![Figurações Da Subjetividade Na Poesia De Ferreira Gullar](https://data.docslib.org/img/3a60ab92a6e30910dab9bd827208bcff-1.webp)
Universidade Federal do Rio de Janeiro A RAZÃO DA VERTIGEM: FIGURAÇÕES DA SUBJETIVIDADE NA POESIA DE FERREIRA GULLAR Suzanny de Araujo Ramos Rio de Janeiro 2017 A RAZÃO DA VERTIGEM: FIGURAÇÕES DA SUBJETIVIDADE NA POESIA DE FERREIRA GULLAR Suzanny de Araujo Ramos Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Doutora em Letras Vernáculas (Literatura Brasileira). Orientador: Professor Doutor Eucanaã de Nazareno Ferraz Rio de Janeiro Fevereiro de 2017 CIP - Catalogação na Publicação Ramos, Suzanny de Araujo d 175r A razão da vertigem: figurações da subjetividade na poesia de Ferreira Gullar / Suzanny de Araujo Ramos. -- Rio de Janeiro, 2017. 204 f. Orientador: Eucanaã de Nazareno Ferraz. Tese (doutorado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós Graduação em Letras Vernáculas, 2017. 1. Ferreira Gullar. 2. Poesia. 3. Subjetividade. 4. Percepção . 5. Materialidade. I. Ferraz, Eucanaã de Nazareno, orient. II. Título. Elaborado pelo Sistema de Geração Automática da UFRJ com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). Ao meu pai, Donato de Lima Ramos (in memorian), e à minha mãe, Lindinalva Araujo Ramos. AGRADECIMENTOS A Deus, pela força e sabedoria que me concedeu durante a realização deste trabalho. Ao Professor Doutor Eucanaã de Nazareno Ferraz, pela confiança e orientação precisa. À Professora Doutora Alva Martínez Teixeiro, pela generosa orientação e cordial acolhida durante o período do doutorado sanduíche. Aos Professores Doutores Eduardo dos Santos Coelho e Eleonora Ziller Camenietzki, pelas valiosas sugestões durante o exame de qualificação. Aos funcionários das Bibliotecas da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Centro Cultural do Banco do Brasil, da Universidade de Lisboa e da Biblioteca Nacional, pela atenção e ajuda na pesquisa do acervo. À minha mãe, Lindinalva Araujo Ramos, pelo inestimável amor, apoio e incentivo. À CAPES, pela bolsa de estudos. RESUMO RAMOS, Suzanny de Araujo. A razão da vertigem: figurações da subjetividade na poesia de Ferreira Gullar. Rio de Janeiro, 2017. Tese (Doutorado em Letras Vernáculas) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017. Se a pluralidade de vozes e de perspectivas estéticas são marcas fundamentais da poesia de Ferreira Gullar, a percepção da materialidade do mundo constitui-se como uma constante. Neste trabalho, investigamos como tal percepção expõe a urgência de uma procura – sempre recomeçada no espanto – do próprio ser. Trata-se, mais propriamente, de compreender como a apurada atenção ao mundo revela um sujeito em tensão, que, num jogo de espelhos, transfere à linguagem a inquieta necessidade de fundar um mundo e, nele, a si mesmo. Num primeiro momento, procuraremos reconhecer os procedimentos reflexivos que influem no próprio modo de ser da escrita de Ferreira Gullar; neste caso, o espanto e a intencionalidade reflexiva que atravessam sua obra. Em seguida, na tentativa de reconhecer as ressonâncias dessa subjetividade lírica, focalizaremos três momentos- chaves nos quais podemos vislumbrar o sistema de pensamento que demarca a poesia do autor, a saber: quando esteve ocupado da realidade da linguagem; a seguir, da realidade do social e do coletivo; e, por fim, de uma realidade material que, mediante a experiência sensível, se coloca ao sujeito como impulsionadora de um desejo de encontro e reconhecimento. Palavras-chave: Ferreira Gullar; poesia; subjetividade; percepção; materialidade. ABSTRACT RAMOS, Suzanny de Araujo. Reason for vertigo: representations of subjectivity in Ferreira Gullar’s poetry. Rio de Janeiro, 2017. Tese (Doutorado em Letras Vernáculas) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017. If the plurality of voices and aesthetic perspectives are fundamental marks of Ferreira Gullar’s poetry, the perception of the world’s materiality is a constant. In this work, we investigated how this perception exposes the urgency of a search – always restarted in amazement – of the Self. Rather, it is a question of understanding how the close attention to the world reveals a subject in tension, who, in a play of mirrors, transfers to the language the restless need of founding a world and, in it, himself. Initially, we will seek to recognize the reflexive procedures which influence in the own way of being of Ferreira Gullar’s writing; in this case, the astonishment and the reflexive intentionality that are found throughout his work. Thereafter, in an attempt to recognize the resonances of this lyrical subjectivity, we will focus on three key moments in which we can glimpse the system of thought which defines the author’s poetry, namely: when he was occupied with the reality of language; then, of the reality of the social and the collective; and, finally, of a material reality which, by means of the sensitive experience, places the subject as the driving force of a desire for encounter and recognition. Keywords: Ferreira Gullar; poetry; subjectivity; perception; materiality. “A percepção se faz no tempo. O que percebo é apreendido, selecionado e decifrado oportunamente, segundo o que percebi antes. O mundo fluiria docilmente através de meu corpo se, por baixo desse surdo murmúrio, eu não percebesse uma estranheza que me leva a pensar o mundo, a me situar nele individualmente. A sua espontaneidade me nega e a minha interrogação me isola, porque eu me furto ao mundo para pensá-lo. Mas não me furto o suficiente para não lhe ouvir o nostálgico murmúrio. É preciso pensar espontaneamente o mundo, integrar o pensamento no fluir, pensar com o corpo.” (Ferreira Gullar) SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................10 2. A EXATA MEDIDA................................................................................................... 17 2.1 Entre o espanto e a reflexão................................................................................... 32 2.2 A apreensão física do mundo................................................................................. 49 2.3 Expansão e reconhecimento.................................................................................. 55 2.4 “Na muda carne das coisas”................................................................................... 62 3. DA REALIDADE DA LINGUAGEM........................................................................ 67 3.1 O espanto e a consciência criadora......................................................................... 74 3.2 Entre uma coisa e outra, o sujeito........................................................................... 82 3.3 A consciência desdobrada..................................................................................... 94 4. O SUJEITO DUAL................................................................................................... 113 4.1 O eu e o outro....................................................................................................... 117 4.2 O dentro e o fora.................................................................................................. 130 4.3 O passado e o presente......................................................................................... 144 5. O REAL REVISITADO............................................................................................ 150 5.1 Encontro e vertigem............................................................................................. 157 5.2 O avançar da sensação......................................................................................... 162 5.3 O perto e o distante.............................................................................................. 175 6. CONCLUSÃO.......................................................................................................... 190 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 194 1. INTRODUÇÃO Eu é um fora. Octavio Paz Em seu ensaio “O sujeito lírico fora de si”, Michel Collot propõe uma reinterpretação do sujeito lírico que não mais o entende como “pura identidade”, conforme a concepção hegeliana do lirismo, mas numa estreita e indispensável relação com um fora. Dessa perspectiva, sustenta a hipótese de que “uma tal saída de si não é uma simples exceção, mas, pelo menos para a modernidade, a regra”. Se a modernidade, porém, “parece o consagrar à errância e à desaparição”, não é este o caminho que o autor sugere, perguntando-se, ao contrário, “se a própria verdade não reside precisamente em uma tal saída, que pode ser tanto ek-stase quanto exílio, e se a recente decadência do sujeito lírico não lhe daria uma nova chance” (COLLOT, 2004, p. 165). Dando prosseguimento a esse raciocínio, Michel Collot sustenta que: Estar fora de si é ter perdido o controle de seus movimentos interiores e, a partir daí, ser projetado em direção ao exterior. Esses dois sentidos da expressão me parecem constitutivos da emoção lírica: o transporte e a deportação que porta o sujeito ao encontro do que transborda de si e para fora de si (COLLOT, 2004, p. 166). Nesse sentido, o caminho da fenomenologia revelou-se um dos mais profícuos à compreensão dessa presença lírica, uma vez que [...] não considera mais o sujeito em termos de substância, de interioridade e de identidade, mas em sua relação constitutiva com um
Details
-
File Typepdf
-
Upload Time-
-
Content LanguagesEnglish
-
Upload UserAnonymous/Not logged-in
-
File Pages205 Page
-
File Size-