FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS DOUTORADO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS

A Enciclopédia do Integralismo: lugar de memória e apropriação do passado (1957-1961)

RODRIGO CHRISTOFOLETTI

Professor orientador acadêmico – Profª. Drª Marieta de Moraes Ferreira

Rio de Janeiro, Agosto de 2010.

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS DOUTORADO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS

A Enciclopédia do Integralismo: lugar de memória e apropriação do passado (1957-1961)

Tese de Curso apresentada ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em História, Política e Bens Culturais.

RODRIGO CHRISTOFOLETTI

Rio de Janeiro, Agosto de 2010.

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV

Christofoletti, Rodrigo A Enciclopédia do integralismo: lugar de memória e apropriação do passado (1957-1961) / Rodrigo Christofoletti – 2010. 254 f.

Tese (doutorado) – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais. Orientadora: Marieta de Moraes Ferreira. Inclui bibliografia.

1. Integralismo. 2. Enciclopédia do integralismo. 3. Partido de

Representação Popular (Brasil). 4. Dórea, Gumercindo Rocha. I.

Ferreira, Marieta de Moraes. II. Centro de Pesquisa e Documentação

de História Contemporânea do Brasil. Programa de Pós-Graduação

em História, Política e Bens Culturais. III. Título.

CDD – 320.533

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS DOUTORADO EM HSTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS

A Enciclopédia do Integralismo: lugar de memória e apropriação do passado (1957-1961)

Tese apresentada por Rodrigo Christofoletti

e aprovada em (____/____/______)

pela Banca Examinadora

Profª Drª Marieta de Moraes Ferreira (Orientadora)

Profª Dr. Mario Grinszpan

Prof. Dr. Rodrigo Patto Sá Motta

Prof. Dr. Carlos Eduardo Barbosa Sarmento

Prof. Dr. Gilberto Grassi Calil

RESUMO

O ano de 1957 se tornou paradigmático para o integralismo, pois a partir das celebrações dos 25 anos de sua criação a intelectualidade vinculada ao movimento debruçou-se sobre sua história o que incentivou a retomada de sua ritualidade e discurso pregressos. Isto se deu graças à insatisfação da base militante que se viu sem identidade própria em finais dos anos 1950. Com o intuito de promover atividades que ensejassem a partilha de sua cultura política, calcada em uma rede de sociabilidade, o integralismo avançou nas suas investidas, projetando estratégias e eventos que viabilizassem uma reviravolta na sua atuação político-partidária. A publicação da Enciclopédia do Integralismo e a celebração dos 25 anos de sua existência política (marcos reguladores/ lugares de memória e de construção de sua cosmogonia) serão aqui tratadas como pontos fundamentais para entendermos a atuação que o integralismo teve no período. Pesquisar o que propunham, qual discurso utilizavam e qual era a finalidade destas celebrações e da própria Enciclopédia do Integralismo poderá indicar quais as propostas e respostas integralistas a uma série de questões incômodas que a contemporaneidade fazia.

Palavras-chave: Integralismo, Enciclopédia do Integralismo, Partido de Representação Popular, Gumercindo Rocha Dórea, Edições GRD.

ABSTRACT

The year of 1957 if it turned paradigmatic for the integralismo, because starting from the celebrations of the 25 years of her creation the intellectuality of the party leaned over on the history of the movement in the sense of a retaking of her celebration and past speech.. With the intention of promoting activities that looking the share of yours of her political culture, stepped in a sociability net, the integralismo moved forward in their lunges, projecting strategies and events to make possible a turn in her political- supporting performance. The publication of the Encyclopedia of Integralismo and the celebration of the 25 years of her political (marks regulators / places of memory and of construction of her cosmogony) existence will be treated here about fundamental points for performance that the integralismo had in ends of the years 1950. The research what proposed, which speech used and which was the purpose of these celebrations and of the own Encyclopedia of Integralismo it can indicate which the proposals and answers integralistas to a series of uncomfortable subjects that the age did.

Keywords: Integralismo, Encyclopedia of Integralismo, Popular Representation Party, Gumercindo Rocha Dórea, Edições GRD.

Agradecimentos

Agradeço a todos aqueles que me ajudaram a seguir em frente no propósito de escrever sobre este tema tão controvertido da historiografia brasileira. Um agradecimento particular a Gumercindo Rocha Dórea, remanescente de um tempo em que a ideologia era uma aura que não se perdia. Fiel aos seus princípios me fez interpretar o integralismo de maneira bem mais séria. Agradeço em mesma medida, aos meus companheiros de estudo do Geint - Grupo de estudos sobre o Integralismo, do qual fui um dos fundadores. Nossa interlocução construiu os alicerces desta pesquisa. (Leandro Gonçalves e Renato Dotta, sempre presentes). Estendo os agradecimentos à minha orientadora, Marieta de Moraes Ferreira por ter me ajudado nesta trajetória. Aos colegas de curso que gentilmente trocaram informações, sotaques e figurinhas comigo: os sotaques pernambucano, maranhense, mineiro, carioca e paulista tornaram minha estadia no Rio de Janeiro bem mais interessante. Obrigado pela força. Aos professores que gentilmente aceitaram o convite para a argüição desta tese: Rodrigo Patto Sá Motta (UFMG), Gilberto Grassi Calil (Unioeste), Carlos Eduardo Sarmento e Mário Grinszpan (FGV/CPDOC). Seus apontamentos e argüições foram muito importantes na reavaliação de pontos específicos tratados na tese. Um agradecimento especial a uma amiga que insistiu tanto para que eu conhecesse sua cidade, que acabei nunca mais indo embora: Carina Martins Costa, amiga, colega e madrinha: você ajudou a colocar em minha vida o caminho que hoje eu percorro. Jamais imaginei chegar tão longe. Mas, fica um registro que julgo importante: ter chegado aonde cheguei é fruto da maturidade e desapego de minha mãe e meu pai (in memorian) que entenderam que filho consciente é aquele que segue seu próprio rumo. Obrigado mãe e pai! E, obrigado irmãos por terem compartilhado comigo este tempo de ausência. Ao meu irmão Maurício, pela chance. Ao Rogério, pela longa parceira, e ao Amauri, com quem aprendo cada dia mais, fica o meu mais sincero agradecimento. Finalizando queria agradecer à minha esposa, Patrícia, que me deu a chance de fazer sozinho o que seria difícil fazer acompanhado: obrigado por esperar, aturar e conceder meu tempo para que esta tese pudesse ser escrita. Obrigado por ser Você!

À Sofia, melhor parte de mim! Sumário

INTRODUÇÃO 12

CAP. I – Marcas do conservadorismo: o dégradé integralista 29 1.1– A Ação Integralista Brasileira: breves palavras 30 1.2 - Integralismo a paisana - Rupturas ou continuidades? 32 1.3- PRP e a volta ao Sigma 38 1.4 - As comemorações do Jubileu de Prata integralista e o Congresso de 41 Vitória 1.5 - O jornal A Marcha como porta voz dos desígnios perrepistas 52 1.6 - A Confederação dos Centros Culturais da Juventude - transcendendo 59 os limites da ação partidária

CAP. II - A ∑nciclopédia do Integralismo como um lugar de memória: temas 64 candentes, idéias recorrentes 2.1 – O contexto da publicação da Enciclopédia do Integralismo 68 2.2 - A Enciclopédia do Integralismo e seus canais de comunicação 77 2.3 - Garimpo e Memória: entre a mocidade e a velha guarda integralista 89 2.4 - A enciclopédia que não era uma enciclopédia? 92 2.5 - Propaganda e consumo de uma ideologia 96 2.6 - Mas, sobre o que dissertavam tais escritos? 102 2.7- Discursos recauchutados 107

CAP. III - Leitura em metonímia: a ∑nciclopédia do Integralismo vista de 111 dentro 3.1- O Anticomunismo: bandeira fundamental do integralismo 114 3.2- A Democracia: uma contradição exposta em dois atos 118 Os anos 30 Os anos 40 e 50 3.3 - A Educação como fermento de uma massa em descanso 124 3.4 - O catolicismo integralista 128 3.5 - O Estado Integral - em pauta uma proposta para a Nação 134 3. 6 - Estética e Poética: as artes da mente e do corpo 138 3.7 - Liderança: anuência e anauência 146 3.8 – Antagonismo e dissidência no seio da Enciclopédia 150

CAP. IV- Biografias coletivas: as três gerações da ∑nciclopédia do 157 Integralismo 4.1 - Uma proposta em evidência 158 4.2 - O caminho até os dados 160 4.3 – Ângulos de um mesmo objeto: procede a idéia geracional? 163 4.4 - Apontamentos sobre um retrato coletivo integralista 167 4.5 - As Gerações – pensando o coletivo em função de sua atuação política, 168 sua rede de sociabilidades 4.5.1 - Primeira geração (1930-1938) – a base da pirâmide integralista 168 4.5.2 - Segunda geração (1945-1955) – mais dos mesmos? 170 4.5.3 - Terceira geração – idéias persistentes (1957-1961) 171 4.6 - Os três quadros/gerações e suas interseções 172 4.6.1 – Trajetórias 173 4.6.2 - As origens geográfica, social e política dos indivíduos: elementos 176 controversos 4.6.3 - Profissões: do sustento ao diletantismo 178 4.6.4 - Funções e atividades dos indivíduos no período de sua militância 185 4.6.5- Ocupações dos integralistas no período de publicação da Enciclopédia 187 4.6.6 - Permanências e transformações de um ideário 188 4.6.7 – Falecimentos e atividades profissionais dos autores 192 4.6.8 – Epílogo: alguns leitores da Enciclopédia do Integralismo 195

CAP V - Entre o dito e o interdito: uma voz fundamental para se entender a 199 ∑nciclopédia do Integralismo 5.1 - Discursos e práticas – As entrevistas com Gumercindo Rocha Dórea: 200 “o guardião das memórias integralistas” 5.2 - Um editor combativo 203 5.3 – GRD uma editora entre a proa e a polpa do mercado 214

CONSIDERAÇÕES FINAIS O integralismo da Enciclopédia: êxito ou êxodo? 228

ARQUIVOS, CENTROS DE DOCUMENTAÇÃO E ACERVOS 236 CONSULTADOS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 238

ANEXOS 254

Lista de Siglas (AIB) Ação Integralista Brasileira (AP) Ação Popular (APHMRC) Arquivo Público Histórico Municipal de Rio Claro (ARENA) Ação Renovadora Nacional (Arq. RJ) Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. (Arq. SP) Arquivo Público do Estado de São Paulo (CCCJ) Confederação dos Centros Culturais da Juventude (CD AIB-PRP-PoA) Centro de Documentação sobre a AIB e o PRP de Porto Alegre (CNBB) Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CP) Casa Plínio Salgado (EI) Enciclopédia do Integralismo (FC) Ficção Científica (GRD) Gumercindo Rocha Dórea/Edições GRD (IBAD) Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IPES) Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (JUC) Juventude Universitária Católica (LCB) Livraria Clássica Brasileira (LDB) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (PC do B) Partido Comunista do Brasil (PCB) Partido Comunista Brasileiro (PDC) Partido Democrata Cristão (PL) Partido Libertador (PR) Partido Republicano (PRP) Partido de Representação Popular (PSD) Partido Social Democrata (PSP) Partido Social Progressista (PTB) Partido Trabalhista Brasileiro (PTN) Partido Trabalhista Nacional (TFP) Sociedade Brasileira da Tradição, Família e Propriedade (UDN) União Democrática Nacional (USIS) Serviço de Divulgação e relações Culturais dos EEUU em suas embaixadas ao redor do mundo.

INTRODUÇÃO

12

ara as Ciências Sociais e Políticas, assim como para a História o espectro direitista1 teve várias faces. Na história contemporânea P brasileira o integralismo foi uma delas. Lembrado inicialmente apenas nas manifestações extemporâneas de esparsos militantes que bradavam, aos gritos, o característico cumprimento Anauê!, o integralismo passou nos últimos vinte anos a ser revisitado, sobretudo dentro da academia. O número de pesquisas sobre o integralismo (tanto na sua versão pré, quanto pós-guerra) cresceu significativamente durante o período citado, com ênfase para a última década do século XX. Passou-se a estudar o integralismo não somente para (re) conhecê-lo e (re) significá-lo, o que seria uma postura inerente e incondicional de qualquer pesquisa, mas, sobretudo para sinalizar novas possibilidades de percepção da sua atuação na sociedade de sua época. Na esteira da ampliação dos estudos sobre o integralismo este trabalho apresenta a seguinte hipótese: o integralismo do período pós-guerra, sobretudo a partir de finais da década de 1950, caracterizou-se por uma mutabilidade que simultaneamente o colocou em evidencia e trouxe o movimento para uma releitura de ação política. Para tanto, lançou mão de estratégias de cooptação militante sobre as quais investiu toda a sua força no sentido de angariar frutos políticos mais consideráveis, em um momento em que tudo o que lembrasse os camisas verdes era rechaçado, devido a sua pecha de movimento autoritário. A publicação da Enciclopédia do Integralismo e a celebração dos 25 anos de sua existência política (marcos reguladores de sua cosmogonia) serão aqui tratadas como pontos fundamentais para entendermos a atuação que o integralismo teve no período estudado. Tal como nos evidencia o historiador Rodrigo Patto Sá Motta, em pesquisa análoga, o conjunto de indivíduos que nos interessa neste estudo, também se compõe

1 A despeito da tipificação “direita” ser per si, contraditória e pouco precisa, o filósofo italiano Norberto Bobbio aponta algumas características que a define e a diferencia da chamada “esquerda”. Para Bobbio, a ação política de direita nunca privilegia a realização de reformas sociais (visando uma sociedade mais igualitária) e pouco faz para a expansão das liberdades políticas (na busca de uma democracia política mais consistente). Aponta para o que chama de funil conservador, estigma em que o conservadorismo, reacionarismo e elitismo do pensamento de direita constituiriam, freqüentemente, obstáculos para se alcançar uma lúcida consciência da realidade social. Assim, a direita que rechaçou povos de etnias diferentes, que interveio na economia, nos costumes, nas idiossincrasias de uma massa órfã (em diversas vezes ao longo da história) é mais que uma posição bem demarcada. É, antes, uma opção política que precisa ser bem analisada, compreendida e estudada por todos aqueles que buscam compreender a história das idéias políticas.

13 basicamente da mistura de dois grupos de atores: os conservadores e os reacionários (MOTTA, 2002: 47). O conservadorismo ao qual nos referenciamos lança mão da tradição de forma bastante peculiar, pois se materializa na identidade sócio-cultural, identificando os sujeitos isolados a uma produção social definida, construindo assim, o sentimento de pertencimento de um dado grupo a uma específica maneira se portar. Através da prática política de oposição ao progressismo e as transformações por ele engendradas, os conservadores (no nosso caso, os integralistas do pós-guerra) perceberam que sua luta estaria fadada à derrota se estivesse caracterizada pela radicalização, ou seja, se não houvesse a admissão de nenhum tipo de mudança. Em um elucidativo texto, a historiadora Maria Bernardete Oliveira de Carvalho, analisa o que Karl Mannheim vai chamar de “(...) maneira como o grupamento social estabelece relações internas peculiares” (MANNHEIM Apud CARVALHO, 1981: 14). Neste texto a historiadora retoma a argumentação do sociólogo húngaro, sobre porque as sociedades humanas elaboram historicamente diferentes modos de vida, que exprimem a maneira de ser de cada classe social. Para Mannheim, o modo de vida, produz um estilo de pensamento, que é a relação que se estabelece entre o modo de vida de um grupo e a realidade. O estilo de pensamento representa a práxis humana. Mannheim demonstra que o conservadorismo é um estilo de pensamento, assim como o reacionarismo também o é. Portanto, ambos não são apenas discursos, mas, ação. Nesse sentido, os diversos movimentos de oposição propõem a mudança, uma quebra do status quo. Por outro lado, o movimento opositor, reacionário ou conservador, está, portanto, mediado por um tipo de oposição que busca as permanências, não as mudanças. O discurso reacionário, assim como o conservador contém elementos que Albert Otto Hirschman classificou como propícios a uma retórica perversa e intransigente. (HIRSHMAN, 1992: 75) A retórica perversa, segundo Hirschman, traria o argumento de que as medidas progressistas na verdade buscam mudar somente aquilo que lhe é conveniente, não havendo manutenção da ordem anterior. Parece-nos bastante apropriado esta referência em se tratando dos integralistas do pós-guerra, pois, estes atuaram exatamente no mesmo sentido: a manutenção do estado vigente, movendo-se pendularmente, buscando fugir do estigma que o caracterizara duas décadas antes. Os integralistas vinculados à retomada simbólica de finais dos anos 1950, se destacaram por oscilarem entre estes dois aspectos: o reacionarismo e o

14 conservadorismo. Como reacionários, possuíam como característica maior uma predisposição à intransigência, a incapacidade de aceitar mudanças de qualquer natureza. Como conservadores, ameaçados por tais mudanças, tiveram dificuldades em flexibilizar muitas de suas propostas, justamente por elas não corresponderem às demandas vigentes.2 Elemento relevante para esta discussão é o papel que o integralismo perrepista detinha no período estudado. De 1945, quando o Partido de Representação Popular (corolário da Ação integralista Brasileira) foi criado, até 1955, ano em que Plínio Salgado concorreu à presidência da República, obtendo mais de 700 mil votos, a postura do perrepismo foi mediada por uma progressiva retomada das ações e discurso radical que outrora caracterizou o integralismo. A abordagem que os integralistas passaram a ter frente à opinião pública, pendulando seus discursos, ora suavizando, ora acentuando os tons do debate, sobretudo com relação às suas alianças políticas, é um claro exemplo da manutenção de certas características pregressas. Outro exemplo marcante foi a auto percepção do movimento frente à sua militância que migrou de uma postura egocêntrica (só o integralismo salva) para outra, talvez, mais maleável (o integralismo pode salvar com a ajuda de outros, desde que o nacionalismo, o anti comunismo e o acatamento ao passado integralista fossem respeitados). No entanto, o ano de 1957 se tornou paradigmático para o integralismo, pois a partir das celebrações dos 25 anos de sua criação, a intelectualidade do partido debruçou-se sobre a história do movimento no sentido de uma retomada de sua ritualidade e discurso pregresso. Aqui, categorizamos como intelectuais do movimento integralista, nomes que de alguma maneira se vinculavam ao projeto de recondução de sua ideologia, como alguns correligionários do PRP, poucos integralistas dos anos 1930 e alguns representantes dos Águias Brancas, a juventude integralista. Esta

2 Neste sentido, esses integralistas foram apenas um dos grupos que atuaram em prol da manutenção de valores que acreditavam ser fundamentais para seu projeto de poder e Nação. Deste quadro também fazem parte outras entidades direitistas que, no intervalo entre 1955 e 1965, se multiplicaram. Exemplos mais significativos, mas não únicos, são os ultra-reacionários da TFP (Sociedade Brasileira da Tradição, Família e Propriedade) e alguns setores da UDN. Engrossa a fileira, entidades cujo corte conservador impediam uma aproximação com setores mais progressistas, como é o caso da Cruzada Brasileira Anticomunista e da Liga da Emancipação Nacional, ambas, reflexo da polarização que se acentuou em finais dos anos 1950, a despeito de muitas destas entidades terem sido criadas em princípios da década. Para ampliarmos o leque do espectro direitista atuante nos estertores do governo JK (momento que coincide com a celebração do Jubileu de Prata integralista e a publicação da Enciclopédia do Integralismo) merece destaque também, o grupo de intelectuais vinculado ao periódico Maquis, e ao Movimento por um mundo Cristão, entidades que encontraram interlocução com o IPES e o IBAD, instrumentos de institucionalização de um programa de face direitista em finais dos anos 1950. Para aprofundamentos ver: MOTTA, 2002: 65.

15 reapropriação é o ápice de um processo mais amplo que se intensificou a partir de 1953 com a constituição de um período marcado pela autonomia partidária do PRP; a constituição das entidades extra-partidárias ligadas ao movimento (CCCJ, UOCB, dentre outras); seguido por episódios relevantes como a candidatura de Salgado ao governo do RS, em 1954; e à presidência da República, em finais de 1958. Portanto, a retomada da ritualidade integralista, e seus corolários só podem ser entendida se mediada por estes acontecimentos anteriores. Também é relevante o fato de a base militante e alguns intelectuais do movimento demonstrarem grande insatisfação frente os rumos partidários, a ponto de reclamarem a ausência de uma identidade própria, fator que instigou a sigla a retomar partes da ritualística e simbologia já características. Então, os festejos das bodas de prata, bem como as respostas às acusações dos grandes jornais, forneceram o tema para uma campanha de revalorização do integralismo. A celebração não se alimentou apenas das questões públicas (os festejos populares), mas também da materialidade expressa na vendagem de seus produtos. A compra de suvenires despertava no simpatizante a manutenção de sua lembrança e o sentimento de pertencimento ao integralismo, o que estimulava a permanência cotidiana dessa cultura material. Se a imprensa posicionou-se contrariamente ao reaparecimento da ritualidade integralista, a mídia impressa do integralismo, por sua vez, destinou um significativo espaço para a propaganda de sua doutrinação e vendagem de seus produtos. Sofisticou-se também as estratégias de ampliação da militância, o que incentivou os integralistas a criarem, no espaço de alguns anos, um calendário rememorativo que contemplava festas populares, simulações históricas, constituição de novos órgãos ligados ao movimento, bem como a produção de uma série variada de produtos que ostentava a marca integralista. Redefinindo pontos de choque com a postura dos anos 1930, os integralistas perrepistas do pós-guerra, buscaram na sua estruturação elementos que reafirmassem seu aparato ritualístico e mítico e mantiveram uma oposição ao comunismo cada vez mais acentuada supervalorizando seus adereços, ritos e símbolos, como força motriz para sua caminhada política. Por outro lado, a atmosfera de redemocratização na qual o país vivia projetou atores que passaram a afirmar cada vez mais que o integralismo representava o mal essencial. Alguns políticos vinculados à UDN (sobretudo, Carlos Lacerda e Amaral Neto) lançaram a metáfora de que o “novo” integralismo seria um vírus que não poderia mais ser hospedado no corpo da sociedade. Nessa disputa, com o intuito de promover

16 atividades que ensejassem a partilha de sua cultura política, calcada em sua rede de sociabilidade, o partido avançou nas investidas, projetando estratégias e eventos que viabilizassem uma reviravolta na sua atuação político-partidária. Tais investidas foram marcadas pela realização das festividades dos 25 anos do Movimento Integralista – que ocorreram durante o mês de outubro (nada mais simbólico para os integralistas) e da publicação da Enciclopédia do Integralismo, lançada simultaneamente à realização das festividades. A Enciclopédia do Integralismo surgiu como uma proposta de apresentação ordenada da leitura de mundo dos integralistas. A apresentação desse corpo doutrinal pautou-se pela necessidade de seus escritos parecerem um conjunto coerente e sólido, uma vez que, por meio dele, seus membros pretendiam divulgar suas realizações. Os integralistas comungavam uma leitura particular de mundo, cuja partilha de sentimentos e convicções era o centro de seu ideário, e o fortalecimento do integralismo do pós- guerra esteve intimamente ligado a essa partilha, num período cada vez mais adverso à presença do integralismo no cenário político. Nesse sentido, a delimitação temporal do tema proposto (1957-1961) justifica- se por este período representar o ápice de uma postura que vinha se desenhando a alguns anos e que conheceu em finais da década de 1950 sua forma mais acabada. Tal período fundamentou-se essencialmente por importantes definições no perfil do partido e da doutrina integralista, tais como a afirmação de Salgado como líder onipotente, a ocorrência de algumas alianças políticas até então não praticadas pelo PRP - como as coligações com a UDN e o PSD - e a reorientação do caráter nacionalista do movimento, enfraquecido nos cinco primeiros anos de sua atuação política. Diante deste panorama buscou-se nesta pesquisa abordar dois objetivos centrais: inicialmente, apreender os mecanismos utilizados pelo integralismo a partir de 1957, seus significados simbólicos e sua inserção na sociedade da época, destacando elementos que atuaram como mediadores entre tempos, espaços e memórias diversos. O segundo objetivo deste trabalho foi analisar as temáticas que conferiam sentido ao que se lia na Enciclopédia do Integralismo. Para tanto, procurou-se entendê-la como um lugar de memória integralista, (campo de disputa e de construções que se pretendiam perenes; produtora e estimuladora de visões de mundo plurais, de memórias coletivas). A partir desta idéia pretendeu-se responder algumas questões fundamentais: que critério presidiu a seleção do material publicado? Quais os temas mais recorrentes? Que

17 lugar ocupou o passado do movimento no compêndio? Foram retomados, em 1957, os princípios e valores defendidos na década de 1930 ou, pelo contrário, forjou-se um novo discurso? Que representações de democracia, eleições e participação popular foram consagradas? Quais eram seus adversários? Qual (is) o(s) projeto(s) de futuro que a publicação acalentava? Esta foi apenas uma das possibilidades de se apreender tamanha diversidade de temas e escritos. Nesse sentido, ao se descolarem do terreno da mera compilação, o compêndio suscitou outras indagações: o que permaneceu do integralismo nesse momento de democracia e qual a relação existiu entre os possíveis integralismos presentes neste compêndio? Algumas das respostas para essas questões puderam ser encontradas na articulação dos acontecimentos ocorridos em finais da década de 1950, peças que construíram o mosaico político daquele período democrático. Para subsidiar esta discussão acerca das relações entre memória e história, alguns historiadores têm informado sobre o aprofundamento e a pluralidade com que estas categorias de analise têm sido construídas. Neste sentido, a dinâmica do produtor/reprodutor/gerenciador de memórias diante desta profusão de memorialismos recuperados (sobretudo nestes últimos 50 anos) corrobora a idéia de que nunca antes a memória foi tão historicizada e a história se memorializou tanto. Atualmente, a memória tornou-se um capital simbólico: passou a gerar direitos, e com isso, proporcionou aos estudiosos uma diversidade de focos de análise e campos operacionais, sobre os quais se distingue um vocabulário próprio (os chamados jargões do campo social da memória). Isso possibilitou interpretar práticas memoriais, culturais, sociais e suas circularidades tal como nos ensinam os textos de (NORA, 1995), (RICOUER, 1997), (CHARTIER, 2006), (ANSART, 1998), (HALBWACHS, 1996) e (Le GOFF, 1984), auxiliando o historiador na busca e interpretação de sua escrita, narrativa, estatuto de atuação, fronteiras (limite e contato), bem como, suas políticas de vida: elementos que geram densos conflitos. Por isso, a escolha de se analisar a Enciclopédia como um lugar de memórias, produtor e reprodutor de modos de ver integralistas se coloca, antes, como um desafio. Dentro desta premissa, os integralistas, contrariando a ordem vigente na época e remando a jusante da corrente, insistiram na preservação do passado como legitimitimador de suas ações. Percebe-se assim que as celebrações fizeram parte (assim como a construção de objetos de memória) da institucionalização de práticas simbólicas postas a serviço da sacralização cívica do movimento, do tempo e do espaço – comemorações/lugares de memória. A culminância deste processo se deu na publicação

18 dos 12 volumes que contaram a história do integralismo. A Enciclopédia do Integralismo apareceu, então, como apanágio de um grupo com relativa expressão, mas grande pretensão política, servindo de exemplo catalisador deste imaginário que funcionou como referência para aqueles que ainda viam no movimento algo de inspirador. Se, por um lado, a abordagem utilizada nesta pesquisa situou-se no cruzamento das histórias política, social e cultural, interseção esta que permitiu “acessar (...) as práticas de representação acionadas nas diferentes circunstâncias históricas, podendo assim explorar, por meio de documentos de distintas naturezas, um rico histórico de representações, que nos mostram as fortes conexões entre a política e a cultura”, (CAPELATTO e DUTRA, 2000: 238) por outro, também buscou posicionar-se no debate da cultura política, conceito que informou estudos de natureza bastante diversa. Alguns historiadores, a exemplo do francês J. F. Sirinelli afirmam que o conceito de cultura política tem que ser entendido segundo um complexo sistema de intercruzamentos de aspectos que, antes de tudo, constituem-se em: “(...) um conjunto variado de códigos e referências que se formalizam no seio de um partido, ou largamente difuso no seio de uma família ou tradição política. A cultura política seria um conjunto coerente no qual seus elementos estão numa relação estreita uns com os outros e que permitem definir uma forma de identidade de seus indivíduos, que detenham em si um vocabulário próprio, se exprime segundo um vocabulário, símbolos e gestos que se constituem num referencial e um verdadeiro ritual”. (SIRENELLI, 2000: 4-5). Portanto, a força da cultura política como elemento do comportamento individual resultaria, em primeiro lugar, da sua complexa elaboração. Diante disso, seria o caso de se procurar uma explicação nos comportamentos políticos para fundamentar a existência de um indivíduo ou um grupo. É no quadro da investigação, pelos historiadores do político, que o fenômeno da cultura política surgiu. Serge Berstein, historiador que estuda o conceito de cultura política no mesmo diapasão de Sirinelli, atenta para o fato de que “participando da mesma cultura política, os membros comuns têm uma visão comum do mundo, uma leitura própria do passado, e uma perspectiva idêntica por futuro, (...) seus valores e crenças constituem um arcabouço que dispõe de um mesmo vocabulário, de símbolos e gestos que constituem um verdadeiro ritual”. (BERSTEIN, 2000: 24)

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Por isso, um grupo que comunga uma dada visão de mundo passa a estabelecer afinidades, visões de passado e perspectivas de futuro comuns, necessitam dar respostas às questões do presente, sob o risco de não cumprindo este papel, desaparecerem. A cultura política integralista do período não conseguiu responder às necessidades de seu tempo, nem tampouco alcançou uma ressonância social relevante, perdendo sua força enquanto mobilizadora social. É dentro dessa perspectiva de redes de sociabilidade que se reforçam e interagem entre si, que se pretendeu ler e interpretar o conjunto de textos integralistas que aparecem na Enciclopédia do Integralismo. Em decorrência desta assertiva, entendemos que para analisarmos este conjunto de escritos não seria suficiente apenas sua seleção e interpretação (do que tratavam, como e quando foram escritos, porque a predileção ou a seleção deste ou daquele escrito em detrimento de outros, dentre outras questões relevantes), mas antes disto, tornou-se fundamental inventariar, analisar e estabelecer correlações sobre quem eram os missivistas desta enciclopédia e como suas biografias se entrecruzaram. Certamente este foi um elemento imprescindível para a análise mais acurada da seleção desses escritos. Esta preocupação se traduziu na busca de um método que fosse, antes de tudo, indicado pela sua potencialidade em interpretar, cruzar e correlacionar histórias de vidas diferentes. Por isso, a utilização do método prosopográfico, que trabalha com o terreno das biografias coletivas mostrou-se uma relevante ferramenta analítica de grupos atuantes na esfera do político. (CHARLE, 2006: 9) Geralmente utilizado para dar conta de uma investigação das características comuns de um grupo, a prosopografia visou entender as ações políticas deste grupo de integralistas, bem como a estrutura e mobilidade social dos mesmos. Basicamente, o método prosopográfico define um universo que inclui dados sobre nascimento e morte dos indivíduos, laços de casamento e parentesco, origens sociais e posição econômica herdada, local de residência, educação, montante das fortunas pessoais ou familiares, ocupação, religião, trajetória política, experiência profissional, dentre outros. Assim, algumas perguntas básicas poderiam orientar a busca dos historiadores por informações sobre o intercruzamento de tais biografias. A prosopografia buscaria, então, a análise do indivíduo em função da totalidade a qual ele faz parte. Neste sentido, visa ser a investigação das características subjacentes comuns a cada grupo de atores mediante o estudo coletivo de suas vidas. E neste sentido, vale demarcar a dimensão comparativa que o método prosopografico apresenta, tateando os labirintos das semelhanças e diferenças com a mesma atenção. Foi a partir desta

20 proposta, que se estabeleceu correlações entre as biografias deste conjunto de integralistas vinculados à publicação da Enciclopédia do Integralismo. Outra questão metodológica significativa deste trabalho é que, o depoimento oral (ALBERTI, 2004:87) foi utilizado no intuito de registrar as percepções de nosso depoente principal, uma vez que se trata de um personagem fundamental para se desvendar partes esquecidas das relações políticas do movimento integralista do período pós-guerra. Gumercindo Rocha Dórea, editor e proprietário das Edições GRD, editora que publicou a Enciclopédia do Integralismo foi fundamental na campanha de revalorização do Integralismo em 1957. Portanto, seus depoimentos, (totalizando mais de dez horas de gravação) ajudaram a correlacionar os episódios relatados às narrativas contidas na Enciclopédia. Nesse sentido, o discurso integralista pôde ser analisado a partir de um heterogêneo conjunto de fontes, dentre as quais destacamos: acervos depositados nos arquivos da Fundação Getulio Vargas/ Cpdoc; do Centro de Documentação sobre a AIB e o PRP de Porto Alegre – RS, da Casa Plínio Salgado, em São Paulo, do Arquivo do Estado de São Paulo e do Arquivo do Estado do Rio de Janeiro. Com especial destaque foi consultado o Acervo Plínio Salgado, maior espólio sobre o integralismo conservado no país, depositado no Arquivo Histórico Municipal de Rio Claro (SP), que compreende mais de 300 mil documentos partidários, tanto do período da AIB quanto do PRP. Paralelamente, também foram pesquisados boletins publicitários integralistas, discursos parlamentares, transcrições de entrevistas de época, reproduções fonográficas, fotografias, bem como correspondências ativas e passivas de Plínio Salgado com o editor da Enciclopédia, Gumercindo Rocha Dórea: dupla de lideranças fundamentais para o entendimento do objeto proposto. Depoimentos orais de ex-integrantes do staff integralista, com destaque para Miguel Reale, Gerardo Mello Mourão, (estes dois, semanas antes de seus respectivos falecimentos) Genésio Pereira Filho, Umberto Pergher e José Batista de Carvalho, colaboraram para o aprofundamento do tema. Foi, portanto do cruzamento dessas múltiplas fontes que se investigou a atuação integralista às vésperas de sua maior celebração. Entendemos que toda fonte histórica está sob a influência direta de quem a produziu, sendo assim tendenciosa. Devemos por isso, sempre termos em mente as circunstâncias em que estas fontes foram produzidas: sua época, sua especificidade, sua função quando produzida, quem a produziu e com que intenção. O historiador deve, portanto, utilizar-se das fontes tendo sempre em vista que suas pesquisas podem ferir

21 orgulhos e tradições, e que, portanto devem estar fundamentadas em ampla investigação e reflexão para não caírem inclusive em descrédito. A utilização unilateral de fontes constitui-se assim em um equívoco metodológico imperdoável para o historiador. Considerando tais questões, a percepção da parcimoniosa disponibilidade de outras fontes que pudessem contradizer ou pelo menos matizar a análise da documentação integralista foi o maior desafio deste trabalho. No caso desta pesquisa a utilização de fontes paralelas às já consagradas pelo discurso integralista foi parcialmente prejudicada pela parca representatividade que o integralismo teve na sociedade da época. Poucas fontes alternativas ao discurso integralista registraram as celebrações do retorno ritualístico do movimento em finais dos anos 1950. Por isso, acervos privilegiados de informação foram alguns jornais de circulação nacional das cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Vitória, dos quais destacamos: O Estado de S. Paulo; Correio Paulistano; Folha da Manhã; Folha da Noite; Folha da Tarde; Diário Popular; Diário de Notícias; O Jornal; O Globo; Diário Carioca; Tribuna da Imprensa; A Notícia; Gazeta de Notícias; Jornal do Brasil; Última Hora; Diário da Noite; Diário de Notícias/RJ e Gazeta de Vitória – ES. A leitura dos jornais de grande circulação objetivou constatar a oposição enfrentada pelo integralismo no período estudado. Em compensação, em decorrência da pouca disponibilidade de fontes alternativas à imprensa que nos possibilitasse mapear com mais profundidade a recepção que tal celebração causou nos “não integralistas”, buscou-se analisar os discursos dos depoentes integralistas, atentando para a supervalorização e o proselitismo acentuado que muitos destes discursos trouxeram. O tom superlativo, os números inflacionados e certamente irreais, as histórias mirabolantes, as hipérboles do discurso integralista foram matizados e atenuados pela análise do objeto em si: o que possibilitou com que as falas e as fontes integralistas fossem questionadas em sua forma e essência. Deste modo, considerar as celebrações dos 25 anos do integralismo e a publicação da Enciclopédia do Integralismo, apenas à luz de suas produções, tomando- as como fontes exclusivas, transmitiria pouco efeito de análise, causando inclusive um resultado laudatório e eivado de ingenuidade. Foi necessário analisar o compêndio (como aglutinador dos discursos integralistas) em toda sua extensão para, desse modo, visualizar sua diversidade de idéias e nuances. No entanto, talvez a maior prova de que os integralistas dos finais dos anos 1950 falavam para si próprios, sem uma dimensão extra-muros, seja a constatação de que pouquíssimas informações foram encontradas no

22 período para se contraporem aos arroubos de grandiosidade das fontes integralistas. Porque neste momento os integralistas teriam sido sistematicamente ignorados? Cabe aqui, portanto, uma espécie de autocrítica com relação à possível unilateralidade de algumas fontes utilizadas neste trabalho, o que determinou, por vezes, insuficiente aprofundamento analítico. Felizmente, na medida do possível, esses problemas foram superados quando se buscou apresentar críticas a esses discursos, balizados em um profundo entendimento do paradoxo que este movimento representava em finais dos anos 1950, período este marcado pela euforia do novo em detrimento do passadismo3. Outra preocupação desta pesquisa foi dialogar com a historiografia do tema. A partir dos anos 2000, verificou-se a abertura de novas perspectivas de análise sobre o integralismo. Os focos heterodoxos, as preocupações pluralistas, as buscas por explicações que contemplem as pesquisas sobre gênero, simbologias, biografias, regionalismos e internacionalismos, bem como temáticas já consagradas como o foco no político partidário e nas memórias de antigos militantes ainda vivos faz da historiografia atual sobre o integralismo algo multifacetado. Para abarcar a profusão de temas e abordagens que se multiplicaram nos últimos anos foi criado um grupo de pesquisadores interessados em compartilhar esta pluralidade de questões sobre o tema. Este grupo4, que, atualmente possui membros vinculados a todas as regiões do país redimensionou os focos e as discussões sobre o integralismo criando espaços privilegiados de discussões, sobretudo nos fóruns especializados sobre história e ciências sociais.5

3 Nesse sentido é interessante perceber a dubiedade de certas posturas levadas a cabo pelo integralismo perrepista no período, como por exemplo: a participação do integralismo no governo JK e seu apoio entusiasmado com algumas mediadas do presidente, tal como a mudança da capital para o centro oeste do país, algo que Plínio Salgado já projetava em seus escritos pré 1932. 4 A idéia de formalizar encontros institucionais de pesquisadores sobre a temática nasceu de uma conversa entre mim e o pesquisador Renato Dotta, em meados de 2000, cujo mote era a necessidade de aumentar a interlocução sobre nossas pesquisas. Embora nascida da intenção desses dois pesquisadores, a mediação acabou ficando com Renato Dotta que desde então manteve o canal de trocas de experiências a partir de uma lista de discussão virtual. Por intermédio da via internacional de computadores surgiram os primeiros contatos com pesquisadores de vários estados da federação. Nascia assim, o GEINT (Grupo de Estudos do Integralismo) que teve seu primeiro encontro oficial, em novembro de 2002, no Arquivo Municipal de Rio Claro – SP, local onde está alocado o acervo Plínio Salgado. Em outubro de 2003, o segundo encontro ocorreu em Porto Alegre – RS, sediado pela equipe do CD-AIB-PRP, e em novembro de 2005, o terceiro encontro se deu em Ponta Grossa – PR. O quarto encontro se deu em maio de 2010, realizado na Universidade Federal de Juiz de Fora. Ao longo desses sete anos de atividades mais de cento e cinqüenta pesquisadores estiveram vinculados ao GEINT, grupo este que estuda temáticas vinculadas ao integralismo, assuntos afins e temáticas congêneres. 5 Sobre estas novas abordagens ver: Anais da Anpocs Nacional, 2008, e Anais da Anpuh Nacional, 2007. 23

Embora haja uma considerável gama de trabalhos sobre o integralismo no Brasil, produzidos principalmente ao longo das décadas de 1970 e 80 do século passado, em sua absoluta maioria voltada para o integralismo dos anos 19306, os estudos sobre a atuação deste movimento no período pós-guerra, ganharam relevância, apenas, a partir dos finais da década de 1990. Mesmo assim, privilegiavam o período de formação do Partido de Representação Popular, ou mesmo a sua consolidação partidária, sendo muito pontuais os trabalhos que ampliavam as observações para as temáticas vinculadas aos elementos culturais do movimento. Especificamente, com relação ao segundo momento de sua atuação existem múltiplos trabalhos que focam aspectos político-partidários.7 Em todos estes trabalhos a aparição do PRP é apontada como uma tentativa frustrada do integralismo retornar a vida política, uma vez que em praticamente toda a sua trajetória, esse partido utilizou-se da prática de coligações com outros partidos, mantendo sempre uma postura de ordem secundária na hierarquia partidária nacional. Exemplar, nesse sentido, e passível de críticas sobre sua generalidade, é o fato da maioria das informações disponíveis acerca do partido estar condensada em dois verbetes do Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro editado pelo Cpdoc/FGV8, que, aliás, trazem alguns erros factuais.9 Embora esses estudos forneçam informações significativas com relação à constituição do novo integralismo, é nítida a ainda tímida preocupação em aprofundar as análises de sua formação ideológico/institucional e mesmo cultural/simbólica. Até o momento, apenas as pesquisas de mestrado e doutorado dos pesquisadores Gilberto Grassi Calil, Angela Flach, Márcia Regina Carneiro, Rogério Lustosa Victor10, Claudira

6 Os mais representativos estudos acerca do integralismo são: (TRINDADE, 1979); (CHASIN, 1978); (CHAUÍ, 1978); (VASCONCELLOS, 1979); (BENZAQUÉM, 1987); (CAVALARI, 1995); (DUTRA, 1997); (CALIL, 1998 e 2005); (DOTTA, 2003); (GONÇALVES:2003); (BERTONHA, 1997); (CRUZ, 2004); (CHRISTOFOLETTI, 2002); (VICTOR, 2005); (CARNEIRO, 2008) e (SILVA, 2007). 7 O foco no integralismo partidário foi tema das pesquisas de: (MEDEIROS, 1978); (CARONE, 1976); (IGLESIAS, 1979); (SOARES, 1974: 73); (FLEISHER, 1981: 62); (SKIDMORE,1986) e (TAVARES,1982: 234) (SILVA, GONÇALVES e PARADA, 2010) 8 BRANDI, Paulo & SOARES, Leda. „Plínio Salgado‟, & LEAL, Carlos Eduardo e FLAKSMAN, Dora. “Partido de Representação Popular”. In: Fundação Getúlio Vargas. Centro de Pesquisa e História Contemporânea do Brasil. Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro. (Pós 1930). Rio de Janeiro, FGV/CPDOC, Coord. Alzira Alves de Abreu. [et al]. RJ, FGV-CPDOC 2001. p 181-209 e 978-979, respectivamente, 5 vols. 9 Ver a análise bibliográfica proposta por Gilberto Calil em seu livro: O integralismo no pós-guerra: a formação do PRP (1945-1950). Porto Alegre: Edipucrs, 2001. p. 15, nota nº 8. 10 Lustosa desenvolve em sua tese de doutoramento pela UFG a pesquisa provisoriamente intitulada: Elos não partidos: o integralismo entre 1945-1965. Neste estudo, o autor analisa a constituição partidária do PRP e suas raízes no estado de Goiás. 24

Cardoso e Rodrigo Christofoletti discutiram as propostas perrepistas e a recepção que tiveram na época.

É preciso que se diga que parte significativa do primeiro capítulo desta tese foi baseada na imensa pesquisa realizada pelo historiador Gilberto Calil, que buscou demonstrar diante de um cenário em que o sentimento anti-fascista era patente, como a necessidade de se readaptar ao novo contexto forçou o movimento integralista a se transformar, confluindo para um novo espectro político. Sua tese de doutorado aprofunda as relações do PRP no período de 1945 a 1965, quando o partido é posto na ilegalidade juntamente com os demais, devido o golpe militar. Certamente o mais aprofundado registro partidário já realizado sobre o PRP, este trabalho de Calil abre possibilidades de percepção de que o partido não era tão coadjuvante quanto os partidos de esquerda na época faziam questão de apontar. Por isso, a trajetória do integralismo do pós-guerra institucionalizado partidariamente tem nos estudos deste autor leitura essencial.

Ainda com relação à constituição estritamente partidária do PRP destacam-se ainda os trabalhos de Ângela Flach e Claudira Cardoso, ambas pesquisadoras do CD AIB-PRP. Em, Os vanguardeiros do anticomunismo: o PRP e os perrepistas no Rio Grande do Sul 1961-1966, Ângela Flach analisa o processo político brasileiro e sul- riograndense na primeira metade da década de 1960, a partir da atuação do PRP no Rio Grande do Sul. Além disso, a autora pondera acerca dos rumos seguidos pelos perrepistas após a decretação do AI-2, que extinguiu todos os partidos então existentes. Seu foco é sinalizar que os perrepistas, ao menos os que continuaram atuantes no cenário político, ingressaram no que os integralistas chamaram de “o partido da Revolução”, no caso, a ARENA. A despeito de se tratar de uma leitura regionalizada, trás relevantes informações sobre a conformação política gaúcha no período imediato à conflagração do golpe militar de 1964, apontando com ênfase a participação de alguns perrepistas na articulação do próprio golpe. Também referente ao Rio Grande do Sul, (estado de maior atuação nas pesquisas sobre o PRP)11 os trabalhos de mestrado e doutorado de Claudira Cardoso,

11 Em parte, isso se deve à formação e manutenção do Centro de Documentação da Ação Integralista Brasileira e do Partido de Representação Popular (CD-AIB–PRP) localizado em Porto Alegre - RS, hoje, um dos dois mais relevantes centros de documentação sobre a temática no país. Juntamente com o Acervo Plínio Salgado, depositado no Arquivo Municipal de Rio Claro – SP, o (CD AIB-PRP) congrega a maior documentação referente a trajetória do integralismo pré e pós Segunda Guerra. 25 respectivamente: Partido de Representação Popular: política de alianças e participação nos governos estaduais do Rio Grande do Sul de 1958 e 196; e: O integralismo no processo político gaúcho: a máquina partidária do PRP e seus dirigentes (1945-1965), (CARDOSO, 2009: 5) analisam as práticas de alianças desenvolvida pelo PRP no período estudado. A historiadora aponta que no Rio Grande do Sul o PRP conseguiu estar “inserido nas regras do sistema partidário”, o que, sem dúvida, contribui para evidenciar a tese defendida por diversos autores, que identificam no processo político brasileiro “traços de continuidade de práticas autoritárias, mesmo nos anos posteriores à redemocratização ocorrida em 1945”. (CARDOSO, 1999: 172) O viés político partidário do PRP não foi o único a ser estudado. O binômio militância/simbologia foi o mote do doutoramento de Márcia Regina Carneiro, que, em estudo de temática, até então inédita, os chamados neo-integralistas, advoga que houve ao longo da trajetória do integralismo uma série de simbologias utilizadas para aproximar o militante integralista do movimento. Em Do Sigma ao Sigma: entre a anta, a águia, o leão e o galo, a pesquisadora analisa as memórias de quatro gerações de integralistas, com foco mais aprofundado nos da chamada última geração que, a partir da década de 1980 começou a se articular política e culturalmente. Dedicada a estudar as memórias destes simpatizantes, aponta que a anta (animal genuinamente brasileiro, portanto símbolo desta nação), a águia (em oposição à galinha verde), o leão (como símbolo da organização: Tradição, Família e Propriedade, movimento direitista congênere) e o galo (anunciador da “nova aurora integralista”) seriam os quatro pilares simbólicos da trajetória e das articulações integralistas. Transitando na intersecção entre as esferas do político e do cultural, a minha dissertação de mestrado (CHRISTOFOLETTI, 2002), intitulada: As celebrações dos 25 anos do integralismo (1957-1961) discute os bastidores das celebrações de 25 anos do integralismo sugerindo que a publicação de um compêndio de escritos denominado A Enciclopédia do Integralismo (abordada superficialmente nesta dissertação) foi o cume de um processo mais amplo de revigoramento dos símbolos integralistas no período pós-guerra. Esta pesquisa buscou revelar os diálogos de parte da historiografia a respeito das celebrações integralistas em finais da década de 1950, e por isso discute as representações produzidas pelos integralistas neste período. *** A busca pela interpretação desses diferenciados discursos foi fundamental para que eu pudesse enxergar nos integralistas mais que um preconceito ideológico.

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Sinalizou que os conservadorismos devem ser interpretados sob o risco de, se ignorados, perpetuar como forma dominante no cenário político nacional. O estudo sobre os integralistas vinculados à Enciclopédia do Integralismo aponta para a necessidade de ouvirmos as vozes dissonantes deste tipo de discurso político. Todas estas questões superficialmente discutidas nesta apresentação poderão ser aprofundadas nos capítulos que compõe este trabalho. O capítulo introdutório considera a formação desse novo corpo integralista arregimentado a partir da sigla do Partido de Representação Popular, corolário da AIB, pós 1945. Nesse capítulo, intitulado: “Marcas do conservadorismo: o degradé integralista” o integralismo é apresentado como uma proposta conservadora de poder. Também é estudado o cenário político - palco de profundas transformações - da criação do PRP e sua trajetória frente seus números eleitorais. Este intróito também analisa a reutilização dos rituais e adereços integralistas, seguida da apresentação de seus interlocutores que à época fizeram questão de não deixar o integralismo sozinho. Um diagnóstico sobre como se deram as celebrações dos 25 anos do movimento e a criação dos Centros Culturais da Juventude/ Movimento dos Águias Brancas (acontecimentos que precederam à publicação da Enciclopédia) finaliza este primeiro capítulo. O segundo capítulo avalia o cenário em que ocorreu a publicação da Enciclopédia. Intitulado: “A Enciclopédia do Integralismo como um lugar de memória: temas candentes, idéias recorrentes” acompanha a trajetória do movimento até a publicação do compêndio, o que vai desembocar na manutenção de uma dada memória integralista, entendendo o compêndio como um lugar de memórias do movimento. A análise da Enciclopédia como um elemento exótico ao padrão enciclopedista clássico, seguido das observações sobre o seu conteúdo (temas mais contraditórios e recorrentes do compêndio) são apresentados no terceiro capítulo, que se intitula: “Leitura em metonímia: a Enciclopédia do Integralismo”, centro analítico deste trabalho. Em consonância, o quarto capítulo, intitulado: “Biografias coletivas: as três gerações da Enciclopédia do Integralismo”, busca esclarecer como se construíram tais gerações apontando a discussão para um retrato coletivo desses integralistas, a partir do método prosopográfico. Finalizando, o quinto e último capítulo destaca as entrevistas do editor do compêndio, depoente fundamental para o entendimento da construção simbólica integralistas de finais dos anos 1950. “Entre o dito e o interdito: memórias de um integralista quixotesco – uma voz fundamental para se entender a Enciclopédia do

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Integralismo” analisa parte das entrevistas de Gumercindo Rocha Dórea, propositor de uma imagem integralista bastante peculiar no período pós-guerra. Espero que este trabalho possa colaborar para um maior aprofundamento da temática, e que o cuidado dispensado na análise dessas variadas fontes estimule outras iniciativas, construindo assim, quem sabe, um panorama mais acurado da trajetória do ethos integralista no período estudado.

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CAP. I Marcas do conservadorismo: o dégradé integralista

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CAP. I – Marcas do conservadorismo: o dégradé integralista

Analisaremos neste capítulo a transição conflituosa pela qual passou o integralismo no período entre o fim da Ação Integralista Brasileira e a criação do Partido de Representação Popular. Esta transição foi fundamental na manutenção de sua proposta conservadora de poder. Este intróito também discute a reutilização dos rituais e adereços integralistas, seguida da apresentação de seus interlocutores que à época fizeram questão de não deixar o integralismo sozinho. Um diagnóstico sobre como se deram as celebrações dos 25 anos do movimento e a criação dos Centros Culturais da Juventude/ Movimento dos Águias Brancas (acontecimentos que precederam à publicação da Enciclopédia do Integralismo) ajudarão a mapear este primeiro contato com o tema.

1.1 – A Ação Integralista Brasileira: breves palavras

Rio de Janeiro, outubro de 1957. Todos os assentos do Teatro João Caetano estavam completamente lotados quando uma tocha negra empunhada por um idoso e uma adolescente fardados com vestimenta verde desfilou sobre a passarela do salão de espera do teatro. Era o archote da geração, bastião que representava a passagem de poder de uma geração a outra do movimento que comemorava aniversário. Era o Jubileu de Prata integralista e a imprensa estava presente. Por todos os lugares do teatro, se viam simpatizantes, curiosos e desafetos de Plínio Salgado, que do alto do palco, na plenitude de seus 62 anos, ergue o braço direito e com a mão estendida grita para a catarse geral do salão. Mais de mil braços direitos são erguidos. O coro é uníssono: três Anauês! A saudação exclusiva ao chefe! Era a comemoração que marcaria o retorno simbólico integralista no pós- guerra. (A Tribuna da Imprensa, 7 de outubro de 1957)

ncontros como o descrito acima, sempre foram comuns no integralismo. Houve um tempo em que, por todo o país, milhares de simpatizantes do integralismo lotavam teatros, escolas, cinemas, ou qualquer espaço em que comportasse E muitas pessoas, que, espremidas em poltronas e corredores se acotovelavam para ouvirem catarticamente as palestras e os encontros da Ação Integralista Brasileira.

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Este movimento cultural que se tornou partido político foi oficialmente criado no dia 7 de outubro de 1932 em reunião solene no Teatro Municipal de São Paulo, por iniciativa do político e escritor modernista Plínio Salgado que, na ocasião, apresentou ao país o Manifesto de Outubro, uma carta programa que sintetizava todas as reivindicações e propostas do movimento. O lema máximo do integralismo se configurava na tríade Deus, Pátria e Família e suas proposições políticas assentavam-se em quatro pontos: a promoção, por meio de intensa propaganda, da elevação moral e cívica da população brasileira; a condenação da noção liberal de representação, substituída pela figura do chefe; um anticomunismo exacerbado e a implantação no Brasil do Estado Integral, meta política da AIB, concebido como um poder único e fortemente centralizado.

A ênfase integralista no culto à pátria e sua combativa contraposição às correntes de esquerda corroboravam a valorização da soberania nacional, propalada por Getúlio Vargas. A partir de 1934, a legenda passou a registrar núcleos em todo território nacional, contando, de acordo com as controvertidas fontes integralistas, em meados de 1937, com quase um milhão de adeptos12. (TRINDADE, 1979: p.89) Um aspecto significativo que possibilita compreender a adesão de milhares de pessoas ao movimento é o contexto de instabilidade social e as respostas integralistas aos seus desdobramentos. Este foi um dos pontos centrais da constituição social do movimento, que pode ser entendido mediante a concentração de parcelas da população provinda de diversos setores da classe média.

O entendimento desta constituição social demanda também que se leve em conta a inserção do movimento integralista no pensamento autoritário brasileiro. Algumas das matrizes mais diretas da formação do pensamento autoritário brasileiro (vinculadas tanto a uma raiz católica como cientificista) podem ser remetidas às obras de Oliveira Vianna, Alberto Torres, Azevedo Amaral e Jackson de Figueiredo. Foi influenciado pelos escritos destes autores que o integralismo se lançou no cenário político nacional. É significativo notar que tal postura autoritária permaneceria no pós-guerra, quando o integralismo se viu obrigado a modificar alguns de seus preceitos mais caros.

A despeito da força política conseguida pelo integralismo, a legalidade da AIB terminou em finais de 1937, quando o governo decretou a dissolução dos partidos, inclusive o integralista, pondo fim à ambigüidade com que o governo tratava a AIB, ora manifestando sua aprovação, alimentando até mesmo a possibilidade de alianças com ela, ora reprimindo suas atividades. Na relação pendular mantida com o integralismo, Vargas se fortaleceu mantendo sua posição de

12 Trata-se, claramente de uma contagem superdimensionada. A supervalorização proposital dos integralistas com relação a estes números se dá no sentido de propagandear os resultados alcançados pelo partido em finais dos anos 1930. Certamente, a análise mais acurada em outras fontes apontará para um contingente bem menor ao apresentado pelos integralistas.

31 destaque. Os sonhos de implantação de um determinado tipo de Estado autoritário, antiliberal e anticomunista malograram, definitivamente, com o frustrado assalto integralista ao Palácio Guanabara. (SILVA, 1971, CARONE, 1976 e NASSER, 1947) Assim, o malfadado assalto integralista ao Palácio Guanabara foi a chance aguardada pelo presidente para desferir o golpe final. Independente do conteúdo das versões registradas pelos líderes do movimento sobre este episódio, e dos acontecimentos decorrentes destas versões, o movimento integralista se fragilizou definitivamente, cessando suas atividades após o frustrado ataque.

1.2 - Integralismo a paisana - Rupturas ou continuidades? O Integralismo atravessou o período do Estado Novo na ilegalidade e com o fim do regime iniciou uma intensa movimentação política. Porém, a conjuntura nacional e internacional impunha uma série de dificuldades para a eventual articulação de um partido que lembrasse as doutrinas totalitárias recém derrotadas na guerra. Afinal, desde o início dos anos 1940, quando o governo Vargas afastou-se dos países que integravam o Eixo, já se delineava a tendência de liberalização do regime, processo que se consumou com sua queda em 1945.

O fim do Estado Novo resultou na busca de uma nova estrutura legal. Então, as condições de associação política alteraram-se. Nesse momento, o cenário político caracterizou- se pela agitação das diversas siglas de menor representatividade que, no processo de democratização, adquiriram o direito de concorrer pelas vagas do legislativo e executivo nacional. Então, a partir da segunda metade da década de 1940, verificou-se a abertura de um novo horizonte nas articulações político-partidárias do país. Após a derrocada de Vargas, siglas foram recriadas, partidos rearticularam-se e, no bojo desse novo cenário de redemocratização, surgiu um partido que, embora estigmatizado por sua atuação anterior, tentou transformar alguns de seus princípios políticos visando a aproximação com o eleitorado que reconquistava o direito de voto. Tratava-se da sigla liderada pelo ex-líder integralista, Plínio Salgado.

A cartografia partidária ensejada pela abertura democrática consolidou um novo perfil político. Surgiram partidos de contornos bastante diferentes, dentre os quais se destacaram a UDN, o PSD, o PTB e o PCB. Ao lado dos grandes partidos, articularam- se pequenas siglas que, no mais das vezes, gravitavam sob as influências dos primeiros. Foi o caso do PRP (Partido de Representação Popular), herdeiro da AIB (Ação Integralista Brasileira). Embora sem alcançar a mesma dimensão da AIB, o PRP teve uma intervenção relevante no processo político, possuindo uma militância convicta e um patrimônio eleitoral não muito elevado, mas bastante sólido.

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O anúncio de eleições parlamentares confirmadas para dezembro de 1945 incentivou a organização partidária dos diferentes grupos políticos. De acordo com o historiador Gilberto Calil, cerca de seis meses antes, no dia 17 de maio de 1945, os integralistas residentes no Brasil, sob a coordenação do “Representante do Chefe Nacional”, Raimundo Padilha, fizeram publicar com grande destaque nos principais jornais do país, uma longa “Carta Aberta à Nação Brasileira”, apresentada como uma reação “contra a obstinada e injusta campanha, sistematicamente feita no sentido de infamar aquele movimento [o integralismo], e, em conseqüência, todos quantos, sincera e honestamente dele participaram”, e contra a “teimosa repetição de calúnias”.13 O documento pretendia desmentir as acusações de vínculos com o nazi-fascismo, afirmando que as investigações policiais não encontraram nenhuma prova que ligasse os integralistas aos fascistas europeus. O ambiente hostil ao integralismo de então deve ser levado em conta na avaliação da estratégia das lideranças integralistas naquele momento, tornando compreensível o caráter defensivo de suas primeiras manifestações públicas, as dificuldades encontradas e a demora na definição pela alternativa de organização partidária.14 O próprio Salgado, em reelaboração posterior, recordava: “Passada a guerra, restauradas as liberdades democráticas, as calúnias tinham exercido eficientemente o seu negro ofício. Assim, grande parte da opinião pública brasileira fazia o pior dos juízos a respeito do integralismo e dos integralistas. Foi o ambiente que encontrei ao regressar do Exílio em 1946”. (SALGADO, 1953: 3) As diversas manifestações de militantes integralistas polemizando com seus acusadores, na maioria das vezes em linguagem igualmente agressiva, estabeleciam um contraponto que, mesmo não logrando reverter completamente o clima hostil, evidenciava que os integralistas estavam de volta à cena política, defendendo inicialmente em termos acanhados, tanto sua doutrina como sua trajetória prévia. Assim, o primeiro semestre de 1945 é marcado pelos movimentos de rearticulação dos integralistas. Conforme aponta Carone, em 1945 “o movimento integralista ressurge, timidamente no começo, mais agressivo depois. Mesmo assim, sua manifestação é cautelosa, sem qualquer pompa e provocação, como antes de 1937”. (CARONE, 1976: 213, Apud, CALIL, 213)

13 Seção Ineditorial: Carta Aberta à Nação Brasileira: a extinta Ação Integralista Brasileira no tribunal da opinião pública. Diário de Notícias, Porto Alegre, 17/5/1945, p.4. Apud, CALIL, p. 209. 14 CALIL, Op. Cit. 210. 33

Ao mesmo tempo, a imprensa especulava sobre as possíveis estratégias dos integralistas para seu retorno à vida política brasileira. Em março de 1945, o jornal Diário de Notícias publicava que Plínio Salgado teria enviado novas diretrizes a Raimundo Padilha, indicando “como seus partidários devem agir em face do momento político brasileiro, dizendo-lhes que aguardem a revogação da lei que acabou com os partidos políticos e em seguida promovam a reorganização do integralismo, de forma a poderem seus adeptos comparecer em massa no pleito eleitoral próximo” (SALGADO, 1945:18) Como apontado anteriormente, a publicação da “Carta Aberta à Nação Brasileira”, já antecipava as pretensões organizativas dos integralistas. A própria publicação deste documento, contando com 103 assinaturas de lideranças, afora “milhares de outras assinaturas de antigos integralistas” não publicadas, demonstra que os integralistas já haviam atingido um estágio de organização razoável. Os signatários da Carta eram representativos do ponto de vista da liderança integralista, incluindo 19 ex-membros da “Câmara dos Quarenta” da Ação Integralista Brasileira e a maior parte de seus antigos “chefes provinciais”. Como nos relata Gilberto Calil, dentre eles estavam alguns dos mais conhecidos seguidores de Plínio Salgado, como Gustavo Barroso (a despeito de jamais militar no partido), Olbiano de Melo, Antônio Coelho , Custódio de Viveiros, Jayme Ferreira da Silva, Oscar Machado, Fernando Cochrane, Marcel da Silva Teles, além de seu “representante no Brasil”, Raimundo Padilha. Alberto Cotrim Neto, João Carlos Fairbanks e Loureiro Júnior (estes três presentes na Enciclopédia do Integralismo, foco central deste estudo) também assinaram o documento. À exceção de Barroso, todos os demais participaram da constituição do Partido de Representação Popular. O mais importante dirigente integralista dos anos 1930 já afastado do movimento naquele momento era Miguel Reale. (CALIL, 2009: 214) Então, com a anuência de Plínio Salgado, que voltaria do exílio apenas em 1946, e certa indiferença do contingente ex-integralista, fundou-se o novo partido. Cabe registrar que pela legislação, para obter o registro definitivo seria necessário que a sigla pretendente apresentasse uma listagem de assinaturas com 10 mil nomes. Em 3/11/1945 o PRP – Partido de Representação Popular apresentou uma lista com mais de 15 mil assinaturas, conseguindo o registro definitivo em 10/11/1945. Embora sem alcançar a mesma dimensão da AIB, o PRP teve uma intervenção relevante no processo político, a se julgar pela representatividade do partido em 18

34 estados da federação.15 Politicamente, o Programa do PRP pregava a “consagração intransigente da defesa da ordem democrática, baseada na pluralidade partidária e na garantia dos direitos fundamentais do homem” (PROGRAMA DO PRP, 1945: 1), uma natural adaptação aos programas democráticos vigentes, cujo objetivo era a manutenção da sigla. Socialmente, a militância do PRP era majoritariamente proveniente de dois setores: os médios urbanos e o de pequenos proprietários rurais das regiões de colonização italiana e alemã, principalmente oriundos da região sul. O PRP centrou-se no anticomunismo, no nacionalismo e no espiritualismo, e defendeu a centralização do poder. Por seu turno, a reorientação doutrinária procurou redefinir o significado do integralismo. Adotando, num primeiro momento (1945-1950), um vocabulário diferenciado dos tempos pregressos, os perrepistas (integralistas vinculados ao PRP) apresentaram-se como um grupo que não possuía nenhuma identificação com os fascismos/totalitarismos e buscavam justificar sua conversão à forma partidária, reivindicando que sua posição democrática se dava em nome de uma espécie de “autoridade legítima”, ou seja, para eles sua posição no tabuleiro democrático se legitimava pela dissociação que buscaram fazer de seu passado. O apoio à candidatura presidencial de Eurico Gaspar Dutra (PSD) facilitou a movimentação dos integralistas no sentido de formação de um partido político. Foi necessário também, além da reformulação doutrinária, o redimensionamento do projeto político, abandonando sutilmente a proposta de reestruturação corporativa da sociedade, da ritualística e da simbologia.

O chamado integralismo do período pós-guerra pode ser dividido em dois grandes momentos16: de 1945 a 1955 (criação do PRP até campanha e Salgado à Presidência da República); e 1955-1965 (retomada das alegorias e celebrações do movimento até seus estertores). Portanto, no decênio 1945-55 o chamado “novo” partido integralista amenizou seu discurso e apresentou-se aos brasileiros como uma alternativa política possível. A despeito disso, as alianças contraídas pelo PRP

15Ver: Suplemento da militância: A Marcha, outubro de 1957, p.13. 16 Há outra maneira de se perceber a trajetória do integralismo no pós-guerra. Os escritos de Gilberto Calil propõem que haja, na verdade, quatro fases distintas: (1945-1952): momento em que o partido se afirma politicamente com suas alianças; (1953-1957): período de radicalização e autonomia partidária, momento que culmina com as retomada das simbologias integralistas; (1958-1961): período em que se constrói um eixo institucional, abraçando a participação dos integralistas no governo JK, e alianças com o PTB de Leonel Brizola, Lott e João Goulart; e, finalmente a última fase (1962-1964), cuja dinâmica se deu frente a um realinhamento conservador e uma ativa participação na articulação do golpe de 1964. 35 suscitaram controvérsias quanto ao teor evidentemente fisiológico e não ideológico de suas alianças. Tais correlações acabaram por minar a base de sustentação do partido, abrindo precedência para um processo de degeneração de sua base ideológico-militante, antes tão propalada. Pode-se supor que o realinhamento da ação política do partido também foi estimulado pela insuficiente votação alcançada nas eleições realizadas até a metade da década de 1950. Já, na contagem final da votação à presidência da República de 1955, Salgado atingiu 714.379 votos, ou 8,3%, dos votos válidos: a maior votação obtida pelo movimento integralista em um processo eleitoral, em toda história do movimento.

Continuando nosso diálogo com a pesquisa do historiador Gilberto Calil, há de se perceber as condições que se efetivaram a construção partidária do PRP, (CALIL, 2005, 434). 17 O autor analisa a oscilação dos números alcançados pelas votações perrepistas na década de 1950. O lento crescimento do partido e, mesmo, sua relativa estagnação eleitoral a partir de 1950 acentuava as desconfianças dos militantes integralistas que esperavam uma intervenção mais radicalizada do partido, levando muitos a explicitar suas divergências e vários dentre eles a efetivamente abandonar o partido. Frente ao reagrupamento partidário do período, a estratégia do PRP foi a de adequar-se à nova proposta política do momento: a democracia exigia o abrandamento dos pontos mais radicais do antigo integralismo. Assim, a rearticulação integralista sob a forma de partido político exigiu a adoção de um vocabulário diferenciado dos tempos pregressos e a manutenção do anticomunismo, elementos que colaboraram para que os integralistas apresentaram-se como os maiores adversários do autoritarismo (e isso foi jocosamente noticiado à época), buscando assim, justificar sua conversão à forma partidária. De 1945 até o final 1955 o PRP manteve-se discreto costurando alianças e definindo-se como um partido de postura ideológica.

17Calil sustenta a tese de que o PRP, ao longo de sua trajetória, tornou-se um partido nacional. Os dados estatísticos levantados em seu trabalho nos revelam que as informações referentes às eleições de 1945, 1947, 1950, 1955, 1958, 1960 e 1962 (seis eleições, excetuando-se a de 1955, para presidência da República) corroboram a ascensão do número de parlamentares do PRP eleitos nas câmaras legislativas municipais, estaduais, e federal (nesta tanto na Assembléia quanto no Senado). Mesmo assim, o que se percebe é que ainda permanecem algumas lacunas, relativas às eleições de 1954, 1958 e 1962, nas quais ainda não foi possível determinar a votação obtida pelo PRP. Os números absolutos das votações do PRP não são desprezíveis, sobretudo se comparados aos partidos de porte médio. O PRP elegeu, no decorrer de sua existência, um total de 26 mandatos de deputados federais e 97 deputados estaduais, distribuídos em 15 estados e no Distrito Federal, o que revela que esteve presente no debate político da maior parte do território nacional. Majoritariamente o PRP foi mais bem votado nas regiões sudeste e sul, o que também afiança a antiga e tradicional base do eleitorado integralista cooptado desde os tempos da AIB. 36

Fig. 1. Diretório estadual do PRP/SP. O novo/velho ideário integralista: “O mesmo chefe, a mesma luta, a mesma idéia!” Foto: Arquivo Público Municipal de Rio Claro – SP. Acervo Plínio Salgado, s/d.

No entanto, após a candidatura de Salgado à presidência da República em 1955, e, sobretudo a partir das celebrações dos 25 anos do integralismo em 1957, o que o movimento chamou de a “retomada de seus símbolos mais caros”, o PRP passou a chamar mais a atenção do panorama político vigente. Percebe-se então, como alguns membros vinculados ao novo partido integralista focaram suas forças em diversos eventos objetivando reintroduzir no cotidiano de sua militância, um sistemático enaltecimento dos rituais, símbolos e adereços integralistas anteriormente cultivados. As galinhas verdes, o cumprimento Anauê!, o símbolo Sigma (∑) e as vestimentas militares esverdeadas, bem como seu hinário e suas manifestações de apreço e subserviência ao chefe, Plínio Salgado, voltariam a ser teatralizadas em vários diretórios do PRP. Logo, tais eventos espalharam-se como notícia digna de destaque. Para Plínio Salgado, “O cata-vento começava a girar novamente” (SALGADO,1957: 03).O novo partido, que durante os seus quase vinte anos de atuação parlamentar (1945-65) configurou-se como uma das agremiações políticas mais controversas do citado período, teve atuação de retaguarda, centrando foco nas articulações de bastidores da política nacional. O PRP constituiu-se no instrumento de intervenção política dos integralistas durante todo o chamado período democrático, mas foi com a retomada de seus rituais já característicos, (elementos ligados à AIB) que o movimento voltou a ser notícia.

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1.3- PRP, redefinições do tabuleiro político e a volta ao Sigma O contexto em que se desencadeou o governo JK, sobretudo seu quartel final, é relevante para entendermos o crescimento de importância que o PRP teve no período. Nesse sentido, a consolidação do PRP no cenário político nacional foi favorecida graças às transformações ocorridas nos finais desta década. O governo JK apesar de gozar de uma segura maioria parlamentar e de conciliar interesses políticos e econômicos dentro da ordem democrática, teve que conviver com focos de instabilidade. O surgimento de novas lideranças partidárias, que resultaram na fragmentação da coalizão PSD-PTB e conduziram a novas composições políticas foi um grande teste da tessitura política do período. Fruto das transformações do período, o avanço do PTB e a desestabilização de seu adversário direto, o PSD, criam um processo de polarização na sociedade: de um lado, um avanço das esquerdas, e uma maior visibilidade e atuação do PTB. De outro, um crescimento do discurso direitista, que encontra na UDN novo campo. Neste período ocorreu um processo de aumento na influencia das propostas reformistas de esquerda. As organizações sociais ligadas a movimentos populares, ligas camponesas, sindicatos, movimento estudantil e partidos de esquerda experimentaram uma fase de crescimento e consolidação. Insere-se neste contexto o aumento da representação parlamentar dos partidos ligados a esquerda, e o crescimento da influencia do projeto reformista que configurou-se como um dos principais pilares para o golpe de 1964. Por outro lado, a consolidação do discurso direitista propugnado pela UDN a colocava como um espectro antípoda dessas organizações esquerdistas passando a sigla a explorar um novo discurso, cada vez mais popular, buscando se aproximar do eleitorado e demarcar sua proposta política. Concomitantemente ao crescimento das extremidades do espectro político, o centro vive, nestes estertores dos anos 1950 um arrefecimento, um esvaziamento nas suas propostas e críticas, o que alguns cientistas sociais e políticos chamariam de uma “erosão de suas bases e discurso”. (FERREIRA e SARMENTO, 2001: 454) O PSD, por exemplo, passou por uma profunda cisão o que abriu possibilidade de composição com elementos provenientes de outras legendas. Já, no PTB, a despeito do sensível crescimento eleitoral, as divergências sobre a definição do trabalhismo levou alguns de seus expoentes a ensaiar novas alianças. A UDN, após debater a possibilidade de novas alianças, construiu uma coligação com vários partidos, buscando com isso ampliar sua influência e seu discurso, agora bem mais popular.

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Este quadro plural e bastante complexo viabilizaria a recolocação de pequenos partidos no cenário político da época, como foi o caso do PDC – Partido Democrata Cristão, (PR) Partido Republicano, (PL) Partido Libertador, (PTN) Partido Trabalhista Nacional (todos estes coligados à UDN). Além destes, havia mais de uma dezena de partidos de menor expressão com representantes eleitos no Congresso Nacional, dentre os quais se destacavam o PSP (Partido Social Progressista) de Adhemar de Barros e o PRP (Partido de Representação Popular) de Plínio Salgado. Pois, foi entremeado neste complexo quebra-cabeça político, que, a partir de 1957 o partido presidido por Salgado jogou as cartas de seu baralho marcado visando uma nova projeção política. O PRP passou então a efetivar cada vez mais seus canais de doutrinação (tal como no período da AIB), apostando em um reavivamento da memória militante enfraquecida e cada vez menos aderente, a partir da comemoração de fatos, entendidos pelos integralistas, como “relevantes e dignos de serem revividos”. O que se apresenta a seguir é parte de um grande projeto de revitalização do integralismo do pós- guerra. Consolidação esta que fez do PRP um dos partidos mais controversos e incompreendidos do período. As celebrações do jubileu de prata integralista reacendem os ânimos de sua base militante. Os integralistas comungavam uma leitura de mundo particular, cuja partilha de sentimentos e convicções era o centro de seu ideário, e o fortalecimento do integralismo do pós-guerra esteve intimamente ligado a essa partilha, num período cada vez mais adverso à presença do integralismo no cenário político. Portanto, a solidificação das redes de sociabilidade fez com que os integralistas do período conseguissem realizar um projeto de re-aderência de parte da militância. No momento em que diversos setores da sociedade civil permaneciam contrários à lembrança do integralismo extremista dos anos 1930 e que os membros do movimento eram acusados de não possuírem propostas adequadas nem para o presente nem para o futuro, a retomada dos preceitos, rituais e adereços mais caros do integralismo foi o alvo perseguido pelo movimento visando uma melhor aceitação de sua militância fragmentada. Os velhos militantes, neste momento, passaram a ser mais importantes que a opinião pública. Afinal de contas, o integralismo do PRP começava a perceber que desde sua fundação até o presente momento, ainda não havia encontrado sua identidade. Daí, a aposta em reacender a militância fervorosa dos anos 1930, como tábua de salvação de sua manutenção política. Por outro lado, a atmosfera de redemocratização na qual o país vivia passou a afirmar cada vez mais que o integralismo representava

39 metaforicamente, uma doença que não poderia mais ser hospedada no corpo da sociedade.

As eleições presidenciais de 1955 foram um importante teste para o partido, tendo se constituído em fator decisivo para que a sigla empreendesse coalizões que ajudariam a compor a geografia partidária de fins dos anos 1950 e 1960. Após a votação alcançada pelo PRP neste pleito, o partido procurou apresentar-se à sociedade de maneira mais veemente, restabelecendo alguns de seus adereços e rituais mais conhecidos, como a simbologia do Sigma e a mística integralista. Então, se no momento do retorno democrático (década de 1940) o lema do partido foi o de esconder seu passado, o final dos anos 50 prenunciaram o resgate de sua imagética e ritualística mais antigas.

Fig. 2. Com os slogans de campanha: “Uma elite para as massas” e “Para endireitar o Brasil”, Plínio Salgado lançou sua candidatura à presidência em 1955. Bônus de campanha. Arquivo Público Municipal de Rio Claro – SP. Acervo Plínio Salgado.

Com o intuito de promover atividades que ensejassem a partilha de sua cultura política, o partido avançou nas suas investidas, projetando estratégias e eventos que viabilizassem uma reviravolta na sua atuação político-partidária. Tais investidas foram marcadas pela realização de eventos especiais dos quais se destacam: as festividades dos 25 anos do Movimento Integralista – que ocorreram durante o mês de outubro de 1957; e a publicação da Enciclopédia do Integralismo, lançada simultaneamente à realização das festividades. Este episódio em especial nos interessa diretamente. A promoção desses eventos foi fomentada por uma aguda radicalização contra a esquerda e um surpreendente abrandamento com relação ao liberalismo, o que indicava uma postura ambígua da sigla. Assim, as comemorações dos 25 anos de fundação da Ação Integralista Brasileira e a publicação da Enciclopédia do

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Integralismo constituem-se em elementos fundamentais para o entendimento do projeto de rearticulação integralista em finais dos anos 1950. Embora o PRP tenha vivido uma trajetória mais duradoura que a da AIB, o partido conheceu ocaso semelhante. O projeto de governo/poder integralista foi novamente frustrado com golpe de 1964 e o corolário do Ato Institucional n.º 2, que extinguiu os partidos políticos, em 27 de outubro de 1965. Tendo cedido seu apoio aos militares, após a instalação do bipartidarismo, Plínio Salgado, assim como grande parte dos correligionários do PRP, filiou-se à ARENA (Aliança Renovadora Nacional). (TRINDADE b, 1994: 124). Em meados da década de 1970, Plínio Salgado afirmou: Quem disse que não governaríamos? Podemos não ser o centro do poder, mas somos seus mais fortes pilares. (SALGADO, 1972: 23) A despeito desta afirmação, o Integralismo, ao menos, enquanto discurso filosófico teve uma sobrevida bastante curta após o período de exceção, o que nos impele a questionarmos: em que medida os pilares referidos por Salgado ruiriam após o seu falecimento, em 7 de dezembro de 1975?

1.4 - As comemorações do Jubileu de Prata integralista e o Congresso de Vitória Os anos de 1957 e 1958 foram de comemorações para o integralismo. Celebraram-se os seus 25 anos de criação e de sua mais importante manifestação popular, a chamada grande marcha integralista. Diante da celebração destes dois episódios a intelectualidade do partido debruçou-se sobre a história do movimento. Tratava-se do primeiro grande evento de uma agenda que objetivava lançar luz às conquistas pregressas do movimento. Como lembrou Gerardo Mello Mourão, em entrevista para este estudo: “O caminho das pedras que começaria nas celebrações e terminaria na publicação da Enciclopédia do Integralismo”. (MOURÃO, 2002) O Congresso Nacional do PRP realizado em Vitória – ES deu suporte às comemorações integralistas que se prolongaram por mais de seis meses. Tal evento inaugurou o cronograma festivo das celebrações do movimento. Subjacente estava o debate a respeito de qual seria o lugar do integralismo naquele momento. Nascem deste período as primeiras manifestações jocosas sobre um “integralismo curupira”, no sentido de que este retomava o passado como manutenção de força. Os pés para trás do personagem folclórico brasileiro foram utilizados como mote de gozação dos detratores integralistas. Em resposta aos achincalhamentos recebidos, o integralismo fortaleceu

41 suas manifestações ritualísticas, em que foram apropriados diversos elementos do período anterior (anos 1930). Se até 1955 as Convenções foram organizadas visando objetivos relacionados apenas à organização interna do partido, que se resumiam, na maioria das vezes, a pequenas disputas de ordem doméstica - como a homologação de novos correligionários e diretórios, a expulsão de alguns descontentes, ou até mesmo tímidas estratégias de cooptação eleitoral – na segunda metade da década de 1950, a perspectiva perrepista passou a incluir uma postura doutrinária e propagandística mais agressiva. A preocupação exclusiva com a organização interna do partido cedeu espaço às novas estratégias de aproximação eleitoral.

Fig.3. Detalhe de umas das convenções nacionais realizadas pelo PRP. Data provável, set./1956. Na foto, os símbolos do PRP: o crucifixo, a bandeira nacional, o mapa do Brasil centrado por um sino e os dizeres que indicavam a noção de hierarquia tão apregoada pelo movimento integralista: “Quem cumpre ordem, não erra”. Foto: Arquivo Público Municipal de Rio Claro – SP. Acervo Plínio Salgado.

A propaganda e a ritualística visaram consolidar a militância que neste momento se encontrava dispersa, descrente e pouco atuante, mesmo porque, carecia de identidade própria, tal como o partido. Num cenário muito menos receptivo que o desejado pelos perrepistas, a reconvocação dos militantes tornou-se uma questão de ordem. Como resposta ao fracasso nas urnas, ou pelo menos a não chegada ao poder, os perrepistas passam a buscar um perfil já conhecido dos antigos militantes. Ao lado da auto- avaliação partidária, organizaram-se diversos encontros que objetivavam a elaboração de um plano político-doutrinário que cumprisse a função de dotar o PRP da já conhecida simbologia integralista. 42

O XVI Congresso Nacional, realizado de 26 a 28 de julho de 1957 nas dependências do Palácio da Assembléia Legislativa do Estado do Espírito Santo, constituiu-se em parte importante desta auto-avaliação necessária frente às reações de uma parte significativa da militância perrepista, preocupada com a fragilidade da sigla no contexto político. Algumas deliberações do encontro redefiniram substancialmente o rumo da política do partido. Foram discutidos: o novo plano de propaganda doutrinária do partido; a multiplicação dos diretórios; a sua posição no âmbito nacional e estadual; as realizações futuras; as eleições do ano seguinte e a possibilidade de lançar a candidatura de Plínio Salgado para o Legislativo Federal. Digno de destaque foi o anúncio o ingresso do PRP no governo JK, o que gerou um enorme impacto diante dos militantes mais antigos, causando a decepção de uma parcela significativa de correligionários mais ortodoxos. Entretanto, dentre as matérias votadas, uma mereceu especial destaque: o retorno da simbologia do Sigma (∑) como emblema oficial do PRP, proposta encaminhada pelo Conselho Político Nacional, órgão de assessoria vinculado ao Diretório Nacional do partido.

De 1945 a 1957, a insígnia oficial do PRP havia sido um sino envolto pelo mapa do Brasil que, para os perrepistas, significava o “tilintar das novas gerações integralistas por todo o país”18. De acordo com um dos representantes do Diretório Nacional, “(...) como a ressonância das badaladas não havia surtido o efeito esperado, pensou-se na mudança (...)”19. A proposta foi recebida com entusiasmo pela mesa diretora, que a comunicou aos pares, obedecendo ao seguinte protocolo: Salgado pediu que todos se levantassem, pois tinha em mãos uma proposta que modificaria definitivamente o perfil do PRP. A formalidade do chefe, seu ar grave e sério, criou enorme expectativa entre os presentes. Em pé, amparado pelo encosto da cadeira central da mesa diretora, mãos trêmulas em riste, Plínio Salgado leu em voz alta a referida proposta20. “O Conselho Político Nacional pede deferimento para que seja substituído o nosso atual emblema do partido pelo Sigma, símbolo de uma doutrina que, nem o tempo, nem as circunstâncias haviam apagado” 21.

Politicamente, este ato revestiu-se de um significado especial para cúpula do partido: o PRP passava, a partir daquele momento, a novamente se identificar com o

18 Distintivo Oficial. Protocolos da Fundação do PRP, janeiro de 1946. 19 GULLO, Damiano. A Marcha, 7/8/1957, p.6. 20“O Encontro do novo integralismo: a volta do Sigma”. A Gazeta. Vitória. 29/7/1957, p.6. 21 Proposta publicada no jornal A Marcha. 2/8/1957, p.4. 43 símbolo maior da Ação Integralista Brasileira, marca indelével de uma posição reacionário/conservadora. Os perrepistas assumiram, de maneira incondicional, que sua reestruturação partidária necessitava dessa reaproximação com os símbolos dos tempos da AIB, no sentido de avalizar sua recepção por parte de seus devotados militantes. O partido buscou então sua reafirmação no passado. Se em 1945 o PRP se afastou deste passado para se adaptar às novas diretrizes da democracia e fugir da incômoda comparação com o fascismo, em 1957 o apelo tornou-se outro. Os integralistas entenderam (equivocadamente?) que era preciso buscar antigas identificações. É relevante que o PRP tenha retomado a ritualística e os adereços integralistas. Por meio deles, ícones do antigo movimento como o Sigma, o hinário, o archote (chama da transição geracional), sem falar da galinha verde, que seria transformada em águia branca, possibilitaria que tais símbolos permanecessem presentes como elementos significativos de identificação política do PRP. A rememoração de um passado de glórias tornou-se a partir de então uma prática corrente, e a fusão de elementos simbólicos do integralismo dos anos 1930 com a atuação política dos anos 1950 ensejou a (re)criação de uma ritualística própria. Nesse momento, os perrepistas valeram-se da metáfora da transformação, do ressurgimento das cinzas do ostracismo político, tal como Fênix, a ave mitológica grega. Esta metáfora passou a sustentar-se de maneira bastante sólida a partir da metade desta década.

Os perrepistas buscaram fortalecer-se se inspirando nos anos 1930, o que obviamente não coadunava com o contexto político vigente, uma vez que tal retomada deu-se imersa numa conjuntura desfavorável à permanência integralista. Não se pode esquecer que o final dos anos 1950 foi marcado pelo otimismo. Durante o governo de JK, aprofundou-se o caráter urbano do país, que passou a respirar os ares do desenvolvimentismo. Nesse contexto, nada parecia mais distante do que os sonhos de Salgado em atribuir ao PRP a tarefa de realizar “a convergência sapiente que reestruturaria os modelos carcomidos pela falsa demonstração de linearidade democrática” (SALGADO, 1957:3). Sob a ótica político-partidária, as conclusões foram diversas: a tentativa de lançar-se avante nas disputas democráticas afirma a preocupação do movimento em desvincular-se de uma imagem que ficou cristalizada ao longo do tempo, a dos “eternos estrategistas da retaguarda pseudo-democrática”22 . No entanto, o

22 Perfis Diversos. O Estado de S. Paulo. 04/11/1957, p.6. 44 que se percebe é um retorno à mística e símbolos da fase anterior, justamente aquela da qual se queria distanciar.

Insuflada pela atmosfera de celebração que tomou conta dos perrepistas, logo após as decisões do XVI Congresso, a imprensa integralista aumentou os contatos entre o movimento e certos órgãos representativos da sociedade de perfil eminentemente direitista, tais como centros católicos e laicos de cultura e associações em prol de idéias nacionalistas. Entidades identificadas com a essência religiosa da conduta político/doutrinária de Salgado,como a Junta Católica pela Liberdade23, bem como os Círculos Operários24 e a Ação Patriótica das Mulheres Brasileiras foram algumas das associações que prestaram solidariedade às celebrações integralistas. Em finais de agosto de 1957, começou a ser idealizado um cronograma de festividades que visava dar notoriedade ao jubileu integralista. A sugestão de um calendário de celebrações visava compartilhar a história do movimento, sensibilizando a sociedade para o retorno do Integralismo. Tal cronograma coincidiu com a retomada do calendário oficial integralista, datado de duas décadas atrás. O jornal A Marcha publicou o quadro de atividades da Semana do 7 de outubro. A veiculação do Programa das Festividades foi intensa durante todas as semanas do mês de setembro. Durante a primeira semana de outubro foi prevista uma programação específica para cada dia. Dos eventos arrolados no calendário, um em especial merece destaque: a Exposição Histórica do Integralismo, que, de acordo com as fontes disponíveis, (fontes partidárias e jornais de grande circulação carioca25) congregou milhares de pessoas (sic) nos cinco dias em que foi aberta ao público. Realizada no Salão Assírio do Teatro Municipal do Rio de Janeiro26, esta exposição refazia a trajetória histórica do movimento, expondo suvenires e mais de 30 quadros explicativos sobre o seu aparato

23Dissidência da ala revisionista da Igreja Católica, portanto, de caráter conservador, esta Junta assessorava a UNOCB e os Ciclos Operários em encontros sistemáticos durante todo o final da década de 1950. 24 Organizações católicas de caráter econômico-social e de direito civil, nascidas no Brasil da década de 1930 com o objetivo de prestar assistência e auxílio mútuo entre os operários. Em1957 havia, no Brasil, mais de 400 Círculos Operários. 25 Foram consultados: A Marcha e os jornais: O Globo, Tribuna da Imprensa, Última Hora e A Noite. Semana da comemoração. 26 Dependência cedida a Plínio Salgado pelo então prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Octacílio Negrão de Lima. Em bilhete emitido à direção do PRP, o prefeito carioca sucintamente escreveu: “Está à disposição do evento. O salão Assírio é o bastante para comportar tal Exposição. A prefeitura do Distrito Federal orgulha-se de poder demonstrar essa ação democrática e patriótica”. Bilhete timbrado da Prefeitura do Distrito Federal: Setor de cartas, s/d (aproximadamente agosto de 1957). Acervo Plínio Salgado. Arquivo Público de Rio Claro. 45 simbólico. É licito apontar que, para o simpatizante integralista, vinculado ou não ao PRP, o sentido da comemoração e da exposição de sua história era dotado de um caráter “reformador”, pois restituía o disperso sentimento de pertencimento desses indivíduos. Não obstante, a organização dos preparativos do evento demonstrou que as comemorações de outubro de 1957 visavam atingir não apenas os antigos militantes – as fileiras verdes, como eram costumeiramente designadas por seus correligionários –, mas a sociedade em geral. Exemplar nesse sentido foi o registro da significativa presença de populares na exposição integralista27. Em várias ocasiões tal contingência não mantinha nenhuma relação de proximidade com o movimento ou a sigla. A organização da Exposição instalou um caderno de presença na entrada do Salão, visando obter um diagnóstico do perfil do público assistente. 28. Nesse sentido, entende-se que o grau de participação popular nas festividades serviria como um teste para aquilatar sua receptividade às propostas do PRP.

Fig. 4. Comportamento de “prenda e rifa!”. Plínio Salgado na Abertura da Exposição Histórica do Integralismo,1957.Foto: Arquivo Público Municipal de Rio Claro – SP. Acervo Plínio Salgado.

27 Ver: Caderno de Presença da Exposição Integralista, outubro de 1957. Acervo Plínio Salgado. Arquivo H. M. Rio Claro. 28 O caderno de presença da Exposição Histórica do Integralismo foi pouco referenciado e apenas algumas matérias de jornais da época chagaram a notificá-lo. Embora em péssimo estado de conservação, traz informações valiosas com relação à presença de populares no festejo. Ver: Caderno de Presença. Acervo Plínio Salgado. Arquivo Público Municipal de Rio Claro. 46

Entretanto, a ausência de marcos significativos da história do integralismo neste calendário suscita questionamentos. A data em que se comemoraria a intentona integralista contra o Palácio Guanabara (madrugada de 11 de maio), ataque surpresa que visava à retirada do poder das mãos de Vargas, não foi sequer lembrada. Note-se como o direcionamento das festividades permitia apenas a rememoração de fatos considerados jubilosos pelos integralistas. Relendo o material de propaganda dessa Exposição29, tem- se a impressão do pleno êxito integralista, sem mencionar os fracassos ou contradições do movimento, como se ambos não fizessem parte de sua história. O putsch (intentona), as dissidências, a vinculação fascista, nada disso aparecia, a não ser como argumento de contraposição de seus adversários, ou como atestado de que o integralismo havia sido maltratado pela oposição.

Fig.5. Charge que ridiculariza a ação dos Águias Brancas. Publicada, originalmente no jornal, O Estado de S. Paulo, em setembro de 1957, foi republicada, meses depois, em A Marcha. O texto original da charge dizia: “Eles começam a voar...” - uma alusão irônica ao vôo alçado pelos correligionários do PRP. Em reposta, A Marcha afirmou: “Eles (os burgueses) começam a ter medo...”. A Marcha, 21/11/1957, p.4

29 Série de artigos intitulada: “A verdade contra a mentira”. A Marcha, (semana da comemoração). 47

Segundo dados da imprensa de grande circulação nacional30, a cúpula do PRP, em conjunto com o grande contingente militante integralista, lotou as dependências de todas as celebrações ocorridas. Teria sido assim em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e outras cidades brasileiras de menor porte31. Essas celebrações estenderam-se até abril do ano seguinte. Ao longo de 1958, registraram-se outras efemérides. Sempre contestadas nos jornais da época, tais celebrações acabaram por chamar ainda mais a atenção sobre aquele antigo/novo integralismo. A ritualística integralista, desde sua institucionalização, era vasta e visava, além da contraposição comunista, a propaganda para a arregimentação de novos militantes, motivo pelo qual era ostensivamente divulgada. Os desfiles e concentrações integralistas pretendiam constituir-se em demonstrações de força do movimento. De acordo com a ritualística integralista, “tais desfiles eram ordenados em alas, com batedores e tendo à frente uma bandeira azul, preta e branca, com o símbolo do sigma na frente”32. Nesse sentido, seis meses depois, a celebração da primeira marcha integralista, segundo episódio da lista de celebrações do Jubileu, superou as expectativas de seus organizadores; inflamou a militância adormecida e movimentou a imprensa de grande circulação, que viu no acontecimento possibilidades de utilização propagandística. A rememoração durou três dias (24, 25 e 26 de abril de 1958), desdobrando-se em vários momentos. No primeiro, houve a cerimônia de “boas-vindas” ao “sol nascente”, representação da retomada do movimento. Dois dias depois, processou-se a simulação da histórica passeata integralista, seguida do encerramento oficial das comemorações. Voltava-se ao local da marcha, a cidade de São Paulo, onde o núcleo dos ex- correligionários do Sigma juntou-se aos afiliados perrepistas e admiradores no intuito de realizar cerimônia. Embora os organizadores previssem um significativo comparecimento de seus simpatizantes, algo com que os integralistas não contavam

30 Neste caso analisamos os jornais: O Estado de S. Paulo; Correio Paulistano; Folha da Manhã, da Noite e da Tarde; Diário Popular; Diário de Notícias; O Jornal; Diário Carioca; Tribuna da Imprensa; A Notícia; Gazeta de Notícias; Jornal do Brasil; Última Hora; Diário da Noite; Diário de Notícias/RS e O Globo. 31 De acordo com o jornal A Marcha, as cidades de Olinda - PE, São José do Rio Preto, Santos, São José dos Campos, Campinas e Rio Claro, no estado de São Paulo; Campos dos Goitacazes, Macaé e Niterói, no estado do Rio de Janeiro, e Alegrete, Caxias do Sul e Nova Petrópolis, no estado do Rio Grande do Sul, bem como Curitiba e Florianópolis também celebraram a mesma comemoração, seguindo protocolos idênticos aos das capitais. CALIL, Op. Cit. p.256. 32 Protocolos e Rituais, p.79. 48 terminou por provocar uma situação constrangedora para seus pares: inviabilizada por uma tempestade que caiu sobre a cidade de São Paulo, a celebração da primeira marcha integralista teve um desfecho nada favorável.

Fig.6. Vista parcial da simulação da Primeira Marcha Integralista. SP. Abril de 1958. O jornal integralista noticiou milhares de pessoas. A fotografia mostra dezenas. Foto: Arquivo Público Municipal de Rio Claro – SP. Acervo Plínio Salgado.

Na comemoração de boas vindas ao sol nascente (simbolicamente, a nova geração integralista) o convidado especial faltou ao encontro. No exato momento em que aconteceria o protocolo, pontualmente às cinco e meia da manhã do dia 24, a torrencial tempestade acabou por afugentar o pequeno contingente integralista que, prostrado, defronte ao salão da Escola Paulista de Medicina, cantou o hino do movimento, sob o olhar atento e sarcástico da meia dúzia de jornalistas que cobriram o evento33. Triste coincidência para os integralistas, significativa simbologia para seus adversários. Estiveram presentes na solenidade os repórteres dos jornais Estado de S. Paulo; Correio Paulistano; Folha da Manhã; Última Hora/SP e da sucursal paulista do periódico carioca O Globo. Além dos jornais, as Revista Manchete e Maquis também

33 A despeito do reduzido número de repórteres que cobriram o evento, foram enviados mais de 250 convites a toda a imprensa de grande circulação do país. A Marcha, 3/5/1958, p.5. 49 cobriram o evento34. A presença da imprensa de grande circulação demonstra que o espectro integralista ainda interessava aos meios de comunicação: “o integralismo, por mais jocoso que possa mostrar-se ainda é notícia”.35 Tanto era assim que Assis Chateaubriand, referindo-se ao episódio, assegurou: “O chute no cachorro morto, que não estava tão morto assim...”36. As comemorações encerraram-se em uma sessão solene presidida por Plínio Salgado e assistida por centenas de pessoas. Interessante notar que até o dia 15 de abril, uma semana antes de sua realização, a sessão estava confirmada para acontecer no Salão Nobre da Associação Paulista de Futebol, sublocada à Rádio Record. Ocorreu, porém, um sintomático episódio. Às vésperas da realização do evento, os planos integralistas foram frustrados pela quebra do acordo firmado anteriormente, por parte do diretor da emissora, supostamente um simpatizante do comunismo.37 Este, dias antes da cerimônia, indeferiu o pedido de empréstimo do Salão de Audiência da Associação de futebol. A única saída para os integralistas foi buscar um novo local para a realização do evento. Tal episódio confirmou a generalizada insatisfação de alguns setores da sociedade para com o retorno da alegoria política integralista. Esta oposição não se restringiu à imprensa escrita. O estigma com relação ao integralismo permanecia sendo o seu maior adversário. A simbiose de dois fatores colaborou para que se desencadeasse esta campanha de oposição declarada ao movimento. Primeiramente, o arraigado sentimento anti-plinista (que em intensidade semelhante ao sentimento anti-integralista) ainda era fomentado por vários de seus adversários, dentre eles, alguns empresários de comunicação. Em segundo lugar, a figura emblemática de Luis Carlos Prestes continuava a representar uma significativa força política, além de uma “pedra” na trajetória plinista. No embate direto entre comunistas na ilegalidade e integralistas em processo de reformulação, os primeiros venceram o round.

34 A Marcha, 26/4/1958, p.5. 35 “Por água abaixo...”. Última Hora, 23/4/1958. 36 “Coisas de S. Paulo, coisas do Brasil”. Coluna de canto de página assinada pelo próprio Assis Chateaubriand. Diário Carioca. Edição de Maio de 1958. 37 “A Sessão Solene do Jubileu de Prata da Primeira Marcha Integralista terá que, transferir-se para outra localidade. Tudo isso porque seu diretor é um comunista. Por interferência do senhor Luis Carlos Prestes, o auditório que já havia sido reservado para nossa comemoração, foi, de última hora, negado, com o claro intuito de sabotagem..” A Marcha, 21 de julho de 1958, p. central. Grifo meu. 50

Com “o puxão de tapete comunista” 38 – frase atribuída a Salgado-, comprovou-se que a representatividade do líder integralista e do PRP perante a sociedade civil continuava controvertida. O que ocorreu em São Paulo evidenciou-se em larga escala por todo o país. O episódio do cancelamento no Salão da Associação Paulista de Futebol ilustra o sentimento persecutório que Salgado nutria com relação aos atos políticos que o cercavam na época. Talvez, o mais importante quanto a esse sentimento persecutório era que, de maneira efetiva, a gama de insatisfeitos quanto a sua permanência no cenário democrático nacional não se restringia aos comunistas. As celebrações tiveram para o integralismo um saldo positivo, pois recolocaram o movimento no cenário político nacional, a despeito de toda a contrariedade manifesta pela grande imprensa. O ressurgimento da alegoria e ritualística integralista, por meio de suas efemérides, reconduziu o movimento às páginas dos principais jornais brasileiros. O integralismo não só voltou a ser notícia, como passou a ocupar lugar de destaque nas discussões promovidas pela imprensa, instituindo-se novamente como foco de importância da política nacional.

Fig.7. Em São Paulo, Plínio Salgado discursa no encerramento das comemorações dos 25 anos da Primeira Marcha. Foto: Arquivo Público Municipal de Rio Claro – SP. Acervo Plínio Salgado.

Os festejos das bodas de prata, bem como as respostas às acusações dos grandes jornais, forneceram o tema para uma campanha de valorização do integralismo. No entanto, a celebração não se alimentou apenas das questões públicas (os festejos

38 Idem, p.6. 51 populares), mas também da materialidade expressa na vendagem de seus produtos. A compra de sua ideologia por meio dos livros indicados pelo jornal oficial do partido despertava no simpatizante a manutenção de sua lembrança e o sentimento de pertencimento ao integralismo, o que estimulava a permanência cotidiana dessa cultura material. Se a imprensa posicionou-se contrariamente ao reaparecimento da ritualística integralista, a mídia impressa integralista, por sua vez, destinou um significativo espaço para a propaganda de sua doutrinação e vendagem de seus produtos. Nesse sentido, foi fundamental o papel desempenhado pelo jornal A Marcha - que permaneceu como órgão oficial do partido até 1965, sob a direção de Plínio Salgado e, em significativo período, a redação de Gumercindo Rocha Dórea.

1.5 - O jornal A Marcha como porta voz dos desígnios perrepistas

A leitura dos mais de 12 anos de cobertura do jornal A Marcha39 revela, por um lado, a existência efetiva de grandes dificuldades de financiamento, e em decorrência disto, o esforço na obtenção de recursos através de campanhas voltadas à militância integralista. A Marcha, órgão oficial de imprensa do Partido de Representação Popular, foi o mais significativo periódico do integralismo ao longo dos anos 1950 e meados de 1960, o porta-voz do PRP. Com uma circulação nacional, o semanário, a partir da segunda metade dos anos 50 era mantido com a colaboração dos assinantes e dos pouco mais de 60 anunciantes, dentre os quais se destacavam empresas de projeção internacional, como empresas aéreas, de laticínios, empresas farmacêuticas, dentre outras. De acordo com o historiador Gilberto Grassi Calil, uma das várias fontes de recursos do jornal foi a publicidade paga, que junto com as assinaturas compunha o grosso de sua receita. Uma análise dos anúncios revela que os integralistas recebiam apoio de diversas empresas de grande porte, revelando apoio de setores do grande capital, desmentindo a tese de Salgado de que a burguesia não anunciava em A Marcha por “esforço heróico, pelo fato de a maior parte dos anunciantes temer dar ao órgão, ostensivamente anticomunista, suas publicidades, alegando o perigo que corriam de serem sabotados em suas fábricas ou estabelecimentos comerciais pelo grande número de empregados adeptos do credo vermelho”.40

39 Folha semanal substituta do diário, Idade Nova (jornal oficioso do partido até 1951). 40 SALGADO, Plínio. O perigo comunista. A Marcha, Rio de Janeiro, 28/10/1955, p. 1,6,7,10 e 12. 52

Os principais anunciantes de A Marcha entre 1953 e 1957 abrangeram diversos setores da economia brasileira. Tanto os anunciantes locais quanto os de projeção nacional e mesmo multinacional tiveram espaço constante nas páginas do jornal A Marcha. Setores como o editorial, financeiro/estatal, financeiro/privado, aviação, industrial farmacêutico, industrial alimentício, comércio, imobiliário, setor automotivo, hoteleiro, de construção civil e até mesmo, governamental, como no caso, de diversos anúncios do governo estadual de São Paulo41 construíram a carteira de anunciantes do jornal.42 Entretanto, o maior montante do dinheiro utilizado para a manutenção dos quadros do jornal, bem como para manutenção do maquinário provinha das assinaturas, que em março de 1958 foram contabilizadas em mais de 25 mil em todo o território nacional.

O lançamento do jornal A Marcha, em fevereiro de 1953, é mais um elemento da estratégia integralista dos anos 1950, visando retomar a iniciativa de expandir suas bases e inserir-se no debate político nacional. Desde o fim da circulação do jornal Idade Nova, em abril de 1951, o partido havia ficado desprovido de um jornal de circulação nacional. Já em junho daquele ano estava em andamento o recolhimento de contribuições para o lançamento de um novo jornal integralista (que viria ser A Marcha) o qual se estendeu por todo o ano de 1952. Poucas semanas após seu lançamento, o jornal colocou-se a questão da vinculação partidária: “A Marcha não é um jornal partidário no sentido comum da expressão. É um jornal que tem uma linha política definida, assentada na doutrina do cristianismo e do nacionalismo. O que queremos? Formar uma mentalidade cristã, nacionalista; e de lutar pela afirmação cultural do Brasil”. (DOREA, 1953:2) Ao longo da década de 1950, A Marcha se notabilizou por exprimir a voz dos integralistas. Esta voz unívoca viu diminuir paulatinamente o quadro

41 Os governadores paulistas, Adhemar de Barros e Lucas Nogueira Garcez foram ambos apoiados pelo PRP. Chama a atenção anúncios que divulgavam operações conjuntas entre órgãos públicos do governo paulista, tais como a “Operação Fartura”, uma ação conjunta da Secretaria da Agricultura, do Banespa e da Ceagesp. A semente que alimenta milhões. A Marcha, Rio de Janeiro, nov./dez.1954. p. 4. 42 Os vinte e cinco anunciantes mais constantes do semanário no período supracitado foram: Livraria Clássica Brasileira, (320 anúncios), Banco do Estado de São Paulo (80 anúncios); Serviço Aéreo Cruzeiro do Sul (46 anúncios), Elixir 914 (30 anúncios pequenos), Pílula do Abade Moss (256 anúncios), Banco Hipotechario Gramacho (46 anúncios), Casa Valentim (84 anúncios), Banco Mauá (129 anúncios), Sorvetes Kibon (247 anúncios) Sabonete Santelmo (45 anúncios) Pan Air do Brasil (54 anúncios), Editora das Américas (38 anúncios), Móveis Drago (30 anúncios), Varig Serviços Aéreos (135 anúncios) Volkswagen do Brasil (70 anúncios), Laboratório Leite de Rosas (68 anúncios), Imobiliária Inhangá (34 anúncios) Mecânica Paulista (45 anúncios) Hotel Suisso (32 anúncios) Casa Marconi (79 anúncios) Casa Buri (34 anúncios) Edições GRD (68 anúncios), Photografia Arsenal (76 anunciantes), Loyd Brazilian Ship (43 anúncios) e Hotel Pantanal (32 anúncios). Fonte: A Marcha, março de 1953 outubro de 1957. 53 de seus anunciantes. Então, tais problemas acrescidos de uma insuficiente receita e também o enxugamento do quadro de assinantes, fez emergir, em 1957 o lançamento de uma nova campanha de “Recuperação Financeira” do jornal, viabilizando o retorno dos programas de Plínio Salgado no rádio, a publicação de materiais de propaganda e apoiando as atividades da Confederação dos Centros Culturais da Juventude (CCCJ) e da União Operária e Camponesa do Brasil (UOCB). No ocaso de 12 anos de publicação intermitente, A Marcha encontrou seu mais difícil desafio. No final de 1962, A Marcha anunciou “suspender algumas de nossas edições no mês de janeiro”, pois visaria “reestruturar inteiramente os seus serviços, não somente no que se refere à parte redacional, que será enriquecida, como também no que se relaciona com o volumoso cadastro de nossos assinantes e das entidades às quais enviamos gratuitamente o nosso jornal”.43 Ao contrário do que se anunciava, no entanto, o jornal só voltou a circular quase dois anos depois, em outubro de 1964, e mesmo assim, com periodicidade mensal, logo transformada em bimestral. Em outubro de 1964, A Marcha volta a circular, com uma nova diretoria, em cujo quadro havia a presença de três militares.44 O jornal retoma sua circulação afirmando em editorial: “Eis novamente circulando A Marcha, depois de um período em que recompôs os seus serviços e trabalhou pela maior expansão nos Municípios Brasileiros. Não foi propriamente uma interrupção, mas uma quadra de intensas atividades no sentido de readaptar o nosso órgão a novas circunstâncias da vida econômica e social do País”.45 Após quase dois anos de interrupção, a opção por não tratar abertamente das dificuldades financeiras pelas quais passou o jornal evidencia a clara intenção de Salgado e da linha editorial de A Marcha de jamais demonstrar fraqueza ou perda de influência. Se por um lado havia as estratégias de manutenção e permanência do jornal no universo editorial brasileiro (outra investida das celebrações integralistas – “manutenção para doutrinação”), por outro, o jornal oscilava entre a sofisticação e a conservação de técnicas que dessem ao hebdomadário uma identidade visual. A identidade de suas reportagens, matérias e propagandas, ou seja, seu conteúdo passava pelo mesmo

43 Reestruturação dos serviços de A Marcha – Interrupção das nossas edições durante algumas semanas. A Marcha, Rio de Janeiro, 20/12/1962, p. 1. 44 A diretoria era formada por: Presidente: Paulo Lomba Ferraz (banqueiro); Vice-Presidente: Gal. João Muller Neiva; Diretor Tesoureiro: Gal. Carlindo Gonçalves Lopes; Diretor Superintendente: Cel. J. C. Teixeira Coelho; Diretor Substituto: Silvio Skinner Lopes; Redatores: Luis Alexandre Compagnoni (autor que publicou textos na Enciclopédia do Integralismo) e Aníbal Teixeira. 45 Itinerário. A Marcha, outubro de 1964, p. 1 54 processo. Nesse sentido, havia no jornal seções diferenciadas para abarcar todas as faixas etárias. Concomitantemente às seções políticas e econômicas, geralmente voltadas ao público masculino adulto, havia também o suplemento feminino, o caderno adolescente e o infantil. O público dA Marcha era, principalmente, os correligionários do PRP e simpatizantes do integralismo. Em sua análise sobre o jornal A Marcha, Gilberto Calil nos mostra como nos períodos que antecediam as eleições, a campanha eleitoral passava a ser tratada como prioridade absoluta, ocupando-se a maior parte do jornal com a propaganda dos candidatos do PRP, a defesa das coligações realizadas e os ataques a seus adversários, geralmente acusados de comunistas ou cúmplices do comunismo. (CALIL, 2009, 461) A Confederação dos Centros Culturais da Juventude (ver o próximo item) editava as colunas “Movimento Águia Branca” e “Ergue-te Mocidade” – que chegou a ocupar duas páginas semanais do jornal, com a divulgação das atividades dos diversos centros culturais e dos congressos por eles realizados. O anticomunismo permaneceu presente em todo o período de circulação do jornal, principalmente nas seções de notícias internacionais (“Resenha Internacional”, “Terra dos homens”), através de denúncias contra a União Soviética, China e os países do Leste Europeu; mas também nas constantes denúncias de “infiltração comunista” nos demais partidos e nos governos. Uma vez que o jornal era semanal, a rede de distribuição dA Marcha abrangia a maioria das grandes cidades do país, do Amazonas ao Rio Grande do Sul. De acordo com Gumercindo R. Dórea, redator chefe do jornal, até 1959 - “mesmo que demorasse para chegar, com alguns dias de atraso, nosso leitores não ficavam sem o jornal... estivesse ele na Bahia, ou no Maranhão, em São Paulo ou no Rio, onde o jornal era pensado, diagramado e prensado”46.(DÓREA, 2007) Diretórios do PRP de todos os estados enviavam mensagens confirmando o recebimento do jornal. Diversos telegramas de diretórios do interior dos estados das regiões norte e nordeste, além da região sul, foram enviados ao Diretório Nacional do PRP e à redação do semanário, o que comprova a amplitude da rede de distribuição dA Marcha. Tais telegramas eram freqüentemente publicados nas páginas do jornal47.

46 Entrevista de Gumercindo Rocha Dórea. SP. 19/11/2007. 47 “Acusamos recebimento - Marcha nº 357,com atraso, mas em tempo sabermos a quantas anda nosso partido. Saudações integralistas - Diretório de Ahaurum-Mirim- PB. 5 de julho 1956”. Telegrama do Diretório Estadual do PRP da PB. Acervo Plínio Salgado. Correspondência passiva. 55

Para aprimorar o debate sobre a interlocução que o PRP possuía em finais dos anos 1950, focalizemos, a seguir a junção que se deu entre a campanha de anúncios publicada no jornal e as propagandas ideológicas de caráter proselitista mantidas pela Confederação dos Centros Culturais da Juventude, o corpo não partidário mais próximo do partido em toda década. Esta relação alude para o fato de que o PRP não estava sozinho na busca por uma maior visibilidade do integralismo.

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Fig.8. Capas do jornal A Marcha no período de julho de 1957 a abril de 1958.

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Fig. 9. Capa d‟A Marcha, 15/5/1958. Justaposição do logotipo da Manchete à fotografia de Salgado: repúdio com relação à matéria publicada pela Manchete e um aguçado senso de oportunidade. O jornal A Marcha sempre lançou mão deste expediente para influenciar a militância.

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1.6 - A Confederação dos Centros Culturais da Juventude - transcendendo os limites da ação partidária

Para além das celebrações dos 25 anos e das efemérides noticiadas pelo jornal A Marcha, os integralistas dos anos 1950 possuíam outras articulações que reforçavam a sua ação militante. Nesse sentido, mais que um grupo de aprendizes, cuja figura de Salgado sempre fora o espelho, os Centros Culturais da Juventude se notabilizaram pela ortodoxia com que seguiam os preceitos da doutrina integralista. É Gilberto Calil quem nos mostra que: “(...) a esse respeito, em princípios 1953, Salgado enumerava suas “realizações” de 1952, como parte integrante de um plano articulado e global que visava a fundação da Confederação dos Centros Culturais da Juventude e o planejamento para lançar A Marcha, dentre outros pontos, que de acordo com Salgado seriam fundamentais para a reconsolidação do integralismo.” 48 Então, a constituição da vasta estrutura necessária para a ampliação das perspectivas do integralismo se deu fundamentalmente entre 1952 e 1953 quando foram criados o jornal A Marcha e a Confederação dos Centros Culturais da Juventude, embora tenha se completado apenas em 1957, com a criação da União Operária e Camponesa do Brasil49 e a publicação da Enciclopédia do Integralismo. Os Centros Culturais da Juventude, criados publicamente a partir de 1952, constituíram a mais vasta organização extra partidária criada pelo integralismo entre 1945 e 1965. Os centros aglutinavam-se através da Confederação dos Centros Culturais da Juventude e desenvolviam atividades como a promoção de comemorações cívicas e de palestras sobre assuntos doutrinários e políticos, a organização de grupos esportivos, o desenvolvimento de cursos de “comunologia”50, o lançamento de manifestos públicos, a edição de boletins, jornais e revistas, a promoção de peregrinações a lugares históricos e a realização de concentrações e congressos, além da disputa de entidades estudantis. A promoção de palestras e reuniões de estudos ocupava lugar central em suas atividades, contando inclusive com a participação de não-integralistas (como, por exemplo, o Gal.

48 Correspondência de Plínio Salgado a Olwaldo Sá, 17/2/1953 (APHRC-Pprp 17/02/1953). Apud, CALIL, 2009, 458. 49 A UOCB constitui mais um dos vários braços extra partidários ligados ao integralismo perrepista. No entanto, nesta pesquisa não nos aprofundaremos na sua formação ou atuação. 50 Destaca-se o “Curso de Teoria e Prática de Antimarxismo”, ministrado por Hélio Rocha, no Centro de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais, do Rio de Janeiro. O curso se deu em cinco encontros, com o seguinte programa: A mais valia; Materialismo jurídico; O marxismo depois de Marx; As quatro internacionais; Prova Final. Calendário do CEPES. A Marcha, Rio de Janeiro, 8/10/1954, p. 4. 59

Eurico Gaspar Dutra), e até mesmo de ex-integralistas que abandonaram o movimento (dentre os quais Miguel Reale, Guerreiro Ramos e Roland Corbisier).

Fig. 10. Matéria de Capa da Revista O Cruzeiro: “Plínio Patético: 20 e poucos anos de ilusão. As águias e o sigma”. O Cruzeiro, 10 de abril de 1954. Uma versão reduzida da matéria seria reeditada na revista em 1958.

Fig.11. Da esquerda para a direita: Plínio Salgado (terceiro) e Gumercindo Rocha Dórea (quarto), na abertura da sessão solene de efetivação dos Águias Brancas. Foto: Arquivo Público Municipal de Rio Claro- SP. Acervo Plínio Salgado.

Um relato das atividades do Centro Cultural da Juventude Tavares Bastos, de Maceió- AL, publicado em A Marcha, é ilustrativo do funcionamento regular pretendido para os centros: o centro promovia reuniões semanais regulares, com cinco pontos de pauta: súmula da reunião anterior; noticiário nacional dos CCJs; comentário

60 bibliográfico51; artigo do dia; e debate (político, econômico ou doutrinário). Para o desenvolvimento de cada tema haveria um responsável indicado (dois no caso do debate).52 A estruturação do movimento teve início em janeiro de 1953. Desde o lançamento da primeira edição do jornal A Marcha, em 20 de fevereiro de 1953, o movimento passou a contar com uma seção fixa naquele jornal, denominada “Ergue-te mocidade”, ocupando, na maioria das edições, uma página inteira. No mês seguinte foi lançado o “Manifesto à Mocidade Brasileira”, enunciando treze princípios, dentre os quais a defesa do espiritualismo, da família, do nacionalismo e da “democracia orgânica”, e tendo como signatários 19 centros culturais já então em funcionamento.53 Os Estatutos definiam ainda as bases doutrinárias do movimento, em termos praticamente idênticos aos da Carta de Princípios do PRP, e claramente expressivas da doutrina integralista. Tudo isso procurava dar à Juventude um sentido de vida nacionalista e cristã, para enfrentar a crise e conseqüentemente construir um futuro nacional condizente com nossas realidades.54 A Diretoria da CCCJ era composta por cinco membros, e, para estabelecer de forma ainda mais clara o vínculo com o integralismo, foi criada a figura do “Presidente de Honra”, que segundo os estatutos, “será perpétuo e aclamado no 1º Congresso de Centros Culturais da Juventude”.55 Como já era esperado, o Presidente de Honra escolhido foi Plínio Salgado. Em 1957, uma reforma nos estatutos criou federações regionais e instituiu uma forma de eleição indireta para a diretoria nacional, claramente inspirada no corporativismo, que voltava a ser defendido abertamente pelo integralismo naquele ano. Foram criadas, então, seis federações regionais: Amazônia, Nordeste, São Francisco, Minas Gerais, Centro Oeste e Sul.56

51 A Enciclopédia do Integralismo tornou-se bibliografia obrigatória nas leituras e discussões dentro dos CCCJ. Como lembraria GRD: “A EI era a mola mestra para todas as nossas discussões entre 1957 e 1959”. Depoimento de Gumercindo R. Dórea, 23/11/2008. 52 Centro Cultural da Juventude Tavares Bastos – Maceió. A Marcha, Rio de Janeiro, 23/7/1954, p. 10. Apud. CALIL, Op. Cit. 98. 53 Manifesto à Mocidade Brasileira, A Marcha, Rio de Janeiro, 27.2.53, p. 5 (CDAIBPRP). Apud, CALIL, 99. 54 Sentido do II Congresso Nacional de Centros Culturais da Juventude. A Marcha, Rio de Janeiro, 21/1/1955, p. 5. 55 Idem, ibidem, p. 9. 56 Congresso de Líderes Águias Brancas, A Marcha, Rio de Janeiro, 5/7/1957, p. 5. 61

Fig.12. Leovegildo Pereira Ramos e Gumercindo Rocha Dórea: os precursores dos Águias Brancas. O Cruzeiro, maio de 1954. Reportagem reeditada em 1958.

No ano seguinte, foi formada a “Câmara dos Líderes Águia Brancas”, composta por 30 membros, oriundos de 11 estados.57 Ainda em termos organizativos, a CCCJ passou a contar, em 1959, com cinco secretarias nacionais a Secretaria de Doutrina e Estudos (responsável pela publicação da Revista Águia Branca), a Secretaria de Assistência (responsável pela arrecadação financeira), a Secretaria de Cultura Artística, a Secretaria de Cultura Cívica e Física, e a Secretaria de Propaganda.58 No lançamento da revista Águia Branca59 órgão oficial da CCCJ, as finalidades da Confederação eram apresentadas em consonância a uma concentração preparatória ao II Congresso Nacional da CCCJ, realizada em 1954, que teria tido mais de 600 delegados, representando 107 centros culturais, e reunido mais de 1.500 pessoas em sua sessão de encerramento.60 Os centros culturais eram nomeados homenageando indivíduos tidos pelos integralistas como “heróis pátrios”, alguns deles reivindicados por vários centros culturais. De acordo com Salgado, “cada uma dessas associações

57Ergue-se a Juventude Integralista na plenitude do seu destino histórico. A Marcha, Rio de Janeiro, 13.2.1958, p. 5. 58 Para atingir o Estado Integral, estrutura-se organicamente o Movimento dos Águias Brancas. A Marcha, Rio de Janeiro, 14/8/1959, p. 4. 59 Os jovens integralistas militantes dos centros culturais passaram a se designar como “Águias Brancas”, como contraposição à designação jocosa de “galinhas verdes” pela qual eram chamados por seus adversários. A revista foi lançada em janeiro de 1956, e tinha 64 páginas e periodicidade trimestral, reunindo artigos doutrinários de líderes da juventude integralista, de Plínio Salgado e outros integralistas. 60 Impressionante manifestação da juventude nacionalista de São Paulo. A Marcha, Rio de Janeiro, 19/3/1954, p. 1 e 11. 62 escolhe um patrono entre os grandes mortos que continuam a ser os grandes vivos a animar os jovens que assumirão as responsabilidades do governo da Nação”.61 Existem poucas informações sobre o número de centros existentes, e os números publicados em A Marcha devem ser tomados com precaução, pois o jornal muitas vezes exagerava para ressaltar a expansão do movimento. No entanto, pesquisando nas matérias publicadas relativas à CCCJ entre 1953 e 1965 em A Marcha, além de outros documentos, encontramos referências relativas a 320 centros.62 Em decorrência das disputas internas sobre a liderança dos Centros em 1956, uma série de artigos publicados por Gumercindo Rocha Dórea, então presidente da entidade, defendia uma estratégia agressiva para recuperar as bandeiras integralistas, que estariam sendo apropriadas pelos seus adversários, mas nestes artigos não se sobressai senão a supervalorização do presidente dos CCCJ no sentido de superdimensionar os números e a penetração dos centros. Núcleos de doutrina, pesquisa e divulgação do integralismo, os Centros foram os mais representativos espaços de ação proselitista do integralismo dos anos 1950, lugar em que os jovens militantes integralistas aprendiam seu discurso e sua ação. Concomitantemente, a institucionalização dos Centros de Leitura Doutrinal, (cursos obrigatórios aos Águias Brancas) alocados nos Centros possibilitou que os volumes da Enciclopédia do Integralismo fossem conhecidos e estudados a fundo. Doutrina, locais de doutrinação e doutrinadores: o tripé estava montado. Base operacional e doutrinal do integralismo (e a partir de 1957, difusora dos escritos do compêndio) a Confederação dos Centros Culturais da Juventude se transformou na “fábrica de disseminação” do conteúdo da Enciclopédia. Buscaremos, a seguir, entender como se deu a criação e publicação deste último instrumento de efeméride do jubileu de prata integralista, alvo da fidelidade dos jovens dos Centros Culturais da Juventude nos quatro anos de sua circulação.

61 SALGADO, Plínio. O Brasil existe. A Marcha, Rio de Janeiro, 2/10/1953, p. 3. Os patronos mais reivindicados, dentre os centros que localizamos, foram Rui Barbosa (10 centros), Oliveira Viana (7), Pe. José de Anchieta (7), Euclides da Cunha (5), Barão do Rio Branco (5), Alberto Torres (4), Farias Brito (4), Jackson de Figueiredo (4), Machado de Assis (4), Paulo Setúbal (4), Tiradentes (4), Fagundes Varela (3), Joaquim Nabuco (3), José de Alencar (3), Leonel Franca (3), Olavo Bilac (3), Pandiá Calógeras (3). 62 Gumercindo Rocha Dórea (sic) atesta terem existido mais de 500 centros espalhados por todo o país. Apud, CALIL, 2009: 462. 63

CAP. II A ∑nciclopédia do Integralismo como um lugar de memória: temas candentes, idéias recorrentes

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CAP. II - A ∑nciclopédia do Integralismo como um lugar de memória: temas candentes, idéias recorrentes

Este capítulo abordará a construção do projeto editorial da Enciclopédia do Integralismo, entendendo-o como uma sofisticada estratégia de rememoração dos feitos integralistas. Para tanto, o compêndio será estudado como um lugar de memórias integralistas, justamente por ter buscado reavivar as auto-memórias do movimento, recriando, rememorando, re-significando chagas que se mostravam doloridas para seus membros, fator que desencadeou uma reconfiguração no imaginário de seus integrantes. Tendo coincidido com o período de maior visibilidade do movimento desde sua “recriação”, a publicação da Enciclopédia do Integralismo busca validar a premissa de que o integralismo permanecia vivo.

A memória serve de pólvora e de balsamo (...) Então, como os provocadores, os demagogos (...) os convictos utilizam a memória e os ressentimentos para suscitar fusões emocionais e assegurar-se desta forma, o apoio dos cidadãos? Merleau Ponty

onge dos “presentismos” que, vez por outra, seduzem os historiadores obrigando-os a recriar historicidades modismos – como lembra E. L Hobsbawn – a discussão sobre a relevância e o papel da memória nos dias atuais sinaliza a escolha, por parte considerável da historiografia, de eleger como foco de suas preocupações os chamados lugares da memória que nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea, e que por isso torna-se urgente criar arquivos, manter aniversários, organizar celebrações, justamente porque estas operações mnemônicas não são naturais. É, neste sentido, a defesa de uma memória refugiada sobre focos privilegiados. Pois, como afirma Pierre Nora, “sem vigilância comemorativa, a história depressa os varreria”. São eles, os lugares da memória, portanto, bastiões sobre os quais se escora toda a escolha do lembrar. (NORA – 1995: p.13)

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Nora sinaliza também a problemática dos lugares da memória e da história sugerindo uma dialética que, longe de apontar ambas as categorias como sinônimas as coloca como antípodas. A história seria, portanto: “(...) a representação sempre problemática e incompleta do que não existe mais, uma representação do passado, ao passo que a memória, um elo atual, um elo vivido no eterno presente” (NORA, 1995: p. 9). No caso específico do movimento integralista brasileiro do período pós-guerra, a relação existente entre os que memorializavam as façanhas do integralismo e os que vivenciavam esta memória criada (intelectuais do movimento e militantes), sempre como baluarte a ser reverenciado; pode ser interpretada como um exemplo pontual de gestão de passados. Portanto, tais memórias integralistas são aqui interpretadas como ato e sentido, pois, estes integralistas da segunda metade do século XX utilizarão suas relações sociais, suas redes de sociabilidade para buscar uma solidez calcada na cristalização de sua memória. A constante evolução desta memória incentivou a ação da anamnese (ato proposital de rememorar/evocar memórias) por parte dos integralistas do pós-guerra, instrumento de recondução de seus preceitos e suas propostas mais significativas. As transformações sociais, culturais e simbólicas dos anos 1940/50/60 exigiam que os indivíduos, as famílias, as novas classes, procurassem não no passado, mas no presente a sua legitimação. E, se por um lado, as comemorações parecem ser um culto nostálgico e regressivo, por outro, o passado é oferecido como arquétipo ao presente e ao futuro, pelo que, embora o rito insinue uma concepção repetitiva e cíclica, o seu significado último é determinado pela crença na irreversibilidade do tempo. Os integralistas, contrariando a ordem natural vigente na época e remando a jusante da corrente, insistiram na preservação do passado como legitimador de suas ações. Buscaram em seus antecedentes guarida para suas realizações. Estes integralistas lançaram mão de estratégias de cooptação que incluíam dentre vários eventos, ritos coletivos de recordação que se consubstanciavam em cerimônias cada vez mais afetivas. Buscando respostas otimistas às suas questões mais perturbadoras, os integralistas tentaram, então, replicar uma questão central: qual seria o destino do integralismo, ou melhor, a vocação do integralismo como destino? O imaginário e as representações destas respostas encontraram nos estertores da década de 1950 palco privilegiado para serem postos em prática.

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A culminância deste processo se deu na publicação dos 12 volumes que contaram a história do integralismo. Tal projeto editorial buscou reavivar as auto- memórias do movimento, recriando, rememorando, ressignificando chagas que se mostravam doloridas para seus membros, há muito tempo. Uma construção que ecoava, ora como uma crônica de um futuro anunciado, ora como um repente de um passado que não queria passar. A Enciclopédia do Integralismo aparece, então, como apanágio de um grupo com relativa expressão, mas grande pretensão política, servindo de exemplo paradigmático e catalisador deste imaginário integralista que, funcionou como fonte e referência para aqueles que ainda viam no movimento algo de inspirador. O fato de pouco mais de 50 mil exemplares deste compêndio ter chegado aos seus leitores (sobretudo, via mala direta) nos três anos de sua publicação atesta a relativa força simbólica deste imaginário que insistia em se desenhar. Os integralistas operaram neste sentido, selecionando memórias que entendiam como relevantes para a perpetuação de seus discursos. Não é despropositado o fato de eles terem buscado perenizar tais memórias a partir de sua rede oficial de comunicações e de sociabilidade, sobretudo seus jornais proselitistas, que a despeito da pequena penetração cumpria fielmente um papel memorialístico. Os guardiões da memória integralista, nesse sentido, exemplificariam a dialética entre a lembrança/esquecimento, presente na história do movimento. Isto porque construíram narrativas, selecionando e enquadrando o que devia segundo sua ótica, ser lembrado e esquecido, atuando permanentemente com a memória. A Enciclopédia do Integralismo, fiel à balança pliniana sugeria para seus leitores, tal como os jornais, a manutenção e a valorização de seu passado/presente também funcionando como plataforma a partir de onde se buscava reviver o ocorrido, lembranças amplificadas pela certeza de que não eram mais os mesmos. E, a despeito da máxima integralista: “Não estamos no poder, mas, o alimentamos!” resistir à oxidação de seu tempo, suas memórias tiveram que conviver com o anacronismo e o arcaísmo, uma vez que o integralismo revivido nos escritos da Enciclopédia buscou cumprir o papel de vitrine dessas memórias criadas. Teria, de fato, conseguido? Em oposição ao passado que insistia em não passar63 criaram-se novas perspectivas, abordagens e maneiras de se mostrar o movimento. Então, tendo realizado

63 “O passado que não queria passar”, tornou-se o mote das campanhas anti-integralistas, resposta à tentativa de sua revitalização. O integralismo, por sua vez, buscando a todo o custo desvincular-se deste passado estacionado, se fortalece na campanha do “presentismo democrático”, denunciado por muitos 67 um exercício de memória o integralismo discutido na enciclopédia instituiu mecanismos para ser reavaliado pela sociedade, utilizando estratégias que redimensionaram a percepção da sociedade civil frente seus propósitos. A pecha de provocadores de ressentimentos e a certeza inabalável de que não possuíam mais espaço de destaque foram decisivos para que o compêndio fosse encarado, simultaneamente como tábua de salvação do discurso integralista e uma proposta de sobrevivência política. Esta foi a maneira adotada pelo integralismo/perrepista para expandir e perenizar suas memórias. Então, no momento em que os membros do movimento eram acusados de não possuírem propostas adequadas nem para o presente nem para o futuro, a publicação da Enciclopédia do Integralismo consubstanciou-se num suporte para a divulgação das suas atividades, uma proposta ordenada da leitura de mundo dos integralistas. A seleção dos aspectos entendidos como relevantes foi definida segundo o critério da importância e penetração junto à militância integralista, o que, certamente conferiu a esta seleção um caráter plural. Logo, houve a necessidade de mapear os elementos que melhor permearam a cosmologia integralista. Esta é apenas uma das possibilidades de se apreender tamanha diversidade de temas e escritos, e nesse sentido, ao se descolarem do terreno da mera compilação, tais escritos aparecem como pistas para que possa ser respondida uma dupla indagação: o que permaneceu do integralismo nesse momento de democracia e qual a relação existente entre os possíveis integralismos presentes neste compêndio? Partiu-se da premissa de que o integralismo apresentado na Enciclopédia deixou, em grande parte de seus escritos, aflorar elementos de tensão, ou seja, pontos de discordância inicialmente dados como aquiescentes, definitivos, de sua ideologia. A tensão se estabeleceu em diversos pontos do compêndio, não só com relação a elementos da doutrina, mas também referente à postura do correligionário diante da figura onipotente e onipresente do chefe integralista. Em diversas passagens a tensão é flagrante. Em outras, subjacente. No entanto, está presente em parte significativa do compêndio. Este ponto se mostrou significativo, pois evidenciou que as formulações integralistas foram mais heterogêneas do que se pôde estudar até o momento.

como “pusilânime e falacioso”. Os integralistas, talvez tenham sido os únicos a acreditarem que foram produtores desta realidade, não produto dela. E como toda a relação de imposição migraram de uma condição de produtores para predadores, instantaneamente.” Samuel Wainer, Última Hora, 18/11/1958. 68

2.1 – O contexto da publicação da Enciclopédia do Integralismo

(...) como vimos, em fim dos anos 50, Salgado, no primeiro volume da Enciclopédia do Integralismo chega à exorbitante pretensão de garantir que, ao longo de décadas, as propostas contidas em suas premissas básicas são as norteadoras de todas, ou quase todas as medidas políticas que os governos brasileiros vão realizando (...) blágue ou constatação? (J. Chasin – O integralismo de P. Salgado, p.141, 1999, 2ª edição)

“Aquele suspiro integralista foi como festejar o passado, em tempos em que este passado não servia mais”.64 A citação do jornalista Samuel Wainer é bastante significativa e aponta para o paradoxo que ensejou a publicação da Enciclopédia do Integralismo65, compêndio editado durante o período de outubro de 1957 a março de 1961, que vai suscitar, dentre os intelectuais e políticos da época um debate acalorado sobre a dicotomia: passado/presente. Parafraseando a socióloga Lúcia Lippi Oliveira: “os anos cinqüenta podem ser vistos como uma partida de futebol, com dois tempos” (OLIVEIRA, 2002: 33). O estudo da criação e publicação da Enciclopédia do Integralismo tem como cenário o segundo tempo desta partida, ou seja, de um lado, os anos do governo JK, finais de uma década que prenunciava a chegada de um futuro aguardado, e de outro os tumultuados princípios do governo Jânio Quadros/João Goulart, período em que os radicalismos se acentuaram. Esta discussão trata justamente do choque causado pelo encontro de dois modelos diametralmente opostos: o novo e o passadista, representados aqui, respectivamente, pelo contexto modernizador do período e a tentativa dos integralistas de emplacar um passado, entendido por eles como vigoroso. Podemos dizer que a segunda metade da década foi marcada pela idéia da incorporação do que era novo e moderno: o desenvolvimento, as estradas, as

64 WAINER, Samuel. Editorial: O descalabro do retorno integralista! Última Hora, 30/09/1958, p.7. 65 A criação da Enciclopédia do Integralismo foi destacada por dois trabalhos acadêmicos que apontaram o projeto como significativo para a reconstrução do imaginário social integralista no pós-guerra. A pesquisadora Rosa Maria F. Cavalari afirmou que: “embora esses trabalhos da EI tenham sido cunhados esparsamente, sem a preocupação de realizar uma sistemática educacional, foram produzidos obedecendo à mesma orientação filosófica: o da educação integral, da doutrinação para o homem integral”. CAVALARI, Maria Op. Cit., p.52. Outro pesquisador que se referiu ao compêndio, embora de forma menos vertical foi Thomas Skidmore. O historiador considerou “a Enciclopédia do Integralismo um dos documentos bastante úteis para se aprofundar os estudos do movimento integralista no pós-guerra, procurando precisá-la com certo cuidado, atribuindo ao projeto as múltiplas interpretações que este suscita”. SKIDMORE, Thomas. Op. Cit. Em nota n.º 36, capítulo I. Nota que aparece após a 8ª reimpressão, quando ocorreu uma revisão do autor.

69 hidroelétricas, a arquitetura moderna, a música, as novas práticas e propostas editoriais. Estávamos de fato, em um tempo cultural acelerado e marcado pelo espírito do “novo” e pela vontade da mudança. Tudo era novo: Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil), cinema novo, bossa nova. Caracterizado pela busca por este “novo”, pela expansão da oferta dos bens de consumo e pelo incremento de novas perspectivas no setor econômico, o período no qual a Enciclopédia do Integralismo foi criada assistiu ao deslocamento da agricultura para a indústria, o que possibilitou "o crescimento da renda per capita, a expansão da publicidade e os investimentos industriais públicos e privados criando novas oportunidades para o mercado de comunicação". (BAHIA, 1990: 259). Entre 1956 e 1961, o país viveu momentos decisivos com a instalação de setores tecnológicos mais avançados e com investimentos de grande porte. As reformas, bancária, industrial, fiscal, monetária, universitária, dentre outras, ditaram a linguagem do período JK e foram essenciais para o sucesso de Plano de Metas, que “objetivava implementar no Brasil os setores industriais mais avançados, como a indústria elétrica pesada, química, automobilística, naval, e levar adiante indústrias estratégicas como a do aço, petróleo e energia elétrica”(MELO e NOVAIS, 1998: 599). Tais mudanças favoreceram a expansão da economia nacional, o que pôde ser verificado nos mais variados setores da indústria e comércio, inclusive na indústria editorial brasileira. A situação da indústria editorial brasileira conheceu novas bases de sustentação a partir de 1956, quando passou a existir um maior interesse do governo pelo setor, manifesto na diminuição dos tributos sobre o papel, na simplificação das tarifas alfandegárias e no surgimento de uma política de financiamento. Os incrementos na área inseriram-se, portanto, no bojo das transformações econômicas conhecidas pelo país.66 Vários são os indicadores que demonstram a sua expansão: o mercado de publicações ampliou-se, aumentando o número de jornais, revistas e livros, bem como suas tiragens. Entretanto, a distribuição continuava sendo realizada em moldes tradicionais. Poucos eram os pontos de vendas, o que dificultava a comercialização.

66 No governo JK, a expressão nacional desenvolvimentismo, ao invés de nacionalismo, sintetiza uma política econômica que tratava de combinar o Estado, a empresa privada nacional e o capital estrangeiro, para promover o desenvolvimento, com ênfase na indústria. Nesse sentido, os resultados do Programa de Metas foram impressionantes. De 1957 a 1961o PIB cresceu a uma taxa anual de 7%, correspondendo a uma taxa per capita de quase 4%, o que significava um crescimento três vezes maior que os país da America Latina. Nesse mesmo período a frota de automóveis cresceu 360%, e de acordo com as estatísticas do IBGE, o crescimento econômico do país chegou de 1957 a 1961, a quase 8,3% por ano. 70

Tal quadro possibilitou o surgimento de canais alternativos de circulação, como bancas de jornal, reembolso postal e malas diretas (ANDRADE, 1978), que passaram a constituir um novo circuito de distribuição editorial. 67 Segundo Renato Ortiz, “a implantação de uma indústria cultural modificou o padrão de relacionamento com a cultura, uma vez que definitivamente passa a ser concebida como um investimento comercial” (ORTIZ, 1998: 43).

A concorrência entre as grandes empresas editoriais, que cresciam aceleradamente, foi a base da constituição da indústria cultural. Exposta ao seu impacto, a sociedade brasileira passou diretamente de iletrada e deseducada a massificada, sem percorrer a etapa intermediária da absorção da cultura moderna. Nesse processo de urbanização e modernização aceleradas, a informação passou a ser um bem essencial para a consolidação de uma sociedade disposta a soterrar as tradições rurais, até então muito presentes na vida cotidiana. Entretanto, o consumo desses bens culturais – cultura impressa por meio dos livros, jornais, suplementos literários, a massificação da indústria fonográfica, o paulatino crescimento da televisão etc. – destinava-se a uma pequena parcela da população brasileira. A despeito do analfabetismo, um obstáculo a ser vencido, o setor editorial beneficiou-se com o crescimento do mercado consumidor, o que pôde ser comprovado por meio do aumento dos produtos oferecidos nas bancas de jornal.

Outra característica importante é que, até os anos 1960, quando a indústria de comunicação de massa era ainda incipiente, ela podia ser considerada partidária. Embora os jornais não fossem sustentados por nenhuma facção política, refletiam os interesses ideológicos dos partidos, faziam parte de uma imprensa que tinham uma concepção missionária de sua atividade. Basta lembrar que O Estado de S. Paulo e O Globo eram jornais que defendiam as idéias e posições liberais da UDN, enquanto a Última Hora era partidária e defensora do PTB. Nos anos 1950-60 foram introduzidas importantes modificações na imprensa brasileira: a linguagem foi se tornando mais objetiva e a notícia começou a ocupar maior espaço que a opinião. Foram incorporadas inovações gráficas, nova diagramação e modificação na paginação dos jornais. Durante o governo Jânio Quadros teve inicio a uma crise da imprensa escrita, ligada à Instrução

67 Quadro de canais de distribuição do mercado editorial brasileiro em finais de 1950: Distribuidoras =47,13%; Domicílio/ porta em porta = 3,79%; Clubes de livro =5,17%; reembolso postal =12,32%; bancas de jornal 19,12%; demais 12,47%. Última Hora, p.6. 23/05/1959.

71 n° 204 da Sumoc, medida tomada pela Superintendia da Moeda e do credito em 13 de março de 196168, que implicou importante modificação no regime cambial. A importação do papel era subsidiada pelo governo, pois havia uma taxa especial que reduzia em 70% o preço de compra dessa matéria prima. Com o fim do câmbio favorecido para a imprensa, os jornais tiveram que arcar com o aumento de custos.

Essas mudanças na imprensa se davam em um contexto político de grande exaltação contra o comunismo, e no período em que se editou a Enciclopédia do Integralismo uma série de acontecimentos influenciou direta e indiretamente a seleção e seqüência de sua publicação. Em março de 1957, portanto sete meses antes do compêndio ser publicado foram assinados os tratados internacionais que criaram a Comunidade Econômica Européia (CEE) e a Comunidade Européia da Energia Atômica, dois pontos suscitados como definidores de uma política global levada a cabo em finais dos anos cinqüenta. No mesmo ano, foi lançado o primeiro satélite artificial a orbitar a atmosfera terrestre, o soviético Sputnik. Esses eventos serviram de pano de fundo para uma condução mais direta do integralismo com relação à sua posição no cenário ideológico. Anticomunista visceral, o integralismo aproveitou-se da conjuntura para fortalecer sua contraposição ao comunismo, chegando a duvidar publicamente do lançamento do satélite soviético, por diversas vezes em seu jornal, A Marcha.

Um ano depois, em abril de 1958 (momento em que se publica o terceiro volume do compêndio) acontecimentos diplomáticos causam furor na política nacional. O embaixador do Brasil nos EUA, Ernani Amaral Peixoto foi chamado a Washington para dar esclarecimentos sobre a crescente tendência do Brasil de reatar as relações o comerciais com a URSS e para lá escoar o excedente de café. Esse acontecimento teve influencia direta na organização do sumário de publicação da Enciclopédia, pois incentivou a discussão travada no compêndio sobre a necessidade de se questionar o comunismo e a aproximação político-comercial do Brasil junto à URSS. Por outro lado, os resultados dos pleitos de outubro 1958 não alteraram a composição das forças que compunham o cenário político nacional, que pela ordem mantinha como maiores partidos o PSD, a UDN e o PTB, respectivamente. Esta conformação suscitou um debate sobre o espaço e o papel dos partidos de menor porte, não só dentro da própria Enciclopédia, mas, sobretudo dentro dos jornais integralistas.

68 Data exata da publicação do último volume da Enciclopédia do Integralismo. 72

Em fevereiro de 1959, o presidente norte-americano Dwight D. Eisenhower visita o Brasil, procedendo a uma política de fortalecimento da política na America Latina, em face da Revolução Cubana de 1/1/59. Em maio, o então primeiro ministro cubano, Fidel Castro, que acabara de se sagrar vitorioso em seu país, visitou o Brasil, inspecionando as obras de Brasília. Estes dois eventos possivelmente repercutiram na escolha dos temas a serem propostos nos anos de 1959 e 1960. Em mesma medida, o ano do falecimento de Gustavo Barroso (1959) foi utilizado no sentido de ressaltar a proeminência do ex-integralista. No entanto, é sintomático que o mesmo tenha sido anunciado como membro do projeto, mas não tenham sido selecionados textos de sua autoria. Gustavo Barroso seria, naquele momento, resgatado pelos intelectuais vinculados a Academia Brasileira de Letras como exemplo de um novo tipo de historiador, capaz de unir as duas histórias (história e folclore). “O passado já não é mais fardo, mas força que esclarece sobre o presente”. Este foi o mote que fez o folclore aparecer como área que permitiu o contato entre a cultura popular e a erudita, o que alguns antropólogos chamariam de “brasilianidade”.69 O integralismo exposto na Enciclopédia não soube aproveitar o ensejo, contradizendo- se no dilema que oscilava entre apresentar um integralista de caráter anti-semita, ou esquecê-lo. Venceu a segunda opção e o máximo que se conseguiu perceber quanto à presença de Barroso nos volumes foram as duas chamadas nos quadros sinóticos de 1957, onde o autor apareceu como um dos integralistas homenageados. A inauguração da nova capital federal, ao contrário do que se esperava sequer foi mencionada, lembrada ou comentada nos dois volumes publicados nos anos de 1960 (maio e dezembro). O presidente Jânio Quadros assume seu governo em janeiro de 1961. Em 25 de agosto renuncia. João Goulart assume com grandes dificuldades. Sua eleição para vice, em 1955 e depois sua reelição em 1960 haviam sido apoiadas pelos comunistas. Quando de sua posse para a presidência, após a renúncia inesperada de Quadros, os ministros militares de JQ declaram-se contrários à posse de Jango, criando um ambiente de pré-guerra civil. João Goulart era um dos principais responsáveis pela transformação do partido getulista, em aliado do PCB, a despeito de alinhavar aliança com o PRP do Rio Grande do Sul em dois momentos anteriores: 1952 e 1958. De acordo com Gilberto Calil, João Goulart era reiteradamente elogiado por Plínio Salgado nos anos 1950 até pelo menos até 1962. Não restam dúvidas de que esta simpatia

69 BOAS, Glaucia Villas. Visões do passado: comentário sobre as ciências sociais no Brasil de 1945 a 1964. IX Encontro anual da ANPOCS, 1987. 73 favoreceu o apoio do PRP ao governo Jango, que apoiou fortemente o início de sua gestão. A conjuntura de suas primeiras ações como presidente foi marcada pela proliferação de entidades anticomunistas, em decorrência do medo que assolava as direitas. Nos anos anteriores ao golpe de 1964 surgiram dezenas de entidades dessa natureza. Experiências ora duradouras, ora efêmeras. O acompanhamento das primeiras discussões (1961 e 1962) sobre a fundação da Sociedade de defesa da Tradição, Família e Propriedade foi revelada de maneira superficial no 10º volume da Enciclopédia: tratava-se do grupo que fundaria em 1960 a, associação civil, criada por Plínio Corrêia de Oliveira inspirada no “integrismo”, ideologia de defesa do catolicismo tradicional tinha como objetivos, segundo seus estatutos “combater a vaga do socialismo e do comunismo e ressaltar o valor positivo da ordem natural”. Há, portanto um diálogo entre associações de caráter análogo neste período, mostrando que tais organizações concordavam com as idéias integralistas, sobretudo no tocante aos seus adversários. Nesse sentido, é interessante perceber que no plano da sociedade, houve também o avanço de outros movimentos sociais e o surgimento de novos atores. Os setores esquecidos do campo começaram a se mobilizar. As ligas camponesas começaram a aparecer a partir de 1955, movimento que teve como seu maior destaque uma figura da classe média urbana pernambucana, o advogado Francisco Julião, que me finais da década era figura bastante conhecida. Por outro lado, o movimento operário e as chamadas Reformas de Base passaram a ser referencias especiais deste período que abrange os finais de 1950 e princípios de 1960. Nem as discussões sobre o campo, nem a plataforma do operariado, nem as modernizações sindicais, nem as reformas, e muito menos a ascensão das esquerdas foram sequer mencionadas nos volumes da Enciclopédia, calcada basicamente na manutenção de antigas idéias formuladas nos anos 1930, portanto, anacrônicas às demandas dos anos 50/60. Do lado da esquerda, o PCB alcançará importante influencia no meio sindical e no jogo político partidário. Com isso ocorreu uma forte ruptura da esquerda, decorrente, sobretudo de fatos ocorridos na URSS, a partir do relatório Krushev. Frente ao avanço das forças de esquerda o anticomunismo foi usado para difundir o medo na classe média e para identificar a “reformas de base” com a passagem do regime capitalista para comunista. Esse medo foi parcialmente noticiado em passagens da Enciclopédia, sempre por seu editor, Rocha Dórea que denominava tais intervenções com a curiosa chancela de: o “termômetro político”. As aferições da temperatura política foram por

74 diversas vezes a linha que costurou os temas nos volumes da Enciclopédia. Temperaturas sempre altas que foram sempre sentidas na fraseologia ofensiva aos comunistas. Para isso costurou interlocuções entre pares que se agruparam em torno de institutos claramente conservadores como o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais - IPES, o Instituto Brasileiro de Ação Democrática - IBAD, a Ação Democrática Parlamentar, o Movimento Anticomunista (MAC) e o Grupo de Ação Patriótica – GAP, este, composto por estudantes universitários de orientação direitista. A despeito destes organismos não serem citados na Enciclopédia, uma análise dos jornais integralistas da época, sobretudo, A Marcha, sinalizam o diálogo e a aproximação existente entre eles e aponta para construção de uma frente anticomunista. Por isso, mais uma vez, no que tange à interlocução o integralismo manteve relação direta com tais organismos, fosse por aderência, afinidade ideológica, ou proposta de sobrevivência política, uma vez que os campos de disputa se escancararam definitivamente a partir da posse de João Goulart. Nesse sentido, a mobilização anticomunista teve papel preponderante na arregimentação dos grupos adversários dos governos (JQ e Jango – sobretudo no seu primeiro ano de mandato), fornecendo o principal argumento que unificou os setores de oposição.70 Outro fator que direcionou a seleção de textos dentro da Enciclopédia foi resultado da exacerbação da dicotomia capitalismo versus comunismo. A relação entre Cuba e os Estados Unidos se agravara a partir de 1961 com a invasão da Baía dos Porcos. O fracasso da operação levou Cuba a buscar apoio militar da União Soviética, o que se deu em agosto/setembro de 1961. Meses depois, em princípios de 1962 seria decretado o embargo econômico norte-americano a Cuba. Essas eram as questões dominantes na conjuntura internacional, com grande polarização e confronto entre os

70 MOTTA, Rodrigo Patto Sá. João Goulart e a mobilização anticomunista. In: a imprensa ajudou a derrubar o governo João Goulart. In: Ferreira, Marieta de Moraes. (Coord.) João Goulart: entre a memória e a história. Rio de Janeiro, FGV, 2006. pp.129 – 147. De acordo com o historiador, outras entidades de maior peso ficaram responsáveis pela estruturação de novos grupos anticomunistas. Refere-se ao IBAD, que nasce em 1959, tornando-se conhecido graças à revista Ação Democrática e o IPES, que a partir de meados 1961, foi organizado por empresários cariocas e paulistas temerosos com o crescimento da esquerda, e, especialmente com a ascensão de Goulart. A atuação conjunta das duas entidades, Ipes e Ibad, que mantinham algum nível de cooperação, estimulou a proliferação das muitas entidades anticomunista na conjuntura 1961-1964. 75 países capitalistas e comunistas, situação que perdurou por todo o governo Goulart e que exacerbou internamente as posições ideológicas em conflito.71 Toda essa conjuntura pôde ser percebida na elaboração do oitavo e décimo volumes da Enciclopédia, em que foram selecionados textos jurídicos integralistas (todos originalmente escritos nos anos 30) para se contraporem ao que chamavam de “ilegalidade ideológica” das forças de esquerda. Do ponto de vista jurídico o integralismo denunciava a “comunização” do país. Nesse contexto, Jânio Quadros e João Goulart (referenciados nos últimos volumes da Enciclopédia, respectivamente, como o “pedecista desastroso”72 e o “manobrista vermelho”) serão os únicos sujeitos políticos contemporâneos à publicação a serem citados. Na realidade, outro ator político seria referenciado: Carlos Lacerda, este como detrator número um da política do PRP, em finais dos anos 1950. Nesse mesmo período, vale revelar dois acontecimentos que suscitaram discussões acaloradas dentro e fora do compêndio. O primeiro teve grande carga simbólica: a condecoração de Che Guevara por JQ (ainda na presidência) com a Ordem do Cruzeiro do Sul, em 1961. A política externa de Quadros abriria tempos depois a possibilidade de se criar para o Brasil um perfil terceiro-mundista e anti Estados Unidos. Esse caminho antiimperialista entusiasmou os intelectuais brasileiros de esquerda. Já para os intelectuais de direita (dentre eles, intelectuais integralistas) o evento marcou uma guinada perigosa nas relações diplomáticas do país. O segundo fato foi mais significativo e teve seu início no governo de João Goulart: a necessidade de continuar as reformas modernizadoras, buscando consenso e participação popular a partir do que se determinou de “reformas de base”. Ambos os acontecimentos elevaram o grau de participação institucional e social dos setores de esquerda, funcionando como uma virada diante da sondagem conservadora. 73 A despeito de todo este contexto não aparecer explicitamente nas discussões da Enciclopédia, tais escritos não saíram incólumes àquela atmosfera. É necessário chamar

71 ABREU, Alzira Alves de. 1964: a imprensa ajudou a derrubar o governo João Goulart. In: Ferreira, Marieta de Moraes. (Coord.) João Goulart: entre a memória e a história. Rio de Janeiro, FGV, 2006. pp.107-128.

72 Foi eleito presidente pela coligação PDC-PTN-UDN-PR-PL, por isso ser chamado de pedecista. 73 FERREIRA, Marieta de Moraes e SARMENTO, Carlos Eduardo. A República Brasileira: pactos e rupturas. pp.451-495. In: GOMES, Ângela de Castro et all (Org.). A República no Brasil. Rio de Janeiro, Nova Fronteira/FGV, 2002.

76 a atenção para o fato de que toda a seleção do material havia sido realizada no calor da hora, em pleno acontecimento de tais mudanças. O fato de não apareceram explicitamente, não implica que tais eventos não tenham ressonância na produção do compêndio. Mesmo porque é evidente e reveladora a quantidade de intervenções que Gumercindo Rocha Dórea, o editor, faz em diversos volumes comentando sobre a agenda dos jornais da época, bem como da receptividade dos integralistas sobre tais episódios. Portanto, o contexto político-cultural da época refletiu na opção dos temas a serem retratados no compêndio, fosse pela via da aderência ou da refutação.

2.2 - A Enciclopédia do Integralismo e seus canais de comunicação Atentos às possibilidades de articulação de suas ideologias, os partidos políticos constataram o potencial das bancas de jornal como lugar de disseminação de sua propaganda e de aproximação do eleitorado. As bancas, as livrarias e as malas diretas – também recém incorporadas pela nova concepção propagandística - serviram como locais e veículos de irradiação da propaganda eleitoral e partidária de muitas agremiações. Tipos específicos de publicações político-partidárias, viabilizadas pela facilidade da circulação, passaram a ser consumidas com maior freqüência. Os integralistas, vinculados ao PRP, foram um dos primeiros a investir nesses canais de irradiação propagandística, com especial atenção às malas diretas, que difundiam cerca de 70% de sua produção doutrinária74. A Enciclopédia do Integralismo efetivou-se num claro exemplo de publicação veiculada por meio deste canal.

Elaborada segundo um cronograma de vendagem que abrangeu pouco mais de três anos, a Enciclopédia acaba enfrentando um fator determinante para o espaçamento das edições: a crise financeira da qual o país é acometido em finais de 1950, princípios de 1960, dinate da qual as editoras sofrem grandes abalos e prejuízos. O que, a primeira vista poderia ser entendido como uma estratégia deliberada de manutenção das celebrações, como se o editor fosse manter acesa a chama da comemoração, mesmo depois da passagem da data significativa, foi, na verdade fruto da crise. Outra

74 “O cofre do PRP”: A Marcha, 3/10/1959, p.5. Neste artigo, os articulistas do jornal afirmam que tanto a distribuição d‟A Marcha quanto da EI era facilitada pela mala direta que chegava à casa do assinante ou pessoa não assinante, de maneira fácil e sem demora excessiva. A listagem de nomes de pessoas não assinantes era conseguida junto aos catálogos telefônicos ou de crédito comercial, o que, por si só, aumentava o número de pessoas alcançado pela propaganda. Muitos – segundo o artigo - até se interessavam e passavam a fazer parte do quadro de assinantes. 77 contradição diz respeito às informações desencontradas sobre sua vendagem em bancas de jornal. Na apreciação de Gumercindo Rocha Dórea “em bancas de jornal, salvo engano, não se encontrava para comprar a enciclopédia, nem se faziam assinaturas desta, no máximo em livrarias poderiam encontrá-la. Sua distribuição era ampla, daí a possibilidade de se ter enganos com relação à sua vendagem e os locais em que poderiam ser encontradas”.75 A despeito da afirmação de Dórea, anúncios do jornal A Marcha, às vésperas da comemoração, apontam o contrário. “Peça na banca, ou assine, é mais prático e mais cômodo. Possuir a Enciclopédia do Integralismo é dar prova de ser verdadeiro integralista. Consultá-la é revelar ciência de responsabilidade doutrinária. Divulgá-la é unir a fé ao apostolado em prol da causa abraçada”.76

Tal compêndio apresentou-se, ao longo de seus mais de 40 meses de circulação, sempre com as mesmas dimensões: 10x15 cm, capa dura de tonalidade esverdeada (nas tiragens dos seis primeiros volumes e brochura nas demais edições) e contendo, em média, entre 150 e 200 páginas por volume. O pequeno tamanho diferia dos padrões consagrados na época para livros, que variavam de 20x25 a 25x 30 cm. A publicação obedeceu a uma periodicidade intermitente. No início, seu editor manteve a média de um volume por mês, o que se modificou a partir do quinto volume, quando passou a ser trimestral. Do oitavo volume em diante, a circulação foi semestral. Tendo sido constituída para propagandear as conquistas integralistas, a Enciclopédia do Integralismo foi concebida visando apresentar ao seu público leitor os feitos de maior relevância do integralismo. Nesse sentido, Plínio Salgado acreditava “nada ser mais apropriado que iniciar o compêndio de resumos com aquilo que os integralistas denominaram de carteira de identidade do movimento, ou seja, a cartilha de princípios”77 de todos seus seguidores. De acordo com Gumercindo Rocha Dórea, o objetivo maior do compêndio era “colocar nas bancas e nas mãos dos interessados um produto de ótima qualidade gráfica para conter um conjunto significativo do melhor pensamento nacional”78. Antes de tudo, a Enciclopédia do Integralismo pretendia ser “o veículo de integração e reaproximação de todos aqueles que acreditavam, louvavam

75 Entrevista com Gumercindo R. Dórea. SP. 24/7/2007. 76 “Propaganda: O depoimento do Chefe”: Por: Plínio Salgado. A Marcha, 28 de setembro de 1957. 77 SALGADO, P. Enciclopédia do Integralismo, Vol. I , p.24. 78 A Marcha, 27/2/1957, p. central. 78 e queriam bem ao Brasil. Um compromisso para com a história da imprensa brasileira que jamais se furtaria de, em anais, ou lembranças, esquecer-se desse compêndio”79 .

Fig.13. A co-autoria: bilhete de Plínio Salgado publicado durante os meses de setembro de 1957 a novembro de 1959 em A Marcha.

Na maioria dos volumes concentrou-se uma perspectiva otimista de seu editor, congregada nas pontuais rememorações e reflexões de Plínio Salgado, cujos elementos direcionaram uma postura de intervenção implícita do chefe. O intuito da Enciclopédia do Integralismo foi sistematicamente comunicado ao seu público leitor, por meio de frases de forte conteúdo doutrinário, que repetidas em diversas oportunidades, durante o período de sua publicação, ora como apêndices e notas explicativas dos autores dos artigos, ora como indicações do editor reforçava o caráter pedagógico/doutrinal da publicação. 80 Com isso sua recepção foi, a partir de 1957, facilitada pela veiculação cada vez mais efetiva de anúncios sobre o compêndio em jornais do movimento, a partir de então, atrelados ao PRP. Além disso, a intensificação das propagandas em comícios urbanos e a leitura conjunta dos volumes nas áreas rurais e em pequenas cidades do interior, sobretudo, dentro dos Programas de Leitura e Estudos dos Centros Culturais da Juventude, conferiram ao compêndio um papel de divulgador da “verdade integralista”. Para esses integralistas, caberia aos escritos da Enciclopédia do

79 A Marcha, outubro de 1957. De acordo com o texto/ propaganda do lançamento da publicação. 80 Intervenções de Gumercindo R. Dórea em diversos volumes da Enciclopédia do Integralismo, em especial Vols. III e XI. 79

Integralismo “facilitar a penetração do ideário integralista na massa acéfala e desejosa de um líder”.81 A significância do compêndio pôde ser evidenciada por meio da reaproximação de um número considerável de integrantes antes dispersos. Note-se que, durante sua publicação, foi bastante intensa a troca de correspondência entre a editoria e seu público leitor. Segundo Gumercindo R. Dórea, muitas dessas correspondências “serviram como um retorno daqueles que haviam deixado o movimento, mas que sensibilizados com a coletânea e a rearticulação da sigla naquela atmosfera de celebração, retornavam o contato parabenizando a iniciativa e explicitando o desejo da refiliação”.82 Nas pesquisas realizadas junto ao acervo de cartas passivas e ativas de Plínio Salgado, podemos ter uma idéia do quanto estes telegramas foram exaustivamente utilizados durante a campanha de fortalecimento do PRP em finais de 1950.83 Em resposta a uma dessas correspondências remetida por um ex-integrante da AIB da Bahia, Plínio Salgado referiu-se aos objetivos do projeto: “Se o esforço da EI era substantivar a reconquista do respeito de muitos integralistas que, momentaneamente abandonaram a crença e o sentimento de pertencer a algo, este objetivo estava sendo alcançado. Sem contar com a nova geração que conhecia o movimento pelo cerne e não pela epiderme”.84 A confirmação deste intuito foi enfatizada por Dórea, que acrescentou: “Tínhamos todo o aval de Plínio Salgado. Passávamos o layout da edição e ele aprovava, sugeria, mas nunca, nunca discordava. Nesse sentido, sempre foi um trabalho em conjunto. A reaproximação de nossos companheiros veio junto com o interesse da nova geração. As cartas chegavam com o passar dos meses e o antigo e atual se encontravam, num único objetivo: aprender sobre o integralismo. É pena que tenhamos perdido o controle dessas correspondências”.85 Também é digna de nota a preocupação no sentido de estabelecer um cronograma para a publicação. Excetuando o período de garimpo e seleção do material,

81 SALGADO, P. Enciclopédia do Integralismo, Vol. I, Alfa e Omega, p.229. 82 Entrevista com Gumercindo R. Dórea, SP. 13/6/2007. 83 Consultar: Correspondências ativas e passivas (1957,1958,1959). APHRC – Fundo Plínio Salgado. 84 SALGADO, Plínio. „Sobre os novos livros‟. Resposta de correspondência editada no jornal A Marcha em 17/9/1960. p. 8. Eram comuns as respostas de Salgado às cartas de correligionários e ex- correligionários oriundos de várias partes do país. Utilizava-se o jornal para responder simultaneamente a vários destinatários, principalmente questões relativas à doutrinação. 85 Procurou-se reproduzir, com a máxima exatidão, as palavras Gumercindo R. Dórea, pois a audição e a reprodução desta entrevista foram inviabilizadas por problemas técnicos do K7 utilizado, antes mesmo de providenciarmos sua transcrição. A partir deste ocorrido, todas as demais gravações foram realizadas com o suporte de gravadores digitais. 80 que provavelmente tenha sido realizado entre princípios de 1956 e setembro de 195786 da concepção gráfica à veiculação, o tempo gasto inicialmente pela editora para colocar os volumes no mercado não ultrapassava o período de três semanas. Assim, a publicação se estenderia para além do período das comemorações dos vinte e cinco anos do integralismo, prolongando-se pelos quarenta meses posteriores ao primeiro volume, editado em outubro de 1957. Então, a publicação da Enciclopédia do Integralismo se prolongou, permitindo que as suas propagandas possibilitassem a recepção do que foi considerado pela cúpula do PRP como um novo fôlego integralista. Numa dessas propagandas, reeditada e comentada no 9º volume do compêndio, lê-se: “a chama contínua deste projeto não se fragmentaria mais do que o necessário para que, pouco a pouco os leitores se sentissem confortáveis e pertencentes. A Enciclopédia seria um ensinamento contínuo, e uma dose de patriotismo a cada volume. É a prova de que muitas vezes o intermitente vence o perene!” 87. A concepção gráfica da Enciclopédia do Integralismo foi realizada pela GRD Edições enquanto a impressão deu-se nas instalações do jornal Folha Carioca que, na época, era dirigido por um dos mais respeitados escritores integralistas, Pedro Lafayette.88 A maior parte da distribuição ficou a cargo da Livraria Clássica Brasileira89, especializada em obras nacionalistas/integralista. No entanto, embora não houvesse nenhum laço institucional ou jurídico entre a Livraria Clássica, a GRD e a Folha Carioca, todas orbitavam o integralismo. No caso específico do jornal, seu único vínculo era o de ceder suas oficinas gráficas para a impressão do compêndio. O jornal Folha Carioca também imprimiu diversos títulos publicados pela Livraria Clássica Brasileira. Outro elemento que os aproximava era a partilha da mesma postura anticomunista.

86 Entrevista com Gumercindo Rocha Dórea. São Paulo, 12/02/2008. “(...) fiz isso tudo em 56 (...) até final de agosto ou setembro de 57 (...) dias e noites a fio arrumando, redigindo apêndices, datilografando com os funcionários da editora os originais, que nos chegava às mãos todos quase ilegíveis, enfim, (...) montando o quebra cabeças (...)”. 87 DÓREA, G. Enciclopédia do Integralismo, Introdução. Vol. IX. Aqui, não podemos nos esquecer que a enciclopédia já não dispunha de um cronograma tão seguido como anteriormente, fator pelo qual, a alocução “intermitente vence o perene” se configurava apenas como um eufemismo, talvez no sentido de esconder a falta de continuidade da publicação. 88 O jornalista Pedro Lafayette também colaborou com textos para EI. 89 Ao longo das décadas de 1950 e 1960, a Livraria Clássica Brasileira possuiu mais de 400 livrarias ou pontos de venda no território nacional, além de mais de 20 mil clientes individuais. Fonte: A Marcha, out. 1963. 81

A Livraria Clássica Brasileira foi constituída em 1949, com a participação de Plínio Salgado e de dirigentes partidários, com apoio de banqueiros e industriais. De acordo com A Marcha, Salgado pretendia, desde 1946, criar uma editora para “antepor- se a diversas editoras comunistas, que inundavam o mercado com obras de divulgação do credo marxista. (...) Urgia fundar uma empresa corajosa, disposta a enfrentar os azares de um ambiente jornalístico e livreiro verdadeiramente hostil a uma obra editorial nacionalista e cristã”. 90 De acordo com as pesquisas de Gilberto Calil, até 1955, a editora havia lançado 41 títulos, dos quais, nove de Plínio Salgado, 12 traduções de obras anticomunistas européias e norte-americanas e 20 obras diversas, em sua maioria romances, livros de poesia e ensaios sociológicos. 91 A LCB editou os 12 volumes dos 25 previstos da Enciclopédia do Integralismo, mas, sua principal coleção, denominada “Estrela do Ocidente”, voltava-se ao anticomunismo, e era constituída em sua maioria por traduções de obras anticomunistas européias e norte-americanas. Em novembro de 1962, Salgado anunciava que pretendia encerrar as atividades da LCB, em virtude do alto custo do papel, e informava que a mesma já não estava mais editando livro algum. No mesmo mês as instalações da editora e todo o seu estoque foram destruídos por um incêndio, atribuído por Salgado à “Providência Divina”: As edições encalhavam, o prejuízo era brutal, as tais classes conservadoras, mesmo nos Estados onde os nossos companheiros gozam de prestígio junto a elas, nunca me ajudaram [sic]. A situação de minhas finanças particulares, com suprimentos sucessivos, tornou-se dificílima. Mas a Providência Divina salvou-me de minhas angústias, por um curto circuito num frigorífico gaúcho que funcionava em baixo e incendiou todo o prédio consumindo todas nossas edições.92

Gilberto Calil afirma também que, “os projetos desenvolvidos pela editora, ainda que não tenham tido êxito completo, evidenciam a importância que o PRP atribuía a ela – assim como à imprensa e aos programas radiofônicos – para a doutrinação integralista e a expansão partidária. Embora algumas vezes enfrentando dificuldades financeiras, compreensíveis em face da dimensão do empreendimento pretendido pelos integralistas,

90 Como se construiu uma grande editora. A Marcha, Rio de Janeiro, 22/2/1957, p. 9-11. 91 Livros Editados pela Livraria Clássica Brasileira, 1955 (APHRC-FPS 012.015.003). Dentre seus principais títulos, pode-se citar Deus nos subterrâneos da Rússia; O novo império soviético; A cortina de ferro; 34 desiludidos do comunismo; O trabalho forçado na Rússia Soviética; A teoria política do bolchevismo; Assim é a Rússia; Marx contra o camponês; O caso do camarada Yulayev; Plano vermelho para as Américas; e Uma freira na China Vermelha. 92 Correspondência de Salgado com Raymundo Padilha, 16/12/1962. (APHRC-Pi 16/12/1962). Apud: CALIL, 2009, 338) 82

é inegável que eles tiveram êxito na estruturação de uma rede de propaganda vasta e diversificada, constituída pelos jornais semanais, por programas radiofônicos regulares e extraordinários, pela publicação sistemática de livros através de uma editora integralista, além da produção de materiais de propaganda como folhetos e panfletos” (CALIL, 2009, 338). Esta máquina de propaganda era diversificada não apenas em termos de veículos, mas também buscava atingir públicos diversos, visando desde a propaganda voltada às “massas” até a doutrinação permanente da militância, por meio de livros de Salgado e de seus artigos doutrinários, e foi encarada como prioridade pelos integralistas durante todo o período analisado. Segundo Rocha Dórea a publicação da Enciclopédia do Integralismo foi lançada objetivando constituir-se numa “obra escrita por brasileiros de três gerações sucessivas, e que procurará responder a qualquer pergunta de ordem doutrinária ou histórica, relacionada com o movimento cultural e político iniciado nos anos 30”.93 Gerardo Mello Mourão, representante de umas das primeiras gerações de escritores lançados pela GRD Edições e membro do projeto da Enciclopédia do Integralismo, corroborou que a empreitada fora planejada pela editora de Rocha Dórea, destacando o que chamou de “louvável, porém malfadada, intenção de se prolongar a comemoração dos 25 anos por meio da sustentação dos volumes da EI”.94 Para Mourão: “(...) tão importante quanto criar novos canais, seria reconduzir os militantes integralistas por formas, talvez mais convencionais. No fundo, no fundo, a periodicidade da publicação já nascera com o destino meio escrito”. 95 A Enciclopédia do Integralismo contava com o apoio da imprensa ligada ao partido e, muitas vezes, sua distribuição era realizada pelos próprios correligionários, o que suscita questionamentos com relação ao profissionalismo com que essa distribuição era realizada. Sem um projeto efetivo de distribuição, a amplitude nacional, propagandeada pelos anúncios de assinatura do compêndio deve ser encarada com reservas. Deve-se destacar ainda que, embora a Livraria Clássica Brasileira fosse inicialmente a maior distribuidora do compêndio no território nacional, a partir da publicação do oitavo volume, o contrato entre a GRD e Livraria passou por

93 A Marcha, 03/08/1957. 94 Entrevista com Geraldo Mello Mourão, RJ, 7/01/2005. 95 Idem. 83 reformulações96, o que comprometeu a distribuição do conjunto de livros por todo o país. Este foi um dos maiores problemas enfrentados pela editora para conseguir manter o compêndio no mercado. Independente do grau superdimensionado das falas de alguns dos participantes da Enciclopédia do Integralismo, um ponto parece consensual em quase todos os depoimentos: a maioria das regiões do país recebia seus volumes. Por meio da escassa documentação disponível, pôde-se verificar que, ao menos nas regiões sul e sudeste do país e numa parte significativa da região norte, a distribuição atingiu um patamar razoável.97 Rocha Dórea afirma que “a distribuição atendia aos pedidos que eram realizados, possibilitando que de norte ao sul do país a EI fosse comercializada por um preço módico, como o de qualquer outro livro do mesmo padrão”.98 Havia, naturalmente, Estados que recebiam mais exemplares que outros. As regiões sul e sudeste, mais populosas e representativas do ponto de vista da militância, tiveram uma maior distribuição com relação a norte e nordeste99. Infelizmente, toda documentação e registros de contabilidade da Livraria Clássica Brasileira foram perdidos no incêndio supracitado, o que inviabilizou um maior aprofundamento quanto ao grau de receptividade dos volumes da Enciclopédia do Integralismo. A situação econômica nacional no início da década de 1960 era bastante diferente daquela que viu surgir a publicação integralista. Os finais do governo JK foram caracterizados por profundas modificações em todos os setores da economia, que se via enfraquecida no final de seu mandato. Concomitante a esta conjuntura, problemas internos da GRD Edições, aliados a transformações no setor editorial brasileiro (MICELLI, 1999: 234), fizeram com que o projeto da Enciclopédia do Integralismo passasse por reformulações. Em duas oportunidades, num espaço de três anos, os responsáveis pela empreitada apresentaram ao público o rol de volumes que seriam publicados. Tais quadros informavam à cerca do mês de publicação, data, assunto e página. Tanto no primeiro, publicado em 1957, quanto no segundo arrolamento, veiculado a partir de 1959, os

96 Notas esparsas em diversos artigos publicados no jornal de maio de 1960 a junho de 1963, ano em que A Marcha foi fechada. 97 Referências encontradas nas “Notas e Balanços da Editora”, dados editados n‟ A Marcha, (período da publicação da EI) e, em “Notas Protocolares da GRD Edições”. Fundo: “Notas Financeiras”. Acervo Plínio Salgado. Arquivo Municipal de Rio Claro. 98 Entrevista de Gumercindo R. Dórea. SP. 22/6/2007. 99 “Notas Protocolares da GRD Edições”. Fundo: “Notas Financeiras”. Acervo Plínio Salgado. Arquivo Municipal de Rio Claro. 84 conteúdos dos cinco primeiros volumes são coincidentes, o que demonstra que, ao menos inicialmente, o prognóstico de publicação havia sido cumprido. Esses volumes tratavam de depoimentos de antigos militantes. No entanto, a partir do sexto e sétimo volumes a ordem de apresentação e seus respectivos conteúdos sofreram alterações. Com a publicação em curso os integralistas anunciaram outro quadro temático, diferente do inicial que havia sido programado em finais de 1957. Assim, em maio de 1959, portanto, logo após a publicação do 7º volume, houve uma reformulação no cronograma de edição do compêndio que estendeu a perspectiva de publicação de 20 para 25 volumes.100 No novo quadro temático, foram acrescidos mais cinco volumes não arrolados no primeiro cronograma, com destaque para temáticas concernentes à relação do integralismo com o municipalismo; sua concepção de assistência social; a preocupação do legado personificado na relação entre o integralismo e as novas gerações; um resumo da folha corrida do movimento, com os serviços que o integralismo havia prestado à Nação; além de uma síntese da vida e obra de Plínio Salgado. Essa diferença nos quadros temáticos se mostra particularmente interessante se, atentarmo-nos para o fato de que, dos 20 ou 25 volumes previstos, apenas 12 foram efetivamente publicados, e que nesses 12 volumes, em muitos casos, condensou-se algumas temáticas, restringindo os volumes aos depoimentos de militantes antigos ou contemporâneos, o que forjou um perfil memorialístico para o compêndio.

100 Há propagandas que noticiam o projeto inicial com o prognóstico de 20 volumes. Entretanto, a partir da publicação do 7º volume as propagandas passaram a noticiar a coleção com 25 volumes. A Marcha, 3/4/1959, p.6. 85

Quadro Temático definitivo com os 12 volumes publicados:

VOLUME AUTORES CONTEÚDO Data de Nº de publicação páginas

1 Plínio Salgado Obra inicial: O integralismo na vida brasileira Out. de 1957 266

Belisário Penna; Lúcio José dos Santos; Alcebiades Belamare; Depoimentos e organicidade do Rodolfo Josetti;Victor Pujol; movimento 2 Madeira de Freitas. Nov. de 1957 189

Tássio da Silveira; Augusto de Lima Jr.; Félix Contreiras

Rodrigues; Rocha Vaz; João 3 Carlos Fairbanks; Jaime Regalo Depoimentos e Estudos Fev. de 1958 251 Pereira.

AB Cotrim Neto; San Thiago Dantas; J. Venceslau Jr.; Pe.

Hélder Câmara; Arnóbio Graça; 4 Martins Moreira; Pedro O integralismo e o novo Mar. de 1958 216 Lafayette; Antônio Galotti.

Loureiro Jr.; Miguel Reale; Margarida Corbisier; Hélio

Vianna; Luis Compagnoni; José 5 Garrido Torres; Leopoldo Ayres; A nação e o Integralismo além de Ernani Lomba Ferraz; Angelo depoimentos Simões de Arruda; Rômulo Abril de 1958 184 Almeida; Lauro Scorel.

Autos, discussões acerca dos problemas jurídicos com relação ao integralismo 6 Miguel Reale Nov. de 1958 220

7 54 poetas integralistas Poesias proselitistas Fev. de 1959 223

Genoíno Ferreira Filho; Humberto Pergher; Abelardo Cardoso; José 8 A Orgânica da AIB - Tomo I 199 Soares de Arruda; Hélio Rocha; Gumercindo Rocha Dórea. Maio de 1959

9 Plínio Salgado e Câmara Cascudo A Educação e Estudos Dez. de 1959 204

10 Hélio Vianna; Gumercindo Rocha Dórea; Miguel Reale e Pe. Hélder A Orgânica da AIB - Tomo II Maio de 1960 209 Câmara.

11 Gustavo Barroso, Jeová Mota Edgard e Hélio Rocha, Carlos Depoimentos Dez. de 1960 197 Matheus, Silveira Neto, Carmen P. Dias, Gumercindo R. Dórea

Suplemento Francisco Galvão de Castro e Plínio Salgado Suplemento: os 4 pontos cardeais do Março de 189 integralismo. 1961

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Fig.16 Quadro temático com os 20 volumes iniciais previstos para o compêndio. A Marcha, set/1957.

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Tendo sido pressionado pelas altas taxas de juros do mercado de papel e pelos custos da impressão, cujas cifras excediam os 60%101 do montante de gastos da editora, o projeto sofreu uma diminuição no número de páginas a partir do número 9. De acordo com o editor, “tais fatores aceleraram o encerramento da publicação no 12º volume, pois estava começando a ficar mais caro manter a Enciclopédia funcionando com a mesma freqüência, a despeito de todas as campanhas realizadas para este intento do que realizar sua distribuição e manutenção no catálogo da editora”.102 O preço de vendagem, ao longo de toda a publicação, variou entre CR$150,00 (cento e cinqüenta cruzeiros) em formato brochura e CR$ 200,00 (duzentos cruzeiros) em formato encadernado/capa dura.103 O almejado sucesso de público não se concretizou. No entanto, sempre sustentando que o projeto alcançara patamares significativos, Gumercindo Rocha Dórea afirmou: (...) Estima-se, que o número de exemplares vendidos deva ter chegado à casa dos 50 mil, sempre mantendo o mesmo preço de capa da primeira edição. Outro trunfo sacado de nossas mangas foi que, a geração „Águia Branca‟ tomou conhecimento aprofundado do integralismo através da Enciclopédia.104 Ainda carecemos de maiores detalhes sobre o que, de fato, teria colaborado ou determinado o fim da publicação deste compêndio, mas uma coisa é certa: a Enciclopédia do Integralismo entrou e saiu da linha editorial das Edições GRD constituindo-se em um dos títulos mais vendidos da trajetória da editora105. Até os dias de hoje, a editora, que permanece na ativa publicando na proporção de um décimo do

101 “O papel, a impressão e o susto”: A Marcha, 30/4/1960, p.4. 102 ROCHA DÓREA, G. A Marcha, 23/09/1961. p.8. 103 A Marcha, 29/11/1957, p.6. Embora, nas chamadas de jornal os volumes tenham sido propagandeados aos preços de CR$130,00 e CR$160,00, respectivamente, todos os volumes acabaram sendo vendidos com reajustes. Em termos de comparação, os volumes da Enciclopédia do Integralismo estiveram, em números absolutos, sempre em segundo lugar nas vendagens e distribuição. O título campeão de distribuição da Livraria Clássica Brasileira era o livro: “A vida de Jesus”, de Plínio Salgado, que além de ser o mais vendido, também era o mais caro: em média, CR$ 180,00 na versão mais simples e CR$ 200,00 na versão luxuosa (capa dura). Convertidos para a moeda atual os volumes da Enciclopédia do Integralismo custariam em média: de 18 a 25 reais. Fonte: Banco Central. Anuário 2006. Tabelas de Conversão. 104 Entrevista de Gumercindo Rocha Dórea.SP. 7/10/2006. 105 Até os dias de hoje a Enciclopédia do Integralismo é encontrada (em volumes avulsos ou na versão completa) podendo ser adquirida por meio de sites especializados em livros antigos. Em dois dos mais visitados sites (Traca.com.br) e (Estantevirtual.com.br) encontramos a coleção completa da Enciclopédia pelo preço que variou entre de R$1200,00 a R$1500,00). Os volumes avulsos são vendidos, em média, a R$80,00 e R$120,00. 88 que alcançara nos anos 50 e 60, assume que o período de publicação da enciclopédia coincide com o período de maior visibilidade e vendagem de seus livros.

2.3 - Garimpo e Memória: entre a mocidade e a velha guarda integralista O editor ainda enfatizou que a Enciclopédia do Integralismo estabeleceu, ao longo de sua publicação, uma “ponte entre a mocidade que integrava os quadros do PRP e a velha guarda do movimento”. 106 Criada a partir da constatação de que quase toda a produção intelectual dos grandes vultos do movimento era dispersa e de “difícil acesso”107, os trabalhos foram compilados de jornais e revistas cujas coleções eram (sic) difíceis de se localizar. Gumercindo R. Dórea coletou os escritos da Enciclopédia em jornais de circulação encerrada e tiragens esgotadas, além de rastrear coleções particulares de alguns correligionários e militantes integralistas, na sua maioria em estado de conservação bastante precário. Dispersos e perdidos em diversas instituições e órgãos de imprensa integralistas, tais escritos foram reagrupados, obedecendo a uma “noção dirigida” 108 do conceito e das ações integralistas, portanto, construída a partir da seleção de diversas tendências integralistas, num conjunto heterogêneo. As dissidências e variadas concepções de política e partido foram intencionalmente exploradas na idealização editorial do compêndio. E nesse sentido, a perspectiva de conjunto foi primordial para que se apreendesse uma leitura dirigida do u que se pretendia mostrar. Rocha Dórea, sempre assertivo dizia: (...) os escritos não eram das pessoas, mas do integralismo. (...) Foi esta minha intenção era assim que eu via a seleção (...). 109 Para tanto, arregimentou textos, poesias, reportagens, cartas passivas e ativas dos líderes do integralismo (tanto no período da AIB, quanto do PRP), bem como, partes de livros escritos ao longo da década de 30, compilando-os nos quatro cantos do país110,

106 Entrevista com Gumercindo R. Dórea. SP. 28/4/2008. 107 “Por que nossa memória anda esquecida?”. A Marcha, 12/4/1957, p. 12. 108 Termo utilizado por Gumercindo R. Dórea. São Paulo, 21/4/2007. 109 Idem. Causa estranheza que a autoria dos escritos fosse entendida como uma autoria institucional e não pessoal. Mais adiante comentaremos um pouco mais sobre esta perspectiva de “autoria” afiançada por Rocha Dórea. 110 “Me lembro que eu enfrentei muito trem (...) fui de Manaus á Porto Alegre (...) ia, fazia umas vendas do catálogo e logo buscava garimpar um documento, uma jornal, uma figura que fosse representativa, pois afinal, no Rio e em São Paulo, nem tudo estava pronto (...) aliás, nem os jornais que só foram possíveis de se pesquisar uns poucos volumes no sul do país, mas é fato (...) rodeio o Brasil todo 89 dando-lhes uma nova roupagem, visando a leitura nos anos 50/60. É o próprio editor quem nos conta como se dava o processo de seleção do material: “(...) A primeira coisa que eu pensei foi: como farei para selecionar tanta coisa que o integralismo já fez? Então, comecei a ir de diretório, em diretório, de jornal, em jornal e isso deve ter durado todo o ano de 1956, creio (...) então, em posse de alguns desses jornais, às vezes livros, eu redigia parte por parte, digo, passava para o datilógrafo da editora datilografar e secionava partes deste, daquele, daquele outro (...) Mas, o mais difícil foi encontrar o fio da meada (...) tanto que precisei mudar os planos porque a minha primeira seleção era imensa (...) Você veja, isso lá no final dos anos 50 (...) hoje eles começam a falar de centro de documentação, mas naquela época isso não existia. Ninguém sequer pensou em guardar essas informações, não como eu pensei!”.111

Sob essa ótica, a construção da memória integralista e sua concepção de registro histórico foi, aos poucos, reinterpretada pelos correligionários do movimento que, por meio da Enciclopédia do Integralismo, tiveram a oportunidade de rever conceitos, reaproximar-se da doutrina, rememorar efemérides e discutir pontos não consensuais de alguns elementos contidos na formulação original político/doutrinal do movimento. Tal enfoque aponta para a tentativa de se sistematizar elementos que comprovavam o caráter rememorativo/celebrativo da empreitada. Prova disso é que da totalidade dos artigos e ou escritos publicados no compêndio, 51 foram reedições de escritos anteriores. Pelo menos 35 autores do total publicado viram alguns de seus escritos serem republicados, ora com adendos contemporâneos, como comentários ao longo da publicação, ora mantendo-se sua estrutura original. A memória integralista foi elaborada como suporte para determinadas representações e possíveis associações com a memória coletiva. Daí a produção de objetos, lugares e celebrações, que se assentou numa literatura histórica que privilegiava um passado, supostamente glorioso. Buscava-se afirmar a versão de seus agentes, isto é, apresentar às gerações futuras a leitura integralista da recente história política nacional. A catalogação e a preservação dessas fontes objetivavam garantir a permanência do integralismo e de sua memória, não só para as gerações integralistas, mas para toda a população interessada em conhecer a interpretação integralista dos fatos. A seleção dos escritos da Enciclopédia do Integralismo pautou-se por um aprofundado trabalho de pesquisa, principalmente se atentarmos para o fato de que, pelo

garimpando esses escritos (...) uni o útil (vender meus títulos) ao agradável!” Entrevista com Gumercindo R. Dórea. SP. 30/4/2008. 111 Entrevista com Gumercindo R. Dórea. SP. 28/4/2008.

90 menos até 1955, não havia arquivos integralistas organizados e sistematizados. A tentativa de se preservar esta memória enfrentou dificuldades de diferentes ordens. Como lembrou Dórea: “(...) da falta de verbas do partido à absoluta descrença na necessidade do registro, foram vários os obstáculos a serem transpostos para que pudesse se organizar este compêndio”.112 Nesse sentido, Dórea se refere a uma sistemática que ainda não era muito levada em consideração no período em que a Enciclopédia foi compilada. Naquele momento, não se conhecia a preocupação sistemática de se preservar a história do integralismo pós-45. Isso pode parecer um contra-senso, uma vez que, são vários os artigos em que o próprio Plínio Salgado exalta a necessidade de se registrar a história do partido, dos diretórios e das eleições em que a sigla integralista tivesse participação. A despeito de alguns contratempos (nem sempre a pauta da publicação ou seus respectivos quadros sinóticos eram respeitados), a Enciclopédia do Integralismo transcreveu variados artigos, provenientes de diferentes localidades do país, segundo graus variados de percepção do movimento. Em mesma proporção é interessante mostrar como nasceu a idéia de compor a enciclopédia. Seu editor afirma que mesmo não conhecendo pessoalmente a maioria de seus autores via neles o potencial para sintetizar o que fora o integralismo. Dórea relembra: “(...) veja, a maioria deles eu não conheci. Na época que eu atuei mesmo ao lado de Plínio a maioria desses homens da primeira geração já havia morrido, então, eu não conheci quase nenhum deles, e isso é interessante, pois, quando surgiu o PRP eu logo ingressei nele, eu comecei a tomar contato com esses escritos todos, posteriormente, selecionados por mim na idéia de se fazer uma síntese do história do movimento. A idéia era essa mostrar ao público os escritos daqueles homens e mulheres que eu também não conheci, é isso, a Enciclopédia do Integralismo”.113 Veremos nos itens seguintes como a seleção de Rocha Dórea se pautou buscando mostrar um integralismo “mal interpretado” pela sociedade, e por isso, condenado ao ostracismo, fator que o incentivou a sinalizar uma proposta de apresentação do que, segundo seus preceitos, realmente fora o movimento. Parece-nos claro que o tratamento dado a esta seleção corrobora o enquadramento a que eram submetidos os militantes mais próximos de Salgado, sobretudo, os da alta cúpula do movimento: obediência e fidelidade expostas em cada um dos textos selecionados.

112 Idem. 113 Entrevista de Gumercindo Rocha Dórea. São Paulo, 16/12/2008. 91

2.4 - A enciclopédia que não era uma enciclopédia? “São muitas as leituras possíveis, mas, todas as leituras não são possíveis.” (Roger Chartier, 2009)

Do ponto de vista estrito de sua criação algumas considerações são essenciais. Diferentemente do escopo realizado pelos enciclopedistas liberais do século XVIII (a la D‟alambert e Diderot), que sumarizavam em verbetes os assuntos buscando uma universalização dos temas, numa expressão autêntica dos preceitos daquele momento histórico, ou projetos análogos dos finais do XIX e meados do século XX114, o compilador integralista da segunda metade do século XX se diferenciava em quase tudo de seus congêneres do passado. A concepção de um enciclopedismo meio às avessas, ou seja, que privilegiasse não o universal, mas o particular foi o mote inicial deste empreendimento que se diferenciava dos demais produtos editoriais de finais dos anos 1950, sobretudo, do ponto de vista da divulgação, difusão e penetração popular. Neste sentido, empreendimentos intelectuais da envergadura da Enciclopédia do Integralismo são, antes de tudo, um campo intelectual de forças antagônicas, por meio do qual se estruturam a noção de uma cultura política compartilhada: suas representações, simbologias, valores e códigos de conduta. Entender o que continha, como e porque foi publicado este conjunto de livros temáticos demanda que seja questionado não só o teor e o conteúdo deste projeto editorial, mas, sobretudo, qual foi e como se deu a recepção deste material (tarefa certamente dificultosa), num momento da política nacional em que tudo o que lembrasse os já idos, mas não esquecidos anos 1930 era considerado anacrônico, passadista e perigoso. Esta percepção nos lança um desafio, já enfrentado pelo historiador Roger Chartier, para quem a idealização, produção, distribuição e recepção do impresso denunciam, antes de tudo, a criação de um demiurgo. Algo que ganha força simbólica e mobilizadora, uma vez impressa, divulgada e apreendida. No caso específico do projeto editorial da Enciclopédia do Integralismo há de se levar em consideração não apenas a sua edição e publicação, mas o teor das intervenções editoriais que tal compêndio sofreu, podendo assim imaginar quais estratégias foram utilizadas visando a adequação de seu público leitor. Ou seja, não ficarmos apenas nos questionamentos unilaterais

114 A Encyclopédie Française, a Encyclopaedia Britannica, a Nelson's Encyclopaedia, a Perpetual Loose- leaf Encyclopaedia, a Encyclopaedia Universalis, a Collier's Encyclopaedia e até mesmo a Grande Encyclopédie Larousse. 92 sobre os porquês de sua publicação, e aprofundarmo-nos no mote sobre como tal empreendimento se efetivou antes de chegar às mãos de seus leitores. “(...) Assim, a especificidade dos materiais editados em conjunto, prende-se não somente com os próprios textos, eruditos e diversos, mas com a intervenção editorial que tem por objetivo adequá-lo às capacidades de leitura dos compradores que tem de conquistar (...)”. (CHARTIER, 1996:129) Pois, assim, tais publicações buscariam simultaneamente, inspirar uma “leitura autorizada” (BOURDIEU, 1996 & RICOUER 1972) do compêndio e censurar as descrições consideradas licenciosas, termos pouco lisonjeiros ou inconvenientes, criando uma lógica de adaptação dupla que tivesse por finalidade, controlar os textos, submetendo-os às exigências da moral integralista, para em seguida torná-los mais facilmente decifráveis por parte de seus leitores. Então, na segunda metade do século XX, quando seria de se esperar que, face ao progresso acelerado e à especialização exponencial do conhecimento, o movimento enciclopedista se visse condenado a desaparecer ou adotasse uma fórmula exclusivamente especializada, assistimos, não apenas ao renovar do interesse pelo projeto enciclopedista, levado a cabo por alguns grupos ciosos por propagarem suas realizações, mas ao revigorar da sua figura, ao repensar dos seus propósitos. Tratar-se- ia, segundo (FEBVRE, 1935: 11), de não perder de vista o sentido etimológico da déia de enciclopédia enquanto "rotação completa do horizonte dos saberes" e de reconhecer no homem ou nos diversos grupos que se congregam, o "centro comum" potenciador do conhecimento. Como Lucien Febvre explica, precisou haver um momento que se abandonou a ordem alfabética para organizar uma enciclopédia em torno dos principais problemas de cada campo do saber, preferir a perspectiva alargada e viva dos principais problemas em aberto à simples enumeração exaustiva dos factos" (FEBVRE,1935: 12). É interessante ressaltar que, as enciclopédias mais inovadoras buscam efetivamente rejeitar tanto a estrutura alfabética contínua e homogênea como a organização disciplinar e adaptar uma estrutura temática. A tendência é para reduzir significativamente o número das entradas, selecionando aquelas cuja pertinência, atualidade ou capacidade de irradiação justifique um tratamento alargado e compreensivo. Neste sentido, a intenção dos projetos enciclopédicos pós anos 1950, caracteriza-se pelo caráter seletivo e integrado. A Enciclopédia do Integralismo (1957- 1961) constitui um caso relevante desta tendência à organização temática. Os seus 12 volumes caracterizam-se pela ruptura com a exaustividade característica de todo o enciclopedismo anterior e por uma diminuição drástica do número de artigos em favor

93 daqueles cuja pertinência perante a cultura política integralista se mostrava plausível. Como se pode ler no prognóstico com que o editor abre o primeiro volume da Enciclopédia do Integralismo, o objetivo foi "concentrar a atenção sobre os elementos importantes do discurso cultural integralista, sobrepujando diferenças idiossincráticas em favor de uma homogeneidade doutrinal”. (ROCHA DOREA, EI,1957: 35) A publicação da Enciclopédia do Integralismo, por outro lado, não conseguiu afastar-se do esquema unilateral que marca projetos enciclopedistas desta natureza, (nem pretendia) apresentando-se com propostas fortemente propagandísticas e proselitistas. Assim, inventariando (mas, não apenas isto) os conhecimentos adquiridos no passado pelo integralismo, exaltando, redimensionando suas experiências buscou realizar um balanço dos episódios vividos pelo movimento, projetando, como corolário, visões de um passado entendido como mítico. Os verbetes, que na realidade são textos, procuram pôr em evidência aproximações dos diversos discursos integralistas, buscando uma transversalidade com temas tidos como fundamentais na organização político- simbólica do integralismo, como é o caso dos motes: doutrina, democracia e anticomunismo, tripé do misencene catártico integralista115, no período da publicação da Enciclopédia. Estas clivagens ilustram cruzamentos e sugerem itinerários possíveis de leitura. Pois, então, retomemos uma observação que nos parece pertinente: o fato da Enciclopédia do Integralismo não limitar-se a ser o inventário de um saber constituído no passado, nem sequer apenas o balanço dos episódios já conhecidos sobre o integralismo. Ao contrário, seu projeto buscou criar, ou mesmo patrocinar de maneira ativa e determinante a produção de novas abordagens sobre o movimento integralista, operando uma reorganização de um discurso, no sentido de sinalizar um arrefecimento das tensões já estabelecidas ao longo do tempo, em face das suas opções de poder. Nesse sentido, seus idealizadores sublinharam nos volumes, não apenas o papel reativo, de luta contra a impossibilidade da permanência integralista no tabuleiro político dos anos 1950/60, mas, sobretudo, uma função conservacionista de seu passado, sintetizando um papel afirmativo. Embora, por vezes, a intenção da edição da Enciclopédia do Integralismo possa ter sido construir um papel quase heurístico para os artigos temáticos selecionados para sua empreitada, vale nossa desconfiança. Pois, se pensarmos a heurística como a

115 Um misencene catártico integralista! O GLOBO, 9/09/1957, p.5. 94 capacidade de realizar inovações, apontar diferentes perspectivas às idéias já previamente concebidas, de forma imediata e positiva para um determinado fim, é contraditória que a compilação desta coleção de artigos, tenha sido costurada por uma linha idiossincrática do líder integralista, Plínio Salgado, privilegiando neste sentido, a tradição e não a inovação sobre o pensamento integralista. Cabe, então, afirmar que a escolha dos temas e artigos também obedeceu a critérios de amplitude e transversalidade. É o caso de conceitos como os que organizam o saber e o viver do integralismo, que são apresentados buscando evidenciar uma visão mais institucionalizada do movimento. Nesta perspectiva, como interpretar a estruturação dos volumes? Que significado pode ter a adoção de um modelo temático? Que sentido se revela na adoção de uma estrutura descontínua (uma vez que se trata de escritos de três gerações diferentes de integralistas – separados por décadas de atuação política diversa)? Veremos, no entanto, que a despeito da linha editorial da compilação ter sido toda mediada pelos palpites de Plínio Salgado, sobressaltará de sua leitura, algumas tensões que ora se colocarão como tênues, ora como evidentes. O integralismo que se vê na Enciclopédia é o integralismo pliniano, mas suas nuances apontam, difusamente, para um mecanismo de pluralidade nos discursos de seus representantes. Isto é bastante evidente quando destacamos categorias como dissidência, liderança, subserviência ou auto-afirmação, quatro elementos diluídos ao longo de seus 12 volumes. Note-se, que isto se dava, basicamente, de duas maneiras: primeiro, por meio da capacidade de auto exaltação das virtudes integralistas presentes nos artigos (o integralismo sempre foi dubiamente apresentado, ou como solução dos problemas políticos do país, portanto, como saída e opção clara frente aos infortúnios, ou como redenção das demais opções político-ideológicas que se faziam presentes no espectro político vigente). Em segundo lugar, tais tensões se mostravam claras pela capacidade dos integralistas estabelecerem certa correlação entre os feitos políticos do movimento e as benesses vividas pela nação em tempos de democracia: como se muito do que se conseguiu em tempos democráticos tivesse saído das cabeças pulsantes dos integralistas, revelando aproximações, interferências, confrontando problemáticas, fomentando, enfim, contradições nos discursos de seus adversários, ou acentuando as fraturas, que julgavam necessárias para a manutenção de seus próprios quadros e discursos. Foi assim que o integralismo da Enciclopédia buscou ressuscitar sua presença na política nacional de finais dos anos 1950. Neste sentido, a seleção dos artigos teve o

95 papel fundamental de estabelecer uma perspectiva crítica das dificuldades e problemas enfrentados pelo movimento. Se, procede afirmar que a enciclopédia - ela mesma um cosmos de personagens, intenções e imagens - é a única configuração que, espacialmente reúne, condensa e apresenta aos olhos de todos, materiais dificilmente confrontáveis noutro contexto, (exemplo disto é a miscelânea heterogênea contida nos escritos), também é verdade que, a orientação de seleção, publicação e difusão deste compêndio, correspondeu, à efetiva capacidade que seu editor teve de esboçar itinerários de cruzamento, buscando uma unidade para a dada enciclopédia. Ontem como hoje, a leitura da Enciclopédia do Integralismo continua sinalizando um ideário de pequena penetração popular, ao contrário dos “arroubos megalomaníacos” que alguns dos seus textos trazem. Peculiar ao refutar o universalismo ilustrado do modelo iluminista, caracteriza-se antes, como parte de uma tradição conservadora, que se alinha ao passado como forma de revigoramento de suas bases, crenças e propostas políticas. Decorridos pouco mais de cinqüenta anos de sua publicação, a compreensão deste empreendimento ainda se mostra labiríntica.

2.5 - Propaganda e consumo de uma ideologia Contrariamente ao que indica o subtítulo da Enciclopédia do Integralismo em propagandas de jornais do movimento (“uma enciclopédia que visa ensinar a cronologia do movimento, de A a Z”), os escritos deste compêndio não foram dispostos em seqüência alfabética, tampouco apresentados segundo uma produção cronológica, do escrito mais antigo para o mais recente. O que se percebe é que os textos foram constituídos sem um plano pré-definido, sendo publicado em cada volume uma série de temas que mesclava textos rememorativos, ou seja, preocupações referentes ao passado do movimento, com avaliações sobre o presente do integralismo. No entanto, mesmo diferenciando-se do padrão enciclopédico clássico, o conteúdo compilado na publicação tinha a pretensão de um „saber enciclopédico‟, principalmente, se entendido como um manancial de informações cujo objetivo era, antes de tudo, divulgar as idéias do movimento, informar e educar. Seu objetivo final era a informação por meio do proselitismo. Deste modo, a coexistência de autores provenientes de conjunturas intelectuais distintas, a diversidade de áreas e gêneros, o empenho em dar cobertura aos principais

96 tópicos em torno dos quais se articulava o debate político/ideológico/institucional do integralismo evidenciam os alvos focados pela Enciclopédia do Integralismo. Os „feitos‟ dos escritores vinculados ao integralismo foram amplificados na compilação realizada por Rocha Dórea. É como se o editor focalizasse uma lente de aumento nas ações realizadas pelos integralistas por ele selecionados, super enfatizando suas relações com o integralismo, a despeito de uma minoria, ainda permanecer vinculada ao movimento, na época em que foram publicados os volumes.

Dispondo deste expediente, supervalorizando os feitos integralistas, a partir da divulgação de uma idéia, uma articulação política, uma ação institucional etc., a Edições GRD, editora que publica o compêndio teve todo o interesse em se articular com o jornal oficial do PRP, A Marcha, demonstrando êxito não apenas na divulgação da publicação, mas construindo espaços permanentes de projeção dos autores que na Enciclopédia escreviam, de maneira que, de 1957 a 1961, diversas vezes, o jornal oficial passou a cobrir e divulgar a pauta de publicação da editora, tornando-se uma espécie de vitrine para os livros e autores direitista da GRD.

Articulada às estratégias de promoção da ritualística e dos adereços integralistas, seguiu-se uma campanha publicitária que visou apresentar a Enciclopédia do Integralismo ao seu público. A Marcha publicou uma série de anúncios a respeito do compêndio, ocasião em que o discurso foi ainda mais direto, valendo-se de uma linguagem que procurava homogeneizar a mensagem emitida, sem diferenciar conteúdos ou termos dos textos ali apresentados. Não havia mais a preocupação em dividir os textos entre inteligíveis para a massa e para o público intelectualizado, inquietação tão presente nos anos da Ação Integralista116. Sempre contundente, a propaganda que figurava no jornal tinha como intuito abarcar todo o tipo de leitor. No período de celebração dos 25 anos da doutrina, o movimento reforçou sua conduta propagandística em prol da vendagem de livros, dentre os quais se destacou a Enciclopédia do Integralismo: “o maior sucesso de vendas,

116 Nos anos de atuação da AIB, uma das diretrizes de Plínio Salgado foi a publicação de textos doutrinários que diferenciassem o seu público alvo. Com um teor fortemente proselitista e anticomunista, tais escritos eram divididos entre textos „intelectualizados‟ e „gerais ou de fácil assimilação‟. Havia diferenças na forma de transmitir a mensagem, ainda que o objetivo sempre fosse a doutrinação. Para os leitores considerados „cultos‟, a mensagem era mais intelectualizada, ao passo que para a população do interior, tida como mais simples, geralmente semi-analfabeta, a mensagem deveria ser desprovida de sofisticação. Ver: TRINDADE, Op. Cit. p.145; CHASIN, Op. Cit. p.34 & CAVALARI, Op. Cit. p.78. 97 assinaturas e anúncios já veiculado pela Marcha”.117 Veja-se o seguinte exemplo: “A Enciclopédia do Integralismo é um monumento erguido pela máxima homenagem ao Sigma! Corra, pois os volumes vão acabar! Ser assinante da Enciclopédia é ser fiel aos propósitos do Sigma!”.118 Acompanhados de suas respectivas ilustrações de capa, os livros propagandeados pelo jornal passaram a figurar nas listas de livros mais vendidos da editora GRD Edições119Para comprovar tal aumento na comercialização dos títulos, o jornal passou a anunciar os volumes da Enciclopédia, como exemplo de título que havia aumentado sua tiragem. Diversos anúncios indicavam que “o compêndio que iniciara com menos de mil exemplares vendidos chegava, após sistemáticos anúncios, ao 4º volume, com cerca de três mil exemplares, o que praticamente quadruplicava sua tiragem”.120 Aqui cabe uma ressalva: a despeito de a afirmação ultimar que a tiragem havia superado as expectativas da editora, a não comprovação estatística deste aumento (nenhum balancete, quadro sinótico ou projeção) indica que as propagandas não são suficientes para concluir que efetivamente superaram as tiragens. O perfil das publicações apresentadas no jornal A Marcha tinha características bastante específicas. Reafirma-se que, por se tratar de um jornal partidário, proselitista por excelência, apenas anúncios de obras doutrinárias foram veiculados. Até a coleção de ficção científica, - coqueluche das Edições GRD- anunciada no jornal, era devidamente alinhada a um discurso político, para que sua apresentação não destoasse do perfil apresentado pelas demais publicações. A referência aos “discos voadores” foi manifestada pela primeira vez em outubro de 1956. Desde 1954, a GRD Edições e a Livraria Clássica Brasileira, maiores distribuidores de títulos de cunho nacionalista e integralista na década, passaram a anunciar, sistematicamente, suas obras nas páginas de A Marcha. Entende-se que tanto os livros de ficção científica quanto a Enciclopédia do Integralismo tornaram-se mais conhecidos graças à freqüente exposição do jornal. Note-se que o discurso contido na maioria das obras anunciadas só pode ser entendido no contexto da disputa ideológica propalada pela Guerra Fria, que, no Brasil, também intensificou seus dispositivos anticomunistas como arma de demarcação político/ideológica. Desassociado desta variante, tal discurso perde seu valor. A repulsa

117 A Marcha, 19/8/1959 p.5. 118 A Marcha, 28/2/1958, p.15. Grifo meu. 119 Fonte: Introdução do editor: EI, Vol. IV. Setembro de 1958. Reproduzido no jornal, A Marcha de 12/10/1957, p.6. 120 A Marcha, Idem. 98 integralista ao comunismo foi favorecida pela atmosfera de contraposição que se instaurou no país. Atrelado à tutela cultural e política dos EUA, o Brasil seguia as diretrizes norte-americanas, acarretando, inclusive, reflexos que foram percebidos nas publicações perrepistas, catalisadoras da atmosfera de tensão provocada pela guerra ideológica do mundo bipartite. Além do cuidado de veicular as mensagens de maneira clara, precisa, sem metáforas exageradas, o jornal passou a dispor de recursos visuais (como fotografia de capa dos livros ou de consumidores em plena leitura), procurando assim, sensibilizar o leitor da necessidade de se consumir o que era avalizado pelo movimento. A estratégia de anúncio evoluiu, a partir de então, para uma apresentação mais atraente dos produtos a serem consumidos. Em consonância com a realidade editorial e financeira do país, cujos investimentos do governo federal diretos no setor editorial beiravam a ordem dos 30% mais do que os anos anteriores121, e como reflexo das novas tendências do setor editorial que, a partir do início da década, sofreu um crescimento e uma profissionalização nos seus três níveis de atuação (produção, promoção e vendas), o jornal A Marcha mostrou-se permeável aos anúncios de obras literárias que corroborassem o perfil ideológico propalado pelo integralismo, o que se fez sentir por meio do aumento de publicações anunciadas e recomendadas pelo jornal. A editoria d‟A Marcha passou então a aumentar, cada vez mais, sua quota de sugestões bibliográficas.122 Em meados de setembro de 1957, portanto às vésperas das comemorações dos 25 anos integralistas e da publicação da Enciclopédia do Integralismo, o jornal iniciou uma série de chamadas publicitárias, cujos textos explicitavam a necessidade do “bom integralista” adquirir “a fonte e a essência da essência da nossa doutrina, bem acabada, reunida e discutida por pessoas que viveram e vivem a doutrina do sigma”.123 Diversos depoimentos procuravam corroborar a intenção de se publicar a essência do movimento integralista:

121 De 1956 a 1958, o setor editorial brasileiro cresceu em média 9% ao ano, o que foi uma média considerável, principalmente se comparado aos primeiros anos da década. Ver: ANDRADE, Olímpio de Souza. O Livro Brasileiro desde 1920. 2.ª edição. Rio de Janeiro: Cátedra/MEC, 1978. Quadro de canais de distribuição do mercado editorial brasileiro em finais de 1950. 122 A modernização da concepção editorial e de layout do jornal projetou o volume de anúncios, em cerca de 20%, aumentando inclusive, sua tiragem, que saltou do patamar de 40 mil exemplares/número para quase 55 mil, entre 1954 e 1957. Dados: „Nosso Layout‟. A Marcha, 12/12/1957, p.3. 123 Depoimentos de antigos integralistas, editados em alguns jornais do PRP. Primeira propaganda efetiva sobre a EI. “Propaganda: O depoimento”. Por: Hélio Rocha. A Marcha, setembro de 1957 a outubro de 1959, pp. 5; 7; 9. Fairbanks, Mello Mourão e Galotti são outros integralistas que aparecem nestes depoimentos. 99

Conheci essa Enciclopédia através dos anúncios da Marcha. Até agora tenho os quatro volumes... nem vejo a hora de chegar o quinto e o resto... A Marcha só errou num ponto: deveria notificar o sumário dessas publicações. Mas talvez, seja de propósito, afinal é do suspense que vive os bons negócios. Ainda me lembro e agora vou dizer: Anauê, amigos. Anauê.124

A veiculação de depoimentos como este promoveu uma continuidade nos debates acerca da importância de se adquirir o compêndio. No trecho destacado abaixo, percebe-se o grau de abrangência que o jornal procurou alcançar com este tipo de anúncio, de maneira a abarcar o maior número possível de apreciadores. O anúncio continha o seguinte texto: VOCÊ... é um fiel seguidor do Sigma? Isto significa que você já é assinante da Enciclopédia do Integralismo, certo? Por isso INTEGRALISTA!!! Precisamos nos convencer de uma vez para sempre: sem a leitura das obras doutrinárias não existe convicção verdadeira. TODOS precisam ler a ENCICLOPÉDIA e a DOUTRINA, pois são eles que ensinam o valor do Integralismo. Mas não é só ler. Temos que divulgar junto a todos que podem ser doutrinados. 125

A diagramação do texto descrito acima explicita o tom imperativo, prescritivo da linguagem utilizada. Os editores responsáveis pelo jornal oficial do PRP passaram a buscar uma comunicação mais direta com seus leitores. Isso, segundo seus profissionais, rompia com uma “manobra textual estática” 126 característica dos anúncios até então veiculados. Esta estratégia foi posta em atividade visando dinamizar a relação entre o anunciante e o público. O autoritarismo, a relação de subordinação da militância, a tentativa de aproximação com o leitor, utilizando-se, principalmente, de frases destacadas por vários pontos de exclamação, intercalação de caixas alta e baixa na disposição das palavras, estabeleceram uma relação de hierarquia entre elementos primordiais e acessórios na mensagem. Esta relação foi pautada pela importância dada às palavras registradas em caixa alta, cujo apelo sensacionalista e proselitista explícito entrava em harmonia com o texto editado em caixa baixa e tipos pequenos, o que proporcionou ao leitor a distinção não só dos tamanhos das letras, e de seus respectivos significados - explícitos e implícitos - mas uma diferença que estabelecia parâmetros entre o necessário e o subliminar. Exemplo disso são as palavras: “VOCÊ, INTEGRALISMO,

124 Idem, p.5. 125 A Marcha, edições sucessivas em março de 1959. Grafia original. 126 A mudança nas estratégias de propaganda do PRP foi tema de diversos artigos do jornal, dos quais destacamos: “A estática manobra textual”. A Marcha. Diversas edições - 1957. 100

INTEGRALISTA, BRASIL, TODOS, LIVROS, ENCICLOPÉDIA e DOUTRINA” que, veicularam a essência do ideal integralista, supervalorizando seus conteúdos. O apelo sob a forma de texto foi de tamanha eficiência que a receptividade pôde ser medida nas edições posteriores a março de 1959. De abril a junho do mesmo ano, a enciclopédia triplicou sua tiragem, tendo sido anunciado o rompimento da meta dos 20 mil exemplares.127 Os anúncios e o aumento das assinaturas do jornal A Marcha, favoreceram, ao que tudo indica o crescimento na vendagem dos volumes da enciclopédia. Como estratégias de propaganda foram veiculadas diferentes mensagens. Utilizou-se de maneira mais racional as páginas do jornal, possibilitando uma maior visualização dos produtos propagandeados. Não só os tipos e cores, mas também as dimensões dos anúncios aumentaram. Foram experimentados vários formatos, o que pode ser sentido na intensificação do elemento visual. As imagens agregadas aos anúncios supervalorizaram a exposição dos produtos, que eram veiculados em conjunto com pequenos textos explicativos. Esses anúncios marcaram um diferencial: a reprodução da imagem em três cores, episódio inédito na imprensa integralista. Até então, tal técnica era utilizada apenas na capa do jornal. Entre os meses de outubro de 1958 a novembro de 1959, com o objetivo de aumentar a venda da EI por meio da assinatura, o jornal passou a veicular o seguinte anúncio: A Livraria Clássica Brasileira comunica os prezados clientes que o lançamento desta Enciclopédia destina-se a mostrar, ao povo brasileiro, o que o integralismo fará quando chegar ao Poder. Aos pais e professores integralistas cabe uma enorme responsabilidade: o de possuir os volumes da Enciclopédia do Integralismo, mostrar aos filhos e alunos o que é o movimento, de que faz parte, o que ele significou nos últimos 25 anos na vida brasileira. Por este motivo, a Livraria Clássica Brasileira aconselha aos integralistas não deixarem de possuir seus exemplares.128 Nesse sentido, vale destacar que, após 1957, conceitos como doutrinação e pertencimento passaram a ser mais bem explorados pelos anúncios, principalmente por conta das comemorações de outubro. Ao longo dos anos 1950, a manutenção da ação militante foi tema recorrente das matérias dos jornais perrepistas: primeiro na Idade Nova depois n‟A Marcha. Este sentimento de pertencimento do militante também foi propagandeado durante toda a publicação da Enciclopédia do Integralismo com maior contundência no último volume. Neste, destacou-se uma expressiva passagem escrita

127 DÓREA, G. “Prólogo: Nota do editor”. EI, Vol. VII. p.3. 128 A Marcha, 1/11/1957, p.2. Grifos meus. 101 por Gumercindo R. Dórea, na qual o editor afirmou que “a mudança de nós mesmos [integralistas] começaria na permissibilidade de quem nos ouvisse”.129 De fato, ao escrever esta frase, Dórea dirigiu-se aos antagonistas do movimento integralista na ordem democrática. A acusação desses adversários sempre foi a mesma: “que o integralismo não havia entendido a mudança dos tempos”. Conclusão: seus integrantes foram condenados a pagar a dívida de seu passado, e seus antagonistas permaneceram referenciando este passado como “marca indelével e irrecuperável” 130, num jogo cuja acusação permaneceu inalterada. Uma vez integralista sempre integralista. Assim, a propaganda doutrinária constituiu-se no combustível necessário para o restabelecimento do ideário integralista, num período em que a palavra escrita solidificou-se como o mais importante propulsor do movimento. Contraditória e heterogênea a Enciclopédia do Integralismo, surgiu, com suas mais de 1770 páginas, como uma proposta de apresentação ordenada da leitura de mundo dos integralistas, consolidando, assim, o discurso que pretendiam deixar para seus herdeiros.

2.6 - Mas, sobre o que dissertavam tais escritos? A despeito de nos parecer à primeira vista, um desfile de nomes desconhecidos, portanto, sem muita importância no espectro político-ideológico da direta do período, é importante ressaltar que é este o grupo de integralistas que vai desenhar a linha de intersecção entre a doutrina e a prática política nas duas aparições do movimento, tanto na década de 1930, quanto de 1940/50. Portanto, de maneira sumária, do primeiro ao décimo segundo volume (ou melhor, o suplemento que seria publicado após o 11º volume), os temas, as preocupações, os personagens e os depoimentos englobaram um contexto de diversidade sobre o qual o integralismo foi construído. Em consonância, a seleção explorou estas pluralidades esforçando-se para não serem entendidas como uma contradição. Plínio Salgado abre a seleção com um texto construído especialmente para sua inauguração: “A orgânica do movimento e suas funções básicas na sociedade dita „ideal‟” foca a mentalidade doutrinal do integralismo, esboçada a partir das idéias de seu idealizador. O segundo volume tem as presenças de Belisário Penna, com trechos da

129 DÓREA, Gumercindo R. Apontamentos finais. EI. Vol. XI, p.188. 130 Diário Carioca, 12/12/1957, p.4. 102 carta escrita ao diretor geral do jornal Correio da Manhã, originalmente redigida em meados de 1937. Lucio José dos Santos destaca a relação do integralismo com o catolicismo e o corporativismo. No texto: Consulta sobre o Integralismo (A ligação entre a Igreja católica, o cristianismo e o Integralismo...), originalmente retirado do jornal O Panorama, de finais de 1937, o autor se aprofunda na discussão sobre o essencial motivo de todo o integralista ser católico!”131 De Alcebiades Delamare foi publicada uma carta endereçada à mocidade integralista das Faculdades de Direito, intitulada: a Flâmula Sagrada do Sigma. Também publicada em 1937, faria par com o Curso de Economia política – criado por Delamare e adotado na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, ambos editados nos volumes 2 e 5, respectivamente. Rodolfo Josetti, discute a relação do integralismo com a cultura artística em dois momentos: O sentido Estético do Integralismo e o Sentido cultural e artístico do integralismo (1937). Victor Pujol debate a idéia de Estado Integral e relata sua vivência quando da transcrição do Regulamento do jornal Monitor Integralista, uma das partes da “Orgânica da AIB!”. O caricaturista, Madeira de Freitas discorre sobre o Movimento do Sigma e sua excelência moral: o sentido patriótico do Sigma, seu sentido vocacional como uma mística e uma reação nacionalista. Tasso Silveira, por sua vez, realiza um resumo dos elementos básicos do integralismo: discutindo que o Modernismo e Integralismo são compatíveis desde a origem. O autor aponta os seguintes elementos: O Manifesto de Outubro Estratégia; As diferenças e semelhanças entre o documento integralista e os demais e a Concepção de mundo. O Homem. A Família. O Trabalho. O Estado. Revolução espiritual. O Chefe. Complexo, este texto é, certamente, um dos mais aprofundados estudos da Enciclopédia do Integralismo. Augusto de Lima Jr. publica: O Espírito Integralista da Inconfidência Mineira. Trata-se de uma inusitada comparação entre o movimento integralista e a Inconfidência Mineira, mote retomado por Felix C. Rodrigues, que escreve sobre a Organização social do integralismo (ambos de 1936) Este último texto corrobora o artigo publicado por Juvenil da Rocha Vaz sobre o Estado Integral e a Bio–Pscicologia individual do integralista. De João Carlos Fairbanks, é aproveitado um discurso proferido em São Paulo no dia da bandeira de 1957. O professor de química, Jaime Regalo Pereira escreve sobre Liberalismo, Socialismo e Integralismo: a questão do sindicalismo como reforma

131 Enciclopédia do Integralismo, Vol. 2 - (retirado de Panorama, ano I, nº 12, 1937) 103 de representação. AB Cotrim Neto, sobre as Bases do pensamento político Integralista, além de possuir um poema na coletânea de poetas integralistas, editado no sétimo volume. San Tiago Dantas discorre sobre O Integralismo e as Classes Armadas, bem como sobre a “Preparação das elites integralistas”, Aula Magna proferida em meados de 1934, cujo tema fora o Direito corporativo. Além disso, edita juntamente com Ernani Silva Bruno o Estatuto da Escola Brasileira de Jornalismo, assinado em Belo Horizonte, no dia 19 de dezembro de 1936. Em co-autoria com Plínio Salgado assina o Regulamento Nacional de Imprensa, parte constituinte da Orgânica do Movimento. J. Venceslau Jr aparece no compêndio com o texto: “O que significa Revolução Integralista”, texto de finais dos anos 1930, cujo cunho proselitista se sobressai. Temática bastante próxima da apresentada pelo então padre, Hélder Câmara, que aparece na Enciclopédia do Integralismo com dois textos publicados originalmente na década de 1930: O Integralismo em face do Catolicismo e A Educação e o Integralismo. Este último, fragmento de um discurso de paraninfo proferido pelo padre em 1937. Arnóbio Graça escreve sobre a noção de Governo Forte, texto que responde às provocações do jornalista Pedro Lafayette intitulado: A luta dos Fariseus. Além disso, Lafayette também descreve a briga ocorrida nos jornais entre Alceu Amoroso Lima/Fábio Alves Ribeiro, articulista do “Diário de Notícias”, do RJ e a AIB. Escritos em meados de 1940, estes artigos têm um caráter peculiar, pois trás a tona, os princípios de discordância que afastaram Amoroso Lima de sua simpatia pelos integralistas. O líder católico, anteriormente simpático à AIB, sobretudo devido ao seu apelo católico, modifica sua postura, tornando-se um tenaz discordante da ideologia integralista. Ernani Silva Bruno, em A crise brasileira de Autoridade sinaliza o que acreditava ser o maior problema do país. Edita juntamente com San Tiago Dantas o Estatuto da Escola Brasileira de Jornalismo, bem como, o Regulamento da Secretaria Nacional de Doutrina e Estudos. Contemporâneos serão os escritos de Antonio Galotti que aparece por diversas vezes. No entanto, seu texto mais representativo é: O Renascimento do Estado. Artigo em que analisa cronologicamente a evolução do termo Renascimento, foi retirado da palestra inaugural, que proferiu em uma das Salas da Seção de Doutrinamento da AIB, em 1936. Trata-se de uma fala calcada na consolidação do sistema integral e da Economia Dirigida, sublinhando a força do governo fascista que dirigia tudo para o Estado. Nestes seus escritos, Galotti trata da economia sublinhando as propostas do Integralismo. Além dos textos já mencionados, o economista também

104 apresenta uma Aula magna, intitulada: Para as elites do integralismo, parte do curso de doutrinas econômicas que ministrou aos aspirantes à integralistas nos anos 1930. Por fim, assina o Regulamento Nacional das relações com o Exterior, datado de 25 de agosto de 1936, mesmo ano em que Loureiro Jr. escreve o texto: Aos Estudantes Paulistas, O Regulamento da Diretoria Nacional de estatística e do Gabinete da Chefia Nacional, documentos também assinados por ele. Helio Vianna propõe uma espécie de resumo sobre os episódios históricos que culminaram na chegada do Integralismo. Descreve, em tom claramente proselitista as Bases Históricas da Unidade Nacional. Também apresenta partes de uma Aula magna ocorrida em meados de 1934: Aula sobre o Direito corporativo. “Para formar as elites integralistas”. Representante do universo integralista feminino, Margarida Corbisier comparece com dois textos em que discute, respectivamente: a) o Conceito de vida heróica. Para a autora: o integralista é, antes de tudo, um herói! e b) o Integralismo e a educação feminina, um trabalho apresentado originalmente no I Congresso Nacional Feminino da AIB, em outubro de 1936. Já, Luis Alexandre Compagnoni apresenta: Por que me tornei e continuo integralista – texto em que exprime suas visões enquanto um católico integralista. Escrito em meados dos anos 1950 é contemporâneo dos escritos de outro militante católico, Leopoldo Ayres. Em sua Carta Aberta aos Sacerdotes de minha Pátria e seu O sentido da formação pliniana, corrobora a forte inclinação católica de grande parte da militância integralista. Em ambos escritos, discorre sobre as pontes que ligam o “catolicismo e o movimento do Sigma em pleno período pós-guerra”. Ernani Lomba Ferraz descreve um tratado que intitula: Sobre Democracia e Sufrágio, colaboração de uma discussão travada entre Lomba Ferraz e José Garrido Torres, que, no compêndio apresenta um texto sobre a Concepção Integral da Economia. O diplomata, Rômulo Almeida escreve sobre uma questão até então pouco debatida. O artigo: Reflorestamento inaugura uma discussão que seria aprofundada apenas no final do século XX. Datado de meados dos anos 1950, este é o primeiro texto integralista que trata da intersecção entre o pensamento político e a preservação do meio ambiente. Entretanto, tem um caráter dúbio esta preocupação de reflorestar: a alusão ao verde do partido, num momento em que reflorestar significa plantar novas idéias para novas gerações. Esta metáfora fora transportada durante toda a década de 1930, e migrou no imaginário político integralista até sua fase posterior. Lauro Escorel, com seu “Conteúdo humano do integralismo e a intervenção do Estado” e Genoino Ferreira Filho com o artigo intitulado: “Ser ou não ser integralista”,

105 constroem dois escritos analíticos sobre a tendência dos correligionários nos anos 1950. Para ambos há uma certeza peremptória: ou os militantes estavam no PRP, ou estavam fora do integralismo. Interessante conclusão a que chega Genoino F. Filho, afirmando que a maioria dos correligionários que não estivesse vinculada ao PRP teria que estar, necessariamente arrolada nas fileiras dos três outros partidos: UDN, PTB E PSD. Umberto Pergher, com seu paradigmático texto: Como estudar Plínio Salgado? e Genésio Pereira Filho, em: Ser ou não ser integralista: como os integralistas congregam as aspirações da geração dos anos 50; acompanhados do escrito de Abelardo Cardoso sobre o Ato de fé integralista!, configuram a tríade de perrepistas que buscaram traduzir em textos exclusivamente escritos para a Enciclopédia, os conceitos de fidelidade militante. No caso de Cardoso, este ainda apresenta uma carta endereçada a Gumercindo Rocha Dórea, na qual, afirma que se converteu ao integralismo e que passaria, a partir daquela data, a ser e fazer valer o integralismo. Note como a força de aliciamento do movimento ainda era pautada pelos antigos protocólos. Por outro lado, José Soares Arruda com “O conceito de cultura integralista” e Ivan Luz, com seu texto sobre “A Teleologia Integralista” formam com Hélio Rocha – “O integralismo não é totalitarismo” outra trinca de autores da terceira geração, portanto, textos escritos em plena década de 1950. Em consonância, Gumercindo Rocha Dórea, com suas Introduções e comentários nos volumes: 1, 3, 4, 6, 8, 10 e 11 edita em partes o também conhecido texto: “Plínio Salgado e a Estirpe de Aretino”, texto original dos anos 1950, mas modificado pelo autor para compor o compêndio. A chamada velha guarda integralista, capitaneada por Luis da Câmara Cascudo, aparece com o tema: “Vários brasis”; Jeovah Mota, com “Regulamento do Departamento Nacional dos Serviços Sindicais” – organização dos grupos profissionais e “A orgânica da AIB”; Thiers Martins Moreira: “Aula magna: A preparação das elites integralistas132e Introdução à Sociologia Geral”, textos que contrapunham-se aos escritos dos chamados autores mais jovens como Carmem Pereira Dias, com seu: “A mulher e o integralismo” e mesmo o padre Francisco Galvão de Castro, em cujo texto: “Os quatro pontos cardeais do Integralismo I e II” constrói a noção de cristianismo

132 Fizeram parte desta aula “Preparação das elites integralistas”, ocorrida em meados de 1934: San Tiago Dantas (aula sobre o Direito corporativo), Gustavo Barroso (aula sobre a História militar brasileira), Hélio Vianna (aula sobre a História social e política do Brasil) e Antonio Galotti (sobre Doutrinas Econômicas). Os planos de aula destes cursos estão disponíveis na Enciclopédia do Integralismo. Vol. 9. pp.154-159. 106 integral, de maneira bem menos sectária que seus correligionários dos anos 1930. Além deste, o padre Galvão de Castro também assina: “Revolução da família”; “O problema da ordem”; “Técnica de Sorel, técnica de Cristo” e “A concepção integralista do trabalho”, tornando-se assim, um dos mais profícuos escritores compilados na Enciclopédia. Por fim, Miguel Reale aparece com seu conhecido escrito: “O que é o Integralismo”, além da Cartilha do Integralismo, inteiramente redefinida e ampliada, ainda nos anos 1930, apropriadas para a publicação na Enciclopédia do Integralismo.

2.7- Discursos recauchutados Uma rápida observada no repertório descrito anteriormente sinalizará que muitos dos autores arrolados não eram mais associados ao integralismo no momento em que tais textos foram republicados (anos 1950), o que nos leva a questionar: havia por parte dos autores não mais integralistas concordância ou conhecimento sobre a utilização de seus textos pregressos? A questão da autoria dos textos e da concordância de sua utilização deve ser analisada levando-se em conta a postura polivalente mantida por Gumercindo Rocha Dórea entre os anos de 1957 e 1961. Era ele quem arregimentava, selecionava, editava, publicava, distribuía e cobrava dos Centros Culturais da Juventude, a leitura dos volumes, uma vez que nos dois primeiros anos da publicação da Enciclopédia, Dórea também ocupava a presidência da CCCJ. Portanto, há de se questionar como se dava o processo de utilização dos escritos originais, por este jovem editor (à época com menos de 30 anos). É digno de nota que, de maneira geral, todos os textos editados no compêndio, sobretudo, os de militantes já afastados do integralismo foram publicados sem a anuência formal dos missivistas. Aliás, esta foi uma prática seguida pelo editor: a sistemática e aleatória presunção de que os escritos selecionados por ele em “sua” enciclopédia não pertenciam mais aos missivistas, mas ao integralismo. Paralelamente, cabe aqui outra pergunta: teria havido por parte dos autores que aparecem no compêndio (os afastados do movimento, naturalmente) concordância ou conhecimento prévio sobre a publicação de seus textos pregressos? Se, sim, quantos autores autorizaram? Se não, como reagiram diante de uma publicação a sua revelia? Esta não é uma questão menor, pois é sabido que parcela significativa dos autores que tem escritos no compêndio caminhava em direções diferentes do integralismo naquele momento.

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Por trezentos anos, a propriedade intelectual serviu tanto para remunerar os criadores quanto para garantir que seus inventos fossem creditados e legados à posteridade, segundo suas rubricas. Nesse sentido, a lei de propriedade intelectual significou um avanço inquestionável para as artes e a ciência. Quando surgiu na Inglaterra, em meados do século XVIII, foi o que legitimou pela primeira vez uma idéia que viria a se tronar um dos alicerces do mundo moderno: a de que o autor é dono de sua obra e deve ser recompensado sempre que ela trouxer ganho financeiro, moral ou intelectual a outra pessoa. Não foi isso que ocorreu com os textos publicados na Enciclopédia. Parece-nos claro que não houve, por parte do responsável pelo projeto, o devido cuidado de consultar os ex-integralistas. Talvez, por ter ocorrido a anuência formal de Plínio Salgado (o chefe), Gumercindo Rocha Dórea tenha entendido ser desnecessário a consulta aos autores. Embora as discussões sobre a questão do direito autoral jamais tivesse sido um foco da preocupação de Dórea, (nem o era com tamanha profissionalização de hoje) nos parece estranho como um editor, que vivia e vive o metier de publicações e autoria tenha se furtado de prestar contas sobre esta apropriação de escritos alheios. Por diversas vezes ao longo das entrevistas concedidas para esta pesquisa, o editor afirmou que à época, “a idéia que se tinha sobre o afastamento de muitos dos militantes que apareciam com escritos na enciclopédia, era que uma vez militado no integralismo, seu discurso jamais seria esquecido ou apartado do momento, independentemente do tempo em que tivesse sido falado ou escrito tal discurso. Logo, o „discurso‟ passava a ser “propriedade” não do autor (pessoa física), mas da “instituição integralismo”.133 Mais curioso ainda é constatar como, nenhum dos nomes citados ou compilados tenha se manifestado, se rebelado ou se pronunciado em nenhuma ocasião (ao menos a que se tenha conhecimento), sobre o fato de terem sido utilizados textos que possivelmente depunham contra suas convicções vigentes na época. Caso tenha existido qualquer manifestação de repúdio ou contrariedade por parte dos ex- integralistas arrolados no compêndio, não foi possível neste trabalho encontrá-los.

133 Entrevista com Gumercindo Rocha Dórea. São Paulo, 30/07/2009. 108

Fig.16. Livros para a elite política, com especial destaque à Enciclopédia do Integralismo: anúncio direcionado aos CCCJ e à classe política do movimento. A Marcha, out./1957, pp.8 e 12.

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Podemos, em contraposição dos argumentos utilizados acima entender que a maneira mais fácil para se desvincularem do que não aceitavam mais era sinalizar que se tratava de textos anacrônicos à época e, portanto, inofensivos. Independentemente das conjecturas sobre os propósitos destes (ex- integralistas) não terem se pronunciado, o que se sabe é que estes autores não se sentiram prejudicados pela vinculação. Causa curiosidade imaginar, San Tiago Dantas, Dom Hélder Câmara e Miguel Reale (para citar apenas alguns dos mais representativos ex-militantes) não se manifestando contrários à utilização de escritos que não mais legitimavam sua ideologia vigente. E, no entanto, são estes os exemplos de autores e textos utilizados pela Enciclopédia para corroborar a máxima integralista: o integralismo para o presente, o integralismo para o futuro! Tendo coincidido com o momento de maior visibilidade do movimento desde sua “recriação”, a publicação da Enciclopédia do Integralismo, consubstanciou-se numa empreitada robusta. No entanto, para seus adversários, tratou-se apenas de um diálogo de cegos e mudos que sinalizou o ocaso do integralismo do pós-guerra.

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CAP. III Leitura em metonímia: a ∑nciclopédia do Integralismo vista de dentro

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CAP. III - Leitura em metonímia: a ∑nciclopédia do Integralismo vista de dentro

Analisaremos neste capítulo uma seleção das temáticas que compuseram a Enciclopédia do Integralismo. Dos mais de vinte temas compilados oito foram selecionados para uma análise mais aprofundada. Em um contexto propício para a manutenção desses elementos o integralismo saiu da década de 1950 com uma grande contradição exposta: se, por um lado esforçava-se para ser aceito no âmbito democrático, carregando ainda a pecha de autoritário, por outro encontrava espaço num cenário propício à luta contra o comunismo e o avanço das esquerdas. Este contexto possibilitou a retomada das atividades integralistas de maneira bem mais incisiva. Veremos a seguir como isso se deu.

o final de 1957 o jornal A Marcha publicou uma relação de dez134 princípios que deveriam ser seguidos pelos integralistas. Com o Nsugestivo título: “Ninguém Pode dizer ser integralista se não cumpre os seguintes preceitos”, a lista resume os elementos que fizeram do integralismo uma causa contraditória, sinalizando as obrigações integralistas por meio de uma metonímia, ou seja, tomando as partes pelo todo. 1. Ter perfeito conhecimento dos fatos históricos relacionados com o Integralismo e o seu Chefe, a fim de saber refutar as inverdades lançadas em circulação pelos adversários; 2. Usar o distintivo do Sigma; 3. Comparecer às reuniões para que é convocado; 4. Assinar A Marcha; 5. Sacrificar prazeres, obrigações, interesses particulares e comodidades, quando escalado para qualquer serviço em favor da Causa; 6. Não formar sua opinião sobre nenhum assunto baseado na leitura de jornais, rádio ou televisão proveniente de pessoas ou grupos políticos estranhos; 7. Cumprir rigorosamente seus deveres familiares, profissionais e públicos, procurando ser modelo de virtudes particulares e cívicas; 8. Lembrar-se de que o crescimento da sua agremiação depende do trabalho intelectual do Chefe e que este depende do tempo de que dispuser; 9. Nunca sobrepor o interesse ou a vaidade pessoal às superiores razões da Causa; 10. Assinar, ler e debater a Enciclopédia do Integralismo como foco central da doutrinação de nossa causa.

134 Originalmente, A Marcha publicou 15 preceitos que foram, a partir de 1957/58 modificados para agregar a leitura da EI como fundamental elemento da doutrina e prática integralista. Ver: A Marcha, 19/12/1957, p. 3. 112

De acordo com a propaganda veiculada durantes meses no jornal A Marcha, a leitura, discussão e incorporação dos temas contidos na Enciclopédia (na sua maioria textos escritos originalmente nos anos 1930 e republicados nos anos 1950) fechariam o ciclo pensado por Salgado: “a educação pela doutrina, a doutrina pela ação e a ação pela obediência!”. (SALGADO, A Marcha, 1957:06) Os dez mandamentos conferiram à militância um código de condutas que mobilizou milhares de brasileiros ainda crentes na força do Sigma, somatória que visava agregar às vidas dos militantes um conjunto de valores restritivos e conservadores, como, aliás, reza a cartilha autoritária. Os textos da Enciclopédia do Integralismo surgiram com uma dupla proposta: a) sintetizar a trajetória da doutrina integralista, selecionando apenas fatos que julgava lisonjeiros para o movimento, escondendo, assim, debaixo do tapete da disputa política, tudo o que era execrado por seus adversários; e b) abarcar uma amostra diferenciada e heterogênea de escritos que perfizeram três décadas de ideologia, esperando que tal seleção atingisse o rigor e a simplicidade capazes de cooptar um leque amplo de simpatizantes. Dos mais de vinte temas compilados na Enciclopédia oito foram selecionados para uma análise mais aprofundada.135 A seleção se deu mediada pelos seguintes critérios: a) reincidência da temática; b) consistência das relações entre os integralismos do pré e pós-guerra; c) O apelo com relação aos elementos fundamentais do integralismo e, d) a importância em relação ao período publicado. Assim, elementos que ganharam força em 1950-60 receberam um tratamento mais aprofundado. Apresentaremos a seguir o conjunto de seis temas responsável pela organicidade da Enciclopédia. Dele, destacamos a educação e o catolicismo integralistas; a proposta do estado integral; o binômio estética/poética do movimento; as questões sobre a liderança e as dissidências, bem como os antagonismos enfrentados pelo movimento. Todos esses temas foram subordinados a dois assuntos que se sobressaíram: o anticomunismo e o conceito integralista de democracia: elementos complexos e contraditórios que encontraram terreno fértil para serem debatidos em finais dos anos cinqüenta e princípios dos anos sessenta. Foi em torno do binômio

135 Em minha dissertação de mestrado, defendida em 2002, elenquei os 22 temas que a EI publicou, construindo naquele momento, uma pequena discussão sobre seus pontos mais relevantes. Como não dispunha de tempo me instrumental teórico que me possibilitasse uma análise mais acurada do material, este primeiro contato serviu de mote para que fosse repensado o manejo e o processo de análise deste compêndio. Oito anos depois de entregue a dissertação de mestrado, o produto desta análise se mostra mais amadurecido. Por isso a seleção de oito temas que, em minha opinião, sintetizam as duas dezenas de temas presentes na compilação de artigos realizada por Rocha Dórea. 113 anticomunismo/democracia que as demais temáticas se coadunaram. Por outro lado, optou-se por descartar certos temas que (embora relevantes) se mostraram superados na conjuntura dos anos 1950. As temáticas que discutiam o mimetismo fascista, bem como a verve autoritária, antiliberal e nacionalista exacerbada do integralismo são alguns exemplos.

3.1- O Anticomunismo: bandeira fundamental do integralismo A publicação da Enciclopédia do Integralismo se deu em um contexto político nacional e internacional bastante tumultuado. Enquadrada entre os governos JK/JQ/Jango (1956-1961), situa-se em plena vigência do que se convencionou chamar de Guerra Fria entre as duas super potências. Ancorados em pressupostos ideológicos aparentemente irreconciliáveis, EUA e URSS constituíram dois poderes que se afirmavam como centro e liderança de dois blocos antagônicos. De fato, foram notáveis na década de 1950-60 a guerra de propaganda, a corrida armamentista, assim como a iminência de um conflito nuclear. Ao mesmo tempo houve uma reestruturação das organizações de esquerda e direita (dentro e fora do Brasil), novas orientações e a criação de novos grupos no país, com tendências políticas mais radicais. A Revolução Cubana foi apenas o estopim que fez emergir a radicalização. Desde 1959, a esquerda, com o PCB, ainda na ilegalidade, alcançou importante influência no meio sindical e no jogo político partidário. Em princípios de 1960 ocorreu uma forte ruptura da esquerda, racha que originou em 1962 a criação do PC do B, como dissidência do PCB, em conseqüência da crise causada após 1956, no XX Congresso do Partido Comunista da URSS. A relação entre Cuba e os Estados Unidos se agravara a partir de 1961 com a invasão da Baía dos Porcos. O fracasso da operação levou Cuba a buscar apoio militar da União Soviética, o que se deu em agosto/setembro de 1961. Meses depois, em princípios de 1962 seria decretado o embargo econômico norte- americano a Cuba. Essas eram as questões dominantes na conjuntura internacional, com grande polarização e confronto entre os países capitalistas e comunistas, situação que

114 perdurou por todo o governo João Goulart e que exacerbou internamente as posições ideológicas em conflito. (ABREU, 2006:114) O anticomunismo foi então usado para difundir o medo na classe média e para identificar as “reformas de base” como a passagem do regime capitalista para comunista. Os jornais foram os maiores responsáveis pela campanha anticomunista. Com isso, já em finais dos anos 1950, entidades direitistas, dos mais diferenciados naipes, (a despeito de não constituírem um agrupamento homogêneo tampouco concomitante) começam a se reagrupar em torno do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais - IPES, do Instituto Brasileiro de Ação Democrática – IBAD e, posteriormente, nos anos 1960, em torno da Sociedade protetora da Tradição Família e Propriedade. A atuação conjunta dessas e de outras entidades de caráter análogo, que mantinham algum nível de cooperação, estimulou a proliferação de entidades anticomunistas na conjuntura 1957-1961. Nesse sentido, a mobilização de muitas entidades anticomunistas teve papel de destaque na arregimentação dos grupos adversários dos governos (JQ e Jango – sobretudo no seu primeiro ano de mandato, embora, neste período, o PRP integrasse e apoiasse o governo), fornecendo o principal argumento que unificou os setores de oposição. (MOTTA, 2006:145) Por isso, de certa maneira, direta ou indiretamente, todos estes elementos estiveram presentes na seleção, publicação ou discussão suscitada pela Enciclopédia do Integralismo. Desempenhando função decisiva na formação da identidade partidária- ideológica do integralismo tanto nos anos 1930 como no pós-guerra, a contraposição ao comunismo também fez parte da ação da igreja católica e de grande parte da imprensa. Por isso, no que tange à contraposição comunista, o integralismo jamais esteve sozinho. Embora os integralistas acreditassem serem, de fato, “os donos do anticomunismo” (CALIL, 2005: 145), compartilhavam tal sentimento de repulsa com grande parcela da sociedade, afinal havia uma propaganda anticomunista bastante radical no período. É significativo destacar que, enquanto a defesa do corporativismo, do antiliberalismo e do ataque aos diversos partidos de perfis ideológicos distintos perdeu sua função no período democrático, o anticomunismo permaneceu sendo utilizado como mote de campanha integralista, o que possibilitou o fortalecimento da relação do integralismo com a Igreja Católica. Para os integralistas, os argumentos que embasavam o anticomunismo eram “mais importantes do que os que identificavam os capitalistas liberais (...) isso porque, o perigo vermelho possuía artifícios mais elaborados de persuasão do que a tacanha,

115 porém eficiente imposição liberal capitalista”(SALGADO, EI, 1957:58). De acordo com Gumercindo R. Dórea a contraposição se dava basicamente por três motivos: inicialmente, porque o comunismo havia sido o maior responsável pelo acirramento da luta de classes; que motivado por isso, se mostrava como uma proposta internacionalista e não nacionalista e que mediante seu caráter internacional estaria prontamente apto a implementar um plano de dominação mundial.(DÓREA, EI, Vol. 8, 1959:6) O acento dado ao espiritualismo atualizava o sentimento anticomunista originado na década de trinta. Verdadeiro fomentador do anticomunismo, o Manifesto de Outubro (documento mais importante do integralismo) enfatizava: “o comunismo destrói a família para melhor escravizar o operário ao Estado; destrói a personalidade humana; destrói a religião; destrói a iniciativa de cada um”. 136 Cabe destacar que o Manifesto de Outubro foi discutido e interpretado nos escritos da Enciclopédia do Integralismo como o centro irradiador de sua doutrina. Nesse sentido, por diversas vezes, os escritos do compêndio teceram relações com textos que, embora não tivessem uma chancela integralista, comungavam da mesma percepção anticomunista. Nos quatro primeiros volumes, e em especial no volume 6, a Enciclopédia cedeu espaço para a publicação de trechos de escritos não integralistas, mas que se caracterizavam pelo contundente perfil anticomunista. Exemplo disso foi um trecho retirado do jornal carioca Correio da Manhã, intitulado “Propaganda Comunista”, em que o jornal se contrapôs ao que chamou de “vertiginosa escalada comunista”. Note-se que se trata de um texto escrito em meados da década de 1930, justamente quando o integralismo intensifica sua auto-propaganda. É significativo também que em pleno desenvolvimento da chamada Revolução Cubana, nenhum escrito tenha sido compilado sobre esta temática. Nos meses de julho a outubro de 1959, (período em que sai o 8º volume), o jornal A Marcha manteve uma coluna específica que tratava dos desdobramentos do que o jornal chamou de “infame e deletéria tentativa de comunizar a América”.137 Dórea, no entanto, preferiu a manutenção do anticomunismo que caracterizou os primeiros anos do movimento. Até nos poemas dedicados ao anticomunismo, este sempre foi enfocado como um sistema escravizador, uma ideologia que congregava “cínicos perigosos” e que, por isso, enganava facilmente os incautos da nação com furtivas promessas de salvação. Na maioria das vezes, o integralismo rivalizava-se com a ação comunista apresentando-se

136 Manifesto de Outubro de 1932, Op. Cit., p. 11. 137 A Marcha, 19/07/1959, p.6. 116 como uma barreira natural contra sua propagação. Os exemplos poderiam se multiplicar. Ao longo do sétimo volume, exclusivo sobre poetas integralistas, autores dos mais variados estilos veicularam a chave: comunismo/atraso, em detrimento do binômio nacionalismo/salvação.138 A idéia de que uma significativa parcela da sociedade teria aderido ao comunismo sem uma avaliação prévia e sem um grau mais aguçado de discernimento tentava provar que a população, em sua maioria, ainda era tratada como massa de manobra, amorfa e ignorante. A pretensão de demonstrar um conhecimento mais aprofundado das coisas fazia com que os integralistas afirmassem que, “a única verdade só se mantinha viva por detrás da lente integralista, a verdadeira fé cristã e nacionalista do país”(SALGADO, EI, 1957:67). Posicionamentos como estes, sempre encarados com ironia, geravam antes de tudo um enorme desprezo de seus adversários. Os ideólogos integralistas, por vezes, aproximavam o capitalismo e o comunismo como se ambos fossem faces de um mesmo liberalismo. Ora a crítica mordaz do integralismo homogeneizava os dois lados, veiculando comunismo e capitalismo como sinônimos, ora os apresentava como antagonistas de magnitudes diferentes. No entanto, eram sempre vinculados como adversários da religião Com relação ao operariado, os integralistas acreditavam que a classe trabalhadora brasileira teria apenas uma chance de resgatar as perdas históricas que o sistema liberal havia impingido a seus pares. Os integralistas confiavam ser a única solução compatível com a dignidade operária, por isso reafirmavam sua diferença com os comunistas. Nesse sentido, o esquema geral de anticomunismo perrepista retomava os pontos principais que o caracterizava na AIB, seja no esquema teórico que antagonizava em oposição binária, o materialismo e o espiritualismo, seja por argumentos de oposição ao comunismo pelo instigamento dos conflitos sociais; seja pela suposta submissão ao estrangeiro; seja ainda pelo caráter (sic) totalitário, mantendo a noção de um perigo iminente. A apropriação desses elementos sinaliza que tanto nos anos 1930 como no período democrático do pós-guerra, as propostas políticas do integralismo continuaram tendo como centro de atuação o combate ao comunismo. E embora essa atuação não apresentasse propostas concretas para os problemas da nação, o que se percebeu foi que a luta ideológica radicalizou as posições de ambos os lados. Ao longo dos 12 volumes

138 Ver: Diversos poemas anticomunistas na Enciclopédia do Integralismo, Vol. 7. Antologia dos poetas integralistas. 117 da Enciclopédia a temática (comunismo/anticomunismo) permeou quase todos os assuntos. Amparado por outra temática tão reincidente quanto a apresentada neste item (uma heterodoxa concepção de democracia) o integralismo de finais dos anos 1950 buscou reatar laços que se mostravam frouxos. Por isso, no que tange à consolidação do movimento, esta enfrentou embates que acentuaram uma série de contradições. A pecha de autoritários precisou ser matizada. Nascia então, no seio do movimento, um discurso que não fazia sentido nos anos 1930, mas que no contexto do perrepismo foi apresentada como algo natural: a aproximação do integralismo com o conceito de democracia.

3.2- A Democracia: uma contradição exposta em dois atos Os anos 30 Diferentemente do anticomunismo, as discussões sobre o conceito de Democracia não aparecem na Enciclopédia de forma explicita. Pulverizado ao longo das 1770 páginas do compêndio, os escritos sobre a temática ocuparam um espaço representativo, a despeito do termo “democracia” ter sido utilizado apenas por seis vezes, o que, numa primeira leitura poderia sugerir uma superficialidade do conceito adotado pelos integralistas. No entanto, cabe registrar que tal superficialidade também pode ser interpretada como um proposital artifício de linguagem: não se fala, não se contesta, logo, não há identificação com um movimento contrário à democracia. Decorrentes deste artifício, tais escritos apontam para questões pouco aprofundadas sobre os posicionamentos da AIB/PRP frente à democracia. Talvez, por crerem numa espécie de democracia diferenciada da liberal, conhecida entre os seus membros como “democracia cristã”, os integralistas acreditavam que sua permanência no jogo político não infringia a concepção democrática universal. Ao contrário, entendiam que sua presença enriquecia o meandro político, uma vez que os integralistas, tal como quaisquer partidos ou instituições mereciam um lugar no contexto democrático. Calcada nesta contradição, a democracia integralista só aparece nos escritos da Enciclopédia a partir do seu contrário. A questão democrática só é posta em discussão

118 quando se trata de diferenciar o integralismo dos regimes comunista e liberal. Em vista desses dois regimes, o integralismo sempre foi descrito por seus integrantes como uma doutrina que possuía um programa plenamente democrático. As contraposições enfrentadas ao longo da década de 1930 levaram os integralistas a criar respostas às acusações de que eram antidemocráticos. A cada denúncia, acusação ou censura, eles apresentavam o registro concedido pelo TSE afirmando que a AIB se configurava numa sigla democrática. Muitos dos magistrados brasileiros naqueles anos 1930 aceitaram a AIB como um partido de tipo democrático. Em vista disso, alguns textos presentes na Enciclopédia valeram-se dos pareceres favoráveis de representantes da sociedade da época para se legitimarem. Assim, pareceres como o do Conde Afonso Celso (autor do livro: Por que me ufano de meu país! 139); do líder católico Tristão de Athayde (lembrar que neste período havia ainda a aproximação entre Amoroso Lima e Salgado); dos generais Pantaleão Pessoa, Góes Monteiro e Newton Cavalcanti; bem como de alguns cardeais foram usados como prova da constitucionalidade democrática do integralismo. Para Alberto B. Cotrim Neto, a hierarquia só poderia existir se acompanhada da noção da democracia integralista. A noção excludente de democracia defendida por Cotrim Neto encontrou ressonância em muitos integrantes do movimento. O centro da concepção democrática integralista, segundo Rocha Vaz, militante da terceira geração, os princípios integrais se organizariam mediante uma: “organização político-científica que teria no seu programa a premissa exclusiva de: „dar ao homem elementos para que ele realize as suas justas aspirações materiais intelectuais e morais‟. Assim sendo, a função do homem no Estado Integral é servir a democracia cristã em plenitude. (VAZ, EI, Vol. 3, 1958:145) Outra questão analisada pelos ideólogos que pensavam uma democracia específica para o integralismo foi a problemática que envolvia a educação, os estudos. A mentalidade integralista confiava que o cidadão necessitava possuir uma formação moral, intelectual e principalmente física, que estivesse sintonizada com a credibilidade do movimento. Daí acreditarem que o corpo, assim como o intelecto, muitas vezes, indicava as funções a serem desempenhadas por cada indivíduo. Numa sociedade

139 Político e escritor brasileiro, Afonso Celso de Assis Figueiredo não era diretamente vinculado ao integralismo, mas nutria certa simpatia pelo movimento, principalmente por causa do veio nacionalista explorado por Salgado. Faleceu no Rio de Janeiro, a 12 de outubro de 1938. Cf: artigo: “Uma plêiade de intelectuais será forçada a aderir ao Integralismo, pugnando pelos ideais do Conde Afonso Celso”. A Marcha, 29/11/1957,p.3. 119 democraticamente distribuída, cada indivíduo teria que cumprir a função que melhor lhe conviesse. Para a maioria dos integralistas, a sociedade democrática liberal reproduzia, em outra escala, a constante luta biológica, batalha inspirada na teoria do darwinismo social, que impunha a sobrevivência ao mais apto e forte. Segundo uma metáfora, por vezes, empregada pelos cientistas vinculados ao movimento, “os rins filtram os líquidos, separando impurezas que intoxicariam todo o organismo (...) e que se, hipoteticamente, os rins fossem políticos partidários, fariam essa purificação no interesse próprio”. Concluía-se que: “(...) o resultado dessa purificação seria inevitável, pois todo o corpo se envenenaria e, no seu padecimento morreriam também os rins. É disso que o integralismo foge. Somos célula deste organismo e não permitiremos seu envenenamento”. (FAIRBANKS, Idem: 1957)

Para os integralistas, o partido era plenamente democrático, pois suas propostas (sic) visavam a melhoria da população em geral, sem os subterfúgios das mentiras pregadas pelo sistema liberal que, no final das contas só enganavam a população. Já para grande parte da sociedade as tentativas integralistas de parecerem aptos ao regime os afastavam ainda mais da credencial democrática. Cabe lembrar que os integralistas dos anos 30 tiveram que admitir a falta de respostas plausíveis frente a tais contradições, afinal, ora acusados de fascistas ora de extremistas, os integralistas teriam no período entre 1945 e 1964 que se desvencilhar de tal pecha.

Outro elemento se fez presente na discussão integralista acerca da democracia: o conceito de cidadão, sobretudo porque o projeto de democracia pensado por alguns membros integralistas dos anos 1930 se mostrava, carregado de teores raciais. Bom exemplo foi Rodolpho Josetti, membro que possuía uma visão eugênica do que ele chamava de “cidadão integral”. Josetti acreditava que o homem integralista era o homem do futuro. “O integralista ideal”, muito em função da característica racial140.

(JOSETTI, EI, Vol. 3, 1958:77) Mesmo que discursivamente Plínio Salgado tenha sempre afirmado a natureza multirracial do integralismo, as diferenças apontadas entre o cidadão integralista e o não integralista foram apresentadas na esfera da diferença biológica, o que reforçou o conteúdo racial do discurso integralista. Sobretudo, nos anos 1930 período de formação

140 Em contrapartida, nos anos 1930, a AIB era o único partido (exceto o PCB) a possuir em seus quadros militantes negros em posição de destaque. Exemplo significativo é a aproximação da AIB com a Frente Negra Brasileira e a presente militância de Abdias do Nascimento. 120 do integralismo muitos integrantes nutriam diferentes concepções com relação à admissão de negros e cidadãos de outras etnias no seio do integralismo. Influenciados pelas idéias de Gustavo Barroso, o mais anti-semita de todos os integralistas, esses militantes acabaram por explicitar uma contradição que nascera junto com o próprio integralismo: como se demonstrar democrático se o movimento possuía propostas que, ao invés de universalizar os direitos dos cidadãos, os diferenciava?

Os anos 40 e 50 A contradição explicitada anteriormente encontrou no período de redemocratização (pós 1945) um campo extenso para ser debatida. Em sua segunda atuação, a formal conversão141 do integralismo à democracia teve algumas peculiaridades, como, por exemplo, seu próprio “discurso pendular”. Ora discutindo sobre os princípios democráticos, ora abstendo- se, o integralismo encontrou nas décadas de 1940-60 seu grande componente de propaganda: o “elemento espiritualista”, que, embora sempre estivesse presente na essência de seu discurso ganhou relevância exatamente no período de redemocratização. Como justificativa discursiva para apresentar o conceito de democracia elaborado por ele como verdadeira democracia, além de uma constante crítica às massas, também se exaltou a congruência existente entre o discurso e a prática integralistas. Sobre a concepção de democracia peculiar apresentada pelo PRP o que se observou é que esta se mostrou uma combatente feroz da concepção de mundo materialista142, em favor de uma posição espiritualista. De acordo com a historiadora Márcia Regina Carneiro, a definição dessa concepção espiritualista permitiu ao PRP deflagrar ataques ao liberalismo e à democracia liberal, abertamente. A autora afirma que toda crítica faz sentido a partir da legitimação que é buscada no espiritualismo.

141 Podemos dizer que a “conversão” do integralismo à democracia foi originada ainda com Plínio Salgado no exílio em Portugal. Nesse período de exílio são editados livros que desenvolvem uma concepção de “democracia cristã” que foi utilizada para sustentar a formal conversão à democracia. Em O conceito Cristão de Democracia, livro de autoria de Salgado publicado em Portugal, podemos encontrar as principais idéias utilizadas na argumentação do discurso democrático integralista no período de atuação pela legenda do PRP. 142 Ao contrário, o espiritualismo seria a crença em Deus e no destino sobrenatural do homem. Definida desta forma a concepção espiritualista, baseada em “princípios religiosos”, foi utilizada como elemento de suporte para conceitos perrepistas. 121

Além disso, ao propor que os problemas sociais eram resultantes da escolha da concepção materialista, ou seja, do comunismo e capitalismo, o espiritualismo permitiu ao PRP se apresentar com o discurso de portador de uma nova opção, uma “terceira via”. Mas, este discurso pelo qual o PRP se apresentava como “terceira via” não se sustentou, porque apesar de fazer algumas críticas ao capitalismo não chegou a questionar a propriedade privada e o lucro, assim, agiu a favor da burguesia e permanência do capitalismo. Mesmo após a conversão formal ao discurso democrático do integralismo do pós-guerra, instituído a partir da criação pelo PRP do conceito de Democracia orgânica (CALIL, 1998, 102) podemos encontrar a proposição de centralização do poder, autoritarismo e censura no conceito de democracia apresentado. A antiga base doutrinária, agora maquiada pela ênfase no espiritualismo, pode ser percebida na crítica às massas e o controle das liberdades por “princípios religiosos”. Como se percebe, o conceito de Democracia Orgânica era bastante impreciso.143 Nos anos 1940 e 1950, e mesmo no princípio dos anos 1960, o paradoxo foi ainda mais flagrante. Como defender posições tão extremadas num período em que os extremismos eram tão combatidos? De que maneira a democracia pensada pelos integralistas nos anos 1930 foi vista nos escritos de um compêndio editado e publicado duas décadas depois, período de consolidação das liberdades políticas e civis? Ou ainda, como a Enciclopédia do Integralismo pôde publicar depoimentos e conceitos que se chocavam frontalmente à realidade democrática vigente? Os integralistas responderiam: “(...) justamente, por estarmos vivendo em uma democracia!”. Portanto, o conceito de democracia difundido pelo integralismo em sua segunda atuação, adjetivada de “defensiva e cristã” opunha-se diametralmente à chamada democracia liberal, que os integralistas reputavam como sendo materialista por natureza. Mais uma de suas várias contradições. Na Carta Programa do PRP editada em 1945, previa-se que a atuação seria realizada “mediante a anunciação da consagração e intransigente defesa do regime democrático, baseado na pluralidade partidária e na garantia dos direitos fundamentais do homem”. 144

143 O chamado conceito “cristão de democracia” foi desenvolvido por Salgado a partir de 1942 em diversas obras publicadas ainda em seu exílio em Portugal. Seu conteúdo é discutido em CALIL, O integralismo no processo político brasileiro. Op. Cit. 159-169. 144 Partido de Representação Popular. Carta de Princípios e Programa do PRP, 1945, p.35. 122

Como se percebe, a transformação do discurso antiditadura acabou por assimilar os vocábulos que permitiram a declaração de Salgado a favor da democracia. Uma mudança relevante para quem sempre mediou o discurso de modo a não comprometer sua atuação pregressa. Os integralistas perrepistas precisaram criar soluções e explicações, muitas vezes, inconsistentes, para convencer a sociedade de que não haviam agido de maneira incoerente ao tornarem-se repentinamente democráticos. Uma das tentativas de justificar a mudança na postura política integralista partiu de Francisco Assis Galvão, que procurou explicar a alegação democrática do PRP a partir do seu contrário. Mais uma vez, a noção de democracia contida no discurso integralista era substituída pela cautela de se mostrar anti-totalitária ou anti-ditatorial, mas não explicitamente democrática. O fato dos integralistas do período pós-guerra quase nunca se referirem à democracia num discurso direto, mas com um uso recorrente de metáforas e comparações, também se mostra significativo. Este discurso nos leva a entender que com essa atitude os integralistas visavam demarcar um desempenho político mais próximo de seu passado, acentuando, portanto a presença de elementos constituintes de sua primeira atuação. A hesitação em se postular favorável à democracia, como se vê, causava um efeito contrário, pois contribui para que se criar comparações indefensáveis. Posto que as relações do integralismo com a noção de Democracia sempre foram pouco explícitas, fixou-se o contraditório: como sobreviver ao contexto democrático sem expor suas querelas e antagonismos? Este problema se resolvia facilmente com a deflagração da mais importante bandeira de propaganda integralista. Ela foi atemporal, e por isso mesmo norteou todas as rubricas do movimento. Para afirmar-se adepto da democracia o integralismo fixou-se na ambivalência de seu discurso e no pronto ataque ao comunismo. E para consolidar suas ações preparou o terreno com as sementes de sua doutrina, germinadas pelas mãos daqueles que criaram base sólida para uma pedagogia integralista. O anticomunismo e uma particular noção de democracia foram os ingredientes mais usados nesta receita que, teve como fermento a educação, substrato essencial presente nos documentos fundadores do integralismo.

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3.3 - A Educação como fermento de uma massa em descanso A Enciclopédia do Integralismo continha uma proposta clara: confirmar o integralismo como uma doutrina que visava a educação política do povo. Um dos aspectos melhor explorados pelo movimento foi a alfabetização do grande contingente analfabeto existente no país, com a intenção clara de angariar seus votos. Vale lembrar que, na década de 1930, os analfabetos não votavam e nos anos 1950, além de ainda permanecer apartados do sistema eleitoral, sua porcentagem continuava bastante elevada. Nesse sentido, o panorama do ensino oficial no momento em que a Enciclopédia é lançada, não era nada encorajador. Por isso, nas décadas de 1950 e 1960 diversos projetos no campo da educação coexistiram e disputaram espaço político. O projeto educacional integralista (inalterado desde sua criação nos anos 30) foi mais um desses projetos. De maneira geral tais propostas continuavam acreditando no poder de transformação social da educação e postulando que sua missão era modernizar o país e integrar os setores mais pobres da população.145 No entanto, considerado retrógrado se comparado a outros projetos do período, (o dos pioneiros, por exemplo), o projeto educativo integralista reproduzia uma visão de mundo anacrônica e anti-universalista. Estes elementos são o mote da publicação do primeiro e nono volumes do compêndio, que chamam atenção, de maneira pormenorizada, para o cenário que acolheu a publicação do Manifesto Integralista (1932), o portifólio educativo do movimento. Interessante notar que o discurso de Salgado, ao longo do compêndio foi todo caracterizado por uma linguagem superlativa, utilizando-se de muitas metáforas, principalmente quando sistematizou os elementos formadores do ideário integralista, cujo foco sempre foi a constituição do Estado Integral (síntese das inspirações demarcadas pelo movimento). Tal discurso foi pautado por digressões que ilustraram o teor saudosista do movimento. Nos volumes supracitados, a ponte que unia o passado ao presente do movimento sempre foi a educação.

145 GOMES, Ângela de Castro. A escola republicana: entre luzes e sombras. pp.385-450. In: GOMES, Ângela de Castro et all (Org.). A República no Brasil. Rio de Janeiro, Nova Fronteira/FGV, 2002. 124

Paralelamente, a intenção do editor da publicação, Gumercindo Rocha Dórea, ao iniciar os volumes com um texto de pretensões educativas produzido pelo chefe integralista era incentivar os simpatizantes a adquirirem o que Salgado chamou “de síntese de tudo o que fora a Doutrina e o sumário de tudo o que ainda seria o movimento” (SALGADO, EI, 1957:5). A análise do Manifesto de Outubro expõe a pretensão dos integralistas de solucionarem os diversos problemas nacionais, apresentando-se à Nação como uma síntese de filosofia, educação e método salvadores. Mas, a intenção do Manifesto ia além da ordenação partidária ou doutrinária dos integralistas, ou mesmo da celebração. Propunha explicitamente a penetração da educação integralista na sociedade. A ação “congregadora” do Manifesto seria de acordo com Salgado, tanto nos anos 1930, quanto nos anos 1950 a responsável pela manutenção da ação educativa de seus seguidores. Duas décadas e meia após o Manifesto ter sido escrito, os integralistas continuariam enaltecendo a vocação aglutinadora de tal documento. Em consonância, o espólio integralista permaneceu cultuando o documento como berço do integralismo. Diferentemente dos onze volumes que o sucederam, cuja característica principal era a miscelânea de temas co-relacionados (com exceção do 7º, 9º e 10º volumes que foram consagrados a temas únicos – poesia, educação e atos jurídicos), no volume escrito por Salgado, além de se analisar os episódios formadores da doutrina integralista, ressaltaram-se as influências de autores como de Farias de Britto, Alberto Torres, Jackson Figueiredo e Oliveira Viana na formulação original do movimento: símbolos da educação integralista, com seriam lembrados em diversas passagens da Enciclopédia. Dado relevante é que quando o compêndio é editado cerca de 50% da população do país era analfabeta. O panorama do ensino oficial não inspirava mudanças, mas o poder de transformação social da educação passou a ser o postulado de diversos segmentos políticos, dentre os quais o próprio integralismo que via nos setores mais pobres da população possibilidade de aderência política. Nessas duas décadas chama a atenção a luta dos educadores vinculada à tradição dos pioneiros contra a centralização, burocratização, e uniformização que haviam tomado conta do campo da educação, em clara oposição a projetos mais conservadores.

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A idéia de que a educação sempre foi um dos pilares da civilização era levada à risca pelo movimento integralista que propunha uma reestruturação geral na educação do indivíduo, apregoando uma reforma interior das pessoas, pois para os integralistas, mais do que um projeto educacional, tratava-se de uma revolução espiritual.146 Plínio Salgado, por diversas vezes, referia-se à educação como o diferencial entre prósperos e improdutivos. A orientação de Salgado influenciou diretamente nas interpretações que os militantes detinham sobre educação e cultura. Nesse sentido outros integralistas aparecem, com textos sobre o tema em outros volumes, corroborando as idéias expostas pelo chefe integralista. Dentre os quais se destacaram: o, então, padre Hélder Câmara, os integralistas da primeira geração: Leopldo Ayres, Rodolpho Josetti e Belisário Penna, as únicas mulheres presentes na Enciclopédia: Margarida Corbisier e Carmen Pinheiro Dias, bem como Gumercindo Rocha Dórea, (sempre por meio de intervenções contemporâneas à publicação da Enciclopédia). Ao mesmo tempo em que a educação era relacionada com a totalidade da formação do membro integralista, “sua função era educar o homem integralmente” (DÓREA, EI, Vol. 9, 1959:65), também era veiculada como sinônimo de sofrimento e fortalecimento, sentimentos sem os quais não se ascenderia à vitória. Nesse sentido, o padre Hélder Câmara evidenciava tanto aos educadores quanto aos “aprendizes plinianos” que: “(...) O lindo não era viver as horas fáceis de deleite. Belas eram as horas ásperas e difíceis (...) a conquista dos píncaros que nunca foram escalados e que devem guardar o segredo das auroras inéditas, cheias de esplendores” (CÂMARA, EI, Vol. 9, 1959:36). Sendo assim, ao que parece, o sofrimento para o integralista era razão de alegria e fortalecimento. A pedagogia integralista imaginada por Hélder Câmara era baseada nos princípios elementares da auto-afirmação integralista e visava, antes de qualquer coisa, a contraposição as ideologias capitalista/liberal e comunista. Como se percebe o anticomunismo sempre foi o pano de fundo de qualquer ação integralista. A educação integral (leia-se anticomunista) visava, então, antes de tudo ser física, artística, científica, econômica, política, social e religiosa, destinada tanto às massas quanto aos considerados aptos para formarem a elite da Nação. Este é um

146 Estas apreciações dialogam com o trabalho de Rosa M. F. Cavalari, pesquisadora que aprofundou os estudos da educação integralista. Para maiores detalhes sobre a educação integralista. Cf: CAVALARI, Op. Cit.: Cap. I - A Revolução do Espírito, p.41. 126 elemento que confirma a tese de que tanto nos anos 30, quanto nos anos 50 os preceitos culturais e educacionais integralistas eram moldados de acordo com os referenciais de Salgado. A praxe permaneceu inalterada nos dois momentos. Gumercindo Rocha Dórea, na introdução do 9º volume, dedicado exclusivamente à educação integralista, chamou a atenção para um fator significativo dentro das propostas do compêndio: “(...) o simples enunciado da matéria contida neste volume evidencia o caráter documentário desta obra que visa compendiar uma doutrina educacional partindo metodologicamente de seu conceito filosófico, objetivando a concatenação lógica dos assuntos (...)” (DÓREA, EI, Vol. 9, 1959:43) Em princípios dos anos 1960, portanto, no período de publicação dos últimos volumes da Enciclopédia alguns elementos, apesar de pouco aprofundados, serviram de palco para uma série de discussões. Um ponto relevante nesse período é que no Plano de Metas de Kubitschek, não havia contemplado quase nada em termos de educação. Os embates em torno da qualidade da educação brasileira redundaram em contendas sobre a necessidade de uma urgente reforma educacional, discussão esta que em verdade, tramitava no Congresso desde 1947. O início do governo Goulart mapeou os principais problemas, entraves e caminhos possíveis para esta reforma funcionando como um campo de experiências, onde inúmeras idéias e novas propostas emergiram. Nesse sentido, o ano de 1961 foi emblemático para a educação no país, pois aconteceu neste ano a votação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (20/12/1961)147, que introduziu uma orientação descentralizadora em nosso sistema de ensino. Este debate, apesar de capital para o tema, não foi tratado pela Enciclopédia, (seja por meio de textos, seja por meio de intervenções do editor), o que forçosamente direciona para seguinte entendimento: o silencio em torno deste debate evidencia uma postura desatualizada do movimento em torno da questão, ou ainda, uma proposital desvinculação do tema, como se a questão não estivesse na ordem do dia? Ambas as possibilidades demonstram que o integralismo preferiu não dialogar com o presente, entendendo que sua proposta passadista de educação integral continuava dando conta de responder aos problemas vigentes. E quando os integralistas perceberam que a educação integralista não respondia às demandas de um novo contexto, a propaganda maciça de

147 Para maiores detalhes ver: GOMES, Ângela de Castro. A escola republicana: entre luzes e sombras. pp. 385- 450. In: GOMES, Ângela de Castro et all (Org.). A República no Brasil. Rio de Janeiro, Nova Fronteira/FGV, 2002. 127 sua doutrina e a relação com seu maior interlocutor (o catolicismo), tornaram-se então, as vias percorridas pelo integralismo em um novo processo de cooptação.

3.4 - O catolicismo integralista A relação do integralismo com a igreja católica se dá de maneira diversa em dois momentos: os anos 1930, quando a aproximação é mais uma colaboração ideológica, e os anos 1950, quando o elemento que unia suas relações também aproximava grande parte da sociedade civil da época: o anticomunismo. No primeiro momento, ao longo da década de 1930, observou-se uma aproximação entre os integralistas e os setores mais conservadores da Igreja Católica brasileira. Embora a AIB não tenha se definido com uma posição católica, ao contrário, tenha recusado esta postura a partir de 1935, gerando importantes dissidências católicas no movimento (a exemplo de Ernani Fiori, no RS), sua aproximação com a Igreja romana passou por altos e baixos. O ano de 1935 aparece, então, como ano chave desta década no que diz respeito à tomada de posições político-partidárias e ideológicas do país. No final deste mesmo ano, a Intentona Comunista e sua repressão imediata significaram o fechamento de espaço às forças populares emergentes. A ala mais conservadora da Igreja, que tinha no comunismo ateu seu maior inimigo, não hesitou em posicionar-se a favor dos movimentos contrários a ele. Em um segundo momento, o leque de ações de ambas as instituições favoreceu uma aproximação diferente da anterior. A igreja dos anos 1950/60, diversamente do período anterior, começou a se preocupar com as camadas populares que formavam sua base social. Do início dos anos 1950 até o golpe de 1964, alguns setores da Igreja Católica no Brasil - ligados à direção da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), criada em 1952, e a grupos de Ação Católica - passaram a assumir posições de apoio a lutas populares, o que fez com que as críticas ao comunismo ou a determinados aspectos do capitalismo (como o laicismo e a secularização) dessem lugar ao

128 questionamento das injustiças sociais. Estava surgindo, nesse momento, uma espécie de esquerda católica que, todavia, ocupava posições não-majoritárias dentro da instituição, a qual se mantinha como atuante batalhadora contra o comunismo. A preocupação da Igreja com questões sociais geradas pelo modelo de capitalismo no país, como a fome e o desemprego fortalece grupos vinvulados à juventude católica, incentivando-os a criarem em 1960, a Juventude Universitária Católica (JUC), forte segmento da base jovem da igreja influenciada pela Revolução Cubana e por teóricos católicos esquerdistas como Jacques Maritain. Progressivamente, os jucistas passaram a questionar a sociedade capitalista, o que leva a JUC a aderir formalmente ao socialismo e, como reflexo do crescimento do marxismo na América Latina, a vivenciar uma crise com a hierarquia da Igreja. Pressões de setores conservadores da Igreja (mais próximos ao integralismo) levam, então, os militantes da JUC a criar um movimento de esquerda, a Ação Popular (AP) que visava o claro embate com as forças reacionárias da igreja de então. No entanto, tal comportamento foi se matizando, ao ponto de, em finais da década de 1950 o próprio anticomunismo antes acirrado foi dando lugar a uma atitude mais equilibrada: combatia-se o comunismo, mas entendia-se que os males do capitalismo é que tinham provocado a expansão comunista.148 A Igreja, diante da publicação da encíclica Mater Magistra do Papa João XXIII – em maio de 1961, a primeira a tratar explicitamente dos problemas do mundo subdesenvolvido, teve um importante incentivo para o catolicismo reformista não radical. Diante desse quadro, as relações entre o integralismo e o catolicismo entrava em uma outra fase. Era necessário explicitar um mote que pudesse unir as expectativas de ambos. Ao contrário da igreja, que buscava outras formas de militância, cada vez mais aberta ao esquerdismo, o integralismo desse mesmo período, relutou mais que a igreja no que tange à mudança de comportamento. Nesse sentido, é importante lembrar que a relação que o integralismo construiu com a Igreja Católica sempre foi ambígua e mediada por embates. Ora aliada, ora antagonista, a Igreja, por meio do catolicismo foi o interlocutor mais próximo do integralismo. Todavia, é preciso lembrar que, por diversas vezes, o integralismo

148 FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo, Edusp, 2001, p.446. 129 colocava todas as religiões cristãs em pé de igualdade, ou seja, não discriminou ou elegeu o catolicismo como a única postura ideológico cristã a ser seguida149. Embora, no período pós-guerra sua relação não tenha sido tão consistente, quanto o fora nos anos 1930, os escritos da Enciclopédia do Integralismo atestam que a Igreja possibilitou o fortalecimento da doutrina integralista. Em linhas gerais, a doutrina, ao enfatizar o lema “Deus, Pátria e Família” e seu consistente anticomunismo ensejava naturalmente uma aproximação com o catolicismo. Autores das três gerações integralistas apresentaram na Enciclopédia textos com temática religiosa: Plínio Salgado, Hélder Câmara, Leopoldo Ayres e Lúcio José dos Santos, afirmaram em escritos originais dos anos 1930, que a idéia de força coletiva perpassava necessariamente a relação entre as fontes da modernidade e da tradição, relação esta em que a tradição era personificada pela religião e a quebra dos individualismos ou coletivismos radicais. Plínio Salgado, como chefe do movimento Salgado dirigiu-se aos seus militantes apresentando-se como uma liderança religiosa, detentora da prerrogativa da mediação entre os militantes e a divindade. Exemplos que atestam esta tentativa de mediação são as suas Mensagens de Natal, que foram em partes retratadas em trechos do compêndio.150 No entanto, em detrimento dessa postura mediadora assumida por Salgado e a aproximação com os preceitos cristãos, o integralismo logrou uma relação pendular com a hierarquia da Igreja Católica, no sentido de que se valorizava os preceitos cristãos apregoados pelo catolicismo, mas se mostrava independente no tocante à sua concepção ideológica. A influência que alguns líderes católicos (aglutinados em torno da revista A Ordem e do Centro Católico Dom Vital151) exerceram sobre Plínio Salgado, se deu,

149 Ver: MERG, Camila. Saberei sustentar a cruz de Cristo e a bandeira da Pátria: o espiritualismo integralista na doutrina do PRP (1945-1960). Dissertação de mestrado. PUCRS, 2007. 150 Exemplos dessas Cartas natalinas podem ser consultados nos jornais integralistas da década de 1930 e perrepistas das décadas de 1940 e 50. Cf: “Carta de Natal e Ano Novo”, dirigida por Salgado, no Natal de 1935. Durante o período de vigência do PRP, a praxe continuou. Ver: A Marcha, 24 de dezembro de 1954, 56 e 57. O texto das Cartas de Natal e dos desejos de prosperidade, em muitos de seus exemplares, terminava com a seguinte frase: “E que a bondosa preponderância dos justos seja iluminada pelo Pai criador. Que a bandeira do Sigma [na época da AIB e depois de 1957]... ou: Que a bandeira da paz [durante o período de pouca contestação do simbolismo integralista] recubra a todos nós. Salve o movimento. Viva o Brasil. E lembrai: Cuidai primeiro do reino de Deus e da justiça que, tudo o mais virá por acréscimo”. Cartas de Natal. 151 A Revista A Ordem foi fundada em 1921 e o Centro Dom Vital, em 1922. Tiveram como diretores: Jackson de Figueiredo, Tristão de Ataíde (Alceu Amoroso Lima) e Perillo Gomes. Além disso, contaram com a colaboração dos seguintes nomes: H. Sobral Pinto, Hamilton Nogueira, Augusto Frederico Schimidt, Jonathas Serrano, Plínio Corrêa de Oliveira, Pedro Dantas, Luiz Delgado, Afonso Celso, dentre outros. 130 principalmente devido à identificação do líder integralista com os setores mais conservadores do catolicismo brasileiro. O Centro Católico Dom Vital permaneceu como o núcleo da intelectualidade católica, ao passo que a Revista A Ordem consolidou- se como a porta-voz de uma específica manifestação católico-nacionalista que tinha seu maior foco nas idéias antiliberais e anticomunistas. Ambos foram inicialmente dirigidos por Jackson de Figueiredo e, depois, por Alceu Amoroso Lima, personagem que viria a contrapor-se veementemente ao integralismo a partir dos anos 1940, período caracterizado por uma constante tensão entre a ala mais ortodoxa da Revista A Ordem e Plínio Salgado. Os escritos que na Enciclopédia abarcam a temática religiosa foram, via de regra, expressões do mais alto grau do comportamento hierarquizado e disciplinado dos integralistas com relação às figuras mitificadas de Jesus Cristo e do chefe, Plínio Salgado. Cabe ressaltar que, nesses volumes, não foram selecionados nenhum escrito do então Padre Hélder Câmara, vinculado à temática religiosa. Os textos escolhidos pelo editor para representar Câmara resumiram-se nos artigos de combate a Severino Sombra, a quem acusava de “vestir-se de cristão, no intuito de flertar inclusive com os maçons”. (CÂMARA, EI, Vol. 5, 1959:35) Até mesmo durante o exílio de Salgado em Portugal os membros integralistas escreviam a respeito da necessidade de se preservar a chama religiosa cristã integralista. A permanência de Plínio Salgado na Península Ibérica foi determinante para que este escrevesse em terras portuguesas o livro: A Vida de Jesus. De volta ao Brasil em agosto de 1946, Salgado fortaleceu a relação com a base católica do então recém-criado PRP visando consolidar as bases de uma coalizão que viabilizasse sua progressão política. Nos anos 50, a relação integralista/católica enfraqueceu-se paulatinamente. Em um dos mais longos depoimentos relacionados à temática religiosa, Leopoldo Ayres, traçou um paralelo entre a situação social vigente na época (anos 1930) e as propostas contidas em duas encíclicas papais: Rerum Novarum e Quadragesimo Anno.152 Uma questão permeou toda sua fala: se o integralismo era totalitário, como muitos afirmavam, onde residia seu caráter cristão? Essa questão ganhou maior relevância quando publicada na

152 Verdadeira carta de princípios do catolicismo social, que se referia à condição dos trabalhadores da época, a encíclica Rerum Novarum foi promulgada pelo papa Leão XIII, em 1891. Quarenta anos depois, em 1931, o Papa Pio XI em comemoração às quatro décadas da Rerum Novarum, promulgou outra encíclica, denominada Quadragesimo Anno, na qual, distinguindo os dois ramos do socialismo (o comunista, propugnador da violência e o socialismo moderado), visou alertar os católicos em relação ao iminente “perigo comunista”. 131

Enciclopédia, pois os anos 1950 exigiam com clareza a posição política de seus indivíduos. A temática da religião não foi exclusividade das primeiras gerações de escritores integralistas. Diversos representantes da terceira geração (anos 1950-60) também se preocuparam com o tema. Dentre eles, destacaram-se os Águias Brancas: Hélio Rocha, Ivan Luz, Genésio Pereira Filho e Gumercindo Rocha Dórea. Este último, afirmou que “se tratava de um desfile de gerações que debateria o mesmo tema e realizaria uma obra de cultura, ordenada quanto a sua essência e substância, ainda que variada nas posições e perspectivas (...) que serviria para avaliar o peso e a força da grandeza da religião e do Integralismo Brasileiro”. (DÓREA, EI, Vol.8, 1959: 9) Para Ivan Luz, “o liberalismo concebeu um Estado sem finalidade; o fascismo, um Estado com finalidade em si mesmo; o nazismo caminhava para a negação do Estado, com a idealização da supremacia racial; e o comunismo era a sua negação total, logo seria preciso determinar uma teleologia integralista que, baseado na religiosidade, se afinaria numa escala de instrumentalidade frente ao perigo da falta de religiosidade”. (LUZ, EI, Vol.8, 1959:57) Os documentos produzidos por esta geração mais nova de autores integralistas dialogaram com as mais variadas vertentes do catolicismo. Não obstante, os escritos que apresentaram como pano de fundo a relação conflituosa entre o integralismo e o

Maritanismo153, permeou boa parte dos textos de temática religiosa. Os maritanistas foram desqualificados com os mais variados adjetivos, ao longo dos volumes da Enciclopédia. Segundo os integralistas, os “esquerdistas de Maritain”, sob os quais também pesava outro epíteto, o de “discípulos falsificadores de imagens alheias”, não eram moralmente capazes de influenciar a sociedade, sob o julgo de terem que apresentar o seu verdadeiro propósito: “sua sempre condenável socialização do catolicismo”. (ROCHA, EI, Vol. 8, 1959:131) Deste modo, não causa surpresa o fato da revista A Ordem – na qual escrevia alguns maritanistas -, referir-se ao líder integralista nos seguintes termos: “revolvamos estas fezes”, ou então “apontemos o dedo para registrar sua produção literária, esta verdadeira e pura bestiologia”. (LIMA, A Ordem, 1946:57) A despeito dos ataques que partiam de líderes leigos e religiosos dos mais variados matizes, por vezes denominados de “maritanismos de ocasião”, registram-se,

153 Jacques Maritain (1882-1973) desempenhou um papel significativo no movimento de renovação intelectual e espiritual do catolicismo francês, no período entre guerras, que se aproximava do liberalismo. 132 nos escritos da Enciclopédia do Integralismo, diversos trechos que apontam para uma série de repostas a outra espécie de adversário, talvez muito mais atuante: a imprensa de grande circulação, para a qual a vinculação entre o catolicismo e o integralismo era

“uma mistura bastante perigosa”.154 A exemplo dos apontamentos de Ivan Luz e Hélio Rocha, que se concentraram nas ações dos adversários e nas reações dos adeptos de Salgado, as considerações de Gumercindo Rocha Dórea e Genésio Pereira Filho sobre a temática religiosa focalizaram a atuação do líder integralista, reputada por estes como (sic) “irrepreensível do ponto de vista moral religioso” (DÓREA, EI, Vol.8, 1959:140). Deste modo, a conexão entre integralismo e catolicismo foi apresentada nos textos da Enciclopédia do Integralismo como um binômio indispensável para a manutenção do ideário integralista, como o mais importante interlocutor do movimento. Embora, os escritos referentes à temática da religião tenham se pautado, antes de tudo, por uma explícita valorização da figura de Plínio Salgado, como se este fosse uma espécie de entidade intermediária entre as ações humanas e divinas, herdeiro legítimo das tradições do catolicismo; em várias passagens, registraram-se elementos de tensão nos textos publicados. O fato de o catolicismo ter se tornado uma espécie de contraponto para o integralismo, no sentido de que fora um misto de aliado e adversário, vem reforçar a necessidade de se aprofundar o estudo das relações mantidas pelo movimento integralista e a Igreja Católica, especialmente no que diz respeito ao grau de contraposição de alguns de seus líderes diante da doutrina integralista, sobretudo a partir da década de 1940. Em um período em que a presença comunista (como possibilidade ou fato) foi o maior álibi da sustentação integralista/católica, a constatação de que o catolicismo havia sido um dos únicos interlocutores do movimento só veio a acentuar a necessidade dos integralistas procurarem canais de aproximação com novos setores da sociedade. No entanto, mesmo com o esforço dos integralistas a tentativa de aproximação não encontrou ressonância. A relação duradoura junto ao catolicismo terminou como um monólogo integralista. Mas a predisposição integralista aos preceitos religiosos estimulado pelo conteúdo impresso nas encíclicas papais de finais do XIX (alerta contra o liberalismo e o comunismo) possibilitou o crescimento das aspirações integralistas. Esta postura foi o único ponto de contato que sobreviveu da relação entre o catolicismo e o integralismo em finais dos anos 1950. Como pano de fundo a criação de um estado forte e centralizador pôde fazer da ideologia integralista o elo que uniu decisões políticas e atitudes religiosas.

154 “Mistura perigosa”. Nota de canto de página. Diário da Noite. Setembro de 1958, p.3 133

3.5 - O Estado Integral - em pauta uma proposta para a Nação Seguindo os preceitos da Rerum Novarum, Encíclica papal de 1891 que discutia a “questão social” a partir do enfoque do catolicismo e dos caminhos de explicação da fé indicados por Tomás de Aquino, o Estado Integral deveria encerrar, em si mesmo, a família, o município e o mundo do trabalho, amparados nesta intercessão, pela sutura moral do catolicismo que o lema do movimento procurava sustentar: “Deus, Pátria e Família”. Assim, o Estado Integral visava a unidade nacional por meio de um controle autoritário sobre a sociedade, grupos e indivíduos. Nesse sentido, é relevante perceber que Salgado, desde os seus primeiros romances deixou muito claro o seu desejo ideológico: a defesa de uma política nacionalista baseada no conservadorismo, tendo a manutenção da propriedade como forma de organização social, e a aversão ao cosmopolitismo para a defesa de uma sociedade forte e organizada dentro de um contexto tradicionalista. A rejeição da democracia liberal revela-se nas críticas existentes às instituições, de maneira que o Estado integral teria sua organização diferenciada, negaria o pluralismo, e nele, as pessoas seriam organizadas em classes, em modelo corporativo. Este conceito é encarado como algo constituído a partir da integralidade de seus grupos profissionais e indivíduos que, no vocabulário integralista eram os “homens integrais”. A definição de Estado Integral se apresenta em oposição aos Estados Liberal ou Comunista, criticados pelos integralistas por promover divisões e fragmentações em seus aderentes. Porém, a síntese deste Estado, não resultaria nem da junção ou da acumulação, muito menos da sua superação no movimento da História, devendo ser restritiva e finalista frente às verdades ungidas pela espiritualidade do catolicismo escolástico, revivido no enfrentamento de uma nova concepção da natureza. O Estado, como síntese, deveria ser erguido sob o primado do espírito. Os nomes mais representativos dos primórdios do movimento, Plínio Salgado, Gustavo Barroso, Miguel Reale, San Tiago Dantas e Lauro Escorel contribuíram decisivamente para que se construísse a interpretação integralista de Estado Integral. Não é a toa que são deles os textos selecionados na Enciclopédia para comporem esta temática. Uma vez que este estado integral seria uma organização estatal forte, centralizada e autoritária que se responsabilizaria pela chamada “renovação nacional”

134 frente às “tendências negativas” da modernidade, seu caráter mais acentuado também tomou forma nos escritos da Enciclopédia: como o fruto de um reacionarismo nostálgico em relação ao passado entendido como ordeiro e tranqüilo. Nos textos selecionados para debater a temática, já analisados na pesquisa de Gilberto Calil, “o sufrágio universal e o modelo de representatividade receberam intensos ataques, mas as críticas também se dirigiram ao “excesso” de liberdade que conduziria a sociedade às conseqüências nefastas.”(CALIL, 2005, 562). Em contraposição a esta conseqüência nefasta surgiria uma democracia cristã, cujo par imediato seria o Corporativismo, apresentado como solução aos problemas das falhas da democracia liberal: “A democracia orgânica, com, a participação real das corporações profissionais, será, a nosso ver, a solução para os erros do atual Legislativo. Neste caso, o voto será dado aos homens competentes, legítimos e autorizados representantes de sua classe na Assembléia”. (DANTAS, EI, Vol. 8, 1959,67) A partir de agosto de 1957, (portanto, dois meses antes da escancarada re-adesão integralista aos seus antigos ritos e símbolos) a proposta de uma pauta de princípios para a recondução do poder aos integralistas tomou forma mais concreta, com a reforma dos estatutos do PRP aprovada no Conclave de Vitória, instituindo como uma das finalidades do partido o “aperfeiçoamento, pelos meios constitucionais, do sistema representativo vigente, fundamentado no sufrágio universal e no pluripartidarismo, complementando- o também através da representação dos grupos econômicos, profissionais e culturais, de caráter corporativo”.155 Embora bastante aquém da “revolução integralista” almejada, a proposta de reforma eleitoral foi encampada com bastante ênfase pelo movimento, ao mesmo tempo em que possibilitava recuperar a crítica ao sufrágio universal: Para Miguel Reale “(...) Não há dúvida de que essa reforma constitui uma necessidade urgente, podendo mesmo melhorar de certa maneira a representação política tão mal feita pelo sistema partidário (...) ou se muda esse sistema de representação, substituindo-o por outro em que a verdade popular seja autenticamente

155 Decisão dos integralistas: aperfeiçoar o sistema representativo vigente. A Marcha, Rio de Janeiro, 2/8/1957, p. 12. A reforma dos estatutos do PRP foi aprovada sem restrições pelo Tribunal Superior Eleitoral. Cf. Desfazendo intrigas: o Tribunal Superior Eleitoral aprovou por unanimidade os novos Estatutos do PRP. A Marcha, Rio de Janeiro, 4/10/1957, p. 16. 135 apurada, ou se dá ao povo mais uma oportunidade de se decepcionar com os seus legisladores” (REALE, EI, Vol. 6, 1958,9). Este trecho, retirado de um jornal integralista de 1936 foi utilizado como se Reale tivesse exprimido tais idéias em finais dos anos 1950. Nenhuma nota acompanhou o texto, nem mesmo alguma menção explicativa do editor do compêndio. Isso sinaliza duas questões relevantes: ou, o editor utilizava esta estratégia para dar maior visibilidade às propostas integralistas as quais tinha predileção, (numa atitude co-autoral) ou, utilizava dizeres descontextualizados no sentido de realizar uma manutenção de um discurso que encontrava grandes argumentos contrários no momento em que foi publicado. De qualquer maneira o fato de utilizar, anacronicamente, textos de autores em contextos diferentes do que foram produzidos atesta o modus operandi calculado que o editor dispunha para a construção de se sua Enciclopédia A defesa da Câmara Corporativa, tal como nos relata Gilberto Calil, tinha como um dos argumentos principais “sua pretensa superioridade „técnica‟(CALIL, 2005, 563): assim para alguns integralistas, os deputados estariam tecnicamente despreparados, o que se resolveria com a adoção da “Câmara Corporativa” onde, “ao lado dos partidos políticos, que formam a representação política e que decidiriam em última instância, todos os grandes problemas da Nação, se colocaria uma representação de especialistas dos vários problemas de caráter não político, cuja solução interessa ao país. A solução do problema democrático está em conciliar a representação política com a dos grupos naturais da Nação”.156 O mesmo argumento era desenvolvido por Salgado: “Entendo que, paralelamente à Câmara Política, precisávamos ter uma Câmara representativa das forças econômicas, culturais e morais da Nação”. (SALGADO, Anais da Câmara dos Deputados, 1959:66) Esta concepção marcaria por definitivo a proposta de uma retomada nacionalista implantada por um suposto plano de recondução nacional, impetrado pelos integralistas. San Tiago Dantas, veterano integralista, acreditava nos anos 1930, que o Estado Integral seria o verdadeiro aglutinador da civilização brasileira. Para o advogado, “no Brasil, o povo, enquanto povo era melhor que as elites, enquanto elites. Por isso que o trabalho do Estado Integral era o de homogeneizar o povo e as elites, num projeto único”. (DANTAS, EI, Vol. 3, 1958:45) Nos anos 1960 Salgado romperia definitivamente com San Tiago Dantas com quem manteve uma relação de cordialidade

156 A verdadeira representação popular. A Marcha, Rio de Janeiro, 16.8.1957, p. 5. Apud. CALIL, 563. 136 por mais de 30 anos. O estopim deste afastamento se deveu ao que Salgado chamou de “postura esquerdizante” tomada por Dantas a partir de 1958, quando foi eleito deputado federal pelo PTB de Minas Gerais, e mais tarde, nomeado embaixador do Brasil na Organização das Nações Unidas em 1961, pelo então presidente da República Jânio Quadros. Todavia não chegou a assumir o cargo, pois o presidente renunciou três dias após a nomeação. Tornou-se então, ministro das Relações Exteriores durante o período "parlamentarista" do governo João Goulart, quando o Brasil reatou suas relações diplomáticas com a União Soviética. Este foi um elemento preponderante para o afastamento definitivo entre Dantas e Salgado. Então, em 1963, com a volta do regime presidencialista, San Tiago Dantas foi indicado por Goulart para a pasta da Fazenda. Foi o ponto final de trinta anos de aproximações. Em suas considerações finais, descritas no 8º volume do compêndio, Lauro Escorel lembrou que as intervenções do Estado Integral na sociedade brasileira compunham uma estrutura privilegiada frente às demais e que jamais seria confundida com a empregada no Estado Liberal nem Comunista, nem, tampouco, nos estados de características racistas, por motivo único e exclusivo que o Estado Integral incentivava a pluralidade do homem e não o seu individualismo. Esta foi uma das principais razões que fizeram os integralistas criticarem as demais propostas de Estado. Contudo, a despeito das tentativas apresentadas nos escritos sobre a proposta do Estado integralista a Enciclopédia do Integralismo foi lacônica no momento de indicar propostas concretas de ação do Estado Integral o que rendeu críticas de seus antagonistas. O dito pelo não dito. Enquanto os detratores integralistas afirmavam que

“o Estado integral nada mais era do que uma propaganda enganosa, leda e leviana!”157; os integralistas, décadas a fio, utilizaram a Enciclopédia como plataforma de propaganda se esforçando para sustentar sua premissa. A equação resultou em um embate político vencido pelas prerrogativas de um mundo cuja democracia ainda estava em construção. O estado corporativo era núcleo duro da ideologia integralista. E, se por um lado a inflexibilidade do mundo político renegou o integralismo do período estudado a uma espécie de ostracismo, a maleabilidade das artes (da mente e do corpo) foi o salvo conduto que propiciou ao movimento integralista expressar pontos de vista diversos. Mesmo reproduzindo a ideologia sectária de um grupo que possuía visões de mundo

157 O que é, afinal, o Estado Integral integralista? Correio Paulistano, 20/12/1936. p.09. 137 contraditórias, os integralistas puderam apresentar à sociedade uma faceta pouco conhecida do grande público: um interesse que pendulava entre as mais variadas expressões artísticas, com ênfase para a poesia.

b) 3. 6 - Estética e Poética: as artes da mente e do corpo A tríade essencial do integralismo (Deus, Pátria, Família) teve um corolário bastante divulgado pelo movimento, o binômio: Estética/Poética. A convicção integralista de que seus membros haviam plantado sementes que germinariam frutos em razão da herança da estética nacionalista ou do legado educacional que transmitiam, adquiriu um novo fôlego com a celebração do Jubileu de Prata de 1957. Com isso, a reafirmação simbólica do movimento fez reviver antigas e fortes oposições. No entanto, uma vez que a postura educacional integralista era tida como “excludente” por parte da imprensa, as acusações de que os integralistas postulavam uma manifestação estética “empobrecedora e vulgar” também ganharam consistência no período. Concomitantemente, a afirmação poética da militância integralista apareceu como uma das expressões estético/literárias de maior diversidade no compêndio. Assim, essa produção poética reuniu uma gama variada de profissionais que tinham em comum o sentimento de pertencimento integralista e uma profunda devoção por Plínio Salgado. A predominância de cidadãos comuns, desconhecidos do público em geral, mesclou-se com a presença de alguns dos mais renomados poetas integralistas. O contexto em que o sétimo volume é editado confronta uma onda de negacionismos em relação ao integralismo. Os anos de 1957 a 1961 marcaram outros eventos significativos no universo da arte brasileira. Em 1957, 1959 e 1961 as Bienais de Arte de São Paulo, sob a curadoria geral de Mario Pedrosa ampliaram a participação nacional inaugurando uma maior representação de obras de caráter histórico. O país mostrado na bienal de artes era um país que lutava para se mostrar dono do próprio destino. Tratava-se da retomada da consciência de um país que estava buscando crescer cinqüenta anos em cinco.

138

Paralelamente, a criação do Manifesto Concretista, que aglutinava poetas como Ferreira Gullar, Decio Pignatari, Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Waldemir Dias Pino, revigorou a discussão sobre forma, estética e política dentro da poesia e artes plásticas brasileiras. As formas e propostas reacionárias, os temas e as proposições conservadoras ficaram, neste momento, no fim da fila, esperando sua vez para aparecer novamente. E nesse momento as poesias de forma e temática proselitista dos integralistas tomou este espaço. No entanto, o mais interessante é que em nenhum momento os escritos da Enciclopédia sequer mencionam o contexto em que todas essas mudanças estão ocorrendo. Mais uma vez, a opção em focar apenas a temporalidade do escrito (como se esta existisse paralelamente à dos acontecimentos vigentes) se mostrou recorrente. A partir disso, a compilação dos poemas se fez mediante pesquisa realizada por Gumercindo Rocha Dórea, que na época, além de editor da Enciclopédia do Integralismo, também ocupava o cargo de redator chefe do jornal A Marcha. Foram enviados pedidos de colaboração aos jornais integralistas do interior do país em busca de “novos talentos patrioticamente poéticos”.158 O trabalho de arregimentação e compilação realizado por Dórea foi, desta vez, facilitado pela existência de uma antiga coletânea já publicada, e que continha um número superior a trinta poetas integralistas. Principal fonte do 7º volume, a antiga antologia publicada por Dario Bittencourt, em 1936, traz uma coletânea de poetas integralistas de sua época. Bittencourt reforçou um antigo desejo de Salgado em aproximar o integralismo da intelectualidade, já que esta era considerada salvadora pelos integralistas. E para além da relação intelectual, os poemas analisados em sua antologia exaltavam o patriotismo de seus leitores. Tratava-se, antes de uma tática de aliciamento. Por outro lado, diferentemente da obra arregimentada por Dário Bittencourt, a coletânea integralista incluída na Enciclopédia mesclou poemas de seus mais conhecidos militantes, com o caráter renovador de escritos produzidos por poetas desconhecidos.159

158 DOREA, Gumercindo R. “Poetas Integralistas”. A Marcha. Diversos anúncios, a partir de novembro de 1959. 159 Relação dos poetas integralistas presentes no sétimo volume da EI: Alfredo Gomes; Francisco Luis de Almeida Salles; Assis Silva; Augusto de Lima Filho; Pe. Benedicto de Lucca; Brasil Pinheiro Machado; Clodoaldo de Alencar; Colbert Crelier; Dantas Motta; Da Silva Garcia; Durval Passos de Mello; Eymar Cardoso de Mattos; Figueiredo Carneiro ; Floriano Mendonça; Geminiano Guimarães; Hydée Machado Marques Porto; Jaime de Castro; Jacinto Figueiredo; J. G. de Araújo Jorge; J. Hercílio Fleury; José Maria de Andrade Rodrigues; J. T. de Castro Alves; Judas Isgorogota; Júlio Dias; Lopes Ribeiro; Lourival Santos Lima; Mário de Oliveira; Mário Ypiranga Moreira; Manoel Sobrinho; José Mayrink Souza Motta; Marcos Sandoval; Mauro Moreira; Miguel Edmar Soares Arruda; Nicanor de Carvalho; Nóbrega de 139

Portanto, tinha como proposta não somente apresentar à militância os pensamentos dos membros famosos, mas disponibilizar o que a população simpatizante pensava sobre o movimento. Pouco antes do sétimo volume160 sair do prelo, seu editor, fez questão de frisar que nessas poesias, seria destacado o cotidiano do militante. Se o itinerário percorrido pelos demais volumes foi a via da doutrinação, a resposta da militância veio em forma de versos e muita passionalidade: decassílabos, alexandrinos, prosaicos, haicais; a interação entre a via consumidora e a produtora da doutrina se estabeleceu naquele volume. Embora apenas uma pequena parcela dessa militância apresentasse ou sugerisse a inclusão de seus poemas na coletânea, o sétimo volume foi uma espécie de intermediador do projeto, no sentido de que, a população simpatizante do movimento teve acesso às páginas do compêndio não só como leitora, mas como agente produtora do que seria lido. Dentre os elementos constituintes deste corpo de mais de oitenta poemas, encontram-se poesias que tratam da população brasileira (8); do Comunismo como inimigo (13); do Estado como finalidade essencial do movimento (9); da Geografia como metáfora do organismo nacional (4); da mulher enquanto coadjuvante das relações parentais (5); da ideologia propriamente dita (9); da família enquanto instituição fundamental da sociedade integralista (4); da simbologia (2); da exaltação do movimento ao chefe (8); do negro (3); da religião (2); da doutrina como força motriz (3); dos militares (1); dos considerados humildes e pobres (3); dos estudantes (3); dos operários do campo e da cidade (4) e dos documentos fundamentais do integralismo (3), dentre outros. Cada um desses elementos apareceu nos poemas como componente fundamental da práxis política/ideológica/cultural integralista. Como forma de ilustrar o conteúdo de alguns desses variados poemas, optou-se por fazer uma pequena seleção destacando cinco temas pouco recorrentes nos escritos,

Siqueira; Nunes da Silva; Maria Rita Vaz de Hollanda Cunha; O. Muniz; Osmar Barbosa; Padão (DS); Padre Melo; Pessoa de Lima; Ribamar Pereira; Sidney Netto; Silvio Luis Michelloti; Cônego J. Thomaz de Aquino Menezes; Adão Valente; Major Waldomiro Ferreira. Do total de atores apenas Gerardo Mello Mourão e AB Cotrim Neto eram notórios integralistas. 160 Volume exclusivamente editado com poesias de integralistas conhecidos e anônimos. A Coletânea de Poetas Integralistas, editada na Enciclopédia do Integralismo, ainda necessita de um estudo mais aprofundado. No presente trabalho resolveu-se apenas destacar algumas de suas características básicas, bem como um número mínimo de poemas, visto que partes destes foram absorvidas no texto deste trabalho. 140 mas, que apareceram nos poemas de maneira bastante relevante.161 A preocupação de que, cedo ou tarde, o integralista encontraria pelo caminho a comparação entre seu ideal e de estrangeiros, (tema sem muita ressonância em finais dos anos 1950) incentivou a propagação de uma série de poesias que tinham como temática o apelo nacionalista (xenófobo?) e ufanista do militante. No conteúdo do poema de autoria de Brasil Pinheiro Machado, comprova-se a preocupação do integralismo em consagrar como superior a “língua mulata cabocla portuguesa”. Para tanto, o autor afirma que a “desbrasilianidade” é um perigo que ronda apenas a cabeça dos ignorantes sobre integralismo. O ufanismo foi, certamente, o elemento mais explorado nos poemas integralistas. No entanto, outra preocupação dos poetas integralistas era justamente a adequação e o cuidado dispensado ao conceito de gênero. A mulher não foi esquecida pelo movimento, sendo homenageada em odes e poemas. O poema destacado abaixo apresenta a figura feminina atrelada a um comportamento vaidoso e vibrante, pronto a abraçar as causas do movimento. “Troca a veste pomposa pela camisa verde vigorosa...”, como seria cantado em outro poema de mesma temática. O poema de Colbert Crelier apresenta a figura feminina explorando sua relação com as vestimentas, sua feminilidade.

A mulher brasileira Penápolis, 1935 “Troca os faustos, o luxo de outras vestes pela graça mais simples e atraente desta camisa verde que, somente de uma sóbria elegância se reveste. Sem que nenhuma pena te moleste, desde adornos gentis, serenamente, E num gesto de fé, sincera, ardente esta camisa e esta gravata veste Se outro vestido mais encanto empresta e sua feminil vaidade exalta A tua formosura que realça, esta camisa, aqui, verde e modesta, É o verbo inicial de uma epopéia, não veste o corpo só, veste uma idéia”.

A participação das mulheres integralistas, sobretudo nas atividades de retaguarda do movimento, tais como nas escolas, hospitais e lactários não esconde a contradição de que, dificilmente as mulheres atuavam na efetiva participação política, doutrinal ou

161 Todos os poemas aqui destacados foram originalmente escritos nos anos 1930. A escolha de apresentar somente exemplares referentes à primeira geração de poetas integralistas deveu-se, inicialmente, à pequena quantidade de poesias de autores vinculados às demais gerações. Julgou-se, portanto, mais representativo demonstrar exemplares de poemas que expressassem de maneira mais contundente as variantes engendradas pela Antologia dos poetas integralistas que, na sua maioria, expressavam temáticas vinculadas à primeira atuação do integralismo. 141 intelectual do movimento. Nesse sentido, a figura feminina foi vista de formas extremadas dentro do integralismo. Exemplo significativo foi dado por Belisário Penna que afirmava ser urgente “para o bem da humanidade, surgir do homem integralista um corretivo à loucura da mulher de querer igualar-se ao homem em tudo e por tudo, em contraposição às leis biológicas (...)” (PENNA, EI, Vol. 3, 1959: 43). Embora um dos pilares contra a ofensiva antiintegralista fosse justamente apregoar o caráter aberto, da equivalência de gêneros dentro do movimento (sobretudo, na época da AIB) a visão um tanto dicotômica entre mulheres e homens integralistas gera problemas interpretativos generalizantes não possibilitando que se observe atentamente outras formas de inserção e resistência feminina no âmbito da AIB.162 Para a pesquisadora Lidia Maria Vianna Possas, bem como para seu orientando de mestrado, Daniel Lopes existem algumas “ brechas” que muitas mulheres utilizaram para construírem-se enquanto “ sujeitos”. Apesar da presença de um discurso que se dizia moderno e “focado na igualdade de gêneros” apregoado em vários documentos, o papel das mulheres integralistas era visto com certo distanciamento por parte dos integralistas homens. Havia, na verdade uma distinção que precisa ser melhor tratada. De acordo com as pesquisas dos autores supracitados, “o que não devemos aceitar é que “elas”, as blusas verdes, tornaram-se passivas, manipuláveis”. Para tanto, os autores atuam junto ao conceito de feminismo informal, discutido por Michel Perrot: (...) “feminismo informal” é construído a partir da constatação de que algumas resistências e revoltas femininas se revestem de formas privadas, secretas mesmo, ou encadeiam-se em convivência, suscetíveis de colocar em xeque a dominação”. (PERROT, 2000).

Cabe destacar que dos 84 poemas (escritos por 52 poetas integralistas) constituintes desta antologia, apenas dois foram escritos por mulheres. Seus nomes: Haydée Machado Marques Porto e Maria Rita Vaz de Hollanda Cunha, ambas representantes da primeira geração integralista.

162 Havia na AIB o Departamento Feminino que era constituído por: Departamento Nacional Feminino; Departamento Provincial Feminino; Departamento Municipal Feminino; Departamento Distrital Feminino em 1936 é criada a Secretaria Nacional de Arregimentação Feminina e de Plinianos – S.N.A.F.P. Ver: LOPES, Daniel. As experiências femininas na AIB (1932-1938). Revendo o passado, o cotidiano e as representações. Dissertação de mestrado. UNESP/Marília, 2008.

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Juntamente com as figuras feminina e do adolescente, denominados simplesmente de “jovens” pelos poemas, a figura do negro também foi utilizada como elemento propagandístico do integralismo, principalmente para contrapor às acusações de racismo, veiculadas de maneira sistemática pela mídia, sobretudo nos anos 1930. Poemas como o de D. S. Padão foram por diversas vezes utilizados como álibi quando o movimento era denunciado como racista. Os quadros integralistas sempre aceitaram negros, embora sua participação fosse bastante reduzida. A poesia foi uma das manifestações que mais divulgou esta recepção. Tal poema visou retratar o quanto a força do militante negro era bem recebida pela sigla. As referências em prol do militante negro também apareceram em outras duas poesias que obedeciam ao mesmo eixo temático, porém não evidenciando a oposição racismo/militante negro, mas sim, indicando a figura do negro como um elemento natural do universo integralista.

Poema do homem negro “Aquele homem forte, escuro163, erecto, valente desafiava a morte. Na milícia, não mal comparando, parecia o jequitibá Em torno do qual, gloriosamente, a floresta verde se estendia. Mas um dia, porém, Deus o levou também, e desde esse dia, Um vácuo na terra se sentia em prol da Milícia do Além. Hoje resta a clareza à minha alma varonil. Quem morre camisa verde, Morto, é muito mais vivo No coração do Brasil!”

O Integralismo do homem branco e negro; da mulher; do jovem; do brasileiro e do estrangeiro que, simpatizasse com o movimento; do militar e do militante civil sempre foi apresentado como a “salvação de uma Nação desprovida de futuro”164. Foi também a “sentinela atenta”; o “oráculo dos problemas da Nação”; o “dissipador das mazelas do Brasil”165, títulos de poemas laudatórios apresentados no volume. No poema de Julio Dias, escrito em meados de 1935, a vocação salvadora foi mais uma vez

163 Como a grafia da palavra “escuro” havia sido publicada em negrito no volume consultado resolveu-se pesquisar junto a exemplares do mesmo volume para comprovar o destaque ou se a grafia do exemplar consultado havia sido um erro de impressão. Pesquisados cinco exemplares do 7º volume da EI: Coletânea dos poetas integralistas constatou-se que, em três exemplares a grafia acompanhava a palavra “escuro” em negrito, o que fez supor que havia a intenção editorial de se destacar a palavra. A despeito dessa constatação, nenhuma indicação comprovou a real intenção do destaque, não podendo também explicar o porquê dos dois outros exemplares não terem sido publicados com o destaque em negrito da referida palavra. 164 SALGADO, P. EI, Vol. I, p.78. 165 Alusão a outros poemas constituintes da Antologia dos poetas integralistas cuja temática discutia elementos levantados pelo militante Julio Dias. 143 explorada como um atributo original do integralismo, cuja viabilidade se daria por meio do “aguardado” Estado Integral.

Integralismo “Sentinela avançada do Brasil! Sangue moço clamando liberdade, Músculos de aço, força varonil, Impulsionando a sã brasilidade! Marcha gloriosa de conquistas mil Supremo ideal de nossa mocidade Que há de trocar o fogo do fuzil Pela voz da justiça e da Verdade. ANAUÊ! Que se ouviu de sul a norte Despertando o Gigante bravo e forte, Hoje é a senha da fé e civismo... Guarda a honra da pátria brasileira Que o integralista, cheio de heroísmo. Gravou com sangue à sombra da Bandeira.”

Em concomitância, a tríade: força, jovialidade e permanência também foi usada como mobilizadora do discurso aliciador integralista.

O verde Integralista “Eu vejo o verde pelo campo em fora, Tapete imenso no vergel da serra, Eu vejo o verde, quando a tarde chora Lá no bramir do mar da minha terra Eu vejo verde ao despertar da aurora No prado em flor, pela manhã deserta, Eu vejo o verde entre o botão que aflora Em cada flor de jasmim aberta. Eu vejo ainda ao desfraldar, tão lindo Todo em esperança o brio se vestindo, No pendão pátrio, tremulando à vista; Mas só contemplo com amor ufano, O pedaço mais VERDE deste pano, Quando ele envolve um peito integralista.”

Não menos relevante é o fato de que o aspecto militar do integralismo sempre foi questão de ordem dentro do movimento. O alerta dos militares seduziu os integralistas que pregavam a auto-estima e a disciplina como elementos imprescindíveis para sua auto-realização. O integralismo acabou tendo uma receptividade bastante

144 razoável dentre muitos militares dos anos 1930 (mais na marinha de guerra), que viam no ideário integralista a possibilidade da construção de um estado calcado na hierarquia e na submissão absoluta aos preceitos nacionalistas. Aliás, os conceitos de hierarquia, respeito e disciplina - atributos cobrados de um integralista – tiveram no poema do Major Waldomiro Ferreira, reproduzido abaixo um tratamento peculiar, pois, apresentou a indissociável relação entre os universo militar e integralista. Tal relação atestou a significância da figura do militar no cotidiano do integralismo, interlocutor direto quando se tratava de fazerem-se valer os elementos patrióticos e disciplinadores.

Brasileiros, sentido! “Enquanto os empreiteiros da desgraça Na ronda estéril, na investida estulta, Persistem nesta prédica que insulta E a covardia ao servilismo enlaça, Levantemos no ardor da nossa raça A cultura, altivez que nela avulta, Por sepultar a cáfila insepulta Desses mortos morais de idéia escassa! Sentido, Brasileiros! Já se apresenta A mulata boçal, tentando a festa, Que às saturnais deixa perder de vista! Mal haja quem fugir à dura prova, A dura construção da Pátria Nova Nos moldes da Doutrina Integralista!”

Registra-se que a proposta de se analisar alguns dos poemas deste grupo específico de militantes integralistas, avulsos, desconhecidos, cidadãos comuns, se dá na medida em que a Enciclopédia consubstanciou-se num projeto de fortalecimento da identidade política de uma parcela da sociedade que, embora reduzida, requeria, naquele momento, direito de se pronunciar. Uma vez que os poemas foram, na sua maioria, publicados originalmente nas páginas dos jornais integralistas da década de 1930, ao serem reapresentados na Enciclopédia do Integralismo reconstituíram o ideal do velho movimento frente à nova conjuntura. Entretanto, o reduzido número de poemas datados do pós-guerra aponta para o fato de que a colaboração militante perrepista, se deu de maneira exígua e descontínua. Em um universo em que a concordância com as disposições lançadas pelo chefe era o passaporte para a permanência no movimento, a poesia foi apenas uma das várias ferramentas utilizadas para exaltar a liderança integralista.

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3.7 - Liderança: anuência e anauência166

A questão da liderança/chefia sempre foi abordada pelos escritos integralistas como algo inquestionável, um dogma a ser seguido. Por isso, propõe-se aqui discutirmos uma provocação: teriam sido bem sucedidos os integralistas, caso tivessem lançado mão de outras estratégias menos personificadas em seu líder supremo Plínio Salgado? Os integralistas teriam sobrevivido a uma história apartada de seu líder? Nesse contexto, o neologismo “anauência”, é bastante pertinente se entendermos a dinâmica de subserviência e concordância que os membros integralistas depositaram na chefia do movimento. O habitus, o campo de forças e as intermediações percebidas nos escritos da Enciclopédia corroboram a noção de que a anuência (concordância absoluta) foi, simultaneamente, o combustível, a direção e o freio do movimento. Algumas dissidências excederam esta regra, mas não tiraram o foco dos dois grandes aglutinadores do integralismo do período estudado: a linguagem pliniana (sempre voraz e inflamada) e a simbologia adotada na publicação da Enciclopédia do Integralismo: esta sim, último apanágio deste movimento contraditório. Nos escritos selecionados sobre esta temática, a figura demiúrgica do chefe foi sempre mostrada como inspiração e finalidade de todas as ações militantes, crescendo em relevância na medida em que a Enciclopédia tornou-se porta-voz das expectativas do integralismo. Os autores que discorrem sobre esta temática: Plínio Salgado, Alberto Cotrim Neto, João Carlos Fairbanks, Ernani B. Rodrigues, Tasso da Silveira, Félix Contreiras Rodrigues, Antônio Galotti, Belisário Penna, Margarida Corbisier, Alcebíades Delamare, José Mayrink Souza Motta e Gumercindo Rocha Dórea, reproduziram sempre a mesma catarse quando se tratava de auferir valores sobre a postura do chefe. Registra-se que, e diversas intervenções, o próprio Plínio Salgado, se exaltava por acreditar possuir tais predicados.

166 Neologismo sugerido de maneira anedótica pelo cientista social Mário Grynspan, na primeira aula do curso que ministrou em princípios de 2007. No caso, “anauência”, (do vocábulo tupy, ANAUÊ! – “você é meu irmão!” - cumprimento integralista) seria uma corruptela da idéia de anuência (concordância) integralista às questões referentes ao movimento: militância, organização, modus vivendi, habitus político, reconfigurações de forças no tabuleiro ideológico da época (anos 1950) etc. Devo à criativa intervenção do professor Grynspan a idéia deste neologismo. 146

Para além da supervalorização de uma suposta onipresença e onipotência de Salgado, o que também se percebeu foi uma série de indicações que reportaram ao período de ausência167 do líder integralista (período do exílio em Portugal). Em diversos momentos, observou-se na escrita de alguns militantes (principalmente nos volumes 1 e 6) um anseio bastante semelhante àquele que unia os antigos portugueses à eterna espera do salvador, um sebastianismo pliniano – metáfora da lendária epopéia do povo lusitano na expectativa do retorno do rei Sebastião que, em luta pela reconquista de Portugal frente aos mouros do século 16, jamais voltaria. No entanto, foram poucos os textos que referenciaram os episódios deste período. Destacaram-se, especialmente, depoimentos que apontaram como primordial para a permanência da doutrina a convicta esperança de que um dia o chefe voltaria.168 Referência de valor expressivo foi a análise realizada pelo veterano integralista Tasso da Silveira sobre o poema do escritor português Faria de Vasconcelos, composto originalmente em 1922. Reapropriado por Silveira no intuito de homenagear Plínio Salgado, tal poema era uma ode laudatória à figura do líder: CHEFE! Eis a palavra e o ato necessário. Quem é capaz de dizer tudo quanto encerra esta palavra e este ato? Realizar uma obra pessoal não é ser CHEFE. Não é ser CHEFE estar a serviço de um grupo, de um partido, seita ou escola (...) O CHEFE sabe recomeçar e reconstruir sobre ruínas... o CHEFE sabe obedecer aos interesses de seu destino, disciplinar a vida conforme estes preceitos, aceitar sem discutir, pois é o exemplo maior de obediência. Pois, sem dúvida nenhuma que é por saber obedecer que o CHEFE sabe mandar. Porque mandar é na essência ainda obedecer! (VASCONCELOS Apud SILVEIRA, EI, Vol.6, 1959:45)

No poema supracitado, verifica-se que a expressividade da palavra “chefe” fortalecia-se na reincidência de seu uso. Quanto mais contínua sua repetição, mais força adquiria no cotidiano da militância. Tudo indica que este era seu objetivo principal. A presença do Chefe é – segundo a análise de Silveira – a condição primordial para o estabelecimento do poder integralista, condição determinante para a consolidação do movimento. Daí a relevância em se repetir a palavra “Chefe”, editada originalmente em letras maiúsculas, que no texto acima aparece por oito vezes como se fosse uma espécie de mantra. Portanto, a repetição em escala da palavra “chefe” ajudava a solidificar o seu poder e, conseqüentemente, sua doutrina. A exaltação havia sido inspirada num dos poemas destinados à celebração da liderança de Plínio Salgado. Tratava-se da poesia de

167 Trata-se do „mito do ausente‟, bastante explorado pela militância integralista nos anos de ilegalidade do movimento. 168 Enciclopédia do Integralismo, Vols. 1 e 3. Diversas partes. 147

José Mayrink Souza Motta, conhecido poeta integralista que publicou durante toda a década de 1930 poesias de cunho proselistista. De acordo com Mayrink, “o rufar dos tambores silenciosos obedeciam apenas ao chamamento de um só homem: obedecia apenas à voz e a sabedoria do Chefe, é para ele que bradamos os três Anauês!”.169 (MAYRINK, EI, Vol. 7, 1959:89) Concomitantemente às manifestações de apreço ao chefe integralista, veiculou- se, por diversas vezes ao longo da publicação, uma teoria que se balizava na necessidade de comprovar que os integralistas eram todos predestinados, um grupo cuja herança permaneceria para sempre viva. De acordo com a teoria da predestinação integralista assimilada por uma considerável parcela da ala católica integralista, “Salgado e o Integralismo estariam para a predestinação, assim como os povos da Judéia estariam para a preferência de Cristo”. (CORBISIER, EI, Vol. 6, 1958:96) Essa vinculação estritamente confessional revestiu de força uma teoria que só convencia aos simpatizantes: a possibilidade concreta de Plínio Salgado ascender ao poder. Margarida Corbisier, criadora da teoria concordou com as idéias de Miguel Reale em finais de 1934, para quem “(...) o Sigma era sem dúvida nenhuma, a vocação suprema de um povo predestinado” (REALE, EI, Vol. 9, 1959:45). Para legitimar sua constante aspiração ao poder, o integralismo inferiu diversas relações de parentesco entre seus membros e renomados personagens políticos do país. A partir dessa concepção de herança ou legado, os integralistas procuraram reconstruir uma árvore genealógica de personagens que havia colaborado com o ideário integralista. Nesse sentido, a herança de grandes personagens históricos funcionava como uma espécie de comprovação de que o Integralismo possuía uma raiz fértil e antiga. Vários de seus membros possuíam – de acordo com a teoria da predestinação – a ascendência de ilustres personagens e que, por conta disso, adquiriram as credenciais para modificar os rumos da Nação. Ainda para os integralistas, tais ascendentes eram a prova viva de que o integralismo possuía uma linhagem especial. Dentre os personagens arrolados pelos escritos destacaram-se: Castro Alves, Marechal Deodoro, Farias Brito, Rui Barbosa, Oswaldo Cruz, Rocha Pombo, José de Alencar, dentre outros que teriam deixado descendentes integralistas.

169 Os protocolos integralistas baseiam-se na hierarquia. Por isso, destacavam-se gradações na saudação Anauê! Apenas ao Chefe, poder-se-ia bradar três vezes, Anauê! Era o grau mais elevado de respeito, dispensado apenas na presença de Plínio Salgado. 148

O integralismo também julgava ser descendente direto de movimentos fundantes da identidade nacional. Um dos exemplos mais utilizados pelos integralistas, quando estes necessitavam comprovar sua brasilidade e sua oposição frente ao internacionalismo, era a comparação que faziam entre os diversos movimentos emancipacionistas e a postura anti-internacionalista do Integralismo. Se os integralistas construíam sua genealogia buscando no passado as bases de seu nacionalismo também projetaram o futuro do movimento preocupando-se com a passagem de seu legado. A transferência da liderança sempre foi um dos grandes problemas enfrentados pelo integralismo. Foi assim nos anos 1940 e na década de 1950. No entanto, paralelamente às adjetivações destinadas a Plínio Salgado e aos seus “predestinados seguidores”, instituíram-se em alguns escritos questionamentos com relação à postura centralizadora do chefe. Essas contradições acabaram por relativizar a subordinação quase inquestionável ao líder integralista. Em alguns artigos reeditados na Enciclopédia do Integralismo, datados tanto dos anos 1930 quanto dos anos 1940 e 50, alguns desses questionamentos tornaram-se freqüentes, o que multiplicou as abordagens sobre o assunto. Com a readaptação da política integralista do pós-guerra, sobretudo a partir de finais da década de 1940, a organização do PRP conheceu um redimensionamento que trouxe uma contradição: em muitos casos, e alimentada pelos mais diferentes aspectos, a chefia local começava a se rebelar contra a figura da chefia central. Em outras palavras, choques de interesses locais começaram a interferir no, até então, absoluto controle pliniano, o que acabou por enfraquecer e desacreditar a viabilidade do binômio municipalidade/autonomia anteriormente tão alardeado pelos integralistas. A despeito da rede de subserviência atuar, antes de tudo, como um filtro que impedia uma maior e mais evidente contradição ao discurso e às diretivas do líder integralista, deve-se atentar para o fato de que, mesmo sob a tutela integralista, a idéia propalada pelo chefe nem sempre persuadia todos seus correligionários. Municipalismo170 e individualismo político, integração e pluralidade são binômios conceituais que, nos escritos da Enciclopédia apareceram dispersos e desconexos, mas que se agruparam num conjunto bastante coeso de contraposições ao vigente e fortalecido discurso pliniano.

170 Com relação ao conceito de municipalismo, Salgado afirmou ter sido influenciado pelo político e magistrado Domingos Jaguaribe, que no século XIX foi Ministro de Guerra no Gabinete Rio Branco. Suas idéias com relação ao municipalismo encontraram forte ressonância nos anseios de Salgado. 149

Por vezes contundente, por vezes titubeante, as reações dos militantes ilustraram o quanto a relação entre as esferas de mando e subordinação interioranas ainda eram rígidas para aqueles homens que viveram o primeiro momento da sigla. A despeito das fortes concepções de Salgado e da manutenção de sua postura centralizadora, houve, nuances que possibilitaram o questionamento de pontos entendidos como inabaláveis na crença integralista. A “anauência” (anuência integralista) teve longa vida, mas não se mostrou eterna, sobretudo no quesito hierarquia. Como conseqüência foram diversos os antagonismos enfrentados pelo integralismo. A Enciclopédia evidenciou alguns deles.

3.8 – Antagonismo e dissidência no seio da Enciclopédia É significativo notar que, alguns dos mais incisivos críticos do integralismo do pós-guerra haviam sido entusiastas da AIB e de sua doutrina. Em 1945, assumindo um discurso antifascista ex-militantes passaram a acusar o integralismo de autoritário, antidemocrático, conservador e reacionário. Os esparsos, porém veementes antagonismos fizeram com que o “absolutismo moral” empregado pelo integralismo pliniano convivesse com contradições no seio do próprio movimento. Por vezes acanhados, por vezes exaltados, tais dissidências tomariam as páginas dos jornais, bem como as discussões nos gabinetes e diretórios do PRP. Então, como ferramenta desta contraposição os principais adversários políticos do movimento, desde a década de 1940, eram sempre desqualificados como sendo “agentes bolchevistas” – uma alusão pejorativa a todas as lideranças vinculadas à esquerda e que, portanto, tornavam-se potencialmente adversárias do integralismo. Assim, tornaram-se comuns as afirmações de que seus inimigos existiam apenas para fortificar e aprimorar o integralismo. Ora evasivos, ora contundentes, os integralistas que escrevem sobre o tema carregaram a todo o momento a dúvida com relação à unicidade do integralismo. Assim, membros consagrados na primeira atuação integralista como Miguel Reale, Hélder Câmara e Luis da Câmara Cascudo, dividiram espaço com jovens militantes como Gumercindo Rocha Dórea, Pedro Lafayette, Ernani Lomba Ferraz e Luiz Alexandre Compagoni, quando o assunto era “dissidência”. Com relação ao primeiro nome

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(Miguel Reale) é significativo que não haja na Enciclopédia nenhum artigo sobre a disputa travado pelo poder da então AIB. É de conhecimento público que a tríade integralista, composta por Salgado, Reale e Gustavo Barroso, passou toda a década de 1930 articulando possibilidades de ascender à chefia do movimento. As dissidências começavam dentro do próprio seio integralista, na alta cúpula. A vertente pliniana venceu os oponentes, mas só depois de enfrentar incisivas contraposições. Percebe-se, então, o quanto os adversários do integralismo, na maioria das vezes, dissidentes do movimento, foram combatidos nos escritos da Enciclopédia. A ideologia, a política e a religião, respectivamente relacionadas às figuras de Severino Sombra (anos 1930), Alceu Amoroso Lima (anos 1940) e Carlos Lacerda (anos 1950) foram os alvos prediletos dos integralistas, sobretudo nos primeiros cinco volumes da Enciclopédia. A dissidência abriu fissuras no movimento. Uma delas foi Severino Sombra. No início da formação do movimento integralista, o cearense acabou se afastando após discordar das diretrizes traçadas por Salgado de implementar no movimento uma roupagem mais urbana e de classe média, ao invés de proletária sindical. Sua saída foi encarada como uma traição, fato que permaneceu como um estigma no seio integralista. Tanto que esse episódio foi retomado 25 anos depois, nos seguintes termos: rebatendo as acusações de Sombra, para quem “Plínio Salgado teria plagiado suas obras, e forjado um conceito ideológico fraco, porém já conhecido” 171, Hélder Câmara, em trecho de uma carta resposta publicada no jornal A Acção de fevereiro de 1934, e republicada na Enciclopédia do Integralismo, afirmou que “a relação do integralismo com os falsos católicos já havia conhecido, desde os tempos primeiros, um traidor em potencial (...) o velho Sombra”. (CÂMARA, EI, Vol. 3, 1958:27) O folclorista Luis da Câmara Cascudo, no período em que estava vinculado ao movimento, também escreveu sobre os dissidentes integralistas. Especificamente com relação a Severino Sombra, Cascudo afirmou em texto de 1934, republicado em 1958, no 4º volume da Enciclopédia que “(...) torcendo os textos, alargando-os, pode-se a cada passo envenenar um pensamento, foi isso que houve com relação à este que não chega nem à sombra do que um dia foi o senhor Sombra (...)”. (CASCUDO, EI, Vol. 4, 1958:34) Nesse trecho, Cascudo refere-se à outra carta que escrevera, respondendo ao

171 SOMBRA, Severino. Carta aberta aos integralistas. Publicada no jornal A Acção, de março de 1934. Trechos dessa carta foram publicados, ao longo dos volumes da Enciclopédia do Integralismo, especialmente nos volumes que se referiram aos dissidentes integralistas. 151 ex-membro integralista. De acordo com o missivista, Sombra “não raciocinava direito ao atacar o movimento (...) pois, mesmo tendo ele denunciado o integralismo aos quatro ventos às autoridades eclesiásticas, suas objeções não foram de maior valor e não surgiram com um sentimento de organicidade que o ex- integralista não tem...”. (CASCUDO, Idem: 36) Câmara Cascudo rebateu as acusações desferidas por Sombra reavaliando a postura do dissidente: “Sombra, conspùo discus nunc” – ou, não cuspas no prato em que se alimentou!”. A acusação sobre Plínio Salgado de que este não passava de uma “farsa mal construída” não foi exclusividade de Severino Sombra. Outra dissidência muito combatida foi a do líder católico e ex-simpatizante do movimento integralista Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Athayde. É significativo lembrar que ele, principalmente a partir de finais dos anos 1940 foi um dos maiores opositores da vinculação ideológica do integralismo com a Igreja católica, sobretudo devido à influência de Plínio Salgado junto a alguns prelados. A despeito da contraposição de Amoroso Lima, o integralismo conseguiu a adesão e algumas declarações favoráveis de alguns bispos e arcebispos católicos, que foram utilizados como grandes peças publicitárias em torno e em prol do movimento. Mesmo assim, nunca o integralismo conseguiu uma vinculação mais sólida com a hierarquia católica. Nesse sentido, merece destaque o asseverou Luiz A. Compagnoni, em finais de 1957: “ Hoje não há quem nos calunie com mais perversidade como Tristão de Athayde, tal como ontem, não houve quem mais nos elogiasse com mais exuberância do que ele (...) o verdadeiro vira casaca”. (COMPAGNONI, EI, Vol. 2, 1957:94) Em trechos retirados originalmente do jornal A Idade Nova, mas republicados na Enciclopédia, no 4º e 9º volumes, o jornalista Pedro Lafayette descreveu a contenda desencadeada entre um dos seus mais diletos seguidores de Alceu Amoroso Lima, o articulista do “Diário de Notícias”, do RJ, Fábio Alves Ribeiro e a Ação Integralista Brasileira. Escritos em meados de 1945, logo após as primeiras disposições do PRP frente à redemocratização, tais artigos têm, além de um valor histórico significativo, um caráter diferenciador no sentido de que evidenciam trechos ambivalentes da postura do seguidor de Amoroso Lima, apontando características paradoxais de seu ideário e pensamento. Fábio Ribeiro foi comparado pejorativamente a “uma vitrola controlada por Alceu Amoroso Lima”, daí insistirem os integralistas em criticar tanto um quanto outro. Quando as críticas eram direcionadas ao próprio Amoroso Lima, evitando acusações a intermediários, a reação do acusado era impingir aos integralistas a mais contundente censura.

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Nos anos 1940, assim como durante toda a década seguinte, o antagonismo entre Amoroso Lima e Plínio Salgado continuou sendo alimentado. O partido sustentou várias polêmicas com alguns de seus adversários políticos, dentre eles Gustavo Corção, o próprio Amoroso Lima e Carlos Lacerda. Os dois primeiros, que em diversas ocasiões nos anos 1930 haviam elogiado o integralismo, intensificaram as denúncias aos seguidores de Salgado, comparando-os aos simpatizantes nazi-fascistas. Da segunda metade dos anos 1940 em diante, sobretudo, Amoroso Lima assumiu uma posição política de incriminação ao integralismo. De acordo com o historiador, Gilberto Calil “(...) as brigas com Amoroso Lima indicavam não apenas a crescente diversificação ideológica da Igreja Católica, mas também a pretensão de Salgado em qualificar-se como liderança daquela, ou pelo menos de sua parcela mais direitista” (CALIL, 1998: 230). Daí a indicação de que o PRP articulava-se com os setores mais conservadores da Igreja Católica. Se, religiosamente, líderes católicos de diferentes matizes como Gustavo Corção e Alceu Amoroso Lima fizeram da oposição a Plínio Salgado uma de suas maiores motivações, politicamente, os antagonistas do movimento também possuíam os perfis ideológicos mais distintos. Não bastasse a oscilante contraposição de um Assis Chateaubriand, Roberto Marinho ou Samuel Wainer, a atuação majoritária da UDN no jogo partidário da época possibilitou o destaque de outro opositor do integralismo: Carlos Lacerda, que ficou conhecido não apenas por ser um oposicionista voraz do integralismo, mas por sua ácida fraseologia. “Ele não pode ser candidato, se candidato não pode ser eleito, se eleito não pode ser empossado, se empossado não pode governar." Esta passagem evidenciada por Lacerda e endereçada ao então candidato à presidência JK, resume o estilo agressivo e direto que fez desta figura a personificação do que até hoje se chama de direita. Carlos Lacerda, além de ser o nome mais combativo e a figura exponencial da antiga UDN, também foi a figura que melhor encarnou o pacote direitista naqueles tumultuados anos 1950 e 1960, fosse pela veia moralista e conservadora, fosse pela mistura de um

153 nacionalismo radical e um liberalismo heterodoxo. Sobre ele Salgado diria: “um dos maiores cancros que a sociedade brasileira já produziu”.172 De certa maneira, gramaturas diferentes do espectro direitista colaboraram para que o conservadorismo se consolidasse como algo plural. Exemplo claro deste sobre- tom ideológico se deu entre os integralistas e os udenistas, que ao longo dos anos 1950 e 60, oscilaram entre uma tímida aproximação (no caso da aliança nacional em 1950 e pequenas aproximações regionais posteriores) e um paulatino afastamento. A eleição presidencial de 1955, por exemplo, (esparsamente mencionada em alguns volumes da Enciclopédia, por meio das intervenções de seu editor) foi um dos temas que acirrou ao extremo o conflito entre os integralistas e os partidários da UDN. Este conflito tinha como objeto principal a disputa pelo eleitorado conservador, particularmente aquele egresso nos setores médios urbanos, e se explicitou em diferentes momentos desde 1945, mas em particular a partir de 1953, no contexto da afirmação da “independência partidária” do PRP. Como dito anteriormente, ora se aproximavam, ora tergiversavam, ignorando-os uns aos outros. Carlos Lacerda e Plínio Salgado nunca se bicaram. O Corvo – apelido de Lacerda - e a galinha verde pliniana jamais ciscaram no mesmo terreno. Duas direitas diferentes, mas direitas. Salgado se locupletava em discursos ao longo dos anos 1970, afirmando em voz altiva e característico sotaque paulista do interior que a única coisa que unia os lacerdistas udenistas e a sigla verde era sua inclinação à ditadura de 1964 e o discurso anticomunista de ambos. Assim, diversos jornais de circulação nacional nos anos 1950 e 60, e com ressonâncias até os anos 1970, focalizavam os dois personagens como centro de uma disputa para assegurar a matriz direitista na política nacional. Em um cenário que buscava apresentar alguns exemplos de antagonismos que o integralismo enfrentava ao longo de sua trajetória, a figura de Lacerda foi talvez, a mais aguda de todas. Carlos Lacerda foi, na realidade, alvo de denúncias, tal como fora Salgado. Em reportagem do jornal Última Hora, Samuel Wainer ataca a ambos com jocoso discurso, instituindo para sempre o que ele chamou de: “a relação labiríntica e paranóica entre a desenvoltura catártica da galinha verde e a histriônica megalomania do Corvo” (Última Hora, 1957). Em resposta lacônica, Gumercindo Rocha Dórea comenta em

172 Idade Nova (1951 e 1953) e A Marcha (1959). 154 passagem rápida no segundo volume da Enciclopédia que a verborragia de Wainer “não traria prejuízos, nem problemas ao integralismo” (DÓREA, EI, Vol. 2, 1957: 3). Posto que as dissidências e os antagonistas do integralismo representavam os mais variados setores da sociedade, o movimento integralista passou grande parte do período do pós-guerra ocupando-se em rebater as acusações de permanecer ligado ao fascismo, e principalmente, tentando convencer a sociedade quanto ao seu caráter democrático. Os integralistas inclinados a enxergar nas vicissitudes da história as marcas deixadas por seus membros insistiram que o movimento havia sido a sentinela frente às tentações de uma modernidade que seria prejudicial para o país. Este pensamento combinado à nova postura adotada pela Igreja Católica, que passou a rever certos pontos de sua atuação, acabou por distanciar o mais ativo interlocutor do movimento integralista. O catolicismo, as demais siglas direitistas e o integralismo flertaram, dialogaram, trocaram elogios entre si, mas terminaram os anos 1950-60 se afastando cada vez mais. ***

Conforme foi mostrado estabeleceu-se, no interior dos textos da Enciclopédia do Integralismo, elementos contraditórios que, apesar do filtro de seu organizador, acabou por aflorar. Estes permitiram apreender as dissonâncias e similitudes no interior do discurso integralista. Deste modo, a coexistência de diferentes gerações e a seleção de um temário heterogêneo fez do sumário desta Enciclopédia palco privilegiado do debate político/ideológico/institucional do integralismo. Os „feitos‟ dos escritores vinculados ao integralismo foram amplificados na compilação realizada por Rocha Dórea, como se este lançasse uma lente de aumento nas ações realizadas pelos integralistas por ele selecionados, super enfatizando suas relações a despeito de uma minoria, ainda permanecer vinculada ao movimento, na época em que foram publicados os volumes.

Da leitura de seus 12 volumes sobressaiu a noção de um integralismo estruturado para reagir às contraposições impostas pelo estabelecido jogo democrático. As posturas morais presentes no compêndio não destoaram do antigo e cultuado perfil nacionalista, e os projetos expressos em cada volume coadunaram-se num corpo mais ou menos coeso de rememorações e depoimentos, tributários à figura de Salgado. Este, por sua vez, apareceu, invariavelmente, como figura central e difusora dos limites entre a memória e a história do integralismo.

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Finalizando, tornou-se claro que a dinâmica exercida pelos temas da Enciclopédia sinalizaram a absoluta impossibilidade por parte dos integralistas de responderem ou dialogarem com os problemas e temáticas contemporâneas à publicação. Suas propostas, bem como suas temáticas continuaram referenciando sua atuação nos anos 1930, e o único elemento contemporâneo apresentado foi o anticomunismo, verdadeira bandeira que uniu diversos seguimentos da sociedade, em finais dos anos 1950. Com exceção do anticomunismo, e dos debates em torno de um comportamento supostamente democrático por parte do PRP o silêncio que imperou nos debates bem como nas apresentações do compêndio sinaliza a absoluta falta de ambientação dos integralistas no período vigente, demonstrando que estes optaram por permanecerem presos a um passado que acreditavam ter sido glorioso. Embora o integralismo tenha se esforçado, sua ode à nostalgia criou descrédito ao invés de atenção. Este projeto editorial, antes de apontar para uma sobrevida de um integralismo redivivo, sinaliza a derrota de um projeto que visava ampliar suas redes de sociabilidade, bem como suas listas de simpatizantes. Ainda assim, acredita-se que a Enciclopédia do Integralismo (esta como um lugar de memória das três gerações de militantes que serão analisadas no próximo capítulo) ajudou a construir o ápice de uma trajetória que fez do integralismo no período pós-guerra um movimento bastante contestado.

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CAP. IV Biografias coletivas: as três gerações da ∑nciclopédia do Integralismo

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CAP. IV- Biografias coletivas: as três gerações da Enciclopédia do Integralismo

Neste capítulo analisaremos o grupo de colaboradores da Enciclopédia do Integralismo, acompanhando suas biografias e trajetórias por meio de um trabalho prosopográfico. Discutiremos a formação de três gerações de integralistas que emprestaram textos ao compêndio e interpretaremos as possíveis relações existentes entre tais trajetórias construindo um quadro de inter-relações dos missivistas. Objetiva-se ainda glosar algumas questões relativas ao universo das pessoas que participaram ativamente do processo de publicação da Enciclopédia, aprofundando-nos no que o compêndio traz sobre as visões de mundo integralistas.

4.1 - Uma proposta em evidência

“(...) Mais uns anos e todos esses homens serão vinte linhas esquematizadas e arbitrárias em uma enciclopédia, sem sopro nem movimento (...) uns como cópias deles mesmos, outros, cujo nome nem vale a pena nomear, para poderem repousar com menos infelicidade no seio de Deus , eram pura e simplesmente escritores vendidos , sem alma nem fé” (Antonio Cândido – prefácio da obra de Sergio Micelli, Intelectuais à brasileira)

ntendemos que para analisar o compêndio não seria suficiente apenas a seleção e a interpretação dos escritos em si (do que tratam, como e E quando foram escritos, porque a seleção deste ou daquele escrito em detrimento de outros), mas antes disto, tornou-se fundamental inventariar, analisar e estabelecer correlações sobre quem eram os indivíduos que aparecem com textos nesses volumes e como suas biografias se entrecruzaram, justamente por acreditarmos que é deste intercruzamento que surgiriam informações relevantes para a análise da Enciclopédia. Por isso, a rede de sociabilidades e trocas estabelecida entre estes indivíduos pôde ser mais bem analisada a partir do método prosopográfico.

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Assim, graças à prosopografia173 tornou-se possível conhecer de forma profunda as pequenas coletividades representativas, visto que as biografias coletivas permitem renovar as respostas às grandes questões “(...), pois, nas abordagens prosopográficas os grupos se definem por suas propriedades relacionais ou por suas imagens recíprocas, ou ainda por sua capacidade em impor uma imagem de si mesmos aos outros, mas também a maior parte de seus membros. (CHARLE, 2006, p. 44) A rigor, a construção do argumento que sustenta este trabalho obstina-se em detectar as peculiaridades que fizeram do empreendimento editorial em questão algo que colaborou para o retorno do integralismo à ordem vigente, bem como, às manchetes dos jornais. Desta maneira, dificuldades foram se apresentando ao longo desta pesquisa. Exemplo significativo é que nas consultas realizadas na rede mundial de computadores (internet) as armadilhas decorrentes da onomástica, e da homonímia, com nomes repetidos e que dificilmente identificavam famílias constituiu um dos primeiros problemas, já que a repetição freqüente, do mesmo nome, porém em situações e contextos históricos diferentes, pôde nos dar uma idéia, mesmo que incompleta, da necessidade de sustentarmos tais informações com dados obtidos a partir de outros espaços e fontes. Contudo, mais uma vez a disparidade de dados, tanto no aspecto quantitativo como qualitativo impediu, freqüentemente, a formulação de respostas mais aprofundadas a muitas das perguntas colocadas na identificação dos diferentes integralistas presentes no compêndio. Por outro lado, a seleção das fontes para este propósito, assim como dos autores biografados neste estudo obedeceu à pré seleção realizada pelo editor da Enciclopédia do Integralismo, mas foi incentivada graças a existência de um pequeno número de memórias publicadas e, em maior grau, pela necessidade de se construir uma trajetória que interligasse tais memórias em uma biografia coletiva. Na verdade, esta opção revela informações a respeito de categorias de intelectuais que ocupam momentaneamente posições diferentes no campo de forças do integralismo. Cabe ressaltar que a construção de um modelo coletivo com base nas análises das variações das trajetórias individuais, envolve dilemas que resultam, em grande

173A raiz etimológica da palavra “prosopografia” deriva de prósopon (caráter ou pessoal) mais gráphein (escrever). Este termo firmou-se no sentido de designar o exame dos laços familiares e das carreiras de um número considerável de pessoas numa dada sociedade, num determinado período, com vistas ao estabelecimento de inferências a respeito de sua estrutura social e política. Tânia Maria Tavares Ferreira, em artigo publicado nos Anais do Encontro Regional da Anpuh – RJ/2002 relembra que a própria tradução para a língua portuguesa do termo prosopografia reveste-se de ambigüidades, à medida que a forma de dicionarização da palavra difere do sentido original em inglês. Ver: FERREIRA, Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz - UERJ/CNPq. História e Prosopografia. Anais da Anpuh RJ, 2002. 159 medida, dos limites impostos pelo material disponível. Vale dizer, a seleção prévia dos autores, bem como dos temas, aponta para o fato de que seu idealizador não conseguiu desvencilhar-se por completo de dilemas que acompanham um editor: enfatizar qual gênero em sua seleção? Privilegiar o relato biográfico ou apologia biográfica. No caso da Enciclopédia do Integralismo o que se verifica é a mescla de ambos, com uma clara tendência à apologia. Parcela significativa dentre os memorialistas integralistas (escritores que se viram quase alijados do reconhecimento devido a sua filiação ideológico-partidária) buscou a partir dos escritos da Enciclopédia do Integralismo compensar o insucesso de seus empreendimentos literário-políticos, com uma carreira bem sucedida em atividades como o jornalismo, a jurisprudência, a assessoria jurídica, a política profissional. Assim, quanto mais se sentiam preteridos, tanto maiores eram suas incursões nas memórias. Outro dado relevante é que a manutenção desta memória também fez parte das pretensões de muitos destes produtores ou compiladores de memórias. Aliás, inúmeros memorialistas ou “guardiães da memória” política- institucionais de um dado grupo - a exemplo de Gumercindo Rocha Dórea- como obra desta manutenção, também redigiram biografias ou efemérides sobre seus escritores célebres, o que não deixa de ser uma maneira de tentar impor sua “presença no campo de forças” por procuração. Este é o caso de Gumercindo Rocha que, com o empreendimento da Enciclopédia passa recibo de procurador de vários autores, sobretudo, de seu chefe político e guru intelectual, Plínio Salgado.

4.2 - O caminho até os dados... Para além das biografias, perfis e memórias foram utilizados como fontes privilegiadas desta pesquisa, os diários íntimos, os volumes de correspondência (passiva e ativa) bem como as autobiografias existentes sobre alguns dos intelectuais vinculados ao projeto editorial da Enciclopédia do Integralismo. Estes gêneros possibilitaram apreender tanto as relações objetivas das posições ocupadas por tais intelectuais, e as determinações sociais e culturais a que estiveram expostos, como as representações que estes mantêm com seu trabalho, e, por conseguinte, quais as relações mantidas com sua interlocução, isto é, com quem dialogavam e sob que ponto de vista apreendiam o mundo em que viviam. Os dados biográficos relativos à origem social, à escolaridade, à trajetória profissional, bem como às suas correlações enquanto membros de um grupo,

160 consumidor e produtor de uma dada cultura política174, e a produção intelectual destes escritores integralistas, também foram analisados. Seus respectivos lugares de nascimento e morte, suas formações intelectuais, suas relações interpessoais com demais integralistas, foram conseguidos a partir da leitura de outras fontes, tais como (currículos arquivados nas Faculdades de Direito, Filosofia e Letras - Rio de Janeiro, São Paulo e Recife – em parte, disponíveis na internet e em órgãos públicos); discursos de posse em instituições de consagração (Academia Brasileira de Letras, Academia Brasileira de Letras Jurídicas, Instituto dos Advogados, Ordem dos Advogados); discursos de concessão de títulos acadêmicos e medalhas jurídicas; necrologias e elogios fúnebres; apresentação de obras; entrevistas com alguns integralistas ou pessoas de suas relações, dicionários especializados, dicionários biográficos, antologias) que colaboraram para um maior aprofundamento das memórias e biografias elencadas no quadro constituinte da Enciclopédia do Integralismo. Do universo de indivíduos que aparecem na Enciclopédia, parte permaneceu vinculada ao partido integralista no período pós-guerra. No entanto, membros representativos do movimento em sua atuação na década de 1930 tais como, Gustavo Barroso, Miguel Reale, Helder Câmara – só para citar os quadros mais representativos da primeira geração integralista – em geral, por razões claramente ideológico- partidárias, criaram condições para reconverter sua trajetória intelectual e política em outras direções. Assim, no momento da publicação do compêndio tais nomes não estavam mais associados ao integralismo, nem mesmo permaneciam vinculados à sua matriz doutrinária. Todos estes integralistas que, no momento da publicação da Enciclopédia do Integralismo não fazem mais parte do movimento foram legatários de uma fase (anos 1920-1930) em que as condições sociais favoráveis à profissionalização do trabalho, sobretudo em sua forma literária e jurídica, patrocinaram a formação de um campo intelectual relativamente autônomo. Por outro lado, os jovens aspirantes às carreiras políticas e intelectuais cooptados pelas cúpulas do movimento integralista (nos anos 1930) viam no integralismo oportunidades de transformação efetiva da ordem vigente. Assim, a maioria dos jovens intelectuais que se tornaram militantes nas organizações de direita durante a década de 1930 eram bacharéis e letrados que estavam desnorteados, carentes de apoio político e

174 Parte deste capítulo foi idealizada a partir do estudo de Daniela Barcellos, Pesquisadora da FGV Direito-Rio, provisoriamente intitulada: “Código Civil: relações entre a política e a academia”. 161 sem perspectiva de enquadramento profissional e ideológico. (MICELLI, 2001, 135). Assim, é bastante provável que inúmeros membros da liderança integralista tenham passado a manejar sua filiação ao movimento em termos de uma pauta de identidade que servia à sustentação de interesses. Neste sentido, ao invés de mero acidente de percurso, tal como os próprios agentes minimizam a posteriori, (Olbiano de Mello, Helder Câmara, Miguel Reale dentre outros afirmaram sua passagem pelo integralismo ter sido “um rompante de juventude, um erro de imaturidade”) o envolvimento com o integralismo expressou a reação de jovens bacharéis que se sentiam acuados com a derrota paulista e o conseqüente avanço do poder central, pós 1930. Portanto, muitos integralistas que assinaram textos republicados nos volumes da Enciclopédia do Integralismo, são estes jovens que nos anos 1930 eram não só militantes do movimento, como ajudaram a construir o perfil ideológico do movimento. A permanência ou afastamento destes indivíduos no integralismo não foi pensado como critério de descarte ou seleção pelo compilador e organizador do compêndio. De acordo com o editor do compêndio, pensou-se apenas em “compilar nomes e escritos que focasse uma determinada leitura do que fora o movimento em diferentes momentos de atuação político-simbólica”. (ROCHA DOREA, 2008) Isto incentiva o questionamento sobre por que tal compêndio foi dividido destacando a aparição de três gerações distintas de um total de 105 integralistas (52 autores selecionados nos escritos e 53 presentes no volume dedicado à poesia integralista) que atuaram e vivenciaram momentos diferentes da ação política do integralismo? Há nestes escritos diversas posições que podemos considerar dissonantes, a despeito de seu organizador publicizar nos jornais integralistas dos anos 1950 que se tratava de “uma obra orgânica que fugia da contradição e da contestação” (A Marcha, 7,9,1957,p.4). Neste sentido, muitas posições intelectuais identificadas nos escritos não são autônomas em relação ao poder doutrinário de Plínio Salgado, o que aponta para uma hegemonia do integralismo pliniano dentro do compêndio.

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4.3 – Ângulos de um mesmo objeto: procede a idéia geracional? Não há dúvidas de que na história do integralismo diversos grupos atuaram na construção de sua cultura política. Cada um desses grupos, respondendo a questões do seu tempo operaram no sentido de dotar o integralismo de uma feição mais bem definida e de uma aceitação maior perante a opinião pública. Por isso, a partir do conceito de “militância geracional” desenvolvido por Plínio Salgado e Rocha Dórea nas propagandas sobre a Enciclopédia buscaremos rediscutir a idéia de geração patrocinada pelos integralistas, justamente por entendermos que os fundamentos cronológicos e conceituais desta idéia jamais foram pensados a fundo pelo movimento. Diferentemente da abordagem integralista que baliza as três gerações pelo mote biológico (pessoas mais ou menos contemporâneas pelo vínculo da idade), fator que minimiza a ação de seus quadros nas outras áreas de atuação, esta pesquisa abordará as três gerações destacadas na Enciclopédia do Integralismo, a parir da seguinte cronologia: a) a primeira geração se enquadraria no período da criação da AIB (1932-1938), b) a segunda, cuja atuação se deu nos primeiros sete anos do Partido de Representação Popular, (1945-1952), c) e finalmente, a constituição da terceira geração, marcada pelo ápice de um processo mais amplo que se intensificou a partir de 1953 e culminou em 1957 com a retomada das alegorias, símbolos e rituais do movimento, encampada em finais da década de 1950, a partir da celebração dos 25 anos de criação do integralismo e seus braços culturais (1953-1957).175 Portanto, a idéia de geração com a qual trabalhamos rompe com a interpretação levada a cabo pelos integralistas. Aliás, a utilização do termo “geração” exige do pesquisador muita precaução. Não se trata aqui da geração no sentido biológico, mas cultural. O que denomino de geração contempla uma comunidade temporal e espacial, um conjunto de pessoas que compartilham entre si as crenças, os valores, as convicções os estilos de vida, os modos de ser, de viver, de se comportar e de conceber o mundo transmutando-o através das lentes do tempo. É, portanto, o sentimento de pertencimento a um grupo (não necessariamente restrito à faixa etária) com uma identidade referencial articulada a contextos de produção e visões de mundo que caracteriza uma geração. Polimorfa e multifacetada a noção de geração vem dividindo estudiosos das ciências sociais, há décadas. Vale dizer, que a opção por interpretar as gerações

175 De 1957 a 1965, a terceira geração se esforçou para manter-se em evidencia, buscando diferenciar-se das gerações pregressas. 163 integralistas pelo viés da atuação político/cultural/afetiva e não por sua caracterização biológica amplia ainda mais a percepção de que se trata mais de um conjunto heterogêneo de militantes que, juntos, graças as suas redes de sociabilidade, conseguiram exteriorizar (por vezes tímida, por vezes, veementemente), questionamentos sobre a disciplina, heteronomia, anuência e hierarquia integralistas. Nesse sentido, Sirinelli, chama atenção para que “a história ritmada pelas gerações é uma „história em sanfona‟ dilatando-se ou encolhendo-se ao sabor da freqüência dos fatos inauguradores”. (SIRINELLI, 1997: 133) Para ele, “a geração é de fato uma peça importante na engrenagem do tempo”. Assim sendo, a idéia de geração, proposta por Sirinelli, ajuda a compreender entrelaçamentos, vivências, consensos e conflitos, das diferentes gerações que coabitaram o mesmo espaço de ação política. A geração consistiria, portanto, num grupo de pessoas que viveu os mesmos acontecimentos sociais durante a sua formação e crescimento e que partilha a mesma experiência histórica, sendo esta significativa para todo o grupo, originando uma consciência comum, que permanece ao longo do respectivo curso de vida; e por isso, a ação de cada geração, em interação com as imediatamente precedentes, origina tensões potenciadoras de mudança social. Isto significa que uma geração compartilha experiências, situações de vida e oportunidades de vivência, benefícios e opressões, tensões e alegrias prefiguradas por um modo geracional de locação na estrutura social. Desse modo, por muito tempo, a tentativa de definir a noção de geração colocou o historiador diante do perigo da banalidade ou generalidade do propósito. Banalidade porque todas as sociedades humanas conhecidas estabelecem a sucessão de faixas etárias; generalidade porque, por esta mesma razão, "o uso da noção de geração fica às vezes na superfície das coisas, sendo antes elemento de descrição do que fator de análise" (SIRINELLI, 1997, p. 132). A contradição em que o conceito de geração se assenta é tamanha que alguns elementos aplicados a essa rede de sociabilidade integralista merecem ser analisados. Será possível perceber que a separação dos agentes integralistas desta pesquisa ocorreu ora por ações no campo do político, ora pela sugestão de suas afinidades, ora ainda pelo grau de aderência ou refutação sobre o pensamento hegemônico no integralismo. Assim, indivíduos que embora tivessem nascido em períodos próximos, ou mesmo indivíduos contemporâneos, nem sempre são enquadrados como parte de uma mesma geração, pois os critérios levados em consideração são muito mais de convergência do sentimento de pertencimento, do que propriamente da especialidade ou temporalidade biológica. Isso

164 nos ajuda a entender, por exemplo, porque muitos integralistas, embora classificados como pertencentes a uma ou outra geração, acabaram, na realidade, participando e transitando por mais de uma. Os exemplos rompem a barreira dos 30% de indivíduos presentes no compêndio.

Fig. 17. Salgado e Pimenta de Castro. A ritualidade da passagem do archote (tocha) significava a renovação geracional. 1957. Foto: Arquivo Público Municipal de Rio Claro - SP. Acervo Plínio Salgado.

O objetivo primordial deste capítulo é, por um lado, explicitar melhor, desnaturalizar essa idéia de geração que os integralistas impõem como definitiva, e por outro, analisar a idéia de que para os integralistas o “geracional” remete a uma simbiose entre a continuidade, a perenidade e a mudança constante. Parece-nos claro que a utilização indiscriminada do conceito serviu de mote para a elaboração da idéia de continuidade no movimento, pois este continuum jamais foi algo desprovido de significados para o integralismo. Para os integralistas, a noção de geração não é um elemento fortuito, banal, pois, jamais foi neutra sua utilização. O fato de os integralistas quererem incorporar elementos novos à sua cosmogonia servirá de mote contra aqueles que o acusavam de ser um mero pastiche. No entanto, cabe o questionamento: se esta idéia de continuidade se tornou moeda de troca ideológica para os integralistas, qual é a limitação desse approach? Pois é justamente pelo fato dessa noção de geração aparecer nos discursos integralistas de maneira nebulosa e pouco precisa que esta pesquisa visa discutir a limitação desse conceito. Assim, a primeira geração é assinalada pelos integralistas, de maneira pouco detalhada, como o grupo vinculado à AIB. Concordamos com as bases cronológicas e

165 conceituais que balizam esta primeira geração, no entanto, as outras duas gerações, não seguem pelos integralistas um critério objetivo de vinculação. Portanto, os membros da chamada segunda geração, (de acordo com a visão dos líderes integralistas) são, tão somente, um misto de pessoas que participaram dos anos 1930 e 1940, até a criação do PRP. Não há um cuidado por parte dos integralistas em mapear o que teria de fato aproximado tais membros nesta dada geração. Por isso, na nossa visão, é preciso alargar esta perceptiva da segunda geração, utilizando como balizas, não apenas o fim da AIB e a criação do PRP, (este interregno de pouco mais de seis anos) mas, principalmente percorrendo todo período de atuação do partido, que se desenha com maior vigor até o ano de 1955, data da candidatura de Salgado à presidência da República. Portanto, a proposta é romper com a cronologia inicialmente dada pelos integralistas e avançar na conjuntura política do período. Em mesma medida, é interessante afirmar que a cronologia da terceira geração pensada por esta pesquisa se afasta da construída pelos integralistas, principalmente com relação à atuação de seus atores mais representativos. Para os integralistas, a terceira geração começa com a admissão dos Águias Brancas, a juventude do PRP. (SALGADO, 1957:9) Entendemos que, embora válido, este marco se mostra insuficiente para construção dos atores desta terceira geração, pois compreendemos que sua gênese está mais vinculada ao período de construção simbólico-alegórica do integralismo, a partir da segunda metade da década de 1950, e menos fincada na criação episódica de um dado grupo; no caso dos Águias Brancas, coletivo sem muita expressão política no período em que foi instituído, em princípios dos anos 1950. De maneira similar torna-se possível matizar a afirmação de que esses integralistas de três momentos diferentes possuíam uma consciência clara de que participavam de uma classe heterogênea. Tinham eles clareza sobre esta condição? Ao contrário, como poderemos perceber a seguir, a condição de geração sempre foi muito fluida e pouco precisa para os próprios atores sociais em questão. Como dito anteriormente, será uma delimitação pensada e aplicada primeiramente por Salgado/Rocha Dórea que determinará essa noção de geração (fronteira e limite de um grupo para outro). Por isso, outros elementos devem ser aduzidos a este contexto de análise sobre a Enciclopédia do Integralismo de modo que nossa crítica ao conceito de geração meramente biológico/cronológico seja ampliada, visando uma percepção mais abrangente deste ethos integralista.

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4.4 - Apontamentos sobre um retrato coletivo integralista

Baudolino – Dizia de mim para mim, quando eu estiver com uma idade avançada – vale dizer, agora – hei de escrever as Gesta Baudolini, tendo por base estas notas. Assim, no curso de minhas viagens, eu trazia comigo a história da minha vida. Mas na fuga do reino de Preste João... [...] perdi aqueles papéis. Foi como se tivesse perdido minha própria vida. Nicetas Coniates – Dirás o que puderes lembrar. Trabalho com fragmentos de episódios, restos de acontecimentos, e tiro disso tudo uma história, tecida num desenho providencial. Quando me salvaste, tu me deste o pouco futuro que me resta e te recompensarei, devolvendo a ti o passado que perdeste. Baudolino – Mas minha história talvez não faça nenhum sentido... Nicetas Coniates – Não existem histórias sem sentido. Sou um daqueles homens que o sabem encontrar até mesmo onde os outros não o vêem. Depois disso, a história se transforma no livro dos vivos, como uma trombeta poderosa, que ressuscita do sepulcro aqueles que há séculos não passavam de pó... Para isso, todavia, precisamos de tempo, sendo realmente necessário considerar os acontecimentos, combiná-los, descobrir-lhe os nexos, mesmo aqueles menos visíveis. Além do quê, não temos outra coisa a fazer, os teus genoveses dizem que devemos esperar que se acalme a raiva daqueles cães (...) (ECO, Umberto. Baudolino. 3 ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 17-18)

Para que sua história fosse escrita, Baudolino, personagem do filósofo italiano Umberco Eco, escreveu e guardou suas memórias. Mas, uma vez perdidos os documentos, ou seja, a base material cuidadosamente produzida e conservada que garantiria a produção das Gesta Baudolini, sua própria vida se foi. No entanto, o “historiador” Nicetas lhe garante que, com os fragmentos do que puder lembrar, ainda será possível escrevê-la, demonstrando, então que não há limites mínimos para a massa documental necessária à produção da narrativa histórica. Inspirados por esta passagem de Umberto Eco buscaremos estabelecer relações de proximidade e ou afastamento entre os diversos autores publicados na Enciclopédia do Integralismo. Tais discursos serão fundamentais para analisarmos as relações interpessoais e inter geracionais deste grupo específico de indivíduos. Para tanto, utilizaremos como mote de análise a peculiar construção narrativa propugnada pelo fictício historiador Nicetas, ou seja: é com o fragmento que se reconstrói o mosaico da vida. (ECO, 2001:23)

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A percepção de que é necessário compreender os movimentos conservadores e autoritários, não apenas pelos interesses sociais que representam, mas também pelas aspirações que levam seus aderentes a neles ingressarem, ou reingressarem motivou a diferenciação das gerações integralistas presentes nesta pesquisa. Nesse sentido, este item busca revelar parte das relações, aproximações e contradições estabelecidas entre os intelectuais integralistas que fizeram parte da Enciclopédia do Integralismo, bem como, estabelecer graus de cumplicidade, disputa ou convívio que tais personagens detinham no campo de forças político intelectual integralista. Quem eram tais autores? Em que instâncias eles se relacionavam? Qual o grau de proximidade destes autores com o movimento integralista no momento em que são publicados na Enciclopédia? E no momento em que são publicados seus textos no interior deste compêndio qual foi a recepção dos que já não militavam no integralismo? Como compreender o fato de que, mesmo afastados do movimento no período da publicação do compendio, alguns destes intelectuais fossem utilizados como exemplos de uma expressão muito utilizada na época pelos militantes integralistas: “eram a cola da militância!”; como construir um panorama sobre tais relações? É a partir deste quadro que começaremos a cindir a posição de alguns desses personagens com sua permanência ou ruptura frente ao movimento.

4.5 - As Gerações – pensando o coletivo em função de sua atuação política, sua rede de sociabilidades

4.5.1 - Primeira geração (1930-1938) – estudantes de Direito: a base da pirâmide integralista

Do ponto de vista desta pesquisa, a primeira geração integralista foi majoritariamente, mas não exclusivamente, vinculada ao bacharelismo. Preparada por Salgado a partir de artigos diários no jornal "A Razão", coaduna-se com o contexto da fundação da SEP176 (corpo cultural que antecede à criação da Ação Integralista Brasileira como braço político) e dos primeiros contatos de Salgado com um grupo de

176 De fato, a AIB constituía-se num desdobramento da Sociedade de Estudos Políticos (SEP), uma agremiação cultural que objetivava discutir problemas de cunho político. Fundada em março de 1932, portanto sete meses antes do movimento integralista, esta sociedade, segundo Salgado: “era destinada a criar uma nova mentalidade no país e coordenar os estudos de uma nova idéia: o integralismo”. O Monitor Integralista. Ano I, 22/7/1933, p.13. 168 estudantes promissores e intelectuais, por assim dizer, conservadores. Tais encontros ilustram a busca do chefe integralista em articular uma proximidade com grupos e movimentos dispersos de orientação direitista, sobretudo os alocados nas escolas de ensino jurídico. Este primeiro contato foi realizado com o grupo que participou de diversas conferências proferidas por Plínio Salgado nas Faculdades de Direito de São Paulo e Rio de Janeiro, ao longo dos anos de 1931 e 32. Estas palestras acabaram por agregar numerosos jovens em torno das idéias de Salgado, que posteriormente seriam incumbidos por difundir os objetivos da futura Ação Integralista Brasileira. Plínio Salgado conquistou, assim, a simpatia de figuras representativas do mundo intelectual, muitos dos quais permaneceriam ligados ao movimento até a sua interdição, em finais de 1937. Em 1934, pouco depois de haver nascido como uma agremiação político-cultural, o integralismo transformou-se definitivamente em corrente partidária (CALIL e SILVA, 1998: 37) que se distinguia pela forte ação militante. Nesse sentido, Plínio Salgado considera que o papel pioneiro de São Paulo na construção de uma “proposta nacional” orienta parte de sua empreitada em cooptar quadros da Faculdade de Direito de São Paulo, a tradicional Faculdade de Direito do Largo São Francisco, sua primeira incursão em prol de angariar forças aderentes às suas idéias. O próprio Salgado afirma que o gérmen da empreitada integralista foi uma conferência proferida por ele na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, conferência cujo tema foi "A quarta Humanidade" assunto que redundaria em um de seus primeiros livros. Concomitantemente à aderência paulista, Salgado retoma contato com um grupo de intelectuais do Rio de Janeiro, sobretudo os acadêmicos em Direito vinculados às revistas Estudos Jurídicos e Sociais e Hierarchia, aproximando-se pela primeira vez de jovens intelectuais, em média, dez anos mais novos que ele177. Os mais representativos nomes desta primeira geração presentes na Enciclopédia do Integralismo são: Miguel Reale, San Tiago Dantas, Félix Contreiras Rodrigues, Madeira de Freitas, Belisário Penna, Lúcio José dos Santos, Câmara Cascudo, Hélio Vianna, Antônio Gallotti, Juvenil da Rocha Vaz, J. Venceslau Jr., Thiers Martins Moreira, Helio Vianna, Leopoldo Ayres, Pe. Hélder Câmara, Ernani Silva Bruno, Ernani Lomba Ferraz, Jeová Mota, Margarida Corbisier, Jayme

177 Neste caso corroboro e adapto a aferição do sociólogo Hélgio Trindade que em seu livro Integralismo: o fascismo brasileiro na década de 30, afirma: “Uma das características mais marcantes dos que viriam a se tornar líderes, dirigentes e mesmo militantes integralistas é a baixa faixa etária. Muito jovens, os futuros dirigentes nacionais e mesmo regionais da AIB possuíam uma média etária que variava entre os 20 e 30 anos. Apud. TRINDADE, p.144. 169

Regalo Pereira, Augusto de Lima Jr., Lauro Escorel, Rodolfo Josetti, Alcibíades Delamare, Arnóbio Graça, Lúcio José dos Santos, Vitor Pujol e Tasso da Silveira. Portanto, a convergência ideológica antiliberal e anticomunista, base da formação do integralismo encontraria terreno fértil nos meio intelectuais já formalizados, bem como no âmbito universitário jurídico, sobretudo devido aos simpatizantes ou engajados em movimentos entendidos como de extrema-direita, fator que aproximou definitivamente os simpatizantes às idéias de Salgado. Esta geração será, portanto, utilizada como mote de reafirmação do discurso nacionalista e anticomunista percebidos exaustivamente nos escritos da Enciclopédia. Trata-se da base da pirâmide integralista.

4.5.2 - Segunda geração (1945-1955) – mais dos mesmos? A despeito das propagandas da Enciclopédia do Integralismo sinalizarem a presença de uma segunda geração vinculada ao desenvolvimento da AIB, o que se percebeu, de fato, foi que esta segunda geração de indivíduos integralistas proveio tanto dos quadros da AIB quanto do movimento pós-1945, consubstanciando-se em um misto bastante heterogêneo. Este é um elemento que a cronologia dada pelos integralistas não discute. A maioria dos indivíduos vinculados a esta segunda geração sinaliza a busca por uma nova roupagem do movimento, algo alcançado quando da criação do Partido de Representação Popular. A formação de uma geração de integralistas que teve como terreno de atuação os anos entre 1945 a 1955 (período que coincide com o retorno do exílio de Salgado até sua campanha à presidência da República) se deu concomitantemente à consolidação das bases eleitorais e militantes do PRP, motivo pelo qual o movimento integralista volta paulatinamente a se portar segundo premissas já conhecidas, focando sua conduta numa postura mais radical, o que evidenciava o seu conservadorismo. Vale ressaltar que a segunda geração de integralistas coincide com a divulgação de um documento bastante relevante, publicado por integralistas residentes no Brasil em meados de 1945. Sob a coordenação do “Representante do Chefe Nacional que se encontrava no exílio”, Raimundo Padilha, fizeram publicar com grande destaque nos principais jornais do país, uma longa “Carta Aberta à Nação Brasileira”, (já citada e analisada no capítulo I) que no dia 17 de maio de 1945 relançava o movimento integralista. Os signatários da Carta eram bastante representativos da liderança integralista, incluindo 19 ex-membros da “Câmara dos Quarenta” da Ação Integralista Brasileira e a

170 maior parte de seus antigos “chefes provinciais”. Dentre eles destacam-se João Carlos Fairbanks, Alberto Cotrim Neto, Pedro Lafayette, Luis Alexandre Compagnoni, José Soares Arruda, Gerardo Mello Mourão e Loureiro Júnior além de seu “representante no Brasil”, Raimundo Padilha e Olbiano de Melo178, núcleo duro, do que denominamos segunda geração da EI, portanto, todos com menções ou textos na Enciclopédia. Edgard Carone aponta a perda de apoio das antigas lideranças como um dos principais obstáculos à rearticulação integralista. 179 Nesse sentido, podemos aferir que um misto de descontentamento e /ou desconforto por parte da antiga militância teria sido a justificativa mais aceita pela historiografia integralista quando se trata de entender o afastamento de grande parte da militância, exatamente nos estertores dos anos 1950, momento em que parte significativa de militantes se afasta do partido, a despeito de aparentemente permanecerem professando sua fé no movimento. Foi justamente este descontentamento que estimulou uma retomada simbólica e político- cultural do movimento, continuum iniciado em meados dos anos 1950 e que se torna mais visível com a celebração dos 25 anos do integralismo, marco chave para visibilidade de uma nova geração de simpatizantes e atuantes integralistas.

4.5.3 - Terceira geração – idéias persistentes (1957-1961) A terceira geração de integralistas presentes na Enciclopédia era constituída de indivíduos contemporâneos às realizações que o integralismo perrepista realizaram ao longo dos anos 1950, e que encontraram seu maior destaque quando das comemorações dos 25 anos do movimento, celebrados em 1957. Em grande maioria oriunda dos Centros Culturais da Juventude e das alas mais “conservadoras e tradicionalistas” do PRP, que a partir de 1957 começou a projetar novas estratégias de articulação e construção de lideranças político-culturais, este grupo de militantes encontra

178 MELO, Olbiano de. A Marcha da revolução social no Brasil: Ensaio Histórico-Sociológico do Período 1922-1954. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1957. 179 De acordo com Gilberto Calil, muitos chefes e adeptos integralistas o abandonam publicamente. “(...) Grande parte dos seus maiorais já abandonou o movimento: os Miguel Reale, os San Thiago Dantas, os Belmiro Valverde, e até um Gustavo Barroso, que é acólito de Plínio Salgado durante o Estado Novo, deixam de existir neste novo momento. O que resta são figuras menores, as de Raymundo Padilha, Carlos Fairbanks Júnior, Loureiro Júnior, gente secundária e sem maiores traços de liderança política integralista nacional, pois o movimento baseia seu valor na hierarquia e agora vê a sua alta hierarquia abandoná-la, em grande parte”.179 (CARONE, 1972: 209, Apud, CALIL, 2005, 215) Dentre os citados, Belmiro Valverde participou da constituição do PRP, e só rompeu com Salgado no início de 1945, discordando de sua candidatura à presidência e apoiando Juarez Távora, ao lado de outros integralistas como Raimundo Padilha. 171 ressonância no momento em que a agremiação cultural vivia seu período de maior efervescência. Faziam parte dela: Genoino Ferreira Filho, Abelardo Cardoso, Ivan luz, Francisco Galvão de Castro, José Batista de Carvalho, Augusta Garcia Rocha Dórea, Gumercindo Rocha Dórea, Hélio Rocha, Leovigildo Pereira Ramos, Carmen Pinheiro Dias, Umberto Pergher, Genésio Pereira Filho, dentre outros. Este é o grupo que se auto-intitulou “a síntese geracional integralista” 180 e que aqui, denominamos de terceira geração. Ressalta-se que o integralismo personificado nesta terceira geração tinha também o apoio de alguns dos homens mais destacados das gerações antecessoras, tais como Gustavo Barroso, Rocha Vaz e Tasso da Silveira. No entanto, tal apoio – faziam questão de afirmarem tais nomes – baseava-se na “reciprocidade ideológica, mas não na anuência partidária”, dada a variedade de matizes partidários cujos nomes eram filiados. (ROCHA VAZ, Correio Paulistano, 1957)

4.6 - Os três quadros/gerações e suas interseções

O desenho de um mapa que reflita os eixos de engajamento intelectual desses integralistas visa estabelecer conexões sobre suas atuações, preferências e referências ideológicas que, poderão se mostrar variáveis de acordo com suas sociabilidades. Essas estruturas de sociabilidade intelectual variam também, conforme as épocas e os grupos de intelectuais estudados. No caso específico deste grupo de integralistas, a descrição dessas três gerações e seus mecanismos de capilaridades internas facilitará a localização de cruzamentos onde se deve encontrar uma matriz comum: trama de sociabilidades que possibilita a todos os envolvidos uma relação de proximidade, sobretudo do ponto de vista ideológico. Essas estruturas elementares da sociabilidade integralista favoreceram a discussão de qual seria, de fato, o papel do intelectual dentro do movimento, justamente por possuírem estes partilhas de pressupostos comuns. Nesse sentido, o meio intelectual em geral, e o integralista contido no compêndio, em particular, constitui “um pequeno mundo estreito”, estrutura onde os laços se atam, em torno das máscaras e das faces reais de cada um dos envolvidos. Lugar de memória onde se homologa as chamadas estruturas microscópicas de relação e subordinação a Enciclopédia do Integralismo,

180 RAMOS, Pereria, Leovegildo. A geração sintética do integralismo. A Marcha, 9 de setembro de 1956, p.5. 172 sinaliza que a relação entre seus pares são mais complexas do que inicialmente aparentam. (SIRINELLI, 2001, 405) Tomando por base o processo de seleção, elaboração e construção do perfil deste compêndio, foram elaborados três quadros181 a partir da leitura de fragmentos biográficos disponíveis dos mais de 50 autores selecionados nos 12 volumes da Enciclopédia do Integralismo. O critério inicial adotado para a seleção e a análise dos quadros foi o da separação por gerações, mediado fortemente pelas intersecções que se apresentavam possíveis no momento de suas análises. Assim, poderemos perceber aproximações e ou discrepâncias entre uns e outros quadros, de acordo com as permanências ou mudanças de cada indivíduo em cada quadro. Neste sentido, a despeito das características especificas de cada quadro (o primeiro mapa versa sobre a majoritária parcela de integralistas que militaram na primeira geração; o segundo, sobre os membros das décadas de 1940/50, e o terceiro, sobre o grupo contemporâneo à publicação da Enciclopédia do Integralismo), buscaremos apontar intersecções percebidas nesses três quadros, apresentando os resultados desta leitura de maneira inter-relacionada. Vale ainda ressaltar que a apresentação dos indivíduos nestes três quadros deve, antes, ser vista como apenas uma das infinitas possibilidades de análise, apenas uma das clivagens possíveis.

4.6.1 - Trajetórias O primeiro elemento destacado nesta análise trata dos sujeitos que não estavam mais vinculadas ao movimento no momento da publicação da EI em 1957 – cerca de 55% dos autores, incluindo os já falecidos – maioria indicativa de que o compêndio dispunha de um claro perfil rememorativo, de manutenção dos indivíduos e quadros já afastados do cotidiano militante integralista. Por outro lado, os demais indivíduos, ainda pertencentes ao movimento em finais dos anos 1950, são apontados por seus pares como uma “elite fiel e consciente”182, pronta a ratificar o que as gerações antecessoras

181 Trata-se de três quadros que correlacionam informações biográficas primárias com dados pontuais sobre a atuação político-militante dos integralistas vinculados à Enciclopédia do Integralismo, bem como as diversas intersecções possíveis diante de suas leituras de mundo. Ver: Anexos. 182 Para a análise das trajetórias biográficas dos autores selecionados e o grau de inter-relação estabelecido entre elas serão aqui privilegiadas, em paralelo da permanência do autor no movimento integralista, as relações intelectuais e ou político-partidárias que tais autores estabeleceram ao longo de suas biografias. A noção de elite política será neste estudo utilizada no seu sentido amplo, ou seja, como grupos de indivíduos que ocupam posições chave em uma sociedade e que dispõem de poderes, de 173 disseram sobre o integralismo. Há uma simbiose na apresentação das três gerações de maneira a mostrá-las coerentes, heterogêneas, mas co-participantes das ideologias propugnadas pelo movimento a partir da batuta pliniana. Com isso pretende-se demonstrar que as tomadas de posição no plano político e a possibilidade de trânsito social destes agentes foram determinantes no seu recrutamento como componentes da EI.

Tabela porcentagem por geração. Em ordem decrescente: 1ª geração: 54%; 2ª geração: 14%; 3ª geração 17%; osiclaram entre as três gerações: 14%.

Mais de 50% dos autores analisados fizeram parte da primeira geração, num total de 28 indivíduos, dos quais cinco pendularam entre a primeira e a segunda gerações. Três autores que oscilaram entre a segunda e a terceira fizeram frente aos cinco que permaneceram atuantes nas três gerações. Os atores exclusivamente ligados à segunda, bem como à terceira geração totalizaram oito integralistas cada. Do ponto de vista geracional (biológico) é curioso que os mais longevos participantes da Enciclopédia, até o presente momento, sejam, Genésio Pereira Filho e Gumercindo Rocha Dórea (ambos com 85 anos)183 e o menos longevo, Arnóbio Graça (52 anos), e a média de expectativa de vida destes autores tenha sido em média os 72 anos. Outro elemento verificável foi o tempo de permeância do militante dentro do movimento. Permaneceram vinculados ao movimento até o falecimento cerca de vinte e dois autores (pouco mais de 40%). Em contrapartida, dezenove deles (37%) havia se

influência e de privilégios inacessíveis ao conjunto de seus membros. HEINZ, Flávio M. org. Por outra história das elites. Rio de Janeiro: FGV, 2006 183 Aqui se excetua Miguel Reale que faleceu com 92 anos em 2006. 174 destituído das fileiras integralistas em meados dos anos 1950, o que confere certa equidade entre os remanescentes e os dissidentes. Outro elemento que chama a atenção é que apenas duas mulheres participaram da EI, uma representando a primeira e outra a terceira geração, respectivamente: Margarida Corbsier e Carmen P. Dias. No entanto, grande parte dos dados (cerca de 35% do montante total de informações) não foi encontrada, o que inviabilizou uma maior profusão na análise deste contingente. Número considerável dos autores focados por esta análise integra as gerações de intelectuais analisadas por (PECAULT, 1990). Nascidos entre 1891 a 1933 estes integralistas são filhos de pais com profissões diversas. A maioria (78%) possui pais com profissões liberais (advogados, médicos, e professores) ou vinculadas ao comércio, bem como à aristocracia rural, ou mesmo às Forças Armadas (com exceção à aeronáutica), em todas as suas patentes. Há também próceres industriários, embora em pequeno número (perto de 15% do total dos indivíduos) Com relação ao período de nascimento foram computados: um indivíduo nascido na década de 1860 (Belisário Penna), um na década de 1870 (Lúcio José dos Santos), quatro na de 1880 (Câmara Cascudo, Juvenil da Rocha Vaz, Félix Contreiras Rodrigues, Rodolfo Josetti e Alcebíades Delamare) e três na última década do século (Plínio Salgado, José Madeira de Freitas e Tasso da Silveira), totalizando 10 indivíduos que nasceram no século XIX. O século XX assistiu ao nascimento de pelo menos quinze indivíduos constituintes dos quadros da EI. Oito na década de 1900 (Thiers Martins Moreira, Jeovah Mota, Hélio Vianna, Miguel Reale, Antonio Galotti, Arnóbio Graça e Padre Helder Câmara), seis na de 1910 (Ernani da Silva Bruno, San Thiago Dantas, José Loureiro Jr., Luis Alexandre Compagnoni, Lauro Escorel e Gerardo Melo Mourão), três na de 1920 (Gumercindo Rocha Dórea, José Soares Arruda e Genésio Pereira Filho), e um na década de 1930 (Umberto Pergher). Já com relação ao falecimento, do que foi possível averiguar, sabemos que apenas um indivíduo morreu ainda na década de 1930. Três nos anos 1940, um nos anos 1950, cinco nos anos 1960, e quatro na década de 1970. Nas décadas de 1980 e 1990 foram computados cinco falecimentos, mais que o dobro ocorrido em princípios da primeira década dos anos 2000 (dois falecimentos – Gerardo Melo Mourão e Miguel Reale), o que totalizou 21 falecimentos dos 52 indivíduos presentes na EI184, ou (47% do total). Com relação aos dados de nascimento e morte, não foi encontrado nenhum

184 Não foram analisados os 53 poetas presentes no volume 7. 175 registro de 25 dos 52 autores da EI (cerca de 48%), o que significa dizer que só foi possível mapear pouco menos de 50% dos dados biográficos primários dos indivíduos.

4.6.2 - As origens geográfica, social e política dos indivíduos: elementos controversos Quanto à origem geográfica, os atores dessas três gerações são predominantemente provenientes dos três mais importantes centros da decisão política em finais do século XIX e princípios do século XX: Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, (cerca de 50%) embora haja a incidência significativa de autores das regiões Sul e Nordeste (totalizando 32%), bem como, menor presença de autores vinculados a demais regiões político-administrativas do país, cuja distribuição geográfica será mais bem analisada adiante. Estes três estados, além de concentrarem o poder político, também dão origem a maior parte dos autores que em sua trajetória acabarão ocupando altos cargos estatais.185 Tomando como exemplo a origem social dos autores vinculados a primeira geração de integralistas entende-se que as origens sociais dos mesmos guardam uma proporcionalidade com a dos autores vinculados as segunda e terceira gerações. O que aponta para certa padronização na origem social das elites políticas integralistas integrantes do compêndio. Estas constatações são reproduzidas na distribuição das origens dos autores, bem como dos caminhos que os levaram ingressarem nas fileiras do integralismo. A maioria absoluta dos indivíduos em análise realizou seus estudos pré- universitários e a graduação em direito no estado em que nasceu. Aliás, o determinante fundamental neste foco é sinalizar a esmagadora maioria de formados em Direito, Engenharia e Medicina, sobretudo pelas três mais influentes escolas jurídicas do país em meados dos anos 1930: Rio de Janeiro, Recife e São Paulo. Assim, a tríade formadora do empreendedorismo republicano (PINSKY, 1989) (juristas, engenheiros e médicos) manteve sua forte presença no quadro das profissões relativas aos integralistas presentes no compêndio. Após a formação universitária, estes integralistas incorporaram um léxico de práticas comuns às suas respectivas ocupações, sobretudo, aos bacharéis de direito que, facilitou o reconhecimento, por parte da sociedade, de suas trajetórias como juristas

185 “O integralismo não tomou o poder central, mas está por todos os lados, dirigindo o país, nas estatais, multinacionais de capital estrangeiro e, mesmo, partidos políticos (...) ideologias que nasceram no âmbito do pensamento nacionalista do integralismo!”. SALGADO, P. O Cruzeiro, 10/4/1954, p.6. 176 vinculados ao integralismo. Outra característica marcante é o exercício de diversas atividades em paralelo à carreira de advogado. Sempre que possível esta se acumulava com a função de professor. Os diversos cursos de doutrinação dos núcleos integralistas ao longo da década de 1930 lançaram mão deste aparato profissional, que acabou por destacar muitos membros da alta cúpula integralista, ao exemplo de Miguel Reale, Antonio Galotti, Helio Vianna e San Tiago Dantas. Por outro lado, a rede de relações sociais estabelecida por estes integralistas possibilita-nos, hoje, percebermos que muitos destes indivíduos acabaram conduzindo suas posturas e carreiras em direção oposta às tomadas no início de sua atuação política, o que caracterizou o distanciamento de alguns de seus ideais pregressos, sobretudo os propugnados ao longo dos anos 1930.

Tabela da distribuição geográfica dos autores da Enciclopédia do Integralismo

Os integralistas selecionados na Enciclopédia tiveram uma longa vida político institucional. Em alguns casos, como já apontado anteriormente, uma porcentagem representativa de indivíduos (cerca de 43%) se afastou por completo de suas origens políticas. A tendência direitista de vários autores, por vezes foi abrandada, por vezes, até mesmo revertida, como foram os casos de Hélder Câmera, ou mesmo Olbiano de Mello, dentre outros, o que equivale a dizer que esta porcentagem de indivíduos dissidentes, no momento em que a EI foi publicada, não mais pertencia ao movimento integralista. Assim, é possível perceber na análise dos três quadros propostos, uma clara separação entre a simpatia política inicial da maioria dos autores presentes na EI e suas

177 posturas pós-1938, período em que parcela substancial dos integralistas célebres se afasta do movimento.

4.6.3 - Profissões: do sustento ao diletantismo No que tange às profissões desempenhadas e declaradas por estes integralistas, há uma gama variada de atividades que perpassa relevantes áreas de atuação. Entretanto, se é verdade que há uma prevalência nas áreas jurídica, das engenharias e da medicina, também é procedente que muitos desses indivíduos tenham desempenhado funções dentro de um quadro de atividades mais amplo. Percebemos a presença de cinco médicos (Belisário Penna, Rodolfo Josetti, Madeira de Freitas, Jaime Regalo Pereira e Juvenil da Rocha Vaz), dos quais dois atuando apenas na medicina, dois junto ao jornalismo e um como musicólogo; três engenheiros, um em cada respectiva geração (José Lúcio dos Santos – Minas; João Carlos Fairbanks - Ferroviário e Umberto Pergher - Civil) todos eles desenvolvendo outras atividades como o jornalismo ou a advocacia. O papel e o domínio que a carreira jurídica exerceu sobre os homens do integralismo são, assim, verificáveis na imensa quantidade de bacharéis em Direito e ou juristas no movimento. Do que foi possível verificar a partir das esparsas e assistemáticas fontes, do universo de 52 autores, ao menos 20 eram advogados186, dos quais nove desenvolviam outras atividades, levados a elas a partir de suas atuações como bacharéis ou juristas. Dois deles, inclusive seguiram carreira diplomática (Abelardo Cardoso e Lauro Escorel). Estes são dados que nos fazem perceber a ascendência que as atividades jurídicas possuíam sobre as demais elencadas neste estudo, apontando o bacharelismo como um reduto integralista. Veremos a seguir como as escolas de Direito cederam aos encantos da maviosa sereia integralista.187 Diante das mudanças sócio-político-culturais por que passou o país, na virada do século XIX para o XX, o trunfo decisivo com que contam os bacharéis, muitos deles, intelectuais vinculados a opções claramente direitistas, reside na formação polivalente

186 Advogados da primeira geração: Miguel Reale, Lúcio José dos Santos, San Thiago Dantas, Arnóbio de Souza Graça, Alcebíades Delamare Nogueira da Gama, Luiz da Câmara Cascudo, Tasso Azevedo da Silveira, Hélio Vianna, Thiers Martins Moreira, Ernani Silva Bruno. Advogados da segunda geração: João Carlos Fairbanks, Alberto Bittencourt Cotrim Neto, Lauro Escorel Rodrigues de Morais, José Soares de Arruda. Advogados da terceira geração: Luis Alexandre Compagnoni, Gumercindo Rocha Dórea, Genésio Cândido Pereira Filho, Abelardo Cardoso e José Loureiro Jr. 187 Tal como foi escrito por Samuel Wainer em artigo intitulado: O retorno da maviosa sereia. Última Hora, 17/08/1957, p.4. Também foi Wainer que criou um apelido utilizado pelo pesquisador Jacob Gorender, quando este se refere aos integralistas: as sereias verdes. 178 que adquiriram na faculdade de Direito e cuja rentabilidade profissional é tanto mais apreciável quanto se faz acompanhar de um de um capital de relações sociais que apenas tais famílias das classes dominantes possuíam.

Tabela da distribuição profissional dos autores da Enciclopédia do Integralismo

Esses intelectuais que poderiam ser classificados, de acordo com a sociologia de Sérgio Micelli, de “homens sem profissão” dada sua herança vinculada às famílias que detinham posições de destaque e diferenciada remuneração, encontrarão na seara do bacharelismo posição proeminente de atuação política e ideológica, o que viria a caracterizar definitivamente a formação do movimento integralista: bases intelectuais bem definidas mescladas com uma militância pulverizada em campos sociais diversos.

Em finais da década de 1920 orbitava em torno das recém formadas Faculdades de Direito uma plêiade de jovens idealistas que encontraram no discurso e promessa nacionalistas de Plínio Salgado guarida para algumas de suas preocupações. A receptividade aos apelos do integralismo seria proporcional ao clima de transformação deste período, momento utilizado como justificativa da ideologia integralista para o que foi chamado por Salgado de “guinada definitiva nos rumos da pátria sem Nação” (SALGADO, Discursos Parlamentares, 1972, 89). Tais investidas só foram possíveis graças ao mapeamento das possibilidades de aderência. A lógica pensada por Salgado o levou para onde as elites intelectuais do país se graduavam. Por isso, vale ressaltar que

179 até meados da chamada Velha República, as faculdades de Direito188 eram a instância suprema em termos de produção e disseminação ideológicas concentrando diversas funções políticas e culturais.

O integralismo configurou-se como uma frente de mobilização político ideológica, o que fez emprestar quadros que concorreram às frações da classe dirigente do país, a despeito de não emplacar suas propostas de poder. No entanto, é fato que muitos destes indivíduos que emprestaram escritos à EI também se empenharam em preservar e ampliar sua presença nas instituições políticas, tanto no interior do integralismo como, sobretudo, no caso de alguns nomes proeminentes, em posições diametralmente opostas ao movimento. Então, em sua atuação da década de 1930, o integralismo se destaca entre as primeiras organizações políticas que ampliaram sua escala de operação em nível nacional, mobilizando categorias sociais que os grupos dirigentes anteriores haviam excluído da representação política. Por disporem de um mínimo de capital social, escolar e cultural, tais integralistas se vêem em condições de reivindicar posições que seus antagonistas políticos ocupavam. E será em um espaço de atuação político- ideológico especifico que tais atores entrarão em cena. Para muitos integralistas, a construção de sua identidade, bem como as disputas nos campos de força intelectual, moral e ideológico iniciaram nos bancos das faculdades de Direito. Não é sem propósito que o ideólogo do integralismo vai lançar mão de suas primeiras investidas no âmbito das faculdades de Direito, justamente por entender que um “movimento nacionalista de líderes precisava buscar nas escolas de líderes quadros que representassem a liderança ideológica de um país” (SALGADO, Discursos Parlamentares, 1972, p.67). A este escopo, Salgado, homem que se mostrou com um trânsito fácil nas Faculdades de Direito de São Paulo e Rio de Janeiro, era ciente de que

188 “(...) no interior do sistema de ensino destinado à reprodução da classe dominante, os núcleos bacharelescos ocupavam posição hegemônica por força de sua contribuição à integração intelectual, política e moral dos herdeiros de uma classe dispersa de proprietários rurais aos quais conferia uma legitimidade escolar. As faculdades de Direito atuavam ainda como intermediárias na importação e difusão de produção intelectual européia, centralizando o movimento editorial de jornais e revistas, tornando-se celeiro de díspares tendências ideológicas que supriam as demandas por indivíduos treinados e aptos a assumir os postos e cargos das cúpulas administrativas, além de contribuir com pessoal para as demais burocracias, a magistratura, o magistério superior, enfim, todas as instancias de produção, e disseminação ideológicas no país.” A respeito do papel desempenhado pelas faculdades de Direito na formação do habitus da classe dirigente consultar os trabalhos organizados por: (SPENCER VAMPRÉ, 1924), (BEVILÁCQUA,1927), (ALMEIDA, 1956) e (VENÂNCIO, 1977).

180 os estudantes dos cursos jurídicos tinham não apenas pretensão, mas possibilidades objetivas de ingressarem nas carreiras ligadas ao trabalho político e intelectual, o que incentivou o líder integralista a arregimentar quadros neste âmbito. A busca por entender um Brasil que se apresentava em transformação constante, e cuja virada da antiga República era apenas um dos tons a serem evidenciados, favoreceu a concorrência ideológica entre os indivíduos vinculados a essas escolas de Direito, substantivando a adesão de muitos deles aos ditos empreendimentos de salvação política, que então surgiram, e dos quais o integralismo era uma forte bandeira.

A propósito, a maioria dos jovens intelectuais que se tornaram militantes nas organizações mais radicais de direita, durante a década de 1930, eram “bacharéis livres”, desprovidos de enquadramento profissional e ideológico. Alguns autores que estudaram a conformação dos quadros proeminentes da intelectualidade brasileira, sobretudo, os que sentaram praça à direita do espectro político, atentam para o fato de que muitos desses intelectuais se vincularam a movimentos de características salvacionistas e nacionalistas, como o integralismo, devido a sua segregação geográfica e social dos principais centros políticos e culturais, quando mais jovens. (ARINOS Apud VENANCIO FILHO, 1997: 8)

Partindo do pressuposto de que o integralismo se consolidou devido às propostas de uma dada cultura política, em que fatores como a identificação, o apego às tradições, a fidelidade à liderança, a influência familiar como fator de adesão, acabam por reduzir o peso do interesse puro e simples, é pouco provável que muitos membros da liderança integralista, após serem cooptados pela força discursiva e persuasiva de Salgado ainda quando aspirantes a bacharéis, tenham se filiado ao movimento buscando uma identidade que servisse como sustentação de seus interesses. O envolvimento com o integralismo desses jovens bacharéis em formação ou atuação expressou a reação de um grupo que postulava o entendimento de um país já bastante dependente e desigual. Como reagentes a esta realidade, enquadrados na moldura do nacionalismo exacerbado pensado por Salgado, fizeram de sua passagem pelo integralismo bandeira de convicções políticas, ora duradouras, ora passageiras.

Dentre as características peculiares deste grupo vinculado ao bacharelismo integralista estão ainda o exercício da docência em direito e o pertencimento a instituições de consagração, como o Instituto dos Advogados Brasileiros e Academia Brasileira de Letras Jurídicas e os altos cargos executivos nas mais importantes

181 universidades públicas e privadas do país, (num total de 43% dos indivíduos analisados) Posteriormente, além de professores, estes integralistas ocuparam postos diversos nas carreiras jurídicas, jornalísticas e políticas decisórias no período em que atuaram. Ademais, realizam a produção de artigos e livros jurídicos, filosóficos, jornalísticos e históricos, sendo marcantes suas posições nos jornais de grande circulação de todo o país. Assim, vários desses autores integralistas, após sua desvinculação do movimento, e mesmo no período da publicação da EI, já imersos em outras dimensões políticas, passam a receber diversos prêmios jurídicos, literários, jornalísticos, bem como homenagens e títulos doutor honoris causa. Exemplo desta prática cabe a Miguel Reale. Dado complementar trata de que, em geral, o doutorado, a livre-docência e a tese de cátedra de muitos destes bacharéis integralistas também ocorreram no mesmo local de formação. Exceções são os percursos de poucos autores, a exemplo de alguns da primeira geração, que ora migraram para o centro geográfico do poder (RJ) realizando lá sua carreira acadêmica, ora realizaram estudos fora do país, preferencialmente em Paris, Lisboa ou Roma. Embora as fontes disponíveis neste trabalho não tragam indicações precisas quanto à condição social e material destes integralistas, nem tampouco apresente pistas de como tais autores se viram influenciados pela presença direta de Plínio Salgado e sua percepção nacionalista, elas ajudam, ao menos, a conjecturar sobre qual teria sido o cimento que unira tais personagens. Por isso, algumas informações biográficas já disponíveis ajudarão a perceber, mesmo de maneira pouco verticalizada, algumas relações existentes entre tais indivíduos.

***

Para além dos operadores do direito, também havia nos quadros da Enciclopédia do Integralismo dois industriários, dois agricultores, três eclesiásticos (Pd. Helder Câmara, Leopoldo Ayres e Francisco Galvão de Castro), o que sinaliza uma aproximação ainda existente entre o movimento e partes da igreja católica, mesmo após a derrocada do integralismo nos anos 1930 e o paulatino afastamento de ambos, a partir de meados dos anos 1940, muito em função das dissidências patrocinadas por líderes católicos da estirpe de um Amoroso Lima e um Gustavo Corção.189 Nesse sentido, é bastante representativo que das diversas temáticas elencadas na EI, o catolicismo e sua

189 Ver: Idade Nova nos anos de: 1945, 1946 e 1947. Além do jornal perrepista, os jornais O Globo e A Folha da Manhã também se tornaram espaço de inúmeras discussões entre os representantes do laicato católico e o integralismo. 182 relação de proximidade com os preceitos integralistas seja uma das temáticas mais recorrentes. É relevante destacar que o jornalismo também era a atividade de muitos dos indivíduos presentes na Enciclopédia. Todos os clérigos presentes no compêndio desenvolviam, paralelamente às suas funções eclesiásticas, trabalhos no âmbito jornalístico. Os advogados e engenheiros, os médicos e alguns militares de patentes diversas também se aventuraram, em posições privilegiadas, fazendo parte, em algum momento de sua trajetória, de alguma empresa midiática, sobretudo as financiadas pelo próprio integralismo. Nesse sentido, foram destacados nove jornalistas, dos quais cinco desempenhando outras profissões, geralmente estes, utilizando o jornalismo como meio de sobrevivência momentânea. Assim, advogados, engenheiros, médicos, clérigos, historiadores, poetas, economistas, militares e mesmo industriários utilizavam a carreira jornalística como intermédio do estabelecimento de suas profissões oficiais. A falta de oficialidade da profissão e ou o diletantismo destes indivíduos, não impediram que muitas empresas (integralistas ou não) que em meados dos anos 1950 já empregavam escritores, redatores, jornalistas profissionais tivessem em seus quadros nomes de integralistas reconhecidamente influentes. Desse ponto de vista, na Enciclopédia do Integralismo, há, ao menos, oito autores que se proclamam jornalistas e ou escritores profissionais. Todos, vinculados à primeira e segunda gerações. Plínio Salgado, Ernani Silva Bruno, Thiers Martins Moreira, Lauro Escorel, Alexandre Compagnoni, Margarida Corbisier, Pedro Lafayette e José Loureiro Jr, são alguns exemplos. No entanto, o que se verifica é que o ofício de escritor sempre aparece como uma ocupação diletante, e não uma profissão. Assim, os escritores integralistas, neste universo profissional dividiam suas atividades sendo, comerciantes, escriturários, funcionários públicos, exercendo de maneira geral, outras profissões que não a jornalística stricto sensu. Assim, dos oito autores que se definem como escritores, apenas dois se auto referenciam como escritores profissionais, optando esta como profissão primária. Plínio Salgado é o exemplo mais acabado. Há também a incidência de profissionais autodidatas de notório conhecimento, sobretudo, desempenhando atividades relacionadas às ciências humanas (indivíduos pertencentes a todas as gerações), como historiadores, filósofos e sociólogos que desenvolvem paralelamente às suas atividades de cientistas humanos, outras funções extra-acadêmicas, como e o caso de (Ernani Silva Bruno, Umberto Pergher, Hélio

183

Vianna e Augusto de Lima Jr.). Além de historiadores e sociólogos, também foi possível registrar um Etnólogo e Folclorista (Luis da Câmara Cascudo), e três militantes que desempenharam o papel de filósofos, mas não como profissão primária, (Salgado, Pergher e Félix Contreiras Rodrigues). Aliás, estes integralistas faziam questão de se declararem filósofos, mesmo que possuíssem outras atividades. Também foi destacado um caricaturista profissional (Madeira de Freitas), quatro poetas, dos quais ao menos dois definindo esta como sua atividade profissional primária (dos quais se destacam: Gerardo Mello Mourão e Tasso da Silveira); dois economistas profissionais atuando no mercado financeiro (Antonio Galotti e José Garrido Torres), cinco professores que lecionavam português, latim, direito, filosofia, engenharia e farmacologia; e um editor, que se destacava por ter nesta função sua profissão de sustento (Gumercindo Rocha Dórea). No Brasil, a profissionalização de muitas destas atividades viria a se consolidar a partir da década de 1960, o que significa pensar que, no momento da publicação da Enciclopédia, muitas dessas profissões passavam ainda por um estágio de conformação de seus estatutos. Por fim, dois segmentos merecem destaque: primeiramente as forças armadas que cederam ao integralismo, sobretudo na Marinha de Guerra, grande contingente de adeptos e simpatizantes. Dos indivíduos presentes nos volumes, verificamos três militares, sendo dois do Exército e um da Marinha (Jeovah Mota, Augusto de Lima Jr. e Victor Pujol). E em consonância com todas as profissões descritas pelos autores da EI, uma profissão se diferenciava pela sua atuação ora diletante, ora oportunista. Muitos dos atores sociais em questão, num total de 23 indivíduos (cerca de 47%) acabaram por percorrer trajetórias político partidárias no sentido profissional do termo, permanecendo nas cadeiras legislativas por anos a fio. Assim, cerca de 19 autores indicaram, em pelo menos algum momento de suas vidas, a atuação em partidos políticos, se auto- referenciando como políticos profissionais, o que, por vezes, tornou-se uma referência ambígua, pois, em sua maioria, tais trajetórias foram antes construídas como corolário das carreiras primárias escolhidas por tais atores.

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4.6.4 - Funções e atividades dos indivíduos no período de sua militância Também nos foi possível verificar as funções desempenhadas por alguns indivíduos no período de sua militância integralista, tanto nos anos 1930, 1940 como 1950. Como é notório, Salgado sempre atuou no movimento como a referência máxima de todos os integralistas. No período da AIB, como chefe supremo, e no PRP como seu presidente. Dos autores vinculados à primeira geração, portanto membros da AIB destacam-se; Belisário Penna, que além chefiar o Departamento de saúde pública e higienização da AIB foi membro da Câmara dos 40, juntamente com outros três indivíduos: Victor Pujol, que também exercia o cargo de Diretor do Jornal Monitor Integralista e Membro do Conselho Supremo da AIB; Juvenil da Rocha Vaz, que era chefe regional na região do noroeste fluminense (Cambuci e São Fidelis) e Thiers Martins Moreira, membro do Secretariado Nacional da AIB. Há também nos quadros da Enciclopédia indivíduos que representam a Câmara dos Quatrocentos: José Madeira de Freitas, membro do Conselho Supremo da AIB e Departamento de Propaganda, e chefe provincial da Guanabara; o padre Leopoldo Ayres190, Luis da Câmara Cascudo; Ernani da Silva Bruno e Arnóbio de Souza Graça. A militância católica, por sua vez, também foi assídua nos volumes da EI. Além do próprio Leopoldo Ayres, Lúcio José dos Santos e Tasso Azevedo da Silveira191, o então, padre Hélder Pessoa Câmara registrou suas idéias religiosas, exercendo simultaneamente o papel de divulgador e doutrinador cultural e religioso na AIB. Gerardo Mello Mourão192 e Francisco Galvão de Castro, (respectivamente, segunda e terceira geração) vincularam-se à CCCJ e a vários centros de perfil católico do nordeste e sudeste, notabilizando-se como grandes baluartes da verve católica dentro do movimento. O segundo nome de maior relevância no movimento, Miguel Reale aparece como membro vitalício do Conselho Supremo Nacional e chefe do Departamento de Doutrina, o que equivale ao segundo posto na hierarquia da AIB. Aliás, o Conselho Supremo era o colegiado que ajudava a sinalizar as diretrizes do movimento. Os integralistas presentes na EI que fizeram parte do Conselho Supremo da AIB são:

190 Parte das informações e dados deste autor pode ser encontrada no acervo depositado na Cassa de Rui Barbosa. Coleção: Leopoldo Ayres e no DHBB do CPDOC - FGV, pp. 2020 e 2021. 191 Para saber mais sobre Tasso da Silveira ler o artigo publicado pelo critico literário Wilson Martins: O poeta católico em: O Globo, 13 de dezembro de 2003. Versão online. 192 Gerardo Mello Mourão aparece na Enciclopédia do Integralismo como um dos 52 poetas reunidos no Volume 7, exclusivamente compilado para homenagear a poética integralista. 185

Jeováh Mota, que também desempenhava a chefia do movimento no Ceará; Rodolfo Josetti, que além deste cargo pertencia ao Departamento de Cultura Artística, de Doutrina e Estudos e do Secretariado Nacional da AIB; Jaime Regalo Pereira, que era chefe arqui – provincial e chefe da primeira circunscrição da AIB; Alberto Bittencourt Cotrim Neto, que também desempenhava o papel de membro do Secretariado Nacional, do Conselho Jurídico Nacional e da Secretaria Nacional de Imprensa; San Thiago Dantas, do Conselho Jurídico Nacional e da Secretaria Nacional de Imprensa; Antônio Galotti, membro do Conselho Nacional e do Secretário Nacional de Relações Exteriores; além de Ernani Silva Bruno, também membro do secretariado nacional e Secretaria de Doutrina e Estudo. Ainda com relação às funções desempenhadas pelos integralistas no período de sua militância, há no compêndio indivíduos que gozavam de certo prestígio, integrando a denominada “ala engajada”193 do movimento. Hélio Vianna, que em 1932 passou a integrar este grupo, ministrando na AIB o curso de História do Brasil, bem como escrevendo nos veículos do movimento e publicando textos de história política e social brasileira, fazia par com Miguel Reale, Lauro Escorel Rodrigues de Morais194, e Gerardo Melo Mourão, Pedro Lafayette e Luiz da Câmara Cascudo, autores que se enquadravam nesta tipologia. Aliás, Cascudo foi um grande divulgador da noção nacionalista de cultura. Publicista do nacionalismo contido no integralismo no período de sua militância ajudou a Reale na elaboração de algumas de suas mais polêmicas idéias sobre o movimento. Gumercindo Rocha Dórea, intelectual muito próximo a Salgado, também fazia parte da chamada “ala engajada”. Personagem essencial na retomada simbólico política do integralismo perrepista, Dórea sintetiza o conceito, no pós 1950. Em muitos casos, devido à escassez de fontes e dados não nos foi possível aprofundarmos a trajetória de outros militantes. Casos paradigmáticos são: Alcebíades Delamare Nogueira da Gama, advogado e procurador da AIB em diversos casos; Félix Contreiras Rodrigues, membro influente da AIB; João Carlos Fairbanks, membro que atravessou as três gerações do movimento, José Garrido Torres, Ernani Lomba Ferraz ;

193 A idéia de engajamento político sempre esteve acompanhada da racionalização de muitas atividades desenvolvidas na AIB. Além dos integralistas listados acima havia uma plêiade de intelectuais que também constituíam a ala engajada. Ver: A Marcha, 23?04/1959. Lembranças do engajamento. p. 9. Neste artigo assinado por Gumercindo R. Dórea é marcante a tentativa de desvincular o engajamento integralista do que ele chamava de engajamento esquerdista. 194 Parte das informações e dados deste autor pode ser encontrada no acervo depositado na Cassa de Rui Barbosa. Coleção: Lauro Escorel. 186

Rômulo Almeida; Abelardo Cardoso; José Soares de Arruda ; Augusto de Lima Jr. Margarida Cavalcante de Albuquerque Corbisier.195 e J. Venceslau Jr., cuja única informação disponível o retrata como um influente militante em diversos diretórios do interior de São Paulo. Outra listagem contendo poucos nomes sinaliza a presença dos então jovens militantes vinculados à CCCJ, dos quais destacamos: Luis Alexandre Compagnoni e José Loureiro Jr. (ambos incentivadores e colaboradores dos jovens águias brancas); Genoíno Ferreira Filho; Umberto Pergher, atuante líder da chamada “ala jovem” do PRP, e Secretário de Arregimentação eleitoral do partido; Genésio Pereira Filho, filiado ao PRP paulista; Ivan Luz, que escrevia em jornais do PRP e foi secretário de Plínio Salgado no período dos Águias Brancas; bem como Hélio Rocha e Carmen Pereira Dias, respectivamente, diretores das Alas Doutrinária e Feminina dos Centros Culturais da Juventude. Tais nomes ajudam a preencher as diversas lacunas deixadas pela pesquisa no tocante às funções desempenhadas pelos autores no momento de sua militância.

4.6.5- Ocupações dos integralistas no período de publicação da Enciclopédia Dos que permaneceram no movimento no período da publicação, alguns ganharam destaque. Plínio Salgado, à época ocupava o cargo de Presidente do PRP - Partido de Representação Popular e chefe honorário e simbólico da retomada simbólica do integralismo. Augusto Lima Jr, jornalista e historiador, militou na primeira e segunda fases do movimento integralista tendo efetiva participação nas articulações do PRP, sobretudo em Mina Gerais. Coronel do Exército Brasileiro, membro da Justiça Militar Federal, Chanceler da Medalha da Inconfidência foi designado pelo presidente Getúlio Vargas como coordenador do traslado dos restos mortais dos Inconfidentes da Europa e África para o Brasil e mantinha estreita interlocução com AB Cotrim Neto que se notabilizou por ter sido um dos militantes criadores do PRP. O jornalista Pedro Lafayette, torna-se diretor de alguns jornais integralistas, sobretudo A Idade Nova. José Loureiro Jr, que á época se torna genro de Salgado, elege-se Deputado pelo PRP (SP)

195Margarida Corbisier e Carmen Pereira Dias (a primeira vinculada à AIB e a segunda ao PRP) seriam as únicas mulheres a apresentarem textos na EI. Outras duas mulheres são citadas na Enciclopédia do Integralismo, como poetas constituintes da Coletânea de poemas publicada no Volume 7 do compêndio: Maria Rita Vaz de Hollanda Cunha e Hydée Machado Marques Porto. As duas sem informações biográficas disponíveis. 187 em 1957 – ano de lançamento da enciclopédia. A companheira de partido, Carmem Pinheiro Dias, no momento da publicação desempenhava a função de Secretária geral da Confederação dos Centros Culturais da Juventude (53-57). Luis Alexandre Compagnoni, tal como Loureiro Jr, também se elege Deputado pelo PRP entre 1952 e 1958, mesmo período em que Umberto Pergher, um dos coordenadores da arregimentação jovem integralista se torna o articulador político mais representativo do I Congresso de Lideres da Juventude integralista. Ambos gaúchos permaneceram no integralismo e no PRP até o desmantelamento dos partidos em 1965, quando então, migraram para as fileiras da ARENA governista. Fazendo frente aos dois gaúchos de grande atuação política, Genésio Pereira Filho, militante muito próximo de Salgado, entusiasta perrepista dos mais fervorosos e o baiano, Gumercindo Rocha Dórea, (ambos radicados em São Paulo) faziam coro com a militância católica integralista, na figura de personagens do naipe de um Francisco Galvão Castro, um Hélio Rocha, um Ivan luz ou um José Batista de Carvalho, militantes católicos de ampla atuação nas comunidades interioranas, na busca pela irradiação dos ideais integralistas em pleno período democrático. Outros intelectuais tiveram no período da publicação da Enciclopédia uma trajetória divergente da seguida nos anos 1930. É o caso de quase 30% dos autores, dentre os quais destaco: San Tiago Dantas que se revela apenas um admirador da figura intelectual de Plínio Salgado; Helio Vianna, que em 1958 já sinaliza claramente percorrer caminhos diversos dos anteriormente trilhados publicava os volume nº 247 e 248 da obra História Diplomática do Brasil, editado pela Biblioteca do Exército Editora; e mesmo, Hélder Câmara, agora Dom Helder, e Câmara Cascudo, ambos distanciando-se cada vez mais dos ideais propugnados na juventude.

4.6.6 - Permanências e transformações de um ideário É característico que muitos destes ex-militantes tenham expressado em suas memórias sentimentos que pendularam entre o total desprezo e uma saudosista lembrança dos tempos de sua militância integralista. Exemplos destes discursos podem ser verificados nos depoimentos de alguns (ex) integralistas. A questão de ordem é a seguinte: o que tais militantes diziam sobre o movimento após se desvincularem?

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Em 1937 Jeovah Mota redigiu uma carta à Câmara dos Deputados assumindo que estava se desligando da AIB, renunciando a seu mandato parlamentar. Um trecho em particular desta carta é bastante elucidativo do ponto de vista do que Mota pensava sobre o integralismo: “Apensar de nutrir respeito pela AIB, acreditava que esta jamais seria um adequado instrumento de luta em prol da justiça social, pois não comportava uma intensa atividade sindicalista operária”196. Por sua vez, Belisário Penna reforça sua aderência ao integralismo por meio de suas convicções: “O integralismo não responde mais aos modos políticos do Brasil, depois que Getulio o destituiu, mas permanece sendo uma proposta racional, espiritualista e capaz de regenerar os maus brasileiros (...) é como a metáfora do anticorpo: jamais se desvincula do corpo e ainda bem que permanece como força de ação cristã no país”.197 “Faço questão de afirmar que minha ligação com o integralismo baseava-se mais na “reciprocidade ideológica, e menos na anuência partidária”, admitiu Juvenil da Rocha Vaz, (Correio Paulistano, 1957) que, tal como San Tiago Dantas em encontro ocorrido posteriormente ao golpe de 1937, teria dito a Francisco Campos, no sentido de demarcar as diferenças entre o integralismo e o Estado Novo: “Professor, não queremos servir o poder, queremos exercê-lo!”198 Pouco antes de seu falecimento San Tiago Dantas também se lembraria de sua passagem pelo integralismo retendo certa ambigüidade em suas palavras. Em resposta a uma pergunta de um repórter do jornal A Marcha, folha oficial do PRP afirmou: “jamais poderia fechar os olhos para o meu passado, mas jamais o imitaria ou ficaria limitado a ele”. (A Marcha, 19-07-1963).

Há controvérsias sobre a postura de Helder Câmara com relação ao seu passado junto ao integralismo. Registros afirmam que, quando cardeal teria afirmado que sua passagem pelo integralismo fora um “erro de juventude”. A despeito disso, em outro trecho, extraído de uma entrevista em 1989, Câmara afirmou:

"O que aconteceu foi isto: o mundo parecia dividir-se entre o Comunismo e as forças de Direita. Quando surgiu o Integralismo, anunciando Deus, Pátria e Família, eu achava aqueles ideais bastante coincidentes com o que eu tinha aprendido no Cristianismo. Mas, cedo, verifiquei que não precisava de nenhum sistema filosófico ou político, bastava-me a mensagem de Cristo. Não me arrependo de nenhuma experiência humana

196 MOTA, J. Carta a Câmara dos Deputados. 2/7/1937. 197 Depoimento realizado em 1939, pouco antes de falecer. Ver: Pereira, Augusta S. A Morte do Dr. Belisário Penna. Fazenda Sta. Bárbara, dezembro de 1940 (Fundo Pessoal B. Penna, DAD-COC). 198 Frase que Gumercindo Rocha Dórea atribui a Dantas. Ver: Má fé e falsificação da História. In: O Drama de um herói. Edição da Casa Plínio Salgado, São Paulo, 1990.p.12. 189

que tenha vivido. Não me arrependo de ter passado pelo Integralismo”. Em entrevista ao Diário de Pernambuco, em 29/01/1989.

De maneira análoga Hélder Câmara pendula entre o elogio e a crítica do integralismo, o mesmo ocorrendo com Câmara Cascudo, a despeito de jamais ter renegado o integralismo após se afastar da sua militância. É relevante que, na década de 1950, quando os ex-integralistas estavam reagrupados no PRP, Câmara Cascudo, apesar de afastado da militância política (não se filiou ao PRP), tenha mantido suas assinaturas de jornais integralistas, tanto a Idade Nova quanto, posteriormente, A Marcha.199 "Jamais renegou os seus princípios e não negava a sua condição de ex-integralista", escreveu o falecido médico Clóvis T. Sarinho, outro integralista nordestino.200 Do mesmo modo que o folclorista admitiu seu desligamento do integralismo por aderência às mudanças política da época, o economista Antonio Galotti, um dos autores com maior incidência de escritos na EI, relembra em suas memórias que: “(...) para um operador do direito, a ilegalidade deve ser primeiramente contestada (...) apreciados os fatos e permanecendo a razão ou a desrazão dos condicionantes que regem o fato legal, não cabe outra coisa a não ser seguir a ordem natural da constitucionalidade plena (...) ou seja, os que prezam os muros da ciência jurídica não poderiam permanecer imobilizados em paredes inconstitucionais (...) veja, a AIB, não o integralismo saíram de mim (...) já não poderia me sustentar (...) permaneci integralista por mais algum tempo, mas me desfiliei e me afastei definitivamente conforme os sucedâneos foram se apresentando” (GALLOTTI, Memórias, 1981, p.67)

Miguel Reale, segunda força na hierarquia do movimento, em entrevista à TV Câmara em 2006, ao ser indagado pelo entrevistador sobre o que mudou do “Miguel Reale integralista para o Miguel Reale, de então”, respondeu: "Eu diria que nada. Participei do integralismo com determinação e espírito público que nunca me abandonaram." “Cabe-me salientar que me considerei livre do compromisso integralista quando, no exílio na Itália, me dei conta da ilusória organização corporativista sob o mando de um partido único, tanto assim que me recusei a pertencer ao partido organizado por Plínio Salgado depois da Constituição de 1946 (...) No que se refere ao integralismo, reconheci a transitoriedade de seu programa, mas jamais me arrependi de minha atuação em prol do corporativismo democrático, cuja participação revela que havia valores positivos na Ação Integralista Brasileira. O integralismo revisitado. O Estado de S. Paulo. 28/08/2004.

199 Ver: A Marcha. A Marcha e seus leitores. 12/04/1959. p 5. Sessão Antigos integralistas. Esta informação deve ser relativizada, uma vez que o artigo não cita o nome de Cascudo, apenas sinaliza “que o grande folclorista brasileiro nunca deixou de ser integralista e que nos brinda até hoje com assinaturas de nossos jornais”. 200 Fatos, Episódios e Datas que a memória gravou, Editora Nordeste, 1991, Natal, pp. 183 e 184. 190

Tão eloqüente quanto Reale, e talvez uma das eminências pardas menos estudadas do integralismo, Gerardo Mello Mourão201 tem apreciação similar ao do advogado paulista. “O integralismo foi uma fecunda experiência cultural e uma aventura moral e espiritual dos melhores brasileiros de minha geração. Quatro deles chegaram à Presidência da República nas duas últimas décadas, sem falar em outros postos altamente representativos da vida nacional. Haver pertencido ao integralismo é um título que me tem proporcionado os melhores momentos de minha vida social, profissional, política, cultural, cordial e afetuosa. Não permito que ninguém mude uma vírgula na história de meu passado. Minha história pessoal é um patrimônio de que me orgulho.” (Entrevista ao site: Balacobaco, em março de 2000)

Muitos integralistas fazem coro com os citados acima. Ernani Silva Bruno é um desses exemplos: “(...) Por isso tive no momento de minha participação no integralismo mais entusiasmo por isso e pela agitação política daquele momento do que pela apostilas do Processo civil” (BRUNO, Silva Ernani. Autobiografia. 1986) Contemporâneo de Mourão e um dos seus primeiros editores, Gumercindo Rocha Dórea, por sua vez, é sempre assertivo: “O integralismo é, sempre foi e sempre será a razão emocional e intelectual de minha existência!” (25/08/2008), afirmação predita, cinqüenta anos antes, por Carmem Pinheiro Dias, para quem: “Infelizmente, dados os acontecimentos que se sucederam a 1937, quando o Integralismo alcançava o auge de seu esplendor, atuando na vida nacional de forma, quiçá, definitiva, hoje só podemos pensar de modo ideal no que seria o Brasil de nossos dias, na vigência do Estado Integral” (EI, Vol. 9 – 1959). Sumarizando, o fato de muitos destes ex-militantes terem expressado em suas memórias sentimentos que oscilaram entre a indiferença e o saudosismo dos tempos de sua militância integralista sinaliza a existência de uma maioria nostálgica que, mesmo afastada do movimento, ainda guardava lampejos de militância em seus discursos, atestando assim que a adesão desses indivíduos ao integralismo, muitas vezes, ainda fazia-se presente nas lembranças, posturas e palavras destes antigos militantes.

201 Ainda não existe um estudo aprofundado de sua biografia, sobretudo de sua passagem pelo integralismo. No entanto, merece destaque a sua obstinação em defender o movimento, mesmo em momentos adversos à sua permanência. 191

4.6.7 – Falecimentos e atividades profissionais dos autores Se a análise dos autores presentes na Enciclopédia nos possibilitou saber sobre suas funções e seu grau de aderência junto ao movimento, em alguns casos específicos também nos foi possível percebermos a considerável quantidade de indivíduos que já havia falecido em finais da década de 1950. Exemplos são: Belisário Penna, Alcebiades Delamare, Rodolfo Josetti, Madeira de Freitas, Lucio José dos Santos, Victor Pujol, Augusto de Lima Jr., dentre outros que não foram verificados devido à falta de registros biográficos primários como datas de nascimento e falecimento. Já os autores que se encontravam em sua plenitude intelectual, política e profissional realizavam outras atividades no período da publicação: Plinio Salgado realizava seu mandato de deputado federal pelo Paraná, além da presidência do PRP; neste período foi também candidato à presidência da República, obtendo pouco menos de 8% dos votos válidos. Tasso da Silveira exercia suas atividades de jornalista e professor universitário. Felix Contreiras Rodrigues, em sua tese para a cadeira de economia na faculdade de Direito de Porto Alegre, em meados dos anos 1940 proclamava o integralismo aos alunos. Nos finais dos anos 50, lecionava na PUC–RS, e permaneceria ligado ideologicamente ao integralismo até os estertores da década. João Carlos Fairbanks permanecia militando nos diretórios paulistas do PRP, estado pelo qual seria eleito suplente de deputado em 1962, um ano após o término da publicação da enciclopédia. Jaime Regalo Pereira, por sua vez, mantinha-se militante e fervoroso defensor do movimento sendo uma das lideranças mais contumazes do integralismo. AB Cotrim Neto, no Conclave do PRP em Vitória, realizado em 25 de julho de 1957, tornou-se parte da Comissão de Relações com entidades cívicas e Assuntos Políticos, braço institucional Conselho Político Nacional do PRP. San Tiago Dantas - Retornou à vida política em 1955, ingressando no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Em outubro de 1958 (segundo ano de publicação da EI) elegeu-se deputado federal por Minas Gerais. Nomeado pelo presidente Jânio Quadros embaixador do Brasil na ONU em 22 de agosto de 1961, não chegou a assumir o cargo em virtude da renúncia de Quadros, três dias depois. Goulart assumiu a presidência em 7 de setembro de 1961, e San Tiago Dantas foi escolhido para a pasta das Relações Exteriores. Ao lado de Dantas, que era uma espécie de membro vitalício das interlocuções de Plinio Salgado, Antonio Galotti, também se mantinha vinculado á iniciativa privada, desempenhando o poderoso cargo de presidente da Light.

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Venceslau Jr tornou-se presidente do clube de futebol União Agrícola Barbarense Futebol Clube, da cidade de Santa Bárbara do Oeste, interior paulista, na gestão de 1943/46. Já Hélder Câmara, em finais dos anos 50 se notabilizou pela criação e fundação de dois projetos sociais: A Cruzada São Sebastião, em 1956, cuja finalidade era dar moradia decente aos favelados e a fundação, em 1959, do Banco da Providencia, cuja atuação se deu no atendimento a pessoas que viviam em condições miseráveis. Portanto suas preocupações momentâneas passavam longe das questões político- partidárias e mesmo ideológicas, sendo neste período um bispo carioca muito influente. Arnóbio Graça, em meados da década passou a lecionar Economia política e História das doutrinas econômicas nas Faculdades de Direito, Ciências Econ. e Filosofia da UFPe, permanecendo importante interlocutor do jornalista Pedro Lafayette, que mantinha seus contundentes discursos sobre o anticomunismo, nas bancadas do PRP. Lafayette, no Rio de Janeiro aprimora a editoração do jornal carioca Folha Carioca, tornando-se seu diretor. José Loureiro Jr, Deputado pelo PRP - PSD (SP), volta ao PRP em 1957 – ano de lançamento da EI. Lança, no mesmo ano o livro: A calúnia como arma eleitoral , e no Conclave do PRP em Vitória em 25 de julho de 1957, torna-se parte da Comissão de Relações com entidades cívicas e Assuntos Políticos, tal como AB Cotrim Neto e Luis Alexandre Compagnoni. Torna-se em seguida, membro do Conselho Político Nacional do PRP Já, Miguel Reale foi convidado a ministrar cursos e conferências sobre Filosofia do Direito em vários países da América Latina e da Europa. No mesmo período teve uma intensa atividade no Partido Social Progressista, do qual foi Vice-Presidente. José Garrido Torres, exímio conhecedor da economia nacional torna-se consultor econômico do mercado financeiro, ocupação diametralmente oposta à que vai exercer Leopoldo Ayres, que permanecia ligado à Igreja Católica. Lauro Escorel, Diplomata de carreira escrevia, no ano de 1958, o livro: Introdução ao pensamento político de Maquiavel sua mais relevante produção intelectual. Genoino Ferreira Filho e Genésio Pereira Filho participavam do diretório paulista do PRP, o mesmo que viu a ascensão do escritor cearense Gerardo Mello Mourão, que em 1957 lança juntamente com Abdias do Nascimento a antologia do TEN Dramas para negros. Mello Mourão foi neste período colaborador da Folha da Manhã, jornal que depois viria a se tornar a gigante Folha de S. Paulo, além de eleger-se deputado federal, vindo a ser cassado pelos militares.

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Luis da Câmara Cascudo, no mesmo ano em que o integralismo lança suas comemorações pelos seus 25 anos, publica o livro: Jangada; uma pesquisa etongráfica. Um ano depois, em 1958, publica Supertições e costumes. Em 1959, Canto de muro e Rede de dormir. Em 1960 – o conceito sociológico do vizinho; e em 1961, Etnografia e Direito, dentre outros. Jeovah Mota, em 1955 assumiu o comando do 18° Regimento de Infantaria, no Rio Grane do Sul, e assumiu a Diretoria Geral de Ensino do Exército, cargo que desempenhou a te passar, em março de 1962 para a reserva. Ainda em 1957 iniciaria suas pesquisas para o livro que lançaria cerca de 20 anos depois. A formação do Oficial do Exército: currículos e regimes na Academia Militar (1810-1944), publicado em 1976. Uma das únicas representantes do sexo feminino, a paulista Carmem Pinheiro Dias fazia parte da cúpula dos Centros Culturais da Juventude, núcleos que viram por diversas vezes o padre Francisco Galvão e Castro, em palestras proselitistas e estudos doutrinários. O padre permanecia clérigo atuante e militante integralista, embora não vinculado diretamente ao PRP. Por fim, merece destaque Hélio Rocha, que à época vivia na Bahia e participava do grupo dos Águias Brancas, vindo a transferir se para o Rio de Janeiro neste período. Gumercindo Rocha Dórea, que em 1957 era o editor chefe do Jornal A Marcha e proprietário de uma jovem editora que seria a maior porta voz do integralismo nos anos 1950, a GRD Edições será interlocutor privilegiado de seu conterrâneo. A presença de ambos os Rocha na capital federal possibilitou uma interlocução que dura até os dias de hoje.202

202 Em entrevista, Rocha Dórea afirmou que mantém esporadicamente contato com Helio Rocha, conterrâneo que, ainda hoje, permanece vivendo na Bahia. Entrevista de Gumercindo Rocha Dórea, São Paulo. 21/12/2008. Registra-se que foi estabelecido contato com Hélio Rocha convidando-o a participar desta pesquisa, mas este não respondeu aos e-mails e cartas enviadas o que inviabilizou ouvi-lo sobre a temática desta pesquisa. 194

4.6.8 – Epílogo: manifestações de alguns leitores da Enciclopédia do Integralismo Este último subitem não pretende discutir sobre a recepção da Enciclopédia do ponto de vista teórico. Busca-se apenas mapear partes das manifestações de um pequeno grupo de militantes sobre a publicação da Enciclopédia. O historiador Rodrigo Patto Sá Motta enfatiza que: “há algum tempo historiadores e cientistas sociais estão convencidos de que não é suficiente analisar o discurso, a propaganda, o imaginário e a iconografia produzidos por diferentes atores em seus contextos. Compreender como essas mensagens são elaboradas e desvendar seus sentidos é fundamental, mas permanece o problema de se saber como são recebidas pelo público a que são dirigidas”. (MOTTA, 2005:189) Nesse sentido, com relação à manifestação de alguns dos leitores e assinantes da Enciclopédia pouco pôde ser recuperado. A ausência de informações se mostrou ainda maior, dada a falta de dados, o que acabou tornando a análise deste quesito bastante controvertida. Do que foi possível verificar (no universo diminuto de poucos militantes, alguns deles inclusive, presentes no próprio compêndio) há autores que, ao longo de sua trajetória fizeram questão de deixar registrado suas percepções e ou memórias sobre aquele acontecimento, reputado por muitos como “marcante e impactante” (GRD, 2008). Este pequeno grupo de leitores (invariavelmente, militantes do PRP que à época recebiam os volumes em casa, via mala direta), será nossa fonte no que tange à recepção da leitura da EI. Gumercindo Rocha Dórea foi enfático em vista das questões relacionadas à recepção do compêndio. Para o editor: “(...) não vejo possibilidade real de sabermos quem lia e quem não lia a EI. O que sei é que os jovens integralistas se formaram a partir das leituras dos volumes em muitos Centros Culturais da Juventude e tomaram contato com a doutrina a partir da enciclopédia! Agora, nunca antes se pretendeu “mapear” a receptividade dos volumes lançados. Sonhávamos, sim, tomarmos conhecimento de sessões de discussão dos temas, e mesmo de críticas de dissidentes e ou integrantes (...) mas nunca, repito, que me lembre agora, nunca houve sequer uma ligação, carta ou conversar de ninguém sobre a EI. É como se ela fosse propositalmente apagada, esquecida enquadrada em um silencio mortal (...) não tenho mesmo nenhuma recordação sobre a sua recepção a não ser nos CCJ”203

203 Entrevista de Gumercindo Rocha Dórea, São Paulo, 25/11/2008. 195

No entanto, tomando contato com diversas fontes (dicionários especializados, biografias, memórias, e, sobretudo, depoimentos de remanescentes) verificou-se que alguns integralistas, ao contrário do que afirmara GRD, registraram impressões sobre o episódio da publicação da EI. Sendo assim, faz–se necessário sinalizar, de antemão, que do universo de mais de 50 autores, cerca de trinta não nos deixaram nenhum indício sobre sua recepção. A falta de informações somada à contingência de autores falecidos determinou uma sensível redução do universo pesquisado. Poucos são os autores que registraram suas manifestações sobre o compêndio, enquanto leitores/assinantes. Exemplo marcante foi, naturalmente, Plínio Salgado, que ajudou a criá-lo e escreveu o primeiro volume inteiro. Salgado relembra de maneira enfático o período: “(...) Lembro que este será o redirecionamento do nosso valor, e que, por tudo o que aqui for escrito. Deveremos, então prestar contas aos nossos admiradores, ao nosso público. Respeitar o não integralista, afinal não será só nossos admiradores que nos relerão. Por isso, o Integralismo é digno de seus escritores e vice-versa. O Integralismo é digno de ser compilado numa Enciclopédia. Que se consubstancie”!204

Luiz Alexandre Compagnoni, após dezenas de palestras proferidas nos Centros Culturais da Juventude (já na condição de deputado pelo PRP-RS) onde desenvolviam o hábito de utilizar a Enciclopédia do Integralismo como mote de discussão doutrinária, dá um depoimento bastante convicto sobre a necessidade da leitura dos volumes da Enciclopédia por parte da juventude integralista da época: (...) em Porto Alegre, ler a EI era como aprender a escrever. Todos se debruçavam nos volumes que chegavam, ora com atraso, ora com pontualidade (...) o fato é que nos Centros Culturais nós utilizávamos muito as Eis para nosso domínio doutrinário (...) Ler a EI era uma digna demonstração de nacionalismo e ideal (...) eu leio esta enciclopédia dos ilustres brasileiros (...) vocês também deviam ler!”. (Depoimento de Compagnoni em: A Marcha, 19/07/1958”.

Em consonância, um jovem que, à época, se inspirava nos passos do deputado Compagnoni, Umberto Pergher corrobora o que dissera seu correligionário: “(...)- Sim, eu me lembro dessa enciclopédia e do quanto nós, em Porto Alegre esperávamos os volumes chegarem. Era lição de doutrinação nos debates dos Centros Culturais da Juventude (...) e na época até fui contatado porque havia um texto meu nesta escrito originalmente em A Marcha, mas daí ele foi selecionado na coletânea”.205 No entanto,

204 Carta de Plínio Salgado a Gumercindo R. Dórea a 12 de setembro de 1957. Arquivo Público Municipal de Rio Claro. Fundo Plínio Salgado. 205 Entrevista concedida via e-mail em 20/11/2008. 196 não era exclusividade dos Centros Culturais da Juventude gaúchos a manutenção da leitura dos volumes da EI em suas sessões de estudos. Genésio Pereira Filho, militante do diretório paulista relembra fatos semelhantes: (...) Lembro-me de que estudávamos nos diretórios do PRP e mesmo nas assembléias das Águias Brancas os títulos da EI (...) era doutrinação dos grandes temas do integralismo (...) mas não me lembro se eu comprava ou ganhava no diretório1”206 Tanto para Gerado M. Mourão, quanto para Gumercindo Rocha Dórea, a recepção da Enciclopédia se deu mais pelo apelo emotivo que propriamente objetivo. Para o primeiro, “(...) Foi sim uma ilustre tentativa de configurar aos mais jovens o caminho tortuoso, mas honesto deste brilhante time de integralistas (...) eu lia e tenho ainda hoje os exemplares da EI”207; já para Rocha, que em diversos volumes, trocava impressões com seus leitores, sua percepção sempre foi a de quem entendia que estava realizando algo para a posteridade do movimento. Para o editor do compendio: “O primeiro volume da EI mostrou o ideal de Salgado, descrito por ele mesmo, o segundo mostrou aos moços os sonhos daqueles eram soldados da primeira linha, e no terceiro, serão mostrados os incansáveis e que resistiram a todas as intempéries (...) e daqui pra frente será assim... aprofundamentos e depoimentos do que pensamos ser fundamental para se entender este movimento”. (EI, Vol. 3) Deste modo, tais exemplos sinalizam que as manifestações de apreço à Enciclopédia, descritas acima, antes de sinalizar o grau de recepção de um dado grupo, evidenciaram o teor propagandístico de suas manifestações, o que demonstrou menos a recepção que tiveram do compêndio e mais o proselitismo de seus depoimentos.

*** Após mapearmos partes da trajetória deste grupo, suas origens geográfica, social e política; suas opções ideológicas, suas diversas profissões, suas funções específicas dentro do universo político, bem como, as permanências e transformações de suas visões de mundo e leituras sobre a Enciclopédia parece-nos claro que a construção de uma identidade geracional definida por seus pares como “aberta às diferenças” ajudou a fixar na lembrança de seus contemporâneos a idéia de que o integralismo, de alguma maneira, havia chegado muito próximo de deter as rédeas do poder. No entanto, a trajetória deste grupo (suas especificidades pontuais e seus pontos de intersecção) ajuda

206 Entrevista concedida em 21/12/2008, no apartamento do depoente, em São Paulo. 207 Entrevista concedida em seu apartamento em Copacabana, Rio de Janeiro, em 23/03/2005. 197 a entender que os integralistas dos anos 1940 e 1950 representaram apenas, um significativo corpo de retaguarda que fora, tardiamente, desarticulado no período pós 1964. Na percepção de muitos indivíduos destas gerações, o movimento transmutou-se como Fênix, abandonando suas características mais anedóticas. Mas das suas cinzas esverdeadas, e de seu “histriônico piado”208, só sobrou, a saudosista e octogenária militância. Muitos dos que sentaram praça neste integralismo jocosamente chamado de galinha verde, também emprestaram textos para a Enciclopédia do Integralismo, dando nestes, manutenção às formas e conteúdos de sua filiação ao movimento. Deste modo, a partir da análise destas três gerações integralistas, em algumas áreas de sua sociabilidade foi possível pôr em evidência um conjunto de propriedades e relações que interligava cada uma dessas gerações. Os dados obtidos indicam que a preponderância da primeira geração frente às demais sinaliza claramente que a força do integralismo limitou-se à sua primeira atuação, e que os demais atores em questão, terminaram por viver das sombras e do eco dos que os antecederam. Mesmo a terceira geração, (mais autônoma com relação à segunda), viu sua ação política ser ignorada exatamente por não conseguir dissociar-se do estigma da primeira geração. O trajeto biográfico destes agentes bem como conteúdo dos escritos contidos na Enciclopédia do Integralismo são a prova de que o movimento integralista vendia uma imagem edulcorada de si mesmo, o que não escondeu a ambigüidade de um integralismo passadista.

208 LACERDA, Carlos. O piado da piada verde. Tribuna da Imprensa, 12/07/1957. p. 9. A despeito do jornal de Lacerda ser apenas o 7º diário no ranking dos jornais mais lidos na capital federal, em finais dos anos 50, estando atrás de O Globo (43%), A Notícia (26%), Diário da Noite (13,8%), Última Hora (13,4%), A Noite (8,4%) e Folha Carioca (3,8%), seus artigos contrários aos integralistas eram sentidos com ecos pelos integralistas. Adversário arguto do integralismo, Lacerda vai, com o passar da década, se tornar uma figura ambígua com relação ao movimento e ao seu líder. Anuário Brasileiro de Imprensa. Apud Abreu & Lattman Weltman, 1994, p.30. 198

CAP. V Entre o dito e o interdito– uma voz fundamental para se entender a ∑nciclopédia do Integralismo

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CAP V - Entre o dito e o interdito: uma voz fundamental para se entender a ∑nciclopédia do Integralismo

Neste capítulo analisaremos as mais de dez horas de depoimentos, conferências formais, conversas introdutórias não gravadas e as entrevistas respondidas por escrito, de Gumercindo Rocha Dórea, hoje, um dos mais longevos integralistas ainda vivos. Gumercindo Rocha Dórea mostrou ser um personagem quixotesco, tamanha era sua crença com relação à teleologia integralista. Buscamos neste capítulo apresentar partes de sua trajetória, apresentando este personagem que aos 85 anos de idade ainda deseja ver o integralismo revivido.

5.1 - Discursos e práticas – As entrevistas com Gumercindo Rocha Dórea – “o guardião das memórias integralistas”

Quer compreender a obra? Compreenda, antes, seu artista, Pois, entre o criador e a criatura há um quê de tênue, um algo de performance incompreensivelmente plasmada nas convicções e idéias do autor: é o ato autoral que distingue os criadores dos copistas, (Wilhelm Von Mises)

s palavras do economista austríaco, Von Mises, um dos mais relevantes pensadores da direita liberal no século XX, descritas A acima, nos remetem às delimitações ainda hoje pouco precisas sobre as fronteiras existentes entre a criação, o ato de criar e o executor da obra. A afirmação é corroborada pelo militante integralista, Gumercindo Rocha Dórea, aferição com a qual balizou parte significativa de sua obra editorial, uma vez que, sempre a entendeu como “parte fundamental das vicissitudes enfrentadas por muitos integralistas, ao longo de suas trajetórias, todas elas mais trágicas que cômicas, mais solitárias que compartilhadas (...) não podendo por isso, dissociar suas idealizações dos produtos que delas resultaram”209 (DÓREA, 1957: 98). Tais palavras sinalizam um desejo explícito do missivista para que tais discursos sejam interpretados como parte fundamental de um

209 Entrevista com Gumercindo Rocha Dórea, São Paulo, 8/9/2007. 200 enunciado ainda maior: como afirmaria o próprio Dórea, “há momentos em que nosso discurso precisa ser entendido segundo as necessidades do momento, de maneira que, tudo o que dizemos pode e deve ser esquecido, modificado, mal interpretado, mas nem por isso a sua essência se modifica de fato”.210 (DÓREA, Idem). Levando-se em consideração tais apontamentos, destacamos que dos autores vinculados à terceira geração, Gumercindo Rocha Dórea, é hoje, um dos mais relevantes membros integralistas ainda vivos. Demarcar pontos que liguem as memórias deste militante e a história que se registrou sobre sua trajetória, se faz, portanto, bastante relevante, sobretudo pela oportunidade de se entender as dissonâncias do discurso pronto deste depoente, o que nos possibilitará apreender suas percepções sobre o processo de criação, publicação e distribuição da Enciclopédia do Integralismo. A metodologia de história oral nos permite interpretar a relação dual imposta pela ciência moderna entre o sujeito/produtor do conhecimento e sua produção, ou seja, os sentidos atribuídos por ele às coisas (relação esta tão bem analisada por Boaventura de Souza Santos: 1985), justamente porque na história oral a fonte é por natureza produtora de significados. Neste sentido, ao entrarmos na vida de pessoas por meio das entrevistas é preciso que levemos em conta a diversidade de papéis que estas assumem, ou ainda por quais campos de possibilidade estas passam e se adaptam para realizarem seus projetos de vida, tal como nos revela Gilberto Velho, nos seus escritos sobre projeto, pois isso pode nos aproximar do depoente. “A consciência e a valorização de individualidade singular, baseada em uma memória que dá consistência à biografia, é o que possibilita a formulação e condução de projetos. Portanto, se a memória permite uma visão retrospectiva, mais ou menos organizada de uma trajetória e biografia, o projeto é a antecipação no futuro desta trajetória e biografia, na medida em que busca, através do estabelecimento de objetivos e fins, a organização dos meios através dos quais estes poderão ser atingidos. (...) Assim, o projeto e a memória associam-se e articulam-se ao dar significado à vida e às ações dos indivíduos, em outros termos, à própria identidade.” (VELHO, 1994: 45)

Busca-se, neste capítulo, interagir com a percepção que o referido depoente tem sobre este amplo projeto, no sentido de ampliar as discussões sobre a legitimidade de seus discursos e práticas.

210 ROCHA DÓREA, G. Entrevista gravada em 3/1/2008.

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Fig.18. Da esquerda para a direita: Francisco Salgado, Gumercindo R. Dórea e Manoel Octavio Junqueira Filho. Escritório da Livraria Clássica Brasileira, Rio de Janeiro, em finais de 1957. Foto: Arquivo Público Municipal de Rio Claro – SP. Acervo Plínio Salgado.

O caso específico de Gumercindo Rocha Dórea, editor e proprietário das Edições GRD é paradigmático se refletirmos sobre o papel crucial que desempenhou na campanha de revalorização do integralismo ao longo dos anos 1950, e com mais ênfase a partir de 1957. Seus depoimentos foram, neste sentido, fundamentais para estabelecermos uma correlação entre episódios e narrativas contidas no compêndio: fruto de sua própria seleção. Esta relação nutre a idéia de uma dialética entre o dito e o interdito, entre o não dito e o supostamente dito. Para clarificar melhor esta idéia, entendo ser interessante aprofundar a análise de alguns depoimentos deste integralista que em diversos momentos buscou desdizer ou desmentir afirmações que teria proferido na época em que militava e vivia a doutrina no seu dia a dia. Poderíamos até entender que se trata de algo natural, uma vez que este poderia ter modificado sua percepção dos fatos, cinqüenta anos depois. No entanto, parece-me pertinente ponderar que tais depoimentos são construídos numa base bastante diferente das narrativas apresentadas pelo depoente registradas nos jornais e mesmo na

202 historiografia especializada. Há um super dimensionamento dos fatos, um floreio nas circunstâncias e uma visão rósea dos acontecimentos que, via de regra visam enaltecer o papel do integralismo no momento de suas celebrações. O dito, o não dito e o interdito, como partes de um mesmo discurso. Seus depoimentos mostrarão de maneira ativa como se efetivaram alguns empreendimentos nos anos 1950/60. Exemplos são: os Centros Culturais da Juventude (grêmio cultural com claros rompantes políticos) e a publicação da Enciclopédia do Integralismo. O primeiro: os aprendizes da ideologia; o segundo: o instrumento de doutrinação, elementos que servirão de pontes para a nossa análise.

5.2 - Um editor combativo Você acredita estar dourando alguma pílula, mas está, na verdade, oxidando, enferrujando nossas memórias... muito do que se conta é inverídico, muito do que aconteceu não se conta (...) o que eu disse não foi o que eu disse! (Gumercindo Rocha Dórea, em entrevista no verão de 2002)

Gumercindo Rocha Dorea é proprietário das Edições GRD, editora fundada em 1956 e que publica (permanece ativa) dentre outras obras, livros de filosofia em geral e também obras de e sobre Plínio Salgado, bem como sobre o integralismo e temáticas ligadas a este movimento.211 Sua editora foi no Brasil a primeira a lançar obras de ficção científica, e este não é um fato isolado ou menor, pois se trata de um período de clara tendência e definição ideológica e política, em que o comunismo e o capitalismo iniciavam suas incursões espaciais, detectadas de maneira bastante consistente nos livros publicados pela GRD.212

211 O catálogo da editora abrange uma gama variada de publicações que vai de uma série de livros sobre a história brasileira até diversas series de ficção científica. Aliás, a Edições GRD foi a pioneira neste estilo de publicação no Brasil. A partir dos anos 1960, a GRD passa a publicar eminentemente edições de livros nacionalistas, integralistas e de cunho católico. Gumercindo Rocha Dórea foi responsável por publicar as primeiras edições de autores, hoje consagrados, como, por exemplo: Nélida Piñon, Gerado Mello Mourão, Ruben Fonseca, Astrid Cabral, José Almeida Pinto, dentre outros. 212 Ver: CHRISTOFOLETTI, Rodrigo. A controvertida trajetória das Edições GRD – entre as publicações nacionalistas de direita e o pioneirismo da Ficção Científica no Brasil. Revista Miscelânea. Unesp/Assis. Set. 2010. No prelo. Foi no contexto da luta armamentista sideral, que a busca por este novo gênero literário se acentuou. As notícias de aparecimento de discos voadores, a cibernética, o estudo das novas teorias astronômicas, as modernas concepções biológicas e psicológicas, o exame mais aprofundado dos fenômenos paranormais, como a telepatia, a percepção extra-sensória e a tele cinese, e, finalmente, a devassa sideral pelos "sputniks" - incentivaram Gumercindo Rocha Dórea a lançar a sua Coleção Ficção Científica pelas Edições GRD, publicação que editava de maneira intercalada às obras nacionalistas, integralistas e de matizes congêneres. A Ficção Científica GRD se tornou a mais importante coleção de ficção científica da sua época no Brasil. Por isso, Fausto Cunha, então um 203

Nascido em Ilhéus, BA, em 4 de agosto de 1924213 (tem, portanto, 86 anos) passa a fazer parte da AIB, ainda menino, aos 8 anos de idade, na qualidade de pliniano (juventude integralista). Em entrevista ao jornal Folha da Tarde, em 1988, por pretexto de uma reportagem sobre editores e editoras no Brasil pós Plano Cruzado, Dórea esclarece como chegou ao integralismo: “(...) Na verdade foi pelas mãos de um professor que eu cheguei ao integralismo... minha família nada tem a ver com isso. Eu achava bonito aquelas filas, uniformes etc... e meus pais não sabiam, assim como muitos naquele tempo do comecinho do integralismo, o que era realmente este movimento. Então, fui apresentado e aquilo calou fundo em mim. Mas, diferente de muitos que entraram porque achavam só bonito e glamuroso usar os uniformes, eu entrei porque achava forte aquela molecada toda trabalhando na escola os trabalhos escolares sobre o Brasil... A gente até saía da praça correndo quando a gente sabia que ia ter aula de história do Brasil com aquele professor... Atanázio... e íamos todos felizes da vida, pois acreditávamos porque ele havia ensinado isso para a gente, que rezando a bandeira e aprendendo a amar o Brasil, seríamos uma nação melhor. Não fosse, inicialmente, o hino e a bandeira verde e amarela, eu nunca seria integralista. Foi isso que me levou ao movimento. Ta aí a força do movimento naquele momento: despertava nas pessoas, mesmo nas jovens, este apelo pelo nacionalismo que eu aprendi a prezar tanto!”214 (DÓREA, 1988)

Ainda em entrevista ao jornal, afirma ter ficado na Bahia, em Feira de Santana, onde já adolescente manteve disputas ideológicas bastante estremecidas com nomes que se tornariam consagrados pela intelectualidade de esquerda, tais como Jacob Gorender, Mario Alves dentre outros, o que colaborou para que ele partisse para o Rio de Janeiro, em 1944. Em muitas de suas entrevistas, relembra que suas maiores disputas intelectuais foram travadas com estes professores de renome, que eram todos de esquerda e que conjugavam uma ideologia diferente da sua. Nacionalismo, sistema de governo, militância e eleições, além de personagens como Getulio Vargas, Plínio Salgado e Luiz Carlos Prestes sempre foram alvo das discussões acaloradas dos jovens professores baianos. “A falta de interlocução e a difícil missão de levar aos estudantes um sentimento de nacionalismo, ao invés do universalismo que o comunismo pregava,

respeitado crítico literário, chamou esse grupo de autores de "Geração GRD", nome pelo qual aquele momento chegou até os poucos escritores, fãs e pesquisadores interessados por ficção científica na década de 1980. 213 Filho de Alcino da Costa Dórea que à época do nascimento de Gumercindo era considerado uma dos maiores produtores de cacau da Bahia. Diversificou seus negócios tornando-se também usineiro de açúcar e dono de pedreira.

214 Entrevista com editores do Brasil. Folha da Tarde, 13 de julho de 1988. 204 me incentivaram a mudar, a buscar em outros campos interlocuções que na Bahia eu já não dispunha mais!”.215

Fig. 19: Fac-símile do Jornal da Tarde 30/08/1986. Os anos 1980 ainda rendiam frutos à Edições GRD. Jornal da Tarde, 1988, p.4.

No Rio de Janeiro, em pleno estertor do Estado Novo, Dórea se forma em Direito. Na faculdade foi aluno de integralistas, tais como, San Thiago Dantas, Antonio Galotti, Thiers Martins Moreira (não por acaso, todos homenageados com textos publicados na Enciclopédia do Integralismo). De 1948, ano em que se forma advogado, até 1952, Rocha Dórea escreve em jornais de cunho conservador (foi, inclusive redator do jornal Folha Carioca) e exerce sua verve crítica contra o comunismo. Escreve para o semanário integralista Idade Nova, jornal dirigido por Raimundo Padilha, substituído pelo jornal A Marcha, como órgão oficial do PRP. No mesmo ano de 1952 Dórea ajuda a fundar o primeiro Centro Cultural de Juventude, de quem é o seu primeiro presidente. Em 1956 fundou sua editora e em 1957 passou a integrar a diretoria do jornal A Marcha.216 Portanto, foi protagonista nos mais significativos eventos de consolidação do integralismo no pós-guerra. Sobre estes episódios relata:

“Reuniram-se os grupos, os grêmios, os centros culturais de todo o país, 18 talvez. Então, criou-se a Confederação dos Centros Culturais, eu me lembro bem. Vinha chegando de uma reunião, e vi um rapaz saindo, então, perguntei: já foram feitas as eleições para a presidência dos Centros? Sim, disse o rapaz. Foi um tal de Gumercindo Rocha Dórea... ah, sim: tergiversei, ri por dentro, era eu, e o rapaz nem sabia! Me lembro bem desde então, quantas vezes estivemos eu e o chefe, Plínio visitando estes coronéis milionários (avôs dos grandes latifundiários de hoje)

215 Idem. 216 O jornal A Marcha detinha uma característica diferenciada dos seus congêneres: não possuía repórteres, mas sim articulistas que escreviam periodicamente no jornal.

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pedindo um pouco de dinheiro para os centros... e sem vergonha alguma porque era por uma boa causa, nós cumprimos nosso papel. Eu e o chefe éramos muito próximos!” (ROCHA DÓREA, 2007)

Estes jovens militantes, novas gerações de integralistas, muitos filhos de ex- partidários, outros apenas simpatizantes que viam no PRP e no grêmio estudantil uma forma de fazer política, eram chamados de Águias Brancas, em alusão contrária ao apelido fixado pelos seus adversários (os comunistas, socialistas e alguns liberais) de galinhas verdes. Segundo Gumercindo o nome foi dado pelo próprio Plínio Salgado, para homenagear a ave que, embora não existisse no Brasil, representava a semelhança do gavião brasileiro. Gumercindo ainda lembra com bastante pesar sobre uma das cerimônias dos 25 anos do integralismo em 1957, quando um garoto chamado Plínio (sic) teria recebido do pai, Pimenta de Castro, um Águia Branca, a tocha que significava a passagem de geração: “ele era um Águia Branca... Mas depois, veio o Rolando Corbisier, que era meu amigo, integralista nos anos trinta, pegou o Plininho (o jovem integralista homônimo do chefe) ensinou o marxismo pra ele... oras bolas... que coisa... Como acontece um negócio destes?”(ROCHA DOREA, 2005) É interessante perceber que nas memórias de Rocha Dórea a dicotomia entre permanência/desistência do movimento sempre o marcou como um ponto chave de sua percepção sobre o movimento. Para Dórea, o fato de um integralista, filho de integralista, de educação e verve integralistas, se transformar em antípodas, era, no mínimo (sic) um “desserviço para a nação”. Não entendia como nomes consagrados como Roland Corbisier e San Tiago Dantas, isso para não citar Hélder Câmara e outros, acabaram por professar a ideologia antítese do integralismo. Esse fator ficaria ainda mais claro em finais dos anos 1950 quando a definição ideológica se acirrou ainda mais graças a conjuntura política vigente. Já com relação às celebrações dos 25 anos integralistas e seu corolário, a publicação da Enciclopédia do Integralismo, Rocha Dórea é muito prolixo e tece definições exaustivas sobre tais eventos. Algumas de suas ilações são bastante interessantes. Quando questionado sobre o que o levou a publicar algo que enaltecia o passado ao invés do presente, respondeu: “Elaborada segundo um cronograma de vendagem que abrangeu pouco mais de três anos217 a EI constituiu-se num conjunto de livros, vendidos principalmente por

217 Conforme veremos adiante o fato da periodicidade da publicação ter sido tão intermitente e prolongada teria mais a ver com problemas financeiros da editora do que, propriamente uma programada agenda de publicação duradoura. 206

envio postal. Nesse sentido, não fizemos apenas um enaltecimento do passado, mas visamos estender as comemorações pensando no presente e mesmo no futuro. Discordo da ilação de que a EI fala apenas do passado, basta você pegar os escritos e verá que há nela pessoas de três gerações de integralistas. (...) Passado só nos temas, mas a roupagem é nova, é quase contemporânea.” (ROCHA DÓREA, 21/12/2007)

Parece-nos claro que, a despeito da segurança com que o depoente respondeu às questões, sempre de maneira clara e direta, sem rodeios lingüísticos, nem retóricas vazias, suas premissas são calcadas muito mais num sentimento de preservação do que ele mesmo criou (a EI), do que em qualquer outra percepção mais acurada da realidade política contemporânea, pois, nem a noção de política, nem as ideologias têm hoje em dia, o mesmo apelo que possuíam anteriormente. Mas, é significativo que todo seu discurso esteja balizado na necessidade de apresentar as temáticas do compêndio disfarçadas com uma “maquiagem contemporânea”. Como indicou Dórea: “Do passado, só os temas, mas a roupagem é nova!”.

Gumercindo descreve em entrevista ao jornal A Marcha, ainda nos anos 1950, que o objetivo maior da Enciclopédia do Integralismo era “colocar nas bancas e nas mãos dos interessados um produto de qualidade gráfica para conter um conjunto significativo do melhor pensamento nacional”.218 Na maioria dos volumes concentrou- se toda a perspectiva otimista de Rocha Dórea que acreditava estar doutrinando a população via tais escritos. Esta doutrinação se apresentava explicitamente nas pontuais rememorações e reflexões de Plínio Salgado, pois, mesmo não participando ativamente das decisões do corpo editorial responsável pela trajetória do compêndio, Salgado acabou por direcionar o índice da publicação mediante seus apontamentos iniciais:

(...) Teremos diálogos, depoimentos, nossos hinos e histórias estarão condensadas. Portanto, devemos ser antes de tudo representativos (...) Lembro que este será o redirecionamento do nosso valor. Deveremos, então, prestar contas aos nossos admiradores, ao nosso público. Respeitar o não integralista, afinal não serão apenas nossos admiradores que nos relerão. Os adversários de ontem e de sempre, se fortalecem no nosso seio, para amanhã tirar proveito do nosso erro. Por isso, o Integralismo é digno de seus escritores e vice-versa. O Integralismo é digno de ser compilado numa Enciclopédia. Que assim se consubstancie! 219

218 A Marcha, 27/2/1957, p. central

219 Carta de Plínio Salgado a Gumercindo R. Dórea, a 12 de setembro de 1957. Arquivo Público Municipal de Rio Claro. Fundo Plínio Salgado. 207

Sem parcimônia, Rocha Dórea sustenta o discurso de que foi ele, o único idealizador do compêndio, asseverando que “deve-se exclusivamente a ele e à sua perseverança editorial, o seu relativo sucesso”. Rocha Dórea teria sido ainda, o responsável direto pela compilação dos textos, a edição dos mesmos, a publicação e a distribuição da Enciclopédia, embora contasse com a anuência contínua de Plínio Salgado. Segundo Rocha Dórea, a publicação da Enciclopédia do Integralismo foi lançada como “expressão de síntese e júbilo à posteridade (...) um misto escrito por brasileiros de três gerações sucessivas, e que procurará responder a qualquer pergunta de ordem doutrinária ou histórica, relacionada com o movimento que nascera nos anos 1930”.220 No entanto, Rocha Dórea discorda daqueles que reputam ao compêndio um caráter pedagógico proposital. De acordo com o editor: (...) a EI não se apresentava como um compêndio de pedagogia, nem uma sistematização de temas rigorosamente conexos, procurando perfeita unidade de expressão e harmonia de construção (...) O critério dos organizadores desta enciclopédia foi o de conciliar a documentação do integralismo com a seleção e classificação de assuntos segundo suas finalidades, afinidades e co-relações (...) os autores escreveram segundo suas convicções e interpretações pessoais, produzindo trabalhos esparsos, sem a preocupação de realizar uma sistemática educacional (...) portanto, o papel da EI é dar possibilidades ao homem para que ele se realize enquanto participante do integralismo.221

Cabe analisarmos este trecho ressaltando a idéia de que o essencial na compilação e publicação do compêndio era, segundo as palavras de Rocha Dórea, dar espaço às várias vozes integralistas, que em finais dos anos 1950 não eram tão uníssonas como nos anos 1930. Outro elemento significativo diz respeito à situação econômica nacional que no início da década de 1960, já analisada no capítulo 2. Concomitantemente a esta conjuntura, problemas no caixa das Edições GRD, aliados a transformações no setor editorial brasileiro, fizeram com que o projeto de continuidade da EI passasse por reformulações. Nesse sentido, o sucesso de público almejado pelo editor do compêndio, não se concretizou plenamente. E ao ser questionado sobre suas aspirações sobre a Enciclopédia do Integralismo, Dórea sempre foi taxativo:

“(...) esta foi uma de minhas poucas decepções à frente da GRD (...) não ter sido mais bem compreendido quando propus este revolucionário projeto editorial. No entanto rechaço tudo e todos que disserem o contrário do que eu afirmo, pois, sempre sustentarei que este projeto alcançou patamares significativos (...) Estima-

220 Entrevista de Gumercindo R. Dórea. 12/04/2002. 221 DÓREA, Rocha G. EI, Vol. IX, p. 1-3. Apontamentos gerais para os leitores do volume 9.

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se, que o número de exemplares vendidos deva ter chegado à casa dos 50 mil, sempre mantendo o mesmo preço de capa da primeira edição. Os números são coadjuvantes naquele que, sem dúvida, foi o maior triunfo alcançado pelo integralismo após 1945: o de reunir em volumes muito do que apenas se encontrava em jornais e revistas que não circulavam mais e que dificilmente seriam localizados. Outro trunfo sacado de nossas mangas foi que a geração „Águia Branca‟ tomou conhecimento aprofundado do integralismo através da Enciclopédia, nos CCCJ. Foi por intermédio dela que a história do integralismo se transformou num grande documentário acessível ás novas gerações de estudiosos brasileiros. Mas se é preciso precisar um número, penso que devam ter sido comercializados cerca de 50 mil exemplares. (ROCHA DÓREA, 12/2007).

Cinqüenta anos após a publicação todo o esforço de Rocha Dórea, nas diversas entrevistas em que mantivemos contato, seguiu no sentido de demonstrar que sua intenção fora sempre a de preservar a memória do integralismo. No entanto, esta pesquisa indaga quanto ao real propósito deste empreendimento: se fora pensado como uma plataforma para que os integralistas rememorassem suas façanhas, seus feitos, ou se fora criada para lançar novos desafios àquele integralismo enfraquecido, dissonante e pouco representativo de finais dos anos 1950? Talvez as duas coisas. O fato é que, a despeito das intenções que conduziram seu editor a publicá-la, a Enciclopédia do Integralismo apresentou o movimento “como um adversário sempre presente da política nacional, independente de seu fator ideológico bom ou ruim”. 222 É atraente indagarmos sobre o que exatamente Rocha Dórea entende como adversário, pois a auto adjetivação utilizada pelo editor nos projeta a idéia de que havia declaradamente grupos que se contrapunham ao integralismo em finais dos anos 1950. E neste momento, parece-nos claro, sobretudo se levarmos em consideração a opinião pública expressa pelos jornais de grande circulação, que as preocupações políticas da época caminhavam por itinerários bem diversos do sugerido por Dórea. Para muitos, aquele integralismo estava mais para uma anedota do que para uma preocupação nacional. Neste sentido, nos surpreende que Gumercindo Rocha Dórea tenha sido alvo de interesse da mídia, na década de 1980, pois esta situação contrasta sobremaneira com a idéia de fracasso editorial de Rocha Dórea, impingida em vários anos por parte de alguns especialistas da área. Em entrevista à revista Isto É!, de maio de 1987, Rocha Dórea sustenta que, a despeito de ser caracterizado como o “fruto brasileiro do fascismo, e que por isso o integralismo angariou desafetos inomináveis, este movimento

222 DÓREA, Rocha G. Idem. Grifo meu.

209 vislumbrava apenas o bem da Nação”223. Nesse sentido, é significativo que o próprio discurso de Dórea tenha sido impregnado pela compreensão de que os integralistas do pós-guerra não passavam de uma ala antagonista, não havendo por parte da cúpula do PRP, nem dos quadros mais representativos do integralismo a preocupação sistemática de se preservar a história do integralismo pós-45. O fato de manter-se na órbita política, ora como antagonista do processo democrático, ora como base de sustentação deste mesmo processo, aponta para uma confusa compreensão por parte dos integralistas de qual seria, a princípio, seu real papel na ordem política vigente. Sem clareza de qual função desempenharia, termina por perder-se em contradições que afastaram o movimento da busca por suas raízes e suas memórias. É, portanto, uma proposta conjunta de Gumercindo Rocha Dórea e Plínio Salgado que busca reparar a pequena preocupação que se tinha com relação aos registros, memórias e histórias do movimento. A Enciclopédia do Integralismo faz parte deste processo de reavaliação e reconstituição das memórias integralistas, um produto desta necessidade de se registrar a história do partido, dos diretórios e das eleições em que o movimento integralista tivesse participação, nos 1930 ou no período pós-guerra. No período em que o compêndio é publicado, a preservação da memória do movimento, muito em função da garimpagem realizada por Rocha Dórea passou por uma profunda transformação. É com a indicação de Rocha Dórea para assumir a diretoria do jornal A Marcha, em meados de 1956, que se inaugura a prática de preservação dos documentos, depoimentos e referências fundamentais sobre o integralismo pré-guerra e mesmo pós 1945. Decorre deste episódio um aprofundamento do modo sobre como e o que preservar dentro do integralismo. É justamente este o período em que o editor da Enciclopédia passa a selecionar os escritos do compêndio, em seções dos próprios diretórios municipais e estaduais do PRP, jornais de circulação encerrada e tiragens esgotadas. O compêndio foi pensado por Rocha Dórea seguindo uma “noção dirigida” do conceito e das ações integralistas, portanto, construído a partir da seleção de diversas tendências integralistas. A despeito de certa coesão, o compêndio apresentou-se heterogêneo. Desse aglomerado de tendências, sobressaíram as que corroboravam a anuência de Plínio Salgado, embora houvesse escritos de personagens que, historicamente, terminaram por se afastar do movimento, e mesmo das tendências

223 Relembrando o Integralismo. Isto É!, maio de 1987, p.56.

210 plinianas, como é caso dos escritos de Miguel Reale, San Tiago Dantas e do, então, Padre Hélder Câmara. Afora os nomes mais representativos, as três gerações de integralistas presentes no compêndio abarcavam uma gama variada e uma gramatura diversificada de militâncias, que ia do mais declarado pliniano (personagens da envergadura de um Raimundo Padilha, por exemplo) 224, até correligionários de pouca visibilidade nacional, (maioria absoluta presente no compêndio) que insistiam em atribuir ao integralismo a necessidade de uma renovação imediata. Fica claro que os discursos destes integralistas regionais (dissidências sem respaldo político) eram obliterados pela voz paternalista e centralizadora de Salgado que, em todos os volumes publicados iniciava os prólogos com textos criados especialmente para a publicação, sendo não raras vezes debatedor dos temas em diversos volumes, lavrando comentários, sempre no sentido de dar a última palavra sobre todos os temas do compêndio. No entanto, o discurso de Rocha Dórea sempre apontou para uma direção bastante distinta da centralizadora opinião de Salgado. Para ele, o chefe nunca centralizava nada, apenas orientava: “O integralismo nunca foi monolítico. Sabemos que como toda grande doutrina possui membros que pensam ou agem de acordo com a doutrina, mas com nuances mais ou menos ortodoxas. A intenção foi mesmo mostrar que o integralismo possuía vida. Todos de acordo com os princípios de Salgado, mais ou menos perfilados dentro de cada um de seus ideais. Na maioria das vezes era o ideal do integralista que sobressaía. Às vezes era problemático, pois, havia escritos de pessoas que não se declaravam mais integralistas, (destes, a maioria escritos reportados aos anos 30) quero dizer, não estavam mais no movimento, e outros que embora não estivessem mais dentro do movimento jamais abandonariam a doutrina (...) mas todos fizeram parte do integralismo, e como o projeto era apresentar a face do movimento em seus diferentes tempos, nada mais natural que rechear as diversas tendências(...)” (ROCHA DÓREA, 2007)

De qualquer maneira, o fato de Dórea optar por construir uma pauta heterogênea em que fossem contempladas dissidências e tendências não necessariamente anuentes à predominante, reporta a diversidade existente no compêndio e no movimento. Contraditoriamente, discursos e práticas antitéticos. A idéia de um integralismo pluralista, respeitador das diferenças, foi, ao longo da publicação dos volumes

224 Paradoxalmente, o mesmo Padilha, a partir de 1955, torna-se inimigo declarado de Plínio Salgado, o que certamente torna estranha sua inclusão no rol dos autores que aparecem na Enciclopédia.

211 enfraquecida paulatinamente pelos sucessivos apontamentos, ora de Dórea, ora de Salgado. Outra faceta bastante explorada nos depoimentos do editor retrata sua trajetória enquanto editor. Rocha Dórea, por diversas vezes se auto intitulou “um editor mal compreendido pelo mercado”.225 Após cinqüenta anos editando livros, Gumercindo Rocha Dórea se ressente de não ter recebido o mesmo tratamento por parte dos antigos escritores que lançaram livros por sua editora, os que ele denomina de “antigos afilhados” e mesmo por parte da crítica editorial especializada. Seja como for Gumercindo parece ter, aquilo que o crítico literário Antônio Candido chamaria de “agulhas finas para mexer no nervo da questão”. Misto de intenção e intuição, o projeto de integralismo contido na Enciclopédia e nos diversos depoimentos de Gumercindo Rocha Dórea, em muito corroboram o que este editor disse há cinqüenta anos, quando do lançamento da Enciclopédia do Integralismo: “Estes são os fatos que a memória e a história brasileiras buscarão esclarecer”. Nesse sentido, as memórias de Gumercindo Rocha Dórea sobre a publicação da Enciclopédia do Integralismo merecem ser analisadas em uma dupla chave de interpretação: como um projeto individual e coletivo, pois os integralistas conseguiram estabelecer uma definição comum de realidade, que se traduziu numa construção de “símbolos compartilhados, linguagem e gramaticalidade comuns, ou seja, elementos inseridos no processo de interação e negociação da realidade, expectativas e desempenhos de papéis congruentes (...)” (VELHO, 2003: 17) que fizeram do integralismo uma base onde se poderia desenvolver tal cultura política. As noções de projeto e campo de possibilidades, desenvolvidas por Gilberto Velho, nos ajudam a aprofundar essa análise – “relacionando projeto, como uma dimensão mais racional e consciente, com as circunstâncias expressas no campo das possibilidades, inarredável dimensão sociocultural, constitutiva de modelos, paradigmas e mapas” (VELHO, 2003: 8). Para o autor, é nessa dialética que “os indivíduos se fazem, são constituídos, feitos e refeitos, através de suas trajetórias existenciais” (VELHO, 2003: 8). Com base nessas noções, assume-se a premissa de que o motivo de Rocha Dórea e seus coligados publicarem o compêndio da Enciclopédia do Integralismo foi o encontro e a sinergia de projetos individuais distintos, mas que compartilhavam de uma

225 Entrevista G. Rocha Dórea, 21/07/2007. 212 rede de significados e de sociabilidade, sendo o integralismo elemento comum no campo de possibilidades intelectuais de seus membros.226 Segundo Gilberto Velho, os projetos individuais sempre interagem com outros dentro de um campo de possibilidades. Não operam num vácuo, mas sim a partir de premissas e paradigmas culturais compartilhados por universos específicos. Por isso mesmo são complexos e os indivíduos, em princípio, podem ser portadores de projetos diferentes, até contraditórios (VELHO, 2003: 46). A noção de metamorfose, também trabalhada pelo autor, ajuda a entender essa dinâmica inerente aos projetos individuais, pois, “a metamorfose possibilita, através do acionamento de códigos, associados a contextos uma dimensão biológico- psicologizante que se transforma não por volição, mas porque faz parte da construção social de uma dada realidade”. (VELHO, 2003: 29 e 30). Gumercindo Rocha Dórea, expressa com relativa clareza e consciência o processo de metamorfose de seu projeto individual. Sua própria história profissional, que combina diferentes experiências, é o retrato deste processo, pois, como também ensina Gilberto Velho, “no plano individual, a participação em mundos diferenciados e o desempenho de múltiplos papéis levam ao desenvolvimento de um potencial de metamorfose particularmente rico” (VELHO, 2003: 68). Através de sua fala é possível observar como seus projetos se transformaram e se adaptaram. Em consonância com a afirmação da historiadora Ângela de Castro Gomes, para quem o guardião “é um profissional da memória” (GOMES, 1996: 7), a sugestão é que a publicação da Enciclopédia do Integralismo também deve ser entendida como um meio para Rocha Dorea atingir aspiração maior, a de se legitimar como um guardião da memória integralista, pois, o projeto existe, antes de tudo, no mundo da intersubjetividade. A concretização da Enciclopédia do Integralismo oficializa Rocha Dórea como um guardião dessa memória. E a aceitação por parte da militância do movimento, o legitima nesta condição. Neste contexto, a história de vida de Rocha Dórea ganha relevância, uma vez que congrega fatos enunciativos desta aceitação e concretização. Após um período de desqualificação como gênero, a biografia recuperou lugar de destaque no interior dos estudos históricos justamente por sua capacidade de

226 Aqui nos reportamos à noção de campo intelectual no sentido atribuído por Pierre Bourdieu (2001), ou seja, espaço social de dominação e de conflitos. Cada campo tem certa autonomia e possui suas próprias regras de organização e hierarquia social. Como em um jogo de xadrez o indivíduo age e joga segundo sua posição social neste espaço delimitado.

213 transcender a história pessoal e de revelar as relações entre indivíduos e sociedades. Essa relação entre individual e coletivo foi a maior motivação para tentarmos registrar, através da sua narrativa de história oral, a trajetória de vida de Rocha Dórea. Considerando esse aspecto, pode-se dizer que o momento para o registro da narrativa de história de vida de Gumercindo foi muito interessante para os fins deste trabalho, pois, ainda parafraseando Ângela de Castro Gomes, “há momentos e motivações especiais que marcam o início da carreira de um guardião da memória. Eles são emblemáticos e passam a dominar a trajetória de vida daqueles que se imbuem de tal tarefa” (GOMES, 1996: 7-8). A publicação da Enciclopédia do Integralismo e sua revisitação, cinqüenta anos depois de ser lançada representam sem dúvidas este momento na vida de Dórea.

5.3 – GRD uma editora entre a proa e a popa do mercado -Vendeu? -Sim... -Mas todos? -Sim, todos! - Então quero receber... - Mas, hoje não é dia de pagamento! - Então quando é para eu vir receber? Isso eu já não sei! Ser um editor sério, que não se vende ao jogo do sistema é isso! (...) Cansei de ver esse filme. (Noticias do Rio – GRD e minha trajetória – (Gumercindo R. Dórea. Jornal da Tarde. 30/8/1986)

Muitas das transformações sociais, culturais e simbólicas do período pós-guerra estimularam os indivíduos, as famílias, as novas classes, a procurar não no passado, mas no presente seu fortalecimento, pois o passado representava o atraso, ao passo que o presente, a possibilidade do novo. Diametralmente opostos a esta posição estavam os integralistas, que remando a jusante da corrente, insistiram na preservação do passado como legitimitimador de suas ações. Buscaram nos seus antecedentes apoio para suas realizações. Aliás, aos olhos integralistas dos anos 1950, a recorrência ao passado sempre foi eficaz na busca de justificar suas atitudes. Estes integralistas lançaram mão de estratégias para se aproximarem da militância, que incluíam entre vários eventos, ritos coletivos de recordação que se consubstanciavam em cerimônias cada vez mais afetivas. Percebe-se que as celebrações implicam, portanto, numa clara finalidade revivescente, que busca colocar em pauta processos comuns à construção das diversas memórias integralistas (re-fundação,

214 identificação, filiação, distinção, finalismo). E, se as comemorações integralistas parecem ser um culto nostálgico que focaliza apenas as conquistas de seu passado, tal passado é oferecido como modelo a ser seguido pelo presente e o futuro do movimento. Assim, o rito insinua uma concepção repetitiva e cíclica cujo significado último é determinado pela crença na irreversibilidade do tempo. Estes integralistas demonstravam sustentar o seguinte pensamento: se em tempos pregressos o integralismo quase chegou ao poder, o que os impediria de flertarem com ele novamente? Frente a algumas questões bastante capciosas para a época, tais como - em que este movimento do pós-guerra se difere daquele dos anos 1930? Ou, até que ponto celebrar o passado não significa prender-se a ele? - estes integralistas tentam respondê- las utilizando um discurso gerado nos anos 1930, sobretudo com relação a algumas posturas ideológicas, vivificando a idéia da vocação do integralismo como destino. Neste sentido, em diversos escritos dos anos 1950, a noção de predestinação integralista é repetidamente utilizada como marca retórica de um discurso227 que visava seduzir, sensibilizar o receptor das mensagens para que este continuasse acreditando que a força integralista não apenas havia nascido nos anos 1930, mas “permanecia audaz e forte, no presente” (DÓREA, 2009). Para isto, os integralistas do pós-guerra utilizavam os jornais do partido, (tanto os regionais como o oficial, A Marcha), os programas de rádio e os discursos de seus líderes, sobretudo do chefe, P. Salgado para rememorar e revitalizar a proposta de futuro/baseada no passado, tão cara aos integralistas. A força deste discurso encontrou em finais dos anos 1950 palco privilegiado para ser posto em prática e a Enciclopédia do Integralismo – instrumento utilizado para reavivar tais memórias, bem como a versão de algumas histórias contadas a partir das lentes integralistas, aparecem ambas como apanágio de um grupo que buscava reavivar o passado. Gumercindo Rocha Dórea desempenhou papel de destaque neste grupo, o que concedeu às investidas do editor quixotesco status de referência para muitos daqueles que ainda viam no movimento algo de inspirador. Trabalhando como um catalisador de propostas Gumercindo e suas incursões editoriais, sobretudo, a Enciclopédia do Integralismo funcionaram como elementos inspiradores de uma geração achatada pela eterna comparação com seus antecessores.

227 PADILHA, R. Audacioso e reluzente. A Marcha, out. 1957, p.05.

215

Para tanto, elegeu um palco novo na disseminação da doutrina integralista, em tempos de democracia. As Edições GRD, empresa editorial que juntamente com a Livraria Clássica Brasileira exercia o papel de difusora oficial do movimento integralista, tornou-se mais que uma mera publicadora de livros de cunho direitista.228 Parte desta trajetória é mostrada a seguir. ***

A situação da indústria editorial brasileira conheceu mudanças significativas a partir da segunda metade da década de 1950, quando passou a existir um maior interesse do governo pelo setor, manifesto na diminuição dos tributos sobre o papel, na simplificação das tarifas alfandegárias e no surgimento de uma política de financiamento. Os incrementos na área inseriram-se, portanto, no bojo das transformações econômicas conhecidas pelo plano de metas juscelinista. Vários são os indicadores que demonstram a sua expansão: o mercado de publicações ampliou-se, aumentando o número de jornais, revistas e livros, bem como das editoras que publicavam livros de todas as gramaturas do mosaico político. (BAHIA, 1984: p.98) Atentas às possibilidades de articulação de suas ideologias, algumas editoras de menor porte constataram o potencial das bancas de jornal e dos envios postais, bem como as chamadas “vendas a balcão” (de boca em boca) como espaços de disseminação de sua propaganda e de aproximação de simpatizantes para suas causas, o que favoreceu o consumo em maior freqüência de tipos específicos de publicações político-partidárias, viabilizadas pela facilidade da circulação, difusão e acesso.

As Edições GRD229 renovaram a literatura nacional, com autores que alcançaram grande projeção, lançando os seus primeiros livros. Entre eles destacam-se: Nélida Piñon, Rubem Fonseca, Fausto Cunha, Gerardo Mello Mourão, Astrid Cabral, Marcos Santarrita, entre outros. A GRD também manteve uma coleção de política internacional, além de obras sobre ciências humanas. Com mais de trezentos e cinqüenta títulos publicados as Edições GRD apostaram em uma estratégia suigeneris para publicar e publicizar os textos de seus autores. Nas palavras de Rocha Dórea, a “GRD não

228 De acordo com a historiadora Márcia Regina Carneiro, GRD, expandiu suas idéias anti-marxistas e autoritárias, pelo interior do Brasil por meio dos pequenos jornais que reproduziam seus artigos originalmente escritos na Revista Convívio. No interior e nos quartéis, seus artigos tinham seus leitores e admiradores, mesmo após a ditadura. “Se havia publicação é porque havia demanda” afirma GRD. 229 Além de possuir mais de 400 livrarias ou pontos de venda no território nacional, a Livraria Clássica Brasileira ficou irremediavelmente marcada por ser uma facilitadora das edições da GRD Editora, distribuindo de maneira sistemática grande parte do acervo ligado ao catálogo da editora. Fonte: A Marcha, out. 1963. 216 fabricava ou promovia um escritor através da mídia, mas tem descoberto talentos que hoje são reconhecidamente renomes na literatura recente, assim, reputo que somos uma editora de boca a boca e de pé quente!” 230 Em 1998, no trigésimo segundo aniversário da editora, Gumercindo Rocha Dórea rememorou passagens de sua trajetória, de advogado poliglota a editor de livros diversos: “Costumo dizer que é um problema de sonho e realidade: conforme ia ampliando minha formação intelectual, constatava que quase todas as obras essenciais do conhecimento humano não se encontravam traduzidas para nossa língua. E tive, portanto, que aprender várias línguas, que hoje leio razoavelmente. Sonhei, então, lançar essas obras em nossa língua, mas não realizei este objetivo, o que lamento muito! Então, enveredei por outros caminhos, bem mais difíceis como o de descobridor de autores novos, descortinando os horizontes da ficção científica, de diversas áreas do político (...) e isso me dá a sensação exata de que ser editor é, nada mais, nada menos, que uma vocação”.231

Mas, se Dórea se compraz em ser um editor outsider, que não cede “aos jogos do sistema editorial capitalista antropofágico”, como o mesmo dizia, não esconde a frustração de se ver hoje muito aquém do que esperava, sobretudo do ponto de vista material: “É realmente muito frustrante, sobretudo no sentido material, especialmente para uma iniciativa que não tem uma sólida base financeira. Senão, veja: vence o editor que considera o livro como uma cachaça, um feijão ou um arroz, pois o livro é, para eles, antes, um objeto de consumo. Se dá dinheiro, muito bem, senão fecham- se as portas. (...) Inclusive a gigantesca barreira em que se constituem as livrarias são outros obstáculos para um editor que não vende apenas uma mercadoria (...) sem falar na patota dos noticiaristas de livros, asseclas de grupos ideológicos financiados por uma caligrafia duvidosa!”.232

Laurence Hallawell, que se dedicou ao estudo do livro no Brasil, afirma que as Edições GRD tiveram uma importância substancial na transformação editorial no país, pois, além de lançar muitas obras de literatura nacional que viriam a se consagrar, publicou algumas das mais notáveis reedições da década, sendo seu período de maior atuação os anos 1960. Ainda de acordo com Hallawell, “tal editora foi a principal incentivadora do gênero ficção científica no país, a primeira a apostar no segmento, o

230 Entrevista com o depoente. 20/03/2008.

231 Dórea relembra o que chamou de “lição de humildade” ao batizar sua editora: “Augusta, minha mulher diz que eu ter usado as iniciais de meu nome para designar a editora, é antes de tudo uma “lição de minha humildade”. Não existe José Olympio? Martins Fontes? Pois, Augusta não deixa de ter razão!”. Humildade? O comentário fala por si. 232 GRD: Jornalista e editor com mais de 300 títulos. Literatura: Suplemento de Cultura do Jornal de Ribeirão. Ribeirão Preto, 24 de dezembro de 1998, p.11. 217 que não impediu que, por volta de 1970, depois de mais de vinte anos editando publicações de relativo sucesso, praticamente cessasse suas atividades” (HALLAWELL, 1981, 407 e 447). Entretanto, para Gumercindo R. Dórea, a editora continua ativa, publicando menor número de títulos, na sua maioria, livros vinculados ao nacionalismo, dos quais os relativos ao integralismo recebem sua maior atenção. Entrevistado em fevereiro de 2008, ainda abalado pela recente morte de sua esposa, com quem ficou casado por mais de meio século233, Dórea contestou reiteradamente a idéia propalada por Halewell, de que a GRD havia sido desativada: “Fui muito mal tratado por esses escrevinhadores de histórias dos livros no Brasil. E até hoje sou. Agora que estou viúvo posso dizer. Só minha esposa sabe o quanto isso tudo me fez mal! A GRD não cessou suas atividades em meados da década de 70, mas sobrevive bravamente até hoje. Sou um editor sem recursos e publico apenas boa literatura e coisas em que realmente acredito. Se eu fosse compactuante como muitos outros, decerto estaria rico, mas mesmo assim continuaria integralista”. (ROCHA DÓREA, 2007)

Nas informações fornecidas por Hallewell e Dórea percebem-se duas interpretações diferentes com relação à desativação da editora. A primeira baseada em fontes estatísticas, bem como na análise conjuntural da editoração de livros no Brasil no período dos anos 1960, e a segunda, baseada num certo sentimento de preservação, tão comum por quem nunca abandonou a militância. É notável perceber a relutância de Dórea com relação ao término das suas atividades à frente da editora, pois, desde seu primeiro lançamento, em 1956, o livro de Hebert Parentes Fortes, que era integralista e fora seu professor, intitulado Filosofia da Linguagem, que rodou dois mil exemplares tirados na gráfica da Folha Carioca S. A. no bairro do Santo Cristo, no Rio de Janeiro, Dórea prometeu em texto “jamais cessar suas atividades de editor de livros a não ser por sua própria morte”. 234 Era o próprio Rocha Dórea quem garimpava, encontrava,

233 Rocha Dórea foi casado com Augusta Garcia Rocha Dórea, também militante integralista e escritora. Augusta ganhou o primeiro lugar no Concurso da Prefeitura de São Paulo escrevendo sobre o bairro da Aclimação. Também foi responsável pela publicação da antologia: O pensamento Revolucionário de Plínio Salgado (com duas edições publicadas pela Voz do Oeste), o Romance modernista de Plínio Salgado e Plínio Salgado: um apóstolo em terras de Portugal e Espanha, esta pela GRD. O casal se conheceu em um dos Centros Culturais da Juventude onde desde meados dos anos 50 militaram juntos. Augusta Garcia Rocha Dórea faleceu em dezembro de 2007, vítima de complicações oriundas do mal de Parkison. 234 O Homem que fareja tesouros brasileiros. Texto de Oswaldo de Camargo. Jornal da Tarde, 30/08/1986. 218 editava, publicava, cobrava, recebia e não recebia, segundo o mesmo – mais o segundo do que o primeiro - o que fez o editor lançar mão de estratégias bastante comuns nos anos 1950 e 1960 para incrementar suas vendas. A chamada dúzia de 13 era um de seus estratagemas. Se o livreiro comprasse uma dúzia de exemplares recebia treze, o 13º de maneira gratuita. Outras estratégias como a consignação ou a permuta ajudavam os pequenos editores a vencerem os percalços da profissão. “Eu deixava os livros na livraria, e isso aconteceu muito com a Enciclopédia do Integralismo, sobretudo no começo da publicação, e depois, em algum tempo, que nunca se sabia ao certo qual era, ia se ver quanto vendeu e se rendeu e era aí que se sabia se havia tido êxito editorial ou não. Se voltasse e não houvesse mais nenhum era sucesso. No entanto, jamais fugíamos da cansativa e triste cena de um filme que eu fiquei cansado de assistir: chegávamos no lugar onde havíamos deixado os livros e perguntávamos ao livreiro: -Vendeu?Sim... Mas todos? Sim, todos! Então quero receber... Mas, hoje não é dia de pagamento! Então quando é para eu vir receber? Isso eu já não sei! – e eu pensava: ser um editor sério, que não se vende ao jogo do sistema é fogo, é nisso que dá! (...) Quer saber, cansei de ver esse filme”.235 Em outro episódio, em que confessaria ter contado mais com a sorte e menos com o faro, Gumercindo Rocha Dórea leu no Diário de Notícias do Rio de Janeiro, em 1960, a opinião de Tristão de Athayde sobre um texto considerado por ele como “demoníaco”. O texto de um autor enleado com desgraças na época, Gerardo Mello Mourão236, recentemente saído da prisão havia sido vencido em concurso de romances a que concorrera, perdendo para um romance de Heloneida Studart. Rocha Dórea percebeu a importância do texto e contatou seu autor para editá-lo. Essa foi a primeira parceria entre Gerardo Mello Mourão e Rocha Dórea, livro que posteriormente, a crítica especializada adjetivaria como surreal, místico e, para GRD, Valete de Espadas, é ainda hoje considerado um dos mais instigantes livros da literatura brasileira. Com uma tiragem de dois mil exemplares (média inicial dos livros da GRD na época) o livro foi um furor. Mas, a má distribuição impediu que este e os demais livros da editora de Rocha Dórea despontassem e vendessem mais. É o próprio Rocha Dórea que admite: “para um editor que não tem uma grande produção, o nó górdio que o enforca é o da distribuição!”.237 É de Walmir Ayala a afirmação sobre Dórea: “Os editores brasileiros têm os olhos voltados para a GRD, apostando em sua resistência para continuar lançando os

235 Entrevista com o depoente. 20/03/2008. 236 Ver: Apontamentos biográficos de Mello Mourão no quadro da terceira geração. Anexos. 237 Idem, p.9. Aliás, a distribuição sempre foi o “tendão e Aquiles” da editora. 219 autores que tem lançado (...), pois se trata de uma editora que garimpa tesouros escondidos (...)”. 238 Moacir C. Lopes corrobora o que Ayala diz sobre Dórea: (...) não fossem editores idealistas não teríamos obras mestras de nossa literatura, como a dos destacados: Monteiro Lobato, Augusto Frederico Shimidt, Enio Silveira e Gumercindo Rocha Dórea. (...) No entanto, este último sofre, como todos os que se dedicam aos livros sérios de uma ou duas excentricidades (...) ser integralista não o desabona (...) o que o desabona é permanecer voltado a uma fórmula que raramente poderá dar certo, pois Rocha Dórea, vive e respira o integralismo como o fizera sua vida toda. A má distribuição não é apenas o mal da GRD. Sua ideologia e convicção políticas também afastaram seus interlocutores, claro preconceito que valeu ao editor, a periferia do mercado”. (LOPES, 1978: 9)

Como a maioria das pequenas editoras brasileiras, a GRD, a partir de meados da década de 1960 também passou a contar com a ajuda do USIS da embaixada norte- americana.239 Como relata o jornalista Oswaldo de Camargo: “era dele uma lista enorme de obras que lhe interessava ver editada no Brasil. Os editores iam e escolhiam o que quisessem. Gumercindo escolheu para editar, entre outras obras de Brezzinski e Friedrich o livro clássico Autocracia e Totalitarismo, além de O Soldado Profissional de Morris Janowitz”.240 É relevante indagarmos: se a editora de Gumercindo Rocha Dórea recebeu verbas deste órgão governamental é porque revelou-se disposto à servir aos interesses e publicar obras que eram financiadas pelo Serviço de Divulgação e Relações Culturais norte-americano, o que o coloca em sintonia com a propagação ideológica da contenção comunista na América Latina. Dentre os diversos títulos publicados pela GRD, O prisioneiro, O país dos Mourões, O romance modernista de Plínio Salgado, Antologia da Ficção Científica Brasileira, Um cântico para Leibowitz, Contos de Nagô dentre outros expressam a linha editorial eclética levada a cabo pela editora.241 Wilson Martins, crítico sempre severo, sintetiza a GRD como sendo uma editora renovadora, pioneira e eclética: “uma mistura que faz dos textos publicados por seu editor, algo com qualidade, a despeito das tintas

238 AYALA, W. Tesouros encontrados, Jornal da Tarde, 9/6/1988. 239 Serviço de Divulgação e Rlações Culturais dos EEUU em suas embaixadas ao redor do mundo. Ver: Oswaldo de Camargo. GRD: um autor teimoso, persistente e quixotesco que há 30 anos procura autores incomuns. Folha da Tarde, 30/08/1986. p. 9. Continuação do texto: O farejador de tesouros brasileiros. 240 Ver: Oswaldo de Camargo. GRD: um autor teimoso, persistente e quixotesco que há 30 anos procura autores incomuns. Folha da Tarde, 30/08/1986. p. 9. Continuação do texto: O farejador de tesouros brasileiros. 241 Livros escritos respectivamente por: Rubem Fonseca, Gerado Mello Mourão, Augusta Garcia Rocha Dórea, Gumercindo Rocha Dórea, Walter Miller, Deoscóredes M. dos Santos, o mestre Didi. 220 carregadas da maioria de seus títulos que ora proselitistas, ora doutrinários refletem sim, a idiossincrasia e a ideologia de seu proprietário”. (MARTINS, 1986: 78) Por um longo tempo, a GRD dividiu a incumbência da publicação e distribuição dos textos integralistas e de cunho nacionalista, conservador, enfim, direitista com a Livraria Clássica Brasileira editora que viabilizava e publicava livros de valor ideológico e estético claramente proselitista, em favor do integralismo. Especificamente com relação a esta parceria Dórea afirma que as duas editoras, as Edições GRD e a Livraria Clássica Brasileira, tinham caminhos diferentes, mas com os mesmos objetivos. Relembra o editor: “Relação entre elas? apenas a de amizade e política cultural. Entrelaçamento só houve com relação à distribuição dos volumes, na época da Enciclopédia do Integralismo, por exemplo, e isso por todo o Brasil. E se não me engano outras edições da GRD (no principio de sua atuação) também tinham sua distribuição a cargo da Livraria Clássica, mas cada uma seguiu uma característica editorial distinta”. (ROCHA DÓREA, 2007) Com um perfil que oscilou entre o arrojo e a teimosia, buscou ser vanguarda, mesmo sendo acusado de retrógrado, um editor curupira. Em sua caminhada, jamais dividiu a responsabilidade da edição e publicação com nenhum conselho consultivo, ou colegiado que pudesse “palpitar sobre as escolhas editoriais”. Como o próprio afirmou, “(...) jamais tive conselho consultivo na GRD. Só publicava, como, aliás, processo até hoje, o que eu lia e aprovava. E veja: nunca tomei posição contrária aos autores não integralistas. Este é um ponto que pouco divulgam (...) os perdedores preferem dizer que sou um integralista sectário e que por isso pouco me importo com a boa literatura. As obras é que me interessavam, não as ideologias de seus autores! Já editei textos de integrantes do PCB, por exemplo, a mulher do Rubem Braga, a Zora Seljan, primeira mulher a correr os países da cortina de ferro após a guerra – o que lhe trouxe desilusão e abandono do comunismo, de quem publiquei o livro: Três mulheres de Xangô, causando pasmo na intelectualidade carioca de meados dos anos sessenta”.242

242 Entrevista com o depoente. 04/06/2008. 221

Fig. 20: Fac-símile das capas de obras produzidas pela Edições GRD entre 1950 e 2000, com destaque para as capas de livros de ficção científica. 2008.

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Não nos parece que Rocha Dórea tenha mesmo realizado grandes distinções entre autores, devido às suas ideologias particulares, mas parece-nos difícil acreditar que o seu único critério fosse, de fato, a qualidade literária do autor. Fica difícil acreditar que os autores comunistas, socialistas, sociais democratas tivessem o mesmo tratamento e processo de isonomia tão laureado por Rocha Dórea. Homenageado e laureado por vários legisladores vinculados aos partidos de tendência direitista, Gumercindo relembra experiência recente, quando recebeu uma ordem de jubilo do hoje extinto PRONA – Partido da Reedificação da Ordem Nacional. Rocha Dórea relembra o dia em que recebeu o comunicado da Câmara Legislativa Paulista, com timbre oficial do PRONA informando-lhe sobre a comenda que receberia das mãos do deputado paulista Elimar Máximo Damasceno, na noite de 21 de dezembro de 2006. A Ordem da Renovação, outorga oferecida pelo PRONA para os intelectuais que fizeram a história da direita no país, trazia um texto sugestivo para percebermos as redes de contato entre o presente e o passado da direta brasileira: - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, queremos neste momento homenagear uma das mais expressivas editoras brasileiras, a Editora GRD, pela passagem do seu 50º aniversário, e ainda nos congratular com seu fundador e idealizador, Sr. Gumercindo Rocha Dórea. Entendemos, Sr. Presidente, ser dever indeclinável de todos nós, Parlamentares, saudar organizações responsáveis por atividades relacionadas com a produção e difusão da cultura e da educação, sobretudo aquelas que primam pelo nacionalismo. Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o início das atividades da Editora GRD assinalou novo paradigma do mercado editorial brasileiro: a publicação de obras de ficção científica. Embora ocupando posição marginal na produção editorial brasileira, a ficção científica sempre contou com uma longa e consistente presença na literatura nacional. Datam de meados do século XIX as primeiras obras do gênero produzidas no País. No entanto, a primeira antologia de ficção científica propriamente brasileira só foi lançada em 1960, sob a organização do baiano Gumercindo Rocha Dórea. A coletânea, que reunia trabalhos de autores consagrados e iniciantes, deu um novo impulso à produção do gênero e possibilitou certo destaque a alguns dos autores que viriam a constituir a chamada geração GRD - iniciais de Gumercindo Rocha Dórea. A Ficção Científica GRD tornou-se no Brasil a mais importante coleção de ficção científica da sua época, talvez de todos os tempos. Como todas as grandes escolas literárias, a ficção científica brasileira estabeleceu uma rica heterogeneidade. Mas hoje, infelizmente, permanece relegada a segundo plano pelo mercado editorial. Em um segundo momento de sua fecunda existência, a Editora GRD diversificou sua produção com novas estratégias e técnicas comerciais. Construiu uma tradição editorial vinculada e inserida em projetos de afirmação de um nacionalismo cultural, capitalizando, ao longo do tempo, enorme contribuição para o aprimoramento moral da sociedade. Gumercindo Rocha Dórea é um obreiro abnegado de nossa cultura, uma nova mentalidade que se impõe, irrompendo ideologias na arte de edição de livros. O livro, para ele, é verdadeiro apostolado,

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acreditando, como Monteiro Lobato, que "um país se faz com homens e livros". Portanto, Sr. Presidente, o PRONA reconhece e realça a nossa inclinação por essa estirpe admirável de homens brasileiros que põem tudo a serviço de sua Pátria, como intérpretes da alma nacional, como guardiões de nossa identidade cultural. Transmitimos, outrossim, pelo transcurso da data comemorativa, calorosos cumprimentos a todos os profissionais da Editora GRD, artífices comprometidos com esse louvável esforço de valorização da cultura em proveito da sociedade no Brasil.Deus haverá, na Sua onisciência, de abençoar essa ação profícua. Portanto, parabéns, Editora GRD, parabéns Gumercindo Rocha Dórea. Muito obrigado, Sr. Presidente, e boa noite, família brasileira”.

A despeito do longo e laudatório texto, Gumercindo Rocha Dórea, em entrevista em finais de 2008 se diz surpreso por ter recebido tal outorga justificando-se jamais ter mantido contato com nenhuma militante do extinto PRONA.”(...) Foi surpreendente, pois, não conhecia nem este senhor Damasceno, nem nenhum coligado ao extinto Prona (...) mas nunca houve uma aproximação com o PRONA. A homenagem, aliás, foi feita a minha revelia (...) só tive conhecimento dela quando recebi o texto do discurso”.243 Nota-se que no texto descrito acima não há nenhuma menção sobre a clara militância de Rocha Dórea ao integralismo. No entanto, o simples fato de um partido de características evidentemente direitistas como o extinto PRONA oferecer uma comenda, homenagem ou menção, reforça a identificação de que a distinção fora outorgada justamente devido a esta aproximação de Dórea com o movimento integralista. Aliás, foi relativamente estreita a relação estabelecida entre a ala jovem do PRONA e os ditos neointegralistas (CARNEIRO b, 2007), grupos que se proliferaram nas grandes cidades do país, (a partir de meados das décadas de 1980/90) e que encontraram interlocução com partidos políticos e associações de caráter extremistas durante os anos 2000.244 Exemplos significativos deste redimensionamento da direita no país, os atuantes grupos neo-integralistas ostentam o sufixo neo como registro da “auto-capacidade de reciclagem do movimento”. Com discursos bastante variados, mas cujo veio principal se fortalece na atitude saudosista de seus aderentes - aos moldes dos antigos integralistas -, estes têm propagandeado os escritos dos antigos líderes do movimento, em especial os de Salgado e atuado basicamente por meio da internet. Com o acirramento e as supostas brigas políticas internas nesses grupos, e com a cada vez menor interlocução com associações e partidos políticos conservadores e mesmo extremistas, tais grupos acabaram perdendo terreno e visibilidade com a extinção do PRONA, devido à

243 Entrevista com o depoente. 09/03/2008. 244 Cf: www.integralismo.org 224 controvertida cláusula de barreira, ou porcentagem eleitoral, promulgada em meados de 2006. De qualquer maneira, a distinção oferecida pelo PRONA a Gumercindo Rocha Dórea atesta que a forças de tendência extremistas de direta continuam se contatando e se laureando, reproduzindo em muito os expedientes levados a cabo pelos movimentos análogos desta natureza ao redor do planeta. Isso nos faz relembrar que Rocha Dórea foi um entusiasta peremptório do golpe civil/militar de 1964, o que ajuda a esclarecer ainda mais a aproximação de partidos de direita frente a sua clara tendência autoritária. Até porque, se buscarmos uma genealogia de sua postura política perceberemos que, entre finais dos anos 1950 e meados da década de 1960 havia três lugares em que o nome de Gumercindo Rocha Dórea era bastante conhecido e reconhecido: a) no interior do país, devido as reproduções de seus artigos, integralistas e antimarxistas, principalmente aqueles originalmente escritos na revista Convívio; b) nas centenas de Centros Culturais da Juventude em alguns embates com nomes fortes do PRP; e c) nos quartéis de algumas divisões das Forças Armadas, sobretudo, do Exército Brasileiro. Isto se devia, basicamente pelo fato de GRD ter apoiado veementemente, o que ele também chamou de “a Grande Revolução”. (CARNEIRO, 2007: 10) Em depoimento à pesquisa da historiadora Márcia Regina Carneiro, GRD é enfático quando questionado sobre sua atuação no período do golpe civil/militar de 1964. Embora bastante incisivo, reflete sobre as conseqüências, não só para o país, mas como para si próprio, do que considera um erro dos militares ter permitido a „re- democratização do país‟ (sic). O trecho abaixo sublinha algumas nuances do discurso de Rocha Dórea. “(...) Sim, eu dei apoio à Revolução de 1964. Muito bem! Tempos depois, eu chego na redação da Convívio, e vejo que chegou uma carta para mim lá do Exército (...) Eu abro a carta e era um convite para eu almoçar no 2º Quartel, lá no Ibirapuera. Eu fui! Fui recebido por toda a oficialidade. Meus artigos, que escrevia na Convívio, estes que eram publicados por todo o país, esse artigos eram lidos e discutidos por esses oficiais (...) me elogiaram, almocei com eles (...) e depois ainda voltei algumas vezes (...)! Agora veja, o negócio da entrega paulatina de poder dos militares para os civis, foi na minha opinião um erro estratégico. Explico: quando entregaram o poder, a esquerda que foi esfrangalhada no golpe de 1964. Um Gel. Me perguntou: vc apoiaria outro golpe, isso no finalzinho dos anos 1970 (...) e eu disse: “de forma alguma General. Na próxima eu fico na minha janela com um fuzil, para me defender (...) Eu não vou, como sacrifiquei minha família, sacrificá-la... Eu não! Fico com o fuzil, senão fazemos outra revolução

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para os senhores generais entregarem tudo de volta para eles!!! E que agora estão agora sofrendo as conseqüências (...)!(DÓREA apud CARNEIRO, 2007: 11)

Gumercindo Rocha Dórea apoiou o golpe, acreditou estar do lado certo, teve chances de mudar de idéia, permaneceu do mesmo lado, e hoje, passados quarenta anos, afirma que se solicitado, faria tudo de novo. Com uma diferença: “que antes, todos soubessem a importância que os escritos integralistas tiveram para o país”.245 Atualmente, para o espanto de muitos, se declara um monarquista e afirma não haver atritos entre esta proposta e o integralismo. Sessenta anos de militância fizeram de seu discurso uma das poucas ferramentas ainda respeitadas do espólio integralista. Independentemente de sua escolha, GRD permanece hoje, assinando a grafia de anti- esquerdista e acreditando no integralismo como uma proposta de poder. Por mais de quarenta anos, Rocha Dórea, a despeito do combate travado por seus pares, por, segundo o próprio, “remar a jusante do real!”, “ora por defender a doutrina integralista, ora por acreditar em ficção”, sempre afirmou que suas maiores paixões eram extremadas justamente por essas duas balizas: “o integralismo e os autores que lançava, sobretudo os poetas e escritores de ficção científica” (ROCHA DÓREA, 2008). Os livros das Edições GRD que reproduziam as idéias do catolicismo tradicionalista e do nacionalismo exacerbado, com larga passagem pelos escritos integralistas e de ficção científica (contraditório?), fizeram dela, uma editora proscrita.246 Publicações tão díspares no seu conteúdo incentivaram comentários críticos por parte de alguns estudiosos, jornalistas e militantes. Com relação a esta suposta contradição, Rocha Dórea tem uma percepção curiosa: “Não entendo porque acham que publicar sobre integralismo e ficção científica é uma contradição. Senão veja: se você tiver curiosidade verá que a ficção científica que eu publicava, via de regra, corroborava a corrida armamentista espacial mais pro lado dos norte americanos, em franca oposição aos Sputniks soviéticos. O anticomunismo sempre esteve à frente disso tudo. Ora! nada mais integralista, anticomunista e

245 DÓREA, Gumercindo R. Depoimento, SP, 23/08/2008. 246 Além das Edições GRD, poucas editoras como a José Olympio e a Civilização Brasileira permanecem no mercado até os dias atuais, a despeito dos poucos títulos na praça. Ver reportagem do crítico literário José Seffrin em: Folha da Tarde. 21/07/2001, p.9. “O século 21 não comporta mais editores, com as idiossincrasias, com o quixotismo e á maneira de um Enio Silveira (Civilização Brasileira), um José Olympio, um Gumercindo Rocha Dórea (GRD), que são figuras de outro tempo, e que pertencem mais à história da literatura do país que á atualidade”. 226

consciente que isso. Agora, depois não... com o tempo o verniz foi desbotando... mas está tudo lá... é só ler pra ver... contradição alguma! Oras!”. (DÓREA, 2009)

De qualquer maneira, causa no mínimo estranhamento posições, a primeira vista, tão díspares partirem de um mesmo personagem. O caráter conservador e muitas vezes reacionário das obras editadas pela Edições GRD antagoniza com as brochuras futuristas, de textos ficcionais cuja essência poderia ser interpretada como oposta aos teores dos livros nacionalistas, tradicionalistas e pouco progressistas da editora. O fato deste personagem viver nesta fronteira ambígua entre o conservadorismo das idéias tradicionalistas e nacionalistas e um suposto progressismo futurista só faz aumentar o interesse que a academia tem dispensado a indivíduos como Rocha Dórea. Cinqüenta e quatro anos após sua inauguração, a GRD é apenas, como afirma seu próprio idealizador: “um fantasma ululante, frente aos grandes conglomerados editoriais” (ROCHA DÓREA, 2008), e permanece como tal, dialogando com interlocutores baseados no saudosismo de um tempo que não volta mais. Trata-se de um homem persistente cujas convicções o fazem tão combativo quanto contestado. Em tempos de rememoração, GRD (O homem e a editora) certamente aparecem como fundamentais personagens para o entendimento de uma das faces conservadoras menos estudadas da segunda metade do século XX no Brasil.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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O integralismo da Enciclopédia: êxito ou êxodo? Os discursos variam conforme os interlocutores. Nesses últimos anos meus interlocutores (os depoentes desta pesquisa) se esforçaram para legitimar seu discurso e me convencerem que o legado integralista havia cumprido seu papel: manter-se vivo na memória e na história do país. O fato de eu realizar uma pesquisa de doutorado sobre o movimento integralista, de certa forma, corrobora a idéia de que, ao menos nas pesquisas acadêmicas o movimento permanece ativo. No entanto, é preciso que se diga: este trabalho não afiança as memórias desses integralistas, embora as respeite, tomando a partir delas caminhos de interpretação diversos. Na esteira deste entendimento, estas considerações finais apresentam dois elementos complementares: a) os objetivos e as hipóteses alcançados e b) os desafios e as surpresas da pesquisa.

Ter descoberto um conjunto de escritos que jamais havia sido analisado na sua inteireza foi uma chance singular de explorar este caminho dicotômico entre a memória e a história. Paralelamente, ter mantido contato com seu idealizador, um integralista octogenário ainda fiel às suas premissas acentuou ainda mais esta dicotomia. Desde quando tive meus primeiros contatos com a Enciclopédia do Integralismo, até o presente momento, (final de uma trajetória cheia de pontos e contrapontos na busca por idéias, memórias e personagens), muitas histórias foram conhecidas. Muitos personagens foram ouvidos. Mesmo assim, diversas peças ainda faltam para preencher este mosaico.

Com relação aos objetivos deste trabalho, estes foram parcialmente alcançados. Verificou-se que, ao longo da década de 1950, quatro acontecimentos recolocaram o integralismo na ordem do dia: a) a criação de entidades extra-partidárias, como por exemplo, a CCCJ (1952); b) o lançamento de candidatura própria à presidência em 1955; c) a retomada do legado integralista dos anos 1930, e d) o resgate da simbologia integralista, com especial atenção à publicação da Enciclopédia do Integralismo. Estes acaontecimentos deram maior visibilidade ao movimento e modificaram sua estruturação interna. Ainda que não tenha determinado o retorno à perspectiva estratégica adotada nos anos 1930, o que, de resto, seria inviável no contexto dos anos 1950, as novas táticas adotadas foram importantes, dotando o movimento de novos instrumentos (as entidades extrapartidárias), possibilitando que seu discurso tivesse maior repercussão pública (candidatura presidencial em 1955) e impedindo que perdesse completamente sua identidade (retomada do legado e simbologia integralistas).

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Portanto, se um dos objetivos deste trabalho era enfocar com lente de aumento os acontecimentos que envolveram o integralismo no final dos anos 1950, grande parte desta finalidade foi contemplada. Outros escopos, no entanto, tiveram que ser relativizados, muito em função do pequeno conjunto de informações que se encontrava disponível, sobretudo com relação aos indivíduos e suas biografias. Nos cinco capítulos deste trabalho foi possível mapear alguns dos personagens mais representativos do movimento integralista no período estudado, com ênfase para as mais de dez horas de gravação de seus depoimentos, base sólida na qual este trabalho se assentou. O contato com os depoentes, as negativas, ilações, réplicas, tréplicas, enfim, o contraditório dos depoimentos, bem como, dos silêncios diante de perguntas entendidas como impertinentes, mobilizaram um universo (diria, pluriverso) que apenas as evidências orais poderiam apresentar. Gumercindo Rocha Dórea foi, nesse sentido, um interlocutor corajoso, pois aceitou enfrentar as contradições de meio século atrás, dispondo-se e despindo-se de preconceitos, ao menos, os que inviabilizassem nossas conversas. Com ele, aprendi que a Enciclopédia do Integralismo foi mais que uma retomada folclórica de um movimento político contestado. Mas, também foi com Dórea que entendi definitivamente a correlação entre “memórias edulcoradas” e “histórias forjadas”. Seu discurso foi, para mim, o híbrido das duas coisas. Por outro lado, se meus interlocutores e a documentação disponível propiciaram adentrar profundamente no discurso, ações e contradições integralistas, o período em que se concentrou a pesquisa foi preponderante para que se comprovassem algumas de minhas hipóteses.

Todos os mecanismos de ação militante e doutrinal descritos nesta tese (as alianças políticas levadas a cabo pelo Partido de Representação Popular, as interlocuções do integralismo no período estudado, as celebrações dos 25 anos do integralismo e a publicação da Enciclopédia do Integralismo) fizeram emergir uma questão que apenas as fontes escritas não deram conta de responder: por que os integralistas voltaram ao cenário partidário nacional do período estudado municiados de um discurso entendido pelos não integralistas como passadista e não vanguardista, como seria de se esperar de um grupo que objetivava a manutenção de sua permanência, em um cenário - diga-se de passagem - contrário às pretensões de grupos de discursos e ações radicais, como era o dos integralistas?

A despeito deste discurso se mostrar eivado de conservadorismo, seus integrantes apresentavam-no como um “anúncio dos novos tempos”; portanto, como

230 uma proposta de futuro. Então, porque insistiram na manutenção de suas vestes, ritos e alegorias pregressas, ainda vinculadas a um discurso nacionalista e autoritário?

O integralismo dos anos 1930 pregava um nacionalismo sectário, uma postura anti-alianças, a manutenção de um estado corporativo, bem como alimentava a certeza de que era o único partido nacional que possuía as credenciais para apresentar um projeto de Nação, segundo suas palavras: “realmente plausível”. Então, redefinindo (a seu modo) pontos de choque com a postura dos anos 1930, os integralistas perrepistas de finais dos anos 1950, buscaram na sua estruturação elementos que reafirmaram seu aparato ritualístico e mítico. Mantiveram uma oposição ferrenha ao comunismo e concentraram-se em supervalorizar seus aspectos simbólicos, como força motriz para sua caminhada política. O foco foi atingir a atenção da antiga, mas dissipada, desmotivada e desmantelada militância. É relevante que nos finais da década de 1950 questões que legitimavam os estatutos da democracia, nacionalismo, partido político, militância, dentre outros elementos constituintes da redemocratização voltariam a ganhar importância, o que fez a permanência do integralismo no cenário nacional ser questionada. O integralismo forçou-se então, a modificar sua mensagem e seus preceitos doutrinários, no momento em que a atenção da sociedade estava voltada para a reconquista de direitos civis e políticos que lhe haviam sido extirpados: dentre eles, a livre iniciativa política, a liberdade de voto e de coligações partidárias. Nos doze primeiros anos de sua atuação (1945-57) o Partido de Representação Popular – PRP (veia partidária do “novo integralismo”) procurou afastar-se de todos os preceitos que lembrassem a primeira atuação integralista. No entanto, a partir de 1957, o que antes era um discurso diluído passou a partir daquele momento a ser conduta do movimento, que passou então a atuar como incentivador da rememoração de um passado, entendido por eles como “glorioso”, no qual o integralismo ocupara lugar de destaque. Perceba, portanto, que o movimento integralista sempre foi maior que sua representação política, o PRP, afinal de contas não era o partido, mas a ação político/cultural da ideologia que financiou esta retomada. Procurou-se então se aproximar dos ritos, alegorias e símbolos oficializados no integralismo dos anos 1930 como forma de reafirmar o movimento que, perdia cada vez mais adeptos. Deste quadro complexo foi possível depreender que a publicação da Enciclopédia do Integralismo surgiu como uma tentativa de propagandear a retomada ideológico/simbólica do

231 movimento, apresentando-se à sociedade como um movimento que objetivava a ascensão ao poder e o combate ao comunismo.

Também se tornou possível perceber que a Enciclopédia do Integralismo foi, antes de tudo, um instrumento de aglutinação de vários grupos diferentes, pertencentes ou não ao movimento, que visava redimensionar a dar visibilidade dos autores selecionados, em um momento que muitos destes nomes já não mais atuavam no integralismo. Deriva disto apenas a primeira de várias contradições percebidas nesta pesquisa. Pois, como sustentar uma publicação com discursos e escritos de pessoas que não comungavam mais da cartilha integralista? Este é um elemento fundamental deste trabalho porque, como foi demonstrado, parcela majoritária dos sujeitos presentes nos escritos faziam parte de uma “ala-não mais integralista”, no momento em que o compêndio é publicado. Aliás, como se tratou de uma seleção planejada e executada exclusivamente por uma pessoa, o proprietário das Edições GRD, este compêndio expressou antes de tudo, as preferências idiossincráticas do editor destes volumes, cuja tendência conservadora fora alimentada pela interlocução que este manteve ao longo da vida com chefe integralista, Plínio Salgado.

Entende-se que sua compilação só foi possível graças à conjuntura daquele período, momento especial com relação ao crescimento dos meios de comunicação e difusão dos mesmos, o que também possibilitou a construção de uma rede de sociabilidades entre integralistas diversos. Nesse sentido, este trabalho buscou demonstrar que os autores selecionados na Enciclopédia do Integralismo possuíam uma relação que ia além da afinidade meramente partidária, demonstrando pontos de contato entre suas biografias que não eram apenas os da militância, mas muitas vezes, pessoal, profissional e mesmo emocional. Para isso, a percepção desta sociabilidade pôde ser mais bem expressada a partir da leitura de um projeto de cultura política específica, que sustentou a base desta pirâmide de relações pessoais. Paralelamente, a utilização da análise prosopográfica, possibilitou entender que um estrato menor deste grupo (uma vez que quase metade dos dados biográficos dos sujeitos estudados não foram encontrados dada a escassa documentação existente sobre tais personagens) não compartilhava a visão de mundo, centrada na anuência do líder integralista. A leitura que se depreende deste mosaico integralista é que a pluralidade que caracterizou os artigos expressos na Enciclopédia foi muito mais mote

232 propagandístico de seu editor do que uma comprovação empírica, uma vez que, a maioria dos escritos subscrevia a chancela pliniana, majoritária no compêndio. Dito isso, a opção de se estudar a Enciclopédia do Integralismo como um lugar de memória integralista, bem como um lugar de fermentação intelectual, de relação afetiva, e ao mesmo tempo viveiro e espaço de sociabilidade, foi a chave para perceber mais que um amontoado aleatório de escritos, saídos da engenhosidade de um editor pitoresco. No entanto, uma questão permanece inalterada: os integralistas viam na publicação da Enciclopédia uma tentativa de redenção perante tudo o que havia construído e esquecido por parte da militância. Congregava, assim, um caráter memorialista, no sentido, de atribuir valores às práticas do integralismo do pré-guerra. Corroboro a afirmação de que esta publicação, antes de se constituir num êxito editorial, político e mesmo discursivo, mostrou ser uma tentativa de ressonância mediana no reavivamento das memórias integralistas. Neste sentido, a noção sobre o êxito deste empreendimento é bastante diferente entre os integralistas e os pesquisadores do integralismo, pois os primeiros acreditam que o simples fato de pesquisadores estarem interessados em redescobrirem a Enciclopédia já aponta para sua dimensão exitosa.

Em contrapartida, o fato de dezenas de escritos integralistas terem sido compilados em forma de uma publicação, e desta ter chegado a uma parcela ainda não computada de militantes por meio de mala direita, não informa o quanto estes escritos tiveram, de fato, papel transformador na tentativa do integralismo de se fortalecer simbolicamente. O êxito desta publicação, se é que se deu, reside no fato dos integralistas conseguirem por tempo determinado (não raro, curto) colocar na ordem das discussões vigentes o que foi este movimento político. Ao contrário, o que se percebe é que o projeto editorial acabou por se transformar em uma vitrine do êxodo de ex- integralistas, que no período em que o conjunto de escritos foi publicado não faziam mais parte nem do partido PRP, nem do movimento integralista, transformando a Enciclopédia em um lugar de memória de um movimento representado por pessoas que não mais faziam parte de seus quadros, nem tampouco legitimavam as idéias contidas neste compêndio. Cabe ainda lembrar, que este conjunto de escritos refletiu as idéias de três gerações de integralistas (dos anos 1930, 1940 e 1950), com uma proporção esmagadora para os escritos datados dos anos 1930.

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Podemos aferir que esta publicação foi mais um demonstrativo panorâmico de como o integralismo se apresentou ao longo de seu curso. Talvez o êxito esperado por seu editor, tenha sido congregar gerações distintas. No entanto, cinqüenta anos depois de sua edição fica a pergunta: qual foi o legado deixado por estas gerações? Ainda hoje nos falta resposta plausível para esta indagação. O que podemos afirmar, é que, os integralistas dos finais dos anos 1950 legaram para seus descendentes ideológicos um espólio de ações, discursos e práticas que tinha na leitura radical de mundo o esteio para sua sobrevivência. A importância de se estudar o integralismo (em suas diversas manifestações) se pauta, portanto, pela necessidade de se entender e interpretar as diversas culturas políticas ligadas ao conservadorismo. Este trabalho legitima a idéia de que o integralismo foi a versão fascista brasileira, mas antes de tudo, procura assegurar que houve gradações em seus elementos fundantes, e que estes merecem ser desmistificados. Atento às diversas pesquisas realizadas sobre o tema, este trabalho dialogou com as já consagradas reflexões historiográficas acerca da matriz autoritária integralista, e não objetou o consenso de que o integralismo foi um dos mais atuantes signos de tendência autoritária no Brasil pré -1964.

Por tudo o que foi elencado entende-se que a Enciclopédia do Integralismo sugeria a seus leitores a manutenção da valorização de seu passado/presente funcionando como âncora numa tentativa desesperada de reviver o ocorrido, lembranças amplificadas pela certeza de que não eram mais os mesmos. E, a despeito do discurso integralista resistir à oxidação, suas memórias enfraqueceram-se com o tempo, o que acentuou definitivamente seu anacronismo. Todas essas questões ajudaram a construir a trajetória deste estudo. De 2002 quando pela primeira vez entrei em contato com a Enciclopédia (ainda no mestrado, e naquele momento sem muitas ferramentas para me aprofundar nas suas contribuições e contradições), até o dado momento, esta trajetória foi recheada de surpresas e de reflexões, processo que entendo ser interessante compartilhar. Em um rápido retrospecto, apreendo que os motivos que me levaram a estudar o integralismo foram se modificando ao longo da pesquisa, análise, e diversas redações deste trabalho (tanto para a qualificação, quanto para a defesa propriamente dita). Se, inicialmente eu estudava o integralismo para perceber dissonâncias do discurso direitista (proposta que, como tempo se mostrou minimalista), com o passar das leituras e discussões, o foco se ampliou.

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O discurso conservador do integralismo permaneceu como elemento de minhas indagações, mas não como elemento único. A diversidade contida nos escritos daquele compêndio me fez ampliar os interesses sobre os tons da dinâmica integralista. Antes, questionava o discurso e a representação hermenêutica do que os integralistas buscavam. Depois, o amadurecimento da pesquisa me levou a perceber, além do discurso, as ações e as contradições existentes nesse curioso e mutável conservadorismo. Este, sem dúvidas o maior dos desafios para um pesquisador acostumado a lidar apenas com os mecanismos do discurso político. A intersecção entre os aspectos simbólico-culturais e discursivo-analíticos me viabilizou ampliar os focos e as perspectivas com as quais construí esta análise. Finalizando, o caminho percorrido neste trabalho possibilitou a percepção de que os integralistas, no momento em que publicam o compêndio buscavam solidificar seus espaços de atuação e destaque no cenário político nacional. Esta constatação foi decisiva para que o conjunto de volumes fosse encarado por Gumercindo Rocha Dórea - e parte da militância- como uma proposta articulada de propaganda e sobrevivência política. Neste cenário, os doze volumes da Enciclopédia do Integralismo, lograram um êxito momentâneo, mas evidenciou e representou também, o explicito êxodo das grandes lideranças que nos anos 1930 forjaram o movimento. Conclui-se com isso, que a Enciclopédia (seus artigos, autores e editor) se constituiu no ápice de uma trajetória de aparições mais ou menos tímidas que o integralismo teve em sua segunda incursão. Calcada na memória e no passado a Enciclopédia do Integralismo mostrou ser um instrumento de propaganda e cooptação com relativa adesão. Faltam-nos, agora, maiores estudos sobre seus aderentes, o que certamente ampliará os debates sobre este objeto tão controvertido da política conservadora nacional. Por isso, buscou-se analisar partes desta história, chamando a atenção para o fato de que, com ou sem lentes de aumento, o integralismo do pós-guerra merece ser mais bem interpretado.

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ARQUIVOS, CENTROS DE DOCUMENTAÇÃO E ACERVOS CONSULTADOS

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Academia Brasileira de Letras Academia Brasileira de Letras Jurídicas Arquivo do Estado de São Paulo Arquivo do Estado do Rio de Janeiro Arquivo Ernani Silva Bruno (AESB) IEB – USP Arquivo Público Municipal de Rio Claro – SP – “Acervo Plínio Salgado” Biblioteca Central da Universidade de São Paulo Biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo Biblioteca da Faculdade de Direito de Recife Biblioteca da Faculdade de Direito, Filosofia e Letras - Rio de Janeiro Biblioteca da Faculdade de Farmácia da Universidade de São Paulo Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica. PUC- SP. Biblioteca Mário de Andrade Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro Casa de Rui Barbosa. Coleção: Lauro Escorel Casa de Rui Barbosa. Coleção: Leopoldo Ayres Casa Plínio Salgado de São Paulo Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa da Unesp – Campus de Assis Centro de Documentação sobre a AIB e o PRP de Porto Alegre – RS CPDOC – Fundação Getulio Vargas Fundo Pessoal Belisário Penna, DAD-COC – Fazenda Santa Bárbara - RJ Ordem dos Advogados do Brasil – São Paulo

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ANEXOS

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QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO

1 ª GERAÇÃO

QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

Autores Data de Profissão declarada Curso Superior/ Estado da Teve participação Atuou em Quais funções Funções e vínculo com o O que diziam sobre o O que dizia sobre o Seus textos Quando constituintes nascimento e Outras ocupações da carreira Local de federação em que legislativa? quais desempenhava Integralismo no período integralismo no período de integralismo após se selecionados para a EI morreu era da morte formação atuou partidos? no período de da publicação militância desvincular versavam sobre integralista? Enciclopédia sua militância da EI do integralista? Integralismo por ordem de aparição no compêndio1 Plínio Nasceu em São Jornalista, Filósofo e político Filósofo São Paulo, Rio de Deputado Federal pelo Partido Chefe supremo da Presidente do PRP - A orgânica do “O Salgado Bento do autodidata Janeiro e Brasília Paraná em 1958 e por São Republicano AIB/ presidente do Partido de Representação “Ninguém pode afirmar que Nunca se desvinculou. Pouco movimento e suas integralista Sapucaí - SP, (embora tenha Paulo em 1962, ambos pelo Paulista Partido de Popular - chefe honorário uma verdade deixa de ser antes de morrer asseverou: funções básicas na não deixa de em 22 de sido eleito pelo PRP. Foi também candidato AIB Representação e simbólico da retomada verdade por ter menor número “Os homens se vão, mas o sociedade dita “ideal” ser janeiro de 1895 estado do Paraná) à presidência da República, PRP, Popular do integralismo. Era de adeptos, portanto, não integralismo permanecerá!” integralista”. — Morreu em em 1955, obtendo cerca de ARENA deputado federal pelo importa quando, nem onde, o Esta frase de São Paulo, em 8 8% dos votos. Após 1964 ele Paraná e presidente do integralismo permanecerá Salgado de dezembro de juntou-se a Arena (Aliança PRP – neste período foi vivo! Para sempre! Por isso expressa o 1975 Renovadora Nacional) e teve candidato à presidência do afirmo que é a única salvação que ele foi (80 anos) mais dois mandatos de país, com pouco menos de do Brasil. O despertar da até o fim da deputado federal: 1966 e 8% dos votos válidos. Nação!” vida. Tornou- 1970. se chefe supremo da “milícia do Além”.2 Nasceu em 29 Médico sanitarista, também atuou Medicina - na Bahia, Rio de Foi vereador pelo município Partido Rep. Membro da Câmara Já era morto Sua adesão ao Integralismo foi “Trata-se de uma doutrina Volume 2 – Trechos da Simpatizante Belisário de novembro como Jornalista - Em 1928, ocupou Faculdade de Janeiro e Minas de Juiz de Fora (MG), onde Mineiro e AIB dos 40 e chefe do justificada em uma carta: “Do nacionalista que visa o bem carta escrita ao diretor sim, mas não Augusto de de 1868, em a chefia do Serviço de Propaganda Medicina do Rio Gerais (como clinicava, no ano de 1903. Departamento de exposto posso responder que do ser humano e a inter- geral do jornal Correio militante. Oliveira Barbacena e Educação Sanitária. Em 1930 de Janeiro. político), e Em 1928, ocupou a chefia do Saúde Pública e sou integralista, porque já o relação com Deus. Não da Manhã Penna (MG)- Morreu assumiu a chefia do DNSP. Doutorou-se em Alagoas, Serviço de Propaganda e Higienização da AIB era desde mais de vinte anos; responde mais aos modos em 4 de Durante dois breves períodos, em 1890, pela Pernambuco, Educação Sanitária. Em 1930 porque creio em Deus e pratico políticos do Brasil, depois “ Com relação a nós... novembro de setembro de 1931 e dezembro de Faculdade de Paraíba, Rio assumiu a chefia do DNSP, a moral cristã; porque não sou que Getulio o destituiu, mas disse: em 4 anos eles 1939, no Rio de 1932, ocupou interinamente o Medicina da Grande do Norte (Departamento Nacional de um instintivo e quero o permanece sendo uma eram poucos... Hoje são Janeiro Ministério de Educação e Saúde. Ao Bahia. e Rio Grande do Saúde Pública) em primado do espírito sobre a proposta racional, mais de 1 milhão de (71 anos) final deste ano, exonerou-se do Sul, quando, em substituição a Clementino matéria; porque, finalmente, espiritualista e capaz de integralistas inscritos DNSP e filiou-se à AIB. 1928, ocupou a Fraga, que se exonerara tenho plena e absoluta regenerar os maus (...).Pois bem este é o chefia do Serviço devido à vitória da confiança em Plínio Salgado, o brasileiros (...) é como a integralismo:o único de Propaganda e Revolução de 30. criador e o chefe nacional do metáfora do anticorpo: capaz de desviar o Educação integralismo, predestinado por jamais se desvincula do caminho que termina no Sanitária. Deus para libertar o Brasil do corpo e ainda bem que inferno bolchevista” (A regionalismo destruidor da permanece como força de Offensiva, 2/9/1937)”5 pátria, da sua escravização ao ação cristã no país”4 (1939, capitalismo internacional e da pouco antes de morrer) EI Vol. 9 – A mulher, a calamidade da peste família, o lar e a escola6 bolchevista”.3

Lúcio José Nasceu em Engenheiro e Advogado Aos 25 anos Minas Gerais Em 1896 foi eleito vereador PRM (Partido Militante católico Já era morto “O integralismo não é dotado O conceito filosófico e Não foram dos Santos Cachoeira do Foi catedrático na Escola de Minas formou-se na da Câmara Municipal de Republicano de santos e nem pretende jurídico do Estado, Destaca a relação do encontrados Campo – MG, em Ouro Preto e na Escola de Escola de Minas Ouro Preto. Ainda em 1908 Mineiro) e realizar o paraíso na terra, professado pelo integralismo com o registros, em 27 de julho Engenharia de Belo Horizonte. De de Ouro Preto. foi eleito Presidente da AIB - embora católicos de fé estejam Integralismo, não colide, catolicismo e o mas provável de 1875. 1924 a 1927 foi Diretor de Em 1908 formou- Câmara e Agente Executivo Militante representados nele. (...) assim nem essencial, nem corporativismo: mente sim. Faleceu em Instrução Pública do Estado de se em direito pela do Município de Ouro Preto sendo, em consciência não acidentalmente, com a

1 Além dos indivíduos destacados por ordem de aparição no compêndio, há também aqueles que não foram enquadrados em gerações devido a falta de dados biográficos. Estes aparecem nos volumes da Enciclopédia do Integralismo como responsáveis por assinaturas de Regulamentos Gerais do movimento, cujos temas abordam, desde a ação moral e cívica do integralista até a estatística do movimento, tais temas aqui apresentados, sobretudo, nos volumes 2, 3, 5, 10 e 11, em: A orgânica do movimento. São eles: Ângelo Simões de Arruda (Direito - O que é o Movimento Integralista Brasileiro e o que pretende - originalmente retirado da Idade Nova, de 9/3/1950 - Reeditado na EI Vol. 5) - Este tema, escrito de maneira proselitista e laudatório foi o primeiro tema sugerido e o primeiro texto escrito para compor a Enciclopédia. (Tudo o que já foi descrito nos volumes da Enciclopédia até o 5º volume consta neste capítulo), Genoino Ferreira Filho, Paulo Lomba Ferraz (Propaganda – irmão de Ernani L. Ferraz), Henrique de Britto Pereira (Saúde), Everaldo Leite, Francisco de Almeida Salles (Estatística e Serviços Sindicais), João Carvalhedo (Educação Moral e Cívica), João Calderan (Órgãos políticos – Província do Mar), Edgard Rocha, Carlos Matheus, José Soares Arruda (cearense de 1922 – Vol. 8 sobre os perrepistas), Martins Moreira (Realizando a Democracia - Reeditado na EI Vol. 4) e o poeta, ensaísta, político, professor e jornalista Silveira Neto (1872-1942). 1 Carta de Plínio Salgado a Gumercindo R. Dórea de 12 de setembro de 1957. Arquivo Público Municipal de Rio Claro. Fundo Plínio Salgado. 2 A Milícia do Além era com os integralistas chamavam a legião de integralistas falecidos. Assim, dentro do integralismo havia a idéia de que seus membros não morriam, tornavam-se membros de uma Milícia do Além. 3 Penna, Belisário. Porque sou integralista. Datilografado, 29/6/1937 (Fundo Pessoal B. Penna, DAD-COC). 4 Pereira, Augusta S. A Morte do Dr. Belisário Penna. Fazenda Sta. Bárbara, dezembro de 1940 (Fundo Pessoal B. Penna, DAD-COC). 5 EI, Vol. 2, p.8-22. 6 Chama a atenção um fragmento deste volume em que o sanitarista aponta suas reflexões sobre como entendia o espaço e a função da mulher na sociedade. É no mínimo curioso: “(...) Urge, a bem da humanidade, um corretivo à loucura da mulher de querer igualar-se ao homem em tudo e por tudo , em contraposição as leis biológicas quando o que lhe compete é procurar corrigi-los dos seus vícios e desregramentos”. EI Vol. 9, p.43. QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

1944. Minas Gerais. De 1931 a 1933 foi Faculdade de (cargo hoje correspondente posso ser comunista, doutrina definida pela Igreja (69 anos) Reitor da Universidade de Minas Direito de São a prefeito). Mas não estou obrigado a dar e poderá um católico, “tuta Consulta sobre o Gerais. Foi fundador e primeiro Paulo. preferência a monarquia sobre conscientia”, admiti-lo? O Integralismo reitor da Faculdade de Filosofia de a república, se ambas sistema de organização (A ligação entre a Igreja Minas. Era membro do Instituto respeitam a ordem cristã. (EI, social, propugnado pelo católica, o cristianismo e Histórico e Geográfico e da Vol. II) Integralismo, responde ao o Integralismo...) EI, Vol Academia Mineira de Ciências. exposto em documentos 2. (retirado da Ou ainda pontifícios, máxime na Panorama, ano I, nº 12, Rerum Novarum e 1937) Aqui, faço minhas as palavras Quadragesimo Anno. (in de La Tour Du Pin, católico Panorama, ano I, nº 12, social francês: “A revolução 1937). Reeditado nA Marcha, histórica, que fez passar a 30/09/1954. direção do mestre ao patrão e deste ao capitalista, acabará por passá-la à corporação adptada aos novos tempos”. Eu completaria: Este sucessor é o integralismo!!!

Alcebíades Nasceu em São Professor de Direito na Direito na Rio de Janeiro Não, pois já havia falecido AIB Advogado e Já era morto “Haveis de reconquistar o Não foram encontrados Foi publicada uma carta Não Delamare Paulo, em 1888 Universidade do Brasil e Jurista Universidade do procurador da AIB em Brasil, não pela força bruta das registros endereçada à mocidade Nogueira da - e morreu no Advogava para a Ação integralista Brasil e Jurista diversos casos armas, mas pelo poder integralista das Gama Rio de Janeiro, Brasileira invencível das almas. Sois os Faculdades de Direito, em 1951. arautos do advento da Idade intitulada: a Flâmula (63 anos) Nova, que breve será Sagrada do Sigma. instaurada no Brasil sob signo Publicada originalmente sagrado do Cristo pelas mãos em 1937, na A Offensiva. do integralismo (...) mas, em EI Vol. 2. nossas fileiras não assentarão Curso de Economia praça os covardes, os política – criado por trânsfugas,os bifrontes, os Delamare e adotado na energúmenos...todos este que, Faculdade Nacional de por suas ignonimias Direito da Universidade febris,nem ao menos sabem, do Brasil. EI V de acordo com a norma,o que de fatos são...” (Enciclopédia do integralismo, vol. 2 – retirado de um texto publicado na Offensiva de 9/5/1937)

Rodolfo Nasceu em Médico Medicina, RS e RJ Não Não teve Membro do Conselho Já era morto “Na antevisão de um futuro Não foram encontrados Discute a relação do Não Josetti Porto Alegre Presidente da Sociedade de Cultura (Faculdade de carreira Supremo da AIB, do não muito remoto eu vejo registros integralismo com a (RS) em 7 de Artística do RJ era Musicólogo e Medicina do Rio político- Departamento de nitidamente o integralista tal cultura artística em dois setembro de violinista Apelidado de: _ “A de Janeiro) partidária Cultura Artística, de como foi o heleno, generoso e momentos: O sentido 1888 e faleceu pastoral de Bethoven”. Foi Doutrina e Estudos e culto, em atitudes ufanas mas Estético do Integralismo no Rio de Fundador da Cadeira n. 39 da Membro do benignas, expressão do e o Sentido cultural e Janeiro em 25 Academia Brasileira de Música. Secretariado Nacional perfeito equilíbrio, de vigorosa artístico do integralismo de março de saúde física e espiritual... Este (retirado da Offensiva, 1946. é o homem do futuro. Este é o 18/5/35) (58 anos) Integralista de amanhã. O integralista ideal!”EI, Vol. II.

Victor Pujol Não foram Oficial da Marinha e jornalista Carreira Militar na Não foram Não Não teve Diretor do Jornal Não era mais vinculado ao Não foram encontrados Discute a idéia de Estado Não encontrados Funda a revista “É do Balacobaco“ Marinha do Brasil encontrados carreira Monitor Integralista e movimento O Integralismo sendo um registros integral registros (1931) registros político- Membro do Conselho movimento profundamente (EI, vol 2) partidária Supremo da AIB e nacionalista e com finalidade membro da Câmara no Estado Integral tem pontos Regulamento do jornal dos 40 de contato com o fascismo e o Monitor Integralista. Em hitlerismo, mas se distingue EI Vol. 10 – A orgânica destes pelo seu caráter da AIB. eminentemente brasileiro. É um movimento original, com uma filosofia própria.. PUJOL, V. Rumo ao Sigma. 3.ed. RJ: Livr. H. Antunes, 1936, p.160-1. QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

Apud. (EI, Vol. II)

José Madeira Nasceu em Médico especializado em diabetes, Faculdade de Rio de Janeiro Não Não teve Membro do Conselho Já era morto “Em verdade, quando uma Não foram encontrados Discute o Movimento do Não de Freitas Alfredo Chaves jornalista Foi também um Medicina, da carreira Supremo da AIB e inteligência lúcida e livre adere registros Sigma , Sua excelência (ES), em 03 de importante caricaturista, que sob o Universidade do político- Departamento de à Verdade que o Sigma prega, moral, O sentido abril de 1893 e pseudônimo de Mendes Fradique Brasil, formando- partidária Propaganda, chefe é que uma fé viva já a inflama patriótico do Sigma, seu faleceu no Rio (caricatura do personagem de Eça se m 1913 provincial da GB e empolga e se identifica. É nisso sentido vocacional como de Janeiro, no de Queiroz, Fradique Mendes) membro da Câmara que consiste a diferença entre uma mística e uma dia 06 de abril publicou na revista Dom Quixote dos 400 o ato de tornar-se um reação nacionalista (EI, de 1944. (1919) e depois em livro uma integralista e de ajuntar-se a Vol. 2) (59 anos) História do Brasil pelo Método qualquer outro partido, do

Confuso, versão humorística dos molde dos que pululam no seio principais acontecimentos orgânico dos Estados Liberais. nacionais7 Se o Integralismo fosse apenas um puro e simples partido político, com a natureza, filosofia de partido, então, de certo, talvez nula teria sido a reação que haveria de determinar na vida política do país, em não importa que etapa da vida... Esta é a diferença! (EI, Vol. II) Tasso Nasceu em Advogado e poeta Em 1927 lançou Universidade do Rio de Janeiro Elegeu-se deputado estadual Não Na AIB teve papel de Era simpático ao Não foram encontrados Não foram Azevedo da Curitiba, PR em a revista Festa, que reunia a Brasil - Faculdade em Curitiba PR, em 1930. divulgador e movimento, mas não mais De todos os movimentos registros Faz um resumo dos encontrados Silveira8 1895 e faleceu chamada "corrente espiritualista" de Direito do Rio doutrinador cultural e militante. Exercia suas políticos de ação construtiva elementos básicos do registros, no RJ em 1968 do modernismo. Exerceu as de Janeiro, 1918. religioso, não atividades de jornalista e no planeta, o Integralismo integralismo: discutindo mas, (73 anos) atividades de jornalista, deputado, exercendo papeis professor universitário ficará pela circunstância que o Modernismo e provavelment professor universitário, poeta e políticos eletivos referida, e pelo seu triunfo Integralismo são e sim. dramaturgo. stricto senso completo, como a que mais compatíveis desde a claramente expressa o poder origem... .Revolução da idéia na dialética da espiritual. O Chefe história, em formal (EI, Vol. 3) desmentido à doutrina marxista.” (Em discurso de 1937, reeditado na EI, Vol. III) Augusto de Nasceu em Jornalista e historiador Carreira militar no Minas Gerais e Não Não teve Não foram Militante na primeira e “Como o Integralismo, a Não foram encontrados I - O Espírito Integralista Era Lima Jr Minas Gerais. Coronel do Exército Brasileiro, Exército Rio de Janeiro carreira encontrados registros segunda fases do Inconfidência Mineira foi uma registros da Inconfidência Mineira simpatizante, membro da Justiça Militar Federal, político- movimento integralista, conjuração de vontades de salvar (publicado inicialmente mas não Chanceler da Medalha da partidária teve efetiva função no o Brasil das espoliações do n’A Offensiva de 2/4/37) atuava mais Inconfidência, designado pelo período pós-guerra regime colonial, dando-lhes (EI, vol.3) junto ao presidente Getúlio Vargas como enquanto intelectual de independência e liberdade”. Por Trata-se de uma movimento, coordenador do traslado dos restos projeção nacional esses dois ideais, juntaram-se inusitada comparação nem ao mortais dos Inconfidentes da elementos de todas as classes entre o movimento partido. Europa e África para o Brasil – onde sociais, irmanados por um integralista e a estão depositados no Panteão dos sentimento unânime de Inconfidência Mineira, Inconfidentes, no Museu da solidariedade e sacrifício pelo Inconfidência, em Ouro Preto, MG. bem comum. A hierarquia ditada Foi jornalista, acadêmico e pela capacidade, tão intrínseca à historiador. Membro do instituto ação integralista, culminou na de geografia e história militar de trama inconfidente. Nessa Minas Gerais – Belo Horizonte. Inconfidência, como no Além disso, possuía um cargo Integralismo, não havia lugar de Procurador Marítimo. Foi para os materialistas patrono da Academia Militar de interesseiros, mercadores de Letras de MG “Guimarães Rosa” tudo. O hipócrita, que é na onde detinha a cadeira primeira inconfidência

7 Para saber mais sobre Madeira de Freitas ver: LUSTOSA, Isabel. Brasil pelo método confuso – humor e boemia em Mendes Fradique. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993 e CARNEIRO, Cleverson Ribas. Mendes Fradique e seu método confuso: sátira, boemia e reformismo conservador. Tese de doutorado em Letras, Área de Concentração em Estudos Literários, Programa de Pós-Graduação em Letras, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes.UFPR.2008 8 Para saber mais sobre Tasso da Silveira ler o artigo publicado pelo critico literário Wilson Martins: “O poeta católico” em: O GLOBO, 13 de dezembro de 2003. Versão online. QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

Aeropagítica de nº 4. Foi um dos representado pelo senhor signatários do Manifesto dos Joaquim Silvério dos Reis é agora Mineiros de 24 de outubro de representado por aqueles que 1943, que visava romper a censura não toleram o integralismo. A e se aproximar da democracia. Inconfidência mineira retomou seu surto regenerador na Ação Integralista Brasileira. Integralismo e Inconfidência são o mesmo. Coincidência notável! (EI, Vol. III).

Juvenil da Nasceu em São Médico Catedrático da Rio de Janeiro Não Não teve Membro da Câmara Não foram encontrados “A organização político- Faço questão de afirmar que Discute o Estado Sim, Rocha Vaz Pedro de Iniciou os estudos de uma ciência Faculdade carreira dos 40, era registros científica integralista tem no minha ligação com o Integral e Bio – simpatizante Alcântara, MG, nova, a biotipologia, estudo das Nacional de político- chefe regional na seu programa: ‘dar ao homem integralismo baseava-se mais Pscicologia individual do em 1881. constituições, temperamentos e Medicina (1919) partidária região do noroeste elementos para que ele realize na “reciprocidade ideológica, integralista Faleceu no - Rio caracteres. Formou uma escola de fluminense (Cambuci as suas justas aspirações e menos na anuência (editado inicialmente nA de Janeiro, em clínicos, que ganharam fama. Autor e São Fidelis) materiais intelectuais e morais. partidária” (Correio Ofensiva de 16-1937) 1964. da reforma de ensino que teve seu Vinculadas estão as inspirações Paulistano, 1957) Reeditado na EI, Vol. 3 nome.9 materiais ás duas outras, (83 anos) qualquer que seja a função do homem no Estado Integral, onde ele não é o que quer ser, mas o que pode ser, pois só assim se tornará útil à coletividade e a si mesmo. Portanto, a organização científica do trabalho sem o conhecimento do material humano será sempre uma obra mutilada e de escassa eficiência. O Estado Integral tem necessidade imprescindível de conhecer o HOMEM – para que este seja útil a si próprio e à coletividade. Esta é a busca do integralismo” (EI, Vol. III)

Médico farmacologista Professor Não foram São Paulo Não Não teve Membro do Conselho Mantinha-se militante e “O que pregamos nós e o que Não foram encontrados Liberalismo, Socialismo Sim Não foram Catedrático de encontrados carreira Supremo da AIB Chefe fervoroso defensor do queremos? Modificar a forma registros e Integralismo: (a Jaime Regalo encontrados Farmacologia da Faculdade de registros político- arqui -provincial, - movimento republicana do país? Não. Nós questão do sindicalismo 10 Pereira registros Medicina da USP. Entre 1934 e 35, partidária chefe da primeira queremos uma república como reforma de concordou em ceder algumas circunscrição federativa. Alguma autocracia? representação) dependências que a Cadeira Não. Queremos a democracia. (escrito originalmente ocupava no 3o. andar do prédio da Que poderes desejamos para a em 1935) Reeditado EI – Faculdade, para que ali se nação? Os poderes legislativo, Vol. 3 instalasse o Curso de Química da executivo e judiciário. E se então recém criada Faculdade de queremos uma república Filsofia, Ciênciase Letras da USP. Foi federativa, democrática, com o ele quem avisou Salgado sobre o presidente da nação escolhido ataque ao Palácio da Guanabara, na eleição, e reconhecemos antes do determinado. Na década como necessário os 3 poderes, de 1980, tornou-se nome de como dizer que queremos avenida na cidade de Guarulhos – modificar o regime?Fala-se por SP. aí e ninguém mais fala isto que os próprios liberais democratas, entre eles os homens do governo, que os integralistas pretendem modificar o sistema de governo no país... Há pouco mais de 3

9 O principal objetivo da reforma, chamada de Rocha Vaz foi reforçar o controle do Estado, particularmente do governo federal e as medidas mais importantes foram: controle mais rígido sobre a equiparação das faculdades livres às oficiais; diminuição do poder das congregações das faculdades oficiais; aperfeiçoamento do caráter seletivo/discriminatório dos exames vestibulares. A reforma pretendia impedir a entrada da política e de ideologias não-oficiais no ensino superior, estendendo ao ensino secundário a polícia acadêmica, depois chamada de polícia escolar. Há também no seu currículo o fato da Sociologia como matéria de classe escolar ser decorrência desta reforma do ensino brasileiro, promovida por ele em 1925, o que estabeleceu a sociologia como cadeira da formação clássica. Ver: MOREIRA, Daniel A. Didática do Ensino Superior – Técnicas e Tendências. 1ª ed. São Paulo: Editora Pioneira, 1997. 180p. 10 A grafia do nome de Jayme Regalo aparece por diversas vezes escrita de maneira diferente, ora como Jayme, ora como Jaime. Mas, seu nome de batismo é Jayme (com y). Como na maioria das vezes a grafia era descrita com “i”, ao invés de “y”, optou-se por manter esta forma na grafia de seu nome. QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

anos quando o nosso chefe lançou a idéia integralista no Brasil ele, patrioticamente afirmou que esperava a vitória do Sigma após 10 anos de pregação cívica. Aqueles que sinceramente atentarem para as nossas atitudes e as nossas palavras, verão que a revolução a nós apregoada é uma revolução de idéias e consciência, por isso que marcamos um prazo de 10 anos para nossa vitória final”. (EI, Vol. III). San Thiago Nasceu em 30 Advogado Direito / Rio de Janeiro Retornou à vida política em AIB (anos 30) Membro do Revela-se apenas um A relação entre o integralismo Foi taxativo, no encontro O Integralismo e as Não, a Dantas de agosto de No período da militância Faculdade 1955, ingressando no Partido Secretariado Nacional, admirador da figura e as forças armadas deve se que, posteriormente ao Classes Armadas ( A despeito de 1911, no Rio de integralista era um dos advogados Nacional de Trabalhista Brasileiro (PTB). PTB (anos 50) do Conselho Jurídico intelectual de Plínio resolver. O problema das golpe de 1937, se realizou Offensiva, 1/11/1934) EI sua simpatia Janeiro. Faleceu do movimento. Depois de seu Direito, RJ, Em outubro de 1958 elegeu- Nacional e da Salgado Retornou à vida classes armadas decorre de entre ele, Galotti e Francisco Vol. 4. pela figura de em 6 de afastamento do integralismo, entre formando-se em se deputado federal por Secretaria Nacional de política em 1955, uma situação moral ainda não Campos,ambos convidados “Preparação das elites Plínio setembro de 1945 e 1946, trabalhou no 1932 Minas Gerais Imprensa ingressando no Partido compreendida: Este problema, por este para “enaltecer o integralistas”, Aula Salgado. 1964, na Conselho Nacional de Política Trabalhista Brasileiro dentro do integralismo já está advento do Eastdo Novo”: magna em meados de mesma cidade Industrial e Comercial. Em 1949, (PTB). Em outubro de 1958 superado... Não é meu “Professor, não queremos 1934: Aula sobre o (53 anos) assumiu a vice-presidência da (segundo ano de propósito estudar o que o servir o poder, queremos Direito corporativo. EI refinaria de petróleo de publicação da EI) elegeu-se Integralismo reserva exercê-lo!”11 Vol.9 Manguinhos, cargo no qual deputado federal por particularmente ao Exército e à permaneceria durante nove anos. Minas Gerais. Nomeado Armada... Quero mostrar que San Tiago Dantas também se Edita juntamente com Atuou também como assessor pelo presidente Jânio ordenando a vida nacional lembraria de sua passagem Ernani Silva Bruno o pessoal de Vargas durante seu Quadros embaixador do segundo um ritmo, enfeixando pelo integralismo retendo Estatuto da Escola segundo governo (1951-1954) Brasil na ONU em 22 de os autos do governo numa certa ambigüidade em suas Brasileira de Jornalismo. agosto de 1961, não unidade que lhe é conferida palavras. Em resposta a uma Assinado em BH 19 de chegou a assumir o cargo pela sua estrutura teórica, o pergunta de um repórter do dezembro de 1936. em virtude da renúncia de Integralismo ao mesmo tempo jornal A Marcha, folha oficial Editado na EI, Vol IX. Quadros, três dias depois. em que dará à disciplina das do PRP afirmou: “jamais Goulart assumiu a forças armadas, furtará o poderia fechar os olhos para presidência em 7 de soldado à estreita e efêmera o meu passado, mas jamais o setembro de 1961, e San contenda do governo... imitaria ou ficaria limitado a Tiago Dantas foi escolhido ele”. (A Marcha, 19-07-1963)

para a pasta das Relações Exteriores. J. Venceslau Não foram Jornalista Não foram São Paulo Não AIB - filiado Teve influencia em Foi presidente do clube de “A palavra ‘revolução’ é uma Não foram encontrados O que significa Sim Jr. encontrados Teve participação em diretórios encontrados diversos diretórios do futebol União Agrícola das mais desconceituadas do registros “Revolução Integralista” registros integralistas do interior. registros interior de SP Barbarense Futebol Clube, país. Revolução para o povo da cidade de Santa brasileira, já tão iludido e (Retirado de: ‘O Bárbara do Oeste – SP, na infeliz, significa assalto ao Integralismo ao alcance gestão de 1943/46.Não, poder Público, significa apenas de todos’) pois provavelmente já a substituição de alguns havia falecido políticos mal intencionados, no Governo da Nação; significa a substituição de um governo mau por outro péssimo; revolução no Brasil, significa bandalheira, tapeação, rebaixamento moral; heroísmo inútil e significa uma formidável gargalhada...porque ninguém a levará mais a sério. Diferente da revolução Integralista que é coisa bem diferente, senão oposta. Revolução Integralista quer dizer, revolução interior de cada pessoa... agora e

11 Frase que Gumercindo Rocha Dórea atribui a Dantas. Ver: Má fé e falsificação da História. In: O Drama de um herói. Edição da Casa Plínio Salgado, São Paulo, 1990.p.12. QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

sempre...”

Pe. Hélder Nasceu em Padre, depois Bispo Entra para o Teologia, Filosofia Pernambuco e Rio Não Apenas Foi um militante Nenhuma vinculação, aliás, “Precisamos esclarecer que Há controvérsias sobre como “O Integralismo em face Não, ao Pessoa Fortaleza a 7 de seminário de Fortaleza em 1923. no Seminário de de Janeiro vinculou-se a católico muito em finais dos anos 50 diante dos educadores Helder Câmara se colocou do Catolicismo” – Vol. 4 contrário, era Câmara fevereiro de Em agosto de 1931 ordena-se Fortaleza (1923) AIB na influente Helder Câmara se comunistas e liberais, os únicos frente ao seu passado. Há da EI. sistematicam 1909. Faleceu padre, quando passa a organizar a década de notabilizou pela criação e coerentes e justos são os registros que atestam que ente “A Educação e o em Recife, em Juventude Operária Cristã que se Em agosto de 1930 fundação de dois projetos educadores integralistas que quando cardeal disse que referenciado Integralismo” – EI Vol 9. 28 de agosto de ligou á Legião Cearense do 1931 ordena-se sociais: A Cruzada São ultrapassando as vacilações sua passagem pelo como o bispo (Fragmento de um 1999. Trabalho (LCT)12. Em 1932, conhece padre Sebastião, em 1956, cuja criminosas dos mestres integralismo fora um “erro vermelho, em discurso de paraninfo (90 anos) o integralismo. A pedido de Plínio finalidade era dar moradia burgueses, nem aos excessos de juventude”. alusão à sua proferido pelo padre em Salgado, o padre assume a chefia decente aos favelados. O dos mestres russos (...) pois Em outro estrato, extraído vinculação à 1937) de educação da AIB no Ceará. segundo projeto se deu não seremos socialistas de uma entrevista em 1989, ideologia Subordinado a partir de 1936 ao em 1959, quando fundou o intelectuais ou burgueses Câmara disse: "O que marxista – cardeal Sebastião Leme, desde que Banco da Providencia, cuja práticos por conservantismo aconteceu foi isto: o mundo comunista. mudou para ao RJ, o padre foi atuação se deu no ou timidez!”. EI Vol. IX. parecia dividir-se entre o solicitado a se afastar de quaisquer atendimento a pessoas Comunismo e as forças de “Surgiram no nosso caminho, atividades e conseqüentemente do que viviam em condições Direita. Quando surgiu o um sacerdote esclarecido, um integralismo. Acatou o pedido em miseráveis. Em finais dos Integralismo, anunciando diletante e agora um 1937. Salgado entra novamente em anos 50 Helder Câmara se Deus, Pátria e Família, eu despeitado. Com os três contato com o padre e pede-lhe notabilizou pela criação e achava aqueles ideais discutimos e aos três tivemos a que fizesse parte do conselho fundação de dois projetos bastante coincidentes com o impressão de vencer. O que supremo da AIB, composto de 12 sociais: A Cruzada São que eu tinha aprendido no assinalamos é o declínio do membros.Mas, todas as vezes que Sebastião, em 1956, cuja Cristianismo. Mas, cedo, arraial dos acusantes: da o padre fazia um discurso, a finalidade era dar moradia verifiquei que não precisava sinceridade esclarecida passou imprensa integralista o anunciava decente aos favelados. O de nenhum sistema filosófico a diletantismo e termina em como membro do conselho segundo projeto se deu ou político, bastava-me a despeito! (...) Já quanto a supremo da AIB. Por causa disso, em 1959, quando fundou o mensagem de Cristo. Não violência integralista, não Helder Câmara teve de se afastar Banco da Providencia, cuja me arrependo de nenhuma perderemos tempo em definitivamente do partido. atuação se deu no experiência humana que comentar a impressão de atendimento a pessoas tenha vivido. Não me repugnância que Sombra causa que viviam em condições arrependo de ter passado aos seus amigos de ontem pela miseráveis. Portanto suas pelo Integralismo”. Em deslealdade com que vacila preocupações entrevista ao Diário de entre uma super mansidão momentâneas passavam Pernambuco, em hipócrita e uma violência, dele longe das questões 29/01/1989. sim, extremada e imoral...” político-partidárias e (Câmara, com relação à mesmo ideológicas, sendo postura de Severino Sombra13 neste período um bispo em denegrir o Integralismo) EI, carioca muito influente. Vol. IV. 1959.

Arnóbio de Nasceu em Advogado Faculdade de Pernambuco Vereador por Recife – eleito AIB Membro da Câmara Em fins de 50 passou a Quando o Integralismo, como Não foram encontrados Governo Forte Não Souza Graça Viçosa, Alagoas Sociólogo e Economista autodidata, Direito do Recife em 2 de setembro de 1936, dos 400 lecionar Economia política grande movimento de registros (originalmente escrito em 29 de junho Graça foi colaborador em jornais, suplente que entra na vaga e História das doutrinas insurreição nacionalista, em A Offensiva, de 1910. desde os anos de mocidade, em deixada por Gilberto Osório. econômicas nas estabelece para o Brasil um 15/11/1934) Faleceu em Viçosa. Gazeta de Alagoas, Jornal Faculdades de Direito, governo forte, não se aproxima EI Vol. 4 1962, no Recife de Alagoas e periódicos Ciências Econ. e Filosofia das velhas fórmulas de (52 anos) pernambucanos, a exemplo do da UFPe.Nenhuma despotismo Hobbesiano em Diário de Pernambuco, e revistas vinculação no período da que o pensamento se retrai, a especializadas de ciência, filosofia, publicação, a na ser como concordância se apaga e o história e literatura, isto entre os simpatizante do indivíduo se anula. Assim, a fins dos anos 20 e início dos 60, movimento. Permanecia verdade está na totalização quando ampliou seu currículo, lecionando nas faculdades que tudo abrange ou na sendo membro do Instituto de direito e economia do integração que tudo equilibra. Brasileiro de Filosofia e da Recife Associação Latino-Americana de Sociologia. Na UFPe, Graça passou a reger as cadeiras de Economia política e História das doutrinas econômicas e Filosofia do Direito, nas Faculdades de Direito, Ciências Econômicas e Filosofia. Era fluente

12 A LCT, inspirada no salazarismo português pretendia ser uma organização de associações populares e profissionais destinada à defesa dos trabalhadores, tendo como metas a economia distributiva e o regime corporativo. 13 Em agosto de 1931 Helder Câmara ordena-se padre, quando passa a organizar a Juventude Operária Cristã que se ligou á Legião Cearense do Trabalho (LCT)13, criada pelo tenente Severino Sombra. Depois do exílio de Sombra, que aderira á revolução de 1930, Câmara assume , juntamente com Jeová Mota a a chefia da LCT. Então, iniciam-se as divergências entre Sombra e Câmara. QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

em latim e alemão. Antônio Nasceu em 29 Economista Direito - Rio de Janeiro Não, apenas participação Não Membro do Conselho Em 1932, assume “Fala-se muito sobre a “(...) para um operador do O Renascimento do Não Galotti de agosto de Ajuda a fundar a revista Hierarchia Universidade do jurídica no período da AIB Nacional, Secretário rapidamente postos de economia dentro do direito, a ilegalidade deve ser Estado. 1908, em e o CAJU – Centro Acadêmico Brail – Faculdade Nacional de Relações direção na organização, integralismo, o que o primeiramente contestada (...) Texto em que analisa Tijucas, Santa Jurídico Utilitário. Torna-se ativo de Direito, Exteriores tornando-se um dos dez integralismo entende por apreciados os fatos e cronologicamente a Catarina. propagandista do movimento em formando-se em principais secretários economia (...) Assim, explico. permanecendo a razão ou a evolução do termo Faleceu em 4 de reuniões privadas e em artigos pela 1931 nacionais. Ferido nos pontos mais desrazão dos condicionantes Renascimento. Palestra dezembro de Imprensa, quando, a partir da sensíveis, o regime capitalista que regem o fato legal, não inaugural, proferida 1986, no Rio de fundação da AIB, em 1932, assume No período da publicação ensaia uma nova teoria, na cabe outra coisa a não ser numa das Salas da Seção Janeiro. rapidamente postos de direção na da EI, não possuía mas grande ânsia de salvamento seguir a ordem natural da de Doutrinamento da AIB, (78 anos) organização, tornando-se um dos nenhuma relação com o (...) então, surge o sistema constitucionalidade plena (...) 1936. dez principais secretários nacionais, movimento.Em 1957 era esboçado por um grupo de ou seja, os que prezam os Sua fala é calcada na e o responsável pelo setor das funcionário da Light Power professores norte-americanos muros da ciência jurídica não consolidação do sistema relações internacionais, & Company. sob o título de Nova poderiam permanecer integral encarregado das correspondências Tecnocracia. Surge então, o imobilizados em paredes EI. Vol. 4 com organizações congêneres de que se convencionou chamar inconstitucionais (...) veja, a todo o mundo. A este propósito, de Economia Dirigida. Nesse AIB, não o integralismo saíram EI Vol. 5 - Economia por diversas vezes envia manifestos sentido, e a partir disso o de mim (...) já não poderia me Dirigida: Com relação à de apoio e adesão moral a vários estado soviético tomou as sustentar (...) permaneci forma de governo fascista nacionalistas, dos quais se destaca primeiras providências para integralista por mais algum que dirigia tudo para o em 1937 o endereçado aos dirigir a economia. Pela tempo, mas me desfiliei e me Estado, ditatorialmente. nacionalistas uruguaios. Mantendo primeira vez, a população de afastei definitivamente (originalmente compilado seu contato com a doutrina e a um grande país viveu sob conforme os sucedâneos de: A Offensiva, política integralistas até meados de regime da economia dirigida. foram se apresentando” 21/6/1934) 1938, Galotti se afasta após o mal Dirigida para um fim (GALLOTTI, Memórias, 1981, fadado ataque integralista ao determinado: a implantação de p.67) Nestes seus escritos Palácio Guanabara. um regime socialista.. Assim, tratam da economia do equívoco muito maior seria ponto de vista do imaginar que a concepção Integralismo. (o estrato integralista da economia se apresentado é o do Vol. 5 define pela economia dirigida. – sobre economia) A Economia integralista será, sem dúvida, dirigida pelo novo Aula magna. Para as elites Estado em função da do integralismo. Curso de prosperidade individual, da doutrinas econômicas. EI grandeza nacional e da paz Vol. 9 social.”

Miguel Reale Nasceu em São Advogado Direito na São Paulo Em 1927 foi deputado AIB Membro do Conselho Não tinha nenhum vínculo Sobre a economia integral: Em entrevista à TV Câmara O que é o Integralismo Não militava Bento do Filósofo, Jurista e Educador. Faculdade do estadual pelo PRP PTB Supremo Nacional e com o integralismo em (...) o Integralismo econômico, em 2006, ao ser indagado (publicado mais, mas Sapucaí – SP, Conquistou, por concurso, a Largo de São (Republicano Paulista). chefe do finais de 1950. Em finais da ‘ estuda os fatos econômicos pelo entrevistador sobre o originalmente na Revista sempre fez em 6 de cátedra de Filosofia do Direito na Francisco – São Atuou na AIB e depois de sua Departamento de década de 1950 foi do indivíduo e da sociedade no que mudou do Miguel Reale Brasileira, nºs 7 e 8 é um questão que novembro de Faculdade de Direito da Paulo, formando- desvinculação, em 1947, já Doutrina convidado a ministrar Estado: é uma economia em integralista para o Miguel estrato da Cartilha do respeitassem 1910, e morreu Universidade de São Paulo, em se em 1934. afastado do Integralismo, foi cursos e conferências que o Estado está sempre Reale de hoje, respondeu: Integralismo, o fato de ter em São Paulo 1941. Fez parte do Conselho nomeado pelo então sobre Filosofia do Direito presente, enquanto que na "Eu diria que nada. Participei inteiramente redefinida sido, um dia, em 14 de bril e Administrativo do Estado de São governador Ademar de em vários países da liberal estava ausente, e na do integralismo com e ampliada) EI, Vol. 5. integralista. 2006 Paulo, de 1942 a 1945. Em 1947 foi Barros, para a Secretaria da América Latina e da socialista era absorvente, determinação e espírito (96 anos)14 Secretário da Justiça do Estado de Justiça e dos Negócios Europa. No mesmo confundindo com a sociedade, público que nunca me São Paulo, instituindo o Interiores do Estado de SP, período teve uma intensa espírito reduzido ao corpo. abandonaram." “ Departamento Jurídico do Estado e cargo que voltaria a ocupar atividade no Partido Social criando a primeira "Assessoria entre 1963/64, no segundo Progressista, do qual foi Cabe-me salientar que me Técnico-Legislativa" do País. Entre governo de Ademar de Vice-Presidente. considerei livre do 1949 e 1950 foi Reitor da Barros. compromisso integralista Universidade de São Paulo, e, nessa quando, no exílio na Itália, década, foi convidado a ministrar me dei conta da ilusória cursos e conferências sobre organização corporativista Filosofia do Direito em vários países sob o mando de um partido da América Latina e da Europa. Em único, tanto assim que me 1962, após intensa atividade no recusei a pertencer ao Partido Social Progressista, do qual partido organizado por Plínio foi Vice-Presidente, foi novamente Salgado depois da

14 Curiosamente, os mais longevos de todos os integralistas que aparecem na EI foram Miguel Reale, que faleceu com 96 anos incompletos, Gerardo Mello Mourão, que faleceu com 90 anos, Jeová Motta, que faleceu com 85 anos, Genésio Pereira Filho, Hélio Rocha e Gumercindo Rocha Dórea, que ainda permanecem vivos, hoje, com 88, 87 [sic] e 86 anos, respectivamente. QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

Secretário da Justiça de São Paulo Constituição de 1946 (...) No em 1964. Foi reeleito reitor da USP, que se refere ao de 1969 a 1973. integralismo, reconheci a transitoriedade de seu programa, mas jamais me arrependi de minha atuação em prol do corporativismo democrático, cuja participação revela que havia valores positivos na Ação Integralista Brasileira. O integralismo revisitado. O Estado de S. Paulo. 28/08/2004. Margarida Não foram Escritora Não foram São Paulo Não foram encontrados Não teve Não foram Não foram encontrados “Um dia os ‘ camisas verdes’ da Não foram encontrados Conceito de vida heróica Não foram Cavalcante encontrados Irmã de Roland Corbisier encontrados registros carreira encontrados registros registros terra môça do Brasil falarão ao registros (o integralista é, antes encontrados de registros registros político- mundo: sua voz terá o calor de tudo, um herói) registros Albuquerque partidária dos estilos queimantes e a (originalmente retirado Corbisier15 doçura do mel dos manacás... e de Offensiva, entoará para todos os homens 13/4/1935) da Terra o hino guerreiro da Reeditado na EI, Vol. 5. Vida Heróica. Que sejamos nós,integralistas, mandatários “Integralismo e desta eloqüente missão!” educação feminina” – Trabalho apresentado originalmente no I “A AIB visa a reestruturação de Congresso Nacional nossa sociedade sob o Feminino da AIB, em principio do alicerce do outubro de 1936. cristianismo. (...) enquanto Publicado em A prossegue a tarefa de educar a Offensiva, 11/04/1937. nação vai a AIB executando Reeditado na EI, Vol. 9. todo um plano de conscientização nacional. (..) Assim, é preciso haver a colaboração entre os sexos, para assegurar a correção das unilateralidades, o equilíbrio composto da vida. Assim , cabe a AIB usar ordenadamente a colaboração de todos os nela inseridos “

Hélio Vianna Nasceu: em 5 Advogado e Historiador Bacharel pela Rio de Janeiro Não Não teve Em 1932 passou a Publicava em 1958, a “Através das vetustas fileiras Não foram encontrados Bases Históricas da Não de Novembro Faculdade carreira integrar a chamada História da Diplomática do do integralismo será possível registros Unidade Nacional

de 1908, em Ainda como estudante participou, Nacional de político- "ala intelectual" da Brasil. verificar o grau mais alto de Espécie de resumo sobre Belo Horizonte em 1932 da reunião convocada por Direito, em 1932 partidária AIB ministrando o Continuou lecionando na nossa nacionalidade (...) os episódios históricos e faleceu em 6 Plínio Salgado organizar uma e pela Faculdade curso de História do UFRJ até dezembro de tornar-se integralista é o que que culminaram na de Janeiro de corrente em defesa das ideias Nacional de Brasil escrevendo nos 1971. Morre um mês de mais profundo ocorreu com chegada do 1972, no Rio de integralistas. Passou a integrar a Filosofia em 1946. veículos do depois. Publicava os minha alma juvenil” Integralismo. Janeiro. chamada "ala intelectual" da AIB movimento e volume nº 247 e 248 da (Hierarchia, 13/4/1936) Proselitismo puro. (64 anos) ministrando o curso de História do publicando textos de obra História Diplomática (originalmente retirado Brasil, escrevendo nos veículos do história política e do Brasil, RJ, Biblioteca do da Panorama, nº 8) movimento e publicando textos de social do Brasil. Com o Exército Editora, 1958. Reeditado na EI Vol. 5 história política e social do Brasil. golpe de 1937 e a Esta obra é a reunião de “Preparação das elites Com o golpe de 1937 e a dissolução dissolução da AIB, dois trabalhos anteriores, integralistas”, Aula da AIB, afastou-se da atividade afastou-se da revistos e atualizados, a magna ocorrida em militante para dedicar-se à prática atividade militante. saber: História das meados de 1934: Aula docente e à pesquisa histórica. Fronteiras do Brasil, curso sobre o Direito Tornou-se em 1939 o primeiro dado na escola do Estado corporativo . EI Vol.9 catedrático de História do Brasil, na maior do Exército em 1947 Faculdade de Filosofia da e publicado pela Biblioteca Aula magna: Para formar Universidade Federal do Rio de Militar, vols. 132-133 em as elites integralistas.

15 Margarida Corbisier e Carmen Pinheiro Dias ( a primeira vinculada à AIB e a segunda ao PRP) seriam as únicas mulheres a apresentarem textos na EI. Outras duas mulheres são citadas na EI, como poetas constituintes da Coletânea de poemas publicada no Volume 7 do compêndio: Maria Rita Vaz de Hollanda Cunha e Hydée Machado Marques Porto. QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

Janeiro. Foi membro da Comissão 1948, e História História social e política de Estudos de Textos da História do Diplomática do Brasil, do Brasil Brasil, do Ministério das Relações curso dado em 1950 no EI Vol 9 Exteriores e da Comissão Diretora Instituto Rio Branco, não de Publicações da Biblioteca do publicado em livro, tendo Exército. Como jornalista, foi o autor aproveitado ainda redator da revista Hierarquia, de textos de aulas de história tendência radical de direita. Foi do Brasil dadas na secretario do jornal A Ofensiva, e Faculdade Nacional de escreveu ainda no Jornal do Filosofia da Universidade Comercio do Rio de Janeiro. Após a do Brasil desde 1939. sua morte, a sua biblioteca foi dividida entre diversas universidades brasileiras. José Garrido Não foram Economista Não foram Rio de Janeiro e Não Não Militante da AIB Era consultor econômico “É capital que para possuirmos Não foram encontrados Concepção Integral da Não Torres encontrados Depois de desvincular-se do encontrados Brasilia do mercado financeiro uma economia sã tenhamos registros Economia registros integralismo atua no mercado registros uma concepção justa do (compilado ao longo de como consultor econômico. Nos homem. Partindo deste 1934) anos 1960, participou da equipe princípio, a Economia Nova EI. Vol. 5 econômica que projetou o que deverá existir em função do ficou conhecido como período do homem integral. Concepção “milagre econômico”, quando foi extraordinária decorre de um Presidente do Banco Nacional de notável progresso filosófico. A Desenvolvimento no governo Economia Integral, embasando Castelo Branco a estrutura na iniciativa privada, embora impondo a responsabilidade do produtor perante o Estado e adotando o sistema corporativo. Só quem professa o Integralismo concebe o Estado como órgão interventor da Economia, supervisionando-a inteligentemente, por intermédio do sistema corporativo. A Economia Integral afirma, portanto, num supremo equilíbrio, as leis naturais e a orientação esclarecida do Estado. Essa é a nossa concepção integral de economia”

Leopoldo Não foram Padre Membro da Câmara Permanecia ligado à Igreja Não foram encontrados Carta Aberta aos Sim Ayres16 encontrados Colaborou com diversos jornais dos 400 Católica “O Bolchevismo é patranha das registros Sacerdotes de minha registros integralistas e não integralistas polícias e alucinação da Pátria como o jornal carioca, A Manhã, burguesia, por isso digo: temos (originalmente retirado órgão oficial do Estado Novo. no Integralismo uma escola da Offensiva, patriótica perto da ideologia 25/7/1937) católica. prestigiá-lo será fazer a nossa parte para que Deus Reeditado na EI, Vol. 5 nos ajude, sobretudo na hora incerta e perigosa que O sentido da formação vivemos. Está mais do que pliniana. claro que a minha palavra se Originalmente escrito bem seja a do sacerdote, não é para A Anauê – julho de a da igreja. Estou certo de que 1937. Reeditado na EI, tendes conhecimento do Vol. 9. problema comunista no Brasil. O comunismo é, pois, uma realidade, em nossa Pátria. “Meus irmãos sacerdotes: há no Brasil uma corrente

16 Parte das informações e dados deste autor pode ser encontrada no acervo depositado na Casa de Rui Barbosa. Coleção: Leopoldo Ayres e no DHBB do CPDOC - FGV, pp. 2020 e 2021.Ver também COUTINHO, Afrânio. Enciclopédia da Literatura Brasileira. São Paulo, Fundação da Biblioteca Nacional/ Global Editora, 2001, p.641. QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

doutrinária político-social, a qual, tanto quanto possível, corresponde à concepção social e política que, como corolário natural transfere do evangelho de Nosso Senhor. É a Ação Integralista Brasileira (...) O Comunismo sagrou o Integralismo como o seu maior e mais perigoso inimigo. Por isso, alguns deputados impatrióticos nos acusam sem piedade. Prestigiar o Integralismo será fazer a nossa parte para que Deus nos ajude, sobretudo, na hora incerta e perigosa que vivemos”

Ernani Lomba Não foram Tornou-se minerador no Paraná, Não foram encontrados “Dominados por inconcebível Sobre Democracia e Não foram Ferraz encontrados em finais dos anos 50. DECRETO Nº registros submissão a mitos Sufrágio encontrados registros 38449, DE 28 DE DEZEMBRO DE aparentemente consagrados; (escrito originalmente registros 1955. Autoriza o Cidadão Brasileiro vencidos por invencível nos anos 30) Ernani Lomba Ferraz a Lavrar preguiça mental na busca de Reeditado na EI Vol. 5 Carvão Mineral No Município de novas fórmulas, subjugadas Siqueira Campos, Estado do Paraná. enfim por insuperável Autorização reiterada em comodismo decididamente 25/7/1969. anti-revisionista dos conceitos vigentes, tidos como definitivos, não nos queremos deter na análise do que realmente deve se entender por Democracia, muito embora bem cônscio e advertidos das subversões e deformações a que se tem prestado o significado deste vocábulo. O Integralismo é a prova mais ampla de que a Democracia pode ser seletiva, mas critica o fato deste regime pretensamente democrático, mas realmente demagógico. Concordo com Plínio Salgado: nunca uma verdade deixa de ser verdade por ter menor número de adeptos” Rômulo Não foram Não foram encontrados “A uma cronista sútil, o Não foram encontrados Artigo: Reflorestamento Não foram Almeida encontrados registros Integralismo apareceu registros Esta é a primeira vez que encontrados registros reflorestando a alma, dando- se levanta na EI, e no registros lhe a o verde da mocidade e da pensamento integralista a vida (...) É uma campanha bandeira da ecologia. nacional, a do reflorestamento, Entretanto, tem um que devemos levar a diante, caráter dúbio esta com a eficiência devida, em preocupação de nossos mais de 3000 núcleos reflorestar: a alusão ao integralistas. Comemoremos as verde do partido, num grandes datas plantando momento em que árvores, parques, bosques. reflorestar significa Antes mesmo de atingir o plantar novas idéias para poder, poderemos fazer coisas novas gerações. Esta formidáveis. Reflorestando as metáfora fora almas e os campos”. transportada durante toda a década de 30, e migrou no imaginário político integralista até sua fase posterior, nos QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

anos 50. EI Vol. 5

Lauro Escorel Nasceu em São Advogado, escritor e Embaixador Direito pela Rio de Janeiro, Não Não teve Tratava-sede um Era embaixador do Brasil Isso constitui uma afirmação Não foram encontrados O Conteúdo humano do Não. Embora Rodrigues de Paulo em 13de Faculdade do EUA, Argentina, carreira membro influente. No em Buenos Aires, de que percorrerá todas as registros integralismo e a se trate de Morais17 setembro de Em 1943 ingressa na carreira de Largo São Iugoslávia, Itália, político período em que foi março de 1957 a 1960. Era instâncias do integralismo: A intervenção do Estado um membro 1917 diplomata exercendo a atividade Francisco em Paraguai, partidária militante integralista diplomata e escrevia no Intervenção é um direito influente, no até 1989. Escreveu peças de teatro, 1938 Dinamarca, era um estudante de ano de 1958 o livro: social! É preciso, então, EI Vol. 5 período em e em jornais como critico literário, México e Espanha Direito. Afastou-sedo Introdução ao pensamento entender que Estado e Nação que foi dentre os quais O Estado de S. integralismo após o político de Maquiavel não se opõe, mas se militante Paulo e A Manhã. Foi diretor do fechamento da AIB. (1958) completam. Segundo a integralista Instituto Rio Branco e membro da doutrina integralista o Estado é era um mero Comissão permanente do Arquivo a própria Nação organizada. O estudante de Histórico do Ministério das Estado será expressão Direito. Relações Internacionais. autêntica da vida nacional. Afastou-se do Dessa maneira, não haverá integralismo propriamente, uma após o intervenção, mas uma ação fechamento conjunta de duas forças. Assim, da AIB. para a doutrina integralista o Estado é a própria Nação organizada. Eis a maior diferença entre o integralismo e o liberalismo: para o liberalismo, não há nenhuma identidade de fins entre o Estado e a Nação. Por isso, o direito de intervenção é um direito pela própria realidade social. “Em nome desse direito é que o Estado agirá para compor as grandes harmonias e realizar a verdadeira justiça”

Luiz da Nasceu em Advogado, etnólogo e folclorista Em 1928, formou- Grande divulgador da Não possuía mais “Chefe Provincial Integralista, Não há registros de que Os vários Brasis Não Câmara Natal, Rio se pela Faculdade noção nacionalista de nenhuma vinculação com miliciano convicto, considero Cascudo tenha renegado o Cascudo Grande do Foi professor de Direito de Direito do cultura, além de ser o integralismo. Havia se os partidos políticos, meras integralismo após se afastar Norte, em 1898 Internacional Público, na Faculdade Recife, concluindo Membro da Câmara desvinculado após a fórmulas desacreditadas e da sua militância. E mais: na e faleceu na de Direito do Recife e de Etnologia também no dos 400, ilegalidade promovida pela incapazes de renovação social. década de 50, quando os ex- mesma cidade, Geral, na Faculdade de Filosofia, mesmo ano, o propagandeava o Estado Novo, embora para Não pertenço a nenhuma integralistas estavam em 1986 (88 em Natal curso de nacionalismo contido muitos permanecesse agremiação partidária e reagrupados no PRP, Câmara anos) Etnografia, na no integralismo no integralista dada a sua mantenho relações íntimas Cascudo, apesar de afastado Faculdade de período de sua admiração pelo com vários próceres que não da militância política (não se Filosofia, do Rio militância. movimento e por Salgado. ignoram a retidão de minha filiou ao PRP), assinava os Grande do Norte. Lançava o livro: Jangada; atitude assumida publicamente jornais integralistas Idade uma pesquisa etongráfica, a 14 de julho de 1933. Aos Nova e A Marcha. em 1957. ‘camisas verdes’ de minha "Jamais renegou os seus Em 1958 – Lança – Província não dou explicações, princípios e não negava a sua Supertições e costumes; porque eles me conhecem de condição de ex-integralista", em 1959 – Canto de muro perto. Aos políticos é escreveu o falecido médico e Rede de dormir .Em 1960 desnecessária qualquer Clóvis T. Sarinho (Fatos, – o concieto sociológico do justificação em contrário às Episódios e Datas que a vizinho; e em 1961 suas afirmações, porque memória gravou, Editora Etnografia e Direito, política é isso mesmo.”. Aqui Nordeste, 1991, Natal, dentre outros. podemos observar umas das páginas 183 e 184). raras manifestações de Cascudo em relação à política além de uma amostra de sua convicção integralista“. Nota publicada na Revista A República em 04/09/1934)

Jeováh Mota Nasceu em Militar do Exército Era sobrinho do AIB/LEC – Membro do Conselho Em 1955 assumiu o “Milito no exercito nacional Em 1937 redigi uma carta à Assina o Regulamento Não Maranguape – escritor Capistrano de Abreu. deputado Supremo da AIB e comando do 18° assim como milito no exercito Câmara dos Deputados do Departamento

17 Parte das informações e dados deste autor pode ser encontrada no acervo depositado na Casa de Rui Barbosa. Coleção: Lauro Escorel, bem como no Dicionário de autores paulistas. SP, 1954, Op. Cit. p.398. QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

CE, a 12 de Ingressou no Colégio Militar em federal - 1933 chefe provincial do CE Regimento de Infantaria, do integralismo: ambos são assumindo que estava se Nacional dos Serviços fevereiro de 1919 e permaneceu até 1924. Em no Rio Grane do Sul, e para mim uma lição de vida e desligando da AIB, Sindicais – organização 1907. Faleceu 1929 conheceu Severino Sombra e assumiu a Diretoria Geral coragem!” A Offensiva, renunciando a seu mandato dos grupos profissionais. em 1992 no Rio Helder Câmara. Em 1931, ajuda a de Ensino do Exército, 13/5/1934. parlamentar. “Apensar de EI Vol 11 – A orgânica da de janeiro. fundar a Legião Cearense do cargo que desempenhou a nutrir respeito pela AIB, AIB (85 anos) Trabalho. Ainda em 1932 inicia te 1962 quando passou acreditava que esta jamais troca de correspondências com para reserva. Ainda em seria um adequado Salgado, de onde saem as primeiras 1957 iniciaria suas instrumento de luta em prol trocas de idéias para a formação de pesquisas para o livro que da justiça social, pois não um movimento de cunho nacional. lançaria cerca de 20 anos comportava uma intensa Após a criação da AIB a LCT se depois. A formação do atividade sindicalista incorporou a AIB. Em 1933 elegeu- Oficial do Exército: operaria”. se deputado constituinte pela LEC. currículos e regimes na (Liga Eleitoral Católica). Assim, com Academia Militar (1810- o apoio da (LEC), os “camisas- 1944), publicado em 1976. verdes” o elegem único deputado federal da AIB, em 1933, e dois deputados estaduais, posteriormente. Em 1934 chefiou a delegação cearense no I Congresso Integralista de Vitória. Em 1936 iniciou o primeiro curso de organização trabalhista, voltado aos líderes integralistas. E em setembro do mesmo ano passou a ser diretor do Serviço Sindical Coorporativo. Chefiou também o Departamento Nacional de Justiça, que integrava o conselho supremo da AIB. Em 1937 foi indicado por Salgado para assumir a chefia dos integralistas em São Paulo, o que levou ao esvaziamento da organização trabalhista que implantara no RJ. No mesmo ano redigiu uma carta à Câmara dos Deputados assumindo que estava se desligando da AIB, renunciando a seu mandato parlamentar. Afastou-se assim da AIB sendo acusado de haver se tornado comunista.

Thiers Nasceu em 16 Advogado e jornalista Direito/Universida Rio de Janeiro Não Não Membro do Thiers também era escritor Não foram encontrados Aula magna: A Não Martins de dezembro de de do Brasil Secretariado Nacional e professor dedicado ao registros preparação das elites Moreira 1904, em Diplomado em direito pela e da Câmara dos 40 estudo e ao ensino da integralistas18. Campos, RJ e Universidade do Brasil (1932); literatura portuguesa e morre no Rio de catedrático em direito brasileira Simpatizante Apenas assina a aula magna – Aula: Introdução à janeiro em administrativo pela Faculdade de atuante no principio da A preparação das elites Sociologia Geral – EI Vol. 1970. Direito PUC; catedrático em AIB integralistas 9 – da Educação (66 anos) literatura portuguesa pela integralista Faculdade Nacional de Filosofia, depois pela Faculdade de Letras UFRJ; conferencista pela Escola do Estado do Estado-Maior do Exército, onde realizou cursos de sociologia de guerra; presidente do Departamento de Letras Clássicas da Faculdade Nacional de Filosofia; diretor dos serviços públicos federais e criador e diretor do

18 Fizeram parte desta aula “Preparação das elites integralistas”, ocorrida em meados de 1934: San Tiago Dantas (aula sobre o Direito corporativo), Gustavo Barroso (aula sobre a História militar brasileira), Hélio Vianna (aula sobre a História social e política do Brasil) e Antonio Galotti (sobre Doutrinas Econômicas). Os planos de aula deste curso estão disponíveis na EI Vol. 9. pp.154-159. QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

Centro de Pesquisas da Casa Rui Barbosa.

Nasceu em Jornalista e Advogado (formou-se Largo São São Paulo Não AIB Membro do Nenhuma “De modo geral e definitivo, a “(...) Por isso tive no A crise brasileira de Não, mas Ernani Silva Curitiba, PR, em para agradar o pai e obter um Francisco - SP secretariado nacional solução do problema da momento de minha Autoridade nunca Bruno19 10 de agosto de diploma superior, mas não gostava e Secretaria de autoridade no Brasil, como participação no integralismo (originalmente escrito escondeu a 1912. Faleceu da profissão), além de historiador Doutrina e Estudo e aliás em todas as mais entusiasmo por isso e em A Offensiva, manutenção em 25 de autodidata. 20 Nos anos 30 e 40 Membro da Câmara nacionalidades, só pode ser pela agitação política 5/7/1934) – Reeditado de sua setembro de escrevia com o pseudônimo de O do 400 procurada dentro dos daquele momento do que na EI – Vol. IV proximidade 1986 em São Cosme Velho no Jornal da Manhã, e princípios de uma nova pela apostilas do Processo com os ideais Paulo.(74 anos) depois, nos anos 50 e 60 em O filosofia social inspirada em um civil” (BRUNO, Silva Ernani. Edita o Estatuto da integralistas. Estado de S. Paulo, Folha da Manhã novo senso de vida. O Autobiografia. 1986) Escola Brasileira de e Diário da Manhã. Foi nomeado integralismo está apto a Jornalismo. Editado na redator do serviço público nos anos realizar isso! EI, Vol IX. 40, prestou serviços na Diretoria Regulamento da Estadual de Imprensa e Secretaria Nacional de propaganda. Em 1970 dirigiu o Doutrina e Estudos – EI Museu da Casa Brasileira. Em 1983 Vol 10 – A orgânica da passou a ocupar a 17ª cadeira da AIB. Academia Paulista de Letras.

Félix Nasceu em Filósofo Apelidado de: O Piá do Sul Filosofia na RS Não Não Membro da AIB, PRP Em 1942, em sua tese para Uma organização integral, no Não foram encontrados Organização social do Sim, Contreiras 1884. Morreu foi reitor da PUC- RS, desde Universidade a cadeira de economia na Brasil, teria de refletir os dados registros integralismo. EI Vol 3 simpatizante Rodrigues em 1960 – (RS) dezembro de 1954. No triênio Federal do Rio faculdade de Direito de Po oferecidos pela sua história; ativo anterior foi Diretor da Faculdade de Grande do Sul Alegre proclamava o poderia ser Corporativo, mas (76 ANOS) Filosofia, Ciências e Letras da integralismo aos alunos. essencialmente democrático, Universidade Pontifícia Católica do Nos finais dos anos 50, de inspiração cristã. Assim, Sul, no RS, de 1951- 53. Fundou a lecionava na PUC–RS, e afirmar que o corporativismo revista da Universidade – VERITAS, permanecia ligado é a negação da democracia é pois o lema da alma mater é AD ideologicamente ao um erro, porque significa VERUM DUCIT (conduz ao integralismo desconhecer o corporativismo, verdadeiro). Escreveu o livro: ao mesmo que dar à Farrapo - Memórias de um cavalo. democracia o não somente não Todo o livro conta os episódios tem, quanto ainda supor que o tendo como foco narrativo o liberalismo seja uma cavalo. ideologia... Para conhecer o fenômeno do Corporativismo e afastar de si a aversão que lhe tributaram os povos democráticos, convém distinguir o fato político totalitário, do psíquico, Democracia de Liberalismo, e ideologia de ideal realista... pois que o ideológico não é a essência do regime democrático. Por isso: depois da boicotagem e sabotagem, com máscara de traição às operações de que brota o pão de cada operário e implantaria a grande época para o bem- comum: a do operariado e a partilha dos lucros, dois estandartes integralistas.”

(EI, Vol. III)

19 Parte dos dados deste autor está disponível na Enciclopédia da Literatura Brasileira. Op. Cit. p.388. 20 De acordo com: BRUNO, ERNANI Silva. Almanaque de memórias. Hucitec, 1986. (autobiografia) Para mais informações ver: LOFEGO, Roberto. Memória de uma metrópole. São Paulo na obra de Ernani Silva Bruno. Annablume/Fapesp. 1996. Ver também: Arquivo Ernani Silva Bruno (AESB) IEB – USP.

QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO

2 ª GERAÇÃO

QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 2 ª GERAÇÃO

Autores da Data de Profissão declarada Curso Estado da Teve participação Atuou em Quais funções Funções e vínculo com o O que diziam sobre o integralismo no período de O que dizia sobre o Seus textos selecionados Quando morreu Enciclopédia nascimento e Outras ocupações da carreira Superior/ federação legislativa? quais desempenhava Integralismo no período militância integralismo após se para a EI versavam sobre era integralista? do morte Local de em que partidos? no período de da publicação desvincular Integralismo formação atuou sua militância da EI por ordem integralista? de aparição no compêndio

João Carlos Não foram Engenheiro e Advogado Faculdade do São Foi constituinte AIB Militante e membro Militava no PRP de SP, onde em 1962 Ao velho cabe incitar os jovens: quem não quiser Não foram Discurso proferido em São Sim Fairbanks encontrados Engenheiro ferroviário de Largo São Paulo de 1935, pela AIB PRP que atravessou as 3 será eleito suplente de deputado. figurar como urubu e assim naturalmente almejar o encontrados Paulo no dia da bandeira registros campo, responsável pela Francisco tendo 9920 votos. gerações do cadáver da Nação, procure ser “Águia Branca”, registros de 1957 construção da Estrada de (1935-1937). movimento procurando conduzi-la a estratosfera e da iosfera, por Ferro Sorocabana. Tornou- Foi suplente de sobre os quais a tranqüila e sedativa luz dos raios se 1º secretário do Deputado pelo cósmicos passa adverti-los: sic itur ad Astra Uma e Sindicato Rural de Santo PRP em 1962, por outra – o oásis e as águas cristalinas – vim encontrá-los Anastácio, em 1931, onde SP, com 645 em 1931, donde surgia a Sociedade de Estudos foi engenheiro de estrada votos. Políticos (SEP) e a Ação Integralista Brasileira. Eis um de ferro. Além disso, foi depoimento de um dos homens da geração anterior de signatário da Carta à 32. Nação, de 1945.1 Alberto Não foram Advogado Rio de Membro da AIB e AIB Nome representativo Participa dos primórdios da criação “Plínio Salgado, nosso guia espiritual, a quem Nunca se Não foram Bittencourt encontrados Janeiro Deputado PRP do PRP sempre era do PRP consideramos louvor, o maior dos brasileiros vivos... desvinculou Bases do pensamento encontrados Cotrim registros estadual lembrado por Salgado No Conclave do PRP em Vitória em 25 nos ajude na interpretação histórica deste novo ciclo político Integralista registros Neto Guanabara- PRP – por ser um militante de julho de 1957, torna-se parte da cultural. Não é mister ter alma poética para alcançar o (escritos retirados da legislatura 1951 - fiel aos preceitos do Comissão de Relações com entidades sentido do drama sublime de Virgílio em sua obra. Idade Nova entre 1949 e 1955. Seria movimento. cívicas e Assuntos Políticos. Era Bastas sentir-se na alma, na mais anestesiada das 1950) EI. vol. 4 vereador da também membro do Conselho almas, um resquício de amor à trilogia de Enéias, para cidade do Rio de Político Nacional do PRP que se compreenda a dor daqueles homens que, de 32 Um de seus poemas está Janeiro na década a 37, lançariam à apreciação dos povos do Brasil o seu presente na coletânea de de 1960. grito de alerta para salvaguardar o Brasil... Assim nos poetas integralistas no VII Secretário da dias fluentes, quando podemos falar à nação sem as Volume da EI. Justiça da GB, em peias com que por tantos anos a ditadura açaimou 1966, e assessor nossa palavra, impõe-se o esclarecimento definitivo da

da pasta do opinião brasileira. (...) Todavia, da Tribuna da Câmara Trabalho na do Distrito Federal, já o vereador Jayme Ferreira da gestão do prefeito Silva pôs termo às calúnias de sentido Negrão Lima predominantemente político lançados contra os (1969).Em 1994 antigos militantes da AIB atualmente em maioria dá nome a um integrados ao PRP. Esquecem-se os caluniadores que o logradouro na Integralismo é antes de tudo, uma filosofia, uma norma cidade carioca. de ação prática que inspira um movimento político...” EI, Vol. IV

Pedro Não foram Jornalista, Lafayette era o Não foram Rio de Sim, foi vinculado PRP Diretor de jornais Diretor de jornais perrepistas “Ora, com sua maravilhosa dialética, como o Não foram A luta dos Fariseus Não foram Lafayette encontrados mais extremado encontrados Janeiro e ao PRP perrepistas Mantinha seus contundentes ‘Manifesto de Outubro’, anunciando a fundação do encontrados (retirado originalmente de: encontrados registros anticomunista do PRP. registros Espírito discursos sobre o anticomunismo, nas movimento integralista data de 32, a prioridade, no registros A Idade Nova, 21/9/1946) registros Editou o jornal Reação Santo bancadas do PRP. Mantêm em finais assunto em causa, cabe a Maritain e não a Plínio Ei. Vol. 4 Brasileira, desde maio de dos anos 50 a direção do jornal Salgado... Ora. O fundador do Integralismo estava no 1945 até setembro de carioca Folha Carioca. decurso de sua palestra com os jornalistas rebatendo a Descreve a briga ocorrida 1947, jornal oficioso e acusação de numerosas vezes feitas, de ter sido ele nos jornais entre Alceu simpatizante do PRP, plagiador, e preconizador de regime totalitário, quando Amoroso Lima, quando transfere-se para nessa altura, Salgado, combatia o totalitarismo e juntamente com Fábio o Espírito Santo para dirigir sempre pregava a dignidade e resepito humanos... E Alves Ribeiro, articulista do o jornal perrepista: A para demonstrar a clareza de seus pensamentos “Diário de Notícias”, do RJ Tribuna. Em 1953 foi declarou que já mesmo antes de Maritain pregar a e a AIB. Escritos em diretor da Folha Carioca2. necessidade de pregar uma cruzada no sentido da meados de 1940, logo dignidade humana. Assim, difamadores dão ganho de após as disposições do causa ao idolatrado Maritain, alegando ser o Manifesto novo partido na bancada de Outubro ser datado de ante,alegando plágio... O da redemocratização, o manifesto é a soma das coisas que aquele homem leu e PRP, estes escritos têm pensou, logo não foi plágio mas uma apropriação das um caráter diferenciador coisas boas... uma releitura. Um raio de sabedoria!” pois trás a tona, trechos de discordâncias entre um dos, anteriormente,

1 A Carta aberta à Nação de 17/05/1945 foi um documento publicado nos principais jornais do país, que objetivava reverter o quadro de hostilidade contra a reorganização do movimento integralista em partido político. Dos autores que aparecem na Enciclopédia, além de Fairbanks, também foram signatários: AB Cotrim Neto, Jayme Ferreira da Silva e Loureiro Jr. 2 Ver: CORTÉS, C. Homens e Instituições no Rio de Janeiro. RJ, 1957. QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 2 ª GERAÇÃO

grandes admiradores da AIB, e sua nova postura, discordante e bastante contrária ao integralismo.

José Nasceu em Advogado e jornalista Direito na São Deputado pelo AIB Secretário Assistente e Deputado pelo PRP(SP) em 1957 – “Nós, estudantes integralistas, na maioria voluntários Não foram Aos Estudantes Paulistas... Permanecia Loureiro Jr. Jau – SP, em Tornou-se secretário do Universidade Paulo e PSD (SP) em 1955 PRP (RJ) depois Chefe de ano de lançamento da EI. Deputado de 1932, temos algo a dizer: É chegado o momento em encontrados (retirado originalmente da simpático ao 16 de junho governador de São Paulo, do Largo de Rio de – ano de primeira Gabinete da chefia pelo PRP (SP), volta ao PRP em 1957 – que duas gerações irremediavelmente se separam. É o registros Offensiva, 31/5/1934) movimento de 19123 Lucas Nogueira Garcez. São Francisco Janeiro lançamento da EI. legislatura nacional ano de lançamento da EI. Lança o instante em que os filhos deverão separar-se dos pais, Reeditado na EI Vol. 5 (1953-55) Participou da – São Paulo, Participou da 1947 livro: A calúnia como arma eleitoral se quiserem ser dignos na missão que o destino redação do anteprojeto da formado em redação do PRP (SP) (1957). No Conclave do PRP em histórico da Pátria lhes reservou. Não existem 3 Constituição de 1966, 1935. anteprojeto da A partir de Vitória em 25 de julho de 1957, caminhos, apenas 2: ou somos tristes servos da gleba Regulamento da Diretoria juntamente com Alfredo Constituição de 1955 torna-se parte da Comissão de partidária, ou nos afirmamos com os direitos e a Nacional de estatística - EI Buzaid e Goffredo da Silva 1966, juntamente Relações com entidades cívicas e violência de uma geração em marcha. Pois, a Vol 10 - A orgânica da AIB Telles, dois históricos com Alfredo Assuntos Políticos. Era também Assembléia Constituinte vale tanto para nós, moços integralistas. Era genro de Buzaid e Goffredo membro do Conselho Político estudantes e idealistas, como um baile de múmias; o Regulamento do Gabinete Plinio Salgado, casado com da Silva Telles, Nacional do PRP Partido Constitucionalista é tão podre quanto o PRP, da Chefia Nacional - EI Vol Maria Amélia Salgado. dois históricos Partido Republicano Paulista... Por isso, irmãos 10 - A orgânica da AIB integralistas. Era paulistas, eles andaram confiantes na palavra genro de Plínio mentirosa de Interventores e serviçais da ditadura, em Salgado, casado vez de procurar falar ao coração da mocidade dos com Maria Amélia outros Estados. Pó isso, nossa revolução, a integralista Salgado.4 tem duas etapas: primeira a transformação da mentalidade, pelo estudo; segundo a tomada do poder! Esta é a palavra do integralismo: Um dia conquistaremos o governo da Nação. E em nome desses 4 mil estudantes já inscritos sob a bandeira do Sigma gritamos em favor da pátria... Passaram pela sessão de estudantes integralistas de São Paulo: Loureiro Júnior, Alfredo Buzaid, Luis Saia, Octilio Pousa Sena, Rui Arruda, Lafaiete Soares de Paula, Amador Galvão de França, Antonio Campos Nóbrega, Francisco Luis de Almeida Sales, Mario Mazzei Guimarães, Zigler de Paula Bueno, Roland Cavalcante de Albuquerque Corbisier, Godofredo da Silva Teles Jr.” ”5

Luis Nasceu em Advogado e Jornalista Bacharel em Rio Foi Deputado PRP Militou na AIB e Deputado pelo PRP entre 1952 e “Tornei-me integralista levado, inicialmente por Não foram Por que me tornei e Sim Alexandre Caxias do Sul Áreas de atuação: Direito pela Grande federal PRP (RS) permaneceu próximo 1958 No Conclave do PRP em Vitória motivos religiosos. Colaborava na tarefa de fundação encontrados continuo integralista Compagno – RS em 1913 agricultura (vitivinicultura, Universidade do Sul 1947, e depois ao integralismo até o em 25 de julho de 1957, torna-se da Juventude Católica e Círculos Operários. Foi então, registros (visões de um católico ni triticultura), imprensa, Federal do estadual na final de sua vida. parte da Comissão de Relações com na juventude religiosa daquela época sacudida por um integralista) regime de governo, Rio Grande legislatura de entidades cívicas e Assuntos Políticos. Manifesto político, que iniciava seus princípios. Era o EI Vol. 5 religião. Foi Diretor da do Sul, 1942. 1952 a 1958. Era também membro do Conselho começo do Integralismo. Este manifesto encheu da Editora A Nação e do nesta legislatura Político Nacional do PRP mais pura alegria todos aqueles jovens que formavam Centro da Boa Imprensa. era líder da as fileiras da Juventude Católica e Centros Operários Teve forte militância maioria na Católicos, dos Círculos operários Católicos, das católica nas colônias do Câmara. Congregações Marianas. Era a primeira vez que, num sul. Foi Deputado estadual documento político, se falava em Deus. Por outro lado, no período da publicação é fácil imaginar o que sucedeu à mocidade posterior ao da EI. fechamento da AIB. E então, com o passar do tempo, minha integração na Doutrina Política de Plínio Salgado foi se robustecendo. Vieram as declarações de Trystão de Athaíde, chefe do laicato católico brasileiro, todas favoráveis ao integralismo, depois as contrárias... surgiram as famosas ‘Cartas de Natal e de Fim de Ano’, de 35, na qual o chefe, depois de combater as loucuras do hitlerismo (numa época em que os políticos liberais o endeusavam), traçava de maneira magistral, os limites entre ‘o reino de Cristo e de César’. Depois, de 1937 com os integralistas presos e perseguidos, com Salgado exilado, perguntava-me se aquelas altas razões religiosas não sofreriam um colapso no Fundador do Integralismo. Foi então, que em 42 escreveu: A Vida de Jesus! Mas para que este depoimento seja completo, faz-se necessário que analisemos o outro período do integralismo: a parte que se inicia com o exílio em 1946... O período que se inicia em 46 até os dias presentes nada mais é do que a continuidade perfeita

3 Parte dos dados sobre este autor pode ser consultada no Dicionário de autores paulistas. Publicação comemorativa do IV Centenário da Cidade de São Paulo editada pela prefeitura em 1954, p.319. 4 Para mais informações ver: Livro biográfico escrito pela filha de Salgado, Maria Amélia Salgado Loureiro, esposa de Loureiro Jr. Plínio Salgado, meu pai. SP, GRD, 2000. 5 Deste corpo de jovens estudantes integralistas, que mais tarde vão se juntar e criar a SEP, muitos deles permaneceria no movimento até seu fechamento definitivo. Eram todos da escola de direito. QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 2 ª GERAÇÃO

dos períodos anteriores. Depois de 25 anos de lutas, prisões e incompreensões, minha consciência está tranqüila”.

Gerardo Nasceu em Poeta e Escritor Direito: AL, RJ Duas vezes AIB Militante influente Simpatizante, pois militava em outro A Ronda da Pátria “O integralismo foi Assina uma das poesias do Sim Melo Ipueiras – CE, Catedrático em direito Diplomado deputado federal, (militante) nos meios culturais e partido após 1945, o PTB, partido Sou o Índio Americano, - o Guaycuru selvagem, uma fecunda Vol. 7 6 Mourão em 8 de administrativo pela em direito eleito pelo PTB católicos pelo qual se sagra deputado por duas O Goitacaz fogoso. experiência cultural Faculdade de Direito PUC; pela das Alagoas, foi PTB – pós- vezes. Em 1957 lança juntamente Sou Y-Juca-Pyrama, - o Aimoré que não morre e uma aventura janeiro de catedrático em literatura Universidade exilado em 1964 guerra com Abdias do Nascimento a Sempre valente e sempre belicoso! moral e espiritual 1917. Faleceu portuguesa pela Faculdade do Brasil no Chile, quando antologia do TEN Dramas par negros. Convoquei cinco mil dos meus Tamoios, Defendi minha dos melhores em 9 de Nacional de Filosofia, (1932) em 1969 teve os Terra. brasileiros de minha março de depois pela Faculdade de direitos políticos Era colaborador da Folha da Manhã, Ou Tupi, ou Tapuia, - eu sou Ararigboia geração. Quatro 2007 no Rio Letras UFRJ; conferencista cassados pelo que depois se tornou Folha de S. Sei vibrar o boré nas explosões da guerra! deles chegaram à de Janeiro. pela Escola do Estado do regime militar. Paulo e deputado federal que seria Outrora me chamaram Anchieta Presidência da Estado. Na década de cassado pelos militares. E eu preguei a palavra do Senhor. República nas duas (90 anos) 1980, foi presidente da Hoje visto a Camisa-Verde e sou Plínio Salgado! últimas décadas, Rio Arte e secretário de Sempre existi e sempre existirei. sem falar em outros Cultura do Estado do Rio, Sou o gênio da Pátria, - a eterna Mocidade, postos altamente

além de correspondente - E nunca morrerei! representativos da da Folha de S. Paulo em vida nacional. Haver Pequim entre 1980 e 1982 pertencido ao Foi indicado ao Prêmio integralismo é um Nobel de literatura de título que me tem 1979. Em 1999 ganhou o proporcionado os Premio Jabuti pelo épico melhores Invenção do Mar. momentos de minha vida social, profissional, política, cultural, cordial e afetuosa. Não permito que ninguém mude uma vírgula na história de meu passado. Minha história pessoal é um patrimônio de que me orgulho.” Entrevista ao site: Balacobaco, em março de 2000. Nascido em Advogado Jornalista Não foram Rio de Não Não Escrevia em jornais do Não foram encontrados registros “A cultura supera a natureza: é exatamente o seu O conceito de cultura Não foram José Soares Fortaleza, a encontrados Janeiro PRP e foi secretário de contrário! No Integralismo. O Estado Integral é (Retirado de Páginas de encontrados de Arruda 22 de Agosto registros Plínio Salgado nos Revolucionário porque, como substancia e forma, Combate, nº 7, RJ, 1946) registros de 1922; anos 50 quando movimento e evolução, o integralismo é espírito de Reeditado na EI Vol. 8 participava do revolução...” movimento dos Águias Brancas

6 Gerardo Mello Mourão aparece na Enciclopédia do Integralismo como um dos 52 autores poetas reunidos no Volume 7, exclusivamente compilado para homenagear a poética integralista.

QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO

3 ª GERAÇÃO

QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 3 ª GERAÇÃO

Autores da Data de Profissão Curso Estado da Teve participação Atuou em Quais funções Funções e vínculo O que diziam sobre o integralismo no período de O que dizia sobre o Há registros de sua Seus textos selecionados Quando Enciclopédia do nascimento declarada Superior/ federação legislativa? quais desempenhava com o militância integralismo após recepção com para a EI versavam sobre morreu era Integralismo por e morte Outras Local de em que partidos? no período de Integralismo no se desvincular relação à integralista? ordem de ocupações: formação atuou sua militância período Enciclopédia do aparição no carreira integralista? da publicação Integralismo? compêndio da EI

Genoíno Não foram Não foram Não foram São Sim PRP Membro do PRP Era vinculado ao “Ser e estar são os verbos. O integralista é. Afirma-se Não foram Não foram Ser ou não ser integralista Ao que tudo Ferreira Filho encontrad encontrados encontrado Paulo paulista PRP permanentemente através de um movimento de idéias. encontrados registros encontrados registros Escrito analítico sobre a indica, sim os registros s registros Somos um movimento e não estamos um movimento. tendência dos correligionários registros Afirmemos então, integralistas, com bastante coragem, nos anos 50. Ou estavam no PRP, nosso ideal. Afirmemos porque ele resiste ao tempo e ou estavam fora do integralismo. existirá sempre. Somos um movimento para a Interessante conclusão que chega humanidade e a eternidade. Assim, ser integralista não é Genoino ao apontar que a fácil. E, antes de tudo, ser integralista significa tomar maioria dos correligionários que atitude conhecendo a verdade da vida e crendo nela. Aqui não estivessem vinculados ao está o binômio capaz de criar o homem integral, aquele PRP teriam que estar, que dignifica a existência: razão e crença. Então, “Ego necessariamente arrolados nas Sum: somos um movimento para a eternidade: somos, fileiras dos 3 outros partidos: não estamos num movimento(...) Portanto, os que não UDN, PTB E PSD: EI Vol. 8 são integralistas estão hoje, ou na UDN, ou no PSD, ou estarão amanhã no PTB... Para o integralista: pensa-se e logo descobre sua existência no movimento... parte dele...”

Umberto Nasceu em Engenheiro Bacharel Rio Gestão 31/01/1967 Membro Atuante líder da Era um dos “Ler: O Estrangeiro, O Esperado, O Cavaleiro de Itararé e Sim, eu me lembro Como estudar Plínio Salgado Ainda é vivo Pergher 1930 em civil e em Grande a 15/03/1971 – do PRP chamada “ala coordenadores da a Voz do Oeste, pois nestes romances estão pautados dessa enciclopédia e Farroupilh Filósofo Sec. Filosofia/U do Sul Assembléia jovem” do PRP, arregimentação toda sua doutrina, política, sociológica e filosófica. O do quanto nós, em Retirado de A Marcha, 12 de a, RS de FRG Legislativa do RS. ARENA era Secretário de jovem integralista. resto de seus escritos são desdobramentos destes.” Porto Alegre fevereiro de 1954. Arregimentaç Arregimentação Em 1957 foi o líder esperávamos os (78 anos) ão Eleitoral eleitoral do PRP do I Congresso de volumes chegassem. Reeditado na EI Vol. 8 do PRP - 1957 Lideres da Era lição de – Juventude doutrinação nos Coordenador integralista. debates dos CCCJ (...) do Cong. de Permaneceria ligado e na época até fui Líderes da ao PRP até 1964. contatado porque Mocidade havia um teto meu Integralista nesta coletânea”1 1957 – participou do Congresso de Vitória 1959 – Engenheiro Civil/UFRGS5 9 – Oficial de Gabinete do Sec. de Agric. do RS, Alberto Hoffmann dec. de 60/70 – Trabalhou no Instituto Gaúcho de Reforma Agrária, no Centro de Processament

1 Entrevista concedida via e-mail em 20/11/2008.

QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 3 ª GERAÇÃO

o de Dados do Estado e Metroplan6 3/64 – Chefe de Gabinete do Instituto de Previdência do Estado67- 71 – Secretário de Obras Públicas do RS (já na Arena, fazia parte do Diretório Regional)Trab alhou também em algumas empresas privadas de construção civil em períodos diversos. Figura importante do PRP participou ativamente de reuniões do diretório, inclusive aquelas que decidiram sobre coligações eleitorais e escolhas de candidatos.

Genésio Nasceu em Jornalista e Formou-se São Não PRP Filiado ao PRP - Militante próximo Ser integralista não é fácil. Significa tomar atitude Sim: Lembro-me de Ser ou não ser integralista: Como Sim Cândido Pereira São Bento Advogado me Direito Paulo paulista de Salgado era um conhecendo a verdade da vida e crendo nela. Aí está o que estudávamos nos os integralistas pensavam nos Filho2 do Sapucaí Jornalista pela atuante e entusiasta binômio capaz de criar o homem integral, aquele que diretórios do PRP e anos 50? – SP, em tinha grande Faculdade perrepista dignifica a existência: razão e crença. Ser e estar são os mesmo nas EI Vol 8 25 de penetração de Direito Participava do verbos. O integralista é. Afirma-se permanentemente assembléias das agosto de junto às da diretório do PRP- SP através de um movimento de idéias. Somos um Águias Brancas os 1920 e questões Universidad movimento e não Estamos um movimento. Afirmemos títulos da EI (...) era permanece ligadas à e de São então, integralistas, com bastante coragem, nosso ideal. doutrinação dos vivo. Cultura.Exerc Paulo. Afirmemos porque ele resiste ao tempo e existirá grandes temas do (88 anos) eu funções sempre. Somos um movimento para a humanidade e a integralismo (...) mas em eternidade.(...) Assim sendo, os que não são não me lembro se eu organizações integralistasmas estão hoje, ou na UDN, ou no PSD, ou comprava ou ganhava de classe estarão amanhã no PTB...precsam pensar: para o no diretório1”3 tendo sido integralista: pensa-se e logo descobre sua existência no

2 Ver: Dicionário de autores paulistas. Op. Cit. p.466. 3 Entrevista concedida em 21/12/2008, no apartamento do depoente, em São Paulo.

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presidente do movimento... parte dele! EI Vol 8. “Jaboticabal Esperanto Klubo”.Nas Arcadas, dirigiu a revista Arcádia, e presidiu a Academia de Letras da Faculdade. Foi jornalista e editor da Editora Guainumby. Abelardo Não foram Diplomata Não foram Washingt Não foram Não Não foram Não foram Não foram Ato de fé integralista Não foram Cardoso encontrad encontrado on - EUA encontrados foram encontrados encontrados “Washington, 30 de agosto de 1957. encontrados registros defendido numa carta à encontrados os s registros registros encontra registros registros Prezado senhor Dórea. Congratulo-me com o senhor e Gumercindo R. Dórea registros registros dos peço autorização para divulgar as idéias cá pras bandas registros de Washington, onde sou membro do Itamaraty. Carta na qual, o senhor Cardoso Subscrevo-me... Abelardo Cardoso.” diz que converteu-se ao integralismo e que passa, a partir daquela data a ser e fazer valer o integralismo... Note como a força de aliciamento do movimento ainda era pautada pelos antigos protocolos. Ivan Luz Foi deputado PRP Rio de Foi deputado PRP Militantes do PRP Não foram “Estado é mais importante que a Família na ordem dos Não foram Teleologia Integralista Sim federal pelo Janeiro e federal pelo PRP na encontrados meios. Na ordem dos fins, a Família torna-se mais encontrados registros (Retirado de A Marcha, PRP na Brasília legislação 1960-64. registros importante que o Estado. Entretanto, como a ordem dos 20/11/1958) legislação Presidiu por algum fins determina, a família é o mais importante Reeditado na EI Vol. 8 1960-64. tempo o INIC agrupamento da sociedade organizada (...) assim, a Presidiu por realidade não aceita artifício: o Estado Integral, é o algum tempo Estado Caridade. Assim, é bom que se registre que: o o INIC liberalismo concebeu um Estado sem finalidade. O fascismo, um Estado com finalidade em si mesmo. O nazismo caminhava para a negação do Estado e o comunismo é a negação total. Logo, é preciso determinar uma teleologia integralista.”

Contemporân Bahia Não Não Militante do PRP Afastar-se-ia do “Como conciliar o Totalitarismo que cujo fundamento é Não foram O integralismo não é Sim eo de integralismo em anti-cristão com o Integralismo que é, por essência encontrados registros totalitarismo Hélio Rocha Gumercindo finais dos anos 50. inspiração Evangélica?...Muitos julgam que variar é Rocha Dórea, Vivia na Bahia onde evoluir... E enquanto isso, o conformismo vai nivelando o (retirado de Edições Sino de atualmente é lecionava e resto numa mediocridade repugnante. São necessárias Prata, RJ, 1950) um participava da muita audácia e muita rebeldia para resistir à lama da Reeditado na EI Vol. 8 empresário juventude planície igualitária. No entanto, há alguns que se bem sucedido perrepista. iniciava debatem e não despregam os olhos do alto da montanha. da área de um projeto de uma Esta certeza é o dínamo propulsor da nossa Mística educação. escola particular Revolucionária. Assim, sendo o Integralismo algo novo, Possui uma que hoje é uma dos na sua aplicação sulamenricana, é, contudo, na sua universidade maiores essência, a cristalização do cristianismo... Deste modo, o no estado da conglomerados mais rudimentar dos raciocínios alcança, de pronto que o Bahia que educacionais do Integralismo e Totalitarismo são filosofias inconciliáveis. recebe seu nordeste: as O binômio Nacionalismo-Cristianismo exclui, nome. Faculdades Helio racionalmente, qualquer tentativa de aproximação, entre Rocha. a filosofia integralista e as totalitárias existentes. Como Nacionalistas, constituímos o pólo diametralmente oposto aos totalitarismos de esquerda e direita, aos quais

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por coerência aos seus postulados estadistas, hão de violentar e absorver a Personalidade humana. Vê-se então, que seria empresa de insensato alguém aproximar o Integralismo dos totalitarismos, pois: enquanto houver suborno, haverá quem chame o Integralismo de nazi- fascismo. Mesmo agora, a intolerância totalitária dos depredadores do PRP, sejam eles gratuitos ou pagos trazem no seu hiperbólico fanatismo a incandescência dos mais ortodoxos discípulos de Goebbels”

Gumercindo Nasceu em Advogado, Formou-se Rio de Não Não Intelectual muito Era diretor do Jornal Esse desfile de Gerações debatendo e realizando uma Jamais se desvinculou Em diversos volumes, Introduções e comentários nos Permanece até Rocha Dórea Ilhéus, BA, escritor e em Direito Janeiro e próximo a A Marcha e obra de cultura, quanto a sua essência e substancia, é permanecendo ativo e por meio de volumes: 1,3, 4, 6, 8, 10 e 11 da o momento em 4 de Editor Ainda na, então, São Salgado, Rocha proprietário da GRD acontecimento único na história deste povo e só por ela combativo militante. comentários Rocha EI propagando os agosto de em Feira de Faculdade Paulo Dórea foi um Editor basta se avaliar a força e grandeza do Integralismo Dórea trocava Compilação retirada dos Vols 6 e ideais 1924 Santana - BA, Católica, personagem Brasileiro. Eu escrevo e inventario subsídios doutrinários “O integralismo é, impressões com seus 8* integralistas, manteve em 1948. essencial na interlocutor direto descritos pelas penas de cinco gerações Quantos destes, sempre foi e sempre leitores: Especificamente no volume 8 há embora sem (84 anos) disputas retomada de Salgado que figuram nesses volumes continuam do lado de Plínio será a razão um texto reeditado de GRD: muita ideológicas simbólico política Salgado, é coisa que a organização desta enciclopédia emocional e “O primeiro volume Plínio Salgado e a Estirpe de interlocução bastante no integralismo não toma conhecimento. O nosso empenho é levantar intelectual de minha da EI mostrou o ideal Aretino estremecidas do PRP, pós 1950. um monumento ao Integralismo, que possa ser existência!” de Salgado, descrito com nomes No entanto, compulsado pelas gerações vindouras. E o que está aí em (25/08/2008) por ele mesmo, o (Retirado de Idade Nova, RJ, consagrados nunca chegou a letras de forma, não é o patrimônio dos seus autores, segundo mostrou aos 1946,) posteriormente da fazer parte da mas é um patrimônio do movimento integralista! E as moços os sonhos modificado para compor a EI intelectualida cúpula do PRP. novas perspectivas já poderão ser traçadas – por jovens daqueles eram Vol. 8 de de do Brasil de 1958, para a formação de uma pátria que soldados da primeira esquerda, tais objetiva a comunidade internacional do futuro. linha, e no terceiro, como Jacob serão mostrados os Gorender, incansáveis e que Mario Alves resistiram a todas dentre intempéries ” EI, Vol. outros, o que 3. colaborou para que ele partisse para o Rio de Janeiro, em 1944, em pleno estertor do Estado Novo, quando se forma em Direito. Na faculdade foi aluno de integralistas ilustres, tais como, San Thiago Dantas, Antonio Galotti, Thiers

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Martins Moreira (não por acaso, todos homenagead os com textos publicados na Enciclopédia do Integralismo, lançada por Gumercindo a partir de 1957). De 1948, ano em que se forma advogado, até 1952, quando ajuda a fundar o jornal A Marcha, periódico oficial do PRP, Rocha Dórea escreve em jornais de cunho conservador e exerce sua verve crítica contra o comunismo. Em 1952 participa da fundação da CCCJ, quando é eleito seu primeiro presidente. Em 1956 fundou sua editora (GRD) e em 1957 torna-se diretor do jornal A Marcha.

____ Foi uma das ____ São Não foram Não teve Nos anos 50 fez Em 1957 era 1ª “Penso que o integralismo, por si só já é a solução dos “Infelizmente, dados Não foram localizados “A mulher e o integralismo” Registros Carmen lideranças Paulo encontrados carreira parte da diretoria secretária da CCCJ problemas nacionais no que se refere a mulher. Digo isso os acontecimentos registros EI Vol 9 esparsos Pinheiro Dias dos Águias registros político- das CCCJ, e dirigia Fazia parte da porque entendo que a família é o centro por excelência que se sucederam a indicam que Brancas partidári também a Ala cúpula dos Centro da atuação da mulher. (...) Nem superior, nem inferior ao 1937, quando o sim a Feminina dos Culturais da homem, a mulher é diferente dele. Este é o equilíbrio. Integralismo alcançava Centros. Juventude Assim, se continuarmos a verificar o trabalho feminino o auge de seu fora do lar, a transposição para o recesso da casa, de esplendor, atuando na costume antes restritos a ambientes específicos, a vida nacional de vaidades crescentes, a busca pela satisfação dos desejos forma, quiça,

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materiais, veremos solapar a estrutura familiar nesta definitiva, hoje só pátria” podemos pensar de modo ideal no que seria o Brasil de nossos dias, na vigência do Estado Integral” (EI, Vol. 9 – 1959) Francisco ____ Padre, Teologia na Campina Não Não teve Líder católico e Militante católico de “é preciso conhecer esses quatro pontos cardeais da Não foram localizados Não foram localizados Os quatro pontos cardeais do Sim Galvão de escritor e PUC – s/ São carreira palestrante ampla atuação na doutrina política do integralismo, para compreender que registros registros Integralismo I e II partes – Castro professor de Campinas, Paulo político- integralista comunidade nós integralistas anão pretendemos instaurar, no Brasil, Suplemento da EI – (Vol 12) latim Um dos professor partidári campineira uma ditadura desorientada e oportunista, como foi o primeiros de Latim a disseminando os peronismo e o Estado Novo (...) Assim, só nós, 4 artigos – Revolução da família; membros da ideais integralistas integralistas podemos festejar o trabalho com a O problema da ordem; Técnica Academia na década de 1950 compreensão geral do século XX. O trabalho, para os de Sorel, técnica de Cristo; A Campinense Permanecia clérigo integralistas, é a fonte do espírito de justiça, da concepção integralista do de Letras, atuante e militante inspiração política e dos anseios da liberdade humana”. trabalho. fundada em integralista, embora EI, Suplemento. 1956. não vinculado diretamente ao PRP.