Impresso Especial

1777-2003-DR/RS JORNAL DA UNIVERSIDADE UFRGS www.jornal.ufrgs.br CORREIOS

Porto Alegre | RS | Brasil Ano IX | Número 98 Maio de 2007 Pobreza e degradação ambiental andam juntas

Pesquisa da UFRGS, desen- tradicional e da alta emissão Estudo volvida em parceria com a de dióxido de carbono. Se- revela que Universidade de Cambridge, gundo o coordenador do comprova, através de equa- trabalho, o professor da Fa- indicadores ção inédita, a existência de culdade de Ciências Econô- relação direta entre variáveis micas Flávio Comim, o es- internacionais de pobreza e meio ambien- tudo foi encomendado pelo não cruzavam te. No caso das Américas, Programa das Nações Uni- por exemplo, o estudo reve- das para o Meio Ambiente essas duas la que a subnutrição resulta (Pnuma), e teve como foco diretamente do risco de ero- principal oito países africa- variáveis são, do consumo de energia nos. Página central

vestibular arqueologia UFRGS divulga as mudanças para 2008

A Universidade anunciou modificações na ordem das provas e nos locais de aplicação no interior do estado.

Medidas pretendem FLÁVIO DUTRA facilitar o acesso dos candidatos. Página 7

Os 25 anos da guerra que marcou fim da ditadura militar argentina Relevo Internacional Em abril de invasão tenha tido a adesão foi uma guerra de mentiras, espacial, 1982, quando os militares ar- imediata de boa parte da po- caracterizado pelo forte con- de Hélio gentinos deflagraram a inva- pulação civil, assim que ficou trole das informações. Canali, Oiticica são das ilhas Malvinas, a dita- claro o caráter aventuresco da um dos primeiros repórteres dura estava chegando ao fim. investida militar, esse apoio estrangeiros a chegar a Buenos Na opinião de Cesar Augusto se dissolveu completamente. Aires, disse que, tanto os mi- Barcellos Guazelli, professor Para o pesquisador, a derrota litares argentinos quanto o do Programa de Pós-gradua- dos militares teve conseqüên- governo britânico, fizeram de ção em História da UFRGS, o cias na América Latina, pois tudo para cercear a atuação da episódio precisa ser entendi- representou o fracasso de um imprensa. “Sem telefone ce- do a partir da crise interna de projeto para toda a região. De lular, fax nem Internet, aque- base econômica e política vi- acordo com o professor do la foi uma guerra no fim do vida por aquele país. O histo- curso de Jornalismo da Fabi- mundo”, concluiu o ex-re- riador ressalta que, embora a co, Geraldo Canali, o conflito pórter. Página 10

música artes visuais

DIVULGAÇÃO/NUPARQ As palavras das canções é o Artistas nacionais cada vez mais Resgatando a história gaúcha tema da série Unimúsica longe dos olhos dos brasileiros

Ciência Durante 51 dias, entre os meses de janeiro e fevereiro Projeto cultural da Pró-reitoria de Extensão da Venda da principal coleção brasileira de arte deste ano, um grupo do Núcleo de Pesquisa Arqueológica da UFRGS recomeça em junho, explorando a afinada construtiva para museu estrangeiro é sintoma UFRGS (NuPArq), fez escavações no município de Pinhal da Serra, relação entre letra e música na MPB. Página 12 da privatização da cultura. Página 13 no Norte do estado. O trabalho, que desvendou o passado gaúcho, resultará na criação de um parque arqueológico. Página 11 2 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | MAIO DE 2007 O PINIÃO

Cartas Memória da UFRGS ACERVO MUSEU DA UFRGS

Fiquei superfeliz pelo Destaque Andifes de Jornalismo. Sempre tive UNIVERSIDADE FEDERAL simpatia pelo JU, e vejo sua DO RIO GRANDE DO SUL importância como o veículo que nos Av. Paulo Gama, 110 apresenta questões das mais Bairro Farroupilha, Porto Alegre – RS variadas áreas, nos mostra CEP 90046-900 posicionamentos diversos, nos Fone: (51) 3308-7000 aproxima de alguma forma de www.ufrgs.br nossos colegas, além de nos informar sobre a UFRGS, tão grande Reitor e impossível de ser apreendida. Meu sentimento mudou, pois hoje José Carlos Ferraz Hennemann “adoro o jornal” e sei que isto é Vice-reitor resultado do trabalho de toda a Pedro Cezar Dutra Fonseca equipe. Chefe de Gabinete João Roberto Braga de Mello Denise Souza Secretária de Comunicação Social Funcionária do Programa de Pós- Sandra de Deus graduação em Direito

Como leitora habitual do Jornal da JORNAL DA UNIVERSIDADE Universidade só tenho elogios a Publicação da Secretaria fazer. São assuntos de interesse de Comunicação Social da UFRGS amplo, com informações confiáveis, Fone/fax: (51) 3308-3368 escritas de forma objetiva e enxuta, www.jornal.ufrgs.br sem “encheção de lingüiça” nem pedantismos científicos. Só teria Conselho Editorial uma observação: o Perfil poderia Antônio Sanseverino, Artur Lopes, apresentar mais depoimentos de 1923 Elyseu Paglioli (no centro da foto, exibindo material aos estudantes), durante aula de anatomia. Dirce Maria Antunes Suertegaray, funcionários, comumente são O então acadêmico do sexto ano de Medicina, posteriormente, viria a ser reitor da UFRGS, de 1952 a 1964. Edson Luiz Lindner, Fernando professores os citados. Cotanda, Helen Beatriz Frota Parabéns pelo bom trabalho. Rozados, Márcia Benetti Machado, Maria Henriqueta Luce Kruse Simone Maidana Farmacêutica do Hospital de Espaço da Reitoria REDAÇÃO Clínicas Veterinárias

Editora-chefe Ânia Chala A matéria sobre os monumentos de Secretária de redação Porto Alegre, publicada na edição Sandra Salgado de março do Jornal, causou reper- Homenagem aos premiados Repórteres desta edição cussão e discussão no Plenário da Ânia Chala, Jacira Cabral da Silveira Câmara de Vereadores e gerou mais Bolsista interesse sobre o assunto. Meus Neste evento foram destacadas Juliano Tatsch (jornalismo) parabéns a todos! A solenidade de reconheci- ções. Essas, por sua vez, constitu- mento aos premiados do ano de 69 premiações, envolvendo 108 em um reconhecimento à Univer- Projeto gráfico e diagramação Juliano Bruni Pereira José Francisco Alves 2006, ocorrida no Salão de Atos pessoas de nossa comunidade, sidade Federal do Rio Grande do Fotografia Professor do Atelier Livre da no último dia 11 de abril, cons- que durante o ano tiveram ativi- Sul, cuja projeção no cenário aca- Cadinho Andrade e Flávio Dutra Prefeitura e doutorando em Artes Revisão Visuais na UFRGS tituiu-se em um momento de dades premiadas nas mais diver- dêmico – nacional e internacio- congratulação com forte espíri- sas instituições nacionais e es- nal – é resultado do trabalho que Ânia Chala e Jacira Cabral da Silveira Colaboraram nesta edição to acadêmico. Reforçou em to- trangeiras e em diferentes áreas há mais de um século vem sendo Caroline da Silva e Gostaria de cumprimentar a equipe dos o entendimento de que a do conhecimento. realizado por nossa comunidade, Fernando Favaretto do JU pelo prêmio recebido. Circulação Parabéns! UFRGS, por sua grandeza, tem O evento, que já está em sua se- projetando os destaques que na Arthur Bloise Heinrich Hasenack proporcionado a seus integran- gunda edição, é uma ação previs- oportunidade homenageamos. Fotolitos e impressão Professor do Centro de Ecologia tes condições para que desenvol- ta no Plano de Gestão que home- Gráfica da UFRGS vam suas capacidades e, por isto, nageia estudantes e professores, Tiragem e-mail: [email protected] receberam reconhecimento for- compartilhando com a comuni- José Carlos Ferraz Hennemann 12 mil exemplares mal da Universidade. dade essas importantes premia- Reitor

Artigo

Trânsito: direito de quem? FLÁVIO DUTRA

Quem circula diariamente por Porto Alegre, rizados, estabelecendo um 2004 foi 66,2 bilhões, enquanto que pelos mais variados motivos, muitas vezes não tipo de organização societá- para o transporte público foi 14 bilhões percebe o quanto é afetado pelo trânsito. Um dos ria que prima pelo esvazia- (Ministério das Cidades, 2004). Ou seja, principais problemas é a saturação de veículos mento do conteúdo huma- um Estado com poucos recursos, com nas ruas, característica dos grandes centros ur- no, recuando prédios, estrei- o desafio de minimizar a desigualdade banos. O elevado número de veículos interfere tando calçadas, reduzindo social do nosso País, a pobreza e os al- de várias maneiras no deslocamento das pesso- canteiros em nome de uma tos índices de exclusão, opta por inves- as, restringindo principalmente o direito de ir e fluidez que nunca será tir quatro vezes mais num meio de vir da maioria da população que, ironicamente, alcançada. Por um lado, as transporte que beneficia uma parcela ocupa o menor espaço de circulação: os pedes- montadoras robotizadas es- mínima da população. tres e usuários do transporte coletivo. tão com seus pátios lotados Essa dimensão da desigualdade e da Esta saturação ocorre porque o automóvel, dessas máquinas dos sonhos exclusão social no uso do espaço pú- um dos principais símbolos do modernismo, e, por outro, o poder públi- blico, da mesma forma que outras tam- ocupa o primeiro lugar no sonho de consumo co tenta, através de ações pu- bém relacionadas ao comportamento da maioria dos brasileiros. A importação deste nitivas e, às vezes, educativas, das pessoas, como a imprudência e o artefato técnico, no início do século XX, deter- controlar seu uso como for- não respeito às leis, urge ser mais bem minou e continua determinando um modelo ma de diminuir o alto índi- compreendida. Qual seu reflexo no de cidade que privilegia a acessibilidade de uma ce de vítimas do trânsito. Assim, cada passageiro de transporte individual comportamento das pessoas? Os acidentes, vis- minoria motorizada, dando maior mobilidade Uma primeira perspectiva crítica para pen- utiliza 10 vezes mais espaço para sua circulação tos como intrínsecos ao funcionamento do e segurança aos usuários de transporte indivi- sar a questão dos acidentes de trânsito pode es- do que o pedestre e passageiro do transporte co- trânsito, não seriam conseqüência, em parte, dual em detrimento dos que utilizam o trans- tar relacionada à conformação dessa ocupação letivo (Folha de S. Paulo, C3, 16/10/2003). desta ocupação desigual? O trânsito deve ser porte coletivo, estabelecendo, assim, uma ocu- desigual do espaço público. Ao interagirem, as Ao limitar esse espaço de circulação, o meio compreendido como um fenômeno social, que pação desigual. A influência do automóvel é pessoas entrariam em determinados conflitos urbano agiria como um mecanismo produtor só acontece porque as pessoas interagem ao tamanha que, hoje, devido ao grande número decorrentes do ambiente urbano construído, de desigualdade social, uma vez que limita a ocuparem o espaço público. Portanto, o com- de acidentes e aos problemas relacionados ao que determinariam um tipo de comportamen- mobilidade da maioria da população, contri- portamento no trânsito tem uma dimensão in- seu uso irracional, ocupa a centralidade das dis- to de risco, principalmente, por parte dos pe- buindo para que o pedestre, excluído da possi- dividual, sim, mas também tem uma dimen- cussões quando se fala em trânsito. destres. Hoje, o ambiente urbano da forma bilidade de se deslocar com segurança, trans- são social, que merece um olhar mais crítico Considerando que o espaço construído é um como está organizado cede em torno de 60% forme-se na principal vítima do trânsito. Da- para ser claramente compreendida. fenômeno social, o processo de mercantilização do espaço viário para ser utilizado por 20% da dos do Sistema de Informação de Transporte e das cidades corresponde aos parâmetros de uma população que possui automóvel. No outro ex- Trânsito Urbanos mostram, por exemplo, que o lógica de ocupação urbana que estende seus tremo, 70% – pedestres e usuários do transpor- custo de operação e manutenção da infra-estru- Clara Natalia Steigleder longos tapetes negros àqueles que estão moto- te coletivo – ocupam 25% das ruas e avenidas. tura para o transporte individual previsto para Estudante de Ciências Sociais da UFRGS JORNAL DA UNIVERSIDADE | MAIO DE 2007 | 3 E M P AUTA

 Redação e edição Sandra Salgado | Fone: 3308-3497 | Sugestões para esta página podem ser enviadas para [email protected]

pós-graduação extensão violência Curso de especialização Balas perdidas: é difícil em Relações do Trabalho identificar o culpado

 Estão abertas até 29 de junho as O poder mágico da música  Muitas têm sido as vítimas de inscrições para o curso de especia- balas perdidas, principalmente no lização em Relações de Trabalho, e em São Paulo. As cujo objetivo é oferecer uma FLÁVIO DUTRA notícias não param de chegar, formação de caráter Daniel Wolff mostrando pessoas inocentes que multidisciplinar sobre temas durante uma morrem ou ficam com graves contemporâneos das relações de sessão do Sarau seqüelas. Segundo o professor de trabalho. O curso é organizado pelo no Hospital direito penal e processo penal da Programa de Pós-graduação em UFRGS, Marco Aurélio Moreira de Economia (PPGE) e tem a coordena- Oliveira, quando a “guerra” é entre ção do professor Carlos Henrique quadrilhas é quase impossível achar Horn. Podem participar, profissio- o culpado, mas num confronto entre nais dos setores público e privado. polícia e bandidos é viável apontar o Informações no PPGE (Av. João responsável. Neste último caso, Pessoa, 52, sala 33-B), telefone apesar de ser possível, é bastante 3308-4050 ou pelo site difícil responsabilizar alguém, www.ppge.ufrgsbr/reltrabalho. dependendo principalmente da perícia de balística. Vítimas de balas perdidas oriundas de enfrentamento entre o poder policial e traficantes, por eleição exemplo, precisariam provar que o Professores da UFRGS projétil saiu de uma arma da polícia e, assim sendo, acionar o Estado ou na Academia Brasileira a União para obter ressarcimento de Ciências econômico. Também é preciso levar em conta se a ação policial foi  A Academia Brasileira de Ciênci- necessária ou não. as tem cinco novos integrantes A família da vítima deve constituir ligados à Universidade: os professo- um advogado particular ou procurar res Artur Oscar Lopes, da área de a Defensoria Pública, que está Ciências Matemáticas; Miriani igualmente habilitada a agir em Pastoriza, de Ciências Físicas; ações deste tipo. Porém, o professor Roberto Fernando de Souza, de Marco Aurélio lembra que não basta Ciências Químicas; Lauro Valentim colocar a polícia na rua contra os Stoll Nardi, de Ciências da Terra; e Projeto da UFRGS saúde universidade bandidos, pois é preciso identificar Ruben George Oliven, de Ciências Grupo de trabalho discute Coordenadoria de Gestão as verdadeiras causas do crime: Humanas. Ao longo de seus 91 complementa desemprego, gerando desesperança; plano de assistência Ambiental anos de existência, a Academia recreação do famílias desestruturadas; crianças liderou e influenciou na criação de   de rua sem assistência; presídios diversas instituições, viabilizando Hospital de Clínicas O grupo de trabalho que proporá Foi realizada em abril a cerimônia que servem de escola para o crime, publicações científicas e estabele- alternativas com relação à assistên- de criação da Coordenadoria de notadamente nos grandes presídios cendo convênios internacionais. cia à saúde dos servidores ativos e Gestão Ambiental, uma das metas dominados por perigosas quadrilhas; inativos da UFRGS, seus dependentes do Plano de Gestão do reitor José  Os pequenos pacientes da a volúpia do consumismo, gerando e pensionistas, está realizando uma Carlos Hennemann. Segundo o Oncologia Pediátrica do HCPA inveja dos frustrados; e o crescimen- tomada de informações junto a várias coordenador, professor Darci ficam em absoluto silêncio e os to desmesurado das cidades maio- operadoras de planos de saúde. O Campani, “a UFRGS se compromete olhos não saem das mãos e do res, com estratos sociais objetivo é fazer um cruzamento de com a melhoria contínua de seu violão do professor Daniel Wolff conflituosos. nutrição dados para apontar a melhor alternati- desempenho ambiental e a preven- do Instituto de Artes da Universi- va à Administração Central. A ção da poluição, adotando procedi- Alimentação escolar dade. As músicas que as tendência do grupo é optar por um mentos e práticas que visam é destaque crianças escutam fazem parte do contrato com operadora de plano de prevenir impactos ambientais projeto Sarau no HCPA e estão saúde mediante licitação, conforme negativos. Todo o trabalho deve estar comemoração inseridas nas atividades lúdico-  A partir do dia dez de maio o curso estabelece a Portaria 1.983 de 5 de em conformidade com os requisitos terapêuticas do Hospital. 100 anos de Artes de graduação em Nutrição da dezembro de 2006, do Ministério do legais, gerando alternativas que Segundo Daniel Wolff, este Faculdade de Medicina da UFRGS Planejamento, Orçamento e Gestão. propiciem a sustentabilidade da na UFRGS trabalho tem dois objetivos passou a integrar oficialmente o Este grupo é coordenado pela Pró- comunidade universitária e de toda a básicos: melhorar a qualidade da programa Centros Colaboradores em reitora de Recursos Humanos, sociedade”. Para que isto ocorra,  O Instituto de Artes da UFRGS estadia dos pacientes e Alimentação Escolar (CCAE), lançado Jurema Jeruza Loureiro Cunha, sendo afirma Campani, “é preciso o comemorou seus 99 anos de incrementar o senso de responsa- pelo MEC, em novembro do ano formado por Mara da Silveira Benfato, desenvolvimento de uma estratégia existência em abril, com o lançamen- bilidade social nos alunos do passado. Serão do Instituto de Biociências; Mauro de mudança cultural, através de to do projeto “100 Anos do IA/UFRGS” Curso de Música. Desde sua cinco centros Silveira de Castro, da ADUFRGS; uma política pedagógica ambiental”. e o anúncio da parceria inédita com a criação, em 2006, o projeto vem distribuídos no Moacir Assein Arus, da Faculdade de escola de Bambas da Orgia. A servindo de referência para outros território Medicina; Sérgio Rangel Guimarães, atual campeã do carnaval gaúcho hospitais fora do Rio Grande do nacional, tendo da Faculdade de Ciências Econômi- escolheu o centenário do Instituto Sul. “É o reconhecimento de uma como objetivo cas; Regina Nuria Costa Luhring,da Faixa foi colocada como tema do desfile, que fará em atividade que suaviza o ambien- garantir a Procuradoria Geral da Universidade e no alto do prédio 2008. O projeto dos 100 Anos te”, afirma Regina Alves Sikiero, adoção de Roseli Pérez Baldasso, representante do Instituto também inclui a edição de chefe do Serviço de Recreação práticas da ASSUFRGS. O trabalho deve estar várias publicações sobre a Terapêutica. alimentares concluído em meados de junho. história e a produção acadêmi- mais saudáveis Mas, não apenas as crianças ca, além da realização de no ambiente da Oncologia têm esta oportuni- concertos e recitais de música, escolar. Cada dade, pois a música também montagens teatrais e exposi-

FLÁVIO DUTRA unidade chega até a recreação infantil e ções de artes visuais. Os receberá R$ 1,27 milhão para, entre aos pacientes adultos. Toda a gráfica alunos deram a sua contribui- outros investimentos, realizar semana, por cerca de 20 Criação e editoração ção ao instalarem uma faixa de cursos de capacitação de minutos, Daniel, que coordena o 9 metros de altura na fachada nutricionistas, merendeiras e de projeto, vive um clima de muita  A Gráfica da UFRGS acaba de criar do prédio. Além disso, foi integrantes dos Conselhos de paz e conhecimento, já que ele um novo serviço destinado à comuni- colocado no saguão do IA um Alimentação Escolar. Caberá ainda explica as origens da música que dade universitária. A partir de agora, “relógio-totem”, criado por ao centro gaúcho a realização de vai tocar e fala um pouco sobre o as unidades podem contar com o estudantes de Artes Visuais, uma pesquisa para traçar tanto o autor de cada uma delas. Núcleo de Criação e Editoração, um que fará a contagem regressiva perfil dos alunos das escolas de Mais de mil pacientes já setor especializado que atua desen- para o centenário, a ser educação infantil quanto o das assistiram ao Sarau no HCPA. volvendo trabalhos para as mais comemorado no dia 22 de abril

crianças indígenas do Estado. diversas mídias e projetos gráficos. CADINHO ANDRADE do próximo ano.

ARTE: ROSÂNE VIEIRA 4 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | MAIO DE 2007 D EBATES

POR QUE TER UM CÃO AGRESSIVO?

olta e meia, os meios de comuni- cação noticiam casos de ataques de cães que, freqüentemente, ter- V minam com a morte das vítimas e o sacrifício dos animais. As histórias se assemelham: crianças ou pessoas que não são da família entram inadvertidamente em um pátio, onde um cão de raça agressiva está preso, ou então, o cão escapa de seu confinamento, atacando quem encontra pela frente. O desfecho é previsível, assim como a solução – exterminar o cão agressor. No entanto, especialistas dizem que os ver- dadeiros responsáveis pelo problema não es- tão sendo punidos. Marcelo Meller Alievi e João Antonio Pigatto, ambos professores da Faculdade de Veterinária da UFRGS, anali- sam os fatores que levam pessoas comuns a colocarem a si e a seus familiares sob o risco de acidentes com cães. A falta de um treinamento adequado é apontada como a principal causa dos ataques.

Os cães da moda

Marcelo Meller Alievi*

convívio entre animais e seres hu- tos, tentando impedir que damente desenvolvidas co- tomadas todas as precauções visando a zelar manos não é de hoje. Há milhares voltem a ocorrer. No Brasil, mo animais de guarda, ou pela integridade física das pessoas que pode- O de anos, temos com os animais uma Assim como ter uma cal- houve uma seja, quando se deparam rão ter contato com esses animais. O uso de relação muito estreita. Esta situação é ainda ça “boca de sino”, um terno com situações que podem focinheiras, guias de condução e passeios em mais intensa quando nos referimos aos cães. xadrez ou um tênis com explosão da colocar seu território ou as horários alternativos são imprescindíveis. A Não é à toa que os chamamos de “melhores rodinhas já foi moda, quem pessoas que estão protegen- castração deve sempre ser realizada, pois, amigos do homem”. Essa relação iniciou com já não quis ter um cão da raça criação de do em risco, expõem os seus além de diminuir a agressividade e impedir um papel utilitário, pois eles ocasionalmen- dálmata logo depois de ver o instintos de defesa. Obvia- gestações e filhotes indesejados, que poderi- te serviam como alimento ou para extração filme “Os 101 Dálmatas”, ou cães de raças mente, apesar de ser um ins- am acabar abandonados ou mesmo em mãos da pele, e, principalmente, por sua habilida- um são-bernardo após assis- tinto, o grau e a forma de re- erradas, traz benefícios orgânicos, como a de em caçar, proteger e pastorear. Atualmen- tir “Beethoven, o magnífico”, tidas como ação de um cão frente a estas diminuição dos tumores de mama e prósta- te, o mundo acadêmico tem comprovado os ou um dachsund (salsichi- situações podem e devem ser ta, aumentando a expectativa e a qualidade efeitos positivos da relação de amizade entre nha), após ver aquele conhe- agressivas moldados. O senso de hierar- de vida dos cães. os cães e o homem. Importantes mudanças cido comercial de amortece- quia deve ser estabelecido Diferentemente de uma calça “boca de psicológicas e fisiológicas são atribuídas ao dores. Freqüentemente so- precocemente, e a forma sino”, um terno xadrez ou um tênis com contato das pessoas com os animais de esti- mos levados por um impulso a obter um cão adequada para que isto ocorra é a socializa- rodinhas, o cão não poderá ser deixado no mação. Diminuição do estresse, desenvolvi- de uma determinada raça. Porém, como qual- ção precoce do animal com todos os mem- fundo de um roupeiro ou de um armário até mento emocional, senso de responsabilida- quer ser vivo, precisa de cuidados, e, muitas bros da família. que volte à moda. Ele viverá provavelmente de, socialização e aumento da auto-estima vezes, esquecemos que um lindo são- Além disso, adestramento básico deve ser mais de uma década e necessitará de muito são alguns bons exemplos. bernardo, quando adulto, não pesará menos realizado, assim o cão obedecerá a comandos cuidado e carinho. Assim, é importante que Porém, infelizmente, nos últimos anos, ao de 70kg e, obviamente, não caberá em uma fundamentais. Ração de boa qualidade, os donos tenham a real compreensão de to- lermos jornais ou assistirmos aos telejornais, quitinete. No Brasil, houve uma explosão da vermífugo e vacinas não são luxos, mas sim das as responsabilidades envolvidas com a nos deparamos com notícias de ataques letais criação de cães de raças tidas como agressi- necessidades mínimas para a correta criação aquisição de um animal de estimação, evi- de cães a crianças, idosos ou mesmo jovens. vas, fato muito relacionado com a formação de um cão. Espaço apropriado e exercícios tando arrependimentos, maus tratos, aban- Tal situação deu início a uma grande discus- de uma “tribo” denominada Bad Boys. regulares são fundamentais, pois consumi- dono e acidentes. são sobre o assunto. E antes de condenarmos Cada raça tem o seu padrão de comporta- rão a energia armazenada e socializarão os uma ou mais raças à extinção, devemos refle- mento, sua aptidão e suas necessidades, e cães, prevenindo distúrbios comportamen- tir sobre as possíveis causas desses graves fa- aquelas consideradas agressivas foram sabi- tais. Passeios são importantes, mas devem ser * Professor da Faculdade de Veterinária da UFRGS

Comportamento canino reflete o modo de criação

João Antonio Pigatto*

uando uma pessoa vai adquirir um justamente por alguns ataques. de agressões é procurar orien- que, se bem elaboradas e cumpridas, podem au- cão, na maioria das vezes, pensa ape- Inicialmente eram as raças Exterminar tação antes da compra dos cães, xiliar na solução dos problemas de agressivi- Q nas nos aspectos positivos. Jamais vai dobermann e rottweiler, agora uma raça não somente com relação à es- dade. O que não podemos e não devemos fazer, imaginar que ele possa se tornar são os pit-bull, entre outros. Os colha da raça, mas também no em hipótese alguma, é vincular os ataques ocor- agressivo. E também esquece que irá conviver cães da raça pit-bull foram ori- devido à que diz respeito à educação ca- ridos a determinadas raças de cães. E muito com ele durante um período em torno de 10 a ginalmente criados para parti- nina, que poderá evitar que se menos pensar em eliminá-las como muitos 15 anos. Com relação à agressividade dos cães, ciparem de rinhas. Isto, sem falta de tenha cães com problemas que, infelizmente, por desconhecerem o tema, é preciso dizer que ela não está relacionada à dúvida, contribuiu de maneira comportamentais. Embora a têm a pretensão de sugerir. raça. Não existem raças de cães agressivos. O significativa para que eles fos- compromisso genética influencie nas reações Não podemos pensar em exterminar uma que existe são raças que, se estimuladas e trei- sem considerados agressivos. O do animal, o criador e o dono raça de cães simplesmente devido à irresponsa- nadas de maneira irresponsável para a agressi- instinto permanece até hoje, de algumas são decisivos para a agressivi- bilidade e à falta de educação de algumas pes- vidade, a desenvolvem com mais facilidade do mas as agressões são geralmen- dade. Os cães precisam ser edu- soas. A restrição à criação de determinadas ra- que outras. A agressividade do cão também te resultado do aumento da pessoas cados desde suas primeiras se- ças de cães consideradas violentas, que aconte- independe do tamanho dele. Os ataques que têm aquisição de cães por pessoas não será manas de vida, quando apren- ce em alguns países da Europa e nos Estados ocorrido são de inteira responsabilidade dos que não sabem como tratá-los dem regras de convivência. O Unidos não será a solução do problema. O pro- criadores e donos dos animais. Na grande mai- e nem têm conhecimento so- a solução comportamento dos cães refle- blema não é o pit-bull, o rottweiler, o bull-mas- oria dos casos, são sempre animais criados de bre o seu temperamento. te a maneira com que eles fo- tim, o dobermann ou o fila brasileiro. Estas ra- maneira errada por proprietários inconscien- Em comparação aos países ram criados e tratados pelos ças têm temperamento amigável e, desde que tes e sem o mínimo senso de responsabilidade. de primeiro mundo, a criação de cães é mais seus donos. Associada a boa criação, acredita- criadas por pessoas responsáveis, trazem com Alguns humanos insanos e com desvios recente no Brasil. Nem todos os proprietários mos que a aplicação de leis que punam os pro- certeza muitas alegrias aos seus donos. comportamentais até mesmo estimulam os cães têm orientação e consciência para praticar a prietários irresponsáveis também auxilie na para desenvolverem a agressividade. Certas ra- posse responsável. O que pode ser feito para resolução do problema. Uma das formas da edu- ças têm sido associadas e responsabilizadas in- minimizar ou até mesmo resolver o problema cação da sociedade é, sem dúvida, através de leis, * Professor da Faculdade de Veterinária da UFRGS JORNAL DA UNIVERSIDADE | MAIO DE 2007 | 5 A TUALIDADE FLÁVIO DUTRA Área da saúde investe em planejamento familiar

Comportamento objetivo de fazer com que as pessoas Não só para pobres – Dados da realmente tivessem os filhos que pla- Síntese de Indicadores Sociais divul- Iniciativas do nejaram. Para ele, seria preciso cerca gados pelo IBGE, em 2004, revelaram de um ano e meio desse trabalho de que mulheres em idade fértil – 15 a HCPA e da Escola conscientização. Somente depois dis- 49 anos – com baixo nível de instru- so, deveria ser feito um plebiscito so- ção escolar, o que significa até três de Enfermagem bre as mudanças na lei do aborto, nos anos de estudo, tinham em média 3,9 moldes do que está sendo proposto filhos. Já nas mulheres com oito anos incentivam pelo Ministério da Saúde. “Existe a ou mais de estudo a taxa de fecun- proposta de ampliar a lei para que didade caía para 1,5 filho. Entre mu- Leticia Soares e maternidade mulheres com uma gravidez inde- lheres que recebiam mais de cinco a filha Jhuely, sejada possam fazer o abortamento salários-mínimos, por exemplo, e ti- consciente que nasceu no pelo Sistema Único de Saúde (SUS). nham até três anos de estudo, a mé- Hospital de Contudo, o mais importante é a dia era de 4,3 filhos. Já entre mulhe- Clínicas Ânia Chala descriminalização do aborto, porque res com a mesma faixa de renda, mas retiraria a condenação prévia que pesa com oito anos ou mais de estudo essa Para o professor da Faculdade de sobre aquelas que optam por este pro- média baixava para 1,4 filho. Medicina da UFRGS Fernando Freitas, cedimento”, ressalta o especialista. Fernando Freitas ressalta que o a quantidade de pessoas que hoje se pre- Porém, a descriminalização do planejamento não tem o sentido de ocupam em planejar o número de fi- aborto poderia ser um facilitador, mas proibir que as pessoas tenham filhos. lhos é bem maior do que no passado. não uma solução em si. “Na atuali- Pelo contrário, a idéia é permitir que Médico do Hospital de Clínicas de Por- dade, o que acontece: as mulheres que todos possam ter o número de filhos to Alegre (HCPA) com 40 anos de ex- têm condições econômicas procuram que desejarem. “A gente vê na socie- periência ele ensina futuros profissio- profissionais; as que não têm, recor- dade uma disparidade: os ricos têm nais e faz o atendimento de pacientes. rem a pessoas não habilitadas que, poucos filhos, um ou dois; enquanto Como chefe do Serviço de Gine- além de poderem provocar infecções, os pobres têm quatro, cinco ou seis. cologia e Obstetrícia do HCPA, o pro- colocam em risco a própria vida das Se foi o que planejaram, tudo bem, fessor avalia que o surgimento de pacientes. Sou contra essa mudança mas se simplesmente eles foram nas- novos anticoncepcionais e de outros em relação ao aborto neste momen- cendo, e não há como alimentar es- métodos de prevenção da gravidez to, mas a favor da descriminalização.” sas crianças e dar-lhes escola, tudo indesejada permitiu a liberação sexu- Segundo Freitas, em países que ado- fica mais difícil.” Mulheres precisam reassumir al da mulher. “Mas essa liberdade tem taram políticas de planejamento fa- Outro aspecto importante, de acor- de ser exercida com responsabilida- miliar, diminuiu significativamente do com o médico, está relacionado às controle sobre seu corpo de. Considero que é dever de toda a o número de abortos. “Mas, se não crenças religiosas. “A religião católi- sociedade oferecer informações sobre houver um preparo como esse, cor- ca, por exemplo, é contrária ao uso As enfermeiras Virgínia Moretto e indicado pelas pacientes e pode ser o métodos contraceptivos às mulheres remos o risco do abortamento per- de métodos anticoncepcionais. Com Ana Lúcia Bonilha são professoras do marido, o companheiro, algum familiar e penso que seria importante que o mitido por lei transformar-se numa isso, deixou de evoluir no tempo e no Departamento de Enfermagem ou mesmo um amigo. No início, essa Brasil iniciasse um processo de maneira de fazer a anticoncepção.” espaço. Acho que os católicos estão Materno-Infantil da UFRGS e ministram medida foi questionada, porque o conscientização sobre o uso desses O professor também considera que, se muito conscientes da necessidade de a disciplina de Cuidado da Mulher e do acompanhante é visto como uma métodos, envolvendo pessoas de to- a descriminalização do aborto vier a fazer anticoncepção e, se for um pe- Recém-Nascido, oferecida a partir do pessoa que vai fiscalizar o trabalho sexto semestre. Virgínia é doutoranda dos profissionais de saúde. No das as classes sociais e de diferentes cado usar métodos contraceptivos, ser aprovada, será importante que as do Programa de Pós-graduação da entanto, considero que ele veio para áreas de atuação profissional.” mulheres possam fazer o procedimen- Deus é muito misericordioso e os Escola de Enfermagem e está traba- dar suporte a essas mulheres”, afirma Freitas diz que somente a partir des- to, tanto pelo SUS quanto pela rede padres em seus confessionários cer- lhando na área do acompanhamento a especialista. sa iniciativa seria possível alcançar o privada e conveniada. tamente irão perdoar.” pré-natal das mulheres porto- Ana e Virgínia acreditam que a alegrenses, sob a orientação de Ana. humanização do parto, a mudança na Virgínia explica que a Escola tem forma de nascer pode, inclusive, procurado formar profissionais em mudar a realidade de violência que A Escola de Enfermagem consonância com o Programa de assola o Brasil. “Apostamos na idéia de da UFRGS tem no Humanização, desenvolvido pelo que a mulher não deve mais ser um Hospital de Clínicas Ministério da Saúde. Dentro deste agente passivo, especialmente na hora um espaço para programa, foram estabelecidas do parto, pois, muitas vezes, as parcerias com a Prefeitura e as gestantes são levadas a realizarem a prática profissional e o maternidades de Porto Alegre, os intervenções cirúrgicas sem conheci- desenvolvimento de uma profissionais e os alunos de enferma- mento dos riscos.” forma de atuação, que gem. A enfermeira ressalta ainda que, Em nosso país, as estatísticas desde 2005, existe a lei do acompa- apontam que na rede privada, cerca promove a saúde da nhante para as mulheres na hora do 90% dos partos são através de mulher através da parto. “É uma lei federal, mas quantas cesarianas. Na rede do SUS esta taxa educação em saúde. maternidades da capital realmente alcança os 45%. A proposta é promover a respeitam esta legislação?” Para as especialistas, muitas Ana Lúcia diz que, no âmbito do gestantes podem ser induzidas a optar autonomia das mulheres, Hospital de Clínicas, desde a criação pela cesariana, acreditando que não fazendo com que os da lei, a figura do acompanhante foi sentirão dor. “Mas isso é uma promes- profissionais que as incorporada à rotina institucional. sa, porque dor as mulheres sentem atendem saibam Virgínia acrescenta que, hoje, a taxa antes, durante e depois do parto, com de pacientes que se utilizam dessa ou sem analgesia. O importante é que respeitar suas decisões facilidade no HCPA está próxima dos elas voltem a reconhecer sua capacida- 100%. “Esse acompanhante é de de dar à luz de forma mais natural.”

Ambulatório oferece contracepção para casos especiais

O chefe do Serviço de Ginecologia (hipertensas, diabéticas, obesas, planejamento familiar. “Teremos uma e Obstetrícia do HCPA, Fernando portadoras de doenças hepáticas, série de métodos contraceptivos Freitas informa que está sendo adolescentes com problemas mentais, modernos e seguros, que serão implantado, neste mês, o Ambulatório mulher com cardiopatias, doenças auto- fornecidos tanto pelo governo quanto de Planejamento Familiar para Casos imunes, câncer e depressão).” por entidades internacionais. Nossa Especiais. O setor contará com uma O setor vai funcionar em parceria com idéia é estender esse tipo de serviço a equipe multidisciplinar constituída de a Prefeitura de Porto Alegre e as todas as universidades brasileiras, médicos, enfermeiros e psicólogos, consultas serão oferecidas via central do sendo que os cursos de medicina oferecendo atendimento global às SUS. A previsão inicial de atendimento é seriam os veículos dessa cons- pacientes. “Trata-se de um ambulatório de 40 consultas semanais. Freitas cientização da necessidade de planifi- de anticoncepção em casos especiais explica que a idéia é tratar essas cação familiar”, diz o médico. O que terá como prioridade o atendimen- mulheres de seus problemas de saúde já telefone para mais informações sobre o to a mulheres com doenças crônicas lhes dando uma orientação quanto ao novo Ambulatório é (51) 2101-8148. ARTE: ROSÂNE VIEIRA 6 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | MAIO DE 2007 C AMPUS

FLÁVIO DUTRA Pioneirismo Ensino Superior amplia cai na rede oportunidades A UFRGS mantém, desde agosto de 2002, a Secretaria de Educação a Distância (SEAD), órgão que pro- Integração com estudantes e professores desen- move cursos presencias, cursos a dis- volvendo atividades educativas em tância e fomento interno. Somente Instituições públicas lugares ou tempos diversos.” Neste na área da Educação a Distância, sentido, as lideranças presentes à so- somando os alunos dos cursos de e privadas lenidade de criação da Rede reconhe- graduação, mestrado, doutorado e ceram a relevância da iniciativa para extensão, a Universidade já atingiu qualificarão a formação dos professores que estão 13.958 pessoas. Atualmente, são 500 em sala de aula, mas não têm a titu- vagas para o curso de Administra- professores que lação exigida pela Lei de Diretrizes e ção, desenvolvido em 10 pólos no Bases da Educação Nacional. estado. O curso de Pedagogia ocorre estão em sala em cinco pólos e dispõe de 400 va- de aula, mas não Acesso ampliado –De acordo com gas. No segundo semestre deste ano, a coordenadora dos cursos a distân- serão oferecidas 600 vagas para o têm formação cia da UFPel e da Universidade Fede- curso de Planejamento e Gestão em ral do Pampa (Unipampa), Lorena Desenvolvimento Rural, distribuí- adequada Arruda Gomes de Souza, ainda são das entre 12 pólos. muitos os docentes do ensino funda- Assim como o professor Hen- mental e médio nesta situação. Para nemann, o reitor da UFSM Clóvis ela, a criação da rede ampliará o aces- Silva Lima, ressaltou o pioneiris- Jacira Cabral da Silveira so ao estudo e qualificação profissio- mo da REGESD, por congregar nal. O reitor da Universidade de instituições de naturezas diferen- Foi criada no dia 11 de abril a Re- Caxias do Sul (UCS), Isidoro Zorzi, tes: universidades públicas, parti- de Gaúcha de Ensino Superior a Dis- comentou que existe uma demanda culares e comunitárias. Segundo tância (REGESD). A cerimônia, re- significativa de profissionais nas áre- o professor, a proposta de unifica- alizada na UFRGS, contou com a pre- as abrangidas pela rede. ção não tem apenas o objetivo de sença de representantes das oito ins- Há três anos, a UCS já oferece edu- expandir o ensino, mas também o tituições integrantes da Rede: cação a distância através dos cursos de possibilitar melhor qualidade UFRGS, Universidade Estadual do de Pedagogia e Administração Públi- de vida para a população. Rio Grande do Sul (UERGS), Uni- ca. Entretanto, Zorzi destaca que a Para Lima, a dificuldade de atu- versidade Federal de Santa Maria principal dificuldade do ensino a dis- alização resulta tanto na desmoti- (UFSM), Fundação Universidade tância é a falta de pessoal qualificado, vação dos docentes, por falta de Federal do Rio Grande (Furg), Uni- pois a maioria dos docentes está acos- melhor qualificação, como na frus- versidade Federal de Pelotas (UFPel), tumada a trabalhar com aulas presen- tração das expectativas dos adoles- Centro Federal de Educação Tecno- ciais. “Preparar material para um alu- centes quanto ao futuro. “Recen- lógica (Cefet/RS), Universidade de no que vai trabalhar sem a presença temente, tivemos conhecimento de Caxias do Sul (UCS) e Universidade do professor é outra realidade e exige levantamentos sobre a desmotiva- de Santa Cruz do Sul (Unisc). uma metodologia diferente para ção de jovens a partir dos 15 anos Primeiramente, será oferecido um aquele que planeja”. com relação aos estudos como um total de 1.800 vagas, distribuídas en- Em seu pronunciamento, o rei- todo”. Esse fato se explica, na opi- tre os cursos de Geografia, Artes, Bio- tor da UFRGS professor José Carlos nião do reitor, pelo despreparo do logia, Matemática e Letras (espanhol Ferraz Hennemann salientou a im- sistema educacional brasileiro e inglês). Os cursos de Artes, Biologia portância da Rede, destacando sua quanto à formação da juventude e Inglês serão coordenados pela abrangência geográfica: “Só a com vistas a um futuro melhor. UFRGS e os de Espanhol, Matemáti- UERGS atinge 26 municípios”. Há dois anos, a UFSM desenvolve ca e Geografia pela UFSM. Existem Também lembrou que a iniciativa projetos de ensino a distância, sendo hoje no estado mais de 30 pólos de possibilitará o cumprimento do pa- que a primeira iniciativa foi com o ensino a distância, mantidos pelo pel das universidades públicas de le- curso de Educação Especial, nas mo- Ministério da Educação (MEC) e pe- var aprimoramento aos profissionais dalidades de graduação e especiali- las prefeituras das localidades onde do ensino básico, que não têm opor- zação. Experiência que, na avaliação estão inseridos. Em cada um deles há tunidade nem condições para reali- do reitor, suscita algumas dúvidas um tutor presencial para cada grupo zar um curso superior nas institui- com relação ao tema: “Até onde este de 30 alunos. Com a criação da rede ções de ensino presencial. ensino poderá se expandir? Ficará gaúcha, o MEC vai investir em novos apenas no projeto das licenciaturas equipamentos, cabendo aos coorde- até que se consiga diplomar todos os nadores de cursos a qualificação e se- A UFRGS tem quatro núcleos nossos colegas dos ensinos funda- leção do pessoal. de educação a distância com mental e médio? Ou será um proje- Segundo o decreto 5.622 de 19 de atividades em andamento: to a ser levado adiante?” Nesta pers- dezembro de 2005 “caracteriza-se Desenvolvimento de pectiva, o professor comenta sobre educação a distância como modali- Produtos, Design de a importância de serem promovi- dade educacional na qual a media- Superfície, Tecnologia Digital das discussões para que se possa ve- ção didático-pedagógica nos proces- rificar, em cada comunidade, quais sos de ensino e aprendizagem ocorre Aplicada à Educação e o referenciais e até quando será pos- com a utilização de meios e tecno- núcleo do Centro de Estudos sível avançar em educação a distân- logias de informação e comunicação, e Pesquisas Econômicas cia, preservando a qualidade.

Conhecendo a UFRGS

Creche Francesca Zacaro Faraco Creche envolve-se com diversas áreas do conhecimento, sendo Fernando Favaretto rios entre os seus interesses e as suas parceira de projetos elaborados pela necessidades, tanto em relação à Escola de Enfermagem, pela Facul- Criada há 35 anos, numa iniciativa alimentação e à saúde quanto ao dade de Odontologia e pela Escola de pioneira nas universidades brasileiras, desenvolvimento intelectual. Educação Física, os quais reforçam que teve como protagonistas trabalha- Tentando superar a idéia de escola o ideal de cooperação e de aprendiza- doras e estudantes da área de infantil como espaço de assistência, do mútuo que norteia muitas de Enfermagem, a Creche da UFRGS tem recreação ou simples preparo para as suas ações. como um de seus objetivos o etapas posteriores de escolarização, os De acordo com Danielle Finamor envolvimento nos processos de educadores da instituição investem na Rezes de Souza, que integra a equipe ensino, pesquisa e extensão, desen- socialização e no compartilhamento de diretiva, a busca de diálogo com as volvidos pela Universidade. saberes, como incentivo para as famílias dos alunos é uma das Preocupada com o cuidado das práticas de cidadania. Conduzidos por marcas do trabalho pedagógico e crianças de zero a seis anos, a proposta um currículo dinâmico, que exige administrativo desenvolvido ao longo pedagógica da Creche procura construir planejamento constante e a acolhida dos anos e um dos grandes desafios espaços de convívio nos quais trocas e dos interesses e construções das de toda a comunidade escolar. reelaborações de conhecimentos crianças, os professores enfatizam Para conhecer melhor a rotina ajudem na constituição das identidades atividades de caráter lúdico e da Creche Francesca Zacaro individuais e coletivas. Segundo a interativo, respeitando as etapas e Faraco, assista ao programa coordenadora pedagógica Aida Leal manifestações da infância e exploran- Conhecendo a UFRGS produzido Garcia, a autonomia das crianças é do suas riquezas e pluralidades. pela UFRGS TV, que será exibido estimulada desde o ingresso, cabendo Como contribuição ao desenvolvi- no próximo dia 22 de maio, às

CADINHO ANDRADE aos educadores a função de intermediá- mento sociocognitivo dos alunos, a 21h30min, pelo canal 15 da NET. JORNAL DA UNIVERSIDADE | MAIO DE 2007 | 7 C AMPUS UFRGS apresenta mudanças no

Processo seletivo Universidade vestibular 2008 modificou ordem

das provas e locais CADINHO ANDRADE de aplicação no interior gaúcho, ampliando acesso dos candidatos

Ânia Chala

Entre as mudanças anunciadas no final do mês passado, a presidente da Comissão Permanente de Seleção da UFRGS (Coperse), professora Maria Adélia Pinhal de Carlos, destacou a alteração da ordem das provas. A mo- dificação foi feita após avaliação por parte da Comissão, ouvidos os profes- sores envolvidos nas bancas de elabo- ração das provas e os candidatos que participaram do concurso. “As provas de Física e Matemática não serão mais realizadas no mesmo dia, porque exi- gem um tempo de concentração mai- or. Os vestibulandos consideraram que houve uma sobrecarga com a apli- cação das provas dessas matérias na No próximo mesma data e que faltou tempo para concurso, a responder a todas as questões.” duração das Conforme a professora, a prova de provas será Física será aplicada no primeiro dia, padronizada junto com a de Literatura e a de Lín- em 4h30min gua Estrangeira. Já o teste de Mate- mática irá para o último dia, junta- mente com o de História. “Desta for- ma, teremos provas que exigirão dos adequados para que os candidatos re- uma projeção de que o número de Ciências Biológicas candidatos dois tipos de raciocínio alizem as provas nas condições mais candidatos voltará a aumentar, até Nova ordem bem diferentes. No terceiro dia de favoráveis possíveis. As provas do porque estamos ampliando para repete experiência vestibular, aplicaremos as provas de próximo vestibular serão aplicadas 50% o valor do desconto na inscri- de aplicação de parceria entre Geografia, Biologia e Química, três simultaneamente em Porto Alegre, ção para os que cursaram o ensino das provas campos do conhecimento que têm Bento Gonçalves, Cruz Alta e Imbé- fundamental e médio exclusiva- UFRGS e UERGS Tramandaí. um caráter interdisciplinar.” mente em escolas públicas, ou fre- 6/1 (domingo) A dirigente salienta que a UFRGS Outra modificação introduzida diz qüentaram escolas particulares com Física, Literatura e L. Estrangeira Segundo a presidente da tem por princípio facilitar o acesso respeito à padronização no tempo para bolsa integral. Isso nos permite pre- 7/1 (segunda-feira) Coperse, Maria Adélia Pinhal de àqueles candidatos que tenham difi- a realização das provas: nos quatro dias ver que teremos um número maior Língua Portuguesa e Redação Carlos, o vestibular para o curso de culdades em se deslocar para Porto do concurso, os candidatos terão de inscritos.” 8/1 (terça-feira) Ciências Biológicas, que será Alegre. Por isso, no concurso vesti- 4h30min para responder às questões. Maria Adélia explica que o valor Geografia, Biologia e Química realizado no dia 10 de junho, bular deste ano, pela primeira vez, Quanto às medidas de segurança cobrado para a inscrição atende so- 9/1 (quarta-feira) atende não só às necessidades da região do Litoral Norte, mas foram realizadas provas simultanea- para evitar a ocorrência de fraudes, mente às despesas com a realização Matemática e História também de todo o estado. “Temos mente em Alegrete, Bento Gonçalves, a dirigente da Coperse salientou do concurso. “A Universidade não um grupo de professores extrema- Carazinho e na capital. que, hoje, pelo uso da impressão di- lucra com o vestibular, pois a taxa mente qualificado nesta área e, em Para 2008, novos locais foram de- gital, existem plenas condições de cobre apenas as despesas, que são al- 2006, tivemos avaliações muito signados. “Houve solicitação por par- verificar se o candidato que está fa- tas num processo que envolve sigilo positivas por parte dos candidatos te das comunidades do Litoral Norte zendo a prova é realmente aquele e cuidados muito grandes.” Os números do que ingressaram no curso.” para que fizéssemos provas naquela re- que se inscreveu. A taxa deste ano será de R$ 100, último concurso Resultado de um trabalho gião. Na escolha de Imbé e Tramandaí sendo que o montante arrecadado conjunto da UFRGS e da UERGS, o consideramos o fato da Universidade Vestibular não dá lucro – As ins- cobre também os custos de edição e curso de Ciências Biológicas, com já ter uma estrutura em Imbé, o crições para o vestibular 2008 inici- impressão das provas comentadas. “O  Perfil dos candidatos ênfases em Biologia Marinha e Ceclimar. Além disso, as escolas des- am em 5 de setembro e se estende- conjunto de provas comentadas do Sexo feminino 20.069 Costeira e Gestão Ambiental Sexo masculino 17.778 Marinha e Costeira, tem por sas duas cidades têm plenas condições rão até 4 de outubro pela Internet, Concurso Vestibular 2007 será lan- objetivo formar bacharéis para de acolher os candidatos.” mas já há uma equipe trabalhando çado em breve. E, no segundo semes- Candidatos do interior do RS atuarem em pesquisa, planeja- Maria Adélia acrescenta que as ci- para a realização das provas. “No ano tre, deverão ser colocados no site da 14.881 mento e gestão da zona costeira e dades são escolhidas em função de passado, houve uma pequena redu- UFRGS os textos de ajuda, que são Candidatos de Porto Alegre marinha. O seu egresso será um fatores como a existência de locais ção nas inscrições, mas hoje temos como miniaulas disponibilizadas via 20.050 profissional capaz de elaborar, Internet. Desta forma, estamos ofe- Candidatos de fora do estado coordenar e executar projetos, recendo um reforço aos estudos de 2.916 análises e experimentos, parece- quem está se preparando para as pro- res técnicos, consultorias e ARTE: ROSÂNE VIEIRA vas da universidade.”  Origem escolar assessorias, abrangendo manejo, A presidente da Coperse finaliza Escola pública 14.678 uso e controle de espécies e de dizendo que uma universidade pú- Maior parte em escola pública outros recursos naturais dos 1.905 ecossistemas marinho e costeiro, blica como a UFRGS precisa estar Total 16.583 visando o desenvolvimento atenta às necessidades daqueles que sustentável dos mesmos. pretendem disputar uma vaga no ves- Escola particular 17.418 O Curso tem duração de quatro tibular. “Às vezes, quando visitamos Maior parte em escola particular anos, mais estágio supervisionado escolas de ensino médio, nos depara- 1.441 de seis meses, sendo que parte mos com alunos que nos dizem que Com bolsa integral das aulas é ministrada na sede do sequer irão se inscrever, pois consi- 358 Ceclimar, em Imbé, e parte na deram as provas da nossa universida- Com bolsa parcial UERGS, no município de Cidreira. de muito difíceis. Sempre respondo 1.361 São oferecidas 40 vagas, metade que o vestibular não é um bicho- Maior parte em escola particular pela UFRGS e metade pela UERGS papão e que faz as exigências neces- com bolsa integral em um vestibular anual de 123 inverno. As inscrições para sárias para que um aluno possa in- Maior parte em escola particular participar deste processo seletivo gressar com todas as condições num com bolsa parcial serão recebidas via Internet no curso de nível superior.” 298 site www.ufrgs.br/coperse/pse até Mais informações sobre o proces- Total 20.999 às 23h59min do dia 17 deste mês. so seletivo da UFRGS podem ser ob- As provas são organizadas pela tidas através do site www.ufrgs.br/ Origem não identificada 265 Coperse, nos mesmos moldes do coperse ou pelo telefone 3308-5907. vestibular de verão. 8 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | MAIO DE 2007 ESPEC Quando a degradação do meio ambiente explica a FOTOS: FLÁVIO DUTRA

Moradores da Vila Protásio Alves, em Porto Alegre, são vítimas do descaso com o meio ambiente

pobreza

cimento das populações em todo o que o fato de ter ou não uma renda. É balho e explicar como operar as equa- que não podem ser reduzidas a di- Sustentabilidade globo terrestre. também não ter saúde, educação, es- ções através das quais é possível esta- nheiro”. Outra questão que ficou “Pobreza não é apenas insuficiên- tar inseguro quanto ao lugar onde belecer relação quantitativa entre os sem resposta foi a falta de justificati- Investigação cia de renda. É um conjunto de pri- mora. O próprio fato de sentir-se tris- índices de pobreza e as condições do va para a escolha das variáveis e em inédita estabelece vações múltiplas abaixo de patama- te, pode, conforme o indivíduo, cons- meio ambiente. que elas medida estão relacionadas. res considerados socialmente inacei- tituir-se em indicador de pobreza. A interligação é inédita, se compa- De acordo com Comim, a partir relação direta táveis.” Quem afirma é o economista Neste sentido, Comim argumenta que rada aos indicadores mundiais mais dessas observações preliminares so- e professor da UFRGS Flávio Comim, para entender um indicador de pobre- famosos como Pegada Ecológica, Uni- bre a forma como o tema dos indica- entre as mazelas que no mês passado encaminhou ao za e meio ambiente é preciso contar versidade de Yale, Índice de Sustenta- dores de pobreza e meio ambiente Programa das Nações Unidas para o uma história. “Quando especificamos bilidade Ambiental e Barômetro da vêm sendo tratados, foi possível de- da natureza e a Meio Ambiente (Pnuma) a primeira um modelo e usamos um fator de ajus- Sustentabilidade. Depois de muitos tectar concepções inadequadas sobre etapa da pesquisa sobre índice de po- tamento é possível trabalhar as variá- estudos, os pesquisadores perceberam o que é sustentabilidade. “Hoje, no miséria dos povos breza e meio ambiente, encomenda- veis ambientais, vendo o grau de asso- que em nenhum desses documentos mundo inteiro, as pessoas falam so- da pelo Programa há cerca de dois ciação com a variável de pobreza, e as- internacionais as variáveis “falam” bre sustentabilidade com pouca cla- anos. Sob sua coordenação, e em par- sim empurrando – para cima ou para umas com as outras, ou seja, os indi- reza sobre o que realmente significa Jacira Cabral da Silveira ceria com a Universidade de Cam- baixo – o grau de pobreza em função cadores sociais, os de crescimento eco- este termo.” bridge, na Inglaterra, o grupo de pes- do meio ambiente.” nômico e os de degradação ambiental Para agravar a situação, meio am- Em outubro do ano pasado, quan- quisadores contou com o repre- A referida investigação, coordena- aparecem isolados. “O que temos é um biente ainda é visto como um luxo do 86 toneladas de peixes mortos sentante inglês, Nicolas Sirven, o in- da pelo professor brasileiro, tem como diálogo inexistente,” ironiza Comim. para muitos, principalmente no âm- apareceram no rio dos Sinos, na re- diano Pushpan Kumar (Universida- foco países africanos. Os resultados Esses dados, entretanto, aparecem bito daqueles que têm poder decisório. gião metropolitana de Porto Alegre, de de Nova Delhi) e os bolsistas Ely deverão servir como fonte de consul- expressos através de diferentes estra- “Quando os governos pensam em e cerca de 600 pescadores ficaram Mattos, Mônica Concha, Esmeralda ta e estudo para subsidiar a ação de tégias de integração, como, por desenvolvimento, até consideram sem trabalho, não houve quem ne- Correa, Carla Silva e Philipe Berman, promotores de políticas públicas com exemplo, por meio de gráficos nos que é recomendável fazer uma avali- gasse as conseqüências econômicas todos estudantes ligados ao Progra- vistas a reverter, tanto a situação soci- quais as três dimensões são represen- ação de impacto ambiental. Só para e socio-ambientais daquele grande ma de Pós-graduação em Economia. al africana quanto a degradação tadas em um triângulo, sugerindo dizer que está tudo certo. Mas, em desastre. Com maior ou menor re- Diferente de outras investigações, ambiental de um ponto de vista inte- uma aproximação inexistente. Em realidade, não existe uma mecânica percussão na mídia, há muito a má a metodologia adotada pelo grupo da grado. Ainda neste ano, Comim e os outras pesquisas, reduz-se tudo a di- desses governos para melhorar o meio gestão ambiental tem resultado, en- UFRGS, explicita que a proximidade bolsistas visitarão os países pesquisa- nheiro, “monetizando as variáveis”. ambiente em face do que eles consi- tre outros problemas, no empobre- da linha de pobreza é muito mais do dos para apresentar o resultado do tra- Mas, segundo o professor, “há coisas deram desenvolvimento.”

Resposta está numa equação integradora

A pesquisa coordenada pelo pro- das sociais a uma vida mais digna. de pobreza e meio ambiente. Confor- quais os fatores ambientais que con- fessor Flávio Comim, por solicitação Impactos como estes, que estabe- me explica Comim, esta equação mos- tribuem diretamente na desnutrição do Programa das Nações Unidas para lecem relação entre os aspectos tra, por exemplo, que a subnutrição da população do continente africano. o Meio Ambiente (Pnuma) começou ambientais e a pobreza, são pouco re- também depende de variáveis ambi- Num segundo momento, através da pela revisão dos índices existentes conhecidos, comenta o professor. entais, tais como desmatamento, falta regressão (programa estatístico que sobre bem-estar/meio ambiente e “Eles aparecem em relatórios como de água potável e poluição por uso de estabelece relação entre variáveis), pobreza/meio ambiente. Depois, fo- o do Pnud-2006, mas, via de regra, fontes de energias tradicionais. “Estas chegaram à baixa produtividade agrí- ram analisadas suas limitações e, fi- não há uma sistematização.” Comim e outras variáveis ambientais afetam a cola e ao consumo de energia tradici- nalmente, os pesquisadores coloca- afirma que apenas recentemente foi saúde e a possibilidade das pessoas ga- onal (basicamente queima de madei- ram em prática uma metodologia, reconhecida a importância da exis- nharem o seu sustento, principalmen- ra), como variáveis ambientais que mostrando aspectos inovadores e cal- tência desses elos. “Para ser um bom te em áreas rurais.” explicam a desnutrição na África. culando os índices de pobreza e meio indicador de pobreza e meio am- Esmeralda Correa, uma das bol- “Com estes dados, os gestores po- ambiente para todos os países do biente, um indicador tem que satis- sistas que integram o grupo, explica a dem planejar políticas e estratégias mundo. fazer à condição de integração, sendo equação: antes do sinal de igualdade especialmente voltadas para as ques- Em visita ao continente africano, capaz de pontuar diferentes variáveis coloca-se uma variável de pobreza tões ambientais que efetivamente Comim pôde observar que, em de- e estabelecer uma ‘conversa’ entre (vp) e, depois do sinal, todas as variá- afetam a economia de cada localida- terminados povoados africanos, a fal- elas. Ele tem que ser capaz de falar de veis ambientais (va). A partir deste de,” observa Comim. Por isso, o pes- ta de água potável obriga mães e fi- condições de valores normativos (no primeiro cálculo, para o qual é utili- quisador adverte que, para cada lo- lhos a percorrerem longas distânci- caso da pobreza), mas também técni- zado um programa do Excel, chega- calidade, povoado ou nação há uma as. Já cansadas do trajeto diário, cos de sustentabilidade (no caso de se às variáveis significativas. Ou seja, forma própria e exclusiva de tratar muitas dessas crianças acabam não indicadores ambientais).” àquelas que mais contribuem para a seus problemas, devido às peculiari- indo à escola, aumentando assim o Fez parte da metodologia o empre- variável de pobreza selecionada. dades regionais. Pois, para cada vari- índice de evasão escolar e dificultan- go de uma equação que possibilitou Como exemplo, a doutoranda cita ável de pobreza, existirão condições do ainda mais o acesso dessas cama- uma leitura integradora das variáveis a equação que fizeram para apurar ambientais específicas. JORNAL DA UNIVERSIDADE | MAIO DE 2007 | 9 ECIAL

Causas ambientais Entrevista Rualdo Menegat da desnutrição em cada continente Atuar localmente para A doutoranda de Economia, Es- meralda Correa, comenta que, du- rante a fase inicial do estudo, os da- mudar globalmente dos disponíveis nos órgãos nacio- nais foram insuficientes para che- Rualdo Menegat é geólogo em nome de um ‘avanço’ por si mesmo, é preciso repensar esta pro- gar aos indicadores de pobreza nos e professor do Departamen- nove países africanos destacados pelo dução em termos de uma finalida- Pnuma. Por isso, foi necessário re- to de Paleontologia e Estra- de sustentável humana e planetária. correr a fontes de bases mundiais tigrafia do Instituto de Geo- Ou seja, enquanto os processos na- como o próprio Pnuma, o Progra- ciências da UFRGS e foi um turais são sempre contingenciados no lugar e no tempo, as questões ma das Nações Unidas para o De- dos coordenadores da obra senvolvimento (Pnud) e a Organi- tecnológicas são pensadas como não zação Mundial de Saúde (OMS). O Desenvolvimento Sustentá- tendo limites. Assim, o mundo con- vasto banco de dados, permitiu es- vel e Gestão Ambiental nas temporâneo vive um longo dogma tender os cálculos dos diversos ín- Cidades (Editora da UFRGS, de acreditar que a tecnologia pura e simples poderá vencer sempre as dices de pobreza e meio ambiente 2004). Nesta entrevista, ele para todos os países do mundo. contingências naturais. De forma sucinta, para explicar a atualiza alguns conceitos pre- desnutrição nos diferentes conti- sentes na pesquisa do econo- JU – Como interligar pobreza, nentes, os pesquisadores chegaram mista Flávio Comim. meio ambiente e sustentabilidade? aos seguintes problemas ambien- RM – Podemos ver a pobreza tais, como os causadores de situa- apenas como uma divisão de clas- ções específicas de pobreza: ses sociais. Mas, quando identifi- Jornal da Universidade – O camos o lugar onde grande parte Américas: risco de erosão; que é sustentabilidade e desenvol- das pessoas mais pobres vive, va- degradação severa da terra; vimento sustentável? mos delimitar certos territórios da consumo de energia tradicional Rualdo Menegat – A palavra urbe. E, quando procuramos ana- (prioritariamente a queima de ‘sustentar’ vem do latim sustento e lisar como essas pessoas vivem, o madeira); dióxido de carbono. significa ‘suspender por cima, su- que fazem e como fazem, vamos portar por baixo, equilibrar, prote- entender que a pobreza urbana é Europa: dióxido de carbono; ger, consolar o espírito, conservar, também parte do ciclo metabólico carência de água potável; baixa produção agrícola; perda de bio- “Não há plano cuidar; fazer frente a’. Para o pes- biocida. Ou seja, os pobres vivem diversidade; uso desregrado do solo. quisador, Ignacy Sachs, a susten- em locais onde a cidade também para reduzir a pobreza tabilidade tem cinco dimensões: despeja seus rejeitos ambientais. Ásia: água insalubre; carência de ambiental, social, econômica, po- Essas pessoas não estão apenas à água potável. lítica e cultural. Catástrofes am- margem da sociedade, mas também no mundo” bientais como a ocorrida no rio dos da cidade. Nessa margem, a cidade África: baixa produção agrícola; De acordo com estudo do Sinos podem ser estendidas, tam- costuma lançar seus rejeitos, sem Banco Mundial, que teve a consumo de energia tradicional. bém, para outras escalas: a planetá- nenhum tratamento. Assim, os po- colaboração de especialistas do Programa das Nações Unidas para ria, com o problema do aquecimen- bres passam a aproveitar os restos o Desenvolvimento (Pnud), a to global; a regional, com a devas- que a cidade rejeita, com alto risco pobreza está cada vez mais tação dos ecossistemas; a local, com de contaminação. Por essa razão, concentrada nos Estados frágeis, a contaminação dos recursos são erroneamente identificados se considerarmos a primeira meta hídricos por resíduos perigosos, tó- como causadores de problemas Cronologia do olhar sobre dos Objetivos de Desenvolvimento xicos, e, até a familiar e pessoal, na ambientais, quando a questão cen- do Milênio (ODM). No caso da medida que tais contaminantes e o tral é o fluxo metabólico biocida. a questão ambiental América Latina, o único país nesta estresse gerado por tudo isso afeta a Se a cidade organizar o ciclo meta- condição é o Haiti, em que 53,9% saúde das pessoas. Acabamos nos bólico em termos de uma recicla- das pessoas vivem com menos de hospitais e nos tribunais da Justiça. gem de seus rejeitos, se organizar a US$ 1 por dia. O indicador também 1972 Conferência de Estocolmo 1997 Protocolo de Kyoto – Assim, podemos acrescentar tam- produção agrícola por meio da in- sobre o Meio Ambiente– resultado da Terceira é ruim em países como Nicarágua primeira conferência mundial que Conferência da Convenção das (45,1%), Bolívia (23,2%) e El bém mais uma dimensão, que é a trodução de hortas e, inclusive, tratou da natureza tanto global Nações Unidas sobre Mudanças Salvador (19%). Na outra ponta civilizatória, posto que o aumento suinocultura urbana, haverá traba- quanto transfronteira, da degradação Climáticas, realizada no Japão. O estão Uruguai (com menos de 2% da desordem ambiental é acompa- lho, renda e alimentos para todos e da poluição ambientais. documento estabelece a redução na extrema pobreza), Argentina nhado da desordem social e da cri- na cidade. Com isso, pode-se dimi- das emissões de dióxido de carbono (6,6%) e Brasil (7,5%). se dos valores civilizatórios. Já a ex- nuir simultaneamente a pobreza, 1992 ECO 92 ou RIO 92 – (CO2) e outros gases do efeito Conforme o economista Flávio pressão ‘desenvolvimento susten- os problemas ambientais e tornar Conferência das Nações estufa, que respondem por 76% do Comim, esses dados estão dentro tável’ é bem definida pelo pesqui- biogênico o fluxo metabólico ur- Unidas para o Meio Ambiente e o total das emissões relacionadas ao do esperado. Ele e os professores sador inglês David Satterthwaite. bano, isto é, mais sustentável. Desenvolvimento (Cnumad), ocorrida aquecimento global, nos países Sabino Porto e Eduardo Ribeiro Ele costuma dizer que ‘desenvolvi- de 3 a 14 de junho, no Rio de Janeiro, industrializados. representaram a UFRGS no mento’, nesta expressão, significa JU – Mumford (1998) disse que monitoramento brasileiro dos para buscar meios de conciliar o ‘atender as necessidades humanas’ precisamos de “uma nova imagem desenvolvimento socioeconômico e Cúpula Mundial sobre Objetivos do Milênio. Segundo industrial com a conservação e 2002 Desenvolvimento Susten- Comim, para atingir as metas e ‘sustentável’, ‘sem comprometer da ordem”. O que é esta nova ordem? proteção dos ecossistemas do planeta. tável (Rio + 10) – maior conferência fixadas é mais fácil investir em o patrimônio ambiental’. Por isso, RM – As sociedades humanas Agenda 21 - principal documento da história da ONU, realizada de 26 nações que estão prestes a esses conceitos são interdiscipli- aprendem de duas formas. Pelo es- produzido na RIO-92, que propôs um de agosto a 4 de setembro em superar as condições de pobreza. nares, pois há que discutir o que forço cultural, no qual identificam novo padrão de desenvolvimento Johannesburgo. Como ficou conheci- Por isso, onde os pobres são mais significa atender as necessidades valores e finalidades que garantem ambientalmente racional, conciliando da na imprensa internacional: pobres, torna-se mais difícil humanas e, também, o que é o a sobrevivência, ou pelas situações métodos de proteção ambiental, justiça cúpula da estagnação e da oportuni- satisfazer essas metas. “De fato, ‘patrimônio ambiental’, o que im- emergenciais, que obrigam os in- social e eficiência econômica. dade perdida. não há plano para reduzir a plica o exercício de várias discipli- divíduos a mudarem sua visão e o pobreza no mundo. Existe apenas nas e contextos culturais. modo como vinham sobrevivendo. um acompanhamento feito pelos Mumford, um dos maiores intelec- ODM.” JU – Quais as grandes questões tuais do Novo Mundo, foi quem Com base em seus estudos, ele avalia que todas as metas dos que envolvem a sustentabilidade? mais analisou em profundidade a Objetivos do Milênio são vistas RM – Hoje, mais de 3,5 bilhões relação da humanidade com a na- separadamente: “Como se não de pessoas vivem em metrópoles e tureza. Antevendo o colapso huma- fosse da sua junção que podemos seu modo de vida é extremamente no e da natureza, não apenas em Sempre que se caracterizar a pobreza como um consumista, fazendo dessas cidades temos materiais, mas também es- fenômeno multidimensional”. um organismo de alta voracidade e pirituais, propôs uma nova ordem degrada o meio Nesse sentido, o economista baixa capacidade metabólica. Co- que chamou de humanismo orgâ- considera importante ver a mo resultado, temos uma dupla nico. Suas principais obras são an- ambiente em deficiência nas bases de recursos exaustão dos ecossistemas: a reti- teriores à introdução do conceito e serviços dos ecossistemas como rada em excesso dos bens naturais; de sustentabilidade, mas ninguém , a pobreza parte integrante, tanto da pobreza 1% e a devolução aos ecossistemas de estudou melhor a questão do que urbana quanto rural. aumenta em Quanto à situação da América rejeitos. O atual sistema metabóli- ele. Portanto, podemos mudar por Latina, reconhece que o grau de co urbano é biocida, daí a impor- uma opção cultural ou por força 0,26% insustentabilidade não é avaliado tância de torná-lo biogênico (pro- da situação. A primeira opção im- pelos ODM, uma vez que a motor da vida). Isso requer a reci- plica em escolha de valores civili- degradação ambiental da região clagem de todos os tipos de resídu- zatórios, a segunda, nos leva à faz com que o problema da pobreza os, a redução da demanda por ener- barbárie. Não devemos esperar que seja ainda mais grave do que o gia através de edificações sustentá- tudo mude para que haja mudança sugerido por variáveis como veis e a elaboração de produtos du- individual. O grande lema do insuficiência monetária. “Por isso, ráveis e eficientes. A mudança do ambientalismo “pensar global- acreditamos que o nosso trabalho ciclo metabólico urbano também mente para agir localmente” foi é importante, por inserir esses influencia o modo como hoje são renovado pelo célebre professor parâmetros de referencias e de integração das diferentes dimen- produzidos os alimentos, por meio Ramon Folch, de Barcelona, que sões que compõem o desenvolvi- de grandes plantações com uso de prefere dizer: é preciso atuar local- mento sustentável.” agrotóxicos. Como a produção mente com o propósito de mudar tecnológica e científica atual é feita globalmente. 10 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | MAIO DE 2007 I NTERNACIONAL REPRODUÇÃO Malvinas 25 anos de um erro estratégico

HMS Sheffield, navio inglês bombardeado pelos aviões argentinos

um erro estratégico. Mas ninguém História sabe exatamente o que ocorreu, por Conquistando corações e mentes Na tentativa exemplo, em relação às sinalizações que os Estados Unidos possam ter Em 30 de março de 1982, houve ocorrendo com o exército. de manter-se no enviado ao governo argentino. Afinal uma grande manifestação popular A rendição dos argentinos, oficiali- de contas, a Argentina tinha uma ali- na Plaza de Mayo, no centro de zada em 14 de junho de 1982, foi o poder, militares ança incondicional com os norte- Buenos Aires, ferozmente reprimida prenúncio do fim da ditadura. Galtieri americanos, diferentemente do Bra- pela ditadura. No dia 2 de abril, o renunciaria no final daquele mês e, argentinos sil, que fazia parte dos chamados paí- governo militar promoveu a operação embora os militares ainda pretendes- ses não-alinhados e mantinha uma de retomada das Malvinas. sem ficar no poder pelo menos até jogaram o país política externa independente.” Para o professor Cesar Augusto 1984, foram levados de roldão. “Ainda Barcellos Guazelli a “aventura em 1983 começou a se desenvolver em guerra perdida De aliados a inimigos – Guazelli militar” foi planejada no sentido de um processo eleitoral e, quando se comprometer a população civil e lembra que, na época, havia compli- pensou que o grande interlocutor obteve a adesão praticamente total seria o peronismo ou o que havia cações ainda hoje difíceis de avaliar: da população. “Lembro da reper- restado dele, aparece com uma Ânia Chala o presidente americano havia em- cussão entre os argentinos que maciça votação a União Cívica bargado a venda de trigo para a União viviam exilados em Porto Alegre, Radical, de Raúl Alfonsin, que O professor e pesquisador do Pro- Soviética em função da política de como o compositor Talo Pereira, alcançou mais de 50% dos votos. É aí grama de Pós-graduação em Histó- direitos humanos. Com isso, a União que chegou a se alistar. Portanto, que se inicia um processo de ria da UFRGS, Cesar Augusto Bar- Soviética transformou-se em forte do ponto de vista do conquistar redemocratização e de reconstrução cellos Guazelli, considera que a parceira comercial da Argentina, o corações e mentes, a ação dos econômica do país, com o lançamen- Guerra das Malvinas teve um signi- que gerou uma crise econômica sem militares foi muito eficiente. E o foi to do Plano Austral.” porque, na complicada formação Imprensa tomou partido Guazelli acredita que, assim como ficado importante por estar relacio- precedentes nos EUA. O pesquisador na guerra pela soberania nada com a ditadura militar argen- diz ainda que as poucas informações dos estados nacionais, a questão a invasão teve uma adesão muito das Malvinas está mal resolvida do arquipélago das Malvinas tina, um trauma não só na socieda- militares que os argentinos aprovei- rápida por parte da população, quando desde o século XIX”, sustenta o veio à tona o caráter aventuresco da de daquele país como na América La- taram na sua tentativa de enfrentar pesquisador. ocupação, esse apoio se dissolveu tina em geral. Iniciada em 1976, com os ingleses foram fornecidas pelos Embora a Inglaterra fosse o completamente. “Existia toda uma o golpe militar que depôs Isabel soviéticos. “Então, além da União principal parceiro comercial da mística de que a Argentina jamais Martinez de Perón, a ditadura du- Soviética manter uma parceria eco- Argentina, seu domínio sobre o havia sido derrotada em campo de rou sete anos e deixou um saldo de nômica com uma ditadura de extre- arquipélago das Malvinas feria os batalha. Mas até esse prestígio de um mais de 100 mil pessoas torturadas e ma direita, ainda prestou auxílio mi- brios da nacionalidade portenha. Em nacionalismo barato tornou-se frágil, cerca de 30 mil desaparecidos. litar indireto.” função desse nacionalismo, no momento em que os ingleses Para Guazelli, o episódio deve ser Mas para os Estados Unidos a situ- durante o conflito, os argentinos retomam as ilhas. Porque aquele entendido a partir da crise interna vi- ação também era complexa: a Argen- trocaram vários nomes de ruas e de governo que era um governo de força, vida pelo governo argentino. “O pro- tina, desde o início da Guerra Fria, estabelecimentos comerciais que que tinha as Forças Armadas como a faziam referência aos ingleses. grama econômico do primeiro dita- era aliada dentro de um tratado pelo salvação para o país, que se julgava No que diz respeito à estratégia uma pequena Europa, foi sucateado dor, Jorge Videla, era ultraliberal e foi qual os EUA se comprometiam a pro- de guerra, Guazelli assinala que os pelos militares. Eles mostraram apoiado por setores empresariais. Po- teger os países do continente ameri- militares enviaram às Malvinas incompetência naquilo que era a sua rém, a partir de sua implantação, es- cano. Por outro lado, desde o século soldados inexperientes, principal- razão de ser. A guerra interna estava ses mesmos setores sofreram direta- XIX, a política externa norte-ameri- mente das regiões de Corrientes e sendo contestada, chamada de guerra mente as conseqüências da concen- cana baseava-se na doutrina Monroe, do nordeste argentino, da província suja por conta dos desmandos; a tração de capitais e da propriedade.” que reivindicava a não interferência de La Rioja. “Parece que, desde o guerra externa foi um fiasco e a Além disso, havia a questão política, das potências européias em interes- começo, a idéia era que os Estados economia um desastre.” pois o país enfrentou uma restrição ses americanos. “Com isso, tentava- Unidos intermediassem algum tipo Isso tudo, para o pesquisador, teve de liberdades absurda, com desapa- se criar uma hegemonia norte-ame- de solução. Mas, quando a armada trouxe algumas surpresas em relação conseqüência nas outras ditaduras recimentos e mortes. “Videla acabou ricana dentro da América Latina. De inglesa começa o deslocamento, e às forças armadas: a marinha Argenti- ainda existentes na América Latina, se prevê que vai haver um na sempre teve um peso muito sendo substituído, em março de 1981, qualquer maneira, a Inglaterra, uma pois o fracasso de uma ditadura enfrentamento, ficou claro que não grande, mas sua atuação na guerra representa o fracasso de um projeto pelo general Roberto Viola, que ace- potência européia, estava interferin- havia qualquer possibilidade foi um fiasco completo. Em para toda a região. Nesse sentido, a nou com uma discreta ‘abertura’, em do numa questão latino-americana e concreta de triunfo perante o contrapartida, a aeronáutica, que não derrota militar não foi só Argentina, resposta ao anseio mundial pelo fim contra um aliado de primeira hora poderio inglês.” tinha muita expressão, conseguiu se mas de todas as ditaduras militares das ditaduras”, recorda o professor, dos EUA.” Contudo, Guazelli salien- Segundo o historiador, o conflito sobressair militarmente, o mesmo latino-americanas. assinalando que o presidente norte- ta que os Estados Unidos sempre ti- americano Jimmy Carter utilizou a veram na Organização do Tratado do defesa dos direitos humanos como es- Atlântico Norte (Otan) um organis- usava telefone, telex e satélite. De acordo com o jornalista, num tratégia de marketing governamental. mo fundamental para sua segurança, Mentira derrotou Mandávamos imagens coletadas em determinado momento, ‘negociou-se’ O governo de Viola durou menos no qual a Inglaterra é a peça-chave. Buenos Aires, que ainda tinham que o registro de algumas imagens com a de nove meses, mas, conforme o pes- Deste modo, os norte-americanos fi- regime militar passar por um filtro, já que a estação tripulação de um avião militar quisador, permitiu a organização de caram numa situação incômoda ao de envio era controlada pelo exército. argentino, que levava medicamentos uma frente multipartidária que exi- terem de escolher entre dois aliados argentino Matérias mais críticas ou que fossem e trazia corpos. “Essas imagens gia o afrouxamento da censura e mu- importantes. comprometedoras eram despachadas foram compradas a peso de ouro dos danças nos rumos da economia. “O Até hoje se discute o comporta- O professor do curso de Jornalis- via Montevidéu. E houve situações em oficias da aeronáutica argentina pela mo da Faculdade de Biblioteconomia regime balançou e isso foi interpre- mento dos países vizinhos, como o que foi preciso ir a Porto Alegre”, Rede Globo. Aí aconteceu uma outra e Comunicação da UFRGS, Geraldo lembra Canali. guerra, que foi a disputa entre as tado pelo núcleo duro das forças ar- Brasil, o Uruguai e o Chile. “Formal- Canali foi correspondente da Rede Para o ex-repórter, o conflito redes de televisão, ou seja, a madas como uma fraqueza de Viola. mente, o Brasil esteve ao lado da Ar- Globo de Televisão durante a Guerra caracterizou-se pelo forte controle da pirataria por satélite. A Globo Em dezembro daquele ano, ele foi gentina, mas há histórias que falam das Malvinas e um dos primeiros informação, pois a única cobertura por mandava imagens exclusivas de substituído por Leopoldo Galtieri, que do pouso de aviões ingleses em bases repórteres estrangeiros a deslocar-se parte dos argentinos era feita por uma Montevidéu para serem captadas no retoma o estilo de Videla. Mas a situ- aéreas brasileiras. É difícil avaliar isso. para a Argentina logo depois da equipe de oficiais. Os ingleses, por seu Rio de Janeiro e as redes norte- ação toda do país é muito complica- No Uruguai também, até por conta invasão. “Cheguei na manhã seguinte turno, tidos como democratas, envia- americanas pirateavam o material.” da, porque a economia argentina já da rivalidade extrema entre os dois à ocupação e, apesar de termos ram apenas uma equipe oficial da BBC, Canali acredita que a mentira estava em crise.” países. Mas tudo isso faz parte da dis- contratado um hidroavião que nos com todo o aparato e o controle do acabou derrotando a ditadura Quando Galtieri assumiu o gover- puta entre Brasil e Argentina pela levaria ao local do conflito, isso governo Thatcher. “Eles fizeram a argentina. “Embora o grau de no já teria em perspectiva uma gran- hegemonia na América Latina, sen- acabou não acontecendo, porque os cobertura do conflito a partir de um manipulação da informação tenha pilotos não quiseram correr riscos.” de manobra de efeito para obter apoio do que o Uruguai fica no meio como porta-aviões inglês sem sequer desem- sido absoluto, quando o governo Era o começo dos anos 80 e não barcar. Foi uma guerra sem informa- militar não conseguiu mais esconder da sociedade civil. “Aparentemente, Estado tampão. Porém, formalmen- havia celular ou Internet e nem uma ção, uma guerra de mentiras e com a derrota para os ingleses, a popula- já existia o plano de retomada das te, os vizinhos apoiaram a tese de que rede mundial como a CNN. “A gente muitas vítimas.” ção revoltou-se.” Malvinas e, hoje, considera-se que foi as Malvinas eram Argentinas.” JORNAL DA UNIVERSIDADE | MAIO DE 2007 | 11 C IÊNCIA Escavações revelam passado escondido

Arqueologia DIVULGAÇÃO/NUPARQ Equipe de pesquisadores estuda sítios que remontam ao período pré- colonial brasileiro

A equipe do Núcleo de Pesquisa Arqueológica (NuPArq) da UFRGS tem se dedicado, desde outubro de 2001, a um extenso projeto de esca- vações no município gaúcho de Pi- nhal da Serra, na região dos Campos de Cima da Serra, no Norte do estado. A última expedição do grupo ocor- reu entre os dias 5 de janeiro e 24 de fevereiro deste ano, e contou com a participação de arqueólogos e estu- dantes da UFRGS, da Universidade de Caxias do Sul, da Fapa e do IPA, além de pesquisadores estrangeiros da Universidad de la República (Uru- guai) e da Universidad Nacional de La Plata (Argentina). O principal alvo das escavações são antigos cemitérios Material coletado indígenas, formados por montes de durante trabalho de terra circulares em topos de morros e campo em Pinhal da habitações subterrâneas. Serra irá compor Segundo a coordenadora do nú- acervo de parque cleo e professora do Departamento de arqueológico História da UFRGS, Silvia Moehlecke Copé, a origem dos sítios estudados provavelmente remonta aos primei- ros séculos da era cristã. As escava- municípios envolvidos. Situados a nas áreas, demarcadas por quadrícu- seqüência importante é a valo- ções tiveram início durante a cons- cerca de 11km da zona urbana da ci- las de 1m2. Sobre o local suspende-se rização do turismo na região. A trução da Usina Hidrelétrica de Bar- dade, os locais das escavações encon- uma malha e, em seguida, são assina- elaboração de roteiros ecológi- ra Grande, na margem esquerda do tram-se em áreas de campos e de flo- lados os pontos-limite. Somente após cos e culturais viabilizará o Rio Pelotas, que exigia, conforme restas de araucárias. a retirada da rede e a marcação dos ecoturismo e o turismo cultu- previsto por lei, um levantamento dos pontos começa-se o trabalho. A mai- ral no município e no Planalto sítios arqueológicos que poderiam ser Antigos moradores – Não se sabe or parte do material encontrado nos gaúcho, desenvolvendo junto à afetados pelas obras, além da escava- ainda exatamente qual era a popula- locais das escavações e trazido para o população local a necessidade de va- troca de experiências com estudan- ção de cada um. Contratado para rea- ção que vivia nos locais estudados, mas laboratório do NuPArq consiste em lorizar e preservar o rico patrimônio tes de outras Universidades enrique- lizar o trabalho, o NuPArq começou é possível que tenham sido índios peças de pedra, como pilões para a ambiental, cultural e histórico. A cri- ceram muito a formação teórica dada a escavação durante a construção da Kaingang. “Esta população antiga ocu- maceração de grãos e lascas de rocha, ação do parque, ao oferecer novas em sala de aula. “A teoria e a prática barragem. Mas, para a professora Sil- pou territórios relacionados aos atu- que eram utilizados como instru- oportunidades de trabalho, também andam juntas, elas se comple- via, o trabalho precisaria ter começa- ais índios Kaingang e demonstrava ca- mento cortante. Ossadas de animais, contribuirá para fixar a população jo- mentam. Ir para o campo permitiu do bem antes. “Os profissionais de- pacidade de mover enormes quanti- que poderiam ajudar a descobrir al- vem no município. testar a teoria na prática e, se preciso, veriam ser contratados muito antes dades de terra para fazer suas edifica- guns hábitos da população, como ali- O planejamento do parque come- também, rever a teoria em função da para fazerem o levantamento de tudo. ções, como, por exemplo, as casas se- mentação, atividades diárias e çará neste mês, e sua implantação ga- prática. O convívio com outros pes- Porém, as obras iniciam antes e, mi-subterrâneas, as estruturas anela- vestimentas, não foram encontradas rantirá a preservação adequada de quisadores é muito proveitoso, pois quando se vai ver, muita coisa já foi res, pequenos montes de terra e gale- na região. De acordo com Silvia Copé, uma área onde há grande concentra- quem vem de fora sempre traz ele- perdida”, afirma a pesquisadora. rias subterrâneas”, observa Silvia. isso se deve principalmente ao fato ção de sítios arqueológicos pré-colo- mentos, idéias e métodos de trabalho No caso dos sítios de Pinhal da Ser- Os trabalhos da expedição de ve- do solo do local ser extremamente niais do Rio Grande do Sul, assim novos”, observa Mateus. Segundo ra foi exatamente isso que ocorreu. Por rão envolveram a escavação de dois úmido e ácido, o que favorece a de- como, uma rica biodiversidade de Jonas Gregório de Souza, estudante descuido, a empresa responsável pelas sítios. O primeiro deles, escolhido composição dos ossos. fauna e flora. Depois de pronto, o lo- de graduação em História, o trabalho obras da usina destruiu nove dos 31 pelo Instituto do Patrimônio Histó- cal abrigará todo o material coletado de campo foi fundamental para a for- sítios registrados. Em uma ação até rico e Artístico Nacional (Iphan) para Parque arqueológico – O resulta- durante as escavações e trazido para o mação. “Para aqueles que desejam se- então inédita para a arqueologia bra- abrigar um museu a céu aberto, é uma do mais visível do trabalho de escava- laboratório do NuPArq. guir uma carreira acadêmica em ar- sileira, o valor da multa imposta pelo aldeia composta por 10 casas subter- ção nos sítios de Pinhal da Serra é a Durante os 51 dias em que perma- queologia, o trabalho de campo é in- dano causado ao patrimônio histórico râneas. No local foram selecionadas criação do Parque Arqueológico do neceu trabalhando na cidade, a equi- dispensável. Se o arqueólogo não co- foi revertido para o financiamento da duas casas para escavação, mais uma Homem do Planalto das Araucárias pe de 31 integrantes foi constantemen- nhece os procedimentos de campo, escavação de outros nove sítios, além área externa com vestígios de ativida- (Pahpa). O projeto do primeiro par- te visitada pela comunidade. Os arque- não saberá interpretar os dados reco- do comprometimento com a constru- des cotidianas. O outro sítio escavado que arqueológico do Rio Grande do ólogos também proferiram palestras lhidos durante a escavação”, enfatiza. ção de um parque-museu na região. na localidade forma uma estrutura Sul visa disponibilizar ao público o em escolas e receberam os estudantes Apesar de não existir na UFRGS A seleção desses sítios para a reali- anelar composta por aterros, cuja apa- conhecimento produzido durante to- nos sítios. A intenção era, além de um curso de graduação especifico em zação das escavações, levou em con- rência lembra figuras geométricas das as fases do trabalho. A intenção é mostrar os métodos de pesquisa e seus Arqueologia, o estudante que deseja sideração a relevância e o significado (círculos e retângulos). realizar exposições dos materiais, exi- resultados, fazer um trabalho de edu- ser um arqueólogo pode obter uma para o entendimento da ocupação dos As escavações são feitas em peque- bição de vídeos e palestras. Outra con- cação patrimonial com a população especialização na área durante a gra- local, conscientizando os moradores duação em História. O curso oferece do município da importância da con- duas disciplinas obrigatórias, Pré-his- servação e preservação desses locais. tória Geral e Arqueologia I, além de Núcleo tem congregar as pesquisas arqueológicas, Teoria e Metodologia Arqueológica. A Neste mês, haverá uma nova excursão disciplinas eletivas como História da proporcionando aos estudantes a equipe de professores e estudantes com duração de três semanas. América Pré-colombiana e Pré-his- quase 20 anos possibilidade de aperfeiçoamento nessa integra um grupo de pesquisa do tória Brasileira. No bacharelado há três área e a divulgação dos resultados de CNPq desde 1997, com bolsas Formação mais completa – As ati- habilitações na área: Arqueologia, de atuação pesquisas através do desenvolvimento PIBIC/CNPq, PROPESQ e Fapergs. vidades no Norte gaúcho também Patrimônio Histórico-cultural e Pes- de atividades de extensão. Localizado no Campus do Vale, o proporcionaram uma formação mais quisa Histórica. Além disso, são ofe- Criado em 1989, pelos professo- Desde 1995, o Núcleo é coordenado NuPArq possui biblioteca especializa- completa dos estudantes que integra- recidos estágios voluntários e bolsas res Arno Alvarez Kern e Silvia pela professora Sílvia Moehlecke Copé da, com mais de 2.000 títulos ram a equipe. Para o aluno de mes- de iniciação científica no NuPArq. Moehlecke Copé, o Núcleo de e mantém linhas de pesquisas em informatizados. O site do núcleo na Pesquisa Arqueológica (NuPArq) é Arqueologia Pré-histórica Brasileira, Internet é www.ufrgs.br/história/ trado do Programa de Pós-graduação ligado ao Departamento de História Arqueologia Pré-histórica Sul-rio- nuparq e os telefones para contato em História da UFRGS, Mateus da UFRGS e tem o objetivo de grandense, Arqueologia Histórica e são 3308-7169 e 3308-6868. Lovato Gomes Jardim, o trabalho de Juliano Tatsch – estudante do 8º campo nas escavações, o convívio e a semestre de jornalismo da Fabico 12 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | MAIO DE 2007 C ULTURA

Quando Resenhas Por Caroline da Silva letra e música Ferramenta ou metodologia?

se encontram “Novas metodologias UFRGS DA REPRODUÇÕES/EDITORA para a educação” foi o tema do prêmio Jovem Cientista do CNPq em vidados de outras universidades bra- Zélia Duncan e 2000 e suscitou o que Extensão viria a ser uma primeira sileiras que têm se dedicado ao tema, Arthur Nestrovski como o músico e pesquisador Luiz versão do livro aqui Unimúsica mostra fazem, no dia 7 apresentado. Desde Tatit (USP), um dos criadores do de junho, no Salão então, os dois autores a importância da grupo Rumo, destaque da vanguar- têm desenvolvido da paulista nos anos 80. de Atos da UFRGS, projetos de pesquisa na letra para a Em outubro, serão duas as atra- o show de estréia área de Didática das música popular ções: uma edição especial do Sarau da série intitulada Ciências e de formação Elétrico, consagrada atração da cena As palavras de professores, inclusive AMBIENTES VIRTUAIS elaborando materiais brasileira cultural porto-alegrense, que reu- das canções. DE APRENDIZAGEM: nirá poetas e letristas da atualidade didáticos computacionais DESENVOLVIMENTO para discutir a relação entre poesia O espetáculo terá e impressos. O funda- E AVALIAÇÃO DE UM escrita e poesia cantada; e o Unimu- músicas de mento norteador das PROJETO EM iniciativas vem de Paulo Criado em 1981, por iniciativa da siquinha, apresentando o espetácu- e de outros grandes NANA MORAES EDUCAÇÃO AMBIENTAL Freire: a visão de Ed. UFRGS, 2006, 175 Pró-reitoria de Extensão da UFRGS, lo “Arca de Canções” para público compositores informática educativa como um espaço para a música feita infantil, com a Orquestra de Flau- págs., R$ 10*, de proposta pelos professo- Marcelo Leandro Eichler na Universidade por estudantes, pro- tas da Escola Municipal Heitor res Marcelo Leandro e José Cláudio Del Pino fessores e funcionários, o projeto Villa-Lobos e a participação de ar- Eichler e José Cláudio Del Unimúsica logo cresceu, passando a tistas gaúchos. Pino é baseada na sua divulgar a produção musical de Porto Até o final do ano, será criada uma pedagogia da autonomia. Por mais que se publique Alegre. Ao longo de 26 anos, conso- série de documentários radiofô- no Brasil diversas pesquisas na área, sobre o papel lidou-se como uma das grandes atra- nicos, focalizando os compositores do computador nos processos de aprendizagem, ções culturais da capital. destacados pelo projeto. Os docu- dificilmente se abre “a caixa-preta da produção de Neste ano, o projeto vai se dedicar mentários, produzidos pela estudan- softwares educativos”. O mérito da presente à tradição lírica e poética da canção te de jornalismo da Fabico Ana Laura publicação reside na abordagem sistemática do processo de elaboração de tais tecnologias a serviço brasileira, realizando sete espetácu- Colombo de Freitas, com supervisão pedagógico, sem jamais deixar de inserir seu los, especialmente concebidos a par- da professora Cida Golin, serão vei- desenvolvimento num contexto maior. Num plano tir da escolha de cancionistas funda- culados pela Rádio da Universidade, interdisciplinar, o emprego dos dispositivos para o mentais para a história da música po- duas semanas após cada espetáculo. debate da geração de energia elétrica e seus pular de nosso país. Com o tema As A inciativa, conforme Lígia, mostra- impactos, por exemplo, cria até mesmo um cenário palavras das canções, o Unimúsica rá o quanto o Unimúsica leva a sério fictício-realista, com confluência de conhecimentos. abordará os diferentes aspectos da a idéia de que a música popular bra- Palavra dos autores: “com esse livro queremos canção brasileira, que a transforma- sileira é conhecimento. informar o leitor sobre as idéias, os caminhos e os ram em uma das manifestações ar- obstáculos para a proposição e a utilização de tísticas mais fortes do Brasil. Espetáculos inéditos – A primei- ambientes de ensino com o uso de computadores”. Segundo a coordenadora-geral do ra apresentação musical deste ano No entanto, os pesquisadores deixam bem claro

MARCELO MARAGNI que, mesmo produzindo nesse campo, seus pontos projeto, Lígia Petrucci, a renovação será no dia 7 de junho, com Arthur de vista não são ingênuos e sua expressão não tem é um dos pilares do Unimúsica. “O Nestrovski e Zélia Duncan. Na opi- o intuito de ser sectária, por isso evocam a impor- entrosamento entre melodia e letra nião do músico gaúcho radicado em tância de para a Educação. é um tema vivo, tanto no que se re- São Paulo, o espetáculo Na linha de fere aos processos criativos de com- Cartola, trará a Porto Alegre não so- positores e intérpretes quanto no que mente canções do artista carioca, um diz respeito às pesquisas acadêmicas. dos deuses da música brasileira, mas Programação A escolha dos compositores-letristas obras de outros compositores. “Nos- Encontros com Campos numéricos levou em consideração a importân- so show terá cinco ou seis músicas os artistas cia da produção dos artistas.” de Cartola e umas quinze de outros Unimúsica Horário e local: 17h30min, Para os autores, “por A edição deste ano, tem a colabo- autores, de Zé Miguel Wisnik a Lu- no estúdio principal da Horário e local: 19h, no mais elementar e antigo ração de uma equipe de coordena- Rádio da Universidade picínio Rodrigues, de Tom Jobim a Salão de Atos que seja um conteúdo Inscrições: Museu da dores formada por Arthur de Faria, Luiz Tatit, de a Guer- Retirada de senhas para matemático, sempre é UFRGS, das 9h às 18h José Carlos de Azevedo, Juarez Fon- ra-Peixe. Além de algumas compo- ingresso no Museu da possível desenvolver Vagas limitadas seca, Luciane Del Bem, Nilton sições inéditas minhas e da própria UFRGS, três dias antes de novas idéias, novas Entrada franca Fischer e Luís Augusto Fischer. Zélia. Tudo em arranjos para voz e cada show, das 9h às 18h, abordagens e descobrir Lígia ressalta que uma das princi- violão, especialmente feitos para essa mediante doação de 1kg de novos resultados”. 6 de junho – Arthur Direcionada para pais características do projeto é a noite, que retrabalham as canções alimento não-perecível Nestrovski professores e estudan- proposta de trabalhar com traços com outras referências, criando uma 4 de julho – Izabel 7 de junho – “Na linha de tes de Licenciatura em menos evidentes da música, como a complexa teia musical”, explica. Padovani, Ronaldo Cartola” com Zélia Duncan Matemática, esta obra série Piano e Voz, desenvolvida em Nestrovski, que também é profes- Saggiorato, Marcelo Onofri e Arthur Nestrovski se traduz em uma rica e 2004, e a série dedicada à música ins- sor de Comunicação e Semiótica da e Anderson Alves 5 de julho – “Na linha de pontual fonte de buscas NÚMEROS trumental, realizada em 2005. 1º de agosto – Eveline PUC paulista e articulista do jornal Braguinha” com Izabel para os educadores dos RACIONAIS, REAIS Hecker e Camilla Dias “Também nos preocupamos em tra- Folha de S. Paulo, diz que o projeto Padovani Quarteto três níveis de ensino da E COMPLEXOS 5 de setembro – Adriana balhar com a memória musical, des- Unimúsica é um exemplo do que 2 de agosto – “Na linha de matéria. A publicação foi Ed. UFRGS, 2006, Deffenti, Ângelo Primon e tacando artistas que gravaram o seu deveria ser a função cultural das Tom Jobim” com Eveline testada, e posteriormen- 340 págs., R$ 28*, Marcelo Corsetti nome na história musical brasileira nossas universidades, que só rara- Hecker te aperfeiçoada como de Jaime Bruck Ripoll, 3 de outubro – Marcos e outros, que já não são mais tão mente é cumprida. “Não há nada pa- 6 de setembro – “Na linha livro-texto, durante cinco Cydara Cavedon Ripoll Sacramento, Luis Flávio semestres nas discipli- lembrados pelo público.” recido em São Paulo, por exemplo. de Dolores Duran” com e José Francisco Alcofra e Netinho Adriana Deffenti nas de Matemática Porto da Silveira E ninguém tem desculpa para não Albuquerque 4 de outubro – “Na linha de Elementar I e II do curso Atividades paralelas – Além dos fazer, ainda mais com esse preceden- 31 de outubro – Mariana de ” com Marcos de graduação da UFRGS. espetáculos, que ocorrerão no Salão te”, afirma. Moraes e Gabriel Improta Sacramento Além de conceitos fundadores, das definições e de Atos da UFRGS com entrada fran- Analisando o tema escolhido para 5 de dezembro – Vitor 1º de novembro – “Na linha problematizações numéricas, são apontados ca, haverá uma extensa programa- Ramil a edição deste ano do projeto, o pro- de ” com exercícios e suas respectivas resoluções. A ção paralela. Um dia antes de cada fessor considera a união entre letra e Mariana de Moraes proposta de ensino defende a noção de campos show, haverá um encontro com os música uma das principais qualida- 6 de dezembro – “Na linha de numéricos e, segundo os professores/autores, o Seminário artistas convidados no estúdio prin- des da MPB. “A relação entre poesia Barbosa Lessa” com Vitor Ramil estudo dos números é refém da possibilidade de cipal da Rádio da Universidade. “Se- e música é uma das glórias da nossa “A Canção Popular operar com os mesmos. Uma das motivações da rão entrevistas abertas ao público, música, que é, por consenso mun- na Universidade” elaboração deste material foi o anseio de elucidar Data e local: 30 e 31 de alguns erros e equívocos de decorrência histórica em que os músicos tocarão ao vivo e dial, uma das realizações mais altas Unimusiquinha julho, na Sala II do Salão de nos livros didáticos de ensino fundamental e conversarão sobre suas trajetórias ar- da cultura brasileira. Ficou tão co- “Arca de Canções” Atos da UFRGS médio: “Os conceitos, as idéias e resultados tísticas e os compositores homena- mum pensar em canções ao molde Data e local: 31 de outubro, Debatedores confirmados: associados aos campos nos números reais e geados pelo projeto”, explica Lígia. das de Chico ou Caetano, ou de Tom no Salão de Atos Celso Loureiro Chaves, Luís complexos foram desenvolvidos ao longo de muitos Para o fim do mês de julho, está e Vinicius, para ficar só nesses, que Horário: duas apresenta- Augusto Fischer e Luiz Tatit séculos, durante os quais várias crises e controvér- programado o seminário A Canção esse repertório nos parece natural. ções, às 10h30min e às Coordenação: Luciane Del sias, conceituais e técnicas, precisaram ser Popular na Universidade. O encon- Mas não tem nada de natural; e pre- 15h30min Bem enfrentadas pela comunidade matemática”. A força tro, coordenado pela professora do cisa ser valorizado, escutado e estu- Espetáculo infantil com a dessas dificuldades históricas ainda garante sua Programa de Pós-graduação em Mú- dado como merece”, observa Nes- Orquestra de Flautas da ocorrência em alguns livros utilizados nas escolas. Escola Municipal Heitor sica do Instituto de Artes, Luciane trovski. Sarau Elétrico Especial Por isso, a crença vital desses educadores na Villa-Lobos e a participação Data e local: 30 de outubro, Del Ben, terá sessões de divulgação construção do “novo”. dos músicos Pedrinho no Salão de Atos de pesquisa e debates com os profes- Figueiredo, Leandro Maia e Horário: 19h sores da UFRGS Luís Augusto Fis- Juliano Tatsch – estudante do 8º Dudu Sperb. Entrada franca *Preços nas Livrarias da UFRGS (www.livraria.ufrgs.br) cher e Celso Loureiro Chaves e con- semestre de jornalismo da Fabico JORNAL DA UNIVERSIDADE | MAIO DE 2007 | 13 C ULTURA Brasil perde acervos Artes visuais Lógica do mercado de artistas nacionais influencia a venda de coleções para instituições estrangeiras

Nei Vargas*

No final de março, a imprensa no- ticiou a venda de muitas obras do ar- tista Hélio Oiticica para a Tate Modern, em Londres. No mesmo mês, intelectuais e artistas do Rio de Janeiro e de São Paulo entraram em polvorosa com a venda da principal coleção brasileira de arte construtiva, de propriedade de Adolpho Leirner, ao Museum of Fine Arts, em Houston, nos Estados Unidos. Casu- alidade? Não, não há casualidade al- guma no fato da Tate Modern e do Museum of Fine Arts adquirirem obras importantes da nossa produção artística. No entanto, a relevância des- ses acontecimentos ultrapassa o re- conhecimento da arte brasileira no exterior, recaindo no destino que tem sido dado ao patrimônio cultural e intelectual do País. Se a consagração O colecionador Adolpho Leirner no de Oiticica e a legitimação internaci- hall de entrada de sua residência. onal da produção simbólica são mo- Abaixo, a obra Metaesquema tivos de orgulho para o povo brasilei- (1957), de Hélio Oiticica ro, a expatriação deles deveria ser en- carada com mais contestação e deba- te sobre a condução das políticas pú- blicas para a cultura, sobretudo, as VICENTE DE MELLO / ARTE CONSTRUTIVA NO BRASIL - COLEÇÃO ADOLPHO LEIRNER particularidades que tomam de assal- to as artes visuais. observa que foi no conservadorismo Gallery e o Museu de Houston. São Não seria imprudente apontar a dos governos da Inglaterra e Estados os executivos e empresários que, em entrada de grande quantidade de di- Unidos dos anos 80 que começou busca de distinção e status, aportam nheiro de corporações e empresas uma grande onda de retração do fi- cifras significativas para a ampliação privadas no mercado internacional de nanciamento estatal às artes. No li- dos acervos dos museus, já que estes artes como um dos fatores determi- vro, fica evidenciada que “a determi- são beneficiados pelos incentivos nantes para o impedimento da per- nação política de Reagan e Thatcher fiscais, via alíquota máxima do im- manência dos acervos de Leirner e em substituir o governo pelo merca- posto de renda sob grandes fortunas, Oiticica em solo brasileiro. A tese de do como instituição econômica e so- prática implementada nos Estados doutorado da taiwanesa Chin-tao cial, e de propagar o ethos do merca- Unidos e adotada na Inglaterra, ain- Wu, intitulada Privatização da Cul- do capitalista durante seus mandatos, da nos anos 80. tura, a intervenção corporativa nas correu paralela à ação política e ao No Brasil, pode-se afirmar que o artes desde os anos 80 (Sesc e Boi- engajamento social igualmente deli- sistema das artes recebeu importante tempo Editorial, 2006, 408 p.), que berados das empresas nos dois paí- redimensionamento a partir do recebeu edição brasileira no ano pas- ses”, conforme Michael Useem, cita- surgimento da Lei Federal de Incen- sado, mostra de forma exemplar do por Chin-tao (2006, p. 27). É do tivo à Cultura ou Lei Rouanet que, REPRODUÇÃO como o Estado assistencial perde ter- universo empresarial que surgem os embora a contrariedade ideológica reno para a economia de livre merca- novos administradores do capitalis- dos fatos, coroou os anos 90 com a do, usando as questões institucionais mo corporativo, que passam a com- retomada das atividades culturais. que permeiam a arte contemporânea por o quadro dos conselhos consul- Não custa lembrar que é neste mes- como instrumento de análise. Ao des- tivos dos museus britânicos e ame- mo período que Adolpho Leirner ini- crever o processo de privatização da ricanos, acabando por definir as po- cia seu projeto de venda da mais im- mentos no segmento. Atualmente, incentivado pela renúncia fiscal, co- arte contemporânea, a pesquisadora líticas de instituições como a Tate portante coleção de arte concretista um número expressivo de atividades brou ingressos absurdos para a reali- brasileira. Outra boa lembrança é que que levam o selo da Lei faz da cultura dade brasileira.

REPRODUÇÕES a segunda coleção mais significativa mero entretenimento, atribuindo ca- Infelizmente, a negociação dos acer- da produção artística pertence à Pa- ráter efêmero ao que deveria contri- vos brasileiros ganha repercussão na trícia Cisneros, empresária venezue- buir para criação de raízes e conscien- mídia após sua venda, a exemplo do lana que mantém a Fundação Cis- tização da importância dos bens cul- que ocorreu com o acervo de Leirner, neros, maior colecionadora de arte turais como fonte de riqueza intelec- que tomou páginas dos principais jor- brasileira no exterior. A Lei Rouanet, tual e financeira. No panorama cul- nais do centro do País e expôs a indig- como estrutura burocrática ofereci- tural contemporâneo brasileiro, a fal- nação de intelectuais e artistas. A par- da pelo aparelho estatal, determinou ta de prioridade em projetos específi- tir de agora, só será possível tomar con- a ativação do mercado de bens sim- cos de salvaguarda do patrimônio tato e compreender melhor o con- bólicos, impulsionando de forma cultural ou que construam de forma cretismo e o neoconcretismo, movi- crescente a incipiente indústria cria- duradora o conhecimento das artes e mento este que inscreveu o Brasil na tiva brasileira. Ocorre que a estraté- da história cultural, parece alavancar História da Arte, quando a Tate Gallery gia que fez dinamizar a cultura no o entendimento equivocado sobre o ou o Museum of Fine Arts programa- Brasil produziu um sentido para o que deve ou não ser visto como pro- rem exposições com acervos adquiri- entendimento de cultura que, em duto cultural. Na economia de mer- dos aqui, mas para isto não esqueça No sentido horário, cado, só ganha patrocínio o projeto algumas das obras do parte, obedece à lógica da economia que é preciso alguns milhares de dóla- acervo de Adolpho de mercado implantada pelos mes- que ofereça a visibilidade exigida pelo res ou euros para custear sua viagem. Leirner: Relevo 326 mos países que hoje celebram a pro- financiador, mesmo que este seja em Outra oportunidade, somente quan- (1970) de Sérgio dução de Oiticica e a arte concretista. última instância, o próprio Governo do algum projeto expositivo com se- Camargo; Sem título A dinâmica da nova lei articulou a Federal, que autoriza dedução inte- guro estratosférico trouxer novamen- (1962), de Mira Schendel; passagem das obrigações do Estado à gral no imposto de renda a quem pa- te as obras ao Brasil, certamente em Estudo para cartaz da 1ª. iniciativa privada na condução das trocina arte no Brasil. É por isto que um megaevento, que a Lei Rouanet Bienal de São Paulo políticas culturais, passando a defi- somos bombardeados com mega- tratará de subvencionar. (1951) e Cartaz da 1ª. nir a lógica de patrocínio do empre- eventos, tais como shows musicais, Bienal de São Paulo sariado sob a ótica do marketing cul- grandes exposições internacionais * Mestrando em História, Teoria e Crítica (versão com fundo preto), tural, que acabou por nortear e (incluindo-se as Bienais de Arte), e do Programa de Pós-graduação em Artes de Antônio Maluf. sedimentar as políticas de investi- até o Cirque du Soleil que, embora Visuais da UFRGS 14 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | MAIO DE 2007 A GENDA

CINEMA/DVD/VÍDEO Destaque

A História vai ao cinema Vídeo ativismo no cinema: com Aplicação do capital globalizado aos movimentos antiglobalização Do teatro para o cinema Novas exibições de filmes do projeto do Colégio de Aplicação da UFRGS, com a Mostra de filmes promovida pelo projeto Programação apresentação de produções de diversos de vídeo ativismo no cinema, criado por Projeto do Instituto períodos históricos. A coordenação é do estudantes da UFRGS, com o apoio do professor Nilo Piana de Castro. Mais Departamento de História, e composta de Letras realizará 17/05 14/06 informações pelos telefones 3308-3436 de produções livremente disponibili- ciclo de filmes na ROSENCRANTZ & GUILDENSTERN AS BRUXAS DE SALEM ou 3308-4022. zadas através da Internet. Os filmes ESTÃO MORTOS (Drama, EUA, 1996, 124min.) escolhidos são marcos da utilização das Sala Redenção (Comédia, Inglaterra, 1990, 117min.) De Nicholas Hytner. Filme inspirado novas tecnologias de comunicação, bem De Tom Stoppard. em peça de Arthur Miller, sobre um como das possiblidades da web na Rosencrantz (Gary Oldman) e grupo de adolescentes flagrado em constituição de formas de ação política. O setor de inglês do Instituto de Guildenstern (Tim Roth) são personagens ritual demoníaco em 1692, na cidade As exibições pretendem fomentar o Letras da UFRGS realiza, até 12 de secundários na tragédia clássica de de Salem, Massachusetts. Com debate sobre a mídia corporativa e sua julho, o ciclo de cinema “Teatro William Shakespeare, Hamlet. Nesta Winona Ryder e Daniel Day-Lewis. função no atual contexto histórico. Mais Anglo-americano”, uma ação de comédia, eles fazem as mais absurdas informações através do site extensão que exibirá nove filmes tentativas de fugir de seus 21/06 www.videoativismo.br21.com. baseados em peças britânicas e destinos. Após a sessão, palestra com MY FAIR LADY Larissa Rohde. (Musical, EUA, 1964, 170min.) norte-americanas. As sessões serão A CORPORAÇÃO De George Cukor. Baseado na peça seguidas de debates coordenados (Documentário, EUA, 2003, 145min.) Pigmaleão, de George Bernard Shaw, o De Jennifer Abbott e Mark Achbar. por professores e pós-graduandos. filme conta a história de um professor Documentário norte-americano com Segundo Cláudio Zanini, profes- de fonética (Rex Harrison), que garante O VENTO E O LEÃO dezenas de entrevistas, incluindo sor do Instituto de Letras e um dos transformar uma vendedora ambulante (Drama, EUA, 1975, 119min.) presidentes de diversas corporações, organizadores da atividade, o objetivo de flores (Audrey Hepburn) em uma De John Milius. espiões corporativos e críticos como é integrar cinema e literatura, grande dama. O filme se passa no ano de 1904, no Noam Chomsky, Michael Moore, Naomi oportunizando ao público um Marrocos, e conta a história de uma Klein, Milton Friedman e Vandana Shiva, contato com as literaturas de língua 28/06 norte-americana que é seqüestrada mostrando como as corporações se inglesa e com o gênero dramático INFÂMIA juntamente com seu casal de filhos por (Drama, EUA, 1961, 107min.) tornaram uma instituição mundialmente através do cinema. “Assim, aqueles um líder berbere para constranger o dominante e o que está sendo feito para De William Wyler. que não estão familiarizados com a sultão do país africano. Durante o reverter esta situação. Releitura da peça da escritora norte- convívio com o raptor, a relação entre Data: 19 de maio, sábado literatura, com o teatro e com a americana Lílian Hellman, que narra seqüestrador e vítima muda, e a mulher Local e horário: Sala Redenção, às 16h língua inglesa poderão aproveitar o 24/05 os efeitos devastadores dos rumores passa a respeitá-lo e admirá-lo. Com Entrada franca ciclo, ter uma nova experiência, e UMA RUA CHAMADA PECADO escandalosos sobre duas professoras Candice Bergen, Sean Connery, Marc talvez buscar obras para futuras (Drama, EUA, 1951, 122min.) (Audrey Hepburn e Shirley MacLaine) Zuber e Brian Keith. ATENCO – ROMPER O CERCO leituras”, observa Cláudio. De Elia Kazan. num colégio interno de garotas. Data: 23 de maio, quarta-feira (Documentário, México, 2006, 47min.) A seleção das produções foi feita Filme baseado em peça de Tennessee Local e horário: Sala Redenção, às 19h Do Indymedia (CMI) de Chiapas. com base na relevância literária do Williams que retrata a visita de Blanche 05/07 Ingresso: R$ 2,50 Uma análise dos acontecimentos ocorridos dramaturgo que escreveu as peças, DuBois (Vivien Leigh), uma professora de ESTRELA SOLITÁRIA alma delicada e decadente, à sua irmã (Drama, EUA/Alemanha, 2005, 122min.) em San Salvador Atenco, durante os bem como no impacto que os filmes SONHOS TROPICAIS primeiros dias de maio de 2006, denun- Stella (Kim Hunter) e o cunhado, Stanley De Wim Wenders. Howard Spence vêm causando a cada geração. Para (Drama, Brasil, 2002, 120 min.) ciando as violações de direitos humanos Kowalski (Marlon Brando) em New (Sam Shepard), um astro de faroestes, De André Sturm. da população civil por parte das forças o professor Cláudio, essas obras Orleans. O contraste entre as personali- abandona o set de filma-gem em Em 1889, chega ao Rio de Janeiro o policiais mexicanas. O documentário são imortais, “pois suscitam dades dos personagens torna o convívio busca das mulheres de sua vida. O sanitarista Oswaldo Cruz, que retorna ao desnuda o modo de operar dos meios de questões individuais, sociais, insuportável. filme é fruto da parceira entre o país após anos de estudo na Europa. Na comunicação de massa, responsáveis pela psicológicas e literárias que dramaturgo Sam Shepard e o cineasta tentativa de extinguir a rubéola, ele criação de um ambiente de medo e por merecem ser discutidas”. 31/05 alemão. propõe que todos os maiores de seis construir um cerco informativo em torno O ciclo será apresentado na Sala O MARIDO IDEAL meses sejam obrigados a se vacinarem. dos acontecimentos de San Salvador Redenção, todas as quintas-feiras, (Comédia, EUA, 1999, 97min.) 12/07 A população reage contra a medida e, Atenco, durante o processo de sucessão às 13h. As inscrições podem ser De Oliver Parker. QUEM TEM MEDO DE VIRGÍNIA WOOLF? auxiliada pela formação de uma aliança Adaptação da peça homônima de Oscar (Drama, EUA, 1966, 131min.) presidencial no México em 2006. feitas no local ao custo de R$ 6,00 entre os opositores ao governo, desen- Data: 26 de maio, sábado Wilde. Sir Robert Chiltern (Jeremy De Mike Nichols. O jogo de amor e ódio para todo o ciclo. Informações pelos cadeia a Revolta da Vacina. Com Local e horário: Sala Redenção, às 16h Northam) é um político em ascensão na entre dois casais de professores Carolina Kasting, Bruno Giordano, Flávio Entrada franca telefones 3308-6691 e 3308-7081 Inglaterra, que tem sua reputação universitários. Com Richard Burton e Galvão e Cecil Thiré. ou através do e-mail ameaçada quando a Sra. Cheveley Elizabeth Taylor. Filme baseado em Data: 30 de maio, quarta-feira QUARTA GUERRA MUNDIAL [email protected]. (Julianne Moore) o chantageia. peça teatral de Edward Albee. Local e horário: Sala Redenção, às 19h (Documentário, EUA, 2003, 66min.) Ingresso: R$ 2,50 De Rick Rowley e Jacqueline Soohen. As histórias de populações ao redor do mundo que resistem contra a aniquila- ção sistemática. Resultado do esforço conjunto de centenas de colaboradores PLANETÁRIO CURSOS TEATRO em rede, o filme é produto de dois anos de filmagens junto aos novos movimen- REPRODUÇÃO tos em cinco continentes: do México à Programas para crianças Fórum Universidade e Coréia, do Iraque à África do Sul, e adultos Espiritualidade 2007: passando pela “Guerra anglo-saxônica olhares interdisciplinares contra o Terror” e chegando às grandes manifestações em Seattle e Gênova. Em todos os domingos de maio, o Data: 02 de junho, sábado Planetário exibe dois programas Evento promovido pelo Núcleo RODRIGO MATHIAS Local e horário: Sala Redenção, às 16h audiovisuais. O ingresso é 1Kg de Interdisciplinar de Estudos Transdis- Entrada franca alimento não perecível, que será doado ciplinares sobre a Espiritualidade (Niete) a entidades filantrópicas. Estacionamen- da Pró-reitoria de Extensão da UFRGS, GÊNOVA: A ZONA VERMELHA to gratuito. que tem por objetivo refletir sobre a (Documentário, Itália, 2001, 80min.) produção do conhecimento na área da Produzido a partir de 200 horas de O PRÍNCIPE SEM NOME (Infantil, 38min.) espiritualidade, analisando as implica- captação, por vídeo ativistas do CMI UK, conta a história de um príncipe que vive ções e impactos das concepções em 2001, na cidade de Gênova, durante as solitário em seu planeta e que, com a vigentes. Dos por quês e do não-pode-ser demonstrações contra a presença do chegada de uma nave vinda da Terra, Data: 23 a 26 de maio Grupo dos 8 na Itália. Da manipulação passeia com os novos amigos pelo Projeto Selene Local: Salão de Atos da UFRGS, informacional da mídia corporativa ao Sistema Solar. Faculdade de Educação e demais Atração deste mês do projeto Teatro, apoio e recepção da população genovesa Horário: 16h Programa de observação de planetas e espaços da Reitoria. Pesquisa e Extensão, a peça é um aos manifestantes vindos dos mais astros notáveis no céu de Porto Alegre Horários e programação: através do site monólogo concebido e interpretado por diversos países, Zona Vermelha é mais um A HARMONIA DO MUNDO (Adulto, através de telescópio. A atividade inicia http://www.psico.ufrgs.br/ Renan de Oliveira Mattei, que apresen- dos inúmeros documentários criados em 48min.), acompanha o desenvolver do logo após o pôr-do-sol no pátio do espiritualidade/ ta um personagem em processo de rede e disponibilizados na Internet que pensamento científico e suas implica- Planetário e, em caso de mau tempo, Inscrições: até 22 de maio no site ou na auto-reflexão e em busca de iluminação. dão conta das demonstrações em Gênova. ções filosóficas, mostrando como o será cancelada. abertura do evento, no Salão de Atos. A orientação cênica é de Clóvis Dias Data: 09 de junho, sábado homem chegou às bases do conhecimen- Datas: 19 e 20 de maio, sábado e Inscrições: R$ 60,00 (público em geral) e Massa, professor do Departamento de Local e horário: Sala Redenção, às 16h to de nossa época. domingo R$ 20,00 (estudantes) Arte Dramática do Instituto de Artes. Entrada franca Horário: 18h Entrada franca Informações: 3308-3098, das 13h às 18h. Temporada: 16 a 30 de maio, nas quartas-feiras Local e horário: Sala Qorpo Santo, em sessões às 12h30min e às 19h30min Entrada franca, com distribuição de ESPECIAL Onde? senhas uma hora antes de cada apresentação. Fronteiras da Pensilvânia (EUA) e diretor da Data: 22 de maio, terça-feira  Salão de Atos Av. Paulo Gama, 110 École des Hautes Études en O santo guerreiro do pensamento Sciences Sociales, em Paris. Aborda A SABEDORIA DO FUTURO: SEIS  Sala Redenção a história da educação, a história do FACES DA MUDANÇA GLOBAL Av. Paulo Gama, s/nº Seminário internacional organizado livro e da leitura. Recentemente, ele Conferência com Patrick Dixon. Espetáculo teatral que resulta de dois  pela Copesul em parceria com a tem se voltado para a relação entre a Apontado como um dos vinte mais Sala Qorpo Santo anos de pesquisa desenvolvida pelo Av. Paulo Gama, s/nº professor Xico de Assis, no Departamen- UFRGS, UERGS, e PUCRS. O cultura escrita e literatura (principal- importantes pensadores vivos do to de Arte Dramática da UFRGS. A peça evento, cujas inscrições já estão mente peças teatrais) para França, mundo empresarial e econômico,  Sala Alziro Azevedo apresenta a vida de São Jorge, um dos encerradas, ocorre no Salão de Atos Inglaterra e Espanha. Seu livro mais Dixon é presidente da Global Change Av. Salgado Filho, 340 santos mais populares e controversos da da UFRGS, das 19h30min às 22h. recente é Escrever e apagar, lançado e autor de doze livros. É também  Instituto do Artes da UFRGS tradição católica. A narrativa dramática Informações pelo telefone 3333- neste ano. Sandra Pesavento é fundador da agência internacional convida o espectador a construir sua Rua Senhor dos Passos, 248 6476 ou através do site historiadora e professora da UFRGS. para AIDS, ACET, com programas em própria leitura sobre a vida dessa figura  Auditorium Tasso Corrêa mítica, fundamental para a religiosidade www.fronteirasdopensamento.com.br É autora de Visões do cárcere; Uma dezessete países. Foi palestrante no Rua Senhor dos Passos, 248 brasileira. outra cidade: o mundo dos excluídos Fórum Econômico de Davos, em HISTÓRIA: A LEITURA DO TEMPO no final do século XIX e Imaginário 1997, e comentarista em veículos de Data: 18 de maio, sexta-feira  Planetário Local e horário: Sala Alziro Azevedo, Conferências com Roger Chartier e da cidade: representações do urbano comunicação como o Financial Av. Ipiranga, 2.000 às 20h Sandra Jatahy Pesavento. Chartier é (Paris, Rio de Janeiro e Porto Alegre), Times e a revista Time. Entrada franca com retirada de senhas professor visitante na Universidade dentre outras publicações. Data: 05 de junho, terça-feira  Faculdade de Educação uma hora antes de cada apresentação. Av. Paulo Gama, s/nº JORNAL DA UNIVERSIDADE | MAIO DE 2007 | 15 P ERFIL FLÁVIO DUTRA Ricardo Schneiders

Difícil definir: jornalista, pu- blicitário ou relações públicas? Ele prefere dizer que é um político. Na UFRGS, atualmente, pode ser encontra- do na sala da vice-direção da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico), da qual também foi aluno em 1970. Embora tenha passado no vestibular para o curso de jornalismo, quando este ain- da era vinculado à Faculdade de Filosofia, acabou fazendo par- te da primeira turma do curso de Comunicação, com habilitação em publicidade e propaganda e relações públicas, criado naquele ano.

Um porto-alegrense tranqüilo

Jacira Cabral da Silveira de jovens com e sem envolvimento ços. Foi reprovado na terceira série do político. antigo ginásio. Motivo da reprovação? Fisgado pela comunicação Mas Ricardo Schneiders da Silva Ricardo sempre viveu em Porto “Atritos de personalidade” com os pro- também pode ser apresentado como Alegre, cidade que não trocaria por fessores de inglês e latim. No final da década de 60, Ricardo com dedicação exclusiva. Hoje, ele um tranqüilo pisciano de 57 anos, que nenhuma outra para morar e traba- foi morar com um grupo de jovens comenta que nunca havia passado gosta de cozinhar, cultivar os própri- lhar. Nasceu no dia primeiro de mar- Leituras – Tão grande quanto o amor em Petrópolis, no estado do Rio de pela sua cabeça fazer carreira no os temperos em seu apartamento tér- ço de 1950 e cresceu no bairro Moi- que nutre por Porto Alegre é a admira- Janeiro, onde concluiu o clássico. magistério: “Quando surgiu o reo no bairro Bom Fim e conversar nhos de Vento. Da casa de esquina, ção que Ricardo tem pela história do Era o grupo Viva Gente, inspirado no convite, foi uma surpresa. Aceitei com os amigos. Há dois anos, renun- na Coronel Bordini com a Anita estado. Apreço despertado na adoles- movimento europeu Rearmamento como um desafio e comecei a gostar ciou ao volante de seu antigo fusca Garibaldi, a família Silva mudou-se cência, com a leitura de o Tempo e o Moral, que surgiu na época do pós- muito”. Eram tempos de ditadura, guerra e tinha como propósito amarelo, mas garante que, quando se para outra residência na Quintino Vento, de Erico Veríssimo. Mas o inte- mas Ricardo garante que sempre foi despertar nos jovens uma mentali- transparente ao expressar suas aposentar “no dia 1º de março de resse literário do professor de jornalis- Bocaiúva, próximo ao clube Grêmio dade solidária. opiniões críticas quanto ao governo 2009”, comprará outro fusquinha Náutico União, onde Ricardo e os ir- mo é eclético. Mais recentemente, o li- A experiência de morar em um e aos meios de comunicação. para enfrentar as estradas de chão ba- mãos gostavam de nadar. Por reco- vro O ponto de mutação, de Fritjof sítio e promover uma filosofia de Em 1979, foi aprovado na tido que levam à praia da Gamboa, mendação médica, há um mês ele Capra, inspirou Ricardo a organizar um vida através da música, de shows e seleção para o mestrado em no município de Garopaba, em San- voltou a “entrar n’água”, está fazen- seminário de Filosofia e Comunicação, viagens pelo Brasil deixou marcas Sociologia e Ciências Políticas da ta Catarina. É lá que pretende morar do hidroginástica duas vezes na se- discutindo o novo paradigma científi- importantes em Ricardo. Além de UFRGS. No segundo semestre do e curtir sua futura casa na encosta do mana devido a problemas de coluna: co da visão holística de natureza. fazer o planejamento e elaborar os curso, passou na seleção para o morro com vista para o mar. “Mas pretendo mesmo é voltar a na- Além da Filosofia, ele coleciona roteiros das viagens do grupo, cabia programa de bolsas da Fulbright. dar como fazia na juventude.” poetas como Walt Whitman e Fer- a ele produzir os show localmente, o Assim, Ricardo embarcou para a Escoteiro – Pois é, este cara de cabe- O convívio familiar foi muito in- nando Pessoa, embora seja Mário que implicava em propaganda, Filadélfia, na Pensilvânia, onde contatos com tevês, rádios e jornais. lo liso, amarrado na nuca, metido em tenso, marcado pelo companheirismo Quintana que logo lhe venha à men- encontraria um período de transição “Ali começou meu interesse pela governamental com a eleição de tudo que acontece na Fabico e te: “A vez primeira que me mataram e pelas características de uma educa- área de Comunicação.” Ronald Reagan. “Foi uma guinada articulador de vários projetos de ex- ção germânica. “Tínhamos total liber- perdi um jeito de sorrir que eu tinha, Terminada esta etapa de sua vida, para a direita que provocou interfe- tensão engajados com questões soci- dade para fazermos o que quiséssemos, depois de cada vez que me mataram, com passagem comprada de regres- rência direta, nos programas ais, já vestiu cáqui e teve condecora- inventarmos o que fosse, desde que as- fui perdendo qualquer coisa mi- so a Porto Alegre, a morte do voltados para a comunicação ções na lapela do uniforme de esco- sumíssemos a responsabilidade de nha...” Mas nada se compara ao seu presidente Costa e Silva o impediria internacional no Estados Unidos.” teiro. Muito ativo, foi um dos mais nossos atos”. Essa é uma das heranças fascínio pela literatura policial de de retornar ao Rio Grande do Sul Como a pesquisa de Ricardo era novos chefes de escoteiros do estado e mais fortes impressa no caráter dos fi- Agatha Christie e Georges Simenon, para se inscrever no vestibular da uma análise crítica, comparando a também atuou como líder de grupos lhos de Helga Schneiders da Silva e João dos quais possui a obra completa. UFRGS. Inconformado, já na capital cobertura jornalística norte-america- Barbosa da Silva. A lembrança do texto de Quintana gaúcha, ele vai à Faculdade de na e brasileira a respeito das O pai foi funcionário público e remete Ricardo ao tempo em que fez Filosofia e pede audiência com o noticiais internacionais, ele foi diretor Romeu Mucilo. Diante dos como a renda não era suficiente para teatro de arena e estudou no Instituto convidado a mudar de foco ou fatos, o diretor aceitou sua inscri- transferir-se de universidade. Ele sustentar seis pessoas, ele, a esposa e de Artes da UFRGS. Assim que termi- Acordo às seis horas ção, mas havia um impedimento, preferiu retornar ao Brasil e se os quatro filhos: Marco Aurélio, Ale- nou o curso de Comunicação pediu da manhã. Banho. Café. pois faltava o exame médico. Tirando engajar nas discussões sobre “ xandre, Ricardo e Heloísa, os tios das reingresso para fazer Direção de Tea- o receituário da pasta, o também mudança curricular que iniciavam Leitura do jornal e rádio crianças ajudaram a custear os estu- tro, tendo como colegas Dilmar Mes- médico Mucilo preencheu o docu- em todo o país. “Voltei em 81 e, no ligado para saber dos dos sobrinhos em colégios como sias, Lurdes Elói e Celso Loureiro Cha- mento e comentou com o rapaz: ano seguinte, pedi minha exonera- as notícias. Durante Farroupilha e Rosário. Ricardo fazia ves. Chegou a trabalhar profissional- “Agora espero que passes no ção do cargo de técnico para me sua parte, confeccionando artesanato mente no grupo de teatro Girassol, que vestibular e não me faças passar dedicar à docência e me envolver o dia todo, muito café, e vendendo para amigos e colegas. existe até hoje sob a direção de Dilmar vergonha”. E não fez. totalmente com a elaboração da litros de café. Como estudante, sofreu alguns percal- Messias. Também fez produção e No segundo semestre do curso, proposta do novo currículo, aprovado atuou em algumas peças, só abando- Ricardo começou a trabalhar como em 84 e implantado em 85.” nando o teatro quando começou a dar bolsista na Rádio da Universidade, Mesmo não tendo concluído o no setor de radiojornalismo. Fazia mestrado, Ricardo não lamenta o aula na universidade. entrevistas e redigia, sob a coorde- tempo em que viveu no exterior. “A Música, teatro, dar aula, paixões vi- nação da professora Iara Bendati. Filadélfia é um importante centro vidas sempre na mesma cidade, uma Prestes a concluir o curso, conse- cultural, com uma grande orquestra história pessoal com endereços preci- guiu uma bolsa-estágio na Asses- sinfônica, inúmeras galerias de arte

ARQUIVO PESSOAL sos: lar, trabalho e amigos. Já foi mais soria de Imprensa da Universidade. e museus.” de sair à noite, freqüentar bares, sair A experiência deu tão certo que, ao Por volta dos anos 90, o envolvi- com a turma. Hoje, gosta mesmo é de se formar em 1973, foi contratado mento com o lado administrativo ficar em casa onde diz ler e ver de tudo: em maio do ano seguinte como da docência, terminou afastando-o “Até mesmo para criticar”. Aos sába- técnico em comunicação social. da área teórica, pois já não havia dos e domingos, tira um tempo para Dois anos depois, em 1976, foi tempo para atualizar seus estudos. responder às mensagens que se acu- contratado como professor horista “Na administração, tem-se cada na Fabico, responsável pelas vez menos tempo para estudar. É mulam durante a semana. Além do disciplinas de Teoria da Comunica- um setor que exige muito tempo e hobby da fotografia, Ricardo se diz ção e de Semiótica. energia.” Só na direção da Fabico, bom assador e pretende desenvolver Ricardo manteve os dois contra- Ricardo atuou por dez anos. Em 1973: Ricardo (à esq.) sua habilidade culinária, quando se tos até 1983, quando pediu exonera- 1996, assumiu a direção pela numa encenação de aposentar. “Uma das coisas que me ção como técnico e a alteração do primeira vez e, é vice-diretor há Vestido de Noiva ajuda a relaxar é ir para a cozinha.” contrato de horista para professor duas gestões. JORNAL DA UNIVERSIDADE | MAIO DE 2007 E NSAIO

Flávio Dutra

As imagens deste ensaio, feitas pela dupla Denise Helfenstein e Gustavo Diehl, foram obtidas num processo artesanal conhecido como pinhole (que utiliza apenas uma câmara obscura que pode ser uma simples lata vedada, com um furo do diâmetro de uma agulha e material fotossensível). Os fotogramas são colocados no interior do aparelho, expostos pelo buraco que é aberto durante alguns momentos, e então revelados em laboratório, um por vez, tal como se fazia com as chapas de vidro nos primórdios da arte fotográfica. A câmera, portanto, não possui objetiva, nem visor, nem botão disparador. Diferente das máquinas fotográficas usuais, a pinhole não atua como um apêndice do olho. Ela não é levada ao rosto para que seja escolhido o enquadramento. Recorta-se espaço e tempo de uma maneira diferente, sem a “mira” e sem o “gatilho”. O dispositivo parece não “buscar” a imagem, mas apenas recebê- la, aberto ao imprevisível e ao surpreendente. A luz é sugada através do pequeno orifício para o interior da câmera, sensibilizando o filme de modo lento, gradual. Num mesmo negativo cabe toda uma respiração, um riso, um gesto, um movimento, impresso nos sais de prata, sem o intermédio das lentes. Da pele direto ao grão. A mostra desta página é composta por algumas das fotografias do ensaio que recebeu o III Prêmio Casa de Cultura Mário Quintana (antigo Prêmio Gaúcho de Fotografia). O ensaio, originalmente composto por 37 imagens em preto-e-branco de dimensões variadas, foi apresentado em setembro de 2006 na Galeria Augusto Meyer da Casa de Cultura Mário Quintana.

Frag tos men Frag a fotografia sem objetiva tosFragmentostos men men FOTOS DE FragDENISE HELFENSTEIN E GUSTAVO DIEHL