Natação feminina

FABIANO DEVIDE

Women swimmers

Women’s swimming as a sport started in São Paulo-SP in 1917, to the in Los Angeles in 1932. She broke the first generation enjoyed supremacy in South-American competitions, with the 50m freestyle separate event for women in a local world records of South-American women’s swimming in 1939, in they were not able to maintain the same high level either in tournament. Still in São Paulo, two years later, Blanche Pironnet the 100 and 200 breaststroke events. Other champions of this international events or in the Olympic Games (see Graph 1) during beat six men in a competition called Festa Sportiva Social (Social relevant phase were Helena Salles, Sieglinde Lenk, Scylla Venâncio, the 1990s. However, 12 Brazilian swimmers were part of the world Sports Party). Women’s swimming events started to be included Piedade Coutinho and Edith Groba. They all participated in the rank of FINA in 2001. Although today women and men participate more frequently in swimming competitions in Brazilian big cities Olympic Games between 1936 and 1952. The second generation of in the major national swimming competitions in almost equal after 1921. The first generation of great women champions in women’s swimming champions came up in the 1970s and 1980s, numbers (Table 1), women still have been falling short of reaching Brazilian swimming began in 1930 and lasted until the Olympic with very promising athletes who reached very high level during the same level of performance in international competitions. This Games in Helsinki in 1952, featuring – the very first their teenage years but then decided to quit competitions when chapter presents seven situations that explain today’s imbalance Latin American woman to participate in Olympic Games. She went they reached 18 in order to attend the university. Although this between genders in Brazilian swimming.

Origem No Brasil, a natação feminina pode ter sua origem Venâncio e Piedade Coutinho. Destacam-se Maria Lenk e Interpretações do desenvolvimento – Décadas de 1950 identificada por meio de um evento que a Associação Athletica São Piedade Coutinho. A primeira por utilizar o “butterfly”, estilo – 1960 A natação feminina diminui sua visibilidade na Paulo-AASP organizou em 1917: o “páreo de elegância”, uma compe- inédito entre as mulheres; a segunda, por se classificar aos 16 imprensa, não apresenta atletas que se sobressaíssem no tição no rio Tietê, com uma prova demonstrativa de 50 metros para anos, em 5º e 8º lugar nos 400 e 100 metros nado livre, cenário internacional, tendo menos expressão no cenário sul- mulheres. Reportou, então “O Diário Popular” da cidade de São Pau- respectivamente, melhor colocação de uma nadadora brasileira americano. Nos anos 1960, Eliane Pereira torna-se a nadadora lo-SP: “(...) a directoria resolveu abrir inscrições para um pareo entre nos Jogos Olímpicos até hoje (Organisationskomitee Für Die XI com melhores resultados internacionais e única atleta negra senhoras e senhoritas (...), com franqueza, nunca suppozemos que S. Olympiade, 1936). da seleção, deparando-se com reações racistas durante a Paulo, terra onde todas as iniciativas desta ordem têm falhado, pu- carreira esportiva. desse sem barulho, conseguir o que vimos. É realmente uma obra 1939 Maria Lenk forma-se professora de educação física e torna- meritoria a da directoria da Athletica, que (...) vae conduzindo para o se sua auto-treinadora. Aperfeiçoa o “butterfly” e leciona na Esco- 1972 Maria Isabel Guerra, Cristina Teixeira e Lucy Burle parti- ‘sport’, um grupo (...) de distinctas senhoras (...).” (10 mar. 1917, São la Nacional de Educação Física e Desportos, então sediada no Rio cipam dos Jogos Olímpicos de Munique, quebrando recordes Paulo, ano XXXIII, n. 11215, p. 3). A partir deste primeiro registro de Janeiro (hoje Escola de Educação Física e Desportos da Univer- sul-americanos. pode-se elaborar a memória da participação feminina na natação sidade Federal do -UFRJ) . Em outubro de 1939, brasileira por eventos subseqüentes, como se segue. quebra o primeiro recorde mundial da natação sul-americana, nos 1973 – 1974 Flávia Nadalutti, 13 anos, vence os 200 metros 100 metros peito. Em novembro quebra o segundo, nos 200 metros borboleta, com o 4º melhor tempo do mundo no Campeonato Ca- 1919 Em São Paulo, o Clube Espéria realiza sua Festa Sportiva peito, com marca inferior ao recorde brasileiro masculino. Era fa- nadense. Entre 1973-1974 ela quebrou mais de 10 recordes sul- Social, com provas de natação. No “9º páreo – 350 metros rio vorita nos Jogos Olímpicos de 1940, adiados pela II Guerra Mundi- americanos, recebendo da Federação Internacional de Natação- abaixo”, – Blanche Pironnet vence como a única mulher inscrita al: “(...) os recordes mundiais, (...) foram o máximo da minha carrei- FINA, a “Ordem dos Cavaleiros da Natação Sul-Americana”. entre 6 concorrentes homens. ra. Foram em vésperas de Jogos Olímpicos de 1940, quando eu esperava talvez uma medalha” (Lenk, 2001). 1975 Nadadoras como Rosemary Ribeiro, CristinaTeixeira e Flávia 1921 Na enseada de Botafogo, Rio de Janeiro-RJ, há a primeira Nadalutti declaram que abandonariam a natação para se dedicarem competição interestadual Rio x São Paulo com uma prova femini- 1941 A equipe feminina conquista o título do Campeonato Sul- aos estudos, um dilema presente na carreira atlética das atletas. na entre paulistas e cariocas: a prova de 200 metros “Nylsa e Americano de Viña Del Mar, vence todas as 8 provas. Destacam-se 1976 Maria Elisa Guimarães, Cristina Teixeira, Flávia Nadalutti e Nadir de Medeiros”. Blanche Pironnet de SP vence as 9 nadado- Sieglinde Lenk, Maria Lenk, Edith Heimpel, Cecília Heilborn, Rosemary Ribeiro participam dos Jogos Olímpicos de , os ras cariocas (FBSR, 1921). Liselotte Kraus e Piedade Coutinho (Parra, s.d.). “Jogos Anabolizantes” (Costa, 1996). 1922 Anésia Coelho e Alice Possolo participam da “Prova Clássica 1942 Maria Lenk se despede das competições, participando como 1978 No Troféu Brasil – competição nacional mais importante na Guanabara”, com 4,1 km entre a praia da Boa Viagem, Niterói-RJ e única mulher da excursão de sul-americanos aos Estados Unidos. modalidade –, Maria Elisa Guimarães torna-se a primeira sul-ame- a de Santa Luzia, Rio de Janeiro-RJ, ficando em 11º lugar e em 15º Aos 27 anos e competindo há 12, venceu as 12 provas que partici- ricana a nadar os 100 metros nado livre em menos de um minuto, respectivamente, chamando a atenção da imprensa e da sociedade. pou, quebrando 12 recordes norte-americanos e 3 mundiais não homologados pela FINA, por serem nadados em jardas. somando ainda todos os recordes sul-americanos em nado livre: 1923 Irene Martinsen, participa como única mulher da “Travessia 100, 200, 400, 800 e 1500. Guarulhos – Ponte Grande”, num total de 30km no rio Tietê (São 1948 Nos Jogos Olímpicos de Londres, participam 5 nadadoras: 1984 Aos 14 anos, Patrícia Amorim quebra o recorde sul-ameri- Paulo-SP). Entre 8 concorrentes, Irene é 4ª colocada, completando Maria Angélica Costa, Talita Rodrigues, Edith Groba, Eleonora cano dos 400 metros nado livre, obtido em 1976. É destaque da o percurso em 4h 32m 9s (AASP – recortes década 1920). Schmitt e Piedade Coutinho. As más condições de estadia e ali- mentação pioraram a performance das atletas. Piedade foi 6º lugar imprensa pelos vários recordes alcançados, mas não é convocada 1924 A “Travessia de São Paulo a Nado”, maior evento esportivo nos 400 metros nado livre, mesma colocação da equipe feminina no para os Jogos Olímpicos de Los Angeles, reivindicando, da então da cidade de São Paulo, reúne a sociedade paulista às margens e revezamento 4 x 100 metros nado livre. Confederação Brasileira de Natação-CBN, índices de convocação pontes do rio Tietê. Na primeira edição, entre 63 atletas, 10 foram e apoio à natação feminina. mulheres, a maior parte do clube alemão Estrela. 1951 Nos Primeiros Jogos Pan Americanos, Piedade Coutinho é a primeira nadadora medalhista em prova individual, nos 400 1986 Maria Lenk lança o livro Braçadas & Abraços, uma auto- 1930 Primeira competição de natação exclusivamente feminina metros nado livre. biografia, fonte para pesquisas na Educação Física. Torna-se a em São Paulo, na AASP, na primeira piscina regulamentar do país: primeira mulher membro do Comitê Olímpico Brasileiro-COB e “Foi (...) com grande receptividade do público. E foi onde nasceram 1952 Os Jogos Olímpicos de Helsinque, deste ano, marcam o assume a presidência da CBN. as nadadoras que depois foram aos Jogos Olímpicos” (Lenk, 2001). fim da primeira geração da natação feminina. Participam Piedade 1988 Após 12 anos de ausência, as nadadoras brasileiras retornam O programa constou de 15 “pareos”, com mais de 50 concorrentes, Coutinho e Edith Groba. A primeira torna-se a única atleta brasileira a participar de 3 edições dos Jogos Olímpicos. Edith aos Jogos Olímpicos, competindo em Seul, com Isabele Marques Vieira, representando 5 clubes da cidade: Estrella, a AASP, o Deutscher Mônica dos Anjos Resende, Patrícia Amorim e Adriana Pereira. Wessersport, o Tietê e o Esportivo da Penha. Groba não repetiu seu melhor tempo, entre os 10 melhores do mundo, que a classificaria para a final (Organising Committee Interpretações do desenvolvimento – Décadas de 1970- for the Games of the XV Olympiad, 1952). 1932 Maria Lenk destaca-se na “3ª Preparação Olímpica” (FFC, 1980 Surge a segunda geração da natação feminina, com atletas 1932), organizada pela Federação Brasileira das Sociedades do promissoras atingindo o alto nível na adolescência e abandonando Remo, tornando-se, aos 17 anos, a primeira sul-americana a parti- Interpretações do desenvolvimento – Décadas de 1910 – 1950 A natação torna-se um locus de poder simbólico e espaço o esporte antes dos 18 anos, ao ingressarem na universidade. A cipar dos Jogos Olímpicos, em Los Angeles, também neste ano, natação feminina retorna à imprensa com reivindicações. O esporte tornando-se pioneira no esporte feminino da América do Sul. de socialização de mulheres da elite, muitas de descendência européia. Incentivadas pelo discurso de intelectuais, que se profissionaliza e passa pelo dilema do doping, o que confere 1935 Primeiro Campeonato Sul-americano Feminino de concebiam a natação como a modalidade ideal para as mulheres, visibilidade às atletas da Cortina de Ferro. Inaugura-se um novo Natação, na piscina do Clube de Regatas Guanabara, no Rio de reforçando os interesses do Estado que propunha a eugenização padrão de corpo atlético feminino, resultante do treinamento es- Janeiro. Destacam-se Helena Salles, Maria Lenk, Sieglinde Lenk da raça centrada na mulher saudável, o esporte contribui para portivo e dos anabolizantes, gerando uma representação sobre a e Piedade Coutinho. que as nadadoras ganhem visibilidade e sejam valorizadas numa natação, como esporte masculinizante. sociedade patriarcal, rompendo valores de uma época que reserva 1936 Nos Jogos Olímpicos desta ano, em Berlim, participam 5 às mulheres a vida privada no lar, incorporando os papéis de mãe, 1994 No Rio de Janeiro há um torneio internacional com EUA, nadadoras: Helena Salles, Maria Lenk, Sieglinde Lenk, Scylla esposa e dona de casa. Itália e Rússia. Destacam-se Fabíola Molina e Paula Aguiar como

8.236 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 medalhistas em provas individuais, demonstrando a evolução da feminina base da seleção. Fabíola Molina, após ficar a dois centé- nina pela imprensa; ii) treinamentos específicos para a equipe natação feminina no país. simos do índice olímpico, não sendo convocada, gera polêmica e, feminina; iii) acompanhamento psicológico das atletas, com após documento enviado pela FINA à CBDA, torna-se a única foco nos seus interesses; iv) suporte acadêmico para evitar o 1995 Gabrielle Rose (norte-americana, naturalizada brasileira), e nadadora brasileira em Sidney. Nayara Ribeiro, 16 anos, terminou êxodo ao ingressar na universidade; v) diálogo com a família, Fabíola Molina são medalhistas em provas individuais nos Jogos o ano em 4º lugar no ranking mundial da FINA de piscina curta nos para aceitarem o desenvolvimento corporal das meninas; vi) Pan-Americanos deste ano (Juegos Panamericanos, 1995). 800 metros nado livre. um incentivo ao patrocínio das atletas; e vii) resgate da 1996 Gabrielle Rose é 4º lugar nos 200 metros medley e Fabíola experiência de ex-nadadoras. 2001 Doze nadadoras brasileiras aparecem no ranking mundial. Molina é finalista no nado costas no Campeonato Mundial de Na- Nayara Ribeiro torna-se a primeira brasileira a alcançar uma final tação em piscina curta. O Troféu Brasil de Natação é marcado pelo Fontes FBSR. (1921). Programma Official dos Concursos no Campeonato Mundial de Natação (8º lugar nos 1500 metros protesto de nadadoras direcionado a Confederação Brasileira de Aquaticos promovidos pelo Club de Natação e Regatas em 3 de nado livre) quebrando o recorde de 1989. Desportos Aquáticos-CBDA (substituta da CBN) pelos índices es- abril de 1921 na enseada de Botafogo. Rio de Janeiro; Lenk, M. tipulados para a natação feminina. 2002 No Pan Pacific do Japão, competição mais forte após o (2001). Entrevista cedida em 17 de março de 2001. Rio de Janeiro; Mundial, 3 atletas são finalistas em provas individuais: Nayara FFC (1932). A reunião preparatoria ás Olympiadas. FFC. ano I, n. 1998 Fabíola Molina classifica-se em 11º lugar nos 100 metros Ribeiro, e . Joana Maranhão, 33, Rio de Janeiro, p. 4; PARRA, L. C. (ed.). (s.d.). El libro de oro de costas, no Campeonato Mundial. 15 anos, torna-se uma promessa da natação feminina. la natacion sudamericana 1929-1979. Equador: Federation Interpretações sobre a década de 1990 O desenvolvimento Ecuatoriana de Natación; ORGANISATIONSKOMITEE FÜR DIE XI da natação feminina ocorreu com o surgimento de nadadoras jo- Situação Atual A natação feminina brasileira vem evoluin- OLYMPIADE. (1936). XI Olympiade 1936 – Amtlicher Bericht. vens; a identificação, pela CBDA, da necessidade de um programa do favoravelmente nos últimos anos, mantendo-se na dimen- Band II. Berlin; ORGANISING COMMITTEE FOR THE GAMES OF para a natação feminina; as reivindicações em prol de apoio da são quantitativa próxima à versão masculina a julgar pela par- THE XV OLYMPIAD. (1952). The official report of the organising imprensa, dos patrocinadores e da CBDA; intercâmbios internaci- ticipação no Troféu Brasil (Tabela 1). Contudo, questões de committee for the XV Olympiad. Helsinki; Costa, D. M. (2000). onais; mudanças comportamentais das mulheres e da sociedade gênero afetam de forma diferenciada homens e mulheres inse- Editions of women Olympic competition. Conferência apresentada sobre os padrões de corpo feminino e masculino; e atletas que se ridos neste esporte (Devide, 2003), refletindo no menor núme- no Fórum Olímpico 2000. Porto Alegre: UFRGS. (mimeo); JUEGOS tornaram exemplos para a nova geração. ro de mulheres que atingem o alto nível em relação aos ho- PANAMERICANOS, (XII). (1995). XIIth – mens, além da participação decrescente nos Jogos Olímpicos Mar del Plata ’95. Memoria Oficial – Final official Report; Devide, 2000 O Comitê Olímpico Internacional-COI entrega o colar do desde 1932 (Gráfico 1). Neste contexto, são discerníveis como F. P. (2003). História das mulheres na natação brasileira no século “Mérito Olímpico” a Maria Lenk. O Clube de Regatas Vasco da inventário atual, com base em fatos do passado, as seguintes XX: das adequações às resistencias sociais (tese de doutorado). Gama do RJ desenvolve um projeto nacional compondo a equipe demandas a serem preenchidas: i) cobertura da natação femi- Rio de Janeiro: UGF.

Tabela 1 / Table 1 - Participantes no Troféu Brasil de Natação Percentage of women in the main national swimming championship in Brazil

Gráfico 1 / Graph 1 Participação da natação feminina nos Jogos Olímpicos Fonte / source: COB (1997)

Moscou

DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 8.237