CULTURA POPULAR DO RECÔNCAVO: DA ARTE COM O BARRO A FESTA DA ESMOLA CANTADA DO DISTRITO DE COQUEIROS EM MARAGOJIPE-BA

Fania de Cerqueira Santos1

Resumo: O artigo intitulado: A Cultura Popular do Recôncavo: da Arte com o Barro a Festa da Esmola Cantada do Distrito de Coqueiros em Maragojipe-Ba, tem como intencionalidade compreender como se dão as relações entre as diferentes expressões culturais tanto na arte com o barro, como na festa da esmola cantada do Distrito de Coqueiros em -BA, na qual as pessoas, e na sua maioria mulheres, estão a frente das duas formas de expressão. Este trabalho está subdividido em duas seções, na primeira será feito um breve histórico da cidade do Recôncavo e da esmola cantada, no segundo momento uma abordagem teórica falando da cultura popular e da arte com o barro e sua visibilidade na comunidade na qual está inserida, por fim as considerações finais relevantes para esta oportunidade como fechamento da escrita deste artigo. A esmola cantada surge inicialmente com a ideia de ampliar a capela de Nossa Senhora da Conceição do distrito de Coqueiros. Na esmola cantada as pessoas saem de casa em casa com a imagem de Nossa Senhora da Conceição, usando instrumentos musicais, visitando todas as casas da vila, arrecadando dinheiro para a realização da festa da padroeira. Por meio de manifestações artísticas, das obras, da cultura popular, é possível conhecer a cultura de uma sociedade ou de um grupo. A arte e a cultura se tornam intrínsecas no distrito de Coqueiros está presente por toda a comunidade principalmente na frente das casas das artesãs.

1Mestranda pelo Programa de Mestrado Profissional em História da África, da Diáspora e dos Povos Indígenas, pela UFRB. Pós- Graduada em Educação Infantil, pelo Centro Universitário Barão de Mauá, Licenciada em Pedagogia pela Faculdade de Ciência e Tecnologia Albert Einstein.

Palavras-chave: Esmola cantada, cultura, arte, manifestações culturais.

INTRODUÇÃO

Este trabalho é fruto de um projeto de pesquisa que foi submetido na seleção do mestrado em História da África da Diáspora e dos Povos Indígenas na Universidade Federal do Recôncavo da . A Cultura Popular do Recôncavo: da Arte com o Barro a Festa da Esmola Cantada do Distrito de Coqueiros em Maragojipe-Ba, tem como intencionalidade compreender como se dão as relações entre as diferentes expressões culturais tanto na arte com o barro, como na festa da esmola cantada do Distrito de Coqueiros em Maragogipe-BA, na qual as pessoas, e na sua maioria mulheres estão a frente das duas formas de expressão. Faz-se necessário conhecer inicialmente um pouco da localização de Coqueiros, distrito de Maragogipe, que está às margens do rio Paraguaçu, a apenas 14 quilômetros de São Félix e Cachoeira, cidades históricas do Recôncavo Baiano que ostentam belo conjunto arquitetônico do período colonial, tornando crescente o turismo na região. Na cidade supracitada o artesanato, o manguezal, as atividades marinha e agricultura, são para as famílias que residem nesta região. Principalmente para as mulheres que se destacam na produção de artesanato utilizando o barro. As festas populares são ricas em elementos culturais e as mesmas partem de uma iniciativa das pessoas da comunidade local que se dedicam ativamente em manter viva a cultura local, desde a festa de Iemanjá que acontece em fevereiro, se estendendo ao carnaval dos mascarados, até a festa da Esmola Cantada que acontece no dia 08 de dezembro, sendo esta última considerada um dos maiores eventos culturais desta comunidade. A matéria-prima para produção da cerâmica é a argila. Obtida pelos artesãos em estado bruto, ela é espalhada na rua, onde os carros a trituram quando passam, facilitando o trabalho dos artesãos. O barro então é peneirado e misturado com água até ganhar consistência. A modelagem das peças é feita com as mãos, sem utilização de torno.

O processo de queima ocorre a céu aberto. As peças são empilhadas cuidadosamente, intercaladas com fragmentos de lenha e encobertas com tiras secas de bambu e palha seca, formando uma grande fogueira. Antes da queima, algumas peças são brunidas, ganhando um acabamento lustroso. Quando o tempo está chuvoso este processo de fabricação e se torna mais lento e a finalização com a queima não acontece. A produção de Cerâmica de Coqueiros é um atrativo importante no distrito, sua principal representante é a Dona Cadu. Devota de Santa Bárbara, a mestra sambadeira Ricardina Pereira da Silva, reside em Coqueiros, uma pequena comunidade de pescadores de Maragojipe. Aos 10 anos, ensinada por uma vizinha, Dona Cadú, como é conhecida, aprendeu a fazer cerâmicas artesanaais, que produz e vende em sua casa. Deve ao oficio ceramista muito de sua relação com o samba, pois o samba de D. Cadú surgiu na década de 80, do canto de um grupo de ceramistas enquanto laborava. ( Sambadores e Sambadeiros da Bahia, p 34 ) Mulher, mãe, avó, bisavó, mestra ceramista que aos 98 anos continua trabalhando e repassando seu saber a jovens aprendizes que queiram realizar esta atividade. O saber-fazer passado de geração a geração, transformou essa arte rudimentar, numa das principais fontes de sobrevivência do povo Coqueirense. O trabalho que aqui se desenvolve será subdividido em duas sessões, na primeira será feita uma abordagem teórica sobre o que é a esmola cantada e suas características quem participa da esmola. A segunda sessão se trata da cultura popular e da arte com o barro e sua visibilidade na comunidade na qual está inserida, por fim as considerações finais relevantes para esta oportunidade como fechamento da escrita deste artigo.

1. BREVE HISTÓRICO DA CIDADE DO RECÔNCAVO E DA ESMOLA CANTADA

A esmola cantada surge inicialmente com a ideia de ampliar a capela de Nossa Senhora da Conceição do distrito de Coqueiros, o que antes era capela se tornou igreja, e se encontra com boa estrutura para receber os fiéis. Na esmola cantada as pessoas saem de casa em casa com a imagem de Nossa Senhora da Conceição, usando instrumentos musicais, visitando todas as casas da vila, arrecadando dinheiro para a

realização da festa da padroeira que acontece do dia 23 de dezembro a 01 de janeiro com novena e missa festiva no último dia. Todas as pessoas se envolvem na esmola cantada desde as crianças, homens e as mulheres, independente de classe social e econômica. As cerâmicistas com sua agilidade e performance em realizar as artes com barro, vivenciam este momento com muito fervor, demonstrando sua religiosidade e envolvimento na esmola cantada. Nas cidades do recôncavo a festa de Nossa Senhora da Conceição acontece no dia 08 de dezembro. Em Coqueiros, neste dia acontece a esmola cantada. Fato que muda o calendário da igreja na Bahia, haja visto que neste dia é comemorado a Festa de Nossa Senhora da Conceição no Estado. A esmola cantada acontece vários lugares na Bahia. Em Cachoeira, por exemplo também acontece a festa da esmola cantada, no entanto em uma data, e mês diferente da que acontece em Coqueiros. Melira Elen Mascarenhas Cazaes, p. 3, traz uma descrição da festa da esmola cantada e o surgimento da mesma em Cachoeira/ Ba, demonstrando o que o objetivo da esmola é o mesmo, independente do município, angariar fundo com fim específico. A festa da esmola foi fundada em 1959 com o intuito de angariar fundos para a Festa da Santa Cruz da Ladeira da Cadeia na cidade de cachoeira, que ocorre em setembro. Os músicos tocam pandeiros, timbau, violão, tamborim, viola, cavaquinho e visitam a casa dos moradores solicitando contribuição para a realização da festa. No último domingo de novembro ocorre a lavagem da capela da Santa Cruz, o percurso é realizado pelas baianas do candomblé de Justo na Ladeira da Cadeia sob o embalo cadenciado dos filarmônicos. (CAZAES, (?), p.3)

Os instrumentos musicais fazem com que este dia se torne mais alegre e demostra a vitalidade e alegria deste povo que sai o dia inteiro visitando todas as casas da vila, pois nenhuma residência deve ser esquecida. Nos festejos em que se apresenta, o grupo percorre as casas dos moradores. È cantado um verso religioso em homenagem ao santo de devoção do dono da casa e para a proteção do anfitrião. Após receber a colaboração dos moradores, Esmola Cantada faz o agradecimento em forma de samba de roda. ( SAMBADORES E SAMBADEIRAS DA BAHIA, 2008, p. 18).

A festa de Nossa Senhora da Conceição de Coqueiros teve data alterada devido a mesma acontecer em várias cidades do Recôncavo, pois ficava difícil encontrar padres e filarmônica para a realização dos festejos, mudou- se a data por conta desta situação. O município Maragogipe, está localizado aproximadamente a 140 km de Salvador, teve seu processo de povoamento em meados do século XVI, com a chegada de um grupo indígena denominado Marag-gyp2. O Distrito de Coqueiros foi criado pela Lei Estadual nº 1922, de 13 de agosto de 1926. Este distrito tem muitas histórias e um arsenal cultural riquíssimo que vai do artesanato, as manifestações culturais religiosas onde é possível perceber fortemente o sincretismo e a representação do mesmo pulsando nas veias deste povo. O pluralismo cultural existente na festa da esmola cantada e na diversidade da arte com o barro nos remete destacar e corroborar com Boas de que a cultura não é singular, mas plural. A partir desta analise temos: Tomando como ponto de partida o estudo da arte, chega-se não somente a compreensão do fenômeno artístico, mas também das diferentes culturas por meio dele, da historicidade de cada uma dela. Os diferentes estilos artísticos são, por conseguinte, registros históricos das dinâmicas culturais. (BOAS, 1947).

O sincretismo é componente imprescindível de todas as formas de religião, está muito presente na devoção popular, nas procissões, nas comemorações dos santos, nas diversas formas de pagamento de promessas, nas festas populares em geral. É percebível desta forma que o sincretismo constitui uma das especialidades centrais das festas religiosas populares. Partindo do princípio de valorização e apropriação da identidade individual e coletiva, os indivíduos deveriam encontrar no ambiente social e educativo, representações de sua história, da história de seu povo para que se percebessem como sujeitos da história e, portanto, sujeitos na história. Em poucas palavras, a representação social é uma modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre os indivíduos (MOSCOVICI,1978, p.26).

2 Disponível em: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Vol. XXI. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de Janeiro, 1958, p. 28-33.

É por meio das representações, seja da esmola cantada ou das artes com o barro que se mantém viva a identidade e comunicação entre os indivíduos que vivem em comunidade. Sobre identidade cultural, que envolve vários elementos de uma sociedade Paviani (2004), explica que a identidade de um povo ou de uma cultura aponta para um conjunto de costumes, comportamentos, valores, obras e para elementos socioculturais como a língua, e a religião. p. 28. O que representa a ideia de sincretismo. Em relação ao sincretismo, é importante enfatizar que este acontece em varias culturas e não apenas na igreja. A igreja em sua estrutura apresenta-se tão sincrética como qualquer outra expressão religiosa [...] o cristianismo puro não existe, nunca existiu nem poderá existir [...] O sincretismo, portanto se constitui um mal necessário nem representa uma patologia da religião pura. É sua normalidade [...]. Leonardo Boff, 1982:

No contexto social e educacional faz-se necessário no que diz respeito ao sincretismo e sua relação com a esmola cantada trazer de forma contextualiza, pois é neste contexto, seja ele, formal e informal que “a membrana dos seres vivos as fronteiras das nações, são e, ao mesmo tempo, o local da comunicação e da troca. Ela é o lugar da dissociação e da associação, da separação e da articulação” (MORIN, 2003, p.252), visando a valorização de um povo que resistiu a hegemonia, e que os alunos sejam os futuros responsáveis na continuidade desse projeto de vida cultural mantendo intensa a luta de nossa cultura e que está viva na comunidade que se vive. Abordando os saberes básicos necessários para e sobre a cultura, Michel de Certeau (1995, p.192) diz que: [...] “a cultura tem hoje a conotação de um trabalho que deve ser realizado em toda a extensão da vida social”. Assim é feito no dia a dia dos Coqueirenses. Foucault (2007), citado por José Antonio Novaes da Silva, p. 60 traz sua enriquecedora contribuição a cerca do que a cultura representa, a mesma é composta por códigos que “regem sua linguagem, seus esquemas perceptivos, suas trocas, suas técnicas, seus valores, e a hierarquia de suas práticas fixa, logo de entrada, para o homem, as ordens empíricas com as quais terá de lidar e nas quais há de encontrar”.

As definições de renomados autores acerca do que é cultura se assemelham fazendo com que toda riqueza existente por meio desses códigos se destaquem e se fortaleça no intuito de manter viva tudo que culturalmente existe. Cuéllar (1997) citado também por Adalberto Santos (2011, p 16), “aponta a cultura como fonte de progresso e criatividade, rejeitando a visão de uma cultura como elemento secundário e subsidiário do processo de desenvolvimento econômico”. Diante deste só reforça a grandiosidade do que está por traz da cultura. A partir do exposto, entendemos a importância resultante das relações com o outro e com o mundo, na formação da identidade e ou identidades culturais que segundo Hall, (1996) significa: As identidades culturais são pontos de identificação, os pontos instáveis de identificação ou sutura, feitos no interior dos discursos e da história. Não uma essência, mas um posicionamento. Donde haver sempre uma política da identidade, uma política de posição, que não conta com nenhuma garantia absoluta numa lei de origem sem problemas, transcendental. (HALL,1996, p.70).

Desta forma, faz- se necessário compreender que uma das formas de construção e reivindicações da identidade é por meio do apelo histórico, ou seja, tenta- se reafirmar a identidade, buscando-se o passado, embora, com isso, possam-se produzir novas identidades, como afirma Woodward, (2014). Historicizar tais momentos sociais, culturais, bem como episódios ocorridos na história do Brasil, em nosso Estado, nosso Município e na rua em que residimos nos torna mais fortes, resistentes a todas as formas de preconceitos existentes na cultura afro-brasileira. . 2. CULTURA POPULAR, VISIBILIDADE ATRAVÉS DA ARTE COM O BARRO PELAS MÃOS DAS MULHERES

O que a arte e a cultura representam para as pessoas? Ao tentar responder estas indagações é possível pontuar que a arte é milenar, existe mesmo antes da linguagem que conhecemos hoje ser construída. Muitas mulheres tem dentro de si um grande sentimento de sobreviver na sua terra. Terra que foi dos seus antepassados e serão dos seus filhos, portanto além do trabalho com o barro ser uma forma de renda é ainda muito mais uma forma de

resistência das mulheres para que não precisem procurar sua renda fora de sua comunidade e possam viver na tranquilidade de suas casas junto a seus familiares. Há uma luta contínua, por parte da cultura dominante, no sentido de desorganizar e reorganizar constantemente a cultura popular, para cerca-la e confinar suas definições dentro de uma gama mais abrangente de formas dominantes; no entanto, não se pode esquecer que há pontos de resistência e também momentos de superação. (ADALBERTO SANTOS, 2011, p.40). Por meio de manifestações artísticas, das obras, da cultura popular, é possível conhecer a cultura de uma sociedade ou de um grupo. Desta forma e para inicio de conversa faz-se necessário destacar alguns termos que considero relevante neste trabalho. O primeiro deles é a cultura que previamente foi citado na primeira seção deste trabalho bem como no primeiro paragrafo desta seção, que etimologicamente o seu termo significa: Palavra derivada da raiz latina colare, é um termo empregado no uso diário em diversos sentidos, sem um significado aceito de modo geral. Os romanos consideravam a agricultura como uma atividade cultural por excelência e utilizavam a palavra cultura em referencia ao cultivo da terra. No século XVI, esse significado transladou ao cultivo da mente e do intelecto. (ADALBERTO SANTOS, 2011, p.42).

As definições e conceitos para além da etimologia da palavra cultura são inúmeras e não caberão neste espaço, por conta de sua amplitude. Throsby (2001) citado por Adalberto Santos 2011, p 44 traz duas acepções para o termo cultura. Na primeira acepção, o uso do termo cultura descreve o conjunto de atitudes, crenças, costumes, valores, convenções e práticas comuns ou compartilhados por um grupo, e serve para estabelecer a identidade dos diversos grupos e proporcionar meios para diferenciar os seus membros. O segundo uso do termo denota ceras atividades empreendidas por pessoas, e os produtos dessas atividades, que são porta-vozes dos aspectos intelectuais, morais e artísticos da vida humana. (THROSBY, 2001).

Compreende-se então que o termo cultura está implicado em alguma maneira de forma criativa e isso é fácil de ver no que diz respeito a esmola cantada e no fazer artesanato das mulheres coqueirenses. Assim pode-se dizer que “a cultura é o espaço dos valores no qual se inclui a coexistência com as demais pessoas, as normas éticas e os vínculos com o mundo e a sociedade”. (ADALBERTO SANTOS, 2011, p. 39-40)

A arte e a cultura se tornam intrínsecas no distrito de Coqueiros está presente por toda a comunidade principalmente na frente das casas das artesãs. Um fato que serve de destaque para representar bem essa relação da arte e da cultura está em uma das manifestações culturais. O carnaval dos mascarados que no último dia homens, mulheres e crianças se sujam de barro e vão as ruas, estes são chamado de “diabos”, por conta dessa caracterização e pintura que é feita no corpo utilizando o mesmo barro que se faz o artesanato. A designação do termo Arte vem do latim Ars, que significa habilidade. É definida como uma atividade que manifesta a estética visual, desenvolvida por artistas que se baseiam em suas próprias emoções. Geralmente a arte é um reflexo da época e cultura vivida. A Arte existe desde os primeiros indícios do desenvolvimento do homem, inicialmente utilizada para suprir necessidades de sobrevivência, como utensílios de cozinha e inscrições em cavernas. No Século V a. C., era considerada técnica, do grego tékn, onde esculturas e pinturas eram aprimoramentos técnicos. A arte do barro é uma atividade existente há mais de 3.000 anos antes de Cristo. No Brasil é uma prática muito representativa para a cultura popular, pois se trata de uma herança deixada pelos índios. As índias faziam brinquedos de barro para os filhos e objetos domésticos como gamelas, tigelas, alguidares, potes e modelavam de acordo com sua criatividade e/ou necessidade, e pintavam com tintas fortes e coloridas, inspiradas na natureza. Ainda presente nas comunidades tradicionais como acontecem em coqueiros. O gênero mulher aparece mais uma vez, o que demonstra que as mulheres sempre ocuparam o espaço de dignidade como é o trabalho, pois o trabalho dignifica o homem. O artesanato de barro é uma produção espontânea que parte da sensibilidade e ingenuidade do artesão usa-se e aguçam-se vários sentidos. As pessoas que trabalham com o barro têm uma imaginação fértil para criar e recriar. Usa o barro para fazer algo que lhe proporcione prazer, beleza e arte, fazendo do artesanato fonte de renda para sua subsistência. Por meio da arte com o barro surge um arsenal multicultural, [...] o multiculturalismo aposta que os códigos culturais estão se fragmentando. Essa tendência reflete-se na multiplicidade de estilos,

na ênfase ao efêmero, ao flutuante, ao que não permanece, na diferença e no pluralismo cultural. Constava evidencias de um afrouxamento de fortes identificações com a cultura nacional e um esforço de novos laços e lealdades culturais, o que levaria a argumentar que o efeito geral dos processos globais foi responsável pelo enfraquecimento das formas nacionais de identidade cultural e, o consequente, fortalecimento das identidades locais, regionais e comunitárias. (HALL, 2005, p. 39)

Como resistência e luta pelo reconhecimento de diferentes formas de saberes, da identidade cultural de um povo que foram silenciadas ao longo da história. Assim como diz Dallmayer (2000) “para serem congruentes com a diversidade de culturas e povos, os governos precisam ser construídos de cima para baixo, por meio de integrações laterais e movimentos transculturais e transnacionais”. Pois, entende- se que a representação deste povo simboliza uma voz que tem muito a dizer como enfatiza Taylor, “cada uma de nossas vozes têm algo único que dizer [...]” (TAYLOR, 1993, p. 50), e que a cada dia mais encontram - se suprimidas pelo processo de globalização hegemônica que é marcante na sociedade atual, porém com um diferencial o de resistência a globalização, (HALL, 1995). Diante desta resistência á globalização que a cultura popular se mantem “protegida” e revitalizada. Certeau, (1995, p. 55) vem dizer que: “A cultura popular supõe uma ação não- confessada. Foi preciso que ela fosse censurada para ser estudada” compreendida também como uma expressão que caracteriza um conjunto de elementos culturais específicos da sociedade de uma nação ou região. Muitas vezes classificada como cultura tradicional ou cultura de massas, a cultura popular é um conjunto de manifestações criadas por um grupo de pessoas que têm uma participação ativa nelas. A cultura popular é de fácil generalização e expressa uma atitude adotada por várias gerações em relação a um determinado problema da sociedade. A grande maioria da cultura popular é transmitida oralmente, dos elementos mais velhos da sociedade para os mais novos. Entendendo a originalidade de cada cultura e sua maneira particular, percebemos a forma como os indivíduos ou grupos sociais se aproximam de valores que são comuns a todos os homens e mulheres, mas que, ainda assim, não nos tornam idênticos, pois

temos uma maneira própria de agrupar e excluir diferentes elementos culturais (GOMES, 2005, p. 34-35). As mulheres são as principais mobilizadoras no fazer artístico com o barro, bem como estão a frente de varias festas da cultura popular como já foi citada em especial na festa da esmola cantada . A partir deste espaço que é dado para elas, que as mesmas constroem formas de viver e de ver o mundo, resistência, alternativa de produção e forjam na luta ferramentas para mudar a realidade que enfrentam no cotidiano. A cultura popular surgiu graças à interação contínua entre pessoas de regiões diferentes e à necessidade do ser humano de se enquadrar ao seu ambiente envolvente. A sociologia e etnologia, que estudam a cultura popular, não têm como objetivo fazer juízos de valor, mas identificar as manifestações permanentes e coerentes dentro de uma nação ou comunidade. Alguns estudiosos indicam que cada pessoa tem no seu interior a noção do que é popular, que é definido pela vertente de tradição e comunidade. A cultura popular é influenciada pelas crenças do povo em questão e é formada graças ao contato entre indivíduos de certas regiões. Pode envolver áreas m música, literatura, gastronomia, etc.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Escrever sobre a cultura popular, proporciona sentimentos de grande valor, pois envolve um arsenal simbólico e material incalculável para sociedade, principalmente quando diz respeito à luta, resistência, preservação de algo que é belo aos olhos de quem já viveu e ainda vive. Muitas vezes classificada como cultura tradicional ou cultura de massas, a cultura popular é um conjunto de manifestações criadas por um grupo de pessoas que têm uma participação ativa nelas e realiza por prazer. A cultura popular tem um valor incalculável para a sociedade. É por meio dela que as pessoas expressam os verdadeiros e mais puros sentimentos, se traduz em sua maioria em luta e resistência de um povo. A arte com o barro expressa grandemente o quanto a sensibilidade está aguçada nas expressões culturais e como a mulher se destaca na produção, apropriação dos

saberes que são deixados por seus antepassados, buscando a cada dia manter a identidade cultural se perpetuando. Por meio da arte com o barro surge um arsenal multicultural, como resistência e luta pelo reconhecimento de diferentes formas de saberes, da identidade cultural de um povo que foram silenciadas ao longo da história. A esmola cantada festa de uma comunidade que valoriza a presença da mulher. Tudo isso é considerado como um momento único, pois vive-se este momento com muito fervor e dedicação para o bem de todos.

REFERÊNCIAS

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