A Personalidade Científica De António Gião
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A PERSONALIDADE CIENTÍFICA DE ANTÓNIO GIÃO José Carlos Brandão Tiago de Oliveira Dissertação Apresentada à Universidade de Évora para obtenção do grau de Doutor em História e Filosofia da Ciência. Orientadores: Professor Doutor Augusto J. Franco de Oliveira (Professor Emérito da Universidade de Évora) Professor Doutor Manuel da Costa Leite (Professor Catedrático da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia) Livro 1/2 Universidade de Évora 2012 A PERSONALIDADE CIENTÍFICA DE ANTÓNIO GIÃO RESUMO A presente Tese aspira a ser a primeira biografia de um cientista olvidado, e justificar tal esquecimento. Inicia-se no postular de uma metodologia – a pragmática do discurso científico – e com uma revisão de literatura actual pertinente. Uma vida intelectual começada em Coimbra, com a autonomização de um jovem que escreve cartas e vai a congressos, sem querer saber do apoio dos seus Lentes. Estrasburgo e Bergen representam uma maturidade precoce, associada, na cidade alsaciana, à publicação de textos em francês e alemão, sendo de relevar para as notícias de eventos; na norueguesa, à participação na descoberta dos métodos que originam os três livros de Paris, onde ocorrerá o primeiro grande conflito, que o isola. Frutos desse isolamento, um trajecto pouco conseguido pela Física Fenomenológica, e inúmeros projectos sem sequência. A guerra e o “exílio” em Reguengos levam-no a uma fulgurante mudança para a Física Fundamental, essencialmente vivida em Paris, com expressão também em periódicos portugueses. Trajecto bruscamente interrompido em 1951, ano em que se afasta de Louis de Broglie. O retorno à Meteorologia dá-se a partir de um invento, cujo insucesso se dilui na larga obra em torno àquela ciência. As suas relações mais fortes estão doravante em Itália, e acede aos temas propostos por Piccardi, que serão abordados. O regresso a Portugal, em 1960, é marcado por uma intervenção mais eclética, pois ensina duas disciplinas na Faculdade de Ciências, sendo que nesta instituição se acumulam diferendos com estudantes e colegas; e dirige a partir de 1963 o Centro de Cálculo Científico, sendo assim ambos – o Centro e o Director – pioneiros da Informática em Portugal; o seu perfil científico é, nos anos finais, o da revista do Instituto Gulbenkian de Ciência, onde passa a publicar quase exclusivamente. Às áreas da Meteorologia e da Física Matemática, vêm juntar-se a Climatologia Dinâmica (com reconhecimento público), a Cosmologia (com visível internacionalização) e de novo as partículas elementares, onde são abandonados os modelos dos anos 40, pronunciando em 1967 a conferência que pode ter sido o seu “canto do cisne”, dado que o esboço de memórias que apresento contém uma enorme amargura. Estes tópicos são abordados cronológica e tematicamente. A Tese aborda quase uma centena de documentos essencialmente inéditos, e culmina com uma sistemática. 2 THE SCIENTIFIC PERSONALITY OF ANTÓNIO GIÃO ABSTRACT This Dissertation aims to be the first biography of a scientist fallen into oblivion, and to explain how he was forgotten. It starts by the postulation of pragmatics of scientific discourse as a methodology, and reviews pertinent literature on scientific biographies. His career starts as an independent young student, writing to scholars and attending scientific meetings unconcerned with his masters. Strasbourg and Bergen are instances of his early maturity, linked in the former with early papers in French and in German, some of them as reports of scientific events; in the latter, in the conception of mathematical methods published as three books in Paris. Here, the first major conflict will take place, enacting his isolation. A fruit of his loneliness will be an inconsequent travel along Phenomenological Physics. War and “exile” in his native village lead him swiftly towards Fundamental Physics, expressed in his return to Paris and through publication in Portuguese journals. A lifeline suddenly interrupted in 1951, when the rupture with his mentor, Louis de Broglie, occurred. Gião’s start-over in Meteorology begins in 1952 through an invention; the absence of success of this device merges unnoticed among his large scientific production. These are the Italy years, and Piccardi’s experiment appears as a new subject in his research. Return to Portugal in 1960 is the moment of eclectic intervention: – he teaches two chairs in the Faculty of Sciences; – there, however, conflicts take place, towards the students and colleagues; – he heads the “Centro de Cálculo Científico” since 1963, thus being – both the Centre and the Director – the pioneers of Informatics in Portugal; – the journal of his Centro coincides from there onwards with his scientific profile. Meteorology, with an emphasis in Dynamic Climatology, Mathematical Physics, and Cosmology are main areas of work, as well as particle physics, where he abandons models developed in the forties; – his 1967 conference may have been the “swan’s farewell song”, since the next (and last) two years are of residual publishing after a severe kidney disease. The above topics are treated both chronologically and thematically. The Dissertation reviews a hundred original documents and concludes with a systematic analysis. 3 4 DEDICATÓRIA A Sónia Romão, Maria João Antas, Sandra Pereira, Ilídio Gaspar, Carla Calado, Helena Barbosa, primeiros estudiosos de Gião, que me precederam, onde quer que estejam. A Ruy E. Pinto, António Ribeiro, Evangelina Tomás, que sempre me apoiaram.A Alcinda, que continua a apoiar. AGRADECIMENTOS Agradeço penhoradamente: − aos Orientadores, à sua inabalável Amizade, confiança, presença e ponderação; − à Luísa, historiadora e irmã, cujas sugestões devia sabido seguir mais cedo; − ao Prof. Stéphane Rouault, que transcreveu a peça mais difícil; − ao Presidente Manuel Freire, ao Sr. José Prego Casco, aos Srs. Margarida e João, da Sociedade Portuguesa de Autores, proprietária do incomparável fulcro de pesquisa que é a Casa António Gião; à Sociedade, à Casa, a cada um deles a gratidão pelo empenho pessoal e pelas condições de investigação que me concederam; − ao Presidente Victor Martelo, à Dr. ª Ana Paula Amendoeira, e ao Dr. Duarte Galhós, da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz. − a quem me leu e dactilografou no início, Sandra Lagarto, pelo seu rigor; − às Instituições que me apoiaram, aos seus dirigentes e demais Amigos: − Departamento de Matemática, Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa, Centro de História e Filosofia da Ciência, Instituto Bento da Rocha Cabral; − às instituições que manifestaram o gosto de apoiar: Fundação Calouste Gulbenkian, Biblioteca da Faculdade de Ciências, Sociedade de Geografia, Museu da Ciência, Centro de Documentação da Reitoria da Universidade de Lisboa; − ao Legado do Professor Orlando Ribeiro e à Professora Suzanne Daveau; − ao Professor Simões Pereira (por uma conversa em 1998 e outra em 2009); − ao Professor Carlos Fiolhais pelo estímulo constante, pela inquietação intelectual permanente, e pelo acesso aos meios e ao staff da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, e pela conexão com Dr. José Leonardo, cuja investigação foi simultânea da minha; − aos Professores Manuel Esquível, João Tiago Mexia, Miguel Fonseca, do Centro de Matemática Aplicada da Universidade Nova de Lisboa, por haverem estado comigo no princípio; a António Afonso Delgado, pelo seu aparecimento num momento difícil; 5 − aos contemporâneos de António Gião que entrevistei – Professoras Lídia Salgueiro e Suzanne Daveau, Drs. Jorge Branco e José Barbeito, Profs. Dias Agudo, Furtado Coelho, João Corte-Real, Cândido Marciano, António Cadete, Rosado Fernandes e Dr. Luís Pires Gonçalves. − ao Professor Orfeu Bertolami, pelo seu saber em cosmologia; ao Henrique Leitão, pela sua apaixonada vivência de biógrafo; − ao Professor Carlos Sarrico, à sua rede de contactos, e ao meio termo que soube sempre manter entre posições antagónicas; − à Profª Olga Pombo e ao Prof. Fragoso Fernandes, pelas discussões públicas; − às memórias de três Professores que nunca esconderam as divergências com António Gião: José Tiago de Oliveira, David Lopes Gagean e José Joaquim Dionísio; e de António Almeida Costa, sempre próximo de Gião; − à memória de José Pires Gonçalves, o amigo mais íntimo, que não cheguei a conhecer; − talvez haja esquecido mais alguém; mas quero exprimir gratidão ao motor de pesquisa Google, a quem devo as descobertas menos esperadas. Esta Tese não é a de um jovem nem a de um investigador isolado. Pelo que com ele aprendi num trabalho anterior, quero lembrar o meu discipulado para com Jacinto Rodrigues, enquanto biógrafo e historiador das técnicas. Por fim, e no momento do acabamento final, estou grato pela oportunidade que me é dada de melhorar. A ordem destes sinceros agradecimentos é quase a cronológica. A sincronicidade, que por vezes se manifesta na ciência, ocorreu também durante a execução deste trabalho. O tempo da reescrita coincidiu com o da inventariação dos Livros de Actas do Conselho Escolar da Faculdade de Ciências. Pela forma cordial como me foram disponibilizados antes de serem abertos a acesso público, a minha gratidão vai para toda a equipa do Museu da Ciência. Em particular, pelo seu empenho para além do pedido, ao Dr. Vítor Gens. Um dos últimos contributos durante a reescrita, o do Prof. Rui Vaquinhas, veio a contextualizar as peças de datação mais problemática. Nesta reescrita, contei com os apoios de Ricardo Santos, João Araújo, Isabel Serra, Paulo Gonçalves, Marta Nogueira, Zé Guilherme, Paulo Castro, Anabela Teixeira. Na Universidade