ADI-15.008901-9-Itamarati De Minas-Lei Municipal Que Autoriza O
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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA EXCELENTÍSSIMO DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS , no uso de suas atribuições constitucionais, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro no art. 118, inciso III, da Constituição do Estado de Minas Gerais, no art. 29, inciso I, da Lei n.º 8.625/93 e no art. 69, inciso II, da Lei Complementar n.º 34/94, propor AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE em face da Lei n.° 508, de 13 de fevereiro de 2007, do Município de Itamarati de Minas , pelos motivos que a seguir passa a expor. __________________________________________________________________________________________ Coordenadoria de Controle de Constitucionalidade Rua Dias Adorno, n.º 367/9º andar Santo Agostinho – Belo Horizonte – MG 1 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA 1 Fundamentação 1.1 Do texto legal hostilizado LEI N.º 580/2007: “Autoriza o Executivo Municipal de Itamarati de Minas, a fazer doações na forma em que menciona, de atendimento direto ao Público, nas áreas de assistência Social, Médica, Educacional e de incentivo Agrícola.” [...] Art. 1º. Fica o Poder Executivo Municipal autorizado a conceder os seguintes auxílios às pessoas físicas: I. Auxílio funeral; II. Auxílio moradia; III. Auxílio transporte; IV. Auxílios de assistência médica, hospitalar e de medicamentos; V. Cestas básicas e colchões; VI. Materiais de construção para reforma e/ou construção de moradias populares; VII. Cadeiras de rodas, próteses para portadores de necessidades especiais; VIII. Livros e materiais escolares; IX. Serviços de aração, gradeação e pequenos serviços com retroescavadeira; X. Pequenos serviços em propriedades rurais visando aumentar a produtividade de forma econômica e sustentável; XI. Transporte de calcário e outros insumos de sua origem aos pequenos produtores rurais do Município; § 1°. As concessões de que tratam esse artigo somente serão concedidas às pessoas físicas carentes, com exceção dos auxílios previstos nos incisos IX, X e XI, observadas as disponibilidades financeiras constantes no orçamento vigente. § 2°. Entende-se por pequeno produtor rural, no conceito desta Lei, todo aquele proprietário, arrendatário ou posseiro que explore diretamente a atividade produtiva agro-pastoril em área não superior a 100 (cem) hectares; Art. 2° - Serão considerados, para os efeitos desta Lei, carentes as pessoas que possuem renda inferior a 03 (três) salários mínimos mensais, devidamente comprovados; Art. 3° - A Prefeitura Municipal, dentro de suas possibilidades poderá prestar assistência técnica aos interessados, fornecendo assessoria quanto à execução dos projetos básicos e executivos das construções; __________________________________________________________________________________________ Coordenadoria de Controle de Constitucionalidade Rua Dias Adorno, n.º 367/9º andar Santo Agostinho – Belo Horizonte – MG 2 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA Art. 4° - As doações de materiais didáticos e escolares beneficiarão, preferencialmente, os alunos da rede Municipal de ensino e tempo por objetivo incentivar a manutenção e o desenvolvimento do ensino no Município, possibilitando aos carentes e/ou necessitados as mesmas condições mínimas para o bom aprendizado e desenvolvimento educacional e cultura. Art. 5° - Os serviços de que trata o inciso IX do artigo 1° poderão ser executados com máquinas e equipamentos do Município ou locados de terceiros. Art. 6° - Para cumprimento dos objetivos da presente Lei, fica o Prefeito Municipal devidamente autorizado a proceder a suplementação das dotações orçamentárias previstas para as Secretarias cuja doação ou custeio envolva. Art. 7° - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação. Itamarati de Minas, 13 de fevereiro de 2007. 1.2 Lei que autoriza o Executivo Municipal a conceder a particulares benefícios sociais de forma indiscriminada. Malferimento dos princípios da moralidade administrativa, da impessoalidade, da isonomia, da legalidade e da indisponibilidade. Inconstitucionalidade material. É possível inferir que o texto legal transcrito malfere o artigo 37, caput, da Constituição da República e, igualmente, os artigos 13 e 166, inciso VI, ambos da Constituição do Estado de Minas Gerais. De acordo com os referidos dispositivos constitucionais: Art. 37 - A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade , impessoalidade , moralidade , publicidade e eficiência. Por sua vez, as cláusulas insertas na Constituição do Estado dispõem: Art. 13 – A atividade de administração pública dos Poderes do Estado e a de entidade descentralizada se sujeitarão aos princípios de __________________________________________________________________________________________ Coordenadoria de Controle de Constitucionalidade Rua Dias Adorno, n.º 367/9º andar Santo Agostinho – Belo Horizonte – MG 3 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA legalidade , impessoalidade , moralidade , publicidade, eficiência e razoabilidade . [...] Art. 166 – O Município tem os seguintes objetivos prioritários: [...] VI - preservar a moralidade administrativa . [...] (grifos nossos) Divisa-se, portanto, que, no cotejo com as cláusulas constitucionais trazidas à colação, a Lei Municipal fustigada mostra-se diametralmente oposta àqueles princípios cogentes. É possível que, prima facie, cause perplexidade um princípio referente à Administração Pública poder vincular o Legislador, mormente o municipal. No entanto, tal vinculação se dá na medida em que os princípios em comento se inserem entre aqueles cuja denominação ofertada pela doutrina é a de princípios constitucionais estabelecidos , segundo a qual: [...] consistem em determinadas normas que se encontram espalhadas pelo texto da Constituição, e, além de organizarem a própria federação, estabelecem preceitos centrais de observância obrigatória aos Estados-membros em sua auto-organização. Subdividem-se em normas de competência e normas de preordenação .1 Ou, como expõe magistralmente Raul Machado Horta: A diversidade organizatória recebeu o contraste do princípio da homogeneidade, que, na expressão de Carl Schmitt , dissolve as antinomias dentro da Federação. Para preservar a diversidade dentro da homogeneidade, a autonomia do Estado-Membro passa a receber normas centrais crescentes no texto da Constituição Federal. As normas dos direitos e garantias fundamentais, as normas de repartição de competências, as normas dos Direitos Políticos, as normas de preordenação dos poderes do Estado-Membro, as normas dos princípios constitucionais enumerados, - forma republicana, sistema representativo, regime democrático, autonomia municipal, 1 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional . 21. ed. São Paulo: Atlas, 2007. 994p. p. 257. __________________________________________________________________________________________ Coordenadoria de Controle de Constitucionalidade Rua Dias Adorno, n.º 367/9º andar Santo Agostinho – Belo Horizonte – MG 4 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA direitos da pessoa humana - as normas da administração pública , as normas de garantias do Poder Judiciário e do Ministério Público, as normas — princípios gerais do Sistema Tributário, as normas de limitação e de instituição do poder tributário, as normas — princípios gerais da atividade econômica, as normas da Ordem Social, constituem os centros de irradiação das normas centrais da Constituição que, no federalismo brasileiro de 1988, se projetaram na modelagem e conformação da autonomia do Estado-Membro, com incidência na atividade constituinte, na atividade legislativa , na atividade administrativa e na atividade jurisdicional do Estado Federado. 2 (grifos nosso e do autor) No mesmo sentido decidiu nossa Suprema Corte: Os Estados-Membros encontram-se sujeitos, em face de explícita previsão constitucional (art. 37, caput ), aos princípios que regem a Administração Pública , dentre os quais ressalta a vedação de qualquer vinculação e equiparação em matéria de vencimentos. As exceções derrogatórias dos princípios gerais concernentes à aposentadoria dos agentes públicos só se legitimam nas estritas hipóteses previstas no texto da Constituição. O Estado-Membro não dispõe de competência para estender aos membros integrantes da Advocacia-Geral do Estado o regime jurídico especial que, em matéria de aposentadoria, a Constituição Federal conferiu aos Magistrados. 3 (grifo nosso) Destarte, não há razão para a não aplicação dos princípios da moralidade administrativa, da legalidade, da impessoalidade, da isonomia e da indisponibilidade à atividade legiferante da entidade federada periférica. Estabelecida tal premissa, impõe-se reconhecer a flagrante inconstitucionalidade operada pela indigitada Lei Municipal. 2 HORTA, Raul Machado. Direito constitucional . 4. ed. rev. atual. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p.286-7. 3 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 514-MC. Pleno. Rel. Min.Celso de Mello. DJ 18.03.94. __________________________________________________________________________________________ Coordenadoria de Controle de Constitucionalidade Rua Dias Adorno, n.º 367/9º andar Santo Agostinho – Belo Horizonte – MG 5 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA Inicialmente,