III Jornada Avia! Semana de Design | Ufal | 2018 nov 2018, num. 3, vol 1 ISSN: 2594-7575 DOI: 10.17648/avia-2018-89894 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS SOB A ÓTICA DO DESIGN o caso da Coamix e a produção brasileira Janaina Freitas Silva de Araújo Danielly Amatte Lopes Resumo: Durante o desenvolvimento da pesquisa Silent Mangá: O design editorial miscigenado foi levantado algumas informações acerca de autoras pertinentes ao campo do Design a fim de entender melhor como este compreende a arte sequencial, ou como é popularmente conhecido, histórias em quadrinhos. O Silent Mangá é um concurso organizado pela editora japonesa Coamix, cujo processo editorial é aberto, descrito em etapas para qualquer um ter acesso e compreen- der como a editora funciona. Não foi encontrada bibliografia específica que tra- tasse especificamente da mecânica editorial em histórias em quadrinhos além dos livros regularmente mencionados nas pesquisas no Brasil, como as produções de Eisner (2013) e McCloud (1995). Dessa forma, foi estabelecida uma correlação entre mídias próximas a das histórias em quadrinhos e outras percepções sobre o que seria narrativa, um termo mais comum à área de pesquisa no Design. Sendo assim, levantamos a análise do conteúdo das histórias em quadrinhos enviadas para o concurso internacional do Silent Mangá sob a ótica desse recorte bibliográ- fico (Linden, 2017; Zapaterra, 2014; e Lupton, 2017) a fim de compreender melhor as práticas e abordagens da equipe editorial que organiza o concurso, assim como dos participantes brasileiros premiados pelo mesmo. O que foi possível observar foi reflexões acerca do que é fazer uma história em quadrinho pelo ponto de vista do designer, quais suas responsabilidades e preocupações, sobretudo com a expe- riência do leitor como participante da narrativa e não apenas um usuário ou cliente final do processo. Palavras-chave: editorial; quadrinhos; design gráfico. 1. INTRODUÇÃO: O QUE PENSAM OS DESIGNERS SOBRE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS? Durante o decorrer da pesquisa, não foram encontrados designers com histórias em quadrinhos como foco de pesquisa. No caso dessa pesquisa em específico, investigamos um tipo específico de história em quadrinho que é o mangá, que compreende ao formato de produção japonesa cujo estilo é desenvolvido e importado para o Brasil desde a década de 90. Sendo assim, para fazer uma ponte de ligação entre os estudiosos de arte sequencial e o design, foram levantados alguns conceitos e definições de algumas distintas pesquisadoras do processo editorial gráfico. Foram abordados, portanto, os estudos de Zappaterra (2014) sobre a produção editorial voltada para a adaptação de dados entre revistas impressas e versões digitais destas; Linden (2011) acerca do projeto editorial para livros ilustrados e como o designer pode influenciar na sua narrativa; e Lupton (2017) com seu foco em narrativa sobre a ótica do design emocional e das possíveis abordagens do designer para organizar dados de maneira a torna-los ARAÚJO, J. F. S; LOPES, D. A. Histórias em quadrinhos sob a ótica do design: O caso da Coamix e a produção brasileira. In: Anais AVIA! Semana de Design da UFAL | 3º edição. Maceió-AL: Galoá 2018. HISTÓRIAS EM QUADRINHOS SOB A ÓTICA DO DESIGN informações passíveis de compreensão do usuário. 2. A ESTRUTURA DO DESIGN GRÁFICO EDITORIAL APLICADO AO SILENT MANGÁ (SMA) O SMA é apenas uma parte das atribuições da editora Coamix. Inicialmente, é importante entender como funciona a revista Monthly Comic ZENON, que possui uma produção de cerca de 700 a 900 páginas de mangá por mês e mais de 50 volumes já publicados. A revista possui o conceito de Kabuku ou Kabuki1, pois ela busca surpreender os leitores com seu conteúdo e reproduzir a ideia de se trabalhar com o que se gosta. Ao indicar uma ligação tão emocional e subjetiva entre o produtor e a empresa, podemos inferir que há uma demanda para um conteúdo expressivo e que possa tocar o leitor em termos emocionais. Segundo Zappaterra (2014), a função do design editorial é dar expressão e personalidade ao conteúdo, com a finalidade de atrair e manter os leitores, estruturando o material de forma clara. Em relação à revista Monthly Comic ZENON produzida pela Coamix Co, onde todo o conteúdo é editorado em sua totalidade durante a produção, é possível compreender como se mantém a marca e identidade da empresa de forma visível e reconhecível no artefato gráfico final. Conectado a esse conceito, trazemos a fala de Zapaterra (2014) que afirma que: Em uma nova publicação, a primeira coisa que tem que ser estabelecida é a mensagem da marca ou a identidade[...] o designer e o editor trabalhando em conjunto para construir uma ponte forte através da qual o cliente - o editor - pode transmitir sua marca e seus valores para o cliente - o leitor. [...] A cada edição, a identidade visual deve ser revista de modo que seja mantida fresca e vibrante, conservando os valores e a identidade da marca principal, sem simplesmente adotar uma abordagem estereotipada[...]Cada extensão da identidade deve ser relevante para o formato. A chave para fazer isso com sucesso é a capacidade de manter um estilo reconhecível com a publicação, ao mesmo tempo em que cada edição é bastante diferente da última, sendo reconhecida instantaneamente pelo leitor ou potencial leitor como uma nova edição de um objeto familiar, amado. (ZAPPATERRA, 2014; pág. 42). Ou seja, a autora entende que os processos de criação de um artefato gráfico editorial carecem de uma interação entre designer e editor desde seus momentos iniciais. No entanto, em relação ao SMA, que é um concurso internacional, onde não se tem controle sobre quem participa e qual repertório visual e cultural que o participante tem a ponte entre quadrinista (aqui se equiparando a um designer, já que é o responsável pela organização do material) e editor se dá de forma linear, sem que o editor possa fornecer contribuições enquanto o artefato é gerado. É notório que existe um nível de complexidade maior em manter os elementos de qualidade editorial, visto que os autores produzem suas histórias sem passar por um processo de editoração direto. Isso significa que, para que este conteúdo se alinhe as necessidades de qualidade gráfica que a editora sustenta a fase se seleção dos participantes exige um cuidado maior por parte dos editores e uma grande clareza dos parâmetros editoriais da SMA. Ainda no livro Design Editorial, jornais e revistas/mídias impressa e digital (2014) a autora levanta o ponto que, para uma revista possa ser funcional como artefato, projetá- la e editá-la é um processo que anda concomitantemente. Sendo assim, os papéis criativos e como eles funcionam têm de ser pensados juntos, e isso determinará se o produto final terá sucesso ou não. Os japoneses já têm em mente esse pensamento em 1 Expressão que pode possuir alguns diferentes significados, mas o que é adotado pela revista é o de “[...]realizar uma performance diferente dos outros de uma forma surpreendente.” Segundo a editora Mizutani, um dos sensei responsáveis pela editora, Hara sensei, planejou desenhar uma história baseada na figura histórica de Oda Nobunaga (1534 - 1582), famoso por desafiar as tradições japo- nesas e buscar elementos estrangeiros para suas performances para a guerra. Outro aspecto da expressão é o de “viver e morrer pela alegria”, outro aspecto que é trazido por Hara sensei em suas histórias com o personagem inspirado em Maeda Keiji, outra figura histórica japonesa que foi considerado um guerreiro que incorporava o jeito “morrendo de felicidade” ao seu estilo de vida e que ajudava aos menos favorecidos na batalha. 2 Anais da 3º Semana de Design da UFAL | AVIA! 2018 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS SOB A ÓTICA DO DESIGN sua metodologia de projeto, principalmente no que se refere à produção de suas histórias em quadrinhos, visto que o papel do editor nas produções feitas é tratado como trabalho criativo, tanto quanto o autor que de fato desenha e roteiriza os mangás. O processo editorial japonês da Coamix já foi apresentado em algumas matérias divulgadas pelo time editorial, essa exposição dos processos e estratégias, funciona como um processo de instrumentalização de cada participante, e reforça os elementos apontados no livro de Zapaterra (2014), no comentário de Mark Potter, diretor de criação do jornal The Guardian: Eu abordo o editorial do ponto de vista do leitor [...] fazer com que as pessoas queiram ler e, depois, deve contar histórias; [...] Quando olham para uma página, elas devem ver ideias, pessoas e lugares, não o design gráfico. [...] mas acredito que o design também é uma linguagem. (Mark Potter, apud, ZAPPATERRA, 2014; pág. 18). Partindo do conceito japonês do Kabuku de se trabalhar com o que se gosta, é possível fazer a interligação com o pensamento de se produzir sobre a ótica do leitor, que é quem mais gosta daquilo que consome. Os participantes do Silent Mangá Awards, primeiramente, foram leitores desses mangás, autodidatas ou não no processo, partem do pressuposto da participação no concurso ir além da premiação em dinheiro, mas sim, porque os participantes gostam de produzir mangás. Dando a estes concorrentes, diretrizes objetivas através das regras claras, e editorando-os de forma indireta com o contato em mídias sociais, postagens em blogs, e expondo informações do processo de produção, é possível compreender como se dá à dinâmica, para que as obras feitas se alinhem com a marca e identidade da editora Coamix Co. Basicamente o objetivo, não é saber quem é capaz de desenhar melhor ou não, e sim de quem é capaz de adaptar-se melhor às demandas editoriais da editora Coamix Co, e produzir histórias que reflitam os interesses da mesma. Segundo matéria publicada no site do SMA em julho de 2015 por Mayuna Mizutani, há alguns passos para a criação de um formato como o de um mangá em livro.
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