Gabriela Teixeira Marina Kan Mei Micaela Rozo Thaynara Amaral

Relatório Final: análise transmídia da série

Professora: Geane Alzamora

Belo Horizonte 2016

Introdução

Stranger Things é uma série que foi lançada em julho de 2016 na , com oito episódios. A narrativa, criada pelos irmãos Matt e Ross Duffer, passa-se no ano de 1983, em Hawkins, uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos, onde Will Buyers, um garoto de 12 anos, desaparece misteriosamente. Em busca do menino, a família e os amigos de Will, além do chefe de polícia da cidade, envolvem-se com forças sobrenaturais e experimentos secretos do governo. Em pouco tempo de lançamento na Netflix, Stranger Things obteve uma forte repercussão nas redes sociais e se tornou a série mais popular do IMDb1, site de banco de dados de filmes e séries. Com um universo narrativo bem amplo, a trama da série pode ser explorada de diversas formas. A primeira temporada introduziu vários personagens e criou muito suspense para os espectadores, podendo se desvelar em diferentes narrativas. Além disso, por ser ambientada na década de 1980 e por envolver um universo sobrenatural, existem vários aspectos e elementos da série que ainda podem ser ampliados. O nível de engajamento do público foi alto, houve produção de inúmeros memes sobre os personagens, interação com os atores mirins nas redes sociais e criação de diversas teorias envolvendo a série. Também surgiram hipóteses sobre a inspiração da história ficcional e sobre questões que não foram respondidas durante a primeira temporada. Nesse contexto de grande popularidade da produção, o nosso trabalho será analisar a série e seus comportamentos transmídia, observando o material que já foi produzido tanto pela produtora quanto pelo público engajado na construção do universo que a série explora e desenvolve. Para isso, o grupo irá utilizar a metodologia de análise transmídia desenvolvida por Renira Gambarato, Geane Alzamora e Lorena Tárcia (2016) no estudo da ​ ​ produção transmidiática e do engajamento do público durante os jogos de invernos de Sochi. Os estudos de Jenkins e Scolari sobre transmídia e engajamento do público também irão servir de embasamento para as análises desenvolvidas neste trabalho.

1 ALMEIDA, Diego. Stranger Things se torna a série mais popular do IMDb, ultrapassando Game of ​ Thrones. Disponível em: ​ . Acesso em: 27 set. 2016. ​

Análise transmídia:

1. Objetivos e Premissas

Stranger Things foi lançada em 15 de julho de 2016 pela Netflix e possui 8 episódios, cada um contendo aproximadamente 40 minutos. A série retrata o desaparecimento misterioso de Will, um garoto de 12 anos, e a jornada de busca que sua família e amigos realizam. Com o objetivo principal de entretenimento, a série se desenrola em uma narrativa de suspense, paranoia e ficção científica, situada no início dos anos 80. Seguindo o padrão de comercialização estabelecido pelo modelo de negócio da Netflix, todos os oito episódios foram disponibilizados na estreia, e a série só é exibida na plataforma, não existe a reprodução em outros meios. Apesar dessa exclusividade, o espectador da Netflix não se vê limitado a uma grade de horários e canais, como ocorre na televisão tradicional. Com o abandono de uma perspectiva monomidiática, a plataforma contraria o modelo de consumo geolocalizado, e permite a visualização de seu conteúdo em diversos dispositivos, como computadores, tv e celulares. A distribuição da série é global, e a Netflix se encarregou de oferecer opções de legendas para diversas línguas. O lançamento também teve projeção global, com o anúncio da série alguns meses antes da estreia. As redes sociais da série serviram para criar expectativa no público, com a publicação de pequenos trechos da história em vídeos.

2 Primeiro tweet da conta Stranger Things, anunciando a série em janeiro de 2016.

2 Disponível em: < https://twitter.com/Stranger_Things/status/688785658194755585> Acesso: 15 out. 2016. ​ ​

3 Primeiro post na página oficial da série no Facebook.

2. Estrutura e Contexto

A série, que já foi recusada por 15 a 20 empresários de TV quando teve seu roteiro apresentado pelos seus criadores4, foi acolhida pela Netflix e teve uma estrutura de produção que contou com três diretores, Matt Duffer, Ross Duffer e Shawn Levy, sete roteiristas, 11 produtores e 98 atores.5 A trilha sonora de Stranger Things, além de contar com faixas conhecidas do público e que marcaram os anos 80, como a música “Should I stay or should I go?”, da banda The Clash, teve 39 faixas compostas especificamente para a série, pelos irmãos Kyle

3 Disponível em: Acesso em: 15 ​ ​ out. 2016. 4 O GLOBO. ‘Stranger things’ recebeu entre 15 e 20 ‘nãos’ antes de chegar à Netflix. Disponível ​ ​ em:. Acesso em: 15 out. 2016. ​ 5 Stranger Things full cast & crew. Disponível em: ​ Acesso em: 14 out. 2016. ​ ​

Dixon e Michael Stein, da banda Survive. A produção da trilha sonora ocorreu ao longo das gravações, com adaptações para as cenas gravadas e para eventuais necessidades solicitadas pelos produtores.6 Em relação ao orçamento para os episódios ou a rentabilidade que eles geraram, não há divulgação desses dados pela Netflix. Com poucos atores conhecidos, a produção foi classificada como de orçamento limitado (se comparado aos orçamentos de outras séries da Netflix). Em entrevista para o site Business Insider7, os irmãos Duffer (criadores e diretores da série) contam que o roteiro teve alterações na localização das gravações e cortes na utilização de efeitos especiais. Além disso, não foi usado fundo verde, o que demandou a adaptação de ambientes com materiais mais simples. Observando a série como narrativa, podemos perceber que, como um próprio produto da Netflix, a produção possui nuances transmidiáticas a partir do seu formato de veiculação. Devido à repercussão e boa aceitação da série pelo público, diversos memes e outras formas de interação com a narrativa original proposta foram produzidos e compartilhados na internet, como comentários em posts nas redes sociais da série, criação de fanarts e fanfics, além de teorias sobre a série. Apesar da participação do público, característica importante para a transmídia segundo Scolari (2013), “cualquier mapa de los actores del territorio transmedia debe incluir una área dedicada a los usuários”, nota-se uma falta de iniciativa da empresa em fomentar extensões para a expansão do universo criado, como iremos analisar abaixo em outros tópicos.

3. News Storytelling

A trama da série Stranger Things foi criada pelos irmãos Matt e Ross Duffer. A inspiração e a origem da história não foi revelada pelos irmãos, apesar disso, em meio à comunidade de fãs circulam diversas hipóteses sobre de onde teria surgido a ideia da trama. A suspeita mais popular dos fãs e da imprensa é de que a série é baseada em fatos

6 O GLOBO. Banda dos autores da trilha sonora de ‘Stranger Things’ sai do anonimato no rastro de ​ ​ sucesso da série. Disponível em: ​ Acesso em: 15 out. 2016. ​ 7 BUSINESS INSIDER. 4 times the budget constraints of ‘Stranger Things’ actually made the show ​ better. Disponível em: ​ Acesso em: 16 out. 2016. ​

reais8 que envolvem experimentos que o governo dos Estados Unidos realizava no período da Segunda Guerra Mundial, envolvendo técnicas de recuperação e repressão da memória em cobaias humanas. No entanto, essa teoria até agora não foi confirmada pelos criadores e nem pela produtora. Os autores afirmam que as referências para a série saíram de jogos de filmes, quadrinhos e videogames que marcaram a infância e a adolescência de ambos.9 A série possui dois enredos principais que se entrelaçam ao longo da história. A trama se passa no ano de 1983 e começa com o desaparecimento de Will Byers na cidade de Hawkings quando voltava para a casa depois de passar um dia com os seus amigos. Seu desaparecimento começa a movimentar toda a cidade, principalmente sua família, seus amigos e o policial Hopper que inicia as investigações por conta própria e começa a descobrir histórias reveladoras por trás do desaparecimento da criança. A história de uma misteriosa menina com habilidades sobrenaturais, chamada Eleven, que chega à cidade de Will compõe o outro enredo principal da série. Ao longo da trama a origem de Eleven vai sendo desvendada e a partir dela vão sendo descobertas pistas assustadoras sobre o desaparecimento de Will. A partir dessas duas histórias principais, vão sendo abordadas novas histórias de personagens secundários, como Nancy, Steve, Barbara, Jonathan, Karen e Dustin. A série, que ainda se encontra na sua primeira temporada, teve grande reverberação em meio público logo após o lançamento da sua temporada completa no Netflix. No entanto, para além desse momento central e pioneiro de popularidade, a trama, os seus personagens e os seus atores conseguiram se manter fortes na visibilidade nas mídias e na estima em meio às audiências. Por exemplo, os atores mirins da série apareceram em diversos eventos e programas de televisão depois de serem tão aclamados pelo público logo após a primeira temporada. Gaten Matarazzo - Dustin -, Caleb McLaughlin - Lucas - e Millie Bobby ​

8 LA PRENSA. Stranger Things: ¿esta es la historia real que inspiró serie de Netflix?. Disponível em: ​ ​ . Acesso em: 15 out. ​ ​ 2016. 9 STRANGER THINGS BRASIL. Duffer Brothers revelam as referências saídas dos jogos de videogame para a série. Disponível em: ​ . Acesso em: 16 out. 2016. ​

Brown - Eleven - fizeram uma grande aparição na noite de gala dos Emmys de 201610. Em outra ocasião, as crianças levaram as audiências à loucura pela sua participação em diversos programas de televisão, como no BBC Rádio11. Strangers Things começou como uma série, no entanto, assim como as narrativas transmídia, já expandiu a sua narrativa para muitos outros meios. Como explica Jenkins (2003), “na forma ideal da narrativa transmídia, cada meio faz o que faz melhor, uma história pode ser iniciada por um filme, expandir-se através da televisão, livros e ​ quadrinhos, e seu mundo pode ser explorado e vivenciado em um game”. O desenvolvimento de diversos fangames por produtoras de jogos que envolvem a narrativa de Stranger Things é um exemplo dessa expansão da narrativa. A produtora brasileira Pixhitt Entretenimento desenvolveu um game ao estilo Atari 2600 e Danielle Gasbarro, juntamente com a artista Claire Barnette, desenvolveram um jogo acerca da trama ao estilo de Pac-Man. Em ambos os jogos é ressaltada a ideia de combate aos antagonistas da série, como o Demagorgon, o Dr. Brenner e os seus capangas.

12

10 HORRILLO, Elena. Cómo los niños de ‘Stranger Things’ triunfaron en los Emmy sin llevarse ni un ​ ​ premio. Disponível em:. Aceeso em: ​ ​ ​ 15 out. 2016. 11 COLETTI, Caio. Daniel Radcliffe para crianças de Stranger Things: “Eu não era tão bom nessa ​ ​ idade”. Disponível em: ​ . Acesso em: 13 out. 2016. ​ 12 STRANGER THINGS BRASIL. Stranger Things versão Atari 2600 para você jogar. Disponível em: ​ ​ ​ . Acesso em: 16 ​ ​ out. 2016.

13

Nesse movimento, a série consegue um engajamento que segue a sua ideia de defesa dos protagonistas como Will, seus amigos e Eleven e de combate das forças obscuras que os ameaçam. Apesar disso, assim como em todas as outras séries e produções televisivas, dentre os personagens, os fãs escolhem aqueles mais queridos e os mais odiados, mesmo sem um planejamento prévio dos criadores. Exemplo disso é o favoritismo que a personagem secundária Barb despertou no público de uma maneira inédita e não planejada, o que inclusive despertou revolta pelo destino cruel da personagem. Esse posicionamento do público conseguiu inclusive fazer os autores repensarem o fim da personagem, prometendo que nas próximas temporadas Barb e o seu destino serão ainda mais explorados. Evento semelhante ao que o público vivenciou com Barb, demandando mais atenção ao ocorrido com a personagem, é um indício de um acontecimento transmídia, onde o público participa ativamente e tem voz junto com a produção. Como explica Jenkins (2003), “la historia de los fans de los medios de comunicación se inscribe, al menos, en parte de la historia de una série de esfuerzos organizados por influir en las decisiones de programación”.

13 STRANGER THINGS BRASIL. Escape do Demogorgon nesse game de Stranger Things ao ​ estilo Pac-Man. Disponível em: ​ . Acesso em: 16 out. 2016. ​

Postagem na página do Facebook Stranger Things da Depressão

Postagem na página do Facebook Stranger Things da Depressão

14

Assim, é possível perceber que tanto por ações da produtora e dos atores da série quanto pela atividade dos fãs, Stranger Things está em um movimento de expansão e de remodelagem de suas narrativas. A partir de mídias alternativas às originais que envolvem a série, fanáticos da série discutem sobre os personagens, desenvolvem hipóteses de desmembramento das tramas e inclusive demandam a exploração de novas histórias a partir de pistas e de lacunas nas narrativas. Nesse contexto, “La cultura de los fans supone un desafío a la <> y conveniencia de las jerarquias culturales dominantes , un rechazo a la autoridad del autor y una violación de la propriedad cultural” (JENKINS, 2003).

4. Construção do Universo

O universo da série se constrói principalmente dentro da transmissão via streaming na Netflix. Lá cada temporada da série é lançada e disponibilizada para assinantes do mundo inteiro. Apesar disso, o universo da série se expande por várias outras plataformas. Por exemplo, no Twitter15, no Instagram 16e no Facebook 17oficiais a produtora divulga

14 BLISTEIN, Jon. Watch 'Stranger Things' Star Promise Justice for Barb on 'Fallon': David Harbour ​ ​ says fan favorite will be vindicated, though not necessarily revived during Season Two. Disponível em: . ​ ​ Acesso em: 16 out. 2016.

15 Site original: https://twitter.com/stranger_things ​

16 Site original: https://www.instagram.com/explore/tags/strangerthings/ ​

datas de lançamentos e eventos que envolvem a série, memes, fanarts e vários outros ​ conteúdos que explicaremos de forma mais aprofundada mais adiante ao falarmos das extensões da série. Além das páginas oficiais, fãs da série expandem de maneira ilimitada e diversificada a série em várias plataformas, como em comunidades em redes sociais, sites de downloads piratas dos episódios, games etc. Por meio de todas essas ações, a série - originalmente restrita à Netflix - passa a atravessar diversas outras plataformas variadas e com conteúdos diversos. Nesse contexto, podemos compreender essa transmidialidade planejada e, consequentemente, não planejada como estratégias bem sucedidas de engajamento e popularidade da série. A partir dela os fãs e o público têm acesso a mais conteúdos que envolvem a trama, seus personagens e os atores, resultando em uma maior difusão da produção. O fato de a série estar apenas no começo e possuir o lançamento de diversas temporadas pela frente também é um fator que potencializa a reverberação da trama nas mídias e o engajamento do público. Há espaço para preenchimento de lacunas com hipóteses, debates, desenvolvimento de demandas novas do público e várias outras ações. O porte do evento e a grande dimensão da produtora também contribuem para esse fenômeno, já que o investimento em divulgação e transmissão pode envolver altos montantes e grandes ações como participações em eventos e programas de grande audiência, como aconteceu na participação dos atores nos Emmys 2016 e no BBC Rádio, citadas anteriormente.

5. Personagens

O universo de Stranger Things apresenta uma diversidade de personagens, tanto protagonistas da narrativa fictícia quanto os próprios atores que os interpretam. Durante a fase de divulgação da série, antes de seu lançamento, o personagem de maior destaque e repercussão nas mídias sociais era a atriz Winona Ryder, que interpreta a protagonista Joyce Byers. Conhecida por seus papéis nos sucessos do cinema, “Os fantasmas se divertem” e “Edward mãos de tesoura”, a atriz foi um ícone no final da década de 1980 e

17 Site original: https://www.facebook.com/strangerthingsbr/?fref=ts ​

em grande parte dos anos 1990, mas esteve afastada dos holofotes nos últimos tempos. Segundo os irmãos Matt e Ross Duffer, o trailer da série teve uma forte reação online devido à nostalgia dos fãs que sentiam falta da atriz e aguardavam seu retorno.18

19 Matéria na “Rolling Stones” sobre o retorno de Winona Ryder em Stranger Things

Após o lançamento da série, porém, quem ganhou maior repercussão foram os atores mirins, que surpreenderam o público com suas atuações e com sua amizade tanto dentro quanto fora da tela: Millie Bobby Brown (Eleven), Gaten Matarazzo (Dustin), Caleb McLaughlin (Lucas) e Finn Wolfhard (Mike). O carisma de Matarazzo ao interpretar o personagem Dustin, por exemplo, conquistou muitos fãs e o ator foi notícia ao falar sobre

18 ROCHLIN, Margy. Winona Ryder, an Emblem of ‘90s Cool, Grows Up. Disponível em: ​ ​ ​ . Acesso em: 15 out. 2016. ​ 19 MURRAY, Noel. Why We’ve Missed Winona Ryder and How ‘Stranger Things’ Brought Her Back. ​ ​ Disponível em: . Acesso em: 16 out. 2016.

sua doença displasia cleidocraniana, uma condição rara que afeta o desenvolvimento de seus dentes e que tornou-se uma das principais características de seu papel na série.20 Millie Bobby Brown, no entanto, é considerada a grande estrela de Stranger Things.21 Sua misteriosa personagem Eleven gerou grande parte dos memes provenientes da série22 e a atriz ganhou muita visibilidade principalmente nas mídias sociais, onde é muito presente e posta conteúdo dos bastidores da série, como o vídeo de quando raspou seu cabelo para o papel.23 O sucesso dos jovens atores foi tanto que eles fizeram uma aparição no Emmy24, importante premiação da televisão norte americana, de 2016, além de participar de uma variedade de talk shows, como o “The Tonight Show Starring Jimmy Fallon”, cujos vídeos ​ ​ com as estrelas de Stranger Things tiveram milhões de visualizações no YouTube25.

20 AMADOR, Raphael. Gaten Matarazzo, de “Stranger Things”, fala sobre doença que afeta ​ crescimento de seus dentes. Disponível em: ​ . Acesso em: 15 out. 2016. ​ 21 MORAIS, Carolina. Há uma estrela em “Stranger Things”... e não é Winona Ryder. Disponível em: ​ ​ ​ . ​ ​ Acesso em: 15 out. 2016. 22 GEMMILL, Allie. The 13 Best Eleven From ‘Stranger Things’ Memes That Prove How Much Fans ​ ​ Love Her. Disponível em: ​ . Acesso em: 15 out. 2016. ​ 23 Disponível em: . Acesso em: 15 out. ​ ​ ​ 2016. 24 O GLOBO. Crianças de ‘Stranger Things’ cantam ‘Uptown Funk’ no Emmy 2016. Disponível em: ​ ​ . Acesso em: 15 out. 2016. ​ 25 HOSKEN, Pedro. Crianças de “Stranger Things” participam de esquete e de “melecado” game no ​ ​ “The Tonight Show”. Disponível em: ​ . Acesso em: 15 out. 2016. ​

26 Matéria no “O Globo” sobre participação de atores mirins de Stranger Things no Emmy 2016

Uma curiosa personagem que também ganhou muito destaque foi a Barb, interpretada por Shannon Purser. Apesar de apresentar um papel secundário na narrativa de Stranger Things, Barb foi considerada por muitos fãs a melhor personagem da série e sua morte cruel despertou revolta nas redes sociais. Segundo Keyhole, a hashtag #JusticeForBarb foi utilizada no Twitter mais de 12 milhões de vezes27. Esse favoritismo do público pela personagem, não planejado pelos criadores de Stranger Things, os levou a prometerem que Barb não será esquecida na próxima temporada e que seu destino ainda será mais explorado.28

26 O GLOBO. Crianças de ‘Stranger Things’ cantam ‘Uptown Funk’ no Emmy 2016. Disponível em: ​ ​ . Acesso em: 15 out. 2016. ​ 27 CHATHAM, James. #JusticeForBarb: 15 Stranger Things You Didn’t Know. Disponível em: ​ ​ ​ . ​ ​ Acesso em: 15 out. 2016. 28 FOLHA DE S. PAULO. Criadores de ‘Stranger Things’ querem justiça para Barb em nova ​ ​ temporada. Disponível em ​

29 Matéria na “Vanity Fair” que analisa a repercussão online da personagem Barb de Stranger Things

Os criadores, inclusive, constituem uma das fontes oficiais de informações de Stranger Things. Apesar de não estarem presentes nas redes sociais, os irmãos Matt e Ross Duffer costumam dar muitas entrevistas, revelando ao público detalhes e curiosidades sobre a série, além de planos para a próxima temporada.30 Outras notícias oficiais podem ser encontradas também nas mídias online da Netflix e da própria série Stranger Things.

. Acesso em: 15 out. 2016. ​ 29 BRADLEY, Laura. How the Internet Made Barb from Stranger Things Happen. Disponível em: ​ ​ ​ ​ . Acesso em: 16 out. 2016. ​ ​ 30 ROSHANIAN, Arya. ‘Stranger Things’ Season 2: The Duffer Brothers Reveal Important Details. ​ ​ Disponível em: . Acesso ​ ​ em: 15 out. 2016.

6. Extensões

Stranger Things apresenta contas oficiais nas principais mídias sociais, Facebook, Twitter e Instagram. Essas redes são atualizadas frequentemente, com uma variedade de conteúdos, mantendo o interesse do público pela série enquanto a nova temporada não é lançada. O conteúdo do Instagram é baseado principalmente em “fanarts” (ilustrações do universo da série criadas por fãs), fotos e vídeos dos atores em estreias, premiações e programas de televisão, gifs e memes da série, e cosplays (fãs que se fantasiam de personagens da série). Não há interação com o público.

31 Fanart postada no Instagram de Stranger Things

31 Disponível em: . Acesso em: 16 out. 2016. ​ ​ ​

32 Foto de atores mirins na estreia de Stranger Things postada no Instagram da série

33 Foto de cosplay da personagem Joyce Byers postado no Instagram de Stranger Things

32 Disponível em: . Acesso em: 16 out. 2016. ​ ​ 33 Disponível em: . Acesso em: 16 out. 2016. ​ ​ ​

O Twitter, por sua vez, reproduz todo o conteúdo do Instagram, mas também faz retweet de matérias, entrevistas, vídeos e fotos relacionados à série postados pelas contas dos atores e de veículos do entretenimento. A conta também posta notícias sobre a série e os atores. Há pouca interação com o público, com apenas algumas respostas a tweets de fãs.

34 Tweet sobre a visita dos atores e criadores de Stranger Things à Casa Branca

34 Disponível em: . Acesso em: 16 out. ​ ​ 2016.

35 Tweet anunciando a confirmação da segunda temporada de Stranger Things

36 Retweet de foto dos atores nos bastidores do talk show “Chelsea” ​ ​

35 Disponível em: . Acesso em: 16 out. ​ ​ 2016. 36 Disponível em: . Acesso em: 16 out. 2016. ​ ​

Já o Facebook de Stranger Things, apesar de também reproduzir todas as postagens do Instagram, apresenta uma variedade maior de conteúdo que as outras duas redes. Além de postar uma maior quantidade de gifs e memes da série, a conta no Facebook é a única mídia online que oferece uma ampliação da experiência do público no universo da série. Há, por exemplo, um vídeo 360º que coloca o usuário no papel da personagem Joyce Byers, podendo viver um pouco das experiências sobrenaturais que a mãe de Will teve em sua casa. Também há o link para um gerador de gifs com as famosas luzes de Natal por meio das quais Joyce se comunicava com o filho na série, além de um link para uma playlist na plataforma de streaming de músicas Spotify, com a trilha sonora repleta de canções dos anos 1980 de Stranger Things.

37 Postagem de vídeo 360º de Stranger Things no Facebook da série

37 Disponível em: . Acesso em: 16 ​ ​ ​ out. 2016.

38 Postagem de link gerador de gifs no Facebook de Stranger Things

39 Postagem de playlist com trilha sonora de Stranger Things no Facebook da série

38 Disponível em: . Acesso em: 16 ​ ​ ​ out. 2016. 39 Disponível em: . Acesso em: 16 out. 2016. ​

O Facebook de Stranger Things também se destaca pela grande interação com o público. Vários comentários de fãs são respondidos pela conta, muitas vezes com referências da série.

40 Interação entre fãs e a conta oficial de Stranger Things no Facebook

Analisando o conteúdo dessas extensões de Stranger Things nas mídias sociais, é possível perceber que grande parte trata-se apenas de reprodução do conteúdo original, como fotos, vídeos e gifs da série. Além disso, há muito conteúdo sobre os atores e os bastidores de Stranger Things, que, apesar de mostrarem um outro lado da série, não expandem o universo da narrativa fictícia, que é compartilhado pelos criadores e pelo público, segundo Scolari (2013). Dentre essas redes, o Facebook se destaca por oferecer possibilidades de imersão do fã na série, como o vídeo 360º e a playlist da trilha sonora. No entanto, mesmo aumentando a experiência do público, esses conteúdos não são inéditos, novamente não expandindo o universo de Stranger Things, importante característica transmídia. Um importante aspecto transmídia presente nas extensões de Stranger Things, porém, é o incentivo à participação do público nas redes sociais. “Resulta inútil y contraproducente oponerse a este tipo de producciones generadas por los usuários. Los prosumidores seguirán creando sus propios contenidos y distribuyéndolos en las redes.”(SCOLARI, 2013). Muitas postagens dão visibilidade a fanarts e cosplays, que são

40 Disponível em: . Acesso em: 16 ​ ​ ​ out. 2016.

produções dos próprios fãs baseados no universo da série. Além disso, há o link gerador de gifs de Stranger Things, que convida o público a participar dessa produção conjunta, criando seus próprios gifs.

7. Plataformas e gêneros

Stranger Things foi lançada na plataforma de streaming da Netflix, disponível no site (www.netflix.com), no aplicativo para celulares e tablets, e em Smart TVs. Nas mídias ​ ​ sociais, a série apresenta contas oficiais no Facebook, no Twitter e no Instagram. Além dessas plataformas, é possível acessar conteúdo da série, em menor quantidade, nas redes sociais da própria Netflix, que também está presente no Facebook, no Twitter e no Instagram. O conteúdo publicado pelas contas oficiais de Stranger Things é muito similar. Muitas fotos, vídeos e gifs são postados simultaneamente tanto no Facebook quanto no Twitter e no Instagram. No entanto, há algumas diferenças no uso dessas plataformas, aproveitando-se das características próprias e das possibilidades que cada uma oferece. No Instagram, onde o foco é nas imagens, o conteúdo é baseado principalmente em “fanarts”, fotos e vídeos dos atores em estreias, premiações e programas de televisão, gifs e memes da série, e cosplays. É importante ressaltar que todo esse material postado no Instagram também é reproduzido nas outras duas mídias sociais. Não há interação com o público. Já o Twitter, por meio de retweets, posta matérias, entrevistas, vídeos e fotos relacionados à série publicados por outras contas, de atores e de veículos do entretenimento, por exemplo. Também são postadas notícias sobre a série e o elenco. Nesse caso, há interação com o público, ainda que pequena, com apenas algumas respostas a tweets de fãs. No Facebook de Stranger Things, por sua vez, é postada uma maior variedade de conteúdo, com mais gifs e memes, além de materiais diferentes, como um vídeo 360º, um gerador de gifs e uma playlist da trilha sonora da série. Essa plataforma também se destaca por apresentar uma forte interação com o público, respondendo vários comentários de fãs, muitas vezes com referências da própria série.

De maneira geral, as três mídias são frequentemente atualizadas e, no caso de divulgação de informações oficiais sobre a série, como a confirmação da segunda temporada, as notícias são postadas simultaneamente em todas as plataformas oficiais.

41 Stranger Things na plataforma do site da Netflix ​

Twitter oficial de Stranger Things, com 451 mil seguidores42

41 Disponível em: . Acesso em: 16 out. 2016. ​ ​ ​ 42 Disponível em: . Acesso em: 16 out. 2016. ​ ​

Instagram oficial de Stranger Things, com 899 mil seguidores43

43 Disponível em: . Acesso em: 16 out. 2016. ​ ​

Facebook oficial de Stranger Things, com 2.915.371 curtidas44

8. Audiência e mercado

Stranger Things é mais um caso de sucesso da Netflix. Para se ter uma ideia, na semana de lançamento, a série chegou a liderar o ranking de produtos televisivos mais populares do Internet Movie Database (IMDb)45. No momento, porém, ela encontra-se em ​ ​ 3º lugar na lista46.

44 Disponível em: . Acesso em: 16 out. 2016. ​ ​ ​ 45 ALMEIDA, Diego. Stranger Things se torna a série mais popular, do IMDb, ultrapassando Game of ​ ​ Thrones. Disponível em ​ . Acesso em: 15 out. 2016 ​ 46 Disponível em . Acesso em: 15 ​ ​ out. 2016

Página do IMDb que mostra a popularidade das séries

A série, composta por oito episódios, difere-se das demais, principalmente pelo fato de não ter como objetivo trazer algo novo, mas, sim, estimular uma nostalgia no público. Baseada nos anos de 1980, Stranger Things conquista a audiência de pessoas que viveram nessa época e também de jovens fãs, amantes de produtos que contenham clima de ​ aventura e entretenimento despretensioso. A utilização de Winona Ryder, que faz o papel de Joyce, é mais um ponto alto da série. A atriz, que fez muito sucesso em filmes da década de 1980/90 e do início dos anos 2000, contribuiu para ativar a memória afetiva dos fãs daquela época. Além disso, em busca de cativar o público adolescente, Stranger Things utiliza um elenco composto por crianças. Tais personagens conquistaram os telespectadores em geral, com um enredo em ​ que a amizade é retratada de forma bem intrínseca e extasiante. O sucesso de audiência da série levantou uma questão sobre o modo como a Netflix capta o seu público. O sistema de algorítmo da plataforma pode ter sido utilizado para aumentar o número de telespectadores de Stranger Things. Gustavo Miller, criador digital e

estrategista da Red Bull, publicou em seu perfil no Linkedin47 uma hipótese que logo se espalhou pela internet.

Antes de ser mais um a dizer que os criadores foram geniais ao colocarem em episódios todos os nossos filmes favoritos de infância, ninguém chegou a pensar que essa série talvez seja a maior obra de arte do algoritmo da Netflix? (...) Desta vez, temos uma série que costurou ET com Conta Comigo, Alien com Carrie, Contatos Imediatos do Terceiro Grau com Evil Dead, Goonies com Poltergeist, Além da Imaginação com Chamas da Vingança... Tudo isso estrelado por dois dos atores mais populares da década perdida: Winona Ryder e Matthew Modine (MILLER, 2016).

O sistema de mapeamento permite que a Netflix estude seu público a partir do envolvimento de cada pessoa com determinado tipo de produto. Desta forma, especula-se que a líder em streaming tenha observado “o que as pessoas queriam ver” para, assim, criar a “série perfeita”. Desde 2013, a Netflix tem investido nesse tipo de pesquisa de mercado. Recentemente, a empresa divulgou um estudo sobre a mudança na interação dos telespectadores com as produções48. Apesar dos boatos sobre a “manipulação” do público de Stranger Things, a Netflix não quis comentar sobre o assunto e nem divulgou números a respeito da audiência da série, que se tornou uma das principais produções de seu catálogo.

9. Engajamento

A Netflix tem utilizado constantemente as redes sociais em busca de engajamento do público com seus produtos. Em Stranger Things, a história não é diferente. No perfil da série no Twitter, assim como no Instagram (ambos em inglês), criados no início de 2016, os produtores buscam postar releituras e, principalmente, memes. Fotos de momentos marcantes da série também são aproveitados. No entanto, é perceptível a preocupação com a não postagem de spoilers. Mensagens de fãs e de páginas especializadas em notícias também são replicados. Um exemplo foi na apresentação do elenco na premiação do Emmy deste ano, onde o perfil “retuitou” páginas famosas.

47 MILLER, Gustavo. Seria Stranger Things uma obra de arte do algoritmo da Netflix? Disponível em ​ . ​ ​ Acesso em: 15 out.2016 48 Netflix identifica mudança no consumo de séries. Disponível em ​ ​ Acesso em 15 out. 2016 ​

49 Perfil oficial do Stranger Things no Twitter retuitou a publicação do Yahoo TV

Já no Facebook, Stranger Things tem um perfil em português, direcionado aos telespectadores do Brasil. Nele, a série publica gifs e imagens relacionadas à produção. Nesta rede social a interação com o público é bem maior se comparada ao Twitter. O fato de ser em português pode ser considerado uma “ajuda” no engajamento com os fãs. Assim, é possível que algumas perguntas e/ou comentários dos internautas sejam respondidos pelos administradores da página.

49 Disponível em Acesso em: 15 out. de 2016 ​ ​ ​

Interação entre fãs e a conta oficial de Stranger Things no Facebook50

As crianças de Stranger Things também estimularam uma série de “fan arts” e ​ releituras. A aparição do elenco infantil em eventos do mundo cinematográfico é sempre abordado e publicado pelos perfis oficiais da produção. Em sua maioria, essas postagens tem alta aceitação e engajamento com o público, que tem um grau elevado de simpatia pelos (as) garotos (as). Para incentivar ainda mais o engajamento, a Netflix, em parceria com o Spotify, lançou uma playlist da série. A trilha sonora da série foi um dos destaques da produção, por reunir astros do ramo da música dos anos de 1980, como The Clash e Joy Division. 51 Além disso, a Netflix criou um gerador de gifs, chamado “Stranger gif”, que permite que as pessoas escrevam mensagens com as luzes que a personagem Joyce usou para conversar com Will, seu filho desaparecido na série52. Apesar de Stranger Things ter sido influenciada por diversos jogos, os produtores não utilizam desse possível engajamento com os fãs. Silent Hill, Dark Souls e The Last of US foram uns dos games que inspiraram os irmão Duffer. Em entrevista ao IGN Brasil, Matt e Ross comentaram sobre as referências dos games na série53. “Silent Hill é um dos que a maioria das pessoas percebeu", diz Ross. “Porque é a referência menos sutil, por

50Disponível em Acesso em: 15 out. de 2016 ​ 51 SOUTO, Marcela. Netflix lança playlist de Stranger Things. Disponível em ​ ​ ​ Acesso em: 15 out. de ​ ​ 2016 52 Disponível em < https://strangergif.com/> ​ ​ 53 TILLY, Chris. Os Games que influenciaram Stranger Things. Disponível em ​ ​ Acesso em 16 ​ ​ out. de 2016

causa do visual do Mundo Invertido [Upside Down], toda a névoa e a floresta encharcada. ​ ​ É óbvio que usamos o game como inspiração para criar o visual do nosso mundo, então é uma grande referência”, finalizou.

10. Estética

Como falado em outros tópicos, Stranger Things baseou-se nos anos de 1980 e 1990. A estética da série contribuiu de forma positiva para que isso acontecesse. Referências a clássicos dessa época, principalmente de Stephen King, Steven Spielberg e John Carpenter ajudaram na criação da recente obra da Netflix. Ross Duffer, no dia da divulgação da série, comentou sobre a influência que esses grandes nomes do cenário cultural tiveram na produção54.

"Éramos obcecados pelos livros e filmes deles (Stephen King e Steven Spielberg), pois eram histórias que podiam acontecer com pessoas que conhecíamos. E aí você adiciona uns monstros, um toque sobrenatural, alguns alienígenas, e parece que é você que está vivendo tudo aquilo. Nós fomos influenciados por tantas coisas - filmes, videogames, livros... Aí pegamos tudo isso e colocamos no liquidificador". (DUFFER, 2016)

Matt Duffer fez coro ao irmão Ross e ressaltou a importância de atingir todos os públicos e não somente àqueles que viveram nas décadas de 1980 e 1990. Para ele, Stranger Things consegue contemplar três gerações: crianças, adolescentes e adultos.

"Nós gostamos de pensar em cada uma dessas gerações existindo em um universo distinto dos anos 1980. Os adultos estão em um filme de Spielberg - são indivíduos imperfeitos que demoram, mas inevitavelmente percebem que algo extraordinário está acontecendo ao seu redor. Os adolescentes estão em um filme de terror tipo Halloween - A Noite do Terror ou A Hora do Pesadelo, onde as dificuldades da vida na escola e a perda da inocência se misturam a um mal sobrenatural. E as crianças estão em um romance de Stephen King, tipo Conta Comigo ou It - Uma Obra Prima do Medo: são crianças nerds que se sentem excluídas, que moram em uma cidade pequena e precisam se unir para enfrentar algo aterrorizante". (DUFFER, 2016)

54 Spielberg e Dungeons e Dragons são referências para Stranger Things. Disponível em ​ ​ Acesso em 16 out. de 2016 ​

Na abertura da série, o letreiro digital com a escrita “Stranger Things” relembrou muito os clássicos cinematográficos dessa época. Além disso, a fonte utilizada no logo é a mesma do livro Trocas Macabras, de Stephen King.

55 Comparação entre a fonte utilizada em Stranger Things e em uma obra do Stephen King

55Disponível em Acesso em 16 ​ ​ out. 2016

As várias referências ao longo da série, seja visual, na abertura, no núcleo de personagens ou na trilha sonora são os pontos fortes de Stranger Things. A familiaridade também está materializada nos pôsteres e em artefatos como walkie-talkies. Outros exemplos acontecem quando o quadrinho de “X-Men #134” é citado no início da série fazendo uma referência às habilidades de Eleven em Stranger Things, em relação à Fênix Negra, da revistinha da Marvel. O clássico filme E.T, de Steven Spielberg, que é uma das principais inspirações da série, tem, assim como em Stranger Things várias crianças jogando Dungeons & Dragons - RPG de sucesso nos anos de 1980. Mike encontra ​ Eleven na floresta, assim como Elliot encontra o E.T. no filme; crianças andam de bicicleta em ambas as produções durante à noite, entre outras citações.

Semelhanças entre os personagens de E.T e Stranger Things. 56 ​

É possível observar também diversos pôsteres de filmes da época na parede das casas dos personagens de Stranger Things, além de citações a eles. Por exemplo, quando Joyce - mãe de Will - convida o filho para ir ao cinema assistir à estreia de Poltergeist, clássico de 1982.

56 Disponível em < http://riscafaca.com.br/televisao/stranger-things-referencias/> Acesso em 16 out. 2016 ​ ​ ​ ​

Poster do filme Evil Dead, ou, em português, A Morte do Demônio, lançado em 1981.

A trilha sonora, como já dito anteriormente, é um fator bastante explorado pelos produtores para ambientar o público nos anos 1980. A atmosfera de suspense é constante. Os irmãos Duffer se preocuparam em fazer um cenário onde “nunca sabemos o que irá acontecer”. Ao mesmo tempo, as músicas clássicas de Joy Division, The Clash e New Order aparecem em Stranger Things e ajudam os telespectadores a criarem um ambiente nostálgico e, de certa forma, reconfortante. Empolgados com tantas referências da série aos clássicos de décadas passadas, os fãs produziram vários posts em blogs e, até mesmo, um vídeo no YouTube, comparando todas as citações e inspirações de Stranger Things.

Vídeo do Youtube que compara Stranger Things com filmes da década de 1980 e 99057

57 Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=wBjgFt6lVHM> Acesso em 16 out. 2016 ​ ​

Proposta de experimentação

Observando todos os tópicos anteriores, principalmente plataformas e extensões, percebemos que a Netflix não aproveitou totalmente a potencialidade transmídia de Stranger Things, deixando brechas que podem ser exploradas. Apesar de incentivar e de dar visibilidade a produções de fãs, divulgando “fanarts” e criando um link para criação de gifs da série, por exemplo, não foi disponibilizado nas redes sociais nenhum conteúdo inédito de forma a expandir o universo da narrativa. A série apresenta várias histórias paralelas que compõem sua narrativa principal e algumas foram deixadas de lado na primeira temporada. Foi o caso do destino da personagem Barb, tão amada pelos fãs, e do Mundo Invertido, que é de extrema importância para a trama, mas não foi bem explicado nos episódios. Informações adicionais sobre esses dois assuntos poderiam ter sido explorados pelos produtores nos canais de comunicação e divulgação de Stranger Things, ampliando o universo da série. A partir dessa análise, o grupo propõe a criação de um protótipo de aplicativo de realidade aumentada baseado na localização dos dispositivos móveis dos usuários. Assim, utilizando tanto o GPS quanto a câmera dos dispositivos, os jogadores terão acesso ao lado do Mundo Invertido dos lugares e dos trajetos que frequentam diariamente. O objetivo final do jogo será o usuário derrotar o Demogorgon, o monstro principal da narrativa da série. Ao longo dessa trajetória, o usuário encontrará diversos personagens perdidos na realidade invertida, ajudando-os e conhecendo mais acerca de sua história, muitas vezes não explorada na série, como no caso da Barb. Esse tipo de extensão foi e está sendo muito bem recebida pelo público, como podemos ver no exemplo do jogo Pokémon Go, que conseguiu grande engajamento de pessoas de diversas faixas etárias e gêneros58. O uso da realidade aumentada no aplicativo é um dos grandes diferenciais responsáveis pela adesão do público e repercussão do jogo. O desejo de participar do universo proposto pela série pode ser um grande potencial para o sucesso do aplicativo, já que o usuário poderá vivenciar o mundo criado por Stranger Things e ainda ampliar o seu entendimento sobre a série e os seus personagens.

58 Pokémon GO | Jogo teve 50 vezes mais jogadores do que o previsto no lançamento. Disponível em: ​ ​ . Acesso em: 17 out. 2016. ​

A narrativa do jogo se baseia na busca pelos personagens da série no mundo invertido. O jogador deverá resgatar esses personagens, e só poderá encontrá-los se andar com o celular. Os lugares do cotidiano passam a ser locais em que os personagens podem estar escondidos e necessitando de ajuda, instigando o jogador a andar cada vez mais para poder socorrer mais personagens. Para resgatar o personagem, o jogador precisa se aproximar do local indicado em que o personagem está (o jogo avisa a proximidade da área desejada, emitindo avisos caso o jogador estiver perto do local de resgate) e tentar socorrê-lo com as ferramentas ofertadas. Cada jogador começa com uma mochila que possui várias ferramentas (fazendo um link com a série, já que nos episódios em que os garotos saem à procura de Mike eles levam diversos instrumentos que possam ser úteis). No mundo invertido, o Demogorgon captura e prende suas presas com um tipo de gosma nas superfícies. Para desprender os personagens, os jogadores devem utilizar as ferramentas que possuem até acharem a adequada para soltar a pessoa. À medida em que os personagens são resgatados, o jogador ganha mais pontos em experiência e força para avançar para outros níveis. Caso não consiga resgatar os personagens que aparecem, o jogador perde esses pontos e pode perder o nível, tendo que recomeçar cada nível do zero novamente, com infinitas tentativas. O jogo terá 14 níveis, e a cada nível aparecerão personagens diferentes da série: Sr. ​ Scott Clarke, Joyce Byers, Delegado Jim Hopper, Dr. Martin Brenner, Barbara Holland, Nancy Wheeler, Steve Harrington, Jonathan Byers, Lucas Sinclair, Dustin Henderson, Mike Wheeler, Eleven, Will Byers e o Demogorgon, respectivamente. Novas ferramentas ​ também vão sendo descobertas ao longo das fases. O desafio final para o jogador será enfrentar o Demogorgon. Caso consiga, ele vence o jogo.

Referências

ALMEIDA, Diego. Stranger Things se torna a série mais popular, do IMDb, ​ ultrapassando Game of Thrones. Disponível em ​ . Acesso em: 15 out. 2016 ​

BUSINESS INSIDER. 4 times the budget constraints of ‘Stranger Things’ actually ​ made the show better. Disponível em: ​ Acesso em: 16 ​ out. 2016.

GAMBARATO, Renira; ALZAMORA, Geane; TÁRCIA, Lorena. Russian News ​ Coverage of the 2014 Sochi Winter Olympic Games: A Transmedia Analysis. ​ International Journal of Communication 10(2016), 1446–1469.

GAMBARATO, Renira R. and Tárcia, Lorena (2016). Transmedia Strategies in ​ Journalism: An Analytical Model for the Coverage of Planned Events. In Journalism ​ Studies. Online First DOI: 10.1080/1461670X.2015.1127769.

JENKINS, Henry. Transmedia Storytelling. MIT Technology Review. 15 jan. 2003. ​ ​ Disponível em: . Acesso em: 15 ​ ​ out. 2016.

MILLER, Gustavo. Seria Stranger Things uma obra de arte do algoritmo da Netflix? ​ Disponível em . Acesso em: 15 out.2016 ​

O GLOBO. Banda dos autores da trilha sonora de ‘Stranger Things’ sai do anonimato ​ no rastro de sucesso da série. Disponível em: ​ Acesso em: 15 out. 2016. ​

O GLOBO. ‘Stranger things’ recebeu entre 15 e 20 ‘nãos’ antes de chegar à Netflix. ​ Disponível em: . Acesso em: 15 out. 2016. ​

Pokémon GO | Jogo teve 50 vezes mais jogadores do que o previsto no lançamento. Disponível em: . Acesso em: 17 out. 2016. ​

Primeiro post no Facebook. Disponível em: . Acesso em: ​ ​ 15 out. 2016.

Primeiro tweet publicado na conta de Stranger Things. Disponível em: . Acesso: 15 out. 2016. ​ ​

SCOLARI, Carlos. Narrativa transmedia – cuando todos los medios cuentan. ​ Barcelona: Deustos, 2013.p.26, 69, 251.

SOUTO, Marcela. Netflix lança playlist de Stranger Things. Disponível em ​ ​ ​ ​ Acesso em: 15 out. de 2016

Stranger Things full cast & crew. Disponível em: . Acesso em: 14 out. ​ ​ 2016.

Spielberg e Dungeons e Dragons são referências para Stranger Things. Disponível em ​ Acesso em 16 ​ out. de 2016.

TILLY, Chris. Os Games que influenciaram Stranger Things. Disponível em ​ Acesso em 16 out. de 2016. ​