As Chuvas Na Bacia Do Rio Acre E O Fluxo Das Águas Em
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AS CHUVAS NA BACIA DO RIO ACRE E O FLUXO DAS ÁGUAS EM RIO BRANCO, AMAZÔNIA OCIDENTAL Alejandro Fonseca Duarte Departamento de Ciências da Natureza, Universidade Federal do Acre – UFAC [email protected] RESUMO O conhecimento sobre as características dos fluxos dos rios amazônicos é assunto de grande interesse relacionado com a preservação ambiental e os serviços ambientais. A grande bacia hidrográfica do Amazonas e sua significação global estão sintetizadas em dez sub-bacias e numerosas microbacias que obedecem a escalas regionais e locais importantes para ecossistemas florestais, urbanos e rurais. A bacia do rio Acre faz parte da sub-bacia Solimões-Purus-Coari, tem 35 mil km2 de área de drenagem, deles 23 mil km2, a montante de Rio Branco. A relação entre chuvas e vazões reflete as características geomorfológicas da bacia, que pela sua vez se mostram nas particularidades dos registros de níveis e hidrogramas. Neste trabalho são expostos os resultados dos estudos dos hidrogramas de enchentes do rio Acre em Rio Branco, que incluem suas formas, sequências de picos e vazões associadas ao comportamento sazonal e às variabilidades climáticas na parte sudocidental da bacia amazônica. Palavras-chave: Hidrografia, Bacia do rio Acre, Amazônia. ABSTRACT Knowledge about the characteristics of the Amazon River flows is a subject of great interest related to environmental conservation and services. The vast Amazon Basin and its global significance are summarized in ten sub-basins and watersheds that meet the numerous regional and local scales relevant to forest ecosystems, and urban and rural areas. The Acre River basin is part of the Solimões-Purus Coari sub-basin, It has 35.000 km2 of drainage area, with 23.000 km2 of them being upstream from Rio Branco. The relationship between rainfall and streamflow reflects the geomorphological characteristics of the basin, which in turn are shown in the particularities of its hydrographs. In this work are exposed the results of studies of the flooding hydrograph of the Acre River in Rio Branco, including their shapes, sequences of peaks and flows associated to seasonal and climate variability in the South Western Amazon. Key-words: Hydrography, Acre River Basin, Amazon. 1. INTRODUÇÃO A preservação da qualidade das águas nos ecossistemas e a manutenção do equilíbrio do ciclo hidrológico, bem como também a preservação da distribuição geográfica harmônica da água no planeta: nas suas fases de vapor, liquida e sólida; em mares, na atmosfera, rios, lagos, subterrâneos, aquíferos, calotas polares e geleiras, constitui uma preocupação compartilhada por governos e comunidades sociais. A Amazônia é uma região de florestas, campos e cidades, com mais de 11 % da água doce do planeta. Segundo o censo de IBGE (2010), a população da Amazônia ascende a 24 milhões de pessoas, delas 80% moram nas cidades. Em 2009, quase a metade dessa população vivia com menos de meio salário mínimo por mês. Circunstância incompatível com a riqueza de recursos ambientais da região, em especial a água. Na parte ocidental da Amazônia, a sequência das estações de chuvas e seca traz consigo a alternância entre o regime de inundação e de déficit de água, sendo que as manifestações de extremos em ambos os casos, aparentam ser mais frequentes e severas como prevêem alguns modelos de circulação global da atmosfera. As extremas secas de 2005 e 2010 se correlacionaram com as altas temperaturas da superfície do oceano Atlântico (Lewis et al. 2011), em quanto as variabilidades climáticas interanuais em forma de inundações e pronunciadas estiagens têm tido periodicamente a influência direta dos fenômenos La Niña e El Niño. Nos casos de eventos extremos existe uma afetação importante da população. A geometria, o relevo, a drenagem (Valeriano, 2004; Cardoso et al. 2006), a geologia, a hidrologia e o clima da região, foram estudadas por Cavalcante (2006), Silva Dias et al. (2005), Marengo (2006), Nobre (2001) e outros. Estas características são de interesse para o conhecimento sobre: balanço hídrico, ciclo hidrológico, sazonalidade das cheias e vazantes, variabilidade e mudanças climáticas e outros temas importantes para o manejo dos recursos hídricos. Poucos são os trabalhos dedicados ao estudo da bacia do rio Acre e suas águas, ademais, entre eles não existe uma relação de continuidade temática, falta informação e monitoramento ambiental, tanto na dimensão espacial quanto temporal. Mascarenhas et al. (2004) estudaram a presença de mercúrio nas águas do rio Acre pertencentes à microbacia Trinacional, visando esclarecer as altas concentrações de esse metal pesado em peixes consumidos pela população. Não obstante, as concentrações encontradas no rio e seus afluentes foram inferiores a < 0,200 μg g-1, valor referido como o teor médio característico dos rios amazônicos. Estudos sobre qualidade das 2 águas do rio Acre, têm tido em conta principalmente as características de acidez e de sólidos dissolvidos. Furtado e Lopes (2005) mediram valores de pH do rio Acre, na área urbana de Rio Branco, entre 7 e 8, e valores de condutividade elétrica entre 50 e 170 µS cm-1. Praticamente esses mesmos valores de pH, entre 6,7 e 7,8, e de condutividade elétrica, entre 40 e 125 µS cm-1, foram medidos também ao longo do percurso do rio que se estende de Brasileia a Porto Acre (Duarte, 2009). Faltam estudos sobre vazões do rio e sua relação sazonal com os valores de pH e condutividade elétrica. O que significa que são escassos os estudos sobre quantidade e qualidade das águas do rio Acre e sua sazonalidade. O presente trabalho visa contribuir ao conhecimento sobre o comportamento do fluxo do rio Acre, no que diz respeito aos seguintes objetivos. 1.2 Objetivos 1) Descrever as características morfológicas gerais da bacia do rio Acre, bem como das chuvas que caem a montante de Rio Branco; 2) Descrever os registros de níveis e os fluxos das águas sazonais do rio Acre, em Rio Branco, para o intervalo entre 1971 e 2011; 3) Observar a ocorrência de eventos extremos de nível e vazão do rio Acre em Rio Branco, no caso de enchentes e déficit de água que afetam sensivelmente à população. 2. METODOLOGIA 2.1 Área de estudo A bacia hidrográfica do rio Acre encontra-se no extremo sudeste da sub-bacia Solimões- Purus-Coari1. Na Figura 1 se destacam as cinco microbacias que integram a bacia do rio Acre; as elevações estão entre as altitudes de 400 e 100 m, aproximadamente. Figura 1. Bacia do rio Acre: o rio Acre a leste e seus afluentes principais. Os números na imagem topográfica significam as altitudes em metros (SRTM, 2000). Em destaque as cinco microbacias que a integram e as cidades importantes no curso do rio Acre. 1Agência Nacional de Águas, http://ana.gov.br 3 A bacia do rio Acre se estende por 35.000 km2 de área de drenagem. Divide-se convencionalmente em cinco microbacias, que são: Trinacional (Brasil, Peru, Bolívia), Xapuri, Rôla, Porto Acre e Biestadual (Acre, Amazonas). O acumulado anual das chuvas na bacia é de 1956 mm. As chuvas na região se concentram de outubro a abril, sendo que durante estes meses caem 83% do total anual. A estação seca acontece entre maio e setembro (Duarte, 2006). 2.2 Microbacias 2.2.1 Trinacional (Brasil-Peru-Bolívia) As nascentes do rio Acre estão nesta microbacia, nas alturas do Peru. O rio corre de oeste para leste atravessando áreas de floresta e as cidades de Iñapari (Peru), Assis Brasil, Cobija (Bolívia), Epitaciolândia e Brasileia. 2.2.2 Xapuri Envolve uma área de floresta densa cruzada por inúmeros igarapés e afluentes. 2.2.3 Rôla É a maior das cinco microbacias em estudo. O afluente principal do rio Acre nesta microbacia é o riozinho do Rôla. Inúmeros cursos de água cruzam uma área de floresta e a cidade de Rio Branco. 2.2.4 Porto Acre Destaca-se pela passagem do rio Acre através da cidade de Porto Acre. 2.2.5 Biestadual (Acre-Amazonas) Situa-se na parte mais ao norte da bacia do rio Acre, compreende as regiões banhadas pelos rios Andirá e Antimari. Em Boca do Acre (AM) acontece a desembocadura do rio Acre na margem direita do rio Purus. A descrição morfométrica da bacia do rio Acre contempla o emprego do Sistema de Informação Geográfica ArcGis 9 para visualização do relevo e para cálculos de áreas, formas e distâncias, importantes para a descrição do escoamento superficial das águas pluviais, tais como: volume de chuvas recebida pela microbacia; tempo de concentração (duração do percurso de uma massa de água entre o ponto mais distante da microbacia e sua foz); coeficiente de escoamento superficial das águas (relação entre o volume de água que corre, durante um tempo, por uma seção do rio principal e o volume de chuvas precipitado na parte da bacia anterior a tal seção); etc. (Yeh e Eltahir, 1998; Viglione et al. 2009; Duarte, 2009). 4 Foram determinadas as seguintes características: Perímetro P (comprimento do limite ou divisor de água da microbacia), Área de drenagem A (superfície horizontal delimitada pelo perímetro), Comprimento axial Ca (distância entre a saída da microbacia e seu ponto mais afastado), Comprimento do rio Cr (extensão da linha da tendência do rio principal, sem considerar as curvas dos meandros), Trajetória do rio Ct (extensão do canal do rio principal), Índice de forma If (relação entre a área de drenagem e a área de um quadrado com lado igual ao comprimento do rio principal), Fator de forma Ff (relação entre a largura média da microbacia e o seu comprimento axial), Coeficiente de compacidade Ic (relação entre o perímetro da microbacia e o perímetro de uma circunferência que encerra uma área igual à Área de drenagem da microbacia), Perfil do rio (perda de altitude do canal ao longo do curso do rio) e Declividade St (relação entre as diferenças da altitude e do cumprimento da trajetória do rio entre dois pontos, ou trecho), representa a inclinação média do perfil do rio em um trecho (é uma grandeza adimensional, as vezes expressada em cm/km).