a i A Fraude recompensa. E ao contrário “lógica de mercado” é, no fim das cosmopolitismo exagerado e explora- c do que se pensa, dá trabalho pra fazer. contas, uma mentalidade tacanha e mos um pouco mais os temas que a Tornar viável uma revista que fala sobre sem qualquer ponta de nobreza. cidade oferece. Com destaque para o n cultura e comunicação já é algo bem Acreditar num produto novo, que Museu do Objeto imaginário (seja lá o que

ê complicado. Principalmente quando ela movimenta o mercado editorial local e for isso...), o Rio Vermelho e suas é universitária e com tiragem modesta. incrementa a vida universitária da enchentes e vazantes, além dos nossos

v Pior ainda quando é em preto-e-branco cidade parece um grande pecado. E apresentadores-porretões da TV. a

i e com sérias restrições orçamentárias! tem quem “acredite”, mas com a Destaque ainda para as rádios l Mas a nossa equipe não se abate com condição de barganhar, barganhar e evangélico-comunitárias, o que tem no e

v isso - pelo contrário: a gente aceita a barganhar! No final não sobra nada. humor de Hermes e Renato e os olhos p Fraude como ela é. E olha que ela é bem Felizmente, a Fraude é uma saída. vigilantes do MediaWatch. Por fim, um e bonitinha, modéstia à parte. Infelizmente, é uma ilha em meio à artigo sobre as táticas do amor escrito a r O problema é que o mercado não faz carência de revistas independentes pelo professor Juremir Machado, autor do t o mesmo. É cada vez mais complicado feitas aqui mesmo na cidade, sem romance recém-lançado “Getúlio” (um b

u convencer o empresariado da cidade a qualquer espécie de “rabo preso privilégio desses só a Fraude mesmo!). l apoiar uma produção independente e editorial”. Então, boa leitura. E obrigado aos que

o que chega apenas ao seu segundo A propósito, nesta edição a revista apóiam a Fraude. Não é nada comprome- número. O que por aí se chama de está mais local. Saímos um pouco do tedor... S A Índice r a s s a m a o

0 v s c o 3 o i m a

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F I Q V M A A O A P E O H Q C R Q ...... 4 6 9 2 4 6 8 9 2 4 6 8 1 2 4 6 8 0 0 0 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 3 3 Expediente Repórteres e Colaboradores: Beth Ponte, Camilla Costa, Camilo Aggio, Danilo Fraga, Jeder Janotti Jr., Júremir Machado, Lívia Nery, Lucas Cunha, Pedro Fernandes, Ricardo Sangiovanni, Tiago Félix e Vivian Barbosa.

Imagens e Diagramação: Camilla Costa, Danilo Fraga, Lucas Cunha e Ricardo Sangiovanni.

Revisão: Beth Ponte, Camilla Costa, Danilo Fraga, Lucas Cunha, Ricardo Sangiovanni e Vivian Barbosa.

Produção Executiva: Beth Ponte e Vivian Barbosa

Agradecimentos: Juremir Machado, Tio Dú da Graúna, Sala de Arte, LabMedia, LabVídeo.

FACOM/UFBA - Salvador - BA - Brasil Ano 1, número 2 - Dezembro de 2004 Pop-Up

Durante sua passagem por Salvador em parceria. Até este momento temos em fazer algo solo? quase um ano agora... à escolinha aí, aprendi a nadar em Pop-Up .

. para show na Concha Acústica, a Fraude em processo de finalização doze músicas Fernanda - Realmente em curto prazo Fraude -Você morou em várias Ondina, soltar pipa no Farol, gostar .

í conversou com Fernanda Takai, vocalista inéditas, mas esse número pode aumen- não. Acho muito difícil fazer algum cidades brasileiras por causa do de acarajé. É uma terra muito boa, trabalho assim enquanto o Pato Fú existir. a do Pato Fú, afastada dos palcos há tar... trabalho de seu pai, morando por temos amigos de muitos anos na

quase dois anos, sobre os preparativos Fraude - Vocês já tem uma idéia de que Não consigo ver o trabalho de um algum tempo em Salvador, o que cidade. Depois com a banda, foi uma r para o próximo disco, Salvador e otras linha o novo disco irá seguir? vocalista de banda desvinculado de todas inclusive gerou a letra de Antes das capitais que melhor nos acolheu Escritores escrotos...

o cositas más. Confira: Fernanda - Todos os nossos álbuns, as referências do grupo, não gostaria de Que Seja Tarde. Qual sua relação desde o comecinho. Fazemos concorrer comigo mesma no presente. p desde o início até hoje, tem como com Salvador? questão de incluí-la como prioridade

Fraude - Como estão sendo as característica principal a diversidade, a Meu projeto prioritário para os próximos Fernanda - Passei parte da nas turnês. ...E sua literatura de esgoto i gravações deste novo álbum? não-fronteira estética. A gente se permite anos é uma garotinha que está comigo há infância em Salvador, comecei a ir Parte 2 a Fernanda - Nosso oitavo disco já está deixar de ser uniforme. Houve uma Assim como ratos se proliferam no esgoto, novos k com a produção bem adiantada. Como evolução tecnológica entre eles e também escritores aparecem para colocarem seus escritos

a Museus Virtuais temos estúdio em casa, estamos sempre uma tentativa de escrevermos melhor a nas ruas. Uma das últimas crias desta nova geração é T

gravando e compondo material novo. É história de cada canção. Sem explicar Todos os museus que se prezam o primeiro museu brasileiro exclusivamente virtual, o Museu a Edições K, que entra no mercado editoral com

a um processo lento de criação e amadure- muito, diria que vocês podem esperar tudo têm sites. O Louvre, o MoMA e o Masp Virtual de Arte Brasileira. quatro livros, três de contos de autores já famosos em

d cimento de cada uma delas. Não sei o que estamos tentando extrair de melhor têm espaço reservado na rede para Como Internet quer dizer interatividade, o passo seguinte é e-zines como Marcelo Benvenutti ( O Ovo Escocês), como alguns artistas conseguem parar e desse momento que vivemos como expor seu acervo e dar ao visitante Delfin ( Kreuzweltratsel ) e Patrick Brock ( Velhas n dado pelo Museu de Arte Contemporânea de Chicago. Além de fazer tudo de uma só vez, em um mês ou banda. virtual uma idéia do que pode ser visto mostrar parte do acervo permanente e trazer a programação do Fezes), além do cordel “A filha do imperador que foi a dois. Nosso último disco de estúdio é de Fraude -O que mudou no Pato Fú com a no caso de uma visita física. E é claro museu, o ponto alto é a visita virtual "Transmute" (ela está meio morta em Petrolina”, do baiano Wladimir Cazé, ex- n 2001, então juntamos um material chegada da Nina, sua filha com John? que, dada a facilidade de colocar escondida, em Past Exhibitions/Transmute). Nela, o visitante pode membro do PetCom em meados dos anos 90. r bacana pro próximo, não em quantidade, Fernanda - Mudou que as turnês serão páginas na Internet, o número de montar sua própria exposição. Compostos basicamente de textos publicados na e mas em qualidade, acreditamos. mais humanizadas, não dá mais pra ficar museus se multiplica e todo tipo de Com a Internet mais veloz, a tendência é que esses ambientes se Internet - inéditos no formato livro - Benvenutti, Delfin F Estamos afastados dos grandes meios fora de casa quinze, vinte dias direto, gosto pode ser satisfeito. Mas agora é tornem mais realistas e que permitam interação: já não será mais e Brock trazem nos seus contos temas urbanos como

de comunicação desde dezembro de tentamos nos programar melhor do que tempo de usar a Internet para fazer apenas fazer a curadoria de uma exposição, mas montá-la em sexo, drogas e música pop, colocados da forma mais m 2002, então é, sem dúvida, um recome- antes. Estamos muito felizes com esta com que as pessoas não apenas grupo, discutindo o assunto com outros visitantes e modelando o caótica possível e sobra até espaço para aventuras

o ço. nova etapa em nossas vidas, mas somos vejam, mas viajem pelo acervo. E, espaço virtual. Isso, tecnicamente, já pode ser feito, pois existem cyberpunks. Os livros das Edições K podem ser

c Fraude - Ainda sobre o novo disco há reservados demais pra ir além disso. nessa tecnologia, destacam-se duas boas experiências de salas de chat em 3D, como a página-demo do adquiridos no Sebo Berinjela (Travessa da Ajuda, alguma participação em vista para o novo Melhor deixar as obras com interpretação instituições: o Museu de Arte navegador pelo VRML Blaxxun. É só questão de tempo (e de Centro) ou com Patrick Brock pelo tel: (71) 358-1442 s cd? Algum cover? aberta e encontrar o sentido através do Contemporânea de Chicago e o dinheiro, como sempre) para juntar tudo em algo que faça sentido. ou e-mail: [email protected]

o Fernanda - Temos a participação de que cada um lerá nelas. Walker Art Center em Minneapolis uma cantora portuguesa, Manuela Fraude - Alguns dos integrantes da

m (EUA), que mostra numa câmera ao Azevedo, de uma banda muito interes- banda como o Ricardo e o John possuem vivo, tomadas da vista que se tem da O mapa das canções perdidas a sante chamada Clã. John compôs uma alguns pequenos trabalhos solos, como o janela da frente do edifício e o mais

r SITES: das letras do álbum mais novo deles. Em Let's Presley e a produção dos importante: um passeio virtual http://www.walkerart.or r nossa viagem a Portugal no ano novos cds da Wonkavision pelo jardim de escultu- g/resources/res_msg_v a passado, ficamos amigos, pois descobri- e do Arnaldo Baptista. r a s d e rmlframe.html b mos grande afinidade musical e pessoal Você também não Minneapolis. www.mcachicago.org s entre nós. Acho que de cara, pela pensa V a l e www.blaxxun.com

E empatia, queríamos tentar um trabalho c o n f e r i r www.museuvirtual.com. também br Para aqueles que acham que o rock no Brasil dos anos 60 se resume à Jovem Guarda, está disponível na Internet uma compilação de bandas de rock brasileiro do período. A coletânea virtual é conhecida como Brazilian Nuggets - uma referência à famosa coletânea de “garage bands” norte-americanas dos anos 60. Guia do hardware A compilação conta com uma grande variedade de bandas desconhecidas, como Os Brasas, Sueli & os pelo programador Carlos Morimoto, criador do Kanticus, Os Jovens, Bango, Os Minos (do guitarrista Linux Kurumim (que já está na versão 4), o guia Pepeu Gomes), Megatons e Beat Boys. Várias gravações do hardware traz dicas e excelentes tutoriais chamam a atenção pela ousadia, como “Lindo Sonho (escritos por ele mesmo) contendo noções de Delirante”, do soulman apocalíptico pré-, hardware, software, programação e redes, em Fábio. A música, gravada com acompanhamento dos As curtas da Fraude Depender de linguagem acessível até para quem nunca Fevers, homenageava ingenuamente o LSD, no estilo Lucy desconhecidos é ouviu falar dessas coisas. in the Sky with Diamonds de ser. Outra surpresa é a balada a l t a m e n t e O site conta também com informações “Sílvia 20 horas Domingo” de Ronnie Von, que lembra um desaconselhável. Mas atualizadas diariamente sobre o mundo da pouco o som do quarteto barbudo Los Hermanos. não adianta: o computador é nosso informática, software livre, cursos na área e Para ter acesso ao Brazilian Nuggets é necessário braço direito e ainda assim quase ninguém sabe games, além de trazer notícias do Kurumin e baixar o programa Soulseek - disponível na seção de c o m o f u n c i o n a . O u q u a s e : o s i t e outras versões do sistema operacional Linux. Downloads do site www.slsknet.org. Depois, é só digitar http://www.guiadohardware.net é um bom Outro atrativo são os fóruns de discussão entre "brazilian nuggets" no buscador e todo um mundo de 4 caminho para quem quer saber um pouco mais usuários, que tiram dúvidas, comentam, obscuridades do rock nacional estará à sua disposição. 5 Fraude sobre o funcionamento do micro. Desenvolvido sugerem e produzem soluções em informática. Fraude Entrevista: Yacoff Sarkovas Entrevista

coletivos. Ao se transferir para as do investimento privado para ações enfrentar um mercado em que ela não empresas recursos e responsabilidades relacionadas à pobreza e à exclusão seria mais a única empresa de petróleo do Estado foram cometidos múltiplos social e não ainda para a cultura. no país. A Petrobrás então não tinha equívocos: investe-se dinheiro público nenhuma percepção pública dos seus sem a efetiva garantia de atender o Fraude - Atualmente, suas perspecti- patrocínios, investia R$100 mi por ano interesse público; não se formam reais vas quanto às ações do MinC durante o em projetos e as pesquisas demonstra- investidores privados, pois ninguém governo Lula são muito céticas sobre vam que ninguém sabia que a Petrobrás aprende nada gastando dinheiro alheio; mudanças no financiamento da cultura. era patrocinadora. Nosso trabalho deforma-se o mercado de patrocínio, Como se deu sua participação na mudou completamente a área de incutindo na cultura empresarial um reformulação do sistema no início da patrocínio da Petrobrás, a percepção é b o m n e g ó c i o ? benefício a custo zero. Não há nada de gestão do PT? pública dos patrocínios da empresa errado em empresas privadas financiarem Sarkovas - No início do Governo Lula, não cresceu enormemente. Hoje as a cultura, quando o dinheiro é, de fato, eu, mas a Articultura foi chamada pela pesquisas mostram que o patrocínio nos Beth Ponte privado. As leis de incentivo fiscal são SECOM (Secretaria de Comunicação do programas cultural, ambiental e [email protected] importantes para a cultura porque Governo Federal) para fazer um trabalho esportivo é um dos maiores fatores de transferem cerca de R$ 500 milhões muito pontual de assessorá-la numa construção da marca Petrobrás. anuais para a área, mas o Ministério da normatização dos patrocínios das Cultura tornou-se, na verdade, o "Ministé- estatais, buscando estabelecer alguns Fraude - Por causa desse convite, rio das Leis de Incentivo". Porque somente princípios que pudessem servir como muita gente confundiu sua participa- no Brasil a dedução fiscal é o principal norteadores de todos os patrocínios. O ção com uma forma de dirigismo da u n d a d o r e mecanismo de financiamento público à que não significaria dizer o quê a Caixa, a SECOM, como se ela quisesse dessa presidente da cultura. É impossível atender à diversida- Petrobrás ou o Banco do Brasil deveriam forma delimitar o patrocínio dessas de e à extensão das demandas culturais fazer, mas estabelecer alguns preceitos. empresas.. A r t i c u l t u r a , F da sociedade com um sistema baseado Por exemplo, os patrocínios deviam ser Sarkovas - O fato de a SECOM ter nos primeira agência de planeja- em incentivo fiscal. Enquanto este organizados em programas, os progra- chamado assustou, e muito, as áreas mento e gestão de patrocínios do paradigma não for quebrado, tudo mas deveriam ter cunho técnico, o acesso que tentam a todo custo manter a Lei do país, Yacoff Sarkovas é reconheci- continuará como está. deveria ser transparente, democrático... Audiovisual no Brasil, porque acharam do como um dos maiores críticos às Isso aconteceu porque em 1999, ainda no que o fato da Articultura ter se aproxima- Leis de Incentivo à Cultura. Concebeu Fraude - Você prega a abolição gradual governo FHC, a Articultura foi chamada do do governo poderia por em risco essa e gerenciou quase uma centena de dos mecanismos de incentivo fiscal pela Petrobrás, na época em que o Lei que sabidamente é combatida por projetos nas áreas cultural, ambiental, empregados hoje em dia. Para tanto, monopólio do petróleo tinha sido quebra- mim e pela empresa. Então criaram, esportiva e social para instituições no Brasil e defende a idéia de formas de investi- do e a empresa tinha que passar por um fizeram um trabalho de “queimação mento público, como os Fundos de forte processo de modernização, inclusive midiática”, um golpe aplicado pelo lobby no exterior. Foi também responsável, entre 1999 Investimento à Cultura. Mas as empre- na área de patrocínios, para poder do Audiovisual em maio de 2003 e 2002, pela reformulação da política de patrocí- sas não são também importantes tentando neutralizar a possibilidade da nios da Petrobras, a maior patrocinadora patrocinadoras? Podemos contar Articultura ser ouvida em outras brasileira. somente com a consciência de seus questões além daquilo em que ela vinha Sarkovas foi convidado, no início da Fraude - Em debate com o Ministro da empresários para que elas invistam em sendo ouvida. gestão do PT, para colaborar com a Cultura Interino, Juca Ferreira, você cultura? causou polêmica ao se referir às Leis reformulação da aplicação das Leis de Sarkovas - Se a empresa não vê sentido Fraude - Nessa época você utilizou de Inventivo Fiscal (Rouanet e do em patrocinar cultura, faz menos sentido em entrevista ao jornal O Globo o Incentivo em empresas estatais e entrou Audiovisual) como um câncer que na mira de produtores e diretores de ainda colocar em suas mãos dinheiro conceito “Grito dos Incluídos”, para contamina toda relação entre as público para que ela decida a quem deve falar desse apego à Lei do cinema como Cacá Diegues e Luiz empresas e os cidadãos com a cultura. beneficiar. O fim do anabolizante fiscal Audiovisual pelos que são favoreci- Carlos Barreto, o Barretão, que em Por que criticar o que muitos conside- revelaria a verdadeira dimensão econômi- dos por ela, numa época em que ser junho deste ano se referiu a Yacoff ram o maior avanço na história nacio- ca do patrocínio empresarial. Ele cresce- incluído no país do assistencialismo como um “gigolô da cultura”. nal de financiamento à cultura? ria estimulado pela necessidade de gerar era quase um pecado. E hoje, os Polêmico e incisivo, ele fala das Sarkovas - As leis de incentivo tornaram- resultado, irrigando a cultura com incluídos continuam os mesmos? deturpações das Leis Rouanet e se uma forma insensata de financiamento recursos privados reais, como ocorre nas Sarkovas - Eu jamais “fulanizo” essas do Estado. Incentivo fiscal é uma estraté- do Audiovisual, da realidade do áreas ambiental, social e esportiva, que discussões por que é exatamente o jogo gia de aplicar o dinheiro público para não sucumbiram, ainda, ao perverso que algumas dessas pessoas preten- Marketing Cultural e dos rumos estimular investimento privado, em que o da cultura no Brasil. Em entrevis- encanto das leis de incentivo e desenvol- dem: transformar isso numa discussão governo deixa de recolher parte dos veram formas concretas de sustentabili- de pessoas, de nomes, e eu não tenho ta exclusiva à revista Fraude, impostos das empresas para que este dade. Nos EUA, os institutos e fundações nenhum interesse de fundo pessoal ou Yacoff vem contestar a seja investido em áreas culturais. Mas no empresariais estendem suas atividades profissional nesta discussão. Eu tenho máxima de que “a cultura é Brasil, as leis de incentivo à cultura ao campo cultural, dispondo fundos para pensado muito no que faz com que um bom negócio” (o slogan passaram a transferir recursos públicos os mais variados projetos e segmentos pessoas eventualmente se mobilizem defendido por Wefort, no sem nenhuma contrapartida privada. artísticos. É o que chamamos de investi- pela manutenção de um sistema de Ministério da Cultura do Foram deturpadas desde que passaram a mento social privado e que tem que financiamento que é evidentemente permitir, ainda no governo FHC, a governo FHC) com o trabalhar em conjunto com o financiamen- perdulário, dissociado do interesse dedução integral, tornando a empresa, um questionamento: bom to público. Porém, no Brasil, um dramático público. Aí você encontra um grupo de mero repassador dos recursos do Estado, quadro de desigualdade induz a maioria produtores, particularmente na área de negócio para quem? despendidos sem atender objetivos 6 7 Fraude Fraude Entrevista Televisão

cinema, que foram responsáveis meio de ações de interesse público. O de cinco, dez. pela própria promulgação da Lei desenvolvimento do Marketing Cultural do Audiovisual e que tem não difere do desenvolvimento que Fraude - Você acredita na validade de interesse na manutenção deste ocorreu no que nós, na Articultura, eventos como Fórum Cultural mecanismo porque eles têm um chamamos de “comunicação por Mundial, em São Paulo, ou as discus- domínio direto dos canais de atitude”, que é essa estratégia de uma sões recentes sobre as modificações acesso a esses recursos e temem marca se associar a uma ação que nas Leis de Incentivo como meios de um sistema que seja distinto expresse os atributos que ela possui ou mudar a forma como é encarada a desse. Mas não é só isso que deseja ter. Por que a publicidade é a cultura no Brasil, pelas autoridades e mantém essas leis em vigor. marca falando de si mesma. O patrocí- cidadãos? O que de fato acaba nio, em resumo, é a forma de uma marca Sarkovas - Essa movimentação em fazendo diferença é agir de acordo com o que ela, por meio torno da questão cultural tem que ser que boa parte dos da publicidade, diz ser. Hoje, todas as vista com muito otimismo, como um sinal profissionais da formas de comunicação por atitude, que bastante positivo, senão na agenda da área de cultura se encontram no campo social, esporti- sociedade ou na agenda da política, pelo d e s c o n h e c e vo, cultural e ambiental movimentam em m e n o s n a a g e n d a d a m í d i a . qualquer outro torno de US$ 27 bi no mundo. Isso não é Infelizmente, a cultura ainda não faz mecanismo de só o investimento no Marketing Cultural, parte da agenda política do país da financiamento mas em todas as quatro áreas. Eu mesma forma que outros assuntos de público e acha estimo que o investimento aqui no Brasil, interesse público, e neste caso nós que se acabar o estritamente no campo cultural, deva temos que destacar muito a educação, já incentivo fiscal não estar beirando cerca de R$Um bi por fazem. Na verdade a grande beneficiada há outra forma de ano. do desenvolvimento cultural, que é a distribuir o dinheiro sociedade em geral, tem um grau de público. Nesse estado Fraude - Sua empresa nasceu, envolvimento e participação ainda muito de ignorância eles são coincidentemente, no mesmo ano em reduzido. Nós tivemos este ano muitos facilmente atemorizados por que a Lei Sarney, o marco inicial no episódios que levaram a colocar a estes espantalhos de dirigismo, que diz respeito ao financiamento cultura no centro de alguma discussão mas, na verdade, não há como cultural brasileiro, hoje em dia ou reflexão. Não só os eventos que você você desenvolver uma política criticado por você. A Articultura citou. Tivemos também a discussão pública sem estabelecer diretrizes. nunca trabalhou com Leis de organizada pelo ministério para debater Isso está longe de ser dirigismo, Incentivo no planejamento estratégi- a Lei Rouanet, a revelação do relatório uma política cultural é uma estraté- co do patrocínio das diversas de desenvolvimento humano mundial da gia cultural pública. É a mesma empresas a que presta serviço? ONU, que deu uma ênfase extrema à coisa de você chamar a política Sarkovas - A Articultura foi responsável questão do desenvolvimento cultural. pública de transportes ou de pelos primeiros manuais sobre Leis de Não é exatamente uma real democrati- segurança pública do país de Incentivo no Brasil e a Articultura sempre zação do debate em torno da cultura, dirigismo. Isso é contar com a na medida da necessidade dos projetos mas uma etapa inicial para o que um dia ignorância alheia para gerar uma seus, ou de seus clientes, usou e usa poderá ser um envolvimento e preocupa- Programas de TV misturam paralisação e impossibilidade de normalmente Leis de Incentivo. O que a ção verdadeiros de todos, dos cidadãos jornalismo, denuncismo e transformação nos mecanismos Articultura nunca fez foi colocar Leis de e políticos, não apenas da mídia. assistencialismo. E acabam misturando tudo na cabeça que estão em vigor. Incentivo como motivação para o do telespectador... patrocínio empresarial. A Articultura Fraude - A Articultura é uma sempre colocou a Lei de Incentivo Fiscal Ricardo Sangiovanni agência que se tornou referên- como um fator agregado a uma motiva- [email protected] cia no patrocínio empresarial ção de patrocínio empresarial, um brasileiro, uma das primeiras dispositivo que, eventualmente, pode odo dia meio-dia. Basta ligar a TV em samba... a lidar com o conceito de ser usado (mas que várias vezes não para tomar a dose diária de realidade. marketing cultural quando precisa ser usado) para baratear uma TTem espaço para a água que tá este ainda não era uma ação de patrocínio. Não para justificar faltando, para a cobrança indevida, a mãe realidade no Brasil, em uma ação de patrocínio. E mesmo que perdeu o filho, o idoso que precisa de meados dos anos 80. Como assim, esse uso da Lei de Incentivo, remédio. Todo o mundo. E agora em vários É sempre o mesmo. As pessoas têm você vê o Marketing Cultural quando se deu pela Articultura foi canais: Varela, Kertèsz, Gerdan... Resolvem problemas das mais diversas origens e hoje em dia no país? sempre pela modalidade da redução os problemas do povo? Que bom. Mas até naturezas, mas passam muito longe das Sarkovas - O marketing parcial, o que de fato torna uma Lei de que ponto o jornalismo na TV deve assumir a soluções. Aliado à falta de informação da cultural se desenvolveu Incentivo uma Lei de Incentivo. Agora, função de reclamadoria pública em forma de população, o excesso de providências que enormemente nestes últimos na prática, se você for analisar o tribuna popular? Como isto é feito hoje, na se tem que tomar para resolver problemas 20 anos, não só o Marketing currículo de mais de cento e poucos Bahia? simples acaba transformando qualquer Cultural, mas todas as projetos que a Articultura já desenvolveu Considerando algumas nuances um é unha encravada num pandemônio. Ora, formas de comunicação ao longo da sua história, você vai contar mais moderado aqui, o outro mais bravateiro nada melhor do que meter a boca no empresarial que são nos dedos os que efetivamente ali - dá pra juntar os três no mesmo bolo. No trombone. Melhor: no microfone. feitas por de”, que é envolvem incentivo fiscal, não passam mesmo samba do crioulo doido. E por falar Centralizar as reclamações do cidadão 8 9 Fraude Fraude Televisão Televisão

comum e torná-las fato público é, sem um computador e não recebeu não que se estabelece como um modo- Mário, o clean - O Jogo Aberto, dentre os programas estilo dúvida, uma saída eficaz é um instrumento deveria procurar a TV como última e de-fazer coletivo através do tempo. tribuna popular, é o que tem o aspecto mais profissional: é o que o cidadão comum tem para fazer frente salvadora instância para seus problemas. Portanto, se há culpa, ela não é só da TV. mais “quase-global” entre os três. A começar pela apresenta- ao Estado ou às grandes empresas. Além No entanto, o enorme vão comunicacional A TV é oportunista, sim. Mas o governo é dora que fica elegantemente sentada, lendo os e-mails e, às do mais, se por um lado para uma empresa que existe entre o poder público e o negligente, inacessível. Ingovernável. E vezes, contracenando com Kertèsz. Este, também sempre ou órgão público pouco representa uma cidadão precisa ser ocupado se o Estado a população é, infelizmente, ignorante e elegante, apresenta o programa bem descontraído, andando estático. Não tem esta história de caminhar pelo estúdio. É uma queixa individual, por outro não é nada é lento, e muitas vezes pouco se incomoda não burra. Eis a santíssima trindade. pelo estúdio. A decoração predominantemente branca e azul câmera no Varela, outra no entrevistado. O cenário, cheio de cômodo ter seu nome na boca do Varela dia com os impasses pontuais do inconveni- O que se pode criticar, enfim, é o lado retrata pontos turísticos da cidade: farol e praias principalmen- figuras de pessoas carentes, sob um efeito daqueles de Adobe após dia na TV... ente Zé-povinho, este por sua vez tem absurdo da coisa: ora, como pode a TV, e te. Tudo muito limpo, muito claro. Uma pretensa aproximação Photoshop, se encarrega de avisar que ali não é lugar para Tudo isto seria muito bom - se fosse só cada vez mais motivos para reclamar. toda a mídia de massa em muitos casos, com o padrão Globo de qualidade é visível - porém sem a frescura. É preto no branco ou melhor: cinza no marrom (que isso. No entanto, o que cresce por trás da Simular tribunas públicas é um excelente assumir uma função que exige enorme mesma neurose dos apóstolos de . Mas fica o beleza de combinação!). E pronto. Afinal, Varela tem mais o que atitude de aparente caridade é sempre a artifício que a TV usa pra ocupar este responsabilidade social (uns diriam distanciamento: a construção do programa evidencia a fazer: não bastando apresentar o show e bater com a mão na figura do apresentador. Uma espécie de espaço. A falta de comunicação entre abnegação), e estar ao mesmo tempo preocupação em atingir um público mais elitizado, que não mesa, o apresentador ainda se mete a dirigir o programa! Isso padrinho que aparece, no fim das contas, governantes e governados inviabiliza a atrelada à lógica da audiência e do curte pancadas na mesa... Lobo em pele de cordeiro, ou coisa mesmo: não raro é possível pegar Varela dando umas boas como a melhor via de reclamação afinal, execução da democracia de fato: o que mercado? Qual o critério de relevância? do tipo. broncas nos câmeras e equipe de produção, seja por um entre procurar o poder público (e estacionar ocupa este posto é uma espécie de Solucionar todos os problemas ou botar Varela, o mandão - O Balanço Geral é um tanto quanto nas suas congestionadas vias legais) e “mediocracia”, a democracia mediada (se no ar os que dão imagens mais escabro- enquadramento mal feito, ou por uma imagem que ele pediu pra procurar um microfone que espalhe sua é que isto é possível), em que o mediador sas? Ajudar as pessoas ou fazer o maior ficar no ar e algum “engraçadinho” tirou. Vai entender... queixa por todo o estado, a segunda opção tem mais importância do que as partes número delas se comover na frente da Gerdan, o... - O negócio do Gerdan é meter o martelo na mesa e acaba sendo a predileta do grande público. envolvidas. A TV no caso, seus persona- TV? Talvez valha a pena olhar a nossa TV ficar soltando uns proverbiozinhos de autoria desconhecida. De Pode-se justificar esta escolha com um gens se alimenta dos farrapos das partes de meio-dia com olhos menos resto, não tem muito mistério não. É o velho “eu-saio-andando-e- motivo simples: quem fala quer ser ouvido. envolvidas. E acaba saindo por cima. cristãos... o-câmera-que-se-vire-pra-me-acompanhar, típico da escola E, às vezes, ser ouvido (ou pelo menos Não que se esteja buscando colocar a capitaneada pelo Ratinho. parecer ser ouvido), ainda que por alguém TV na posição de bode expiatório. Muito que tenha pouco poder para solucionar o pelo contrário: no caso dos programas problema, vale mais do que gritar no ouvido estilo tribuna popular, trata-se de um uso de quem manda de verdade e nunca ouve do meio de comunicação para preencher nada. A maior parte dos problemas levados uma carência social. Que não se estabele- ao ar por estes programas não são da ça o velho maniqueísmo e todo mundo alçada da imprensa: quem não tem água passe a odiar o Varela do dia para a noite deveria mandar reclamação para a qualquer comportamento vem de um Embasa. Quem teve o pneu furado no movimento gradual da história, e só buraco da rua, ou foi assaltado, ou comprou acontece embasado por uma prática, algo

Para a turma um pouco mais transforma, sem que se uma. A solução: mete tudo no ar pra comedida - e com sérias restri- perceba, em Super Mário. Sem ver no que é que dá. ções de memória - , Mário Kertèsz cogumelo nem nada. Na trilha do Varelão aparece o De modo nem sempre muito sutil, nossos já viu algum desses apresentadores faz bem o tipo gentleman. Nada Mas quem não gosta de muita novato (e no mínimo estranho) Gerdan. apresentadores-porretões desacreditam cada atacarem os políticos durante as entrevis- de gente mal-vestida chorando frescura pára mesmo é no Varela. O Este não está nem aí pra almoço coisa vez mais o poder público, e, por tabela, as tas do mesmo modo que brigam quando migalhas na telinha. No Jogo grandalhão mete a mão na mesa, nenhuma. Seu Aqui Agora é, de longe, o instituições da nossa combalida democracia. eles não estão lá? Aberto a coisa é mais clean. chama todo mundo de maluco e mais trash de todos. A começar pelo Talvez não sem razão, mas certamente de A irresponsabilidade: esvaziar o poder Mário, como é carinhosamente resolve tudo em dois tempos. Será martelo de madeira com que o apresen- maneira arrogante e irresponsável. público. Afinal, discutir, argumentar e tratado por seu público e equipe que resolve mesmo? Pelo sim ou tador golpeia, impiedosamente, a sua A razão: não raro a indignação nos toma cobrar soluções é um direito. Não é direito, de estúdio, bem que poderia ser pelo não, todo dia tem gente na tela mesa. Nada mais sugestivo do que o conta e o país parece condenado a um eterno entretanto, esvaziar a importância do chamado de “Grande Oráculo da pra fazer denúncia. Por e-mail ou fax tradicional símbolo da justiça. É com caos. Nada funciona como deveria - nem Estado. A máxima do “a gente resolve aqui Democracia” - afinal, tem sempre vale também: nada mais unilateral e ele que Gerdan intim(id)a políticos, saúde, nem educação, nem habitação, nem mesmo” é uma propaganda enganosa e na ponta da língua um bom anti-jornalístico: bastou falar mal do donos de empresas e demais podero- nada. extremamente perigosa para a democra- conselho para o telespectador patrão que vai pro ar. O cidadão tem sos, seguindo um estilo muito seme- A arrogância: também não raro, o time dos cia. É o temido espírito da “igualdade desamparado. Em meio a o direito de reclamar? Tem sim. E o lhante ao de Varela. Com uma diferen- porretões passa por cima dos representantes extrema”, diria o Barão de Montesquieu, piadinhas (um tanto quanto jornalismo tem, por sua vez, o dever ça: além de bater na mesa e soltar os públicos e verdadeiros encarregados pelas em que o sujeito não se considera igual ao passadas) ele sabe sempre a de procurar informações, ouvir quem cachorros pra cima dos poderosos, o soluções dos problemas do grande público. outro somente como cidadão, “mas quem recorrer nos momentos está envolvido no caso, mesmo que apresentador arranja benefícios para Quase todo dia ouve-se o bordão: “Para quê também como juiz, como pai, como marido, difíceis e volta-e-meia explica esteja errado, antes de sair por aí personagens necessitados, como procurar o poder público, se a gente sabe que como senhor”. Ou seja: se alguém pode como funciona o poder público, mandando bravatas em suma, tratamento e remédio pra as pessoas ele não faz nada? A gente resolve é aqui mandar, eu também posso. E se ninguém com ares de quem conhece bem apurar. Mas isto muitas vezes é através de empresários de 'bom mesmo”. Não bastando isto, distribuem resolve, eu vou lá e dou o meu jeito. Agora a cozinha. O programa segue à detalhe na conta do Varela. Afinal, o coração'... E ainda faz anúncio ao vivo intimações: “Mostra o microfone para ele... Vai imagina se todo mundo resolve sair por aí risca a máxima do “aqui tem volume de reclamações, denúncias (de produtos como o anti-frieiras e ter que se explicar!”. Demagogia pura: ou você mandando a mão na mesa e arrotando nível”, pra ninguém entalar com o e problemas é muito maior do que o micoses Micosina! Não tem hora valentia? 10 almoço na boca... E o Mário se tempo que se tem para apurar uma a melhor...). 11 Fraude Fraude Televisão Televisão

os ares da MTV desde 2000, inicialmente perambulando entre a programação na forma de E qual a Novidade? Nvinhetas que narravam as aventuras de dois malandros típicos das chanchadas brasileiras, o progra- A diferença é a abordagem. Nunca na Tv brasileira tantos ma semanal Hermes e Renato vem se consolidando como temas trash´s com abordagens tão cruas foram levados ao ar. a grande novidade no gênero humorístico televisivo. Antes da MTV, nenhuma emissora brasileira deixou de lado Amados e odiados na mesma intensidade, H e R tabus e moralismos, abrindo espaço para um grupo tratar divide opiniões entre os admiradores do humor televisivo: satírica e explicitamente de situações constrangedoras muito para alguns não passa de mera banalidade feita por um comuns, como em “Merda Acontece”. Neste quadro o próprio bando sem criatividade nem qualquer talento para a coisa; vilão, o Cocô, apresenta um programa em que personagens para outros são fantásticos inovadores do gênero narram seriamente (como em programas de entrevista que humorístico televisivo. Inovadores sim! Mas seria um pretendem ser sérios, mas tratam de temas tão banais quanto) equívoco afirmar que são fundadores de um formato de os momentos de um dia em que aquela indisposição intestinal humor na Tv. No ar entre 88 e 90 na Tv Globo, voltando ocorre no meio da rua ou em plena mesa de jantar da casa do rapidamente, em 92, a Tv Pirata, programa humorístico chefe. Ou ainda de um sujeito que, sem emprego, arranjou um dirigido por Guel Arraes, foi fundador de um formato bico para se vestir de coelho e vender ovos de páscoa, mas humorístico que satirizava a própria Tv, com quadros que como a fome acaba apertando e sua marmita ficou esquecida parodiavam desde novelas até telejornais, passando pelo em casa, a única saída é devorar todos os chocolates, debaixo cinema e pela cena musical. Beirando o non-sense em de um forte sol. Não podia deixar de ser, como o próprio certa medida, a Tv Pirata contava com a participação de apresentador, o Cocô “em pessoa”, narra: “O cara comeu grandes atores como Diogo Vilela, Marisa Orth e Marco tanto chocolate na páscoa... que o caldinho desceu... ah Nanini, além de ótimos redatores do gênero, como desceu...”. Fernando Veríssimo. Também na década de 90 surge o O figurino usado, a locação, os cenários, os diálogos, os programa Casseta & Planeta Urgente que definiu um enquadramentos, os movimentos de câmera e a luz remetem formato, a princípio, com influências da Tv Pirata (já que a uma produção de vídeo amador dos mais toscos, mas chanchada. A prova na Redetv. Neste ponto é interessante quase todos integrantes do Casseta foram redatores da classificá-los como amadores e atribuir essas aparentes desta preocupação pode ser observar que Hermes e Renato, em Tv Pirata), mas se consolidou mesmo com uma variedade deficiências a uma incapacidade do grupo é um equívoco. dada fazendo-se algumas determinados quadros, deixa de ser paródia e de quadros de entrevistas aleatórias em locais públicos ou Com um olhar mais preciso e menos preconceituoso é comparações a grupos recentes passa a reproduzir os absurdos de determina- dentro dos estúdios da Tv Globo (sempre com um clima possível enxergar que este sempre foi o efeito pretendido, é a que tentam fazer um humor na dos programas da Tv brasileira, evidenciando de “pegadinhas”), personagens próprios, críticas políticas aposta do programa. O amadorismo é estrategicamente mesma linha, alguns destes até certos níveis de conteúdo das nossas mídias. com pitadas de humor, intercalando com paródias a simulado e existe uma preocupação estética, talvez até disponibilizam vídeos para downloads na Retornando a paródia, seria um pecado deixar de citar a novelas, telejornais e outros programas da Tv Globo. O minuciosa, nos detalhes da composição internet usando o nome Hermes e Renato. A diferença é banda Massacration, que tomou vida fora do programa, Casseta & Planeta se diferencia da Tv Pirata principal- de uma cena ou sequência. Isso é nítida, os episódios destes grupos possuem uma atualmente fazendo shows e dando entrevistas, mas que mente por não ter a mesma pretensão cênica nas notável mesmo quando o grupo desarmonia completa, com enquadramentos mal feitos, se originou de uma brincadeira com o clichês musicais e representações e cenários. Fazendo uma compa- era independente e produzia edições sofríveis, textos e atuações mal encaixadas, videoclípticos do mundo metaleiro. Conceitualmente ração de formatos, Hermes e Renato, sem p e q u e n o s e p i s ó d i o s figurinos e cenários em um conflito insuportável. Uma falando, a paródia pressupõe o conhecimento do que está sombra de dúvida, se vale dessas estruturas parodiando personagens completa desarmonia: doloroso compreender, difícil sendo parodiado, mas Hermes e Renato leva esta relação para compor o seu programa. da pornô chanchada. A fazer rir. às últimas conseqüências. Detalhes mínimos de comporta- prova desta preocupa- Hermes e Renato incorpora na sua estética um mentos, situações, músicas, roupas, cenários, diálogos de conjunto de influências da Cultura Pop que vão desde Zé um filme, um programa, um comercial, são inseridos muito do Caixão, filmes B da década de 80 como O Massacre discretamente nos quadros, exigindo do telespectador um da Serra Elétrica, a estética da chanchada brasileira até conhecimento maior das referências que ali estão sendo programas televisivos como O Homem do Sapato feitas. Branco e Aqui e Agora. Aparentemente não há qualquer Hermes e Renato é um tipo de humor que necessita do restrição por parte da emissora, que permite que conhecimento das referências para ser fruído ou mesmo programas das concorrentes sejam parodiados. A lista é criticado. Pode parecer exagero à primeira vista, mas é extensa e vai desde paródias ao programa do Padre fundamental apreciar este programa com um olhar mais Quevedo, onde um sujeito semi-analfabeto com jargões apurado e analítico, mesmo que despretensiosamente. na ponta da língua tenta provar ao padre que é filho do Longa vida a 'caoticidade' de Hermes e Renato. Camilo O. Aggio capeta: “Eu sois o filho do capeta, seu padre”, “Eu vim das Exatamente. Caótico por excelência. Talvez essa seja [email protected] mais profundeza do inferno, de onde você nem imagina a melhor forma de se definir o trabalho dos cinco cariocas que eu tenha vindo” ou “Eu vim botá o filho dos ôtro na de Petrópolis que integram o grupo. Abrindo um parêntese: maconha, cheirar maconha, fumar cocaína, essas coisa caótico, não no sentido literal de grande desordem, caótica”, instaurando no programa um combate de inteligibilidade, confusão que pode resultar em um não ofensas hilário entre o padre e o “suposto filho do capeta entendimento, uma impossibilidade interpretativa. Mas “, cada um com suas convicções. Para quem não sim, caótico como sugerido pelos criadores do H e R, como acompanhou o quadro original do Padre Quevedo e um feito demasiadamente amador, “amadoresco”, tosco, alguns episódios específicos, dificilmente encontrará ou mesmo como uma catacrese salvadora usada por seus algo cômico. De forma muito semelhante pode-se personagens em determinadas situações de falta argu- Explicitamente escrachado, escatológico e observar quadros como o Programa Cláudio Ricardo, mentativa. amador,o humor de que parodia programas de auditório em geral, mais Hermes e Renato pode oferecer algo mais - e até exigir um certo 12 conhecimento para sua apreciação. 13 Fraude Fraude Música Música

personagem fictício consumir durante uma noite 5 garrafas de cerveja (long neck) e 2 acarajés, sua conta não saí por menos de 20 reais, isso sem contar couvert e outras despesas. Jean-Claude Wolpert, que administrou o Café Calypso por mais de sete anos, defende o preço cobrado pela cerveja em seu bar R$ 2,70 cada long neck. Segundo ele, seus custos são mais altos que outros bares. “Num bar equivalente em São Paulo, a cerveja custa no mínimo cinco ssim como as águas barrentas e vermelhas que reais”. Um outro comerciante, mais satisfeito, mais sincero e mostrando as enchiam o Rio Camarujipe são hoje um esgoto a céu mais tímido (não quis se identificar), discorda: “lá onde eu caras, para em seguida Aaberto, o Rio Vermelho está se esgotando. A mudança é moro eu compro uma cerveja por R$ 1,80, aqui ela vale R$ voltar a tocar nos bares com seus visível para qualquer um que passar pelo trecho dos bares em 3,00. Como é que não lucra?” novos proprietários e reanimar a vida busca de uma boa noite de diversão: das inúmeras casas de Jean-Claude vai além, dizendo que em Salvador, cultural do bairro. show de algum tempo atrás, apesar dos mais de 2 milhões de habitantes, poucas pessoas Um exemplo de novo apenas uma ainda funciona. Mal saem à noite principalmente durante a semana o que torna fôlego no ramo de casas de das pernas, o bairro que nunca difícil oferecer música ao vivo sempre e cobrar menos pela show é o Nhô Caldos. dormia vai pra cama às duas e cerveja. “Talvez existam bares demais para pouca gente, Primeiramente uma mera quem se arrisca a permanecer até especialmente no Rio Vermelho”, completa. O pouco poder casa que vendia cerveja e as quatro fica a ver navios - ou aquisitivo do público é uma causa para o esvaziamento do petiscos (o caldo nunca foi barquinhos pescando. local, mas outros fatores são destacados. Freqüentadores seu ponto forte), há três Carregando a fama de confessam cansar de encontrar sempre as mesmas pessoas meses, o Nhô Caldos “bairro boêmio”, em algum e assistir às mesmas bandas, muitas delas tocando covers, resolveu colocar música ao momento da história o Rio apenas. Para Khayru, que já tocou muito no lugar, tem público vivo, tocada por bandas de rock, sem cobrar Vermelho começou a ter sua sim, principalmente em se tratando de rock. “O que falta pra couvert ou entrada. “Por as bandas não imagem atrelada à do rock baiano. gente voltar aquelas épocas que já foram legais é fazer uma acharem espaços para tocar, terminam Acompanhando a nascente cena articulação maior, entre donos de bar, o comércio, bandas, querendo se apresentar de qualquer forma, e roqueira, durante as décadas de 80 todos os participantes”. A falta de inovação e criatividade por com isso não se importam em tocar por um e 90 muitas casas passaram a parte das casas de show foi bastante apontada como uma valor baixo. Dá condição para o dono de bar oferecer shows ao vivo. Neste deficiência deste setor que implica na falta de público. Há oferecer o espaço a eles e não cobrar período dezenas de bares abriram e anos, porém, tem sido assim. couvert.”, conta Rodrigo, proprietário do Nhô fecharam as portas, como o Saint As casas de show sempre se organizaram da seguinte Caldos. Ele diz destinar 10% da vendagem Louis, Chico Louco, Anexo, Café & forma: recebem a banda no seu espaço e repassam a ela para as bandas, o que por sua vez não Cultura, Idearium, Santana/Havana uma parte do couvert. A banda arca com despesas como confere com os músicos. Eles afirmam hoje todos finados. Cristiano Macchi, divulgação e parte da aparelhagem. “A gente tem que arriscar não receber a gratificação e tocam de músico que há oito anos freqüenta e se as pessoas vêm ou não”, desabafa Macchi. Durante muito graça. toca no Rio Vermelho resume a situação: tempo os bares vêm ficando marcados por bandas e público Para Rodrigo, ocorre um “De oito a sete anos atrás foi o auge fixos, ou seja, músicos que tocam na quinta servem como p o u c o d e f a l t a d e desses lugares, que estavam sempre público para as bandas de sábado, e vice versa. Mas, nos lotados e sempre com bandas últimos anos parece ter havido uma mudança no perfil das tocando. Hoje as casas de show estão bandas e de rock em salvador. Segundo o professor Jeder fechando, tem reduzido também o Jannoti - que está lançando o livro Heavy Metal com Dendê, número das pessoas que freqüentam”. sobre a cena metálica de Salvador “o rock que era tocado Se levarmos em conta que as bandas nos bares do Rio Vermelho está em baixa. O público está de rock da Bahia não vivem um momento de mais jovem e a forma de consumo mudou, isso acontece de criativi baixa significativa, não podemos tomar isso tempos em tempos". como a causa da decadência. Então, o que terá dade por parte dos acontecido? O ciclo das cheias do rio proprietários de bares. Segundo ele, “quando abrirem de fato Problemas um bar, os donos devem dar mais Isso pode indicar, enfim, que esta é a dinâmica do Rio liberdade às pessoas que freqüentam e vermelho. Assim como muitos rios, o Rio Vermelho deve estar Em busca da resposta para esse enigma, mudar quando não estiver dando passando por um período de esvaziamento, parte de seu entrevistamos diversos frequentadores, músicos e certo”. Defensor da não-cobrança de ciclo natural que em breve resultará numa nova cheia. Para o donos de bar. Depois de um trabalho árduo de couvert, ele garante que com a vendagem Jannoti “essa ciclicidade é comum na maioria dos bairros levantamento e cruzamento de dados, chegamos a de cerveja e refrigerante já dá pra sair boêmios. O próprio Rio Vermelho já havia passado por uma algumas conclusões. Um dos problemas mais levantados é ganhando. Da mesma forma, outros situação parecida no final dos anos 80”. Essa posição é Danilo Fraga e Lívia Nery o preço da cerveja e do acarajé. Para Kahyru Pontel, músico e espaços para shows apareceram, como é o [email protected] partilhada também pelo freqüentador Solovera: “a vida frequentador (será que existe alguém que frequenta os bares caso da loja de CDs São Rock e do Teatro [email protected] musical no bairro não dura muito, apenas três, quatro anos, do Rio Vermelho que não toque?) “os bares só vendem cerveja do Sesi, que de tempos em tempos é palco no máximo.” Segundo ele, isso que está acontecendo agora long neck e por um preço abusivo”. Reclamação válida. de shows de rock. Talvez com a também já foi visto antes. “O rio vermelho vai, cresce, tem um Imaginemos um camarada que não sofra de distúrbios alcoólicos e implantação do Bahia Azul, o Rio Vermelho movimento da porra e aí pluft, todo mundo some. Daqui a que vá assistir um show no Rio Vermelho. Se esse nosso volte a prosperar. Assim esperamos. pouco volta a encher novamente”. Durante o intervalo, novas bandas que antes se escondiam em suas garagens vão 15 14 Fraude Fraude Música Música

Ctrl+AltRock O tempo não pára. Imagem do R.E.M nos anos oitenta: Uma das b a n d a s d a é p o c a a p o n t a d a s c o m o college rock.

Crias do Britpop: Que gracinha! n Brian Molko(ao centro) e os integrantes da sua banda, O quarteto inglês Blur homenageando o Blondie, Lucas Cunha Placebo. Sua androgenia ficou tão famosa que David uma da mais importantes bandas da cena new [email protected] Bowie, o ser mais andrógeno da música pop, o chama wave americana junto com o Talking Heads. My Bloody Valentine, Stone Roses e de “a filha que eu nunca tive”. Destaque para Damon Albarn, vocalista do Blur e sua interpretação “não caio do salto” de Debbie ock alternativo. Quantas vezes o também vistos como college rock - o Happy Mondays, conseguiam ter sucesso Harry, vocalista do Blondie. Anos noventa: quando o alternativo se leitor da Fraude já se deparou com rock que fazia sucesso principalmente em casa, mas não repetiam o mesmo êxito torna mainstream Reste termo? Seria apenas tudo entre os universitários. Diversos estilos na América. Os shoegazers (termo em inglês que se refere ao comportamento aquilo que não está na grande mídia, no que estavam nascendo na época (New Talvez o primeiro indício que o cenário destas bandas nos shows, que tocavam mainstream? E quando um grupo alternati- Wave*, Synth Pop*, Pos Punk*, dentre alternativo estava entrando no mainstream “olhando para os próprios pés”) tiveram vo atinge o sucesso no mainstream, ele outros) acabaram sendo marcados como foi através do lançamento do disco Alguns termos... deixou de fazer rock alternativo? Buscar as rock alternativo. Mesmo parecendo tão vida curta, devido ao fracasso comercial ou “Daydream Nation”, do Sonic Youth. “Não *Indie - O termo é uma forma diminuta da palavra independente primeiras vezes que este termo foi distintos, estes grupos vieram da mesma a instabilidade de muitas das bandas. foi o R.E.M., não foram os Pixies nem o e se refere àqueles artistas que criam seus trabalhos sem um apoio utilizado, falar das primeiras bandas que raiz: o punk do final dos anos setenta. Como na época, o alternativo remetia próprio Sonic Youth. Foi Daydream Nation comercial mais forte, seja por um grande estúdio de cinema ou por tiveram a alcunha de “alternativas” ou Apesar de não obterem grande principalmente ao grunge americano, cada o primeiro a destruir todos os conceitos uma gravadora de discos. Apesar de ser muito usado como um daquelas que conseguiram estourar sucesso comercial, essas bandas tiveram vez mais se passou a usar o termo Indie, entre mainstream e underground, sinônimo de alternativo, seu uso na música, principalmente depois comercialmente, pode ser uma saída para êxito através de outro tipo de status: como principalmente para as bandas advindas comercial e artístico, punk e pop”. Esta do “boom” do grunge, voltou-se para aqueles artistas que tem suas a resposta destas questões. Mas qual a grandes influências para as gerações da Grã-Betanha. O Indie Rock inglês logo frase, dita por Krist Novoselic, baixista do carreiras mais ligadas ao cenário underground e gravadoras ganhou uma cara própria, deixando de seguintes do rock. Por isso, na metade dos s

utilidade disto? Nenhuma. Assim como n Nirvana, pode sintetizar a importância . o

s independentes. u

i

lado os vocais tímidos emersos entre t b l anos oitenta, começaram a surgir bandas r 99,99% das coisas que fazem parte do deste álbum. Difícil definir em que estilo se m a u o

*New Wave - O termo “new wave” (nova onda) nada mais foi do c C muralhas de guitarras, típicas das bandas s

i mundo pop. A mesma de saber que os como Pixies e Jesus and Mary Chain, que o o encaixa uma música como “Teenage Riot”, n r que uma jogada de marketing de Seymour Stein (que inspirou a d a u

shoegazers, abrindo espaço para o I t

já são uma espécie de filhos da primeira s

Beach Boys gastaram 4320 minutos para a faixa de abertura de “Daydream Nation”. O a a t canção “Seymour Stein” do grupo escocês Belle and Sebastian), n s m

Britpop, que assim como o grunge, ganhou i l e geração do alt rock. Assim, o rock alternati- e

gravarem apenas uma música, Good r

estrago já estava feito, não tinha mais a p p

c dono da Wire Records, gravadora que lançou artistas como

A

a grande mídia através de bandas como o

vo, que também seria chamado de indie*, : m Vibrations, que já foi considerada o melhor v

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f Ramones, Smiths, Madonna e Talking Heads. Seymour havia

o o : Oasis, Blur, Radiohead, The Verve, i

principalmente na Inglaterra, começa a se d s s

single de todos os tempos ou que Lobão é O reconhecimento da crítica e o i o o v acabado de contratar algumas das bandas, como o Talking Heads, i i Placebo, dentre outras. Agora, para onde d d D estabelecer como gênero musical e a í

o autor do nome Blitz, quando era baterista relativo sucesso de público dos Pixies, ç c y i que costumavam tocar no CBGB's, famosa casa do cenário n o poderiam correr os alternativos, ou indies, u

ganhar um público maior, mas nada a J l da banda até antes dela assinar seu além do contrato milionário que o R.E.M s já que tudo que outrora era alternativo alternativo americano, e precisava retirar o rótulo punk primeiro contrato com uma gravadora. comparado ao que iria acontecer no início assinou com a Warner, rendendo hits estava agora nas rádios, nas grandes destes grupos, taxado pelas rádios americanas como um Parafraseando o Nick Hornby, um dos dos anos noventa, nos EUA, com um sub como “The One I Love” e “Losing My lojas de discos, nos grandes festivais? modismo. Vendo uma similaridade entre este movimento maiores ícones da literatura pop inglesa estilo do rock alternativo: o Grunge. Religion”, abriram de vez as portas das Frank Zappa uma vez disse a e a Nouvelle vague do cinema francês, cunhou termo contemporânea, somos fúteis porque rádios americanas para o rock alternativo. seguinte frase: “O Mainstream vem “New Wave”, pois as bandas da “nova onda” eram gostamos do mundo pop ou gostamos do A partir daí, todo o mundo sabe o que atrás de você, mas você tem de ir ao experimentais e faziam parte de uma geração que mundo pop porque somos fúteis? aconteceu com o estouro do Nirvana e seu underground”. Ser alternativo é mais eram consumidores críticos da arte que “Nevermind”. O grunge e o cenário O início do alt rock do que uma questão de exposição agora estavam produzindo, assim como alternativo americano tomaram de assalto midiática, vendas de discos ou assinar os cineastas da Nouvelle Vague. as rádios e, principalmente, a MTV. Início dos anos oitenta. Começam a com grandes gravadoras. Está nas suas *Synth Pop - Como o nome já diz, é um Bandas como Mudhoney, Dinosaur Jr., surgir nos EUA uma série de bandas que raízes, na forma como se lida com a estilo de rock em que os sintetizadores Thom Yorke: Pearl Jam, dentre outras, além do próprio fazem um estilo de rock que não se indústria musical. Ser independente é predominam. Teve um maior número de o vocalista do Sonic Youth, entraram em alta rotação na Radiohead, maior adequava a nenhum dos gêneros em voga muito mais do que gravar um disco com grupos europeus, principalmente ingleses. Music Television. Surgia, então, a questão. unanimidade do rock no mainstream, surgindo o dito rock prensagem de 500 cópias, em uma Kraftwerk, Depeche Mode e Erasure são alternativo Afinal, agora o que será alternativo, já que alternativo. Ignoradas pelas rádios minúscula gravadora. Por isso, caro leitor, alguns dos exemplos mais famosos. contemporâneo. o alternativo virou o som da moda? comerciais e principais gravadoras, a saída para o rock não está no alternativo *Pós Punk - São grupos que surgiram

bandas como REM, Hüsker Dü e Sonic e sim no autêntico, no sentido “faça você após a explosão punk, em 1978, na Indie, Britpop e Shoegazing: os Youth, foram achar seu espaço nas rádios mesmo”. Não que com isso seja necessá- Inglaterra. Fortemente influenciados pelo sons alternativos da terra da rainha. universitárias americanas, fazendo com rio que todos sejam originais, mas, sim, Punk, estes grupos já seguem uma linha Kraftwerk: Os alemães pais da música eletrônica que parte dos grupos do alt rock, principal- que façam algo legítimo, não fruto de mais experimental. Hüsker Dü, Gang of contemporânea, que ainda continuam na ativa Não havia dúvida que nessa época o mente aqueles que flertavam com emocionando a todos com seu som inovador, como estilos pré-moldados. Afinal, It's Only Rock Four e Joy Division são boas amostras da na sua última passagem no Brasil em Novembro no rock americano estava dominando o melodias mais próximas do pop, fossem 'n' Roll but We like it! importância do Pós Punk. Tim Festival. cenário mundial. Os grupos ingleses como 16 17 Fraude Fraude Música Mídia

ra uma vez a mídia. Ela foi criada para ser um fórum público de discussão, Epara manter as pessoas informadas sobre o mundo ao seu redor e para vigiar o poder. Durante muito tempo ela teve uma existência tranqüila, entre boas ações e atos irresponsáveis que lhe concederam grande poder dentro da sociedade. Tempos atrás, alguns já haviam percebido que a mídia não era tão confiável assim. Mas um belo dia perceberam que poderiam se organizar para monitorá-la. Foi assim que surgiram os vigilantes da mídia, os observatórios de imprensa. Na verdade, a idéia de criticar o modo como se seleciona e veicula notícias pelos os últimos anos, têm surgido em Salvador algumas Camilla Costa meios de comunicação no mundo nasceu de bandas que, influenciadas pelo manguebeat, têm [email protected] uma discussão mais ampla sobre os ideais como característica principal a mistura da música N democráticos das sociedades ocidentais. A pop com elementos, digamos assim, “de raiz”. Esse tipo de Danilo Fraga criação do cargo de “ombudsman” para rock com batuque, que vamos chamar aqui Afro-Rock, ocupa [email protected] cada vez mais os espaços culturais de Salvador. Fazem parte os mesmos signos de baianidade da axé-music - temas desse balaio bandas como Navio Negreiro, a extinta O como negritude e sensualidade tem papel de destaque em Cumbuca, Nêgo Veio (ex-Ataraxia e ex-Mano Veio), ambos. Lampirônicos, Zambotronic, entre outras. Todas elas Porém, na construção da “baianidade nagô” - pra tomar o misturam o rock com alguma outra coisa, seja essa “coisa” termo emprestado do axé - feita por essas bandas, alguns afoxés, samba, reggae, baião ou maracatu. Essa preocupa- pontos podem ser questionados. O tema do resgate da ção, que data do tropicalismo, permeia toda a história do rock cultura negra é complicado. A África é um continente nacional e reaparece de tempos em tempos. Não sei se por gigantesco, com diversas etnias, culturas e, como não sorte ou por azar, ela resolveu reaparecer por agora na Bahia. poderia deixar de ser diferente, com diversos tipos de música. Um aspecto interessante na construção de identidade Resumir toda música africana à presença de uma percussão, feita por essas bandas seria o resgate das raízes negras do ou alguns dreadlocks, na banda é, no mínimo, empobrecedo- povo baiano esquecidas em favor de uma falsa baianidade ra. Na verdade, parece que o termo afro entra aí como um vendida pela axé-music. Como se pode ler no release da slogan, uma garantia de autenticidade. Ao mesmo tempo em banda Navio Negreiro, "De volta à Bahia, reencontraram que essas bandas anunciam o resgate da cultura negra, antigos parceiros e fundaram não apenas uma banda, mas repetem sem saber séculos de cultura musical européia o uma comunidade de músicos, um neoquilombo musical, raiz que é expresso na utilização do sistema tonal europeu, do sólida da cultura negra brasileira, concebida para atuar formato canção e de performances tipicamente “brancas” (ao independente das limitações e restrições impostas pelo contrário da maior parte da música africana que tem na mercado cultural oficial". Frases parecidas podem ser improvisação seu principal elemento). encontradas no release das bandas Nêgo Véio e Talvez eu esteja colocando problemas em coisas Lampirônicos, além de entrevistas e matérias sobre outras relativamente simples. Mas, a simples possibilidade de bandas. alguém achar que está resgatando alguma raiz cultural em De fato, na música popular, é comum que o discurso de sábados regados a cervejas e maconha me assusta. Onde autenticidade de uma forma musical se dê a partir da quer que esteja nossa raiz, não me parece tão simples, ou desvalorização de uma outra - a axé-music é vilã em 9,8 entre mesmo possível e desejável, encontrá-la. O que existe na Monitorar a 10 grupos de “roqueiros” de Salvador. Porém, me espanta a verdade é um misto de frankfurtianismo inconsciente e mito mídia agora virou ferocidade com que essas bandas se dirigem ao ritmo das do bom selvagem, onde o índio e principalmente o negro moda no brasil. morenas (e loirinhas) rebolantes. Ao contrário de outros sub- (mesmo os mulçumanos malês que não batucavam e nem gêneros do rock, a identidade do afro-rock é construída sob dançavam) figuram como nossa verdadeira raiz cultural. Ainda bem. 18 19 Fraude Fraude Mídia Mídia

principais ombudsmen, brasileiros e estrangeiros. No Brasil, o primeiro e durante atenção especial. O site, desenvolvido a Desde textos de estudantes até contribuições de muitos anos único cargo de ombudsman partir do LABJOR (Laboratório de Estudos profissionais renomados. No Observatório da Imprensa, em empresa jornalística foi o do jornal Folha de Avançados em Jornalismo) na UNICAMP, tornou-se feito no molde dos observatórios europeus e america- São Paulo, criado em 1989. Desde então, outros rapidamente a principal referência em crítica da cultura nos, parece existir espaço para todas as discussões e jornais têm incluído tais profissionais em sua folha de midiática no país e foi transformado até em programa na TV todos os interlocutores. pagamento. Recentemente, o Brasil ganhou o seu primeiro Cultura. Criado para ser um fórum de discussão para a É interessante notar, no entanto, o aspecto que ombudsman televisivo, o jornalista Osvaldo Martins, que sociedade sobre o comportamento da mídia, o diferencia a crítica da mídia feita no Brasil e a feita ocupará o cargo na TV Cultura. Para Martins, “o ombuds- Observatório deu visibilidade a outros tantos sites no exterior. Em outros países, muitas das e m p r e s a s man não é um crítico de TV, mas alguém que deve vê-la do gênero, como o Canal da Imprensa, o Mídia organizações de monitoramento da mídia surgem jornalísticas nos Estados com olhos de telespectador comum”. Unidos, nos anos 60, foi um dos primeiros reflexos desta Sem Máscara e o Centro de Mídia Independente (veja e se fortalecem na sociedade civil organizada, na Box), além do portal Comunique-se, que têm os mesmos esteira de movimentos sociais que envolvam discussão. Ombudsman é um termo sueco que, em Vigiar e Punir português, ganhou a tradução de “ouvidor”. Concebido objetivos. Segundo Alberto Dines, editor-chefe do protestos e debates públicos. Por aqui isso não Observatório da Imprensa, “estamos aprendendo a acontece. Por incrível que pareça, no Brasil os novos como um cargo de governo, o ouvidor em linhas gerais O “telespectador comum” brasileiro ou público de observar a imprensa, e isto coloca o Brasil na vanguarda da algozes da mídia são os seus próprios profissionais. deve representar o cidadão, receber as reclamações, críticas e meios de comunicação em geral, é freqüentemente democratização da mídia”. Os principais websites nacionais surgiram dentro sugestões do público e encaminhá-las à instituição que descrito como passivo e de postura pouco crítica em Talvez pela aura de independência e imparcialidade das faculdades de comunicação, onde há um interesse representa. Nos jornais, o ombudsman deve ainda redigir uma relação a estes meios. No entanto, o país assiste hoje a um que ostenta, o Observatório tenha alcançado tanto bastante específico em discutir a mídia. A crítica de circulação interna e outra a ser publicada no jornal, movimento crescente de “vigilância e prestígio junto aos leitores. A organização dos maioria destas iniciativas, ainda que de baseada em suas observações sobre a cobertura do veículo e democratização da imprensa”, que assuntos favorece esta impressão: desde rápido crescimento, como o Observatório da na comparação dele com os principais concorrentes. começa com a proliferação de assuntos polêmicos em geral, passando por Imprensa, são pouco de jornalismo e websites sobre o tema e culmina com críticas às coberturas sensacionalistas, comentá- a mais recente tentativa do governo federal rios sobre o conteúdo das faculdades de jornalis- deve exercer o controle sobre os meios de comuni- de criar o Conselho Federal de Jornalismo, mo, crítica de TV, publicação das críticas dos cação. Será então que o público brasileiro mudou? que reacendeu o debate sobre até onde se populares e o próprio fato de O Brasil teve momentos específicos de contesta- este crescimento ter acontecido ção da grande mídia, geralmente ligados a eventos w ww através da internet, ferramenta ainda políticos maiores. Afinal, mídia e poder estão sempre (o 1 Paulo, na década de 70. Nos últimos anos, o m .fo o bu lh pouco acessível para a maioria da população, é conectados. Nos Estados Unidos e Europa, momentos como b d a. número de projetos como este e o alcance w se sm uo w w rv a l. sintomático. No mesmo Observatório, a maioria dos estes acabaram gerando organizações como a Media Watch, w w a n co dos mesmos aumentou consideravelmen- w .c to d m . a ri aF . u na o. o br artigos é escrita por estudantes de jornalismo e criada em 1984 com o objetivo de monitorar o uso de ol ld ul lh /fo te. Como exemplo, podemos citar a revista Imprensa, uma .c a tim a lh omb im o d a profissionais da área. Para Elias Machado, profes- estereótipos e imagens preconceituosas na mídia. O projeto . p s e /o das primeiras publicações de crítica à mídia (não filiadas r re eg SP m /im n u ) bu sor e coordenador do Grupo de Pesquisa em sa n d é um dos primeiros e mais antigos a se beneficiar com a diretamente a facções políticas) do Brasil. Criada há cerca pr . do s e co .i m ns mb g. an Jornalismo Online da Universidade Federal da popularização da internet. Do lado de cá, as primeiras a . co de 17 anos e publicada até hoje, a revista nunca teve grande (r r m e .b Bahia, “deveríamos estar preocupados em garantir a vi r iniciativas de crítica da mídia após a abertura política nos projeção. Hoje, além da circulação impressa, há uma edição st a incorporação da crítica dos meios como um anos 80, vieram da Igreja Católica que criou o projeto Leitura Im eletrônica - o Portal Imprensa que está oficialmente na rota dos pr en componente essencial à formação cultural de todo o Crítica da Comunicação. internautas interessados no assunto. sa ) cidadão”. Em 1996, o jornalista Alberto Dines funda o Sem dúvida, democratizar a mídia Observatório da Imprensa, na UNICAMP. Dines já havia Panopticon passa por democratizar a discussão sido responsável pela primeira coluna de análise da sobre ela. Talvez ainda seja muito cedo mídia no país - o Jornal dos Jornais - na Folha de São A trajetória do Observatório da Imprensa merece para nos colocarmos na vanguarda do processo. Ainda há muito para vigiar.

Enquanto os alguns críticos procuram do liberalismo econômico até o suposto muitas, a começar pela forma como eles se de chamar de 'fascista' quem tome posição tratar a mídia de maneira mais técnica e “controle esquerdista” da mídia nacional. descrevem. Se de um lado o Mídia sem Máscara é contrária à sua”. Na verdade, “fascista” é o apartidária, como é o caso do Observatório Defensor do ideário liberal e cristão, Olavo de “destinado a publicar as idéias e notícias que são adjetivo mais generoso utilizado para falar de da Imprensa, outros assumem uma postura Carvalho escreve pérolas como: “Na grande mídia sistematicamente escondidas, desprezadas ou Olavo de Carvalho em ambientes mais à esquera. política mais clara. Na Internet, são numero- brasileira não existe jornalismo nenhum. Existe distorcidas em virtude do viés esquerdista da grande Para Roberto Venturini, colaborador assíduo do sos os sites que se propõem a denunciar o apenas manipulação a serviço da esquerda”. mídia brasileira”, de outro, o “CMI Brasil quer dar CMI, “Olavo Carvalho é o pastor dos reacionários complô da mídia em favor de um ou outro Já o Centro de Mídia Independente faz parte voz aos que não têm voz constituindo uma alternati- de plantão, os quais são desprovidos de inteligên- grupo politico. No Brasil, os dois principais de uma rede internacional que armazena e va consistente à mídia empresarial que frequente- cia e a favor de medidas totalitarias e fascistas. exemplos desse tipo de mídia engajada são difunde notícias publicadas por produtores mente distorce fatos e apresenta interpretações de Aliás, Olavo é um típico racista neo-liberal e os sites Midia Sem Máscara (www.midia- independentes a Indymedia, criada em 1999 para acordo com os interesses dos ricos e dos podero- pseudo-intelectual”. semmascara.com.br) e o Centro de Mídia divulgar os protestos anti-globalização durante o sos”. Como dois times de futebol, os partidários de Nesses tempos em que a crítica ideológica Independente (www.midiaindependente.org encontro da Organização Mundial do Comércio cada lado têm uma relação de ódio recíproco. Para dos meios de comunicação está tão em voga, ). O site Mídia sem Máscara, que completou (OMC), na cidade americana de Seattle. No Olavo de Carvalho, “O CMI é uma ONG milionária, gostaria de explicar meu título. Ele foi escolhido três anos de existência neste ano, é Brasil, o site é resultado de uma rede que com escritórios em mais de uma centena de países, apenas por um trocadilho barato, não tem capitaneado pelo polêmico filósofo anti- congrega coletivos de voluntários já estabelecidos empenhada em fazer propaganda contra os EUA e nenhuma carga ideológica. Danilo Fraga comunista Olavo de Carvalho e reúne textos em 10 cidades. Israel, exatamente na linha de milhares de sites [email protected] que tratam de temas que vão desde a defesa As semelhanças entre os dois sites são nazistas e comunistas, e que ainda tem o desplante 20 21 Fraude Fraude Rádio Rádio

hiado, barulho, sintonia ruim... Paciência para achar esportivas. “Ouço a rádio AM porque a programação dela para se aproximarem do ouvinte e daí garantir sua uma freqüência que dê para escutar. Estudiosos do se destina a uma faixa de público diferente e é mais direciona- fidelidade. Não é raro um locutor passar até mais de cinco Crádio dizem que as emissoras AM valem mais pelo da para a área esportiva, relegada na maioria das rádios FM”, minutos apenas distribuindo beijos e abraços para os “cumpa- que já representaram e não por sua atual resistência perante conclui Agnelo. dis” e as “cumadis”, sem esquecer de mandar “aquele alô” para as rádios FM. Mas afinal, o que se tem para ouvir no mundo Programas como o Balanço Geral (da Rádio Sociedade o seu Zé da barbearia e à dona Rita do açougue. Tudo isso das ondas de Amplitude Média? Nos últimos anos, ouvir da Bahia, apresentado por Raimundo Varela e Armando proporciona uma sensação de comunidade, diminuindo a rádio, até mesmo as FM's tem sido um costume cada vez Mariane), que se colocam como alternativas para solucionar distância entre quem fala e quem ouve, atraindo um público mais raro nas grandes cidades: CD's, MP3 e rádios on-line, os problemas da população carente da cidade, também que encontra nessas rádios uma chance de falar de seus pouco a pouco vão conquistando seu público. Então, o que atraem muitos ouvintes. É a D. Gildete, moradora do Alto do problemas, pedir ajuda e conselhos. Tudo isso colabora para dizer da AM? Coqueirinho, que precisa de uma cadeira de rodas e liga para que a rádio AM deixe de ser vista apenas como um tipo de Uma polêmica envolve o surgimento do rádio no Brasil. a rádio pedindo ajuda ou Seu Antônio, de Dias D´Ávila, mídia 'quase extinta'. Excluída, sim, das grandes mídias, mas Oficialmente, é considerada a Rádio Sociedade do Rio de solicitando que 'orelhões' sejam instalados na rua em que ele com visibilidade e importância garantida em determinados Janeiro a primeira do país, em 1923, mas existem provas de mora. “Esse tipo de programa se aproveita do fato da popula- grupos sociais, principalmente os de baixa renda. Daí ser que a Rádio Clube de Pernambuco já fazia transmissões ção carente ter sido educada para buscar amparo no político e necessário acompanhar o desenvolvimento dessas rádios e quatro anos antes. De lá para cá, o meio radiofônico cresceu, na religião. Mas isso não é fazer uma rádio popular, mas discutir seu papel na sociedade. ganhou e perdeu importância entre a s m í d i a s , popularesca, que trabalha no demagógico”, critica o professor acompanhou, não homogeneamen- Cedraz. No entanto, não se pode negar que esses tipos de te, os avanços tecnológicos e passou programas fazem sucesso, principalmente nos bairros a fazer parte da rotina de muitos. populares. Enquanto as emissoras de car[ater mais Os locutores de rádios AM utilizam muitas estratégias pel comercial (FM), ganharam audiência e conquista- ram a massa, as rádios AM passaram por um processo de desvalorização que acarretou em desemprego de funcionári- os, falta de interesse de anunciantes e conseqüente venda para grupos religiosos. Na Bahia, presenciamos o fenômeno da “evangelização” da rádio AM. Rádio Novo Tempo, Rádio Cruzeiro da Bahia, Rádio Igreja Religião de Deus... essas são algumas das que ocuparam o espaço, por exemplo, das extintas Rádio Bahia, Rádio Comercial e Rádio Clube. A programação consiste basicamente na “pregação da palavra” e inclui blocos “jornalísticos” (em uma das rádios, podemos ouvir a leitura das manchetes dos principais jornais do dia com a música- mediações que cada emissora tem com a religião. tema do filme Missão Impossível ao fundo) e até rádio Já Marcelo Carvalho, jornalista e apresentador do novela. Os ouvintes participam avidamente escolhendo programa Papo Cabeça, na Rádio Cultura, fala em um músicas e participando de enquetes, como as comandadas preconceito com relação às rádios AM. “Quando se fala em pelo locutor do programa TicTac Musical (Novo Tempo), AM, só se pensa em missa, pregação e futebol, mas pode- Gabriel Oliveira. Entre os vários assuntos debatidos, é mos encontrar também programas com entrevistas, informa- possível opinar em temas como “Um jovem consegue ção e variedades”, confirma. Segundo Marcelo, a Rádio conhecer 100% seu parceiro já no namoro?” ou “A pena de Cultura, a Sociedade da Bahia e a Excelsior são as únicas morte ajudaria a diminuir a violência no país?” AM que ainda mantêm uma programação não só religiosa. “O Um estudo realizado pelas pesquisadoras Lucina fato da Cultura pertencer a um grupo católico não influi na Miranda Costa, Fabiana Gomes de Souza e Cristiana Karine grade comercial tanto que podemos abordar todos os Cardoso, da Universidade Federal do Pará, entitulado “Em assuntos e trazer pessoas de vários segmentos, sem nome de Deus: as ondas radiofônicas louvam cada vez mais nenhuma restrição”, relata o jornalista. ao Senhor”, revela que o rádio, tendo um grande poder de penetração e com um custo mais acessível, se comparado à Vivian Barbosa TV, é o principal veículo utilizado para divulgar o evangelho. O Quem ouve AM? [email protected] grande número de emissoras religiosas só comprova o próprio crescimento das igrejas, seja na ampliação do E a aceitação do público? Quem sintoniza em rádios AM? número de templos, seja na criação de novas denominações Segundo pesquisas de audiência, pessoas com mais de 30 religiosas. anos, das classes C, D e E são as que mais participam dos Jonicael Cedraz, Professor de Radiojornalismo da programas, ligando e falando ao vivo, durante a programa- Universidade Federal da Bahia, afirma que o rádio AM se ção. “O ouvinte não liga para a rádio só interessado em transformou em um espaço de disputa entre grupos religio- ganhar prêmios, eles querem opinar e dialogar. Querem sos. “O fenômeno religioso tomou conta das rádios AM em conteúdo e é isso que tentamos oferecer: bate-papos Salvador, desde os anos 90, transformando essa mídia inteligentes”, afirma Marcelo Carvalho. Mas a maior audiên- também em um espaço para políticos cativarem votos”, diz o cia é mesmo durante os programas esportivos, principalmen- professor. O jornalismo praticado por essas rádios, de acordo te nas narrações ao vivo de jogos de futebol. Agnelo Novas, com Cedraz, tem seu conteúdo modelado a partir das 50 anos, é um dos fiéis ouvintes das resenhas e transmissões 22 Evangelização nas ondas de amplitude média... 23 Fraude Fraude Televisão Televisão

confiscadas pelo então governador de São o mês de dezembro, reportagens em dívidas que começavam a destruir seu dominicais marcaram a história como o Qual Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho e um livro que especiais e vinhetas devem começar patrimônio e cresciam ao mesmo passo que a é a música?, Topa tudo por dinheiro e o Show de transcreve o vídeo foi lançado mais tarde por a circular na TV Globo anunciando TV Globo. Calouros. N Geraldo de Anhaia Mello. No entanto, a cópia do as comemorações pelo 100º aniversário de Os direitos autorais do livro de Morais Com um jeito bem irreverente, Sílvio Santos DVD "Além do Cidadão Kane" podia ser nascimento de Roberto Marinho. O criador da foram comprados pelo ator e "cineasta" briga pela audiência: "É um filme muito bom, um comprada pela bagatela de R$ 5,00 em uma Rede Globo de Televisão, que morreu há Guilherme Fontes, que desde 1998 está filme a que eu já assisti várias vezes. Mas podem manifestação organizada pelo Centro de Mídia pouco mais de um ano, foi um dos grandes dirigindo o filme Chatô, em meio à tramitação ver a novela. Esse filme só vai começar depois Independente, que ocorreu no dia 18 de outubro, empreendedores do ramo da comunicação de processos judiciais e acusações sobre mau que a novela acabar", falava no ar, durante seus na Av. Jornalista Roberto Marinho, zona sul de em todo o mundo. "Dr. Roberto", como uso de verbas. Apenas em abril deste ano, as programas. Atualmente, os maiores São Paulo. O movimento teve como lema a luta costumava ser tratado, misturou imprensa e filmagens, suspensas desde 1999, foram investimentos têm sido feitos na compra de pela democratização da mídia, ideal julgado política com interesses pessoais e hoje é retomadas e as últimas cenas do filme direitos pela exibição de filmes e seriados. pelos manifestantes como comprometido pela lembrado entre o ódio e a admiração dos começaram a ser rodadas, mas ainda sem Roberto Marinho Contratos milionários com a Warner Bros. TV Globo. brasileiros. prazo para estréia. Fontes idealizou um Fundador da garantiram, por exemplo, a trilogia "O Senhor Rede Globo A grande expectativa, porém, está voltada N e s s e u n i v e r s o d o s " g r a n d e s ambicioso projeto que conseguiu captar R$ 8,5 Assis Chateaubriand dos Anéis" e o seriado "Friends", além de picos para a publicação da biografia oficial de Roberto comunicadores", já tivemos muitos ícones na milhões através de leis de incentivo à cultura, Fundador da TV Tupi no primeiro lugar na audiência, abalando, Marinho. Quando você estiver lendo esta história do Brasil. Para que Roberto Marinho mas foi só com a ajuda da BR Distribuidora e mesmo que "de leve", a estrutura imperial dos matéria, o livro lançado para as comemorações se tornasse o todo-poderoso, ele precisou da Riofilme que o filme pôde voltar a ser Marinho. do centenário de nascimento do patriarca global, passar por cima de outro magnata, dono do rodado. O orçamento total de Chatô será de R$ No livro A Fantástica História de Silvio já estará nas livrarias de todo país. O escolhido maior conglomerado de empresas 12 milhões, tornando-se o mais caro longa- Santos (Editora do Brasil, 278 págs), escrito pelo pela própria família Marinho para escrevê-la foi o jornalísticas de até então, com 36 jornais, 34 metragem da história do cinema brasileiro. amigo e ex-assessor Arlindo Silva, Sílvio Santos jornalista Pedro Bial, que em entrevista ao estações de rádios, 19 tevês, 18 revistas e Se nomes de tanta importância atraem o concede alguns depoimentos e revela as intrigas "Programa do Jô", no mês de novembro, contou duas agências de notícias: Assis público quando falamos bem, imagina quando com Roberto Marinho, como a vez em que o detalhes do processo de criação da obra, Chateaubriand. Por sua vez, para alcançar revelamos seus podres? Seguindo essa dono das Organizações Globo, rompeu a inclusive sobre os documentos a que teve prestígio, "Chatô" usou de suas principais lógica, o que não falta no mercado são amizade com o então Presidente da República, acesso sobre a vida particular do empresário. armas - a pena e a tinta - para desmoralizar publicações que "desmascaram", por José Sarney, por acreditar que ele teria lançado Até a senhora Lily Marinho, última das três seu opositor e concorrente Samuel Wainer. O exemplo, Roberto Marinho. Romero da como candidato à presidência pelo esposas, ingressou no fantástico mundo próprio Roberto Marinho não escapou de ter Costa Machado, trabalhou 10 anos nas PMDB. Na guerra para ser o número um no editorial. O livro Roberto e Lily, lançado problemas em seu império quando Senor Organizações Globo e publicou dois IBOPE, Sílvio Santos não parece se preocupar recentemente, revela seu relacionamento Abravanel (leia-se Sílvio Santos) ganhou livros: Afundação Roberto Marinho (Ed. em ser original ou colocar no ar programas Chatôs, amoroso com o imortal jornalista (que foi popularidade e conquistou, pouco a pouco, Tchê!, 266 págs) e Afundação Roberto "políticamente corretos". A Casa dos Artistas, Marinhos e membro da Academia Brasileira de Letras com cópia mal-feita do sucesso global Big Brother emissoras de TV e credibilidade. Marinho 2 - uma biografia de corrupção Abravanéis... A um único libro publicado).Toda a renda obtida Brasil e o programa do Ratinho são prova da luta, Intrigas, batalhas declaradas, acordos (Ed. Meus Caros Amigos, 164 págs). coroa de “Rei com a venda deste livro será destinada à ilegais... tudo isso com uma pitada de senso Ligações da Globo com o jogo do bicho, do Brasil” já independente de com quais armas, para atrair o Pastoral da Criança. de humor e a tranqüilidade de quem nunca a fraude do PapaTudo, transações em passou de grande público. enfrentará problemas porque "tem o poder dólares ilegais, entre outras acusações de cabeça em O que não se pode negar, em 'Chatô', 'Dr. Quem quer dinheiro? nas mãos". Assim viveram esses homens irregularidades são reveladas, servindo cabeça... Mas Roberto' ou 'Seu Sílvio' é que, seja em nome do onde ela vai que se cobriam com a fachada do "amor pela como combustível para sites especializados desenvolvimento do país, seja atrás de poder e parar? Sem Assis Chateaubriand ou Roberto comunicação". Mas não seria sede de poder? em pregar o ódio à Rede Globo. Muitos deles prestígio (e dinheiro também, por que não?), eles Marinho, Sílvio Santos - que ficou em terceiro Ou amor ao dinheiro? Os livros, filmes, chegaram a festejar a morte de Roberto trouxeram inovações no suporte e no conteúdo lugar em uma pesquisa feita pela Revista Istoé, vídeos documentários e sites que contam a Marinho, que na realidade, já tinha morrido da TV. Influenciaram mídias como a radiofônica, que perguntou quem foi o maior comunicador do vida de cada um desses personagens tentam várias vezes antes em boatos divulgados via e- a impressa e, recentemente, a Internet. A século XX - parece agora ter a coroa do Brasil. A resolver essa questão, mas costumam dar mail. Globo.com e a TV Globo Internacional sua história já é muito conhecida: um camelô mais ênfase sempre a um lado, pintando-os Ainda mais polêmico e até hoje um proporcionaram maior visibilidade no exterior à que começou a fazer fortuna vendendo porta- ora como heróis, ora como bandidos. verdadeiro mistério, é o documentário Beyond programação nacional. Exportamos novelas títulos nas ruas do Centro do Rio de A principal biografia de Chateaubriand foi Citizen Kane (Além do Cidadão Kane), dirigido para diversos países, os programas jornalísticos Sílvio Santos Janeiro e que transformava publicada em 1994 e escrita pelo jornalista por Simon Hartog e realizado pela produtora Vivian Barbosa ganharam investimentos e estão entre os a m i g o s e m s ó c i o s , Fernando Morais. Uma das raras exceções, independente Large Door Ltda, em 1992. O dono do SBT [email protected] melhores do mundo em qualidade. investindo em negócios Chatô: o rei do Brasil, a vida de Assis vídeo foi exibido pelo Channel 4, de Londres, Mas no final, como brasileiro tem memória praticamente falidos (como Chateaubriand (Companhia das letras. 732 no dia 10 de maio de 1993 e contava a história curta, servir de nomes para cidades, ruas e o Baú da Felicidade) e págs), consegue fugir do maniqueísmo ao da televisão no Brasil, focando a vida do museus será o destino e a forma de lembrar de correndo o país atrás de mostrar um Chatô polêmico, entusiasta e empresário Roberto Marinho e a TV Globo. As cada uma dessas figuras. E, é claro, através das c l i e n t e s . E m 1 9 6 6 , j á capaz de cometer crimes para garantir sua fitas chegaram ao país e viraram uma atração dezenas de livros, documentários, filmes e comandava os domingos na influência, mas envolvido com tudo que se clandestina, apresentando temas que iam reportagens que sempre serão produzidos por Rede Globo (!). Dez anos se passava em suas empresas, sempre desde o acordo ilegal da Globo com a Time- alguém que queira imortalizá-los ou apenas passaram para que o "Peru que escrevendo em seus jornais e buscando Life até a intervenção nas eleições de abocanhar seu pedaço em um mercado que Fala" , como era conhecido, trazer inovações técnicas para o país. Nem 1989, disputadas entre Collor e Lula, movimenta tanto dinheiro. Uma pergunta que, no tivesse a concessão da TVS e as excentricidades de um apaixonado por incluindo o escândalo da edição do entanto, não quer calar é se teríamos hoje no saísse da TV Globo para conquistar mulheres e pela arte escaparam de ser debate entre os candidatos, que teria país alguma "(jovem) promessa" de sucessor de sua fatia do mercado. Diferente de detalhadas no livro. A criação da primeira ocorrido por ordens do presidente da Sílvio Santos, herdando sua coroa. Gugu outros grandes comunicadores, que emissora de TV da América do Sul, em 1950, emissora. Depoimentos de , Liberato? Luciano Huck? Celso Portioli? Façam não gostavam de aparecer, ele é figura a TV Tupi, foi o maior feito de Chateaubriand, Leonel Brizola, entre outros, dão um tom suas apostas... permanente na telinha. Seus programas que morreu dezoito anos depois, mergulhado irônico ao documentário. As fitas foram s pelo 24 25 Fraude Fraude Política Política

uem sabe faz ao vivo. Quem Qualquer pessoa sensata concorda Promessa é dívida? seja. O convencimento, a adesão e a somente levando em conta bons jeito. Põem em prática aquela idéia não sabe ensaia, grava de com isto. No entanto, a coisa não pára conseqüente conquista do voto não se conjuntos de idéias, e tantos outros de mirabolante, da própria cabeça, ou que Qqualquer jeito e manda pro ar. por aí. Condenar Milena e seguir Se um candidato promete, ele deve justificam estritamente no corpo de como as paixões contribuíram de foi sugestão da mulher ou do amigo. E assim, entre o tosco e o mal feito, vivendo em paz é uma forma de ao menos tentar cumprir, correto? Em propostas ou do viés político do candidato maneira decisiva para o sucesso ou Com pouca preocupação técnica ou com cambaleia o nosso horário eleitoral avalizarmos a proliferação do processo tese, sim. No entanto, o que se instituiu na - não é estritamente racional, embora a fracasso de muitas delas. Deve haver a construção de uma imagem que vá gratuito. Apenas mostrar a cara na tela eleitoral como ele está e, por conse- prática é o extremo oposto. Maquiavel fez discussão política sempre caminhe pra alguma receita de moderação, um além do “Vote em mim”. E acabam ou ler meia dúzia de jargões, não tem qüência, de candidaturas de natureza uma leitura da vida política e os políticos esse lado. Justificar uma opção eleitoral equilíbrio entre a razão e as paixões - denunciando, do modo mais cômico sido suficiente, nos últimos anos, para semelhante. Afinal, o povo condenou leram Maquiavel (será?). E o que reina é a levando em conta identificação imagética mas ainda está bem escondida na possível, nosso senso comum. sair do anonimato, tampouco ganhar o também, na eleição passada, Ariane máxima do “Vale manter uma promessa com o candidato é visto quase sempre biblioteca de Babel. Resultado de uma história de sucessivo voto do eleitor. É nessas horas que a Carla, a 'loira' que distribuía santinhos enquanto for interessante cumpri-la”. Ou como alienação política, comportamento O que isto tem a ver com o shortinho esvaziamento das plataformas políticas, criatividade aparece e quase sempre de mini-saia em escolas e estádios, seja: promessas de campanha e nada de massa ou desvario. Respeita-se pouco da Milena? Ora, candidato a vereador refém de imagens construídas de modo estraga tudo. estão lembrados? Pois ela voltou, se mais. Ou você assistiu o horário eleitoral esta indicação tão clara. Procura-se também é candidato. Só não tem leviano, com pouquíssima ou nenhuma Parece que de uma coisa os candidatou novamente e se elegeu procurando alguém que falasse a sempre argumentos racionais para dinheiro nem tempo pra fazer uma preocupação educativa. Descrente das candidatos tomaram consciência: desta vez. Será que mudou tanto, a verdade? atitudes que tem grande parcela de mega-campanha. Por isto eles fazem idéias, desesperado para se destacar da político na tv, de terno e gravata, ponto de deixar de ser achincalhada e O que ocupa o lugar da verdade se é passionalidade. assim, meio a facão, meio de qualquer multidão. De qualquer jeito. fazendo discurso de menos de 30 que algo tão relativo pode ter um lugar tão Ainda que pareça anti-político, a c u p a ç ã o e d u c a t i v a . Descre segundos, é tudo igual. Quem quer cativo é a imagem. Pelo menos em construção da imagem do candidato, bem ganhar eleição tem que se destacar grande parte. Pouco importa se uma como a relação de paixão que o eleitor

Campanhas feitas a Facão: A imagem dos candidatos a vereador compõe um bom retrato do modo como nosso povo encara a política.

Ricardo Sangiovanni [email protected] de algum modo - tem que cair na boca do tem com ela, são elementos funda- povo. Só não perceberam mentais no jogo político. Deve-se constatar que isto não é o mais difícil. isto sem nenhum pesar. É necessário que a Cai-se na boca do povo por discussão política respeite e critique qualquer maluquice que se resolva também o comportamento dos políticos proposta de campanha é boa, ruim, fazer. Pintar a cara de vermelho, ficar em relação à mídia, o modo como falida ou impossível. Quase sempre elas de costas na TV ou mostrar a bunda aparecem, o que tentam passar e de merecer ser vereadora do município? são as mesmas, não importa o candidato. são coisas que certamente dão o que que modo o fazem. O mesmo se Que faz de errado, então, uma candidata O que pesa é a estratégia de construção falar. E o que tem aparecido são aplica ao comportamento do como Milena? Constitucionalmente, nada. de imagem que difere a campanha A da B e pérolas de humor com qualidade de eleitor: que tipo de aparência lhe Ela se expressou livremente, usou as da C. O passe único para o ônibus que vídeo amador, no melhor estilo agrada e os porquês desta armas que tinha em uma disputa aberta. César Borges propõe é diferente do de Hermes e Renato. Se isto ganha satisfação, se há um Não ofendeu a lei eleitoral, não cometeu João Henrique? É sim. Porque um arruma eleição por incrível que pareça é equilíbrio entre ideologia, crime algum. Qual é o absurdo, então? o penteado diferente do outro, usam outra história. proposta e imagem do O absurdo talvez seja a noção de determinados truquezinhos de câmera, Exemplos tivemos aos montes. O candidato escolhido. política eleitoral. A coisa em si, da forma têm jingles diferentes. Mas, mais importan- mais comentado deste ano é o da O desafio das nossas como é concebida e feita. Estranho não é o te do que isso: eles são pessoas diferen- candidata “Milena - Tudo pelo rodas de bar é ir um pouco short da Milena ou o tom inverossímil de tes. Gastam uma grana com marqueteiros esporte”. Preocupada com o esporte, além da aparência de “moral- suas propostas, mas a falta de atenção do e publicitários responsáveis não por mas também com os taxistas, os mente correto ou não”, do “lógico debate público sobre as eleições e a vender um “sonho”, como se diz por aí, feirantes, os jovens e até com a cultura ou não”, do “verdadeiro ou não” afinal, da completa banalização dos recursos que um mas por aproximarem tanto quanto chinesa, Milena foi candidata pelo verdade também faz parte uma sensação. candidato tem para conquistar votos. Vale a possível o candidato do sonho do eleitor Prona, partido que escolheu por “se Além de observar a atitude dos políticos, pena tratarmos de dois deles: primeiro suas mostrá-lo receptivo, simpático. preocupar com o social”. Ela cursa cabe também problematizar a própria pretensões políticas, o que envolve suas A publicidade eleitoral tem um papel Relações Internacionais e é católica. atitude, de eleitor, de público: “por que isto propostas de campanha, a verdade e extremamente importante, muito valoriza- Nada católico, entretanto, é o ou aquilo nos agrada? O que determinadas viabilidade que elas trazem; depois, e mais do em dinheiro, pouquíssimo na discussão shortinho com que despontou em estratégias e truques na construção de importante talvez, sua imagem, sua cotidiana: o de marcar a diferença, seus banners de campanha. Por uma imagem visam despertar em nós? estratégia de convencimento, a sedução delimitar as fronteiras entre pessoas, causa dele, e de suas curvas genero- Qual o peso da imagem na difusão da que envolve qualquer relação humana e grupos ou partidos (e não de 'definir a sas, a candidata virou alvo da crítica intenção e da idéia?”. Talvez seja uma que é quase sempre colocada em segundo eleição', como se criou o hábito de dizer). popular, que, quase sempre recalca- ferramenta indispensável para compreen- plano em se tratando da simplicidade de Conclui-se que é impossível mostrar isto da, conclui o óbvio: “esta mulher é der porque a política é como é. A história um voto. ao grande público somente através de um uma piada. Uma vergonha. Um traz incontáveis exemplos de tentativas conjunto de propostas, por melhor que ele 26 frustradas de transformar o mundo Fraude "E s Artes J co s Artes o c m e ão o o m c m u C a o q s a ix u e abertura ou funcionamento” explicou Antônia. mostras individuais, coletivas e salões de arte, no Brasil, b xã m al u ra o u q d l d s ue e “Você já procurou a Bahiatursa? Se ela não souber na Europa e nos Estados Unidos, onde viveu por alguns d e eu r t o e l , o ud ninguém sabe....”.Era a resposta quase unânime dos anos. João retornou ao Brasil em novembro de 1996 para M ix ta u o e o m tr é d lo o b o moradores e comerciantes do Centro Histórico. As expor uma de suas obras a convite de uma exposição no u é r m N a m eu u u e r n s informações que lá encontrei foram as mesmas localizadas Pelourinho e desde então se estabeleceu aqui em Salvador, t to q p i eu ui o do vo de na Lista, com exceção de um e-mail, que para nenhuma já com o desejo de criar o MOI. .” s e er surpresa minha, estava desativado. Foi ainda na Europa que João Augusto começou a d Se o Museu do Objeto Imaginário insistia em não se desenvolver e produzir obras dentro deste movimento revelar, outros Museus do Objeto são hoje em dia bem chamado por ele de Objetivismo Imaginário, que consiste conhecidos. A grande maioria cuida da preservação de basicamente na utilização dos mais variados objetos na objetos de valor enquanto parte da História de uma composição de obras de arte, de quadros a instalações e sociedade, como o que acontece com objetos e utensílios inteiras. Não se pode dizer que o uso de objetos em obras t seja algo novo, afinal podemos lembrar que no final do u n muito antigos ou pertencentes a personagens ilustres. Um r o b exemplo de museu com essa proposta é o belíssimo Museu século XIX e início do XX, artistas como Matisse, Picasso e . e P m da Casa Brasileira, localizado em São Paulo. Uma outra Braque chocavam a comunidade artística e a e sociedade s h o c forma, ainda bastante recente, é em muito associada ao parisiense inserindo papelões, tesouras e outros objetos em t . u e o design e tem na Instituição A CASA - Casa Museu do Objeto seus quadros. B o h Brasileiro um dos principais representantes. Mas meu objeto E também não seria essa a primeira vez em que o objeto a M Y procurado continuava apenas na imaginação. do museu, para além da arte ou da história, seriam objetos @ comuns, a princípio sem nenhuma pretensão ao status de e t n arte (sem contar, obviamente, com exceções como as da o p famíla Stolarczyk, de Yorkshire, Inglaterra, famosa por seus h t e A lista telefônica está para o telefone como o Google museus excêntricos, como da cenoura ou das torradeiras.) B para o computador. Mesmo antes de ouvirmos falar em E não se pode dizer que foi tudo responsabilidade de internet já possuíamos uma noção do que viria a ser um link. Duchamp e seu mictório. Mas a proposta do Objetivismo A lista telefônica pode ser vista hoje em dia como um imenso Imaginário de João Augusto tem seus próprios contornos e buscador, com links para tudo que interessa na cidade. Até particularidades, nascendo da recuperação e mesmo para o que não existe, se não com o auxílio da aproveitamento de objetos rejeitados, abandonados e imaginação. condenados ao desaparecimento. “Tornei-me um 'objetista', Foi assim meu primeiro contato com o Museu do Objeto que trabalha com objetos industrializados e outros Imaginário. Primeiro contato que, até pouco tempo, eu confeccionados por mim” escreve João em carta a Solange acreditei também ser o último. Como um indicativo dado no ano de 1995. “Cada trabalho parece o decór de uma peça pelo próprio nome, o Museu do Objeto Imaginário não foi de teatro, de uma ópera, onde tudo se harmoniza por mais fácil de ser encontrado. paradoxal que olhos imaturos e insensíveis possam Um nome e um telefone na lista telefônica. Ao lado de enxergar.” tantos museus comuns não havia como não prestar atenção Quando a proposta é utilizar-se dos objetos do dia-a-dia a este de nome intrigante. Contudo, o Museu do Objeto para a confecção de obras, o que temos são possibilidades Imaginário era um mistério. O número indicado na lista havia infinitas, num jogo de análise combinatória cujo único fim é a mudado. Não havia registros no Dimus (Diretoria de criação de novos olhares e o despertar da imaginação. Olhe Museus), IPAC (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da a seu redor. Quantos objetos você consegue visualizar? Bahia), na Fundação Cultural do Estado ou mesmo na Canetas, lápis, cadeiras, cds, brinquedos... Nada escapava memória de qualquer morador da suposta vizinhança. Nem se quer havia um link no Google, o grande oráculo moderno. Fotos: Jônathas Araújo Enquanto procurava por aquele que parecia não existir e vendo confirmada cada vez mais minha ausência total de tino jornalístico, me questionava: o que haveria em um museu com este nome? Afinal, o que seria um objeto O Objeto do Museu imaginário? A resposta à minha pergunta começou a se delinear em um bricabrac no final da Rua das Laranjeiras, no Centro A Imaginação do objeto Histórico. Com a ajuda do dono, Pedro Ivo e do Sr. Jorge Bandeira, do DIMUS, pude localizar dona Solange Cintra e Imaginar, porém, é antes de mais nada brincar com as Maria, sua filha, que me contaram a respeito o Museu do possibilidades. E pensando desta maneira, dei-me por conta Objeto Imaginário e principalmente sobre seu fundador, João que o Museu do Objeto Imaginário poderia ser uma Augusto de Moraes. infinidade de coisas. Ou mesmo nenhuma. E tudo indicava O artista plástico João Augusto nasceu em Salvador no esta alternativa. ano de 1933. Nos anos 50, ainda jovem, partiu para a A Secretaria de Cultura do Estado indicou-me o contato Europa, onde viveu por mais de 40 anos em diversos países. da Diretoria de Museus (DIMUS) e lá conversei com Antônia (Na Itália, onde viveu em Roma, foi colega de Fellini e Pinheiro, responsável pelo Setor de Documentação e aparece em um trecho de “Dolce Vita” vendendo suas obras Pesquisa. Como já não bastasse nenhuma informação a Marcelo Mastroinani.) Lá conseguiu o que muitos poucos sobre os número e o endereço que constavam na lista, conquistam aqui no Brasil: a possibilidade de viver de sua também lá não encontrei indício algum do tal museu. “Até de arte. Seu currículo é bastante vasto, com cerca de 50 30 29 Fraude Fraude Artes Artigo às criações de João Augusto que, no ano de 1994 ste é um tema para leitores de mais de 40 anos em que as “unhas estejam curtas e nenhum pêlo saia escreve: “Diminuir a cegueira de grande parte dos indivíduos, pânico diante da passagem do tempo e das para fora das narinas”. Também é importante não exalar é também a tarefa do artista.” Era justamente isso que João dificuldades para encontrar um novo e sólido um hálito de bode no rosto da presa. Se ela for casada, pretendia e alcançava com suas obras, criando sobre o que já E amor, mas serve também aos jovens precoces. Para algo bastante comum nos tempos que correm, é fora criado, fazendo nosso olhar e nossa imaginação fornecer-lhes armar úteis nessa dura luta, verdadeira bastante razoável ficar amigo do sócio. Na hora da perderem-se nos detalhes e belezas dos objetos comuns, os O LUGAR DA MEMÓRIA guerra sem quartel, retomo “A Arte de amar”, de Ovídio, conquista, a melhor estratégia é não poupar elogios às quais usamos e jogamos fora quase todos os dias. clássico latino que, como se sabe, foi um dos primeiros formas malhadas da escolhida. O negócio, é ser mais Muito do Objetivismo Imaginário pode ser encontrado na Não se fazem mais museus como antigamente... best-sellers da auto- ajuda e do consultório sentimental. generoso na cantada do que os políticos: “As promes- exposição “Les temples de la terre vagues” (Templos de Primeiramente foram os Museus de Arte Moderna que Se alguém pensa que inventamos os nossos clichês sas é que prendem as mulheres”. Em outras palavras, terras vagas), uma co-produção do Museu do Montparnasse deixaram de lado a necessidade de um passado histórico; amorosos e sobre as mulheres, sempre tão em voga, minta para elas. E “engana as que enganam”. Todas. e que foi um dos destaques do 8º Festival de l'Imaginaire em recentemente os museus virtuais que aboliram a necessida- melhor tirar o cavalinho da chuva: Ovídio já os recolhera Deve-se variar o método de ataque conforme a , que aconteceu entre março e abril de 2004. O crítico de de um espaço físico, e agora, aqueles que renegam a ou concebera no começo do período romano conhecido idade. Alento para os feios: “Ulisses não era belo, mas Gilbert Lascault, na apresentação da exposição, explica que necessidade mesmo da arte, do passado e do espaço. Esse como Império. era eloqüente e com isso conquistou o amor de duas “todo trabalho é um santuário que venera fragmentos do último é o caso do Museu da Pessoa.Net. Pragmático, dá lições simples e diretas. No deusas do mar.” Ronaldo, o fenômeno, está aí para corpo social.” Estes fragmentos são os objetos, colecionados Um museu onde não predomina nem passado, nem arte, primeiro contato com uma mulher desejada é melhor provar que Ovídio tem razão: com eloqüência e alguns do lixo, de sobras, de partes perdidas e freqüentemente nem arte do passado. O que há então? História. A missão do que “as primeiras palavras não passem de lugares- milhões de dólares não tem Cicarelli que resista. É lindo separadas do que já foi útil um dia, de destroços. “A Instituto Museu da Pessoa é o registro e conservação não comuns”. Nada de ficar bolando abordagens originais, o amor! Eis o principal: “O amor é uma espécie de exposição dá uma segunda sorte a lixos. Os salva”, diz daquela representada por objetos artísticos e de uso do pois o que funciona mesmo com elas é o tradicional “eu serviço militar”. Sabemos que, nos países avançados, Lascault, ou nas palavras do Objetivismo de João Augusto passado, tal qual imaginamos encontrar em qualquer museu, não te conheço de algum lugar?”. Não tem nada disso deixou de ser obrigatório. A poesia é legal desde que “dá uma nova vida ao objeto rejeitado e condenado ao mas de histórias de vida. Sua premissa é a de que toda e de não poder convidá-las de cara para conhecer a sua não seja recitada na hora de mostrar armas. Outra desaparecimento”. qualquer história de vida tem valor e deve ser preservada. coleção de havaianas. “Se a poeira atingir o colo da coisa: convencer a mulher a pedir aquilo que se quer dar Ao ser questionada sobre a maior dificuldade que O Museu da Pessoa tem sua sede em São Paulo e jovem, trata logo de tirá-la, e se não cair poeira, tira-a a ela. Chama-se a isso de estar em sintonia. enfrentam atualmente para por o Museu em funcionamento, nasceu em 1991. Porém o maior salto veio com a criação, em também”. Em resumo, passa a mão. Ovídio é pré- Toda a sabedoria já está em Ovídio: se ela estiver Solange e Maria são categóricas : dinheiro. 'Esperamos 2001 do Instituto Museu da Pessoa.Net, que existe como assédio sexual. A sua alta filosofia está nesta máxima furiosa, sela-se a paz na cama. Mesmo tendo de ingerir contar com o apoio dos órgãos responsáveis pelo Patrimônio Organização da Sociedade Civil de Interesse Público de sabedoria milenar, “todas as mulheres podem ser uma artilharia de Viagra. O bom é demorar para acabar, Cultural do Estado para que a Fundação possa de fato (OSCIP) com o objetivo de ampliar e divulgar a iniciativa do apanhadas”, dependendo “da maneira de colocar as mas se não for possível, o melhor é adotar o método funcionar.' Diz Maria. 'E para isso é preciso poder dar a Museu da Pessoa. A partir do instituto foi criado no ano armadilhas” manutenção necessária, pois você vê que aqui é um lugar passado o Portal Museu da Pessoa.Net. Vê-se que Ovídio foi claramente um espírito à (um prédio no Centro Histórico cedido em 1997 pelo No Portal o internauta tem acesso ao acervo do Museu, frente do seu tempo. Num rasgo de psicologia, alerta: IPAC) inadequado, um prédio antigo com umidade, cupins e aos depoimentos (também em aúdio e em vídeo, como o do “Aquilo mesmo que podes acreditar que ela não queira, de difícil acesso.' A Fundação João Augusto de Moraes, da educador ), fotos e demais registros dos ela quer”. Percebe-se que antecipou toda a moderna qual o MOI faz parte, tem como proposta perpetuar o depoentes, além de poder também enviar sua história. Como psicologia e pôs numa frase metade da obra de Balzac objetivismo imaginário através das exposições no Museu e toda curadoria de museu, a organização do Instituto selecio- e toda a de . Os eruditos dizem que o de oficinas com crianças, ensinando-as, com a imaginação, a na o que deve ou não fazer parte do acervo. Mas, normalmen- poeta fez isso por cinismo, decadentismo, ironia ou criar seus próprios objetos. te, apenas não são publicadas aquelas que trazem qualquer gênero. Pode ser. O vulgo tomará isso como reles João Augusto faleceu dia 28 de junho deste ano, aos 70 tipo de difamação a outras pessoas ou que contenham manual de instruções. A sofisticação de Ovídio pode anos, sem poder ver o Museu do objeto Imaginário e a relatos que preguem valores contrários à ideologia do Museu. chegar ao extremo e excitar o olhar dos nossos Fundação que ganhou seu nome abertos. Infelizmente Outra restrição diz respeito à idade. Pessoas com menos de quarentões entediados: “As searas são mais ricas nos nossos dias comprovam que a arte a imaginação, com sua 12 anos não podem ter seus depoimentos publicados. campos dos outros e as vacas do vizinho têm sempre força e poder, superam muitas coisas, mas não ainda a falta Hoje em dia, o Portal conta com 25 sites ligados ao os ubres maiores.” Difícil conceber uma imagem mais de recursos e de reconhecimento por parte da sociedade. acervo do Museu da Pessoa. Net, alguns de iniciativa de adequada e bela empresas privadas. Algumas empresas têm também Alguns conselhos do autor aos que desejam não percebido que a memória é essencial para garantir a passar mais os domingos sozinhos. Ao ir à caça, é bom identidade de uma instituição além de valorizar seus trabalhadores. Juremir Machado* Esta proposta do Instituto Museu da Pessoa.Net vai ao [email protected] encontro da corrente de estudos históricos chamada “História contrário e “calcar as esporas no cavalo em das Mentalidades” que ao contrário da que conhecemos não disparada”. As mulheres gostam de atitude. De manhã, tenta reconstruir a história de sociedades e povos através dos é conveniente ficar de boca fechada ou escovar os fatos, mas das mudanças de mentalidade e acredita que dentes antes de mais nada. Para as mulheres: evitar os histórias de vida podem ser uma das mais modernas formas * é professor homens obcecados pela própria beleza (metrossexuais de se compreender a dinâmica social. O que o Museu da de Comunicação incluídos) e que já tenham tido muitas relações com Pessoa proporciona é também uma forma de compreender da PUC/RS e outros homens. Sábio conselho. lançou melhor o Brasil, pelo retrato e relato daqueles que o constro- recentemente o Na cama, a mulher bonita e em boa forma deve em. E tudo indica que o que vai entrar num museu mesmo é romance espichar-se para ser vista. As outras devem esconder “Getúlio” pela nosso conceito sobre eles... editora alguma coisa ou dobrar os joelhos para só mostrar o Record flanco. O homem só deve arrotar no banheiro. Por favor, não me acusem de machismo nem de misogonia. Apenas recuperei os ensinamentos de um clássico. Quem não se interessar por alta cultura, pode fazer o contrário do ensinado (ou satirizado) pelo invulgar poeta latino. Se Ovídio pode, por que Paulo Coelho e Dráuzio Varela não poderiam? É só uma questão de séculos. E 28 de estilo. O importante é ser útil. Fraude 31 Fraude Literatura Literatura

apenas mais uma das inumeráveis tardes de domingo que enfrento à procura de assunto, escrever é uma necessidade, desde que não seja Éurgente. Como acontece sempre que falta inspiração, passo vagarosa- mente os dedos pelas inúmeras lombadas dos empoeirados livros dispostos nas inexpressivas estantes de aço pintadas de cinza. Estou impressionado com a minha capacidade de ordenamento dos títulos por cronologia, gêneros, escolas e temáticas. Se bem que, dispostos ao acaso, por cima dos livros brasileiros, encontro, perdidos, alguns volumes do bom e velho Charles Bukowski. Indício inequívoco de que a suposta ordenação dos títulos não é tão refinada quanto minhas primeiras impressões ao olhar a estante. Pego um volume esverdeado, uma antiga edição da L&PM de Fabulário Geral do Delírio Cotidiano. Na capa vejo a fotografia de um senhor de idade barbado, supostamente meio bêbado, ao lado de uma figura feminina no mínimo extravagante: muita maquiagem, saia, saltos altos, o pé esquerdo torto, rosto envelhecido. Já o suposto escritor exibe uma considerável barriga, daquelas que mostram o umbigo não porque a blusa seja baby look e, sim, porque os tamanhos de fábrica não pressupõe tamanha decadência no homem médio contemporâneo. Sinto um sentimento indefinível, algo entre o medo, a nostalgia e a vergonha. O que será que me encantou nesse livro, nesse escritor, para que durante parte de minha juventude eu fosse completa- mente obcecado por ele? Para mim não havia outro, ou lia-se Bukowski ou não se lia nada. Após comprar todas as traduções disponíveis de Bukowski nos anos oitenta, aprofundei meu inglês para encarar seus poemas. Mas não sinto nostalgia. A capa me traz lembranças genéricas e afetuosas de meus primeiros livros. Minha primeira estante. Abro o livro, será uma chance de recomeçar? Recuperar algo perdido? Começo a folhear os contos; pequenas estórias da incapacidade de relacionar-se (ohhh!!!! Como são mal-escritas!!!). Contos sobre homens norte-americanos bêbados em sub-empregos (mas onde está o estilo que tanto me agradava? Que estilo?) Sinto uma profunda alegria, de alguma forma amadureci. Não pense que

estou usando essa palavra sem suspeição. anos ? Livros devem circular, a cultura nômade das Jeder Janotti Junior* [email protected] Amadurecer significa estar no ponto, mas ao contrário das mídias não se inscreveu totalmente em nossas prateleiras, frutas verdes, também significa estar mais próximo do nos apegamos aos livros como se fossem obras expostas apodrecimento. Não quero usar essa palavra. Mas não há em um museu. Algum dia eu devo reler Bukowski? *É professor da volta. O texto do outrora bom e velho Charles Bukowski Definitivamente Não. Vou doá-los, que os livros voltem ao Facom/Ufba e apodreceu. Não sinto arrebatamento e, sim, estranhamen- seu lugar de destino: os leitores. Essas idéias me remetem lançou recentemente o to. O que será que me atraía, só suas inúmeras bebedeiras a um trecho de um dos livros de Bukowski. Uma cena em livro “Heavy narradas de maneira coloquial? Muito pouco! Difícil que perambulando pelas ruas de Los Angeles, ele passa Metal com Dendê, pela editora descobrir. Talvez a representação narrativa de uma festa em frente ao antigo endereço do escritor John Fante, um de E-papers permanente, obliterando um fato crucial: quanto maior a seus preferidos. Por alguns segundos, ele fica parado bebedeira, maior a ressaca. olhando, dilacerado entre o ato de tocar a campainha e o Sinto-me esgotado. Vejo o quanto meus valores se medo perder a oportunidade de encontrar Fante. Por fim, modificaram e se estabilizaram. Será que sou apenas mais Bukowski decide ir embora, concluindo que os deuses não um conservador à procura de estabilidade? Ou apenas devem ser incomodados. Como não se trata, pelo menos uma junção desses diversos eus, sendo que um deles para mim, de deuses e de incomodo, reconfiguro a cena: amou, sofreu e esqueceu os escritos de Bukowski. Mas Bukowski não deve ser incomodado. Hoje, preciso de mais desvelo minha falta. O problema não são meus valores ou o espaço. Já não me sinto tão mal. É uma tarde sombria de escritor norte-americano. É mais amplo o que sinto: é domingo, mas nada que um bom romance não possa apego. Os livros, os discos, as mídias foram feitos para aliviar. Na verdade, os livros e autores devem ser descarta- circular. Um texto sem leitor é uma impossibilidade. dos, para que só então, possam ser reciclados, reavaliados Bukowski escreveu para jovens ávidos por álcool. Por que e, talvez, esquecidos. diabos guardei esse livro em minha prateleira durante 17 32 33 Fraude Fraude Cinema Cinema

A cultura pornográfica tem quatro grandes divisões: ou ao fundo da sala de exibição. Mas a maioria permane- hetero, gay, lésbico e bissexual. Existem outras subdivi- ce sozinha assistindo aos filmes. sões que incluem categorias étnicas, profissionais e A atmosfera marginal e decadente esconde as relações grupais. E outras categorias menos convencionais como deste cinema com os outros. O Cine Astor pertence à Art zoofilia e incesto. Filmes e o Cine Tupy à Orient Filmes, empresas que mantêm Os produtos com conteúdo erótico são variados: os dois maiores cinemas soteropolitanos. Isso nos leva a poesias, contos, revistas, livros e sites. Além, é claro, de presumir que tanto o Astor quanto o Tupy sejam rentáveis o acessórios bastante específicos encontrados em lojas bastante para continuar funcionando e fazer empresas deste especializadas. Mas o gênero que melhor representa a porte trabalharem com um nicho tão rejeitado da cultura. cultura erótica é, sem dúvida, o cinema. O que se constata é que em meio a uma vasta produção O cinema pornô já produziu seus clássicos, a exemplo da cultura pornográfica e entre vários meios de divulgação os do famigerado Garganta Profunda, mas também se nutre cinemas pornográficos permanecem escondidos, apesar de na cultura popular com releituras de personagens da bastante freqüentados, sobrevivendo sem muitas formas de Literatura como Tarzan e Lolita. Além disso ele apresenta divulgação, funcionando como ponto de encontro para suas versões para filmes de sucesso como Titanic e homossexuais, local de trabalho de prostitutas e travestis, Gladiador, e se deixa influenciar pelo mainstream mesclan- ambiente ideal para os mais fetichistas e alternativa de do elementos de filmes de ação, entre outros gêneros. entretenimento para os trabalhadores da região. Salvador possui dois cinemas eróticos: o Cine Astor e o O cinema pornô pode não ser arte, mas já mostrou que Cine Tupy, que funcionam de forma bastante diferente dos merece ser visto a partir de conceitos menos preconceituo- cinemas convencionais, exibindo dois filmes que se sos e simplificadores que os utilizados até agora para alternam das dez da manhã até as oito da noite (quando analisá-lo. normalmente fecham). Com um ingresso o espectador permanece quanto tempo desejar. Os filmes são produções estrangeiras de conteúdo heterossexual de forte apelo, com recorrentes closes e palavrões. A maioria dos títulos está disponível nas locadoras, o que levanta a possibilidade de os espectado- res usarem o cinema como ponto de encontro ou por falta de poder aquisitivo. Outro aspecto que diferencia o cinema pornográfico Tiago Félix* dos outros é a ausência de esquemas de circulação pré- determinados. Nos dois cinemas existem duas passagens após um saguão principal, por onde se pode entrar ou sair. As luzes ficam todo o tempo apagadas, o que dificulta a locomoção e a escolha de um lugar para sentar, mas ao cultura erótica já provou ser um segmento importante mesmo tempo preserva o anonimato de seus freqüentado- e bastante profícuo na produção cultural de nossa res. Asociedade (com exemplos que vão desde Madonna Não existe perfil pré-definido do freqüentador, mas até o Marquês de Sade). E apesar de ser marginalizado pela algumas características podem ser observadas. A maioria é grande mídia e do preconceito enfrentado por seus aprecia- masculina, vai desacompanhada, prefere manter a dores, o universo pornô inclui cifras milionárias, empresas discrição e trabalha em regiões próximas ao cinema. Idade, gigantes, suas próprias estrelas, diretores e uma vasta orientação sexual e estado civil variam bastante. mitologia que preenche o imaginário popular. Os cinemas têm seus picos de freqüência entre sexta e A produção pornográfica é muito maior do que se poderia segunda-feira e não há lanterninhas ou fiscais. Os especta- presumir, devido principalmente à grande demanda do dores têm toda a liberdade de se comportar como quise- público e ao seu baixo custo de produção (na internet é quase rem, a não ser que haja reclamações (o que é muito raro). impossível encontrar entre os sites do gênero algum que não Nos corredores e saguões dos cinemas há casais homos- inclua a categoria “amadores”). Existem verdadeiros sexuais, pessoas caminhando, conversando e uns poucos impérios da cultura pornô, como o autoproclamado Buttman's funcionários, todos convivendo sem problemas. Algumas Empire que produz filmes, revistas e tem um portal na vezes há travestis, mulheres e homens que percorrem o internet. cinema oferecendo seus serviços. Além disso existem as grandes estrelas do pornô: os O ambiente cria uma atmosfera que parece propícia ao atores Rocco e John Holmes, as atrizes Silvia Saint e assédio, no entanto há uma espécie de pacto tácito de as Cicciolina (já aposentadas); os brasileiros Alexandre Frota, pessoas não se tocarem, nem sentarem ao lado umas das Cyane e Olívia del Rio (que alcançou fama internacional). outras. O que não as impede de estabelecer relações caso estejam de acordo, neste caso elas se dirigem ao banheiro *É aluno de graduação em Jornalismo da Facom/Ufba

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causava tanta repulsa. Ninguém podia carregar sobre o desmedida, um gozo que não lhe parecia natural, como hedionda - de assassinato. A responsabilidade era de corpo o sangue dos outros. que imbuído de alguma perversidade que lhes fornecia a quem havia encontrado o corpo ainda sensível ao toque, aos Enquanto atravessava na rua a atmosfera do meio-dia, o energia vital. Tinham pressa em preencher os papéis e estímulos e percepções, incapacitado de ser submetido ao sol castigando-lhe o couro de cabelos ralos, subitamente efetuar o pagamento. Dizia-se que realizavam grandes consumo. E não havia coincidência nenhuma em ser um lembrou do seu primeiro dia no azougue: seus olhos cerimônias para a degustação e preparavam o próprio corpo trabalhador fora de suas funções profissionais e, portanto, terrorizados diante do cenário grotesco, inimaginável até antes de ingerir as carnes especiais, temperando os inepto para aquele tipo de serviço. Com a condição de prover então, mas que se expunha incólume num plano-seqüência músculos e o paladar com óleos e ervas específicas para uma destinação ao corpo, ele não seria responsabilizado irrefreável. Prostrado em frente ao balcão, ao lado do cada corte. administrativamente e receberia todos os seus direitos legais refrigerador vazio que aparentava nunca ter sido usado, Chegou ao azougue a tempo de ainda acompanhar o pela quebra do vínculo com a empresa. ouvia o corte das serras atravessando o osso, o fio fino das descarregamento do lote de que fora informado. Poucos Expiado menos pela culpa que pelo esforço de facas rasgando a carne, o rangido dos ganchos sustentado homens realizavam o trabalho naquele dia, o que o incentivou transportar o peso da carga viva até a cama, providenciou as talhas. O chefe veio e o chamou para o lado de fora, onde a auxiliar no transporte da carga. Observara muitas vezes antibióticos, antiinflamatórios, analgésicos, antitérmicos, um novo carregamento havia recém-chegado. Explicava-lhe aquele rolar de corpos para as carretas, mas jamais de dentro fitoterápicos, coagulantes, antitetânicos e um variado arsenal o serviço, dizia-lhe o sim e o não, com um palavreado firme, do caminhão, em meio às carcaças que iam desabando do de suplementos vitamínicos. Tratou da ulceração no crânio e decidido, seguro de suas atribuições de comandante geral e, topo da pilha umas por cima das outras, até sofrerem forte das lesões menores pelo corpo, removendo pruridos e por isso mesmo, invejável. Mas no momento em que impacto no contato com o piso ensangüentado e serem infecções, até restabelecer a condição saudável naquele destrancaram o caminhão-baú, toda a beleza daquele brutalmente empurradas para o descanso final naquelas corpo agonizante, com a dedicação e o esmero adquirido nos discurso se esvaiu no farfalhar de moscas que rodeava a covas de aço sobre trilhos. Chacoalhava as mãos ao redor da anos de manipulação de carnes e tecidos. Em uma manhã, Vitor Pamplona* carga. Corpos empilhados, marcados por um ferimento cabeça e do peito para afastar o mosqueiro atraído pelo desperto de um sono pesado que lhe atingira os sentidos, só [email protected] profundo no crânio, o que lhes dava uma fisionomia em grude sangrento da pele, ao tempo que repuxava os aos poucos recobrados, não achou a besta sobre o leito. Foi comum, sujos de terra e lama, como que retirados de alguma membros que se entrelaçavam no monte de corpos para que encontrá-la de pé, na cozinha, com todas as partes do corpo à Ao meio dia, já recostado na cadeira de balanço, pocilga em lugar dos porcos. Fora afastado um pouco para se desvencilhassem uns dos outros, facilitando o translado. A mostra, preparando o café com os seios lácteos que acarinhava a barriga com os calos da mão. Desmaiava que um jato d'água lhes fizesse a última higiene e espantasse pelagem dos bichos adquirira uma aparência plastificada e entornaram sua imaginação. devagar, em repulsa ao ar pesado que lhe pendia o corpo as moscas mais insistentes. Um a um, os cadáveres iam uma dureza que o impressionou no primeiro contato, haveria sobre o vime envernizado progressivamente pelo suor das sendo rolados para as carretas sobre trilhos que os levariam de ser culpa da sangraria que as besuntava e da quentura, tal É aluno de graduação em costas. O telefone tocou, obrigando-o a se desgrudar do ao beneficiamento. Esse movimento lhes revirava as faces, qual a de um forno, da carroceria chapeada de aço. Um dos Jornalismo da Facom/ufba encosto. Apoiado nos braços, os seus e os da cadeira, descerrando as bocas de onde escorria a saliva derradeira cadáveres, de corpanzil acima da média, obstruía os demais levantou e pôs-se a caminhar na direção do som. Mal retirou o misturada aos líquidos gástricos, revelando olhares moucos por causa de suas dimensões incomuns, o que o obrigou a aparelho do gancho e pôs o fone no ouvido, disseram: sob pálpebras entreabertas, e rompia os coágulos das forçar sua precipitação agarrando-se às pelancas do Chegou mais um. Pode vir. chagas no crânio, pintando de vermelho os rostos dos pescoço e da papada, forçando a carga a se Depôs o fone num misto de resignação e impotência. Era primeiros e o tronco e tudo o mais dos seguintes. deslocar. Um urro gutural ecoou, cessando a dor cotidiana de viver naquele ambiente imundo, fedorento, O chefe gritou da porta que engolia os carretos: Ô apenas quando involuntariamente largou a lambuzado de sangue e de vísceras em todos os cantos, em novato! Venha ver como é aqui dentro. Mal pisou no chão massa molenga que tinha nas mãos. O torno daqueles homens quase sempre muito sujos, quase rejuntado de azulejo branco que cobria também as paredes movimento desequilibrou-o, fazendo- sempre muito rudes e que, assim como ele, tinham sempre do galpão, pôde ver dezenas de homens de dorso nu, o despencar do topo da pirâmide de um serviço qualquer a fazer. Que vida mais besta, pensou, ocupados em transportar, despelar, desviscerar, carne, pele e osso. Depois de ter sair pra rua, pegar os sacos, carregá-los nas costas, entregá- desmembrar, retalhar e embalar. Primeiro, retiramos as escorrido o rosto, as mãos, o los nos locais combinados, receber o dinheiro, repassá-lo ao pelagens e as pelancas, esses bichos às vezes têm quase tronco todo, até mesmo os chefe, que descontava a sua parte, dar um até logo, quando um palmo de gordura cobrindo o corpo, ensinou o chefe. lábios na couraça enrijecida precisar de mim é só ligar, gastar uma parte a caminho de Ninguém come tamanha quantidade de sebo, mas sempre é pelo grude de sangue e vômito casa em um bar ou padaria, dependia da necessidade, rodar bom deixar algum na fibragem, pois o gosto do gado é o gosto seco, mirou o topo da pilha de a chave na fechadura, bater a porta e repetir o movimento em da gordura quando tosta, e aqui é tudo gado. corpos e pôde ver o par de sentido contrário, e pronto, começar tudo de novo quando lhe Depois, é preciso desembuchar que é pra livrar eles da p u p i l a s d i l a t a d a s fosse requisitado. bile, dos fatos e das vísceras mal-cheirosas. Nem cachorro responsabilizando-o pela dor. Vestiu no corpo a camisa amarrotada que lhe iria sorver o come. Aí começa a parte técnica, que é quando se separa as Estava viva, a besta. Cobrava suor. Que desperdício pegar uma limpa na mala, logo estaria partes nobres das ordinárias. Os quartos traseiros é só serrar providências para o seu estado. manchada de amarelo, cor do sangue seco de sol. Seria o joelho e pendurar no pacote, o lombo é fatiado porque vai Q u a t r o h o m e n s f o r a m melhor trabalhar sem roupa nenhuma, pelo menos só teria em bandejas, peito a gente só trabalha com os de fêmea, os necessários para pô-la numa carreta que lavar a si próprio. Pensava na cara do povo quando visse de macho é muito trabalho pra pouco ganho, costela é tudo onde o corpo fora mal acomodado, aquele homem pelado andando na rua com aqueles sacos igual, e tem os miolos, coração, os bagos, que são enquanto o chefe fazia ligações para o imensos, o brilho rubro das costas misturado ao do suor, selecionados só para clientes especiais, de tradição com a fornecedor, o transportador, o corretor, o haveria de ser muito engraçado o povo todo apontando o casa. É gente de hábito refinado, que não aceita qualquer advogado e o proprietário. Não queria, sob dedo e ele tranqüilo em sua nudez desavergonhada, corte, você sabe logo pelo jeito. qualquer condição, ter de se responsabilizar recebendo o dinheiro e depois voltando para casa. Bom Reconsiderou: não lhe aprazia a clientela especial. Os pelo erro alheio. Não iria, da mesma forma, mesmo seria não ter mais que esfregar seus trapos no olhos daquela gente invariavelmente demonstravam abater o bicho e conduzi-lo ao beneficiamento: tanque, vendo escorrer na água o líquido vermelho que lhe interesse excessivo pela mercadoria. Havia uma cobiça seria, não resta dúvida, acusado de maus tratos, de

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o rede de fast-food de Filosofia surgiu no começo do século XX, nos EUA. Contrários

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s ao modelo europeu de ensino, muito antiquado e preso à tradição, nós

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o Adesenvolvemos uma forma de trazer filosofia de qualidade para todos que possam

pagar por ela. Em nossas lojas, vendemos filósofos para todos os gostos: Descartes para f f

i i os clientes mais conservadores, Maffesoli para os ciber-modernosos e Derrida para a a aqueles com problemas de adaptação social. Além disso, temos outros produtos como barbas postiças e óculos de aro grosso, para tornar a imersão do cliente no mundo da filosofia ainda mais completa. Atualmente, nosso campeão de vendas é o Mc Niilismo Infeliz uma caixinha lúgubre que contém as últimas obras de Nietzsche e uma cartela de Prozac como brinde. Muitos nos acusam de diluição e propagação de pensamentos de qualidade duvidosa. Alguns chegam mesmo a insistir que o “Mc” de nosso nome vem de Marilena Chauí. Porém, isso tudo não passa de conjecturas infundadas. Na verdade, nós só trazemos benefícios à sociedade. Hoje em dia, qualquer um pode ser um bom escritor. Basta vir aqui para uma simples refeição e sair com uma tese de doutoramento completa. Além disso, tem também o fato de sermos uma empresa com responsabilidade social. Distribuímos bolsas para jovens clientes com talento para a reflexão ou para a escravidão. Eu, hoje apenas um desses bolsistas, com muito esforço e trabalho posso, quem sabe, um dia ser chefe de setor e coordenar meu próprio grupo. Nosso cardápio conta com muitas novidades. A linha old fashioned burgers, que vem com o melhor da filosofia antiga, de Platão a Aristóteles, tudo regado ao delicioso molho de cicuta. O McHóstia com as obras dos santos filósofos e um churrasquinho à moda da Inquisição. E, para acompanhar tudo isso, um Schopenhauer bem gelado. Neste mês, temos a promoção ABC dos Filósofos: o cliente que conseguir soletrar os nomes de Heidegger, Husserl, Nietzsche e Kierkegaard ganha um mini-filósofo que recita os diálogos de Platão em grego arcaico. Não perca tempo, peça pelo número. Kant 1, 2 ou 3? Filoso A fia rede de nã filosofia fast-f o sofre ood en de açõ uma de ch es jud avalanc alguns d e recl iciais he qu iálog ba amaçã . A prin anto os de rr es o é cipal perc Platão ig tabele que toda ebi já e a cimen esse a o tinha gos, p de calha tos, s co bra lido siqu n maç com mplet de tas e iatras, in h os g seus a ind Heg outro psic g iperco enero U ignada el”, ap s méd analis- ué mpl sos m le . óiam icos m prov exos, e ta vantam a exist de doido alega ocand esta do na ento a Fast ência s qu não se per o na riam semana presen- -Food da rede alque r nece da d popu Medica pass ten de Filos de r medida ssária su e ape lação l Env ada pe ho do q ofia. acompa prev icídio, tite s (MEC ironme lo c ue me “Não nham entiva s além exua ) dispa nt Ce om a queixar o pe ento m ou ociais de dis l, toda rou u nter gend , esto dantism édico de toda túrbi a po m ale dezem a che u Olav o mór para pede ordem os co pulaçã rta a bro do ia a o de bido. um s . “A ge m o órgã o. De Sabe ano té mar Carvalh Para Scho imples nte h o, m acordo como é: que ve keting o, diret penha ensaio omens ais de 47 e de eles m. só da em or de R$ uer e ele de e 33% % do pois pr lêem Sa uma presa, 0,50, no s, po do Br das s méd ecisa rtre fase essa Tr s em r mais asil ap mulhe ica” c m de mento do de é atactus purram grau resenta res lis onfess ajuda norm senvolv u Filosof todo o de peda m alg ta sorri a um ps seguida al da i- ma ex icus” um ntism um çã dente. icana pelo doen -dona de reclam quarto o, e qu o de Já a - pela total de ça, não casa a ma da pop ase academ associa vida sintere perde que ho sculina ulação afirma ias de - suicí munda sse Berg um je so quant , tanto que gr ginástic dio. na e man. “E filme fre de o fe male ande a pr Não há pelo u com de pedantis minina s pr parte eocupa porq ecei co O ass mo m , inges ovoca dos m r. Para ue se m unto órbido tão de dos ia, só ele, de. A as divide a . po filoso pela se for a “acad sociaç socied tencializa fia barat de Plat e- ão de a- exe dos a são ão”. psicólo rcício. pela fa re Em s lta de de de ua de Fast-Foo fesa, a d de Fi 38 losofia Fraude