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0 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS I PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDO DE LINGUAGENS JUAN MÜLLER FERNANDEZ A ESTÉTICA DA PERDA EM CAETANO VELOSO: ESTUDO DAS COMPOSIÇÕES DE DOMINGO Salvador 2017 1 JUAN MÜLLER FERNANDEZ A ESTÉTICA DA PERDA EM CAETANO VELOSO: ESTUDO DAS COMPOSIÇÕES DE DOMINGO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens, Departamento de Ciências Humanas, da Universidade do Estado da Bahia, como requisito para obtenção do grau de Mestre em Letras. Orientadora: Profa. Dra. Elizabeth Gonzaga de Lima Salvador 2017 2 FICHA CATALOGRÁFICA Biblioteca Professor Edivaldo Machado Boaventura - UNEB – Campus I Fernandez, Juan Müller A estética da perda em Caetano Veloso: estudo das composições de domingo / Juan Müller Fernandez. – Salvador, 2017. 115 f. Orientadora: Elizabeth Gonzaga Lima Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Ciências Humanas. Campus I. Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens – PPGEL, 2017. Contém referências e anexos. 3 JUAN MÜLLER FERNANDEZ A ESTÉTICA DA PERDA EM CAETANO VELOSO: ESTUDO DAS COMPOSIÇÕES DE DOMINGO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens, Departamento de Ciências Humanas, da Universidade do Estado da Bahia, como requisito para obtenção do grau de Mestre em Letras. Aprovada em 27 de março de 2017. Elizabeth Gonzaga de Lima – Orientadora Doutora em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas Universidade do Estado da Bahia Ricardo Oliveira de Freitas Doutor em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Universidade do Estado da Bahia Washington Luís Lima Drummond Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia Universidade do Estado da Bahia 4 A meus pais e à minha irmã, pelo carinho incondicional. 5 A arte de perder não é nenhum mistério; Tantas coisas contêm em si o acidente De perdê-las, que perder não é nada sério. (BISHOP, 2016) Tradução Paulo Henriques Britto. 6 AGRADECIMENTOS À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES, pelo financiamento desta pesquisa. À professora Dra. Elizabeth Gonzaga de Lima pela paciência, pela orientação cuidadosa, pela escuta e por ter contribuído para que eu vivesse a experiência ímpar de realizar o Mestrado Sanduíche na PUC-RIO. Aos membros da banca avaliadora, os professores Dr. Ricardo Oliveira de Freitas e Dr. Washington Luís Lima Drummond, pela leitura acurada do texto e pelas críticas que oportunizaram outro olhar sobre a matéria em pesquisa. Aos meus amigos, Gilberto e Max, pela doce presença nesse momento de travessia. Às professoras Dra. Márcia Rios da Silva e à Dra. Eneida Leal Cunha pela oportunidade de cumprir a Missão de Estudos do Mestrado Sanduíche na PUC-RIO, no âmbito do PROCAD. Aos professores da PUC-RIO, Dr. Júlio Cesar Valladão Diniz e Me. Paulo Henriques Britto, pelas colaborações, aulas, orientações, sugestões bibliográficas que ajudaram a alinhavar esta pesquisa. 7 RESUMO Neste estudo buscou-se investigar o sentido da inscrição do sentimento de perda na Bossa Nova de Caetano Veloso, evidenciar os efeitos estéticos desse fenômeno no long-playing Domingo, gravado coletivamente com Gal Costa em 1967, e em que medida ocorre uma descontinuidade estética com a Bossa Nova standard. Por meio da análise das canções integrantes do referido elepê e das declarações do autor verificam-se os traços formais e ideológicos que compõem a performance do artista como sujeito enraizado, a afirmação da Bahia, a crítica à exaltação do urbanismo, a manifestação de estereótipos a respeito da Bahia, a dicção melancólica e nostálgica. A partir do conceito de perda, cunhado por Albuquerque Júnior (2001) para designar a invenção do Nordeste, elencou-se tais questões como forma de mostrar como Caetano Veloso, diante das alterações políticas e culturais ocorridas nos anos 60, fabula um espaço de lirismo e saudade na contracorrente da modernização pela qual passava o Brasil, opondo-se, por conseguinte, à estética bossa-novista. Orientam estas reflexões os estudos historiográficos em música popular brasileira, Tinhorão (2010), Tatit (2008) e Medaglia (1974), as pesquisas de Ridenti (2014) e Santiago (2002) acerca da irrupção da recusa à modernização na arte brasileira, a narrativa historiográfica sobre a Cidade da Bahia, bem como a ideia de “utopia de lugar”, propostas por Risério (2004; 2011), dentre outras obras. Palavras-chave: Música Popular Brasileira. Bossa Nova. Caetano Veloso. Bahia. Perda. 8 ABSTRACT The aim of this study was to investigate the meaning of the loss feeling in Caetano Veloso's Bossa Nova, to highlight the aesthetic effects of this phenomenon in the long-playing Domingo, recorded collectively with Gal Costa in 1967, and to what extent an aesthetic discontinuity occurs with The Bossa Nova standard. Through the analysis of the songs composing the aforementioned long-playing and the author's declarations, the formal and ideological traits that make up the artist's performance as a rooted subject, the affirmation of Bahia, the critique of the exaltation of urbanism, the manifestation of stereotypes respect for Bahia, the melancholic and nostalgic diction. From the concept of loss, coined by Albuquerque Júnior (2001) to designate the invention of the Northeast, these questions were listed as a way of showing how Caetano Veloso, in the face of the political and cultural changes that occurred in the 1960s, fables a space of lyricism and homesickness in the countercurrent of the modernization through which Brazil passed. These thoughts are guided by the historiographical studies in brazilian popular music, produced by Tinhorão (2010), Tatit (2008) and Medaglia (1974); studies of Ridenti (2014) and Santiago (2002) on the irruption of the refusal to the modernization in the brazilian art, and finally, by a historiographical narrative about the City of Bahia, as well as the idea of "place utopia", proposed by Risério (2004, 2011), among other works. Keywords: Brazilian Popular Music. Bossa nova. Caetano Veloso. Bahia. Loss. 9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 10 2 A VIDA É AMIGA DA ARTE 20 2.1 NOTAS DE UMA DÉCADA 21 2.2 CAETANO VELLOSO, O ARTISTA MASCARADO 37 3 BAHIA ONIPRESENTEMENTE 47 3.1 DOMINGO É O FINO DA BOSSA 48 3.2 CRÍTICA À RAZÃO URBANÍSTICA 61 3.3 FUGERE URBEM 75 4 A LINGUAGEM DA AUSÊNCIA 87 4.1 TRÓPICOS MELANCÓLICOS 89 4.2 BACK IN BAHIA 96 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 103 REFERÊNCIAS 105 ANEXO A – Três “atos” da persona Caetano Veloso 112 ANEXO B – A Primeira Missa No Brasil, Victor Meirelles, 1860, óleo sobre tela 114 10 1 INTRODUÇÃO Sou tímido e espalhafatoso Torre traçada por Gaudí Caetano Veloso, Vaca Profana A transição dos anos 50 aos 60, e toda a duração desta última década, é marcada por mudanças expressivas no panorama social, político, econômico e artístico do Brasil do século XX. O país busca acentuar suas relações capitalistas, estreitando as negociações com o mercado da importação, na esperança de superar a herança agro-mercantil e, ao mesmo, reconfigurar a própria história a partir dos rendimentos decorrentes da abertura ao novo paradigma político-econômico. A urbanização, o parque industrial, o capital, o consumo e o status, enquanto forma de distinção obtida pela posse objetal, ocupam o lugar da “santa” cruz presente n‟A Primeira Missa no Brasil, configurando-se como os novos totens venerados pela nação que à época revisava a própria identidade, almejando o status de país urbano. Tal como um surto, espalha-se pelas metrópoles do país o sonho de modernização e certa aura otimista, ambos embalados pela ideia do “novo”. Não é sem razão que o presidente Juscelino Kubitschek (JK), por meio de seu “plano de metas”, erigiu Brasília como nova capital para o país. Cidade sem passado, Brasília representa a síntese do projeto desenvolvimentista arquitetado por Kubitschek, ao mesmo tempo, o cerne de um esquema racionalista, capaz de desconsiderar as assimetrias regionais historicamente estabelecidas para fundar quimeras de progresso e desenvolvimento. No campo das artes, como bem lembram Santos e Madeira (1999), o signo do “novo” orienta as produções de modo a se fazer presente tanto no cinema, com o Cinema Novo, quanto na música, com a Bossa Nova. Mas se tais movimentos estão ligados pelo traço genitivo da novidade, suas propostas estéticas apontam para direções diversas. O Cinema Novo, por exemplo, enfatiza as fragilidades sociais do país, denunciando as desigualdades e as situações-limites por que passavam muitos brasileiros, seja no Nordeste, com a adaptação de Vidas Secas, seja no Sudeste, na representação de Rio, 40 Graus. A Bossa Nova, simbolicamente, espelha o espetáculo positivo e solar do momento. As canções e melodias deste movimento compõem a trilha sonora do sonho político de modernização urbanística traçado por JK e alinham-se à utopia de sofisticação e internacionalização do país, representando metonimicamente a própria reconfiguração identitária do Brasil então imaginada. 11 Acompanhando o movimento governamental de aproximação com a cultura norte americana, os precursores da “nova” onda sonora (Dick Farney, Johnny Alf, Lúcio Alves e Antonio Carlos Jobim) importam dos EUA o cool jazz e o be-bop como referências, mas são as batidas do violão de João Gilberto, marcadas pelo compasso do samba, que consolidam a Bossa tanto no país, quanto no exterior. João Gilberto contribui para a concepção do movimento, porque realiza interpretações do samba, valendo-se de uma “dissonância” entre voz e orquestração a fim de criar uma forma “modernizada” de trabalhar a palavra cantada, e firma a depuração do comportamento do intérprete. Até a eclosão da Bossa, o canto dos artistas de rádio, vinculados ao samba canção, era produzido em tom operístico, em níveis altos, aparentemente afetado pelo conteúdo da própria letra, o que exigia potência vocal, mas deixava no ar a impressão de atuação exagerada e incomodava os jovens aspirantes a cantores. Daí, por meio das performances de João Gilberto, modificar-se a interpretação da canção, consolidando o subterfúgio do canto falado, em voz baixa e cool, além da introspecção nas apresentações, traduzida na fórmula: o artista, um cantinho e o violão1.

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