Autodidatismo, anarquismo individualista e tecnologia no romance O Autodidata (1926), de Han Ryner

GILSON LEANDRO QUELUZ *

Resumo : O objetivo desse texto é analisar as relações entre autodidatismo e tecnologia no romance L’Autodidacte (O Autodidata), publicado em 1926 pelo anarquista individualista francês, Han Ryner (1861-1938). A obra é marcada pela tematização do autodidatismo, característico das práticas libertárias, como elemento fundamental da construção de um conhecimento crítico, questionador da ordem dominante, das estruturas educacionais hegemônicas e dos padrões de desenvolvimento científico e tecnológico. A trajetória do personagem Nicolas Chardonnet possibilita uma visualização do potencial emancipatório da humanidade através de formas alternativas de educação definidas pelo exercício da autarquia, da autonomia e da não violência. Palavras chave : Han Ryner; Anarquismo; Autodidatismo. Self-learning, individualist and technology in the novel The Autodidact (1926), by Han Ryner Abstract: The purpose of this paper is to analyze the relationship between self- learning and technology in the novel L'Autodidacte (The Autodidact), published in 1926 by the French individualist anarchist Han Ryner (1861-1938). The work is marked by the thematization of self-learning, characteristic of libertarian practices, as a fundamental element in the construction of critical knowledge, through the questioning of the dominant order, the hegemonic educational structures and the standards of scientific and technological development. The trajectory of the main character, Nicolas Chardonnet, allows a visualization of the emancipatory potential of humanity through alternative forms of education defined by the exercise of autarchy, autonomy and nonviolence. Key words : Han Ryner; Anarchism; Self-learning.

* GILSON LEANDRO QUELUZ é professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná no Departamento de Estudos Sociais e no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade (PPGTE) da UTFPR; Doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).

101

Introdução autodidatismo e tecnologia a partir de uma abordagem libertária. Em 1926, o anarquista individualista Han Ryner (1861-1938) foi um filósofo Han Ryner (1861-1938) publicou o e professor francês. Publicou em torno romance L’Autodidacte (O Autodidata), de cinquenta livros de variados gêneros no qual narra a saga de um jovem órfão, como contos, novelas, peças teatrais e Nicolas Chardonnet, em sua busca ensaios filosóficos, estando dentre os obsessiva pelo conhecimento. O mais conhecidos Pequeno Manual romance demonstra as estratégias de Individualista (1905), O Quinto resistência de Nicolas às diversas formas Evangelho (1911), Homem formiga de opressão social, através do (1910), Os Super humanos (1929), Os autodidatismo. Apesar de seu interesse Pacifistas (1914). No início do século pelos vários modos de conhecer, sua XX seus textos eram publicados pela paixão maior era pelas matemáticas. Esta imprensa anarquista e tinham preferência foi complementada por uma significativa repercussão nos meios fascinação pela mecânica, que lhe dava a intelectuais franceses. percepção da potencialidade de concretização material da matemática e O livro L’Autodidacte foi publicado em o desejo de pesquisar engenhosos 1926. Nesse período entreguerras havia artefatos tecnológicos. uma diminuição da popularidade do anarquismo entre as classes A obra é marcada pelo tema do trabalhadoras francesas. O anarquismo autodidatismo, característico das originou-se do movimento dos práticas libertárias, como elemento trabalhadores na segunda metade do fundamental da construção de um século XIX, consistindo, segundo conhecimento crítico, questionador da Woodcock (1983, p. 11), em uma ordem dominante, das estruturas filosofia social que visava “promover educacionais hegemônicas e dos padrões mudanças básicas na estrutura da de desenvolvimento científico e sociedade e, principalmente -pois esse é tecnológico. Ryner filia-se à tradição do o elemento comum a todas as formas de pensamento anarquista sobre a anarquismo- a substituição do estado tecnologia que, em sua postura autoritário por alguma forma de antidogmática e antiautoritária, cooperação não-governamental entre problematizou, nas primeiras décadas do indivíduos livres”. Na França, após o século XX, as concepções naturalizadas período de dominância do anarquismo de progresso e civilização. Desta insurrecional 1, no final do século XIX, e maneira, pretendemos compreender de hegemonia do sindicalismo como o autor constrói em seu romance revolucionário 2 na Belle Époque, o uma visão crítica das relações entre cenário entreguerras era de divisão

1 O anarquismo insurrecional é a corrente que se filiação ideológica específica, estando abertos a opõe a processos reformistas e defende a ação socialistas, anarquistas e outras correntes, desde armada, contra as classes dominantes e as suas que aceitassem a ideia de autonomia sindical. Por instituições, como a principal forma de despertar acreditarem que os ganhos nas lutas trabalhistas um processo revolucionário espontâneo cotidianas eram fundamentais para a (CORRÊA, 2015). emancipação operária, foram criticados como 2 O sindicalismo revolucionário, apesar de reformistas por anarquistas, especialmente pelos considerar o sindicato como base da sociedade anarco-comunistas. (TOLEDO, 2004). futura, defendia que os sindicatos não deviam ter

102

acentuada entre as três principais tornou-se central para o movimento correntes: anarco-comunismo 3, anarco- anarquista naquele período. sindicalismo 4 e anarquismo individualista. Esta “crise no Han Ryner foi um anarquista anarquismo” acentuou-se pelo individualista. O anarquismo fortalecimento da influência do partido individualista, segundo Diez, comunista entre os trabalhadores, pela perseguição aos anarquistas É uma modalidade diferente de empreendidas pelos bolcheviques na encarar a emancipação e Rússia, e pelo fascismo na Itália. Neste coletiva do proletariado desde um contexto, Richard Soon (2010) espaço a margem de partidos e argumenta que os anarquistas evoluíram ideologias. É a manifestação de uma por “preferência e necessidade em verdadeira tradição política direção a uma forma de práxis que pode autônoma e liberal com seu ser chamada de anarquismo ético” vocabulário específico. Uma (SOON, 2010, p. 6) como estratégia de corrente anarquista alternativa que 5 interpreta particularmente os combate ao senso comum hegemônico , clássicos (Proudhon, Bakunin...), de que considerava o anarquismo como uma riqueza e vitalidade desordem e associado à violência, e de surpreendentes. É uma constante no esforço de fortalecimento do anarquismo e um dos componentes movimento. Esse anarquismo ético, de seu substrato teórico que o comum às diversas correntes, era singularizam a respeito de boa parte “apaixonadamente antiburguês e oposto das ideologias emancipadoras. É ao estado centralizado”, posicionando-se uma ideologia que situa o indivíduo pela liberdade, pela consciência no ponto de partida de toda individual e pelo controle do eu, e por emancipação coletiva, alternativa ao um “equilíbrio harmonioso do homem conceito de classe social, partido, grupo, nação ou etnia (DIEZ, 2007, com a natureza” (SOON, 2010, p. 8). p. 17-18). Deste modo, ao defender a necessidade dos indivíduos se emanciparem de todas Émile Armand (1872-1963) enfatizava as formas de autoritarismo como algumas das principais ideias dos premissa básica para a existência de anarquistas individualistas como a qualquer processo revolucionário, e “soberania do indivíduo, como princípio enfatizar o fortalecimento da consciência fundamental de toda reivindicação de individual pacifista e antimilitarista na ordem social”, a recusa de qualquer luta contra as “demandas militares e intervenção do Estado nas relações ou imperialistas do estado” (SOON, 2010, acordos entre indivíduos racionais, a p. 10), o anarquismo individualista afirmação da reciprocidade como base de uma ética da sociabilidade e a visão

3 O anarco-comunismo é uma corrente anarquista coletivista, diferencia-se pela ênfase nas revolucionária que defende o fim do estado, do organizações sindicais como principais capitalismo e da propriedade privada e sua instrumentos revolucionários de criação da substituição pela propriedade comum dos meios sociedade anarquista (JOURDAIN, 2014). de produção e por formas de organização 5 Observe-se que esta visão continua presente no federativas dos conselhos de trabalhadores e senso comum contemporâneo. Para conhecer a associações voluntária (ver JOURDAIN, 2014). diversidade das filosofias e das práxis das 4 O anarco-sindicalismo, apesar de se aproximar principais correntes anarquistas ver: Woodcock do ideário anarco-comunista ou anarco- (1983), Corrêa (2015) e Jourdain (2014).

103

da violência como “fonte de todos os Ele sabe que alguém se aproxima da males” (ARMAND,2004, p. 216). felicidade através de uma série de reformas de si mesmo (RYNER, Apesar da rebeldia em ser enquadrado 1928, p. 236-237). em qualquer definição, Han Ryner caracterizava o individualismo como “a De acordo com Ryner, é neste caminho doutrina moral que, confiando em interior que o indivíduo conseguiria nenhum , nenhuma tradição, livrar-se dos condicionamentos externos, nenhuma determinação externa, apela criando um universo subjetivo onde seria apenas para a consciência individual” possível encontrar forças para viver (RYNER, 2006, p. 6). Diez considera conforme suas crenças e princípios que Ryner era um anarquista anarquistas, ou seja, viver a utopia em individualista subjetivista, pois na seu cotidiano. Esta vivência poderia ser filosofia política seria um individualista expressa em opções como a adoção de e na forma seria um subjetivista, aquele línguas universais como o esperanto, o que considera que o “indivíduo que é a naturismo, o amor livre. Seus pensadores medida de todas as coisas e que deve modelo eram Sócrates (469 a.C.-399 buscar nele mesmo a verdade, em vez de a.C), (7–2 a.C-30–33 d.C), Epicuro aceitá-la de autoridades (DIEZ, 2007, p. (341 a.C.-271 ou 270 a.C) e Epicteto 70). Ou, nas palavras de Ryner, (55-135), sofrendo a influência, ainda, de pensadores como Tolstói (1828-1910) O subjetivista se assemelha a todos e Gandhi (1869-1948), especialmente no os homens, pois quer sua própria que se refere às ideias de desobediência felicidade. Ele difere da multidão civil e resistência não violenta. Ryner por saber o que quer. E ele não é defendia, também, os princípios do amor ingênuo o suficiente para buscar a 6 felicidade nos objetos estranhos. Ele plural e da fraternidade universal. quer escapar da tristeza, da Autodidatismo e anarquismo preocupação, do medo, de todas a dores profundas. Ele quer se livrar O título do romance de Han Ryner, do sofrimento físico, da pontada de L’Autodidacte (O Autodidata), já coloca apreensão e do poder da angústia. em questão a temática central do Ele sabe que a melhor maneira de ter romance, o autodidatismo e os processos sucesso, a única maneira de de produção do conhecimento científico responder a todos os ataques, é e tecnológico. fortalecer sua própria indiferença.

6 Os dois anarquistas individualistas, Han Ryner em 1927, sintetiza este debate. No Brasil, a e Émile Armand, protagonizaram uma polêmica feminista anarquista , a sobre o amor livre. Para Ryner o amor plural principal difusora do pensamento de Han Ryner, seria marcado pelo combate de homens e defendeu a sua visão sobre o amor plural, no livro mulheres livres ao exclusivismo amoroso, ao Han Ryner e o Amor Plural de 1928. Expressou ciúme e ao sentimento de posse presentes nas a sua defesa do posicionamento de Ryner sobre o relações amorosas oriundas da sociedade amor plural nos seguintes termos, “O amor plural burguesa. Apesar da argumentação geral de é sempre, tanto para o homem como para a Armand se basear na mesma compreensão dos mulher, o desabrochar da liberdade, da sabedoria limites da experiência amorosa na estrutura e do individualismo. Mas, a camaradagem social burguesa, ele defendia a necessidade da amorosa de “L´Ellébore” ou vossa “Fraternidade “camaradagem amorosa”, ou seja, a constituição do Amor”, esse contrato que esposa um grupo de comunidades de amor livre, onde uma vez inteiro, conhecidos e desconhecidos, é associado(a), a pessoa era requerida a ter relações infinitamente mais servil que o contrato banal e sexuais com todos os membros do grupo. O o casamento diante de um ventre enfaixado de romance Amor Plural de Han Ryner, publicado tricolor” (Moura, apud RAGO,2007, p. 284)

104

O autodidatismo é uma prática social que o indivíduo deveria exercer na sua emancipatória valorizada na cultura vida intelectual a autarquia e a anarquista, pela sua ênfase no ensino autonomia, sendo capaz, por si mesmo, mútuo, caracteristicamente de “raciocinar e descobrir as verdades desenvolvido nas associações operárias, mais fundamentais sobre a sua nos centros culturais sociais, nos existência” (VALVERDE, 1996, p. grêmios literários, etc. Segundo 213). Valverde, o autodidatismo é um fenômeno cujo “florescimento mais O anarquismo individualista se intenso se deu nos momentos em que o contrapõe aos modelos educacionais modo de produção capitalista negou aos convencionais. Para esta corrente, a trabalhadores o acesso à cultura pela exemplo das demais tendências alfabetização escolar formal, tonando-se libertárias, as escolas são necessidade vital para a organização das excessivamente uniformizadoras de lutas sociais” (VALVERDE, 1996, p. mentes e comportamentos, impondo 212). padrões e hierarquias que limitam o desenvolvimento do indivíduo. Neste O autodidatismo, contudo, é um sentido, os individualistas promovem fenômeno mais amplo, estando na base uma crítica radical contra as escolas do próprio Iluminismo, como uma laicas e confessionais, denunciando as estratégia de rompimento com os “implicações ideológicas de reprodução e de fortalecimento da razão. da escola” (LENOIR, 2018, p. 35), voltadas para a submissão dos jovens a Também é importante frisar que o todas as formas de opressão política, autodidatismo encontra suas raízes no religiosa, econômica, militar e social, pensamento da antiguidade clássica, impostas pelos poderosos. Os mais especificamente em Epicuro (341 anarquistas individualistas franceses, no a.C.-271 ou 270 a.C). Podemos dizer que início do século XX, apesar de esta questão é central para Ryner, pois profundamente anticlericais, também 7 ele se posicionava como estoicista e polemizaram duramente com a escola 8 epicurista . No Pequeno Manual laica republicana, considerando que ela Individualista, publicado em 1905 e apenas instituiu um novo sistema de escrito em forma de diálogo, afirmava alienação, tentando impor um sua filiação epicurista. Por exemplo, na pensamento único, limitando práticas resposta à questão “Porque amais a pedagógicas experimentais ou Epicuro? ”, assevera que ele “mostrava alternativas, seduzindo a juventude para que é preciso muito pouco para satisfazer a adoração ao Estado e a manutenção da a fome e a sede, para defender-se do ordem social vigente através do ensino calor e do frio. E se libertava de todas as de crenças no civismo, na honra, na demais necessidades, quer dizer, de família e na propriedade privada quase todos os desejos e de quase todos (LENOIR, 2018). os temores que escravizam aos homens” (RYNER, 2006, p. 7). Ryner, no Por estes motivos, outro pensador romance, enfatizou a visão de Epicuro, individualista, Émile Armand, prefere presente na base do autodidatismo, de utilizar o termo iniciação ao invés de

7 Para uma compreensão contextualizada do 8 Para uma introdução ao epicurismo ver Spinelli estoicismo a partir do pensamento de Sêneca, ver (2009). Veyne (2003).

105

educação, ressaltando que a consciência diretamente com formas alternativas de individual deve se desenvolver através produção e transmissão do de um caminho particular que cada conhecimento que podem envolver, jovem elegerá em sua vida. Segundo ele, conforme o caso, redes de familiares, entre as teses individualistas anarquistas amigos, trabalhadores, estando, sobre a educação destacam-se a portanto, diretamente vinculado ao possibilidade de “desenvolvimento do contexto histórico e social no qual se espírito crítico e da iniciativa na desenvolve (QUIROGA, 2004, p. 148). educação individual” (ARMAND, 2004, p. 216) e “a escolha - reservada à No caso do personagem principal do criança- do educador, das matérias de romance, Nicolas Chardonnet, ele estudos, de sua orientação profissional” representa a violência e a resistência que (ARMAND, 2004, p. 215). Esse marca a trajetória daqueles que são caminho educacional prescindiria de atingidos pelos processos de exclusão hierarquias, sendo que o mestre, à social. O texto conta a saga de um jovem maneira de Sócrates e sua maiêutica, órfão, em sua busca obsessiva pelo possibilitaria ao indivíduo a construção conhecimento, pela formação. Ao dos conhecimentos na relação com as mostrar os diversos lares pelos quais experiências cotidianas. Assim, o passou o seu personagem, Ryner faz uma anarquista autodidata criaria uma reserva radiografia da violência inerente ao de potencialidades, que mesmo em sistema, das constrições ao livre momentos adversos, iria lhe permitir a desenvolvimento das potencialidades preservação da liberdade e a continuação dos jovens, especialmente os pobres, do processo do conhecer, base de sua impostas pelo mundo do trabalho rural, própria experiência de ser (DIEZ, 2007, pela escola, pelo Estado e pela igreja. p. 236-238). Portanto, o educar-se é um Na casa da primeira família que o recebe, fator permanente da vida do indivíduo, da senhora Rivol, Nicolas não teve para além da vida escolar, sendo uma acesso ao ensino formal. Contudo, é linha de força central para o descrito por seu amigo senhor Paret desenvolvimento rumo à felicidade e à como um caso excepcional, “uma emancipação. A ênfase libertária no criança desperta como cada geração dá autodidatismo se intensifica no dez ao povo. Este me parece um ser anarquismo individualista, o que é único. Authon não há visto nunca exemplificado na publicação de um ninguém como ele, nem em Nogent, nem pequeno manual de autodidaxia na em Chartres. Talvez ...” (RYNER, revista L’Anarchie , em 1911 (LENOIR, 1926, p. 48) 9. Apesar da família 2018, p. 21). receptora o tratar com violência e tentar lhe designar múltiplas tarefas, Nicolas, Embora aparente ser exclusivamente nas horas vagas, alfabetizava-se através uma questão de trajetória e aprendizado de um método próprio, que descreveu da individual, o autodidatismo dialoga seguinte forma, “tomava cada palavra

9 A versão original da obra L’Autodidacte foi de 1932; n. 210, fevereiro de 1932; n. 211, março cotejada, para fins de tradução, com a versão em de 1932; n. 212, março de 1932; n. 213, abril de espanhol presente nas seguintes edições da 1932; n. 214, abril de 1932. Os exemplares da Revista Blanca : n. 201, outubro de 1931; n. 203, Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional de novembro de 1931; n. 204, novembro de 1931; n. España estão disponíveis em: 205, dezembro de 1931; n. 206, dezembro de http://hemerotecadigital.bne.es 1931; n. 207, janeiro de 1932; n. 209, fevereiro

106

em meus olhos como uma coisa que se A única infelicidade de Nicolas neste toma com a mão, que se sopesa, que se processo de convívio com a família volve e que se revolve, que se apalpa Paret, foi o de ter de passar por uma para reconhecê-la sempre, em todas as educação religiosa, pois Renné pretendia suas partes, ao apenas tocá-la (...) Logo que ele fosse, futuramente, o cura de uma buscava em todo o livro palavras Igreja. Esta situação é explorada por Han parecidas àquela” (RYNER, 1926, p. 41- Ryner, que dá vazão ao seu 42). anticlericalismo, por exemplo, ao destacar ironicamente que a criança fora O médico Gabriel Paret, personagem que obrigada a aprender “com o senhor cura, acabaria por se tornar seu tutor, faz uma a grande arte de ajudar na missa” meditação sobre a necessidade de um (RYNER, 1926, p. 71). processo educacional, semelhante ao Após a morte de Paret, motivada por um libertário, a partir do esforço autodidata atropelamento, e o consequente colapso do menino, pois ele era um “ser em que nervoso e internamento de sua irmã, deveriam respeitar-se, como na maioria Nicolas ficou sob a guarda do citado das crianças, todas as possibilidades padre da aldeia, que logo o despachou nobres e profundas, ou melhor, neste para a Assistência dos Órfãos, alegando caso, todas as belas probabilidades” que este “extraordinário menino é muito (RYNER, 1926, p. 49). precoce, e sangue de Cristo!, em mais de uma coisa. É necessário desembaraçar-se Nicolas teria a oportunidade de avançar sem tardança desta serpente introduzida, nos estudos ao ser acolhido pela família por excesso de candidez, neste terrestre Paret. A irmã de Paret, Renée, ensinou- paraíso que é o jardim de um cura” lhe princípios básicos em diversas (RYNER, 1926, p.78). Sua inteligência e disciplinas, os quais o menino aprendeu rebeldia, questionava o padre, não com facilidade, apesar de sua resistência seriam uma sina de quem acabaria por para com a escrita e de sua clara “empregar sua ciência para combater a predileção pelas matemáticas. Esta nossa santa religião?” (RYNER, 1926, p. paixão pela matemática fez com que 76-77). Paret percebesse a inversão da base do Encaminhado para uma nova residência método educacional intuitivo 10 nas em La Loupe, na fazenda da família práticas de aprendizado de Nicolas, Pérès, pela primeira vez, Nicolas teve afirmando que “pelo abstrato fazia o acesso ao ensino formal, frequentando a concreto” (RYNER, 1926, p. 67). Paret escola primária. Na escola, apesar de seu constata a premissa educacional do desinteresse pela Lições de Coisas e pelo anarquista individualista de respeito às assim chamado Ensino Cívico - e aqui particularidades de cada criança, de novamente Ryner chama a atenção para “individualização da formação para o desprezo anarquista pela escola estatal aprender” (LENOIR, 2018, p. 65), e seu papel uniformizador de levando em conta as suas capacidades aprendizados e mentes -, ele se destacou, cognitivas específicas, mesmo que inclusive superando suas limitações signifique a ruptura com a anteriores quanto à escrita, concluindo o “modernidade” padronizadora do ensino primário aos 8 anos como método educacional vigente. primeiro aluno de todo o Distrito.

10 Sobre o método intuitivo, ver Souza (1998).

107

Nicolas continuava exercendo seu Neste novo local, encontrou um autodidatismo, lendo todos os impressos ambiente menos hostil, relacionando-se que encontrava, como a Ilíada de positivamente com as demais crianças, Homero, Os Mártires de Chateaubriand, Jacques e Eulalie, e conseguindo se uma biografia de Jacques Vaucanson 11 . dedicar aos estudos formais. Desta A vida do inventor francês o forma, aos dezessete anos, obteve sua entusiasmou, transformando-se em seu licenciatura em Matemática e aos herói e modelo. A habilidade de dezenove completou sua licenciatura em Vaucanson no desenvolvimento de Ciências. Ryner problematiza o acesso autômatos encantou Nicolas pela ao ensino formal por Nicolas, ao visualização da “quantidade de demonstrar que sua experiência matemática que há na mecânica” autodidata o conduzira a uma concepção (RYNER, 1926, p. 88), incentivando-o a crítica da sociedade e humanizadora dos desenvolver mecanismos engenhosos. O saberes. Sua trajetória o habilitara a senhor Pérès, ao perceber este interesse, realizar uma “revolução individual” vaticina que Nicolas, aos 20 anos, permanente, conquistando a sabedoria inventaria o “arado do futuro ou a para compreender de forma alternativa a debulhadora sem defeito” (RYNER, realidade. 1926, p. 88). Porém, o menino, que só se interessava pelo engenhoso e não pelo útil, responde que fazia “lógica de Esta postura é resumida quando, após a madeira” (RYNER, 1926, p. 88). Ryner, conclusão dos seus estudos formais, é ao enfatizar a fascinação de Nicolas por chamado a servir no exército. Depois de Vaucanson, procura ressaltar as futuras seus dois anos de serviço, teceu convergências de seu personagem com a comentários antimilitaristas paixão do engenheiro francês pelo contundentes, criticando os oficiais do automatismo, por “aquilo que uma vez exército: “como não desprezar aos programado, funcionava sozinho e fazia duplos brutos nestes seres que se sentem prodígios” (JACOMY, 2004, p. 48). felizes ao mandar covardemente por um lado, e obedecer não menos covardemente por outro? ” (RYNER, Após uma carta que Nicolas escreveu ao 1926, p. 97). Nicolas Chardonett, ao diretor geral do departamento de atacar a estrutura hierárquica militar, crianças órfãs, pedindo que lhe fosse além de expressar as visões dada a possibilidade de continuar seus antimilitaristas anarquistas, reafirma os estudos, ele foi enviado para nova ideais epicuristas de autarquia e residência no interior da França, da autonomia, os quais sintetiza assim: família Baixas, em Collioure, nos “quero ser um sábio independente, quer Pireneus Orientais (RYNER, 1926, p. dizer, para evitar todo pleonasmo, quero 92). ser um sábio (RYNER, 1926, p. 97) .

11 Jacques Vaucanson (1709-1782) foi um Nacional de Artes e Ofícios em 1798. Losano engenheiro e inventor francês que desenvolveu (1998) sintetiza o interesse pelos autômatos mecanismos como um tear automático e criados por Vaucanson ao destacar que na autômatos dos quais os mais famosos são: “o Encyclopédie o verbete androide consiste flautista”, “o tamborileiro” e o “pato”. Sua basicamente na descrição do “flautista” e que o coleção de mecanismos e desenhos técnicos foi verbete autômato descreve essencialmente os deixada, quando de sua morte ao Estado francês, outros dois mecanismos anteriormente citados. sendo a base da criação do Conservatório

108

Tecnologia, antimilitarismo e tornar-se sócio, entra em conflito com os anarquismo interesses puramente econômicos e belicistas encarnados pelo proprietário Depois de obter a licenciatura em da empresa. Rioble propõe que o invento Matemática e em Ciências, ele começa de Nicolas permaneça engavetado, sua carreira como sábio independente. enquanto fosse do interesse das Foca-se no desenvolvimento de um estratégias comerciais da empresa. transporte aéreo alternativo ao avião, o qual considerava excessivamente Os embates gerados em torno de seu inseguro. Lembremos que, no invento aéreo revolucionário, com a imaginário sociotécnico 12 , uma das recusa de aceitar a estratégia de Rioble, questões mais prementes a serem levam-no a ser internado em um resolvidas nas primeiras décadas do hospício, às vésperas da Primeira Guerra século XX era a do transporte, com Mundial, por um conluio orquestrado destaque para o transporte aéreo, “a por sua esposa e seu patrão. O utopia maior era controlar os céus” internamento segue uma regra (SCHWARCZ & COSTA, 2000). As característica do papel do hospício nas experimentações com dirigíveis e aviões primeiras décadas do século XX. O se multiplicaram no âmbito hospício era um espaço de normalização internacional, no qual se destacou, entre de condutas, estabelecendo, portanto, os outros, Santos Dumont (1873-1932). padrões de comportamento aceitáveis na Também neste período foram realizadas sociedade, procurando a preservação da experiências com os helicópteros, com o ordem social. Ele também é marcado por primeiro voo bem-sucedido feito em uma relação hierárquica e de poder, onde 1907, por Paul Cornu (1881-1944), se desenvolvem um conjunto de saberes sendo que importantes aperfeiçoamentos sobre os sujeitos considerados como foram propostos pelo argentino Raul objetos de um discurso científico, Panteras Pescaras (1890-1966), ao longo produzindo e reafirmando conhecimento da década de 1920. Nesta perspectiva, o e verdades, fortalecendo o poder médico projeto e desenvolvimento de um (FOUCAULT,1978). Logo, ao situar o aparelho aéreo ortogonal por Nicolas, internamento de Nicolas em um colocava-o em meio a um dos campos hospício, Ryner, simultaneamente, mais avançados da pesquisa tecnológica realiza uma crítica contundente aos do período. padrões de normalidade da sociedade burguesa, revela a sua original filiação Depois de ser contratado pelo diretor literária simbolista na valorização da técnico da empresa de aviação Rioble e reflexão sobre o inconsciente e a Cia., da qual, por seu talento, acaba por loucura 13 , demonstra a “experiência

12 Sheila Jasanoff (2015, p. 4), pesquisadora do 13 No caso brasileiro, dentro da tradição campo dos estudos CTS, propôs o conceito de simbolista de reflexão sobre o inconsciente e a imaginários sociotécnicos. Ela define os loucura, Rocha Pombo (1857-1933) escreveu, imaginários sociotécnicos “como em 1905, o instigante romance No Hospício compartilhados coletivamente, estabilizados (POMBO, 1996). Na tradição libertária institucionalmente, e visões de futuro desejados brasileira, Lima Barreto (1881-1922) refletiu publicamente performados, animados pela sobre a sua experiência de internações no compreensão compartilhada das formas da vida hospício em seu Diário do Hospício , redigido social e da ordem social, alcançável através, e entre dezembro de 1919 e fevereiro de 1920 e no apoiadora dos avanços da ciência e da seu romance inacabado Cemitério dos Vivos , tecnologia”.

109

trágica da loucura sempre crítica e algum em meio aos ares. Sem que transgressora” (ARAÚJO, 2001, p. 32) e ninguém se ocupasse” dele, pois, “um nos guia na viagem de autoconhecimento aparato engenhoso o manteria imóvel, na qual o autodidatismo conduziu não importando a altura, por um tempo Nicolas. determinado à vontade, dois dias ou até mais” (RYNER, 1926, p.135). A recusa de Nicolas em seguir os padrões sociais requeridos o constrange Após a sua liberação do hospício, com o a ser internado. Neste ambiente, encerramento da Guerra, ocorre o enunciou sua crença anarquista, seu desenlace trágico. Nicolas consegue verba para o desenvolvimento pleno do desprezo pelas leis, pelo Estado. Por 14 exemplo, ao dialogar com o psiquiatra projeto de seu aparelho aéreo . Por um afirmou, “temo, querido doutor, que período de tempo, trabalha todos estamos loucos por culpa das leis” exaustivamente nesse artefato aéreo (RYNER, 1926, p.130). Também sofisticado e perfeito em uma ilha reafirma a recusa em colocar a ciência e isolada no Mediterrâneo. Contudo, seu a tecnologia a serviço da morte, como na feliz isolamento é quebrado pela chegada conversa com seu antigo patrão: de Victorine que, após a morte de seu “recorda de que este aparato me amante Rioble, localiza Nicolas com o interessava, sobretudo, porque salvaria a objetivo de ganhos pecuniários. Ela fica vida de muitos aviadores. E, ousas me deslumbrada com o potencial financeiro pedir hoje que o converta em um meio de das invenções de Nicolas, como o barco matar a inumeráveis inocentes? Não sou voador -que funcionava sem velas, sem um assassino, senhor Rioble” (RYNER, remos e sem vapor-, mas, especialmente 1926, p. 139). a já citada aeronave. Ao prever para o inventor a glória futura, obtém a seguinte Paradoxalmente, em um momento em resposta, característica de um anarquista que se desenvolve a Primeira Guerra individualista: Mundial, o hospício se torna um local Minha glória é presente. Tenho a seguro para que Nicolas pudesse glória que quero e rechaço as continuar a desenvolver, a partir de vaidades as quais dá este nome estratégias caracteristicamente marcadas magnífico(...) Tu imaginas que pelo autodidatismo, seu conhecimento à desejo ver meu nome repetido como margem. Desta maneira, desenvolveu o de um napoleão, de um Bismarck, teorias e protótipos acerca de sua um Foch?... A verdadeira glória se aeronave cujos resultados desenvolve em mim mesmo, como demonstrariam que “poderia dar várias uma rara flor da serra (RYNER, 1926, p. 179). vezes a volta ao mundo. Se levassem provisões suficientes poderia funcionar Em seguida a esta declaração, queima o por mais de um mês” (RYNER, 1926, p. protótipo de sua aeronave, para 135), sem que ocorressem incidentes. desespero de sua esposa que pergunta Além disso, o piloto conseguiria dirigi- sobre seus motivos. Chardonnet explica lo de forma solitária, sem sobressaltos, que irá construir outra para resolver o podendo, inclusive, “dormir sem perigo problema do preço, pois deseja que seu

redigido em 1921, que foram publicados ação de propaganda pelo fato, provavelmente um postumamente (BARRETO, 2017). roubo a banco. 14 O narrador faz uma insinuação irônica, que este dinheiro teria sido adquirido através de uma

110

avião seja muito barato, seguro e dócil, narrador demonstra como estas diversas de tal forma que, após uma pequena formas de construção do conhecimento, explicação sobre seu funcionamento, regidas por valores éticos solidários, qualquer criança possa nele dar a volta podem produzir uma ciência e uma ao mundo. Victorine, movida pela tecnologia voltadas para a libertação. ambição, argumenta que pela Ryner, por um lado, na senda do importância do artefato nenhum preço anarquismo individualista francês do pedido pela sua patente será considerado entreguerras, indica que o enfrentamento caro. A esta visão da tecnologia, das limitações sociais pelo indivíduo direcionada aos interesses do capital, pode proporcionar uma experiência Nicolas contrapõe o potencial da subjetiva de autoconhecimento e tecnologia como instrumento criatividade individual, essenciais para o emancipatório, “Eu queria dar a todos exercício da liberdade plena, para a um meio de liberação. Me nego dar aos construção de uma ética libertária, da ricos e ao Estado um meio de tirania. qual o autodidatismo seria um signo e Aumentar o poder dos homens, talvez o instrumento maior. Contudo, por outro faria com gosto. Mas, aumentar o poder lado, Ryner também expõe com dos tiranos, nunca” (RYNER, 1926, contundência os tensionamentos trazidos p.182-183) pela realidade social adversa, expressos O final da novela entremeia-se com a nos vários embates de Nicolas com as dissolução de suas esperanças na vida estruturas institucionais constituídas e amorosa com Victorine e na desilusão opressoras, do Estado, da escola, da para com as estruturas sociais injustas. Igreja, da família, do capitalismo, do Ao final de uma viagem prolongada com poder médico. São essas contradições a sua esposa em um novo modelo de sua que fazem a narrativa desembocar em aeronave, para, supostamente, uma tragédia e que demonstram as demonstrar todo o seu potencial, Nicolas dificuldades de concretização dos ideais provoca um acidente fatal. libertários no período.

Conclusão Referências No romance L’Autodidacte (O ARAÚJO, Inês Lacerda. Foucault e a crítica do Autodidata), Han Ryner empreende um sujeito . Curitiba: Editora da UFPR, 2001. questionamento das relações entre o ARMAND, Émile. O Individualismo poder e o conhecimento científico e Anarquista. Verve , n. 5, p. 208-218, 2004. tecnológico a partir da tematização do autodidatismo por um viés pacifista e BARRETO, Lima. Diário do Hospício & O cemitério dos vivos . São Paulo: Companhia das anarquista, criticando, especialmente, as Letras, 2017. relações conformistas entre cientistas e os interesses belicistas e econômicos do CORRÊA, Felipe. Bandeira Negra : Rediscutindo o anarquismo. Curitiba: Prismas, Estado e dos capitalistas. 2015. A trajetória de Nicolas Chardonnet, da DIEZ, Xavier. El Anarquismo Individualista infância à vida adulta, possibilita uma em España (1923-1938). Barcelona: Virus Editorial, 2007. visualização do potencial emancipatório da humanidade através de formas FOUCAULT, Michel. História da Loucura . alternativas de educação, de produção São Paulo: Perspectiva, 1978. dos saberes pelo exercício da autarquia, JACOMY, Bruno. A Era do Controle Remoto . da autonomia e da não violência. O Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2004.

111

JASANOFF, Sheila. Future Imperfect: Science, Besós, 2006. In: Technology and the Imaginaries of Modernity. https://we.riseup.net/assets/162689/quarkryner1. In: JASANOFF, Sheila; KIM, Sang-Hyun. qxd.pdf Acesso em: 28/04/2019. Dreamscapes of Modernity : Sociotechnical SCHWARCZ, Lilia & COSTA, Angela Marques Imaginaries and the Fabrication of Power. da. 1890-1914: No tempo das Certezas . São Chicago: The University of Chicago Press, 2015. Paulo: Companhia das Letras, 2000. JOURDAIN, Édouard. El anarquismo . Buenos SOON, Richard D. Sex, violence, and the Aires: Paidós, 2014. avant-garde : anarchism in interwar France. LENOIR, Hugues. Ana Mahé, Emilie Lamotte e University Park: The Pennsylvania State os outros, “A Educação em L’Anarchie”. In: University, 2010. LENOIR, Hugues & GAMBART, Perrine. Os SOUZA, Rosa Fátima, Templos de Civilização : Anarquistas Individualistas e a Educação A Implantação da Escola Primária Graduada no (1900-1914) . São Paulo: Intermezzo Editorial, Estado de São Paulo (1890-1915 ). São Paulo: 2018. UNESP, 1998. LOSANO, Mário G. Histórias de Autômatos . SPINELLI, Miguel . Os Caminhos de Epicuro . São Paulo: Companhia das Letras, 1998. São Paulo: Loyola, 2009. POMBO, José Francisco da Rocha. No TOLEDO, Edilene. Anarquismo e Hospício . Curitiba: Prefeitura Municipal de Sindicalismo Revolucionário : Trabalhadores e Curitiba, 1996. militantes em São Paulo na Primeira República. QUIROGA, Nicolás. Prácticas Políticas y São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, Cambio Cultural: anarquistas autodidactas hacia 2004. mediados de 1940. Estudos Iberamericanos . VALVERDE, Antonio José Ramera. Pedagogia PUCRS, v. XXX, n. 1, p. 139-160, junho 2004. Libertária e Autodidatismo . Tese de RAGO, Margareth. Ética, anarquia e revolução doutorado. Campinas: Unicamp, 1996. em Maria Lacerda de Moura. In: FERREIRA, VEYNE, Paul. Seneca: The Life of a Stoic . New Jorge & REIS, Daniel Aarão (org.). As York, NY; Routledge, 2003. esquerdas no Brasil, vol. 1 . A formação das tradições (1889-1945). Rio de Janeiro: WOODCOCK, George. Anarquismo : Uma Civilização Brasileira, 2007, p. 273–293 história das ideias e movimentos libertários. Porto Alegre: L&PM, 1983. RYNER, Han. L’Autodidacte. Paris: Le Monde Nouveau, 1926. RYNER, Han. La Sagesse qui rit. Paris: Éd. du Recebido em 2019-09-12 Monde Moderne, 1928. Publicado em 2020-06-07 RYNER, Han. Pequeño Manual Individualista . Barcelona: Ateneo Libertario del

112