Raimundo F agner O cearense que descobriu a fama velejando no eclético oceano da música

desbravar o agitado oceano da popularização, da mídia. A mídia que o tornou famoso, provocou muitas reações de rebeldia em Raimundo. Uma relação de amor e ódio. Críticaso perturbavam. O mar ficavabravio. Decepcionando alguns e agradando a muitos, ele parou de criar. Queria apenas cantar, queria ouvir multidões cantarem, se emocionarem. E conseguiu. O seu passado e as influências de uma famí liaseresteira. agora, despontavam de vez para milhões de pessoas. As velas, ao longo de sua vida, adentraram mares diferentes. Algumas vezes as ondas o levavam para os mares da melodia latina outras para a agitada sonoridade dorock...Oecletismo perdurou em toda a sua relação com a música, e ela, por um bom tempo, o manteve distante de suaorigem. Mas ele regressou através de outro conterrâneo. O Luiz. Juntos relembraram o nordeste, o orgulho, a a! ma do Raimundo. Hoje, o pescador Raimundo, o cantorF agner. depo is de 25 anos velejando no oceano da música, parece ter alcançado um mar sereno, tranquilo. Irreverente, vaidoso em alguns momentos, Fagner revela que ainda não se sente realizado artisticamente e que ainda tem muito o que navegar. Sua aventura nos mares da carreira artística pode ser dividida em duas fases: antes e depois da sua popularização no início dos anos 80. Nesta última fase, quando começou a deixar seu lado compositor e a se dedicar como intérprete, as críticas eram frequentes e Com um temperamento forte e autêntico. Fagner driblou Fagner ainda as rebate de maneira firme: “As pessoas têm as criticas e conquistou o sucesso através de sua preconceito no Brasil para a música popular”. Apesar Entrevista com melodia. disso, Fagner não esconde que as ondas de inspiração Raimundo Fagner, poética eram mais fortes na década de 70. dia 20/01/99. O cantor não nega suas raízes nordestinas. Tem Produção, redação, orgulho de sua naturalidade. Na música, destaca como edição e texto final: Alan erto dia, um menino seresteiro contrariou os “fantástica” a sua parceria com o , que para Diniz e / pais. O garoto, em vez de fazer o que os pais ele foi uma prazerosa maré que o trouxe de volta para o Paulo Marcelo Freitas. Texto de abertura: l y / gostariam, resolveu se tomar um jangadeiro. Nordeste quando já estava distante. Paulo Marcelo Freitas Mas um jangadeiro diferente. Queria fisgar Do início de sua carreira, guarda ainda hoje uma Participação: sonhos. Seu nome era Raimundo. Um nome simples. Típico eterna gratidão que tem com , a primeira Alan Diniz, Alessandro de gente simples, de jangadeiro. Seu sonho era encontrar um cantora nacional a interpretar uma música sua, revelando- Sales, Ana Javes Luz, tesouro distante. Suas velas, então, saíram para pescar esse o para a mídia. De lápra cá. o eterno seresteiro afirma que André Nogueira, Benedito tesouro. Masele não levou mágoas, e sim orgulho. Oorgulho se sente arrependido por algumas músicas que fez que não Teixeira. Fernanda Moreira. de espalhar suas raízes nordestinas por todos os mares. E refletem asuapersonalidade. Hoje, apesar de ainda possuir Juliana Matos Brito, Pablo queria fazer isso através de uma grande paixão: a música alguns entraves no relacionamento com a imprensa, é uma Assumpção, Paulo Marcelo No mar revolto, ele enfrentou solidão. Mas, com a pessoa aberta que fala o que pensa, inclusive sobre uma Freitas, Renata Soares e ajudade uma*“fada” madrinha chamada Elis, encontrou o correnteza que nunca adentrou na sua carreira artística: a Salomão Filho. tesouro: o reconhecimento de seu talento musical. A fada política. Foto: Arquivo o acolheu e anunciou atodos sua chegada como um grande Esseé Raimundo Fagner, polêmico, bem humorado, poeta. A partir daí sua vida mudou. Os frutos de sua nordestino... Nas páginas seguintes, o cantor desenfronha pescaria foram se abrindo diante dele. Dentre os milhões as velas de sua “jangada”, e conta o seu passado e as suas de pescadores, ele despontou para um oceano diferente: o perspectivas. É um convite para o leitor velejar em suas oceano da vida artística e da notoriedade. declarações firmes, conhecer sua personalidade e um Depois de alguns anos, tendo suas letras conhecidas pouco de sua vida. Uma vida que, para quem não o e aplaudidas, surgiu um outro sonho. Suas velas foram conhece, pode parecer história de pescador. Entrevista Raimundo Fagner

Entrevista - Fagner, você já não, que não saem da estrada, que a meu ver anda muito confusa. Não se tem 25 anos de carreira e lançou um ficam, trabalham. Eu, pelo menos, não canta mais, é uma confusão danada, CD comemorativo (Amigos e Can­ trabalho janeiro e fevereiro, que é a tecnologia, modernismo, enfim tudo ções). Você se sente artisticamente época onde se trabalha mais, onde se isso. A mídia é que aceita o que toca. realizado hoje? faz mais sho ws. Eu tô sempre de férias Então, acho que falta música mesmo Raimundo Fagner-Olha, existe aqui no Ceará, minha vida toda foi cantada, que atenda todo tipo de gosto, realização naquilo que você faz, por­ assim. Então existe uma cobrança da quer dizer mais o pessoal da antiga. E que você tem que ir de certa maneira gravadora pra que você. quando lance o que chega naj u ventude é que a gente se satisfazendo, né? Mas com o tempo o disco, você trabalhe bastante, porque sente que falta mesmo cantor. você vai querendo mais. você vai que­ o trabalho dc divulgação pessoal é um Então, eu penso em fazer um tra­ rendo fazer coisas que você nào fez trabalho importante. Nào é só a mídia balho, que a minha raiz mesmo é mú­ ainda, ou que fez pela metade, ou que ou a televisão apresentar aquilo, você sica antiga, serenata desde Orlando A equipe de produção fez uma entrevista com fez mal feito. Então, existe um clima de estar na televisão, tocar no rádio, mas Silva (cantor brasileiro, considera­ o radiafista Evangé. satisfação daquilo que você produziu, você indo pessoalmente nas cidades do por muitos a maior voz do Bra­ que estava **inalizando mas um clima de insatisfação com criaaquele clima, que é favorável tam­ sil). A minha formação é essa, apesar um livro com mais de relação aquilo que você aprendeu e bém àdivulgação do disco, né? Então, de ter começado pela porta da juven­ mil páginas sobre o can­ que você pretende fazer. Então, é uma normalmente a gente faz os contratos tude, mas o meu ouvido se formou tor coisa meio dúbia nesse sentido. A pra que todo ano você lance o disco. muito em cima da música tradicional realização profissional acontece em Quando você consegue driblar um brasileira, da qual eu tenho uma parce- cada momento que você lança um pouquinho, faz um ano e meio, mas o lamuito disso, pelo meu canto, por tudo disco, faz, lança um trabalho, mas logo certo mesmo seriadois anos. Você faz isso. Seria uma idéia. A outra idéia aquilo esvazia também e logo vem a um disco, tenta que ele seja divulgado seria um disco de músicas inéditas vontade de você realizar o seguinte o máximo e dois anos depois você minhas, com todos os parceiros que eu (itrabalho) o mais depressa possí­ trabalhei durante esses anos. Se- vel. Então, existe essa coisa mes­ riaum disco talvez mais moderno. mo. você faz, depois quer fazer “(•••) eu não tenho nenhum Eaúltimaseriaum discojuntando outro. Não existe essa realização as tendências libanesas, árabes plena, existe uma realização par­ preconceito, as pessoas é minhas, misturando com o Nor­ cial daquilo que você faz naquele que têm preconceito no deste, que é um trabalho que eu já momento que você acha que fez fiz com a Espanha também {disco tudo e depois você vê que ainda Brasil para a música Traduzir-se, 1981). Essas coisas tem muito o que fazer. tão ainda meio boiando na minha Entrevista - Ouanto tempo popular. Existe um cabeça. Este ano eu tenho que existe de um trabalho pra outro, fazer o trabalho do Patativa do no decorrer da sua carreira? preconceito enorme da Assaré {poeta popular cearense, Fagner - Geralmente é todo crítica px)rque eles querem que já teve poemas musicados ano que você lança um disco. por Fagner), que ele tá fazendo Depois, eu comecei a ficar mais impingir um gosto ” 90 anos. Nós vamos produzir um preguiçoso. Eu comecei a fazer de bonito trabalho pra ele. Então, tô um ano e meio a dois anos, porque aqui meio de férias pensando nis­ tem o momento que você também fica lança. Isso é comum nos Estados Uni­ so, depois do carnaval eu decido o que insatisfeito, como qualquer profissão. dos, aonde o esquema profissional é é que eu vou fazer. Você enche o saco do sistema. Na mais forte. Aqui não, você tem que Entrevista — Fagner, desde o minha profissão então, que hádiferen- fazer todo ano, tem que fazer sucesso seu primeiro LP até o último, você çado que você compõe, damúsica, da todo ano, tem que vender o disco todo vivenciou muitos momentos e já tra­ sensibilidade, pra um mercado, pra ano. É mais confuso. balhou em vários estilos musicais. coisa da selva de pedra da competi­ Entrevista - Fagner, você disse Comparando o Manera Fru Fru com ção. Queira ou não queira, você é um que esse negócio de realização pro­ o Amigos e Canções, o que é que produto, vocêestáali competindo den­ fissional é meio parcial. Você já tem mudou? tro da área e eu há muito tem po venho projetos novos na cabeça que você Fagner - Mudou muito e não fazendo discos que atingem a massa e pretende realizar? mudou nada. Eu passei em vários uni­ que estão dentro do mercado. Então, Fagner-Tenho, tenho. versos da música, porque eu passei a existe um clima de você querer ter Entrevista - Ouais? minha vida ouvindo isso e não tenho momentos que você quer poder dar Fagner - Olha, eu tenho alguns vergonha do que eu escutei. No Brasi 1, mais tempo para poder amadurecer, projetos pra este ano. Principalmente se tem vergonha do que se escuta, da porque o tempo é muito curto. Em um este ano, que eu faço 50 anos. Quer memória, do passado. Eu faço o que eu ano você fazer um disco, no outro ano dizer, trabalhei ano passado com os25, quero, eu aproveito acondição que eu você fazer, o tempo que você leva que era 25 de carreira, esse ano eu vou tenho de ser vendedor de disco, de preparando aquela idéia, o tempo que trabalhar com 50, que éam inha idade, impor meu nome dentro daminhagra- Segundo Evangé, Fag­ você leva produzindo aquela idéia, que você tem que comemorar. Então, vadora. Ninguém diz o que eu faço e ner é uma pessoa ex­ aquele disco, quer dizer, praticamente vêm à cabeça alguns projetos que eu faço o que quero. Muitas vezes até trem amente simples, come em um restau­ você pra lançar um disco, você pensou ainda reaimente não estão definidos, faço coisas que não é pra fazer, mas rante fino da mesma e trabalhou durante seis meses. Quan­ mas eu tenho a intenção de fazer um é essa liberdade que eu tenho de fazer maneira que come ”pa- aquilo que eu quero, na hora que eu do você lança, que você teria que disco bem seresteiro, um disco bem de nelada em um bote­ começar a trabalhar o disco, vocêjátá chorinho, de serenata, um disco pra quero. Não interessa se vai vender ou quim". morto. Eu sou assim, eu gosto de che­ atingir já um público mais maduro e se... Tem horas que você faz mesmo gar num período e dizer: eu não quero acredito que, de certamaneira, recom­ pra estourar e tudo, tem horas que mais fazer nada. Então, tem pessoas por a história do cantor no Brasil, que você faz projetos. Então, eu fiz vários 29 Raimundo Fagner Entrevista

discos de projetos, discos ligados ao Noturno, não tem várias músicas que tente, mas ele sempre gravou só as samba canção, discos ligados ao Nor­ daria até um terceiro disco. Quem músicas dele. O Ednardo tam bém. Eu deste, discos com Luiz Gonzaga {can­ sabe futuramente, né? que abri o leque, eu tenho 200 parcei­ tor e compositor nordestino, o rei Entrevista - Fagner, nesse ros, tá entendendo? E tive muito mais do baião), discos na Espanha, discos novo disco você convidou algumas contato com pessoas de lá do que nos Estados Unidos. Eu fiz isso porque pessoas pra cantar junto com você. daqui. Daqui quem virou meu parceiro eu gosto de música duma maneira Como foi a escolha dessas pessoas mais constante foi o Fausto Nilo {can­ geral, tudo me atrai, tudo me sensibili­ pra cantar e por que deixar de fora tor, compositor e arquiteto za, e eu faço uma coisa que nêgo acha pessoas como Ednardo, Belchior, cearense), o Brandão (Mozart meio incoerente, porque todo mundo Teti (artistas cearenses da mesma Brandão, compositor cearense e ar­ mantém uma linhae eu faço mais pra geração de Fagnerj, que participa­ quiteto), de alguma maneira, sempre A relação do cantor com fugir dessa linha. Eu vou driblando e ram tanto da sua carreira nesses como bom parceiro. O Ricardo a família é muito forte. gravando aquilo exatamente que eu 25 anos? (Ricardo Bezerra, compositor Mesmo distante, telefo­ sinto na hora, como eu gosto, como eu na diariamente para a Fagner- Nào participaram tanto cearense e professor de arquitetura mãe que é descenden­ vejo, que tipo de música. Então, eu não assim como você tádizendo não. Quem na Universidade Federal do Ceará te de índios O pai. que tenho nenhum preconceito, as pessoas mais participou desse pessoal foi o - UFC)) também, num período queeu faleceu em 95. era lioa- é que têm preconceito no Brasil para a Belchior. Belchior, até eu sair aqui do estava aqui, foi meu parceiro, mas nés. músicapopular. Existe um preconcei­ Ceará, nós sairmos daqui do Ceará, nunca... Depois que eu saí, a vida ficou to enorme da crítica porque eles que­ ele era meu parceiro mais constante e um pouco distante disso tudo, eu não rem impingir um gosto. O público não, aquele que realmente eu achava o meu tive uma participação fundamental. a gente é um país subdesenvolvido, melhor parceiro. Depois que fomos Por exemplo, o Belchior regravou analfabeto, carente e as pessoas nào embora daqui nunca mais fizemos uma um disco de várias canções de outros entendem muito as coisas e a música música, talvez uma música. artistas, não sei quê. e tinha umamúsi- popular é quem atinge esse povo. ca. inclusive é a cara dele. que eu E eu tenho uma ligação direta fiz, que era o Retrovisor, que eu também com a massa no Brasil e “Nós fomos muito ajudados, gravei nesse disco com o Zezé Di faço questão de cantar pra esse Camargo e Luciano {dupla serta­ povo. E em alguns momentos a isso com certeza. Eu passei neja campeã de vendagens no crítica picha, critica e acha que Brasil), que era pra ele ter grava­ deve guiar os artistas. Eu não. eu fome também, como muita do. Essa música que foi feita pra faço as coisas que eu quero e já fiz ele, ele também não gravou. En­ muita coisa que as pessoas criti­ gente, comia em tão, não existe... eu tô falando cam, mas aquilo tudo que eu ouvi, supermercado, foi um claramente, porque não adianta eu ouvi de tudo e automaticamen­ ficar fingindo que agente vive de te eu faço aquilo que eu acho que período realmente duro, mas amores, porque nào existe, existe é melhor naquele momento. uma amizade superficial. Pelo Entrevista - Você, nesse seu havia todo tipo de ajuda (...)” menos eu não vou na casa do último disco privilegiou, na se­ Belchior, nem ele vai na minha, leção do repertório, algumas quando vai é rapidamente, não músicas do início da sua carrei­ existe uma grande amizade.existe ra, algumas da década de 80. Da E na realidade a gente nunca teve uma coisa, uma memória boa, uma década de 90, praticamente não há tão perto assim. É uma pena, eu até lembrança boa e carinhosa. Eu inclusi­ nada. Você acredita que esse disco tentei ano passado fazer shows, tentei ve falo isso, porque eu já tentei essa é um painel, é uma síntese da sua levar inclusive os dois (Ednardo e união, tentei essa união ano passado, carreira e por que alguns sucessos Belchior) pra minha gravadora através de fazer um disco, os três, seus da década de 90 ficaram de (BMG), para um projeto, mas queira através de levá-los pra gravadora, fora? Como fo i que se deu essa ou não queira a verdade seja dita, através de fazer um show aqui. Fize­ seleção? nossas cabeças são bem diferentes mos um show, depois fui convidado Fagner - Não, essa seleção foi uma da outra ainda não afinamos pra fazer um show em Sobral, levei os feita na base de praticamente cada nisso ai, que é um desejo meu inclusive, dois, fizemos o show, mas nunca exis­ disco, cada fase. A gente tirava algu­ porque são dois amigos, são dois tiu, nunca existiu assim, existe mais ma co isaque ti vesse alguma importân­ conterrâneos, são dois companheiros amizade até entre eu e o Rodger cia dentro do meu trabalho, ou porque de geração e que realmente o nosso (Rodger Rogério, cantor e ator tocou muito, ou porque não tocou e era nome marcou aqui no Ceará. Nós três cearense), entre a Teti, uma coisa uma música importante, era um traba­ temos uma.. Mas não foi, eu nunca assim. Eles sempre foram um pouco lho importante. As pessoas que eu participei de um disco do Belchior, eu mais distantes mesmo. Ao longo da convivi ao longo desses anos... quer nunca participei do disco do Ednardo, carreira ficou um pouco assim, eu dizer, a gente veio pegando por fases, tá entendendo? A gente veio cantar gosto muito, mas não existe essa coisa Fagner tem 3 irmãos e desde os primeiros discos, agente via junto a primeira vez aqui ano passado de ter que chamar pra um trabalho. uma irmã que faleceu que música tinha significado naquele (Fagner se refere a um show na Essas pessoas que estão aí {no CD em 79 num acidente período e foi trabalhando assim. Nào praça do Ferreira, localizada no Amigos e Canções), a maioria delas, de carro. O cantor aju­ sei se ficou alguma coisa de fora da centro de , promovido pela já me convidaram Já gravei, já cantei da a criar o sobrinho época de 90, eu também não tô nem Câmara dos Dirigentes Lojistas). junto Játem umahistória E existe uma Leonardo como se fosse me tocando. Talvez tenha sido as pes­ Então, não existe essa coisa toda não. afinidade muito maior do que se pensa um filho. soas que participaram do disco, que Chegamos lá, cada um correu pro seu que eu teriacom o Belchiore o Ednardo, algumas escolheram, e terminou fal­ lado. Eles muito personalizados, por­ apesar de ter todo o respeito, mas tando alguma coisa, mas isso é co­ que o Belchior nunca fez nada com nunca aconteceu aquele elo mais for­ 30 mum, não tem Canteiros, não tem o ninguém, ele sempre foi muito compe­ te, que é o que se espera disso aí. Entrevista Raimundo Fagner

Entrevista - Fagner, deixa eu a só olhar, eu ficava pescando a pes­ encontro de vários artistas cearen­ voltar um pouco. A gente na verda­ soa tocando. eu pesquei bastante nis­ ses nos anos 70). Minha irmã estava de nem falou ainda do começo, mas so, até começar nossa geração, os em Brasília e me levaram praisso, com do começo mesmo, a infância. Você festivais daqui de 68. Foi quando eu essa função. Eu fui, passei no vestibu­ começou a tocar muito cedo. Tocar conheci esse povo todo. E o meu gran­ lar. mas játinhaum movimento musi­ não, a brincar com música. Como de professor de violão, foi o Piti. um cal em Brasília, como sempre tem. Até foi isso na infância? Como é que baiano que tinha estourado na hoje, né? Você pega vários grupos, o você exercitava música no começo? Tropicália, com Caetano (Veloso). próprio Legião (Urbana). Oswaldo Quem é que incentivava? (Gilberto) Gil,(Mar ia) Bethânia, T om Montenegro, quem mais meu Deus? Fagner - Bem, a minha família Zé ( artistas baianos, que participa­ Paralamas (do Sucesso), todo esse era uma família de músicos. Lá em ram de um movimento musical, que pessoal passou em Brasília, Marlui casa no interior, eu menino de três, revolucionou a música brasileira: a Miranda(azrztora e compositora bra­ Dizem que. quando adolescente, Fôgner quatro anos, ia lápra Orós (município Tropicália), z leveio pro Ceará, pegou sileira que ultimamente vem desen­ teria falsificado o regis­ a 402 quilómetros de Fortaleza), pro uma doença, ficou aqui seis meses e volvendo pesquisas com a cultura tro de nascimento para interior e a família toda, final de tarde, foi realmente aonde eu comecei a indígena). Até hoje tem gente surgin­ fazer um concurso de tocava, fazia aquele sarau, o pessoal aprender um violão mais... E sempre do em Brasília. admissão noco/égio Sa- mesmo da roça, que saía da roça e ia foi assim, eu nunca estudei nada... E nesse momento também eu par­ fesiano. tocar. Inicialmente essas são as pri­ Entrevista - Com quantos anos ticipei de um festival, eu mejuntei com meiras memórias, lembranças que eu você começou a tocar? muita gente da faculdade que fazia tenho de música dentro da m inha pró­ Fagner-Violão, com uns 12 ou música e eu ganhei cinco prémios no pria família. 13 anos. Então, tem essa coisa, a festival (Festival de Música Popular Depois, na minha casa. meu pai minha relação com a música sempre do Centro de Estudos Universitári­ (José Fares Lopes) foi cantor de rá­ foi muito estreita mesmo, desde famí­ os de Brasília, onde obteve o sexto dio no Líbano. Eu vim saber agora lugar com Manera Fru Fru antes dele morrer, há uns dois Manera. prémio de melhor in­ anos. Eu não sabia, ele nunca dis­ térprete, com Cavalo Ferro e o se, talvez ele teve algum problema “ (...) muita besteira que eu primeiro lugar, com Mucuripe, lá e nâo queria que eu fosse, que falei (...) talvez fosse o além de menções honrosas). E já ele também nâo queria que eu existia uma corrente dentro da fosse cantor. Então ele escondeu esgoto que eu tava botando universidade pra que eu fosse lu­ esse negócio, eu v im saber no final r tar mesmo, que eu saísse da facul­ da vida dele. O Fares (Lopes), pra fora e dizia: 'O, vão dade. Eujá fiquei muito conhecido meu irmão, que é o presidente da na faculdade. As pessoas que fo­ federação (FADEC, Federação tudo à merda, que eu sou ram meu incentivo principal foram de Assistência ao Desporto no eu mesmo e chego aqui e as pessoas da faculdade, foram os Estado do Ceará), é um tremen­ amigos, que diziam: “Você num do seresteiro, tremendo cantor e é faço o que quero (...)'” tem nada que tá aqui, você tem bastante criterioso, é uma pessoa que ir embora, você tem que ir muito por dentro da seresta, é embora”. Então, Brasília foi um conhecido aqui em Fortaleza. A minha lia. Depois, tive a felicidade de tá em momento em que fui pra ter que passar màe tem uma voz muito bonita, ontem Fortaleza, de tá num momento em na universidade, mas também era o mesmo tava cantando pra mim, uma Fortaleza - esse momento cultural, caminho deeuirembora,queeramais voz afinada. As minhas irmãs, todas musical muito forte, que teve aqui no perto do Rio, porque (aqui em Forta­ sempre... lá em casa sempre teve um final dos anos sessenta. Começo dos leza) ficava mais longe, assim eu man­ clima de música. E eu, aos seis anos de anos setenta, foi quando a gente fez tive mais independência, porque eu idade, fui levado pra PRE-9, essa Rá­ essa turma e fomos embora. Então, sair daqui exatamente pra ir pro Rio dio Clube aqui (Ceará Rádio Clube, acho quejávinhaumacoisaeeu entrei era muito difícil. Tive que ir pra lá, pra emissora da rede dos Diários Asso­ dentro de um ambiente que estava depois fazer essa viagem pro Rio. E eu ciados de Assis Chateaubriand), e efervescente aqui em Fortaleza, que sai universitário de Brasil ia pra tentar ganhei um concurso de música aos foi o movimento da gente, que termi­ no Rio. Com um mês, eu nem lembra­ seis anos, quer dizer, não deixo dejáter nou surgindo o Pessoal do Ceará va mais que eu tinhasido universitário. nascido num meio assim. (movimento musical que reuniu um Eujáestava totalmente envolvido com E depois as minhas lembranças grupo de artistas cearenses no iní­ a coisa da música. são de pegar música no violão, de cio da década de 70) e nós tivemos a Entrevista - Fagner. ao che­ ouvido. Comecei umas aulas aqui, em oportunidade de tentar a vida e deu gar no , em 1972, frente ao Colégio Castelo (Colégio este estrago todo (risos). você passou por muitas dificulda­ Castelo Branco, tradicional colé­ Entrevista - Fagner, em 1971 des pra divulgar a sua música. O gio de Fortaleza), com o professor você foi cursar Arquitetura em fato de ser nordestino atrapalhou Cirino, que era um professor muito Brasília. Esse momento foi curto, já em alguma coisa? Desde a infância. Fag­ conhecido aqui, mas logo abandonei, que com um ano você já estava no Fagner-Olha, atrapalha porque ner se interessava por peia minha inquietação dele começar Rio de Janeiro. Como é que foi esse nordestino até hoje existe essa coisa, música. A mãe e a irmã o levavam para progra­ a repetir o que tava ensinando. Com momento que você passou em né? Mas tem muita gente que ajuda, as mas de auditório onde uma semana, caí fora e passei a ver as Brasília? pessoas mesmas que entendem, que costumava cantar pessoas tocarem, meninas que eu co­ Fagner - Eu fui pra fazer o ves­ não têm essa coisa na cabeça, esse nhecia, que eu namorava ali na Dom tibular, que aqui eutinhasido reprova­ preconceito de que é nordestino. Nós Manuel (avenida localizada no cen­ do. Nâo estudava mesmo, a gente fomos muito ajudados, isso com certe­ tro de Fortaleza), foram meus pri­ vivia na noite e tal, no Bar do Anísio za. Eu passei fome também, como meiros professores de violão. Eu passei (famoso bar de Fortaleza, ponto de muita gente, com ia em supermercado, 31 Raimundo Fagner Entrevista

foi um período realmente duro, mas França e que tinha aí mais uns vinte no disco, mas foi quando houve a haviatodo tipo de ajuda, deamigos que dias de apartamento alugado e eu fi­ separação e ela queria que eu ficasse levavam a gente toda noite pra tocar, quei por ali sozinho no apartamento com ela, o Ronaldo queria que eu pra se apresentar, conhecer pessoas sem móvel, sem nada, dormindo no ficasse com ele e eu não fiquei com influentes. Até mesmo ir morar na chão, numacolcha, com umas bóias, e ninguém e ela ficou chateada com igoe casada Elis (Regina), que foi quando a Elis atrás de mim. Eu encontrei o tirou três dessas músicas, lançando só eu comecei mesmo. Eu não tinha nem assistente do Menescal, na praia Ele o Mucuripe. Depois que ela morreu, onde morar c a Elis me levou pramorar ficou louco quando me v iu, disse que já lançaram o disco delae botaram Noves na casa dela e eu já virei estrela na fazia um mês que a Elis tava atrás de Fora também, outra música que eu música no Rio de Janeiro, em 1972. mim e eu fosse lá. Eu fui no Menescal gravo nesse disco até com o Emílio Então, meu período de sofrimento foi e ànoiteeu conheci a Elis, no Teatro da Santiago. Os telefones de conta­ curto, eu tive uma sorte maior do que Praia, onde ela tava fazendo esse show. Então, foi a da maior importância, to de Fagner foram ob­ o sofrimento. Então dali foi uma amizade, o Ronaldo tidos com um dos en­ eu fiquei estrela logo rápido, todo mun­ Entrevista - Fagner, você po­ trevistados da revista, o Bôscoli ficou louco por mim, foi uma do queria saber. Nesse ano de 72, mais jornalista Neno Caval­ dia nos falar exatamente um pouco espécie de pai. É uma pessoa da maior de 20 artistas gravaram música minha. cante mais da relevância da Elis no iní­ importância pra mim, como jornalista, Ela dizia: “Não grava”. Porque eles cio da sua carreira? Como é que se como cabeça. Eu era muito ingénuo, queriam que eu gravasse um disco na deu o contato inicial com ela? Como ele sabia de tudo, era produtor de gravadora c ela disse: “Não grava, tua foi que ela lhe descobriu, lhe co­ televisão, diretor e ali foi realmente voz ainda não tá legal, vamos esperar nheceu? ondeeu comecei, ondeeles... Uns dez um pouco, vamos botando música”. Fagner - Olha, quando eu che­ dias depois me levaram pra morar, os Ela mesmo me orientando pros artistas guei no Rio a gente f cava pang uando dois mesmos me convidaram. Foi uma gravarem minhas músicas. A casa (perambulando) entre as gravado­ cena até meio engraçada, que a gente dela ia muita gente e pronto. Aí cu ras. Toda gravadora, a gente ia, passei a ser muito requisitado e mostrava a fita cantava ficava durante um ano, todo mundo gra­ na porta da gravadora com um vou música minha. Então, foi a violão. Um negócio mesmo de “Eu não vou ser o eterno porta mesmo, foi a luz maior pra correr atrás, né? Tem que tá lá pra jovem, como Nelson mim, foi aElise logo em seguidaa aparecer. Hoje nem existe mais, Nara {Nara Leão, cantora de hoje é tudo tecnologia vocé nem Mota, como Caetano bossanova). porque meu primei­ vê mais diretor artístico, mas de ro show foi com a Nara. A situa­ primeiro existia vocêchegavanas Veloso, que só fala pra ção da Nara... porque elas eram gravadoras, tinha os diretores ar­ inimigas uma da outra e eu ficava tísticos que escutavam. Existia juventude. Não, eu trabalhando com a Nara e na casa mais possibilidade nesse sentido. quero falar pro povão da Elis. Então, era uma confusão E eu fui levar uma fita para o pra poder dar conta desse recado Menescal (Roberto Menescal, ta m b ém .” e ser amigo duma e ser amigo da compositor e produtor musical), outra, uma esculhambava a outra, que era o produtor da Elis, depois a outra esculhambava, aquela es- virou meu produtor, até amigo e tória. O Chico (Buarque) foi da tudo, e deixei essa fitacom o Menescal, tava num jantar e a Elis foi no banheiro maior importância, logo me chamou que um amigo meu levou. Foram eles e o Ronaldo falou: “Fagner, aElis é um pra fazer o filme da Joana Francesa, que me lançaram, acho que játinham saco, não gosta de ninguém, mas eu vou Roberto (Carlos). Realmente eu tive me lançado no Pasquim {jornal que fazer o possível pra te levar pra morar muita ajuda, a verdade é essa. marcou época e tinha grandes no­ lá em casa”, que eles viram que eu tava Agora o preconceito existia. Tal­ mes, como Stanislaw Ponte Preta, a perigo. E uma outra hora ele foi no vez muita coisa que eu falei, muito Henfil, entre outros), não sei. Pois banheiro e ela falou “Pô, o Ronaldo é delírio que eu falei, era por conta d isso bem, eles levaram essa fita e a Elis um pé no saco, não sei quê, mas eu vou mesmo, de você estourar e mandar tava ouvindo na casa dela fitas pro falar...” Mesmo papo que um falou, o tudo à merda e falar o que quisesse e repertório dela. Um dia caiu da bolsa outro falou e no outro dia eu estava mandar tudo, tá entendendo? Então do Menescal a fita e ela falou: “ Que morando com eles, na casa deles. tinha umacoisaminhaque hoje, anali­ fita é essa?” E ele falou “ É de um cara E a partir dali a Elis era a pessoa sando, muita besteira que eu falei, lá do Ceará” E ela ouviu as quatro mais influente, era a cantora mais in­ muita coisa, talvez fosse o esgoto que músicas e no outro dia levou as quatro fluente no Brasil de lançar artistas. eu tava botando pra forae dizia: “ó vão músicas pra ensaiar no show e fica­ Então, ela botou a bocano trombone e tudo à merda, que eu que sou eu ram atrás de mim durante um mês. Eu anunciou que eu era um grande com­ mesmo e chego aqui e faço o que tava em São Paulo e já vinha meio positor. Além dessas quatro músicas, quero e falo o que quero e não adianta desiludido, que eu não tava me adap- ela ainda fez eu fazer uma música de que ninguém me entenda que eu tô Os primeiros contatos tandoao frio, tavamuito difícil pramim cordel. Nunca lembro dessa música. cagando”. Acho que muita coisa do foram feitos com a em- São Paulo. E depois agente tavanuma Entrevista - Quais eram essas meu comportamento, com relação à presária do cantor, mas casa que caiu umavigade um prédio e quatro músicas? imprensa e com relação à crítica era eia entrou de férias e a quase me mata, a bicha ficou parada Fagner - As músicas eram isso mesmo, era eu saber que eu tinha equipe de produção na minha testa e eu tive um trauma e Mucuripe, Cavalo Ferro, Moto Um muita capacidade, que ia estourar e não conseguiu mais resolvi ir embora. Eu praticamente e Noves Fora. Mucuripe, minha que as pessoas não acreditavam. In­ encontrá-la. vinha embora, porque eu não tinha parceria com Belchior, Noves Fora clusive meus companheiros daqui do mais condição. No Rio, não tinha mais também, Moto Um e Cavalo Ferro, Ceará, também, ninguém acreditava. condição e eu fiquei no apartamento com o Ricardo {Bezerra). Logo em Entrevista - Fagner, a sua mú­ 32 de um primo meu que ia embora pra seguida, ela gravou as quatro músicas sica começou conquistando um Entrevista Raimundo Fagner

público universitário. A que você duzindo quatro, cinco discos por ano, tendendo. Usei do meu poder na época atribui isso? Você acha que você então meu trabalho não é soesse, é um de ter que ficar na gravadora por tinha uma proximidade com o uni­ trabalho de produção de trabalhar j un­ causa desse grupo, tá entendendo? versitário ou a sua música repre­ to com as pessoas. Depois teve artistas que fizeram con­ sentava um pouco a mentalidade Por isso que, quando eu critico trato pra eu não estar lá, não ser diretor desse público? Belchior e Ednardo, é porque eles se deles. Quer dizer, é uma incompreensão Fagner-Não,naépoca, na déca­ isolaram muito dentro do mundo deles. enorme isso aí, mas é uma coisa legal da de 70, o público classe A era o Quando eu comecei a compor aqui isso aí. Fazer porque você tá apren­ público universitário. Inclusive, eu fui com Paulinho Tapajós, Ivan Lins, dendo com os outros, né? descoberto no circuito universitário em Chico, nêgo falava: "Porra, não sei Entrevista - Fagner, uma coisa São Pauloeo público intelectual erao quê, tem que compor com os daqui”. que chama atenção na sua carreira público universitário. A universidade Não tem nada disso, já tava noutra é porque geralmente, a partir de um Um dos membros ca prcduçáo tentou resta- tinha força, não sei se hoje como é que coisa. Então, sempre tive um leque determinado momento, o artista con­ belecer o contato, ligou tá, mas existia uma coisa muito forte muito aberto e sempre pensei nos ou­ segue ter a sua autonomia. Você, já para um celular e teve na universidade. E você ser públ ico A, tros mesmo. Eu trabalho muito pros desde o primeiro disco, procurou um grande susto: do erajustamenteter identificação com a outros, eu sou uma pessoa que gosta sempre fazer valer a sua vontade, a outro lado da linha es­ universidade. Era uma coisa, mas não de fazer as coisas pelos outros tam­ sua concepção. Como é que você tava Fagner era pra ficar em classe A nem nada. bém. Adoro, muito mais do que pra conseguiu conquistar esse espaço Meu negócio é povão, mesmo. Eu mim. Tem horas queeu me esqueço de dentro de uma gravadora? Embora passei a minha vida cantando Roberto mim. Esqueço até que eu existo. Se você já tivesse algumas canções (Carlos), Alternar Dutra e meu negó­ você pegar, eu já produzi mais de 60 gravadas, o sucesso veio somente a cio era atingir mesmo o povão. Isso é artistas daqui. É um trabalho que você partir do terceiro disco. Dentro dis­ que as pessoas me criticam muito e faz pros outros, que nem sempre você so, como é que você conseguiu se cobram muito isso porque eu dei impor? Como ê que dentro de uma virada muito grande. Na dé- uma regra de mercado tão dura, cadade 70, eu fiz um trabalho mais “Eu trabalho muito pros você conseguiu quebrar essa voltado mesmo intuitivamente pra barreira? juventude e depois eu saí, tá enten­ outros, eu sou uma pessoa Fagner - Bem, tem algumas dendo? Eu não quero ser um eter­ coisas que eu nem sei por quê. no garoto, como o Caetano, que a que gosta de fazer as coisas Agora uma delas, fundamental, é vida toda se comunica com a ju­ o seguinte: o primeiro disco queeu ventude. Eu quero, mas também pelos outros também. fiz, foi na maior gravadora do Bra­ não quero, tem horas que me can­ Adoro, muito mais do que sil, onde estava o maior cast do sa. Eu não vou ser o eterno jovem, Brasil e eu saí dessa gravadora, como o Nelson Mota (produtor pra mim. Tem horas que eu porque não quis ficar, tá entenden­ musical), como o , do? Então eu chutei o maior em­ que só faia pra juventude. Não, eu me esqueço de mim. ” prego do Brasil. Como o meu quero falar pro povão também. primeiro disco foi feito na grava­ Acho legal a juventude, acho legal dora que era a maior do Brasil, por acabeça nova mas aminha inten­ sinal ainda continua sendo até hoje, ção mesmo é cantar para o povo, é tem um retomo disso. Muitas vezes que era a Philips e hoje é a Polygram, cantar pro povão indistintamente. Eu você leva é pé na cara, muitas vezes eu já entrei com essa autonomia de faço disco é pra isso, não é para o você tem muito desgosto em trabalhar afilhado de Elis, de compositor, de crítico, ou pra um determinado seg­ pros outros, porque as pessoas querem muitagente gravando. Não existia uma mento. Não é isso não, é uma coisa que você faça tudo e você não faz cobrança pra que eu vendesse logo, eu geral, gostou, tocou, ouviu... tudo, você faz uma parte e a outra era um compositor... E fui tendo resul­ Entrevista - Ouando se deu essa parte é delas, ou é dagravadora ou é do tado, fui começando ater resultado ou mudança de um público jovem mais destino ou é... E as pessoas querem no palco ou no disco, e tive uma briga intelectual, para o povão? que quando você ajude, ajude mesmo. violenta, no meu primeiro disco, com a Fagner - Foi no final dos anos Todo mundo deve ter experiência maior gravadora, com o presidente setenta para os anos oitenta. Foi de­ nesse sentido, você dá uma vez uma mais poderoso que tinha. E isso foi pra pois de Revelação, aí veio Coração coisa, a pessoa quer o dobro. Então, imprensae não sei quê, então eu passei Alado (novela da Rede Globo, que isso é uma coisa que me deu uma certa a ser uma pessoa respeitada. Então, tinha como tema de abertura, a can­ insatisfação, muita coisa que eu fiz foi uma coisa de temperamento mes­ ção Noturno, de Fagner), a televisão pelas pessoas, as pessoas não enten­ mo meu de só fazer o que queria, mas explorou muito isso e, a partir daí, eu deram e recebi muita ingratidão nisso eu sempre tive essa possibilidade de fiquei naquela mesma, de ser vende­ aí. Continuo produzindo, mas numa ninguém perguntar o queé queeu vou dor de disco, encostando com Roberto escala menor e fui eu que abri essa fazer. Enfim, acho que acobrançaque (Carlos) dentro da própria gravadora, possibilidade dentro da CBS (atual existe pros outros não tem pra mim, Até o dia da entrevista fazendo contratos altíssimos e a co­ Sony Music), de surgir essa turma porque desde o começo eu venho foram feitas mais de brança é muito grande. Você tem que toda que tá aí: Elba (Ramalho), Zé mantendo aquilo que eu quero fazer e cinco ligações para o cantor. Algumas para o fazer música... E eu gosto de fazer as Ramalho, Robertinho (do Recife) e vem dando certo, e as pessoas não têm celular. Em nenhum coisas pra dá certo, tá entendendo? Eu uma infinidade de artistas que fui eu como mexer. momento ele apresen­ que levei pra dentro do estúdio. Grava­ Primeiro que o mercado é muito produzi muito artista, depois da tou obstáculos para con­ Tropicália, quem primeiro produziu uma va, a gravadora não querendo, briguei medíocre. Eles dizem o que é que os ceder a entrevista. música nordestina fui eu, eu que levei com diretor, sacrifiquei um contrato outros têm que fazer, quando os outros esse pessoal todo pra dentro da grava­ meu altíssimo pratirarum diretor den­ não têm idéia, tá entendendo? Se você dora. Já fiquei dentro de estúdio, pro­ tro da gravadora, que não estava en­ pegar hoje o mundo, o universo das 33 Raimundo Fagner Entrevista

gravadoras, de produtores, é um nível emoção. Gravar com Ângela Maria, escreveu, principalmente Florbela Es­ um pouco baixo, tá entendendo? Você CaubyPeixoto, AgnaldoTimóteo! Aí panca. se você pegar os livros dela. vê: as pessoas se repetem, tão ali pega Nara Leão, Nana Caymmi, é um aquilo tem a música, já vem tudo ali, a trocando de uma gravadora pra outra. universo realmente muito grande. É pessoajáfezcom musicalidade. Acho Então, não é uma coisa excelente, não essa coisa do amadurecimento como que é algum sentido que eu tenho disso é mesmo. Quando a pessoa se impõe, cantor popular, eu entro ali pra fazer aí, quando eu olho traz aquela eles não querem nem tocar eles uma coisa que combine com os dois e musicalidade, de eu beber aqui lo, uma esperam que a pessoa se dê bem ou se que é damaior importância pra mim. coisa meio mágica, tá entendendo? dê mal porque também eles não... Eu Entrevista - Existem artistas que Tenho essa facilidade mesmo de fazer tive a felicidade de fazer as coisas e não gostam de gravar em parceria, e deixei de fazer porque também você elas darem certo, eles não se metem de interpretar junto com outros can­ tem que dar atenção aos parceiros, tô Sua primeira música nisso aí, eles vão se meter nos outros, tores. sempre em contato com músicas que gravada foi Luzia do em mim eles não se metem não. Por Fagner-Muitos não sabem, ou­ fazem pra mim. outras pessoas. Adoro AJgodào. em 69. Seu primeiro sucesso foi mais que depois de um tempo, eu tros não são convidados, mas tem uns pegar uma música de alguém, regravar Fracassos, do seu se­ procuro dialogar, eu mostro, eu per­ que não gostam também {risos), mas uma música que eu gosto. gundo disco Ave No­ gunto, não sou aquele “é isso aqui, não uns é porque não sabem mesmo cantar Mas esse trabalho ... da própria turna, lançado em 75 é isso af\N o começo até sim, eu fazia, juntose outros é porque não são muito Florbela eu tenho vários poemas que também ninguém discutia, mas agora convidados. eu não gravei. Cecília Meireles eu não, eu procuro dialogar o máximo, eu Entrevista - Em particular, nos tenho alguns poemas que eu não gra­ escuto a pessoaque trabalha comigo, anos setenta, a gente pode lembrar. vei. depois com essa briga com a famí­ o co-produtor, o pessoal da gravadora por exemplo, Cecília Meireles (poe­ lia eu caí fora {Fagner se refere à vão no estúdio escutar: “Tá legal, não tisa brasileira, autora dc poemas como canção Canteiros, que foi musicada tá”. Enfim, já existe um certo res­ a partir da poesia Marcha, de peito porcontade desde o início eu Cecília Meireles. No crédito do manter essa independência e, de disco não constou o nome da certa maneira, dá resultado. “Primeiro que o mercado é poetisa e a família de Cecília Entrevista - Fagner, mui­ muito medíocre. Eles dizem moveu um processo contra tos dos seus discos foram feitos Fagner, que ficou proibido de em parcerias. Ouais as que você o que é que os outros têm relançar a música). Mas são considera as mais importantes ? coisas fantásticas que podem mos­ Fagner - Como assim? que fazer, quando os outros trar a qualquer momento, porque Entrevista - As parcerias elas não têm tempo, tá entenden­ mais importantes ao longo não têm idéia (...) o do? Posso mostrar hoje e fazer e. da sua carreira, cantando, universo das gravadoras, de de repente, se for uma coisa forte, gravando... vão pensar que foi alguém que Fagner - Cantores? produtores, é um nível um escreveu agora e não foi, mas Entrevista - É. Que critéri­ tenhoessa ligação. Essaligaçàojá os havia pra escolher essas par­ pouco baixo (...)” existia por causa do colégio, eu cerias? Como é que tinha um professor aqui muito se­ funcionava? vero, chamado João Lima, e que Fagner - Olha, a minha parceria Ou Isto ou Aquilo e Guerra), ele pensava que o aluno vivia só pra mais fantástica foi com Luiz Gonzaga. Florbela Espanca (poetisa portugue­ ele. Ele tirava tanto que você passava Foram dois discos que eu gravei com sa, autora do livro Sonetos e que fale­ asemanatoda ligado. Decorei Camões, ele, esse sim, é uma coisa marcante da ceu aos 36 anos), Ferre ira Gullar já imaginou decorar Camões {consi­ minha carreira, marcante proNordes­ (poeta bras i leiro) e vários outros gran­ derado o maior escritor português, te, porque eu saí muito cedo daqui e des poetas. Você musicou muitos autor do célebre livro Os Lusíadas)? comecei a beber em águas urbanas poetas naquela época. Como era a Fim Trágico de Inês de Castro, brinca­ muito fortes. Então, o meu encontro sua relação com a poesia naquela deira! Mas eu fazia isso. Então, acho com o Luiz Gonzaga me trouxe de época, como é a sua relação com a que essa coisa do colégio, quando che­ volta pro Nordeste, com uma relação poesia hoje? Será que haveria con­ gou namúsicavirou uma coisa demais muito grande, até hoje as pessoas dição, por exemplo, de fazer um tipo fácil identificação e eu realmente ado­ cobram isso, as pessoas me cobram de trabalho como esse hoje em dia, ro fazer isso e não tenho feito não sei um pouco seguidor dele, não pelaobra, musicar grandes poetas? Como é porquê. é mais um pouco dacoisamística. Tem que você pode fazer um paralelo Entrevista - Hoje, principal­ uma cobrança enorme, pra que eu entre aquela época e hoje tendo mente com a criação do Mercosul, seja, continue as coisas do Gonzaga, como base a poesia? tem muitos artistas que estão namo­ isso existe. Dois discos com uma pes­ Fagner - Mesma coisa, eu acho rando a música latina, trabalhando soa e uma pessoa como Luiz Gonzaga durante um período você faz uma coi­ o espanhol, pra conquistar o mer­ O primeiro LP de Fag­ é um negócio muito sério, táentenden- sa e depois você sai um pouquinho dali. cado. Isso na sua carre ira já é uma ner, Manera FruFru do? Pra mim principalmente, que me Enche o saco ! (com ênfase) E nor­ coisa muito anterior, você já traba­ Manera (1973), não criei ouvindo e que é a pessoa mais mal, você faz muito e depois você dá lhava, convidou algumas pessoas, repercutiu bem. Ape­ importante na música nordestina. Não uma esvaziada. A qualquer momento trouxe esse trabalho pra cá e levou nas 5 mil cópias foram tem outro e acho que jamais será pode, porque a poesia ela já vem seu trabalho pra fora muito antes. ven d id as superado. Agora o leque de pessoas musicada, tá entendendo? Tem gente Como era a receptividade naquela que eu gravei, cu gravei mais de 60 que tem muitadificuldade, mas eu não. época, por que você enveredou por artistas, de Nélson Gonçalves a Chico, Claro que a poesia já vem com uma essas... a Paco de Lucia (

Fagner-Aqui, ninguém entendia romântico e ganhar rios de dinheiro, se cantar e vou continuar cantando. En­ nada. A gravadora quando ouviu: “Que Deus quiser! E não é bem assim que eu tão não tenho essa vaidade de pegar negócio é esse?" Um disco em quero não, mas posso fazer essa men­ um disco e dizer: '4Pô, tudo é música portunhol, misturado, não sabia nem tira também, competir, por que não? minha”. Não tenho. Essa vaidade eu falar, mas era uma coisa que existia. Não vai lá qualquer um hoje e não tá não tenho. Agora tenho vaidade sim, De lá eu tenho apenas, no release gravando em Espanhol? de cantar bem, de fazer o povo se daquele trabalho, eu tenho a opinião de Entrevista - No início da sua emocionar com a minha interpretação várias pessoas, inclusive do Rafael carreira, como você já falou, era porque eu acho que é uma tarefa Albcrti. que era o maior poeta da muito mais frequente o lado compo­ minha de fazer isso. Espanha vivo, e do maior produtor de sitor no seu trabalho. Nos últimos Entrevista - Mas Fagner, você música espanhola flamenca. Ele diz anos, em alguns discos, protica­ pretende ainda investir bastante no que a música flamenca é uma coisa e mente você tem se colocado como lado seu de compositor? Ou você Fagner pediu para a depois do Fagner é outra. Eu tenho intérprete. Isso é uma vontade de acha que vai enveredar mesmo por equipe de produção es­ colher o local da entre­ esse elogio, porque eu misturei o Nor­ mostrar um outro tipo de trabalho? essa linha de... vista. que acabou sen­ deste com a música flamenca e eles lá Fagner-Bem , primeiro que can­ Fagner - Não. pretendo fazer, d o realizad a no labora­ nuncatinham visto isso. O João Cabral tar é a coisa mais linda do mundo! pretendo fazer umas coisas sim, mas tório de telejornaiismo de Melo Neto (escritor nordestino, Depois eu me descobri como cantor e sem... sem pressae sem necessidade do curso de Comunica­ autor de Morte e V ida Severina) tinha descobri que eu poderia melhorar. Se de ter que me afirmar, porque as ção Social. UFC sido embaixador em Sevilhaeele fala­ você pegar de disco pra disco, eu pessoas querem se afirmar, outras va muito dessa relação da música nor­ venho aprimorando tecnicamente uma também querem vender suas músi­ destina com a música da Espanha, a série de coisas. Se você pegar o meu cas. não querem ceder direito autoral. música lá de Andaluzia e eu misturei primeiro disco e hoje, não é a mesma Eu não tenho muito isso. Eu gosto isso aí e foi uma coisa fantástica. Não pessoa. Então, além de gostar de can­ mesmo de cantar e sei que posso c esse mercado hoje, que se busca fazer música, mas sem pressa, na com essas musiquinhas que têm hora certa. Gosto de cantar a um refrão. Eu fizumacoisaabso- música dos outros, adoro, muito lutamente cultural e o meu nome “Ele (Rafael Alberti) diz mais do que as minhas, quando tá marcado. Na América Latina faço. né? Eu gosto de cantar as inteira, Raimundo Fagner é um que a música flamenca é coisas dos outros, eu gosto, saber nome de qualidade, não é de mer­ que tem uma coisa nova que eu cado, eu nunca corri atrás disso, uma coisa e depois do goste de cantar e que me entrego apesar do Traduzir-se ter sido o Fagner é outra. Eu tenho nisso. Me emociono muito mais disco mais vendido na Argentina, do aquelas que eu venho a fazer, em 1982. esse elogio, porque eu tá entendendo? Mas sei que pos­ Outraglóriadaquele disco foi so fazer muita coisa e ainda vou que aMercedes (Sos-a) era proibi­ misturei o Nordeste com fazer, porque taí pra ser feito. da de tocar na Argentinae proibi­ Entrevista - Você falou que da de voltar ao país dela e com a música flamenca.” ainda quer ser um bom cantor. essa música/íwas, que nós grava­ Não houve uma satisfação ple­ mos, ela voltou às paradas e voltou ao tar eu sinto que eu posso ser um grande na ainda? Ou é, como você falou país dela. Então, tem coisas que acon­ cantor e vou amadurecendo isso aí. 0 nos seus trabalhos, que a satisfa­ teceram naquele projeto que por si só ato de cantar pra mim é infinitamente ção vem e depois é não totalmente já me dão uma realização tremenda. {com ênfase) superior ao de compor. plena? Agora, posso entrar também, tá cada Essas duas coisas ficaram divididas Fagner - Não porque sempre vez mais próximo, nesse mercado e durante um período porque eu tinha você vai fazer outra coisa vai conser­ fazer um disco realmente mais profis­ ânsia de mostrar, de querer as minhas tar alguma coisa que você não... Por­ sional, atingindo também essa meta, músicas. Eu não tenho nenhuma vai­ que estúdio é uma coisa fria tá mas nunca busquei essa meta. Quan­ dade em tá mostrando que tô bem entendendo? Se você chegar num pal­ do eu fizaquele disco, foi pensando no compondo, que... não é nada isso. Eu co você se solta muito mais. No estú­ envolvimento da música nordestina, da sou realmente um cantor que o Brasil dio não, você tá abafado ali, entendeu? m inha música, amúsica brasileira, com já conhece, a minha voz é uma voz Você começaalgum tipo de coisa aí... aqueles artistas, e daí nasceu uma diferente, eu acho que poucos artistas é difícil gravar, é difícil você passai parceria boa. Depois fiz outros discos dão uma interpretação como eu dou, emoção dentro do estúdio, dentro das pra Garcia Lorca (Gabriel Garcia sem nenhuma modéstia, eu não sou paredes, só pra você com o fone. Não Lorca, dramaturgo e escritor espa­ modesto pra isso. Reconheço quem é muito fácil não. No show não, você nhol, autor de peças como A Casa sabe cantar e quem não sabe porque se abre mais, o povo tá cantando, você de Bernarda Alba), uma série de eu sou produtor, porque eu sei, entendo se soltae rende muito mais. Então tem coisas. Meu universo nessa coisa de do barato, eu vivo disso. Então, abso­ muita coisa que a gente grava e que música latinaé uma coisa pela cultura lutamente eu sei que sou um cantor depois você vê que poderia ter sido A entrevista foi mar­ mesmo, eu entrei por essa porta, tá que as pessoas gostam e que dou uma melhor, poderia dar um tratamento cada para as 16 horas. entendendo? Nunca enveredei ainda interpretação como poucos no Brasil. melhor, e nada melhor do que um Fagner foi pontual. Veio sozinho de calça na outra porta, de ter que fazer a Talvez Nana (iCaymmi), ou {Maria) próximo trabalho pra você realmente jeans, camisa póloazul música pra tocar e um disco profissio­ Bethânia quando não desafina muito, fazer melhor e superar coisas que marinho, óculos escu­ tal, rola esse barato, tá entendendo? você acha que não fez direito. nal, porque pra isso eu teria que passar ros e um ceuiar nas seis meses em Miami, eu teria que Então eu sinto que eu sou um cantor Entrevista - Fagner. é verdade m ãos. fazer uma coisa como m anda o figuri­ que as pessoas gostam, sou diferente que você tem guardado poesias de no mesmo. Ajeitar o cabelo, botar um de todos, acho que há uma mesmice autoria própria que você nunca quis paletó e tal e ser um cantor latino enorme aí, e por conta disso quero musicar? Você pretende fazer... 35 Raimundo Fagner Entrevista

Fagner-Tenho,tenho muita coi­ entendo essa modernidade. E nem não sabe se tem amanhã... Então você sa. Não sei. Pra fazer... nào. Quando quero entender (com ênfase). Então o tem que tocar asuavida mesmo, legal, eu olho as coisas passadas eu acho tão que nego diz que pode perder a quali­ sendo uma pessoa comum, sem querer antigo... talvez se eu pegar alguém pra dade. cu digo que coisas que têm qua­ aquelas regalias. trabalhar em cima daquilo, dar um lidade demais perde a sensibilidade, Agora, a fama te traz uma série de trato naquilo, mas eu nào... Acho legal perde a objetividade e se cria uma coisas maravilhosas. Uma das maio­ como documento, mas eu não tenho nova linguagem que não interessa ao res coisas é o prestígio que eu tenho na assim...Não acho que seja, tá enten­ povo. Essa também não me interessa. minha terra, é o que eu posso fazer dendo? Talvez com isso guardado pra Entrevista - Você é bem conhe­ aqui, quer dizer, tô atrelado à política um livro, alguma coisa futura, mas cido no Brasil há muito tempo. A aqui desde o primeiro mandato do Tas- realmente de achar que o que eu fiz é fama tem afetado a sua vida? Em so (Jereissati, governador do Cea­ A turm a estava um p ou­ o que é, eu nào acho. Eu acho que é quê? rá, seu primeiro mandato foi no co temerosa devido a uma coisa passada. O que a gente tem Fagner - Ela favorece muito. período de 1987 a 1990, o segundo Fagner ter uma fama que fazer faz agora. de brigão e antipático, Favorece demais... demais. A famaé foi de 1995 a 1998 e agora em 1999 o que não se compro­ Entrevista - Fagner, pra com­ um negócioextraordinário. Agora você ele iniciou o terceiro mandato), se vou durante a entre­ por pra um público mais... a massa. precisa desmascarar essa fama; Você bem que desde o Totó - Gonzaga Mota vista. é preciso perder um pouco de qua­ não pode ser escravo dessa fama. Isso (ex-governadador do Ceará, seu lidade? Ou isso é um estereótipo eu faço como ninguém. Eu mc expo­ mandato foi 82-86) - eu já tinha que acaba sendo reproduzido pela nho, eu posso sair sozinho, você pode participação, mas do Tasso pra cá, maioria das pessoas que cantam me ver num carro sozinho ou aqui ou com o Ciro (Gomes, ex-prefeito de pra massa? em qualquer lugar. Eu nào me deixo Fortaleza de 1989 a 1990. ex-go- Fagner - Perder a qualidade? ficar escravo dessa fama como muita vernadordo Estado de 1991 a 1994), Pode ser. Também você termina per­ gente é. Eu acho que essas pessoas intensificou demais. Eu tenho uma atu­ dendo um poucoaqualidade, mas ação aqui enorme, não só durante ganhaem outros aspectos: nasim- as campanhas, mas durante a ges­ plicidade, na clareza, na transpa­ tão deles, eu faço muita coisa aí na rência, no objetivo.. .Tem músicas “O ato de cantar pra mim surdina, eu trabalho muito com a simples que perdem qualidade mas é infinitamente superior minha região, pra outras regiões... tem muita músicasimplesmaravi­ Essafamafoi importante pramim, lhosa, tá entendendo? Por exem­ ao de compor (...) sei que eu poder trabalhar politicamente plo, o Roberto (Carlos). A obra do no Ceará, e isso é reconhecido no Roberto é fantástica, principal­ sou um cantor que as Brasil inteiro. Quando eu paro na mente a obra mais passada dele... televisão pra dar um opinião, as e era de uma simplicidade que as pessoas gostam e que dou pessoas param pra ouvir. Não é pessoas achavam que era vulgar. uma interpretação como um artista comum, é uma pessoa E é realmente fantástico o que o que não entra no conto da fama, Roberto fez, com amaior simplici­ poucos no Brasil.” que vai... que vai na luta, que vai à dade, de atingir o povão. Revela­ vida, que é uma coisa pra desmas­ ção. É umamúsicamuito simples, carar a fama, porque senão, a mas não é vulgar. É uma música fama só te deixa um escravo dela curta, com um poema muito curto... e cmburrccem. Quando cu digo que a e eu não quero isso aí. outras por ai, tal. fama emburrece é quando a pessoa Entrevista - Se você fosse olhar É possível você perder a qualida­ aceita e compra essa idéía. Acha que pra toda a sua carreira, indepen­ de, mas é possível você também ga­ é legal. Por exemplo: tem pessoas que dente dos discos que você partici­ nhar outras coisas. Por exemplo, muita não podem sair na rua porque também pou como compositor ou os discos coisaque tem qualidade não tem obje­ criaram esse clima de não sair na rua, que foram basicamente de intérpre­ tividade. Você pega hoje... Eu não que aí quando vêem é uma assombra­ te... Você acredita que em cada um entendo o que é que essa moçada tá ção, entendeu? Eu não, eu procuro me desses discos a sua personalidade cantando, eu não entendo o que é que v ulgarizar o máximo praeu poder cur­ está representada? Tem algum mo­ o Arnaldo Antunes (cantor e compo­ tir a minha vida, porqueeu também vou mento que você, analisando sua sitor, ex-componente do grupo de ser só uma pessoa famosa pra quê? obra hoje, olhe, pára e diz: “Não, rock Titãs) fala, eu não entendo o que Quero curtir a minha vida, eu quero eu não devia ter feito aquilo. " Você é que o crítico fala. A metade de uma estar aqui, andar pelo interior, quero acredita que toda a sua obra é crítica é em inglês, o que é que eles ser uma pessoa... o Ceará é o meu realmente um reflexo de você como estão fazendo comparação... eu não lugar, eu venho aqui. ..já fez cinco anos artista, como pessoa? entendo absolutamente o que que a que eu tô praticamente aqui. Perdi Fagner-Não,nao.Tem algumas maioria dessa moçada tá cantando. muito... de muita coisa, de trabalhar coisas que eu faço questão nem de Vocês podem entender, eu não enten­ disco pra vender mais. Teveumaépo- lembrar, é bom você nem perguntar. Houve alguns minutos do. Eu pego, olho... Hoje saiu uma ca que eu queria até abandonar. Eu Tem alguns momentos que eu não de espera para conse­ crítica no jornal O Povo, de um rapaz digo: “Eu não quero mais saber de quero... mas fiz. Aí se você for parar guir chegar ao labora­ daqui elogiando uma música da Bahia.. . música, é tudo um bando de chato, é pra analisar, você vai ver que era um tório. que fica no 3o Vocês podem pegar esse jornal, foi de tudo um bando de...” E depois não, momento que tava acontecendo coi­ andar do prédio do cur­ ontem. Eu não entendi o que o cara porque amúsicaem si é a coisa que eu sas, então tava favorecendo pra você so de Comunicação. O escreveu. Eu chamei: “Fausto, pelo mais gosto. Então você tira as coisas fazer aquele trabalho. Então tem al­ elevador era bastante amor de Deus, me explica, eu sou que te aborrecem. É a mesma coisa da guns discos que eu... eu nào digo al­ lento e quase sempre burro?” Porque eu não entendi quais fama. Você tem que tratar a fama guns discos, mas algumas faixas dentro estava lotado. são os argumentos e o que é que está como uma coisa, não como nada de dos discos que eu não me vejo, muitas 36 se escrevendo pra elogiar. Eu não extraordinário, porque você tem hoje, coisas que eu escuto e não me vejo... Entrevista Raimundo Fagner

isso é natural. Por quê? Porque eu se) vi pessoal gostar de dançar tanto... Fagner - Eu acho que... nunca parei de gravar. Da minha gera­ o que comentaé: música dabundinha. Entrevista - ...a música que de­ ção toda, cu... de 71 pra cá. eu fui o que da gaiTafinha, da piroquinha (mos)... veria ser mais... mais gravou, tá entendendo? Você E um negócio, como o nível caiu. É F agner- Eu acho que tá. Eu acho pega, o gravou o quê? ridículo até... Isso sim eu acho ridículo, que tá... é uma coisa vulgar. O ritmo c Raul Seixas morreu, Sérgio Sampaio tá entendendo? Duzentas bandas de nosso, e tudo mais... Eu sei que a Bahia gravou três discos, o João Bosco. se axé, trezentos grupos de pagode, não e a África são irmãs e tudo mais, mas você pegar, tem um disco de três em sei o quê. O pagode, o pagode é ro­ o Brasil não é só isso não. Entendeu? três anos... Então eu fui o que mais mântico, queira ou não queira, tá pu­ Tem outras regiões, tem outras coisas, produziu. Quase todo ano eu lançei um xando... E os meninos, os sertanejos? mas o que tá se dando de valor a isso disco, até dois, como também produzia Têm romantismo. Isso aí é brega? É, aí. E eles são danados, porque são outros artistas. Então, puxa. eu fiz mas tem romantismo. O brasileiro profissionais, elesjátêm um movimen­ Ao chegar no 3°andar, o cantor pediu para ir muita coisa! E se eu fiz muita coisa, gosta. to muito forte dentro daprópriaBahia, ao banheiro Teve que posso, eventualmente... você tem que Agora, que nossa população tá tá entendendo? Mas eu acho que a descer, novamente de errar. Então eu coloco isso aí. Aquela gostando de dançar demais eu tô achan­ qualidade cai muito naquela.. O que elevador, até o segun­ ânsia de fazer, ou aobrigação de fazer, do estranho... (risos). Nêgo tá reque­ salva é porque de repente pinta gran­ do andar, pois a porta você termina fazendo coisas que... brando (com ênfase). Eu não sei se é des cantores, essa menina aí... essa da que dava acesso á es­ que hoje eu não reconheço reaimente. angústia... eu não sei o que que é. B anda Eva (banda de música cada estava trancada Mas eu não vou dizer o queque é, nem Porque o brasileiro não tá tão mal baiana), como é o nome dela? Mais alguns minutos de pensar, (risos) assim. Tão quebrando lá em Brasília, Entrevista - Jvete (Sangalo). espera Entrevista - Você sempre teve, tá, mas o povo tá tendo uma vida F agner-T em um voz fantástica, independente de não falar, mas você razoavelmente... Agora que esse povo se botar essa menina pra gravar músi­ se considera responsável... Nunca gosta de micareta... que eu o-dei-o ca romântica ela vai matar a pau. A houve uma influência da grava­ Daniela (Mercury) já tem uma dora de conseguir impor... vozinhameio insossa assim, meio Fagner-Não. “(...) Eu não entendo o fanhosa. Essa (fvete Sangalo) Entrevista - ... Sempre foi não, tem voz mesmo. Essa é can­ um trabalho seu? que é que o Arnaldo tora. Pode tirar ela do axé, que eu Fagner-Exatamente. A gra­ acho que alguém que tiver pen­ vadora, no momento que ela suge­ Antunes fala, eu não sando alguma coisa vai botar ela riu alguma coisa que eu entrei é entendo o que é que o pra cantar alguma coisa, porque porque eu tava a fim. Tem algu­ ela não vai ficar cantando esse mas músicas que as pessoas mc crítico fala (...) eu não refrão de lata a vida toda não. sugerem e eu fui porque fui, e daí Entrevista - Mas eu acho deu muito certo, mas é coisa tam­ entendo absolutamente o que ela já saiu. bém do mercado. Eu tô dentro, eu Fagner - Já saiu e se vier não vou só atender as coisas da que a maioria dessa com axé, eu não sei, mas ela tem minha cabeça, eu também assimi­ moçada tá cantando.” que vir cantando legal porque ela é lo isso aí numa boa, tá entenden­ cantora. Mas festa, desde que eu do? E não me arrependo. Eu me me entendo com o gente, o Chicle­ arrependo das coisas que eu fiz que (com ênfase) um trio elétrico... Agora te (com Banana, banda de música não deu certo. Mas as que deram certo taí pôxa. Pelo menos você vê essas baiana) é o maior grupo do mundo de eu não tô nem aí. Tem que ser, né? bandas de axé, não sei o quê... duzen­ fazer festa em todo o canto. Tem Entrevista - Na sua obra a gen­ tas bandas... Só o Emanuel Gurgel valor? Tem, mas, pô, tem duzentos... te vê momentos de puro rock, como (empresário musical cearense) aqui E o brasileiro não pode ver um trio a música ABC de 76, romantismo, tem quinhentos conjuntos do Mastruz elétrico que sai correndo atrás. É im­ poesia e regionalismo. Dentro des­ com Leite (banda de forró do Cea­ pressionante, é de um vulgaridade sem sa sua versatilidade foi mais fácil rá). Pô, o pessoal gosta de dançar, né? tamanho. É difícil falar isso, mas é o chegar ao popular? Aqui todo dia é uma festa, as maiores que eu acho mesmo. Fagner- O popular hoje no Bra­ festas do mundo hoje tão no Ceará e Entrevista - Mas o romantismo sil... o popular é canção. Tá? O brasi­ vai continuar sendo. Então que o povo passa incólume nesse meio de axé leiro é... realmente é romântico. A gosta de dançar, é. Mas a música music... música romântica no Brasil é muito romântica realmente é a aonde bate Fagner -A xé bom? Eu não sei. forte, apesar do axé. e essa música mais, é aonde vende... Então eu acho Agora romantismo tem o bom e tem o batida e... Que diabo é isso? Tá enten­ que a minha relação como cantor po­ ruim. Táentendendo? Claro, pega uma dendo? Isso (

Entrevista - Dentro disso, qual muito mais preocupadasem dizer coi­ disco independente não. Eu acho que é a distância entre a música român­ sas e dizer situações que não se podia existe umaacomodação daqueles que tica e a música brega? dizer. Então se criava muito mais a talveztenham maior talento e de dizer: Fagner - É quase nenhuma. Aí é imaginação pra poder dizer determina­ “Ó turma, tchau, voudarum tempinho que tá o perigo. É uma linha.. das coisas que a época pedia. Depois e... ralar por aí" Eu sei que é difícil, Entrevista - Como você vê uma liberou. Nessa liberação muita gente mas... É irralar mesmo, e sair, porque suposta música brega? dançou. Dançou muitagente, perdeu o aqui é uma casa que tá protegendo, Fagner - Música brega... aque­ estímulo. Era uma época também que mas também ela impõe limite. Se ficar las que têm muito refrão, aqueles dava um estímulo pra sonhar muito aqui impõe limite, táentendendo? Eu refrões fáceis, tá entendendo? Fácil mais. Agora não. Então é diferente, é vejo dessa maneira, eu vejo que tem demais. E tem aquelas propositada- bem diferente. Realmente aquela épo­ muita gente boa, realmente tem umas Fagner esteve bastan­ mente bregas: ReginaldoRossi, Ama­ ca, a meu ver, era uma época mais pessoas legais aí, com talento. Eu te tranquilo durante to­ do Batista, Waldick Soriano têm os forte. Pelo próprio momento e também mesmo tô querendo produzir a Kátia, da a entrevista. Quase protótipos do brega né? O Falcão não gesticulava To­ pela necessidade da gente fazer, de acho que pode dar certo, acho que ela mou dois ou três copos (

çâo não é interessante. Artista ligado a se sentido. Por isso que eu nunca me res e diante disso você acabou ten­ coisas oficiais, não é legal, não combi­ meti em nenhumaprodução aqui inde­ do uma fama de brigão, de pessoa na, tá me entendendo? Eu sou ligado pendente, porque sabia que não tinha temperamental, de pessoa vaido­ ao governo, mas eu nunca peguei um condições da gente fazer a coisa mes­ sa... Isso é mesmo da sua persona­ tostão de governo, eu não, só dei minha mo pra valer. lidade ou fo i uma necessidade da contribuição, e também no diaque eu Entrevista - Existe alguma coi­ mídia de rotular você ou alguma achar que não dá eu caio fora. Eles não sa ainda que falta pra você, alguma provocação... me devem e eu não devo nada. Eu música que você ainda não gravou, Fagner- É, existia a provocação nunca peguei um tostão de governo que gostaria de gravar? Algum pro­ e eu era de briga. Aí o pau cantava, pra absolutamente nada. Minha rela­ jeto na gaveta que você queira ter­ né? (risos) Nunca escondi de falar o ção com o go vemo j á é uma relação de minar? que eu penso, na hora... Por isso que independência, coisa ideologicamente Fagner - Muitos. O que ele per­ eu falei que falei muita besteira porque Por volta de 1978. Fagner dirigiu o selo política. guntou.. . Eu poderia fazer um disco só talvez fosse você vomitando as coisas EPIC. um projeto que Eu tenho o maior prazer em rece­ das canções que eu nunca gravei e que que estavam querendo lhe impingir, tá lançou artistas famosos ber os elogios que eu recebo pelo goste. Eu nunca gravei Caetano, eu entendendo? Agora, quem me conhe­ como ElDa Ramalho e Brasil inteiro, do Tasso e do Ciro. É nunca gravei Chico. Gravei Chico com ce sabe que eu sou uma pessoa tre­ Zé Ram alho bom porque agente só tinha referência ele, mas assim, músicas só dele eu mendamente humilde. Agora não sou ruim, só se falava mal da nossa terra... nunca gravei. O Milton {Nascimen­ vaidoso, não tenho nenhuma vaidade, hoje se fala bem. É muito importante to)... Tem muita coisa que eu gosto e mas não engulo sapo. Pode ser com que você saia do Ceará. Quando você que nunca gravei. Termina você fican­ quem for absolutamente. Principal- sai... é bom chegar e: “Pô, é da terra do do muito em si. É por isso que essa mente com gente grande, gente pe­ Ciro, é da terra do Tasso, é da terra do coisa é aberta pra realizar, porque tem quena não, eu deixo passar. Mas eu Fagner". Você não sente um ne­ gosto de uma briga grande... gos­ gócio legal? Todo mundo sente, e tava, né? Hoje tá mais... Mas sem­ eu também sinto, principalmente pre bati e saí brigando com todo porque só se falava mal do Ceará. mundo. Falava o que queria. Eles Politicamente hoje só se fala bem. “Tem algumas coisas que me enlouqueciam. Porque era a Então, nesse aspecto eu tô total­ minhamaneirade provocar. “Ah! mente alinhado. Mas eu acho que eu não faço questão nem Quer me encher o saco? Então o artista não deve fazer parceria escuta isso...” E mandava vene­ com oficialidade. Caiaqualidade de lembrar, é bom você no. ou perde o estímulo para uma re­ Entrevista - E hoje, 25 anos alização de uma coisa maior. nem perguntar. Tem depois, como é essa relação com Entrevista - Mas Fagner, alguns momentos que eu a critica e com a imprensa? nesse sentido aí, você como pro­ Fagner - Com a imprensa é dutor toparia ainda bolar um não quero... mas fiz.” muito boa em todo canto. A crítica projeto maior pra incentivar a gosta vez ou outra de tá pegando formação de novos cantores, no meu pé, vez ou outra eu tô artistas locais? dando umas porradas, porque eles Entrevista - Até como você chegam lá e falam o que querem, já fez com Elba ('Ramalhoj, com tanta coisa aí boa pra cantar. e já escreveu, dançou. Então, impren­ Roberlinho (do Recife/.. Entrevista - Fagner, você acha sa safada, já fizeram muita mentira Fagner - Isso teria que ser aqui, que o rótulo do Pessoal do Ceará comigo em... Veja, Jornal do Brasil. teria que parar com tudo pra montar que fo i feito pra você, Belchior, Eu não falo pra Veja desde a Copa de um bom estúdio, tá entendendo? Tra­ Ednardo... Esse rótulo fez bem pra 86, quando o Zico perdeu aquele pê- balhar essas pessoas, mas aí é mais um você e pra eles? nalti que eles fizeram uma sacanagem trabalho e eu... aí não vou... Fagner - Não, o Pessoal do Ce- comigo e com o Zico. Então a impren­ Entrevista - Mas você lançou aráeraumacoisaimagináriaeconcre- sa é muito fácil de dizer umacoisapra aquele selo Epic que abriu portas tamente era um disco chamado Pessoal você porque o que fica é aquela pri­ para muitos cantores... do Ceará, do Ednardo com o Roger e meira impressão. Você leu aquilo, não Fagner - Depois saí produzindo aTeti. Eu nunca me achei Pessoal do adianta querer dizer que não era nada em outras gravadoras também, não foi Ceará dentro desse aspecto. Dentro daquilo, não é nada. Então tem uma só ali. E aqui daria, mas precisa de um do contexto geral, sim. Tinhaos baianos sacanagem muito grande de impren­ tremendo de um estúdio pra gente ter e tinha os cearenses e eu era um do sa E tem mesmo porque todo mundo o resultado, tá entendendo? Aqui os Pessoal do Ceará, mas eu nunca estive sabe que tem imprensa boa e tem estúdios ainda estão limitados, as pes­ dentro desse processo, tá entenden­ imprensaruim. Basta ter um problema soas estão produzindo, tão fazendo o do? Tive total independência disso, grande... Agora os meninos (Zezé di possível e o melhor possível. Mas pra comoopróprioBelchiortambém. Pes­ Camargo e Luciano) tão enrolado aí isso já teria que entrar mesmo numa soal do Ceará era um disco... com o com o negócio do sequestro do irmão No ano da morte de produção mais profissional, num estú­ Ednardo, o Roger e a Teti. Esse sim deles, o Zezé... O que a imprensa tá , Fagner dio... Se eu fosse dono de estúdio aqui, erao verdadeiro Pessoal do Cearáque fazendo não é brincadeira, é uma lançou um disco (Rai­ mundo Fagner) que que eu viesse pra trabalhar isso, pas­ estava intitulado lá no disco. Agora, sacanagem, é uma maldade. Então, continha uma interpre­ sasse um ano, dois trabalhando... en­ como movimento, nós fizemos parte você perde o respeito, tá entendendo? tação sua da música fim, teria que se dedicar absolutamente do Pessoal do Ceará. Porque tem as pessoas boas. mas o Oh! My Love, do ex- ruim, numa determinada hora, é onde como produtor, que hoje eu não sou, Entrevista - Com relação à sua B eatle. sou produtor, mas eu tô trabalhando personalidade, o seu nome já esteve prevalece. Então quando eu vejo um com outras coisas. Teria que ser uma envolvido em algumas polêmicas negócio desse... Eu já bati em jorna­ coisa absolutamente profissional nes­ com gravadoras, com outros canto­ lista, tranqúilamente. Agora mesmo 39 Raimundo Fagner Entrevista

um cara fez. uma matéria comigo na mo. a gente vive num mundo muito uma hora eu tô não sei o quê... “Pô, eu Veja muito sacana, principalmente cruel que as pessoas falam e escu­ não aguento mais... vou pra Orós". porque eles me ligaram pedindo praeu lhambam os outros na hora que que­ Entendeu? Eu peguei um avião no dar entrevista e eu não dava. Digo: rem. Tá muito fácil você falar o que Japão, baixei em Orós. Fortaleza é o “Olha, eu não tenho nada contra você, quiser de uma pessoa, ir pro jornal e lugar que eu gosto... Chego aqui. o você é jovem, mas o meu problema é falar. Então tem que ter uma vergonha organismo já funciona bem, não sei o com a Veja. Enquanto eles não retra­ na cara pra você dizer: “Ó. Peraí. quê... É uma loucura essa vida. tá tarem uma mentira séria que eles fize­ Comigo não." Isso eu sempre fiz com entendendo? Por isso que eu diminui ram, eu não falo pra Veja". E terminou, gravadora, com jornalista ou com artis­ muito o ritmo, eu fazia... noventa, cem ele fez uma matéria sacana e eu liguei ta que fala.. Tem que ser, quer dizer, é shows por ano Não aguento. Agora praele e disse: “Olha, no dia que eu te um negócio que... Chegaumahoraque mesmo os meninos (Zezédi Camargo O disco Traduzir-se. o encontrar eu te dou umas porradas*'. cansa Eu não tô nem nessa mais, mas e Luciano) tão me convidando pra oitavo de sua carreira, Ele tá com medo até hoje. Tem vários é bom que eles saibam queeu sou meio fazer uns shows com eles. Eu digo: lançado em 1981, fir­ mou seus laços com a jornalistas lá no Rio que não podem me ruinzinho, apesar de não ser. “Nem (com ênfase) pensar, porque poesia latina. ver, eu entro numa porta eles saem na Entrevista - Fagner, sua rela­ vocês querem fazer show toda noite”. outra. Não é que eu vá bater, mas é ção com Orós é muito forte. Com o Não tenho mais... aquele negócio... bom que não se meta. Mas eu já bati Ceará também, mas sempre volta você quer fazer outras coisas, eu que­ também. Porque não tem segurança. pra Orós. Inclusive tem uma histó­ ro cuidar de outras coisas. Adoro fazer O cara chega, fala o que quer de você, ria engraçada que em cada casa outras coisas pra aprender, você ficar e aí até pra você provar o contrário... tem um santo e do lado tem o Fagner só em cima do palco... emburrece. Tá não sei o quê, o jornal não quer, o cara em quadros... me entendendo? Você só viver pra é protegido, é um foca, não sei o quê... Fagner - Tem mais o Fagner música, pra disco, pro público, só se Então tem uma lei legal que é mandar (risos). expondo, só... Não existe isso. Você a chibata. E eu, se puder, eu man­ vai aprender o quê? do (risos). Então eu quero outras coisas. Entrevista - Você acha que Quero ser uma pessoa normal, essa sua postura fez com que “Tem vários jornalistas lá comum, sair daqui, ir pra praia... você conseguisse ter o seu lado “Oi Fagner”. “Oi, legal?”, “Tudo pessoal resguardado? no Rio que não podem me bem?” “Tudo bem.” Eu sou uma Fagner - Pode ser. Eles me pessoa comum, agora eu sou um acham um valente. Aí não tocam ver, eu entro numa porta cara de cara manjada, é que tô m uito em mim não: eu sou um doce eles saem na outra. Não é (há) 20 anos com a cara na televi­ de pessoa (risos). Mas acho que são... todo mundo conhece mes­ foi umamaneira, um estilo... Des­ que eu vá bater, mas é mo, mas sabe que eu sou uma de a primeira briga com a grava­ pessoa. Não sou uma estrelinha dora já ficou, pô: “O Fagner é bom que não se meta. Mas de televisão. Essa imagem não forte, não adianta vir...*’ Isso é tem mesmo. E é importante, eu bom porque preserva, quer dizer, o eu já bati também.” acho que é importante. Felizmente cara quando faz. faz sabendo, tá eu gosto, eu gosto de Orós. Tem entendendo? Pô, não tem um jor­ gente que não voltou nunca a sua nalista aí que quer fazer gracinha co­ Entrevista - Tem mais o Fagner cidade. Eu não passo um ano sem ir lá migo porque ele já sabe que eu vou então. Então como é quando você três, quatro vezes. Tenho uma rádio lá, mesmo em cimae que procuro defen­ chega lá? A relação das pessoas tenho várias coisas lá, gosto daquilo, der... você tem que procurar se defen­ com você é uma relação fã-amigo? gosto detáali com aquele povo, gosto der, né? Então eu prefiro que não Ou é um relação... de fazer as coisas, tô sempre batendo falem pra que... tem muitas entrevis­ Fagner - Normal. Normal... Eu na porta do Cambeba (sede do Go­ tas coletivas de lançamento de disco... ando descalço, muito à vontade em verno do Estado). Tenho o total apoio Rapaz, eu não gosto de fazer, eu não qualquer lugar... justamente isso, pra do Tasso, total apoio do Ciro. Acho gosto. Prefiro fazer meus programas não ter essa onda Agora com Orós, é superimportanteaquelapobreza, aque­ de televisão, ir nas rádios, aquilo dentro uma cidade relativamente turística, le povo sem futuro, sem perspectiva do meu ambiente mesmo que é cantar, sempre vem gente de fora, tem sem­ ter uma pessoa lá que fica fazendo aparecerou na rádio ou na tele v isâo. A pre aquele clim a alguém que faz aque­ essatabelinha. É uma referência boa. imprensa em si eu não gosto. la onda : “Fagner! Não é possível! Como eu gostariaqueo Belchior fizes­ Aqui tudo bem, tá cheio de grava­ Você Aqui!”, “Não. Não é possível se essa tabelinha com Sobral, que os dor, mas começou a escrever eu já me você aqui. Quem é você?”(risos). Tá artistas fizessem com a suas terras. preocupo, porque o que você fala é entendendo? Tem essa coisa mas é a Porque você sai e fica aquele bando de uma coisa, o que tá no papel é outra. m inha infância que tá toda lá, é a m inha órfão, e a vida é difícil pra esse povo. Cada palavra tem várias interpreta­ memória é o lugar que eu mais gosto, Então eu me sinto útil dentro disso, Ao final da entrevista, ções. Você querendo, você pode usar mesmo quando tá muito quente, so­ como pessoa, já não é o artista. Tá que durou cerca de I as suas palavras pra fazer o que você frendo, eu sofro junto... mas eu adoro entendendo? hora e 24 minutos. quiser. Então, existe essa coisa.. Muita a minha terra! Adoro! Os meus ami­ Então essa relação é a minha vida, Fagner questionou gente se queima com isso aí. Eu acho gos são os mesmos, a gente continua a é o próprio reflexo da minha vida, é aos alunos por que o que essa personalidade de ter mostra­ mesma vidinha as mesmas coisinhas gostar da minha terra, gostar do Cea­ professor Ronaldo não do, desde o começo, brigado com gra­ do passado... isso é uma vitalidade pra rá. Estar aqui. E quando eu saio, lá havia feito nenhuma vadora, com outra... Mas enquanto eu mim, táentendendo? Porque umahora dizem: “É o Fagner do Ceará”. Quer pergunta, e conferiu dizer, não adianta. Fizeram campanha os recados do celular. estou brigando eu estou produzindo, eu eu tô no Japão, outra hora eu tô na estou fazendo, tô lá. O meu respaldo é Rússia uma hora eu tô nos Estados aí, quiseram contar uma vantagem, 40 o meu resultado. E é importante mes­ Unidos, uma hora eu tô na Europa mas nesse começo de turismo aí, fize- Entrevista Raimundo Fagner

ram campanha com o Chico (Anísio, que foi o que aconteceu com o Collor. cabeça. De alguma maneira, tenho a humorista cearense consagrado no Então o Ciro... Não era necessário que impressão que ele vai dançar antes de Brasil), com o Renato (Aragõo, o ele ganhasse, nem cra necessário que concluir. Acho que desde quando ele Didi, cearense ex-integrante do fa ­ ele fosse um fator de ir pro segundo entrou, o candidato era o Tasso, essa é moso grupo humorístico Os Trapa­ turno com o Lula, porque aí ele ia se uma das razões da briga do Ciro... lhões]), como José Wilkcr, que depois juntar com essa turma que eu também quem conhece o Ciro sabe disso, o que o Ceará ficou famoso é que ele não... não acho legal... Acho que ele candidato cra o Tasso porque era a pareceu de cearense - ele dizia que era tem luz própria, tem v ida própria e que maior expressão do PSDB. E ele pernambucano - e... com vários artis­ ele tem idade ainda pra isso, pra ele (Fernando Henrique), mais uma vez tas aí. E fizeram a pesquisa. Quem poder fazer umacarreirasólida, princi­ ganhou no grito a coisa numa reu­ mais chamou público foi eu. Sessenta, palmente definir essa coisa dele aqui nião... Foi ele o candidato, porque ele setenta por cento no meio de Renato no Ceará, essa relação com o Tasso, já vinha como ministro, né? Mas era Fagner despediu-se de todos com um aper-to Aragào, Chico Anísio de tudo... Por­ essacoisaqueédamaior importância. pra ele ter parado ali, não ter feito de mão. Na saída, o que as pessoas identificam que eu Eu acho que eles têm muito ainda adar essas barganhas todas... O Brasil atra­ cantor deu um autó­ gosto da minhaterra Não é só falar da pelo Ceará. sou, porque ele foi fazer barganha pra grafo a u m a fu n cio n a­ minha terra É de participar, se você Entrevista - Fagner, você falou essa reeleição. Se ele, em vez de se ria do curso Ronaldo chega aqui, tem uma relação do Fagner, algumas vezes da sua afinidade com preocupar com isso, faz as coisas que presenteou-o com de alguma maneira tem. Eu acho isso o Tasso. Você vê com bons olhos a tem que fazer, e bota o Tasso como exemplares anteriores uma coisa da maior importância pra administração do Tasso aqui no candidato dele, realmente a coisa tinha da revista. minha vida, pra m inha referência pra Ceará, com ótimos olhos inclusive. sido diferente. Ele sairia por cima da tudo, da maior importância. Fagner - Não só eu, o Brasil carne seca. Eu acho que ele vai sair Entrevista - Puxando um pouco inteiro. mal. Até periga não concluir o manda­ pra esse lado político, como é que Entrevista - Pois é, queria que to. A minha intuição diz que ele não vai, você viu a candidatura do Ciro porque ele não é político, ele é um à presidência no ano passado? tremendo de um... diplomata e Fagner - Vi muito bem e psicólogo (na verdade, o Presi­ graças a Deus não ganhou. E gra­ dente é sociólogo), sei lá o quê, ças a Deus não empatou pra po­ “O Fernando Henrique, mas de política ele absolutamente der, de repente, ir com o Lula pro ele não é político, e é não entende. E acho que ele tá segundo turno. Acho que o Ciro conversando, tá falando sozinho. foi muito bem. o Ciro não deve ter atraso para o Brasil (...) Entrevista - Ainda nessa pressa, o Ciro é um talento, é uma questão política, você já che­ coisa da maior importância pro nesse segundo mandato, é gou a afirmar que nunca subi­ Ceará. Tá começando a ser visto ria a palanques, mas hoje a dessa maneirahoje, no Brasi I. Teve um desastre, acho que ele gente tá vendo aqui que você muito pouco espaço e conquistou tá falando sozinho (...)” manifesta claramente... muito. Eu acho que ele foi muito Fagner - Subir a palanque? bem na campanha, mostrou o nome Demais. Eu tô fazendo discursos dele, vai ter um aprendizado ago­ homéricos. ra, pós isso aí, porque você entrar Entrevista - Não, mas vocêjá numacampanhapresidencial comoele você falasse disso e fizesse um pa­ chegou a afirmar que não subiria a entrou, sem nada, e sair como o nome ralelo com o seu pensamento da palanques, que não se manifestaria.. dele saiu, deve ter sido uma boa expe­ administração do Fernando Fagner-Não.Nuncaentrariana riência eagoraele vai ter a oportunida­ Henrique para o Brasil. pol ítica. Acho que eu sempre falo... as de de refletir em cima disso, de ter o Fagner - Um desastre. Um de­ pessoas pensam que eu quero me respeito, o respaldo por isso que ele sastre. O Fernando Henrique, ele não candidatar, ou não sei o quê... Nada realmente merece, porque é uma ca­ é político, e é um atraso para o Brasil. Nem que eu tenha uma doença e perca beça privilegiada. E é bom, quando a Acho que ele pode ter sido até impor­ a memória e volte outra pessoa (ri­ gente tem o Tasso que é totalmente tante no primeiro mandato, deve ter sos). Mas subir em palanque eu subo. ligado ao Governo Federal e tem um feito algumas., apesar de ele não ter Acho um exercício fantástico. Já subi C iro batendo. Isso é bom. É importante. feito aquilo que cie prometeu. Agora em vários comíciose, quando eu subo, Entrevista - Por que você disse nesse segundo mandato é um desas­ eu não vou com nada na cabeçae saio “Graças a Deus ele não ganhou? tre, acho que ele tá falando sozinho, tá falando... aprendi muito com o Ciro Fagner - Porque não seria o entendendo? Faz bem o Tasso não isso. Ele é o meu mestre de oratóriaem momento. A meu ver não seria o mo­ querer indicar nomes nem se interferir cima de palanque, porque realmentc mento, como o (Fernando) Collor foi no governo dele, e sim trazer o que ele ele é o maior gênio nessa área. nessa num partidozinho pequeno, depois você traz pro Ceará que ele faz muito bem vocação. Acho bom, é um exercício, tem que se vender... a alma ao diabo, isso aí. Acho que essa política tá certa. um exercício você subir no palanque e você vai ter que se juntar com todo O Tasso tá certíssimo... de não querer falar coisas que a população entende, A eq uipe d e p rodução mundo, tá entendendo? Então não ti­ tá indicando nomes, de não querer tá uma coisa boa, é bom até pra mim que acompanhou o cantor nha tempo de articular. Politicamente encharcando o Governo Federal com tenho muitatimidezem cimado palco. até seu carro e perce­ beu que ele havia es­ eu acho que foi bom, mas agora ele opinião dele. Mas trazer do governo as Então essa subida em palanque, e fa­ quecido o vidro es­ coisas que a gente precisa pro Ceará. lar, e defender, e pichar, e não sei o tem que começar um processo de qu erdo aberto. articulação e de bom acompanhamen­ Essa é a melhor política do Tasso, a quê... é boa pra minha experiência no to, de parcerias fortes, porque você meu ver. E eu acho que o Fernando palco. Quando eu chego no palco pra quando ganha sozinho, num negócio Henrique já era. Eu tenho até a im­ fazer... Eu fico mais relaxado, falo as desse aventureiro, a tendência é você pressão que ele não vai até o fim desse coisas com mais espontaneidade. Não se juntar com gente da pior espécie, mandato, é uma coisa que tá na m inha precisa ter texto, as coisas saem, flu- 41 Raimundo Fagner Entrevista

em... É uma experiência do palanque então tinha um negócio assim. E co­ Entrevista - E a pintura? Você queé difícil. Palanque é muito difícil. mecei a jogar e depois virou... Aí largou? Entrevista - Você é uma pessoa pronto: eu gostava de futebol ejáfiquei Fagner - A pintura também, eu que tem uma grande paixão pelo uma pessoaconhccidade todo mundo. tinhaatécsquecido. Eutô produzindo futebol, já jogou com várias pesso­ Tenho grandes amizades no futebol, aí direto. Não tô parando não. Já fiz as, jogadores conhecidos do Bra­ meu compadreZicoéumapessoaque várias exposições aqui, fiz uma em sil. Rivelino ê um amigo seu... Como tenho a maior adm iração... Estou sem - Brasil ia com o Aldem ir Martins (artis­ é que surgiu isso, por quê? pre jogando e acho que sou um jogador ta plástico e desenhista cearense) e Fagner - Olha, essa paixão, por amador mais famoso do Brasil, porque o Ciron Franco (artista plástico exemplo, aqui no Ceará eu não jogava eu já tive glórias no futebol que muito goiano) ano passado. E o Totonho porque eu era muito ruim. Muito ma­ profissional não teve. Jájoguei com os também. Sem nenhuma intenção, não Os discos mais vendi­ gro, não tinha força nenhuma e o meu maiores craques, não só no Brasil como vendo... As pessoas até chiam que­ dos do cantor foram- ambiente de futebol eramuito bom,ali Traduzrr-se (81), Ro­ lá fora e também em clubes. Jájoguei rendo comprar, mas eu não vendo mance no Deserto (8 7) na Piedade (bairro de Fortaleza). no Japão, já joguei na Itália, jájoguei porque eu só fiz 30, 40 quadros. Pra e Pedras que Cantam Todo mundojogavamuito bem, então em... Nova Iorque, e o técnico queren­ que é que eu vou vender, né? Guardar (91). Todos com mais eu não... Depois peguei logo a guitarra do me escalar... Inclusive na despedi­ pra mim (risos). Mas tem umas mu­ de l milhão de cópias. no colégio c, 15 anos, 16 anos, e fiquei da do Zico no Japão, o técnico queria lheres que ligam pê da vida: “Pô! Isso meio fora disso. que eu jogasse pela seleção japonesa, é muito egoísmo! Tem que vender!”, Quando eu cheguei no Rio, conhe­ e eu achei uma... “Eu não vou jogar não sei o quê... Aí eu faço umas ci o A fonsinho (ex-jogador do não, mas...”, realmente é fantástico reproduções e dou pras pessoas, pra Botafogo, do Rio de Janeiro), que isso aí. Outra vez. no Maracanâ, teve alguns amigos e tal... mas não é profis­ foi um símbolo do passe livre no Brasil, um jogo seleção carioca e seleção sional, é um negócio que eu faço, vocês não devem conhecer, talvez paulista, e os dois técnicos mc chama­ assim... A minha vidaé muito agitada, muito poucos... Afonso era a maior ram prajogar. Eu joguei na preliminar eu sou muito agitado, então na pintura estrela do futebol brasileiro, ele teve e eles queriam que eu na hora jogasse eu paro com tudo. O tempo fica leve. .. uma briga séria de identidade com o tanto na seleção carioca, como na É legal mesmo. Pintura é uma das Zagalo (ex-jogador e treinador da paulista. Tenho uma vida futebolística coisas que eu tô mais gostando de seleção brasileira). O Zagalo queria amadora cheia de emoção. Adoro fu­ fazer ultimamente. que ele jogasse sem cabelo, ou sem tebol. Gosto muito de futebol de salão, Entrevista - Fagner. você nunca barba, e ele... Foi o primeiro cara que lá em Orós a gente só joga futebol de mais quis se inserir na atividade de ganhou um passe livre... era cultuado. salão. Agora eu tô jogando tênis. £ ator? Porque você já teve umas expe­ Conheci Afonsinho nacasade Capinan qualquer coisa de esporte... vôlei não riências (minissérie A Rainha da Vida, (compositor pernambucano), que por causa dos dedos, eu tenho medo exibida pela rede Manchete em 87j... morava no Rio e a gente tava fazendo de... Mas de qualquer esporteeu gosto. Fagner- Não, o novo filme do... música e terminei indo morar com Entrevista - Fora o esporte, que desse menino cearense que ganhou Afonso. A partir dali eu comecei a atividade você faz que te dá prazer? o... Sertão das Memórias, vocês já conviverejogarfutebol. Em 74, eu fiz Fagner - Dirigir pelas estradas, ouviram falar? um show. Joguei futebol o ano inteiro. adoro andar na estrada. Dirigir é real­ Entrevista - Zé Araújo. A gente tinha um time que era fantás­ mente uma das coisas que eu mais Fagner - Zé Araújo. O próximo tico, chamava Trem da Alegria, e eu gosto... de carro, ninguém dirige... eu filme dele acho que deve passar em gostava e pronto, o Afonso me botou não passo o carro pra ninguém. Gosto São Sebastião e eu sou um padre pra jogar. Eu virei lateral direito... eu muitodedirigir. Gostodo interior, gosto espanhol. Sou um coadjuvante, perigo não sabia jogar, mas eu corria muito, de tá na estrada... As coisas muito eu tomar o filme do principal (risos). eu tenho muita saúde e corro demais, comuns mesmo. Todo mundo gosta. Vou vir com tudo (risos).

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