(LGBT) in Brazil: a Spatial Analysis

(LGBT) in Brazil: a Spatial Analysis

DOI: 10.1590/1413-81232020255.33672019 1709 A Homicídios da População de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, rt I G Transexuais ou Transgêneros (LGBT) no Brasil: A O uma Análise Espacial rt IC Homicide of Lesbians, Gays, Bisexuals, Travestis, Transexuals, and LE Transgender people (LGBT) in Brazil: a Spatial Analysis Wallace Góes Mendes (https://orcid.org/0000-0002-7852-7334) 1 Cosme Marcelo Furtado Passos da Silva (https://orcid.org/0000-0001-7789-1671) 1 Abstract Violence against LGBT people has Resumo A violência contra Lésbicas, Gays, Bis- always been present in our society. Brazil is the sexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros country with the highest number of lethal cri- (LGBT) sempre foi presente em nossa sociedade, mes against LGBT people in the world. The aim sendo o Brasil “o país que mais registra crimes le- of this study was to describe the characteristics of tais contra essa população no mundo”. O objetivo homicides of LGBT people in Brazil using spatial foi descrever as características dos homicídios de analysis. The LGBT homicide rate was used to fa- LGBT ocorridos no Brasil por meio de uma aná- cilitate the visualization of the geographical dis- lise espacial. Utilizou-se a taxa de homicídios de tribution of homicides. Public thoroughfares and LGBT para facilitar a visualização da distribuição the victim’s home were the most common places geográfica dos homicídios. As vias públicas e as re- of occurrence. The most commonly used methods sidências das vítimas são os lugares mais comuns for killing male homosexuals and transgender pe- das ocorrências dos crimes. As armas brancas são ople were cold weapons and firearms, respectively; as mais usadas no acometimento contra homosse- however, homicides frequently involved beatings, xuais masculinos e as armas de fogo para trans- suffocation, and other cruelties. The large majo- gêneros, mas ainda é comum os espancamentos, rity of victims were aged between 20 and 49 years asfixia e outras crueldades com as vítimas. As and typically white or brown. The North, Northe- vítimas estão na faixa etária entre 20 a 49 anos ast and Central-West regions, precisely the regions e tendem a ser brancas ou pardas. As regiões Nor- with the lowest HDI,presented LGBT homicide te, Nordeste e Centro-Oeste apresentaram as ta- rates above the national rate.LGBT homicides are xas de homicídios de LGBT acima da nacional, typically hate crimes and constitute a serious pu- justamente as regiões com IDH mais baixos. Os blic health problem because they affect young peo- homicídios contra LGBT são, em geral, “crimes de ple, particularly transgender people. This problem ódio” e um grave problema de saúde pública por needs to be addressed by the government, starting vitimizar jovens, principalmente os transgêneros. 1 Programa de Pós- Graduação em with the criminalization of homophobia and the Esses crimes precisam ser enfrentados pelo poder Epidemiologia em Saúde subsequent formulation of public policies to redu- público, que se inicia pela criminalização da ho- Pública, Escola Nacional ce hate crimes and promote respect for diversity. mofobia e de elaboração de políticas públicas que de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fiocruz. R. Key words Homicides, LGBT people, Spatial diminuam a cultura do ódio e disseminem o res- Leopoldo Bulhões 1480, analysis peito à diversidade. Manguinhos. 21041-210 Palavras-chave Homicídios, População LGBT, Rio de Janeiro RJ Brasil. [email protected] Análise espacial 1710 Introdução O estudo tem a finalidade de apresentar as características dos homicídios de LGBT ocor- Mendes WG, Silva CMFP Silva WG, Mendes Dentre as mortes por causas externas, as provo- ridos no Brasil no período de 2002 a 2016, por cadas por violência e agressões intencionais têm meio de uma análise espacial, logo o estudo não aumentado no Brasil, fazendo com que hoje o tem o intuito de discussões sociopolíticas acerca país tenha o maior número absoluto de homicí- da homofobia. Dessa forma, se condicionará em dios do mundo1,2, o que pode ser encarado como analisar os homicídios contra LGBT ocorridos um grave problema de saúde pública3,4. Esse tipo no Brasil e registrados pelo GGB, que necessaria- de violência pode ser compreendido como um mente não ocorreram por motivações homofóbi- fenômeno complexo, que causa grande impacto cas, pois é algo difícil de comprovar por falta de na expectativa de vida das populações, pois geral- informações desses crimes. mente atinge os jovens, negros e pessoas de baixa renda de países em desenvolvimento5-7. De acordo com o relatório “World Statisti- Materiais e métodos cs 2019”, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que no ano de 2016 Como os dados oficiais sobre homicídios de houve 477.000 homicídios em todo o mundo8, LGBT publicados recentemente no Brasil pelo sendo que o Brasil apresentou cerca de 12,8%9 do Atlas da Violência são subnotificados, logo fe- total mundial, o que representa a sétima maior z-se necessário pensar numa alternativa viável taxa de homicídio do continente americano8. para a realização de um estudo que retratasse O Atlas da Violência brasileiro de 2019 re- esse crime9. A alternativa mais factível foi utilizar gistrou 65.602 homicídios para dados do ano de os dados do GGB, que é uma Organização Não 2017, o que aponta uma taxa de 31,6 por 100 mil Governamental (ONG) e que desde 1980 tem habitantes. Das vítimas, 54,5% eram jovens entre registrado os homicídios e suicídios de LGBT, 15 a 29 anos, 91,8% das vítimas eram homens, inclusive aqueles com possíveis motivações ho- 77,0% foram mortos por armas de fogo; 75,5% mofóbicas12-14. Vale salientar que instituições eram negras e residiam, em geral, nas regiões internacionais como a TGEU, a International Norte e Nordeste9. Lesbian, Gay, Bisexual, Trans and Intersex Asso- A Transgender Europe (TGEU) relatou a exis- ciation (ILGA), a Organização das Nações Unidas tência de 2.609 homicídios informados de trans- (ONU) e a imprensa brasileira utilizam os dados gêneros em 71 países no período de 2008 a 2017, dos relatórios do GGB em suas webpages10,15,16. tendo o Brasil o maior número de registros10. O Ministério dos Direitos Humanos brasileiro No Atlas da Violência de 2019 há uma seção formulou um relatório no final de 2018, que rati- inédita que aborda a questão da violência contra fica os dados do GGB e ainda estimou que 8.027 a população Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, indivíduos LGBT foram assassinados no país en- Transexuais ou Transgêneros (LGBT) no Brasil tre 1963 e 2018, em razão de orientação sexual ou de 2011 a 2017, estando dividida em dados do identidade de gênero17. O GGB documentou mais Disque 100 e do Sistema de Informação de Agra- de 5 mil assassinatos de indivíduos LGBT até 2018, vos de Notificação (SINAN). No Disque 100 fo- dados que são baseados em notícias publicadas na ram registradas 1.720 denúncias de violações de imprensa, pesquisa na internet e informações en- direitos humanos dos LGBT, destas 193 foram de viadas pelos próprios militantes LGBT, sendo es- homicídios, 23 de tentativas e 423 de lesão corpo- tas as formas de obtenção das informações12. ral no ano de 2017. No SINAN, no ano de 2016, Para minimizar a subnotificação dos regis- o número de casos de violência contra homosse- tros, os homicídios documentados no período xuais/bissexuais foi de cerca de 6.800, salientan- de estudo foram revisados com buscas exaustivas do que mais da metade das denúncias foram por na internet com ajuda de um técnico do GGB, causa da violência física, porém ainda há regis- o que resultou em correções, alterações e ainda tros de violência psicológica e tortura9. complementações de algumas informações. Uma Segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB), o estimativa conservadora indica que para cada Brasil “é o país com a maior quantidade de re- homicídio de LGBT registrado e noticiado exis- gistros de crimes letais contra LGBT do mundo”, tem dois outros que não foram notificados18, po- seguido pelo México e Estados Unidos11-13. Em rém acredita-se que no Brasil esse número possa 2018, o GGB registrou que 420 LGBT tiveram ser ainda maior19. mortes violentas no Brasil, ou seja, a cada 20 ho- O indicador “taxa de homicídio de LGBT” foi ras é assassinado um indivíduo LGBT12. a principal variável de interesse do estudo, o que 1711 Ciência & Saúde Coletiva, 25(5):1709-1722, 2020 25(5):1709-1722, Coletiva, & Saúde Ciência é comum numa análise espacial. Foram calcula- nicas de Cliff et al.28, em que se construiu mapas das as taxas de homicídios para localidades com por áreas utilizando os quartis, pois não existe mais de 100 mil habitantes a partir de 2002, ano uma divisão de classes pré-estabelecidas para ta- inicial do estudo, todavia não foi calculada a taxa xas de homicídios29. No cálculo das taxas e na ela- padronizada por falta de informações nos dados boração dos mapas foram utilizados os softwares disponíveis. R 3.5.3 e QGIS 3.4.5. Como não há informações sobre a taxa de A medida de dependência espacial utilizada foi homicídios de LGBT no Brasil, fez-se necessário o coeficiente I de Moran30, que foi aplicada para a escolha de um parâmetro para realizar compa- avaliar a hipótese de autocorrelação espacial entre rações. A estatística quartil foi escolhida para os as taxas de homicídios de LGBT nos três perío- Estados e o Índice de Desenvolvimento Humano dos, usando 5% de nível de significância31. Alguns (IDH) para as capitais e demais municípios, sen- trabalhos32,33 ressaltam a necessidade de realizar do este o indicador social mais usado no mun- um teste de hipótese, no qual a hipótese nula (H0) do20. Dessa forma, foi possível a comparação das indica que as observações foram geradas por uma taxas de homicídios entre os municípios e esta- distribuição sem dependência espacial.

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