Otto Maria Carpeaux

Otto Maria Carpeaux

“Otto Maria Carpeaux poderia ter E ste terceiro volume refere-se sido do que quisesse: cientista, professor, crítico de arte, de música ou literatura, líder à literatura do Romantismo até nos- político, doutrinador. (...) Além de ser um ...................... sos dias. Um diversificado e denso es- S ENADO homem apaixonado, voluntarioso, combati- F EDERAL tudo sobre as causas sociais e estéticas vo, Carpeaux era desses casos raros de capa- ...................... do Romantismo. Os grandes autores cidade universal, pois lia e aprendia muitas ...................... do período foram acuradamente es- vezes mais do que os outros.” S ENADO tudados (um elenco incomparável e F EDERAL Antônio Cândido Otto Maria Carpeaux (1900 – 1978), cidadão ...................... uma hermenêutica rigorosa). Nele “O estilo de Carpeaux é muito es- austríaco e brasileiro, estudou matemática, física e quími- também está incluído o nosso Ro- . pecial, muito direto, muito denso. O conhe- ca na Universidade de Viena, onde se doutorou em letras mantismo, com substancial contri- cimento de tantas literaturas fundamente as- e filosofia. Paralelamente, dedicava-se à música e às ciên- buição para entendimento de auto- similadas, imprimiu-lhe, ao mesmo tempo, res brasileiros como José de Alencar, o máximo de variedade e concentração.” cias humanas, orientou-se na linha de pensamento que vai ocidental da literatura História . Castro Alves, Álvares de Azevedo e Álvaro Lins do historicismo alemão à dialética da História. Patriota, até mesmo o Machado de Assis da sua “Quando chegou ao Brasil, e se fez combateu o nazismo e a anexação da Áustria pela Alema- primeira fase, cunhada de romântica. brasileiro de coração, alma, pensamento, a nha, tendo sido obrigado (1938) a refugiar-se na Bélgica. Ainda neste terceiro volume estão o sua doação à nossa cultura foi precisamente Em 1939 emigrou para o Brasil, onde escreveu a maior realismo e o naturalismo e seu espí- esta: a do humanismo. Enriqueceu o nosso rito de época. Balzac, Machado, Eça, saber, aproximando-nos ainda mais da úni- parte de sua obra (já publicara cinco livros na Europa): Tolstoi, Zola, Dostoievski, Melville, ca linha com a qual a cultura brasileira deve A cinza do purgatório, ensaios (1942), Origens e fins, id. História da correr paralela, se quiser ser uma das susten- iii Volume Baudelaire, e mais Aluísio Azevedo, tações do Ocidente: a da cultura européia.” (1943), Presenças, id. (1958), História da literatura ocidental literatura Augusto dos Anjos, Graça Aranha e Franklin de Oliveira (1958-66), Uma nova História da música (1958), Livros na Mário de Andrade, entre tantos auto- mesa, ensaios (1960), A literatura alemã (1964), O Brasil ocidental res, aqui são estudados para expressar “O ensaísmo de O.M. Carpeaux um período de grande transformação é um diálogo com historicidade profunda no espelho do mundo, artigos políticos (1965), A batalha da social com o aparecimento do mar- de todas as obras. Essa posição pode, como América Latina, id. (1966), 25 anos de literatura (1968), tantas outras, virar fórmula e produzir leitu- Volume iii xismo e das lutas sociais mais politi- ras redutoras. Mas em um leitor dialético (e além de outros livros e numerosos prefácios, introduções, zadas. Carpeaux foi nosso primeiro leitor dialético) verbetes de enciclopédia... o risco evita-se desde o primeiro passo.” Alfredo Bosi “Esta História da literatura ocidental, escrita Otto Maria em menos de dois anos pelo gênio austríaco- brasileiro de Otto Maria Carpeaux, é sim- Carpeaux plesmente a maior e melhor história da lite- ratura que se conhece em qualquer língua e Otto Maria em todo o mundo.” Carpeaux Mauro Gama Edições do Edições do Senado Federal Senado Federal Volume 107-C Volume 107-C 03659 CAPA.indd 1 26/06/2008 13:29:26 Otto Maria Carpeaux Viena (Áustria), 1900 Rio de Janeiro (Brasil), 1978 . História da literatura ocidental ...................... S ENADO F EDERAL ...................... Mesa Diretora Biênio 2007/2008 Senador Garibaldi Alves Filho Presidente Senador Tião Viana Senador Alvaro Dias 1º Vice-Presidente 2º Vice-Presidente Senador Efraim Morais Senador Gerson Camata 1º Secretário 2º Secretário Senador César Borges Senador Magno Malta 3º Secretário 4º Secretário Suplentes de Secretário Senador Papaléo Paes Senador Antônio Carlos Valadares Senador João Vicente Claudino Senador Flexa Ribeiro Conselho Editorial Senador José Sarney Joaquim Campelo Marques Presidente Vice-Presidente Conselheiros Carlos Henrique Cardim Carlyle Coutinho Madruga Raimundo Pontes Cunha Neto . Edições do Senado Federal – Vol.107-C História da literatura ocidental VOLUME III 3ª Edição Otto Maria Carpeaux ...................... S ENADO F EDERAL ...................... Brasília – 2008 EDIÇÕES DO SENADO FEDERAL Vol. 107-C O Conselho Editorial do Senado Federal, criado pela Mesa Diretora em 31 de janeiro de 1997, buscará editar, sempre, obras de valor histórico e cultural e de importância relevante para a compreensão da história política, econômica e social do Brasil e reflexão sobre os destinos do país. Projeto gráfico: Achilles Milan Neto © Senado Federal, 2008 Congresso Nacional Praça dos Três Poderes s/nº – CEP 70165-900 – DF [email protected] Http://www.senado.gov.br/web/conselho/conselho.htm Todos os direitos reservados . Carpeaux, Otto Maria. História da literatura ocidental / Otto Maria Carpeaux. – 3. ed. -- Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2008. 4 v. -- (Edições do Senado Federal ; v. 107-C) 1. Literatura, história e crítica. 2. Estilística. 3. Literatura e sociedade. I. Título. II. Série. CDD 809 . Sumário PARTE VII O ROMANTISMO Capítulo I Origens do romantismo pág. 1365 Capítulo II Romantismos de evasão pág. 1425 Capítulo III Romantismos em oposição pág. 1543 Capítulo IV O fim do romantismo pág. 1659 PARTE VIII A ÉPOCA DA CLASSE MÉDIA Capítulo I Literatura burguesa pág. 1711 Capítulo II Do realismo ao naturalismo pág. 1827 Capítulo III A conversão do naturalismo pág. 1975 ÍNDICE ONOMÁSTICO pág. 2069 PARTE VII O ROMANTISMO . Capítulo I ORIGENS DO ROMANTISMO ACONTECIMENTO da Revolução Francesa produziu na Eu- Oropa inteira − e no continente americano – uma profunda emoção, ex- primindo-se em uma literatura de tipo emocional, que se deu a si mesma o nome de “romantismo”. A história desse movimento literário pode ser escrita em termos de história das revoluções: foi produzido pela revolução de 1789 e 1793; foi desviado pelo acontecimento contra-revolucionário da queda de Napoleão, em 1815; reencontrou o élan inicial pela revo- lução de 1830; e acabou com a revolução de 1848. É literatura política, mesmo e justamente quando pretende ser apolítica. A revolução francesa satisfez a reivindicações que se exprimiram através do pré-romantismo: o descontentamento sentimental e o popularismo encontraram-se na mística democrática do “instinto sempre certo” do povo. Mas a Revolução não satisfez da mesma maneira àqueles pré-românticos, que não eram políti- cos, nem homens de negócios, nem homens do povo, e sim literatos, os primeiros literatos profissionais: estes foram logo excluídos da nova socie- dade burguesa, que não admitiu outro critério de valor, senão o utilitaris- ta. Aplicar-se-ia a todos eles o apelido depreciativo que Napoleão deu aos filósofos: “Ce sont des idéologues.” Responderam, criando uma literatura “ideológica”, que se situou conscientemente fora da realidade social: ou evadindo-se dela, ou então atacando-a. Eis o “Romantismo”. A expressão é das mais infelizes; deu ocasião às confusões mais inveteradas e às discussões 1366 Otto Maria Carpeaux mais estéreis, de modo que não convém continuá-las; o termo só pode ser convenientemente discutido depois da exposição dos fatos históricos. Até então, basta, embora provisória e precariamente, uma definição como esta: “O romantismo é um movimento literário que, servindo-se de elementos historicistas, místicos, sentimentais e revolucionários do pré-romantismo, reagiu contra a Revolução e o classicismo revivificado por ela; defendeu-se contra o objetivismo racionalista da burguesia, pregando como única fonte de inspiração o subjetivismo emocional.” Emoção é o que, por definição, não pode ser definido em termos racionais. Daí a multiplicidade dos tipos românticos, de modo que será melhor falar em “romantismos”, no plural, do que em “romantismo”. As variedades principais subordinam-se, porém, sem muito artifício, às individualidades nacionais: é possível distinguir três pontos de partida diferentes do romantismo. O ponto de partida alemão é principalmente pré-romântico. O ponto de partida francês é principal- mente pré-revolucionário. O ponto de partida inglês é principalmente contra-revolucionário. Mas, depois, as correntes se confundem. A literatu- ra romântica, que tantas vezes se gabava de ser mais nacional e mais nacio- nalista do que o classicismo, constituiu, no entanto, o movimento literário mais internacional de quantos a Europa até então tinha visto. Em conseqüência das oportunidades inesperadas de contato pessoal que a inquietação política e bélica criou, e da atividade febril dos tradutores, estabeleceu-se um novo “concerto europeu” da literatura. O romance histórico à maneira de Scott, o poema narrativo à maneira de Byron, o teatro à maneira de Hugo aboli- ram todas as fronteiras literárias. E aqueles elementos nacionais combina- ram-se, criando os tipos da literatura romântica internacional. A primeira resposta alemã à Revolução francesa fora o confor- mismo classicista, manifestando-se na atitude apolítica de Goethe e no idealismo moderado de Schiller. Mas

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