A Batalha De Toro Volume I

A Batalha De Toro Volume I

Universidade do Porto Faculdade de Letras Departamento de História Curso de Doutoramento em História A Batalha de Toro Volume I Dissertação de Doutoramento em História apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto Orientação: Prof. Doutor Luís Miguel Duarte Co-orientação: Prof. Doutora Maria Isabel del Val Valdivieso (U. Valladolid) Marcelo Augusto Flores Reis da Encarnação Porto Novembro / 2011 « Vijimos portugal, castella quatro vezes adjuntados, por casamentos liados, principe natural della q herdaua todos reynados, todos vimos fallescer, em breue tempo morrer, e nenhû durou tres annos, portugueses, castelhanos não hos quer deos juntos ver » Garcia de Resende, Crónica de D. João II e miscelânea, p. 341 « Talvez que o leitor ache estas coisas mínimas; pois creia que não há minucias exageradas, quando se trata de restabelecer a verdade em assuntos históricos » Anselmo Braancamp Freire, Crítica e História, p. 179 « La ynmensa turbacion Deste reyno castellano Faze pesada mi mano Y torpe mi descricion: Que las oras y candelas Que se gastaban leyendo, Agora gasto poniendo Rondas, escuchas y velas » Gómez Manrique, Cancionero, I, p. 131 AGRADECIMENTOS Este humilde trabalho não teria sido possível sem o apoio incondicional e a preocupação constante da minha família, com quem partilhei não só as alegrias dos progressos, como também as frustrações dos becos sem saída. Agradeço também ao meu orientador, Professor Doutor Luís Miguel Duarte, pela sua amizade, estima e profissionalismo, sem o qual este trabalho não teria chegado a bom porto. Uma palavra de agradecimento também à minha co-orientadora, Professora Doutora Maria Isabel del Val Valdivieso, pelas suas sugestões, ideias e resposta sempre pronta às minhas solicitações. Last but not least, não posso deixar de agradecer ao meu querido amigo de sempre, Tiago Faria, medievalista, com quem troquei ideias e de quem recebi conselhos preciosos. 3 Marcelo Augusto Flores Reis da Encarnação A Batalha de Toro (dissertação de Doutoramento apresentada à Universidade do Porto) Palavras-chave: Portugal, Castela, século XV, Afonso V, Reis Católicos, Enrique IV, Joana, batalha, Toro. Sumário: esta dissertação pretende estudar a entrada do exército de Afonso V em Castela em 1475, observando dois pontos de vista – um político e outro militar, utilizando uma metodologia comparada entre fontes portuguesas, castelhanas e aragonesas. Procurou-se analisar a complexidade dos diferentes interesses e das distintas visões da realidade, em particular a partir das fontes cronísticas. Assim, à morte de Enrique IV, em 12 de Dezembro de 1474, Afonso V, crendo ser o legítimo rei de Castela, por responder ao último desejo do rei defunto e por desposar a sobrinha Juana, reuniu apoios em Portugal, assegurou forças em Castela e pensou que com elas seria aceite como rei de Castela. A campanha, que inicialmente conheceu algum sucesso com o cerco falhado que Fernando I de Castela lançou ao Africano, em Toro, com as conquistas de Toro e Zamora e com a batalha de Baltanás, foi pendendo para o lado dos Reis Católicos a partir do momento em que conseguem assegurar mais apoios e, especialmente, a partir do ponto de não retorno – a batalha de Toro, a 1 de Março de 1476. Ao longo destes quatro anos de guerra não houve somente uma contenda política entre dois reinos. Travou-se um jogo de forças entre a nobreza e a monarquia castelhanas, comum a outras monarquias tardo-medievais. A falta de apoios internacionais e a transição da opinião do príncipe D. João no sentido de procurar o entendimento contribuíram para a procura da paz, alcançada em 1479. Keywords: Portugal, Castile, 15th century, Alphonse V, Catholic Kings, Enrique IV, Juana, battle, Toro. Abstract: this dissertation aims to study how King Alphonse V’s army entered Castile in 1475. This fact will be analyzed from both a political and military point of view and comparing sources from Portugal, Castile and Aragon. In this sense the work will focus on the complexity of different perceptions of the reality of the time, particularly from chronicles of that period. When Enrique IV died on 12th December 1474, Alphonse V believed himself to be a legitimate heir to the throne because he thought this was the late king’s desire. Furthermore, he married Juana, who was Enrique’s daughter and thus gathered support in Portugal and Castile. Initially this military campaign was successful when Ferdinand I of Castile besieged Toro and failed to expel Alphonse V; when the cities of Toro and Zamora declared their commitment to Alphonse and Juana’s cause; or when Alphonse V, the African won the battle of Baltanás. However, as the Catholic Kings ensured more support to their cause, the Portuguese cause was walking towards its demise, which reached the point of no return after the battle of Toro, on 1st March 1476. During a period of four years there was not only a war, there was also a political conflict between the two kingdoms. There was a “tug of war” between the nobility and monarchy in Castile, which was common in late medieval monarchies. The lack of international help and the change of opinion of Prince John, in order to find a solution for this conflict, contributed to a search for peace, which was only established in 1479. 4 ABREVIATURAS: CDVA – Crónica de D. Afonso V, de Rui de Pina CPDJ – Crónica do príncipe D. João, de Damião de Góis CDJII – Crónica de D. João II, de Garcia de Resende CEIV-DEC – Crónica de Enrique IV, de Diego Enríquez del Castillo CEIV-LGC – Crónica de Enrique IV, de Lourenço Galíndez Carvajal CEIV-AP – Crónica de Enrique IV, de Afonso de Palencia CRC-FP – Crónica de los Reyes Católicos, de Fernando del Pulgar CVC-FP – Claros varones de Castilla, de Fernando del Pulgar CRC-DV - Crónica de los Reyes Católicos, de Mosem Diego de Valera MRC-AB – Memorias del reinado de los Reyes Católicos, de Andrés Bernáldez VHRC-LMS – Vida y hechos de los Reyes Católicos, de Lúcio Marineo Sículo ACA-JZ – Anales de la corona de Aragón, de Jerónimo Zurita CIRC – Crónica incompleta de los Reyes Católicos (1469-1476) CV – Cronicón de Valladolid: 1333-1539 5 INTRODUÇÃO A presente dissertação de doutoramento, por sugestão do Doutor João Gouveia Monteiro e do Doutor Luís Miguel Duarte, visa estudar a campanha militar de 1475- 1479, a qual veio transformar as boas relações entre Portugal e Castela em clima de guerra. Além do mais, como terei a oportunidade de explicar no “Estado da arte”, mais à frente neste trabalho, considero que há um nicho temporal que é frequentemente relegado para segundo plano pelos investigadores que se dedicam aos temas bélicos. Como demonstrarei, historiadores de renome e que trabalham o tema da guerra, em estudos próprios, ou seja, não contando os trabalhos de carácter mais abrangente, ou terminam em 1450, ou então dão importância às lutas travadas pelos Reis Católicos mas já a partir de finais da década de oitenta de 1400, com as campanhas contra Granada. Se no primeiro caso posso identificar nomes como Francisco García Fitz, João Gouveia Monteiro, Miguel Gomes Martins, para o estudo de um período mais recente saltam à vista os vários trabalhos de Miguel Ángel Ladero Quesada. É, portanto, esse vazio que tenciono tratar neste trabalho. Ainda assim, não obstante a batalha de Toro ser relativamente conhecida, senti que poderia aprofundar o seu conhecimento, por via de um estudo comparativo em que utilizasse todas as fontes coevas e pertinentes para a temática visada. Assim, utilizei com um elenco de mais de uma vintena de fontes cronísticas, entre portuguesas, castelhanas e aragonesas. É certo que ainda poderiam ter sido consultadas outras mais mas por constrangimentos temporais deste trabalho, tal não foi possível. Num estudo mais abrangente e mais completo, teria sido útil para perceber a actuação política de Portugal e Castela integrar a questão africana e ver como as navegações influiram na política internacional do século XV, temáticas que espero desenvolver em trabalhos futuros, uma vez que há ainda algumas portas que se podem abrir. Teria de igual modo sido desejável integrar melhor o panorama militar contido neste trabalho num cenário global, introduzindo a componente bélica naval, bem como os conflitos militares que D. Fernando travou com os franceses, podendo mesmo comparar a campanha castelhano- francesa com a luso-castelhana, para daí poder retirar conclusões. Pelo exposto, também sem resposta ficam temas que me são caros: como era travada a guerra no mar? Como influenciava a guerra naval a guerra terrestre e vice-versa? Que recursos movimentava? Que dividendos retirava? Que conhecimentos, entre teóricos e práticos preenchiam os 6 espíritos dos capitães? E da soldadesca? Que tácticas eram utilizadas? E em que circunstâncias? Como apoiava a guerra naval a guerra terrestre? Como se utilizavam armas de pólvora (pessoais ou artilharia) dentro de um navio? São tudo questões válidas e que gostaria de ter abordado, mas que os prazos actuais para concluir um doutoramento tornaram incomportáveis neste trabalho, até porque nunca tive possibilidade de me dedicar à investigação a tempo inteiro. Aproveito para esclarecer que, durante os três anos de duração do Curso de Doutoramento em História da Universidade do Porto, no âmbito do qual esta dissertação foi elaborada, trabalhei sempre como professor de história no ensino básico e secundário. Com isto não pretendo de modo algum desculpar as omissões e os erros que este trabalho certamente contém, mas sim explicar quais foram as suas circunstâncias de produção. Ficarão, como disse, estas interrogações em aberto para uma investigação futura. Igualmente para trabalhos vindouros remeto a elaboração de mais mapas, tais como apresentar os percursos comparados de D. Isabel, D. Fernando e D. Afonso V; ou os territórios castelhanos e as suas esferas de influência, por exemplo. Estes mapas, por limitações temporais, não fazem parte deste trabalho, tal como inicialmente pretendia.

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