Quaderns de Psicologia | 2015, Vol. 17, No 3, 31-44 ISNN: 0211-3481

 http://dx.doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1286

Aspectos sobre travestilidade e envelhecimento: história, corpo e imigração Some aspects on travestility, transsexuality and ageing: history, body and immigration

Ilana Mountian Universidade de

Resumo Esse artigo traz algumas reflexões sobre travestilidade e envelhecimento, baseadas na pes- quisa Travestilidade e Envelhecimento. O tema do envelhecimento da população travesti e é pouco investigado nas pesquisas brasileiras, e há aqui uma grande gama de aspectos que necessitam de visibilidade e debate. Considerando o contexto transfóbico em que se encontram, destaca-se aqui aspectos levantados na pesquisa relacionados à saúde da população travesti e das mulheres trans em relação às mudanças corporais; as imigrações das travestis e mulheres transsexuais; e a história contada por elas. Nesse sentido, é ressal- tada a importância em dar voz às travestis e populações transgêneras, num contexto o qual aspectos relacionados aos efeitos da transfobia são continuamente ignorados e ofuscados, o que coloca em xeque por um lado a garantia dos direitos humanos das populações transse- xuais e travestis e por outro, revela como esses grupos configuram na história. Palavras-chave: Travestis; Envelhecimento; História; Imigração

Abstract This article brings some aspects on travestility and transsexuality and ageing, based on the research Travestility and Ageing. There is a lack of research on the theme of ageing of the travesti and transsexual population, while there are a large number of aspects that need visibility and further debate. Considering the transphobic context, some aspects are high- lighted, such as, health of travesties and transsexual people considering the body modifi- cations; immigration; and the history told by them. In this sense, it is pointed out the im- portance of giving voice to travesties and population, since aspects related to the effects of transphobia are continuously ignored and obscured, which brings to the fore the question of guarantee of human rights to travesties and transgender people, while it also reveals how these groups are configured in history. Keywords: Travestis; Ageing; History; Immigration

32 Mountian, Ilana

Introdução traz, portanto contribuições na área, e apon- ta para a importância em dar voz a esses gru- Esse artigo tem como objetivo principal trazer pos. É relevante apontar aqui a importância algumas reflexões sobre travestilidade e en- dos movimentos sociais para a visibilidade e velhecimento. Essas reflexões foram desen- luta por cidadania e direitos humanos nessa volvidas com base na pesquisa Travestilidade 1 área (Prado, Mountian, Machado e Santos, e Envelhecimento , realizada em 2012, uma 2010), por exemplo, os movimentos de trans- pesquisa qualitativa onde foram conduzidas patologização que tem gradualmente trazido entrevistas com travestis consideradas idosas. importantes avanços aos direitos trans no Bra- O objetivo dessa pesquisa foi levantar como sil, na Europa, EUA, Canadá e outros. as travestis entendem e exploram a questão do envelhecimento travesti. As orientações A transfobia no contexto brasileiro foi apon- teóricas utilizadas são advindas da pesquisa tada e denunciada em diversos setores (Ama- feminista, estudos queer e teorias críti- ral et al., 2014; , 2015), cas. Nesse artigo são levantado vários aspec- sendo fundamental o entendimento de como tos que configuraram na pesquisa que mere- se dão as dinâmicas e efeitos da transfobia e cem atenção, primeiramente ao relatar suas homofobia, nas diversas localidades, conside- histórias, as entrevistadas traçaram um per- rando as especificidades regionais e as rela- curso histórico de um testemunho das mudan- ções aos demarcadores sociais de diferença ças políticas e sociais no Brasil, apontaram a de raça, classe, idade e deficiência. Nesse ar- relação com a transfobia e homofobia estru- tigo são trazidas algumas reflexões surgidas turais e levantaram aspectos sobre a imigra- no contexto da pesquisa realizada, as entre- ção de travestis e mulheres transsexuais. Se- vistadas advindas de diversas partes do Brasil, gundo, as entrevistadas destacaram aspectos trazem aspectos que podem ser vistos de uma referentes à sua sexualidade e o envelheci- forma ampla na realidade brasileira, portan- mento, a relação com o corpo e possibilidades to, os elementos levantados não explorarão de inserção laboral. Esses aspectos, além de em detalhes as experiências locais, no entan- fundamentais para o entendimento e análise to, trazem à tona diversos aspectos sobre tra- da experiências de travestis e mulheres trans- vestilidade e envelhecimento, vistos enquanto sexuais, desvelam também a falta de estudos efeitos da exclusão vividas no Brasil. sobre essa intersecção no campo da psicolo- Sobre a pesquisa gia. A pesquisa ‘Travestilidade e Envelhecimento’, Os temas da travestilidade, transsexualidade 2012, realizada por Mountian, Monteiro, An- e imigração ainda não são muito explorados derson e Machado, fez parte da colaboração no campo de estudos da psicologia, assim co- de pesquisa interestadual (UFMG, UNIFESP, mo estudos sobre a intersecção entre enve- UFBA e UFPE) intitulada “A visibilidade de lhecimento e sexualidade. O tema da travesti- corpos gendrados e seus desdobramentos polí- lidade ainda é pouco explorado em pesquisa, ticos e cotidianos”, com apoio do CNPQ. Essa apesar do crescimento de estudos sobre o te- foi uma pesquisa qualitativa, baseada nas en- ma nos últimos anos (Amaral, Silva, Cruz e trevistas de travestis consideradas idosas (N- Toneli, 2014). Referente à questão do enve- 5). Na análise desenvolvida, deu-se ênfase aos lhecimento da população de travestis, mulhe- aspectos trazidos por elas, dessa forma, fra- res transsexuais e homens trans (Antunes, gmentos das entrevistas serão utilizados no 2010; Fernandes, Barroso, Assis e Pocahy, artigo possibilitando visualizar os principais 2015; Kimmel 2014; Siverskog 2014), a sexua- temas destacados nas entrevistas. lidade das populações transgêneras na velhice (Bauer, Redman, Bradley & Scheim, 2013; A análise parte de uma perspectiva feminista Witten, 2015,), e estudos sobre transsexuali- (Haraway, 1998), queer (Butler, 1999/2008) e dade e raça (Graham et al., 2014), nota-se pós-colonial (McClintock 1995; Spivak que estes são temas muito pouco explorados 1988/2011), e a metodologia utilizada é a em pesquisas acadêmicas. O presente artigo análise de discurso (Foucault, 1969/2002) on- de as relações de poder são desveladas na

1 Agradeço imensamente a Liliane Anderson, Igor Montei- pesquisa, ou seja, é analisado o efeito discur- ro e Frederico Viana Machado pela contribuição funda- sivo das dinâmicas sociais. Damos destaque às mental para a realização da pesquisa Travestilidade e Envelhecimento, 2012. http://quadernsdepsicologia.cat Aspectos sobre travestilidade e envelhecimento: história, corpo e imigração 33

vozes das entrevistadas nesse artigo (Browne participa da possibilidade dialógica da fala e Nash, 2010). (representar – performar e falar), e nem de auto-representação, uma vez que sua voz é As entrevistadas advêm de diversas partes do sempre mediada. Aponta como nos estudos Brasil, tanto de capitais brasileiras quanto do acadêmicos, muitas vezes é reproduzido o lu- interior, possuem mais de 46 anos de idade, gar de Outro ao subalterno, e não permite em sua maioria negras e de famílias de clas- que esse seja um sujeito de desejo, poder, ses sociais menos favorecidas. As localidades mas visto como um Outro homogêneo. de origem das entrevistadas foram: interior da (N-1), interior de (N-1), O sujeito não é visto como consciência represen- (N-1) e (N-2). tativa (uma consciência que re-presenta a reali- dade adequadamente). Esses dois sentidos do Quatro entrevistadas vivenciaram processos termo representação – no contexto da formação migratórios nacionais e internacionais. Atual- do Estado e da lei, por um lado, e da afirmação mente trabalham em diversas profissões (ca- do sujeito por outro – estão relacionados, mas são belereiras, cantoras, prostitutas) e algumas irredutivelmente descontínuos (Spivak, 1988/2011, p. 32). são ativistas para o reconhecimento e garan- tia dos direitos humanos e cidadania das po- Em relação às travestis, levanto dois aspec- pulações travestis, mulheres trans e homens tos, primeiro os desafios e resistências que as trans. travestis, assim como as e os transexuais tra- zem em relação aos debates de gênero, em Para a exposição proposta, o artigo centrará particular sobre o corpo binário e ciagênero; em temas que foram levantados nas entrevis- e segundo, procurarei centralizar nas falas tas. Primeiramente é ressaltada a importância das travestis os aspectos levantados por elas. da interseccionalidade para a análise e um le- vantamento do debate sobre a categoria tra- O corpo trans deflagra a rigidez das perfor- vesti, em seguida é ressaltada importância mances de gênero, desde a contestação ao em se considerar as especificidades dessa po- que é concebido como gênero biológico e suas pulação para o desenvolvimento de pesquisas transformações, às transgressões dos códigos e políticas públicas. Após esse debate, ques- das normas de gênero, que variam de acordo tões específicas referentes a corpo e idade, e com entendimentos locais sobre gênero sexu- imigração e história são destacadas. Nesse al. Nesse contexto, podemos levantar como o sentido, a transfobia é vista como uma vio- corpo trans desvela discursos sobre as pró- lência estrutural que perpassa as histórias e prias normas de gênero, tanto na sua trans- experiências das travestis e mulheres trans. gressão quanto na sua reiteração, ou seja, se por um lado, a não aceitação social das tra- Travestis e envelhecimento – vestis é continuamente reiterada, por outro, interseccionando categorias sociais podemos apontar como o corpo trans coloca A maioria das travestis são marginais a vida intei- em destaque também, o que é esperado de ra e quando envelhecem elas viram velhas margi- uma mulher cisgênera, e nos casos dos ho- nais. (Entrevistada no 1, entrevista pessoal, 08 de 2 mens trans, o que é esperado de um homem fevereiro de 2012). . cisgênero. O tema da travestilidade e envelhecimento, É já conhecido como as categorias sociais são como apontado, é ainda pouco explorado em construções sociais que são historicamente, pesquisa, sendo um tema marginal também cultural e politicamente localizadas (Butler nas ciências humanas. Para o desenvolvimen- 1999/2008; Haraway 1988), ou seja, não há to de pesquisas na travestilidade, transsexua- uma essência de gênero e sexualidade, mas o lidade e envelhecimento, é fundamental con- que é entendido como tal, é historicamente e siderar categorias sociais em intersecção e o socialmente específico, inclusive as próprias entendimento dessas como socialmente cons- ideias sobre o corpo. Nesse sentido, pode-se truídas. apontar como o discurso médico sobre o cor- Nos estudos sobre a subalternidade, Spivak po, que notadamente tornou-se o predomi- (1988/2011) discute a impossibilidade do su- nante sobre saúde, também deve ser visto balterno falar e em ser ouvido, pois este não como refletindo as ideias vigentes de sua época (Foucault 1976/2007; Haraway 1988;

2 Mountian 2013; Saavedra e Nogueira, 2006). Para manter o anonimato as entrevistas utilizarão de Notadamente, discursos prevalentes sobre numeração.

Quaderns de Psicología | 2015, Vol. 17, No 3, 31-44 34 Mountian, Ilana

travestis e mulheres transsexuais ainda são ção identitária, uma identidade política sexu- permeados por discursos morais-religiosos e al, da identidade das travestis que muitas ve- discursos médicos (Amaral et al., 2014). zes viveram a exclusão social de forma vee- mente, muitas vieram de classes menos favo- A pretensão em homogeneizar as identidades recidas economicamente, viveram a violência de gênero e categorias sociais mostrou-se racista, e muitas vezes trabalharam no mer- uma impossibilidade, porém, podemos levan- cado sexual. tar algumas características comuns que per- passam em várias localidades em relação às Nesse contexto, travesti é uma identidade au- dinâmicas de poder, mais precisamente a tóctona, e em alguns debates e posiciona- predominância do sistema patriarcal, e as re- mentos políticos, é um identidade que pode lações de poder dentro desse sistema, e nesse se afirmar em contraposição à noção de mu- caso, destacam-se as dinâmicas de poder em lher transsexual. Esse debate é realizado relação às normativas sociais cisgêneras e he- quando o modelo de mulher trans trazido não terossexuais. Deste modo, certamente não faz parte das experiências e cotidiano das podemos afirmar uma mesma forma de exclu- travestis. Em alguns contextos, pode sugerir são e opressão a todos os sujeitos, mas pode- um status maior, de classes mais favorecidas mos ressaltar como nesse sentido, sujeitos ou algumas vezes incluem também mulheres que não se enquadram nas esperadas normas trans que optaram por cirurgias de reafirma- de gênero e sexualidade, são excluídos ou so- ção (afirmando a sua identidade, não como frem alguma forma de opressão (Butler, simples readequação), ainda que a identidade 1999/2008). A travestilidade, vista no contex- da mulher trans não siga necessariamente es- to brasileiro, traz características específicas, ses apontamentos, pois não necessariamente muitas vezes marcada por violências que se farão intervenções cirúrgicas. Nesse sentido, dão de diversas formas, como veremos ao vale apontar que na pesquisa realizada, uma longo do artigo. das pessoas entrevistadas se identifica pelo gênero gramatical masculino tanto quando fa- É comum a ideia do trabalho com intersecção la de si, como no nome que utiliza. Destaca- de categorias sociais como a simples soma mos aqui, portanto, o posicionamento identi- dessas categorias, igualando a uma posição tário de travesti, assim como da mulher social inferior, entretanto, ressaltamos que, transsexual, como um posicionamento políti- ao invés da simples soma de categorias, é ne- co, de política identitária. cessário aqui o entendimento das dinâmicas dessas categorias e de como essas intersec- Esse debate se insere nas políticas públicas e ções operam em contextos específicos (Bur- nos estudos acadêmicos sobre transgênerida- man, 2008; Chantler, 2007; McClintock 1995; de. Vartabedian (2014a) traça o desenvolvi- Piscitelli, 2008). Não se trata, porém de um mento desse debate nos estudos acadêmicos, olhar somente sobre a exclusão e discrimina- e aponta que nos anos 80 é desenvolvida a ção social, mas também dos efeitos e noção de ‘terceiro gênero’, não incorporada (re)produções discursivas constituídas nos sis- nas dicotomias tradicionais de gênero. Já nos temas heterossexuais compulsórios, cisgêne- anos 90 é ressaltado o termo ‘transgênero’ ros e coloniais. O corpo da travesti, pode-se como uma possibilidade distinta aos referen- apontar, é um corpo marcado sexualmente, tes políticos e teóricos de diversidade sexual. perpassado pelas categorias de raça, classe, Ainda nos anos 90, com as teorias queer, res- idade entre outras, e muitas experienciam di- salta-se a possibilidade de auto-afirmação das versas dinâmicas de exclusão e opressão soci- pessoas transgêneras. No entanto, Vartabedi- al. an (2014a) nos atenta em relação à tentativa de institucionalização do termo ‘transgênero’ A travestilidade no Brasil, contesta além da como incorporando todas as identidades não divisão binária do sexo, as políticas de identi- normativas, e homogeneizando as experiên- dade de gênero vigentes. Nesse sentido, é cias. Sendo, portanto necessário considerar as importante apontar que muitas se identificam especificidades de cada grupo e contexto so- como travestis e não como mulheres trans, e cial. no caso dessa pesquisa, todas se viam como travestis, e afirmavam essa identidade positi- Sin embargo, como crítica, la instrumentalización vamente. É relevante ressaltar alguns aspec- que se le da a esta categoría no permite dar cu- enta de la complejidad del deseo de los sujetos y tos desse debate, pois trata-se de uma posi- de las diferentes experiencias involucradas en to-

http://quadernsdepsicologia.cat Aspectos sobre travestilidade e envelhecimento: história, corpo e imigração 35

da identificación. Como se verá a continuación, deficiente, e eficiente nas suas funções, em no todas las travestis, transexuales o transformis- ressonância com a “valorização da juventude tas se identifican como transgéneros. Como apun- ta Valentine, existe el riesgo de colonizar, medi- como uma etapa da vida marcada pelo dina- ante la representación de la categoría, a aquél- mismo e criatividade” (Debert, 2010, p. 51). los/as que no tienen los intereses ni la informa- Como explicita Pocahy, em sua pesquisa sobre ción para identificarse como transgéneros. En úl- homens que fazem sexo com homens idosos: tima instancia, el peligro reside en que la catego- ría “transgénero en sí (debido a su vida instituci- Algumas performances de gênero e sexualidade onal, su implicación en agencias del estado, su só se tornam possíveis através de um discurso so- incidencia en los factores de clase y raciales) pu- bre a idade, impondo o que é certo ou errado pa- eda convertirse, sin intención, en otra herramien- ra cada fase da vida. Portanto, parece estratégi- ta de «exclusión», aunque prometa «incluir», li- co investigar como a idade cria condições de inte- berar y buscar reparación” (Valentine, 2007, p. ligibilidade e como ela se articula com gênero e 245). (Vartabedian, 2014a, p. 302). sexualidade em face do projeto biopolítico das sociedades ocidentais. (Pocahy, 2014, p. 225). Como já apontado, é importante, portanto considerar as especificidades dos grupos e su- Dessa forma, torna-se importante considerar as demandas, seu contexto social e político, o elemento geracional em pesquisa e em es- assim como a formação de identidades políti- pecial no campo de gênero e sexualidade (Al- cas nesse contexto e as dinâmicas intersecci- ves, 2010). Essa dinâmica fica explicitada em onais (Motta, 2004). No entanto, como já de- diversas maneiras, e destacamos aqui a im- batido, essas representações e identidades portância em analisar as marcas discursivas políticas não devem reduzir as identificações da interdição e da regulação nos corpos. Por dos sujeitos ou essencializá-las, pois não se exemplo, no caso das mulheres cisgêneras he- pressupõe uma homogeneidade entre os sujei- terossexuais idosas, a sexualidade é vista co- tos (Butler, 1999/2008). A travestillidade é mo um infringimento, ainda discorrendo sobre vista, portanto como uma identidade política as tradicionais interdições da sexualidade fe- sexual, não se tratando de uma homogeneiza- minina, que é frequentemente vista como ção da categoria travesti, mas do entendi- promíscua, incontrolável e perigosa, necessi- mento da categoria como identidade política, tando de controle. Nesses discursos, a mulher vista a diversidade do reconhecimento da vi- ainda não é vista como um sujeito autônomo vência e experiência travesti (Siqueira, 2004). sendo investida como a representante e re- produtora da moral da nação (McClintock Assim, travestis são consideradas todas que se 1995; Yuval-Davis 1997). identificam como travestis. Nesse artigo, no entanto, levantaremos alguns aspectos que Em sua pesquisa sobre homossexualidade fe- perpassam as experiências das travestis e minina e envelhecimento aponta Alves: também de muitas mulheres transsexuais, Difunde-se a ideia de que os corpos envelhecidos pois além da auto-identificação, muitas vi- não têm espaço no mercado erótico e essa des- venciam diversas formas de opressão e vio- vantagem acaba por afastar as pessoas mais ve- lência enquanto populações transgêneras. lhas do exercício da conquista sexual. Essa ima- gem é ainda mais forte quando tratamos de mu- Corpo e idade lheres. Na medida em que envelhecem, as mulhe- res são vistas e se veem como pouco atrativas se- Vejo que hoje a travesti vive uma noite de forma xualmente. As marcas corporais do envelheci- muito intensa, como se fosse a última noite da mento como rugas e cabelos brancos são desvalo- vida dela, porque ela não sabe se no outro dia vai rizadas do ponto de vista estético e comprome- sobreviver ou se vai amanhecer morta em algum tem o potencial de sedução daquele corpo (Gol- lugar. Então, é como se ela tivesse vivendo o úl- denberg, 2008). Afirma-se também que no Brasil timo dia da vida dela. (Entrevistada no. 1, entre- essa desvalorização estética do corpo velho é vista pessoal, 08 de fevereiro de 2012). bastante disseminada, refletindo-se no elevado número de pessoas que realizam (ou que gostari- O envelhecimento é um tema pouco explora- am de realizar) diversos procedimentos, inclusive do nos estudos sobre transgêneros, transsexu- cirúrgicos, que prometem o rejuvenescimento fí- ais e travestis, e de uma forma geral também sico. (2010, p. 217). nos estudos LGBT (Alves 2010; Simões 2011). No caso das travestis idosas, então quais seri- Ao desconsiderar a idade, as pesquisas correm am as possibilidades discursivas? Há uma serie o risco de reproduzir uma noção de sujeito de aspectos que são relevantes para serem atemporal, e que no caso, seriam sujeitos que considerados, destaco alguns aqui. Primeiro, continuam produzindo. Esses sujeitos ‘nor- é fundamental considerar a exclusão social mais’ são aqueles que tem o corpo ágil, não que marca a vida das travestis e mulheres

Quaderns de Psicología | 2015, Vol. 17, No 3, 31-44 36 Mountian, Ilana

trans, e, segundo, é necessário considerar as Não bastava ser tratada como “senhora” na rua, questões relativas à auto-imagem e as inter- não bastava que lhes indicassem o banheiro de senhoras ou que lhes ofereçam o assento do ôni- venções corporais, e possibilidades de inser- bus, é necessário ser uma senhora bem-sucedida, ção laboral, como veremos. no sentido de ter “escapado” da AIDS, da depen- dência de drogas químicas, de poder transitar em Em relação à exclusão social, autores apon- diferentes segmentos sociais, de ser respeitada tam a posição abjeta que essas se encontram, no local aonde mora e ser uma senhora de posses pois não são reconhecidas nas matrizes de in- (Siqueira, 2009, p. 44). teligibilidade das normas sexuais (Miskolci Ser reconhecida como “senhora” é um aspec- 2009 em Antunes 2010; Fernandes et al., to importante no relato de algumas travestis. 2015). Nesse sentido, Antunes e Mercadante Antunes (2010) em sua pesquisa destaca que (2011, p. 116) apontam que a travesti idosa as entrevistadas se sentem satisfeitas quando “é acusada de colocar em risco o fluxo consi- são vistas como “senhoras”. Siqueira (2009) derado correto. Por isso são visadas, vigiadas, aponta que serem vistas como “senhoras” é detectadas, classificadas, excluídas e subme- também um status frente ao grupo e à socie- tidas a tratamento para correção”. Assim, a dade. Para a autora, essa perspectiva desafia transgressão das normas sociais do corpo e “a de perda de status social atrelada à velhi- identidade as colocam em posições sociais ce, salientada por vários dos estudos etnográ- vulneráveis, e reiteradamente excluídas. ficos realizados em sociedades ocidentais Assim, frente à exclusão em que vivem, apon- contemporâneas.” (Siqueira, 2009, p. 43). to a importância de um levantamento estatís- Na pesquisa realizada, uma entrevistada tico sobre a longevidade da população traves- aponta que ser idosa também as tornam ex- ti e de mulheres transsexuais. Há relatos in- cluídas: formais que apontam que o número de traves- Elas acham que vão ficar novas pelo resto da vi- tis que conseguiram chegar à terceira idade da. Se a travesti nova já tem muitos problemas, pode não ser muito grande, um dado que po- imagina ela velha, vai ser muito mais difícil, por- de traduzir a situação de risco e vulnerabili- que você é chamada de várias coisas, de velha, dade de travestis em contextos extremamen- de “maricona”. As novas olham para nós e dizem: “você está velha, ninguém mais te quer!” (Entre- te transfóbicos. No Núcleo de Direitos Huma- vistada no 1, entrevista pessoal, 08 de fevereiro nos e Cidadania LGBT (NUH) da Universidade de 2012). Federal de Minas Gerais, recebeu-se diversas denúncias sobre crimes transfóbicos. Ainda, O envelhecimento das travestis e mulheres em dados sobre monitoramento de homicídio trans tem suas especificidades, encontrando da população trans, o Brasil configura como o alguns pontos de congruência com outros gru- maior número de assassinatos no mundo pos que sofrem extrema exclusão e que estão (TGEU, 2014). Também deve-se considerar no trabalho na prostituição, porém no caso mortes precoces associadas à contaminação das travestis há ainda as mudanças referentes de HIV, complicações de saúde decorrentes às suas transformações corporais e às dificul- das modificações corporais muitas vezes rea- dades de acesso aos serviços de saúde, como lizadas informalmente, os riscos e vulnerabi- apontado nas entrevistas. lidades decorrentes das vivências na rua, en- A travesti quando envelhecer vai ter muito mais tre outros. Além disso, é relevante questionar problemas que qualquer outra pessoa pelo exces- também a possibilidade da presença de tra- so de hormônio que ela tomou e por ter aplicado silicone, a saúde será mais debilitada. Ela sabe vestis idosas nos espaços públicos, ou mais que ela precisa de um médico, mas chegando lá precisamente, a invisibilidade de travestis vai ser vítima de chacota e de deboche, farão idosas nos espaços públicos. Nesse sentido, é questão de chamá-la, bem alto, pelo nome mas- relevante apontar a percepção do envelheci- culino. Então ela não vai ao médico, sendo que isto é um direito de qualquer ser humano bem mento, onde muitas vezes a partir dos 40 como o lazer e a segurança. (Entrevistada no 1, anos de idade as travestis já são consideradas entrevista pessoal, 08 de fevereiro de 2012). idosas. Um aspecto que é importante ressaltar se re- Nesse contexto, autores (Antunes 2010; Si- fere às mudanças corporais, um aspecto im- queira 2004) ressaltam a importância em al- portante para muitas travestis. cançar a terceira idade com dignidade para as Um processo, nunca se encerra. Construir um travestis. corpo e cuidá‐lo é uma das maiores preocupações das travestis. Elas estão sempre buscando a "per-

http://quadernsdepsicologia.cat Aspectos sobre travestilidade e envelhecimento: história, corpo e imigração 37

feição", o que significa "passar por mulher", uma tar o cabelo curtinho. (Entrevistada nº 2, entre- mulher bonita e desejável, geralmente "branca" e vista pessoal, 27 de fevereiro de 2012) burguesa. Em busca dessa imagem afinam seus traços, bronzeiam seus corpos, adornam‐se com Estes são apontamentos importantes, que de- roupas de remetem a mulheres glamourosas, es- flagram a transfobia vigente e também apon- colhem nomes de atrizes e musas hollywoodianas tam para a relação de identidade e a necessi- ou cantoras pops. (Pelúcio, 2005 em Nogueira e León, 2012, p. 59). dade de mudança para a inserção no trabalho nesse contexto. A masculinização de travestis Para esse processo é frequentemente realiza- e mulheres trans também foi observada em do uma série de intervenções corporais, como outros estudos: homorniozação, aplicação de silicone indus- A velhice não é valorizada, inclusive entre as tra- trial, implantes, entre outros. É importante vestis. É como se a travesti perdesse a função ao ressaltar as dificuldades de travestis, mulhe- envelhecer. Então, acabam desaparecendo. Con- res e homens trans para a realização de pro- ta que há algumas que envelhecem e voltam a se cessos médicos transsexualizadores - de rea- vestir como homens. Passam por uma espécie de “des-transformação”. Outras acabam assumindo firmação de identidade - no sistema público outros trabalhos como: costureiras, maquiadoras, de saúde, o que coloca essa população em bombadeiras, cozinheiras, cabeleireiras, manicu- uma situação de maior vulnerabilidade quan- res, domésticas, cafetinas, locatárias, agenciado- do realizam essas intervenções em sistemas ras, artistas, etc. (Antunes e Mercacdante, 2011, informais (Mountian, Monteiro, Vasconcelos et p. 122, itálicos do orginal). al., 2012). Um outro aspecto importante se refere ao papel assumido pelas travestis idosas, que Como já apontado, a própria noção de enve- podem ser vistas como aconselhadoras, mães, lhecimento difere, ou seja, aos 40 anos de madrinhas, devido ao seu conhecimento das idade, muitas travestis são consideradas ‘ido- técnicas corporais, assim como das experiên- sas’, um envelhecimento que se refere ao cias vividas por elas. Como apontado também corpo e aos efeitos das tecnologias utilizadas, por Antunes e Mercadante (2011, p. 116-117), mas também ao que o mercado exige delas. “sua tarefa é a de iniciar, proteger e ensinar Nesse sentido, foi apontado pelas entrevista- as mais novas a viverem como travestis”. das as dificuldades de inserção no trabalho, e dentro desse contexto transfóbico, foi ressal- Os aspectos levantados nas entrevistas sobre tado que algumas travestis “começam a se o envelhecimento são fundamentais para se- masculinizar” para conseguir essa inserção la- rem considerados tanto para as políticas pú- boral. blicas quanto para o desenvolvimento de pes- Como é que eu vou ter dinheiro pra sustentar? Eu quisas. A longevidade das travestis é um fator não tenho nenhuma renda, eu não tenho nenhu- que foi levantado na pesquisa. A categoria da ma poupança, eu não tenho nada. Eu acho que classe social foi bastante ressaltada, tendo precisa começar a observar essas coisas, que eu impacto direto nas possibilidades de inserção acho que justamente esses questionamentos que serão feitos, que a gente vai procurar compreen- laboral e na necessidade de se adequar, às der e o que fazer pra ajudar essa população. Tal- vezes, corporalmente através da masculiniza- vez por isso que as travestis do Brasil começam a ção a essa esfera do trabalho. Também foi se masculinizar quanto completam cinquenta, apontado o preconceito que algumas vivenci- sessenta anos, justamente pra poder voltar a transitar na sociedade como pessoa, que ela po- am por serem idosas e outras ocupam um lu- deria fazer muito bem sendo travesti. (Entrevis- gar de ‘madrinha’, posição social que é mui- tada nº 2, entrevista pessoal, 27 de fevereiro de tas vezes vista também na experiência das 2012). mulheres cisgêneras idosas. Finalmente os A grande maioria, e umas que eu pude observar, efeitos das transformações corporais são mui- é que quando elas chegam nessa idade, a idade tas vezes ampliados na terceira idade, e o avançada, elas começam a abdicar primeiro da acompanhamento médico foi visto como um sua identidade. Elas começam a cultuar mais a aparência masculina. Isso é terrível. Isso aconte- obstáculo, devido ao contexto transfóbico ce muito aqui no Brasil. Na Europa a gente não também presente na área da saúde. percebe isso, a gente percebe na Europa que tem lá, as trans elas continuam mesmo velhinhas, mas Imigração e história como trans e tudo. E não sei qual esse fenômeno no Brasil que faz isso. Eu conheço algumas traves- A construção ideológica de gênero mantém a do- tis, inclusive aqui mesmo na Bahia que quando minação masculina. Se, no contexto da produção elas já tem cinquenta, sessenta, setenta anos, colonial, o sujeito subalterno não tem história e elas começam a se emascular novamente. A cor- não pode falar, o sujeito subalterno feminino está

Quaderns de Psicología | 2015, Vol. 17, No 3, 31-44 38 Mountian, Ilana

ainda mais profundamente na obscuridade. (Spi- vai completar agora oitenta e um anos. (Entrevis- vak, 1988/2011, p. 66-67) tada nº 3, entrevista pessoal, 23 de julho de 2011). Ampliando a afirmação de Spivak (1988/2011) é questionado aqui como a travesti e sua his- Foi a primeira travesti na Turma Ok a começar a fazer show (...). O que que aconteceu? Era o tória é obscurecida e silenciada, e crucial- exército, era a época da ditadura. Eu, sou de mente, qual a possibilidade dela falar (e ser uma geração, que vim depois, em 69 (...). Mas ouvida). Tendo essas observações em relevo, elas sofreram um barra. Por quê? Elas entravam dois aspectos são ressaltados, primeiro das vestidas de homens, de rapazes, de rapazes e saiam vestidas de mulher. A única, a única que histórias vividas pelas travestis, e segundo, da saia mesmo, saia mesmo como era, na época era história como contada por elas. Aqui não se a Rogéria, essa Angela Negliri e Cláudia Celeste. trata apenas das suas histórias de vida ao lon- Que não tinham medo (...). E outra, para o pa- go da história, mas da história contada a par- drão da época, pareciam realmente o estereóti- pos o fenótipo mulheres (...). E Cláudia Celeste, tir do olhar da travesti, que coloca em xeque nossa, quem olhasse assim para Cláudia Celeste também a história total (Foucault, era uma mulher. A Rogéria extravagante com 1969/2002), ou seja, como grupos subalternos aquele cabelo dela era uma travestizona, mas era configuram na história total, sendo frequen- do fenótipo feminino, porque já tinha seio, já ti- nha, já tinha o estereótipos mulher, porque to- temente invisibilizados e quando aparecem, mava muito hormônio, que na época, nós tomá- aparecem à margem, patologizados ou crimi- vamos Lindiol, nós tomávamos Gestadinona, que nalizados. A história contada pelas travestis, era injetável e todo médico ou farmacêutico que mostra, portanto aspectos da história que não aplicava em travesti na época era caçado a ma- trícula ou então era preso, era preso. Que na são comumente incluídos e reconhecidos. Du- época, quero frisar bem, na época, as pessoas as vertentes são levantadas aqui da história pensam a polícia militar, a instituição da polícia da transfobia (e homofobia) no Brasil, e a militar existe somente há trinta anos. Nós éramos imigração trans nesse contexto. A transfobia comandada pelo exército. Quem levava nós presa era o exército. Ai depois inaugurou a Polícia Mili- foi apontada como um aspecto fundamental tar, a instituição da polícia Militar (...). Mas na história das travestilidades e transexuali- quem comandava era o exército. Então, por sim- dades no Brasil. plesmente o , o gay, por ser gay, eles acha- vam já um afronto. Agora você ser travesti de Fragmentos de história revisitada: mulher, era mais afronto ainda. Mas o que que transfobia institicional acontecia? A travesti, ela sempre teve, é, um olhar direcionado para a sociedade civil, princi- Nos extratos abaixo são destacados diversos palmente quanto a relação dos homens. (Entre- aspectos relacionados à transfobia no cotidia- vistada nº 3, entrevista pessoal, 23 de julho de 2011). no e institucional, nesse caso, as entrevista- das apontam em particular a violência dos ór- O que a gente tem observado é nessa época em que as prostitutas precisavam fazer isso. Ai tanto gãos de segurança, e especialmente no con- que teve aquela marchinha “De dia é Maria, de texto da ditadura militar no Brasil. noite é João”. Essa comparação era pra modificar essa coisa, porque era uma conjuntura. As pesso- Antigamente aqui no Rio de Janeiro, a história da as não estavam muito acostumadas a ver. (Entre- travestilidade, começou aqui com a Key Francis, vistada no 2, entrevista pessoal, 27 de fevereiro exatamente, nós fizemos o prêmio Key Francis de de 2012). direitos humanos. A Key Francis. A Turma Ok3 começou com um grupo de cinco rapazes, que Elas tem que entender que se hoje estão na rua começou o Alberto, o Adagoberto começaram a de saia devem agradecer às velhas que apanha- se reunir antes de se tornarem Turma Ok. Come- vam de cassetete, iam presas, levavam choque e çaram a se reunir e eles eram perseguidos pela ficavam penduradas no pau de arara. Por tudo is- polícia. Não eram travestis, eram homossexuais. so eu passei, a gente não podia ver um camburão Foi a primeira casa da América Latina, (...) mais na rua. Se visse um camburão na rua uma gritava importante (...) casa Gay (...). Isso foi inaugurada para a outra: Mona, olha os ‘alibã’, não ficava em 1966. Quem fazia show na casa? Key Francis ninguém na rua. (Entrevistada no 1, entrevista que era uma transsexual, Eloá que faleceu agora pessoal, 08 de fevereiro de 2012). com oitenta a seis anos, era a travesti, porque Raquel Barbosa vai fazer ainda oitenta e um anos, Aqui são ressaltados diversos aspectos impor- Eloá oitenta e cinco anos. Nós temos que reve- tantes, a violência policial foi bastante cita- renciar, porque isso é um mito. Quando se fala da, assim como a violência cotidiana. Nesse que, mito, travesti não envelhece, travesti enve- lhece sim. Eloá faleceu a três anos atrás com oi- contexto, elas apontam como ‘performavam’ tenta e cinco anos. Temos a Raquel Barbosa que de acordo com as situações em que se encon- travam, onde muitas entravam nos lugares “vestidas de homens e saiam vestidas de mu- 3 Esse local foi também citado por Siqueira (2004) lheres”.

http://quadernsdepsicologia.cat Aspectos sobre travestilidade e envelhecimento: história, corpo e imigração 39

A transfobia institucional é parte fundamental É importante ressaltar nesse extrato a condi- na experiência da travesti no Brasil, que ção de transfobia e as dinâmicas decorrentes compõe o contexto o qual muitas vezes a imi- dessas, a entrevistada aponta diversas formas gração configura como condição de sobrevi- de violência, e em especial as situações de vência e mobilidade social. Essas imigrações violência no espaço público. são vistas desde mudanças das suas cidades Imigração natais, até mudanças de país, particularmen- te para destinos que garantam mais segurança Os estudos sobre imigração e travestilidade e possibilidade de ascensão social. É impor- são ainda escassos (Carrijo 2011; Teixeira tante notar ainda, que as vivências de trans- 2011; Vartabedian 2014a). Vartabedian fobia na adolescência, com a frequente eva- (2014b) aponta a noção de ‘imigração trans’ são escolar, e muitas vezes a saída da casa para delimitar o campo dos processos migra- dos pais, é um aspecto importante para a tórios em que se considere as especificidades contextualização desses processos migratórios das vivências das travestis, transsexuais e (Mountian, 2014). Nos extratos abaixo, a transgêneros. Para a análise das imigrações transfobia na infância e adolescência é ressal- trans, é fundamental considerar o contexto tada: transfóbico em que se encontram, e ressalta- Eu achava que era mulher, até eu entrar na esco- mos aqui também a importância em se consi- la e ver que não era mulher. Ai eu tinha vergonha derar as dinâmicas de raça, classe social e de andar com meus amigos homem e eles verem idade. que não sou mulher (...) Não ia no banheiro com medo que eles descobrissem. (aos 7 anos de ida- Estudos apontam alguns aspectos importantes de). (Entrevistada no 4, entrevista pessoal, 08 de das imigrações trans. Vartabedian (2014b, p. outubro de 2010). 283) aponta que “las personas trans migran Na adolescência, dizem hoje que tem bullying, para encontrar mayor libertad y respeto para mas tem bullying há muitos anos. Eu sempre tive expresar y vivir sus identidades de género y bumbum grande e eu passei por essa questão de bullying, (...) os meninos esperavam no saída da sexualidad, pero también buscan — aula pra me chamar de bundudo e corria atrás e simultaneamente— un escenario económico gritando (...) Vestia blusa tampando porque tinha beneficioso para desarrollar una actividad la- vergonha, medo das agressões. Cobria o corpo boral”. Pelúcio (2011, p. 186) destaca que com medo dessas agressões, os meninos corrriam atrás de mim, eram muitos correndo atrás. (En- elas também estão “buscando horizontes mais trevistada no 4, entrevista pessoal, 08 de outubro alargados a partir experiências cosmopolitas de 2010). que podem ser traduzidas em contatos com Esses aspectos referentes às violências sofri- diferentes culturas, aprendizados de idiomas, das na infância e adolescência é um ponto de códigos culturais diversos, além da possibi- crucial na experiência de várias travestis, e lidade de fruição de lugares, passeios, comi- tem efeitos também na evasão escolar, como das, prazeres e pessoas”. visto em outras pesquisas (Mountian, 2014). A possibilidade de viver experiências menos O seguinte fragmento aponta algumas dinâmi- transfóbicas é ressaltado em alguns estudos. cas em relação à transfobia institucional e Nesse sentido, Pelúcio (2011) aponta que há experiências no âmbito da rua. uma ideia de que os homens europeus as “as- sumiriam” publicamente, diferentemente do Da polícia, dos boys na rua, dos “filhinhos de pa- Brasil. pai”. A mesma violência que existe hoje em dia existia em minha época. Íamos presos por vadia- Assim, além de poderem encontrar um “homem gem, por estar na rua sem documento. de verdade”, a Europa poderia criar uma possibi- lidade de saída da prostituição e proporcionar Entrevistador: E muitos não tinham documento? uma vida dentro de um roteiro que elas classifi- A maioria que estava na rua não tinha documen- cam como “normal” – constituir família, circular to, porque travesti vive migrando de um lugar pa- durante o dia sem sofrer constrangimentos e se- ra outro, às vezes é roubada ou viaja e perde os rem merecedoras das mesmas gentilezas que os documentos no meio do caminho. Isso sempre homens dedicam às mulheres biológicas (Pelúcio, acontece, às vezes está na rua e passa um moto- 2011, p. 187). queiro que rouba a bolsa, aí tem que buscar cer- tidão de nascimento em outro estado, tudo isso é Considerando o contexto de transfobia em caro. O documento é muito difícil para travesti. que as travestis se encontram e as relações (Entrevistada no 1, entrevista pessoal, 08 de feve- com segurança pessoal e trabalho, como reiro de 2012). apontado nas entrevistas, a imigração tanto

Quaderns de Psicología | 2015, Vol. 17, No 3, 31-44 40 Mountian, Ilana

nacional quanto internacional é muitas vezes ressaltando avanços relativos à cidadania e parte de suas vivências cotidianas. Nos se- direitos humanos. guintes extratos alguns aspectos da imigração As coisas estão ficando mais claras, as pessoas es- são apontados: tão se respeitando mais, a policia está nos respei- tando mais, menos os evangélicos. (Entrevistada O sonho de toda travesti era ir embora para Eu- no 5, entrevista pessoal, 27 de fevereiro de 2012). ropa, todas. Tive muitas amigas que foram, tive muitas amigas que morreram por lá, que voltaram Antigamente nós quase não saíamos de dia, era contaminadas e morreram por aqui. (Entrevistada muito mais difícil. Hoje em dia, as coisas ficaram o n 1, entrevista pessoal, 08 de fevereiro de 2012). um pouquinho mais fáceis para elas. Vejo meni- nas no ônibus, viajando e andando no shopping K. hoje em dia você vê aqui em Salvador. Grande mesmo sendo criticadas e humilhadas, porque ve- parte das travestis que estão aqui em Salvador jo pessoas olharem, cutucarem e rirem. (Entre- vão pra São Paulo, vão pro Rio, vão pra Belo Hori- vistada no 1, entrevista pessoal, 08 de fevereiro zonte. E hoje existe não só uma migração dessas de 2012). cidades aqui... Do campo sempre teve. Então se você chega hoje numa capital... aqui agora tem Nesses relatos, é importante apontar as con- menos isso, mas se você chegar em hoje e perguntar, a maioria daquelas travestis estão na quistas sentidas em relação à cidadania, onde cidade de Recife que trabalham, elas vieram de parece que apesar de ainda ser um contexto cidades pequenas. Cidade do interior e veio pra transfóbico, algumas travestis e mulheres Recife. Em Salvador a gente também encontra, trans começam a circular mais publicamente mas não com tanta frequência como tem em ou- tros estados. O que elas tem feito atualmente, com um pouco mais de facilidade que em ou- como a Europa agora tá em crise, elas estão pu- tros períodos históricos. De acordo com as en- lando de estado pra estado. Vai de Salvador para trevistas, algumas pessoas respeitam mais as Belo Horizonte, de Belo Horizonte pra , travestis, porém o preconceito advindo de de Curitiba pra Florianópolis... Ficam migrando, fazendo uma migração nessa questão própria do evangélicos foi apontado como constante. Brasil mesmo. Mas por suas próprias formas. Pode A partir das entrevistas é importante ressaltar ser que tenha alguma que até vá se alguém fi- nancie. Essa coisa desse tráfico nacional. Mas a os efeitos da transfobia e suas dinâmicas em maioria delas que eu conheço elas fazem por suas lugares público, em locais de acesso ao públi- próprias formas. Consegue dinheiro, compra uma co, e em horários diurnos. Nesse sentido, po- passagem, liga pra uma pessoa que tem uma casa de-se refletir como o espaço público é generi- lá, pra uma dessas pensões que existem. Aí acaba acertando e vai trabalhar lá por um período. (En- zado, trazendo à tona a discussão sobre a in- trevistada no 2, entrevista pessoal, 27 de feverei- visibilidade das travestis e populações trans ro de 2012). nos espaços públicos, o que é estendido aos Nesses extratos são ressaltadas diversas for- trabalhos formais, ao acesso à educação, aos mas de migração que as travestis vivenciam, serviços de saúde, entre outros (Mountian, tanto da imigração internacional como da mi- 2014). É importante, nesse sentido, questio- gração interna, particularmente das cidades nar quando as travestis tornam-se visíveis, e o pequenas às capitais. Considerando as diver- que é relatado é que essas são visíveis à noi- sas formas de violências transfóbicas, a imi- te, em lugares específicos; nos serviços de gração aparece como uma das possibilidades saúde; quando sofrem violências; ou quando ou esperanças de ascensão e segurança para são relacionadas a crimes. Essas dinâmicas as travestis, colocando aqui em relevo as di- trazem em questão quando sua presença é versas relações entre identidade política se- patologizada e quando sua ausência é norma- xual e imigração. Nesse sentido, as relações lizada (Phoenix, 1987) nos diversos setores. de raça, classe social e idade são fundamen- Em relação aos serviços de saúde, vale apon- tais para a análise. tar como essas são visíveis nos espaços con- Mudanças hoje cernentes aos processos transsexualizador, e em áreas específicas da saúde, como apontam Nas entrevistas realizadas, muitas apontaram Amaral et al. (2014, p. 304) mudanças importantes referentes à condição A atenção a esta população tornou-se marjorita- social das travestis hoje. Questões relativas à rimanete voltada a ações preventivas e paliativas transfobia seguem primordiais nas experiên- de saúde, na maioria das vezes percebida pelos cias das travestis e das mulheres transsexuais, profissionais e governos como sinônimo de aids. no entanto, as entrevistadas apontam dife- As demandas governamentais de assistência às travestis continuam diretamente associadas às renças em relação à transfobia sofrida antes, drogas, à prevenção da criminalidade, ao HIV/aids e às DSTs.

http://quadernsdepsicologia.cat Aspectos sobre travestilidade e envelhecimento: história, corpo e imigração 41

É importante considerar, portanto, as dinâmi- das travestis entrevistadas mudaram de lugar, cas de visibilidade, onde muitas vezes, quan- cidade ou país, e de acordo com os seus rela- do visíveis as travestis e mulheres transsexu- tos, essa imigração teve relação direta com a ais são vistas de forma patologizada e ou cri- homofobia e transfobia locais. Nesse sentido, minalizada. Assim como deve-se questionar a foi apontado como o corpo da travesti é um ausência normalizada dessa população, e as corpo marcado sexualmente, sustentando um formas de exclusão a que estão submetidas. espaço discursivo específico (sem lugar, ou Tal análise é importante para o enfrentamen- com pouco lugar, para o armário) (sobre polí- to da transfobia, e para evitar a reprodução ticas do armário ver Sedgwick, 1991) onde dessa posição social, onde são continuamente temos relatos de ambas reações sociais trans- invisibilizadas, patologizadas ou criminaliza- fóbicas, assim como de resistência. Nesse das. sentido, o corpo trans traz também o debate sobre as possibilidades de alargamento e re- Considerações finais sistências das relações binárias de gênero. Po- O objetivo desse artigo foi apontar alguns as- rém, é importante ressaltar aqui que a per- pectos fundamentais das relações entre tra- formatividade trans deve ser entendida inclu- vestilidade e envelhecimento. Os aspectos le- indo as categorias sociais de gênero, sexuali- vantados foram trazidos pelas travestis idosas dade, raça, classe e idade, e como essas in- que participaram da pesquisa, esses foram: tersectam e refletem nos seus corpos. Assim, envelhecimento, corpo, imigração, mercado é ressaltado como os efeitos da transfobia, de trabalho, relação com a história e transfo- não podem ser separados do racismo, ques- bia institucional. Todos esses aspectos podem tões de classe social, idade, entre outros. produzir diversas análises. Para a realização Foram relatadas experiências em diversas de análises críticas, ressaltamos que é fun- partes do Brasil, com dinâmicas regionais es- damental considerar os contextos sociais es- pecíficas, porém em todas as entrevistas, o pecíficos e as relações de poder das dinâmi- testemunho foi marcado por enfrentamento e cas sociais, e nesse caso, o entendimento dos resistência às diversas formas de violência lo- contextos de transfobia e seus efeitos para as cal. Nesse sentido, é importante ressaltar que possibilidades de envelhecimento trans. a imigração da população travesti, foi vista A história levantada nas entrevistas foi vista muitas vezes como busca de contextos menos em relação às suas vivências, e às suas posi- transfóbicos e possibilidade de mobilidade so- ções frente à história, colocando em xeque cial e segurança. como essa população é configurada na histó- A transfobia deve ser tomada também como ria. Nesse sentido, a exclusão social foi vista ponto fundamental na relação das travestis como reiterada tanto no ostracismo e silenci- com o envelhecimento, desde o que é ser amento das travestis, quanto nas dinâmicas considerada idosa (mais de 40 anos de idade), de visibililidade e invisibilidade das mesmas, até às mudanças corporais do envelhecimento ou seja, na maneira pela qual elas se tornam e a relação com as próteses, plásticas e sili- visíveís à noite, nas violências transfóbicas, cones que compõe o seu corpo, tanto pelos nos serviços de saúde (patologizadas), nas re- efeitos à saúde quanto pela necessidade de lações com a polícia. E da sua invisibilidade ‘retoques’ (Siqueira, 2004), sendo necessário (normalizada), como visto na não presença no o acesso à saúde e o entendimento específico espaço público, nos períodos diurnos, assim dos efeitos das intervenções corporais. Consi- como na masculinização de algumas travestis derando a transfobia institucional onde acesso na terceira idade, e crucialmente, em especí- à educação, trabalho e saúde são limitados ou fico às travestis e mulheres trans idosas, foi impedidos para essa população, o trabalho levantada a importância de levantamento es- sexual aparece muitas vezes como um espaço tatístico sobre possibilidades de envelheci- social “permitido” às travestis, assim como, mento e longevidade. algumas profissões estereotipicamente atri- Em relação ao testemunho histórico, é impor- buidas a elas (como cabeleireira, manicure, tante localizar o corpo da travesti em relação etc.). No trabalho sexual, de acordo com as à sua própria história e a relação entre o cor- entrevistadas, há uma certa limitação etária, po da travesti em relação à história. Nas en- levando as travestis idosas a uma maior situa- trevistas realizadas, foi visto que a maioria ção de vulnerabilidade financeira. Nesse sen-

Quaderns de Psicología | 2015, Vol. 17, No 3, 31-44 42 Mountian, Ilana

tido, foi levantado também como algumas Bauer, Greta; Redman, Nik; Bradley, Kaitlin & travestis se masculinizam para o acesso ao Scheim, Aiden (2013). Sexual health of transmen trabalho e condições de sobrevivência, aspec- who are gay, bisexual or who have sex with men: to que gera questões importantes sobre as results from Otario, Canada. International Jour- nal of Transgenderism, 14(2), 66-74. possibilidade identitárias das travestis idosas. http://dx.doi.org/10.1080/15532739.2013.79165 Esse é um tema que encontra-se marginal, 0 não apenas em relação à posição social ocu- Browne, Kath & Nash, Catherine (Eds.) (2010). pada pelas travestis, mas também na univer- Queer methods and methodologies: Intersecting sidade, tanto em relação ao acesso da traves- Queer Theories and Social Science Research. Sur- ti à universidade, quanto em relação às pes- rey: Ashgate quisas sobre o tema. Torna-se, portanto, im- Burman, Erica (2008). Developments: child, image, portante dar voz a esses grupos, e ressaltar nation. Londres: Routledge como as relações transfóbicas e homofóbicas produzem subjetividade e apontar seus efei- Butler, Judith (1999/2008). Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade tos tanto na reprodução de dessas relações, . Rio de Janeiro: Civilização Brasileira excluindo grupos, como também para as for- mas de resistência aos discursos transfóbicos Carrijo, Gilson Goulart (2011). Imagens em trânsi- e homofóbicos, seus alargamentos e desloca- to: narrativas de uma travesti brasileira. In Adri- mentos discursivos nas relações hierárquicas ana Piscitelli, Gláucia Oliveira Assis & José Mi- de gênero. guel Neto Olivar (Orgs.), Gênero, sexo, amor e dinheiro: mobilidades transnacionais envolvendo É necessário, portanto o desenvolvimento e o Brasil (pp. 263-320). : UNI- implementação de políticas públicas, assim CAMP/PAGU como o desenvolvimento de pesquisas nessa Chantler, Khatidja (2007). Border Crossings: na- área, que considerem as especificidades de tionhood, gender, culture and violence. Interna- suas demandas, as dinâmicas e aspectos in- tional Journal of Critical Psychology, 20, 138- terseccionais e os contextos locais; e que in- 166. cluam as travestis e mulheres transsexuais, e Debert, Guita Grin (2010). A dissolução da vida homens transexuais, como sujeito ativo na adulta e a juventude como valor. Horizontes An- pesquisa acadêmica, nos desenvolvimentos de tropológicos, 16(34), 49-70. políticas públicas e da própria história. http://dx.doi.org/10.1590/s0104- 71832010000200003 Refêrencias Fernandes, Juliana; Barroso, Karoline Assis, A. & Alves, Andrea Moraes (2010). Envelhecimento, tra- Pocahy, Fernando (2015). Gênero, sexualidade e jetórias e homossexualidade feminina. Horizon- envelhecimento: uma revisão sistemática da lit- tes Antropológicos, 16(34), 213-233. eratura. Clínica & Cultura, 4(1), 14-28. http://dx.doi.org/10.1590/s0104- 71832010000200010 Foucault, Michel (1969/2002). The Archaeology of Knowledge. Londres: Routledge Amaral, Marília dos Santos; Silva, Talita Caetano; Cruz, Karla de Oliveira & Toneli, Maria Juracy Foucault, Michel (1976/2007). História da Sexuali- Filgueiras (2014). ‘Do travestimos às traves- dade. Rio de Janeiro: Graal tilidades’: Uma revisão do discurso acadêmico no Graham, Louis; Crissman, Halley; Tocco, Jack; Brasil entre 2001-2010. Psicologia e Sociedade, Hughes, Laura; Snow, Rachel & Padilla, Mark 26(2), 301-311. (2014). Interpersonal Relationships and Social http://dx.doi.org/10.1590/s0102- Support in Transitioning Narratives of Black 71822014000200007 Transgender Women in Detroit. International Antunes, Pedro Paulo Sammarco (2010). Travestis Journal of Transgenderism, 15(2), 100-113. envelhecem? Dissertação de Mestrado inédita, http://dx.doi.org/10.1080/15532739.2014.93704 Gerontologia da Pontifícia Universidade Católica 2 de São Paulo. Haraway, Donna (1988). Situated Knowledges: The Antunes, Pedro Paulo Sammarco & Mercadante, Science Question in Feminism and the Privilege Elisabeth Frohlich (2011). Travestis, envelheci- of Partial Perspective. Feminist Studies, 14(3), mento e velhice. Revista Kairós Gerontologia 575-599. http://dx.doi.org/10.2307/3178066 Temática, 14(5), 109-132. Kimmel, Douglas (2014). , Gay, Bisexual, and Transgender Aging Concerns. Clinical Geron- tologist, 37, 49–63.

http://quadernsdepsicologia.cat Aspectos sobre travestilidade e envelhecimento: história, corpo e imigração 43

http://dx.doi.org/10.1080/07317115.2014.84731 a construção de memórias futuras. Memoran- 0 dum, 11, 113-127. McClintock, A. (1995). Imperial Leather - Race, Sedgwick, Eve Kosofsky (1991). Epistemology of Gender and Sexuality in the Colonial Contest. the Closet. Los Angeles: University of California Londres: Routledge Press Motta, Alda Britto (2004). Gênero, idades e Simões, Júlio Assis (2011). Corpo e sexualidade nas gerações. Caderno CRH, 17(42), 349-355. experiências de envelhecimento de homens gays em São Paulo. Em Belkis Trench & Teresa Etsuko Mountian, Ilana (2013). Cultural ecstasies: drugs, da Costa Rosa (Orgs.), Nós e o Outro: envelheci- gender and social imaginary. Londres: Routledge mento, reflexões, práticas e pesquisa (pp. 119- Mountian, Ilana (2014). A critical analysis of public 138). São Paulo: Instituto de Saúde policies on education and LGBT rights in . Siqueira, Mônica Soares (2004). Sou Senhora - Um Relatório. IDS/Sussex. Disponível em estudo antropológico sobre travestis na velhice. http://opendocs.ids.ac.uk/opendocs/bitstream/ Dissertação de Mestrado inédita, Universidade handle/123456789/3614/ER61.pdf?sequence=1 Federal de . Mountian, Ilana; Monteiro, Igor; Vasconcelos, Ra- Siqueira, Mônica Soares (2009). Arrasando hor- faela; Costa, Nicole; Sander, Vanessa & Carneiro, rores! Uma etnografia das memórias, formas de Julia (2012). Travestilidade e transsexualidade e sociabilidade e itinerários urbanos de travestis o acesso à saúde. Relatório para o Ministério da das antigas. Tese de Doutorado inédita, Univer- Saúde. Documento não publicado sidade Federal de Santa Catarina Nogueira, Francisco Jander & León, Adriano Gomes Siverskog, Anna (2014). “They Just Don’t Have a (2012). ‘Trabalhadas no feminino’: um estudo Clue”: Transgender Aging and Implications for sobre corpo, desejo e prostituição travesti em Social Work. Journal of Gerontological Social ‐CE. Revista Latinoamericana de Estu- Work, 57(2-4), 386-406. dios sobre Cuerpos, Emociones y Sociedad ‐ Re- http://dx.doi.org/10.1080/01634372.2014.89547 laces, 8(4), 55‐67 2 Pelúcio, Larissa (2011). “Amores perros” - sexo, Spivak, Gayatri Chakravorty (1988/2011). O subal- paixão e dinheiro na relação entre espanhóis e terno pode falar? Belo Horizonte: Editora UFMG travestis brasileiras no mercado transnacional do sexo. In Adriana Piscitelli, Gláucia Oliveira Assis Teixeira, Flávia do Bonsucesso (2011). Juízo e & José Miguel Neto Olivar (Orgs.), Gênero, sexo, Sorte: enredando maridos e clientes nas narrati- amor e dinheiro: mobilidades transnacionais en- vas sobre o projeto migratório das travestis bra- volvendo o Brasil (pp. 185-224). Campinas: UNI- sileiras para a Itália. In Adriana Piscitelli, Gláucia CAMP/PAGU Oliveira Assis & José Miguel Neto Olivar (Orgs.), Gênero, sexo, amor e dinheiro: mobilidades Phoenix, Anne (1987). Theories of gender and transnacionais envolvendo o Brasil (pp. 225-262). black families. In G. Weinger & M. Arnot (Eds.), Campinas: UNICAMP/PAGU Gender Under Scrutiny: New Inquiries in Educa- tion (pp. 50-63). London: Open University Press. Transgender Europe (2014). Relatório Monito- ramento. Disponível em Pisciteli, Adriana (2008). Interseccionalidades, http://www.transrespect- categorias de articulação e experiências de mi- tran- grantes brasileiras. Sociedade e Cultura, 11(2), sphobia.org/uploads/downloads/2014/TDOR2014 263-274. /TvT-TDOR2014PR-en.pdf http://dx.doi.org/10.5216/sec.v11i2.5247 Vartabedian, Julieta (2014a). El alcance político de Pocahy, Fernando (2014). Performances de um las travestilidades: acerca del potencial trans- corpo contestado. Annual Review of Critical Psy- gresor de las travestis. Annual Review of Critical chology, 11, 219-232. Psychology, 11, 299-317. Prado, Marco Aurélio Máximo; Mountian, Ilana; Ma- Vartabedian, Julieta (2014b). Migraciones trans: chado, Frederico Viana & Santos, Leonel Cardoso travestis brasileñas migrantes trabajadoras del (2010). Los movimientos LGTB y la lucha por la sexo en Europa. Cadernos Pagu, 42, 275-312. democratización de las jerarquias sexuales en http://dx.doi.org/10.1590/0104- Brasil. Revista Digital Universitaria. 11(7), 1-15. 8333201400420275 Disponível em: http://www.revista.unam.mx/vol.11/num7/art6 8/index.html Saavedra, Luísa & Nogueira, Conceição (2006). Memórias sobre o feminismo na psicologia: para

Quaderns de Psicología | 2015, Vol. 17, No 3, 31-44 44 Mountian, Ilana

Witten, Tarynn (2015). Elder Transgender : Yuval-Davis, Nira (1997). Gender & Nation. Lon- Exploring the Intersection of Age, Lesbian Sexual dres: Sage Identity, and Transgender Identity. Journal of Lesbian Studies, 19(1), 73-89. http://dx.doi.org/10.1080/10894160.2015.95987 6

ILANA MOUNTIAN Pós doutoranda do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (FAPESP) e pesquisadora hono- rária da Manchester Metropolitan University. Membro do Discourse Unit. Autora do livro Cultural Ecsta- sies: drugs, gender and social imaginary (Routledge, 2013).

DIRECCIÓN DE CONTACTO [email protected]

FORMATO DE CITACIÓN Mountian, Ilana (2015). Aspectos sobre travestilidade e envelhecimento: história, corpo e imigração. Quaderns de Psicologia, 17(3), 31-44. http://dx.doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1286

HISTORIA EDITORIAL Recibido: 16/05/2015 1ª Revisión: 05/09/2015 Aceptado: 23/10/2015

http://quadernsdepsicologia.cat