UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS LICENCIATURA EM LÍNGUA INGLESA

CLÉCIA DE SOUZA LOPES

GÊNERO TEXTUAL HQ NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA: USO DE MONICA AND FRIENDS COMO MATERIAL DIDÁTICO

João Pessoa 2018 CLÉCIA DE SOUZA LOPES

GÊNERO TEXTUAL HQ NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA: USO DE MONICA AND FRIENDS COMO MATERIAL DIDÁTICO

Trabalho apresentado ao curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal Da Paraíba como requisito para a obtenção do grau de licenciado em Letras-Inglês

Dra. Andréa Burity Dialectaquiz

JOÃO PESSOA-PB 2018 CLÉCIA DE SOUZA LOPES

GÊNERO TEXTUAL HQ NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA: USO DE MONICA AND FRIENDS COMO MATERIAL DIDÁTICO

Trabalho de conclusão de curso, aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Letras no Curso Letras-Inglês, da Universidade Federal da Paraíba

Data da Aprovação___/___/___

Banca examinadora:

______Dra. Andréa Burity Dialectaquiz Orientadora

______Dra. Ana Berenice Peres Martorelli Examinadora

______Mestre Ruth Marcela Bown Cuello Examinadora “Se a única ferramenta que você tem é um martelo, tudo para você começa a se parecer com um prego” Maslow AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus que permitiu que eu chegasse até aqui. A minha mãe que esteve sempre ao meu lado, me dando apoio nas horas mais difíceis. A professora Andréa Dialectaquiz, pela paciência e incentivo durante nossos encontros. Aos meus colegas de turma, especialmente a Graziely Soares e Tadeu Nicomedes pelos momentos compartilhados e apoios constantes RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de sugerir o uso das histórias em quadrinhos Monica and Friends como material didático nas aulas de Língua inglesa, considerando não só a linguagem peculiar das revistas em quadrinhos, mas também como uma forma de explorar os temas abordados, muitos deles considerados conteúdos sociais importantes para se trabalhar em sala de aula. Visamos explorar também a presença de algumas expressões idiomáticas na HQ Monica Teen, como uma forma de apresentá-las como um fator cultural de um país. Visto que as HQs são materiais atraentes a diversos públicos, sendo um ótimo aliado nas aulas de língua inglesa. Logo, o uso do gênero - HQ implica numa tentativa de recorrer a materiais habituais na vida dos aprendizes. Palavras chaves: Monica and Friends, Língua inglesa, Material Didático

Abstract

This work aims to suggest the use of the comics Monica and Friends as teaching material in English classes, not only the peculiar language of comic books but also some themes dealt with it, many of them considered important social contents. We also aim to explore the presence of some idiomatic expressions in Monica Teen as a cultural factor of a country. In addition the comics are an attractive material to different audiences and it is being a great ally in English classes. Therefore, the use of the gender - HQ implies an attempt to resort to habitual materials in learners life. Keys Words: Monica and Friends, English lclasses, teaching materials LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Exemplo de sequêcia de quadrinhos...... 12 Figura 2- Exemplo de Figura...... 13 Figura 3- Exemplo de Onomatopéias ...... 14 Figura 4- Exemplo de Balões...... 14 Figura 5-Exemplo de Legenda...... 15 Figura 6-Exemplo de Vinheta...... 16 Figura 7- Diagrama com nomes e anos das HQS ...... 21 Figura 8- Versão sueca e alemã da Turma da Mônica...... 23 Figura 9- Exemplo da HQ com tema Its doesn't coast a thing...... 32 Figura 10-It doesn't coast a thing...... 33 Figura 11-It doesn't coast a thing...... 33 Figura 12- Exemplo do Personagem Bloggy ...... 34 Figura 13- Exemplo de Intertextualidade ...... 36 Figura 14- Expressão Take a rain Check...... 39 Figura 15- Expressão Bit Below the belt...... 40 Figura 16- Expressão Saved By the Bell ...... 41 Sumário

INTRODUÇÃO ...... 8

CAPITULO I- HISTÓRIA EM QUADRINHOS: CONCEITO...... 10

1.1 TRAJETORIA DOS QUADRINHOS NO MUNDO ...... 18

1.2- MAURICIO DE SOUSA E A TURMA DA MÔNICA...... 22

CAPITULOS II- PESPECTIVAS DOS PCNs E O ENSINO DE ÍNGLÊS COMO LINGUA ESTRANGEIRA ...... 25

2.1 – O MATERIAL DIDÁTICO NA LINGUA INGLESA...... 28

CAPITULO III- MONICA AND FRIENDS NO ENSINO DE LINGUA INGLESA...... 31

CONSIDERAÇÕES FINAIS...... 43

REFERÊNCIAS...... 45 8

INTRODUÇÃO As Historias em Quadrinhos estão entre inúmeros Gêneros Textuais que vêm contribuindo com o ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras, especialmente o da língua inglesa pelo considerável crescimento de falantes na sociedade brasileira, e também por ser uma língua mundialmente falada. Tendo em vista que é através dos gêneros textuais que muitos educadores estão organizando suas aulas, por considerarem importante a função social que cada um deles exercem na sociedade. Sobre isso Fiorin (2006) assegura que “o gênero textual estabelece, pois, uma intercomunicação da linguagem com a vida social. A linguagem penetra na vida por meio dos enunciados concretos e, ao mesmo tempo, pelos enunciados a vida se introduz na linguagem. Os gêneros estão sempre vinculados a um domínio da atividade humana, refletindo suas condições específicas e suas finalidades” (apud ELIANA, 2013). Portanto, é partindo desse ‘vinculo social’ que os gêneros textuais traçam, que sugerimos as histórias em quadrinhos como material didático na língua inglesa, principalmente, por fazerem parte da nossa história há séculos, mais especificamente no século XIX, também por serem considerados um veículo de comunicação de massa muito importante, além de entreterem várias gerações de leitores até os dias atuais. Com isso, o presente trabalho visa registrar algumas possibilidades do uso das HQs, em especial as Histórias em quadrinhos Monica and Friends, versão da Turma da Mônica na língua inglesa, para tal fim, levamos em consideração alguns aspectos presente em algumas edições da revista, dos quais consideramos produtiva sua utilização nas aulas de inglês, nesse caso conteúdos culturais de outros países, intertextualidade, cuidados com o meio ambiente são alguns deles. A pesquisa foi baseada a partir de análises de algumas edições das HQs Monica and Friends. Ao observar a HQ percebemos alguns aspectos importantes que fazem da revista um grande aliado nas aulas de língua inglesa. Todos os aspectos mencionados foram fundamentados a partir dos pressupostos teóricos dos documentos oficiais, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que 9 fornecem em seu conteúdo orientações para práticas educativas, garantindo também ensino de qualidade para todos. A pesquisa foi estruturada em três Capítulos. No primeiro capítulo, ressaltamos a importância de utilizar o Gênero Textual nas aulas de língua inglesa, especialmente o gênero textual Histórias em Quadrinhos, considerando suas características próprias. Ainda no mesmo capítulo, citamos algumas HQs que fizeram História, assim como suas denominações pelo mundo e um pouco sobre o Cartunista Mauricio de Sousa. No capitulo dois, citamos a perspectiva dos PCNs em relação ao ensino línguas estrangeiras, especialmente sobre algumas praticas educativas necessárias ao ensino de língua inglesa. Também mencionamos a importância do material didático e de como o professor possui um papel importante na escolha do material. No terceiro e último capítulo apresentamos as HQs Monica and Friends escolhidas para analise, demonstrando cada aspecto que julgamos serem apresentados e discutidos na sala de aula. Optamos por mencionar também a HQ Monica Teen, considerando que apresentam em seu conteúdo diversas expressões idiomáticas, consideradas aspectos culturais de um país. O qual consideramos relevante sua apresentação nas aulas de língua inglesa.

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CAPITULO I- HISTÓRIA EM QUADRINHOS: CONCEITO

Quando ouvimos ou mencionamos o termo história em quadrinhos ou simplesmente HQ, para algumas pessoas vêm à mente episódios de personagens que fizeram parte de suas vidas. Certamente as HQs nos proporcionaram muito prazer e divertimento e, para alguns de nós, nos levaram até a adquirir hábitos de leitura, fazendo com que muitas pessoas se tornassem adeptos dessa arte desde cedo. As HQs, também conhecidas como gibis, no Brasil, já foram motivos de discórdias, brigas e suspensões nas escolas brasileiras. Mas com o passar dos anos vêem sendo utilizadas como um recurso didático, visto como importante veículo de comunicação na atualidade. Esse gênero textual vem se tornando cada vez mais presente no nosso dia-a-dia escolar. Dessa forma, vem ganhando cada vez mais espaço como atividades didáticas, ora apoiadas nos estudos de alguns temas específicos do nosso cotidiano, ora como o próprio gênero em si, principalmente, a partir do momento que os estudos sobre gêneros textuais se tornam lugar comum na escola, entendidos como “fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social”. Marcuschi (2005) afirma:

Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para refletir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilos e composição características. (Marcuschi: 2005,22)

Assim as HQS, cartas, e-mails pessoais, lista de compras ou um ensaio acadêmico, por exemplo, têm suas funções e devem ser valorizados no processo de ensino e aprendizagem, e no nosso caso mais especificamente, no de língua inglesa. Nota-se que desde as propostas iniciais dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de línguas estrangeiras a questão de gênero textual já aponta para esse viés de se utilizar os diversos tipos de gêneros textuais no ensino de língua inglesa. 11

Portanto, ao perceber que as historias em quadrinhos estão cada vez mais presentes nas escolas, e que podem ser consideradas como um material didático atraente aos olhos dos alunos podendo auxiliar no aprendizado de língua inglesa. De acordo com Sonia Luyten (2011) tem sido um grande aliado nas atividades didáticas:

Esta modalidade de comunicação, a “nona arte” tem colaborado para as atividades didáticas e constituem um poderoso meio de auxiliar nos diversos segmentos da comunicação de massa, que também podem ser considerados sistemas educativos. (SONIA, 2011pg-5)

A partir disso, percebe-se que as histórias em quadrinhos possuem características próprias do gênero, por exemplo, combinam imagens e textos, comportam eixos temáticos como literatura, infantil, adulta e educacional entre outros. Definido como “uma história narrada por meio de pequenos quadros, ou unidades gráficas compostas por textos e imagens, que ficam dispostos um ao lado do outro, no decorrer de tiras horizontais” (https://www.dicio.com.br/quadrinhos), as HQs são uma composição que,

Se comparada com a construção formal da escrita narrativa tradicional, a HQs usa alguns recursos icônico-verbais próprios ou muito recorrentes, com uma morfo-sintaxe e sintaxes discursivas específicas: o desenho, a figura, o uso de onomatopéias e de legendas(v), a elipse(sarjeta, closure/conexão), a página ou prancha, conjugando discurso verbal e pictogramas. (COSTA, 2008-pg112)

Assim, ao tomarmos uma sequência de quadros da turma da Mônica, por exemplo, observamos que para que compreendamos com mais profundidade, as HQs é necessário ir além da leitura do texto escrito, deve-se ler também os elementos que compõem tal gênero, considerando os aspectos visuais e verbais presentes nele.

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Figura 1- Exemplo de sequêcia de quadrinhos

Fonte: turmadamonica.uol.com.br/teaandet

Assim, a tira Tea and E.T apresenta um grupo de meninas interagindo uma com as outras; tal interação pode ser observada nas ações como bater palmas, representadas não só pelo movimento das mãos, mas também pela visualização gráfica do som das palmas, a onomatopéia ‘clap’, assim como expressões faciais das personagens, como movimentos dos olhos e bocas ao darem risadas, representadas pelas onomatopéias, Ha Há He He Hi Hi Ho Ho, das quais demonstram a satisfação de estarem juntas. Vejamos alguns elementos que compõem os quadrinhos mais detalhadamente: Primeiramente, temos a Figura, a representação gráfica dos elementos dos quadrinhos, se refere à maneira como os personagens são mostrados ao leitor, através de gestos, expressões faciais, posições, movimentos entre outros; a partir dela percebemos as mensagens não verbais dos quadrinhos. 13

Figura 2- Exemplo de Figura

Fonte: monica.uol.com.br

A figura 2 é composta, majoritariamente, de elementos não verbais; no primeiro quadro notam-se as expressões faciais dos personagens, a Mônica demonstrando raiva, percebesse isso através do seu olhar e pelo formato do balão trêmulo, expressando a emoção da personagem, o Cebolinha expressando surpresa ao ver a Mônica, representado também pela expressão facial ao criar bolhas de sabão no formato da Mônica, assim como os traços paralelos próximo aos corpos dos personagens, aspectos que dão movimento à imagem. No segundo quadrinho, percebesse uma ênfase na onomatopéia “Pow” (soco) representando a ação ocorrida, ação demonstrada no terceiro quadrinho, temos novamente os dois personagens, porém em posições diferentes, o Cebolinha ao chão pela surra que levou da Mônica, as bolhas desta vez em formato de estrelas, a Mônica em movimento, e no lugar do balão se encontra uma fumacinha aspecto que também indica raiva. Todas elas são considerads importantes representação da figura. Em seguida, as Onomatopéias indicam os sons ambientais, ruídos, urros, gritos e interjeições humanas, são compostas de letras e desenhos, representadas por um fonema ou palavra. Podemos considerá-la uma das características mais visível dos quadrinhos, é aquela que possibilita a animação da história. 14

Figura 3- Exemplo de Onomatopéias

Fonte: https://www.Páginawebestudoprático.com

A figura 3 apresenta algumas onomatopéias da língua inglesa, referindo - se a sons como, explosão, tiro, batida, beijo, surpresas, dentre outras. Costa (2008) menciona “herança dos comics(v.) norte-americanos, de uso pródigo, é uma marca plástica importante das HQs, junto com o balão, tanto como componente verbal de intensa sonoridade quanto como componente visual de intensa expressividade na interação entre os personagens”. As onomatopéias são frequentemente utilizadas nos quadrinhos, mas podem ser encontradas também em outros gêneros textuais como poemas e músicas. Os balões, como Costa (2008) mencionou anteriormente, são uma “marca plástica das HQs”, são essenciais para complementar o sentido das historias em quadrinhos, é neles que contém a fala ou o pensamento dos personagens. Podem ser representados de várias formas, desde linhas simples a linhas onduladas ou pontilhadas. Figura 4- Exemplo de Balões

Fonte: https://www.google.imagemcom.br/search

Os balões representados por linhas simples e formato oval ou retangular são os mais comuns, já os de pensamento, por linhas onduladas, linhas que imitam 15 nuvens, para sussurros o balão é representado por linhas pontilhadas, e para os gritos, temos o balão com linhas espalhadas em forma de explosão, entre outras representações. É interessante notar que esse código visual dos balões é praticamente compreendido por leitores habituados ao gênero HQs. Outro elemento que compõe o gênero em questão é a legenda que segundo Vergueiro (2004) “representa a voz do narrador da história, sendo utilizadas para situar o leitor no tempo e espaço, indicando mudanças de localização dos fatos”. (APUD- Pereira, Flávia pg 4, 2003). Geralmente aparece no canto do desenho, dentro de uma ‘caixa’ retangular, mas podem aparecer em qualquer parte do quadrinho. Observa-se o quadrinho a seguir como exemplo para legenda:

Figura 5-Exemplo de Legenda

Fonte: Monica’s Gang nº 36, Editora Panini Comics 2012

A figura 5 apresenta dois exemplos de legenda, a primeira localizada no canto e na parte superior do quadrinho, informando ao leitor a ação que antecedeu para que o Astronauta estivesse se sentindo mal, já a segunda também na parte superior, se localiza no centro do quadrinho, desta vez indicando o local em que o personagem se encontra, em um consultório médico. 16

A legenda também pode ser representada por diversas formas, sendo a mais comum o retângulo. Finalmente, para estabelecer uma relação de sequência temos a vinheta ou requadro, que são os contornos dos quadrinhos, que de certa forma organiza a narrativa. Costa (2004) menciona, Também chamados de quadrado, quadradinho ou quadrinho, é geralmente de forma retangular ou quadrangular, funcionando como moldura de um momento da ação, assim como o balão é a moldura do discurso de um personagem. A linha da moldura da vinheta pode até nem existir, mas tem a função de delimitar e separar uma da outra, ou seja, indicar o espaçamento entre as diferentes imagens (Costa, 2008- pg112)

Assim, na figura 6, pode-se notar claramente a delimitação dos desenhos, a vinheta propriamente dita.

Figura 6-Exemplo de Vinheta

Fonte: turmadamonica.uol.com.br/teaandet

A imagem está representada por quatro vinhetas, apresenta uma situação na qual podemos acompanhar o desenrolar da história, as três primeiras delimitadas pela linha da moldura, já a quarta a linha da moldura apresenta-se 17 incompleta, no entanto todas indicam o espaço em cada quadrinho. Vê-se a sequência apresentada em cada vinheta, fazendo uma leitura da esquerda para direita e de cima para baixo. Na qual, a primeira vinheta observa se Mônica, Magali e mais duas amigas demonstrando estarem um pouco temerosas a algo que está acontecendo. Na segunda vinheta, uma nova ação acontece, aparece o personagem Cebolinha se jogando por uma janela para dentro da sala em que se encontram as meninas, percebe-se que ele está assustado com algo, na terceira, o Cebolinha se encontra no chão da sala apontando para o lado de fora e a Mônica indo a seu encontro, na quarta e última vinheta Mônica olhando pela janela tentando entender o que estava acontecendo. Logo, percebe-se que as vinhetas tecem uma relação entre as ações ocorridas nas Hqs. Assim, figuras, onomatopéias, balões, legendas e vinhetas caracterizam o gênero HQ e fazem dele um recurso bastante rico e produtivo para aulas de língua inglesa, e assim podemos considerá-los como uma alternativa para produção de atividades lúdicas, fazendo com que os alunos se sintam motivados para estudar a língua inglesa, e dessa forma, criar uma maneira de aproximar o ensino de inglês e aprendizagem à realidade do cotidiano fora do âmbito escolar. As HQs por conjugarem elementos provenientes de diferentes códigos, ou seja, um texto multimodal percebe-se que há várias possibilidades de uso desse material. Tendo em vista que a multimodalidade favorece estudos de vocabulários e compreensão e construção de diálogos significativos, se tornando facilmente um artifício educacional apropriado nas aulas de língua inglesa. No próximo capítulo apresentaremos informações sobre as Hqs conhecidas como pioneiras da arte e seus respectivos criadores. Assim como as popularmente conhecidas mundialmente.

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1.1 TRAJETORIA DOS QUADRINHOS NO MUNDO

As historias em quadrinhos ou simplesmente HQs, assim conhecidas por muitos, há vários anos fazem grande sucesso entre leitores do mundo inteiro. Surgiram no século XIX na Europa, embora para muitos teóricos, as sequências de pinturas rupestres da era das cavernas sejam um “esboço” das HQs de hoje. As historias em quadrinhos alcançaram tamanha importância sócio-cultural que são consideradas a nona arte, estando no mesmo patamar de expressões como poesia, o cinema, a fotografia por exemplo. Recebem várias denominações. Assim, na França e Bélgica, são conhecidas como ‘bande dessinee’ ou ‘faixa desenhada’, devido ao seu layout, nos Estados Unidos conhecidas por ‘funnies, comics’ por sua função cômica, na Itália ‘fumetti’ com referencia aos balõezinhos ou fumacinhas com narrativas, na são ‘historietas’, relativo ao tamanho, na Espanha ‘tebeos’, fazendo alusão a uma revista em quadrinhos chamada TBO e aqui no Brasil é conhecida como ‘histórias em quadrinhos’, também por sua forma ou ‘gibi’ que se originou de um suplemento infantil criado em 1939, por ter como personagem principal um “moleque” chamado Gibi. Na Europa, nomes como Rodolphe Topffer , Wilhelm Busch e Georges Comlomb figuram como grandes expoentes deste gênero. O suíço Topffer lança em 1827 a história de M. Vieux-Bois, considerada por muitos como a primeira história em quadrinhos publicada. Em 1865 o pintor e cartunista alemão Busch, cria Max and Monritz, uma história de duas crianças travessas, e o frânces Georges Colomb, em 1889 cria a Fammille Fenovillard.

Topffer, Colomb e Busch avaliam suas qualidades literárias ao excelente nível de desenho, ao senso de humor, à antivisão do que viria a ser um dos veículos de maior sucesso do mundo das comunicações: os comics,( Moya, 16) 19

Outros quadrinhos europeus fazem sucesso até hoje, já com o layout atual, um deles é “As aventuras de Tintin” criado em 1929, pelo desenhista belga Georges Prosper Remi, uma história de um jovem repórter que vive numerosas aventuras pelo mundo. Também a famosa dupla de Bárbaros gauleses Asterix e Obelix , em 1950, criados pelos franceses René Goscinny e Albert Udergo. Ainda na Europa, de produção alemã temos Fix e Foxi do autor Rolf Kauka. Na America do norte, especialmente nos Estados Unidos, tudo teve inicio com o quadrinho “The Yellow Kid” do autor americano Richard F. Oultcalt, em 1896, “a primeira revista em quadrinhos a ser publicada semanalmente” ( Moya, 1994). De acordo com o jornalista e historiador Álvaro de Moya, Oultcalt foi o primeiro a introduzir balõezinhos de textos. A linguagem das HQs, com a adoção de um personagem fixo, ação fragmentada em quadros e balõezinhos de textos, surgiu nos jornais sensacionalistas de Nova York com o Yellow Kid (‘Menino Amarelo’).(Moya, 1994 p-37) Atualmente, os quadrinhos americanos que fazem grande sucesso são , mais conhecido no Brasil por “Snoopy”, trazendo personagens como Charlie Brown e seu cachorrinho Snoopy criado pelo cartunista Charles M. Schulz em 1950, Hagar de 1973, um guerreiro Viking que tenta invadir a Inglaterra a todo custo criado por Dik Browne, o gato mais comilão e preguiçoso, criado pelo quadrinista James Robert Davis em 1978, , criado por Bill Watersonem 1985, que conta a vida de um garoto hiperativo que tem como companheiro um tigre de pelúcia, além da grande legião de heróis e heroínas produzidas pela Marvel e Dc comics, as duas maiores editoras de HQs no mundo. Na America latina destaca-se no México, Pinguín 1943, criado por Yolanda Vargas Dulché, com Condorito, 1949 de René Pepo Ríos. Na Argentina, , 1962 do autor Joaquim Salvador Lavado, popularmente conhecido como Quino, em Cuba 1970, Elpidio Valdés criado por Juan Padrón, e Turey El Taíno , criado em 1989 por Ricardo Àlvarez Rivón . Cada uma das HQs revela aspectos peculiares de suas respectivas culturas, então podemos encontrar temas como Independência cubana, colonialismo espanhol, democracia e criticas políticas. O Elpidio Valdés, por exemplo, foi inspirado em um guerrilheiro cubano 20 que lutou pela independência de Cuba contra o domínio espanhol, já os Turey El Taíno, representados pelos indígenas “Taínos” que lutaram contra o colonialismo espanhol. Tais constatações revelam que as histórias em quadrinhos carregam um grande valor cultural, podendo ser utilizadas para apresentar fatos importantes ocorridos no mundo. No Brasil, são destaques os nomes do pioneiro Angelo Agostini, um italiano radicado no Brasil, que deu sua importante contribuição com a utilização de um personagem fixo nos seus quadrinhos, “As aventuras de Nhô Quim” ou “ Impressões de uma Viagem a Côrte” em 1869, assim como, J. Carlos e Luiz Sá que produziram juntos, o suplemento infantil Tico-Tico, lançada no Rio de Janeiro em 1905, considerado a primeira revista em quadrinhos brasileira e já mais recente, Ziraldo (1960) com “A Turma do Pererê” e o cartunista Henfil com “Graúna” e os “Fraldinhos” em 1960, para citar apenas alguns1. Finalmente, Mauricio de Sousa com sua primeira tirinha em 1959, o Cachorrinho “Bidu” e mais tarde a Turma da Mônica em 1963. Anos mais tarde, em 2009, Mauricío de Sousa publica a versão inglesa da revistinha da Turma da Mônica inicialmente denominada Monica’s gang que depois de 65 edições foi modificada para Monica and Friends, publicada atualmente pela Panini, uma distribuidora e editora italiana de histórias em quadrinhos. Encontramos a HQ também em espanhol recebendo a tradução de “Mónica y Su Pandilla’’ agora como Mónica y Sus Amigos . Ao fazermos esse breve recorrido histórico, queremos ao mesmo tempo destacar a importância de alguns criadores de HQs e assinalar a função sócio- cultural desse Gênero que além de proporcionar leituras prazerosas, também informam, denunciam, retratam suas culturas, crenças, saberes e des’aberes. Cada revista em quadrinhos citada anteriormente, pode ser visualizada no diagrama mostrado a seguir, em forma de linha do tempo, levando em consideração a ordem em que foram cridas. Iniciando com M. Vieux de Bois em 1927, embora a HQ “The Yellow Kid” ter sido reconhecida como a primeira delas,

1 Para registro e destaque, a Paraíba também tem um ilustre representante da nona arte, Henrique Magalhães autor de Maria, uma de suas grandes obras que ganhou notável reconhecimento no cenário nacional e internacional. 21

69 anos depois, em 1896, isso se deu pelo fato dela já conter todas as características das HQs atuais.

Figura 7- Diagrama com nomes e anos das HQS

Criação nossa

Destacamos as criações de Mauricio de Sousa por ser este o foco do nosso trabalho que hora passamos a discutir. 22

1.2- MAURICIO DE SOUSA E A TURMA DA MÔNICA Mauricio de Sousa, mais conhecido como o pai da Mônica, a dentuça com um coelho azul, das histórias em quadrinhos, iniciou sua carreira como desenhista no jornal “Folha da Manhã” de São Paulo, há mais de 57 anos e ao longo de sua carreira já conquistou milhões de leitores no Brasil e no exterior, com suas histórias em quadrinhos. Pode-se dizer que seu interesse pelo mundo dos quadrinhos começou desde cedo, a partir de uma revista em quadrinhos encontrada numa lata de lixo, fato mencionado pelo próprio Mauricio de Sousa em entrevista a Pedro Bial, no programa ‘Conversa Com Bial’, exibido numa Sexta-Feira dia 12 de Dezembro de 2017, na qual também mencionou que aprendeu a ler com as revistas em quadrinhos. No decorrer de sua carreira, enfrentou inúmeros obstáculos, um deles foram rejeições de seus trabalhos iniciais. Hoje exerce grande influência na vida de muitos leitores, desde seu primeiro personagem, o cãozinho Bidu e seu companheiro Franjinha, em 1959, quando ainda trabalhava como repórter policial. No decorrer dos anos criou vários personagens que alcançaram sucesso e prestígio como Cebolinha, Piteco, Anjinho e Hóracio. Entretanto, a personagem de maior destaque foi a Mônica, aparecendo em 1963, roubando a cena com seu carisma, suas birras e seu fiel coelhinho azul. Em 1970, se tornou a líder da turma ganhando sua própria revista. Mauricio de Sousa já criou mais de 200 personagens, alguns deles inspirados em amiguinhos de sua infância, como Cebolinha e Cascão e outros em seus filhos, a Mônica a mais famosa deles, por exemplo, foi inspirada em sua segunda filha. Depois dela veio a Magali, Maria Cebola, Marina, Nimbos e o Do Contra. Uma tão prospera criação de personagens resultou na organização e produção de uma revista que recebeu o título de Turma da Mônica (1963), muito popular no Brasil. Atualmente a revista é um material de referência no mundo dos quadrinhos, principalmente para o público infanto-juvenil e tem um valor educacional relevante, sendo mais que uma fonte de entretenimento. As HQs da Turma da 23

Mônica mostram situações do cotidiano, abordam temas sociais importantes como ‘bullying’, saúde, ética, e com isso aproximam o leitor do mundo real. Tal referencia pode ser vista pelo crescente número de exemplares publicados anualmente. Leitores de diversos lugares podem adquirir as revistinhas da Turma da Mônica, considerando que são traduzidas atualmente para vários idiomas, aproximadamente para 32 países. Embora aqui no Brasil encontremos exemplares apenas em inglês e espanhol. Registros indicam que ainda na década de 70 e 80, os países Suécia e Alemanha já recebiam traduções dos quadrinhos da Turma da Mônica, com sua primeira edição no ano de 1977. Foi publicada com intenção de divulgar os personagens fora do Brasil. Cada revista foi nomeada de acordo com o país, assim na Suécia recebeu o nome “Glada Ganget” e na Alemanha “Fratz & Freunde”.

Figura 8- Versão sueca e alemã da Turma da Mônica

Fonte: https://quadrinhos.wordpress.com/2015/01/31

Pode-se dizer que a revista teve bons resultados, já que o próprio Mauricio de Sousa relatou em uma entrevista ao Jornal Estadão de São Paulo no ano de 2013, que na época, mais especificamente na década de 1980, o mercado europeu se sentiu ameaçado com as vendas de seu produto e proibiram a 24 comercialização de sua publicação na Alemanha. Apesar disso, ele não desistiu e em 2013, apresentou os personagens Pelezinho e Neymar Jr., baseados nos jogadores de futebol, assim como o Graphic Novel ‘ Astronauta Magneta’ traduzida para ‘Der Astronaut’, que foi lançado com grande sucesso de público e crítica. Notadamente as criações de Mauricio de Sousa vêm ganhando espaço fora do Brasil levando, através de suas histórias, um pouco da cultura brasileira, e também trazendo um pouco da cultura de diversos países, com as suas HQs traduzidas para outras línguas e com isso permitindo que seus leitores possam adquirir novos conhecimentos. Assim, pensando em aproveitarmos as criações de Mauricio de Sousa, o espaço aberto por ele e os conhecimentos contidos em suas histórias é que propomos o uso da HQs Turma da Mônica, especificamente as traduzidas para o inglês, como possibilidade de material didático a ser trabalhado no ensino básico brasileiro. Para tanto, no capítulo que se segue, serão feitas algumas considerações sobre o ensino da língua inglesa e HQs como possibilidade de Material didático.

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CAPITULOS II- PESPECTIVAS DOS PCNs E O ENSINO DE ÍNGLÊS COMO LINGUA ESTRANGEIRA

Tratar do tema educação no Brasil não é uma tarefa fácil, já que nos deparamos com inúmeras variáveis, as quais alunos e professores tendem a enfrentar diariamente, formação docente, motivação, objetivos claros de aprendizagem, ambiente escolar são, dentre tantas outras variáveis causas de sucessos ou insucessos na escola brasileira. É necessário, portanto, que um conjunto de ações seja colocado em práticas para viabilizar, cada vez mais, os êxitos na educação no Brasil, ações que envolvam o poder público, ministério da educação, secretárias, por exemplo, assim como ações da esfera privada como apadrinhamentos, voluntariado, campanhas de apoio à educação. Pensando em algumas ações públicas, podemos apontar os Parâmetros Curriculares Nacionais, mais conhecidos como PCNs, os quais foram criados na década de 1990 tendo como função primordial orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato com a produção pedagógica atual (PCN-1997) Nesse sentido os PCNs visam auxiliar na construção curricular através de propostas de conteúdos a serem transmitidas nas mais diferentes áreas do conhecimento, a formação inicial e continuada dos professores, discussões pedagógicas internas às escolas, na produção de livros didáticos e outros materiais didáticos e também na avaliação do sistema educacional. Os PCNs não possuem caráter obrigatório diferentemente das Diretrizes Curriculares Nacionais que são orientações obrigatórias para a educação básica, igualmente como a mais recente reforma curricular de 2017, a BNCC, Base curricular Comum Nacional que é um documento normativo obrigatório, o qual define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da educação 26 básica (MEC). No entanto todas as escolas sejam elas públicas ou privadas devem dispor desse documento. É conveniente lembrar que os PCNs estão fragmentados para o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, representados por áreas de conhecimentos. O PCN assegura que, As áreas de conhecimento constituem importantes marcos estruturados de leitura e interpretação da realidade, essenciais para garantir a possibilidade de participação do cidadão na sociedade de uma forma autônoma. Ou seja, as diferentes áreas, os conteúdos selecionados em cada uma delas e o tratamento transversal de questões sociais constituem uma representação ampla e plural dos campos de conhecimento e de cultura de nosso tempo, cuja aquisição contribui para o desenvolvimento das capacidades expressas nos objetivos gerais. (PCN, 1998)

É a área de Língua Estrangeira, especificamente a língua inglesa, que será nosso objeto de estudo. Assim, ao considerá-la integrada às áreas de linguagens, códigos e suas tecnologias e aplicada ao Ensino Médio entendemos que “as línguas estrangeiras assumem a condição de serem parte indissolúvel do conjunto de conhecimentos essenciais que permitem ao estudante aproximar-se de várias culturas e, consequentemente, propiciam sua integração num mundo globalizado”(PCN, 2000). Pretende-se, no entanto, que essa integração seja através dos diferentes tipos de textos encontrados em vários suportes, priorizando aqueles mais presentes no cotidiano do educando, revistas, internet, jornais são alguns deles. É nessa proposta que muitos educadores de língua inglesa estão apoiando suas práticas de ensino. Discute-se muito, ainda hoje, sobre as aulas de língua inglesa nas escolas brasileiras, sendo uma das principais discussões, a forma de como os conteúdos são transmitidos aos alunos, sugerindo que muitos professores ainda se prendem a atividades baseadas apenas na Gramática, fato comum encontrado em muitas escolas públicas e privadas. Sabe-se que a gramática é um fator importante nas aulas de língua inglesa, no entanto sua abordagem excessiva causa desmotivação nos alunos, promovendo insatisfação pela língua, na maioria das vezes. É necessário 27 entendermos que “além da competência gramatical, o estudante precisa possuir um bom domínio da competência sociolingüística, da competência discursiva e da competência estratégica” (Pcn,2002-29). Pois aprender uma língua estrangeira permite levar o aprendiz a outros mundos, outros costumes, estreitar laços, proporcionar empatia, respeitar diferentes crenças e costumes. Uma aula de língua inglesa comporta fatores importantes a serem levados em consideração, a prática de ensino, atitudes dos professores, materiais didáticos entre outros. No que se refere a prática de ensino consta que a língua inglesa comporta quatro habilidades importantes a serem aplicadas no ensino/aprendizagem do idioma, sendo elas writing (escrita), speaking (fala), reading (leitura) e listening (ouvir), todas com um papel significativo. Portanto, é necessário que todas elas sejam praticadas com a mesma intensidade para que se tenha um domínio favorável da língua. Muitas vezes associamos a prática de ensino às atitudes dos professores, os quais são responsáveis de elaborar as aulas. De como essas aulas serão transmitidas leva-se em consideração a atitude de cada profissional. No entanto, sabe-se que muitos enfrentam obstáculos que os levam a preparar aulas mal elaboradas, salas superlotadas, carga horária reduzida, condições do ambiente escolar, escolha do material didático inadequado. Causas assim fazem com que professores preparem aulas sem significado nenhum, tendo a gramática como referência e muitas vezes utilizando apenas o quadro negro como recurso. Outra alternativa que muitos professores se apegam é o uso insatisfatório dos livros didáticos nas aulas de língua inglesa, sabe-se que o livro é composto de conteúdos essenciais ao ensino da língua, no entanto, a forma de utilizá-lo precisa ser revisto. Motivos assim nos levaram a sugerir as Histórias em Quadrinhos como material didático, considerando sua vasta propriedade comunicativa.

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2.1 – O MATERIAL DIDÁTICO NA LÍNGUA INGLESA Ao considerarmos o fazer de uma sala de aula de língua estrangeira, no caso o inglês, apesar do enorme avanço na preparação do professor e na quebra de antigos paradigmas sobre metodologia, material didático, formação de professores, por exemplo, ainda nos deparamos com aulas monótonas, que não levam os aprendizes a transpor o conhecimento adquirido na sala de aula para a realidade do dia a dia. Muito se deve à falta de amplitude do uso de recursos que se prestem a finalidades didáticas, os conhecidos materiais didáticos. Os materiais didáticos são recursos, a partir dos quais os educadores facilitam a transmissão de conhecimentos, no processo educacional, e muitas vezes estimulam a criatividade dos aprendizes. Deste modo, podem ser definidos como produtos pedagógicos utilizados na educação formal, sendo qualquer material instrucional que se elabora com finalidade didática, ou seja, material didático é “qualquer coisa que ajude a ensinar aprendizes de línguas”. Portanto, mapas, calendários, jornais, livros, murais, alimentos, jogos, revistas dentre outros elementos podem ser emprestados nas aulas para facilitarem a aprendizagem. Em virtude dessa definição percebemos quão diversificados podem ser esses materiais, especialmente, quando ressalta as palavras “qualquer coisa”, possibilitando aos educadores se apropriar de qualquer material, fazendo com que reflitam na escolha do material. Em uma aula de inglês, como se trata de uma língua estrangeira, é comum a utilização de vídeos, músicas, imagens, bem como outros elementos que “teoricamente” pertencem a outras áreas do conhecimento. Por exemplo, aprender números com um ábaco (próprio da Matemática), estudar territórios e limites entre países explorando o “Google Maps” (da Geografia) ou discutir sobre biodiversidade (da Biologia) pode facilmente ser Material Didático nas aulas de inglês. Nos PCNs de 1998 aponta-se para: Os recursos didáticos desempenham um papel importante no processo de ensino e aprendizagem, desde que se tenha clareza das possibilidades e dos limites que cada um deles apresenta e de como eles podem ser inseridos numa proposta global de trabalho. (PCN 1998- pg 96) 29

Em geral a escolha do material didático é de responsabilidade do próprio educador que se disponibiliza a prepará-lo e apresentá-lo de forma clara e interessante. De fato, são os materiais didáticos que auxiliam e facilitam a vida dos educadores. Para isso é preciso que os educadores estejam familiarizados com o material escolhido, garantindo que os aprendizes possam reter melhor os conteúdos estudados. Embora seja de responsabilidade do professor, muitas escolas já propiciam espaços com uma diversidade de materiais didáticos que podem ser utilizados por qualquer professor de qualquer área do conhecimento. Por exemplo, TVs, computadores, data show, livros de contos infantis, quebra-cabeças entre outros. A diversidade de materiais didáticos pode auxiliar os vários estilos de aprendizagem; a utilização de imagens para aprendizes mais auditivos; atividades práticas de resolução de problemas para os sinestésicos e assim por diante; além de tornar a aula mais dinâmica, criativa e significativa. Vale ressaltar também a importância do livro didático como principal recurso didático dos professores, assim “Dentre os diferentes recursos, o livro didático é um dos materiais de mais forte influencia na prática de ensino brasileira”, (PCN, 1998). É possível que o livro didático seja ainda hoje o mais popular dos materiais utilizados na sala de aula, pode-se, portanto considerá-lo como uma ferramenta composto por diversos recursos. No entanto, é importante que o educador não se prenda ao livro didático, mas utilize diversos materiais em suas aulas enriquecendo o ensino/ aprendizagem dos aprendizes, favorecendo dessa forma, pois à “variedade de fontes de informações é que contribuirá para o aluno ter uma visão ampla do conhecimento” (PCN, 1998, pg-96) Tendo isso em vista compreende-se que o aprendizado de uma língua estrangeira deve ser organizado a partir dos diferentes gêneros textuais, já mencionados antes, fazendo uso principalmente de seu “conhecimento de mundo” e de gêneros dos quais os aprendizes estejam familiarizado, “narrativa, pequenos diálogos, histórias em quadrinhos, instruções para jogos etc.”(Pcn 1998). A partir dessas informações optamos por trabalhar com o gênero textual 30

Historias em quadrinhos nas aulas de língua inglesa, pois podem ser utilizadas de inúmeras formas e explorando diversos conteúdos. Sabemos que as histórias em quadrinhos vêm ocupando espaço na sala de aula a cada ano que passa, recebendo prestígio de professores que as consideram um ótimo recurso didático pedagógico, não só por ter em sua composição elementos característicos do gênero, como balões, onomatopéias dentre outros, mas também por ser um material fácil de ser encontrado, de ter custo relativamente baixo, por ser um gênero multimodal e de forma generalizada agradável a muitos leitores. A considerar que nosso objetivo é atingir, principalmente, o público infanto- juvenil, se pode julgar que essa faixa etária está mais familiarizada com esse gênero e, portanto utilizando HQs nas aulas pode-se promover aulas de língua inglesas mais motivadoras e mais significativas. Segundo Sonia Luyten (2011), “As histórias em quadrinhos na sala de aula também motivam os alunos relutantes ao aprendizado e a leitura. Elas os envolvem num formato literário que eles conhecem. E também as HQs falam com eles de uma forma que entendem e melhor do que isto se identifica”. (Luyten, 2011-10) Partindo da idéia de que os alunos entendem e se identificam com as histórias em quadrinhos, sabendo que é um material com uma linguagem que, misturam formas verbais e não – verbais, trazem em seu conteúdo informações importantes sobre aspectos culturais de um local, ou tratar de temas sociais relevantes como éticas, bullying, etc, quer seja em um texto informativo ou explicativo, em tom humorístico ou sério. Desta forma, com o pensamento de fazer das aulas de inglês para o ensino básico algo mais significativo, propõe-se a utilização de HQ, neste caso, as HQs da Turma Da Mônica, publicadas em inglês, no Brasil, como possível material didático para o estudo de “Expressões idiomáticas” como exemplo de uma abordagem a elementos culturais. Para tanto, no próximo capítulo desenvolveremos melhor o referido tema. 31

CAPITULO III- MONICA AND FRIENDS NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA

Como discutimos anteriormente, ao adotar um material didático o educador deve procurar materiais que tornem suas aulas mais significativas ademais de procurar algo que chame atenção do estudante, fazendo com que o máximo de alunos tenha interesse no assunto abordado, fazendo do material um aliado. Logo, escolhemos trabalhar com gênero textual Revista em Quadrinhos, mais especificamente a revista Monica and Friends, versão inglesa da Turma da Mônica, produzida desde 2009, inicialmente como Monica Gangs, visto que entendemos que tal gênero congrega uma multiplicidade de características que são de forte apelo entre os jovens. Ao escolher a revista levamos em consideração alguns aspectos importantes do quadrinho, como por exemplo, a familiaridade do brasileiro com os personagens, Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão etc. Arriscaria dizer que é muito difícil que nos últimos vinte anos, pelo menos alguém não ter ouvido falar da Turma da Mônica, considerando que estão por toda parte, existem materiais diversos com os personagens da Turma Da Mônica, são produtos como brinquedos, comidas, e até livros didáticos. Também podemos apontar para o preço da revista, atualmente tem o valor de R$ 4,30, o que o torna mais acessível do que tantos outros materiais didáticos, incluindo-se aqui, o livro didático de inglês com valores dez ou mais vezes mais caro. Consideremos que com apenas uma revista é possível trabalhar diversos temas que podemos relacionar com a realidade em que vivemos como preocupação com o meio ambiente, a tecnologia, cultura de outros países, entre outros. Muitos deles considerados temas transversais pelos PCNs, assunto que trataremos posteriormente. Outro aspecto importante está relacionado à linguagem que fala muito diretamente a um público infanto-juvenil, provável leitor das HQs. Sobre a linguagem, lembramos que as Hqs são construídas com elementos verbais e não verbais (ver capítulo 2) que devem ser explorados pelo professor que utiliza as HQs como material didático. 32

No que diz respeito, ao ensino de língua inglesa, abordar pontos gramaticais como pronomes, presente perfeito ou plurais de substantivos deve ser tão importante e necessário quanto abordar temas sobre preconceito, meio ambiente, ética e trabalho infantil, para citar alguns. Na escola brasileira, os documentos oficiais já apontam para a inclusão de temas transversais ou seja, A inclusão dos temas transversais exige, portanto, uma tomada de posição diante de problemas fundamentais e urgentes da vida social, o que requer uma reflexão sobre o ensino e a aprendizagem de seus conteúdos: valores, procedimentos e concepções a eles relacionados. (PCN-1998 pg 35) Assim, cabe ao professor avaliar, solucionar, as metodologias e práticas para melhor trabalhar tais temas, na expectativa de que o aluno seja capaz de “perceber-se integrante, independente e agente transformador do ambiente [...]”(PCN-1998), transformando-o em um cidadão, consciente do seu papel na sociedade. Ao utilizarmos a HQ Monica and Friends nas aulas de língua inglesa, potencializamos nossas práticas visto que é freqüente encontrarmos na HQ temas diversos sobre cidadania, saúde, ética e meio ambiente entre outros. Tomemos como exemplo a edição número 10 da HQ Monica and Friends, intitulada The tourist guide and the duel of imagination, a qual possui temas relevantes para serem tratados nas aulas de língua inglesa, um dos temas abordados que julgamos ser importante é, it doesn´t cost a thing, a qual nos remete a maneira que devemos agir diante das pessoas com quem convivemos, e com a sociedade em geral. Logo, são abordadas ações significativas sobre cidadania, como podemos ver nas imagens a seguir: Figura 9- Exemplo da HQ com tema Its doesn't coast a thing

Fonte:Monica and Friends nº10,Editora Panini Comics 2016 33

Percebe-se que a turminha toda está envolvida em situações de boas práticas sociais: Monica, Jimmy Five (Cebolinha) sobre a importância em obedecer a regras. Figura 10-It doesn't coast a thing

Fonte:Monica and Friends nº10,Editora Panini Comics 2016

Smugde (Cascão) dando exemplos de reciclar e reutilizar o lixo para criar brinquedos, em várias outras edições pode-se presenciá-lo praticando ações de reciclagem.

Figura 11-It doesn't coast a thing

Fonte:Monica and Friends nº10,Editora Panini Comics 2016

A Maggy (Magali) não fica de fora dessa ação, fazendo sua parte na prática de doar roupas. Toda a história convoca o leitor a fazer a sua parte, pois, it doesn´t cost a thing ( Não custa nada). Portanto, em uma aula de inglês a revista de número 10, da Monica and Friends pode ser amplamente explorada, pois parece ter sido criada sob medida para abordagem de um tema tão atual e importante para a formação cidadã, considerando principalmente, a realidade atual do nosso país. São temas que 34 lidamos a cada dia, nos deparamos não só com a poluição, mas também com violação de regras e direitos, bem como com maus tratos aos idosos, e destruição da natureza entre outros. Todos esses e outros temas podem ser encontrados na revista. A exploração de um tema, neste caso, partiu do estudo da frase feita “it Doesn´t Cost a Thing” mas pode ser tratado pela caracterização de um personagem como é o caso do Bloggy (Bloguinho) criado em 2004, com o propósito de incluir o mundo virtual nos seus quadrinhos, Bloggy ( Bloguinho) como é chamado em inglês, é fanático por tudo relacionado a internet, desde jogos a redes sociais, vive conectado a internet. Nas suas histórias é comum vê-lo utilizar expressões “internetês”, língua utilizada no mundo virtual. Bloggy é claramente uma representação, atualíssima, de muitas crianças e jovens que encontramos em nossas escolas, em nossa sala de aula, é assim, um ótimo tema a ser trabalhado na sala de aula. Observemos os quadros que se seguem: Figura 12- Exemplo do Personagem Bloggy

Fonte: Monica and Friends nº6, Editora Panini Comics 2015

Na edição número 6 de Monica and Friends, como podemos ver na figura 10, apresenta o personagem Bloggy não demonstra ter receio de nada, no 35 entanto, da falta de sinal da internet causa assombração a Bloggy. Será essa uma assombração para muito de nós? Parece-nos que sim, no que diz respeito ao mundo virtual todos nós, de certa maneira ou de outra nos vemos dependentes de algum “gadget2”, tendo em vista que cada vez mais a tecnologia se faz presente em nossa sociedade. Abordar de forma lúdica um tema tão familiar aos nossos alunos é promover um envolvimento maior do aluno com a língua estrangeira que está estudando, pois, o mesmo utilizará seu conhecimento de mundo e suas experiências para se aproximar do texto verbal e não verbal. Portanto, No que se refere aos conhecimentos que o aluno tem de adquirir em relação à língua estrangeira, ele irá se apoiar nos conhecimentos correspondentes que tem e nos usos que faz deles como usuários de sua língua materna em textos orais e escritos. Essa estratégia de correlacionar os conhecimentos novos da língua estrangeira e os conhecimentos que já possui de sua língua materna é uma parte importante do processo de ensinar e aprender a língua estrangeira. (PCN 1998)

As Hqs da Monica and Friends, também podem ser fonte para atividades que contemplem a intertextualidade, quero dizer, a relação estabelecida entre dois textos ou mais. Portanto, “Relacionar textos e seus contextos por meio da análise dos recursos expressivos da linguagem verbal, segundo intenção, época, local, e estatuto dos interlocutores, fatores de intertextualidade e tecnologias disponíveis” (PCN+-107) Percebe-se, portanto, a importância de considerar a intertextualidade como um dos fatores que podem colaborar bastante no ensino de língua inglesa, Veja o exemplo que se apresenta a seguir:

2 Gadget- Dispositivos do mundo tecnológicos que têm funções e finalidades específicas e práticas para as atividades do dia a dia 36

Figura 13- Exemplo de Intertextualidade

Fonte: Monica and Friends Nº5,Editora Panini comics

Na edição número 5 a personagem principal, Monica, está vestida com uma capa, capuz vermelho e carrega uma cesta, correndo feliz em meio a natureza, claramente uma alusão ao conto clássico “Little Red Rinding Hood” a Chapeuzinho vermelho, muito apreciado pelas crianças e também pelos adultos. “O conto de fadas “Chapeuzinho vermelho” aparece ainda mais, quando atentamos para o titulo da revista:” Who is afraid of the big bad wolf?”, sendo traduzida como “quem tem medo do lobo mau”, frase/ expressão que caracteriza o conto, levando em consideração a importância de nos apoiarmos, também em temas que apresentam intertextualidade nas aulas de língua inglesa, como uma forma de tornar as aulas mais participativas. Sendo assim, a utilização de uma HQ como material didático, mais especificamente as edições da turma da Monica apresentadas aqui se coaduna com a concepção de ensinar uma língua estrangeira de forma criativa, mas principalmente com o conceito de língua apresentado nos PCNs. Outra revista com o mesmo víeis de Monica and Friends, porém para um público juvenil, é a Monica Teen, versão em inglês da Mônica Jovem. Foi publicada com intenção de atrair o público adolescente. A HQ possui um mistura de características brasileiras e japonesas, já que são produzidas em formato de mangá3. Os personagens são adolescentes agora, tendo isso em vista, os temas

3 Mangá- HQ um tipo de revista em quadrinho com algumas características diferentes das Ocidentais. 37 abordados se relacionam com essa faixa etária, trazem temas como Would you like to go out?( Quer namorar comigo?), The Perfect Prince (O principe perfeito), The love of an Angel (Amor de Anjo) entre outras. Monica Teen apresenta capa colorida, no entanto o conteúdo interior é em preto e branco, possui características marcantes dos mangás, como olhos grandes, expressivos e gotas no rosto e são publicadas por capítulos. A linguagem empregada nos chamou atenção, verificamos a presença de algumas expressões idiomáticas, a partir disso percebemos a importância desse aspecto cultural. Com isso, vimos uma grande oportunidade de utilizar a HQ Monica Teen nas aulas de língua inglesa, com o intuito de apresentar essas expressões de uma forma mais contextualizada e dinâmica. Primeiramente, orientada pelos PCNs, “A aprendizagem da língua Estrangeira Moderna qualifica a compreensão das possibilidades de visão de um mundo e de diferentes culturas, além de permitir o acesso à informação e à comunicação internacional, necessárias para o desenvolvimento pleno do aluno na sociedade atual.” (PCN-2000) E ao considerar que as expressões idiomáticas são aspectos culturais de um determinado país, visto que estabelecem pelo uso figurativo4 de palavras ou conjunto de palavras, possibilitando diferentes significados das palavras que as originou não devem ser ignoradas. A palavra ‘horse’, isoladamente, pode significar cavalo, mas na expressão ‘Hold your horse’ seu significado passa a ser viso como ‘tenha calma’, tendo um sentido totalmente diferente da palavra isolada, embora sua origem histórica cultural nos remeta ao tempo das carruagens. As expressões idiomáticas, ou idioms, são denominadas no Dictionary of Linguistics and Phonetcs como “a term used in Grammar and lexicology to refer to a sequence of words which is semantically and often syntactically restricted, so that they function as a single unit.”( CRYSTAL-pg 262) ou seja as expressões idiomáticas não devem ser levadas em consideração de forma isolada, pois não fazem sentido nenhum. Portanto, não devem ser estudadas isoladamente, sendo

4 Sentido figurativo refere-se ao sentido simbólico que se pode dar a uma palavra. 38 assim o estudo dos idioms devem ser compreendidas pelo contexto que são inseridas. Segundo Jeanette “Idioms are a commonly occurring type of multiword unit in English, especially in informal conversational settings, and should not be ignored in vocabulary studies” (2001-pg 294). Assim, pode-se dizer que levar HQs para aulas de língua inglesa favorece atividades com um gênero textual cuja linguagem está próxima da realidade de uso, Activities for the classroom could include presentation in authentic texts, such as daily newspaper cartoons/ comic strips and dialogues from modern drama, and exercices that match idioms and their meanings (2001-pg 294), Em vista disso, ao considerar as orientações presentes nos PCNs, as quais propõem que os alunos de língua inglesa precisam “compreender de que forma determinada expressão pode ser interpretada em razão de aspectos sociais e culturais” é que apontaremos algumas expressões idiomáticas presentes nos quadrinhos Monica Teen, assim como seus possíveis significados metafóricos5 como uma forma de expandir a habilidade comunicativa dos estudantes, ou seja, fazer com que o aluno seja capaz de utilizar essas expressões no seu dia-a- dia. Considerando que as HQs, podem proporcionar mais motivação aos alunos, por serem consideradas um gênero que está presente no cotidiano deles. Chamamos atenção, portanto, para algumas edições da HQ, das quais tomaremos como exemplo algumas expressões. Considerando que muitas delas possuem valores significativos de grupos nos quais os adolescentes estão inseridos, selecionamos, como exemplo, algumas expressões que tiveram sua origem relacionada aos esportes. Na edição de número 2, intitulada ‘Count on me’, conte comigo em português, presenciamos a expressão ‘ take a rain check’, cujo significado metafórico pode ser entendido como “fica pra outra hora”. Ao analisarmos isoladamente as palavras que compõe tal expressão, dificilmente fariam sentido. No entanto, como se trata de um conjunto de palavras que socialmente ganha novos sentidos. ‘take the rain check’ será compreendida, especialmente, pelos nortes americanos, pois, teve origem no mundo dos esportes, mais

5 Significados Metáforicos se refere a aceitação da expressão por indivíduos, bem como seu recorrente uso, levando o falante a utilizá-la sem perceber seu significado real. 39 especificamente, no baseball. Ao que consta teve inicio com o interrompimento dos jogos de baseball casado por fortes chuvas, e assim, todos os torcedores presentes recebiam como garantia um cheque, para que pudessem assisti aos próximos jogos da temporada sem pagar nada.

Figura 14- Expressão Take a rain Check

Fonte: Monica Teen Nº2,Editora Panini Comics 2011

Percebe-se que na figura, a Monica utiliza a expressão ‘take the rain check’ ao negar um convite para ir à cafeteria com amigos. No entanto, não é uma recusa e sim um adiantamento, daí percebemos também o sentido original da expressão de ‘deixar pra outra hora’. Apresentar as expressões idiomáticas possibilitará o aluno a utilizá-las no seu dia-dia. Na edição de número 5, ‘ Love of Angel’, em português “Amor de Anjo”, também aparece uma expressão de natureza esportiva, trata-se de “Bit Below the Belt’, seu sentido metafórico se refere a algo insultante, algo que ultrapassou o limite. No Brasil tal expressão pode ser entendida por ‘Golpe Baixo’, teve origem nas lutas de boxes, das quais os lutadores eram punidos ao golpearem abaixo da linha da cintura, sendo muitas vezes desclassificados das lutas. Observando a figura 13, a qual está sendo representada por três seqüências, na primeira delas, Jimmy Five (Cebola) sentado a sua cama, em uma conversa ao celular com a Monica, expressa uma face de descontentamento ao ter conhecimento da presença de uma estranha alojada na casa da Monica, a qual ele desconfia que ela esteja planejando algo contra todos. Logo na segunda seqüência a Monica, remete que o único que planeja algo é sempre ele, assim 40 num pequeno retângulo abaixo da seqüência, Jimmy Five se sente ofendido, e diz que não é justo, utilizando a expressão “That was a Bit Below the Belt” . Figura 15- Expressão Bit Below the belt

Fonte: Monica Teen Nº 5, Editora Panini Comics 2012

Na terceira, percebe-se a presença da Monica ao telefone, Angelo (Anjo) e a garota estranha comendo. Então ao empregar a expressão a Bit Below the Belt’, Jimmy Five se refere a ‘indireta’ que a Monica emite sobre seus inúmeros planos infalíveis contra a própria Monica na infância. Na edição de número 8, ‘ The Wedding of the century’, (‘O Casamento do século) aparece a expressão ‘ Saved by the bell’, (Salvo Pelo Gongo) cuja origem é discutida. Há duas versões, a primeira está relacionada às lutas de boxes, ’salvo pelo congo’, é a ação que está relacionada ao toque do sino ao terminar cada round da luta ou seja um lutador que está preste a perder a luta, pode se recuperar com a pausa dos rounds. Já a segunda versão, pode ser considerada como um mito, por estar ligada ao medo que as pessoas tinham antigamente de serem enterradas vivas por engano, curiosamente, para corrigir erros assim, era colocado em seus caixões um sino preso a uma corda, e, caso o “morto” acordasse puxaria a corda e o sino tocaria, fazendo com que alguém 41 escutasse o soar do sino e desenterrassem imediatamente o ‘morto’ que seria salvo pelo gongo. Pode-se dizer que as duas versões fazem sentido. Abaixo, na figura 14, mostra um dos momentos em que a Monica o Jimmy Five trabalham juntos na organização de seu casamento, sabe-se que a preparação de casamentos necessita de muito esforço e organização, no entanto, ao longo do capítulo Monica resolve parar para descansar, logo ao vê-la sem fazer nada, Jimmy Five a acusa de não está fazendo nada, deixando a Monica muito brava e conhecendo a Monica e seu temperamento explosivo Jimmy Five numa tentativa de voltar atrás pelo que disse, aproveitou a chegada dos convites do casamento para se livrar do ocorrido. Figura 16- Expressão Saved By the Bell

Fonte: Monica Teen Nº 8, Editora Panini Comics 2013

Jimmy Five ao citar “Phew! Saved By the Bell, demonstra claramente que ele estava numa situação de sufoco. Além disso, seu gesto corporal também nos ajuda a perceber isso, a mão levada à testa, pingos de suor próximo a face e risadinha sem graça. Evidentemente, cada uma das figuras mostradas até agora, podem ser exploradas mais profundamente pelo professor nas aulas de inglês; entretanto, para fins desse trabalho monográfico, optamos por enfocar as “expressões idiomáticas” visto que as informações sócio-históricas e culturais trazidas em cada uma delas acrescentam as aulas de inglês uma verdade, um uso significativo da língua, dá uma funcionalidade ao vocabulário. Ao explorarmos outras edições da Monica and friends e Monica Teen, certamente poderíamos apresentar outras expressões, mas, nosso intuito não é quantidade de expressão, mas apontar para o uso de HQs na aula de inglês como material didático e assim orientar para possíveis tarefas com esse gênero. A partir 42 disso, acreditamos que vale a pena investir no ensino de expressões, considerando que são uma parte cultural bastante presente no dia a dia. Uma proposta para apresentar expressões idiomáticas é organizá-las em grupos para facilitar o entendimento por parte dos alunos, por exemplo, as expressões apresentadas anteriormente, tiveram origem no mundo dos esportes, então estariam no grupo ‘esporte’. Pode-se, portanto, perceber a importância de apresentar o contexto sócio cultural em que as expressões idiomáticas surgiram para a partir de sua origem entendermos a sua utilização em situações do dia-a dia. Percebe-se que as expressões utilizadas pela Turma da Monica, revelam a inserção da HQ situações reais para os adolescentes, possíveis de serem vividas no cotidiano. 43

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista tudo que mencionamos anteriormente sobre as Histórias em Quadrinhos percebemos que desde seu surgimento, século XIX, possuem um papel muito importante na sociedade. Embora tenham sido causadores de críticas e discórdias por algumas pessoas. Pode-se mencionar que apesar disso é um gênero textual que vem se tornando cada vez mais presente no nosso dia-a-dia, principalmente no âmbito escolar, seja como divertimento ou como material didático, já que trazem consigo inúmeros fatores históricos pertinentes a prática de ensino. É claramente visto que muitas das HQs mencionadas representam aspectos culturais importantes de seu país, abordando temas como críticas a uma postura política, independência Cubana entre outras. Tal constatação é um bom motivo para utilizarmos as HQs nas aulas como material didático. As HQs também reúnem em sua composição um conjunto de elementos verbais e não verbais que as fazem ser um material atraente aos olhos de quem é adepto dessa arte, portanto é essencial conhecer a função que cada um exerce no quadrinho para uma interpretação favorável do conteúdo. Compreende-se então sua multimodalidade ao combinar diversos tipos textuais presentes nas HQs, favorecendo o ensino e a aprendizagem de alguns conteúdos. Nesse sentido, percebe-se que as Histórias em Quadrinhos podem ser consideradas um grande aliado nas aulas de língua inglesa. Portanto ao considerar a Historia em Quadrinhos Monica and Friends como material didático, pretende-se explorar as competências necessárias ao ensino de inglês, a competência sociolingüística, a competência discursiva e a competência estratégica levando o aluno a um domínio significativo da língua. Levamos em consideração alguns fatores importantes na escolha da HQ, em principio consideramos a afinidade dos adolescentes com o gênero textual, sua popularidade aqui no Brasil, já que muitos estão familiarizados com os personagens, também por possuir um valor acessível, assim como sua linguagem precisamente direcionada ao público infanto-juvenil. Outros aspectos na HQ que nos chamou atenção foram à presença de diversos temas sobre cidadania, assim 44 como algumas expressões idiomáticas na HQ Monica Teen , das quais julgamos serem importantes apresentá-las nas aulas de inglês, por serem consideradas aspectos culturais de uma sociedade. Com isso percebe-se a importância das HQs nas aulas de língua inglesa, tendo em vista que através dela podemos levar o aluno a conhecer e respeitar diferentes costumes, crenças e outros elementos culturais.

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