A indústria corticeira em : potencialidades e fragilidades Autor(es): Custódio, Sandra Publicado por: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra URL persistente: http://hdl.handle.net/10316.2/40391 DOI: http://dx.doi.org/10.14195/0871-1623_23_19

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Codernos de Geogro{lo, N• 21123 - 2002-2004 Colmbro, FWC - pp. 269-282

A industria corticeira em Santa Maria da Feira. Potencialidades e fragilidades

Sandra Custodio Uc,..nc a . ~ e1 G ~· • raf .~o~

lntrodu ~ao responsavel par cerca de 54% da sua produc;:ao mun­ dial. Podemos assim perceber a importancia que a A cortic;:a e um material de que sao conhecidas industria transformadora corticeira tem no contexte as aplicac;:oes desde a antiguidade, sobretudo como internacional e, naturalmente, no contexte nacional. artefacto flutuante e como vedante, cujo mercado, a A utilizac;:ao industrial da corti c;:a iniciou-se com partir do inicio do seculo XX, teve uma enorme expan­ o fabrico de rolhas, que continua ainda a ser o princi­ sao, especialmente devido ao desenvolvimento dos pal produto fabricado pela industria corticeira. aglomerados diversos de que constituem a base. Nesta industria distinguem-se quatro ramos de No nosso pais, os sobreiros encontram-se disse­ actividade: a industria preparadora de cortic;:a; a minados por todo o territorio nacional, mas com pre­ industria transformadora; a industria granuladora e a dominimcia ao sul do Tejo. industria de aglomerados. Acresce ainda dizer que No que respeita a transformac;:ao e utilizac;:ao da muitas unidades sao mistas, ou seja, exercem simulta­ cortic;:a, verifica-se que a cortic;:a amadia e utilizada neamente dais ou mais tipos de actividades dentro da essencialmente no fabrico de rolhas de cortic;:a natu­ industria corticeira, situac;:ao que se evidencia espe­ ral, principal produto da industria corticeira, embora cialmente nas unidades transformadoras, que exercem nos ultimos anos tenha aumentado a diversificac;:ao dos tambem a actividade preparadora, e nas aglomerado­ produtos derivados de cortic;:a. No entanto, a rolha de ras que integram quase toda a actividade granuladora . cortic;:a natural e ainda o principal produto e o que A industria de cortic;:a em caracterizou­ mais pesa na exportac;:ao e, deste modo, um pilar para ·se desde ha decadas por aspectos amplamente reco­ o sector corticeiro. nhecidos e analisados, de que se salientam os seguin­ 0 sector corticeiro assume uma posic;:ao de tes: localizac;:ao da industria transformadora Ionge da relevo no contexte da economia nacional, nomeada­ produc;:ao da materia-prima; separac;:ao da actividade mente pelo nivel das exportac;:oes, pelo volume de industrial em subsectores mais ou menos individuali­ emprego associado, directo e indirecto, e pelo papel zados, com um numero muito elevado de pequenas determinante no funcionamento economico de algu­ unidades empresariais e fabris, principalmente prepa­ mas zonas especificas. No nosso pais, a cortic;:a garante radoras e rolheiras, utilizando processes de baixa cerca de 15.000 postos directos de trabalho no sector tecnologia e em condic;:oes ambientais e de seguranc;:a fabril e cerca de 6500 na sua extraq:ao e manusea­ laboral deficientes; um numero reduzido de produtos, mento, havendo a volta de 1100 estabelecimentos principalmente em relac;:ao as rolhas de cortic;:a natu­ fabris. Dados recentes indicam que Portugal e respon­ ral, que sao o pilar de toda a industria. savel par 54% da produc;:ao mundial de cortic;:a. Uma Em 2001, laboravam na industria corticeira 1100 grande parte destes estabelecimentos fabris esta estabelecimentos. Destes estabelecimentos, temos 50 situada no concelho de Santa Maria da Feira, que unidades fabris na industria preparadora, 1020 na conta com cerca de 606 estabelecimentos e emprega industria transformadora. A industria granuladora e cerca de 10.500 dos 15.000 pastas de trabalho directos aglomeradora no seu conjunto possuiam 30 unidades na industria corticeira. fabris. Estas unidades fabris localizam-se essencial ­ mente no distrito de Aveiro, concentrando-se neste 895 das 1100 existentes em todo o pais. 1. 0 Sector Corticeiro E: necessaria salientar o peso economico, tinan­ ceiro e social do sector corticeiro para a vida do dis­ 1. 1. A industria da corti c;:a em Portugal trite de Aveiro, um dos mais industrializados do pais, e A Industria corticeira e uma actividade que ha de forma muito particular, para o concelho de Santa muito esta presente no nosso pais. Actualmente, Maria da Feira, polo dinamizador do sector em Portu­ Portugal e o maior produtor mundial de cortic;:a sendo gal e no Mundo.

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1.2. Produ~ao mundial de corti~a Dai que as suas possibilidades ultrapassem a produc;:ao de rolhas e se estendam a uma vasta gama Pode·se considerar que a produ~ao mundial de de aplicac;:oes, desde utilizac;:oes industrials (cons­ corti~a tern permanecido com alguma estabilidade ao truc;:ao de pontes, industria automovel, juntas de Longo dos anos. dilatac;:ao), ate revestimentos de interiores (tectos, A industria corticeira portuguesa tem sofrido paredes). uma evol u ~ao gradual ao Longo dos anos, constituindo Com o impulse mais recente dado a esta indus­ actualmente urn elemento-chave do sector produtivo tria, a cortic;:a passou tambem a ser adoptada como portugues. component e de objectos decorativos, vestuario e Portugal e o maior produtor mundial de cortic;:a, calc;:ado. Apesar da cortic;:a ser utilizada, na maioria, e esta contribui em 3% para o PIS nacional. Henrique como vedante para garrafas de vinho (53% correspon­ Martins, Presidente da APCOR (Associac;:ao Portuguesa dentes a 471 milhoes de euros), a produc;:ao de aglo­ de Cortic;:a), afirma que "os industrials corticeiros merados tende a aumentar, uma vez que os pavi­ portugueses tem-se esforc;:ado para acompanha r o mentos e isolamentos de edificios tern tido maior desenvolvimento e a modernizac;:ao constante - nao ha procura (3 7%, correspondentes a 330 milhOes de nenhum sector que tenha evoluido, nos ultimos anos, euros). tanto quanta nos". Portugal e o maior produtor mundial de cortic;:a Quase 90% da cortic;:a produzida em Portugal e e no ano de 2001 exportou quase mil milhoes de euros. exportada, sobretudo para a Alemanha, Franc;:a e Estes valores consolidam Portugal como o maior pro­ Estados Unidos da America. A cortic;:a e o unico sector dutor, transformador e exportador de cortic;:a mundial. de actividade em que Portugal consegue ser lider, 0 nosso pais alberga 30% da area mundial de sobreiro, encontrando a sua rendibilidade no mercado externo. arvore que se da tao bern nas planicies alentejanas Este sector tern fortes capacidades de crescimento quao mal nout ras regioes do globo. Apesar disto ainda devido asua variedade de produtos. nos debatemos com o problema de escassez de mate­ A industria corticeira portuguesa possui, ainda, ria-prima de origem nacional, facto que desencadeia a a lideranc;:a mundial do sector a nivel da produc;:ao e necessidade de importar cortic;:a de qualidade para transforma c;:ao de cortic;:a, assim como mao-de-obra poder responder as exigencias do cliente final. 0 qualificada e tecnologia de ponta - sendo Portugal o principal pais fornecedor de cortic;:a natural e a nossa responsavel pelas inovac;:oes e novas processos na vizinha Espanha. industria de cortic;:a mundial - e assegura ainda a sua presenc;:a com filiais ou mesmo empresas nos cinco continentes, de modo a estabelecer urn contacto mais 2. Origem da industria corticeira no norte do pais directo com os seus clientes. E, pais, urn sector inovador e activo, capaz de Tudo o que se sabe relativamente ao inicio da cont ribuir para a construc;:ao de uma imagem positiva industrializac;:ao da cortic;:a no norte do pais, perde-se de Portugal, contrariando a ideia de que ainda esta­ nas mais dispares versoes, sobretudo a partir dos anos mos presos ao passado. anteriores a 1900, nao se sabe ao certo como e que Sera possivel, deste modo, demonstrar que Por­ ela ca chegou. Todavia, tudo leva a crer que os tugal, e urn pais empresarialmente dinamico e activo pequenos rolheiros se desenvolveram na zona ribeiri­ que mantem a historia e tradic;:ao associados a inova­ nha do . 0 surgimento, e posterior desenvolvi­ c;:ao e ao desenvolvimento. Com a criac;:ao da marca mento, da industria corticeira, mais especificamente cortic;:a como uma marca portuguesa estaremos a da rolheira, esta ligada a comercializac;:ao do vinho do contribuir para o crescimento de uma industria fun­ Porto. Com efeito, o desenvolvimento da comerciali­ damental para o pais e principalmente para o concelho zac;:ao deste exigiu uma resposta da industria de de Santa Maria da Feira, e para a const ruc;: ao de uma rolhas, arrastando-a para perto de si , ou seja, para imagem nacional mais actual e real da industria portu­ Vila Nova de Gaia. As fabricas situavam-se proximo do guesa no seu todo. rio . Aqui temos presente a teoria dos factores 0 produto corticeiro por excelencia e a rolha, de localizac;:ao industrial de Max Weber. pois, as suas caracteristicas permitem a melhoria das As cheias do Douro inundavam-nas sucessiva­ qualidades dos vinhos e funcionam como vedante mente causando prejuizos consideraveis. A industria eficaz (isolamento termico, acustico e vibratico), reconheceu a necessidade de alterar a sua localizac;:ao possuindo uma elevada flutuabilidade e elasticidade, e afastou-se para uma area a 15/20 Km ao sul da alem de ser uma materia-prima cern por cento amiga margem do Douro, fora do alcance das cheias e de do ambiente. onde era natural grande parte dos trabalhadores do

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sector, o que significa que a industria da cortic;:a veio reconhecimento recente, a nivel do discurso estrate­ para o concelho em busca da mao-de-obra em quanti­ gico sectorial e regional, acompanhado por algumas dade e em qualidade. Os primeiros fabricantes eram medidas de apoio ao desenvolvimento e moder­ lavradores relativamente abastados, que trabalhavam nizac;ao. a cortic;:a segundo processes artesanais e utilizavam como mao-de-obra os seus empregados agricolas. Uma descric;:ao de 1874, ja dava conta de Santa 3. lmportiincia do sector da cortic;:a no Concelho de Maria da Feira como uma bonita, rica e fertil terra, Santa Maria da Feira tendo ja grande comercio com o Porto. As primeiras oficinas manuais abriram no tempo No concelho de Santa Maria da Feira, a industria do Marques de Pombal, e pouco depois ja havia a corticeira concentra-se na sua quase totalidade nas exportac;:ao. A mecanizac;:ao chegou nos anos 20. Ja freguesias de Lourosa, Moselos, Pac;os de Brandao e entao a cortic;:a era importante na economia nacional, Santa Maria de Lamas, a que se chamou zona central mas o crescimento mete6rico viria mais tarde. Das 16 e, ainda, pelas freguesias de , Fiaes, mil toneladas extraidas em 1917 saltou-se para as 41 Nogueira de Regedoura, Oleiros, Rio Meao, Sao Joao mil, em 1921 e para as 90 mil, em 1934 . A rolha e de Ver, a que se chamou zona periferica . De facto, a como que um simbolo da industria corticeira. Mas o industria corticeira constituiu-se como uma monoacti­ aproveitamento deste produto natural tem tendencia vidade das freguesias acima referidas e como o princi­ a variar e a impor-se em areas como a construc;:ao, a pal sector de actividade no concelho, logo seguido decorac;:ao, a industria autom6vel, pesca e calc;:ado. pela industria do calc;ado que se concentra nas fregue­ Criada no Alentejo e Algarve, a cortic;:a dificil­ sias de Arrifana, Escapaes, Feira e Poiares. De facto, a mente teria o seu actual incremento em virtude da industria de cortic;:a tem uma grande importancia no grande distancia que separava a sua origem da sua concelho de Santa Maria da Feira. Representa 66% da utilidade, se nao fosse o dom destas gentes de Santa industria corticeira a nivel nacional. Das 1100 fabricas Maria da Feira em procurar modos de vida dentro do do ramo existentes em territ6rio nacional, 606 encon­ seu espirito de iniciat iva. tram-se no concelho de Santa Maria da Feira. Neste Actualmente, as rolhas produzidas em Santa concelho a industria corticeira emprega 10.500 opera­ Maria da Feira vedam os mel hores vinhos de todo o rios repartidos da seguinte forma por sexo: mundo, nomeadamente de Franc;:a, Alemanha, Estados

Unidos, Australia, ltalia, entre outros, onde se inclui, Quadr o I logicamente, Portugal e as suas diversas regioes vini­ Pessoal ao servi~o colas. E. l6gico e normal o constante crescimento na Homens 5.300 utilizac;ao da rolha de cortir;:a , pois e 0 unico produto Mulheres 5.200 vedante natural que assegura todas as caracteristicas Total 10.500 e qualidades dum bom vinho. Fonte: APCOR 2001 A produc;:ao de cortic;:a constitui, desde ha muito, uma actividade econ6mica relevante para o concelho de Santa Maria da Feira, com importancia crescente Nota-se que o sector possui um grande equilibria desde a segunda metade do seculo XIX, e correspon­ no emprego, tanto no sexo feminine como no sexo dendo a um dos mais importantes produtos singulares masculine, sendo a diferenc;:a apenas de 100 postos de de exportac;ao nacional. tra balho. A transformac;:ao industrial de cortic;:a desenvol­ Destes 10.500 postos de trabalho directo, veu-se mais lentamente, adquirindo importancia no dependem sensivelmente 50.000 pessoas dos 130.000 norte do pais principalmente a partir dos anos ses­ habitantes do concelho de Santa Maria da Feira. senta do seculo XX, quando de desenvolveu de modo Santa Maria da Feira e o maior centro corticeiro determinante a capacidade transformadora local, que do mundo, onde sao produzidas, diariamente, cerca de levou o pais a exportar principalmente produtos aca­ 35 milhoes de rolhas de cortic;a, natural, aglomerada e bados em detrimento das exportac;oes de materia­ tecnica. Deve-se salientar tambem o facto da rolha de -prima e produtos semi-manufacturados. cortic;a natural ser o alicerce de toda a industria. Na De facto, ate 1960, as materias-primas repre­ fa bricac;:ao de rolhas de cortic;:a o centro corticeiro de sentavam mais de 75% do volume total de materiais de Santa Maria da Feira representa 90% da produc;ao cortic;a exportados, reduzindo progressivamente o seu nacional de rolhas de cortic;:a. A industria granuladora peso para cerca de 50% em 1965. A importancia da e aglomeradora de cortic;a tem tambem uma forte cortic;:a na economia do norte do pais tem tido um implantac;:ao neste concelho. Ha varios anos existia

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exclusivamente no centro e sui do pais, merce do mente, em 2000, foi criada somente uma [mica condicionamento industrial entao existente. empresa.' A industria da cortic;:a tern uma grande impor­ ---··· .. ... ···-·------·-. ··-·· ...... tancia no concelho de Santa Maria da Feira, pais 50% da economia deste concelho depende da cortic;:a, o 2010 que nos leva a concluir que esta e a actividade mais 2000 importante do concelho, ficando a outra metade c 1990 dependente das outras actividades econ6micas exis· ""<.>- -~ 1980 tentes no concelho. Possui uma tecnologia qualificada t; .,'-' 1970 e de origem nacional. Tern ao seu servic;:o um Centro 1960 . (ij"' de Formac;:ao Profissional da Cortic;:a CINCORK que se Cl 1950 localiza em Rio Meao, um Centro Tecnol6gico CTCOR, 1940 em Santa Maria de Lamas - Unidade Norte (sede) e 1930 Unidade Sui e ainda a Associac;:ao Portuguesa de Cor­ 3 5 7 9 I I 13 15 17 19 21 tic;:a APCOR que se localiza tambem em Santa Maria de N° de Empresas Lamas. ------· Figura 1 Data de cria~ao das empresas inquiridas 4. Analise da industria corticeira no Concelho de Fonte: lnqueritos Realizados Santa Maria da Feira atraves do recurso a inqueritos realizados a empresas Quando se perguntou as em presas qua l a super­ ficie total ocupada e, ap6s o catculo da media para as Este capitulo tern como suporte 22 inqueritos 22 empresas, depreendeu-se, que a superficie total que a Autora realizou junto das industrias deste sector ocupada era em media de 6802 m2 por empresa. no concelho de Santa Maria da Feira. A realizac;:ao dos Na ultima pergunta deste primeiro grupo per­ inqueritos foi parcela muito importante deste traba­ guntou-se a cada inquirido se a sua empresa fazia lho, pais nao s6 recolheu as respostas ao questionario parte de uma empresa com va rios estabelecimentos. (Anexo 1) que realizou, mas tambem vinte e dais Apenas tres responderam afirmativamente, duas eram testemunhos de pessoas que conhecem muito do etas pr6prias a sede da empresa e a outra tinha a sede sector e que estao a par dos problemas, das potencia­ em Santa Maria de Lamas. De entre est as tres, lidades, das carencias, das necessidades, dos rumos somente duas tinham filiais no estrangeiro, em paises que o sector enfrenta. Teve tambem a oportunidade como a Franc;:a, ltatia, Espanha, Holanda, Africa do de visitar algumas delas e, assim, tamar conhecimento Sui, Chile, EUA, Brasil e Australia. Daqui se depreende de todo o processo de fabrico, desde a selecc;:ao da que o sector corticeiro portugues tenta ganhar terreno cortic;:a ate a contagem e consequente armazenamento e competitividade por todo o Mundo. da rolha para venda, da quali dade do produto e da mao-de-obra utilizada. 4. 2. Actividades As empresas inquiridas estavam localizadas nas freguesias de Santa Maria de Lamas, Moselos, Fiaes, Quando se questionou as empresas sabre qual a Sao Joao de Ver, Lourosa e Pac;:os de Brandao. tecnica que utilizavam no seu processo de fabrico, se era tradicional ou moderna, 12 empresas responderam 4. 1. Caracterizac;:ao da empresa que utilizavam uma tecnica de produc;:ao moderna, 7 responderam que utilizavam ainda uma tecnica de Assim, ao analisar a Figura 1, pode concluir-se produc;:ao tradicional e apenas 3 empresas responde­ que, das 22 empresas inquiridas, somente uma delas ram que utilizavam as duas tecnicas em simultaneo foi criada antes de 1960, tendo sido fundada em 1958. (Figura 2). Esta ja fez urn grande percurso desde que foi criada Um exemplo, foi o caso de uma pessoa inquirida ate aos nossos dias, de tal forma, tern vindo a evoluir que disse que a brocagem era feita com uma tecnica e a adaptar-se as novas exigencias do mercado, tendo tradicional, mas no restante processo utilizavam uma mesmo em 1982 uma nova forma de gestao. Outra foi tecnica moderna. As que responderam que utilizavam criada na decada de 60. Na decada de 70 foram cria­ exclusivamente a tecnica tradicional, faziam -no para das mais 3 empresas. Os anos 80 foram os anos em que surgiram mais empresas, ou seja, 19 empresas. Nos anos 90 foram tambem criadas 7 empresas. Posterior- 1 Uma empresa nao respo ndeu

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preservar a tradi<;ao. As empresas que utilizam uma todo o mundo a procura desta mercadoria fazia-se tlknica de fabrico moderna estao a partida mais sentir durante todo o ano. As 8 respostas afirmativas preparadas para prevalecer no futuro. Mas isto pode apontam entao como epoca morta, o periodo com­ induzir em erro, vista que uma das empresas que preendido entre Agosto e Dezembro, sendo este ultimo respondeu usar uma tecnica exclusivamente tradicio­ o mes mais referido. Houve mesmo um empresario que nat encontra-se muito bern no mercado e, atem disso, referiu que a produ<;ao depende da conj untura econ6- era uma das maiores empresas inquiridas. mica. Como periodo de ponta foram referidos os meses de Mar<;o a Maio.

------· ----~------···: Num ultimo ponto deste grupo de quest6es, inquiriu-se as empresas se tinham perspectivas de aumento de produ<;ao. Das 22 empresas inquiridas, 13 responderam que nao e 9 responderam que sim. As • Tradicional empresas que responderam que nao tinham perspecti­ D Modema vas de aumento da produ<;ao, deram esta resposta .D Ambas devido a actual situa<;ao de conjuntura do mercado, referindo mesmo que se a situa<;ao do mercado esti­ vesse mais favoravet gostavam de aumentar a sua produ<;ao. Das 9 que responderam afirmativamente, somente 3 disseram qual seria a percentagem preten­ dida, sendo os vatores referidos de 5%, 10% e 20%. As Figura 2 restantes referiram que tinham perspectivas de Tecnica utfffzada no processo de fabrico Fonte: fnqueritos Reaffzados aumento da produ<;ao mas nao souberam especificar quat a percentagem pretendida.

Num segundo ponto, perguntou-se as empresas, 4.3. Fornecimento das materias-primas, ener­ se o seu estabelecimento tem sido alva de remodela­ gia e produ<;ao de residues ~ao tecnica. Somente 5 empresas responderam que nao, e 17 responderam que sim. Das 17 empresas que Neste terceiro btoco de perguntas, as empresas afirmaram terem feito remodela<;ao tecnica no seu foram questionadas sobre quais eram as principais estabetecimento, algumas responderam que o faziam materias-primas recebidas, o tipo de energia utilizada sucessivamente, anuatmente, outras que o faziam ao e se havia problemas de polui<;ao. Longo dos anos conforme sentiam necessidade, apenas Quante as principais materias-primas recebidas, 3 afirmaram ter feito a ultima remodela<;ao ja ha todas as empresas inquiridas referiram a corti<;a como alguns anos, 2 em 1995 e uma em 1996. As restantes principal materia-prima recebida. No que concerne a tern tido uma remodela<;ao mais constante. origem geogratica das materias-primas, 14 empresas Quanta ao motivo pelo quat etas tem efectuado responderam que toda a corti<;a recebida era de ori­ a remodela<;ao tecnica, era essencialmente para gem nacional, vinda do Alentejo (Figura 3). Uma das acompanhar a evolu<;ao da tecnologia e as exigencias empresas inquiridas nao respondeu porque trabatha do mercado; em segundo Lugar, foi peto aumento da por subcontrata<;ao e, portanto, as materias recebidas produ<;ao com o mesmo numero de empregados e vem da empresa para quem trabalham. As restantes maior qualidade do produto. Curiosa foi o facto de s6 7 empresas recebem materia-prima quer de origem uma empresa ter respondido que, para atem das nacional quer do estrangeiro sendo entao o principal raz6es acima referidas, efectuou a remodela<;ao tam­ pais referido a Espanha. Nao nos esque<;amos que este bern para methorar as condi<;6es de higiene, pois o pais e 0 segundo maior produtor de cortic;:a a nivel antigo local nao oferecia condi<;6es. mundial (Portugal eo primeiro). Numa outra questao, perguntou-se as empresas Num segundo ponto deste bloco de perguntas, se havia algum caracter sazonal da produ<;ao, ao que questionou-se as empresas quanto ao tipo de energia 14 responderam que nao e 8 deram uma resposta utilizada na produc;:ao, 18 empresas responderam afirmativa. As empresas que deram uma resposta exclusivamente a etectricidade como o tipo de energia negativa, dizem que produzem sempre a mesma quan­ utilizado, 3 a electricidade e o gas e apenas uma tidade e se em atguma altura do ano se vender menos respondeu a electricidade e a lenha. Quanta as fontes fica em stock para as alturas do ano em que a procura de energia, 17 empresas responderam que a energia e maior. Tambem referiram que nao havia caracter utilizada era da rede publica, 3 responderam que o gas sazonal na produ<;ao porque como exportavam para utilizado era de rede privada e a electricidade da rede

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publica. Apenas 2 empresas responderam que a totali­ 4.4. Mercado dade da energia utilizada ·era de fonte privada. Quando questionadas sabre o destine geogratico ------····- dos seus produtos,3 apenas uma empresa respondeu que se destinava ao mercado regional, 8 responderam 80,0% que produziam exclusivamente para o mercado nacio­ nal, enquanto 3 responderam que produziam exclusi­ 60,0% vamente para a exportac;ao. As 8 restantes empresas 4 0,0% l responderam que produzem para o mercado nacional bem como para a exportac;ao (Figura 4). 20,0% 0,0% J____ '-- _...J______J!,__ _J__ _j ·------Nacional Internacional

------. ------50,0%------Figura 3 Origem das materias-prlmas recebidas Fonte: lnqueritos Realizados ::20,::~~0% ,_- =---- , ~ f- 100%- _ _ Do inquerito realizado as empresas relativa­ , I \ __ -:'\ mente aos problemas de poluic;ao, 18 empresas afir­ 0,0%· ·- --0. --- ._.., maram nao ter problemas, apenas 4 responderam que Nacional Exporta9iio Ambas sim . Esses problemas estao basicamente relacionados com a agua da cozedura da cortic;a, aguas da Caldeira,

e problemas relacionados com o po. Duas empresas Figura 4 afirmaram mesmo que tem prevista a construc;ao de Destino geografico das mercadorias uma ETAR para o tratamento especifico das aguas. No Fonte: lnqueritos Realizados que se relaciona com o problema do p6 gerado, este e juntado em sacos especificos para o efeito, onde e Os produtos vendidos por estas empresas sao aspirado para a "casa do po" com a renovac;ao dos basicamente as rolhas de cortic;a, pontualmente, sacos. Quando se questionou as empresas se tinham temos tambem as aparas e os granulados. Os principais 2 conhecimento da politica ambiental vigente , apenas 3 paises referidos como destino da produc;ao sao a Espa ­ responderam que nao. As restantes deram uma res­ nha, a Franc;a, a ltalia, os EUA e a Alemanha . Uma das pasta positiva. No que se prende com o preenchimento empresas inquiridas nao coloca a sua produc;ao no do mapa de residues, somente 10 empresas preen­ mercado, pois produz exclusivamente para uma unica chem o mapa, o que representa 45% das empresas empresa (subcontratac;ao), isto acontece porque a inquiridas. empresa recebe as materias-primas e os produtos A razao que apresentaram para nao preenche· sucedaneos, transformando-os em blocos de cortic;a rem o mapa foi que os residues produzidos, como o p6 natural, ou seja, nao compra nem vende produtos e os aglomerados, sao depois aproveitados para outros transformados. Estes blocos sao depois transformados produtos como os pavimentos termicos, ou rolhas de em rolhas tecnicas, em componentes para calc;ado e aglomerado de cortic;a . 0 sector da cortic;a e um sec­ em folhas de decorac;ao pela empresa que os subcon­ tor que nao produz muitos residuos, porque todos os tratou. "residues" produzidos sao aproveitados para 0 fabrico Todas as empresas inquiridas que colocam a sua de outros produtos. Por exemplo, os desperdicios das produc;ao no mercado, quer nacional, quer internacio­ rolhas e dos artigos decorativos, sao utilizados na nal, fazem-no pela concorrencia. industria granuladora, nos produtos de aglomerado negro e de aglomerado branco. 0 p6 produzido e 4.5. Os trabalhadores dos estabelecimentos depois aproveitado como combustive! para as caldeiras Como se pode observar na Figura 5 as empresas ou en tao e transformado em produtos quimicos. do sector da cortic;a nao utilizam muita mao-de-obra, pelo que se pode dizer que neste sector predominam

2 3 Empresas nAo responderam 3 2 Empresas nAo responderam

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essencialmente as pequenas e medias empresas. Nao idade minima obrigatoria. Quanto a idade maxima dos encontramos nenhuma grande empresa se tivermos em operarios do estabelecimento, as respostas foram linha de conta a classifica~ao referente ao numero de variadas. Mas todos fizeram questao de realr;:ar que trabalhadores ao servi~o. De todas as empresas inqui· admitiam empregados ate aos 65 anos de idade, desde ridas, aquela que tinha mais t rabalhadores efectivos que tivessem capacidades para laborarem. era a que contava com 276 trabalhadores ao servi~o . l 300 1

I ~ 250 80% "1:1 ~ 200 60% ; [ 40% ' C Ma~:i~

I ~ 15o 21)% C feminino

~ 100 1)% ~~~--~------~ z I l S 1 9 II ll IS 17 19 21 50 N• de Empresas I ______j 9 II 13 IS 17 19 21 -----·------··----

N" de Empresas Figura 6 Compara~ao dos funcionarios efectivos, por sexo Figura 5 Fonte: lnqueritos Rea!tzados Numero de traba!hadores ao servi~o Fonte: lnquerltos Rea!tzados No ultimo ponto deste grupo de questoes, inqui· riu-se as empresas sobre qual a origem geogrcifica da No que se relaciona com a distribuir;:ao do mao-de-obra, ao que todas responderam ser de origem emprego por sexos, esta e muito semelhante, como se local e regional. pode observar na Figura 6. Do total das 22 empresas inquiridas, 48% do trabalho e efectuado por mulheres, enquanto 52% do mesmo recorre a mao·de·obra mas­ 4.6. 0 capital do estabelecimento culina. De um modo geral , o subsector da brocagem utiliza na sua grande maioria mao-de-obra masculina, Neste sexto bloco de questoes inquiriu-se as enquanto o subsector da selecr;:ao da rolha de corti~a empresas sobre a proveniencia do seu capital. Sete utiliza na sua totalidade mao-de-obra feminina. lsto empresas responderam que o capital era proprio, porque a selec~ao da rolha necessita de mao-de-obra outras 7 responderam que o capital proprio se encon­ destinada a trabalhos mais minuciosos, enquanto que a trava dividido por quotas pelos socios da empresa. Seis brocagem nao necessita deste tipo de qualidade. No responderam que parte do capital era proprio, e o que toea a categoria socio-profissional desta mao-de· restante tinha como proveniencia o credito bancario. -obra, sao basicamente operarios, alguns deles qualifi· Uma outra empresa respondeu que o capital tinha cados, enquanto outros foram adquirindo a especia· como proveniencia outras origens nao especificadas, e liza~ao ao Longo dos anos de t rabalho no sector. por fim uma empresa nao respondeu afirmando que No que se prende com a forma~ao profissional, esta informa~ao era reservada. 12 em presas responderam que os seus trabalhadores ,------·----·- nao a recebem, 4 empresas responderam que os seus trabalhadores recebem formar;:ao profissional dent ro da empresa, ou seja, no local de trabalho. As restan· tes 6 empresas disseram que os seus trabalhadores C·-'sim j recebem a forma~ao profissional nos centros especifi· ~C N1o . cos (CINCORK). Quando se perguntou aos inquiridos qual era a idade minima exigida para ser admitido no estabele· cimento, apesar de alguns terem respondido a idade Figura 7 do empregado mais novo, todos responderam que a Descendentes de Industrials Corticeiros idade minima exigida era os dezasseis anos, pois e a Fonte: lnquerltos Rea!izados

275 .· Gcografia Sandra Custodia

Quando se perguntou as empresas se 0 dono e truc;:ao de um "Eixo das Cortic;:as" que se transformaria descendente de familiares industrials no sector da numa Estrada Nacional e na primeira ligac;:ao ao futuro corti~a. 27% das empresas inquiridas, 6, responderam IC2. Esta seria uma estrada alternativa que iria facili­ que nao. As restantes 16 empresas, 73%, responderam tar o transporte das materias-primas e o escoamento que sim (Figura 7), que normalmente eram filhos e dos produtos acabados. netos de industrials corticeiros. No que se prende com a mudanc;:a de localiza­ c;:ao, perguntou-se as empresas se esta seria favoravel 4. 7. Localiza~ao a actividade da empresa. Dezasseis empresas respon­ deram que nao, dizendo mesmo que tinham um bom Quando se perguntou aos empresarios qual foi a posicionamento para adquirir materia-prima e sobre­ razao da loca l iza~ao na altura da cria~ao do estabele­ tudo para o t ransporte e escoamento do produto cimento, pediu-se que referissem quais os factores acabado. Cinco empresas responderam que a mudanc;:a que influenciaram muito, os que foram razoavelmente seria favoravel. Destas, 2 referiram que seria favoravel importantes e quais os que nao tiveram nenhuma a localizac;:ao numa zona industrial. As restantes 3 importancia nessa decisao. Como tal, cada empresa referiram a necessidade de uma maior acessibilidade; poderia assinalar mais do que uma razao para a locali­ aumento das instalac;:oes; de modo a ficarem proximo za~ao do estabelecimento. Portanto, aqui vai -se ter do "corac;:iio da cortic;:a ", que se encontra a sul do um leque muito alargado de respostas•. Assim, os concelho, enquanto que a industria corticeira se factores mais relevantes para a localiza~ao das empre­ encontra a norte do concelho. sas foram: a acessibilidade do sitio para o escoamento dos produtos acabados, o terrene disponivel e o meio 4.8. lnovac;:iio industrial, isto de acordo com as respostas de 12 empresas. De seguida, com 8 respostas como muito No oitavo grupo de questoes perguntou-se as importantes para tal decisao temos: a possibilidade de empresas se tinham previsto algum tipo de inovac;:ao recrutamento em fun~ao do mercado de trabalho, a relativamente ao produto produzido e tambem relati­ qualifica~iio profissional da mao-de-obra, assim como vamente ao processo de fabricac;:ao. Questionou-se a acessibilidade do sitio para a chegada de materias­ ainda se tinham algum projecto em coopera~ao com ·primas, e os locais industrials vagos. Tambem com outras instituic;:oes como universidades, instituic;:oes de alguma importancia tem-se a referencia do factor investiga~iio ou centres tecnol6gicos. tradic;:ao, pois este sector tem alguma importancia e No que se prende com a inovac;:ao, somente uma antiguidade neste concelho. empresa respondeu que nao tinha previsto nenhum Facto relevante e que s6 uma empresa referiu tipo de inova~ao quer a nivel do produto quer a nivel como muito importante a ajuda do Estado na escolha do processo de fabrica~iio. No que diz respeito a da localiza~ao do estabelecimento. E curioso tambem inovac;:iio a nivel do produto, as empresas tinham tres o facto de nenhuma empresa inquirida ter referido opc;:oes que poderiam assinalar (podiam dar mais do algum tipo de ajuda ou iniciativas da autarquia. Pelo que uma resposta), assim, 3 empresas responderam contrario, todas as empresas inquiridas responderam que tinham previsto um novo produto dentro da que a ajuda/iniciativa da autarquia nao teve qualquer mesma gama produzida, 2 previam um novo produto importancia para a localizac;:ao do estabelecimento, nao produzido anteriormente e 17 que tinham previsto porque eta simplesmente nao existiu. o melhoramento do produto existente. Tambem se confrontou as empresas com o Ao nive! do processo de fabrica~ao, as empresas seguinte facto: se encontravam hoje inconvenientes tambem tinham tres op~oes que poderiam assinalar no que respeita a superficie ou aos acessos. Catorze (tambem podiam dar mais do que uma resposta). empresas responderam que nao, 4 empresas responde­ Oeste modo, 14 empresas responderam que tinham ram que encontravam inconvenientes no que respeita previsto pequenos melhoramentos no processo de a superficie, sendo o principal motivo apontado a fabricac;:iio, 17 que tinham previsto a actualizac;:ao de falta de espa~o. Duas responderam que encontravam equipamentos dentro da gama existente e 9 uma inconvenientes relativamente aos acessos, afirmando moderniza~iio tecnol6gica com recurso a grandes 5 mesmo que a EN1 "esta muito dificil", pois actual­ investimentos • mente existe muito congestionamento no transite. Em relac;:iio a pergunta se tinham algum projecto Alfredo Henriques, presidente da Camara Muni­ em cooperac;:iio com outras instituic;:oes, todas as cipal de Santa Maria da Feira defende mesmo a cons- empresas inquiridas responderam que nao, 0 que nao e

' 1 Empresa nao respondeu 5 3 Empresas nao responderam

276 A industria corticeira em Santa Maria da Feira. Potencialidades e fragilidades n• 2 1123 - 20021 04

nada favoravel para o sector, pois se as empresas facto de conseguir alterar o seu mercado de escoa­ tivessem algum tipo de projecto em coopera~ao com mento dos produtos e entrar no mercado exportador, institui~iies, quer publicas, quer privadas, poderia porque esta era uma das empresas que produzia exclu­ surgir algum produto novo que viesse tornar este sivamente para o mercado nacional. Tambem rele· sector ainda mais competitive. Do mesmo modo, a vante e o facto de urn empresario ter referido que o nivel do processo de fabrica~ao, poderia surgir algum seu maior desafio era a continua~ao da empresa tipo de maquina com tecnologias mais avan~adas que "manter-se de pe", ou seja, conseguir que a empresa facilitassem todo o processo produtivo, pois a nossa nao va a falencia. Outro problema que este empresa ­ economia corticeira, como a mais importante a nivel rio tambem referiu foi a falta de qualifica~ao dos mundial, era aquela que sairia mais beneficiada com empresarios e dos trabalhadores, que ainda tern uma essa inova~ao. mentalidade muito fechada e antiquada, pois nao nos esque~amos que uma grande parte destes empresarios 4. 9 Perspectivas de futuro nao possui grandes qual i fica~iies uma vez que eram simplesmente operarios que posteriormente se esta­ Neste ultimo ponto do inquerito, perguntou-se beleceram. as empresas quais eram as perspectivas de futuro, pedindo que assinalassem duas das op~iies fornecidas no inquerito que tivessem previsto para os pr6ximos 5. 0 futuro do sector corticeiro doze meses. Tambem se perguntou quais os maiores desafios/problemas a enfrentar nos pr6ximos doze A maioria dos produtos oferecidos pelo sector meses. atingiu urn grau de maturidade elevado. No entanto, No que diz respeito ao que as empresas tinham existem alguns trunfos que jogam a favor da industria previsto para o futuro, as duas respostas mais assina­ corticeira portuguesa. Em varies estudos realizados no ladas foram as op~iies de: adquirir maquinas e equi­ ano de 2002, foram identificados alguns pontos fortes, pamentos, com 12 respostas; modificar/melhorar que devem ser valorizados, mas tambem alguns pontos formas de gestae e modificar/melhorar/substituir fracos que devem ser ultrapassados, para que este produtos, com 8 respostas em ambas as op~iies. As sector se desenvolva ainda mais, nao perdendo a op~iies menos referidas foram as de aumentar o importancia e o peso que representa na economia numero de empregados, pois disseram que na situa~ao nacional. econ6mica em que nos encontramos actualmente esta era uma hip6tese muito dificil de alcan~ar. A outra 5. 1. Os pontos fortes do sector resposta menos assinalada foi a que dizia respeito a investir/constituir departamentos de lnvestiga~ao & Dos pontos fortes identificados pelos estudos Desenvolvimento (I&D), pois como se viu anterior­ realizados sao de salientar OS seguintes: Portugal e 0 mente, nenhuma empresa tinha projecto com institui­ primeiro produtor, transformador e exportador mun­ ~iies. dial de corti~a; e o pais com maior area ocupada por Os maiores desafios/problemas a enfrentar nos montado de sobro. Outro ponto forte do sector e a pr6ximos 12 meses referidos pelos 22 empresarios sustentabilidade: a corti~a oferece a possibilidade de inquiridos foram, sem duvida, a montante do processo se produzir um vedante natural, renovavel e ecol6· produtivo, os elevados custos da materia-prima, pois gico. A tecnologia: a industria portuguesa esta a con ­ nao existe uma politica que defina o pre~o desta, seguir recuperar rapidamente de algum atraso, exis­ sendo os produtores a definirem os pre~os da corti~a tindo algumas empresas bern equipadas tecnologica­ natural. mente. E: reutilizavel: uma rolha pode voltar a ser uti· A jusante do processo produtivo, os dois facto· lizada para fechar a garrafa. E por fim, o ultimo factor res que mais indicaram foi, sem duvida, a actual a favor da corti~a e a tradi~ao nalguns paises do uso recessao econ6mica nacional e tambem a nivel mun· da rolha: o som familiar e agradavel que esta faz ao dial, pois muitas destas empresas inquiridas trabalha sair da garrafa, 0 chamado "plop", e parte da tradi~ao com o mercado exportador, e a concorrencia actual ligada ao consumo de vinho. dos vedantes sinteticos, ou seja, os plasticos. Facto que tambem se achou curioso foi o de um 5.2. Os pontes fracos do sector empresario ter respondido que o maior desafio a enfrentar era conseguir "suportar o aluguer do esta· Dos pontes fracos reconhecidos pelos estudos belecimento", pois o local era arrendado eo seu pre~o elaborados sao de real~ar os seguintes: as unidades bastante elevado. Urn empresario tambem referiu o industriais sao, na sua maioria, de reduzidas dimen·

277 Sandra Custodia

s6es e recursos e ainda recorrem a uma mf10-de-obra Portugal o maior produtor transformador e tambem pouco qualificada. Outros pontes fracas do sector sao: exportador de cortic;:a a nivel mundiaL a i nvestiga~ao e desenvolvimento limitados quanta a apresenta~ao de novos produtos; a politica florestal desadequada ao sector e consequente sobre-explora­ ~ao do montado de sobro; o facto de Portugal ser lider Bibliografia mundial no fornecimento de rolhas de corti~a mas, no entanto, o lfder mundial na produ~ao de vinhos e a Fran~a - Por fim, e de salientar a concorrencia das materias de substitui~ao da corti~a. que estao a Anuario fstatistica do Regiao Centro. ganhar for~a, ou seja, a concorrencia dos "plasticos".

Anuario fstatistico do Regi/Jo Norte.

Considera~6es Finais BECATIINI, Giacomo (1992 ) - 0 distrito marshaliano: uma noc;:ao socioecon6mica. pp. 20, 21, 22, 30 e 54.

0 sector da transforma~ao de corti~a continua a BERNARDO, Hernani de Barros - A industria corticeira em ser um sector de grandes ambivalencias. Sem politicas Portugal: algumas notas geograficas e ecanomicas. formativas consistentes e estruturadas, pode vir a p. 185. enf rentar, neste campo e num futuro proximo, dificul­ dades de adapta~ao as novas tecnologias. Este facto CAETANO, Lucilia de Jesus (1986) - A industria no distrito de tera um grande impacto, devido ao peso do sector no Aveiro, analise geogr6fica relativa ao eixo rodoviario principal (EN n° 1) entre a Malaposta e Albergaria-a­ tecido social locaL Assim, deve merecer uma maior Nova. Edi<;ao Comissao de Coordenac;:ao da Regiao aten~ao dos empresarios, e sobretudo do poder cen ­ Centro, Coimbra,p. 11. tral e local, que deveriam incentivar e dar maior apoio a todas as industrias que se encontrem a laborar e, "Camara propoe ao governo execue;ao do Eixo das Corti<;as", tambem, incentivar a cria«;ao de mais algumas para Terras do Feira, 17 de Junho de 2002. tornar este sector ainda mais competitive e dinamico. "Cork Ace; aa aumenta as Competencias da indus t ria" , Diorio Estes, devem tambem, de forma muito clara, incenti­ fconomico, 18 de Fevereiro de 2003; var a forma«;ao quer dos proprios empresarios que necessitam de ter uma mente com horizontes mais fstatisticas do Associa<;oo Portuguesa do Corti<;a (APCOR) . alargados, quer tambem da forma~ao dos operarios fstatisticas da produ<;oo industrial 1999, anode edi<;ao 2001. que, de uma forma muito generica, tem pouca forma­

«;ao, e criar condi«;6es aliciantes para os que se envol­ fstatisticas das empresas 2000, anode edic;:ao 2002. verem nesta aposta formativa. Outro aspecto impor­ tante seria a cria~ao de uma politica de defini~ao do fstatisticas do Comercio lnternacional 2000, ana da edic;:ao prec;:o da materia-prima cortic;:a, pois, sem esta poli­ 2002. tica sao os pr6prios produtores que definem o seu GAFARD , J. L. e ROMANI , P. M. (1990) - A propos de Ia pre«;o, podendo este oscilar de acordo com as "vonta­ localisation des activites industriel/es. p. 175. des dos produtores". Existem muitas pequenas empre­ sas a trabalhar isoladamente, sem terem qualquer GIL, Luis (1998) · Corti<;a, Produ<;oo, Tecnologia e Aplica<;Cio. visao do sector como um todo. Para que estas empre­ Edi<;ao INETI , Lisboa; sas integrem um plano que envolva todo o sector, tern GIL, Luis (2000) · Hist6ria do Corti<;a. Edic;:ao APCOR, Santa de se remodelar, tern de criar um espirito empresarial Maria de Lamas; que seja inovador e que persiga muito mais do que o mero lucro e/ou a sobrevivencia a curto prazo. "Manual de Boas prciticas ambientais e energeticas" (2000). In: Algo que tambem parece ser relevante e o facto Industria do Corti<;a. Setembro. de este ser um sector que apresenta um dinamismo MARQu£s, Ana Paula Pereira e EvARISTo, Isabel M. P. da Silva · muito grande tanto a nivel local, regional e nacional Motiva<;oes no trabalho do operario corticeiro, como tambem a nivel internacionaL 198811989. Concelho de Santa Maria da Feira. Numa epoca em que Portugal nao se pode orgu­ lhar de muitas glorias, devia privilegiar este sector, MARSHALL, Alfred (1920) · Principles of Economics. 8' Edir;:ao, Londres. pois cabe a ele a honra de colocar o nome de Portugal em primeiro Lugar a nivel de produc;:ao, transforma~ao MIRA, Jose d' Almeida - Origem do industria rolheira no Norte e expo rta~ao nos mercados int ernacionais, nao seja do pais.

278 A industria corticeira em Santa Maria da Feira. Potencialidades e fragilidades n• 21123 • 200ZI0-4

OuVEIRA, Leone! · A cortft;a. Grupa Amorim. SEQUEIRO, Cecilia M. • Alves e PIRES, Maria do Rosario Ramos (1989) · Para uma breve analise da [ormac;ao profis· "Principe de Gales aliado das rolhas de corti~a ataca vedantes sional no sector corticeira. Porto, Setembro. sint eticos", Terras da Feira, 19 de Junho de 2002; SILVA, Eduarda · A industria corticeira e o concelho da Moita, RODRIGUE5, Gaspar (1989) - Perfil do Empresaria corticeiro. projecto de musealiza~ao da fabrica Soconquex. Esbac;o de uma analise. Setembro. "Suberav, a plataforma de coopera~ao da Fileira", Diaria 5ANT05, Carlos Oliveira (1996) · 0 Livro da Cortit;a. pp. 43, 45 e 49. Economico, 25 de Fevereiro de 2003;

SCHMIDT, Ana {1983) - Cortit;a e artigos de cortit;a. Banco de "Tit ulo Oesconhecido", Diario Economico, 11 de Mar~o de Fomento Nacional, Lisboa, p. 13. 2003.

279 Sandra Custodia

Anexo 1 lnquerlto Modelo de inquerito utilizado para a realiza~ao do trabalho.

1. Caracte rizas;lio da empresa 1.1. Nomedaempresa,______

1.2. Localiza~iio· ______1 . 3. Ramo de actividadec ______1. 4. Natureza juridica.______1. 5. Origem do capital______

1.6. Data de cria~ao:

1.6. Breve hist6ria de cria~ao da empresa,______

1. 7. Data de implanta~ao.______1.8.Areaocupada______1.9. 0 estabelecimento faz parte duma empresa com mais do que um estabelecimento? Sim _ _ Nao _ _ Em caso afirmativo onde esta a sede?______Tern filiais no estrangeiro? Se sim onde? ______

2. Actividades 2.1 . Qual a tecnica utilizada?_Tradicional ______,Moderna? ______

2.2. 0 estabelecimento tem sofrido remodela~ao tecnica? Sim Nao ______Quando ______

Po~ue~------2.3. Fabrico principal______Outros fabricos importantes ______

2.5. Ha caracter sazonal da produ~ao? Sim ______,Nao ·____ _ Em caso afirmativo, em que alturas do ano se verifica um periodo de ponta ou uma esta~ao morta?______

0 ritmo de produ~ao esta ligado a:

Varia~aosazona ld a procura?______Disponibilidade de mao-de-obra?______

2.6. Tern perspectivas de aumento da produ~ao? Sim______Nao______.Qual a percentagem?______

Quale 0 ponto 6ptimo da produ~ao?______

3. Fornecimento das materias-primas

3. 1. Principals materias-primas recebidas?.------­ Qual a origem geogrcifica? Nacional? ______Percentagem?______Estrangeiro? Qual o pais? ______Percentagem? ------3.2. Tipo de energia utilizada?______Fontes de energia? ------Privada?______Publica? ______3.3. Ha problemas de potuis;ao? Sim, ______Nao .____ _ Como sao resotvidos? ______Quantidade de residuos produzidos?______Tipo de residuos produzidos?______Tern conhecimento da politica ambiental vigente?______Preenche o mapa de residuos? ______

280 A industria corticeira em Santa Maria da Feira. Potencialidades e fragilidades n• 21123 • 2002104

4. Mercado 4 .. 1 Destino GeogrMico Produtos vendidos (de lnternacional Totals em acordo com a Local Regional Nacional Paises toneladas importancia)

5. Os trabalhadores do estabelecimento 5.1 Efectivos Dos quais mulheres? ------5 2 Estrutura profissional do pessoal do estabelecimento Categoria socioprotissional Numero Quadros Superiores

Admin ist ra~ao

lnvestiga~ao Tecnicos Quadros Medios Operarios Qualiticados Especializados Operarios nao especializados Pessoal de escrit6rio Outros

5.3. Onde os open\rios recebem forma~ao profissional?______Grau de escolaridade exigido______5.4. Qual a idade minima da mao·de·obra?______Qual a ldade maxima dos operarios do estabelecimento? ------5.5. Origem geografica da miio·de·obra?______

6. 0 capital e o estabelecimento 6. 1. Proveniencia do capital? Proprio ------Por ac~oes ______Credi to Bancario.______.outras origens______6.2. 0 dono e descendente de familias industrials?______6.3. Qual a naturalidade do proprietario do estabelecimento?______

7. Locallza~~o 7.1 . Causas na altura da cria~ao do estabelecimento (dos factores que se seguem seleccione os que sao: 1. multo importantes; 2. razoavelmente lmportantes; 3. nao importantes. ): a. Mercado de trabalho · Possibilidade de recrutamento ------. Qualifica~ao protissional da miio·de·obra ______· Nivel de salarios ------. Clima social ______b. Acessibilidade do sitio · Para chegada de materias·primas · Para escoamento dos produtos acabados c. Terrenos: · Disponivel ------­ . Equipado ------·P re~o ------

281 c d . . ., t. Gcografia Sandra Custodia

d. Locals industriais vagos ------e. Vantagens financeiras e fiscais ______

· Ajuda do estado ------. Ajuda da autarquia local ______

· Supressao de taxas de impostos ------f. Causas pessoais ------g. Factores de aglomera<;ao ______· Tradi<;ao ______• Meio industrial______

· lniciativas da autarquia ------­ . Proximidade dos fornecedores ------h. Outros factores ______7.2. Situa<;ao actual: As causas assinaladas sao ainda validas? Sim,______Nao Encontra hoje inconvenientes no que respeita a: · Superficie? • Acessos? ------7.3. A mudan<;a de localiza<;ao seria favoravel a actividade? Em que sentido?______

1. lnova<;ao 8. 1. Tipo de inova<;ao

Produw ------8.1.1. Novo produto dentro da gama produzida ------8.1.2. Novo produto nao produzido anteriormente______

8.1.3. Melhoramento do produto existente ------­ Processo de Fabrica<;ao ------8.1.4. Pequenos melhoramentos ______

8.1 .5. Actualiza<;ao de equipamentos, dentro da gama existente ------8.1.6. Moderniza<;ao tecnol6gica com recursos a grandes investimentos ______8.2. Tem algum projecto em coopera<;ao com outras institui<;iies? Sim ____Nao __ _ Se sim: Tipo Finalidade Localiza<;ao Universidade/institui<;ao investiga<;ao Centro Tecnol6gico Outra. Qual?

9. Perspectivas de Futuro 9.1. Nos pr6ximos 12 meses tem previsto (assinalar 2 op<;iies): 9.1.1. Modificar/melhorar formas de gestae, ______9.1.2. lnvestir/constituir departamentos de I&D ------9.1.3. Adquirir maquinas e equipamentos ------9.1.4. Modificar/melhorar/substituir produtos ------9.1.5. Alterar os mercados de produtos ------9.1.6. Melhorar a qualifica<;ao dos empregados ------9. 1.7. Aumentar o numero dos empregados ------9.2. Quais os maiores desafios/problemas a enfrentar nos pr6ximos 12 meses ------

Nome e contacto da pessoa inquirida______

Data de realiza<;ao do inquerito ___ / ____/2003

282