PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

MARIANA SANDOVAL DE OLIVEIRA

O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS DA : ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS E DIPLOMACIA ECONÔMICA

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM ECONOMIA POLÍTICA

São Paulo

2013

MARIANA SANDOVAL DE OLIVEIRA

O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS DA CHINA: ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS E DIPLOMACIA ECONÔMICA

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM ECONOMIA POLÍTICA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE no Programa de Estudos Pós graduados em Economia Política, sob orientação do Professor Doutor Carlos Eduardo Ferreira de Carvalho.

SÃO PAULO 2013

Banca Examinadora

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AGRADECIMENTO

Neste momento, me passa um filme na cabeça, relembrando todos os momentos, conversas, participações em congressos e trocas de emails que, de algum modo, constituem este trabalho. Gostaria de agradecer e dedicar esse trabalho à minha família. Sempre tão presente em minha vida, me apoiando, dando força e compreendendo algumas ausências. Sem dúvidas, sem o grande esforço dos meus pais eu não estaria aqui, escrevendo os agradecimentos de uma dissertação de mestrado. E aos meus amigos, que são a minha segunda família, e sempre tentam me ajudar e compreendem a dificuldade e a dedicação que é preciso no mestrado. Agradeço ao professor Carlos Eduardo Ferreira de Carvalho pela orientação acadêmica, paciência e compreensão e dedicação na orientação deste trabalho. Também agradeço aos professores Joaquim Racy e Ricardo Sennes que na qualificação me deram sugestões e conselhos que ajudaram a concluir esse trabalho. E agradeço também a todos os professores, tanto da graduação como do mestrado, que sem eles eu provavelmente não seria o que sou hoje.

RESUMO

A dissertação analisará a internacionalização de um grupo de grandes empresas chinesas, com o objetivo de caracterizar seu processo de internacionalização e seus objetivos, com destaque para a pergunta: em que medida o processo pode ser explicado pelos padrões usuais de grandes empresas pelo mundo e em que medida o processo obedece, acompanha ou é condicionado fortemente por objetivos de Estado, como parte da diplomacia econômica chinesa. A hipótese é que a internacionalização de grandes empresas chinesas está orientada para garantir o acesso e o fornecimento de minérios, combustíveis e alimentos, questão vital para a segurança da China, além de viabilizar o domínio de processos tecnológicos complexos, tema de grande relevância nos objetivos de ascensão da China e de consolidação do seu desenvolvimento. A dissertação analisará também os instrumentos estatais de apoio à internacionalização de empresas da China, de modo a verificar sua relevância para o grupo de empresas chinesas. Pretende também analisar a diplomacia econômica chinesa e suas possíveis implicações para as estratégias de internacionalização de empresas.

Palavras-chave: China – diplomacia econômica - internacionalização de empresas – instrumentos estatais.

ABSTRACT

The dissertation will examine the internationalization of a group of major Chinese companies, aiming to characterize the process of internationalization and its goals and to answer to what extent the process can be explained by the usual standards of large companies around the world and to what extent the process follows, accompanies or is strongly conditioned by the state goals, as part of Chinese economic diplomacy. The hypothesis is that the internationalization of large Chinese companies are oriented towards ensuring access to and supply of ores, fuel and food, an issue vital to the security of China, as well as providing the domain of complex technological processes, a topic of great relevance to the objectives China's rise and consolidation of its development. The dissertation will also examine the instruments of state support for the internationalization of Chinese companies in order to determine their relevance for Chinese companies in the sample. It also seeks to examine China's economic diplomacy and its possible implications for the internationalization strategies of companies.

Key words: China – economic diplomacy - internationalization of enterprises – state instruments.

LISTA DE ABREVIATURAS

C&T Ciência e tecnologia CIPG China International Publishing Group CMN Companhia multinacional CNOOC China National Offshore Oil Corporation CNN Cable News Network CNPC China National Petroleum Corporation EMN Empresa multinacional ETN Empresa transnacional F&A Fusões e aquisições ICBC Industrial and Commercial IDE Investimento direto externo MOFCOM Ministério do Comércio da República Popular da China MOFTEC Ministério do Comércio Exterior e da Cooperação Econômica MRE Ministério das Relações Exteriores NDRC National Development and Reform Commission OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento econômico OEM Fabricação de equipamento original OMC Organização Mundial do Comércio PCC Partido Comunista Chinês P&D Pesquisa e desenvolvimento RMB Renminbi SAFE Administração Estatal de Câmbio Companhia petroquímica da China SGCC State Grid Corporation of China UNCTAD United Nations Conference on Trade and Development TICs Tecnologias de informação e comunicação TLC The creative life corporations

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...... 1 1 REFERÊNCIAS TEÓRICAS...... 3 1.1 Diplomacia econômica ...... 3 1.2 Teoria de internacionalização de empresas ...... 11 1.3 Relação com o governo ...... 30

2 O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS CHINESAS ..... 39 2.1 Histórico ...... 42 2.2 Central State-owned Enterprises ...... 49 2.3 Reformas e impulsos a internacionalização ...... 53 2.4 Governo ...... 56 2.5 O Processo de internacionalização ...... 61 2.6 Estratégias de desenvolvimento das empresas chinesas ...... 70 2.7 Empresas privadas ...... 74 2.8 Inovação, tecnologia de conhecimento ...... 75 2.9 Resumo e conclusões ...... 77

3 CASOS SELECIONADOS……...... 80 3.1 Grupos de empresas ...... 80 3.1.1 SINOPEC …………………………………….………………………..……… 81 3.1.2 STATE GRID ...... 84 3.1.3 Industrial and Commercial Bank of China …...... ……...……..…,… 88 3.1.4 China Contruction Bank ………………………..…………..……………….. 92 3.1.5 China Mobile Communications ………………………...………………….. 94 NOTAS FINAIS………………………………………………...... …… 97 REFERÊNCIAS ……………………………………………….…………………………… 103 ANEXO 1 ...... 113

INTRODUÇÃO

―Observe calmly; secure our position; Cope with affairs calmly; hide our capacities and bide our time; be good at maintaining a low profile; and never claim leardership.‖ Deng Xiaoping nos anos 1990, discutindo a atuação internacional da China.

A internacionalização de empresas da China representa um grande desafio analítico. São empresas de grande porte e sua presença afeta fortemente os mercados em que atuam. Além disso, por serem na maioria estatais, ou contarem com participação expressiva do Estado, e dada a natureza do regime político chinês, a internacionalização dessas empresas deve ser analisada também como parte da política de Estado. Assim, a expansão dessas empresas para o exterior deve ser analisada não apenas à luz das teses usuais sobre internacionalização de empresas, mas também como parte da diplomacia econômica do Estado chinês. Ou seja, pode-se presumir que sua estratégia inclui objetivos tipicamente empresariais e também objetivos de interesse estatal.

O trabalho aqui apresentado se justifica pela relevância de aprofundar a compreensão sobre os objetivos, a dinâmica e as implicações da crescente atuação internacional de grandes empresas chinesas, tema de grande interesse não só para o Brasil, mas para o mundo. O estudo dos investimentos externos chineses também fornece uma oportunidade para avaliar a política go out, adotada pelo país para incentivar suas empresas a investirem no exterior e assim, obter os recursos que o país precisa para se manter crescendo. Essa política direciona investimentos para empresas que possuem valor estratégico para o país, em que a rentabilidade pode não ser um critério decisivo. Ainda assim, é possível argumentar que há também objetivos tipicamente empresariais em muitos desses casos, já que a internacionalização dessas empresas pode estar voltada também para o aumento de mercado, aprendizagem e aquisição de empresas no exterior, concorrentes ou detentoras de conhecimentos de mercado e de tecnologia, como é usual nas estratégias de empresas que decidem atuar no exterior.

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Desde o começo da política de abertura chinesa, há mais de 30 anos, o país têm explorado suas vantagens comparativas em produção e em mercado potencial, e assim, atraíram multinacionais de países desenvolvidos para investir na China. Esses investimentos têm contribuído para a reestruturação da economia do país, permitindo que as empresas chinesas entrem nas cadeias de suprimentos globais. Esses investimentos também aumentaram os padrões das empresas chinesas para níveis internacionais, possibilitando a China a ser um ator importante na economia mundial. Há um pouco mais de 10 anos, porém, a política de atrair investimentos para a China se enfraqueceu e precisou de complementos, com isso, as empresas chinesas passaram a sair da China e, ativamente, participar da economia global.

Atualmente, muitas dessas empresas são players relevantes no cenário internacional e precisam ser estudadas tanto por seu tamanho como por seu tipo de formação, que é diferente das grandes multinacionais ocidentais. Por esse motivo, as empresas aqui estudadas estão no grupo das maiores empresas do mundo e além de serem empresas altamente estratégicas para o governo do Partido Comunista Chinês, já que sua maioria é estatal. Por causa disso, sua internacionalização faz parte das necessidades chinesas, estando presente na diplomacia econômica e comercial do país. Assim, seu estudo e sua compreensão são fundamentais para entender algumas políticas econômicas chinesas.

Assim, para ser definido como se dá o processo de internacionalização dessas empresas, primeiramente, haverá uma breve exposição das teorias de diplomacia econômica, já que as empresas escolhidas são as empresas estratégicas do país, e também uma exposição das teorias de internacionalização e investimento direto externo (IDE); e, por causa do influente papel do governo nesse processo, também serão expostas teorias que explicam esse relacionamento. Na segunda seção será feita a exposição do caso chinês, seu histórico, o papel do governo, as empresas privadas, entre outras especificações desse caso. Na terceira seção será escolhido um grupo de empresas chinesas que pertencem à lista das central state-owned enterprises para entender empiricamente o processo e determinar as especificidades chinesas.

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1 REFERÊNCIAS TEÓRICAS

1.1 Diplomacia econômica Diplomacy has become much complex and unexpected, which necessarily gives to this Field new and motivating challenges to respond in a proactive way (…). Economic diplomacy is no longer operating on a single government level, but has become multi-level, i.e, supra-national, national and sub-national (PARREIRA, 2005, p.1).

Ao longo da história, as relações formais externas entre países têm sido monopolizadas em nível de Estados. Os interesses econômicos dos países no exterior até as duas primeiras décadas do século 20, com algumas exceções, foram baseados, principalmente, na competição para a expansão territorial e menos baseados na competição por mercado. A diplomacia comercial não nasceu ontem, mas, como o resto das atividades diplomáticas, foi baseada, quase que exclusivamente, em interações bilaterais até a Primeira Guerra Mundial. No entanto, durante o período entre as duas guerras, os Estados começaram a desenvolver uma nova forma de diplomacia - a diplomacia multilateral. A criação dessa plataforma multilateral como uma esfera diplomática relevante teve dois objetivos principais: em primeiro lugar, evitar que outras guerras de dimensão mundial ocorressem e, em segundo lugar, começar a regular e estimular os mercados internacionais a retornar a um ambiente de confiança econômica que permitiria um crescimento econômico estável (PARREIRA, 2005, p.2). Assim, surgiu um modelo mais multivariado, complexo e interdependente, mas também, mais completo, permitindo a realização de uma posição favorável no longo prazo. Então, o que era uma vez a diplomacia comercial como parte de uma percepção mais nobre - relações políticas - ao longo do século 20 foi progressivamente mudado para um modelo de diplomacia econômica, no sentido amplo do termo. Nas últimas décadas do século 20, em particular nos anos 1990, com a aceleração da globalização e da ocorrência de vários eventos de repercussão em escala global, os aspectos econômicos vieram muito mais para a frente na arena política internacional (PARREIRA, 2005, p.2-3).

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Estas realidades vêm pressionando para uma mudança de análise de uma visão de mundo essencialmente centrada na geopolítica para uma mais focada na geoeconomia. Além disso, todas as mutações profundas que estamos vivendo também estão afetando as definições e práticas da diplomacia econômica tradicional (PARREIRA, 2005, p.3). De acordo com Saner e Yiu (2001, p.3), a diplomacia moderna, como definida pelo trabalho de Ernest Satow, diz respeito a ―application of intelligence and tact to the conduct of official relations between governments of independent states‖. Nessa definição está implícito o entedimento de que a diplomacia é o domínio praticamente exclusivo dos Ministérios das Relações Exteriores (MREs) de cada país. Nesse sentido, imprime-se a ideia de que tradicionalmente a diplomacia ―has been the prerogative of ambassadors and envoys representing MOFAs (Ministry of Foreign Affairs) and central government offices and their mandate were confined to the affairs of the state.‖ (SANER; YIU, 2001, p.36). Há então a necessidade de alargar a definição de diplomacia. Como sugere Melissen (1999, p.XVI–XVII), ela pode ser ―defined as the mechanism of representation, communication and negotiation through which states and other international actors conduct their business‖. Essa definição capta melhor a simultânea participação de múltiplos Estados e demais atores nas relações diplomáticas, aceitando-se que elas podem ser formuladas e executadas tanto por meio de outras agências do Estado (como Ministérios da Indústria, Economia e outros), como por atores fora do controle estatal. É preciso reconhecer, no entanto, que esses diferentes atores vão exercer formas diferentes de diplomacia. Agora, com essas mudanças, é possível verificar esta nova definição:

In the new era of economic diplomacy, diplomacy itself is no longer an exclusive function of the central states/governments in the management of relations among states and other actors. It is now a ‗shared‘ task, whether in coordination or not, among central and local governments with other national and international actors (PARREIRA, 2005, p.3).

A diplomacia econômica, de acordo com a definição apresentada por Saner e Yiu (2001, p.13):

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is concerned with economic policy issues, e.g. work of delegations at standard setting organizations such as WTO and BIS. Economic diplomats also monitor and report on economic policies in foreign countries and give the home government advice on how to best influence them. Economic Diplomacy employs economic resources, either as rewards or sanctions, in pursuit of a particular foreign policy objective.

Segundo Mongiardim (2007, p.26), a diplomacia econômica se caracteriza por atividades diplomáticas oficiais focadas em aumentar as exportações, atrair investimentos estrangeiros, participar nos trabalhos das organizações econômicas internacionais, ou seja, as atividades se concentram no reconhecimento dos interesses econômicos do país em nível internacional.

Na estrita esfera econômica, o primado da ação não é mais baseado em uma primeira ordem – Estado-Estado - relegando para uma segunda ordem - Estado e outros atores. A ação dos agentes públicos é agora mais do que nunca concentrada nas empresas, em uma nova compreensão da importância relevante de outros atores não-estatais, que não necessariamente precisam ser internacionalizados (PARREIRA, 2005, p.6). Mesmo dentro dos países, empresas ou grandes marcas estão usando estratégias diplomáticas apoiadas pelos governos locais ou centrais, a fim de serem mais persuasivas (PARREIRA, 2005, p.16). No entanto, como sugere a simples observação da realidade, no cenário das relações internacionais atuais, a diplomacia ficou mais porosa às influências de outros atores e instituições. No contexto de maior interdependência econômica e de novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) é possível que as pessoas, empresas e outras organizações (inclusive de dentro do seio do próprio Estado) estabeleçam relações além-fronteiras que antes eram privilégios dos quadros diplomáticos mais altos. Há uma variada literatura que discute os tipos de diplomacia existentes e os atores e forças prevalecentes em cada uma delas. Neste trabalho, o nosso foco é na diplomacia realizada pelos atores estatais com o intuito de avançar os interesses econômicos do país, portanto o trabalho seguirá a partir da conceituação e discussão da diplomacia econômica e comercial, que são consensualmente definidas pela literatura como diplomacias realizadas por meio de atores estatais.

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O aumento do papel da diplomacia econômica no moderno sistema econômico internacional é promovido por diversos fatores: processo de internacionalização e reforço da interdependência movendo-se em dois planos – interação global e regional; expansão rápida da economia de mercado, liberalização das economias nacionais e a sua interação através do comércio e investimentos internacionais; globalização da economia mundial; adoção dos métodos de gestão progressista, eficiência energética e novas tecnologias, de modo que os investimentos estrangeiros garantam o desenvolvimento da cooperação entre os países e organizações internacionais; e avanço de inovações para a economia do país e abertura ao exterior (BARANAY, 2009, p.4-5).

Dentro do escopo da diplomacia econômica pode-se destacar a comercial. Enquanto os objetivos da primeira são de âmbito mais geral, a segunda visa oferecer uma ajuda mais específica para o desenvolvimento econômico nacional, na forma, por exemplo, de assessoria para a exportação e assistência legal para a internacionalização das empresas nacionais, incluindo também suporte para a implantação de subsidiárias e filiais. A atividade comercial sempre foi importante na área diplomática, seus métodos, meios e objetivos, porém, foram definidos somente recentemente. A melhoria das relações comerciais e econômicas entre os países nunca estiveram tão no centro da ação diplomática como nos últimos anos.

De acordo com Saner e Yiu (2001, p.13), a diplomacia comercial: describes the work of diplomatic missions in support of home country´s business and finance sectors in their pursuit of economic success and the country´s general objective of national development. It includes the promotion of inward and outward investment as well as trade. Important aspects of a commercial diplomats´ work is the supplying of information about export and investment opportunities and organizing and helping to act as hosts to trade missions from home. In some cases, commercial diplomats could also promote economic ties through advising and support of both domestic and foreign companies for investment decisions. Ou ainda, de acordo com Narray (2008, p.2), a diplomacia comercial é aquela ―conducted by state representatives with diplomatic status in view of business promotion between a home and a host country‖, o que pode ocorrer através de uma série de instrumentos de promoção dos negócios e facilitação das atividades externas das empresas. 6

A diferença entre os dois tipos de diplomatas, o econômico e o comercial, é que o primeiro tende a focar sua ação mais na representação do país per si, atuando em foros multilaterais e agindo no seio das embaixadas e consulados, já o segundo tende a atuar mais na defesa dos interesses das empresas e outras organizações comerciais do país. Enquanto o diplomata econômico se relaciona com as representações diplomáticas do outro país e estrutura o processo de negociação nas organizações internacionais reguladoras, o comercial se relaciona com empresas, câmaras de comércio e associações similares, tanto do seu país de origem como do de destino, objetivando expandir mercados e facilitar a entrada de exportações e investimentos. Nesse sentido, Saner e Yiu (2001, p.21) definem: CD= Commercial Diplomat - Diplomat who represents interests of his country, provide services to enterprises (safeguards interests of national companies abroad and attracts FDI to his country) and reports to MOFA or MOEA, who might be stationed at embassies abroad or operate out of National Capital. ED= Economic Diplomat - Diplomat who represent his country in other countries (Embassy, Consulate) or at economic or financial UN organisations (WTO, IMF, WB), follows/influence other countries´economic policies, and reports to MOFA, MOBA or Presidency.

Com o crescimento da importância do comércio e do investimento direto externo (IDE) para o desenvolvimento econômico nacional, os governos têm aumentado os seus esforços para desenvolver a diplomacia comercial nos mercados que consideram relevantes. De acordo com Saner e Yiu (2001) e Narray (2008) os diplomatas comerciais incluem desde servidores civis até diplomatas especificamente treinados para este fim, sendo que algumas tarefas de promoção dos negócios podem também acontecer por meio de instituições ―não-diplomáticas‖, como organizações de promoção ao comércio, câmaras de comércio ou por consultores que trabalham com ou sob supervisão dos diplomatas comerciais. De acordo com Barral e Gama (2012, p. 95), a diplomacia comercial pode ser desenvolvida em três grandes áreas: 1) a inteligência comercial. ―mediante a coleta, análise e disseminação de informações sobre os mercados (...), identificação de nichos inexplorados, potencial de exportações e investimentos, características locais, arcabouços regulatórios, etc‖; 2) a ―promoção no exterior de bens, serviços e oportunidades de investimentos, através da organização de missões empresariais, 7

seminários, feiras, eventos temáticos ou sociais, workshops, almoços, entre outros.‖ e; 3) a ―defesa direta dos interesses comerciais de determinado setor, grupos ou mesmo companhias específicas‖. As áreas citadas incluem, seguindo o raciocínio de Barral e Gama (2012), atividades de promoção comercial de bens e serviços, proteção de direitos de propriedade intelectual, cooperação em C&T, promoção da marca país e imagem corporativa e promoção de IDE. Narray (2008, p.4) acrescenta que a rationale da diplomacia comercial inclui ainda, entre outros, preocupações estratégicas, ―such as government desire to engage in strategic trade policies, support for R&D activities or improved access to (energy) supplies‖.

Um interessante enfoque sobre o tipo de diplomacia praticado pelo governo chinês na última década é a análise de Cabestan (2009, p. 86-87) sobre o que pode ser chamado de diplomacia corporativa. Durante o governo de Hu Jintao, governos locais e em particular autoridades provinciais e de grandes cidades estão desenvolvendo seus próprios relacionamentos internacionais. As agências do governo central que lidam com outros países são representados localmente e seguem uma política oficial uniformemente implementada que busca satisfazer seus interesses, sejam econômicos, ambientais ou sociais. Essas agências locais estão, porém, cada vez mais aumentando consideravelmente seus relacionamentos externos e utilizando termos como parceiras ou subsidiárias para designar essas relações em determinadas regiões e países específicos. Essas agências foram encorajadas a contribuir mais para a internacionalização do país e para a implementação da política externa.

Pode-se dizer que o conteúdo da diplomacia econômica chinesa está intimamente ligado à ascensão da China nas relações internacionais. Como analisa Deng (2008), três aspectos têm caracterizado a política externa chinesa no período pós-guerra fria: 1) a necessidade de se combater o ―medo‖ do mundo com relação à China, uma vez que esse medo dificultaria a criação do ambiente internacional necessário para o fortalecimento das reformas domésticas e do reconhecimento internacional que a China aspira a ter; 2) a busca do sucesso diplomático, uma vez que há a percepção por parte do governo chinês de que as reações positivas com relação à

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ascensão chinesa dependem em grande medida das próprias decisões da China; 3) a criação de um caminho alternativo para o reconhecimento do país como grande potência, garantindo que a China ascenda positiva, segura e pacificamente com relação ao mundo político. Nesse sentido, a ideia que tem guiado a política externa chinesa é fartamente discursada pelos políticos chineses no uso de expressões como ―poder responsável‖, ―ascensão pacífica‖, ―paz e desenvolvimento‖, ―multipolarização‖, ―mundo multicolorido‖, ―desenvolvimento pacífico‖, ―mundo harmonioso‖, etc. (DENG, 2008, p. 3-4). Por meio dessas expressões busca-se articular as aspirações chinesas de ascensão com a ideia de responsabilidade, desenvolvimento e paz. Destaca-se que nas últimas décadas, as definições mais rígidas de independência e soberania nacionais foram reconfiguradas e seguiram seu rumo para se tornarem compatíveis com instituições multilaterais e com o caráter interdependente dos relacionamentos que caracterizam as relações internacionais contemporâneas. Na essência dessas modificações, Deng (2008) aponta a preocupação dos líderes do Partido Comunista Chinês (PCC) na criação de um ambiente internacional condutivo para a sua agenda doméstica de sustentação do crescimento econômico (direcionado pelo Estado e de reformas gradualistas). A questão colocada aos líderes políticos chineses, como coloca Deng (2008, p.2), é como a China pode pavimentar um caminho para um status de grande potência em uma hierarquia internacional dominada pelo ocidente e reforçada pela hegemonia norte-americana, que são fortes o suficiente para tornar inimaginável uma reestruturação radical ou uma ordem mundial alternativa. Desse modo, mesmo defendendo um caráter reformista, a China tenta se ascender jogando com as regras dadas, mantendo e criando um ambiente internacional que permita ao PCC continuar suas reformas em casa, aumentar o poder e o reconhecimento da China no exterior e reassegurar aos ―outros‖ que o país não constitui uma ameaça, enquanto isso, o país faz crescer sua influência na Ásia e em outros continentes. Ao mesmo tempo em que a China defende seus interesses por meio da participação na ordem internacional que já está colocada, ela está ciente também que a dominância do ocidente não é condiz com o avanço do status do país

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para a esfera das grandes potências, por isso busca avançar seus interesses nos mais diversos continentes e apoiar a multipolarização das relações internacionais. A diplomacia econômica chinesa deve ser entendida como parte dessa grande estratégia desenhada pela China para coordenar sua ascensão, atendendo aos objetivos estratégicos de criar um ambiente internacional favorável para a emergência chinesa, criando novos parceiros e ajudando a diluir o ―medo‖, e provendo os mercados e os recursos necessários para a manutenção do crescimento econômico que permite ao PCC manter uma política econômica doméstica dirigida pelo Estado e de reformas graduais. Nesse sentido, a diplomacia comercial tem-se mostrado um importante instrumento quando se trata de criar e expandir mercados para os produtos chineses e para as empresas chinesas investirem. Como é sabido, a China tem buscado por meio da diplomacia econômica e comercial assegurar fontes de matéria prima e energia ao redor do mundo, consideradas essenciais para a manutenção do seu crescimento econômico: An unprecedented need for resources is now driving China's foreign policy. A booming domestic economy, rapid urbanization, increased export processing, and the Chinese people's voracious appetite for cars are increasing the country's demand for oil and natural gas, industrial and construction materials, foreign capital and technology.(…) These new needs already have serious implications for China 's foreign policy. Beijing's access to foreign resources is necessary both for continued economic growth and, because growth is the cornerstone of China's social stability, for the survival of the Chinese Communist Party (CCP) (ZWEIG; JIANHAI, 2005).

Desde 1999 as importações chinesas em variados setores vêm crescendo expressivamente, destacando-se a partir de 2003 um aumento expressivo na compra de combustíveis e minerais. Segundo a OMC (2010), 24,9% da pauta importadora chinesa é de combustíveis e produtos minerais. Esse aumento de importações foi, entre outras razões, devido ao aumento do déficit de fontes de energia da China, sobretudo do petróleo. Entre 1991 e 2006, o consumo dos chineses, em todas as fontes de energia, cresceu 5,9% a.a., enquanto que sua produção cresceu somente 4,8% a.a. (NATIONAL BUREAU OF STATISTICS OF CHINA, 2010). Com isso, a demanda de

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petróleo do país passou a constituir uma parcela expressiva da demanda global por esse produto. Desse modo, pode-se sugerir que a diplomacia econômica chinesa, bem como sua vertente comercial, tem procurado direcionar ações para garantir o acesso aos recursos que considera necessários para a manutenção do seu desenvolvimento, destacando-se dentre eles o petróleo.

1.2 Teoria de internacionalização de empresas

O contexto internacional contemporâneo propicia um intenso debate acerca da globalização e da internacionalização de empresas e de mercados, resultando assim, em mudanças organizacionais, em oportunidades mercadológicas decorrentes da difusão de investimentos e novas tecnologias e, especialmente, em novas práticas de gestão nos âmbitos público e privado (GUEDES, 2007, p.XV).

A expansão dos fluxos de investimentos diretos entre os países no pós-Segunda Guerra atraiu a atenção de poucos acadêmicos para o fenômeno da internacionalização de empresas, já que exportação, IDE, transferência de tecnologia e gestão de empresas transnacionais não eram considerados pesquisas acadêmicas. O interesse acadêmico e gerencial pelo âmbito dos negócios internacionais cresceu rapidamente, sem levar em conta, porém, as respostas das firmas para políticas nacionais e ações governamentais (GUEDES, 2007, p. 1).

Na vasta literatura com foco nas empresas multinacionais, produzida a partir da década de 1990, encontram-se pesquisas sobre os atributos que diferenciam essas empresas das empresas domésticas (SUNDARAM; BLACK, 1992), que identificam as relações das multinacionais com os governos (GROSSE; BEHRMAN, 1992; DUNNING, 1998; GROSSE, 2005), que tratam do poder relativo dessas corporações na economia mundial (GILPIN, 2001; STRANGE, 1994; SKLAIR, 1998), e que analisam seus impactos na difusão da ideologia de consumo de massa (SKLAIR, 2001).

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Para começar o estudo sobre as teorias de internacionalização de empresas é preciso, primeiramente, definir as diferentes nomenclaturas que existem sobre empresas. Segundo Contractor (2000), há uma diversidade de terminologias aplicadas aos diferentes tipos de organizações: o termo internacional é amplamente usado para descrever qualquer empresa com operações em mais de uma nação; multinacional para descrever uma federação de corporações semi-autônomas sob a propriedade de uma empresa cujas ações são negociadas principalmente em uma nação; globais para empresas com elevado grau de integração; finalmente, transnacionais são descritas como empresas que procuram equilíbrio entre as forças de integração global e de adaptação nacional.

O estudo das multinacionais levou pesquisadores a identificar os motivos para a expansão para o exterior de uma empresa: (i) busca de novos mercados, (ii) busca de recursos no mercado estrangeiro, (iii) busca de conhecimento especializado, (iv) redução de risco e (v) manobra competitiva no âmbito global (MARIOTTO, 2007, p.7-9).

A entrada e a operação em outros países acarretam custos maiores às empresas, em comparação com a atuação no mercado interno. Se existisse concorrência perfeita, mobilidade completa dos fatores e tecnologia disponível no mercado internacional, não haveria incentivo para a internacionalização da produção e as empresas locais seriam tão competitivas quanto as estrangeiras. Quando há custos de entrada e de saída e outras imperfeições de mercado, é necessário que a empresa possua algum tipo de vantagem específica à propriedade, que permita a obtenção de lucro que compense o custo adicional de participação no mercado externo. A vantagem específica à propriedade consiste na posse ou disponibilidade de capital, de tecnologia e de recursos gerenciais, organizacionais e mercadológicos (BRASIL, 2009, p.8).

As empresas possuem diversos modos de participar de negócios internacionais, incluindo importação e exportação, licenciamento, franquia, contrato de gestão, joint venture, investimento direto e investimento de carteira (investimento em ativos de empresas em mercados externos, porém sem o controle delas) (MARIOTTO, 2007, p.10).

As operações internacionais de uma empresa podem limitar-se a transações comerciais por um tempo indefinido. Frequentemente, porém, importações ou exportações são um primeiro passo da empresa em um processo de seu envolvimento crescente com mercados estrangeiros.

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Se ela chegar a fazer um primeiro investimento direto em instalações produtivas no exterior, se tornará uma empresa multinacional (EMN). Esse processo pode evoluir até o estabelecimento de subsidiárias em vários países. A esse processo de envolvimento crescente da empresa em operações internacionais denominamos ―internacionalização‖ (MARIOTTO, 2007, p.34). As grandes corporações possuem grande poder de interferência na economia, na política e no desenvolvimento da sociedade de diversos países por pressionarem seus governos a dificultar a ação de sindicatos, a realizar investimentos subsidiados e a oferecer uma infraestrutura necessária às suas atividades. Além disso, o quadro é favorecido pela captura das agências reguladoras para atender aos interesses privados. Quando essas grandes empresas cruzam fronteiras e se expandem para além de um campo, as pressões isomórficas fazem com que outras companhias as sigam (GUEDES, 2007, p. 72).

Há dois fatores essenciais para a internacionalização de uma empresa: o tamanho do mercado interno, em relação à escala de produção e ao escopo de operação e o setor industrial da empresa, por exemplo, empresas de petróleo se internacionalizam em busca de recursos naturais, enquanto de telecomunicações atendem ao mercado interno. No entanto, de Acordo com Sklair (2001), esses fatores não justificam os processos de globalização das empresas atuais, já que envolvem questões mais complexas que reunir capacidades locais. É imprescindível desenvolver e estabelecer estratégias globais que promovam inovações econômicas, organizacionais, políticas, culturais e ideológicas.

As estratégias de internacionalização de empresas não levam unicamente em conta os fatores externos para a obtenção de resultados. Elas também se inserem no contexto mais geral da política econômica e industrial do país. A interação entre as estratégias dos governos, de promover o desenvolvimento econômico, e as estratégias das empresas, de expansão no mercado internacional, pode resultar em soluções de questão prementes que lhes permitam alcançar tais objetivos (BRASIL, 2009, p.5). É possível verificar uma grande variedade de tipos de acordo de cooperação formais e informais entre empresas ao redor do mundo, que vão desde arranjos com menor comprometimento entre as partes até arranjos de grande envolvimento. Entre os de menor comprometimento estão contratos de treinamento técnico e acordos de produção; entre os de maior envolvimento estão os acordos de pesquisa conjunta e as 13

joint ventures. Os motivos mais frequentes que levam as empresas a entrarem em uma aliança estratégica são: complementaridade tecnológica (41%), transferência de tecnologia (29%), acordo de marketing (21%), economias de escala (16%) e compartilhamento de risco (14%) (MARIOTTO, 2007, p.98-103).

Por mais que haja uma grande influência do governo chinês na internacionalização de empresas, causando especificidades ao caso da China, é necessário entender as noções básicas sobre o processo de internacionalização de empresas para compreendê-lo. Internacionalizar empresas compreende a instalação de unidades produtivas e mesmo de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no exterior. Ela pode ocorrer de formas variadas como por meio da exportação ou do IDE.

1.2.1 Exportação

A internalização ocorre quando uma empresa internaliza sua produção em outro país, podendo ocorrer de duas maneiras: exportações ou IDE. Nesta seção será explicado o primeiro tipo, a exportação, este trabalho, porém será focado em IDE. A internalização por meio da exportação ocorre quando a produção é efetuada em um país e vendida a compradores de outros países. De acordo com Cerceau e Tavares (2002), a exportação pode ser entendida como a atividade voltada para o mercado externo, desenvolvida pela organização quando não há implantação estável e permanente no exterior sob forma de subsidiária ou filial. As exportações se caracterizam por uma demanda pequena de capital e são relativamente simples de serem iniciadas, mas representam uma boa forma de adquirir experiência internacional (JAIN, 1990).

Segundo Kotler e Keller (2006), as exportações podem ser (1) diretas, quando a empresa decide ela mesma gerenciar o seu processo de exportação, ou (2) indiretas, quando a empresa se utiliza de intermediários, dos quais são exemplos trading companies e/ou empresas âncoras, para realizar suas exportações.

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Kotler e Keller (2006) explicam que existem vantagens e desvantagens nos dois tipos de exportações: enquanto a indireta envolve riscos menores, a direta aumenta o retorno potencial da operação, tanto em termos financeiros, como em termos de aprendizado. Os obstáculos gerais às exportações, no entanto, residem na distância física e cultural que por vezes separa os exportadores de seus mercados externos, além dos aspectos legislativos e de proteção dos países compradores.

De acordo com Jain (1990), além dessas duas primeiras formas de exportação, há ainda uma terceira, a exportação cooperativa ou piggyback. Esse tipo de exportação ocorre quando uma empresa exportadora utiliza a rede de canais de distribuição de outra empresa local para vender seus produtos no mercado externo. Para isso ser feito, as linhas de produtos distribuídas dessas diferentes empresas precisam se complementar e serem atribuídas ao mesmo tipo de consumidor. Com esse tipo de exportação, os custos e os investimentos são relativamente menores e a organização consegue dispor de mais controle sobre seus produtos no exterior.

Para os países onde se localizam as matrizes das empresas exportadoras são identificadas inúmeras vantagens, como aumento das atividades econômicas e do nível de emprego, melhor desempenho da balança comercial e melhora na competitividade geral das empresas e do país, uma vez que a internacionalização de algumas empresas abre caminho para que outras também exportem ou mesmo realizem investimentos (IGLESIAS; VEIGA, 2002), e auxilia no desenvolvimento de vantagens competitivas. (IGLESIAS; VEIGA, 2002, DUNNING; KIM; PARK, 2008, RUGMAN, 2008).

Nas atividades de exportação indireta, por exemplo, uma empresa pode internacionalizar sua produção por meio de um agente de comércio exterior ou uma trading, que adquire a sua produção e se encarrega de internacionalizá-la, sem praticamente nenhum envolvimento com o produtor. Há, porém a possibilidade de envolver-se mais diretamente com a atividade de exportação, encarregando-se ela própria de prospectar os mercados externos, negociar diretamente com o importador e encarregar-se de todos os procedimentos administrativos e legais necessários para a operação. Outra forma ainda é estabelecer escritórios de representação no exterior ou

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criar subsidiárias da própria empresa que se encarreguem das atividades externas, nos moldes de uma divisão internacional (MARRA DE SOUZA, 2012, p.27).

1.2.2 Investimento direto externo (IDE)

As empresas multinacionais, no pós-Segunda Guerra Mundial, eram poucas, mas passaram a se multiplicar e a ter, cada vez mais, um peso significativo nos negócios internacionais. Assim, o estudo sobre os IDEs feitos por essas empresas passou a gerar um grande interesse. No começo, os economistas recorreram à teoria neoclássica da arbitragem de fluxos de capital, que rezava que o capital devia fluir de nações onde o retorno sobre o investimento era baixo para nações onde ele era mais alto. O investidor, assim, auferia rendas de arbitragem e contribuía para a distribuição mais eficiente de recursos. A teoria, porém, era usada para explicar investimentos na forma de portfólio e não de IDE. O tema do investimento internacional decorre da mobilidade do capital, que, nas teorias clássicas de comércio exterior, era suposto fixo. Foi a movimentação do capital entre países que permitiu o investimento direto ao redor do mundo (GUEDES, 2007, p.80).

O IDE é uma parte importante relacionada ao movimento internacional de capitais. Por esse conceito, segundo Krugman (2009, p. 123) entendem-se ―os fluxos internacionais de capitais pelos quais uma empresa de determinado país cria ou expande uma filial em outro país‖. Esse tipo de investimento não envolve somente uma transferência de recursos, mas também a aquisição do controle da filial, que se tornam parte da mesma estrutura organizacional. Um dos pontos principais do IDE é que ele permite a formação de organizações multinacionais. Na prática, os estudiosos possuem opiniões bem controversas no que diz respeito a essas organizações, para muitos são elogiadas por gerar crescimento econômico e por outros são acusadas de gerar mais pobreza. Krugman (2009, p. 123) diz que:

O que as empresas multinacionais fazem ao criar organizações que se estendem além das fronteiras nacionais é semelhante aos efeitos do comércio e da mobilidade simples de fatores – isto é, trata-se de uma forma de integração econômica internacional. 16

Já faz muito tempo que os países desenvolvidos entendem a grande necessidade da saída de IDE para aprimorar a competitividade e o desempenho de suas empresas e de sua economia nacional. Para isso, esses países não somente liberalizaram praticamente toda sua política de saída de IDE, como também criaram um conjunto de ferramentas para ajudar suas empresas a investirem no exterior.

O IDE originário dos mercados emergentes não é algo novo, é, porém, pouco significativo se comparado aos dos países desenvolvidos porque tipicamente enfrentam insuficiência cambial e limitações de capital. Entretanto, o IDE realizado pelos países emergentes nos últimos anos vem crescendo exponencialmente. Esse crescimento manifesta o desejo das empresas se tornarem mais competitivas e de o governo melhorar o empenho de sua economia, diversificando geograficamente sua carteira de ativos locacionais, que devem grande parte do seu valor ao local onde as empresas se fixam. Para acessar mercados e concorrer com as empresas do mundo desenvolvido, empresas dos países emergentes usam principalmente fusões e aquisições.

Quando uma empresa se internacionaliza por meio de IDE, ela passa a gozar de diversas vantagens que aumentam sua competitividade. De acordo com a UNCTAD, algumas dessas vantagens são:

Redução de custos com a internacionalização das atividades em uma empresa transnacional, permitindo aos membros do sistema acesso privilegiado aos recursos proprietários da empresa; menores custos transacionais; melhor alocação de recursos e especialização; divisão de trabalho internacional intrafirma; e economias de escala e escopo; acesso privilegiado de subsidiárias estrangeiras, através de ligações a montante com um pool mais amplo de ativos e de experiência; uma base mais ampla de recursos financeiros, devido ao acesso a mercados maiores; resistência a choques — por exemplo, mudanças cambiais ou condições cíclicas — aumenta com diversificação interfronteiras dos ativos ‗locacionais‘ e as vantagens de uma atuação internacional ativa através de mais de uma modalidade (UNCTAD, 1995 p.131). Ao liberalizarem e incentivarem a saída de IDE, um dos objetivos do governo é justamente eliminar essa desvantagem e permitir que suas empresas também aproveitem as vantagens oferecidas ao internalizar sua produção em outro país. Nesse processo, os governos estão ajudando a aprimorar o acesso a essas empresas e a outras de seu país a mercados, tecnologias e recursos.

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Foreign direct investment has been one of the most discussed topics in the drive for economic globalization. Multinational corporations (MNCs) consider FDI an important means to reorganize their production activities across borders, in accordance with their corporate strategies and the competitive advantages of host countries (LONG, 2005, p.315). A maior parte das teorias sobre IDE busca responder a três questões fundamentais: por que firmas investem no exterior, quais fatores determinam a locação dos investimentos e o motivo pelo qual empresas querem competir em um ambiente não familiar. O comprometimento com essas questões levaram os economistas a uma série de hipóteses e a algumas teorias influentes sobre a produção internacional.

A primeira teoria relevante sobre internacionalização de empresas é a do ciclo de vida do produto de Vernon (1966). Esta teoria foca no nível da empresa e nos impactos da vantagem tecnológica sobre o IDE. O autor, em seu ensaio, argumentou que a decisão da empresa de quando e onde investir era afetada pela evolução das vantagens comparativas de custos ao longo do ciclo do produto. Segundo ele, havia três fases que poderiam explicar os fluxos de comércio e investimentos produtivos: introdução, maturação e standartização.

As decisões de IDE de empresas dos EUA foram uma resposta à mudança na produção e às condições de concorrência durante a vida de um produto. Na primeira fase, a concorrência é feita somente por um pequeno número de produtores e a diferenciação entre seus produtos é elevada e a responsável por essa concorrência, e não o preço. Na segunda fase, cresce o número de produtores e também os esforços para uma maior diferenciação dos produtos, já que a demanda começa a ficar mais sensível em relação ao preço. Ainda nesta fase, há o surgimento de uma produção estrangeira. A tecnologia passa a ser difundida para outros países e aprimorada. Por último, na fase de standartização, as empresas começam a trabalhar na redução dos custos de mão de obra e de matérias-primas e a buscar uma maior produtividade.

A segunda é a teoria dos custos de transação e da internacionalização, exposta por Buckley e Casson (1976), e seguido por Rugman (1981). Eles desenvolveram a teoria de internacionalização a partir do estudo de multinacionais ocidentais. Sua observação foi a de que a divisão internacional do trabalho foi mais baseada em decisões das empresas do que de mercado. Estas multinacionais ajudaram a explorar 18

as opções alternativas oferecidas em termos de exportação, licenciamento e investimento internacional.

A teoria de internalização de Buckley e Casson (1976) defende que a criação das EMNs ocorre quando a internalização das imperfeições do mercado externo envolve cruzar fronteiras. Assim, as firmas crescem ao substituir essas imperfeições do mercado externo por mercados internos. A decisão de internalização ocorre de acordo com quatro parâmetros: fatores específicos da indústria, fatores específicos da região, fatores específicos do país, incluindo políticas governamentais e fatores específicos da firma. A internalização só é possível até que os benefícios se equivalem aos custos. Ainda segundo essa teoria, os três principais objetivos das EMNs no contexto internacional são: maximizar a eficiência das operações correntes, reduzir custos e desenvolver aprendizado. Para atingir esses objetivos, podem ser utilizados três meios: economia de escala, economia de escopo e exploração das diferenças nacionais. Essa teoria sugere que as empresas desenvolvem e utilizam seus recursos além das fronteiras para tirar vantagem das assimetrias de capacidade e de conhecimento. Ela é focada na crescente eficiência das corporações multinacionais mediante a internacionalização do comércio em mercados estrangeiros, por produção internacional corporativa ou por IDE. Eles também argumentaram que as empresas multinacionais substituindo mercados externos por transações internas, abaixariam os custos de transação, ou seja, ao invés de exportar tendo um custo maior, internalizassem a produção.

A terceira teoria a ser considerada é a de Hymer (1978): o poder de mercado. Ele dizia que as teorias existentes não eram suficientes para explicar a direção dos fluxos de investimento e que as diferenças entre as empresas deveriam ser levadas em conta e não somente entre os países. Além disso, que as vantagens especiais, relacionadas ao poder de mercado da empresa, eram necessárias. Segundo Hymer (1978), a estrutura do mercado, ou seja, as condições impostas ao ingresso da empresa no país estrangeiro, afetam a estratégia da presença da empresa no exterior. Segundo a teoria, as multinacionais investem no exterior, porque elas possuem

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recursos únicos em termos de tecnologia e tamanho, produtos exclusivos, marcas, patentes e tecnologias próprias, financiamento e competências de gestão, etc.

A próxima teoria é o paradigma eclético (OLI) de Dunning (1981), amplamente influente como um modelo para entender os determinantes dos IDE, que procura combinar todos os elementos de modo que sejam compatíveis com as várias abordagens teóricas diferentes. A teoria explora as condições de internacionalização bem sucedidas das empresas americanas, europeias e japonesas.

Essa teoria fornece três conceitos: propriedade, localização e internalização que servem para analisar por que e onde as multinacionais investem no exterior. Esse investimento pode ser um recurso para buscar mercado ou ativos estratégicos (Dunning, 1993, p. 20). Ele diz que as firmas investem no exterior quando: possuem uma vantagem específica que lhes permitem competir com as empresas locais, quando forem capazes de internalizar essa vantagem específica com objetivo de controlar a produção e distribuição através de subsidiárias estrangeiras e quando acreditem que o país hospedeiro demonstra uma vantagem como política estável, potencial de crescimento de mercado, barreiras comercias e custos baixos (Dunning, 1981, 1993). Em particular, o governo é susceptível de desempenhar um papel mais proeminente nas decisões das empresas multinacionais. Elas são frequentemente vistas como instrumentos estratégicos para os esforços do governo em garantir mais energia e outros recursos naturais, e se apropriar de novas tecnologias.

De acordo com Dunning, os fluxos de IDE de um país estão intimamente relacionados ao seu nível de desenvolvimento econômico e seguem as fases típicas do desenvolvimento. Na época das primeiras investigações de Dunning, quatro estágios de desenvolvimento podiam ser identificados de acordo com o nível de PIB per capita do país. No primeiro estágio, o país recebe pouco IDE e não faz nenhum investimento no exterior. A partir do segundo estágio, o IDE entrando no país começa a aumentar, e o país também começa a fazer uma pequena quantidade de investimento no exterior. Nessa fase, o IDE no exterior do país é baixo comparado com o investimento que entra. No terceiro estágio, o IDE entrando no país ainda supera o investimento no exterior do país, mas a diferença diminui consideravelmente. No quarto e último estágio, o IDE

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para o exterior supera o IDE que entra no país. Segundo Dunning (2003), o paradigma eclético permite analisar a tendência das firmas em promover e controlar atividades de valor agregado para além das fronteiras nacionais.

Outra teoria é a de Knickerbocker (1973) que introduziu a teoria da reação oligopolista para explicar por que a maioria dos grandes IDE feita por multinacionais americanas ocorreu ao mesmo tempo e por que as empresas seguem as rivais em mercados estrangeiros. O tipo de investimento pode ser ofensivo ou defensivo, com firmas seguindo e competindo com suas rivais em mercados estrangeiros.

Já Porter (1993) percebeu que o sucesso das empresas multinacionais era devido ao bom desempenho em quatro conjuntos: condições de fatores; condições de demanda; indústrias correlatas de apoio; e estratégia, estrutura e rivalidade das empresas. Em 1993, Porter classifica as vantagens comparativas, a combinação dos quatro conjuntos, como sendo de dois tipos: de custos e de diferenciação. Essas variáveis podem ainda interferir na competitividade das empresas. Ele ainda diz que o governo é o grande regulador da economia nacional e influencia os quatro conjuntos.

Figura 1 – Diamante de Porter

Fonte: Porter (1993, p.88)

Há também outra linha de pesquisa, que não procura as causas ou razões que levam uma empresa a se internacionalizar, mas apresentam suas observações de um modelo que progride, que possui estágios. A Uppsala University (JOHANSON; VAHLNE, 1977) argumenta que a internacionalização é uma sequência lógica de um comprometimento internacional que cresce mediante a aquisição gradual de

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conhecimento sobre mercados estrangeiros. O motivo disso, segundo Johanson e Vahlne (1977), era devido ao conhecimento insuficiente que as empresas tinham a respeito do mercado internacional. Só depois de um desenvolvimento gradual da ação internacional da empresa e do ganho de conhecimento se empreenderia o IDE. A firma internacional é uma organização caracterizada por processos baseados em aprendizagem e apresenta uma complexa e difusa estrutura quanto a recursos, competências e influências. O limite de crescimento da firma está associado aos seus recursos humanos e à aquisição de conhecimento coletivo, que seria um processo evolutivo, consequência da experiência direta dos funcionários.

Por causa dessa sua teoria sobre o processo de internacionalização e no que diz respeito às estratégias de entrada no mercado de países estrangeiros por meio de IDE, a Uppsala se tornou uma das escolas mais populares.

A evolução dos estudos dessa Escola constituiu a Escola Nórdica de Negócios Internacionais. Essa nova escola constatou que o modelo não era adequado para explicar a atuação de algumas empresas que já estavam amplamente inseridas no mercado internacional. De acordo com eles, as empresas de setores altamente internacionalizados podem escolher estratégias de entrada nos mercados diferentes daquelas previstas pelo modelo da Uppsala. De acordo com Johanson e Mattsson (2003) as explicações sobre a internacionalização de empresas se concentram mais nas networks do que nos fatores econômicos.

The mainstream perspective in international business assumes that firms will internationalize on the basis of a definable competitive advantage that allows them to secure enough return to cover the additional costs and risks associated with operating abroad (BUCKLEY; GHAURI, 1999; CAVES, 1971). A maioria das teorias existentes sobre as multinacionais são baseadas na experiência de empresas ocidentais. A teoria da vantagem monopolista, a teoria do ciclo do produto, e a teoria da reação oligopolista são baseadas em empresas norte- americanas. O paradigma eclético se concentra, além das empresas norte-americanas, nas europeias. Poucos estudos têm sido realizados sobre os países que começaram sua internacionalização depois, como as multinacionais sediadas em mercados

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emergentes. Mais do que isso, o ambiente em que esses países estão operando mudou drasticamente em termos de tecnologia e ambiente econômico.

Boisot (2004, p.6) argumenta que, em contraste com os pressupostos das teorias de negócio internacional convencionais, muitas empresas chinesas não vão se deslocar para o exterior para explorar uma vantagem competitiva que foi desenvolvida no mercado doméstico, mas para evitar um número decorrente de desvantagens competitivas por meio de operação exclusiva no mercado doméstico. Quadro 1 – Teorias de Internacionalização de empresas

TEORIAS INTERNACIONALIZAÇÃO DAS DETERMINAÇÕES SOBRE A EMPRESAS LOCALIZAÇÃO Exploraram as opções alternativas Custos de transação e de oferecidas em termos de exportação, Possibilidade de tirar vantagem das internacionalização licenciamento e investimento internacional assimetrias de capacidade e de conhecimento

Com base no ciclo de vida do produto, Busca primeiramente países com renda para cada fase do ciclo tem-se uma nova Ciclo do produto parecida e depois com custos de produção fase de internacionalização mais baratos

Determinada pelas vantagens especiais das Busca mercados que possuem uma estrutura Poder de mercado empresas e pela estrutura de mercado do de mercado favorável para a exploração das país receptor vantagens especiais que a empresa possui

Determinada pela avaliação das vantagens Empresa busca combinar da melhor forma os Paradigma Eclético de propriedade, internalização e ativos que podem ser transferidos entre os localização – Modelo OLI países

Fimas seguindo e competindo com suas rivais Teoria da reação oligopolista Ofensivo ou defensivo em mercados estrangeiros

Busca das melhores condições para explorar

as vantagens competitivas que possui e Diamante de Porter Determinada pelas vantagens competitivas acumular mais das nações

Determinada pelo aumento gradual de Escola de Uppsala conhecimento sobre os mercados externos Busca de locais com menor distância psíquica e pela distância psíquica

Determinada pelo relacionamento nas Determinada pela rede d contatos dentro da Escola Nórdica networks network

Fonte: elaboração própria com base em levantamento bibliográfico

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1.2.3 Panorama de IDE dos países em desenvolvimento

O fenômeno recente de IDE das empresas multinacionais dos países em desenvolvimento não só reflete as modificações gerais ocorridas na economia mundial, mas de acordo com Dunning, Kim e Park (2008, p.158), reflete também o próprio desenvolvimento e crescimento econômico dos países de origem das empresas, assim, muitos mercados emergentes se tornaram ricos o suficiente para exportar capital para o resto do mundo. É possível, no entanto, verificar que o IDE das EMNs dos países em desenvolvimento possuem certas particularidades ao se comparar com o realizado pelas empresas dos países desenvolvidos. Como apontam diversas pesquisas (DUNNING; KIM; PARK, 2008; GOLDSTEIN, 2009; BONAGLIA; GOLDSTEIN; MATHEWS, 2006), uma das características mais marcantes desse tipo de IDE diz respeito a sua juventude: o ambiente acirrado de competição levou e tem levado as empresas dos países em desenvolvimento a se arriscarem no exterior em um estágio de evolução corporativa anterior ao estágio em que as empresas dos países desenvolvidos começaram a se internacionalizar. Segundo Dunning, Kim e Park (2008), enquanto as empresas multinacionais dos países desenvolvidos buscaram primeiramente se consolidarem dentro de seus próprios países para depois se internacionalizarem, as empresas multinacionais dos países em desenvolvimento buscam o IDE assim que possuem oportunidade e muitas vezes já nascem globais. Em decorrência do IDE precoce, muitos estudiosos (GOLDSTEIN, 2008; RUGMAN, 2008; DUNNING; KIM; PARK, 2008) argumentam que outra característica marcante dessas empresas é que elas nem sempre possuem vantagens específicas de propriedade significativas e que muitas vezes as vantagens que mais contam na hora da internacionalização se relacionam com as vantagens específicas do país. Quando analisam as fases pelas quais passou a evolução recente do IDE das empresas multinacionais dos países em desenvolvimento, Dunning, Kim e Park (2008, p.168) apontam de forma geral quatro períodos: (i) década de 1970, os países em desenvolvimento teriam se voltado para outros países em desenvolvimento, especialmente seu vizinhos próximos, (ii) década de 1980, as empresas procuram se

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expandir para países desenvolvidos, (iii) década de 1990, as empresas se voltaram para a própria região para aproveitar a recuperação regional, (iv) década de 2000, destaca-se o aumento de IDE dessas empresas, suas F&A, e a tentativa de se inserir mais no mundo desenvolvido. De acordo com Goldstein (2009), no que se refere às emergentes asiáticas, seu maior sucesso em relação às emergentes latino-americanas se deve a maior dinamicidade do modelo asiático de internacionalização das atividades produtivas, baseado, sobretudo, em uma estrutura regional de redes produtivas, na qual as economias mais desenvolvidas externalizaram as partes periféricas dos seus processos produtivos para outros Estados da região, ajudando, assim, esses países a se inserirem de forma mais dinâmica no cenário econômico internacional, o que proporciona para eles um acumulo de aprendizado que é posteriormente utilizado para a construção de vantagens específicas de propriedade mais valiosas. Complementarmente, outra causa do maior sucesso das emergentes asiáticas é que sua internacionalização se baseia em produtos e serviços de valor agregado mais alto do que os oferecidos pelas empresas da América Latina. De fato, é também importante dizer, com base em Goldstein (2009) que as posturas diferentes dos governos da América Latina e da Ásia e as culturas diferentes foram também um elemento crucial para as diferenças na internacionalização. Atualmente, os fluxos de IDE para as economias em desenvolvimento mantiveram-se relativamente resistentes, com redução de apenas 4%, representando 52% do total de 2012. Os fluxos para os países em desenvolvimento da Ásia e da América Latina e do Caribe caíram, embora eles tenham permanecido em níveis historicamente elevados. Todas as sub-regiões em desenvolvimento da Ásia - Leste e Sudeste da Ásia, Sul da Ásia e Ásia ocidental - viram seu declínio dos fluxos em 2012, em comparação com o ano anterior. A África foi a única região que obteve um aumento de entrada de IDE em 2012 (UNCTAD, 2013, p.38).

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Tabela 1 – Entrada de IDE (em bilhões de dólares)

2010 2011 2012 Região IDE % IDE % IDE % Países desenvolvidos 696 49,4 820 49,7 561 41,5 Países em desenvolvimento 637 45,2 735 44,5 703 52,0 África 44 3,1 48 2,9 50 3,7 Ásia 401 28,4 436 26,4 407 30,1 Leste e Sudeste da Ásia 313 22,2 343 20,8 326 24,1 Sul da Ásia 28 2,0 44 2,7 34 2,5 Ásia Ocidental 59 4,2 49 3,0 47 3,5 América Latina e Caribe 190 13,5 249 15,1 244 18,1 Oceania 0,2 0,1 0,2 Economias em transição 75 5,3 96 5,8 87 6,5 Total do Mundo 1409 100,0 1652 100,0 1351 100,0

Gráfico 1 – Entrada de IDE (bilhões de dólares/ano)

países desenvolvidos 1000 800 países em 600 desenvolvimento 400 200 leste e sudeste da Ásia 0 2010 2011 2012 América latina e Caribe

Fonte: Elaboração própria com base na UNCTAD (2013, p. 38).

Em contraste com a forte queda dos fluxos de IDE saindo dos países desenvolvidos, os fluxos de IDE das economias em desenvolvimento aumentaram 1% em 2012, alcançando o montante de 426 bilhões de dólares. Como resultado, sua participação global em IDE no exterior atingiu um recorde de 31%. As saídas de IDE da África quase triplicaram; os fluxos provenientes da Ásia e da América Latina e do Caribe mantiveram-se praticamente ao mesmo nível de 2011. Os países asiáticos permaneceram a maior fonte de IDE, respondendo por três quartos do total do grupo dos países em desenvolvimento (UNCTAD, 2013, p.38).

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Tabela 2 – Saída de IDE (em bilhões de dólares) 2010 2011 2012 Região IDE % IDE % IDE % Países desenvolvidos 1030 68,4 1183 70,5 909 65,4 Países em desenvolvimento 413 27,5 422 25,2 426 30,6 África 9 0,6 5 0,3 14 1,0 Ásia 284 18,9 311 18,5 308 22,2 Leste e Sudeste da Ásia 254 16,9 271 16,2 275 19,8 Sul da Ásia 16 1,1 13 0,8 9 0,7 Ásia Ocidental 13 0,9 26 1,6 24 1,7 América Latina e Caribe 119 7,9 105 6,3 103 7,4 Oceania 0,0 0,1 0,0 Economias em transição 62 4,1 73 4,3 55 4,0 Total do Mundo 1505 100,0 1678 100,0 1391 100,0 Fonte: Elaboração própria com base na UNCTAD (2013, p. 38).

Gráfico 2 – Saída de IDE (bilhões de dólares/ano)

1200 países desenvolvidos 1000 800 países em desnvolvimento 600 400 leste e sudeste da Ásia 200 0 América Latina e Caribe 2010 2011 2012

Fonte: Elaboração própria com base na UNCTAD (2013, p. 38).

Os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) não são apenas um dos principais receptores de IDE do mundo, mas também importantes investidores externos entre os países investidores emergentes. Os fluxos destas cinco economias subiram de US$ 7 bilhões em 2000 para US$145 bilhões em 2012, respondendo a 10% do total mundial (de apenas um por cento em 2000). Suas empresas transnacionais estão se tornando cada vez mais ativas, inclusive na África (UNCTAD, 2013, p.4).

No fluxo de IDE da China, os principais setores, em 2010, foram: leasing e serviços; bancário; comércio de produtos de atacados e de varejo; minerador; e transporte, estocagem e postagem (MOFCOM, 2010, p. 94). Com apoio do governo e 27

expansão rápida dos negócios, no país e no exterior, um número elevado de grandes empresas chinesas passou a integrar o grupo das maiores multinacionais de países em desenvolvimento - State Grid, Sinopec, China National Petroleum, China Life Insurance, China Mobile Communications, Industrial & Commercial Bank of China, China Telecommunications, Sinochem, , Bank of China, Shanghai Baosteel Group, Hutchison Whampoa, COFCO, Shanghai Automotive e Agricultural Bank of China (DUNNING, 2004, p. F1 - F12).

Em 2012, as saídas de IDE de países em desenvolvimento da Ásia mantiveram- se próximas ao nível recorde de 2011, atingindo 308 bilhões de dólares. No Leste da Ásia, as saídas de IDE subiram 1%, para 214 bilhões de dólares em 2012, tendo a China como um dos principais impulsionadores da saída de investimento da Ásia (UNCTAD, 2013, p.4). Nas fileiras dos maiores investidores, a China passou de sexto para o terceiro maior investidor em 2012, depois dos Estados Unidos e do Japão (UNCTAD, 2013, p.5). Os fluxos de saída de IDE da China continuam a crescer, chegando a US$ 84 bilhões em 2012, um nível recorde (UNCTAD, 2013, p.XVII). As empresas chinesas permaneceram em uma via rápida de internacionalização, investindo em uma ampla gama de indústrias e países impulsionados por objetivos diversificados, incluindo mercado, eficiência, recursos naturais e busca de ativos estratégicos (UNCTAD, 2013, p.46).

Além disso, no ranking das cinco maiores economias anfitriãs a China lidera a lista, repetindo o feito de 2011 (UNCTAD, 2013, p.22).

A China passou a investir bastante em alguns países menos desenvolvidos, como Sudão e Zâmbia. Além de IDE em busca de recursos naturais, a modernização industrial rápida que está acontecendo atualmente na China fornece oportunidades desses países de atraírem IDE na indústria transformadora (UNCTAD, 2013, p.5). O investimento em prospecção e exploração de recursos naturais, e os altos fluxos da China contribuíram para o atual nível de fluxos de entrada na África. De modo mais geral, o bom desempenho econômico do continente - o PIB cresceu a uma taxa estimada de 5% em 2012 - impulsionou o aumento no investimento, incluindo a indústria transformadora e serviços (UNCTAD, 2013, p.40).

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Um grande número de centros de P&D de investimentos estrangeiros - que dobrou nos últimos cinco anos, para cerca de 1.800 no final de 2012 - demonstra que o IDE tem ajudado a China a entrar em atividades mais avançadas ao longo da cadeia de valor (UNCTAD, 2013, p.46).

A China se expandiu com sucesso para atividades cada vez mais high-tech orientadas para a exportação. A exportação de serviços baseados no conhecimento da China também aumentou oito vezes entre 2000 e 2010 (embora o valor total destas exportações seja ofuscado pelas exportações de mercadorias). A base para o crescimento das exportações da China, e para a expansão da capacidade produtiva nas cadeias globais de valor de maior tecnologia, pode ser encontrada inicialmente no fluxo de investimento estrangeiro e no estabelecimento de relações baseadas em contratos com as empresas transnacionais, mas o crescimento de capacidade das empresas nacionais manteve o mesmo ritmo (UNCTAD, 20013, p.173).

Durante os últimos anos, os investimentos em infraestrutura da China no Sudeste da Ásia também aumentaram. No setor de energia, por exemplo, a China Huadian Corporation, uma das cinco maiores geradores de eletricidade do país, está investindo US$ 630 milhões na primeira fase da maior usina em Bali, na Indonésia. No total, as empresas chinesas investiram cerca de US$ 7 bilhões em desenvolvimento de infraestrutura na Indonésia. Nos transportes, a China decidiu investir US$ 7 bilhões em ferrovias nacionais na República Popular Democrática do Laos, uma ferrovia de alta velocidade de 410 km ligando Kunming e Vientiane pode já estar operando em 2018. A construção da ferrovia China-Mianmar começou também e a rede regional de ferrovias de alta velocidade que ligam China e Cingapura, que será construída nos próximos anos, irá contribuir significativamente para a integração regional e o progresso econômico na região (UNCTAD, 2013, p.48).

É válido que a predominância de empresas estatais não apenas reflete uma das características fundamentais da economia chinesa, como sugere que o interesse da China em seus investimentos não é algo temporário ou facilmente reversível.

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1.3 Relação com o governo

É possível verificar que governos e empresas têm cada vez mais procurado uma maior interação entre si, buscando, assim, entre outros objetivos, obter ganhos de competitividade, melhores fontes de financiamento, acessar maiores e melhores mercados e diminuir os riscos dos investimentos (STOPFORD; STRANGE, 1992; BRASIL, 2009). Assim, surgem depósitos e escritórios, fábricas de montagem, redes de distribuição e serviços financeiros como bancos e seguradoras. Esses mesmos tipos de investimento podem ser feitos para facilitar a entrada em novos mercados, principalmente no setor de serviços. Novos mercados, tipicamente, só se abrem com investimentos prévios, já que, por exemplo, a maioria dos serviços tem comercialização limitada. Outro motivo importante para algumas empresas também é ganhar acesso a recursos naturais e mão-de-obra barata, assim como a diversificação dos riscos e a busca dos lucros (HANEMANN; ROSEN, 2012, p. 20).

Com isso, os incentivos para a internacionalização de empresas se mostram possuindo uma importância renovada, ―principalmente para as economias emergentes que formulam políticas para crescimento econômico sustentável‖ (BRASIL, 2009, p.5). Ramamurti (2004, p.277-283) suspeita que nos últimos quinze anos as empresas multinacionais passaram a trabalhar por intermédio dos governos de origem e das instituições internacionais para reescrever as regras globais de acordo com seus interesses.

Os Estados buscam lacunas para desenvolver algum tipo de política que facilite a saída de suas empresas para o exterior. Assim, nas últimas décadas, empresas multinacionais de países desenvolvidos passaram a entrar cada vez mais intensamente em economias recém abertas de várias partes do mundo. Isso facilitou o aprimoramento e o desenvolvimento das empresas multinacionais de alguns países desenvolvidos e, na atualidade, é possível verificar essas empresas se expandindo para o exterior.

As políticas governamentais de estímulo ao IDE no país hospedeiro podem fornecer um motivo para a entrada nesse país. Alguns exemplos dessas políticas são as que promovem a estabilidade institucional do país e diminuem a sua vulnerabilidade 30

a movimentos maciços de capitais. Além disso, os governos criam estímulos ao ingresso de IDE por meio de incentivos fiscais e aduaneiros. Paralelamente, os governos de onde se localizam as sedes das empresas também incentivam a expansão internacional dessas empresas ao incentivar, por exemplo, a exportação (MARIOTTO, 2007, p.9). De acordo com Porter (1990), o governo deve fornecer educação e treinamento de alta qualidade, financiar o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, suprir infraestruturas de transporte, logística, energia e telecomunicações, disponibilizar informações técnica, econômica e comercial, além de dar subsídios diretos.

Para alguns estudiosos, a elevação dos fluxos de IDE e das atividades das empresas transnacionais tem mudado a natureza dos Estados e os seus padrões de conduta. Por exemplo, Clark (1997, p.184) afirma que os Estados agora consideram as corporações não como rivais, mas como aliados na busca de vantagens competitivas em um mercado internacional precário.

As teorias clássicas de internacionalização de empresas, já mostradas nesse capítulo, não foram capazes de explicar, ou não tentaram explicar, a influência do governo na realização de IDE. Existem, porém, outras abordagens, que serão explicadas a seguir, que relacionam mais diretamente o IDE e os governos a partir das relações governo-empresa.

1.3.1 Diplomacia triangular

O modelo de Diplomacia Triangular surgiu da evolução de alguns trabalhos de Economia Política Internacional de Strange (1994; 1996) e do trabalho de Stopford e Strange (1992), focados mais especificamente na questão do relacionamento governo- empresa.

Segundo Strange (1994) e Stopford e Strange (1991), a crescente interdependência da economia mundial no contexto da globalização resulta em relacionamentos complexos entre governos e empresas. As empresas passaram a se envolver mais com os governos e esses passaram a reconhecer sua dependência dos

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escassos recursos controlados pelas firmas. Assim, o estudo de Stopford e Strange (1991) teve como objetivo uma estrutura interdisciplinar raramente abordada. A análise ficou conhecida como Diplomacia Triangular e estuda os três conjuntos de relações: governo – governo, empresa - empresa e empresa - governo.

Figura 2 – Diplomacia Triangular

Fonte: Stopford e Strange (1991, p. 22)

Stopford e Strange (1991) argumentam que os governos passaram a reconhecer a dependência de recursos controlados por empresas transnacionais. Mais especificamente, eles ressaltam que mudanças estruturais nas dimensões tecnológica, financeira e política obrigaram os governos a cooperar com essas corporações.

De acordo com os autores, os Estados passaram a perceber que seus objetivos de desenvolvimento só poderiam ser alcançados pela obtenção de riqueza, assim, foram percebidos os benefícios na realização e no recebimento de IDE. Ao mesmo tempo, as empresas perceberam que a possibilidade de obter mercados seria maior se começassem a negociar tanto com os Estados, como entre si. Assim, de acordo com Strange (1992, p.2): ―Governments must now bargain not only with other governments, but also with firms or enterprises, while firms now bargain both with governments and with one another‖.

Eles apresentam seis proposições: a primeira afirma que os Estados competem mais por meios de geração de riqueza dentro do próprio território do que por poder no sistema internacional; a segunda indica que o surgimento de novas formas de competição global entre firmas influencia a forma como os Estados nacionais competem por riqueza; a terceira afirma que os países pequenos e menos desenvolvidos

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enfrentam barreiras para ter acesso às indústrias sujeitas à competição global; a quarta sustenta, como consequência das proposições já apontadas, o surgimento de duas novas dimensões da diplomacia, a chamada diplomacia triangular; a quinta enfatiza que as novas dimensões diplomáticas ampliaram as opções políticas e administrativas tanto dos governos quanto das firmas, surgindo novos problemas; a sexta afirma que tais mudanças aumentaram a volatilidade dos resultados da nova diplomacia, assim, muitos países em desenvolvimento não conseguem respostas eficientes por causa de obstáculos internos.

Apesar das afirmações de que os Estados estejam perdendo seu espaço tradicional na disputa com as EMNs, Stopford e Strange (1991) acreditam que os governos continuarão a ter papel relevante e talvez paradoxal nesse processo. Os Estados ainda controlam o acesso ao território e à mão-de-obra em seu território, mas empresas controlam capital e tecnologia. A importância desses dois últimos elevou consideravelmente o poder de barganha das empresas. Eles também afirmam que os governos de países em desenvolvimento possuem a preocupação de equilibrar as condições econômicas e sociais e que países pobres não podem se dar ao luxo de permitir que as forças de mercado determinem os resultados. Entretanto, os autores indicam que houve uma mudança na barganha entre EMNs e governos no que se refere à oferta que os países hospedeiros fazem, em troca de IDE.

The significance of the state-firm dimension is that states are now competing more for the means to create wealth within their territory than for Power over more territory (…). Wealth is the means to power (…). Having got control over territory, government policy-makers may understand well enough what is needed to bargain successfully with foreign firms to locate with them (STRANGE, 1992, p.8).

O modelo de diplomacia triangular representa as relações entre governos, entre firmas e entre governos e firmas, como já dito anteriormente. Nestas últimas, ambos exercem poder e influência na sociedade internacional. Stopford e Strange (1991) denominaram essa troca entre firmas e Estados de rede de acordos internacionais, que afetam o equilíbrio de poder. Além disso, a eficiência dos acordos é determinada pelo sucesso, ou fracasso, das trocas entre os três lados do triângulo. Não é possível deixar de verificar todos os lados do triângulo, pois pode deixa de observar fatores importantes. 33

No âmbito das relações governo-empresa, o modelo da diplomacia triangular exige uma diplomacia comercial ativa que integre governo e setor privado e que esteja simultaneamente engajada tanto nas negociações multilaterais, no âmbito da OMC, quando no fortalecimento de zonas de livre-comércio (GUEDES, 2006, p.347). No âmbito empresa-empresa, o modelo sugere medidas mais audaciosas para forçar alianças, parcerias e, principalmente, no caso de países em desenvolvimento, a transferência de tecnologias gerenciais e operacionais das grandes empresas transnacionais para as suas respectivas redes de fornecedores, prestadores de serviços e consumidores industriais (GUEDES, 2006, p.350).

1.3.2 IDE e Modelos de capitalismo

Um dos principais traços do estado atual da concorrência internacional é a tensão existente entre o padrão competitivo e as estratégias dominantes empregadas por empresas de países de ―capitalismo maduro‖ (...) e os padrões e estratégias aplicados por países em que o capitalismo estatal predomina, dos quais os exemplos paradigmáticos são principalmente China, Rússia e alguns países árabes (SENNES; MENDES, 2009, p. 159).

De acordo com Sennes e Mendes (2009, p. 158), as políticas governamentais para a internacionalização de empresas podem ser de dois tipos: de caráter mais amplo ou mais restrito. Segundo os autores, as do primeiro tipo envolvem ―todas as iniciativas quem agem de forma direta ou indireta para impactar positivamente a internacionalização de empresas‖. Já as de caráter mais restrito são as medidas que: impactam de forma direta e explícita as decisões das empresas sobre projetos de investimento, parcerias, concorrência ou aquisições no exterior. Nesse caso, o enfoque não está num maior ganho competitivo, mas sim na alteração das condições regionais da empresa para concorrer em situações específicas (...) (SENNES; MENDES, 2009, p. 158).

A principal diferença nas duas abordagens está no significado que elas atribuem para a participação das empresas nacionais em certos mercados de produtos e países específicos. De acordo com Sennes e Mendes (2009, p. 159), as políticas na primeira abordagem são mais focadas em possibilitar que as empresas concorram no mercado 34

internacional de forma mais ampla e homogênea, enquanto na segunda, a promoção de ações governamentais é variável. Há uma variação no próprio comportamento das empresas e em seu relacionamento com os governos que pode ser em dois padrões esteriotipados: o modelo OCDE e o modelo Capitalismo Estatal. No primeiro modelo as empresas são descritas como tendo o comportamento internacional bem definido e seguem os termos dos acordos internacionais, legislações locais e governança corporativa bem estabelecidos. Quanto às políticas as quais elas têm acesso, geralmente são robustas políticas de inovação, garantia de crédito, capacitação de recursos humanos e outros tipos diretos e indiretos oferecidas em caráter amplo no mercado de origem (SENNES; MENDES, 2009, p. 159). Do outro lado há o modelo do capitalismo estatal, que pode ser caracterizado como tendo, principalmente, a forte participação de agências estatais e de governos na internacionalização das empresas nacionais, de forma direta ou indireta. Assim, as empresas que se internacionalizam são, geralmente, estatais, possuem joint venture com alguma estatal ou têm algum tipo de ligação com o governo. O desempenho das empresas está, necessariamente, ligado com certas prioridades políticas e estratégias determinadas pelo seu Estado de origem (SENNES; MENDES, 2009, p. 161). Além disso, enquanto no primeiro modelo as políticas de apoio a internacionalização se restringem a medidas implementadas no país de origem, no segundo modelo os países geralmente utilizam reservas estrangeiras para financiar operações ou políticas no país anfitrião.

1.3.3 Outras teorias que relacionam governo-empresa

A primeira a ser considerada é Buckley (1996), que afirma que o papel do Estado como patrocinador e defensor das firmas é uma importante dimensão, frequentemente

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omitida das análises de estratégia corporativa. As imperfeições de mercado criadas pelo governo e por suas agências são uma dimensão em potencial. Esse argumento pode ser estendido para o nível regional, onde a cooperação de grupos de governos possuem outros focos preferenciais. Há também a teoria da barganha interorganizacional que tem sido usada para caracterizar e analisar negociações, formulações políticas e comportamentos. Como empresas estão envolvidas em relações de poder com firmas rivais, essa teoria deve incluir nas negociações entre ETNs e governos, as potenciais respostas de outras corporações ou até mesmo empresas domésticas (EVANS, 1979). Além disso, as políticas de ETNs e de governos estão impregnadas com relações de poder que levam a compromissos e cooperação, e também à competição. As metas demonstram que governo e ETNs sofrem pressões de firmas locais, governos locais e estaduais, bem como de firmas e governos estrangeiros (GUEDES, 2007, p.75). Empresas devem manter relações de negócios com outras empresas, competidores, fornecedores e clientes, em vários países. Governos devem lidar com outros governos, bem como com empresas (GROSSE; BEHRMAN, 1992). Essa abordagem inclui três dimensões. A primeira refere-se aos recursos relativos sob poder das partes. No caso do governo, os recursos são o mercado e os fatores de produção do país de operação. A segunda dimensão, denominada, stakes relativos, refere-se a: da parte do governo, emprego e redistribuição de renda e da parte da firma, acesso ao mercado do país de operação. A terceira dimensão da relação de barganha é o grau de similaridade de interesse entre ETNs e governo (GROSSE; BEHRMAN, 1992, p.105). Outro autor é Vernon (1998) que ressaltou que os objetivos dos governos e das multinacionais não precisam ser incompatíveis. Ele também afirma que o mercado é, provavelmente, o resultado das políticas determinadas pelo governo, apesar de manter seu entusiasmo pelas forças do mercado. Ele também resgata o Estado como uma entidade legítima, com metas também legítimas. Em outras palavras, identifica o contínuo processo de barganha entre governos e multinacionais no sentido de alcançarem seus objetivos, respectivamente: o pleno emprego de recursos naturais e humanos e a maximização dos lucros.

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Há também Gilpin (2001), afirmando que os investimentos das EMNs exercem um impacto na localização das atividades econômicas em todo o mundo, nos padrões internacionais de comércio e nos índices nacionais de crescimento econômico. Entretanto, os Estados continuam sendo soberanos e atores principais do sistema internacional, e as economias nacionais permanecem no centro da economia global. Nos dias atuais, a maioria dos governos dos países em desenvolvimento entende que, sem atrair IDE, será muito difícil obter acesso a capital, tecnologia e mercado internacional, fatores necessários para o desenvolvimento econômico. No entanto, na relação de troca que se estabelece entre as CMNs e os governos nacionais, cada lado tenta extrair o máximo de vantagens e concessões da outra parte. Essas negociações têm seguido o chamado ―padrão de barganha obsolescente‖, em que a empresa se encontra em posição mais forte antes de investir e consegue extrair o máximo de concessões, mas perde esse poder depois do investimento ter sido feito na economia hospedeira. Geralmente, as empresas buscam conseguir um regime favorável de impostos e proteção comercial, e o país hospedeiro tenta impor ―exigências de desempenho‖ às empresas, como a obrigação de comprar ou produzir localmente determinada porcentagem dos componentes ou bens intermediários usados nos produtos (GUEDES, 2007, p.82). O poder de barganha oscila entre Estados e firmas ao longo do tempo, é a chamada ―barganha obsolescente‖ que depende de fatores como atratividade de recursos, localidade, competitividade de mercado e natureza estratégica do negócio. Os autores sustentam que os Estados estão perdendo poder para estabelecer políticas independentes e precisam dominar o jogo da barganha triangular. Os autores Murtha e Lenway (1994, p.113-129) abordam as implicações das capacidades estratégicas dos Estados, nas suas interações com as firmas, e na atração de IDE. Mais especificamente, o modelo governo-empresa desenvolvido por eles, mostra sob quais condições a estratégia governamental afeta os negócios das firmas. O modelo consiste em parâmetros, como a especificidade do alvo, que descreve o grau em que o Estado isola os componentes da atividade econômica nacional como objeto de intervenção política. Tais parâmetros variam desde ferramentas macroeconômicas até microeconômicas.

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Outro parâmetro é a credibilidade política do governo, que depende da interação público-privado. Empiricamente, a credibilidade política depende de dois fatores: a reputação do governo entre os gerentes da CMN, para introduzir políticas econômicas consistentes ao longo do tempo e as escolhas estratégicas das firmas dadas as capacidades do Estado. De acordo com os autores, países que possuem forte influência na economia têm credibilidade baixa, por que a economia e as firmas estão nas mãos do Estado.

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2 O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS CHINESAS

Já faz mais de 30 anos que a China vem desenvolvendo seus negócios de exportação com a ajuda de investimentos estrangeiros. Embora o país tenha aberto um grande número de indústrias a investimentos estrangeiros, as empresas chinesas não estão totalmente equipadas para enfrentar os desafios impostos pelo mercado internacional, devido ao longo tempo de proteção por parte do governo. Após a entrada da China na OMC, as empresas chinesas tiveram de se envolver mais diretamente com concorrentes multinacionais estrangeiras, e, uma estratégia de globalização teve que ser adotada. Enquanto isso, as empresas multinacionais de muitos países têm movido a sua produção para a China, a fim de colher os benefícios de mão de obra barata e explorar o enorme potencial de mercado.

Além disso, a adesão à OMC fornece às empresas chinesas a oportunidade de otimizar a alocação de recursos em um nível global. Algumas empresas chinesas, agora, construíram força suficiente para crescer no exterior. Essas empresas, porém, ainda enfrentam muitas dificuldades em maximizar suas oportunidades de se desenvolver internacionalmente. Elas precisam ganhar mais experiência em competir internacionalmente, estabelecer redes de distribuição no exterior, redes internacionais de gestão de talentos e promover a sua marca internacionalmente (ZHAOXI, 2009, p.33).

O substancial e rápido crescimento dos investimentos chineses no exterior é resultado, em parte, da política de estado dirigido – ―go out‖, adotada em 1999 pelo Comitê Central do Partido Comunista Chinês para inserir o país em um desenvolvimento econômico envolvido no cenário internacional. Além disso, o documento aponta que essa política pode ajudar a obter os recursos de que o país precisa para se manter crescendo e pode promover a exportação de bens e serviços. A China é um país em desenvolvimento com uma enorme população e recursos naturais relativamente escassos. Possui reservas de alguns minerais importantes, mas é bastante dependente de uma grande gama de outros. Assim, a estratégia de

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internacionalização chinesa busca assegurar esses recursos de que ela é dependente, especialmente aos ligados a energia e matérias-primas para a indústria.

De um modo geral, o IDE para o exterior da China é de natureza semelhante ao de outras multinacionais de países em desenvolvimento. Isso quer dizer que é determinado por vantagens de custo e flexibilidade, em vez de vantagens tecnológicas. No entanto, o modo de internacionalização das multinacionais chinesas é diferente de suas contrapartes nos países em desenvolvimento. Normalmente, as multinacionais chinesas estabelecem joint-ventures com multinacionais ocidentais na China antes de fazer investimentos no exterior e elas frequentemente usam joint-venture e M&A, a fim de adquirir avanços na produção, em tecnologia e habilidades gerenciais no exterior (HONG; SUN, 2006, p. 611).

Essa política de internacionalização é associada a pelo menos três motivações: fornecer um meio de reduzir as pressões de valorização sobre a moeda chinesa, RenminBi, manter os recursos suficientes para sustentar o crescimento da China sobre o médio e longo prazo e apresentar uma oportunidade para modernizar empresas chinesas através da apropriação de tecnologia estrangeira e da assimilação de práticas empresariais modernas. Na medida em que o envolvimento do governo nas decisões das empresas multinacionais é solicitado por essas motivações, cria-se um potencial conflito entre a maximização da riqueza dos acionistas e a busca de objetivos nacionais (GU; REED, 2010, p. 6).

Esse propósito esteve presente em processos de internacionalização de outros países também, mas com um grau elevado de autonomia das empresas enquanto unidades de capital privado. A articulação estatal nesses casos não implicaria, por exemplo, que a empresa assumisse ônus de natureza diplomática, como algumas empresas chinesas fazem na África. No texto ―Diplomacia Econômica entre China e Angola: a importância do petróleo‖ (OLIVEIRA; PAIVA, 2011) foram estudadas empresas chinesas inseridas em Angola. O trabalho define as relações sino-angolanas como um caso de diplomacia econômica e procura caracterizar a atuação dos principais atores envolvidos. A análise desenvolvida permite avançar na compreensão das perspectivas abertas para as relações entre os dois países e para as relações entre a

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China e países com forte dotação de recursos naturais, em especial petróleo, minérios e alimentos na África.

O IDE da China tem crescido rapidamente, atingindo 62,4 bilhões de dólares em 2012 (OCDE, 2013), principalmente desde a entrada do país na OMC. Ele já tem efeitos extremamente positivos sobre a economia chinesa: ajuda a expandir as capacidades de produção e entrar em novos mercados, criando assim novas oportunidades de emprego e exportações crescentes; também cria espaço para começar a construir a imagem de empresas chinesas no exterior; e fornece novas fontes de financiamento para a expansão internacional. No geral, é a base para o avanço do processo de internacionalização das empresas chinesas (ZHAOXI, 2009, p.59).

Um número crescente de empresas chinesas, especialmente as maiores, têm se engajado em investimentos no exterior e buscado diversificação de risco. Sua expansão no exterior tem sido incentivada pelo governo, que está ansioso para ver o desenvolvimento das multinacionais chinesas, modelados no exemplo de tradings japonesas e coreanas (HONG; SUN, 2006, p. 623). Para as empresas chinesas, o caminho para a globalização não é simplesmente vender produtos de serviços a clientes internacionais, mas sim alcançar standarts internacionais de estratégia e gestão corporativa.

Mesmo que o país tenha conseguido manter um elevado crescimento em valor e volume, a China enfrenta a tarefa urgente de reajuste de sua cadeia industrial e da transformação do seu modo de crescimento, a fim de assegurar o desenvolvimento sustentável. Para atingir rapidamente esse objetivo, a China precisa ampliar ainda mais sua política de internacionalização, pois, se o ajuste só fosse realizado no interior do país, seria relativamente limitado. Portanto, a política de internacionalização da China tem de acelerar e as empresas têm de aumentar o seu investimento no exterior. A promoção do investimento estrangeiro pelo governo chinês contribui para o crescimento e lucratividade da empresa quando há um excesso de oferta sobre a demanda no mercado interno. Ele também contribui para a acumulação de capital e acelera o

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caminho da inovação tecnológica, produzindo assim um efeito positivo sobre o ajustamento econômico da China.

A China sempre considerou a qualidade de gerenciamento das empresas e as estratégias corporativas como fatores chaves na competitividade chinesa. Empresas multinacionais são instrumentos essenciais para as ambições econômicas globais. As multinacionais são um dos players mais relevantes desde o século XX e sua influência crescerá cada vez mais no futuro como uma grande força de alocação de recursos. Essas empresas possuem acesso a tecnologia, ativos físicos e capital humano, gerenciamento e mercado.

The international competitiveness of a nation depends, to a large extent, on the competitiveness of its national enterprises at the microeconomic level. In other words, without competitive enterprises, national competitiveness would be built on quick-sand and any sound macroeconomic policy would be nothing more than engaging in idle theorizing (RENMIN UNIVERSITY, 2001). Desde a adoção pela China da política de reforma e abertura, o país tem mantido uma taxa de crescimento anual de comércio exterior de 14,5%. Isso excede a taxa de crescimento média da economia mundial e do comércio mundial. As razões para o crescimento rápido e contínuo são: primeiro, a China aproveitou as oportunidades criadas pelas três rodadas de ajustes na estruturação econômica mundial, segundo, a China sempre prestou grande atenção à melhoria do ambiente de investimento e atração de investimentos estrangeiros e finalmente, ao longo dos 30 anos de reforma e abertura da China, a economia chinesa manteve um crescimento contínuo, com uma taxa de crescimento anual de em média 9%, estabelecendo uma base sólida para o desenvolvimento do comércio exterior.

2.1 Histórico

O processo de internacionalização chinesa é muito recente e assim, é possível estabelecer um breve histórico com suas várias fases e mudanças para tentar compreendê-lo.

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Desde a fundação da nova China em 1949, o governo chinês estabeleceu algumas empresas no exterior, como uma filial em Hong Kong do Banco da China, China Merchants Group, China Resources Ltd, e do Serviço de viagem da China. Essas empresas foram fundadas para apoiar a importação de produtos chave para o país e a exportação. Como essas instituições foram limitadas em número e em foco, elas não atraem muita atenção (RONGPING, 2009, p.92). Nos primeiros anos da reforma, a abordagem adotada pelo governo chinês para o IDE foi caracterizado como eclético, ad hoc ou mesmo indiferente (HONG; SUN, 2006, p.616).

No começo, havia muito mais entrada de IDE para a China do que a saída dele do país. É por isso que durante os últimos 30 anos, a China tem, agressivamente, moldado uma gama relativamente completa de leis e regulamentos que regem o investimento estrangeiro para dentro do país, como: Law of the People’s Republic of China upon Foreign Wholly Owned Enterprises, Law of the People’s Republic of China upon Sino-Foreign Joint Ventures, Law of the People’s Republic of China upon Sino- Foreign Cooperative Enterprises, e the Guiding Directory on Industries Open to Foreign Investment (LONG, 2005. p.318). De acordo com Long (2005, p.315): ―To maximize FDI‘s benefits in economic development, host country governments employ a variety of policies and measures‖.

Ao mesmo tempo, mas em menor medida, as empresas chinesas começaram a se internacionalizar.

Em meados dos anos 1950, a política da China em relação à ajuda externa começou na forma de grandes projetos, tecnologia, equipamentos e dinheiro para ajudar os países do terceiro mundo a ganhar e salvaguardar a sua independência. Esses projetos econômicos e tecnológicos, financiados por empréstimos sem juros e doações, foram um importante vetor da presença internacional da China e proporcionou uma experiência preparatória para as empresas chinesas que mais tarde viriam a ser internacionais (RONGPING, 2009, p.92-93).

No final de 1970, o desenvolvimento no exterior de projetos de construção chineses levaram à fundação da China State Construction Engineering Corporation (CSCEC), que se tornou a primeira empresa de projetos de engenharia estrangeira em 43

1978. Esta cresceu enormemente e serviu como um prelúdio para o nascimento de multinacionais chinesas. Em 1979, o Conselho de Estado - no âmbito da reforma econômica - começou a encorajar empresas a fabricar no exterior. Pela primeira vez desde 1949, a saída de IDE era parte da política da China. Esse foi o início do processo de internacionalização. A chinesa Beijing Friendship Store Service Company e a japonesa Maruichi Shoji criaram, em 1978, a Kyowa Co., foi a primeira joint-venture chinesa no exterior desde a abertura. A partir de 1979, o processo de internacionalização das empresas chinesas aumentou regularmente em três fases sucessivas (RONGPING, 2009, p.93).

Antes do início das reformas econômicas em 1978, o governo chinês foi contra os fluxos de IDE para dentro da China. As reformas de Deng Xiaoping, em particular a promulgação da Chinese-Foreign Joint Ventures Law em 1979, mudaram essa política quase que instantaneamente (WU; CHEN, 2001, p. 1235 - 1254). Esse documento que o Conselho de Estado emitiu em agosto de 1979, estipulava que a criação de operações no exterior por empresas chinesas foi declarado como uma das treze políticas oficiais para a abertura da economia. A segunda sinalização importante foi o lançamento dos "Provisional regulations governing the control and the approval procedure for opening non-trade enterprises overseas” em julho de 1985 pelo Ministério das Relações Econômicas Internacionais e Comércio Exterior (HONG; SUN, 2006, p. 617-618).

A primeira fase, a de transição (1979-1995) é especial para a China porque, ao contrário das multinacionais ocidentais, japonesas ou coreanas, as empresas chinesas que iniciaram o processo de internacionalização, após a abertura da economia eram empresas estatais e haviam construído sua força no sistema de economia planificada, como Shougang, uma indústria do aço. Essas empresas diferem radicalmente de multinacionais estrangeiras em termos de objetivos, sequência de movimentos e estratégia global. Por causa da falta de experiência, às vezes, elas fazem movimentos ousados que por vezes resultam em problemas para seus empreendimentos estrangeiros (RONGPING, 2009, p.93).

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O período entre 1979 e 1983 foi caracterizado por um grande nível de controle do poder central e um número muito limitado de empresas autorizadas a investir no exterior. O primeiro regulamento oficial chinês para IDE para fora foi incluído nas 15 medidas de reformas econômicas formuladas pelo conselho de Estado da China, em agosto de 1979. Apesar de a Lei 13 especificar que ―It is permitted to set up enterprises in foreign countries‖, na prática, investimento para o exterior era limitado devido à falta de experiência e à limitada reserva de moeda internacional (ZHAOXI, 2009, p.38).

A primeira onda de IDE acabou com as ideias de que as multinacionais geravam malefícios para o país que as recebiam, e na década de 1980, o governo começou a incentivar não só o IDE para dentro da China, mas também incentivar as empresas estatais chinesas a investirem no exterior. Essas empresas, gradualmente, começaram a expandir seus negócios.

Em 1983, o conselho de Estado autorizou o Ministro do comércio exterior e da cooperação econômica da China a gerenciar o processo de aprovação para as empresas chinesas saírem da China (ZHAOXI, 2009, p.38).

Entre 1984 e 1992, com o objetivo de abordar as necessidades de investimento internacionais de empresas chinesas, o Ministério do Comércio Exterior e da Cooperação Econômica promulgou uma comunicação sobre a autorização e Princípio da aprovação do estabelecimento de empresas não-comerciais no exterior (1984). A organização também publicou um novo regulamento chamado: Regulamento de avaliação sobre o processo de aprovação e administração de estabelecimentos não comerciais de empresas no exterior (1985) (ZHAOXI, 2009, p.38).

O investimento aumentou consideravelmente em 1990, quando as autoridades chinesas começaram a dar apoio às empresas chinesas em expansão no exterior. Durante a década de 1990, o impulso, a motivação foi a busca pelos recursos naturais, com ênfase crescente sobre os combustíveis e matérias-primas em geral. Esta é uma consequência natural do elevado crescimento econômico da China, o que levou a um aumento significativo na demanda por esses recursos (HONG; SUN, 2006, p. 619).

Desde meados da década de 1990, o aumento do número de empresas chinesas que passaram a operar em bolsas de valores em países desenvolvidos como uma 45

forma importante de aumentar o capital diretamente em moeda forte e estabelecer a imagem e a reputação internacional, vem crescendo muito (HONG; SUN, 2006, p. 627).

Estudando as empresas multinacionais chinesas nos anos 1990, Zhang e Van Den Bulcke (1996) concluíram que as diferenças encontradas entre elas eram, em grande medida determinada pelo equilíbrio entre estes dois fatores: "a influência do sistema burocrático governamental" e o "desenvolvimento de uma lógica real empresarial".

O sistema de administração básica de IDE chinês foi estabelecido quando o exame e aprovação dos casos individuais foram alterados para um procedimento de aprovação padronizado. As novas regras especificaram as condições para o investimento estrangeiro e expandiram o direito de investir no exterior, antes limitado apenas a algumas empresas (ZHAOXI, 2009, p.39).

Comparado com o sistema criado em 1985, o novo exame e sistema de aprovação de 1991 reforçou o controle sobre o IDE no exterior, especialmente em investimentos estrangeiros de larga escala. O sistema de revisão incluiu mais passos: projetos pequenos (menos de US$ 1 milhão) seriam revistos por três departamentos em vez de dois, e projetos de maior dimensão (mais de US$ 1 milhão) revisto por cinco departamentos em vez de três. O conteúdo do exame também seria mais detalhado para incluir propostas de projetos, relatórios de viabilidade, contratos e estatutos (ZHAOXI, 2009, p.39).

Em 1993, devido à crescente demanda por investimentos no exterior, o Ministério do Comércio Exterior e da Cooperação Econômica começou a redigir o regulamento relativo à Administração de Empresas chinesas no exterior para melhorar a administração de tais investimentos (ZHAOXI, 2009, p.40).

Desde esse mesmo ano, em comparação com os outros países em desenvolvimento, a China vem apresentando o maior volume de entradas de IDE, com cerca de 90% dele trazido por investimentos do tipo green-field. O IDE tem desempenhado um papel importante na contribuição para o desenvolvimento econômico e comercial do país e sua reforma institucional. Na verdade, o governo chinês já formulou uma série de políticas de IDE, como os incentivos fiscais e o 46

documento conhecido como: Guiding Directory on Industries Open to Foreign Investment (LONG, 2005. p. 315-216).

A segunda fase é a de desenvolvimento normal que ocorreu entre 1996-2003. Empresas que haviam sido criadas após a abertura política também começaram o processo de internacionalização. Investimentos no exterior por fabricantes de eletrodomésticos e motocicletas foram típicos desse período, porque houve um excesso de capacidade nos mercados domésticos e as empresas foram à procura de novos mercados no exterior (RONGPING, 2009, p.93).

Depois da crise asiática de 1998, a China adotou uma estratégia de encorajar as empresas a criarem unidades de processamento de matérias-primas no exterior, com o objetivo de aumentar as exportações. Esse foi o primeiro grande passo da China em favor da política de promover o IDE das empresas chinesas (ZHAOXI, 2009, p.45).

Depois de 1999, a fim de encorajar o investimento estrangeiro mais desenvolvido, em indústrias como têxtil e de aparelhos eletrodomésticos, o Conselho de Estado autorizou a criação de empresas de processamento de matérias-primas com investidores e operações de montagem no exterior (MOFTEC, 1999).

A terceira fase, a partir de 2004, foi um período de aceleração. Desde a entrada da China na Organização Mundial do Comércio no final de 2001, as empresas chinesas enfrentaram crescente pressão competitiva internacional, forçando-os a acelerar o seu processo de internacionalização. As fusões e aquisições tornaram-se rapidamente uma das principais formas de entrada no mercado internacional. Além disso, os projetos também foram mais orientados para a tecnologia e capital intensivo. Essa tendência atingiu seu primeiro pico em 2004 e pode ser considerada como "o ano das fusões e aquisições no exterior de empresas chinesas", um símbolo da fase da estratégia "go- global" (RONGPING, 2009, p.93-94).

Como o rápido crescimento da economia chinesa atraiu mais capital de investimento estrangeiro e enormes reservas de divisas, o governo chinês pôde dar apoio aos fluxos de investimentos exteriores. Além disso, o Décimo Plano de Desenvolvimento Nacional (2001-2005) diz claramente que iria aumentar o IDE da

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China, a fim de aumentar a competitividade internacional das empresas chinesas (KASIKORN RESEARCH CENTER, 2004).

A nível macroeconômico, a introdução da política de "reforma e abertura", em 1978, resultou em um rápido crescimento sustentado da economia chinesa. O PIB da China aumentou de RMB 364,5 bilhões em 1978 para 10.9 bilhões em 2001, com uma taxa de crescimento anual de 9,4 por cento (ZHAOXI, 2009, p.33).

Como resultado, a média anual de IDE da China cresceu de US$ 0,4 bilhões na década de 1980 para US$ 2,3 bilhões em 1990. Até o final de 2003, as ações de investimento chinês acumuladas foram estimadas em US$ 37 bilhões. As autoridades chinesas, até 2003, haviam aprovado cerca de 7000 projetos de IDE de empresas não- financeiras que abrangem toda uma gama de empresas incluindo comércio, transporte, exploração de recursos, turismo e produção em 160 países (UNCTAD, 2003).

No fim dos anos 1980, a China assinou tratados de investimentos bilaterais com 101 países. Quando assinaram esses acordos, foi com o objetivo de promover IDE para a China (ZHAOXI, 2009, p.47). Estatísticas mostram que entre 1979 e 2001, investimentos para o exterior aprovados ou arquivados pela MOFCOM chegaram a US$ 3,36 milhões e a China possuía 6610 empresas em mais de 160 países (NATIONAL BUREAU OF STATISTICS, 2006).

Em continuidade a sua política ―go global‖, o governo chinês em agosto de 2006 promulgou novas regras que exigiam que as empresas prestassem atenção às questões de responsabilidade corporativa e o que é chamado de "localização" – respeito aos costumes locais, standarts de segurança, e trabalho.

Houve importantes decisões na área de financiamento, como o fim da obrigatoriedade de enviar à China os lucros do exterior, podendo ser reinvestidos no país de atuação da empresa e a criação do Fundo Soberano Chinês, em 2007, para auxiliar na internacionalização das empresas chinesas (BRASIL, 2009, p.16).

Em 2010, pela primeira vez, os investimentos diretos externos chineses ultrapassaram os do Japão. Esses investimentos saindo da China alcançaram nesse ano o valor de US$ 68,81 bilhões, um aumento de 21,7% comparado com 2009. Ao

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final de 2010, mais de 13000 companhias de investimento chinesas haviam estabelecido mais de 16000 empresas estrangeiras em 178 países ao redor do mundo. Além disso, nesse mesmo ano, os bancos estatais chineses haviam estabelecido 59 filiais, 17 instituições afiliadas em 34 países, incluindo Estados Unidos, Japão e Reino Unido. Essas filiais no exterior empregaram 42 mil trabalhadores, incluindo 41 mil estrangeiros (UNCTAD, 2011).

2.2 Central State-Owned enterprises

Apesar de mais de três décadas de reforma econômica da China, as empresas estatais e as de economia mista ainda representam mais da metade da economia chinesa. Em contraste com os esforços anteriores para privatizar a economia estatal, a tendência recente tem sido na direção oposta. A influência política na China do setor estatal e sua capacidade para competir em escala global estão ambos em ascensão. Na prática, a política industrial da China prevê um papel cada vez maior para o setor, especialmente em apoio às exportações da China e aos investimentos no exterior (USCC, 2012, p.47).

As Empresas estatais fornecem os meios para o governo central designar e controlar segmentos criticamente importantes da economia, como siderurgia, tecnologia de informação, aeroespacial e finanças. Ao mesmo tempo, a estratégia de aquisição de recursos globais da China, por exemplo, é em grande parte gerida por empresas de petróleo e mineração estatal chinesa, auxiliada por sua crescente frota de navios petroleiros e porta-contentores, construídos e operados por empresas estatais. Além disso, dutos que trazem petróleo e gás para a China estão sendo construídos por empresas de construção estatais. Através de seu setor bancário estatal, o governo é capaz de financiar e subsidiar esses projetos. Essas atividades relacionadas resultam do compromisso da China de manter um grande setor estatal direcionado para executar a política industrial do governo.

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As central state-owned enterprises (SOEs) representam um conjunto de 121 grandes corporações não financeiras, pertencentes a setores estratégicos da economia chinesa e que estão sob a supervisão direta do governo central. Esta supervisão é feita pela Stated-Owned Assets Supervision and Administration Commission (SASAC), que consiste em uma instituição com status de ministério, autorizada pelo Conselho de Estado a assumir a responsabilidade de investidor do patrimônio estatal nas Central SOEs. Além disso, o governo chinês faz uma distinção entre essas 121 empresas, selecionando um conjunto de 23 empresas classificadas como ―a Espinha dorsal da China‖ (CEBC, 2011, p.22).

As the backbones of the state economy, the central state-owned enterprises play an important role in the national economy. Since its establishment, SASAC has been actively pushing forward the restructuring of central SOEs focusing on the adjustment of the layout and structure of the state economy and has achieved remarkable results. The sate-owned capital has been further concentrated on important industries and key sectors. By the end of 2008, the assets of central SOEs totaled 17.6 trillion RMB, net assets totaled 7.3 trillion RMB, 80% of which belong to those SOEs in the industries of oil, petrochemical, power, national defense, telecommunications, transportation, mining, metallurgy and machinery. The size, strength and market competitiveness of central SOEs have significantly enhanced (NING, 2009). As central state-owned enterprises estão entre as maiores da China e são agrupadas em setores estratégicos, como telecomunicações, aviação, energia e construção. Como o SASAC responde diretamente ao Conselho de Estado, que é composto de altos membros do Partido Comunista Chinês (PCC), o setor estatal tem acesso direto ao topo do partido e dos funcionários do governo. O Departmento de Organização Central do PCC geralmente determina a adesão dos conselhos de administração e a gestão das empresas estatais, fazendo com que esse departamento seja um dos mais importantes da economia chinesa (USCC, 2012, p.47).

O governo central estabeleceu um grupo de sete indústrias ―estratégicas" e cinco ''heavyweight'' onde o governo deve manter poder absoluto ou controlador de interesses. Essas indústrias estratégicas integralmente detidas são armamentos, geração e distribuição de energia, petróleo e petroquímica, telecomunicações, carvão, aviação civil e transporte. As indústrias ―heavyweight‖ são máquinas, automóveis, tecnologia da

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informação, construção, e de ferro, aço e metais não ferrosos. A propriedade dessas últimas empresas pode ser compartilhada com alguns investidores privados, incluindo participação minoritária por filiais de empresas sediadas no exterior.

Muitos, se não a maioria, dos funcionários das empresas escolhidas pelo Departamento de Organização Central são membros do PCC, e muitos deles tornam-se parte de uma classe gerencial rotativa que percorre a hierarquia das maiores empresas estatais da China. Todos os top 130 líderes das maiores empresas estatais em 2011 foram membros do PCC (USCC, 2012, p.48).

Há também um grupo de empresas, que é parcialmente detida, mas efetivamente controlada pelo governo. Neste caso, o governo pode compartilhar a propriedade com o setor privado e as ações empresariais podem ser negociadas em todas as bolsas de valores. No entanto, o governo mantém dois terços das ações. Em cerca de 70% de todas as empresas não financeiras chinesas listadas, o Estado é o maior acionista, com participação superior a 10% (USCC, 2012, p.50).

O número de empresas estatais chinesas em 2012 foi pouco alterado em relação ao ano anterior. A maioria das empresas estatais chinesas estão filiadas aos governos estaduais e municipais (USCC, 2012, p.50).

Adicionalmente a lista de empresas diretamente sobre o controle da SASAC, the United States- China Economic and Security Review Commission em seu relatório anual de 2012 incluiu os maiores bancos estatais chineses e as companhias de seguro não controladas pela SASAC na lista das maiores central state-owned enterprises.

Quase três quartos do total de ativos bancários na China foram controlados por bancos estatais em 2009. O China Development Bank, o Export-Import Bank of China e o Agricultural Development Bank of China, conhecidos como ―bancos de política'', são inteiramente de propriedade estatal e responsáveis por programas e projetos de financiamento escolhidos pelo governo central. O Industrial and Commercial Bank of China, o China Construction Bank, o Banco Agrícola da China e o Banco da China são os bancos comerciais estatais, conhecidos como o ''Big Four''. Todos os quatro estão entre os 20 maiores bancos do mundo em termos de ativos e eles têm crescido rapidamente, apesar da recessão global (USCC, 2012, p.51). 51

Os bancos estatais muitas vezes oferecem empréstimos concessionais, em alguns casos, em 2 pontos percentuais de juros abaixo de taxa de mercado, para ajudar as empresas chinesas com vantagens comparativas em seus projetos offshore e investimentos no exterior, de acordo com a declaração da missão do banco (USCC, 2012, p.65).

As estatais têm acesso preferencial ao capital de bancos estatais da China, emprestando a taxas abaixo do mercado e se beneficiando do perdão da dívida. Dos US$ 1,4 trilhão em empréstimos bancários chineses em 2009, 85% foram concedidos a empresas estatais, enquanto o setor privado da China foi deixado a lutar pelo restante. Como o governo decide a taxa de juros que o banco pagará aos depositantes, ele pode fornecer empréstimos a juros baixo para os mutuários. Porque o governo favorece empresas estatais como uma questão de política nacional, os empresários chineses e empresas privadas operam em desvantagem financeira considerável em relação ao seus concorrentes estatais (USCC, 2012, p.53).

Entre os subsídios prestados às empresas estatais estão as taxas mais baixas de impostos, os subsídios diretos do governo, a proteção contra a concorrência estrangeira (particularmente nos serviços financeiros, indústria automobilística, telecomunicações e setores de energia). A China também fornece ao seu setor estatal acesso preferencial a matérias-primas e energia elétrica abaixo da taxa de mercado. O país reserva grande parte do seu mercado de compras governamentais para as empresas chinesas, principalmente estatais, através de uma legislação favorável, catálogos de compras de fornecedores aprovados e contratados, ou políticas de substituição de importações destinadas a desencorajar as compras de empresas estrangeiras (USCC, 2012, p.57).

Em setembro de 1995, a 5ª Sessão Plenária do 14º Comitê Central do PCC apresentou as políticas para a reestruturação estratégica das empresas públicas, e também a ideia de que o Estado iria abraçar e nutrir as maiores empresas estatais, deixando as menores se defenderem sozinhas através de um processo de privatização e consolidação industrial. A 4ª Sessão Plenária do 15o Comitê Central do PCC decidiu

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"estrategicamente ajustar o layout de empresas estatais e reorganizar as empresas estatais".

Quando essas políticas foram apresentadas, os problemas de longo prazo das empresas públicas as tinham deixado em más condições: uma em cada três empresas estatais tiveram perdas explícitas enquanto o outro um terço teve perdas ocultas. A maioria das empresas estatais enfrentaram insuficiência de fundos, funcionários redundantes e encargos sociais excessivos. Por isso, algumas delas se reformaram de maneira estrutural, dividiram as grandes empresas estatais em entidades jurídicas menores ou procuraram financiamento por listagem no mercado de ações.

Em 1997, o governo central decidiu resolver os problemas das grandes empresas dentro de três anos, concentrando-se em "holding on to the big and letting go of the small‖ e a implementação de reorganização estratégica. O Estado diminuiu gradualmente as principais áreas de atividade das SOEs, identificando a espinha dorsal das empresas em indústrias relacionadas com a segurança nacional, indústrias de monopólio natural, indústrias que fornecem produtos e serviços públicos, indústrias de apoio e indústrias de alta e nova tecnologia. Depois que a SASAC foi criada em 2003, o Estado limita-se principalmente às empresas estatais dentro de indústrias, tais como: petróleo e petroquímica, energia, defesa nacional, telecomunicações, transporte, mineração, metalurgia e máquinas.

2.3 Reformas e impulsos a internacionalização

A reforma de empresas estatais sempre foi um elemento chave na reestruturação econômica da China. Desde o início das reformas e da liberalização da economia, o governo chinês vem executando várias experiências que tentaram por todos os meios possíveis resolver o problema de longo prazo.

A fim de executar a estratégia de internacionalização, o sistema deve ser reformado. Embora a China não tenha atingido o estágio de uma abertura total de

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investimento estrangeiro, algumas empresas são capazes de, efetivamente, investir no exterior após muitos anos de experiência internacional.

O "Regulations for approval and control of non-trade related overseas investment by Chinese enterprises” promulgada pelo MOFTEC em março de 1992 elevou o teto de aprovação referido pelo Ministério e pela Comissão de Planejamento do Estado de US$ 10 milhões para US$ 30 milhões. Em outubro de 2004, uma série de políticas foram anunciadas para delinear políticas básicas sobre dar apoio ao crédito chave para o investimento estrangeiro incentivados pelo governo (HONG; SUN, 2006, p. 618).

Um grande impulso para a política de incentivo ao IDE foi o afrouxamento dos controles sobre o investimento no exterior das empresas chinesas. Esse investimento no exterior exigia a aprovação do Ministério do Comércio da China, com aprovação de moeda estrangeira concomitante da Administração Estatal de Câmbio (SAFE). Em 2002 essa autorização, que até então era feita pela SAFE – agência central - foi descentralizada e as autarquias locais ficaram com o poder de decidir sobre projetos de até US$ 1 milhão, com um máximo de investimento de US$ 200 milhões (GU; REED, 2010, p.4-5).

Os investimentos estrangeiros de mais de US$ 1 milhão são examinados e aprovados por cinco departamentos – Embaixada Chinesa, o governo local ou a local branch da State Council, do NDRC, a MOFCOM e o SAFE. O processo acaba ficando muito devagar; com falta de transparência; e, mesmo depois que o investimento estrangeiro é aprovado, o acompanhamento desse investimento é negligenciado (ZHAOXI, 2009, p.42).

O processo, porém, por ser demorado e muito burocrático gera consequências negativas também para as companhias chinesas que tentam investir no exterior. Primeiramente, as empresas podem perder oportunidades por causa da incerteza e do atraso nesse processo. Em segundo lugar, as empresas chinesas podem ficar tentadas em minimizar o total de investimento ou separar o investimento em pequenos projetos para evitar o processo de exame pela NDRC (ZHAOXI, 2009, p.42).

O SAFE é o responsável por checar a origem dos fundos que serão usados para IDE. Em 2003, uma decisão foi feita para simplificar e descentralizar o processo de 54

imersão e investimento exteriores pelo Notice on Furthering Reform of Foreign Exchange Administration of Overseas Investments, o que levou ao sistema de hoje. Todos os investidores que querem fazer investimentos no exterior precisam obter a aprovação do SAFE ou de sua filial local, o Escritório Administrativo de Comércio Exterior (ZHAOXI, 2009, p.44).

Desde outubro de 2002, o SAFE instituiu um programa piloto em 14 províncias e cidades com o objetivo de tentar simplificar o processo administrativo para níveis locais. Em 2005 essa medida foi expandida para toda a China (ZHAOXI, 2009, p.45).

A descentralização continuou em 2005 com a autorização de cambio estendida a todas as províncias, municípios e regiões autônomas e o limite local para projetos aumentou para US$ 10 milhões com a cota de investimento global ampliada para US$ 5 bilhões. Em junho de 2006, a quota de investimento global foi abolida. Enquanto isso, a aprovação que era dada pelo Ministério do Comércio para os investimentos no exterior também foi descentralizada para as administrações locais em outubro de 2004, exceto para as grandes empresas estatais (GU; REED, 2010, p. 5).

Um segundo impulso envolveu o apoio direto do Ministério do Comércio. Alguns destes apoios consistiram em suporte informacional e experiência burocrática nas leis de IDE. Como exemplo desse suporte, em julho de 2004, o Ministério do Comércio, juntamente com o Ministério das relações exteriores, apresentou uma lista de indústrias que deveriam ser primeiramente consideradas para investimentos no exterior. Além disso, suporte adicional veio para empresas que investiam no exterior na forma de empréstimos com juros baixos ou sem juros, benefícios fiscais, acesso a divisas estrangeiras, entre outros. Isso culminou, em novembro de 2004, com a criação de um sistema formal de empréstimos sob a autoridade da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma e o EximBank da China (GU; REED, 2010, p.4-5).

O EximBank da China forneceu bilhões de dólares em empréstimos e garantias para companhias chinesas no exterior, um dos principais instrumentos para facilitar os investimentos chineses no exterior.

Empresas chinesas enfrentam severa competição internacional, assim, muitas percebem que precisam crescer internacionalmente para sobreviver e que investimento 55

estrangeiro pode contribuir para esse objetivo. Embora a China não tenha, ainda, alcançado um estágio de completa abertura ao investimento estrangeiro, algumas empresas são capazes de investir no exterior eficientemente depois de muitos anos de experiência internacional. Esses investimentos estrangeiros permitem que as empresas adquiram tecnologia avançada e técnicas de administração de outros países (ZHAOXI, 2009, p.43).

2.4 Governo

Há fortes evidências de que o apoio do governo chinês é um dos principais motores da internacionalização de empresas chinesas (RUI; YIP, 2007; BUCKLEY ET AL., 2007). As decisões-chave sobre investimentos no exterior, incluindo opções de localização e setor, foram determinadas, principalmente, pela consideração de aumentar a influência política e econômica da China e expandir suas relações comerciais internacionais, em vez da maximização de lucros no mercado (HONG; SUN, 2006, p. 619).

Uma extensa literatura avalia se o controle do governo possui efeitos benéficos ou prejudiciais sobre o desempenho da empresa chinesa, com resultados pouco claros, a depender da metodologia (XU; WANG, 1999; QI; WU; ZHANG, 2000; SUN; TONG; TONG, 2002; HOVEY; LI; NAUGHTON, 2003; WEI; XIE; ZHANG, 2005; GUNASEKARAGE; HESS; HU, 2007). Os resultados contraditórios alcançados nesses estudos destacam a complexidade da relação entre estrutura de propriedade e desempenho da firma num contexto chinês.

Quanto às razões para o impacto negativo da propriedade estatal sobre o desempenho da empresa, as pesquisas já feitas argumentam que a posse do governo é inferior à propriedade privada em mercados competitivos devido a (i) a preferência do governo para as metas sociais e políticas em oposição à maximização de valor, (ii) a sua influência na nomeação de gestão e outro pessoal que dá preferência a pessoas com influência política àquelas com a capacidade de executar e (iii) o maior custo de transação, entre outras razões (VINING; BOARDMAN, 1992; MEGGINSON; NASH; 56

VAN RANDENBORGH, 1994; BOUCKO; SHLEIFER; VISHNY, 1996). Por outro lado, nos mercados chineses, que não são tão competitivos financeiramente e administrativamente comparados com aqueles dos países desenvolvidos, o governo, como maior acionista individual da empresa, pode ter o incentivo para monitorar gestores, assim, mitigar o problema do governo e melhorar o desempenho da empresa (BOS, 1991). Além disso, de acordo com Wei et al (2005) encontra-se um impacto negativo da propriedade estatal sobre o desempenho da empresa mesmo depois de controlar fatores como tamanho da empresa, associação da indústria e risco da firma.

Como impacto positivo, o governo chinês promoveu uma série de medidas para incentivar a saída de IDE, seja com mudanças nos procedimentos administrativos, seja com financiamento ou orientação dos investidores. O país receptor do investimento também teve suas relações diplomáticas fortalecidas por meio da celebração de contratos bilaterais com a China. Além disso, desde a segunda metade da década de 1980, o governo chinês tem dado às empresas chinesas que iniciaram operações no mercado externo, isenção de imposto de renda por cinco anos. Outro argumento é que essas empresas possuem mais capacidade para lidar com a burocracia dos governos estrangeiros ou mesmo para obter favores dos mesmos.

Na China, como as grandes empresas chinesas são quase todas estatais e fortemente controladas pelo poder central do país, o apoio do governo chinês para as empresas irem além das suas fronteiras nacionais vai além do objetivo de assegurar e aumentar a competitividade internacional das empresas chinesas. Outro objetivo principal é o de contribuir para o ajustamento econômico da China (ZHAOXI, 2009, p.31).

Se, como já dito, as motivações do Estado chinês para incentivar a internacionalização de suas empresas não são somente maximizar os lucros, isso pode significar que as ações estatais são baseadas em uma diplomacia econômica.

As embaixadas chinesas no exterior são a principal fonte de informações sobre oportunidades de investimento no exterior para as empresas chinesas. O governo chinês vem oferecendo essas informações desde 1980 (ZHAOXI, 2009, p.44).

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Para incentivar o projeto de processamento de matérias-primas, o People‘s Bank of China e o MOFTEC tem passado um regulamento especial chamado "Guia para a concessão de empréstimos para suportar o processamento de matérias-primas no exterior do investidor e operações de montagem". Empregando o artigo 4º do presente regulamento, o Banco Comercial e o Banco de Exportação e Importação da China podem conceder empréstimos de longo e de curto prazo para as empresas que investem em tais projetos. Empréstimos de médio e longo prazo são dados para a compra doméstica de equipamento e tecnologia necessários para construir a fábrica. Por outro lado, a curto prazo, empréstimos são feitos para comprar matérias-primas, componentes e peças necessários para o processamento no exterior, bem como para os gastos de produção (ZHAOXI, 2009, p.46).

Há uma complexa relação entre o governo chinês e as empresas que não são inteiramente estatais, com instrumentos que permitem participação direta na organização da empresa. Além disso, diferentes níveis de governo podem estar envolvidos individualmente ou operando por meio de joint ventures, como o governo nacional, provinciais ou municipais. As implicações do controle do governo sobre as empresas são múltiplas. O governo pode influenciar na nomeação de altos executivos, no controle direto sobre os tipos de atividades comerciais empreendidas e a maneira pela qual elas são implementadas, subsidiar atividades de negócios específicos direta ou indiretamente por meio de empréstimos de baixo ou sem juros do Banco Central da China.

As empresas chinesas operam com uma estrutura muito diferente do que é usual em suas congêneres. A característica dominante da composição acionária na China é a participação das ações não-negociáveis do Estado, seja através de investimento direto ou indireto, através da participação de instituições nacionais muitas das quais são parcial ou totalmente pertencentes ao governo central ou a autoridades locais. Essa característica é resultado de um processo contínuo de privatização parcial de empresas estatais iniciado em 1978 e intensificado posteriormente. Uma companhia típica chinesa tem cinco classes distintas de proprietários com ações detidas por (i) o Estado, (ii) pessoas jurídicas, (iii) funcionários, (iv) indivíduos chineses, (v) indivíduos estrangeiros.

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Os investidores nacionais, o Estado e as pessoas jurídicas são os três grupos dominantes, mantendo acima de 80% das ações em circulação. Essa estrutura de propriedade distinta, juntamente com a propriedade estatal influente que não é negociável, oferece um ambiente diferente para testar a relação entre estrutura de propriedade e desempenho da empresa (GUNASEKARAGE; HESS; HU, 2007, p.3-4).

Outro problema é que o governo chinês exerce sua função de regulação macroeconômica, mas também intervém a um nível microeconômico como um investidor de ativos estatais. Isso leva a uma série de desvantagens: os numerosos níveis de controle tornam o processo ineficaz, o exame é demasiado pormenorizado, há uma falta de transparência e por último, a falta de seguimento depois do projeto ser aprovado é inadequada, contribuindo para o problema.

Multinacionais chinesas diferem fortemente de suas contrapartes nas economias desenvolvidas. No começo da abertura política da China, houve uma falta de financiamento, tecnologia e pessoal treinado. A função de seu processo de internacionalização foi através de exportações para obter a moeda estrangeira para comprar o necessário em tecnologia, equipamento e material. O Governo chinês e as empresas também foram enviando suas equipes ao exterior para desenvolver seus conhecimentos e habilidades. O objetivo na época era para adquirir conhecimento e tecnologia e introduzi-lo na China por meio de importações, de IED, e de cooperação internacional (DONGHONG, 2009, p.151).

A preocupação central do governo chinês em 2000 foi a reestruturação e a reforma das empresas estatais para reduzir a sua quota na economia nacional. Um segundo objetivo foi aumentar a competitividade das empresas chinesas e facilitar o surgimento de empresas de alta qualidade por meio de diversas formas de cooperação com empresas estrangeiras. Este objetivo foi ainda mais importante após a entrada da China na OMC (ZHAOXI, 2009, p.62).

Desde 2001, o governo chinês definiu novas políticas e medidas para facilitar o apoio ao processo de internacionalização: projetos de comércio exterior de processamento, exploração de recursos no exterior, e projetos contratados no exterior. As principais medidas foram tomadas em relação ao apoio financeiro, administração de 59

divisas, reembolso de imposto de exportação, serviços financeiros e de seguros. No entanto, a fim de promover a estratégia "go global‖, novos esquemas têm de ser considerados (ZHAOXI, 2009, p.73).

Hitt et al. (2004) apresentam evidências de que o contexto institucional criado pelo governo chinês é propício para as empresas chinesas que procuram melhorar a sua competitividade através de alianças de longo prazo com empresas estrangeiras que possuem capacidades únicas. Uma das maneiras mais importantes que o governo patrocina a expansão para o exterior é a concessão de empréstimos a juros baixos para financiar a compra de empresas estrangeiras a partir de fontes que ele controla, como bancos estatais da China (THE ECONOMIST, 2005). O apoio institucional tem de ser considerado como um fator que pode ajudar a estabelecer as bases para a internacionalização das empresas chinesas, desde que essas empresas mantenham a sua liberdade de exercer suas próprias estratégias. Embora o empreendedorismo per se, sem dúvida, tenha sido reforçado na China e encorajados por desenvolvimentos tais como a legitimação oficial das empresas privadas em 1999 (GARNAUT; SONG, 2004), os casos examinados, no entanto, sugerem que os empresários chineses são mais eficazes na causa da promoção da internacionalização quando mantêm as suas ligações com o Estado, segundo a hipótese de Zhang e Van Den Bulcke (1996, p. 161). O processo de internacionalização de empresas chinesas parece ser significativamente impactado por fatores institucionais. O "relational framework" (MEYER, 2004) que as empresas chinesas desfrutam com o apoio de órgãos governamentais é extremamente confidencial, a sua importância econômica e psicológica não pode ser avaliada com precisão. No entanto, Warner et al. (2004, p. 340) são susceptíveis de serem corretos em sua especulação que: ‗the State‘s sponsorship and funding support are a key factor that may make possible the frequent acquisitions initiated by the PRC-based enterprises as a ―normal‖ mode of entering and penetrating a host economy‘.

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2.5 O processo de internacionalização

O processo de internacionalização das empresas chinesas implica transformações em três níveis diferentes: a criação da organização internacional apropriada ao nível da empresa para atender às necessidades de demanda internacional e dos mercados; a internacionalização das práticas de gestão em termos de processo de tomada de decisão, investimento, finanças, produção e distribuição; apoio institucional para o processo de internalização a um nível de política macroeconômica (ZHAOXI, 2009, p.70).

A prioridade para as companhias chinesas nesta primeira fase de seu processo de internacionalização é aprender com a tecnologia e experiência de outros países. Há um investimento inicial, e as empresas podem ter de aceitar perdas potenciais, como parte do processo de aprendizagem ao implementar a sua estratégia de construir operações rentáveis (ZHAOXI, 2009, p.72).

Se for tomada como referência a teoria de investimento de Dunning, a China está em um estágio em que pode construir a sua presença internacional, com vantagens específicas, mesmo que ainda haja uma grande lacuna entre a China e os países desenvolvidos em tecnologia internacional de gestão de competências e financiamento. No passado, a China desenvolveu suas vantagens competitivas, principalmente, na indústria leve, têxtil, química, eletrônica e médica. No entanto, nos últimos anos também tem demonstrado seu potencial relativamente avançado nos setores de alta tecnologia, como viagens ao espaço, energia nuclear, bioengenharia e software para computador (ZHAOXI, 2009, p.75).

De acordo com seus objetivos específicos e sua combinação única de recursos, as empresas chinesas podem escolher diferentes modos de entrada no mercado estrangeiro. As fases tradicionais do processo de internacionalização de empresas são: exportação, licenciamento, alianças estratégicas, aquisições e criação de novas subsidiárias estrangeiras (HITT, 2002). Empresas chinesas nas fases iniciais da sua internacionalização operam principalmente ao longo das três primeiras etapas. Empresas mais maduras utilizam o estágio quatro e cinco, se elas tiverem ambições

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mais elevadas de participação no mercado internacional e quando elas acumulam os recursos apropriados.

Segundo estatísticas do Ministério do Comércio chinês (2012), só em janeiro de 2012, investidores chineses investiram diretamente em 355 empresas estrangeiras em 87 países. IDE acumularam US$ 4,376 bilhões, um aumento de 59,9% se comparado ao mesmo período do ano anterior.

O processo de internacionalização das empresas chinesas e sua evolução em direção ao status de empresas multinacionais ou transnacionais pode ser avaliado de acordo com três grandes dimensões: o investimento inicial dessas empresas, a natureza do investimento, a orientação geográfica, o tempo; os objetivos e a visão a longo prazo perseguido por empresas chinesas no nível corporativo; o padrão de internacionalização das empresas chinesas e suas fases específicas de desenvolvimento internacional (RONGPING, 2009, p.77).

Antes de investir internacionalmente, a maioria das empresas chinesas tiveram a oportunidade de desenvolver a sua experiência internacional por meio de exportação, de investidores estrangeiros na China, e parcerias tecnológicas com empresas estrangeiras. No entanto, o verdadeiro ponto de mudança na história dessas empresas é quando elas fizeram seu primeiro investimento no estrangeiro, geralmente na fabricação ou em P&D. Muitas vezes, essas empresas logo passaram para outros países e, em alguns casos, construíram uma presença global. Para entrar neste processo de internacionalização, os jogadores nacionais da China tiveram que enfrentar grandes desafios em termos de recursos e capacidades de gestão. Há claro, uma estreita relação entre três elementos: o crescimento no mercado interno, obtenção de experiência prévia internacional através de joint ventures estrangeiras e acordo de colaboração, e as exportações de produtos básicos (RONGPING, 2009, p.78).

Há uma grande diferença entre as multinacionais chinesas, que são os retardatários, e os seus homólogos ocidentais. Quando as primeiras multinacionais americanas e europeias começaram seu processo de internacionalização, estavam competindo com poucas multinacionais no mesmo ramo de indústria e que já possuíam tecnologia própria. Pelo contrário, quando os retardatários - incluindo empresas 62

japonesas e multinacionais dos mercados emergentes - iniciaram seu processo de internacionalização, muitas empresas multinacionais já atuavam em sua indústria e dependiam de tecnologia estrangeira (RONGPING; YINBIN, 1999).

As empresas chinesas estão nesta situação, e, além disso, seu processo internacional difere de acordo com os seguintes critérios: quando foi a empresa fundada? Quando é que começou seu processo de internacionalização? Quais são seus objetivos internacionais? (RONGPING, 2009, p. 80).

Um primeiro grupo de empresas segue um "caminho de transição". Essas empresas foram criadas quando a economia chinesa era fechada e elas alcançaram um tamanho considerável no mercado interno antes de investir internacionalmente. Quando a economia chinesa começou a se abrir, essas empresas já eram grandes ou médias empresas e tinham acumulado mais recursos do que os seus concorrentes nacionais. Empresas como a Shougang (siderurgia), CNPC e CNOOC (petróleo e gás) são exemplos (RONGPING, 2009, p. 81).

Uma segunda categoria de empresas tem seguido um "caminho normal". Essas empresas cresceram de forma constante durante a fase de abertura da economia chinesa, apesar da crescente concorrência de produtos estrangeiros. Essas empresas começaram o processo de internacionalização passo-a-passo. Alguns exemplos são: Baosteel, , , Holley, a Technologies, Jincheng, TCL Corporation, e Wanxiang (RONGPING, 2009, p. 82).

Há uma terceira categoria de empresas que seguem um "caminho acelerado". Estas empresas foram criadas já durante o período de economia aberta e têm lutado por recursos e mercados desde o início. Assim, elas quase que imediatamente começaram seu processo de internacionalização. BOE, China Worldbest, NFC e Shangai Electric caem nesta categoria (RONGPING, 2009, p. 82).

Empresas seguindo o caminho de "transição" em seu processo de internacionalização esperam ganhar um complemento ao seu já relativamente grande tamanho e vantagem competitiva histórica. Empresas seguindo o "caminho normal" crescem internacionalmente a um ritmo lento, mas constante de acordo com seu tamanho e vantagem competitiva atual. Empresas em um "caminho acelerado" se 63

internacionalizam, a fim de aumentar seu tamanho relativo e desenvolver sua vantagem competitiva (RONGPING, 2009, p. 82).

Em termos de visão global, as empresas dizem que querem ser "um líder mundial". Estratégias internacionais têm uma relação forte com opções de estratégia de crescimento: a natureza do portfólio de atividades e grau de diversificação. Algumas empresas tratam operações no exterior como um conjunto de atividades totalmente separadas, o que sugere problemas de coordenação entre a estratégia internacional e estratégias de crescimento. Em alguns casos, é ainda difícil de avaliar o desempenho de subsidiárias estrangeiras, bem como o impacto do seu desempenho nos resultados a nível corporativo. A justificativa para os primeiros investimentos estrangeiros chineses e a primeira formulação de uma estratégia internacional varia de uma empresa para outra (RONGPING, 2009, p.85-86).

As últimas décadas têm sido caracterizadas em particular pelo desenvolvimento das tecnologias da informação e do início da era da globalização.

Essas transformações colocam muitos desafios para as teorias existentes sobre as multinacionais e, especificamente para as multinacionais chinesas (RONGPING, 2009). Uma das premissas mais importantes da teoria da multinacional dominante é de que o investimento estrangeiro implica custos mais elevados do que investir no mercado interno e, consequentemente, uma empresa deve possuir uma clara vantagem competitiva sobre seus rivais antes de investir no exterior: ela deve possuir uma "vantagem competitiva prévia" (CHILD; RODRIGUES, 2005).

Nesse contexto, possuir uma "vantagem competitiva prévia" pode não ser mais um pré-requisito para a internacionalização. Mais do que isso, as empresas têm de reorganizar a sua cadeia de valor em uma base global para sobreviver e crescer em um ambiente global de negócios (RONGPING, 2009, p.89).

Assim, o processo de internacionalização das multinacionais de países emergentes sugere a existência de tipos diferentes de players no cenário internacional.

O processo de internacionalização das empresas chinesas que operam no exterior a partir de Singapura, Tailândia, Indonésia, Malásia, Filipinas, Hong Kong,

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Macau e Taiwan, oferece pistas úteis para a compreensão do processo de internacionalização das multinacionais da China (RONGPING; YINBIN, 1999). Um primeiro grupo de empresas construiu sua vantagem competitiva primeiro em seu mercado de origem antes de usar essa vantagem competitiva para, gradualmente, entrar em mercados estrangeiros (RONGPING, 2009, p.90).

Um segundo grupo de empresas desenvolveu uma estratégia que é mais benéfica para as empresas dos países emergentes: investir primeiro internacionalmente, a fim de construir a sua vantagem competitiva, em seguida, adquirir recursos naturais e tecnologia, talvez antes do acesso ao mercado (RONGPING, 2009, p.91).

Essa distinção entre "construir vantagem competitiva antes" (grupo 1) e "investimento internacional de primeira" (grupo 2) ajuda a compreender as estratégias de crescimento das multinacionais emergentes da China continental (RONGPING, 2009, p.91).

Muitas empresas chinesas estão ainda numa fase inicial do seu processo de internacionalização (YIHUA, 2009, p.180).

Outros estudiosos (CHILD; RODRIGUES, 2005) classificam a expansão internacional da China em diferentes níveis. O primeiro nível, a exportação, embora, de longe o aspecto mais significativo de negócios internacionais do país em termos de valor econômico, não necessariamente envolve qualquer investimento direto ou presença organizacional de ativos no exterior. O segundo nível tem a forma de fabricação de equipamento original (OEM) ou a subcontratação de empresas estrangeiras para produção, ou/e outras formas de parceria com elas. Embora grande parte dessa atividade seja incluída dentro dos valores de exportação, é qualitativamente diferente na oferta de canais mais diretos para a transferência dos standarts internacionais de gestão e da competência técnica necessários para as empresas chinesas ao inserirem no mercado maior valor acrescentado e estabelecer operações no exterior. O terceiro nível envolve a expansão física e organizacional de empresas chinesas em locais no exterior financiados por IDE. Investimento no exterior pode ser usado tanto para comprar ativos no exterior ou para financiar a expansão orgânica fora da China. Esse é um nível mais avançado de internacionalização, no sentido de que ela 65

implica em um compromisso e também em organizar operações localizadas fora da China (CHILD; RODRIGUES, 2005, p.382).

Outra noção interessante para o caso da China é a de ―desenvolvimento atrasado‖. Ela oferece uma boa contribuição à questão. Esta tese tem sido aplicada a nações, inicialmente o Japão (DORE, 1973), e em seguida aplicada às novas economias emergentes do leste asiático, principalmente Taiwan, Coréia do Sul, Hong Kong e Singapura. A recente internacionalização chinesa e sua emergência como grande nação industrializada também a classifica nessa categoria (CHILD e RODRIGUES, 2005, p.384).

It is significant that latecomer firms did not start from positions of strength, but rather ―from the resource-meager position of an isolated firm seeking some connection with the technological and business mainstream‖ (MATTHEWS, 2002, p.471). O significado da perspectiva do desenvolvimento atrasado está na forma como ele dirige a atenção ao investimento internacional como um meio de resolver as desvantagens competitivas. Desta forma, o IDE permite que as empresas que não são inicialmente competitivas no mercado mundial se aproximem de empresas líderes com aquisição de ativos e recursos apropriados (CHILD; RODRIGUES, 2005, p.384).

Economias em desenvolvimento e economias em transição são tipicamente caracterizadas por uma participação ativa do governo em negócios, tanto na de participação como na de regulamentação (PENG, 2000). Esse é certamente o caso da China, que no sentido literal continua a ser uma economia muito influenciada pela política, apesar do desenvolvimento de um sistema de mercado (CHILD; TSE, 2001). As consequências para a internacionalização das empresas chinesas podem ser significativas. Por exemplo, muitas das grandes empresas chinesas, que têm sido apontadas como "campeões nacionais", recebem apoio financeiro e proteção contra as autoridades chinesas.

As mesmas empresas que poderiam se internacionalizar com a vantagem do apoio de governos nacionais poderiam ser enfraquecidas pela maneira com que elas permanecem em dívida com a aprovação administrativa e por terem um legado de dependência institucional. Esse legado pode inibir a ação estratégica quer através da

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promoção de uma atitude conservadora ou através de restrições mais diretas (LEWIN; LONG; CARROLL, 1999). Assim, tem havido casos em que as autoridades governamentais chinesas removeram líderes de empresas estatais que demonstraram o tipo de iniciativa empresarial em que a internacionalização depende (NOLAN, 2001). Este paradoxo sugere que, a fim de internacionalizar com sucesso, empresas que vêm de um ambiente fortemente institucionalizado devem negociar formas de combinar o suporte material que o governo pode oferecer com um grau suficiente de liberdade (CHILD; RODRIGUES, 2005, p.385).

Some studies concluded that developing country multinationals generally suffer from significant competitive disadvantages compared to MNCs from developed countries. These disadvantages can include outdated technology, heavy reliance on expatriates caused by underdeveloped personalized management systems, and limited knowledge of overseas markets (CHILD; RODRIGUES, 2005, p.386). Há algumas outras tendências observadas no processo de internacionalização das empresas chinesas que precisam ser estudadas. É o caso do emprego reduzido de trabalhadores locais, pois as empresas chinesas preferem trazer trabalhadores da China; da concentração de vendas para o exterior; e da concentração de atividades em infraestrutura e petróleo. As atividades relacionadas ao setor energético são relevantes, não são, porém, a maioria (ANSHAN, 2007. P.81).

Outros estudos de caso sugerem que há três rotas que estão sendo tomadas por empresas chinesas de internacionalização. São elas: (1) a rota da parceria através de OEM ou joint ventures, (2) a rota de aquisição, e (3) a rota de expansão orgânica. ―A primeira rota é um canal para perceber o que pode ser chamado de "internacionalização para dentro", enquanto a segunda e a terceira são aquelas 'para fora‘ " (CHILD; RODRIGUES, 2005, p.390). Formar joint ventures com empresas estrangeiras, entrando em uma parceria com elas através da fabricação de equipamento original ou licenciando sua tecnologia, é um caminho escolhido por muitas empresas chinesas. Essa rota equivale a uma espécie de internacionalização 'para dentro' em que há um relacionamento com um fim, sendo contínuo, operacional e organizacional com uma ou mais empresas multinacionais de um tipo que permite a transferência de competências e

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conhecimentos relevantes para a eventual internacionalização para o exterior através de exportação e/ou de investimento no exterior. Além disso, a OEM combina a vantagem do custo de uma empresa chinesa, com uma vantajosa marca de uma empresa estrangeira (CHILD; RODRIGUES, 2005, p.390). A segunda rota diz respeito ao número crescente de aquisições internacionais por empresas chinesas nos últimos anos. Enquanto essas aquisições podem, eventualmente, suportar uma estratégia de competição global, atualmente não parecem ser motivadas por essa consideração. Elas realizaram aquisições para ganhar acesso à tecnologia, para assegurar P&D de competências, e para adquirir marcas internacionais. A aquisição proporciona uma via rápida a esses benefícios e também o poder de negá- los aos concorrentes (CHILD; RODRIGUES, 2005, p.391 – 392). A rota de aquisição para garantir a diferenciação internacional e a vantagem da marca está sendo utilizada por um número crescente de empresas chinesas. A terceira rota, a de expansão orgânica internacional, envolve o estabelecimento de subsidiárias e instalações dentro dos mercados alvos. É inicialmente destinada a assegurar vantagens em termos de diferenciação, por exemplo, de adaptação a necessidades do mercado local e gostos (CHILD; RODRIGUES, 2005, p. 394). Cada caminho possui certas vantagens, mas ao mesmo tempo é acompanhado de riscos e desafios.

As empresas chinesas têm um forte interesse em participar ativamente na divisão internacional do trabalho e na expansão do mercado doméstico para o internacional. Tendo atingido um tamanho ideal, eles estão interessados em reorganizar sua cadeia de valor de uma forma mais complexa a nível global. No nível corporativo, isso significa uma maior integração e interação com a economia mundial em termos de fatores de produção, capital, tecnologia e recursos humanos, bem como em termos de fornecimento, produção e marketing.

Os principais mercados para serviços de trabalhadores chineses no exterior estão em países em desenvolvimento. Três quartos da mão de obra são enviados para os países asiáticos, e uma pequena porcentagem para os países desenvolvidos. Os principais componentes são o trabalho de médio ou baixo nível, como trabalhadores da

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construção civil e de esgoto. Mas o trabalho qualificado está aumentando continuamente, como marinheiros, engenheiros de software de computador, consultores de projetos e médicos. A competitividade internacional da China está gradualmente sendo reforçada (ZHAOXI, 2009, p.55).

Envio de trabalho no exterior não só proporciona oportunidades de emprego para as pessoas e cria uma grande quantidade de ingresso de divisas para o país, mas também melhora a qualidade do trabalho e melhora o desenvolvimento de indústrias relevantes, tais como companhias aéreas nacionais e telecomunicações. Esse envio tornou-se o padrão de exportação mais competitivo para o setor de serviços da China (ZHAOXI, 2009, p.55-56).

Desde 1999, o governo chinês tem fortemente encorajado investimentos no exterior de processamento e montagem de empresas. As indústrias mais ativas têm sido têxteis, electrodomésticos, produtos eletromecânicos, produtos químicos e farmacêuticos (ZHAOXI, 2009, p.60).

Ao mesmo tempo, a estratégia das empresas chinesas começou a se concentrar mais no core business do que em tamanho. Eles começaram a aproveitar as oportunidades para crescer mais rapidamente em seu core business através de aquisições de ativos estrangeiros na China e no exterior. Adquirir recursos e marcas são dois objetivos principais de F&A chineses no exterior. Relativamente falando, a China carece de recursos naturais e a diferença entre demanda e oferta aumentou desde que a China tornou-se o centro mundial de fabricação. Isso explica os investimentos de empresas chinesas em buscar recursos. Eles precisam de tais recursos naturais para a produção em setores como petróleo e gás, mineração, siderurgia, energia elétrica, e as indústrias de consumo de bens duráveis (ZHAOXI, 2009, p.62).

A abertura econômica da China foi acompanhada da internacionalização das suas empresas e o governo chinês apoia o desenvolvimento de suas empresas multinacionais.

A maioria das empresas chinesas está exposta à globalização e está desenvolvendo diferentes tipos de atividades internacionais. Suas prioridades, 69

entretanto, variam de empresa para empresa em desenvolvimento de licenças mundial, vendas, produção e rede de abastecimento ou na promoção da sua marca internacionalmente.

As empresas chinesas ainda enfrentam diversos problemas da primeira etapa do desenvolvimento internacional, mesmo que tenham começado com sucesso o processo de internacionalização. Esses incluem o volume relativamente pequeno de investimentos no exterior, a falta de sustentabilidade do desenvolvimento, a falta de transparência em estrutura de propriedade e competitividade internacional fraca (ZHAOXI, 2009, p.37).

A busca por ativos estratégicos ao se fazer IDE tem sido considerada por Dunning como "a mudança mais significativa nos motivos para o IDE nas duas últimas décadas." A observação de Dunning é válida para o caso chinês. Muitas multinacionais chinesas investem nos mercados bem desenvolvidos e altamente competitivos dos EUA e da UE, como parte de sua produção global e estratégias de marketing. Um ativo estratégico que as empresas chinesas estão buscando ativamente é estabelecer uma marca reconhecida mundialmente (HONG; SUN, 2006, p. 625).

2.6 Estratégias de desenvolvimento das empresas chinesas

Tradicionalmente, a palavra estratégia em mandarim refere-se a condutas de guerra, essa palavra associada a negócios é relativamente recente. Estratégias corporativas fornecem direção, políticas e planos para a companhia atingir um crescimento de longo prazo e estabilidade. Tradicionalmente, inclui três níveis: estratégias corporativas, estratégias de negócios e estratégias funcionais.

Já para Yang Rongping e Ke Yinbin (2004) são identificados três estágios na estratégia de desenvolvimento das empresas chinesas conectado com a transformação de seu ambiente econômico.

O primeiro estágio corresponde à década de 1980, onde, o sistema econômico dominante era a economia planejada e a estratégia das empresas chinesas era, em

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geral, especializar a produção para uma indústria específica. O segundo estágio é a década de 1990. Nesse período, a China embarcou em uma transformação de economia planejada para economia de mercado. Diversificar passou a ser a principal estratégia desse período. E por último, há o terceiro estágio: desde 2000. A economia de mercado se tornou o sistema econômico dominante na China. A estratégia corporativa começou a mudar no país, a diversificação continuou como dominante mesmo que algumas companhias tenham começado a reduzir seus números e outras tenham desenvolvido estratégias com sucesso.

As estratégias corporativas são influenciadas pela situação complexa e única em que se encontram as empresas chinesas. Essas estratégias são recentes devido ao pouco tempo de abertura da China para o exterior. Além disso, como muitas das companhias são estatais, o governo continua a nomear muitos dos membros das empresas.

Ao falar em estratégias, nos últimos anos, empresas chinesas têm preferido fusões e aquisições a investimento de tipo greenfield, por ser mais rápido de se mover e crescer no mundo. Antes de 2003, as empresas estatais chinesas iam para o exterior, principalmente para a aquisição de empresas de energia e de matérias-primas, a fim de fornecer recursos naturais para o país. Empresas chinesas começaram a fazer aquisições desse tipo no exterior no início dos anos 1980.

Além disso, as empresas chinesas têm usado extensivamente alianças e joint ventures para ter acesso à tecnologia, de uma forma muito clássica, como coreanos e outras empresas de países emergentes. As empresas chinesas têm negociado o acesso ao mercado em troca de know-how tecnológico. Regulamentações governamentais obrigam as empresas estrangeiras a formar joint ventures com parceiros chineses, a fim de ser autorizados a operar localmente (DUSSAUGE, 2009, p. 209). Ao mesmo tempo, as empresas chinesas têm utilizado joint ventures com players locais para entrar em mercados estrangeiros (BUCKLEY; GLAISTER, 2002).

Segundo Long (2005, p.316) a definição de joint-venture e sua peculiaridade na China são:

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Joint ventures refer to enterprises composed of joint investments by foreign companies, enterprises, and other economic organizations or individuals and Chinese companies, enterprises, or other economic organizations. In China, however, foreign parties are required to contribute at least 25 percent of the total capital, which is higher than the 10 percent required by the Organization for Economic Cooperation and Development (OECD) countries and others. Um uso comum de joint-venture de empresas chinesas parece ser uma tentativa de garantir o acesso a matérias-primas. As autoridades chinesas têm se preocupado com o crescimento acelerado do país econômico rápido que pode, eventualmente, ser abruptamente interrompido por uma escassez de matérias-primas essenciais, como ferro, cobre, petróleo, etc Nos últimos 50 anos, todas as grandes companhias de petróleo ao redor do mundo vêm formando joint-ventures com os atores locais, a fim de serem concedidas concessões para realizar exploração de petróleo. Nesse setor, formar uma joint-ventures muitas vezes é um pré-requisito para ser capaz de operar na maioria dos países produtores de petróleo (DUSSAUGE, 2009, p. 220).

O que é um pouco mais incomum é quando eles formam parcerias em países que não exigem isso, na esperança de que tais acordos vão garantir o seu acesso para a importação, pela China, de outras fontes de matéria-prima. Além de formar joint ventures para assegurar o fornecimento de matérias-primas, as empresas chinesas também têm feito investimentos integrais quando as condições locais permitem (DUSSAUGE, 2009, p. 222).

Além disso há os projetos chineses no exterior que começaram no final da década de 1970 e contribuíram para a política da China de ajuda externa, tornando-se um elemento importante da abertura do país para o mundo exterior. Após 25 anos de desenvolvimento, contratos no exterior da China têm experimentado um crescimento fenomenal. O alcance de tais operações também expandiu. No início, os projetos contratados eram constituídos principalmente de trabalhos de construção, tais como construção de casas e estradas. Agora, as operações são diversificadas e incluem não apenas as operações tradicionais, como a construção, mas também operações tecnologicamente mais exigentes, tais como telecomunicações, usinas de energia, construção de infraestrutura, abastecimento de água, e petroquímica (ZHAOXI, 2009, p.52). 72

Desde os anos 1990, a escala, meio, estrutura, conteúdo e conteúdo dos projetos internacionais mudaram fundamentalmente. Novas condições ofereceram novas oportunidades para esses projetos, enquanto eram colocados novos desafios ao mesmo tempo. Empresas chinesas se beneficiam de três fatores positivos: (i) o mercado de construção está crescendo mais rapidamente que o setor de commodities e é um mercado, relativamente, aberto em um nível internacional, (ii) existe uma forte demanda tanto em mercados desenvolvidos como em desenvolvimento para projetos de construção de infraestrutura nacional e (iii) o desenvolvimento do IDE também cria oportunidades para empresas de construção, especialmente em projetos de tipo greenfield que exige construir infraestrutura apropriada e facilidades de manufaturas do zero, assim como instalar e ajustar os equipamentos (ZHAOXI, 2009, p.53-54).

No entanto, as empresas de construção também estão enfrentando novos desafios como: a competição que se tornou mais severa devido ao crescimento no número de contratos e a globalização desse setor, entre outros (ZHAOXI, 2009, p.54- 55).

O número de projetos em busca de recursos tem aumentado continuamente, bem como o montante de investimento por projeto. Exemplos típicos são os seguintes: China National Fishery Corporation, pescaria no Oeste da África; China International Trust and Investment Corp., alumínio na Austrália; China Metallurgical Group Corp., mineração na Austrália. Esses investimentos ajudaram a diminuir o risco de haver uma escassez de recursos no país, aumentaram as reservas do país de recursos estratégicos, e ajudaram a garantir a estabilidade e segurança econômica do país (ZHAOXI, 2009, p.67).

Esse trabalho será focado nas maiores empresas e escolherá sua amostra entre elas. As empresas a serem escolhidas serão quase todas estatais, já que, como de acordo com o World Investment Report a maioria das empresas privadas chinesas ainda são pouco relevantes na China e internacionalmente (UNCTAD, 2006).

Companhias chinesas, principalmente estatais, investiram em logística, infra- estrutura e telecomunicações de projetos internacionais. Em alguns casos, esses projetos são empreendidos para permitir que outras companhias chinesas ganhem 73

acesso preferencial à energia e a outros recursos estratégicos. Alguns desses investimentos são feitos, primeiramente, não para gerar lucros, mas para ganhar acesso aos recursos de outras nações. Esse tipo de abordagem foi usado, principalmente, na África e na América Latina.

2.7 Empresas privadas

A economia privada na China está se desenvolvendo rapidamente e se tornou um fator importante no crescimento da economia do país. As empresas chinesas têm desenvolvido a sua vantagem competitiva por meio de diversas formas de acordos de colaboração: eles tinham que competir e cooperar com as multinacionais estrangeiras ativamente operando no país e tiveram a oportunidade de aprender com sua experiência. Eles têm melhorado a sua tecnologia, experiência de gestão acumulada, gestão de talentos, e reforçada a sua capacidade de inovação graças à joint-ventures, acordos de colaboração e projetos conjuntos com multinacionais estrangeiras (ZHAOXI, 2009, p.35-36).

As 10 empresas da China continental listadas entre as 100 melhores empresas não financeiras transnacionais de países em desenvolvimento em 2006 são empresas estatais ou controladas pelo Estado (UNCTAD, 2006). Empresas privadas como Huawei Technologies e Wanxiang seguiram empresas estatais no processo de internacionalização. No entanto, em comparação com as estatais, a maioria dessas empresas são menores em tamanho (ZHAOXI, 2009, p.36).

A crescente presença de organizações não governamentais de negócios no processo de internacionalização é uma fase importante de desenvolvimento para a economia chinesa. Empresas chinesas privadas, especialmente as pequenas e médias empresas, enfrentam dificuldades administrativas no desenvolvimento de sua atividade internacional em relação às empresas estatais. Elas também não têm apoio financeiro. Bancos de importação e exportação têm um papel fundamental no financiamento do IDE, mas a política de empréstimo do Eximbank da China tradicionalmente se

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concentra em investimentos internacionais para grandes empresas de excelente reputação, excluindo, em um sentido muitas empresas privadas (ZHAOXI, 2009, p.68- 69).

Considerando o papel fundamental que tem as companhias privadas e as pequenas e médias empresas em investimentos chineses no exterior, a política do governo chinês está mudando, a fim de criar as mesmas condições para todas as empresas, independentemente do seu estatuto jurídico de propriedade. A política está mudando assim para promover o IDE, incluindo o das empresas de pequeno e médio porte (ZHAOXI, 2009, p.70).

Embora o foco de Nolan (2001, p.187) seja as grandes empresas estatais que foram preparadas para ser líderes nacionais, ele também expressa ceticismo sobre a capacidade das principais empresas não-estatais em competir internacionalmente com as grandes multinacionais.

2.8 Inovação e tecnologia de conhecimento

Like many other developing countries, one of China‘s major goals for FDI is to advance its technological capability. With its FDI policies, China not only encourages technology into the country, but also seeks to establish more R&D centers. China also seeks to use FDI to transform its traditional industries through advanced and applicable technology (LONG, 2005. p. 327). As empresas chinesas enfrentam a forte concorrência internacional. Muitas empresas percebem que, elas precisam, para crescer internacionalmente, de investimento no exterior.

A escala e o alcance do investimento estrangeiro da China estão crescendo continuamente e as empresas chinesas estão entusiasticamente implementando a estratégia de internacionalização. Assim, a China está aumentando a sua presença internacional em todas as dimensões chaves do negócio internacional: comércio exterior, projetos contratados no exterior, serviço de cooperação de trabalho, investimento direto estrangeiro, função e aquisição no exterior, Investimento financeiro internacional, criação de centros de pesquisa e desenvolvimento no exterior, 75

cooperação agrícola, desenvolvimento de recursos no exterior, investimentos e empreendimentos de alta tecnologia internacional (ZHAOXI, 2009, p.49).

Programas de ciência e tecnologia têm sido promovidos pelo governo chinês desde 1985, porque eles são os motores do crescimento econômico baseado em alta tecnologia, em transformação econômica e na independência nacional. Mas, seguindo o ritmo das reformas econômicas durante um período de transição de 30 anos, o Sistema de Inovação chinesa tem evoluído ao longo do tempo, visando prioridades diferentes, implementadas através de diversos programas e regulamentações (LARÇON; BARRÉ, 2009 p.127).

Durante os últimos dez anos, cada vez mais empresas chinesas investiram no exterior em atividades de pesquisa, fabricação ou comercialização. Seu processo de internacionalização está intimamente relacionado com a busca de inovação e transferência de conhecimento em um nível global. Esse processo inclui características que são comuns a todas as multinacionais, mas há também dimensões que são específicas para a China. Multinacionais chinesas estão ativamente procurando a melhor forma de desenvolver as suas capacidades de inovação através da transferência de conhecimentos a nível internacional (DONGHONG, 2009, p.151).

Inovação e transferência de conhecimento são chaves no processo de internacionalização de empresas chinesas. Com a experiência internacional, as empresas chinesas acumulam tecnologia e conhecimento e os transferem para a China e para suas próprias operações internacionais, a fim de crescer, construir a sua vantagem competitiva e aumentar a rentabilidade (DONGHONG, 2009, p.151).

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2.9 Resumo e conclusões

Para finalizar essa seção, é interessante fazer um resumo e uma conclusão do visto até agora. Primeiramente, é importante ressaltar que as empresas estatais e as de economia mista ainda representam mais que a metade da economia chinesa. Ao contrário do que se pensa, o país não está no caminho da privatização das grandes empresas, a influência política na China do setor estatal e sua capacidade para competir em escala global estão ambos em ascensão. Na medida em que o envolvimento do governo nas decisões das empresas multinacionais é enorme, cria-se um potencial conflito entre a maximização da riqueza dos acionistas e a busca de objetivos nacionais. O objetivo do governo é de empregar suas corporações para alcançar os seus objetivos de política externa e interesses comerciais internacionais.

O governo chinês já formulou uma série de políticas de incentivos ao IDE, como os incentivos fiscais e o documento conhecido como: Guiding Directory on Industries Open to Foreign Investment. Houve também, importantes decisões na área de financiamento, como o fim da obrigatoriedade de enviar à China os lucros do exterior, podendo ser reinvestidos no país de atuação da empresa e a criação do Fundo Soberano Chinês. Por causa da falta de experiência das empresas chinesas em se internacionalizarem, às vezes fazem movimentos ousados que por vezes resultam em problemas em seus empreendimentos estrangeiros.

Segundo Dunning (1981), o governo é susceptível de desempenhar um papel mais proeminente nas decisões das empresas multinacionais. Elas são frequentemente vistas como instrumentos estratégicos para os esforços do governo em garantir mais energia e outros recursos naturais, e se apropriar de novas tecnologias. Porter (1993), entre outras ideias, também dizia que o governo é o grande regulador da economia nacional e tem o poder de influenciar nas quatro áreas que as empresas precisam ter um bom desempenho (condições de fatores; condições de demanda; indústrias correlatas de apoio; e estratégia, estrutura e rivalidade das empresas).

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Como já mostrado, há autores a favor do grande envolvimento do governo nas políticas econômicas, incluindo aqui a internacionalização de empresas, e há aqueles que são contra, mostrando seus malefícios.

Em segundo lugar, a reforma de empresas estatais sempre foi um elemento chave na reestruturação econômica da China, sendo que desde o seu início, o governo chinês vem executando várias experiências que tentaram por todos os meios possíveis resolver o problema de longo prazo. Durante a década de 1990, o impulso foi a busca pelos recursos naturais, com ênfase crescente sobre os combustíveis e matérias-primas em geral. Desde a entrada da China na Organização Mundial do Comércio no final de 2001, as empresas chinesas enfrentaram crescente pressão competitiva internacional, forçando-as a acelerar o seu processo de internacionalização.

Vale ressaltar que o IDE para o exterior da China é de base semelhante ao de outras multinacionais de países em desenvolvimento, ou seja, é determinado por vantagens de custo e flexibilidade. Contudo, as empresas chinesas operam com uma estrutura muito diferente do que é usual em suas congêneres, já que a característica dominante da composição acionária na China é a participação das ações não- negociáveis do Estado.

As fases tradicionais do processo de internacionalização são: exportação, licenciamento, alianças estratégicas, aquisições e criação de novas subsidiárias estrangeiras (HITT, 2002). Nas fases iniciais as empresas chinesas operam ao longo das três primeiras etapas e quando elas estão mais maduras utilizam o estágio quatro e cinco.

Contudo, normalmente, as multinacionais chinesas estabelecem joint ventures com multinacionais ocidentais na China antes de fazer investimentos no exterior e eles frequentemente usam joint-venture e F&A, a fim de adquirir avanços na produção, em tecnologia e habilidades gerenciais no exterior. Segundo a Uppsala University(1977), o limite de crescimento da firma está associado aos seus recursos humanos e à aquisição de conhecimento coletivo, que seria um processo evolutivo, consequência da experiência direta dos funcionários, o que muitas empresas chinesas fazem e buscam ao se internacionalizarem. 78

As fusões e aquisições tornaram-se rapidamente uma das principais formas de entrada no mercado internacional. Além disso, os projetos também foram mais orientados para a tecnologia e capital intensivo. O que contribui para a busca de inovação tecnológica chinesa.

É possível fazer um paralelo com a teoria de Buckley e Casson(1976) que dizia que os três principais objetivos das EMNs no contexto internacional são: maximizar a eficiência das operações correntes, reduzir custos e desenvolver aprendizado, algo que as empresas chinesas estão fazendo ao se internacionalizarem.

Em terceiro lugar, há os motivos para a internacionalização. Entre eles estão a ajuda a expandir as capacidades de produção e a entrar em novos mercados, criando assim novas oportunidades de emprego e exportações crescentes; também a criação de um espaço para começar a construir a imagem das empresas chinesas no exterior. No geral, essa é a base para o avanço do processo de internacionalização.

Em quarto lugar, as razões para o bom desempenho internacional chinês são: primeiro, a China aproveitou as oportunidades criadas pelas três rodadas de ajustes na estruturação econômica mundial; segundo, a China sempre prestou grande atenção à melhoria do ambiente de investimento e atração de investimentos estrangeiros; finalmente, ao longo dos 30 anos de reforma e abertura da China, a economia chinesa manteve um crescimento contínuo, com uma taxa de crescimento anual de 9%, estabelecendo uma base sólida para o desenvolvimento do comércio exterior.

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3 CASOS EMPÍRICOS

3.1 GRUPO DE EMPRESAS

Para escolher o grupo de empresas a serem destacadas nesse trabalho foram utilizadas algumas listas. A primeira é a lista das empresas não-financeiras controladas pela SASAC (Stated-Owned Assets Supervision and Administration Commission), instituição com status de ministério, autorizada pelo Conselho de Estado a assumir a responsabilidade de investidor do patrimônio estatal nas Central SOEs, que são as empresas consideradas estratégicas para o governo central chinês e que ao mesmo tempo possui as empresas chinesas nas listas de maiores do mundo.

Além dessa lista, há os bancos chineses. Os bancos são importantíssimos para o crescimento e o impulso dado para as empresas chinesas se internacionalizarem e se desenvolverem. Os maiores bancos foram adicionados à lista da SASAC pela United States-China Economic and Security Review Commission já que são essenciais para a estratégica chinesa. Assim, o grupo abaixo foi selecionado utilizando essa última lista (feita pela United States–China Economic Security Review Commission) adicionando as duas listas que posicionavam as empresas de acordo com o seu tamanho, lucro, assets, entre outras características. A primeira lista foi da CNN Money Fortune de 23 de julho de 2012. A segunda foi de um site de notícias sobre a China autorizado pelo governo, China.org.cn, essas notícias são publicadas sob os auspícios do Gabinete de Informação do Conselho de Estado e do China International Publishing Group (CIPG), em Pequim. A lista de empresas desse site é de 20 de abril de 2012.

Em resumo, foram escolhidas empresas essenciais para a sustentabilidade do crescimento chinês e que são grandes players no cenário mundial, estando nas listas das 100 maiores empresas do mundo.

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3.2.1 SINOPEC

A China Petrochemical Corporation (Sinopec Group) é o maior produtor e fornecedor de produtos de petróleo e petroquímica da China, especializada na exploração e na produção de petróleo e gás natural, refino de petróleo e distribuição e na produção e vendas de produtos químicos. O grupo, como é conhecido hoje, foi criado em julho de 1998 com base na antiga Corporação Petroquímica da China criada em 1983. A Sinopec Group é uma empresa estatal, o Estado detém o controle acionário, assim, somente ele pode investir na empresa, funcionando como uma organização de investimento autorizada pelo Estado. Com sede em Pequim, a Sinopec Group tem um capital registrado de RMB 182 bilhões (SINOPEC, 2013).

A Sinopec Group executa os direitos dos investidores sobre os ativos estatais relacionados à propriedade de suas subsidiárias integrais, empresas controladas pelo grupo e empresas share-holding. Estes direitos incluem os retornos sobre ativos que recebem, tomando as decisões mais importantes, como por exemplo, nomeando seus gerentes e outros alto cargos. O Grupo opera, gerencia e supervisiona ativos do Estado de acordo com as leis relacionadas, e mantem a responsabilidade correspondente de manter e aumentar o valor do patrimônio do Estado (SINOPEC, 2013).

Foram feitos avanços nos investimentos em petróleo e gás no exterior, o volume de comércio internacional expandiu, o funcionamento do mercado e a capacidade de negociação global foram reforçados, o fornecimento garantido e os custos reduzidos. Como a cooperação internacional em ciência e tecnologia evoluiu, a capacidade de inovação tecnológica da empresa melhorou ainda mais (SINOPEC).

A China Petroleum & Chemical Company (Sinopec Corp), controlada pelo Grupo Sinopec, emitindo ações H e ações A no exterior e em casa, respectivamente, em outubro de 2000 e agosto de 2001, foi listada na bolsa de Hong Kong, Nova York, Londres e Xangai. O número total de ações da Sinopec Corp foi de 86,7 bilhões, no qual a Sinopec Group possui 75,84%, os investidores internacionais 19,35% e os investidores nacionais 4,81% (SINOPEC, 2013).

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As principais atividades de negócio da Sinopec Group incluem: investimento industrial e de gestão de investimentos; marketing e ampla utilização de petróleo e gás natural, refino de petróleo; atacado de gasolina, querosene e diesel; produção, comercialização, armazenamento, transporte de produtos petroquímicos e outros produtos químicos (incluindo o transporte por oleoduto); concepção, construção e instalação de projetos de engenharia de petróleo e petroquímica; revisão e manutenção de equipamentos de petróleo e petroquímicos; fabricação de equipamentos elétricos e mecânicos; pesquisa e desenvolvimento de aplicativos e serviços de consultoria de produtos de informação, tecnologia e energia alternativa; importação e exportação de produtos e tecnologias tanto para o grupo e como para um proxy (com excepção dos produtos e tecnologias que, ou são proibidos pelo Estado ou são realizados pelas empresas designadas pelo Estado) (SINOPEC, 2013).

A Divisão de Aquisições da Sinopec é a responsável pela gestão dos contratos da Sinopec e pelo sistema de abastecimento e de compra centralizada. Em março de 2006, as duas entidades foram reconstruídas em uma divisão que consolidou as três funções de: gestão de contratos, compras centralizadas e negócios internacionais (SINOPEC, 2013).

Em 2007, a Divisão de Aquisições da Sinopec (Sinopec Int‘l) realizou um volume de negócios de US$ 10,6 bilhões em compras centralizadas (centralized purchasing), US$ 19,4 bilhões em e-procurement (comércio online), e US$ 4,61 bilhões em importação e exportação (excluindo petróleo bruto e comércio de combustíveis). A empresa foi premiada como a maior empresa de comércio internacional na China pelo Ministério do Comércio por sete anos consecutivos a partir de 1999 (SINOPEC, 2013).

Outro importante ponto são as joint-venture da empresa, como a Sinopec (China) e Aramco (Arábia Saudita) para completar a construção da refinaria de Yanbu de 8,5 bilhões de dólares, que foi adiada pela saída de ConocoPhillips - o parceiro original - em 2010 (UNCTAD, 2013, p.56). Na modalidade F&A, vale destacar a compra de 40% das ações da Repsol Brasil pela Sinopec, no valor de US$ 7,1 bilhões, que resultaram na criação da Repsol Sinopec Brasil (CEBC, 2011, p.23).

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Em 2010, a Sinopec International Co. fez grandes esforços para expandir o mercado exterior, com foco em refino e produtos petroquímicos, equipamentos e materiais. O valor total de importação e exportação no ano atingiu US$ 1,6 bilhões, um aumento de 40,4% em comparação com os US$ 1,14 bilhões em 2009. Especificamente, o valor total das importações foi de US$890 milhões, um aumento de 19,1% face ao ano anterior e o valor total das exportações foi de UU$ 680 milhões, um aumento de 73,5% face ao ano anterior.

Ainda em relação às exportações, o foco foi em recursos e mercado, sendo feita uma maior coordenação com a Sinopec Catalyst Company, Lubricant Company, Oil Product Marketing Company, Maoming Petrochemical Co. e Yanshan Petrochemical Co. a fim de melhorar a cooperação e os mecanismos de preços de exportação. Conseguiram assim, realizar um rápido desenvolvimento dos negócios de exportação petroquímico através da estabilização do fornecimento de cera, coque de petróleo, catalisador, lubrificantes, etc. Exportaram catalisadores da Sinopec para os EUA, asfalto para a África, e pela primeira vez, cera para Taiwan. A exportação de catalisadores aumentou 78,3% face ao período homólogo, de US$ 96,50 milhões, de lubrificantes em 20,4%, para US$ 21,60 milhões.

A China e a SINOPEC assinaram acordos com o Gabão, com o Sudão, com a Etiópia, com Angola, com a Nigéria e outros países da África, que não só incluiam a empresa para entrar no país, mas empresas de construção civil. Além disso, a SINOPEC adquiriu uma empresa canadense e comprou grandes partes de empresas brasileiras, inglesas, entre outras.

O grupo faz negócios com clientes com uma enorme demanda: segmentação de mercados, incluindo o Oriente Médio, Rússia, África, Sudeste da Ásia, bem como projetos de investimento no exterior da Sinopec, exportam cracker de etileno de própria tecnologia para a Malásia, compressores de gás natural para a África, placa de tanque de alto impacto para o Irã e novamente, pela primeira vez, permutadores de calor de serpentina de alta tecnologia para Taiwan. Exportaram, em 2010, US$ 195 milhões de dólares em equipamentos e materiais, 77,3% mais do que a US$ 110 milhões em 2009.

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Além disso, possui uma rede global de marketing, com 17 agências e filiais nacionais em toda a China, e 7 sub-empresas no exterior localizadas nos EUA, Japão, Alemanha, Rússia, Emirados Árabes Unidos, Equador e Hong Kong (China) (SINOPEC, 2013).

Também possui uma rede global de fornecedores e possui parcerias estratégicas com 33 fabricantes e produtores líderes mundiais das indústrias de ferro, equipamento petroquímico, carvão e produtos químicos (SINOPEC, 2013). A SINOPEC é listada como a quinta maior companhia do mundo pela CNN Money Fortune Global 500 em 2011 e 2012 (SINOPEC, 2013).

3.2.2 STATE GRID

A State Grid Corporation of China foi criada pelo Conselho de Estado em 29 de dezembro de 2002 como uma corporação estatal piloto. Assim, é uma empresa de propriedade do governo para realizar investimentos autorizados pelo governo. A SGCC foi classificada como a oitava no Fortune Global 500 em 2010, sete postos mais altos do que em 2009 e em 2012 chegou ao sétimo lugar (STATE GRID, 2012).

O objetivo da empresa é proporcionar energia elétrica segura, econômica, limpa e sustentável para o desenvolvimento social e econômico do povo chinês. Os negócios centrais da empresa são a construção e operação de uma rede de energia que cubra 26 províncias, regiões autônomas e municípios e sua área de serviços representa 88% do território nacional, apoiada por mais de 1.500.000 funcionários para atender uma população de mais de um bilhão (STATE GRID, 2012).

Como uma empresa estatal central que pode afetar a segurança energética nacional e a vida econômica, o principal negócio da SGCC é construir e operar redes de energia e fornecer o suplemento de energia segura e confiável para o desenvolvimento da sociedade chinesa. Possui um capital social de RMB 200 bilhões e o presidente é o representante legal da empresa SGCC (STATE GRID, 2012).

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Até o final de 2005, a SGCC acumulou um total de ativos equivalentes a RMB 1176,7 bilhões, com uma proporção de 61,96% da dívida em ativos, e possuía 195,899 km de linhas de transmissão de 220kV e uma capacidade de transformação de até 616,64 GVA. Nesse mesmo ano, a SGCC vendeu energia elétrica até 1.464,6 TWh e alcançou uma renda de operação de RMB 721,4 bilhões, com um lucro líquido de RMB 14,4 bilhões e imposto de RMB 60,4 bilhões (STATE GRID, 2012).

Seguindo suas estratégias de desenvolvimento internacional, a SGCC fez acordos de cooperação com os países vizinhos para desenvolver conjuntamente recursos energéticos. Entretanto, a SGCC utiliza plenamente os recursos globais para treinar seu pessoal e realizar o benchmarking internacional para melhorar a gestão da empresa. Consultas internacionais foram realizadas em áreas como o planejamento da rede de energia urbana e aplicação de tecnologia de TI (STATE GRID, 2012).

A empresa tem feito bom uso dos seus recursos globais para promover talentos. Internacionalmente, o anúncio de recrutamento foi divulgado para os cargos de gerentes seniores. A colaboração com corporações internacionais foi bastante reforçada, a empresa planejou enviar 6 grupos de executivos seniores para corporações internacionais para compartilhar experiências de gestão e treinamento. Em 2006, o primeiro grupo de executivos seniores teve sua viagem de estudo na Siemens Co. Ltd, na Alemanha (STATE GRID, 2012).

A SGCC assinou acordos de cooperação com empresas de energia na Rússia, Cazaquistão e Mongólia. O contrato do Projeto de transmissão de energia Russia-to- Heilongjiang foi oficialmente assinado e já foi iniciado. A cooperação internacional sobre energias renováveis (biomassa, etc) também está sendo executada, além disso, a SGCC também fez um grande avanço na cooperação internacional no mecanismo de desenvolvimento de energia limpa (MDL) (STATE GRID, 2012).

Em 28 de novembro de 2009, a Conferência Internacional de Tecnologia de Transmissão UHV foi realizada em Pequim. Mais de 300 representantes de 19 países e regiões participaram do encontro e chegaram a um acordo, construindo uma ponte para a cooperação internacional no desenvolvimento de tecnologia de UHV (STATE GRID).

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Em 21 de março de 2006, com o presidente Hu Jingtao e o presidente Putin como testemunhas, a SGCC e a russa Joint Stock Company-Unified Energy System of Russia (RAO UESR) assinaram o Agreement on Making Feasibility Researches of Russia-to-China Electricity Supply entre a SGCC e a russa Electric Power System Co. Ltd. No dia 9 de novembro de 2006, o presidente Sr. Liu Zhenya da SGCC e o CEO da RAO Mr. Anatoly Chubais participaram da cerimônia, no Grande Salão do Povo para a 1ª Fase do Contrato de Comercialização de Energia Elétrica Rússia-China Electricity Supply entre SGCC e RAO UESR (STATE GRID).

No dia 17 de novembro 2006, durante a Cúpula da Apec no Vietnã, o Sr. Liu Zhenya, presidente da SGCC, reuniu-se com o CEO de Eletricidade do Vietnam (EVN), o secretário do partido Mr. Dao Van Hung e o gerente executivo Pham Le Thanh (STATE GRID).

No dia 25 de outubro de 2006, foi assinada a Carta de Intenções do Projeto MDL entre a China National Bio Energy Co. Ltd. e EDF Trading Co. Ltd.. Ela simbolizou um grande progresso para a China para desenvolver o programa de energia limpa (STATE GRID).

Em janeiro de 2009, a State Grid liderou um consórcio para pagar US$ 3,95 bilhões para uma licença de 25 anos para executar partes da rede de transmissão de energia nas Filipinas, o maior projeto de investimento da China nesse país.

Durante setembro 16 a 28 de 2009, como o primeiro grupo de treinamento, 24 alto-executivos da sede e das filiais da SGCC visitaram a Siemens e receberam treinamento de duas semanas lá. O treinamento envolveu estratégias da corporação, gestão financeira, recursos humanos, gestão abrangente de corporação, entre outras (STATE GRID).

Em 01 de junho de 2010, os interessados na colaboração de energia China- Mongólia assinaram o acordo de primeira fase de pesquisa de viabilidade sobre construir um programa de eletricidade a base de carvão na Mongólia para fornecer eletricidade à China (STATE GRID).

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O vice presidente executivo da State Grid, Shu Yinbiao, se reuniu com o ministro venezuelano de Energia Elétrica, Alí Rodríguez Araque, na sede da State Grid no dia 2 de dezembro de 2010. Os dois lados estavam debatendo sobre planejamento de rede, cooperação técnica e treinamento de RH. A cooperação sobre a construção da rede será realizada para promover o desenvolvimento mútuo (SGCC, 2010).

SGCC keeps in good relationships and maintains friendly communications with world renowned corporations in more than 10 countries and regions, and has wide cooperation in the areas of enterprise development, power grids construction, power industry reform, technology exchange and environment conservation etc (SGCC). O presidente da SGCC, Liu Zhenya, discutiu um acordo com o CEO Dominique Maillard da RTE e sua delegação na sede no dia 2 de novembro de 2011. RTE é uma subsidiária integral da Electricité de France. Os dois lados estavam interessados em assinar um acordo de cooperação, comprometendo-se a realizar o intercâmbio e a cooperação em matéria de UHV grid, programação grid, operação ao vivo, e inspeção de helicóptero. O Vice-Presidente Executivo Shu Yinbiao da State Grid se reuniu com o vice-presidente do EDF Hervé Machenaud e o presidente do ERDF Veron em 30 de agosto de 2011 para assinar um acordo de cooperação de três partes (SGCC, 2011).

O presidente da SGCC, Liu Zhenya, assinou um acordo de aquisição de capital com a Parpública e um acordo umbrella com a REN, em Lisboa, Portugal. Como uma importante empresa de Portugal, a REN tem uma rede de transmissão para eletricidade e gás natural e é bastante influente em Portugal, na África e outros países de língua portuguesa (SGCC, 2012).

Em 2010, o Brasil foi escolhido para a realização do primeiro grande investimento da State Grid em países não-asiáticos. A State Grid Brazil Holding adquiriu sete companhias nacionais de transmissão de energia, ao custo de US$ 989 milhões. O modelo de fornecimento já beneficia, portanto, algumas das maiores cidades brasileiras. São quase seis mil quilômetros de linhas de transmissão operados pela empresa nos próximos 30 anos de concessão. Ao cobrir Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e outras grandes áreas próximas aos centros de carga, a State Grid International Development (SGID) passa a ocupar o quinto lugar entre as empresas de transmissão de energia do Brasil (STATE GRID). 87

Em 2012, a State Grid Brazil Holding inaugurou sua sede no Rio de Janeiro. Com investimento superior a R$ 200 milhões, o escritório central ocupa um prédio com certificação Green Building Gold, concedida pela organização norte-americana Green Building Council, que estabelece critérios de construção sustentável. Em relação a números, a State Grid Brazil Holding em 2012 chegou a ter 5,785 Km de linhas de transmissão, 12,803 Mva de capacidade de transformação, 14 subestações e mais de 300 empregados locais.

3.2.3 Industrial and Commercial Bank of China

O Industrial and Commercial Bank of China Limited foi criado em Primeiro de Janeiro de 1984, sendo em 28 de outubro de 2005 totalmente reestruturado para uma sociedade anônima. Em 27 de outubro de 2006, o Banco foi listado em ambos SSE e SEHK.

Entre 28 de novembro e 02 de dezembro de 2011, o ICBC ganhou ainda mais posição no Sudeste da Ásia, com a abertura da Vientiane Branch, da Phnom-Penh Branch e da Rangoon Representative Office (ICBC).

Em 24 de novembro de 2011, o ICBC abriu escritório de representação africano em Cape Town na África do Sul, a primeira filial do ICBC, na África(ICBC).

Em 22 de novembro de 2011, o ICBC lançou o serviço "ICBC Mobile Banking" em todo o país, o primeiro banco comercial na China a lançar uma série de serviços financeiros baseados em celulares (ICBC).

Em 24 de outubro de 2011, o ICBC e o belga Antwerp World Diamond Center (AWDC) assinaram o Acordo Quadro de Cooperação em Pequim. O acordo marcou o início da cooperação entre as duas partes em matéria de financiamento de diamante (ICBC).

Em 23 de setembro de 2011, o banco chinês anunciou o seu "Relatório de Avaliação sobre a competitividade dos bancos comerciais chineses em 2011". O ICBC

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garantiu o primeiro lugar pelo quarto ano consecutivo, pelo seu excelente desempenho em 2010, e ganhou a coroa no ranking de avaliação financeira dos bancos comerciais em todo o país, para o ano (ICBC, 2012).

Em 15 de setembro de 2011, a filial ICBC Mumbai foi aberta para negócios, marcando a primeira filial do interior da China, na Índia. A abertura da filial de Mumbai ressaltou a presença do ICBC no Sul da Ásia e também transformou o ICBC em uma das mais fortes instituições financeiras estrangeiras por capacidades de serviço na região (ICBC, 2012).

Em 22 de agosto de 2011, o ICBC de Londres abriu serviços de negociação de FX, em nome da Sede, incluindo cotação de preços e negociação de FX, um serviço de 24 horas ao redor do globo em comércio FX e metais preciosos através de contas por meio de conectividade entre os sistemas em Pequim, Londres e Nova York correndo round-the-clock (ICBC, 2012).

O ICBC elevou sua participação inicial de 20% no Standard Chartered Bank em US$ 600 milhões em 2011 para adquirir agências de varejo na Argentina, depois de uma reunião em Buenos Aires (CALKINS, 2013).

No final do ano de 2011, o ICBC tinha 408.859 funcionários em folha de pagamento. O ICBC forneceu uma ampla gama de produtos e serviços financeiros para 4,11 milhões de clientes corporativos e 282 milhões de clientes individuais através de 16.648 lojas em toda a China, 239 subsidiárias no exterior e uma rede global de mais de 1.669 bancos correspondentes, bem como Internet Banking, banco por telefone e serviço auto-bancário. O ICBC estabeleceu forte presença de sua operação de banco comercial e de rápida expansão para os mercados mundiais. O banco está nas primeiras posições no país em muitas áreas de negócio do sistema bancário comercial (ICBC).

No final de 2011, os ativos totais atingiram RMB 15.476,868 bilhões, representando um aumento de RMB 2.018,246 bilhões, ou 15% em relação ao final do ano anterior; o passivo total atingiu RMB 14.519,045 bilhões no final de 2011, um aumento de RMB 1.882,08 bilhões, ou 14,9 % comparado ao ano anterior. Ter um aumento de 25,6% em relação ao ano anterior, com um lucro líquido de RMB 208,445 89

bilhões em 2011, o ICBC defendeu a sua posição como o banco mais rentável do mundo. O retorno sobre os ativos totais médios e o retorno sobre o patrimônio líquido médio ponderado a par com o padrão internacional, foram de 1,44% e 23,44%, respectivamente. O lucro por ação subiu RMB 0,12 de um ano antes, para 0,6 RMB. A razão de crédito vencido caiu para 0,94 por cento, diminuição de 0,14 pontos percentuais em relação ao ano anterior. O ICBC ampliou sua força de capital e o desenvolvimento sustentável, garantindo proporção de adequação de capital e adequação de capital core de 13,17% e 10,07%, respectivamente (ICBC).

A aprovação do Federal Reserve foi concedida em maio de 2012 para o ICBC adquirir uma participação de 80% na subsidiária nos EUA da Bank of East Asia. O acordo marcou a abertura dos bancos chineses para entrar no mercado dos EUA através de aquisições ou estabelecimento de uma sucursal. Apesar de pequeno em termos de dólares, o banco chinês teve que passar por um longo processo de aprovação de 18 meses. A aquisição do ICBC, junto com compras e investimentos semelhantes feitas por bancos chineses em mercados financeiros offshore nos últimos anos, representa o mais recente esforço da China em sua estratégia "go global" (CALKINS, 2013).

As empresas chinesas têm sido bem sucedidas na expansão em mercados em desenvolvimento, em grande parte devido à redução da concorrência de marcas ocidentais e a um potencial de crescimento maior. As empresas chinesas, especialmente aquelas envolvidas em petróleo e indústrias de construção de engenharia, estão em grande parte no exterior e requerem enormes linhas de crédito para financiar as operações do dia-a-dia. Na prática, os bancos chineses oferecem uma rede de apoio financeiro para as empresas chinesas se movimentarem em mercados internacionais, por exemplo no Oriente Médio, na África e na América Latina (CALKINS, 2013).

O ICBC tem mostrado ser o banco chinês mais agressivo nos mercados internacionais, com a criação de 239 subsidiárias e filiais em 31 diferentes países e regiões do mundo. A primeira compra majoritária do ICBC de um banco no exterior foi a do Banco da Indonésia de Halim, em 2006. Além disso, o conselho de administração do

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ICBC anunciou em novembro de 2012 que o banco tinha recebido aprovação regulatória para abrir filiais nos mercados do Oriente Médio, do Kuwait e Arábia Saudita, a maior economia do mundo árabe e principal fonte de petróleo para a Ásia (CALKINS, 2013).

O ritmo de criação e de fusões e aquisições de instituições no exterior foi grande em 2012. Cinco instituições sob o ICBC na Europa: Paris Branch, Bruxelas Branch, Amsterdam Branch, Milan Branch and Madrid Branch. Na Ásia e na África: Paquistão (ie, Karachi e Islamabad Filial Branch), Mumbai Branch, Phnom Penh Branch, Vientiane Branch, Yangon Representative Office e African Representative Office foram abertas para operação. Instituições estrangeiras no Brasil, Peru, Riyadh, Kuwait e Varsóvia estão em processo de aprovação. O Banco também concluiu a oferta pública para o cancelamento de registro voluntário do ICBC Tailandês e do exercício de opção de compra do ICBC Canadá (ICBC, 2012, p.52).

Um exemplo de apoio à expansão das empresas chinesas é o crescimento, nos últimos anos, da indústria cultural da China está crescendo muito. Empresas culturais estão fazendo progressos e seguindo a melhor rota para ganhar competitividade. Elas estão prontas para "go global" e competir no mercado internacional. Durante esse processo, a ICBC continua a financiar essas empresas. Pu Tian City Jiyou Arts & Frames Co., Ltd. ("Jiyou") é uma empresa de exportação em Fujian envolvida em I&D, produção e vendas de produtos de arte: pinturas a óleo, quadros de madeira e produtos de arte feitas de resina. Jiyou, é o maior exportador de pinturas a óleo na China, tem mais de 100 escritórios de vendas nos EUA, Reino Unido, França e Oriente Médio. Para apoiar a expansão ultramarina de Jiyou, o ICBC ofereceu um conjunto de serviços financeiros para a produção de Jiyou de pinturas a óleo chinesas e quadros de madeira. O empréstimo de liquidez ICBC e factoring, que totalizaram 45,30 milhões de RMB deram a Jiyou liquidez para expandir fora da China (ICBC, 2013).

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3.2.4 China Construction Bank

A história do China Construction Bank remonta a 1954, quando o People‘s Construction Bank of China foi fundado como um banco estatal inteiramente sob a direção do Ministério das Finanças da República Popular da China para administrar e distribuir os fundos do governo para construção e infraestrutura de projetos relacionados com o plano econômico estatal. Em 1979, esse banco tornou-se uma instituição financeira, sob a direção do Conselho de Estado e gradativamente assumiu funções bancárias mais comerciais (CHINA CONSTRUCTION BANK).

O People‘s Construction Bank of China tornou-se gradualmente um banco comercial com serviço completo após a criação do Banco de Desenvolvimento da China em 1994, para assumir as suas funções de empréstimos. Em 1996, mudou seu nome para China Construction Bank (CHINA CONSTRUCTION BANK).

A China Construction Bank Corporation foi formada como um banco comercial anônimo, em setembro de 2004, como resultado de um processo de separação realizado pelo seu predecessor, China Construction Bank, sob a Lei das Sociedades da China. Em 27 de outubro de 2005, as ações H do banco foram listadas na Hong Kong Stock Exchange (Código da Bolsa: 939), e em 25 de setembro de 2007, as ações A do banco foram listadas na Bolsa de Xangai (Código da bolsa: 601939) (CHINA CONSTRUCTION BANK).

O banco possui uma extensa base de clientes, com relações bancárias estabelecidas com vários dos maiores grupos empresariais e líderes em setores de importância estratégica para a economia da China. Possui uma extensa rede de aproximadamente 13.629 pontos de ramificação. Além disso, mantém filiais em diversos lugares ao redor do mundo como: em Hong Kong, Cingapura, Frankfurt, Joanesburgo, Tóquio, Seul, Nova York, Ho Chi Minh City e Sydney. Suas subsidiárias incluem principalmente: a China Construction Bank (Asia) Limited Corporation, a China Construction Bank (Londres) Limited, a China Construction Bank International (Holdings) Limited, a Sino-alemã Bausparkasse Co. Ltd, e a China Construction Bank Principal

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Asset Management Co. Ltd, e a China Construction Bank Financial Leasing Corporation Limited (CHINA CONSTRUCTION BANK).

Em 28 de junho de 2007, uma grande cerimônia foi realizada em Pequim para a assinatura de um Acordo de Parceria Estratégica entre o China Construction Bank Corporation e o CITIC Group. O CCB é um dos principais titulares de bancos comerciais estatais da China. Como o primeiro banco comercial estatal a ser listado no exterior, o CCB tem uma rede de varejo cobrindo cidades e áreas rurais por todo o país, oferece uma gama abrangente de serviços, possui uma quantidade enorme de recursos e possui forte apelo da marca (CHINA CONSTRUCTION BANK, 2007).

De acordo com os termos deste acordo, o CCB vai prestar serviços financeiros tais como financiamento, gestão de fundos centralizados, mediação ao Grupo CITIC, de acordo com as políticas e regulamentações estatais. Além disso, para garantir que o acordo possa ser facilmente implementado, ambas as partes concordaram em estabelecer mecanismos de intercâmbio de informações em vários níveis. Este acordo irá impulsionar ambas as partes a um novo nível de cooperação empresarial. Ambos acreditam firmemente que o estabelecimento de uma relação de cooperação estratégica global irá aumentar ainda mais as vantagens competitivas de ambas as partes em suas respectivas áreas de negócio e vai ajudar o desenvolvimento melhor e mais rápido dos negócios um do outro em uma base mutuamente benéfica (CHINA CONSTRUCTION BANK, 2007).

No dia 30 de novembro de 2012, o China Construction Bank lançou oficialmente a grande abertura de uma filial em Melbourne na Austrália. Como um sub-ramo da CCB Sydney Branch, o foco estratégico da CCB Melbourne será em marketing e apoio ao relacionamento com o cliente, que consiste em explorar e melhorar os serviços bancários de atacado em Victoria, tais como empréstimos comerciais e depósitos, comércio e serviços financeiros, negociação em bolsa estrangeira, entre outros. Atualmente, o CCB estabeleceu relações bancárias com 14 bancos locais australianos. Desde a incorporação da CCB Sydney Branch em 2010, a branch tem implementado com sucesso a estratégia de desenvolvimento banco (CHINA CONSTRUCTION BANK, 2012).

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Em setembro de 2012, os ativos totais do CCB chegaram em US$2,110.5 bilhões com um lucro líquido de US$ 25,2 bilhões registrados no mesmo período. O retorno anualizado sobre o ativo médio registrado foi de 1,65%, enquanto que o retorno anualizado sobre o patrimônio líquido médio foi de 24,18%. Além disso, o CCB é um dos líderes de mercado em termos de gestão de risco, capacidade de serviço e rentabilidade no setor bancário doméstico chinês (CHINA CONSTRUCTION BANK, 2012).

Atualmente, o CCB mantém sucursais em Hong Kong, Cingapura, Frankfurt, Joanesburgo, Tóquio, Seul, Nova York, Cidade de Ho Chi Minh City, Sydney (com Melbourne sub-ramo), dois escritórios de representação no estrangeiro em Taipei e Moscou, três subsidiária integrais no exterior, incluindo Ásia CCB, CCB Internacional e CCB Londres. Em 2012, o CCB foi premiado pela revista do banqueiro como as 10 principais marcas de fora do top 500 bancos a nível mundial e classificada como número um na indústria bancária chinesa doméstica (CHINA CONSTRUCTION BANK, 2012).

3.2.5 China Mobile Communications

A China Mobile Limited foi constituída em Hong Kong em 3 de setembro de 1997. A Companhia foi listada na New York Stock Exchange e na Bolsa de Valores de Hong Kong Limited em 22 de outubro de 1997 e 23 outubro de 1997, respectivamente. A Companhia foi admitida como um estoque constituinte do Índice Hang Seng, em Hong Kong em 27 de janeiro de 1998 (CHINA MOBILE COMMUNICATIONS).

No segundo semestre de 2004, a China Mobile podia ser encontrada no "Gabinete de Estratégia de Investimento no Exterior", que realiza pesquisas sobre a possibilidade tecnológica e racionalidade econômica das propostas de investimento. A estratégia regional de desenvolvimento no exterior da China Mobile é centrada em Hong Kong e Macau, e foi seguida por uma expansão para o Sudeste da Ásia, América do Sul e para os mercados norte-americanos e europeus. Ao contrário do método de

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internacionalização da China Telecom, a China Mobile vai se concentrar na aquisição de prestadores de serviços existentes no exterior. Até agora, adquiriu 100% das ações de Hong Kong‘s China Resources People‘s Telephone e do Pakistan‘s Paktel Limited por US$438 milhões dólares e US$ 477 milhões, respectivamente (JIN, 2007).

No entanto, as tentativas da China Mobile para adquirir 26% das ações da Companhia de Telecomunicações do Paquistão em junho de 2005 e da Luxemburgo Millicom Internacional por US$ 530 bilhões em julho de 2006, ambas falharam. Além disso, foi relatado que os lances para assumir tanto a Yemen Mobile e quanto a Uzbequistão Telecom, em agosto de 2005, não foram bem sucedidos, embora a China Mobile negue tais relatórios. Mesmo assim, é fácil de ver que a expansão da China Mobile em mercados emergentes de comunicação dos países em desenvolvimento está se acelerando (JIN, 2007).

Em 2006, a China Mobile possuia 330 milhões de assinantes e se tornou o maior fornecedor de serviços de comunicações móveis em todo o mundo em termos de número de assinantes e de tamanho da sua rede. Além disso, depois de superar a Vodafone no início de 2007, a China Mobile passou a ter a maior capitalização de mercado do mundo (JIN, 2007).

Como o líder em provedor de serviços de celular na China, o Grupo possui a maior rede móvel do mundo e a maior base de clientes móveis do mundo. Em 2011, a Companhia foi novamente selecionada como um dos "FT Global 500" pelo Financial Times e "As 2000 maiores empresas públicas do mundo" pela revista Forbes, e foi novamente reconhecida nos Índices de Sustentabilidade Dow Jones. A Companhia atualmente tem um rating de crédito corporativo de Aa3/Outlook positiva a partir de Serviço Moody Investidores e AA-/Outlook estável pela Standard & Poors, o equivalente à classificação de crédito soberano da China, respectivamente (CHINA MOBILE COMMUNICATIONS).

A Companhia possui participação de 100% em 35 subsidiárias na China, como: China Mobile Communication Company Limited (―CMC‖), China Mobile Group Guangdong Company Limited (―Guangdong Mobile‖), China Mobile Group Zhejiang Company Limited (―Zhejiang Mobile‖), China Mobile Group Jiangsu Company Limited 95

(―Jiangsu Mobile‖), China Mobile Group Fujian Company Limited (―Fujian Mobile‖), China Mobile Group Henan Company Limited (―Henan Mobile‖), China Mobile Group Hainan Company Limited (―Hainan Mobile‖), China Mobile Group Beijing Company Limited (―Beijing Mobile‖), China Mobile Group Shanghai Company Limited (―Shanghai Mobile‖), China Mobile Group Tianjin Company Limited (―Tianjin Mobile‖), China Mobile Group, Hebei Company Limited (―Hebei Mobile‖), entre outras.

Além disso, a Companhia possui uma participação de 99,97% na China Mobile Group Terminal Company Limited ("China Mobile Terminal"), e uma participação de 66,41% no Aspire Holdings Limited ("Aspire"). Em agosto de 2011, a Companhia, através de Beijing Mobile e China Mobile Communications Corporation ("CMCC"), criou a China Mobile Finance Group Company Limited ("China Mobile Finance"), na qual a Companhia detém indiretamente uma participação de 92% (CHINA MOBILE COMMUNICATIONS).

Em 31 de dezembro de 2012, o Grupo tinha uma equipe total de 182.487 e uma base de clientes perto de 710 milhões, e teve uma participação de mercado de aproximadamente 66,5% na China (CHINA MOBILE COMMUNICATIONS).

O maior acionista da Companhia é a China Mobile (Hong Kong) Group Limited ("CMHK (Grupo)"), que, em 31 de dezembro de 2011 possuiu, indiretamente, uma participação de aproximadamente 74,18% na Companhia por meio de uma subsidiária integral, a China Mobile Hong Kong Limited. A participação remanescente de aproximadamente 25,82% da Companhia é de investidores públicos (CHINA MOBILE COMMUNICATIONS). A China Mobile está listada nas bolsas de Nova York e de Hong Kong, mas mesmo assim é controlada pelo governo central e gerenciada pela SASAC.

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NOTAS FINAIS

A internacionalização das empresas chinesas é um processo cada vez mais amplo e complexo. No caso das empresas de grande porte, as motivações principais estão ligadas ao interesse do governo de assegurar recursos e tecnologia essenciais para o contínuo crescimento do país. Assim, é possível perceber claramente a diplomacia econômica e comercial praticada pelo governo em relação aos outros países. As maiores empresas internacionalizadas são empresas estratégicas para o PCC chinês, com pessoas do alto escalão do partido em seu comando e com uma participação muito grande dentro da China e ao redor do mundo, além de muitas estarem na lista de maiores empresas do mundo. Por um lado, essas empresas possuem vantagem como apoio financeiro, elas, porém, também sofrem com a grande burocracia que têm de enfrentar por causa da dependência institucional.

Por causa disso, as teorias que caracterizam o relacionamento de empresas com o governo e com outras empresas são fundamentais para entender o processo chinês. Muitos governos de países em desenvolvimento, inclusive o da China, como já citado anteriormente, tem muitas políticas de incentivo à saída de investimentos. O que ajuda também essas empresas é que economias recém abertas possuem políticas para facilitar a entrada das empresas de outros países nas suas e, assim, fomentar a economia local.

A teoria de Dunning, ao falar das fases de internacionalização, se encaixa com os períodos que a China teve em sua história desde que começou a abertura para o exterior. Inicialmente, o país somente permitia que os investimentos entrassem no país, em um segundo momento começaram pequenos investimentos para fora, na terceira fase o investimento que sai ainda é pequeno em relação ao que entra e, na última fase, o IDE que sai do país supera o IDE que entra.

As teorias clássicas de internacionalização de empresas foram feitas para estudar e entender o processo das primeiras empresas internacionalizadas que eram todas de países desenvolvidos. É possível perceber que há partes de algumas dessas teorias que explicam alguns aspectos do processo chinês ou podem ser aplicadas a 97

esse processo. Como elas foram feitas, porém, na década de 1980, com a internacionalização das empresas dos países desenvolvidos, é difícil ajudarem a entender o processo tanto das empresas chinesas como das empresas dos outros países em desenvolvimento.

Tanto as empresas chinesas, como as empresas dos outros países em desenvolvimento possuem um contexto de internacionalização diferente do encontrado pelas empresas dos países desenvolvidos que se internacionalizaram. Essas empresas já encontram um cenário de grande competição externa, pois outras empresas já se tinham fixado em vários países ao redor do mundo e se consolidaram como uma marca forte. As empresas que estão se internacionalizando nesses últimos 20 anos precisam lidar com esse cenário.

Outro ponto importante é a teoria que separa as empresas em dois grupos: o primeiro é o das empresas que construiram uma vantagem competitiva prévia e o segundo, as que já começaram investindo internacionalmente. Enquanto as empresas chinesas que operaram primeiramente nos países vizinhos, como Singapura, Tailândia, Hong Kong, entre outros, podem estar no primeiro grupo, já que tentaram obter uma vantagem competitiva antes de se expandirem para o exterior, a maioria das empresas, tanto chinesas como de países emergentes, está no segundo grupo. Esse segundo grupo investe primeiro internacionalmente, a fim de construir a sua vantagem competitiva e, em seguida, adquire recursos naturais e tecnologia, talvez antes do acesso ao mercado.

Para finalizar, é importante fazer algumas considerações sobre as empresas apresentadas na terceira seção. Primeiramente, é preciso lembrar que a escolha das empresas foi feita não apenas por tamanho, mas, mais importante, por relevância ao Estado chinês. Assim, faz parte da diplomacia econômica e comercial praticada pelo governo. A diplomacia econômica chinesa deve ser entendida como parte da grande estratégia desenhada pela China para coordenar sua ascensão, o que permite ao PCC manter uma política econômica doméstica dirigida pelo Estado e de reformas graduais, como já dito na primeira seção. E é por isso que a diplomacia comercial tem-se

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mostrado um importante instrumento quando se trata de criar e expandir mercados para os produtos chineses e para as empresas chinesas investirem.

Em relação à teoria de Rongping (2009), há três caminhos a serem seguidos pelas empresas chinesas que estão se internacionalizando: caminho de transição, caminho normal e o caminho acelerado. O primeiro caminho é seguido por empresas fundadas ainda quando a China era muito fechada e que cresceram internamente antes de se internacionalizarem. Levando isso em consideração, entre as empresas estudadas na seção três, é possível classificar somente o Construction Bank of China nessa categoria, já que foi criado na década de 1950. O segundo caminho é das empresas que foram fundadas e cresceram constantemente durante a abertura da China. É o caso da SINOPEC e do Industrial and Commercial Bank of China, ambos criados na década de 1980. O terceiro caminho é o das empresas que já foram fundadas na época de maior abertura da China e que desde o começo já disputam mercado e recursos com empresas estrangeiras. É o caso da STATE GRID e da China Mobile Communications, as duas mais recentes do grupo selecionado.

Em relação à perspectiva de desenvolvimento atrasado vista no segundo capítulo, a China, de um modo geral, pode estar inserida nessa perspectiva. Os países classificados como ―atrasados‖ usam o investimento internacional como meio de superar as desvantagens competitivas e permitir que as empresas desses países se aproximem das empresas líderes com aquisição de ativos e recursos. Não só as empresas estudadas aqui, de um modo geral todas as empresas chinesas estão nesse caminho. As empresas selecionadas no terceiro capítulo estão conseguindo ser bem sucedidas e estão na lista das 100 maiores empresas do mundo.

De acordo com o que foi dito na primeira seção sobre a teoria de Dunning, uma empresa que se internacionaliza pode estar buscando uma ou mais estratégias entre as quatro: materias primas, mercado, exportação e ativos estratégicos (I&D). Levando isso em consideração, é possível fazer um paralelo com o que acaba de ser exposto.

Entre 1991 e 2006, o consumo dos chineses, em todas as fontes de energia, cresceu 5,9% a.a., enquanto sua produção cresceu somente 4,8% a.a. (National Bureau of Statistics of China, 2010). Com isso, a demanda de petróleo do país passou 99

a constituir uma parcela expressiva da demanda global por esse produto. Por isso tanto a SINOPEC, como a STATE GRID são importantíssimos players na aquisição de recursos para atender essa demanda por energia. Essas empresas, considerando a teoria de Dunning, se internacionalizaram buscando materia prima e ativos estratégicos para a empresa e para a China, já que são empresas estatais e estrategicamente importantes para o país.

Além disso, lembrando o que foi dito sobre a teoria da Diplomacia Triangular de Stopford e Strange, as empresas passaram a se envolver mais com os governos e esses passaram a reconhecer sua dependência dos escassos recursos controlados pelas firmas, é possível perceber por esses grupos de empresas que a China já percebeu isso há muito tempo e, assim, conseguiu manter um elevado padrão de desenvolvimento e de urbanização nas últimas décadas.

Assim, a SINOPEC entra no cenário mundial, principalmente por meio da aquisição de outras empresas, formando joint ventures e importando e exportando produtos. Quando explicadas as fases de internacionalização de empresas (HITT, 2002), foi dito que as empresas, geralmente no começo de sua internacionalização, praticam: exportação, licenciamento, alianças estratégicas e que as mais maduras fazem aquisições e criam novas subsidiárias estrangeiras. Levando isso em consideração, é possivel verificar que a SINOPEC já é uma empresa madura internacionalmente, mesmo tendo se tornado internacional há praticamente menos de 15 anos. Além disso, para aumentar sua capacidade de inovação tecnológia, possui escritórios e institutos de pesquisa especializados.

A STATE GRID começou sua internacionalização com acordos de cooperação com os países vizinhos para assegurar energia para a China e outros países da região. Além disso, possuem uma linha de pesquisa para a criação e o desenvolvimento de energia limpa. Um outro ponto importante é o fato de que a empresa mandou seus gerentes fazerem treinamento e compartilharem experiências de gestão para aumentar a capacidade de seus empregados e assim melhorar o gerenciamento da empresa. Por último, há os contratos internacionais que não se restringem somente a acordos de cooperação; nos últimos anos foram feitas aquisições de várias empresas ao redor do

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mundo, por exemplo, em Portugal e no Brasil, como já citado. A STATE GRID passou muitos anos na fase de alianças estratégicas, levando em consideraçao Hitt (2002), e agora passou a ser mais madura e entrar na fase de aquisições.

O próximo ponto são os bancos chineses. Essenciais para o desenvolvimento do processo de internacionalização das empresas chinesas, não só pelos empréstimos concedidos, mas por abrir as portas dos países para a entrada das empresas chinesas, como é o caso de Angola (OLIVEIRA; PAIVA, 2011). Como já foi dito na primeira seção, novos mercados, tipicamente, só se abrem com investimentos prévios, já que, por exemplo, a maioria dos serviços tem comercialização limitada. Assim, uma das características dos bancos chineses é abrir caminho para as outras empresas chinesas entrarem. Esses bancos, além de buscarem mais mercado, um dos pontos que Dunning especificava, já que abrem filiais em muitos países de vários continentes, estão se internacionalizando por uma questão que vai além, eles se internacionalizam como estratégia para ajudar empresas chinesas a entrarem em outros países.

O Industrial and Commercial Bank of China possui filiais em todos os continentes e é um dos maiores financiadores de empresas chinesas da China, além de estar entre os maiores bancos e empresas do mundo. Mais recentemente, o banco também está fazendo aquisições de outros bancos ao redor do mundo, tornando-se cada vez mais importante no cenário internacional, o que pode ajudar ainda mais as empresas chinesas no exterior. O China Construction Bank também possui muitas filiais fora da China e tem a função de administrar e distribuir os fundos do governo para construção e infraestrutura de projetos relacionados com o plano econômico estatal, ou seja, também é importante para o processo de internacionalização chinês.

Finalmente há o setor de telecomunicação. Com a empresa China Mobile Communications sendo uma das maiores empresas mundiais e possuindo a maior rede móvel do mundo, é possível perceber a expansão chinesa para o exterior, principalmente para os países em desenvolvimento. A estratégia da China Mobile se concentra na aquisição de prestadores de serviços existentes no exterior. Pensando na teoria de Dunning, a China Mobile está buscando além de mercado, ativos estratégicos. Assim, pode parecer que nao está havendo um desenvolvimento por parte da própria

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empresa em inovação tecnológia, mas a empresa possui centros de pesquisa em inovação, sempre aumentando sua capacidade tecnológica.

Outra teoria interessante para o caso chinês é a de Child e Rodrigues (2005), que separa o nível de internacionalização chinesa em três. O primeiro é a exportação, o segundo fabricação de equipamento original (OEM) ou a subcontratação de empresas estrangeiras para produção, e/ou outras formas de parceria com eles, e o terceiro, expansão física e organizacional de empresas chinesas em locais no exterior financiados por IDE. A SINOPEC passou por todos os níveis relacionados acima, e ainda está presente em todos eles. Já a STATE GRID, a China Mobile Communications e os bancos apresentados participam do segundo e terceiro nível nessa teoria, já que possuem filiais ao redor do mundo e formam parcerias com outras empresas.

Também, segundo Child e Rodrigues (2005), há outras três rotas que estão sendo seguidas pelas empresas chinesas: parceria através de OEM ou joint venture; aquisições; expansão orgânica (estabelecimento de subsidiárias dentro dos mercados alvos). As empresas estudadas não seguem somente um desses caminhos. A SINOPEC, por exemplo, está presente nas três rotas, a STATE GRID e a China Mobile Communications na segunda e na terceira. Os bancos, principalmente, seguem o terceiro caminho, mas nos últimos anos fizeram aquisições em outros países do mundo, entrando também no segundo caminho.

Esse grupo de empresas, tirado da lista das mais estratégicas para a China, conseguiu provar que a diplomacia econômica e comercial chinesa está muito presente no relacionamento da China com o resto do mundo. Além disso, mostrou como o relacionamento entre governo e empresa é essencial para o crescimento e a sustentabilidade deste no país e que talvez por causa dessa relação, as empresas chinesas conseguiram se desenvolver rapidamente fora da China tornando-se grandes players mundiais. E, finalmente, foi possível chegar à conclusão que pelo menos parte da teoria de Dunning pode explicar a saída de IDE dessas empresas para o mundo, já que todas buscam materia prima, mercado, ativos estratégicos ou exportação.

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112

ANEXO 1

Lista de empresas da SASAC combinadas com a lista de bancos e empresas de seguro chinesas (USCC, 2012, p.73)

Nome da empresa e abreviação

1 China National Nuclear Corporation (CNNC) 2 China Nuclear Engineering & Construction Corporation (CNECC) 3 China Aerospace Science & Technology Corporation (CASC) 4 China Aerospace Science & Industry Corporation (CASIC) 5 Aviation Industry Corporation of China (AVIC) 6 China State Shipbuilding Corporation (CSSC) 7 China Shipbuilding Industry Corporation (CSIC) 8 China North Industries Group Corporation (CNIGC) 9 China South Industries Group Corporation (CSGC) 10 China Electronics Technology Group Corporation (CETC) 11 China National Petroleum Corporation (CNPC) 12 China Petrochemical Corporation (Sinopec) 13 China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) 14 State Grid Corporation of China (SGCC) 15 China Southern Power Grid Company, Limited (CSG) 16 China Huaneng Group (CHNG) 17 China Datang Corporation (CDT) 18 China Huadian Corporation (CHD) 19 China Guodian Corporation (CGDC) 20 China Power Investment Corporation (CPI) 21 China Three Gorges (Project) Corporation (CTGPC) 22 Shenhua Group Corporation Limited (Shenhua) 23 China Telecommunications Corporation (China Telecom) 24 China United Network Communications Group Company () 25 China Mobile Group (China Mobile) 26 China Electronics Corporation (CEC) 27 China FAW Group Corporation (FAW)

113

28 Dongfeng Motor Corporation (DFMC) 29 China First Heavy Industries (CFHI) 30 China National Erzhong Group Corporation (Erzhong) 31 Harbin Electric Corporation (HPEC) 32 Dongfang Electric Corporation (DEC) 33 Anshan Iron and Steel Group Corporation (Ansteel) 34 Baosteel Group Corporation (Baosteel) 35 Wuhan Iron and Steel (Group) Corporation (WISCO) 36 Aluminum Corporation of China (Chalco) 37 China Ocean Shipping (Group) Company (COSCO) 38 China Shipping Group (China Shipping) 39 China National Aviation Holding Company (AirChina) 40 China Eastern Aviation Holding Company (China Eastern) 41 China Southern Air Holding Company (China Southern) 42 Sinochem Group (Sinochem) 43 COFCO Corporation (COFCO) 44 China Minmetals Corporation Minmetals 45 China General Technology (Group) Holding, Limited Genertec 46 China State Construction Engineering Corp. (CSCEC) 47 China Grain Reserves Corporation Sinograin 48 State Development & Investment Corporation (SDIC) 49 China Merchants Group (CMHK) 50 China Resources (Holdings) Company, Limited (CRC) 51 The China Travel Service (HK) Group Corporation (HKCTS) 52 State Nuclear Power Technology Corporation (SNPTC) 53 Commercial Aircraft Corporation of China, Limited (COMAC) 54 China Energy Conservation Investment Corporation (CECIC) 55 China Gaoxin Investment Group Corporation Gaoxin Group 56 China International Engineering Consulting Corporation (CIECC) 57 Zhongnan Commercial (Group) Company, Limited Zhongnan 58 China Huafu Trade & Development Group Corporation (HFJT) 59 China Chengtong Group (CCT)

114

60 China Huaxing Group Huaxing 61 China National Coal Group Corporation (ChinaCoal) 62 China Coal Technology & Engineering Group Corporation (CCTEG) 63 China National Machinery Industry Corporation (SINOMACH) 64 China Academy of Machinery Science & Technology (CAM) 65 Sinosteel Corporation (Sinosteel) 66 China Metallurgical Group Corporation (MCC) 67 China Iron & Steel Research Institute Group (CISRI) 68 China National Chemical Corporation (ChemChina) 69 China National Chemical Engineering Group Corp. (CNCEC) 70 Sinolight Corporation Sinolight 71 China National Arts & Crafts (Group) Corporation (CNACGC) 72 China National Salt Industry Corporation (CNSIC) 73 China Hengtian Group Company, Limited (CHTGC) 74 China National Materials Group Corporation Limited (SINOMA) 75 China National Building Materials Group Corp. (CNBM) 76 China Nonferrous Metal Mining (Group) Company (CNMC) 79 China International Intellectech Corporation (CIIC) 80 China Academy of Building Research (CABR) 81 China CNR Corporation Limited (CNR) 82 China CSR Corporation Limited (CSR) 83 China Railway Signal & Communication Corporation (CRSC) 84 China Railway Group Limited China Railway 85 China Railway Construction Corporation Limited (CRCC) 86 China Communications Construction Company Limited (CCCC) 87 China Potevio Company, Limited China Potevio 88 Datang Telecom Technology & Industry Group Datang 89 China National Agricultural Development Group Company (CNADC) 90 Chinatex Corporation Chinatex 91 China National Foreign Trade Transportation Corp. (SINOTRANS) 92 China National Silk Import & Export Corporation Chinasilk 93 China Forestry Group Corporation (CFGC)

115

94 China National Pharmaceutical Group Corporation (SINOPHARM) 95 CITS Group Corporation (CITS) 96 China Poly Group Corporation (POLY) 97 Zhuhai Zhen Rong Company Zhzrgs 98 China Architecture Design & Research Group (CAG) 99 China Metallurgical Geology Bureau (CMGB) 100 China National Administration of Coal Geology (CNACG) 101 Xinxing Cathay International Group Company, Limited XXPGroup 102 China Travelsky Holding Company Travelsky 103 China Aviation Fuel Group Corporation (CNAF) 104 China National Aviation Supplies Holding Company (CASC) 105 China Power Engineering Consulting Group Corporation (CPECC) 106 HydroChina Corporation (HYDROCHINA) 107 Sinohydro Corporation Sinohydro 108 China National Gold Group Corporation (CNGC) 109 China National Cotton Reserves Corporation (CNCRC) 110 China Printing (Group) Corporation (CPGC) 111 China Lucky Film Corporation Luckyfilm 112 China Guangdong Nuclear Power Holding Corporation (CGNPC) 113 China Hualu Group Company, Limited Hualu 114 Alcatel-Lucent Shanghai Bell Company Limited Alcatel-sbell 115 IRICO Group Corporation (IRICO) 116 FiberHome Technologies (WRI) 117 OCT Enterprises Company (OTC) 118 Nam Kwong (group) Company, Limited Namkwong 119 China XD Group XD Company 120 China Gezhouba Group Corporation (CGGC) 121 China Railway Materials Commercial Corporation (CRM) 122 Industrial & Commercial Bank of China (ICBC) 123 China Life Insurance Group China Life 124 China Construction Bank (CCD) 125 Bank of China (BOC)

116

126 Agriculture Bank of China (ABC) 127 China Taiping Insurance Group Company China Taiping 128 (BOCOM) 129 China Development Bank (CDB) 130 People‘s Insurance Company of China (PICC)

117