Aspectos Da Distribuição De Mimosoideae (Fabaceae) Arbóreas No Planalto De Santa Catarina, Sul Do Brasil

Aspectos Da Distribuição De Mimosoideae (Fabaceae) Arbóreas No Planalto De Santa Catarina, Sul Do Brasil

Neotropical Biology and Conservation 10(2):74-84, may-august 2015 © 2015 by Unisinos - doi: 10.4013/nbc.2015.102.03 Aspectos da distribuição de Mimosoideae (Fabaceae) arbóreas no planalto de Santa Catarina, sul do Brasil Aspects of distribution of Mimosoideae (Fabaceae) trees in the highlands of Santa Catarina, southern Brazil Gisele Müller Amaral1 [email protected] Resumo Cláudia Fontana2 O planalto catarinense, no sul do Brasil, abriga a Floresta Estacional Decidual e a Floresta [email protected] Ombrófila Mista, ambas submetidas a intensas pressões antrópicas, o que pode influen- ciar na distribuição e na conservação de algumas espécies. Este estudo teve como ob- André Luis de Gasper3 jetivo comparar a distribuição das espécies arbóreas de Mimosoideae (Fabaceae) nesse [email protected] planalto, baseando-se em dados atuais do Inventário Florístico Florestal de Santa Catari- na – IFFSC e na coletânea da Flora Ilustrada Catarinense – FIC, cujos registros abrangem David Santos de Freitas4 o período de 1950 a 1970. Analisou-se, através de teste estatístico binominal de duas [email protected] proporções, a distribuição geográfica de 17 espécies de Mimosoideae, utilizando as infor- mações provenientes de 221 unidades amostrais do IFFSC e de 124 da FIC. Mapas da 5 Lúcia Sevegnani distribuição atual de cada espécie foram elaborados a partir das informações do IFFSC. Comparando os dados atuais com aqueles de 1950 a 1970, constatou-se que 29,41% das espécies estudadas alteraram sua distribuição geográfica e que 70,59% mantiveram suas proporções de ocorrência no planalto catarinense. A análise mostrou-se menos pre- cisa em relação às espécies raras das fitofisionomias analisadas. Apesar das diferentes metodologias utilizadas nas amostragens, considera-se que o método estatístico aplicado minimizou as diferenças, contribuindo para verificar mudanças no padrão de distribuição das espécies de Mimosoideae nas últimas décadas. Palavras-chave: Floresta Atlântica, inventário florestal, mapa de distribuição. Abstract The Santa Catarina plateau, in southern Brazil, harbors the Deciduous Seasonal Forest and the Mixed Ombrophilous Forest, both subjected to intense human pressures, which may influence the distribution and conservation status of some species. This study aimed 1 Mestranda em Engenharia Ambiental. Laboratório de Bo- at comparing the distribution of tree species of Mimosoideae (Fabaceae) on this plateau, tânica. Universidade Regional de Blumenau. Rua Antônio based on current data of the Floristic and Forest Inventory of Santa Catarina (IFFSC) and da Veiga, 140, Bloco T, Sala 226, Victor Konder, 89012-900, the collection of the Illustrated Flora of Santa Catarina (FIC), which records span the period Blumenau, SC, Brasil. of 1950 to 1970. The geographical distribution of 17 species of Mimosoideae was analyzed 2 Doutoranda em Biologia. Laboratório de Ecologia Vege- tal. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Av. Unisinos, using binomial statistical test of two proportions, based on information from 221 and 124 950, Sala E04205, Cristo Rei, 93022-000, São Leopoldo, sampling units of IFFSC and FIC, respectively. Maps of the current distribution of each spe- RS, Brasil. cies were prepared based on IFFSC’s information. Comparing current data with those from 3 Curador do Herbário Dr. Roberto Miguel Klein. Universi- 1950-1970, we found that 29.41% of the species changed their distribution and 70.59% dade Regional de Blumenau, Rua Antônio da Veiga, 140, Bloco T, Sala 226, Victor Konder, 89012-900, Blumenau, maintained their occurrence ratios. The analysis proved to be less accurate in relation to SC, Brasil. rare species of both vegetation types. Despite the different methods used in each sampling 4 Doutorando em Biologia. Laboratório de Biologia Molecu- period, we considered that the statistical method minimized the differences, enabling to lar. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Av. Unisinos, indicate changes in the distribution pattern of Mimosoideae species in the last decades. 950, Cristo Rei, 93022-000, São Leopoldo, RS, Brasil. 5 Doutora. Laboratório de Botânica. Universidade Regional de Blumenau. In memoriam. Keywords: Atlantic Forest, forest inventory, distribution map. This is an open access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License (CC BY 3.0), which permits reproduction, adaptation, and distribution provided the original author and source are credited. Aspectos da distribuição de Mimosoideae (Fabaceae) arbóreas no planalto de Santa Catarina, sul do Brasil Introdução ção das espécies pertencentes a duas família botânica na Mata Atlântica. subfamílias de Fabaceae: Mimosoi- Assim, este estudo teve como obje- A flora brasileira é considerada uma deae (Burkart, 1979) e Caesalpinio- tivo avaliar a distribuição geográfica das mais ricas do planeta (Giulietti ideae (Bortoluzzi et al., 2006, 2010, das espécies arbóreas de Mimosoide- e Forero, 1990; Lewinsohn e Prado, 2011). Nesses estudos, 16 gêneros ae (Fabaceae) no planalto de Santa 2005; Lima et al., 2015). Dentre as e 100 espécies foram registrados Catarina, comparando a distribuição famílias mais abundantes, encontra-se para Mimosoideae (Burkart, 1979), apresentada por Burkart (1979), re- Fabaceae, com distribuição cosmopo- incluindo diversas formas de vida. ferente ao primeiro levantamento da lita, ocorrendo em ampla diversidade O Projeto Madeira de Santa Catari- flora de SC, com os dados levantados de hábitats (Lewis et al., 2005). Suas na também fez o registro de árvores no mais recente Inventário Florístico espécies possuem alto metabolismo nativas de SC, conforme suas regiões Florestal de Santa Catarina (Vibrans de nitrogênio e aminoácidos, fre- fitoecológicas, com enfoque nas pos- et al., 2013a, 2013b) e apresentar ma- quentemente com nódulos radicula- sibilidades de manejo silvicultural, pas de distribuição atualizados para res contendo bactérias fixadoras de selecionando as espécies de maior as espécies avaliadas. nitrogênio (Judd et al., 2009), o que valor econômico para o Estado (Reitz Considerando-se a elevada exploração confere às espécies elevado potencial et al., 1978). Entre elas estão diversas e degradação dos recursos naturais que para recuperação de áreas degradadas Mimosoideae, como Enterolobium vem ocorrendo no planalto catarinen- (Coletta, 2010). contortisiliquum, Mimosa scabrella, se, em especial a partir de 1960-1970 Fabaceae compreende cerca de Parapiptadenia rigida e Inga spp. e que afeta a estrutura de comunidades 19.400 espécies, distribuídas em 740 (Reitz et al., 1978). e populações (Theis, 2006; Vibrans et gêneros (Lewis et al., 2005) e é ge- Outro grande levantamento, porém al., 2011; Sevegnani et al., 2012; Vi- nericamente dividida em três subfa- recente, foi o Inventário Florístico brans et al., 2013a, 2013b), testou-se mílias não monofiléticas: Caesalpi- Florestal de Santa Catarina (IFFSC), a hipótese que as espécies de Mimo- nioideae, Faboideae e Mimosoideae primeiro grande inventário sistema- soideae ocorrentes na FED e na FOM (Judd et al., 2009). Porém, estudos tizado em Santa Catarina (Vibrans et no planalto de Santa Catarina, quan- filogenéticos continuam sendo reali- al., 2010), coletando-se informações do levados em consideração os dados zados para circunscrever as subfamí- quantitativas e qualitativas de todas apresentados por Burkart (1979) na lias (Souza e Lorenzi, 2012). Destas, as regiões fitoecológicas florestais e década de 1970, podem apresentar pa- Mimosoideae possui cerca de 40 gê- detalhando o estado de conservação drões de distribuição atual alterados, neros e 2.500 espécies (Judd et al., destas. Nesse inventário, constatou-se sendo que as espécies mais especialis- 2009), compreendendo três tribos: que a fragmentação e a redução dos tas devem ter sofrido contração, e as Mimoseae (englobando as antigas remanescentes florestais, motivados generalistas, expansão. tribos Parkieae e Mimozygantheae), pela expansão agrícola e pecuária, li- Acacieae e Ingeae (Luckow, 2005). mitaram a ocorrência de determinadas Material e métodos No Brasil, a família possui 221 gê- espécies, que podem ser consideradas neros, dos quais 15 são endêmicos, especialistas, e ampliaram a de espé- Área de estudo com 2.801 espécies, sendo 1.504 cies generalistas, adaptadas aos am- endêmicas (Lima et al., 2015). Para bientes perturbados, principalmente O presente trabalho utilizou os da- Santa Catarina (SC), são registrados na região do planalto ocidental catari- dos coletados em campo pelo IFFSC, 82 gêneros e 296 espécies – destas, nense (Vibrans et al., 2008; Sevegnani levantados no âmbito da FED e da 79 são arbóreas (Lima et al., 2015). et al., 2012), cuja base socioeconômi- FOM, incluindo a vegetação disjunta No estudo da flora de Santa Catarina, ca é o agronegócio. presente entremeio a outras regiões cabe destacar os grandes levantamen- Diante dessas informações e da im- fitoecológicas (Figura 1). A área de tos efetuados nas décadas de 1950 a portância da família em recuperar so- estudo compreende principalmente a 1970, compondo um histórico da ve- los degradados, considerou-se opor- região do planalto ocidental de Santa getação e resultando na publicação tuno avaliar a distribuição geográfica Catarina (SC), sul do Brasil, entre as da Flora Ilustrada Catarinense (FIC) atual e apresentar novos mapas das longitudes aproximadas de 49º30’ e (Reitz, 1965). As publicações da FIC espécies arbóreas de Mimosoideae 54ºW e latitudes 26º e 29º30’S e está colocaram Santa Catarina em posição para duas regiões

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