor Previ Mossoró”, a ser administrado e executado pelo Instituto Municipal de Previdência Social dos Servidores Públicos de Mossoró/RN, altera dispositivos específicos da Lei Complementar n.º 060, de 09 de dezembro de 2011e dá outras providências. Mossoró (RN), 26 de fevereiro de 2016.

NATAL-RN. LEI COMPLEMENTAR Nº 2.145 de 20 de junho de 1973 com alterações efetuadas pela Lei Nº 2.183/1973. Dá nova organização ao Instituto de Previdência dos Servidores de Natal- IPREVINAT e dá outras providências.

NATAL-RN. LEI COMPLEMENTAR Nº 063, de 11 de outubro de 2005. Reorganiza o Regime Próprio de Previdência dos Servidores Públicos do Município do Natal, revogando a Lei Complementar 042 de 17 de julho de 2002, e dá outras providências.

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APÊNCIDES

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL - FASSO DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL - DESSO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL E DIREITOS SOCIAIS - PPGSSDS

QUESTIONÁRIO PARA PROJETO DE PESQUISA

1. A INSTITUIÇÃO POSSUI ASSISTENTE SOCIAL NO SEU QUADRO DE FUNCIONÁRIOS?

( ) SIM ( ) NÃO

2. SE SIM. EM QUAL SETOR O/A ASSISTENTE SOCIAL TRABALHA?

PERÍCIA MÉDICA ( ) SETOR DE SERVIÇO SOCIAL ( ) SETOR DE BENEFÍCIOS ( ) OUTRO ( ) ______

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL - FASSO DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL - DESSO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL E DIREITOS SOCIAIS - PPGSSDS

QUESTIONÁRIO

Com o objetivo de concretizar a Pesquisa61 sobre O Trabalho do/a Assistente Social em Regimes Próprios de Previdência Social de Municípios do Rio Grande do Norte, identificando os principais desafios, possibilidades de atuação e atribuições profissionais, contamos com a sua valorosa colaboração ao responder o presente questionário.

DADOS PESSOAIS E PROFISSIONAIS:

3. Faixa etária: ( ) 20 a 25 ( ) 26 a 30 ( ) 31 a 40 ( ) A partir de 41 4. Identidade de gênero: ( ) M ( ) H ( ) Transexual ( ) Outras Expressões 5. Formação: ( ) Graduação ( ) Especialização ( ) Mestrado ( ) Doutorado 6. Ano da Graduação: ______Universidade: ______7. RPPS onde trabalha: ______

8. Carga horária de trabalho: ( ) Até 20h semanais ( ) Até 30h semanais ( ) Até 40h semanais ( ) Acima de 40h semanais

7. Tempo que trabalha no RPPS: ( ) Até 1 ano ( ) Até 5 anos ( ) Até 10 anos ( ) Acima de 10 anos

8. Média salarial: ( ) De 1 a 3 salários mínimos ( ) De 3 a 5 salários mínimos ( ) De 5 a 8 salários mínimos ( ) Acima de 8 salários mínimos

9. Vínculo empregatício: ( ) Concurso ( ) Cargo comissionado ( ) Empresa terceirizada ( ) Cedido de outro órgão ( ) Outro ______

PRÁTICA PROFISSIONAL:

10. Em qual setor o/a Assistente Social atua no RPPS? (pode marcar mais de uma opção) ( ) Perícia médica ( ) Serviço Social ( ) Setor de Benefícios ( ) Outro ______

11. O/A Assistente Social foi contratado com a finalidade de atuar na área de sua formação ou em outra função?

61 A referida Pesquisa é vinculada ao Programa de Mestrado em Serviço Social e Direitos Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e conta com a Orientação da Professora Pós Doutora, Rivânia Lúcia Moura de Assis.

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( ) Assistente Social ( ) Outra função ______

12. No tocante às condições de trabalho postas ao/à Assistente Social, você considera: ( ) Favoráveis ao exercício do trabalho ( ) Não favoráveis à realização do trabalho Por que? ______

13. No ambiente de trabalho o/a Assistente Social realiza atendimentos e tem o sigilo profissional garantido? ( ) Sim ( ) Não

14. Quando se trata da relação do/a Assistente Social com outros profissionais da instituição, esta pode ser considerada: ( ) Favoráveis ( ) Não favoráveis Justifique ______

15. Considerando a autonomia profissional na referida instituição, o/a Assistente Social avalia que possui esta autonomia? ( ) Sim ( ) Não Justifique ______

16. Tratando-se da qualificação profissional, o/a Assistente Social considera-se capacitado para atuar na área de RPPS? ( ) Sim ( ) Não Justifique ______

17. O/A Assistente Social busca participar de eventos profissionais – cursos promovidos pelas Universidades, Órgãos da Categoria e Fóruns Técnicos específicos? ( ) Sim ( ) Não Por que? ______

19. Há programas e/ou projetos desenvolvidos pela instituição? ( ) Sim ( ) Não Se sim, quais: ______O/A Assistente Social participa dos programas e/ou projetos realizados pela instituição? ( ) Sim ( ) Não

20. Quais as principais demandas que chegam dos usuários/as ao Serviço Social?

21. Em média, quantos usuários são atendidos pelo/a Assistente Social, por mês?

22. Marque quais destas ações, atribuições e/ou competências são corriqueiras no cotidiano de trabalho do/a Assistente Social no RPPS: (pode marcar quantas opções desejar)

( ) Socialização de informações previdenciárias e assistenciais. ( ) Realizar visitas técnicas domiciliares e/ou institucionais. ( ) Realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social. ( ) Treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social. ( ) Elaboração, coordenação, execução e avaliação de planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social.

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( ) Encaminhar providências e prestar orientações sociais a indivíduos, grupos e à população. ( ) Orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmo no atendimento e na defesa de direitos. ( ) Planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais. ( ) Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade socia e subsidiar ações profissionais. ( ) Prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercícios e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade. ( ) Ações de fortalecimento do coletivo. ( ) Colaborar na realização de ações de capacitação profissional. ( ) Realizar estudos e pesquisas sobre a realidade social, na qual se inserem os usuários da previdência e sua família, com vistas a subsidiar ações no âmbito da política previdenciária. ( ) Emitir parecer social com objetivo de fornecer elementos para o reconhecimento de direitos, manutenção e recurso de benefícios e decisão médico-pericial. ( ) Promover articulação com entidades públicas e da sociedade civil para conhecimento e acesso à rede de serviços. ( ) Contribuir para a formação de cidadãos conscientes acerca da proteção ao trabalho e da ampliação do acesso às políticas de Seguridade Social. ( ) Outras: Especificar______

23. Entre os principais desafios enfrentados pelo/a Assistente Social no RPPS cite 03 que se destacam:

1.

2.

3.

24. Quanto às estratégias de intervenção profissional encontradas e desenvolvidas pelo/a Assistente Social no RPPS, aponte 03 principais:

1.

2.

3.

25. Como avalia a política de previdência?

26. Quais as diferenças e semelhanças entre o RGPS e RPPS?

Agradecemos imensamente por sua contribuição!