Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG www.ufmg.br e-mail: [email protected] No 1.270 - Ano 26 - 29.03.2000 Editora ganha projeção nacional

Nos últimos anos, a Editora UFMG consolidou sua posição no mercado editorial brasileiro. Com investimentos em projetos gráficos de qualida- de, aplicação de estratégias de marketing e definição da linha editorial, acabou conhecida por leitores de todo o Brasil.

Pela primeira vez, a Editora UFMG concorre ao Prêmio Jabuti na catego- ria Produção Editorial, com o livro Imagens do Grande Sertão, que reú- ne xilogravuras e desenhos do artista plástico Arlindo Daibert. O órgão também participa, com estande próprio, da Bienal do Livro de São Pau- lo, que acontece de 28 de abril a 7 de maio. Em entrevista ao BOLETIM, o diretor licenciado da Editora, Wander Melo Miranda, analisa os seus avanços e anuncia metas para o ano 2000.

Páginas 4 e 5

UFMG tem a menor evasão do Brasil

Página 3

Medicina faz 89 anos

Página 6 Opinião As origens da Família Miner *

Nivio Ziviani **

Família Miner nasceu no Departa- sentíamos a necessidade de contar com dor, e a efetiva transferência de tecnologia mento de Ciência da Computa- investidores, que além de recursos finan- criada nas universidades para o mercado. A ção da UFMG. O seu desenvolvi- ceiros, trariam o aporte de ferramentas O empreendimento Família Miner tem mento foi uma das poucas experiências da gestão empresarial. Foi quando deci- exatamente estas características e promete do gênero na universidade brasileira. Mui- dimos, em janeiro de 1999, admitir co- ser a primeira experiência dentre as muitas to mais do que um trabalho acadêmico, o mo sócios Guilherme Emrich e Ivan que certamente serão desenvolvidas na empreendimento Família Miner é a pura Moura Campos, ampliando tremenda- UFMG. Cabe ressaltar que, a partir da ex- demonstração prática de como certos re- mente o poder de crescimento da em- periência da Miner, estamos propondo sultados de pesquisa universitária devem presa. Em abril, admitimos como sócio um novo modelo capaz de induzir a cria- ser levados à sociedade, por meio da cria- Emílio Carlos Rebouças Santana Loures, ção de empreendimentos e empresas de ção de empresas de alta tecnologia. Tais para cuidar dos aspectos financeiros. A alta tecnologia no âmbito da UFMG, de- empresas, com altíssimo valor agregado esta altura, tínhamos chamado a atenção nominadas start-ups. aos seus produtos, geram riqueza na for- de muitas empresas interessadas na Uma start-up nasce a partir de uma ma de empregos e captação de recursos tecnologia e no empreendimento Família idéia inovadora ou de um resultado de financeiros, através da exportação de pro- Miner. Em junho, vendemos a empresa pesquisa inovador em um laboratório dutos, serviços e tecnologia. para o Grupo Abril/Folha de S. Paulo/ universitário. Esta idéia ou resultado de A Miner foi tema de dissertação de UOL. A Família Miner é hoje o principal pesquisa pode então ser transformado mestrado de Victor Fernando Ribeiro, de- mecanismo de busca do BOL (Brasil em um protótipo de tecnologia. Uma senvolvida sob minha orientação no Labo- Online), sendo dirigida por Victor Ribeiro. vez atingido este estágio, pode haver in- ratório para Tratamento da Informação teresse em transformá-lo em uma tecno- (Latin). O trabalho começou no primeiro logia ou em um empreendimento, vi- semestre de 1996, dentro da disciplina O Departamento de Ciência sando à criação de uma start-up. Este Projeto e Análise de Algoritmos, onde momento deve ser marcado por uma cla- Victor propôs o estudo e desenvolvimento da Computação da UFMG ra separação entre o que foi feito na Uni- de robôs para navegar na Internet. Em ju- é considerado um dos mais versidade e o que será desenvolvido fora nho de 1996, um primeiro protótipo de de seus muros, em parceria com grupos robô para a World Wide Web foi testado. expressivos centros brasileiros privados, investidores de risco e profissio- O trabalho ficou tão bom que convida- na interação universidade- nais de negócio. mos o Victor a se aprofundar no assunto indústria, desenvolvendo Este modelo está em debate no âmbi- e a desenvolver mecanismos de busca na to do DCC/UFMG, a fim de que a nossa Internet. Em janeiro de 1997, uma primei- atividades de extensão Universidade possa ter uma participação ra versão do MetaMiner foi testada. Em há mais de duas décadas. efetiva neste processo. No momento em março do mesmo ano, veio o BookMiner que a sociedade passa a enxergar a Uni- e, logo em seguida, o NewsMiner. O con- versidade como geradora de riqueza, ceito final da Família Miner de Agentes O Departamento de Ciência da Com- além de formadora de recursos huma- para a Web foi alcançado em julho de putação da UFMG é considerado um dos nos, os ganhos potenciais podem ser 1997, e a dissertação terminada e defendi- mais expressivos centros brasileiros na enormes. Estes conceitos foram aprova- da competentemente pelo Victor em feve- interação universidade-indústria, desen- dos pela Câmara do DCC/UFMG e têm reiro de 1998. volvendo atividades de extensão há mais recebido entusiástico apoio de todos os O software foi lançado no mesmo de duas décadas. Seus trabalhos de maior grupos com os quais temos conversado. mês e, com apenas 34 e-mails de divulga- porte duram anos e envolvem recursos fi- Esperamos que a experiência vivida pela ção, passou a receber três mil consultas nanceiros da ordem de milhões de reais Família Miner sinalize outras iniciativas por dia. O sucesso nos encorajou a criar a que, além de remunerar o próprio proje- que poderão ser desenvolvidas a curto Miner Technology Group, em 22 de abril to, permitem criar infra-estrutura de labo- prazo nesta área em que a Universidade de 1999. Como um empreendimento típi- ratórios, biblioteca, administração, bolsas tem competência e reconhecimento in- co na Internet, tudo dobrava a cada 30 ou de estudos para estudantes de gradua- ternacional. É nosso desejo contribuir 40 dias: o número de usuários, demanda ção, mestrado e doutorado, entre outros para a criação de jurisprudência e para- por espaço em disco, tráfego na rede... benefícios. digma que possam ser seguidos por mui- Em setembro, já com cerca de 30 mil Apesar de ser muito bom para um de- tos outros grupos de pesquisa. consultas por dia, a Família Miner passou partamento universitário, este modelo a funcionar a partir dos servidores do pode e deve ser aprimorado para atender * Parte de discurso proferido durante a cerimônia UOL, enquanto o desenvolvimento conti- a uma nova característica de mercado im- de doação de R$ 100 mil pelos criadores da Família nuava aqui em Belo Horizonte. posta pela chamada sociedade da infor- Miner para a UFMG, no último dia 16 de março. O Victor e eu tocamos a Miner sozi- mação: a criação rápida de empresas de nhos durante todo o ano de 1998, mas já alta tecnologia com grande poder inova- ** Professor Titular do DCC

2 29.03.2000 Boletim UFMG Evasão na UFMG é a menor do Brasil

Índices da Universidade são melhores de rematrícula, reopção, transferência ou obtenção de novo que os da USP e Unicamp título. “São mecanismos que permitem a ocupação quase in- tegral das vagas por alunos que irão chegar ao final dos cur- sos”, garante Nagib. studo que avalia a utilização das estruturas das Insti- tuições Federais de Ensino Superior (Ifes), divulgado Assistência E recentemente pelo Ministério da Educação, revelou Dos cerca de 20 mil alunos da UFMG, 4% (em torno de que a UFMG é a universidade que melhor tem aproveitado 800 alunos) deixam de freqüentar a instituição todos os sua capacidade instalada na Graduação. anos. Esse abandono, no entanto, nem sempre pode ser ca- O índice obtido no ano letivo de 1998 – apurado pela di- racterizado como evasão, já que em muitos casos os estu- visão do número de diplomados no ano pela quantidade de dantes deixam os cursos de origem para pedir reopção de vagas oferecidas no vestibular – foi de cerca de 90%, en- curso. Além disso, segundo o estudo do perfil dos aprovados quanto a média nacional de aproveitamento ficou em torno no vestibular 2000, 8% dos estudantes que ingressaram por de 55%. A UFMG superou instituições como a USP e a esta modalidade já eram matriculados em outros cursos su- Unicamp, de São Paulo. periores – muitos deles na própria Universidade – e preten- Segundo o pró-reitor de diam fazer novo curso. Graduação, José Nagib Cotrim Na opinião de Nagib, outro fator que contribui para os

Foca Lisboa Árabe, dois fatores influencia- baixos índices de evasão na Universidade é a atuação da Fun- ram os resultados: a baixa eva- dação Universitária Mendes Pimentel (Fump): “Nenhuma ou- são nos cursos e a forma co- tra universidade federal dispõe de uma entidade como a mo a Universidade gerencia Fump, cuja principal finalidade é ajudar os alunos a minimi- suas vagas ociosas. Desde zarem suas carências socioeconômicas e culturais”. 1990, normas acadêmicas edi- Para o pró-reitor de Graduação, a redução dos índices tadas na Graduação prevêem a de evasão e, em conseqüência, o crescimento dos níveis de exclusão dos alunos infre- aproveitamento, também dependem de uma atenção espe- qüentes e com' baixo rendi- cial a ser dispensada aos alunos dos ciclos básicos. Ele lem- mento. Isso significa que as bra que a maioria dos alunos que evadem nos primeiros vagas preenchidas inicialmente anos de universidade tiveram baixo desempenho nos pri- por estudantes descompro- meiros anos dos cursos. “É preciso que a metodologia de metidos com os cursos podem ensino seja cuidadosamente planejada, já que a entrada ser remanejadas para outros numa universidade pode significar um forte choque cultural Nagib destaca papel da Fump alunos, através dos processos para alguns jovens”, orienta Nagib.

Universidade recebe cientistas eslovenos

té esta sexta-feira, 31 de março, um grupo de cientistas eslovenos discutirá na UFMG o desenvolvimento de projetos de cooperação institucionais, A como protocolos e parcerias, em diversas áreas do conhecimento. Os pes- Foca Lisboa quisadores, enviados ao Brasil pelo Ministério de Ciência e Tecnologia da República da Eslovênia, foram recebidos pelo reitor Francisco César de Sá Barreto, pela vice- reitora Ana Lúcia Gazzola, pelo Reitor da Ufla e Presidente do Fórum das Ifes minei- ras Fabiano do Vale, e por membros da administração central da UFMG. É a primeira vez que a UFMG recebe uma missão da Eslovênia, viabilizada pela ação conjunta entre a Assessoria de Cooperação Internacional (ACI) da Universidade e o consulado esloveno em Belo Horizonte, através do cônsul Stefan Bogdan Salej, presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Os cientistas eslovenos que visitam a UFMG são Verica Trstenjak, Ludvik Toplak, Marko Simoneti, Miran Vesellö, Mllos Kuret e Alenka Mlhallovgkl. Segundo a professora Sueli Pires, assessora de Cooperação Internacional, a UFMG recebeu dos pesquisadores uma relação dos principais setores de pesquisa que interessam à comunidade científica eslovena, como física, geologia, engenharia sanitária e meio ambiente. Também foi realizada uma sessão técnica para a identifi- cação de linhas de pesquisa científica e tecnológica comuns à UFMG e às universi- dades eslovenas nas áreas de informática, biotecnologia, processamento de alimen- tos, farmácia, meio ambiente, economia e ciências sociais, entre outras. Sueli Pires: linhas comuns de pesquisa

Boletim UFMG 29.03.2000 3 Editora UFMG concorre ao Prêmio Jabuti

Marco Antônio Corteleti Órgão terá estande crescimento editorial e gráfico experimentado pela próprio na Bienal do Livro Editora UFMG nos últimos anos acaba de ser O coroado nacionalmente com a sua indicação ao Pela primeira vez, a Editora UFMG participará da Prêmio Jabuti, conferido pela Câmara Brasileira do Livro Bienal do Livro com um estande próprio, de 30 metros (CBL). Única editora mineira selecionada, a da UFMG con- quadrados, no Pavilhão Vermelho do Expocenter Norte, corre com o livro Imagens do Grande Sertão, que reúne de São Paulo. Ele vai expor os cerca de 150 livros já lan- xilogravuras e desenhos do artista çados pela Editora e peças produzidas plástico Arlindo Daibert (1952-1993) pela Universidade, como o Calendário a partir de sua visão pessoal sobre o 2000 e o CD do Coral Ars Nova. universo de Guimarães Rosa em O estande da UFMG ficará numa Grande Sertão: Veredas. área de 816 metros quadrados, a se- Imagens concorre na categoria gunda maior da feira, junto aos de Produção Editorial e vai disputar o prê- outras sete editoras universitárias e mio máximo do mercado literário bra- da Associação Brasileira de Editoras sileiro com outras nove publicações, Universitárias (Abeu). Este espaço irá entre elas a coleção Obras Completas receber tratamento visual que lhe garantirá uma idéia de conjunto, res- – Jorge Luis Borges, da Editora Globo. peitando, porém, a identidade de Os vencedores serão conhecidos du- cada editora. rante a realização da Bienal do Livro, que acontece em São Paulo, de 28 de abril a 7 de maio. Criado pela Câmara Brasileira do Li- o Jabuti premiará também o Melhor Li- vro (CBL) em 1958, o Prêmio Jabuti é vro de Religião. Aquarela Diadorim, de Daibert o mais importante e tradicional con- O concurso também confere os curso literário do país. No folclore brasileiro, o jabuti é um ani- prêmios Livros do Ano de Ficção e de mal que se distingue pela paciência e tenacidade com que Não-Ficção, escolhidos entre os vencedores. O júri é forma- vence os desafios. Por isso, foi escolhido para simbolizar a ati- do por intelectuais e personalidades ligados à literatura e à vidade de escritores, editores, livreiros e gráficos. cultura. A cerimônia de entrega do Prêmio Jabuti acontece O primeiro vencedor na categoria Romance foi Jorge anualmente na Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Amado, com Gabriela, Cravo e Canela, em 1959. Desde en- tão, renomados intelectuais brasileiros receberam o prêmio, Guimarães Rosa como , Chico Buarque, Caco Barcellos, A publicação responsável pela primeira indicação da Edi- Gilberto Dimenstein, e . tora UFMG ao Prêmio Jabuti reúne xilogravuras e desenhos Atualmente, o prêmio contempla as seguintes categorias: do artista plástico Arlindo Daibert, que retratam suas emo- Romance; Contos e Crônicas; Poesia; Ensaios e Biografias; ções sobre um dos maiores clássicos da literatura brasileira – Economia, Administração, Negócios e Direito; Ciências Na- Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. turais e Ciências da Saúde; Ciências Exatas, Tecnologia e Ainda pouco conhecido no Brasil, Daibert levou vários Informática; Ciências Humanas e Educação; Reportagem; anos para transformar em arte seus sentimentos diante da Tradução; Capa; Produção Editorial (livros avulsos ou em co- obra de Rosa. As 20 xilogravuras presentes no livro são de leções); Livro Didático de 1º e 2º graus; Infantil ou Juvenil; 1982, mas os 51 desenhos feitos por técnicas diversas só Ilustração de Livro Infantil ou Juvenil. A partir desta edição, foram concluídos no início da década de 90. Além da lei- tura plástica de trechos, personagens e emoções de Grande Sertão, o artista es- creve sobre as próprias técnicas e inten- ções artísticas. Produzido pelo diretor licenciado da Festival 2000 Editora UFMG, Wander Melo Miranda, Imagens do Grande Sertão também apre- A UFMG acaba de produzir o selo do 32º senta um texto da historiadora Heloísa Festival de Inverno. A peça, elaborada pelo pro- Starling sobre Guimarães Rosa e uma aná- gramador visual Magela Perpétuo, do Centro lise do professor Júlio Castañon a respeito Audiovisual (CAV), foi elaborada para ser usada em de Daibert. A publicação tem 148 páginas ofícios e correspondências emitidos pelas unidades acadêmicas e adminis- e pode ser adquirida por R$ 65 (com 20% trativas da Universidade. Cópias do selo podem ser solicitadas pelo telefo- de desconto na Editora UFMG). ne 499-4394. O Festival 2000 será realizado em Diamantina, no período de 9 a 29 de julho. Leia mais sobre a Editora UFMG na página ao lado

4 29.03.2000 Boletim UFMG Entrevista / Wander Melo Miranda “A Editora é uma vitrine da Universidade”

a última década, a Editora UFMG intensificou sua produção. Só no ano pas- sado, lançou 46 títulos, incluindo trabalhos de professores da Universida- Foca Lisboa N de e traduções de obras clássicas. Com linha editorial definida e amplo in- vestimento em projetos gráficos, a Editora ganhou espaço no mercado nacional e internacional. Em entrevista ao BOLETIM, o diretor licenciado, Wander Melo Mi- randa, comenta o salto qualitativo do órgão, a indicação de um de seus livros ao Prêmio Jabuti e a inédita participação, com estande próprio, na Bienal do Livro de São Paulo, que acontece de 28 de abril a 7 de maio. “Em 2000, queremos publicar cinco títulos por mês”, afirma Melo Miranda.

BOLETIM – O que explica o salto qualita- sado em publicações ensaísticas e acadê- tivo e quantitativo experimentado pela micas. O marketing dá visibilidade à sua Editora UFMG nos últimos dois anos? editora não só pela qualidade intrínseca de Wander Miranda – A Editora é uma espé- sua produção, mas também por seu méri- cie de vitrine da Universidade e, por isso, to gráfico. deve ter uma produção à sua altura. Para Melo Miranda: reconhecimento atingirmos esse estágio, agimos em várias B – E a indicação ao Prêmio Jabuti? frentes. Inicialmente, investimos na forma- VM – Trata-se de um reconhecimento às ção de um catálogo que inclui não só a atividades da Editora e a nosso trabalho mo sem estande próprio. É nossa inten- produção de professores da própria editorial. O livro Imagens do Grande Ser- ção participar de feiras nacionais e interna- UFMG, mas também de autores de ou- tão, com xilogravuras e desenhos de cionais, com estande particular, como fa- tros estados, de outras universidades im- Arlindo Daibert, está concorrendo como remos agora pela primeira vez na Bienal portantes e do exterior, para dar visibilida- projeto editorial. É uma grande vitória a de São Paulo. Isso é muito importante de nacional e internacional à Editora. Evi- classificação da Editora, que, pela primeira para que a Editora possa se firmar no mer- dentemente, a produção de tais autores se vez, teve um livro incluído entre os dez cado e competir com outras editoras. relaciona, de alguma maneira, ao pensa- melhores do Brasil nesta categoria. É um mento e ao saber produzidos na UFMG. reconhecimento que ultrapassa os limites B – Qual o papel das editoras universitá- Por outro lado, decidimos que os livros da Universidade. rias no mercado brasileiro de livros? precisariam de um tratamento gráfico de alta qualidade, que pudesse concorrer B – Como o senhor vê a participação da VM – As editoras universitárias cresceram com qualquer outra editora do mercado. Editora UFMG na Bienal do Livro de São muito na década de 90, o que se reflete Desenvolvemos projetos diferenciados de Paulo? tanto em termos de produção quanto no surgimento de novas editoras, embora es- marcas gráficas, que fizessem com que os VM – É muito importante. Temos hoje tejam ainda muito concentradas no Cen- livros fossem reconhecidos como obras da um catálogo mais definido, de peso tro-Sul do país. As universidades percebe- Editora UFMG. Ressalto também a preo- maior. Agora, a Editora terá que começar cupação, tanto deste reitorado quanto do a participar de bienais de livros no Brasil e ram que as editoras são facetas importan- anterior, de investir na Editora. no exterior. Participamos da última Feira tes da academia. Há editoras produzindo li- de Frankfurt, juntamente com outras edi- vros de qualidade em todo o país. Por isso, B – Qual seria o público alvo da Editora toras universitárias. Recebemos com fre- trabalhamos com parcerias extremamente UFMG? Ele se restringe às comunidades qüência pedidos do Instituto Iberoame- bem-sucedidas. Uma delas foi firmada en- universitárias? ricano de Berlim, que vem comprando li- tre a Editora UFMG e a Editora da Universi- VM – Os leitores alvo são, a princípio, o vros nossos, através de cartão internacio- dade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que se público acadêmico mineiro e de outras nal. Isso é fruto de nossa participação na uniram para publicar o livro que concorre universidades. O que não impede que Feira de Frankfurt, onde estivemos mes- ao Prêmio Jabuti. Sem tal parceria, a obra nossos livros atinjam outros públi- não existiria. A projeção adquirida cos. Nos últimos tempos, desen- Algumas novidades para 2000 pela Editora chamou a atenção de volvemos trabalhos de marketing institutos acadêmicos e de pesqui- Behemoth - Thomas Hobbes sa, que se mostraram interessados que buscam tornar nossa produção Pragmatismo: a filosofia da criação e da mudança - Richard editorial conhecida nacionalmente. Rorty em produzir co-edições conosco, Divulgamos nossas obras em Belo A exaustão da diferença - Alberto Moreiras como é o caso do Instituto Univer- Horizonte e também em nível na- Política e racionalidade - Fábio Wanderley sitário de Pesquisas do Rio de Ja- cional, através do Jornal de Rese- Americanos: representações da identidade nacional no Brasil neiro (Iuperj). Além de contratos nhas da Folha de São Paulo, do e nos Estados Unidos - Lúcia Lippi para publicar trabalhos com o qual somos parceiros. Isso nos pro- Poesia traduzida - Henriqueta Lisboa Iuperj, um centro de excelência na- jeta para além dos muros acadêmi- Nietzsche, das forças cósmicas aos valores humanos, cional, temos convênios com vários cos. Atingimos um público interes- Scarlett Marton departamentos da própria UFMG.

Boletim UFMG 29.03.2000 5 Faculdade de Medicina completa 89 anos Foca Lisboa

A Unidade, cuja atuação vai além do campo da saúde, é hoje referência internacional no ensino médico

Alexandre Reis de Miranda

o completar 89 anos no mês de Medicina como espaço de março, uma das mais fortes ca- vanguarda no ensino e pes- A racterísticas da Faculdade de quisa ligados à saúde, é a Medicina parece ser sua vocação para constante preocupação da reunir personalidades ilustres. Darcy Ri- Faculdade em reavaliar co- beiro, Hélio Pelegrino, Guimarães Rosa, nhecimentos médicos e mé- Juscelino Kubitschek, Pedro Nava, Hilton todos pedagógicos. Hoje, a Rocha, Ivo Pitanguy, Tostão e Benedito Unidade é um dos centros Valadares são nomes que um dia passa- colaboradores da Organiza- ram pelas salas e corredores da Unida- ção Mundial da Saúde de. (OMS) para educação e prá- Segundo o professor e diretor da Fa- tica médica, primazia dividi- culdade, Marcos Borato Viana, a for- da, no Brasil, apenas com a mação de grandes profissionais é fruto Universidade Estadual de de um trabalho contínuo, conseqüência Londrina, no Paraná. do compromisso e do respeito com a Uma das iniciativas de sociedade. Além do amplo investimen- maior sucesso da Faculdade de Medici- Unidade é centro colaborador da OMS to na formação humanista dos alunos, na, o Internato Rural, implantado em outra característica que consolidou a 1974, tem como objetivo fazer com que alunos do curso atendam a comu- nidades carentes do interior. A busca pela integração ensino, pesquisa e ex- Nove décadas de saúde e política tensão é o fator que mais contribui para a atual posição de destaque da Fa- Primeira faculdade criada culdade. Para muitos estudantes, o In- fora do litoral e quarta funda- ternato é a mais rica experiência da car-

Eber Faioli da no Brasil, em março de reira acadêmica. “O aluno se transfor- 1911, a Escola de Medicina de Belo Horizonte constituiu em ma em médico numa realidade que 1927, ao lado das Escolas de não é a da capital. Isso amplia sua vi- Engenharia, Direito, Farmácia são. A mente volta ventilada”, afirma e Odontologia, a Universidade Borato Viana. Federal de Minas Gerais. Segundo o professor do Departamento de Clínica Mé- Desafios dica e coordenador do Centro Um dos maiores desafios da Faculda- de Memória da Faculdade, João Amilcar Salgado, a Uni- de é lidar com o elevado número de alu- dade enfrentou outros pro- nos que ingressa no curso de Medicina. blemas além do posiciona- Entre as universidades federais, a UFMG mento geográfico, já que à é a que oferece o maior número de va- Fundadores da Unidade: " subproduto" da tuberculose época o país era essencialmen- gas: 320 por ano. Segundo Marcos te litorâneo. “Os cariocas não queriam perder a força econômica representada pelos alunos ricos, originários Borato, a redução da oferta não é cogita- do sul de Minas”, justifica. Segundo ele, a maioria dos cariocas alegou que a cidade era pequena, re- da. O maior objetivo é melhorar as con- cém-fundada e sem infra-estrutura. Mas a tuberculose acabou falando mais alto. A doença, dições de ensino, que ainda não são ide- endêmica no e “ocupacional do estudante de medicina” – devido à contaminação que ais. “Há uma enorme demanda por mé- ocorria na relação aluno/paciente – trouxe a Belo Horizonte médicos como Hugo Werneck, Ezequiel dicos na sociedade”, justifica Borato. Os Dias e Borges da Costa, todos tuberculosos, e que abraçaram a idéia de criar a Escola, idealizada pelo farmacêutico Aurélio Pires. “A Faculdade de Medicina não deixa de ser um subproduto da tuberculo- atuais esforços têm como meta melhorar se”, brinca Amilcar. a integração do ciclo básico com o pro- A Faculdade de Medicina também protagonizou históricas manifestações políticas. Um dos movi- fissional. Além disso, busca-se mentos de maior repercussão aconteceu em 3 de maio de 1968, quando a Faculdade foi invadida implementar o projeto de tutoria, iniciati- pelos alunos, ao mesmo tempo em que a Sorbonne, em Paris, era tomada por estudantes parisienses. va que torna um docente responsável por Cerca de 150 pessoas foram presas durante o ato de repúdio à ditadura. Em 1982, a Faculdade entrou em greve, para apoiar o movimento das Diretas Já, que acabou grupos de 10 ou 15 alunos, aos quais, por minar as bases do regime militar. A paralisação também contribuiu para a instituição da eleição durante o curso, o professor dará acom- direta a reitor da UFMG, em 1985. panhamento acadêmico e psicológico.

6 29.03.2000 Boletim UFMG Acontece

Inovação tecnológica Acústicas e vibrações Estão abertas, até 30 de junho, as ins- A UFMG e a Sociedade Brasileira de Acústica (Sobrac) pro- crições para o 2o Prêmio Inovação Tecno- movem, de 15 a 19 de abril, em Belo Horizonte, o XIX Encon- lógica Sebrae Minas. Dirigido a universi- tro da Sociedade Brasileira de Acústica (XIX-Esba). Sediado dades, fundações, instituições de pesqui- pela primeira vez em Minas Gerais, o evento reunirá expoentes sa, centros tecnológicos e incubadoras de da área de acústica do Brasil e do exterior. base tecnológica com sede em Minas Ge- O evento promoverá o intercâmbio de agentes de produ- rais, o prêmio divide-se em três categorias: ção, divulgação e apropriação de conhecimentos na área de empresas, instituição e incubadora. Cria- acústica e vibrações. Os temas abordados estarão direcionados para as áreas de En- do para incentivar o desenvolvimento de genharia, Arquitetura, Segurança e Saúde do Trabalho, Fonoaudiologia e Música. novas tecnologias que tornem produtos, Nos dias 15 e 16, serão ministrados minicursos sobre controle de ruído indus- processos e serviços mais competitivos, o trial, medição de ruído no ambiente de trabalho, fundamentos de acústica de salas, concurso já premiou a UFMG pela vacina ruído na comunidade, ruído em edificações, processamento de sinais e inteligi- contra a Leishmaniose desenvolvida pela bilidade de salas. De 17 a 19, serão realizadas palestras e mesas-redondas que abor- equipe do professor Wilson Mayrink, do dam assuntos como ruído e meio ambiente, influência do ruído no ser humano, en- ICB. Informações: 0800-31-2200 ou sino em acústica e educação ambiental no Brasil. pelo site www.sebrae-mg.com.br/ Informações sobre a programação na homepage do evento: www.sobrac2000. premioinovacao. dees.ufmg.br, no e-mail: xix_esba@ dees. ufmg.br ou pelo telefax: (31) 238-1054

Séries temporais Destaque na educação O Departamento de Estatística do ICEx As professoras Heloísa Borges Coelho e Tânia Lima Costa, do Núcleo de Mate- promove, entre os dias 26 e 28 de abril, o mática do Centro Pedagógico da UFMG, foram apontadas como Destaque em Ciclo de estudos em séries temporais e Educação ano 1999 pela Associação de Professores Públicos de Minas Gerais, com aplicações. A iniciativa inclui conferências apoio do Fórum Mineiro de Educação para a cidadania (Fomec), Associação dos de especialistas das universidades federais Diretores do Ensino Oficial de Minas Gerais e Federação das Associações de Pais e do Rio Grande do Sul (UFRGS), Espírito Alunos das Escolas Públicas de Minas Gerais. Santo (Ufes) e Pernambuco (UFPE), além do minicurso Raízes unitárias em séries Arte universitária temporais, que será dado pelo professor Encerram-se, no próximo dia 15, as inscrições ao Prêmio Andes-SN de Arte Uni- Francisco Cribari-Neto, da UFPE. As inscri- versitária Brasileira, promovido pela Associação Nacional dos Docentes das Institui- ções serão recebidas até 23 de abril. Os in- ções de Ensino Superior. O prêmio contempla doze categorias: Música, Teatro, Ci- teressados deverão enviar e-mail para o se- nema – Curta Metragem, Pintura, Conto, Poesia, Dança, Fotografia, Desenho, En- guinte endereço ([email protected]). saio – crítica da arte, Ensaio – o índio brasileiro e Ensaio – educação e o negro bra- Mais informações pelo telefone 499-5923. sileiro. Informações pelo telefone (61) 347-2028. rramos Teatro Universitário O Teatro Universitário está com inscrições abertas para sete cursos voltados para a iniciação e aprofundamento nas artes cênicas. Sem pré-requisitos, os cursos ofere- Perfil cem vagas limitadas, que deverão ser preenchidas por ordem de chegada. Inscrições O jornalista Edson Batista Júnior não no Centro de Extensão ou na Secretária do TU: rua Carangola, 300, Santo Antônio, é o primeiro jornalista cego formado em de 15 às 20 horas. Os preços variam de R$ 40 a R$ 150. Informações: 344-0356 e Minas Gerais, como informou o perfil 344-0235. Confira os cursos: Um jornalista que enxerga com o cora- ção, publicado no BOLETIM, em sua – Teatro Contemporâneo: aborda manifestações do teatro moderno. De 11 de abril a 13 edição 1265. O professor aposentado de junho. José Mendonça, do departamento de – Teoria teatral do século XX: leitura e discussão dos principais teóricos do teatro deste Comunicação Social da Fafich, esclarece século. De 6 de maio a 3 de junho. que a primazia coube ao jornalista Célio Martins de Andrade, que integrou a tur- – Expressão vocal: noção completa de conceitos da técnica vocal. De 4 de abril a 22 de junho. ma de 1971. – Iluminação cênica: iniciação ao processo tecnológico da iluminação cênica. De 2 a Mas o primeiro portador de deficiên- 30 de maio. cia visual a militar na imprensa mineira, – Jogos circenses: oficinas para crianças com noções das práticas de circo. De 4 de abril a ainda na década de 20, foi Aires da 25 de maio. Mata Machado Filho. Ele não chegou a diplomar-se na área por uma razão ób- – Imaginando e contando estórias: desenvolve a habilidade de criar e contar estórias dian- via: na época não havia curso de jorna- te de uma platéia. Duas turmas: 1º de abril a 20 de maio e de 4 de abril a 23 de maio. lismo, e a profissão era exercida por in- – Em busca de uma escritura cênica de Artaud: reflexão teórico-prática da obra de telectuais e profissionais de outras áreas, Antonin Artaud. De 3 de maio a 21 de junho. como juristas.

Boletim UFMG 29.03.2000 7 Cineasta mineiro filma Foca Lisboa longa-metragem na Fafich

Samba-canção narra saga de um diretor de cinema às voltas com parco orçamento

Ana Carolina Fleury

comédia Samba-Canção, primeiro longa-metragem Rafael Conde: do diretor mineiro e professor da Escola de Belas- agruras de um A Artes, Rafael Conde, tem pinta de filme autobio- cineasta gráfico. Seu protagonista, Zé Rocha, é um cineasta que pas- sa por grandes apuros para produzir seu primeiro longa. Ide- alizado em 35 mm colorido, o filme de Zé Rocha passa a ser preto-e-branco 16mm, depois super 8 e acaba se transfor- mando em vídeo. Tudo isso por falta de dinheiro. Conde, no entanto, desfaz qualquer coincidência que poderia haver entre a saga de seu herói e a sua trajetória de nos da Universidade, comprovando seu caráter acadêmico. cineasta. Não que ele não enfrente problemas de recursos, A professora Patrícia Moran, do departamento de Co- mas seu filme é parte de um projeto de pesquisa que abor- municação Social da Fafich, e produtora de Samba-Canção, da as produções cinematográficas de baixo orçamento, explica que o elevado custo do aluguel de um estúdio levou num percurso que vai da idéia até o produto final. “Assim, à escolha das instalações da Fafich. “A idéia foi acolhida o roteiro foi adaptado de acordo com a captação de recur- com entusiasmo pelo grupo, porque reforçou a proposta de sos: mudou de nome, teve a reconstituição de época elimi- viabilizar um filme de baixo orçamento”, explica Moran. nada e a história atualizada”, explica Rafael Conde. Para Rafael Conde, o espaço, onde foram construídos dois A metalinguagem e a sátira estão na base do filme de cenários, não é viável apenas do ponto de vista econômico, Conde. “Samba-Canção brinca com a linguagem de filme mas também oferece boas condições técnicas. “O estúdio e faz, inclusive, uma homenagem ao trash, com uma par- da Fafich possui 600 metros quadrados e um pé direito ticipação de Zé do Caixão”, detalha. Gorete Milagres, alto, fatores primordiais para um bom espaço de grava- Maurício Tizumba, Rogério Cardoso e o Grupo Galpão ção”, diz Conde, que afirma esperar que "o estúdio seja também atuam no filme, que ainda abriga vários atores reativado para a produção audiovisual dos alunos”. mineiros em seu elenco: Nivaldo Pedrosa, Yara de Novaes, Orçado em R$ 500 mil, Samba-Canção foi aprovado por Teuda Bara, Cristina Vilaça e Rodrigo Signoretti. leis de incentivo à cultura e recebeu apoio financeiro da Fapemig e do Núcleo de Produção do Departamento de Fo- Gravações tografia e Cinema da Escola de Belas-Artes. Rafael Conde pretende finalizar o filme ainda este ano, quando poderá As tomadas internas foram realizadas no estúdio da inscrevê-lo em festivais no Brasil e no exterior. Fafich, situado no terceiro andar do prédio, com apoio da direção da Unidade. O estúdio foi preparado durante 10 dias para receber a equipe de filmagem, que passou cerca de um mês trabalhando intensivamente em suas dependên- Filme: Samba-Canção Direção e roteiro: Rafael Conde cias, aproveitando as férias escolares. O diretor destaca a Duração: 80 minutos coesão da equipe de produção, que estabeleceu uma con- Elenco: José Mojica Marins (Zé do Caixão), Carolina Duarte, Rogério Car- vivência quase familiar: “Isso foi crucial para tornar o traba- doso, Grupo Galpão, Maurício Tizumba, Gorete Milagres, Nivaldo Pedro- lho agradável”, reconhece. O projeto envolveu vários alu- sa, Yara de Novaes, Cristina Vilaça, Rodrigo Signoretti

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