TRABALHOS EM BIOLOGIA DO ALQUEVA Programa de Monitorização do Património Natural ______

MACROINVERTEBRADOS TERRESTRES

Relatório Final

Equipa Diogo Figueiredo Otília Sardinha Amália Espiridião Rui Raimundo Manuel Cândido

______ÉVORA Dezembro de 2004

1. Introdução

De acordo com o programa de trabalhos e com o contrato estabelecido, a equipa dos Macroinvertebrados terrestres teve como objectivo assinalar a presença e, no caso de se verificar, fazer o mapeamento geo-referenciado de locais e abundância relativa das seguintes espécies de insectos: Papilio machaon hispanicus (; Paplilionidae), Euphydryas aurini (Lepidoptera; ), Prosepinus proserpina (Lepidoptera; Sphingidae), Thymelicus acteon (Lepidoptera; Hesperiidae); Dicranura iberica (Lepidoptera; Notondontidae), Cerambyx cerdo (Coleoptera; Cerambycidae), Coenagrion mercuriale (Odonata; Coenagrionidae), Oxygastra curtisii (Odonata; Corduliidae).

O estudo decorreu nos anos 1999, 2000 e 2003, genericamente na Zona de Influência do futuro Regolfo de Alqueva e Pedrógão, concretamente na área conjunta das 11 cartas militares 1:25 000 (nºs 441, 452, 463, 474, 481, 482,483, 490, 492 e 501) que interceptam os seis concelhos do regolfo (Alandroal, Moura, Mourão, Portel, Reguengos de Monsaraz e Vidigueira).

Como foi referido, este estudo incide sobre 8 espécies de insectos, nenhuma delas com localização confirmada na área de Alqueva e Pedrogão. Sobre estas espécies sabe-se que:

Cerambyx cerdo Linnaeus 1758 (Coleoptera; Cerambycidae)

O C. cerdo não é uma espécie endémica da Europa. Com uma distribuição por todo o Oeste da Região Paleártica, acompanhando a distribuição dos Quercus; encontra-se actualmente extinto em muitas zonas da sua área de distribuição potencial. Na Europa foi recentemente referenciado na Áustria, França, Alemanha, Grécia, Itália, Suécia, Espanha e Portugal.

É um dos maiores Cerambicídeos da Europa; trata-se de uma espécie classificada como saproxílica ou seja, “uma parte do seu ciclo, depende de madeira morta ou de outros organismos saproxílicos, ou de cogumelos arborícolas”. O actual maneio dos montados de azinho, em que a partir do momento em que uma azinheira seja considerada “morta” pelo serviços florestais, pode ser cortada e transformada em “lenha”, tem contribuído fortemente para a diminuição das populações dos insectos saproxílicos e afectado seriamente as populações de C. cerdo.

Coenagrion mercuriale (Charpentier, 1840) (Odonata; Coenagrionidae)

C. mercuriale, em conjunto com outras duas espécies do mesmo género, C. scitulum e C. caerulescens, pelas sua semelhantes em termos morfológicos e pela mesma distribuição geográfica; constituem um “grupo de espécies mediterrânicas”. C. mercuriale, não é uma espécie endémica da Europa, estando também presente no Norte de África. Na Europa, é referida para Áustria, Bélgica, França, Reino Unido, Itália, Luxemburgo, Holanda, Polónia, Roménia. Eslovénia, Suíça, Espanha e Portugal. No âmbito do projecto PRAXIS XXI actualmente em curso “Biodiversidade em Corredores Ripícolas”, temos realizado inventariações de Odonatos em vários sítios da Bacia Hidrográfica do Guadiana e espécie ainda não foi localizada.

Esta espécie localiza-se em rios e riachos, frequentemente com corrente moderada; apresenta a tendência para apresentar populações mais numerosas em substratos calcários. O período de voo estende-se desde o princípio de Maio até meados de Setembro.

Oxygastra curtisii (Dale, 1834) (Odonata; Corduliidae)

É uma espécie endémica da Europa ; é definida por alguns autores como sendo a “mediterranean faunal element” e por outros como “atlantic-mediterranean element”. Ocorre no Sudoeste da Europa; existem referências para Bélgica, França, Alemanha, Itália, Luxemburgo, Holanda, Suíça, Reino Unido, Espanha e Portugal. Em Portugal e Espanha é pouco abundante, todavia encontra-se citada para o norte, centro e sul da Península Ibérica. No âmbito do projecto PRAXIS XXI actualmente em curso “Biodiversidade em Corredores Ripícolas”, temos realizado inventariações de Odonatos em vários sítios da Bacia Hidrográfica do Guadiana e esta espécie ainda não foi localizada.

As larvas de O. curtissi, ao contrário das outras espécies da família Corduliidae, excepto Macromia splendens, requerem água corrente para o seu desenvolvimento. Os seus habitats são rios com água corrente e com abundante vegetação ripícola; pode ainda encontrar-se em canais de corrente lenta e em zonas pantanosas (na forma de indivíduos isolados).

As larvas vivem escondidas no limo e na areia, esperando pela passagem da presa; os adultos voam desde Maio até Setembro.

Papilio machaon hispanicus Linnaeus 1758 (Lepidoptera; Papilionidae)

É a maior borboleta diurna da Península Ibérica; bastante conspícua, a subespécie hispanicus encontra-se amplamente distribuída por toda a Península Ibérica; preferencialmente em colinas suaves cobertas de vegetação, sobre as quais voa, frequentemente planando; liba flores de Umbelíferas e Rutáceas. No Sul da Europa e Norte de África apresenta duas ou três gerações: 1ª geração (início do voo em Abril- Maio); 2ª geração (início do voo em Julho-Agosto). Na Extremadura espanhola apresenta três gerações (García-Villanueva et al., 1997), prolongando-se o período de voo até Setembro. Pode ser observada em qualquer tipo de biótopo, sendo mais abundante nos azinhais.

A lagarta tem como plantas hospedeiras: Ruta graveolans (Ruda, propriamente dita), R. angustifolia, R. montana, Foeniculum vulgare, F. officinale, F. piperitum, Daucus carota, Pimpinella saxifrages, Carum carvi e outras Umbelíferas, incluindo algumas do género Meum.

Euphydryas aurinia Rottemburg 1775 (Lepidoptera; Nymphalidae)

Amplamente distribuída na Península Ibérica; os habitats são bastante variados, mas sempre húmidos e cobertos de vegetação. Encontra-se referida para Portugal apenas nas seguintes regiões: Algarve (serra de Monchique), Estremadura (Arrábida, Sintra- Cascais), Beira-Baixa e Minho) (Bustilho & Rubio, 1974), mas o seu estatuto é mal conhecido.

Os imagos libam uma grande variedade de flores, como por ex.: Ranunculus, Cirsium, Centaurea, Globularia, Anthemis, não se considerando a fonte de néctar um factor limitante para a sobrevivência populacional.

As lagartas, vivem agrupadas, incluindo o período invernal, numa espécie de “ninho” construído junto à planta hospedeira. Estão identificadas como plantas hospedeiras: Dipsacáceas (Escabiosas): Scabiosa atropurpurea, S. columbaria, Succia pratensis, Succia sp.; Escrofulariáceas: Digitalis purpurea, D. lutea, Veronica sp. (jardim), Labiadas: Teucrium fruticans, T. angustifolia, T. aureum, T. chamaedrys; Poligonaceas: Plantago subulata (latem), P. media, P. major, P. albicans, P. lanceolata, Caprifoliáceas: Lonicera periclymenum, L. implexa

Proserpinus proserpina (Pallas, 1772) (Lepidoptera; Sphingidae)

Esta espécie de Esfingideo é normalmente nocturna; mais raramente diurna. Trata-se de uma espécie bastante localizada e pouco abundante. Encontra-se presente na Península Ibérica, Europa Central e Meridional e Marrocos. É referida para Portugal a sua ocorrência em poucas áreas isoladas, onde não está incluída a área de Alqueva- Pedrogão.

Apresenta duas gerações anuais: a 1ª geração desde Maio a Junho; a 2ª geração, entre Agosto e Setembro.

São referidas como principais plantas hospedeiras das larvas: Epilobium rosmarinifolium, Epilobium hirsutum, Epilobium angustifolium, Oenothera biennis, Lythrum salicaria (Salicaria)

O imago alimenta-se principalmente de Lamiaceae (Ajuga reptans, Origanum vulgare, Salvia pratensis, Lavandula spica), Boraginaceae (Echium vulgare), Caprifoliaceae (Lonicera caprifolium) ou Caryophyllaceae ( Dianthus carthusianorum, Dianthus caesius, Silene inflata, Silene nutans, Saponaria officinalis).

Thymelicus acteon (Rottemburg, 1775) (Lepidoptera; Hesperiidae)

Período de voo de Maio a Julho, numa única geração. Na Extremadura espanhola encontra-se amplamente distribuída com colónias numerosas, podendo ser observada nas orlas das zonas cultivadas, valetas e clareiras de bosques (GARCÍA- VILLANUEVA et al, 1997). Em Portugal, após dois anos de levantamento de dados e monitorização no âmbito do Projecto PAMAF 8151 actualmente em curso: “Identificação e Monitorização de Indicadores de Biodiversidade em Montados de Sobro e Azinho ao Nível da Unidade de Gestão” esta espécie foi localizada em vários pontos de amostragem no Alentejo.

São referidas como principais plantas hospedeiras das lagartas: Agropyrum repens, Bromus spp., , Holcus lanatus, H. mollis e Festuca arundinacea.

Dicranura (Cerura) iberica (Linnaeus) (Lepidoptera; Notondontidae)

Trata-se de um taxon cuja sistemática tem levantado algumas questões, quer ao nível do género, quer ao nível da espécie; segundo alguns autores este taxon corresponde à subespécie: Cerura vinula iberica e, segundo outros trata-se de espécies distintas C. vinula e C. iberica. A sua inclusão no género Dicranura também é bastante discutida.

Independentemente destas questões de Sistemática, esta espécie apresenta uma distribuição Ibérica e ilhas Baleares, embora nunca tenha sido referida a sua ocorrência em Portugal. O voo prolonga-se pelos meses de Março a Junho e o seu habitat favorável são as galerias ripícolas com choupos e salgueiros, que são as suas principais plantas hospedeiras.

As lagartas são verdes com duas linhas brancas dorsais; apresentam um apêndice caudal bífido; têm como principais plantas-hospedeiras, árvores do género Salix e Populus.

A- CERAMBIX CERDO

O C. cerdo não é uma espécie endémica da Europa. Com uma distribuição por todo o Oeste da Região Paleártica, acompanhando a distribuição dos Quercus; encontra-se actualmente extinto em muitas zonas da sua área de distribuição potencial. Na Europa foi recentemente referenciado na Áustria, França, Alemanha, Grécia, Itália, Suécia, Espanha e Portugal.

É um dos maiores Cerambicídeos da Europa; trata-se de uma espécie classificada como saproxílica ou seja, “uma parte do seu ciclo, depende de madeira morta ou de outros organismos saproxílicos, ou de cogumelos arborícolas”. O actual maneio dos montados de azinho, em que a partir do momento em que uma azinheira seja considerada “morta” pelo serviços florestais, pode ser cortada e transformada em “lenha”, tem contribuído fortemente para a diminuição das populações dos insectos saproxílicos e afectado seriamente as populações de C. cerdo.

1. Metodologia

A colecta dos dados referentes à espécie Cerambyx cerdo foi efectuada através da recolha de troncos de árvores mortas ou bastante atacadas (para posterior identificação dos estágios larvares, após eclosão no insectário), ou através da captura de adultos durante as saídas de campo (diurnas e nocturnas). Foi efectuada uma prospecção prévia baseada na sintomatologia apresentada pelas árvores hospedeiras para uma melhor identificação dos locais. A colecta de dados efectuou-se em todas as quadrículas 1x1Km, nas cartas militares referidas. A informação recolhida foi a seguinte: % de coberto, espécie arbórea dominante, espécie arbórea dominada, presença (confirmada/possível), grau de ataque (nº de árvores atacadas) e data de registo.

Na prospecção efectuada foi encontrada outra espécie muito semelhante, que é referida como ocupando o mesmo nicho ecológico, o Cerambyx velutinus.

Estas espécies têm uma distribuição que se sobrepõe em diversos pontos, facto que está relacionado sem dúvida pela distribuição dos hospedeiros (que são comuns), para a zona em causa as quercíneas; Quercus suber e Quercus rotundifolia.

A colecta dos dados referentes à espécie Cerambyx cerdo, foi efectuada através da recolha de troncos de árvores mortas ou bastante atacadas (para posterior identificação dos estágios larvares, após eclosão no insectário), ou através da captura de adultos durante as saídas de campo (diurnas e nocturnas). Foi efectuada uma prospecção prévia baseada na sintomatologia apresentada pelas árvores hospedeiras para uma melhor identificação dos locais. A colecta de dados efectuou-se em todas as quadrículas 1x1Km, nas cartas militares referidas. A informação recolhida foi a seguinte: % de coberto, espécie arbórea dominante, espécie arbórea dominada, presença (confirmada/possível), grau de ataque (nº de árvores atacadas) e data de registo. De acordo com o que estudos preliminares indiciavam, em toda a região se assinala a presença de Cerambyx velutinus, acompanhando a distribuição da azinheira. São duas espécies que se confundem facilmente (espécies "sibling") e cuja identificação só é possível em adultos. O único caracter de morfologia externa que permite uma clara identificação destas duas espécies diz respeito à morfologia dos tarsos das patas posteriores, o C. cerdo apresenta ausência de pilosidade formando um risco no 1º e 2º artículo, enquanto no C.velutinus apenas se verifica ao nível do 1º artículo (ver fig.1a) e à pilosidade do abdómen (superior no C. velutinus fig.1b).

Fig. 1a) – Tarsos posteriores de C. velutinus (esq.) e de C. cerdo (dir.) (fotos realizadas no Laboratório de Entomologia da Universidade de Évora).

Fig. 1b) – Abdómen de C. velutinus (esq.) e de C. cerdo (dir.) (fotos realizadas no Laboratório de Entomologia da Universidade de Évora).

Em relação às diferenças larvares, estas basearam-se em uma chave dicotómica para o Género Cerambyx (Marovic, 1973) dado a larva de Cerambyx velutinus (fig. 2 ) não de encontrar presentemente descrita.

Fig. 2 – Larva de C. velutinus (foto realizada no Laboratório de Entomologia da Universidade de Évora.

Através da análise da figura 3 verifica-se que a variável Grau de ataque, que corresponde ao nº de árvores com sintomas que indicam a presença do género Cerambyx ( Grau 1 - 0 a 5 árvores; Grau 2-- 5-10 árvores; Grau 3 - mais de 10 árvores), está presente em diferentes proporções. Em relação aos locais de amostragem, cerca de 67% (128 locais) apresentam grau 1, 23% (43 locais) grau 2 e 10% (19 locais) apresentam grau 3. Esta análise permitiu-nos efectuar uma melhor estratificação da área, bem como uma melhor escolha dos locais onde efectuar a prospecção.

10%

23%

67%

1 2 3

Figura 3 - Gráfico mostrando a percentagem de locais com diversos grau de ataque.

3. Resultados Os resultados obtidos até ao ano 2000 confirmam o Cerambyx cerdo como espécie rara. Até ao momento só foi detectado uma ocorrência desta espécie na região (fig. 4).

O C. velutinus é sem dúvida a espécie mais abundante na área de estudo, cerca de 37 ocorrências presentes no mapa de distribuição até ao momento (fig 5).

Estes dados referem-se apenas aos dados de presença confirmada (adultos devidamente identificados), assinalados a castanho nos mapas. Os locais de amostragem (a verde na figura 6) foram 190 repartidos numa primeira fase aleatoriamente, e posteriormente consoante o grau de abundância. O grau de abundância foi determinado segundo uma escala previamente estabelecida, e testada previamente em outros projectos com resultados muito favoráveis, representado a vermelho na figura 7.

Fig. 4 – Distribuição do C. cerdo na área de estudo.

Fig. 5 – Distribuição do C. velutinus na área de estudo.

Fig. 6 – Distribuição dos Locais de amostragem.

Fig. 7 – Distribuição qualitativa dos locais com árvores atacadas.

4. Influência do regolfo (ano de 2003)

Com a desmatação e consequente desarborização da área correspondente à cota máxima de enchimento da barragem (152m,) previa-se que esta alteração tivesse uma influência nas espécies de coleópteros em estudo.

Durante o ano de 2003 efectuou-se a monitorização dos locais onde as espécies estavam presentes anteriormente (39 locais). Isto permitiu um acompanhamento mais cuidado destes locais e, consequentemente classificar estes locais da seguinte forma: locais com presença de mais de 5 indivíduos forma classificados de núcleos populacionais, os restantes de presenças confirmadas. Não existiu nenhum destes locais sem presença destas espécies.

Em relação à influência da desarborização, verificou-se que apenas 4 locais com existência confirmada de Cerambyx velutinus desapareceram com a desarborização da área. Dos 39 locais confirmados com a presença destas espécies (38 Cerambyx velutinus e 1 Cerambyx cerdo), todos analisados em 2003, verificou-se que estes se mantiveram com presença das espécies e 9 desses locais apresentaram núcleos populacionais bem definidos (>5 indivíduos por árvore) (fig.8).

Os locais com presença confirmada das espécies, que sofreram directamente com a desarborização são 10,25% (ficaram abaixo da cota), embora a zona envolvente possa em certos locais ter sido afectada, nomeadamente pela presença de estaleiros, construções de novas estradas, etc, estes não afectaram directamente nenhum dos núcleos populacionais detectados.

Fig. 8- Distribuição de C. cerdo e C. velutinus em 2003

As ausência assinalam-se a vermelho e referem-se a não detecção de nenhuma destas espécies.

B- ODONATAS- Coenagrion mercuriale (Odonata; Coenagrionidae) e Oxygastra curtisii (Dale, 1834) (Odonata; Corduliidae)

1. Metodologia

Os locais de amostragem repartiram-se pelo troço do Rio Guadiana e pelos troços dos seus afluentes, na área de estudo correspondente ao regolfo do Alqueva, definida pelas 11 cartas militares já referidas (256 pontos de amostragem em 1999 e 2000, dos quais 66 foram re-amostrados em 2003) (Fig. 9; Anexo 2).

Fig. 9. Distribuição dos pontos de amostragem em 1999, 2000 e 2003

A metodologia de levantamento e monitorização das espécies foi a seguinte: a) Levantamento e monitorização de adultos Através da realização de transectos ao longo do curso de água e durante o período de voo; b) Levantamento e monitorização das ninfas Recorrendo à utilização de uma manga entomológica de arrasto; foram realizados 6 arrastos nos diferentes sítios seleccionados para monitorização;

2. Resultados

Tal como foi já assinalado em relatórios parcelares, não foi detectada a presença de nenhuma das duas espécies alvo: Coenagrion mercuriale e Oxygastra curtisii. Até ao momento, assinalamos a presença de 22 espécies de Odonatos, das quais 5 são pela primeira vez referidas para esta região.(Tabela1)

Tabela 1- Lista de espécies inventariadas- Ordem Odonata

Subordem Zygotera Superfamilia Lestoidea Familia Lestidae Subfamilia Lestinae Lestes viridis (Vander Linden, 1825)

Superfamilia Coenagrionoidea Familia Platycnemididae Platycnemis acutipennis Selys, 1841 Platycnemis latipes Selys, 1841

Familia Coenagrionidae Subfamilia Coenagrioninae Eurythromma viridulum (Charpentier, 1840) Coenagrion caerulescens (Fonscolombe, 1838) Coenagrion scitulum (Rambur, 1842) Cercion lindeni (Sélys, 1840)

Subfamilia Ischurinae Ischnura graellsi (Rambur, 1842) Ischnura pumilio (Charpentier, 1825)

Subfamilia Nehalenniinae Ceriagrion tenellum (Villers, 1789)

Subordem Anisoptera Superfamilia Aeshnoidea Familia Ashnidae Subfamilia Aeshninae Tribo Aeshnini Aeshna mixta Latreille, 1805 Anax imperator Leach, 1815 Anax parthenope (Selys, 1839)

Familia Gomphidae Subfamilia Gomphinae Paragomphus genei (Sélys, 1841)

Superfamilia Cordulegastroidea Familia Cordulegasteridae Cordulegaster boltoni (Donovan, 1807)

Superfamilia Libelluloidea Familia Libellulidae Subfamilia Libellulinae Orthetrum cancelatum (Linnaeus, 1758) Orthetrum coerulescens (Fabricius, 1798) Orthetrum nitidinerve (Sélys, 1841)

Subfamilia Sympetrinae Crocothemis erythraea (Brullé, 1832) Sympetrum foscolombei (Sélys, 1840) Sympetrum meridionale (Sélys, 1841) Sympetrum striolatum (Charpentier, 1840)

C- LEPIDÓPTEROS

De acordo com o programa de trabalhos, foi efectuado o levantamento das seguintes espécies de Lepidópteros:

Papilio machon hispanicus Linnaeus 1758 (Lepidoptera; Papilionidae) Dicranura (Cerura) ibérica (Linnaeus) (Lepidoptera; Notodontidae) Euphydryas aurini Rottemburg 1775 (Lepidoptera; Nymphalidae) Prosepinus prosepina (Pallas, 1772) (Lepidoptera; Sphingidae) Thymelicus action (Rottemburg, 1775) (Lepidoptera; Hesperidae)

1. Metodologia

A amostragem foi realizada nos anos 1999 e 2000. Em 2003, parte dos pontos de 1999 e 2000, foram reamostrados. Foram amostradas todas as quadrículas UTM com galerias ripícolas, linhas de água, montados, assim como prados e pomares, orlas de zonas cultivadas, ou seja, zonas de provável ocorrência das espécies em causa. Foram percorridas quer zonas secas com vegetação baixa, quer zonas húmidas, boscosas, assim como zonas rochosas, encostas escarpadas e soalheiras.

Foram efectuados levantamentos de adultos através da realização de transectos paras as espécies-alvo de hábitos diurno, durante os meses de Março a Setembro, nos dias em que as condições atmosféricas eram adequadas, ou seja, dias sem vento, não nublados, com temperatura médias entre os 20 e os 37ºC. Durante os transectos, foram capturados alguns indivíduos. Foram ainda colocadas armadilhas luminosas em zonas previamente seleccionadas paras as espécies alvo de hábitos crespusculares e/nocturnos durante o período de Março a Junho.

Procedeu-se ainda ao levantamento de lagartas através de observação de potenciais plantas hospedeiras e pela utilização do guarda-chuva invertido, realizando batimentos em Choupos e Salgueiros, existentes nas margens de alguns bosques ripícolas.

2. Resultados

A amostragem foi realizada em 327 locais (Anexo 3), na área de estudo considerada. Foi registada a presença de Papilio machon em 27 locais de amostragem (Anexo 4 e Fig. 10).

Fig. 10- Ocorrência de Papilio machaon na área do Regolfo do Alqueva

A espécie Thymelicus acteon foi localizada num único local, uma zona zona seca e com vegetação baixa (C.M. 481- Monte de Trigo, Portel) (Fig. 11).

Fig. 11- Presença de Thymelicus acteon na área de Regolfo do Alqueva

Não se registou a presença das espécies Proserpinus proserpina e Dicranura ibérica, apesar da existência de potenciais plantas hospedeiras em alguns locais de amostragem.

Foi também efectuado o registo de todos os Ropalóceros visualizados durante a realização dos transectos, tendo-se assim obtido uma lista de espécies inventariadas na área de estudo considerada (Tabela 2).

Tabela 2- Lista de espécies de Lepidópteros Ordem Lepidoptera (Rhopalocera) Família Espécie

Lycanidae Aricia cramera Callophrys rubi Celastrina argiolus Glaucopsyche melanops Laesopis roboris Lampides boeticus Lycaena phlaeas Polyommatus icarus Plolymmatus bellargus Satyrium esculi Satyrium spini Syntarucus pirithous Thecla (Quercusia) quercus Zizeeria knysna

Nymphalidae Coenonympha pamphilus Maniola jurtina Hipparchia (Neohipparchia) statilinus ines Melitaea didyma Lasiommata megera Pararge aegeria Pyronia tithonus Pyronia cecília Vanessa atalanta Vanessa cardui

Pieridae Colias crocea Euchloe belemia Euchloe crameri Leptidea sinapis Gonepteryx cleópatra Pieris brassicae Pieris rapae Pontia daplidice

Papilionidae Iphiclides podalirius Papilio machaon Zerynthia rumina

Hesperiidae Spialia sertorius Thymelicus sylvestris Thymelicus acteon

Em 2003 foram re-amostrados todos os locais onde nos anos anteriores foi assinalada a presença das duas espécies-alvo Papilio machaon hispanicus (Lepidoptera; Paplilionidae) e Thymelicus acteon (Lepidoptera; Hesperiidae), à excepção da ilha do Cerro Pião, cujo acesso terrestre já não foi possível efectuar. Em nenhum dos locais foi registada a presença de qualquer indivíduo destas duas espécies, assim como nas regiões adjacentes.

É de salientar que a maioria dos locais onde tinham sido registadas as duas espécies correspondem a áreas que, ou foram desmatadas, ou sofreram um forte impacte com os trabalhos recentes de desmatação e/ou desarborização.