Coalizão Saudita Na República Do Iêmen Csi-Orh

Coalizão Saudita Na República Do Iêmen Csi-Orh

COALIZÃO SAUDITA NA REPÚBLICA DO IÊMEN CSI-ORH 2018 UFRGSMUN | UFRGS Model United Nations ISSN 2318-3195 | v. 6 2018 | p. 252 - 309 COALIZÃO SAUDITA COALIZÃO SAUDITA NA REPÚBLICA DO NA REPÚBLICA IÊMEN: OPERAÇÃO RENEWAL OF HOPE DO IÊMEN CSI-ORH Beatriz Vieira Rauber1 Eduardo Tomankievicz Secchi2 João Otávio Figueiredo Bueno Cadore3 João Vitor Corrêa Nogueira4 Pedro Bandeira dos Santos5 Thaís Peixoto6 RESUMO O presente Guia de Estudos tem como objetivo instrumentalizar o debate acerca da Operação Renewal of Hope (ORH), sendo esta um mandato da Coalizão Saudita que atua na República do Iêmen. A Coalizão teve início em 2015, após a fuga do então presidente iemenita Abd Rabbuh Mansour Hadi, com a intenção de restaurar o po- der do antigo governo. A crise do Iêmen possui diferentes faces; além de contar com uma gama de atores internos e disputas territoriais, ela é tida por muitos(as) pesqui- sadores(as) como uma espécie de “guerra proxy” entre as principais potências regio- nais: a República Islâmica do Irã e o Reino da Arábia Saudita. A fim de compreender e operacionalizar os interesses envolvidos na região, é necessário conhecer, dentre outros fatores, a origem histórica do conflito e suas disputas geopolíticas. Será anali- sado, portanto, o processo histórico de unificação do Iêmen e a formação dos grupos rebeldes, com o intuito de instrumentalizar os(as) leitores(as) quanto às origens e objetivos de cada ator do conflito. Ademais, procurar-se-á entender as disputas geo- estratégicas e os interesses de atores externos na estabilização do Iêmen, bem como a situação atual entre os membros da Coalizão. Por fim, deve-se compreender que a participação da Operação Renewal of Hope cumpre, hoje, um papel decisivo na história do país e da região, uma vez que definirá não apenas quem estará no poder no Iêmen, mas também a quem este Estado se aliará. 1 Beatriz é estudante do 3º ano de Relações Internacionais na UFRGS e Diretora-Geral do CSI-ORH. 2 Eduardo é estudante do 4º ano de Relações Internacionais na UFRGS e Diretor do CSI-ORH. 3 João Otávio é estudante do 5º ano de Relações Internacionais na UFRGS e Diretor do CSI-ORH. 4 João Vitor é estudante do 4º ano de Relações Internacionais na UFRGS e Diretor do CSI-ORH. 5 Pedro é estudante do 2º ano de Relações Internacionais na UFRGS Diretor-Assistente do CSI-ORH. 6 Thaís é estudante do 2º ano de Relações Internacionais na UFRGS e Diretora-Assistente do CSI- 2018 -ORH. 253 UFRGSMUN | COALIZÃO SAUDITA NA REPÚBLICA DO IÊMEN 1 INTRODUÇÃO O Iêmen, na maior parte de sua história, não foi um país unificado. Este pro- cesso deu-se apenas no final do século XX, após o fim da Guerra Fria. Assim, são no- táveis as diferenças culturais entre o norte e o sul, principalmente dadas as distintas correntes islâmicas que dominam a região. Após a unificação, houve um período de estabilidade, o qual se encerrou em 2011 com o advento da Primavera Árabe. As desa- venças políticas no país se deterioraram até 2015, quando, com a saída do Presidente, o grupo rebelde tomou a capital do país e proclamou-se como novo governo. Deu-se início, assim, à Operação Renewal of Hope, organizada por uma coalizão liderada pela Arábia Saudita cujo principal objetivo é a estabilização do país por meio da reto- mada de poder pelo antigo presidente. A unificação do Iêmen deu-se na década de 1990, após o final da Guerra Fria, tendo o seu período mais estável politicamente durado menos de 20 anos. Em 2011, com o advento dos protestos da Primavera Árabe7, a oposição ao governante Ali Ab- dullah Saleh difundiu-se e foi reprimida veementemente pelas forças nacionais. As críticas da comunidade internacional às medidas repressivas do governo de Saleh e à longa duração de seu governo inflaram o desagrado da população e culminaram na renúncia do presidente em 2014, assumindo interinamente o Vice-Presidente Abd Rabbuh Mansour Hadi, até que uma eleição em seguida o elegeu formalmente. Dois grupos que se destacaram no apoio e organização destas manifestações e que ganharam importância significativa no conflito seguinte são os Houthis e o -al -Hirak. Os Houthis são um grupo rebelde – de oposição política e militar ao governo iemenita – com grande influência no norte do país, de ideologia zaidita, levando o nome de seu antigo líder, morto em 2004, Hussein Badr al-Deen al-Houthi. O al-Hi- rak, por sua vez, é um grupo sulista formado após a unificação que prega pelo fim da dominância do norte sobre o sistema político nacional e o posterior separatismo. O grupo de al-Houthi é acusado de receber forte apoio, tanto financeiro quanto logís- tico, da República Islâmica do Irã. Durante este período de instabilidade, o grupo al-Qaeda aproveita para se ex- pandir, fortalecendo, na porção sul do Iêmen, o seu braço regional, a al-Qaeda na Península Arábica (AQAP). Saleh retorna ao jogo político em seguida, agora apoian- do os Houthi, que fazem dura oposição ao governo Hadi. As diferenças chegaram a um ponto em que, em 2015, o grupo toma a capital Sana’a, obrigando o presidente a fugir para a Arábia Saudita, de onde solicita aos sauditas uma intervenção militar. Desta forma, a Operação Decisive Storm é iniciada em março daquele ano, sendo substituída pela Operação Renewal of Hope (ORH) em abril. 2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA Durante grande parte da ocupação humana na região que atualmente é iden- tificada como Iêmen, a centralização política foi a exceção e não a regra. Entender o processo de formação das sociedades e do presente Estado unificado é de extrema 7 A Primavera Árabe foi o desenvolvimento de uma onda de revoltas tanto pacíficas quanto violentas do Marrocos ao Golfo Pérsico que abalou e, por vezes, até derrubou velhas oligarquias que domina- vam a política da região havia décadas. Ela representou, portanto, um movimento geral com bases comuns em toda a região, relacionado à crise econômica mundial (Visentini 2012). 254 OPERAÇÃO RENEWAL OF HOPE importância para compreensão da situação atual. Dentre as razões que podem ser observadas para esta falta de unidade, desta- ca-se a condição geográfica da região, com áreas significativamente isoladas umas das outras por um relevo bastante heterogêneo, e a divisão religiosa entre duas ver- tentes islâmicas, o sunismo chafeíta e o xiismo zaidita8. O primeiro foi precursor na expansão islâmica na região, concentrando-se na porção sul e existindo, hoje, apenas no Iêmen. A segunda vertente deslocou-se cerca de dois séculos depois, concentran- do-se na região noroeste e norte. Por se tratarem de vertentes moderadas tanto do xiismo quanto do sunismo, a paz foi mantida por um tempo considerável apesar das diferenças teológicas (Machry 2016). Apesar de as cidades antigas serem economicamente prósperas, o território eventualmente acabou sendo dominado por grandes impérios. Em 1838, Aden, futu- ra capital do Iêmen do Sul, tornou-se parte do Império Britânico, numa estratégia de servir como porto seguro entre a Índia e o Egito, também possessões britânicas (Bi- dwell 1985). Em contrapartida, em 1872, os otomanos ocuparam o norte do território. Com crescente expansão e consequente choque entre os dois impérios na região, um tratado foi firmado em 1904 para delimitação das fronteiras, sendo implementado em 1914 (Machry 2016). 2.1 FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO IÊMEN DO SUL Por mais de cem anos, a região que posteriormente viria a ser o Iêmen do Sul esteve sob jurisdição britânica, dividindo-se em três principais territórios com dife- rentes níveis de dominação: a Colônia de Aden, o Protetorado de Áden Ocidental e o Protetorado de Áden Oriental. De certa forma, a administração do território era bastante descentralizada, com significativa autoridade permitida pelos britânicos às elites locais (Brehony 2011). Ao fim da Segunda Guerra Mundial, o ideal nacionalista e republicano começa a se espalhar pela região, bastante influenciado pelo Iêmen do Norte, que passava por um processo de fortalecimento nacional. Com isso, os britânicos e as elites ie- menitas do Sul decidem que uma transição controlada para um sistema de governo mais autônomo seria a melhor forma de evitar que ideários mais radicais ganhassem espaço (Machry 2016). Em 1959, a Federação dos Emirados Árabes do Sul é constitu- ída, com o aval do Reino Unido, pelos Emirados de Bayhan, Fadhli, Awlaqi, Dhala e Yafi’i do Sul, passando a se chamar Federação da Arábia do Sul ao incorporar outros emirados (Brehony 2011). Apesar da expansão inicial, a desconfiança dos emirados do leste quanto à influência britânica no processo e o custo-benefício cada vez menor para o Reino Unido manter suas bases em Aden acabaram levando a entidade ao fracasso. Simultaneamente, duas guerrilhas que buscavam uma completa autono- mia do país, a Frente pela Liberação do Iêmen do Sul Ocupado (FLISO) e a Frente de Libertação Nacional (FLN), ganhavam cada vez mais força e empreendiam uma 8 O zaidismo é uma corrente do islamismo xiita que, dentro do mundo moderno muçulmano, só ga- nhou espaço no norte do Iêmen, entre os Houthis. Possui características mais próximas ao islamismo sunita do que ao xiismo iraniano, contrariando a ideia de aproximação dos Houthis com o Irã devido às suas convergências religiosas (Popp 2015). A principal diferença entre o sunismo e o zaidismo é que esse defende ‘Ali’ como o herdeiro legítimo do poder político no mundo islâmico (Firdausi e Anshu 2018). 255 UFRGSMUN | COALIZÃO SAUDITA NA REPÚBLICA DO IÊMEN verdadeira guerra civil (Machry 2016). Após quatro anos de conflitos, uma vitória decisiva da FLN em 1967 sobre a FLISO, que possuía grande assistência egípcia, converteu a entidade na real repre- sentante iemenita quanto às negociações de independência.

View Full Text

Details

  • File Type
    pdf
  • Upload Time
    -
  • Content Languages
    English
  • Upload User
    Anonymous/Not logged-in
  • File Pages
    58 Page
  • File Size
    -

Download

Channel Download Status
Express Download Enable

Copyright

We respect the copyrights and intellectual property rights of all users. All uploaded documents are either original works of the uploader or authorized works of the rightful owners.

  • Not to be reproduced or distributed without explicit permission.
  • Not used for commercial purposes outside of approved use cases.
  • Not used to infringe on the rights of the original creators.
  • If you believe any content infringes your copyright, please contact us immediately.

Support

For help with questions, suggestions, or problems, please contact us