UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO - UNIJUÍ LICENCIATURA EM HISTÓRIA – EAD

MARCIANE CHIESA

A IMIGRAÇÃO ITALIANA NO MUNICÍPIO DE PUTINGA/RS

DEZEMBRO DE 2015 IJUÍ/RS

MARCIANE CHIESA

A IMIGRAÇÃO ITALIANA NO MUNICÍPIO DE PUTINGA/RS

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de História-Licenciatura na modalidade Ensino a Distância (EAD), da Universidade Regional do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ para a obtenção do título de Licenciatura em História.

Prof. Mestre: João Frantz

DEZEMBRO DE 2015 IJUÍ/RS

MARCIANE CHIESA

A IMIGRAÇÃO ITALIANA NO MUNICÍPIO DE PUTINGA/RS

Trabalho de Conclusão apresentado aprovado em 05 de janeiro de 2016, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em História da Universidade Regional do Rio Grande do Sul – UNIJUI, pela Banca Examinadora formada pelos professores:

______Prof.Orientador

______Prof.

______Prof.

DEZEMBRO DE 2015 IJUÍ/RS

Não existimos isolados, somos parte de uma história maior. Parte dela já escrita, outra escrita por nós e parte que passaremos a outros para que a escrevam, dão continuidade ou completem. Que possamos fazer de cada momento e tempo a mais, outras páginas na nossa História.

RESUMO

CHIESA, Marciane. A Imigração Italiana no Município de Putinga/RS. Ijuí, 2015. 34 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de História). UNIJUÍ, 2015.

A imigração italiana para o Brasil iniciou-se em 1876 e a partir de então o país recebeu muitos imigrantes oriundos da Itália, espalhando-se por vários estados, incluindo o Rio Grande do Sul, especificamente na região da Serra Gaúcha, dedicando suas atividades na necessidade de mão de obra e depois ao cultivo de produtos agrícolas. O município de Putinga, localizado na região alta do Vale do no estado acima citado, chegaram meados de 1906, na necessidade de colonizar as terras. Após terem se instalado, foram conquistando seu espaço, acomodaram suas famílias, ergueram seus pilares e construíram suas vidas. Atualmente, os descendentes e munícipes podem usufruir da história alavancada por esse povo guerreiro. Há um resgate da cultura trazida pelos imigrantes, mantendo de várias formas as origens, os costumes, as tradições, da música, do vinho, do jogo, do filó, do dialeto, da culinária.

Palavras-chave: Imigração Italiana. Brasil. Rio Grande do sul. Vale Taquari. Putinga

ABSTRACT

The Italiani mmigration to Brazil began in 1876. Fromthis, the country received many immigrants coming from Italy, spread ingthroughseveral states, including Rio Grande do Sul, especially in the Serra Gaucha region, dedicating its activitiestheneed for labor and afterthe cultivation of agricultural products. The municipality of Putinga, located on theupperend of Taquari Valley in thestatementi one dabove, arrived in mid-1906, theneedto colonize theland. Afterthey are installed, have been conquering its space, they accommodated their families, raised their columns and built their lives. Today, the descendants and residents canenjoy the history leveraged by this warlike people. Thereis a rescue of the culture broughtb ythe immigrants, keeping in many ways the origins, customs, traditions, music, wine, gambling, tulle, dialect, cuisine.

Keywords: Italian Immigration. Brazil. Rio Grande do Sul. Taquari Valley. Putinga.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 8

1. IMIGRAÇÃO ITALIANA NO BRASIL ...... 12 1.1 Europa e América: os laços que os unem ...... 15 1.1 Os italianos no Rio Grande do Sul ...... 17 1.1 Os italianos no Vale do Taquari ...... 18

2. OS ITALIANOS PIONEIROS EM PUTINGA ...... 20 2.1 Quem eram? ...... 20 2.2 Como chegaram? ...... 22 2.3 O que encontraram? ...... 22

3. PUTINGA HOJE ...... 24 3.1. Um pouco da história construída ...... 24 3.2 Situação das famílias italianas hoje ...... 26

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 34

REFERÊNCIAS ...... 36

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INTRODUÇÃO

Na Itália, predominavam formas feudais de produção, a miséria no campo era agravada por secas, inundações e epidemias. A unificação italiana, em 1870, não melhorou a situação, ao contrário, terras foram confiscadas e os camponeses que ainda tinham pequenas propriedades passaram a pagar impostos para o governo (principalmente a taxa sobre a farinha, cuja ausência de pagamento poderia levar ao confisco da propriedade). A penetração capitalista no campo levou à concentração da propriedade e as altas taxas de impostos sobre a terra levaram o pequeno proprietário a recorrer a empréstimos e consequentemente ao endividamento. A imigração não é um fenômeno individual, espontâneo, carrega uma complexidade de fatores econômicos e políticos que não podem e não devem ser esquecidos. Toda corrente imigratória realiza-se pelo fato de haver uma região que apresenta fatores de expulsão, conjugado com uma região que apresenta fatores de atração. Fazem perceber que o ser humano ao se sentir impossibilitado para garantir os meios da sua sobrevivência e dos que estão sob sua responsabilidade, tem o propósito de restabelecer as condições de subsistência necessárias. Pergunta-se o que leva os indivíduos em determinados momentos de suas vidas a abandonarem o local onde nasceram, afastar-se de seus familiares e amigos e romper o círculo de proteção, de segurança e amparo criado pelas relações sociais mais próximas? O que impele as pessoas a arriscarem a confiança do conhecido e se lançarem ao imaginado? Busca- se entender o que rompe os limites do povoado, cruzando fronteiras e mares e construírem suas vidas e famílias em outros lugares do mundo. Algumas pessoas passaram por dificuldades dentro de seu país de origem, procuraram ter uma vida melhor em outro país, escolhendo dentre muitos lugares o Brasil. No entanto, muitas se deram por conta que foram enganadas pelas grandes ofertas propostas por pessoas autorizadas a divulgação, passando por privações no novo país que escolheram para morar. Como procedimento metodológico, a história oral busca registrar – e, portanto, perpetuar – impressões, vivências, lembranças daqueles indivíduos que se dispõem a compartilhar sua memória com a coletividade e dessa forma permitir um conhecimento do vivido muito mais rico, dinâmico e colorido de situações que, de outra forma, não conheceríamos. A história oral pode ser entendida como: 9

Um método de pesquisa (histórica, antropológica, sociológica...) que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participaram de, ou testemunharam acontecimentos, conjunturas, visões de mundo, como forma de se aproximar do objeto de estudo. Trata-se de estudar acontecimentos históricos, instituições, grupos sociais, categorias profissionais, movimentos, etc (ALBERTI, 1989: 52).

Cada ser histórico singulariza a sociedade na qual está inserido e a percebe de uma forma específica. Falar de uma história verdadeira seria ingênuo, mas trata-se de uma percepção verdadeira do real, emitida pelo depoente, que assim compreende e se apropria do mundo ao seu redor. Ao tornar pública sua percepção, está, de alguma forma, contribuindo para a elucidação parcial de alguma situação. O objetivo deste trabalho é mostrar, através de fontes orais, e pesquisa bibliográfica, como se desenvolveu o processo da colonização italiana bem como as motivações que levaram um contingente de imigrantes no Brasil, no Rio Grande do Sul, na região alta do Vale do Taquari, mais especificamente no município de Putinga, informando quem eram os pioneiros, como chegaram, o que encontraram, os primeiros passos depois da chegada, a história alavancada e como está o município nos dias atuais, o modo de vida das pessoas italianas hoje.É valido ressaltar a importância deste para os familiares dos primeiros colonizadores, resgatando a história e a cultura, pois deixaram seu legado em diversos setores bem como na formação do povo de Putinga. O desenvolvimento teórico foi dividido em três capítulos. No primeiro capítulo, destaca-se a Imigração Italiana no Brasil, a Europa e a América: os laços que os unem, os motivos do grande contingente de imigrantes da Itália no final do século XIX, a vinda e a busca de uma vida melhor e de paz construíram no nosso país, em especial nas regiões sudeste e sul do Brasil, colônias com grande influência para a formação cultural brasileira. As medidas em relação à entrada dos imigrantes no Estado do Rio Grande do Sul foram caracterizando as diferentes áreas, sendo que em cada período houve motivações, objetivos e conjunturas específicas moldando a forma de ocupação e a adaptação destes contingentes à nova realidade no caso, quando se instalaram na região alta do Vale do Taquari. No segundo capítulo, perceberemos quem eram os pioneiros no município de Putinga, como chegaram e o que encontraram, compreendendo por quais razões os imigrantes foram atraídos para chegarem e escolher essa terra para colonizar. No terceiro e último capítulo podemos descobrir um pouco da história do município fazer um resgate do legado construído e deixado pelos imigrantes para o povo putinguense e poder entender parte dos sentimentos, as expectativas, dores e dúvidas, as conquistas na 10

labuta diária, e poder comparar como é o modo de vida nos dias atuais ao que foi alavancado pelos primeiros colonizadores.

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2 IMIGRAÇÃO ITALIANA NO BRASIL

Segundo textos de História das Sociedades de Marcos Gerhardt (2008 p.33): comprar, vender, lucrar, acumular, produzir, concorrer, competir, qualificar, mercado... são conceitos que marcam o capitalismo enquanto maneira de organizar a sociedade, de produzir riqueza e distribuir bens produzidos. O capitalismo nasceu de mudanças que ocorriam na Europa, na economia, na tecnologia, na sociedade e na política, desde o século XV, sendo assunto principal, segundo Eric Hobsbawm, a partir de 1848. Nos anos de 1880 a Europa, além de ser o centro original do desenvolvimento capitalista que dominava e transformava o mundo era peça importante da economia mundial e da sociedade burguesa. Nesse período o modo de produção capitalista era triunfante, todo este triunfo estava ligado ao fato de que o desenvolvimento industrial e de livre comércio faria com que a sociedade se desenvolvesse, considerando como se todos os indivíduos desta alcançassem condições de vida dignas, riqueza material, e oportunidades para todos com a expansão capitalista. O desenvolvimento capitalista levou aos países europeus, bem como outros países, o surgimento de novas cidades com o processo de migração do campo para a cidade e a proletarização das massas, ampliando o desenvolvimento industrial e a mecanização do trabalho. A Revolução Francesa, com novos ideais políticos, apagou características dominadoras do antigo regime, instaurando novas estruturas, desmerecendo os objetivos da classe trabalhadora. O fluxo imigratório não é de migrantes que vão por vontade, mas são empurrados em sua maioria, contestada pelas grandes diferenças econômicas. A maioria dos imigrantes arriscavam a vida ao atravessar oceanos e fronteiras fortemente vigiadas, porque a economia de seus países já não dá conta de garantir a sobrevivência digna de todos. O desemprego empurra para fora dos países em desenvolvimento aqueles que se dispõe a vender sua mão-de- obra para além dos territórios nacionais. Uma imigração forçada e estimulada por um capitalismo em crise. No contexto da grande migração, o Brasil foi o destino de milhões de europeus. A história da imigração de europeus para o Brasil inicia-se princípios do século XIX. Até então o povoamento brasileiro se realizara através da vinda espontânea de colonos brancos (na maior parte portugueses), da importação de escravos e incorporação de indígenas. 13

Havia estrangeiros no Brasil, mas não correntes propriamente imigratórias que viesse de uma política intencional de governo. O Brasil, por sua vez, estava implantando a política de colonização. A estrutura econômica brasileira a partir da década de 1870 passou por mudanças refletindo nas relações sociais e políticas do país. A mão-de-obra escrava perdia espaço para o trabalho assalariado nas lavouras agrícolas. O café teve sua consolidação como principal produto brasileiro para exportação. A imigração européia ajudou na urbanização da sociedade brasileira, na introdução da mão- de- obra qualificada emigrante nas atividades produtivas do país criando um mercado para bens e consumo popular, como também atividades comerciais, aos serviços e ao artesanato. O governo brasileiro, empresários do café, da cana de açúcar e da pecuária, diante da falta de mão-de-obra, pensou em buscar trabalhadores que oferecessem segurança especialmente com o início das restrições à prática da escravatura (Criação da Lei Áurea de 1888),que extinguiu a escravidão no Brasil. O norte da Itália oferecia a matéria- prima humana ideal. Em muitas regiões italianas, especialmente na Região de Vêneto, havia gente disponível e disposta a buscar oportunidades de uma nova vida em outros países, longe da miséria e da exploração dos poderosos senhores da terra. Segundo o texto de Silvino Santin “Caminhos da Imigração Italiana”, algumas palavras são usadas para representar inicialmente como era o imigrante que para o país viria:“[...]correspondiam aos critérios dos interesses brasileiros, pois eram descritos como um povo “manso, respeitoso, trabalhador e limpo”. Assim, os imigrantes europeus vieram em substituição aos escravos, como afirma Bassanezi:

[...] O rápido crescimento da economia cafeeira e São Paulo – que gerou capital para subsidiar a imigração estrangeira – e seus outros desdobramentos (a expansão da rede ferroviária, industrialização e urbanização,aliados às importantes reformas institucionais e políticas, como a abolição da Escravatura)(...) criaram condições importantes para a imigração em grande escala. (Bassanezi,1996,p.03)

A imigração foi a forma encontrada para solucionar o impasse gerado pela extinção do tráfico. A adoção de uma nova política de terras correspondeu a uma mudança de atitude diante do problema que o país enfrentava. Costa (1999, p.127) em sua obra Da monarquia à República deixa claro que “a política de terras e de mão-de-obra estão relacionadas, e ambas dependem, por sua vez, das fases de desenvolvimento econômico”. 14

Houve a adoção de uma lei, a Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850, apresentando mudanças visando manter um fluxo imigratório. Evidenciava a aplicação dos produtos da venda e das taxas de registro das propriedades na demarcação de terras públicas e a importação de colonos livres. A terra que antes de 1850 era símbolo de status social, com a Lei passou a ser adotada como mercadoria permanecendo nos dias atuais. As terras podiam ser adquiridas mediante compra e ao mesmo tempo fixava a forma de pagamento. Foi criada a Repartição Geral das Terras, responsável pela formação e administração das colônias, vendas e a legalização das mesmas. Mais tarde em 1854 o Decreto nº 1318 substituiu a Lei nº 601 ficando nela determinada a forma de demarcação das colônias, através de estabelecimentos das medidas básicas: léguas, lotes, garantindo infraestrutura para a vinda dos colonos. O Decreto nº 3787 de 19 de janeiro de 1867, estabeleceu a competência da Província sobre a fundação, distribuição e venda de lotes das colônias, bem como o registro, recepção, transporte, alojamento e distribuição dos imigrantes. Foi a partir de 1876 como o Decreto nº 6.129, de 23 de fevereiro que favoreceu a vinda dos imigrantes europeus como forma de solucionar o problema da mão de obra que firmou a economia brasileira impedindo a expansão do sistema econômico durante o período colonial. Alguns dos motivos que fez com que os italianos chegassem ao nosso país, foi a crise econômica da época na Itália principalmente no norte devido ao período da Revolução Industrial na Europa e as temporadas de inverno; o desejo de oportunidades e perspectivas novas de vida e trabalho; a necessidade que o governo brasileiro tinha de embranquecer a população já que a mesma era a maioria composta por negros, bem como a necessidade do governo brasileiro de colonizar as terras, principalmente no sul do país, tinham medo que houvesse a invasão dos holandeses, franceses e espanhóis. O estado de São Paulo foi o que mais atraiu imigrantes. Os fazendeiros preferiam contratar famílias devido à organização de produção, trabalhavam na lavoura, com jornada de trabalho de dez a quatorze horas. Os primeiros imigrantes trabalhavam lado a lado com os escravos, sofrendo pressões e maus tratos semelhantes. Alguns fazendeiros tentaram instalar os mesmos em moradias ocupadas pelos escravos. Com a insistência dos colonos por mudanças nas senzalas, foi construído novas moradias (rústicas, construídas com taipa ou de pau a pique), sem banheiro e 15

com chão de terra, afastadas da sede da propriedade rural e com melhor qualidade dos cativos. As mulheres cuidavam dos animais, da horta, da colheita e se responsabilizavam pela casa e os filhos. As crianças no beneficial do café. A riqueza proporcionada pelo cultivo do café nas terras paulistas alterou muito os costumes e práticas culturais. Da agricultura aos objetos domésticos, o modo de vestir, de falar, pode-se dizer que o século XIX foi o primeiro período de verdadeira revolução, Com a vinda e busca de uma vida melhor e de paz, construíram no nosso país, em especial, na região sudeste e região sul do Brasil colônias que a transformaram a cada dia numa região de povos queridos e muito influentes da cultura brasileira. Tiveram o apoio do governo brasileiro e do governo sul-rio-grandense desde custeamento da viagem até ferramentas e sementes, bem como o financiamento de terra para o cultivo, dentre outros benefícios.

1.1 Europa e América: os laços que os unem

Após a queda de Napoleão, a Itália que estivera praticamente reunificada sob o domínio francês, fragmentou-se. A reunificação teve início com a Revolução de 1848, lançada esta idéia pela jovem Itália, fundada por Mazzini. Apesar de expansão do movimento que se alastrou em Sicília à Veneza, o movimento foi alastrado pela intervenção dos países católicos, liderados pela França. Durante as lutas pela unificação a situação do norte da Itália era muito difícil, com instabilidade política. De um lado havia descontentamento da população, de outro a população permanecia sem nação e sem bandeira. Conforme BARROS,

[...] depois da unificação, a Itália continuava sendo um país agrário regido por relações sociais atrasadas que freavam o desenvolvimento econômico condenando as massas populares à miséria e fome. Foi esta miséria o principal fator da imigração italiana (BARROS,1996. p.48)

O fenômeno migratório, que caracteriza o final do século XIX e início do século XX faz com que se desloque grande contingente humano da Europa para a América. Está associado às transformações de um lado a mudança política de terras, que tenta democratizar a propriedade e de outro a necessidade de mão-de-obra livre e branca para substituir a mão-de- 16

obra negra e escrava que até então sustentava a produção do Brasil. O fluxo emigratório da Itália e a necessidade de imigrantes no Brasil serviria aos interesses econômicos dos dois países. Emigrar não era garantia para partir. O que doía naqueles rudes camponeses, especialmente para os mais velhos, era separar-se definitivamente de sua terra natal, de seu vilarejo, de tudo o que lhes era familiar. Conforme BARROS,

[...] estes imigrantes pioneiros eram homens e mulheres de muito trabalho, afeitos ao sofrimento, fortalecidos por princípios religiosos em nome de uma fé acima de qualquer suspeita, a solidariedade e o espírito comunitário. (BARROS, 1996)

No caso da Itália, depois de um longo período de lutas para a unificação do país, sua população, particularmente rural e mais pobre, tinha dificuldade de sobreviver, seja nas pequenas propriedades que possuía ou onde simplesmente trabalhava, seja nas cidades, para onde se deslocava em busca de trabalho. Nessas condições, a emigração era não só estimulada pelo governo, como também, uma solução de sobrevivência para as famílias. Deixaram seu país por motivos econômicos e socioculturais. Famílias inteiras procuravam melhores condições de vida e buscaram no Brasil como em outros lugares do mundo, a reconstrução de suas vidas, de suas famílias. Mas no imaginário dos imigrantes, o Brasil era um país de fartura, as montanhas eram de ouro. Para eles, a saída da Itália para o Brasil abria novos horizontes, mas ao cruzar o Atlântico em direção à América não era nada fácil: a viagem na terceira classe do navio podia durar 40 dias, com muita gente e pouca comida. Esses cidadãos retirantes, quase exilados pela fome e pela miséria, alimentados pela esperança de uma vida melhor, iam enxugando as lágrimas e acreditando na realidade de seus sonhos. Durante anos continuaram ligados à terra que os expulsara não lhes dando condições de sobrevivência, do que à nova terra que lhes tinha dado apoio. O que se pode perceber é que muito embora a América e a Europa já possuíssem laços de mais de quatrocentos anos, foi no decorrer do século XIX que os contatos ficaram mais fortes e o novo Continente recebeu um fluxo de população muito grande jamais experimentado em épocas anteriores. No Brasil, chegaram e foram sendo deslocados em vários estados brasileiros, dentre eles o Rio Grande do Sul.

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1.2 Os italianos no Rio Grande Do Sul

O Rio Grande do Sul foi privilegiado, não só pelo maior número de imigrantes, também pela política do governo central através da implantação de Colônias Imperiais em território gaúcho, o que não ocorreu nos demais estados, embora tenha havido participação do governo, as Colônias Imperiais eram administradas diretamente pelo governo central. Pode-se perguntar pelas razões deste interesse prioritário do governo imperial em trazer imigrantes para o Rio Grande do Sul. O Imperador, preocupado com possíveis novas invasões por parte de países vizinhos, como a do Paraguai, empenhou-se pessoalmente para povoar as terras devolutas – entenda-se por devolutas as terras pertencentes ao governo – situadas na Serra gaúcha, que começa na Serra de São Martinho, na região central, e se estende até o litoral. A colonização no Rio Grande do Sul foi feita essencialmente por açorianos, alemães e italianos. Segundo o despacho do Conselho Ultramarino de Portugal, em 22 de junho de 1729, a colonização efetuou-se com colônias de origem açoriana, completando-se com casais estrangeiros, desde que não fossem de origem inglesa, holandesa e castelhana. D. João VI e D. Pedro I, na fase da colonização alemã e mais tarde D. Pedro II, na fase da colonização italiana, não criaram objeções, facilitando essa iniciativa. O programa inicial de colonização foi chamado de Walkerfield, que constituía na "distribuição de um lote de terra, ferramentas, animais, sementes aos agricultores, pagamento de módicos subsídios para a alimentação dos colonos no primeiro ano de estabelecimento" O Rio Grande do Sul tinha em 1872, tinha núcleos coloniais espalhados por todas as regiões do estado, onde muitos ainda não eram povoados. Os imigrantes alemães em sua expansão ingressaram pelos Vales dos rios da Depressão Central, indo até as encostas inferiores da Serra Geral. Assim, a Encosta Superior do Planalto permanecia desabitada. Realizando referência à obra de PELLANDA (1950) em Aspectos gerais da colonização italiana no Rio Grande do Sul, a região colonial, situada entre os Vales do rio Caí e do rio das Antas, limitava-se ao norte com os Campos de cima da Serra e aos sul com as colônias alemãs. A região serve como divisor de águas dos afluentes da Bacia Central e dos da Bacia do rio Uruguai. As altitudes variam de 600 a 900 metros, sendo que altitude superior a 300 metros possui uma densa floresta de pinhais. A existência destas impediu a tomada 18

pelos agricultores dos vales e dos pastores que cuidavam do gado na região da Campanha, reservando a região para outro tipo de povoadores. Procurando acelerar a expansão da pequena propriedade de trabalho livre, o governo imperial criou, dentro de um grande plano, uma série de colônias no estado destinadas a serem povoadas pelos italianos. Por ato de 24 de maio de 1870, foram criadas as colônias de Dona Isabel (a atual Bento Gonçalves) e Conde D’Eu (hoje a cidade de Garibaldi). Em 1871 havia vinte e quatro lotes ocupados. Ocorreu a assinatura de contratos com companhias colonizadoras, pelo governo do Estado, fazendo com que houvesse um aceleramento no processo de colonização. Em 1875, iniciou-se o povoamento da Colônia de nova Palmira (hoje ) e em 1879, apesar do interesse do governo em limitar suas despesas com a empresa colonizadora, novas colônias passaram a ser fundadas, como Campo dos Bugres e , Alfredo Chaves (Veranópolis)(1884) e Antônio Prado(1889), Encantado, Nova Trento (hoje ), Nova Vicenza (Farroupilha), Guaporé (1892), e São Marcos. A divisão das terras era inicialmente feita em léguas, marcadas por travessões e em lotes. Com a chegada, os imigrantes foram ocupados como jornaleiros, na abertura de picadas, de caminhos e no desmatamento. No caso o Rio Grande do Sul, a imigração chegou não como substituição da mão-de-obra escrava, e sim se tornando necessária à revitalização da agricultura. Após a instalação dos núcleos originais, os imigrantes foram enviados a outras regiões do Estado, onde havia terras a serem cultivadas, incluindo o Vale do Taquari.

1.3 Os italianos no Vale do Taquari

A atual região denominada Vale do Taquari, de acordo com a divisão estabelecida pelos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDEs) abrange 36 municípios, situados na porção centro-leste do estado do Rio Grande do Sul. A ocupação deste território iniciou com a presença de vários grupos dentre os quais se destacavam os índios guaranis. Os ibiaiaras e carijós habitavam as margens do rio Tibiquari, assim chamado pelos indígenas. Eram grupos nômades que transitavam ao longo da região em busca de alimentos. 19

O território foi incorporando outros elementos humanos, a partir do século XVIII, quando os primeiros exploradores passaram pelas suas terras. Entre os séculos XV e XVI, os bandeirantes transitaram pelas margens do rio Taquari com o objetivo de aprisionar os índios enquanto os jesuítas tinham a intenção de levá-los a viver na região das Missões. (Porto,1943). No século XIX iniciou o processo de ocupação que trouxe o maior número de povoadores à região do Vale do Taquari como: colonos germânicos, italianos e poloneses. Em menor escala, asiáticos, holandeses, açorianos, dentre outros. No entanto, estas presenças étnicas levam a pensar o Vale do Taquari como um cenário multicultural, constituído a partir de uma ocupação que até na atualidade, está sempre em mudança. As medidas em relação à entrada de imigrantes foram caracterizando as diferentes áreas do estado, sendo que em cada período houve motivações, objetivos e conjunturas específicas que moldaram a forma de ocupação das terras e a adaptação destes contingentes à nova realidade. Estudos de Thales de Azevedo (1975) identificam uma fase inicial de 1875 a 1885, quando a vinda de imigrantes foi mais escassa, e teve aumento do contingente de 1885 a 1892 e em seguida,a colonização italiana continuou a se estender. Pode-se dizer que todos os municípios do Vale do Taquari foram colonizados de forma semelhante. Um exemplo é o município de Putinga que está inserido na região alta do Vale do Taquari. Putinga agrega os imigrantes oriundos da colônia de Guaporé.

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2 OS ITALIANOS PIONEIROS EM PUTINGA

Contar a nossa história é um processo que se dá a partir de discursos e de representação acerca do passado. Cada um busca, com o uso da memória elementos necessários para que a história de destaque se configure o mais real possível,a ponto que a (re)construção se revele ao outro. Mas para que as dúvidas viabilizem formas de compreensão, desencadeia-se um processo de busca de pessoas e lugares através dos quais seja possível encontrar o que se configura como “raízes”de um indivíduo ou grupo social. É preciso que resgatemos tudo sobre a nossa história, ela ainda está na cabeça das pessoas de mais idade, em cada objeto deixado, nas histórias contadas. Que sirva este trabalho para relembrar e valorizar a história, fatos e costumes do passado dos que puseram o pé nessa terra para erguer a região, especialmente o município de Putinga, o que retrata um trecho da Canção de Amor à Putinga, na voz de Rui Biriva: Minha cidade bonita feita de flor e ametista,cheia de glórias tamanhas,nome tupi-guarani no Vale do Taquari,tu brilhas entre as montanhas.Possui rebanhos, lavouras,paisagem encantadora, de arroios,matas e jazidas.Por ser rural e urbana Gaúcha e italiana Tu és mais cheia de vida.(...).

2.1 Quem eram?

Segundo fontes documentais de posse do município, disponíveis nos Arquivos Municipais na sede da prefeitura, os primeiros colonizadores foram: a) Demétrio Berté: Nasceu em Garibaldi, estado do Rio Grande do Sul, aos 20 de abril de1844, fixou-se na localidade de Xarqueada, Município de Putinga em 1904. Ao chegar à localidade Iniciou a devastação, abriu primeiramente estradas, fez a derrubada de árvores, aproveitando o terreno para a agricultura.Casou-se com Maria Scartezini, dando-lhe quatorze filhos, recebendo todos eles uma educação aprimorada. Iniciou sua vida econômica como agricultor. Dotado de invulgar inteligência e de grande visão comercial, industrializou a localidade fundando a fábrica de molho de pimenta “Berté”, até então única no Brasil. Aproveitando o abundante produto da localidade, leite, fundou mais uma fábrica: 21

Laticínios. Dada a dificuldade que as pessoas possuíam em receber assistência médica, não mediu esforços na fundação do atual hospital da sede do município. Possuía um grande espírito de desprendimento auxiliando sempre os necessitados, sem visar lucros financeiros. Seu auxílio estendeu-se no setor educativo, doando o terreno para a construção da escola, comprometendo-se na obtenção de um professor que se fixasse na localidade. b) Henrique Cé: Nasceu em Garibaldi/RS,no ano de 1881, e morreu em 1923,era filho de Agostinho Cé e Rosa Izan,casado com Tereza Rabaiolli.Radicou-se com sua família em Putinga no ano de 1909, dedicando-se ao comércio em geral. Foi o primeiro comerciante . c) César Augusto Roveda: Nasceu em Garibaldi/RS no ano de 1892 e falecido em 31.10.1937. Casado com Josefina Moschini Roveda, nascida em 1893 e falecida em 1970.Tiveram dez filhos.Imigrou para o município em 1916 dedicando-se ao comércio. d) Augusto Franklin Gheno: Nascido em Guaporé/RS em 04.12.1916, filho de Pedro Gheno e Luiza Dalcorso Gheno.Radicou-se em Putinga no ano de 01.07.1941. Casou-se com Clementina Toniolo em 03.01.1942. Tinha como principal serviço o trabalho de eletricista. Ajudou a fundar a Usina Hidrelétrica do município, salvando a população de uma catástrofe em 12.09.1953, quando rompeu a barragem da usina citada(esteve ele verificar o nível da água e para sua surpresa a barragem estava cedendo-as águas desceriam pelo rio que corta a cidade). Antevendo o episódio avisou a tempo a população local a retirar-se de suas casas. Conforme Lei municipal nº 225 de 12.02.1980, uma rua da cidade passou a denominar-se Rua Augusto Franklin Gheno. Para sua bravura foi eletricista destaque no estado. Tempos depois, em 1960 ao tentar proceder um concerto na rede elétrica foi atingido por um poste que tombou sobre si,causando-lhe a morte. e) João Giacomini, Pedro Gonzatti, Augusto Evangelista: Estes se dedicaram ao trabalho na lavoura,no plantio de milho,feijão,trigo,arroz e da uva. f) Amélio Berté: Nasceu na comunidade de Xarqueada, Putinga/RS, hoje Distrito do município. Foi o primeiro filho de imigrantes italianos nascido no município. Filho de Fidêncio Berté e Dosolina Davi.Casou-se com Maria Danielli Berté na qual teve seis filhos. Sócio e fundador da Cooperativa de Suinocultores de Encantado Ltda.,em 1947,hoje com sede em Encantado,a COSUEL,motivo de 22

reconhecimento nas esferas estadual e federal Participou ativamente do movimento emancipacionista de Putinga, tendo sido o primeiro prefeito do município.

2.2 Como chegaram?

Um aspecto a se destacar sobre a ocupação do município é que as famílias não vieram da Itália, vinham da região da Serra gaúcha,das cidades como Garibaldi, Caxias do Sul, especificamente do município de Guaporé. Usavam como meio de transporte a carroça, no transporte de alimentos, para a compra e venda dos produtos agrícolas cultivados, etc. Ao chegarem, iniciaram a derrubada das matas, abrindo muitas das atuais estradas, com seus próprios braços, a picão. As terras montanhosas ofereciam boas condições para o desenvolvimento da economia. Aproveitavam das terras para a agricultura, no plantio dos gêneros alimentícios necessários à sua sobrevivência.

2.3 O que encontraram?

Importante fazer referências sobre o que tinha no lugar quando os imigrantes chegaram. O núcleo Putinga surgiu por volta de 1910, anteriormente as terras eram habitadas por índios guaranis. A origem do nome se deve a existência de uma espécie de ou taquari, planta da família das gramíneas (apresentava haste compacta e delgada, coloração verde escura e folhas pequenas servindo de alimento para o gado), abundante na época da colonização, nome dado pelos índios como putingal. A região onde a vegetação se encontrava era sinônimo de fertilidade. Putinga, segundo a língua tupi-guarani significa cara-branca. Recebeu este nome muito tempo antes de se emancipar ainda quando nem era vila ou povoado. Quando no município os primeiros colonizadores chegaram, a maioria imigrantes descendentes de italianos, encontraram caboclos e/ou indígenas guarani que não sabiam extrair proveito das terras e que foram sendo expulsos, migrando para outras áreas. 23

Atraídos pela oferta de terras férteis, a disponibilidade de madeira e a possibilidades de extração da erva-mate, ficaram admirados com tamanha beleza das terras e acabaram por se instalarem/acomodarem suas famílias para a construção de suas vidas, construíram humildes casas distribuídas entre a vegetação, transmitindo a impressão de quase abandono, sempre fortalecidos pela fé que carregavam em sua bagagem.

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3 PUTINGA HOJE

Pensei bem descrever algumas informações sobre as conquistas e a evolução dos imigrantes anteriormente citados, de onde outros chegaram, integraram a comunidade que também com esforço construíram suas casas, conquistando seu espaço, buscando o sustento para suas famílias, alavancando suas raízes e a história no município.

3.1 Um pouco da história construída

Os imigrantes italianos ao chegarem, se deparavam com uma realidade muito diferente da prometida: a precariedade da vida, a falta de alimentos, o trabalho, as dificuldades... Alguns anteriormente citados, bem como outros em meados de 1910, aos poucos buscando melhorar sua condição de vida e a de suas famílias. Primeiramente, segundo dados do Histórico do município, que se encontra em Arquivo na Prefeitura Municipal foram, erguendo o que pensavam ser importante pra suas famílias, naquele momento. Unidos e com a fé que carregavam na bagagem, improvisaram no município um lugar para suas orações, construindo em 1919 a primeira Capela Nossa Senhora da Purificação e em 1924, iniciou os trabalhos o vigário Padre Domênico Carlino. TicianoBetanin (projetou o antigo Santuário de Caravágio em Farroupilha) foi quem também pensou na terceira e atual Igreja Matriz. A obra foi realizada pelo mestre em construção GelindoBoscarin. Em 1948 para dar acabamento interno da igreja Angelo João Baptista Fontanive, formado pela Universidade de Belas Artes de Veneza, sendo arquiteto, engenheiro, mestre em gesso, doutor em desenho e pintura, chamado de “maestro”, deixou marcas na construção dos altares,o púlpito e as pinturas. No ano seguinte, o local, elevou-se a Distrito municipal de Encantado/RS. Apesar do pouco tempo, em 1923, o Distrito de Encantado era o maior criador de suínos, com o título Capital Ouro Branco da banha suína. Em 1924, foi instalado o primeiro gerador de energia elétrica de Putinga. Nos dias atuais em funcionamento. E em 1931, veio com Antonio Pretto, um Ford Phaeton e o primeiro caminhão para o transporte de produtos. 25

Conforme o tempo passava a população crescia, o número de crianças era grande, contendo a necessidade de outros investimentos por parte dos administradores das propriedades como a ampliação das pequenas propriedades e a produção de mais produtos agrícolas, já que a indústria não oferecia empregos. Houve a necessidade de construir uma escola e de professor.Em 1932 foi criado o Primeiro grupo Escolar no povoado, coordenado pelo estado, tendo Jandir José Peretti na função de diretor e professor. A história e os fatos foram se ampliando deixando muitas outras marcas na história do município atual., como o que segue : a queda de um meteorito. No dia 16 de agosto de 1937, após uma missa tendo como tema religioso: apocalipse. Ao final da tarde, um forte estrondo amedrontou a população. Os moradores se interrogavam sobre o que estava acontecendo, temiam o fim do mundo. Nesse dia, Putinga e o Rio Grande do Sul testemunhavam um excepcional acontecimento a “Queda de um Meteorito”. Dos fragmentos muitos se perderam e alguns foram recolhidos por estudiosos e cientistas, mas a população não deu importância a esses materiais, muitos dos fragmentos foram soterrados, outros usados para as taipas (usada como cerca para animais). Meteorito: Informações em: (www.cienciamao.usp.br) e (www.if.ufrgs.br). Comunidades pelo interior iam se formando. Em 1939 foi construído um moderno frigorífico do sul do país (Costi) com abatedouro suíno, salgados, embutidos e refinaria de banha, sendo a produção enviada para a Europa. Criada a Sociedade Recreativa e Cultural Rui Barbosa em 1944 e 1945. Teve início a primeira Usina Hidrelétrica que fornecia energia para alguns municípios da região, com obras iniciadas no corrente ano e fiscalizada por Jacinto Grando Cremonese. Em 1951, fundou-se a empresa de Transportes rodoviários “Auto Viação Putinga”, com uma frota de três ônibus, com destino à Encantado, Lajeado e viagens particulares. E em 1953, outro fato extraordinário, o do rompimento da barragem, pondo em risco toda a população, uma vez que a água da represa deságua no arroio que corta a cidade. Senhor Augusto Francklin Gheno, eletricista e responsável na época para cuidar da usina foi herói, alertando as pessoas fazendo com que todos se protegessem saindo de suas casas. Em 1954 funda-se o Esporte Clube Cruzeiro de Xarqueada e em 1960 o Juventude da comunidade de Putinga Baixa. Em 1962, houve o movimento emancipacionista liderados por Dr. Mário Villanova Seixas. O município de Putinga foi instalado em 08 de abril de 1964, ocorrendo eleições para a escolha de Prefeito, vice-prefeito e vereadores. 26

Em 1966, instalados uma retransmissora de TV onde foi vendido dezoito aparelhos de televisão da marca Mundial. Em 1980, o município de Putinga contava com uma população de 6.144 habitantes. Com a carência de oferta de emprego no município, levou a população mais jovem a deixar o município e ir trabalhar em vários lugares do estado como Rio de Janeiro e São Paulo, dentre outros lugares. Encerra-se as atividades do Frigorífico Costi, em 1982 devido a perda de valor no produto suíno banha. A suinocultura também passa por esta transição, o lugar do suíno-banha deu lugar ao suíno-carne. No ano seguinte abriu as portas o Frigorífico Cason, no abate de gado e ovelha, porco, ainda em funcionamento nos dias atuais. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e o Carimbo comemorativo ao Cinquentenário da Queda do Meteorito também é lançado no município em 1987. Putinga foi crescendo com a determinação de um povo que muito desejava uma caminhada de muitas outras conquistas.

3.2 Situação das famílias italianas hoje

Putinga hoje possui uma área de 219 quilômetros quadrados. Distante 199 km da capital, localizado na região alta do Vale do Taquari, limitando-se ao norte com os municípios de Ilópolis e , ao sul com e , ao leste com e e ao oeste com - e São José do . Tem como gestores: Prefeito Valdir Possebon e Vice-prefeito: Eduardo Guadagnin. Possui 22 comunidades, cada uma delas conta com igreja (mantida a tradição de rezar aos domingos com cultos ou missa), salão para festas, cemitério, bodega onde se reúnem aos domingos para jogos de carta e bochas e tomar uma cachaça, vinho ou cerveja), campo de futebol para bate bola ou torneios e campeonatos, sendo estas administradas pelos próprios moradores de cada comunidade. Os poucos moradores de cada uma delas, conservam as tradições aprendidas com os antecedentes italianos: pais, avós, dentre outros. São elas: São Jorge, Santo Isidoro, São Miguel, São Marcos, Santa Tereza, Linha Putinga Baixa, Linha Baixa Putinga, Linha São João Batista, Santos Filhos, Miguelzinho Alto, Miguelzinho Baixo, Várzea Grande, , Felizarda, Quadros, Taquara, Linha Taquara Alta, Linha 27

Sobra, Passo Novo, Sitio Salvador, Linha Lajeado Bonito, Lajeado Feio, e o Distrito de Xarqueada. As comunidades possuem um nome “popular”, que tem origem num objeto ou algo que tinha na comunidade como destaque, ou também de santos e santas padroeiras. Independentemente do nome todas possuem presença forte na religião católica, mesmo que nos últimos anos houve a entrada de outras crenças religiosas. Segundo Tedesco (2001, p. 57), “[...] não há dúvidas de que sempre houve uma predominância do catolicismo nas áreas rurais de imigração italiana”, assim como a Igreja Católica sempre foi uma instituição significativa entre imigrantes italianos e seus descendentes. Xarqueada, como primeiro e único distrito municipal até o presente momento. A maioria dos moradores trabalha na agricultura. Algumas na oportunidade na empresa de Laticínio com funções na produção, fatiação e embalagem ou como motorista, fazendo com que com essa oferta de emprego fiquem residindo na comunidade. Conforme dados buscados na própria comunidade através de trabalho de entrevistas conta com: a) Escola Estadual de Ensino Fundamental Demétrio Berté (pioneiro no município) e Educação Infantil Nostri Bambini (homenagem às crianças nascidas na comunidade) sendo escola pólo, com alunos oriundos de muitas comunidades do interior do município. b) Clube Esportivo, campo de futebol, palco de muitos campeonatos regionais, com três times de futebol participativo em torneios, eventos esportistas ou campeonatos. c) Igreja com ginásio lateral e cemitério. d) Espaço de Correio com atendimento de quatro horas diárias. e) Laticínio Cenci, de marca Nonna Nita, com frota de caminhões responsáveis ao recolhimento do leite produzido no município e região usado na fabricação de ricota, queijos, nata, manteiga e doce de leite, comercializado em todo o Estado e no Uruguai. f) Serraria legalizada no corte de madeiras para produção de tábuas. g) Ferraria, borracharia e oficina. h) Mercados e padaria. i) Posto de Saúde.

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Segundo dados do Censo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o município possui uma população de 4147 habitantes. Dentre eles 1.583 residem na zona urbana, onde trabalham em empresas, como autônomos, empregadas domésticas, funcionários públicos, etc. E 2.564 habitantes na zona rural. A cada Censo realizado tem-se observado mudanças no número de habitantes. Muitos munícipes deixam o lugar para ir em busca de outras condições de vida, novas oportunidades de emprego, saúde (acessibilidade de hospitais, já que o município conta com hospital de atendimento simples), educação/acesso ao conhecimento/universidade, dentre outros motivos. Desde o início da colonização houve o plantio de diversas culturas. O trabalho com as terras eram na ara de bois e sem uso de agrotóxicos, ou seja, no uso de enxadas e foices. Com o avanço das máquinas, essa realidade tem mudado. No período que vai desde a II Guerra Mundial até o início de 1965 ocorreram muitas e profundas mudanças no cenário econômico, e o Brasil passou a caminhar decisivamente para etapas mais avançadas da industrialização moderna. Em consequência, a agricultura atravessou um processo radical de transformação em vista de sua integração à dinâmica industrial de produção e da constituição do complexo agroindustrial. Foi alterada a base técnica, desenvolvida a indústria fornecedora de meios de produção para a agricultura e ampliada, em linhas modernas, a indústria processadora de alimentos e matérias-primas. Deste modo, a base tecnológica da produção agrícola foi alterada profundamente, assim como a composição das culturas e os processos de produção. A economia atual é baseada na bovinocultura de leite, a suinocultura e aves, o cultivo de produtos como: milho, fumo, erva-mate, feijão, uva e produtos de subsistência. Atualmente, poucos tem animais para o serviço da lavoura, possuem tratores e equipamentos que agilizam o processo do plantio até a colheita. Tem-se percebido o uso de agrotóxicos no combate às ervas daninhas. Os produtos são cultivados e vendidos para empresas, indústrias e agroindústrias. Alguns, no caso o milho também usado para silagem (alimento para o gado). As indústrias evoluíram dentro da realidade local. Com a descoberta de pedras semipreciosas ou preciosas, hoje temos no município a Possebon Joias (de propriedade do atual Prefeito Valdir Possebon), que realiza trabalho desde o polir até a montagem da joia, sendo comercializadas em todo o estado e demais estados do nosso país. A Rede Globo usa no horário nobre na novela a divulgação das peças fabricadas. Houve aumento na venda dos produtos, garantindo assim maior arrecadação de imposto ao município. 29

Os meios de comunicação tem se ampliado. Havia linhas telefônicas com uma central e acesso principal os que residiam na zona urbana. Moradores da zona rural que quisesse usar do telefone deveria instalar na propriedade uma antena que captasse sinal, isso nem sempre era saída, pois o sinal era fraco. O telefone móvel veio com maior ênfase em 2010. Desde a instalação na sede do município da antena da Operadora Claro, tem facilitado a vida de muitos que moram longe do centro da cidade podendo resolver algumas dificuldades por telefone. Ainda há lugares que não usam de telefone, móvel ou fixo. Com a era da informática e a instalação de antenas na maioria das comunidades a internet tem agilizado a vida de todos os munícipes, fazendo com que usufruem de diversas formas: a compras e até mesmo para estudar. Possui transmissora de Rádio “Rede colinas” com programações direta e diária, notícias locais, regionais e nacionais. Padarias, brigada militar, polícia civil, farmácias, lojas, mercados, salões de estética, escritórios, academia, hospital, posto de saúde, postos de gasolina, prefeitura. As construções se realizaram e nos deixaram casas inspiradas em modelos italianos, algumas ainda muito bem conservadas. Tem acesso à jornais: Correio do Povo, Zero Hora, Informativo Regional, Notiserra, Eco Regional. Com relação às estradas, desde as primeiras abertas, algumas pelos indígenas que habitavam Putinga e outras que foram abertas a picão e enxada, permanecem atualmente. Muitas delas foram alargadas devido o aumento da produção, a instalação de fábricas, o comércio, aviários e criação de suínos. Tem acesso de pavimentação asfáltica que liga o município de Ilópólis, num trecho de 9 km, ligando à RS 332. Utilizam de vários meios de transporte como: carros, motos, caminhão, camionetes, bicicleta, dentre outros. Há duas linhas de ônibus diárias que dão acesso aos municípios vizinhos com trajeto à e Encantado. Há eventos esportivos, com campeonatos municipais e regionais, de voleibol, futebol sete e de campo, feminino e masculino no objetivo de mexer com a emoção, garantir boas recordações, levando as pessoas ao estilo de vida saudável. A Educação municipal além de toda a base curricular proposta, tem como um dos objetivos de trabalhar a diversidade de culturas, incluindo no currículo escolar aulas de italiano, com aulas semanais e professor formado na área. 30

Putinga faz parte da Associação dos Caminhos dos Moinhos juntamente com os municípios de Anta Gorda, Arvorezinha, Ilópolis e Doutor Ricardo. Moinhos, como diz o nome da Associação:

Os moinhos do Vale do Taquari na Serra Gaúcha são admiráveis registros da imigração italiana no começo do século passado. Engenhosas construções de madeira, cheias de poesia, sofisticação técnica, lições de arquitetura: testemunhos do trabalho humano. Para as famílias recém-chegadas, estes moinhos significavam a conquista de uma vida autossustentável, com o pão e a massa como base culinária e econômica. (CAMINHO DOS MOINHOS)

Essa associação é o órgão responsável, pelos moinhos espalhados na região alta do Vale do Taquari, o que se pode realizar visitação em cada um deles e poder admirar tamanha beleza, sua história e a arquitetura. Em 2005, municípios firmaram um acordo com Auronzo di Cadore, comunidade italiana localizada na região de Vêneto, na Província de Belluno na Itália. Essa região é considerada o berço dos imigrantes italianos estabelecidos no município e na região. Isso tem facilitado o acesso a informações, a troca de experiências, construção de projetos e cooperação econômica e social. Com essa aproximação há um trabalho de intercâmbio cultural, realizado a cada dois anos, formado por uma comitiva de estudantes do Ensino Médio e autoridades locais. Italianos, vindos ao mês de novembro de 2015, durante duas semanas conhece a região, e em cada município os pontos turísticos, grupos, escolas, entidades, a preservação dos costumes, as tradições deles adaptadas em outros lugares do mundo. É uma forma de manter viva a identidade, procurar mostrar a nossa realidade, o potencial e o carinho da região. Hospedam-se nas casas de famílias de cada município. Esse intercâmbio é entre as escolas de Idiomas Liceu Linguístico Cadore e a Associação Caminho dos Moinhos. No caso, para fevereiro de 2016, é a vez dos brasileiros participarem desse intercâmbio, da mesma maneira como foi feito. Os estudantes para serem escolhidos passam por provas de seleção, se preparam com aulas de italiano numa escola de idioma e encaminham a documentação necessária e passaporte. É um incentivo com o apoio da Secretaria da Cultura Municipal fazendo com que os jovens adquiram nova visão das origens do município. Atualmente, os munícipes contam com um grupo de coral italiano “Ricordando Il Passato” composto por dezesseis integrantes, grupo este formado por descendentes de italianos do próprio município com um trabalho de CD lançado em 2009, que tem como 31

objetivo recordar e manter vivas tradições italianas. Sobretudo, participam de encontros de corais, de cantos, de eventos diversos. A identidade regional do gaúcho é resultado da interação das etnias que estiveram presente na formação do Estado do Rio Grande do Sul e foi sendo consolidada ao longo de sua história. Envolve inúmeros elementos e que não está apenas vinculada a um espaço territorial, mas resgata características de várias etnias que a ele se agregaram no decorrer da história. Tau Golin, tradicionalista gaúcho expressa em seus artigos que o Tradicionalismo Gaúcho é uma forma de manifestação de cultura da população do Estado. Com o passar dos anos, a tradição passou a ter maior força, com a criação de movimentos tradicionalistas gaúchos (MTG), que se uniram para representar, viver e incutir a História do Estado nos cidadãos. Assim afirma Barbosa Lessa, historiador gaúcho:

Tradicionalismo é o movimento popular que visa auxiliar o Estado na consecução do bem coletivo, através de ações que o povo pratica com o fim de reforçar o núcleo de sua cultura: graças ao que a sociedade adquire maior tranquilidade na vida comum (LESSA, 2008 p. 01).

Cultivando também o tradicionalismo gaúcho, atualmente Putinga mantêm um Centro de Tradições Gaúchas “Querência Xucra”, sendo realizado anualmente o Rodeio Crioulo Estadual, com apresentações campeiras e artísticas A cada dois anos acontece o Sarau de Prendas, onde é escolhida as prendas a representar a entidade. Há grupos de danças (mirim, juvenil e adulto). Um dos grupos de dança leva a tradição por diversos lugares do estado, incluindo apresentações em São Paulo e Rio de Janeiro e para março de 2016, pela primeira vez apresentação internacional, no Chile. Acontece a cada dois anos a Feira de Exposição Comercial e Industrial “Leitão Fest”, evento este que destaca o principal produto da economia do município como também contribui com o desenvolvimento local. Podem-se destacar como pontos turísticos locais e regionais, nos dias atuais: a) Hidrelétrica Salto Forqueta (Pouso novo); b) Hidrelétrica Rastro de Auto (São José do Herval); c) Usina Hidrelétrica Putinga (com Projeto de Tombamento de Patrimônio Histórico); d) Igreja Nossa Senhora da Purificação; e) Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio; 32

f) Gruta Nossa Senhora de Lurdes; g) Capela Nossa Senhora da Glória; h) Prefeitura municipal: visitação ao fragmento do meteorito caído em 1937; i) Caminho dos Moinhos; j) Moinho Marca; k) Rota da erva-mate e Ervateira Putinguense, dentre outros. A maioria dos moradores, falam o dialeto italiano herdado das gerações anteriores. Entre os jovens, foi observado que embora sabem falar o dialeto, não têm por hábito de empregá-lo em suas conversas rotineiras, prevalecendo nesses grupos mais jovens o idioma português. Outras pessoas que optam o município como mais novo lugar a morar, inicialmente demonstram dificuldades em entender a linguagem usada, pois há uma mistura do português ao dialeto com um sotaque forte. Aos poucos interagem e o círculo de amizade aumenta, fazendo-os a se sentirem putinguenses. Como a maior parte da população atualmente é descendente de italianos, a culinária típica está sempre presente à mesa dos putinguenses. A massa, a polenta com queijo, a costelinha de suíno, o radichi, o salame, os molhos, a sopa de capeleti, o pão o vinho, o chimarrão (típico de todo o estado) são a preferência. O relevante trabalho da terra é a base de seu sustento, do seu modo de vida. Há a presença de diversas culturas. Cada uma delas com sua forma de viver, de pensar, de agir, com seus costumes, valores e crenças. Da mesma forma que há diferentes culturas, há diferentes modos de vivência. Precisa-se no dia a dia respeitar, outros jeitos, outras maneiras, as diferenças para viver de forma harmoniosa. Conforme o que diz uma moradora entrevistada, que se sente de ter participado das muitas conquistas do município, costuma dizer que está faltando algo para as pessoas no seu cotidiano do município de hoje. Segundo ela: “Muitas pessoas não estão mais demonstrando respeito entre elas: todos falam de respeito, mas alguns não respeita nem sua própria família. O amor tem que ficar acima de todas as coisas. Onde tem respeito, tem amor” (Elda, moradora do interior do município de Putinga, 89 anos). A mãe natureza sempre cheia de surpresas: belas paisagens, água, frio, calor, neve, as plantas, os animais, as aves as rochas, o ser humano, de beleza incomparável. Não tem como ver o nascimento de um ser, seja humano, animal ou vegetal e não se emocionar. Uma criança vinda ao mundo é maravilhoso, e como se explica sem ninguém ter ensinado a mamar, e de repente já saber o que fazer. Isto é a natureza… 33

Acontece em meio de tanto espetáculo da natureza, situações que chamam a atenção das pessoas, como: enchentes, seca, enxurradas, granizo, vendaval. Estes fatos tem sempre despertado medo e insegurança de toda a população, especificamente putinguense. Um fato que marcou a história do município, retrata um fenômeno incomum “a Queda do Meteorito”, mas desde que os moradores presenciaram este fato até momentos atuais, levam consigo a fé, a força que os ajudou a construir suas vidas. Essa fé, faz acreditar numa força superior a qualquer intempérie que venha a acontecer. Putinga hoje é conhecida como a Cidade do Meteorito. Uma cidade de flor e ametista, rebanhos, lavouras, paisagem encantadora, arroios, matas e jazidas, rural e urbana, gaúcha e italiana, cheia de vida, hospitaleira e amiga, de muita tradição, de vinho e de chimarrão, cheia de encantos (BIRIVA, Canção de Amor à Putinga).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo procurou-se apresentar algumas questões envolvendo a Itália, especialmente no que se relaciona à imigração de colonos para o Brasil. Brasil é um país que se desenvolveu tendo como formação étnica a presença de vários imigrantes, iniciando com os portugueses que fizeram deste país uma colônia, importando mão de obra escrava, através dos africanos, povo este que se misturou com quem já estava aqui, formando os ditos “brasileiros”, depois os italianos, os alemães, o espanhóis, os japoneses e demais imigrantes. A imigração se configura na saída da pessoa de sua terra de origem para um novo país, muitas vezes decorrente de problemas individuais (de ordem social, política, ou religiosa) ou até mesmo por conflitos que o país como um todo está enfrentando. A chegada ao novo país cria a expectativa de melhoria de vida, de se criar laços afetivos com novas pessoas, de ter maiores oportunidades de trabalho e crescimento econômico. A colonização não foi espontânea, e sim uma questão de negócios, feita a partir dos interesses das colonizadoras e especuladores que atuaram principalmente na grande densidade demográfica das colônias do Rio Grande do Sul, de modo especial à região Alta do Vale do Taquari, especificamente em Putinga. A referência da imigração italiana está presente no dia a dia do povo. Dos imigrantes vindos nem todos optaram pela colonização, alguns assumiram atividades comerciais e industriais. A imagem passada dos imigrantes é a colonização sendo até hoje utilizada para recontar a história. A área, em sua maioria montanhosa, oferece boas condições para o desenvolvimento de sua economia, que consiste na produção de diversas culturas. Putinga é considerada pelos seus habitantes como um pedacinho da Itália, com características europeias na sua arquitetura, legado cultural e religioso. Cultivam as tradições italianas, a culinária está presente no dia a dia, especialmente no meio rural, onde o dialeto é falado, aliado à cultura gaúcha. Nos dias atuais os que descendem de imigrantes italianos conseguem apontar qual o parente que veio da Itália – avô, bisavó, trisavô. Porém, a maioria não sabe de qual região da Itália originaram-se esses parentes, mesmo assim sentem-se filhos da Itália. A maioria das famílias, leva consigo os sobrenomes italianos dos mais diversos e realizam anualmente ou cada dois anos encontros de famílias, resgatando os costumes de cada geração. 35

Ficaram e permaneceram lembranças aos descendentes e atuais gerações, pois deixaram um legado de luta e sofrimento e a cultura que se espalhou pela cidade, a partida, a aventura, sua caminhada, os medos enfrentados, as angústias, os desafios, as façanhas que com muita fé alcançaram, construíram, conquistando uma paisagem peculiar, enaltecida como cenário de sucesso. Foram heróis perante as dificuldades impostas na realidade da imigração. Portanto, considera-se os imigrantes italianos personagens fundamentais para o desenvolvimento do município, desde a colonização, como mão de obra, máquinas, às atividades econômicas, indústria e fábricas instaladas e que se mantêm ativas nos dias atuais. Contribuíram para moldar a realidade que vive hoje o povo putinguense. Seus traços ficaram marcados na construção da história do município bem como para a história de vida dos imigrantes, pois realizaram, ainda que do seu jeito, o sonho de construir a América.

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Depoimentos/entrevistas Assunta Sbruzzi (86 anos) - Elda Basso(89 anos) - Clacir Radaelli (78 anos) - Geci Zarbielli (75 anos) - Olga Danielli (90 anos) – Iracema (74 anos) e Leopoldo Radaelli (76 anos) - Deoclides Strapasson (79 anos) - Élice Moretto (92 anos) – Assunta Capelari (67 anos) e Domingos Capelari (68 anos) - Miriam Moretto (74 anos) - Alice Rabaiolli (82 anos).