CONTRIBUIÇÃO DISCENTE ESPETACULARIZAÇÃO NO 1 BBB 11: O CASO MARIA POR CAliny Grasielly Ribeiro dos Santos [email protected] Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) Diene Batista dos Santos [email protected] Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) Rafaela Gomes Soares [email protected] Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) Thamyris Curado Fernandes [email protected] Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC Goiás Resumo: Propõe-se analisar o tratamento midiático recebido pela atriz Maria Melilo, campeã do BBB 11, reality show da TV Globo, em três textos opinativos produzidos por mulheres: duas blogueiras e uma colunista da Folha.com. Maria foi alçada a posição de protagonista do programa depois de se envolver com um dos participantes, o músico Maurício, e após a saída deste iniciar um relacionamento com outro Brother, o médico Wesley, que havia entrado na Casa com o programa já em andamento. O estudo será ancorado nos pressupostos da cultura do espetáculo. Palavras-chave: Reality show; BBB 11; Maria; cultura do espetáculo 6 O objetivo deste artigo é analisar a Maria, a vencedora do BBB 11. participação da atriz Maria Melilo na 11ª edição do reality show Big Brother Big Brother Brasil 11 2 Brasil , produzido e exibido pela Rede Globo de janeiro a março de 2011. A 11ª edição do “Big Brother Brasil” Para tanto, utilizamos como objeto teve 78 dias de duração: foi ao ar três textos opinativos, todos escritos de 11 de janeiro até 29 de março de por mulheres. São eles: Meu lado 2011. Os participantes conviveram Maria, da blogueira Clarissa Corrêa 3 em um ambiente fechado, vigiados, ; Maria, a amiga íntima, de Fabiana segundo matéria publicada no Portal 7 Motroni 4 e Maria e a revolução da UOL por 65 câmeras ligadas 24 horas “periguete”, de Nina Lemos, colunista por dia, 10 a mais do que o número da Folha.com5 . de equipamentos usados em 2010. A análise do tratamento midiático Algumas câmeras possuíam visão recebido pela campeã do BBB 11 noturna, uma tentativa de flagrar os será ancorada nos pressupostos da participantes em todas as situações. cultura do espetáculo. O material Os confinados conviveram com 75 em discussão é intertextual e traz microfones. O único contato com o uma visão, ora conflitante, ora mundo externo se dava por meio do concordante, sobre o mesmo produto envio de mensagens diárias de até midiático: a pessoa/ personagem 140 caracteres, por meio da internet. REVISTA PANORAMA edição on line - 37 numero I agosto - 2011 CONTRIBUIÇÃO DISCENTE No total, o programa teve 19 isso atrapalhasse sua imagem junto integrantes8 . A atriz Maria Melilo, 27 ao público 11. anos, que vive em São Paulo, venceu a disputa pelo prêmio 1 milhão e meio Conforme lembra Stycer 12 , o de reais. A forte presença feminina apresentador Pedro Bial teve um marcou a edição do programa, seja importante papel na formação desse pelo forma de agir da participante triângulo amoroso, que se consolidou Natália, um pouco mais ríspida em após o retorno de Maurício para a suas ações seja pela postura proativa Casa.13 encampada por Talula, pela primeira participação de uma transexual, No esforço de convencer Maria a Ariadna, ou o jeito distraído da deixar os escrúpulos de lado, e não se preocupar com o que o público Maria, que conseguiu utilizar o olhar, pode pensar, Bial só faltou entrar trejeito e a inocência para conquistar na casa para convencer a atriz. o público. Primeiro, criticou ‘a liga de mulheres moralistas’, referindo-se às colegas Ela foi responsável também pela de confinamento de Maria, que a alertaram para o risco de trocar de criação do “verbo” mariar, utilizado namorado em uma semana. com frequência pelos outros participantes quando a atriz Em seguida, estimulou a candidata demorava a entender uma piada, aos gritos: ‘Viva a vida, Maria!’ Disse brincadeira ou uma expressão que ela está sendo ‘visivelmente em tom irônico. Muitas vezes, ao correspondida’, repetiu o grito de longo do programa, ela foi alvo das guerra (‘viva a vida!’) e filosofou: ‘O brincadeiras dos colegas porque que se leva desta vida? Desta vida se errava a grafia das palavras e fazia leva o rock´n´roll’. perguntas que tinham respostas claras, como, por exemplo, se um Entretanto, mesmo com a vitória Brother aliado era amigo.9 Os vários de uma participante que possui um momentos de distração no programa perfil ainda não vitorioso no BBB: a e as brincadeiras em torno do verbo 14 moça bonita , de acordo com Stycer, ‘mariar’ ajudaram a atriz a conquistar a 11ª edição será lembrada como o público e exercer grande influência a que alcançou menor audiência para alavancar a audiência do - uma queda em torno de 20% se programa. comparado com 2010 - e menor Outro fator importante para faturamento da série 15. que o público se identificasse com Maria foi a formação de um triângulo BBB e cultura do espetáculo amoroso entre essa participante, o 10 músico Maurício e o médico Wesley. Falar da cultura do espetáculo é Mau Mau, como ficou conhecido reportar às produções culturais e suas o primeiro affair de Maria, foi o repercussões. Entre esses dois fatores segundo eliminado do programa. tem-se a cultura midiática, agente Em seguida a sua saída, entraram no transformador da imagem pública BBB 11 Adriana e Wesley . Encantada de um produto. Kellner, filósofo com o novo Brother, Maria relutou da Educação pela Universidade da em iniciar uma relação, temendo que REVISTA PANORAMA edição on line - 38 numero I agosto - 2011 CONTRIBUIÇÃO DISCENTE Califórnia, analisa a qualificação dos despolitização, momento em que realities shows como uma forma- a mercadoria ocupou totalmente espetáculo da cultura midiática, sem a vida social. Esses dois teóricos se desconsiderar as reações sociais diferenciam, fundamentalmente, dessa produção. Para o autor, a no foco de análise. Debord cultura da mídia não aborda apenas desenvolve um conceito monolítico grandes momentos da vida comum, e de totalização da sociedade do mas proporciona uma cobertura farta espetáculo, enquanto Kellner se para fantasias e sonhos. Ela modela o reporta a espetáculos específicos. pensamento, o comportamento e as Entretanto, ambos colaboram para o identidades. entendimento do contexto em que se enquadra o objeto deste estudo. Kellner retrata o contexto, ou, ao menos, as tendências do século O filósofo destaca a importância XXI. Uma delas é a multiplicação da mídia na vida cotidiana. E, nesta dos espetáculos por meio de análise, amplia-se o olhar sobre a novos espaços e sites. Essa representação da vida cotidiana nas atual configuração virtual, demídias, basicamente TV e internet, desenvolvimento de novas mídias com a análise do reality show BBB e da tecnologia da informação, leva 11 e a espetacularização das ações a criação de tecnoespetáculos que dos integrantes que se tornam tem, segundo o autor, determinado celebridades, especialmente as de decisivamente os perfis e asMaria, vencedora da 11ª edição. trajetórias das sociedades e culturas contemporâneas. O enquadramento do programa na cultura do espetáculo é inevitável. Os realities shows, como o Big Brother Primeiramente, é veiculado pela Brasil, são um exemplo de fusão TV que está presente na maioria, se midiática e agregação dos valores não em todos, os lares brasileiros. dessa nova cultura tecnológica. Esse meio de comunicação carrega Kellner retoma o conceito de uma aura de integrante do núcleo sociedade do espetáculo cunhado familiar, portanto, já se tornou por Debord, que descreve uma mais que uma ferramenta de sociedade de mídia e de consumo, lazer ou informativa. Assistir TV se organizada em função da produção tornou hábito. Mas, como manda a e consumo de imagens, mercadorias globalização os media precisam se e eventos culturais. De tal modo, ater às exigências do mercado. O BBB Kellner argumenta que espetáculos foi uma dessas opções de fornecer são aqueles fenômenos de cultura entretenimento para o telespectador da mídia que representam valores e ainda possibilitar a interação deste básicos da sociedade contemporânea, com o programa. determinam o comportamento dos indivíduos e dramatizam suas A interatividade surgiu em sintonia controvérsias e lutas, tanto quanto com os avanços das novas mídias. seus modelos para as soluções de Hoje, o telespectador e o internauta conflitos. necessitam, cada vez mais, de respostas e de voz. O BBB propicia ao Para Debord, espetáculo é uma público: o “poder” do voto, da decisão ferramenta de pacificação ede quem fica ou sai da casa; acesso a REVISTA PANORAMA edição on line - 39 numero I agosto - 2011 CONTRIBUIÇÃO DISCENTE conteúdos não divulgados em mídia noção, o norte, o jeito, o gesto. Maria, aberta; espaços para conversar com aquela que esquece a dignidade no o integrante eliminado; além da fundo do copo. Maria, aquela que possibilidade de concorrer a estar ataca o cara, chora pelo cara, quer de no programa. Portanto, esse reality todo jeito beijar o cara, é louca pelo é um entretenimento diretamente cara, tarada, maníaca e doente.” 17 intrínseco à realidade de quem assiste. Inclusive, por se tratar de A atriz namorou, foi separada do enclausuramento de pessoas e amado pelo paredão e, em seguida, explicitação de como é o desafio se encantou pelo novo participante da convivência, a identificação do do programa, o médico Wesley. público com as situações coletivas e Com o ex-amado de volta ao reality particulares dos Brothers é recorrente show, Maria começa a representar e viciante. as fragilidades de todas as mulheres que se envolvem intensamente Essa identificação leva á admiração em um relacionamento. Choros, e conseqüente construção de porres, humilhações para tentar novas celebridades no imaginário compreender o porquê das atitudes popular. De acordo com Douglas de Maurício e tentar convencê-lo a Kellner, a celebridade também é reatar o “namoro”. produzida e manipulada no mundo do espetáculo.
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