O IMPACTO DOS CENTROS

UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR

BRASILEIRO 1997 – 2007 ©ANACEU 2007. Edição publicada pela Associação Nacional dos Centros Universitários. 10 ANOS DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO BRASIL

PUBLICAÇÃO COMEMORATIVA

O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO

SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

2007 ANACEU Associação Nacional dos Centros Universitários SCS, Quadra 7, Bloco A, nº 100 - Salas 803 e 805. Edifício Torre do Pátio Brasil. 70.300-911 Brasília - DF Telefones: (61) 3321-5535 / 3322-9408 Email: [email protected]

Qualitas Instituto Alameda Santos, nº 2315 4o andar Conjunto 43 0149-002 - São Paulo - SP Telefone: (11) 3061-2400 Email: [email protected]

Arthur, Roquete

O Impacto dos Centros Universitários no Ensino Superior Brasileiro 1997 – 2007. Arthur Roquete de Macedo (Org.), Eunice R. Durham, Paulo Renato Souza, Éfrem de Aguiar Maranhão, José Loureiro Lopes, Paulo Newton de P. Ferreira, Astréia B. Soares, Getúlio Américo M. Lopes, Drauzio A. Medeiros, Gisélle V. Lins, Eloni J. Salvi, Roque D. Bersch, Sérgio Fiúza de M. Mendes, Paulo A. Gomes Cardim, Paulo M. V. B. Barone, Carlos Alberto da Cruz, Renata Innecco B. de Carvalho, Edy Kogut, Dácio Campos, Milton de A. Campanário, Daniela L. de Macedo, Sibele G. de Santana Faria, José Rubens L. Jardilino, Vera L. S. Botta Ferrante, Helena Lorenzo de Carvalho, Maria Lúcia Ribeiro, Ligia M. V. Trevisan, Jean Marcel Chamon, Wilson de M. Silva, José Pio Martins, Eduardo Storópoli e Ronaldo Mota.

Capa: Projeto Gráfico João Maya - Carbono 4 Comunicação

Revisão e Editoração João Américo - Carbono 4 Comunicação

Distribuição ANACEU

Brasília, DF. – Novembro 2007.

A Lauro Ribas Zimmer Pela importância de sua contribuição na criação, desenvolvimento e consolidação dos Centros Universitários.

DIRETORIA DA ANACEU - BIÊNIO 2006/2007

Presidente Drauzio Antonio Medeiros Eduardo Storópoli Centro Universitário de Várzea Grande Centro Universitário Nove de Julho Sérgio Mendes Vice-presidente Centro Universitário do Estado do Pará José Augusto Trindade Padilha (Licenciado) Centro Universitário de João Pessoa Paulo Newton de Paiva Ferreira

Centro Universitário Newton Paiva Secretário

Euler Pereira Bahia 1º Conselheiro Suplente Centro Universitário Adventista de São Paulo Edy Luis Kogut Centro Universitário Santo André

2º Conselheiro Suplente CONSELHO FISCAL Marlene Salgado Centro Universitário do Triângulo Conselheiro

Dácio Eduardo Leandro Campos Gerente Executivo Centro Universitário Barão de Mauá Jean Marcel Chamon

Paulo César Teixeira Centro Universitário Celso Lisboa

Luiz Roberto Liza Curi Centro Universitário Euro Americano

Conselheiro Suplente João Otávio Bastos Junqueira Centro Universitário FEOB

Daniel Castanho Centro Universitário UNA

CONSELHO DELIBERATIVO

Presidente Paulo Antônio Gomes Cardim Centro Universitário de Belas Artes de São Paulo

Vice - Presidente Wilson de Mattos Silva Centro Universitário Maringá

que terá pela frente para continuar sua trajetória de com- APRESENTAÇÃO petência, ousadia e inovação. Um retrato fiel que mostra, sem retoques, os resultados do investimento para o ensi- no, a pesquisa, a extensão, a gestão. Um retrato fiel, que analisa sob óticas diversas todos os aspectos possíveis de Quando recebi da ANACEU, na figura de seu Pre- um mesmo conjunto de dados. Em comum, a todos esses sidente Eduardo Storópoli, o convite para organizar e olhares, a transparência, o rigor e o compromisso com a coordenar uma publicação comemorativa dos 10 anos de verdade. Bom para a Educação Superior. Bom também implantação dos Centros Universitários, aceitei de ime- que o trabalho de órgãos como o INEP tem tornado os diato. Entre as razões que explicam essa motivação, há dados mais acessíveis. Sinal de evolução importante por- algumas muito especiais. É com elas que pretendi compor que enseja a análise técnica, isenta e fornece dados para esse texto de apresentação para o “O Impacto dos Centros confrontar opiniões inexatas e planejar o futuro. Universitários no Ensino Superior Brasileiro”. O livro, organizado em duas partes, 12 capítulos e 21 Em primeiro lugar, e na condição de relator dos artigos, fez-me sentir verdadeiramente honrado em poder primeiros atos normativos que regulamentaram a figura contribuir para a divulgação de um trabalho forte, respon- então recém-criada dos Centros Universitários – PARE- sável e de qualidade. Nele, a imagem diversificada e dife- CERES CNE/CES 738/98 e 619/99, a satisfação de reunir renciada, configurada no compromisso com a qualidade pessoas, vinculadas a Centros Universitários, e que, ao do ensino, na articulação com a pesquisa e a extensão, no longo de uma década e em função da experiência que vi- respeito à identidade regional e na preocupação com a sus- venciam nessas instituições, construiram com competên- tentabilidade financeira me dão a certeza de que na busca cia, aliando ousadia à inovação, uma nova modalidade de pela consolidação, os Centros cuidaram dos recursos ma- Instituição, diversificando a tipologia e o cenário da Edu- teriais e tecnológicos com o talento de seu capital humano cação Superior nacional. e isso lhes garante sólida identidade e massa crítica. Por Ousadia que foi capaz de operar a diferenciação, ou isso, à satisfação e à honra, junta-se o orgulho ao constatar seja, de desenvolver um modelo organizacional distinto e que em uma década o modelo ousado e inovador cultiva destacado no cenário nacional. também o talento, aqui demonstrado pela qualidade e per- Inovação que tornou possível, em tempo recorde, a tinência dos artigos apresentados. A mim, na condição de consolidação e o reconhecimento dos Centros Universi- organizador, coube a tarefa de definir a melhor sequência tários como um modelo importante. Capaz de resistir a dos textos, dentro de um mesmo capítulo. Espero ter feito ameaças que em tempos não muito remotos, cercearam a a escolha correta. sua liberdade e a sua autonomia. Aproveito para parabenizar a todos os autores pelo Oportunidade também, e com a mesma dose de sa- empenho e pelo esforço em colaborar com a iniciativa da tisfação, de reunir pessoas que em função de suas respon- ANACEU. Acredito que o sucesso virá com a divulgação sabilidades em mandatos ou funções nos órgãos federais e será creditado em conta especial da Educação Brasileira da Educação Superior, se envolveram com a concepção para o Século XXI. Quanto ao ônus, se houver, faço questão dos Centros Universitários. Ou que se envolvem com o de não dividir. Afinal, lutei a boa luta e bem acompanhado, seu acompanhamento. Aqui, as competências essenciais a portanto, não merecem, os meus convidados, pagar por um povo que acredita na educação como efetiva e verda- falhas que as minhas escolhas determinaram. deira via para o desenvolvimento social: aliar sensibilidade Por fim, a oportunidade de oferecer a Lauro Ribas à qualidade técnica. Zimmer, amigo, colega de muitos debates e embates, par- Sensibilidade para perceber a necessidade de am- ceiro de desafios e teimosias, um texto que homenageia a pliar, fortalecer e diversificar um sistema de Educação Su- sua contribuição à Educação Superior brasileira. Um texto perior; qualidade técnica para não resvalar na incoerência pleno, denso, sério, permeado pela crítica responsável e e não extrapolar a autoridade. ponteado com a visão de futuro. Um texto que se parece com ele. Competente, sólido, eloquente e apaixonado. E Na definição dos conteúdos, a satisfação de perce- como gente da melhor qualidade, inquieto e comunicati- ber que a idéia dessa publicação atendia a uma expectativa vo. Não gostaria de sentir falta dessas qualidades no livro. dos Centros Universitários e que a oportunidade de com- Basta a ausência involuntária do Lauro nesta edição. por um documento que fizesse jus ao título escolhido seria concretizada com facilidade. Muito além do entusiasmado aceite ao nosso convite, a solidez da contribuição de todos São Paulo, outubro de 2007. e de cada um confirmaram aquela convicção. Arthur Roquete de Macedo A variedade de estilos, o ajuste da temática proposta Organizador ao contexto específico e à identidade institucional, o com- promisso com a socialização de experiências, a conquista de parceiros e colaboradores de autoria e a vontade ine- quívoca de bem fazer para divulgar o que foi bem feito e por isso deu certo. Tudo isso para compor um retrato fiel, que mostra a história e o processo de criação de um modelo, explica as razões da sua importância para o siste- ma brasileiro de Educação Superior e indica os desafios SUMÁRIO SUMÁRIO

PARTE I - CENTROS UNIVERSITÁRIOS PARTE II - CENTROS UNIVERSITÁRIOS IMPLANTAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DE UM BRASILEIROS, JOVENS E NOVO MODELO DE INSTITUIÇÃO UNIVER- CONTEMPORÂNEOS SITÁRIA

1.- FUNDAMENTOS TEÓRICOS E ARCABOUÇO JURÍDICO 1.- A EXPANSÃO DA GRADUAÇÃO E A CONTRIBUIÇÃO DA CONCEPÇÃO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS PARA A UNIVERSALIZA- ÇÃO DO ENSINO SUPERIOR A CRIAÇÃO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS Paulo A. Gomes Cardim(*) ...... 131 Eunice R. Durham(*)...... 18 A EXPANSÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR E A CONTRIBUI- CENTROS UNIVERSITÁRIOS: PEÇA FUNDAMENTAL DO ÇÃO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS SISTEMA DE ENSINO SUPERIOR Paulo M. V. B. Barone(*) ...... 138 Paulo Renato Souza(*)...... 24 2.- A REVOLUÇÃO NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA 2.- HISTÓRIA DA IMPLANTAÇÃO E EXPANSÃO DOS CEN- Carlos Alberto da Cruz(*) TROS UNIVERSITÁRIOS Renata Innecco Bittencourt de Carvalho(**)...... 144 Éfrem de Aguiar Maranhão...... 29 EXTENSÃO: A EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO UNIVERSI- 3.- SITUAÇÃO GEOGRÁFICA E CONTEXTOS REGIONAIS TÁRIO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS Edy Luiz Kogut(*)...... 153

UMA PROPOSTA EM DESENVOLVIMENTO: CENÁRIO A FUNÇÃO SOCIAL DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS REGIONAL Dácio Campos ...... 160 José Loureiro Lopes(*) ...... 47 3.- PÓS-GRADUAÇÃO: O AVANÇO SUSTENTADO SITUAÇÃO GEOGRÁFICA E CONTEXTOS REGIONAIS DOS Milton de Abreu Campanário(*) CENTROS UNIVERSITÁRIOS: A REGIÃO SUDESTE Daniela Luiza de Macedo(**) Paulo Newton de Paiva Ferreira(*) Sibele Gomes de Santana Faria(***)...... 161 Astréia Batista Soares(**)...... 53 PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA: O AVANÇO SUSTENTADO SITUAÇÃO GEOGRÁFICA E CONTEXTOS REGIONAIS DOS José Rubens Lima Jardilino(*)...... 173 CENTROS UNIVERSITÁRIOS: A REGIÃO CENTRO-OESTE Getúlio Américo Moreira Lopes(*) ...... 61 A PÓS-GRADUAÇÃO EM CENTROS UNIVERSITÁRIOS: DESAFIOS DA CONSTRUÇÃO DE UM MESTRADO INTER- CENTROS UNIVERSITÁRIOS E SITUAÇÃO GEOGRÁFICA : DISCIPLINAR RECONFIGURANDO A EDUCAÇÃO SUPERIO Vera Lúcia Silveira Botta Ferrante Drauzio Antonio Medeiros(*)...... 80 Helena Lorenzo de Carvalho Maria Lúcia Ribeiro...... 185 CENTROS UNIVERSITÁRIOS E DESENVOLVIMENTO RE- GIONAL 4.- CARREIRAS, ALUNADO E TRAJETÓRIA DE EGRESSOS Gisélle Vilela Lins(*) ...... 87 Ligia Maria Vettorato Trevisan(*) Jean Marcel Chamon(**)...... 200 IMPACTO ECONÔMICO, SOCIAL E CULTURAL DOS CEN- TROS UNIVERSITÁRIOS EM SUAS REGIÕES:UM ESTUDO 5.- FINANCIAMENTO E SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA DE CASO. Professor Wilson de Matos Silva(*)...... 208 Eloni José Salvi(*) Roque Danilo Bersch(**)...... 93 FINANCIAMENTO ESTUDANTIL PARA A SUSTENTABILI- DADE 4.-.INFRA-ESTRUTURA, NOVOS ESPAÇOS E RECURSOS José Pio Martins(*) ...... 215 MATERIAIS A SERVIÇO DA SOCIEDADE Sérgio Fiuza de Mello Mendes(*) ...... 113 CONCLUSÃO CENTROS UNIVERSITÁRIOS O FUTURO QUE SE ESBOÇA...... 219

O PAPEL DA ANACEU COMO AGENTE AGLUTINADOR DO SEGMENTO E DIFUSOR DE CONCEITOS EDUCACIONAIS Eduardo Storópoli(*)...... 220

OS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO CONTEXTO DA AN- DRAGOGIA Ronaldo Mota(*) ...... 223

PARTE I

CENTROS UNIVERSITÁRIOS IMPLANTAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DE UM NOVO MODELO DE INSTITUIÇÃO UNIVERSITÁRIA O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

1.- FUNDAMENTOS TEÓRICOS E ARCABOUÇO JURÍDICO DA CONCEPÇÃO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS

A CRIAÇÃO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS Eunice R. Durham(*)

A proposta de criação de Centros Universitários mente uma questão do número de cursos oferecidos. nasceu de uma análise do sistema de ensino superior Não havia, com exceção das poucas escolas técnicas, brasileiro, efetuada pela Secretaria de Políticas Edu- uma verdadeira diversificação institucional que seria cacionais do MEC, a qual eu dirigia, no início do Go- necessária para atender à diferenciação crescente do verno de Fernando Henrique Cardoso. Esta análise público que se dirigia para o ensino superior. A enor- tinha como objetivos correlacionados orientar a polí- me variação na qualidade do ensino estava antes asso- tica educacional, acompanhar a tramitação da LDB e ciada ao caráter público ou privado das redes do que à subsidiar a elaboração do Plano Nacional de Educa- categoria institucional. ção que seria encaminhado ao Congresso. A análise A questão da universidade era um ponto nevrál- revelou alguns problemas básicos que precisariam gico deste sistema. ser enfrentados. No Brasil, a criação das universidades esteve Em primeiro lugar, havia a questão da baixa indissoluvelmente associada à idéia de uma institui- qualidade do ensino. O pesado sistema de controles ção que aliasse ensino e pesquisa e que, ao contrário existente era burocrático, ineficaz e ineficiente. Os das nossas antigas escolas superiores, abrangesse processos de credenciamento de instituições e re- diferentes áreas de conhecimento, incluindo as ciên- conhecimento de cursos, detalhistas e trabalhosos, cias básicas, as humanidades, as ciências humanas presos a critérios formais, eram incapazes de garantir e sociais e não estivesse exclusivamente vinculada à a qualidade do ensino, especialmente porque se res- formação de profissionais, mas também de pesquisa- tringiam a processo de sua implementação, não ha- dores. Instituições que associam ensino e pesquisa, vendo posteriormente nenhuma verificação quanto à produzindo conhecimento novo, são fundamentais no melhoria ou pelo menos, a manutenção posterior da mundo moderno e todos os países têm se empenhado qualidade exigida inicialmente. O sistema do currícu- na criação de pelo menos algumas instituições deste lo mínimo, sobrecarregado de disciplinas, impedia a tipo. No mundo todo, essas instituições são classifica- flexibilidade da organização pedagógica e dificultava das como universidades. enormemente as inovações. Desta forma, congelava o A pesquisa não esgota as funções da universi- sistema e impedia seu constante ajustamento às novas dade. O ensino e a formação de profissionais de alto demandas sociais. nível continuam a ser atividades importantes. Sua ori- Associava-se a isto o descompasso entre a arqui- ginalidade reside no feito de que forma também no- tetura institucional do sistema e a realidade do ensino vos pesquisadores e lhes abre, através da docência, superior. um lugar para sua profissionalização. Unindo estas De fato, o sistema previa três tipos de institui- funções, se distingue tanto das demais instituições ções: universidades, faculdades e instituições isoladas, de ensino superior, que se ocupam apenas do ensino, às quais se adicionou mais tarde a categoria de facul- quanto dos institutos de pesquisa, que não formam dades integradas, resultante de um desenvolvimento novos cientistas. espontâneo das instituições privadas. Todas elas ofe- Este tipo de instituição é relativamente novo. reciam o mesmo tipo de cursos (regulados pelo mes- Surgiu no início do século XIX e disseminou a partir mo currículo mínimo) e concediam os mesmo diplo- da metade desse século, alternando profundamente mas. No que diz respeito ao ensino, a diferença básica o papel e a natureza das antigas universidades, volta- entre os tipos de instituição era quase que exclusiva- das exclusivamente para o ensino. O século XX pre- senciou a generalização desse modelo, acrescido da  (*)Responsável pelas pesquisas de políticas educacionais do ensino superior no Núcleo de Pesquisa sobre Políticas Públicas - NUPPs/USP e Profes- pós-graduação, porque ele se tornou uma peça chave sora Emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

18 PRIMEIRA PARTE

Ano Número de universidade públicas e privadas no Brasil 1970 32 15 1975 37 20 1980 45 20 1986 48 20 para o desenvolvimento da ciência que impulsionou tempo integral nas universidades federais e um len- as profundas transformações econômicas que ocorre- to desenvolvimento no sentido de associar a carrei- ram neste período. ra à titulação e à publicação de trabalhos científicos. No Brasil, como sabemos, o ensino superior se Criaram-se assim, as pré-condições necessárias para desenvolveu muito tardiamente, no início do século a institucionalização da pesquisa. Desta forma, nas XIX. Mas não se criaram universidades de ensino no décadas seguintes, as universidades públicas foram, modelo tradicional, mas escolas isoladas de formação de fato, se aproximando do modelo preconizado, ini- de profissionais liberais. O movimento para a criação cialmente concretizado pelas universidades paulistas. de universidades, que toma corpo na década de 1920 Mas o desenvolvimento foi lento. e começa a ser implantado na década seguinte, foi de- O mesmo não ocorreu com as universidades pri- fendido exatamente em função do novo modelo e não vadas, cujo número cresceu lentamente até 1995. A como uma necessidade de institucionalizar o ensino. grande expansão do sistema privado neste período se Criadas as universidades, a legislação se encami- deu em termos de criação de faculdades. Com pou- nhou no sentido de privilegiar este tipo de instituição, quíssimas exceções, como as PUCs de São Paulo e do considerando-o como um modelo ideal para o qual Rio de Janeiro, as universidades particulares, desen- todas as demais instituições de ensino superior deve- volveram-se como estabelecimentos voltados exclusi- riam convergir, e ao qual se concedeu autonomia. A vamente para o ensino. A pesquisa figurava apenas universidade se colocou, portanto, como um horizon- formalmente nos estatutos como um ideal sem prazo te a ser alcançado. Na prática, até 1970, muitas poucas para se realizar. instituições ostentavam este nome, a grande maioria Para entendermos este desenvolvimento, preci- das quais constituída por universidades públicas fede- samos considerar o modo peculiar pelo qual se deu a rais e pelas três estaduais paulistas. evolução das instituições privadas antes de atingirem A reforma de 1968 havia tornado a enfatizar a o status universitário. pesquisa. Havia então, no Brasil 32 universidades O grande crescimento do número de instituições públicas e 15 privadas. Pouquíssimas delas desenvol- privadas na década de 70 parece ter se originado, em viam atividades de pesquisa. grande parte, da transferência de capitais acumula- Apesar disso, criação de universidades públicas dos no ensino médio. Muitas das novas instituições continuou a ser pensada em função deste modelo. começaram como Faculdades de Filosofia, Ciências Mas, nesta época, haviam sido criados mecanismos e Letras, voltadas para a formação de professores específicos de estímulo e apoio ao desenvolvimen- do ensino básico. Faculdades de Filosofia deste tipo to da pesquisa nas universidades, através de duas eram instituições flexíveis que, a partir de uns poucos agências governamentais: a CAPES voltada para a cursos, centrados freqüentemente nas áreas de hu- qualificação do pessoal de nível superior, investindo manidades e ciências humanas podiam ir agregando na criação de cursos de Pós-Graduação, e promo- novas áreas na própria faculdade e criar paralelamen- vendo sua avaliação; e o CNPq que, além da oferta te, outras carreiras profissionais que não exigissem de bolsas, financiava a pesquisa. A oferta de bolsas muito capital inicial, como as áreas de Administração para docentes de instituições de ensino obterem titu- e Direito. Formaram-se assim Faculdades Integradas. lações de mestre e doutor beneficiou especialmente A inclusão de alguma área relacionada à saúde (não as universidades federais e gradualmente melhorou necessariamente medicina) ou engenharia e a exis- a qualificação do seu corpo docente. Com o aumento tência de licenciatura em ciências básicas lhes permi- do número de mestres e doutores e a existência de tiam iniciar seu credenciamento como universidades. recursos disponíveis para investigações científicas, Este desenvolvimento obedecia todo ele a orientação a pesquisa foi lentamente se institucionalizando em voltada para o ensino de massa. Estas instituições não muitas universidades federais, além do caso anterior desenvolveram nenhuma tradição em pesquisa, não ti- das estaduais paulistas, que haviam se encaminhando nham corpo docente qualificado para esta atividade e nesta direção desde o início e se beneficiavam de uma nunca haviam se preocupado, de fato, com a qualifica- agência própria, a FAPESP. Além disto, neste perío- ção dos seus professores para este tipo de atividade. do, após a reforma de 1968, houve a generalização do A lentidão na implantação do modelo de univer-

19 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

sidade que inclui pesquisa, além de ensino, mesmo em universidades. após a reforma de 1968 está também associada ao fato De fato, a autonomia associada ao status de uni- de que, apesar da legislação valorizar a pesquisa, até a versidade oferecia inúmeras vantagens ao setor priva- LDB de 1996, sua implantação nunca foi de fato exigi- do, liberando-o dos rígidos controles para a criação de da como critério necessário para a criação das univer- cursos e aumento no número de vagas. Isto lhes per- sidades, quer públicas quer privadas. mitia muito mais agilidade na captação da demanda Na verdade, parece ter havido uma forte divisão por ensino superior. Mas durante a longa tramitação de orientações nos órgãos governamentais relaciona- da LDB, que se iniciou ainda durante a constituinte, dos ao ensino superior. Na CAPES e no CNPq predo- as propostas se orientavam na direção de enfatizar a minava a influência dos pesquisadores, especialmente associação entre ensino e pesquisa nas universidades, os das ciências básicas, provenientes de universidades como estabelecia a constituição. Daí a pressão do se- públicas, os quais defendiam intransigentemente a in- tor privado para criar novas universidades antes da dissociabilidade entre ensino e pesquisa nas universi- regulamentação de novos critérios, contando com a dades. No Conselho Federal de Educação, a presença permanência da tradição existente de que, uma vez de pesquisadores era minoritária e boa parte dos con- obtido o credenciamento como universidade, este selheiros provinha de áreas de formação profissional, passava a ser perpétuo. Em 1990, apesar das univer- nas quais a pesquisa tinha menos relevância. Além sidades públicas ainda serem maioria, com 55 institui- do mais, havia uma forte representação do setor pri- ções, as particulares já atingiam 40; em 1995, às vés- vado, relacionado a instituições nas quais a pesquisa peras da nova LDB, haviam ultrapassado em número não constituía um objetivo real. A função do Conselho as 58 públicas, incluindo 59 estabelecimentos. Em era, basicamente, a de orientar a expansão do ensino apenas 5 anos, haviam sido criadas 18 novas univer- superior e era no ensino que se concentrava sua refle- sidades privadas. xão e sua atuação. Não é de estranhar, portanto que, Com a criação desse grande número de univer- embora a orientação predominante fosse a de que as sidades privadas descaracterizou-se a estrutura ins- instituições de ensino superior devessem evoluir para titucional do sistema de ensino superior. Ao serem universidades, como preconizava a LDB de 1961, a in- credenciadas como universidades, as instituições dissociabilidade entre ensino e pesquisa não era de privadas exorbitaram da sua autonomia didática e modo nenhum vista como um requisito necessário. O administrativa, aumentando extraordinariamente o critério básico era o da amplitude das áreas de conhe- número de vagas e cursos, sacrificando as condições cimento coberta pelos cursos oferecidos, isto é, de de trabalho do corpo docente, despreocupando-se da um certo grau de universalidade de campos. tarefa de qualificar seus professores e degradando o Por outro lado, a criação de universidades públi- nível de ensino. De fato, muitas universidades priva- cas era feita por lei e, portanto, por decisão do legis- das e mesmo algumas públicas não satisfaziam condi- lativo, fortemente influenciado por pressões políticas ções mínimas para sua inclusão nesta categoria e não locais. A questão da possibilidade de desenvolvimento demonstraram nem a competência nem a responsabi- de pesquisas não entrava no horizonte de preocupa- lidade que deveriam estar associadas à autonomia. O ções dos deputados e senadores, mais voltadas para resultado disto tudo foi uma enorme inflação de vagas criar instituições de prestígio em suas regiões de in- ociosas no setor privado e uma competição selvagem fluência – o título de universidades por si só garantia por mais alunos. Muitas instituições menores, que este prestígio. Além disso, o termo universidade era ofereciam um bom ensino, não puderam competir utilizado como sinônimo de ensino superior e a de- com as táticas mercadológicas agressivas das grandes manda social pela criação destas instituições era, de universidades que se tornavam gigantescas, inclusi- fato, uma demanda por ensino. A população que pres- ve comprando e incorporando instituições menores. sionava no sentido de criação de universidades não Caracterizou-se um processo de oligopolização do en- via a pesquisa como necessária e importante. sino privado. O credenciamento como universidade e A constituição de 1988 alterou esta situação na a concessão de autonomia não tinham como contra- medida em que, fortalecendo a autonomia didática, partida a promoção de níveis de excelência nem na científica, de gestão administrativa e financeira das pesquisa e nem sequer no ensino. Até pelo contrário. universidades, as definiu como aquelas instituições A LDB dificultou enormemente a criação de que se associassem ensino, pesquisa e extensão. Ape- novas universidades privadas, não só exigindo a com- sar disto, a regulamentação da questão da inclusão na provação de produção científica para o seu credencia- categoria universidade de instituições de ensino supe- mento, mas estabelecendo as condições consideradas rior só foi feita em 1996, com a LDB. Neste intervalo, mínimas para que esta produção ocorresse: pelos me- houve uma enorme pressão do setor privado para a nos um terço do corpo docente em tempo integral e transformação das federações de escolas existentes o mesmo percentual com formação na pós-graduação

20 PRIMEIRA PARTE

stricto sensu. O problema maior, entretanto, é que a particulares, explicitamente ou através de subterfú- LDB estabeleceu também o recredenciamento peri- gios legais, sempre foi administrada como um em- ódico das instituições, ameaçando assim as universi- preendimento lucrativo. Para ter lucro é necessário dades já criadas. Nas negociações para a aprovação que haja muitos alunos e, na competição por alunos, da lei, concedeu-se um prazo de 10 anos às universi- mensalidade mais baixa constitui um grande chama- dades existentes para se enquadrarem nas novas exi- riz. Para manter os custos baixos e ter lucro, o prin- gências. cipal artifício reside na redução do custo da mão de Se a grande maioria das universidades federais obra. Mesmo nas grandes universidades particula- tinha condições de cumprir as exigências da nova le- res, há uma parcela grande de docentes horistas e a gislação neste prazo, especialmente dada a generali- existência de uma carreira docente se torna cada vez zação do tempo integral, o mesmo não se podia dizer mais rara. Professores sem titulação custam menos e das privadas. De fato, no Brasil, dadas às característi- a contratação de doutores implica aumento de despe- cas do nosso sistema, muito dificilmente universida- sas. Turmas grandes são mais lucrativas. Professores des do tipo preconizado pela LDB podem ser criadas horistas e mesmo os contratados frequentemente dão pelo setor privado. mais de 36 horas de aula por semana e não têm tempo nem sequer para preparar adequadamente os cursos Universidades com pesquisa exigem pesados e corrigir os trabalhos dos alunos, quanto mais para investimentos em infra-estrutura e em pessoal: é pre- se manterem atualizados – a pesquisa, nessas condi- ciso que o corpo docente engajado na pesquisa tenha ções é impossível. Mesmo um ensino de qualidade formação para esta tarefa obtida através de mestrado dificilmente pode ser oferecido. e doutorado; que a maior parte dele seja contratado em tempo integral e possua uma razoável estabilidade Não é impossível que uma instituição privada no emprego para permitir a constituição de núcleos ofereça um bom ensino sem institucionalizar a pesqui- de pesquisa relativamente estáveis; é necessário ainda sa. São necessários: um projeto que enfatize a questão que haja uma remuneração diferencial capaz de trair de um bom ensino, adequado à características do seu pesquisadores competentes, capazes de competir por alunado; professores mais qualificados, uma parcela financiamento público e privado. Mesmo as universi- dos quais em tempo integral ou com horário de traba- dades públicas não financiam diretamente a pesquisa, lho compatível com a adequada preparação dos cur- mas pelo menos propiciam as pré-condições acima sos e avaliação dos alunos; um bom plano de carreira mencionadas (professores com pós-graduação e em que estimule a competência e a dedicação do corpo tempo integral) para que ela se desenvolva. O finan- docente: o estímulo à participação do corpo docente ciamento da pesquisa propriamente é obtido competi- em cursos de atualização ou especialização e em con- tivamente em agências governamentais ou privadas. gressos. Nos cursos de formação profissional, o apro- veitamento em tempo parcial de profissionais bem su- Nada impede que instituições privadas disputem cedidos permite a constituição de um corpo docente estes recursos. Mas, sem um quadro de doutores em competente em sua área e com um contato maior com tempo integral capaz de elaborar bons projetos, sem o mercado de trabalho, sem o ônus do tempo integral. laboratórios bem equipados, sem uma boa biblioteca Com isso se criam as condições para um ensino de e acesso a publicações por meio eletrônico, sem apoio qualidade. Mas são as instituições não lucrativas que institucional para freqüentar congressos e apresentar se empenham mais nesta direção. trabalho científico, não conseguirão competir pelos recursos disponíveis. De fato, há muitas instituições privadas que ofe- recem bom ensino e desenvolvem a extensão, espe- Voltadas para o ensino, nossas instituições priva- cialmente oferecendo cursos de capacitação profissio- das têm, praticamente, como única fonte de recursos nal. A questão é que a excelência do ensino deixou de o pagamento das matrículas feito pelos alunos. O pre- estar associada ao status de universidade: há ensino ço das matrículas pode sustentar o custo dos cursos, de péssima qualidade em muitas universidades e bom mas não se pode elevar as mensalidades o suficiente ensino em escolas isoladas. para sustentar a infra-estrutura de pesquisa, sem re- duzir drasticamente o número de candidatos. As dificuldades políticas para a aplicação da LDB eram enormes porque acarretaria o descredencia- As instituições comunitárias e confessionais não mento talvez da maioria das universidades privadas, lucrativas, conseguem ter alguns núcleos de pesqui- de muitas estaduais e mesmo de algumas federais. sa atuantes. Podem inclusive promover a qualificação Diminuiria enormemente o número de instituições de seus docentes, beneficiando-se do sistema gover- autônomas. Entretanto, a desburocratização e descen- namental de bolsas de pós-graduação, o que lhes dá tralização do sistema de controles, igualmente neces- condições de disputar verbas de pesquisa. sária, exigiriam, ao inverso, uma ampliação do grau de Mas a grande parte de nossas universidades autonomia das instituições. Sem isso, e com o cresci-

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mento do ensino superior, todo o sistema de controles de centros universitários. Na disputa por esta posição, burocráticos, já sobrecarregado, seria inundado por as instituições de fato se empenharam em melhorar uma avalanche incontrolável de processos. o ensino, investindo em infra-estrutura, organizando A caracterização das universidades como institui- as carreiras docentes e estabelecendo processos in- ções que associam ensino e pesquisa não poderia ser ternos de avaliação. Entretanto, a criação de centros descartada, uma vez que corresponde a um tipo espe- universitários ficou restrita ao setor privado. Um dos cífico de instituições, como mostramos, que constitui objetivos iniciais do projeto era o de permitir a am- um setor fundamental, embora não exclusivo, nem o pliação do ensino superior público gratuito através de único necessário, em qualquer sistema de ensino su- instituições menores, mais ágeis, mais voltadas para perior. Mas, na medida em que a autonomia se restrin- a graduação, em lugar de continuar a investir em ca- gisse às universidades, a exigência de atividades de ríssimas universidades que já iam se tornando gigan- pesquisa e produção científica tornava extremamente tescas, com multiplicação de campi que multiplicavam difícil o credenciamento como universidades de ins- as matrículas mas também os custos corresponden- tituições privadas, e seu acesso à autonomia. Era ne- tes aos de instituições de pesquisa e pós-graduação cessário encontrar um caminho alternativo. A própria sem correspondente aumento da produção científica LDB previa a extensão de diferentes graus de autono- e sem condições de promovê-la a curto ou mesmo a mia a instituição que não fossem universidades. Mas médio prazo. Este objetivo não se realizou. a autonomia deveria ter como contrapartida a exigên- Quando eu deixei o Conselho Nacional da Edu- cia de qualidade e de responsabilidade por parte das cação, no final do Governo anterior, a necessidade de instituições, não se transformando simplesmente em rever e reformular o projeto dos centros universitá- uma vantagem a ser disputada através de pressões rios já era evidente. Boa parte dos problemas residia políticas. nos mecanismos de controle. Houve muita resistência O caminho alternativo, proposto pela Secreta- para utilizar, como critério básico para o credencia- ria de Políticas Educacionais, consistia em criar uma mento, o Exame Nacional de Conclusão de Cursos. nova categoria de instituição de ensino superior e em Sem isso, a aprovação das propostas continuou a obe- lhe oferecer autonomia como estimulo e recompensa decer a critérios muito subjetivos. a um ensino de qualidade. Assim nasceram os Cen- Depois disto, creio que a situação se deteriorou. tros Universitários. Para que este novo tipo de institui- Com a mudança de governo, esquecidas foram ção se instituísse como instrumento para melhoria da a avaliação do projeto e a avaliação para recredencia- qualidade do ensino de graduação, era indispensável mento dos centros, que deveriam ocorrer, não aconte- a criação de um sistema de avaliação desta qualidade. ceu. Desmontado o Provão, os controles previstos dei- O Exame Nacional de Conclusão de Curso foi este ins- xaram de funcionar. A acirrada competição por alunos trumento. Centros Universitários e Provão foram cria- que se estabeleceu no mercado de ensino superior, ções gêmeas, pois estabeleciam critérios objetivos e sob a influência das grandes universidades, contami- não meramente formais, sujeitos a pressões políticas nou centros recém criados os quais ingressaram no e a manipulações jurídicas, para que as instituições mesmo processo descontrolado de ampliação de va- atingissem e mantivessem o status de centro univer- gas e de cursos a qualquer custo. A intenção de incen- sitário autônomo. tivar e prestigiar a qualidade do ensino se perdeu. Entretanto, é da natureza das coisas, especial- Creio que uma proposta que formulei com Lauro mente no caso brasileiro, que as inovações não sigam Zimmer quando ainda estava no Conselho de Ensino os rumos esperados nem cumpram os objetivos que Superior, e a qual foi esquecida, deveria ser retomada. delas se esperava. Por isto mesmo, duas medidas pa- Ela previa uma reformulação da autonomia irrestrita ralelas foram formuladas no decreto de criação dos dos Centros Universitários para criar cursos e ampliar Centros Universitários. Em primeiro lugar, exigia-se vagas e considerava a questão da diversificação da que o próprio projeto fosse analisado após 5 anos e avaliação em função dos diferentes objetivos das ins- seus resultados fossem avaliados. Em segundo lugar, tituições. que o credenciamento inicial fosse por um período li- Na sua formulação original desta proposta, o mitado, entre 3 e 5 anos, após o qual o Centro seria credenciamento de um Centro Universitário estaria avaliado e recredenciado ou não. Criavam-se assim associado aos resultados do Exame Nacional de Con- mecanismos para garantir a qualidade do ensino mi- clusão de Cursos e à aprovação de um Plano de De- nistrado. senvolvimento Institucional (PDI) apresentado pela Mesmo com estas cautelas, o projeto não atingiu instituição, o qual incluiria: seus objetivos ou missão, os resultados esperados. A inovação foi bem sucedida a ampliação de vagas cogitada e a criação de novos na medida em que a pressão por criar universidades cursos, as melhorias previstas para a infra-estrutura e diminuiu em favor das propostas de credenciamento

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projetos de qualificação continuada de pessoal. Apro- Universitários a aprovação, caso a caso, de número de vado o PDI, com as correções que fossem propostas vagas e criação de novos cursos. Com a ampliação da pelo Conselho Nacional de Educação, o novo Centro autonomia, muitas instituições teriam maior liberda- teria autonomia para executá-lo no prazo de 5 anos, de de ação, a avaliação periódica seria consolidada e ao final do qual a instituição seria avaliada tomando, instaurada uma prática de planejamento responsável como parâmetros os objetivos do plano. A autonomia, e accountability. desta forma, estaria restrita ao conteúdo do Plano. Havendo uma avaliação positiva, a instituição poderia mantê-lo ou apresentar um novo, para outros 5 anos o qual seria novamente avaliado e aprovado total ou parcialmente. Este tipo de proposta apresentava a vantagem de poder ser posteriormente generalizado para outros tipos de instituição. Haveria inclusive a possibilida- de de incluir, nos objetivos e na avaliação, a questão do valor agregado. Isto simplificaria enormemente a burocracia atual, que exige para as instituições que não são credenciadas como universidades ou Centros

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CENTROS UNIVERSITÁRIOS: PEÇA FUNDAMENTAL DO SISTEMA DE ENSINO SUPERIOR Paulo Renato Souza(*)

Já se vão dez anos desde que, como Ministro da o grau médio, deve completar, e todos devem buscar Educação, adotamos uma política que levou à cria- com freqüência a continuidade da aprendizagem já ção dos centros universitários. Inegavelmente eles que sem a atualização profissional constante as pesso- se afirmaram neste período e respondem hoje por as não conseguem manter seus empregos, o que dirá uma parte substantiva das matrículas universitárias. progredir em suas profissões. Mas é impossível entender o papel fundamental que Em face de todos esses desafios e exigências jogam no nosso sistema de ensino superior sem levar da Sociedade do Conhecimento, o sistema educacio- em consideração a nova realidade mundial. Por isto, nal pré-existente tornou-se completamente obsoleto. começo este meu artigo analisando quais as modifica- O tema da reforma educacional passou a integrar a ções ocorridas em um período historicamente curto e agenda da grande maioria dos países, inclusive os o quanto elas afetaram a Educação como um todo. desenvolvidos; multiplicaram-se as iniciativas interna- Nos últimos 25 anos, assistimos ao surgimento cionais de avaliação dos sistemas de ensino; a qualida- de um novo mundo, no qual a velocidade do conheci- de dos sistemas educativos passou a ser discutida nas mento e a velocidade da evolução da tecnologia não mais altas esferas sociais e políticas. As exigências têm precedentes na história. No passado, o conhe- para o sistema educacional são simples em seu enun- cimento e a tecnologia duravam por uma geração. E ciado: (1) é preciso que todos tenham desenvolvido foi tendo em conta esta realidade que se estruturou a capacidade de aprender e (2) é preciso oferecer as o sistema educacional nos países, a partir do século oportunidades de educação permanente para todos. XVIII e especialmente nos séculos XIX e XX. Ou seja, As oportunidades de educação permanente para os sistemas educacionais se estruturaram para ofere- todos na Sociedade do Conhecimento deve ser aten- cer educação em uma etapa da vida – até os 25 anos dida principalmente no nível pós-médio. Todo um – e a partir daí as pessoas viviam o resto de suas vidas conjunto de cursos de diversos níveis de exigência e com o que aprenderam nesta etapa. complexidade deve integrar o sistema de educação Hoje não é mais assim. As pessoas têm que se pós-médio, desde os cursos técnicos de nível médio, atualizar permanentemente, aprender constantemen- os cursos superiores de curta duração, os cursos re- te, sob pena de ficarem à margem da sociedade. Não gulares de bacharelado e licenciatura, os programas apenas no que diz respeito ao trabalho, mas também de Mestrado e Doutorado acadêmicos e as pós-gradu- ao consumo e à participação na vida social. O ser hu- ações profissionalizantes (MBAs, cursos de extensão mano vê-se assim obrigado a se atualizar, de forma e especialização). Como instrumentos de cada uma permanente, nestas três dimensões, o que coloca no- dessas modalidades é importante incorporar a edu- vos desafios para a Educação. O sistema educacional cação à distância e as novas tecnologias aplicadas à que se organizou no passado para atender a deman- educação. da de uma dada época, tem que se reorganizar para Até recentemente os cursos profissionalizantes atender às novas necessidades, particularmente a de de nível médio, pós-médio ou superior eram ofereci- oferecer educação ao longo de toda a vida das pesso- dos em escolas presenciais com estruturas curricula- as. Não me refiro apenas à necessária atualização per- res rígidas, vinculadas a carreiras bastante bem de- manente dos já formados, que têm que continuar sua finidas e voltadas preferencialmente para atender ao aprendizagem e especialização com os cursos de mes- público jovem. Isto tinha relação com a permanência trado, doutorado e pós-doutorado. Refiro-me também do padrão tecnológico na sociedade por um período à tarefa de oferecer educação permanente a todas as bastante longo, o que tornava possível, de um lado pessoas, independente de seu nível de escolaridade estabelecer os requerimentos de cada profissão de prévia. Quem não terminou o ensino fundamental vê- maneira mais ou menos clara, e de outro, limitar o pe- se na contingência de terminar, quem não completou ríodo de aprendizagem profissional a certo período da vida das pessoas.  Paulo Renato Souza foi Ministro da Educação do Brasil durante o go- verno do Presidente Fernando Henrique Cardoso de 1995 a 2002. Economista A mudança, portanto, deve ser radical: de um formado pela Universidade Federal do , obteve o seu mestrado na Universidade do Chile e o doutorado na Universidade Estadual de Campinas lado, a atualização profissional deve ser permanente, – UNICAMP, onde também se tornou Professor Titular de Economia. É deputado dada a rapidez do processo de evolução tecnológica federal pelo PSDB de São Paulo.

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e, de outro, as carreiras profissionais são menos- rí da questão semântica, não há dúvidas de que pela sua gidas e claras, obrigando a um grau muito grande de abrangência no mundo atual e mesmo pela qualidade interdisciplinaridade e de flexibilidade na estrutura de muitos desses programas desenvolvidos inclusive curricular dos cursos. É preciso que o poder público em parceria com instituições educacionais de primei- estimule a diversificação dos sistemas de educação ra linha, esse segmento deve também ser considerado profissional de nível pós-médio, tanto de nível técnico hoje uma parte importante do sistema educacional. como superior. É preciso que haja ampla flexibilida- Em suma, o sistema de educação pós-médio na de curricular e liberdade um trânsito freqüente dos Sociedade do Conhecimento precisa ser: jovens e dos adultos entre o mundo da educação e o • Amplo para atender ao conjunto da popula- mundo do trabalho. ção em todas as faixas etárias Da mesma forma, é imperativo oferecer aos estu- • Diversificado: as necessidades de educação dantes a opção de, no interior do sistema pós-médio, pós-media são muito diferenciadas. Dependendo do mudar de carreira ou aprender novas técnicas dentro segmento da população a ser atendida é preciso ofere- de uma mesma profissão. Para tanto os requisitos de cer: ingresso devem ser flexíveis como também flexíveis devem ser as estruturas curriculares. O uso das no- o Cursos técnicos de nível médio vas tecnologias na educação pós-média é essencial o Cursos Superiores de curta duração não apenas para elevar a qualidade do ensino, como o Cursos superiores de bacharelado e licen- também para facilitar este processo de flexibilização ciatura da oferta de educação. As modalidades de educação à o Cursos superiores de pós-graduação lato distância certamente passam a ocupar um lugar des- sensu tacado na viabilização das oportunidades de educação permanente. o Programas de formação de mestres e doutores A estrutura da educação pós-média deve ser di- versificada, com a participação de vários tipos de ins- o Programas de pós-doutoramento tituições que garantam as oportunidades de educação • Flexível na sua estrutura: os sistemas de permanente. O Ensino Superior como o entendíamos acesso aos cursos pós-médios devem permitir com fa- até um tempo atrás é apenas uma parte desse sistema, cilidade o reconhecimento de estudos e a mobilidade que deve ser mais amplo e diversificado. Assim sendo, entre cursos, carreiras e instituições. nem todas as instituições devem ser Universidades na • Flexível no acesso: as formas de acesso ao acepção do termo — com o clássico tripé de ensino, ensino pós-médio devem permitir freqüentes idas e pesquisa e extensão. Elas devem coexistir com boas vindas entre o mundo do trabalho e o mundo da edu- instituições voltadas para a formação de profissionais cação de nível superior, aptas a atenderem à dinâmica do mercado e à necessidade de qualificação e re-quali- • Heterogêneo e flexível na forma de ser ofe- ficação de um número maior de pessoas. As Univer- recido: educação presencial, educação à distância e sidades propriamente ditas devem se constituir na sistemas híbridos. espinha dorsal desse sistema, formando os quadros • Diferenciado em sua estrutura organizacio- docentes para as demais instituições e desenvolven- nal: instituições públicas e privadas, entidades com e do as pesquisas e gerando o conhecimento que deve sem fins lucrativos, entidades complexas diversifica- fluir por todas as instituições do sistema. Não se pode das academicamente ou concentradas em uma área deixar de enfatizar a importância da pesquisa básica do saber; entidades dedicadas primordialmente ao nas Universidades, que nunca poderá ser abandona- ensino ou ao treinamento; entidades educativas ou da para que o conhecimento tenha bases sólidas para partes de organizações empresariais com foco na pro- avançar. Essas instituições não possuem, porém a ver- dução de bens e serviços diversos. satilidade e a praticidade para oferecer, por exemplo, A política de estímulo à expansão do ensino su- cursos superiores de curta duração de preparação perior, adotada de forma planejada pelo governo do para trabalho, essenciais para jovens e adultos que Presidente Fernando Henrique Cardoso desde 1995, buscam a formação inicial ou atualização profissional. foi desenhada a partir do entendimento que a priori- As próprias corporações empresariais dos mais dade conferida è educação básica causaria o aumento diversos setores ampliam e diversificam os seus anti- da pressão social por mais vagas no ensino superior. gos cursos de treinamento desenvolvidos pelos depar- Além de viabilizar a expansão, era preciso garantir tamentos de recursos humanos, chegando, em muitos a diversificação do sistema. Um enorme problema casos, a passar a chamá-los, inapropriadamente, de adicional: nosso sistema de ensino superior era exa- “Universidades Corporativas”. Independentemente tamente antagônico a essas exigências da Sociedade

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do Conhecimento. Já em 1995, logrou-se a aprovação de uma nova Os problemas principais que enfrentávamos em lei que criou o Conselho Nacional de Educação e re- 1995 podiam ser agrupados em cinco áreas: tamanho definiu as bases do credenciamento de novas institui- do sistema extremamente modesto para as dimen- ções, buscando a expansão com qualidade para fazer sões e necessidades do país; estrutura curricular rí- frente à nova demanda por ensino superior. O novo gida em cada carreira; autonomia para a criação de sistema estava baseado na flexibilidade, competitivi- novos cursos limitada às instituições credenciadas dade e avaliação. O aspecto mais importante dessa lei como Universidades; processo burocrático e cartorial foi estabelecer a necessidade do recredenciamento de credenciamento de novas instituições ou de trans- periódico das instituições, baseado na avaliação do formação das existentes, o que gerou um sistema desempenho dos cursos. sem competição e de baixa qualidade, com reservas No discurso de abertura de um Seminário sobre de mercado que significavam enormes lucros para o Ensino Superior realizado em dezembro de 1996 os empresários da educação; ausência de um sistema com a participação de um elevado número de Reitores abrangente de avaliação do ensino de graduação ao de Instituições Públicas e Privadas eu afirmava que: qual se pudesse vincular o processo de credencia- “A meu modo de ver estes princípios [a serem aprova- mento de instituições; e, finalmente, ineficiência no dos pelo Conselho Nacional de Educação] deveriam uso dos recursos públicos na parte federal do sistema, contemplar, entre outros os seguintes aspectos: apesar de sua qualidade superior ao resto no ensino • As instituições com certa tradição na área do e seu papel relevante na pesquisa. O enfrentamento ensino, ainda que não universitárias e que tenham um dessas questões esteve presente num conjunto de po- bom histórico de avaliação deveriam gozar de autono- líticas coerentes entre si. mia semelhante a das universidades para a criação de No início do governo, muitos propugnavam pela novos cursos. A criação da figura dos Centros Universi- liberdade total para as instituições que atuassem no tários, prevista na futura LDB facilitaria a operaciona- ensino superior. Essa proposta não tem cabimento em lização deste princípio. um país como o nosso. Tendo o diploma um valor pro- • A autorização de novos cursos deveria ser fissional e, portanto, econômico, torna-se necessário mais livre nas carreiras menos regulamentadas, tais certo controle e supervisão do Estado em relação à como turismo, relações públicas, publicidade, informá- expansão do sistema. Foram assim definidos os pila- tica, relações internacionais, comercio exterior etc. res da política em relação ao ensino superior, desta- • O eventual controle prévio para a criação de cando-se a avaliação, a autonomia universitária plena novos cursos deveria se concentrar apenas nas áreas da e a melhoria do ensino. Por meio da primeira linha saúde, do direito, da pedagogia e das engenharias. de atuação, o governo procurava redefinir a essência da relação entre Estado e sistema de ensino superior. Como conseqüência, passaremos a ter um sis- O Estado deve diminuir sua função credenciadora de tema de ensino superior realmente diversificado, com instituições de ensino e aumentar sua função avaliado- vários tipos de instituições, gozando de graus diferentes ra do sistema. A segunda linha de atuação tinha como de autonomia e graus diversos de vinculação entre ensi- objetivo aumentar a eficiência e o nível de responsabi- no e pesquisa dentro de cada instituição.” lidade social do sistema, especialmente do segmento Como assinalava o documento preparado pelo público federal. Na terceira linha, incluíam-se ações MEC para servir de referência àquele seminário, a para melhorar a capacitação de recursos humanos e a autonomia, alicerçada nos ideais de liberdade de pen- infra-estrutura das universidades. samento e de crítica, não está necessariamente vincu- Alicerçado em alterações de caráter quantitativo, lada ao segundo princípio que a constituição consa- qualitativo, institucional e legal, o processo planeja- grou para definir a universidade: a indissociabilidade do de mudanças deflagrado a partir de 1995 passou entre ensino e pesquisa. A autonomia universitária é a orientar-se por cinco princípios gerais: expansão, anterior à criação das universidades de pesquisa e é diversificação do sistema, avaliação, supervisão, qua- reconhecida nos países onde a indissociabilidade não lificação e modernização. Além disso, o Ministério é uma norma geral. Como o fundamento da universi- passou a adotar uma visão ampla do ensino superior, dade é a excelência do corpo acadêmico e do ensino, entendendo-o como um conjunto complexo de insti- havia um pressuposto de que todas as instituições de tuições públicas e privadas. Assim, a política tratou de nível superior deveriam evoluir para a condição de definir e estimular a diversificação do sistema. Hoje, universidade (desde que incluíssem diferentes áre- os cursos superiores distribuem-se em universidades, as de conhecimento). Esta expectativa permeava na centros universitários, faculdades integradas e isola- época o imaginário brasileiro sobre ensino superior. das, desfrutando de diversos graus de autonomia e de Nessa concepção, o sistema se organizaria sobre três requerimentos acadêmicos. tipos de instituições: universidades; conjuntos de es-

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colas que deveriam se transformar em universidades; instituições educacionais com fins lucrativos atuarem e umas poucas instituições isoladas, especializadas no ensino superior. Até então, essa prerrogativa era numa área de conhecimento. A indissociabilidade en- restrita à educação básica. No ensino superior, todas tre ensino e pesquisa, por outro lado, tem outra histó- as instituições deveriam ter caráter de instituições ria: atende a uma concepção de universidade que foi sem fins de lucro. Tratava-se de uma grande hipocri- defendida no Brasil desde a década de vinte e esteve sia, pois muitas pessoas haviam enriquecido sendo associada a um movimento de modernização do ensi- “donas de mantenedoras de ensino superior sem fins no superior. Convém lembrar que, até aquela época, de lucro”. não havia universidade no Brasil e o ensino superior Na área da graduação a mesma lei previu a de- estava organizado em Escolas ou Faculdades autô- finição das Diretrizes Gerais dos Currículos de Gra- nomas, voltadas para a formação de profissionais de duação. Os objetivos eram: a melhoria na oferta de nível superior. cursos, a ampliação e a integração entre áreas do co- Não obstante, era preciso garantir que a expan- nhecimento, a flexibilização curricular e a participa- são necessária não viesse a ocorrer em detrimento ção dos setores que integram a formação dos alunos, da qualidade. Mais ainda, era preciso assegurar a re- o combate à evasão escolar e a ampliação do espaço de dução da desigualdade na qualidade das instituições. decisão do aluno na definição de seu currículo acadê- Nosso desafio era garantir um maior grau de homo- mico. Além disso, abriu-se a possibilidade da criação geneidade e, ao mesmo tempo, permitir sua expansão dos cursos superiores de curta duração: seqüenciais rápida para atender nossas necessidades de desenvol- e de formação de tecnólogos, novas modalidades na vimento. Nosso instrumento inicial para lidar com o oferta de ensino superior, que não se confundem com problema da enorme heterogeneidade na qualidade os cursos tradicionais de graduação e representam das instituições de ensino superior do país foi a pró- uma relevante alternativa para o acesso dos estudan- pria realização da avaliação e a ampla difusão de seus tes ao ensino pós-médio. resultados para o conhecimento de toda a sociedade. A avaliação já era tradicional na pós-graduação A suposição, que se verificou correta, era que tra- no Brasil e, seguramente, foi um dos principais fato- tando com um segmento diferenciado da população, res explicativos da qualidade desse segmento do en- tanto em termos da clientela do sistema, quanto dos sino em nosso país. A graduação, entretanto, carecia futuros usuários e empregadores dos profissionais de um sistema objetivo e abrangente do conjunto que formados, a existência de elementos objetivos de ava- proporcionasse tanto critérios a serem incorporados liação exerceria enorme pressão social sobre as pio- no processo de re-credenciamento, quanto informa- res instituições. ção transparente e objetiva para o conjunto da socie- Em seguida criamos vinculações objetivas entre dade, em especial para os estudantes. a avaliação e o processo de credenciamento de ins- O sistema de avaliação da graduação tinha no tituições, autorizações e reconhecimentos de cursos Exame Nacional de Cursos, o “Provão”, sua parte e suas renovações periódicas, eliminando o caráter mais visível, mas contemplava desde os seus primór- discricionário, cartorial e clientelista que vigorava dios um complexo sistema de indicadores, à seme- até 1994. Nesses processos, estabelecemos padrões lhança dos indicadores da pós-graduação. Além disso, mínimos de infra-estrutura para o funcionamento das o MEC passou a promover a avaliação in loco das ins- instituições e para a qualificação de seu corpo docen- tituições por comitês de professores doutores. Desde te, que foi incluído na Lei de Diretrizes e Bases da o início do funcionamento do Conselho Nacional de Educação. Educação, todos os credenciamentos de instituições É interessante observar que o Congresso ao e reconhecimentos de cursos passaram a ser feitos aprovar o texto final da Lei de Diretrizes e Bases da por um certo número de indicadores objetivos e não Educação, a LDB, ao tratar da diversificação do sis- mais de forma permanente como ocorria no passado. tema, eliminou a referência específica às formas que Acabaram-se os cartórios. A cada certo tempo o reco- as instituições de ensino superior poderiam assumir nhecimento dos cursos, que dá validade aos diplomas e que constava do texto até então debatido. Foi ne- emitidos, deverá ser renovado. Nesta oportunidade cessário, que as novas figuras jurídicas dos Centros todos os indicadores objetivos de avaliação - incluindo Universitários e das Faculdades Integradas fossem o resultado do Exame Nacional de Cursos - deviam criadas por Decreto que regulamentou a Lei. No pri- ser considerados. meiro caso buscava-se estimular a expansão do siste- A tradução dessa orientação geral para o dia-a- ma com mais liberdade na criação de novos cursos dia da ação do Ministério levou a dar maior ênfase e para instituições não-universitárias que se destaquem importância ao reconhecimento dos cursos e ao re- pela qualidade de ensino. Ainda no aspecto institucio- credenciamento (e eventual descredenciamento) das nal, outra importante inovação foi a possibilidade de instituições do que à autorização inicial de funciona-

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mento. Assim, sem cair no extremo da liberdade total, significativa e dinâmica de nosso sistema de ensino adotamos maior flexibilidade das normas para a auto- superior, com expressiva contribuição para a elevação rização inicial de criação de novos cursos, inclusive da qualidade de formação de nossos universitários. A para instituições não universitárias. criação de Centros Universitários se dá apenas pela As instituições com certa tradição na área do en- transformação de faculdades integradas e passou a sino, ainda que não universitárias e que tinham um depender de avaliação institucional de especialistas bom histórico de avaliação, passaram a gozar de au- acadêmicos e de aprovação do Conselho Nacional de tonomia semelhante à das universidades para a cria- Educação e obedece a requisitos de qualidade aca- ção de novos cursos. A criação da figura dos Centros dêmica. Já em 1997 e 1998, foram criados 20 centros Universitários foi instituída mediante decreto que universitários e, no período de 1999 a 2000, mais 30. regulamentou a LDB e viabilizou a operacionalização Atualmente, são 184 Centros Universitários em funcio- deste princípio. Por outro lado, a autorização de no- namento no país, que respondiam em 2005 por quase vos cursos em geral passou a ser mais expedita nas 700 mil de alunos, ou seja, 15% do total. Os relatórios carreiras menos regulamentadas, tais como turismo, das comissões de especialistas – professores doutores relações públicas, publicidade, informática, relações de nossas melhores instituições – que visitam as insti- internacionais, comércio exterior etc. O controle pré- tuições para avaliá-las mostram uma evolução bastan- vio para a criação de novos cursos concentrou-se ape- te favorável ao longo do tempo, pelo menos até o ano nas nas áreas da saúde, do direito, da pedagogia e das de 2003. Nos casos dos Centros Universitários que já engenharias. tiveram seu credenciamento renovado, os relatórios mostraram uma evolução extremamente positiva em A expansão do ensino superior no Brasil ganhou todos os quesitos analisados, desde a infra-estrutura enorme impulso desde 1995. O número total de ins- física até os laboratórios, passando pelas bibliotecas. tituições passou de 894 naquele ano para 2.457 em 2007. Destas, 2.176 são particulares e 1.000 são consti- tuídas como instituições com fins lucrativos. Naquele ano o país possuía 1,8 milhões de alunos nesse nível educacional e dez anos depois este número chegou a 4.4 milhões, 73% dos quais estudantes de instituições privadas. Ao longo dos dez últimos anos, os Centros Uni- versitários consolidaram-se como uma parcela muito

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2.- HISTÓRIA DA IMPLANTAÇÃO E EXPANSÃO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS Éfrem de Aguiar Maranhão

INTRODUÇÃO: O REFERENCIAL HISTÓRI- para humanidade. CO UNIVERSITÁRIO No Brasil a Educação Superior, ainda é relativa- mente jovem. As primeiras iniciativas surgem com a A Educação Superior tem sido ao longo dos anos criação das Faculdades de Medicina, de Salvador e do um fator diferencial no desenvolvimento sustentado e Rio de Janeiro, em 1808, e Direito, Olinda/Recife e São harmonioso, bem como da soberania das nações. Francisco/São Paulo, 1827, coincidentes com a vinda Os primeiros registros de estudos universitários da Família Real e a necessidade de se qualificar a bur- vêm das universidades de bases religiosas: A Univer- guesia e a burocracia brasileira. Permitindo assim, as sidade de Nalanda, na Índia, está entre as primeiras famílias, que não desejassem ou não pudessem enviar do mundo, fundada no século quinto antes de cristo seus filhos a Europa, profissionalizá-los aqui. (AC), acredita-se ter sido visitada por Buda e teve seu A primeira universidade foi legalmente constituí- auge no século sete após cristo (DC); a Universidade da em 1920: a Universidade Federal do Rio de Janeiro. de Karueein, um antigo Mosteiro, em Fez, no Mar- Criada pela união de várias faculdades, foi a herdeira rocos data de 859 e a Univerdade de Al-Azhar, uma dos primeiros cursos do Brasil tendo nas Faculdades antiga Mesquita, no Cairo, Egito, de 988. de Medicina, 1808, criada com o nome de Academia A Universidade de Bolonha, na Itália, de 1088, de Medicina e Cirurgia, e na da engenharia, Escola é considerada como a primeira expressão realmente Politécnica, fundada em 1792, seu embrião. acadêmica de educação superior. Seguida pela Uni- A Lei orgânica de 1931 e a primeira Lei de Di- versidade de Oxford, na Inglaterra, de 1096. retrizes e Base da Educação - LDB, Lei nº. 4.024, de Nos séculos posteriores outros países Europeus 1961, enfatizaram a lógica das universidades. A LDB iniciaram suas atividades universitárias. Sendo um re- estabeleceu que o ensino superior fosse ministrado ferencial de destaque para nós: França, Paris, 1170, e em estabelecimento, agrupados ou não em universi- Portugal, Coimbra, 1290. dades, com a cooperação de institutos de pesquisa e centros de treinamento profissional. No Continente Americano os primeiros registros são da Guatemala, Santo Domingo - Universidade Au- A chamada Reforma Universitária, Lei nº. 5.540 tônoma de Santo Domingo, de 1538. E na América do de 1968, reforçou a universidade como modelo refe- Sul a Universidade Nacional de San Marcos, em Lima, rencial, ao definir que o ensino superior é indissociá- Peru, 1551, e a Universidade Nacional de Córdoba, vel da pesquisa, e só excepcionalmente seria ministra- 1610, Córdoba, Argentina. Na América do Norte, a do em estabelecimentos isolados, organizados como primeira iniciativa é de 1551 - a Universidade Nacio- instituições de direito público ou privado. E que, na nal Autônoma do México. Já nos Estados Unidos da medida do possível, as instituições isoladas deveriam América foi em Cambridge, Massachusetts, que sur- se incorporar às universidades ou agregarem-se em giu sua primeira Universidade, o New College que foi federação de escolas. Explicita a autonomia didático- rebatizada em 13 de Março de 1639, como Harvard científica, disciplinar, administrativa e financeira da College e atualmente Universidade de Harvard. universidade, na forma da lei e dos seus estatutos, que devem ser aprovados pelo Conselho de Educação Assim quando pensamos e falamos de Educação competente. Superior no mundo, temos instituições milenares e centenárias de grande relevância histórica e cultural Neste contexto cabe destacar o papel de lide- rança e inovação do Estado de São Paulo, não só pela

 Doutor, Professor da Universidade Federal de Pernambuco. Médico criação da Universidade de São Paulo em 1934, que Cardiologista da Universidade Estadual de Pernambuco. Membro Titular da trouxe uma nova concepção e estruturação universitá- Academia Brasileira de Educação. Ex Reitor da Universidade Federal de Per- nambuco e Ex Presidente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras ria, mais também, por em 1980, conceder as universi- -CRUB. Ex Secretário de Estado da Educação de Pernambuco e Ex Presidente do dades estaduais paulistas autonomia e gestão plena. Conselho Nacional de Secretários de Educação – CONSED. Ex Conselheiro do Conselho Nacional de Educação –CNE. e Ex Presidente do Conselho Nacional A segunda LDB, Lei nº. 5.692, de 11 de agosto de Educação e da sua Câmara de Educação Superior.

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de 1971, não muda esta ênfase referencial das univer- isto é: a autonomia é própria das universidades. As de- sidades, e estabelece diretrizes e bases para o ensino mais instituições não universitárias, inclusive os Cen- de primeiro e segundo graus, e a formação de profes- tros Federais de Educação Tecnológica, criados pelo sores. governo federal, não tinham esta prerrogativa. Assim as leis e reformas que contemplaram a Com a discussão da Nova Lei de Diretrizes e educação superior sempre estabeleciam universida- Base da Educação - LDB coube ao então Senador des como modelo referencial e detentora, em maior Darcy Ribeiro, na apresentação de seu substitutivo à ou menor grau, de autonomia. LDB, lançar a semente do que viria mais tarde a ser A Constituição de 1988 possibilitou um conceito os Centros Universitários. Ele propunha que as Insti- amplo de autonomia universitária que a Lei nº. 9.394, tuições de Ensino Superior se organizassem de for- de 1996, a atual LDB, expressa ao estabelecer a pro- ma diversa como: Universidades, Centro de Ensino gressiva autonomia pedagógica e administrativa das Superior, Institutos, e outras formas de organização. unidades escolares, na Educação Básica, e ao definir Porem, para fins de registro, o pai, se é que podemos que atribuições de autonomia universitária poderão assim chamar, dos Centros Universitários, foi o Mi- ser estendidas a instituições de ensino superior que nistro Paulo Renato. Coube ao Ministro a concepção e comprovem alta qualificação para o ensino ou para a conceituação. Paulo Renato procurou agregar pesso- pesquisa, com base em avaliação realizada pelo Poder as em torno da nova instituição proposta. O Conselho Público. Nacional de Educação – CNE mostrou-se sensível e abraçou a proposta. Eu e o Conselheiro Lauro Zim- Na discussão da atual LDB ficou evidente a ne- mer fomos entusiastas de primeira hora. cessidade de avançar na diversificação e na diferencia- ção de instituições e cursos, dentro de uma concep- Paulo Renato procurou as diversas instituições ção contemporânea. O substitutivo apresentado pelo que estavam com processos de autorização de Univer- Senador Darcy Ribeiro propunha que as Instituições sidade mostrando-lhes os benefícios da nova opção. de Ensino Superior, além de se organizarem como Lembro-me, na Delegacia do MEC, em São Paulo, Universidades, poderiam ter outras possibilidades quando discutíamos a proposta. E o Ministro convi- de diferenciação como: Centro de Ensino Superior, dou algumas instituições para esta conversa. Tenho Institutos, e outras formas de organização. Lamenta- presente na memória a figura do Prof. Eduardo Sto- velmente o texto final da Lei não contemplou a diver- rópoli, atual presidente da ANACEU, Diretor da Nove sificação. Coube ao Decreto n.º 2.207, de 15 de abril de Julho, naquela ocasião, sendo convencido a trans- de 1997, ao regulamentar a LDB, estabelecer a orga- formar seu processo em Credenciamento como Cen- nização administrativa das IES e assim foram criados tro Universitário, o que de fato veio a acontecer. E os Centros Universitários. assim as diversas instituições foram aderindo a esta nova concepção de Instituição de Ensino Superior. Em boa hora a Associação Nacional dos Centros Universitários - ANACEU, dentro da programação das Centro Universitário foi e é uma proposta exce- comemorações da primeira década da existência dos lente, que deu muito certo para Educação Brasileira. Centros, resolve organizar esta publicação: “O Impac- Em 1998, na Conferência Mundial de Educação Su- to dos Centros Universitários no Ensino Superior Bra- perior, Ação e Visão, tive a oportunidade de expor na sileiro 1997 – 2007”. UNESCO, em Paris, enquanto Chefe da Delegação Brasileira, os avanços trazidos pela nova LDB. Des- taquei: A política nacional de educação superior inova ao diversificar: Oferta do ensino superior, ao criar os A NECESSIDADE DE DIVERSIFICAÇÃO E cursos seqüenciais por campo de saber; Reconhecimento DIFERENCIAÇÃO periódico dos cursos, enfatizando a qualidade do projeto pedagógico e o perfil profissional desejado; Credencia- A diversificação das IES é uma realidade do mento (Recredenciamento) periódico de todas as insti- mundo moderno. A Europa já vem, de muito, diferen- tuições, inclusive, das universidades já existentes; Nova ciando suas instituições em faculdades, colleges, poli- concepção diferenciada do diploma. E acrescentei: A técnicos e universidades. Agora discutem a lógica da criação do Centro Universitário, que goza de autonomia sua formação superior e da concessão dos seus graus, para a criação de seus próprios cursos, é uma forma de o Protocolo de Bolonha. diversificar as modalidades das instituições de ensino Os Estados Unidos das Américas consolidaram superior brasileiras, a exemplo do Politécnico Europeu o modelo dos colleges, community colleges e universi- e do Community College norte americano. Caracteri- dades. za-se pela excelência do ensino oferecido, pela qualifica- ção do seu corpo docente e pelas condições de trabalho No Brasil, como vimos, até a atual LDB, prevale- oferecido à comunidade escolar. Outra flexibilização é ceu o estabelecido na reforma universitária de 1968,

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a Universidade Especializada por campo do saber, que a LDB, Lei nº. 9.394, foi finalmente aprovada, e publi- pressupõe, como parâmetro ordenador, a existência de cada no DOU, em 23 de dezembro de 2006. uma área de conhecimento ou formação especializada Resultou do embate entre o Projeto da Câmara, dos quadros profissionais de nível superior. conhecida como Projeto Jorge Hage, que contava No seguimento da Conferência Mundial de Edu- com o apoio do Fórum Nacional em Defesa da Es- cação Superior, 1998+5, Paris 2003, verificou-se nos cola Pública, e trazia entre tantos detalhamentos, os vários países, na evolução das suas estruturas e siste- mecanismos de controle social do sistema de ensino mas, o compromisso educacional com a diversidade, e o substitutivo do Senado, conhecido como Projeto dinamismo, flexibilidade, programas abertos, estudos Darcy Ribeiro, enxuto, descentralizador, flexível e alternativos, educação continuada, e com as novas de- mais moderno, na minha opinião. Participei do debate mandas de competências e habilidades. Inclusive, está na condição de Presidente do Conselho de Reitores prevista uma nova Conferência Mundial para 2009, das Universidades Brasileiras –CRUB. Posso teste- por proposta da Delegação Brasileira chefiada pelo munhar que, para aprovação do texto final, foi impor- Ministro Fernando Haddad, para discutir os avanços tante a capacidade de articulação e o bom senso do registrados desde 1998. A proposta foi apresentada Deputado José Jorge, relator da LDB. A discussão da durante reunião da Comissão de Educação da Orga- LDB teve uma forte interação com o poder público, nização das Nações Unidas para Educação, Ciência e cabendo uma ação efetiva do MEC liderada por Paulo a Cultura (UNESCO), realizada nos dias 22 e 27 de Renato, e com a participação marcante da Profa. Eu- outubro do corrente ano, em Paris, França. nice Durhan, bem como da Sociedade Civil Organi- Seguindo as tendências da Conferência Mun- zada. dial, foi aprovado em 2001, o Plano Nacional de Edu- Assim a LDB, ao definir no seu artigo quarenta cação - PNE, Lei nº. 10172/2001, estabelecendo que e cinco, que a educação superior será ministrada em o sistema de educação superior deva contar com um IES, pública ou privada, com variados graus de abran- conjunto diversificado de instituições que atendam a gência ou especialização e, no seu artigo cinqüenta e diferentes demandas e funções. Seu núcleo estratégico quatro, admitir a possibilidade de estender atribuições há de ser composto pelas universidades, que exercem de autonomia universitária a instituições que compro- as funções que lhe foram atribuídas pela Constituição: vem alta qualificação para o ensino ou para a pesquisa, ensino, pesquisa e extensão. Esse núcleo estratégico com base em avaliação realizada pelo Poder Público, tem como missão contribuir para o desenvolvimento criou, efetivamente, as possibilidades para criação dos do País e para a redução dos desequilíbrios regionais, centros universitários. nos marcos de um projeto nacional. A criação dos Centros, como já referido, foi es- E acrescenta: Para promover a renovação do ensi- tabelecida pelo Decreto n.º 2.207, de 15 de abril de no universitário brasileiro é preciso, também, reformu- 1997, que ao regulamentar a LDB, no seu artigo quar- lar o rígido sistema de controles burocráticos. A efetiva to, classificou as IES do Sistema Federal de Ensino autonomia das universidades, a ampliação da margem Superior, quanto à sua organização acadêmica em de liberdade das instituições não universitárias e a per- universidades; centros universitários; faculdades in- manente avaliação dos currículos constituem medidas tegradas; faculdades; institutos superiores ou esco- tão necessárias quanto urgentes, para que a educação las superiores. E assim, no seu artigo seis, definiu os superior possa enfrentar as rápidas transformações por centros universitários como instituições de ensino supe- que passa a sociedade brasileira e constituir um pólo rior pluricelulares, abrangendo uma ou mais áreas do formulador de caminhos para o desenvolvimento hu- conhecimento, que se caracterizam pela excelência de mano em nosso país. Deve-se ressaltar, também, que as ensino oferecido, comprovada pela qualificação do seu instituições não vocacionadas para a pesquisa, mas que corpo docente e pelas condições de trabalho acadêmico praticam ensino de qualidade e, eventualmente, exten- oferecidas à comunidade escolar, nos termos das nor- são, têm um importante papel a cumprir no sistema mas estabelecidas pelo Ministro de Estado da Educação de educação superior e sua expansão, devendo exercer e do Desporto para o seu credenciamento. Estabele- inclusive prerrogativas de autonomia. É o caso dos cen- cendo aos centros autonomia para criar, organizar e tros universitários. extinguir, em sua sede, cursos e programas de educa- ção superior, bem como previu outras atribuições da autonomia universitária, devidamente definida no ato de seu credenciamento. A CRIAÇÃO DOS CENTROS UNIVERSITÁ- RIOS: A QUESTÃO DA AUTONOMIA O Decreto trouxe um limitante à autonomia de Universidades e Centros, ao definir que a criação e Após a longa discussão e tramitação de oito anos, o reconhecimento dos cursos de Direito, Medicina, Psicologia e Odontologia dependiam de autorização

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do CNE e MEC/SESu, ouvindo previamente OAB e vida, um grande número de solicitações de Instituições CNS. Por outro lado, estendeu a autonomia das Uni- de Ensino atualmente classificadas como Faculdades versidades aos novos campi criados. Integradas , Faculdades e Institutos Superiores ou Es- O Decreto foi normatizado pelas Portarias: de colas Superiores , para se transformarem em Centros nº. 639, de 13 de maio de 1997, que dispunha sobre Universitários. O quê de fato vem acontecendo. o credenciamento de centros universitários, e a de O aperfeiçoamento do credenciamento das nº. 2.041, de 22 de outubro 1997, que estabeleceu cri- Instituições de Ensino Superior veio com o Parecer térios adicionais de certa forma discriminadores, aos CNE/CES 1366/2001 e a Resolução do CNE/CES nº. centros, trazendo a modificação do prazo para recre- 10, de 11 de março 2002, estabelecendo que o Cre- denciamento, reduzido de cinco para três anos, e a denciamento de Centros Universitários e Universi- explicitação que as unidades fora de sede dos centros dades seria feito por meio de novo credenciamento não gozavam de autonomia. de instituições de ensino superior já credenciadas e O Decreto n.º 2.207 teve vida curta, e, ainda no regularmente implantadas, que atendam alguns pré- mesmo ano, foi revogado e substituído pelo Decreto requisitos: 1. Cinco ou mais cursos de graduação re- n.º 2.306, de 19 de agosto de 1997, vigente até 2001, e conhecidos; 2. Mais da metade de conceitos A, B ou C manteve a autonomia dos centros universitários e das nas três últimas avaliações do ENC; 3. Nenhum con- universidades e seus campi fora de sede. ceito Insuficiente no item corpo docente, na avaliação das condições de oferta de cursos; 4. Nenhum pedido Desta forma, no segundo semestre de 1997, fo- de reconhecimento de curso superior negado nos úl- ram criados os primeiros Centros Universitários. No timos cinco anos; 5. Programa de Avaliação institucio- seu ato deliberativo o CNE recomendou o creden- nalizado; 6. Avaliação institucional positiva, realizada ciamento por cinco anos como previa o Decreto de pelo INEP. criação, e por acreditar que este tempo permitiria a instituição certo amadurecimento para implementar Em 2001 já haviam sido criados 66 Centros Uni- seu projeto. Contudo, o Ministro reduziu este tempo versitários, inclusive sendo dois deles públicos, um fe- para três anos, através da Portaria nº. 2.175, de 27 de deral e outro municipal. O CNE já vinha discutindo a novembro de 1997. Motivado pelos indicadores de questão dos cursos fora de sede. Inclusive através de avaliação dos cursos de graduação, previstos no De- um parecer nosso solicitara reexame desta questão. creto nº. 2.026, de 10 de outubro de 1996, estendeu No debate sobre a definição dos limites da au- as possibilidades de criação de cursos fora de sede tonomia, o Decreto nº. 3.860, de 9 de Julho de 2001, a todas IES. Sendo novamente restritivo com os cen- definiu, nos termos da LDB, que ela se aplica à sede, tros, quando estabeleceu que fosse permitindo só aos não se estende aos cursos e campus fora de sede das Centros que viessem a ser recredenciados. O CNE/ universidades, ressalvando a garantia de autonomia CES apresentou manifestação contrária a esta porta- para os já criados, que seriam submetidos a processo ria Ministerial. de recredenciamento em conjunto com a sede da uni- Os primeiros Centros criados nos meses de ou- versidade, Decreto nº. 3.908 do mesmo ano. tubro e novembro de 1997 foram: Centro Universitário Dentro desta discussão de autonomia o Parecer Moura Lacerda, Centro Universitário de João Pessoa, CNE/CES 250 de 27/8/2002, publicado no Diário Ofi- Centro Universitário do Triângulo, Centro Universitá- cial da União de 02/09/2002, reexaminou o Parecer rio de Araraquara, Centro Universitário Newton Pai- CNE/CES 155 de 2002, referente à extensão da au- va, Centro Universitário Nove de Julho, Centro Uni- tonomia dos Centros Universitários, no que se refere versitário São Camilo, Centro Universitário Salesiano ao registro de diploma e curso fora de sede. Eu e o de São Paulo. Conselheiro Edson Nunes, a partir de uma indicação O Conselho Nacional de Educação acompanhou do Conselheiro Lauro Zimmer, nos manifestamos que com muita atenção o processo de implantação e ex- quanto ao registro de diplomas, nada impedia que a pansão dos Centros Universitários. Em 1998 fez uma medida, por seu caráter desburocratizante, fosse ado- discussão preliminar através do Parecer CES 738/98, tada desde logo, tendo em vista as exigências relativas e em 1999 através do Parecer nº. CES 618, este homo- à organização administrativa feitas para que uma ins- logado no mês seguinte - julho de 99, ambos da lavra tituição seja credenciada como Centro Universitário. do Conselheiro Arthur Roquete. O Parecer serviu Com relação à extensão da autonomia para a criação para definir critérios para a avaliação das solicitações de cursos fora de sede, recomendamos que a matéria de credenciamento de Centros Universitários e pre- devesse ser objeto de estudo e deliberação em pare- valeceu até 2001. No relato, o Prof. Arthur, bastante cer específico, já que esta questão era de interesse convencido da importância dos Centros Universitá- sobretudo das universidades. rios, prenunciava: Esta situação ocasionará, sem dú- Como os Centros foram credenciados por 3 anos

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do CNE/CES através do Parecer CNE/CES 111/2002 logia, Faculdades, Institutos e Escolas Superiores. e a Resolução CNE/CES 23, de 5 de novembro de Desta forma, os CEFETs passaram a deter todas as 2002 normatizou o recredenciamento de Universida- prerrogativas, anteriormente associadas aos centros des e de Centros Universitários. universitários, e que estavam previstas no artigo onze Em Dezembro de 2002 foi iniciado o recreden- do Decreto no 3.860, e foram mais além, ao lhes ser ciamento. Os primeiros centros foram recredenciados facultado, mediante prévia autorização do Poder Exe- por 10 anos, e os demais por 5 anos: Centro Universi- cutivo, criar cursos superiores em municípios diver- tário Nove de Julho (dezembro de 2002), Centro Uni- sos ao de sua sede, indicada nos atos legais de seu versitário do Triângulo (julho de 2003), Centro Uni- credenciamento, desde que situados na mesma uni- versitário Nilton Lins (dezembro de 2003) e o Centro dade da federação. Universitário Araraquara (dezembro de 2003). Esta tormenta normativa não desestimulou as Os critérios de credenciamento e recredencia- intuições a credenciarem-se como Centros Universi- mento, baseados em avaliações, feitas por especia- tários. Ao final de 2004 já existiam 107 Centros. listas do MEC, resultados do exame de avaliação de curso e visita de conselheiros, evidenciaram serem os Centros Universitários, dentre todas as IES, as únicas O FORTALECIMENTO DOS CENTROS UNI- avaliadas e reavaliadas, dentro de uma concepção de VERSITÁRIOS avaliação periódica e indução e garantia de qualida- de. Coube ao Ministro Fernando Haddad, trazer a bonança, o resgate da autonomia dos Centros Univer- sitários. Assim, através do Decreto Federal n.º 5.773, A AMEAÇA DE EXTINÇÃO de 09 de maio de 2006, organizou as instituições de educação superior academicamente como: I - Faculda- Em 2003 já existiam 81 centros, incluindo 1 fe- des; II - Centros Universitários; e III - Universidades. deral e 2 municipais. Por razões, até hoje não claras, Definiu que o credenciamento como universidade ou surgiu o Decreto nº. 4.914 de 11 de dezembro de 2003. centro universitário, com as conseqüentes prerro- Com a chancela do Presidente Lula e dos Ministros gativas de autonomia, depende do credenciamento e José Dirceu. Foi uma verdadei- específico de instituição já credenciada, em funciona- ra ducha d’água fria sobre a trajetória de consolida- mento regular e com padrão satisfatório de qualidade. ção dos centros. Criou-se a incerteza. Por um lado, E que, nos limites de sua autonomia, independem de proibia a constituição de novos centros universitários, autorização para funcionamento de curso superior, exceto aqueles em fase de tramitação no Ministério devendo, contudo, informar à Secretaria competente da Educação para credenciamento e cuja comissão os cursos abertos para fins de supervisão, avaliação e avaliadora já tivesse sido constituída. Por outro, fazia posterior reconhecimento, no prazo de sessenta dias. uma agenda, com metas e cronograma, para que os Limitou, no caso de Centros e Faculdades, o primeiro centros universitários credenciados comprovassem, credenciamento a no máximo de três anos. até 31 de dezembro de 2007, que atendiam ao prin- E com a edição do Decreto n.º 5.786, de 24 de cípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e maio de 2006, foram estabelecidas as novas regras extensão, previsto no art. 207 da Constituição, e os para credenciamento dos Centros Universitários, de- requisitos estabelecidos no art. 52 da Lei no 9.394, de finindo de uma vez por todas que os centros poderão 20 de dezembro de 1996, isto é, equiparando-os, em registrar diplomas dos cursos por eles oferecidos, termos de exigência, à das universidades, sem con- revogando o famigerado Decreto no 4.914, de 11 de tudo conceder-lhes qualquer benefício para isto; pelo dezembro de 2003. Esta sem dúvida foi uma grande contrário, criou uma nova entidade, nem se quer de- vitória da Educação Brasileira. Vitória dos Centros, finida adequadamente, e nunca criada: os centros de cabendo destaque a capacidade de articulação e a lide- ensino superior. rança da ANACEU, capitaneada pelo seu Presidente, No ano seguinte, agora com o Ministro Tarso Eduardo Storópoli. Genro titular da pasta da educação, é editado o De- creto nº. 5.225, de 1º de outubro de 2004, que altera dispositivos do Decreto nº. 3.860, de 9 de julho de EVOLUÇÃO DOS CENTROS UNIVERSITÁ- 2001, criando uma nova organização do ensino supe- RIOS NA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASI- rior, através de: -I universidades; -II Centros Federais de Educação Tecnológica e Centros Universitários; LEIRA e -III Faculdades Integradas, Faculdades de Tecno- A Base de dados construída e disponível no

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INEP, em especial os dados do Censo, nos permite avaliar a evolução e tendências na Educação Superior e o papel dos diversos agentes. Observando a série histórica, de 1996 a 2005, ficam claras a redução relativa do segmento público, e a importância que o segmento privado ocupou na educação superior brasileira. No ano de 2005 constatamos, que do total de 2.429.737 vagas na educação superior brasileira, a matrícula ocorre predominantemente nas Institui- ções Privadas de Ensino, 72,23%, (Gráfico 1). Este segmento disponibiliza 88,8% das vagas ofertadas, (Gráfico 2), e representa 89,33% das Instituições de Educação Superior –IES. (Gráfico 3).

Gráfico 1. Matrículas por Categoria Administrativa Matrículas por Categoria Administrativa (%)

Públicas Privadas

60,6 61 62,1 64,9 67,1 69 69,8 70,8 71,7 73,23

39,4 39 37,9 35,1 32,9 31 30,2 29,2 28,3 26,77

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Fonte: MEC/Inep/Deaes

Gráfico 2. Vagas na Educação Superior 2005

Nº de vagas na Educação Superior, segundo Categoria Administrativa: Brasil 2005

Comunit/Conf/Filant Estadual Federal Municipal Particular

Total de vagas: 2.429.737

31%

57% 128.948

1.369.639 5% 126.254 57.086 5% 2% Fonte: MEC/Inep/Deaes

Gráfico 3. IES Brasilieras por Categoria Administrativa 1996-2005

IES por Categoria Administrativa (%)

Públicas Privadas

71,1 72,3 73,4 76,5 79,8 81,8 83,3 86 86,7 89,33

28,9 27,7 26,6 23,5 20,2 18,2 16,7 14 13,3 10,67 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Fonte: MEC/Inep/Deaes

34 PRIMEIRA PARTE

A análise da evolução da organização acadêmica das IES, Gráfico 4, permite-nos observar uma redução na proporção das Universidades, de 14,8%, em 96, para 8,1, em 2005, e das Faculdades Integradas, de 15,5 para 5,4%. Por outro lado, Os Centros cresceram de 1,4 em 1997 para 5,3 em 2005, e as Faculdades Tecnológicas de 1,5 em 1999 para 8,5% enquanto, as Faculdades, Escolas e Institutos são 72,7, em 2005, quando em 1996 representavam 69,7%.

Gráfico 4. IES por Organização Acadêmica 1996-2005

IES POR ORGANIZAÇÃO ACADÊMICA (%) F.Tec F.E.I F.Int C.Uni Uni

11,2 9,9 8,8 8,4 8,1 14,8 16,7 15,7 14,1 13,2 4,4 5,3 5,3 4,7 4,7 0 1,8 3,8 4,2 6,4 5,9 5,4 1,4 7,1 6,4 15,5 8,7 7,7 6,7 7,6

73,2 72,7 75,7 75,5 74,1 73,3 74,5 69,7 73,2 74,7

5 7,2 8,5 0 0 0 1,5 1,6 2,4 3,2 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Fonte: MEC/Inep/Deaes

Desta forma, ao término de 2005 os Centros Universitários representam - 5,3% das IES, ficando atrás das Universidades - 8,1%, das Faculdades Tecnológicas - 8,5% e das demais Faculdades - 72,7%. Ao mesmo tempo, quando observamos as matrículas por organização acadêmica, em 2005, constatamos que os Centros Universitários apresentaram um crescimento expressivo no número de matrículas, 15,16% das IES, certamente decorrente de sua autonomia, ficando atrás das Universidades, que representam 55,46% e das Faculdades, Escolas e Institutos, com 22,85%, e à frente das Faculdades Tecnológicas, 1,87%, e das Faculdades Integradas, 4,67% (Gráfico 5).

Gráfico 5. Matrículas por Organização Acadêmica 2005 Figura1 - MATRICULAS POR ORGANIZAÇÃO ACADÊMICA (%)

F.Tec F.E.I F.Int C.Uni Uni

55,46 61,8 58,6 56,9 64,7 68,2 69 68,3 67,1 64,5

0 12,9 14,8 15,16 2,6 12,4 13,1 2,9 6,8 9,1 11,2 4,67 7,3 7,3 5,4 4,8 4,9 5,4 5,5 5,2 21,6 21,7 22,85 22,2 21,9 20,8 19,1 17,6 17,8 19,4 0 0 0 0,8 0,9 1 1,2 1,5 1,8 1,87 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Fonte: MEC/Inep/Deaes A análise dos dados do Censo de 2005, Tabela 1, permite-nos constatar que ao final de 1997 já estavam instalados 10 Centros Universitários; ao final de 2005, os Centros já somavam 114 instituições, sendo sua maio- ria particular, e apenas três, municipais. Neste período houve um único Centro Universitário Federal, e era especializado em saúde, criado em 1º de outubro de 2001, pelo Ministro Paulo Renato, Portaria MEC nº. 2101, e em 2005, transformado em Universidade Federal de Alfenas, através da Lei 11.154.

35 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

Tabela1. - Expansão segundo categoria e subcategoria de IES: item II - centros universitários. Centros Universitários Observando os dados atualizados de 2007, dis- Centros Universitários poníveis no Portal SINAES, site do INEP, constata- Ano Total Federal Estadual Municipal Particular mos segundo as categorias das IES: 2141 instituições 1997 10 - - - 10 1998 18 - - - 18 privadas e 257 públicas, que estão academicamente 1999 39 - - - 39 organizadas em 177 Universidades, 185 Centros Uni- 2000 50 - - 1 49 versitários e 2036 Faculdades. 2001 66 1 - 1 64 2002 77 1 2 74 Estes dados, também, evidenciam que os Cen- 2003 81 1 - 2 78 tros Universitários, segundo as categorias das IES, 2004 107 1 - 2 104 2005 114 3 111 representam 143 instituições privadas e 42 públicas, destes 37 federais, dois estaduais e três municipais. Após sua criação em 1997, os Centros Univer- Entretanto, trabalhando com a Planilha nomi- sitários vêm consolidando-se como uma eficiente nal dos Centros Universitários, elaborada pelo INEP, estratégia educacional. Parte deste fortalecimento Tabelas 3 e 4, verificamos uma discreta diferença na é devida à capacidade de aglutinação, mobilização e informação dos dados. Aqui os centros universitários articulação da ANACEU, sua locomotiva. Aqui quero totalizam 158 instituições, sendo 118 privadas e 40 Pú- fazer um reconhecimento ao papel relevante dos seus blicas, cinco municipais e uma estadual. Desta forma primeiros presidentes: Magno Maranhão e Eduardo 75% dos centros são privados e 25% públicos. (Gráfico Storópoli, e todos seus associados que contribuíram 6). decisivamente neste processo.

Tabela 3. – Centros Universitários Privados - 2007 Instituição Situação Atual A EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA: Centro Universitário de Brusque CREDENCIADO Centro Universitário de Jaraguá do Sul RECREDENCIADO SITUAÇÃO APÓS O DECRETO PONTE Centro Universitário Herminio Ometto de Araras CREDENCIADO Centro Universitário do Planalto de Araxá CREDENCIADO Até do Decreto Ponte os referenciais das Insti- Centro Universitário de Itajubá CREDENCIADO Centro Universitário do Sul de Minas CREDENCIADO tuições de Educação Superior, tomando como base o Centro Universitário de Patos de Minas RECREDENCIADO Censo 2005, são de: Centro Universitário de Lavras RECREDENCIADO Centro Universitário de Caratinga CREDENCIADO -176 Universidades: 90 públicas e 86 privadas. Centro Universitário de Formiga CREDENCIADO Das públicas: 52 federais, 33 estaduais e cinco muni- Centro Universitário Barriga Verde CREDENCIADO Centro Universitário Feevale RECREDENCIADO cipais. As privadas: 61 entre comunitárias, confessio- Centro Universitário de Araraquara RECREDENCIADO nais e filantrópicas e 25 particulares. Centro Universitário de Araras - “Dr. Edmundo Ulson” – UNAR CREDENCIADO Centro Universitário Claretiano RECREDENCIADO – 114 Centros Universitários: 111 privadas e três Centro Universitário Barão de Mauá RECREDENCIADO públicas, todas municipais. Das privadas: 62 particula- Centro Universitário do Triângulo RECREDENCIADO Centro Universitário de Rio Preto CREDENCIADO res e 49 entre comunitárias, confessionais e filantró- Centro Universitário Assunção CREDENCIADO picas. Centro Universitário Belas Artes de São Paulo CREDENCIADO Centro Universitário da Cidade RECREDENCIADO - As Faculdades Integradas 117 (113 privadas e 3 Centro Universitário Ítalo-Brasileiro CREDENCIADO públicas, municipais), as Faculdades, Escolas e Insti- Centro Universitário Moura Lacerda RECREDENCIADO Centro Universitário Álvares Penteado CREDENCIADO tuto 1574 (1493 particulares, 8 federais, 26 estaduais e Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix CREDENCIADO 47 municipais) e Centro de Educação Tecnológica 184 Centro Universitário de Votuporanga RECREDENCIADO Centro Universitário Lusíada CREDENCIADO (131 particulares, 37 federais e 16 estaduais). Centro Universitário de Santo André RECREDENCIADO Após nove de maio de 2006, o Decreto n° 5.773 Centro Universitário Fieo RECREDENCIADO Centro Universitário Capital RECREDENCIADO - o Decreto Ponte -, redefiniu, no seu artigo doze, as Centro Universitário Augusto Motta CREDENCIADO instituições de educação superior, de acordo com sua Centro Universitário Nove de Julho RECREDENCIADO Centro Universitário Newton Paiva RECREDENCIADO organização e respectivas prerrogativas acadêmicas, Centro Universitário Una CREDENCIADO que passam a ser credenciadas como: - faculdades; Centro Universitário de Belo Horizonte RECREDENCIADO Centro Universitário de João Pessoa RECREDENCIADO - centros universitários; e – universidades. Esta nova Centro Universitário Paulistano CREDENCIADO classificação trouxe alterações na forma de apresen- Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas RECREDENCIADO tação de dados e seu tratamento estatístico, a partir Centro Universitário Ibero-Americano RECREDENCIADO Centro Universitário de Anápolis CREDENCIADO de 2006. Centro Universitário de Goiás CREDENCIADO Centro Universitário de Brasília RECREDENCIADO Assim as faculdades isoladas e tecnológicas; Centro Universitário Franciscano RECREDENCIADO os institutos e as escolas e as faculdades integradas Centro Universitário Filadélfia RECREDENCIADO Centro Universitário Ritter dos Reis CREDENCIADO estão agrupadas no item I – faculdades, enquanto os Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná CREDENCIADO Centros de Educação Tecnológicos estão incluídos no Centro Universitário Luterano de Santarém CREDENCIADO

36 PRIMEIRA PARTE

Tabela 4. - Centros Universitários Públicos – 2007 Centro Universitário Luterano de Manaus CREDENCIADO Centro Universitário Luterano de Palmas RECREDENCIADO Categoria Instituição Centro Universitário Sant´Anna RECREDENCIADO Administrativa Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Centro Universitário Serra dos Órgãos CREDENCIADO FEDERAL Fonseca Centro Universitário Metropolitano de São Paulo CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais FEDERAL Centro Universitário de Volta Redonda RECREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia FEDERAL Centro Universitário Monte Serrat CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão FEDERAL Centro Universitário de Barra Mansa RECREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Bento Gonçalves FEDERAL Centro Universitário Plínio Leite CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte FEDERAL Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos FEDERAL Centro Universitário do Distrito Federal CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba FEDERAL Centro Universitário Celso Lisboa CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Urutaí FEDERAL Centro Universitário Metodista Bennett CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Pelotas FEDERAL Centro Universitário La Salle RECREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Cuiabá FEDERAL Centro Universitário Vila Velha CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará FEDERAL Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo FEDERAL Centro Universitário Nilton Lins RECREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Pernambuco FEDERAL Centro Universitário da Grande Dourados RECREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo FEDERAL Centro Universitário Central Paulista CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás FEDERAL Centro Universitário Hermínio da Silveira CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica do Amazonas FEDERAL Centro Universitário Franciscano do Paraná CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará FEDERAL Centro Universitário São Camilo RECREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica do Piauí FEDERAL Centro Universitário São Camilo - Espírito Santo CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Alagoas FEDERAL Centro Universitário do Estado do Pará CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Petrolina FEDERAL Centro Universitário Radial CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina FEDERAL Centro Universitário de Várzea Grande RECREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis FEDERAL Centro Universitário Carioca RECREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica do Mato Grosso FEDERAL Centro Universitário do Maranhão CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Uberaba FEDERAL Centro Universitário de Desenvolvimento do Centro-Oeste CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Sergipe FEDERAL Centro Universitário do Leste de Minas Gerais RECREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Roraima FEDERAL Centro Universitário de Campo Grande CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de São Vicente do Sul FEDERAL Centro Universitário Salesiano de São Paulo RECREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Januária FEDERAL Centro Universitário Univates RECREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Ouro Preto FEDERAL Centro Universitário Positivo RECREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Rio Pomba FEDERAL Centro Universitário Anhangüera CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Rio Verde FEDERAL Centro Universitário da Bahia CREDENCIADO Centro Federal de Educação Tecnológica de Bambuí FEDERAL Centro Universitário Euro-Americano CREDENCIADO Centro Universitário Estadual da Zona Oeste ESTADUAL Centro Universitário do Norte Paulista RECREDENCIADO ESTADUAL/ Centro Universitário de Franca Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio RECREDENCIADO MUNICIPAL Centro Universitário Módulo CREDENCIADO ESTADUAL/ Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – Fae Centro Universitário de Maringá – Ceumar CREDENCIADO MUNICIPAL Centro Universitário de Jales CREDENCIADO ESTADUAL/ Centro Universitário de União da Vitória Centro Universitário Amparense CREDENCIADO MUNICIPAL ESTADUAL/ Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal CREDENCIADO Centro Universitário Fundação Santo André MUNICIPAL Centro Universitário Campos de Andrade CREDENCIADO ESTADUAL/ Centro Universitário Cândido Rondon CREDENCIADO Centro Universitário Municipal de São José MUNICIPAL Centro Universitário Adventista de São Paulo RECREDENCIADO Centro Universitário Toledo CREDENCIADO Centro Universitário Curitiba CREDENCIADO Gráfico 6. - Centros Universitários situação em 2007 Centro Universitário do Norte CREDENCIADO Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia RECREDENCIADO Centro Universitário Planalto do Distrito Federal – Uniplan CREDENCIADO Centro Universitário do Cerrado-Patrocínio CREDENCIADO Centro Universitário Leonardo da Vinci CREDENCIADO 25% Centro Universitário Geraldo Di Biase CREDENCIADO Centro Universitário do Espírito Santo RECREDENCIADO Centro Universitário Fundação de Ensino Octávio Bastos – Feob CREDENCIADO PRIVADAS Centro Universitário de Lins CREDENCIADO PUBLICAS Centro Universitário Diocesano do Sudoeste do Paraná CREDENCIADO Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana Pe Sabóia de Medeiros CREDENCIADO 75% Fiam-Faam - Centro Universitário CREDENCIADO Abeu - Centro Universitário CREDENCIADO Centro Universitário Eurípedes de Marília CREDENCIADO Centro Universitário da Fundação Educacional Guaxupé CREDENCIADO Centro Universitário SENAC CREDENCIADO Centro Universitário Metodista CREDENCIADO Centro Universitário Padre Anchieta CREDENCIADO Centro Universitário Fluminense CREDENCIADO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium CREDENCIADO Centro Universitário de Sete Lagoas CREDENCIADO

37 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

tivo pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação A normatização do Decreto Ponte pelo Conselho Superior – SINAES; Nacional de Educação, resultou na Resolução nº 11, VIII – plano de carreira e de política de capacita- de 10 de julho de 2006, decorrente do Parecer CNE/ ção docente implantados; CES 167/2006, provocado pela indicação CNE/CES nº IX – biblioteca que atenda adequadamente às 2/2006, que revogou vários atos normativos entre eles exigências dos cursos em funcionamento, com planos a Resolução CNE/CES nº 10, de 11 de março de 2002 fundamentados de expansão física e de acervo, com in- (decorrente do Parecer CNE/CES nº 1.366/2001) tegração efetiva na vida acadêmica da Instituição; – Dispõe sobre o credenciamento, transferência de X – não ter pedido de reconhecimento de curso de mantença, estatutos e regimentos de instituições de graduação ou superior indeferido pelo Ministério da ensino superior, autorização de cursos de graduação, Educação, ou pelo Conselho Nacional de Educação, nos reconhecimento e renovação de reconhecimento de últimos 3 (três) anos; cursos superiores, normas e critérios para supervisão do ensino superior do Sistema Federal de Educação XI – não ter sido submetida às penalidades de que Superior -; e a Resolução CNE/CES nº 23, de 5 de trata o § 1º do art. 46 da Lei nº9.394/96, regulamenta- novembro de 2002 (decorrente dos Pareceres CNE/ do pelo art. 52 do Decreto nº 5.773/2006. CES nos 1.366/2001 e 267/2002) – Dispõe sobre o re- Parágrafo único. Não poderão solicitar credencia- credenciamento de universidades e centros universi- mento como Centro Universitário instituições de educa- tários do sistema federal de educação superior. ção superior que, comprovadamente, tenham cometido Assim, como conseqüência, foi editada a Resolu- irregularidades ou sofrido punições por parte do Minis- ção nº 10, de 4 de outubro de 2007, que dispõe sobre tério da Educação, nos últimos 6 (seis) anos. normas e procedimentos para o credenciamento e o E como decorrência do recurso, ao pleno, a reso- recredenciamento de Centros Universitários, tendo lução fixa excepcionalidade através do artigo 7: como base principal o Parecer CNE/CES nº 85/2007 Os processos de credenciamento de Centros Uni- e complementar o Parecer do Conselho Pleno de nº: versitários em tramitação no Ministério da Educação, 5/2007, resultante de recurso contra a decisão do Pa- com ingresso até 29 de março de 2007, assim como os recer CNE/CES nº 85/2007. O texto tem como ins- processos de recredenciamento de Centros Universitá- piração, maior, o Projeto de Lei 7200, de 10 de abril rios, credenciados até esta mesma data, observarão os de 2006, conhecido como Reforma da Educação Supe- seguintes critérios: rior, que se encontra no Congresso Nacional. § 1o Os processos referidos no caput ficam dis- A Resolução, no seu artigo terceiro estabelece pensados do requisito de funcionamento regular há, condições prévias para a instituição de educação su- no mínimo, 6 (seis) anos, estabelecido no art. 2o desta perior solicitar credenciamento como Centro Univer- Resolução. sitário: § 2o O requisito do inciso III do art. 3º deve ser I – mínimo de 20% (vinte por cento) do corpo do- substituído por um mínimo de cinco cursos de gradua- cente contratado em regime de tempo integral ou dedi- ção reconhecidos e com avaliação positiva pelo Minis- cação exclusiva de trabalho na Instituição; tério da Educação. II – mínimo de 33% (trinta e três por cento) do § 3o Os processos referidos no caput ficam dispen- corpo docente com titulação acadêmica de mestrado ou sados dos requisitos dos incisos V e VI do art. 3º desta doutorado; Resolução. III – mínimo de oito cursos de graduação reco- § 4º O requisito do inciso X do art. 3º deve ser nhecidos e com avaliação positiva pelo Ministério da substituído pela condição de não ter pedido de reconhe- Educação; cimento de curso superior negado pelo Conselho Nacio- IV – plano de desenvolvimento institucional e pro- nal de Educação, ou pelo Ministério da Educação, nos posta de estatuto compatíveis com sua complexidade; últimos 5 (cinco) anos. V – programa de extensão institucionalizado nos campos do saber abrangidos por seus cursos de gradu- ação; TENDÊNCIAS, PERSPECTIVAS E DESA- VI – programa de iniciação científica ou tecnoló- FIOS DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS gica institucionalizado, cujos projetos devem ser orien- tados por professores doutores ou mestres; Atualmente, o número de instituições credencia- VII – programa de avaliação institucional com das como Centros Universitários e Universidades, é avaliação positiva em, no mínimo, 1 (um) ciclo avalia- praticamente equivalente.

38 PRIMEIRA PARTE

Considerando a legislação atual para credencia- explicitado e aprovado no seu plano de desenvolvimento mento de instituições e autorização de cursos, bem institucional, aos cursos de graduação que tenham sido como a curva de crescimento das IES, temos uma positivamente avaliados pelas instâncias competentes; clara tendência que aponta, de forma irreversível, for- e III - fixar o número de vagas em seus cursos e pro- temente, para um crescimento a taxas muito maiores gramas, de acordo com a capacidade institucional e as dos Centros Universitários. Hoje estão protocolados, necessidades de seu meio e as áreas de influência. cerca de 60 novos processos de transformação. Propõe-se a criar uma nova figura, o Centro Uni- Os Centros consolidam-se nos seus processos versitário Federal, como pessoa jurídica de direito avaliativos como instituições de qualidade comprova- público, instituídos e mantidos pela União, criados da. Já foram avaliados de todas as maneiras, inclusive por lei, e que acredito devam contemplar os atuais são as únicas a serem avaliadas para fins de recreden- CEFETs. ciamento. O Governo havia pedido urgência na tramitação, Hoje quarenta e dois Centros Universitários mas depois recuou. Privados, 35,59% do total, já foram recredenciados. Portanto há tempo para que sejam feitos os ajus- Mostrando o compromisso com a qualidade em seus tes ao projeto, até porque o atual Decreto n.º 5.786, de planos de desenvolvimento institucional. 24 de maio de 2006, que estabeleceu as regras para É, portanto, uma estratégia inteligente de expan- credenciamento dos Centros Universitários contem- são na Educação Superior Brasileira, pois associa qua- plou, entre outros avanços, que os centros poderão lidade com autonomia e responsabilidade. registrar diplomas dos cursos por eles oferecidos, Sua fragilidade, porém, está na falta de uma Lei portanto está mais adequado à diferenciação que de- que lhe dê um embasamento jurídico mais forte. Esta sejamos para os Centros. organização acadêmica das instituições por decreto Cabe registrar que a ANACEU apresentou um deixa-as vulneráveis. É só observar a seqüência de projeto de lei específico para os Centros Universitá- decretos, neste mesmo governo, onde saímos de um rios que, até o momento, ainda não logrou êxito. extremo de ameaça de extinção, para uma condição É fundamental rompermos a lógica cartorial e de melhor do que a original. Fato que pode se repetir em números cabalísticos. A opção institucional para ser qualquer Governo ou a qualquer momento. Universidade, Centro Universitário e Faculdade, ou Como Educação é uma Política de Estado e Não outras formas de organização, deve decorrer da sua de Governo, é fundamental que a organização acadê- missão e vocação. mica das IES seja estabelecida por Lei. Assim uma Universidade tem como característi- O Governo apresentou o Projeto de Lei 7200, de ca diferenciadora seu compromisso com a produção 10 de abril de 2006, que estabelece normas gerais da do conhecimento e a inovação, através da pesquisa, educação superior, regula a educação superior no sis- sem, contudo, descurar da qualidade do ensino e da tema federal de ensino, e que mantém a mesma orga- integração com a sociedade, extensão. Os Centros nização acadêmica presente no Decreto n.º 5.773, de diferenciam-se pelo ensino de qualidade, e uma forte 09 de maio de 2006. integração com a sociedade, explicitadas nas propos- Os Centros Universitários são conceituados, em tas de seus cursos e programas e na extensão. E as termos parecidos com a Resolução nº. 10, de 04 de Faculdades um forte compromisso com a qualidade outubro de 2007, como instituições de ensino superior do ensino. Todas têm o seu valor e sua importância, que atendem aos seguintes requisitos mínimos: I - es- portanto não representam uma seqüência hierárquica trutura pluridisciplinar, com oferta regular, em dife- de instituições. rentes campos do saber, de pelo menos oito cursos de graduação, todos reconhecidos e com avaliação positiva pelas instâncias competentes; II - programa institucio- AGRADECIMENTOS nal de extensão nos campos do saber abrangidos pela instituição; III - um quinto do corpo docente em regime Agradeço a Vitória Pereira, do Conselho Nacio- de tempo integral ou dedicação exclusiva, majoritaria- nal de Educação, e a Donatila Pereira, do Ministério mente com titulação acadêmica de mestrado ou dou- da Justiça, pela colaboração na fonte de pesquisa bi- torado; e IV - um terço do corpo docente com titulação bliográfica. E pela liberação e apoio na base de dados acadêmica de mestrado ou doutorado, sendo um terço do INEP a Dilvo Ristoff e Sandra Cunha. destes doutores. Admite o centro especializado. E define as seguintes prerrogativas: I - atuar na sua sede, loca- lizada no Município ou no Distrito Federal; II - criar, no mesmo campo do saber, cursos congêneres, conforme REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

39 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATI- disposições contidas no art. 10 da Medida Provisória VA DO BRASIL. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1.477-39, de 8 de agosto de 1997, e nos arts. 16, 19, 20, 5 de outubro de 1988. 45, 46 e § 1º, 52, parágrafo único, 54 e 88 da Lei 9.394, BRASIL. Lei n°. 4.024, de 20 de dezembro de de 20 de dezembro de 1996, e dá outras providências 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Na- (Regulamentação da nova LDB) (Revoga o Decreto cional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 dez. 2.207/97) (Revogado pelo Decreto n.º 3.860, de 9 de 1961. julho de 2001) ______. Lei n°. 5.540, de 28 de novembro de •Decreto n.º 3.860, de 9 de julho de 2001 – Dis- 1968. Fixa normas de organização e funcionamento põe sobre a organização do ensino superior, a avalia- do ensino superior e sua articulação com a escola mé- ção de cursos e instituições, e dá outras providências dia, e dá outras providências. Diário Oficial da União, (Regulamentação da nova LDB) (Revoga os Decretos Brasília, DF, 29 nov. 1961. 2.026, de 10 de outubro de 1996 e Decreto n.º 2.306, de 19 de agosto de 1997) (Alterado pelo Decreto n.º ______. Lei n°. 9.131, de 24 de novembro de 3.864, de 11 de julho de 2001 e pelo Decreto n.º 3.908, 1995. Altera dispositivos da Lei nº 4.024, de 20 de de 4 de setembro de 2001) (Ver Decreto n.º 4.914, de dezembro de 1961, e dá outras providências. Diário 11 de dezembro de 2003, que dispõe sobre os centros Oficial da União, Brasília, DF, 25 nov. 1995. universitários de que trata o art. 11 do Decreto n.º ______. Lei n°. 9.394,de 20 de dezembro de 3.860, de 9 de julho de 2001, e dá outras providências) 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação (Ver tb. Decreto n.º 5.225, de 1º de outubro de 2004, nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. que altera dispositivos do Decreto n.º 3.860, de 9 de 1996. julho de 2001, que dispõe sobre a organização do en- ______.Lei n° 10.172, de 9 de janeiro de 2001. sino superior e a avaliação de cursos e instituições, Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras pro- e dá outras providências). Revogado pelo Decreto n.º videncias. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 10 jan. 5.773, de 9 de maio de 2006, que dispõe sobre o exer- 2001. cício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos supe- riores de graduação e seqüenciais no sistema federal de ensino. DECRETOS •Decreto n.º 3.864, de 11 de julho de 2001 •Decreto n.º 2.207, de 15 de abril de 1997 - Regu- – Acresce dispositivo ao Decreto n.º 3.860, de 9 de lamenta, para o Sistema Federal de Ensino, as disposi- julho de 2001, que dispõe sobre a organização do ções contidas nos artigos 19, 20, 45, 46 e § 1º, 52, pará- ensino superior, a avaliação de cursos e instituições, grafo único, 54 e 88 da Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro e dá outras providências (Regulamentação da nova de 1996, e dá outras providências (Regulamentação da LDB) (Revogado pelo Decreto n.º 5.773, de 9 de maio nova LDB) (Revoga os Decretos 1.303/94, 1.334/94 e de 2006, que dispõe sobre o exercício das funções de 1.472/95) (Revogado pelo Decreto 2.306/97) regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de graduação •Decreto n.º 2.306, de 19 de agosto de 1997 - e seqüenciais no sistema federal de ensino) Regulamenta, para o Sistema Federal de Ensino, as disposições contidas no art. 10 da Medida Provisória •Decreto n.º 3.908, de 4 de setembro de 2001 1.477-39, de 8 de agosto de 1997, e nos arts. 16, 19, 20, – Dá nova redação ao § 3º do art. 10 do Decreto n.º 45, 46 e § 1º, 52, parágrafo único, 54 e 88 da Lei 9.394, 3.860, de 9 de julho de 2001, que dispõe sobre a or- de 20 de dezembro de 1996, e dá outras providências ganização do ensino superior, a avaliação de cursos e (Regulamentação da nova LDB) (Revoga o Decreto instituições, e dá outras providências (Regulamenta- 2.207/97) (Revogado pelo Decreto n.º 3.860, de 9 de ção da nova LDB) (Revogado pelo Decreto n.º 5.773, julho de 2001) de 9 de maio de 2006, que dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de •Decreto n.º 2.207, de 15 de abril de 1997 - Regu- instituições de educação superior e cursos superiores lamenta, para o Sistema Federal de Ensino, as disposi- de graduação e seqüenciais no sistema federal de en- ções contidas nos artigos 19, 20, 45, 46 e § 1º, 52, pará- sino) grafo único, 54 e 88 da Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e dá outras providências (Regulamentação da •Decreto n.º 4.914, de 11 de dezembro de 2003 nova LDB) (Revoga os Decretos 1.303/94, 1.334/94 e – Dispõe sobre os centros universitários de que trata o 1.472/95) (Revogado pelo Decreto 2.306/97) art. 11 do Decreto n.º 3.860, de 9 de julho de 2001, e dá outras providências (Regulamentação da nova LDB) •Decreto n.º 2.306, de 19 de agosto de 1997 - (Ref.: Veda a constituição de novos centros universitá- Regulamenta, para o Sistema Federal de Ensino, as rios. Admite a criação de centros de ensino superior

40 PRIMEIRA PARTE

nas cidades em que o Ministério da Educação indi- •Decreto n.º 5.786, de 24 de maio de 2006 – Dis- car, em função de necessidades sociais. Princípio da põe sobre os centros universitários, e dá outras pro- indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. vidências (Ver Art. 2°, § 4º – Os centros universitá- Corpo Docente - Regime de tempo integral; Plano de rios poderão registrar diplomas dos cursos por eles Desenvolvimento Institucional – PDI. Veda aos cen- oferecidos) (Regulamentação da nova LDB) (Ref.: Lei tros universitários a introdução no PDI aprovado de 9.394/96, art. 45) (Revoga o Decreto n.º 4.914, de 11 cursos e vagas para graduação em medicina, odonto- de dezembro de 2003) logia, psicologia e direito, sem a prévia manifestação •Decreto n.º 5.840, de 13 de julho de 2006 - Ins- do Conselho Nacional de Saúde no caso dos três pri- titui, no âmbito federal, o Programa Nacional de In- meiros, e do Conselho Federal da Ordem dos Advoga- tegração da Educação Profissional com a Educação dos do Brasil no caso do último, não se permitindo o Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adul- aumento posterior de vagas sem consulta aos órgãos tos - PROEJA, e dá outras providências (Ref.: Lei n.º citados e ao MEC). Revogado pelo Decreto n.º 5.786, 8.080, de 19 de setembro de 1990; Lei n.º 8.906, de de 24 de maio de 2006. 4 de julho de 1994; Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro •Decreto n.º 5.225, de 1º de outubro de 2004 de 1996; Decreto n.º 5.154, de 23 de julho de 2004) – Altera dispositivos do Decreto n.º 3.860, de 9 de ju- (Altera o § 2º do Art. 28 do Decreto n.º 5.773, de 9 de lho de 2001, que dispõe sobre a organização do en- maio de 2006) (Revoga o Decreto n.º 5.478, de 24 de sino superior e a avaliação de cursos e instituições, junho de 2005) e dá outras providências (Regulamentação da nova LDB) Revogado pelo Decreto n.º 5.773, de 9 de maio de 2006, que dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de PORTARIAS educação superior e cursos superiores de graduação •Portaria MEC n.º 639, de 13 de maio de 1997 - e seqüenciais no sistema federal de ensino. Dispõe sobre o credenciamento de centros universitá- •Decreto n.º 5.773, de 9 de maio de 2006 – Dis- rios, para o sistema federal de ensino superior (Revo- põe sobre o exercício das funções de regulação, super- gada pela Portaria MEC n.º 4.361, de 29 de dezembro visão e avaliação de instituições de educação superior de 2004) (Revogada novamente pela Portaria MEC n.º e cursos superiores de graduação e seqüenciais no 3.819, de 3 de novembro de 2005) sistema federal de ensino (Regulamentação da nova •Portaria MEC n.º 2.041, de 22 de outubro de LDB) (Altera os arts. 1º e 17 do Decreto n.º 5.224, de 1997 - Define critérios adicionais de organização insti- 1º de outubro de 2004, e revoga os Decretos nos 1.845, tucional para Centros Universitários, e dá outras pro- de 28 de março de 1996, 3.860, de 9 de julho de 2001, vidências (Revogada pela Portaria MEC n.º 3.819, de 3.864, de 11 de julho de 2001, 3.908, de 4 de setembro 3 de novembro de 2005) de 2001, e 5.225, de 1º de outubro de 2004) (O § 2º do Art. 28 deste Decreto foi alterado pelo Decreto n.º •Portaria MEC n.º 2.175, de 27 de novembro de 5.840, de 13 de julho de 2006) (Ver Parecer CNE/CES 1997 - Dispõe sobre a criação de cursos de graduação n.º 166, de 8 de junho de 2006 e Resolução CNE/CES fora de sede por Universidades, Centros Universitá- n.º 9, de 14 de junho de 2006, que tratam da delegação rios e instituições de educação superior, na mesma de competência da Câmara de Educação Superior ao unidade da federação em que têm sua sede autori- Secretário de Educação Superior e ao Secretário de zada, sem prévia consulta ao MEC, com base nos re- Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da sultados obtidos no Exame Nacional de Cursos (Ref.: Educação para a prática de atos de regulação compre- Decreto 2.026/96) (Revogada pela Portaria MEC n.º endidos no Decreto n.º 5.773, de 9 de maio de 2006) 3.819, de 3 de novembro de 2005) (Ver tb. Resolução CNE/CES n.º 14, de 19 de dezem- •Portaria MEC n.º 1.465, de 12 de julho de 2001 bro de 2006, que dispõe sobre a prorrogação de prazo – Dispõe sobre o recredenciamento de instituições de de delegação de competência para a prática de atos de ensino superior vinculadas ao sistema federal de ensi- regulação compreendidos no Decreto nº 5.773, de 9 no – Universidades e centros universitários (Ref.: Lei de maio de 2006, previsto na Resolução CNE/CES n.º 9.394/96 e Decreto 3.860/2001; Avaliação; Avaliação 9, de 14 de junho de 2006) (Ver tb. Parecer CNE/CES das Condições de Oferta; Exame Nacional de Cursos) n.º 177, de 9 de agosto de 2007, que trata da delegação (Revogada pela Portaria MEC n.º 1.199, de 28 de ju- de competência para a prática de ato de regulação, vi- nho de 2006) sando ao aditamento de atos de credenciamento de •Portaria MEC n.º 1.985, de 10 de setembro instituições, na situação de transferência de mantença de 2001 – Estabelece critérios e procedimentos para de Instituições de Educação Superior – IES - Deu ori- a suspensão do reconhecimento e a desativação de gem à Resolução CNE/CES n.º ...) cursos de graduação, e dispõe sobre a suspensão

41 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

temporária de prerrogativas de autonomia de univer- redação: “Art. 13. Será sustada a tramitação dos pro- sidades e centros universitários do sistema federal cessos quando a mantenedora ou a instituição por ela de ensino (Ref.: Lei 9.394/96; Decreto 3.860/2001; mantida, submetida a processo de sindicância ou in- Portarias MEC 877/97 e 1.465/2001; Aproveitamen- quérito administrativo, permaneça em situação irre- to de estudos para fins de transferência; Avaliação gular em questões afetas a esta Portaria, após decorri- das condições de oferta dos cursos; Desativação de do o prazo para saneamento de irregularidades” (Ref.: cursos; Exame Nacional de Cursos; Suspensão das Lei 9.394/96; Lei 9.784/99; Lei 10.870/2004; Decreto Prerrogativas de autonomia para criação de cursos e 3.860/2001; Decreto 5.225/2004) ampliação de vagas; Processos de Recredenciamento; •Portaria MEC n.º 3.819, de 3 de novembro de Suspensão de Reconhecimento de curso; Registro de 2005 – Declara revogadas as Portarias relacionadas no diplomas; Renovação de reconhecimento) (Revogada Anexo, ressalvados os efeitos jurídicos já produzidos pela Portaria MEC n.º 1.028, de 15 de maio de 2006) (Ref.: Lei n.º 9.394/96; Lei Complementar n.º 95/98, •Portaria MEC n.º 4.361, de 29 de dezembro de art. 9º, com a redação dada pela Lei Complementar n.º 2004 – Dispõe que os processos de credenciamento e 107/2001; Decreto n.º 4.176/2002) (Anexo – Portarias recredenciamento de instituições de educação supe- revogadas: Portarias MEC n.ºs 145, de 31 de janeiro rior (IES), credenciamento para oferta de cursos de de 1997, 525, de 9 de abril de 1997, 526, de 9 de abril pós-graduação lato sensu, credenciamento e recreden- de 1997, 527, de 9 de abril de 1997, 528, de 9 de abril ciamento de instituições de educação superior para de 1997, 529, de 9 de abril de 1997, 530, de 9 de abril oferta de cursos superiores a distância, de autoriza- de 1997, 531, de 10 de abril de 1997, 637, de 13 de maio ção, reconhecimento e renovação de reconhecimento de 1997, 639, de 13 de maio de 1997, 640, de 13 de de cursos superiores, bem como de transferência de maio de 1997, 641, de 13 de maio de 1997, 646, de 14 mantença, aumento e remanejamento de vagas de cur- de maio de 1997, 671, de 26 de maio de 1997, 745, de sos reconhecidos, desativação de cursos, descreden- 30 de junho de 1997, 877, de 30 de julho de 1997, 878, ciamento de instituições, Plano de Desenvolvimento de 30 de julho de 1997, 946, de 15 de agosto de 1997, Institucional (PDI), aditamento de PDI, além de ou- 963, de 15 de agosto de 1997, 972, de 22 de agosto de tros processos afins, deverão ser protocolizados por 1997, 2.040, de 22 de outubro de 1997, 2.041, de 22 de meio do Sistema de Acompanhamento de Processos outubro de 1997, 2.175, de 27 de novembro de 1997, das Instituições de Ensino Superior - SAPIEnS/MEC 53, de 27 de janeiro de 1998, 54, de 5 de fevereiro de (Ref.: Lei 9.394/96; Lei 9.784/99; Lei 10.172/2001; Lei 1998, 55, de 5 de fevereiro de 1998, 56, de 5 de feverei- 10.861/2004; Lei 10.870/2004; Decreto 2.494/1998; ro de 1998, 57, de 5 de fevereiro de 1998, 158, de 27 de Decreto 3.860/2001; Decreto 5.225/2004; Portaria fevereiro de 1998, 159, de 27 de fevereiro de 1998, 160, MEC 2.051/2004; Portaria MEC 3.643/2004) (Revoga de 27 de fevereiro de 1998, 161, de 27 de fevereiro de as Portarias MEC n.ºs 637, de 13 de maio de 1997, 1998, 162, de 27 de fevereiro de 1998, 163, de 27 de fe- 639, de 13 de maio de 1997, 641, de 13 de maio de vereiro de 1998, 277, de 31 de março de 1998, 302, de 1997, 877, de 30 de julho de 1997, 946, de 15 de agosto 7 de abril de 1998, 560, de 25 de junho de 1998, 892, de de 1997, 301, de 7 de abril de 1998, 1.647, de 25 de 12 de agosto de 1998, 1.126, de 8 de outubro de 1998, novembro de 1999, 445, de 31 de março de 2000, 64, 1.127, de 8 de outubro de 1998, 1.128, de 8 de outubro de 12 de janeiro de 2001, 2.402, de 9 de novembro de de 1998, 1.386, de 22 de dezembro de 1998, 1.387, de 2001, 323, de 31 de janeiro de 2002, e 3.131, de 8 de 22 de dezembro de 1998, 1.388, de 22 de dezembro de novembro de 2002 e Portaria SESu/MEC n.º 859, de 1998, 1.389, de 22 de dezembro de 1998, 1.390, de 22 24 de outubro de 2002) (Ver Portaria MEC n.º 3.160, de dezembro de 1998, 1.391, de 22 de dezembro de de 13 de setembro de 2005, que revoga o artigo 2º da 1998, 1.392, de 22 de dezembro de 1998, 1.393, de 22 Portaria MEC n.º 4.361, de 29 de dezembro de 2004, de dezembro de 1998, 1.394, de 22 de dezembro de e altera o artigo 13 da citada Portaria, que passa a vi- 1998, 1.395, de 22 de dezembro de 1998, 126, de 1º de gorar com a seguinte redação: “Art. 13. Será sustada fevereiro de 1999, 127, de 1º de fevereiro de 1999, 128, a tramitação dos processos quando a mantenedora ou de 1º de fevereiro de 1999, 336, de 4 de março de 1999, a instituição por ela mantida, submetida a processo 337, de 4 de março de 1999, 338, de 4 de março de de sindicância ou inquérito administrativo, perma- 1999, 339, de 4 de março de 1999, 340, de 4 de março neça em situação irregular em questões afetas a esta de 1999, 341, de 4 de março de 1999, 342, de 4 de mar- Portaria, após decorrido o prazo para saneamento de ço de 1999, 343, de 4 de março de 1999, 344, de 4 de irregularidades”) março de 1999, 345, de 4 de março de 1999, 510, de 12 •Portaria MEC n.º 3.160, de 13 de setembro de de março de 1999, 755, de 11 de maio de 1999, 999, de 2005 – Revoga o artigo 2º da Portaria MEC n.º 4.361, 29 de junho de 1999, 1.468, de 8 de outubro de 1999, de 29 de dezembro de 2004, e altera o artigo 13 da 1.469, de 8 de outubro de 1999, 1.470, de 8 de outubro citada Portaria, que passa a vigorar com a seguinte de 1999, 1.471, de 8 de outubro de 1999, 1.472, de 8 de outubro de 1999, 1.559, de 27 de outubro de 1999,

42 PRIMEIRA PARTE

1.560, de 27 de outubro de 1999, 1.561, de 27 de outu- junho de 2005; Portaria MEC n.º 2.578, de 21 de julho bro de 1999, 1.562, de 27 de outubro de 1999, 1.563, de 2005; Portaria MEC n.º 3.060, de 6 de setembro de 27 de outubro de 1999, 1.564, de 27 de outubro de de 2005; Portaria MEC n.º 3.225, de 21 de setembro 1999, 1.565, de 27 de outubro de 1999, 1.566, de 27 de 2005) de outubro de 1999, 1.567, de 27 de outubro de 1999, •Portaria MEC n.º 1.199, de 28 de junho de 2006 1.568, de 27 de outubro de 1999, 1.569, de 27 de outu- – Declara revogadas as Portarias relacionadas no bro de 1999, 1.622, de 3 de novembro de 1999, 1.623, Anexo, ressalvados os efeitos jurídicos já produzidos de 3 de novembro de 1999, 1.740, de 9 de dezembro (Ref.: Lei n.º 9.394/96; Lei Complementar n.º 95/98, de 1999, 1.741, de 9 de dezembro de 1999, 1.779, de art. 9º, com a redação dada pela Lei Complementar 17 de dezembro de 1999, 1.780, de 17 de dezembro n.º 107/2001; Decreto n.º 4.176/2002; Decreto n.º de 1999, 1.781, de 17 de dezembro de 1999, 1.782, de 3.860/2001; Decreto n.º 5.773/2006) (Anexo – Porta- 17 de dezembro de 1999, 1.783, de 17 de dezembro de rias revogadas: Portaria MEC n.º 1.465, de 12 de julho 1999, 1.784, de 17 de dezembro de 1999, 1.785, de 17 de 2001; Portaria MEC n.º 2.420, de 27 de agosto de de dezembro de 1999, 1.786, de 17 de dezembro de 2002; Portaria MEC n.º 1.217, de 12 de maio de 2004; 1999, 1.787, de 17 de dezembro de 1999, 1.788, de 17 Portaria MEC n.º 1.263, de 13 de maio de 2004; Por- de dezembro de 1999, 1.789, de 17 de dezembro de taria MEC n.º 1.685, de 8 de junho de 2004; Portaria 1999, 1.790, de 17 de dezembro de 1999, 1.791, de 17 MEC n.º 3.630, de 8 de novembro de 2004; Portaria de dezembro de 1999, 1.792, de 17 de dezembro de MEC n.º 3.631, de 8 de novembro de 2004; Portaria 1999, 1.793, de 17 de dezembro de 1999, 1.794, de 17 MEC n.º 4.036, de 8 de dezembro de 2004; Portaria de dezembro de 1999, 1.795, de 17 de dezembro de MEC n.º 2.561, de 20 de julho de 2005; Portaria MEC 1999, 1.796, de 17 de dezembro de 1999, 1.098, de 5 de n.º 3.036, de 1° de setembro de 2005) junho de 2001, 1.295, de 28 de junho de 2001, 2.941, de 17 de dezembro de 2001, 279, de 30 de janeiro de 2002, 280, de 30 de janeiro de 2002, 281, de 30 de janei- ro de 2002, 282, de 30 de janeiro de 2002, 283, de 30 de RESOLUÇÕES janeiro de 2002, 284, de 30 de janeiro de 2002, 285, de 30 de janeiro de 2002, 286, de 30 de janeiro de 2002, •Resolução CNE/CES n.º 1, de 7 de abril de 287, de 30 de janeiro de 2002, 288, de 30 de janeiro de 1998 (Ref.: Par. CNE/CES n.º 750/97) – Prorroga o 2002, 289, de 30 de janeiro de 2002, 290, de 30 de janei- prazo para adaptação dos Estatutos e Regimentos das ro de 2002, 291, de 30 de janeiro de 2002, 292, de 30 de Universidades e Centros Universitários credenciados janeiro de 2002, 293, de 30 de janeiro de 2002, 294, de em 1996 e 1997 (Revogada pela Resolução CNE/CES 30 de janeiro de 2002, 295, de 30 de janeiro de 2002, n.º 11, de 10 de julho de 2006) 296, de 30 de janeiro de 2002, 344, de 6 de fevereiro de •Resolução CNE/CES n.º 10, de 11 de março de 2002, 345, de 6 de fevereiro de 2002, 3.848, de 24 de 2002 (Ref.: Par. CNE/CES n.º 1.366/2001) – Dispõe dezembro de 2002, 4.024, de 30 de dezembro de 2002, sobre o credenciamento, transferência de mantença, 4.025, de 30 de dezembro de 2002) estatutos e regimentos de instituições de ensino su- •Portaria MEC n.º 1.028, de 15 de maio de 2006 perior, autorização de cursos de graduação, reconhe- – Declara revogadas as Portarias relacionadas no cimento e renovação de reconhecimento de cursos Anexo, ressalvados os efeitos jurídicos já produzidos superiores, normas e critérios para supervisão do (Ref.: Lei n.º 9.394/96; Lei Complementar n.º 95/98, ensino superior do Sistema Federal de Educação Su- art. 9º, com a redação dada pela Lei Complementar perior (Alterada pela Resolução CNE/CES n.º 22, de n.º 107/2001; Decreto n.º 4.176/2002; Decreto n.º 5 de novembro de 2002) (Ver tb. Parecer CNE/CES 3.860/2001; Decreto n.º 5.773/2006) (Anexo – Por- n.º 267, de 4 de setembro de 2002, que reexamina o tarias revogadas: Portaria MEC n.º 385, de 28 de Parecer CNE/CES n.º 111, de 13 de março de 2002, abril de 1995; Portaria MEC n.º 780, de 4 de julho de que apresenta Projeto de Resolução que dispõe sobre 1997; Portaria MEC n.º 946, de 15 de agosto de 1997; o recredenciamento de Universidades e de Centros Portaria MEC n.º 301, de 7 de abril de 1998; Portaria Universitários e que deu origem à Resolução CNE/ MEC n.º 64, de 12 de janeiro de 2001; Portaria MEC CES n.º 23, de 5 de novembro de 2002) (Revogada n.º 1.985, de 10 de setembro de 2001; Portaria MEC pela Resolução CNE/CES n.º 11, de 10 de julho de n.º 386, de 5 de fevereiro de 2004; Portaria MEC n.º 2006) 1.264, de 13 de maio de 2004; Portaria MEC n.º 2.477, •Resolução CNE/CES n.º 22, de 5 de novembro de 18 de agosto de 2004; Portaria MEC n.º 3.065, de de 2002 (Ref.: Par. CNE/CES n.º 337/2002) – Altera 30 de setembro de 2004; Portaria MEC n.º 3.643, de 9 a redação dos arts. 2º, parágrafo único, 9º, parágrafo de novembro de 2004; Portaria MEC n.º 4.035, de 8 de único, 16, parágrafo único, e 24 e demais dispositivos dezembro de 2004; Portaria MEC n.º 4.360, de 29 de da Resolução CNE/CES 10, de 11 de março de 2002, dezembro de 2004; Portaria MEC n.º 2.114, de 16 de

43 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

que dispõe sobre o credenciamento, transferência de 2007 (Ref.: Parecer CNE/CES nº 85/2007 e o Parecer mantença, estatutos e regimentos de instituições de do CNE/CP nº: 5/2007) - Dispõe sobre normas e pro- ensino superior, autorização de cursos de graduação, cedimentos para o credenciamento e o recredencia- reconhecimento e renovação de reconhecimento de mento de Centros Universitários. cursos superiores, normas e critérios para supervisão do ensino superior do Sistema Federal de Educação Superior (Revogada pela Resolução CNE/CES n.º 11, de 10 de julho de 2006) PARECERES •Resolução CNE/CES n.º 23, de 5 de novem- Parecer CNE/CES n.º 600, de 3 de novembro de bro de 2002 – (Ref.: Par. CNE/CES n.ºs 1.366/2001 1997 - Apresenta Projeto de Resolução que dispõe so- e 267/2002) - Dispõe sobre o recredenciamento de bre a autonomia didático-científica das universidades Universidades e Centros Universitários do sistema e centros universitários, do sistema federal do ensino, federal de educação superior (Ref.: Lei 9.394/96, arts. e do seu exercício pelos colegiados de ensino e pes- 52 e 88; Pareceres CNE/CES 1.366/2001, 0063/2002 quisa (Ref.: Lei 9.394/96, artigos 52, 53, 54 e 56) (Obs: e 111/2002, Sistema de Avaliação do Ensino Superior; O Projeto de Resolução constante deste Parecer não Manual de Avaliação Institucional para Recredencia- foi transformado em Resolução) mento de Centros Universitários; Manual de Avalia- Parecer CNE/CES n.º 750, de 3 de dezembro ção Institucional para Recredenciamento de Universi- de 1997 – Prorrogação de prazo para adaptação dos dades; Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI Estatutos das Universidades e Centros Universitários - Período de 10 anos; Processo de recredenciamento; credenciados pela CNE/CES credenciados em 1996 Avaliação das Condições de Oferta; Exame Nacional e 1997 (Deu origem à Resolução CNE/CES n.º 1, de de Cursos) (Revogada pela Resolução CNE/CES n.º 7 de abril de 1998) (Revogado pela Resolução CNE/ 11, de 10 de julho de 2006) CES n.º 11, de 10 de julho de 2006) •Resolução CNE/CES n.º 11, de 10 de julho de •Parecer CNE/CES n.º 738, de 5 de novembro 2006 (Ref.: Parecer CNE/CES n.º 167/2006) - Revoga- de 1998 – Definição de critérios para a avaliação das ção de atos normativos no âmbito da Câmara de Edu- solicitações de credenciamentos de Centros Universi- cação Superior do CNE (Ref.: Lei 4.024/1961, arts. 7º tários (Versão Final: Parecer CNE/CES 618/99) e 9º, § 2°, com a redação dada pela Lei 9.131/1995; Lei 9.394/1996, art. 9º, § 1º; Decreto 3.860/2001; Decreto •Parecer CNE/CES n.º 618, de 8 de junho de 5.773/2006, art. 76) (Anexo – Resoluções e Parece- 1999 – Definição de critérios para a avaliação das so- res revogados: Resolução CNE/CES n.º 1, de 19 de licitações de credenciamento de Centros Universitá- agosto de 1996 – decorrente do Parecer CNE/CES n.º rios 53/1996; Resolução CNE/CES n.º 2, de 13 de agosto de •Parecer CNE/CES n.º 1.366, de 12 de dezem- 1997 – decorrente do Parecer CNE/CES n.º 51/1997; bro de 2001 – Aprova Projeto de Resolução que dispõe Resolução CNE/CES n.º 3, de 13 de agosto de 1997 sobre o credenciamento, transferência de mantença, – decorrente do Parecer CNE/CES n.º 297/1997; Re- estatutos e regimentos de instituições de ensino su- solução CNE/CES n.º 5, de 13 de agosto de 1997 – de- perior, autorização de cursos de graduação, reconhe- corrente do Parecer CNE/CES n.º 377/1997; Resolu- cimento e renovação de reconhecimento de cursos ção CNE/CES n.º 1, de 7 de abril de 1998 – decorrente superiores, normas e critérios para supervisão do do Parecer CNE/CES n.º 750/1997; Resolução CNE/ ensino superior (Deu origem à Resolução CNE/CES CES n.º 3, de 20 de julho de 1998 – decorrente do Pa- n.º 10, de 11 de março de 2002) (Ver tb. Parecer CNE/ recer CNE/CES n.º 525/1997; Resolução CNE/CES CES n.º 337, de 23 de outubro de 2002, que propõe a n.º 4, de 14 de agosto de 1998 – decorrente do Parecer alteração da redação dos arts. 2º, parágrafo único, 9º, CNE/CES n.º 459/1998; Resolução CNE/CES n.º 2, parágrafo único, 16, parágrafo único, e 24 e demais de 19 de maio de 1999 – decorrente do Parecer CNE/ disposições da Resolução CNE/CES 10, de 11 de mar- CES n.º 431/1998; Resolução CNE/CES n.º 10, de 11 ço de 2002, e que deu origem à Resolução CNE/CES de março de 2002 – decorrente do Parecer CNE/CES n.º 22, de 5 de novembro de 2002) (Ver tb. Parecer n.º 1.366/2001 CRED CENTRO UNIV; Resolução CNE/CES n.º 267, de 4 de setembro de 2002, que re- CNE/CES n.º 22, de 5 de novembro de 2002 – de- examina o Parecer CNE/CES n.º 111, de 13 de março corrente do Parecer CNE/CES n.º 337/2002 MUDA de 2002, que apresenta Projeto de Resolução que dis- RESOL10 PARA RECONHEC; Resolução CNE/CES põe sobre o recredenciamento de Universidades e de n.º 23, de 5 de novembro de 2002 – decorrente dos Centros Universitários e que deu origem à Resolução Pareceres CNE/CES nos 1.366/2001 e 267/2002) re- CNE/CES n.º 23, de 5 de novembro de 2002) (Revo- créd centros e univ gado pela Resolução CNE/CES n.º 11, de 10 de julho Resolução CNE/CES n.º 10, de 04 de outubro de de 2006)

44 PRIMEIRA PARTE

•Parecer CNE/CES n.º 111, de 13 de março de registro dos diplomas de seus cursos reconhecidos) 2002 – Apresenta Projeto de Resolução que dispõe (Decisão: Em face do exposto a Comissão manifesta- sobre o recredenciamento de Universidades e de se no sentido de que quanto ao registro de diplomas, Centros Universitários (Decisão: Propõe Minuta de nada impede que a medida, por seu caráter desburo- Resolução sobre a matéria e a revogação das dispo- cratizante, seja adotada desde logo, tendo em vista sições contrárias ao Parecer, em especial a Portaria as exigências relativas à organização administrati- Ministerial 1.465, de 12/7/2001) (Reexaminado pelo va feitas para que uma instituição seja credenciada Parecer CNE/CES n.º 267, de 4 de setembro de 2002, como centro universitário. Com relação à extensão que deu origem à Resolução CNE/CES n.º 23, de 5 de da autonomia para a criação de cursos fora de sede, novembro de 2002) a matéria deverá ser objeto de estudo e deliberação •Parecer CNE/CES n.º 155, de 6 de maio de desta Câmara em parecer específico. Somos pelo en- 2002 – Aprecia a Indicação CNE/CES n.º 02, de 3 de caminhamento ao Ministro de Estado da Educação do abril de 2002, que propõe a extensão da autonomia Anteprojeto de alteração do Decreto 3.860/2001, em dos Centros Universitários com a finalidade de permi- anexo, da qual foi excluído o § 4º do art. 11, anterior- tir que os centros universitários gozem de prerrogati- mente sugerido) vas da autonomia universitária, no tocante ao registro •Parecer CNE/CES n.º 267, de 4 de setembro de diplomas e a oferta de cursos fora da sede (Ref.: de 2002 – Reexame do Parecer CNE/CES n.º 111, Lei 9.394/96; Decreto 2.207/97; Decreto 3.860/2001; de 13 de março de 2002, que apresenta Projeto de Anteprojeto de Decreto propondo a alteração do art. Resolução que dispõe sobre o recredenciamento de 11 do Decreto 3.860/2001 – Autonomia aos Centros Universidades e de Centros Universitários (Decisão: Universitários para: oferta de cursos fora da sede e Propõe que o Projeto de Resolução constante do Pare- registro dos diplomas de seus cursos reconhecidos) cer CNE/CES 111/2002, seja substituído pelo que se (Decisão: A proposição, por seus fundamentos, mere- encontra anexado a este Parecer, o qual incorpora os ce acolhida. Todavia, é de se considerar que a figura ajustes promovidos pela Comissão; o Manual de Ava- dos centros universitários, sendo nova, merece passar liação das Universidades será oportunamente avalia- por um período de maturação antes que às instituições do por esta Câmara) (Deu origem à Resolução n.º 23, desse tipo sejam conferidos outros atributos da auto- de 5 de novembro de 2002) (Revogado pela Resolução nomia universitária, especialmente no que se refere à CNE/CES n.º 11, de 10 de julho de 2006) oferta de cursos fora da sede. Quanto ao registro de •Parecer CNE/CES n.º 337, de 23 de outubro diplomas, nada impede que a medida, por seu caráter de 2002 – Proposta de alteração da redação dos arts. desburocratizante, seja adotada desde logo, tendo em 2º, parágrafo único, 9º, parágrafo único, 16, parágrafo vista as exigências relativas à organização administra- único, e 24 e demais disposições da Resolução CNE/ tiva feitas para que uma instituição seja credenciada CES 10, de 11 de março de 2002, que dispõe sobre como centro universitário. Entende-se, contudo, que o credenciamento, transferência de mantença, estatu- a atuação dos centros universitários fora da sede, tos e regimentos de Instituições de Ensino Superior, sempre mediante prévia autorização do Ministério autorização de cursos de graduação, reconhecimento da Educação, somente deve ocorrer após o primeiro e renovação de reconhecimento de cursos superiores, recredenciamento da instituição. Com essa restrição, normas e critérios para supervisão do ensino superior somos pelo encaminhamento ao Ministro de Estado do Sistema Federal de Educação Superior – Interes- da Educação de proposta de alteração do Decreto sado: Secretaria de Educação Superior do MEC/DF 3.860/2001, nos termos do anteprojeto do Decreto (Decisão: À luz do exposto, a Comissão manifesta-se em anexo) (Reexaminado pelo Parecer CNE/CES n.º favoravelmente às alterações sugeridas pela Secreta- 250, de 7 de agosto de 2002) ria de Educação Superior incorporadas ao Projeto de •Parecer CNE/CES n.º 250, de 7 de agosto de Resolução, em anexo, que propõe a alteração da Reso- 2002 – Reexame do Parecer CNE/CES 155/2002, que lução CNE/CES 10, de 11 de março de 2002, em espe- apreciou a Indicação CNE/CES n.º 02, de 3 de abril cial dos arts. 2º, parágrafo único, 9º, parágrafo único, de 2002, que propõe a extensão da autonomia dos 16, parágrafo único, 24, e demais dispositivos) (Deu Centros Universitários com a finalidade de permitir origem à Resolução CNE/CES n.º 22, de 5 de novem- que os centros universitários gozem de prerrogativas bro de 2002) (Revogado pela Resolução CNE/CES n.º da autonomia universitária, no tocante ao registro 11, de 10 de julho de 2006) de diplomas e a oferta de cursos fora da sede (Ref.: •Parecer CNE/CES n.º 167, de 8 de junho de Lei 9.394/96; Decreto 2.207/97; Decreto 3.860/2001; 2006 – Aprecia a Indicação CNE/CES n.º 2/2006, Anteprojeto de Decreto propondo a alteração do art. referente à revisão e à revogação de instrumentos 11 do Decreto 3.860/2001 – Autonomia aos Centros normativos, no âmbito da Câmara de Educação Su- Universitários para: oferta de cursos fora da sede e perior, no sentido de compatibilizá-las à legislação

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vigente – Interessado: Conselho Nacional de Edu- 52; Lei 10.861/2004 - Sistema Nacional de Avaliação cação/Câmara de Educação Superior/DF (Ref.: Lei da Educação Superior – SINAES; Lei 10.870/2004 4.024/1961, arts. 7º e 9º, § 2°, com a redação dada – Taxa de Avaliação; Decreto 5.773/2006; Decreto pela Lei 9.131/1995; Lei 9.394/1996, art. 9º, § 1º; De- 5.786/2006; Decreto 5.840/2006) (Voto da Comis- creto 3.860/2001; Decreto 5.773/2006, art. 76) (De- são: Incorporadas as sugestões e contribuições, cisão: Voto no sentido de que sejam expressamente submetemos este parecer à deliberação da Câmara revogados os atos normativos citados neste Parecer, de Educação Superior e votamos favoravelmente à e no Projeto de Resolução que o acompanha, nos aprovação do Projeto de Resolução, em anexo, que termos da legislação vigente) (Deu origem à Reso- trata da regulamentação para credenciamento e re- lução CNE/CES n.º 11, de 10 de julho de 2006) credenciamento de Centros Universitários.) (Deu •Parecer CNE/CES n.º 85, de 29 de março de origem à Resolução CNE/CES n.º 10, de 04 de ou- 2007 – Aprecia a Indicação CNE/CES n.º 4/2006, tubro de 2007) (Ver Parecer CNE/CP n.º 5, de 7 de que propôs a constituição de Comissão para analisar agosto de 2007, que aprecia recurso contra a decisão critérios e elaborar normas para o credenciamento do Parecer CNE/CES n.º 85/2007 – Decisão: Pelo e recredenciamento de Centros Universitários, à luz conhecimento do recurso para, no mérito, negar-lhe da legislação educacional e, em especial, dos De- provimento). cretos n.º 5.773, de 9 de maio de 2006, e n.º 5.786, •Parecer do Senado Federal, n.º 301 de 1995 de 24 de maio de 2006 – Interessado: Conselho – Senador Darcy Ribeiro. Substitutivo do Projeto de Nacional de Educação/Câmara de Educação Supe- Lei da Câmara de n.º 101 de 1993, que fixa diretrizes rior/DF (Ref.: Lei 9.394/96, arts. 9º, inciso VII, 45, e bases da educação nacional.

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3.- SITUAÇÃO GEOGRÁFICA E CONTEXTOS REGIONAIS DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS

UMA PROPOSTA EM DESENVOLVIMENTO: CENÁRIO REGIONAL José Loureiro Lopes(*)

CENTRO UNIVERSITÁRIO: ORIGEM E garmos à conceituação que se tentou esboçar, nos CONCEPÇÃO parágrafos iniciais do presente texto.

Os Centros universitários são uma modalidade de organização acadêmica, para instituições de ensino ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO superior, decorrente de dispositivos da Lei 9.394/96 e disciplinada, mais recentemente, pelo Decreto 5.786, O autor entende oportuno apresentar, aqui, algu- de 24.05.2006. mas considerações sobre como se daria essa “exce- Conceituados como “Instituições de Ensino Su- lência do ensino” de graduação, preconizada para os perior Pluricurriculares”, os Centros Universitários Centros Universitários, em face da exigência legal da abrangem “uma ou mais áreas do conhecimento” e se indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão. “ caracterizam pela excelência do ensino oferecido”, De início, vale referir que a própria Lei Darcy Ri- comprovada “ pela qualificação do seu corpo docente beiro, no capítulo da Educação Superior, abre espaço, e pelas condições do trabalho acadêmico oferecidas à em dois momentos do texto, para uma convivência comunidade escolar”. mais flexível entre esses três aspectos preconizados Sabe-se que a expressão CENTROS UNIVER- na legislação e nos debates sobre o ensino superior SITÁRIOS é relativamente nova, no cenário do en- no Brasil, nos últimos trinta anos: Um primeiro mo- sino superior brasileiro. Ela aparece formalmente, mento é quando, no Art. 45, prevê instituições de pela primeira vez, no Decreto Federal nº 2207, de ensino superior com vários graus de abrangência ou 15.04.1997(DOU de 16.04.2007). especialização. O segundo é quando estabelece que É verdade que, quando dos debates sobre a atual atribuições da autonomia possam ser estendidas a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei instituições que comprovem alta qualificação para o nº 9.394 de 20.12.1996), já encontramos certa referên- ensino ou para a pesquisa (ver § 2º do Art. 54). cia ao CENTRO. Veja - se, por exemplo, aquela con- Na presente exposição, enfocamos os aspectos tida no Substituto do Relator, Deputado Jorge Hage do ensino e da pesquisa. Considerações sobre a exten- (1989), em que se prevê alteração da denominação são demandariam estudos mais aprofundados, e com “Universidade” para Centro de Ensino Superior”, na dados concretos. hipótese de suspensão ou cancelamento de creden- Um trabalho da Professora Elizabeth Balbache- cial de Universidade. Ainda nesse mesmo ano (1989), vsky , ao analisar a figura mítica dessa ligação- má D.O.U. de 01.09.89 publica despacho do Ministro da gica, dessa “unidade intrínseca e indissolúvel entre Educação aprovando “proposta de Projeto da LDB”, o ensino e a pesquisa”, revela que apenas 25.5% dos de autoria de um Grupo de Trabalho do MEC, onde nossos professores são pesquisadores ativos, isto é, também figura a expressão “centros de ensino supe- estão envolvidos sistematicamente em atividades de rior” (Art. 89 do Projeto). pesquisa; e conclui que, em nosso sistema de ensino Claro que esse entendimento evoluiu, até che- superior, a pesquisa só constitui um objetivo institu- cional para uma parcela muito restrita de escolas su-

 José Loureiro Lopes, 67, é Doutor em Educação pela Universidade periores. Católica de São Paulo e Reitor do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ.  O Decreto nº 2.207 foi revogado pelo de nº 2.306, de 19.08.97(D. O.Ude 20.08.97). Seguiram-se normas reguladoras dos Centros, consolidadas,  “A pesquisa nas Universidades Brasileiras”, ABM, Revista Estudos, especialmente, nos Decretos nº. 5.773, de 09.05.2006 e 5.789, de 24.05.2006. Ano 15, nº 18 – Brasília, fevereiro de 1997, pp. 101-1U7

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Claro que a realidade, recente apresenta dados ocidental. Neste sentido, a Universidade é legítima um pouco mais alentadores, mercê do esforço das herdeira da Academia Ateniense. instituições públicas e privadas na produção de pes- Assim entendida a Universidade, propugnamos quisas e trabalhos científicos, com publicação no país que um ensino de excelência deve estar associado e no exterior, especialmente nos cerca de 2.300 cursos a uma atividade de pesquisa para fomentá-lo e reno- de pós – graduação stricto sensu, em regular funciona- vá–lo. Essa atividade se daria em duas vertentes: no mento (ver relatório CAPES / MEC 2001/2003). âmbito das disciplinas, oportunidade em que o pro- Da nossa parte, porém, vale formular a indaga- fessor se empenharia não apenas em repetir o saber ção: até que ponto esse percentual está distorcido pela adquirido, mas procuraria gerar, permanentemente, situação real de muitos professores que incluem car- um saber novo, assegurando assim atualização e re- ga horária de pesquisa apenas para efeito de enqua- novação, além de enriquecer a interdisciplinaridade; e dramento em determinado regime de trabalho? no âmbito da articulação com as novas necessidades e Esse mesmo questionamento foi também susci- demandas da sociedade, considerados os avanços da tado pelo Prof. Cláudio de Moura Castro, em artigo ciências e da técnica e seus desafios lançados ao todo na revista VEJA onde adota uma postura favorável à social e a cada indivíduo em particular. revisão, considerada até agora quase herética, da ca- Dessa forma, a pesquisa estaria contribuindo pacidade de um ensino superior de massa, organiza- tanto para a melhoria qualitativa do ensino de gradua- do segundo os ditames do tripé convencional “ensino, ção, quando para a realização do compromisso social pesquisa e extensão”. da Universidade. Uma cisão pura e simples do ensino Sem pretender aprofundar o debate mais com- e da pesquisa poderia provocar, - por que não? – um preensivo dessa questão fundamental, o que exigiria progressivo e condenável desmonte do atual sistema a abordagem de variados aspectos e análise de dados da pesquisa universitária e a conseqüente desvaloriza- estatísticos da realidade das escolas, apresentamos, a ção do que aí é produzido. Para que isso não ocorra, seguir, um pouco da nossa visão dessa problemática, faz-se necessário que a pesquisa, ao invés de repre- delicada e complexa. sentar apenas despesa para as instituições, passe a representar, também, fontes de receita. Seja qual for a sua forma de organização, enten- demos que a Universidade é a síntese da cultura, con- Há, ainda, um fator preponderante em todo esse ciliando as aparentes contradições desta, englobando, debate: é a questão do elevado custo do ensino supe- dialeticamente, os opostos em que se extrema o pro- rior no Brasil, sobretudo o ensino público. O sistema cesso cultural. Assim, pois, ela tem de aliar o passado brasileiro de ensino superior é elogiado por ser um e o presente, o particular e o geral, o especulativo e dos mais complexos e consolidados no panorama la- o prático, a rotina e a criação; o individual e o social, tino – americano. É criticado, porém, por ser um dos o técnico e o sábio. Tem de construir – se, portanto, mais onerosos. Já em 1995, em debate na ITNB, a sobre uma unidade plástica e coerente, uma visão Prof. Dra. Eunice Durham afirmava que, desde 1990 geral e harmônica da realidade e da sociedade, uma até aquela data, “não aumentamos a oferta de ensino filosofia. superior público, e nem conseguimos a indissociabi- lidade do ensino e da pesquisa. Mas, em compensa- Uma Universidade não é, certamente, apenas a ção, construímos um sistema extremamente caro. Ele soma ou reunião de escolas isoladas, mas uma insti- custa, pelo menos, o dobro do que se gasta em outros tuição criada pela sociedade (inclusive, há mais de dez países da América Latina, levando – se em conta o séculos) com um fim muito específico: gerar, produzir número de estudantes que atende” . Dados recentes e difundir o conhecimento, vale dizer, objetos, idéias apontam que a realidade não mudou, especificamen- e técnicas, com a preocupação de garantir o caráter te, nesta a última década. universal da busca e da manifestação do saber. Saber esse que se assenta, predominantemente, na Razão. Essas considerações sobre os custos do ensino Por sinal, costuma-se dizer, com propriedade, que a superior brasileiro devem levar, quem sabe, à busca Universidade é, ou deve ser, a casa da Razão. Ser o “ló- imediata de uma gestão mais eficaz e de ajustes insti- cus” privilegiado da Razão foi à tarefa primeira para a tucionais na oferta das disciplinas, que permitam, ao qual a civilização ocidental criou a Universidade, uma mesmo tempo, expansão do atendimento à população das mais antigas instituições sociais. A importância e excelência do ensino, com o equacionamento racio- da Razão como fundamento da verdade e sua auto- nal dos custos, atualmente praticadas, nas entidades nomia na construção do saber não representam, con- públicas e privadas. Entram ai, os centros universitá- tudo, uma conquista original da Universidade, mas a rios, como apresentados nestas reflexões. grande contribuição do pensamento grego à cultura  Ver Lopes/José Loureiro, “Reflexões sobre a UNIPÊ: Identidade e Ação “Ed. UNIPÊ, João Pessoa, 1997”.  Ano 30 , Edição nº 22, de 04.06.97.  Ver Jornal da UNB, Ano II nº 15; julho de 1995, pp.8/9.

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A AUTONOMIA várias maneiras possíveis, até assumir características próprias de enriquecimento e fecundidade. Dele es- Já vimos que a LDB faculta que se estenda a au- pera-se que não tenha uma simples função reprodu- tonomia universitária a instituições que comprovem tora. O saber reproduzido, como seu próprio nome alta qualificação para o ensino ou para a pesquisa. diz, é secundário, dependente, pobre e com riscos de com base em dispositivo constitucional e na LDB, O esterilidade. O saber que se constrói no centro uni- Decreto 2.207 e a Portaria MEC 639/97 estenderam versitário é um saber novo, gerado pela pesquisa, ali- aos centros universitários credenciados “autonomia mentado pela prática, comprometido com os valores para criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos preconizados no Preâmbulo da Constituição Federal e e programas de educação superior, previstos na Lei nº com o bem-estar do ser humano. Um saber renovado 9394, de 1996”. E mais: dispõem que os centros uni- e renovador, formador, crítico e fecundo. Ensinar, ava- versitários, poderão usufruir de outras atribuições da liar, criticar, pesquisar, partilhar e inovar são verbos autonomia universitária, além da referida acima, defi- perfeitamente adequados para uma conjugação com nidas no ato de seu credenciamento. O Decreto 5.786, o saber. de 24.05.2006, ampliou, ainda mais o espectro dessa • Criatividade – As fórmulas para a concepção autonomia. e a valorização de instituições universitárias não estão Sabe-se que os primeiros centros universitários esgotadas. A despeito dessa verdade, tem-se encon- credenciados pelo MEC datam de outubro de 1997. trado, no decorrer da história de nossas instituições Dentre esses, figura UNIPÊ - Centro Universitário de de ensino superior, uma estrema complacência para João Pessoa, credenciado em 30 de outubro daquele com o usual, o comum, a mesmice. ano. Hoje, contam – se 124(cento e vinte e quatro) Frente às facilidades, todas, ou quase todas, centros universitários, em regular funcionamento, lo- crescem igualmente; em virtude, porém, das adver- calizados em quase todas as regiões do país. No que sidades, a imensa maioria mergulha em estado de concerne ao UNIPÊ, desde sua criação, a entidade hibernação, no aguardo de que a crise, por si só, seja (recredenciada em 2004) tem conduzido uma ação superada. A criatividade exercitada no UNIPÊ vem sa- com base nos seguintes pressupostos: bendo extrair, do próprio conhecimento da realidade • Compromisso com a região – Lidando, diu- e do compromisso com a mudança, as soluções e os turnamente, com os fatos, problemas e esperanças de ensinamentos necessários à superação das dificulda- uma região dotada de aspectos bem marcados na sua des, na busca do desenvolvimento. geografia, no seu homem e na sua história, o Centro • Adequação estrutural – Crescer e saber cres- Universitário de João Pessoa – UNIPÊ optou pelo com- cer, essa é uma das tônicas que têm norteado e conti- promisso de, sem perder de vista o universal, encarar, nuarão norteando o UNIPÊ. Em razão disso, o Centro enfrentar, estudar e apoiar o regional. Assim, deseja Universitário de João Pessoa – UNIPÊ está estrutura- fazer-se presente na busca participativa de soluções do dentro de um esquema administrativo e acadêmico que ajudem a minorar a dívida social para com a sua adequado aos limites e propósitos da Instituição, nos população, proporcionando-lhe uma melhor qualida- campos do ensino, da pesquisa e da extensão. Essa de de vida. adequação estrutural tem reflexo na funcionalidade Com efeito, de nada adianta levantar a vista em dos diversos setores – coordenadorias de curso, pró direção ao cosmos ou voltar as atenções para a con- – reitorias e órgãos de apoio – que dão vida acadêmica templação do que é o Primeiro Mundo, se não se tem ao empreendimento. em mira a urgência dos apelos que a vida social e eco- • Ter mais e ser mais – Com propósito, o ter nômica do Nordeste formulam aos que têm mais, aos mais aqui se refere à educação, ao saber, à visão com- que podem mais e, no caso, aos que sabem mais. De preensiva e solidária do homem e do mundo. Ter mais nada adianta a atitude ingênua de espera permanente significativa, então, um compromisso de busca, de en- do “Messias”, que não vai chegar, se não se fincam as tendimento, de explicação, de justificação, de crítica. raízes reais da construção de uma nova cultura, que Ter mais lança o homem para uma posição de van- se faz cada vez mais urgente, para a superação dos guarda, liderança, responsabilidade. desafios atuais. Responsabilidade dupla, por sinal. Responsabili- • Revitalização do Saber – O Centro Univer- dade de, por ter mais, ser mais: mais homem, mais sitário –UNIPÊ, que se está permanentemente cons- humano, mais liberto, mais realizador de sua própria truindo, não pode, não deve e não quer ser mais um humanidade. Responsabilidade, também, perante órgão destinado ao simples processo de repasse do a sociedade, os semelhantes, os que têm menos. O saber. compromisso de inclusão social e de contribuir efeti- Pretende-se que esse saber seja revitalizado das vamente para o desenvolvimento harmônico da socie-

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dade brasileira, quer em sua dimensão nacional, quer • Compromisso político – A transmissão do em seu aspecto regional, uma vez que a universidade saber e a formação profissional, que a universidade sintetiza o histórico, o sociológico, o político, o econô- realiza, refletem o seu compromisso com o desen- mico, o cultural. volvimento nacional e o da comunidade em que está Ter mais e ser mais implicam, pois, para edu- inserida. Nesse sentido, devem orientar-se por um cador e educando, serem mais comprometidos. esforço permanente de criatividade cultural e cientí- Comprometidos com o seu próprio saber e o alheio; fica e de conscientização crítica da sociedade, com o comprometidos com a busca, a pesquisa, a indagação, objetivo de atender às demandas sociais emergentes, objetivando ao bem-estar social. constituindo-se, desse modo, em fator decisivo das transformações sócio-econômicas que impulsionam o • Vocação comunitária e filantrópica – O Cen- desenvolvimento nacional. tro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ renova o compromisso de fidelidade aos princípios que norte- Esse compromisso com o desenvolvimento da aram, desde o seu início, a vida da mantenedora, os nação inclui a luta pela superação das desigualdades Institutos Paraibanos de Educação – IPÊ. Dessa for- sociais e regionais, condição para existência de uma ma, apropria, no seu perfil as características de enti- verdadeira democracia, em que os interesses de mi- dade comunitária e filantrópica, no exercício das suas norias não prevaleçam sobre os da grande maioria da atividades específicas de ensino, pesquisa e extensão. população. Comunitária, porque sempre estiveram os cursos ofe- Evidencia-se, por isso, o papel da extensão uni- recidos ligados estreitamente à comunidade maior e versitária, que vai ao encontro das demandas da co- circundante, especialmente, através do desenvolvi- munidade, buscando o enriquecimento, atualização e mento dos programas de extensão e de, mas ações vi- praticidade, que informa as diretrizes do ensino. Ao suais junto as, populações da periferia de João Pessoa, exercitar a extensão, a universidade cumpre ainda a o que vem acontecendo também com os novos cur- sua função de disseminar o conhecimento, contribuin- sos. Filantrópica, em virtude de, através da concessão do para a melhoria da produção e da distribuição de de bolsas de estudo institucionais e do PROUNI, e das bens e serviços e, consequentemente, para o progres- atividades comunitárias que desenvolve estarem sen- so econômico e social do País. do sempre atendidos os mais carentes. Com efeito, o trabalho de assistência social gratuita beneficia, anu- almente, cerca de 100.000 usuários. INSERÇÃO REGIONAL Enfim, o Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ tem, pois, como objetivo básico ministrar A definição de uma política que oriente as ativi- ensino superior de excelência, abrangendo priorita- dades de uma instituição de ensino superior exige, em riamente as áreas de Ciências Humanas e Sócias, Tec- primeiro lugar, uma análise de sua situação atual e dos nológica e da Saúde. Esse objetivo se concretiza nos diferentes fatores que a conduziram, no seu processo seguintes aspectos: de desenvolvimento, ao estado em que hoje se encon- • Formação profissional – Dentre as funções tra. do sistema universitário destaca-se a formação de pro- Para tanto, faz-se necessária uma visão clara fissionais de nível superior, para o atendimento das acerca da natureza específica da instituição universi- necessidades do desenvolvimento sócio-econômico tária, dos objetivos a que se propõe, do processo de da nação. Embora a formação profissional na universi- sua evolução e das relações com a sociedade com o dade esteja vinculada ao domínio do saber universal, meio sócio-econômico-cultural em que está inserida, há que responder também às exigências de capacita- bem assim das condições para o seu funcionamento. ção específica para o desempenho profissional na área Como vimos, o Centro Universitário é uma ins- de interesse vocacional do estudante. Para isso é ne- tituição da sociedade, cujas atribuições lhe permitem cessário proporcionar-lhe uma sólida formação básica criar, preservar, transmitir e difundir formas de conhe- e geral, dentro de uma visão abrangente da ciência, ao cimento e valores que contribuam para o aperfeiçoa- lado dos princípios e conhecimentos essenciais que mento da convivência social e para uma maior consci- informam a sua futura atuação profissional. ência do ser humano e da sua capacidade de controlar A qualidade do ensino, assim ministrado, de- a própria história e as leis que regem a natureza. pende ainda de sua articulação com as atividades de Criado em 1971 por seis educadores de forma- pesquisa e extensão, que enriquecem o processo de ção religiosa, sob a denominação de INSTITUTOS aprendizagem, consolidando a formação plena do fu- PARAIBANOS DE EDUCAÇÃO (IPÊ), o Centro turo profissional, capacitando-o assim à inserção efi- Universitário UNIPÊ ganhou a designação atual, em caz no mercado trabalho. 1997. A partir daí consolidou – se como um dos bem

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conceituados centros de ensino superior privado do A expansão da pós – graduação lato sensu, adi- Nordeste brasileiro. cionada à contratação de docentes qualificados e a O esforço constante por um ensino de qualidade, uma política de qualificação do professorado, obteve, ministrado com o uso de modernas tecnologias, é um como resultado imediato, o fomento às atividades de dos fundamentos básicos da instituição, associado à pesquisa e o seu crescimento. Contribuiu para isso o pratica do compromisso social, ao respeito ao meio apoio de órgãos financiadores, através da celebração ambiente a ao atendimento às demandas do mundo de convênios. Pode – se assegurar, portanto, que, nes- de trabalho. ses 36 anos de experiência, o UNIPÊ cresceu. E esse crescimento beneficiou a região nordestina onde está UNIPÊ funciona em campus universitário pró- plantado. Ao lado do crescimento puramente quantita- prio, em área contígua de preservação da Mata Atlân- tivo, destaca-se a qualidade, conforme atesta a a pró- tica, ambiente densamente arborizado e ecologica- pria imagem que esta instituição de ensino superior mente correto, com espaços abertos e edificações passou a desfrutar, nos meios acadêmicos, científicos horizontais, inclusive, complexo poliesportivo. O e governamentais da Paraíba e da região. Centro tem matriculados cerca de 8 mil alunos nos 12 cursos de graduação, 21 de especialização e 6 MBAs, Como se sabe, o ensino superior é uma realidade corpo docente com a maioria formada por doutores, muito complexa e abrangente para ser equacionada mestres e especialistas. apenas com a mudança nas formas e modelos de sua organização. Desse modo, a verdadeira natureza do Centro Universitário está no livre confronto de idéias, na sua Cremos se essa igualdade, as posturas dos que liberdade de criação e de crítica, de onde se origina a imaginariam e criaram os centros universitários. Tais sua força transformadora. É dever do Centro questio- centros surgem como mais uma alternativa válida, a nar, constantemente, a estrutura social em que está ser testada, e avaliada permanentemente. inserido, a fim de que possa contribuir para mudanças O importante, todavia, é ter presente que a con- que possibilitem a construção de uma sociedade mol- dição básica de sobrevivência do ensino superior, dada pela justiça social, tendo o ser humano como o neste início de um novo milênio, é a sua capacidade sujeito e o fim de todo o progresso. de mudança, sobretudo para atender às novas neces- O exercício dessas tarefas se concretiza através sidades da sociedade. Mudanças nos currículos; nas do intercâmbio de idéias, da pesquisa, do ensino e da formas de integração do ensino, pesquisa e extensão; extensão. Nessa perspectiva, o Centro poderá desem- na formulação de novas técnicas de ensino e aprendi- penhar as suas funções de criar e difundir o saber hu- zagem; na oferta do ensino a distância; na interação mano formando profissionais, técnicos e cientistas. universidade-sociedade; na avaliação de professores e alunos. É precisamente na valorização da terra e o do homem nordestino que o UNIPÊ encontra o traço Estamos certos de que, educadores que somos, marcante de sua identidade. Sem perder o caráter saberemos conduzir, com habilidade e competência, o de universalidade do saber e da cultura, inerente à enfrentamento e a superação desses novos desafios. própria instituição de ensino superior, a “universitas studiorum”, o Centro Universitário de João Pessoa, nas suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, REFERÊNCIAS concentra seus esforços no trato das questões regio- nais para que, conhecendo melhor os problemas que 1. BALBACHEVSKY,Elizabeth. “A Pesquisa nas a sociedade nordestina enfrenta, sejam mantidas, pro- Universidades Brasileiras”. In Estudos, ABMES, Ano gressiva e sistematicamente, as bases e estratégias 15, nº 18, pp. 101-107, 1997. para sua solução. 2. CASTRO, Cláudio de Moura. “Uma herética O UNIPÊ, dedicando prioritariamente a seus es- separação entre ensino e pesquisa”. In VEJA, Ano 30, tudos e pesquisas e essa realidade nordestina, quer nº 22, p. 142, São Paulo, 04.06.1997. trazer o aporte de sua competência para a solução 3. DE SOUZA, Joaquim Lemos Gomes. “Parecer desses graves problemas, de modo a instalar, aqui, sobre o Decreto nº 2.207/97”. In Estudos ABMES, um estado de bem – estar social, que ofereça aos seus Ano 15, nº 19, 99 63s, Brasília, 1997. habitantes melhores condições de vida e de trabalho. 4. DE SOUZA, Paulo Nathanael Pereira e DA O aumento dos cursos de graduação, acrescido Silva, Eurides Brito. Como Entender e Aplicar a nova da implantação dos cursos de pós – graduação lato LDB. São Paulo, Pioneira, 1997. sensu, elevou de forma considerável, o número de alu- nos, de docentes e de pessoal técnico – administrativo 5. LOPES, José Loureiro. Reflexões sobre a UNI- da Instituição. PÊ: sua identidade e ação. João Pessoa, UNIPÊ Edi-

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tora, 1997. 8. A Nova Lei da Educação: Trajetória, Limites e 6. SAVIANI, Demerval. Educação Brasileira: Es- Perspectivas. Campinas, Autores Associados, 1997. trutura e Sistema. 7 ed. Campinas, Autores Associa- 9. Relatório CAPES – 2001/2003 dos, 1996. 10. Censo da Educação Superior – INEP/MEC 7. “Contribuição à Elaboração da Nova LDB: um 2005. início de conversa”, In ANDE, nº 13, pp. 5-14, 1998.

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SITUAÇÃO GEOGRÁFICA E CONTEXTOS REGIONAIS DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS: A REGIÃO SUDESTE Paulo Newton de Paiva Ferreira(*) Astréia Batista Soares(**)10

Acredito que se deva iniciar o presente trabalho perfil prevalente das instituições nacionais. com a formulação de uma questão, objetiva e que terá O Ministério de Educação – MEC estabeleceu, o condão de descortinar a fundamental importância como princípio das instituições de ensino superior dos Centros Universitários para o desenvolvimento que receberiam a classificação de Centros Universi- do país. tários, a sua condição pluricurricular, excelência do A pergunta seria a seguinte: Você acredita que o ensino, qualificação do seu corpo docente e condição país seria o mesmo sem o surgimento do modelo de de trabalho oferecido à comunidade acadêmica, o que organização acadêmica dos Centros Universitários? demonstrava, também, sua adequada inserção na sua A resposta não poderia ser outra: Não. comunidade, revelando inter-faces produtivas e pro- missoras para o que se esperava destas instituições. O que procuraremos fazer, ao longo deste traba- lho, será esclarecer esta afirmação, embasando-a com A resposta a esta demanda só tem sido possível avaliações que demonstram o acerto dos legisladores porque grande parte das instituições, que foram cre- e das autoridades governamentais em implantá-lo e , denciadas como Centros Universitários, traziam em ao longo do tempo, potencializá-lo. seus currículos uma experiência firme e consolida- da de educação superior e já vinham trabalhando na A década de 1990 trouxe um novo cenário para a construção de um paradigma de ensino alternativo às educação no Brasil com a reforma do ensino superior, universidades públicas, uma vez que estas não con- representada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educa- seguem responder, sozinhas, pela demanda brasileira ção Nacional, a LDB, aprovada em dezembro de 1996. por ensino de graduação. Um dos destaques deste novo cenário foi, certamente, a diversificação das instituições de ensino, sobretudo A criação dos Centros Universitários teve, como com a criação e regulamentação do funcionamento uma das exigências fundamentais do MEC, a experi- dos Centros Universitários11. ência comprovada na excelência do ensino oferecido e a consolidação de seus Planos de Desenvolvimen- Uma mudança nas diretrizes do ensino de gradu- to Institucional – PDI, como condição básica de sua ação já se fazia necessária e era parte do desejo e dos autonomia. De acordo com nossa experiência como projetos dos dirigentes das Faculdades Integradas de um dos gestores pioneiros deste novo modelo de ins- maior tradição no ensino brasileiro. Não seria exagero tituição de ensino superior no Brasil12, consideramos dizer que este era, também, um dos anseios da socie- o PDI o principal documento na gestão dos Centros dade brasileira pela educação e formação profissional Universitários. O PDI é mais do que uma obrigação de seus jovens e para responder às demandas, cada para com o MEC, uma vez que ele descreve os com- vez mais exigentes, de diferentes setores sociais. É promissos que a instituição está disposta a assumir relevante ressaltar que a criação dos Centros Univer- interna e externamente, contribuindo, assim, para a sitários, no contexto de expansão e das transforma- solidificação dos projetos dos Centros Universitários, ções da educação brasileira na década de 1990, veio ajudando-os a encontrar as melhores soluções para consolidar um novo modelo de instituição de ensino alcançar seu compromisso com a qualidade da gradu- superior, cujo foco principal é a graduação, oferecida ação. com qualidade e excelência, sem se descuidar dos compromissos com a iniciação científica e com a ex- Viveu-se um primeiro momento em que des- tensão , mas livre dos grilhões da pesquisa , onerosa gastes surgiram entre as partes , ocasionados pelo e exigente de vocação , e que não se coaduna com o entendimento de que o PDI deveria consolidar todos os projetos institucionais, o que, em última análise, 10 (*)Paulo Newton de Paiva Ferreira é engenheiro, presidente da enti- significava a abertura de todos os planos estratégicos dade mantenedora do Centro Universitário Newton Paiva e seu vice-reitor e concorrenciais por parte das instituições, o que se (**)Astréia Batista Soares – Coordenadora do Programa de Iniciação Científica do Centro Universitário Newton Paiva corrigiu no momento adequado, pautando-se o PDI

11 Os Centros Universitários no Brasil foram criados pelo Decreto nº 2.207, de 15/04/1997, tendo sido substituído, posteriormente, pelo Decreto nº 12 O autor refere-se ao Centro Universitário Newton Paiva, o primeiro 2.306, de 19/08/1997. a receber esta credencial em Belo Horizonte/MG, em 1997.

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por um campo mais conceitual, mas indicador de to- volvimento/escolaridade parece ser um consenso em dos os seus caminhos. toda parte. O credenciamento dos Centros Universitários Os Centros Universitários, respaldados na lei trouxe-lhes a autonomia para criar, organizar e extin- que lhes confere autonomia, têm trazido uma contri- guir cursos de graduação em sua sede, sem a necessi- buição substancial para a melhoria e modernização dade de solicitar permissão ao poder público para re- da educação superior em regiões do país que clamam manejar ou ampliar vagas nos cursos existentes e para por inovação, transformação e qualificação de sua registrar os diplomas de seus cursos reconhecidos. população, para fazerem frente às exigências globais Tais medidas permitiram, entre outras coisas da atualidade. Como já foi dito, a proximidade com a igualmente importantes, a expansão da oferta de cur- comunidade, aliada ao dinamismo que a estrutura dos sos e de vagas no ensino superior brasileiro, sem que, Centros Universitários possui, permite que a forma- para isto, o Governo Federal tivesse que credenciar ção superior que oferecem através de seus cursos, novas universidades em regiões que não necessaria- responda rapidamente as demandas locais sem, con- mente demandam ou comportam um modelo de ensi- tudo, deixar de considerar a sintonia com o contexto no baseado na tríade ensino, pesquisa e extensão. nacional e global. E aqui a inserção dos Centros em suas comuni- Ao longo destes 10 anos o Governo Federal cre- dades foi o grande alavancador do processo de atendi- denciou 114 Centros e vem concebendo mecanismos mento às demandas regionais emergentes. de avaliação dos mesmos, de sua autonomia adminis- trativa, financeira, didática, científica, o que resulta em Pela sua articulação constante com a sociedade maior segurança para decidir sobre a permanência das tinham os Centros Universitários a indicação clara e instituições na condição de Centros Universitários ou precisa das necessidades de recursos humanos que sobre sua transformação em Universidades, quando precisariam ser formados para embasar o desenvolvi- for do interesse de ambos, instituição e governo. mento regional. Atualmente dirigentes de cerca de 70 Centros Atrelados, no entanto , aos mecanismos de au- Universitários, de diferentes regiões do país, se con- torização , tinham referidas instituições postergados gregam na Associação Nacional dos Centros Univer- seus pleitos pelas injunções naturais de um sistema sitários – ANACEU, que foi criada tendo como um de que buscava a proteção da educação brasileira mas seus objetivos centrais a consolidação dos Centros enfrenta dificuldades em sua estruturação para agir Universitários “como uma importante figura na estru- com a agilidade e transparência que todos acreditam tura do ensino superior brasileiro, com autonomia e necessária. liberdade de atuação”. Temos a convicção de que o ensino universitário Com a organização dos Centros Universitários brasileiro não se renovaria sem uma superação de al- associados à ANACEU, foi possível estabelecer tam- guns mecanismos de controle burocráticos muito rígi- bém um canal competente de conversação com o po- dos. Não estamos falando de qualquer tipo de descui- der público, quer seja na esfera municipal, estadual ou do ou relaxamento com a avaliação das instituições de federal. Além disto, a produção universitária passou a ensino superior, que devem fazer parte das atividades receber grande apoio da Associação, com a organiza- centrais do MEC, mas da reduzida margem de liber- ção de encontros, debates, congressos e seminários, dade que era conferida as IES e que impediam que a que deram uma contribuição substancial para que os educação superior fizesse frente às rápidas transfor- Centros Universitários estabelecessem metas cole- mações de foco, atitude constantemente exigida por tivas para o aperfeiçoamento do ensino superior no uma sociedade em transformação. Brasil. A autonomia dos Centros Universitários, ain- A ANACEU tornou-se um espaço de debate fun- da que tenha causado um certo clima de incertezas damental pela seriedade de seus membros, diante de quando do seu surgimento, acabou por se constituir uma realidade que se transforma rapidamente. Faze- em possibilidades muito concretas de oferecer uma mos referência à expansão da oferta de ensino supe- educação superior comprometida tanto com a forma- rior que presenciamos desde a década de 1990, que ção profissional, quanto com o desenvolvimento hu- tem sido, certamente, a maior da história do país. Esta mano. Um fator que reforça este argumento é a cons- expansão tem lugar, principalmente, nas IES particu- tatação de que vivemos em um país gigante em suas lares, notadamente nos Centros Universitários. Desta dimensões, constituído por regiões extremamente di- forma, tornou-se necessário e urgente que se estabe- versas, que enfrentam diferentes tipos de problemas. lecessem e fortalecessem canais competentes, através Estes problemas, contudo, se tornam menos graves dos quais os reitores, mantenedores e dirigentes pos- e mais superáveis quanto mais aumentam os índices sam refletir sobre as mudanças recentes na educação de escolaridade de sua população. A relação desen-

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superior e em sua legislação, para que a melhoria na qualidade pudesse acompanhar o aumento quantitativo de oferta de vagas em cursos de graduação. Atualmente, os Centros Universitários representam 5,3% do total das Instituições de Ensino Superior do país, conforme indicam os dados do último Censo da Educação Superior, produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, e que podem ser visualizados na Tabela 1, apresen- tada em seguida. Tabela 1. Número de IES por tipo de Organização Acadêmica e Categoria Administrativa Organização Acadêmica / IES

Categoria Administrativa Públicas Privadas Total

Universidades 90 86 176 Centros Universitários 3 111 114 Faculdades Integradas 4 113 117 Faculdades, Escolas, Institutos 81 1.493 1.574 Centros de Educação Tecnológica e Faculdades de Tecnologia 53 131 184 Total 231 1.934 2.165 Fonte: INEP (2007)

A Tabela 2 apresenta a distribuição das IES por regiões da federação e localidades, de acordo com o total dos estabelecimentos de ensino superior e o total daqueles que são Centros Universitários por categorias admi- nistrativas (instituições públicas e privadas). Um aspecto que chama a atenção na análise da distribuição das IES no país, de acordo com os últimos dados do INEP apresentados na Tabela 2, é a grande concentração desses estabelecimentos no Sudeste. De fato, dos mais de 2.100 estabelecimentos de ensino superior que existem em todo o Brasil, 48,5% encontram-se na região Sudeste, sendo que destes mais de 72% estão instalados no interior dos estados.

Tabela 2. Distribuição do Total de IES e de Centros Universitários por região e localidades Brasil e Regiões / Total de IES Centro Universitário Categoria Administrativa Total Capital Interior Total Capital Interior Brasil 2.165 769 1.396 114 46 68 Pública 231 78 153 3 - 3 Privada 1.934 691 1.243 111 46 65 Norte 122 79 43 7 6 1 Pública 16 15 1 - - - Privada 106 64 42 7 6 1 Nordeste 388 202 186 3 3 - Pública 60 25 35 - - - Privada 328 177 151 3 3 - Sudeste 1.051 290 761 78 25 53 Pública 98 20 78 3 - 3 Privada 953 270 683 75 25 50 Sul 370 87 283 16 5 11 Pública 39 10 29 - - - Privada 331 77 254 16 5 11 Centro-Oeste 234 111 123 10 7 3 Pública 18 8 10 - - - Privada 216 103 113 10 7 3 Fonte: INEP (2007)

No caso dos Centros Universitários, eles representam um percentual de 5,2% do total de estabelecimen- tos de ensino superior do país, também basicamente concentrados nos estados da região Sudeste: 68,5% dos Centros Universitários encontravam-se nessa região, sendo a maior parte deles (em número de 68%) também localizada em municípios do interior dessa região. Os dados nos autorizam a dizer que, embora a região Sudeste conte com a maior concentração de Centros Universitários, sua expansão para o interior dos estados tem um efeito muito importante para a formação de

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Tabela 3. Distribuição do Total de IES e de Centros Universitários na Região Sudeste do Brasil Unidade da Federação / Total Geral Centro Universitário Categoria Administrativa Total Capital Interior Total Capital Interior São Paulo 521 146 375 46 13 33 Pública 51 6 45 3 - 3 Privada 470 140 330 43 13 30 Minas Gerais 311 49 262 15 4 11 Pública 30 5 25 - - - Privada 281 44 237 15 4 11 Rio de Janeiro 121 66 55 14 8 6 Pública 13 6 7 - - - Privada 108 60 48 14 8 6 Espírito Santo 98 29 69 3 - 3 Pública 4 3 1 - - - Privada 94 26 68 3 - 3 Total da Região Sudeste 1.051 290 761 78 25 53 Fonte: INEP (2007). profissionais qualificados e preparados para atuar no país, 2,6% dos Centros Universitários, e 16,6% do total mercado regional, com uma formação universitária de alunos matriculados (0,6% nos Centros Universitá- que não desconhece as realidades locais. rios); Na região Sudeste, conforme pode ser obser- 3. Região Sul: possui 17% das IES do país, 14% vado pelos dados apresentados na Tabela 3, o estado dos Centros Universitários, e 19% do total de alunos que detém a maior concentração de IES é São Paulo, matriculados (2,1% nos Centros Universitários); com 49,6% dos estabelecimentos. Em segundo lugar 4. Região Centro-Oeste: possui 10,8% das IES vem Minas Gerais, com 29,6% dos estabelecimentos. do país e 8,8% dos Centros Universitários, e 9% do total O mesmo padrão de concentração ocorre quan- de alunos matriculados (1,3% nos Centros Universitá- do observamos os números relativos aos Centros rios). Universitários: 59% de todos os que se encontram ins- Esses dados possibilitam afirmar que a criação talados na região Sudeste estão em São Paulo e 19% de Centros Universitários permitiu a ampliação do nú- no estado de Minas Gerais. Ressalte-se, contudo, que mero de vagas em todas as regiões do país, mesmo a maior presença dessas organizações em São Paulo é quando 49,5% dos matriculados no ensino superior acompanhada por uma divisão mais equivalente entre brasileiro estejam nas IES localizadas na região Su- Minas Gerais e Rio de Janeiro, sendo que esse último deste. estado detém cerca de 18% dos Centros Universitários Comparando com os dados do Censo da Educa- da região Sudeste. O que esta informação revela é que ção Superior de 2001 percebe-se também que houve a participação dos Centros Universitários no total de um notável crescimento dos Centros Universitário, estabelecimentos de ensino superior é maior no es- em proporção maior do que a do total de IES, em to- tado do Rio de Janeiro do que nos demais estados da das as regiões. região Sudeste (significando 11,5%). Uma justificativa para essa situação é a dinâmica da economia daquele Sabendo que o número de IES cresceu 55,6%, estado, mais dependente do setor serviços - portanto, que o número de Centros Universitários aumentou com grande demanda por cursos de nível superior, em 72,7% e que o número de alunos matriculados combinado ao fato do estado contar com um elevado cresceu 46,9% entre 2001 e o último Censo da Edu- número de universidades localizadas na capital (56% cação Superior, os dados apresentados em seguida do total de universidades federais), onde reside a confirmam a afirmação apresentada: maior parte da população. 1. Região Norte: possuía 4,4% das IES do país, No restante do território nacional, as IES estão 4,5% dos Centros Universitários e 4,7% do total de assim distribuídas: alunos matriculados do país (0,4% nos Centros Uni- versitários); 1. Região Norte: possui 5,6% das IES do país, 6,1% dos Centros Universitários, e 5,9% do total de alu- 2. Região Nordeste: possuía 15,1% das IES do nos matriculados do país (0,9% nos Centros Universi- país, 3% dos Centros Universitários e 15,2% do total tários); de alunos matriculados do país (0,4% nos Centros Universitários); 2. Região Nordeste: possui 17,9% das IES do 3. Região Sul: possuía 15,5% das IES do país,

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Tabela 4. Número de alunos Matriculados e Concluintes nos Cursos de Graduação por organização acadêmica, segundo a categoria administrativa das IES, no país

Organização acadêmica / Alunos Matriculados Alunos Concluintes

Categoria Administrativa Pública Privada Pública Privada Universidades 1.042.816 1.426.962 173.395 235.575 Centros Universitários 15.757 659.170 2.299 112.123 Faculdades Integradas 10.068 197.830 1.612 35.863 Faculdades, Escolas, Institutos 79.368 937.966 12.999 128.530 Centros de Educação Tecnológica e Fac. de Tecnologia 44.180 39.039 5.249 10.213 Total Geral 1.192.189 3.260.967 195.554 522.304

12,1% dos Centros Universitários e 19,9% do total superior. Os dados apontados nas Tabelas 1 e 4 de- de alunos matriculados do país (1,2% nos Centros monstram que o número médio de matriculados nos Universitários); Centros Universitários (ou seja, o número de alunos 4. Região Centro-Oeste: possuía 11,6% das matriculado por estabelecimento) é de 5.920 alunos, IES do país, 4,5% dos Centros Universitários e 8,6% enquanto o número de concluintes é, em média, de do total de alunos matriculados do país (0,7% nos 1.003 pessoas. Centros Universitários). Comparativamente, o número médio de matricu- Ressalta o fato que na região Centro-Oeste redu- lados nas Universidades é de 14.033 (mais do que o ziu a participação relativa das IES no total nacional, dobro dos Centros Universitários), sendo praticamen- mas cresceu a participação dos Centros Universitá- te idêntica a proporção quando se compara o número rios, tanto do ponto de vista do número de estabeleci- médio de concluintes nesse tipo de organização aca- mentos quanto do total de alunos matriculados. dêmica (que é de 2.324 pessoas). No Sudeste, em 2001, o número de IES era igual Esse número revela a importância dos Centros a 53,3% de todo o número de estabelecimentos desse Universitários na formação e oferta de recursos hu- tipo no país, sendo que 75,8% deles eram Centros Uni- manos graduados para a sociedade brasileira, já que versitários. O que se percebe é que está em curso um o número de matriculados nos Centros Universitários processo de descentralização, que pode ter impacto do país representa, como já apontado, cerca de 15% do significativo na oferta educacional brasileira nos pró- total de alunos que ingressaram nos distintos tipos de ximos anos. IES no país. Uma outra informação relevante sobre o perfil Do ponto de vista regional, tendo em vista a das IES nacionais é a do número de alunos matricu- concentração já anteriormente apontada das IES na lados e concluintes dos cursos de graduação presen- região Sudeste, justifica-se a prevalência da mesma ciais ofertados no país. Segundo os dados do INEP, o configuração na distribuição dos concluintes: 54% de- total de alunos matriculados em 2005, ano base das les provêem de instituições localizadas nessa região, informações do último Censo da Educação Superior, sendo que 11,5% são oriundos de Centros Universitá- foi de cerca de 4,5 milhões de pessoas. Mais de 2,4 rios e 28,5% de universidades. milhões desses estudantes matricularam-se em Uni- Ressalte-se que a importância dos Centros Uni- versidades (55,4%) e cerca de 675 mil nos Centros versitários na contribuição da formação de recursos Universitários (15,1%). humanos de nível superior no país reside também no Conforme pode ser observado na Tabela 4, que fato que é maior a sua importância na titulação de es- apresenta dados do último Censo da Educação Supe- tudantes que dependem dos cursos noturnos do que rior, a maior parte desse público matriculou-se nas os demais tipos de organizações acadêmicas. Assim, IES privadas. ainda segundo os dados do Censo da Educação Supe- rior do INEP, 38% do número de concluintes encerra- Do total de alunos que se matriculam nas IES ram os seus cursos no turno matutino, e os restantes em todo o Brasil, apenas 16% (cerca de 718 mil estu- 62% no noturno. dantes) concluíram os seus respectivos cursos. Nas universidades, esse percentual foi de 16,6% enquanto As universidades foram responsáveis, como já nos Centros Universitários ele foi de 17%. apontado, por mais de metade desses concluintes, porém apenas 28,5% no turno noturno. Por sua vez, Combinando esses dados com os relativos ao os Centros Universitários, que formaram 16% dos es- número de estabelecimentos, pode-se dizer que é tudantes brasileiros em 2005, responderam por 11,5% significativa a importância dos Centros Universitá- do número total de conclusões de cursos superiores rios na oferta de recursos humanos com formação de graduação no turno noturno. Observando a infor-

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mação do ponto de vista da distribuição do número de concluintes quanto ao total das organizações acadêmi- cas, sabe-se que nas universidades metade dos estudantes formou-se nos cursos ofertados no turno noturno, enquanto esse percentual foi de cerca de 72% nos Centros Universitários. Outra informação relevante para compreender o perfil das IES no país é o número de empregos gerados por elas. As instituições privadas no Brasil geram mais de 305 mil funções docentes13. Dessas, 11% são contrata- das pelos Centros Universitários, totalizando um contingente de mais de 34 mil funções docentes. Os docentes ocupantes dessas funções possuíam os graus de formação de graduados (12,9%), especialistas (32,7%), mestres (42,5%) e doutores (11,9%), respectivamente.

Tabela 5. Recursos Humanos por Organização Acadêmica, segundo a Categoria Administrativa das IES Organização acadêmica Funções Docentes Técnicos Administrativos Categoria Administrativa Pública Privada Pública Privada Universidades 92.226 75.743 105.536 67.322 Centros Universitários 526 33.507 228 24.966 Faculdades Integradas 684 13.543 453 7.877 Faculdades, Escolas, Institutos 5.627 74.769 3.533 54.368 Centros de Educação Tecnológica e Fac. de Tecnologia 5.056 4.279 4.596 3.203 Total 104.119 201.841 114.346 157.736 Fonte: INEP (2007)

O número de técnicos administrativos empregados pelas IES brasileiras é de 272 mil pessoas, dos quais 63,5% estão ocupados nas Universidades e 9,3% nos Centros Universitários. A Tabela 5, apresentada em segui- da, ilustra esses dados. Um outro dado que revela a importância significativa dos Centros Universitários é o da relação entre o número de matrículas e o de docente em exercício, conforme revelam os dados apresentados na Tabela 6, em seguida.

Tabela 6. Número de Matrículas por função docente em exercício nas IES brasileiras, por região do país e categoria administrativa Unidade da Categoria Matrículas / Função Docente em Exercício Federação Administrativa Total Universidades Centros Universitários Brasil Total 15,2 15,5 20,7 Pública 12,2 12,1 30,8 Privada 16,8 19,6 20,5 Norte Total 18,6 20,3 22,1 Pública 18,2 19,3 - Privada 18,9 29,6 22,1 Nordeste Total 14,5 15,3 20,1 Pública 13,8 13,8 - Privada 15,2 24,2 20,1 Sudeste Total 15,5 15,5 20,7 Pública 10,5 10,0 30,8 Privada 17,1 19,1 20,4 Sul Total 14,4 14,5 20,3 Pública 10,7 10,4 - Privada 16,5 18,7 20,3 Centro-Oeste Total 15,4 16,6 20,8 Pública 13,0 13,2 - Privada 16,6 22,4 20,8 Fonte: INEP (2007).

13 O número de funções docentes não é equivalente ao de docentes, por que um mesmo professor pode exercer tais funções em uma ou mais instituições, segundo a definição do INEP.

58 PRIMEIRA PARTE

Figura 1 - Distribuição dos Centros Universitários por Regiões e Localidades

B ras il Norte Nordes te S udes te S ul Centro-Oes te

interior 46 6 3 25 5 7

capital 68 10 53 11 3

total 114 16 3 78 16 10

teria acontecido sem a participação dos Centros Uni- Os dados indicam que, no caso do país, os Cen- versitários nas diferentes regiões do país. Este cres- tros Universitários possuem uma relação entre matri- cimento deve ser visto, principalmente, pela ótica de culados e funções superior à média nacional. Os nú- seus desdobramentos sociais, uma vez que dados re- meros da maior eficiência na relação entre número de centes mostram que os salários pagos às pessoas com alunos e de funções docentes dos Centros Universitá- diploma universitário são pelo menos 25% maiores do rios só são menores nas regiões Norte, Centro-Oeste que o que recebem as pessoas que só concluíram o e Nordeste quando comparadas com o mesmo valor ensino médio. das Universidades. Se formos discutir empregabilidade, os dados Considera-se que o Brasil, para fazer frente às são igualmente indicadores da importância que a for- necessidades de inserção na economia mundial, deve mação superior tem, porque a taxa de desemprego alcançar um índice de atendimento à educação de é 5% menor para aqueles que concluíram o terceiro seus jovens de 18 a 24 anos de 30%. Infelizmente, não grau. Portanto, a educação é uma arma muito impor- chegamos nem à metade disto. Os dados que apresen- tante para combater o desemprego e para preparar tamos nos levam a crer que os Centros Universitários mão-de-obra qualificada. Entretanto, apenas uma par- têm um papel importante neste contexto, notadamen- cela muito pequena dos jovens que terminam o ensi- te no que se refere a descentralização das ofertas de no médio consegue entrar nas universidades públicas ensino superior. brasileiras, o que seria uma “estatística da exclusão” pura e simples não fossem as novas alternativas que Os dados do gráfico acima (figura 1) nos vêm sendo oferecidas através dos Centros Universi- levam a concluir que os 10 anos de existência tários. dos Centros Universitários significam, portanto, a mais relevante ação implementada até hoje Sabemos que conseguimos atingir apenas a pon- pela diversificação do modelo nacional -de en ta do iceberg, uma vez que o ensino superior brasilei- sino superior. Significam, também, a ampliação ro só recebe hoje cerca de 11% dos jovens em idade das possibilidades de inclusão de um grande de fazer a graduação, enquanto na Coréia este índice número de estudantes que estariam alijados do é de 60%, na Espanha, de 50% e na vizinha Argentina, processo de formação educacional e profissio- de 35%. Numa época que passamos a chamar de so- nal, caso esta alternativa não lhes tivesse sido ciedade do conhecimento, é bastante temeroso para oferecida com segurança e qualidade ou caso um país ter 90% de sua juventude fora da formação as oportunidades de se graduar só estivessem adequada para a preparação de cidadãos qualificados disponíveis muito longe de suas regiões de re- para promoverem as mudanças e os avanços que a so- ferência, o que aumentaria o custo financeiro ciedade precisa. e humano a um ponto que seria inviável para Contudo, mesmo que saibamos que a política grande parte destas pessoas. educacional no país ainda precisa passar por novas re- O crescimento de 13,2% de alunos matriculados formulações que ampliem as possibilidades de cons- em cursos superiores, ocorrido entre 2005 e 2006, não trução de uma sociedade mais inclusiva, seria impor-

59 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

tante nos perguntarmos: a situação educacional do de acordo com as vocações e possibilidades de desen- Brasil seria a mesma sem os Centros Universitários? volvimento de cada uma delas. Entendemos que a resposta correta seria não, o A formação acadêmica oferecida pelos Centros Brasil não seria o mesmo sem os Centros Universitá- pode, portanto, dialogar de perto com o Estado, mer- rios. Como pretendemos demonstrar aqui, a concen- cado e sociedade civil, contribuindo assim com a ofer- tração de oportunidades de ensino superior nas capi- ta de cursos que correspondam ao futuro pelo qual al- tais da Região Sudeste do Brasil provocou, ao longo mejam nossos jovens estudantes, a verdadeira riqueza do tempo, uma carência de recursos humanos qualifi- de uma nação. cados, que dificulta enormemente o desenvolvimento sócio-econômico das outras regiões do país. Esta diferença vem sendo revertida principal- mente com a autonomia que cabe aos Centros Uni- versitários para modificarem com agilidade o retrato dos recursos humanos no país. Esta autonomia, na prática, se traduz numa dinâmica capaz de oferecer rapidamente as respostas por qualificação que as dife- rentes regiões têm e que são demandas diferenciadas,

60 PRIMEIRA PARTE

SITUAÇÃO GEOGRÁFICA E CONTEXTOS REGIONAIS DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS: A REGIÃO CENTRO-OESTE Getúlio Américo Moreira Lopes14(*)

CONSIDERAÇÕES GERAIS na conduta de gerações e mais gerações dos profissio- nais da educação, é de se notar que importantes exce- ções foram surgindo, quer no âmbito do Ministério A educação superior no Brasil esteve sempre funda- da Educação, quer no do Conselho Federal de Educa- mentalmente ligada à realidade de um centralismo ção, quer entre as próprias universidades brasileiras atroz, se desenvolvendo (sic) à custa de um voraz cor- e instituições isoladas de ensino superior, forçando porativismo, tendo como dirigentes de suas ações, de um pouco a “barra” do centralismo, do reacionarismo um lado o Ministério da Educação com seus variados das corporações, verdadeiros feudos encastelados em nomes ao longo dos anos, dependendo do enfoque meio à inércia da grande maioria dos educadores que político dado à sua atuação, e, de outro, o Conselho a tudo assistiam sem qualquer vislumbre de resistên- Federal de Educação, como órgão sacramentador cia ou oposição. do dirigismo absoluto exercido sobre a educação, É alentador relembrar, por exemplo, a pressão alicerçando-se na interpretação de leis retrógradas, exercida por grande parte da sociedade educacional marcantemente autoritárias, engessando o sopro de do País sobre os órgãos do Ministério da Educação e renovação e abafando as notáveis carreiras de edu- sobre o Conselho Federal e os Conselhos Estaduais, cadores que teimavam em dar ao ensino superior do clamando por alterações na condução dos processos País um sentido inovador e eficaz no desempenho de de autorização e reconhecimento de cursos, bem as- suas funções. sim pela maior flexibilidade na fixação do número de A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- alunos por sala e na criação de novos cursos, sem a nal, a de n.° 4.024, de 20 de dezembro de 1961, trouxe necessidade de cumprir um “calvário” de procedimen- algumas esperanças no que tange ao ensino superior. tos e atendimentos a normas de ensino esdrúxulas e Acabou com “as cátedras”, que eram a forma mais inconsistentes. autoritária de domínio das ciências, das letras e das artes, limitando os conteúdos das matérias de estudos a uma visão restritiva de conhecimentos, tidas como A BUROCRACIA DO MEC É SUFOCANTE imutáveis e plenamente insensíveis às mudanças que se operavam no campo sócio-econômico do país, e A burocracia do MEC é algo sobremodo sufo- colocou em seu lugar “os departamentos”, como um cante. À semelhança das normas obstaculizadoras arremedo de descontração do ambiente universitário, existentes nos procedimentos da Inquisição, Tribu- assegurando alguma liberdade aos educadores na nal Eclesiástico vigente na idade média, que julgava formulação dos currículos dos cursos, como se fosse os hereges e as pessoas suspeitas de heteredoxia em possível criar alguma identidade desses cursos diante relação ao catolicismo, felizmente há muito abando- das necessidades exigidas pela sociedade econômi- nado pela Igreja, os educadores brasileiros que se ca e social da nação, ante a exigência obrigatória de “aventuravam” na fundação de Instituições de ensi- um currículo mínimo de nível superior, que não dava no superior, cumpriam e ainda cumprem verdadeira margem a qualquer acréscimo, seja de conteúdo, de maratona para inovar alguns procedimentos a serviço conhecimentos ou de habilidades. de uma atuação consentânea com a modernidade de seu trabalho. Hereges, não podem nem insinuar mu- danças significativas na vida da instituição, sob pena O GOSTO PELA CULTURA DO DIRIGISMO de sofrerem as conseqüências da ameaça do descre- denciamento. É considerada verdadeira heterodoxia Enquanto se reconhece que havia entre as auto- falar-se em liberdade às instituições, no sentido de ridades e os educadores, de um modo geral, um gosto consagrar-lhe o real direito de dirigirem os seus pas- excessivo pela cultura do dirigismo, que se enraizou sos sem amarras, sem correntes vergastando-lhes sua destinação e sua história. É como se os empresários- 14 (*)Getúlio Americo Lopes é Reitor do UniCEUB

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educadores fossem todos criancinhas, irresponsáveis Portaria n° 2.175, de 27 de novembro de na condução de seus atos, porquanto ainda incompe- 1997, que tentes para discernir entre o certo e o errado. Quem Estabelece que as Universidades e Cen- sabe fazer isso com precisão e absoluta capacidade de tros Universitários integrantes do sistema acerto são os seus “tutores” ou responsáveis, que tra- federal de ensino, que obtiverem conceito zem na experiência a certeza dos fatos. Nem na vida A ou B na maioria dos indicadores de ava- liação dos cursos de graduação previstos real as coisas acontecem, exatamente assim, na rela- no Decreto n° 2.026, de 10 de outubro de ção de adultos e crianças. 1996, em dois anos consecutivos, ficam au- torizadas a abrir cursos de graduação fora de suas respectivas sedes, em quaisquer O SOPRO RENOVADOR NA LEGISLAÇÃO áreas do conhecimento, na mesma unida- de da federação em que tem sua sede auto- DE ENSINO NO BRASIL rizada, sem prévia consulta ao MEC. Publicado em: Sexta-feira, 28 de Novembro O fato é que é muito recente uma tomada de po- de 1997. sição assumida pelo Ministério da Educação, como se fosse um sopro alentador nesse intrincado pacotaço Decreto n° 4.914, de 11 de novembro de – petardo de leis e normas sobre ensino e educação 2003, que superiores no Brasil. Dispõe sobre os Centros Universitários de Com efeito, de 1997 para cá foram editados al- que trata o art. 11 do Decreto n° 3.860, de 9 de julho de 2001, e dá outras providên- guns instrumentos normativos que representaram um cias. “afrouxamento”, ainda muito manietado, mas nem por Publicado no Diário da União, Edição Ex- isso deixa de ser alvissareiro, em termos de descen- tra, de 12 de dezembro de 2003. tralização controlada da educação superior, a seguir: Publicado em: Sexta-feira, 12 de Dezembro Decreto n° 2.207, de 15 de abril de 1997, de 2003. que Regulamenta, para o Sistema Federal de A resistência é tão grande a essas inovações que Ensino, as disposições contidas nos arts. diversos organismos ainda criticam-nas e argúem a 19, 20, 45, 46 e § 1°, 52, parágrafo único, sua inconstitucionalidade. Como exemplo, cite-se a 54 e 88 da Lei n° 9.394, de 20 de dezembro criação dos Centros Universitários, em que muitos de 1996, que dispõe sobre a legislação de alegam terem vindo à luz através de Decreto, ins- instituições de ensino, autorização e reco- trumento legislativo de natureza complementar, por nhecimento de cursos e da adaptação da conseguinte inapropriado para regular matéria da legislação educacional da União, dos Es- tados, do Distrito Federal e Municípios às espécie, posto que se elevou o Centro à magnitude disposições da LDB, e dá outras providên- de Universidade, guardando poucas diferenças entre cias. si. Na verdade, por trás do argumento de técnica le- Publicado em: Quarta-feira, 16 de Abril de gislativa, o que se deseja, mesmo, é atacar o Centro 1997. Universitário em sua estrutura de instituição, com au- tonomia didática-acadêmica, à semelhança da que se Decreto n° 2.306, de 19 de agosto de 1997, concede às Universidades. que Regulamenta, para o Sistema Federal de Ensino, a classificação e as atribuições das entidades mantenedoras de instituições de AS PERSEGUIÇÕES AO ANTIGO CONSE- ensino superior, bem como a organização LHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO E O TRATA- acadêmica dessas instituições. MENTO DE DESCONFIANÇA AO SEGMEN- Publicado em: Quarta-feira, 20 de Agosto de 1997. TO PRIVADO DE ENSINO

Portaria n.° 2.041, de 22 de outubro de Não é fácil esquecer as perseguições de que foi 1997, que alvo o Conselho Federal de Educação, enquanto ór- Define critérios adicionais aos já obtidos gão público, e os seus conselheiros, como via de con- na legislação vigente, de organização insti- seqüência da atuação desabrida e modernista de al- tucional para o Centros Universitários. guns de seus membros, confundidos como suspeitos Publicado em: Quinta-feira, 23 de Outubro de praticarem atos de corrupção no órgão, pelo sim- de 1997. ples fato de terem liberado, para aprovação, com mais celeridade, processos de Centros Universitários ou de

62 PRIMEIRA PARTE

Universidades dentro da visão inovadora e progressis- educacionais, no Brasil e no mundo, especialmente na ta da análise de seus projetos. Com efeito, bastou que América Latina, acabando por renderem-se à evidên- alguns desses luminares da educação agissem com cia de uma nova era, a da revolução do conhecimento, flexibilidade no exame dos projetos de autorização em substituição à da revolução industrial. Em outras ou reconhecimento de cursos, liberando-os, a seguir, palavras: a era industrial reservava aos estabeleci- para logo receberem a pecha de “vendilhões da coisa mentos de ensino superior um papel de valorização pública”, como se a competência, a aguda sensibili- dos produtos. Nessa relação o aluno exercia um de- dade desses mestres de notório saber em matéria de sempenho secundário. No processo ensino-aprendiza- ensino, fosse um “pecado” mortal. gem era ele mero instrumento a serviço da excelência A fúria governamental, de parte significativa do produto industrial, essencial para o fortalecimento de autoridades infensas por mudanças, aliada a forte da economia e dos mercados. Tudo quanto o alunado substrato de reacionarismo das camadas mais cor- deveria fazer era exibir boa performance acadêmica porativas da educação no Brasil, seja as infiltradas para assegurar ao mercado capacidade de circulação no MEC, seja as localizadas nas universidades com eficiente de suas mercadorias, elevando os índices de incursões na gestão administrativo-acadêmica das rentabilidade global em proveito da economia de mer- instituições isoladas de ensino superior, notadamente cado, como agente passivo desse intercâmbio escola- nas privadas, encarregou-se de boicotar ou retardar a sociedade, já que o resultado, a qualidade do produto, implantação de mecanismos na legislação brasileira, se impunha por si mesmo. que configurassem “liberdade de gestão” dos estabe- O enfoque, agora, é outro. O conhecimento ele- lecimentos de ensino superior, assegurando-lhes os vou-se ao patamar de elemento controlador político e instrumentos capazes de criar novos direcionamentos econômico da sociedade, e tornou-se instrumento de da educação, preparando os recursos humanos indis- mobilidade social, de transformação organizacional pensáveis ao desenvolvimento nacional. e de revolução cultural. Substancial, como premissa Como foi difícil para muitos educadores, os cha- de aprendizagem, é o aprender a fazer, o aprender a mados progressistas, manterem-se ilesos, a salvo das conhecer, para, em seguida, aprender a ser. O aluno, desconfianças, diante da implacável ação dos fazedo- neste sentido, é parte integrante do produto final, seja res de “crises” e do inconformismo desses persona- da indústria ou da construção de idéias. Ele, aluno, gens com uma política de distenção do MEC e de seus passa a ser o agente ativo da relação escola-sociedade. órgãos, notoriamente o Conselho, já transformado em Isto muda tudo. O conhecimento, com efeito, é o elo Conselho Nacional de Educação! propulsor da nova sociedade, verdadeiro balizamento de sua marcha inevitável para fazer da nação brasi- A extinção do Conselho Federal de Educação leira um país progressista, emergente, com ares de para dar lugar ao Conselho Nacional de Educação, é primeiro mundo. como um “recado” aos conselheiros do antigo órgão, como se todos fossem “suspeitos” de uma atuação vi- Os Centros Universitários, desde a sua criação, ciada, comprometedora da inteligentzia educacional viraram uma página obscura da educação brasileira brasileira, que sempre viu um caminho a percorrer, e deram início a uma nova fase de gestão e adminis- a seguir sem titubeios, no tratamento de desconfiança tração acadêmica da educação no País, com inteligên- do segmento privado de educação, a forma objetiva cia, ética e, sobretudo, com muita eficiência. E isto de exprimir seus ideais equivocados de educação. A não ocorreu por acaso . Foi graças às modificações premissa mais verdadeira, para esse segmento, era a introduzidas na legislação brasileira de ensino, com de que a iniciativa privada não mantinha compromisso o funcionamento dos Centros Universitários, que nu- com a qualidade de ensino, nem tampouco respeitava merosos educadores, com efetiva liberdade, puderam a legislação de ensino em sua inteireza. Uma tremen- inovar nos procedimentos educacionais, nos currícu- da injustiça com o setor privado. los, nas atividades, de modo geral, postas em prática nas diversas unidades de ensino superior do gênero Centro.

A NOVA ERA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL – NOVOS PARADIGMAS

Felizmente, os conservadores da educação, os que distorcem a realidade dos fatos, até por uma questão de hábito enraizado profundamente em suas culturas, estão sofrendo pesadas baixas nos dias atu- ais, cedendo à força das mudanças dos paradigmas

63 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

Dados demográficos do Brasil na época da fundação dos Centros Universitários

Tabela 5 – Crescimento absoluto, participação relativa e taxa média geométrica de crescimento anual para a capital e o interior das Grandes Regiões e unidade da Federação – 1991/2000 (continua) Grandes Regiões Crescimento Absoluto Participação relativa (%) E 1991/2000 1991 Unidades da Federação Total Capital Interior Capital Interior Centro-Oeste 2.189.144 828.811 1.360.333 36,60 63,40 Mato Grosso do Sul 294.504 136.408 158.096 29,55 70,45 Mato Grosso 475.029 80.231 394.798 19,87 80,13 Goiás 977.536 170.097 807.439 22,91 77,09 Distrito Federal 442.075 442.075 - 100,00 - Dinâmica da População Brasileira: Fonte – IBGE.

Tabela 5 – Crescimento absoluto, participação relativa e taxa média geométrica de crescimento anual para a capital e o interior das Grandes Regiões e unidade da Federação – 1991/2000 (conclusão) Grandes Regiões Participação relativa (%) Taxa média geométrica de E 2000 crescimento anual (%) 1991/2000 Unidades da Capital Interior Total Capital Interior Federação Centro-Oeste 36,84 63,16 2,37 2,44 2,33 Mato Grosso do Sul 31,93 68,07 1,73 2,62 1,34 Mato Grosso 19,30 80,70 2,39 2,06 2,47 Goiás 21,83 78,17 2,47 1,92 2,63 Distrito Federal 100,00 - 2,77 2,77 - Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991-2000 Notas: 1 – As informações de 1991 foram compatibilizadas segundo a malha territorial de 2000 2 - Os dados comparativos referem-se aos resultados definitivos dos respectivos censos até 1991

Distribuição Geográfica dos Centros Universitários – Região Centro-Oeste – 2007 Origem Unidades da Federação Centros Universitários Privada Pública Mato Grosso do Sul  Centro Universitário de Campo Grande – UNAES. X  Centro Universitário da Grande Dourados – X UNIGRAN. X Matro Grosso  Centro Universitário de Várzea Grande – UNIVAG. X  Centro Universitário Cândido Rondon – X UNIRONDON. X Goiás  Centro Universitário de Anápolis – UNIEVANGÉLICA. X  Centro Universitário de Goiás – UNIGOIÁS.  Centro Universitário de Desenvolvimento do Centro- X Oeste – UNIDESC. X  Centro Universitário de Brasília – UniCEUB. X Distrito Federal  Centro Universitário Euro-Americano – UNICEURO. X  Centro Universitário do Distrito Federal – UniDF.  Centrpo Universitário Planalto do Distrito Federal – UNIPLAN. TOTAL 11 Fonte: ANACEU – 2007.

Note-se que não há Centros Universitários públicos. A participação relativa das capitais brasileiras no País apresentou uma discreta redução em relação ao Censo Demográfico 1991, passando de 23,92% para 23,82%. As capitais da Região Sudeste concentram cerca de 46,50% da população das capitais brasileiras, mas essa participação vem declinando ao longo do tempo, cedendo

64 PRIMEIRA PARTE

importância às capitais das demais regiões. A elevada concentração da população em algumas das capitais brasileiras constituiu um fato de grande importância, sobretudo em alguns estados da Região Norte, que no passado apresentavam uma baixa ocupação populacional. Em Roraima e Amapá, em 1970, pelo menos dois terços da população vivia na capital. Importantes capitais brasileiras, tradicionalmente conhecidas como áreas de atração migratória, como Rio de Janeiro e São Paulo, também apresentavam forte concentração dentro do estado. Entretanto, essa característica vem se alte- rando ao longo das décadas. Assim, grandes centros urbanos como Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e , bem como as outras capitais da Região Sudeste vêm reduzindo a sua participação dentro de seus respectivos estados. Este fato ocorreu em algumas das chamadas regiões de fronteira agrícola. Estas observações são do IBGE.

CONCENTRAÇÃO DA POPULAÇÃO

Participação relativa da população das Grandes Regiões e Unidades da Federação no total do País

As informações provenientes do Censo Demográfico 2000 mostraram que as três regiões mais populosas continuam sendo as Regiões Sudeste, Nordeste e Sul. Entre as duas menos populosas, Norte e Centro-Oeste, manteve-se a mudança de posição observada em 1991. A Região Centro-Oeste, que desde meados do Século XX apresentava o menor volume populacional, a partir de 1960, passou a ocupar a penúltima posição, mantendo-se nela até 1980. Como conseqüência das alterações político-administrativas2 ocorridas no período de 1980-1991, voltou a ocupar a última posição e nela permaneceu no último período (1991-2000).

Tabela 6 – Participação relativa da população residente das Grande Regiões no total do País - 1950/2000 Grandes Participação relativa (%) Regiões 1950 1960 1970 1980 1991 2000 Brasil 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 Norte 3,53 3,66 3,87 5,56 6,83 7,60 Nordeste 34,64 31,66 30,18 29,25 28,94 28,12 Sudeste 43,41 43,71 42,79 43,47 42,73 42,63 Sul 15,09 16,77 17,71 15,99 15,07 14,79 Centro-Oeste 3,33 4,20 5,45 5,72 6,42 6,85 Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1980-2000 Notas: 1 – Até o ano de 1980 as informações referem-se à divisão político-administrativa vigente no país na época do Censo Demográfico de 1980 2 - Os dados comparativos referem-se aos resultados definitivos dos respectivos censos até 1991

As Regiões Norte e Centro-Oeste continuaram aumentando a representatividade no crescimento popu- lacional, cabendo destacar a ininterrupta tendência de incremento das suas participações relativas no total do País, desde a década de 50. Enquanto isso, as Regiões Sudeste e Sul praticamente mantêm a mesma par- ticipação em meio século. A Região Nordeste, que possui o segundo maior contingente populacional do País, mantém a tendência de declínio em sua participação nacional. A participação relativa da população das Grandes Regiões no total do País revela, de outra forma, as constatações anteriores, devendo-se destacar que a Sudeste e o Nordeste sempre apresentaram as maiores proporções de população. Entretanto, os percentuais observados em 2000 são os mais baixos registrados em todo o período de estudo.

65 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

Gráfico 7 - Participação relativa da população residente Janeiro e Paraná. das Grandes Regiões no total do país - 1950/2000

50 Número de municípios e os mais populosos 45 40 35 1950 No Censo Demográfico 2000 foram pesquisados 30 1960 5.507 municípios dos quais a participação relativa das 25 Regiões Nordeste (32,45%), Sudeste (30,25%), Sul 20 1970 15 (21,05%) e Centro-Oeste (8,10%) foi inferior àquelas 1980 10 calculadas com os 4.491 municípios existentes no 5 1991 0 Censo Demográfico 1991. A Região Norte destacou- 2000 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro- se com 8,15% dos municípios no Censo Demográfico Oeste Fonte: IB GE . Cens o Demográfico 1950- 2000, sendo essa participação 6,64%, em 1991. Portan- to, o País, nesses últimos nove anos, foi contemplado A análise dos dados censitários de 2000 permite com 1.016 novos municípios. Assim, no que se refere verificar que os estados mais populosos do Brasil são, ao crescimento em número de municípios, a Região por ordem, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Sul apresentou o maior incremento absoluto (286). Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná, concentrando, em Entretanto, em termos de crescimento relativo, o des- conjunto, 60,14% da população total do País. Os cinco taque foi para a Região Norte, cabendo ao Estado de primeiros mantêm essa posição desde 1940, à exceção Rondônia o maior crescimento relativo em número de do Paraná, que a partir de 1950, ocupa a posição que municípios (126,09%). anteriormente pertencia ao Estado de Pernambuco. Do conjunto de 15 municípios mais populosos, No período de 1991-2000, o estado de maior 13 apresentaram população superior a 1 milhão de crescimento populacional, em termos absolutos, foi habitantes, em 2000, e reuniam 36,2 milhões de pes- São Paulo (5 380 551 habitantes), seguido de Minas soas que correspondem a 21,36% da população total Gerais, Rio de Janeiro, Pará, Paraná, Ceará e Rio do País. Os cinco municípios mais populosos foram: Grande do Sul, que, conjuntamente, responderam por São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte 64,60% do aumento total. Dentre os que tiveram maior e Fortaleza. Estes municípios concentram 13,60% da crescimento populacional nesse último período, a população do Brasil, e, particularmente, o Município maioria apresentou incremento populacional inferior de São Paulo concentrou 6,14% do efetivo populacio- ao observado no período de 1980-1991, exceto Rio de nal do País, ou seja, 10.405.867 pessoas.

Tabela 7 – População residente, crescimento absoluto, participação relativa, e taxa média geométrica de crescimento anual nos municípios mais populosos – 1991/2000 Participação relativa em Taxa média População residente Crescimento relação ao total (%) geométrica Municípios mais Absoluto Do país Do estado de populosos crescimento 1991 2000 1991/2000 1991 2000 1991 2000 anual (%) 1991/2000 São Paulo 9.646.185 10.405.867 759.682 6,57 6,14 30,54 28,15 0,85 Rio de Janeiro 5.480.768 5.851.914 371.146 3,73 3,45 0,43 0,41 0,74 Salvador 2.075.273 2.440.828 365.555 1,41 1,44 17,49 18,68 1,84 Belo Horizonte 2.020.161 2.232.747 212.586 1,38 1,32 12,83 12,50 1,13 Fortaleza 1.768.637 2.138.234 369.597 1,20 1,26 27,78 28,82 2,15 Brasilia 1.601.094 2.043.169 442.075 1,09 1,20 100,00 100,00 2,77 Curitiba 1.315.035 1.586.848 271.813 0,90 0,84 15,56 17,97 2,13 Recife 1.298.229 1.421.993 123.764 0,88 0,84 18,21 17,97 1,03 Manaus 1.011.501 1.403.796 392.295 0,69 0,83 48,09 49,90 3,74 Porto Alegre 1.251.885 1.360.033 108.148 0,85 0,80 13,70 13,36 0,93 Belém 1.080.692 1.279.861 199.169 0,74 0,75 21,83 20,68 1,92 Goiânia 920.640 1.090.737 170.097 0,63 0,64 22,91 21,83 1,92 Guarulhos 787.866 1.071.268 283.402 0,54 0,63 2,49 2,90 3,51 Campinas 847.595 968.172 120.577 0,58 0,57 2,68 2,62 1,50 Nova Iguaçu 772.399 915.366 142.967 0,53 0,54 6,03 6,37 1,92 Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991-2000. Nota: 1- As informações de 1991 foram compatibilizadas segundo a malha territorial de 2000. 2- Os dados comparativos de 1991 referem-se aos resultados definitivos

66 PRIMEIRA PARTE

Uma medida da concentração da população dos Centros Universitários por unidades da Federa- municipal ção da Região Centro-Oeste, hoje, é preocupante, na medida em que se constata que tanto a iniciativa públi- O método utilizado para mensurar o grau de ca como a privada, não vêm recorrendo à flexibiliza- concentração populacional na ocupação do espaço ge- ção dada pelo MEC, para fundar ou criar centros, cuja ográfico foi o Índice de Gini3, e em nível nacional a po- estrutura acadêmica e administrativa é fundamental pulação do Brasil continua em processo de ocupação para a garantia de currículos modernos, de uma ex- desse espaço, conforme revela o índice para o Brasil, pansão ordenada dos cursos e serviços educacionais que passou de 0,6835, em 1991, para 0,6982, em 2000. oferecidos por suas unidades de ensino, em nível de Em termos regionais, o maior aumento do índice cou- graduação, extensão e pós-graduação, ou até mesmo be à Região Sul, seguidas da Nordeste, Centro-Oeste para a criação de mecanismos inovadores, que extra- e Sudeste, enquanto na Região Norte não houve prati- polem o convencional admitido, ordinariamente, para camente alterações no grau de e de 1991-2000. o ensino superior, dando margem à celebração e con- solidação de utopias, tão ausentes, há muitas décadas, A Curva de Lorenz calculada revelou que em do nosso sistema de educação particular ou pública. 2000 existiu um maior grau de concentração popula- cional em alguns municípios quando comparada com É preciso mais ousadia da parte da iniciativa a curva do Censo Demográfico 1991. pública e privada, para fundar mais Centros Univer- sitários, que se incorporem aos já existentes com o compromisso de alavancar as bases culturais e sócio- econômicas da Região Centro-Oeste, contribuindo, com criatividade, arrojo e perseverança, para o cresci- mento da região e do País.

Características essenciais do planejamento para os Centros Universitários da região

1. - Premissa fundamental na política do Centro, é partir de uma visão realista das características do sistema de ensino em que está inserido, dos proble- mas nele existentes e dos recursos disponíveis para suplantá-los ou resolvê-los. 2. - Melhoria constante da qualidade do ensino e Comentários aos dados do IBGE dos serviços das Instituições, em pleno atendimento à função basilar do Centro Universitário definida em Os indicadores econômico-sociais do IBGE que normas de sua criação. estão transcritos nas páginas anteriores, são um re- 3.- Redução inteligente dos custos das mensali- ferencial importante para traduzir o progresso da dades e dos serviços relativos à graduação. É possí- Região Centro-Oeste em comparação com as demais vel reduzir, sensivelmente, os custos da mensalidade, do País, na época da fundação dos Centros Universitá- sem prejuízo da qualidade do trabalho desenvolvido rios. Nos dias de hoje a situação é bem diferente. pela Instituição, conjugando fatores, como relação De outra parte, convém ressaltar que a pesquisa aluno-sala, formação de turmas agrupadas por disci- do IBGE refere-se à faixa 1991/2000. Por conseguin- plinas comuns às áreas de conhecimento, etc. te, há uma defasagem de quase 8 anos em todos os 4. - Diversificação das ofertas de cursos -e ser dados coletados, o que configura alterações substan- viços, adequando-os à heterogeneidade da demanda, ciais comparadas aos dias de hoje, e o que, por si só, obedecendo a um plano de pesquisas permanentes já elimina a possibilidade de estudos, com base nelas, para auscultar a preferência da população, seus pro- com vistas ao planejamento de ensino dos Centros blemas sociais mais comuns e sua capacidade de fi- Universitários para os dias atuais e subseqüentes. nanciamento de seus estudos. Todavia a pesquisa se reduz, nesse caso, a mero indi- 5. - Gestão inteligente na dimensão acadêmica, cador, até certo ponto válido, considerando-se que os administrativa e financeira da Instituição, garantido a fenômenos sociais avançam em função de uma freqü- eficiência, presteza e qualidade científica e técnica do ência com poucas variações. ensino e das atividades que lhe são correlatas. De qualquer sorte, o quadro com a distribuição 6. - Contribuição, de forma pragmática, para que

67 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

o Plano Pedagógico da Instituição, seja no nível de programas das disciplinas ou no de definição dos projetos de extensão e de pesquisa, contemple ações para a redução dos desequilíbrios regionais e das desigualdades sociais, bem assim inclua a gestão sustentável do meio ambiente e dos recursos naturais do Centro-Oeste em toda a sua estrutura. 7. - A Pós-graduação, excelente fonte de renda, quer na iniciativa privada ou na pública, deve ser incre- mentada com os cuidados que a natureza de seu ensino requer, mas deve repousar em bases sólidas, tanto na adequada oferta de cursos, como na seleção de seu corpo docente, oferecendo-se à comunidade um ensino de pós-graduação stricto sensu ou lato sensu de altíssima qualidade. A formação de pesquisadores, mestres ou doutores, e de especialistas, é coisa muito séria e há de louvar-se em estudos da própria Instituição, dirigidos a esse fim, ou à CAPES/MEC, órgão público de notável experiência no setor. 8. – Infra-estrutura adequada como: instalações dos espaços de salas de aula e de outras atividades cons- tantes do Plano Pedagógico da Instituição; salas ambientes para laboratórios e bibliotecas com todos os equipa- mentos modernos de informática a serviço de alunos, professores e comunidade.

CURSOS OFERECIDOS PELOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS DA REGIÃO CENTRO-OESTE

Centro Universitário de Brasília – UniCEUB Reitor: Getúlio Américo Moreira Lopes Cursos oferecidos Administração Arquitetura Biologia (licenciatura e bacharelado) Biomedicina Ciências da Computação Ciências Contábeis Comunicação Social 1. Habilitação – Jornalismo 2. Habilitação – Comunicação e Marketing (a partir de 1/2008) 3. Habilitação – Publicidade e Propaganda

Curso Superior de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas Curso Superior de Tecnologia em Audiovisual e Cinema (a partir de 1/2008) Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Pequenas e Médias Empresas e Empreendedorismo Direito Educação Física (licenciatura e bacharelado) Enfermagem Engenharia de Computação Fisioterapia Geografia (licenciatura e bacharelado) História Letras 1. Habilitação – Português/espanhol (licenciatura) 2. Habilitação – Português/Inglês (licenciatura) 3. Habilitação – Português/Português (licenciatura) Pedagogia 1. Habilitação – Formação de professores para a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental Psicologia Relações Internacionais

Centro Universitário Cândido Rondon – UNIRONDON

Reitora: Profª MS. Luzia Guimarães Cursos oferecidos Administração Biomedicina Ciências Biológicas Ciências Contábeis Ciência da Computação Comunicação Social

68 PRIMEIRA PARTE

Jornalismo Publicidade e Propaganda Curso Superior de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas Curso Superior de Tecnologia em Gestão Comercial Curso Superior de Tecnologia em Gestão em Financeira Curso Superior de Tecnologia em Negócios Imobiliários Curso Superior de Tecnologia em Radiologia Curso Superior de Tecnologia em Secretariado Curso Superior de Tecnologia em Segurança da Informação Direito Enfermagem Pedagogia Magistério Séries Iniciais do Ensino Fundamental e Supervisão Escolar Pedagogia - Gestão de Ensino à Distância Química Turismo

Centro Universitário da Grande Dourados - UNIGRAN

Reitora: Rosa Maria D’Amato de Déa Cursos oferecidos Administração(EAD) Administração Administração de Agronegócios Agronomia Arquitetura e Urbanismo Artes Visuais Biomedicina Ciências Biológicas Bacharelado em Meio Ambiente Ciências Biológicas Ciências Contábeis Ciências Contábeis (EAD) Ciência da Computação Comunicação Social Jornalismo Comunicação Social - Publicidade e Marketing Curso Superior de Tecnologia em Agronomia Curso Superior de Tecnologia em Agropecuária Curso Superior de Tecnologia em Estética e Cosmetologia Curso Sup.de Tec.em Gestão da Qualidade em Manejo e Nutrição Animal Curso Superior de Tecnologia em Gestão Imobiliária Curso Superior de Tecnologia em Produção Publicitária Curso Superior de Tecnologia em Produção Publicitária Direito Educação Física Enfermagem Farmácia Fisioterapia Letras Português e Literaturas da Língua Portuguesa LETRAS (ead) Português e Literaturas de Língua Portuguesa

69 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

Matemática Medicina Veterinária Nutrição Odontologia Pedagogia Magistério da Educação Infantil e Gestão Escolar Pedagogia – Licenciatura Pedagogia (Ed) Psicologia Formação de Psicólogo Psicologia Serviço Social Teologia – EAD Turismo Cursos Seqüenciais Curso Sequencial de Formação Específica em Gestão Imobiliária Curso Sequencial de Formação Específica em Manejo e Nutrição Animal Curso Sequencial de Formação Específica em Publicidade e Marketing

Centro Universitário de Anápolis - UniEVANGÉLICA

Reitor: Carlos Hassel Mendes da Silva Cursos oferecidos Administração Administração de Empresas Finanças Gestão Hoteleira Marketing Recursos Humanos Biologia Ciências Matemática Ciências Sociais Ciência da Computação Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia Curso Superior de Tecnologia em Gestão Financeira Curso Superior de Tecnologia em Radiologia Direito Educação Física Enfermagem Farmácia e Bioquímica Fisioterapia Geografia História Letras Português/Espanhol e Respectivas Literaturas Português/Inglês e Respectivas Literaturas Odontologia Pedagogia Magistérios das Séries Iniciais do Ens.Fund. e Gestão Educacional Magistério das Matérias Pedagógicas 2º Grau e Administração Escolar Química Sistemas de Informação

70 PRIMEIRA PARTE

Cursos Seqüenciais Controladoria Empresarial Gastronomia e Gestão de Serviços da Alimentação Gestão Empresarial Higiene Dental e Gestão de Serviços Odontológicos Prótese Odontológica Relações Públicas - Gestão de Eventos, Etiqueta e Cerimonial

Centro Universitário de Campo Grande - UNAES

Reitor: João Leopoldo Samways Filho Cursos oferecidos Ciências Contábeis Ciências Econômicas Ciência da Computação Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Mecânica de Automóveis Curso Superior de Tecnologia em Gestão Pública Curso Superior de Tecnologia em Sistemas para Internet(Agrupamento de Área Profissional: Informática e de Telecomunicações) Design de Moda Direito Engenharia de Produção Hotelaria Pedagogia Administração Escolar do Ensino Fundamental e Médio Magistério das Matérias Pedagógicas do Ensino Médio Psicologia Relações Internacionais Centro Universitário de Desenvolvimento do Centro Oeste - UNIDESC

Reitor: Carlos Antônio Ferreira Dias Cursos oferecidos Administração Administração de Empresas Artes Ciências Biológicas Ciências Contábeis Ciências da Computação Ciências Econômicas Ciência Política Computação Design de Moda Direito Filosofia Geografia História Hotelaria Letras Espanhol Inglês Português Matemática Medicina Veterinária

71 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

Normal Superior Magistério da Educação Infantil Magistério para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental Pedagogia Gestão Escolar e Empresarial Magistério das Matérias Pedagógicas 2º Grau Publicidade e Propaganda Relações Internacionais Relações Públicas Secretariado Executivo Serviço Social Teologia Turismo Cursos Seqüênciais Curso Superior em Formação Específica em Alfabetização Curso Superior em Formação Específica em Auditoria Curso Superior em Formação Específica em Banco de Dados Curso Superior em Formação Específica em Design de Bijuterias e Jóias Curso Superior em Formação Específica em Design de Interiores Curso Superior em Formação Específica em Empreendedorismo Curso Superior em Formação Específica em Gestão Comercial Curso Superior em Formação Específica em Gestão Estratégica de Vendas

Centro Universitário de Goiás - Uni-ANHANGÜERA

Reitor: Jovenny Sebastião Cândido de Oliveira Cursos oferecidos Administração Agronomia Ciências Biológicas Ciências Contábeis Ciências Econômicas Computação Comunicação Social Jornalismo Publicidade e Propaganda Relações Públicas Curso Superior de Tecnologia em Desenvolvimento de Software para Internet (Área Profissional: Informática) Curso Superior de Tecnologia em Eventos e Cerimonial (Área Profissional: Turismo e Hospitalidade) Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental (Área Profissional: Meio Ambiente e Tecnologia da Saúde) Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Agronegócios(Área Profissional: Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Controle de Qualidade Higiênico-Sanitário de Alimentos(Área Profissional:Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Pequenas e Médias Empresas (Área Profissional: Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Pessoas (Área Profissional: Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Saúde (Área Profissional: Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Segurança Pública Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Tecnologia da Informação Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Varejo(Área Profissional: Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Vendas (Área Profissional: Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Gestão Imobiliária (Área Profissional: Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Gestão Pública e Planejamento Municipal (Área Profissional: Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Logística e Distribuição (Área Profissional: Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Marketing(Agrupamento de Áreas Profissionais: Comércio e Gestão)

72 PRIMEIRA PARTE

Curso Superior de Tecnologia em Processamento de Dados (Área Profissional: Informática) Curso Superior de Tecnologia em Redes de Comunicação (Área Profissional: Informática) Design Direito Educação Física Enfermagem Engenharia Ambiental Engenharia de Alimentos Engenharia de Computação Farmácia Física Fisioterapia Fonoaudiologia Geografia História Letras Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Respectivas Literaturas Matemática Normal Superior Magistério da Educação Infantil Magistério dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental Nutrição Pedagogia Docência para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental Gestão Educacional Tecnologias Educacionais Química Relações Internacionais Serviço Social Sistemas de Informação Terapia Ocupacional Turismo Cursos Seqüenciais Cálculo Trabalhista e Previdenciário Gestão da Comunicação Visual Gestão de Call Center e Contact Center Gestão de Empresa de Segurança Gestão de Empresas de Moda Gestão de Endomarketing Gestão de Instituições de Educação Infantil Gestão de Negócios do Terceiro Setor Gestão de Pequenas Empresas Gestão de Segurança Pública Gestão de Vendas Linux e Aplicativos Livres Marketing de Relacionamento Programação Web Regulamentação Ambiental

73 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

Centro Universitário de Várzea Grande - UNIVAG Reitor: Drauzio Antonio Medeiros

Cursos oferecidos Administração Comércio Exterior Agronomia Ciências Biológicas(Proed) Ciências Biológicas Ecologia Ciências Contábeis Comunicação Social Publicidade e Propaganda Relações Públicas Curso Superior de Tecnologia em Agronegócio(Agrupamento de Áreas Profissionais: Agropecuária e de Recursos Pesqueiros) Curso Superior de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas(Agrupamento de Área Profissional: Informática e de Telecomunicações) Curso Superior de Tecnologia em Estética e Cosmetologia Curso Superior de Tecnologia em Gestão Comercial Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Planejamento e Marketing e Vendas (Área Profissional: Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Segurança Privada(Agrupamento de Áreas Profissionais: Comércio e Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Gestão Financeira Curso Superior de Tecnologia em Gestão Pública (Agrupamento de Áreas Profissionais:Comércio e Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Marketing (Agrupamento das Áreas Profissionais: Comércio e Gestão) Direito Docência de Ciências Humanas Educação Física Enfermagem Engenharia Ambiental Engenharia de Alimentos Farmácia Fisioterapia Fonoaudiologia Geografia(Proed) Geografia História(Proed) História Letras(Proed) Português/Espanhol Português/Inglês Letras Português/Espanhol e Respectivas Literaturas Português/Inglês e Respectivas Literaturas Matemática(Proed) Matemática Odontologia Pedagogia(Proed) Magistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental Magistério da Educação Infantil Pedagogia Magistério das Séries Iniciais do Fundamental Magistério da Educação Infantil

74 PRIMEIRA PARTE

Pedagogia Na Empresa Psicologia, Modalidade Formação de Psicólogo Serviço Social Sistemas de Informação Turismo Centro Universitário do Distrito Federal - UniDF

Reitor: Linaldo Jose Malveira Alves Cursos oferecidos Administração Ciências Atuariais (Com Ênfase em Seguridade Social) Ciências Contábeis Ciências Econômicas Ciência Política (Com Ênfase em Políticas Públicas) Direito Pedagogia Administração Escolar de 1º e 2º Graus Magistério das Matérias Pedagógicas 2º Grau Relações Internacionais (Com Ênfase em Segurança Internacional) Sistemas de Informação (Com Ênfase em Segurança Digital) Sociologia (Com Ênfase em Desenvolvimento Sustentável) Centro Universitário Euro-Americano - UNIEURO Reitor: Luiz Roberto Liza Curi

Cursos oferecidos Administração Arquitetura e Urbanismo Ciências Contábeis Comunicação Social Jornalismo Publicidade e Propaganda Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia Curso Superior de Tecnologia em Gestão Corporativa Curso Superior de Tecnologia em Gestão da Tecnologia da Informação Curso Superior de Tecnologia em Gestão Financeira Curso Superior de Tecnologia em Gestão Hospitalar Curso Superior de Tecnologia em Gestão Públicas Curso Superior de Tecnologia em Negócios Imobiliários Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais Curso Superior de Tecnologia em Redes de Computadores Curso Superior de Tecnologia em Design de Interiores Direito Educação Física Enfermagem Farmácia Fisioterapia Nutrição Relações Internacionais Sistemas de Informação Turismo

75 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

Centro Universitário Planalto do Distrito Federal - Uniplan - UNIPLAN

Reitor: Yugo Okida Cursos oferecidos Administração Ciências Econômicas Ciência da Computação Comunicação Social Publicidade e Propaganda Curso Superior de Tecnologia em Comércio Exterior (Área Profissional: Comércio) Curso Superior de Tecnologia em Comunicação Empresarial (Área Profissional: Comunicação) Curso Superior de Tecnologia em Comunicação e Ilustração Digital (Área Profissional:Comunicação) Curso Superior de Tecnologia em Design Gráfico(Agrupamento de Áreas Profissionais: Artes, Comunicação e Design) Curso Superior de Tecnologia em Eventos (Área Profissional: Turismo e Hospitalidade) Curso Superior de Tecnologia em Gestão da Tecnologia da Informação(Agrupamento de Áreas Profissionais: Infomática e Telecomunicação) Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Empreendimentos Esportivos (Área Profissional: Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos (Área Profissional: Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Gestão Empreendedora (Área Profissional: Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Gestão Hospitalar (Área Profissional: Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Gestão Mercadológica (Área Profissional: Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Marketing(Agrupamento de Áreas Profissionais: Comércio e Gestão) Curso Superior de Tecnologia em Multimídia, (Área Profissional: Comunicação) Curso Superior de Tecnologia em Produção Multimídia(Agrupamento de Áreas Profissionais: Artes, Comunicação e Design) Curso Superior de Tecnologia em Redes de Computadores (Agrupamento de Áreas Profissionais: Informática e Telecomunicação) Curso Superior de Tecnologia em Sistemas de Informação Curso Superior de Tecnologia em Turismo Receptivo (Área Profissional: Turismo e Hospitalidade) Direito Farmácia Farmaceutico-Bioquimico Fonoaudiologia Pedagogia Educação de Deficientes da Audiocomunicação Turismo

A RICA ATIVIDADE DE ATUAÇÃO DOS MEC, do desempenho das Instituições dentro de um CENTROS UNIVERSITÁRIOS DO CENTRO- padrão de excelência dos seus serviços, é significa- OESTE JUNTO À COMUNIDADE tivo notar o quanto este trabalho é importante para os alunos e os professores, pelo contato que lhes é Por se tratar de uma região com forte potencial proporcionado com realidades multifacetadas, condu- sócio-econômico-cultural, é muito grande o campo zindo-os à aquisição de conhecimentos e experiências que se oferece à pesquisa, à extensão, para consagrar que, sem dúvida, se traduzem pela responsabilidade um dos pilares da função universitária que é levar às e fundo comprometimento dos agentes neles envolvi- comunidades, notadamente às mais carentes, serviços dos, com o social, com a ética e com a justiça. e orientações destinadas à melhoria da qualidade de vida da comunidade e à promoção da saúde, ao lado de iniciativas variadas de cunho cultural e social. A Pesquisa e a Iniciação Científica Sabe-se que a extensão tem caráter político-so- cial. A par dos benefícios que são prestados à comu- A pesquisa e a Iniciação Científica constituem nidade, mercê de uma gestão firme, ordenada e inte- campos estrategicamente essenciais a serem traba- ligente destas ações, tendo por fonte o trabalho dos lhados pelos Centros Universitários da Região Centro- Centros, à guisa de cumprimento da “extensão univer- Oeste, e o são, efetivamente, do que dão testemunho sitária”, um dos fatores relevantes para aferição, pelo eloqüente os resultados fartamente divulgados pela

76 PRIMEIRA PARTE

mídia em toda a região e, até, pelo próprio MEC, em tos de ponta e com professores-orientadores, prestan- diferentes situações de difusão de excelência dos tra- do assistência judiciária gratuita a milhares de pesso- balhos nesse setor desenvolvido pelas Instituições. as, fazendo-o com zelo e apurada técnica jurídica. O A pesquisa e a Iniciação Científica, são importan- seu Serviço de Orientação Psico-pedagógica, tem uma tes instrumentos de integração da produção científica tradição tanto na Capital, quanto em suas redondezas, com a graduação e com as iniciativas de melhoramen- de atuação eficiente junto às camadas populacionais to, articulação e criação dos Planos de Extensão e de mais carentes, de orientação psico-pedagógica, tam- Pós-graduação lato e stricto sensu. bém estendendo os seus serviços a centenas e cen- tenas de pessoas, ao longo dos anos, levando confor- Os Centros Universitários da região são pródi- to, bem-estar às pessoas, e, não raro, modificando-as gos no desempenho de atividades de extensão, de pela agregação de valores que dão rumos diferentes pesquisa e de Iniciação Científica. À guisa de mera às suas vidas. Os Projetos de fundação de Empresas exemplificação, constata-se que, no Centro Universi- Juniores e de Arquitetura e Urbanismo, bem assim tário de Brasília, Instituição sediada em Brasília-DF, de fundação de empresas dirigidas por alunos, com o desempenho neste setor é notável, pelo alcance enfoque na visão empreendedora, têm obtido forte de seus resultados com forte repercussão efetiva na repercussão na mídia local e interna da Instituição, comunidade, envolvendo a justiça social, a ética e a pela excelência dos resultados colhidos ao longo de melhoria e bem-estar social de seus partícipes, assim sua execução, constituindo este reconhecimento for- como pela qualidade geral que vem ostentando em te sustentáculo para o prosseguimento das atividades todas as fases de seu desenvolvimento, apresentando de forma renovada e aperfeiçoada. índices de comprovada eficácia social. Os quadros a seguir são indicativos da variada Com efeito, o Núcleo de Prática Jurídica da Ins- gama de atividades de Extensão Universitária, bem tituição, tem escritórios instalados em quase todos os assim dos Projetos de Pesquisa e de Iniciação Cientí- fóruns do Distrito Federal, com todos os equipamen- fica, em andamento na Instituição:

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A multimodalidade da revisão de texto: um caminho para o letramento

A Questão da Violência Urbana e da Segurança Pública nos Meios de Comunicação

A representação social do corpo como produção subjetiva e o seu impacto no câncer de mama

A teoria da argumentação de Alexy como critério de ponderação de bens adotado pelo Supremo Tribunal Federal

A utilização do método comparativo pelo Supremo Tribunal Federal

Acompanhamento psicológico na doença de Alzheimer

Acreditação Hospitalar: Qualidade na Saúde ou Marketing Institucional

77 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

Alternativa da produção de biocombustível utilizando espécies oleaginosas existentes no cerrado do DF e enfatizando as conseqüências ambientais de sua utilização

Análise da distribuição espacial dos processos de voçorocamento em área de nascentes do rio preto: o caso do campo de instrução de formosa Análise da Estrutura de Comunidades de Lagartos, na Reserva Biológica de Águas Emendadas (ESEC-AE) – Monitoramento de uso do espaço e hora de atividade Análise das condições higiênico-sanitárias de açougues de Brasília

Análise morfométrica de bacia hidrográfica: subsídios para a gestão geoambiental da bacia do rio maranhão

Arquitetura Sustentável – Teoria e prática Avaliação de concursos públicos nacionais de projeto- 2000 a 2003

Arquitetura Sustentável – Teoria e prática Avaliação de concursos públicos nacionais de projeto- 2004 a 2007

As marcas da monstruosidade e da crueldade no conto “O Gato Preto” de Edgar Allan Poe

As rodadas de Doha e as conseqüências econômicas e comerciais para o Brasil: Perspectivas da retomada de negociações em 2007 Avaliação de pacientes com nefrite lúpica através da relação proteína/creatinina em amostras isoladas de urina e em amostras de urina de 24 horas Buffering para otimização de sistemas multimídia com interatividade Cidadania, democracia e desenvolvimento: os sentidos e os lugares da ação afirmativa no debate sobre políticas para o ensino superior Cidadania, etnia e memória na construção da identidade de jovens nipo-brasileiros Com palmos medida – terra, trabalho, conflito e morte na obra Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto Constituição, democracia e corrupção

Corrupção como interesse geral: um estudo sobre a legislação nacional e a atuação do poder público no combate à corrupção

Da revisão de texto à revisão de texto crítica: uma nova perspectiva profissional Desenvolvimento e validação de um sistema para genotipagem em multiplex de polimorfismos causais em genes de citocinas pró- inflamatórias Determinação dos efeitos de bioinseticidas sobre espécies não-alvo: estudo com camundongos

Dieta e reprodução de Suindara (Tyto Alba, Strigiformes, tytonidae) na Estação Ecológica de Águas Emendadas (ESEC-AE)

E os japoneses? Considerações sobre a atualização do mito das três raças na formação dos Brasileiros Ecologia de coruja-buraqueira (Athene cunicularia, STRIGIFORMES, STRIGIDAE) na Estação Ecológica de Águas Emendadas e em ambiente urbano, em Brasília, DF – uso de espaço, dieta e reprodução Educação e qualidade de vida no Distrito Federal

Efeitos do incesto na dinâmica familiar: o conjunto e o indivíduo.

Espaço Urbano. Espaço Público – A Construção de Espaços de Alteridade em Brasília

Estruturação de uma trilha ecológica “escola aberta” em um corredor ecológico na APA Gama e Cabeça de Veado – DF

Estudo de comportamento de espécies de Díptera de interesse forense Estudos bioecológicos de Scarabeidade (insecta: coleóptera) em diferentes fitofisionomias na estação ecológica de Águas Emendadas Filosofia na TV: Indutora na Formação Crítica Cidadã

Grau de Conhecimento dos Gestores das Pequenas Empresas Sobe Indicadores Financeiros.

Índios do Goiás Colonial

Influência da Aflatoxina na capacidade fagocitária de neutrófilos e monócitos

Influência do Marketing e do Consumidor Infantil Sobre o Comportamento de Consumo Familiar

Insetos associados ao pequizeiro no cerrado do Distrito Federal

Limites da atuação da diplomacia humanitária responsável: caso CICV

Multiculturalismo e o direito brasileiro

78 PRIMEIRA PARTE

Multiculturalismo e o direito brasileiro

O cotidiano do escravo em Goiás do Século XVIII

O Discurso da Publicidade de Moda

O ideal de liberdade em “O diário de Anne Frank” O papel da Guanosina-5’ – monofosfato (GMP) nos níveis de ansiedade induzida pelo Glutamato em ratos submetidos ao labirinto em Cruz elevado O papel do ácido ascórbico nos níveis de ansiedade induzida pelo Glutamato em ratos submetidos ao labirinto em CRUZ2 elevado

O sincretismo do controle de constitucionalidade: tendência da jurisdição constitucional moderna?

Parcerias público-privadas e o desenvolvimento da infra-estrutura pública: superando a crise de sobrecarga Percepção de Clima Organizacional e Comportamentos Organizacionais: uma análise comparativa entre uma Organização Pública e uma Empresa Privada Perfil e Práticas da Comunicação Social dos Tribunais Superiores em Brasília.

Planejamento urbano e função social da cidade: ordenação urbana de tapoá a partir do plano diretor participativo Qualidade ambiental em estabelecimentos assistenciais de saúde- tecnologia da arquitetura ( qualidade do ar, resíduos das processadoras e reuso de água) Reforma política: Aperfeiçoamento ou retrocesso para o pleno exercício da democracia brasileira? Relação entre parâmetros microbiológicos e determinação de ecotoxidade na avaliação de qualidade das águas: um estudo de caso no Lago Paranoá – Brasília – DF Saúde, trabalho e subjetividade: a produção subjetiva de empregados hipertensos na promoção da qualidade de vida no trabalho

TreinamentoSoftware Livre muscular de CRM inspiratório (Customer noRelationship período pré-operatório Management) da para revascularização Pequenas e Microempresas do Miocárdio

Valores humanos e a Participação em Comunidades de Relacionamentos Virtuais

PALAVRA FINAL mais consentâneos com a vocação expansionista de seus quadros, aumentando as oportunidades É muito provável que, não fosse a flexibilidade de oferecimento de uma educação de qualidade. ditada pela legislação que regulamenta o Centro Uni- versitário, verdadeiro oásis no contexto da legislação brasileira, de bom senso e criatividade, criado pelo REFERÊNCIAS Poder Público, dificilmente se teria alcançado resul- 1. Araújo, Marlene; TEXTO PARA DISCUS- tados tão expressivos no que tange à expansão e aos SÃO. Projetos de Implantação do Desenvolvimento serviços educacionais prestados por essa instituição Sustentável no Plano Plurianual 2000 a 2003. Embrapa singular de ensino. Informação Tecnológica – Brasília-DF – 2005. Os quadros dos cursos ofertados pelos Centros 2. ANACEU – Dados sobre Centros Universi- Universitários dão a verdadeira dimensão deste traba- tários na Região Centro-Oeste. lho, tão notável quanto eficiente, da sensibilidade des- 3. Brasil – Decreto n° 2.207, de 15 de abril de sas Instituições para adaptar-se a novas realidades vi- 1997; Decreto n° 2.307, de 19 de agosto de 1997; Por- vidas pela Região Centro-Oeste, mormente agora que taria n° 2.041, de 22 de outubro de 1997; Portaria n° o País alcançou a estabilidade econômica e avançou, 2.175, de 27 de novembro de 1997; Decreto n° 4.914, substancial e eficazmente, no controle da inflação, de 11 de novembro de 2003. Consulta via Internet. dando um salto importante no combate às desigualda- des econômico-sociais existentes no Brasil. 4. Franco, Edson; Em Busca da Identidade no Ensino Superior Particular – Uma Experiência Pesso- Os resultados da extensão universitária, bem al; ABMES – EDITORA – 2004. assim os colhidos pela pesquisa e pela iniciativa cien- tífica, são muito significativos e atestam, sobremodo, 5. IBGE – Censo Demográfico 2000. a eficiência e competência com que vêm sendo desen- 6. Júnior, Antonio de Souza Teixeira e outros; volvidos a serviço das comunidades a que servem. Desafios da Educação no Século XXI – ABMES/Insti- O Centro Universitário é uma instituição de tuto Brasileiro de Qualificação do Ensino. ensino superior com a cara e a coragem do País. 7. UniCEUB – DIRETORIA ACADÊMICA Está pronta para alçar vôos de longa distância e – Dados sobre Extensão Universitária e de Pesquisa e exercer, com liberdade, o seu papel de fortale- Iniciação Científica – 2007. cedora dos objetivos de ensino mais eficazes e

79 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

CENTROS UNIVERSITÁRIOS E SITUAÇÃO GEOGRÁFICA : RECONFIGU- RANDO A EDUCAÇÃO SUPERIOR Drauzio Antonio Medeiros15(*)

O objetivo do presente capítulo é apresentar as mento inexpressivo nos anos 1980, de apenas 4,1%. A mudanças introduzidas no cenário educacional das re- partir da década de 1990 o crescimento é retomado giões brasileiras decorrentes da evolução da implan- e tem continuidade nos anos seguintes. Esta evolu- tação dos centros universitários e do funcionamento ção está demonstrada pelo crescimento da ordem de destas instituições. Este trabalho apóia-se substancial- 140,5% no número de instituições de ensino superior mente nos dados do Censo Escolar e no da Educação no período de 1997 a 2004, conforme mostra o Quadro Superior, disponibilizados pelo INEP. Serão trabalha- nº 1. dos dados referentes ao número de instituições de en- Pode-se creditar à promulgação da Lei n º sino superior, por organização acadêmica e por cate- 9.394/96 o marco legal básico que, ao responder a goria administrativa, número de cursos presenciais de uma determinada política educacional, desencadeou graduação, acadêmica e tecnológica, e seqüenciais e uma reformulação profunda no ensino superior bra- número de matrículas, destacando-se estes números sileiro, na qual os números acima ganham significa- nos centros universitários, por região geográfica. do. Tal política, resultante de estudos e comparações, A apresentação dos dados e sua análise, quan- sejam os de ordem quantitativa, sejam os de ordem do oportuna, irá incorporar as matrículas do ensino estratégica, sinalizava a evolução do número de ins- médio, com a finalidade de caracterizar a população crições nos Vestibulares frente a um crescente, mas escolarizável a ser atendida pelo ensino superior em insuficiente, número de vagas oferecidas pelas Insti- cada região. tuições em funcionamento. Também indicava a rele- Os dados serão apresentados em uma seqüência vância do conhecimento, que passou a colocar para histórica, tendo como ano-base o de 1997, ano da ins- os países, questões cruciais para dar-se conta das titucionalização dos centros universitários, até 2005, oportunidades de desenvolvimento, tornando-se fa- último ano em que estes dados estão organizados e tor decisivo em termos de vantagens comparativas. disponíveis pelo Censo da Educação Superior. De fato, a distinção entre países pobres e ricos, como nos lembrava DEMO (1997), “...será, cada vez mais, A educação superior brasileira nasce como insti- uma questão da capacidade de produzir e usar conhe- tuição pública, nos Estados mais desenvolvidos para cimento inovador próprio.” Sendo o ensino superior atender a uma população minoritária. A expansão de o motor do processo de produção de conhecimento sua oferta foi gradativa, tanto pela ação do poder pú- era necessária a sua expansão, o que o poder público, blico quanto da iniciativa privada, com um movimento até então responsável por sua oferta, seja na esfera marcado por períodos de maior crescimento e outros federal, seja na dos estados, dizia no limite, restando de crescimento menos expressivo. Os dados relativos vislumbrar novos caminhos para atender a enorme ao período 1970 a 2004 mostram acelerada expansão demanda por ensino superior. nos anos 1970, da ordem de 51,5% seguida de cresci-

Quadro nº 1. Instituições de Educação Superior, por Categoria Administrativa (Brasil, 1970-2005) Ano Total ∆ % Públicas ∆ % Privadas ∆ % 1970 582 - 147 - 435 - 1980 882 51,5 200 36,1 682 56,8 1990 918 4,1 222 11,0 696 2,1 1997 900 -1,9 211 -4,9 689 -1,0 1998 973 8,1 209 -0,9 764 10,8 1999 1.097 12,7 192 -8,1 905 18,4 2000 1.180 7,5 176 -8,3 1.004 10,9 2001 1.391 17,8 183 3,9 1.208 20,3 2002 1.637 17,6 195 6,5 1.442 19,3 2003 1.859 13,5 207 6,1 1.652 14,5 2004 2.013 8,2 224 8,2 1.789 8,2 2005 2.165 7,5 231 3,1 1.934 8,1 Brasil ∆ % 1997 a 2005 = 140,5 Fonte: Censo da Educação Superior, MEC/INEP

15 (*)Reitor do UNIVAG - Centro Universitário de Várzea Grande. Vár- zea Grande/MT

80 PRIMEIRA PARTE

Até então, o ensino superior era ministrado em mente, se deseja adequada a parâmetros bastante rígi- universidades e em faculdades, estas últimas com fle- dos e capazes de incrementar o seu desenvolvimento xibilidade e autonomia acadêmica limitadas, e as pri- e de seus cidadãos. meiras com a obrigatoriedade de desenvolver a tríade Uma caracterização da educação superior nas re- ensino, pesquisa e extensão, o que exigia das mesmas giões brasileiras por época da promulgação da LDB, investimentos pesados em recursos humanos e em último triênio da década de noventa, do século XX, ra- equipamentos, onerando-lhes o custeio. Desse modo, tifica o que a história da educação brasileira registra com o esgotamento, pelo poder público, das possibi- com uma recorrência bastante efetiva: regiões alta- lidades de investimento em novas universidades ou mente assistidas pelo poder público, seja federal, seja da expansão das já existentes, e com as dificuldades estadual, e pela iniciativa privada, como a região Su- de cumprimento, especialmente pelas instituições pri- deste e Sul, ao lado de outras onde, por muitos anos, vadas, do princípio institucional da indissociabilidade a única “fonte” de ensino superior foram as universi- do ensino, pesquisa e extensão, tornava-se limitada a dades federais, criadas, em sua maioria, na década de possibilidade da expansão através da implantação de setenta, como as regiões Norte, Nordeste e Centro- novas instituições universitárias. Por outro lado, no oeste. Alguns Estados destas regiões chegaram, em modelo vigente, era inadmissível uma “universidade anos mais adiantados, a criarem IES, em iniciativas dedicada apenas ao ensino”. públicas audaciosas, resultantes de alguns poucos Nesse movimento, nasceu a idéia da figura da visionários que acreditavam no binômio educação x uma instituição que pudesse, ao oferecer ensino su- desenvolvimento. perior, utilizar-se de prerrogativas da autonomia uni- A necessidade da expansão das instituições de versitária, sem ser universidade, focando-se e especia- educação superior era indicada pelo contingente da lizando-se em ensino. Estas novas condições, ao lado população sem possibilidade de acesso a este nível de das exigências do desenvolvimento que clamava por formação. A situação dos egressos/concluintes do En- conhecimentos e aplicação de tecnologias, voltadas sino Médio, com idade entre 18 e 24 anos, por região, mais para o trabalho do que para a pesquisa, foram (Quadro nº 2) permite perceber uma variação positiva trazendo os centros universitários para o epicentro da anual de mais de 30% nas regiões Norte, Nordeste e expansão do ensino superior, e fazendo deles a opção Centro-Oeste e menor nas regiões Sul e Sudeste, em mais óbvia para a iniciativa privada, por ser viável e 1998 e anos seguintes, o que leva a crer na eficácia, legalmente possível. de algumas políticas públicas favorecedoras da am- O cenário que caracterizou esta realidade e que pliação da oferta do Ensino Médio. Este crescimento se tornou ampliado, diferente e competitivo, em todo foi perdendo força ao longo do período 1997 a 2005, o Brasil, teve na criação de instituições de ensino su- chegando a apresentar variação negativa que, no ano perior, não somente, de centros universitários, o seu de 2005, se constata em todas as regiões brasileiras, grande eixo. Regiões brasileiras, até então, sem as- exceto na região Nordeste, levando à seguinte ques- sistência educacional do poder público, tornaram-se tão: pode-se acreditar em atendimento integral da campo para uma expansão da iniciativa privada que, população escolarizável desta faixa etária? Ou serão inicialmente, se prenunciou desordenada e que, atual- outros os fatores determinantes deste quadro?

Quadro nº 2. Evolução de Concluintes do Ensino Médio - (Regiões, 1997 a 2005) ANOS 1997 1998 1999 2000 2001 REGIÃO Nº ∆% Nº ∆% Nº ∆% Nº ∆% Nº ∆% Brasil 1.163.788 21,2 1.535.943 31.9 1.786.827 16,3 1.836.130 2,7 1.855.419 1,0 Norte 68.452 46,6 89.936 31,3 107.038 19,0 111.014 3,7 127.190 14,5 Nordeste 245.044 27,0 324.469 32,4 368.133 13,4 412.248 11,9 466.435 13,1 Sudeste 603.411 18,5 804.273 33,2 941.688 17,0 936.178 -0,5 884.109 -5,5 Sul 171.057 17,8 220.871 29,1 261.171 18,2 257.265 -1,4 256.361 -0,3 Centro –Oeste 75.824 15,3 96.394 27,1 108.797 12,8 119.425 9,7 121.324 1,5 Fonte: Censo Escolar, MEC/INEP

Anos 2002 2003 2004 2005 REGIÃO Nº Nº Nº ∆% Nº ∆% Nº ∆% Brasil 1.884.874 -1,5 1.851.834 -1,7 1.879.044 1,4 1.858.615 -1,0 Norte 129.296 -1,6 147.273 13,9 145.580 -1,1 142.103 -2,3 Nordeste 524.570 12,4 465.365 -11,2 489.047 5,0 504.332 3,1 Sudeste 854.134 -3,3 862.440 0,9 865.428 0,3 848.995 -1,8 Sul 250.618 -2,2 252.557 0,7 251.707 -0,3 240.374 -4,5 Centro –Oeste 126.256 4,0 124.199 -1,6 127.282 2,4 122.811 -3,5 Fonte: Censo Escolar, MEC/INEP

81 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

Estes números ganham significado especial para do Ensino Médio ligeiramente maior. Tal constatação os fins deste ensaio, quando se os confronta com o nú- novamente ratifica o movimento da expansão deste mero de IES destas regiões (Quadro nº 3) e se perce- nível de ensino, em que a ampliação geográfica das be que as regiões com maior população escolarizável instituições pode ser considerada resultante das mo- do ensino superior passam a, gradativamente, apre- tivações sócio-econômicas e das disposições legais, sentar uma evolução mais expressiva do número de suas chaves para a real materialização, permitindo a instituições, à exceção do Nordeste que cresceu me- inclusão de expressivo contingente de candidatos ao nos em número de instituições de ensino superior em ensino superior, até então sem possibilidade de aces- relação ao Sul, embora tenha número de concluintes so a ele

Quadro nº 3. Instituições de Ensino Superior por Categoria Administrativa - (Regiões, 1997 a 2005)

1997 1998 1999 2000 2001 REGIÃO TG P PR TG P PR TG P PR TG P PR TG P PR BRASIL 900 211 689 973 209 764 1.097 192 905 1.180 176 1.004 1.391 183 1.208 NO 34 12 22 40 12 28 42 11 31 46 11 35 61 12 49 NE 101 43 58 124 44 80 141 45 96 157 44 113 211 46 165 SE 553 85 468 570 83 487 634 76 558 667 72 595 742 75 667 SU 120 39 81 131 38 93 148 33 115 176 34 142 215 33 182 CO 92 32 60 108 32 76 132 27 105 134 15 119 162 17 145 Fonte: Censo da Educação Superior, MEC/ INEP P- Públicas Pr- Privadas

2002 2003 2004 2005 TG P PR TG P PR TG P PR TG P PR BRASIL 1.637 1.859 2.013 2.165 NO 83 14 69 101 15 86 118 18 100 122 16 106 NE 256 51 205 304 52 252 344 56 288 388 60 328 SE 840 77 763 938 81 857 1.001 90 911 1.051 98 953 SU 260 35 225 306 36 270 335 37 298 370 39 331 CO 198 18 180 210 23 187 215 23 192 234 18 216 Fonte: Censo da Educação Superior, MEC/INEP P- Públicas Pr- Privadas

No panorama do ensino superior nas regiões vel pela quase hegemonia deste setor na expansão do brasileiras, cabe destaque ao número de IES criadas e ensino superior, neste período, destacando-se os anos em funcionamento, segundo a categoria administrati- de 2000, 2001 e 2003, como os de maior crescimento, va (Quadro 3), e o número de matrículas registrado crescimento este que já contou com a importante par- (Quadro 4), uma vez que na sua evolução percebe-se ticipação dos centros universitários. Por óbvio que se um número significativo das privadas e, entre estas, apresente, o movimento das matrículas acompanha o os centros universitários, cuja quase totalidade está mesmo crescimento das Instituições, sendo constante dentro desta categoria, como se demonstrará em mo- de 1997 a 2005, o maior contingente está na região mento posterior deste texto. No que se refere, espe- Sudeste, seguindo da Sul e Nordeste. Também neste cialmente, à expansão das Instituições, nas regiões, aspecto, a região Norte aqui apresenta menor número destaca-se o crescimento maior na região Sul, seguido de matrículas, ficando a Centro-Oeste com a quarta da Sudeste e Nordeste, de 1997 a 2003. Em 2004 e posição. Ao se confrontar estes números com os dos 2005, entretanto, as posições das regiões Sul e Nor- concluintes do Ensino Médio (Quadro nº 2), constata- deste invertem-se, ficando a região Norte com o me- se que a região Sudeste é a que apresenta o maior nor número de Instituições. Se comparados os núme- número de egressos desta etapa da Educação Básica, ros apresentados pelo crescimento anual das IES, no havendo uma inversão das regiões Nordeste e Sul, Brasil, percebe-se que é contínuo, atingindo variação quando se percebe esta ordem no número destes con- percentual de 140%, no período 1997 a 2005, como já cluintes. As regiões Norte e Centro-Oeste alternam mostrou o Quadro 1. posições, nos período de 1997 a 2000, onde prevalece Do movimento de matrículas nas IES das re- maior número da Centro-Oeste e de 2001 a 2005, com giões brasileiras, no período em análise, de pronto, prevalência da região Norte, embora em um caso e no emerge uma constatação, largamente difundida, da outro, sem diferenças muito expressivas. prevalência de matrículas no setor privado, responsá- Os números apresentados referentes ao Brasil e

82 PRIMEIRA PARTE 66 Pr% 69,1 39,3 37,9 79,9 72,4 Pr% 73,2 52,2 52,2 82,9 73,5 71,3 62 20 P% 30,9 60,6 27,5 33,9 2001 17, P% 26,7 47,7 47,7 26,4 28,6 2005 G 141.892 460.315 601.588 260.349 3.030.754 1.566.610 Total Total 261.147 738.262 845.341 398.773 4.453.156 2.209.633 67 Pr% 37,9 34,3 78,2 70,1 65,6 62 P% 32,9 65,6 21,7 29,8 34,3 Pr% 71,7 46,5 49,1 82,2 72,6 69,2 2000 P% 28,2 53,4 50,8 17,7 27,3 30,7 Total 8,5 9,2 ∆ % 11,3 23,3 16,4 17,5 15,7 16,0 13,2 115.058 413.709 542.435 225.004 2004 2.694.245 1.398.039 32 Pr% 64,8 35,2 75,2 64,7 63,9 Total Total 250.676 680.029 793.298 384.530 4.163.733 2.055.200 36 P% 35,1 64,7 67,9 15,3 35,2 Privadas 1.186.433 1.321.229 1.537.923 1.807.219 2.091.529 2.428.258 2.750.652 2.985.405 3.260.967 Anos 1999 Anos Pr% 70,7 43,6 45,6 82,1 71,8 68,9 Total 94.411 357.835 473.136 187.001 2.369.945 1.257.562 5,9 3,3 6,6 5,8 8,0 3,6 1,1 ∆ % 11,9 31,2 31 P% 29,2 56,3 54,3 17,8 28,1 2003 75 Pr% 62,1 33,4 32,3 54,9 61,1 P% 37,8 66,5 67,6 24,9 45,0 38,8 Total Total 230.227 624.692 745.164 368.906 759.182 804.729 832.022 887.026 939.225 Públicas 3.887.022 1.918.033 1998 1.051.655 1.136.370 1.178.328 1.192.189 Total 85.077 39 310.159 163.585 419.133. Pr% 69,7 41,6 80,8 73,8 66,6 2.125.958 1.148.004 9,2 3,7 7,1 6,9 ∆ % 11,4 11,6 26,3 13,6 12,4 Pr% 60,9 32,2 31,4 74,1 53,2 60,3 P% 30,2 60,9 58,3 19,1 26,1 33,3 2002 P% 39,0 67,7 68,5 25,8 46,7 39,6 Total 1997 1.945.615 2.125.958 2.369.945 2.694.245 3.030.754 3.479.913 3.887.022 4.163.733 4.453.156 Total Total 190.111 542.409 677.655 323.461 3.479.913 1.746.277 Total 77.735 289.625 378.566 146.408 1.945.615 1.053.281 R Ano SE BR NE SU 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 NO CO R SE BR NE SU NO CO ∆ % 1997 a 2005 = 128,8 Quadro nº 4. Matrículas da Educação Superior por Categoria Administrativa - (Regiões, 1997-2005) Quadro nº 4. Matrículas da Educação Superior por Categoria Fonte: Censo da Educação Superior, MEC/INEP Fonte: Censo da Educação Superior, P- Públicas Pr- Privadas MEC/INEP Fonte: Censo da Educação Superior, P- Públicas Pr- Privadas Quadro nº 5. Matrículas da Educação Superior por Categoria Administrativa - (Brasil, 1997-2005) Quadro nº 5. Matrículas da Educação Superior por Categoria MEC/INEP Fonte: Censo da Educação Superior,

83 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

às regiões, acredita-se, compõem o cenário onde se pedagógicas, administrativas, de gestão, de relaciona- pode situar os centros universitários e, definindo-lhes mento com os mercados e de formação profissional; a localização geográfica, dizer do papel que eles repre- d) a ausência de obrigatoriedade da pesquisa e as sentam no atual quadro da educação brasileira. motivações que justificaram a sua criação, permitem Antes de situar os centros universitários nas regi- aos centros universitários um ensino marcadamente ões brasileiras e de definir algumas das decorrências profissionalizante; desta distribuição geográfica no contexto educacional e) as reformas da educação das últimas décadas, das mesmas, emerge como pertinente o registro de responderam a uma demanda reprimida, de estudan- algumas hipóteses, já confirmadas, que contribuem tes por ensino superior, preservando, ao que parece, a para ampliar e consolidar as condições que envolvem identidade institucional das universidades, pautada na estas instituições de ensino superior. Com SANTOS indissociabilidade ensino, pesquisa e extensão e na (2007), registra-se: universalização de campos, para atender, com um en- a) é fato estatisticamente demonstrável a impor- sino humanista, somente à elite (intelectual!), tendo tância do setor privado no sistema de educação supe- nos centros universitários, outra possibilidade, com a rior do país; incumbência maior de profissionalizar. b) o reposicionamento acadêmico, político e de Estas constatações ampliam o cenário em que mercado que este fato acarretou abriu um espaço os centros universitários se movem e, guardadas as propício à criação, sem modelo, de uma instituição devidas possibilidades de questionamentos, consti- que pudesse engajar-se - de forma mais efetiva que as tuem referências teóricas para estas IES nas regiões faculdades e menos carregada de compromissos que brasileiras, de acordo com Quadro nº 6, onde se totali- as universidades – no atendimento da demanda por zam os Centros Universitários por regiões, mostrando ensino superior que, por disposição política, desejava- aspectos que os caracterizam, com detalhes bastante se altamente incrementada; significativos de sua atual situação, complementados c) a autonomia institucional, somente experi- pelo Quadro nº 7, das matrículas nos Centros, por re- mentada pelas universidades, ganha, com os centros giões. universitários, uma nova moldura e “aceita” inovações

Quadro nº 6. Centros Universitários: Aspectos Gerais (Regiões, 2006) Categoria Administrativa Multicampi Credenciamento EAD 97- 00- 03- R T 1* 2* 3* 4* 5* 6* 7* 8* S N S N 99 02 07 BR 124 4 65 8 5 24 12 5 1 55 69 36 30 58 11 113 N 8 4 1 3 2 6 1 4 3 1 7 NE 3 1 2 1 2 1 1 1 1 2 SE 83 1 43 5 2 23 5 3 1 39 44 28 22 33 5 78 S 19 2 6 3 2 1 3 2 - 10 9 6 2 11 3 16 CO 11 10 1 3 8 - 1 10 1 10 Fonte: Censo da Educação Superior, MEC/INEP 1* Privada - Comunitária Filantrópica 2* Privada - Particular em sentido estrito 3* Privada - comunitária 4* Privada - Confessional 5* Privada - Filantrópica 6* Privada - Confessional-Filantrópica 7* Pública Municipal 8* Estadual (pública).

Quadro nº 7. Modalidades de Cursos de Graduação nos Centros Universitários-(Regiões, 2006) Cursos de Graduação Acadêmica Tecnológica Seqüencial Total Regiões Nº % Nº % Nº % Nº % Brasil 2.763 79,7 627 18,0 75 2,1 3.465 100 No 188 78,3 39 16,2 13 5,4 240 NE 67 62,6 27 25,2 13 12,1 107 SE 1.834 81,4 418 18,5 - 0 2.252 SU 442 87,1 63 12,4 2 0,3 507 CO 232 64,6 80 22,2 47 13,0 359 Fonte: Censo da Educação Superior INEP/MEC

Quadro 8.Matrículas nos Centros Universitários em % - (Regiões, 1997 a 2005) Regiões Ano Brasil % NO % NE % SE % SU % CO % 1999 6,7 1,3 1,2 12,8 3,3 7,1 2000 9,0 5,8 2,3 13,3 4,2 8,2 2001 11,1 8,9 2,5 16,3 6,0 8,0 2002 12,3 9,3 2,8 18,1 8,0 8,2 2003 12,8 9,8 3,3 18,6 8,8 9,0 2004 14,7 14,9 3,6 20,1 10,6 14,0 2005 15,1 15,7 3,7 20,4 11,2 14,6 ∆% 319,2 3.129 535 179,1 499,5 336,9 Fonte: Censo da Educação Superior, MEC/INEP 84 PRIMEIRA PARTE

A leitura dos dados dos Quadros 6 a 8 permite 7. O Quadro 8 mostra a representação per- ver a atual configuração dos Centros Universitários centual das matrículas nos cursos presen- nas regiões brasileiras, que a seguir se resume: ciais dos centros universitários, no Brasil 1. A distribuição atual dos Centros Universitá- e por região, no período 1999 a 2005, em rios pelas regiões brasileiras ratifica cons- relação ao total de matrículas da educação tatações anteriores que apontaram maior superior. De sua análise destaca-se que, concentração de instituições de educação no Brasil, o percentual de matrícula nos superior na região Sudeste, com grande centros universitários que era de 6,7% em vantagem, seguida da Sul e Centro–Oeste. 1999, chega, em 2005, a 15,1%. Nas regiões, A região Norte, em que pese ter menor nú- destaca-se que a Norte é a que apresentou mero de IES, apresenta ligeira vantagem maior crescimento nos período de 1999 a em número de centros universitários em 2005, com aceleração a partir de 2000, pas- comparação com a Nordeste, que tem o sando de 1,3% para 15,7% o percentual de menor número destas instituições. matrículas nos centros universitários. A va- 2. A categoria administrativa que prevalece riação no crescimento das matrículas nos no Brasil é a privada, com predomínio nes- centros universitários, no período com- ta categoria das IES particulares em sen- preendido entre 1999 a 2005 é de 319,2%. tido estrito, em todas as regiões, seguida A região com maior variação é a Norte, das privadas filantrópicas e das confessio- atingindo 3.129%, seguida da região Nor- nais-filantrópicas. deste (535%) e da Sul. A menor variação 3. Prevalecem as instituições com apenas registra-se na região Sudeste, com 179,1%. um campus, embora sem larga vantagem Estes números ganham importância ao se em relação às multicampi, situação que se considerar que incluem apenas as gradua- acredita excepcional, a se considerar as ções presenciais. prerrogativas legais para centros universi- À guisa de conclusão, sem, contudo, marcar po- tários. sição definitiva, por tratar-se a temática educacional, 4. Verifica-se que há regularidade no cresci- por natureza, sempre em constante mudança, acom- mento do número de centros credencia- panhando as mudanças que ocorrem no contexto da dos, no Brasil, considerando-se os anos de sociedade, sujeita às oscilações das políticas públicas, credenciamento agrupados por períodos, pode-se afirmar que a instalação dos centros universi- assim constituídos: 1997–1999, 2000–2002 tários trouxe importante contribuição na reconfigura- e 2003–2006, com maior número de cre- ção da situação educacional das regiões brasileiras no denciamentos neste último. Neste aspecto, que tange ao ensino superior, desde que a sua existên- o maior número de centros universitários cia passou a ser admitida na legislação brasileira. credenciados, nos três períodos é da re- gião Sudeste, com a regularidade observa- Esta contribuição, acredita-se, materializou-se: da para o Brasil. • na ampliação do número de vagas para 5. A educação a distancia não é a modalidade o ensino superior, com um atendimento mais efetivo de oferta de cursos adotada pela maioria, aos egressos do Ensino Médio, permitindo o avanço prevalecendo os cursos presenciais. dos níveis de escolarização nas regiões menos servi- 6. A modalidade de graduação predominante das pela educação superior; é a acadêmica (Quadro 7), compreenden- do bacharelados e licenciaturas, que tota- • em um atendimento mais regionalizado lizam 79,7% dos cursos, seguida de longe da população escolarizável do ensino superior, na me- pela graduação tecnológica com 18% e com dida em que incorpora os setores médios que ainda cursos seqüenciais representando apenas não tinham acesso à educação superior, e reduz o êxo- 2,1% do total. Este panorama, nas regiões, do de jovens e, mesmo, de adultos, para estudar; se mantém, com a região Sul apresentan- • em um novo desenho da situação educa- do o maior percentual (87,1%) e a Centro- cional de cada região, que passou a contar com uma Oeste o menor (64,6%), com as demais bastante próximas do índice Brasil. Quan- diversidade de áreas profissionais contempladas, qua- to à graduação tecnológica, o Nordeste é se sempre de acordo com as vocações regionais; a região com o maior percentual (25,2%) • na efetivação da inclusão social de um destes cursos, seguida da Centro-Oeste segmento da população sem possibilidade de acesso (22,2%) e a Sul , o menor com 12,4%. As ao conhecimento e a profissionalização, com rebati- regiões Nordeste e Centro-Oeste são as mento nas condições de emprego e renda, importan- que apresentam maior índice de cursos se- tes para a melhoria dos indicadores sociais e supera- qüenciais, respectivamente, 12,1% e 13,0%, ção dos entraves ao desenvolvimento; observa-se que a presença destes cursos é bastante tímida nos centros universitários. • na mobilidade social ascendente, como

85 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

resultado da qualificação em nível superior; REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS • na provável ampliação da empregabilida- de, decorrente desta qualificação; INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PES- QUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA- INEP. • na alteração do perfil da população produ- A educação no Brasil da década de 90: 1991 a tiva das regiões, permitindo-lhe acompanhar as trans- 2000. Brasília: INEP/MEC, 2003. formações do mundo do trabalho e capacitando-a para a introdução de novas tecnologias, hoje incorporadas INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PES- aos projetos de formação; QUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA- INEP. Sinopse estatística da educação superior. Brasil • no desenvolvimento da capacidade de par- 1997 a 2005. Disponível em: http://www.inep.gov. ticipação social e da cidadania, pois educação e cida- br/superior/censosuperior/sinopse/default. dania são pólos em relação recíproca; asp. Acesso em out.2007 • na ampliação do mercado de trabalho para FINGER, A.P. e LIMA, S.F. Centros Universi- profissionais da educação superior, estímulo à melho- tários. Proposta e Gestão. Curitiba: Champagnat, ra na qualificação e, ainda, permitindo uma descon- 1999. centração destes profissionais das regiões Sudeste e Sul que, tradicionalmente, abrigam os programas de GIOLO, J. O PNE e a expansão da educação pós-graduação stricto sensu; superior brasileira. Educação Superior em De- bate. Docência da Educação Superior. Brasília- • no tratamento da educação superior como DF. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educa- empreendimento, que deve responder às exigências cionais Anísio Teixeira, 2006. v.205. do mercado e aos requisitos estabelecidos pelo poder público para sua existência. SANTOS, J.E.de O. Transformações na edu- cação superior brasileira: presença e participa- Não se pode atribuir somente aos centros uni- ção dos centros universitários do Estado de São versitários papel relevante na reconfiguração da edu- Paulo. 1997-2006. São Paulo-SP: Faculdade de Edu- cação superior nas regiões brasileiras, consideran- cação. Universidade de São Paulo. Tese (Doutorado): do que nos últimos anos, entre outros fatores, até a 2007(mimeo). própria reestruturação dos órgãos responsáveis pela regulação de IES e Cursos, seja no sistema federal, seja nos estaduais, contribuiu para a expansão do ensino de graduação. A identidade dos centros uni- versitários, entretanto, certamente, trouxe, para este quadro, novos elementos, porque se tratou de permi- tir um modelo diferente de instituição de ensino que pode valer-se de flexibilidade e autonomia, até então, prerrogativas das universidades, em número bastante restrito na maioria das regiões brasileiras. Além dis- so, pode-se creditar aos centros universitários a am- pliação da oferta de bens culturais, até então pouco disponíveis para a grande parte da população brasilei- ra, como as bibliotecas, entre outros. O futuro destas instituições no panorama edu- cacional das regiões brasileiras prenuncia-se promis- sor, por serem os centros universitários, hoje, uma realidade. Pelo espaço social que já conquistaram, constituem um “modelo interessante de instituição de ensino superior” (Santos, 2007), viável e com lugar já assegurado na educação brasileira, pelas contribui- ções a ela dispensadas.

86 PRIMEIRA PARTE

CENTROS UNIVERSITÁRIOS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL Gisélle Vilela Lins16(*)

INTRODUÇÃO esses dez anos, aos anseios regionais de forma posi- tiva. As políticas da educação superior no Brasil, base- As dimensões continentais do Brasil o consoli- adas em uma tendência internacional, apontam para a dam como promessa para as gerações futuras, porém, excelência do desenvolvimento de uma prática social lamentavelmente, por questões diversas, ainda não que não só afeta e modifica as pessoas, como também está correta e completamente integrado, condição in- assume perspectiva histórica. As recentes políticas dispensável à garantia do crescimento, da ratificação públicas brasileiras preconizam o envolvimento de to- de programas que irão torná-lo, em definitivo, um país dos os protagonistas institucionais na construção de diferenciado, econômica e socialmente. uma cultura de excelência e de uma responsabilidade Fundamentalmente, a certeza da integração virá democrática. por meio de uma série de ações, inicialmente desenca- O ensino superior no Brasil dos últimos anos deadas pelo poder público. A educação, agente trans- vive um ciclo de expansão expressivo, que vê como formacional, é dínamo desse processo. protagonistas tanto as instituições privadas quanto as Índices que ainda demonstram enorme contin- públicas, cada qual com seus objetivos e propósitos. gente populacional fora do ambiente escolar ou em De um lado, assistimos a uma efervescência na imple- níveis não apropriados às faixas etárias, acabam por mentação de políticas públicas voltadas para garantir acentuar as diferenças. Há dezenas de municípios qualidade a todo o sistema do ensino superior; de ou- no Norte e Nordeste do País com barreiras físicas tro, os centros universitários surgem como opção for- imensas, a tornar quase heróico o ato de ir à escola. mativa na esteira dos “variados graus de abrangência Transformar esta realidade adversa, sem afetar a tipi- ou especialização” apontados pela Lei n. 9394/96. cidade de cada lugar, suas tradições e raízes é respon- Pretendemos demonstrar, como nossa intenção sabilidade evidente das instituições de ensino. Nesse prioritária, que os centros universitários assumem um contexto, encontram-se perfeitamente integrados os papel de destaque no espaço em que se situam e con- centros universitários, com responsabilidades para tribuem, decisivamente, para atenuar as problemáti- com a geografia da região, mediante objetivos e me- cas regionais. Ainda que desobrigados de algumas tas nitidamente definidos. A instituição universitária incumbências próprias da universidade, por exemplo, centraliza-se na demanda específica de cada região, a pesquisa, os centros universitários vivenciam um desta forma o diálogo estabelecido com a comunidade processo intrínseco pelos compromissos com a re- em que está inserida prepara os caminhos. gião na qual estão inseridos. Esse processo, longe de A partir de um cenário nacional, pode-se perce- ser imposto por determinações legais, resulta da nova ber, de forma singular, o forte papel dos centros uni- condição jurídica que enfrentam e representa o início versitários no contexto regional em que se estabele- da maturidade quanto à abordagem de suas trajetó- cem. rias acadêmicas e sociais. De acordo com nossa condição geográfica, estamos divididos em regiões, com características completamente diferenciadas, quer pelo formato da CENTROS UNIVERSITÁRIOS: UMA DÉCA- colonização ou ocupação territorial, quer pelo viés DA DE ÊXITOS EDUCACIONAIS E COM- produtivo tipificado; assim, somos, enquanto territó- PROMISSOS REGIONAIS rio, naturalmente privilegiados. A riqueza cultural de nosso povo vem sendo Os centros universitários, ainda que recentes no completamente percebida pelos centros universitá- cenário da educação do País, têm respondido, durante rios, a partir da vocação de cada um, que se manifesta também, e especialmente, pela integração e pela lógi-

16 (*) Gisélle Vilela Lins, Reitora do Centro Universitário Nilton Lins ca que estabelece com seu entorno. - Manaus/AM é Bacharel em Direito e Especialista em Gestão Universitária.

87 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

Analisar nossa situação geográfica é compreen- Maria e Novo Hamburgo, aproximadamente 800.000 der, primeiramente, as variadas razões que possibilita- habitantes, tem nos centros ali instalados a oferta de ram o surgimento dos centros universitários; é, ainda, programas intimamente relacionados com a produção aclarar, em especial para as regiões Norte e Nordeste, de renda, além, é claro, do respeito e manutenção dos o porquê da importância desse modelo. costumes de uma região diferenciada. As instituições universitárias têm forte tradição Os estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio no relacionamento com a comunidade, no necessá- de Janeiro e São Paulo compõem a região Sudeste, a rio discurso que com ela vivenciam. Os últimos vinte mais rica e populosa, apesar de ocupar apenas 10,85% anos mostram-nos, de maneira transparente, o quanto do território brasileiro, em uma área de 924.511,292 ainda está aquém do minimamente aceitável a forma- km2, com uma população de 78.472.017 habitantes ção de nossa juventude. e densidade de 84,88 hab/km2. Há, nessa região, 83 O Amazonas, maior estado do País, aponta para centros universitários: 46 no estado de São Paulo, de- completo isolamento e total inexistência de oferta ao zesseis no estado de Minas Gerais, dezesseis no Rio ensino superior em praticamente três quintos de seu de Janeiro e cinco no Espírito Santo. Além de São Pau- território. Outros estados do Norte e Nordeste evi- lo, capital, há em Araras, Lins, Ribeirão Preto, Santo denciam igual problemática. André, Santos, São João da Boa Vista,São José do Rio Preto, municípios de São Paulo, presença desta- A região Sul, uma das cinco grandes regiões em cada da oferta de cursos por centros universitários, que é dividido o Brasil, compreende os estados do firmemente engajados com as comunidades locais. Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Embora No estado do Rio de Janeiro, no município de Volta seja a menor das regiões brasileiras, apresenta altos Redonda, há presença de dois centros. No estado do índices sociais e é a mais alfabetizada, 93,7% da po- Espírito Santo, nenhum dos centros é ofertado na ca- pulação. pital; no Rio de Janeiro, doze estão em municípios e No estado de Santa Catarina, foram formados apenas quatro na capital; em Minas Gerais, nove estão cinco centros universitários, nenhum em sua capital, em Belo Horizonte; em São Paulo, 33 estão fora da ca- Florianópolis, que, nos últimos vinte anos, registrou pital. Nessa região, 66,27% dos centros universitários crescimento de sua população em aproximadamen- estão fora das capitais, levando às diversas cidades o te 150.000 pessoas. A região abriga fortemente a in- indispensável conhecimento para a manutenção do dústria têxtil e as instituições oferecem, fundamen- homem na localidade. talmente, cursos com enorme interação com o setor A região Centro-Oeste é composta pelos estados produtivo, como exemplo o curso de Design e Moda. de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e pelo Há, também, preocupação com a oferta de cursos de Distrito Federal. É a segunda maior região do Brasil Licenciatura, marcando a responsabilidade com que em superfície territorial. Há onze centros universi- esses centros compreendem a questão da formação tários em funcionamento: três em Goiás, apenas um do docente. em Goiânia, todos com oferta significativa de cursos O estado do Paraná possui oito centros universi- seqüenciais, o que demonstra o compromisso com o tários, quatro localizados em Curitiba que, nos últimos entorno, pela formação e inserção mais rápida e de anos, contabilizou crescimento populacional superior forma mais qualificada no mundo do trabalho; quatro a 563.000 pessoas, um aumento de, praticamente, 50% no Distrito Federal, com oferta de cursos superiores nas últimas duas décadas. Esses centros respondem em Tecnologia; dois em Mato Grosso, com progra- afirmativamente com a oferta de Curso Superior de mas perfeitamente sintonizados com a realidade local Tecnologia e há visível preocupação com carreiras e dois em Mato Grosso do Sul, com cursos tecnológi- que dêem ênfase ao empreendimento. Os centros ins- cos voltados para o viés da região. talados em Londrina, União da Vitória e Palmas, em O Nordeste é a região brasileira com maior quan- suas ofertas, respondem com nitidez pelas demandas tidade de estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, que refletem o interesse da região pelo Turismo, pela Paraíba, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte e responsabilidade com a saúde e ainda pelo crescimen- Sergipe e ainda o Distrito Estadual de Fernando de to do professor. Noronha. A região não apresenta índices satisfatórios No Rio Grande do Sul, há seis centros universi- quanto à alfabetização. Além disso, possui o menor tários que estão em Porto Alegre, Lajeado, Canoas, número de centros universitários em funcionamento, Santa Maria e Novo Hamburgo. Especialmente em são apenas três, localizados na Bahia, João Pessoa e Lajeado, com população na casa dos 67.000, percebe- São Luís. se a necessidade do fortalecimento da estreita relação A região Norte é formada pelos estados do Acre, que os centros universitários vêm construindo com Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocan- a sociedade. A população conjunta de Canoas, Santa tins. Com 3,77 hab/km2, sua principal característica é

88 PRIMEIRA PARTE

a dimensão, 3.869.637,9 km2. Encontramos na região A busca do ensino de qualidade, ofertado ao Norte oito centros universitários: quatro no estado do maior número possível de pessoas, em especial na- Amazonas, dois no estado do Pará, um no estado de quelas regiões menos desenvolvidas; a agilidade de Tocantins e um no estado de Rondônia uma instituição mais nova, menos arraigada a con- Especialmente no estado do Amazonas, por sua ceitos já estabelecidos e muitas vezes anacrônicos e, geografia singular, a figura dos centros universitários essencialmente, a necessária ousadia de determinar, marcou, de forma inquestionável, o modelo social primeiramente, o contexto em que está inserida, para vigente. O ineditismo das profissões advindas das depois formatar a plataforma de cursos, fizeram dos ofertas de cursos, em especial na área da Saúde, fo- centros universitários promissoras instituições que, mentou grande avanço nas pesquisas que acontecem ao longo do tempo, jamais deixaram de consolidar o na Amazônia. A cidade de Manaus contribui de forma ensino, firmando relação indispensável com a exten- marcante para a formação do PIB nacional por meio são e pesquisa científica. A desobrigação formal deu das vagas ofertadas para o acesso ao ensino superior. lugar a uma escolha por modelos de matrizes curri- Nos últimos dez anos, este município, especialmente culares arrojadas, em sintonia com o tempo e lugar, pelos centros instalados, já consegue ver marcadas preocupação firme com o conhecer e o objetivo de as diferenças de um passado não tão longínquo e o compartilhar com o alunado, mais que um conjunto estabelecimento de uma trajetória de futuro claramen- de teorias e práticas, formatos mais acessíveis para te traçada pela influência da melhora nos índices de um saber que hoje é exigido de um país que já faz acesso à educação em seus diversos níveis. parte de um cenário global. O Brasil tem a quinta maior população e área do mundo, 8.514.876,599 km2, com especificidades próprias, como recursos naturais, idioma único, geo- O CENTRO UNIVERSITÁRIO ENQUANTO grafia diferenciada. Nossa certeza, ainda enquanto co- MODELO PROGRESSIVO E CONTÍNUO DE lônia, sempre esteve atrelada a essas peculiaridades. QUALIDADE Entendemos, agora, que o perfeito conhecimento e a compreensão de nossa realidade significaram molas Os críticos dos centros universitários argumen- propulsoras para que, na década de 90, fossem criados tam que essas instituições se beneficiam das vanta- e regulamentados os centros universitários, a partir gens da autonomia universitária, sem as exigências das demandas e anseios naturais. Os centros foram in- decorrentes da pesquisa e da pós-graduação, dentre troduzidos no contexto da educação superior nacional outras. pelo Decreto n. 2.306/97, que regulamenta o art. 48 Podemos admitir que as motivações iniciais de da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (LDB). O alguma instituição de ensino superior em buscar o art. 12 do Decreto define que “são centros universitá- status de centro universitário passem pelo desejo dos rios as instituições de ensino superior pluricurricula- benefícios que traz essa nova situação jurídica. Contu- res, abrangendo uma ou mais áreas do conhecimento do, à semelhança de um adolescente que procura as e se caracterizam pela excelência do ensino oferecido, facilidades e a autonomia que um adulto possui, logo comprovada pela qualificação de seu corpo docente atinge a consciência de novas responsabilidades, mes- e pelas condições de trabalho acadêmico ofertadas mo se não impostas. à comunidade escolar, nos termos das normas esta- belecidas pelo ministro de Estado da Educação e do Dentre os diferentes referenciais estabelecidos Desporto para o seu credenciamento”. pelas políticas públicas atuais e com objetivo de con- firmar nossa afirmação de que o centro universitário A partir da regulamentação, muitas instituições assume responsabilidades de maneira voluntária, lem- em funcionamento buscaram a transformação em bramos o Sistema Nacional de Avaliação da Educação centro universitário, pela certeza do cumprimento Superior (SINAES). dos preceitos legalmente instituídos, mais especifi- camente pela necessidade social da região onde se Criado pela Lei n. 10.861, de 14 de abril de 2004, inseriam. o SINAES é a mais recente sistemática de avaliação proposta pelo MEC (INEP, 2006). O modelo centro universitário, por seu ineditis- mo, trouxe consigo credenciamentos por período de O eixo de avaliação do primeiro instrumento é tempo relativamente curto, entre três e cinco anos, a estrutura que contempla as dez dimensões do SI- para que as instituições pudessem estabelecer crono- NAES, que identificam as centralidades da atuação grama de funcionamento e ter a verificação de suas institucional: trajetórias acompanhadas e corrigidas, quando neces- 1. A missão e o plano de desenvolvimento ins- sário, pelo poder público. titucional;

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2. A política para o ensino, a pesquisa, a pós-gra- gundo contingente mais representativo (18%) é o dos duação, a extensão; docentes com 11 a 20 anos de trabalho na respectiva 3. A responsabilidade social da instituição; instituição. O menor percentual fica com os docentes com 21 anos ou mais de atuação. (INEP, 2007) 4. A comunicação com a sociedade; Os dados também apontam as áreas de conheci- 5. As políticas de pessoal, as carreiras do corpo mento com o maior percentual de docentes em atua- docente e do corpo técnico-administrativo; ção: Ciências Sociais, Negócios e Direito, 29%; Saúde 6. Organização e gestão da instituição; e Bem-Estar Social, com 20%, e Educação, com 17% 7. Infra-estrutura física, especialmente a de ensi- dos professores das IES. A área de Ciências, Matemá- no e de pesquisa, biblioteca, recurso de informação e tica e Computação concentra 12%. Os centros neces- comunicação; sitam ter, em seus quadros, docentes mais titulados e 8. Planejamento e avaliação, especialmente os com atividades múltiplas, provocando ações paralelas processos, resultados e eficácia da auto-avaliação ins- e constantes de qualificação pedagógica e de elevação titucional; dos patamares de titulação. A busca da pesquisa, da participação em ações governamentais de desenvol- 9. Políticas de atendimento aos estudantes; vimento, de cursos stricto sensu próprios representa 10. Sustentabilidade financeira. algumas das ações que qualificam o fazer dos centros A percepção das dimensões do SINAES por par- nos últimos anos. Indubitavelmente, a captação de re- te do centro universitário não é a mesma que assu- cursos para a pesquisa, consolidação de grupos cientí- me uma faculdade isolada. As responsabilidades de- ficos, oferta dos programas de mestrado e doutorado, correntes aumentam pelo novo olhar interno e pelos participação de ações amplas no desenvolvimento re- olhares externos apontados na nova configuração ins- gional, sem possuir em seus quadros amplos contin- titucional. Passamos a analisar algumas decorrências gentes de docentes fixados em regimes de trabalhos inevitáveis que estão modificando a ação educativa diferenciados e com capacidade de impacto científico dos centros. em seu meio, é tarefa inconsistente. A qualidade de- Embora o centro universitário não esteja com- corrente desses investimentos em pessoas é patente prometido com o desenvolvimento da pesquisa, não em todos os centros que agora mantêm presença ga- há como eximi-lo da obrigação de repensar suas rantida nas grandes discussões regionais. políticas de ensino e de extensão sem a necessária Uma observação pertinente, conseqüência da correlação com a pesquisa. O clima acadêmico que fixação de docentes qualificados e com maiores es- é gerado impulsiona novos comportamentos por par- paços de atuação nos centros, são os investimentos te de seus atores: dirigentes, professores e alunos. É necessários em infra-estrutura. À medida que uma gerada uma cobrança implícita e novas posturas são instituição aumenta seus quadros qualificados, emer- adotadas: os dirigentes estimulam a capacitação e a ge uma demanda por bibliotecas e base de dados ain- fixação de docentes mais qualificados, os professores da mais especializadas, por laboratórios que de fato e alunos mantêm uma relação de maturidade, sabedo- propiciem pesquisas de alta penetração regional, por res de novas responsabilidades acadêmicas. A mesma equipamentos sofisticados, por redes de intercâmbio comunidade externa visualiza o centro com novos científico, dentre outras. olhares e cobra uma presença maior nas grandes dis- Investimentos em infra-estrutura exigem, por ou- cussões regionais. tro lado, uma capacidade de gestão altamente profis- Outra decorrência que emerge com vigor no sional, a fim de viabilizar todos os empreendimentos. centro é o compromisso com a qualidade de seu cor- Em última análise, o beneficiário de tudo isso é po docente, por meio do aperfeiçoamento contínuo e o aluno, inserido em um novo processo cultural e esti- da necessária construção de uma política eficiente de mulado a experimentar diferente modelo de aprendi- captação e fixação de docentes, prevendo um regime zado, mais crítico, mais construtivo e mais autônomo. de trabalho compatível com a natureza do centro uni- versitário. Há expressiva contribuição dos centros universi- O CENTRO UNIVERSITÁRIO EM CONTEX- tários com a qualificação dos docentes, incrementan- do o número de profissionais de todas as áreas, que TO AMAZÔNICO passam a se preparar e assumir a prática educacional. No Amazonas, faz apenas oito anos, foi iniciada Recentes dados divulgados pelo Instituto Nacional a oferta para a formação de profissionais fisioterapeu- de Ensino e Pesquisa (INEP) revelam que a maioria tas, nutricionistas, fonoaudiólogos e biólogos dire- (36%) dos 242.795 professores que atuam nas IES bra- cionados às ciências que estudam o ambiente. A tão sileiras tem no máximo cinco anos de docência. O se-

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necessária preservação da floresta só se faz possível, de Ensino Superior do Amazonas e, em 1988, o Centro a partir da perfeita compreensão do ecossistema, que de Ensino Superior da Amazônia, ambas perfazendo só pode ser alcançada pelo conhecimento. Essa tem um total de 480 vagas para o ensino superior no Esta- sido, dentre muitas outras, a principal contribuição do, quase 10% do número ofertado à época pelo poder dos centros universitários, a interação rápida, fácil e público. permanente com o seu entorno. A observação e per- Atualmente, há 2457 instituições de ensino su- muta fluente com o meio social garante alto índice de perior no Brasil: 148 na região Norte; 441 na região empregabilidade para os jovens profissionais de di- Nordeste; 1190 na região Sudeste; 412 na região Sul; versas carreiras, além de possibilidades infinitas de 266 na região Centro-Oeste, distribuídas em univer- educação continuada nas distintas áreas do conheci- sidade, centro universitário, faculdades integradas, mento. faculdade, instituto superior ou centro de educação Há em funcionamento, no Brasil, 124 centros tecnológica. Os centros universitários representam universitários. Especialmente na região amazônica 5,047% do total de IES. nem sempre foi assim. Imenso espaço vazio, ocupa- No estado do Amazonas, o primeiro centro uni- ção desordenada e falta de conhecimento científico versitário caracterizou-se por propiciar a formação de sempre foram características da Amazônia brasileira, profissionais em carreiras até ali inéditas, apesar de que, especialmente no Amazonas, maior estado da fundamentalmente importantes para satisfazer às ca- região Norte, se potencializa, em virtude de dificul- racterísticas sociais, econômicas e naturais do Estado. dades geradas por uma geografia que transforma rios A história do Amazonas foi entrecortada por momen- em estradas, distâncias em isolamento, práticas empí- tos de extremo desenvolvimento à época da riqueza ricas em sobrevivência de espécies. Este Estado, que produzida pelo extrativismo da borracha, e longo tem por área absoluta 1.577.820,2 km2, com uma po- período de aparente ausência de oportunidades, em pulação estimada em 3.300.000 hab e uma densidade princípio quebrado a partir da criação do atual mo- demográfica de 2,06 hab/km2 (2006), enfrentou, até a delo econômico, ainda fundamentalmente fincado década de 80, uma quase completa ausência de oferta no Pólo Industrial de Manaus (PIM), que congrega para o ensino superior. enorme conglomerado de indústrias que se instalam A Universidade Federal do Amazonas foi funda- na região, em busca dos incentivos fiscais concedidos da em 17 de janeiro de 1909 por um grupo de idealis- pelo poder público. Ainda sendo essa a principal fon- tas, que, ao reconhecer a pujança da região, perce- te de desenvolvimento, as características geográficas beu que apenas por meio da compreensão da terra, privilegiadas fixam olhares internacionais na direção de suas potencialidades, da geração de qualidade de da região, o que provoca inúmeras reações nas pes- vida, de fatores de renda, haveria a preservação do soas e no lugar. Quer para potencializar os atraentes ambiente promissor da época. A Escola Universitária números da economia local, formada pelo PIM, quer Livre de Manáos, mais tarde denominada Universida- para privilegiar estudos, pesquisas, fontes alternati- de de Manaós, acabou por se desintegrar em oferta vas de desenvolvimento sustentável com o manejo da de cursos isolados. Apenas em 1962, por força da Lei floresta, estão as instituições de ensino, que formam federal n. 4.069-A, foi restabelecida já com o nome de profissionais por meio de matrizes com forte inserção Universidade do Amazonas e constituída pela reinte- regional, tornando diferentes e fundamentalmente es- gração das instituições de ensino isoladas que atua- pecializados engenheiros, arquitetos, médicos, que vam no Estado. Ao longo dos 53 anos do surgimento contemplam em seus estudos endemias próprias e até sua retomada, e ainda pelos 24 anos seguintes, foi únicas, novamente em função da riquíssima fauna e a única possibilidade de ensino superior para os ama- flora. Os centros universitários foram, sem dúvida, os zonenses. responsáveis por toda uma sensível modificação sofri- Esta região, nos final dos anos oitenta, percebeu da na formatação dessas matrizes e inseriram em cada modificações significativas para oferta das vagas de uma delas, muitas vezes conteúdos ainda não cristali- acesso ao ensino superior mediante políticas de Esta- zados, porém fundamentalmente relevantes para o ho- do para o fortalecimento das universidades públicas, mem nativo, sua força de trabalho e a região. associado especialmente às questões de dotação or- Ao iniciar-se a educação tecnológica, novamente çamentária. os centros universitários se distinguiram e ofertaram O surgimento de institutos marcadamente pre- cursos perfeitamente sincronizados com o mundo do vistos em lei garantiu alguma flexibilização quanto à trabalho e com a rapidez com que dogmas são reafir- oferta de cursos a partir das necessidades sociais di- mados ou negados enquanto verdade científica. Cur- ferenciadas, tipicamente regionais. Nos últimos anos sos com durações mais curtas oportunizam estudos daquela década, na cidade de Manaus, duas novas ins- diretos quanto ao clima, vegetação, fármacos advindos tituições foram criadas: em 1986, o Centro Integrado da rica flora em que a região está incrustada, logística

91 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

regional ou design de produtos específicos. fase na sustentabilidade socioambiental, numa nova Nesses anos de funcionamento, os centros uni- racionalidade, em que se articulam natureza, técnica versitários estruturaram suas unidades de pesquisa e cultura. A sustentabilidade, como novo critério bási- científica, fortaleceram o laço com a comunidade e co e integrador, precisa estimular, permanentemente, construíram seus programas de pós-graduação, não as responsabilidades éticas, à medida que o enfoque por obrigatoriedade, mas sim pela certeza de que a extra-econômico serve para reconsiderar os aspectos excelência do ensino só pode ser perseguida e alcan- relacionados com a justiça e cidadania. A noção de çada com a instalação dos agentes necessários para a sustentabilidade implica, portanto, uma inter-relação oferta de um ensino de qualidade. necessária de justiça social, qualidade de vida, equi- líbrio ambiental e ruptura com o atual padrão de de- Em razão do novo que representam, foram sis- senvolvimento. tematicamente testados e avaliados, seja por instru- mentos desenvolvidos pelo poder público, seja espe- Nesse contexto, o Brasil e, conseqüentemente, cialmente pela competitividade em que o segmento o estado do Amazonas precisam formar profissionais está inserido. No estado do Amazonas, na cidade de compromissados com o desenvolvimento social do Manaus, há duas universidades, quatro centros uni- País. versitários, dez faculdades, um centro de educação tecnológica e três institutos, representando mais de 35000 vagas/ano de acesso ao ensino superior. Cabe CONSIDERAÇÕES FINAIS enfatizar que a somatória de alunos dos quatro cen- tros universitários representa praticamente três vezes Por variados motivos que fogem ao objetivo des- o número de matriculados na instituição federal. Há te trabalho, há vozes dissonantes sobre o papel e até vinte anos, no Estado havia oferta de, aproximada- mesmo sobre a existência dos centros universitários. mente, apenas 4000 vagas. O que desejamos evidenciar é uma tese consolidada O surgimento dos centros universitários apon- pela prática real dessas novas instituições: a trans- tou para o crescimento da oferta de educação continu- formação em centro universitário proporciona os ada. Programas de aperfeiçoamento e especialização benefícios legais da flexibilidade e da autonomia uni- foram-se multiplicando e melhorou, de forma acentu- versitária, mas traz, intrinsecamente, um conjunto de ada, a qualificação dos profissionais formados pelas responsabilidades ancoradas nas demandas do meio. IES da região. As pesquisas indicam que quase todos Mais que status legal e social, a condição de “centro” os egressos retornam às instituições após o término impele a um agir educativo que movimenta uma teia do curso superior, a fim de continuar sua formação, de relações que, em última análise, significa mais especialmente nos centros universitários, já que, nes- qualidade acadêmica e social. É verdade que o centro ses, estão programas em harmonia com as necessida- universitário passou a usufruir de prerrogativas, an- des do mundo corporativo. tes exclusivas da universidade, mas é vigente também Os dez anos de funcionamento consolidaram um caminho que percorre a busca permanente pela a necessidade da qualificação permanente do corpo qualidade, ainda por meio de uma ação extensiva mais docente. Novas tecnologias em salas de aula, labora- ampla, pela implementação da política em todos seus tórios modernos e em atividade contínua, incentivo à níveis, desde a iniciação científica até cursos de mes- publicação, plano de carreira, são o dia-a-dia dos cen- trado e doutorado. tros na relação com o corpo docente. Novamente de O momento presente do centro universitário faz forma diferenciada, encontra-se a região Norte, onde com que assuma em profundidade compromissos de está o menor número de mestres e doutores do país, maneira espontânea, de forma a atingir metas ousadas índice inversamente proporcional às necessidades re- de compromisso com a região em que vive. A postura gionais. do Centro Universitário Nilton Lins na região amazô- O estado do Amazonas é um dos terrenos privile- nica é o exemplo mais patente de um desejo que extra- giados das grandes discussões ambientais, possuindo pola suas obrigações legais e o torna partícipe de um em seu território 97% de floresta nativa preservada e processo de desenvolvimento. uma população de 2.813.085 habitantes, distribuída em 62 municípios (IBGE, 2000). Com o avanço da frontei- ra agrícola, o aumento da pressão sobre o ambiente natural e a constante preocupação com o uso dos re- cursos naturais da floresta, o tema sustentabilidade na Amazônia tem sido constantemente discutido. A produção de conhecimento científico deve priorizar um novo perfil de desenvolvimento, com ên-

92 PRIMEIRA PARTE

IMPACTO ECONÔMICO, SOCIAL E CULTURAL DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS EM SUAS REGIÕES:UM ESTUDO DE CASO. Eloni José Salvi(*) e Roque Danilo Bersch(**)17

Colaboradores: Ângela Haberkamp, Carlos M. Giasson, Maria L. de Azevedo, Samuel de Conto e Sandra M. A. Kaufmann.

RESUMO Na primeira das pesquisas, da população de 291 professores obtiveram-se 150 respostas; dos 385 fun- O presente texto resulta de um estudo de caso cionários, estagiários e bolsistas foram obtidas 263 referente à temática “Reflexos dos centros universitá- respostas; dos 387 egressos consultados, voltaram 118 rios sobre as regiões em que eles foram instalados”. É respostas; e dos 8.426 alunos de graduação, 368 res- ancorado em breve revisão bibliográfica das teorias e postas. Os dados secundários foram apurados quanto princípios do desenvolvimento de regiões e nas infor- a seu montante e variação percentual entre os perío- mações colhidas junto a um centro universitário, sen- dos. Ainda na primeira pesquisa, os dados de campo do ilustrado por dois trabalhos específicos adicionais: foram tabulados com auxílio do software estatístico uma pesquisa sobre impactos econômicos diretos, do SPHINX ® e, posteriormente, em planilha eletrônica, tipo quantitativo-descritiva, fundamentada na literatu- tendo sido analisados segundo sua freqüência, mé- ra sobre ensino superior e desenvolvimento regional, dia, moda, e efetuados cruzamentos entre algumas que utilizou como método de estudo a pesquisa des- variáveis. Os dados das amostras foram extrapolados critiva quanto aos fins e a bibliográfica, telematizada para a população por regra de três simples. Apurou-se e de campo quanto aos meios; e uma breve pesqui- que o PIB do VT em 2004 foi de R$ 5.432.289.193,00, sa de opinião do tipo descritivo-qualitativa, realizada o número de empregos gerados pela UNIVATES re- entre pessoas destacadas em função da sua liderança presenta 3,31% dos empregos do município de Laje- nos campos econômico, político ou cultural e perten- ado, e 0,97% do VT (2005). A UNIVATES, em 2005, centes a uma faixa etária que lhes permite avaliar os realizou gastos de R$ 3.432.162,99 fora do VT e de R$ efeitos da transformação, em 1997, das faculdades iso- 7.318.021,93 dentro do VT. Os professores, funcioná- ladas da Fundação Alto Taquari de Ensino Superior rios, estagiários e bolsistas realizam um gasto men- (FATES), nas Unidades Integradas Vale do Taquari de sal de R$ 1.136.669,14, sendo 85,35% no VT e 14,65% Ensino Superior (UNIVATES) e do seu conseqüente fora do VT. Os alunos realizam um gasto mensal de credenciamento como centro universitário, em 1999. R$ 9.608.639,48, sendo 95,22% no VT e 4,78% fora do Ambas as pesquisas situam-se dentro do objetivo VT. Os egressos realizaram em 2005 um gasto total de maior de avaliar o impacto econômico e social, sobre R$ 1.171.099,46, o que representou um gasto de R$ a região do Vale do Taquari (VT), do crescimento que 3.026,10 per capita. Somando-se os valores gastos no esta Instituição de Ensino Superior (IES) experimen- VT pela UNIVATES e pelos colaboradores, nos cinco tou então. Admitimos que, devido à dificuldade de anos pesquisados, chega-se a um valor de aproxima- mensuração de diversas das variáveis que cercam o damente R$ 90.000.000,00 (noventa milhões de reais) problema, as conclusões apresentadas pelas pesqui- que foram injetados na economia do VT neste perí- sas não podem ser transformadas em informações de odo. Adicionando-se o valor de R$ 7.011.395,45 men- caráter científico. Outra limitação em nossa pretensão sais ou R$ 420.683.727,00 nos 5 anos pesquisados, consiste no fato de que os reflexos mais profundos, na que deixaria de ser gasto pelos alunos no VT, caso a Sociedade, do fortalecimento da Educação Superior UNIVATES não existisse, chega-se ao montante de exigem longos prazos para se tornarem claros e cons- aproximadamente R$ 510.000.000,00 no período. Se tantes, o que, entretanto, não invalida estudos iniciais considerarmos o efeito multiplicador deste gasto na da natureza do que aqui apresentamos, nem retira a economia local, chega-se ao valor aproximado de R$ importância das informações obtidas, para o traçado 2.000.000.000,00 entre 2001 e 2005. Como o PIB do de estratégias e a definição de políticas para o setor. VT entre 2001 e 2005 é de aproximadamente R$ 23 bilhões, o impacto combinado da participação da UNI- 17 (*)Formado em Ciências Econômicas, com Mestrado em Adminis- VATES no VT é de aproximadamente 8,7%. tração. Professor do Centro Universitário Univates (**)Formado em Letras, com Mestrado em Letras/Lingüística. Profes- sor do Centro Universitário Univates

93 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

INTRODUÇÃO e equipamentos, pelas despesas de custeio e pelos gastos dos professores e alunos oriundos de outras O grande número de centros universitários e regiões, cujo montante exerce, sobre as atividades a diversidade cultural, geográfica e até de tempo de econômicas locais, um efeito dinâmico e multiplicador atuação que marca o conjunto dessas IES, influindo imediato. diferentemente em suas ações sobre os ambientes ge- É importante que se mensurem tais impactos, a ográficos em que elas se inserem, apresentaram-nos fim de demonstrar à sociedade do VT, bem como aos um problema inicial na abordagem do tema proposto: responsáveis pelo planejamento do desenvolvimento ou o texto precisaria estender-se às dimensões ne- nacional sustentado na distribuição e descentraliza- cessárias para contemplar com o devido destaque as ção de bens materiais e culturais, os reflexos desta especificidades várias, ou nos veríamos limitados ao atividade sobre uma região. estudo de traços genéricos e abrangentes, certamen- Reconhecemos que a mensuração dos impactos te pouco palpáveis e eloqüentes. Da reflexão sobre o mais duradouros, além de ser extremamente comple- desafio, nasceu a decisão de optar por um ‘estudo do xa, requer informações que a exigüidade do tempo caso’ e de escolher para tanto uma instituição cujas re- transcorrido entre o credenciamento, como centro lações com a região de abrangência imediata estives- universitário, da IES estudada e o presente momento sem delimitadas por aspectos histórico-geográficos e ainda não permite definir com segurança. Por outro étnico-político-culturais. lado, entendemos que os indicadores colhidos na pri- Nos estudos econômicos do desenvolvimento, a meira das pesquisas e mencionados no Resumo, bem educação desponta sempre como condicionante para como as opiniões colhidas entre lideranças da região que uma nação logre galgar estágios avançados de e, principalmente, as iniciativas que foram e estão sen- crescimento econômico e social. Sua vinculação está do desenvolvidas pela IES e são descritas ao longo do fundamentada na capacidade, adquirida por meio do texto, fornecem indicativos na direção desejada. conhecimento, de aproveitar as oportunidades e levar a efeito novos arranjos produtivos e distributivos. Assume-se, geralmente, que educação é par- ceira do conhecimento e, sendo este a fonte ASPECTOS DO PANORAMA DO ENSINO principal da inovação, estaria diretamente SUPERIOR NO BRASIL envolvida nas mudanças da sociedade e da economia, como quer, por exemplo, a assim A UNIVATES, como um Centro Universitário, dita “qualidade total”. Sendo desenvolvi- faz parte de um sistema educacional diversificado, mento o reflexo direto da capacidade de mu- que no Brasil se caracteriza por ser majoritariamente dar, a educação desempenha para tanto um conduzido pela iniciativa privada. papel central, dependendo de sua definição “O setor de ensino superior brasileiro deverá obviamente, e, neste caso, valendo como in- vestimento fundamental. (Demo, 2006) movimentar em mensalidades cerca de R$ 15 bilhões Ao educar-se, o cidadão capacita-se a refletir so- este ano (2005), sendo R$ 150 milhões só com as ta- bre o seu meio e a agir no sentido de promover as xas de inscrição para os vestibulares e os manuais do transformações econômicas, tecnológicas e culturais candidato” (CM NEWS, 2005). de que a sociedade precisa para melhorar continua- Seguindo essa tendência, o número de IES tam- mente a qualidade de vida. É nesse sentido que a edu- bém vem apresentando avanços nos últimos anos. cação se conecta ao desenvolvimento local, permitin- Conforme dados do Censo do Ensino Superior reali- do “formar pessoas que amanhã possam participar de zado pelo INEP em 2005, existiam 2.165 IES no país. A forma ativa das iniciativas capazes de transformar o divisão por organização acadêmica estava distribuída seu entorno, de gerar dinâmicas construtivas.” (Dow- entre os seguintes formatos institucionais: Universi- bor, 2006). Isto se dá a partir dos fluxos econômicos e dades 8,13%; Centros Universitários 5,27%; outras: interações sociais, direta e indiretamente impulsiona- 86,61%. Quanto à distribuição administrativa, 89,33% dos pelas instituições educacionais. eram privadas e 10,67%, estatais. Além de iniciar esse processo de formação e Em 1998, o número de matrículas nessas IES aperfeiçoamento de profissionais, de diversificação e foi 2.125.958; em 1999, 2.369.945 (+11,48%); em 2000, qualificação de técnicas nas atividades econômicas e 2.694.245 (+13,73%); em 2001, 3.030.754 (+12,50%); de mobilização cultural de abertura para a conscien- em 2002, 3.479.913 (+14,82%); em 2003, 3.887.022 tização sobre a necessidade de inserir a região na (+11,70); em 2004, 4.163.733 (+7,12%); e em 2005, comunidade global, a educação superior representa 4.453.156 (+6,95%). Comparados entre si os números a movimentação de recursos financeiros representa- absolutos referentes aos anos de 2000 e 2005, verifica- da pelo pagamento de, pelos investimentos em obras se que o índice de aumento do número de matrículas

94 PRIMEIRA PARTE

foi de 65,28%, inferior ao índice verificado no aumento do número de IES (+83,50%) e de cursos ofertados (+92,80%), no período, como se observa nas Figuras 1 e 2, que seguem.

Figura 1.- Evolução do Número de Instituições de Ensino Superior no Brasil, 2000 - 2005

Universidades Centros Universitários Outras Total

2000 2005 ∆% 2000 2005 ∆% 2000 2005 ∆% 2000 2005 ∆%

Pública 71 90 26,8% 1 3 200,0% 104 138 32,7% 176 231 31,3%

Privada 85 86 1,2% 49 111 126,5% 870 1737 99,7% 1004 1934 92,6%

156 176 12,8% 50 114 128,0% 974 1875 92,5% 1180 2165 83,5%

Sul 36 39 8,3% 6 16 166,7% 134 315 135,1% 176 370 110,2%

Sudeste 71 78 9,9% 37 78 110,8% 559 895 60,1% 667 1051 57,6%

Centro-Oe ste 12 14 16,7% 3 10 233,3% 119 210 76,5% 134 234 74,6%

Nordeste 28 33 17,9% 2 3 50,0% 127 352 177,2% 157 388 147,1%

Norte 9 12 33,3% 2 7 250,0% 35 103 194,3% 46 122 165, 2%

156 176 12,8% 50 114 128,0% 974 1875 92,5% 1180 2165 83,5%

Fonte: Censo da Educação Superior – INEP – 2000 e 2005

Figura 2.- Evolução do Número de Cursos Superiores no Brasil, 2000 - 2005

Universidades Centros Universitários Outras Total

2000 2005 ∆% 2000 2005 ∆% 2000 2005 ∆% 2000 2005 ∆% Pública 3560 5412 52,0% 5 43 760,0% 456 736 61,4% 4021 6191 54,0% Privada 3263 5480 67,9% 865 2499 188,9% 2436 6237 156,0% 6564 14216 116,6% 6823 10892 59,6% 870 2542 192,2% 2892 6973 141,1% 10585 20407 92,8% Sul 1830 2432 32,9% 115 346 200,9% 437 1115 155,1% 2382 3893 63,4% Sudeste 2557 4443 73,8% 642 1753 173,1% 1645 3353 103,8% 4844 9549 97,1% Centro-Oeste 614 967 57,5% 49 217 342,9% 326 739 126,7% 989 1923 94,4% Nordeste 1277 2132 67,0% 27 78 188,9% 358 1350 277,1% 1662 3560 114,2% Norte 545 918 68,4% 37 148 300,0% 126 416 230,2% 708 1482 109,3% 6823 10892 59,6% 870 2542 192,2% 2892 6973 141,1% 10585 20407 92,8% Fonte: Censo da Educação Superior – INEP – 2000 e 2005

Das Figuras 1 e 2 depreende-se também que o maior crescimento no número de IES e de cursos ofertados no País, entre os anos de 2000 e 2005, deu-se nos centros universitários. Estes, por sua vez, durante o período, multiplicaram-se em índices maiores nas regiões Norte e Centro-Oeste. Cabe mencionar, finalmente, que a projeção do Ministério da Educação (MEC) do número de matrículas no ensino superior para 2010 é de mais de 9 milhões (INEP, 2005).

DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Uma região se identifica por uma delimitação geopolítica, formal ou informalmente constituída, que hie- rarquicamente “deve ser vista como abaixo da administração estadual (Estado Federado) e acima do plano local (cidades e municípios)” (Grifo nosso.) (Stember, 1996, p. 35). Embora os critérios para definir uma região sejam diversos, as regiões se constituem principalmente por

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critérios políticos, econômicos e sociológicos, que es- dade deve ser assumida.” pelham um conjunto de características e semelhanças Naturalmente que a região não pode fugir das de suas comunidades (Stember, 1996, p. 36). Segundo contrariedades e conflitos internos e externos e é pa- Becker (2000, p. 7) “... a natureza e a cultura juntas, pel de suas lideranças atuar no sentido de harmonizar como processos interagentes, é que conferem forma e interesses, pois o desenvolvimento individualidade aos lugares (às regiões). Enfim, con- ... resultará da capacidade organizacional formam o próprio e o específico do lugar (da região), dos agentes regionais (econômicos, sociais, distinguindo-o do geral e dos seus singulares.” (Grifo políticos) de superarem as contradições e nosso.) resolverem os conflitos através da articula- É da identidade de uma região, decorrente de ção dos interesses locais com os interesses so- suas semelhanças e diferenças perante as demais re- cio-ambientais regionalizados e, sobre essa giões, que emerge o modo como ela se relaciona com articulação, portanto, após essa integração, o global e se desenvolve no particular. construírem um projeto próprio e específico de inserção diferenciada e diferenciadora, ...as especificidades (culturais, naturais, portanto alternativa, do desenvolvimento ético-ideológicas), porque fonte de diferença, regional no desenvolvimento global.. (Grifo tornam-se as moedas a definir os ritmos de nosso.) (Becker, 2002, p. 15) valorização de cada região, enfim, valoriza- Além disso ção do humano, e, portanto, dinamizado- ras de um processo próprio e específico de el desarollo regional consiste em un proce- desenvolvimento regional. (Grifo nosso.) so de cambio estructural localizado (em un (Becker, 2004b, p. 144) ambito territorial denominado “región”) Conforme Becker (2004b, p. 145) “não há como que se asocia a un permanente proceso de pensar o processo de desenvolvimento de uma região progreso de la propia región, de la comu- nidad o sociedad que habita em ella y de sem considerar as condições sociais, políticas, econô- cada individuo miembro de tal comunidad micas, de estruturação e organizações das comunida- y habitante de tal territorio. Obsérvese la des locais”. Neste particular, aparece uma diferencia- complejidad de esta definición al combinar ção entre o regional e o local. tres dimensiones: un dimensión espacial, Diferentemente da região que se identifica de un dimensión social y un dimensión indivi- uma forma pré-concebida, como é o caso do VT, o dual. (Boisier, 2000, p. 160) local possui um conceito mais amplo e se identifica Dadas essas características diferenciadoras do a partir de seu referencial externo. “En realidad, lo regional, não se considera que o desenvolvimento “local” sólo hace sentido cuando se le mira, por así de- local seja simplesmente versão reduzida do desenvol- cirlo, “desde afuera y desde arriba” y así las regiones vimento nacional, pois possui dimensões e dinâmicas contituyen spacios locales miradas desde el país así próprias e específicas. Isto exige, por conseqüência, como la provincia es local desde la región y la comuna teorias também próprias, para explicar e compreen- lo es desde la provincia, etc.” (Boisier, 2000, p. 161) der o desenvolvimento do lugar (Becker, 2000, p. 14). Lo local es un concepto relativo a un es- Na literatura sobre desenvolvimento regional pacio más amplio. No puede analizarse lo temos diversas teorias: da dependência, do cresci- local sin hacer referencia al espacio más mento regional, da especialização e da localização abarcador en el cual se inserta (município, industrial (Clemente, 2000). “Em todas elas se destaca departamento, provincia, region, nación). um determinado mecanismo que dispara o processo de Actualmente se juega con la contraposici- crescimento econômico da região, que acaba por ‘con- ón ‘local/global’ mostrando las paradojas y taminar’ positivamente todas as atividades econômicas relaciones entre ambos términos. (Di Pie- da região e, em conseqüência, o seu desenvolvimento. tro, 1999 apud Boisier, 2000, p. 161) A condição inicial necessária é apenas o surgimento de Desta forma, a região é um espaço geopolítico de renda e demanda no interior da região em escala sufi- dimensões definidas, enquanto o local pode em certos ciente para que se torne viável a substituição de impor- momentos se referir apenas a um bairro de uma cida- tações.” (Grifo nosso.) (Clemente, 2000) de e, em outros momentos, a um continente inteiro. E são estas condições particulares de cada re- A região então reflete um ambiente onde os gião que vai definir o modo como cada região se posi- mecanismos de desenvolvimento tendem a ser uni- ciona estrategicamente no ambiente competitivo, hoje formes, segundo a dinâmica provocada pelo conjunto fundado principalmente no conhecimento. da sociedade daquele lugar, e exige o máximo de au- tonomia sobre as decisões que afetam seus destinos. (...) tendo presente que “como tudo o mais Stember (1996, p. 37), neste sentido, defende que as saindo da equação competitiva, o conheci- mento tornou-se a única fonte de vantagem “decisões devem ser tomadas onde sua responsabili-

96 PRIMEIRA PARTE

competitiva sustentável a longo prazo” da regional não foi corretamente tratada. região (do lugar). Conhecimento que (Cano, 1985, p. 44) “pode ser empregado somente através das Não será com uma postura “técnica” e sim habilidades” de articulação dos agentes lo- com uma firme posição política – explicita- cais-regionais, sujeitos diretos e legítimos da por amplo respaldo democrático – que do processo de desenvolvimento da região se poderá avançar na confecção de “planos (do lugar). (Becker, 2000, p. 14) regionais” e principalmente, na tomada Para que as regiões possam pensar local e agir de decisões políticas que tenham por ob- globalmente, interagindo de forma aberta com os de- jetivo uma efetiva melhoria das condições mais espaços econômicos e sociais, há necessidade de de vida das populações mais carentes... informações transformadas em conhecimento sobre e (Cano, 1985, p. 46 e 47) para o desenvolvimento da região (do lugar), pois Embora complexo, é certo que cada região preci- sa estabelecer seu modo de resolver seus problemas ...o processo de desenvolvimento deixa de ser pura e simplesmente uma questão e encontrar o melhor caminho para seu desenvolvi- quantitativa e adquire crescentes dimen- mento, “consciente de que não há fórmulas, métodos, sões qualitativas, através do pleno reco- modelos ou estratégias pré-definidas que assegurem nhecimento e do pleno desabrochar das os resultados. Desenvolvimento é, ao mesmo tempo, diversidades regionais. Por esse caminho, um estado e um processo, ambos complexos.” (Sie- a qualidade deixa de ser usada tão somente denberg, 2003, p. 171) para potencializar a quantidade. Não é um Assim, o processo de desenvolvimento de uma puro e simples processo de diferenciação região depende muito de sua organização social e dos para conquistar crescentes fatias de mer- princípios no qual esta organização se fundamenta. cado. A qualidade entra aqui como resul- tado das diversidades culturais, naturais, Segundo Becker (2002, p. 15) “o desenvolvimento não ético-morais, configurados e conformados é causa, mas a conseqüência da democracia partici- em cada região. (Becker, 2004a, p. 106) pativa e esta, por sua vez, é resultado da organização E este processo de pensar e desenvolver uma social. Em conseqüência, uma sociedade mais organi- região não é tão simples que dependa apenas de um zada é uma sociedade mais democrática [e em conse- conjunto limitado de variáveis ou esteja facilmente ao qüência] uma sociedade muito mais desenvolvida”. alcance de determinadas lideranças regionais. “..., as instituições sociais representam pa- ... é praticamente impossível destacar pel determinante sobre os resultados das estratégias de desenvolvimento que se ações econômicas: às vezes, as instituições amparam num paradigma exclusivo, pre- são obstáculos aos ganhos sociais advindos dominante, genuíno. As diretrizes de de- das trocas entre os agentes econômicos e, senvolvimento atualmente empregadas às vezes, promovem a eficiência, condu- são uma mescla de experiências, resigna- zindo as sociedades ao desenvolvimento.” ções, restrições e possibilidades, e a glo- (Becker, 2003) balização do conhecimento funde e reapre- Bandeira (2000, p. 105) estabelece uma vincula- senta, constantemente, idéias, estratégias ção do desenvolvimento regional com sua organização e práticas de sucesso com outras ainda não institucional, ao afirmar que “os COREDEs18 melhor consolidadas ou, mesmo, com concepções sucedidos são os que contam com apoio permanente e políticas “que, pelas mais diferentes ra- de instituições dotadas de credibilidade e cuja atuação zões, não tiveram o mesmo êxito em ou- tem abrangência regional, como é o caso das Univer- tros espaços”. (Grifo nosso.) (Siedenberg, sidades.” 2003, p. 166) Neste sentido, uma instituição como a UNIVA- Stember (1996, p. 45) chega a afirmar que “quem TES, passa a ter um papel importante no desenvolvi- hoje acha estar apto a conduzir uma região de forma mento local, tendo em vista as interações econômicas abrangente e certeira – seja lá em que dimensão e sociais que provoca em sua região de abrangência, – também crê na cegonha,...” formando uma rede de relações e ações alavancado- Cano (1985) já expressava sua descrença no pla- ras do desenvolvimento, como está representado na nejamento regional, pois considera que o grande pro- Figura 3. blema é que nele, invariavelmente, não se atacam as Segundo Casarotto Fº (2001, p. 13), um estudo origens da condição em que se encontra a região que realizado sobre a competitividade da indústria catari- se deseja planificar. nense, feito por duas organizações européias, demons- Não foi por falta de planos que a questão trou que a principal causa de sua baixa competitivida-

18 Conselhos Regionais de Desenvolvimento, criados pela Lei 10.283, de 17 de outubro de 1994

97 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

de internacional era “a falta de associativismo ou cooperação entre as empresas e dessas com suas representações empresariais e instituições governamentais de apoio industrial”. (Grifo nosso.) Um estudo realizado nos Estados Unidos e no Canadá mostrou que poucas cidades podem ser efetiva- mente consideradas de sucesso. As que foram consideradas de sucesso revelam como principais fatores desse resultado: a- a proximidade com uma universidade e a proximidade com a capital do Estado (EUA) ou com o Legislativo Provincial (Canadá); b- um forte caráter histórico; c- um apelo turístico muito forte (Filion, 2004).

Figura 3 – Rede de desenvolvimento local

Fonte: baseado em Casarotto Fº, 2001, p. 22. da seguinte maneira: 23,57% provêm da agropecuária, 47,06%, da indústria e 29,37%, do setor dos serviços (BDR/UNIVATES, 2005). O PIB per capita cresceu 46,2% no período 2001-2004, passando de R$ 11.630,81 O VALE DO TAQUARI: ASPECTOS GEO- para R$ 17.002,20. GRÁFICOS, HISTÓRICOS, ECONÔMICOS E SOCIAIS A partir da virada do Século 19 para o Século 20, o município de Lajeado passou a deter gradativamen- te, a maior participação no total da economia do Vale, apesar da perda sucessiva de cerca de 80% do seu território pelo processo emancipatório por que o Vale Descrição sumária da atualidade todo passou. O conjunto de Lajeado com outros nove municípios (Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul, Bom O VT é constituído de 37 municípios, direta ou Retiro do Sul, Encantado, Estrela, Muçum, Teutônia, indiretamente banhados pelo rio do mesmo nome. Taquari, e Roca Sales), representa aproximadamente Abrangendo uma área de 4.839,9 Km² (1,7% da área 73% do total do PIB do Vale. Uma constatação signi- do Estado), abrigava em 2005 cerca de 320 mil habi- ficativa é a relativa estabilidade, ao longo dos quatro tantes (2,97% da população do Estado) e dista, em mé- anos da série, da representatividade da economia da dia, 150 Km de Porto Alegre. A densidade demográ- Região no total do PIB Estadual. Em 2004, 3,8% do fica registra 65,65 habitantes por km² e a população produto gaúcho foi gerado no VT. reside em sua maioria na zona urbana (70%), enten- dida esta como o conjunto dos núcleos populacionais Houve, na região, uma ligeira queda no número municipais e distritais. Este quadro apresentou ligeira de matrículas no ensino fundamental e médio, no pe- alteração no período 2001-2005, quando diminuiu a ríodo 2002-2005. Esta situação pode ter relação com população rural. O Produto Interno Bruto (PIB) da a diminuição do número de habitantes jovens, com- Região atingiu em 2004 R$ 5,4 bilhões – um cresci- provada em índices como a variação negativa (-1,02%) mento de 52,6% sobre o ano de 2001 – e é composto da população na faixa etária de até 14 anos entre os

98 PRIMEIRA PARTE

anos de 2001 e 2005 (FEE), apesar diversas cidades princípios repercutiam nas sociedades de esporte e do VT terem recebido expressivo número de imigran- de lazer, também comunitárias. Junto ao núcleo pa- tes, nas duas últimas décadas, face à intensificação roquial, além de se divulgarem e reafirmarem cons- local do processo de industrialização. Constata-se, por tantemente os valores e os princípios de fé e religião, outro lado, um aumento nas taxas de longevidade da discutiam-se os assuntos de interesse comunitário e população. A faixa etária de 60 anos ou mais teve um se resolviam as contendas. crescimento de 8,58% entre 2001 e 2005 (FEE). Sempre ao seu tempo, as primeiras e rústicas es- colinhas comunitárias, inicialmente organizadas em três ou quatro anos de escolaridade obrigatória e ser- Breve histórico vidas por professores que alfabetizavam as crianças na língua de origem dos imigrantes, foram posterior- Situado na Encosta Superior do Nordeste do Rio mente melhoradas por professores bilíngües. Aquelas Grande do Sul, o Vale foi colonizado em suas planícies localizadas nos núcleos das vilas distritais gradativa- adjacentes ao rio Taquari a partir do Século 18. A par- mente evoluíram para cinco ou seis séries escolares tir de 1850, recebeu levas de imigrantes alemães e, e, finalmente, transformaram-se nos primeiros cursos depois, italianos, as quais se estabeleceram na agro- ginasiais e, depois, colegiais técnicos, clássicos ou pecuária em regime de pequenas propriedades (em científicos e escolas normais, sempre mantidas pela média em torno de 25 hectares), seguindo os cursos parceria entre uma comunidade local organizada e dos afluentes do Taquari e subindo pelas encostas. um instituição religiosa. A partir de meados do Século 20, o “ensino primário” foi totalmente encampado pelo A falta de infra-estrutura e de capacidade do po- Poder Público. der público para oferecer aos imigrantes as condições de inculturação no meio nacional levou a população a criar e instalar por conta própria os meios de subsis- tência e as condições de dignidade cidadã que conhe- Traços da identidade regional ceram em suas pátrias de origem (ensino formal, saú- de, lazer, cultura geral). Dessa forma foram surgindo, O fato de a economia regional ter sido impulsio- em regime de associativismo, as estradas, as escolas nada decisivamente por força da imigração ocorrida e igrejas, os hospitais, a energia elétrica e telefonia, no Século 19 não determina, por si só, uma idiossin- as redes de água e as cooperativas de produção agro- crasia regional. Características idênticas marcam di- pecuária. versas regiões no Estado e no País, inclusive áreas O princípio da auto-organização social, fator da geográficas vizinhas: um núcleo definido pela etnia maior importância para a sobrevivência e prosperida- italiana e outros, pela alemã, nas quais o VT poderia de das comunidades do VT, refletiu-se positivamente estar, hoje, disperso e abrangido. no cenário nacional, primeiro através dos índices de Há, contudo, além do fator geofísico constituído alfabetização e, após, nas condições de saúde locais. pelas características da bacia do Rio Taquari, que foi Quando comparado à média nacional ou estadual, o in- fundamental para potencializar os demais fatores, pois dicador da relação escola/habitante é superior nessas fazia confluir para a única via de acesso à região, o cur- comunidades que, em sua origem, não se contenta- so do rio, outras características que distinguem o Vale ram em ficar no aguardo de ações do poder público. e merecem apontamento: a- A colonização do VT por As pequenas escolas primárias, mesmo aquelas alemães deu-se somente a partir da década de 1860, que se originavam da iniciativa privada de algum ci- de forma espontânea e sem uma organização conjun- dadão esclarecido, desde logo se tornaram comunitá- ta, trazendo levas de imigrantes procedentes de diver- rias, geralmente sob o apoio e a garantia regimental sos locais da Alemanha, na maioria diferentes daque- de alguma organização eclesiástica. As igrejas eram, les locais de onde se originava a maioria dos colonos segundo Thomé (1984), o centro de gravitação da vida assentados no Vale do Rio Pardo, os quais haviam sido pública, tornando-se natural que o status de mantene- recrutados, mais de uma década antes, através de um dor fosse assumido ou, em muitos casos, amparado projeto oficial (da Província de São Pedro/Rio Grande por alguma delas, já que a religiosidade era, e conti- do Sul). Da mesma forma, a colonização das encostas nua sendo, um valor cultivado pelos descendentes dos mais elevadas do VT ocorreu de forma espontânea e colonizadores. No VT, assim como em outras regiões trouxe, além de atores de “segunda migração” provin- do Estado, constata-se que as igrejas assumiram um dos da Região da Serra, a uma distância média de cem papel histórico na organização social, através das co- quilômetros, várias levas de italianos chegadas direta- munidades paroquiais, das sociedades escolares, do mente da Itália. b- Ao chegarem ao VT, os imigrantes “professor paroquial” e dos cultos litúrgicos, cujos já encontraram instalada um ordenamento público ofi- cial que regia as relações políticas e econômicas. Em-

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bora instalados na mata virgem e localidades ermas, do VT colheram esse sentimento de regionalidade havia uma autoridade estatal na vizinhança, o que dis- e, estimulados por iniciativas similares de outras re- pensava a constituição de uma autoridade específica giões, constituíram a Associação dos Municípios do da “colônia”, como soía acontecer em projetos integra- VT (AMVAT). Entre outros objetivos, buscava-se o dos de loteamentos agrícolas para imigrantes. Isso fez reforço da representação política do conjunto dessas com que os imigrantes entrassem em contato, desde comunidades nos âmbitos estadual e nacional. Cum- logo, com o elemento luso que, embora em número pre observar aqui que, no conjunto dos municípios, reduzido – as várzeas do Taquari haviam abrigado não existe um que, à semelhança do que ocorre na até então a pecuária em regime extensivo – residia na maioria das regiões oficialmente constituídas no Esta- área. c- O VT foi, portanto, a derradeira etapa da co- do, desponte como “uma potência” capaz de aglutinar lonização alemã e italiana da metade leste do Estado. as comunidades em volta em torno de suas iniciati- Na verdade, ele constitui uma área limítrofe entre as vas. Lajeado e Estrela constituem um único núcleo colônias alemãs e as italianas, entre as amplas várze- urbano, porém o rio divide-as em dois orçamentos as da confluência de cinco cursos fluviais e o Planalto municipais. As ferrenhas rivalidades entre as duas ci- Médio ou a Serra. Para os imigrantes teutos, ele era dades, registradas pela História, lograram, em alguns o último reduto do Hinterland. As localidades Venân- momentos, causar sérios prejuízos a ambas. A criação cio Aires, Lajeado e Arroio do Meio abrigaram, meio da AMVAT pode ser apontada como marco inicial de a meio, alemães (nas áreas mais planas e baixas) e uma época de cooperação coletiva em função de van- italianos (nas encostas e escarpas). Nessas comuni- tagens mútuas, entretanto sem ter conseguido ser a dades, a aproximação entre os dois grupos étnicos se “varinha de condão” capaz de enterrar em definitivo deu mais naturalmente do que em outros contextos, as dificuldades todas. ainda mais diante do fato de que ambos compartilha- Em inícios da década de 1990, um projeto-de-lei ram desde logo a autoridade pública, de origem lusa. previa a divisão do Rio Grande do Sul em doze regi- Desde cedo alemães e italianos passaram a compor ões para fins de planejamento integrado do desenvol- quadros político-partidários em parceria, na busca da vimento. Não constava, entre elas, o VT. A área ficaria adesão dos eleitores das duas origens. Cedo os líde- efetivamente retaliada e distribuída entre regiões vi- res econômicos dos núcleos habitacionais dos morros zinhas. Na ocasião, a AMVAT procurou as faculdades passaram a mudar-se para as vilas e pequenas cidades, mantidas pela FATES, para desenvolverem e apresen- competindo com os alemães (e às vezes com lusos) na tarem, em conjunto com a Associação, a argumentação propriedade de empreendimentos comerciais e indus- em favor da inclusão, no referido projeto, do Conselho triais. d- A implantação do cooperativismo na produ- de Desenvolvimento do VT (CODEVAT). O objetivo ção agro-pecuária produziu, no VT, um sub-produto foi alcançado com a aprovação da Lei 10.283 de 1994. de grande significado, ao intensificar a aproximação Data desse episódio a conscientização da mantene- entre as colônias alemãs e as italianas. Pequenas coo- dora comunitária da Educação Superior no Vale, hoje perativas surgiram em diversas vilas e lugarejos. Num denominada FUVATES, de que o seu envolvimento segundo momento, cerca de uma década depois, ob- com ações diretamente voltadas às grandes questões servou-se um rearranjo desse segmento, com o agru- do desenvolvimento regional não são apenas um com- pamento dessas pequenas empresas entre si. A partir promisso estatutário, senão também uma questão de desse momento, produtores rurais de localidades dis- autopreservação e do próprio desenvolvimento insti- tantes, às vezes, perto de cem quilômetros, passaram tucional. reunir-se nas assembléias, nas reuniões de delegados e nas festas anuais. O cooperativismo tornou-se, as- sim, um fator e um elemento didático-pedagógico de grande alcance, na formação de um sentimento de A UNIVATES regionalidade: estreitavam-se os laços de interesses comuns e de convivência entre a “parte alta” e a “par- te baixa” do Vale, ambas já anteriormente habituadas ao convívio das famílias lusas que, de modo geral, Origem e natureza da Instituição permaneceram restritos aos ambientes urbanos. Nos grupos sociais despertava, dessa forma, a conscienti- O surgimento da UNIVATES exemplifica a ação zação para valores regionais comuns, como a história, do associativismo característico das comunidades o ambiente e belezas naturais fortemente marcados de imigrantes, anteriormente mencionado, no aten- pelos cursos fluviais, a religiosidade. O associativismo dimento das necessidades comunitárias – no caso, a foi potencializado, extrapolando os limites das comu- educação –. Em 1965 foi criada a Associação Pró-Ensi- nidades políticas e étnicas. no Universitário do Alto Taquari (APEUAT), fruto de Em 1961, os líderes políticos dos municípios quase dez anos de discussões e arquitetações de um

100 PRIMEIRA PARTE

grupo de ex-alunos do Colégio São José, mantido em estudantes. Sabiam que a maior riqueza regional era Lajeado, RS, pela congregação dos Irmãos Maristas e a sua gente e era preciso criar condições capazes de apoiado pela comunidade católica. Ao grupo agrega- atrair os seus próprios jovens para se estabelecerem ram-se, após, representantes da Escola Normal Ma- na região. Para tanto, era preciso alargar urgente- dre Bárbara, mantido pela congregação das Irmãs do mente o leque de oportunidades de formação; se se Imaculado Coração de Maria, também apoiado pela continuasse na estratégia das instituições isoladas, paróquia católica, e do Colégio Alberto Torres, de a corrida já estava perdida: cada vez mais os nomes propriedade da Comunidade Evangélica de Confissão das duas IES – uma delas mantinha quatro licencia- Luterana local. turas e a outra, quatro bacharelados – estavam des- A pauta exclusiva das reuniões era o novo salto gastados, por trazerem pouca novidade e oferecerem de qualidade de vida no VT, mediante a oferecimento poucas opções de formação. As pesquisas, limitadas local da educação em nível superior. Antes, mesmo, às turmas de concluintes do Ensino Médio da Região, que a obrigatoriedade oficial de escolarização se ti- apontavam claramente os rumos de deveria tomar a vesse estendido aos atuais oito anos do Nível Funda- expansão acadêmica: as área da saúde, das engenha- mental, aquelas lideranças já discutiam a necessidade rias, da comunicação social, a construção civil e uma do Nível Superior para a juventude local. A região já complementação na área das ciências sociais aplica- estava bem servida de “Escolas de 2o Grau”. Cumpria das, com o direito e a ampliação das terminalidades avançar. em administração. Diante desse quadro, foi encami- nhado ao MEC, em meados da década de 90, o pedido Logrado o êxito inicial em 1969, com a instalação da transformação das faculdades na Universidade do dos primeiros cursos, em 1972 a APEUAT foi transfor- Vale do Taquari. O objetivo do pleito, como se viu, era mada na FATES, momento em que o Poder Público a consolidação como instituição de educação superior, do município de Lajeado respaldou a Instituição, do- na seqüência de todo o processo, acima descrito, de tando-a de um imóvel (área e prédio) e um subsídio atendimento das comunidades à sua juventude em anual. Este último, é verdade, pouco representou, ao matéria de educação formal em regime comunitário. longo dos anos, para o crescimento da Fundação, a Era preciso, como se vê, recuperar o tempo perdido qual viveu e se expandiu com o recurso das mensa- nas décadas de 70 e 80. lidades. Importante, porém, na criação da Fundação, foi o detalhe do estatuto, o qual, seguindo o modelo Foi naquele momento que as duas IES prepara- comunitário, atribui o poder institucional superior a ram a sua unificação administrativa na UNIVATES, uma assembléia, que elege de quatro em quatro anos como descrito anteriormente. os conselhos e a presidência. A partir de 1976, a Instituição debateu-se em longa polêmica com o Conselho Federal de Educação Universidade ou Centro Universitário? (CFE): Devido à participação do Poder Público no ato da criação, o CFE negava-se a aceitar os seus proces- O advento da nova modalidade de IES, o centro sos de autorização de novos cursos, remetendo-a ao universitário, fruto da implementação, em 1996, da Lei Conselho Estadual, o qual, por sua vez, alegava na de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, foi a so- época não ter estrutura para o acompanhamento de lução adequada às pretensões da UNIVATES naquele instituições de ensino superior. Nesse vai-e-vem, per- momento. É importante destacar: o “motor” último deram-se seis longos anos sem expansão. Soluciona- do pedido de credenciamento não era, propriamente, do o problema em 1980, já se estava em nova fase de uma INSTITUIÇÃO que queria ser universidade; era, legislação, com a abertura de novos cursos limitada a sim, uma REGIÃO que queria ter assegurado o direito um por vez em cada IES, desde que todos os cursos de continuar naquele processo, muito endógeno, da anteriores estivessem plenamente reconhecidos. construção coletiva do seu processo educacional, ago- A menção do detalhe acima é importante neste ra em nível universitário. E o faria bancando a conta momento, para que se entenda o quanto a FATES, em regime comunitário e, como não poderia deixar com as suas duas IES marcando passo, começava a de ser, sob a orientação e supervisão do Poder Públi- defasar-se em relação ao crescimento da região. co. Subscreviam o pedido todos os prefeitos do VT, bem como as entidades empresariais constituídas na Com base na retrospectiva na sua história em Região. educação e ensino, as lideranças educacionais do VT sentiam-se não apenas e capazes de consolidar e con- Nesses termos, o formato de centro universitá- duzir autonomamente as suas IES como instituições rio servia plenamente ao desiderato regional porque formadoras em Nível Superior, mas também compro- metidas com a oferta dessa oportunidade aos seus

101 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

conferiria à Instituição a agilidade requerida pela sociedade no oferecimento de formação em nível superior em novas terminalidades profissionais e, além disso, manteria a flexibilidade da destinação dos recursos previstos pela IES para a pesquisa, para o objetivo estatutário do desenvolvimento regional. Assim sendo, os próprios programas de pós-graduação teriam um período natural de maturação, tendo em vista constantemente aquele objetivo institucional.

Consolidação e expansão quantitativa

O processo de credenciamento como centro universitário não foi demorado e teve como “advogado”, junto MEC e CFE, o conjunto de resultados obtidos pelos alunos da Instituição no Exame Nacional de Cursos (ENAC). Nos cursos de Administração e de Letras, os únicos em que a UNIVATES até então tivera formandos convocados a participar, esses haviam obtido sempre Nota “A”. Obtido o credenciamento, a Instituição organizou a implantação dos cursos que a Região mais urgia, conforme as pesquisas, numa seqüência de cinco anos. Observou-se de pronto, a partir procura de matrículas nos anos imediatamente seguintes, que havia, além dos jovens anualmente egressos do Ensino Médio, grande demanda reprimida. As Figuras 4 e 5, a seguir, apresentam os principais indicadores do crescimento numérico da UNIVATES entre os anos de 1999 e 2007.

Figura 4: Indicadores do crescimento numérico da UNIVATES 1999 - 2007 (A) Graduação e Funcionários Especialização Mestrado Técnicos Docentes Discentes Bolsas* Egressos Seqüencial e estagiários 1999 18 9 - 3 122 2648 370 2253 123 2007 41 18 2 9 273 8757 1023 4367 402 * nº de alunos contemplados com qualquer tipo de auxílio. Fonte: Banco de Dados Institucional da UNIVATES

Figura 5: Indicadores do crescimento qualitativo da UNIVATES 1999 - 2007 (B)

Receita Líquida Área construída Livros Cadeiras em Laboratórios Computadores (R$) (m²) (vol.) auditórios 1999 7.086.155 9.960,10 41.570 13 250 106 2007 53.382.845* 49.857,95 97.354 101 1860 886 * estimativa

Fonte: Banco de Dados Institucional da UNIVATES

Consolidação qualitativa priorização dos seguintes princípios e condições de qualidade: aquisição reflexiva, baseada em pesquisa, O desafio de manter e consolidar, ao longo do pe- de conhecimento crítico e promotor da autonomia, do ríodo do crescimento quantitativo, a chamada “exce- empreendimento e da competitividade, da ética e da lência de ensino” que oficialmente deve caracterizar solidariedade; formação para a vida, com visão para a um centro universitário levou a Instituição a definir, transformação contínua; professores competente, atu- em processo coletivo que envolveu a comunidade alizados e engajados; e infra-estrutura compatível com acadêmica e a comunidade regional, um entendimen- a modernidade. Na Atividade B, além de se repetirem to comum sobre “qualidade de ensino”. O trabalho princípios da etapa anterior, salientou-se a importância envolveu os docentes e representações aleatórias de da criatividade, a visão de aplicabilidade das teorias e alunos e de funcionários da Instituição (Atividade A); a necessidade de parcerias e intercâmbios19. e cerca de 30 representantes da comunidade regio- nal (Atividade B). Na Atividade A, foi recomendada a 19 Extraído de “Conceito de qualidade de ensino e outros elementos importantes na elaboração do PDI do Centro Universitário Univates”, PRODE-

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Figura 6: Notas obtidas pela UNIVATES no ENC/ENADE

Curso 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Administração A A A C B B B B 4 Letras A A A A A A Matemática B B B C C Biologia C C C C Economia D C A A 3 Pedagogia A A A Contábeis B B 3 Educação Física 4 Enfermagem 4 Biologia 4 História 4 Letras 5 Pedagogia 4 Química 3 Relações Públicas 4 Direito 3 Sec. Executivo 4 Fonte: Banco de Dados da UNIVATES

Quando se comparam os resultados do Exame Nacional de Cursos (ENC), vigentes até 2003, com os índices oficiais alcançados no Exame Nacional do Desempenho de Estudantes (ENADE) que se seguiram aos primeiros, percebe-se que a UNIVATES acompanha o crescimento qualitativo da Educação Superior no País, na medida em que alguns dos seus cursos se destacam com conceitos muito positivos e nenhum deles apresenta índice de baixo conceito, como se vê na Figura 6. Entre as 22 IES do Rio Grande do Sul que participaram dos 10 ‘provas de suficiência’ organizadas pelo Conselho Federal de Contabilidade entre 1999 e 2004, os egressos do curso de Ciências Contábeis da UNIVA- TES situaram a Instituição em quarto lugar, com a média geral de aprovação de 78,90%. Nos quatro ‘exames de ordem’ da Ordem dos Advogados do Brasil realizados desde a formatura da primeira turma de Direito da UNIVATES, a aprovação dos egressos da IES foi de 64%, o que, mesmo não sendo índice de ponta, situa a UNI- VATES bastante acima da média nacional. A preocupação em apresentar os dados sobre a qualificação da Instituição descrita no presente ‘estudo de caso’ deve-se ao objetivo de alertar a Sociedade para insinuações falaciosas recorrentes, que generalizam uma relação de causa e efeito entre crescimento quantitativo e perda de qualidade. Embora admitindo que tenham sido freqüentes os casos de irresponsabilidade na oferta de Educação Superior, principalmente em anos recen- tes, convém frisar que, a exemplo do caso da IES aqui descrita, o conjunto dos centros universitários obteve, ao longo dos anos de vigência do ENEC, índices de qualidade iguais ou superiores aos obtidos em média pelos demais conjuntos de IES privadas do País, como ilustra a realidade do ano de 2001, apresentada na Figura 7.

Figura 7: Comparativo entre os conceitos obtidos pelo conjunto dos Centros Universitários e os obtidos pelos demais conjuntos de IES do setor privado, no ENC, - 2001 Conceito Centros Universitários Universidades Faculdades Integradas IES isoladas A e B 19,5 18,13 15,0 15,9 C 49,6 47,7 42,7 44,5 D e E 30,9 33,0 42,3 39,6 Fonte: elaborado pelos autores com base nos dados do INEP/MEC

SI/UNIVATES, Editora Univates, 2005.

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PESQUISA QUANTITATIVO-DESCRITIVA referentes ao objeto de pesquisa e aos métodos de pesquisa. Pesquisa telematizada – Foram realiza- das, pela internete, consultas a outros estudos e ar- tigos que retratam aspectos referentes ao desenvol- Objetivos da pesquisa vimento regional. Além disso, foi utilizada a remessa, por internete, do questionário aplicado aos grupos de Da conclusão da Introdução do presente texto alunos e egressos do ano de 2005. Pesquisa de cam- decorre o objetivo geral em que se enquadra a pre- po – Foram aplicados questionários estruturados para sente pesquisa: avaliar o impacto econômico, cultural efetuar o levantamento de dados pessoais, de renda e social do Centro Universitário UNIVATES no VT. e de consumo, das pessoas que compõem os grupos São objetivos específicos:A- Identificar o impacto dos de alunos, egressos, professores, funcionários, estagi- indicadores da UNIVATES nos principais indicado- ários e bolsistas, da população pesquisada. Pesquisa res econômicos e sociais do VT nos anos de 2001 a em documentos – Para os dados secundários dos 2005; B- Identificar o perfil de gastos da UNIVATES; indicadores regionais e indicadores da UNIVATES, C- Identificar o perfil de gastos de alunos da UNIVA- foram utilizados os dados existentes nos registros do TES; D- Identificar o perfil de gastos dos professores Banco de Dados Regional (BDR) e outros registros da UNIVATES; E- Identificar o perfil de gastos dos internos, da UNIVATES. funcionários, estagiários e bolsistas da UNIVATES; F- Identificar o perfil de gastos dos formandos da UNI- VATES; População e amostra

A população estudada mantém vínculo direto Metodologia com a UNIVATES, sendo composta por professores, funcionários, estagiários, bolsistas, formandos e alu- Do tipo quantitativo-descritivo, a pesquisa aqui nos, o que totaliza 9.489 pessoas no 1º semestre de apresentada expõe características de determinada 2006 (Tabela 1). No questionário foram solicitadas população ou de determinado fenômeno (cf Vergara informações sobre os gastos pessoais, além de outras 1998, p. 44 a 45) e pode estabelecer correlações en- despesas. Foram considerados também os gastos re- tre variáveis e definir sua natureza. Não tem o com- alizados pela Instituição na região no VT, sendo ava- promisso de explicar os fenômenos que descreve, liados os gastos locais com custeio e investimentos, embora sirva de base para tal explicação. Conforme salários pagos a habitantes locais, valores gastos com Marconi et alii (1996, p. 76 a 78), trata-se de investi- gratuidades e programas sociais, bem como o número gação de pesquisa empírica cuja principal finalidade é de empregos gerados direta e indiretamente. o delineamento ou análise das características de fatos Considerando que se desejava obter informa- ou fenômenos, a avaliação de programas ou o isola- ções específicas de cada grupo e que cada um possui mento de variáveis principais ou “variáveis-chave” e tamanhos muito diferentes, optou-se por pesquisar emprega artifícios quantitativos tendo por objetivo a censitariamente a população dos grupos menores coleta sistemática de dados sobre populações, progra- (professores, funcionários, estagiários, bolsistas e mas, ou amostras. formandos) e, com ajuda de uma amostra aleatória A pesquisa se deu com base em dados primários simples, o maior grupo (alunos). e secundários. Os dados primários foram levantados Na amostra aleatória simples “cada elemento em pesquisa de campo junto à população objeto do da população tem uma chance determinada de ser estudo, com auxílio de questionário estruturado. Os selecionado. Em geral, atribui-se a cada elemento da dados secundários foram obtidos das bases de dados população um número e depois faz-se a seleção aleato- existentes junto ao Banco de Dados Regional (BDR), riamente, casualmente”. (Vergara, 1998, p. 49) sediado na UNIVATES, e outras fontes que disponi- Os alunos foram relacionados em uma única lis- bilizam dados, como é o caso do Instituto Brasileiro ta, um curso após o outro, dentro de cada curso por de Geografia e Estatística (IBGE) e da Fundação de ordem do seu código de inscrição. Destes foram reti- Economia e Estatística (FEE) do estado do Rio Gran- rados os alunos que também são funcionários (efeti- de do Sul. vos, estagiários e bolsistas) da UNIVATES, pois estes Foram utilizados os seguintes meios: Pesquisa já estavam no grupo específico. Após ter a listagem bibliográfica – Para a fundamentação teórico-meto- completa, foi criado um número seqüencial para cada dológica, foram realizados estudos baseados em li- aluno, iniciando-se pelo número 1 e terminando no úl- vros, artigos e periódicos que abordam os assuntos timo aluno da listagem.

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Figura 8: População e Amostra dos grupos pesquisados População Amostra/Censo Respondentes

Professores – todos os níveis 291 291 150 Funcionários – efetivos, estagiários e bolsistas 385 385 263 Formandos do ano de 2005 387 387 118 Alunos – graduação, pós-graduação e técnicos 8.426 368 368 Totais 9.489 1.431 899 Obs.: Dados do primeiro semestre de 2006.

Foi gerado, com uso do software StarCalc, um cionado Bruto por Setor Econômico do VT. /- Estrutu- número aleatório entre 1 e o número seqüencial do ra percentual do estoque de empregos dos setores de último aluno. Este foi o primeiro aluno selecionado atividade econômica do VT. /- Participação dos Muni- para ser entrevistado, tomando-se mais um a cada 50 cípios e dos setores econômicos no PIB do VT. /- Nú- alunos na ordem seqüencial, até atingir o número que mero de alunos do Ensino Fundamental e Médio. completou a amostra de 368 alunos. Sempre que se atingia o final da listagem, recomeçava-se do início, utilizando-se o mesmo critério. Indicadores da UNIVATES Nos casos em que o aluno não foi localizado, ou se recusou a responder ao questionário, foram iden- - Gastos locais de custeio efetuados diretamente tificados novos alunos seguindo a seleção de onde pela UNIVATES /- Gastos locais de investimentos efe- se havia parado, até a obtenção de 368 questionários tuados diretamente pela UNIVATES /- Salários pagos respondidos. Os questionários receberam, para efei- a habitantes locais /- Valores gastos com gratuidades tos de controle, um número seqüencial de 001 a 368. /- Valores gastos com programas sociais /- Empregos Como não se desejava ter a identificação posterior gerados direta e indiretamente /- Número de alunos dos respondentes, não houve aposição do código do nos diversos níveis de ensino /- Número de funcioná- aluno no questionário, nem outra informação que pos- rios, professores e estagiários. sibilitasse a identificação. O código do aluno serviu Indicadores de gastos dos formandos com for- somente para localizá-lo no cadastro da UNIVATES, maturas para envio eletrônico do questionário, não havendo qualquer vinculação entre o código do aluno e o nú- - Cerimonial /- Recepção (festas) /- Vestuário /- mero do questionário aplicado, garantido, assim, para Transporte /- Outros. os respondentes, o sigilo. Indicadores sobre professores, funcionários e A um nível de confiança de 95% o erro relativo alunos é de 5,58% para o grupo ‘professores’, 3,41% para o - Aluguel /- Alimentação /- Material didático /- grupo ‘funcionários’, 7,53% para o grupo ‘formandos’ Lazer /- Vestuário /- Transportes /- Educação (exceto e 5,0% para o grupo ‘alunos’. UNIVATES /- Hospedagem /- Saúde /- Despesas do- mésticas. /- Outros gastos.

Coleta de dados Pesquisa bibliográfica A coleta de dados se deu por meio de um ques- tionário estruturado, aplicado separadamente para As informações coletadas na pesquisa bibliográ- cada grupo componente da amostra. Os dados de fica realizada em livros, artigos, e periódicos foram indicadores da região do VT e da UNIVATES foram estruturadas e analisadas para embasar e efetuar a coletados em outras fontes já descritas anteriormente. análise das relações entre os dados coletados com a Foram coletados os seguintes dados: teoria do desenvolvimento regional.

Indicadores regionais Tratamento dos dados

- Situação da população do VT (urbana e rural). Os dados obtidos a partir da aplicação do ques- /- Densidade demográfica do VT. - PIB per capita do VT (municípios) e do Rio Grande do Sul. /- Valor Adi-

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tionário foram tratados com a técnica de análise de Com o pagamento de salários, a UNIVATES freqüências e comparativos de médias e moda das despendeu, no período analisado, o valor de R$ variáveis pesquisadas, utilizando-se o software estatís- 48.427.869,70, sendo R$ 43.864.102,51 pago para co- tico SPHINX®. laboradores residentes no Vale e R$ 4.563.767,19 para 20 Os dados secundários foram tabulados e analisa- colaboradores residentes fora da região . dos quanto ao seu montante, suas médias e sua evo- No período analisado (2001-2005) a UNIVATES lução. apresentou significativa participação no número de empregos (setor de serviços e geral) do município de Lajeado, bem como da região do VT. No setor de ser- viços, em 2001 a Instituição participou com 9,94% do Análise descritiva dos dados número de empregos em Lajeado e 4,32% na Região. Em 2005, esta participação se tornou mais significati- Os dados coletados durante o ano de 2006 mos- va, com 12,92% dos empregos no setor de serviços em tram um leque de indicadores que permitem perceber Lajeado gerados pela UNIVATES (5,51% na Região). a importância dos impactos econômico e social que o Quanto à participação no total de empregos, em 2001 Centro Universitário UNIVATES provoca no VT, dire- a UNIVATES representava 2,47% dos postos de traba- ta e indiretamente, com implicações que não se esgo- lho do município de Lajeado e 0,69% da Região. No tam na simples análise dos dados aqui apresentados ano de 2005, esta participação aumentou, para 3,36% e analisados. do total de empregos de Lajeado e 0,97% dos empre- gos da Região. Quanto à variação no número de postos de traba- O Vale do Taquari lho ao longo dos cinco anos (2001 a 2005), observa-se um crescimento superior da UNIVATES (63,54%) em O Produto Interno Bruto (PIB) da Região atin- comparação ao município de Lajeado (20,04%) e à re- giu em 2004 R$ 5,4 bilhões – um crescimento de 52,6% gião do VT (16,58%). sobre o ano de 2001. O PIB per capita cresceu 46,2% no período 2001-2004, passando de R$ 11.630,81 para R$ 17.002,20. Pesquisa junto aos formandos Quanto ao número de postos de trabalho formal, observa-se que em cinco anos (de 2001 a 2005), foram O valor total gasto pelos 387 alunos formandos criados 11.266 empregos na região do VT, sendo que do ano de 2005 foi de R$ 1.171.099,46, sendo que prati- a Indústria de Transformação (4.514) e os Serviços camente 50% deste valor é relativo a gastos com recep- (3.055) foram os setores que mais agregaram empre- ção, seguido dos gastos com a realização da cerimô- gos em números absolutos neste período. nia de formatura. A maior parte destes gastos (quase Não se encontram disponíveis indicadores como 90%) foram realizados no VT. Praticamente todos os o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) atuali- alunos da UNIVATES (96,47%) são residentes no VT. zado para o mesmo período desta pesquisa. Contudo, Entretanto, parte dos formandos (21,25%) informou observando seu histórico, vê-se que o VT evoluiu mui- ter realizado a festa de formatura fora da região. Cada to neste indicador e é possível que tenha crescido ain- aluno gastou, em média, R$ 3.026,00 para realizar suas da mais no período abrangido por este trabalho. Em formaturas. A partir da amostra pesquisada, estimou- 1991, na quase totalidade dos municípios do Vale, o se o valor gasto com formaturas para todos os 1.171 IDH era inferior 0,750; já em 2000, a maioria dos mu- formandos alunos egressos no período (2001-2005). nicípios registravam um IDH superior a 0,800 (SCP, O valor apurado, R$ 3.543.561,36, foi realizado dentro 2007). e fora do VT. Considerando que 88,75% dos alunos realizam suas despesas com o evento na região, são aproximadamente R$ 3.144.910,71 gastos no vale ao Dados econômicos sobre a UNIVATES longo do período pesquisado (2001 a 2005).

Os valores gastos pela UNIVATES, para com- pras de materiais de consumo, de bens imobilizados, Pesquisa junto aos alunos de materiais de construção e de serviços diversos, totalizaram, ao longo dos cinco anos analisados (2001- Constatou-se que 39,71% dos alunos são respon- 2005), R$ 31.080.641,91 fora do VT e R$ 32.290.442,86 na região. 20 Usou-se aqui, como critério, a informação do colaborador sobre o seu município de residência.

106 PRIMEIRA PARTE

sáveis pelo pagamento integral da mensalidade. Já entrevistados afirmaram que estariam residindo em as famílias pagam integralmente a mensalidade para outra região caso não existisse a UNIVATES. Dentre 13,43% dos alunos e as empresas pagam integralmen- os entrevistados, 43% dos estagiários afirmaram ser te a mensalidade para 3,71% dos alunos. Enquanto maior a probabilidade de que estariam residindo fora 33,43% recebem algum apoio da família, 18,00% têm do Vale, não fosse a oportunidade da UNIVATES. Já algum apoio da empresa onde trabalham e 9,43% pa- entre os professores, este percentual foi significativa- gam suas mensalidades com apoio de diversas for- mente inferior: apenas 18% fixariam residência fora da mas de crédito educativo. Percebe-se que a maioria região caso não existisse a UNIVATES. dos alunos da UNIVATES está inserida no mercado A média de pessoas por residência é de 3,1 pes- de trabalho, pois grande parte é responsável pelo pa- soas. A maior parte dos entrevistados, 26,15%, reside gamento integral de suas mensalidades, enquanto ou- em domicílios com três pessoas. As residências com tros a pagam parcialmente e recebem ajuda da família, duas ou quatro pessoas são igualmente representati- empresa ou crédito. vas: 25,18% e 24,70%, respectivamente. Chama atenção O total dos gastos efetuados pelos alunos regu- o fato de que, entre os bolsistas, o número médio de lares da UNIVATES (graduação, técnicos e pós-gra- pessoas por residência é de 3,83 e, entre os professo- duação) em alimentação, vestuário, moradia, lazer, res, é de 2,80. Conforme informações do último Censo impostos etc. – excetuadas as despesas com as men- Demográfico do IBGE (2000), a média brasileira era salidades pagas à IES – monta a R$ 9.608.639,48 ao de 3,76 moradores por residência, ou seja, superior à mês, sendo que, deste valor, mais de 95%, ou seja, R$ média encontrada nesta pesquisa. 9.149.674,00 são gastos na região do VT, o que repre- Em 2005, a UNIVATES pagou o total de R$ senta em torno de 1,11% do PIB do município de Laje- 11.122.322,07 em salários. Como os colaboradores ado ou 0,21 % do PIB do VT. da UNIVATES informaram que gastam 85,35% de Um total de 76,63% dos alunos responderam que sua renda no VT, temos que os salários pagos na estariam residindo em outras regiões se não existisse Instituição naquele ano representaram a injeção, na a UNIVATES. Nesse caso, dos R$ 9.149.674,34 gastos economia local, de um valor de R$ 9.492.901,83, consi- mensalmente pelos alunos na região, R$ 7.011.395,45 derando-se apenas o volume inicial desse recurso. Se deixariam de ser gastos diretamente pelos alunos, levarmos em conta o efeito multiplicador que tal valor por mês, no Vale. Além disso, haveria também uma tem na matriz econômica do Vale, este valor ganharia redução total do volume de mensalidades pagas para uma dimensão quatro vezes maior, conforme as esti- a UNIVATES. Como o valor das receitas líquidas da mativas já mencionadas da FEE. Acresce, porém, que UNIVATES com mensalidades, em agosto de 2006 estas cifras não representam o total dos gastos efe- (mês em que foi feita a pesquisa com os alunos), foi tuados pelos colaboradores da UNIVATES na região, de R$3.246.334,52, teríamos uma redução de mais de porque a população pesquisada possui outras fontes R$2.487.666,14 mensais. Assim, a economia regional de renda e, além disso, na pesquisa não foram levanta- perderia R$113.988.739,08 por ano, considerando-se dos dados sobre os valores gastos com investimentos apenas o volume inicial de recursos que deixaria de e tampouco os valores entesourados pela população circular. Se levarmos em conta o efeito multiplicador pesquisada. que tal valor tem na matriz econômica do Vale, este Com base nas afirmações dos respondentes, valor ganharia uma dimensão 4 vezes maior, pois o foi realizada a estimativa de gastos para a popula- multiplicador de gastos, ou efeito-renda para a econo- ção pesquisada. Da análise apreende-se que o maior mia gaúcha, para o comércio, está estimado nesta di- gasto é com alimentação (23,42%), seguido das des- mensão. “Chama atenção a magnitude do efeito-renda pesas domésticas (15,40%), de transporte (13,48%) e nos setores aluguel de imóveis (4,39), comércio (4,07) educação (11,28%). O total de gastos que está sendo e serviços prestados às famílias e às empresas (3,20), injetado na economia do Vale com interferência di- expressivamente superiores ao correspondente efeito reta ou indireta da UNIVATES é de R$ 970.121,90 ao nos demais setores” (FEE, 2002, p. 1). mês. Considerando o período estudado, percebe-se que houve uma injeção anual de aproximadamente R$ 11.652.000,00 na economia local e de aproximadamen- Pesquisa junto aos colaboradores da UNIVA- te R$ 60.000.000,00 nos cinco anos estudados. TES Os resultados desta pesquisa apresentam uma discrepância com os do extrato para a Região Sul da Dos colaboradores da UNIVATES (professores, funcionários, estagiários e bolsistas), 70,94% são na- turais do VT e 28,81% não o são. Atualmente 5,57% do total de colaboradores reside fora do VT, e 27,85% dos

107 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

Figura 9: Resumo dos impactos econômicos (em R$)

Descrição Mês Ano 2001 a 2005 Efeito Multiplicador

Valores gastos no VT pela UNIVATES 609.835,16 7.318.021,93 36.590.109,65 146.360.438,60

Valores gastos no VT pelos 970.147,11 11.641.765,32 58.208.826,60 232.835.306,40 colaboradores

Valores que os alunos gastariam fora 7.011.143,50 84.133.722,04 420.668.610,19 1.682.674.440,75 do VT, caso a UNIVATES não existisse

Total 8.591.125,77 103.093.509,29 515.467.546,44 2.061.870.185,75

Fonte: dados da pesquisa realizada pelos autores

Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2003, o efeito multiplicador deste gasto na economia local, que visa mensurar as estruturas de consumo e dos chega-se ao valor aproximado de R$ 2.000.000.000,00 gastos das famílias brasileiras. As maiores diferenças entre 2001 e 2005 (Figura 9)21. estão nas rubricas de educação (UNIVATES: 11,28%; Como o PIB do VT, entre 2001 e 2005, foi de apro- POF: 3,80%) e aluguel (UNIVATES: 5,81%; POF: 17,10% ximadamente R$ 23 bilhões, o impacto combinado da ). Possivelmente, a explicação para as diferenças está participação da UNIVATES no VT é de aproximada- no fato de que, ao contrário da POF, que utiliza para mente 8,7% do PIB regional. sua pesquisa uma amostragem com todas as classes Outro impacto positivo constata-se na geração de da população, desde as que têm gastos com educação empregos. Em 2001, a UNIVATES gerava 2,47% dos até as classes que não estudam ou estudam em esco- postos de trabalho no município de Lajeado e 0,69%, las públicas, ao passo que a amostra da pesquisa da na Região. Até o ano de 2005, esta participação havia UNIVATES foi baseada em pessoas que, na maioria aumentado para 3,36% em Lajeado e 0,97% na Região. dos casos, realizam despesas com mensalidades esco- lares. No que diz respeito ao aluguel, observe-se que Além disso, entre 2001 e 2005, a UNIVATES apli- a maioria dos colaboradores da UNIVATES reside em cou em programas sociais o valor de R$ 4.757.406,58, imóvel próprio (apenas 30,28% pagam aluguel) no VT. e concedeu descontos nas mensalidades dos alunos no valor de R$ 11.160.097,59, ou seja, aplicou R$ 15.917.504,17, diretamente em benefício da comuni- dade regional. CONCLUSÕES DA PESQUISA A defasagem temporal dos dados estatísticos para os diversos indicadores pesquisados foi um dos O objetivo da presente pesquisa, de buscar e principais problemas enfrentados durante este traba- analisar informações quantitativas que caracterizem lho, o que exigiu fazerem-se aproximações e dificul- o impacto imediato de ações e iniciativas do Centro tou a expectativa de se apresentarem dados precisos Universitário UNIVATES na economia do VT foi al- para a avaliação. cançado, na medida em que nos dados coletados se tem um retrato da participação do Centro Universitá- Em estudos posteriores, espera-se que sejam rio UNIVATES nos indicadores econômicos e sociais apurados os reflexos da atuação do Centro Universi- desta região. tário UNIVATES nos diversos setores econômicos do VT, com base nos multiplicadores de produto e em- Os reflexos diretos do impacto direto da vida prego. econômica da UNIVATES no PIB regional são signi- ficativos, devendo somar-se a estes o efeito indutor e multiplicativo da injeção desses valores na economia regional. AÇÕES ESTRATÉGICAS Somando-se os valores gastos no VT pela UNIVATES e pelos colaboradores nos cinco anos Não podemos deixar de mencionar, aqui, algu- pesquisados, chega-se a um valor aproximado de mas informações importantes, decisivas em parte, R$ 90.000.000,00 (noventa milhões de reais). Adi- para chegar às considerações finais do presente texto. cionando-se o valor de R$ 7.011.395,45 mensais (R$ Trata-se de ações da IES aqui descrita cujos efeitos

420.683.727,00 em cinco anos), que deixaria de ser 21 Deve-se considerar, aqui, que esses não são valores históricos re- gasto pelos alunos na região caso a UNIVATES não ais, eis que a Univates não ostentou ao longo dos cinco anos contemplados os números institucionais da época da realização da pesquisa. Entretanto, os dados existisse, chega-se ao montante de aproximadamen- revelam o quadro que, a partir de 2005, se torna real, desde que a Instituição não te R$ 510.000.000,00 no período. Se considerarmos encolha em tamanho.

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ainda não são mensuráveis, tendo em vista o período nesse sentido, é a gradativa implantação dos laborató- relativamente curto de sua existência como centro rios de análises físico-químicas e microbiológicas da universitário, ou ações cuja mensuração, pela sua na- UNIVATES, o Unianálises. Credenciados pela Agên- tureza, se torna praticamente inviável por causa da cia Nacional de Vigilância Sanitária para análises de inexistência de parâmetros para a aferição das hipóte- água e alimentos, pelo Ministério da Agricultura para ses alternativas, as quais não se realizaram justamente análises de água e alimentos de origem animal e pela porque a UNIVATES se foi a alternativa viabilizada. Fundação Estadual de Proteção ao Meio-Ambiente Na Introdução deste texto, foram destacados para análises de efluentes, os laboratórios auxiliam os alguns princípios que subjazem ao próprio conceito produtores na qualificação e na exportação de produ- de identidade regional, além de outros, pressupostos tos, nos setores primário e secundário, autorizando-os para a construção e aceleração do desenvolvimento para o consumo e a exportação e firmando parcerias de uma região. Dentre esses todos, queremos reto- com o fim de conferir selo de qualidade para os mes- mar aqui alguns, em torno dos quais a UNIVATES mos. Presentemente, já na fase de implantação dos planeja e desenvolve ações específicas: a percepção seus primeiros programas de pós-graduação stricto consciente das idiossincrasias (étnicas, históricas, sensu, a IES canaliza os seus recursos de pesquisa geográficas e culturais), que se tornem “as moedas a para a área da produção de alimentos de origem ani- definir os ritmos de valorização de cada região, enfim, mal, na qual a região apresenta, na visão de empresas valorização do humano, e, portanto, dinamizadoras integradoras nos ramos da avicultura e da suinocultu- de um processo próprio e específico de desenvolvimen- ra, mão-de-obra qualificada por umknow-how de longa to regional” (Becker) e que nem sempre influem da tradição, mas que precisa ser modernizado e constan- mesma forma sociedades semelhantes; a capacidade temente atualizado com base em conhecimentos téc- das lideranças de articular a superação dos conflitos nicos e científicos. internos e de visualizar e induzir ações detonadoras Por meio de ações diversas, como a organização de um “surgimento de renda e demanda no interior da de seminários, palestras e viagens de estudo interna- região em escala suficiente para que se torne viável a cionais, destinados aos setores político e empresarial, substituição de importações.” (Clemente); e a neces- a Instituição promove a aproximação entre empresas sidade do “associativismo ou cooperação entre as em- e municípios regionais de um mesmo setor, na busca presas e dessas com suas representações empresariais e de experiências em inovação tecnológica e associa- instituições governamentais de apoio industrial”, capaz ções estratégicas, visando à competitividade no mer- de aumentar-lhes a competitividade internacional. cado internacional. (Casarotto Fº) A duplicação da rodovia BR386, que liga a Re- Nesse sentido, merece menção a participação gião à capital do Estado, deve-se, tanto na parte da da Instituição, anteriormente referida, na definição do argumentação sobre sua postulação quanto no plano conceito “Vale do Taquari”, já no início da década de da mobilização regional, à parceria entre os setores 1990, antes, mesmo, do credenciamento com a auto- político e empresarial e a IES. O envolvimento desta nomia universitária, quando da criação do CODEVAT. deve-se à percepção de que daquela medida dependia Até o presente a Presidência do Conselho foi exercida a oportunidade da instalação de novos postos de tra- por professores da UNIVATES, e em suas instalações balho na região, o que, além de uma medida proposi- também se abriga a sede da AMVAT. Outrossim, a Ins- tiva para o crescimento e preventiva contra a pobreza, tituição mantém e alimenta o Banco de Dados Regio- deve ser encarado tanto uma atividade de extensão da nal, estimulando a produção e divulgação de estudos atividade universitária (estudo e montagem do expe- destinados à conscientização daquele conceito. Além diente), como uma estratégia destinada ao crescimen- disso, o Centro Universitário está à frente da organiza- to da própria UNIVATES. ção regional do setor empresarial, por meio da união A partir de 2004, a UNIVATES passou a oportuni- das várias associações do setor em uma Câmara de zar aos alunos de todos os cursos o contato com prin- Indústria e Comércio. cípios teóricos e com práticas de iniciativas empreen- Em consonância com lideranças do setor produ- dedoras. Estimulou a criação, por parte de ex-alunos e tivo, desde 2003 a UNIVATES mantém, por meio do alunos, de cooperativas de trabalho nas áreas da infor- programa “Repensando o Agro”, pesquisas e ativida- mática/software e da telemática, a eles entregando, des de extensão voltadas à dinamização do agronegó- com acompanhamento de professores, os próprios cio, abrangendo em seus estudos desde a educação serviços que a IES urgia, em sua fase de expansão e a organização fundiária e a sucessão na micro-em- física. A isso, acrescente-se a incubação de empresas presa rural, passando pela modernização tecnológica propiciada pela Instituição, inclusive com acesso a re- dos setores de maior interesse da região, até a colo- cursos oficiais para os incubados, bem como o Banco cação dos produtos finais no mercado. Fator indutor, de Empregos mantido pelo Centro Universitário, que

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não só permite a colocação de alunos e formados no ensino superior, promovem o desenvolvimento, mere- mercado de trabalho, como também propicia, através cem destaque, nas respostas, a situação geográfica do dos seus mecanismos de funcionamento, o acerto da VT (proximidade da metrópole), a confluência de vias escolha feita por empregadores e empregados. de transporte no pólo Lajeado/Estrela, o espírito de iniciativa e de sinergia das lideranças empresariais, a cobrança, pelas empresas, de formação dos funcioná- rios, a (descentralização de recursos da) divisão em CONSIDERAÇÕES FINAIS pequenos municípios, a tradição de boa qualidade no ensino básico, o fato de que a UNIVATES está ab- A definição da relação entre o crescimento de sorvendo a clientela que antes se destinava a IES de uma IES e o da região na qual ela se insere enfrenta a outras regiões e a recente imigração proveniente do sua principal dificuldade quando se contrapõem duas norte e noroeste do Estado. Um respondente declara alternativas: foi o crescimento da IES que definiu o não perceber o “crescimento econômico no Vale do crescimento da região, gerando nova dinâmica nas ati- Taquari”. Destaque ainda merecem cinco menções vidades econômicas e culturais e, inclusive, atraindo feitas, entre as argumentações espontâneas, à impor- novas oportunidades de trabalho, ou foi o crescimen- tância da expansão e qualificação da IES local a partir to da região que fez a IES crescer? A tendência é en- do seu credenciamento como centro universitário e tender que essa é uma via de duas mãos; mas em que da transformação da mantenedora em fundação de medida? À luz de um exame mais minucioso e com direito privado. informações produzidas com base numa seqüência de dados de um período mais longo, certamente se con- No mesmo instrumento de coleta de opiniões, seguirá descrever o fenômeno com mais precisão. solicitou-se que as pessoas informassem se lhes são perceptíveis “efeitos positivos da existência da UNI- VATES na região”. Um total de 39 respondeu que SIM, ao passo que 1 informante respondeu que NÃO Sondagem de opinião e 1 deixou a questão em branco. A exemplificação, es- pontânea, dos efeitos positivos inclui: qualificação de A título de ilustração, apresentamos os resul- recursos humanos (23 menções); novas tecnologias/ tados de uma enquete realizada entre 41 cidadãos conhecimentos (11 menções); planejamento/organi- do VT, provenientes de 8 municípios e procurados zação/alternativas para a região (6 menções); quali- em função de sua posição de liderança na atividade ficação ou reestruturação de empresas (6 menções); empresarial, sindical, da administração pública e do investimento direto (4 menções); qualificação/organi- setor de serviços em geral, sobre a sua percepção a zação do agronegócio (4 menções); segura/atrai jo- propósito da questão acima colocada: é a UNIVATES vens e talentos (4 menções); novas empresas/espírito que puxa o desenvolvimento da região ou a relação empreendedor (3 menções); serviços: assessorias, de causa e efeito é a inversa? Aos respondentes, da laboratórios (3 menções); elevação do nível cultural faixa etária de entre 25 e 65 anos, solicitou-se um po- (3 menções); gestão pública (2 menções); tecnologia sicionamento inequívoco entre as duas alternativas da informação (2 menções); políticas ambientais (2 de resposta ou, então, a afirmação de que não con- menções); curso de gastronomia (2 menções); pos- seguem posicionar-se dessa maneira. Um grupo (A), turas prático-teóricas alicerçadas em conhecimento de 11, respondeu que MAIS acertado é afirmar que + parceria com escolas + política educacional + com- “A região cresce porque a UNIVATES cresceu”; ou- petitividade/exportações + formação continuada + tro grupo, (B), 9, entende o contrário: MAIS acertado gemologia (1 menção). Um respondente mencionou é afirmar que a UNIVATES cresce porque a região que a UNIVATES deve ‘trabalhar forte’ na orientação cresceu; e o terceiro grupo, (C), 9, se disse sem con- do agricultor no sentido de ele ‘aproveitar melhor a dições de se posicionar. Finalmente, 12 respondentes terra’ e a própria produção que consegue. insistiram em assinalar as duas primeiras alternativas ou deixá-las em branco. Em algumas das 11 respostas “A”, na argumentação espontânea o informante deixa entrever alguma hesitação sobre a escolha. Os que Indicativos para reflexão sobre a questão responderam “B” são, de modo geral, mais incisivos nos argumentos. A quase totalidade, porém, enfati- Apesar da dificuldade acima mencionada de se za que a presença, na região, de uma IES que atua obter uma resposta objetiva sobre a relação entre o concretamente na solução imediata de problemas ou crescimento de uma região e o crescimento de uma no reforço de potencialidades regionais é, lado a lado IES nela inserida, as reflexões e os resultados dos com outros, fator decisivo para um “desenvolvimento trabalhos descritos no presente texto permitem elen- sustentável”. Entre os fatores que, pari passu com o car alguns indicativos baseados em fatos, mesmo que

110 PRIMEIRA PARTE

nem todos mensuráveis numericamente. 5. Embora não conte com uma descrição 1. Comparativo entre PIB: Entre 2001 e 2004, dos fatos concretos, é do conhecimento o PIB do VT cresceu 52,61%, acima do da direção superior da UNIVATES que, PIB do Estado (51,86%) e do PIB nacional para a instalação e a permanência, em épo- (47,37%). No mesmo período, a receita da ca recente, de duas empresas na região, UNIVATES cresceu 131,72%. com a abertura de mais de 600 postos de 2. Dos atuais alunos da UNIVATES, 76,63% trabalho, fator condicionante foi a recente responderam que, na inexistência da expansão deste centro universitário. Outra oportunidade de sua formação na região, informação dá conta de que, após a abertu- estariam se formando em outra região. ra de novos cursos, a região passou a ser Admitindo que isso se cumprisse cem por alvo de cobiça para transferências internas cento, põem-se, então, as seguintes ques- em empresas de outras regiões que man- tões: a- a maioria dos cursos oferecidos têm agências ou filiais no VT. no VT não se viabilizariam, ficando preju- 6. Os próprios empreendimentos e gastos re- dicada a maior parte dos demais alunos; alizados diretamente pela UNIVATES pro- b- embora não disponhamos de cifras, a vocaram um impacto cultural e econômico história da região nos permite afirmar que, e um conseqüente impacto social relevante dos 76,63%, grande parte não regressaria para o VT. Sendo a própria região a única ao Vale e, notadamente, aqueles que, já no e inequívoca proprietária da UNIVATES, curso dos seus estudos e estágios, devido através da estrutura legal da atual Funda- ao seu desempenho superior, haveriam de ção Vale do Taquari de Educação e Desen- ter encaminhado a sua carreira profissio- volvimento Social (FUVATES), encimada nal. por conselhos e assembléia de caráter 3. O aumento do número de cursos na região comunitário e rotativo, todo e qualquer re- diminuiu os custos da infra-estrutura de sultado econômico desse empreendimen- transporte dos universitários e propiciou to educacional é automática e totalmente a diluição de várias despesas institucionais reinvestido na própria região: nem um de custeio. Ambos os fatores favoreceram único centavo é desviado dessa premissa a manutenção, até o momento, ao lado de assegurada pelo estatuto e Fundação e ga- cursos de grande demanda, de outros cur- rantida pela vigilância do Ministério Públi- sos de grande necessidade social na região, co. mas demanda reduzida, como é o caso das licenciaturas, nas quais a UNIVATES tem tradição de alto nível de qualidade compro- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS vada pelos índices oficiais. 4. A partir da localização geográfica dos cen- BANDEIRA, Pedro S. Participação, articulação tros universitários, no País, estimamos que, de atores sociais e desenvolvimento regional. In: BE- para um conjunto de 30% ou mais dessas IES, a maior parte dos traços que marcam CKER, Dinizar F. e Bandeira, P. S. (orgs.). Determi- o centro universitário descrito no presente nantes e desafios contemporâneos. Coleção De- ‘estudo de caso’, especialmente no que diz senvolvimento local-regional - V.1. Santa Cruz do Sul: respeito às parcerias preferenciais da IES EDUNISC, 2000. com vistas ao desenvolvimento regional, se BDR – Banco de Dados Regionais. Centro Uni- aplicam clara e perfeitamente. Além disso, versitário UNIVATES. Lajeado: UNIVATES, 2005. mesmo centros universitários situados em áreas de elevada densidade demográfica BECKER, Dinizar F. e Bandeira, P. S. (orgs.). como as regiões metropolitanas, onde em Determinantes e desafios contemporâneos. Co- espaços pequenos coexistem muitas IES, leção Desenvolvimento local-regional - V.1. Santa Cruz podem manter – e sabemos que muitos já do Sul: EDUNISC, 2000. mantêm, mutatis mutandis, vínculos simila- ______, Dinizar Fermiano. Capital Social: um res com o bairro ou o setor metropolitano “novo” (velho) paradigma de organização social dos no qual se inserem. Estudos recentes rea- diferentes processos de desenvolvimento regional. lizados na cidade de São Paulo dão conta Estudo e Debate. Vol. 9, nº 1. Lajeado: UNIVATES de que entre os primeiros fatores definido- Editora, 2002. res da escolha da IES pelos candidatos ao Ensino Superior situa-se o da proximidade ______, Dinizar F. e WITTMANN, Milton L. De- da instituição. A decorrente aproximação senvolvimento regional: abordagens interdiscipli- geográfica entre a IES e grande parte do nares. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2003. seu corpo discente reforça a presente con- ______. Sustentabilidade: o (des)caminho da re- sideração.

111 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

gionalização social. Estudo e Debate. Vol. 11, n º 1. 08 de julho de 2005. Lajeado: UNIVATES Editora, 2004a. ______. Censo da Educação Superior 2004. ______. Necessidades e finalidades dos projetos Disponível em: . Acesso em 07 de novembro de te. Vol. 11, n º 1. Lajeado: UNIVATES Editora, 2004b. 2006. BOISIER, Sergio. Desarrollo (local): ¿de qué es- UNIVATES/PRODESI. Conceito de qualida- tamos hablando ? IN: BECKER, Dinizar F. e Bandeira, de de ensino e outros elementos importantes na P. S. (orgs.). Determinantes e desafios contempo- elaboração do PDI do Centro Universitário UNI- râneos. Coleção Desenvolvimento local-regional - V.1. VATES. Lajeado, Editora UNIVATES, 2005. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2000. SCHIERHOLT, J. A. Lajeado II: APEUAT – Ra- CANO, Wilson. Desequilíbios Regionais e ízes do Ensino Superior. Lajeado: editado pelo autor, Concentração Industrial no Brasil: 1930-1970. São 1995. Paulo: Global Editora, 1985. SIEDENBERG, Dieter R. A gestão do desen- CASAROTTO Filho, Nelson. Rede de peque- volvimento: ações e estratégias entre a realidade e a nas e médias empresas e o desenvolvimento lo- utopia. In: cal: estratégias para a consquista da competitividade SCP – Secretaria de Coordenação e Planejamen- global com base na experiência italiana. São Paulo: to do Estado do RS. Atlas Sócio-econômico Rio Gran- Atlas, 2001. de do Sul. Disponível em http://www.scp.rs.gov. CLEMENTE, Ademir e HIGACHI, Hermes Y. br/ATLAS/atlas.asp?menu=439. Acesso em 23 de Economia e desenvolvimento regional. São Pau- fevereiro de 2007. lo: Atlas, 2000. STEMBER, Jürgem. Política estrutural e de CM NEWS. Clipping Educacional. Ensino su- desenvolvimento em nível regional. In: Anais do III perior deve movimentar R$ 15 bi. Disponível em: Seminário dos conselhos regionais de desenvol- . Acesso em 06 de julho de 2005. to Alegre, 9 a 11 de outubro de 1996: Unijuí Editora, DEMO, Pedro. Educação e Desenvolvimen- 1996. to: análise crítica de uma relação quase fantasio- THOMÉ, L. N. F. Arroio do Meio – Ano 50, sa. . Acesso em 24 de maio de 2006. DOWBOR, Ladislau. Educação e Desenvolvi- mento Local. Disponível em . Acesso em 24 de maio de 2006. FEE (Fundação de Economia e Estatística). Multiplicadores de impacto na economia gaúcha: aplicação do modelo de insumo-produto fechado de Leontief. Documentos FEE 52/2002. Disponível em . Acesso em 05 de dezembro de 2006. ______. Dados estatísticos. Disponível em . Acesso em diversos momentos. FILION, Pierre; HOERNIG, Heidi; BUNTING, Trudi e SANDS, Gary. The Successful Few: Healthy Downtowns of Small Metropolitan Regions. Ameri- can Planning Association. Journal of the American Planning Association. Chicago: Summer 2004. Vol. 70, Num. 3; pág. 328 (16 páginas). INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesqui- sas Educacionais Anísio Teixeira. Censo da Educa- ção Superior 2003. Disponível em: . Acesso em

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4.-.INFRA-ESTRUTURA, NOVOS ESPAÇOS E RECURSOS MATERIAIS A SERVIÇO DA SOCIEDADE Sérgio Fiuza de Mello Mendes22(*)

Entre tantos temas que permanecem a desafiar liações periódicas com a inten sidade experimentada o sistema de educação superior brasileiro podem ser pelos Centros. E este é, sem dúvida, um dos aspectos sublinhados a expansão da oferta, a qualidade dos mais relevantes, senão o mais marcante, da evolução serviços educacionais, a diversificação institucional, do trabalho realizado por essas instituições. o financiamento e a política de inclusão social. A ri- Instalados com a responsabilidade de comprovar gor, desde 1995, com a aprovação da Lei 9.131, até o elevada qualidade no ensino, o que deve incluir não só momento atual, marcado pela instituição do Prouni, uma infra-estrutura adequada, mas também titulação tais questões, sem prejuízo de outras que respeitam acadêmica e aperfeiçoamento constante do corpo do- ao sistema, têm sido enfrentadas de forma mais estru- cente ou experiência profissional destacada nas dife- turada, ainda que em meio a uma exaustiva produção rentes áreas, os Centros Universitários não abdicaram de normas legais, muitas vezes desnecessárias e ge- da inserção de práticas investigativas na própria ativi- radoras de uma certa insegurança para os agentes do dade didática, de modo a estimular a capacidade de re- sistema, sejam reguladores ou regulados. solver problemas e o estudo autônomo por parte dos Numa trajetória que agora completa dez anos estudantes. A realização de estágios supervisionados, e diante de cenário desafiador foram criados os pri- prestação de serviços à comunidade, levantamentos meiros Centros Universitários do Brasil - uma nova bibliográficos e formulação individual ou coletiva de categoria de IES, que alargou a tipologia de organi- trabalhos teóricos ou descritivos sobre temas especí- zação acadêmica - regulamentados em sua origem ficos, entre outros componentes de um percurso cur- pelo Decreto nº 2.207/97 (depois revogado pelo Dec. ricular de relevo, testemunham o compromisso dos 2.306/97) e cujos requisitos para o credenciamento fo- Centros com um ensino de alta qualidade. ram dispostos na Portaria- MEC nº 639 de 13 de maio Com efeito, tem sido reconhecida, no âmbito de 1997. Cabe acrescentar a este ligeiro recorte do dessas instituições, a importância de reavaliar, de arcabouço legal então vigente, o Parecer CES/CNE modo sistemático, as propostas pedagógicas a partir nº 738/98, que definiu critérios para a avaliação das de alguns elementos: a definição de princípios e ob- solicitações de credenciamento de Centros Universi- jetivos do processo de aprendizagem; a revisão das tários. concepções de currículo; a integração dos sujeitos A combinação desses instrumentos legais esta- envolvidos; e a articulação orgânica com as demandas beleceu um marco que emoldurou os elementos de- do contexto histórico-social. finidores de um novo perfil institucional, moldando Nessa direção, alguns Centros têm construído assim o caráter das novas instituições. A exigên- novos arranjos organizacionais, com base em estru- cia de realização de avaliações periódicas de institui- turas configuradas como fonte de geração de idéias e ções e cursos (Art. 3º da Lei 9.131); a conceituação dos espaço da inovação e da incorporação de desenhos co- Centros Universitários, caracterizados pela excelência laterais. Tais alterações estruturais acabam por indu- do ensino oferecido, comprovada pela qualificação do zir, quase sempre, mudanças de atitudes, essenciais corpo docente e pelas condições de trabalho propor- ao combate vigoroso da inércia institucional e favorá- cionadas à comunidade acadêmica (Art. 12 do Dec. veis ao aprimoramento dos processos educacionais, 2.306); a construção dos planos de desenvolvimento norteados pelo sentido de evolução. institucionais (PDI’s), com base nos componentes, Respondendo hoje por cerca de 20% das matrícu- informações e critérios assinalados pela Portaria 639; las do ensino universitário (números do Censo 2005/ e a captura “in loco” das realidades institucionais me- INEP dão conta de aproximadamente 760.000 num diante a verificação de um conjunto de itens detalha- total de 4.450.000 estudantes) e constituindo-se na dos no Parecer 738, definiram o meio de cultura no figura mais representativa da própria diversificação qual nasceram, se desenvolveram e consolidaram-se institucional do sistema, os Centros Universitários já os Centros Universitários – o da avaliação. Nenhum registram substantiva contribuição, tecida em elevado outro tipo de instituição viveu a experiência das ava- patamar, para a construção do que ainda nos parece

22 (*)Vice-Reitor do Centro Universitário do Pará - CESUPA utópico – um projeto brasileiro de nação!

113 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

A constituição dessa rede de formação de qua- implantados no país. dros para o país evidencia a estruturação de um con- Dessa forma, o relato do Centro Universitário junto apreciável de projetos e programas acadêmicos, UNIVATES, a partir do Vale do Taquari, é representa- resultado de inestimável trabalho intelectual, cujo tivo de muitos outros que destacam a estreita relação desenvolvimento está assentado sobre extraordinária e compromisso dos Centros com o desenvolvimento base infra-estrutural, traduzida fisicamente por novos tecnológico loco-regional; as instituições que ousaram espaços educacionais, recursos materiais, tecnologias com um modelo espacial diferenciado em seus cam- avançadas e redes de comunicação, entre outros ele- pi, no qual o arranjo arquitetônico se harmoniza com mentos colocados a serviço da sociedade. o meio-ambiente, certamente se identificarão com o O dimensionamento físico, logístico e financeiro que apresenta o Centro Universitário de João Pes- desse investimento decerto nos conduziria a números soa - UNIPÊ; as ações sociais desenvolvidas dentro impressionantes. Milhões de metros quadrados dis- do Espaço Aprender São Camilo, do Centro Univer- tribuídos por salas de aula, gabinetes para o trabalho sitário São Camilo, simbolizam o compromisso dos acadêmico e administrativo, salas de professores, sa- Centros com o desenvolvimento humano por meio da las de reuniões, auditórios, teatros, bibliotecas, labo- educação e da saúde, como forma de inclusão social; ratórios, clínicas, núcleos e escritórios especializados, a experiência do Centro Universitário de Lins - incubadoras, áreas de convivência e lazer, etc., tudo UNILINS destaca a formação no campo tecnológico, destinados à formação superior, à realização de aten- fortalecida pelas parcerias locais e pelo prestígio da dimentos à população de todas as regiões do país e ao cooperação internacional; a interação estratégica en- avanço do conhecimento. tre IES e comunidade, particularmente com alunos do Sem embargo da importância desses números e ensino médio, é demonstrada pelo Centro Universi- da capacidade reveladora que reúnem, nossa escolha tário de Maringá - CESUMAR, ao contar sua expe- para a composição do presente texto residiu na apre- riência no auxílio para escolha da futura carreira e o sentação de alguns relatos institucionais que repre- conseqüente combate à evasão escolar; a construção sentam, simbolicamente, o esforço coletivo de todos de ferramentas para a gestão acadêmica,componentes os Centros Universitários no sentido de afirmar os do Portal Universitário UnicenP, constam do relato valores contidos em seus projetos educativos. do Centro Universitário Positivo, colocando em relevo a importância dos investimentos na área da O foco na infra-estrutura pretende demonstrar a tecnologia de informação e comunicação; a dimensão existência de compromisso com o desenvolvimento, atingida pela biblioteca do Centro Universitário de a expansão qualificada e a melhoria de performance Brasília - UniCEUB não apenas impressiona como das atividades finalísticas dos Centros, mediante a alo- evidencia a importância de investimentos nesse espa- cação de montantes financeiros robustos pelas mante- ço de formação; a compatibilização de espaços educa- nedoras. Revela, igualmente, que independentemente cionais com conforto ambiental é objeto de destaque da natureza jurídica dessas entidades, o respeito ao no relato do Centro Universitário Adventista de cumprimento dos objetivos institucionais de suas São Paulo – UNASP; a riqueza da diversidade é mantidas resta preservado, não se constituindo, como retratada pela experiência do Centro Universitário às vezes é anunciado, em mera formalidade disposta da Grande Dourados – UNIGRAN, que inclui pro- nas peças estatutárias. Sublinhe-se, nesse campo, a jetos de extensão desenvolvidos dentro da Reserva legitimidade da atividade lucrativa e a compreensão Indígena de Dourados, além de destacar a utilização explícita de que as políticas institucionais de reinves- de tecnologia digital em seu programa de EAD; e por timento tornaram-se imprescindíveis, posto que todos último, o Centro Universitário do Pará - CESU- precisam, cada vez mais, fazer melhor. PA, ao descrever o modelo pedagógico adotado para A rigor, tais investimentos correspondem ao de- o seu recém implantado curso de Medicina, aponta a ver inarredável que têm os Centros Universitários de infra-estrutura física como base indispensável para a fomentar projetos inovadores, de promover o cresci- aplicação da inovação curricular pretendida. mento intelectual de suas comunidades acadêmicas e A seguir, os relatos: de responder às demandas sociais que estão a lhes de- safiar, garantindo a sustentabilidade de seus progra- mas mediante a otimização dos recursos disponíveis. Nesse sentido, cumpre-nos sublinhar que as ex- MARCAS DE IDENTIDADE DA INFRA-ES- periências sinteticamente apresentadas a seguir, além TRUTURA E RECURSOS FÍSICOS DO CEN- do valor singular que abrigam, têm como significado TRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES: AMBIEN- colocar em relevo tantas outras de mesma natureza, TE, TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO, realizadas pelo conjunto dos Centros Universitários RECURSOS BIBLIOGRÁFICOS, LABORA-

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TÓRIOS, BANCO DE DADOS, CONFORTO permite o acompanhamento da tramitação, E OUTROS RECURSOS. em tempo real, e a obtenção do resultado. - Avaliação institucional – Viabiliza a participação da comunidade acadêmica na A implantação da estrutura de apoio à produção avaliação de todos os segmentos institu- intelectual nos espaços físicos da UNIVATES segue cionais, disponibilizando em tempo real os princípios e pressupostos alicerçados em uma “defi- dados absolutos e relativos, à medida que nição de excelência de ensino”, produzida coletiva- as pessoas vão participando. mente pela Instituição, em 2002: agilidade e riqueza - Controle de cópias – Cada aluno tem de opções na comunicação e na busca de informação; direito a um mínimo de cópias reprográfi- agilidade e desburocratização na execução das roti- cas e, na medida em que as solicita, o des- nas; conforto e saúde ambiental dos agentes envolvi- conto do total é digital. dos na atividade de produção e nas atividades de apoio - Balcão de empregos – Procedimento e atendimento pleno da Portaria MEC 1679/99; o fato on-line, em que o aluno ou egresso da UNI- de que 96% do corpo discente são alunos-trabalhado- VATES cadastra seu currículo e as empre- res; o compromisso da mantenedora com imediato sas buscam indicações sobre candidatos. desenvolvimento tecnológico da região; prevalência É intermediado por um funcionário, que faz uma pré-seleção de currículos para as da funcionalidade das instalações e da sua adequação vagas abertas e informa os candidatos. De ao meio. setembro/2006 a outubro/2007, foram ofe- recidas, em média, 65 vagas mensais. - WebDiário – Registro, on-line, de emen- Tecnologias de Informação tas, conteúdos programáticos, bibliografia, modo de avaliação das disciplinas do se- mestre, bem como da freqüência e notas • Produção em software livre dos alunos, os quais podem imprimir, a Em 1999, ano do seu credenciamento como cen- distância, os respectivos atestados. O sis- tro universitário, a UNIVATES formou, em seu Centro tema permite ao professor o envio de men- de Processamento de Dados (CPD), uma equipe de sagens coletivas. produção de software livre destinado às necessidades - Ponto eletrônico – Coleta de impressão institucionais. A partir de 2003, desmembraram-se da digital para registro do ponto dos colabo- equipe diversos grupos que constituíram empresa pró- radores. pria, a exemplo da Cooperativa SOLIS. Até o presente, - Eventos – Permite inscrições on-line em eventos promovidos pela UNIVATES. o CPD e esses grupos são responsáveis por grande - Sistema CETAE – Ramificação do pro- parte das soluções na coleta, tratamento e análise de grama Descoberta do Talento Esportivo, dados institucionais e regionais, com se lê a seguir. mantido pela UNIVATES em convênio com - SAGU-1.5 Sistema Aberto de Gestão o Ministério do Esporte, o sistema possibi- Unificada – Gerencia o relacionamento lita coletar e armazenar na Instituição os do aluno com a IES. São quatro módulos: resultados do Teste de Aptidão Física (vol- acadêmico, financeiro, contábil, vestibular. tado à descoberta de talentos ou às condi- Várias IES o adotam. Na UNIVATES, ele ções de saúde) da população estudantil do possui mais de treze milhões de dados. Vale do Taquari. - GNUTECA – Gerencia acervos biblio- - FERMI – Automatiza a gestão do Unia- gráficos, viabiliza empréstimos ou re- nálises, um conjunto de laboratórios de servas com consulta local e remota, bem prestação de serviços da UNIVATES, que como pesquisas nas bases bibliográficas atesta a qualidade de água e alimentos ou de dados EBSCO-ASE e BSE, Portal com credenciamento de órgãos públicos Acesso Livre CAPES, IBICT, SCIELO e para exportação. Informa on-line preços e PeEPSIC. Uma vez reservada a obra, o alu- prazos e, dependendo do caso, fornece o no é avisado, por e-mail, tão logo ela esteja resultado também on-line. disponível. - Júris – Usado pelo Serviço de Assesso- - Universo UNIVATES – Disponibilização ria Jurídica do curso de Direito, arquiva e de serviços administrativos para o aluno, organiza as informações sobre réu, vítima, que o acessa pelo Portal e nele encontra as testemunhas, legislação envolvida, os pro- informações sobre sua situação acadêmica cessos, desde a sua abertura até a senten- e administrativa. ça final, automatizando o gerenciamento. - Matrícula – Permite ao aluno efetivar e - GNUData – Cria bases de dados para ajustar matrícula e rematrícula, pela Web. pesquisas. É usado pelo Banco de Dados - Protocolo – Protocola requerimentos, Regional da UNIVATES e contém 137.250

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dados detalhados sobre os 37 municípios tituição terá investido R$ 2.565.000,00 em Tecnologia do Vale do Taquari e dados genéricos so- da Informação (considerados investimentos e manu- bre assuntos diversos. tenção). - Fred – Cria portais do conhecimento corporativo, adicionando valor às empre- sas na Internet levando em conta que a informação é ferramenta estratégica, além Instalações e equipamentos de permitir fácil manipulação para fins de marketing. O turno da noite recebe 89,16 % dos alunos. Na - Amanda – Gerencia o backup nos servi- relação aluno-professor, em sala-de-aula, é que se dá a dores da UNIVATES. base da produção intelectual do aluno. A boa qualida- - Agata Report – Sistema voltado para a de de ambientes e materiais é fator de produtividade: consolidação de dados. Fazendo cálculos, salas iluminadas, com projetor (todas), datashow fixo confere qualidade e profissionalismo aos (40), salas especiais para turmas grandes com smar- relatórios. - Saldos Contábeis – Por centros de cus- tboard (3), conjuntos anatômicos de mesa e cadeira to, mantém informados os coordenadores estofada (100%), laboratórios atualizados, livros dis- de curso e demais centros de custo, o se- poníveis, revistas e recursos de mídia, corredores e tor de suprimentos e a Administração Su- banheiros amplos e limpos, espaços de convivência perior. aprazível, acesso a produtos de necessidade imediata - Sistema de arquivos – Gerencia a loca- (alimentação, farmácia, livraria, acessórios de infor- lização de documentos no arquivo central. mática) são acompanhados de estímulo aos recursos - Qualitas – Gerencia as ações voltadas da mídia e da facilitação do acesso a livros e periódi- ao atingimento de metas específicas em cos. O sistema de segurança monitora, com câmeras e projetos. com vigilância, 100% dos espaços exteriores. No qua- - Ambientes Intranet – Permitem, on- dro a seguir, constam os números desses equipamen- line, chamados técnicos, requisições de tos disponíveis na Instituição: serviços e materiais, reservas de espaços, veículos e equipamentos para as aulas etc. - TabServer – Gerencia e monitora con- juntos de máquinas de redes, atualizando- Complexo Esportivo as por ação remota, de sorte a dispensar o deslocamento da equipe de suporte. Sala de aula 133 • Outros investimentos em software Sala de professores 31 Retroprojetor 186 Além desses, a UNIVATES utiliza e disponibili- Projetor multimídia 84 za diversos programas, proprietários ou de licenças Livros, periódicos, cds e dvds 100.958 livres, em suas tarefas administrativas e acadêmicas. Laboratório de informática 22 Destacamos, aqui, o “Ambiente Teleduc”, cujo uso Outros laboratórios 113 pelos docentes é sempre procedido de treinamento Computadores 886 adequado. Atualmente, 211 professores utilizam esse Salas multimídias 3 Salas climatizadas 16 espaço virtual, em 556 disciplinas, perfazendo 783 ins- Equipamentos de áudio-vídeo 186 crições e atendendo mais de 7.000 alunos, os quais Auditório 4 perfazem 15.400 inscrições no sistema. (Professores Capacidade do Auditório 1860 e alunos fazem a inscrição para cada disciplina.) Conj. mesas 6540 • Hardware O conjunto de equipamentos de informática da Em julho do corrente ano foi inaugurada, com o UNIVATES pode ser assim resumido: 886 computa- último jogo-treino das seleções do Brasil e do Uruguai, dores, 5 quiosques de reprografia, 13 ilhas de impres- para os Jogos Panamericanos, a quadra poliesportiva, são, cabeamento estruturado em todos os prédios, com piso flutuante e capacidade para 4000 pessoas, do 2.200 pontos de rede. Até final do corrente ano, estará complexo esportivo da UNIVATES, o qual compreen- implantada a cobertura com nuvem wireless para os de ainda um conjunto de ginástica olímpica e uma pis- prédios do campus, hoje já interligados com fibra óti- cina semi-olímpica e outra piscina para dependentes ca. físicos, além de salas e clínica para fisioterapia e aten- dimento psicológico. O conjunto totaliza 6.751,54m² e • Investimentos em Tecnologia da Informa- nele foram investidos R$ 6.256.336,62. ção No decorrer de 2007, considerado o orçado e o ritmo de execução do orçamento até setembro, a Ins-

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Unianálises de descanso e lazer, proporcionam um ambiente con- vidativo. O Plano Diretor da ampliação física prevê a O compromisso da UNIVATES com o Vale construção de prédios adaptados às condições climá- do Taquari transcende a formação de profissionais, ticas de tal sorte que sejam aproveitados ao máximo interferindo também nos rumos que a IES deve tomar os recursos naturais para iluminação e para a captação em algumas de suas opções estratégicas, de modo es- e armazenagem das precipitações pluviais. pecial no que diz respeito às áreas a serem fortaleci- das através da pesquisa e da extensão. Na esteira das discussões coletivas, anuais, sobre esse nível estraté- gico, a área da produção de alimentos vem despontan- do como preferencial. A produção de informações e o O CAMPUS DO UNIPÊ: O ARROJO DE envolvimento dos agentes locais da produção econô- ONTEM, A EXPERIÊNCIA BEM SUCEDIDA mica específica no programa de extensão Repensan- DE HOJE do o Agro levaram a IES a investir num conjunto de laboratórios de análises físico-químicas e microbioló- gicas – o Unianálises – hoje credenciado com validade O CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PES- oficial, por vários órgãos públicos, para análises de ali- SOA – UNIPÊ iniciou suas atividades como faculdades mentos de origem animal e outros, e para análises de isoladas em 1971, funcionando em prédios localizados água e efluentes. Dessa forma, o Unianálises induz à no centro da cidade, cedidos pela Arquidiocese da Pa- qualificação sanitária, nutricional e mercadológica da raíba. A instituição cresceu, transformando-se em fa- produção do setor e ajuda os produtores na conquista culdades integradas e em 1978, antevendo a expansão do mercado internacional. Com base nos dados sobre urbana, decidiu transferir-se para uma área adquirida a estrutura física, a capacidade e disponibilidade de ao lado do Campus I da UFPB. As reações foram ime- recursos humanos no setor, envolvendo questões des- diatas, em face do público a quem atendia, em cursos de a estrutura das famílias envolvidas e a sucessão na noturnos, composto em sua maioria por pessoas que microempresa rural até os preços e a destinação do já tinham uma atividade profissional e buscavam uma produto, passando pelas possibilidades de agregação formação de nível superior. de valor ao produto primário, a UNIVATES optou por Para bem desempenhar as funções de en- criar um centro de excelência no setor. Essa opção, sino, pesquisa e extensão, aliadas a um bom que se refletirá no orçamento de 2008, levará à con- programa de gestão, é necessário que haja am- centração dos recursos destinados à pesquisa, inclu- bientes adequados para que todos os atores do sive aqueles que envolvem um dos mestrados recém processo educacional – professores, alunos, implantados, na área tornada prioritária. pesquisadores, gestores e a sociedade – possam Em 2006 e 2007, a UNIVATES investiu R$ desenvolver a contento suas atividades. Ambien- 305.300,00 em ampliação e equipamentos do Unianáli- tes específicos para atividades especiais se fa- ses. Os serviços, que no corrente ano estão atenden- zem necessários e exigem condições próprias e do uma média mensal de 229 clientes, executaram até instalações peculiares. 31 de agosto 49.611 ensaios. No mesmo período mo- Foi dentro dessa visão que o Centro Universitá- vimentou um faturamento de R$ 1.098.000,00, no total rio de João Pessoa optou pela solução de campus uni- de seus clientes, entre os quais empresas de médio e versitário para instalar as diversas unidades que hoje grande porte da região e redes de empresas nacionais abrigam os cursos ofertados e atividades desenvolvi- e multinacionais. das pela Instituição. Da planta inicial ao belo conjunto arquitetônico de hoje, uma coisa esteve sempre presente: o compro- Ambientes externos misso com o ambiente cultural e com a integração do homem. Assim foi possível trocar as instalações provi- Os 49.857,95m² de área construída do campus da sórias pelo espaço do futuro. UNIVATES em Lajeado ocupam uma área em torno O UNIPÊ é uma lição de arquitetura adequada ao de catorze dos 60 hectares que a mantenedora, Funda- meio-ambiente. Tudo numa simplicidade de natureza, ção Vale do Taquari de Educação e Desenvolvimento livre, com os materiais da melhor convivência nor- Social (FUVATES) põe à disposição da Educação Su- destina. Salas e pessoas se harmonizam no ambiente perior. São treze prédios, interligados por passarelas e de liberdade e descontração, saídos da prancheta do pontes cobertas, os quais, integrados em um ambien- arquiteto Florismundo Lins para a clareira aberta no te de relevo ondulado e entremeados de reservas am- verde da Mata Atlântica. bientais naturais e paisagismo traçado com ambientes

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O Campus Universitário do UNIPÊ, implantado los cursos ministrados na instituição, destacando-se sob as diretrizes do seu Plano Diretor, em terreno de as atividades de extensão e integração com a comu- 30,28 hectares, situa-se no centro geográfico do mu- nidade, quais sejam: ginásio poliesportivo, campo de nicípio de João Pessoa, distando cerca de 6,5 km do futebol, mini-campo de futebol, quadra poliesportiva, centro comercial da cidade. pista de atletismo, quadra de vôlei de praia, piscina O Plano projeta, a partir da dimensão pedagógi- térmica e piscina semi-olímpica. ca, toda uma concepção de urbanismo, edificações e Além dos equipamentos citados, o UNIPÊ conta instalações, que tem como marca o respeito ao meio em seu Campus com modernas unidades de apoio, ambiente, pela adaptação às condições de topografia, que dão suporte ao desenvolvimento das atividades ventilação, aeração e iluminação, principais fatores es- didático-pedagógicas e técnico-administrativas da ins- senciais ao planejamento das suas instalações físicas. tituição, podendo-se destacar os seguintes: O Plano Urbanístico apresenta duas característi- cas fundamentais: projeção das vias de tráfego obede- cendo à topografia natural do terreno, propiciando o Clínica-Escola de Fisioterapia escoamento superficial das águas pluviais, tornando desnecessária a construção de galerias, decorrendo, A Clínica Escola de Fisioterapia do UNIPÊ tem daí, a redução considerável dos custos; a outra carac- um espaço físico de 1.526m², onde se concentram terística é a fixação de um índice máximo de ocupação várias unidades de tratamento fisioterapêutico, ofere- do terreno em 18%, o que projeta uma área de constru- cendo suporte aos alunos no desenvolvimento das au- ção por volta de 54.000m², no limiar da implantação las práticas e assistência gratuita à população de João do Campus. Pessoa e de cidades circunvizinhas. O modelo espacial adotado teve como objetivo privilegiar a liberdade de circulação, a possibilidade de aproveitamento das condições naturais de ilumina- Clínica-Escola de Fonoaudiologia ção e ventilação, a menor utilização possível de me- canismos de deslocamento vertical e de climatização, A Clínica-Escola de Fonoaudiologia do UNIPÊ bem como um visual agradável. ocupa uma área total de 1.000m², e possui instalações A arquitetura adotada obedece às necessidades e equipamentos adequados ao desenvolvimento das funcionais dos usuários do Campus, às exigências das atividades de ensino-aprendizagem, relativas às disci- disciplinas a serem ministradas e às facilidades de plinas práticas, teórico-práticas e clínico-terapêuticas. aprendizagem. Leva em consideração a possibilidade No desempenho de suas funções acadêmicas, de uso alternativo de espaços, a um baixo custo. presta serviços gratuitos à comunidade, dispondo de As edificações são blocos com um e dois pavi- uma equipe interdisciplinar, restrita aos seus pacien- mentos, construídos com estrutura pré-moldada de tes, constituída por Otorrinolaringologista e Neurolo- concreto, em pórticos desenvolvidos e padronizados gista. Funciona com três Unidades integradas: Uni- pela equipe técnica do UNIPÊ, com vedações em al- dade de Fonoterapia I, Unidade de Fonoterapia II e venaria de tijolos cerâmicos e elementos vazados de Unidade de Audiologia. concreto, e cobertura em telha canal, o que propor- ciona ventilação e iluminação adequadas ao clima da região. Interligam-se por passarelas cobertas que per- mitem fácil deslocamento dos alunos em condições de Clínica-Escola de Psicologia conforto. A Clínica-Escola de Psicologia do UNIPÊ foi cria- Todos os espaços físicos foram dimensionados da em 1974, contando hoje com Unidades de Tria- tomando-se por base um módulo-padrão que se repe- gem, de Atendimento Psicoterápico, de Psicopedago- te na maioria das edificações, módulo esse exaustiva- gia e a de Orientação Vocacional e Profissional , além mente estudado e adequado ao número de usuários e dos Núcleos de Estágio Supervisionado e o de Pesqui- às atividades de ensino, pesquisa e extensão que se sa e Extensão. Tem como objetivos promover estágio desenvolvem no Campus. e treinamento aos alunos de Psicologia; propiciar aos O sistema construtivo, por ser modulado, permi- alunos estagiários condições reais e efetivas experiên- te adequações rápidas e fáceis às solicitações que por- cias profissionais; atender a comunidade intra e extra- ventura ocorram em função de demandas especiais. muros na prevenção da saúde mental. O Campus do UNIPÊ conta com diversos equi- pamentos que compõe a infra-estrutura geral e que dão suporte às diversas atividades desenvolvidas pe-

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Clínica-Escola de Odontologia Biblioteca

O Curso de Odontologia do UNIPÊ iniciou suas Considerando que o acesso à informação é de atividades em agosto de 2007 e já conta com as pri- fundamental importância para o desenvolvimento meiras unidades do complexo clínico, a exemplo dos humano, a biblioteca, como prestadora de serviços laboratórios específicos de Dentística, Endodontia e informacionais, desempenha um papel fundamental, Periodontia. São laboratórios que apresentam alta tec- contribuindo para a consolidação da cidadania e a ex- nologia, onde o aluno terá a oportunidade de exercitar pansão e difusão dos conhecimentos. em simuladores ergonômicos e manequins todas as Nesse sentido, a Biblioteca Central do UNIPÊ situações previstas em uma clínica. tem como objetivo fornecer serviços na área da infor- mação, propiciando que seus usuários cada vez mais se capacitem a atuar no mercado de trabalho, dando Complexo Laboratorial apoio às atividades de ensino, pesquisa e extensão de- senvolvidas no âmbito dos cursos ministrados Em uma área construída de 752m², o Complexo pela Instituição. reúne os laboratórios de Anatomia, Bioquímica, Cito- A Biblioteca Central está organizada dentro logia, Fisiologia, Histologia e Biotério. Atende a diver- dos mais modernos padrões e técnicas b i - sas disciplinas básicas dos cursos da área de saúde. bliográficas, com distribuição espacial adequada do acervo, com fácil acesso para utilização dos títulos existentes. Devidamente codificados, os livros e demais componentes do acervo estão registra- Núcleo de Tecnologia da Informação dos em bancos de dados, permitindo fácil localização – NTI da informação, mediante a utilização de softwa- res próprios. Equipado com computadores e periféricos mo- dernos, funciona como central de comando de uma Com 2.000m² de área construída, abriga as se- rede interna, à qual se interligam terminais localiza- guintes unidades: espaço de acervo, áreas de leitura, dos na Secretaria Geral de Ensino, Coordenadorias de atendimento ao usuário, salas de pesquisa, ambientes Cursos, Laboratórios, Biblioteca Central, Escritórios de leitura de jornais e periódicos, setor de emprésti- de Práticas Contábeis, Coordenadoria de Avaliação mo, setor técnico (catalogação e classificação), salas Institucional e Central de Editoração. de consulta e estudo em grupo, área para guarda de volumes, ambientes para multimeios (videoteca, ma- poteca etc.), setor de informática e setor administra- tivo. Central de Multi-Mídia O Centro Universitário de João Pessoa redefiniu a função de sua Biblioteca, transformando-a em centro No prédio da Biblioteca Central funciona a Cen- de informação e cultura, onde o bibliotecário está ca- tral de Recursos Audiovisuais, que dá suporte e apoio pacitado a desempenhar uma função mais abrangente logístico às unidades de multimeios instaladas nos nos processos informacionais, prestando, assim, um diversos blocos de salas de aula e laboratórios da ins- serviço mais amplo, ativo e participativo, na tríplice tituição. função de ensino, pesquisa e extensão.

Museu-Escola Laboratórios Específicos

Um grande equipamento e, mais que isto, um O UNIPÊ dispõe, em suas instalações, de diver- grande laboratório, está sendo implantado no Cam- sos laboratórios, específicos e interdisciplinares, que pus do UNIPÊ: o “Museu da Terra e do Homem da dão suporte às atividades de ensino, pesquisa e exten- Paraíba”- um museu-escola a céu aberto, cuja meta é são, desenvolvidas nos cursos ministrados, tanto na tornar-se centro de referência no estudo, pesquisa e graduação como na pós-graduação. preservação de bens materiais e culturais que digam respeito à Terra e ao Homem da Paraíba. Os laboratórios são equipados com aparelhos de última geração e instalados em espaços adequados, funcionando em tempo integral, o que possibilita fácil acesso aos alunos e professores da instituição.

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O arquiteto e a equipe de planejamento do UNI- formação integral do profissional como cidadão efeti- PÊ vêm acompanhando a implantação e o desenvol- vamente integrado com os problemas da sociedade e vimento do projeto, ao longo dos anos, desde a sua pronto para interagir com ela. concepção. Isso contribuiu para um processo perma- O Centro Universitário São Camilo, ao oferecer nente de avaliação e adequação das soluções propos- serviços e programas assistenciais relevantes à so- tas e adotadas, ajustando-as e revisando-as de acordo ciedade, permite que seu corpo docente e discente com as demandas surgidas. atuem, aproximem-se e compreendam a realidade Os resultados obtidos já demonstram uma ex- social a fim de buscar soluções para o enfrentamento periência bem sucedida pela convivência harmoniosa dos problemas efetivos. das pessoas com as coisas, fazendo do Campus um As ações sociais desenvolvidas dentro do Espa- elemento vivo que acompanha o desenvolvimento da ço Aprender São Camilo objetivam propiciar o diálogo comunidade acadêmica e conseqüentemente da Ins- entre a universidade e a comunidade, possibilitando a tituição. relação de reciprocidade entre o saber acadêmico e a Dentre esses resultados podemos ressaltar: comunidade. • Condições de ampliação mantendo o pa- drão arquitetônico e construtivo adotados; • Possibilidade de novas edificações com um mínimo de interferência nas atividades Serviços Assistenciais acadêmicas; • Facilidade de uso e racionalização de O Centro Universitário São Camilo prioriza em mobiliário padronizado; suas ações a promoção da saúde entendida em seu • Facilidade de administração e operacio- sentido mais amplo. nalização; É com base no pressuposto da saúde como con- • Alto índice de conforto ambiental; dição básica para o desenvolvimento do indivíduo na • Segurança para os usuários e para o pa- sociedade que a instituição concentra suas ações as- trimônio; sistenciais. Nesse sentido, a aproximação com o con- • Manutenção racional e econômica; ceito de inclusão social, de valorização da auto-estima • Criação de ambiente propício ao desen- volvimento de atividades acadêmicas; e do fortalecimento dos vínculos familiares e comuni- • Adequação às atividades acadêmicas; tários torna-se sensivelmente visível. • Integração com o meio ambiente. Atender a comunidade que se encontra em ter- A ação coordenada de concepção do Plano Dire- ritório de vulnerabilidade social por meio de ações tor, levando em conta o caráter dinâmico de um cam- preventivas e educativas comprova o posicionamento pus universitário, tem conseguido atender às metas do Centro Universitário São Camilo diante da questão de curto, médio e longo prazos, nas peculiaridades, da inclusão social. atividades e políticas institucionais. Exemplo significativo de tal envolvimento pode ser comprovado pela presença do Espaço Aprender em três municípios do Estado de São Paulo. O ESPAÇO APRENDER SÃO CAMILO: DE- O serviço é desenvolvido em parceria com ór- SENVOLVIMENTO HUMANO E INCLUSÃO gãos públicos e organizações não governamentais nos SOCIAL municípios onde estão localizados. São eles: Ministé- rio do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, O Centro Universitário São Camilo, pautado na Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social sua missão, no seu compromisso e na sua filosofia de do Município de Itanhaém, Secretaria de Esportes promover o desenvolvimento do ser humano por do Município de São Bernardo do Campo e Fundação meio da educação e da saúde segundo os valores ca- Criança de São Bernardo do Campo e o Programa de milianos, possibilita a inclusão social e o resgate da Erradicação do Trabalho Infantil – PETI. cidadania por meio de Programas e Serviços Assisten- O público atendido é de crianças e adolescentes ciais e interligam as demandas da comunidade inter- na faixa etária de 07 a 18 anos, que realizam ativida- na e externa à práxis acadêmica de ensino, pesquisa e des sócio-educativas e capacitação para o mercado de extensão, modelando a constituição de uma identida- trabalho, aplicadas na forma de cursos de capacitação de que privilegia a formação profissional do cidadão profissional, oficinas temáticas, oficinas artísticas, ati- que se preocupa com a superação das desigualdades vidades esportivas e culturais. Vale destacar que as sociais existentes. famílias dos usuários desenvolvem atividades dentro Dessa forma, a assistência social colabora na dos Espaços, com foco na convivência familiar como

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também em trabalhos de geração de renda. FORMAÇÃO NO CAMPO TECNOLÓGICO: Para a concretização dos trabalhos nos Espaços A EXPERIÊNCIA DO CENTRO UNIVERSITÁ- conta-se com uma estrutura física montada e adequa- RIO DE LINS - UNILINS da às atividades desenvolvidas, em três unidades: • São Paulo: Atende 200 adolescentes de O Centro Universitário de Lins - UNILINS, com 14 ä 18 anos, com curso da capacitação sede em Lins, Estado de São Paulo, é uma instituição para o mercado de trabalho, com informá- de ensino superior, com limite territorial de atuação tica, inglês e oficina cultural. circunscrito ao município de Lins, mantido pela Fun- Estrutura física: 01 Secretaria; 01 Sala de dação Paulista de Tecnologia e Educação, entidade leitura composta de 450 livros; 01 Sala de sem fins lucrativos. Assim, todo o seu resultado ope- áudio - TV e DVD, aparelho de som; 01 Sala racional tem sido investido em Projetos Melhorias, Administrativa; 01 Laboratório de informá- destacando-se, dentre outros, nesses seus 06 anos tica - 23 computadores, 02 impressoras, 01 como Centro Universitário, os Estágios aliados ao retroprojetor; 02 Salas de aula; 01 Área de convivência; 05 banheiros; 01 Refeitório; desenvolvimento tecnológico. 01 Cozinha – fogão, geladeira e freezer, A Fundação Paulista de Tecnologia e Educação, equipamento de cozinha; 01 Dispensa. além da mantença da UNILINS, mantém o Centro • São Bernardo do Campo: Atende 300 Tecnológico – CETEC, dedicado ao desenvolvimen- crianças e adolescente de 11 a 17 anos, to de Pesquisa e Prestação de Serviços. Em parceria com informática, oficina de artes, oficina com a UNILINS, desenvolve um dos projetos de des- do saber, dança de rua, capoeira, natação, taque da Instituição. Segundo o Diretor do CETEC, futebol, artes marciais e atividades cultu- prof. Enaldo Montanha, “O aproveitamento de Traba- rais. lhos de Conclusão de Curso e Iniciação Científica e as Estrutura física: 01 Secretaria; 01 Sala de cuidados; 01 Sala de reuniões; 01 Sala ad- oportunidades de estágios para os alunos da Unilins, ministrativa; 01 Sala de multimeios – Leitu- possibilitam ganhos para todas as partes envolvidas: ra; 01 Laboratório de informática, com 17 os alunos estagiários aprimoram sua formação e o computadores e 01 impressora; 02 Salas CETEC identifica oportunidades de novos desen- para as oficinas; 02 Áreas para artes mar- volvimentos, enquanto nossos clientes contribuem ciais; 01 Quadra poliesportiva; 03 Piscinas; para a formação de profissionais preparados para o 02 Vestiários com banheiros; 01 Área de mercado. Além da pesquisa e da preocupação com o convivência; 01 Refeitório; 01 Cozinha – fo- aprimoramento tecnológico de nossos produtos, o for- gão, geladeira, freezer e equipamento de mato ímpar da Fundação Paulista, unindo educação cozinha; 01 Dispensa. e prática de mercado, tem vital importância para • Itanhaém: Atende 120 crianças e adoles- a construção dos diferenciais, tanto para o CETEC, centes de 7 a 18 anos com informática, ofi- como para a Unilins”. cina de artes, oficina lápis na mão, oficina do saber, dança de rua, atividades esporti- O aproveitamento desse diferencial tem propor- vas e culturais. cionado crescimento e aperfeiçoamento da Unilins. O Estrutura física: 01 Secretaria; 01 Sala ad- CETEC, portanto, tem sido um instrumento importan- ministrativa; 03 Salas para as oficinas; 01 te na consecução desses objetivos. Os investimentos Laboratório de informática com 10 com- em infra-estrutura e equipamentos em nossos labora- putadores e 01 impressora; 01 Piscina; 04 tórios têm ampliado os diferenciais. Para incrementar banheiros; 01 Área de convivência; 01 Área esse projeto, O CTGeo – Centro de Tecnologia em livre; 01 Refeitório; 01 Cozinha – fogão, ge- Geoprocessamento, um braço do CETEC, investiu na ladeira, freezer e equipamento de cozinha; construção de um prédio com mais 700 m2 e uma in- 01 Dispensa. fra-estrutura em informática com mais de 150 compu- A manutenção dos Espaços é totalmente realiza- tadores de ponta, possibilitando, com essa ampliação, da pelo Centro Universitário São Camilo. a participação de quase 20% dos discentes da Unilins O Centro Universitário São Camilo tem pautado em suas atividades de aprendizado e estágios. suas ações em critérios como respeito, ética, credi- Na busca de melhorias nos laboratórios de infor- bilidade, profissionalismo e responsabilidade social, mática, diante da veloz obsolescência do hardware e promovendo a melhoria da qualidade de vida dos in- do dever de combater a pirataria de software, a insti- divíduos e favorecendo-lhes o acesso a informações tuição buscou uma solução para conter os crescentes e serviços. Sendo assim, justifica, mais uma vez, sua custos com equipamentos para esses espaços. Segun- ação de valorização da pessoa humana. do o prof. Antonio Carlos Santana, Coordenador do Centro de Informática, “as soluções prontas no mer- cado, aliadas ao custo e a possibilidade de escravidão

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tecnológica, não nos agradou. Vimos na solução casei- suas atividades em Angola e hoje executa mapeamen- ra uma alternativa mais versátil, ou seja, terminais ma- to geral, a serem utilizados pelo governo para aplicar gros que pudessem ser atualizados e transformados no planejamento urbano, das seguintes localidades: em estações de trabalho autônomas, caso necessário Baixa Luanda, Negage, Luena, Malange e Wacucun- no futuro”. go. Segundo o Engº Rodrigo Brito, do CTGeo, “como A Unilins inaugurou seu laboratório de informá- novidade, o CTGeo traz para esse projeto a tecnologia tica com 40 terminais magros - estações diskless (sem de restituição em 3D, que requer imagens aéreas e disco rígido), em que o sistema operacional é carrega- software específico”. do pela rede. Usamos dois servidores, um com Linux Fedora e outro com Windows 2003 Server. A instala- ção do novo sistema foi uma estratégia, traçada pela O PROJETO INTERAÇÃO DO CENTRO UNI- Comissão de Informática da Unilins, que vem avalian- VERSITÁRIO DE MARINGÁ – CESUMAR: do os resultados a médio e longo prazos. O ambiente AUXÍLIO NA ESCOLHA DA CARREIRA E mostrou ser estável e útil, com algumas ressalvas: COMBATE À EVASÃO ESCOLAR a) servidores e rede são gargalos de desempe- nho e disponibilidade; O incentivo à pesquisa e à pós-graduação aconte- b) não é um ambiente seguro para fazer pro- vas práticas; ce, no Centro Universitário de Maringá- CESUMAR, c) mesmo um servidor com 4GB de memória por meio do cultivo da teorização como suporte para (enorme quando foi comprado) não supor- a prática educacional; de uma política de promoção do ta 40 estações executando softwares “pesa- desenvolvimento científico, consubstanciada no esta- dos”; belecimento de linhas prioritárias de ação, a médio e d) os procedimentos de montar periféricos longo prazos; da concessão de bolsas ou auxílios para como disquetes e pendrives são diferentes a execução de projetos científicos e para a formação do usual. de pessoal em cursos e programas de pós-graduação. Apesar das limitações, várias disciplinas usam o Ao completar 17 anos de existência, o CESU- ambiente, com grande facilidade de administração. A MAR dispõe de cerca de 80 mil metros quadrados de internet é restrita a poucos sites permitidos e as esta- construção, em uma área de 8,5 alqueires, correspon- ções entram em operação rapidamente. Upgrades de dente ao campus 1, e outra de 146 alqueires, corres- software são feitos somente no servidor e já ficam dis- pondente ao campus 2, para o desenvolvimento de sua poníveis simultaneamente nas estações. Aliado a uma ação educacional. O Centro Universitário de Maringá política de incentivo de software livre, tivemos uma conta com um corpo docente de 58,87% de Mestres economia considerável no investimento com softwa- e Doutores e um corpo discente de 12.000 alunos re, sem violar os direitos das empresas fabricantes e distribuídos nos 44 cursos de graduação, 47 cursos distribuidoras. de Pós-graduação lato sensu, nas diferentes áreas do Recentemente foram aumentadas as memórias conhecimento, e em um Programa de Pós-graduação das estações e instalados discos rígidos com sistema stricto sensu – Mestrado em Direito – devidamente operacional local. Com isso, as estações funcionam recomendado pela CAPES. Mantém convênios com como terminais magros dos servidores, mas também várias instituições de ensino, pesquisa e extensão no podem funcionar de forma autônoma, podendo aco- país e no exterior, como complemento aos projetos de- modar softwares “pesados”. Afastou-se um pouco da senvolvidos e com o objetivo de favorecer o intercâm- idéia original, devido à demanda logística - houve um bio entre professores e alunos, o desenvolvimento de aumento muito grande de alunos no período noturno atividades culturais, científicas e tecnológicas. e as salas com terminais magros não comportavam Neste contexto, o Centro Universitário de Ma- alguns softwares. Os terminais magros estão sendo ringá desponta como uma das instituições de ensino usados também em terminais de atendimento na se- Superior que muito tem contribuído para elevar os cretaria central e na biblioteca. É uma alternativa inte- níveis educacionais do estado do Paraná e do país. ressante, quando usada com bom senso. Com diversos projetos de extensão, parcerias, convê- Todo esse diferencial destacado acima possibi- nios e atendimentos prestados à comunidade, a Insti- litou convênio com a Fundação Eduardo dos Santos tuição cumpre sua missão perante a sociedade local – FESA, permitindo que alunos angolanos viessem e regional, prestando serviços nas diferentes áreas, estudar na Unilins. Foi ampliada a cooperação com contribuindo, assim, para o desenvolvimento local e Angola e, através de um novo convênio, desta vez com regional, bem como para a melhoria da qualidade de a Sonangol, Petroleira Angolana, o n.º de estudantes vida da população. de Angola na Unilins cresceu para quase 100 alunos, As edificações e os espaços educacionais, onde em diversos cursos. O CETGeo, por sua vez, ampliou

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se desenvolvem as atividades pedagógicas e experi- medida em que está, efetivamente, contribuindo com mentais do CESUMAR, caracterizam-se por amplas os jovens na importante tarefa de escolher um curso áreas projetadas, que visam atender às necessidades de graduação, evitando desta forma, perdas econô- específicas de um ambiente de ensino e oferecer toda micas, sociais e acadêmicas decorrentes da evasão infra-estrutura necessária para o desenvolvimento dos escolar. cursos, incluindo áreas didáticas, laboratórios, clíni- cas, áreas de convivências, áreas administrativas e de apoio, áreas esportivas e estacionamentos. PORTAL UNIVERSITÁRIO UNICENP: FER- O Centro Universitário de Maringá está sempre RAMENTAS PARA A GESTÃO ACADÊMICA atento à evasão dos jovens do ensino superior e ao fato de que a escolha de um curso universitário com res- Quase todas as ferramentas de gestão acadêmi- ponsabilidade e certeza pode facilitar a conquista de ca atualmente existentes no mercado brasileiro dão um bom futuro profissional. Considerando que, para suporte para as atividades de gestão administrativa: a isso acontecer, é necessário contar com uma orienta- secretaria, a tesouraria, a biblioteca, os recursos hu- ção experiente e com base no conhecimento, elaborou manos, etc. Embora sejam denominadas ferramentas e implantou, no ano de 2004, o “Projeto Interação”. de gestão acadêmica, na verdade elas auxiliam a ges- Nesse programa de relacionamento entre a ins- tão das atividades propriamente administrativas. Não tituição e a comunidade, atendem-se alunos do ensino tratam diretamente da gestão das atividades fins da médio da rede púbica e das escolas particulares, de instituição: o ensino, a pesquisa e a extensão. No Cen- Maringá e região e, apresentando-lhes os cursos de tro Universitário Positivo - UnicenP, a gestão acadêmi- graduação da instituição e de outras, cria-se um es- ca, isto é, a gestão do conhecimento produzido e ensi- paço de esclarecimento das freqüentes dúvidas que nado, é apoiada pelo Portal Universitário UnicenP. cercam a escolha de um curso superior. Dessa forma, O Portal Universitário UnicenP pode ser carac- procura-se auxiliá-los na tomada de decisão. Ou seja, o terizado como um conjunto organizado de ferramen- projeto tem como objetivo proporcionar ao estudante tas Web de gestão das atividades fins da instituição: um direcionamento vocacional, fornecendo informa- o ensino, a pesquisa e a extensão. Propicia uma inte- ções sobre as diversas áreas de atuação profissional gração entre toda a comunidade acadêmica, possibili- e permitindo, também, um contato antecipado com a tando a todos o pleno acesso a tudo que se passa em realidade acadêmica do ensino superior, vivenciada sala de aula. Com os mecanismos de estruturação do em todas as instalações do campus do Cesumar. Por ensino disponíveis no Portal, os professores planejam meio de uma visita pelo campus, coordenada e acom- e publicam as aulas com antecedência, incluindo ma- panhada pela Diretoria de Extensão Universitária, os teriais associados, e estas são acessadas pelos alunos alunos têm a oportunidade de conhecer a biblioteca, previamente. Após a aula, o aluno tem a possibilidade as clínicas e laboratórios dos diversos cursos. Deta- de rever a matéria, tendo acesso a todos os conteúdos lhes da vida acadêmica são mostrados em vídeo e os de maneira organizada. Além deste recurso, estão coordenadores e professores organizam palestras disponíveis as seguintes opções: que oferecem orientações sobre os cursos. No ano da • acesso a planos de ensino, ementas e re- implantação do projeto, o CESUMAR enviou convites ferências bibliográficas de cada disciplina; a todas as escolas. • construtor de provas com questões Já a partir do ano de 2005, não houve a neces- abertas, discursivas, de múltipla escolha sidade desse envio porque as próprias escolas, per- ou de qualquer outro tipo, a partir de um cebendo a importância do projeto e os resultados banco de questões; alcançados, inscrevem-se no início de ano, definin- • listagem e controle de trabalhos acadê- do-se, assim, uma agenda de visitas para todo o ano. micos; As visitas acontecem no período diurno e noturno, • quadro de avisos; dependendo do período solicitado pela escola, poden- • agenda; • sala virtual para promoção de debates; do os alunos permanecerem manhã e parte da tarde • comunicador; na instituição, com programação diversificada. Como • pesquisa – acesso a conteúdo multimídia cortesia, cada visitante recebe uma camiseta, lanche e e bases de dados gerais e especializadas; almoço na própria instituição. • currículo padrão Lattes; O projeto já atendeu 10.000 alunos de Maringá e • publicação de notas, freqüência e um região, além de alunos de outros estados. construtor de páginas para projetos acadê- micos; O Centro Universitário de Maringá - CESUMAR • simuladores e gerenciadores de proces- considera este projeto extremamente importante na sos de avaliação, tanto para os realizados

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pelo MEC quanto para avaliações de cur- Para se ter idéia dos resultados obtidos, no ano sos, feitas pelos alunos. do credenciamento da instituição como centro uni- Essas ferramentas complementam o ensino pre- versitário, a Biblioteca contava com uma instalação sencial, permitindo uma educação permanente e con- de 1.844m², seu acervo de livros tinha 43.355 títulos tinuada, para além do tempo reservado às aulas. e 72.453 exemplares, e funcionava parcialmente infor- Os instrumentos de gestão da pesquisa e da ex- matizada. tensão permitem a elaboração, a publicação e o acom- Em 2002, foi inaugurada a Biblioteca Reitor João panhamento dos projetos nessas áreas. A produção Herculino, uma homenagem ao idealizador e funda- científica decorrente dos projetos é sistematizada e dor do CEUB. Atualmente, a biblioteca ocupa, em três colocada à disposição da comunidade acadêmica. pavimentos, uma área de 6.300m² e seu acervo conta Com o Portal Universitário UnicenP os gestores com 94.692 títulos, totalizando 214.027 exemplares passam a contar com uma variada gama de consultas com serviços on line e totalmente informatizada. e relatórios para análise do desempenho, bem como Atualmente, o UniCEUB tem um prédio de 12 gráficos gerenciais que comparam os resultados- al andares, totalmente destinado ao atendimento à co- cançados frente aos objetivos planejados. munidade. Nele funciona a sede do Núcleo de Prática Jurídica que ocupa dois andares do edifício. Suas fi- liais estão presentes em mais doze endereços, aten- dendo a todas às áreas do Distrito Federal e em todos CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA os campos de atuação do Direito. – UniCEUB: A BIBLIOTECA EM DESTAQUE Nesse mesmo prédio, funcionam os Centros de Em 1968, os professores e advogados Alberto Pé- Formação de Psicólogos, de Nutricionistas e de Fisio- res, Fausto Padrão, José Ercílio Curado Fleury, Paulo terapeutas e a Incubadora de Empresas do UniCEUB, Oliveira Silva e Flávio Degrázia se reuniram com a a Casulo, que dá a oportunidade à Comunidade Acadê- idéia de montar uma instituição de ensino em Brasília, mica da instituição de praticar o empreendedorismo, com o apoio do então Deputado Federal e Líder da Câ- a partir de seleção de projetos e conta com consultoria mara, João Herculino, que sugeriu a criação de uma para o desenvolvimento de novas empresas. Universidade Particular com funcionamento noturno. Após aprovação do projeto, por intermédio do Conse- lho Federal de Educação, foi criado o CENTRO DE CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE ENSINO UNIFICADO DE BRASÍLIA - CEUB, com SÃO PAULO – UNASP: FUNCIONALIDADE E os cursos de Direito, Pedagogia, Geografia, História, CONFORTO NO NOVO COMPLEXO INFRA- Matemática, Letras, Economia, Contabilidade, Admi- nistração e Psicologia. ESTRUTURAL Em 1999, o CEUB foi credenciado como Centro O UNASP Campus São Paulo, instalado na Ca- Universitário de Brasília - UniCEUB. Atualmente, o pital Paulista, construiu e colocou recentemente em UniCEUB dispõe dos seguintes cursos de graduação: funcionamento uma área contemplando: biblioteca, Direito, Pedagogia, Geografia, História, Matemática, mais de quarenta salas de aulas, novos escritórios Letras, Contabilidade, Administração, Comunicação para a equipe acadêmica, dois grandes laboratórios de Social, Psicologia, Biologia, Fisioterapia, Arquitetura, informática e uma ampla sala de professores, além de Nutrição, Enfermagem, Ciência da Computação, En- congregar num único andar os serviços pertinentes genharia de Computação, Educação Física, Turismo e ao relacionamento com os estudantes. Relações Internacionais; cursos superiores tecnológi- As novas salas de aula são bastante confortáveis, cos: gestão de pequenas e médias empresas e empre- algumas delas com dimensões suficientes para algu- endedorismo, análise e desenvolvimento de sistemas. mas reuniões e eventos especiais, dando assim bem- Antes de ser credenciado como centro universi- estar ao aluno em seu aprendizado. tário, o UniCEUB já atuava com estrutura ampla de atendimento à comunidade nos cursos de Direito e Psicologia, além de laboratórios aplicados nas áreas de saúde, comunicação e tecnologia bem equipados. Biblioteca Mas a partir do novo credenciamento, com a abertura de novos cursos, traçou-se metas de expansão, como A Biblioteca, Centro Cultural do Campus, ocu- a ampliação dos serviços para a comunidade e a cons- pa a parte central deste edifício. Tem um acervo de trução de uma nova biblioteca, para atender à nova 120.000 volumes e 1.444 títulos de periódicos. Nos úl- realidade institucional. timos 9 anos foi incorporado ao acervo o montante de

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25.812 livros. põem o panorama. A Biblioteca John Lipke ocupa uma área física de Pode-se afirmar, com muita certeza, que este 1.900m2, distribuídos em ambientes modernos e atra- Complexo Infra-Estrutural do UNASP é um marco na tivos que associam funcionalmente o atendimento às história de 92 anos do Campus e deu novo rumo à vida necessidades acadêmicas, com beleza, simplicidade e acadêmico-universitária do Campus. elegância. Tudo isto visando oferecer aos discentes mais que um espaço para estudo: um clima onde estu- dar e pesquisar sejam também momentos de prazer. A biblioteca possui regulamento próprio, impresso, o A RIQUEZA DA DIVERSIDADE, RESPON- qual é distribuído aos clientes a cada início de semes- SABILIDADE SÓCIO-AMBIENTAL E TEC- tre ou sempre que solicitado. A política de procedi- NOLOGIA DIGITAL: A EXPERIÊNCIA DO mentos para aquisição de acervo bibliográfico e ou- CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE tras mídias, explicitada em documento busca atender, DOURADOS – UNIGRAN dentre outras, as seguintes diretrizes: • estar em consonância com o currículo Nos últimos dez anos, a área física do Centro dos cursos; Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN) mais • preferencialmente as aquisições devem que dobrou, de 24.900m², para 54.000m², e seu cam- priorizar as solicitações de coordenadores pus se estendeu virtualmente pelo Brasil, Portugal e e professores dos cursos, as quais estarão Japão devido ao Ensino a Distância. Os cursos, 30 de baseadas nas bibliografias e mídias adota- graduação presenciais e 8 de graduação a distância, das para cada disciplina; tiveram um avanço a partir de sua transformação em • os acervos de multimídia devem estar Centro Universitário em 1998, quando eram apenas atualizados, tanto no que se refere ao con- 12 presenciais. A estrutura física, corpos administra- teúdo, quanto em relação aos aspectos tec- tivo e docente e o número de alunos aumentaram na nológicos. proporção necessária para atendimento de qualidade A biblioteca, por possuir espaço amplo e bem dos cursos que oferece; porém, em bases previstas distribuído, visa atender a todas as instâncias da pes- por uma gestão pautada no planejamento, na auto-ava- quisa, estudo e lazer. A freqüência e uso é estimulada, liação institucional, e no compromisso com a susten- tanto através dos professores – via práticas docentes tabilidade regional, que se materializam no ensino de extra-classe – quanto junto aos alunos através da di- excelência, na formação de profissionais de elevadas vulgação de novas aquisições, programações para- qualificações e em ações inovadoras empreendidas lelas – cursos, palestras, exposições, etc. – e outras pela Instituição. atividades de fomento. Os profissionais graduados pela UNIGRAN assu- Dois serviços interessantes a biblioteca disponi- miram papéis importantes na iniciativa privada e nos biliza, para este fomento: mais diferentes setores da administração pública e no • O Professor traz a Sala de Aula para a Poder Judiciário. Com 30 anos de funcionamento, os Biblioteca; cursos de Direito e Administração foram justamente • A Biblioteca vai à Sala de Aula. os primeiros, dos atuais 30 cursos de graduação, im- A biblioteca disponibiliza acesso eletrônico local plantados pela Instituição. São formações que contri- aos seus clientes, para pesquisa, consulta a base de buem com o avanço da ciência e da tecnologia, da eco- dados e digitação de trabalhos acadêmicos. Há uma nomia, saúde, cultura, educação, inclusão e qualidade sala de pesquisa digital com 16 estações de trabalho, de vida e com a geração de oportunidades na região. impressora e scanner. Mas se no início a conjuntura exigia pessoas capazes de impulsionar o progresso do Estado, o paradigma atual inclui a sustentabilidade. Por isso, Conforto Acadêmico além da qualificação técnico-científica, a formação humanizada – que desenvolve no estudante o sentido Neste complexo infra-estrutural, há instalações da responsabilidade social e ambiental, nos domínios amplas para o grupo acadêmico, incluindo-se a Dire- de sua profissão – é exigência para os profissionais ção Acadêmica que encontra-se estrategicamente lo- da atualidade. Nessa direção, a UNIGRAN realiza um calizada. Cada Coordenador de Curso conta com am- grande número de programas de extensão que põem biente próprio de trabalho e os professores dispõem o aluno em contato com a realidade social e dão-lhe de aconchegante conjunto de instalações para o seu sentido prático ao conhecimento e a sua formação bem-estar. Salas de apoio adequadamente situadas, acadêmica. inclusive para Comissões e Reuniões de Grupos com-

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Inclusão Educacional cidade funcionam os Núcleos de Assistência Jurídica, de Psicologia, de Nutrição e de Serviço Social; uma As ações na área da Educação de Jovens e Adul- farmácia-escola e um hospital veterinário que dispo- tos, e ofertas de serviços jurídicos e de assistência à nibilizam os mais modernos recursos de aprendiza- saúde física e mental à população são realizados gra- gem prática aos alunos estão entre os principais in- tuitamente nas Clínicas de Fisioterapia, Nutrição e vestimentos em infra-estrutura de ensino feitos pela Psicologia, nos Laboratórios de Biomedicina, ou nos UNIGRAN, desde 1997. Núcleos de Arquitetura, Serviço Social e Direito. Os Juntamente com o incentivo à qualificação cada números superam a marca de 30 mil atendimentos por vez maior do corpo docente – hoje, 56% dos professo- ano, em um município de cerca de 180 mil habitantes. res da instituição são mestres e doutores, sendo que E se é possível destacar uma ação inovadora, no âm- nos cursos da área da saúde esse índice sobe para 70% bito da relação instituição / comunidade, sem dúvida –, as instalações físicas e equipamentos oferecem as este é o Programa de Apoio ao Estudante Indígena melhores condições de desenvolvimento do ensino e da UNIGRAN - PAEI e os projetos que dele derivam. da pesquisa, que é estimulada nos alunos desde o pri- Essa iniciativa propiciou o acesso de índios de Doura- meiro ano de curso, por meio de ações da Pró-Reitoria dos e de Mato Grosso do Sul ao ensino superior. Sem de Pesquisa e Pós-Graduação. Neste campo, outro restrição de cursos, o PAEI, instituído em parceria pioneirismo: a UNIGRAN é a única IES de Mato Gros- com a Funai, oferece bolsas de estudos integrais aos so do Sul a ter um Comitê de Ética em Pesquisa com indígenas aprovados em vestibular desde 1999. De Seres Humanos. O CEP-UNIGRAN foi homologado 2001 a 2006, trinta e sete indígenas foram diplomados em 2004, pelo Conselho Nacional de Saúde. Por ele, em várias profissões, sendo que, em 2007, dez devem passam os projetos de pesquisa de todos os cursos se formar em Enfermagem, Psicologia, Biomedicina, para aprovação. Serviço Social, Ciência da Computação e Pedagogia. Atualmente, 47 estudantes são beneficiados pelo Pro- grama. EAD Complementarmente ao PAEI, a instituição criou também um programa de extensão universitária inédi- Em 1998, a instituição deu um grande passo para to no mundo, dentro de uma área indígena. Para dar o futuro. A UNIGRAN foi uma das primeiras do país mais apoio a essa comunidade a UNIGRAN construiu, a instalar um servidor e franquear o acesso à internet com autorização da FUNAI, um Núcleo de Atividades aos seus alunos e professores. Para tanto, contou com Múltiplas - NAM, dentro da Reserva indígena de Dou- o pessoal próprio, a maioria formada em seu curso de rados, com 5.000m². Investindo recursos próprios, o Ciência da Computação, que desenvolveu ainda os sis- NAM congrega projetos de extensão de todos os seus temas de informação da biblioteca e da secretaria aca- cursos e que são voltados ao atendimento de crian- dêmica. E na combinação das tecnologias digitais de ças, jovens e adultos indígenas. Cursos de trabalhos comunicação com a nova mídia e novos métodos de manuais, de alfabetização bilíngüe, de reforço escolar, ensino-aprendizagem, a Instituição fundou as bases de informática e atividades de recreação e lazer são de seus cursos de educação a distância, na graduação realizados regularmente nesse Núcleo que foi inau- e na pós-graduação. gurado em 2001, na Aldeia Jaguapiru. Os resultados positivos angariaram o apoio do Ministério da Educa- Em um estado onde as distâncias são grandes, ção, na execução do segundo núcleo do programa, na a educação a distância está possibilitando a formação Aldeia Bororó. superior de um grande número de estudantes. Esse projeto que iniciou ainda em 2001, com a introdução gradual de disciplinas ministradas a distância e com a capacitação dos docentes nessa modalidade de en- Infra-estrutura sino, se consolidou em 2006, com a inauguração do Complexo de Comunicação, formado por estúdios de A maior e mais bem aparelhada biblioteca do in- rádio e TV digitais, e por um servidor especial de In- terior do Estado; instalações aquáticas com piscinas ternet, que possibilita a navegação em gigabytes, para aquecidas; 40 laboratórios completos para os cursos transmissão das aulas multimídia. de Biomedicina, Enfermagem, Farmácia, Fisiotera- A qualidade das instalações e do corpo docente, pia, Educação Física, Estética, Ciências Biológicas, dos planos pedagógicos de seus cursos, e o histórico Ciência da Computação, Nutrição, Agronomia e Vete- da Instituição credenciam o ensino a distância da UNI- rinária. A clínica-escola de Fisioterapia, considerada GRAN, que hoje possui alunos estudando em casa, em modelo, realiza mais de dois mil procedimentos, men- todo o Mato Grosso do Sul, em vários outros estados salmente. Também em prédios próprios no Centro da

126 PRIMEIRA PARTE

brasileiros e na Europa e Ásia por meio de seus pólos ção do conhecimento. Estes módulos são realizados já instalados em Portugal e Japão. através das sessões tutoriais, consultorias, conferên- É o reconhecimento de uma educação desenvol- cias e atividades eletivas, utilizando a metodologia da vida fora dos grandes centros populacionais do país, Aprendizagem Baseada em Problemas - PBL, com vá- mas compromissada com o desenvolvimento humano rias de suas características principais, entre as quais e que teve um avanço a partir de sua transformação destacam-se: em Centro Universitário, em 1998. • o aluno é responsável por seu apren- dizado, o que inclui a organização de seu tempo e a busca de oportunidades para aprender; INFRA-ESTRUTURA ALIADA AO MODELO • o currículo é integrado e integrador e PEDAGÓGICO: A EXPERIÊNCIA INOVADO- fornece uma linha condutora geral, no RA DO CURSO DE MEDICINA DO CENTRO intuito de facilitar e estimular o aprendi- zado. Esta linha se traduz nas unidades UNIVERSITÁRIO DO PARÁ – CESUPA educacionais temáticas do currículo e nos problemas, que deverão ser discutidos e O modelo pedagógico do recém implantado cur- resolvidos nos grupos tutoriais; so de medicina do CESUPA, fundamentado teori- • a instituição oferece uma grande varie- camente no paradigma da integralidade, organiza-se dade de oportunidades de aprendizado com base na concepção centrada no aluno como su- através de laboratórios, ambulatórios, ex- jeito da aprendizagem e apoiado no professor como periências e estágios hospitalares e comu- facilitador do processo. É orientado para a comunida- nitários, bibliotecas tradicionais e acesso a de, utilizando várias metodologias ativas e privilegia a meios eletrônicos (Internet); aprendizagem baseada em problemas. • o aluno é precocemente inserido em ati- vidades práticas relevantes para sua futura O modelo evidencia o “aprender fazendo”, pro- vida profissional. pondo assim a mudança da seqüência clássica teoria/ prática para o processo de produção do conhecimento que ocorre de forma dinâmica através da ação-refle- xão-ação. Módulo de Interação em Saúde na Comu- nidade – MISC Na realidade, pretende-se conjugar o enfoque pedagógico que melhor desenvolva os aspectos cog- O MISC é uma unidade desenvolvida semanal e nitivos da educação (aprender a aprender) com o foco continuamente em todos os períodos do curso, fazen- que permite o melhor desenvolvimento das habilida- do parte de uma proposta educacional baseada na co- des psicomotoras e de atitudes (aprender fazendo). munidade, com trabalho em equipe multiprofissional A proposta pedagógica integra as dimensões bio- e interdisciplinar. lógica, psicológica e social em todo o percurso do cur- O ambiente de ensino deste módulo é a comuni- so de graduação. O modelo está organizado através dade em torno da unidade básica de saúde (área de de módulos que devem orientar-se em sua construção abrangência). Esta comunidade inclui grupos sociais, por sistemas orgânicos, ciclos de vida e apresentações escolas, locais de trabalho, instituições sociais e famí- clínicas, integrando um conjunto de conhecimentos, lias, entre outras. habilidades e atitudes que são desenvolvidos como objetivos educacionais. O MISC permite ao estudante trabalhar com membros da comunidade, não restringindo-se à te- Nesse contexto, optou-se por construir a matriz mática médica estrita, mas estendendo-se em outros curricular em Módulos Temáticos - MT, Interação em setores relacionados aos problemas de saúde existen- Saúde na Comunidade - MISC e Treinamento de Ha- tes ou potencialmente identificados. Os estudantes bilidades e Atitudes Profissionais - HP. conduzirão, em equipes, pesquisas na comunidade, desenvolvendo experiências em vigilância à saúde e em análise e solução de problemas, bem como habi- Módulos Temáticos - MT lidades clínicas relacionadas aos cuidados de saúde individual e da comunidade. Cada Módulo Temático está organizado em as- A meta do MISC é proporcionar aos estudantes, suntos que seguem uma lógica (ciclos de vida e siste- através de um trabalho contínuo durante todo o curso mas). Tem abordagem interdisciplinar, cujo conteúdo de graduação, conhecimentos, habilidades e atitudes é organizado em problemas que constituem o elemen- necessárias à prática profissional em atenção primária to motivador para o estudo e o momento de integra- à saúde, tornando o futuro profissional não somente

127 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

sensibilizado em relação à importância do trabalho nizado por sistemas orgânicos, no qual nas unidades básicas de saúde, mas preparado para o aluno dispõe de material referente a: prosseguir como um participante ativo de programas morfologia normal e patológica, macro e de base comunitária. microscópica; peças anatômicas artificiais; peças anatômicas naturais incluídas em re- sina polimerizada; computador com acesso à internet; livros; vídeos; cd-rom; micros- Treinamento em Habilidades e Atitu- cópio e acervo de imagens. des Profissionais - HP • Laboratório de Habilidades, funcio- nalmente distribuído em 12 (doze) esta- O exercício da medicina requer não só conheci- ções, assim identificadas: Medidas Auxi- liares do Tratamento Médico; Noções de mentos, mas também habilidades e atitudes que se- Assepsia/Anti-Sepsia e Biossegurança; rão desenvolvidas durante toda a formação médica e Equipamentos de Semiologia e Aferição deverão ser aperfeiçoadas na residência médica e na dos Sinais Vitais; Vias Aéreas e Ventilação; pós-graduação (mestrado e doutorado). Acesso Vascular Periférico e Central; Imo- O treinamento de habilidades é um programa bilização; Reanimação Cardio-Respiratória; educativo estruturado longitudinalmente, que visa ca- Interpretação de Exames Radiológicos; pacitar para o exercício adequado da medicina. Exame Ginecológico; Exame Obstétrico e Parto; Procedimentos Cirúrgicos e Anes- tesia; e Exercícios de Raciocínio e de De- cisão Clínica. A Matriz Curricular • Laboratório de Recursos Multi- meios, ambiente instalado no interior da O curso médico do CESUPA será desenvolvido Biblioteca. em 6 anos (12 semestres). Em resumo, a operaciona- Sublinhe-se, também, que para a Biblioteca do lização da Matriz Curricular, que considera o semes- novo Curso, espaço indispensável e fundamental de tre com 20 semanas, será feita através das seguintes ensino-apredizagem, além de livros e periódicos, fo- atividades: ram adquiridos materiais instrucionais especiais, tais • Módulos temáticos (08 módulos se- como, vídeos, CD-ROMs e software. mestrais, durante os 04 anos iniciais) Paralelamente à instalação dos laboratórios - grupos tutoriais referidos, foram implantados outros ambientes de - conferências aprendizagem, a saber: 10 (dez) salas de tutoria, 02 - consultorias (duas) salas de conferência e 01 (um) Laboratório de - outras atividades (eletivas) Informática, todos com recursos audio-visuais que • Interação em saúde na comunidade auxiliam na implementação de práticas pedagógicas (ao longo dos 04 anos iniciais) inovadoras. • Treinamento em habilidades e atitu- des (durante os 04 anos iniciais) • Internato (02 últimos anos do curso), com rodízio nas principais áreas do conhe- CONSIDERAÇÕES FINAIS cimento. Para a consecução dos objetivos traçados por Com efeito, os relatos de experiência aqui apre- essa proposta de formação inovadora na área médica, sentados constituem uma forma de homenagear os o arranjo físico instalado obedeceu às seguintes di- Centros Universitários do Brasil, à ocasião em que se retrizes principais: celebra a primeira década de sua criação, pelo com- • Organização do espaço físico para uso promisso assumido com o sentido público da constru- do material de ensino, na perspectiva de ção social. um ensino centrado no aluno. • Adequação de Ambientes de Aprendiza- Concluo agradecendo de modo especial a cada gem, voltados às metodologias de ensino. um dos professores que colaboraram para a constru- • Aquisição de material de ensino em ção do texto, do qual se tornaram co-autores, median- geral: livros, revistas, equipamentos e ma- te o envio dos relatos. São eles: terial de consumo para as aulas práticas, • Euler Pereira Bahia, do Centro Universi- recursos audiovisuais, etc. tário Adventista de São Paulo – UNASP; Nessa perspectiva, foram implantados e equipa- • Getúlio Moreira Lopes e Flávia Fonseca, dos os seguintes laboratórios: do Centro Universitário de Brasília – Uni- • Laboratório Morfofuncional, orga- CEUB; • João Carlos de Campos, do Centro Uni-

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versitário de Lins – UNILINS; • José Augusto Trindade Padilha, do Cen- tro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ; • José Pio Martins, do Centro Universitá- rio Positivo – UnicenP; • Pe. Christian de Paul de Barchifontai- ne, Paulo Eduardo Marcondes de Salles e Regina Lúcia Lopes Victorino, do Centro Universitário São Camilo; • Roque Danilo Bersch, do Centro Univer- sitário UNIVATES; • Rosa De Déa, do Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN; e • Wilson de Matos Silva e Solange Mu- nhoz Arroyo Lopes, do Centro Universitá- rio de Maringá – CESUMAR.

129 PARTE II

CENTROS UNIVERSITÁRIOS BRASILEIROS, JOVENS E CONTEMPORÂNEOS SEGUNDA PARTE

1.-. A EXPANSÃO DA GRADUAÇÃO E A CONTRIBUIÇÃO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS PARA A UNIVERSALIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR Paulo A. Gomes Cardim23(*)

O centro universitário teve sua origem na certeza de que a excelência na graduação é mais importante que um simulacro de pesquisa. Eunice Durham

ASPECTOS LEGAIS Em 11 de dezembro de 2003 o governo, em uma desastrada decisão política, faz publicar o Decreto nº A LDB – Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 4.914, revogando o art. 11 do Decreto nº 3.860/2001 e – dispõe, no art. 45, que “a educação superior será mi- atribuindo aos centros universitários as mesmas fun- nistrada em instituições de ensino superior, públicas ções das universidades, com os mesmos requisitos ou privadas, com variados graus de abrangência ou para o credenciamento e funcionamento destas, além especialização”. Na LDB só existem dois tipos de ins- de vedar a constituição de novos centros universitá- tituições de ensino superior (IES) – as universidades rios. e as “instituições não-universitárias”. Dos centros universitários passou-se a exigir o O Decreto nº 2.207, de 15 de abril de 1997, que cumprimento, até 31 de dezembro de 2007, “do prin- regulamentou, para o Sistema Federal de Ensino cípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e (SFE), as disposições contidas nos art. 19, 20, 45, 46 extensão, previsto no art. 207 da Constituição, e os e § 1º, 52, parágrafo único, 54 e 88 da Lei n.º 9.394, de requisitos estabelecidos no art. 52 da Lei nº 9.394, de 1996, estabeleceu a seguinte organização acadêmica 20 de dezembro de 1996, sendo que os trinta e três para as IES do SFE, no art. 4º: por cento do corpo docente em regime de tempo inte- I – universidades; gral serão satisfeitos da seguinte forma: I - quinze por cento, até dezembro de 2004; II - vinte por cento, até II – centros universitários; dezembro de 2005; III - trinta por cento, até dezembro III – faculdades integradas; de 2006; e IV - trinta e três por cento, até dezembro IV – faculdades; de 2007”. V – institutos superiores ou escolas superiores. O referido decreto ameaçava com o “imediato Estava criada a figura do “centro universitário”. descredenciamento do centro universitário, retornan- O art. 6º do citado decreto classificava os centros do ele a sua situação anterior junto ao Ministério da universitários como “instituições de ensino superior Educação”, caso não fossem cumpridas as determina- pluricurriculares, abrangendo uma ou mais áreas do ções desse estranho e inoportuno decreto presiden- conhecimento, que se caracterizam pela excelência cial. do ensino oferecido, comprovada pela qualificação do O Decreto nº 5.773, de 9 de maio de 2006 – o seu corpo docente e pelas condições de trabalho aca- “decreto ponte” – revoga o Decreto nº 3.860/2001, re- dêmico oferecidas à comunidade escolar...”. gulamentando o exercício das funções de regulação, O Decreto nº 2.306, de 19 de agosto de 1997, re- supervisão e avaliação de IES e cursos superiores vogou o Decreto nº 2.207/97 e estabeleceu novo re- de graduação e seqüenciais no SFE. As IES passam, gulamento para os artigos 16, 19, 20, 45, 46 e § 1º, 52, agora, a ser classificadas como universidades, centros parágrafo único, 54 e 88 da LDB, mantendo a mesma universitários e faculdades. Em “faculdades” são ad- classificação para as IES do SFE. mitidas as “faculdades integradas, “institutos superio- res” ou “escolas superiores”. O Decreto nº 3.860, de 9 de julho de 2001, revoga o Decreto nº 2.306/97, mas mantém a mesma classi- Em 24 de maio de 2006 o governo revê sua po- ficação, introduzindo, todavia, os “centros federais de sição em relação aos centros universitários e edita o educação tecnológica”, que já existiam, equiparando- Decreto nº 5.786, que revoga o desastrado Decreto nº os aos centros universitários. 4.914/2003 e recoloca os centros universitários em sua verdadeira missão institucional, sem confundi-los com a universidade. 23 (*)Vice-Presidente da CONFENEN Confederação Nacional dos Es- tabelecimentos de Ensino e Reitor do Centro Universitário Belas Artes de São O Decreto nº 5.786/2006 dispõe que “os centros Paulo.

131 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

universitários são instituições de ensino superior plu- Deve-se ressaltar, também, que as institui- ricurriculares, que se caracterizam pela excelência do ções não vocacionadas para a pesquisa, mas ensino oferecido, pela qualificação do seu corpo do- que praticam ensino de qualidade e, eventu- cente e pelas condições de trabalho acadêmico ofere- almente, extensão, têm um importante papel cidas à comunidade escolar”. Para tanto, devem aten- a cumprir no sistema de educação superior der aos seguintes requisitos: “I - um quinto do corpo e sua expansão, devendo exercer inclusive prerrogativas da autonomia. É o caso dos docente em regime de tempo integral; e II - um terço centros universitários. do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmi- O Prof. Abílio Baeta Neves, então presidente da ca de mestrado ou doutorado”. CAPES, ao avaliar a criação dos centros universitá- É mantida a autonomia para “criar, organizar e rios, chegou a afirmar que “os centros universitários extinguir, em sua sede, cursos e programas de educa- são um desafio salutar para a moderna educação su- ção superior, assim como remanejar ou ampliar vagas perior”. nos cursos existentes”, devendo, contudo, serem ob- E o ministro Paulo Renato, da Educação, res- servados “os limites definidos no plano de desenvol- ponsável pela introdução dos centros universitários vimento da instituição”. Traz, porém, uma limitação na organização acadêmica do SFE disse que na sua desnecessária, ao vedar “aos centros universitários a visão, ”a missão dos centros universitários é o ensino atuação e a criação de cursos fora de sua sede, indi- de graduação de qualidade”. cada nos atos legais de credenciamento”. É mantida, ainda, a autonomia para registrar diplomas dos cursos expedidos pelos centros universitários, já assegurada pelo Parecer CNE/CES nº 250, de 7/8/2002, que me- A EXPANSÃO DO ENSINO DE GRADUA- receu homologação ministerial. ÇÃO O revogado Decreto nº 4.914/2003 prejudicou, consideravelmente, a expansão do ensino nos centros O ano de 1997 marca o início de funcionamento universitários, tendo em vista a insegurança quanto dos centros universitários. A SINOPSE ESTATÍSTI- aos destinos desse tipo de IES. A limitação da atua- CA DO ENSINO SUPERIOR – GRADUAÇÃO - 199924 ção dos centros universitários à sua sede é, também, registra a existência de 39 centros universitários, cor- outro fator que inibe muitas ações institucionais que respondendo a 3,55% do total das IES recenseadas poderiam reverter para a expansão planejada da ofer- (1.097, sendo 155 universidades). ta de cursos de graduação, especialmente em regiões Em 2007, o Cadastro da Educação Superior do não atendidas pelas universidades. INEP25 consigna 2.457 IES, das quais 124 centros uni- versitários (5,05%), 179 universidades (7,29%) e 2.154 (87,66%) faculdades integradas, faculdades, escolas A EVOLUÇÃO DOS CENTROS UNIVERSI- ou instituto superiores e os centros federais de edu- cação tecnológica. Uma evolução de mais de 217% no TÁRIOS período (1999-2007). Os primeiros centros universitários foram Os centros universitários têm presença mar- credenciados em 1997 sob a égide do Decreto nº cante no sudeste, com 83 instituições, superando a 2.306/97. Estão completando, portanto, dez anos de quantidade de universidades. O norte e o nordeste funcionamento. Nessa curta existência os centros são as regiões com menor quantidade de centros uni- universitários contribuíram significativamente para a versitários, respectivamente, 8 e 3. O quadro na pági- expansão do ensino de graduação, atendendo às de- na seguinte faz uma radiografia das IES cadastradas mandas para a formação de cidadãos e profissionais no INEP, por organização acadêmica em setembro de 26 qualificados para o mercado de trabalho. Esse fato é 2007 . reconhecido pelo Plano Nacional de Educação (PNE), Os centros universitários são maciçamente man- aprovado pela Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001, tidos pela livre iniciativa. Dos 124 existentes, 118 são quando trata das diretrizes e expansão para a educa- instituições de natureza jurídica privada (95,17%); cin- ção superior, na primeira década deste milênio: co são mantidos por prefeituras municipais e, apenas, um mantido por governo estadual.

24 http://www.inep.gov.br/download/censo/1999/superior/miolo1_ Sinopse_Superior99.pdf 25 http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/ 26 http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/, acessada em 28/9/2007.

132 SEGUNDA PARTE

IES CADASTRADAS NO INEP POR ORGANIZAÇÃO ACADÊMICA EM SETEMBRO DE 2007

CENTRO TIPO DE IES NORTE NORDESTE SUDESTE SUL TOTAIS % OESTE Universidade 13 34 14 79 39 179 7,29 Centro Universitário 8 3 11 83 19 124 5,05 Faculdade* 127 404 241 1.028 354 2.154 87,66 TOTAIS 148 441 266 1.190 412 2.457 100,00

* Em “Faculdade” incluem-se os centros federais de educação tecnológica, as faculdades integradas, as faculdades e as escolas ou institutos superiores.

Nove unidades da Federação não possuem centros universitários cadastrados no INEP: Acre, Alagoas, Amapá, Ceará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima e Sergipe. Nas demais unidades o quadro é o seguinte: 1. Amazonas – 4: • Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (UNICIESA); • Centro Universitário do Norte (UNINORTE); • Centro Universitário Luterano de Manaus (CEULM/ULBRA); • Centro Universitário Nilton Lins (UNINILTONLINS); 2. Bahia – 1: • Centro Universitário da Bahia (FIB); 3. Distrito Federal – 4: • Centro Universitário de Brasília (UniCEUB); • Centro Universitário do Distrito Federal (UNIDF); • Centro Universitário Euro-Americano (UNIEURO); • Centro Universitário Planalto do Distrito Federal (UNIPLAN); 4. Espírito Santo – 3: • Centro Universitário do Espírito Santo (UNESC); • Centro Universitário São Camilo – Espírito Santo (CUSC); • Centro Universitário Vila Velha (UVV); 5. Goiás – 3: • Centro Universitário de Anápolis (UNIEVANGÉLICA); • Centro Universitário de Desenvolvimento do Centro Oeste (UNIDESC); • Centro Universitário de Goiás (UNIANHANGUERA); 6. Maranhão – 1 : • Centro Universitário do Maranhão (UNICEUMA); 7. Mato Grosso – 2: • Centro Universitário Cândido Rondon (UNIRONDON); • Centro Universitário de Várzea Grande (UNIVAG); 8. Mato Grosso do Sul – 2: • Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN); • Centro Universitário de Campo Grande (UNAES); 9. Minas Gerais – 16: • Centro Universitário da Fundação Educacional de Guaxupé (UNIFEG); • Centro Universitário de Belo Horizonte (UNIBH); • Centro Universitário de Caratinga (UNEC); • Centro Universitário de Formiga (UNIFORMG); • Centro Universitário de Itajubá (UNIVERSITAS); • Centro Universitário de Lavras (UNILAVRAS); • Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM); • Centro Universitário de Sete Lagoas (UNIFEMM); • Centro Universitário do Cerrado-Patrocínio (UNICERP); • Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (UNILESTE-MG); • Centro Universitário do Planalto de Araxá (UNIARAXÁ); • Centro Universitário do Sul de Minas (UNIS-MG); • Centro Universitário do Triângulo (UNITRI); • Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix (IMIH); • Centro Universitário Newton Paiva (NEWTON PAIVA); • Centro Universitário Una (UNA);

133 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

10. Pará – 2: • Centro Universitário do Estado do Pará (CESUPA); • Centro Universitário Luterano de Santarém (CEULS); 11. Paraíba – 1: • Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ); 12. Paraná – 8: • Centro Universitário Campos de Andrade (UNIANDRADE); • Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA); • Centro Universitário de Maringá (CESUMAR); • Centro Universitário de União da Vitória (UNIUV); • Centro Universitário Diocesano do Sudoeste do Paraná (UNICS); • Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL); • Centro Universitário Franciscano do Paraná (UNIFAE); • Centro Universitário Positivo (UNICENP); 13. Rio de Janeiro – 16: • Abeu – Centro Universitário (UNIABEU); • Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM); • Centro Universitário Carioca (UNICARIOCA); • Centro Universitário Celso Lisboa (CEUCEL); • Centro Universitário da Cidade (UNIVERCIDADE); • Centro Universitário de Barra Mansa (UBM); • Centro Universitário de Volta Redonda (UNIFOA); • Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO); • Centro Universitário Fluminense (UNIFLU); • Centro Universitário Geraldo Di Biase (UGB); • Centro Universitário Hermínio da Silveira (UNIIBMR); • Centro Universitário Metodista Bennet – (METODISTA DO RIO); • Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos (MSB); • Centro Universitário Plínio Leite (UNIPLI); • Centro Universitário Serra dos Órgãos (FESO); • Conservatório Brasileiro de Música – Centro Universitário (CBM/CEU); 14. Rio Grande do Sul – 6: • Centro Universitário Feevale (FEEVALE); • Centro Universitário Franciscano (UNIFRA); • Centro Universitário La Salle (UNILASALLE); • Centro Universitário Metodista (IPA); • Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER); • Centro Universitário Univates (UNIVATES); 15. Rondônia – 1: • Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná (CEULJI/ULBRA); 16. Santa Catarina – 5: • Centro Universitário Barriga Verde (UNIBAVE); • Centro Universitário de Brusque (UNIFEBE); • Centro Universitário de Jaraguá do Sul (UNERJ); • Centro Universitário Leonardo Da Vinci (UNIASSELVI); • Centro Universitário Municipal de São José (USJ); 17. São Paulo – 48: • Centro Universitário de Espírito Santo do Pinhal (UNIPINHAL); • Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP); • Centro Universitário Álvares Penteado (FECAP); • Centro Universitário Amparense (UNIFIA); • Centro Universitário Anhanguera (UNIFIAN); • Centro Universitário Assunção (UNIFAI); • Centro Universitário Barão de Mauá (CBM); • Centro Universitário Belas Artes de São Paulo; • Centro Universitário Capital (UNICAPITAL); • Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium (UNISALESIANO); • Centro Universitário Central Paulista (UNICEP);

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• Centro Universitário Claretiano (CEUCLAR); • Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana Pe. Sabóia de Medeiros (FEI); • Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – Fae (UNIFAE); • Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU); • Centro Universitário de Araraquara (UNIARA); • Centro Universitário de Araras Dr. Edmundo Ulson (UNAR-UNAR); • Centro Universitário de Franca (UNIFACEF) • Centro Universitário de Jales (UNIJALES); • Centro Universitário de Lins (UNILINS); • Centro Universitário de Rio Preto (UNIRP); • Centro Universitário de Santo André (UNIA); • Centro Universitário de Votuporanga (UNIFEV); • Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia (CEUN-IMT); • Centro Universitário do Norte Paulista (UNORP); • Centro Universitário Eurípedes de Marília (UNIVEM); • Centro Universitário Fieo (UNIFIEO); • Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – Feob (UNIFEOB); • Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA); • Centro Universitário Hermínio Ometto de Araras (UNIARARAS); • Centro Universitário Ibero-Americano (UNIBERO); • Centro Universitário Ítalo-Brasileiro (UNIÍTALO); • Centro Universitário Lusíadas (UNILUS); • Centro Universitário Metropolitano de São Paulo (UNIMESP); • Centro Universitário Módulo (MÓDULO); • Centro Universitário Monte Serrat (UNIMONTE); • Centro Universitário Moura Lacerda (CUML); • Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP); • Centro Universitário Nove de Julho (UNINOVE); • Centro Universitário Padre Anchieta (UNIANCHIETA); • Centro Universitário Paulistano (UNIPAULISTA); • Centro Universitário Radial (UNIRADIAL); • Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL); • Centro Universitário Sant’Anna (UNISANT’ANNA); • Centro Universitário São Camilo (SÃO CAMILO); • Centro Universitário Senac (SENAC-SP); • Centro Universitário Toledo (UNITOLEDO); • Fiam-Faam – Centro Universitário (UNIFIAM-FAAM); 18. Tocantins – 1: • Centro Universitário Luterano de Palmas mento, no mesmo período, de 68% nas matrículas em (CEULP). universidades e 168% para os demais tipos de IES que integram o SFE. O quadro na página seguinte discrimina as ma- A EXPANSÃO DA GRADUAÇÃO trículas por organização acadêmica, de 1998 (ano anterior à implantação dos centros universitários) a Os cursos de graduação – bacharelados, licen- 2007, nos cursos de graduação – bacharelados, licen- ciaturas e cursos superiores de tecnologia – são o foco ciaturas e cursos superiores de tecnologia. Os núme- dos centros universitários, na busca permanente pela ros consignados em 2006 e 2007 são estimativas base- qualidade. adas na expansão de matrículas dos dois últimos anos Os centros universitários, com base no Cadastro constantes do Censo da Educação Superior. da Educação Superior do INEP, ofertam, no segundo Observa-se que a expansão do ensino superior, semestre de 2007, mais de 3.30027 cursos de gradua- entre 2004 e 2007, ocorreu prioritariamente com o ção, com matrícula total estimada em cerca de 830 mil credenciamento de novas faculdades. Nos últimos alunos. Em 1999, estavam matriculados 160 mil estu- dez anos, nenhuma universidade particular foi cre- dantes. Registra-se, assim, um crescimento da ordem denciada. Por outro lado, o ritmo de credenciamento de 420% no período (1999-2007), contra um cresci- de centros universitários, a partir de 2004, foi redu- zido, como conseqüência do Decreto nº 4.914/2003. 27 Não está incluída a duplicata de cursos ofertados em câmpus ou Essa retração no credenciamento de novos centros unidades descentralizadas ou fora de sede. Por exemplo, o curso de Direito conta apenas uma vez, embora seja ofertado em várias unidades, na sede ou fora dela. universitários teve efeito negativo na expansão das

135 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

EVOLUÇÃO DA MATRÍCULA NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO 1998/2007 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Univ 1.467.888 1.619.734 1.806.929 1.956.542 2.150.659 2.276.281 2.369.717 2.469.778 2.593.266 2.722.929 Centro ------160.977 244.679 338.275 430.315 501.108 614.913 674.927 742.419 831.509 Fac 658.070 589.234 646.577 735.937 898.939 1.109.633 1.179.103 1.308.451 1.438.800 1.581.850 Totais 2.125.958 2.369.945 2.694.245 3.030.754 3.479.913 3.887.022 4.163.733 4.453.156 4.774.485 5.136.288 Fonte: INEP – Censo de Educação Superior – 1998/2005. matrículas da graduação. Mesmo assim, os centros da faixa etária de 18 a 24 anos. universitários existentes demonstraram competência Estabelecer uma política de expansão que e compromisso social, expandido cursos e vagas, com diminua as desigualdades de oferta existen- qualidade e responsabilidade. tes entre as diferentes regiões do País. Estabelecer um amplo sistema interativo de educação à distância, utilizando-o, inclusi- O PNE E O PAPEL DOS CENTROS UNIVER- ve, para ampliar as possibilidades de aten- SITÁRIOS dimento nos cursos presenciais, regulares ou de educação continuada. O PNE, aprovado em 2001 para a primeira déca- Diversificar a oferta de ensino, incentivan- da deste milênio, faz o seguinte diagnóstico da educa- do a criação de cursos noturnos com propos- ção superior brasileira: tas inovadoras, de cursos seqüenciais e de No conjunto da América Latina, o Brasil cursos modulares, com a certificação, per- apresenta um dos índices mais baixos de mitindo maior flexibilidade na formação e acesso à educação superior, mesmo quan- ampliação da oferta de ensino. do se leva em consideração o setor privado. Garantir, nas instituições de educação su- Assim, a porcentagem de matriculados na perior, a oferta de cursos de extensão, para educação superior brasileiro em relação à atender as necessidades da educação con- população de 18 a 24 anos é de menos de tinuada de adultos, com ou sem formação 12%, comparando-se desfavoravelmente superior, na perspectiva de integrar o neces- com os índices de outros países do conti- sário esforço nacional de resgate da dívida nente. A Argentina, embora conte com 40% social e educacional. da faixa etária, configura um caso a parte, uma vez que adotou o ingresso irrestrito, o A meta de oferta da educação superior “para, que se reflete em altos índices de repetência pelo menos, 30% da faixa etária de 18 a 24 anos”, até o e evasão nos primeiros anos. Mas o Brasil final desta década, parece difícil de ser alcançada. Em continua em situação desfavorável frente ao 2007, o percentual estimado é de 11%. Os centros uni- Chile (20,6%), à Venezuela (26%) e à Bolí- versitários podem, contudo, exercer papel importante via ( 20,6%). para o alcance dessa meta ou, pelo menos, o atingi- mento de um percentual mais próximo de 30%. Ao estabelecer as diretrizes do PNE para esta década, o documento reconhece a importância dos Os centros universitários têm a missão principal centros universitários para o cumprimento das metas de formar cidadãos e profissionais qualificados, nas fixadas: áreas de atuação da instituição, resguardando as ca- racterísticas, a cultura organizacional e a missão espe- Deve-se ressaltar, também, que as institui- ções não vocacionadas para a pesquisa, mas cífica de cada uma. que praticam ensino de qualidade e, eventu- Na sua primeira década de funcionamento, os almente, extensão, têm um importante papel centros universitários contribuíram com aumento nas a cumprir no sistema de educação superior matrículas de seus cursos de graduação de cerca de e sua expansão, devendo exercer inclusive 420%, superando todos os demais tipos de IES, tendo prerrogativas da autonomia. É o caso dos presente a meta de “prover, até o final da década, a centros universitários. (gn) oferta de educação superior para, pelo menos, 30% da Entre as metas do PNE, os centros universitários faixa etária de 18 a 24 anos”. E os centros universitá- podem contribuir para o alcance de algumas delas, rios têm demonstrado competência na oferta do ensi- como as transcritas a seguir: no de graduação. Até a presente data, todos os centros Prover, até o final da década, a oferta de educação superior para, pelo menos, 30%

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universitários que foram submetidos ao processo de O efetivo cumprimento do Decreto nº 5.786/2006, avaliação institucional externa foram recredenciados. sem quaisquer “aditivos regulamentadores-cartorá- Esse fato demonstra a qualidade da educação desen- rios”, pode significar um expressivo avanço para a volvida pelos centros universitários. consolidação dos centros universitários. Mas os centros universitários atuam, também, Os centros universitários são uma experiência para a eliminação das “desigualdades de oferta exis- brasileira que está dando certo. Basta o governo não tentes entre as diferentes regiões do País”. A adesão interferir negativamente, respeitando a autonomia ao ProUni é uma prova da responsabilidade social dos dos centros universitários e as características institu- centros universitários, colaborando com o Poder Pú- cionais e regionais. Num país continental como o Bra- blico na ampliação de oferta de vagas para estudantes sil, de diferenças extremas, não se pode avaliar, com sem condições econômicas de custear os seus pró- um mesmo instrumento, IES do Norte e do Sudeste prios estudos. ou do Sul, por exemplo. Há que se ter flexibilidade de Alguns centros universitários, por outro lado, métodos e critérios, para que esse tipo de IES pos- partem para o credenciamento da educação a distân- sa exercitar a criatividade e a inovação de seu capital cia, como forma de diversificar a oferta de cursos e intelectual. Assim, os centros universitários poderão ampliar o alcance dos mesmos, abrindo fronteiras dar expressiva contribuição para que os jovens bra- para a capacitação, com qualidade, de parcelas da po- sileiros, na faixa etária de 18 a 24 anos, e os demais pulação brasileira sem condições de freqüentar com que desejarem continuar ou voltar aos estudos, no regularidade os bancos escolares, mas em condições processo de educação continuada, possam optar por de aprendizagem ideal. uma variedade ampla de cursos e programas de edu- cação superior, com vagas suficientes para atender à A diversificação da oferta de ensino, com- pro demanda por estudos superiores de qualidade. postas pedagógicas inovadoras, o desenvolvimento de cursos seqüenciais e os de graduação tecnológica e a implantação de experiências modulares está, por ou- tro lado, permitindo “maior flexibilidade na formação e ampliação da oferta de ensino”. Os centros universitários têm, ainda, atuação densa nas atividades extensionistas, na oferta de cur- sos e serviços à comunidade social em que cada um está inserido, especialmente, “para atender as neces- sidades da educação continuada de adultos, com ou sem formação superior, na perspectiva de integrar o necessário esforço nacional de resgate da dívida so- cial e educacional”. Os centros universitários, nesta década, têm condições de se consolidarem como instituições de ensino superior destinadas a fortalecer e a privilegiar o ensino de graduação, a extensão e a pós-graduação, em nível de especialização. Estará formando e capaci- tando cidadãos e profissionais que o Brasil necessita para o fortalecimento da sociedade e da nossa econo- mia, uma das mais destacadas na era da globalização. O Decreto nº 5.786/2006 exige para o credencia- mento de centro universitário que a IES tenha: 1. mais de dois cursos de graduação, pois são consideradas instituições “pluricurricula- res”; 2. 20% corpo docente em regime de tempo integral; 3. um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado; 4. avaliação positiva pelo Sistema nacional de Avaliação da Educação Superior – SINA- ES.

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A EXPANSÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR E A CONTRIBUIÇÃO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS Paulo M. V. B. Barone28(*)

INTRODUÇÃO para o aperfeiçoamento da Humanidade. Art. 2º A organização das universidades A Educação Superior teve um processo constitu- brasileiras atenderá primordialmente, ao tivo tardio no país, cujo marco inicial foi a criação da critério dos reclamos e necessidades do País Escola de Cirurgia da Bahia, em fevereiro de 1808, e e, assim, será orientada pelos fatores nacio- da Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia do Rio de nais de ordem psíquica, social e econômica Janeiro, em novembro do mesmo ano, quase três sé- e por quaisquer outras circunstâncias que culos depois da criação das primeiras Universidades possam interferir na realização dos atos de- na América espanhola. Incipiente ao longo do século sígnios universitários. XIX, a Educação Superior ganhou espaço no início do Art. 3º O regime universitário no Brasil século XX com a criação de Escolas Superiores em obedecerá aos preceitos gerais instituídos no diversas capitais e outras cidades. Apenas em 1931 a presente decreto, podendo, entretanto, ad- Lei Francisco Campos (de fato, o Decreto no 19851, mitir variantes regionais no que respeita à de 11 de abril de 1931), que estabelece o Estatuto da administração e aos modelos didáticos. Universidade Brasileira, Ao longo das sete décadas que se passaram des- Dispõe que o ensino superior no Brasil de a edição do Estatuto, a Educação Superior institu- obedecerá, de preferência, ao sistema uni- cionalizou-se, diversificou-se e expandiu-se em suces- versitário, podendo ainda ser ministrado sivas ondas, especialmente nos anos que se seguiram em institutos isolados, e que a organização técnica e administrativa das universidades à redemocratização do país após o Estado Novo, ao é instituída no presente decreto, regendo-se longo da década de 1970 e de meados dos anos 1990 os institutos isolados pelos respectivos re- até o presente. A Tabela 1 demonstra o crescimento gulamentos, observados os dispositivos do da Educação Superior por meio do número de Institui- seguinte Estatuto das Universidades Brasi- ções públicas e privadas criadas a cada década. leiras. (...) Até 1996, a legislação educacional previa a exis- Sob o Estatuto das Universidades Brasileiras fo- tência de dois modelos institucionais para a educação ram criadas as primeiras Universidades brasileiras, a Superior: os Estabelecimentos isolados e as Universi- Universidade de São Paulo e a Universidade do Dis- dades. Estas, que reuniriam cinco ou mais Estabeleci- trito Federal. mentos, seriam dotadas de prerrogativas de autonomia Destacam-se no texto do Estatuto as definições expressas como autonomia didática, administrativa, das finalidades do Ensino Universitário (Art. 1o), da financeira e disciplinar(Lei no 4024/1961, Art. 80) ou relação entre a organização institucional e as deman- autonomia didático-científica, disciplinar, administra- das do país (Art. 2o) e a admissão de variantes regio- tiva e financeira(Lei no 5540/1968, Art. 3o). nais na administração e no ensino (Art. 3o): No que diz respeito às finalidades da Educação Art. 1º O ensino universitário tem como Superior, o quadro legal anterior à edição da Lei de finalidade: elevar o nivel da cultura- ge Diretrizes e Bases da Educação Nacional atualmente ral, estimular a investigação científica em em vigor (Lei no 9394/1996) estabelecia que quaisquer domínios dos conhecimentos hu- O ensino superior tem por objetivo a pesqui- manos; habilitar ao exercício de atividades sa, o desenvolvimento das ciências, letras e que requerem preparo técnico e científico artes, e a formação de profissionais de nível superior; concorrer, enfim, pela educação do universitário (Lei no 4024/1961, Art. 66); indivíduo e da coletividade, pela harmonia O ensino superior tem por objetivo a pesqui- de objetivos entre professores e estudantes e sa, o desenvolvimento das ciências, letras e pelo aproveitamento de todas as atividades artes e a formação de profissionais de nível universitárias, para a grandeza na Nação e universitário (Lei no 5540/1968, Art. 1º); 28 Departamento de Física, Universidade Federal de Juiz de Fora, Câ- O ensino superior, indissociável da pesqui- mara de Educação Superior, Conselho Nacional de Educação.

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sa, será ministrado em universidades e, ex- da pesquisa científica. Deixando de lado a questão cepcionalmente, em estabelecimentos isola- sobre o cumprimento ou não desse dispositivo, o fato dos, organizados como instituições de direito é que o novo modelo institucional dos Centros Univer- público ou privado(Lei no 5540/1968, Art. sitários compartilha atribuições de autonomia com as 2º). Universidades, mas se distingue destas por ministrar Com a edição da Lei no 9394/1996, em dezem- ensino de excelência, determinada pelo cumprimento bro de 1996, foi prevista a possibilidade de extensão de requisitos relativos ao corpo docente e às condi- de prerrogativas de autonomia próprias das Universi- ções de trabalho oferecidas à comunidade acadêmica, dades a outras instituições com elevada qualificação: mas não necessariamente associado à pesquisa. Art. 54, § 2º Atribuições de autonomia uni- Um pressuposto básico para a introdução deste versitária poderão ser estendidas a institui- modelo foi a necessidade de expansão da oferta da ções que comprovem alta qualificação para o ensino ou para a pesquisa, com base em Educação Superior, em número de vagas e na sua dis- avaliação realizada pelo Poder Público. tribuição geográfica, por meio da diversificação das A partir desse dispositivo, regulamentado por instituições, algumas das quais seriam submetidas a meio do Decreto no 2207/1997, publicado em abril de requisitos de infra-estrutura e corpo docente menores, 1997, os Centros Universitários foram introduzidos e portanto custos mais baixos que os necessários para como um novo modelo de organização institucional a criação de Universidades. Por outro lado, a criação no conjunto das instituições de Educação Superior, dos Centros Universitários poderia suscitar mudanças como mostram os Artigos abaixo transcritos: culturais importantes nas Instituições de Educação Superior no sentido do seu amadurecimento acadêmi- Art 4º Quanto à sua organização acadêmi- co e da superação do funcionamento fragmentado em ca, as instituições de ensino superior do Sis- tema Federal de Ensino classificam-se em: cursos quase independentes entre si, organizados de I - universidades; forma bastante similar aos cursos da Educação Bási- Il - centros universitários; ca. Além disso, as exigências acerca da qualidade do III - faculdades integradas; ensino oferecido seria favorável à elevação geral da IV - faculdades; qualidade da Educação Superior no país. V - institutos superiores ou escolas A criação dos Centros Universitários poderia superiores. também servir como um importante instrumento (...) para estimular a ampliação da distribuição geográfica Art 6º São centros universitários as insti- e a diversificação dos formatos de oferta de Educação tuições de ensino superior pluricurriculares, abrangendo uma ou mais áreas do conhe- Superior. cimento, que se caracterizam pela excelên- Na seção seguinte, são apresentados e discuti- cia do ensino oferecido, comprovada pela dos alguns aspectos relacionados à expansão quan- qualificação do seu corpo docente e pelas titativa da Educação Superior nos anos recentes e à condições de trabalho acadêmico oferecidas contribuição dos Centros Universitários a essa expan- à comunidade escolar, nos termos das nor- são, com o objetivo de indicar se questões como as mas estabelecidas pelo Ministro de Estado mencionadas acima têm sido respondidas por essas da Educação e do Desporto para o seu cre- instituições. denciamento. § 1º Serão estendidas aos centros uni- versitários credenciados autonomia para criar, organizar e extinguir, em sua sede, OS CENTROS UNIVERSITÁRIOS E A EX- cursos e programas de educação superior, PANSÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR previstos na Lei nº 9.394, de 1996. § 2º Os centros universitários poderão usufruir de outras atribuições da autonomia O quadro geral das Instituições de Educação Su- universitária, além da que se refere o pará- perior do país, de acordo com o cadastro do Instituto grafo anterior, devidamente definidas no ato de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira de seu credenciamento, nos termos do § 2º (INEP), é apresentado na Tabela 2. De acordo com do art. 54, da Lei nº 9.394, de 1996. esses dados, os Centros Universitários representam É relevante observar que, no quadro das Leis cerca de 5% das Instituições, quase todos privados. A nos 4024/1961 e 5540/1968, as Universidades se dis- análise desses números deve considerar o fato de que tinguiam dos Estabelecimentos Isolados pela consti- muito poucos Centros Universitários foram credencia- tuição composta de Estabelecimentos agrupados e dos em 2005 (e nos anos seguintes), em decorrência pelas prerrogativas de autonomia, mas nos dois mo- dos obstáculos impostos pela edição do Decreto 4914, delos institucionais o ensino deveria ser indissociável em dezembro de 2003. Com a revogação desse Decre-

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to, por meio do Decreto 5786/2006, e com a edição Por outro lado, cerca de 50 Centros Universitários são pelo Conselho Nacional de Educação de novas nor- mantidos por entidades de caráter comunitário, con- mas para credenciamento de Centros Universitários, fessional ou filantrópico, sendo razoável esperar que quase uma centena de outras instituições solicitaram tais entidades pudessem dirigir seus esforços educa- a sua transformação para essa categoria institucional. cionais para regiões do país que são mais carentes de É de se esperar, portanto, que nos próximos anos o oferta de Educação Superior. Nesse sentido, é digno número de Centros Universitários supere o de Uni- de nota o fato de que metade dos Centros Universitá- versidades, mesmo considerando que algumas pou- rios da região Norte são mantidos por uma entidade cas novas Universidades possam ser credenciadas a de origem confessional. partir dos primeiros. Completaria o quadro da análise da expansão e Os cursos de graduação oferecidos pelas Insti- do papel dos Centros Universitários nesse contexto a tuições de Educação Superior são também relevantes discriminação da oferta de vagas e das matrículas por para avaliar os seus papéis relativos no quadro da ex- área de formação. Para ilustrar esse aspecto, serão pansão em foco. A Tabela 3 apresenta os números de discutidos indicadores relativos ao curso de Direito. cursos de graduação em regime presencial, separados A Tabela 6 contém o número de cursos de Direito por categorial institucional, em dados de 2005. Com- oferecidos nas diferentes categorias institucionais parando a participação relativa das Universidades e no período de 1999 a 2005. Em seguida, a Tabela 7 Centros Universitários, conclui-se que as primeiras contém o correspondente número de vagas ofereci- contribuem com peso por instituição quase três vezes das, e a Tabela 8, o número médio de vagas em cada maior que os segundos para a oferta de cursos pre- curso, ambas referentes ao período 1999-2005. Dentre senciais de graduação. os quase 500 cursos de Direito e as mais de 110.000 Na mesma linha de análise, a Tabela 4 mostra o vagas criados nesse período, as Universidades e os número de alunos matriculados nas Instituições, tam- Centros Universitários, detentores de prerrogativas bém por categoria institucional, apurado pelo Censo de autonomia, concentram 41% dos cursos e 59% das da Educação Superior de 2005. Essa medida mostra vagas. Isso mostra que (1) os grandes responsáveis um peso relativo maior dos Centros Universitários na pela expansão de cursos e vagas de Direito são as efetiva matrícula de estudantes, o que se torna ainda instituições dotadas de autonomia e (2) a conhecida mais significativo em função do número destas insti- concentração de cursos e vagas em áreas de forma- tuições e dos cursos que ela oferece. ção como o Direito tem sido intensificada por essas instituições. Isso ocorre em grande parte pelo fato Outros elementos relevantes para a questão são de que Universidades e Centros Universitários vin- o fato de que as últimas dez Universidades privadas culados ao setor privado respondem diretamente a foram credenciadas em 1997 e que os primeiros Cen- demandas por cursos como Direito e Administração, tros Universitários foram criados em 1999. Tendo em não havendo estratégias e políticas indutoras da ofer- vista o relativamente longo lapso na criação de novas ta de outros cursos, como cursos de Licenciatura e Universidades, a recente criação dos Centros Univer- da área científica e tecnológica, no sentido de corrigir sitários, as prerrogativas de autonomia para a criação essa concentração excessiva. Por outro lado, experi- de cursos e vagas, além de dados acerca da participa- ências concretas de Centros Universitários localiza- ção dessas instituições na oferta de vagas em cursos dos em regiões industriais, como a região metalúrgica de graduação, é realista supor que haverá um cres- de Minas Gerais, o ABC paulista e o interior de São cimento expressivo das vagas oferecidas em cursos Paulo mostram que essas instituições respondem às de Centros Universitários, aumentando ainda mais o demandas relacionadas às atividades econômicas do- seu peso específico frente às demais categorias insti- minantes com a oferta de cursos de Engenharias. Da tucionais. mesma forma, as experiências de diversos Centros A distribuição dos Centros Universitários por Universitários sediados em cidades-pólo no interior região do país é apresentada na Tabela 5. Aqui se vê do país atendem às demandas regionais com a oferta com clareza a forte concentração destas instituições de cursos de Licenciatura. no Centro-Sul do país, com muito poucas situadas no Nordeste. Cabe mencionar que tais desigualdades re- gionais reproduzem as observadas em outros indica- dores relacionados à Educação Superior, assim como COMENTÁRIOS FINAIS em muitos outros aspectos da vida do país. Sendo os Centros Universitários majoritariamente privados, As características da expansão da Educação Su- esse fenômeno é facilmente explicável, uma vez que perior no país nos últimos anos incluem fortes concen- essas instituições se concentram em regiões em que trações da oferta de cursos e vagas por Universidades o poder aquisitivo médio da população é mais alto.

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e Centros Universitários, da presença de instituições sistema brasileiro. nas regiões Central e Sul e da oferta de vagas em áreas de formação como o Direito nessas instituições. Fica claramente demonstrada a importância dos Centros Universitários para essa expansão, merecendo desta- AGRADECIMENTOS que o fato de que cerca de 15% de todas as matrículas O autor agradece ao Prof. Dr. Edson de Oliveira em cursos de graduação presencial são registradas Nunes, presidente do Conselho Nacional de Educa- nessas instituições, em comparação com 55% regis- ção, e à Associação Nacional dos Centros Universitá- tradas em Universidades, segundo dados de 2005. rios, pela cessão de dados utilizados no texto. Considerando o intervalo de apenas dez anos desde o credenciamento dos primeiros Centros Universitá- rios - período em que não foram credenciadas novas Universidades privadas – esse índice é muito expres- sivo. No futuro próximo, tanto o credenciamento de novos Centros Universitários quanto a elevação do rigor para o credenciamento de novas Universidades devem contribuir para o aumento desse índice. É também um fator notável o pequeno número de Centros Universitários públicos, uma vez que esse modelo institucional poderia ser muito favorável para a criação de novas Instituições de Educação Superior públicas, alternativo ao modelo universitário. Questões importantes como a diversificação dos formatos de cursos e arquiteturas curriculares per- manecem em aberto em todo o sistema, e os Centros Universitários mantém uma condição privilegiada para conduzir experimentos e transformações nesse campo, em parte por terem estruturas mais flexíveis para a tomada de decisão, em face do seu caráter ain- da recente. Por outro lado, a diversificação dos mode- los institucionais é absolutamente significativa. Finalmente, deve ser destacado o papel dos Cen- tros Universitários para a implantação de uma cultura de avaliação institucional nas Instituições de Educa- ção Superior, em função do efetivo funcionamento dos ciclos de credenciamento e recredenciamento para essas instituições, em que são submetidas a ava- liações sistemáticas de caráter externo. No quadro da necessária expansão da Educação Superior, em que a avaliação cumpre uma função essencial como fun- damento básico para a regulação e para a tomada de decisões estratégicas ligadas à qualidade, a existência de um subconjunto de instituições que incorporam essa cultura de avaliação ao seu cotidiano representa a principal contribuição dos Centros Universitários ao

141 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007 Total 285 2,141 2,426 1 11 12 Universidade Especializada 1 1 2 SEM DATA 83 94 177 78 Universidade 1,158 1,236 2001-2007 49 546 595 22 322 344 Superior ou Escola 1991-2000 Instituto Superior 25 108 133 1981-1990 4 112 116 Integradas Faculdades 28 21 49 1951-1960 35 158 193 Tecnologia Faculdade de Organização Acadêmica Organização 9 13 22 Década de criação 1941-1950 89 1,349 1,438 Faculdade 5 3 8 1931-1940 1 0 1 Centro Universitário Especializado 0 3 3 1921-1930 7 116 123 Centro Universitário 1 3 4 1911-1920 0 2 2 0 2 2 Tecnológica de Educação Centro Federal 1901-1910

MEC/INEP. Cadastro das Entidades Mantenedoras (07/03/2007); compilação: Observatório Universitário/Universidade Candido Mendes. Candido Universitário/Universidade Cadastro das Entidades Mantenedoras (07/03/2007); compilação: Observatório MEC/INEP. MEC/INEP, Cadastro das Entidades Mantenedoras (07/03/2007); compilação: Observatório Universitário/Universidade Candido Mendes. Candido Universitário/Universidade Cadastro das Entidades Mantenedoras (07/03/2007); compilação: Observatório MEC/INEP, Jurídica Jurídica Personalidade Personalidade IES Privadas IES Públicas de IES Total Total IES Total Privadas IES Total Públicas IES Total Fonte: Acadêmica (Brasil 2007). e Organização 2 - Instituições de Ensino Superior por Personalidade Jurídica Tabela Fonte: Tabela 1 - Instituições de Ensino Superior por Personalidade Jurídica e Década de Criação (Brasil 2007). 1 - Instituições de Ensino Superior por Personalidade Jurídica Tabela

142 SEGUNDA PARTE

Tabela 3 - Cursos Presenciais de Graduação por Organização Acadêmica (Brasil 2005)

Instituições Número de cursos (%) Universidades 10,892 53.37% Centros Universitários 2,542 12.46% Faculdades Integradas 926 4.54% Faculdades, Escolas Superiores ou Institutos 5,166 25.31% Centros Federais de Educação Tecnológica 881 4.32% Total 20,407 100.00% Fonte: Censo de Educação Superior 2005. MEC/INEP; compilação: Observatório Universitário/Universidade Candido Mendes.

Tabela 4 - Alunos Matriculados em 30/06/2005 por Organização Acadêmica (Brasil 2005)

Instituições N (%) Universidades 2,469,778 55.46% Centros Universitários 674,927 15.16% Faculdades Integradas 207,898 4.67% Faculdades, Escolas Superiores ou Institutos 1,017,334 22.85% Centros Federais de Educação Tecnológica 83,219 1.87% Total 4,453,156 100.00% Fonte: Censo de Educação Superior 2005. MEC/INEP; compilação: Observatório Universitário/Universidade Candido Mendes.

Tabela 5 – Distribuição dos Centros Universitário por região (Brasil 2005) Região Região Região Região Total do Centro- Região Sul Norte Nordeste Sudeste país Oeste 8 3 11 83 19 124 6,5% 2,5% 9% 67% 15% 100% Fonte: Associação Nacional dos Centros Universitários (2007).

Tabela 6 – Evolução do número de cursos de graduação presenciais e de vagas no vestibular e outros processos seletivos dos cursos de DIREITO, segundo a organização acadêmica (Brasil, 1999-2005)

Cursos de Graduação Presenciais – Direito Variação 1999-2005 Organização Acadêmica 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Absoluta % Nº DE CURSOS Total 362 442 505 599 704 790 861 499 100% Universidades 240 280 305 316 342 352 364 124 25% Centros Universitários 26 44 61 70 79 100 109 83 17% Faculdades Integradas 23 32 34 39 44 48 49 26 5% Faculdades, Escolas e Institutos 73 86 105 174 239 290 339 266 53% Fonte: MEC/INEP. Cadastro das Entidades Mantenedoras (07/03/2007); compilação: Observatório Universitário/Universidade Candido Mendes.

Tabela 7 - Número de Vagas no Vestibular e Outros Processos Seletivos Cursos de Graduação Presenciais – Direito Variação 1999-2005 Organização Acadêmica 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Absoluta % Total 105.401 133.072 149.057 178.899 197.988 212.739 219.617 114.216 100% Universidades 76.213 89.950 96.516 102.436 106.195 104.155 110.121 33.908 30% Centros Universitários 9.385 19.010 25.009 32.130 34.326 40.772 42.781 33.396 29% Faculdades Integradas 4.905 7.274 7.728 9.989 11.041 10.586 11.314 6.409 6% Faculdades, Escolas e Institutos 14.898 16.838 19.804 34.344 46.426 57.226 55.401 40.503 35%

Fonte: MEC/INEP. Cadastro das Entidades Mantenedoras (07/03/2007); compilação: Observatório Universitário/Universidade Candido Mendes.

Tabela 8 – Número médio de vagas por curso de Direito (Brasil, 1999-2005)

Cursos de Graduação Presenciais - Direito Organização Acadêmica 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Total 291,2 301,1 295,2 298,7 281,2 269,3 255,1 Universidades 317,6 321,3 316,4 324,2 310,5 295,9 302,5 Centros Universitários 361,0 432,0 410,0 459,0 434,5 407,7 392,5 Faculdades Integradas 213,3 227,3 227,3 256,1 250,9 220,5 230,9 Faculdades, Escolas e Institutos 204,1 195,8 188,6 197,4 194,3 197,3 163,4

Fonte: MEC/INEP/Deaes; compilação: Observatório Universitário/Universidade Candido Mendes.

143 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

2.-. A REVOLUÇÃO NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA Carlos Alberto da Cruz29(*) Renata Innecco Bittencourt de Carvalho(**)

É possível estruturar o extensionismo univer- possível perceber as constantes mudanças que têm sitário e situá-lo entre os principais instrumentos da ocorrido demonstrando a necessidade de mudanças Educação Superior no sentido da construção de uma na educação para formação dos egressos da Educação sociedade mais justa. É imprescindível, entre as di- Superior. versas adaptações e atualizações necessárias, que as Para Santos (2006, p. 58 -60), instituições invistam nas condições para “preparar o A crise do paradigma da ciência moderna não homem integral por meio da busca do conhecimento constitui um pântano cinzento de cepticismo ou de e da verdade, assegurando-lhe a compreensão ade- irracionalismo. É antes o retrato de uma família in- quada de si mesmo e de sua responsabilidade social telectual numerosa e instável, mas também criativa e e profissional30” . A realização das mudanças necessá- fascinante, no momento de se despedir, com alguma rias para o alcance desse objetivo representa, certa- dor, dos lugares conceituais, teóricos, epistemológi- mente, a grande revolução que a educação superior cos, ancestrais e íntimos, mas não mais convincentes precisa atualmente. e securizantes, uma despedida em busca de uma vida melhor a caminho doutras paragens onde o optimis- mo seja mais fundado e a racionalidade mais plural e CRISE DO PARADIGMA DA CIÊNCIA MO- onde finalmente o conhecimento volte a ser uma aven- DERNA tura encantada. A busca pela determinação do paradigma emer- Na sociedade contemporânea, a humanização gente nessa sociedade significa a tentativa de prenun- das relações sociais necessita de uma reestruturação ciar o futuro da ciência. Ao limitar a reflexão, baseada do conceito de ciência. Essas alterações não consti- em Santos (2006), ao surgimento de um paradigma tuem mero modismo de cientistas sociais e educado- emergente fundamentado no “conhecimento pruden- res, mas uma realidade que deve ser acompanhada te para uma vida decente” é uma proposta mais plau- por mudanças na própria estrutura das instituições de sível. ensino superior. Neste sentido, pretende-se perceber que a re- Várias denominações já foram dadas no momen- volução científica atual é estruturalmente distinta da to social atual às mudanças causadas, principalmente, ocorrida no século XVI. Atualmente, não se passa por pelos avanços tecnológicos e pelas diferenças sociais. uma revolução apenas científica, mas uma revolução Com a intenção de esclarecer as relações sociais na impulsionada pelas transformações ocorridas na so- sociedade contemporânea, várias expressões foram ciedade conseqüentes da ciência. Não basta o conhe- utilizadas por estudiosos e pesquisadores: sociedade cimento prudente, é necessária a busca pela “vida do espetáculo, sociedade oral, sociedade informática, prudente”. sociedade pensante, sociedade tecnológica, socieda- No que tange à Educação Superior, durante o pe- de mediatizada etc. (CARVALHO, 2007), a escolha ríodo de preparo dos estudantes para o exercício de da nomenclatura é dispensável, mas é, claramente, uma profissão, não basta repassar informações teóri- cas sem aplicabilidade, sob pena de prepará-los para 29 (*) Carlos Alberto da Cruz é psicólogo, especialista em Psicologia Clínica e professor universitário desde 1977. Foi diretor do Colégio CEUB, coor- um ideal e, não, para a realidade. É importante que os denador de cursos de Graduação e diretor de faculdades do CEUB. Coordenou alunos apliquem o conhecimento, mesmo que de ma- a equipe responsável pelo projeto de credenciamento do CEUB em Centro Uni- versitário, em 1999. Atualmente é diretor acadêmico do Centro Universitário de neira experimental e sob supervisão de professores, Brasília – UniCEUB. antes de atuarem sozinhos, ou seja, as instituições de (**) Renata Innecco Bittencourt de Carvalho é mestre em Educação pela ensino superior devem retirar “muros” que possam Universidade de Brasília - UnB, especialista em Educação a distância pela Univer- sidade Católica de Brasília, pós-graduada em Marketing Político pela UnB, gra- separar os campi da vida em sociedade e que deixam duada em Comunicação Social pela UnB. É assessora de extensão e integração nos alunos a impressão de que há fronteiras entre a comunitária no Centro Universitário de Brasília – UniCEUB e vice-presidente do Fórum de Extensão das IES Particulares. vivência acadêmica e a social. Os conteúdos e méto- 30 Filosofia institucional do Centro Universitário de Brasília- –Uni dos dos cursos de graduação e de pós-graduação são CEUB

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“alimentados” pelas pesquisas científicas resultando lativa considerando o ensino, a pesquisa e a extensão em uma aprendizagem teórica que deve ser aplicada como elementos indissociáveis na oferta de um en- na sociedade, mesmo antes da formação completa dos sino de qualidade. Essa forma de trabalhar o ensino alunos. Não é por acaso que a Educação Superior, pela superior ao longo dos anos ficou predominantemente exigência da legislação brasileira, deve sustentar-se voltada para as universidades e em especial para as sobre a tríade ensino, pesquisa e extensão, mas é pela universidades públicas. necessidade de uma formação adequada para futuros Nesse cenário as universidades começaram a tra- profissionais conscientes de sua responsabilidade so- balhar a extensão não só no sentido do fortalecimento cial (CARVALHO, 2007). da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e exten- Em relação às origens da extensão como elemen- são, mas também para atuar em áreas que o governo to básico da Educação Superior, Rocha (2001, p.15) re- estadual e o governo federal não tinham a possibili- monta à própria historio do início das Universidades, dade de um atendimento de forma mais abrangente. em especial o reconhecimento, em 1158, da Universi- A área agrária e a área de atendimento à população dade da Bolonha com a mais antiga da Europa. com a medicina nos estados aonde se encontrava as Neste sentido, Ullmann e Bohnen (1994, p. 304) universidades com campus avançados tiveram ênfase consideram que “alma mater medieval desempenhou especial. igualmente um papel de Extensão, porque irradiou a A Extensão nos Estados Unidos influenciou os cultura para fora de seus muros nos diversos segmen- países da América Latina no sentido de implantar uma tos da sociedade”. extensão universitária técnica associada a programas A denominação Extensão Universitária surge de desenvolvimento. A realização de encontros latino- em 1967 na Universidade de Cambridge, na Inglater- americanos de intercâmbio de experiências univer- ra, que iniciou um programa de palestras, e passou a sitárias a partir da segunda metade dos anos 90 for- institucionalizar a extensão como componente de sua taleceu a percepção da extensão universitária como estrutura (ROCHA, 2001, p.16). projeto social. Segundo Rocha (2001, p. 24), “o pri- meiro desses encontros, realizado em Havana-Cuba, A extensão, pela própria etimologia da palavra, em junho de 1996, reuniu 66 Universidades de 11 não é externa, mas, sim, uma ampliação, proveniente países. Além do reconhecimento da necessidade de do significado de extenso. Neste sentido representa haver um projeto participativo por parte das Universi- uma ampliação da qualidade da educação superior e, dades e das comunidades, defendeu-se a importância consequentemente, uma extensão da concepção do da elaboração de um Programa Latino Americano de egresso na relação dele com a sociedade. É uma ex- Extensão”. tensão da condição humana, da responsabilidade, da atuação dos futuros profissionais na sociedade, não só A partir desse diversos eventos similares ocor- como técnicos ou especialistas em áreas específicas, reram e foi se consolidando , contando com a presen- mas como cidadão. A extensão não deve ser desenvol- ça de maior número de países, envolvendo até repre- vida dissociada do ensino, delimitadora, mas é uma sentações de nações européias, uma Associação de possibilidade de ampliação da qualidade da educação Extensionistas Latino-Americanos de grande impor- superior. tância para uma ação integrada mais permanente. Historicamente, a Extensão Universitária inglesa estava vinculada a uma nova idéia de educação conti- nuada à população adulta em geral, que não se encon- A FORMAÇÃO DE ASSOCIAÇÕES EXTEN- trava na Universidade (NOGUEIRA, 2001, p.58). As SIONISTAS BRASILEIRAS demandas específicas dessa clientela eram atendidas em cursos breves e outras atividades. (PAIVA, 1986, O primeiro movimento de organização de exten- p.135). são no Brasil surgiu em 1983 com a criação do Fó- A extensão inglesa irradiar-se-á até os Estados rum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Unidos com atividades voltadas para a prestação de Públicas Brasileiras, cuja grande contribuição foi a serviços tanto na área rural quanto nas cidades. Isto organização conceitual da extensão, afastando-a de- se deveu, principalmente, aos ideais da Revolução finitivamente, de qualquer conotação assistencialista Americana e aos projetos de desenvolvimento regio- e como experiência de atuação orgânica e duradoura nal que criaram Escolas de Extensão, os Land Grant (CALDERÓN, 2007 e ROCHA, 2001). Colleges, experiências do extensionismo cooperativo No final da década de 1990, foi criado o Fórum ou rural. Nacional de Extensão e Ação Comunitária das Uni- Quanto à história do ensino superior no Brasil versidades e IES Comunitárias composto pelas ins- sempre se teve uma organização institucional e legis- tituições particulares comunitárias, confessionais e

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filantrópicas. sabilidade com a qualidade da Educação Superior en- Em 2003, as IES particulares que não se incluí- tre os princípios fundamentais assume, com o SINAES am em outros fóruns existentes instituíram o Fórum (BRASIL, 2004a) o caráter de obrigação institucional. de Extensão das IES Brasileiras que, em janeiro de Diante da proposta do Ministério da Educação 2006, “alterou seu estatuto, passando a denominar- de criar novos tipos de ensino superior e entre eles se Fórum de Extensão das Instituições de Educação centros universitários, junto com a implantação dos Superior Particulares, devido a que, ao longo de três centros universitários também começou a se pensar anos, acabou-se tornando um espaço focado nas dis- na necessidade da implantação de uma associação dos cussões e especificidades desse segmento educacio- centros universitários que surgiu há, aproximadamen- nal.” (CALDERÓN, 2007, p. 23) te, oito anos quando foram implantados os primeiros No que tange à legislação educacional brasilei- credenciamentos de instituições de ensino superior ra, “a extensão universitária apareceu na legislação como centros universitários. educacional brasileira na década de 1930, no Primeiro Deve-se, levar em consideração que, quando do estatuto das universidades brasileiras” (RODRIGUES, reconhecimento do MEC dos primeiros centros uni- 2003). versitários, a experiência das universidades em ter- Para a Secretaria da Educação Superior - SESu mos de ensino, pesquisa e extensão já era fato e a falta do Ministério da Educação a extensão universitária é de experiência das faculdades também se mostrava compreendida como (BRASIL, 2006a): notória. Então o surgimento dos centros universitá- rios aparece numa situação em que a extensão é um - processo educativo, cultural e científico, que elemento forte proposto pelo próprio MEC para quali- articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável dade do ensino universitário e para qualificar as insti- e viabiliza a relação transformadora entre a universi- tuições, mas sem uma especificação clara de como se dade e a sociedade; organiza ou de como se estabilidade dentro de uma - via de mão dupla, com livre trânsito assegurado instituição de ensino superior - centro universitário - a à comunidade acadêmica, que encontrará na socie- extensão. dade a oportunidade de elaboração da prática de um É importante destacar que, nesses 10 anos de conhecimento acadêmico. No retorno à universidade, implantação dos centros universitários, foram creden- professores e estudantes trarão um aprendizado que, ciadas predominantemente instituições privadas. Nes- submetido à reflexão teórica, fará ampliar e elevar o te sentido, como estabelecer, nessas instituições pri- nível do conhecimento anterior; vadas, a extensão? Criou-se a Associação Nacional dos - interação da universidade com a sociedade, Centros Universitários – ANACEU como um fórum com as comunidades externas em suas mais diferen- de discussão permanente da compreensão de centros tes formas de organização, que estabelece uma troca universitários e de como seria a concepção doravante de saberes acadêmico e popular que terá como con- dos centros universitários com construção de indica- seqüência a produção do conhecimento resultante do dores para nortear as instituições na organização de confronto com a realidade nacional, a democratização sua extensão, de seu ensino e de sua iniciação cienti- do conhecimento e a participação efetiva da comuni- fica e/ou pesquisa. dade na atuação da universidade. Nesses últimos dez anos, evoluiu muito a discus- Em 2004, com o início da operacionalização do são sobre a extensão, sobre o trabalho da extensão nos Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior centros universitários, mas, ainda, há um processo de – SINAES que foi instituído pela Lei nº. 10.861, de 14 amadurecimento na organização da extensão em inte- de abril de 2004, e regulamentado pela Portaria nº. gração com o ensino na construção da qualidade dos 2.051, de 9 de julho de 2004, foi incorporado ao âm- centros universitários. Então esse foro permanente, a bito da normatização da educação superior o termo ANACEU, tem criado oportunidade de se estar sem- “responsabilidade social”. pre procurando o entendimento de quais caminhos O SINAES passou ser fundamental, entre outros devem ser estruturados para o desenvolvimento da aspectos, na medida em que foca o “aprofundamento extensão. Pensar em centro universitário é refletir a dos compromissos e responsabilidades sociais das respeito de uma situação nova na qual as instituições instituições de ensino superior” (BRASIL, 2004b, p tem se constituído e na avaliação de suas experiências 137), constando entre os princípios fundamentais a para adequação da concepção clara nos seus planos “responsabilidade com a qualidade da educação supe- de desenvolvimento institucional do espaço que vai rior” (BRASIL, 2004a). ser ocupado pela extensão. A inclusão da responsabilidade social como uma Acredita-se que a extensão, cada vez mais, tenha das dimensões de avaliação das instituições, a respon- a sua importância e o seu espaço em escala crescente

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dentro dos planos de desenvolvimento institucional. se exemplos dessas influências. Segundo Nogueira Cada vez mais, as atividades extensionistas aparece- (2001, p.68). rão com o objetivo de enriquecimento das propostas Na antiga Universidade de São Paulo, criada em pedagógicas o que resultará em um marco significati- 1911, registram-se cursos e conferências gratuitos, vo de compreensão das modalidades do ensino supe- abertos à população em geral. Na Escola Superior rior, fazendo uma definição clara da instituição centro de Agricultura e Veterinária de Viçosa/MG e na Es- universitário associada à extensão. cola Agrícola de Lavras/MG registram-se atividades Já se pode afirmar que a concepção de extensão de Extensão voltadas para a prestação de serviços na não é clara, mesmo nas instituições universitárias, a área rural, ainda na década de 20, levando assistência vinculação da extensão ao ensino ou à pesquisa e pós- técnica aos agricultores. graduação. Até os dias atuais os dois modelos estão presen- Na história brasileira, predominantemente, en- tes nas ações extensionistas das instituições de ensi- contra-se, mesmo nas universidades, a extensão, a no superior brasileiras. pesquisa, a pós-graduação e a graduação muito mais interligadas entre propostas dos professores da insti- tuição do que experiências entre os alunos da institui- ção. Então é importante que essa concepção também EXTENSÃO NAS IES PRIVADAS seja entendida como uma necessidade de aprendiza- A partir das orientações legais do MEC e das es- gem constante dos centros universitários, pois não há, pecificidades da dinâmica das IES financiadas basica- ainda que como modelo, fontes para buscar a exten- mente com recursos provenientes das mensalidades são de forma indissociável da pesquisa e do ensino pagas pelos alunos Calderón considera como estruturadores da qualidade. a extensão universitária como uma das três Nas mudanças que têm ocorrido inclusive nos úl- atividades universitárias, portanto uma ati- timos anos nas universidades o que tem se observado vidade acadêmica, assim como o ensino e é um crescente aumento da extensão como estrutura- a pesquisa, que possibilita um processo de ção de cursos para atendimento da comunidade tanto interação entre a universidade como um interna como externa e muitas vezes predominando todo – incluindo sua estrutura gerencial – e ao atendimento da comunidade externa. os três grandes setores da sociedade (Estado, É preciso perceber como é que acontecem os sociedade civil e mercado), visando estabe- cursos de extensão dentro da compreensão de exten- lecer um processo de retro alimentação que possibilita não só a socialização e democra- são dos centros universitários. É importante que se tização dos conhecimentos produzidos, mas desenvolva uma continuidade de pensamento também também, e , principalmente, a formação nos cursos de extensão voltados para a compreensão cidadã dos recursos humanos que o país e para a valorização da proposta pedagógica dos proje- precisa para seu desenvolvimento. (2007, tos de curso e da valorização das disciplinas. p. 31). Neste sentido, as propostas de ações extensio- Neste sentido, não se pode definir, como ante- nistas podem atender a comunidade externa porque riormente se definia, a extensão como atividade iso- também é função social da instituição, mas, predomi- lada do ensino como ficava explicitado na legislação nantemente, é necessário compreender como é que a inclusive, pois segundo Gurgel (1986, p.84) a Lei no extensão vai associar à disciplina, ao projeto de curso 5.540, de 28 de novembro de 1968, por exemplo, acen- e à proposta pedagógica para o enriquecimento dos tua o caráter de opcionalidade da função, levando a alunos da comunidade acadêmica, associando, tam- interpretação “do relacionamento da extensão com bém, as atividades de extensão à qualidade do ensino atividades físicas e desportivas ou ações culturais e oferecido pela instituição. artísticas desligadas da atividade acadêmica” Para sustentar essa visão, afirma Silva (2001, p.104), “concepção de conhecimento diferenciada PRINCÍPIO DAS EXPERIÊNCIAS EXTEN- da predominante precisa se ser construída, em que o conhecimento ganhe uma dimensão de totalidade, SIONISTAS NO BRASIL complexidade, inter-relacionamento e forte contextu- alização na realidade, em que teoria prática percam as O modelo inglês e o norte-americano influencia- fronteiras, sem tornarem-se excludentes” ram as primeiras experiências de Extensão Universi- tária no Brasil. Na Universidade de São Paulo e nas O projeto de reforma da educação superior, PL atualmente denominadas Universidade Federal de nº. 7.200/2006 (BRASIL, 2006b), ampliou para os cen- Viçosa e Universidade Federal de Lavras encontram- tros universitários a exigência das ações de extensão

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que antes era obrigatória, apenas , para as universida- em conceber a extensão dentro de sua proposta pe- des. A nova proposta vai ao encontro da mudança pa- dagógica e na organização dos seus PDIs. Pensar em radigmática da ciência na qual o ensino e a extensão extensão nos últimos 10 anos, é pensar em uma nova se complementam na elaboração do saber que emerge concepção e uma nova compreensão da extensão no da própria realidade: o Ensino, com base no concreto, ensino superior. situado e datado, passa, então, a fazer da sala de aula As políticas institucionais de extensão devem ser o lugar de “acontecimentos do mundo” (BOTOMÉ, desenvolvidas a partir da proposta pedagógica institu- 1996) ao entender a extensão como atividade acadê- cional com a função principal atuar junto aos gestores mica fundamental à formação cidadã, independente- institucionais para fortalecer os projetos pedagógicos mente da organização acadêmica da IES. dos cursos formando cidadãos reflexivos e empreen- Sob esta ótica, a extensão universitária alia a dedores, comprometidos com o desenvolvimento so- especificidade dos conhecimentos técnicos com a cioeconômico sustentável. formação cidadã, contribuindo para a formação de A função principal dos agentes da extensão nas egressos defensores dos princípios, valores e ideais IES particulares é atuar no sentido de garantir que a democráticos contribuindo para o desenvolvimento formação dos alunos contribua para inserir no merca- científico fundamentado no conhecimento em prol de do de trabalho profissionais com consciência e atitude uma sociedade mais justa e do desenvolvimento sus- cidadã atuantes como agentes sociais que se respon- tentável. sabilizem e ajam em prol do desenvolvimento susten- A responsabilidade social de uma Instituição tável da sociedade, principalmente, preocupados com de Ensino Superior está diretamente relacionada à a sustentabilidade dos recursos ambientais e sociais. responsabilidade de desenvolver a possibilidade de Quanto ao aspecto da extensão universitária bra- ampla formação dos egressos, principalmente, inse- sileira, a literatura nacional vigente considera que a rir-se nas ações de promoção e garantia dos valores extensão universitária no Brasil tem como marco ini- democráticos, de igualdade e desenvolvimento social, cial as atividades desenvolvidas em universidades no contribuindo para a formação e para o resgate da ci- período entre 1911 e 1915. Daquela época aos dias atu- dadania como valor norteador da práxis universitária, ais, a prática extensionista nas universidades sofreu priorizando a educação cidadã. diversas modificações e críticas às diversas funções Para que a organização do trabalho pedagógico exercidas pela comunidade acadêmica. na Educação Superior alcance o objetivo de formar Nessa tortuosa trajetória, no decorrer dos anos profissionais com uma percepção ampla do seu papel e nas reflexões e debates realizados na comunidade como cidadão, da sua responsabilidade como agente acadêmica, foram se consolidando a concepção e o social, é preciso avaliar e atualizar constantemente os lugar da extensão universitária. métodos e conteúdos utilizados para formar os alunos Para Demo (2001, p.142), por exemplo, a Exten- nas diversas áreas do conhecimento. são não pode ser percebida como algo acessório, pois, Da indissociabilidade da extensão com o ensino “o desafio da cidadania – geralmente despachado para e com a pesquisa, à afirmação de uma área desneces- a Extensão – permanece algo extrínseco, voluntário e sária e, portanto, descartável das instituições de ensi- intermitente, quando deveria ser a alma do currículo” no, o conceito de extensão universitária transitou por Concomitantemente à consolidação do seu senti- diversos significados e foi, até mesmo, discriminado do no Brasil, diversos fatos que ocorreram no âmbito dentre as atividades desenvolvidas nas instituições de da educação mundial e contribuíram para esclarecer o ensino superior brasileiras. verdadeiro sentido da extensão na educação superior. A Assembléia Geral das Nações Unidas, na sua qüin- quagésima sétima reunião, realizada em dezembro A INDISSOCIABILIDADE ENSINO-PESQUI- de 2002 (UNESCO, 2005, p. 26), proclamou a imple- SA-EXTENSÃO mentação da Década de Educação para o Desenvol- vimento Sustentável para o período de 2005 a 2014, Historicamente, as faculdades não se organiza- “enfatizando que educação é um elemento indispensá- vam com essa indissociabilidade mesmo que a legisla- vel para que se atinja o desenvolvimento sustentável” ção tivesse como orientação essa relação com exten- (Resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas são e pesquisa. Somente a partir da nova concepção A/RES/57/24, de fevereiro de 2003). A Assembléia do modelo de ensino superior em, predominantemen- também designou a UNESCO para liderar a promo- te, três grandes áreas - universidade, centros universi- ção e implementação da Década. tários e faculdades - é que a extensão se fortaleceu na Nesse sentido, a educação para o desenvolvimen- figura dos centros universitários, que se preocuparam to sustentável deve compartilhar as características de

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uma aprendizagem de qualidade. O desenvolvimento inclusão social com uma ampla visão da responsabili- sustentável deve ser integrado em outras disciplinas dade social. e não pode, em função do seu alcance, ser ensinado Os centros universitários devem criar condições como uma disciplina independente e deve englobar para que os alunos vivenciem os projetos pedagógi- a educação ambiental, mas acrescentar os fatores so- cos e a proposta pedagógica da instituição integrando cioculturais e questões sociopolíticas de igualdade, uma formação acadêmica com forte conhecimento pobreza, democracia e qualidade de vida. técnico com formação integral voltada para a sua ação A extensão universitária pode ser definida como como ator social. o processo educativo, cultural e científico que articula Como conseqüência, a responsabilidade social o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabi- das instituições passa pela formação de valores que liza a relação transformadora entre a universidade e hoje são significativos na constituição de sociedade. a sociedade (Fórum Nacional de Pró-Reitores de Ex- Nesse contexto, as possibilidades de atividades de tensão, 1987). Desta forma, a extensão como prática extensão que podem acontecer dentro da instituição acadêmica visa a interligar as atividades de ensino e são muito amplas, dependendo das ofertas e das opor- pesquisa com as demandas da sociedade, buscando tunidades de cada instituição. Ela pode ser trabalha- a concretização de sua função social. A extensão as- da diretamente em projetos institucionais ligados às sume caráter interdisciplinar, uma vez que favorece faculdades e nas disciplinas ligadas aos cursos. No a promoção de atividades acadêmicas, integrando entanto, é fundamental que se compreenda a exten- grupos de áreas distintas do conhecimento, contri- são dentro da formação integral do aluno como um buindo para a modificação progressiva da forma de pressuposto básico para o ensino de qualidade. fazer ciência e da transmissão desse tipo de saber, Se há na proposta da instituição e nas exigências revertendo a tendência historicamente dominante de da legislação o ensino de qualidade como um dos in- compartimentalização do conhecimento da realidade. dicadores para credenciamento e recredenciamento Assume, ainda, a função de socializar o saber que pro- dos centros universitários, a extensão é um caminho duz sendo responsabilizada pela integração social dos significativo para construção da educação ou do ensi- indivíduos. no de qualidade. Por que o ensino de qualidade enri- Na modalidade de centro universitário a ex- quece com a extensão? Porque, quando se desenvolve tensão começou a ganhar força e começou a ganhar um projeto pedagógico é possível, com as atividades espaço como um dos elementos de estruturação da de extensão, vincular a proposta pedagógica insti- identidade de ensino superior. tucional, os cursos e as disciplinas oferecidas para Podemos pensar nos centros universitários com formação ampla do aluno e para o alcance na missão essa concepção de organização de ensino superior de institucional. qualidade fortalecido pela responsabilidade social es- truturado, principalmente, na extensão. A EXTENSÃO COMO DIFERENCIAL NA FORMAÇÃO DO EGRESSO O SENTIDO DA EXTENSÃO NO CENTRO UNIVERSITÁRIO Quando a instituição cria oportunidades aos alunos de vivenciarem projetos de extensão que aten- É importante que se entenda o centro universitá- dem aos princípios e à filosofia institucional, cria-se a rio indissociado de ensino, iniciação científica e exten- oportunidade do aluno trabalhar principalmente com são. A extensão nos centros universitários deve estar a compreensão da sua importância e da sua formação vinculada à proposta pedagógica da instituição e aos dentro da sociedade e da sua responsabilidade social. projetos pedagógicos dos cursos fortalecendo-os em Ao se possibilitar que os alunos trabalhem den- busca da missão institucional. tro dos projetos pedagógicos em atividades de exten- A relação entre extensão e ensino e a forma de são, permite-se ao aluno experimentar plenamente o se entender a importância da extensão para o ensino projeto pedagógico do curso, os seus conteúdos e se, são vivenciadas na prática que permite aos alunos um de fato, a instituição está engajada na construção de entendimento diferenciado dos conteúdos das disci- uma reflexão em sala de aula com seus alunos para plinas e a compreensão do referencial teórico e suas adequar o perfil proposto com os conteúdos -desen conseqüências na sociedade, permite aos alunos uma volvidos, ou seja, pela extensão define-se qual o aluno vivência, na prática, do seu conhecimento e do projeto que o curso quer formar. pedagógico de seus cursos. A experiência permite ao As diversas modalidades de extensão permitem, aluno a compreensão da sua importância social para a inclusive, que o aluno entenda e experimente o conte-

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údo apresentado na prática, através de atividades dife- te carentes, quando parte das atividades de extensão renciadas. Nas disciplinas obrigatórias dos cursos que desenvolvidas significam uma melhoria significativa já têm essa proposta de experiências ou de análise ou na formação dos alunos em relação à compreensão da de compreensão da comunidade, a experiência com a sociedade. comunidade vai permitir também uma avaliação mais Se institucionalmente houver responsabilidade ampla da aprendizagem dos alunos na disciplina. social, os egressos dos centros universitários terão A educação de qualidade, nessa compreensão, introjetadas uma ampla compreensão de suas respon- é uma relação dinâmica de enriquecimento dos con- sabilidades individuais, tanto na educação continuada teúdos programáticos, dos projetos pedagógicos e da como em suas experiências profissionais. Se os cen- proposta pedagógica e que crie condições para que o tros universitários trabalharem para conseguir que os aluno tenha a compreensão dessa experiência que é egressos se identifiquem com a característica ou com dada a oportunidade dele vivenciar na instituição que a compreensão da extensão, já se poderia destacar um o permite ir além da compreensão do aspecto técni- importante diferencial para suas vidas profissionais e co do aspecto do conhecimento em sala de aula e o sociais. preparo inclusive pra uma educação continuada uma Mesmo que a extensão não atenda, necessaria- vez que as experiências e as oportunidades vão dando mente, a todos os alunos da instituição, ela cria opor- condições para que ele entenda como buscar através tunidade para o corpo discente de um espaço reflexivo da pesquisa ou através de novas oportunidades de es- e significativo para compreensão da responsabilidade tudo uma preparação mais adequada pra sua organi- social como sendo não só das instituições, mas tam- zação social. bém dos indivíduos. A ética, a cidadania e a construção de valores não fica exclusivamente em função do conteúdo aprendi- A REVOLUÇÃO PELA EXTENSÃO do no ensino dos cursos oferecidos pelas instituições, mas a compreensão também da extensão como sendo O avanço das atividades de extensão nos centros uma concepção nova que precisa ser clareada, que universitários nos últimos dez anos tem contribuído precisa ser introjetada para a melhoria da socieda- de forma significativa para a melhoria do ensino supe- de. Devido ao exposto, a extensão é um grande ins- rior e tem atendido, de forma conclusiva, as comuni- trumento nas mãos dos centros universitários para a dades internas e externas relacionadas ou próximas modificação e para a proposta de um reordenamento aos centros universitários. social em função do privilégio dos egressos de uma Cada centro universitário pode determinar a educação superior de qualidade. Assim, os alunos do abrangência das suas atividades de extensão vincu- ensino superior que tenham passado por experiências ladas aos seus programas de extensão. Portanto a de extensão passarão a carregar consigo uma caracte- concepção da extensão nos centros universitários vai rística inovadora, uma característica propositiva, uma estar muito em função das atividades de graduação ou característica empreendedora em função de uma mu- de ensino que elas desenvolvem. O que se tem obser- dança revolucionária para uma sociedade mais justa, vado nesses dez anos é que a forma como as institui- mais organizada, mais igualitária. ções vem trabalhando tem permitido um impacto na É impossível pensar que a extensão agrega valor própria concepção dos centros universitários e possi- ao ensino se a compreensão estiver restringida a, ape- bilitado ao seu corpo docente uma compreensão mais nas, uma possibilidade de compreensão do teórico. clara sobre a importância da extensão. No mínimo, é preciso compreendê-la como agrega- A experiência que tem sido observada demons- dora da compreensão do ser humano e da responsa- tra um avanço significativo da extensão na Educação bilidade de cada indivíduo com a sustentabilidade do Superior. A contribuição dos centros universitários, ambiente no que ele estiver instalado e ampliá-la para é uma contribuição importante que precisa ter o seu além dos seus muros. acompanhamento não só pelas instituições de ensino Desta maneira, as instituições de ensino supe- individualmente, mas pelas instituições de classe e rior estariam criando condições para os seus alunos mesmo pelo Ministério da Educação para que, cada compreenderam seus papéis além das salas de aula e vez mais, se tenha a clareza da importância da exten- formando cidadãos que pudessem compreender a sua são na formação integral dos seus egressos. importância dentro da sociedade além dos limites es- Outro aspecto importante para se observar e truturados e organizados para o desempenho da suas acompanhar é a relação entre a extensão e a responsa- futuras profissões. bilidade social: são parceiras, são integradas, porque o atendimento às comunidades externas, principalmen-

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CONSIDERAÇÕES FINAIS para a avaliação das instituições de educação superior. Brasília, 2004a. Disponível em Aces- sino superior na sociedade brasileira tem na extensão so em: 21 set. 2007. o forte aliado para experiências/vivências cidadãs. A ____. Ministério da Educação. Instituto Nacional qualidade do ensino dos centros universitários conso- de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixei- lida-se, a cada dia, com uma concepção de extensão ra. Sistema Nacional de Avaliação da Educação ligada à missão e à proposta pedagógica das IES. Superior: da concepção à regulamentação. Brasília: A instituição do Dia nacional de responsabilidade INEP, 2004b. social promovido pela Associação Brasileira de Man- BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de tenedoras do Ensino Superior – ABMES, em 2005, foi Educação Superior. Programa de apoio a extensão decorrente da expansão da extensão visando mostrar universitária – Proext. Apresentação: o que é a ex- à sociedade a força do Ensino superior privado, não só tensão universitária? Brasília, 2006a. Disponível em em termos de sua responsabilidade pela expansão do Acesso em: nas instituições com o fortalecimento da extensão de 19 set. 2007. forma institucionalizada. ____. Poder Executivo. PL nº. 7.200/2006. De 2005 para 2006, os dados estatísticos come- Projeto de reforma da educação superior. Estabelece çaram a mostrar, de forma evidente, o crescimento da normas gerais da educação superior, regula a educa- participação das instituições no evento. ção superior no sistema federal de ensino, altera as Leis nºs 9.394, de dezembro de 1996; 8.958, de dezem- Quadro 1 - Crescimento e Distribuição de Números do bro de 1994; 9.504, de 30 de setembro de 1997; 9.532, “Dia” – Evolução 2005/2006 de 10 de dezembro de 1997; 9.870, de 23 de novembro em 2005 em 2006 de 1999; e dá outras providências. Brasília, 2006b. Dis- Número de atendimentos à comunidade 363.663 671.873 Número de IES participantes 197 400 ponível em: Acesso em 19 set. 2007. Número de professores envolvidos 6.445 14.860 CALDERÓN, Adolfo Ignácio. Educação Supe- Número de alunos envolvidos 44.011 118.856 Número de técnicos envolvidos 3.742 9.007 rior: construindo a extensão universitária nas IES Fonte: Dados estatísticos - ABMES particulares. São Paulo: Xamã, 2007. CARVALHO, Renata Innecco Bittencourt de. A sistematização de dados e eventos dessa natu- Universidade Midiatizada: o uso da televisão e do reza tem permitido à sociedade uma melhor compre- cinema na Educação Superior. Brasília: SENAC-DF, ensão do Ensino Superior privado brasileiro com um 2007. olhar mais favorável à qualidade dos egressos. DEMO, P. Lugar da extensão. In: FARIA, D. S. Os centros universitários têm tido um papel fun- De (org.). Construção conceitual da extensão damental na disseminação da cultura de extensão. O universitária na América Latina. Brasília: Univer- desenvolvimento integrado do ensino com a extensão sidade de Brasília, 2001. deve ser uma característica importante para a com- preensão dos centros universitários e da sua impor- DEMO, Pedro. Lugar da extensão. In: FARIA, D. tância no cenário de ensino superior. S. De (org.). Construção conceitual da extensão universitária na América Latina. Brasília: Univer- Cada vez mais, se deve procurar uma identida- sidade de Brasília, 2001. de para os centros universitários como as instituições de ensino que respondem de forma eficiente quanto GURGEL, Mauro Roberto. Extensão univer- à responsabilidade social e a qualidade de ensino e o sitária. Comunicação ou domesticação? São Paulo: caminho para esse arranjo passa pela extensão. Cortez, 1980. NOGUEIRA, Maria das Dores Pimentel. Exten- são universitária no Brasil: uma revisão conceitual. In: FARIA, Dóris Santos de. Construção conceitual da REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS extensão universitária na América Latina. Brasí- lia: Universidade de Brasília, 2001. BOTOMÉ, Silvio Paulo. Pesquisa alienada e ensino alienante. O equívoco da extensão universi- PAIVA, Vanilda. Extensão universitária no Bra- tária. Rio de Janeiro: Vozes, 1996. sil. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. INEP, vol. 67, n. 155, p. 135-151, jan./abr., 1986. 281 p. ____. Ministério da Educação. Comissão Nacio- nal de Avaliação de Educação Superior. Diretrizes

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ROCHA, Mauro Gurgel Rocha. A construção FÓRUM DE EXTENSÃO DAS IES BRASILEI- do conceito de extensão universitária na Amé- RAS, 2004. Brasília. Institucionalização da exten- rica Latina. In: FARIA, Dóris Santos de. Construção são: passo a passo. Brasília: Fórum, 2004. conceitual da extensão universitária na América Lati- FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO na. Brasília: Universidade de Brasília, 2001. DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS, RODRIGUES, Ângela Ribeiro. A extensão uni- 2001, Rio de Janeiro. Sistema de dados e informa- versitária: indicadores de qualidade para avaliação ções: base operacional de acordo com o Plano Nacio- de sua prática. Estudo de caso em um centro universi- nal de Extensão. Rio de Janeiro: NAPE, UERJ, 2001. tário privado. Dissertação (Mestrado em Engenharia ____, 2001, Rio de Janeiro. Avaliação Nacional de Produção) – Florianópolis, UFSC, Programa de da Extensão Universitária. MEC/SESu, 2001. Pós-graduação em Engenharia de Produção, 2003. ____, 1999, Belo Horizonte. Relatório do grupo SANTOS, Boaventura Sousa. Um discurso so- técnico sistema de dados e informações e Re- bre as ciências. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2006. nex – Rede Nacional de Extensão. Belo Horizonte, SILVA, Maria das Graças Martins da. Extensão UFMG, 1999, 18p. universitária no sentido do ensino e da pesquisa. In: NOGUEIRA, M. D. P. Extensão Universitá- FARIA, Dóris Santos de. Construção conceitual da ria: Diretrizes conceituais e políticas. Documentos extensão universitária na América Latina. Brasí- Básicos do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das lia: Universidade de Brasília, 2001. Universidades Públicas Brasileiras/1987-2000. Belo ULLMANN, Reinholdo e BOHNEN, Aloysio. A Horizonte, 2000. universidade das origens à renascença. São Leo- poldo: Unisinos, 1994. UNESCO. Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, 2005-2014: documento final do plano internacio- nal de implementação – Brasília: UNESCO, OEALC, 2005.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BRASLAVSKY, C. Dez fatores para uma edu- cação de qualidade para todos no século XXI. São Paulo: UBESCO – MODERNA, 2005. CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA. Es- tatuto do Centro Universitário de Brasília. Bra- sília. ____. Orientações gerais de ações de exten- são. Brasília, 2004. ____. Política Institucional de Extensão e Integração Comunitária do UniCEUB 2001 a 2006. Brasília, 2001. ____. Política Institucional de Extensão e Integração Comunitária do UniCEUB 2006. Bra- sília, 2006. ____. Proposta pedagógica – UniCEUB: refe- rencial norteador da formação de profissionais. Brasília, 2002. ____. Regimento geral do Centro Universitá- rio de Brasília. Brasília, 2003. CORRÊA, E. J; CUNHA, E. S. M; CARVALHO, A. M. (orgs.) (Re)conhecer diferenças, construir resultados. Brasília: UNESCO, 2004.

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EXTENSÃO: A EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO UNIVERSITÁRIO Edy Luiz Kogut31(*)

CONSIDERAÇÕES INICIAIS Assim, ele não será um privilégio apenas da minoria que é aprovada no vestibular, mas difundir-se-á pela Nosso objetivo neste capítulo é analisar o papel comunidade, consoante os próprios interesses dessa. da extensão no contexto educacional e, mais precisa- Portanto, a instituição de nível superior ao comunicar- mente, relatar as importantes experiências que o Cen- se com a realidade local, regional ou nacional tem a tro Universitário de Santo André – UNIA tem vivencia- possibilidade de renovar constante e criativamente do ao longo desses últimos anos. sua própria estrutura, seus currículos e suas ações, O conceito de extensão tem sido muito discutido conduzindo-os para o atendimento da verdadeira rea- no meio universitário e já há concordância sobre seus lidade do país (Silva, 1997). pontos essenciais, sobre os quais discorreremos a se- Ainda, as atividades de extensão bem planejadas guir, à luz de Antunes e Roveda (2005) e Silva (1997), permitem à instituição de nível superior preparar seus principalmente. profissionais, não somente com a estratégia do ensi- Especificamos que a palavra extensão, aqui no-transmissão, mas complementando sua formação empregada, implica estender-se, levar algo a algum com a do ensino-aplicação. O verdadeiro aprendizado lugar, ou até alguém. A extensão universitária é, na acontece quando teoria e prática se encontram. Este realidade, uma espécie de “ponte” permanente entre é, no contexto educacional, um dos grandes méritos a instituição de ensino superior e os diversos setores da extensão - permitir a efetivação do aprendizado da sociedade. Funciona como uma via de duas mãos, pela aplicação planejada e acompanhada por professo- na qual integrantes do ensino superior levam conhe- res e profissionais. Assim, forma-se um ciclo em que cimentos e/ou assistência à comunidade e são por a iniciação científica e a pesquisa se aprimoram e pro- ela “retro-alimentados”, deste modo compreendendo duzem novos conhecimentos, difundidos pelo ensino melhor suas reais necessidades, anseios e aspirações e pela extensão, de maneira que essas atividades tor- (Antunes e Roveda, 2005) e (Silva, 1997). nam-se complementares e dependentes, atuando de forma sistêmica (Silva, 1997). No meio universitário, por vezes confunde-se o termo “extensão” com “cursos de extensão universitá- Ressalte-se que não é difícil para as instituições ria”. Os cursos de extensão universitária, geralmente privadas, nem são necessárias verbas específicas para acadêmicos e com pequena carga-horária, destinam- desenvolver tais atividades de forma abrangente e de se a complementar conhecimento em áreas específi- qualidade. cas. Já as atividades de extensão são bastante amplas, O Programa de Apoio à Extensão Universitária complexas e não se confundem com “cursos de ex- - PROEXT, vinculado à Secretaria de Educação Supe- tensão”, embora esses últimos sejam também consi- rior-SEsu do Ministério da Educação – financiou, no derados como uma das atividades de extensão (Silva, período 2003-2006, mais de 500 projetos, mas não con- 1997). Por meio da extensão, a instituição de nível templa as instituições privadas. A prática da extensão, superior tem a oportunidade de levar, até a comunida- realizada com excelência é, porém, economicamente de, sua experiência, os novos conhecimentos produ- viável. Em primeiro lugar, note-se que é possível clas- zidos com pesquisa que normalmente são divulgados sificar algumas dessas práticas como atividades com- pelo ensino, por meio de palestras, encontros e cur- plementares. Ora, o Parecer CNE/CES nº. 8/2007, já sos oferecidos a todos os interessados. É uma forma homologado pelo Ministro da Educação, assim como de estas instituições socializarem e democratizarem a Resolução associada CNE/CES nº. 2/2007, estabele- esse conhecimento, levando-o aos não universitários. ce que os “estágios e atividades complementares dos cursos de graduação, bacharelados, na modalidade 31 (*)O autor é Reitor do Centro Universitário de Santo André – UNIA e doutor em Economia pela Universidade de Chicago. Foi professor e diretor de presencial, não deverão exceder 20% (vinte por cento) Cursos Especiais e de Ensino da EPGE - Escola de Pós-Graduação em Economia da carga horária total do curso, salvo nos casos de de- da Fundação Getúlio Vargas, Professor Visitante da Universidade de Boston e Consultor do Banco Mundial. Agradece o corpo docente do UNIA pela sua cola- terminações legais em contrário”. Como alguns proje- boração (no entanto, é o único responsável por erros e omissões do texto).

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tos de extensão podem resultar no desenvolvimento tes vivenciem a dimensão ética presente na escolha da de atividades complementares para os estudantes, o profissão abraçada e praticada pelos diferentes cam- tempo destinado às atividades de extensão dentro da pos do saber. Dessa forma, o UNIA busca incentivar carga horária da matriz curricular (somado ao tempo a superação do individualismo e da exclusão de seg- dos estágios) pode ser incluído nesta até o limite de mentos sociais, considerando os benefícios que lhes 20% da carga horária. As atividades complementares podem ser trazidos pela Ciência e pela Tecnologia. são bem vistas por educadores e pelo Ministério da Nessa perspectiva, a extensão é importante instru- Educação: trata-se, inclusive, de item obrigatório de mento de uma educação que visa à formação de sujei- verificação das comissões in loco do MEC. Outros- tos que compreendam melhor o significado da condi- sim, é importante observar que, embora o Parecer nº. ção humana e seu papel no exercício da cidadania. 8/2007 mencionado acima, se refira unicamente a ba- Para tanto, a extensão universitária como prática charelados, é pensamento corrente na educação supe- acadêmica tem por objetivos32: rior que a prescrição relativa à inclusão de atividades • Articular o ensino e a iniciação científica complementares como componentes curriculares e com as demandas da sociedade, buscando ao tempo curricular a elas destinado pode ser esten- o comprometimento da comunidade aca- dida a licenciaturas e cursos superiores de tecnologia. dêmica com os interesses e necessidades Outra forma interessante de viabilizar a extensão é es- da sociedade; timular Trabalhos de Conclusão de Curso e Projetos • Estabelecer um fluxo bidirecional entre que tenham vínculo com a população da região. o conhecimento acadêmico e o saber popu- Adicionalmente, além de a extensão melhorar a lar, buscando a produção de conhecimento qualidade do ensino, apoiar a comunidade e ser com- resultante do confronto com a realidade, com permanente interação entre teoria e ponente do desenvolvimento regional ajudando seg- prática; mentos produtivos, ela cria, também, uma imagem • Incentivar a prática acadêmica que con- positiva da instituição, o que facilita o recrutamento tribua para o desenvolvimento da consci- de bons professores e alunos. ência social e política, formando profissio- E é sobre a experiência do Centro Universitário nais-cidadãos; de Santo André nesta área que discutiremos a seguir, • Promover atividades de apoio e estímulo esclarecendo que a cidade de Santo André faz parte da à organização, participação e desenvolvi- Região Metropolitana de São Paulo, é o “A” do conhe- mento da sociedade, partindo de propos- cido Grande ABC. Santo André tem uma população tas oriundas de uma convivência aberta e horizontal com a comunidade; de 677 mil habitantes, a qual faz parte da população • Favorecer a reformulação do conceito do Grande ABC, que tem 2,6 milhões de habitantes e de “sala de aula”, que deixa de ser o lugar da população da Grande São Paulo, que totaliza 19,7 privilegiado para o ato de aprender, adqui- milhões de pessoas. Ocupa 21% da área do Grande rindo uma estrutura ágil e dinâmica, carac- ABC e tem 17% do seu Produto Interno Bruto. O setor terizada pela interação recíproca de profes- predominante ainda é o industrial, apesar da fuga de sores, alunos e sociedade, ocorrendo em fábricas nos últimos anos, aliada ao crescimento do qualquer espaço e momento, dentro e fora setor de serviços. Dentro da indústria, os setores quí- dos muros do centro universitário; mico-petroquímico (Pólo Petroquímico de Capuava) e • Incentivar a expressão da diversidade metal-mecânico são os maiores, tendo participação de artístico-cultural e 64% e 9%, respectivamente, na arrecadação do ICMS. • Contribuir para o desenvolvimento sus- tentável social e econômico. Embora seja uma região urbana com alto grau de industrialização, sua população ainda possui segmen- tos muito carentes em termos de renda e educação. A extensão, neste contexto, desempenha, portanto, um AÇÕES DE EXTENSÃO NO UNIA papel de grande relevância. Cursos

EXTENSÃO NO UNIA Faculdade Aberta Terceira Fase da Vida

Política de Extensão do UNIA O UNIA, em agosto de 1997, foi o pioneiro na O UNIA entende extensão como um espaço pe- 32 Textos semelhantes são citados em diversos documentos, como no dagógico por excelência para que docentes e discen- Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Bra- sileiras -1987.

154 SEGUNDA PARTE

região no oferecimento da Universidade Aberta à nente, a formação de “educadores populares” transfe- Terceira Fase da Vida. Esta oferece cursos considera- riu-se para o Curso de Pedagogia. dos estudos independentes, para pessoas da Terceira Idade, interessadas em renovar seus conhecimentos, atuando de forma pró-ativa em suas famílias e na so- Centro de Idiomas ciedade. O principal objetivo desde então é oferecer um lugar de encontro e a oportunidade de tornar a O UNIA oferece tanto para a comunidade acadê- vida mais significativa. Através de trocas, partilham- mica quanto para a externa, cursos de inglês e espa- se conhecimentos e afetos e exerce-se a criatividade, nhol, alinhados com as mais modernas tecnologias e muitas vezes adormecida. Busca-se dessa forma aten- práticas didáticas adotadas no ensino dessas línguas. der um segmento de nossa sociedade carente de pro- O Centro de Idiomas funciona desde 2000 e atualmen- gramas especialmente direcionados, abrindo espaço te noventa e cinco por cento de sua clientela é com- para novas experiências e ampliando suas redes de posta por alunos do UNIA e seus familiares. conhecimento e de amizades. O curso básico é oferecido em quatro semestres letivos e destina-se a homens e mulheres, sem a exi- gência de diplomas ou certificados anteriores. A par- Cursos de Extensão na Área de Saúde tir das primeiras turmas diversos grupos se formaram e continuam a se reunir, principalmente em torno de Esses são cursos acadêmicos, de pequena du- projetos e programas de cunho cultural. ração, que transmitem conhecimentos à comunidade regional. Um grande número de novas técnicas, alia- Várias são as atividades desenvolvidas como sa- da às novas descobertas científicas e o alto nível de raus, oficinas de construção de textos, que já resulta- especialização, faz com que os profissionais da área ram na publicação de um livro e na formação de um da saúde precisem de atualização constante. No UNIA coral, o qual, constituído há cinco anos, apresenta-se essa área, representada pelos cursos de Enfermagem regularmente em eventos. e Psicologia, é a que tem apresentado maior número Quatrocentos e seis alunos já se formaram neste de cursos de extensão, voltados para o público aca- programa. dêmico e profissional. Desde o segundo semestre de 2004, o curso de Enfermagem tem oferecido onze cur- sos diferentes nas áreas de Anatomia (Anatomia Clí- Movimento de Alfabetização de Jovens e nica da Pelve e Períneo); Fisiologia (Fisiologia de Do- Adultos enças Cardio-Vasculares, Fisiopatologia Endócrina); Neurologia (Distúrbios Neurológicos), Pneumologia Outra iniciativa importante da extensão teve iní- (Assistência Ventilatória); Farmacologia (Atualização cio quando o UNIA firmou um contrato com a Prefei- em Farmacologia, Disfunção Cardíaca e Tratamento tura Municipal de Santo André para formar, no curso Farmacológico, Quimioterapia do Câncer) e Técnicas Normal Superior, alunos que alfabetizassem jovens de Tratamento (Terapia Intravenosa, Atendimento e adultos (chamados de “educadores populares”) Pré-Hospitalar, Infarto Agudo do Miocárdio: Conside- do Projeto MOVA – Movimento de Alfabetização de rações de Enfermagem). Jovens e Adultos. Como se sabe, este tipo de alfabe- A área de Psicologia promoveu em 2006 nove tização propicia melhoria considerável de condições cursos voltados para áreas específicas de atuação do para aqueles que no período apropriado não tiveram psicólogo como Recursos Humanos (RH - Gestão de a oportunidade de se graduar pelos caminhos básicos Pessoas e RH: Captação e Seleção de Pessoas) e Área da educação formal. Jurídica (Psicologia Jurídica), ou para aprofundamen- Recentemente, participamos da formatura da to de estudos (Seminários, Clínica Psicanalítica, Psi- primeira turma do Normal Superior de “educadores cofarmacologia, Terapia Comunitária, Ludoterapia e populares” do MOVA. Foi uma experiência emocio- Gestalterapia). nante. Ali se graduavam quarenta e um alunos que, sem suas bolsas, que cobriam sessenta por cento das mensalidades, certamente não teriam nenhuma opor- Palestras e Conferências tunidade de sair da situação de excluídos da nossa sociedade. Hoje esses graduados atuam na educação Também fazem parte da extensão do UNIA ciclos de jovens e adultos e como alfabetizadores das séries de palestras e conferências, as quais são oferecidas iniciais do Ensino Fundamental. semestralmente pelos cursos do UNIA. Esses ciclos, Atualmente, com a mudança da legislação perti- também chamados de Semanas, seguidos do nome do

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curso responsável pela montagem, constituem proje- tuto Assistencial e Educacional Jardim de Esperan- tos de extensão e objetivam trazer temas polêmicos ça, Educandário Espírita Cristão Simão Pedro, Casa e atuais de cada área, apresentados por profissionais de Acolhida Filhos Prediletos, Centro Educacional de atuação destacada no mercado de trabalho e são Assistencial e Recreativo Próximo Passos e OSTRA abertos aos estudantes das outras instituições da re- – Organização de Solidariedade, Trabalho e Respeito gião. Com essa prática espera-se proporcionar ao alu- à AIDS. no modelos e vivências profissionais adequados, que O Curso de Enfermagem também desenvolve o estabeleçam uma ligação com os conteúdos teóricos Projeto “A Corrente do Bem”. A Coordenação, junta- e práticos vivenciados na vida acadêmica, aguçando mente com o corpo docente, estimula todos os acadê- seu espírito crítico e ampliando sua visão do mercado micos do curso a se engajarem neste projeto, que é de trabalho. desenvolvido de acordo com as seguintes etapas: Os Cursos de Tecnologia realizam ainda uma fei- • Cada turma escolhe uma instituição de ra anual para apresentar equipamentos, dispositivos e caridade (asilo, creche, moradores de rua, demais trabalhos de natureza essencialmente prática casa de AIDS, etc.) e a “adota”. desenvolvidos pelos alunos como requisito de apren- • Os alunos elaboram um plano de ações dizado. para ser desenvolvido com seus morado- res, juntamente com um professor eleito pela turma para ajudar neste projeto. • Essas atividades são desenvolvidas ao Ações Cívico-Sociais de Caráter Assisten- longo de cada semestre, ficando a turma cial responsável pela instituição escolhida du- rante os quatro anos do curso. O trabalho voluntário é hoje apontado como uma das principais armas no combate à desigualdade social e na busca da humanização das sociedades modernas. Apresentações Musicais e Teatrais Esse trabalho não só traz resultados importantes para as comunidades atendidas, como também cria laços e O UNIA, conforme mencionado anteriormente, aproximações fundamentais para toda a sociedade. mantém o Coral da Terceira Fase da Vida. Este co- Diversas entidades (sociedades civis, organiza- ral reúne alunos da Universidade Aberta da Terceira ções não-governamentais, clubes, associações, em- Fase da Vida, conta com regente próprio, mantido pela presas, entre outras) praticam cotidianamente o vo- instituição e, ao longo do ano, tem uma programação luntariado. O trabalho - que inicialmente se resumia que os leva a cantar em eventos internos e externos à benevolência e à caridade - ganhou força e transfor- de diversa natureza. mou-se em atitude de cidadania e de responsabilidade Além disso, nossos alunos freqüentam peças de social. teatro dentro das atividades curriculares de algumas Assim, no UNIA, o trabalho voluntário procura disciplinas, de forma a analisar na arte, temas desen- despertar a consciência do cidadão sobre as questões volvidos em seus estudos, ampliando suas reflexões. coletivas. Ele ajuda a preencher uma lacuna em nos- São ainda tradicionais as festas de Natal e Junina, sa sociedade, uma vez que o Estado encontra-se limi- sempre com a presença de docentes e do corpo admi- tado por restrições orçamentárias em áreas em que nistrativo e, por vezes, de discentes, com apresenta- sua atuação é essencial. Essa ação contra antigos e ções teatrais, musicais e gincanas. novos problemas sociais busca, fundamentalmente, a compreensão da necessidade do trabalho de cada ci- dadão, no sentido da resolução conjunta das mazelas que atingem a todos. Campanhas Orientativas e Assistenciais Com este foco, diversas campanhas e ações cí- Diversas campanhas são oferecidas à comunida- vico-sociais são desenvolvidas ao longo do ano como: de com o intuito de orientá-la e esclarecê-la, principal- “Campanha de Agasalho”, “UNIAjuda” – que engloba mente em assuntos relacionados a questões de saúde. “Campanha de Doação de Sangue”, “Trote Solidário”, Como exemplos, citam-se as iniciativas do Curso de com entrega de alimentos para doação, e “Páscoa So- Enfermagem “Adolescer Com Qualidade de Vida” e lidária”. Para se ter uma idéia do tipo de entidades be- “Da Saúde ao Exercício da Cidadania” que atingiram neficiadas nestas iniciativas, citamos algumas: Núcleo mais de 3380 alunos da rede estadual e municipal de Assistencial Espírita Paz e Amor em Jesus, Sociedade ensino de Santo André. de São Vicente de Paula, Casa de Repouso Santa Adé- lia, Centro de Recuperação Camille Flamarion, Insti- Destaca-se, ainda, a realização, no Centro Uni-

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versitário de Santo André, do “I Encontro Nacional exibidos cinco documentários nacionais premiados, de Redução de Danos em Saúde” em parceria com que revelam a verdade do nosso dia-a-dia, a saber: “Ja- a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Santo André. nela da Alma”, com direção de João Jardim e Walter O “Programa de Redução de Danos” foi instituído no Carvalho: “Edifício Máster”, com direção de Eduardo Município de Santo André em 2004 e tem como ob- Coutinho; “Vinícius” com direção de Miguel Faria Jr. jetivo atender populações de maior vulnerabilidade e “Meninas” com direção de Sandra Werneck. em situações de exploração sexual e uso de drogas No que diz respeito ao esporte, o UNIA partici- ilícitas e lícitas. Foram acompanhados em média, 230 pa da Liga Universitária do Grande ABC, que orga- usuários-mês, com atendimento em diversos campos niza torneios de várias modalidades esportivas entre e fornecimento de insumos de prevenção. O municí- universitários. Essa entidade congrega instituições pio foi escolhido para sediar o Encontro em função da universitárias da região, da capital e do interior do es- vivência proporcionada pelo seu Programa. tado, adesões propiciadas pelo crescimento da Liga. O time de basquete feminino do UNIA sagrou-se cam- peão sul-americano em 2006 e tricampeão universitá- Programas e Eventos Culturais e Esporti- rio brasileiro em 2007. vos

Atendimento à População Carente e Está- Cine Uniarte gios

O “Cine Uniarte” é um projeto que tem como O UNIA mantém uma clínica de saúde com es- proposta levar a linguagem da arte cinematográfica trutura física e administrativa completa para atendi- à população como enriquecimento cultural, reflexão mentos nas áreas de enfermagem e psicologia, fun- artística, sociológica, filosófica e comportamental. cionando em sede própria. A Clínica de Psicologia Estar em contato com a Arte e, neste caso, a cinema- foi aberta em 1976 e desde lá tem feito atendimentos tográfica, propicia aos acadêmicos do UNIA e àco- individuais e grupais para crianças, adolescentes e munidade a inserção num mundo de reflexões nem adultos. Presta também serviços a várias instituições sempre acessível a todos, com desdobramentos de e comunidades, como prefeitura, hospitais e favelas, crescimento pessoal e profissional indiscutivelmente entre outros. Sua finalidade principal é fornecer- es significativos. Até o presente momento foram realiza- tágios supervisionados para os alunos do quinto ano dos três ciclos de cinema, a saber: de psicologia, assim como prestar serviços psicológi- cos para a comunidade mais desfavorecida da região. Conta, também, com o PROESA – Projeto de Atenção ao Estudante Acadêmico Iniciante, cujo objetivo é au- Ciclo de Cinema Almodóvar xiliar o calouro no início de seu percurso universitário. No primeiro semestre de 2007 a Clínica de Psicologia Discussão de enredos e personagens criadas realizou 2.972 atendimentos. pelo diretor espanhol Pedro Almodóvar, com exibição de cinco de seus filmes, seguida de debates entre os Os atendimentos de enfermagem são realizados participantes. na especialidade de acupuntura. Os estudantes rea- lizam a triagem e o diagnóstico preliminar, acompa- nhados por seus supervisores e observam a aplicação técnica realizada por profissional da área. No primeiro Ciclo de Cinema Italiano semestre de 2007 o número de atendimentos foi 220. Há de se ressaltar, ainda, os atendimentos re- Através da visão dos diretores Federico Fellini, alizados pelos cursos de Psicologia e Enfermagem Mario Monicelli, Silvio Soldini, Ettore Scola e Marco no distrito de Paranapiacaba, na sede mantida pelo Ferreri e de seus filmes, foram apresentadas e discu- UNIA. tidas cenas do cotidiano que propiciaram aos partici- pantes reflexões sobre o comportamento humano. A Vila de Paranapiacaba surgiu em 1861 com construções que abrigavam os trabalhadores, incluin- do engenheiros ingleses, que construíram a ferrovia Santos-Jundiaí. Transformações tecnológicas do siste- Ciclo de Cinema Documentário ma ferroviário e o crescimento da oferta no comércio e serviços em outros municípios da Grande São Paulo Sob o título “Os Olhos Que Tudo Vêem”, foram tiveram forte impacto para a diminuição do comércio

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e uma evasão dos moradores da Vila de Paranapia- Como mencionamos no início deste capítulo, caba, com efeitos perversos sobre renda e emprego. uma forma interessante de viabilizar a extensão é es- Posteriormente a Vila foi adquirida pela municipalida- timular Trabalhos de Conclusão de Curso-TCCs que de e criada uma subprefeitura, que tenta recuperar a tenham vínculo com a população da região. Para mos- área com investimentos em turismo. trar como isto tem sido feito no UNIA, vamos exempli- Para o Curso de Enfermagem, o Projeto de Pa- ficar com trabalhos feitos pelos alunos de dois cursos ranapiacaba oferece a oportunidade de estruturar do UNIA, Tecnologia em Processos de Produção e a assistência-ensino e pesquisa na área de Enferma- Enfermagem. gem, em parceria com a Coordenadoria de Saúde da Nosso Curso de Tecnologia em Processos de Subprefeitura. O grande enfoque é trabalhar com as- Produção é um dos mais tradicionais do Grande ABC. sistência aos domicílios. Os alunos, com a supervisão Reconhecido em 1979, já formou milhares de traba- dos seus professores, trabalham em ações de saúde lhadores desta região industrial. Tem sido feito um coletiva e junto às famílias. Sua assistência traz me- esforço para que os trabalhos de conclusão de curso lhor qualidade de vida para a população local, ensinan- contemplem algum tipo de apoio ao microempresário do melhores hábitos de higiene, de alimentação e de da região. Recentemente, alguns empresários do ABC lazer ratificaram em entrevistas a nossa idéia da relevância O Projeto “Uniamor por Paranapiacaba”, do Cur- que esses trabalhos tem tido para as empresas. so de Psicologia, visa conhecer e participar da vida Três são citados na bibliografia, como referên- da comunidade local de modo a contribuir para a pro- cia. Na Paceoli Usinagem além do trabalho crítico moção da saúde mental, amenização do sofrimento quanto à limpeza, manutenção e segurança dos em- assim como para a ampliação da qualidade de vida pregados, procurou-se a “otimização” do processo. No dos moradores de Paranapiacaba. Na primeira parte depoimento o proprietário destaca: “viemos da estaca do projeto foram feitas entrevistas com os morado- zero, não tínhamos nada(...) o resultado está sendo res. Invariavelmente seu discurso fazia referência ao satisfatório(...) já houve muitas mudanças, apesar da passado, à estrada de ferro, ao trem, aos “bons tem- resistência dos funcionários(...)”. Na empresa WLO, o pos” em que a Vila figurava como uma comunidade diretor administrativo descreve o trabalho de avalia- herdada dos ingleses, com estilos e comportamentos ção do processo e produção de uma peça especial e que faziam dela uma comunidade única na região. conclui: “os alunos “fizeram um trabalho incrível(...) As referências aos tempos atuais vinham sempre as- parabéns”. Na Acrilplast, os alunos desenvolveram sociadas a impressões de perda, de lamentações, de alternativa para eliminar o tempo ocioso, focando em sentimento de abandono e ressentimentos. Imagine o produtos de baixo custo. Um dos sócios da empresa, leitor a importância do apoio dos nossos alunos e seus no seu depoimento diz “(...) fomos obrigados a pen- supervisores, numa região na qual foi verificada forte sar nas alternativas com mais clareza(...) o projeto foi incidência de alcoolismo e depressão. excelente(...)”. Também o nosso Curso de Direito, um dos mais No Curso de Enfermagem, importante trabalho novos da instituição, que ainda nem graduou uma de conclusão de curso foi realizado por alunos gradu- turma, conta com uma “Unidade de Atendimento ao andos, dentro do Programa de Saúde da Família no Consumidor” atuando todos os sábados, com alunos e Brasil – PSF. Um importante avanço que o PSF pos- professores dando orientação legal à população pobre sibilita é o maior alcance em termos de aproximar e, quando há necessidade, promovendo o devido en- as ações para além dos muros da unidade básica de caminhamento ao PROCON de Santo André. saúde, permitindo que haja maior envolvimento das Criou, também, em parceria com a Secretaria equipes junto à população atendida. de Justiça do Estado de São Paulo - Fundação Pro- Como evoluir nesta abordagem junto às famílias? con e a Prefeitura de Santo André, o “Observatório A experiência mostrou ser necessária a criação de no- de Relações de Consumo”, com o objetivo de mapear vos instrumentos que fortalecessem a estruturação as comunidades carentes, encontrar suas lideranças, do modelo de saúde e os processos educativos, para capacitá-las nos assuntos referentes às relações de contribuir e superar o tradicional vigente, principal- consumo e cidadania para que criem um modelo de mente nas Unidades Básicas de Saúde. auto-gestão. Trata-se de uma importante inovação na Foi neste contexto que o Projeto ”Nossas Crian- área acadêmica. ças: Janelas de Oportunidades” buscou uma inovação tecnológica para aprimorar o processo de acompanha- mento da saúde infantil, através de uma parceria da PESQUISA E EXTENSÃO Coordenação do PSF da Secretaria Municipal de Saú-

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de de São Paulo, com a UNICEF (Fundo das Nações FÓRUM NACIONAL DE PRÓ-REITORES DE Unidas Para a Infância) e a Escola de Enfermagem da EXTENSÃO– 1987-2000. Universidade de São Paulo. Criou-se, então, a “Ficha MORALES, Fernando S., et al. “Aplicação e Ava- de Acompanhamento dos Cuidados para a Promoção liação do Instrumento Utilizado no Projeto Nossas da Saúde”. Esta ficha poderia ajudar a acompanhar Crianças: Janelas de Oportunidades na Vila de Para- o desenvolvimento da criança de forma abrangente, napiacaba” – Santo André/SP: Trabalho de Conclu- quando analisada por profissionais da saúde, obtendo- são de Curso dos Graduandos do Curso de Enferma- se informações importantes, no entanto ela precisava gem do Centro Universitário de Santo André – UniA. ser testada e avaliada. Para isto, alunos graduandos de 2007. enfermagem do UNIA foram treinados para utilizá-la NEUBERGER, Waverli M.M. et al. “Cadernos de na Vila de Paranapiacaba junto às famílias com gestan- Iniciação Científica”, seleção de trabalhos acadêmicos tes a partir do segundo trimestre de gestação e mães dos alunos do Centro Universitário de Santo André de crianças com idade máxima de um ano. – UniA. 2005 e 2006. A população foi muito receptiva a esse novo ins- PADUANI, André R.M., et al. “Consultoria WLO trumento. Os resultados do uso da ficha mostraram Indústria Mecânica Ltda”, Trabalho de Conclusão de um aumento significativo no aprendizado e aprimora- Curso dos graduandos do Curso de Tecnologia em mento da mãe no cuidado com o desenvolvimento e Processos de Produção do Centro Universitário de crescimento de seus filhos. Adicionalmente, os gradu- Santo André – UniA. 2006. andos puderam vivenciar a realidade da saúde públi- ca e colaboraram para testar metodologia que pode, PIMENTA, Rhaldnei R. et al. “Otimização do eventualmente, servir de exemplo para todo o país. Processo de Produção e Qualidade da Paceoli Usi- nagem – ME”, Trabalho de Conclusão de Curso dos graduandos do Curso de Tecnologia em Processos de Produção do Centro Universitário de Santo André CONSIDERAÇÕES FINAIS – UniA. 2006. PROEXT – Programa de Fomento à Como procuramos mostrar acima, através de al- Extensão,“Proposta de Política de Extensão do MEC”. guns exemplos, o trabalho de extensão praticado pelo 1992. UNIA tem procurado seguir o conceito discutido na introdução deste capítulo. Com esforço construímos SILVA, Cícero S. et al. “Consultoria em Empresa uma “ponte” entre nossa instituição e a comunidade de Produtos em Acrílico”, Trabalho de Conclusão de do Grande ABC. Levamos conhecimentos e/ou assis- Curso dos graduandos do Curso de Tecnologia em tência até ela e temos aprendido muito. Todos nós, Processos de Produção do Centro Universitário de administradores, docentes, alunos. Particularmen- Santo André – UniA. 2006. te estes últimos. A extensão tem permitido melhor SILVA, Oberdan D.- palestra proferida no II Sim- aprendizado pela aplicação planejada da teoria. pósio Multidisciplinar “A Integração Universidade-Co- Cremos que a falta de verbas não pode ser justifi- munidade”, em 10 de outubro de 1996 e publicado em cativa para se ficar de braços cruzados. Com vontade “Integração Ensino, Pesquisa e Extensão” III(9):148- e criatividade, a própria matriz curricular de todos os 9, maio1997. cursos pode ser planejada a fim de oferecer conteúdos que, de alguma forma, dialoguem com as necessida- des sociais. Uma significativa mudança econômica e social só será atingida pela Educação. Esperamos que esta exposição sirva de catalisador para outras institui- ções. Estamos convictos de que, com sua expansão, a nossa sociedade, em geral, e o ensino, em particular, viverão um futuro melhor.

BIBLIOGRAFIA

ANTUNES, Maria L. P. e ROVEDA, Sandra R. M. M. “Extensão Universitária” Jornal Cruzeiro do Sul, 6 de setembro de 2005.

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A FUNÇÃO SOCIAL DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS Dácio Campos33

Uma das grandes conquistas da educação do cursos. brasileiro nas últimas décadas foi a efetivação dos Foram abertos e estão em funcionamento mui- Centros Universitários como instrumento para o au- tos postos de saúde. clínicas médicas, odontológicas mento do número de estudantes no ensino superior. e paramédicas; foram efetivados serviços de fisiotera- Os Centros Universitários, sacramentados em pia, análises clínicas, fonoaudiologia, farmácia, entre dispositivos legais, abriram espaços para os docentes outros, viabilizando hospitais e unidades de saúde e discentes, democratizaram a educação, supriram o municipais e estaduais, criando espaços para residên- que as instituições públicas deveriam oferecer e não cias médicas e estágios profissionalizantes. conseguiram até hoje. A alfabetização cresceu com os ideais da peda- Educadores se uniram, investiram em todo ter- gogia, de letras, do ensino à 3ª idade. Foram criados ritório nacional, criaram empregos e fizeram chegar fóruns de atendimento na área de Direito acelerando a educação a excluídos e/ou banidos dos processos o precário sistema e o tramite dos processos. da evolução do ensino, prometidos pela Constituição Muitos foram os profissionais formados nesse de 1988. período para atender a demanda, tanto na área de O Ministério da Educação e o Conselho Nacional graduação como na de tecnologia e na educação à de Educação instituíram sistemas avaliativos e diretri- distância. zes para autorizações e reconhecimentos de Centros, Hoje, os Centros Universitários estão estabiliza- abrangendo não só o que as Instituições de Ensino de- dos, com convênios com órgãos públicos como Prefei- vem oferecer como, também, o que as comunidades turas, Câmaras, Fóruns, Hospitais, Escolas, Clínicas das regiões necessitam realizar para se efetivarem envolvendo todos no processo social que interessa ao como parceiras nos empreendimentos educacionais. país. Professores capacitaram-se e especializaram-se É a melhoria da qualidade de vida do cidadão para acompanhar os processos fiscalizatórios para que está no projeto original da criação dos Centros criação de Escolas e dirigentes no resultado idealiza- Universitários, pensamento dos educadores e dos di- do pelo Ministério da Educação, pelo Conselho Nacio- rigentes que gerenciam a concessão no Brasil. nal de Educação e pelo próprio Governo Federal. E os Centros Universitários estão fazendo a sua O que se viveu a partir desse processo foi uma parte, não no mínimo de exigência, mas sim extrapo- significativa ampliação de horizontes culturais e edu- lando no sentido de atender às comunidades, princi- cacionais. palmente as carentes, demonstrando ao povo e aos di- Dezenas de Centros Universitários foram im- rigentes do país a reciprocidade que deve existir entre plantados em regiões inexploradas, levando até elas instituições no mundo globalizado no qual vivemos. educadores titulados e alunos de todos os graus de conhecimento. Essas instituições educacionais, com suas pecu- liaridades e com a autonomia recebida, implantaram cursos em todos os segmentos, beneficiaram cidades, regiões e milhares de cabeças pensantes, até então sem esperança de chegarem a um curso superior. Com isso, as comunidades representadas pelas Prefeituras se envolveram no processo educacional, garantiram o funcionamento pleno dos Centros e se beneficiaram juntamente com seus munícipes dos serviços prestados pelas Escolas, por meio de seus

33 Dácio Campos é Pró-Reitor Acadêmico do Centro Universitário Ba- rão de Mauá, Ribeirão Preto – SP.

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3.-. PÓS-GRADUAÇÃO: O AVANÇO SUSTENTADO Milton de Abreu Campanário(*) Daniela Luiza de Macedo(**) Sibele Gomes de Santana Faria(***)34

INTRODUÇÃO Brasil. O presente estudo tem a finalidade não somen- te de mostrar a forma como a pós-graduação é institu- Conforme é delineado neste livro, os Centros cionalizada, mas também de servir como norteador Universitários – CEU’s são instituições de ensino para eventual implementação de cursos e programas superior pluri-curriculares, que se caracterizam pela de Mestrado e Doutorado nos Centros Universitários, qualidade do ensino oferecido, com pouca ênfase nas contribuindo ao avanço do ensino da pós-graduação atividades de pesquisa e de pós-graduação stricto sen- brasileira dentro de dois marcos citados por Jorge su. O pleno funcionamento de um CEU ocorre pela Guimarães, atual presidente da CAPES: “qualidade e comprovação do desempenho de seus cursos nas a flexibilidade, ou ainda flexibilidade com qualidade”. avaliações coordenadas pelo Ministério da Educação, pela qualificação do seu corpo docente e pelas condi- ções do trabalho acadêmico oferecidas à comunidade O PAPEL DAS IES BRASILEIRAS escolar. A rigor, não há uma demanda formal para que um CEU tenha desempenho destacado na área de Recentes pesquisas realizadas pelo Instituto Bra- pesquisa e de pós-graduação, particularmente aque- sileiro de Geografia e Estatística – IBGE, apontam que las que geram condições de titulação acadêmica de o número de universitários brasileiros cresceu 13,2% mestre ou doutor. de 2005 para 2006 (INEP, 2007a). Isso evidencia que a Este capítulo trata especificamente da atividade procura por cursos superiores vem se tornando cada de pós-graduação stricto sensu – SS que são oferecidas vez mais efetivos na realidade do país, providenciando nos CEU’s. Para tanto, será feita uma apresentação de uma expansão das Instituições públicas e privadas. conceitos fundamentais relacionados aos cursos de Segundo Ronaldo Mota, Secretário de Educação Su- SS, o mapeamento da evolução deles no Brasil e a for- perior do Ministério da Educação (SESu/MEC), é ma como são implementados. Esta evolução é muito importante que o crescimento das IES esteja dentro grande nos últimos dez anos, justamente no momen- de critérios de qualidade que são fundamentados pelo to em que os CEU’s aparecem como alternativa ins- Ministério da Educação – MEC. Esta posição não é titucional de ensino superior no Brasil. Mesmo sem tão óbvia como pode parecer em um primeiro momen- a obrigatoriedade de estruturar cursos de pós-gradu- to. De fato, entre a instrução e a execução de uma polí- ação SS há nos anos recentes uma participação dos tica há um abismo. O que Ronaldo Mota coloca é mais CEU’s neste nível de formação. No que tange à im- uma perseguição permanente rumo ao atendimento plementação deste tipo de formação nas Instituições de todos os critérios levantados pelo MEC. de Ensino Superior – IES, o destaque do capítulo é Com a criação do Sistema Nacional de Avaliação a apresentação do papel desenvolvido pela Fundação da Educação Superior (SINAES), por meio da Lei n° Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ní- 10.861, de 14 de abril de 2004, são estabelecidos os vel Superior – CAPES, agência ligada ao Ministério principais eixos para a avaliação das instituições pú- da Educação, responsável pela regulamentação e ava- blicas e privadas: ensino, pesquisa, extensão, respon- liação do Sistema de Pós-Graduação Stricto Sensu no sabilidade social, desempenho dos alunos, gestão da instituição, corpo docente, instalações e infra-estru- 34 (*)Bacharel em Economia pela USP, Mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Harvard, Ph.D. pela Universidade de Cornell. Coordenador turas entre outros aspectos (INEP, 2007b). Com os do Programa de Pós-Graduação em Administração do Centro Universitário Nove resultados das avaliações, é possível identificar não de Julho - PPGA/UNINOVE, reconhecido pela CAPES. Ex-Secretário Adjunto de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. somente a qualidade da IES do país e de seus cursos, (** ) Graduada em Administração pelo Centro Universitário Nove de Ju- mas também para: lho - UNINOVE. Atualmente é aluna do Mestrado em Administração e Assistente • medir as instituições sobre a sua eficá- de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Administração - PPGA/UNINO- VE. cia institucional, efetividade acadêmica e (***) Graduanda em Administração de Empresas pelo Centro Universitá- social; rio Nove de Julho- UNINOVE. Atua como Assistente de Pesquisa para o Progra- • implementar políticas públicas pelos ór- ma de Pós-Graduação em Administração - PPGA/UNINOVE. gãos governamentais;

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• informar aos estudantes e a comunidade humanos cada vez mais qualificados para o exercício em geral sobre as características e qualifi- profissional em praticamente todas as áreas, o que só cações dos cursos e instituições. pode ser oferecido pela agilidade do setor privado. O papel das IES vai além da formação de recur- sos humanos capacitados para o exercício da ativida- Gráfico 1. - Matrículas na Educação Superior 1996-2005 de profissional qualificada. Cabe a elas desenvolver nos estudantes o espírito cidadão e de crítica através 1073 do ensino, da pesquisa e da extensão. Há uma forte 1000 associação em toda a cultura educacional brasileira de 800 que a contribuição social do sistema de ensino se dá 600 por meio dos cursos oferecidos em interface indisso- 380 371 400 ciável com a pesquisa, principal geradora de inovação, 247 Privadas mudança e transformação social (BOMENY, 2001). 200 130 117 61 Públicas 18 19 41 Conforme informações obtidas no Instituto Na- 0 cional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira – INEP, Norte Nordeste Centro- Sul Sudeste há atualmente no Brasil 2.457 IES credenciadas pelo Oeste Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados obtidos no site do MEC. A tabela 1 apresenta a distribuição da quantida- INEP: http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/funcional/busca_instituicao.stm de de IES por região brasileira: Tabela 1 – Quantidade de IES privadas e públicas por O artigo 45 da Lei de Diretrizes e Bases da Edu- cação Nacional - LDB (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro região de 1996), dispõe que “a educação superior será mi- QUANTIDADE QUANTIDADE nistrada em instituições de ensino superior, públicas DE IES REGIÕES: DE IES TOTAL: ou privadas, com variados graus de abrangência de PÚBLICAS: PRIVADAS: especialização”. Já o Decreto nº 2.207, de 15 de abril Norte 130 18 148 de 1997, no seu artigo 4º, classifica a diversidade das Nordeste 380 61 441 organizações acadêmicas das IES em: universidades, centros universitários, faculdades integradas, facul- Centro-Oeste 247 19 266 dades e institutos superiores ou escolas superiores. Sul 371 41 412 Como fruto deste quadro institucional e legal, atual- Sudeste 1073 117 1190 mente há IES com esses sete tipos distintos de orga- 2457 nizações acadêmicas, com natureza jurídica pública Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados obtidos no site do INEP: ou privada (INEP, 2007b). A tabela 2 identifica a atual http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/funcional/busca_instituicao.stm representatividade numérica das IES por organização A maioria das IES está concentrada na região acadêmica nas cinco regiões brasileiras: sudeste do país, fato que é resultado do maior desen- A evolução das IES entre os anos de 1997 a 2005 volvimento econômico e concentração de população é distinta. Enquanto o número de instituições públicas em relação às outras regiões brasileiras. Somente a se mantém praticamente estável, o número de institui- capital e região metropolitana do Estado de São Paulo, ções privadas vem crescendo ano a ano, contribuindo consideradas os maiores pólos de negócios da Améri- para o aumento do número de IES no Brasil. (tabela ca Latina, concentra-se cerca de 30% de todos os inves- 3): timentos privados em indústria em território nacional Com a evolução das instituições privadas entre (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2007). Segundo os anos 1997 a 2005, a linha que representa o número dados da Federação das Indústrias do Estado de São total de IES no gráfico 2 segue em constante cresci- Paulo (Fiesp), são 155 mil indústrias que representam mento 34% do PIB industrial brasileiro (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2007). Também nesta região concentra- se a maior parte do setor de serviços e do comércio no Brasil, representando cerca de 54%. Assim, nesta CRIAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS CENTROS região a demanda por ensino tem encontrado no se- UNIVERSITÁRIOS tor privado uma proporção maior de resposta do que em outras regiões, que ainda dependem mais do setor É estendida aos Centros Universitários – CEU’s público. Justifica-se, assim, a maior quantidade de IES credenciados pelo Ministério da Educação a autono- privadas nessa região, observado no gráfico 1. Em mia das Universidades para criar, organizar e extin- outros termos, o desenvolvimento constante da indús- guir cursos e programas de educação superior, assim tria, do comércio e dos serviços, demanda recursos como remanejar ou ampliar vagas nos cursos existen-

162 SEGUNDA PARTE

Tabela 2 – Quantidade de IES credenciadas no Brasil, divididas por região e por organizações acadêmicas CENTRO- NORTE NORDESTE SUL SUDESTE CATEGORIAS: OESTE Público Privado Público Privado Público Privado Público Privado Público Privado 12 1 51 Universidades 28 6 9 5 17 22 28 Centros - 8 - 3 - 11 2 17 4 79 Universitários Faculdades - 5 - 8 1 19 - 9 3 73 Integradas 653 Faculdades 1 90 17 272 3 165 15 222 31 Faculdades de 2 5 2 21 - 11 3 55 30 66 Tecnologia Institutos ou Escolas - 21 4 70 1 36 - 46 10 151 Superiores Centros de Educação 3 - 10 - 5 - 4 - 11 - Tecnológica TOTAL: 18 130 61 380 19 247 41 371 117 1073 Total no Brasil: 2457 Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados obtidos no site do INEP:http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/funcional/busca_instituicao.stm

Gráfico 2 – Evolução do número de IES públicas e privadas no Brasil 1997 – 2005

2500 T o t al de IES

2013 2165 1859 2000 1934 1637 P riv ada 1789 1500 1391 1652 1180 1442 1097 973 1208 1000 900 1004 905 764 689 P úblic a 500 231 211 209 192 176 183 195 207 224 0 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados obtidos no site do INEP: http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/funcional/busca_instituicao.stm

Tabela 3 – Evolução dos números de IES tes, incluindo as atividades de pós-graduação. públicas e privadas no Brasil de 1997 – 2005 O Art. 6º do Decreto-Lei Nº 2.207, de 15 de Abril de 1997, estipula os Centros Universitários como ins- tituições de ensino superior pluri-curriculares, abran- TOTAL ANO PÚBLICA PRIVADA gendo uma ou mais áreas do conhecimento, que se GERAL caracterizam pela excelência do ensino oferecido, 1997 211 689 900 comprovada pela qualificação do seu corpo docente 1998 209 764 973 e pelas condições de trabalho acadêmico oferecidas à 1999 192 905 1097 comunidade escolar. 2000 176 1004 1180 2001 183 1208 1391 Hoje no Brasil há 124 CEU’s, sendo 118 de na- 2002 195 1442 1637 tureza privada e seis de natureza pública. Mais uma 2003 207 1652 1859 vez, a região sudeste se destaca concentrando 68% 2004 224 1789 2013 2005 231 1934 2165 dos CEU’s brasileiros. Em seguida vem a região sul Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados obtidos em: http:// representando 15% das instituições (gráfico 3). www.educacaosuperior.inep.gov.br/funcional/busca_instituicao.stm Em pesquisa no INEP para o ano de 2005, foram identificados CEU’s em 18 estados brasilei- ros, como mostra a tabela 4. É muito interessante observar que dos 124 centros existentes, 79 estão

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concentrados na Região Sudeste, ou seja, mais de sumida como: 60% das instituições criadas nesta modalidade res- • Os lato sensu são considerados como cursos pondem de forma rápida ao crescimento da deman- de “especialização”, mais direcionados à atuação da nas regiões de maior renda per capita do país. profissional e atualização dos bacharéis. Não estão necessariamente ligados à pesquisa, mas tão somen- Gráfico 3. Quantidade de Centros Universitários nas te à qualificação de pessoal já graduado. Têm carga regiões brasileiras horária mínima de 360 horas e se encontram nesta categoria os cursos de especialização e os cursos de

6% 2% aperfeiçoamento. Os cursos de especialização tam- 9% bém podem ser designados como MBA, do inglês Norte Master in Business Administration, ou mestrado em

administração de empresas, cuja definição nosEUA é 15% Nordeste Centro-Oeste equiparável aos mestrados no Brasil. Os MBAs são Sul os mais populares por atender uma demanda crescen- Sudeste te por conhecimento nas organizações modernas. 68% • Os stricto sensu são cursos voltados à forma- ção científica e acadêmica e estão intimamente ligados à pesquisa. Existem nos níveis do mestrado e dou- Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados obtidos no site do INEP: http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/funcional/busca_instituicao.stm torado. O curso de mestrado tem a duração média recomendada de dois a dois anos e meio, durante os Tabela 4 – Centros Universitários por Estados segundo a quais o aluno desenvolve uma dissertação e cursa as natureza jurídica disciplinas relativas à sua pesquisa, cujos resultados Natureza Jurídica Estado são publicados em uma dissertação. O conhecimento Privada Municipal Estadual Amazonas 4 - - adquirido não tem necessariamente que ser inovador Bahia 1 - - ou trazer um avanço significativo ao conhecimento, Distrito Federal 4 - - Espírito Santo 3 - - bastando o candidato demonstrar um bom trânsito nas Goiás 3 - - teorias, metodologias ou métodos e ensaios de pesqui- Maranhão 1 - - sa, em uma determinada área de conhecimento. Os Mato Grosso 2 - - Mato Grosso do Sul 2 - - doutorados têm a duração média desejada entre três Minas Gerais 16 - - e quatro anos, para o cumprimento das disciplinas, Pará 2 - - Paraíba 1 - - realização da pesquisa e para a elaboração da tese. Paraná 7 1 - Uma tese carrega um marco teórico aprofundado, um Rio de Janeiro 15 - 1 Rio Grande do Sul 6 - - domínio da forma de pesquisa tradicional na área e Roraima 1 - - traz como resultado um conhecimento inovador. Santa Catarina 4 1 - São Paulo 45 3 - Os cursos de mestrado têm o objetivo de iniciar Tocantins 1 - - o candidato na atividade de pesquisa básica ou aplica- TOTAL: 118 5 1 TOTAL DE CENTROS da, capacitando-o também ao bom desempenho das UNIVERSITÁRIOS: 124 atividades de ensino nos cursos de graduação e prepa- rando profissionais diferenciados para o mercado de Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados obtidos no site do INEP: http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/funcional/busca_instituicao.stm trabalho. No Brasil, o mestrado tem duas modalida- des: acadêmico e profissional. O CONCEITO DE PÓS-GRADUAÇÃO STRIC- O Mestrado Acadêmico tem por objetivo prepa- TO SENSU rar o aluno para a pesquisa científica. A área de co- No campo do ensino, o Centro Universitário tem nhecimento normalmente é focada em uma área de praticamente as mesmas prerrogativas que a Univer- concentração do programa atendido pelo estudante e sidade. No entanto, sem a pesquisa sistemática, nor- constitui-se em um sub-conjunto da área profissional, malmente identificada com os cursos de pós-gradua- ou seja, aquela estudada em todo um curso de gradua- ção Stricto Sensu, não há possibilidade de um Centro ção. Além de disciplinas mais avançadas, que incluem Universitário equiparar-se a uma Universidade, ao uma parcela significativa do levantamento bibliográfi- menos no plano das normas em vigor. Para as ativi- co e de trabalho de interpretação de textos e informa- dades de ensino e pesquisa de pós-graduação, o Con- ções qualitativas ou quantitativas, é desenvolvido um selho Federal de Educação segue a conhecida magis- trabalho de pesquisa científica, mesmo que seja em tral definição de Newton Sucupira para Lato Sensu e estágio intermediário em termos de preparo teórico Stricto Sensu. Esta definição é delineada a partir da e de aprofundamento metodológico. Espera-se que definição da nomenclatura utilizada para a formação ao final do curso o aluno tenha adquirido capacidade da estrutura da universidade brasileira e pode ser re- de desenvolver um trabalho de pesquisa relativamen-

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te autônomo, o que vai se consubstanciar em uma Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico Dissertação de Mestrado. Este trabalho caracteriza- - CNPq, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado se pela busca de referências, métodos e tecnologias de São Paulo - FAPESP e CAPES. Estas agências con- atuais e sua aplicação de forma não necessariamente cedem bolsas de doutorado no exterior. Mas esse nú- inovadora, mas sempre sistemática, utilizando méto- mero tende a decrescer. A prioridade das agências, dos aceitos pela comunidade acadêmica da área, com atualmente, é a concessão de estágios-sanduíche, isto a supervisão de um orientador, este necessariamente é, de períodos de seis meses a um ano letivo para que um Doutor. Espera-se também, a demonstração de o aluno de doutorado, matriculado no Brasil, entre em capacidade de redação de textos científicos. Esta ca- contato com centros avançados no exterior e faça con- pacidade é evidenciada, principalmente, pelo texto da tatos que depois desenvolverá. Usualmente, o estágio- dissertação. Mas, é também desejável a publicação ou sanduíche se dá durante o terceiro ano do curso. submissão de artigos em revistas indexadas e anais de congressos, durante e após o curso, o que eviden- ciará a importância da pesquisa realizada e seu reco- STRICTO SENSU nhecimento pelos especialistas. EVOLUÇÃO DO Mestrado Profissional é semelhante ao acadêmi- A pós-graduação é considerada uma das realiza- co em seus conceitos gerais. No entanto, o objetivo e ções mais bem sucedidas no conjunto do sistema de a forma de condução deste curso são orientados para ensino existente no país (PNPG, 2004). Com o desen- o estudo e solução de problemas reais do ambiente volvimento da comunidade acadêmica nacional, o de- onde o curso tem seu objeto de investigação. A dis- sempenho da pós-graduação passa a ser considerável sertação de mestrado acadêmica é substituída por um no aumento da oferta de cursos de Mestrado e Dou- trabalho de conclusão no qual deve ser demonstrada torado. Para a expansão do sistema de pós-graduação, a competência do mestrando na resolução de proble- pede-se cada vez mais que os esforços empreendidos mas reais com métodos e técnicas atuais. Não está pela comunidade científica sejam contínuos em qua- excluída a possibilidade do mestrando desenvolver lidade. uma dissertação no Mestrado Profissional. Destina-se A expansão e consolidação da pós-graduação a profissionais que atuam em empresas, instituições stricto sensu em todas as áreas de conhecimento e re- públicas ou em atividades que demandam um tipo de giões do país é o principal objetivo da CAPES. Num preparo mais afeito à prescrição de soluções do que período de dez anos, é possível constatar que os nú- propriamente de indagação científica. Em princípio meros de cursos estão em constante crescimento. é um curso terminal e, apesar de ser possível a con- Conforme apresentado na tabela 5, em 1997 o Brasil tinuação dos estudos, não é aconselhado para quem contava com 1874 cursos reconhecidos pela CAPES. deseje prosseguir em direção à obtenção de um título Atualmente esse número é superior ao dobro dos cur- de Doutor. sos oferecidos na década de 90, chegando a 3840 cur- O Doutorado é um processo de aprendizagem sos reconhecidos (gráfico 4). O número dos cursos de que envolve um forte componente teórico e de inves- Mestrado é maioria em relação ao doutorado (gráfico tigação científica. O seu objetivo é preparar o candi- 5). De qualquer maneira, tanto Mestrado quanto Dou- dato para as atividades de ensino e pesquisa de alto torado têm crescimento desde 1997. desempenho. Obtém-se com a conclusão de créditos Embora fora de sua missão centrada eminente- de disciplinas e com a defesa de uma tese, que deve mente na área de ensino, os Centros Universitários ser um trabalho original ou inovador em termos do também vem contribuindo para o desenvolvimento conhecimento adquirido. Nas Universidades, os cur- da Pós-Graduação. O oferecimento de Mestrado e sos de Doutorado estão normalmente precedidos de Doutorado nesse tipo de organização acadêmica é en- programas de mestrado, sendo estes mais restritos contrado em todas as regiões brasileiras (tabela 6), em termos de demanda por conhecimento. contribuindo também para a expansão da pesquisa. O Brasil hoje está relativamente maduro no de- senvolvimento de programas de doutorado, o que é uma realidade recente. De fato, até os anos 1970, os doutores eram em grande número formados no exte- A CAPES E O SISTEMA DE AVALIAÇÃO rior. Incentivos eram gerados para a ida de brasileiros STRICTO SENSU ao estrangeiro para se doutorarem. Nos anos 1980 e 1990 a pós-graduação brasileira adquiriu maturidade, O Ministério da Educação é o órgão responsável com a implantação de cursos de doutorado na maioria pelo estabelecimento da política nacional de educação das áreas de ciências fundamentais e aplicadas. Para por meio do Conselho Nacional de Educação - CNE, este processo de formação de doutores, três grandes instância com representação do estado, governo e so- agências de fomento brasileiras foram fundamentais: ciedade civil. Cabe ao MEC, entre outras importan-

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Tabela 5 – Evolução do número de cursos de Pós-Graduação stricto sensu (PPSS) 1997 -2007 PPSS NO MESTRADOS DOUTORADOS ANO M D M/D F M/F D/F M/D/F M D BRASIL EM CEU’s EM CEU’s 1997 648 26 600 - - - - 1874 1248 626 - - 1998 510 25 757 - 05 - 19 2092 1291 801 - - 1999 603 27 762 05 08 - 19 2205 1397 808 - - 2000 661 30 772 11 07 - 19 2291 1470 821 - - 2001 561 29 883 29 05 - 44 2478 1522 956 05 - 2002 661 32 891 51 05 - 44 2619 1652 967 09 - 2003 766 35 907 62 06 - 44 2771 1785 986 12 - 2004 768 33 1025 118 - - 01 2971 1912 1059 14 - 2005 834 33 1064 133 - - - 3128 2031 1097 26 - 2006 925 39 1146 157 - - - 3413 2228 1185 39 - 2007 1082 75 1227 229 - - - 3840 2538 1302 59 01 M: Mestrado / D: Doutorado / F: Profissionalizante Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados obtidos no site da CAPES: http://ged.capes.gov.br/AgDw/silverstream/pages/ frPesquisaColeta.html

Gráfico 4 – Evolução do número de cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu (PPSS) 1997 – 2007 3840 3413 3128 2971 2771 2478 2619 2205 2291 2092 1874

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

númer o de Cur sos

Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados obtidos no site da CAPES: http://ged.capes.gov.br/AgDw/silverstream/pages/frPesquisaColeta.html

Gráfico 5 – Evolução do número de cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu (PPSS) 1997 – 2007

Mestrado Doutorado

2538 2031 2228 1785 1912 1470 1522 1652 1248 1291 1397 1185 1302 956 967 986 1059 1097 626 801 808 821

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados obtidos no site da CAPES: http://ged.capes.gov.br/AgDw/silverstream/pages/frPesquisaColeta.html

Tabela 6 – Quantidade de Centros Universitários com cursos de Pós-Graduação reconhecidos pela CAPES NATUREZA QUANTIDADE JURÍDICA: DE CEU’s QUE REGIÃO: Pública Privada OFERECEM PPGS: MESTRADO: DOUTORADO: Norte - x 01 02 - Nordeste - x 01 02 - Centro-Oeste - x 03 04 - Sul - x 10 15 - Sudeste - x 23 36 01 Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados obtidos no site da CAPES: http://www.capes.gov.br/avaliacao/recomendados.html

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tes atribuições, regulamentar o Sistema Nacional de termos, o mestrado adotou um modelo de créditos Ensino Superior, um conjunto de instituições federais norte americano para o ensino e uma estrutura de de educação superior e instituições particulares. Não dissertações e exigências docentes equivalentes ao fazem parte deste universo, embora sigam as diretri- doutorado daquele país, o que se configura como uma zes do CNE, as instituições estaduais e municipais, distorção ainda a ser superada. particularmente por meio dos Conselhos Estaduais Como será visto a seguir, o conceito de desem- de Educação. Cabe à União manter as instituições penho utilizado é relativamente uniforme para todas federais públicas e regular o funcionamento das ins- as áreas de conhecimento, muito embora exista uma tituições privadas, de forma a garantir a qualidade da certa flexibilidade a ser exercida pelos comitês de educação superior no Brasil. Neste âmbito de respon- área. Esta flexibilização é fruto sobretudo de como sabilidades é que se insere a pós-graduação stricto cada área interpreta e valida a produção científica, o sensu. que surge pelo fato dos comitês são serem multidisci- A avaliação da pós-graduação brasileira é um plinares (o que já surgiu como proposta para homoge- tema muito controverso. Conforme aponta Santos neizar a avaliação entre as áreas). Há uma imposição (2003), o modelo brasileiro de pós-graduação é ex- muito grande dos grupos de maior exposição interna- tremamente dependente da produção intelectual dos cional sobre os critérios a todas as demais, tornando docentes, que surge como o principal critério de ava- a avaliação mais rigorosa, mas também trazendo dis- liação das propostas de novos cursos e da avaliação torções, sobretudo nas áreas de caráter mais tecnoló- sistemática dos cursos existentes, tanto no mestrado gica. As filosofias de governo também se fazem pre- como no doutorado. A rigor, quanto maior a produção sentes quando impõem certas pontuações a fatores de e a abrangência regional, nacional e internacional, distribuição regional e também na forma de encarar maior o conceito dado ao curso. A produção científica, a crescente participação do setor privado no setor por sua vez, sente uma forte influência do modelo nor- educacional, agora também penetrando na pós-gra- te-americano de pós-graduação, com a avaliação de duação. De fato, hoje já se fazem presentes pressões periódicos e outros critérios de pontuação, incluindo a de mercado como fruto da importância numérica do forma de “acreditação” utilizada naquele país e de cer- alunato destas instituições privadas, orientadas para ta forma seguida pela sistemática da CAPES. De fato, atender de forma mais rápida às demandas do mer- conforme aponta Romanelli (1993), houve uma forte cado de trabalho. Muitos argumentariam que a lógica influência americana, por meio da USAID – United de mercado não se aplica ao mundo do ensino e da States Agency for International Development, em todos pesquisa de alto desempenho, mas de fato a presença os níveis do sistema educacional brasileiro, principal- das universidades públicas brasileiras, absolutamen- mente a partir da década de 1960, tendo como campo te dominantes na área de pós-graduação e produção de penetração no Brasil o Instituto Tecnológico da científica, precisa ser repensada para o futuro. Aeronáutica – ITA e a hoje denominada Universida- de Federal do Rio de Janeiro. A Universidade de São Paulo, embora com influência européia em sua forma- A CAPES e o Sistema Nacional de Pós-Gra- tação inicial, acabou também por adotar os mesmos critérios de desempenho sugeridos pela USAID. Esta duação influência vai abraçar a filosofia de trabalho do MEC e de sua agência CAPES. No entanto, como bem aponta Em 11 de julho de 1951 foi criada a Coordena- Rosseti (1997), o sistema de avaliação tem uma for- ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior te exigência para a constituição de mestrados, ultra- (CAPES), com o intuito de promover um movimen- passando, em muito, aquelas utilizadas pelo próprio to nacional para o aperfeiçoamento e capacitação de sistema norte-americano. Ainda segundo este autor, profissionais nas mais altas esferas da ciência eda as exigências dos mestrados no Brasil nascem pela tecnologia (FERREIRA, 2001). Vários mecanismos falta de uma estrutura de doutorado nas várias áreas foram então utilizados: bolsas de estudos para mes- científicas, o que vai se consolidar somente nos anos tres e doutores no Brasil e principalmente no exterior, 80 e 90, com grande aceleração também no início do fomento à pesquisa básica e aplicada e a estratégica presente século. Apesar deste avanço, não há sinais formação de uma estrutura de pós-graduação Stric- de que o mestrado seria um curso terminal para a to Sensu no país, particularmente a partir da década formação profissional. Pelo contrário, as mesmas de 1970 (CAPES, 2007a). Subordinada ao Ministério exigências permanecem, apesar da instituição dos da Educação – MEC, a CAPES se constitui no órgão Mestrados Profissionais, que ao cabo de oito anos de responsável pela institucionalização de novos cursos e funcionamento estabelece ainda critérios de avaliação pela determinação dos padrões de desempenho e ava- tipicamente acadêmicos, por força das comissões de liação da qualidade dos Programas de Pós-Graduação avaliação das diferentes áreas científicas. Em outros Stricto Sensu, visando garantir a expansão e consolida-

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ção do ensino e da pesquisa em nível de excelência. tidos pelo presidente da CAPES; O Sistema Nacional de Pós-Graduação – SNPG, • Eleger seu representante no Conselho Supe- cujo órgão executor é a CAPES, está direcionado por rior três sistemas interelacionados: o Conselho Superior Finalmente, os Comitês de Área são comis- (CS), o Conselho Técnico Científico (CTC) e a os Co- sões de consultores acadêmicos, vinculados a IES’s mitês de Áreas ou Comissões de Consultores Cientí- de diferentes regiões do país, atuando em suas res- ficos (CA). pectivas áreas de competência no sentido de promo- O Conselho Superior é composto por quinze ver a avaliação dos Programas de Pós-Graduação em membros, representantes das mais diversas áreas andamento e das Propostas de Cursos Novos. Embora acadêmicas, profissionais e institucionais. Cabe ao CS com grau de autonomia relativa, um conjunto de crité- as seguintes atribuições: rios uniformiza o sistema de avaliação nas diferentes • Estabelecer prioridades e linhas gerais áreas de ensino e pesquisa. De uma forma geral, as orientadoras das atividades da entidade, a partir de atribuições destes comitês são: proposta apresentada pelo Presidente da CAPES; • Aplicar um padrão de qualidade para os cur- • Apreciar a proposta do Plano Nacional de sos de doutorado e mestrado, identificando os cursos Pós-Graduação PNPG, para em seguida ser encami- que atendem a tais padrões; nhada ao Ministro; • Seguindo a legislação e as diretrizes do CTC • Apreciar critérios, prioridades e procedimen- e do CS, fundamentar pareceres sobre a autorização, tos para a concessão de bolsas de estudos e auxílios; reconhecimento e renovação dos cursos; • Aprovar o relatório anual das atividades da • Contribuir para a evolução do SNPG por CAPES e a respectiva execução orçamentária; meio de antecipação de metas e desafios em cada área específica, fazendo expressar os avanços da ciência e • Definir o processo de indicação dos Coorde- da tecnologia pertinentes; nadores das Comissões de Consultores Científicos; • Expor em cada avaliação os pontos fortes e • Apreciar propostas referentes a alterações fracos de cada proposta de curso novo ou de cursos do Estatuto e do Regimento Interno da CAPES. em andamento, visando o aperfeiçoamento constante As competências estipuladas ao Comitê Técnico- das medidas de avaliação e do seu cumprimento por Científico são tipicamente mais técnicas e de coorde- parte das IES’s. nação da política, além de um papel de supervisão de Por meio destas três instâncias é que o sistema todo o processo de avaliação. De fato, o CTC atua na de avaliação da pós-graduação Stricto Sensu no Brasil execução da política de pós-graduação, interferindo é elaborado. diretamente na aprovação de medidas de avaliação e recomendação da CAPES. Suas atribuições específi- cas são: • Auxiliar a diretoria da CAPES na elaboração Sistema de Avaliação das políticas e diretrizes específicas de atuação; A CAPES é muito mais que uma instituição de • Colaborar na elaboração da proposta do Pla- avaliação de programas de mestrado e doutorado. Ela no Nacional de Pós-Graduação; atua na regulamentação, coordenação e fomento do • Opinar sobre a programação anual da CA- Sistema Nacional de Pós-Graduação. A avaliação é PES; uma de suas atividades relevantes, pois lhe confere • Opinar sobre os critérios e procedimentos um papel regulador de “polícia”, ao atuar decisiva- para a distribuição de bolsas e auxílio institucionais e mente na autorização e direcionamento dos cursos individuais; existentes ou em forma de proposta. Para tanto, a • Opinar sobre acordos de cooperação entre a CAPES fixa os seguintes objetivos estratégicos, ema- CAPES e instituições nacionais, estrangeiras ou inter- nados do CNE: nacionais; • Estabelecer o padrão de qualidade exigido • Propor critérios e procedimentos para o dos cursos de mestrado e de doutorado e identificar acompanhamento e a avaliação de pós-graduação e os cursos que atendem a tal padrão; dos programas executados pela CAPES; • Fundamentar sobre autorização, reconheci- • Propor estudos e programas para o aprimo- mento e renovação de reconhecimento dos cursos de ramento das atividades da CAPES; mestrado e doutorado brasileiros. • Opinar sobre assuntos que lhe sejam subme- Dentro destes objetivos, cumpre o aprimora- mento de cada programa de pós-graduação, assegu-

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rando-lhe o parecer criterioso de uma comissão de como cada área interpreta a qualidade da produção consultores sobre cada projeto pedagógico e de seu científica e do desenho de metas existente na sua di- desempenho. Vale salientar que a avaliação não cum- nâmica de conhecimento. pre somente com o papel de aumentar a eficiência dos programas, mas também no atendimento das necessi- dades regionais e setoriais de formação de recursos Os Critérios de Avaliação. humanos de alta qualificação. Para tanto, também como resultado das seguidas avaliações em todo o O processo de avaliação está em permanente território nacional, a CAPES passa a contar com um evolução, superando critérios e substituindo instru- amplo banco de dados sobre a situação e evolução da mentos, de forma incremental, ano a ano. De início há pós-graduação, o que tem servido para de subsídio às que destacar a existência de uma tensão permanente instituições públicas e privadas no desenho de suas entre questões acadêmicas e de produção científica e estratégias de atuação (CAPES, 2007b). o atendimento a demandas da sociedade por forma- O Sistema de Avaliação é conduzido por dois ção de profissionais em determinadas regiões ou seg- processos similares em seu conteúdo: a avaliação mentos do conhecimento. Em outros termos, há uma de cursos de pós-graduação já existentes e a ava- diferença notória entre a avaliação por processo e liação das propostas de novos cursos. Como de- avaliação por produto. finido acima, a avaliação é realizada inicialmente por Pode-se, por exemplo, simplesmente ignorar consultores acadêmicos e representantes de cada como certas metas são alcançadas em termos de pro- área científica, vinculados a instituições das diferen- dução sem se considerar como foram atingidas. Ao tes regiões do Brasil. focar num modelo misto de avaliação de processo e Como parte de um longo processo de institu- de produto, mas com tendência maior para o último cionalização do conhecimento científico gerado pela critério, o sistema tem gerado insatisfações daqueles pós-graduação, a avaliação de cursos direciona as ins- que defendem maior autonomia e flexibilidade para a tituições através do desenvolvimento e aplicação de criação científica e artística. Sob a ótica de resultados critérios e instrumentos variados (DAVYT; VELHO, e não de processos, a avaliação de programas tende a 2000). A avaliação dos programas e dos cursos de ser interpretada como sendo a favor de interesses da pós-graduação que compõem o Sistema Nacional de mercantilização do ensino, pois supõem que os ins- Pós-Graduação – SNPG se caracteriza pelo acompa- trumentos enfatizados encobrem a relação custo/be- nhamento anual e pela avaliação trienal. Além da nefício tão somente. Este é o argumento de Mollis & estrutura da proposta, é avaliado o desenvolvimento Bensimon (1995) quando atestam que a avaliação do e o desempenho acadêmico do programa. O sistema Estado é um compromisso entre forças que defendem de avaliação é um misto de apreciações qualitativas e o ensino público e as relações de mercado, cada vez quantitativas, atribuindo-se uma nota final, dentro da mais presentes na educação. Este argumento é válido escala de 1 a 7. O CNE estipula que a partir da nota na medida em que pondera que a presença de interes- 3 é deliberado o reconhecimento ou a renovação aos ses conflitantes de fato geram mudanças profundas na programas e cursos para vigorarem no triênio subse- forma de avaliação, em qualquer parte do mundo. No qüente. entanto, se esta premissa é verdadeira, o seu corolário Para os cursos novos, a Comissão de Avaliação não o é: a perda de autonomia das IES, em especial de cada área examina se a proposta do programa cum- das públicas. Fica patente que o CNE tem que tratar pre ao padrão de qualidade requerido pela CAPES. A de uma pluralidade de interesses acadêmicos, institu- atribuição da nota também está na escala de 1 a 7, cionais, setoriais e regionais, chegando a legislação a sendo a nota 3 o valor mínimo considerado para a de- um consenso senão ideal para o país, ao menos relati- liberação do CTC e do CNE como curso ou programa vamente válido em uma democracia. O que de fato se reconhecido e, assim, incorporado ao Sistema Nacio- coloca é que dentro do jogo democrático, a pressão nal de Pós-Graduação (CAPES, 2007b). política (DÍAZ BARRIGA, 1994) e o poder burocráti- É possível existir múltiplos objetivos para uma co devem ser controlados (FOLLARI, 1994). Especi- avaliação. De qualquer maneira, a avaliação é o instru- ficamente na pós-graduação, embora estas questões mento que permite obter, de imediato, uma visão mais estejam presentes, há um consenso de que a CAPES, ampla da oferta de cursos em um determinado siste- embora sofrendo pressões de todas matizes, tornou o ma educacional. Portanto, as avaliações devem ser sistema suficientemente forte, mas também flexível, realizadas nas mesmas proporções segundo os mes- que chega hoje a ser incontestável como autoridade mos critérios entre todos os cursos ou programas, por pela comunidade acadêmica. mais diferentes que eles sejam (PNPG, 2007). Uma Da forma como está estabelecida, a avaliação margem de flexibilidade é deixada por conta da forma da pós-graduação brasileira gera relatórios externos

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e trabalhos de auto-avaliação que permitem o debate esta ponderação. sobre a qualidade do ensino internamente e externa- Corpo Docente e Produção Intelectual são mente, criando métricas e instrumentos que aos pou- critérios tipicamente quantitativos, sendo que cada cos vão sendo assimilados para uma boa medida de área tem uma flexibilidade de ponderar a qualidade potencialidades e restrições de cada curso. das mídias de publicação e os pesos específicos de Por meio deste desenvolvimento incremental, os qualificação docente. No limite, embora com quesitos critérios gerais utilizados pela CAPES para avaliação que podem ser considerados de processo como, por da pós-graduação Stricto Sensu são os seguintes: exemplo, o tempo de dedicação do docente às ativida- • Proposta do Programa: consistência da des de pesquisa ou a forma como esta está estrutura- área de concentração com linhas de pesquisa e gra- da em cada IES, predominam nestes critérios quesi- de curricular; adequação do corpo docente; objetivos tos de avaliação por produção: formação e titulação gerais e específicos; infra-estrutura laboratorial e de acadêmica, número de artigos e textos publicados, bibliotecas; e outros de menor peso específico. eventos científicos assistidos, entre outros. -Há ca sos onde o que aparenta num primeiro momento ser • Corpo Docente: qualificação e especiali- avaliação por produção, como é o caso de eventos zação acadêmica; contrato de trabalho em regime científicos atendidos, acaba por ser incluído em itens integral; tempo para dedicação à pesquisa; produção específicos de avaliação por processo, entendendo, intelectual; experiência em pesquisa e orientação; neste exemplo, que um evento é mais uma forma de experiência em gestão educacional; outros de menor formação de redes e de troca de conhecimento do peso. que propriamente um produto final, mesmo quando • Corpo Discente: processo seletivo; volume da apresentação de trabalhos científicos. Estes dois de candidatos por vaga; produção intelectual; teses e critérios somados representam, na maioria dos casos, dissertações concluídas; tempo médio de formação. entre 60% e 70% do total de pontos atribuídos para a • Produção Intelectual: artigos em periódi- avaliação de propostas de novos cursos e de cursos já cos científicos, preferencialmente os indexados; livros reconhecidos. Existem áreas que tendem a valorizar e capítulos de livros; participação em congressos, mais a produção intelectual (35% em administração), simpósios e seminários científicos; outras produções mas na maioria dos casos é uma ponderação similar de menor valor como entrevistas, relatórios técnicos, em cada caso. textos de divulgação, etc. Finalmente o critério Corpo Discente também • Inserção Social: pertinência da proposta tende a ter uma ponderação quantitativa e por pro- no contexto social e educacional em que se insere; duto, pois as métricas são o número absoluto e relati- demanda por profissionais e pesquisadores na área vo de defesas, o tempo médio de permanência no cur- de concentração proposta; potencial de ampliar o am- so, a produção intelectual do discente, a relação entre biente científico e acadêmico na região ou no ambien- candidatos e número de estudantes selecionados, te social, econômico e cultural, em geral. entre outros. Existem quesitos quantitativos que são É interessante observar que estes critérios ge- tipicamente de avaliação por processo neste critério, rais estão presentes em todos os segmentos acadêmi- como por exemplo, o número de doutores externos à cos com presença na pós-graduação brasileira, inde- IES que participam de bancas. pendentemente da região, área de atuação ou perfil da Conforme o levantamento feito e exposto na IES. Neste sentido, a presença da CAPES impõe um Tabela 7, dependendo fundamentalmente do campo sistema bastante uniforme de avaliação, com critérios acadêmico considerado, estes critérios podem ser fle- universais. Mas, algumas ponderações adicionais se xibilizados. O estágio atual dos critérios são utilizados fazem necessárias para mostrar que existe flexibili- pelas diferentes áreas de conhecimento. Observa-se dade. Há que se estabelecer o sentido maior de cada que as regras gerais acima apontadas são relativa- critério em termos de seu objetivo de avaliar por pro- mente uniformes em todos as áreas. No entanto, há duto ou por processo. Em um primeiro apanhado, os que se observar que algumas áreas, como Biologia II critérios Proposta do Programa e Inserção Social e Ecologia e Meio Ambiente, por exemplo, dão pesos são eminentemente qualitativos, tendendo fortemen- específicos para a forma como a atividade de pesquisa te para a avaliação por processo. À Proposta do é executada e para a qualidade das dissertações. Já Programa, via de regra, não é dado um valor quanti- a área de Ensino de Ciências e Matemática introduz tativo, cabendo simplesmente uma apreciação qualita- ponderações em critérios de processo e pesos especí- tiva que pode ser eliminatória; uns poucos casos são ficos em teses e dissertações. Mas, excluindo estas e feitas ponderações quantitativas, que variam de 5% a algumas outras algumas exceções, os critérios utiliza- 15%. A Inserção Social normalmente tem um peso dos pela CAPES tendem a ter uma uniformidade rela- de 10% a 20%, mas não existem métricas precisas para

170 SEGUNDA PARTE ------10 10% 10% 10% 10% 10% 10% 30% 10% 10% 10% 10% 10% 10% 10% 10% 10% 10% 10% 10% MB / F MB / F Social Somente Inserção nível 6 e 7 Qualitativa Qualitativa Quantitativa Ponderação Ponderação F = Fraco 35% 30% 35% 30% 30% 30% 30% 30% 30% 30% 30% 35% 35% 35% 35% 30% 30% 30% 35% 30% 30% 35% 30% MB / F MB / F Produção Qualitativa Intelectual Quantitativa Ponderação Ponderação Ponderação Ponderação Ponderação Ponderação Ponderação - - - 25% 30% 25% 30% 30% 30% 30% 30% 35% 30% 30% 30% 30% 30% 30% 30% 30% 25% 30% 35% 25% 30% Corpo MB / F MB / F Teses e Teses Discente, Qualitativa Quantitativa Ponderação Ponderação Ponderação Ponderação Ponderação Dissertações MB = Muito Bom 30% 30% 30% 30% 30% 20% 30% 30% 30% 20% 30% 25% 25% 25% 25% 30% 30% 25% 30% 30% 25% 30% 30% Corpo MB / F MB / F Docente Qualitativa Quantitativa Ponderação Ponderação Ponderação Ponderação Ponderação Ponderação Ponderação - 15% Programa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Qualitativa Quantitativa Ponderação Ponderação Ponderação Proposta do Tabela 7 – Critérios de Avaliação no Triênio 2004 – 2006 no Triênio Avaliação 7 – Critérios de Tabela Áreas Ponderação = Qualitativa/Quantitativa por nota Administração, Ciências Contábeis e Turismo (cursos acadêmicos) Turismo Administração, Ciências Contábeis e Arqueologia Antropologia e Arquitetura e Urbanismo (engloba programas em design) Artes/Música Astronomia/Física Ciência Política e Relações Internacionais Agrárias I, Zootecnia e Recursos Agrárias (Ciências Grande área Ciências Alimentos) de Tecnologia e Ciência Pesqueiros, Medicina Veterinária Ciências Biológicas I Ciências Biológicas II Ciências Biológicas III Ciências da Saúde/Grande Área (Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Medicina I, II, III, Odontologia e Saúde Coletiva) Alimentos de Tecnologia Ciências e Aplicadas I (Comunicação/Ciência da Informação/ Ciências Sociais Museologia) Direito Ambiente Ecologia/Meio Educação Engenharias I Engenharias II Engenharias III Engenharias IV Ensino de Ciências e Matemática Teologia Filosofia/Teologia:subcomissão Filosofia Filosofia/Teologia:subcomissão Geociências Geografia História Letras/Lingüística Matemática/Probabilidade e Estatística Planejamento Urbano-Regional e Demografia Psicologia Química Serviço Social Sociologia Zootecnia e Recursos Pesqueiros Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados obtidos no site da CAPES: http://www.capes.gov.br/avaliacao/criterios/avaliacao_trienal_2007.html

171 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

tivamente grande, cabendo a apreciação do Comitê de tina, 1994. Área um papel decisivo em adequar todo o sistema às FERREIRA, M. M.; MOREIRA, R. L. CAPES 50 especificidades de cada área. anos: depoimentos ao CPDOC/FGV. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, CPDOC; Brasília, DF: CA- PES, 2003. 343p. CONCLUSÕES FOLLARI, R. Los retos del sigloXXI ante el Es- tado Evaluador. In: Puiggrós & Krotsch, 1994 (Eds.) Este capítulo tratou especificamente da atividade Universidad y Evaluación: Estado del Debate. de Pós-Graduação stricto sensu – SS que são ofere- Buenos Aires, Rei Argentina, 1994. cidas nos CEU’s. Para tanto, os conceitos fundamen- tais relacionados aos cursos de SS foram definidos. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E Ademais, foi feito um mapeamento da evolução de da PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA forma como são implementados. Os dados compro- (INEP). Lula cita números para mostrar o de- vam que esta evolução é muito grande nos últimos senvolvimento da educação. 2007a. Disponível em: dez anos, justamente no momento em que os CEU’s . Acesso em: 03 out. 2007. superior. Mesmo sem a obrigatoriedade de estrutu- rar cursos de pós-graduação SS há nos anos recentes ______. SINAES. 2007b. Disponível em: uma participação dos CEU’s neste nível de formação. . Acesso No que tange à implementação deste tipo de formação em: 11 setembro de 2007. nas IES, o capítulo destaca o papel e a forma de atu- LOBO, Y. L. A construção e definição de po- ação da CAPES, responsável pela regulamentação e líticas de pós-graduação em educação no Brasil: avaliação do Sistema de Pós-Graduação stricto sensu a contribuição de Anísio Teixeira e de Newton Sucu- no Brasil. O presente estudo também apresentou-se pira. Rio de Janeiro: PUC, 1991. (Tese de Doutorado). como norteador para eventual implementação de cur- 214p. sos e programas de Mestrado e Doutorado nos Cen- MOLLIS, M.; BENSIMON, E. Crisis, calidad tros Universitários, contribuindo ao avanço do ensino yvaluación de la educación superior desde una pers- da pós-graduação brasileira dentro de dois marcos da pectiva comparada: Argentina y Estados Unidos. XIX CAPES: “qualidade e a flexibilidade, ou ainda flexibili- LASA Congress, Washington D.C., 1995 (Mimeo). dade com qualidade”. PNPG. PLANO NACIONAL DE PÓS-GRA- DUAÇÃO 2005-2010. 2004. Disponível em: . Acesso em: BOMENY, H. Newton Sucupira e os rumos 28. set. 2007. da educação superior. Brasília: Paralelo 15; CAPES, Prefeitura de São Paulo. Abrindo os trilhos para 2001. 126p. (Biblioteca Anísio Teixeira: série Biogra- a locomotiva. 2005. http://www.prefeitura.sp.gov. fias) br/portal/a_cidade/historia/index.php?p=4827>. COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMEN- Acesso em 07.mai.2007. TO DE PESSOAL DE NÍVEL TÉCNICO (CAPES). ROMANELLI, O.O. História da educação no História e missão. 2007a. Disponível em: . Acesso em: ROSSETI, F. Existência do mestrado é questio- 30 abr. 2007. nada. Folha de S. Paulo, São Paulo, 21 nov. 1997. ______. Avaliação da Pós-Graduação. 2007b. SANTOS, C. M. Tradições e contradições da pós- Disponível em: . Acesso em: 28 set. 2007 . No. 83 – Campinas Aug. 2003. DAVYT, A.; VELHO, L.. A avaliação da ciência e TORLINI, I. M. In search of elementary edu- a revisão por pares: passado e presente. Como será cation: the case of . London: Institute of Edu- o futuro?. História, Ciência, Saúde-Manguinhos. cation/University of London, 1997. (Tese de Douto- Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p. 93-116, mar/jun 2000. rado). DIAZ BARRIGA, A. La evaluación universitaria en el contexto del pensamiento neoliberal. In: Puig- grós & Krotsch, 1994 (Eds.) Universidad y Evalua- ción: Estado del Debate. Buenos Aires, Rei Argen-

172 SEGUNDA PARTE

PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA: O AVANÇO SUSTENTADO 35 José Rubens Lima Jardilino(*)

INTRODUÇÃO quando assinalou que o poder governamental de Kö- nigsberg deveria limitar-se à influência dos homens Falar sobre a instituição educacional chamada de de negócio e dos técnicos da ciência, submetendo Centro Universitário implica refletir sobre a história seus enunciados à jurisdição da Faculdade de Filo- de uma jovem instituição, que tem pautado, com avan- sofia, que, segundo o filósofo, apesar de pertencer à ços e recuos, a dinâmica do acelerado crescimento do escala classificatória de poder inferior, é a única apta a ensino superior no país, num breve percurso de apro- julgar com plena liberdade. Isso talvez nos leve a uma ximadamente dez anos. Certamente, ao fazer isso, to- constatação de que o que Kant concebia como Uni- marei partido, firmarei posições acerca da trajetória versidade era o lugar da mais fiel pureza do discurso dessa instituição recente, enfim portar-me-ei de um teórico, e que essa instituição teria tão somente um lado, à direita ou à esquerda dela. Como um dos par- interesse: a verdade. Dessa maneira, possivelmente ticipantes da construção dessa história36 , falarei do caiba, também neste trabalho, a intenção de Derrida: nosso cotidiano universitário, das nossas idiossincra- ”eu pensava sobretudo na necessidade de despertar sias, o que poderá suscitar reações diversas. Se assim ou de re-situar uma responsabilidade na universidade acontecer, terei cumprido, em parte, minha tarefa: a ou perante a universidade, fazendo-se ou não, parte de contribuir com o profícuo diálogo que se estabele- dela” (1999, p.146) ce, hoje, em torno do papel das instituições universi- Aqui também nos referimos ao Centro Universi- tárias, não só nas esferas acadêmicas, como também tário, uma instituição universitária que, por ser ainda em todas as instâncias envolvidas com a questão edu- jovem, é completamente diferente daquela tradicional cacional deste país. Meu ponto de partida serão as que Derrida e Kant analisaram e freqüentaram. Após experiências por mim vivenciadas no interior de um uma década de sua implantação, a discussão sobre a Centro Universitário, na condição de professor e de pertinência histórica dessa instituição e seu conse- gestor. Empreendo a análise, tentando não perder de qüente desenvolvimento no âmbito da Graduação e da vista o conselho de Derrida (1999) de que a universi- Pós-graduação, sem dúvida alguma, traduz-se numa dade não deve deter nenhum poder, se quiser manter importante peça da nova taxionomia do Ensino Supe- seu direito de julgar. A advertência faz lembrar Kant37, rior no Brasil.

35 As idéias expostas neste capítulo foram organizadas tendo como Discutir a importância da pesquisa e da pós- base e matriz as reflexões que fizemos em outros momentos sobre os Centros graduação foi um enfoque que nunca abandonamos, Universitários, sobre sua autonomia, sua inserção na pesquisa, além das ques- tões sobre financiamento, que aqui não foram exploradas (cf. Jardilino, J.R.L. & desde a origem do Centro Universitário (Jardilino & Storopoli, E. Pesquisar ou não pesquisar? Eis a questão para os Centros Univer- Storopoli, 2001). Portanto, neste trabalho, trataremos sitários na Formação Superior no Brasil. In. Ensino & Sociedade. ANUP, Ano 1, n 1, Brasília, 2001; Jardilino, J.R.L. A questão do financiamento da universidade de questões dessa Instituição Universitária, conside- brasileira: setores público e privado numa equidade de sistemas. In. Revista Bra- rando aspectos da sua responsabilidade no processo sileira de Políticas e Administração da Educação, v 19, n 12. ANPAE, Piracicaba, SP, 2003; Jardilino, J.R.L. The University Reformation in Brazil: contributions for formativo do cidadão, quer seja na graduação, quer the debate on the Latin American University Reforms. In. Annual Conference of seja na pós-graduação, num percurso de análise que the Society for Latin American Studies (SLAS) University of Derby, Derby, U.K –2005 Symposium: History and Prospective of the Latin American University). vai da “excelência no ensino” à “excelência na forma- (*) Bacharel em Teologia, Licenciado em Filosofia, Mestre em Ciências ção”. Reafirmaremos aqui o “ideal” da insociabilidade da Religião, Doutor em Ciências Sociais. É professor titular do Departamento de entre ensino, pesquisa e extensão para qualquer insti- Educação do Centro Universitário Nove de Julho, atuando no PPGE/Uninove desde sua fundação, pesquisando e orientando nas linhas de Políticas Educacio- tuição universitária, seja ela autônoma, seja tutelada. nais e Formação de Professor. Considerando esses aspectos, certamente vamos con- trariar algumas das proposições sobre os Centros e o 36 Atuo na Instituição de Ensino Superior do setor privado desde 1988, na docência (graduação e pós-graduação), na extensão universitária e na pesqui- seu sucessivo debate, desde o seu nascimento. sa. Mais recentemente, de 2000 a 2007, pude vivenciar experiências de gestão como diretor de departamento e pró-reitor acadêmico. Partimos da discussão da autonomia da institui- 37 A citação, de segunda mão (apud Derrida, 1999), é sobre o impor- ção universitária como “licença” de status acadêmico, tante escrito de Kant “o conflito das faculdades”, no qual reconhece a divisão de poder das faculdades, denominando-as de faculdades superiores (a Medicina, o politicamente concedido, pela qual é possível compre- Direito e a Teologia) e faculdade inferior (Faculdade de Filosofia). Conforme Derrida, a primazia da Faculdade de Filosofia, subvertendo a hierarquia apresen- tada por ele, dava-se não pela questão do poder, mas pela primazia do saber. Nas o detém (o Governo), que encontraria assim, na liberdade da faculdade de filosó- palavras do autor: “Assim, poder-se-ia um dia chegar a ver os últimos tornarem-se fica e na sabedoria que lhe adviria dela, bem mais do que sua própria autoridade os primeiros, não para o exercício do poder, mas para dar conselhos àquele que absoluta, meios para atingir os fins” (Derrida 1999, p.110)

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ender o grande sucesso dos Centros Universitários Autonomia universitária: perspectiva histó- no sistema educacional brasileiro. Posteriormente, rico/conceitual pretendemos discutir o que significa para uma insti- tuição educacional ser considerada uma “Universida- Embora a primeira imagem que nos chega da de de Ensino”, para depois abordar a questão central idéia de Universidade não esteja associada propria- deste texto, qual seja a relação entre a pesquisa e a mente ao nascimento das Instituições de ensino, a pós-graduação, como avanço sustentado dos Centros. análise dessas últimas passa por essa tradição. Por Por fim, apresentaremos algumas perguntas que te- isso retomemo-la brevemente. matizam o futuro dessa instituição de ensino, em no- A universidade surge, no século XI, ao final da vos contextos educacionais que se vislumbram após o barbárie, associada à idéia de urbanidade. Nasce dos completo atendimento à demanda advinda da chama- ideais de estudantes e professores – que formavam da “democratização” do ensino superior no país. uma comunidade dialógica - como um movimento de interesse coletivo e autônomo sem lugar, sem proprie- dades e sem poder local. Bem mais tarde, no decorrer O CENTRO UNIVERSITÁRIO E O DESIDE- dos séculos XV e XVI, perde sua autonomia carismáti- RATO DA AUTONOMIA NA INSTITUIÇÃO ca de movimento e se institucionaliza, ligando-se aos UNIVERSITÁRIA ideais do nascimento dos Estados. Como diz Mene- zes (2000,p.9): A questão da autonomia foi, ao longo da histó- A partir da Renascença ela é também um ria da instituição universitária, um dos aspectos mais marco na história do Estado moderno e das discutidos e almejados. Em todas as reformas pelas nações contemporâneas. A Inglaterra do sé- quais a instituição universitária passou, a autonomia culo XVII e a França do século XVIII ou a sempre se apresentou como o calcanhar de Aquiles. Alemanha do século XIX têm suas histórias políticas e econômicas associadas às de suas Por isso é emblemático que os Centros Universitários universidades. Na França napoleônica, a nasçam tendo como elemento prioritário a autonomia Université de France já foi criada para ser administrativa, financeira e didática, conforme atesta uma espécie de departamento de formação o artigo 12 do decreto nº 2.306: de quadros para o Estado” São Centros Universitários as institui- Dessa maneira, o ideal de Universitas autônoma ções de ensino superior pluricurriculares, logo vai se submetendo às amarras do poder religio- abrangendo uma ou mais áreas do conhe- so e político. Num primeiro momento, é domesticada cimento, que se caracterizam pela excelên- pela igreja medieval que, ao não permitir nenhum cia do ensino oferecido, comprovada pela pensamento não autorizado, seduz e enclausura a uni- qualificação do seu corpo docente e pelas versitas com o poder espiritual e material que detinha. condições de trabalho acadêmico ofereci- No segundo momento, e em conseqüência de sua do- das à comunidade escolar, nos termos das normas estabelecidas pelo Ministério de mesticação, deixa-se seduzir pelo outro poder que se Estado, da Educação e do desporto para instaura - o Estado Moderno -, para fugir de sua clau- o seu credenciamento. Fica estendida aos sura eclesiástica. Morre assim a idéia de Universitas Centros Universitários credenciados au- e nasce a Universidade. tonomia para criar, organizar e extinguir, Podemos afirmar que a idéia da Universidade em sua sede, cursos e programas de edu- está posta num carisma. Isto é, relaciona-se com o cação superior, assim como remanejar ou sentido próprio da relação que se estabelece entre ampliar vagas nos cursos existentes. Os mestres e estudantes que, com vistas à produção e à Centros Universitários poderão usufruir difusão do conhecimento, examinam e vasculham, de de outras atribuições da autonomia univer- sitária, além da que se refere o parágrafo forma crítica, processual e criativa, os problemas da anterior [art.12 SS 1º], devidamente defini- realidade (Almeida & Almeida 2004). Assim, Universi- das no ato de seu credenciamento, nos ter- tas não se refere a um estabelecimento físico de ensi- mos do parágrafo 2º do artigo 54 da Lei nº no, mas a um movimento intelectual dialógico e asso- 9.394 de 1996. [Cf. Art 12 e seus parágrafos ciativo entre mestres e estudantes. Talvez tenha sido do Decreto nº 2.306, 19/08/1997. - grifos com base nessa idéia que Paulo Freire tenha elabora- são nossos] do sua reflexiva frase/pensamento: “Ninguém educa Discutiremos, nos dois subitens que seguem, o ninguém, ninguém se educa sozinho, os homens se tema da autonomia, inicialmente, em sua perspectiva educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. histórica, para, em seguida, tratarmo-la numa dimen- Gosto de pensar a universidade como espírito de são didático-pedagógica e científica. sua época, ou como um Estado de Espírito, como bem

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escreveram os Almeida (op.cit.), um estado de espíri- Hoje, quando falamos de autonomia universitá- to que representa a grande herança do pensamento ria, estamos identificando o termo mais próximo ao racional, que se renova no tempo e que não se confun- conceito da filosofia jurídica que ele carrega. Foi o de unicamente com sua expressão material. Ela é, na próprio Kant que o introduziu para designar a inde- verdade, uma representação simbólica: pendência da vontade em relação a qualquer desejo A verdadeira universidade não se localiza ou objeto do desejo e a sua capacidade de determinar- num lugar específico. Não tem proprieda- se em conformidade com uma lei própria, que é a da des, não paga salários, não recebe taxas razão. Dessa maneira, o que entendemos por autono- materiais. A Verdadeira universidade é um mia não é a idéia do senso comum de que ela é uma estado de espírito É a grande herança do soberania ilimitada com formas de atuação sem quais- pensamento racional que nos foi legada ao quer limites externos. Trata-se, sim, de um conceito correr dos séculos e que não tem um lu- jurídico, conforme nos ensina Ranieri (1994, p.27): gar específico para ficar. É um estado de espírito que se renova através dos séculos, “A autonomia não significa independên- graças a um grupo de pessoas que osten- cia nem soberania. Seu exercício embora tam tradicionalmente o título de professor, pleno, restringe-se a esferas específicas título esse que, no fundo, também faz parte previamente delimitadas pelo ente maior, da Universidade. A verdadeira Universida- dentro dos quais e para os quais são produ- de é nada mais nada menos que o corpo zidas pelo ente autônomo normas próprias contínuo da razão em si. Além desse esta- e integrantes do sistema jurídico global”. do de espírito, a razão, existe uma entidade De acordo com essa concepção, quando falamos legal que infelizmente atende pelo mesmo de autonomia universitária, estamos falando de prin- nome, mas que é muito diferente. Esta é cípios regulatórios definidos pelo Estado, de acordo uma empresa sem fins lucrativos, uma fi- com os limites e objetivos específicos para os quais lial do estado, com endereço específico. a instituição foi gerada. Nesse sentido, a autonomia é Possui propriedades, pode pagar salários, concedida pelo Estado e, portanto, está subordinada, receber dinheiro e reagir também a pres- em última instância, ao econômico e ao político. As- sões do legislativo. Porém, esta segunda, sim, não é possível pensar a autonomia, sem conside- universidade, a empresa legal, não pode rar o que os que financiam a Instituição universitária, ensinar, não pode gerar novos conheci- oferecem: autonomia didática, científica e administra- mentos, nem avaliar idéias. Não é a verda- tiva. deira universidade. É apenas o prédio da igreja, o cenário, o local onde se criaram Assim é que se compreende, hoje, o tema da au- condições favoráveis para que a verdadei- tonomia universitária, tão imbricado nos processos de ra Igreja exista. As pessoas que não en- ajuste do Estado, nas profundas transformações eco- xergam essa diferença ficam sempre con- nômicas que determinam as modificações dos espa- fusas, pensando que controlar o prédio da ços políticos e sociais e as demandas ditadas por esses Igreja é o mesmo que controlar a Igreja. setores à instituição universitária. É nesse contexto de Eles vêem professores como empregados desequilíbrio, provocado pela desestruturação econô- da segunda universidade que deveriam mica, social e política do Estado, que falamos de auto- deixar a razão de lado quando lhes fosse nomia. O setor da educação é, como afirma Sobrinho solicitado a obedecer sem objeções. Exa- (2003), importante nesse momento para atender às tamente como os empregados de outros tipos de empresa. Enxergam a segunda exigências da ideologia do Estado. universidade, não a primeira. (Pirsig 1991 Diante do quadro de complexidade apresentada apud Almeida&Almeida, 2003. p). pelo momento histórico, a instituição universitária, As elaborações históricas sobre o que seja a uni- que sempre apresentou uma reconhecida vocação versidade mostram-nos que elas não se estabelecem para a crítica, mediada pelo pensamento livre, com fins sem contradições. Se a autonomia, como afirmamos à promoção humana, hoje passa por um ajuste. Assu- acima, foi um grande ideal da universidade, hoje a me uma nova cartografia político-organizacional, com sua materialidade chega-nos de maneira diferente. novos contornos e significados, o que tem impactado No caminho da institucionalização, a Universidade foi significativamente sua luta cotidiana pela autonomia a cada passo sendo aprisionada, quer pelos dogmas e pela liberdade de pesquisa. Nesse sentido, o con- da Igreja, quer pelos princípios do Estado; tornou-se, ceito de autonomia, na atualidade, vem acompanhada como disse Altusser, Aparelho Ideológico do Estado de outros conceitos, tais como “educação eficiente”, e perdeu a independência que propunha Kant, pelo ”gestão empresarial”, “planejamento racional” e auto- menos para a Faculdade de Filosofia. Nesse marco, regulação”. Os centros universitários surgem nesse falamos de uma forma de autonomia e com a qual contexto, definindo uma nova acepção de autonomia, guardamos alguns elementos de sua gênesis.

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de que tratamos no subitem que segue. poder. No México, a influência do movimento de Córdo- ba foi, de certa maneira, mais significativa do que em Centros Universitários e autonomia didáti- qualquer outro país latino-americano, conforme nos co-pedagógica e científica indica Alcántara (2003), quando apresenta os ganhos que a autonomia definiu, na época, para a organização A história do currículo e dos conteúdos esteve da universidade: autonomia para a pesquisa, ou seja, sempre a serviço de um tipo específico de educação liberdade de escolha do campo a ser investigado; au- de que o Estado precisava. A instituição universitária tonomia de cátedra, que diz respeito à liberdade para gozou dessa autonomia em vários períodos. Isso re- decidir sobre o currículo e as metodologias de ensino; sultou num certo reconhecimento da sociedade sobre autonomia acadêmica, relativa à liberdade para eleger o grau de competência que ela tem para definir não seus órgãos colegiados e decidir sobre o governo uni- só a relevância do conhecimento a ser transmitido ou versitário; e autonomia administrativa, que outorga a construído, como também a metodologia a ser aplica- liberdade de elaborar, planejar e executar o orçamen- da. Disso decorreu a autonomia para julgar, por parâ- to a ela destinado pelo provedor. Como afirma Alcán- metros internos e de forma independente dos interes- tara (2003, p.79), “el logro de la autonomía para la ses externos, os resultados da pesquisa. No entanto, Universidad no ha sido una concesión gratuita de los isso não a exime de uma autocrítica constante, pois, gobiernos. Ha requerido luchas, las cuales han sido el afinal, a crítica ao currículo e à forma de transmissão producto de procesos, a veces prolongados”. do conhecimento foi exercida no interior das institui- Pode-se dizer que a autonomia é a condição sine ções universitárias desde os tempos mais remotos, qua non para que a Instituição universitária possa muito embora não sem censura. cumprir sua missão crítica da realidade. Somente uma A autonomia deve ser compreendida com base instituição com autonomia, como se referia Kant sobre no contexto político em que ela se insere. Diana Soto a Faculdade de Filosofia, pode exercer essa função. (2003) demonstra isso em seus estudos sobre a Uni- Ao final do século XIX e ao longo de todo o sé- versidade no século XIX. Assim o fez também Mar- culo XX, as universidades buscaram consolidar a base siske (1993) sobre a UNAM e as concepções de auto- de sua existência – a autonomia -, a fim de garantir nomia na América Latina. Soto expõe três argumentos ampla liberdade na produção de conhecimentos. Esse que justificam a importância dessa temática para as ideal foi perseguido desde sua fundação no século XII, Universidades da América Latina: em Bolonha, numa corporação de estudantes, ou em (...) porque en los países latinoamericanos Paris, em corporações de professores. A autonomia no hay separación entre lo político e lo sempre se pautou como princípio norteador de sua educativo y la universidad ha sido utilizada atividade intelectual e de liberdade frente aos poderes para fines políticos; porque la educación locais. como canal de acceso y de ascenso tiene No contexto atual, no Brasil, a organização das un sentido especial en América Latina; y instituições de Ensino Superior foi definida por meio porque las universidades son un campo de várias reformas, orientadas pelas políticas de plan- de acción importante para grupos políticos tão, tendo como paradigma a autonomia didático-admi- minoritarios e secundarios” (Soto, 2003, p.259-260). nistrativa. A criação da figura do Centro Universitário A autora acrescenta que, na América Latina, um está posta na relação com essa acepção de autonomia. marco histórico para a discussão sobre autonomia se O documento do MEC Planejamento Político-Estraté- deu basicamente no início do século XX com o mo- gico -1995/1998, elaborado na época em que estavam vimento de Córdoba, numa luta que representa, em sendo concebidos os centros universitários, traduz todo o continente, um rechaço ao estado oligárquico. bem essa orientação para as instituições de ensino su- As representações dessa luta se expressaram mais perior: “Transformar as relações do poder público com firmemente na Argentina (Córdoba), no México e na as instituições de ensino: (...) Descentralizar o sistema, Colômbia, com o difícil desligamento da Universidade atribuindo maior autonomia às instituições de ensino. em relação à Igreja38, após a ascensão dos liberais no (...) Reconhecer a diversidade e heterogeneidade do sis- tema, formulando políticas diversificadas que atendam 38 Conforme registra Diana Soto: “debemos indicar que en distintas às peculiaridades dos diferentes setores do ensino públi- épocas se han propugnado ideales educativos. En este sentido la formación uni- versitaria de Santafé giraba en torno de una concepción teocentrica del conoci- co e privado” (Brasil, MEC, 1995 p.26, apud MINTO, miento que en una sociedad como la neograndina constituía, no solo el eje de 2006, p.156). la mentalidad, como era obvio, sino que también condicionaba la educación de quienes, es un momento dado, debían engrosar las filas de la vanguardia intelec- Os desdobramentos e as repercussões desse tual. Soto Arango, Diana, et. all La ilustración en el virreinato de la nueva grana- da.p.149. In., Vera de Flachs, M. Cristina (comp) Universidade e Ilustración en tipo de autonomia viabilizada pelo MEC são o foco de América: Nuevas perspectivas. Cordoba, Agentina, 2002.,

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nossa atenção no item que segue. Grosso modo, podemos dizer que o sistema de ensino superior no Brasil acomodou-se sem grandes ou impactantes reformas, mesmo se considerando o surgimento das Universidades na década de 30 e a O QUE SIGNIFICA SER “UNIVERSIDADE expansão do sistema católico, em condição semi-es- DO ENSINO”: IMPLICAÇÕES E RESPON- tatal, nos anos 40. No que pese o contra-senso41, foi SABILIDADES somente em 1968 [período de ditadura militar], com promulgação da Lei 5.540/68, que ocorreu uma sig- Ao nos inserirmos na discussão sobre as respon- nificativa reforma nesse setor da educação nacional, sabilidades das universidades, alinhamo-nos à rica bi- ocasionada pelo intenso e profícuo debate público e a bliografia que, com o suporte das recentes pesquisas pujança política do movimento estudantil em torno da brasileiras, aprofundam o tema da razão de ser dos primeira Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacio- 39 estudos universitários no Brasil . Deve-se ressaltar nal, aprovada no inicio da década [1961]. Conforme que hoje a discussão sobre o Ensino Superior no Bra- Durham [1998:4]: sil rompeu a fronteira da academia, espalhou-se pela 40 Nesse período, que coincide com o inicio mídia , atingindo grande parte da sociedade civil. da grande expansão do ensino superior, O Ensino Superior no Brasil seguiu historica- elaborou-se um modelo de ensino superior mente uma rota bastante diferenciada daquela que que deveria orientar toda a política: ele marcou a América Hispânica. Nessa última, a coloni- deveria ser público e gratuito e oferecido zação pôde contar com a criação de um corpus uni- em universidades (tolerando-se proviso- versitário de fundamento religioso e sustentado pelo riamente outros tipos de instituições); a poder estatal/colonial. Esse modelo foi superado ape- verdadeira universidade (ao contrário das nas com os processos de independência e a sua conse- instituições então existentes) deveriam associar o ensino à pesquisa, organizar-se cutiva secularização do ensino, instalando-se, assim, em departamentos e institutos (e não em respeitadas universidades públicas. Como sabemos, a cursos e cátedras) e ser dirigida paritaria- coroa portuguesa, por sua vez, trouxe sérias dificulda- mente por professores e alunos (os fun- des para a criação de Instituições de Ensino Superior cionários, naquela época, não foram consi- no Brasil. Somente no século XIX, com as mudanças derados). Reivindicava-se, paralelamente, ocorridas na relação metrópole-colônia, surgiram as a expansão da capacidade do sistema, de primeiras Instituições de Ensino Superior – IES, que modo a absorver a grande demanda que não eram ainda as Universidades stricto sensu. Seguin- então se manifestava, agravada pelo fenô- do um modelo napoleônico, as instituições organiza- meno dos chamados excedentes. Este mo- ram-se em forma de faculdades, institutos e escolas delo continua a ser, até hoje, o grande re- superiores autônomas de caráter laico e estatal, que ferencial para todos os setores envolvidos tinham a preocupação de formar a base das profissões com a educação superior pública, embora tenha se revelado, ao longo dos anos, tão liberais de que tanto precisava o país naquele momen- inviável quanto inadequado. Na década de to. Somente no século seguinte, tivemos a formação sessenta, entretanto, representava um mo- das universidades brasileiras. vimento de profunda renovação do ensino

39 Dentre as pesquisas publicadas destacamos as de: ALMEIDA, Clei- superior, que teve efeitos muito positivos. de R.S. O brasão e o Logotipo: um estudo das novas universidades na cidade de A reforma contida na lei de 1968, na qual se in- São Paulo: Petrópolis, RJ., Editora Vozes, 2001; SAMPAIO, Helena. Ensino Supe- rior no Brasil: setor privado. São Paulo: Hucitec/Fapesp, 2000; SILVA Jr. J.R. & dicava a possibilidade de o ensino superior ser minis- SGUISSARDI, W. Novas faces da educação superior no Brasil: reforma do Estado e trado, em caráter excepcional, em estabelecimentos mudança de produção. São Paulo: EDUSF, 1999; MINTO, Lalo W. As Reformas do Ensino Superior no Brasil. Campinas, SP: Editora, Autores Associados, 2006. E isolados, ou seja, fora da universidade, abriu a possibi- dentre os artigos publicados nos periódicos nacionais, destacamos: JARDILINO, lidade para a expansão do ensino superior. As regras J.R.L. A questão do financiamento da universidade brasileira: setores público e privado numa equidade de sistemas. In.,RBPEA, v19, n2, 2003; JARDILINO, rígidas para o setor foram relaxadas, não deliberada- J.R.L. & STOROPOLI, E. Pesquisar ou não pesquisar: eis a questão para os Cen- mente, mas sob pressão, o que demonstrava a falta tros Universitários na formação superior do país. In Revista Ensino e Sociedade, n.1, 2001; CHAUI, Marilena. A Universidade pública sob nova perspectiva. In de resposta do Estado com uma política clara para a Revista Brasileira de Educação, n.24, 2003; SOBRINHO, J.D Educação Superior, democratização do Ensino Superior no país, conforme globalização e democratização: Qual a Universidade. In., Revista Brasileira de Educação, n 28, 2005; SILVA, Jr. J.R.; SGUISSARDI, W. A nova lei da educação assinala Sampaio [2000, p.68-69]: superior: fortalecimento do setor público e regulação do privado\mercantil ou A Lei 5.540/68 ao mesmo tempo que servia continuidade da privatização e mercantilização do público! In., Revista Brasileira de Educação, n29, 2005 40 Os jornais, telejornais, revistas semanais e demais equipamentos 41 O contra-senso explica-se pelo grande crescimento do ensino supe- midiáticos alimentam fartamente a sociedade brasileira com suas análises fac- rior no Brasil, um setor extremamente reivindicatório e contestador, justamente tuais sobre as questões da Universidade Brasileira. Informam sobre o seu de- no período das “trevas” - as ditaduras militares da América Latina. Para maiores sempenho no sistema de avaliação implantado pelo MEC, indicam as mazelas da detalhes sobre esse quadro, leia Sampaio e Durham: O setor privado na América produtividade científica, as informações sobre as carreiras profissionais e suas Latina: uma análise comparativa. Documentos de trabalho do NUPES 3/98. São relações com o mercado, além de recorrer a intelligentia para alimentar os seus Paulo: NUPES/USP, 1998. t suplementos culturais, que julgamos de excelente qualidade

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para referendar e legitimar as normas da ficit educacional. Segundo Durham [1998], na década casa [Ministério da Educação/Conselho de 80, registrou-se uma interrupção no processo de Federal de Educação], era acionada para ampliação do Ensino Superior. O fato está associado justificar as exceções nas mesmas normas. às nuances de nossa política educacional, que nunca Se as brechas legais prevaleceram nesse propiciou o equilíbrio entre os vários níveis de ensino, período, foi em decorrência da pressão fazendo prevalecer, portanto, um caráter pendular. O dos interesses do ensino privado; respalda- que se observou na década de 80 foi a prioridade à dos, por sua vez, na pressão da demanda, a força do setor privado mostrou-se, efeti- educação básica – especialmente o ensino fundamen- vamente, mais eficaz nessa arena decisó- tal –, muito embora o crescimento tenha se dado sem ria (...) A opção pelo setor público para a nenhuma orientação séria para o ensino médio [pré- criação de universidades que aliassem o universitário]. O ensino superior, nesse caso, ficou à ensino e pesquisa – uma das bandeiras de deriva. setores do movimento dos anos 50 e 60, in- Na década de 90, o aumento de matrículas no corporada na Reforma de 1968 – implicou ensino médio e o redirecionamento educacional com aumento progressivo do custo absoluto e base na Nova LDB [1996] resultaram num grande relativo do ensino público (Schwartzman, contingente para o Ensino Superior. Como conseqü- J., 1993) limitando-lhe a expansão e abrin- do, ao setor privado a oportunidade de ência, observamos um verdadeiro “boom” das Institui- atender à demanda de massa que o Estado ções Privadas de Ensino Superior. não conseguia absorver. Essa opção confe- O que chamamos aqui de nova taxionomia das riu ao setor privado espaço complementar instituições que oferecem o Ensino Superior foi con- no sistema: atender à demanda crescen- solidada através da LDB 9394 [26/12/1996] e sua te por ensino superior, impossível de ser respectiva regulamentação - leis paralelas, decretos, plenamente satisfeita em um modelo de emendas e outros artifícios da jurisprudência educa- universidade pública seletiva, em termos cional. Para enriquecer nossa discussão, vale destacar sociais e acadêmicos. o Decreto 2.306 de 19.08.1997, que, ao estabelecer os Essa tomada de posição levou, a despeito de to- Centros Universitários, faz surgir a imagem popular das as mazelas que possamos mencionar, a educação da universidade. Ou seja, cria-se no Brasil um nível superior no Brasil a um processo que hoje chamamos hierarquicamente inferior às tradicionais, implantan- de massificação do ensino42, ou para os mais otimis- do-se, então, uma dicotomia entre dois tipos de univer- tas, democratização do setor. sidade – uma de ensino, outra de pesquisa. Essa con- Com esse crescimento, uma nova configuração cepção rompe com o ideal de universidade43 pensada taxionômica passa a existir na Educação Superior do no Brasil em sua respectiva reforma de 68. No quadro país. Entram em cena as Faculdades, instituições iso- abaixo, procuramos mostrar as Instituições de Ensino ladas [da universitas “fechada”], já conhecidas do sé- Superior em funcionamento no Brasil, sua forma de culo XIX, denominadas, nesse contexto, de Integradas organização, suas subdivisões e características. ou Associadas. Rapidamente, essas instituições cres- Para atender a essa nova taxionomia, a atual le- ceram e reivindicaram seu status acadêmico. Na déca- gislação educacional brasileira se estrutura de forma da dos 80, aglomeravam-se na porta do Ministério da a conceder, temporariamente, através do Decreto nº Educação, reivindicando sua condição de Universida- 2.306 de 19 de Agosto de 1997, autonomia para uma de. Foi então que se observou um forte movimento de nova Instituição de Ensino Superior no Brasil, o Cen- repúdio por parte da academia brasileira em relação tro Universitário44. a essas instituições, uma vez que, a rigor, nenhuma delas cumpria o fiel mandato da indissolubilidade do Quando falamos hoje em democratização do Ensino-Pesquisa-Extensão. Pode-se afirmar que mui- ensino superior, o que vem em primeiro lugar são os tas das entidades do Sistema Federal que ostentam o números, em virtude, naturalmente, da grandeza geo- status, a rigor, não o são. gráfica do país. Embora o aspecto quantitativo seja um fator que agrava o quadro, devemos considerar que a Chegamos ao final do século constatando um dé- questão da eqüidade não passa somente pelo acesso. Ela está associada à melhoria das condições de vida 42 A rigor, não se pode falar de massificação, uma vez que uma par- cela muito pequena dos jovens entre 18 a 24 anos se encontra matriculada no Ensino Superior. Conforme dados do PNAD [Pesquisa Nacional de Amostra de 43 Os críticos da indissociabilidade, que a chamam de “mito”, compre- Domicílios], em 1998, a taxa de matrícula era de apenas 10,8%. Podemos afirmar endem que a diversificação e a eficácia do ensino superior passam por essa sepa- que a tendência da política educacional para o setor está indo na direção de uma ração, sem perceberem que uma coisa não exclui categoricamente a outra. Para massificação. O MEC deseja atingir uma taxa de 30% até o final da década, o uma melhor apreensão dessa corrente, consultar os documentos do NUPES [S. que significaria uma aumento de 20% da oferta de vagas para o setor, ou seja, em Schwartzmam; E.R. Durham, Helana Sampaoio et.al.] e C. M. Castro & Daniel números absolutos passar de 2 para 5 milhões o número de estudantes dessa C Levy. Myth, Reality and Reform: Higher Educacion Policy in Latin América. faixa etária. Conforme Simon SCHWARTZMAN [2001:28], o Brasil tem uma taxa Washington, BID, 2000. extremamente pequena de jovens entre 18 a 24 anos matriculadas no ensino 44 Ver CAPITÃO, A .C.O. Centros universitários: transformação ou rup- superior. turas. Dissertação de Mestrado, Centro Universitário Nove de Julho, 2003.

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I.E.S. Subdivisões do Sistema Características Instituições pluridisciplinares de formação de profissionais de nível superior nas esferas Nacional, Universidades Federais Estadual e Municipal, que associam o Ensino, a Pesquisa e a Extensão, e Universidades Especializadas, Públicas Estaduais mediante comprovação das atividades de ensino e Municipais pesquisa nas áreas básicas e aplicadas. • Produção intelectual institucionalizada; • Corpo docente com titulação acadêmica e em regime de dedicação integral; • Função social: serviço à comunidade – Extensão. Instituições pluridisciplinares de formação em nível superior no tripé Ensino-Pesquisa-Extensão. Essas Instituições têm orientação confessional religiosa. Confessionais No Brasil temos as Católicas e as Protestantes. São [Públicas não estatais – consideradas públicas não- estatais porque, ao se Universidades Fundações] organizarem, receberam subsídios do Governo, Privadas especialmente para a pesquisa. • Produção Intelectual institucionalizada; • Corpo docente com titulação acadêmica e em regime de dedicação integral; • Função social: serviço à comunidade – Extensão. Instituições nem sempre pluridisciplinares, às vezes De Elite orientadas para Instituições pluridisciplinares, com ênfase nas áreas que necessitam de menos investimento; ao contrário das anteriores, orientam-se por uma pluralidade nefasta. Pretendem atender à massa de jovens Estritamente de brasileiros na busca pelo credenciamento. Às vezes Capital Privado De Massa realizam atividades de ensino de qualidade. Embora com título de Universidade, não faz pesquisa básica. Estão voltados para a extensão universitária em que pode implementar sua marca registrada. Uma nova nomenclatura após 1997. Como instância Centros intermediária, devem realizar sua tarefa buscando a qualidade de Ensino; nós as designamos de Universitários Privado Universidade de Ensino. Todavia, essas fronteiras são tênues e já existe Centro Universitário com Programa de Pós-Graduação credenciado pela CAPES. Reunião de Faculdades, em sua maioria de caráter Instituições municipal, que não oferecem o Ensino Superior Isoladas: em todas as áreas do conhecimento. Em geral, não Faculdades se dedicam à pesquisa. Estão próximas do ensino Pública técnico. Existem os Institutos, tais como ITA, que Integradas; fazem formação qualificada de pesquisadores de alta Institutos tecnologia. ou Escolas Instituições que em geral atuam num campo restrito do Superiores Elite saber e formam especialistas de cunho internacional. Ex. FGV Privada Instituições que oferecem ensino de massa, após Massa a abertura do governo brasileiro para a seleção de egressos do ensino médio.

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da população. Poderíamos, então, falar de equidade porque ele vai para o setor privado, mesmo aprova- do sistema em termos de raça, sexo, condição sócio- do no processo de seleção na Universidade pública e econômica, e da própria formação oferecida nos dife- gratuita, pois aí a oferta de cursos noturnos é extre- rentes modelos organizacionais que atuam no setor mamente reduzida. Portanto, são os mais pobres e a do ensino superior. classe trabalhadora que estão no setor privado de edu- A despeito das críticas que possamos fazer ao cação superior. No tocante à escolha das carreiras, a sistema, não se pode afirmar que, nos últimos vinte realidade mostra-nos que muitos dos jovens universi- anos, as políticas educacionais tenham desprezado o tários estão realizando cursos que são dados por eles tema da democratização. Todavia, devemos assumir como segunda ou terceira opção, seja pela dificuldade que, apesar da retomada do crescimento acelerado na de passar nos exames de seleção, seja por questões de última década, ainda não se pode qualificar o sistema preço das mensalidades escolares. de ensino superior no Brasil como de massa no estri- Assim, a equidade não está relacionada apenas to senso do termo. Ao atender aproximadamente 10 a à distinção entre as duas modalidades de instituições 12% da população escolar superior, o modelo não pode do ensino superior, mas, ao envolvimento numa luta ainda ser considerado inclusivo. Necessitamos de um política que coloque em pauta a idéia da complemen- grande esforço para atingir o equilíbrio do sistema taridade entre ambos e, conseqüentemente, reivindi- educacional, nos níveis da educação básica e do supe- que boa qualidade para o ensino superior de maneira rior. A democratização do sistema dar-se-á quando os geral. Certamente, não superaremos a questão da setores público e privado forem considerados como elitização do ensino superior na totalidade, mas espe- complementares nessa luta por inclusão; quando as ramos amenizá-la, a partir da compreensão de toda a universidades públicas, sem perderem suas conquis- dimensão histórica que a envolve. Conforme Moura tas, abrirem-se para abrigar os estudantes trabalhado- Castro [2001:52], a Universidade de maneira geral res, os oriundos da escola básica sucateada, através vem, ao longo do tempo, sofrendo transformações de mecanismos de inclusão. Concordamos com Sam- significativas: paio (2000, p.80), quando afirma que “a iniquidade “A grande transformação do ensino supe- que caracteriza o sistema de ensino superior brasileiro rior é a sua progressiva deselitização. Nes- é produzida ao longo do ensino médio, uma vez que é se processo a sua aura sagrada vai sendo neste nível de ensino que se definem as possibilidades corroída. Ao longo do tempo, a clientela de ingresso dos jovens nos diferentes estabelecimentos de do ensino superior vai se tornando me- ensino superior no País”. nos exclusiva, menos ligada a privilégios preexistentes. Vão erodindo os privilégios Sampaio apresenta-nos um outro fator que aponta atados ao ensino superior. Do alto clero, as para a elitização do ensino superior. Segundo a autora, universidades passam a servir à nobreza, os recentes dados de importantes pesquisas no setor daí para a alta burguesia, e então para as têm indicado que a questão da equidade não se refere classes profissionais. Tropeça então nos aos modelos institucionais que ofertam essa modali- nomes [Universidade? Ensino Superior?], dade de ensino, mas sim às carreiras que escolhem e mas continua a se expandir e passa a ab- aos turnos a que se dirigem. Assim, as diferenças de sorver os funcionários de todos os mati- perfil sócio-econômico dos estudantes universitários zes. Finalmente, começa a entrar o povo, devem-se não ao fato de a instituição em que estudam os filhos de operários. Isso praticamente ser pública ou privada, mas fundamentalmente às ca- não ocorreu no Brasil, mas com a explosão racterísticas das carreiras que escolhem e ao turno do segundo grau está prestes a ocorrer”. – diurno ou noturno – em que o curso é oferecido. A “profecia” de Castro parece que se realiza com a expansão do ensino superior noturno. Muito desse Essa reflexão tem contribuído para questionar o “milagre” tem como protagonista os centros univer- mito – aliás, muito consensual – de que ‘pobre vai para sitários. A nosso ver, a qualidade que deveria acom- instituição particular e rico consegue vaga na institui- panhar essa expansão não se instalará pelo próprio ção pública’. A distribuição dos estudantes segundo movimento das mudanças globais na sociedade. Será suas características sócio-econômicas permanecem necessário que, vigilantemente, busquemos a supera- atreladas à distinção ‘cursos para ricos e cursos para ção da exclusão e a conseqüente superação das castas pobres’, a qual se reproduz tanto no setor público que vigoram na sociedade brasileira, tentando evitar quanto no privado de ensino superior, conforme ob- a dicotomia universidade de ensino–universidade de servou Sampaio (2000) em sua pesquisa. pesquisa. Essa dicotomia tem ganho enfoque privile- A nosso ver, reside nessa interpretação uma giado nas discussões sobre o lugar da pesquisa na uni- pequena ‘falácia’. Primeiro, porque está claro que es- versidade brasileira. É disso que tratamos no próximo tudar no período noturno não é uma opção, mas sim item, trazendo ao debate o dilema das Instituições de uma imposição para o jovem trabalhador. Segundo, Ensino Superior Privado, especialmente dos Centros

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Universitários, discutindo as questões que hoje essas do leitor interessado pela temática da educação. Cabe instituições estão sendo obrigadas a enfrentar. Natu- apenas ressaltar que muitos críticos analisam essas ralmente, a análise leva-nos a constatar a tendência posturas como enlatados que consumimos por modis- que essa mentalidade subjaz: uma nefasta divisão da mos. Confira as palavras de Saviani, (2000, p.179): Educação Superior Brasileira, já cristalizada no país, Um fenômeno interessante que merece entre universidade de ensino e universidade de pes- ser abordado é a questão dos modismos quisa45. Essa divisão amplia ainda mais o abismo en- em educação, ou seja: a consciência peda- tre os tipos de ensino no país e a injusta estratificação gógica é bastante vulnerável às influências social brasileira, gerando uma escola para gorilas e e flutua de uma influência à outra, sem outra escola para macacos, como já as conhecemos na criar raízes, sem situar-se de modo profun- Escola básica. do no centro de preocupações dos educa- dores. (...) Parece–me que o fenômeno das flutuações da consciência pedagógica se caracteriza exatamente por isso: as influên- PESQUISAR OU NÃO PESQUISAR: O DILE- cias vêm de fora, de outras áreas que não MA CONTINUA propriamente a educação, e os educadores aderem como leigos a essas influências. A compreensão de que os Centros Universitá- Assim a educação foi descentrada, é abor- dada apenas perifericamente e não se vai à rios, nova modalidade de Instituição de Ensino Supe- raiz da problemática educacional” rior no Brasil, implementada pela Lei 9.394/96, deve Para pensarmos o ensino, temos, naturalmente, dedicar-se apenas à excelência do Ensino tem nos que compreender a visão de homem e de sociedade levado a enfrentar uma problemática constante: a sig- a que cada experiência pedagógica adere. No Brasil, nificação daquilo que se configura a essência de uma passamos por muitas influências e por muitos “ismos” instituição universitária, seja ela Centro Universitário, que lançaram luzes às correntes pedagógicas que Faculdades Integradas ou Universidade propriamente sustentaram e sustentam nosso modelo de ensino (cf. dita. Estamos falando da pesquisa. Saviani, 2000, p.33-69). Tenham sido elas modismo Em meio às mudanças nos rumos da educação, ou não, o fato é que fomos e estamos sendo afetados debatidas e implementadas nos contextos nacionais por esse vai e vem de visões de tendências: pulamos e internacionais, a proposição acima parece parado- da compreensão “humanista” da escola redentora da xal. Se por um lado, encontramos nesse cenário um humanidade, embasada nos pressupostos liberais do consenso de que o ensino não deve ser apenas trans- letramento, para a participação política, com ênfase missão de saberes, mas fruto de um diálogo constante na democratização da escola, entendida como ‘escola de seus dois pólos – os ensinantes e aprendentes que, para todos’. Essa, por sua vez, foi superada por um re- numa situação dada de pesquisa, refazem, elaboram enquadramento político que exigia repensar a escola e constroem novos conhecimentos, baseados nos sa- em termos de qualidade e não somente de quantidade. beres que constituem a atividade dialógica da sala de A Escola Nova procurou responder ao reclame do po- aula - e isso não será possível sem uma atitude crítica, der hegemônico de preparar pessoas para atender aos criativa e investigativa, construída por intermédio de interesses das classes dominantes. Daí, essa corrente uma constante atitude de pesquisa -; por outro lado, centrar sua atenção no interior da escola, enfatizando deparamo-nos com interpretações distintas da lei no os aspectos psico-pedagógicos e técnicos. que tangem à excelência do ensino solicitada aos cen- Acreditamos que a Escola Nova nunca foi total- tros universitários, mente superada no Brasil. Ainda hoje, encontramos Entendemos que a problemática do ensino e da ecos de sua influência técnica nas tendências de Tec- pesquisa tem sido a pergunta geradora, para lembrar nologias na Educação e de Educação a Distância. termo freireano, que tem norteado a discussão ao Hoje, as exigências decorrentes da quebra de para- longo das reformas de ensino no Brasil e as reflexões digmas impõem a necessidade de formulação de um sobre às diversas práticas pedagógicas que encontra- novo modelo de educação, que proponha repensar o mos nos escritos dos educadores nacionais. Depois ensino em circunstâncias que o apontam como mera dos anos trinta, não fizemos outra coisa senão repen- orientação ao indivíduo e redefini-lo como instância sar as posturas pedagógicas e as bases do Ensino, ou em que se fornecem “os mapas de um mundo com- melhor, da Educação brasileira. Não pretendemos his- plexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, toriá-las aqui, pois isso, certamente, já é do domínio a bússola que permita navegar através dele” [Delors, 1996, p.89] . 45 A universidade tem ganho também outros apelidos. Chauí, por exemplo, ao analisar como a reforma do Estado que denominou a Universidade As correntes tradicionais de educação jogaram de “Organização Social” inverteu-lhe a função de “instituição social”, denomina-a um peso muito forte na idéia de acumulação de co- de Universidade Operacional. (Chauí, 2003).

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nhecimentos, com validade permanente, sejam eles a uma mera reprodução de conhecimentos a grande tecnicamente aprendidos, sejam humanisticamente maioria dos estudantes que ingressam no ensino su- transmitidos. Hoje, fala-se em aprendizagem contínua, perior privado, mas, ao contrário, devemos formá-los a partir de uma formação que capacita o indivíduo na mesma perspectiva que indicam as tendências para a explorar as situações vivenciadas, aprofundando, uma educação do futuro. O setor privado, em especial atualizando e enriquecendo seus saberes, de forma a o Centro Universitário, pela própria autonomia de que adaptá-los a um mundo em constante transformação. goza, deve, a despeito das condições desfavoráveis, Nessa perspectiva, não podemos pensar o ensi- envolver-se com a pesquisa - básica ou aplicada – e, no como algo dissociado da pesquisa: o indivíduo que acima de tudo, manter permanentemente uma atitude não se inclinar para pesquisa não estará propriamen- investigativa na formação dos jovens, cumprindo seu te aprendendo, e o ensino só será verdadeiramente mandato de “excelência” no ensino, ou correrá o risco ensino, se estiver aliado a uma atitude investigativa. de não estar formando, mas simplesmente “adestran- Ensinantes e aprendentes devem se tornar pesquisa- do” indivíduos que serão expulsos dos sistemas de dores, pois quem não pesquisa não tem o que ensinar produção material e de idéias. nem o que aprender, apenas decora fórmulas e idéias A dicotomia entre os dois tipos de universida- de outros. Certamente, não queremos para o próximo de foi criada em função de uma disputa ocorrida nos milênio uma comunidade intelectual de papagaios. anos noventa entre os setores público e privado. A Há, portanto, que se empreenderem esforços no sen- pesquisa, tal como tradicionalmente vem sendo feita tido de superar a dicotomia aqui apresentada. É nessa no setor público, totalmente subsidiada pelo governo, direção que elaboramos a discussão que segue. ainda não é completamente viável ao setor privado, po- rém é possível ir perseguindo um compromisso com a pesquisa científica. Isso já é perceptível46, apesar da insensibilidade de alguns órgãos avaliadores, em UMA UNIVERSIDADE DE PESQUISA E UMA programas de lato e stricto sensu, assim como na gra- UNIVERSIDADE DE ENSINO: DICOTOMIA A duação, com os programas de iniciação científica nas SER SUPERADA mais variadas áreas e cursos. Por isso, não se pode hoje ignorar, ainda que assumido por poucas institui- Sabemos, de antemão, que a diferenciação orga- ções, esse respeito à pesquisa, tampouco categorizar nizacional das Instituições de Ensino Superior no Bra- todas as universidades privadas numa mesma tipolo- sil, nos documentos oficiais e nas leis nacionais sobre gia. Afirmações de que basta checar o cadastro dos a educação, não explicita, à primeira vista, a dicotomia órgãos de fomento à pesquisa [CNPq, CAPES, e Fun- entre a universidade de ensino e a universidade de dações estaduais de amparo à pesquisa] para verificar pesquisa. Todavia, a experiência no debate hermenêu- que as universidades particulares não aparecem como tico do tema e nas pesquisas sobre o Ensino Superior produtoras de pesquisa, de Ciência e de Tecnologia, e no Brasil apontam para esse possível desvio. Confor- de que elas reduzem sua ação ao ensino de graduação me Silva Jr & Sguissardi, (1999:172) e, a partir dos anos noventa, adentra na pós-graduação Para além da diferenciação organizacional, stricto sensu, sem maiores cuidados com a qualidade da diferença real entre públicas e privadas dos projetos, já podem ser refutadas, tendo por base e estas em confessionais, comunitárias, experiências de alguns Centros Universitários no particulares em sentido estrito e filantrópi- país, em especial na cidade de São Paulo. co, esta última medida (a lei 9394/96) irá aprofundar o processo de diferenciação, Nos anos noventa, houve um acirramento entre há muito mais de uma década iniciado com os setores público e privado, em razão da política que as propostas do GERES (Grupo Executivo ensaiou a privatização do ensino público. Essa disputa de Reforma do Ensino Superior), que visa hoje parece estar chegando ao fim. A idéia que vin- distinguir as universidades de ensino das ga é a de que os dois modelos do sistema de Ensino universidades de pesquisa. Superior no país são complementares e devem, nesse Se essa visão impregnou a mentalidade do GE- processo, mutuamente se relacionar em prol do de- RES, hoje, ela deve ser superada, se quisermos pensar senvolvimento da Educação Superior no Brasil (Sam- no Ensino Superior a partir da conjunção entre ensino paio, 2000). Qualquer instituição de ensino tem uma e pesquisa. Para tanto, devemos assumir uma atitude natureza pública, no sentido stricto do termo, a dife- de constante vigilância com relação à pesquisa. Toda- renciação deve ser feita entre estatal e não-estatal. As- via, é certo que o setor privado não irá de um dia para outro, por vários motivos, inclusive os de financiamen- 46 No quadro da pós-graduação stricto sensu, os Centros Universitários to, estar preparado para pesquisa de ponta nas mais já contam com 64 cursos recomendados pela CAPES, embora desses, 41 estão na região Sudeste, inclusive com um doutorado. É evidente o avanço na área da diferentes áreas. Por outro lado, não podemos relegar pós-graduação dessa jovem modalidade de ensino universitário (cf. estatísticas da CAPES, disponíveis no portal).

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sim a “compreensão da reconfiguração da educação ou transmissor de ferramentas técnicas, profissiona- superior, no Brasil, hoje, somente pode ser feita no lizantes, credenciadoras de diplomas pós-secundário. contexto de redefinição das esferas pública e privada, Tem, sobretudo, uma responsabilidade com a produ- em um momento de crise e mudança do capitalismo ção do conhecimento.Isso nos leva a repensar o papel mundial e de sua expressão nesse país” (Silva Jr & da Pós-Graduação nos Centros Universitários, após Sguissardi, 1999, p. 101). essa década de ajustamento no interior do sistema Para superarmos essa dicotomia entre público educacional brasileiro. e privado, universidade de ensino e universidade de Esse desafio, que por vezes é minimizado pela pesquisa, que nos últimos trinta anos tem acirrado interpretação reducionista da legislação que criou a a disputa no sistema de Ensino Superior no Brasil, figura dessa Instituição, elaborada por setores impor- devemos acomodá-los, na medida em que ambas se tantes dos formadores de políticas educacionais, tem entendam como responsáveis pela formação dos pro- levado os Centros Universitários a serem uma insti- fissionais de todos os setores e da intelectualidade tuição intermediária, buscando, como prêmio maior, científica brasileira. Certamente, esse modelo, pelo ascender ao status de universidade. Poderíamos cha- próprio tipo de recursos que financia o setor público má-la de uma Instituição Ponte. Essa não nos parece e o setor privado, ainda demorará alguns anos para ter sido a idéia norteadora, quando se pensou na sua ser estabelecido, ainda que possamos considerar que, criação. Alcunhada posteriormente como “Universi- numa década, os centros universitários apresentaram dade de Ensino”, a instituição foi posta em categoria excepcional desenvolvimento no âmbito da pós-gra- inferior, semelhante àquela feita por Kant (apud Derri- duação, chegando até mesmo, alguns deles, a pleitea- da, 1999), na Europa no século XIX, que separou, pela rem o status de universidade de modelo humboldtia- questão do poder, as faculdades superiores47 (Direito, na (privilegiando a tríade ensino-pequisa-extensão). Medina e Teologia) da inferior (Filosofia). Já podemos antever prelúdios dessa utopia, uma vez Certamente a instituição chamada Centro Uni- que as instituições universitárias do setor privado se versitário, pela sua própria natureza e mandato de instrumentalizam para tal, reunindo equipamentos e autonomia semi-universitária, terá nesse momento selecionando para os quadros docentes e de pesquisa de massificação do ensino superior a tarefa hercúlea profissionais de excelência, com devida titulação e ex- de ajudar o país a superar o fosso que o separa das periência na pesquisa e no ensino, criando assim, pelo nações em desenvolvimento na América Latina, no menos nesse aspecto, uma eqüidade entre ambos os que diz respeito à acessibilidade aos estudos superio- setores. res. Naturalmente, na condição de uma instituição de ensino superior que tem como princípio o “ensino de qualidade”, deverá vigiar para que a massificação não À GUISA DE CONCLUSÃO: DA CONDIÇÃO se traduza em perda de qualidade, comprometendo a DE CENTRO UNIVERSITÁRIO AO STATUS formação da massa crítica e da ciência no país, uma vez que o setor privado é responsável por dois terços DE UNIVERSIDADE da formação inicial. Para iniciarmos as considerações finais deste ca- Esperamos que os desafios que criaram a figura pítulo, tomo emprestado a conclusão de Boaventura do Centro Universitário sejam, nessa próxima década, sobre os desafios postos à instituição universitária no o élan de sua solidificação como instituição de ensino século XXI, quando é chamada a exercer um papel me- superior no Brasil, considerando-se a sustentabilida- nos hegemônico na sociedade, todavia, tão necessária de financeira e acadêmica. Pelos resultados que essa como o fora em séculos anteriores. Afirma Boaven- instituição vem demonstrando, em uma década de tura (2005, p.114) que “a sua especificidade enquanto consolidação, haverá também condições para firmar bem público reside em ser ela a instituição que liga o a Pós-graduação, deixando de lado o estigma de Uni- presente ao médio e longo prazo pelos conhecimentos e versidade de Ensino e rumando para uma Instituição pela formação que produz e pelo espaço público privile- universitária tridimensional, que cuida da formação giado de discussão aberta e crítica que constitui”. do cidadão na interface entre o ensino, a pesquisa e a extensão. O Centro Universitário, juntamente com outras instituições do setor, embora dirigido pela iniciativa privada, tem, sobre seus ombros, a grande responsa- bilidade que o coloca como instituição universitária portadora de um bem público: a educação. Diante de tão grande responsabilidade, não é possível pen- 47 Da mesma maneira que hoje quando alguns formuladores de política sá-lo mecanicamente como uma “fábrica de ensino” pública, propõem uma sutil separação dando mais prestígio aos cursos designa- dos de ‘imperiais’ a saber, Medicina, Engenharias e Direito.

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A PÓS-GRADUAÇÃO EM CENTROS UNIVERSITÁRIOS: DESAFIOS DA CONSTRUÇÃO DE UM MESTRADO INTERDISCIPLINAR

Vera Lúcia Silveira Botta Ferrante Helena Lorenzo de Carvalho Maria Lúcia Ribeiro 48

DESAFIOS DA UNIVERSIDADE BRASILEI- exigir que se debruce sobre essa realidade sem atitu- RA des pré-concebidas, sem pré-julgamentos que possam implicar em uma hierarquização prévia da universida- Um agravamento das conseqüências injustas do de pública e privada. processo de globalização e uma progressiva negação Conviveu-se, por um longo período, com um dos direitos fundamentais como emprego, educação, dado que se apresentava como absoluto. A pesqui- saúde, segurança, proteção à infância, à velhice e às sa era executada essencialmente nas universidades minorias vem ocorrendo em nosso país. Esses pro- públicas, nos institutos de pesquisas, vinculada aos blemas alcançam a universidade brasileira, guardiã programas de pós-graduação brasileiros. Apesar das e produtora de saberes e de modelos potenciais de dificuldades de formação e dos baixos salários, as uni- desenvolvimento humano. Como interpretar o papel versidades públicas têm, inegavelmente, consolidado da universidade diante de tais dilemas políticos econô- sua importância na produção do conhecimento cien- micos e sociais? Não estaria reservada à universidade tífico. a possibilidade de tentar mediar uma discussão con- Entretanto, perspectivas outras têm se apresen- tínua e qualificada com os atores que dirigem os dife- tado nos centros universitários, a merecer um olhar rentes níveis de ensino e defender os conhecimentos atento para não se avaliar o processo de construção produzidos, contribuindo para o pensamento crítico e do saber de forma dogmática. A necessidade crescen- para a politização qualitativa dos cidadãos? te de pesquisas sobre problemas/processos emergen- As questões a serem enfrentadas se multiplicam, tes; o distanciamento entre a pesquisa básica e suas envolvendo a qualidade do ensino, a falência das ins- aplicações práticas, a dissociação entre o progresso tituições públicas, a expansão, em circuito ampliado, qualitativo alcançado na pós-graduação e o ensino das universidades privadas, combinada com a falta de graduação são impasses a serem enfrentados no progressiva de vaga em escolas públicas. ensino superior, em específico, nos centros universi- A comunidade científica sempre defendeu a tários. adoção de políticas públicas capazes de propiciar o Raciocínios mecanicistas de que o modelo de crescimento harmônico da ciência e de tecnologias, expansão das instituições privadas não é capaz de indispensável para sustentar o desenvolvimento eco- proporcionar desenvolvimento científico, nem ensino nômico - social e, talvez, produzir patamares de sus- superior de qualidade devem ser, desta perspectiva, tentabilidade. A ciência cresce aonde existe ambiente evitados e reinterpretados. É preciso rejeitar argu- apropriado. Ao longo dos anos, os pesquisadores se mentos simplistas de que a universidade privada não habituaram a um permanente malabarismo para so- contribui para a inovação no plano do conhecimento breviver em razão das constantes mudanças de pro- científico. gramas de fomento. Convive-se com a continuada O setor privado no ensino superior no Brasil preocupação de cortes nos investimentos governa- está passando por inegáveis transformações, dentre mentais em órgãos de apoio à pesquisa, inclusive em as quais podem ser citadas: tendências à descentra- programas considerados prioritários. lização e à interiorização dos estabelecimentos, cor- Nunca é demais alertar que, em ciência, é difícil relação entre aumento do número de universidades construir e manter ativos grupos ou núcleos de pes- e federações de escolas e diminuição no numero de quisa, quando não lhe são dadas condições mínimas instituições isoladas, tendência à ampliação de cursos de sobrevivência e reposição. Considerando-se que a oferecidos e à fragmentação das carreiras. Dentre produção científica está inteiramente relacionada aos estas transformações, destaca-se o fato dos estabe- centros de pós-graduação como pensar neste quadro, lecimentos privados serem permeáveis às transfor- a relação universidade pública – privada? Questão a mações da sociedade e reagirem de forma dinâmica, respondendo às demandas heterogêneas, tanto da 48 Docentes do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. Centro Universitário de Araraquara – UNIARA. clientela estudantil, como do mercado ocupacional do

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nível superior. científico com retorno social. Estas mudanças podem ser explicadas - não por um único fator - mas por determinantes de mercado, pelas perspectivas abertas pelas regulamentações A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PÓS-GRA- formais do Estado, pelas estratégias propostas pelos DUAÇÃO EM CENTROS UNIVERSITÁRIOS: dirigentes dos estabelecimentos particulares. No que BARREIRAS E PERSPECTIVAS se refere ao mercado, o cenário parece favorecer ino- vações. O Estado, com freqüência, atua de forma dis- As pressões que se põem para as universidades persa e contraditória face ao setor privado. Os sujeitos particulares, no tocante à qualificação de profissionais que o representam, funcionários, acadêmicos nos co- para o mercado ou para as demandas regionais e as mitês de pares são parte do sistema e emprestam para necessidades de capacitação de seu próprio quadro as diferentes instâncias decisórias valores e concep- docente são muito fortes. Por outro lado, as políticas ções próprios sobre o ensino superior. Por outro lado, de avaliação e de fomento tendem a reforçar um pa- o setor privado, com maior intensidade e velocidade drão, que além de favorecer a concentração do conhe- do que o setor público, tem respondido a demandas cimento, nem sempre é o mais adequado ao contexto complementares: à demanda da clientela estudantil regional e local. Cria-se um impasse: deve-se subordi- por ensino superior, à demanda do mercado ocupa- nar aos critérios, muitas vezes estreitos, de avaliação cional por pessoas portadoras de diploma de nível ou deve-se investir na produção do conhecimento que superior e, no plano da produção do conhecimento, atenda à realidade e à demanda dos processos sociais à necessidade de alimentar pesquisas que subsidiem emergentes? a interdisciplinaridade e possíveis intervenções em processos sociais emergentes. A opção da UNIARA foi investir em um mestra- do voltado à investigação de processos e problemas Redimensionando, é importante na discussão regionais, justamente para atender mais efetivamen- dos desafios de construção da pesquisa nos centros te às demandas da sociedade e torná-lo receptivo às particulares de ensino, considerar, em primeiro lugar, novas formas de capacitação que são disponibilizadas que a relação do ensino privado com o mercado, se pelo avanço do conhecimento e das transformações reflete na capacidade do setor de suprir a demanda tecnológicas. de massa por ensino superior. Neste sentido, deve ser ressaltado que na trajetória do setor privado no A avaliação que subsidiou esta escolha mostrou país nos últimos 30 anos, o mercado tem sido deter- a importância do enfrentamento de um modelo rígido minante na ocorrência dos grandes movimentos de de organização da pós-graduação. Nesse sentido, o expansão e de estagnação. Sob este aspecto, a relação mestrado procurou avançar na direção de um caráter do setor privado com o mercado é parte da dinâmica multidisciplinar, propondo-se a abrir fronteiras entre público/privado que se instalou ao longo do desenvol- as diferentes áreas do conhecimento e a formar um vimento do ensino superior brasileiro. À dinâmica do profissional com uma visão sistêmica e ética dos pro- mercado, soma-se ainda a forte competição entre os blemas de pesquisa inseridos na relação desenvolvi- estabelecimentos privados, fatores que não podem re- mento regional e meio ambiente. ceber, previamente, atributos de negatividade. Um aspecto importante para a elaboração do pro- Em segundo lugar é importante salientar o es- jeto foi a identificação de parceria entre universidades forço das IES particulares na implantação de progra- públicas e privadas como uma oxigenação necessária, mas de pós-graduação stricto senso, visando ampliar oferecendo possibilidade de um diálogo fértil entre sua capacitação em pesquisa, ciência e tecnologia. pesquisadores que possam estudar o mesmo objeto Nesta direção, a busca das IES particulares de esta- sob abordagens diversas. Parcerias e intercâmbios belecerem novos vínculos com o sistema nacional de institucionais vêm sendo construídos na organização pós-graduação, implicou na criação da FUNADESP, acadêmica da pós-graduação brasileira, gerando pa- Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino drões diferenciados importantes para se enfrentar o Superior Particular, como instrumento de avaliação e dinamismo das transformações do mundo contempo- fomento de suas pesquisas. râneo. Um terceiro aspecto marcante nas atividades das A vontade política dos centros universitários IES particulares vem sendo a ligação e o forte enrai- particulares deve traduzir-se em atos e medidas con- zamento ao desenvolvimento local e regional.No caso cretas no tocante ao corpo docente, à infra-estrutura da UNIARA, as atividades de extensão vêm crescendo de informação e de pesquisa, às parcerias em que se e, por vezes, se posicionado na vanguarda, tanto no possa, de fato, criar elos para fortalecer a idéia de uma tocante a projetos voltados à comunidade, quanto a universidade crítica, que não seja somente determi- inovações detectadas na produção de conhecimento nada pelo mercado, nem que seja ditada pela idéia de

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universidade produtivista. de graduação e integrados aos rumos do desenvolvi- O desafio da pós-graduação e da institucionaliza- mento local e regional foi um decisivo fator positivo. ção da pesquisa nas universidades particulares depen- Na trajetória dessa instituição, destaca-se a utilização de da vontade política de semear um conhecimento do Parque Ecológico do Basalto, situado na bacia do ético, crítico, bem fundamentado academicamente, Ribeirão das Cruzes, área pertencente à Prefeitura para apreender os desafios da construção de propos- Municipal, cuja concessão de uso foi autorizada à tas que enfrentam as dificuldades de se trabalhar mul- UNIARA. Integrado ao Centro de Estudos Ambientais ti e interdisciplinarmente. (CEAM), constitui-se em um espaço onde se desen- volvem programas de educação ambiental, conscienti- A necessidade de inserir a pesquisa na agenda zação ecológica e projetos de pesquisa, um dos supor- de um centro universitário não se dá sem barreiras. tes do mestrado. Novos desafios. A exigência de conviver com sistemas de avaliação, a importância da produção científica e Igualmente, o Núcleo de Gestão Empresarial or- indicadores de produtividade passam a fazer parte do ganizado em 1998 e a transição de iniciativas isoladas cotidiano acadêmico de tais instituições. para uma política de pesquisa, através da criação da Coordenação de Iniciação Científica em 1999 foram De inicio, o enfrentamento, necessário, de uma marcos significativos de alavanca da pós-graduação. política de avaliação. O aparecimento dessa cultura não pode ser dissociada do fomento, do investimento Do outro lado, tinha-se amadurecido a necessi- e da indução de melhorias no sistema de pós-gradua- dade de uma pós-graduação que enfrentasse proble- ção. No entanto, considera-se indispensável valorizar mas e processos regionais, demandas das empresas e as dimensões formativa e pedagógica do sistema de instituições de ensino superior, sem ser ditada unica- avaliação e a perspectiva de superação do credencia- mente pela lógica sedutora do mercado. lismo formalista que pode sufocar o florescimento de Desde a primeira proposta, a preocupação prio- grupos emergentes, a criatividade e capacidade inova- ritária era valorizar a pesquisa em temas de desenvol- dora dos programas e a própria liberdade de se fazer vimento regional e do meio ambiente, não por dever parcerias ou intercâmbios. de ofício ou para galgar postos na carreira. O núcleo Decidiu-se enfrentar os obstáculos, com uma de pesquisadores responsáveis pela construção da postura propositiva, buscando-se, na construção da proposta vinha de uma larga experiência acadêmica pós-graduação, valorizar o compromisso com a produ- de 30 anos na UNESP e havia clareza sobre a absolu- ção de um conhecimento que possibilitasse expressar ta necessidade de não deixar a criação, a produção e a necessidade concreta de investigação sobre proces- o conhecimento crítico submergir em um mundo de sos e problemas do tempo presente. uma burocracia estéril. Objetivava-se socializar uma experiência de elaboração de uma política de pesqui- sa. Depois de mapear todas as iniciativas da institui- O passo a passo da construção de um ção e de incontáveis reuniões de trabalho, chegou-se a projeto de mestrado um grupo de pesquisadores – biólogos, químicos, so- ciólogos, geógrafos, advogados, administradores, en- De um lado, tinha-se uma instituição, a UNIARA, genheiros, economistas, agrônomos - diversificados com um forte enraizamento com a cidade e região e em sua formação, mas plenamente identificados com com vontade de enfrentar o desafio de se firmar como a vontade de trabalhar uma proposta multidisciplinar, um centro produtor de pesquisa e de conhecimentos. encarada como integração possível da diferença dos Uma instituição que tem 63 anos de existência, há 10 saberes. anos credenciada como Centro Universitário, o que lhe impôs novas perspectivas de investimento qualifi- O curso foi iniciado em março de 2000, com cado, além da trajetória exitosa expressa nos seus 34 significativa demanda, em um momento em que se cursos de graduação. podia institucionalmente, em conformidade com as diretrizes da CAPES, implementar a pós-graduação e, Sem pretender generalizações sobre a situação depois, solicitar seu credenciamento. A proposta rece- da pós-graduação nos centros universitários, o foco beu uma primeira avaliação, que embora não signifi- priorizado neste artigo será uma experiência singular, casse o patamar necessário para o seu funcionamento, a trajetória do Mestrado em Desenvolvimento Regio- era bastante estimulante por sugerir rumos. nal e Meio Ambiente da UNIARA, o que não se deu sem atalhos e reavaliações dos caminhos trilhados. Levou-se adiante o princípio de que era preci- so dialogar com o comitê de avaliação, discutir com A forte ligação da UNIARA com a comunida- outros grupos de pesquisa as dificuldades de se por de, explicitada através de programas de extensão e em prática uma proposta multidisciplinar e a necessi- prestação de serviços relacionados aos seus cursos

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dade de amadurecer, sem deixar de lado a convicção O tema do Mestrado - Desenvolvimento Regio- de que a pós-graduação em um centro universitário nal e Meio Ambiente – pensado como um campo da pode gerar a produção de novos saberes. A partir das multidisciplinariedade em direção a um conhecimen- discussões e observações feitas pelos Consultores to interdisciplinar envolve o domínio de várias áreas da CAPES, durante a primeira visita prévia (2001), a do conhecimento. Uma agenda de pesquisa envolven- proposta foi reorganizada com o objetivo de dar maior do temas e problemas da relação Desenvolvimento sustentação à construção de interfaces entre as áreas Regional e Meio Ambiente não pode ter como suporte nucleares da pós-graduação. abordagens isoladas nos diversos campos da ciência Entre as recomendações metodológicas, desta- e da tecnologia, mas exige esforços interdisciplinares cou-se a de analisar interfaces voltadas à compreensão dentro de uma visão sistêmica e integrada. A implan- das contradições e perspectivas de implementação de tação do mestrado partiu de um pressuposto básico: projetos de desenvolvimento regional. A intersecção a complexidade dos problemas gerados pela conju- justificou-se pela análise dos processos sociais esco- gação entre dinâmica do desenvolvimento regional e lhidos como temas de investigação e pela perspectiva meio ambiente impede o equacionamento isolado das de estudá-los, a partir de uma abordagem conjunta, suas vertentes, remetendo necessariamente a uma que não prescindisse de suas especificidades. A pers- abordagem relacional. A construção desta pós-gra- pectiva regional assumida não estava fundada apenas duação levou em conta que a questão ambiental im- na análise de processos locais, embora boa parte dos pôs ao conjunto das ciências temas para os quais elas projetos de pesquisa estivesse apoiada em tais espa- não estavam anteriormente preparadas e para cujo ços, mas na consideração de que a dimensão regional enfrentamento são obrigadas a reformular, muitas refere-se a uma perspectiva analítica mais ampla, vol- vezes, princípios de sua organização interna. Estudar tada à apreensão de processos sociais regionais, com- a relação desenvolvimento regional e meio ambiente preendidos em suas relações heterogêneas. hoje significa: 1) investigar os impactos das políticas nacionais e estaduais sobre os municípios e as regi- Mais uma barreira e outras sugestões por par- ões; 2) analisar a contribuição das políticas locais/re- te do comitê avaliador. Entre barreiras e sugestões gionais para o desenvolvimento sócio-econômico da – sempre bem vindas – foi revista a estrutura curri- perspectiva da sustentabilidade; 3) observar os papéis cular, melhor dimensionada a composição do corpo exercidos pelos agentes significativos nos municípios docente e houve um efetivo investimento da institui- e regiões; 4) caracterizar e analisar o processo de ção no oferecimento de condições e de infra-estrutura ocupação do território e suas conseqüências para o para a pesquisa. Finalmente, em setembro de 2003, ambiente, discutir os impactos econômico-sociais e obteve-se o credenciamento da CAPES, como descri- ambientais da instalação de novos empreendimentos to a seguir: com o objetivo de proposição de medidas mitigadoras. “A proposta está bem estruturada e muito A discussão da legislação ambiental no âmbito das po- bem redigida; conta com um corpo docen- líticas públicas e da gestão empresarial de variáveis te diversificado, com alguns deles com ma- ambientais oferece subsídios à agenda de pesquisas turidade científica demonstrada pela sua do programa. Neste sentido, a relação desenvolvimen- produção nos últimos anos e com nível de integração que permite o adequado desen- to regional e meio ambiente constitui-se em uma área volvimento dos projetos de pesquisa e das ati- de estudo da maior relevância para a implantação do vidades de ensino e orientação previstos.” mestrado. Esta relação exige, por principio, uma abor- dagem interdisciplinar.

O PERFIL DA PROPOSTA A QUESTÃO REGIONAL: A QUEBRA DE O mestrado em Desenvolvimento Regional e PARADIGMAS Meio Ambiente com área de concentração em Di- nâmica Regional e Alternativas da Sustentabilidade No Brasil, os estudos de desenvolvimento regio- tem-se apresentado como uma perspectiva concreta nal, até recentemente, usavam como principal crité- de associar a experiência consolidada da pesquisa de rio as divisões regionais estabelecidas ou pelo IBGE docentes em diferentes áreas do conhecimento ao (macro região) ou por critérios de divisão político- desafio de se integrar pesquisas voltadas ao processo administrativa como as do Estado de São Paulo, por de desenvolvimento regional, privilegiando-se a inter- exemplo. Por este critério, as informações estatísticas face com a questão ambiental e a discussão interdis- fornecidas pelas agências IBGE e Fundação SEADE, ciplinar de aspectos cruciais para o planejamento da dentre outras, se sustentavam apenas em dados sócio- gestão pública e privada. econômicos.

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A introdução mais recente do conceito de Bacias pesquisa e de trabalho, considerando a possibilidade Hidrográficas como critério de divisão territorial vem de contribuir para a sistematização e análise de dados permitindo a ampliação dos estudos com a inclusão de empíricos e teóricos, o que justifica uma agenda de informações ambientais, referentes à funcionalidade e pesquisa bastante extensa e complexa, uma agenda uso da água, tratamento de esgoto e lixo, ou seja, estu- que não pretende reduzir esta relação ao movimento dos de descarte de resíduos sólidos e líquidos e suas do capital, mas justamente abrir-se a análises integra- implicações. Segundo este conceito, Araraquara está das com prefeituras na proposta de subsídios para im- incluída na Unidade de Gerenciamento de Recursos plantação de políticas públicas de cunho regional. Hídricos -UGRHI-13, denominada Bacia Hidrográfica Igualmente, a constatação da existência de uma Tietê-Jacaré. “A tendência moderna do planejamen- grande demanda regional, por ampliação e maior qua- to dos recursos hídricos dá-se no sentido de não se lificação profissional na área, estimulou significativa- considerar, a priori, nenhuma utilização preferencial, mente a construção da proposta. Acrescente-se a tais mas de contemplar diversos usos, de acordo com uma questões, o caráter pioneiro de uma proposta com tais perspectiva de gestão global, buscando uma utilização características na região e no Estado de São Paulo. racional de cada bacia. As bacias devem ser conside- Assim sendo, tanto do ponto de vista das ne- radas como um todo indivisível, cujo aproveitamento cessidades e disponibilidades regionais, quanto pela deve dar-se da forma mais otimizada possível, com demanda existente por cursos desta natureza, pode- objetivo de buscar um melhor desenvolvimento eco- se afirmar que o Curso de Pós-Graduação -em De nômico e social para as respectivas regiões, partindo senvolvimento Regional e Meio Ambiente vem tendo do conhecimento das características e necessidades um engajamento bastante intenso com o desenvolvi- locais” (GALLO,2007). mento regional. Numa dupla entrada, de interação Esta região do Estado de São Paulo, desde os acadêmica científica e com as exigências de políticas anos 70, vem se caracterizando por intensa dinâmi- públicas. Há que se acrescentar que a proximidade ca de crescimento econômico, fundado principal- com núcleos universitários regionais: UNESP, Cam- mente na modernização da agricultura e sua rápida pi de Araraquara, Jaboticabal, Rio Claro; USP, Campi transformação em atividade agro-industrial voltada à São Carlos, Piracicaba, Ribeirão Preto; UFSCAR, São exportação. Trata-se de uma região que vem passan- Carlos; UNICAMP, Campinas, dotados de laborató- do, também, por rápido adensamento populacional rios consolidados tem favorecido o desenvolvimento apresentando atualmente, problemas urbanos típicos do mestrado, dadas as parcerias com algumas destas de cidades de porte médio, quais sejam: problemas unidades para o desenvolvimento de pesquisas inte- de habitação, saúde, educação e, particularmente, gradas, workshops conjuntos, dentre inúmeras outras problemas ambientais. Mais recentemente, nos anos atividades. finais da década de 1990, a região vem sendo foco de diversos investimentos de porte significativo em ativi- dades aplicadoras e geradoras de inovação tecnológi- ca em produção e gestão. É o caso, por exemplo, da AS RESPOSTAS DO MESTRADO NO PLA- instalação de um Pólo Aeronáutico, destacando-se a NO DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO presença de uma unidade da Embraer na região, den- tre outras indústrias de grande porte. Os impactos O objetivo maior do curso de mestrado é consoli- destes investimentos já se fazem sentir, tanto em ter- dar seu papel como centro produtor de pesquisa e de mos das mudanças nos processos de produção quanto conhecimento voltado à discussão interdisciplinar e nas transformações relativas à questão ambiental. contextual do processo de desenvolvimento regional Além disso, a partir da segunda metade da dé- frente às questões ambientais. O caráter inovador da cada de 80, a região vem absorvendo crescentemente proposta está relacionado ao desafio de compreender núcleos de assentamentos rurais - sendo atualmente e intervir no processo de transformações que afetam a segunda região do Estado de São Paulo em número as distintas dimensões da organização social. Desta de famílias assentadas - os quais têm exigido reorien- forma, contribuir para a formação de um profissio- tação de ações de políticas de desenvolvimento local/ nal com visão holística e ética, com compreensão do regional. É sob um outro olhar, da análise dos impac- processo de desenvolvimento regional e domínio de tos ambientais, sociais e econômicos, dos contrapon- instrumentos conceituais e metodológicos essenciais tos à expansão do agronegócio que foi construída a para o planejamento e gestão de instituições públi- agenda do mestrado. cas e privadas. Para tanto, faz-se necessário superar o dualismo de visões segmentadas ou pontuais que A implantação de um curso de mestrado com pre- fragmentam meio ambiente, estrutura produtiva e ocupação voltada ao desenvolvimento regional e meio alternativas de desenvolvimento sustentável local e ambiente na região abre um importante espaço de regional. O diferencial apresentado neste mestrado

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não elimina fronteiras ou ignora especialidades de do território. De outro, novos espaços públicos são trajetórias acadêmicas e disciplinares, mas propõe-se criados a partir da reorganização das atividades da a viabilizar a convivência com a complexidade neces- produção de bens e serviços e das estratégias de sus- sária à intervenção nas políticas existentes. Portanto, tentabilidade que aparecem no enfrentamento à ex- trata-se de desenvolver uma proposta articulada que, clusão social. No domínio empresarial, a perspectiva embora enfoque objetos de estudos muito próximos, de atuação em ambientes concorrenciais dinâmicos e, por isso, muitas vezes conflitantes, proporcione for- tem levado à crescente preocupação com problemas te espaço de diálogo sob perspectivas diferentes entre ambientais. Neste contexto, a gestão de variáveis am- pesquisadores e discentes. bientais pelas organizações constitui-se em um tema Nesta perspectiva, esta proposta de mestrado privilegiado de análise do mestrado. interdisciplinar está voltada ao estudo de processos A perspectiva de um pensamento substantiva- sócio-econômicos ambientais que têm trazido mu- mente inovador surge de um esforço colaborativo de danças significativas nos rumos do desenvolvimento estudiosos de diferentes disciplinas, o que requer, regional. Tais mudanças exigem uma compreensão sem dúvida, liberdade e coragem de investir na pro- multidimensional de tais processos, pois envolvem dução do conhecimento sem instrumentos de contro- várias dinâmicas (econômica, ambiental, política) e o le do seu desfecho possível. A proposta de mestrado desafio de se trabalhar analiticamente com a diversi- enfrenta os riscos da experiência de interdisciplinarie- dade, com instrumentos de gestão privada e de ges- dade, sem pretender imprimir ao seu núcleo acadêmi- tão pública, privilegiando-se, como eixo estruturador, co o estatuto de uma receita ordenadora e linear dos a análise de alternativas da sustentabilidade. Busca-se rumos da construção do trabalho interdisciplinar. articular os estudos teóricos aos problemas que se apresentam em uma região, compreendida em sua heterogeneidade, como expressão de novas práticas, o que tem justificado investimento em pesquisa, o es- GESTÃO DO TERRITÓRIO: O DIÁLOGO tabelecimento de convênios com instituições de ensi- NECESSÁRIO ENTRE HOMENS E AMBIEN- no superior, com prefeituras, com a iniciativa privada TE e, igualmente, intervenção nas políticas públicas. O estudo da gestão integrada do território no Abre-se a necessidade de uma agenda de pes- Mestrado tem implicado na análise dos processos de quisa em meio ambiente e desenvolvimento regional, ocupação nos seus diversos aspectos: urbanização, com interfaces, do ponto de vista teórico-metodológi- agricultura, mineração, industrialização, preservação co e da construção continuada de abordagens relacio- da qualidade ambiental, recursos hídricos etc. Tem nais. Tal movimento se faz presente na configuração sido observado o processo de uso e ocupação do ter- da área de concentração, a qual se explicita através ritório a partir de uma perspectiva histórica, analisan- de linhas de pesquisa, na estrutura curricular, na re- do as transformações do meio e seus impactos sobre lação com os projetos de pesquisa dos docentes e dos o ambiente natural e sobre as relações econômicas, mestrandos na constituição dos grupos de pesquisa sociais e ambientais. No mestrado em discussão, o do mestrado, nas dissertações já concluídas. estudo do território tem obedecido a princípios de interdisciplinaridade, sendo objeto tanto das ciên- cias ambientais quanto das ciências sociais e tem ÁREA DE CONCENTRAÇÃO E LINHAS DE considerado os seguintes aspectos: 1) impactos das PESQUISA: O DESAFIO DE INTEGRAR políticas nacionais e estaduais sobre os municípios e DIFERENCIADAS ABORDAGENS as regiões; 2) políticas locais de desenvolvimento e suas conseqüências; 3) papéis exercidos pelos diver- A área de concentração, Dinâmica Regional e sos agentes sociais instalados nos municípios e nas Alternativas de Sustentatibilidade está formada por regiões; 4) processo de ocupação do território pelas três linhas de pesquisa, Gestão de Território, Políticas atividades econômicas e assentamentos humanos; Públicas e Desenvolvimento, e Empresa e Sustenta- 5) conexões entre as políticas nacionais, estaduais e bilidade, que se entrecruzam, explicitando a propos- locais; 6) crescimento econômico e as dimensões so- ta interdisciplinar do curso. Os projetos, apesar de ciais, econômicas, ecológicas, espaciais e culturais de formalmente alocados em uma determinada linha de sustentabilidade; 7) medidas mitigadoras dos impac- pesquisa, dialogam com as demais linhas. tos ambientais da instalação de empreendimentos nas regiões e nos municípios; 8) importância da educação De um lado, bacia hidrográfica passou a ser, ambiental e resultados do processo de desenvolvi- como já descrito, uma unidade funcional analitica- mento em termos de melhoria da qualidade de vida mente indispensável para a inteligibilidade da gestão da população. Os projetos alocados nesta linha de pes-

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quisa estão predominantemente voltados ao estudo em profundidade, singularidades de processos sociais das relações entre homem-ambiente, usos múltiplos concretos. Nos espaços agrários, os assentamentos dos recursos hídricos e conflitos deles decorrentes. A rurais analisados como uma política estatal definida bacia hidrográfica como unidade de análise tem pos- pelo jogo das forças sociais têm sido pesquisados, sibilitado paulatinamente a descentralização da gestão enquanto alternativas de sustentabilidade e possíveis e do processo decisório. As pesquisas desenvolvidas contrapontos ao agronegócio regional. têm confirmado que a adoção recente deste modelo descentralizado para a gestão das águas e do meio ambiente, como uma nova referência espacial para o desenvolvimento das políticas públicas, tem, cada EMPRESA E SUSTENTABILIDADE: O NE- vez mais, tornado indissociáveis os planejamentos CESSÁRIO GANHO AMBIENTAL NA AGEN- econômico e territorial, pois, quando se toma a bacia DA EMPRESARIAL hidrográfica como base para a pesquisa devem,- ne cessariamente, ser considerados os seguintes pontos: Esta linha de pesquisa procura analisar a impor- 1) o processo de desenvolvimento econômico e seus tância da questão ambiental na empresa para o desen- impactos sobre a base de recursos naturais da região; volvimento sustentável. Propõe-se a discutir como as 2) os papéis exercidos pelos diversos agentes (indús- organizações estão desenvolvendo estratégias para tria, agricultura, setor de serviços, população e setor responder às demandas ambientais, sociais e econô- público); 3) o quadro institucional e os instrumentos micas. As questões ambientais colocadas pela socie- desenvolvidos para garantir o uso sustentado dos re- dade para as organizações apontam para o desenvol- cursos naturais. vimento de projetos de pesquisa que unam fatores econômicos, financeiro-sociais e ecológicos em uma abordagem relacional e integrada. A linha de pesquisa EMPRESA E SUSTENTA- POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVI- BILIDADE visa investigar de que forma as empresas MENTO: A PRODUÇÃO ACADÊMICA COMO de bens e serviços internalizam questões ambientais, INSTRUMENTO POSSÍVEL DE INTERVEN- sociais e econômicas demandadas pela sociedade. Po- ÇÃO líticas e programas promovidos pelas empresas ten- dem a auxiliar na diferenciação de seus produtos com Esta linha de pesquisa vem dando prossegui- relação aos concorrentes. Os benefícios da aplicação mento aos estudos de processos desenvolvimento re- de tais políticas e programas são vários e abrangem gionais e locais, permitindo investigar condições em não só os consumidores, como todas as áreas da em- que novos espaços e agentes públicos e privados são presa, com possível aumento de produtividade, com- criados e transformados. Busca o estudo da realidade prometimento do corpo funcional, melhoria da ima- regional em suas especificidades e potencialidades e gem institucional, melhoria das relações de trabalho a elaboração de critérios e indicadores para a formula- e economia de custos. Esta linha de pesquisa compre- ção de políticas públicas regionais e integradas. Esta ende projetos relacionados à adequação de ferramen- linha de pesquisa compreende projetos voltados ao tas de gerenciamento para melhoria de processos e estudo da região, sem excluir perspectivas analíticas produtos; análise da aprendizagem organizacional de âmbitos nacional e global. Busca investigar o que é direcionada às questões ambientais; desenvolvimento o desenvolvimento local e porque pode ocorrer o seu de processos utilizando tecnologias de produção mais fortalecimento quando o mundo está se globalizando limpa. e o espaço se integrando. Como cada território pode e Volta-se ainda para o estudo da produtividade deve mover-se dentro desses processos de mudanças nesse contexto, não dissociando-o de fatores sócio que penetram e influenciam todos os espaços? Como ambientais. Compreende também projetos que visam podem ser efetivados processos endógenos de desen- o estudo das relações entre investimentos em meio volvimento que levem ao dinamismo econômico e à ambiente, recursos humanos, responsabilidade social melhoria de qualidade de vida da população? Como e criação de valor de empresas de diferentes setores podem ser desenvolvidas e estudadas ações conver- no Brasil, estendendo-se estas relações a variáveis gentes e complementares e mudanças institucionais como eficiência produtiva, valor adicionado, custos que aumentem a governabilidade e a governança das e receitas das empresas. Questiona-se, por meio des- instituições locais? Como pode ocorrer a valorização tes estudos, se os investimentos atuais realizados em do local e da diversidade, como diferencial de qualida- meio ambiente pelas empresas são compatíveis com de de vida e de competitividade? É importante se frisar os danos ambientais por elas provocados, buscando que esta linha de pesquisa vem discutindo criticamen- critérios de valoração econômica dos impactos am- te a segmentação rural- urbano, optando por analisar

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bientais causados. temas de natureza epistemológica, mas envolve igual- mente uma abordagem sobre a filosofia da ciência. In- troduz o alcance e os limites do caráter cada vez mais interdisciplinar da pesquisa científica contemporânea. A AGENDA DO MESTRADO EM MOVIMEN- Analisa, também, diferentes abordagens metodológi- TO cas e a perspectiva de complementaridade das estraté- gias de pesquisa a partir dos ante-projetos e linhas de As estratégias utilizadas para implantação e aper- pesquisa. Tem como objetivo, uma abordagem rela- feiçoamento da proposta exigem, para sua inteligibi- cional entre a volumosa e consistente literatura sobre lidade, a retomada de iniciativas levadas a efeito no a teoria e a prática da pesquisa científica e o caráter campo da estrutura curricular, no incentivo à pesqui- recente da reflexão sobre a interdisciplinariedade. sa, das parcerias e dos investimentos institucionais. Cumprido o tronco comum obrigatório, são ofe- recidas disciplinas optativas temáticas, as quais se di- versificarão segundo as linhas de pesquisas e os eixos No plano da estrutura curricular: o esforço dos projetos dos mestrandos. A escolha dessas três da densidade interdisciplinar disciplinas optativas é feita sob supervisão do orienta- dor, tendo como principal critério o tema do projeto de O curso de pós-graduação Stricto Sensu em pesquisa. Respeitado o princípio de flexibilidade suge- Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, nível rido pela CAPES, a composição da grade curricular de mestrado, compreende 900 horas de atividades tem uma orientação temática, de forma a integrar-se distribuídas em 4 semestres (com possibilidade de às linhas de pesquisa do mestrado. Após três anos do prorrogação de 1 semestre). A estrutura curricular funcionamento dessa estrutura curricular, ficou evi- foi parcialmente reformulada para melhor cumprir os denciada, a partir do desempenho dos alunos, das inú- objetivos da proposta multidisciplinar. As duas disci- meras discussões envolvendo docentes das disciplinas, plinas obrigatórias (08 créditos) e o elenco das dez pesquisadores, mestrandos e o conselho de curso do disciplinas optativas/temáticas foi reduzido para sete programa, a necessidade de uma parcial reformulação disciplinas. O programa exige a realização das seguin- do leque dessas disciplinas. Nesse sentido, ocorreram tes atividades obrigatórias integradoras: Seminários fusões de disciplinas com a conseqüente reorganiza- de Pesquisa (03 créditos) no 1º ano; Seminários de ção de conteúdos programáticos e de colaboração de Dissertação (03 créditos) no 2º ano; Seminários de docentes, promovendo e possibilitando aprofundar Integração (02 créditos) e Atividades Programadas a integração multidisciplinar com as seguintes dis- (02 créditos). A redação e a defesa de dissertação (30 ciplinas: Agricultura e Desenvolvimento; Bacias créditos) complementam a estrutura curricular. Hidrográficas: uma abordagem interdisciplinar; Independentemente da linha de pesquisa a ser Bases Ecológicas do Desenvolvimento Sustentá- escolhida pelo mestrando, os alunos do programa vel; Impactos Ambientais: avaliação, prevenção cursam, no primeiro semestre, as duas disciplinas e controle; Políticas Públicas e Desenvolvimen- obrigatórias: Desenvolvimento Regional e Meio to; Gestão Ambiental nas Organizações; Temas Ambiente: História e Perspectivas e Metodologia do Desenvolvimento Local. O tópico Estudos Di- Científica: um diálogo interdisciplinar. A primei- rigidos foi mantido considerando que busca fornecer ra discute os principais conceitos e interpretações das uma base conceitual complementar no tratamento do áreas do conhecimento envolvidas na relação desen- objeto do projeto do mestrando e igualmente permitir volvimento regional e meio ambiente. Com o objetivo a absorção de novas abordagens que possam integrar- de contextualizar o aluno ingressante nessa temática, se às linhas de pesquisa do mestrado. são discutidos conceitos que têm dado suporte às aná- Os Seminários de Pesquisa, coordenados por lises que buscam avançar em sua compreensão. Para um docente do programa têm por objetivo principal a tanto, são fornecidos subsídios necessários para uma apresentação do objeto de pesquisa dos alunos, num discussão sistêmica, ética e multidisciplinar sobre pro- contexto de integração interdisciplinar. Os temas des- cessos de desenvolvimento sustentável. A disciplina tes seminários correspondem ao projeto de pesquisa se vale de conceitos de várias áreas do conhecimento dos mestrandos e estão inseridos na linha de pesquisa para investigar a relação entre desenvolvimento re- do professor orientador, objetivando um tratamento gional e meio ambiente, da perspectiva de dimensões integrado, não compartimentalizado, não reducionis- ecológicas, econômicas, políticas, sociais e culturais, ta e, especialmente, histórico dos temas em estudo. A em adequação à natureza interdisciplinar do mestra- avaliação dos Seminários de Pesquisa é realizada por do. A segunda disciplina obrigatória, Metodolo- uma banca composta pelo professor coordenador da gia Científica: um diálogo interdisciplinar discute disciplina, pelo professor orientador e por dois pes-

192 SEGUNDA PARTE

quisadores da linha de pesquisa na qual se insere o públicas setoriais; A ciência e a inovação no contexto projeto em discussão. regional; Racionalidade limitada, incrementalismo e A apresentação do desenvolvimento das ativida- análise sistêmica; Aderência dos sistemas de gestão des de pesquisa é realizada nos Seminários de Dis- integrada às organizações; Assentamentos rurais em sertação, nos quais são discutidos os resultados par- hortos florestais: o caso da região nordeste paulista; ciais visando a preparação dos alunos para o exame de Atlas Rural de Piracicaba: o resultado de uma expe- qualificação. Da mesma forma que nos seminários de riência de planejamento municipal; Desafios da sus- pesquisa, a avaliação dos seminários de dissertação tentabilidade em Araraquara; Interface possível entre é realizada por uma banca composta pelo professor a pesquisa qualitativa e quantitativa; O papel das es- coordenador da disciplina, pelo professor orientador tatísticas em pesquisas quantitativas; Metodologia de e por dois pesquisadores da linha de pesquisa na qual pesquisa em educação: abordagens qualitativas. se insere o projeto em discussão. Alguns aspectos a serem ressaltados neste rol de Nas Atividades Programadas são atribuídos temas referem-se à discussão de metodologias de créditos referentes à participação dos alunos em ciclo pesquisa , das interfaces entre as técnicas de pesqui- de palestras, simpósios, conferências, comunicações sa e vertentes teóricas para a análise e formulação de em eventos científicos relacionados às atividades de políticas públicas. pesquisa dos mestrandos. Estas atividades incentivam e exercitam os mestrandos a divulgarem a produção científica em periódicos Qualis, em eventos -científi A mola mestra da pós-graduação: os gru- cos, bem como a participarem de Grupos de Pesquisa pos de pesquisa e de Extensão coordenados por docentes do progra- ma. A consolidação de alguns grupos e a melhor de- finição dos rumos de pesquisa expressam o amadure- cimento do mestrado com a ampliação das parcerias Seminários de Integração: Avanços no e da produção acadêmica, organização de eventos diálogo interdisciplinar. científicos que foram referências estaduais e- nacio nais, além da presença de pesquisadores do mestrado Ao longo destes anos, uma das atividades do em outras instituições e da incorporação ao programa mestrado, que permitiu avanços no diálogo interdisci- de pesquisadores que fizeram doutorado em outras plinar foram os Seminários de Integração que têm por instituições. objetivo o aprofundamento do estudo de temas multi- Os quatro grupos de pesquisa vêm apresentan- disciplinares e a realização de contatos institucionais, do trajetórias promissoras: uma vez que são ministrados por pesquisadores visi- Núcleo de Estudos e Pesquisas em Desen- tantes e docentes do mestrado. Em 2006, passaram volvimento Local – NEPDL/UNIARA, criado em a ser atribuídos créditos a estes seminários, dada a torno de um projeto Fapesp, vem buscando contribuir importância que representam, enquanto espaço pro- para a reflexão a respeito da questão das políticas pú- pício às discussões, o que vem possibilitando avanço blicas de corte regional por meio de pesquisas volta- na integração multidisciplinar entre docentes, alunos das ao tema do desenvolvimento local, destacando-se do programa e pesquisadores convidados. principalmente estudos sobre atividades produtivas, Os seminários de integração são organizados inovação e a questão ambiental. A partir do estudo de com o objetivo estratégico de ocupar espaços no co- temas regionais, o grupo está procurando não olhar nhecimento que complementem e integrem as pes- apenas para dentro da própria região, mas buscar uma quisas e os trabalhos em curso, selecionando temas perspectiva mais ampla que permita alargar a frontei- voltados à ampliação do diálogo interdisciplinar, tais ra de seus conhecimentos, buscando problematizar a como: Novos e antigos contaminantes ambientais e natureza das dificuldades da implementação de polí- seus efeitos como alteradores endócrinos; Certifica- ticas públicas de corte micro regional e das possibili- ção florestal no Brasil: situação atual e perspectivas; dades de aproximação entre os municípios da região. Análise e governança das redes e arranjos produtivos Merecem destaque dois dos projetos desenvolvidos locais; Macroinvertebrados aquáticos como bioindica- pelo grupo: “Certificação na Agricultura: análise das dores da qualidade da água; Desenvolvimento e meio possibilidades de diversificação e de incremento das ambiente na Índia; Virtuelle Fabrik: um caso prático articulações para o desenvolvimento da produção re- de rede de cooperação entre empresa; Capacitação de gional”, financiado pelo CNPq e “Percurso de Cola- gestores para o setor de agregados para a construção boração para a Implementação de Políticas Públicas civil: uma contribuição para a formulação de políticas de Desenvolvimento Local Integrado entre Regiões”

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, desenvolvido no âmbito do Acordo de Cooperação lecimento de experiências regionais e de construção entre as regiões italianas do Marche, da Toscana, da de política pública de economia solidária. Ùmbria, da Emilia Romagna e o Governo da Repúbli- O Grupo de Educação e Meio Ambiente vem ca Federativa do Brasil, que vem resultando na orga- tendo ênfase em abordagens sistêmicas. Os temas nização do Consórcio Intermunicipal Centro Paulista, analisados têm reforçado a importância da utilização firmado formalmente entre os municípios da região e do conceito de bacias hidrográficas como unidades a primeira ação do consórcio, o Observatório Sócio- integradoras dos sistemas ecológicos e permitido o Econômico Regional. exercício de metodologias e estratégias de pesquisas Grupo de Assentamentos Rurais e Poder complementares. Este recorte tem caminhado na di- Local, que vem se constituindo em referência nacio- reção da interdisciplinaridade, buscando diálogo com nal diante dos resultados de pesquisa expressos em outras áreas do Mestrado. Cabe igualmente destacar artigos e discussões travadas nos fóruns mais signi- o avanço na discussão de metodologias de Educação ficativos da comunidade acadêmica. Este grupo liga- Ambiental no contexto da Educação Básica, através do ao Núcleo de Pesquisa, Estudo e Documentação de encaminhamentos dados ao tema transversal meio Rural NUPEDOR, inicialmente vinculado à UNESP e ambiente. Pesquisadores voltados a esta temática a partir de 2005 à UNIARA onde vem desenvolvendo participam como convidados pelo Ministério do Meio uma pesquisa longitudinal voltada a assentamentos Ambiente do projeto de formação de Educadores(as) rurais. Em 2007, o projeto Assentamentos Rurais e Ambientais do Departamento de Educação Ambiental Desenvolvimento: tensões, bloqueios e perspectivas: do Ministério do Meio Ambiente (convênio MMA/ uma análise comparativa em duas regiões do Estado FNMA nº 02000.005542/2005-17), aprovado em 2º lu- de São Paulo”, continuou financiado pelo CNPq, para gar em seleção nacional. o triênio 2007-2010. O grupo vem tendo resultados enriquecedores na formação de pesquisadores, na integração da pesquisa de graduação e de pós-gradu- ação, nas publicações em co-autoria e na prática de A FERTILIZAÇÃO DA PESQUISA: INTE- apresentar continuadamente os produtos das inves- GRAÇÃO DA GRADUAÇÃO COM A PÓS- tigações à crítica acadêmica. Tem, sob sua coorde- GRADUAÇÃO nação, a coleção Retratos de Assentamentos em seu décimo número. Nos dois últimos anos, os simpósios A institucionalização da iniciação científica da Impasses e Dilemas da Política de Assentamen- UNIARA e a sua integração com o Programa de Mes- tos, 2005 (financiamento CNPq/NEAD) e Reforma trado vem permitindo a inserção de alunos de gradu- Agrária e Desenvolvimento: desafios e rumos da ação em projetos institucionais e interinstitucionais, política de assentamentos rurais, 2006, (financia- abrindo frentes de formação de jovens pesquisadores, mento da CAPES e do Incra/MDA) trouxeram saldos o que se revela extremamente positivo para a efetiva- extremamente produtivos, expressos no número de ção de uma agenda de pesquisas voltada a estudos de participantes, na representatividade regional e nacio- desenvolvimento regional e meio ambiente. nal, na participação dos agentes de movimentos so- Os avanços nas atividades de integração do Pro- ciais, dos órgãos gestores e na produção acadêmica grama de Mestrado com a graduação foram resulta- resultante dos debates. Cabe ressaltar que a produção dos de importantes iniciativas institucionais. Centro do grupo tem oferecido subsídios às políticas públicas Integrado de Pesquisa (marco de uma política de de assentamentos de reforma agrária e intercâmbio pesquisa da UNIARA, dada a organização, em grupos com órgãos governamentais. temáticos, de projetos que vinham sendo desenvol- Grupo de Economia Solidária o qual vem de- vidos isoladamente por professores dos diferentes senvolvendo discussões teóricas e estudos empíricos cursos de graduação), Centro de Estudos Ambien- com os principais objetivos: reafirmar o compromis- tais-CEAM (através do Boletim sócio- econômico e so da universidade como facilitadora no processo de ambiental, clipping regional do meio ambiente, pro- organização popular, contribuindo com a interação e grama de rádio Rede Ambiente, o centro tem permiti- vitalidade dos movimentos sociais; fortalecer o prota- do o aprimoramento acadêmico nos passos dados no gonismo dos empreendedores populares no processo fomento à extensão, enquanto atividade de pesquisa), de construção do projeto político e da rede nacional Aliados a estas iniciativas há marcos fundamen- de economia solidária; difundir as experiências regio- tais no processo de produção científica na instituição: nais em economia solidária, discutir sua evolução e o integração da UNIARA no sistema PIBIC/CNPq, reali- incentivo dos governos municipais na geração de tra- zação do I Congresso de Iniciação Científica da UNIA- balho e renda; criar espaço para o debate sobre o pa- RA e o credenciamento da UNIARA junto ao CNPq ao pel dos atores sociais envolvidos no processo de forta- Diretórios dos Grupos de Pesquisa do Brasil.

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DESAFIOS É QUE NÃO FALTAM sam ser enfrentadas, destaca-se a produção acadê- mica na área interdisciplinar. Essa dificuldade está A análise da trajetória do programa quanto às relacionada, em primeiro lugar com o fato de que os linhas de pesquisas, projetos, produção científica do- resultados das pesquisas e a construção interdiscipli- cente/discente e dissertações, reforça e reafirma o nar não se refletem, com facilidade, em indicadores de tema proposto do programa e vem exigindo revisões e produtividade científica. Ou seja, os grupos apresen- ajustes parciais em algumas de suas atividades, como tam avanços em seus estudos, porém esses ainda não é esperado na pesquisa acadêmico-científica. Mere- encontram – via de regra – perspectivas de retorno cem destaques alguns aspectos relativos à evolução sob a forma de publicações no sistema Qualis. Porém do programa, tais como: o investimento na discus- já existem alguns indicadores que apontam avanços são conjunta das ementas das disciplinas; os ganhos na produção interdisciplinar. Neste sentido, pode-se analíticos, na apreensão das diferenças, obtidos nos destacar o aumento das publicações entre docentes e espaços de diálogo interdisciplinar, para os quais são mestrandos e a revisão da abordagem de alguns pro- convidados especialistas de diferentes áreas e discuti- jetos de pesquisa na busca de uma construção inter- das interfaces possíveis no tratamento de temas sele- disciplinar. cionados; as contribuições acadêmico-científicas para Igualmente, cabe destacar que o mestrado vem as dissertações nos seminários de pesquisa, espaços se constituindo em referência para discussão e aplica- de apresentação dos projetos, quando além do orien- ção de instrumentos de políticas de desenvolvimen- tador, participam todos os alunos e pesquisadores, to urbano e rural, oferecendo às prefeituras, ongs e com a presença de uma banca indicada para apresen- outras instâncias, um referencial analítico para ser tar um comentário mais sistemático aos projetos. Esta construída uma agenda efetiva de desenvolvimento atividade tem sido um encontro de diferentes metodo- regional e meio ambiente. Podemos citar como exem- logias, diferentes estratégias de pesquisa. plos, o projeto de cooperação Brasil - Itália, o projeto Novos conceitos, experiências e desafios encon- Parque do Conhecimento, construído em integração trados na integração com instituições públicas e priva- com a prefeitura, DAAE e, associações de catadores das contribuem valiosamente na dinâmica da atividade de produtos recicláveis. de docência, nas propostas de projetos de pesquisa e Cabe por fim ressaltar a perspectiva de construir no direcionamento dos temas dos eventos científicos um itinerário de temas e discuti-los de forma integra- organizados pelo programa. Assim, atribuir procedi- da. Por exemplo, a partir da área de concentração, mentos à mobilidade acadêmica para aproximar os foram propostos um conjunto de conceitos – sustenta- sujeitos e experiências provenientes de diferentes tra- bilidade, indicadores de qualidade de vida, desenvol- jetórias intra e inter-institucionais é um dos desafios vimento regional, economia solidária, região – discu- bem enfrentados por esse mestrado. tidos a partir de abordagens diferenciadas, buscando Um importante aspecto que vem sendo observa- construir uma integração possível, evitando-se os ris- do refere-se às especificidades do trabalho multidis- cos de se aglutinar, sem dialogar, sem interagir. Este ciplinar e à realidade sócio-econômica de alunos que tem sido o caminho para se discutir a integração pos- buscam em programas de mestrado, especialmente, sível de diferentes abordagens metodológicas, o que no caso dos programas multidisciplinares, uma quali- exige um exercício continuado de diálogo. ficação diferenciada, muitas vezes tendo que acumu- lar seus estudos com jornadas de trabalho. Se este quadro real revela uma clientela diferenciada, não há A BOA SEMENTEIRA: DISSERTAÇÕES como negar a importância do possível retorno social da sua qualificação e do conhecimento produzido para DEFENDIDAS as próprias perspectivas de desenvolvimento do país. Este artigo procurou, através de uma experiên- Negar tais mudanças significa insistir em modelos já cia concreta, mostrar que a busca de complementa- superados de formação e qualificação de recursos hu- ridade é um fértil e possível caminho da produção manos. do conhecimento.Não basta uma convivência har- Outro ponto positivo vem sendo a significativa moniosa entre pesquisadores especialistas, se eles procura deste mestrado por alunos desta e de outras continuam presos, de forma irredutível, a sua cultura regiões que têm buscado conhecimento em uma área profissional. É preciso um ininterrupto movimento de fronteira – desenvolvimento regional e meio am- de cooperação, de troca de experiências, de amadu- biente – ainda não apreendida em suas facetas multi- recimento e ampliação da convivência crítica. Discutir disciplinares nos mestrados existentes no interior do desenvolvimento regional e meio ambiente com falsos Estado de São Paulo, recomendados pela CAPES. diálogos ou com abordagens isoladas de especialistas Dentre as principais questões que ainda preci- implicaria em mutilações comprometedoras, do ponto

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de vista científico e das responsabilidades sociais da Políticas Públicas de Educação Superior: produção do conhecimento. desafios e proposições. Associação Brasileira de Ao apresentar as dissertações defendidas, pre- Mantenedoras de Ensino Superior, FUNADESP- Bra- tende-se, uma leitura além dos nomes e números. O sília, 2002. que importa são os esforços desenvolvidos para man- Ribeiro J. R. Como lidar com as novas figuras ter viva a discussão conjunta, a atitude aberta de reco- da desigualdade: o caso da desigualdade regio- nhecimento dos outros saberes como necessários à nal. In REDES, Santa Cruz do Sul. vol 7n. 3. p13-20. interpretação e intervenção em uma questão vital para set 2002. os rumos da sociedade. Tais pesquisas se amparam Schwartzman, Simon. Bomeny Maria Helena metodologicamente em esforços de interdisciplinari- Bausquet. Costa, Ribeiro Vanda Maria (Orgs). Tem- dade, resultando, em graus diferenciados, no entrela- pos de Capanema, Edusp/Paz e Terra. Parte III, çamento de enfoques teóricos distintos. Tempo de Reforma pp. 173-230, 1994. A relação desenvolvimento regional/meio am- Sampaio, Helena. Evolução do ensino supe- biente envolve movimento, processo constante que só rior brasileiro:1808 – 1990. Documento de Traba- pode ser enfrentado por interfaces interdisciplinares, lho NUPES, 8/91. Núcleo de Pesquisa sobre Ensino as quais podem implicar em perspectivas de recriação Superior da Universidade de São Paulo, 1991. e ressignificação de saberes socialmente dominan- Sampaio, Helena. Trajetória e tendências re- tes. centes do setor privado de ensino superior no Só por esse enfrentamento – sem falar na pra- Brasil. CIPEDES n. 9 p 1-11,2000. zerosa convivência com saldos positivos dessa boa Sampaio, Helena. O ensino superior no Bra- sementeira – tem valido o esforço de levar a pós-gra- sil: o setor privado. São Paulo, Fapesp /Hucitec, duação, em um centro universitário, a ser um núcleo 2000. 408 páginas. dinâmico de conhecimento crítico e científico. Teixeira, Anísio. O ensino superior no Brasil: análise e interpretação de sua evolução até 1969. Rio de Janeiro. Fundação Getúlio Vargas, 1969. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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196 SEGUNDA PARTE Carlos Produção. Santa Lúcia Alimentícias Competitividade?” adoção de sistemas ERP. desenvolvimento sustentável escores de eficiência obtidos. EMPRESA E SUSTENTABILIDADE EMPRESA uma Grande Montadora do ABC Paulista uma Grande Montadora do indústrias no setor metal-mecânico: uma visão do Empresas: Uma abordagem à Indústria de Massas Uma abordagem estratégica do Projeto Pedagógico: “Educação Continuada: Estratégia Empregada pelas O Caso de um curso graduação em Engenharia Empresas para Desenvolver Pessoas e como Fator de A gestão estratégica de custos em pequenas e médias A da Proposta de Gerenciamento Resíduos Perigosos fluxo de caixa com abordagem ao Balanced Scored em A Integração dos Sistemas de Custos ABC e Custos da Integração dos Sistemas de Custos A Estrutural a partir da Década de 90: Estudo Caso de eficiência através de metodologia DEA e análise dos de eficiência através metodologia DEA Uma análise do impacto “Simples” sistema integrado Qualidade como Diferencial Competitivo para Pequenas medição de eficiência produtiva, elaboração rankings de contribuições e tributos: estudo caso na cidade A Engenharia de Segurança do Trabalho: Análise Crítica Engenharia de Segurança do Trabalho: A Eficiência Produtiva da Agroindústria Canavieira Paulista: Eficiência Produtiva da A Modernização dos Meios de Produção e o Desemprego A Fluxo de caixa na gestão eficaz da empresa: aplicação do uma Empresa Metalúrgica de São José do Rio Preto – SP. Modas e modismos gerenciais: um estudo de caso sobre a Gerados na Universidade de São Paulo no Campus Jaú – SP familiares Araraquara - SP Municipal de Matão/SP de “ Bordados Ibitinga” - SP terrenos baldios em Araraquara – SP terrenos baldios em Pequenos Agricultores da Região de Araraquara-SP. Agricultores da Região de Pequenos no projeto de assentamento monte alegre – Araraquara/SP no projeto de assentamento monte alegre – POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO O Caso da Indústria de bichos de pelúcia do Município de Tabatinga – SP O Caso da Indústria de bichos pelúcia do Município Tabatinga As Representações Sociais Sobre as Queimadas de Cana-De-Açúcar em Desafios para o Desenvolvimento da Agricultura Sustentável – o Caso dos Desafios para o Desenvolvimento da Especulação imobiliária e valorização do espaço urbano: as queimadas nos Tecnologia e proteção ambiental nas indústrias do couro calçados na região de Tecnologia Desenvolvimento de Bariri: Perspectivas Sustentabilidade e Políticas Públicas Marketing Político em uma Gestão Participativa: Um Estudo de Caso da Prefeitura Arranjos Produtivos Locais: Formação, Desenvolvimento e Vínculos nas Indústrias Mini-Usinas de leite como alternativa desenvolvimento regional para produtores Sistemas de produção e estratégias vida para permanência na terra: um estudo POLÍTICAS PÚBLICAS E COOPERAÇÃO EM ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS: POLÍTICAS PÚBLICAS E COOPERAÇÃO EM Ambientais Ambientais Araraquara – SP PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E MEIO AMBIENTE: DISSERTAÇÕES DEFENDIDAS 2002 - 2007 AMBIENTE: DISSERTAÇÕES E MEIO REGIONAL DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO PROGRAMA macroinvertebrados bentônicos GESTÃO DO TERRITÓRIO Possibilidades de Ações e Parcerias Possibilidades de água e dos macroinvertebrados bentônicos Bauru – São Paulo: Elementos de Avaliação Bauru – São Paulo: Elementos de Avaliação das condições tróficas da represa do Lobo Avaliação Da Aplicação do Princípio da Insignificância nos Crimes Da Diferentes Sujeitos Sociais no Município de Matão – SP: Meio Ambiente e Educação Ambiental na Perspectiva de Ambiente e Educação Meio A percepção ambiental dos resíduos de serviço saúde A A Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica em Crimes A (Itirapina-Brotas-SP) através do estudo da comunidade de a Educação Ambiental da População de Taquaritinga – SP Ambiental da População de Taquaritinga a Educação Aplicada (CRHEA-EESC-USP): Uma abordagem avaliativa. Educação Ambiental Desenvolvida pela Polícia Ambiental de Ambiental Desenvolvida pela Polícia Educação Avaliação da qualidade água do Rio São Lourenço (Matão Avaliação – SP) através das análises variáveis físicas e químicas da – RSS da equipe de enfermagem um hospital filantrópico Educação Ambiental do Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Educação O Córrego Ribeirãozinho e sua Bacia Hidrográfica:Subsídios para A Relevância Regional e Nacional do Curso de Especialização em A A A utilização para da a Gestão Integrada Modelagem e Subterrâneos: Sustentável uma dos Matemática Recursos proposta Hídricos para – S.P. como o Município ferramenta de Araraquara

197 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007 SERVQUAL Pederneiras – SP ambientais obtidos Primas para Fertilizantes uma indústria alimentícia EMPRESA E SUSTENTABILIDADE EMPRESA do usuário e seu fornecedor porte da cidade de Tabatinga – SP porte da cidade de Tabatinga para o Desenvolvimento do 5S + A para o Desenvolvimento do 5S + caso em uma empresa de médio porte Kaizen como uma ferramenta de marketing de-açúcar como fonte alternativa de energia O plano de negócios como instrumento gestão QUALIDADE EM SERVIÇOS – Estudo comparativo QUALIDADE EM SERVIÇOS dos atributos valorizados pelos clientes na avaliação do setor metal-mecânico (induzidos) no município de da qualidade em serviços – uma aplicação do modelo Indústria e recondicionamento de peças auto-elétricas Ambiental Corporativo Global: a Indústria de Matérias- investimentos aplicados e os resultados operacionais Um Estudo sobre a Inveja no Ambiente Organizacional. Um Estudo sobre a Inveja no estratégica: estudo de casos em empresas pequeno Um Estudo sobre a Gestão da Qualidade: Uma Proposta Empresas Multinacionais e o Estabelecimento de Padrão A percepção da qualidade do serviço de lazer sob a ótica A Manutenção industrial: uma discussão entre a relação dos Estudo sobre a adoção da produção mais limpa: o caso de O setor sucroalcooleiro e a utilização da biomassa cana- A reestruturação industrial e a questão ambiental: estudo de A Paulo Rio Preto Desenvolvimento paulistas de pequeno porte dos resíduos da construção cívil odontológico no município de Araraquara odontológico no município de Economia Solidária: experiências na região Turvo-Grande/SP POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO Projeto Educação do Campo: estratégias e alternativas no campo Inovação em Serviços de Saneamento: desafios para os municípios estudo sobre a ação e desarticulação do Estado da Sociedade Civil Gavião Peixoto: Sua História e as dimensões de sustentabilidade no seu A implementação da atividade turística em Brotas – SP: euforia e declínio A Políticas Públicas de geração trabalho e renda no município Bauru: Um Assentamentos Rurais em Hortos Florestais na Região Norte do Estado de São Análise da constitucionalidade e viabilidade do Plano Diretor para os municípios As ações dos poderes públicos do munícipio de araraquara/SP frente à questão As ações dos poderes públicos do munícipio de araraquara/SP Micro e Pequenas Empresas e Inovação Tecnológica: as empresas do segmento Micro e Pequenas Empresas Inovação Tecnológica: Políticas Públicas de Desenvolvimento Local: o caso do município São José Certificação Eurepgap na Fruticultura: Avaliação de Impactos Ambientais e Sociais Avaliação de Impactos Certificação Eurepgap na Fruticultura: – SP Antônio/SP Brasiliense - SP de gerenciamento internação hospitalar Isonomia e Razoabilidade sua contribuição ao ecoturismo macroinvertebrados bentônicos GESTÃO DO TERRITÓRIO PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E MEIO AMBIENTE: DISSERTAÇÕES DEFENDIDAS 2002 – 2007 (cont.) AMBIENTE: DISSERTAÇÕES E MEIO REGIONAL DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO PROGRAMA Distrito de Nova América (Itápolis-SP) Distrito de Nova de Ibitinga – SP: equívocos e omissões Comitê de Bacia Hidrográfica Turvo-Grande (CBH-TG) Comitê de Bacia Hidrográfica Fundamental em uma escola municipalizada de Américo Fundamental em uma escola municipalizada de Educação ambiental a partir do conhecimento dos resíduos A Reserva Florestal Legal e os Princípios Constitucionais da A Indícios de casos de bullying no ensino médio de Araraquara Indícios de casos bullying no ensino médio Tema Transversal Meio Ambiente: Teoria e Prática no Ensino Ambiente: Teoria Meio Transversal Tema Legal Florestal em Propriedades Rurais do Município de Luiz Percepção ambiental de professores do Ensino Fundamental Caracterização da qualidade água do Ribeirão das Cruzes Análise sobre o Cumprimento da Obrigatoriedade Reserva e manipulação dos rejeitos radioativos gerados na unidade de Iodoterapia: avaliação crítica dos procedimentos de precaução Levantamento do uso de plantas medicinais na comunidade Speranza, no bairro Parque Residencial São Paulo, Araraquara Speranza, no bairro Parque Residencial São Paulo, – Araraquara (SP) através das variáveis físicas e químicas dos – município de Araraquara: subsídios para elaboração de um plano município de sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Turvo, na cidade de Monte Alto Turvo, na cidade de Monte sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Representação social da educação ambiental em Analândia-SP e Analândia-SP Representação social da educação ambiental em Resíduos de serviços saúde um hospital médio porte do – SP: uma contribuição para a educação Ambiental, no âmbito do – SP: uma contribuição para a educação sólidos domiciliares, junto a um grupo de alunos da Escola Sérgio Intervenções em área de preservação permanente no reservatório

198 SEGUNDA PARTE SP caso reciclado EMPRESA E SUSTENTABILIDADE EMPRESA incubadoras: um estudo de caso Programas federais para saneamento básico com A Relação entre o Marketing Societal e a Vantagem Relação entre o Marketing Societal e a Vantagem A hidrográfica Turvo/Grande (UGRHI 15) 1996 a 2004 hidrográfica recursos do orçamento geral da União: estudo sobre Uma análise da gestão estratégica da rede FIESP de Uma análise da gestão estratégica rede FIESP A aceitação pelo consumidor por um produto de papel A os investimentos realizados pelos municípios da bacia do gerenciamento dos resíduos sólidos e efluentes Considerações sobre os custos ambientais decorrentes Produção Mais Limpa em Sistemas Locais de Competitiva: Estudo de Caso no Setor Calçadista Jaú- industriais gerados no setor sucroalcooleiro: um estudo de da Região de Araraquara da Região de POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO Porte no Município de Jaú: Diagnóstico e Proposta Gerenciamento Resíduos de Serviços Saúde Gerados em Unidades Pequeno Feiras do produtor: Alternativa para Sustentabilidade de Famílias Assentadas Rurais Assentadas Famílias Sustentabilidade de para Alternativa produtor: do Feiras Ibitinga – SP GESTÃO DO TERRITÓRIO PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E MEIO AMBIENTE: DISSERTAÇÕES DEFENDIDAS 2002 – 2007 (cont.2) AMBIENTE: DISSERTAÇÕES E MEIO REGIONAL DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO PROGRAMA Ribeirão das Cruzes, Araraquara-SP Ribeirão das Cruzes, A visão dos proprietários rurais em relação às questões A Modelagem de banco dados geográfico como subsídio à gestão integrada de recursos hídricos aplicado a sub-bacia do As excludentes da responsabilidade civil por danos ambientais ambientais da microbacia do Córrego Roseira no Município de

199 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

4.- CARREIRAS, ALUNADO E TRAJETÓRIA DE EGRESSOS Ligia Maria Vettorato Trevisan(*) Jean Marcel Chamon(**)49

ACOMPANHAMENTO DE EGRESSOS: nais de egressos como mecanismo para a promoção FACILITANDO A INFORMAÇÃO, A COMUNI- de um relacionamento contínuo entre a instituição CAÇÃO E O PLANEJAMENTO NA EDUCA- e os profissionais que formou. Essas são iniciativas ÇÃO que levam à obtenção de importante contribuição na renovação de projetos pedagógicos e na obtenção de dados sobre o mercado de trabalho. Quando há efeti- O objetivo desse artigo é apontar e discutir o pa- vo canal de comunicação com o egresso e meios insti- pel das informações sobre o alunado e a trajetória de tucionais para analisar quantitativa e qualitativamente egressos na definição de políticas institucionais de en- os dados coletados, esse tipo de iniciativa torna viável sino. De fato, o assunto não é novo, integra a pauta de a concepção de programas de pós-graduação lato sen- avaliações institucionais externas e internas e encon- su ou de atualização profissional com foco no aprimo- tra muitos referenciais que indicam em que medida se ramento da condição profissional do egresso. Nesse pode utilizar estudos e análises sobre alunos egressos caso, o planejamento de programas da ampliação dos para promover a melhoria da qualidade do ensino50. serviços educacionais prestados é realizado com mui- No limite, conhecer os desafios, as potencialida- to mais eficiência uma vez que é subsidiao por dados des e as fragilidades que um recém formado enfrenta muito confiáveis sobre uma realidade específica, vi- em sua busca por uma vaga no mercado de trabalho venciada pelo ex-aluno. cumpre algumas finalidades, entre as quais está a pos- Além disso, a manutenção de um banco de dados sibilidade de reunir elementos que respondam a uma atualizado sobre egressos é forte estratégia de aproxi- das mais importantes questões que uma IES deve se mação entre colegas e pode ser aproveitada tanto pela fazer a cada certificado de conclusão que expede, que participação de egressos no aconselhamento sobre as é a seguinte: carreiras quanto na ampliação de espaços de coloca- - Que transformação o Curso e a Instituição foram ção de recém-formados. capazes de operar em um estudante que nela cumpriu Na base dessa vertente, as Associações de Ex- com aprovação a trajetória completa de uma gradua- Alunos, comuns nas IES nacionais mais antigas e com ção? forte tradição em países como os Estados Unidos, Nesse contexto, acompanhamento de egressos onde são verdadeiras redes de contatos entre as Uni- significa instrumento de gestão personalizado, útil versidades e associações de classe e empresas, de- para complementar resultados oficiais de medidas vem ser incentivadas como espaços privilegiados de dessa transformação. comunicação e de fidelização do egresso. Uma outra vertente da política de acompanha- Ainda, quando se trata da trajetória de egres- mento de egressos é bem difundida no meio educa- sos, a utilização de dados sobre as posições ocupadas cional. Trata-se de programas, em sua maioria insti- por ex-alunos de uma Instituição pode ser muito útil tucionais e coordenados pelas Comissões Próprias de na composição da agenda institucional que define a Avaliação, que viabilizam a sistematização de dados oferta educacional. E essa é uma agenda oportuna sobre as condições pessoais, acadêmicas e profissio- aos Centros Universitários, mais do que a qualquer outro tipo de organização acadêmica brasileira. E isso 49 (*)Professora Livre Docente, aposentada do Instituto de Química, UNESP – Araraquara, SP. Exerceu a Chefia da Assessoria de Relações Externas porque: da UNESP no período de 1994 a 2000. Consultora Educacional do Qualitas Ins- tituto, São Paulo • em uma década de funcionamento, os Cen- (**) Bacharel em Administração, Especialista em Estratégia de Sistemas tros Universitários construíram uma identidade de Informação. É Gerente Executivo da ANACEU. institucional fortemente atrelada ao entorno sócio-

50 PENA, Mônica Diniz Carneiro. Acompanhamento de egressos: uma econômico em que se inserem. A bem da verdade, análise conceitual e sua aplicação no âmbito educacional brasileiro. Educ. Tec- a imagem é mais bem definida quando se trata da nol., Belo Horizonte, v.5, n.2, p.25-30, jul./dez. 2000.

200 SEGUNDA PARTE

Tabela 1. – Cursos de Graduação segundo Organização acadêmica das IES – Brasil 2006 Organização Curso graduação Curso graduação à Curso tecnológico Curso tecnológico à Total de Acadêmica presencial distância presencial distância cursos Centros Universitários 2721 24 860 6 3611 Faculdades 7206 88 1498 10 8802 Universidades 11842 159 1392 18 13411

Fonte: http://sinaes.inep.gov.br/sinaes/, acesso em setembro de 2007. inserção de Centros em um contexto que não só os para entrar na faculdade ou conseguir pontos para o abriga, mas que também os justifica. Por isso, têm, vestibular52. A julgar por esses dados, há demanda; mais do que qualquer outro modelo de organização resta saber se as vagas estão onde devem estar e se a acadêmica, oportunidades de cotejar demandas locais oferta é capaz de atender a demanda. com o exercício natural de pensar o futuro de uma • o fato de que os Centros Universitários, na instituição para que ela possa contribuir para o desen- busca de padrões de excelência em ensino estabelece- volvimento de uma região, de um estado e do país. E ram com as comunidades de seus entornos relações nesse balanço, definir ofertas atraentes e necessárias de cooperação que lhes garante forte legitimidade para o contexto que lhe é conhecido. que os credencia a estabelecer, com organizações do • de acordo com os dados obtidos no portal do setor produtivo local e regional, relações de coopera- SINAES, os 185 Centros Universitários (esse número ção como vias de mão dupla, nas quais a visão corpo- inclui os Centros de Educação Tecnológica) corres- rativa se ajusta e se associa ao processo de formação pondiam em 2006 a 7,71% das IES brasileiras e res- oferecido pela Instituição de Ensino tendo como bali- pondiam por uma oferta educacional dimensionada za a colaboração mútua e não mais as exigências de na Tabela 1, acima. mercado.na medida da cooperação. Segundo Pazeto53, Conforme se pode avaliar, essa oferta, ainda que instituições centradas no desenvolvimento da aprendi- não se desdobre com dados regionais, é muito menor zagem, da investigação e do conhecimento e organiza- que a das Universidades e Faculdades e ampara ações ções voltadas para a produção de tecnologias, de bens de expansão especialmente aquelas pautadas na voca- de consumo e de serviços definem ritmos e relações de ção institucional. trabalho com intensidade e interesses distintos. A inten- cionalidade e os processos que permeiam as ações de A expansão da oferta de educação Superior no ambas vêm sendo determinadas por fatores extrínsecos Brasil é notável especialmente nos últimos 10 anos e ao contexto e às relações que constituem base comum há até estudos que mostram que o número de vagas entre os sujeitos e suas produções. atualmente oferecido pelo sistema nacional supera o número de potenciais candidatos ao ingresso em Os Centros Universitários, pela juventude e cursos superiores. Entretanto, é interessante assina- credibilidade externa que o modelo detém, podem lar que há também uma nova realidade no cenário contribuir para o aprimoramento das relações das da Educação Superior, trazida especificamente pelo instituições de ensino com o mercado de trabalho, ProUni e que revela que ainda há muito o que avan- modulando a participação da visão corporativa nos çar em termos de formação de terceiro grau num país processos de formação. onde a taxa de escolarização bruta na Educação Su- As razões acima expostas sustentam a idéia de perior (razão entre o total de alunos matriculados em que a aproximação com o ex-aluno traz à IES uma determinado nível de estudos, independentemente contribuição diferenciada que retroalimenta o pro- da idade e a população na faixa etária teoricamente jeto pedagógico e fortalece relações com o mercado adequada para freqüentar esse nível de ensino) não de trabalho. No caso dos Centros Universitários, essa consegue ultrapassar os 20%, índice que coloca o Bra- contribuição, pode ser a base de estudos e pesquisas sil em posição desfavorável em relação a países como sobre a eficácia de um modelo institucional mais fle- a Venezuela e Bolívia51. Corrobora essa análise o fato xível e voltado à interação com a sociedade mais do de que, em 2007, mais de 65% dos inscritos no ENEM que à produção do conhecimento em programas de concluíram o ensino Médio em anos anteriores. Vale menor vinculo com as realidades locais. lembrar que o ENEM é uma prova que em 2007, re- cebeu 3,6 milhões de inscritos e que a pesquisa de opinião revelou que 72,2% dos inscritos fazem a prova 52 Baseado em matérias publicadas sobre os candidatos ao ENEM 2007. Disponível em http://www.inep.gov.br/imprensa/noticias/enem/news07_ 21.htm. Acesso em outubro de 2007. 51 PINTO, José Marcelino de Rezende. Access to higher education in 53 PAZETO, Antonio Elízio. Universidade, formação e mundo do tra- Brazil. Educ. Soc. , Campinas, v. 25, n. 88,2004 . Disponível em: http://www. balho: superando a visão corporativa. Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de scielo.br Acesso em: 03 Nov 2007. Janeiro, v.13, n.49, 2005.

201 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

CENTROS UNIVERSITÁRIOS E CARREI- Graduação presencial nos Centros Universitários, segundo RAS PREFERENCIAIS áreas gerais – Brasil 2005

800 Uma consulta aos dados catalogados pelo INEP, no Censo da Educação Superior 200554, fornece infor- 700 mações sobre as áreas em que se concentra a oferta 600 de cursos de graduação presenciais oferecidos pelos Centros Universitários. Como se pode verificar no 500

Gráfico 1, a oferta se concentra em cursos nas áreas 400 de Ciências Sociais, Negócios e Direito e Educação. De fato, essas duas áreas responderam, em 2005, por 300 51% das ofertas de graduação presencial nos Cen- 200 tros Universitários. O comportamento dos Centros 100 Universitários acompanha a tendência nacional. Fica também explicitado que a área com o menor número - de ofertas é a da Agricultura e Veterinária. Sendo o Brasil um país onde a produção agrícola e o agronegó- Legenda Educação cio representam significativa parcela das economias Humanidades e Artes regionais, é interessante observar a escassez de cur- Ciências Sociais, Negócios e Direito sos oferecidos nessa área. Administração, Pedago- Ciências, Matemática e Computação gia, Normal Superior e Direito eram então os cursos Engenharia, Produção e Construção mais frequentes e alcançam mais de uma centena de Agricultura e Veterinária registros. Esse quadro deve estar sendo revisto prin- Saúde e Bem-Estar Social cipalmente em função das modificações na legislação Serviços Fonte: elaborado com dados extraídos de sobre as carreiras de formação de professores mas http://www.inep.gov.br/superior/censosuperior, acesso em setembro 2007. é importante assinalar que, mesmo nessas áreas de alta concentração de ofertas há carreiras interessan- tes como por exemplo a Formação de professor de Universitários fazem do projeto pedagógico de cada matérias específicas, em particular de ciências, Admi- curso um verdadeiro programa de formação integral, nistração da produção industrial e da agroindústria, ponteado por atividades extra-classe e práticas pro- Administração em análise de sistemas / informática, fissionais que levam o aluno ao contato direto com a para citar apenas alguns cursos em que não há oferta comunidade de seu entorno e com isso promovem o alguma,. Além disso, as carreiras das Engenharias, espírito de solidariedade e a consciência da cidadania. estão a merecer um reposicionamento no cenário Assim, ao cumprirem o que dispõe o Artigo 1º do De- educacional. O país tem problemas de infra-estrutura, creto 5.686 de 24.05.2006, controle da produção industrial e de insumos, explo- Os centros universitários são instituições ração de recursos naturais que terão que ser resol- de ensino superior pluricurriculares, que se vidos e para tanto haverá demandas de mão de obra caracterizam pela excelência do ensino ofe- qualificada para gerenciar técnicamente processos, recido, pela qualificação do seu corpo docen- te e pelas condições de trabalho acadêmico produtos, qualidade e custos. oferecidas à comunidade escolar. Os Centros Universitários estão garantindo formação de profissionais com competência técnica, CENTROS UNIVERSITÁRIOS: PASSADO E valores e atitudes que habilitam a intervir em ambien- PRESENTE tes de trabalho no sentido de buscar soluções para a melhoria do desempenho coletivo. Vale lembrar que, Os ingressantes no ensino superior que optam a condição de únicas IES que foram avaliadas para por graduar-se em um Centro Universitário contam credenciamento e recredenciamento pelo Ministério com vantagens que agregam diferenciais em sua con- da Educação nos últimos dez anos, dá aos Centros dição de futuro profissional. O perfil de excelência do Universitários uma chancela de qualidade que atra- ensino, requisito para credenciamento e recredencia- vessa as fronteiras da Instituição, ou seja, dá o reco- mento desse modelo institucional, é o principal com- nhecimento público de um serviço de qualidade. A ponente desse diferencial. Para atingí-lo, os Centros um potencial candidato, a segurança de uma escolha de qualidade, é meio caminho para a efetiva transfor-

54 Censo da Educação Superior. Sinopse Estatística_2005, disponível mação de suas condições de vida. em http://www.inep.gov.br/superior/censosuperior/sinopse/default.asp, aces- Na busca de um projeto de excelência, os Cen- so em outubro 2007.

202 SEGUNDA PARTE

tros Universitários estabeleceram um canal de comu- crescimento 25,4% e uma trajetória de evolução como nicação com a sociedade mediado pela atenção e pelo a mostrada no Gráfico 3. atendimento. Com isso, ganharam credibilidade e Gráfico 3. – Evolução de Matrículas em Centros Universitários puderam introduzir outros diferenciais na formação de seu alunado: programas de iniciação científica, in- 350 cubadoras de empresas, empresas junior e núcleos de 300 prática, convênios diversos para estágio e programas 250 de responsabilidade social e cidadania, promovem o 200 amadurecimento e incentivam a formação continua- da. 150 Nos dez anos em que a educação brasileira pode 100 contar com os Centros Universitários na formação de 50 cidadãos conscientes, muito se obteve em amadureci- 0 2.001 2.002 2.003 2.004 2.005 mento do ensino superior, seja em crescimento quali- tativo ou quantitativo, sendo os Centros Universitários Fonte: elaborado com dados disponíveis em MEC/INEP – EDUDATA peça chave para alavancagem nacional ou regional do BASIL. ensino superior. Em 1998, quando começaram a fun- cionar os primeiros Centros Universitários, o Brasil ainda tinha pouco mais de 2 milhões de matrículas no A tabela seguinte reúne dados sobre os concluin- Ensino Superior. Em 2005 alcançamos 4,5 milhões e tes em cursos de graduação no Brasil, nos últimos 15 os registros apontam, além do significativo avanço no anos. número de matrículas nos últimos 10 anos, que a ex- pansão nas matrículas pós LDB se deu maneira mais Tabela 2. - Série histórica de concluintes em Cursos acentuada. de Graduação, por sexo – Brasil 1991-2005 Gráfico 2. Matrículas no Ensino Superior – Brasil 1996-2005 Ano Total Masculino Feminino 5000000 1991 236410 94732 141678 4500000 1992 234288 93833 140455 4000000 1993 240269 95927 144342 3500000 Total de matrículas 1994 245887 95548 150339 3000000 Matrículas 1995 254401 99160 155241 2500000 masculino 1996 260224 101475 158749 2000000 Matrículas feminino 1997 274384 105872 168512 1500000 1998 300761 116411 184350 1000000 1999 324734 126318 198416 500000 2000 352305 134868 217437 0 2001 395988 148991 246997 1 2 3 4 5 6 7 8 9 2002 466260 172951 293309 2003 528223 198912 329311 Fonte: elaborado com dados disponíveis em http://sinaes.inep. gov.br/sinaes, acesso em setembro 2007. 2004 626617 234622 391995 2005 717858 271134 446724 A participação dos Centros Universitários na for- Fonte: http://sinaes.inep.gov.br/sinaes/ acesso em 20/09/2007. mação de recursos humanos em nível superior vem crescendo: cálculos efetuados com os dados obtidos Os dados evidenciam com clareza que no perí- no INEP55 pode ser avaliada tanto pelo percentual odo anterior a 1996 (LDB) o número de concluintes de participação dos Centros no total de matrículas em todo território nacional estava praticamente estag- quanto pelas estatísticas de concluintes. No primeiro nado; após 1997, os números totais quase que tripli- caso, os centros passaram de 244.679 alunos, corres- caram. Esse desempenho deve-se principalmente o pondendo a 9,0% das matrículas em 2000, para um grande número de IES privadas credenciadas no pe- universo de 758.146 alunos em 2005 que corresponde ríodo, que ao optarem pela oferta do ensino noturno a 17,0%, computados aqui os 114 Centros credencia- facilitaram o acesso do aluno trabalhador à educação dos até então; isso equivale a uma taxa média anual de superior. O papel dos Centros Universitários pode ser 55 EDUDATABRASIL - Sistema de Estatísticas Educacionais, disponí- avaliado pelos dados da Tabela Em dados de 2005, já vel em http://www.edudatabrasil.inep.gov.br/, acessado em outubro de 2007.

203 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

são responsáveis pela diplomação de 18,1% dos estu- tribuindo para a consecução das metas propostas pelo dantes universitários, fato que ilustra a importância Plano Nacional da Educação (PNE) e para o desen- dessas Instituições como formadores de profissionais volvimento nacional e regional. considerando que os qualificados na sociedade e aponta para a eficácia de Centros Universitários são estritamente privados, a um modelo que está sendo capaz de atrair e manter realização bem sucedida de seus projetos educacio- alunado crescente. nais indica, ao governo e à sociedade um exemplo de como a iniciativa privada pode formar profissionais de Tabela 3: Concluintes segundo organização diversas áreas com qualidade comprovada. acadêmica - Brasil 2005. Organização CENTROS UNIVERSITÁRIOS: POLÍTICA DE Total Masculino Feminino acadêmica EGRESSOS E ALUNADO Centros Universitários 129884 51090 78794 Como parte desse capítulo , forma convidados os Faculdades 179004 67112 111892 Centros Universitários associados à ANACEU a apre- Universidades 408970 152932 256038 sentarem ações que demonstrem políticas institucio- nais de integração do alunado e de acompanhamento Fonte: http://sinaes.inep.gov.br/sinaes. acesso em do egresso. A contribuição recebida do Centro Uni- 20/09/2007. Acesso em setembro de 2007. versitário Belas Artes de São Paulo, do Centro Uni- versitário de Brasília – UniCEUB, do Centro Universi- A série histórica de diplomação nos Centros Uni- tário Do Triângulo – UNITRI, do Centro Universitário versitários, extraída de dados do INEP, incorpora re- CELSO LISBOA – CEUCEL, do Centro Universitário gistros desde 1996. Isso porque, a implantação de Cen- de João Pessoa – UNIPÊ e do Centro Universitário do tros se faz mediante a transformação de Faculdades. Pará – CESUPA são belos exemplos de um trabalho Portanto, o impacto dos Centros Universitários se faz que se orienta na direção da qualidade da formação. mais real quando analisados os dados de concluintes a Mais uma vez, fica patente que o trabalho nos partir de 1999, quando se formaram as primeiras tur- Centros é planejado e executado porque seu resulta- mas nas instituições credenciadas como Centro: em do tem acento marcado na avaliação interna e externa, menos de uma década, o número de concluintes prati- para recredenciamento e reconhecimento. Esse é um camente quintuplicou e os Centros passam a diplomar dos aspectos mais importantes da Educação Superior a quase 1/5 dos concluintes de Cursos Superiores. Há nacional na atualidade: a certificação de Instituições mais mulheres do que homens se formando nos Cen- mediante a inequívoca demonstração da qualidade de tros Universitários e isso deve ser função da oferta seu projeto educacional. Ou seja, ser Centro Univer- abundante de cursos da área de Educação. sitário é uma conquista e não uma facilidade. E isso muda todos os referenciais de um projeto educacional Tabela 4. - Concluintes de Centros que se quer duradouro e permanente. Universitários 1996-2005 CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE Ano Total Masculino Feminino SÃO PAULO 1996 7736 1731 2439 A interação de alunos ingressantes em Centros 1997 7769 2843 4926 Universitários com egressos ilustres desse Centro é 1998 24229 7992 12849 muito frequente e será aqui exemplificada com ativi- 1999 28333 11811 16522 dade que ocorreu durante a visita do Papa Bento XVI 2000 38306 15899 22407 ao Brasil, o Centro Universitário Belas Artes de São 2001 42813 17404 25409 Paulo, através de seu curso de Arquitetura e Urbanis- mo. Os novos alunos tiveram a chance de presentear 2002 57085 23048 34037 Vossa Santidade com um Livro em edição bilíngüe 2003 75108 29478 45630 português-alemão, contando a história da Construção 2004 105960 43079 62881 da Basílica de Nossa Senhora de Aparecida, projeto 2005 129884 51090 78794 de Benedito Calixto, formado em Arquitetura pelo Belas Artes em 1931. O Centro Universitário Belas Fonte: http://sinaes.inep.gov.br/sinaes/. Acesso em Artes de São Paulo é um grande exemplo de institui- 20/09/2007. ção de qualidade com 82 anos de existência de grande sucesso, sendo as áreas de Design e de Arquitetura Os dados permitem observar que os Centros e Urbanismo concentradoras do maior número de vêm contribuindo para o avanço das matrículas e prêmios nacionais e internacionais conquistados por concluintes do ensino superior e se consolidam como ex-alunos. referencial no ensino de graduação de qualidade, con- O sucesso desses contatos e interações é grande

204 SEGUNDA PARTE

e serviu de inspiração para institucionalizar o NEx-BA CENTRO UNIVERSITÁRIO DO TRIÂNGULO - Núcleo Profissional e de Ex-alunos Belas Artes, um - UNITRI projeto que concentrará todas as oportunidades de estágio e emprego para os atuais alunos, com uma ex- O Centro Universitário do Triângulo - Unitri é tensão destinada a vagas de emprego para ex-alunos, reconhecido por sua forte atuação na área da saúde, assim como uma central de relacionamento com os com a oferta de cursos de graduação em Enferma- mesmos, solidificando a relação do Centro Universitá- gem, Farmácia, Fisioterapia, Nutrição, Odontologia rio com seus egressos. e Psicologia e cursos de especialização em Farmaco- logia Clínica, Fisioterapia Cárdio-Respiratória, Endo- dontia e Nutrição Clínica, todos regularmente ofereci- CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA dos. Conta também com programa de Pós-Graduação stricto sensu - Mestrado em Fisioterapia, reconhecido - UniCEUB pela CAPES. No UniCEUB a relação entre ingressantes e Compõem, também, a identidade institucional da concluintes do sexo feminino acompanha o perfil dos Unitri, os cursos de Comunicação Social, de Arquite- Centros Universitários, no ano de 2006, entre os 3531 tura e Urbanismo, de Ciência da Computação e Direi- to, além do de Pedagogia, do qual derivou o Curso FEMININO MASCULINO TOTAL de Mestrado em Educação Superior, reconhecido pela CAPES. A pós-graduação do Unitri são um exemplo Ingressantes 1909 1622 3531 de como os centros universitários se preocupam com Concluintes 1652 944 2596 a educação continuada de seus alunos. Fonte: CPA UniCEUB: ingressantes, 1909 são mulheres. CENTRO UNIVERSITÁRIO CELSO LISBOA Essa maioria de população feminina também - CEUCEL será alvo de atenção especial do programa de acom- panhmento de egressos, mantido pelo UniCeub com O Centro Universitário Celso Lisboa - CEUCEL, o objetivo de permitir e facilitar o constante aprimo- localizado no estado do Rio de janeiro, investiga os ní- ramento do grande número de profissionais que já veis de satisfação que o curso e a instituição alcançam graduou, bem como o intercâmbio de conhecimento junto aos concluintes de seus cursos. entre o profissional formado e o atual alunado. Dados do primeiro semestre de 2007, coletados Para garantir a melhor inserção do profissional junto aos concluintes da instituição e disponibilizados no mercado de trabalho, o UniCEUB ampliou os con- pela CPA do Centro, demonstraram o atendimento vênios com empresas de recolocação profissional, das expectativas do alunado em 69%, e também que Conselhos Regionais e órgãos ou associações de clas- 66% dos pesquisados já atuam na área de formação. se. 82% afirmam que a formação acadêmica recebida aju- Como parte desse programa está o apoio ao da a sua atividade profissional. Ampla maioria dos pes- egresso empreendedor através da Agência de Em- quisados também afirmaram que voltariam a estudar preendedorismo, em parceria com o SEBRAE, que no CEUCEL (76%) e que indicariam a instituição para oferece, a cada semestre, uma bolsa de estudos no parentes e amigos (77%). Os dados da pesquisa do Curso de Formação de Empreendedores. A Agência CEUCEL ilustram que os Centros no seu contexto re- também fornece orientações para a implementação gional atendem as expectativas de seu alunado e tem de projetos empresariais e para implantação de novas ampla aceitação nas comunidades onde estão inseri- empresas. dos, contribuindo para o desenvolvimento regional. Aos empreendimentos inovadores selecionados, a Incubadora de Empresas do UniCEUB oferece infra- estrutura física, orientações administrativas, mercado- CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PES- lógicas e gerenciais, além de assessoria e consultorias SOA - UNIPÊ especializadas. a Agência também coordena a Aula da Sauda- O Centro Universitário de João Pessoa realiza de, uma atividade de reaproximação e comunicação pesquisa com seus egressos para levantamento de muito efetiva, que oferece aos egressos oportunidade informações por área, como a pesquisa intitulada para reviver as emoções da graduação e com isso rea- “Alunos Egressos do Curso de Psicologia do Unipê X limentar a vida no campus. Mercado de Trabalho”, sob a coordenação da Profa.

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Antônia Maria Monteiro, com vistas ao levantamen- A IES oferece pelo SAE aos seus alunos serviços to dos alunos egressos desse curso de graduação no de ambientação no meio universitário com principais período de 1990 a 1999, e ao acompanhamento dos su- objetivos de desenvolver a aquisição do domínio da cessos e/ou insucessos desses novos profissionais e linguagem acadêmica, favorecer a incorporação de sua absorção pelo mercado de trabalho. atitudes e valores próprios à carreira escolhida, co- No momento, está em desenvolvimento um es- nhecer a estrutura universitária, em seus aspectos tudo intitulado “Uma Análise a Respeito da Colocação administrativos e acadêmico-pedagógicos, contribuir dos Ex-Alunos do Curso de Administração do Unipê”, para a reflexão quanto ao comprometimento e à ma- sob a coordenação da Profa. Carolina Barroca. Os es- turidade pessoais, contribuir para o reconhecimento e tudos do UnIPÊ fortalecem a convicção de que há um valorização da formação acadêmica enquanto período aumento da preocupação na colocação dos egressos de amadurecimento e construção do futuro profissio- no mercado de trabalho e no cuidado que os Centros nal. Universitários tem com seus ex-alunos bem como no O SAE oferece também o serviço de ambienta- acompanhamento de suas carreiras. ção inclusiva ao indivíduo portador de necessidades educativas especiais na busca de amparar indivíduos que se apresentem com dificuldade de interação de- vido à limitação física e colaborar com o desenvolvi- CENTRO UNIVERSITÁRIO DO PARÁ - CE- mento de estratégias que maximizem o aproveitamen- SUPA to acadêmico individual. O CESUPA busca garantir a qualidade da for- Existe também no CESUPA o serviço intitulado mação discente, no seu sentido mais amplo. A IES no Consciência Profissional que visa auxiliar o futuro ano 2005 implantou o Serviço de Apoio ao Estudante egresso no processo de transição e as angústias re- – SAE, com o objetivo de oferecer apoio e orientação lacionadas ao processo de conclusão de curso, es- ao corpo discente do CESUPA, através de atendi- clarecer dúvidas e conscientizar quanto ao cenário a mentos individualizados e de programas específicos ser encontrado pós-formatura e colaborar com o de- desenvolvidos em parceria com a coordenação peda- senvolvimento de uma estratégia de planejamento de gógica. O SAE tem como meta amparar o indivíduo atividades futuras. O aluno da Instituição ainda pode como um todo, e não apenas como aluno em formação contar no SAE com atendimento individual na busca profissional. A instituição, desta forma, busca oferecer de minimizar as dificuldades que estejam comprome- serviços que atinjam o bem-estar pessoal e facilitem a tendo ou impedindo seu desenvolvimento pessoal e integração grupal desde a entrada no nível superior acadêmico e facilitar a aquisição de bem-estar pessoal até a saída enquanto profissional. e auto-conhecimento. Segundo a IES, “o atendimento pedagógico vem O caso do Centro Universitário do Pará enfo- sendo executado tanto através de auxílios individuais ca a preocupação das instituições não apenas com a aos discentes que apresentam dificuldades relativas formação acadêmica do aluno mas sim do indivíduo ao processo de aprendizagem, quanto através de um como um todo, focado no perfil psicológico, profis- programa de formação continuada de docentes, que sional, formando um cidadão consciente de suas busca, acima de tudo, o amparo e a qualificação do potencialidades e mais realista de suas perspectivas quadro docente frente aos novos desafios que se apre- como indivíduo. sentam”. O CESUPA acredita que o processo de aprendi- zagem envolve muito mais que o conteúdo didático AGRADECIMENTOS em si. Acreditada no saber pautado na relação profes- sor-aluno, nas relações interpessoais com os pares e Os autores agradecem aos profissionais dos Cen- no máximo aproveitamento dos recursos e serviços tros Universitários brasileiros que tornaram possível oferecidos pela instituição como componentes da a apresentação desse capítulo. aprendizagem para a vida. Para a instituição o traba- PENA, Mônica Diniz Carneiro. Acompanhamen- lho docente deve priorizar relações que propiciem a to de egressos: uma análise conceitual e sua aplica- interação entre os alunos e o professor e entre os pró- ção no âmbito educacional brasileiro. Educ. Tecnol., prios alunos, sendo compreendidas como condição Belo Horizonte, v.5, n.2, p.25-30, jul./dez. 2000. necessária para a produção de conhecimentos, permi- tindo o diálogo, a cooperação, a troca de informações, o confronto dos pontos de vistas divergentes na busca de um objetivo comum.

206 SEGUNDA PARTE

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

GONÇALVES, Elisabeth Moraes. Discípulos do Grupo comunicacional de São Bernardo do Campo: Avaliação de uma experiência acadêmica. Comuni- cação & Sociedade. São Bernardo do Campo: Pós- Com-Umesp, a. 23, n. 36, p. 13-32, 2o. sem. 2001. ANDRIOLA, Wagner B. Apresentação de um modelo teórico destinado à avaliação dos programas estaduais de qualificação profissional. Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 6, n.19, p.259-266, abr./jun. 1998. Muller,Mary Stela. Com a Palavra os Egressos... Avaliação do Curso de Biblioteconomia da UEL. Inf. Inf., Londrina, v. 3, n. 2, p. 43-64, jul./dez. 1998. PINTO, José Marcelino de Rezende. Access to higher education in Brazil. Educ. Soc. , Campinas, v. 25, n. 88,2004 . Disponível em: http://www.scielo.br, acesso em outubro de 2007. PAZETO, Antonio Elízio. Universidade, forma- ção e mundo do trabalho: superando a visão corpora- tiva. Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.13, n.49, 2005. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Sinopses Estatísticas da Educação Superior. Dis- ponível em: http://www.inep.gov.br/superior/censo- superior/sinopse/default.asp, acesso em outubro de 2007 Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. EDUDATABRASIL - Sistema de Estatísticas Educacionais. Disponível em http://www.edudata- brasil.inep.gov.br/, acesso em outubro de 2007. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Sistema Nacional de Avaliação da Educação Su- perior (SINAES) – 2007. Disponível em: http:// sinaes.inep.gov.br:8080/sinaes, acesso em outubro 2007. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Notícias do Enem. Disponível em: http://www.inep. gov.br/imprensa/noticias/enem/news07_21.htm e / news07_15.htm, acesso em outubro de 2007.

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5.- FINANCIAMENTO E SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA Professor Wilson de Matos Silva56(*)

O ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO Tabela 1 – Número de IES, por Organização Acadêmica – 2006. No contexto atual do mundo globalizado, ocorre uma revalorização do conhecimento como elemento Universidade 175 fundamental para a orientação e sustentação do de- Universidade Especializada 2 senvolvimento econômico, social e cultural das na- Centro Universitário 122 ções. Neste sentido, as universidades têm exercido Centro Universitário Especializado 1 papel fundamental na qualidade do ensino superior Centro Federal de Educação 33 brasileiro. Tecnológica No Brasil, as instituições privadas foram as gran- Faculdades de Tecnologia 177 des responsáveis pelo crescimento do ensino superior Faculdades Integradas 120 e por reduzir o número de jovens excluídos desse se- Faculdades 1.400 tor. Instituto Superior ou Escola Superior 361 Total 2.391 Até a década de 90, o ensino superior brasileiro Fonte: BRASIL (2007b) estava estagnado em termos de expansão. A partir de 1995, observou-se um forte crescimento (Quadro 1), Tabela 2 – Número de IES por Categoria promovido quase que exclusivamente pelas institui- Administrativa – 2006. ções privadas. Públicas 242 Privadas 2.138 Quadro 1 – Série histórica 1991-2006. Total 2.380 ANO Nº. DE IES ANO Nº. DE IES 1991 893 2000 1.180 Fonte: BRASIL (2007b). 1992 893 2001 1.391 1995 894 2002 1.637 das instituições de ensino superior brasileiras (Tabela 1996 922 2003 1.859 2). 1997 900 2004 2.013 1998 973 2005 2.165 Apesar da forte expansão dos últimos anos, o 1999 1.097 2006 2.380 ensino superior brasileiro apresenta inúmeros pro- Fonte: BRASIL (2007a) blemas. No ensino público, a falta de verbas, as gre- ves constantes por questões salariais, prejudicando o As instituições de ensino superior (IES) são desenvolvimento dos anos letivos, e a estrutura física classificadas em Instituições Universitárias (Univer- sucateada, demandam soluções. Já no ensino superior sidades, Universidades Especializadas, Centros Uni- privado, apesar de os problemas serem outros, não versitários) e Instituições não Universitárias (Centros são menores ou menos preocupantes. O aumento na Federais de Educação Tecnológica, Centros de Edu- inadimplência (cerca de 30%) é alto e exige grande es- cação Tecnológica, Faculdades Integradas, Faculda- forço para garantir a sustentabilidade das IES, a quan- des Isoladas, Institutos Superiores de Educação). tidade de vagas não preenchidas e as taxas de evasão, constituem problemas com tendências ao agravamen- A organização acadêmica dessas instituições to se considerarmos o grande aumento do número de está concentrada nas instituições não universitárias instituições privadas de ensino superior. (2.092), que correspondem a 87% do total de institui- ções de ensino superior no país (Tabela 1). Para Schwartzman (2004), estas questões, so- madas à taxa de matrícula da população entre 18 a 24 Na categoria administrativa, de acordo com anos no ensino superior, apontavam que a expansão dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas do setor iria continuar, mas alertava que, apesar das Educacionais Anísio Teixeira (INEP), a representação evidências do grande dinamismo dessas instituições, das instituições privadas em 2006 corresponde a 90% os problemas que foram citados e que já afetavam na 56 Reitor do Centro Universitário de Maringá, Mestre em Ciências Ge- época (2004) as finanças do setor privado, poderiam renciais (UNIMAR-SP), e 1º Suplente no Senado Federal pelo Estado do Paraná.

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se agravar nos próximos anos. número de vagas ofertadas e o número de alunos Efetivamente, o estudo do autor foi confirmado, ingressantes: enquanto o número de vagas no país, mesmo com uma pequena redução no crescimento nos últimos cinco anos, aumentou 398%, o número de das matrículas no setor privado. ingressantes aumentou apenas 237%, representando uma defasagem de 125%. Dos 4,4 milhões de alunos que se encontravam matriculados no ensino superior em 2005, cerca de 3,2 Os percentuais de crescimento do ensino supe- milhões (73%) estão em instituições privadas. Deste rior referente as vagas, inscrições, ingressantes pelo total, 2,7 milhões estudam em cursos noturnos e des- vestibular, matrículas e concluintes do ensino supe- tes, 84% estão matriculados em instituições particula- rior, por categoria administrativa entre 1995 e 2005, res (Tabela 3). estão representados na Tabela 5. De acordo com dados apresentados pelo INEP (Tabela 4), há uma crescente defasagem entre o

Tabela 3 - Total de Matrículas segundo a Categoria Administrativa (2005).

Categoria Total de Matrículas Matrículas % % % da IES Matrículas Diurno Noturno Particular 3.260.967 73,0 1.024.277 58,0 2.236.690 84,0 Pública 1.192.189 27,0 751.124 42,0 441.065 16,0 Total 4.453.156 100,0 1.775.401 100,0 2.677.55 100,0 Fonte: BRASIL (2007b)

Tabela 4 - Nº. de Vagas, Inscrições, Ingressantes pelo Vestibular, Matrículas e Concluintes do Ensino Superior, segundo a Categoria Administrativa, 1995-2005.

1995 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Público Vagas 178.145 245.632 256.498 295.354 281.163 308.492 312.288 Inscrições 1.399.092 2.178.918 2.224.125 2.627.200 2.366.980 2.431.388 2.289.609 Ingressantes 158.012 233.083 244.621 280.491 267.031 287.242 287.591 Matrículas 700.540 887.026 939.225 1.051.655 1.137.119 1.178.328 1.192.189 Concluintes 94.951 116.641 132.616 151.101 169.038 202.262 195.554 Privado Vagas 432.210 970.655 1.151.994 1.477.733 1.721.520 2.011.929 2.117.449 Inscrições 1.254.761 1.860.992 2.036.136 2.357.209 2.532.576 2.622.604 2.748.611 Ingressantes 352.365 664.474 792.069 924.649 995.873 1.015.868 1.106.475 Matrículas 1.059.163 1.807.219 2.091.529 2.428.258 2.750.652 2.985.405 3.260.967 Concluintes 159.450 235.664 263.372 315.159 359.064 424.335 522.304

Fonte: adaptada de NEVES; RAIZER; FACHINETTO (2007).

Tabela 5 – Percentual de Crescimento no Período entre 1995 e 2005.

Categoria Nº. de Nº. de Nº. de Nº. de Nº. de Administrativa vagas Inscrições Ingressantes Matrículas Concluintes Pública 175% 164% 182% 170% 206% Particular 490% 219% 314% 308% 327% Fonte: O autor.

209 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

O ENSINO SUPERIOR PRIVADO “prover (....) a oferta de educação superior para, pelo menos, 30% da faixa etária de 18 a 24 anos” (BRASIL, A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasilei- 2007c). ra (LDB), de 1996, trouxe no seu bojo destaque para Considerando que, de acordo com Neves (2007), a diversificação tanto dos formatos organizacionais na época em que o PNE foi sancionado (2001) exis- como das modalidades de ensino (NEVES; RAIZER; tiam 2,7 milhões de estudantes no ensino superior FACHINETTO, 2007). Surgem, então, novos tipos brasileiro, para uma população de aproximadamente de IES, como os Centros Universitários e Centros de 23,4 milhões de jovens de 18 a 24 anos, o que repre- Formação e Educação Tecnológica. sentava uma taxa de escolarização de 11,5%, e que em De acordo com os estudos realizados por Neves, 2005, o número de matrículas aumentou para 4,4 mi- Raizer e Fachinetto (2007), após dez anos do início lhões, com uma população estimada de 24,8 milhões deste processo de diversificação, não se pode negar de jovens de 18 a 24 anos, elevando assim a taxa de que as estratégias de diversificação produziram um escolaridade para cerca de 17%, observa-se que o país impacto positivo no processo de ampliação do ensino está longe de atingir os 30% definidos no PNE (Figura superior brasileiro (Tabela 2). 1). A regulamentação da LDB propiciou a criação dos centros universitários, que passaram a gozar de Figura 1 - Taxa de Escolarização no Ensino Superior no Brasil certas prerrogativas de autonomia, como facilidade para a abertura de vagas e cursos. Somando-se a isso, houve uma maior liberalidade para criação de cursos e credenciamento de instituições isoladas, o que provo- cou o crescimento vigoroso registrado na fase recen- te: 175% no período de 1997 a 2005 (NUNES, 2007). Os estudos de Nunes (2007) apresentam a edu- cação no Brasil como um caso singular em termos internacionais, pela enorme participação no ensino superior de entidades particulares independentes do Estado. O crescimento do setor privado (Tabela 2) foi de tal ordem que, atualmente, 89,83% das instituições de ensino superior são privadas. Fonte: GARCIA (2007)

O Quadro 2 apresenta a taxa de escolarização no PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – PNE Brasil, ficando claro o reduzido índice de inclusão de 2001 - 2011 alunos no ensino superior do país (GARCIA, 2007).

Aprovado pela Lei 10.172, de 9 de janeiro de 2001, Quadro 2 - Taxa de Escolarização no Ensino Superior no Plano Nacional de Educação (PNE) consta que: do Brasil (%). PAÍS 1999 2000 2001 2002 2003 2004 No conjunto da América Latina, o Brasil Brasil (MEC/ apresenta um dos índices mais baixos de 11% 12% 13% 14% 16% 17% IBGE) acesso à educação superior, mesmo quan- do se leva em consideração o setor priva- Fonte: GARCIA (2007) do. Assim, a porcentagem de matriculados na educação superior brasileira em relação FINANCIAMENTO DO ENSINO SUPERIOR à população de 18 a 24 anos é de menos de 12% comparando-se desfavoravelmente No Brasil, a maioria dos estudantes de ensino su- com os índices de outros países do conti- perior paga para estudar em instituições particulares, nente. A Argentina, embora conte com 40% da faixa etária, configura um caso a parte, uma característica que, de acordo com Garcia (2007), uma vez que adotou o ingresso irrestrito, coloca o país ao lado de modelos de financiamento o que se reflete em altos índices de repe- semelhantes aos adotados em países como Chile, Co- tência e evasão nos primeiros anos. Mas o lômbia, Japão e Indonésia. Brasil continua em situação desfavorável Tanto o Chile, como o Brasil e a Colômbia apre- frente ao Chile (20,6%), à Venezuela (26%) sentam modelos distintos do padrão geral da América e à Bolívia (20,6%) (BRASIL, 2007c). Latina, onde o setor público cresceu muito pouco, fi- O PNE define como meta até o ano de 2011 cando a cargo do setor privado atender à expansão da

210 SEGUNDA PARTE

educação (SCHWARTZMAN, 2004). da própria CORFO, sendo estes créditos liberados Financiamento do Ensino Superior no Chile conforme as necessidades de cada ano acadêmico. Neste caso, o estudante pode recorrer ao crédito so- Na América Latina, a reforma do ensino adota- mente no ano em que estiver com problemas finan- da pelo Chile consolidou-se como um marco da nova ceiros. O crédito pode ser pago em um prazo de até política de financiamento dessa região e, não por 15 anos, ficando acordado, por meio de contrato entre acaso, tornou-se um referencial, ao lado da reforma o banco e o cliente, qual será o prazo e quais serão britânica. A educação no Chile encontra-se em pleno os juros. O estudante deverá iniciar o pagamento do processo de transformação, tendo como parâmetros a financiamento após o término dos estudos (UNIVER- eqüidade, a qualidade e a efetividade da educação. SIDAD, 2007b). Nos últimos anos, um enorme contingente de Além das linhas de Crédito citadas acima, o Go- alunos chilenos foi incluído no ensino superior por verno chileno concede a chamada Bolsa Presidente da meio de diversas formas de financiamento estudantil. República, destinada aos alunos com alto rendimento Uma delas é o Crédito Solidário, regulamentado pela no ensino médio, constatado por meio de uma prova Lei nº. 19.287, de 04 de fevereiro de 1994 - que modifi- realizada no último ano desse nível. Em 2006, o gover- cou significativamente o sistema de crédito universitá- no chileno beneficiou 167.000 jovens (CHILE, 2007). rio por fundos solidários, focalizando nos estudantes de menos nível sócio-econômico e estabelecendo nor- Debates estão sendo realizados no Congresso mas uniformes para a concessão e o pagamento dos para que o Estado aumente os investimentos para empréstimos (UTA, 2007). bolsas e financiamentos que deverão ser reembolsa- dos após a titulação. Desta forma, verifica-se também Esta modalidade de crédito beneficia a dois gru- naquele país uma busca por outras formas de finan- pos da população acadêmica: os estudantes universi- ciamento, uma vez que há muita pressão dos alunos tários que não podem arcar com os custos das mensa- em geral, pois desde 1980 todo o ensino superior no lidades e aqueles que cursaram a universidade (tendo Chile é pago, tanto nas universidades públicas como concluído ou não o curso) com financiamento e não nas universidades privadas (LARA, 2007). conseguiram quitar suas dívidas. Enquanto o primei- ro grupo de beneficiados gira em torno de 70.000 Financiamento do Ensino Superior no Brasil estudantes, estima-se que o segundo grupo abrange No Brasil, uma grande diferença do ensino supe- 50.000 pessoas e, para este grupo, há previsão de in- rior, apontado por Schwartzman (2004), é o fato de ele cremento de cerca de 12.500 novos estudantes deve- ser o país da América Latina que tem o maior custo dores por ano (UTA, 2007). por estudante no ensino superior público. O estudante A Lei nº 19.287 estabeleceu para o Crédito So- brasileiro custa para o governo dez vezes mais do que lidário juros e prazos diferenciados, a saber: juros o estudante argentino ou chileno. O custo por aluno de 2% ao ano, reajustado pelas Unidades Tributárias do ensino superior público brasileiro é semelhante ao Mensuales (UTM), sendo que para a renovação do dos países europeus. financiamento é necessário que o estudante efetue o A partir dos estudos de Schwartzman (2004) e pagamento de 5% do financiamento obtido ano ante- dos dados referentes à evasão nas instituições priva- rior; outra opção é a de que o estudante poderá pagar das de ensino superior, percebe-se que esses estudan- o financiamento em quotas fixas, com taxa de juros de tes têm tanto o ingresso quanto a sua permanência 4% ao ano, em 10 anos. Após doze anos, se houver sal- no ensino superior atrelados a sua capacidade de pa- do devedor, este será perdoado, entretanto, se a dívida gamento, à existência de crédito educativo/financia- exceder 200 UTM, o prazo de pagamento poderá ser mento e de bolsas, e à possibilidade de ter durante de até 15 anos. É importante ressaltar que o sistema e/ou após a conclusão dos estudos a efetivação do permite ao acadêmico iniciar a quitação do financia- retorno do investimento realizado. mento depois de transcorridos dois anos da conclusão A incapacidade das instituições de ensino supe- do curso (UNIVERSIDAD, 2007a). rior, sejam públicas ou privadas, de atender às deman- Este fundo oferece ainda a possibilidade de rece- das e necessidades de uma educação superior de mas- ber donativos em forma de aportes fiscais dos alunos sa, era a parte mais preocupante de uma análise sobre que foram beneficiados e que hoje estão em condições o ensino superior há dez anos atrás (SCHWARTZ- financeiras de fazê-los em função do exercício de sua MAN, 2007), e ainda hoje esta preocupação continua profissão (UNIVERSIDAD, 2007a). presente. Outra linha de crédito do Chile que financia os Para que os jovens de baixa renda possam ter estudos de graduação é a oferecida pela Corporación mais oportunidades de ingressar no ensino superior, de Fomento de la Producción (CORFO), através de cré- precisamos ampliar fortemente o financiamento, uma ditos outorgados por bancos comerciais com recursos vez que o atual modelo é muito tímido.

211 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

Atualmente existem dois programas de financia- O substitutivo ainda define o pagamento de taxas mento estudantil. O mais expressivo é o FIES (Finan- de juros diferenciadas para os cursos de graduação ciamento Estudantil), mantido pelo Governo Federal em licenciatura, pedagogia, normal superior e de tec- em parceria com a Caixa Econômica Federal. O outro nologia (taxas de juros simples de até 3,5% ao ano), e programa é o PROUNI (Programa Universidade para para as demais graduações serão aplicadas taxas de Todos), que consiste em um financiamento a fundo juros simples de até 5,5% ao ano. Para os cursos de perdido para os alunos, estruturado a partir da isen- mestrado e doutorado, essas taxas seriam de até 6,5% ção de alguns impostos das instituições que aderem ao ano. ao Programa. Os estudantes que têm Fundo de Garantia do O FIES - Fundo de Financiamento ao Es- Tempo de Serviço (FGTS) também poderão utilizar tudante do Ensino Superior é um programa des- os recursos desse fundo para pagar o financiamento tinado a financiar a graduação no ensino superior de do FIES. O texto prevê que o estudante poderá be- estudantes que não têm condições de arcar com os neficiar-se de uma carência de seis meses, contados custos de sua formação e estejam regularmente matri- a partir do mês seguinte ao da conclusão do curso. culados em instituições não gratuitas, cadastradas no Após um ano pagando uma parcela igual à que pagava Programa e com cursos avaliados positivamente nos para a instituição de ensino, o egresso poderá dividir processos conduzidos pelo Ministério da Educação o saldo devedor em período equivalente a até duas ve- (MEC) (PROGRAMA, 2007). zes o tempo em que permaneceu estudando - pelas Criado em 1999 para substituir o Programa de regras atuais, esse tempo é de uma vez e meia. Crédito Educativo – PCE/CREDUC, o FIES tem re- Também foi ampliada a forma de garantia para o gistrado uma participação cada vez maior das IES e empréstimo. Além do fiador, o estudante poderá ofe- dos estudantes do país. Esse Programa concede finan- recer uma fiança, autorização para desconto em folha ciamentos de 50% da mensalidade a alunos que estu- de pagamento ou ainda a fiança solidária (grupo de dam em mais de 1.300 instituições de ensino superior até cinco fiadores). As modificações permitem que a privadas em todo o país. A taxa de juros do financia- amortização do financiamento seja feita por meio de mento é de 6,5% ao ano para os estudantes que cursam consignação em folha de pagamento. licenciaturas, pedagogia e normal superior, e para cur- O projeto obriga ainda as universidades e alunos sos tecnológicos registrados no cadastro do MEC a a obterem desempenho mínimo no Sistema Nacional taxa é de 3,5% ao ano. de Avaliação da Educação Superior (SINAES) e Exa- No ano de 2005, o FIES tinha em sua carteira 372 me Nacional de Desempenho de Estudantes (ENA- mil alunos que acumulavam um saldo devedor de R$ DE), respectivamente. O projeto segue agora para 3,6 bilhões. A destinação anual do programa foi de R$ sanção presidencial para se tornar Lei. 673 milhões. Em 2006, a carteira aumentou para 377 O ProUni, criado pela Medida Provisória nº mil alunos, acumulando um saldo devedor de R$ 4,1 213/2004 e institucionalizado pela Lei nº 11.096, de 13 bilhões, com destinação anual do programa da ordem de janeiro de 2005, tem como finalidade a concessão de R$ 693 milhões (BRASIL, 2007d). de bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes Se o crescimento do setor privado é fundamental de baixa renda, em cursos de graduação e seqüen- para o atendimento da demanda e será decisivo para ciais de formação específica, em instituições privadas se atingirem as metas do Plano Decenal de Educação, de educação superior, oferecendo, em contrapartida, a provisão de outras formas de financiamentos aos isenção de alguns tributos àquelas que aderirem ao novos estudantes, cada vez mais oriundos das classes Programa (BRASIL, 2007e). econômicas mais baixas, será decisiva (SCHWARTZ- A concessão de bolsas do PROUNI se dá por MAN, 2007). um processo seletivo, realizado por meio do Exame Após muitas discussões e esforços para alterar Nacional do Ensino Médio (ENEM), que avaliou, as disposições da Lei nº. 10.260/2001, referente ao ao longo de seus nove anos, mais de 10 milhões de FIES, recentemente foi aprovado pela Comissão de pessoas concluintes ou egressas do ensino médio. O Educação e pela Comissão de Assuntos Econômicos crescimento do número de participantes e inscritos do Senado Federal o substitutivo do projeto de lei que no ENEM pode ser visualizado na Tabela 7. altera esse Programa. Uma das alterações permite o Como pode ser verificado na tabela 7, após a aumento do financiamento de 50% para até 100% do criação do PROUNI (2004), houve um crescimento de valor das mensalidades. O crédito também poderá ser cerca de 120% do número de participantes do ENEM usado para custear estudos de mestrado e doutorado, no ano de 2005 em relação a 2004. Esses dados, alia- modalidades até então não permitidas pelas regras do dos aos resultados do ENEM, que são utilizados como Programa. passaporte para a inscrição e seleção do PROUNI, po-

212 SEGUNDA PARTE

Tabela 7 - Nº. de Participantes e Inscritos no ENEM, 1998-2006 (em mil). 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Inscritos 157 346 390 1.624 1.829 1.882 1.552 3.004 3.742 Participantes 115 375 352 1.200 1.318 1.322 1.035 2.200 2.783 Fonte: BRASIL (2007e). dem representar um crescimento na procura, por par- recurso deverá, ainda, permanecer no sistema para te dos estudantes do ensino médio, de financiamento financiamentos futuros. de seus estudos no nível superior. Quando na condição de Senador no decorrer do No seu primeiro processo seletivo, o PROU- ano de 2007, fui autor do Projeto de Lei nº. 402/2007, NI ofereceu 112 mil bolsas em 1.142 IES de todo o que insere o Artigo 2º - D na Lei nº. 7.998/1990, visan- país. Nos próximos quatro anos, o Programa deverá do permitir o uso dos recursos do Fundo de Amparo oferecer 400 mil novas bolsas de estudos. Em 2007, ao Trabalhador (FAT), e ainda acrescenta o inciso VIII o PROUNI somará atendimento a cerca de 300 mil ao Artigo 2º da Lei nº. 10.260/2001, que dispõe sobre alunos e a renúncia fiscal do ano está estimada pela o FIES, para que parte dos recursos do FAT seja des- Receita Federal em R$ 126 milhões (BRASIL, 2007e). tinada às operações do FIES (MATOS, 2007). Esse projeto propõe o uso dos recursos do FAT para o financiamento, no âmbito do FIES, de encargos CONSIDERAÇÕES FINAIS educacionais na rede privada de ensino superior, no contexto do conceito de qualificação profissional do De acordo com o que foi abordado e com os da- trabalhador. Essa medida, sintonizada com a reformu- dos apresentados neste trabalho, fica evidente obser- lação das normas do FIES, ampliará o acesso da popu- var que o Estado brasileiro encontra dificuldades em lação no ensino superior, extremamente urgente para cumprir o seu papel no que diz respeito ao ensino su- a Nação. Desta forma, nosso objetivo é dar acesso ao perior, no entanto, alternativas para essa questão têm ensino superior a outros milhões de jovens brasilei- sido propostas e implementadas. ros. Se, por um lado, os percentuais da expansão do O Banco Nacional de Desenvolvimento Econô- ensino superior apresentam um avanço significativo, mico e Social (BNDES) administra hoje R$ 100 bi- por outro, as análises realizadas pelos estudiosos e au- lhões do FAT para investimentos em empresas com tores referenciados demonstram que, com base nos finalidade de geração de empregos. Esse valor rende, dados de 2005, somente cerca de 4,4 milhões (17%) de somente de juros, R$ 7 bilhões por ano, cifra essa que jovens brasileiros entre 18 a 24 anos encontravam-se permitiria financiar a anuidade para o ingresso no matriculados na universidade, o que reflete a existên- ensino superior de aproximadamente 1 milhão de jo- cia de um grande déficit no ensino superior, demons- vens, colaborando assim com a inclusão dos 30% men- trando assim uma situação alarmante para a Nação. cionados no PNE. Além disso, esse número adicional de jovens no ensino superior irá gerar de milhares Além disso, se considerarmos que aproximada- empregos diretos nas instituições de ensino superior. mente 3,7 milhões de jovens se inscreveram no ENEM em 2006 e somente cerca de 1,4 milhões ingressou no É importante considerar, ainda, a possibilidade ensino superior, tem-se uma população de 2,3 milhões de utilização do FGTS para o pagamento das mensa- de jovens sem acesso a essa modalidade de ensino, lidades, cujo superávit é de aproximadamente R$ 6 aos quais, possivelmente, faltam recursos financeiros bilhões ao ano, bem como o fato de que o risco de de- para custear os seus estudos (BRASIL, 2007f). terioração dos fundos destinados ao FIES, de acordo com o Projeto de Lei nº. 402/2007, é compartilhado Até 2011, o PNE tem como meta prover a oferta entre as instituições de ensino superior e os agentes de educação superior para, pelo menos, 30% dos jo- financiadores. vens brasileiros, o que significa, portanto, atender a mais 4 milhões de novos estudantes. Como bem sabido, a Constituição Federal, em seu artigo 205, reza que a educação é direito de todos Considerando que a anuidade média no ensino e dever do Estado, e este, por sua vez, não tendo con- superior gira em torno de R$ 7.000,00, haverá a ne- dições de oferecer vagas no ensino superior gratuito cessidade de um incremento financeiro da ordem de para todos os jovens brasileiros, deve viabilizar fun- aproximadamente R$ 28 bilhões ao ano, por um perío- dos reembolsáveis que possam financiar os estudos do de quatro anos, totalizando assim cerca de R$ 112 dessa faixa da população. bilhões destinados ao ensino superior, sendo que este

213 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

O ensino superior privado não está buscando documento. Acesso em 24 out. 2007. recursos para suas instituições, mas solicitando ao go- GARCIA, Maurício. A ampliação do acesso da po- verno que financie os estudos dos jovens brasileiros, pulação ao ensino superior. [s.l.]: Amalus, 2007. Dispo- no entendimento de que o ensino superior, além de nível em: . Acesso ser um dos fatores mais importantes, é também estra- em: 02 out. 2007. tégico para o desenvolvimento do nosso país. LARA, R. Finaciamiento de Estudios de Educaci- Ao se constatar que o desenvolvimento econômi- ón Superior [mensagem pessoal]. Mensagem recebi- co de uma nação se deve a um ensino de qualidade, é da por [email protected] em 28 ago. 2007. na educação que se encontra o principal caminho para MATOS, Wilson. Educação: propostas para o que o Brasil realize mudanças para alavancar o cresci- presente. Síntese da atuação parlamentar. Brasília: Se- mento econômico nacional. Entretanto, a melhora da nado Federal, 2007. educação demandará uma série de medidas, dentre as quais, com certeza, encontram-se novas formas de NEVES, Clarissa E. B.; RAIZER, L.; FACHINET- financiamento para garantir o acesso ao ensino supe- TO, R. F. Acesso, expansão e eqüidade na educação rior de milhares de estudantes brasileiros. Certamen- superior: novos desafios para a política educacional te, não existe projeto de inclusão social que supere brasileira. Sociologia, Porto Alegre, n.17, jan-jun. uma educação de qualidade. 2007, p.124-157. NUNES, Edson. Desafio estratégico da política pública: o ensino superior brasileiro. Rio de Janeiro: Observatório Universitário, 2007. (Documento de REFERÊNCIAS Trabalho nº. 70). Disponível em: . Acesso em: 05 out. 2007. BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Na- cional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio PROGRAMA DE FINANCIAMENTO ESTU- Teixeira. Sistema Nacional de Avaliação da Educação DANTIL. Disponível em: . Acesso em: 20 ago. 2007. sinaes.inep.gov.br:8080/sinaes>. Acesso em: 19 out. SCHWARTZMAN, Jacques. A educação supe- 2007a. rior no Brasil e na América Latina. Revista Aprender ______. Ministério da Educação. Instituto Na- Virtual, Marília, n. 04, abr. 2004. cional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio ______. O Financiamento das Instituições de Teixeira. Sinopses Estatísticas da Educação Superior. Ensino Superior no Brasil. Instituto de estudos avan- Disponível em: . Acesso . Acesso em: 19 out. 2007. 200-2010. Disponível em: . Acesso em: 19 out. de Crédito Universitario. Disponível em: . Acesso em: 22 out. 2007a. Gestão - Fundo de Financiamento ao Estudante do En- UNIVERSIDAD DEL CHILE. Información Gene- sino Superior – FIES. Disponível em: http://portal. ral Crédito CORFO. Disponível em: . gestao_2006_fies.pdf. Acesso em 10 out. 2007d. Acesso em: 22 out. 2007b. ______. Ministério da Educação. PROUNI. Disponível em: . Acesso em: 19 out. 2007e. ______. Ministério da Educação. Instituto Na- cional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Revista do Enem. Disponível em: . Acesso em: 19 out. 2007f. CHILE. Ministério da Educação. Discurso Minis- tra Educación, en Entrega de Becas Presidente De La Republica. Disponível em:

214 SEGUNDA PARTE

FINANCIAMENTO ESTUDANTIL PARA A SUSTENTABILIDADE José Pio Martins57(*)

No panorama atual do Ensino Superior privado, no Superior, a situação nacional é muito ruim. Temos dois fatores ameaçam a estabilidade financeira das uma multidão de cérebros, prontos para se tornarem IES: o excesso de oferta de vagas decorrente da ex- depositários dos conhecimentos acumulados nas pro- pansão do número de instituições, de um lado, e os fissões ensinadas nas universidades, que perambulam impactos negativos sobre as receitas e resultados pelo país sem receberem transferência de saber e de como conseqüência da evasão e da inadimplência, de técnicas acumuladas pela humanidade. outro. A indagação singela que ressuma dos dados esta- A perda de receita por evasão ou por inadimplên- tísticos divulgados é: por quê? Por que essa multidão cia tem efeitos devastadores sobre o fluxo de caixa, não está na universidade? A resposta não é muito difí- sobre o lucro líquido e sobre a viabilidade financeira cil. Considerando que as faculdades públicas gratuitas das IES privadas, em face daquilo que os economis- abrigam em torno de 1.100.000, os demais somente tas chamam de “a relação entre custos marginais e poderiam estudar se alguém pagasse a conta, já que a receitas marginais”. Em uma empresa que produz maioria não tem renda para financiar seus próprios es- e vende um bem material, a perda da venda de uma tudos. Dizendo de outra forma: o problema se resume unidade do produto reduz as receitas totais em valor a “financiamento”, que não deve ser confundido com equivalente ao preço do produto, mas também reduz “empréstimo” como acontece na linguagem popular. os custos totais em valor correspondente à matéria- O país não vem conseguindo resolver o problema do prima e demais insumos que compõem o produto não- financiamento estudantil para atingir, pelo menos, fabricado. 7.500.000 de jovens no Ensino Superior, equivalente a No caso de instituição educacional, a perda da 30% do total potencial de matrículas. receita em função de uma vaga não preenchida ou Isto posto, o problema consiste em buscar for- por cancelamento de uma matrícula reduz as receitas mas possíveis para elevar o percentual de matrículas totais no valor equivalente ao valor da anuidade perdi- universitárias, atacando o centro da questão: o finan- da, sem provocar qualquer redução nos custos totais. ciamento estudantil. Algumas hipóteses são aqui fo- Desta forma, o valor da perda nas receitas totais impli- cadas. ca a perda do mesmo valor no lucro líquido, já que os custos permanecem os mesmos. Em face dessa lógica, a sustentabilidade finan- AMPLIAÇÃO E REFORMULAÇÃO DO CRÉ- ceira da IES privada tem dependência, com alto índi- DITO ESTUDANTIL OFICIAL ce de sensibilidade, da evasão e da inadimplência, o que torna imperativo de boa saúde financeira, a busca O governo tem o FIES – Financiamento ao Estu- de opções para minimizar todas as formas de perda dante, empréstimo concedido pela Caixa Econômica de receitas. Uma dessas formas tem conexão com as Federal, equivalente a 50% da anuidade escolar, que possibilidades de financiamento ao aluno, foco central o aluno paga após formado, com juros de 6,5%. É um abordado neste artigo. bom programa que, todavia, apresenta duas limita- Recente estatística informa que o Brasil tem 25 ções à sua ampliação para atender um número maior milhões de jovens entre 18 e 24 anos de idade, dos de alunos: a) o pequeno volume dos fundos disponí- quais pouco mais de 10% estavam fazendo curso uni- veis; b) as condições de concessão do crédito que, versitário. É doloroso constatar que 90% dos jovens carregadas de normas bancárias, o tornam inacessí- brasileiros em idade universitária não estejam cur- vel a milhões de jovens. sando o Ensino Superior, dado que se torna mais Uma primeira proposição seria, portanto, que o grave quando confrontado com países desenvolvidos, governo aumentasse o volume de recursos alocados alguns com mais de 90% na universidade. Mesmo no FIES e flexibilizasse suas regras bancárias, como quando se compara o Brasil com países emergentes, forma de atingir um número maior de beneficiados. O como a Argentina que tem em torno de 30% no Ensi- problema é que o FIES é gerenciado pela Caixa Eco-

57 José Pio Martins, professor de Economia e Vice-Reitor do Centro Universitário Positivo – UnicenP. nômica Federal que, por ser uma instituição financei-

215 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

ra, não pode deixar de tratar esse crédito como uma problema, vale a pena considerar o sistema de vou- operação bancária submetida à legislação do Banco chers. Um voucher é uma espécie de vale ou cheque Central para a concessão de empréstimos a pessoas que assegura um crédito para futuras despesas com físicas. Uma das formas possíveis para fugir dessa bens ou serviços. O MEC selecionaria os estudantes amarra seria transformar o FIES em programa do beneficiários dosvouchers , eles escolheriam livremen- Tesouro Nacional, com regras próprias ditadas por te a IES na qual se matricular, entre aquelas creden- norma legal, fazendo que a Caixa Econômica atuasse ciadas pelo governo, e pagariam suas anuidades com como agente gerenciador do programa na condição esses “cheques-educação”. As IES seriam autorizadas de mero prestador de serviço ao governo. Pode-se a usar os vouchers para pagar tributos e, se houves- argumentar que a Caixa tem alguma autonomia para se excedente, receberiam do Tesouro Nacional. O fixar as regras de concessão de crédito. Porém, a au- simples fato de o governo firmar na lei que -somen tonomia da Caixa parece não chegar ao ponto de per- te poderiam ser credenciadas as IES que estivessem mitir uma flexibilização que torne o FIES acessível a em dia com os pagamentos de todos os tributos e das milhões de jovens. contribuições previdenciárias provocaria um aumento na arrecadação. Ou seja, muitas IES inadimplentes se sentiriam compelidas a pagar os tributos em atraso para poderem se candidatar ao recebimento de alunos AMPLIAÇÃO E REFORMULAÇÃO DO ProU- contemplados com o programa de cheque-educação. ni Não é preciso comentar que, para o governo, as O Programa Universidade para Todos – ProUni vagas por ele compradas das IES privadas custariam foi eficiente ao colocar, de forma rápida, mais de 200 menos do que a ampliação de vagas nas IES públicas mil alunos nas Instituições de Ensino Superior (IES) gratuitas, porquanto é sabido que o custo por aluno privadas. O governo trocou vagas por impostos. Isto no setor educacional privado é inferior ao custo no se- é, as IES que aderiram ao programa abriram vagas tor educacional estatal. Um programa dessa natureza para alunos oriundos da escola pública, cuja renda fa- até hoje não foi experimentado no Brasil em função miliar média por membro da família não seja superior de um ranço ideológico: os estatizantes afirmam que a um e meio salário mínimo, nada cobrando desses isso seria usar dinheiro público para financiar o - lu alunos, mas recebendo, como benefício, a isenção dos cro privado, coisa que eles consideram inadmissível. tributos federais, à exceção da contribuição à Previ- Trata-se de uma distorsão de raciocínio, equivalente dência Social. a negar um vale-refeição a uma pessoa faminta sob o argumento de que, ao comprar a comida, ela estará Conquanto seja um programa vitorioso, o ProU- bancando o lucro do dono do restaurante. ni colocará pouco mais que 400 mil alunos nas IES privadas. A dificuldade em superar essa marca resi- de em dois fatores: a) as IES não têm mais tributos a pagar para trocar com o governo por vagas gratuitas BENEFÍCIO FISCAL NO IMPOSTO DE REN- aos alunos; b) já está começando a faltar alunos para DA preencher as vagas do ProUni em função do limite máximo de renda familiar do estudante. Durante muitos anos nas décadas dos sessenta Uma solução possível é o governo ampliar a faixa e setenta, o Brasil fez uso do recurso ao “incentivo de renda média da família dos estudantes da escola fiscal” para promover reflorestamentos, a pesca, o pública de forma a preencher todas as vagas já conve- desenvolvimento do Nordeste e outros objetivos. Os niadas entre o MEC e as IES privadas, o que reduziria devedores do Imposto de Renda podiam aplicar em a possibilidade de vagas não-preenchidas. A segunda programas incentivados, a exemplos dos refloresta- solução é o governo criar uma espécie de ProUni 2, mentos, e fazer abatimentos no imposto a pagar, o que um sistema de vouchers que, pela imensa importância, tornava atrativa a opção por aplicar em determinados merece um capítulo exclusivo. programas incentivados. O governo poderia criar um incentivo fiscal nos mesmos moldes para incentivar a educação. No caso das empresas, cujo imposto a pagar é alto, com o pro- VOUCHER SISTEMA DE OU CHEQUE-EDU- grama de incentivos tornar-se-ia interessante aplicar CAÇÃO em educação para seus funcionários levando muito mais gente às universidades. No caso de empresas Considerando que a solução via aumento de pouco intensivas de mão-de-obra, mas com elevados vagas nas IES públicas gratuitas, seja qual for a sua ganhos, o programa poderia permitir a aplicação do dimensão, será muito pouco diante da magnitude do incentivo fiscal para favorecer alunos beneficiários

216 SEGUNDA PARTE

fora do quadro de empregados da companhia.

AUMENTO DE VAGAS NAS UNIVERSIDA- DES PÚBLICAS

Uma solução, cuja viabilização tem se revelado difícil em face da resistência corporativista de profes- sores e funcionários das IES públicas, é o aumento de vagas nessas IES. Entretanto, teria quer ser aumento de vagas sem aumentos de custos equivalentes, já que o governo não dispõe de orçamento para aumentar os repasses para o Ensino Superior estatal. A saída, que já foi aventada, seria aumentar do número de aluno por professor. Para estimular tal medida o MEC teria que fazer repasses às suas universidades segundo o número de alunos efetivamente matriculados nelas ou, pelo menos, usar esse indicador para diferenciar os repasses.

CONCLUSÃO

De sua parte, as IES privadas podem, e devem, implementar gestão profissional e competente; zelar pela qualidade dos serviços que prestam; adquirir o respeito e admiração da sociedade (do mercado) pela seriedade e organização; e entender que uma institui- ção de ensino padece das mesmas vantagens e dramas de qualquer organização que se disponha a oferecer um produto, seja ele um bem material ou serviço, e submeter-se às necessidades da sociedade e ao julga- mento do “consumidor”. O lucro e a sustentabilidade representam a recompensa por um trabalho bem-fei- to e pela satisfação das pessoas que dela utilizam para a sua formação educacional.

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CONCLUSÃO CENTROS UNIVERSITÁRIOS O FUTURO QUE SE ESBOÇA O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

O PAPEL DA ANACEU COMO AGENTE AGLUTINADOR DO SEGMENTO E DIFUSOR DE CONCEITOS EDUCACIONAIS Eduardo Storópoli58(*)

Os Centros Universitários, implantados em A ANACEU ao longo desses anos tem promovi- 1997, primeiro pelo Decreto 2.306/97 e reafirmados do e incentivado eventos culturais, seminários, coló- pelo Decreto 3.860/97, foram idealizados no contexto quios, debates, audiências públicas e várias outras ati- de uma série de medidas propostas pelo Governo Fer- vidades. Tem lutado e garantido o espaço dos Centros nando Henrique Cardoso para proporcionar a expan- Universitários no centro das discussões da educação são da educação superior no país, estimulando ações superior brasileira e perante a sociedade civil. de incentivo ao desenvolvimento das IES privadas e Hoje, com um quadro composto por 80 Centros a um ensino de qualidade. Desde a criação e sua im- Universitários entre privados, comunitários e públi- plantação os Centros Universitários vêm exercendo cos, a ANACEU promove suas assembléias de asso- um papel relevante na educação superior brasileira. ciados mensalmente para tratar de assuntos de inte- Com uma proposta inovadora e moderna, os resse do segmento, reportando a todos, o resultado Centros Universitários cresceram e se desenvolveram de suas ações e deliberações. A Entidade por meio de sob a égide da avaliação, implantada no governo FHC relatório institucional semanal, cuidadosamente ela- e regulamentada pelo governo Lula com a implanta- borado, mantém seus associados informados de todos ção do SINAES. Exercem com eficiência e qualidade os acontecimentos que dizem respeito aos Centros o seu papel na matriz educacional do ensino superior Universitários e a educação superior em geral. brasileiro. A ANACEU integra o rol das entidades que A ANACEU, criada em 6 de dezembro de 1999 indicam nomes para compor o Conselho Nacional por 12 Centros Universitários, nasce com o espírito de Educação – CNE. Nesta prerrogativa atua com e a determinação de dar sustentação e legitimidade transparência e grande senso democrático acatando à nova tipologia implantada na educação superior do sempre as decisões emanadas das assembléias dos as- país. Desde então vem desempenhando um trabalho sociados e mantendo um relacionamento de cordiali- de vital importância na vida dessas instituições, cum- dade com as demais entidades de classe do segmento prindo com os objetivos de defender e representar os educacional. interesses dos Centros Universitários instalados em Desde a sua criação, a ANACEU realiza o Semi- todo o território nacional perante os três poderes, nas nário Nacional dos Centros Universitários, que acon- esferas federal, estadual e municipal. tece a cada ano em um Centro Universitário anfitrião. A Associação lutou, perseverou e venceu ba- A 8ª edição se dará neste ano em Brasília e teremos talhas importantes, tais como a derrubada do fami- como anfitrião o UniCEUB, que abordará temas de gerado Decreto n. 4.914 que pretendia extinguir os relevância para a educação superior brasileira no dé- Centros Universitários ao final de 2007. Devolveu aos cimo ano de existência dos Centros Universitários. Centros Universitários sua autonomia assegurando Em 2000, o I Seminário Nacional dos Centros o registro de diplomas com a edição do Decreto de Universitários, realizado no Centro Universitário n. 5.786, garantiu junto ao texto da Reforma Univer- UNIVATES, abordou o tema: “A Missão dos Centros sitária no Congresso os Centros Universitários como Universitários”; em 2001, o II Seminário Nacional dos tipologia em lei. Foram muitas as batalhas onde foi Centros Universitários, abordou o tema “Excelência necessária a intervenção da Associação em defesa ou Alta Qualificação para o Ensino”, ocorreu no Cen- dos interesses de seus associados. A ANACEU tem tro Universitário Monte Serrat, na cidade de Santos. buscado incessantemente a consolidação dos Centros O Centro Universitário de Belo Horizonte, no ano como importante figura na estrutura do ensino supe- de 2002, acolheu o III Seminário Nacional dos Centros rior brasileiro perante as esferas governamentais e Universitários, que discutiu o PDI como Instrumen- a sociedade, com autonomia, liberdade de atuação e to Norteador da Gestão dos Centros Universitários; identidade própria. enquanto que em 2003 o IV Seminário Nacional dos Centros Universitários, com o tema “Os Centros Uni- 58 (*) Eduardo Storópoli é Reitor do Centro Universitário Nove de Julho e Presidente da ANACEU.

220 SEGUNDA PARTE

versitários como Instrumentos de Mudanças Sociais”, tários. aconteceu no Centro Universitário de João Pessoa. Por fim, a instituição acompanha e atua junto às Nos anos seguintes, 2004, 2005 e 2006 acontece- esferas do Legislativo, Judiciário e Executivo, defen- ram os V, VI e VII Seminários Nacionais dos Centros dendo os interesses dos Centros Universitários e de Universitários, cujos temas e locais foram: “Educação suas mantenedoras, tendo ampla aceitação e legitimi- Superior: Cenário em Transformação” - Centro Uni- dade junto ao Ministério da Educação. Fazem parte versitário de Maringá; “Ensinando a Conjugar Qua- do Grupo das Associações de Ensino Superior: ANA- lidade com Responsabilidade” - Centro Universitário CEU, ANUP, ABRAFI, ABMES, ABIEE, CONFENEN Nove de Julho; “Novas Tecnologias e Estratégias em e SEMESP. Educação Superior: Qualidade com Racionalização de No decorrer de nossos mandatos e dos anteces- Custos” - Centro Universitário Positivo. Em 2007, o se- sores, registramos os seguintes documentos entre- minário discute “Qualidade de Ensino, Responsabili- gues ao Ministro da Educação: dade Social e Sustentabilidade Financeira: A Equação • Documento 1 - Memorial ao Ministro da Edu- que Desafia” - Centro Universitário de Brasília. cação, entregue ao Excelentíssimo Senhor Fernando Como presidente da instituição desde 1º de ja- Haddad, Ministro de Estado da Educação. Refere-se neiro de 2004, já no segundo mandato, desejamos ao Decreto regulamentando pontos da LDB e a Lei n.º registrar que a Associação Nacional dos Centros Uni- 10.861/04 Brasília, 15 de março de 2006; versitários tem escolhido os seminários para servir de • Documento 2 - Ante-Projeto Comentado, en- palco e priorizar todas as discussões de temas que têm tregue ao Excelentíssimo Senhor Fernando Haddad, dominado o universo da Educação Superior Nacional. Ministro de Estado da Educação. Refere-se ao Decreto Esses temas, diga-se de passagem, são alimentados regulamentando pontos da LDB e a Lei n.º 10.861/04 por mudanças na legislação, por demandas da socie- Brasília, 15 de março de 2006; dade ou por iniciativas do governo na implementação de políticas de promoção da qualidade do ensino e da • Documento 3 - Sugestões de Emendas, en- ampliação de populações atendidas por educação de tregue ao Excelentíssimo Senhor Fernando Haddad, terceiro grau. Ministro de Estado da Educação, referente ao Decreto regulamentando pontos da LDB e a Lei n.º 10.861/04 Também devemos salientar que as conferências Brasília, 15 de março de 2006; Ofício entregue ao Ex- apresentadas nos eventos refletem uma gama de pen- celentíssimo Senhor dr. Tarso Genro DD Ministro de samentos, idéias e convicções sobre Educação Supe- Estado da Educação, Brasília, 6 de julho de 2005; rior Nacional, contribuindo para garantir a expansão do Ensino Superior com qualidade, inclusão social, • Análise global do grupo executivo do Fórum sustentabilidade e, principalmente, respeito à livre Nacional da Livre Iniciativa na Educação, entregue ao iniciativa. Excelentíssimo Senhor Dr. Tarso Genro DD Ministro de Estado da Educação, Brasília, 6 de julho de 2005; No cumprimento de sua missão, em 15 de se- tembro de 2003, a ANACEU celebrou convênio com o • Considerações Genéricas sobre a 2ª versão MEC para o Programa Brasil Alfabetizado, com o ob- do Anteprojeto do MEC para Reforma Universitária, jetivo de promover a erradicação do analfabetismo em entregue por Arthur Roquete de Macedo no semi- parcerias com seus associados. Dentre as parcerias, nário do Fórum de Educação, no dia 8 de junho de constam os Institutos Superiores Politécnicos Portu- 2005; gueses para integração e troca de conhecimentos. • Proposições e Observações sobre a 2ª ver- A ANACEU tem sua estrutura voltada ao asso- são do Anteprojeto de Lei da Reforma Universitária di- ciado, por meio de promoção de cursos e palestras, vulgado pelo MEC, entregue no seminário do Fórum oferecendo serviços de protocolo junto ao MEC; dis- de Educação, no dia 6 de julho de 2005; põe, também, de publicação na Imprensa Nacional e • Comentários sobre a 2ª versão do Antepro- espaço para suas reuniões e cursos. jeto de Reforma Universitária - Documento contendo A associação também oferece assessoria legisla- propostas do setor sobre a segunda versão do Ante- tiva e acadêmica aos Centros Universitários, prestan- projeto de Reforma Universitária. Entregue em audi- do esclarecimentos gerais sobre assuntos de interes- ência, ao Secretário Executivo do Ministério da Edu- se das IES. cação, Fernando Haddad; 2ª versão do Anteprojeto da Reforma Universitária. O novo texto do anteprojeto Deve também ser ressaltado o trabalho da con- destaca três eixos importantes, como o financiamento sultoria jurídica contratada pela ANACEU na orienta- e a qualidade das instituições federais de ensino e a ção aos seus associados sobre questões referentes a ampliação de vagas. legislação educacional e de natureza fiscal, parafiscal e administrativas enfrentadas pelos Centros Universi- Segundo o MEC, a proposta da Lei de Educação

221 O IMPACTO DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1997 – 2007

Superior é fruto do mais intenso e sistematizado deba- liminar sobre a reforma da Educação Superior que te ocorrido no país sobre o tema e compreende o uni- pode ser sintetizado pelo documento final do Fórum, verso da educação como um bem público que atende também entregue ao Ministro Tarso Genro, em 29 de a sua função social por meio das atividades de ensino, março de 2005. pesquisa e extensão. Embora a ANACEU entendes- Assim, no cumprimento de sua missão de forta- se que o debate deveria ter sido mais amplo e par- lecer e unir os Centros Universitários, a ANACEU se ticipativo, intercedeu ativamente no mesmo, dando a constituiu em um Fórum privilegiado e reconhecido sua contribuição para o aperfeiçoamento do projeto. para: a discussão dos problemas educacionais brasi- (Assessoria de Comunicação do MEC), 30 de maio de leiros; o desencadeamento de ações que visam o for- 2005. talecimento do setor; a tomada de iniciativas para o Em síntese, o documento entregue pelo Fórum aprimoramento da função social das Instituições de Nacional da Livre Iniciativa na Educação ao Ministro Ensino Superior e o aprimoramento da educação par- da Educação contém uma análise do Anteprojeto Pre- ticular brasileira.

222 SEGUNDA PARTE

OS CENTROS UNIVERSITÁRIOS NO CONTEXTO DA ANDRAGOGIA Ronaldo Mota59(*)

A educação superior baliza-se pelos seguintes legais de credenciamento. princípios complementares entre si: (i) expansão da No que diz respeito à criação de novos centros, oferta de vagas, dado inaceitável, pois somente 11% o Decreto estabelece que somente serão criados por de jovens entre 18 e 24 anos têm acesso a este nível credenciamento de instituições de ensino superior já educacional; (ii) garantia de qualidade, sendo que não credenciadas e em funcionamento regular, com ava- basta ampliar, é preciso fazê-la com qualidade; (iii) liação positiva pelo Sistema Nacional de Avaliação da promoção de inclusão social pela educação, minoran- Educação Superior - SINAES. do nosso histórico de desperdício de talentos, consi- Dois aspectos importantes dizem respeito aos derando que dispomos comprovadamente de signifi- Centros Universitários: i) a questão da avaliação e cativo contingente de jovens competentes e criativos ii) sua especial capacidade e agilidade em incorporar que têm sido sistematicamente excluídos por um fil- novas estratégias, entre elas a questão de uma nova tro de natureza econômica; (iv) ordenação territorial, metodologia associada ao processo ensino-aprendi- permitindo que ensino de qualidade seja acessível às zagem de adultos, ou seja, a andragogia. Esses dois regiões mais remotas do País; e (v) desenvolvimen- elementos específicos serão tratados a seguir. to econômico e social, fazendo da educação superior, enquanto formadora de recursos humanos altamente Quanto à avaliação da educação superior, ela qualificados ou como peça imprescindível na produ- será em consonância com os três componentes do ção científico-tecnológica, elemento-chave da integra- SINAES: avaliação institucional, avaliação de cursos ção e formação da nação. e avaliação de desempenho dos estudantes, os quais dialogam um com o outro. Assim, a avaliação se torna Neste contexto, os Centros Universitários de- a base da regulação, em um desenho institucional que sempenham fundamental papel. Os Centros Univer- cria um marco regulatório coerente, assegurando ao sitários foram criados inicialmente através de Decreto Poder Público maior capacidade, inclusive do ponto em 9 de julho de 2001. Pode-se afirmar que a figura de vista jurídico, de supervisão sobre o sistema fede- dos Centros teve um segundo nascimento ao ser re- ral de educação superior e abrindo às boas institui- cuperada em novo Decreto em 25 de maio de 2006, ao ções condições de construir sua reputação e conquis- revogar o Decreto de 11 de dezembro de 2003, no qual tar autonomia. era prevista a extinção dos Centros Universitários. A ampliação do acesso ao ensino superior, pú- Assim, os Centros Universitários foram defini- blico e privado, só adquire pleno sentido quando dos enquanto instituições de ensino superior pluricur- vislumbrada como elos adicionais de um conjunto riculares, que se caracterizam pela excelência do en- de projetos no âmbito da educação superior que ar- sino oferecido, pela qualificação do seu corpo docente ticulam, com um olho na educação básica e outro na e pelas condições de trabalho acadêmico oferecidas à pós-graduação; ampliação de acesso e permanência, comunidade escolar. reestruturação acadêmica, recuperação orçamentá- Classificam-se como Centros Universitários as ria, avaliação e regulação. instituições de ensino superior que atendam aos se- O setor privado, entendida a sua complexidade guintes requisitos: um quinto do corpo docente em re- e diversidade, demanda uma regulação justa, baseada gime de tempo integral e um terço do corpo docente, em critérios precisos de avaliação, políticas estáveis pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou e o reconhecimento da legitimidade e da relevância doutorado. É reafirmado que os Centros Universitá- do setor. A falta de regulação adequada e a ausência rios poderão criar, organizar e extinguir, em sua sede, de processo avaliativo consistente permitiram que, ao cursos e programas de educação superior, assim lado de boas instituições do setor privado, se estabele- como remanejar ou ampliar vagas nos cursos existen- cessem empresas educacionais onde o lucro foi trata- tes, nos termos deste Decreto. Em um de seus pará- do com mais importância do que a própria educação. grafos, veda-se aos Centros Universitários a atuação e Um marco regulatório apropriado e justo servirá para a criação de cursos fora de sua sede, indicada nos atos estimular as boas instituições educacionais e inibir

59 (*)Secretário de Educação Superior/MEC. aquelas cujos objetivos mercantis sejam preponderan-

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tes sobre a garantia de qualidade. crianças demonstrarem elementos de autodireciona- Enfim, tem o País uma importante oportunidade mento. Pelo contrário, como ressaltado por alguns ímpar de estabelecer um novo e necessário marco re- autores [6], em certos contextos, a aprendizagem gulatório da educação superior. Importante que esse para crianças tem características de naturalidade e es- processo seja em coerência com a sociedade contem- pontaneidade que se confundem, corretamente, com porânea, que terá como alicerce a educação e como autodirecionamento; um dos centros principais de suas reflexões suas ins- Experiência: Uma pessoa madura acumula um tituições de educação superior. reservatório de experiências que, potencialmente, Em relação à andragogia, ou educação de adul- pode transformar-se em fonte especial de aprendiza- tos, importante observar que são exatamente os Cen- do crescente; tros Universitários, a partir de sua dedicação especial Preparação ao aprendizado: O aprendiza- ao ensino de qualidade, sua atuação em grande espec- do, no qual se orienta a partir de tarefas associadas tro de áreas profissionais e fruto de sua agilidade ad- aos papéis sociais efetivamente desenvolvidos pelos ministrativa, quem poderá se destacar no tratamento aprendizes, permite processos especiais que facilitam adequado desta tarefa. sobremaneira sua preparação; Os dados mais recentes do INEP apontam que Orientação ao aprendizado: Uma pessoa ma- quase 40% dos estudantes universitários têm mais de dura apresenta uma especial perspectiva em termos 24 anos. Mantido o ritmo de crescimento atual, faz de aplicação potencial dos conhecimentos em compa- com que possamos inaugurar a próxima década com ração a uma outra, cuja aplicação se caracteriza prin- a maioria de nossos alunos de cursos superiores com cipalmente pela generalidade, permitindo à primeira mais de 24 anos. um enfoque centrado em problemas, enquanto que, Considerando que esses índices são ainda maio- para a segunda, em geral, o centro é principalmente o res nas escolas particulares, onde, na maior parte das tema em abstrato: instituições, os adultos, com mais de 24 anos, já são Motivação para aprender: A motivação prin- maioria, há que se entender cada vez mais e melhor cipal para aprender em uma pessoa madura é espe- o que modifica, se é que modifica, quando discutimos cialmente interna, fruto de suas próprias reflexões e processos de ensino-aprendizagem para adultos, dado conclusões. que a tradição brasileira é mais centrada em pensar É preciso ser muito cuidadoso ao pretender fa- os estudantes universitários como jovens, na maioria zer distinções entre andragogia e pedagogia, espe- recém-egressos da adolescência. cialmente porque essas separações não são definiti- Do ponto de vista etimológico, a palavra andra- vamente claras. gogia é composta pelo prefixo andro, que significa Assim, pedagogia está bastante associada à arte homem, no sentido adulto, reunida a gogia, que signi- e ciência de educar crianças e jovens. Em geral – ain- fica condução, acompanhamento, no sentido educati- da que não necessariamente verdadeiro sempre – no vo. Em princípio, andragogia poderia ser contrastada modelo pedagógico, a centralidade dos professores, com pedagogia, construído a partir de pedo, derivado enquanto dirigentes dos processos e metodologias, é de criança. As pretensas diferenças entre andragogia quase absoluta. Contrariamente ao foco centrado no e pedagogia têm sido motivo de um profícuo e inesgo- professor, que acabou por dominar boa parte dos pro- tável debate. cessos formais de educação, na origem dos processos Nesse aspecto, deve ficar bem evidente que a an- educacionais, remontando aos grandes mestres dos dragogia não se aplicaria apenas à educação de jovens períodos antigos, de Confúcio a Platão, não se preten- e adultos, definida na LDB, mas a todos os processos dia estabelecer esse padrão de comportamento. educacionais que envolvam adultos, sejam eles alfabe- De forma mais enfática, na pedagogia para adul- tizados ou não. tos, os programas de formação demandam especial Para Knowles, em resumo, andragogia está as- atenção para explicações de porque alguns conteú- sociada a pelo menos cinco pressupostos básicos, que dos, bem como os procedimentos, estão sendo ensi- definem suas características e a diferenciam da peda- nados ou adotados. Não que tais demandas também gogia. São eles: não devam ou não possam fazer parte de ensino para Autoconceito: Uma pessoa madura e autodire- crianças. Podem e devem, mas a questão aqui é de cionada apresenta, em geral, uma capacidade de es- ênfase especial comparativa. tabelecer autoconceitos privilegiada em comparação a Os procedimentos educacionais, sempre que um indivíduo com uma personalidade menos madura possível, devem ser mais auto-orientados e menos e menos autodirecionada. Aqui é preciso destacar que baseados em processos de memorização. Assim, as tal afirmativa não implica subtrair a possibilidade de instruções, quando imprescindíveis, devem levar em

224 SEGUNDA PARTE

conta as diversas experiências anteriores dos educan- dos no que se refere às variabilidades e profundida- des diferentes. Considerando que os adultos, mais do que as crianças, em geral, apresentam características de auto-orientação, as metodologias adotadas devem permitir que os aprendizes descubram por si, sempre que possível. Adultos demandam, de forma especial, estar claramente envolvidos nos processos de planificação, planejamento e avaliação das metodologias adotadas. As experiências, incluindo as discrepâncias associa- das, devem fornecer as bases principais para as ati- vidades de aprendizagem. Mais do que crianças, em geral, os adultos demonstram maior facilidade de aprendizagem em assuntos que têm, ou apresentam, conexões mais evidentes com os interesses imediatos de suas vidas pessoais ou de seu mundo do trabalho. O aprendizado de adultos demonstra ser mais efeti- vo quando centrado em problemas específicos e em conexão com o tema a ser abordado do que quando orientado pelo conteúdo mais geral associado ao tema em questão.

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