FRAGILIDADE AMBIENTAL DE UM SETOR DO RASO DA CATARINA-BA E ENTORNO UTILIZANDO GEOPROCESSAMENTO (ÁLGEBRA SIMPLES DE MAPAS-SOBREPOSIÇÃO PONDERADA)

João Henrique Moura Oliveira – [email protected] Mestre pelo Programa de Pós Graduação em Modelagem em Ciências da Terra e do Ambiente PPGM-UEFS, foi Bolsista FAPESB-SECTI-, atualmente Professor Auxiliar - Substituto da Área de Geografia UEFS- Universidade Estadual de Feira de Santana – BA

Joselisa Maria Chaves – [email protected] Professora Doutora Adjunto B do DEXA-UEFS e do PPGM-UEFS

O Raso da Catarina, localizado na porção nordeste do Estado da Bahia se caracteriza em um ambiente de extrema rusticidade climática o que rebate diretamente nos seus fatores bióticos e abióticos, procurando compreender as interações e interrelações das diversas variáveis ambientais se propôs caracterizar a fragilidade ambiental partindo da integração das variáveis, relevo, solos e cobertura vegetal, tal análise utilizou ferramentas e métodos implementados em ambiente SIG como a álgebra simples de mapas por sobreposição ponderada. Os mapas digitais foram inicialmente reclassificados por inferência média ponderada com o intuito de sanar as ambigüidades decorrentes da soma dos mapas. Com a integração dos três mapas gerou um produto síntese onde foi possível identificar as áreas com maiores fragilidades. Foram classificados graus de fragilidade Muito Alto, Alto, Médio Baixo e Muito Baixo ou nulo. Com os resultados alcançados considera-se que apesar da área apresentar características ambientais que possam denotar uma fragilidade ambiental como solos profundos e arenosos (neossolos) e uma vegetação de arbórea e arbustiva de extrema rusticidade condicionada por um regime de chuvas muito escasso 10 a 11 meses de seca, são contrabalanceados pela configuração de relevo plano a suave ondulado, com setores dissecados somente nos contatos litológicos. Os níveis de fragilidade identificados perfazem em sua maioria Média e Baixa, os níveis de Fragilidade Alta e Muito Alta circunscrevem-se às áreas antropizadas e às vertentes mais íngremes - quebras de relevo.

Palavras-Chave: Fragilidade Ambiental, Álgebra Simples de Mapas, Raso da Catarina-BA

ABSTRACT: The study area encompasses part of Brazilian semi-arid region. Due to its unique aspects in terms of climate and lithology, it presents extreme rusticity in terms of vegetation of and landscape in general, drawing attention because of its dramatic environmental constraints. Landscape characterization was obtained based on the analysis of fragility of natural and human-induced environments. The environmental fragility analysis was conducted based on the relief dissecation index – a relation between the average interfluve extension and the degree of mean valley dissection -, and on the soil and vegetation maps. These three variables (relief dissection index, soil and vegetation) were integrated by the simple map algebra, considering different weights for each variable

INTRODUÇÃO

Partindo do principio que estudos no âmbito da Geografia Física são melhores consubstanciados quando da utilização de novas tecnologias de análise, no caso produtos derivados de Sistemas de Informações Geográficas este estudo propõe-se caracterizar a fragilidade ambiental aplicando a metodologia desenvolvida por Ross (1994). Procurou-se assim integrar uma metodologia já consagrada em estudos de fragilidade ambiental de âmbito nacional onde enfoca os atributos geomorfológicos como síntese da Paisagem geográfica em ambiente de Sistemas de Informações Geográficas com integração das variáveis ambientais envolvidas (geomorfologia, solos e cobertura vegetal) em ambiente digital.

A área de estudo se refere a um setor da Ecorregião Raso da Catarina, na porção nordeste do Estado da Bahia (Figura 1) se caracteriza em um ambiente de extrema rusticidade climática o que rebate diretamente nos seus fatores bióticos e abióticos, procurando compreender as interações e interrelações das diversas variáveis ambientais como geomorfologia, solos e Cobertura Vegetal.

480000 510000 540000 570000 600000

RODELAS

MACURURE Y# TI Kantururé TI Quixaba 65° 50° 35° 5 ° ° 8

5 Linhas de Transmissão E. Eletric a - CHESF 0 9 0 7 0 0 0 0

7 TI Brejo dos Burgos Alagoas 0 9 Y# 0 8 GLORIA Y# CHORROCHO TI Pankararé

PE RN A MB U CO

Rio S ão Fra nc isco AB AR É

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° R

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0 9 °

SE RG IP E 1 0 4 0 0 0 0 4 0 9 0 8 EE Raso da Catarina

Y# SANTA BRIGIDA 8 2 ° 0 9 5 5 ° 0 1 2 Cidades ARIE Cocorobó 0 # 0 0 Mu ni cípios 0 1 0 Lin has de Tran smisão - CH ESF 9 0

8 TERRAS IN DÍGENAS Brejo do Burgo N APA Pedra Branca/Raso da Catarina Kantaruré Sergipe Panka raré 0 1000 Km W E Qu ixaba

S UNIDADES DE CONSER VAÇÃO N 65° 50° 35° APA Serra Branca/Raso da C atarin a ARIE C orobobó EE R aso da C atarin a Y# 480000 510000 540000 570000 600000 0 30 Km

Figura 1 – Localização da Área Pesquisada

2. METODOLOGIA

A Análise da Fragilidade dos Ambientes Naturais Antropizados, proposta por Ross (1994), foi concebida e aplicada em regiões de clima tropical-úmido do centro-sul do Brasil e difundida nos trabalhos Spörl, (2001) nos Estados de Minas Gerais e São Paulo, de Leme (2007) no interior de São Paulo, além de Furrier (2007), abrangendo a cidade de João Pessoa e entorno em ambiente litorâneo.

Ross (op.cit.) propôs duas formas de aplicação da metodologia de análise da fragilidade ambiental alicerçados por parâmetros geomorfológicos ou morfométricos, o primeiro se baseia nos índices de dissecação do relevo e o segundo tem como base as classes de declividade. Entretanto, para Ross (1990, 2001 e 2006), as unidades de fragilidade dos ambientes naturais devem ser resultantes dos levantamentos básicos de geomorfologia, geologia, solos, vegetação, uso da terra, fauna e clima. Esses elementos, tratados de forma integrada, possibilitam obter um diagnóstico das diferentes categorias hierárquicas da fragilidade dos ambientes naturais em consonância com os pressupostos dos Geossistemas (SOTCHAVA, 1977 e BERTRAND e BERTRAND, 2007).

Assim, nessa a pesquisa, aplicou-se e avaliou-se a metodologia de análise da fragilidade ambiental em um setor do semi-árido brasileiro, de alta rusticidade e singularidade, referente às suas variáveis ambientais, tais como litologia, relevo – processos geomórficos, solos, elementos climáticos (precipitação pluviométrica, temperatura, evaporação) e cobertura vegetal. Considerou-se também a antropização, ou seja, a intervenção empreendida pelo poder público federal ou estadual na tentativa de ordenamento territorial e ambiental na região.

Contudo, para aplicação das metodologias, foi necessário proceder às devidas adaptações por conta da diferença de ambiente originalmente concebido para a aplicação da metodologia (em meio analógico), bem como os procedimentos operacionais de manejo e cruzamento - sobreposição de mapas, posto que foi utilizado, nesta pesquisa, Sistemas de Informações Geográficas, por meio de algoritmos de ponderação e álgebras de mapas.

A seguir, são descritos os procedimento operacional indicado por Ross (op.cit.) para a execução do produto cartográfico síntese que identifica manchas de diferentes padrões de fragilidade potencial. Apresentam- se, também, as devidas adaptações, na metodologia, por conta da diferenciação das características das variáveis ambientais como clima semi-árido rústico e cobertura vegetal, com variedades de caatingas, como Caatinga Arbórea, Caatinga Arbustiva, Caatinga Parque e Écotonos de Vegetação.

2.1 Análise do Índice de Dissecação do Relevo

O modelo aplicado e avaliado refere-se à metodologia de Fragilidade Potencial Natural com Apoio nos Índices de Dissecação do Relevo. A intensidade de dissecação ou a rugosidade topográfica é o primeiro grande indicador da fragilidade potencial que o ambiente natural apresenta. A densidade de drenagem associada ao grau de entalhamento dos canais combinados, determina a rugosidade topográfica ou o índice de dissecação do relevo e, obviamente, define a dimensão interfluvial média dos conjuntos homogêneos de formas do relevo ou conjuntos de formas semelhantes (ROSS, 1990).

Assim, foi tomada como referencial morfométricos a matriz dos índices de dissecação do relevo – conceito desenvolvido por ROSS (1992) – baseada na relação entre a densidade de drenagem e a dimensão interfluvial média (Quadro 1). Essa hierarquização leva em consideração a intensidade dos processos erosivos, os riscos de escorregamentos/deslizamentos e a velocidade de transformação do relevo (FURRIER, 2007).

Quadro 1 – Matriz dos Índices de Dissecação do Relevo Dimensão interfluvial MUITO GRANDE MÉDIA PEQUENA MUITO média (CLASSES) GRANDE PEQUENA (1) (2) (3) (4) (5)

Graus de Entalhamento do > 1500 1500 A 700 700 A 300 300 A 100 <100 M Vale (classes)

Muito Fraco (1) (< de 100 m) 11 12 13 14 15

Fraco (2) (10 a 20 m) 21 22 23 24 25

Médio (3) (20 a 40 m) 31 32 33 34 35

Forte (4) (40 a 80 m) 41 42 43 44 45

Muito Forte (5) (> 80 m) 51 52 53 54 55

Fonte: Ross (1994)

O índice de dissecação foi obtido por meio da análise visual de perfis topográficos elaborados automaticamente a partir do MDE-SRTM refinado de 30 m no software Global Mapper 8 (GLOBAL MAPPER, 2007). Foram traçados perfis topográficos representativos nos conjuntos de modelados semelhantes e analisados, visualmente, a dimensão interfluvial e o grau de entalhamento dos vales, a fim de classificar o índice de dissecação de cada Unidade Morfológica (Figura 2). Seguindo como referencial essa matriz, as categorias morfométricas foram classificadas de acordo com os parâmetros do Quadro 1, apresentado no Quadro 2.

Quadro 2 – Classes de Dissecação do Relevo. Fonte: Ross (1994) Graus de Dissecação Tipos de Morfometria 1 – Muito Fraca 11 2 – Fraca 21, 22, 12 3 – Média 31, 32, 33, 13, 23 4 – Forte 41, 42, 43, 44, 14, 24, 34 5 – Muito Forte 51, 52, 53, 54, 55, 15, 25, 35, 45, 55

- entalhamento dos vales

- dimensão interfluvial

Figura 2 – a) Vista do software Global Mapper 8: MDE (Relevo Sombreado) com escala gráfica e vertical; b) Perfil topográfico de uma Unidade Morfológica (Padrão de Formas Semelhantes)

2.2 Solos

Para os critérios de hierarquização e ponderação da variável ambiental solo, foram consideradas as respectivas classes existentes na área de estudo, comparando-as com as classes de fragilidade dos solos apresentadas no Quadro 3 propostas por Ross (op.cit.). Nessa classificação ou hierarquização, leva-se em consideração a textura, estrutura de plasticidade, grau de coesão das partículas e profundidade/espessura dos horizontes superficiais e sub-superficiais. Assim, as classes de solos são classificadas de acordo com sua fragilidade natural e em conformidade com as características citados em cinco categorias: Muito Baixa, Baixa, Média, Forte e Muito Forte.

A variável fragilidade dos solos foi estabelecida utilizando-se do mapa digital de solos do Estado da Bahia (SRH, 2001). As classes contidas na tabela de fragilidade da metodologia seguiram a classificação de solos antiga (Quadro 3). Procedeu-se, portanto, a conversão para as atuais classes correspondentes de acordo com nova classificação de solos do Brasil (EMBRAPA, 2006) (Quadro 4). Quadro 3 – Classes de Fragilidade dos Solos

Classes de Fragilidade Classes de Solos.

1 – Muito Baixa Latossolo Roxo, Latossolo Vermelho escuro e

Vermelho-Amarelo textura argilosa

2 – Baixa Latossolo Amarelo e Vermelho-Amarelo textura

média/argilosa

3 – Média Latossolo Vermelho Amarelo, Terra Roxa, Terra

Bruna, Podzólico Vermelho-amarelo textura

média/argilosa

4 – Forte Podzólico Vermelho-amarelo textura média/ arenosa Cambissolos 5 – Muito Forte Solos Litólicos, Areias Quartzosas Fonte: Ross (1994)

Quadro 4 – Adaptação de pesos e nomenclaturas das classes de solos existentes na área de estudo

Classes de Fragilidade Classes de Solos 4 – Forte Argissolos Vermelho-Amarelo eutrófico – PVAe, Cambissolos Háplico eutrófico - CXve,, Luvissolos Crômico Órtico – Tco, Vertissolos – V 5 – Muito Forte Neossolos Quartzarênicos RQ, Neossolos Litólicos distróficos – RLd, Neossolos Litólicos eutróficos – Rle, Planossolos Haplicos Eutroficos solódicos – Sxe, Planossolos Nátrico Órtico - SNo

Fontes: Ross (1994) e EMBRAPA (1999)

2.3 Cobertura Vegetal e Uso da Terra

A variável ambiental cobertura vegetal/ uso da terra, na metodologia de Ross (1994), é utilizada como suporte na análise da proteção dos solos face à ação das águas pluviais. Assim, através das classes de Cobertura Vegetal identificadas, foram estabelecidos graus de proteção aos solos. Ross (1990 e 1994) propôs uma hierarquização da Cobertura Vegetal obedecendo à ordem decrescente quanto à capacidade de proteção aos solos conforme se verifica no Quadro 5. A adaptação foi necessária posto que Ross (1994) desenvolveu sua metodologia para ser aplicada em ambientes de diferentes estratos arbóreos mais altos e densos e sob diferentes usos.

O mapa de Cobertura Vegetal utilizado refere-se ao mapeamento digital da Cobertura Vegetal e Uso do Solo do Estado da Bahia na escala 1:100.000 (DDF-SEAGRI, 1998). Contudo, esse mapa foi atualizado tomando por base a interpretação da Imagem de Satélite e controlado por trabalho de campo. No Quadro 6 é apresentada a adaptação das classes de cobertura vegetal/ uso do solo presentes na área de estudo, elaborado especificamente para área de estudo. As áreas recobertas por Caatinga Arbórea foram classificadas como áreas de proteção Muito Alta por estarem em alto grau de preservação, bem como a classe de Caatinga Arbustiva, proteção Alta. A classe Caatinga Parque foi considerada como Alta por apresentar estrato arbóreo variado de forma espaçada, mas coberto por estrato gramíneo. A classe Baixa ficou atribuída à porção de Caatingas Antropizadas, já às Áreas de Uso Antrópico para agricultura familiar e/ou para pecuária extensiva, atribuiu-se Proteção Muito Baixa ou Nula. Quadro 4.7 - Graus de Proteção do Solo segundo a Cobertura Vegetal

Graus de Proteção Tipos de Cobertura Vegetal

- Florestas/ Matas Naturais 1 – Forte Floretas Cultivadas com diversidade de espécies e vários estratos - Formações arbustivas originais abertas com estrato de gramíneas

- Formações arbustivas densas de origem secundárias

(capoeira)

- Formações naturais cultivadas de gramíneas (pastos) 2 – Médio - Agricultura de ciclo longo de ocupação densa (cacau, banana) - Áreas desmatadas recentes - Agricultura de ciclo curto (arroz, milho, feijão, soja, trigo) e - agricultura de ciclo longo de baixa densidade 3 – Fraca (café, laranja, pimenta-do-reino) Fonte: Ross (1994)

Quadro 4.8 – Graus de Proteção para Tipos de Cobertura Vegetal existente na Área de estudo

Graus de Proteção Tipos de Cobertura Vegetal e Uso o Solo

1 – Muito Alta Caatinga Arbórea, Mata Ciliar e Écotono Contato Cerrado- Caatinga 2 – Alta Caatinga Arbustiva e Caatinga Parque

3 – Média Reflorestamento e Culturas Cíclicas Irrigadas 4 – Baixa Caatinga Arbustiva Antropizada 5 – Muito Baixa a Nula Área Antropizada

Dessa forma, foi estabelecida uma classificação da fragilidade através da correlação entre esses três planos de informações representando as variáveis ambientais: Relevo - Índices de Dissecação; Solo; Cobertura Vegetal/Uso da Terra.

2.4 Integração e Aplicação da metodologia de Fragilidade Ambiental apoiado no Índice de Dissecação em SIG

A metodologia desenvolvida por Ross (1994) foi concebida para ser realizada em meio analógico por sobreposição de mapas confeccionados em acetatos. Nesse estudo, a sobreposição dos mapas digitais (mapa do índice de dissecação do relevo, solos e cobertura vegetal e uso do solo) foi realizada em ambiente SIG pelos métodos de Álgebra Simples de Mapas - Sobreposição Ponderada. De forma similar a Rosa e Ross (1999), utilizou-se o método de Sobreposição Ponderada implementada no módulo Model do software Arc Gis 9.2 para gerar um Mapa-síntese de Fragilidade Ambiental. Nesse método, são atribuídos pesos em percentagem a cada mapa base, e as classes (graus de fragilidade ou proteção) dos mapas são re-classificados para uma escala de algarismos arábicos de 1 a 5 de acordo com o grau de fragilidade.

Assim, foi atribuído à variável geomorfologia (índice de dissecação do relevo) um peso de 50%, pelo fato de a análise de fragilidade ambiental proposta apoiar-se nos índices de dissecação do relevo. Às demais, no mapa de solos e cobertura vegetal, atribuiu-se 25%. Por esse método, o grau de fragilidade é estabelecido em até cinco classes, atribuindo-lhes de forma qualitativa graus de Fragilidade Ambiental variando entre Muito Baixa, Baixa, Média, Alta Extremamente Alta. A Figura 4.5, abaixo, aborda a modelagem realizada.

Geomorfologia (Índice de Dissecação Sobreposição do relevo) Ponderada

Classes de solos Atribuição de pesos Mapa-Síntese de Fragilidade Ambiental dos

Cobertura Vegetal e Ambientes Naturais Uso do Solo Antropizados

Figura 3 – Fluxograma ilustrativo da modelagem implementada em SIG para geração do Mapa de Fragilidade Ambiental dos Ambientes Naturais antropizados por Sobreposição Ponderada

3. Análise da Fragilidade dos Ambientes Naturais Antropizados por Sobreposição Ponderada

A Análise da Fragilidade Ambiental por Sobreposição Ponderada seguiu a proposta de análise contida em Ross (1994), que estabelece, primeiramente, o cruzamento das informações dos mapas de tipos de formas de relevo (categorias morfométricas de dissecação do relevo) e de solos (classes de Fragilidade de solos), resultando em um produto intermediário decorrente da relação relevo-solo. A partir desse cruzamento, é realizada a sobreposição com o mapa de Cobertura Vegetal/ Uso do Solo, obtendo, assim, a Carta-Síntese, o que representa a Fragilidade Potencial dos Ambientes Naturais e Antropizados (Figura 5).

Foram classificadas quatro classes representando os graus de Fragilidade Potencial (Fraco, Médio, Forte e Muito Forte). A classe de maior expressão areal se refere à classe 3 – grau de Fragilidade Média - perfazendo, aproximadamente, 60% 5.154 Km² da área e abrangendo de maneira contínua quase todas as Unidades Geossistêmicas ou Geomorfológicas. A generalização desse grau de fragilidade é explicada pela ponderação feita pelas categorias morfométricas Baixa e Média e das classes de Fragilidade de solos Muito Forte, representado na área pelos Neossolos (Quartzarênicos e Litólicos) e Planossolos, além da associação, por fim, da Classe de Cobertura Vegetal com proteção aos solos Alta e Muito Alta, como as diversas fácies de Caatinga (Arbórea, Arbustiva e Écotonos). Aliado a isso, essa Unidade possui relevos planos suaves ondulados e dissecação fraca a média, solos com forte grau de susceptibilidade a erosão como os Neossolos Quartzarênicos e Litólicos contrabalançada, contudo, por haver uma cobertura vegetal de Caatingas originais ou com intervenção antrópica irrisória.

Como exemplo de Unidades com Grau de Fragilidade Média, pode-se mencionar o Raso da Catarina sensu stricto, que possui solos altamente susceptíveis à erosão e, por extensão, com alta fragilidade com Tipo de Formas com dissecação Fraca a Média com Formas suavizadas e cobertas por Caatingas originais com grau de Proteção Alta para os solos. A Serra do Tonã também se enquadra com Grau de Fragilidade Média, com cobertura pedológica por solos com Fragilidade Forte, no caso dos Cambissolos. Possui formas de relevo suave ondulada e cobertura vegetal variada: Caatingas conservadas, antropizadas e Uso Antrópico.

É considerada também como uma Unidade Ecodinâmica Estável com grau de Instabilidade Potencial Médio, devido, principalmente, à manutenção do equilíbrio dinâmico natural preservado, em que as atividades antrópicas não foram intensas a ponto de quebrar esse equilíbrio.

A Classe 2 – grau de Fragilidade Fraca - corresponde a áreas consideradas como Estáveis e com grau de Instabilidade Potencial Baixa, pois é disposta em áreas de relevo plano. Existe atividade geomórfica estabilizada e com cobertura vegetal de Caatinga Arbustiva ou Arbórea original. Esta área compreende apenas 2.2% ou 189,3 Km² de toda área de estudo. Como exemplo, há áreas no limite oeste da Serra do Tonã e, na parte oeste, trechos de modelados planos, associando Depósitos Tércio-Quaternários com cobertura vegetal de Caatinga Arbustiva.

A Classe 4 – grau de Fragilidade Forte - dispõe de uma distribuição espacial de quase 30% ou 1.794,6 Km². Esta classe agrupou duas Unidades Ecodinâmicas: a Unidade Ecodinâmica Instável com grau de Instabilidade Emergente Forte que possui, como Compartimentos ou Unidades representativas, partes do Pediplano do Baixo São Francisco formadas por Planossolos (Fragilidade Forte) com relevo medianamente dissecados e cobertos por Caatinga Arbustiva antropizada, variáveis com características que justificam sua classificação como de Fragilidade Potencial Forte.

Em uma pequena faixa ao sul dessas, estão inseridos os Baixos Planaltos do Vaza-Barris, formadas por Tipos de Formas suaves ondulado a ondulado, Planossolos e cobertos por Caatinga Arbustiva Antropizada além de uma pequena faixa destinada às Culturas Cíclicas localizadas no Vale do Vaza-Barris, a oeste da área também foi classificada como grau de Fragilidade Forte posto que, possui solos com Fragilidade Forte (Vertissolos) associada a Uso Antrópico que proporciona Baixa Proteção a esse solo.

A outra Unidade refere-se à Unidade Ecodinâmica Estável com Instabilidade Potencial Forte representada por todas outras áreas em tons de vermelho a exemplo parte Sul do Raso da Catarina sensu stricto. Compartimento com as maiores cotas altimétricas da área e zona interfluvial coberta por Neossolos Quartzarênicos. Essa Unidade possui relevo dissecado por conta da presença das Baixas (Vales Fluviais ou marcas de paleo-drenagem) e Cobertura Vegetal de Caatinga Arbórea e Contato Cerrado-Caatinga.

Nas Baixas, a Fragilidade também é classificada como Forte, e se tem como exemplos a Baixa da Catarina e Baixa do Chico. Outra Unidade com Fragilidade Forte refere-se aos setores da Unidade Raso da Catarina Sul, mais especificamente as vertentes fortemente dissecadas com Neossolos Litólicos e cobertas por Caatinga Arbustiva.

A classe 5 – grau de Fragilidade Muito Forte – é classificada como uma Unidade Ecodinâmica Instável com grau de Instabilidade Emergente Muito Forte, representa 17,2% ou 1.485,0 Km² da área. Circunscrevem-se a áreas de intenso uso antrópico para a agricultura, pecuária ou simplesmente áreas desmatadas. É concentrada na porção leste em terrenos do Pediplano do Baixo São Francisco com relevo suave ondulado a ondulado e com Planossolos, nos Baixos Planaltos do Vaza-Barris, com relevo também ondulado e coberto por Neossolos Quartzarênicos.

Outra área de Fragilidade Muito Forte corresponde ao Vale do Rio Vaza-Barris devido à presença de um sistema de aproveitamento de suas águas para agricultura de ciclo longo e curto, facilitado pelo controle e pela vazão proporcionada pela barragem de Cocorobó. O vale é submetido à intensa pressão condicionada à presença dos Vertissolos, solos com certa fertilidade natural, porém é susceptível à erosão. Setores também com Fragilidade Muito Forte referem-se às áreas em torno das localidades, tais como a vila do Juá, a aldeia do Brejo do Burgo, a vila Salgado do Melão e entorno da cidade de Paulo Afonso.

Na tabela 1 e Figura 4, pode-se observar, de forma quantitativa, a distribuição espacial dos Graus de Fragilidade e seus correspondentes percentuais.

Tabela 1 – Distribuição espacial em Km2 das Classes de Fragilidade Potencial mapeada por Sobreposição Ponderada e respectivas percentagens Grau de Fragilidade Área Km2 Percentagem % 2 - Fraca 189,3 2,2 3 - Média 5.153,4 59,8 4 - Forte 1.794,6 20,8 5 - Muito Forte 1.485,0 17,2 Total 8.622.3 100

1.485,0 Km² 189,3 Km²

2 - Fraca

3 - Média 1.794,6 Km² 4 - Forte 5 - Muito Forte 5.153,4 Km²

Figura 4 – Distribuição gráfica e Km2 das Classes de Fragilidade mapeada por Sobreposição Ponderada

FIGURA 5 –

500000 520000 540000 560000 580000 600000 ECORREGIÃO RASO DA CATARINA E ENTORNO L B H A- a 210 id g o r e - l

8 é C 0 t 9 o FRAGILIDADE POTENCIAL DOS AMBIENTES NATURAIS r 0 i 8 c m 0 0 a 0 p 0 ANTROPIZADOS POR SOBREPOSIÇÃO PONDERADA B s 8 l 0 A e 9 - 0 - x 8 2 C o 1 H 0 d E e # S Salgado do Melão F

Aldeia da Ponta d'águ#a Brejo #dos Burgo

Glória 8 0 9

0 # 6 0 0 Aldeia da Serrota Paulo BAfonso 0 0 R 6 0 -

9 1 0 1

8 # Juá 0 Graus de Fragilidade # # Aldeia do Chico Várzea da Ema 8 0 9 0 4

B

0 0

R 0 0

-

1 4 0

1 9 0

0 8

8 0 9

0 BA-305 2 0 0 0 0 2 0 9 0

8

0 # 1 Canché 1 BR - - R 235 B 8 0 9 0 0 0 0

0 # 0 0 Fazenda Serra Branca - Sede da APA 0 9 0 8 BR-235

500000 520000 540000 560000 580000 600000 Universidade Estadual de Feira de Santana N Departamento de Ciências Exatas PPGM

10 0 10 Km W E Programa de Pós Graduação em Modelagem em ESCALA COMPATÍVEL: 1: 100. 000 S Ciências da Terra e do Ambiente

PROJEÇÃO UNIVERSAL TRANVERSAL DE MERCATOR Discente: João Henrique Moura Oliveira DATUM HORIZONTAL: SAD 69 Orientadora: Prof.ª Drª Joselisa Maria Chaves FUSO 24

CONCLUSÕES

 A primeira consideração a ser feita se refere à facilidade de manipulação e integração das variáveis ou dos mapas digitais.

 Com Modelagem por Sobreposição Ponderada houve uma ponderação inicial entre os variáveis graus de dissecação (relevo) e Fragilidade dos Solos, a fim de gerar um produto intermediário relevo-solo. Com isso a Fragilidade do solo obteve maior destaque na qualificação do grau de Fragilidade, posto que, quase a totalidade da área é qualificada com solos de Fragilidade Forte ou Muito Forte. Assim, com o cruzamento entre a categoria relevo- solo com a Cobertura Vegetal houve uma ponderação onde as classes de cobertura com grau de Proteção Alta e Muito Alta conjugadas com as classes de Solo resultou em um balanceamento qualificando quase 60% da área como classe Média, Fraca em 2,2%, Forte em 20,8% e Muito Forte 17,2%.

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