797 A inserção dos rios na paisagem urbana Norma Regina Truppel Constantino Universidade Estadual Paulista - UNESP [email protected] Kawani Yuri Nishimura Universidade Estadual Paulista - UNESP [email protected] Luana Ripke da Costa Universidade Estadual Paulista - UNESP [email protected] Viviane Gasparini Mota Universidade Estadual Paulista - UNESP [email protected] 8º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO, REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018) Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018 A INSERÇÃO DOS RIOS NA PAISAGEM URBANA N. R. T. Constantino, K. Y. Nishimura, L. R. da Costa e V. G. Mota RESUMO Este artigo tem por objetivo analisar como se dá a relação entre o rio Tietê – importante rio que cruza de leste para oeste todo o estado de São Paulo-BR – e seis cidades situadas ao longo de suas margens. Os procedimentos metodológicos compreenderam o levantamento bibliográfico e fotográfico, percursos de observação ao longo do Rio Tietê e entorno próximo; pesquisa documental nos arquivos municipais, incluindo legislação, planos e projetos, além da sistematização dos dados coletados. Estes procedimentos possibilitaram descrever a relação de interferência entre as duas variáveis – rio e cidades - observando alguns aspectos: a questão das permanências, a forma de ocupação, a sua inserção nos Planos Diretores Participativos e outras legislações municipais e as relações existentes entre os habitantes das cidades e o rio Tietê. 1 INTRODUÇÃO As cidades formadas no Oeste Paulista no final do século XIX e início do século XX apresentam, ainda hoje, uma paisagem bastante homogênea, não só quanto ao aspecto da paisagem natural, mas também quanto à forma de ocupação e o desenho urbano. Observa- se que uma série de cidades foi implantada próxima aos rios, e outras no espigão divisor de bacias hidrográficas. A pesquisa “A Construção da Paisagem de Fundos de Vale em Cidades do Oeste Paulista” vem sendo realizada desde 2012, enfocando no período de 2016-2017 algumas cidades implantadas ao longo do Tietê, importante rio que cruza o Estado de São Paulo-BR. O recorte geográfico escolhido para o desenvolvimento da pesquisa foi o estudo das cidades de Barra Bonita, Pederneiras, Ibitinga, Igaraçu do Tietê, Sales e Sabino, com diferentes relações com o rio Tietê: praia, represa, área urbana. O espaço urbano pode ser enfocado como variável dependente, sendo determinado pelos condicionantes naturais e sociais do meio em que se realiza. No entanto, também pode ser enfocado como variável independente, pois é capaz de determinar o modo de vida e alterar o meio natural. Considerando estas questões, o objetivo principal do artigo é apresentar como se processa nos dias atuais a relação de interferência entre as duas variáveis: rio e cidade. Os procedimentos metodológicos compreenderam o levantamento da bibliografia pertinente ao tema e à história da formação das cidades; levantamento fotográfico e percursos de observação ao longo do Rio Tietê nos centros urbanos e entorno próximo; pesquisa documental nos arquivos municipais, incluindo legislação, planos e projetos, além da sistematização dos dados coletados e confecção de mapas e tabelas. Estes procedimentos possibilitaram descrever a relação de interferência entre as duas variáveis, observando alguns aspectos: a questão das permanências, a forma de ocupação, a sua inserção nos Planos Diretores Participativos e outras legislações municipais e as relações existentes entre os habitantes da cidade e o rio Tietê. 2 RIO TIETÊ: RECONHECENDO A PAISAGEM A paisagem é o território construído pelo homem, um lugar ou uma região na qual a história dos homens é explicada e onde foram deixados traços, memórias de uma atividade produtiva, sinais de infraestruturas, monumentos arquitetônicos ou espaços. Traços que não só permanecem por muito tempo, mas que afetam e condicionam decisivamente os processos de crescimento e de transformações das cidades, do território e da paisagem. Assunto (2011) considera território como uma extensão mais ampla da superfície terrestre; ambiente como o território marcado com características biológicas, históricas e culturais significativas; e paisagem como a experiência viva no ambiente, sendo os dois primeiros de caráter mais abstrato, enquanto o último seria o concreto, aquele que é habitado. Para Assunto (2011, p.129), “a realidade que devemos estudar e sobre a qual, se necessário, devemos intervir é sempre a paisagem”. Portanto, estudar a paisagem é entender o espaço em contato com o homem. A leitura primordial a ser feita para estudar a paisagem é a organização do espaço. A paisagem é um espaço social; então, para compreendermos a ocupação urbana ao longo do rio Tietê é preciso observar as formas espaciais e sua diversidade, elementos estruturantes e as dinâmicas, morfologias e fluxos, descontinuidades do espaço e circulações (Besse, 2014). No processo de construção e de transformação da paisagem urbana, pode-se revelar e valorizar ainda mais os seus significados e atributos, tornando-os visíveis. Elemento da paisagem natural e da paisagem urbana, o rio foi intensamente transformado, muitas vezes por falta de conhecimento, por não ser visualizado ou pela incapacidade de compreendê-lo. No entanto, muitos lugares vêm perdendo sua própria identidade. Os conflitos entre os processos fluviais e os processos de urbanização têm sido de um modo geral, enfrentados através de drásticas alterações na estrutura ambiental do rio. O rio Tietê foi fundamental na geografia e na história de São Paulo, pois atravessa o estado de leste a oeste, descendo das vertentes da serra do mar e desaguando no rio Paraná. O rio nasce na Serra do Mar, no Município de Salesópolis, distante 22 quilômetros do Oceano Atlântico e em uma altitude de 1030 metros, e não segue em direção ao mar, mas avança no sentido do interior de São Paulo. Corta a capital, identificando-se com seu desenvolvimento, mas modificando-se completamente pois a poluição doméstica e industrial se incorpora às águas do rio e as modifica. Em razão das diversas transformações que capital enfrentou ao longo do século XX, o rio que antes era marcado por meandros foi sendo modificado radicalmente. Até meados do século XIX o Oeste paulista era considerado nos mapas como “sertão desconhecido habitado por indígenas”. Em função desse cenário de desconhecimento foi criada a Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo em 1886, quando foram elaborados mapas, relatórios, artigos científicos e demais materiais considerados “fundamentais na transformação da forma de representar; ver e utilizar as águas do sertão” (Corrêa & Alvim, 1999, p.37). A partir disso, o poder público passou a ver os rios tanto como forma de penetração em São Paulo como para o escoamento de café. A forma como os rios eram vistos como via de comunicação perdurou até meados do século XIX quando São Paulo começou a viver um intenso processo de industrialização e modernização financiado pelo café, criando infraestrutura para expandir economicamente. Foi nesse período que a implantação das ferrovias ganhou força e os investimentos destinaram-se ao transporte terrestre. Nesse contexto, a ótica dos rios modificou-se e estes passaram a ser vistos como fonte de geração de energia elétrica. Mesmo com a crise de 1929, a agricultura paulista continuou expandindo. Segundo Corrêa & Alvim (1999) o estabelecimento das indústrias destinadas ao processamento de produtos primários no interior paulista foi gerador de grandes transformações na economia. Destacou-se, nesse período, a expansão algodoeira com o surgimento das primeiras indústrias têxteis produtoras de tecidos destinados às vestimentas e ao ensacamento dos produtos agrícolas de exportação. Além disso, essas indústrias exigiam a proximidade com os rios para o aproveitamento de quedas d’água, o que fez mudar a relação com a população ribeirinha. A industrialização teve seu auge entre os anos 1956 e 1960. Nesse período, o fornecimento de energia elétrica intensificou-se e diversas usinas geradoras e distribuidoras de energia hidroelétrica foram criadas em São Paulo. Ao mesmo tempo, a atividade petrolífera teve um grande crescimento, o que gerou um desenvolvimento da indústria automobilística e construção de rodovias, ocasionando uma consequente consolidação do transporte rodoviário. Com a Revolução de 1964, houve um declínio do investimento industrial. Contudo, anos depois foram realizadas reformas fiscais e financeiras, criando condições para a retomada do crescimento econômico, sobretudo em áreas de energia elétrica. Com o intuito de racionalizar o fornecimento de energia, a Companhia Energética de São Paulo foi responsável por centralizar diversas usinas paulistas nesse período.Com isso, o Oeste Paulista foi ocupado pela presença de diversas barragens, sobretudo no Rio Tietê, levando à descaracterização do rio, que resultou em diversas alterações no meio ambiente. Com a construção das barragens, parte da população teve que se deslocar de suas cidades, fazendo com que as relações entre as pessoas e os rios fossem interrompidas. “Consequentemente desapareceu a cultura relacionada à vivência do rio que, reduzida apenas à memória daqueles que o conheceram, transformou-se em elemento de história oral para as futuras gerações.” (Corrêa & Alvim, 1999, p.137). A Lei Nº 7.633, de 30 de dezembro de 1991, também conhecida como Lei das Águas Paulistas, estabeleceu normas de orientação à Política Estadual de Recursos Hídricos e ao Sistema Integrado
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