4.1.2 O Quadro Natural
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4.1.2 O Quadro Natural 4.1.2.1 Solos Os solos predominantes nos terrenos mais elevados dos maciços estão associados as ocorrências dominantes do Latossolo Vermelho Amarelo associado ao Cambissolo. O Latossolo Vermelho Amarelo apresenta-se com boa permeabilidade, bastante profundo e sua textura varia de argilosa a muito argilosa sendo, também, muito resistente à erosão. O Cambissolo é menos profundo, está relacionado às ocorrências de afloramentos da rocha-mãe, possui um horizonte B rico em minerais primários e boa drenagem mas é mais susceptível à erosão, (ver Mapa de solos – JAC-20-0003, em anexo). No maciço da Tijuca, nas áreas que margeiam os terrenos elevados dos maciços, o predomínio é do Podzólico Vermelho Amarelo; já nas áreas equivalentes do maciço da Pedra Branca a predominância é Podzólicos Vermelho Amarelo Eutrófico. Com texturas e estruturas bastante variadas, esses solos pouco profundos possuem um horizonte B arenoso, sendo muito susceptíveis à erosão. Na Baixada de Jacarepaguá, especialmente nas zonas de relevo mais rebaixado que ocorre entre os dois maciços, existem associações do Latossolo Vermelho Amarelo com o Podzólico Vermelho. Estes solos são muito profundos e intemperizados, não apresentando muitos vestígios de minerais primários. Mais próximo da linha de costa ocorrem o Podzol e os Solos Areno- Quartzosos profundos ocorrem nos cordões litorâneos. São muito porosos e extremamente permeáveis. Esses solos, no reverso do cordão mais recente e na frente e reverso do cordão mais antigo, encontram-se em posições topográficas mais baixas. No entanto, como estão muito próximos do nível das lagunas possuem algum teor de umidade, assim como um horizonte superficial mais espesso. Na região da Vargem Grande, mais precisamente nos campos inundáveis de Sernambetiba, ocorrem Solos Orgânicos Distróficos, mal drenados. Aqui ocorre a maior e mais espessa área de turfa da baixada. Na área de domínio das margens das Lagoas de Jacarepaguá, Camorim e Tijuca ocorrem solos de Mangue e Salinos Thiomórficos. Mais em direção aos maciços e relacionados aos baixos cursos fluviais, aparecem os solos Gley Diastróficos e Aluviais Eutróficos e Distróficos. Entre os maciços, onde ocorrem relevos planos ou levemente ondulados, está presente o Planossolo, muito lixiviado e sem uma boa drenagem, estando relacionado à presença de depósitos sedimentares antigos. Assim como o clima exerce sua influencia na pedogênese local, seus efeitos podem ser sentidos no desenvolvimento das formações vegetais. As condições normais médias de temperatura e pluviosidade determinam a distribuição das grandes formações de vegetação. Em micro-escala, clima, relevo, solo e vegetação interrelacionam-se criando fisionomias próprias para cada paisagem natural. 4.1.2.2 As Chuvas e as Vazões dos Rios As chuvas são as principais responsáveis pelo crescimento das vazões dos rios que descem dos maciços como, também, pelo desencadeamento da ação de processos que levam ao deslocamento de carga em direção aos canais fluviais. Ocorrência, freqüência, tempo de duração 54 e intensidade da chuva, assim como sua distribuição em área, são elementos fundamentais para criar e condicionar os processos de escoamento e infiltração. No momento em que as chuvas ocorrem, encontram um ambiente previamente definido, um certo estado antecedente, para o qual também as condições climáticas contribuíram, em diversas escalas de intensidade e tempo. Um material intemperizado, passível de ser trabalhado por um processo erosivo é, antes de mais nada, um produto da alteração das rochas para qual o clima contribuiu de modo expressivo, ao longo do tempo, principalmente através da combinação de elevadas temperaturas e precipitações, no caso das áreas tropicais. A freqüência e a intensidade de chuvas, nessa região, estão muito relacionadas à atuação das frentes frias vindas do sul e à presença do relevo, pela sua altitude e posicionamento. Entre as características e comportamentos da precipitação pluvial no Sudeste Brasileiro destacam-se os trabalhos de Nimer (1971). A Região Sudeste é, conjuntamente com a Região Norte, uma das regiões brasileiras de mais elevada pluviometria anual. Entretanto diferem-se pela distribuição espacial e pela irregularidade no tempo. “... na Região Sudeste, a altura das precipitações, quando comparadas de um ano para outro, isto é, o desvio pluviométrico, é tão notável que torna os índices, baseados em normais climatológicas, uma mera caricatura da realidade..., verões são caracterizados não apenas por um elevado número de ocorrências diárias, mais ainda por intensos aguaceiros de notável concentração horária... e ...precipitações elevadas não são anomalias nem mesmo um acontecimento extraordinário.” A existência dessas características e comportamentos não são, entretanto, exclusivas dessa região brasileira. Elas enquadram-se nas condições gerais inerentes ao clima Tropical. Nesse sentido, Ayoade (1986) destaca o fato de que a variabilidade da precipitação pluvial é mais importante nos trópicos do que na região temperada, assim como sua intensidade é maior. No caso das tempestades, procura demonstrar que elas "tendem a produzir um padrão desigual de precipitação pluvial para qualquer determinado dia, ou, até mesmo, para um período tão longo quanto um mês”. Aborda também a questão da existência de variações sazonais e espaciais nas chuvas dos trópicos, chamando atenção para o padrão randômico da ocorrência de tempestades, dificultando a análise da distribuição espacial das médias de precipitação. Quanto às características das tempestades, demonstra que são fenômenos altamente localizados, levando em conta que seus diâmetros de ocorrência, geralmente, são inferiores a 25 Km com duração média menor a sessenta minutos. O comportamento da precipitação reflete-se na atuação dos processos geomorfológicos. Nesse sentido, Monteiro recomenda que "o conhecimento regional das circulações e do ritmo de sucessão característico do verão deverá preceder às análises dos episódios catastróficos nele ocorridos", referindo-se aos eventos de movimentos de massa que aconteceram em Caraguatatuba (SP), Serra das Araras e Município do Rio de Janeiro (RJ). Indicava, também, que para serem geográficas, as análises dos episódios deveriam ser correlacionadas a outros fenômenos, uma vez que a importância e freqüência dos eventos seriam fundamentais para a caracterização dos sistemas morfológicos vigentes. Contrastando com esses momentos de grande precipitação, ocorrem períodos mais quentes e mais secos. No trabalho de Ferraz (1939) este aspecto é estudado. São citados como anos secos, no período que vai de 1880 a 1938, os anos de 1924-1925. A partir de 1924, vários períodos secos antecederam épocas muito chuvosas, especialmente na década de 60. A definição mais detalhada de anos chuvosos ou secos, muitas vezes esbarra na forma de apresentação das informações disponíveis dos totais pluviométricos. O serviço nacional de meteorologia expressa suas estatísticas dentro de um ano civil, contabilizando os registros do período mais chuvoso, que vai de outubro a março, em dois anos distintos. Para as grandes 55 chuvas, entretanto, pelos transtornos que causam, as informações são precisas em suas datas, fazendo com que sejam, bem identificados, os verões mais chuvosos. Nos grandes centros, como o Rio de Janeiro, onde há muito existem observações meteorológicas, é possível reconstituir esses períodos e também obter informações sobre o registro de grandes tempestades. Tais temporais são mencionados em todas as crônicas da cidade. Causaram desmoronamentos tal qual hoje em dia. “Ulisses Alcântara que nos dá notícia de dois grandes nas encostas do Morro do Castelo. O primeiro, em abril de 1759, foi tão forte e tanto encheu a cidade que uma canoa com sete pessoas pode navegar desde o Valongo até a Sé”, atual Igreja do Rosário. Ocorreram ainda, segundo Amarante (1960), grandes temporais em fevereiro de 1811, outubro de 1864 e março de 1919, assim como chuvas com mais de 100 mm, em 24 horas, conforme demonstra o Quadro 4.1: Quadro 4.1 - Eventos de grandes temporais PRECIPITAÇÃO DATA (mm) 16/05/06 126,7 13/02/13 102,4 18/04/14 112,3 30/03/22 105,8 04/03/24 171,8 14/04/54 102,2 20/12/54 124,3 Fonte: Marques, 1990. Nimer (1971) apresenta uma relação para as estações meteorológicas do Sudeste, no período de 1910 a 1933, com os valores de ocorrência de precipitação de totais elevados, em cada uma delas. Os maiores valores obtidos em todas não coincidem, necessariamente, com uma mesma ocasião de chuva em toda a região. No Rio de Janeiro, no estudo desenvolvido pela SURSAN (1965), é possível observar que até mesmo a freqüência de temporais, ao longo do ano, não é a mesma em todos os pontos do município, embora a grande maioria esteja concentrada entre os meses de dezembro a março. Alguma dúvida poderia existir, observando-se que esses resultados foram alcançados tomando períodos diferentes em cada estação, porém, Argento (1974) ao analisar e classificar as estações do Rio de Janeiro, com dados mensais do período de 1963 a 1972, quanto aos valores de precipitação e de temperatura, verificou quantitativamente a formação de grupos distintos entre elas, evidenciando portanto diferenças significativas. Os resultados deste trabalho apontam que o número de dias com chuva é grande, variando de 90 dias na Baixada de Jacarepaguá a 150 dias nas áreas mais elevadas dos maciços da Tijuca e Pedra Branca. Um aumento de 67 % para um raio inferior a dez quilômetros, que representa a distância média em linha reta entre as estações de Jacarepaguá e a do Alto da Boa Vista. Para o período de 1966 a 1975, Mattos (1976) apresenta, para a estação do Alto da Boa Vista, os seguintes valores de precipitação média, conforme o quadro 4.2, a seguir: 56 Quadro 4.2 - Precipitação (1966/75) - Alto da Boa Vista PRECIPITAÇÃO MÊS (mm) Janeiro 261 Fevereiro 231 Março 257 Abril 250 Maio 141 Junho 108 Julho 152 Agosto 141 Setembro 164 Outubro 206 Novembro 269 Dezembro 243 Total Anual 2423 Fonte: Mattos (1976) Com um total de 2.431 mm para 153 dias de chuva, é possível estimar em 15,8 mm o valor de uma precipitação média para 24 horas.