MEIO BIOFÍSICO DO PARQUE ESTADUAL DOS MANANCIAIS DE CAMPOS DO JORDÃO - Spl

Dimas Antonio da SILVA 2 Márcia da SIL VA3 Edson Fernando ESCAMES4

RESUMO ABSTRACT

Este trabalho tem como objetivos efetuar This paper aims to carry out the study of o levantamento do meio biofisico, caracterizar a the biophysical environment, to characterize the fragilidade e estabelecer recomendações de uso do fragility and to establish recommendations for soil solo, destinadas à conservação do Parque Estadual use, aiming the preservation of the Parque Estadual dos Mananciais de Campos do Jordão. E realizado dos Mananciais de Campos do Jordão. It is carried com base em levantamentos bibliográficos e out based on bibliographic and cartographic cartográficos, foto interpretação e trabalhos de investigation, photointerpretation and field work. campo. A área, recoberta notadamente por mata The area is mainly covered by natural forest it natural, apresenta três compartimentos morfo- presents three morphologic compartments: High lógicos: Alto das Escarpas, Morros e Depósitos Scarps, Mounts and Associated Deposits and Associados e Planícies Alúvio-Coluvionares. AlIuvial-Colluvial Plains. Taking into account the Considerando-se as características do meio bio- characteristic of the biophysical environment and fisico e os processos naturais analisados, nos dois the natural processes studied it was found that in primeiros compartimentos predominam setores the first two compartments prevail sectors of high com alta fragilidade, que devem ser preservados. fragility, that must be preserved. The sectors with Os setores com baixa a média fragilidade ocorrem low to average fragility occur both at the summit tanto nos topos e nas vertentes dos morros. Podem and at the slope ofthe hills. They can be used for ser utilizados para recreação, educação ambiental leisure activities, environmental education and for e construção de infra-estrutura do Parque. Nas the Park infrastructure construction. In the AlIuvial- Planícies Alúvio-Coluvionares ocorrem, em geral, Colluvial Plains occur sectors with average to high setores com média a alta fragilidade, que podem fragility and can be used for cxtensive activities. comportar atividades recreativas e educacionais, desenvolvidas de forma extensiva.

Palavras-chave: meio bioflsico; fragilidade; Key words: biophysical cnvironment; fragility; conservação. conservation.

1 INTRODUÇÃO preservação dos ecossistemas, das espécies vegetais e animais, dos seus "habitats" e da Este trabalho foi desenvolvido, qualidade das águas ali produzidas. Visa também, inicialmente, como atividade prática da disciplina atender a crescente demanda da população para a "Estrutura e Manejo de Unidades de Conservação", recreação e educação ambienta]. ministrada pelo Prof. Dr. Álvaro Fernando de Como o Parque é pouco conhecido em Almeida, no segundo semestre de 1994, no seus aspectos biofisicos, o que dificulta as ativi- Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, dades de planejamento e a implantação de medidas da Universidade de São Paulo. destinadas ao melhor aproveitamento do potencial O Parque Estadual dos Mananciais de desta área e ainda, devido ao grande número de Campos do Jordão, criado pelo Decreto nº 37.539, informações levantadas na: fase inicial deste de 27 de setembro de 1992, tem como objetivos a trabalho, decidiu-se organizá-Ias e sistematizá-Ias.

(1) Trabalho apresentado no VI Simpósio de Geografia Fisica Aplicada, realizado em Goiânia-GO, no periodo de 15 a 21 de outubro de 1995, revisado e ampliado em 1996, e aceito para publicação em novembro de 1998. (2) Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. (3) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas-USP, Caixa Postal 2530, 01060-970, São Paulo, SP, Brasil. (4) Empresa Metropolitana de Águas e Energia S. A., Av. AI/redo Egidio de Souza Aranha, nº 100, Bloco D, 10º andar, 04726-905, São Paulo, SP, Brasil.

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SILVA, D. A da; SILVA, M. A. da & ESCAMES, E. F. Meio biofisico do Parque Estadual dos Mananciais de Campos do Jordão - SP.

Sua caracterização possibilita conhecer esta de Carlos Botelho. Apresentam propostas de um área natural em seus aspectos biofisicos, destacando-se zoneamento geomorfológico da área estudada, as suas potencialídades e limitações. Dessa forma, como produto final das correlações das variáveis contribui para o manejo e utilização dessa unidade consideradas. Concluem que . das noves zonas de conservação, oferecendo outra opção de lazer e propostas sete são integralmente "extremamente educação ambiental em áreas naturais. críticas", devendo permanecer intocáveis, enquanto O estudo tem como objetivos caracterizar que duas são "parcialmente críticas", isto é, com o Parque quanto ao clima, geologia, geomorfologia, subsetores passíveis de serem manejados. solos, hidrografia e vegetação; elaborar um mapa DOMINGUES & SÉRIO (1989) realizam de fragilidade, a partir da avaliação integrada das o diagnóstico geomorfológico das escarpas do informações obtidas e estabelecer recomendações Núcleo , do Parque Estadual da visando a sua conservação. , por meio de correlações entre as formas, os processos erosivos predominantes e as declividades das vertentes. A interpretação dos 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA· resultados geomorfológicos e dos subsídios legais permite a identificação de áreas críticas e. a MILANO(l994) afirma que as unidades sistematização da área em treze conjuntos, de conservação devem cumprir importantes funções definidos em função da sensibilidade das vertentes ecológicas, científicas, econômicas, sociais e polí- frente a ação dos processos geomorfológicos, bem ticas no País. A administração e manejo destas como, daqueles de influência antrópica. Destacam também, a ineficácia do Código Florestal como unidades devem ser fundamentadas em princípios de planejamento atualizados, e portanto, dinâmicos. protetor da Serra do Mar. Segundo MORALES & MACF ARLAND PIRES NETO (1992) estuda o relevo da (1980), o planejamento de áreas silvestres depende, Ilha Bela com objetivo de subsidiar a elaboração em grande parte, do conhecimento dos recursos da Carta de Fragilidade do Município. A análise naturais e culturais e ainda, do contexto regional geomorfológica é feita em dois níveis: o primeiro do qual faz parte. Considera a obtenção de. infor- compreende a abordagem sintético-histórica, a mações básicas e a caracterização da área de estudo, partir da qual elabora-se um mapa geomorfológico como passos iniciais do método de planejamento. sinóptico em escala I :50.000, que permite o Para ROSS (1994), em função dos pro- reconhecimento dos tipos de relevo e sua carac- blemas ambientais decorrentes das práticas econô- terização morfológica, morfométrica, morfodi- micas predatórias, toma-se cada vez mais urgente o nâmica e de constituição; o segundo, a abordagem planejamento fisico territorial, não só com pers- analítico-dinâmica, que compreende a análise das pectiva econômica-social, mas também ambienta!. formas do relevo, de seus componentes e da Desta forma, as intervenções humanas na natureza intensidade e tipologia dos processos atuantes, devem ser planejadas com objetivos de ordenamento representados na escala 1:10.000. Com base nesta territorial, tomando-se como premissas a potencia- análise de detalhe apresenta recomendações para o lidade de recursos naturais e humanos e a fragilidade planejamento e ocupação humana. dos ambientes. Destaca que, o conhecimento das potencial idades dos recursos naturais considera os levantamentos dos solos, relevo, rochas e minerais, 3 MATERIAIS E MÉTODOS das águas, do clima, da e , enfim, de todos os componentes do estrato geográfico que 3.1 Área de Estudo dão suporte à vida animal e ao homem. Para a análise da fragilidade, entretanto, exige-se que esses conhecimentos setorizados sejam avaliados de forma integrada, apoiada sempre no princípio de O Parque Estadual dos Mananciais de que a natureza apresenta funcionalidade intrínseca Campos do Jordão, com área de 502,96 ha, entre as suas componentes fisicas e bióticas. localiza-se no município de Campos do Jordão-SP, DOMINGUES . et ai. (1987) elaboram entre as coordenadas geográficas 22045 '20" e estudo de correlações entre as variáveis do meio 22°46'42" de latitude sul e 45°32'38" e 45°43'48" fisico representadas em perfis, no Parque Estadual de longitude oeste, (FIGURA 1).

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45"34'48" 49'32'38" 22"45'20" + + 22"45'20"

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" + 22"46'42" 22"46'42" + 45"34'46" 49'32'36"

Fonte:Plano Cartográfico do Estado de São Paulo, Folhas Fazenda Mirante e Campos do .Jordãolll. escala 1:10.000,1978.

FIGURA 1- Mapa de localização do Parque Estadual dos Mananciais de Campos do Jordão.

FIGURA I - Mapa de localização do Parque Estadual dos Mananciais de Campos do Jordão.

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SIL VA, D. A da; SILVA, M. A da & ESCAMES,E. F. Méio biofísico do Parque Estadual dos Mananciais de Campos do Jordão - sr.

É constituído por rochas graníticas per- 3.2 Documentação Fotográfica tencentes as "Suites Graníticas Sintectônicas - Facies Cantareira" (ALMEIDA et aI., 1981). A Facies Can- São utilizadas fotografias aéreas verticais tareira é a de maior representatividade no Pré- pancromáticas provenientes do recobrimento aero- Cambriano paulista e espalha-se por todos os blocos fotográfico da Secretaria da AgriculturaJV ASP, na tectônicos, formando grandes batólitos, destacando-se escala aproximada 1:25.000, ano de 1973. os maciços de Três Córregos, Grandes e Natividade. São afetados pelas grandes falhas '3.3 Documentação Cartográfica transcorrentes como a de Jundiuvira, que passa próximo a área de estudo. De acordo com Quanto à documentação cartográfica são BISTRICHI et al. (1981), estes granitos corres- consultadas: Carta topográfica do IBGE, escala pondem a corpos para-autóctones e alóctones, 1:250.000, ano 1985 (Folha Guaratinguetá); Carta foliados, granulação fina a média e textura porfi- topográfica do IBGE, escala 1:50.000, ano 1974, rítica freqüente. Apresentam contatos parcialmente (Folha Tremembé) e Cartas topográficas do Plano concordantes e composição granodiorítica a granítica. Cartográfico do Estado de São Paulo, escala Segundo PONÇANO et ai. (1981), a área 1:10.000, ano de 1978 (folhas Campos do Jordão situa-se na província geomorfológica Planalto 11Ie Fazenda Mirante).

Atlântico, zona do Planalto do Alto Rio Grande e ..•. subzona do Planalto de Campos do Jordão. O 3.4 Metodologia Planalto do Alto Rio Grande é um dos planaltos cristalinos que constituem o Planalto Atlântico, Os levantamentos de geologia, solos e estendendo-se por vasta porção do Sul de Minas vegetação são realizados, sobretudo, com base na Gerais. Nele são reconhecidos setores maturamente compilação das informações bibliográficas e dissecados e tectonicamente elevados, separados cartográficas, fi secundariamente, através da obser- por regiões serranas, que levam ao reconhecimento, vação de fotografias aéreas e trabalho de campo. no Estado de São' Paulo, de quatro subzonas: O mapeamerito geomorfológico, realizado Planalto de Campos do Jordão, Planalto de Santo com maior detalhamento, é feito valendo-se de Antônio do Pinhal, Serrania do Alto Sapucaí e metodologia utilizada por DOMINGUES & SILVA Planalto de Caldas. . (1988) sendo que, por fotointerpretação são obtidos Predominam os solos do tipo Cambissolo dados referentes à hidrografia; formas de topo, Álico com "A" proeminente e moderado associado ao vertentes e' fundo de vale; formações superficiais; Cambissolo Húmico Álico, ambos com textura média morfodinâmica e ações antrópicas, selecionadas e argilosa, em relevo forte ondulado e montanhoso. O em função de sua importância para o mapeamento Cambissolo compreende solos minerais com horizonte na escala adotada. As informações obtidas das "B" câmbico ou incipiente, não hidromórficos e com fotografias aéreas, na escala aproximada de pouca diferenciação de textura do horizonte "A" para 1:25.000, são transferidas para as bases cartográficas, o "B". São solos com certo grau de evolução, porém na escala 1:10.000. Visando complementar as não suficiente para meteorizar completamente informações geomorfológicas e subsidiar a elabo- minerais primários de fácil intemperização como ração do mapa de fragilidade é feita a compar- feldspatos, micas e outros (BRASIL, 1983). timentação da área em três setores morfológicos SEIBERT et ai. (1975) afirmam que na distintos: Alto das Escarpas da Serra da Man- região de Campos do Jordão existem dois grandes tiqueira (acima de 1.800 metros); Morros e tipos de vegetação: a mata e o campo, e a influência do Depósitos Associados (entre 1.650 e 1.800 metros) homem causa modificações na paisagem natural. e Planícies Alúvio-Coluvionares. Para MODENESI (1980), nos altos A caracterização climática é feita com campos a distribuição da cobertura vegetal está base em .dados de, temperatura e umidade relativa relacionada com as formas de relevo, a rede de do ar, pluviosidade e nebulosidade, para um período drenagem e as formações superficiais. Nos topos de 17 anos (1978-1995), referentes ao posto meteoro- dos morros e no setor mamelonizado das 'vertentes, lógico do Instituto Nacional de Meteorologia predominam campos de altitude. As matas ocupam (INEMET), estação Emílio Ribas, código número o setor inferior das vertentes convexas, as vertentes 83.714, instalado no Município de. Campos do retilíneas e os anfiteatros de erosão .. Jordão, Este posto, localizado à 22° 44' de latitude sul

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SILVA, D. A da; SILVA, M. A. da & ESCAMES, E. F. Meio biofisico do Parque Estadual dos Mananciais de Campos do Jordão - SP. e 45° 35' de longitude oeste, a uma altitude de simplificações, foram definidas três classes de 1.579 metros, é o mais próximo do Parque, fragilidade: baixa a média, média a alta e alta. distando, aproximadamente, 4 km. Para subsidiar os estudos, são confeccio- A avaliação integrada das características nadas cartas de classes de altitude e de declividades, do meio biofisico, representada pela superposição perfis morfológicos-geológicos e um quadro síntese dos mapas temáticos produzidos e associação entre com as informações obtidas. Os trabalhos de campo os processos naturais analisados, assim como, as são desenvolvidos através de observação e des- considerações dos autores consultados possibilitam crição das características do meio biofisico, assim a elaboração do mapa de fragilidade e o estabe- como, da aferição dos dados gerados em gabinete. lecimento de recomendações voltadas para prevenção ou a correção dos problemas detectados, como subsídios à conservação do Parque Estadual dos 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Mananciais de Campos do Jordão. Mediante o conhecimento dos com- Uma síntese dos dados de temperatura e ponentes do meio biofisico e das interações entre . umidade relativa do ar e da pluviosidade, para um eles, é possível interpretar as características que período de 17 anos (1978-1995), é apresentada na influem diretamente nas formas de uso e ocupação TABELA I. do solo, conforme orientações metodológicas de Fevereiro é o mês mais quente, com DOMINGUES et al. (1987), DOMINGUES & média de 17,6°C e máxima de 23,O°C. Julho é o SÉRIO (1989), PIRES NETO (1992) e ROSS (1994). Desta forma, certas características do meio mês mais frio, com média de 9,9°C e mínima de biofisico consideradas frágeis às interferências 3,7°C. A temperatura média anual é de 14,3°C. humanas foram agrupadas, definindo-se a classe de A precipitação média é de 1584,8 mm "alta fragilidade". No caso oposto, a classe de anuais, ocorrendo sua concentração nos meses de "baixa fragilidade" reúne as características que dezembro, janeiro e fevereiro (verão). O período oferecem nenhuma ou pouca restrição aos usos de menor pluviosidade é verificado entre junho a permitidos em um parque. Após generalizações e agosto, correspondendo à estação de inverno.

TABELA I - Temperatura e umidade relativa do ar e precipitação média mensal de 17 anos (1978-1995), do posto meteoro lógico do Município de Campos do Jordão, estação Emílio Ribas, código número 83.714.

Mês Temp. média eC) Temp, máx. eC) Temp. mín. eC) Precipitação (nuu) Umidade Relativa (%)

Jan. 17,4 22,4 13,5 264,9 86,0 Fev. 17,6 23,0 13,4 195,5 87,0 Mar. 16,8 22,1 12,5 188,8 87,0 Abr. 15,0 20,7 10,3 100,1 87,0 Maio 12,4 18,7 7,2 83,2 87,0 JUIl. 10,0 17,6 4,4 50,6 85,0 Jul. 9,9 17,8 3,7 40,1 84,0 Ago. 11,2 19,4 4,8 40,1 81,0 Set. 13,0 19,8 7,8 88,8 81,0 Out. 15, I 21,1 9,6 113,6 82,0 Nov. 16,4 21,7 11,6 161,3 84,0 Dez. 16,9 21,7 12,6 236,9 87,0 Média 14,3 20,5 9,2 - 85,0 Total 1584,8 Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia (INEMET).

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A umidade relativa mensal média do 'aT .. A análise dos totais diários de insolação perfaz um valor mínimo em agosto e setembro, mostra que o meses de maiores valores são julho e com 81,0%. A máxima situa-se nos

TABELA 2 - Dados médios de insolação de 17 anos (1978-1995), do posto meteorológico do Município de Campos do Jordão, estação Emílio Ribas, código número 83.714.

Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. luL Ago, Set. Out. Nov. Dez. hora/mês 97,5 97,0 108,5 125,0 148,1 159,5 169,4 169,7 122,4 136,5 124,0 103,5 hora/dia 3,1 3,4 3,6 4,0 4,9 5,3 5,4 5,4 4,0 4,4 4,1 3,3 Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia (INEMET):

Estas constatações estão de acordo com dos "Morros 'com Serras Restritas". São subdi- as observações de CONTI (1972) e MONTEIRO vididos em: Alto das Escarpas, Morros e Depósitos (1973) quanto à dinâmica atmosférica da região, Associados e Planícies Alávio-Coluvionares. O que é caracterizada pela atuação das massas de ar QUADRO 1 destaca, também, as principais carac- tropical e polar, às quais associadas a morfologia terísticas do meio biofisico em cada um destes diversificada formada, principalmente, por elevadas compartimentos .: altitudes, fornecem uma particularidade climática As altitudes são elevadas e variam de referente a diminuição da temperatura e aumento 1.640 a 1.886 metros. Prevalecem, todavia, as da pluviosidade. altitudes entre 1.750 e 1.800 metros. O setor Concordando com SEIBERT et ai. elevado do Parque, com altitudes acima de 1.800 (1975), nesta região observa-se que em função da metros, corresponde ao alto das escarpas da Serra variação de altitude, as temperaturas também oscilam, da Mantiqueira, divisor de águas entre as bacias do sendo que tanto as áreas de maiores altitudes como Rio Paraíba do Sul e do Rio Grande (FIGURA 4). as das baixadas, são próprias para a formação de Em direção ao interior, as escarpas da microclima. O nevoeiro predomina o ano todo e as Mantiqueira evoluem para o Planalto de Campos geadas aparecem entre os meses de abril e do Jordão, onde os componentes do relevo setembro, com maior incidência em junho ejulho.' mostram, em grande parte, um desenvolvimento Os dados de temperatura e precipitação condicionado a uma . antiga superficie de apresentados permitem identificar, segundo o aplainamento, nivelando seus cimos à cerca de sistema de Kõppen, um clima do tipo Ctb, ou seja, 2.000 metros de altitude. Esta superficie, clima subtropical de altitude, mesotérmico e denominada "Superficie de Campos", é típica nas úmido, sem estiagem, com temperatura do mês imediações de Campos do Jordão mais quente inferior a 22°C. (CAVALCANTE et al., 1979). As informações da geologia, mostradas Predominam na área as declividades altas, nas FIGURAS 2 e 3, evidenciam que o relevo ser- acima de 30%. O valor de 30% é definido por rano é sustentado por rochas graníticas, conforme legislação federal - Lei 6.766/79 - também chamada ALMEIDA et ai. (1981). Sedimentos alúvio- Lei Lehmann, que estabelece o limite máximo para coluvionares recentes ocorrem ao longo dos rios que urbanização sem restrições. A partir deste, toda e drenam a área de estudo, originando as planícies qualquer forma de parcelamento far-se-á através de do Córrego do Coutinho e do Ribeirão do Salto. exigências específicas (DE BIASI, 1992). Os O Parque, localizado no Planalto de declives inferiores a 5% ocorrem, principalmente, Campos do Jordão, é caracterizado por relevo ao longo dos fundos de vales do Ribeirão do Salto de "Morros com Serras Restritas" (CARNEIRO e do Córrego do Coutinho e, em algumas áreas de et al., 1981). Os perfis A-B e C-D (FIGURA topo. No setor oeste do Parque localizam-se 2) e o QUADRO 1 apresentam o detalha- sobretudo as declividades superiores a 30% mento da compartimentação morfológica-geológica (FIGURA 5).

Rev. Inst. Flor., São Paulo, J 0(2): 163-183, 1998. "r1 <:Il O <= - ]> Alto c: das Morros e Depósitos Associados ~ Escarpas ~ ~ COMPARTIMENTAÇÃO N MORFOLóGlCA }!" I, <:Il i t= (m) »< 1800 +' ;: + + + + + 1700 ----- ?> fl" 1600 + + ~ (Km) p;. 00 ::1 .~ :":+~.~:~~=--~------B t'l A 2 o<:Il Morros e Depósitos Associados (MOA) Planície (Mda) Atto das Escarpas ~ t'l COMPARTIMENTAÇÃO • .<:Il MORFOLOGICA ~ ~ I ::: (rn) _ õ'•• 1800 s:

45'43'48" ct , 22"45'2Q" !. Q. o 200 400 o '" Rochas graníticas ::: Escalas horizontal e ~ 6> r::::::l vertical 5 ~ Sedimentos alúvio-coluvionares jÕ' 0;' ~ I;: :: :1 o Depósitos indiferenciados 6> ...3, •o. Q. Ã 22'46'42" • o 45'32'38" ..

Localização dos perfis o& :<:-oIl

FIGURA 2 - Perfis morfológicos-geológicos A-B e C-D, '"rj ti> -..I 45°43'48" •...• r o- C) < 22'45'20" + 45'32'38" c: '}- + 22'45'20" p ~ w ~ }t ti> r-e '}- ~ ~ g. -r: " • ,i' " .• \lI; f/l> ~\ ~ t'1 ti> , " o -, ;.. , ,, ~ , , t'1 ,- , .tI> lI, , , 'i " , ~ , :-rl r' , ,I ,, / ~ I " s: I .',~ " <:r ,/ .(.;'\ s , :'l ,I , >. õ' \ o \ .~._.._...r..:: .'.. Q. , o \ , ..,; -, .eo: \ ,.: -,, c , , \ t'1" \ .' '\ ,--", ... - ,. ,,' '\~/ >1 ij",. Fonte: - ALMEIDA et ai. (1981). Represa o 200 400 600m ~ Fotografias aéreas, Secretaria da AgriculturaNASP, ~ escala 1:25.000, 1973.

FIGURA 3 - Mapa geológico do Parque Estadual dos Mananciais de Campos do Jordão. ~ QUADRO I - Síntese das características do meio biofisico predominantes em cada um dos compartimentos morfológicos. ,o <:Il :o P ~ r-'" Fragilidade ~ Província/Zona/ Compartimento Morfometria Morfologia Morfodinâmica Geologia 'Solos Clima Vegetação Ações ~ ~ Subzona Morfológico Antrópic,1S f>!='- ~ Geomorfológica ~ <:Il Alto das Altitudes acima Topos agudos e I Erosão superficial laminar. Mata, Abertura e má Alta. •... t. o",. ;p Escarpas. de 1800 m. arredondados, Sulcos e ravinas associados Campos naturais conservação de Baixa a <:Il Amplitudes iníe- Vertentes retiJíneas, a ação antrópica. ou antrópicos. caminhos e trilhas Média. P c <: .õ riores a 80 m. Solos rasos com ex- Rastejo, originam sulcos ?- •...• Predominam de- posição de blocos e Queda de blocos e rola- e ravinas, e matacões graníticos, ~ § C~\idades acima mento de matacões. escorregamentos. de 12% Paredes rochosas, Prática de ''mOOl ?> 0\ 't' A drenagem é for- cross" acentua os .2- mada por canais tem- processos c:roeivos !li> 00 .'" porârios de I' e 2' e degrada os trl campos naturais. \O ordens, ~ \O ?O Vales abertos. Depósitos de ~ lixo, trl Reflorestamento J'l de Pinus. ~ Planalto Morros c Altitudes entre Topos arredondados a Escorregamentos naturais e Rochas Cambissolo Ctb. Mata. Má conservação Alta. :'" AtlânticolPlanalto Depósitos 1650 e \800 m, localmente agudos, induzidos pela interferência Graníticas. álico + Cam- Clima subIro- Reflorestamento de caminhos e ::: do Alto Rio Associados, Amplitudes in- Vertentes íngremes re- humana, bissolo Húmico pical de altitude, de Pinus. trilha s, ao. GrandelPlanalto feriores a \50 m, tilíneas. Fragmentos Rastejo, Erosão superficial álico. Il1C9OIénnico e Reflorestamento ~ õ' de Campos do Predominam de- rochosos em super- laminar, . úmido, sem es- de Pinus, c:.tn..,oo :::I .Iordão. clividades acima fície, Depósitos co\ u- Instabilização de depósitos tiagem, com tem- antrópicos e Z!. de 30%, vionares e tálus na de tálus, peratura do mês capoeira. 8 base das vertentes, mais quente in- ~ Drena gem formada ferior a 22° C. O ." por canais perenes de índice pluvio- ~ 3' ordem em diante e métrico anual •• temporários, (média de 17 Grande número de anos) é igual a t nascentes. Alta den- 1584,8 mm. l sidade de drenagem, 2" Vales encaixados e ::: I quedas d'água, Planícies Ocorrem em al- Predominam formas Inundações ocasionais e trans- Sedimentos Solos Hidro- Mata, Barragem. Média a ~ Alúvio- porte torrencial de detritos, alúvio- módicos indis- Casa de funcio- Alta. 5 titudes interiores deposicionais de ori- Capoeira. õõ' Cohrv ionan:" a I MOO m. gem aíúv 'io-cohrvionar, Assoreamento. coluvionares. criminados. nários. ;n' Decl ividades in- compostas por mate- Leques aluviais ongmam Reflorestamento 'Ir feriores a 12%, rial heterogêneo de depósitos de granulometria de Pinus e (") granulometria variando variada, , capoeira. desde argila e siltes, Lençol freático ele\'~do, i 80 até blocos e matacões. "'-o Vales abertos c local- mente dissimétricos, J Leques aluviais. :-of;)

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SILVA, D. A da; SILVA, M. A da & ESCAMES, E. F. Meio biofísico do Parque Estadual dos Mananciais de Campos do Jordão - SP.

A fotointerpretação permite identificar leques aluviais, blocos rochosos e matacões ao que o relevo é formado, em geral, pelos morros de longo dos rios. Destaca-se também, o grande topos restritos e arredondados. Os topos agudos número de nascentes. De acordo com AB'SABER aparecem acima dos 1.730 metros de altitude e são & BERNARDES (1958), o bloco do Planalto de comuns ao longo da crista da Serra da Mantiqueira, Campos do Jordão corresponde ao mais notável em altitudes superiores a 1.800 metros. As ponto de irradiação local de drenagem do sistema vertentes apresentam perfis predominantemente da Mantiqueira. O próprio termo "Mantiqueira", retilíneos, por vezes abruptas, de acentuada oriundo da toponímia geográfica tupi-guarani, declividade (FIGURA 6). parece ter o significado fisiográfico que costuma-se , A área é drenada pelo Ribeirão do Salto e dar aos chamados "castelos d'água". ALMEIDA pelo Córrego do Coutinho, formadores do Ribeirão (1974) destaca que o Planalto de Campos do das Perdizes. Na cidade de Campos do Jordão, o Jordão é fartamente irrigado através da densa rede Ribeirão das Perdizese o RibeirãoCapivariformamo de drenagem e os maiores coletores têm traçados Rio Sapucaí-Guaçu, que se constitui em um dos quase normais às estruturas, pois que fluem de sul afluentes do Rio Grande (FIGURA 7). ,para o norte. Portanto, esta Unidade de Conservação Concordando com BRASIL, Ministério protege as cabeceiras do Ribeirão das Perdizes que das Minas e Energia (1983), sobre as rochas gra- "representam importante reserva hídrica para o níticas desenvolvem-se os cambissolos moderada- abastecimento do Município de Campos do mente drenados e rasos a profundos. Estes solos Jordão" (Decreto nº 37.539, de 27 de setembro de apresentam forte fragilidade, em relação ao 1992). A preocupação quanto a captação e escoamento superficial difuso e concentrado das canalização de água para este município já é águas pluviais (ROSS, 1994). Nas planícies evidente na década de 40, com a construção da fluviais, em áreas de ocorrência dos sedimentos represa do Salto, localizada no interior do Parque. Comprovando as observações de SOUZA alúvio-coluvionares, é provável a presença de solos et aI. (1993), embora situados em área sujeitos à influência do lençol freático elevado, protegida, os mananciais vinculados à bacia do alto condicionando o aparecimento da característica de Ribeirão das Perdizes, sofrem grandes pressões gleização (FIGURA 8). devido aos loteamentos, construção de aterro No sopé das vertentes são expressivos os sanitário, criação de eqüinos e bovinos. A criação depósitos coluvionares e corpos de tálus. Muitas de animais é também responsável pelo perigo vezes, na fotointerpretação não é possível a sepa- potencial de contaminação dos cursos d'água ração entre o~ sedimentos de natureza coluvial e através de seus excrementos. Além disso, em uma aluvial. Desta forma, estes depósitos são área onde predominam as declividades acentuadas denominados indiscriminadamente de formação e solos pouco espessos, esta atividade 'tende a alúvio-coluvionar. Estas observações confirmam as acelerar os processos erosivos e a esculturação de conclusões de MODENESI (1980), que localiza os terracetes, comprometendo a qualidade de água coluvionamentos, algumas vezes, até na várzea, dos mananciais. formando rampas de colúvio. Essas rampas apre- Em geral, a rede de drenagem possui sentam espessura, composição e granulometria padrão dendrítico e é formada por canais perenes e variadas. Possuem com freqüência camadas por pequenos canais temporários. Os vales são conglomeráticas e/ou estratos enriquecidos em fechados, todavia, ao longo dos principais canais matéria orgânica. de drenagem, onde os vales são mais abertos, No setor oeste, em altitudes superiores a formam-se planícies aluviais. Localmente, ocorrem 1.800 metros, tem-se a visão da Pedra do Baú e de vales dissimétricos, isto é, de um lado, a margem parte do Parque. Todavia, este setor, coberto por dos rios é formada por amplo depósito alúvio- campos e mata, encontra-se muito degradado pela coluvionar e de outro, a margem é estreita, erosão, depósitos clandestinos de lixo e entulho, ocorrendo aí, um contato brusco da várzea com a desmatamento e incêndios freqüentes na época baixa vertente dos morros graníticos. da seca. Os caminhos e trilhas estão mal' Devido ao caráter montanhoso, aos conservados, sendo comuns os sulcos e ravinas ao aspectos geoestruturais e aos índices pluviomé- longo destes. A prática do "moto-cross" acentua tricos elevados da região ocorrem quedas d'água, estes processos erosivos.

Rev, Inst. Flor., São Paulo, J 0(2): 163-183, 1998. 'Tl fi) +22"45'20" O =< + 22"45'20" 45"32'38" c:-:: }» 45°43'48" ~ ~ f> 0\ ~ fi) AÇCES PLWIQ.FLUVIAlS t= }»< Formas e Formações ?= f> Limite superior de relevos de g- transição escarpados , Pl> 00 , t!l . fi) .'" ---...::...;,.....~d.,.,....-I" -.,', -+-+- Interflúvio agudo o > Interr.prindpalarredondado ~ - - t!l .fI) ·Interr. secundário arredondado ~ :"1 Topo agudo >-< ~ X Topo arredondado s••: sr:r: )C Colo ::/ õ'"' o rTT1 Ruptura convexa Q. ..,o Ruptura côncava .I!.,l HIDROGRAFIA c Vertenteretilínea l t!••l ~ Canal perene ~ ~ Vale em 'V' Q. C .. - '::- Canal intel11litente !!!. -s- Vale em berço Q. o + 22'45'42" Nascente '" ->- Vale dissimétrico ~ 48'43'48" ~ -t- :••:: LlTOLOGIA (indicações) Queda d'água so: õõ' PS~c Rochas graniticas n Garganta (ALMEIDAetaI.1981) ~ -;,':).- o Leque aluvial N •• , ."3 AÇCES ANTRÓPICAS 1"""4 Depósito indiferenciado o de vertente 'Q". o 200A 400 600m .o... l SulcoslRavinas o ., '" DepÓsito alúvio-coluvionar ~ .--{Y Barragem o Afloramento rochoso fi) -e A Bloco e matacôes Fonte: Fotografias aéreas, Secretaria da AgriculturaNASP, TOPOGRAFIA A A escala 1:25.000, 1973. - __1800-Curva de nivel n Escorregarnento

FIGURA 6 - Mapa geomorfológico do Parque Estadual dos Mananciais de Campos do Jordão. ~ lõI'l :c p ãi :; < ~ » ~ ~ C :'t j> 46° 45° ,.. 10' O""' 2'Z' + + 22° p""' ê < .•õ...• s- ~ ~ j> 0\ i" ':' Rio -00 til"" .'" olõI'l \O \O ?O ~ til .""' r'l :"l Rio Lourenço V. ~&~o 3:: ~. o t7 õ' :::I .§i .. ~r a- ~~/ ...,o ,,--'~~ I!; .&J .C••: til ~ ~ !!. a- ~ " 3:: i i'l õõ' (, - ," Oõ' ~,,-' '-- :'---,,:' '~' - Ir' ------~~ - -- - \ '--.. o .10g

/ o .a.- .o.. 23° + + 23' N ! 46° 45° o. A ""'-e • 10 20 30Km Fonte: SÃO PAULO, Secretaria de Economia e Planejamento, i i Coordenadoria de Ação Regional (1990).

FIGURA 7 - Rede hidrográfica regional. ~ 'Tj 00 '~" 45°43'48" r o- < 22'45'20"+ 45"32'38" c::: 'r-" r ~" + 22'45'20" I:' c ~ ?> ," 00 Q. ,00.. ~ O r00 ê < ,õ .?> '- ~ ~ ?> Q. -0\ ,. 't' R<> -00 I:'l ,w 00 o \O >- -\O z !'" I:'l ,r:/). r'l ;-rl :::: "õ' cr" ~s ~. C) o Q. o .." ..~o <= I":'l

Q~. e:<= .. Q. o ,.::::'" ::,.s ::s C) Solos Hidrom6rficos indiscriminados 0;' Ulpgmnl ;;;. 22'46'42" + Q. 45°43'48" Cambissolo álioo + Cambissolo ",.o Húmicoálico 3 "t:I " o '"Q. •o... o N ~ ;;r- Rios o, 00 A :-<' Fonte: - BRASIL, Ministério das Minas e Energia (1983). ~ Represa o 200 400 600m - Fotografias aéreas, Secretaria da AgriculturaNASP, escala 1:25.000,1973.

-..J FIGURA 8 - Mapa de solos do Parque Estadual dos Mananciais de Campos do Jordão. -..J 178

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Afloramentos rochosos e a presença de tanto por escoamento superficial, como por escoa- matacões em superftcie, comuns nos topos dos mento sub-superficial (SEIBERT et aI., 1975). interflúvios a oeste da área, indicam o intenso O mapa de fragilidade (FIGURA 10) processo de erosão laminar a que os cambissolos destaca que, no Alto das Escarpas e nos Morros e estão submetidos. Concordando com MODENESI Depósitos Associados predominam setores com (1980), as formações superficiais de topo dos alta fragilidade, considerando-se as características morros são caracterizadas por solo pouco espesso do meio biofisico e a dinâmica do ambiente sobre linha de seixos e rocha alterada. Localmente, natural, determinantes dos problemas relativos ao as linhas de seixos podem aflorar por ação do uso do solo. escoamento superficial. Nestes compartimentos morfológicos as De acordo com NAKAZAWA et al. principais características consideradas como (1994), o Parque apresenta alta suscetibilidade aos determinantes da alta fragilidade são: as vertentes escorregamentos planares envolvendo solo, retilíneas, com declividade acima de 30%, especialmente os induzidos pela ocupação humana. suscetíveis aos movimentos de massa e com uso São, quase sempre, conseqüência da execução de limitado pela Lei Lehmann; os campos naturais ou taludes de corte e aterros mal dimensionados e antrópicos, que conferem baixa proteção aos solos; desprotegidos. Muitos escorregamentos expõem o os cambissolos rasos com exposição de matacões substratogranítico e quando localizados em setores e as paredes rochosas sujeitos a rolamentos e muito íngremes das vertentes não são colonizados quedas de blocos; os depósitos instáveis de tálus pela vegetação, originando paredes rochosas. e colúvio; as áreas comprometidas pelo Os fenômenos de rastejo, ocorrem, escoamento concentrado e laminar das águas também, de forma generalizada em toda a área. pluviais, assim como, as nascentes inferidas por A observação de fotografias aéreas fotointerpretação. permite identificar quatro manchas diferenciadas As chuvas, com índices de 1584,8 mm de cobertura vegetal, representadas no mapa de anuais, também são consideradas como fator de vegetação (FIGURA 9). A mata nativa predomina instabilização das vertentes e dinamizador dos e ocupa as escarpas da Serra da Mantiqueira, os processos naturais, acentuando, desta forma, a morros de vertentes retilíneas e os fundos de vale, fragilidade destes setores serranos. conforme MODENESI (1980). Os reflorestamentos, Os setores com as características ante- com o gênero Pinus, também ocupam uma riormente apresentadas possuem portanto, severas expressiva área desta Unidade de Conservação, limitações para usos recreativos, educacionais ou substituindo os campos de altitude e as matas. Os para construções. Devem ser preservados e campos ocorrem nos limites do Parque, em geral, recuperados nos locais degradados, e integrar, no topo dos morros, acima dos 1.700 metros de preferencialmente as zonas de usos mais restritivos altitude, não fazendo-se a distinção entre natural e e voltadas à proteção integral dos ecossitemas, antrópico. O trabalho de fotointerpretação revela como as zonas primitiva e de recuperação. ainda, áreas de· recuperação definidas como Os . setores com baixa a média fragi- capoeira, muitas vezes localizadas próximas aos lidade, que ocorrem tanto no Alto das Escarpas reflorestamentos, sendo provavelmente o resultado como nos Morros e Depósitos Associados, desta atividade silvicultural, correspondem às vertentes com declividades De acordo com ROSS (1994), as matas inferiores a 30% e aos topos arredondados, naturais e os reflorestamentos homogêneos de Pinus cobertos por mata natural ou reflorestamento de denso apresentam respectivamente, muito alta a Pinus, o que confere aos cambissolos maior alta proteção dos solos. Áreas desmatadas e proteção e estabilidade. Podem, por exemplo, ser queimadas recentemente e solos expostos ao longo utilizados para construção da infra-estrutura do de caminhos apresentam muito baixa a nula Parque, abertura de trilhas de interpretação, proteção. recreação e camping, e integrar as zonas .de uso Nos campos, a cobertura vegetal baixa intensivo, extensivo e de serviços. Na implantação e pouco densa, favorece a ação intensa das águas destas zonas devem ser utilizadas preferencialmente, das chuvas e consequentemente, a erosão laminar. as áreas ocupadas por reflorestamentos ou Ocorre uma verdadeira lavagem do solo e o vegetação natural degradada, preservando-se material mais fino como a argila, é transportado assim, a mata nativa.

Rev. Inst. Flor., São Paulo, 10(2):163-183, 1998. 'Tl CIl 45°43'48" ~' = 'J<> 22"45'20" + 45"32'38" ~ 22"45'20" 1.0 9 + ;> ~ <:I> t= 'J<> ~ ?> e- P:o tTl o<:I> :l> z tTl .<:1> r'1 :"'l z s" ao õ' ::J ';:";. o Q. ..,o e: ..c" t"Tl

Q~. ~C sQ. Mata z ~ ::••s so c=J Reflorestamento r;;' 2~46'42"+ ir 45°43'48" o 3•• "Oo li> Q. 1~1~~Capoeira~~~~~~1 o g'o-. N ~ Rios o A :-<:I>c ~ Represa o 200 400 600m Fonte: Fotografias aéreas, Secretaria da AgriculturaNAS~, escala 1:25.000, 1973.

FIGURA 9 - Mapa de vegetação do Parque Estadual dos Mananciais de Campos do Jordão. 180

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Nas Planícies Alúvio-Coluvionares, com encontradas ao longo do Córrego do Coutinho e do declividades, em geral, inferiores a 12%, predo- Ribeirão do Salto, formadores do Ribeirão das minam setores com média a alta fragilidade à Perdizes. intervenções humanas. Isto deve-se aos solos Os dois primeiros compartimentos hidromórficos com baixa capacidade de suporte, ao apresentam, em geral, vertentes íngremes retilíneas lençol freático elevado, a inundações ocasionais, ao e topos arredondados, a localmente agudos. São transporte torrencial de detritos e ao assoreamento. constituídos por rochas graníticassobre as quais Podem comportar usos recreativos e educacionais desenvolve-se uma associação de solos do tipo e integrar a zona de uso extensivo, a partir de Cambissolo Álico + Cambissolo Húmico Álico. As trabalhos detalhados de campo. Planícies Alúvio-Coluvionares são formadas por Os setores com as características ante- sedimentos quatemários e apresentam Solos riormente apresentadas possuem portanto, severas Hidromórficos indiscriminados. limitações para usos recreativos, educacionais ou A vegetação predominante é a mata que para construções. Devem ser preservados e ocupa as vertentes dos morros e as planícies. recuperados nos locais degradados, e integrar, Secundariamente ocorrem reflorestamentos, campo preferencialmente as zonas de usos mais restritivos natural e/ou antrópico e áreas de recuperação e voltadas à proteção integral dos ecossitemas, natural, definidas como capoeira. como as zonas primitiva e de recuperação. Com base na avaliação integrada das Os setores com baixa a média fragilidade, características do meio biqfisico, verifica-se que no que ocorrem tanto no Alto das Escarpas como nos Parque predominam, no Alto das Escarpas e nos Morros e Depósitos Associados, correspondem às Morros e Depósitos' Associados, os setores com vertentes com declividades inferiores a 30% e aos alta fragilidade, qüe devem ser preservados e topos arredondados, cobertos por mata natural ou integrar as zonas de usos mais restritivos, como as reflorestamento de Pinus, o que confere aos cam- zonas primitivas e de recuperação. Nestes bissolos maior proteção e estabilidade. Podem, por compartimentos morfológicos também são exemplo, ser utilizados para construção da infra- encontrados setores com baixa a média fragilidade, estrutura do Parque, abertura de trilhas de inter- que podem ser utilizados para recreação, educação pretação, recreação e camping, e integrar as zonas ambiental e construção da infra-estrutura do de uso intensivo, extensivo e de serviços. Na Parque e integrar as zonas de uso intensivo, implantação destas zonas devem ser utilizadas extensivo e de serviços. preferencialmente, as áreas ocupadas por reflo- Nas Planícies Alúvio-Coluvionares ocorrem restamentos ou vegetação natural degradada, principalmente, os setores com média a alta preservando-se assim, a mata nativa. fragilidade, que podem comportar atividades Nas Planícies Alúvio-Coluvionares, com recreativas e educacionais, realizadas de forma declividades, em geral, inferiores a 12%, predo- extensiva, minam setores com média a alta fragilidade à intervenções humanas. Isto deve-se aos solos hidro- mórficos com baixa capacidade de suporte, ao lençol 6 RECOMENDAÇÕES DE USO freático elevado, a inundações ocasionais, ao trans- porte torrencial de detritos e ao assoreamento. Valendo-se dos levantamentos, análises e Podem comportar usos recreativos e educacionais e interpretações anteriormente realizados, são integrar a zona de uso extensivo, a partir de apresentadas as recomendações destinadas a trabalhos detalhados de campo. utilização e a preservação dos recursos naturais do Parque: proteção superficial dos solos expostos e con- 5 CONCLUSÕES servação dos taludes dos caminhos, evitando-se o desenvolvimento de processos erosivos e os O Parque Estadual dos Mananciais de movimentos de massa; Campos do Jordão apresenta um relevo de "Morros evitar a concentração de escoamento super- com Serras Restritas", que é subdividido em três ficial de águas pluviais ao longo de linhas de compartimentos: Altos das Escarpas, Morros e Depó- drenagem como, por exemplo, em trilhas e sitos Associados e Planícies Alúvio-Coluvionares caminhos;

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numa eventual exploração dos plantios de BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Projeto Pinus, evitar o corte raso e conseqüente expo- RADAMBRASIL. 1983. Folhas SF 23/24, Rio sição do solo à erosão pluvial, assim como, a de Janeiro/Vitoria. , Ministério das sobrecarga dos solos pela utilização de máquinas Minas e Energia. 780p. (Levantamento de e veículos pesados; Recursos Naturais, 32). recuperar as áreas degradadas e comprometidas CARNEIRO, C. D. R. et aI. 1981. Mapa pela erosão, incêndios, desmatamento e depó- geomorfológico do Estado de São Paulo. São sitos de lixo e entulho; Paulo, IPT. Escala 1:1.000.000. v. 11. nos meses de inverno, com a redução dos (Publicação, 1183) (Monografias,5). índices pluviométricos e ocorrência de geadas, CAVALCANTE, 1. C. et al. 1979. Projeto deve-se intensificar as medidas relativas ao Sapucai, Estados de São Paulo, Rio de Janeiro controle e prevenção de incêndios florestais; e : relatório final de geologia. controlar o número de visitantes e as atividades Brasília, DNPM/CPRN. 229p. (DNPM Série por eles desenvolvidas, principalmente no setor Geologia, 5, Seção Geologia Básica) oeste do Parque; CONTI, 1. B. 1972. Circulação secundária e fiscalizar e controlar as atividades desenvol- efeito orográfrico na gênese regional das vidas no entorno do Parque, com base no chuvas: o exemplo do ENE Paulista. São Decreto Federal nº 99.274, 06 de julho de 1990, Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Título 11,Capítulo I - Das Estações Ecológicas, Humanas, Universidade .de São Paulo. 80p. Artigo 27 que estabelece que "Nas áreas (Tese de Doutorado) circundantes das Unidades de Conservação DE BIASI, M. 1992. A carta clinográfica: os num raio de dez quilômetros, qualquer ativi- métodos de representação e sua confecção. dade que possa afetar a biota ficará subordinada Revista do Departamento de Geografia, São às normas editadas pelo CONAMA"; Paulo, 6:45-60. ampliar a área do Parque, no setor leste, de DOMINGUES, E. N.; SILVA, D. A da & modo a englobar toda a Bacia do Ribeirão do VELLLARDI, A. C. V. - 1987. Correlações Salto, coincidindo o novo limite com a estrada topogeomorfológicas, geológicas e de declivi- que dá acesso ao Pico do ltapeva, e dades do Parque Estadual de Carlos Botelho-SP. realizar estudos de fauna e hidrologia e BoI. Técn. IF, São Paulo, 41(2):377-420.

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