A Expansão Canavieira Na Bacia Do Rio Ivinhema No Estado De Mato Grosso Do Sul

A Expansão Canavieira Na Bacia Do Rio Ivinhema No Estado De Mato Grosso Do Sul

A EXPANSÃO CANAVIEIRA NA BACIA DO RIO IVINHEMA NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL Jodenir Calixto Teixeira Universidade do Estado de São Paulo-UNESP [email protected] Antonio Nivaldo Hespanhol Universidade do Estado de São Paulo-UNESP [email protected] Resumo A expansão das áreas ocupadas por lavouras de cana de açúcar no Brasil tem ocorrido num ritmo acelerado nos últimos anos para atender a crescente demanda de etanol e de açúcar. Essa produção, atualmente, vem se expandindo em direção ao interior do país e ocupando novos espaços agrícolas. Dentre as novas áreas ocupadas por essa lavoura está o Mato Grosso do Sul, em especial, a região da bacia hidrográfica do rio Ivinhema, no sudeste do Estado. A expansão da cana de açúcar nessa porção do estado representa uma ameaça à permanência das lavouras tradicionais da região e tende a substituir, principalmente, a produção de alimentos. Este texto originou-se a partir do projeto de Pesquisa intitulado “Os efeitos econômicos e socioespaciais da expansão canavieira na bacia do rio Ivinhema-MS”, em desenvolvimento junto ao curso de pós graduação em Geografia da FCT/UNESP. Palavras-chave: Produção agropecuária. Cana-de-açúcar. Reorganização espacial. Introdução Este texto originou-se a partir do projeto de pesquisa denominado “Os efeitos econômicos e sócioespaciais da expansão canavieira na bacia do rio Ivinhema-MS”, em desenvolvimento junto ao curso de pós graduação em Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), visando o doutoramento nessa área. A pesquisa tem como objetivo principal analisar os impactos socioeconômicos da expansão canavieira nos municípios que possuem seus territórios total ou parcialmente localizados na bacia do rio Ivinhema em Mato Grosso do Sul. Se constituem objetivos específicos da pesquisa: a) mapear o avanço da atividade canavieira na última década na bacia do Ivinhema; b) identificar os agentes envolvidos nesse processo; c) mapear as áreas de produção de grãos nessa bacia; d) demonstrar a evolução produtiva desse espaço agrario nas últimas décadas e sua importancia na economia nacional; e) identificar o papel dos pequenos produtores nesse espaço produtivo e os impactos que essa nova configuração está produzindo sobre eles. 1 Com o intuito de atingir aos objetivos propostos estão sendo adotados os seguintes procedimentos metodológicos: Levantamento bibliográfico sobre a questão agraria no Brasil e no Mato Grosso do Sul, com enfoque na expansão canavieira; levantamento bibliográfico sobre a região em estudo, caracterizando os municípios que a compõem; coleta de dados sobre a produção agropecuaria dos municípios que pertencem à bacia do rio Ivinhema, em órgãos públicos (INCRA, AGRAER, IBGE); Coleta de dados gerais referentes aos municípios que compõem a bacia, junto ao IBGE e nas Prefeituras municipais; visitas em parte das propriedades da região (pequenas, médias e grandes) com registro fotográfico; aplicação de formulários e realização de entrevistas com produtores da região, usineiros e autoridades estaduais e municipais; organização dos dados coletados em gráficos e tabelas; análise dos dados e redação final com base nos referenciais bibliográficos e na pesquisa de campo. A expansão canavieira no território brasileiro As lavouras de cana de açúcar são cultivadas no Brasil desde o inicio do período colonial, se constituindo na materia prima para o abastecimento dos grandes engenhos instalados na região Nordeste do país (PRADO JÚNIOR, 1987). Nas últimas décadas a cana de açúcar passou a ser cultivada em outras regiões, em especial, no Centro-Sul, com destaque para o Estado de São Paulo. A partir da década de 1970 houve um considerável crescimento do setor do agronegócio canavieiro, relacionado inicialmente com a necessidade de uma maior produção para atender o Programa Nacional do Álcool (PROALCOOL) e, atualmente, impulsionada pela ampliação da demanda de etanol e açúcar nos mercados nacional e internacional. Para Castro et. al. (2010), podemos dividir o ciclo da cana de açúcar no Brasil em três fases: quando chega e se expande no Nordeste no período da colonização; quando se expande em decorrência do PROALCOOL, na década de 1970, no Centro-Sul, em especial no Sudeste, e quando se expande em direção ao norte e noroeste do Centro-Sul, principalmente na década de 2000, associada à crise energética mundial, ligada aos combustíveis. Nessa última fase a produção superou todas as outras fases anteriores e, segundo Fischer et. al. (2008) apud Castro et. al. (2010) entre os anos de 2000 e 2007 pelo menos 300 mil hectares ao ano foram transformados em canaviais. 2 Segundo Souza (2010) a expansão canavieira provocou uma serie de impactos sócioambientais no espaço agrario, tais como: maior concentração fundiaria, disputas territoriais com a produção de alimentos e exploração acentuada da força de trabalho. Diante disso, o Governo Federal criou, em 2009, o chamado Zoneamento Agroecológico da cana de açúcar (ZAE), que segundo a EMBRAPA (2009) objetivou o ordenamento dessa produção no território brasileiro. Outro fato a ser considerado na expansão desse setor é o considerável aumento na produção de carros flex a partir de 2003 e a valorização do açúcar no mercado internacional. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) houve um aumento de 240% na área plantada de cana de açúcar no Brasil, entre os anos de 1979 a 2009, passando de 2,39 para 8,14 milhões de hectares. Atualmente o país é responsável por 33% da produção mundial de cana de açúcar. Uma grande preocupação diante desse avanço do setor canavieiro no Brasil é a substituição das áreas de cultivo de alimentos pela cana de açúcar. No caso do Estado do Paraná, Souza (2010) salienta que: Na década de 1980 as culturas de arroz, feijão e cana-de-açúcar ocupavam juntas cerca de 507 mil hectares, dos quais 89,9% estavam dedicadas ao cultivo de arroz e feijão, sendo que a cana ocupava apenas 10,1% desta área. Com o avanço da monocultura canavieira na década de 1980, ocorreu uma inversão radical no espaço agrário setentrional do Paraná. Em 2006, estas três culturas ocupavam cerca de 535 mil hectares, sendo que a cana-de-açúcar passa a ocupar agora 73,7% desta área, enquanto o arroz e feijão dividem 26% desta porção espacial (SOUZA, 2010, p. 151). No Brasil não há uma política que regulamenta o uso do solo agrícola, assim, o espaço produtivo se configura de acordo com o interesse de determinados grupos, ou seja, a força do capital determina o (re)arranjo produtivo espacial. A organização espacial produtiva se dá de acordo com o tipo de produção mais rentável num determinado momento histórico, favorecendo, evidentemente, aos capitais vinculados a esses setores produtivos. Os dados do IBGE demonstram uma evolução constante da área plantada de cana de açúcar no Brasil, a partir do ano de 1990. Porém, a partir de 2000, a expansão ocorreu com maior intensidade (figura 1). 3 Figura 1: Evolução da área plantada de cana de açúcar no Brasil 10000000 9000000 8000000 7000000 6000000 Área plantada de Cana- 5000000 de-açúcar (ha) 4000000 3000000 2000000 1000000 0 1990 1995 2000 2006 2008 Fonte: IBGE – Organização: TEIXEIRA, Jodenir Calixto A tentativa do Governo Federal em ordenar a produção canavieira, com a criação do Zoneamento Agroecológico da cana de açúcar (ZAE), não resolve o problema da substituição da produção de alimentos pela cana de açúcar, visto que as áreas destinadas ao zoneamento dessa produção são, geralmente, grandes produtoras de gêneros alimentícios, considerando que, [...] foram excluídas deste zoneamento apenas porções espaciais geograficamente localizadas nos biomas da Amazônia, do Pantanal e da Bacia do Alto Paraguai, terras indígenas, remanescentes florestais, áreas de proteção ambiental, áreas com cobertura vegetal nativa, dunas, mangues, escarpas e afloramento de rochas, áreas urbanas e de mineração, além de áreas já ocupadas pela cana-de-açúcar. Soma-se a essas exclusões as terras com declividade superior a 12%, tendo em vista a premissa da mecanização no âmbito da proibição da queima dos canaviais para as áreas de expansão (SOUZA 2010, p. 155). Pelo fato do ZAE apontar que há cerca de 64,7 milhões de hectares de terras que poderão ser utilizadas para o plantio da cana de açúcar, dos quais 37,2 milhões se encontram ocupadas por pastagens, a EMBRAPA (2009) afirma que não será necessaria a utilização de áreas produtoras de alimentos para promover essa expansão. Devemos salientar, no entanto, que esse fato não se dá na prática, pois por falta de uma política de melhor regulamentação da produção, os produtores de cana de açúcar procuram espaços que facilitem essa expansão, o que inclui áreas de produção de gêneros alimentícios. Oliveira (2008) alerta sobre essa questão ao analisar os dados do IBGE, demonstrando que, entre 1990 e 2006, houve uma significativa redução da produção dos alimentos devido à 4 expansão da área plantada de cana de açúcar, que cresceu, nesse período, mais de 2,7 milhões de hectares. Segundo esse autor, se tomarmos como referencia os municípios que tiveram a expansão de mais de 500 hectares de cana no período, verificaremos que ocorreu a redução de 261 mil hectares de feijão e 340 mil hectares de arroz. Reforçando essa afirmação, Souza (2008) demonstra que 85% da produção de cana de açúcar, produzida no país, encontra-se na região Centro-Sul, grande produtora de alimentos, com destaque para a região Sudeste, em especial, o Estado de São Paulo com cerca de 60% da produção canavieira. Na verdade, o que norteia o processo de territorialização da produção canavieira é a possibilidade de obter cada vez mais renda a partir dessa atividade, o que segundo Souza (2010) reordenará o espaço agrario das regiões já inseridas na economia nacional/internacional como grandes produtoras de alimentos. Quanto mais facilidade a região oferecer para essa expansão maior será a busca de sua ocupação com essa lavoura, possibilitando uma maior margem de lucro.

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