Galegos No Jornal De Letras Nº 1273 –

Galegos No Jornal De Letras Nº 1273 –

J J jornaldeletras.pt * 17 a 30 de julho de 2019 17 a 30 de julho de 2019 * jornaldeletras.pt 6 * tema GALIZA tema * 7 regionalismo galego em nacionalismo A Trabe de Ouro) quer nas relações aceso o lume do seu compromisso leiros celebrados nos anos 50 e 60. te este panorama, acho necessária › Galiza, aqui tão perto do coração ‹ político, que se consolida na primeira promovidas no campo da arqueo- com a cultura galega, como o faz pa- O diálogo entre a Galiza e Portugal sublinhar as mudanças acontecidas assembleia das Irmandades da Fala logia e da etnografia pelo Seminário tente a sua própria obra pessoal sobre nem sempre foi fácil e, acima de tudo, com a transição para as democracias (Lugo, 1918), mudaram as visões de Estudos Galegos, fundado em a literatura medieval (as Cantigas de apresenta os traços próprios de dois políticas dos anos 70. No próximo dia 25 celebra-se o Dia Nacional da Galiza, ou Dia da Pátria Galega - e o JL dedica-lhe a capa e o Tema, intenção de Portugal face á Galiza e, com Santiago em 1923, de que também Escárnio e Maldizer foram editadas sistemas literários e culturais que maior intensidade, desta a respei- formaram parte alguns intelectuais pela Galaxia nos anos 60) e na me- possuem uma grande desigualdade. DOIS FEITOS MARCAM clara- antiga de um jornal que por todas as razões da Galiza se sente tão próximo (ler com. de JCV na p. 3), tema que se prolongará to de Portugal. No curso daquela portugueses, como A. de Serpa Pinto, mória em que honra os seus amigos As dificuldades não estão nas barreiras mente o devir histórico dos últimos pelo menos na próxima edição. Por óbvias razões de espaço o seu ângulo de abordagem tem de ser limitado: no caso à reunião política, por iniciativa do acolhido no ano 1926. Dar noticia do autonomistas e republicanos, o que linguísticas ou físicas entre a Galiza e decénios. O primeiro, a integração jornalista e fundador da primeira das grupo português da Renascença e dos lhe permitiu arranjar uma grande Portugal, que são quase irrelevantes. da Espanha e Portugal, de modo relação privilegiada entre a Galiza e Portugal, ao que a Galiza significa para nós e até para os povos da nosso língua em Irmandades, António Villar Ponte, seus principais representantes, como homenagem a Castelao na revista As dificuldades derivam da desigual- conjunto e coevo, nas instituições foi lavrado um documento de pendor Teixeira de Pascoaes ou Leonardo Seara Nova (1951) que naquela altura dade política entre um Estado nacional comunitárias europeias, feito que geral, e à panorâmica possível sobre a cultura - a literatura e as artes - hoje nessa "pátria" vizinha e irmã. Todos os textos pangaleguista em que se afirmava Coimbra, é frequente nas revistas era inviável na Galiza. E no exílio como Portugal e uma nação cultural teve consequências relevantes como foram escritos propositadamente para o JL e são de alguns dos nomes mais destacados da Galiza, nas suas respetivas áreas, que “mentres que exista Portugal, galegas e algo análogo acontece em americano figuras como Alberto como a Galiza, inserida politicamen- a supressão das fronteiras e a criação existirá Galiza”. A construção da Portugal, onde os nomes de Álvaro Machado da Rosa ou Ernesto Guerra te na Espanha. Essas relações foram pioneira de um programa de coo- entre eles estando desde logo o de Ramón Villares, que deu um contributo essencial para que tal fosse possível. Optamos identidade cultural e política galega Cebreiro, Noriega Varela, Castelao e, da Cal promoveram o lusitanismo definidas por Pilar Vázquez Cuesta peração transfronteiriça que mudou por manter os textos - e por maioria de razão os poemas - em galego, mas com um breve glossário, graças à prestimosa precisava referentes de oposição acima de todos, Vicente Risco, apare- sem deixarem de prestar atenção á como um “diálogo assimétrico” no completamente as relações entre a e de reintegração. O primeiro era cem em A Águia ou na Seara Nova. Na literatura galega e à sua língua, que prefácio a um dos esforços mais con- Galiza e o norte de Portugal, com no- colaboração de Silvia Capon, licenciada em Letras na Universidade de Santiago de Compostela, professora, escritora e representado por Castela; o segundo, primeira delas, o próprio Risco publica foi incluída nos colóquios luso-brasi- seguidos que se fizeram desde a Galiza vos equipamentos de infraestruturas, tradutora. Destaque ainda, nas páginas seguintes, para as belas crónicas de Lídia Jorge e Valter Hugo Mãe - tendo o gosto de por Portugal. e um incremento extraordinário dos intercâmbios comerciais e também anunciar que na próxima edição teremos um texto da grande escritora brasileira, de ascendência galega, Nélida Piñon AS RELAÇÕES POLÍTICAS E CUL- culturais e universitários. Um centro TURAIS foram alvo essencial para de estudos da eurorregião (CEER), as Irmandades da Fala e o grupo da alentado pelas universidades galegas revista Nós. Não é por acaso que, aos e do norte de Portugal é uma mostra poucos meses da aposta pangaleguista desta cooperação. das Irmandades, apareça uma pri- O segundo feito refere-se á meira colaboração literária de Vicente existência do regime de autogoverno Risco, principal teórico do naciona- na Galiza desde 1981, no contexto Terra irmã de Portugal lismo galego da altura, publicada na do “Estado das Autonomias” da revista portuguesa Atlántida (1919), na Espanha. Este novo marco institucio- que confessa que o seu objetivo é co- nal acompanhou uma forte recupe- meçar uma “nova comunicação com o ração cultural e a criação de um novo RAMÓN VILLARES Era possível refazer aquela cisão? público de Portugal”, visando superar equipamento (editoras, indústria Foi em fins do século XIX, abandona- a maldição de serem os galegos e por- audiovisual, museus de arte contem- da a utopia política do iberismo, que tugueses estrangeiros entre eles. Era porânea, orquestras, uma rede de se produziu a descoberta da posição a nova Galiza cultural e política que radio e televisão em língua galega...), de Portugal no contexto da política da estava a falar ao Portugal republicano. que permite colocar as relações com península ibérica. A fraqueza das na- Naquela mesma altura, o poeta Portugal em esfera claramente distin- ções peninsulares foi posta em causa Teixeira de Pascoes respondeu este ta da ensaiada desde finais dos anos com a crise do Ultimato português pedido de diálogo e entrou em con- 10 até aos anos 80 do século passado. de 1890 e com o “desastre” colo- tacto com a cultura galega, através Aquele “linguajar nativo” evoca- nial espanhol de 1898, mas a saída do poeta Noriega Varela e do Vicente do por Torga é hoje a língua própria daquela crise foi muito diferente. Risco, fundador e diretor da revista e oficial da Galiza, com presença no Portugal afirmou plenamente a sua Nós (1920-1936), que marcou toda sistema educativo, nas instituições identidade nacional ao tempo em uma geração. Esta relação estava e nos mídia, e que, além disso, está n que na Espanha apareceram projetos fundada em princípios ideológicos presente em Centros de Estudos No extenso Diário de Miguel Torga políticos e culturais alternativos ao partilhados, como o saudosismo Galegos em diversas universidades há noticias do poeta – e impenitente nacionalismo de Estado, nomeada- e o atlantismo, e na amizade com de Portugal (Algarve, Minho, Nova viageiro - de periódicas estadias em mente na Catalunha. um crítico literário como o francês de Lisboa) e do Brasil (Rio de Janeiro, terras galegas, o que lhe permitiu Foi neste contexto que alguns Phileas Lebesgue, que se ocupava da São Paulo, Salvador de Baía). A possuir um conhecimento bem cum- nacionalismos subestatais espanhóis, literatura em língua portuguesa na (Da esq.ª para a dt.ª e de cima para baixo) 'Contenedor de Feminismos' (Corunha), Revista Literária 'Nós', Ernesto Guerra cultura galega como referente para o prido do património cultural e natural como o catalão ou o galego, olha- revista Mercure de France, à que tam- da Cal, Vicente Risco, 'A Semana Portuguesa' mundo lusófono foi reconhecida ofi- da Galiza. Mas nestas viagens galegas ram para Portugal na procura duma bém incorporou noticias da literatura cialmente pela CPLP com o ingresso não regista encontros ou diálogos com nova estrutura política da Península galega. do Consello da Cultura Galega como literatos do país, o que torna mais pensada com critérios linguísticos: o O encontro de intelectuais galegos em 1928 um longo artigo, “Da Galiza para apresentar ao público de língua Observador Consultivo desde 2016 relevante a visita que, em meados dos catalão, o castelhano e o galego-por- e portugueses visava converter o renascente”, que continua o programa portuguesa o estado da cultura galega e da Academia Galega da Língua anos 80, lhe fazem “quatro escritores tuguês seriam a base de três futuros ocidente ibérico no centro da “futura iniciado em Atlântida de difundir a Olharam para Portugal (Colóquio/Letras, 137-138, 1995). Portuguesa em 2017. A velha unidade galegos” na sua morada de Coimbra, estados ibéricos. Pensamento que civilização atlântica” que, segundo nova cultura galega, escrita na língua na procura duma nova Naquele prefácio, a ilustre lusitanista perdida da Galécia, refeita imagina- da que dá comprida informação nas nasceu na Catalunha e que foi mesmo o pensamento de Risco, deveria ser galega, que se está a fazer na Galiza estrutura política da alegava como prova de desigualdade riamente na morada do Torga, pode notas de um dia de outubro de 1985. Participantes no Encontro, organizado por Pilar Vasquez Cuesta, que em setembro de 1991

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