Resenha de 24 JAN 2015

Continuação da Resenha Diária 24/01/15 2

MINISTÉRIO DA DEFESA 24 JAN 15 EXÉRCITO BRASILEIRO Resenha GABINETE DO COMANDANTE Diária Sábado CCOMSEX

DESTAQUES ZERO HORA - Dilma Rousseff dá sotaque gaúcho para a elite militar O GLOBO - Levy: seguro-desemprego está ultrapassado FOLHA DE S. PAULO - Planalto projeta seca de represas em 5 meses O ESTADO DE S. PAULO - Criação de empregos formais no Brasil em 2014 foi a menor em12 anos CORREIO BRAZILIENSE - Rombo de US$ 90 bi é o maior da história

Troca de cúpula Dilma Rousseff dá sotaque gaúcho para a elite militar Três dos quatro comandantes da área da defesa do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff nasceram no Rio Grande do Sul por Guilherme Mazui

A partir de fevereiro, ver os comandantes do Exército, Aeronáutica e Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA) reunidos com semblantes tensos não indicará obrigatoriamente uma crise militar. Poderá ser apenas um jogo do Internacional. Ao anunciar a troca da cúpula das três forças após oito anos, a presidente Dilma Rousseff deu sotaque gaúcho para a elite militar. Com a permanência no EMCFA do general José Carlos De Nardi, natural de Farroupilha, dos quatro principais postos das Forças Armadas três serão ocupados por oficiais do Rio Grande do Sul. De Nardi ganha a companhia do brigadeiro Nivaldo Rossato, nascido em São Gabriel, e do general Eduardo Villas Bôas, de Cruz Alta. Nas próximas semanas, Rossato assume o comando da Aeronáutica e Villas Bôas, do Exército. Em Continuação da Resenha Diária 24/01/15 3 comum, além da Estado natal, os três têm experiência de comando, passagens por embaixadas e bom trânsito no meio político. — E são todos colorados, temos um consulado — brinca De Nardi. A paixão do general pelo Inter é conhecida em Brasília. Quando seu celular toca, ecoa o hino do time em versão tradicionalista. Entre medalhas e presentes, tem na parede do gabinete no sétimo andar do Ministério da Defesa o diploma de conselheiro colorado. Nascido na Serra, De Nardi cresceu no quarto distrito de Porto Alegre. Doutor em Ciências Militares, assumiu em 2010 o recém-criado EMCFA, responsável por assessorar o ministro da Defesa e por operações integradas da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Após coordenar a estratégia de defesa na Copa, repetirá o trabalho na Olimpíada 2016, no Rio. Atleta de natação e polo aquático na juventude, Villas Bôas (ou VB, como chamam os amigos), destacou-se na selva e nos gabinetes. Liderou a assessoria parlamentar do Exército e o Comando Militar da Amazônia. Sua escolha foi uma surpresa, já que era o mais jovem na carreira dos postulantes ao cargo. Pesou seu perfil. Villas Bôas é considerado conciliador e afável. Rossato é um experiente piloto, com curso de comando e controle na Força Aérea francesa e mais de 3,5 mil horas de voo em diferentes aeronaves militares. Ele segue o trabalho do brigadeiro Juniti Saito no comando da Aeronáutica, de quem era o chefe do Estado-Maior. Na Marinha, assumirá o almirante de esquadra Eduardo Barcellar Leal Ferreira, 62 anos, nascido no Rio de Janeiro.

"É preciso modernizar o Exército, o que implica incorporar tecnologia" General Eduardo Villas Bôas será o novo comandante do Exército por Guilherme Mazui

O general Eduardo Villas Bôas será o novo comandante do Exército, onde ingressou em 1967 e tornou-se aspirante a oficial em 1973. Destacou-se à frente do Comando Militar da Amazônia. Articulado e conciliador, passou pela assessoria parlamentar do Exército. Também foi adido na China. Respondia pelo Comando de Operações Terrestres, função na qual participou das ações de segurança e defesa na Copa. Quais os desafios para o Exército nos próximos anos? Somos a sétima economia do mundo, pleiteamos assento no Conselho de Segurança da ONU, ou seja, temos de ter Forças Armadas modernas, capazes de se projetar em qualquer lugar que o Brasil tenha interesse. Para isso, é preciso modernizar o Exército, o que implica incorporar tecnologia. Logo que saiu a sua nomeação, o senhor foi descrito como conciliador. Está correto? Meu perfil não difere do militar moderno. A inteligência emocional é o mais importante, foge do estereótipo do militar carrancudo e autoritário. Os relacionamentos são importantes. Hoje, não se consegue comandar só com base na hierarquia e na disciplina. Tem de haver liderança. Qual o ensinamento que o senhor tirou da Amazônia? O Brasil precisa conhecer a Amazônia. Ela abriga as respostas dos principais problemas que atingem a humanidade: energia renovável, água, alimento e mudança climática. Há muita ideia preconcebida. Na questão indígena, os índios são reféns de organizações, e sem possibilidade de expressar suas reais necessidades. O Brasil precisa se debruçar mais sobre a Amazônia.

Continuação da Resenha Diária 24/01/15 4

"Ajudamos a mudar uma cultura, que aprimora as Forças Armadas" General de Exército José Carlos De Nardi permanecerá no Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA) no segundo governo da presidente Dilma por Guilherme Mazui

Desde 2010 comandante do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), o general de Exército José Carlos De Nardi permanecerá na função no segundo governo da presidente Dilma. No Exército desde 1961, foi adido no Chile e esteve à frente do Comando Militar do Oeste e do Comando Militar do Sul. O EMCFA coordena as atividades que envolvem as três forças e assessora diretamente o ministro da Defesa. De Nardi foi responsável pela estratégia de defesa na Copa, função que repetirá na Olimpíada 2016, no Rio de Janeiro. O EMCFA completará cinco anos. O que foi possível fazer nesse período? A minha principal missão chama-se interoperabilidade. Já acabou aquela ideia de que Exército é só terra, Força Aérea apenas ar e Marinha, mar. Hoje, não existe guerra ou guerrilha onde só se aplique uma força. O EMCFA ajuda a mudar uma cultura, que aprimora as Forças Armadas. Dos comandantes, apenas o senhor segue na função no novo mandato de Dilma. Mudou o perfil de comando das forças? O Rossato (tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Rossato) já trabalhava com o (comandante) Juniti Saito (na FAB), é uma continuidade. O (general) Enzo Peri (comandante do Exército) era mais reservado, o (general) Villas Bôas é mais aberto. E todo mundo segue o chefe do EMCFA, todos são colorados (risos). No lado militar, todos têm experiência como os antigos. Cada um vai colocar um pouco de si, mas, em linhas gerais, não vejo grandes mudanças. A defesa funcionou bem na Copa. Muda muito para a Olimpíada 2016? Na Copa, tínhamos 12 cidades com jogos de dois em dois dias. No Rio, são jogos na mesma cidade e sem folga, ou seja, vai exigir uma segurança dobrada. Estamos nos preparando há um ano. Inicialmente, penso em destacar só das Forças Armadas entre 20 mil e 30 mil homens.

Troca de cúpula "Desafio é ampliar ainda mais o processo da modernização da FAB" Futuro comandante da Força Aérea Brasileira (FAB) será o tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Luiz Rossato por Guilherme Mazui

Continuação da Resenha Diária 24/01/15 5

O futuro comandante da Força Aérea Brasileira (FAB) será o tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Luiz Rossato. Entrou em 1969 na FAB. Ao longo da carreira, tornou-se líder de Grupo de Aviação de Caça. Acumula mais de 3,5 mil horas de voo, além de cursos para caça aérea, líder de esquadrilha, líder de esquadrão, piloto de transporte de tropa e inspetor de aviação civil. Foi adido na Venezuela e chefe do Estado-Maior da Aeronáutica. Quais os desafios para a Aeronáutica nos próximos anos? Um dos desafios é ampliar ainda mais o processo de modernização da FAB (Força Aérea Brasileira). Nos últimos anos, as conquistas foram inegáveis. O meu compromisso é manter uma Força Aérea com capacidade de pronta resposta, ágil, proativa e que seja orgulho de todos os brasileiros. Um exemplo de modernização é a compra dos caças suecos Gripen? O contrato prevê a aquisição de 36 caças. A aeronave foi projetada para controle do ar, defesa aérea, reconhecimento aéreo, ataques ar-solo e ar-mar. O Gripen NG permitirá à FAB enfrentar ameaças em qualquer ponto do território nacional com carga plena de armas e combustível. Proporcionará ao país exponencial poder dissuasório, garantindo a soberania do Brasil. Os cortes no orçamento da União podem influenciar no dia a dia da FAB? O Comando da Aeronáutica é solidário aos esforços de consolidação fiscal e diminuição do déficit público. A FAB tem buscado cumprir as diversas tarefas a ela atribuídas por meio de uma gestão eficiente e responsável.

Levy: seguro-desemprego está ultrapassado Em entrevista ao jornal britânico ‘Financial Times’, ministro reconhece que Brasil poderá não crescer este ano

O modelo de seguro-desemprego no Brasil está ultrapassado, afirmou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ao “Financial Times”, acrescentando que serão necessários “cortes em várias áreas” para manter as finanças do governo em dia. Em entrevista ao jornal britânico durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, Levy defendeu o ajuste de benefícios, mas preservando os programas sociais do governo. Antes, o seguro-desemprego era pago a quem tinha trabalhado por pelo menos seis meses numa mesma empresa. Agora, o trabalhador demitido por justa causa só terá direito ao benefício se estiver há 18 meses no emprego. Na segunda solicitação, será necessário estar há 12 meses empregado. E, no terceiro pedido do benefício, serão exigidos seis meses de emprego. No início da noite de ontem, o Ministério da Fazenda divulgou nota afirmando que as declarações de Levy sobre o seguro-desemprego tiveram como objetivo “ampliar o debate pela modernização das regras desse benefício diante das transformações do mercado de trabalho nos últimos 12 anos”.

Continuação da Resenha Diária 24/01/15 6

‘POR A CASA EM ORDEM’ Na entrevista ao “Financial Times”, Levy se mostrou confiante nas reformas que pretende implementar, mas reconheceu que o país vive um período de austeridade e não descartou um ano sem crescimento: “Acho que um crescimento zero não pode ser descartado como possibilidade, apesar de o PIB ( Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) do Brasil ser resiliente”. O ministro afirmou que será preciso adotar reformas para ampliar a oferta da economia, em vez de expandir a demanda. E disse que “assim que colocarmos a casa em ordem, a reação será positiva”. “O mundo está mudando, e é hora de o Brasil mudar”, disse Levy.

Sem ganhos para a produtividade Analistas veem ganho fiscal, mas alertam que nova regra do benefício não reduz rotatividade CLARICE SPITZ

A alteração nas regras do seguro-desemprego tem um caráter apenas fiscalista. A análise pertence a um economista de tendência liberal e defensor de mudanças na legislação trabalhista. Para Gustavo Gonzaga, especialista em mercado de trabalho pela PUC-Rio e coordenador da plataforma DataZoom, que há anos estuda a rotatividade no mercado de trabalho, os efeitos da medida serão limitados para reduzir o troca-troca de emprego e melhorar a produtividade do trabalhador do brasileiro. Além disso, as novas regras terão ainda algumas consequências indesejadas sobre o mercado de trabalho, alerta Gonzaga: a desproteção dos jovens, um aumento da informalidade e um possível rally de demissões e de acordos antes de a lei começar a valer, em março. Para ele, a estimativa do Ministério do Trabalho, de que 27% dos beneficiários deixarão de acessar o seguro-desemprego pelos novos critérios, pode até estar baixa. — O foco foi apenas no fiscal, só ficou no corte de gastos. Não pensaram a fundo nas implicações no mercado de trabalho — afirma Gonzaga. — Estão acabando com o seguro- desemprego para os jovens no país. Desincentiva-se o trabalhador a sair, mas não se incentiva para que fique no emprego. E os trabalhadores só vão ficar se houver treinamento — avalia, fazendo a ressalva de que está de acordo com as demais mudanças na legislação trabalhista, como as regras mais duras para pensão por morte e abono salarial. A nova legislação terá uma economia estimada de R$ 18 bilhões por ano para os cofres públicos a partir de 2015, prevê o governo. Ou seja, o impacto fiscal é relevante. Gonzaga cita uma expressão inglesa muito usada por economistas em reformas institucionais, “carrots and sticks” (cenouras e porretes). No caso da mudança no seguro-desemprego, as reformas deveriam combinar prêmios (“carrots”) para se continuar no emprego com punições (“sticks”) para quem retira precocemente os benefícios, diz Gonzaga. — Estão indo apenas pelo lado do porrete. O cerne do problema não está sendo atacado, que são os incentivos da legislação à alta rotatividade, o que gera baixa produtividade.

MAIS RÍGIDO DA REGIÃO Com a mudança, segundo levantamento do economista, o Brasil vai abandonar o posto de país mais generoso na concessão do benefício do seguro-desemprego na América do Sul para se tornar o país com as regras mais rígidas. Ele lembra que a regra anterior de seis meses para ter direito ao benefício deixava o Brasil ao lado da Argentina como os países nos quais é mais fácil acessar o seguro-desemprego. Com a nova exigência de 18 meses, no caso da primeira solicitação, o Brasil se tornará mais rígido ainda que chilenos, uruguaios e venezuelanos. Na maior parte dos países da América do Sul, exige-se um período de 12 meses para se obter o benefício. No Chile, o trabalhador tem que ter 12 meses de contribuição contínua ou descontínua nos 24 meses anteriores à demissão. Lá, o trabalhador não pode ter recebido o benefício mais de duas vezes nos últimos cinco anos. Na Venezuela, são exigidos 12 meses de contribuição nos últimos 18 meses anteriores à demissão. Em 2012, havia programas de seguro-desemprego em 72 países, quase todos economias desenvolvidas e de renda média. O economista Claudio Dedecca, da Unicamp, especialista em mercado de trabalho, também vê um esforço do governo apenas no sentido fiscal. Ele prefere classificar a alteração como “enxugar gelo”, já que pode amenizar a curto prazo a despesa com seguro- desemprego, mas sem sustentabilidade, porque não ataca a alta taxa de rotatividade do mercado de trabalho brasileiro. — Fica evidente o caráter fiscalista da medida. O efeito na rotatividade é inexistente ou residual, porque ela está ligada a alguns segmentos como construção civil, comércio. Não reverteremos essa tendência de queda da produtividade, não se recua em nada com essas medidas. Mostra falta de definição e de estratégia do governo Dilma — afirma. Dedecca, no entanto, não vê um efeito negativo da medida sobre o aumento da informalidade no país. Segundo ele, o crescimento populacional menor, que já tem contribuído para manter a taxa de desemprego baixa no país, pela menor oferta de trabalhadores, também restringirá o aumento da informalidade. — Não há mudança estrutural no mercado de trabalho. O crescimento da informalidade pode se acomodar de várias formas com a situação atual, qualquer crescimento do emprego de 0,5% dá conta do crescimento da força de trabalho. Não tendemos a ter um problema de informalidade, a não ser que haja uma mudança muito brusca — afirma.

Continuação da Resenha Diária 24/01/15 7

ECONOMISTA VÊ MAIS INVESTIMENTO Já o economista Naércio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, vê efeitos positivos das mudanças na produtividade do trabalhador. — As despesas com seguro- desemprego subiram com a alta do salário mínimo e da formalização. A formalização é boa, o aumento do salário mínimo é muito bom, mas a rotatividade, muito ruim. Quaisquer medidas para diminuir os incentivos à rotatividade são muito bons — afirma. —Muitos jovens chegam para o primeiro emprego e é bom que saibam que vão ter mais dificuldade para conseguir o seguro-desemprego. Indiretamente, se a empresa sabe que o trabalhador vai ficar mais tempo, investe-se no capital humano. O jovem vai ter que procurar emprego rapidamente ou trabalhar na informalidade — afirma.

Suspeita de consultoria fictícia Lava-Jato vai investigar se José Dirceu prestou serviços pelos quais recebeu R$ 4 milhões MARIANA SANCHES E RENATO ONOFRE

-SÃO PAULO E BRASÍLIA- Ao decretar a quebra de sigilo bancário e fiscal da JD Assessoria e Consultoria, que pertence ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT), a juíza federal Gabriela Hardt levantou a suspeita de que a empresa tenha recebido cerca de R$ 4 milhões de empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato por serviços nunca prestados. Ela argumenta que o modelo de negócio é semelhante ao usado pelo doleiro Alberto Youseff para desviar dinheiro de contratos da Petrobras, “através de empresas de fachada”. No despacho, Hardt ressalta que a empresa de Dirceu recebeu, a título de consultoria, R$ 3,7 milhões das construtoras UTC, OAS e Galvão Engenharia, investigadas “justamente pelo pagamento de serviços de consultoria fictícios a empresas diversas para viabilizar a distribuição de recursos espoliados do poder público”. A possível ligação da empresa de Dirceu com as irregularidades investigadas na operação LavaJato vieram à tona com a quebra dos sigilos fiscais e bancários das empreiteiras. Documentos da Receita Federal, além de revelar repasses às empresas de fachadas controladas por Youssef, mostraram os pagamentos a Dirceu entre 2009 e 2013.

JUÍZA QUER IDENTIFICAR NOVOS PAGAMENTOS A empresa de Dirceu e do irmão recebeu R$ 720 mil da OAS, entre janeiro de 2010 e dezembro de 2011. Também ganhou R$ 725 mil da Galvão Engenharia entre 2009 e 2011, e mais R$ 2,3 milhões da UTC, nos anos de 2012 e 2013. Para revelar todos os pagamentos feitos a Dirceu, e investigar se os serviços foram efetivamente prestados, Gabriela Hardt, juíza substituta da 13ª Vara Federal de Curitiba, decretou a quebra dos sigilos da JD. Depois que saiu do governo, Dirceu tentou viver de palestras. Mas, diante da repercussão negativa na imprensa dos eventos que fazia em instituições financeiras, desistiu. E, em 2009, começou a atuar com a JD Assessoria e Consultoria. A assessoria de Dirceu negou “veementemente que a JD seja uma empresa de fachada” e afirmou ter como comprovar as viagens e os negócios feitos pelo ex-ministro. Diz ainda que, na semana que vem, divulgará um balanço de suas atividades. Dirceu ainda não constituiu advogado para defendê-lo no Lava-Jato porque seu defensor no mensalão, José Luis de Oliveira Lima, já advoga para Galvão Engenharia no mesmo processo. Segundo pessoas ligadas a Dirceu, o ex-ministro passou a intermediar encontros entre autoridades estrangeiras e empresas brasileiras que pretendiam fazer negócio no exterior. Costumava fazer levantamentos de conjuntura política, jurídica e econômica dos países em que os empresários pretendiam investir. Para construir relações no exterior, o ex-ministro se utilizava suas antigas relações do período de militância de esquerda. Segundo pessoas próximas ao ex-ministro, sua função era “abrir portas”. No caso do contrato com a UTC Engenharia, o trabalho de Dirceu foi, de acordo com a assessoria dele, “prospectar negócios na Espanha e no Peru”. Já OAS e Galvão Engenharia tinham interesses em países da América Latina. Até a prisão do ex-ministro, a JD funcionava em uma casa com cinco salas comercias na Avenida Ibirapuera, em São Paulo. Ali trabalhariam entre 8 e 10 funcionários, e o faturamento médio seria de R$ 200 mil mensais, segundo pessoas próximas ao ex-ministro. Quando Dirceu foi preso, o irmão Luiz Eduardo cumpriu os contratos que ainda estavam vigentes, mas não teria firmado novos contratos. De acordo com a assessoria de Dirceu, a JD é hoje “praticamente inoperante”. Dirceu foi condenado a sete anos e 11 meses de prisão por comandar o mensalão, esquema de compra de apoio político pelo governo Lula por meio de desvio de recursos públicos. A revelação dos pagamento a Dirceu e a acusação de empreiteiras de que o dinheiro desviado agora da Petrobras eram usados para cooptar aliados suscitaram ontem comparações entre os dois escândalos (veja quadro acima). A oposição decidiu acelerar a mobilização para a criação de uma nova CPI da Petrobras, diante das declarações do vice-presidente da Engefix Engenharia, Gerson de Mello Almada. O executivo afirmou, em sua defesa entregue à Justiça, que os desvios da petroleira serviam para alimentar o esquema montado pelo PT para comprar apoio no Congresso Nacional. O líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), disse que o depoimento reforça a necessidade de nova CPI e que o petrolão é a segunda fase do escândalo do mensalão. — É um quadro cada vez complicado para o governo. Os fatos são gravíssimos e corroboram todo o enredo do mensalão, que também era desvio de recursos para alimentar a base ou parte da base parlamentar. É o mensalão 2, o retorno — ironizou Mendonça Filho. Continuação da Resenha Diária 24/01/15 8

O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), disse que os depoimentos vêm comprovando a estratégia pelo PT para manutenção do poder. O tucano disse que a presidente Dilma Rousseff já participava do governo Lula e agora comanda o país. —É a menção de uma estratégia para conquista e preservação do poder que o PT vem aplicando desde Lula, com o qual a presidente conviveu alegremente. Há a degradação do bem público em proveito de um projeto — disse Aloysio. Do lado governista, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) disse que é preciso aguardar a posição oficial do Ministério Público quanto à Petrobras. Ele disse que é necessário ter cautela, porque os acusados têm diferentes estratégias de defesa. — Ele (Almada) terá que provar isso. Eles devem ter muitas estratégias de defesa, e isso pode ser uma estratégia de defesa — disse Teixeira.

Dois grandes Rs Merval Pereira

Recessão é uma palavra maldita em qualquer idioma econômico. Em inglês, diz-se “the big R” (o grande R) para não falar a palavra fatal. Pois foi erro de um ministro sem experiência política como Joaquim Levy admitir em entrevista aqui, em Davos, que poderemos ter eventualmente uma recessão em algum trimestre este ano. Depois, ele retificou, afirmando que quisera dizer “contração” da economia, e não recessão, que tecnicamente é o crescimento negativo (outro paradoxo do economês) em dois trimestres seguidos. Como ele não havia falado em recessão no encontro com investidores naquele mesmo dia, parece claro que foi uma escorregadela sem maiores consequências. Mas como está realmente no radar de muitos analistas a possibilidade de termos uma recessão este ano, ficou claro também que o ministro da Fazenda está com essa palavrinha maldita no inconsciente. Assim como o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, ao admitir que poderemos ter um racionamento de energia, trouxe para o cenário político outro “Grande R” na história política recente brasileira, palavra que vem sendo abolida do vocabulário dos governantes, seja em relação à eletricidade, seja à água. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, outro dia admitiu o que é uma realidade para milhares de paulistas e pode vir a ser também para cariocas e mineiros: há, sim, racionamento de água em São Paulo. Logo depois, claro, tentou explicar o inexplicável, voltando a falar em restrição hídrica e outras desculpas do gênero. E o maior problema é que a falta de água provoca a falta de eletricidade — como lembrou o ministro Braga, que marcou um prazo: se as hidrelétricas chegarem a 10%, não é possível mover as usinas. E a falta de eletricidade provoca a falta de água, como aconteceu em São Paulo depois do apagão, quando 1,5 milhão de pessoas ficou a seco em suas casas. O novo ministro de Minas e Energia é um político experiente, ao contrário de Levy, foi governador de estado e líder do governo, não usou indevidamente a palavra racionamento, que havia sido banida do vocabulário do governo Dilma depois que ela deixou para a posteridade, ainda ministra de Minas e Energia, uma declaração que qualquer um pode pegar no YouTube garantindo que não haverá, em governo petista, racionamento como em 2001, no governo do PSDB. Quando Eduardo Braga disse, por exemplo, que seria preciso rezar a Deus para termos um período mais úmido, quem estuda a questão e tem visão política acha que ele já sabe que haverá racionamento. Se houvesse alguma chance de superar essa questão sem um milagre, ele deixaria essa porta aberta para louvar depois a capacidade técnica do governo. Ele só está caminhando passo a passo para não ser acusado de ter sido apanhado de surpresa. Braga, afinal, entende do assunto, não é um Edison Lobão da vida. E a possibilidade de racionamento, hoje já admitida pelos principais analistas da economia, pode trazer também a recessão tão temida. Se a previsão de crescimento do PIB este ano, feita ainda neste janeiro, já é de uma economia “flat” como definiu o ministro Joaquim Levy em Davos, há estudos nos principais bancos e agências de investimento que transformam o crescimento de 0,3% (previsão do FMI), ou quase zero, em crescimento negativo como consequência do racionamento que pode vir. Tudo dependerá de que maneira ele virá, se vier. Se for uma política governamental mais rígida como em 2001, com um teto de consumo e prêmios para quem economizar, o efeito será direto na economia, levando o PIB para abaixo de zero. Se for um racionamento como o consultor Adriano Pires diz que já existe, pelo aumento da tarifa de energia perto de 40% em cima do aumento que já houve, o efeito será menor, mas mesmo assim o PIB corre o risco de ser negativo.

Os pontos-chave 1 Recessão é uma palavra maldita em qualquer idioma econômico. Em inglês, diz-se “the big R” (o grande R) para não falar a palavra fatal. Pois foi erro de um ministro sem experiência política como Joaquim Levy admitir em entrevista em Davos que poderemos ter eventualmente uma recessão em algum trimestre este ano 2 Assim como o ministro Eduardo Braga, ao admitir que poderemos ter um racionamento de energia, trouxe para o cenário político outro “Grande R” na história política recente 3 e a previsão de crescimento do PIB este ano, feita neste janeiro, já é de uma economia “flat” como definiu o ministro Joaquim Levy, há estudos nos principais bancos e agências de investimento que transformam o crescimento de 0,3% (previsão do FMI), ou quase zero, em crescimento negativo como consequência do racionamento que pode vir Continuação da Resenha Diária 24/01/15 9

Propina sustentou políticos da base do governo, diz defesa de doleiro Estratégia é convencer a Justiça de que Youssef era só uma peça do esquema CLEIDE CARVALHO

A corrupção na Petrobras começou de dentro para fora, e seu objetivo era similar ao do mensalão: manter o PT no poder. A explicação faz parte da defesa do doleiro Alberto Youssef, que não só sustenta a tese de que o dinheiro desviado da estatal foi usado pelo partido para sustentação da base aliada — o PP e o PMDB —, como vai além: o esquema havia se sofisticado e migrado para a doação direta a campanhas eleitorais e ao próprio partido. A estratégia da defesa é mostrar que Youssef era só uma peça de uma grande engrenagem. No acordo de delação premiada fechado pelo doleiro com a Justiça, há a previsão de que ele cumpra de três a cinco anos de prisão, mas seu advogado, Antônio Figueiredo Basto, vai pedir o perdão judicial. — A apoteose da lavagem foi colocar o dinheiro de corrupção como doação legal a partidos e campanhas. O sistema funcionou para financiar grupos e partidos políticos — disse Figueiredo Basto. As empreiteiras citadas em investigações da Operação Lava-Jato, doaram, juntas, pelo menos R$ 484,4 milhões a políticos e partidos no ano passado, mostra levantamento do GLOBO. Grupos como Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, UTC, Camargo Corrêa, Galvão, Engevix, Mendes Junior e Toyo Setal fizeram depósitos na conta de políticos e partidos também por meio de suas subsidiárias. As doações foram feitas legalmente e estão todas registradas. Basto está finalizando a defesa de Youssef, a ser entregue na próxima terça-feira. Vai pedir perdão judicial. No acordo de delação referendado pela Justiça, está previsto que o doleiro cumpra de três a cinco anos de prisão. O advogado diz que não se pode, desta vez, deixar que ocorra o mesmo que ocorreu no julgamento do mensalão, quando os políticos tiveram penas menores que as impostas a representantes da iniciativa privada. O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foi condenado à pena de sete anos e 11 meses de prisão e multa. A ex- presidente do Banco Rural Kátia Rabello foi condenada a 16 anos e oito meses, e a multa passou de R$ 1,5 milhão. Dirceu está solto, e Kátia, presa. Na Lava-Jato, advogados dos dirigentes de empreiteiras acusados de participar do cartel criado para desviar dinheiro da Petrobras querem deixar claro que as empresas não agiram sozinhas. Ao contrário, teriam sido convidadas (e até ameaçadas) a participar, sob pena de terem prejuízos em obras em andamento e não serem chamadas a participar de projetos da Petrobras. Na maioria das obras investigadas, as empreiteiras foram convidadas a apresentar propostas. Quem não fosse convidado dificilmente participaria. O advogado de Youssef reforça a tese. Segundo Figueiredo Basto, a defesa final vai ressaltar o que o doleiro disse desde o início, e no que foi acompanhado pelo ex- diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa: os dois eram apenas peças numa engrenagem muito maior. — Essa situação foi coordenada e tramada a partir da própria Petrobras. Há claros e fortes indícios de participação dos políticos, que não vou nomear, pois isso deve ficar a cargo da investigação. Meu cliente não é líder de nada. O esquema na maior estatal do país só pôde funcionar com a anuência dos políticos. Isso era fato notório dentro da empresa — disse o advogado do doleiro. Basto alega que Youssef foi levado pelo então deputado federal José Janene, do PP, a participar do esquema montado dentro da Petrobras, no qual cada partido indicava um diretor e tinha seu feudo dentro da estatal. Para Basto, é essencial pontuar e delimitar responsabilidades, pois o próprio Youssef já deixou claro, ao depor na Justiça, que o esquema vinha “de cima para baixo”; apesar disso, foi apontado como “líder da organização criminosa”. Para Basto, todos os integrantes do esquema sabiam o que estavam fazendo, e não teria havido extorsões, apenas pressão.

Um ‘não’ ao desperdício Governos federal e estadual pedem à população que economize água e luz GLAUCE CAVALCANTI, LUIZA DAMÉ E LUIZ ERNESTO MAGALHÃES

Em meio a uma seca histórica no Sudeste e a problemas no fornecimento de energia em todo o país, o governo federal fez ontem apelo para que os brasileiros economizem água e luz. Após reunião de seis ministros no Planalto para discutir o problema, a titular do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, admitiu que a situação é “sensível e preocupante”. No Rio, que já usa água do volume morto, o governador Pezão também pediu à população que evite desperdício. Segundo o secretário do Ambiente, André Corrêa, a crise, que já afeta a agricultura, poderá prejudicar o funcionamento de indústrias no estado. Um estudo da Firjan mostra que pelo menos 30% das fábricas já estão com problemas no abastecimento, situação que pode se agravar. Na região do Médio Paraíba, moradores enfrentam falta d’água. Em meio à crise hídrica, que atinge os estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Minas Gerais, e de fornecimento de energia no país, o governo federal fez ontem um apelo para que a população economize. Os problemas com água e energia levaram seis ministros a se reunirem no Palácio do Planalto para discutir o cenário. Ao fim do encontro, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, classificou a situação de “sensível e preocupante". No Rio de Janeiro, onde o principal reservatório do Rio Paraíba do Sul já atingiu o volume morto, o governador Luiz Fernando Pezão também pediu à população para evitar o desperdício de água. Continuação da Resenha Diária 24/01/15 10

Izabella Teixeira lembrou que o nível de chuvas no Sudeste, no ano passado, foi o pior da série histórica, iniciada em 1930. E que, nestes primeiros dias de 2015, o nível está abaixo do de 2014. — Temos um problema sensível, complexo, e precisamos da colaboração de todos. Todos têm de saber poupar água, poupar energia. É uma situação atípica. Nunca se viu no Sudeste brasileiro uma situação tão sensível e tão preocupante — afirmou a ministra, acrescentando que deverá ser feita uma campanha para orientar a população sobre o uso racional da água. A ministra lembrou que a previsão é de chuva nos próximos dez dias no Sudeste, mas sem indicações de onde ela ocorrerá e do potencial das precipitações. Segundo Izabella, o Palácio do Planalto dará apoio técnico e financeiro para a realização de obras necessárias para garantir o fornecimento de água à população.

RACIONAMENTO PODE CHEGAR A INDÚSTRIAS Ontem, a situação das represas que atendem ao Estado do Rio voltou a piorar. Em 24 horas, o nível do Jaguari caiu de 2% para 1,93%. Em Santa Branca, oscilou de 0,65% para 0,41%, enquanto que no Funil, de 4,15% para 3,89%. Por sua vez, o Paraibuna já opera no volume morto. Pezão afirmou que o Rio vive uma situação sem precedentes. Por isso, pediu a colaboração da população: — Nunca o estado viveu um momento como este. A população precisa ajudar. Já começamos uma campanha de orientação para que as pessoas economizem água. Pezão acredita que a população responderá positivamente aos apelos, como aconteceu na década passada quando houve racionamento de energia. O pedido do governador, porém, ocorre em um momento no qual a economia fluminense começa a ser atingida pela estiagem. No Rio, a seca matou duas mil cabeças de gado em quatro meses. A Secretaria estadual de Agricultura e Abastecimento estima em R$ 10 milhões até agora os prejuízos de 13 mil pequenos agricultores das regiões Norte e Noroeste Fluminense, além das cidades de São Sebastião do Alto, Cantagalo e Trajano de Moraes, na Região Serrana. O governo anunciou ainda que na segunda-feira vai liberar R$ 30 milhões de um plano de contingência para auxiliar esses agricultores. Os recursos, oriundos do Banco Mundial, serão aplicados em ações como a perfuração de poços artesianos, para a água do gado e a irrigação das lavouras. Outros setores também enfrentam dificuldades. Quase um terço (30,6%) das empresas fluminenses reconhecem sofrer efeitos da escassez. Destas, metade já registra aumento no custo de produção. Os dados estão em pesquisa realizada pela Firjan em novembro de 2014, para mapear os efeitos da crise hídrica na economia do estado. Como a situação dos reservatórios piorou, o atual retrato pode ser mais grave, alerta Luís Augusto Azevedo, gerente geral de Meio Ambiente da Firjan. E esse cenário pode ficar ainda pior. O secretário estadual do ambiente, André Corrêa, admitiu ontem que empresas instaladas ao longo do canal de São Francisco, na foz do Guandu, podem ser obrigadas a racionar água para preservar o consumo humano, se a seca perdurar por mais seis meses. Na região, estão instaladas cerca de 140 empresas, muitas de grande porte, como o Grupo Gerdau, a Thyssen-Krupp Companhia Siderúrgica do Altântico (CSA), Furnas e a Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC). Essas empresas já enfrentam problemas hoje. A FCC vem reduzindo a captação de água com interrupções diárias de cerca de quatro horas de duração, explica Abílio Faia, coordenador de Segurança e Meio Ambiente da empresa. É que, com a baixa vazão, a água do mar, que chega na montante do rio, vem em maior quantidade. Se não for possível puxar água do canal de São Francisco, a FCC poderá recorrer ao sistema da Cedae, ao qual está conectada. Mas, segundo Abílio, o custo seria 25 vezes maior que o da captação direta. Além disso, as despesas da produção aumentariam em 11% .

CSA DESLOCA PONTO DE CAPTAÇÃO A CSA, por sua vez, decidiu deslocar o atual ponto de captação três quilômetros acima do atual. Com a crise hídrica, já reduziu em 20% a captação de águas no canal do São Francisco, e passou a desligar as bombas quando há aumento de salinidade. Em entrevista ao “Bom Dia Rio”, da TV Globo, Corrêa chegou a anunciar a criação de um plano de contingência para enfrentar a falta de água, que poderia incluir um aumento de tarifas para os consumidores que gastassem mais. Horas depois, o governador Pezão, porém, afirmou o contrário: o Rio não deve enfrentar racionamento e a Cedae já sinalizou não haver necessidade de aumentar tarifas. Corrêa, então, convocou uma entrevista coletiva e mudou o tom. — Hoje, no Rio não tem nenhum tipo de racionamento. No horizonte de seis meses, pode acontecer. Mas, como a prioridade é o abastecimento humano, se tivermos alguma dificuldade, o que não esperamos que aconteça, as empresas localizadas no final do Guandu poderão, sim, ter problemas de operação — admitiu o secretário.

Anselmo Goes Soldadinho de chumbo

O ministro Jaques Wagner, que frequenta o Rio, onde nasceu, fará uma visita formal ao seu estado natal no início de fevereiro. Vai conhecer as obras do Complexo Esportivo de Deodoro, na Zona Oeste, palco de várias competições da Rio- 2016 e voltar, veja que fofo!, ao Colégio Militar do Rio, onde estudou por oito anos.

Continuação da Resenha Diária 24/01/15 11

Risco de racionamento deve puxar para baixo as projeções do PIB Dúvidas sobre fornecimento regular de água e energia a curto prazo podem afetar investimento ANA PAULA RIBEIRO

A combinação entre o risco de racionamento de energia e os ajustes fiscais do governo federal será danosa para o crescimento da economia. A média das projeções do Produto Interno Bruto (PIB) de 2015, divulgada semanalmente pelo Banco Central no relatório Focus, aponta uma expansão pequena no ano, de apenas 0,38%, mas o viés é de baixa daqui para frente. — A projeção de um PIB de zero não prevê racionamento de energia. Esse é o grande risco. Se houver racionamento, haverá um custo sobre a atividade a curto prazo — afirmou Ricardo Denadai, economistachefe da Santander Asset Management, lembrando que mesmo a incerteza sobre o racionamento pode adiar investimentos, afetando o PIB de 2015. No caso, a insegurança quanto à disponibilidade energética pode atrasar a retomada dos investimentos, prevista para o segundo semestre. Se os projetos das empresas demorarem a sair do papel, o PIB será afetado. Segundo Denadai, a água também mexe com a confiança do empresário, mas seria mais difícil medir o impacto da restrição hídrica na economia: — A energia é mais relevante para o PIB, afeta todos os setores. A água é mais difícil calcular, mas, do ponto de vista do bem-estar do cidadão, a restrição hídrica é mais grave. Quem já fez uma revisão para baixo foi o banco BNP Paribas. De uma expectativa de zero crescimento, a projeção agora é de retração de 1%. “A política monetária, o aperto fiscal, o racionamento de energia e água e os efeitos dos escândalos de corrupção da Petrobras são os elementos que puxam o crescimento de 2015 para o território negativo”, diz relatório divulgado ontem. Para os economistas do banco francês, o racionamento é um perigo cada vez mais constante. No caso da água, afirmam que isso isso já ocorre no Sudeste, como em São Paulo. Já o racionamento de energia é visto como cada vez mais provável devido “ao baixo nível de chuva e mau planejamento”. O economista-chefe do BES Investimentos, Jankiel Santos, tem a mesma avaliação. Ele prevê crescimento do PIB de 0,4% em 2015, mas fará uma revisão em breve: — Para investir, é preciso ter certeza da disponibilidade de energia. Pesa negativamente essa dúvida no ar. O estrategista do Mizuho Bank, Luciano Rostagno, lembrou ainda que 2015 será um ano de colocar as contas do país em ordem. Embora as medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tenham um efeito positivo a longo prazo, passando do incentivo ao consumo para o investimento, a curto prazo o crescimento será menor.

Continuação da Resenha Diária 24/01/15 12

Crise da água Planalto projeta seca de represas em 5 meses Reunião ministerial prevê que, no cenário mais pessimista, reservatórios da Grande SP podem ter colapso em junho Cálculos da reportagem indicam nível zero em 140 dias; Sabesp diz já adotar medidas para reduzir a retirada DE SÃO PAULO DE BRASÍLIA

Em reunião no Palácio do Planalto nesta sexta-feira (23), integrantes do governo federal traçaram cenários sobre a crise hídrica em São Paulo, como a possibilidade de as represas secarem dentro de quatro a cinco meses. A estimativa foi feita caso a previsão de chuvas não se confirme e não haja medidas mais drásticas do Estado. Outro cenário, menos pessimista, projetou a possibilidade de um colapso nos reservatórios em setembro. Na reunião, ficou decidido que a gestão Dilma Rousseff (PT) irá acelerar a obra de transposição das águas da bacia do Paraíba do Sul ao sistema Cantareira, já que a avaliação é a de que a situação de São Paulo é mais grave do que a das hidrelétricas. Dilma decidiu incluir a obra no PAC. Com a medida, a obra poderá ser contratada mais rapidamente e contar com financiamento garantido de bancos públicos. Orçada em R$ 830,5 milhões, a transposição faz parte dos projetos apresentados à presidente em dezembro pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). A conclusão, porém, só é prevista para 2016. Seis ministros participaram do encontro no Planalto, entre eles Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Eduardo Braga (Minas e Energia). "Está tendo uma vazão afluente muito aquém do que já foi registrado em uma série histórica desde 1930. São 84 anos de monitoramento e nunca se viu no Sudeste brasileiro uma situação tão sensível e preocupante", afirmou a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente).

LEVANTAMENTO A Folha fez um levantamento, baseado nos relatórios emitidos pela Sabesp, e observou que, se forem mantidos os atuais regimes de chuva e padrão de consumo de água na Grande São Paulo, todos os reservatórios poderiam chegar ao nível zero em cerca de 140 dias, em meados de junho, em plena estação seca. A conta considera a velocidade com que as represas que abastecem a região têm caído nos 21 primeiros dias do ano. Isso indica que, para evitar um colapso, a gestão Alckmin precisará adotar medidas mais drásticas para a redução do consumo --e não ficar só na dependência de chuvas acima da média e na busca por novas fontes de água. A Sabesp já implantou ações como sobretaxa para quem aumentar seu consumo e redução de pressão do sistema, que deixa as torneiras secas em alguns momentos do dia. Mas já admite a possibilidade de adotar até um rodízio --com distribuição alternada de água entre os diversos bairros. Se fosse possível juntar todo a água reservada, a metrópole teria hoje 260 bilhões de litros disponíveis --ou 14% da capacidade das represas. Se por um lado a projeção feita pela Folha leva em conta um período extremamente seco, em que choveu menos do que a média, por outro a Grande SP costuma ter consumo de água menor no início de janeiro, já que muitas famílias estão viajando. Com uma conta semelhante, aplicada só ao sistema Cantareira, o ex-secretário de Recursos Hídricos Mauro Arce disse em setembro que a primeira cota do volume morto acabaria em 21 de novembro. Errou por apenas seis dias, já que a porção de água acabou em 15 de novembro. "O ritmo de queda do sistema Cantareira depende diretamente do regime de chuvas. Logo, não há como afirmar que não choverá até março. Para garantir o abastecimento na Grande São Paulo, a Sabesp tem realizado uma série de medidas desde o ano passado para reduzir a retirada de água do Cantareira", diz a Sabesp. (FABRÍCIO LOBEL)

Editorial Penúria diplomática É estarrecedor que algumas representações brasileiras no exterior se achem sob risco de ter a eletricidade cortada por falta de pagamento

Não são só os paulistanos que vivem sob a ameaça de ver as torneiras secarem e as lâmpadas se apagarem. Representações brasileiras em Benin, Guiana, Japão e Portugal também correm tal risco. As razões são prosaicas, ainda que igualmente produto da ação errática de governantes brasileiros: falta dinheiro para pagar as contas de embaixadas e consulados. Em Cotonou (Benin), diplomatas se veem constrangidos a usar velas e lanternas. Em Tóquio, o cônsul-geral alertou superiores para a possibilidade de corte nos serviços de telefonia e eletricidade. A tal ponto chegou a situação do Itamaraty. Antes mesmo dos cortes orçamentários determinados pela nova política econômica do Planalto, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) já sofria com o desinteresse da presidente Dilma Rousseff (PT) pela diplomacia. Continuação da Resenha Diária 24/01/15 13

Em seu primeiro mandato, a atuação da presidente na seara foi marcada pela marcha a ré na busca ativa --por vezes extravagante-- por influência internacional do predecessor e padrinho, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Internamente, o Itamaraty vivenciou erosão acelerada de seu prestígio no conjunto da administração federal. A manifestação mais concreta da perda relativa de importância se verificou na queda da participação do MRE no Orçamento. De 2003 a 2014, ela caiu quase à metade, de 0,5% para 0,27%. No momento atual, marcado pela ajuste fiscal que Dilma execrou durante a campanha eleitoral, a penúria do Itamaraty se agrava. Circular do MRE aos diplomatas obtida por esta Folha avisa que os recursos disponíveis neste mês de janeiro só cobrirão salários e obrigações trabalhistas de contratados locais nas embaixadas e apenas parte das contas pendentes. Os proventos dos diplomatas de carreira não serão afetados. A escassez adicional de recursos incrementa a pressão sobre um corpo diplomático já agastado. A insatisfação é marcante no quadro de jovens diplomatas inchado durante o período Lula, fruto da abertura acelerada de representações em países menores, não acompanhada da criação de vagas em escalões superiores para permitir progressão na carreira. A situação não poderia ser mais comprometedora para o Brasil. Se não tem meios de manter as representações no exterior, o governo tem de rever a política anterior, e não deixá-la à míngua. A gestão austera das contas públicas se tornou um imperativo após as desastradas investidas do governo dilmista, mas não pode drenar todo o lastro de um órgão de Estado que já estava à deriva.

Escândalo na Petrobrás Coordenador do 'clube' das empreiteiras negocia delação Ricardo Pessoa, da UTC, quer contar o que sabe em troca de redução de pena Acordo ainda não foi fechado porque o executivo afirma não saber sobre propina no setor elétrico MARIO CESAR CARVALHO DE SÃO PAULO FLÁVIO FERREIRA ENVIADO A CURITIBA

Apontado pelos investigadores da Operação Lava Jato como coordenador do "clube" de empreiteiras que fraudavam licitações na Petrobras, o empresário Ricardo Pessoa, da UTC-Constran, negocia um acordo de delação premiada com os procuradores que atuam no caso. Se as negociações derem certo, Pessoa será o primeiro empreiteiro a contar o que sabe em troca de uma redução de pena --o princípio da delação. Já são pelo menos nove os réus da Lava Jato que decidiram colaborar com as investigações, segundo a Procuradoria Geral da República. O grupo UTC-Constran tem 29 mil funcionários e faturou R$ 5 bilhões em 2013, o último dado disponível. Pessoa era o presidente da UTC, cargo que deixou após ser preso em 14 de novembro passado sob acusação de pagar propina para conseguir contratos na Petrobras --o que a UTC nega com veemência. Nas conversas que ocorreram nesta semana em Curitiba, participaram o defensor de Ricardo Pessoa, Alberto Toron, o presidente da Constran, João Santana, que foi ministro no governo de Fernando Collor, e o advogado Antonio Figueiredo Basto, que cuidou das negociações da delação de Alberto Youssef, seu cliente desde os anos 2000. Figueiredo Basto foi chamado para reforçar o time por causa da experiência que tem com delação --é um dos advogados que mais fez acordos de colaboração no país. Dos 11 executivos presos desde novembro em Curitiba, Pessoa é o mais próximo do doleiro Youssef: era sócio dele em um hotel em Salvador e num empreendimento imobiliário em Lauro de Freitas, ao lado da capital baiana. As negociações de Pessoa com os procuradores ainda não foram fechadas, segundo a Folha apurou, porque o executivo diz não ter informações sobre pagamento de propina no setor elétrico. Os procuradores da Lava Jato querem que os delatores não se restrinjam a narrar as irregularidades que praticaram na petroleira. Eles buscam informações sobre outros setores após o ex-diretor Paulo Roberto Costa ter revelado em depoimento que as empreiteiras também agiam como um cartel em hidrelétricas e portos. Pessoa tem dito aos procuradores que a UTC participa de uma única obra do setor elétrico, a montagem da usina nuclear Angra 3, num consórcio do qual fazem parte Camargo Corrêa e Odebrecht. O executivo foi apontado como coordenador do cartel por Augusto Ribeiro Mendonça, ligado à Toyo Setal, que também fez um acordo de delação premiada. Outro delator da Lava Jato, Julio Camargo, contou aos procuradores que um consórcio liderado pela UTC pagou propina para conquistar uma obra no Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro). Ele afirma que não sabia o valor porque o suborno teria sido acertado pelo próprio Pessoa.

CAMARGO CORRÊA Três integrantes da cúpula da Camargo Corrêa que estão presos desde novembro também negociam um acordo de delação. Em reunião nesta sexta-feira (23), procuradores e advogados dizem ter encontrado uma forma de beneficiar tanto os executivos como a empresa --um dos pontos mais difíceis do acordo. Com isso, abre-se a perspectiva de a empresa ser incluída na delação, além dos executivos. Procuradas pela Folha, a UTC e a Camargo Corrêa não quiseram comentar. A reportagem não conseguiu localizar o advogado Alberto Toron.

Continuação da Resenha Diária 24/01/15 14

Escândalo na Petrobrás PF abrirá inquérito para investigar a construtora Andrade Gutierrez Empreiteira é apontada como integrante do 'clube' suspeito de fraudar licitações na Petrobras Ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa disse em sua delação premiada que recebeu propina da empresa GABRIEL MASCARENHAS AGUIRRE TALENTO RUBENS VALENTE DE BRASÍLIA

A Polícia Federal vai abrir um inquérito para apurar a participação da construtora Andrade Gutierrez no esquema de corrupção na Petrobras. A medida deve ser tomada na próxima semana. Embora tenha sido citada em depoimentos colhidos na Operação Lava Jato, até o momento a construtora não consta no rol de investigadas. A empreiteira é apontada como uma das integrantes do "clube" formado por pelo menos 16 grandes construtoras suspeitas de participar do cartel que atuava nas obras da estatal, com fraude em licitações e pagamento de propina a agentes públicos. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa (Abastecimento) confessou que recebeu propina da Andrade Gutierrez. Costa afirmou que, no primeiro momento, os valores pagos ilegalmente pela empreiteira eram recolhidos pelo doleiro Alberto Youssef e tinham como destino final o PP (Partido Progressista). "A empresa, mesmo após ganhar algum contrato no âmbito da Diretoria de Abastecimento, custava a depositar o valor devido ao PP [...]", acusou Costa. Segundo o ex-diretor, "a partir de 2008 ou 2009" coube ao lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, e acusado de atuar em favor do PMDB, começar a mediar o recebimento da propina da Andrade Gutierrez: "Isto significou que os valores pagos por aquela empreiteira passariam a ser destinados ao PMDB, que tinha em Fernando Soares seu operador". Paulo Roberto Costa diz, num outro trecho, que Baiano "tinha um negócio em comum" com o presidente da holding, Otávio Azevedo, mas não detalha essa relação. Numa das levas da delação premiada de Paulo Roberto Costa enviadas pelo Supremo Tribunal Federal à primeira instância da Justiça há um depoimento específico sobre a Andrade Gutierrez. Esse termo ainda não veio a público.

LUCRO Além do ex-diretor da estatal, Youssef também acusou a empreiteira de ter se beneficiado do esquema de corrupção na Petrobras. Como só agora os investigadores reuniram elementos suficientes para abrir um inquérito específico contra a Andrade Gutierrez, a construtora não foi alvo da sétima etapa da Operação Lava Jato, deflagrada em novembro. A Andrade Gutierrez está entre as maiores empresas do país. Com foco principal voltado à construção civil, a holding teve um lucro líquido de R$ 436 milhões em 2013.

Demétrio Magnoli Pelotão de fuzilamento Perdemos a capacidade de nos indignar, pois nossos governos só falam de 'soberania' --e seus áulicos, em 'cultura'

Passeio na Plaza Bolívar, em Bogotá. A prefeitura da cidade pontilhou-a de cartazes cilíndricos com o desenho de um lápis e a frase "Eu sou Charlie". No Brasil, nenhuma autoridade prestou homenagem aos cartunistas assassinados. Horas antes, apesar dos apelos reiterados de Dilma Rousseff, o brasileiro Marco Archer era fuzilado na Indonésia. Sob um sólido silêncio do Congresso e uma certa indiferença da opinião pública, o mesmo destino aguarda Rodrigo Gularte. Perdemos a capacidade de nos indignar com qualquer coisa que não seja o apagão, a torneira vazia, o crédito escasso ou o arrocho tributário. É que nossos governos falam demais em "soberania" e seus áulicos, na universidade e no jornalismo, não param de escrever a palavra "cultura". Os direitos humanos nasceram para desafiar a soberania absoluta dos Estados. Na solicitação de clemência ao presidente indonésio Joko Widodo, Dilma mencionou o respeito à "soberania" do país. Ela não tinha alternativa, naquelas circunstâncias, mas o mal já estava feito. Ao longo do ciclo de governos Lula e Dilma, o Brasil abusou da palavra mágica sempre que um ditador "amigo" violava os direitos de seus cidadãos --em Cuba, na Venezuela ou na Síria. Os fuzilamentos na Indonésia coincidem com o início da libertação de cerca de 300 jihadistas indonésios condenados por atos de terror entre 2002 e 2009. Uma democracia que fuzila traficantes comuns ou simples "mulas" zomba de princípios básicos de justiça e decência. Mas, prisioneiro de suas deploráveis convicções, o governo brasileiro não apresentará uma moção condenatória ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. Os direitos humanos foram declarados universais pois atravessam fronteiras nacionais e religiosas. Na Arábia Saudita, um blogueiro foi condenado a mil chibatadas por expressar suas opiniões. A monarquia de Riad justifica a pena repugnante em nome do imperativo da defesa do Islã. "Cultura" é a palavra que a Casa de Saud usa para ocultar as motivações políticas da repressão. A invocação da "cultura" repetiu-se vezes sem conta nos jornais e redes sociais do Brasil desde os atentados de Paris. Os nossos sábios inventaram um conto sobre o conflito entre os princípios da liberdade de expressão e do respeito à fé religiosa a fim de mascarar a lógica do jihadismo, que não precisa de charges Continuação da Resenha Diária 24/01/15 15 para matar. Widodo sacou a "cultura" do bolso para responder aos protestos da Anistia Internacional. Os fuzilamentos, explicou, destinam-se a proteger a Indonésia da permissividade ocidental. A soberania absoluta é, por direito histórico, um tema da extrema-direita, que define a nação nos termos do sangue e da raça. As narrativas xenófobas de Marine Le Pen, na França, do Pegida, na Alemanha, e do Ukip, na Grã- Bretanha, são manifestações atuais dessa tradição. Stálin e, mais tarde, os nacionalismos anti-imperialistas tomaram o conceito emprestado para envernizar a edificação de Estados que criminalizam a divergência política. O "direito soberano" de fuzilar traficantes, supliciar blogueiros ou aprisionar dissidentes deve ser condenado, ou admitido, em todos os lugares --na Indonésia, na Arábia Saudita e em Cuba. A fraqueza dos apelos de Dilma por Archer e Gularte decorre das oscilações do governo sobre essa encruzilhada política e moral. A cultura, escrita no singular, é uma invenção política do nacionalismo romântico. Os discursos binários sobre Ocidente/Oriente e a fabricação de entidades totalizantes abstratas como "os muçulmanos" são artefatos destinados a submeter populações, organizar projetos de poder e justificar abusos de governos despóticos. No Brasil, essa falácia antropológica adquiriu uma estranha respeitabilidade acadêmica. Nossas praças não têm homenagens a cartunistas ou protestos contra o açoitamento de blogueiros. Widodo pode fuzilar quem quiser.

Ministro abrirá debate sobre regulação da mídia em março Governo pretende apresentar proposta para eliminar monopólios e oligopólios Setores do PT defendem o controle do conteúdo publicado, mas Dilma prefere a regulação econômica do setor GABRIEL MASCARENHAS DE BRASÍLIA

O ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, quer iniciar a discussão sobre a regulação econômica da mídia em março, para concluí-la no primeiro semestre de 2016. A data difere daquilo que a presidente Dilma Rousseff --que encampou o projeto para agradar à esquerda do PT-- havia mencionado. Em entrevista após a eleição, Dilma falava em colocar o assunto em consulta pública no segundo semestre. A presidente citou a tramitação do Marco Civil da Internet, que durou cinco anos até ser aprovado. Berzoini vai consultar o ex-presidente Lula, crítico da imprensa, segundo apurou a Folha. A partir de março, o ministro pretende ouvir representantes do setor --como empresários, sindicalistas e organizações sociais. Ministros ouvidos dizem que o governo ainda não discutiu o modelo a ser adotado. O foco será formular uma proposta que ponha fim ao que o Executivo denomina de monopólios e oligopólios. Alguns petistas defendem a regulação do conteúdo veiculado pelos meios de comunicação, mas Dilma é contra a iniciativa. A regulação econômica seria, segundo assessores presidenciais, um meio termo para atender a reivindicação de dirigentes do PT. Na entrevista que deu a jornais após a eleição, Dilma rechaçou a possibilidade de o governo interferir em conteúdo. "Isso eu repudio", afirmou. O atual governo não deu andamento a uma versão defendida por Franklin Martins, ministro da Comunicação Social de Lula, baseada num documento apresentado na Conferência Nacional de Comunicação, de 2009. À época, as entidades que representam as empresas de comunicação decidiram não participar do evento sob argumento de que parte das teses defendidas restringiam a liberdade de expressão. Berzoini defende que o Ministério das Comunicações organize seminários internacionais para discutir as experiências de regulação adotadas em outros países. Seja como for, qualquer iniciativa terá de passar pelo Congresso, onde propostas do gênero suscitam forte resistência.

Cuba e EUA ainda esbarram em diferenças Após dois dias de negociações, divergências políticas seguem sendo obstáculo GIULIANA VALLONE DE NOVA YORK

Após dois dias de negociações em Havana, a chefe da delegação americana, Roberta Jacobson, disse nesta sexta (23) que ainda há discordâncias profundas entre os governos dos EUA e de Cuba. "Não há dúvida de que os direitos humanos continuam sendo o ponto central de nossa política", afirmou Jacobson, que é vice-secretária de Estado americana para o Hemisfério Ocidental. "Isso é obviamente parte do das discordâncias profundas com o governo cubano". Segundo ela, é essencial que os Estados Unidos continuem a tratar do tema publicamente e também nas negociações diretas com o governo de Cuba. "Eu acredito que cada delegação entende a importância da tarefa que estamos enfrentando", disse. Para Jacobson, há muitas questões de interesse mútuo em que será possível fazer progressos. "Nós precisamos tomar decisões de nosso interesse e que vão empoderar o povo de cuba. Mas o veredicto sobre se isso será bem-sucedido ainda terá de ser dado." Na quinta, a representante da diplomacia cubana nas negociações, Josefina Vidal, afirmou que, "apesar das diferenças profundas, é possível que as duas nações conduzam as conversas de forma civilizada." As duas diplomatas são nomes de peso na política externa de seus países. Vidal é diretora da Chancelaria de Cuba para a América do Norte e tem amplo conhecimento da política norte-americana. Continuação da Resenha Diária 24/01/15 16

Jacobson, por sua vez, é uma das maiores especialistas na ilha caribenha do Departamento de Estado dos EUA e defendia há anos uma revisão da política.

DISSIDENTES Nesta sexta, Jacobson ainda reuniu-se com dissidentes do regime cubano em Havana, entre eles críticos e apoiadores da aproximação entre os países. A líder do grupo opositor Damas de Branco, Berta Soler, que é contra as negociações, não compareceu. "Não houve equilíbrio entre os participantes quanto à diversidade de opiniões", disse a dissidente.

Deficit com exterior é o maior desde 2001 Resultado ruim da balança comercial contribui para rombo de 4,17% do PIB Em valores, saldo negativo de US$ 90,9 bi em 2014 é o maior da história; BC diz que situação é 'confortável' DE BRASÍLIA

O Brasil encerrou 2014 com o maior rombo nas contas externas desde 2001. As despesas brasileiras superaram as receitas em moeda estrangeira em US$ 90,9 bilhões, o equivalente a 4,17% do PIB --em 2001, o deficit foi de 4,19%. Em termos nominais, o valor cresceu 12% em relação a 2013 e atingiu novo recorde, contrariando a previsão inicial do Banco Central, que esperava queda neste ano. Estão nessa conta receitas e despesas nas transação de bens, serviços e rendas feitas por resistentes no país para o exterior. Para Tulio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC, esse aumento da relação do deficit com o PIB não representa grandes mudanças nas condições de financiamento da dívida brasileira, e o acesso ao capital estrangeiro não deve ser prejudicado. Outro dado ruim divulgado nesta sexta (23) pelo BC é que os investimentos estrangeiros diretos (US$ 62,5 bilhões) caíram em relação a 2013 (US$ 63,9 bilhões), sendo insuficientes para financiar o rombo de 2014. Segundo Maciel, apesar da queda no investimento estrangeiro, que é a principal fonte para cobrir o deficit com o exterior, o país tem condições "confortáveis" de financiamento dessa conta, pois tem recursos estrangei- ros destinados ao mercado financeiro (ações e títulos), além dos empréstimos obtidos no exterior.

RAZÕES O fraco desempenho da balança comercial, que teve em 2014 seu primeiro deficit desde 2000, foi o principal fator que levou ao deficit recorde nas transações correntes, segundo Maciel. O Brasil importou mais que exportou US$ 3,9 bilhões no ano passado. Segundo o economista, a maior parte da piora na balança comercial foi motivada pela queda nos preços de produtos relevantes da pauta exportadora brasileira, sobretudo commodities agrícolas "" açúcar de cana, milho e soja, por exemplo. A queda na quantidade exportada também teve impacto. Houve piora também na conta de serviços. O deficit anual subiu de US$ 47,1 bilhões para US$ 48,7 bilhões. O aumento de US$ 3,6 bilhões nos gastos com aluguel de equipamentos, que em 2014 totalizou US$ 22,7 bilhões, foi o que mais pesou nessa conta. Essa despesa é relacionadas a investimentos de empresas, principalmente do setor extrativo mineral. Isso inclui, por exemplo, a exploração de petróleo com equipamentos estrangeiros.

PERSPECTIVAS Em dezembro, o deficit das transações de bens e serviços com o exterior foi de US$ 10,3 bilhões, recorde para o mês. Para este ano, o BC estima uma diminuição no deficit, para US$ 83,5 bilhões, o equivalente a 3,79% do PIB. A autoridade monetária acredita numa melhora na balança comercial --com um superavit de US$ 6 bilhões. Deve contribuir para isso, por exemplo, um câmbio mais favorável às exportações. No início de 2014, o BC também esperava melhora nas contas externas. A expectativa era de uma balança comercial positiva e de desaceleração nas remessas de lucro por causa da perda de força da economia. Esse último fator se confirmou e, segundo o BC, deve se repetir em 2015. (SOFIA FERNANDES)

Continuação da Resenha Diária 24/01/15 17

Criação de empregos formais no Brasil em 2014 foi a menor em 12 anos Trabalho. Com saldo líquido de 397 mil vagas criadas no ano passado, desempenho foi o pior desde 2002, quando teve início a série histórica do Caged; número foi menos de um terço de 1,5 milhão de vagas previstas pelo ministro do Trabalho no início do ano passado Bernardo Caram / BRASÍLIA

A criação de empregos com carteira assinada teve em 2014 o pior resultado da série histórica iniciada em 2002, informou ontem o Ministério do Trabalho e Emprego. No ano, foram gerados 397 mil novos postos de trabalho, desempenho 64,5 % inferior ao de 2013, quando o saldo atingiu 1,1 milhão de vagas. O resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado ontem em Florianópolis, frustrou a previsão de se criar 1,5 milhão de vagas feita pelo ministro Manoel Dias no início do ano passado. Em Santa Catarina, sua base eleitoral, o ministro tentou minimizar o mau resultado ao atribuí-lo a algumas peculiaridades de 2014. “Houve uma campanha de que a Copa do Mundo não seria realizada, o que gera uma insegurança e retrai o investidor”, disse. “Também tivemos eleições acirradas, que criaram uma ideia de que o Brasil vivia uma crise, estava quebrando. Isso criou uma expectativa em alguns setores.” Mesmo longe de suas previsões, ainda assim Dias viu uma tendência positiva na performance. “Oque é importante é que nós continuamos acrescentando postos de trabalho no estoque.” Em dezembro, o mercado de trabalho registrou encolhimento de 555 mil vagas. Foi o pior resultado para o mês desde 2008, quando estourou a crise financeira global. No mês passado, houve 1,176 milhão de admissões e 1,732 milhão de cortes. Na avaliação do economista da Fundação Seade, Alexandre Loloian, coordenador da pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), o saldo do ano é muito baixo para um governo que previa resultados mais robustos. O desempenho do mercado de trabalho, segundo ele, ficou “muito aquém” do esperado, principalmente no fim do ano, a partir de outubro e novembro.

Continuação da Resenha Diária 24/01/15 18

Em abril do ano passado, Manoel Dias afirmou que o governo Dilma Rousseff chegaria a um total de 6 milhões de empregos criados em quatro anos – o que também não virou realidade. Dilma fechou o primeiro mandato com saldo de 5,3 milhões de vagas. “Cinco milhões foi espetacular. O mundo está em crise”, emendou o ministro. O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, avalia que o resultado do Caged mostra uma tendência de estagnação com viés negativo. “A situação tende a piorar ao longo de 2015, pois todas as notícias que temos são mais no sentido de eliminação de postos do que de contratações.” No mesmo tom do ano passado, Manoel Dias segue mais otimista ao prever a influência de investimentos em infraestrutura no mercado de trabalho. “Em um prazo relativamente pequeno, o Brasil vai retomar seu crescimento”, garantiu.

Tendência. No diagnóstico do economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, os dados mostram uma nítida deterioração do mercado de trabalho. “Era uma tendência que já vínhamos observando e os números de dezembro apontam que esse cenário de piora deve continuar”, afirmou. Os resultados apontam para um início de ano muito fraco. “É bastante provável que em algum momento do primeiro semestre tenhamos números do Caged negativos no acumulado de 12 meses.” Na avaliação por setores, a indústria de transformação teve o pior desempenho em dezembro, com o fechamento de 172 mil postos de trabalho, seguido pela construção civil, com menos 132 mil vagas, e pelo setor de serviços, que reduziu 149 mil postos. A agricultura, frequentemente tratada pelo ministro Manoel Dias como exemplo de dinamismo por seguir batendo recordes de produção, teve queda de 64 mil vagas em dezembro. O dado foi justificado por Dias como “sazonal”. No ano, o setor fechou 370 vagas. / COLABORARAM CARLA ARAÚJO E IGOR GADELHA

Seguro-desemprego está ultrapassado, diz Levy Para ministro, legislação precisa ser modernizada para se adaptar às mudanças no mercado; sindicalistas, porém, criticam declarações Anna Carolina Papp

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse ontem em entrevista o jornal britânico ‘Financial Times’ que o formato dos benefícios do seguro-desemprego no Brasil está “completamente defasado”. Essa seria uma das áreas em que, segundo ele, poderia haver reformas. A declaração do ministro vem após uma longa polêmica que se levantou desde que o governo anunciou, no início do mês, regras mais rígidas para a concessão de alguns benefícios sociais, como pensão por morte, auxílio-doença e seguro-desemprego. No caso deste último, para requerer o benefício pela primeira vez, a pessoa terá de ter trabalhado nos últimos 18 meses. Antes, com seis meses de trabalho já era possível requerer o seguro. As mudanças geraram muitas críticas, principalmente de sindicalistas, que fazem questão de lembrar que, durante a campanha presidencial, a presidente Dilma Rousseff afirmou que não reduziria direitos trabalhistas “nem que a vaca tussa”. A declaração de ontem criou mais desconforto, com as centrais sindicais se manifestando contra a fala do ministro. “O seguro-desemprego cumpre uma importante política social de amparar os trabalhadores quando eles mais necessitam”, disse Miguel Torres, presidente da Força Sindical. “Com a afirmação, o ministro Levy mostra um total desconhecimento do exitoso modelo de seguro-desemprego, que é conquista dos trabalhadores emotivo de orgulho para Brasil.”

Estabilidade. Para Quintino Severo, secretário de finanças e administração da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o benefício é necessário por conta da falta de mecanismos para a garantia da estabilidade no mercado de Continuação da Resenha Diária 24/01/15 19 trabalho. “O seguro-desemprego no Brasil só seria ultrapassado se houvesse alguns instrumentos de garantia de emprego que impedissem a alta rotatividade”, disse. “Hoje, cerca de 39 % dos trabalhadores roda no mercado de trabalho anualmente, e é isso que impacta fortemente o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).” As mudanças no seguro-desemprego, que passam a vigorar a partir de março, estão entre as mais impopulares na visão das centrais sindicais. As entidades se reuniram na última segunda-feira como governo para negociar as mudanças anunciadas em benefícios trabalhistas e previdenciários, e a próxima reunião está agendada para o dia 3 de fevereiro. O setor também se posicionou contra o veto da presidente Dilma Rousseff à correção na tabela do Imposto de Renda. “Nós reconhecemos que o Brasil enfrenta dificuldades financeiras, mas não achamos que os trabalhadores é que têm de pagar essa conta”, disse Severo. Na próxima segunda- feira, às 11 horas da manhã, seis centrais sindicais vão se reunir na sede da União Geral dos Trabalhadores (UGT), no bairro da Bela Vista, em São Paulo, numa coletiva de imprensa para discutir as pautas trabalhistas e redigir um documento a ser entregue na próxima reunião com o governo. Também na segunda-feira, o deputado Eduardo Cunha (PMDB) irá à sede da Força Sindical numa reunião com cerca de 200 sindicalistas. Com a repercussão negativa, o Ministério da Fazenda enviou um comunicado afirmando que a observação de Joaquim Levy sobre a legislação do seguro-desemprego “teve como objetivo ampliar o debate pela modernização das regras desse benefício diante das transformações do mercado de trabalho nos últimos 12 anos.”

Notas e Informações A política à moda do PT

Obcecado pela ideia de se perpetuar no poder, não importa a que preço, o PT enfrenta cada disputa que o jogo democrático do voto lhe impõe com a aplicação de dois princípios – digamos assim – com os quais se tem dado bem: primeiro, na disputa política não existe adversário, mas inimigo, que como tal não deve ser vencido, mas destruído; segundo, o voto, precisa ser conquistado a qualquer custo. O mais notável exemplo da aplicação dessas regras de conduta foi a campanha da candidata Dilma Rousseff, na qual os inimigos foram violentamente atacados sob a alegação de que, se eleitos, fariam exatamente tudo o que a presidente reeleita está fazendo. Reproduz-se agora o receituário, em outra disputa de votos, desta vez para a presidência da Câmara dos Deputados. Para os brasileiros, estaria bem – na falta de melhor – que vencesse o candidato menos ruim. Mas para o governo coloca-se uma questão vital: manter sob o controle do Palácio do Planalto uma das casas do Parlamento – um poder da República que a Constituição diz ser independente e autônomo, a quem cabe a responsabilidade de legislar e de fiscalizar os atos do Poder Executivo. Na vida real do presidencialismo de coalizão que Lula & Cia. transformaram numa vulgar ação entre amigos, o Congresso Nacional – com poucas e honrosas exceções – tem se conformado em pagar com uma humilhante submissão às benesses distribuídas aos “aliados” do poder central. Esse hábito vinha sendo cultivado com muito engenho e alguma arte. Mas como o governo do PT não é mais comandado por uma raposa peluda da política, mas por uma praticante convicta do centralismo democrático, a química com os representantes do povo desandou. O resultado é a candidatura favorita à presidência da Câmara de um aliado rebelde, o peemedebista Eduardo Cunha (RJ), que tem explorado o discurso da autonomia e independência da Casa, mas cujo trunfo mais poderoso é a insatisfação de seus pares com a incompetência do governo petista na administração do toma lá dá cá. Diante da ameaça representada pelo deputado fluminense, o comando político do governo desembarcou na Câmara dos Deputados com a caixa de ferramentas aberta. E, pelo que já se pode notar, os petistas estão, como de hábito, dispostos a fazer o que for preciso para destruir o inimigo. Eduardo Cunha denunciou na terça-feira passada uma “armação” de que estaria sendo vítima. Distribuiu para os jornalistas cópias da gravação de um diálogo entre dois homens não identificados que o comprometeria com o escândalo da Petrobrás: “É mais uma tentativa de farsa e montagem para constranger minha candidatura”, declarou o deputado, fazendo referência ao fato de que, dias antes, seu nome fora envolvido, junto com o do senador eleito e ex-governador mineiro Antonio Anastasia (PSDB), numa denúncia que acabou se revelando improcedente sobre a participação de ambos no esquema de propinas da Petrobrás. E acrescentou Cunha: “Quem estaria orquestrando ou montando faria parte da cúpula da PF, não quer dizer que seria o diretor”. Quem testemunhou durante a campanha presidencial a sequência de destruições de reputações pela militância petista certamente não duvidará de que tudo pode acontecer até o dia da eleição dos próximos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. No Senado não deverá haver disputa, com a recondução de Renan Calheiros à presidência. Mas o governo assumiu claramente sua intenção de beneficiar seu candidato na Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), ao anunciar que as nomeações para o segundo escalão e para os bancos oficiais estão suspensas até que se defina quem comandará as duas Casas do Congresso. O governo colocou em campo sua tropa de choque a serviço do adversário petista de Eduardo Cunha. Na quarta- feira, o ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, foi acusado pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) de estar prometendo “vantagem indevida a parlamentares para votarem em favor da candidatura do deputado Arlindo Chinaglia à presidência da Câmara dos Deputados”. O PT no governo tem os recursos e conhece como ninguém as “técnicas de persuasão”.

Continuação da Resenha Diária 24/01/15 20

Doleiro adere à tese de que desvio na Petrobrás bancava ‘projeto de poder’ Advogado de Alberto Youssef adota o mesmo discurso das empreiteiras acusadas de formar um cartel na estatal Erich Decat / BRASÍLIA

A equipe de advogados de Alberto Youssef, considerado um dos líderes do esquema de desvios da Petrobrás, vai concentrar a defesa na alegação de que o doleiro serviu apenas como uma peça no sistema político criado para dar sustentação ao projeto de poder do PT. O documento deve ser apresentado à Justiça Federal do Paraná, onde tramitam os processos da Lava Jato, na próxima terça-feira. “É um projeto de poder para sustentação do PT. Não há dúvida disso. Vou citar isso na peça, claro. Não tem dúvida. PT e a base aliada como PMDB, PP”, diz o advogado Antônio Augusto Figueiredo Basto. “É a corrupção sustentando um esquema de poder. Não há menor dúvida de que esse esquema é um grande sistema de manutenção de grupos políticos. Vamos sustentar isso na nossa defesa. Meu cliente foi mera engrenagem. Não era a peça fundamental do esquema.” Na delação realizada por Youssef no âmbito da Lava Jato, ele citou políticos como beneficiários do esquema da Petrobrás. Confirmou tambéma partilha de desvios de contratos com as empreiteiras entre três partidos: PT, PMDB e PP. O posicionamento de Figueiredo Basto ocorreu um dia depois de os advogados do empresário Gérson de Mello Almada, vice-presidente da Engevix Engenharia, afirmarem em documento entregue à Justiça Federal que a Petrobrás foi usada para bancar o “custo alto das campanhas eleitorais” e para financiar a base de apoio do governo federal nos “últimos 12 anos”. Segundo a defesa de Almada, preso pela Operação Lava Jato desde 14 de novembro de 2014, “a Petrobrás foi escolhida para geração desses montantes necessários à compra da base aliada do governo e aos cofres das agremiações partidárias”. O esquema de pagamento de propina a parlamentares, em troca de apoio ao governo, descrito pelos defensores, se assemelha ao ocorrido no processo do mensalão, que levou integrantes da cúpula do PT e da base à prisão. O advogado de Youssef ressalta que não há combinação na linha de defesa com outros defensores. “Não há nenhuma harmonia entre as defesas, trabalhamos de forma individual. O que há é a verdade, o esquema vem de cima. Agora todo mundo já está falando porque é notório, as empreiteiras estão servindo de bode expiatório. É verdade que não tem inocente nesse jogo, ninguém foi extorquido, achacado, todos entraram de forma consciente. Mas é evidente que, se o sistema não funcionasse, haveria prejuízos para as empreiteiras. Vinha de cima e era para sustentar, sim, um esquema político. Se você não tem os corruptos, não tem esquema. E quem nomeava os corruptos? Os políticos. É uma lógica irrefutável”, diz Basto. Apesar da tentativa de associar o escândalo apenas ao PT e aos partidos da base, as investigações apontam que o esquema também abasteceu o PSB e o PSDB. Depoimentos do ex-diretor Paulo Roberto Costa na delação premiada citam o nome de Sérgio Guerra, ex-presidente do PSDB morto no ano passado, que teria “extorquido” a Petrobrás em 2010 e pedido R$ 10 milhões para encerrar a CPI mista que investigava a estatal na época. Além disso, Costa também mencionou o repasse de R$ 20 milhões para o caixa 2 da campanha de Eduardo Campos (PSB) ao governo de Pernambuco em 2010. Além da apresentação da defesa na próxima semana, os advogados de Youssef preparam um segundo documento para ser apresentado no início de fevereiro para que o doleiro passe a cumprir pena em regime domiciliar. Youssef está preso desde março do ano passado, em Curitiba.

PARALEMBRAR A conclusão do mensalão A tese das defesas do doleiro Alberto Youssef e de um dos empreiteiros denunciados na Lava Jato de que o esquema de corrupção na Petrobrás foi montado pelo PT como instrumento para se manter no poder também foi usada no mensalão, esquema de compra de apoio político no 1.º governo Lula. Em2006 o então procurador- geral da República, Antonio Fernando Souza, autor da denúncia, disse que a “organização criminosa” por trás do mensalão pretendia garantir a permanência do PT no poder com a compra de apoio político. A tese foi confirmada pelo Supremo ao condenar o ex-ministro José Dirceu. Mas os advogados de outros condenados reclamaram. Mesmo diante da narrativa segundo a qual os desvios do mensalão ocorreram a partir de uma ação deliberadamente política, as maiores penas foram impostas aos não políticos. O operador Marcos Valério, por exemplo, pegou quase 40 anos de prisão. Dirceu foi condenado a 7 anos e 11meses e já cumpre a pena em casa.

Grampos telefônicos indicam ligação do kirchnerismo com agentes iranianos Sob suspeita. Telefonema entre aliado de Cristina e funcionário diplomático de Teerã dá a entender que acordo entre Argentina e Irã para a formação de uma comissão para investigar ataque à Amia não passou de fachada para manter a impunidade dos culpados Ariel Palacios CORRESPONDENTE / BUENOS AIRES

A imprensa argentina revelou ontem gravações de telefonemas feitas pelo promotor Alberto Nisman, que sugerem conexões de aliados do kirchnerismo com iranianos vinculados extra oficialmente à Embaixada do Irã em Buenos Aires Continuação da Resenha Diária 24/01/15 21 em uma suposta operação de acobertamento dos terroristas que teriam realizado o atentado de 1994 contra a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia). Nesse ataque morreram 85 pessoas e foram feridas e mutiladas outras 300. O conteúdo dos grampos divulgados ontem mostram o líder piqueteiro kirchnerista Luis D’Elía, frequentador da Casa Rosada, conversando com Alejandro “Yussuf” Khallil, denunciado pelo promotor Nisman com um agente a serviço dos iranianos. Nisman considerava que D’Elía havia sido crucial para “manter ativas as negociações secretas e clandestinas com o Irã em relação ao plano de acobertamento”. Na gravação, Khalil explica a D’Elía que o acordo da “Comissão da Verdade” de 2013, com o objetivo formal de determinar os culpados do atentado, era “todo ‘piripipi’”, expressão da gíria portenha equivalente a “tudo termina em pizza”. Nisman – que na semana passada havia denunciado a presidente Cristina Kirchner pelo suposto acobertamento – apareceu morto com um tiro na cabeça no domingo. O promotor pretendia divulgar na segunda-feira detalhes de sua denúncia e o conteúdo dos grampos que havia feito. Nisman indicava que a operação de acobertamento havia sido combinada entre o governo Kirchner e Teerã em 2012, em troca de acordos comerciais para aumentar a venda de produtos argentinos para o Irã e a importação de petróleo iraniano para o mercado argentino, abalado pela crise energética intermitente desde 2004. Em 2013 o governo Kirchner causou surpresa ao anunciar publicamente um acordo com o Irã para formar uma Comissão da Verdade para investigar o atentado contra a Amia. Na ocasião, o acordo foi rejeitado pela oposição e a comunidade judaica, que protestou contra um pacto feito com os acusados.

Arma e tiro. Ontem no início da tarde, a promotora Viviana Fein, que investiga a morte de Nisman, avaliava se convocaria ou não Diego Lagomarsino, assessor do promotor, para prestar depoimento, já que no fim de semana Lagomarsino havia emprestado sua arma calibre 22 a ele. Essa arma foi encontrada ao lado do corpo do promotor no banheiro de seu apartamento no bairro de classe alta de Puerto Madero. O dono da arma, que teria sido a última pessoa a ver Nisman vivo, tinha solicitado no início da semana à Justiça licença para viajar à praia na Província de Buenos Aires, de férias. No entanto, nesta sexta-feira, no início da noite, a Justiça não conseguia localizar o paradeiro de Lagomarsino. Imediatamente, Fein determinou que não poderia sair do país. Pouco depois Lagomarsino entrou em contato com a promotora para dizer que estava na Argentina e se colocava à disposição da Justiça. No entanto, Lagomarsino – técnico em informática – não conta com proteção policial. Duas informações divergentes, preliminares e extraoficiais sobre a autópsia circulavam ontem na promotoria federal. Uma delas indicava que o disparo na cabeça de Nisman teria sido a 2 centímetros de distância, sobre a orelha direita. A outra, que o disparo teria sido feito a 20 centímetros de distância. A promotoria também se preparava para analisar se a bala encontrada dentro da cabeça de Nisman correspondia à arma de calibre 22 encontrada ao lado do corpo.

CRONOLOGIA 1994 Atentado à sede da Amia em Buenos Aires Carro-bomba explode em frente ao prédio da Associação Mutual Israelita-Argentina, matando 85 pessoas

2006 Condenação à revelia Grupo de oito iranianos que ocupavam altos cargos do governo de Teerã na época do ataque à Amia são condenados na Argentina. Na sequência, a Justiça pediu à Interpol a captura deles

2013 Acordo assinado Cristina Kirchner anuncia um acordo com o Irã para criar uma Comissão da Verdade conjunta para investigar o caso

14 de janeiro de 2015 Denúncia formal Nisman denuncia a presidente Cristina e aliados de decidir plano de encobrimento da participação dos iranianos no atentado

18 e 19 de janeiro Promotor morre Nisman é encontrado morto com tiro na cabeça em seu apartamento. Tese do governo é suicídio

Continuação da Resenha Diária 24/01/15 22

20 e 21 de janeiro Pistas contraditórias Primeiras investigações contradizem a teses de suicídio sustentada pelo governo argentino

22 de janeiro Cristina volta atrás Presidente argentina muda de opinião e diz que já não acredita que o promotor do caso Amia tenha se matado

VISÃO GLOBAL De Reagan a Obama, a desigualdade só aumentou O americano médio está imobilizado nas trevas da estagnação e não conseguiu fugir disso, especialmente a partir de 2000 * NICHOLAS KRISTOF THE NEW YORK TIMES

Desde o final dos anos 70 alguma coisa anda profundamente errada nos Estados Unidos. A desigualdade aumentou vertiginosamente. Não houve avanços na área educacional. O número de detentos nas prisões quintuplicou. A desagregação familiar acelerou. A renda média das famílias estagnou. “Um novo amanhecer na América” – era o slogan de campanha do presidente Ronald Reagan em 1984. Mas numa retrospectiva, desde a era Reagan o americano médio está imobilizado nas trevas da estagnação e da desigualdade e ainda não conseguiu fugir disso, especialmente a partir de 2000. A desigualdade aumentou até mais sob a presidência de Barack Obama. Este é o contexto do apelo de Obama em seu discurso sobre o Estado da União no sentido de uma maior justiça do ponto de vista econômico. Mas primeiro as advertências. Suas propostas morrem ao chegar ao Congresso. Os parlamentares não as querem adotar e provavelmente não querem mudar conceitos que prevalecem na sociedade – pesquisa feita pelo cientista político George C. Edwards conclui que os discursos presidenciais raramente convencem a população. Você se lembra do discurso sobre o Estado da União em 2014? Naturalmente não. Das 18 propostas feitas pelo presidente, apenas 2 tiveram seguimento, de acordo com a PBS. O apelo veemente de Obama em seu discurso em 2013, para a aprovação de medidas que reduziriam a violência com o uso de armas? Praticamente não teve muito resultado e desta vez a palavra “armas” nem foi mencionada por ele. Mas o presidente, do seu púlpito, ainda pode moldar a agenda nacional e a consciência americana. Não concordo plenamente com as soluções apresentadas por ele – como Obama pode ignorar a questão dos serviços prestados às crianças com deficiência física ou mental? Mas ele expôs de maneira absolutamente certa o problema da desigualdade: “Aceitaremos uma economia onde apenas alguns prosperam espetacularmente bem?”. Mesmo com a grande depressão global, os EUA registraram um desempenho brilhante nos primeiros três quartos do século 20, com um aumento da renda e avanços na educação, a desigualdade ficou inalterada e às vezes até diminuiu e os ganhos eram compartilhados amplamente por ricos e pobres. O número de alunos que concluíram o segundo grau aumentou consideravelmente, os soldados retornaram à faculdade e os EUA eram os primeiros do mundo em termos de aproveitamento na área educacional. Ainda nessa era formidável, o imposto de renda federal mais alto excedeu os 90%. Os republicanos deveriam lembrar este aspecto quando advertem que as propostas de Obama de um aumento modesto de impostos pode arrasar a economia americana. Então, para os americanos médios, o teto ficaria em torno do registrado no final dos anos 70. Segundo afirma o economista James K. Galbraith num novo livro, os anos 70 foram “o fim da normalidade”. Posteriormente, a economia continuou a crescer no geral, mas os ganhos foram para os ricos e os 90% restantes da sociedade praticamente não foram beneficiados. A renda média das famílias está um pouco melhor agora do que em 1979. Mas hoje uma família típica no Canadá está em melhor situação do que uma família americana. Sob alguns aspectos, a educação – semente para o futuro – está estagnada. Entre os países industrializados como um todo, 70% das crianças de 3 anos vão para creches; nos EUA são 38%. Eu me pergunto se a celebração do capitalismo descontrolado e da ideia de que “a ganância é boa” a partir da era Reagan não influenciou os valores sociais tradicionais de maneira que acelerou a desigualdade. De qualquer modo, Reagan estava certo num ponto: “o melhor programa social é um trabalho produtivo” – e Obama ofereceu propostas sólidas para aumentar os incentivos ao trabalho. Melhores estratégias políticas na área de creches e licença maternidade tornariam o trabalho mais viável. Os EUA são o único país entre os 34 da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OSCE) que não paga licença maternidade. Iniciativas ligadas à primeira infância rendem votos e alguns dos líderes em programas nesta área são Estados como Oklahoma. Portanto, embora a agenda de Obama no geral seja para exibição, a expansão da pré-escola pode realmente ocorrer pelo menos em nível estadual. Obama corretamente proclamou a queda nos índices de gravidez entre as adolescentes. Mas ele pouco fez nesta área – apesar de o programa da MTV “16 and Pregnant” (16 anos e grávida, em tradução livre) ter desempenhado um papel–e cerca de 30 % das jovens americanas ainda engravidam por volta dos 19 anos. Adotar um controle de Continuação da Resenha Diária 24/01/15 23 natalidade confiável para adolescentes em risco seria de grande ajuda, reduzindo as taxas de aborto e com uma recuperação do investimento com a redução dos gastos sociais mais tarde. Nos EUA são subsidiados jatos particulares, grandes bancos e administradores de fundos hedge. Não teria mais sentido subsidiar as crianças? Assim, se impostos mais altos sobre ganhos de capital podem pagar por uma educação melhor, mais infraestrutura e empregos, claro que esta é uma permuta que vale a pena. Os republicanos do Congresso estão concentrados num projeto de oleoduto que não é economicamente viável diante dos atuais preços do petróleo. Esperemos que a agenda nacional possa ser ampliada nos termos das propostas de Obama e, assim, os últimos 35 anos terão sido anormais, não indicadores de uma tendência. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Caos no Iêmen ameaça operações americanas de combate ao terror Ataques com drones contra alvos da Al-Qaeda eram autorizados pelo presidente, que renunciou por pressão de rebeldes WASHINGTON

A estratégia adotada pela Casa Branca para combater a Al-Qaeda no Iêmen, apresentada repetidas vezes como um modelo pelo presidente americano, Barack Obama, caiu por terra na quinta-feira com o colapso do governo iemenita e a renúncia do homem que pessoalmente aprovou os ataques com drones dos EUA no país. As autoridades americanas tiveram dificuldades para compreender quem, se é que alguém, estaria no controle do Iêmen. A perspectiva de que o caos vá continuar põe em dúvida a viabilidade das medidas de combate ao terrorismo do governo americano e a possibilidade de se contar com ajuda local na luta contra a Al-Qaeda. “Uma situação perigosa que somente piorou, com graves implicações para nossas operações de contraterrorismo”, disse o parlamentar Adam Schiff, democrata da Califórnia, membro da comissão de inteligência da Câmara. “Nossa relação com o governo do Iêmen era vital na luta contra a Al-Qaeda e todos os esforços precisam ser empreendidos para continuarmos com essa parceria.” Em setembro, o presidente Obama citou sua estratégia para o Iêmen como o formato ideal para lutar contra as ameaças jihadistas em outros lugares, incluindo Iraque e Síria. Descartando o envio de um grande número de soldados para combater diretamente a afiliada da Al-Qaeda no Iêmen, o Pentágono limitou sua presença a um pequeno número de instrutores para ensinar e equipar as forças de segurança iemenitas. O outro alicerce da estratégia americana são os drones que supervisionam o Iêmen do alto e lançam ataques aéreos contra alvos suspeitos da Al-Qaeda na Península Arábica, braço da rede terrorista instalado no país. Operados pela CIA e o Comando de Operações Especiais Conjuntas do Exército, os drones estão estacionados fora do Iêmen, mas os militares americanos, até agora, vinham recebendo autorização dos iemenitas para os ataques. Se a ordem e um regime aliado não forem restaurados no Iêmen em breve, a Casa Branca terá pela frente uma decisão difícil: manter os drones, mesmo que violem a soberania do país, ou suspender as operações e relaxar o combate à Al-Qaeda. O dilema é ampliado pelo fato de que as decisões da CIA e do Exército americano dependem em grande parte das informações de inteligência do governo iemenita obtidas de fontes em campo. / WASHINGTON POST

COLÔMBIA Oficiais das Forças Armadas são afastados por espionar negociadores de paz

Cinco oficiais foram afastados das Forças Armadas e outros 20 transferidos de seus postos em razão de suposta espionagem de representantes do governo no processo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em Cuba. Em fevereiro, a revista colombiana Semana informou que uma central de inteligência era usada para espionar, entre outros, Humberto De la Calle, chefe do grupo de negociadores do governo, e Sergio Jaramillo, alto comissário para a paz. A promotoria fez uma busca na central de inteligência e afastou os oficiais, entre eles dois generais. O governo destacou que não é política das Forças Armadas fazer trabalhos ilegais de inteligência.

Continuação da Resenha Diária 24/01/15 24

CONJUNTURA Rombo de US$ 90 bi é o maior da história Deficit nas contas externas alcança 4,17% do PIB em 2014, patamar observado em países à beira de crise cambial. Enfraquecimento das exportações foi determinante para o resultado, que deixa país dependente de capitais especulativos ANTONIO TEMÓTEO

O Brasil registrou, em 2014, o maior rombo nas contas externas desde 1947, ano em que o indicador começou a ser apurado. O buraco chegou a US$ 90,9 bilhões, o equivalente a 4,17% do Produto Interno Bruto (PIB). Os números, na avaliação de analistas, são assustadores, porque estão próximos a níveis apresentados por países em crise. Todas as vezes em que o Brasil quebrou, os problemas tiveram início na área cambial, com deficits em transações correntes superiores a 4% do volume de riquezas produzidas no país. E o ano de 2015 já começou mal. Segundo previsão do Banco Central, janeiro deverá apresentar saldo negativo de US$ 10,8 bilhões. O quadro se torna mais preocupante porque o investimento estrangeiro direto, recurso que entra na economia para atividades produtivas, não tem sido suficiente para cobrir a necessidade de financiamento do país. No ano passado, ele encolheu em US$ 1,5 bilhão, totalizando US$ 62,5 bilhões. Com isso, o Brasil ficou mais dependente de capitais especulativos, aplicações de curto prazo na bolsa ou em títulos que podem sair rapidamente ao primeiro sinal de crise. No ano passado, elas chegaram a US$ 33,5 bilhões, ou 1,3% do PIB — a maior necessidade de financiamento externo em 18 anos. Esse tipo de vulnerabilidade é um problemão em tempos de incertezas como as que predominam atualmente na economia mundial. Ainda neste ano, é provável que os Estados Unidos aumentem as taxas de juros. A se confirmar esse movimento, a tendência é de que os recursos que hoje transitam pelos países emergentes, como o Brasil, migrem para a maior economia do planeta. A única notícia boa é que as portas do mercado internacional de crédito ainda estão abertas ao país. No ano passado, as empresas refinanciaram contratos e ainda conseguiram mais empréstimos. Com isso, a taxa de rolagem ficou em 153%. O chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Túlio Maciel, atribuiu o deficit histórico ao resultado negativo da balança comercial, de US$ 3,9 bilhões. Segundo ele, a queda no preço de produtos como minério de ferro, que perdeu 24% do valor de mercado, contribuiu para o recuo das exportações. Ele ainda detalhou que a alta de US$ 3,6 bilhões nas despesas com aluguel de equipamentos também foi determinante para o mau resultado das contas externas. A autoridade monetária projetava um deficit nas transações correntes de US$ 83,5 bilhões em 2014.

Riscos Maciel minimizou o fato de o rombo ter chegado a 4,17% do PIB, algo que não ocorria desde 2001. Ele comentou que, em termos qualitativos, as condições de financiamento não mudaram significativamente nos últimos dois anos. Com a expectativa de mais um ano ruim, o BC projeta que as transações correntes com o exterior terão deficit de 3,8% do PIB Continuação da Resenha Diária 24/01/15 25 em 2015. “O resultado se assemelha ao registado no fim da década de 1990. Naquele período, porém, o passivo era financiado mediante dívidas. Agora é por meio de investimento”, disse. Economistas independentes se mostram preocupados. O professor da Universidade de Brasília (UnB) José Carlos Oliveira avaliou que o deficit se deve a uma sucessão de falhas do governo nos últimos anos: a produção industrial e a inovação não foram incentivadas, a infraestrutura permaneceu obsoleta, as exportações esbarraram na burocracia e a carga tributária afastou investimentos. Na opinião do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) José Luis Oreiro, o deficit acima de 4% do PIB traz risco de crise cambial. Ele ressaltou que a possibilidade de rebaixamento da nota de crédito do país pelas agências internacionais pode acelerar esse processo. “Além disso, se os Estados Unidos subirem os juros, teremos uma fuga de capitais que provocará um estrago”, completou.

LAVA-JATO Clientes de Dirceu loteariam Pasadena Empreiteiras que pagaram por consultoria do ex-ministro seriam responsáveis por reformas na refinaria nos EUA. Negócio só não saiu do papel porque a Petrobras decidiu priorizar o pré-sal após a descoberta de jazidas JOÃO VALADARES

Depoimento prestado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa revela que as construtoras Odebretch e UTC, esta última cliente da consultoria do ex-ministro José Dirceu entre 2009 e 2013, seriam contratadas caso o processo de reforma e ampliação da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), fosse adiante. Conforme o delator, “a contratação, provavelmente, seria coordenada pela Diretoria de Serviços, ocupada por Renato Souza Duque”. Preso na Lava-Jato e solto por força de habeas corpus, Duque foi indicado para a diretoria em questão por Dirceu. A Polícia Federal suspeita que a JD Assessoria e Consultoria prestou serviços fictícios e teria função semelhante às empresas do doleiro Alberto Youssef. De acordo com as investigações da Operação Lava-Jato, a JD recebeu, entre 2009 e 2013, R$ 3,761 milhões das construtoras Galvão Engenharia, OAS e UTC Engenharia. Executivos das três empresas foram presos na sétima fase da Lava-Jato, deflagrada em novembro do ano passado. O termo de colaboração foi prestado por Paulo Roberto Costa em 7 de setembro do ano passado. No mesmo depoimento, o ex-diretor afirma que o acerto prévio foi informado a ele por Márcio Faria e Rogério Araújo, da Odebretch, e Ricardo Pessoa, da empreiteira UTC. À Polícia Federal, Costa deu a mesma versão do ex- diretor da Área Internacional Nestor Cerveró sobre a diminuição de investimentos na refinaria após a aquisição. Costa ainda declarou que, “depois da descoberta do pré-sal, a prioridade de investimentos passou a ser a exploração e a produção deste, e Pasadena ficou em segundo plano”. Segundo o ex-diretor, “houve orientação do Conselho de Administração para reduzir os investimentos na área externa”. Por isso, a reforma e a ampliação da refinaria não chegaram a ser realizadas. A Justiça Federal determinou a quebra do sigilo bancário e fiscal do ex-ministro, que cumpre pena, em regime aberto, por condenação no processo do mensalão. O petista é investigado na Operação Lava-Jato. Duque, que teria acertado a contratação antes mesmo de qualquer definição sobre a ampliação da planta em Pasadena, que poderia chegar a até US$ 2 bilhões, era “o homem do PT” na engrenagem da corrupção na Petrobras. O ex-gestor fez carreira na estatal. Engenheiro, entrou na empresa em 1978, mas foi no governo Lula, pelas mãos do ex- ministro José Dirceu, que alcançou o alto escalão da petrolífera. Em 2003, no primeiro ano do PT à frente do Palácio do Planalto, virou diretor e passou a chancelar contratos de empreendimentos bilionários, a exemplo da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. As investigações apontam que o ex-diretor fazia parte de um esquema que consistia no direcionamento de obras a um cartel das grandes empreiteiras, que inseriam sobrepreço nos contratos para depois distribuir comissões ao PT, ao PMDB e ao PP, que, inclusive, usaram o dinheiro na campanha eleitoral de 2010. Na Diretoria de Serviços, Duque fazia a ligação com o tesoureiro dos petistas, João Vaccari. Em depoimento à Justiça Federal, Paulo Roberto Costa citou nominalmente o então colega. “Na área de Serviços, era o diretor (Renato) Duque, que foi indicado, na época, pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu.” Ao lado de Paulo Roberto Costa, Duque era responsável por contratações e compras da petrolífera. No interrogatório na Justiça Federal do Paraná, Costa delatou que os pagamentos de propina de 3% destinados a políticos existiam em todas as diretorias.

Consultorias Ontem, em nota, a assessoria de José Dirceu comunicou que “a JD prestou consultorias às empresas UTC, OAS e Galvão Engenharia, conforme contratos, para atuação em mercados externos, sobretudo na América Latina e na Europa”. O ex-ministro ressalta que “a relação comercial com as empresas não guarda qualquer relação com contratos na Petrobras sob investigação na Operação Lava-Jato”. Dirceu ainda se colocou à disposição da Justiça para prestar qualquer esclarecimento. As empreiteiras citadas negam as irregularidades apontadas por Paulo Roberto Costa.

Continuação da Resenha Diária 24/01/15 26

LAVA-JATO Esquema tinha operador na Suíça Ex-diretor da Petrobras revela existência de um integrante da quadrilha que vivia no país europeu a serviço de Fernando Baiano JOÃO VALADARES

Em mais um termo de colaboração, prestado em 7 de setembro do ano passado, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa declarou que o esquema de corrupção na estatal contava com um operador na Suíça. Conforme informações do delator, Fernando Soares, mais conhecido como Fernando Baiano (apontado como o operador do PMDB no esquema), tinha um subordinado, chamado Diego, que morava no país europeu e vinha ao Brasil uma vez por ano para fazer a remessa ilegal de recursos desviados da Petrobras. “Diego era quem cuidava das operações financeiras no exterior, de interesse de Fernando Baiano”, afirmou Costa. No mesmo depoimento, o ex-diretor declarou que Baiano ofereceu US$ 1,5 milhão para não causar problemas na reunião de aprovação da compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. O valor foi disponibilizado por Baiano em uma conta do Vilartes Bank, na Suíça. Costa salientou que, nessa mesma conta, recebeu recursos da empreiteira Andrade Gutierrez. A construtora nega a informação. Procuradores de uma força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) estão na Suíça para tentar rastrear o caminho do dinheiro sujo repassado aos agentes públicos. Um dos principais objetivos é tentar reunir documentos para provar que a empreiteira Odebrecht pagou propina no exterior a Paulo Roberto Costa, como revelado por ele em depoimento prestado à Justiça Federal do Paraná. A empresa assegura que a informação não é verdadeira. O ex-diretor informou ainda que, a partir de 2008 ou de 2009, a cobrança de propina à Andrade Gutierrez passou a ser feita por Fernando Baiano, e não mais pelo doleiro Alberto Youssef. Segundo o delator, “isso significou que os valores pagos por aquela empreiteira passariam a ser destinados ao PMDB, que tinha em Fernando Baiano seu operador, e não mais ao PP”, destacou. Paulo Roberto Costa também contou à Polícia Federal que Nestor Cerveró, ex-diretor da empresa, o lobista Fernando Baiano e o PMDB podem ter recebido entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões de propina pela compra da Refinaria de Pasadena. Na quinta-feira, a defesa de um dos empreiteiros presos — Gerson de Mello Almada, da Engevix — acusou Costa de extorquir as construtoras para “gerar montantes” destinados a comprar o apoio dos partidos políticos que integram a base aliada do governo federal. “O pragmatismo nas relações políticas chegou a tal dimensão que o apoio no Congresso Nacional passou a depender da distribuição de recursos a parlamentares”, diz um trecho da defesa apresentada pelo advogado Antonio Sergio de Moraes Pitombo. Almada é acusado de participar de um cartel criado para superfaturar obras que tinham como cliente a Petrobras. No último sábado, a Justiça Federal no Paraná negou o terceiro pedido de habeas corpus ao executivo.

Lista A Justiça Federal do Paraná, à frente dos processos relativos à Operação Lava-Jato, encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) trecho da investigação em que o deputado Nelson Meurer (PP-PR) é relacionado em uma lista por supostamente ter recebido R$ 159 mil do esquema de corrupção. O material, com o laudo da Polícia Federal, foi encaminhado ao gabinete do ministro Teori Zavascki, relator no STF dos processos da Lava-Jato. Os lançamentos, feitos em 2008 e 2009, foram registrados em contabilidade do Posto da Torre, em Brasília, utilizado pela organização criminosa para lavagem de dinheiro. Até o fechamento desta edição, o Correio não havia conseguido entrar em contato com o parlamentar para que ele comentasse a denúncia.

APAGÃO HÍDRICO O sertão chega ao Sudeste brasileiro Enquanto governadores dos três estados mais populosos do Brasil tentam minimizar a grave falta de água nos sistemas de abastecimento, governo diz que pretende ajudar, além de contar com a ajuda dos céus GRASIELLE CASTRO JULIA CHAIB

A crise de falta de água enfrentada hoje pelos três estados mais populosos do país é a pior já vista. Desde que a série histórica passou a ser feita, há 84 anos, nunca choveu tão pouco em São Paulo, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. A situação “completamente atípica”, “sensível e preocupante”, nas palavras da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, levou o governo federal a reunir representantes de oito ministérios para fazer um diagnóstico dos reservatórios da região Sudeste e preparar medidas de socorro. Apesar da gravidade da situação, a ministra é otimista, pois há previsão de chuvas para os próximos 10 dias: “vamos ver a quantidade e se caem nos lugares corretos”. Na expectativa de uma ajudinha de São Pedro, o governo espera que os consumidores poupem água e energia. “Estamos no período de chuva. Vamos acompanhar e pedir a colaboração de todos para pouparem. É importante poupar água, poupar energia, porque nós precisamos ajudar em uma situação completamente atípica”, ressaltou Izabella. De acordo com a ministra, a Secretaria de Comunicação da Presidência prepara uma campanha de estímulo à população do uso racional de água. “O número que é apresentado de vazão no afluente, daquilo que chega no Sistema Cantareira, é de cerca de 7 metros cúbicos por segundo. Em condições normais, são 62 metros cúbicos por segundo.” Continuação da Resenha Diária 24/01/15 27

Ontem, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, anunciou que 50 cidades com sistema autônomo já estão em racionamento e a Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais (Copasa) fez um apelo para que a população economize pelo menos 30% de água. No Rio, o secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, disse que havia um plano de racionamento para o estado, caso fosse necessário. Entretanto, em seguida, o governador, Luiz Fernando Pezão, descartou o plano de contingência e somente pediu às pessoas que economizem água. Já São Paulo teve a interligação do reservatório Jaguari-Atibainha ao Cantareira incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A ação foi resultado de um pedido estadual ao governo federal. Izabella Teixeira afirmou que o Executivo não medirá esforços para ações deste tipo, mas fez questão de ressaltar que o governo não é responsável pelas ações de distribuição. Na última quarta-feira, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) informou que os reservatórios da capital não correm o risco de secar.

Previsão O período de seca que a região Sudeste enfrenta hoje é, para o professor da Universidade de Brasília (UnB) e ex- diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Oscar Cordeiro Netto, excepcional. “Mas se fosse há 50 anos, não sofreríamos assim”, analisa o engenheiro civil. Segundo ele, um dos fatores que poderia amenizar a situação é justamente o uso racional da água. “O que já é feito no Nordeste, que está acostumado a conviver com a seca. Lá há uma noção melhor de que a água é um recurso importante e que é preciso usar com parcimônia. Temos que aprender com eles”, acrescenta. O professor, entretanto, acrescenta que é fundamental que se atue no sentido de prever melhor as estiagens e gerenciar as barragens. Para o professor do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Universidade de Campinas (Unicamp), Hilton Silveira, a crise é resultado da falta de planejamento. “Faltou pensar no futuro. Quando se criou o Cantareira, havia uma população de 4 milhões de habitantes e hoje estamos com quase 12 milhões. Deveriam ter feito um estudo levando em conta o tamanho da população, a diminuição da água dos rios, a morte das nascentes, uma série de consequências”, avaliou. Silveira critica o fato de somente agora, diante da crise instalada, o assunto estar sendo tratado com mais seriedade.

Contradições brasileiras Enquanto o governo federal espera por chuvas nos reservatórios, três cidades brasileiras tiveram a situação de emergência reconhecida ontem pelo Ministério da Integração por causa do excesso de precipitações. Segundo nota da pasta, Rio Branco do Sul (PR) é castigada por chuvas intensas enquanto Novo Tiradentes e Uruguaiana, ambas no Rio Grande do Sul, sofrem com as enxurradas. A portaria, publicada no Diário Oficial da União de ontem, permite que as cidades solicitem recursos para reconstrução das áreas atingidas pelos desastres e para o restabelecimento de serviços essenciais.

Estiagem na tevê A situação da estiagem é tão preocupante que um dos programas de entretenimento da Rede Globo, o Big Brother Brasil, entrou na campanha pelo uso consciente da água. Cada integrante confinado na casa terá o limite de 110 litros de água para usar a cada dia. Quem ultrapassar o teto, estipulado pelo padrão da Organização das Nações Unidas como ideal para cada habitante do planeta, terá a água cortada e só poderá a usá-la novamente no próximo dia.

CONJUNTURA Ano começa com meta de inflação estourada O IPCA-15, considerado a prévia da carestia oficial, acumulou alta de 6,69% em 12 meses, o maior indicador desde novembro de 2011. No mês, aumentou 0,89% RODOLFO COSTA

O resultado da primeira prévia da inflação sob o comando do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mostra que o ano vai ser duro. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), subiu 0,89%, acima dos 0,79% registrado em dezembro e mais do que os 0,67% apontado no mesmo período do ano passado. O indicador de difusão da prévia de janeiro acelerou na comparação com dezembro. Segundo cálculos do Besi Brasil, o índice, que mede o quanto a alta de preços está disseminada, mostra que sete em cada 10 produtos e serviços pesquisados pelo IBGE aumentaram os preços — o índice atingiu 69,9% neste mês contra 64,4% de dezembro. Depois de o governo ter comemorado a carestia abaixo do teto da meta, de 6,5%, ao fim do ano passado, o custo de vida voltou a extrapolar. No acumulado de 12 meses, o indicador ficou cravado em 6,69%, o maior desde novembro 2011. Já a taxa mensal foi a mais elevada desde fevereiro de 2011, quando o avanço foi de 0,97%. Em seis das 11 capitais pesquisadas, a inflação ultrapassou o limite da meta. Com variação acumulada de 8,15%, em 12 meses, o Rio de Janeiro foi o líder do ranking em janeiro. Brasília apresentou a quarta maior alta: 6,88%. A pressão dos preços foi puxada, principalmente, pelo item carnes, que avançou 3,24% em janeiro — um aumento de 0,09 ponto percentual — e de grãos, que cresceu 6,04%. O grupo de alimentação e bebidas, responsável por 40% do IPCA-15 do mês, subiu 1,45%, pressionado também pelas variações do feijão carioca (24,25%), de batata-inglesa (32,86%) e do abacate (41,74%). Na avaliação de Flávio Serrano, economista-sênior do banco Besi Brasil, o fechamento da carestia oficial pode trazer uma taxa entre 1,20% a 1,25%. Caso se confirme esse patamar, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Continuação da Resenha Diária 24/01/15 28

Amplo (IPCA) terá o pior resultado para o mês desde 2003. A inflação, contudo, não deve ser atribuído à gestão de Levy. “O cenário de alta dos preços é um reflexo das políticas fiscal e monetária dos últimos 12 meses”, disse. Contudo, o ajuste fiscal anunciado pelo ministro da Fazenda, que prevê cortes em despesas e aumento de impostos, terá como reflexo a elevação do custo de vida. “As novas taxas do PIS e Cofins sobre os combustíveis vão gerar um impacto forte na inflação de fevereiro. Podemos ver alguma convergência a médio prazo, mas, a curto prazo, não há o que fazer. Os preços vão continuar elevados”, analisou Serrano. Em fevereiro, ele prevê uma inflação de 7,5% em 12 meses. No primeiro trimestre, a variação chegaria a 2,5%. Nas duas situações, os números também seriam os piores em 12 anos. O modelo de bandeiras tarifárias nas contas de luz já provocaram impacto no IPCA-15. O sistema de cobrança do gasto com usinas térmicas, que passou a vigorar no início do mês, pressionou a energia elétrica, que registrou alta de 2,60%. O resultado atingiu o grupo de habitação, que aumentou 1,23%. A conta de energia recebida em janeiro assustou a cozinheira Socorro Bezerra, 49 anos. “Até o ano passado, pagava cerca de R$ 55. Agora subiu para R$ 70”, reclamou. Para economizar, ela controla o consumo com eletrodomésticos e, quando pode, opta por produtos que usem outras fontes de energia. “Não abro mão do meu radinho de pilha”, disse.