INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE CAMPUS AVANÇADO ABELARDO LUZ ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO

TRABALHO DE CURSO

A CONSTITUIÇÃO TERRITORIAL URBANA DE ABELARDO LUZ/SC: CONTRAPONDO A EMANCIPAÇÃO E A ATUALIDADE

Jorge Paulo de Quadros

Orientadora: Liamar Bonatti Zorzanello

Abelardo Luz/SC, novembro de 2018

TRABALHO DE CURSO

A CONSTITUIÇÃO TERRITORIAL URBANA DE ABELARDO LUZ/SC: CONTRAPONDO A EMANCIPAÇÃO E A ATUALIDADE

Trabalho de Curso – TC apresentado ao Curso de Especialização em Educação: Educação e Prática de Ensino, do Instituto Federal Catarinense – Campus Avançado Abelardo Luz, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Educação.

Orientadora: Liamar Bonatti Zorzanello

Jorge Paulo de Quadros

Abelardo Luz/SC, novembro de 2018 Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática do ICMC/USP, cedido ao IFC e adaptado pela CTI - e pelas bibliotecas do Campus de Araquari e Concórdia.

Quadros, Jorge Paulo de Q1c A CONSTITUIÇÃO TERRITORIAL URBANA DE ABELARDO LUZ/SC: CONTRAPONDO A EMANCIPAÇÃO E A ATUALIDADE / Jorge Paulo de Quadros; orientadora Liamar Bonatti Zorzanello. -- Abelardo Luz, 2018. 19 f.

Artigo (artigo) - Instituto Federal Catarinense, campus Abelardo Luz, Especialização em Educação: Educação e Prática de Ensino, Abelardo Luz, 2018.

1. Território. 2. Formação. 3. Abelardo Luz.I.Zorzanello, Liamar Bonatti. II. Instituto Federal Catarinense. Especialização em Educação: Educação e Prática de Ensino. III. Título.

BANCA AVALIADORA

Liamar Bonatti Zorzanello – Orientadora

Mestra em Geografia (UNICENTRO)

Instituto Federal Catarinense – IFC/ Campus Avançado Abelardo Luz

Gilian Evaristo França Silva

Doutor em História (UFPR)

Instituto Federal Catarinense – IFC/ Campus Avançado Abelardo Luz

Maricler Wollinger Kovalczuk

Mestra em Geografia (UNICENTRO) 5

A CONSTITUIÇÃO TERRITORIAL URBANA DE ABELARDO LUZ/SC: CONTRAPONDO A EMANCIPAÇÃO E A ATUALIDADE

Jorge Paulo de Quadros1 Liamar Bonatti Zorzanello2

Resumo: Neste estudo visamos compreender como ocorreu a formação territorial urbana de Abelardo Luz, município do , emancipado em 27 de julho de 1958. Nos deteremos a averiguar as origens deste, promovendo análises que visem elucidar seu surgimento enquanto município; quais foram os motivos que desencadearam sua criação e desvendar como ocorreu os prenúncios de sua urbanização. Por meio de uma abordagem histórico-dialética, aliada ao levantamento bibliográfico e documental, procurar-se-á expor as transformações territoriais abelardenses, tecendo observações entre o contexto atual e o histórico, considerando as modificações realizados através do trabalho e das relações de poder emanadas entre os homens e homens/meio que culminam na modificação das paisagens e das vivências.

Palavras-chave: Abelardo Luz; urbano; território.

Abstract: Abstract: On this study our goal is to understand how the territorial urban formation in Abelardo Luz/SC happened. On July 27th, of 1958 a western town of was emancipated. We will waste look into the origins of this, promoting analyses that targeting elucidate its rise as town; the reason that have sparked its resilient and unveil how the harbingers happens of its urbanization. By an approach dialect-historic we’ll seek expose the abelardense territorial transformation, making comments among historic and actual context. The bibliography withdrawal will be The masterpiece, becoming carriers of a source of information together with the use of picture/photos and current data. Addressing the historicity of Abelardo Luz, we will highlight the transformations that happens on its urban territory, by the job and power relations, that made among women, men/ environment and resulting in changes of landscape and truly experiences.

Key words: Abelardo Luz; urban; territory.

1Acadêmico do Curso de Especialização em Educação: Educação e Prática de Ensino, do Instituto Federal Catarinense – Campus Avançado Abelardo Luz. Licenciatura plena em Geografia pela FESC, Clevelândia/PR. Professor da rede catarinense de ensino, lotado no Colégio Estadual Professor Anacleto Damiani, Abelardo Luz/SC.E-mail:[email protected]. 2Orientadora do presente Trabalho de Curso. Professora do Instituto Federal Catarinense/Campus Abelardo Luz/SC. Mestra em Geografia pela UNICENTRO, Guarapuava/PR. E-mail: [email protected]. 6

INTRODUÇÃO

Ao tratarmos da constituição dos municípios brasileiros nos deparamos com a emancipação de unidades antes e depois da promulgação da Constituição Federal (CF) de 1988, a qual fomentou a compartimentação da malha territorial do país. No Estado de Santa Catarina (SC), isso também pode ser observado, pois dos seus 295 municípios, 88 foram emancipados após o vigor dessa constituinte. A compartimentação do Estado-Nação é uma maneira de o governo federal se fazer presente em todos os recantos do país e estar mais próximo dos cidadãos, por meio da representatividade descentralizada presente nas figuras dos representantes políticos estaduais e municipais. Aqui, reservamos o espaço para estudarmos Abelardo Luz, um município do oeste catarinense, relativamente antigo quando comparado à leva de unidades criadas após a CF de 1988, fora criado em 1958, dispondo de especificidades únicas. Nos deteremos a averiguar as origens deste, promovendo estudos que visem elucidar seu surgimento enquanto município; quais foram os motivos que desencadearam sua criação e desvendar como ocorreu os prenúncios de sua urbanização, reconfigurando e aparelhando seu território e, consequentemente, transformando sua paisagem. Diversos são os fatores que nos levam a pensar sobre este recorte espacial, como o fato deste estar localizado na divisa com o Estado do Paraná, às margens da rodovia federal 280 (importante ligação entre o interior do estado e a BR-101 e 116), sendo cortado pela rodovia estadual 155, a qual é fundamental para o escoamento da produção agropecuária. Neste cenário, Abelardo Luz, se destaca como sendo a capital nacional da semente da soja, em função da qualidade dos grãos aqui produzidos, dispondo de diversas empresas que operam no ramo do agronegócio. Em contraponto, também foi o primeiro município catarinense a ser receptáculo de assentamentos rurais de Reforma Agrária. Suas terras são serpenteadas pelo rio Chapecó, o qual proporciona as belezas naturais das quedas, sendo um importante atrativo turístico. Dada sua importância enquanto ente federativo, afirmamos que este estudo visa contribua de modo eficaz com a produção de material científico que fale sobre 7

a construção territorial do município, respaldando o processo educacional abelardense. Pois, os materiais referentes à constituição do município são praticamente inexistentes, dificultando o trabalho do professor de geografia, enquanto disciplina curricular, principalmente, ao trabalharmos o local de nossas vivências. Assim, ofertaremos um aporte teórico que possa balizar o ensino da formação/instalação/constituição municipal de Abelardo Luz, oportunizando aos docentes um meio para atender a demanda enunciada nas diretrizes municipais da educação, podendo ir além dos dados censitários. Por meio de uma abordagem histórico-dialética procuraremos expor as transformações territoriais ocorridas, tecendo observações entre o contexto atual e o histórico. O levantamento bibliográfico será peça chave, constituindo-se em uma importante fonte de informações aliado ao uso de imagens/fotografias e dados factuais, retirados dos arquivos municipais (Secretaria Municipal de Educação e Prefeitura Municipal) e dos sítios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE. Revirar o passado no intuito de reconstruir parte oculta de nossa história é imprescindível para que possamos firmar nossa identidade territorial, pois “tudo se relaciona, transforma-se e há sempre uma contradição inerente a cada e fenômeno” (PRADANOV; FREITAS, 2013, p.35), assim, sabemos que este trabalho não é findo, podendo ser ressignificados com o passar dos tempos. Na sequência, abordaremos a historicidade de Abelardo Luz, antes de sua emancipação e nos primeiros anos pós-instalação, destacando as transformações ocorridas em seu território urbano, por meio do trabalho e das relações de poder que culminam na modificação das paisagens e das vivências.

1 TERRITÓRIO URBANO: CONCEITOS E ENTENDIMENTOS

O território é um conceito imbricado de significados e significações. Trabalhar com o território urbano de um determinado município é algo realmente desafiador e, aqui, isto se faz mais instigante frente a ausência de materiais que registram as transformações ocorridas em solo abelardense. De modo simplório, podemos entender o território como uma porção física 8

da superfície terrestre delimitada por fronteiras políticas submetido à um poder político, onde se manifestam as ações do homem sobre a natureza e ocorrem as relações econômicas de uma sociedade. O território é, usualmente, definido como uma área administrada pelo Estado sobre a qual ele exerce a sua soberania (ANDRADE, 1995). Contudo, à medida que os estudos avançaram, essa definição tornou-se insuficiente, uma vez que, ela não abrangia os territórios informais e de disputas entre as classes e os diferentes grupos que compõem as sociedades. Normalmente, os territórios são formados para atender uma demanda do capital, de acordo com as necessidades de momento, tendo sua formação na busca da autonomia de uma determinada região. É um receptáculo de disputas entre os que querem dominar e os que não aceitam essa dominação, isso gera conflitos entre os diferentes segmentos sociais que o ocupam e disfrutam de pensamentos contrários sobre seu uso. Deste modo,

O conceito de território não deve ser confundido com o de espaço ou de lugar, estando muito ligado à ideia de domínio ou de gestão de uma determinada área. Deste modo, o território está associado à ideia de poder, de controle, quer se faça referência ao poder público, estatal, quer ao poder das grandes empresas que estendem os seus tentáculos por grandes áreas territoriais, ignorando as fronteiras políticas (ANDRADE, 1995, p. 19).

Entendemos, então, que trabalho e o capital são os principais precursores da formação territorial é através dele que se produzem novas formas, sejam elas de produção, de ocupação ou organização. Portanto, o trabalho é o meio que ajuda a criar e, consequentemente, a produzir o território, gerando novas formas de paisagens, o que era natural passa a ser artificial e o urbano passa a ganhar forma. (LIBANEO, 2001). Os capitais aliados ao trabalho transformaram o território abelardense, fazendo surgir as primeiras vilas, dando o contorno e o formato de uma cidade. Com o passar do tempo, este perímetro foi sendo reconfigurado e ampliado, respeitando as ações do capital e seguindo as determinações das relações de poder que eram lançadas sobre este. No entanto, era preciso desenvolver a ocupação desse território, onde os desafios materializavam-se em adentrar as florestas nativas, explorando-as e transformando as áreas desmatadas em locais para desenvolver atividades 9

agropecuárias ou industriais. Com isso, Abelardo Luz demonstra evolução urbana a partir da década de 1970 com a introdução de novas tecnologias no campo, provocando a expulsão do pequeno agricultor, obrigando-o a mudar para a cidade em busca de melhores condições de vida (IBGE, 2018). Aos poucos, o território abelardense vai tomando forma e um conjunto de objetos e coisas passam a figurar sua paisagem, bem como, muitas das relações sociais que aí foram ou são vivenciadas e acabaram sendo impregnadas na sua conjuntura. Assim,

[...] defrontamo-nos com o território vivo, vivendo. Nele, devemos considerar os fixos, isto é, o que é imóvel, e os fluxos, isto é, o que é móvel. [...] O território revela também as ações passadas, mas já congeladas nos objetos, e as ações presentes constituídas em ações. No primeiro caso, os lugares são vistos como coisas, mas a combinação entre as ações presentes e as ações passadas, às quais as primeiras trazem vida, confere um sentido ao que preexiste (SANTOS; SILVEIRA, 2003, p. 247).

Todavia, cabe destacar que o território é formado por e a partir de relações de poder (SANTOS, 1996), pois é por meio destas relações que os territórios se transformam, se recriam e remodelam todo o convívio e as relações que são tecidas, sejam elas políticas, econômicas, culturais, etc. Assim, este não pode ser reduzido à materialidade, mas apreendido como apropriação e domínio de um espaço socialmente compartilhado, uma vez que:

[...] o território é uma construção histórica e, portanto, social, a partir das relações de poder (concreto e simbólico) que envolvem, concomitantemente, sociedade e espaço geográfico (que também é sempre, de alguma forma, natureza); o território possui tanto uma dimensão mais subjetiva, que se propõe denominar, aqui, de consciência, apropriação ou mesmo, em alguns casos, identidade territorial, e uma dimensão mais objetiva que pode-se denominar de dominação do espaço, num sentido mais concreto, realizada por instrumentos de ação político- econômica (HAESBAERT; LIMONAD, 2007, p. 42).

Diante do posto, o território vai além do substrato que serve palco e sobrevivência para a vivência humana, mas é moldado pelas ações da sociedade e também pode influenciá-la e, é assim, na interdependência sociedade/território que Abelardo Luz se estrutura enquanto município, incialmente explorando suas florestas naturais, depois usando seu substrato como base para as ações agropecuárias e industriais, porém sempre sendo regido pelas condições 10

climáticas, pelas formas do seu relevo, entre outros fatores de ordem ambiental e/ou geográfica.

2 O TERRITÓRIO URBANO DE ABELARDO LUZ

Antigamente, a área hoje entendida como sendo o município de Abelardo Luz, era habitada por índios Guarani e Kaingangue. Estes foram, em boa parte, dizimados e os remanescentes ainda habitam alguns pontos da região, como é caso da comunidade do Toldo Embu, situado junto ao bairro São João Maria em Abelardo Luz (IBGE, 2018). Abelardo Luz era ponto de parada na estrada das missões, por onde passavam militares e tropeiros, era passagem obrigatória para a Colônia de Xanxerê. Os primeiros colonizadores foram do Estado de Minas Gerais. As primeiras famílias de que se tem notícias foram as de Messias de Sousa e Leocádio dos Santos e já se encontrava estabelecida a família de José Pinheiro de Oliveira nos primeiros anos do século XX (IBGE, 2018). O povoamento efetivo de Abelardo Luz teve início no presente século XX sendo intensificado nas últimas décadas com a chegada, principalmente, dos gaúchos. Sua população é formada por caboclos, italianos, poloneses e algumas famílias de origem alemã. Os caboclos que vivem aqui a maioria deles já nasceram na região, os italianos, poloneses e alemães são oriundos do Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. A origem do nome Abelardo Luz deu-se em 1922 em homenagem ao filho, do então governador do Estado, Hercílio Luz. Antes Abelardo Luz era chamado de Passos das Flores. Sua elevação ao patamar de distrito ocorreu em 22 de dezembro de 1917, subordinado ao município de Chapecó, por meio da Lei Estadual nº 02 (ABELARDO LUZ, 2018). Com o reordenamento territorial do país e, consequentemente, do Estado, a Lei Estadual n° 133, datada de 30 dezembro de 1953, transfere o distrito de Abelardo Luz para compor quadro territorial do recém emancipado município de Xanxerê. Em 21 de junho de 1958, Abelardo Luz é desmembrado de Xanxerê, sendo elevado à categoria de município, com sua instalação ocorrida em 27 de 11

julho do mesmo ano (IBGE, 2018). A emancipação de um dado local é a transfiguração do poder ao torná-lo território autônomo, são as relações de poder concretizadas.

Emancipação é processo histórico de conquista de um projeto de desenvolvimento formulado e realizado por sujeitos sociais capazes de produzir e participar. Emancipação não pode provir de fora, pois é construção dos próprios interessados, o que ressalta a importância da cidadania. (DEMO 1989, p.131).

Assim, pode-se destacar as seguintes figuras políticas como responsáveis pela emancipação de Abelardo: sendo Governador de Santa Catarina, Heriberto Hulse, que nomeou o primeiro prefeito de Abelardo Luz, Gerônimo Rodrigues, e o Presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, Deputado José de Miranda Ramos. Em 3 de outubro de 1958 ocorreram as primeiras eleições municipais, sendo eleito Mauricio Rodrigues Costa, para prefeito de Abelardo Luz (SANTA CATARINA, 2018). A elevação de uma área ao status de município, pressupõe-se a existência de um território urbano. Em Abelardo Luz, este começou a tomar maiores dimensões com a chegada da população para trabalhar nas serrarias, que exploravam a Araucária e a erva-mate (ABELARDO LUZ, 2018). Quanto ao orçamento do recém emancipado território temos os seguintes dados: em 1958 o orçamento municipal estava calculado em 98.491,30 Cruzeiros, moeda brasileira correspondente à época; em 1959 a estimativa orçamentária já apresentava uma significativa melhora, sendo orçada em 2.159.633,00 em Cruzeiros (ABELARDO LUZ, 1958). Porém, a arrecadação municipal era insignificante perante um território que precisava ser construído e remodelado para atender as exigências de uma sociedade em formação. A população foi aumentando e iniciaram os desafios provenientes de equipar um núcleo urbano, com casas comerciais, hospitais, farmácias, escolas, evitando assim que as pessoas precisassem se deslocar até Clevelândia, no Paraná, ou até Xanxerê, ou Chapecó, em Santa Catarina. A Imagem 1, nos revela a estruturação urbana de Abelardo em 1969, onze anos após sua emancipação político-administrativa. Demonstra o incipiente e precário quadro urbano abelardense em que se observa a igreja, o hospital, escola 12

e casas de moradias e comerciais, ainda dispondo de muitas árvores nativas típicas da região.

Imagem 1: Perímetro Urbano de Abelardo Luz 1969 Fonte: Prefeitura Municipal de Abelardo Luz Org.: QUADROS, Jorge de P.

A falta de planejamento nos primeiros anos da formação urbana de Abelardo Luz é visível na sua formação original central com ruas estreitas, quadras de lotes desproporcional as construções urbanas. Uma das razões era que a maioria das casas eram dos proprietários das serrarias denominadas Fábrica de Pasta Mecânica, proprietário Josué Anone, e Indústria de Laminados Michelin LTDA, proprietário Getúlio Michelin. Os quais, tardiamente, doaram esses lotes e casas, todas em madeira, para seus funcionários como forma de gratidão e de conformidade pelo esforço do funcionário, fazendo que a construção do território urbano fosse balizada por estas edificações existentes. Já a Imagem 2 revela os aspectos de evolução do perímetro urbano abelardense, onde já aparecem construções de alvenaria, prédio da prefeitura, hotel, delegacia, fórum, casas comercias e os traçados das ruas ainda não 13

pavimentadas no ano de 1978. O planejamento urbano começa a se manifestar, por meio da ordenação do território.

Imagem 2: Perímetro Urbano de Abelardo Luz 1978 Fonte: Prefeitura Municipal de Abelardo Luz Org.: QUADROS, Jorge de P.

Com o passar dos anos, apresentam-se melhorias mais significantes no planejamento urbano, com a destinação de verbas para a construção de importantes obras de infraestrutura, como calçamentos e asfaltamento de ruas, distribuição de água e energia elétrica. Em alguns bairros, ainda hoje, essa falta de infraestrutura urbana se faz presente, sendo caracterizada pela ausência dos serviços de distribuição de água potável e energia elétrica, de recolhimento de lixo e pela falta de saneamento básico. Mesmo em lugares urbanos centrais, percebemos, por exemplo, a necessidade de saneamento básico (SEBRAE, 2014). Os orçamentos atuais, embora apresentem números satisfatórios, não atendem a demanda municipal, o qual gasta mais do que arrecada e, constantemente, necessita recorrer ao repasse de verbas estaduais e federais para atender a população. O orçamento de 2017 foi estimado em R$ 61,6 milhões de acordo com o 14

projeto de Lei número 33/2016, que trata da Lei orçamentaria anual do município de Abelardo Luz. Em 2018 a projeção foi de R$ 64,625 milhões de acordo com a Lei orçamentária número 2.498 de 06 de dezembro de 2017 (ABELARDO LUZ, 2016; 2017). A população urbana cresceu rapidamente, principalmente pelo acelerado êxodo rural, o que gerou sérias consequências como por exemplo os surgimentos de bairros periféricos sem infraestrutura, e isto requer investimentos, para equipar e estruturar o quadro urbano de infraestrutura básica. Em 1960 Abelardo Luz tinha um registro poulacional de 11.783 habitantes (IBGE, 1960), dos quias 856 residiam na área urbana e 10.927 ocupavam o ambiente rural, isso nos revela a incipiência do urbano. Atualmente, conta-se com 17.847 habitantes, sendo 9.597 na área urbana e 8.250 na área rural, (IBGE, 2018). Assim, os centros urbanos tornam-se um território de contradições, ameaças e esperanças. O fenômeno da urbanização sempre vem acompanhado de crescente desigualdade social e de insegurança pública, devido ao seu crescimento acelerado. Atualmente, algo fácil de ser visualizado no território abelardenese é a questão da desigualdade social, pois aqui convivem senhores do agronegócio, bem como, os assentados de reforma agrária, os indígenas, os trabalhadores assalariados. A representação máxima da indústria, que emprega, direta ou indiretamente, boa parte da mão de obra abelardense, se concretiza na figura da Aurora Alimentos, que produz alimentos para o mercado nacional e internacional. Esta, mesmo localizada no quadro urbano, mantém suas relações com o campo, pois sua matéria prima vem dessa espacialidade. Além de balizar a economia rural também movimenta a economia urbana (SEBRAE, 2014). Na Imagem 3, revela o território urbano de Abelardo recente, onde tudo nos parece bonito, aparenta ter todos os serviços básicos e tudo está próximo. Na divisão do território urbano percebe-se a beleza da praça, a escola, igreja, casas comerciais, porém não se percebe os desafios que se apresentam. Abelardo Luz possui grande dificuldades para atender sua população como nos casos de tratamentos de saúde em que requer especialistas, documentos pessoais, seguridade social, dentre outros serviços.

15

Imagem 3: Perímetro Urbano de Abelardo Luz 2017 Fonte: Prefeitura Municipal de Abelardo Luz Org.: QUADROS, Jorge de P.

O olhar geográfico sobre a cidade, segundo Libâneo (2001), estabelece uma dupla face: uma é o ilusório, vista de longe, um lugar onde tudo está próximo, lugar de possibilidades, esperanças, expectativas, território inspirador de liberdade e de autonomia, de mobilidade e das ofertas múltiplas, espaço de possibilidades de progresso, ascensão social e a ilusão do salário mensal. A outra é do anonimato: da perda de referências comunitárias; tradições e valores se desfazem e aparecem novos focos de atração. É também o lugar da informação: tudo está próximo e, ao mesmo tempo, nem tudo é acessível e as informações nem sempre estão a serviço do bem. Os meios de comunicação, que em sua maioria prestam serviço ao poder econômico, divulgam o que interessa a estes e, muitas vezes, com meias verdades manipulando a opinião pública. Assim,

A construção da problemática urbana se realiza no plano teórico, a produção da cidade e do urbano se coloca no plano da prática sócio 16

espacial, revelando a vida na cidade. (...) as relações sociais se materializam num território real e concreto, o que significa que, ao produzir sua vida, a sociedade produz/reproduz um espaço enquanto pratica sócio espacial. A materialização do processo é dada pela concretização das relações sociais produtoras dos lugares. Esta é a dimensão da produção/reprodução social do espaço, passível de ser vista, percebidas, sentida, vivida (LIBANEO, 2001, p. 146).

Os centros urbanos são uma mistura de vida e de morte; valores e contra valores andam nas mesmas calçadas e invadem lares, instituições e também igrejas. Cresce o valor da pessoa humana e noutros a dignidade é esmagada. O ser humano não é tratado como pessoa, mas pela sua função social, pelo que produz e pelo que consome. Outra é o real contexto da cidade, principalmente dos centros urbanos, onde a vida é regulada pelo Estado com todas suas ramificações sob forma de planejamento urbano comandado por interesses. Os interesses políticos e da sociedade dominante, são revelados por meio das formações urbanas, onde direcionam o emprego do capital, das obras públicas e dos diferentes usos de um mesmoi espaço. Em Abelado Luz a dinâmica de um centro urbano de um município de pequeno porte pode ser sentida por aqueles que o vivênciam e produzem sua existência. Cada indivíduo mantém com o território uma relação diferente, aquele que manda pode entendê-lo como espaço promissor, ao passo que aqueles que obdecem podem ter por este uma certa aversão (HAESBAERT; LIMONAD, 2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A transformação territorial no meio urbano requer observação ao longo dos anos, pois não é estático. O território urbano é fruto da transformação que ocorre através do sistema capitalista. É no território urbano que ocorrem essas manifestações e nesse sentido há uma constante modificação para atender a demanda do capital. É no território urbano em que se manifestam os diversos tipos de poder. A medida que a urbanização se desenvolve, se observa a força do sistema capitalista que atua sobre o território urbano. Aqui nos deparamos com vários 17

fatores de transformações territorial urbana de Abelardo Luz, como o seu desenvolvimento passando pelas primeiras indústrias que aqui se instalaram, as serrarias, ao povoamento mais efetivo com seu solo sendo usado para a agropecuária e as serrarias dando lugar às indútrias do agronegócio. Os primeiros movimentos da saída do homem do campo em direção a cidade no chamado êxodo rural, em virtude dos avanços das tecnologias e uso de máquinas contribuíram para o povoamento de Abelardo Luz. Assim, os assentamentos agrários, os quais, primeiramente, ajudaram a povoar o interior, perdem população, a qual opta por adentrar o urbano na busca de trabalho e melhores oportunidades. Posteriormente, a empresa Aurora, ladeada por outras empresas ligadas ao agronegócio, também contribuem para a transformação territorial urbana abelardense ofertando vagas de trabalhos, que movimentam o setor econômico e reconfiguram a paisagem urbana, principlamente nos bairros periféricos. A grosso modo, percebemos a criação do território abelardense a qual, inicialmente, deu-se por grupos indígenas Guarani e Kaingangue. Depois, foi reconfigurado pelo uso dos serralheiros e, quando esgotado esta finalidade econômica, remodela-se os interesses e as atividades agropecuárias ganham vida e endossam as vilas surgidas por meio da atividade madeireira. Atualmente, evidencia-se que o território urbano de Abelardo Luz requer investimentos, principalmente, em infraestrutura básica, pois falta saneamento, distribuição de água potável e energia elétrica, pavimentação asfáltica ou de pedras irregulares, praças, áreas de lazer, etc. Grande parte do orçamento do município é usado para custear as despesas da máquina pública, no pagamento de dívidas financeiras e isso acaba por reduzir os investimentos sociais. Fomentar a economia local, principalmente, tornar o território atrativo para a instalação de outras indústrias, as quais possam ofertar mais vagas de trabalho, além de absorver parte da população ociosa, estar-se-á injetando mais recursos na economia municipal, ao passo que, os trabalhadores passaram a gastar seus proventos junto ao comércio local, fomentando-o e tornando mais sólida a economia abelardense. Percebemos que a transformação do território urbano abelardense passa pelos interesses dos donos do capital que o usam para a 18

exploração/manutenção/ampliação do capital, contribuindo para a criação de bairros periféricos e agregando valor a áreas centrais não edificadas. Também, suas políticas de mercado acabam por manter o salário dos trabalhadores estagnado, o que implica no baixo poder aquisitivo de boa parte da população. Abelardo Luz carece de políticas públicas voltadas para o fomento da economia local e para sanar as necessidades básicas de sua população, ofertando a todos serviços públicos de qualidade e de acesso facilitado. Assim, seu quadro urbano será menos dispare e com políticas públicas adequadas as obras e investimentos poderam ser distribuidas equitativamente sobre este, promovendo melhorias significativas.

REFERÊNCIAS

ABELARDO LUZ. Prefeitura Municipal. Município. Abelardo Luz: 2014. Disponível em: https://www.abelardoluz.sc.gov.br/; Acessado em 14/10/2018.

ABELARDO LUZ. Prefeitura Municipal. Lei orçamentária nº 33/2016. Abelardo Luz: 2016. Disponível em: ; Acessado em: 01/11/2018.

ABELARDO LUZ. Prefeitura Municipal. Lei orçamentária nº 2.498/2017. Abelardo Luz: 2017. Disponível em: ; Acessado em: 10/11/2018.

ABELARDO LUZ. Secretaria Municipal de Educação. Livro Caixa: Ano 1958. Disponível nos arquivos da Secretaria Municipal de Educação de Abelaro Luz; Acessado em 05/09/2018.

ANDRADE, Manuel Correia. A questão do território no Brasil. São Paulo: Hucitec; Recife: IPESPE, 1995.

DEMO, Pedro. Participação e conquista. São Paulo: Cortez,1989.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico de 1960. Brasil, 1960. Disponível em: ; Acessado em 19/09/2018.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Município de Abelardo Luz. Brasil, 2018. Disponível em: ; Acessado em 19/09/2018. 19

LIBANEO João Carlos. As lógicas da cidade. São Paulo: Loyola, 2001.

PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Método Científico In.:Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico / Cleber Cristiano. Novo Hamburgo: 2ª. E. Feevale, 2013.

HAESBAERT, Rogério; LIMONAD, Ester. O território em tempos de globalização. Etc, espaço, tempo e crítica – Revista Eletrônica de Ciências Sociais Aplicadas. Ago/2007, nº 2 (4), vol.1.

SANTA CATARINA. Assembleia Legislativa. Ex-presidentes. Disponivel em: http://www.alesc.sc.gov.br/ex-presidentes>; Acessado em 14/11/2018.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Lucita, 1996.

SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2003.

SAQUET, Marcos Aurélio. O território: diferentes interpretações na literatura italiana. In: RIBAS, A. D.; SPOSITO, E. S.; SAQUET, M. A. Território e Desenvolvimento: diferentes abordagens. Francisco Beltrão: Unioeste, 2004.

SEBRAE/SC - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina. Santa Catarina em números. Florianópolis: SEBRAE/SC, 2010. Disponível em: < http://www.sebrae-sc.com.br/scemnumero/arquivo/Abelardo- Luz.pdf>; Acessado em 14/10/2018.