A Dublagem No Brasil

A Dublagem No Brasil

A DUBLAGEM NO BRASIL por Leandro Pereira Lessa (Aluno do Curso de Comunicação Social) Monografia apresentada à Ban- ca Examinadora na disciplina Projetos Experimentais. Orientação Acadêmica: Prof. Dr. José Luiz Ribeiro. UFJF FACOM 2.sem.2002 2 Aos meus pais, Sergio e Reu- sa, e a meu irmão Alexandre, por darem a palavra “família” a mais perfeita definição. Ao meu afilhado Gabriel, por ser tão lindo quanto o tio- padrinho. Aos meus grandes amigos An- dré, Fábio, Iury, Natália, Thiago e Toninho, por agüen- tarem mais de 100 quilos de “bobagens” até hoje. Aos amigos que fiz nos últi- mos quatro anos em Juiz de Fora, e que assim sejam pelo resto da minha vida. Ao professor José Luiz Ribei- ro, pela compreensão, paciên- cia e atenção. Aos “insanos” que produzem e dão vozes a desenhos animados tão maravilhosos. Ao talento de dubladores que continuam na luta por condi- ções melhores de trabalho, dentro e fora dos estúdios. E a todos que me apoiaram neste trabalho de forma dire- ta ou indireta. 3 S I N O P S E Análise da dublagem através dos tempos no Brasil, desde o trabalho de profissionais da área até a chegada do produto audio- visual estrangeiro com a versão em português ao mercado nacional. 4 S U M Á R I O 1. PREFÁCIO 2. INTRODUÇÃO 3. A PRESENÇA DA VOZ 3.1. A expressão oral 3.2. A voz na mídia 3.3. A “cara” da voz 4. A TÉCNICA DE DUBLAGEM 4.1. Caminhos da dublagem 4.2. Diálogo e precisão 4.3. Triunfo da técnica 5 5. CRÍTICAS À DUBLAGEM 5.1. Estratégias de popularização 5.2. Ideologia 5.3. Estética e outras visões 6. CONCLUSÃO 7. BIBLIOGRAFIA 8. ANEXOS 8.1. Entrevista – Maria Cecília Braga 8.2. Entrevista – João Carlos Fragoso 8.3. Entrevista – Mariângela Cantú, Isabel Lira e Álvaro Serrão 8.4. Entrevista – Gilberto Baroli 8.5. Entrevista – Borges de Barros 6 (...) não há nenhuma voz humana no mundo que não seja objeto de desejo – ou de repulsa: não há voz neutra. ROLAND BARTHES Toda a graça está em como você diz alguma coisa. ROBERT FROST 7 1. PREFÁCIO O filme Dias Melhores Virão, de Cacá Diegues, conta a história de uma dubladora interpretada por Marília Pêra, vinda da cidade de Campos, no norte do estado do Rio de Janeiro, que sonha um dia chegar a ser estrela de Hollywood. Um garoto de 12 anos, nascido no mesmo lugar, ao ver este filme na TV pela primeira vez, já aspirava a só seguir a primeira parte deste caminho, que estava de bom grado. O menino, como outro qualquer, jogava bola, futebol de botão, videogame e assistia desenhos na televisão. A sua mãe nunca se preocupava com ele quando estava em frente à telinha, pois sabia que ele ficaria ali quietinho, sem arranjar confusão. A TV servia, neste caso, como uma “babá eletrônica” perfeita. Na década de 80, os programas infantis chegavam a preencher a grade. Eram recheados de atrações como Caverna do Dragão e He-Man, mas ainda havia espaço para clássicos como Pernalonga e Pica-Pau. Porém, talvez devido a intensas cargas diárias de raios catódicos, resultado proporcionado por horas em frente à TV assistindo aos desenhos, o cérebro do guri começou a sofrer transformações. Scooby-Doo, Salsicha, Zé Colméia, Catatau. A todo o momento, usava uma frase tirada de um desenho diferente. Quando acontecia algo inesperado, o garoto 8 dizia, com voz lamuriosa, uma sentença repetida à exaustão em um episódio do Pica-Pau: - Em todos estes anos nesta indústria vital, é a primeira vez que isto me acontece! Quando era para pedir para que alguém viesse ao seu encontro, era “Chamando Dr. Hans Chucrute”, retirado de outro desenho do Pica-Pau. Se algo o estava incomodando, gritava “Ei, parado aí, Babalu”, tal qual o xerife Pepe Legal fazia com seu fiel companheiro de cartoon. Às vezes, saía um “Homem Pááááááássaro!” e o som da águia logo depois. O menino cresceu, mas se você pensava que aquilo era coisa da idade, enganou-se profundamente. Ele continuava fazendo a mesma coisa. Para falar com um de seus colegas, ele gritava “Gordinho, gordinho!” e começava a rosnar, igual ao lobisomem Bicudo, aquele de boné vermelho do desenho de mesmo nome. Outra frase tirada do Pica-Pau que gostava, “É um índio de madeira!”, era usada nas mais variadas circunstâncias. E como novos desenhos surgiam, mais personagens poderiam entrar no seu repertório de imitações. O “pior” é que os seus amigos também se lembravam de boa parte das atrações infantis da época. Coisas como cantar as canções dos seriados japoneses, lembrar de todas as situações do Chaves e descobrir se alguém encontrara um boneco do Fofão com um punhal dentro era assunto para horas e horas a fio. 9 Pois aquele garoto já estava trabalhando. Foram dois anos como projetista de uma firma de telecomunicações. E o dinheiro ele gastava, entre outras “besteiras”, com fitas de desenhos animados! Depois, largou o emprego tudo para chegar à faculdade. Rachou o cérebro, mas conseguiu passar nas provas. Escolheu jornalismo, um outro sonho seu desde pequeno, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Agora, ele teria que mudar de cidade. Mas mudar o seu jeito, nunca! Lá, ele conheceu novas figuras que também se lembravam das coisas que passavam na TV na época de infância. Bem, nem todas, já que pessoas da sua sala eram até quatro anos mais novas. Aula vai, aula vem, e um dia, na cantina, imitou a voz do Leitão, do desenho do ursinho Pooh: “Oh, me-me-meu Deus!”. Duas amigas suas caíram na gargalhada, mas ninguém igual ao Muttley, como também ele já havia feito naquele local outro dia. De repente, aquele menino precisava definir seu tema para a monografia de final de curso. Pensava em algo relacionado a esporte, outra grande paixão sua, quando deu um estalo na cabeça. “Ui, isso dói! Ei, porque não sobre dublagem?”. Quando falava com as pessoas qual seria o assunto de sua pesquisa, alguns olhavam com cara de quem não entendia o que era possível falar de dublagem em um projeto acadêmico, mas outros lhe confidenciavam que um dia já quiseram ser 10 dubladores, inclusive uma das professoras que fazem parte da Banca Examinadora desta monografia. Durante a pesquisa, foram consultas em livros, revistas, jornais, sites e afins, além de horas de gravações em fita cassete para decupar e outras tantas em frente ao computador digitando o trabalho. “Oh, vida! Oh, azar! Oh, Deus!”. Pelo menos, é bom saber que mais trabalhos podem estar a caminho, já que o ator e dublador Hugo Ferreira, do Rio de Janeiro, está fazendo um livro sobre a dublagem. Dois momentos marcaram aquele menino profundamente durante este período de pesquisas: a visita aos estúdios de dublagem da Herbert Richers, e as entrevistas com os dubladores. Quando ouvia as vozes deles, seja na hora da gravação ou durante uma conversa, ficava boquiaberto. “Eu conheço essa voz!”. Quando escutou o Gilberto Baroli pela primeira vez, só uma imagem veio na sua mente: “Meu Deus, é o Marshall de O Elo Perdido!”, seriado que passava no SBT. Até mesmo ouvir a voz do Márcio Seixas na secretária eletrônica. Como não lembrar do Batman do desenho? Ou então escutar Newton da Matta, mesmo que avisando baixinho para alguém que não podia atender ao telefone porque estava trabalhando. “Cara, Bruce Willis deve estar gravando outro comercial do Ajinomoto!”. Uma das entrevistas, sem dúvida, que já valeu o projeto, foi com Borges de Barros, uma lenda da dublagem no 11 Brasil. Foram duas horas e meia de relato, com muita sinceridade, de um homem que está no batente há 60 anos. E ele, o eterno garoto, recordando àqueles tempos, tentava prestar atenção, enquanto pensava: “Dr. Smith! Dr. Smith! Fala ‘sua lata de sardinha velha’!”, ou “Moe, Moe, ‘cabeça de pudim’!”, dois dos personagens que dublou, mas que parecem ter se tornado a voz original. Lembrou-se também de ter ido num festival de desenhos e seriados antigos, quando passaram Os Três Patetas e Perdidos no Espaço. As pessoas não se agüentavam de tanto rir. Será que riam da interpretação do artista ou da interpretação do Borges? Entretanto, este é um trabalho de pesquisa e análise da dublagem, e assim vai ser nas próximas páginas. O sonho acabou, e a realidade está aí, tal qual um desenho dos Simpsons. “D’oh!”. Pensando bem, nem tanto. Mas este garoto continua com todas estas vozes do passado em sua mente, “atormentando-o” pelo resto de sua vida. Bem, “é isso aí, pe-pe-pessoal!”. Mas fiquem ligados, porque voltamos logo depois do intervalo... 12 2. INTRODUÇÃO A proposta deste trabalho é analisar a dublagem no Brasil. Além de traçar o perfil e o histórico, bem como detalhar a técnica usada pelos profissionais da área, vamos citar as estratégias para a popularização do processo, e as críticas em relação à adaptação dos diálogos para o português em produtos audiovisuais vindos do exterior. A intenção inicial do projeto não é atacar nem defender a dublagem sem critério, e sim avaliar como o trabalho está sendo executado no país. Se depender do que alguns críticos escrevem em suas colunas de jornal, vamos constatar que a versão em português dos filmes que chegam para nós é quase sempre mal feita, pois, ao encobrir os diálogos originais, mutilam a obra. O objeto de estudo do projeto possui relevância, já que as mídias envolvidas estão ao alcance da maioria, e elas utilizam a dublagem. As pessoas podem entrar em contato com as produções adaptadas para o português e expressar opinião sobre elas.

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