S BELH S N TIV S “SEM- FERRÃO” (HYMENOPTER , NTHOPHIL , MELIPONINI) E SUA IMPORTÂNCIA PARA A CONSERVAÇÃO AMBIENTAL
Favízia Freitas de Oliveira Bárbara Tadzia Trautman Richers
introduÇÃo classi cação adotada, são reconhecidos como gêneros, subgêneros, ou oram Os Meliponíneos sinonimizados entre si por di erentes autores (CAMARGO e PEDRO, 1992, 2007, 2013; CAMARGO e MOURE, 1994; CAMARGO Com uma biodiversidade que já ultrapassou e ROUBIK, 2005; MICHENER, 1944, 1990, a marca de 20.000 espécies conhecidas pela 2000, 2007; GONZALEZ e GRISWOLD, ciência, as abelhas estão entre os grupos de 2011; MOURE, 1946, 1951, 1961; SCHWARZ, polinizadores considerados mais diversos e 1932, 1948; WILLE, 1979; SAKAGAMI, 1982; importantes do mundo, e, apesar de seu re- SILVEIRA et al., 2002; MELO e GONÇALVES, levante papel na promoção do uxo gênico 2005; OLIVEIRA et al., 2013; RASMUSSEN e das diversas espécies de plantas nativas ou cultivadas no planeta, muito sobre sua bio- CAMERON, 2007, 2010). As espécies variam diversidade e comportamento ainda precisa bastante em tamanho, desde 2 mm de ser explorado. comprimento, aproximadamente, como em Leurotrigona pusilla (MOURE et al., 1988), podendo atingir até 15 mm, em Melipona Considerando-se a biodiversidade de abe- Illiger, 1806 (CAMARGO e PEDRO, 2008; lhas de orma geral, um grupo que merece MICHENER, 2007), como por exemplo M. ser destacado é a tribo Meliponini, cujos uliginosa Lepeletier, 1836. componentes são conhecidos popularmen- te como abelhas indígenas “sem errão”, por possuírem o errão atro ado (vestigial), Embora a distribuição geográ ca de Me- perdendo a capacidade de erroar. Trata-se liponini seja basicamente pantropical, a de um grupo com distribuição geográ ca maior diversidade de ormas ocorre nos tró- pantropical bastante antigo, representan- picos das regiões Neotropicais e Indo-Ma- do um recurso socioeconômico importante laia, com alguns táxons restritos às regiões dado o seu valor para a conservação am- subtropicais do Hemis ério Sul (CAMARGO, biental, e merecendo, por isso, atenção es- 1989; CAMARGO e PEDRO, 2007, 2013). pecial (CAMARGO, 2008, 2013). Relacionado à auna da Região Neotropical, Com uma diversidade em torno de 500 que é reconhecida como a mais biodiversa, espécies distribuídas pelas regiões tropicais oram computadas 417 espécies de e subtropicais do mundo, a maioria delas Meliponini (distribuídas em 33 gêneros (80%) restritas ao Hemis ério Ocidental exclusivos) até a última atualização do (SAKAGAMI, 1982; ROUBIK, 1989; catálogo de abelhas Neotropicais “Moure” MICHENER 2007; CAMARGO e PEDRO, (CAMARGO e PEDRO, 2007, 2013; PEDRO, 2007; ASCHER e PICKERING, 2011), a tribo 2014). No caso da auna brasileira, um estudo Meliponini abrange cerca de 60 táxons recente contabilizou o total de 244 espécies supraespecí cos atuais (não incluindo as válidas de Meliponini para o Brasil (116 delas espécies ósseis), os quais, a depender da registradas no estado do Amazonas), com cerca de 90 ormas não descritas (prováveis mente, de orma medicinal, no combate a espécies novas para a ciência), distribuídas di erentes en ermidades, como as doenças em 29 gêneros (PEDRO, 2014), dois deles pulmonares, in ecções dos olhos e para a com ocorrência registrada exclusivamente alta de apetite (SOUZA et al.et al., 2004), no Brasil até o momento - Friesella Moure, assim como em rituais religiosos. Além do 1946 e Trichotrigona Camargo e Moure, 1983. mel, a cera e as larvas das abelhas também são aproveitadas pelos ribeirinhos; a pri- Embora cerca de 88% dos táxons dos Me- meira para a utilização em cartuchos de es- liponini Neotropicais ocorram no Brasil, a pingardas de caça, e a segunda no preparo diversidade de espécies de abelhas, no ge- de iscas para a pesca (OLIVEIRA et al.et al., ral, ainda é extremamente subamostrada, 2013). No entanto, a extração tradicional do pois os estudos e levantamentos tendem mel e de seus derivados pelos “meleiros” a se concentrar em algumas regiões (Sul e pode ser predatória, se não tomados os de- Sudeste, principalmente), deixando impor- vidos cuidados com a manutenção da col- tantes lacunas amostrais, especialmente na meia explorada. Região Norte e no Centro-Oeste do país, ao longo dos biomas de Floresta Amazônica e Quando as colmeias são abertas sem cuida- no Pantanal. dos apropriados, a colônia acaba morrendo porque os avos de cria são destruídos, a cera Os meliponíneos ormam um grupo de abe- é retirada e os potes são espremidos com as lhas eussociais, sem errão, que constroem mãos para a extração do mel. As chances de colônias perenes, com divisão de castas e uma colmeia explorada dessa orma sobre- trabalho, com sobreposição de gerações. viver são praticamente nulas, pois além da Essas características especiais avorecem o destruição da estrutura interna do ninho, manejo para a produção de mel, de própo- ainda pode ocorrer o ataque de ormigas e lis (ainda em potencial), do geoprópolis, da orídeos que a dizimam por completo (OLI- cera e do pólen (ou saburá) - atividade essa VEIRA et al., 2013). Mesmo as colmeias que conhecida como meliponicultura -, bem não chegam a ser totalmente destruídas como para a multiplicação das colônias, vi- cam expostas e suscetíveis ao ataque de sando o aumento da produção dos deriva- predadores devido à abertura no uste da dos anteriormente citados, a reintrodução árvore. (BRILHANTE e MITOSO, 2002). em áreas degradadas ou ainda a polinização dirigida de espécies vegetais de interesse Da mesma orma, como mencionado por econômico. Estas práticas têm contribuído Oliveira et al. (2013), a extração de mel sem para ampliar o conhecimento sobre a biodi- os cuidados necessários resulta em um pro- versidade de abelhas, sobre os hábitos das duto de baixa qualidade, devido ao contato abelhas sem errão, e, consequentemente, com os resíduos da colmeia, pela conta- para a sua conservação. minação por coli ormes ecais e por outros microrganismos que causam a ermentação De uma orma mais geral, as principais indevida, di cultando a armazenagem e espécies de Meliponíneos manejadas comprometendo o valor nal da produção. na região Neotropical pertencem aos seguintes gêneros: Melipona Illiger, 1806; A meliponicultura ganhou considerável Cephalotrigona Schwarz, 1940; Scaptotrigona evidência nos últimos 20 anos, em todas as Moure, 1942; Tetragona Lepeletier & regiões do Brasil, com o crescente aumen- Serville, 1828; Cortopassi-Laurino et al.et al. to de trabalhos cientí cos sobre a prática (2006); Tetragonisca Moure, 1946, e Plebeia (CORTOPASSI-LAURINO e MACEDO, 1998; Schwarz, 1938. KERR et al., 2001; VENTURIERI, 2008; LO- PES et al., 2005). A atividade propõe a extra- ção “ecologicamente correta” de colmeias da mata e, principalmente, a recuperação Meliponíneos Versus Humanos de enxames remanescentes de troncos ca- ídos ou árvores mortas, garantindo, assim, A relação entre os povos e as abelhas tem um número su ciente de colônias para dar sido bastante estreita ao longo das gera- continuidade à criação, priorizando tam- ções, e tal ato se veri ca entre diversas bém a multiplicação sistemática das colô- civilizações das Américas (AYALA, 1996; nias manejadas (visando a extração de mel, NOGUEIRA-NETO, 1997). É sabido também própolis, pólen, etc.). Ou seja, com a meli- que, há séculos, as populações ribeirinhas ponicultura, propõe-se a trans ormação de amazônicas têm por hábito procurar por uma atividade extrativa pouco sustentável colmeias de Meliponini nas matas, para o em uma criação planejada de abelhas nati- consumo do mel, utilizando-o, principal- vas sem errão. No âmbito das Reservas de Desenvolvimen- As atividades de agricultura vêm sendo pro- to Sustentável (RDSs), a criação de abelhas movidas pelo Instituto de Desenvolvimento estimula a implementação e o manejo de Sustentável Mamirauá (IDSM) por meio de sistemas agro orestais diversi cados, bus- programas de extensão desde o ano de 1994, cando garantir um pasto apícola variado e quando oi criado o Núcleo de Agricultura, orido ao longo de todo o ano. Ao mesmo que, em 2001, passa a se chamar Progra- tempo, a localização do meliponário, dentro ma de Agricultura Familiar (PAF), sendo, ou próximo aos sistemas agro orestais, a- no nal de 2011, renomeado para Progra- vorece a polinização e, com isso, a produção ma de Manejo de Agroecossistemas (PMA). rutí era das espécies de interesse (OLIVEI- Ao longo desses quase 20 anos, pesquisas RA et al., 2013). vêm sendo desenvolvidas sobre o tema com o m de gerar in ormações sobre os siste- Levando-se em conta tais atores, a capa- mas agrícolas tradicionais da Amazônia e citação das populações ribeirinhas em me- subsidiar a assessoria técnica, voltada para liponicultura constitui uma estratégia im- aumentar a sustentabilidade e a produtivi- portante com intuito de reduzir a extração dade dos sistemas agrícolas, incluindo as predatória e, consequentemente, já con- atividades realizadas na RDSA. tribui para a multiplicação de colmeias na região, visto que a coleta do mel enquanto O Programa de Manejo dos Agroecossiste- atividade extrativa não garante a provi- mas (PMA), baseado em princípios da agro- são periódica das amílias coletoras, nem a ecologia, estimula o manejo participativo de conservação das populações de abelhas ex- recursos naturais próprios dos agroecossis- ploradas, e nem tampouco das plantas e de temas, en atizando, principalmente, o ma- animais que dependem dos serviços de po- nejo sustentável do solo e da agrobiodiver- linização da espécie. sidade (que envolve a vida presente no solo, as espécies cultivadas, os polinizadores, dispersores e espécies de “serviço”, etc.), buscando também promover a organização dos produtores para a comercialização e a A Experiência da Reserva de conscientização ambiental e cidadã, ativi- Desenvolvimento Sustentável Amanã (RDSA) dades estas que contribuem para os desíg- nios de conservação. Criada pelo governo do Estado do Amazo- nas, em 1998, através do decreto 19.021/98, Nesse contexto, o programa de manejo e a a Reserva de Desenvolvimento Sustentável criação de abelhas nativas “sem errão” são Amanã (RDSA) se sobressai nessa categoria, parte da estratégia do PMA para e etivar a como uma das mais importantes do esta- diversi cação produtiva, promovendo o do e do Brasil. Localizada entre o rio Negro manejo sustentável de recursos da agrobio- e o baixo curso do rio Japurá, per azendo diversidade, gerando renda aos produtores 2.313.000 ha, abrange terras pertencentes e assegurando a conservação da biodiver- aos municípios de Maraã, Coari, Barcelos sidade (colaborando para a manutenção do e Codajás, sendo uma das maiores áreas processo de polinização das orestas nati- protegidas da América do Sul, hospedando vas) ao reduzir a pressão sobre as popula- vasta biodiversidade, abrangendo orestas ções de abelhas das matas, as quais, sem o de várzea (área periodicamente alagada por manejo, têm suas colmeias destruídas para águas brancas), de igapó (área periodica- a retirada de mel, larvas e cera. mente alagada por águas pretas) e de terra rme, ou paleovárzea, já que são eventual- A coleta de mel em ninhos, comumente en- mente alagáveis, con orme a intensidade da contrados em roçados, igapós e rotas de caça, cheia. Uma descrição detalhada da Reserva é é uma atividade tradicional que vem sendo ornecida por Oliveira et al. (2013), incluin- pratica pelas populações ribeirinhas da re- do sua to sionomia e aspectos biológicos. gião do médio Solimões ao longo do tem- po (OLIVEIRA et al., 2013). Embora algumas Os moradores tradicionais que vivem na tentativas pontuais de incentivo ao manejo região dessa UC são estimulados a perma- de abelhas nativas tenham sido desenvolvi- necerem no território protegido e a cola- das anteriormente na região, apenas a partir borarem ativamente na conservação da de 2009 oi iniciado um trabalho sistemá- biodiversidade local. Assim, as populações tico com a meliponicultura entre os mora- humanas que habitam os domínios da RDSA dores das RDSA, por meio da promoção de recebem incentivo do IDSM para desenvol- capacitações multimodulares e da assessoria ver suas atividades produtivas tradicionais, técnica contínua (OLIVEIRA et al., 2013). Es- adequando-se aos critérios e práticas sus- tima-se que na região da RDSA cada produ- tentáveis de uso dos recursos naturais. tor - que hoje é um meliponicultor - retira em média, pelo menos, dois ninhos por ano “sem errão”, do PMA-IDSM, cujos resul- do ambiente natural, sendo que atualmente tados mais relevantes são nele compilados, ele mesmo recupera os enxames ameaçados, apresentados e discutidos. multiplicando suas colônias no próprio me- liponário (OLIVEIRA et al., 2013).
Os cursos de capacitação, organizados com Metodologia conteúdos teórico-práticos, constam de uma programação extensa que aborda des- Para continuação do treinamento de melipo- de o processo de captura e trans erências de nicultores e para a elaboração do “Guia Ilus- colmeias para as caixas até a construção pa- trado das Abelhas ‘Sem-Ferrão’ da Reserva dronizada destas caixas propriamente di- Amanã”, oi realizado um inventário dos Me- tas; desde o manejo de pragas, com a mul- liponini na área da Reserva, com oco em seu tiplicação de colmeias, a extração de mel, potencial meliponícola, baseado em amostras até o potencial de melíponas na Amazônia, da espécie coletadas esporadicamente. a organização social das abelhas e a impor- tância das substâncias derivadas das col- meias - pólen, néctar, mel e própolis - para Os indivíduos utilizados nas atividades do o homem e para as abelhas, entre outros. programa de manejo e de criação de abelhas Após a capacitação, os meliponicultores re- nativas “sem errão” / PMA e no inventário cebem acompanhamento técnico de orma oram capturados por di erentes métodos contínua, sendo estimulados a experimen- amostrais, compreendendo a coleta dire- tar adequações para o manejo das abelhas ta dos insetos em visita a ores, pousados con orme as espécies criadas e as condições à or da água, em pleno voo, ou ainda, em locais e climáticas encontradas. galhos e dentro de ninhos, etc. Foram uti- lizadas redes entomológicas (puçás) para captura dos insetos no interior dos cria- Como não existem dúvidas de que as abe- tórios arti ciais e nos troncos derrubados lhas são peças-chave para promover o por moradores, visando a trans erência do processo de uso sustentável dos recursos enxame (manejo eito por meliponicultores naturais pelos povos das orestas, um dos treinados pelo programa do IDSM). Empre- pontos undamentais nesse sentido, que gou-se também armadilhas de captura co- permite consolidar o programa de capaci- loridas (ARCAs ou pantraps à base de água e tação das comunidades da RDSA, reside nas ações de transmissão de conhecimento so- detergente, em arranjos de cores amarela, bre a diversidade local de abelhas. Conhecer laranja, branca e azul), colocadas de orma as espécies de abelhas nativas e entender aleatória na super ície do solo, em áreas basicamente a sua taxonomia constitui uma mais abertas ou nas clareiras da mata; ar- das metodologias mais importantes para madilhas malayse adaptadas, além das co- lograr o sucesso de projetos de desenvolvi- letas diretas nos ninhos silvestres, identi - mento sustentável que incluem a melipo- cados e geore erenciados. nicultura como estratégia de atuação, vis- to que muitos aspectos do comportamento Os insetos oram coletados em comunida- das espécies estão intimamente ligados à des da RDSA pertencentes a di erentes se- sua identidade taxonômica, o que permite tores políticos-geográ cos, situados em o domínio sobre os di erentes requisitos de ecossistemas da várzea, igapó e terra rme, manejo exigidos para cada uma das espécies tanto em ambientes antropizados (roçados, em particular. policultivos de rutí eras, nos perímetros das comunidades visitadas, ao redor de uma Nesse contexto, e tentando minimizar as das bases de campo do Instituto Mamirauá) lacunas existentes no conhecimento dos quanto em ambientes naturais. Meliponíneos, o IDSM publicou, em 2013, um livro intitulado “Guia Ilustrado das Para o levantamento dos ninhos de melipo- Abelhas ‘Sem-Ferrão’ das Reservas Amanã níneos oram considerados os locais passí- e Mamirauá, Amazonas, Brasil (Hymenop- veis de nidi cação, como árvores vivas ou tera, Apidae, Meliponini)”, coautoria da mortas, troncos caídos, cavidades existen- equipe de pesquisadores e colaboradores tes no solo, ormigueiros, termiteiros e as do instituto, composta por Favízia Frei- construções humanas. A busca pelos ninhos tas de Oliveira, Bárbara Tadzia Trautman oi realizada nas matas e em meliponários Richers, Jacson Rodrigues da Silva, Rinéias residenciais (de meliponicultores treinados Cunha Farias e Tércio Alves de Lima Matos. O pelo programa do IDSM), porém, ocorren- documento é um diagnóstico preliminar so- do maior es orço amostral nos ambientes bre as ações já implementadas pelo progra- antrópicos, visando o conhecimento das ma de manejo e criação de abelhas nativas espécies mais diretamente relacionadas às amílias ribeirinhas, abrangendo indivíduos réplicas doadas às coleções de invertebrados visitantes dos orais de ruteiras e de outras do INPA, BIOSIS (UFBA) e do MHNBA plantas por elas cultivadas. (MZUFBA), como orma de preservação dos conhecimentos adquiridos para a realização Uma vez localizadas, as colônias naturais de pesquisas uturas. oram georre erenciadas, e, no caso das caixas arti ciais, os dados oram registrados por unidade produtora (constando a identi cação do meliponicultor, o número Resultados e Discussões das caixas, o local do ninho, a caracterização de colônia mãe ou lha, etc.). Com o auxílio Através das atividades realizadas para a de redes entomológicas, alguns exemplares elaboração do “Guia Ilustrado das Abelhas de cada uma das espécies encontradas ‘Sem-Ferrão’ das Reservas Amanã e Ma- oram coletados na entrada das colônias mirauá”, oram inventariadas 34 espécies para subsequente identi cação. Sempre de meliponíneos nas áreas das duas Reser- que possível, quando o substrato de vas, RDSA e RDSM. Entre essas espécies, nidi cação constituía um vegetal vivo, oito correspondem a Melipona, gênero que oram amostradas peças érteis (compostas reúne as únicas espécies criadas por meli- de olhas, rutos ou ramos oridos). Os ponicultores da RDSA e da RDSM (seis no ramos oram prensados no campo, num total). Isso signi ca que somente 17,7% das total de três exsicatas para cada espécie, espécies amostradas são de ato manejadas e encaminhados ao herbário do IDSM. na meliponicultura local, devido, principal- Na impossibilidade de coleta, oram mente, à sua maior capacidade de produção otogra ados para posterior identi cação. de mel (Quadro 2). Coletou-se ainda amostras de plantas em oração, especialmente anteras, e de pólen, Observa-se ainda que 62,5% das espécies extraídos dos ninhos amostrados e do corpo de Melipona criadas pertencem ao subgê- das abelhas, com o intuito de con eccionar nero Melipona (Michmelia) Moure, 1975, uma palinoteca de re erência para estudos representado por abelhas maiores, mais posteriores e identi cações polínicas. robustas, que habitam ninhos mais popu- losos, o que demonstra a pre erência por O material coletado oi montado em espécies com essas características e que al netes entomológicos, de acordo com apresentam maior potencial meliponícola a metodologia padrão de preparação (Figura 14 e Quadro 2). de insetos para estudos cientí cos, e encaminhado ao Laboratório de Bionomia, Esse primeiro diagnóstico revela, portanto, Biogeogra a e Sistemática de Insetos o baixo aproveitamento das espécies locais, (BIOSIS) da Universidade Federal da Bahia não apenas para obtenção dos “produtos das (UFBA), onde empreendeu-se o estudo abelhas”, como também para o incremento mor ológico dos espécimes coletados, com da polinização dos pomares cultivados por auxílio de microscópio estereoscópico Leica moradores das comunidades locais. Esses M165C, acoplado a uma câmera Digital dados são signi cativos, pois muitas rutei- Leica DFC295, e a análise do material, por ras importantes para as populações da área meio do so tware Leica Application Suite V4.1 são polinizadas exclusivamente (a exemplo Interactive Measurements, Montage. Assim, do cupuaçu, Theobroma grandi orum (Willd. exemplares de cada espécie oram estudados ex Spreng.) Schum, Sterculiaceae (GRIBEL com base nas descrições originais e em et al., 2008) ou em grande parte (a exemplo diversos estudos taxonômicos de di erentes do açaí, Euterpe precatoria Mart., Arecaceae) autores, a depender de cada espécie por abelhas menores de di erentes gêneros. em particular, a exemplo de Camargo, Cockerell, Ducke, Moure e Schwarz (e seus colaboradores), entre outros (c . re erências bibliográ cas, ao nal), tendo sido os insetos comparados também com representantes da mesma espécie catalogada nas Coleções Entomológicas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), BIOSIS (UFBA) e do Museu de História Natural da UFBA (MHNBA-MZUFBA). Exemplares de cada espécie coletada oram otogra ados para compor o Guia (OLIVEIRA et al., 2013) e todo o material oi depositado na Coleção Entomológica do IDSM, sendo as Figura 14 - Grá co de representatividade dos subgêneros de Melipona Illiger, 1806, amostrados nas RDS’s Amanã e Mamirauá, Amazonas, Brasil.
n=5 (62,5%) s 5
n=2 (25%) n=1 (12,5%)
por subgênero por 0 Série 1 Número de de espécie Número Melipona Melipona Melipona (Eomelipona) (Melikerria) (Michmelia) Moure, 1992 Moure, 1992 Moure, 1975
Subgêneros de Melipona Illiger, 1806
Fonte: Adaptado de Oliveira et al./IDSM, 2013. Nota: Análise baseada em dados levantados pelo Programa de Manejo dos Agroecossistemas (PMA), apresentados no “Guia Ilustrado das Abelhas ‘Sem-Ferrão’ das Reservas Amanã e Mamirauá, Amazonas, Brasil (Hymenoptera, Apidae, Meliponini)”, de Oliveira et al., 2013.
Entre os outros gêneros de meliponídeos 2); Plebeia Schwarz, 1938 (n= 1); Ptilotrigona amostrados, que apresentam abelhas Moure, 1951 (n= 1); Scaura Schwarz, 1938 menores e de menor potencial para produção (n= 2); Tetragona Lepeletier & Serville, 1828 de mel oram computadas 26 espécies (n= 2); Trigona Jurine, 1807 (n= 8); Trigonisca distribuídas em 14 gêneros, todas coletadas Moure, 1950 (n= 2) (Quadro 2; Figura 15). em ninhos naturais na mata, quer em troncos retirados das árvores pelos meliponicultores, As espécies Frieseomelitta trichocerata Moure, em moirões de cercas, esteios de casas, quer visitando ores ou em voo: Aparatrigona 1988 e Cephalotrigona capitata Smith, 1854, são Moure, 1951 (n=1); Cephalotrigona Schwarz, as únicas, entre abelhas coletadas em ambas 1940 (n=2); Dolichotrigona Moure, 1950 as RDSs, que oram observadas somente em (n=1); Frieseomelitta Ihering, 1912 (n=1); criatórios de colmeias racionais, pertencentes Lestrimelitta Friese, 1903 (n=1); Nannotrigona a um único meliponicultor, morador, no Cockerell, 1922 (n=1); Paratrigona Schwarz, entanto, de localidade situada ora da área das 1938 (n= 1); Partamona Schwarz, 1939 (n= Reservas, na Missão do Lago Te é.
Quadro 2 - Espécies coletadas para elaboração do “Guia Ilustrado das Abelhas ‘Sem-Ferrão’ das Reservas Amanã e Mamirauá, Amazonas, Brasil (Hymenoptera, Apidae, Meliponini)”.
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