Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de- (Mitu mitu = Pauxi mitu) República Federativa do Brasil

Presidente LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Vice-Presidente JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA

Ministério do Meio Ambiente Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade Ministro CARLOS MINC Presidente Secretaria de Biodiversidade e Florestas RÔMULO JOSÉ FERNANDES BARRETO MELLO MARIA CECÍLIA WEY DE BRITO Diretoria de Conservação da Biodiversidade Diretoria do Programa Nacional de Conservação MARCELO MARCELINO DE OLIVEIRA da Biodiversidade BRÁULIO FERREIRA DE SOUSA DIAS Coordenação Geral de Espécies Ameaçadas ONILDO JOÃO MARINI FILHO Gerência de Recursos Genéticos LÍDIO CORADIN

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE SCEN, Avenida L4 Norte, Trecho 2 Diretoria de Conservação da Biodiversidade Coordenação Geral de Espécies Ameaçadas 70818-900 – Brasília – DF – Brasil Tel./fax: + 55 61 3316-1165 http://www.icmbio.gov.br

Edição Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade Coordenação Geral de Pesquisa Coordenação de Gestão da Informação SCEN, Avenida L4 Norte, Trecho 2, Bloco B, subsolo, Edifício-sede do Ibama 70818-900 – Brasília – DF – Brasil Telefone: + 55 61 33161229

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© dos autores 2007. Os direitos autorais das fotografias contidas nesta publicação são de propriedade de seus fotógrafos. Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas (Mitu mitu = Pauxi mitu)

Série Espécies Ameaçadas – nº 7

Luís Fábio Silveira Sônia Aline Roda André Maurício Melo Santos Elisiário Strike Soares Carlos Abs Bianchi

Colaboradores Christine Steiner Mercival Roberto Francisco Fábio Olmos Moacyr de Carvalho Dias Fernanda Junqueira Vaz Paulo H. Chaves Cordeiro Fernando Pinto Paulo Rodolfo César Fernando Siqueira Magnani Roberto Azeredo João Batista Cruz Rodrigo Mendonça Luís fábio Silveira Sônia Alina Roda Marcelo Américo de Almeida Wanderlei de Moraes Maria Cecília Martins Kierulff

Brasília – 2008 Produção do Plano Onildo João Marini Filho – CGESP/Dibio/ICMBio, Brasília, DF Paulo H. Chaves Cordeiro – Ornis Meio Ambiente e Workshop: 24 e 25 de abril de 2007 (Brasília, DF, Brasil). Desenvolvimento, Rio de Janeiro, RJ Paulo Rodolfo César – Cesp, Paraibuna, SP Este plano foi baseado nas discussões ocorridas durante o Roberto Azeredo – Fundação Crax, Contagem, MG workshop e nas informações fornecidas por especialistas Rodrigo Mendonça – Cesp, Paraibuna, SP no Brasil. Sônia Aline Roda – Cepan, Recife, PE Revisões do Plano Vanderlei de Moraes – Itaipu Binacional, Foz do Iguaçu, PR Será monitorado anualmente pelos participantes e Elaboração de textos: deverá ser revisado a cada 5 anos. Entretanto, revisões Luís Fábio Oliveira, Sônia Aline Roda, André Maurício Melo emergenciais poderão ser efetuadas a qualquer tempo, Santos, Elisiário Strike Soares e Carlos Abs Bianchi. caso alguma mudança inesperada ameace as populações destas espécies. Revisão técnica Luís Fábio Oliveira, Elisiário Strike Soares, Sônia Aline Coordenador Técnico da Série Espécies Ameaçadas Roda, Carlos Abs Bianchi, Fábio Olmos e Marcelo Américo Onildo João Marini Filho de Almeida. Documento-Base Revisão e Edição de Texto Grupo de trabalho que participou da reunião para Gráfica e Editora Diplomata a elaboração do Plano de Ação (listados em ordem alfabética): Capa Giancarlo Zorzin Christine Steiner – Unesp, Rio Claro, SP SOS Falconiformes – Centro de Pesquisa para a Conservação Elisiário Strike Soares – CGESP/Dibio/ICMBio, Brasília, DF das Aves de Rapina Neotropicais Fernanda Junqueira Vaz – Fundação Parque Zoológico de [email protected] São Paulo, São Paulo, SP Fernando Siqueira Magnani – Parque Ecológico de São Mapas Carlos, São Carlos, SP e Sociedade de Zoológicos do Confeccionados no Centro de Sensoriamento Remoto do Brasil (SZB) Ibama Luís Fábio Silveira – Departamento de Zoologia e Museu Noemia Regina Santos do Nascimento de Zoologia, USP, SP Coordenação Geral de Espécies Ameaçadas/Dibio/ICMBio, Marcelo Levy – Criadouro Científico e Cultural Poços de Brasília, DF. Caldas, Poços de Caldas, MG Pedidos de exemplares deste documento, dúvidas e su- Maria Cecília Martins Kierulff – Fundação Parque Zoológico gestões devem ser encaminhados para: Onildo João Marini de São Paulo, São Paulo, SP Filho ([email protected]). Mercival Roberto Francisco – UFSCar, Sorocaba, SP

Catalogação na Fonte Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

F723 Plano de ação nacional para a conservação do mutum-de-alagoas (mitu mitu = Pauxi mitu) / Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. – Brasília: ICMBio, 2008. XXp. : il. color. ; 29cm. (Série Espécies Ameaçadas, 7)

Bibliografia ISBN 978-85-61842-

1. Plano (Planejamento). 2. Aves (mutum-de-alagoas). 3. Ornitologia. 4. Extinção. I. Fábio Silveira, Luís. II. Roda, Sônia Aline. III. Santos, André Maurício Melo. IV. Soares, Elisiario Strike. V. Bianchi, Carlos Abs. VI. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio. VII. Diretoria de Conservação da Biodiversidade. VIII. Coordenação-Geral de Espécies Ameaçadas. IX.Título. X. Série.

CDU(2.ed.)598.2 Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas

Agradecimentos

Nossos sinceros agradecimentos aos membros do Comitê para a Conservação do Mutum-de-Alagoas pelo envolvimento intenso nas discussões. Aos mantenedores atuais da espécie, senhores Roberto Azeredo e Moacyr de Carvalho Dias, pela dedicação pessoal na preservação dos últimos espécimes existentes. Um agradecimento especial a Pedro Mário Nardelli, pela iniciativa pioneira que salvou esta espécie da extinção no final do século passado. Agradecemos aos proprietários dos remanescentes da Mata Atlântica nordestina que, juntamente com o Instituto para a Preservação da Mata Atlântica (IPMA), reconhecem a necessidade de manter os últimos hectares do habitat da espécie. A Fernando Pinto, que desde a década de 1970 luta para conservar as últimas matas de Alagoas. Aos pesquisadores do passado e do presente que, de uma forma ou de outra, participaram da construção do conhecimento e da conservação dos últimos exemplares do mutum-de-alagoas. A todas as instituições e pesquisadores que participaram da elaboração deste documento. Luís Fábio Silveira agradece, ainda, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de produtividade concedida à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pelos auxílios financeiros concedidos, e à World Pheasant Association, instituição da qual é Pesquisador Associado (Associate Researcher). Moacyr de Carvalho Dias (CCCPC) e Roberto Azeredo (Crax) auxiliaram em numerosas etapas das nossas pesquisas com Galliformes.

Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas

Apresentação

O Brasil é o país que detém a blumenbachii, os albatrozes e petréis (or- maior biodiversidade em todo o mundo. dem Procellariiformes), o pato-mergulhão Ao mesmo tempo, a intensificação de ati- Mergus octosetaceus, a arara-azul-de-lear vidades humanas, a exemplo da expansão Anodorhynchus leari, as aves de rapina desordenada de cidades e do aumento (ordens Cathartiformes, Falconiformes e da fronteira agrícola sobre áreas preser- Strigiformes) e a ordem Galliformes. vadas, tem gerado forte pressão sobre as O sétimo número desta Série é o diversas paisagens e biomas brasileiros. Plano de Ação para a Conservação do Mu- As principais conseqüências dessas ações tum-de-Alagoas (Pauxi mitu = Mitu mitu), são perda, degradação e fragmentação espécie extinta da região de Mata Atlântica de habitats, que se refletem no aumento conhecida como Centro Pernambuco de do número de espécies presentes na Lista Endemismo. A espécie sobrevive em cati- Nacional das Espécies da Fauna Brasileira veiro graças aos esforços de mantenedores Ameaçadas de Extinção, oficializada pela e pesquisadores, todos envolvidos com a Instrução Normativa nº 3 do MMA, de 27 conservação. A população total cativa é de de maio de 2003. 121 indivíduos, divididos em dois criadou- Zelar pela conservação dessa ros no estado de Minas Gerais. As matas, riqueza nacional é responsabilidade de onde a espécie ocorria originalmente, en- cada cidadão brasileiro, porém as inicia- contram-se degradadas, havendo poucos tivas e medidas a serem adotadas para remanescentes com mais de 500 hectares, reverter o quadro devem ser tomadas de os quais também não se encontram em maneira organizada e conjunta em prol boas condições de proteção. de um objetivo comum. Assim, a união de Este plano apresenta informações esforços de governos, da sociedade civil sobre a biologia da espécie, identifica seus e das instituições de ensino e pesquisa, principais fatores de ameaça e propõe uma visando à conservação da nossa biodiver- série de medidas para a implementação sidade, representa um passo importante em diversas áreas temáticas, identificando nessa jornada. atores potenciais e seguindo uma escala Com o propósito de mudar a situ- de prazos e prioridades, com o principal ação de ameaça, o Instituto Chico Mendes objetivo de conservar a espécie em longo de Conservação da Biodiversidade e o prazo. Este plano deverá ser revisado pe- Ministério do Meio Ambiente criaram a riodicamente como forma de monitorar e Série Espécies Ameaçadas, que é composta avaliar o sucesso das ações executadas e por planos de ação, planos de manejo e atualizar as necessidades de conservação. outras contribuições relevantes para a pro- Agradecemos a todos os que tra- teção e a conservação da fauna brasileira balharam pela sua formulação, em todas ameaçada de extinção. Os números ante- as suas fases, demonstrando o comprome- riores desta Série abordaram, em ordem timento com a conservação da biodiver- de publicação, o mutum-do-sudeste Crax sidade brasileira.

Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas

Sumário

Parte 1 – Informações gerais...... 15 1 Introdução...... 17 2 Informações sobre a espécie e sua história natural...... 19 Taxonomia e morfologia...... 19 Comportamento...... 24 Distribuição e habitat...... 26 Alimentação...... 26 Reprodução...... 29 3 Ameaças...... 29 Histórico da ocupação da área...... 29 Utilização dos recursos naturais na região de ocorrência do mutum-de-alagoas...... 30 Incêndios...... 30 Caça...... 31 4 Áreas potenciais para reintrodução...... 31 Unidades de Conservação na área de distribuição do mutum-de-alagoas...... 31 Caracterização ambiental dos fragmentos para uma possível reintrodução do mutum-de-alagoas...... 31 Usina Cachoeira...... 32 Usina Caeté...... 33 Usina ...... 33 Usina Porto Rico...... 34 Usina Serra Grande...... 35 Usina Sinimbu...... 35 Usina Sumaúma...... 35 Usina Triunfo...... 36 Usina Utinga Leão...... 36 5 População em cativeiro...... 37 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

Parte 2 – Plano de conservação...... 39 1 Objetivos gerais...... 41 2 Objetivos específicos...... 41 2.1 Políticas públicas e legislação...... 42 2.2 Proteção da espécie e seu habitat...... 43 2.3 Pesquisas...... 43 2.4 Manejo das populações em cativeiro...... 44 2.5 Projetos de reintrodução...... 45 Referências bibliográficas...... 47 Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas

Lista de figuras

Figura 1 – Primeira ilustração de Pauxi mitu, realizada em 1648 e constante da obra de Marcgrave. Observe a presença da região auricular nua, caráter diagnóstico desta espécie...... 17

Figura 2 – Pauxi tomentosa no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC) Autor: Luís Fábio Silveira...... 19

Figura 3 – Pauxi tuberosa na Fundação Crax (FC) Autor: Luís Fábio Silveira...... 20

Figura 4 – Pauxi mitu no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC) Autor: Luís Fábio Silveira...... 20

Figura 5 – Pauxi mitu no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC) Autor: Luís Fábio Silveira...... 21

Figura 6a – Detalhe da cabeça de Pauxi mitu no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC), mostrando a região auricular completamente nua e o bico vermelho na base, tornando-se esbranquiçado em direção à ponta. Compare com a Figura 6b (Pauxi tuberosa) Autor: Luís Fábio Silveira...... 22

Figura 6b – Detalhe da cabeça de Pauxi tuberosa no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC) Autor: Luís Fábio Silveira...... 22

Figura 7a – Pauxi mitu no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC), onde pode ser visto par central das retrizes completamente negro. Compare com a Figura 7b, de Pauxi tuberosa, que apresenta estas penas brancas Autor: Luís Fábio Silveira...... 23

Figura 7b – Pauxi tuberosa no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC). Observe o par central das retrizes, de coloração branca Autor: Luís Fábio Silveira...... 23 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

Figura 8 – Pauxi mitu no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC) Autor: Luís Fábio Silveira...... 24

Figura 9 – Pauxi mitu no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC) Autor: Luís Fábio Silveira...... 25

Figura 10 – Casal de Pauxi mitu no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC) Autor: Luís Fábio Silveira...... 25

Figura 11a – Distribuição presumida de Pauxi mitu...... 27

Figura 11b – Informações adicionais sobre a distribuição presumida de Pauxi mitu...... 28 Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas

Lista de siglas e abreviaturas

CDB – Convenção sobre Diversidade Biológica Cemave – Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação das Aves Silvestres Cepan – Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste Cites – Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CPRH – Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade IMA/AL – Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas Incra – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais MCT – Ministério de Ciência e Tecnologia MMA – Ministério do Meio Ambiente Oemas – Organizações Estaduais de Meio Ambiente ONG – Organização Não-Governamental Parna – Parque Nacional Rebio – Reserva Biológica RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural UC – Unidade de Conservação UFPE – Universidade Federal de Pernambuco UHE – Usina Hidrelétrica

Parte 1 INFORMAÇÕES GERAIS

Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas

1 Introdução

O mutum-de-alagoas (Pauxi mitu O mutum-de-alagoas foi uma das = Mitu mitu, veja abaixo) é uma ave de primeiras aves endêmicas do Brasil a ser grande porte e permaneceu, por mais de descrita e figurada durante o período da 300 anos, como uma das aves mais raras e invasão holandesa no Brasil (1637-1644). enigmáticas de todo o mundo. Endêmico Marcgrave, naturalista que estava entre os do “Centro Pernambuco”, faixa de Mata membros da corte do Príncipe Maurício Atlântica que se inicia ao norte da foz do de Nassau, ilustrou (Figura 1) e descre- Rio São Francisco, o mutum-de-alagoas veu com riqueza de detalhes um mutum passou despercebido pelos ornitólogos mantido vivo em cativeiro, provavelmente e quase desapareceu. Muito pouco se no zoológico do Príncipe, em Recife. Foi sabe sobre sua distribuição e os registros com base nessa descrição e na xilogravura fidedignos provêm apenas do estado de existente que Linnaeus, em 1766, o bati- Alagoas, embora seja altamente provável zou cientificamente de Crax mitu. Apesar que possa ter ocorrido também em de conhecido pela ciência, desde então, Pernambuco. Alguns autores sugerem uma o mutum-de-alagoas permaneceu como distribuição ainda mais ampla, nas florestas um táxon de validade incerta por quase abaixo de 400 metros desde o Rio Grande 200 anos. Alguns autores argumentavam do Norte até o sul de Alagoas, mas essas que esta espécie não era válida ou não afirmações carecem de base documental. existia originalmente no Nordeste bra-

Fig. 1 – Primeira ilustração de Pauxi mitu, realizada em 1648 e constante da obra de Marcgrave. Observe a presença da região auricular nua, caráter diagnóstico desta espécie 17 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

sileiro, sendo o exemplar figurado por vez de Mitu mitu) reflete as mudanças mais Marcgrave apenas um mutum amazônico recentes na sistemática dos representantes bastante comum, o mutum-cavalo, Pauxi da família Cracidae. tuberosa (Spix, 1825). É importante ressal- Da mesma forma que os tar que, mesmo no século XVII, animais de acontecimentos envolvendo a taxonomia estimação eram trazidos de regiões bem e a conservação do mutum-de-alagoas, a distantes por índios, o que justificava de história da ocupação da Mata Atlântica alguma maneira essa linha de raciocínio. nordestina é longa, polêmica e caminha Outros autores, por sua vez, assumiam a a passos largos para uma tragédia única identidade dos dois táxons, considerando no Novo Mundo. A ocupação do litoral o amazônico Pauxi tuberosa (Spix) como nordestino, especialmente nos estados subespécie do táxon alagoano. de Pernambuco e Alagoas, confunde- Entretanto, todas essas sugestões se com a própria história do Brasil, a eram baseadas apenas no estudo de partir de sua colonização no século XVI exemplares de Pauxi tuberosa depositados até os dias de hoje. Os desmatamentos em museus, pois não eram conhecidos para dar lugar a plantações de cana- quaisquer espécimes de Pauxi mitu em de-açúcar iniciaram-se muito cedo na coleções científicas, o que dificultava região, mesma época da caça de animais enormemente qualquer trabalho mais silvestres de maior porte, incluindo elaborado com esses táxons. As primeiras o mutum. As plantações de cana-de- tentativas de solucionar consistentemente açúcar dominaram a paisagem das terras esse problema apareceram apenas em baixas, mas ainda existiam fragmentos 1951, quando uma fêmea foi coletada de floresta de considerável tamanho e em Alagoas, reabrindo o debate sobre a em bom estado de conservação. A partir identidade de Pauxi mitu (Linnaeus) em da década de 1970, com o advento do relação à Pauxi tuberosa (Spix). Após a programa Proálcool, houve um novo ciclo confirmação de que Pauxi mitu de fato de desmatamento, mais violento e rápido, existia nas florestas alagoanas, o seu status que dizimou os fragmentos de floresta de como táxon independente, embora muito tabuleiro e invadiu o planalto adjacente, relacionado à Pauxi tuberosa, passou a ser eliminando enormes porções de floresta à reconhecido pela maioria dos autores. revelia do Código Florestal Brasileiro e não Entretanto, apenas no final do século XX despertando a menor atenção dos órgãos é que Pauxi mitu passou a ser reconhecido do governo responsáveis pela proteção dos como espécie plena e distinta de Pauxi recursos naturais. Não é surpresa alguma tuberosa, com base em diferentes linhas constatar que as localidades com o maior de evidência. Um histórico da distribuição número de espécies de aves ameaçadas e da taxonomia desta espécie pode ser de extinção no planeta encontram-se visto em Collar et al. (1992) e Silveira et justamente em Alagoas e em Pernambuco, al. (2004). Recentemente, as espécies do onde restam menos de 2% de cobertura gênero Mitu foram incluídas no gênero vegetal nativa. O mutum-de-alagoas Pauxi por Frank-Hoeflich et al. (2007), não teve melhor sorte – era a maior ave que realizaram uma análise filogenética terrestre da Mata Atlântica nordestina, em que foram incluídos caracteres que provavelmente ocupava grandes moleculares, osteológicos, de tegumento territórios de floresta virgem, vivendo em e comportamentais. Dessa forma, o baixas densidades. Apreciado, como todo tratamento adotado aqui (Pauxi mitu em mutum, como peça de caça, foi dizimado 18 Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas

junto com a floresta onde vivia. Graças ao proteção contra caçadores e madeireiros esforço de um criador carioca, aliado a um e a recuperação dos ambientes são os ornitófilo alagoano, três exemplares foram primeiros passos a serem dados in situ, capturados e deram início a um programa enquanto a criação maciça destas aves de reprodução em cativeiro. A triste em cativeiro é fundamental para garantir história do mutum-de-alagoas é o reflexo indivíduos viáveis para a reintrodução. da falta de compromisso que os órgãos ambientais e a sociedade em geral tiveram com os últimos remanescentes de floresta dos estados de Alagoas e de Pernambuco. 2 Informações sobre Dessa forma, não é nenhuma surpresa constatar que esses dois estados abrigam a espécie e sua o maior número de espécies ameaçadas de extinção em todo o Brasil e, talvez, no história natural mundo todo, sendo motivo de estudos do fenômeno de extinção em massa. Taxonomia e morfologia Os caminhos para trazer o O antigamente reconhecido gê- mutum-de-alagoas de volta às suas nero Mitu era formado por quatro espé- florestas são longos e demandam grandes cies, três delas amplamente distribuídas esforços de pesquisadores, ONGs, órgãos na Bacia Amazônica (Mitu salvini [= Pauxi ambientais, usineiros e da sociedade civil salvini], M. tomentosum [= Pauxi tomen- em geral. A recuperação das florestas, sua tosa, Figura 2] e M. tuberosum [= Pauxi Luís Fábio Silveira

Fig. 2 – Pauxi tomentosa no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC) 19 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

tuberosa, Figura 3]) e uma delas antiga- rosa (mutum-cavalo) e P. mitu (mutum-de- mente registrada numa pequena porção alagoas) são morfologicamente similares, da Mata Atlântica nordestina (Mitu mitu fato que gerou uma notável instabilidade [= Pauxi mitu] Figura 4). Recentemente, taxonômica, desde a descrição do táxon Frank-Hoeflich et al. (2007) sugeriram que nordestino feito por Linnaeus. O mutum- os representantes deste gênero devem ser de-alagoas possui aproximadamente 90 transferidos para o gênero Pauxi, trata- cm de comprimento total e não apresenta mento adotado neste plano. Pauxi tube- evidente dimorfismo sexual de plumagem, Luís Fábio Silveira

Fig. 3 – Pauxi tuberosa na Fundação Crax (FC) Luís Fábio Silveira

Fig. 4 – Pauxi mitu no Criadouro Científico e Cul- 20 tural Poços de Caldas (CCCPC) Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas Luís Fábio Silveira

Fig. 5 – Pauxi mitu no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC) que é uniformemente negra com reflexos A ausência de exemplares depo- azulados. As penas da região ventral e do sitados nos museus, aliados a uma crença crisso (coberteiras inferiores da cauda) generalizada de que o mutum-de-alagoas possuem coloração marrom (Figura 5). seria, no máximo, uma subespécie fraca- Apresenta, na cabeça, um topete pouco mente definida, mantiveram este táxon à notável. As penas da cauda são também margem de estudos mais detalhados sobre negras, com o seu ápice branco-sujo ou sua morfologia e, conseqüentemente, so- amarronzado, exceção feita ao par central bre sua validade taxonômica. A ausência que é totalmente negro, o que representa desses estudos teve implicações profun- caráter-diagnóstico importante quando das na conservação de Pauxi mitu, pois comparado com Pauxi tuberosa (Figuras a categoria de subespécie foi historica- 7a e 7b). Outros caracteres-diagnósticos mente desconsiderada em programas de são observados na região da cabeça, que conservação que, no caso de Pauxi mitu, apresenta a região auricular desprovida de trouxe graves conseqüências. Somente a penas (Figuras 1, 6a e 9), caráter já figu- partir da espetacular descoberta desta ave rado por Marcgrave no século XVII e que em Alagoas, por Olivério Pinto, em 1951 permite a pronta identificação do táxon (um dos maiores orgulhos profissionais da quando comparado com Pauxi tuberosa brilhante carreira desse ornitólogo), é que (Figura 6b). Outro caráter-diagnóstico está alguma luz começou a ser lançada sobre no bico, que é bicolor, vermelho na base esta espécie. Sick (1980) e Nardelli (1993) e tornando-se róseo-esbranquiçado em também fizeram estudos detalhados sobre direção à ponta (Figuras 6a e 9). A íris é esta ave e alguns caracteres-diagnósticos castanho-avermelhada e o tarsometatarso e entre o táxon nordestino e o amazônico os dedos são vermelhos (Figuras 8 e 10). (Pauxi tuberosa) foram apontados. Entre 21 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade Luís Fábio Silveira

Fig. 6a – Detalhe da cabeça de Pauxi mitu no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC), mostrando a região auricular completamente nua e o bico vermelho na base, tornando-se esbranquiçado em direção à ponta. Compare com a Figura 6b (Pauxi tuberosa) Luís Fábio Silveira

Fig. 6b – Detalhe da cabeça de Pauxi tuberosa no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC) 22 Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas Luís Fábio Silveira

Fig. 7a – Pauxi mitu no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC), onde pode ser visto par central das retrizes completamente negro. Compare com a Figura 7b de Pauxi tuberosa, que apresenta estas penas brancas Luís Fábio Silveira

Fig. 7b – Pauxi tuberosa no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC). Observe o par central das retrizes de coloração branca 23 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade Luís Fábio Silveira

Fig. 8 – Pauxi mitu no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC)

eles, destacam-se os já citados bico ver- Comportamento melho na base e róseo-esbranquiçado na ponta, a região auricular nua e o par cen- Não existem muitos relatos sobre tral de retrizes negro. Entretanto, outros o comportamento desta espécie na caracteres alegados como diagnósticos por natureza, contando-se apenas com as Sick (1980) ou Nardelli (1993) não foram breves observações de Pinto (1952), confirmados por Silveira et al. (2004) após que entrevistou mateiros da região, e de uma análise mais abrangente de material. Nardelli (1993), que descreve o único Entre esses caracteres descartados encon- ninho encontrado desta espécie. Os tram-se o tamanho e a largura do bico, o relatos de Marcgrave (1942) são baseados porte e o número de retrizes (14, segundo tanto em observações de cativeiro quanto Nardelli [1993]). Como nos demais mu- em relatos dos caçadores que traziam tuns do gênero Pauxi, o dimorfismo sexual estas aves até Recife, pois ele próprio de plumagem não é notável. Entretanto, não realizou observações em campo. os machos parecem ser maiores do que De forma geral, Pauxi mitu não pareceu as fêmeas e apresentam a traquéia mais diferir muito em seleção de habitat e em desenvolvida. Além disso, como a maioria comportamento da sua espécie-irmã, Pauxi dos Galliformes, os machos apresentam tuberosa, sendo uma espécie terrícola, um pequeno órgão intromitente (phallus que sobe às árvores para passar a noite, protrudens), que pode ser detectado atra- construir o seu ninho ou, em caso de vés da manipulação da região cloacal. fuga, quando não é possível fazê-la pelo 24 Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas Luís Fábio Silveira

Fig. 9 – Pauxi mitu no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC) Luís Fábio Silveira

Fig. 10 – Casal de Pauxi mitu no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC) 25 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

solo. Quando alarmado, emite um assovio Na região onde ocorria Pauxi mitu, fino e curto, abrindo também a cauda encontram-se dois tipos principais de repetidas vezes em leque, demonstrando vegetação: a Floresta Ombrófila Aberta, irritação. Também pode eriçar o pequeno onde se observam árvores de grande porte topete nessas ocasiões. com o sobosque esparso, o que permite a existência de aves terrícolas de grande porte. Esse é um tipo de floresta que é Distribuição e habitat mantido permanentemente úmido, com Os dados sobre a distribuição de apenas 2 meses secos por ano (VELOSO Pauxi mitu são, em sua grande maioria, et al., 1991); e a Floresta Estacional anedóticos. Espécimes cativos foram Semidecidual, onde a estação chuvosa figurados por Marcgrave no século XVII e e a seca são mais bem demarcadas, provavelmente vieram das proximidades havendo perda de folhas em cerca de 20% de Recife. Entretanto, os únicos registros das espécies arbóreas que a compõem do século XX foram provenientes do (VELOSO et al., 1991). estado de Alagoas, mais especificamente da região litorânea. Pinto (1952) coletou uma fêmea no município de São Miguel Alimentação dos Campos enquanto Nardelli (1993) Como todos os outros aspectos da obteve, no final da década de 1970, sua biologia, a alimentação de Pauxi mitu exemplares vivos em Roteiro e na Barra de na natureza é praticamente desconhecida. São Miguel (Figuras 11a e 11b). Assume- Sabe-se apenas das informações de Pinto se, atualmente, que a distribuição do (1952), que coletou uma fêmea cuja mutum-de-alagoas abrangia apenas as moela estava repleta de frutos de uma matas atlânticas de baixada nos estados planta chamada localmente de castelo de Alagoas e de Pernambuco. Burmeister (Phyllanthus nobilis). Coimbra-Filho (1971) (1856) sugeriu que esta espécie também relata que caçadores faziam espera por ocorria na Bahia, mas esta sugestão é esta espécie em mangabeiras em fruto, certamente devida a uma confusão com enquanto Nardelli (1993) observou três o mutum-do-sudeste, Crax blumenbachii, aves alimentando-se dos frutos de uma pois o mutum-de-alagoas é restrito árvore denominada batinga (Eugenia sp., apenas ao “Centro Pernambuco” de Myrtaceae). Como os demais cracídeos de endemismo, uma reduzida área de porte, Pauxi mitu é principalmente Atlântica localizada do norte do Rio São frugívoro, consumindo folhas e brotos Francisco até o Rio Grande do Norte. em menor quantidade. Os cracídeos Registros em altitudes mais elevadas de grande porte são mais predadores (~800 m) podem ser assumidos com base que dispersores de sementes, pois em topônimos, como a pequena vila de destroem a parte reprodutiva dos frutos, “Mutum”, em Alagoas, nas proximidades sendo dispersores mais eficientes apenas da Usina Santo Antônio. quando ingerem coquinhos ou frutos Os mutuns do gênero Pauxi de sementes duras, que são eliminadas são aves essencialmente florestais, posteriormente nas fezes destas aves. habitam matas primárias de terra firme Provavelmente, como outros mutuns, ou de tabuleiros, podendo utilizar alguns deve também ingerir oportunamente remanescentes de mata secundária pequenos vertebrados ou invertebrados em avançado estado de regeneração. como lagartas ou caramujos. 26 Fig. 11a – Distribuição presumida de Pauxi mitu Fig. 11b – Informações adicionais sobre a distribuição presumida de Pauxi mitu Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas

Reprodução 3 Ameaças Apenas um relato sobre a repro- dução é conhecido na natureza. Nardelli Histórico da ocupação da área (1993) fotografou um ninho desta espécie em Alagoas, e o ninho não difere muito A área de domínio do sistema do construído por sua espécie-irmã, Pauxi canavieiro nos estados de Alagoas, tuberosa (Luís Fábio Silveira, observação Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do pessoal), sendo uma plataforma feita com Norte é uma das regiões mais exploradas galhos trançados no alto de uma árvore. economicamente no Nordeste do Brasil. Apesar do tamanho e da sua plumagem Além disso, a região é densamente negra, a ave permanece camuflada em povoada devido aos vários pólos industriais meio à folhagem. Esse tipo de ninho é ali instalados. Sob o ponto de vista bastante comum entre os Cracidae e Pauxi sucroalcooleiro essa região é importante mitu não foge à regra. Todos os demais tanto pela expressiva produção obtida, relatos de reprodução referem-se apenas como pela quantidade de pessoas à população cativa, mantida inicialmente empregadas, tendo que utilizar mão-de- na Zoobotânica Mário Nardelli, em Niló- obra de regiões vizinhas, como do Agreste polis, Rio de Janeiro (NARDELLI, 1993) e do Sertão durante os períodos de safra e depois transferida para dois centros de (ANDRADE, 1998). criação em Minas Gerais, nos municípios Ao longo dos 4 séculos de desen- de Contagem e de Poços de Caldas. volvimento da cultura canavieira no Em cativeiro, as fêmeas realizam Nordeste, as áreas consideradas como duas posturas por ano, sendo a primeira as mais adequadas para o cultivo de nos meses de agosto/setembro e a segunda cana-de-açúcar foram principalmente em janeiro/fevereiro. Dois ovos são postos as várzeas e as encostas dos tabuleiros. em cada postura, embora esse número No entanto, com a necessidade de possa variar de um a três. A incubação em expandir a lavoura e aumentar a produção cativeiro dura 29 dias e diversas formas de açucareira e alcooleira, principalmente na manejo, já testadas em outras espécies, década de 1950, passou-se a incorporar vêm ampliando o tamanho da postura, que gradativamente as terras de tabuleiros. pode chegar a até 12 ovos por fêmea. Apesar da baixa fertilidade do solo, o uso dessas áreas por canaviais apresentava Atualmente, nos dois cativeiros vantagens, pois facilitava a mecanização que concentram 100% das aves conheci- e dispensava algumas técnicas como das, duas técnicas de manejo são feitas. drenagem e curvas de nível. A produção No Criadouro Científico e Cultural Poços tornou-se mais barata, mesmo com de Caldas (CCCPC), são mantidos casais o aumento da adubação, implicando fixos durante todo o ano, enquanto na também num grande processo de perda da Sociedade de Pesquisa em Manejo e cobertura vegetal que, até então, mantinha- Manutenção da Fauna Silvestre (Crax) um se em bom estado de conservação. macho pode ser utilizado para copular com várias fêmeas no período reproduti- A partir dos anos de 1960, a vo. Esta última forma de manejo, aliada à cultura canavieira não mais levou em conta retirada dos ovos para incubação artificial as condições climáticas e topográficas, ampliou enormemente o plantel dessas expandindo-se para áreas íngremes mais aves nos últimos anos. interioranas, provocando os mais variados 29 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

impactos ambientais, como a destruição de energia doméstica), Bowdichia virgilioides florestas, erosão dos solos e desequilíbrio (sucupira: lenha, fornecimento de energia ecológico de rios e riachos (ANDRADE, doméstica, construções de cercas, 1998). Isso se deu, principalmente, por manutenção das casas, pequenas pontes causa da criação de vários fundos e etc.) e Eschweilera ovata (imbiriba: programas governamentais para aumentar construção de cercas, manutenção das a produção canavieira e abrir espaço para casas, pequenas pontes etc). Os principais o comércio internacional (ANDRADE, municípios produtores de lenha são Boca 1998), como o Fundo de Recuperação da Mata, com 10.350 m3/ano, seguido de da Agroindústria Canavieira em 1961; o São Miguel dos Campos e Coruripe, com Fundo de Racionalização da Agroindústria 5.920 e 5.130 m3/ano, respectivamente Canavieira do Nordeste em 1963; o Fundo (IBGE, 2000). Especial de Exportação em 1965; o Plano de O carvão também é um dos Expansão da Indústria Açucareira Nacional recursos retirados da mata e de grande em 1965; o Programa de Racionalização influência na economia local. Segundo da Agroindústria Canavieira em 1971; o informações do IBGE (2000), o município Programa Nacional de Melhoramento da de é o principal produtor de Cana-de-Açúcar/Planalsucar em 1971; e o carvão vegetal entre os municípios da área Programa Nacional do Álcool – Proálcool de distribuição do mutum-de-alagoas, em 1975. Este último, o Proálcool, com cerca de 6 toneladas/ano, seguida talvez o mais polêmico de todos os de Coruripe, com 5 toneladas/ano e Pilar, programas adotados pelo governo, não com 4 toneladas/ano. atingiu uma das suas metas principais, que era aumentar substancialmente a Os recursos hídricos também produtividade agrícola canavieira. O são utilizados para diferentes fins, como programa gerou graves conseqüências irrigação, geração de energia, pesca e sociais (i.e. houve diminuição na geração também para lazer. A má utilização dos de empregos devido à modernização recursos hídricos pode causar vários agrícola e industrial) e ecológicas (aumento impactos, tais como envenenamento das da poluição dos rios e desmatamento, águas das regiões por insumos químicos, ANDRADE, 1998). represamento e conseqüente interrupção de fluxos biológicos, eutrofização, etc. Utilização dos recursos naturais na região de Incêndios ocorrência do Os incêndios são freqüentes em vários municípios da área de distribuição mutum-de-alagoas do mutum-de-alagoas. Geralmente são Os recursos naturais são ampla- decorrentes da colheita de cana-de- mente utilizados principalmente por se açúcar, ocupações de terras ou renovação tratar de uma região com famílias de de pastos, podendo ser tanto acidentais baixa renda, tendo na natureza a fonte de quanto intencionais. Os municípios mais alguns recursos de sua economia, como afetados, de acordo com o Centro de a madeira bruta retirada da mata. As Previsão de Tempo e Estudos Climáticos madeiras mais utilizadas são: Byrsonima (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas sericea (: lenha e fornecimento de Espaciais (Inpe), entre os anos de 2000– 30 Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas

2005 são Coruripe (553 ocorrências), São Miguel dos Campos (217), Jequiá 4 Áreas potenciais da Praia (159), Atalaia (156), (118), Marechal Deodoro (117), Pilar (91) para reintrodução e Maceió (72). Unidades de conservação na área de distribuição do Caça mutum-de-alagoas A caça está fortemente enraizada Na área de distribuição do na cultura popular, sendo uma das principais mutum-de-alagoas são encontradas cinco responsáveis pelo desaparecimento do unidades de conservação gerenciadas pelo mutum-de-alagoas e do seu habitat. Instituto de Meio Ambiente do estado Algumas comunidades locais tinham de Alagoas, sendo que três são áreas de nos cracídeos uma importante fonte de proteção ambiental (APA) com pouco proteína e em períodos em que a floresta potencial de conservação efetiva. As outras era mais extensa e mais preservada a duas unidades são: Reserva Ecológica de caça pode ter tido um efeito menos Manguezais do Roteiro (742 ha), cujo danoso nas populações. Entretanto, com objetivo é a proteção de mangues e o o aumento das populações humanas desenvolvimento local da pesca artesanal; aliado ao desmatamento, a caça foi fator Reserva Ecológica de Saco da Pedra (5 ha), importante para o desaparecimento desta que sofre pressão do fluxo turístico, além espécie na natureza. do tamanho pouco significativo. Existem ainda duas unidades de domínio privado Atualmente, a caça é praticada na (RPPN) localizadas em municípios com região de ocorrência do mutum-de-alagoas registros do mutum (RPPN Fazenda São apenas com o intuito de lazer, pois Silveira Pedro, 50 ha, em Pilar; e RPPN Fazenda et al. (2003) observaram que os caçadores Rosa do Sol, 15,5 ha, em Barra de São encontrados nos fragmentos de florestas Miguel) e três em municípios vizinhos pesquisados possuíam automóveis, cães, aos de registros (RPPN Fazenda Lobo I, armas de grosso calibre (geralmente 20 ou 68,6 ha, em Coruripe; RPPN Fazenda 28 mm) e utilizavam munição comprada Francisco Pereira, 290 ha, em Coruripe; em lojas onde o preço de apenas um e RPPN Fazenda Santa Tereza, 100 ha, cartucho de espingarda era mais alto do em Atalaia). que um quilo de frango comprado em qualquer supermercado. Dessa forma, qualquer programa de reintrodução fica Caracterização ambiental completamente inviabilizado diante da dos fragmentos para uma persistência dessa atividade criminosa possível reintrodução do onde resta floresta em Alagoas. Programas de fiscalização devem ser intensificados mutum-de-alagoas não apenas coibindo a caça, mas também Um trabalho desenvolvido pelo apreendendo as armas de fogo que, Centro de Pesquisas Ambientais do provavelmente, estão circulando entre Nordeste (Cepan) realizou visitas em esses caçadores sem obedecer à severa 19 fragmentos com potencial de abrigar legislação vigente. populações da espécie (RODA e SANTOS, 31 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

2005). Eles se localizam nas seguintes bro de 1994 relativas à classificação dos usinas: Cachoeira, Caeté, Coruripe, Porto estágios de sucessão da Floresta Atlântica Rico, Serra Grande, Sinimbu, Sumaúma, como: fisionomia; estratificação; altura Triunfo, Utinga Leão (RODA e SANTOS, média da vegetação; existência, diversi- 2005). A Usina Serra Grande situa-se fora dade e quantidade de epífitas; existência, da área de registro do mutum-de-alagoas, diversidade e quantidade de trepadeiras; no entanto o Comitê para a conservação ausência ou presença e quantidade de da espécie, na sua primeira reunião em serapilheira; sobosque; diversidade bio- 2003, achou necessária sua inclusão por lógica e dominância de espécies. apresentar um dos fragmentos florestais A presença de algumas espécies (Engenho Coimbra) mais representativos arbóreas e de predadores potenciais e bem conservados. do mutum-de-alagoas foi comentada Apesar dos registros históricos durante as entrevistas aos mateiros que englobarem seis municípios dos Tabuleiros acompanhavam a equipe nos diferentes Costeiros do Estado de Alagoas (Pilar, fragmentos. Em alguns casos, foi possível São Miguel dos Campos, Jequiá da Praia, a detecção visual de alguns predadores. Roteiro, Barra de São Miguel e Marechal A seguir, o resultado obtido pelo trabalho Deodoro), as áreas inventariadas pela desenvolvido pela Cepan, em cada usina: Cepan reuniram dez municípios (Barra de Santo Antônio, Campo Alegre, Coruripe, Ibateguara, Jequiá da Praia, Maceió, Usina Cachoeira Marechal Deodoro, Pilar, Rio Largo e São Miguel dos Campos). Os fragmentos visitados na Usina Cachoeira localizam-se em áre- Foi elaborado protocolo para as não próximas de povoados e vilas aquisição das informações a ser aplicado em (15km de Maceió), com exceção da cada fragmento, obtendo-se informações Grota da Cachoeira e Bamburral, situ- preliminares sobre: caracterização da adas próximas à usina. As coordenadas estrutura da vegetação; disponibilidade de referência são: Barragem das Prensas de abrigos e sítios reprodutivos para o (9°26’09.3”S/35°40’43.5”W), Grota de Ca- mutum-de-alagoas; forma e tamanho choeira (9°25’51.1”S/35°43’36.1”W), Mata do do fragmento; presença de predadores Bamburral (9°26’09.45”S/35°43’23,5”W), potenciais; presença de outros cracídeos; Mata da Sela (9°22’S/35°43’W) e Mata segurança das áreas; pressão antrópica; do Raboio (9°22’53.1”S/35°40’05.4”W). aspectos hídricos; conectividade potencial Todos esses fragmentos localizam-se no entre os fragmentos; impactos ambientais município de Maceió. decorrentes da agricultura; infra-estrutura, acesso e trilhas; ocorrência de caça De maneira geral, os fragmentos e retirada de madeira. Os protocolos estão associados a encostas íngremes encontram-se no Anexo 2 do relatório (Grota da Cachoeira, Bamburral e parte dos elaborado pela Cepan (RODA e SANTOS, fragmentos de Raboio) ou área de proteção 2005), disponível no endereço eletrônico de mananciais (Barragem das Prensas). www.cepan.org.br (acessado em 8 de A Mata do Raboio é um complexo fevereiro de 2008). de pequenos fragmentos de formatos Para padronizar a caracterização bastante irregulares e de diferentes da vegetação seguiram-se alguns itens da tamanhos, geralmente menores do que Resolução Conama n° 28 de 7 de dezem- 10 ha. Visualmente, é possível perceber o 32 Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas

corte de madeira, a retirada de lenha e os grota íngreme e no fundo do vale existe arrastos de caçadores por toda a área. um açude abastecido pelas nascentes da mata. Esse açude é também utilizado para A Barragem das Prensas apresenta abastecer recipientes para a aplicação fragmentos isolados e de diferentes de agrotóxicos. Foram observados vários tamanhos, no entanto, a maioria encontra- tambores vazios ao lado do açude. Essa se em estágio inicial de recuperação mata é separada da Mata de Carobas por florestal. Uma pequena porção de mata, uma grande área de pasto. mais preservada próxima à barragem, é cortada por um riacho que se encontra A Mata de Carobas é um fragmento parcialmente assoreado por entulho das alongado e estreito. Nessa área, foram obras da construção da barragem. Parte observados grande quantidade de lenha da área que margeia a barragem foi cortada e vestígios de retirada de madeira. reflorestada e a vegetação encontra-se Também é bastante freqüentada por naturalmente em início de regeneração. caçadores. Existe grande tubulação para a captação de água para irrigação que corta A Grota da Cachoeira e Bamburral transversalmente parte da mata. Tanto apresentam árvores altas e, de forma a Varrela quanto a Carobas margeiam a geral, a vegetação tem estrutura mais BR-101 em trecho de trânsito bastante madura. Foi possível observar árvores movimentado. emergentes e algumas com troncos bastante desenvolvidos. A mata das Fazendas Reunidas é totalmente cercada e existe vigilância permanente. Segundo o proprietário, é Usina Caeté para assegurar que não retirem madeira, pois esse fragmento fica próximo à vila de Os fragmentos visitados na Usina moradores da Fazenda Carobas que está Caeté foram: Fazenda Varrela (9°42’04. situada a 1 km da BR-101. A mata já foi 5”S/36°00’54.4”W), Mata das Carobas I parcialmente cortada, mas encontra-se em (9°42’35.8”S/36°00’09.9”W) e Fazendas estágio avançado de regeneração. Apenas Reunidas (9°42’ 2.1”S/36°02’15.4”W). As a área da “Grota do Niquim” apresenta Fazendas Reunidas não pertencem à Usina árvores com fisionomia de mata tardia. Caeté, no entanto fazem divisa com parte Nessa grota existem bombas de captação da mata pertencente à Fazenda Carobas de água que funcionam praticamente o dia e à Usina Roçadinho. A Fazenda Varrela todo. Um tubo de gasoduto da Petrobras localiza-se no município de Pilar, a Fazenda corta a mata em toda a sua extensão. Carobas e Reunidas localizam-se no município de São Miguel dos Campos. O fragmento da Fazenda Varrela é Usina Coruripe parcialmente protegido, o acesso é restrito Foram visitados dois fragmentos à executiva da Usina Caeté, pois existe da Usina Coruripe, a Mata do Riachão ali um clube de campo. Existem portões (10º00’04’’S/36º17’18’’W), com cerca com cadeados em um dos acessos. A de 460 ha de área, e a Mata de Capiatã mata apresenta boa estrutura com árvores (10º03’32.3’’S/ 36º16’42.8’’W), com emergentes e algumas com troncos cerca de 700 ha de área. A primeira bastante desenvolvidos e, de maneira está localizada entre os municípios de geral, a vegetação apresenta uma estrutura Coruripe e , a segunda mais madura. Parte dessa mata é uma no município de Coruripe. Nessas matas 33 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

já houve queimadas e corte seletivo de sofreu um severo corte seletivo cuja madeiras. Em muitas áreas no interior dos madeira foi, entre outros fins, destinada fragmentos, é comum encontrar clareiras ao fornecimento de energia à usina. dominadas por gramíneas. As matas da Felizmente, o fragmento não foi atingido Usina Coruripe apresentam fisionomia em sua totalidade e em grande parte de matas secas devido ao tipo de floresta, apresenta fisionomia típica de mata a Estacional Semidecidual, aliada ao primária, com árvores que ultrapassam estágio de sucessão em que se encontram. 30m de altura e com troncos muito Grande parte da área visitada está em grossos. Toda a extensão da mata está estágio médio-avançado de regeneração. situada sobre um relevo plano. Não Não se observou área de desenvolvimento existem grotas com declividade acentuada mais tardio, no entanto existem muitas como nas outras usinas investigadas. árvores emergentes que chegam a mais A Mata do Matão apresenta de 25 m. mamíferos de grande porte dispersores A Usina Coruripe desenvolve pro- de sementes, como o guariba (Allouata grama de reflorestamento que está viabili- belzebu) e o macaco-prego (Cebus flavius). zando a conexão entre muitos fragmentos, Este último foi recém-redescoberto em entre esses está a conexão de dois grandes matas dos estados da Paraíba, Pernambuco fragmentos na Fazenda Capiatã. e Alagoas (OLIVEIRA e LANGGUTH, Em nenhum dos fragmentos visi- 2006) e também em Porto Rico, uma das tados foram observados indícios de corte oito localidades em que a espécie pode ou retirada de lenha, no entanto, a gerên- ser encontrada. cia da usina é consciente da intrusão de Não existem nascentes de água caçadores nos seus fragmentos florestais. nesse fragmento, no entanto, ao lado de Na Mata do Capiatã, no Sítio Pau- uma das bordas existe um pequeno riacho Brasil, existe uma base avançada da Reser- e um grande açude que é margeado por va da Biosfera da Mata Atlântica. No local vegetação exuberante. O riacho capta são oferecidos cursos de capacitação para água para irrigação do canavial e também professores e aulas de educação ambiental abastece o açude. Entre a mata e a outra para crianças da região. Além disso, é sede margem onde está o açude existe um de uma sementeira de mudas nativas para canal de passagem de vinhoto utilizado na o programa de reflorestamento. fertirrigação do canavial. A usina instalou algumas “pontes de passagem” sob esse canal para os animais conseguirem chegar Usina Porto Rico até o açude. A Mata do Matão foi o único A Mata do Matão é rodeada por remanescente visitado nessa usina estradas, uma delas bastante utilizada (9º46’12’’S/36º14’23’’W), localizada no para o acesso a municípios vizinhos, com município de Campo Alegre e próxima trânsito constante de caminhões e ônibus à Usina Sinimbu, local de um registro não apenas na época de safra. histórico do mutum-de-alagoas. Esse Em parte da mata, é possível fragmento parece ser um dos mais observar muitas clareiras e grande representativos da região, com 1.000 quantidade de árvores podres. Não foi ha de floresta em diferente estágio de encontrado vestígio de retirada de madeira regeneração. Há alguns anos, a mata nem de lenha, no entanto há muitos 34 Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas

arrastos de caçadores por toda a mata, árvores adultas. Essas áreas onde há corte apesar dessa ser vigiada constantemente seletivo (principalmente perto das vilas e existirem placas de alerta e proibição de moradores) estão sendo monitoradas de entrada. e um projeto de recuperação florestal vai ser implementado. São inúmeras as nascentes e riachos no interior da mata, Usina Serra Grande sendo muitas delas perenes. A Mata de Coimbra é o maior fragmento de mata situado em propriedade de usina na região, e possui cerca de 3.500 Usina Sinimbu ha. As coordenadas de referência são: Foram visitadas as matas das fazen- 9º00’02.21’’S/35º51’12.51’’W e está das do Prata (9º54’08.7’’S/ 36º08’04.9’’W) localizada no município de Ibateguara. e Riachão (9º56’26.5’’S/36º09’00.7’’W), Vários estudos estão sendo ambas localizadas no município de Jequiá desenvolvidos, em Coimbra, como da Praia. Essas duas áreas encontram-se subsídio para desenvolver protocolos em estado completo de degradação. As para a restauração da Floresta Atlântica grotas antes florestadas encontram-se do Nordeste. Estudos de identificação parcialmente descobertas, expondo o solo de árvores, aves, mamíferos, abelhas e a ações de intempéries. Durante a visita formigas que fazem parte da dispersão e da equipe de campo, foram observados predação de sementes, polinização das vários arrastos de caçadores no interior plantas, herbivoria, produção de frutos das matas, além de árvores cortadas, ca- e sementes e regeneração da floresta já çadores e pessoas apreendendo aves. Não estão sendo desenvolvidos, desde o ano havia vigilância ou placas de sinalização 2000, por uma equipe de pesquisadores em nenhum dos fragmentos visitados. da UFPE e do Cepan. Na Fazenda do Prata, praticamente Na Mata de Coimbra, há uma toda a área florestada foi cortada e dominância de espécies produtoras de posteriormente queimada. Os fragmentos frutos como Sapotaceae, Annonaceae, se encontram em estágio inicial de Mimosaceae, Melastomataceae, etc. No regeneração. O mesmo se observa na entanto, é observado que esses frutos são Fazenda Riachão e em outras áreas pouco consumidos. visitadas brevemente (fazendas Taquari, Cacimbão, Pau Amarelo, Mangabeira e Florística e fisionomicamente, Luziápolis). A Fazenda Mangabeiras foi, a Mata de Coimbra apresenta uma no passado, área de registro do mutum- vegetação exuberante, no entanto existem de-alagoas (PINTO, 1952). áreas na mata (antigos sítios de moradores) que se encontram com a fisionomia bastante alterada e em estágios de Usina Sumaúma conservação e regeneração diferenciados. Duas matas foram visitadas na Existem locais com fisionomia de floresta Usina Sumaúma, a Mata das Carobas primitiva, principalmente nos fundos de (9º47’07.9’’S/35º58’49.0’’W), e a Mata vale. Grande parte da mata já foi cortada da Fazenda Charles (9º44’24.7’’S/ há cerca de 50 anos, mas já se encontram 35º57’00.6’’W), ambas localizadas no em estágio avançado de regeneração. município de Marechal Deodoro. Ainda existe corte seletivo, mas não de 35 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

Cerca de 90 ha da Fazenda Usina Triunfo Charles foram transformados em RPPN A Mata do Quebra Carro está como forma de preservar a mata nativa localizada no município de Boca da e as dezenas de nascentes da área. A Mata e as coordenadas de referência são mata encontra-se bastante preservada 9º37’58.5’’S/36º06’44.8’’W. principalmente na área de recreação restrita à executiva da usina, que apresenta um Apresenta uma área de extraordi- dossel relativamente fechado e uniforme nária beleza cênica. No interior da grota com árvores emergentes que ultrapassam há um riacho que passa por várias quedas 20 m. O acesso é restrito e existe portão d’água até desembocar no outro lado da com cadeado na entrada. Localiza-se ao mata. Toda a mata está situada no interior lado da usina, próximo à vila de moradores. de uma grota e possui 400 ha em estágio Aparentemente não há caça ou retirada de médio de regeneração, apresentando, madeira. Existe uma vila nas imediações. também, em muitos pontos, áreas em regeneração inicial. A Mata das Carobas dista aproxi- madamente 20 km da usina. Possui cerca A mata ocupa o fundo do vale de 800 ha e faz divisa com matas de outras e as encostas são bastante íngremes propriedades (Usina Roçadinho). Existem na maior parte da sua extensão, no várias estradas nas proximidades utilizadas entanto, é estreita e várias trilhas cortam principalmente no período de safra, transversalmente a mata que é utilizada algumas estradas margeiam o fragmento. como caminho de trabalhadores durante Foram observadas duas estradas de acesso o período de safra. à mata e apenas uma delas apresentava Segundo informações obtidas portão. na área, o riacho que corta a mata vem A área é parcialmente vigiada, de nascentes do “tabuleiro” situadas na mas não impede que caçadores construam porção mais superior. Eventualmente, esta acampamentos no seu interior. A Mata água pode estar contaminada por resíduos das Carobas é, esporadicamente, alvo de de agrotóxicos e outros insumos utilizados incêndios causados por esses caçadores, na cultura da cana-de-açúcar. Nessa área além disso, muita madeira é retirada das deverá ser construído o Centro de Visita- encostas próximas à estrada. ção do mutum-de-alagoas. A mata, principalmente no fun- do da grota, apresenta uma fisionomia Usina Utinga Leão de mata tardia, com muitas árvores emergentes e grande quantidade de Foram visitados dois grandes epífitas, principalmente bromélias. fragmentos na Usina Utinga Leão: a Mata da Sálvia (9º31’29.57’’S/35º49’32.3’’W) Segundo informações locais, a e a Mata do Cedro (9º31’56.3’’S/ Mata das Carobas pertenceu a uma família 35º54’51.5’’W). Ambas as matas da cidade de Marechal Deodoro que fabri- localizam-se no município de Rio Largo. cava móveis. Pode-se supor, dessa forma, que toda a madeira nobre já tenha sido A Mata da Sálvia situa-se ao lado objeto de alguma exploração nessa mata. do caminho de acesso à usina. É uma A usina assumiu a área em 1975, quando estrada com trânsito constante de carros, ainda havia mutum-de-alagoas nessa loca- ônibus e caminhões. Essa estrada divide lidade (informações de mateiros locais). a mata em duas porções: a parte de mata 36 Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas

que fica mais próxima à usina tem várias principalmente caçadores, entrem trilhas, facilitando o trânsito de pessoas motorizadas na propriedade. Segundo que as utilizam para cortar caminho até a administração da usina, é possível o asfalto. Essa mata ainda apresenta linha encontrar nas trilhas armadilhas feitas com de transmissão de energia que corta a canos que funcionam como espingardas mata no sentido transversal. As grotas são improvisadas e de disparo automático. bastante íngremes e muitas delas são de Vários tiros foram ouvidos durante a difícil acesso. visita. Foi possível observar no interior Há uma grande área aberta entre a da mata muita madeira cortada e lenha Mata do Cedro e os outros fragmentos – os retirada, além disso, tiros foram ouvidos canaviais – que estão sendo abandonados em duas ocasiões. Na borda, observou-se para dar lugar a pastos. Essa região é toda muito lixo que não parecia ser doméstico. cercada e existem várias áreas encharcadas Em uma das grotas foi encontrado um carro (paludosas). sem os vidros, os bancos e as peças. A duplicação da BR-101 em Alagoas Apesar disso, a mata apresenta afetará diretamente a Mata do Cedro, fisionomia de mata madura com árvores necessitando haver acompanhamento que chegam a 40 m no fundo de algumas por parte dos órgãos públicos sobre grotas, entre elas destaca-se Terminalia os impactos provocados pela obra. O brasiliensis (mirindiba), bastante rara na projeto executivo, bem como o manejo região. da faixa de domínio da rodovia, devem ser A Mata do Cedro e outros feitos de forma a minimizar os impactos, fragmentos muito próximos possuem especialmente os referentes à perda 1.000 ha. Parte dessa mata já sofreu corte de habitat e fragmentação. Os recursos seletivo e está em plena recuperação. No oriundos de compensação ambiental entanto há grotas com árvores emergentes podem ser direcionados para a recuperação que chamam a atenção. Esse conjunto de das matas localizadas nas áreas de soltura fragmentos e a Mata do Cedro são cortados do mutum-de-alagoas. Para a pequena pelo Rio da Conceição, que também passa Mata do Humaitá (não visitada) já houve ao lado da usina. No interior das matas, há registro do mutum-de-alagoas. Hoje essa várias nascentes que desembocam nesse mata é um pequeno fragmento. rio e também no açude. Uma tubulação de gasoduto da Petrobras corta parte da mata. A Mata do Cedro chama a atenção 5 População em de caçadores pela grande quantidade de caça. As cotias (Dasyprocta aguti) são cativeiro abundantes nas estradas e trilhas dentro Todos os exemplares de Pauxi da mata. mitu conhecidos são oriundos de aves Existe uma estrada que atravessa capturadas pelo criador Pedro Mário a Mata do Cedro, mas o acesso é restrito Nardelli, no final da década de 1970, por causa das correntes e dos cadeados. cujos descendentes encontram-se hoje Várias outras estradas de acesso às matas em dois criadouros no estado de Minas das proximidades também oferecem essa Gerais. Nardelli narra a história das aves resistência, que é uma forma encontrada em seu livro “A preservação do mutum-de- pela usina de impedir que pessoas, alagoas Mitu mitu”, assim como algumas 37 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

pesquisas que realizou com a espécie de Pauxi mitu, com o restante apresentando quando essas estavam sob sua guarda características que sugerem hibridação (NARDELLI, 1993). O primeiro exemplar com Pauxi tuberosa. da coleção de Nardelli foi obtido em A avaliação fenotípica, com base novembro de 1976, uma fêmea cativa nos caracteres diagnósticos (SILVEIRA proveniente da cidade de São Miguel dos et al., 2004), é ferramenta segura Campos. Segundo o proprietário que doou para identificar os indivíduos de Pauxi a ave, o espécime tinha 6 anos e procedia mitu (GRAU et al., 2003). Entretanto, do município de Roteiro. Essa ave morreu análises genéticas são fundamentais e pouco tempo depois. Em 1979, Nardelli imprescindíveis para indicar os melhores obteve cinco exemplares do mutum-de- pareamentos, visando aumentar a alagoas, dois machos e três fêmeas, sendo variabilidade genética da espécie. que um casal não se reproduziu. Dessa forma, todo o conjunto gênico existente Os métodos utilizados para a da espécie é oriundo de apenas um macho reprodução das aves são diferentes nos e duas fêmeas. dois criadouros, mas ambos utilizam chocadeiras elétricas, retirando os ovos das Em 1990, o criadouro de Pedro fêmeas após a postura. Com a retirada dos Nardelli, no Rio de Janeiro, contava com ovos, as fêmeas são estimuladas a novas 19 exemplares do mutum-de-alagoas, posturas dentro de uma mesma estação sendo que no mesmo ano foi realizado o reprodutiva. Além disso, o criadouro da cruzamento com Pauxi tuberosa. Em 1999 Crax utiliza-se de um único macho para o plantel, que contava com 43 aves, foi fertilizar várias fêmeas, promovendo o transferido do Rio de Janeiro para dois encontro dos casais somente quando criadouros em Minas Gerais, a Fundação esses apresentam sinais que favoreçam Crax, em Contagem, pertencente ao o cruzamento. Dessa forma, a Fundação pesquisador Roberto Azeredo, que Crax obtém mais ovos férteis por fêmea a recebeu 23 indivíduos, e o Criadouro cada estação reprodutiva do que obteria Científico e Cultural Poços de Caldas, em condições normais. Em Poços de em Poços de Caldas, pertencente ao Caldas, as aves são mantidas em casais. pesquisador Moacyr de Carvalho Dias, que recebeu 20 aves. Cinco exemplares A necessidade de se transferir recebidos pela Crax, por problemas físicos algumas aves para outros criadouros, diversos, não serviam para a reprodução diminuindo assim o risco de perda da e o plantel reprodutivo foi constituído população por epidemias foi discutida por 18 aves. A população existente desta nas reuniões do Comitê da espécie. espécie está dividida da seguinte forma: Alguns candidatos, com estrutura para darem continuidade ao programa de Crax: 88 indivíduos, dos quais reprodução são o Zoológico de São Paulo aproximadamente 60% possuem caracte- e o criadouro de cracídeos e tinamídeos rísticas fenotípicas de Pauxi mitu, enquanto pertencente a Centrais Elétricas de São que os outros 40% apresentam fenótipo Paulo (Cesp) em Paraibuna. Os trâmites que reúne características desta espécie para a transferência de alguns indivíduos com Pauxi tuberosa (GRAU et al., 2003). para o Zoológico de São Paulo estão em Criadouro Científico e Cultural andamento. Poços de Caldas: 33 indivíduos, cerca de 75% deles com características fenotípicas 38 Parte 2 PLANO DE CONSERVAÇÃO

Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas

1 Objetivos gerais

O objetivo deste plano de ação é assegurar permanentemente a manutenção das populações em cativeiro de Pauxi mitu, promover o aumento tanto do efetivo populacional quanto do número de populações e propiciar a reintrodução da espécie nos remanescentes florestais dentro de sua provável área de distribuição original. Para que essas metas sejam atingidas são propostos diversos objetivos específicos dentro de diferentes áreas temáticas, conforme descrito abaixo.

sobre o programa de conservação da 2 Objetivos espécie. específicos Os prazos para que cada objetivo específico seja alcançado possuem seis Cada objetivo específico recebeu níveis: um nível de prioridade, um prazo e uma Imediato: um objetivo específico que indicação dos possíveis atores envolvidos deve ser alcançado no prazo de 1 para a execução. ano; A escala de prioridades indica a relevância qualitativa dos objetivos Curto: um objetivo específico que para a conservação da espécie e possui deve ser alcançado no prazo de 1 a quatro itens: 3 anos; Fundamental: um objetivo específico Médio: um objetivo específico que cujo cumprimento é indispensável deve ser alcançado no prazo de 1 a para o programa de conservação da 5 anos; espécie; Longo: um objetivo específico que Alta: um objetivo específico cujo deve ser alcançado no prazo de 1 a cumprimento provoca alto impacto 10 anos; sobre o programa de conservação da Contínuo: um objetivo específico que, espécie; uma vez iniciado, deve perdurar durante Média: um objetivo específico cujo todo o programa de conservação; cumprimento provoca médio impacto Completo: um objetivo específico sobre o programa de conservação da que já tenha sido alcançado durante espécie; a preparação deste plano de ação (as Baixo: um objetivo específico cujo ações associadas a esses objetivos podem cumprimento provoca baixo impacto necessitar de revisão, dependendo das circunstâncias futuras). 41 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

Os objetivos específicos estão o monitoramento do cumprimento da divididos nas seguintes áreas: referida lei. 2.1 Políticas públicas e legislação; Prioridade: fundamental. 2.2 Proteção da espécie e seu habitat; Prazo: contínuo. 2.3 Pesquisas; Atores: ONGs, instituições de ensino 2.4 Manejo das populações em e pesquisa, IMA/AL, ICMBio, Ibama, cativeiro. MMA, IMA/AL, CPRH, Oemas.

2.1 Políticas públicas e 2.1.4 Assegurar que a análise, licenciamento e aprovação de empreendimentos legislação econômicos desenvolvidos na área de provável reintrodução de Pauxi mitu 2.1.1 Incentivar a adoção de instrumentos contemplem medidas mitigadoras e socioeconômicos voltados para a proteção compensatórias que gerem benefícios dos remanescentes de habitat como, por para a conservação desta e de outras exemplo, ICMS ecológico, Royalties de espécies ameaçadas. carbono, etc. Prioridade: fundamental. Prioridade: alta. Prazo: contínuo. Prazo: contínuo. Atores: Ministério Público, ICMBio, Atores: Poder legislativo com gestão do Ibama, MMA, IMA/AL, CPRH, ICMBio e MMA. Oemas.

2.1.2 Exigir o cumprimento da Lei nº 2.1.5 Modificar a Lei de Crimes Ambien- 4.771/65 (Código Florestal) e seus com- tais de modo a considerar a caça, a cap- plementos em toda a área de distribuição tura ou o comércio de animais silvestres original da espécie, havendo a obrigato- como infração gravíssima sujeita à prisão riedade da averbação das áreas de reserva sem fiança. legal e de preservação permanente como Prioridade: fundamental. condicionante para a obtenção de finan- ciamentos públicos e qualquer autoriza- Prazo: imediato. ção ou licenciamento requeridos. Atores: Poder legislativo com gestão Prioridade: fundamental. do Ministério Público, IMA/AL, CPRH, ICMBio, Ibama, MMA. Prazo: contínuo.

Atores: Ministério Público, Poder 2.1.6 Elaborar e implementar o zone- legislativo, Ibama, MMA, IMA/AL, amento econômico-ecológico para os CPRH, Oemas. estados de Alagoas e Pernambuco. Prioridade: fundamental. 2.1.3 Elaborar mapeamento das áreas de reserva legal e APPs, constituídas pela Prazo: médio. Lei nº 4.771/65, na região potencial Atores: IMA/AL, CPRH, Oemas. 42 de reintrodução de Pauxi mitu, visando Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas

2.2 Proteção da espécie e seu 2.2.5 Implementar programas de recuperação da vegetação nos locais habitat potenciais de reintrodução de Pauxi mitu. 2.2.1 Incentivar e apoiar a criação de RPPNs nas áreas de potencial ocorrência Prioridade: alta. de Pauxi mitu. Prazo: contínuo. Prioridade: alta. Atores: proprietários de fragmentos Prazo: contínuo. florestais, ONGs, Oemas, ICMBio. Atores: ONGs, ICMBio, Oemas. 2.2.6 Criação de corredores entre fragmentos de floresta dentro da área 2.2.2 Investir em melhorias de infra- potencial de distribuição do Pauxi mitu. estrutura e de pessoal nas unidades de conservação potenciais para a reintrodução Prioridade: fundamental. de Pauxi mitu, especialmente no que se Prazo: contínuo. refere à fiscalização. Atores: proprietários das áreas de Prioridade: fundamental. interesse, ONGs, Oemas, Ibama, Prazo: contínuo. ICMBio. Atores: ONGs, Proprietários de RPPNs, Oemas, Ibama, ICMBio. 2.3 Pesquisas

2.2.3 Implementar efetivamente a Estação 2.3.1 Realizar estudos fenológicos, Ecológica Murici, em especial a regulari- fitossociológicos e faunísticos nos zação fundiária, fiscalização e elaboração fragmentos potenciais para reintrodução do plano de manejo. do Pauxi mitu. Prioridade: alta. Prioridade: fundamental. Prazo: médio. Prazo: médio. Atores: Ministério Público, ICMBio. Atores: instituição de ensino e pesquisa, ONGs, ICMBio. 2.2.4 Estabelecer programas específicos de educação ambiental nos municípios 2.3.2 Fomentar e desenvolver pesquisas onde há fragmentos importantes para a visando melhorar a manutenção e a reintrodução do Pauxi mitu. reprodução em cativeiro do Pauxi mitu. Prioridade: alta. Prioridade: fundamental. Prazo: contínuo. Prazo: imediato. Atores: ONGS, secretarias de educação, Atores: MMA, ICMBio, MCT, CNPq, instituições de ensino e pesquisa, ONGs, mantenedores, instituições de ICMBio. ensino e pesquisa. 43 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

2.4 Manejo das populações Prioridade: alta. em cativeiro Prazo: curto. Para uma espécie tão ameaçada Atores: mantenedores, instituições de como Pauxi mitu é fundamental a manuten- ensino e pesquisa, ICMBio. ção da reprodução em cativeiro, tratando todos os indivíduos ex-situ como uma única 2.4.5 Desenvolver técnicas de reprodução população. Os espécimes cativos devem assistida para aumentar o sucesso ser distribuídos em vários mantenedores, reprodutivo do programa de conservação prevenindo assim que um problema que em cativeiro. afete um mantenedor, como doenças, não afete toda a população existente. Prioridade: alta. Prazo: longo. 2.4.1 Fomentar a criação de Pauxi mitu em cativeiro e fortalecer as instituições que Atores: mantenedores, instituições de atuam na manutenção da espécie. ensino e pesquisa, ICMBio. Prioridade: fundamental. 2.4.6 Criar protocolo de manejo em Prazo: imediato. cativeiro que possa ser usado em todos os centros de reprodução da espécie. Atores: MMA, ICMBio, MCT, CNPq, ONGs, mantenedores, instituições de Prioridade: fundamental. ensino e pesquisa. Prazo: imediato. 2.4.2 Transferir algumas matrizes de Pauxi Atores: mantenedores, ICMBio. mitu aos novos centros de reprodução selecionados, aumentando a segurança 2.4.7 Realizar curso de qualificação para biológica e as possibilidades reprodutivas gerenciadores de livros de registro genea- da população como um todo. lógico e assegurar que o gerenciador tenha Prioridade: fundamental. à disposição as ferramentas necessárias de manejo de populações. Prazo: imediato. Prioridade: fundamental. Atores: Ibama, ICMBio, mantenedores. Prazo: imediato. 2.4.3 Realizar estudos genéticos para Atores: ICMBio. melhorar o manejo da população cativa. Prioridade: fundamental. 2.4.8 Elaborar o Livro de Registros Gene- alógicos da Espécie. Prazo: médio. Prioridade: fundamental. Atores: instituições de ensino e pesquisa, mantenedores, ICMBio. Prazo: imediato. Atores: mantenedores, instituições de ensino e pesquisa, ICMBio. 2.4.4 Determinar valores laboratoriais de referência para a espécie. 44 Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas

2.4.9 Promover a capacitação de técnicos Prazo: médio. para o manejo de Pauxi mitu em cativeiro. Atores: mantenedores, ONGs, institui- Prioridade: alta. ções de ensino e pesquisa, ICMBio. Prazo: contínuo. 2.5.4 Selecionar fragmentos potenciais Atores: mantenedores, ICMBio, para reintrodução. MMA. Prioridade: fundamental. Prazo: curto. 2.5 Projetos de reintrodução Atores: ONGs, instituições de ensino e O estabelecimento de programas pesquisa, ICMBio. de reintrodução é fundamental para a recuperação da espécie, sempre respeitando os princípios básicos 2.5.5 Efetivar a proteção das localidades estabelecidos pela IUCN (IUCN, 1998). selecionadas para reintrodução de Pauxi Para o sucesso do programa, é fundamental mitu. que sejam eliminados todos os fatores que Prioridade: fundamental. provocaram a extinção da espécie. Prazo: contínuo. 2.5.1 Promover o uso de Pauxi mitu Atores: Ibama, proprietários de frag- como “espécie bandeira” nos programas mentos florestais, ICMBio. de educação ambiental, em especial nos municípios onde existem fragmentos para reintrodução da ave. Prioridade: média. Prazo: contínuo. Atores: ONGs, prefeituras, empresários do setor sucroalcooleiro.

2.5.2 Fomentar pesquisas visando desenvolver técnicas, selecionar e preparar aves para a reintrodução. Prioridade: média. Prazo: longo. Atores: mantenedores, instituições de ensino e pesquisa, ICMBio.

2.5.3 Estabelecer um protocolo de reintrodução de Pauxi mitu. Prioridade: média. 45

Plano de Ação para a Conservação do Mutum-de-Alagoas

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