Circuitos de Produção da Agroindústria do Leite em Palmeira dos Índios – AL

Cicero Roberto Barbosa da Silva Universidade Estadual de – UNEAL [email protected]

Odilon Máximo de Morais Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL [email protected]

Wanderlan de Araújo de Oliveira Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL [email protected]

Rikelly da Silva Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL [email protected]

ESTÁGIO DA PESQUISA: EM ANDAMENTO

INTRODUÇÃO

A cidade de Palmeira tem sua formação ligada à pecuária. Essa atividade foi favorecidapor haver em seu território a nascente de dois importantes rios alagoanos, o e o . O primeiro,ligando a região ao Rio São Francisco. O segundo, ligando ao oceano, sendo por essa situação geográfica, local de encontro de caminhos do gado oriundos da ribeira do São Francisco e aqueles que vinham dos tabuleiros litorâneos do Sul alagoano e da região de Anadia,conforme Morais (2013).

Somam-se aos rios do gado, os caminhos para os sertões alagoanos em direção a Santana do Ipanema e aos sertões pernambucanos em direção as cidades de Garanhuns e pesqueira. Por ser um nó de diversos caminhos,a cidade passoua desempenha um papel deentreposto comercial entre o litoral e o sertão, desenvolvendo-se uma importante feira, sendo ponto de parada e dormida de viajantes. Seu crescimento foi acelerado no ultimo quarto do século XIX com a introdução e ampliação do cultivo de algodão. Para Sant’Ana (1970), em 1875, quase a totalidade do algodão produzido em Alagoas era de Palmeira dos Índios, , Viçosa, União dos Palmares e Anadia. Até os anos 70 do século XX, a cidade de Palmeira dos Índios era a principal cidade do Agreste e Sertão alagoano em detrimento da base técnica do território brasileiro ter sido alicerçada no sistema ferroviário nos fluxos de mercadorias e transporte de pessoas (Corrêa, 2002). Por ter sido preterido o sistema ferroviário, a nova lógica de organização territorial centrado na rodovia,concomitante ao fim da cultura algodoeira em todo o Nordeste, levou a cidade de Palmeira dos Índios a perder a hegemonia da região, consequentemente, levando ao declínio diversos estabelecimentos industriais, sobretudo têxteis. Apesar do declínio da cotonicultura e importância regionalda economia da cidade de Palmeira dos Índios, esta ainda continuou como forte produtora de leite, sendo a mais importante cidade da bacia leiteira alagoana. Essa bacia leiteira é considerada a maior produtora de leite in natura da região Nordeste, possuindo aproximadamente 2.500 produtores, com um volume aproximado de 250 mil litros/dia de leite e um rebanho estimado em 30.000 cabeças, conforme Banco do Nordeste (2014). A Bacia leiteira ainda conta com diversas indústrias de processamento e beneficiamento de leite, bem como de seus derivados, produzindo iogurtes, achocolatados, queijos e doce de leite. A cidade de Palmeira dos Índios, mesmo não estando no sertão, local onde se concentra a maioria dos seus produtores,concentra a maior produção de lacticínios da bacia leiteira, com grandes estabelecimentos a

exemplo, a Indústria de Lacticínios de Palmeira dos Índios S.A. – ILPISA (marca Valedourado) e a Bona Sorte.

OBJETIVOS

O objetivo geral deste trabalho é buscar compreender os circuitos de produção da agroindústria leiteira no município de Palmeira dos Índios – AL. Os objetivos específicos são: • Identificar as indústrias localizadas em Palmeira dos Índios, classificando-as por mercadorias produzidas, volumes de produção e vendas, número de trabalhadores, etc; • Mapear a localização dos empreendimentos industriais, observando sua relação com os fornecedores e produtores da bacia leiteira do sertão alagoano; • Identificar os circuitos espaciais de produção das maiores indústrias, i.e., ILPISA e Bona Sorte; • Analisar a história de formação dessas indústrias no intuito de compreender a sua formação, bem como, identificar a relação com os produtores de leite e os atravessadores.

METODOLOGIAS

Metodologicamente, destacamos primeiramente a grande contribuição de Santos (1977) com a categoria de formação socioespacial. Essa categoria nos leva a pensar o espaço não como palco ou uma forma, mas como processo ou formação, sendo o espaço social, ou como este diria uma instância social (Santos, 1985, 1997). A categoria formação socioespacial obriga-nos a pensar como indissociáveis o modo de produção, a formação social e o espaço. Além dessa contribuição, permite perceber que “as diferenças entre os lugares são o resultado do arranjo espacial dos modos de produção particulares. O ‘valor’ de cada local depende de níveis qualitativos e quantitativos dos modos de produção e da maneira que eles se combinam” (SANTOS: 1977, p.87). Como se ver, Santos dá destaque as combinações.

Para essa categoria, nos utilizaremos das observações feitas por Cholley (1964) que ver, nas noções mais simples da realidade geográfica, a noção de combinações de complexos. Para esse autor a Geografia toma a própria combinação como objeto de seu estudo. Daí ser dito que “a própria estrutura das combinações geográficas nos impede de considerar isoladamente os fatôres que a compõem, isto é, em si mesmos. Êles existem sòmente, como elementos da combinação e é nas combinações de que fazem parte, que convém apreciá-los.”. Nesse sentido, como as combinações de diferentes modos de produção são complexas, envolvendo fatores naturais, biológicos e humanos, torna-se evidente a formação desigual e combinada dos territórios. Assim quando Trotski (1967) ou Lênin (1982) nos descrevem a evolução do capitalismo na Rússia nos fazem a partir dessa visão do desenvolvimento desigual: “a desigualdade do ritmo, que é a lei mais geral do processus histórico... Sob o chicote das necessidades externas, a vida retardatária vê-se na contingência de avançar aos saltos.” (Trotsky: 1967, p.25). Ainda diz que “Desta lei geral da desigualdade dos ritmos decorre outra lei que... chamaremos de lei do desenvolvimento combinado , que significa aproximação das diversas etapas, combinação das fases diferenciadas, amálgama das formas arcaicas com as mais modernas” (Idem). Essa categoria também nos é bastante rica por permitir compreender o desenvolvimento em países ou regiões atrasadas. Nesse sentido para Trotsky (2007), o desenvolvimento do capitalismo nesses espaços implicaria a superação atrasos com a incorporação de técnicas mais avançadas que consequentemente implicaria em mudanças nas combinações. Esse elemento é o que o autor chamou de “avançar aos saltos”. E são nesses saltos que se verifica uma outra formação socioespacial, diferente das dos países de onde foram importadas, formando o caráter particular e diferenciado, próprio das formações dos territórios. Para Santos (2006), “...diferentes sistemas técnicos formam uma situação e são uma existência num lugar dado... A forma como se combinam sistemas técnicos de diferentes idades vai ter uma conseqüência sobe as formas de vida possível naquela área”. Esse caráter particular dos lugares tem que ser é analisado em sua totalidade. Nesse sentido, as complexidades devem ser compreendidas em suas múltiplas escalas

geográficas, onde o particular e o universal fazem parte de um mesmo movimento dialético (Kosik, 1976). Dito isto, a compreensão do que seja o espaço geográfico partirá da proposição de SILVA (1987, p. 110-111) onde “O espaço geográfico consiste numa estrutura que tem como imput a desigual combinação de fatores que interagem e se equilibram formando paisagens diferenciadas homogêneas ou heterogêneas, de caráter natural ou humano.” Tem-se ainda como complemente da definição a de Santos (idem, p.63) que diz que “o espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá.” Na compreensão do desenvolvimento econômico e social do Nordeste brasileiro, em especial, o desenvolvimento da pecuária e a formação das classes latifundiárias nordestinas e alagoanas, busca-se as contribuições de Andrade (1979, 1997, 2005), Abreu (2000),Pompeu Sobrinho (1937), Oliveira (1977) Furtado (1986), Prado Jr. (1997), Rangel (2005), Santos e Silveira (2006), Mamigonian (1976, 2009), Sant’Anna (1970); Costa (1983), Carvalho (1982).

RESULTADOS PRELIMINARES

Como resultados preliminares, a partir da elaboração de uma periodização, pode- se destacar que a centralidade exercida pela cidade de Palmeira dos Índios é fruto de processos anteriores de modernização do território, principalmente pelo papel comercial exercido pela cidade que era ponta de trilho de toda a região do sertão alagoano, conforme Corrêa (1994). A grande circulação de capitais na cidade permitiu oseu crescimento, possibilitando o surgimento de estabelecimentos industriais e diversas casas comerciais. Atualmente, a cidade possui diversas pequenas indústrias artesanaisligadas ao setor de lacticínios que produzem, em sua maioria, queijos. Há por outro lado, duas

outras indústrias que se destaque por seu tamanho e marcados. É o caso da ILPISA (Vale Dourado) e a Bona Sorte. A Vale Dourado tem uma diversidade maior de produtos, sendo o leite pasteurizado e os sucos de laranja os de maior importância para a empresa. Destaca ainda a produção de iogurtes, coalhada, achocolatados, chocolates, manteigas, creme de leite, leite condensado, leite em pó e sucos adicionados com leite. A venda dos produtos da marca ValeDourado tem atingido todas as capitais da região Nordeste, bem como, já possui uma inserção nos mercados do Complexo Regional do Centrosul. A Bona Sorte é menor que a Vale Dourado, contudo possui um maquinário mais moderno. Instalou-se na cidade em 2010, produzindo, sobretudo, bebidas lácteas e queijos de coalho. Produz ainda manteiga e coalhada. Tem crescido bastante no mercado local e sergipano. Quanto aos produtores da bacia leiteira do sertão alagoana, eles vendem a maior parte de sua produção para essas indústrias, sendo uma pequena parte da produção vendida a empresa Lácteos Brasil S.A, detentora da marca Parmalat e Bom Gosto, localizada a uns 40km da cidade de Palmeira dos Índios, na cidade de Bom conselho – PE.A indústria alagoana também tem adquirido leite da bacia pernambucano, sobretudo, nos períodos de estiagem que atingem com mais intensidadea bacia leiteira alagoana. Esses produtores tiveram muito prejuízos nesses dois últimos anos devido a seca que tem atingido a região Nordeste. A relação dos produtores com as empresas tem sido bastante conflituosa, sobretudo, devido o preço do leite no mercado, bem como a produção abaixo do estimado pelos produtores que ampliaram seus custos devido à necessidade de complementar a alimentação do rebanho com rações e forragens. Essa diminuição na oferta de leite tem provocado uma ociosidade nesses estabelecimentos, promovendo a demissão de operários, seja pela redução de matéria- prima, bem como pela redução do consumo de iogurtes e queijo devido à elevação do preço desses produtos. Como principais desafios para a agroindústria leiteira, destacam-se a ampliação da oferta de leite que passa por melhoramento do rebanho, redução dos custos com

rações, melhores condições de armazenamento do leite e transporte, bemcomo, modernização do sistema de ordenhas e cuidados com o rebanho. A relação entre produtores, atravessadores e a indústria também tem conflitos que giram em torno do preço do leite. Os produtores são os mais prejudicados devido, sobretudo, a dificuldade no armazenamento do leite, produto bastante perecível e no seu transporte. Esse problema tem sido com resolvido em algumas regiões da bacia leiteira por meio de investimentos em Unidades Comunitárias de Resfriamento de Leite – UCRL e caminhões. Essas unidades e veículos são financiados com recursos do PROINF fazendo parte das ações do programa Território.

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