UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA GILBERTO MELLO PINHO

PODER POLÍTICO E ECONÔMICO NA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DE 2010

Tubarão 2011 GILBERTO MELLO PINHO

PODER POLÍTICO E ECONÔMICO NA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DE 2010

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Linha de Pesquisa: Justiça e sociedade Orientador: Prof. Vilson Leonel, Msc.

Tubarão 2011 GILBERTO MELLO PINHO

PODER POLÍTICO E ECONÔMICO NA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DE 2010

Esta monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovada em sua forma final pelo Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Tubarão, 17 de junho de 2011.

______Prof. e orientador Vilson Leonel, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina

______Prof. Renato Muller Bratti Universidade do Sul de Santa Catarina

______Prof. Léo Rosa de Andrade, Dr. Universidade do Sul de Santa Catarina 3

Dedico o presente trabalho à infanto- democracia brasileira. 4

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais. Eles merecem um agradecimento especial pelo amor, pelo esforço e pela dedicação que têm por mim. Agradeço aos meus irmãos, em especial ao Jonas, pela colaboração neste trabalho. Agradeço aos meus amigos, em especial ao André “Fofolete”, ao Guilherme “Bitenca” e ao Rômulo “Chubasa”, pelo acompanhamento durante a graduação. Por fim, agradeço a minha atual namorada, pelo apoio durante a construção deste trabalho. 5

“A pior forma de desigualdade é tentar fazer duas coisas diferentes iguais”. (ARISTÓTELES). 6

RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso tem por objeto o estudo das normas eleitorais que possibilitam a distinção de condições entre os candidatos no processo eleitoral e sua influência na eleição presidencial de 2010. Utilizou-se o método dedutivo e o procedimento de pesquisa bibliográfico, visto que foi utilizada, como fonte de pesquisa, a legislação vigente e as posições doutrinárias relacionadas ao tema. Tem-se como resultado que a atual Presidenta da República, , possuía a segunda maior possibilidade de investimento financeiro para a eleição presidencial de 2010, além de utilizar o Ex-Presidente como cabo eleitoral e também participar da espécie mais eficiente de propaganda eleitoral: os debates presidenciais transmitidos pelas emissoras de televisão. O segundo colocado na corrida presidencial, José Serra, pôde gastar a maior quantia em espécie durante a campanha, sendo que ele também participou dos referidos debates. Marina da Silva, a terceira coloca, tinha a possibilidade de investir até metade da quantia em dinheiro que poderia ser gasta pelos primeiros colocados e participou daquela espécie de propaganda eleitoral. A quarta colocação pertenceu ao candidato Plínio de Arruda, que poderia gastar até duzentas vezes menos dinheiro que os demais candidatos, entretanto pôde participar dos debates presidenciais. Os demais candidatos não participaram do referido meio de propaganda e suas votações foram inexpressivas. Conclui-se que a legislação eleitoral brasileira possibilita a grande diferença de investimento financeiro nas campanhas eleitorais, além de assegurar a presença nos debates nas emissoras de televisão apenas aos candidatos filiados aos partidos políticos com representação na Câmara dos Deputados. Além disso, não há regulamentação nas normas eleitorais sobre a atuação como cabo eleitoral daquele que ocupa cargo eletivo. Essas hipóteses desigualam as condições entre os candidatos durante a campanha eleitoral e influenciaram no resultado da eleição presidencial de 2010.

Palavras-chave: Poder. Político. Econômico. Eleição. 7

ABSTRACT

This conclusion of course work aims the study of electoral rules that allow the distinction of conditions among the candidates in the electoral process and its influence in the presidential election of 2010. We used the deductive method and procedure of the research literature, as we use as a research current legislation and the doctrinal positions related to the topic. We have the result that the current President of the Republic, Rousseff, had the second highest possible financial investment for the presidential election of 2010, apart from using the Ex-President as a campaigner. Also she participated in the most efficient kind of electioneering: presidential debates broadcast by television. Deputy placed on the presidential race, Jose Serra, could spend the largest amount in kind during the campaign and also participated in those discussions. Marina da Silva, third place, had the opportunity to invest up to half the amount of money that could be spent by the winners and participated in that kind of electioneering. The fourth place belonged to the candidate Plinio de Arruda, who could spend up to two hundred times less money than other candidates; however he might join the presidential debates. The other candidates did not participate in those and their vote was meaningless. We conclude that the Brazilian electoral law allows for the large difference in financial investment in election campaigns, and ensure the presence in the debates on television stations only to those affiliated to political parties with representation in the House of Representatives. Moreover, there is no regulation in the electoral rules on electoral performance as one who takes out an elected office. These hypotheses unequal conditions among the candidates during the election campaign and influenced the outcome of the presidential election of 2010.

Keywords: Power. Political. Economic. Election. 8

LISTA DE SIGLAS

CE – Código Eleitoral CF – Constituição Federal LE – Lei das Eleições LI – Lei da Inelegibilidade LPP – Lei Orgânica dos Partidos Políticos TRE – Tribunal Regional Eleitoral TSE – Tribunal Superior Eleitoral

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...... 11 1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ...... 11 1.2 JUSTIFICATIVA ...... 12 1.3 OBJETIVOS ...... 12 1.3.1 Objetivo geral ...... 12 1.3.2 Objetivos específicos ...... 13 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...... 13 1.5 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS 14 2 BRASIL: REPÚBLICA, FEDERAÇÃO, DEMOCRACIA E PRESIDENCIALISMO 15 2.1 A REPÚBLICA VELHA ...... 16 2.2 A ERA VARGAS ...... 22 2.2.1 O governo provisório ...... 23 2.2.2 O governo constitucional ...... 24 2.2.3 O Estado Novo ...... 24 2.3 A REDEMOCRATIZAÇÃO BRASILEIRA E O SEU FIM ...... 26 2.4 DITADURA MILITAR ...... 28 2.5 A NOVA REPÚBLICA ...... 37 3 AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS ...... 41 3.1 DIREITOS POLÍTICOS ...... 41 3.2 DIREITO ELEITORAL...... 42 3.2.1 Princípios fundamentais do direito eleitoral ...... 42 3.2.1.1 Princípio da democracia ...... 43 3.2.1.2 Princípio da democracia partidária ...... 44 3.2.1.3 Princípio da legitimidade das eleições ...... 44 3.2.2 Fontes do direito eleitoral ...... 45 3.2.3 Organização da justiça eleitoral ...... 46 3.2.4 Competência da justiça eleitoral ...... 47 3.3 O PROCESSO ELEITORAL DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS ...... 48 3.3.1 Sufrágio ...... 49 3.3.2 Voto ...... 49 3.3.3 Sistema majoritário ...... 51 10

3.3.4 Partidos políticos ...... 51 3.3.5 Fases do processo eleitoral ...... 52 3.3.5.1 Preparação ...... 52 3.3.5.1.1 Alistamento eleitoral ...... 52 3.3.5.1.2 Registro de candidatos ...... 53 3.3.5.1.3 Campanha eleitoral ...... 55 3.3.5.2 Votação ...... 55 3.3.5.2.1 Eleição em dois turnos ...... 56 3.3.5.2.2 Juntas eleitorais ...... 56 3.3.5.2.3 Seções eleitorais ...... 57 3.3.5.2.4 Votação ...... 58 3.3.5.2.5 Totalização e apuração ...... 59 3.3.5.2.6 Diplomação ...... 60 3.4 CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE ...... 61 3.5 CAUSAS DE INELEGIBILIDADE...... 62 4 PODER POLÍTICO E ECONÔMICO NA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DE 2010 .... 66 4.1 USO E ABUSO DO PODER ECONÔMICO ...... 66 4.1.1 O uso e o abuso do poder econômico na eleição presidencial de 2010 .. 72 4.2 USO E ABUSO DO PODER POLÍTICO ...... 78 4.2.1 O uso e o abuso do poder político na eleição presidencial de 2010 ...... 79 5 CONCLUSÃO ...... 85 REFERÊNCIAS ...... 88

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1 INTRODUÇÃO

Império, República Velha, Era Vargas, período de redemocratização, ditadura militar e República contemporânea, este foi o caminho político do Estado Brasileiro desde o seu descobrimento pelos portugueses. Após curta história política, em 1988, o Brasil promulgou a Constituição Federal (CF), conhecida como “Constituição Cidadã” em virtude dos direitos e liberdades conferidos ao brasileiro. A partir de então, o país ingressou numa nova fase de redemocratização. Adotou-se a democracia representativa mista - o povo escolhia seus governantes e podia participar do processo legislativo. A Carta Magna igualou o voto do cidadão, sem deixar de proteger o sigilo e a liberdade do mesmo. A legislação eleitoral adotou como princípio a igualdade de condições entre os candidatos na campanha eleitoral. Esta lei dispõe sobre o abuso do poder político ou econômico, a propaganda eleitoral e os crimes eleitorais. Contudo, a própria legislação infraconstitucional prevê hipóteses que distinguem as condições entre os candidatos durante a corrida eleitoral. O projeto foi constituído a partir dessa ideia, sobre a qual o presente trabalho monográfico foi desenvolvido.

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

A atual CF, através do art. 1º, § 1º, adotou a democracia representativa mista, ou seja: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” 1. O nacional será cidadão quando, preenchidos os requisitos legais, adquirir os direitos políticos que estão regulados no capítulo IV da CF. A partir de então, o cidadão poderá participar do processo eleitoral, seja na modalidade passiva ou ativa. Neste processo, temos o candidato como sujeito

1 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 . Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2011. 12 passivo, que recebe votos do sujeito ativo, o cidadão. O candidato está sujeito às normas constitucionais e eleitorais para promover a divulgação de sua proposta de governo. Conduto, a legislação eleitoral abre caminhos para uma corrida desigual. A campanha do candidato ao cargo de Presidente da República também está sujeita àquelas normas. Desse modo, as normas dispostas na legislação eleitoral, que privilegiam determinada categoria de candidatos, influenciaram na campanha e no resultado da eleição presidencial de 2010 ?

1.2 JUSTIFICATIVA

Os cidadãos brasileiros, em sua maioria, são imaturos nas questões políticas. O processo eleitoral chega a ser ridicularizado. Neste campo, o eleitor desinteressado escolhe seu voto pela exposição do candidatado. Aparência física, confiança no discurso, publicidade. Contudo, o que menos se observa é a proposta de governo do candidato. Na última eleição presidencial, nove cidadãos se candidataram ao cargo de Presidente da República. Em virtude de sua situação política, ou econômica, a maioria deles não pôde expor ou argumentar suas propostas ao eleitor, uma vez que a própria legislação eleitoral autoriza essa distinção. As desigualdades da legislação eleitoral justificam a abordagem deste trabalho, pois a corrida ao cargo máximo do Poder Executivo deve ser isenta de desigualdades, entre as condições dos concorrentes, e até mesmo de injustiça.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo geral

13

Apontar as normas na legislação eleitoral que distinguiram as condições entre os candidatos no processo eleitoral e sua influência na eleição presidencial de 2010.

1.3.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos desta monografia são: a) demonstrar o caminho político do Brasil desde a proclamação da República; b) abordar de forma sintética sobre os Direitos Políticos; c) examinar o Direito Eleitoral, em especial acerca do processo eleitoral na eleição presidencial de 2010; d) discorrer sobre o uso do poder político e econômico; e) apontar as diferenças dispostas na legislação eleitoral que influenciaram a campanha dos candidatos; f) verificar a incidência dessa diferença e sua influência na eleição presidencial de 2010.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Na pesquisa apresentada, será deduzido um resultado adquirido de uma ideia, ou seja, a dedução estará na influência do resultado da eleição presidencial de 2010 em razão da ideia de que a legislação eleitoral dispõe de mecanismos para diferenciar a promoção das campanhas. Portanto, o método de abordagem a ser utilizado será o método dedutivo:

O método dedutivo parte de argumentos gerais para argumentos particulares. Primeiramente, são apresentados os argumentos que se consideram verdadeiros e inquestionáveis para, em seguida, chegar a conclusões formais, já que essas conclusões ficam restritas única e 14

exclusivamente à lógica das premissas estabelecidas2.

O método de procedimento utilizado pela presente pesquisa é a monográfica. Sobre o método, ressaltam Leonel e Motta que o “método monográfico consiste no estudo minucioso e contextualizado de determinados sujeitos, profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter generalizações”3. O estudo examina o assunto de maneira ampla e específica, observando fatores de influência. Por fim, tem-se que o procedimento que será utilizado é o bibliográfico. O problema debatido é explorado a partir do conteúdo disposto em artigos, doutrinas, meios eletrônicos etc.

1.5 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS

O desenvolvimento monográfico deu-se em três capítulos. O primeiro discorre sobre a história da política brasileira. Demonstra o caminho percorrido para atingir o atual Estado Democrático. O segundo aborda de forma sintética sobre os Direitos Políticos. O Direito Eleitoral é abordado de forma mais analítica, em especial o processo eleitoral para a ocupação do cargo do Presidente da República. O terceiro capítulo discute o poder político e econômico e as disposições que possibilitam a distinção de condições dos candidatos à corrida eleitoral, em especial na eleição presidencial de 2010, apontando as eventuais influências.

2 MEZZARIBO,Orides; MONTEIRO,Cláudia Servilha. Manual de metodologia da pesquisa no direito . São Paulo: Saraiva, 2003. p. 65. 3 LEONEL, Vilson; MOTTA, Alexandre de Medeiros. Ciência e pesquisa : disciplina na modalidade a distância. 2. ed. rev. atual. Palhoça: Unisul Virtual, 2007. p. 74. 15

2 BRASIL: REPÚBLICA, FEDERAÇÃO, DEMOCRACIA E PRESIDENCIALISMO

A compreensão deste trabalho está condicionada a uma breve explanação do conceito de quatro instituições políticas adotas pela atual Constituição Federal (CF): a República, a Federação, a Democracia e o Presidencialismo. A República, como forma de governo, é caracterizada

[...] de um lado pela ausência de privilégios políticos hereditários, de estruturas de linhagem e de nobreza; de outro, pelo reconhecimento, em tese, da vontade popular, o que não deve significar um nexo necessário entre República e Democracia, eis que regimes despóticos e tirânicos podem ocorrer num sistema de governo monárquico ou republicano 1.

Nas palavras de Pinho, Federação é

[…] uma aliança de Estados para a formação de um Estado único, em que as unidades federadas preservam parte de sua autonomia política, enquanto a soberania é transferida para o Estado Federal. O federalismo possibilita a coexistência de diferentes coletividades públicas, havendo diversas esferas políticas dentro de um único Estado, atribuições fixadas pela própria Constituição 2.

A Democracia é mais complexa, sua simples definição etimológica é insuficiente para suprir este estudo, e sua análise exaustiva seria por demais extensa. Ela deve ser estudada na ótica do Estado Moderno, diante da conquista das novas liberdades, posto que

o sentido mais amplo de democracia opõe-se então ao seu sentido mais restrito, pois este, apregoando as virtudes do mercado como forma de resolução de todos os males sociais, termina por restringir a noção do político a um mero exercício formal da democracia. Trata-se então de recuperar, desta forma de instituição política e de estruturação das relações econômicas, os valores e liberdade que se tornaram nossos 3.

Portanto, conforme Rosenfield, deve-se

[…] dissociar as liberdades conquistadas no transcurso dos séculos XIX e XX, que fazem doravante parte do ser do homem, do desmoronamento de

1 MELO, Osvaldo Ferreira de. Dicionário de direito político . : Forense, 1978. p. 112. 2 PINHO, Rodrigo César Rebello. Da organização, dos estados, dos poderes e histórico das constituições . 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 1. (Sinopses jurídicas, v. 18). 3 ROSENFIELD, Denis L. O que é democracia . 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1998. p. 34-35. 16

uma economia baseada na auto-regulação do mercado. A separação entre econômico e o político, bem como entre particular e público, vieram a ser determinações de liberdade. Toda tentativa de ‘igualá-los’ pode conduzir ao surgimento de um Estado com pretensões totalitárias4.

Nesse diapasão:

O Estado democrático é, por assim dizer, um sistema político composto de múltiplas dimensões que se desenvolvem em diferentes níveis de profundida. O seu ser é processual. Isto significa que a realidade produzida por um regime democrático constitui-se de várias formas de liberdades. A democracia engendra-se neste cruzamento de liberdades que, assim, a concretizam 5.

O Presidencialismo, adotado pela CF, é caracterizado em seu estado puro, ou seja, “pela acumulação num único cargo dos poderes de chefe de Estado e de chefe de Governo” 6. Como chefe de Estado, o Presidente é

[…] eleito pelo sufrágio universal do eleitorado, subdividido ou não em colégios. Nesta forma de Governo, o presidente ocupa uma posição plenamente central em relação a todas as forças e instituições políticas. Pelo que ali, pelo menos dominante, o chefe de seu partido; é o chefe do Governo ou administration , escolhe pessoalmente os vários ministros ou secretários de departamentos, que terão de abandonar o cargo a seu pedido e não são responsáveis perante o Congresso. O presidente representa a nação nas relações internacionais; estipula, se bem que o sujeito ao advice and consent do Senado, os tratados internacionais; é a ele que cabe o poder de declarar guerra. Além disso, é ele que tem iniciativa e é fonte de decisões e das leis mais importantes 7.

Vista a organização do Estado brasileiro, a seguir discorrer-se-á sobre os eventos históricos relevantes para a adoção das atuais instituições políticas.

2.1 A REPÚBLICA VELHA

Conhecida também como Primeira República, a República Velha deu fim ao regime de império que vigorava no país. A decadência do império iniciou em 1870

4 ROSENFIELD, 1998, p. 34-35. 5 Ibid., p. 34-35. 6 BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934 . Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2011. 7 BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934 , loc. cit. 17 e findou em 1891. Entretanto, a ideia de implantação da República nasceu na fase de pacificação do Segundo Reinado, na revolta chamada “A Praieira”, em 1848. Os principais objetivos desta revolta consistiam em:

1. Voto livre e universal do povo brasileiro 2. A plena e absoluta liberdade de comunicar os pensamentos por meio imprensa 3. O trabalho, como garantia de vida para o cidadão brasileiro 4. O comércio a retalho só para os cidadão brasileiros 5. A inteira e efetiva independência dos poderes constituídos 6. A extinção do Poder Moderador, do direito de agraciar 7. O elemento federal na nova organização 8. Completa reforma do Poder Judicial, em ordem a segurar as garantias dos direitos individuais dos cidadãos 9. Extinção da lei do juro convencional 10. Extinção do atual sistema de recrutamento 8.

A Monarquia conseguiu reprimir o movimento republicano de maior influência entre 1852 e 1870. A ideia adotada pelos brasileiros de implantação da República deu início à extinção do Império, que ocorreu de forma mais sistemática com a fundação do Partido Republicano. Em 1870, houve a publicação do Manifesto Republicano, que argumentava sobre a fragilidade do Brasil como a única monarquia da América. O descontentamento dos militares com a monarquia foi o motivo marcante para a implantação do novo regime. O positivismo, fundado por Auguste Comte, foi defendido entre os militares por Benjamin Constant. Nesse sentido:

Entre os militares, o ideal republicano penetrou graças a Benjamin Constant, seguidor do filósofo francês Auguste Comte, fundador do positivismo, sistema segundo o qual o conhecimento verdadeiro resulta da observação e experiência. Muitos oficiais passaram a acusar o governo de pouco se importar com os militares 9.

O exército uniu forças com a aristocracia cafeeira, que estava insatisfeita com a Monarquia ante a abolição da escravidão. Em 15 de novembro de 1889 foi proclamada a República. No dia seguinte, a família real, juntamente a D. Pedro II, foi banida. Entre 1889 e 1891, Marechal presidiu o país, governando através de decretos-lei até que fosse promulgada a nova CF. As principais medidas do governo provisório foram:

8 FARIA, Ricardo de Moura; MARQUES, Adhemar Martins. Síntese de história, história do Brasil . : Lê, 1980. v. 2. p. 26. 9 ARRUDA, José Jobson de Andrade; PILETI, Nelson. Toda a história do Brasil : história geral e história do Brasil. 3. ed. São Paulo: Ática, 1995. p. 232. 18

- escolheu a República Federativa como regime político; - transformou as províncias em Estados; - dissolveu as Assembléias Provinciais e Câmaras Municipais e nomeou governadores para os Estados e intendentes para os municípios; - instituiu a bandeira republicana, que permanece até hoje; ofereceu cidadania brasileira aos estrangeiros aqui residentes: a grande naturalização ; - convocou a Assembléia Constituinte; - declarou a separação entre Igreja e Estado, instituiu o casamento civil e a secularização dos cemitérios; - reformou o Código Penal 10 .

O congresso constituinte, no final de 1890, deu início aos trabalhos de apreciação do projeto de constituição elaborado por uma comissão especial nomeada pelo primeiro Presidente da República. Após trinta e nove anos do fim da Revolta Praieira, o governo brasileiro instituiu oficialmente a República, através da CF, de 1891, que continha como principais características:

Presidencialismo. Federalismo. Inspirada nas Constituições dos EUA, Suíça e Argentina, Direito de voto reservado aos maiores de 21 anos. Subsolo pertencente ao proprietário do solo. Confirmação da separação entre Estado e Igreja. Liberdade de culto. O voto não era secreto 11 .

A promulgação da primeira CF, dos Estados Unidos do Brasil, pôs fim no governo provisório, o congresso elegeu Marechal Deodoro da Fonseca como o primeiro presidente da República, com base no artigo 1º, das Disposições Transitórias da Constituição de 1891, que dispunha:

Promulgada esta Constituição, o Congresso, reunido em assembléia geral, elegerá em seguida, por maioria absoluta de votos, na primeira votação, e, se nenhum candidato a obtiver, por maioria relativa na segunda, o Presidente e o Vice-Presidente dos Estados Unidos do Brasil 12 .

Em 23 de novembro de 1891, Marechal Deodoro da Fonseca renunciou a presidência com receio de uma nova crise política e possível guerra civil. Assumiu o Vice-Presidente, Marechal , que consolidou a República. O mandato de Floriano Peixoto terminou em 15 de novembro de 1894, mesma data que findaria o mandato de Marechal Deodoro da Fonseca. Dessa forma, Floriano Peixoto “como Vice-Presidente, exerceu a Presidência até o fim do quadriênio, autorizado pelo

10 ARRUDA; PILETI, 1995, p. 249. 11 FARIA; MARQUES, 1980, p. 37. 12 BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891 . Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2011. 19

Congresso Nacional, em decorrência da renúncia de Deodoro da Fonseca” 13 . Eleito através de eleição direta e empossado em 1894, o primeiro Presidente civil da República, Prudente José de Morais Barros, deu início a uma nova era da política brasileira, chamada de política do café-com-leite 14 . Segundo Arruda e Pileti, houve apenas uma substituição de grupos dominantes, eis que, “no início da República, ocorreu uma substituição de grupos dominantes: cai a antiga oligarquia açucareira, sobe a nova oligarquia do café”15 . Destaca-se que:

O novo grupo se consolidou no poder pelo fortalecimento das oligarquias estaduais – pelo coronelismo. Os coronéis controlavam os eleitores, garantindo ao candidato situacionista sempre uma maioria de 90% dos votos. Daí se passou à política dos governadores : eles começaram a apoiar e a influenciar a política nacional, em troca de benefícios prestados pelos governos federais. Esta política transformou-se rapidamente na política do café-com-leite, pela qual se revezavam na presidência da República políticos de São Paulo e . A expressão tem uma aplicação simples: São Paulo, maior produtor de café do país; Minas, maior produtor de leite 16 .

A partir do governo de , os candidatos dos estados de São Paulo e Minas Gerais revezavam o cargo máximo do Poder Executivo, o qual era facilmente controlado pelo chamado “Voto de Cabresto”, modo de repressão aos eleitores e ofensa à democracia.

Os expedientes para se conseguir a total manipulação dos votos das populações rurais eram os mais variados (intimidação, certidões e títulos falsificados, anulação de votos, etc.). A este controle dos votos deu-se o nome de ‘Voto de cabresto’, e o maior ou menor prestígio de um ‘Coronel’, dependia do maior ou menor número de votos que ele consegui (sic) para os candidatos indicados pelas oligarquias estaduais dominantes 17 .

O coronelismo reinou durante trinta e seis anos e elegeu, além de Prudente de Morais, os seguintes presidentes: Campos Sales, civil, paulista, militante do Partido Republicano Paulista (PRP), tendo Rosa e Silva como o vice- presidente, tomou posse em 15 de novembro de 1898 e exerceu seu mandato até a

13 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: Floriano Vieira Peixoto. Presidência da República Federativa do Brasil , Brasília, DF. Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2011. 14 ARRUDA; PILETI, 1995, p. 252. 15 Ibid., p. 252. 16 Ibid., p. 252. 17 FARIA; MARQUES, 1980, p. 41. 20 mesma data em 1902. A eleição deste presidente consolidou a oligarquia cafeeira no poder e instituiu a “política dos governadores”, que apoiava grupos dominantes e aliados do governo federal em cada Estado. O progressista Rodrigo Alves, também civil, paulista e militante do PRP, tomou posse em 15 de novembro de 1902, permanecendo no cargo até 15 de novembro de 1906. O principal objetivo deste progressista era o de modernizar o Brasil, já que seu mandato coincidiu com o ciclo da borracha, fator que alavancou a economia, já que se produziam noventa e sete por cento da produção mundial. Entretanto, seu mandato foi conturbado, tendo em vista, dentre outros fatores, o índice de desemprego elevado ante a crise comercial e política anti-industrial do governo. A ausência da democracia oprimia a oposição 18 . O mineiro e civil tomou posse em 15 de novembro de 1906, exercendo seu mandato até 14 de junho de 1906, quando faleceu. O carioca e vice- presidente Nilo Peçanha, do Partido Republicano Fluminense, assumiu a presidência até 15 de novembro de 1910. Em 1910, surgiram as primeiras manifestações contra o eixo São Paulo- Minas Gerais. O civil Rui Barbosa, apoiado por São Paulo e Bahia, enfrentou nas urnas o militar , que era apoiado por Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A candidatura de Rui Barbosa levou o nome de “Campanha Civilista”, que visava a deter o exercício do poder pelos militares. Contudo, o coronelismo reinou mais uma vez e Hermes da Fonseca foi eleito. Hermes da Fonseca, atuante pelo Partido Republicano Conservador, foi o primeiro presidente eleito após o rompimento da política do café-com-leite.

Hermes da Fonseca foi o primeiro militar eleito à presidência através de um pleito nacional. Sua eleição expressou a falta de acordo entre as lideranças paulistas e mineiras, e a emergência no cenário político da aliança do Rio Grande do Sul com os militares, rompendo assim a ‘política do café com leite’19 .

O militar governou o país entre 15 de novembro de 1910 e 15 de novembro de 1914. A política adotada não agradou os oposicionistas e governistas,

18 ARRUDA; PILETI, 1995, p. 253. 19 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: Hermes da Fonseca. Presidência da República Federativa do Brasil , Brasília, DF. Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2011. 21 o que levou à reorganização do eixo São Paulo e Minas Gerais. Wencesláo Braz Moreira Gomes, ex-vice-presidente, militante pelo Partido Republicano Mineiro (PRM), chegou ao poder pela retomada da política do café- com-leite. Governou entre 15 de novembro de 1914 e 15 de novembro de 1918, período que coincidiu com a 1ª Guerra Mundial, o que levou ao enfraquecimento da economia. Rodrigo Alves, que já havia presidido entre 1902 e 1906, elegeu-se como Presidente da República, porém não tomou posse em razão de seu estado de saúde, vindo a falecer em janeiro de 1919. O Vice-Presidente tomou posse em 15 de novembro de 1918 e governou interinamente até 28 de julho de 1919, quando foi feita nova eleição, passando a ser o Vice-Presidente da República. Epitácio Lindolfo Pessoa de Souza, advogado, filiado ao PRM, exerceu seu mandato como Presidente da República, entre 28 de julho de 1919 e 15 de novembro de 1922. Neste período se iniciou a decadência da República Oligárquica.

Assim, em 1921, verifica-se a célebre ‘Reação Republicana’, primeira contestação de peso contra o predomínio do ‘café-com-leite’ no cenário político nacional. Neste ano, São Paulo e Minas Gerais, de comum acordo, indicaram o mineiro Artur Bernardes, para sucessão presidencial. Ainda nesta época, mineiros e paulistas acertaram que Washington Luís (um paulista) sucederia a Artur Bernardes, que não havia sequer sido eleito. É natural, pois, a reação dos chamados ‘médios Estados’ (Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro). Estes organizaram uma vigorosa oposição às candidaturas impostas e ao indicar o nome do carioca Nilo Peçanha para concorrer às eleições presidenciais, dão origem a célebre ‘Reação Republicana’20 .

Enquanto Artur Bernardes e Nilo Peçanha disputavam a Presidência da República, o jornal Correio da Manhã publicou uma carta atribuída ao mineiro Bernardes, a qual denegria a imagem do Exército. Mesmo a carta sendo falsa, alguns integrantes do Exército ficaram insatisfeitos com a eleição do candidato mineiro. Antes da posse, surgiu a primeira revolta tenentista, chamada “A revolta dos 18 do forte”. O tenentismo defendia a aplicação e regulamentação da democracia através da instituição do voto secreto, criação da Justiça Eleitoral, melhorias sociais etc. Em última análise, o tenentismo surgiu pela reprovação da República Oligárquica e fraudulenta.

20 FARIA; MARQUES, 1980, p. 46. 22

O inconformismo das camadas urbanas, dos setores médios da sociedade, da jovem oficialidade, da intelectualidade, enfim, de todos aqueles que reprovam a República oligárquica e fraudulenta. Neste sentido, o tenentismo contribuiu poderosamente para a desagregação da República Velha 21 .

Artur Bernardes presidiu todo o seu mandato, ou seja, de 15 de novembro de 1922 a 15 de novembro de 1926, em estado de sítio.

O presidente Artur Bernardes ainda enfrentou a Coluna Prestes, formada em 1925, sob o comando do tenente Luís Carlos Prestes, que percorreu o interior do país durante dois anos procurando sublevar as populações contra o seu governo e as oligarquias dominantes 22 .

O advogado Washington Luís, eleito para o mandato entre 15 de novembro de 1926 a 15 de novembro de 1930, foi o último presidente empossado durante a República Velha. Durante seu mandato, as revoltas tenentistas foram contidas. Em 1927, a “Coluna Prestes” chegou ao fim e seus integrantes refugiaram- se na Bolívia. A grande crise financeira de 1929 prejudicou a economia brasileira e a estabilidade do governo de Washington.

A crise econômica mundial de 1929, deflagrada com a quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 24 de outubro, foi a maior na história do capitalismo, atingindo diversos países e paralisando suas atividades econômicas. Seus efeitos no Brasil derrubaram a política de valorização do café, iniciada em 1906 com a assinatura do Convênio de Taubaté. O café, que respondia por 70% das exportações brasileiras, teve seu preço diminuído no mercado internacional. A crise do produto ameaçou a estabilidade do governo de Washington Luís que não permitiu a nova desvalorização da moeda, pleiteada pelos cafeicultores diante do desastre na Bolsa de Nova Iorque 23 .

Júlio Prestes venceu as eleições presidenciais, mas o golpe militar de 24 de outubro de 1930 impediu sua posse.

2.2 A ERA VARGAS

21 FARIA; MARQUES, 1980, p. 49. 22 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: . Presidência da República Federativa do Brasil , Brasília, DF. Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2011. 23 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: Washington Luís. Presidência da República Federativa do Brasil, Brasília, DF. Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2011. 23

O período de quinze anos, durante os quais Getúlio Vargas exerceu a chefia de Estado e de Governo, foi dividido em três fases: Governo Provisório, Governo Constitucional e Estado Novo.

2.2.1 O governo provisório

Nas eleições de 1º de março de 1930, concorreram Júlio Prestes, eleito através do coronelismo, e Getúlio Vargas. Grande parte da oligarquia brasileira não estava satisfeita com o predomínio da política café-com-leite. Além disso, a queda da bolsa dos Estados Unidos da América, em 1929, a desvalorização do café e o assassinato de João Pessoa, candidato à vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas, em julho de 1930, deram início à conspiração política.

A vitória do paulista Júlio Prestes, apoiado por Washington Luís, nas eleições presidenciais de 1º de março de 1930, foi contestada por suspeita de fraude. O assassinato de João Pessoa, presidente da Paraíba e candidato a vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas à sucessão presidencial, em 26 de julho de 1930, foi um fato decisivo para o agravamento dos movimentos de oposição ao governo de Washington Luís, já desgastado pela crise do café. Reassumindo o governo do Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas e outros políticos como Oswaldo Aranha deram início à conspiração política que levou ao movimento de 3 de outubro de 1930, a Revolução de 1930, como ficou conhecido o episódio. O presidente Washington Luís foi deposto em 24 de outubro, pelos chefes das forças armadas, e uma junta provisória de governo assumiu o poder, composta pelos generais Tasso Fragoso e Mena Barreto e pelo almirante Isaías de Noronha 24 .

Os generais Tasso Fragoso, Mena Barreto e o almirante Isaías de Noronha formaram o governo provisório que substituiu Washington Luís e exerceram o poder entre de 24 de outubro de 1930 e 03 de novembro de 1930. O gaúcho Getúlio Vargas sucedeu a junta provisória de 03 de novembro de 1930 a 20 de julho de 1934. A intenção do golpe militar era a redemocratização do país através da promulgação de uma nova Constituição. Contudo, Vargas protelava a convocação da Assembleia Constituinte, deixando descontente a oligarquia cafeeira. Em 1932, em São Paulo, eclodia a Revolução Constitucionalista.

24 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: Washington Luís, loc. cit. 24

A denominada Revolução Constitucionalista, para o regresso do Brasil às formas constitucionais. Observa-se, contudo, que uma Assembléia Nacional Constituinte já havia sido convocada pelo governo central dois meses antes da eclosão dessa fracassada revolução 25 .

A Constituição de 1934 extinguiu o cargo de Vice-Presidente, manteve a Federação e a República como forma de Estado e de Governo, instituiu a eleição direta, manteve a tripartição dos poderes políticos, dentre outras. O artigo 1º, das disposições transitórias, conferia à Assembleia Constituinte a obrigação de eleger o Presidente da República que exerceria o mandato durante o quadriênio 26 . Getúlio Vargas foi eleito.

2.2.2 O governo constitucional

O governo Vargas, entre 1934 e 1937, foi marcado pelo surgimento de dois partidos políticos: a Ação Integralista Brasileira, inspirada na ideologia fascista, e a Aliança Nacional Libertadora, tendo como presidente Luís Carlos Prestes, inspirada no ideal comunista. A ameaça de um novo golpe de estado através do Plano Cohen levou Vargas a instituir o Estado Novo, que dissolveu o Congresso Nacional e outorgou a Constituição de 1937.

2.2.3 O Estado Novo

As eleições presidenciais para o mandato de 1938 a 1942 aconteceriam em 03 de janeiro de 1938. Conduto, em 10 de novembro de 1937, instituiu-se o Estado Novo e foi outorgada a Constituição Federal, tendo como preâmbulo:

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, ATENDENDO às legitimas aspirações do povo brasileiro à paz política e social, profundamente perturbada por conhecidos fatores de desordem,

25 PINHO, 2001, p. 149. 26 BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934 , loc. cit. 25

resultantes da crescente a gravação dos dissídios partidários, que, uma, notória propaganda demagógica procura desnaturar em luta de classes, e da extremação, de conflitos ideológicos, tendentes, pelo seu desenvolvimento natural, resolver-se em termos de violência, colocando a Nação sob a funesta iminência da guerra civil; ATENDENDO ao estado de apreensão criado no País pela infiltração comunista, que se torna dia a dia mais extensa e mais profunda, exigindo remédios, de caráter radical e permanente; ATENDENDO a que, sob as instituições anteriores, não dispunha, o Estado de meios normais de preservação e de defesa da paz, da segurança e do bem-estar do povo; Com o apoio das forças armadas e cedendo às inspirações da opinião nacional, umas e outras justificadamente apreensivas diante dos perigos que ameaçam a nossa unidade e da rapidez com que se vem processando a decomposição das nossas instituições civis e políticas; Resolve assegurar à Nação a sua unidade, o respeito à sua honra e à sua independência, e ao povo brasileiro, sob um regime de paz política e social, as condições necessárias à sua segurança, ao seu bem-estar e à sua prosperidade, decretando a seguinte Constituição, que se cumprirá desde hoje em todo o Pais: CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL 27 .

Registrou-se que o Plano Cohen era a ameaça comunista referida pela CF. Todavia, referido plano era falso: a intenção era aterrorizar a população e implantar o regime ditatorial para controlar a situação.

Chegou-se a elaborar um plano falso, o Plano Cohen, que previa uma revolução comunista e o assassinato de centenas de políticos brasileiros. Getúlio decretou o estado de guerra, que lhe permitia prender qualquer pessoa sem ordem judicial, e procurou apoio das Forças Armadas e dos governadores. […] Getúlio tinha tanta certeza do sucesso do golpe, que seu ministro da Justiça, Francisco Campos, já redigia em segredo a nova Carta 28 .

Nesse contexto, o regime ditatorial perdurou até 1945. Neste período, os governos dos Estados foram destituídos e substituídos por nomeações do Governo. Em 02 de dezembro de 1937 foram extintos os partidos políticos. A Ação Integralista Brasileira tentou derrubar o governo em maio de 1938, mas seu fracasso consolidou a ditadura. O início da redemocratização brasileira deu-se graças à Segunda Guerra Mundial. Em 1942, Vargas declarou guerra aos países do Eixo Alemanha-Itália, principais ditaduras na Europa. A primeira manifestação sobre a redemocratização deu-se com a publicação do Manifesto dos Mineiros, em 1943.

27 BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1937 . Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2011. 28 ARRUDA; PILETI, 1995, p. 303. 26

Em 1945, a Segunda Guerra Mundial chegou ao seu fim, com a derrota dos países do Eixo. Tendo em vista o fim das ditaduras nazista e fascista, não havia motivos para a continuação do regime ditatorial.

Compreendendo que era impossível manter a ditadura, Getúlio Vargas elaborou um processo de abertura política. Em fevereiro de 1945, anunciavam-se eleições diretas para a presidência da República, ao mesmo tempo em que se preparava a convocação de uma Assembléia Constituinte 29 .

Criaram-se novos partidos políticos, os mais expressivos eram: a União Democrática Nacional (UDN), o Partido Social Democrático (PSD), o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido de Representação Popular (PRP) e o Partido Comunista Brasileiro (PCB). No dia 29 de outubro de 1945 chegou ao fim a Era Vargas, então José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal, chegou ao poder.

2.3 A REDEMOCRATIZAÇÃO BRASILEIRA E O SEU FIM

José Linhares governou o Brasil até a posse do primeiro presidente eleito após a Era Vargas. , da coligação PTB-PSD, foi eleito em 02 de dezembro de 1945 e governou entre 31 de janeiro de 1946 a 31 de janeiro de 1951. Em 18 de setembro de 1946 é promulgada uma nova CF, que visava à redemocratização do país, possuindo como características principais para a recuperação da autonomia das entidades federadas, a restauração do sistema de separação de Poderes, a retomada do regime democrático, a recriação do cargo de Vice-Presidente da República, e a adoção do sufrágio universal, direto e do voto secreto etc. 30 . Getúlio Vargas, eleito sob as regras da CF, de 1946, sucedeu Eurico e governou entre 31 de janeiro de 1951 a 24 de agosto de 1954, quando cometeu suicídio e justificou o ato, através de carta, mencionando a falta de reconhecimento de sua luta pelo povo brasileiro. Café Filho assumiu a presidência após a morte de

29 FARIA; MARQUES, 1980, p. 60. 30 MELO, 1978, p. 153. 27

Getúlio, ficando no poder até 08 de novembro de 1955, quando foi afastado por motivo de saúde, sendo substituído por . Carlos Luz era presidente da Câmara dos Deputados e foi afastado por imposição do Ministro da Guerra, Marechal Lott. Em 11 de novembro de 1955, o Presidente do Senado, , assumiu como Presidente até 31 de janeiro de 1956, quando assumiu . Juscelino Kubitschek, eleito com apoio da coligação PSD-PTB, visava à expansão da economia brasileira, criando o Plano de Metas.

Juscelino Kubitschek iniciou seu governo quando o país contava com aproximadamente 60 milhões de habitantes. Sua gestão foi marcada pelo Plano de Metas, cujo lema ‘cinquenta anos de progresso em cinco anos de governo’ se traduziu, sobretudo, em crescimento industrial. Entre 1955 e 1961, a produção do setor cresceu 80%, destacando-se as indústrias do aço, mecânicas, elétricas e de comunicações, e de equipamentos de transportes. Entre 1957 e 1961, a taxa de crescimento real foi de 7% ao ano. Esse processo, orientado pelo projeto nacional-desenvolvimentista, foi possibilitado pela existência de um amplo mercado interno, pela capacidade de produção de ferro e de aço e pela disposição externa de investimento. Além do incentivo à entrada de capitais externos, o governo voltou-se para as áreas de transporte e de energia, constituindo uma infra-estrutura para a expansão do parque industrial 31 .

A obra mais expressiva de Juscelino foi a construção de Brasília, inaugurada em 21 de abril de 1961, e a transferência da capital para lá. Jânio Quadros, sucessor de Juscelino, tomou posse em 31 de janeiro de 1961 e renunciou em 25 de agosto de 1961, quando o presidente da Câmara dos Deputados, Paschoal Ranieri Mazzilli, tomou posse até João Goulart, Vice-Presidente, retornar ao país.

Na qualidade de presidente da Câmara dos Deputados, conforme previa a Constituição vigente, Ranieri Mazzilli assumiu a presidência da República em 25 de agosto de 1961, em virtude de renúncia de Jânio Quadros e da ausência do vice-presidente João Goulart, que se encontrava em missão na China. Nessa ocasião, os ministros militares do governo Jânio - general Odílio Denys, da Guerra; brigadeiro Grun Moss, da Aeronáutica; e almirante Sílvio Heck, da Marinha - formaram uma junta militar que tentou impedir, sem sucesso, a posse de João Goulart, abrindo-se uma grave crise político- militar no país. A solução para o impasse foi a aprovação pelo Congresso, em 2 de setembro, de uma emenda à Carta de 1946, instaurando o regime parlamentarista de governo. João Goulart assumiu, então, a presidência em

31 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: Juscelino Kubitschek. Presidência da República Federativa do Brasil , Brasília, DF. Disponível em: . Acesso em 2 jun. 2011. 28

7 de setembro de 1961 32 .

João Goulart assumiu em 07 de setembro de 1961. A insatisfação do povo com o governo gerou a implantação do Parlamentarismo para limitar os poderes do Presidente. Em 06 de janeiro de 1963, através de plebiscito, o povo opta pelo Presidencialismo.

Mesmo com plenos poderes, o Presidente não conseguiu deter a crescente insatisfação que seu governo despertava em vários setores da sociedade. Inflação, sequência de greves, progressiva oposição interna e externa, ameaça das reformas de base, segundo a qual, o Presidente pretendia liquidar com o latifúndio, entre outras coisas, levam o governo de Goulart ao descrédito por parte de vários setores 33 .

Além da convocação do plebiscito que implantou o Presidencialismo, João Goulart tomou outras medidas que decepcionaram o povo e os militares. Dentre elas, estabeleceu o monopólio estatal sobre importação de petróleo e derivados, regulamentou a remessa de lucros ao exterior, assinou decretos que nacionalizavam as refinarias de petróleo e que desapropriavam, com fim de reforma agrária, propriedades com mais de cem mil hectares etc. No dia 26 de março de 1964, marinheiros e fuzileiros realizaram, no Rio de Janeiro, uma reunião desconhecida pelo Ministro da Marinha. Os responsáveis pela reunião foram presos e, logo em seguida, postos em liberdade, enfraquecendo o governo diante dos militares oposicionistas.

Em 30 de março, tropas mineiras começaram a deslocar-se rumo ao Rio. Na noite de 31, o governador de Minas, Magalhães Pinto, começou manifesto rompendo com Jango e acusando-o de fomentar a indisciplina nas Forças Armadas, de tentar realizar reformas sacrificando a normalidade constitucional e de acolher planos subversivos que pretenderiam tiranizar o povo. Outros comandantes e os governadores de São Paulo, Adhemar de Barros (PSP), e da então Guanabara, Carlos Lacerda (UDN), aderiram aos conspiradores 34 .

No dia 1º de abril de 1964, João Goulart foi deposto. Iniciou-se um novo período na política brasileira: a ditadura militar.

32 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: Paschoal Ranieri Mazzilli. Presidência da República Federativa do Brasil , Brasília, DF. Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2011. 33 FARIA; MARQUES, 1980, p. 67. 34 ARRUDA; PILETI, 1995, p. 323. 29

2.4 DITADURA MILITAR

Em abril de 1964, os militares chegaram ao poder com o objetivo de restaurar a democracia.

Os militares passaram a controlar a vida política brasileira logo nos primeiros dias de abril de 1964. Tinham chegado ao poder para, entre outras coisas, ‘salvar a democracia’, mas acabariam com ela e no poder ficariam por duas décadas 35 .

A ditadura militar se manteve no poder através dos Atos Institucionais (“espécie de ato instrumental de governo, de caráter discricionário, que é justificado pela oportunidade ou conveniência do momento político em que é gerado, ou seja, nas crises constitucionais que se seguem às revoluções e golpes de Estado.”) 36 . No Brasil, os militares promulgavam atos institucionais que revogavam a CF vigente na época. O Ato Institucional nº 1 foi a primeira ação militar que visava à organização governamental. Referido ato foi publicado em 09 de abril de 1964, sendo justificado pelo exercício do Poder Constituinte, na implantação do novo governo. Este poder seria exercido pelos chefes da revolução militar. A revolução não seria legitimada através do Congresso e o poder se concentraria no Presidente da República. O primeiro ato conferia ao chefe do poder executivo a possibilidade de suspender os direitos políticos pelo prazo de dez anos, conforme seu art. 10º:

No interesse da paz e da honra nacional, e sem as limitações previstas na Constituição, os Comandantes-em-Chefe, que editam o presente Ato, poderão suspender os direitos políticos pelo prazo de dez (10) anos e cassar mandatos legislativos federais, estaduais e municipais, excluída a apreciação judicial desses atos 37 .

Tal ato dispunha que o Congresso Nacional elegeria o Presidente da República e o mandato vigoraria até 31 de janeiro de 1966. Contudo, a Emenda Constitucional nº 9 estendeu o mandato presidencial até 15 de março de 1967.

35 ARRUDA; PILETI, 1995, p. 324. 36 MELO, 1978, p. 9. 37 BRASIL. Ato institucional n.1, de 9 de abril de 1964 . Disponível em: . Acesso em: 3 maio 2011. 30

Marechal Castello Branco foi eleito e empossado em 15 de abril de 1964, governando até 15 de março de 1967, e, através da edição dos Atos Institucionais nº 2, 3, e 4, fortaleceu o regime ditatorial militar. O Ato nº 2 extinguiu os partidos políticos e cancelou seus registros; suspendeu os direitos de vitaliciedade, estabilidade e inamovibilidade de funções por tempo certo. O Presidente, após manifestação do Conselho de Segurança Nacional, poderia demitir, dispensar ou remover os titulares destes direitos quando fossem contrários à Revolução, ainda no processo legislativo 38 . O Ato Complementar nº 4 alterou o Ato Institucional nº 2 e permitiu a recriação dos partidos políticos 39 . O terceiro Ato Institucional estendia as eleições indiretas aos cargos de Governador e Vice-Governador dos Estados e Prefeito Municipal, que seriam eleitos por voto direto e pela maioria simples 40 . O último ato promulgado por Castello Branco convocou o Congresso Nacional para analisar e votar o projeto constitucional apresentado pelo próprio Marechal. A CF, de 1967, passou a vigorar na mesma data em que Marechal Arthur da Costa e Silva era empossado como Presidente da República, em 15 de março de 1967. No governo de Costa e Silva, foram editados sete atos institucionais. Em 1967, a oposição reivindicou pela redemocratização do país:

Os dois primeiros anos do governo Costa e Silva foram de intensa atividade política, pois crescia o movimento de oposição ao regime militar. O Partido Comunista Brasileiro, reunido em seu VI Congresso, condenou a opção pela luta armada como forma de combate ao governo, dando origem a várias dissidências na esquerda brasileira. Em 1967 foi descoberto o foco de guerrilha rural na serra de Caparaó, Minas Gerais. Políticos de diferentes tendências formaram a Frente Ampla, sob a liderança de Carlos Lacerda e com o apoio de Juscelino Kubitschek e João Goulart. De caráter oposicionista, a Frente Ampla propunha a luta pela redemocratização, anistia, eleições diretas para presidente e uma nova constituinte 41 .

38 BRASIL. Ato institucional n. 2, de 27 de outubro de 1965 . Disponível em: . Acesso em: 3 maio 2011. 39 BRASIL. Ato complementar n. 4, de 20 de novembro de 1965 . Disponível em: . Acesso em: 3 maio 2011. 40 BRASIL. Ato institucional n. 3, de 5 de fevereiro de 1966 . Disponível em: . Acesso em: 3 jun. 2011. 41 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: Arthur da Costa e Silva. Presidência da República Federativa do Brasil , Brasília, DF. Disponível em: . 31

Entretanto, a luta oposicionista só gerou o fortalecimento do regime militar e o enfraquecimento da democracia brasileira. O governo agiu de forma imediata e, em 13 de dezembro de 1968, outorgou o Ato Institucional nº 5, que:

Suspende a garantia do habeas corpus para determinados crimes; dispõe sobre os poderes do Presidente da República de decretar: estado de sítio, nos casos previstos na Constituição Federal de 1967; intervenção federal, sem os limites constitucionais; suspensão de direitos políticos e restrição ao exercício de qualquer direito público ou privado; cassação de mandatos eletivos; recesso do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras de Vereadores; exclui da apreciação judicial atos praticados de acordo com suas normas e Atos Complementares decorrentes; e dá outras providências 42 .

O AI-5 fortaleceu o regime ditatorial e extinguiu as garantias democráticas concedidas pela CF de 1946. Os poderes discricionários da ditadura militar não tinham limites. O vice-presidente, , que era civil, declarou que, com a vigência do AI-5, temia até os atos dos militares de baixo escalão 43 . Entre dezembro de 1968 e outubro de 1969, foram outorgados mais doze Atos Institucionais. O AI-6, editado por Costa e Silva, diminuiu a competência do Supremo Tribunal Federal com a finalidade de diminuir encargos. Conforme o seu artigo 4º, os atos praticados de acordo com aquele Ato Institucional e com seus Atos Complementares não seriam submetidos à apreciação judicial 44 . O AI-7 regulamentava o funcionamento das Assembleias Legislativas e das Câmaras Municipais, bem como a remuneração dos respectivos membros e a vacância dos Prefeitos Municipais. O oitavo ato institucional dava poderes ao Poder Executivo para realizar uma reforma administrativa. O AI-9 alterou os artigos da CF de 1967, que regulamentavam a reforma agrária. O AI-10 estendeu a sanção referente à perda dos direitos políticos. Além da perda dos direitos políticos, poderia acarretar a perda de qualquer cargo ou função exercida na Administração Direta ou Indireta, aposentadoria compulsória e cessação imediata do mandato eletivo federal, estadual ou municipal, caso ainda

Acesso em: 2 jun. 2011. 42 BRASIL. Presidência da República Federativa do Brasil. Legislação histórica : atos institucionais, Brasília, DF. Disponível em: . Acesso em: 3 jun. 2011. 43 ARRUDA; PILETI, 1995, p. 327. 44 BRASIL. Senado Federal. Ato institucional n. 6, de 1º de fevereiro de 1969 . Brasília, DF. Disponível em: . Acesso em: 3 jun. 2011. 32 não tenham sido cassados. O último Ato Institucional editado por Costa e Silva visava à regulamentação das eleições dos Prefeitos Municipais. Em agosto de 1969, o Marechal foi afastado por motivos de saúde. Logo em seguida foi editado o AI-12.

Em 30 de agosto de 1969, foi afastado da presidência da República, em virtude de uma trombose cerebral. Como o Alto Comando das Forças Armadas temesse a reabertura do Congresso e a suspensão dos atos institucionais em vigor, foi editado em 31 de agosto o ato institucional nº 12 (AI-12), que impedia a posse do vice-presidente Pedro Aleixo, sucessor natural de Costa e Silva, e dava posse à junta composta pelos ministros Augusto Hamann Rademaker Grunewald, da Marinha, Aurélio de Lira Tavares, do Exército, e Márcio de Sousa e Melo, da Aeronáutica 45 .

Augusto Hamann Rademaker Grunewalda, Márcio de Souza e Melo e Aurélio de Lira Tavares editaram cinco atos institucionais, incluindo o AI-12. O AI-13 concedia ao Executivo o poder de banir do território nacional o brasileiro que comprovadamente fosse inconveniente para a segurança nacional. O próximo ato institucional revogava alguns dispositivos da CF de 1967.

Dá nova redação ao artigo 15, §11 da Constituição Federal de 1967; garante a vigência de Atos Institucionais, Atos Complementares, leis, decretos-leis, decretos e regulamentos que dispõem sobre o confisco de bens em casos de enriquecimento ilícito; exclui da apreciação judicial atos praticados de acordo com suas normas e Atos Complementares decorrentes 46 .

O AI-15 alterou a data da realização das eleições para os cargos de Prefeito e Vice-Prefeito Municipal. No dia 14 de outubro de 1969 foram editados os dois últimos Atos Institucionais da ditadura militar, os nº s 16 e 17. O AI-16 determinava a vacância dos cargos de Presidente e Vice- Presidente da República:

Art. 1º - É declarada a vacância do cargo de Presidente da República, visto que o seu titular, Marechal Arthur da Costa e Silva, está inabilitado para exercê-lo, em razão da enfermidade que o acometeu. Art. 2º - É declarado vago, também, o cargo de Vice-Presidente da

45 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: Aurélio Lyra Tavares. Presidência da República Federativa do Brasil , Brasília, DF. Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2011. 46 BRASIL. Ato institucional n. 16, de 14 de outubro de 1969 . Disponível em: . Acesso em: 3 jun. 2011. 33

República, ficando suspensa, até a eleição e posse do novo Presidente e Vice-Presidente, a vigência do art. 80 da Constituição federal de 24 de janeiro de 1967. Art. - 3º - Enquanto não se realizarem a eleição e posse do Presidente da República, a Chefia do Poder Executivo continuará a ser exercida pelos Ministros militares 47 .

A determinação para a vacância dos cargos citados ocorreu para garantir o ideal revolucionário e a manutenção dos militares no poder. Além disso, o AI-16 designava nova data para as eleições presidenciais, o dia 25 de outubro de 1969, realizado pelo Congresso Nacional. E, por fim, o AI-17 visava a transferir para a reserva os militares que conspiravam contra as Forças Armadas:

Confere ao Presidente da República poderes para transferir para reserva, por período determinado, militares que hajam atentado ou venham a atentar contra a coesão das Forças Armadas, sem restrição às atividades civis e à percepção de vencimentos e vantagens; exclui da apreciação judicial atos praticados de acordo com suas normas e Atos Complementares decorrentes; e dá outras providências 48 .

Em 17 de outubro de 1969, a junta militar, que atuava como chefe do Poder Executivo, promulgou a Emenda Constitucional nº 1, também conhecida como Constituição Federal de 1969. Este texto não revogou o AI-5, conforme dispunha seu artigo 182, com a seguinte redação: “Continuam em vigor o Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, e os demais Atos posteriormente baixados” 49 . Desde a proclamação da República, este foi o momento histórico de maior concentração de poder pelo Executivo, e só a ele incumbia a iniciativa de leis que regulassem matéria financeira, criação de cargos, funções ou empregos públicos, servidores públicos da União e seu regime jurídico. O artigo 81 dispunha que caberia apenas ao Presidente exercer a direção superior da Administração Federal, sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, vetar projetos de leis etc. A atuação do Poder Legislativo era limitada. Em 1980, por exemplo, o Legislativo aprovou 90% dos projetos emanados do Executivo 50 . Logo após a promulgação da EC nº 1, o general de exército Emílio Garrastazu Médici foi eleito o novo Presidente da República através do voto indireto.

47 BRASIL. Emenda constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969 . Disponível em: . Acesso em: 3 jun. 2011. 48 BRASIL. Presidência da República Federativa do Brasil. Legislação histórica , loc. cit. 49 BRASIL. Emenda constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969 , loc. cit. 50 ARRUDA; PILETI, 1995, p. 327-328. 34

Seu mandato vigorou entre 30 de outubro de 1969 e 15 de março de 1974. Médici intensificou a repressão política contra a oposição.

Com a posse do presidente Médici, entrava também em vigor a emenda constitucional nº 1, que se denominou ‘constituição da República Federativa do Brasil’ e incorporou as medidas de exceção previstas no ato institucional nº 5 (AI-5). O período foi marcado pelo recrudescimento da repressão política, da censura aos meios de comunicação e pelas denúncias de tortura aos presos políticos. A esquerda intensificou sua ação, com várias organizações optando pela luta armada. Durante o governo Médici, foram combatidos dois focos de guerrilha rural: Ribeira, em São Paulo, e Araguaia, no Pará 51 .

O sucessor de Médici foi o General , que governou entre 15 de março de 1974 a 15 de março de 1979. Geisel visava ao aperfeiçoamento democrático da política brasileira.

O governo Geisel foi marcado, desde seu início, pelo processo denominado pelo próprio presidente como de distensão lenta, gradual e segura, com vistas à reimplantação do sistema democrático no país. O binômio desenvolvimento e segurança, formulado pela ESG, foi mantido durante seu governo, caracterizado pela convivência entre uma política de tendência liberalizante e a atuação dos órgãos de segurança implantados após o golpe de 1964. Em 1974, o governo permitiu a realização de propaganda eleitoral, proibida desde a edição do AI-5, e os candidatos do MDB à Câmara dos Deputados e ao Senado obtiveram uma expressiva vitória nos principais estados do país, aumentando consideravelmente a bancada oposicionista nas duas casas. No início desse ano havia expirado o prazo de suspensão dos direitos políticos dos primeiros cassados pelo AI-1, como os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros e, em 1975, teve fim a censura prévia ao jornal O Estado de São Paulo, medida estendida mais tarde a outros órgãos da imprensa 52

Entretanto, Geisel ainda utilizava os mecanismos ditatoriais para dificultar a luta oposicionista, como o AI-5 e a criação da Lei Falcão.

Ainda em 1976, foi elaborada a Lei Falcão, que alterou a propaganda eleitoral, impedindo o aparecimento de candidatos ao vivo no rádio e na televisão. Em 1977, o Congresso Nacional foi fechado por 14 dias, em virtude da não aprovação da proposta de reforma do Poder Judiciário encaminhada pelo governo.

51 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: Emílio Garrastazu Médici. Presidência da República Federativa do Brasil , Brasília, DF. Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2011. 52 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: Ernesto Geisel. Presidência da República Federativa do Brasil , Brasília, DF. Disponível em: . Acesso em 2 jun. 2011. 35

Para assegurar a maioria governista no Legislativo, instituiu-se, em seguida, o chamado ‘pacote de abril’, que incluía uma série de medidas, dentre as quais a manutenção de eleição indiretas para governadores; a eleição indireta de um terço dos membros do Senado, que resultaria na criação da figura do ‘senador biônico’; a ampliação das restrições impostas pela Lei Falcão e a extensão do mandato do sucessor de Geisel para seis anos 53 .

Em 15 de março de 1979, o general-de-exército, João Baptista de Oliveira Figueiredo, foi eleito de forma indireta e sucedeu Ernesto Geisel. Figueiredo foi o último militar que chegou à Presidência da República, pois manteve a política de redemocratização implantada por Geisel. Em agosto de 1979, foi aprovada a Lei de Anistia,

[…] apesar das restrições, beneficiou cidadãos destituídos de seus empregos, presos políticos, parlamentares cassados desde 1964, permitindo a volta de exilados ao país. Foram também anistiados os responsáveis pelos excessos cometidos em nome do governo e da segurança nacional 54 .

Em novembro do mesmo ano, mediante aprovação do Congresso Nacional, entrou em vigor a Lei Orgânica dos Partidos, que:

[…] extinguia o bipartidarismo. Com o fim da Arena e do MDB, formaram-se o Partido Democrático Social (PDS), que congregava a maior parte dos ex- arenistas; o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), constituído sobretudo pelos antigos emedebistas; o Partido Popular (PP), fundado pelo senador emedebista e dissidentes da antiga Arena; o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), liderado pela ex-deputada Ivete Vargas; o Partido Democrático Trabalhista (PDT), liderado pelo ex- governador gaúcho Leonel Brizola e o Partido dos Trabalhadores (PT), fundado pelo líder sindical Luís Inácio Lula da Silva 55 .

Neste mesmo mês “foi aprovado o projeto do governo que previa eleições diretas de governadores e extinguia a figura do senador eleito indiretamente”56 . Em novembro de 1982, realizaram-se as eleições diretas para senador, deputado federal, governador, deputado estadual, prefeito e vereador. Além de não

53 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: Ernesto Geisel, loc. cit. 54 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: João Baptista Figueiredo. Presidência da República Federativa do Brasil , Brasília, DF. Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2011. 55 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: João Baptista Figueiredo. loc. cit. 56 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: João Baptista Figueiredo. loc. cit. 36 estender o direito de voto aos analfabetos e eleitores das áreas de segurança nacional, o governo tomou outras medidas para dificultar a vitória das oposições, entre elas: a proibição de coligações; todos os partidos deveriam lançar candidatos para todos os cargos; vinculação total de votos; o eleitor tinha que votar em candidatos do mesmo partido para todos os cargos; proibição do voto de legenda; manutenção da Lei Falcão; os candidatos não podiam falar por rádio ou televisão 57 . Os mecanismos adotados não foram suficientes para consagrar a vitória oposicionista, posto que

O PMDB elegeu os governadores de São Paulo, Paraná, Minas Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Acre, Amazonas, Pará e Goiás. O PDT conquistou o Rio de Janeiro. Ao PDS, couberam o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso e Nordeste: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. O PDS ficou em minoria na Câmara: 235 deputados federais, contra 244 da oposição (PMDB 200; PDT 23; PTB 13; PT 8). Para o Senado se elegeram 25 representantes: PDS 15; PMDB 9; PDT 1 58 .

Desde então a ditadura militar perdia sua força e a redemocratização se erguia. No fim de 1983, intensificou-se a campanha pelas eleições diretas para Presidente da República. Contudo, o governo entendia que a campanha era contrária à ordem da EC nº 1, já que era prevista a eleição do Presidente através do Colégio Eleitoral. O deputado Dante de Oliveira foi o autor do projeto da emenda que instituía as eleições diretas para Presidente da República. A campanha denominada “Diretas Já” chegou ao seu ápice em abril de 1984. Nesse contexto,

Os organizadores do movimento convocaram panelaços e buzinaços . O país inteiro foi tomado pelas manifestações, alegres e ordeiras, pelas reuniões e comícios que terminavam sempre com o Hino Nacional cantado pelos presentes, de mãos dadas para o alto, em clima de emoção cívica. Pesquisa mostravam que 90% dos brasileiros queriam votar para presidente 59 .

O governo usou todos os mecanismos possíveis para a manutenção do poder. Primeiro propôs a emenda para a realização das eleições diretas em 1988. O segundo meio foi através da violência: ninguém entrava ou saía de Brasília sem ser revistado pelas tropas do general Newton Cruz. A votação do projeto de Dante de

57 ARRUDA; PILETI, 1995, p. 335. 58 Ibid., p. 335. 59 Ibid., p. 336. 37

Oliveira ocorreu em 25 de abril de 1984. Assim,

Em clima de terror, Brasília amanheceu o 25 de abril de 1984, dia da votação. Em todos os Estados, armaram-se esquemas para fugir à censura e informar a população. Em São Paulo, havia um telefone ligado entre a Praça da Sé e Brasília. Do plenário do Congresso, o vice-governador Orestes Quércia transmitia, para milhares de pessoas reunidas na praça, o voto de cada parlamentar. A cada voto, contra ou a favor, o povo vaiava ou aplaudia. Finda a votação, a emenda das Diretas-já conseguiu 298 votos, 22 a menos que o necessário para ser aprovada. A frustração tomou conta da nação. Os nomes dos deputados que votaram contra (65) ou que não compareceram à votação (116) foram publicados pelos jornais e estampados pelas praças do país, expostos ao repúdio do público 60 .

A emenda de Dante de Oliveira não foi aprovada, mas a campanha “Diretas Já” enfraqueceu o governo militar, que tentava manter o controle do processo político para a transição ao regime democrático. De forma diferente dos outros governos da ditadura militar, ainda havia dúvida sobre a sucessão de Figueiredo. Paulo Maluf, ex-governador paulista, venceu o coronel Mário Andreazza na convenção realizada pelo PDS para a escolha do próximo candidato. A vitória do ex-governador paulista desestabilizou o partido. Os senadores , Jorge Bornhausen e José Sarney abandonaram a sigla, formaram a Frente Liberal e começaram a negociar com as oposições 61 . O PMDB, partido moderador, lançou como candidato à Presidência da República, o governador de Minas Gerais Tancredo Neves, que, com o apoio dos liberais do PDS, indicou José Sarney, militante do Partido da Frente Liberal (PFL), como Vice-Presidente. PMDB e PFL coligaram-se e formaram a Aliança Democrática. As eleições ocorreram em janeiro de 1985. O Colégio Eleitoral elegeu de forma indireta o candidato esquerdista Tancredo Neves com quatrocentos e oitenta votos, enquanto o candidato Paulo Maluf recebera cento e oitenta votos. Após vinte e um anos de ditadura militar o país voltava a ter um presidente civil 62 .

2.5 A NOVA REPÚBLICA

60 ARRUDA; PILETI, 1995, p. 336. 61 Ibid., p. 337. 62 Ibid., p. 337. 38

Tancredo Neves foi eleito em 15 de janeiro de 1985, mas não tomou posse. Na véspera da posse, foi internado e faleceu em 21 de abril de 1985. O Vice- Presidente José Sarney assumiu a presidência e governou entre 15 de março de 1985 e 15 de março de 1990. Sarney deveria redemocratizar o país e, para isso, o Congresso aprovou a criação de uma comissão interpartidária para eliminar as leis, decretos e elementos constitucionais mais expressivos da ditadura 63 . Após dois anos da posse, Sarney criou a Assembleia Nacional Constituinte, que foi liderada por Ulisses Guimarães 64 . Tal órgão passou a discutir oito temas básicos: soberania e direitos do homem; organização do Estado; sistema de Governo; Eleições; sistema tributário e financeiro; ordem econômica e social; família, educação e cultura 65 . A Constituição foi promulgada no ano seguinte. Inclusive,

A nova Constituição foi promulgada em 5 de outubro de 1988, tendo sido a mais democrática da história brasileira. A Carta estabeleceu eleições diretas em dois turnos para presidente, governadores e prefeitos, adotou o presidencialismo como forma de governo, afirmou a independência dos três poderes, restringiu a atuação das forças armadas, estendeu o voto aos analfabetos e maiores de 16 anos, universalizou o direito de greve, entre diversas outras garantias civis, sociais e trabalhistas, deixando lacunas, no entanto, no que se refere à reforma agrária 66 .

A atual CF, conhecida como Constituição Cidadã, instituiu tantos direitos ao povo que dispôs sobre a realização de plebiscito para a escolha da forma e do sistema de governo. Colhe-se que

A maior evidência de que a atual Constituição é fruto de um poder constituinte originário, muito embora tenha sido convocada por uma emenda à Constituição, foi a realização do plebiscito em que o povo brasileiro pôde escolher a forma de governo a ser adotada pelo Estado brasileiro: República ou Monarquia. A República era uma das cláusulas pétreas de todas as Constituições republicanas. Só foi possível a realização da consulta popular em razão de a Assembléia Nacional Constituinte possuir poderes próprios de um constituinte originário, não estando subordinado a limitações anteriormente existentes 67 .

63 ARRUDA; PILETI, 1995, p. 392. 64 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: José Ribamar Ferreira de Araújo Costa - José Sarney. Presidência da República Federativa do Brasil , Brasília, DF. Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2011. 65 ARRUDA: PILETI, op. cit., p. 393. 66 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: José Sarney, loc. cit. 67 PINHO, 2001, p. 158. 39

O plebiscito escolheu a República, como forma de governo, e o Presidencialismo, como sistema de governo, sendo que ambos vigoram até hoje. Em 15 de março de 1990, Sarney deixou a Presidência da República para o primeiro presidente eleito através de eleições diretas, Fernando Afonso Collor de Mello. Este instituiu o Plano Collor que tinha como principais medidas:

Confisco temporário de grande parte do dinheiro depositado nas contas correntes, cadernetas de poupança e outras aplicações financeiras; volta do cruzeiro como moeda nacional; congelamento de preços e salários; reformulação do cálculo mensal da inflação aplicado na correção de salários, aluguéis, aposentadorias, etc. 68

Em janeiro de 1991 é aplicado o Plano Collor 2, que, assim como o primeiro, também fracassou. No início de 1992, Collor exigiu a renúncia dos ministros e trocou quase todos, deixando apenas os da Economia e da Agricultura, ante as denúncias de corrupção que envolviam os funcionários do governo. Pedro Collor, irmão do Presidente, denunciou o tesoureiro da campanha de seu irmão, Paulo César Farias, por exigir propina dos empresários em troca de favores do governo. Em maio de 1992, foi instaurada uma Comissão Parlamentar de Investigação (CPI), que descobriu como funcionava o esquema de PC Farias. No dia 29 de setembro de 1992, foi aprovada, pela Câmara de Deputados, a propositura do processo de impeachment .

Em 1992 foi denunciada na imprensa a existência de um esquema de corrupção no governo, comandado por Paulo César Farias, ex-tesoureiro da campanha presidencial de Collor. A CPI instalada para investigar as denúncias encerraria seus trabalhos recomendando o afastamento de Collor da presidência. Respaldada por maciço apoio popular, a abertura do processo de impeachment foi proposta, então, pelos presidentes da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e aprovada pela Câmara dos Deputados em 29 de setembro de 1992. Afastado do cargo após a votação na Câmara, Collor foi substituído interinamente pelo vice-presidente . Em 29 de dezembro renunciou à presidência da República, horas antes de ser condenado pelo Senado por crime de responsabilidade, perdendo seus direitos políticos por oito anos. Itamar Franco assumiu, assim, definitivamente a presidência da República 69 .

Itamar Franco governou até 15 de janeiro de 1995, quando foi sucedido

68 ARRUDA; PILETI, 1995, p. 397. 69 CENTRO DE INFORMAÇÃO DE ACERVOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA. Informações presidenciais: Fernando Afonso Collor de Mello. Presidência da República Federativa do Brasil , Brasília, DF. Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2011. 40 por Fernando Henrique Cardoso (FHC). FHC foi o primeiro presidente reeleito da história do Brasil. Seu objetivo foi manter o impacto do Plano Real através de várias alterações na CF.

Sob o impacto do êxito do Plano Real, o maior desafio governo de Fernando Henrique Cardoso foi manter a estabilização da moeda e, ao mesmo tempo, promover o crescimento econômico. ooCom esse objetivo, o governo submeteu à aprovação do Congresso Nacional uma série de medidas visando a alterar a Constituição Federal de 1988 e promover uma mudança estrutural na feição do Estado brasileiro, na tentativa de adaptá-los às novas realidades da economia mundial. Assim, determinados temas passaram a fazer parte do cotidiano político nacional, tais como reforma administrativa e previdenciária, desregulamentação de mercados, flexibilização das regras de contratação de mão-de-obra e fim do monopólio estatal nas áreas de siderurgia, energia elétrica e telecomunicações 70 .

Seu segundo mandato findou em 01 de janeiro de 2003, quando Luís Inácio Lula da Silva foi eleito Presidente da República. Reeleito através do voto direto, Lula exerceu seu mandato até 01 de janeiro de 2011. Atualmente, o cargo de Presidente da República é ocupado por uma mulher, a primeira da história brasileira, chamada de Dilma Rousseff.

70 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 . Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2011. 41

3 AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

O artigo 2º, dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias da atual Constituição Federal (CF), dispôs que, através de plebiscito, o povo escolheria o sistema de governo, dentre presidencialismo e o parlamentarismo, e a forma de governo, dentre república e monarquia 1. Os cidadãos brasileiros escolheram o presidencialismo e a república como sistema e forma de governo, respectivamente. A primeira eleição presidencial, após o plebiscito, ocorreu em 1994, tendo sido eleito Fernando Henrique Cardoso. Segundo o art. 76, da CF, o Poder Executivo seria exercido pelo Presidente da República. As eleições para a escolha desse cargo estão condicionadas a uma série de procedimentos dispostos na lei maior, bem como em leis complementares, ordinárias e resoluções dos tribunais. Portanto, a concepção deste trabalho está condicionada à exploração de conceitos, princípios e normas básicas que compõem os Direitos Políticos e o Direito Eleitoral.

3.1 DIREITOS POLÍTICOS

Uma anterior decomposição sobre os Direitos Políticos é essencial para que se compreenda o Direito Eleitoral e o processo de eleição do Presidente da República. É de suma importância conceituar Direito Político, sendo “o ramo do Direito, cujo objeto são as normas que regulam a organização e funcionamento do Estado e do governo, disciplinando o exercício e acesso ao poder estatal.” 2 Em outras palavras, o Direito Político normatiza as hipóteses em que o nacional torna-se cidadão. Silva leciona que:

1 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 . Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2011. 2 GOMES, José Jairo. Direito eleitoral . 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2008. p. 2. 42

Os direitos políticos positivos consistem no conjunto de normas que asseguram o direito subjetivo de participação no processo político e nos órgãos governamentais. Eles garantem a participação do povo no poder de dominação política por meio das diversas modalidades de direito de sufrágio: direito de voto nas eleições, direito de elegibilidade (direito de ser votado), direito de voto nos plebiscitos e referendos, assim como por outros direitos de participação popular e o direito de organizar e participar de partidos políticos 3.

Tais direitos deverão ser adquiridos pelos nacionais que, assim, passarão a ser cidadãos. Estão inseridos nos artigos 14 a 16, da CF, e serão abordados em tópicos posteriores.

3.2 DIREITO ELEITORAL

O Direito Eleitoral está compreendido no ramo do Direito Público, e este, segundo Meirelles, “visa regular, precipuamente, os interesses estatais e sociais, cuidando só reflexamente da conduta individual” 4. O Direito Eleitoral tem como objeto os institutos, as normas e os procedimentos referentes aos direitos políticos. Normatiza o exercício do sufrágio com vistas à concretização da soberania popular 5. Cândido entende que

o Direito Eleitoral é o ramo do Direito Público que trata de institutos relacionados com direitos políticos e das eleições, em todas as suas fases, como forma de escolha dos titulares dos mandatos eletivos e das instituições do Estado 6.

Com a conceituação de Direito Eleitoral, passa-se a abordar os princípios.

3.2.1 Princípios fundamentais do direito eleitoral

3 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo . 15. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 349. 4 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro . 22. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 25. 5 GOMES, 2008, p. 15. 6 Ibid., p. 26. 43

A construção legislativa baseia-se em princípios. Além disso, os princípios se modificam ou evoluem em razão de determinado momento histórico. Assim como em qualquer área do Direito, o Eleitoral é regido por princípios fundamentais.

3.2.1.1 Princípio da democracia

No item 1, deste trabalho, discorrer-se-á sobre a função da democracia na ótica do Estado Moderno, inclusive na obtenção das novas liberdades individuais e coletivas. Neste momento, deve ser observada a função deste instituto como princípio do Direito Eleitoral:

[…] exprime-se como um governo do povo, sendo um regime político que se finca substancialmente na soberania popular, compreendendo-se os direitos e garantias eleitorais, as condições de elegibilidade, as causas de inelegibilidade e os mecanismos de proteção disciplinados em lei para impedir as candidaturas viciadas e que atentem contra a moralidade pública eleitoral, exercendo-se a divisão das funções e dos poderes com aceitação dos partidos políticos, dentro de critérios legais preestabelecidos, com ampla valorização das igualdades e liberdades públicas 7.

O Direito Eleitoral Brasileiro deve zelar pelos direitos e garantias fundamentais do exercício da democracia. Além disso, deve esclarecer à população brasileira, ou seja, aos cidadãos e àqueles que não detêm seus direitos políticos, sobre o sistema eleitoral brasileiro:

O regime político em apreço não se realiza sem que esteja implantado um sistema eleitoral confiável, dotado de técnicas seguras e instrumentos eficazes, aptos a captar com imparcialidade a vontade popular, de maneira a conferir segurança e legitimidade às eleições, aos mandatos e, pois, ao exercício da autoridade estatal 8.

Após uma longa construção política, a República Federativa do Brasil chegou ao auge do exercício da Democracia. Atualmente, cada voto é secreto e contabilizado através do sistema eletrônico que, em tese, é inviolável. Diferentemente de como ocorria, por exemplo, na Primeira República, com voto manual, quando os Estados Unidos do Brasil intitulavam-se como um Estado

7 CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro . 4. ed. São Paulo: Edipro, 1994. p. 26. 8 GOMES, 2008, p. 27. 44

Democrático, mas a tirania do coronelismo controlava a política através do voto de cabresto.

3.2.1.2 Princípio da democracia partidária

Existem três modelos de democracia: direta, semidireta e indireta. O Estado Brasileiro adotou a democracia semidireta, conforme disposto no art. 1º, § único, da atual CF, que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” 9. A democracia semidireta utiliza métodos da direta e da indireta, pois o povo pode agir em nome próprio. Este elemento constitui a democracia direta, através dos mecanismos dispostos na Carta Magna, entre eles o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular. Os governantes eleitos agem para representar os interesses da população através da criação de lei e dentre outras atribuições conferidas pela Lei Maior, o que caracteriza a democracia indireta. Dessa forma, o art. 14, § 3º, inciso V, da atual CF, dispõe que a filiação partidária é condição de elegibilidade do candidato ao cargo eletivo 10 . A democracia semidireta está vinculada ao monopólio das candidaturas exercidas através dos partidos políticos, que são pessoas jurídicas de direito privado destinadas a assegurar o interesse democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais da população brasileira 11 . Portanto, é certo afirmar que a democracia semidireta adotada pelo Estado Brasileiro está vinculada à participação dos partidos políticos, já que não existem candidaturas avulsas.

3.2.1.3 Princípio da legitimidade das eleições

9 GOMES, 2008, p. 28-29. 10 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 , loc. cit. 11 BRASIL. Lei n. 9.096, de 19 de setembro de 1995 . Dispõe sobre partidos políticos, regulamenta os arts. 17 e 14, § 3º, inciso V, da Constituição Federal. Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2011. 45

O parágrafo 9º, do art. 14, da CF dispõe que as eleições deverão ser legítimas e regulamentadas através de lei complementar. A legitimidade decorre da soberania popular, posto que o processo eleitoral depende da organização. Vícios no processo de votação por culpa do Estado contradirão o exercício do poder supremo do cidadão:

A legitimidade do exercício do poder estatal por parte de autoridades públicas decorre da escolha levada a cabo pelo povo. Em uma sociedade verdadeiramente democrática, os governados é que elegem seus governantes. Essa escolha deve ser feita em processo pautado por uma disputa limpa, isenta de vícios, corrupção ou fraude. A escolha é sempre fruto do consenso popular, que, de certa maneira, homologa os nomes dos candidatos, consentindo que exerçam o poder político-estatal 12 .

E, ainda:

Nesse contexto, a observância do procedimento legal que regula as eleições é extremamente relevante para a legitimidade dos governantes. Ele deve ser observado com isenção, de sorte a proporcionar as mesmas oportunidades a todos os participantes do certame. Tal procedimento é objeto do Direito Eleitoral 13 .

No caso de inobservância deste princípio, haverá a violação de democracia representativa, pois o cidadão não exercerá a democracia de forma plena dentro dos limites adotados pela legislação brasileira.

3.2.2 Fontes do direito eleitoral

Todo ramo do Direito, seja ele público ou privado, possui uma fonte, ou seja, o lugar de produção, de materialização e de origem. Há fontes materiais e fontes formais, as primeiras

são múltiplos fatores que influenciam o legislador em seu trabalho de criar normas jurídicas. Tais fatores poder compreender diversas tendências psicológicas, fenômenos e dados presentes no ambiente social, envolvendo pesquisas de ordem histórica, econômica, axiológica, moral, política, psicológica, sociológica, entre outras 14 .

12 GOMES, 2008, p. 42. 13 Ibid., p. 42. 14 Ibid., p. 18. 46

Já as fontes formais visam ao procedimento, ou seja, designam os meios em que os juízos jurídicos são baseados. Essas se dividem em duas: a estatal, que é emanada pelo processo legislativo, constitucional ou infraconstitucional, e a não- estatal, que é fundamentada nos costumes. A CF institui os princípios do Direito Eleitoral, além de dispor sobre os direitos políticos, a organização da justiça eleitoral etc. O Código Eleitoral (CE) regula a organização do exercício dos direitos políticos. A Lei Complementar 64/09, conhecida como Lei de Inelegibilidade (LI), regula as situações de inelegibilidade. A Lei nº 9.096/95, conhecida como Lei Orgânica dos Partidos Políticos (LPP), dispõe sobre estes. Há também a Lei das Eleições (LE) e as Resoluções (Res.) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Essas são, portanto, as principais fontes formais do Direito Eleitoral.

3.2.3 Organização da justiça eleitoral

Os artigos 118 a 121, da CF, dispõem sobre a Organização da Justiça Eleitoral brasileira. O art. 118, da CF, elenca seus órgãos: Tribunal Superior Eleitoral, Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Juízes Eleitorais e Juntas Eleitorais 15 . O TSE é composto de sete juízes: dois deles são nomeados pelo Presidente da República, que deverá escolhê-los, dentre os seis advogados indicados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e, mediante eleição pelo voto secreto, de três ministros que compõem o STF, e de dois do Superior Tribunal de Justiça (STJ) 16 . O TRE também será composto de sete juízes. O Tribunal de Justiça (TJ) da respectiva unidade federativa indicará seis advogados, dos quais dois serão nomeados pelo Presidente da República. O TJ, através de votação, elegerá mais dois desembargadores e escolherá dois juízes de direito. Um juiz do Tribunal Regional Federal (TRF), escolhido pelo respectivo tribunal, completará a composição. Caso a sede não seja na capital do Estado ou no Distrito Federal, o

15 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 , loc. cit. 16 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 , loc. cit. 47

TRF escolherá um juiz federal. 17 Segundo o art. 32, caput, do CE, o Juiz de Direito que detiver as garantias dos incisos do art. 95, da CF, será designado como Juiz Eleitoral. Há institutos que realizam a fiscalização para o melhor funcionamento da justiça eleitoral e do exercício da democracia:

Eleitores, candidatos e partidos políticos fazem parte da engrenagem dinâmica da cidadania, tendo o Ministério Público Eleitoral a árdua tarefa de fiscalizar o processo eleitoral latu sensu , ainda que as atribuições não estejam minudentemente regulamentadas, no âmbito da vasta normatividade positiva de natureza subconstitucional, mas emergem de uma visão enciclopédica da posição institucional, diante do preceituado no caput do art. 127 da Constituição Federal 18 .

Portanto, além de seus órgãos, o funcionamento eficaz da Justiça Eleitoral depende da atuação do Ministério Público (MP), dos partidos políticos e de todos aqueles que exercem a cidadania.

3.2.4 Competência da justiça eleitoral

A Justiça Eleitoral é uma das justiças mais especializadas no ordenamento jurídico brasileiro. Além do caráter jurisdicional, sua maior atuação é no caráter administrativo:

Diversas competências estão afetas à Justiça Eleitoral: questões de natureza administrativa, organização administrativa das Zonas Eleitorais, tais como locais destinados à votação, apuração, funcionários e o próprio alistamento eleitoral de natureza declaratória administrativa; questões atinentes ao poder regulamentar, pois o Poder Legislativo ao editar as leis em matéria eleitoral, deixa sempre uma substanciosa margem de complementariedade afeta ao poder regulamentar do Tribunal Superior Eleitoral 19 .

O inciso IX, do art. 23, do CE, discorre sobre a possibilidade do TSE em expedir as instruções necessárias à execução daquela lei:

17 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 , loc. cit. 18 RAMAYANA, Marcos. Direito eleitoral . Rio de Janeiro: Impetus, 2004a. p. 50. 19 RAMAYANA, 2004a, p. 60. 48

O artigo complementa o parágrafo único, do art. 1º, do Código Eleitoral, pois trata do poder normativo do Tribunal Superior Eleitoral. O poder normativo é atípico, mas necessário, pois com base na expedição das instruções e resoluções eleitorais é que se consegue editar regras pormenorizadoras do processo de registro de candidatos, propaganda política eleitoral, prestação de contas, votação, apuração, voto digital etc.20

As instruções são conhecidas como resoluções, que são fontes do Direito Eleitoral. As resoluções não devem contrariar a legislação vigente, aquelas servem apenas de auxílio, mas em concordância com a lei. Há também a competência jurisdicional de caráter contencioso e a jurisdição voluntária. O art. 22, do CE, dispõe sobre a competência do TSE. Abordando o inciso I, sobre a competência originária, destaca-se a atribuição de processar e julgar o registro e a cassação do registro dos partidos políticos e de candidatos à Presidência e Vice-Presidência da República, o conflito de competência entre TRE e juízes eleitorais de outras Unidades Federadas etc. O inciso II dispõe sobre o julgamento dos recursos que atacam as decisões do TRE, inclusive de cunho administrativo. O art. 29, do mesmo diploma, disciplina a competência do TRE. Também dividido por dois incisos, o primeiro dispõe sobre a competência originária, dentre algumas, o TRE deve processar e julgar o registro e o cancelamento do registro dos diretórios estaduais e municipais de partidos políticos, bem como de candidatos a Governador e Vice-Governador, membro do Congresso Nacional e das Assembleias Legislativas etc. O segundo dispõe que o TRE também julgará os recursos interpostos contra as decisões dos Juízes Eleitorais. Por fim, a competência jurisdicional dos Juízes Estaduais está disposta no art. 35 da mesma lei. Neste, destaca-se que o Juiz Eleitoral deve processar e julgar os crimes comuns e eleitorais, decidir habeas corpus e mandado de segurança, em matéria eleitoral, ressalvada a competência originária dos outros tribunais etc. Compete, também, ao Juiz Eleitoral, algumas atribuições de cunho administrativo, dentre elas, a divisão das zonas em seções eleitorais, a instrução dos membros das mesas receptoras, dentre outras.

3.3 O PROCESSO ELEITORAL DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

20 RAMAYANA, Marcos. Código eleitoral comentado . Rio de Janeiro: Roma Victor, 2004b. p. 67. 49

No Direito Eleitoral, o termo processo eleitoral tem dois sentidos: o amplo e o restrito. O primeiro consiste na participação dos eleitores, candidatos, partidos políticos, MP e JE para concretizarem o direito do sufrágio e preencher os cargos eletivos. Neste sentido, observa-se todo o procedimento para a realização das eleições, desde o alistamento até a diplomação. Já o sentido restrito diz respeito à prestação jurisdicional 21 . Tendo em vista o objeto deste trabalho, focar-se-á no procedimento das eleições presidenciais, com breves explanações acerca do sufrágio, do voto, dos sistemas eleitorais e dos partidos políticos.

3.3.1 Sufrágio

A expressão “sufrágio universal” está inserida no art. 14, caput, da CF, dispondo que o sufrágio e o voto são modos de exercício da soberania popular. Entende-se que o sufrágio

é um direito que decorre diretamente do princípio de que todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente. Constitui a instituição fundamental da democracia representativa e é pelo seu exercício que o eleitorado, instrumento técnico do povo, outorga legitimidade aos governantes 22 .

O sufrágio é o direito de votar e ser votado. O texto constitucional mostra que o sufrágio é universal, ou seja, não há restrições derivadas de condição econômica, de nascimento ou capacidade especial 23 .

3.3.2 Voto

A República Federativa do Brasil instituiu que o voto é direto e secreto, com valor igual para todos, conforme art. 14, § 3º, da Lei Maior.

21 GOMES, 2008, p. 179. 22 SILVA, 1998, p. 350. 23 Ibid., p. 352. 50

O voto é um dos mais importantes instrumentos democráticos, pois enseja o exercício da soberania popular e do sufrágio. Cuida-se do ato pelo qual os cidadãos escolhem os ocupantes dos cargos políticos-eletivos. Por ele, concretiza-se o processo de manifestação da vontade popular 24 .

No ordenamento jurídico brasileiro, o voto é personalíssimo, ou seja, apenas o cidadão devidamente alistado pode exercer esse direito, não sendo admitida a votação através de mandatário. Destaca-se que, nos casos de plebiscito e referendo, é facultado o exercício do voto e só ocorre em momentos oportunos. Registra-se que a votação é periódica, levando-se em conta o mandato dos representantes. Outrossim, nos termos do art. 82, CF, a cada quatro anos o eleitor deve comparecer às urnas para escolher o Presidente e o Vice-Presidente. O voto é sigiloso, pois a Justiça Eleitoral apura o resultado das eleições, não havendo a possibilidade de conhecer e de divulgar a escolha do cidadão. Além disso, não há distinção entre o valor do voto, cada voto tem valor igual e unitário. Em regra, o voto é direto, pois o cidadão escolherá seu representante. Há exceção nos casos de vacância dos cargos de Presidente e de Vice-Presidente da República nos últimos dois anos do mandato. Neste caso, a votação será indireta e o Congresso Nacional escolherá o sucessor, conforme art. 81, § 1º, da CF. O voto é um direito-dever do cidadão, mas no momento do exercício pode escolher qualquer dos candidatos aptos e, caso não esteja satisfeito com os concorrentes, o eleitor poderá votar em branco, ou até mesmo anular o próprio voto. Atualmente, a Justiça Eleitoral utiliza o sistema de votação eletrônica:

A Lei n. 9.504/97 consolidou o sistema de votação eletrônica. Dispõe o artigo 59 desse diploma que a votação e a totalização dos votos serão feitas por esse sistema, mas o TSE poderá autorizar, em caráter excepcional, a votação pelo sistema convencional 25 .

Continua:

A votação eletrônica será feita no número do candidato ou da legenda partidária, devendo o nome e fotografia do candidato e o nome do partido ou a legenda partidária aparecer no painel da urna eletrônica, com a expressão designadora do cargo disputado no masculino ou feminino, conforme o caso (LE, art. 59, § 1º) 26 .

24 GOMES, 2008, p. 38. 25 Ibid., p. 41-42. 26 Ibid., p. 41-42. 51

Além disso, a referida lei dispõe que o sistema eletrônico de votação deverá dispor de recursos que resguardem o anonimato do eleitor.

3.3.3 Sistema majoritário

O sistema eleitoral se compõe de três tipos: o majoritário, o proporcional e o misto. O ordenamento jurídico brasileiro consagrou o sistema majoritário para as eleições presidenciais. O art. 77, § 2º, da CF, condiciona a eleição do candidato ao cargo de Presidente da República que atingir a maioria dos votos válidos, não computados os brancos e nulos. O § 3º, do referido artigo, consolida esta maioria, pois estabelece o segundo turno para os dois mais votados, caso o candidato mais votado não atinja a maioria absoluta 27 .

3.3.4 Partidos políticos

A Lei nº 9.096/95, conhecida como Lei dos Partidos Políticos (LPP), regulamenta os artigos 14, § 3º, inciso V, e art. 17, da CF. O art. 1º, da referida lei, define que:

O partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal 28 .

Além dessa definição, a referida lei trata sobre a filiação partidária, a prestação de contas, o funcionamento parlamentar, o programa do estatuto etc. Silva aduz que: “O partido político é uma forma de agremiação de um grupo social que se propõe organizar, coordenar e instrumentar a vontade popular a fim de assumir o

27 SILVA, 1998, p. 371. 28 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 , loc. cit. 52 poder para realizar seu programa de governo” 29 . Todo partido é dotado de ideologia, cabe aquele definir seu programa de governo nos moldes da ideia partidária dentro dos interesses da população brasileira. O ordenamento jurídico pátrio possibilita o pluripartidarismo, conforme art. 17, caput, da CF, que aperfeiçoa a democracia partidária em razão das oposições de interesses que, em tese, são voltadas para o povo.

3.3.5 Fases do processo eleitoral

A Resolução (Res.) nº 23.211/10 regulamentou as eleições de 2010. Por ora, destacam-se três fases procedimentais: a preparação, a votação e a diplomação.

3.3.5.1 Preparação

Somente o cidadão participa do processo eleitoral. Mediante o alistamento eleitoral, ele pode ser eleitor. Para ser candidato, deve filiar-se a algum partido político e ser escolhido por este na convenção partidária. Esta fase é dividida pelo alistamento eleitoral, convenção partidária, registro de candidaturas e campanha eleitoral. Frisa-se que as condições de elegibilidade e causas de inelegibilidade serão tratadas em momento oportuno.

3.3.5.1.1 Alistamento eleitoral

O alistamento eleitoral é o ato praticado pelo nacional perante a Justiça Eleitoral, para que se torne cidadão e, com isso, garanta um melhor exercício do

29 SILVA, 1998, p. 395. 53 sufrágio:

Importa afirmar que o alistamento é visto como instituto que ordena a manifestação individual do eleitor. O alistamento é a primeira fase do processo eleitoral e decorre de um procedimento administrativo cartorário que se perfaz pelo preenchimento do requerimento do alistamento eleitoral (RAE), na forma da Resolução (TSE nº 21.538/2003) 30 .

No alistamento, o indivíduo deve comprovar o local de sua residência para definir seu domicílio eleitoral, segundo, § único, do art. 42, do CE, quando o requerente possuir mais de uma residência, poderá escolher qualquer uma delas. É através do preenchimento do requerimento de alistamento eleitoral que o nacional, posterior cidadão, escolherá a zona eleitoral de sua preferência. O requerimento será preenchido por servidor da Justiça Eleitoral na presença do requerente, segundo as determinações da Res. nº 21.538/03, do TSE. Os Partidos Políticos, através de seus delegados, poderão fiscalizar o alistamento eleitoral. As irregularidades devem ser encaminhadas ao juiz eleitoral que prosseguirá conforme o rito disposto no artigo 77 a 80, do CE. O despacho proferido pelo juiz eleitoral que deferir o alistamento poderá ser atacado por recurso interposto em dez dias pelo Partido Político. No caso de indeferimento, o alistando poderá recorrer em cinco dias, conforme art. 7, § 1º, da Lei 6.996/82. Eventual recurso será julgado pelo TRE, segundo art. 29, inciso II, alínea “a”, do CE. O art. 14, § 1º, inciso I, da CF, dispõe que o alistamento eleitoral é obrigatório aos maiores de dezoito anos, assim como o voto. Para os analfabetos, maiores de setenta anos e entre a idade de dezesseis e dezoito anos o alistamento e o voto são facultativos, conforme inciso II, do mesmo dispositivo. O § 2º, do referido artigo, dispõe que os estrangeiros e os conscritos não poderão se alistar como eleitores.

3.3.5.1.2 Registro de candidatos

Tendo em vista que o alistamento eleitoral confere ao nacional a condição

30 RAMAYANA, Marcos. Direito eleitoral . 7. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2007. p. 90. 54 de cidadão, este só poderá filiar-se ao partido político se estiver no pleno gozo de seus direitos políticos, conforme art. 16, da LPP. Após a filiação, necessária para a investidura do cargo eletivo, a escolha dos candidatos será por convenção e regulamentada pelo estatuto partidário, segundo art. 7, da LE. A convenção deverá ser realizada entre os dias 10 e 30 de junho do ano em que se realizarem as eleições (art. 8º, caput, Lei das Eleições). Na escolha dos candidatos à Presidência e Vice-Presidência, a convenção será nacional 31 . É vedado o duplo registro para concorrer a cargos simultâneos na mesma eleição (art. 88, caput, CE). Os candidatos ao cargo máximo do executivo federal serão registrados no TSE (art. 89, I, CE). Mesmo no caso de coligação entre partidos, o voto atribuído ao Presidente estende-se ao vice (art. 91, caput, CE). No requerimento de registro do candidato ao cargo já mencionado, o partido deve demonstrar a convenção com aprovação do candidato, documento que comprove a condição de eleitor, que manifeste o pleno gozo dos direitos políticos. Deve, também, conter a declaração de bens do registrado (art. 92, § 1º, incisos I, II, III, V, VI, CE). Também deve ser provada a filiação partidária, a certidão de quitação eleitoral, certidões criminais fornecidas pela Justiça Eleitoral, Federal e Estadual e fornecida fotografia do candidato (art. 11, § 1º, III, V, VI, VII, VIII, LE). A idade mínima é verificada no momento da posse, não havendo restrição do registro do candidato sem a idade mínima para investidura do cargo (art. 11, § 2º, LE). Nas eleições majoritárias, o candidato será identificado pelo partido a que estiver filiado (art. 15, I, LE). Há possibilidade de substituição do candidato registrado quando este for considerado inelegível, falecer ou renunciar. O registro do substituto deverá ser realizado até dez dias após o fato. Nas eleições presidenciais, o candidato deverá ser aprovado por maioria absoluta dos órgãos executivos dos partidos coligados (art. 13, §§ 1º e 2º, LE). A Resolução nº 23.211/10 32 dispõe sobre o Requerimento de Registro de Candidatura (RRC), este que deverá ser instruído com comprovante de escolaridade e o plano de governo, conforme art. 25, incisos IV e V.

31 RAMAYANA, 2004b, p. 167. 32 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução n. 23.221, de 2 de março de 2010 . Brasília, DF. Disponível em: . Acesso em 2 jun. 2011. 55

O RRC poderá ser impugnado quando for publicado o edital (art. 37, caput, Res. 23.211/10) e o julgamento do registro for atacado por recurso (art. 48, § 3º, e 49, caput, Res. 23.211/10). Assim, o candidato só será considerado apto após o trânsito em julgado da decisão que deferiu o registro.

3.3.5.1.3 Campanha eleitoral

A campanha eleitoral poderá ser realizada a partir do dia 05 de julho do ano eleitoral (art. 36, caput, LE). Todavia, em primeiro turno, é vedada a propaganda nas quarenta e oito horas que antecedem a votação. Já a campanha no segundo turno se inicia vinte e quatro horas após o pleito, sendo também proibida propaganda eleitoral dentro das quarenta e oito horas que antecedem a nova eleição (art. 240, § único, CE). A campanha eleitoral poderá ser realizada através de rádio, televisão, panfletos, comícios, imprensa. Enfim, por todos os meios de comunicação. A LE regulamenta a propaganda mediante outdoors, imprensa, rádio e televisão. A Resolução nº 23.191/09 regulamenta a propaganda através da internet 33 . Referida resolução também dispõe sobre os debates que deverão ser realizados somente com os candidatos aptos (art. 29, § único, Res. 23.191/09). O descumprimento de qualquer norma referente à propaganda eleitoral fica sujeito à representação dos partidos políticos, das coligações, dos candidatos ou do Ministério Público Eleitoral, sendo dirigida ao TSE (art. 96, III, LE).

3.3.5.2 Votação

A segunda fase do procedimento eleitoral diz respeito à votação, tratando sobre a data de realização do primeiro e segundo turnos, a organização das juntas,

33 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução n. 23.191, de 16 de dezembro de 2009 . Dispõe sobre a propaganda eleitoral e as condutas vedadas em campanha eleitoral (Eleições de 2010). Disponível em: . Acesso em: 3 jun. 2011. 56 seções eleitorais e a forma de totalização e apuração dos votos.

3.3.5.2.1 Eleição em dois turnos

A eleição presidencial acontece no primeiro domingo de outubro e é simultânea com a eleição dos governadores dos Estados, juntamente as do Congresso Nacional e das Assembleias Legislativas (art. 1º, I, LE). O segundo turno é datado para o último domingo do mês de outubro e ocorre quando o candidato mais votado não alcança a maioria absoluta de votos. Somente os dois candidatos mais votados participarão do segundo pleito (art. 2º, § 1º, LE).

3.3.5.2.2 Juntas eleitorais

As Juntas Eleitorais são órgãos da Justiça Eleitoral (art. 118, IV, CF). Sua organização é regulamentada pelos artigos 36 a 41, do CE. “Juntas Eleitorais são órgãos mistos (colegiados) que atuam nas fases da votação e apuração dos votos. Sua finalidade básica é decidir as questões sobre a validade ou nulidade dos votos” 34 . Este órgão é composto pelo presidente, que será um Juiz de Direito, e de dois ou quatro cidadãos de idoneidade moral (art. 36, caput, CE). Há a possibilidade de impugnação da indicação da composição da Junta por parte dos partidos políticos, que deverá interpô-la dentro de três dias após a publicação do edital (art. 36, § 2º, CE). Os candidatos, seus parentes até 2º grau e o cônjuge, os membros dos diretórios dos partidos políticos, autoridades, agentes policiais ou funcionários de confiança do Poder Executivo e os servidores da justiça eleitoral não poderão compor a Junta (art. 36, § 3º, I, II, III, IV, CE). Dentro da mesma Zona Eleitoral poderá existir mais de uma junta, desde

34 RAMAYANA, 2004b, p. 167. 57 que a Zona disponha de número suficiente de Juízes de Direito (art. 37, caput, CE). O presidente da Junta poderá nomear escrutinadores e auxiliares em número suficiente para atender à obrigação imposta. A nomeação será obrigatória se houver mais de dez urnas a apurar (art. 38, § 1º, CE). A Junta Eleitoral é competente para apurar as eleições, resolver as impugnações durante a apuração dos votos, expedir os boletins de apuração, dentre outras (art. 40, I, II, III, CE).

3.3.5.2.3 Seções eleitorais

É competência privativa do TRE dividir sua circunscrição em Zonas Eleitorais, mediante aprovação do TSE (art. 30, IV, c/c 23, VIII, CE). A cada Juiz Eleitoral será atribuída uma Zona Eleitoral, e cabe àquele dividir a zona em Seções Eleitorais (art. 35, X, CE). “As seções são apenas os locais de votação onde estão localizadas as urnas eletrônicas” 35 . A seção eleitoral terá uma mesa receptora de votos (art. 119, CE). A mesa é constituída de um presidente, dois mesários, dois secretários e um suplente. O Juiz Eleitoral deverá nomeá-los sessenta dias antes da eleição (art. 120, caput, CE). Aos que não puderem compor a Junta Eleitoral, também não lhes será permitida a condição de mesário. Os partidos políticos poderão reclamar da nomeação ao Juiz Eleitoral, dentro de dois dias da publicação da nomeação da mesa receptora. A decisão do juiz poderá ser alvo de recurso, que deverá ser interposto em até três dias, dirigido ao TRE (art. 121, § 1º, CE). Caberá o arbitramento de multa ao membro faltante da mesa receptora (art. 124, caput, CE). Os partidos políticos, através de seus delegados e fiscais, poderão fiscalizar as mesas receptoras no dia da votação (art. 65, caput, LE). Nesse caso, o TSE elaborou o Manual do Mesário, que instrui sobre o funcionamento da mesa receptora, a função de cada componente, a organização da seção etc.36

35 RAMAYANA, 2004b, p. 101. 36 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Manual do mesário : eleições 2010. Disponível em: 58

3.3.5.2.4 Votação

No dia das eleições, os membros da mesa receptora iniciarão seus trabalhos às 7h, verificando o material de votação encaminhado pelo Juiz Eleitoral (art. 38, Res. 23.218/10) 37 . O presidente da mesa emitirá relatório zerésima da urna, devendo ser assinado por ele e pelo secretário, e, caso queiram, pelos fiscais e pelos delegados dos partidos (art. 39, Res. 23.218/10). O período para o exercício do voto é das 8h às 17h. Caso haja fila, após o horário de encerramento, o presidente da seção distribuirá senha aos presentes (art. 144 c/c 153, CE). Os membros da mesa receptora, fiscais e delegados dos partidos políticos deverão votar no decorrer da votação, já que não existe mais o voto em separado 38 . Os candidatos, juízes, auxiliares do serviço eleitoral, Promotor Eleitoral, policiais militares em serviço e os maiores de sessenta anos terão preferência na hora de votar (art. 46, § 2º, Res. 23.218/10). Só poderão votar os eleitores que estiverem incluídos no caderno de votação e no cadastro de eleitores da seção (art. 47, caput, Res. 23.218/10). O eleitor deverá apresentar documento oficial com foto que comprove sua identidade. No caso das eleições presidenciais, a votação será feita pelo número do candidato, sendo este o mesmo do partido ao qual é filiado (art. 53, caput , Res. 23.218/10 c/c 15, I, LE). Na urna eletrônica aparecerão primeiro os candidatos às eleições proporcionais, em seguida os da majoritária, sendo a última votação ao cargo de Presidente e Vice-Presidente (art. 53, § 1º, Res. 23.218/10). O eleitor comparecerá na seção eleitoral e deverá aguardar na fila para ser recepcionado pela mesa receptora. Após sua admissão, os membros da mesa receptora analisarão o título de eleitor e o documento oficial, podendo haver a fiscalização dos delegados dos partidos políticos. O membro da mesa localizará o nome do eleitor no cadastro. Após a confirmação, o eleitor deverá assinar o caderno

. Acesso em: 3 jun. 2011. 37 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução n. 23.218, de 2 de março de 2010 . Dispõe sobre os atos preparatórios das eleições de 2010, a recepção de votos, as garantias eleitorais, a justificativa eleitoral, a totalização e a proclamação dos resultados, e a diplomação. Disponível em: . Acesso em: 3 jun. 2011. 38 RAMAYANA, 2004b, p. 245. 59 de votação, sendo autorizado o voto pelo Presidente da Mesa. Na cabine, o eleitor concretizará seu voto na urna eletrônica. Por fim, pegará o recibo de votação na mesa receptora (art. 55, incisos I ao VII, Res. 23.218/10). Quando ocorrer falha de alguma urna eletrônica, esta será substituída. Persistindo o problema, a votação será realizada pelas cédulas oficiais (art. 56, caput, c/c art. 57, caput, Res. 23.218/10). A votação será encerrada às 17h, caso não haja presentes (art. 153, CE).

3.3.5.2.5 Totalização e apuração

Findo o período de votação, inicia-se a fase de apuração dos votos, que serão contados eletronicamente nas seções eleitorais pelo sistema de votação da urna (art. 98, caput, Res. 23.218/10). A urna eletrônica emitirá boletins de votação que conterão a data do pleito; a identificação do Município, da Zona Eleitoral e da seção, a data e o horário de encerramento da votação; o código de identificação da urna; o nº de eleitores aptos; a votação individual de cada candidato; os votos da legenda partidária; os votos nulos e brancos; e, por fim a soma geral dos votos (art. 100, inciso I ao XI , Res. 23.218/10). Em caso de apuração da votação por meio de cédula, será iniciada a totalização pela Junta Eleitoral após o fim da votação, que terá o prazo máximo de cinco dias para a conclusão (art. 111, Res. 23.218/10). O boletim de urna faz prova do resultado apurado, mas pode ser atacado por recurso dirigido à Junta Eleitoral (art. 101, Res. 23.218/10). O Presidente de cada mesa receptora remeterá à Junta Eleitoral a mídia gravada pela urna (art. 43, XI , Res. 23.218/10). A Junta Eleitoral irá apurar os votos da Zona Eleitoral de sua jurisdição (art. 88, I , Res. 23.218/10) e publicará o relatório de resultado que substituirá os mapas de apuração (art. 126, § único, Res. 23.218/10). Após o recebimento do Resultado da Junta Eleitoral no TRE, incumbirá a este a apuração parcial da eleição presidencial (art. 127, V, Res. 23.218/10). O responsável pela área de tecnologia e informação do TRE providenciará a emissão 60 do Relatório de Totalização, que será encaminhado à Comissão Apuradora (art. 128, caput , Res. 23.218/10). A Comissão Apuradora é formada por três membros do TRE e deve ser presidida por um deles (art. 129, Res. 23.218/10). A Comissão deverá apresentar ao TRE o Relatório Geral de Apuração (art. 131, caput , Res. 23.218/10). O resultado do Relatório Geral de Apuração poderá ser alvo de reclamações pelas coligações e partidos políticos, que deverão ser julgadas pelo TRE (art. 132, §§ 1º 2º, Res. 23.218/10). Após o julgamento das reclamações, o TRE fornecerá a Ata Geral das Eleições (art. 133, caput , Res. 23.218/10). Caberá ao TSE a totalização final das eleições presidenciais através dos resultados verificados em cada Estado da Federação (art. 135, caput , Res. 23.218/10). Antes da eleição, o TSE sorteará, entre seus membros, o relator de cada Estado da Federação, que receberá os documentos relativos às eleições. Referido órgão da JE emitirá Relatório da Totalização da eleição presidencial, que substituirá as folhas de apuração parcial (art. 136, Res. 23.218/10). Cada relator apresentará relatório, em cinco dias, sobre a circunscrição atribuída (art. 137, caput , Res. 23.218/10). Os relatórios serão publicados na secretaria, impugnáveis pelas coligações, pelos partidos políticos e pelos candidatos (art. 138, Res. 23.218/10). Após a aprovação do relatório final, será proclamado o resultado. Havendo segundo turno, este deverá ser anunciado no relatório provisório, iniciando- se os trabalhos do segundo turno, procedendo-se nos termos supra mencionados (art. 141 e 142, Res. 23.218/10).

3.3.5.2.6 Diplomação

A diplomação é a última fase do processo da eleição presidencial:

Trata-se de ato formal, pelo qual os eleitos são oficialmente credenciados e habilitados a se investirem nos mandatos político-eletivos para os quais foram escolhidos. A posse e o exercício nos cargos se dão posteriormente, fugindo da alçada da Justiça Eleitoral 39 .

39 GOMES, 2008, p. 353. 61

Entretanto, anterior à diplomação é a proclamação dos eleitos. O candidato ao cargo de Presidente da República será eleito se obtiver a maioria absoluta dos votos válidos, não computados os votos brancos e nulos (art. 166, caput, Res. 23.218/10). Caberá ao TSE proclamar o candidato eleito da eleição presidencial (art. 169, I, Res. 23.218/10). Ainda caberá ao TSE a diplomação do candidato eleito ao cargo de Presidente da República, que deverá ser assinada pelo presidente e pelos ministros do referido tribunal e pelo Procurador-Geral Eleitoral. O diploma conterá o nome do candidato, a coligação da qual faz parte e o cargo ao qual foi eleito (art. 170, Res. 23.218/10). A expedição do diploma poderá ser objeto de recurso (art. 174, caput, Res. 23.218/10). O mandato eletivo também poderá ser impugnado através de ação própria (art. 14, § 10º, CF). O Presidente e Vice-Presidente da República eleitos tomarão posse em sessão do Congresso Nacional, prestando o compromisso de cumprir as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, dentre outras, sendo que essa posse será realizada no dia 1º de janeiro, do ano seguinte ao da eleição (art. 78, caput, e 82, CF).

3.4 CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE

O ordenamento jurídico brasileiro, mais precisamente no art. 14, § 3º, da CF, dispõe sobre as condições de elegibilidade. Elegibilidade diz respeito à capacidade de ser eleito:

O substantivo feminino elegibilidade retrata as ideias de cidadania passiva e capacidade eleitoral passiva. Conforme o sufixo da palavra indica, é a aptidão de ser eleito ou elegido. Elegível é o cidadão apto a receber votos em um certame, que pode ser escolhido para ocupar cargos políticos- eletivos. Exercer a capacidade eleitoral passiva significa candidatar-se a tais cargos. Para isso, devem ser atendidas algumas condições previstas na Constituição Federal, denominadas condições de elegibilidade. Em suma, é o direito público subjetivo atribuído ao cidadão de disputar cargos público- eletivos 40 .

40 GOMES, 2008, p. 125. 62

São condições de elegibilidade para o cargo de Presidente e Vice- presidente da República o pleno exercício dos direitos políticos, o alistamento eleitoral, o domicílio eleitoral na circunscrição, a filiação partidária e a idade mínima de trinta e cinco anos (art. 14, § 3º, II a VI, alínea “a”, CF). Além disso, o cargo presidencial é exclusivo de brasileiro nato (art. 12, § 3º, I, CF). Portanto, somente o brasileiro nato, com trinta e cinco anos na data da posse (art. 11, § 2º, LE), alistado, com domicílio eleitoral no país, em pleno exercício dos direitos políticos e filiado a algum partido político poderá ocupar o cargo máximo do Executivo Federal.

3.5 CAUSAS DE INELEGIBILIDADE

Além das causas de elegibilidade, o ordenamento jurídico brasileiro também instituiu as causas de inelegibilidade através da CF e LC 64/90:

Denomina-se inelegibilidade ou elegibilidade o impedimento ao exercício da cidadania passiva, de maneira que o cidadão fica impossibilidade de ser escolhido para ocupar cargo político efetivo. Em outros termos, trata-se de fator negativo cuja presença obstrui ou subtrai a capacidade eleitoral passiva do nacional, tornando-o inapto para receber votos e, pois, exercer mandato representativo. Tal impedimento é provocado pela ocorrência de determinados fatos previstos na Constituição ou em lei complementar 41 .

As causas expostas na CF são direcionadas aos analfabetos e inalistáveis, ao cônjuge e aos parentes consanguíneos, até segundo grau do Presidente e Vice-presidente. Além disso, a Carta Magna dispõe que a lei complementar estabelecerá as causas de inelegibilidade (art. 14, §§§ 4º, 7º, 9º, CF). Os concorrentes a qualquer cargo se tornarão inelegíveis se houver contra si representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, que já tenha transitada em julgado, em processo de apuração sobre abuso de poder político e econômico para as eleições que se realizarem nos próximos oito anos (art. 1º, I, “d”, LC 64/90) 42 .

41 GOMES, 2008, p. 137. 42 BRASIL. Lei complementar n. 64, de 18 de maio de 1990 . Estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º da CF, casos de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina outras providências. Disponível em: . Acesso em: 3 jun. 2011. 63

Os que forem condenados: pela prática de crimes contra a economia popular, a fé pública, a administração pública e o patrimônio público ou privado, o sistema financeiro, o mercado de capitais e por crimes previstos na lei que regula a falência, o meio ambiente e a saúde pública, crimes eleitorais que admitem a pena privativa de liberdade, abuso de autoridade, lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, qualquer crime hediondo, de redução à condição análoga a escravo e praticados por organização criminosa, não poderão concorrer às eleições pelo prazo de oito anos após o cumprimento da pena. (art. 1º, “e”, LC 64/90). Além disso, também não concorrerão: os indignos ou incompatíveis com o oficialato, pelo prazo de oito anos (art. 1º, “f”, LC 64/90), os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, pelo menos prazo da hipótese anterior (art. 1º, “g”, LC 64/90). Seguem outros casos. Os detentores de cargo na administração pública direta, indireta ou fundacional, que beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econômico ou político, que forem condenados em decisão transitada em julgado, para as eleições que concorrerem e aquelas que serão realizadas nos próximos oito anos (art. 1º, “h”, LC 64/90). Aqueles que, em estabelecimentos de crédito tenham sido ou estejam sendo objeto de processo de liquidação judicial ou extrajudicial, hajam exercido, nos doze meses anteriores à respectiva decretação, cargo ou função de direção, administração ou representação, enquanto não forem exonerados de qualquer responsabilidade (art. 1º, “i”, LC 64/90). Os nacionais condenados pela Justiça Eleitoral, por corrupção eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por doação, captação ou gastos ilícitos de recursos de campanha ou por conduta vedada aos agentes públicos em campanhas eleitorais que impliquem cassação do registro ou do diploma, pelo prazo de oito anos a contar da eleição (art. 1º, “j”, LC 64/90). O Presidente da República que renunciar a seu mandato desde o oferecimento de representação por infringência ao dispositivo da Constituição Federal, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos oito anos subsequentes (art. 1º, “k”, LC 64/90). Os condenados à suspensão dos direitos políticos, por ato doloso de 64 improbidade administrativa que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito, desde a condenação ou o trânsito em julgado até o transcurso do prazo de oito anos após o cumprimento da pena (art. 1º, “l”, LC 64/90). Os excluídos do exercício da profissão, por decisão do órgão profissional, em decorrência de infração ético-profissional, pelo prazo de oito anos, entretanto, a decisão poderá ser anulada pelo Poder Judiciário (art. 1º, “m”, LC 64/90). Aqueles condenados em razão de terem simulado desfazer vínculo conjugal ou de união estável para evitar caracterização de inelegibilidade, por oito anos após a decisão que reconhecer a fraude (art. 1º, “n”, LC 64/90). Os que forem demitidos do serviço público pelo prazo de oito anos da demissão, salvo se o ato for anulado pelo Poder Judiciário (art. 1º, “o”, LC 64/90). Os doadores eleitorais ilegais pelo prazo de oito anos da decisão (art. 1º, “p”, LC 64/90). Os magistrados e os membros do Ministério Público que forem aposentados compulsoriamente, pelo prazo de 8 (oito) anos (art. 1º, “q”, LC 64/90). Para o cargo de Presidente e Vice-presidente da República, até seis meses depois, aqueles que foram afastados definitivamente do cargo em função. São eles: os Ministros de Estado, os chefes dos órgãos de assessoramento direto, civil e militar, da Presidência da República, o chefe do órgão de assessoramento de informações da Presidência da República, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o Advogado-Geral da União e o Consultor-Geral da República, os chefes do Estado-Maior da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, os Comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, os Magistrados, os Presidentes, Diretores e Superintendentes de autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas e as mantidas pelo poder público; os Governadores de Estado, do Distrito Federal e de Territórios, os Interventores Federais; os Secretários de Estado, os Prefeitos Municipais, os membros do Tribunal de Contas da União, dos Estados e do Distrito Federal, o Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal, os Secretários-Gerais, os Secretários-Executivos, os Secretários Nacionais, os Secretários Federais dos Ministérios e as pessoas que ocupem cargos equivalentes (art. 1º, II, “a”, LC 64/90). Os detentores de cargo comissionado nomeados pelo Presidente da República sujeito à aprovação do Senado Federal, nos 6 (seis) meses anteriores à eleição, nos Estados e no Distrito Federal (art. 1º, II, “b”, LC 64/90). Aqueles que tiverem competência ou interesse, direta, indireta ou eventual, no lançamento, 65 arrecadação ou fiscalização de impostos, taxas e contribuições de caráter obrigatório, inclusive parafiscais, ou para aplicar multas relacionadas com essas atividades, até seis meses antes do pleito (art. 1º, II, “d”, LC 64/90). O nacional que, dentro dos quatro meses anteriores da eleição, tenha ocupado cargo ou função de direção, administração ou representação em entidades representativas de classe, mantidas, total ou parcialmente, por contribuições impostas pelo poder Público ou com recursos arrecadados e repassados pela Previdência Social (art. 1º, II, “g”, LC 64/90). Os que, até seis meses depois de afastados das funções, tenham exercido cargo de Presidente, Diretor ou Superintendente de sociedades com objetivos exclusivos de operações financeiras (art. 1º, II, “h”, LC 64/90). Aqueles que dentro de seis meses anteriores ao pleito, hajam exercido cargo ou função de direção, administração ou representação em pessoa jurídica ou em empresa que mantenha contrato de execução de obras, de prestação de serviços ou de fornecimento de bens com órgão do Poder Público ou sob seu controle, salvo no caso de contrato que obedeça a cláusulas uniformes (art. 1º, II, “i”, LC 64/90). Os membros do Ministério Público que não se tenham afastado das suas funções até seis meses anteriores ao pleito (art. 1º, II, “j”, LC 64/90). Os servidores públicos, estatutários ou não, dos órgãos ou entidades da Administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos Territórios, inclusive das fundações mantidas pelo Poder Público, não se afastarem até 3 (três) meses anteriores ao pleito, garantido o direito à percepção dos seus vencimentos integrais (art. 1º, II, “l”, LC 64/90). Essas são as causas de inelegibilidade, e compete ao TSE decidir sobre a arguição de inelegibilidade contra o Presidente e Vice-presidente da República (art. 2º, § único, II, LC 64/90). Os principais instrumentos para arguir a inelegibilidade são: Ação de Impugnação de Registro de Candidato – AIRC (art. 3º, LC 64/90), Ação de Investigação Judicial Eleitoral AIJE (arts. 19 a 22, LC 64/90) e Recurso Contra Expedição de Diploma (art. 262, I, CE) 43 .

43 GOMES, 2008, p. 137. 66

4 PODER POLÍTICO E ECONÔMICO NA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DE 2010

Todos os candidatos à eleição presidencial de 2010 foram considerados aptos pela Justiça Eleitoral para concorrerem ao pleito 1. Eles utilizaram todos os mecanismos admitidos em lei para divulgar as propostas de governo ao eleitorado, garantindo a legitimidade da eleição. Referida eleição correu dentro dos parâmetros legais. Não foi conhecida nenhuma irregularidade que a prejudicasse. No caso de irregularidade, caberia a Justiça Eleitoral apurar sua incidência. Exemplificando, haveria irregularidade nos casos de abuso do poder político ou econômico. O ordenamento jurídico brasileiro reprime o abuso do poder político ou econômico no período de campanha eleitoral. Veja-se o art. 1º, I, “d”, LC 64/90:

os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes 2.

Citada norma visa a aprimorar o exercício da democracia, entretanto, o próprio ordenamento jurídico brasileiro contraria o ideal democrático quando possibilita a diferença desproporcional das condições da campanha entre os candidatos. Neste capítulo, serão abordadas as condições de campanha eleitoral dos candidatos na eleição presidencial de 2010, bem como as disposições legais e omissões das instituições democráticas que, de certo modo, igualam o eleitor e diferenciam o candidato.

4.1 USO E ABUSO DO PODER ECONÔMICO

1 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Eleições 2010 : divulgação de registro de candidaturas. Disponível em: . Acesso em: 3 jun. 2011. 2 BRASIL. Lei complementar n. 64, de 18 de maio de 1990 . Estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina outras providências. Disponível em: . Acesso em: 3 jun. 2011. 67

Antes de prosseguir com a abordagem sobre a expressão “abuso do poder econômico”, é necessário definir o uso do poder econômico. O uso ocorre quando não há excesso, ou seja, quando o candidatado obedece a todas as regras da campanha eleitoral. A Resolução (Res.) nº 23.217/10 3 dispõe sobre o uso de recursos financeiros pelas coligações, partidos políticos, candidatos e comitês partidários para as campanhas eleitorais, bem como a prestação de contas. O art. 1º, da referida Res., dispõe sobre quatro requisitos para a aprovação das contas, a arrecadação de recursos e a realização de gastos pelos candidatos, vices e seus suplentes. O primeiro requisito é a solicitação do registro do candidato, ou comitê financeiro, seguido de inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) e da abertura de conta bancária específica para movimentação financeira da campanha e, por fim, emissão de recibos eleitorais. As transferências bancárias, os cheques, os títulos de crédito, os bens ou serviços estimáveis em dinheiro, os depósitos em espécie devidamente identificados, dentre outros, são considerados recursos, mesmo que fornecidos pelo próprio candidato (art. 1º, § 1º, Res. 23.217/10). O limite de gastos nas campanhas eleitorais deveria ser disposto em lei (art. 2, caput , Res. 23.217/10). Na falta desta, o limite deverá ser fixado pelo próprio partido político no momento do registro da candidatura do candidato (art. 2º, § 1º, Res. 23.217/10). Caso o gasto exceda o declarado, o responsável deverá pagar multa de cinco a dez vezes o valor excedente. A quantia deverá ser recolhida dentro de cinco dias da intimação do responsável da decisão que reconheceu o excesso, podendo, ainda, responder pelo abuso do poder econômico, nos termos do art. 22, LC 64/90 (art. 2º, § 5º, Res. 23.217/10). Cada partido deverá criar comitês financeiros para arrecadar recursos e aplicá-los nas campanhas eleitorais. O prazo para criação é de dez dias úteis contados a partir da convenção da escolha dos partidos políticos (art. 5º, caput , Res. 23.217/10). O partido político poderá criar um comitê nacional na eleição presidencial (art. 5º, II, “a” Res. 23.217/10). O comitê financeiro deverá arrecadar e aplicar os recursos nas

3 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução n. 23.217, de 2 de março de 2010 . Dispõe sobre a arrecadação e os gastos de recursos por partidos políticos, candidatos e comitês financeiros e, ainda, sobre a prestação de contas nas eleições de 2010. Disponível em: . Acesso em: 3 jun. 2011. 68 campanhas, fornecendo aos candidatos orientação sobre os procedimentos de arrecadação e de aplicação de recursos, bem como sobre as respectivas prestações de contas, com encaminhamento à Justiça Eleitoral (art. 6, Res. 23.217/10). São recursos destinados para as campanhas eleitorais: os próprios, os doados por pessoas físicas ou jurídicas; os provenientes de doações de outros candidatos, de comitês financeiros ou de partidos políticos; o repasse de recursos provenientes do Fundo Partidário; e, por fim, a receita decorrente da comercialização de bens ou da realização de eventos (art. 14, Res. 23.217/10). Existe a possibilidade de o eleitor beneficiar o candidato de sua preferência, podendo realizar gastos de até R$ 1.064,10 (mil e sessenta e quatro reais e dez centavos), não sujeitos à contabilização, desde que não reembolsados (art. 23, caput, Res. 23.217/10). O art. 15, Res. 23.217/10, dispõe sobre a vedação das arrecadações provenientes de:

I – entidade ou governo estrangeiro; II – órgão da administração pública direta e indireta ou fundação mantida com recursos provenientes do poder público; III – concessionário ou permissionário de serviço público; IV – entidade de direito privado que receba, na condição de beneficiária, contribuição compulsória em virtude de disposição legal; V – entidade de utilidade pública; VI – entidade de classe ou sindical; VII – pessoa jurídica sem fins lucrativos que receba recursos do exterior; VIII – entidades beneficentes e religiosas; IX – entidades esportivas; X – organizações não governamentais que recebam recursos públicos; XI – organizações da sociedade civil de interesse público; XII – sociedades cooperativas de qualquer grau ou natureza, cujos cooperados sejam concessionários ou permissionários de serviços públicos e estejam sendo beneficiadas com recursos públicos; XIII – cartórios de serviços notariais e de registro. 4.

Qualquer arrecadação proveniente dos meios acima expostos constituiu irregularidade insanável e acarreta a desaprovação das contas (art. 15, § 1º, Res. 23.217/10). As doações recebidas pelas coligações, ou partidos políticos, deverão ser devidamente identificadas e seguirão as regras do art. 16, § 1º, da Res. 23.217/10:

I – a 10% dos rendimentos brutos auferidos no ano anterior à eleição, no caso de pessoa física, excetuando-se as doações estimáveis em dinheiro

4 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução n. 23.217, de 2 de março de 2010 , loc. cit. 69

relativas à utilização de bens móveis ou imóveis de propriedade do doador, desde que o valor da doação não ultrapasse R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), apurados conforme o valor de mercado; II – a 2% do faturamento bruto do ano anterior à eleição, declarado à Receita Federal do Brasil, no caso de pessoa jurídica; III – ao valor máximo do limite de gastos estabelecido na forma do art. 2º desta resolução, caso o candidato utilize recursos próprios 5.

Caso não sejam observados os limites acima expostos, sujeita o infrator ao pagamento de multa no valor de cinco a dez vezes a quantia excedente, sem prejuízo de responder o candidato por abuso do poder econômico, nos termos do art. 22, da Lei Complementar nº 64/90 (art. 16, § 4º, Res. 23.217/10). A pessoa jurídica que exceder a doação poderá ser proibida de participar das licitações públicas (art. 16, § 5º, Res. 23.217/10). No caso de eleição presidencial, a comercialização de bens ou a promoção de eventos que se destinem a arrecadar recursos para campanha eleitoral estão sujeitas à comunicação de sua realização com cinco dias de antecedência ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que poderá determinar a sua fiscalização, devendo ser provada a realização na prestação de contas (art. 19, Res. 23.217/10). Em regra, os comitês financeiros poderão contrair dívidas e quitar suas obrigações até o dia da eleição (art. 20, caput, Res. 23.217/10). Os gastos eleitorais estão dispostos entre os incisos I a XV, do art. 21, Res. 23.217/10:

I – confecção de material impresso de qualquer natureza e tamanho; II – propaganda e publicidade direta ou indireta, por qualquer meio de divulgação, destinada a conquistar votos; III – aluguel de locais para a promoção de atos de campanha eleitoral; IV – despesas com transporte ou deslocamento de candidato e de pessoal a serviço das candidaturas; V – correspondências e despesas postais; VI – despesas de instalação, organização e funcionamento de comitês e serviços necessários às eleições; VII – remuneração ou gratificação de qualquer espécie paga a quem preste serviços às candidaturas ou aos comitês eleitorais; VIII – montagem e operação de carros de som, de propaganda e de assemelhados; IX – realização de comícios ou eventos destinados à promoção de candidatura; X – produção de programas de rádio, televisão ou vídeo, inclusive os destinados à propaganda gratuita; XI – realização de pesquisas ou testes pré-eleitorais; XII – custos com a criação e inclusão de páginas na internet; XIII – multas aplicadas, até as eleições, aos partidos ou aos candidatos por infração do disposto na legislação eleitoral;

5 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução n. 23.217, de 2 de março de 2010 , loc. cit. 70

XIV – doações para outros candidatos ou comitês financeiros; XV – produção de jingles, vinhetas e slogans para propaganda eleitoral 6.

Todos esses gastos devem ser registrados e estão condicionados ao limite fixado pelo partido político (art. 21, caput, Res. 23.217/10). Em que pese a utilização de tais artifícios, na campanha eleitoral, é vedado confeccionar camisetas, chaveiros, bonés, brindes ou qualquer outro bem que proporcione vantagem ao eleitor, e também a doação em dinheiro, prêmios, ajudas pelo candidato, a pessoas físicas ou jurídicas (art. 22, Res. 23.217/10). Os comitês financeiros devem obedecer a todas as regras contidas na Res. 23.217/10 para aplicar os recursos de forma correta na corrida eleitoral. Todavia, ficam sujeitos à prestação de contas à Justiça Eleitoral. Todo e qualquer candidato, vice e seus suplentes, comitês financeiros e partidos políticos estão sujeitos à prestação de contas (art. 25, caput, Res. 23.217/10). No pleito presidencial, a prestação de contas deverá ser encaminhada à Justiça Eleitoral até o trigésimo dia posterior à realização do pleito (art. 29, III, LE). Portanto, na eleição presidencial de 2010, houve dois momentos para a prestação de contas. O primeiro foi até o dia 02 de novembro de 2010 a todos os candidatos que concorreram o primeiro turno. No segundo momento, os candidatos que concorreram ao segundo turno tiveram até o dia 30 de novembro de 2010 (art. 26, caput, § 1º, Res. 23.217/10). No fim da campanha eleitoral, poderá ocorrer a sobra dos recursos financeiros. A diferença positiva dos recursos arrecadados e gastos na campanha e os bens materiais permanentes são considerados sobras da campanha (art. 28, I, II, Res. 23.217/10). As sobras serão consideradas dos partidos políticos que deverão declará-los em sua prestação de conta anual (art. 27, Res. 23.217/10). O TSE julgará a prestação de conta dos candidatos ao cargo presidencial. A decisão poderá ser:

I – pela aprovação, quando estiverem regulares; II – pela aprovação com ressalvas, quando verificadas falhas que não lhes comprometam a regularidade; III – pela desaprovação, quando verificadas falhas que lhes comprometam a regularidade; IV – pela não prestação, quando não apresentadas as contas após a notificação ou não suprida a documentação a que se referem, respectivamente, o §§ 4º e 6º do art. 26 desta resolução.

6 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução n. 23.217, de 2 de março de 2010 , loc. cit. 71

Quando as contas forem julgadas não prestadas, ou desaprovadas, será encaminhado cópia ao Ministério Público Eleitoral para tomar as medidas cabíveis (art. 40, § 1º, Res. 23.217/10). Não haverá a diplomação do candidato sem o julgamento das contas (art. 42, Res. 23.217/10). O candidato com as contas desaprovadas não será diplomado. A aprovação das contas demonstra que o comitê financeiro obedeceu às normas eleitorais. Caso seja julgada desaprovada, será instaurado procedimento para apurar a ocorrência do abuso do poder econômico. Até aqui não foi mencionado acerca das condições de concorrência entre os candidatos. Antes de se tratar sobre a eleição presidencial de 2010, é salutar destacar um breve conceito sobre o abuso do poder econômico:

Logo, em campanha política, o abuso do poder econômico é o uso exagerado de recursos financeiros, o uso de recursos financeiros que consiga, por si só, provocar um desequilíbrio entre os candidatos. Por abuso do poder econômico entende-se, pois, qualquer atitude em que haja uso de dinheiro em quantidade evidentemente excessiva e que venha em detrimento da liberdade de voto 7.

Nesse contexto, não se fala em corrupção eleitoral ou irregularidade na prestação de contas, já que o comitê financeiro gasta aquilo que é declarado, mas sim na diferença de condições para a captação de votos. A legislação brasileira regula o uso do poder econômico, mas o uso em excesso não configura abuso. O abuso seria a inobservância dos preceitos legais, não havendo conceito específico para o abuso do poder econômico. Sua incidência deverá ser estudada no caso concreto. Os tribunais pátrios não se manifestam sobre a diferença de orçamento dos concorrentes durante a campanha eleitoral, pois não há previsão legal, mesmo havendo o princípio da máxima igualdade na disputa eleitoral. Somente aprova, ou não, aquilo que é prestado. A investigação do abuso do poder econômico somente ocorre quando há irregularidade nas contas apresentadas pelos partidos políticos, ou quando o prejudicado representa à Justiça Eleitoral, para abertura de investigação judicial (art. 22, caput, LC 64/90). Sobre o desinteresse dos Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) em regulamentar, modificar ou questionar sobre a desigualdade de condições de disputa

7 CONEGLIAN, Olivar. Propaganda eleitoral . 8. ed. Curitiba: Juruá, 2006. p. 155. 72 na corrida eleitoral, a seguir serão relacionadas as condições dos candidatos aptos a participarem do pleito presidencial de 2010.

4.1.1 O uso e o abuso do poder econômico na eleição presidencial de 2010

Nenhum candidato inscrito para concorrer à eleição presidencial passada foi considerado inapto. Os nove aptos foram: Dilma Vana Rousseff, Ivan Martins Pinheiro, Jose Levy Fidelix da Cruz, José Maria de Almeida, José Maria Eymael, José Serra, Maria Osmarina Marina da Silva Vaz de Lima, Plínio Soares de Arruda Sampaio, Rui Costa Pimenta 8. A seguir, elencar-se-ão dados sobre os candidatos e seus limites de gastos durante a campanha eleitoral de 2010. Rui Costa Pimenta: casado, ensino superior completo, jornalista e redator, natural de São Paulo/SP, nascido em 25 de junho de 1957, filiado ao Partido da Causa Operária (PCO), cujo nº da legenda é 29 (vinte e nove), sem coligação, limite de gastos na campanha em R$ 100.000,00 (cem mil reais). 9 Rui Costa Pimenta recebeu 12.206 (doze mil duzentos e seis) votos, foi o menos votado da corrida presidencial. Isto equivale a 0,01% (um centésimo por cento) dos votos válidos 10 . O quociente da divisão entre o valor limite de gastos na campanha e os votos recebidos equivale a aproximadamente R$ 8,19 (oito reais e dezenove centavos). Ivan Martins Pinheiro: casado, ensino superior completo, advogado, natural do Rio de Janeiro/RJ, nascido em 18 de março de 1946, filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), cujo nº da legenda é 21 (vinte e um), sem coligação, limite de gastos na campanha em R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) 11 . Ivan Pinheiro recebeu 39.136 (trinta e nove mil cento e trinta e seis) votos, o oitavo colocado na corrida presidencial. Isto equivale a 0,04% (quatro centésimos

8 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Eleições 2010 , loc. cit. 9 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Eleições 2010 , loc. cit. 10 ELEIÇÃO presidencial. Apuração 1º turno. G1 . Disponível em: . Acesso em: 5 maio 2011. 11 TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Eleições 2010 , loc. cit. 73 por cento) dos votos válidos 12 . O quociente da divisão entre o valor limite de gastos na campanha e os votos recebidos equivale a aproximadamente R$ 5,11 (cinco reais e onze centavos). José Maria de Almeida: solteiro, ensino médio completo, técnico operário, natural de Santa Albertina/SP, nascido em 02 de outubro de 1957, filiado ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), cujo nº da legenda é 16 (dezesseis), sem coligação, com limite de gastos na campanha em R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) 13 . Zé Maria recebeu 84.609 (oitenta e quatro mil seiscentos e nove) votos, o sexto colocado na corrida presidencial. Isto equivale a 0,08% (oito centésimos por cento) dos votos válidos. O quociente da divisão entre o valor limite de gastos na campanha e os votos recebidos equivale a aproximadamente R$ 3,54 (três reais e cinquenta e quatro centavos). Plínio Soares de Arruda Sampaio: casado, ensino superior, advogado, natural de São Paulo/SP, nascido em 26 de julho de 1930, filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), cujo nº da legenda 50 (cinquenta), sem coligação, com limite de gastos na campanha em R$ 900.000,00 (novecentos mil reais) 14 . Plínio recebeu 886.816 (oitocentos e oitenta e seis mil oitocentos e dezesseis votos), o quarto candidato mais votado. Isto equivale a 0,87% (oitenta e sete décimos por cento) dos votos válidos 15 . O quociente da divisão entre o valor limite de gastos na campanha e os votos recebidos equivale a aproximadamente R$ 1,01 (um real e um centavo). Jose Levy Fidelix da Cruz: casado, ensino superior incompleto, jornalista e redator, natural de Mutum/MG, nascido em 27 de dezembro de 1951, filiado ao Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), cujo nº da legenda é 28 (vinte e oito), sem coligação, com limite de gastos na campanha de R$ 10.000.000,00 (dez milhões reais) 16 . Levy Fidelix recebeu 57.960 (cinquenta e sete mil novecentos e sessenta) votos, o sétimo na corrida eleitoral. Isto equivale a 0,06% (seis centésimos por

12 ELEIÇÃO, loc. cit. 13 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Eleições 2010 , loc. cit. 14 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Eleições 2010 , loc. cit. 15 ELEIÇÃO, loc. cit. 16 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Eleições 2010 , loc. cit. 74 cento) dos votos válidos 17 . O quociente da divisão entre o valor limite de gastos na campanha e os votos recebidos equivale a aproximadamente R$ 172,53 (cento e setenta e dois reais e cinquenta e três centavos). José Maria Eymael: casado, ensino superior completo, empresário, natural de Porto Alegre/RS, nascido em 02 de novembro de 1939, filiado ao Partido Social Democrata Cristão (PSDC), cujo nº da legenda é 27 (vinte e sete), sem coligação, com limite de gastos na campanha de R$ 25.000.000,00 (vinte e cinco milhões de reais) 18 . Eymael recebeu 89.350 (oitenta e nove mil trezentos e cinquenta) votos, o quinto mais votado na eleição presidencial de 2010. Isto equivale a 0,09% (nove centésimos) dos votos válidos 19 . O quociente da divisão entre o valor limite de gastos na campanha e os votos recebidos equivale a aproximadamente R$ 279,79 (duzentos e setenta e nove reais e setenta e nove centavos). Maria Osmarina Marina da Silva Vaz de Lima: casada, ensino superior completo, senadora, natural de Rio Branco/AC, nascida em 08 de fevereiro de 1958, filiada ao Partido Verde (PV), cujo nº da legenda é 43 (quarenta e três), sem coligação, com limite de gastos na campanha de R$ 90.000.000,00 (noventa milhões de reais) 20 . Marina Silva recebeu 19.636.359 (dezenove milhões, seiscentos e trinta e seis mil, trezentos e cinquenta e nove) votos, e foi a terceira mais votada. Isto equivale a 19,33 % (dezenove vírgula trinta e três por cento) dos votos válidos 21 . O quociente da divisão entre o valor limite de gastos na campanha e os votos recebidos equivale a aproximadamente R$ 4,58 (quatro reais cinquenta e oito centavos). Dilma Vana Rousseff: divorciada, ensino superior completo, economista, natural de Belo Horizonte/MG, nascida em 14 de dezembro de 1947, filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT), cujo nº da legenda é 13 (treze), com a coligação nominada de “Para o Brasil Seguir Mudando”, composta pelo Partido Republicano Brasileiro (PRB), Partido Democrático Trabalhista (PDT), pelo próprio PT, Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Partido Trabalhista Nacional (PTN),

17 ELEIÇÃO, loc. cit. 18 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Eleições 2010 , loc. cit. 19 ELEIÇÃO, loc. cit. 20 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Eleições 2010 , loc. cit. 21 ELEIÇÃO, loc. cit. 75

Partido Social Cristão (PSC), Partido da República (PR), Partido Trabalhista Cristão (PTC), Partido Socialista Brasileiro (PSB) e Partido Comunista do Brasil (PC do B), com limite de gastos na campanha de R$ 176.000.000,00 (cento e setenta e seis milhões de reais) 22 . Dilma recebeu 47.651.434 (quarenta e sete milhões seiscentos e cinquenta e um mil quatrocentos e trinta e quatro) votos no primeiro turno, candidata mais nesse turno. Isto equivale a 46,91% (quarenta e seis, noventa e um por cento) dos votos válidos 23 . No segundo turno recebeu 55.752.483 (cinquenta e cinco milhões setecentos e cinquenta e dois quatrocentos e oitenta e três) votos, foi a candidata eleita com 56,05% (cinquenta e seis vírgula cinco por cento) dos votos válidos 24 . O quociente da divisão entre o valor limite de gastos na campanha e os votos recebidos nos dois turnos equivale a aproximadamente R$ 1,70 (um real e setenta centavos). José Serra: casado, ensino superior completo, economista, natural de São Paulo/SP, nascido em 19 de março de 1942, filiado ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), cujo nº da legenda é 45 (quarenta e cinco), com a coligação nominada de “O Brasil pode mais”, composto além do próprio PSDB pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido Popular Socialista (PPS), Democratas (DEM), Partido da Mobilização Nacional (PMN), Partido Trabalhista do Brasil (PT do B), com limite de gastos na campanha de R$ 180.000.000,00 (cento e oitenta milhões de reais) 25 . Serra recebeu 33.132.283 (trinta e três milhões cento e trinta e dois mil duzentos e oitenta e três) votos no primeiro turno, sendo o segundo colocado. Isto equivale a 32,61% (trinta e dois vírgula sessenta e um por cento) dos votos válidos 26 . No segundo turno, Serra recebeu 43.711.162 (quarenta e três milhões setecentos e onze mil cento e sessenta e dois) votos, equivalente a 43,95% (quarenta e três vírgula noventa e cinco por cento) dos votos válidos. Foi o segundo colocado na nova eleição. 27 O quociente da divisão entre o valor limite de gastos na campanha e os votos recebidos nos dois turnos equivale a aproximadamente R$

22 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Eleições 2010 , loc. cit. 23 ELEIÇÃO, loc. cit. 24 ELEIÇÃO, loc. cit. 25 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Eleições 2010 , loc. cit. 26 ELEIÇÃO, loc. cit. 27 ELEIÇÃO, loc. cit. 76

2,34 (dois reais e trinta e quatro centavos). Os investimentos nas campanhas variaram entre R$ 100.000,00 (cem mil reais) e R$ 180.000.000,00 (cento e oitenta milhões de reais), e o quociente do valor do voto variou entre R$ 1,01 (um real e um centavo) e R$ 279,79 (duzentos e setenta e nove reais e setenta e nove centavos). Nesse quadro comparativo, há duas conclusões: a primeira é que as duas campanhas com maior possibilidade de investimento chegaram ao segundo turno. A vitória não coube àquele que poderia ter o maior investimento. A segunda está relacionada à forma como o candidato utiliza os meios efetivos para a divulgação de sua candidatura: sua campanha tende a expandir mesmo tendo limite de gastos inferior. Plínio foi este candidato, filiado ao PSOL, partido com representação na Câmara de Deputados, participando dos principais debates sobre o pleito passado. Debatendo com Dilma, Serra e Marina, Plínio detinha o menor limite de gastos e obteve o menor quociente do valor de voto. Grande parte dos cidadãos brasileiros não dá importância à política brasileira. Muitas vezes, observam somente aqueles que estão na mídia, nos debates e nas propagandas eleitorais realizadas na televisão. A melhor forma de divulgação das campanhas eleitorais é através da televisão brasileira. O eleitor desinteressado, que não buscou se inteirar sobre o programa dos candidatos tomou conhecimento apenas das propostas dos quatro que participaram dos debates, inclusive do debate do canal Rede Globo, emissora com mais audiência no Brasil. Os outros cinco candidatos foram esquecidos. Alguns como Eymael e Levy detinham condições financeiras superiores (ou divulgaram limites suficientes) para propagar sua campanha de forma mais abrangente que a do candidato Plínio. A questão é: o poder econômico está relacionado à expansão das propostas dos candidatos? Já que existe esta indagação, seria correto afirmar que os candidatos concorrem em situações desiguais? Há uma relação de igualdade de disputa entre os candidatos? Dentro desses parâmetros, parece que o Estado Democrático de Direito, formado pela atual República Brasileira e infanto-democracia, se preocupou em igualar os eleitores, mas não tem a mesma preocupação entre os candidatos. O art. 14, § 9º, da CF, dispõe da seguinte forma: 77

Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta 28 .

A LC 64/90 regulamenta este artigo, mas pouco dispõe sobre a proteção e repressão do abuso do poder econômico e, ainda, dificulta sua aplicação no caso concreto:

O uso do poder econômico, quando se faz por intermédio dos partidos e com obediência estrita à legislação pertinente, é lícito e moralmente admissível. O que o torna ilícito -e moralmente reprovável -é o seu emprego fora do sistema legal, visando a vantagens eleitorais imediatas, com o fato de intervir no processo eleitoral, definindo os resultados de acordo com determinados interesses. Sem este nexo causal, o ato abusivo, para os efeitos da ação processual constitucional, é irrelevante, embora possa ter interesse e repercussão em outras províncias do Direito 29 .

Mesmo não sendo ilícito o investimento exagerado na eleição presidencial, cabe discutir se é moralmente reprovável. Deve-se analisar a disponibilidade das propagandas eleitorais: “Trata-se de corolário dos princípios da liberdade e da igualdade. Por ele se infere que o partido e o candidato dispõem da propaganda lícita, apoiada e estimulada pelo Estado” 30 . O Estado disponibiliza ao partido horário gratuito em rádio e televisão para a divulgação da propaganda partidária e eleitoral 31 . Contudo, os partidos políticos podem promover a divulgação dentro dos parâmetros legais, desde que tenham condições de fazê-las (art. 241, CE). O Estado brasileiro dá liberdade ao partido político para divulgar seus ideais e seus candidatos. A liberdade de promoção é inversamente proporcional à igualdade de condições entre os candidatos na corrida eleitoral. A legislação brasileira apenas considera abuso, por exemplo, quando o comitê financeiro do partido gasta acima do limite que o próprio estabeleceu. Entretanto, não estabelece limite, dando chance à

28 RAMAYANA, Marcos. Direito eleitoral . Rio de Janeiro: Impetus, 2004. p. 50. 29 MACHADO, Luiz Melíbio Uiraçaba. Resenha eleitoral : O abuso do poder econômico no processo eleitoral, mar. 1995. v. 2. Disponível em: . Acesso em: 3 maio 2011. 30 CONEGLIAN, 2006, p. 73. 31 Ibid., p. 73. 78 desigualdade de condições entre os candidatos. Demonstra-se, através dos dados levantados, que os três Poderes não se posicionam sobre este tema. O Chefe do Poder Executivo poderia propor um projeto de lei que visasse a igualar as condições entre os candidatos na corrida eleitoral. O Legislativo poderia agir propondo ou elaborando projeto de lei, e, assim, o Judiciário poderia dar tratamento diverso ao significado de “abuso do poder econômico” para reprimir o “comércio do voto” e igualar os candidatos. A questão de igualar as condições de disputa entre os candidatos na campanha eleitoral é democrática e cidadã. O candidato que pode investir 1.800 (mil e oitocentas) vezes a mais que outro já está visivelmente na frente na corrida presidencial. Além do limite máximo, deveria ser fixado um limite mínimo. Deveria, ainda, igualar o investimento dos partidos políticos, ou extinguir as doações que acontecem quando nasce uma coligação. Tem-se que a restrição de campanhas exageradas aperfeiçoaria a democracia representativa adotada pelo Brasil. O cidadão conheceria as propostas e ideais dos outros candidatos, possibilitando uma escolha mais sábia. A eleição presidencial de 2010 ficou marcada pelo investimento milionário nas campanhas. Os concorrentes não detinham os mesmos mecanismos para difundir suas propostas ao eleitor desinteressado. O financiamento diferenciado na campanha dos candidatos impossibilitou que chegasse ao conhecimento do cidadão as propostas daqueles, interferindo na liberdade de voto, prejudicando a própria democracia, pois seu exercício dependeu do sistema capitalista.

4.2 USO E ABUSO DO PODER POLÍTICO

Da mesma forma que se discutiu sobre o uso e abuso do poder econômico será abordado acerca do poder político e da omissão legal, e não sobre as condutas vedadas na legislação eleitoral. Logo, será abordado o uso do poder político quando o candidato utiliza os mecanismos previstos em lei. A LC 64/90 reprime o abuso de poder político, em especial a alínea “h”, do I, do art. 1º, que dispõe: 79

os detentores de cargo na administração pública direta, indireta ou fundacional, que beneficiarem a si ou a terceiros, pelo abuso do poder econômico ou político, que forem condenados em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes;

Entretanto, o conhecimento do abuso do poder político deverá ser através de ação própria, e não poderá ser conhecida pela Justiça Eleitoral no momento em que o candidato registrar sua candidatura. O abuso do poder político durante a campanha eleitoral só poderá ser objeto de investigação judicial eleitoral quando levantado pelos partidos políticos, coligações, candidatos ou Ministério Público 32 . O ordenamento jurídico brasileiro considera abuso do poder político quando ocorre o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na Administração Direta ou Indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 19, § único, LC 64/90). Contudo, a própria legislação brasileira concentra a maior parcela de participação nas propagandas durante a campanha eleitoral aos partidos que têm representantes na Câmara de Deputados (art. 46, caput, LE). Há, também, os casos de sucessão de candidato, quando o governante detém grande popularidade e utiliza este artifício para expandir a campanha eleitoral do pretenso sucessor.

4.2.1 O uso e o abuso do poder político na eleição presidencial de 2010

Na eleição presidencial de 2010, havia candidatos beneficiados pelas normas eleitorais. Esse benefício, por outro lado, prejudicou outros candidatos. O ordenamento jurídico brasileiro não observa a igualdade de condições de disputa entre os candidatos na corrida eleitoral. Dilma Rousseff, atual Presidenta da República, sucedeu ao colega de partido Luís Inácio “Lula” da Silva. Na campanha de Dilma, era comum a aparição de Lula que, na época, ocupava o cargo máximo do Poder Executivo. Ora, o art. 84, da CF, dispõe sobre as atribuições exclusivas do Presidente da República:

32 RAMAYANA, 2004, p. 257-258. 80

I - nomear e exonerar os Ministros de Estado; II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal; III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição; IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente; VI – dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos; VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio; X - decretar e executar a intervenção federal; XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as providências que julgar necessárias; XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos; XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando determinado em lei; XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de Contas da União; XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o Advogado-Geral da União; XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII; XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional; XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional; XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional; XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas; XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente; XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição; XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior; XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei; XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62; XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição 33 .

33 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 . Disponível em: 81

Em nenhum momento é previsto o exercício da função de cabo eleitoral nesses vinte e sete incisos, embora o último remeta a qualquer atribuição prevista na CF. Deve ser ponderado que a campanha da candidata foi baseada na administração do ex-presidente. O princípio da isonomia de condições na corrida eleitoral não foi respeitado quando aquele utilizou seu cargo para promover a campanha da atual Presidenta. No Direito Administrativo, o princípio da legalidade está inserido no caput do art. 37, da CF. Sobre o princípio, Meirelles leciona que:

A legalidade, como princípio da administração (CF, art. 37, caput), significa que o administrador público está, em toda sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso. 34 .

A partir desse princípio, interpreta-se que a atuação do ex-presidente como cabo eleitoral confronta o princípio da isonomia de condições na corrida eleitoral e o princípio basilar da legalidade adotado pelo Direito Administrativo. Ainda mais que, na maioria dos comícios realizados, havia a divulgação de fotos da ex- candidata com o ex-presidente, este sempre fazendo menção à sua administração populista, a qual continuaria com a ex-candidata. Nenhum dos outros candidatos portava tais mecanismos para promover sua imagem na corrida eleitoral. Tem-se que a campanha de Dilma foi pior que a campanha de reeleição de Lula. Nesta, o ex-presidente prometia continuar o que estava fazendo, naquela, a ex-candidata prometia fazer aquilo que o sucessor já fez. É desprezível referida situação, em que os governantes se aproveitam da imaturidade política da maioria dos eleitores para divulgarem suas campanhas de forma desigual:

É lamentável a situação do nosso país, pois levará muito tempo para que esse quadro mude, isso só acontecerá quando aqueles que detêm o poder quiserem realmente exercer as funções que lhes foram conferidas pelo povo, fazendo uma reforma na educação brasileira, investindo nas regiões carentes e assim, gerando empregos e acabando ou diminuindo a situação de miséria e de corrupção, e consequentemente melhorando a política e a economia do Brasil, ao invés, de usarem o dinheiro público em projetos corruptos de interesses particulares e de tentar amenizar os problemas econômicos com programas sociais que por sua vez influenciam na vontade

. Acesso em: 21 maio 2011. 34 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro . 36. ed. atual. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 89. 82

do eleitor, e ao final nem resolve a situação daquele que recebe, nem a situação econômica do Brasil, que continua um país pobre e como se tem visto nos meios de comunicação, segundo os especialistas, terá nos próximos anos um crescimento ainda menor. 35

José Serra, candidato da oposição, baseava sua campanha nos feitos do último candidato eleito pelo partido, Fernando Henrique Cardoso. As campanhas mais votadas enalteciam os feitos de seus antecessores. Em contrapartida, os outros sete candidatos defendiam as reformas na legislação brasileira como a política, a agrária, a tributária, o combate à corrupção, a melhoria da educação e do sistema único de saúde, na infra-estrutura do país, dentre outras. Além das campanhas baseadas no governo de seus antecessores, os debates na televisão brasileira também definiram a opinião do eleitor. Entretanto, como já dito, apenas quatro candidatos puderam participar dos debates, Dilma, Serra, Marina e Plínio. Dispõe o art. 46, do CE:

Independentemente da veiculação de propaganda eleitoral gratuita no horário definido nesta Lei, é facultada a transmissão, por emissora de rádio ou televisão, de debates sobre as eleições majoritária ou proporcional, sendo assegurada a participação de candidatos dos partidos com representação na Câmara dos Deputados, e facultada a dos demais, observado o seguinte: I - nas eleições majoritárias, a apresentação dos debates poderá ser feita: a) em conjunto, estando presentes todos os candidatos a um mesmo cargo eletivo; b) em grupos, estando presentes, no mínimo, três candidatos; II - nas eleições proporcionais, os debates deverão ser organizados de modo que assegurem a presença de número equivalente de candidatos de todos os partidos e coligações a um mesmo cargo eletivo, podendo desdobrar-se em mais de um dia; III - os debates deverão ser parte de programação previamente estabelecida e divulgada pela emissora, fazendo-se mediante sorteio a escolha do dia e da ordem de fala de cada candidato, salvo se celebrado acordo em outro sentido entre os partidos e coligações interessados. § 1º Será admitida a realização de debate sem a presença de candidato de algum partido, desde que o veículo de comunicação responsável comprove havê-lo convidado com a antecedência mínima de setenta e duas horas da realização do debate. § 2º É vedada a presença de um mesmo candidato a eleição proporcional em mais de um debate da mesma emissora. § 3º O descumprimento do disposto neste artigo sujeita a empresa infratora às penalidades previstas no art. 56. § 4o O debate será realizado segundo as regras estabelecidas em acordo celebrado entre os partidos políticos e a pessoa jurídica interessada na realização do evento, dando-se ciência à Justiça Eleitoral. § 5o Para os debates que se realizarem no primeiro turno das eleições, serão consideradas aprovadas as regras que obtiverem a concordância de

35 FRANÇA, Emanuela Micênia de Souza. Abuso de poder econômico e político no sistema eleitoral brasileiro . 18 f. Monografia (Graduação em Direito) Universidade Potiguar. Disponível em: . Acesso em: 31 maio 2011. 83

pelo menos 2/3 (dois terços) dos candidatos aptos no caso de eleição majoritária, e de pelo menos 2/3 (dois terços) dos partidos ou coligações com candidatos aptos, no caso de eleição proporcional. 36

A própria Lei das Eleições faz distinção quando autoriza a realização dos debates em grupo e assegura a participação apenas dos candidatos filiados aos partidos com representação na Câmara dos Deputados. A CF é fundamentada na ordem democrática e visa à igualdade, todavia, uma lei infraconstitucional diferencia as condições entre os candidatos. Verifica-se que a eleição presidencial de 2010 foi dominada pelos candidatos com mais aparição na mídia, tendo em vista que é a própria lei eleitoral que delimita quais candidatos usufruirão desse meio de propaganda. De forma curiosa, o candidato Plínio também participou dos debates presidenciais e foi o quarto mais votado na eleição presidencial. Referido quadro leva à reflexão, ou à interpretação, de que a corrida eleitoral e o resultado poderiam ser diferentes, ou até surpreendentes, se todos os candidatos pudessem utilizar os mesmos recursos. A candidata eleita, Dilma Rousseff, e somente esta, possuía o maior número de recursos na corrida eleitoral. Detinha a máquina pública, tinha possibilidade de investir milhões na campanha, seu maior cabo eleitoral foi o ex- Presidente da República, além disso, foi convidada a participar dos debates e das entrevistas na televisão brasileira. A grande maioria não poderia nem participar dos debates na televisão, pois não tinham representação na Câmara de Deputados ou porque, simplesmente, não eram convidados pelas emissoras. Nesse contexto, observa-se que o próprio ordenamento jurídico brasileiro é contraditório, uma vez que a própria CF reprime o abuso do poder político e econômico, não delimitando, a legislação infraconstitucional, seu uso. As campanhas eleitorais são diferenciadas e desiguais, já que cada candidato pode utilizar todos os métodos legais, mas nem todos os candidatos dispõem destes artifícios. Salienta-se que a legislação não prevê um patamar mínimo ou máximo de financiamento das campanhas eleitorais. Os partidos políticos podem formar coligações, o que aumenta o poder político e o financiamento das campanhas. Algumas das propagandas eleitorais, como os debates, podem ser fornecidos

36 BRASIL. Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997 . Estabelece normas para as eleições. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L9504.htm. Acesso em: 31 abr. 2011. 84 apenas aos candidatos com representação na casa legislativa. Enquanto a legislação infraconstitucional não for reformulada, a campanha eleitoral será desigual: haverá o investimento publicitário exagerado, o uso dos antecessores como cabos eleitorais, o eleitor imaturo escolherá o candidato mais marqueteiro e não aquele com as propostas de seu interesse. Dentro desses parâmetros, a eleição presidencial pode ser considerada democrática perante os eleitores, mas entre os candidatos é marqueteira. Quanto maior a força política maior será a publicidade da campanha do candidato. Neste momento da história brasileira, a eleição do Presidente da República depende da publicidade e não da consciência do eleitor. 85

5 CONCLUSÃO

A civilização europeia, aproximadamente no ano 1500 do calendário cristão, desembarcou neste território, atualmente conhecido como Brasil. Os portugueses colonizaram estas terras. No dia 07 de setembro de 1822, o Brasil tornou-se independente, passando a ser um Estado soberano. Naquela época, o país era governado sob o regime do Império. No dia 15 de novembro de 1889 foi proclamada a República. Desde então, o Brasil é um país Republicano. Nos 121 anos de República, o Brasil tenta aperfeiçoar sua democracia e conferir ao cidadão o máximo de direitos fundamentais. Após as revoluções, as reformas políticas e as ditaduras implantadas, o Brasil promulgou, no dia 05 de outubro de 1988, a atual Constituição Federal. Tida como cidadã e democrática, iguala o valor do voto e protege seu sigilo e liberdade, visando, assim, à repressão do abuso do poder político e econômico nas eleições. A CF dispõe sobre os direitos políticos nacionais, sendo que o status de cidadão brasileiro só será conferido àqueles que preencherem os requisitos constitucionais. Trata, também, sobre as condições de elegibilidade, bem como sobre o sistema majoritário para as eleições presidenciais, dispondo sobre o segundo turno e, ainda, admitindo a reeleição. A Lei Complementar nº 64/90, nominada Lei de Inelegibilidade, versa sobre o procedimento adotado para conhecer as causas de inelegibilidade. O Código Eleitoral, em seu art. 1º, assegura e organiza o exercício do voto. Desta forma, a Lei das Eleições estabelece normas relativas às eleições. Dentre as fontes do Direito Eleitoral, destacam-se as resoluções emanadas pelo TSE que instruem o procedimento eleitoral. A Resolução nº 23.211/10 regulamentou as eleições de 2010, normatizando a eleição presidencial. Tratava acerca dos procedimentos adotados nas zonas eleitorais, da organização das seções e das mesas receptoras, dos mesários e fiscais dos partidos políticos, dentre outros. Contudo, dentro do ordenamento eleitoral há normas que possibilitam a diferenciação desproporcional entre os candidatos no momento da campanha eleitoral, posto que os debates que acontecem em rádio e televisão são 86 proporcionados apenas aos candidatos filiados a partidos políticos com representação na Câmara de Deputados. Ressalta-se que a legislação eleitoral também é omissa. Não há disposição sobre o limite de financiamento nas campanhas eleitorais. Constata-se, inclusive, que o ocupante do cargo eletivo pode fazer a função de cabo eleitoral, desde que obedeça às regras da propaganda eleitoral, sendo responsável pela captação de votos. Verifica-se, também, a omissão quanto à reeleição. O candidato já investido em mandato político terá ao seu dispor a máquina pública para promover sua campanha. Tem-se, neste caso, que não se trata de uma omissão legal, pois referida conduta é vedada, mas sim de omissão na fiscalização pelos órgãos competentes. Observa-se, portanto, que referidas normas e respectivas omissões podem sim ter influído na eleição presidencial de 2010, pois havia candidatos que poderiam investir financeiramente até mil e oitocentas vezes a mais que outros, como o caso de José Serra (cento e oitenta milhões de reais) e Rui Costa Pimenta (cem mil reais). Assim, a desproporção de possibilidade de investimento deixou os candidatos em condições desiguais na concorrência. Em relação aos debates, registra-se o interessante caso do candidato Plínio de Arruda, que participou dos debates presidenciais na televisão aberta. Ora, Plínio não tinha a mesma possibilidade de investimento dos outros três candidatos participantes – Dilma, Serra e Marina – e nem dos outros que não participaram – Eymael e Levy Fidelix – contudo, foi o quarto mais votado no primeiro turno, pois teve a oportunidade de divulgar seus ideais aos cidadãos. Constata-se que a candidata, à época, Dilma Rousseff, baseou sua campanha eleitoral na divulgação dos programas assistencialistas de Lula. Restou evidente que o ex-presidente atuava como cabo eleitoral de Dilma nos comícios e nas propagandas eleitorais de quaisquer espécies: panfletos, outdoors, bem como nas propagandas gratuitas de rádio e televisão. Ele também fazia parte das extensas propagandas na rádio e televisão que não eram gratuitas. Diante das situações expostas, é visível a diferença desproporcional na possibilidade de investimento nas campanhas eleitorais, sendo que a forma de exposição na mídia também influenciou o resultado da eleição presidencial de 2010. Além disso, o eleitor tem o direito de ser devidamente informado sobre as 87 propostas de governo dos candidatos concorrentes. A exclusão dos debates e a falta de regulamentação sobre a possibilidade de investimento nas campanhas prejudicam o cidadão, pois limitam o exercício do voto e contrariam a democracia. A legislação eleitoral diferencia as condições dos candidatos durante a campanha eleitoral, acarretando uma disputa desigual e, consequentemente, influenciando o resultado da eleição. 88

REFERÊNCIAS

ARRUDA, José Jobson de Andrade; PILETI, Nelson. Toda a história do Brasil : história geral e história do Brasil. 3. ed. São Paulo: Ática, 1995.

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______. Ato institucional n.1, de 9 de abril de 1964 . Disponível em: . Acesso em: 3 maio 2011.

______. Ato institucional n. 16, de 14 de outubro de 1969 . Disponível em: . Acesso em: 3 jun. 2011.

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______. Ato institucional n. 3, de 5 de fevereiro de 1966 . Disponível em: . Acesso em: 3 jun. 2011.

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89

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